Manual Do Mestre
Manual Do Mestre
Manual Do Mestre
Mestre
Franco Maçom
Aldo Lavagnini
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Aldo Lavagnini
AO MESTRE
O terceiro grau da Maçonaria, cujo significado tens agora o privilégio de conhecer e realizar, como
resultado de vossos esforços encaminhados à compreensão do primeiro e do segundo graus, é o
símbolo natural da perfeição humana que se consegue por meio do esforço constante em
transcender e superar debilidades e limitações humanas.
Mestre, do latim magister , diz-se daquele que é magis ( mais ) do que os demais, ou seja, mais
sábio e justo, com maior força moral, intelectual e espiritual. Um homem superior em todos os
sentidos e, por extensão, aquele que superou o estado puramente humano da evolução e se tornou
mais do que um homem.
Ser mestre é, portanto, algo mais do que só conhecer as palavras e os sinais desse grau. A realização
de tal qualidade é, para o homem, a Suprema Conquista à qual pode aspirar, conquista que é
simbolizada pelo ramo místico com o qual os mestres maçons se orgulham de ter travado
conhecimento direto. Sua transcendência é demonstrada também pelo fato de que as palavras e
sinais que se comunicam neste grau são considerados como meros substitutos das palavras e sinais
reais que, evidentemente, devem ser procurados e encontrados individualmente, por meio do
esforço pessoal.
Mas, não é nossa intenção nestas breves palavras, que dirigimos ao irmão leitor antes de entrar na
matéria, antecipar a revelação do Mistério Iniciático que está oculto neste grau e cuja importância
se manifesta no nome exaltação dado à cerimônia com a qual se recebe o candidato. Com tal
revelação queremos somente indicar o caminho para o reconhecimento individual da Verdade.
O que tentamos, agora, é tornar patente o propósito deste Manual como o de um guia que
conduzirá à compreensão do que realmente significa o Magistério, e de como temos que dirigir
nossos esforços para esse intento, no qual podem concentrar-se as mais profundas e vitais
aspirações humanas.
Ainda que nossos diplomas e o reconhecimento dos demais irmãos deixem clara nossa qualidade de
Mestres maçons, atualmente o Real Magistério da Arte não pode ser para nós mais do que uma
aspiração, ainda que sincera e profunda, para a qual devemos dirigir os melhores esforços de nossa
Inteligência e Vontade. É necessário que compreendamos e saibamos para saber querer, pois daí
amadurecerá o impulso que, com o poder do silêncio de quem conhece o mistério do além, nos
conduzirá ao resultado desejado.
Esta, em suas quatro palavras, é a fórmula da realização. Cada uma destas palavras encerra e
sintetiza todo um esforço, cuja efetividade produz o resultado. Em particular, o esforço de conhecer
implica um longo período de estudo e meditação, que deve compreender os sujeitos mais diferentes.
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Por esta razão, ainda que toda a Maçonaria possa concentrar-se em seus três graus fundamentais
ou simbólicos e sua Doutrina possa estar encerrada e sintetizada no primeiro, pois o esforço para
aprender é o que nos conduz às mais elevadas realizações - e o terceiro grau justifique plenamente o
atributo de sublime , a realização perfeita do significado destes graus (como preliminar necessário
para sua realização, efetiva e operativa) torna inevitável a soma de outros graus suplementares, que
ajudem o candidato a melhor compreender e realizar, em seu duplo valor filosófico e operativo, a
mística Doutrina que se encerra simbolicamente nos primeiros.
Assim, este Manual , enquanto por um lado representa o complemento dos dois que o precedem
(Manual do Aprendiz Franco-Maçom e Manual do Companheiro Franco-Maçom), por outro é
também uma introdução e uma preparação para os posteriores, nos quais se completará o estudo do
que, a nosso ver, constitui a verdadeira Maçonaria.
Como os precedentes, e em harmonia com o plano que faz destes Manuais os tomos sucessivos de
uma mesma obra, o presente se divide em quatro partes. Na primeira, estuda-se o significado da
cerimônia de exaltação, assim como dos seus sinais e palavras. Assim como as cerimônias dos dois
graus precedentes, esta cerimônia é a fórmula para a realização individual do Magistério, que faz do
candidato um adepto eficiente da Grande Obra.
Esta cerimônia tem um duplo sentido individual e coletivo, inseparáveis um do outro, como
aspectos interior e exterior de uma mesma coisa. Em outras palavras, o que se realiza interiormente
se torna potência ou Força Operativa exterior e, por fim, responsabilidade e atividade necessárias no
mesmo plano, pois, como dissemos no Manual anterior, os talentos que chegamos a possuir não se
tornam efetivos senão com e por meio de seu uso.
Por conseqüência, o serviço é a Lei Suprema da Evolução Individual, e nunca se chegará a ser um
verdadeiro Mestre enquanto não se tenha compreendido o seu real significado. E o Serviço do
Mestre deve distinguir-se pela qualidade fundamental do Amor que caracteriza este grau, no qual
não se deve buscar um salário exterior ou interior como nos graus precedentes porque o próprio
Serviço, e o Amor que nele se expressa, tem que ser o salário do Mestre.
A segunda parte examina os símbolos e conceitos iniciáticos próprios deste grau relacionados,
respectivamente, com os números sete, oito e nove, através dos quais se chega à compreensão da
década e também com a Retórica, a Música e a Astronomia. A terceira do trivium e as duas
últimas do quadrivium que, como as anteriores, têm para o iniciado um sentido íntimo diferente
de seu sentido profano, por estender-se numa nova dimensão.
A terceira parte se ocupa da aplicação moral e operativa necessária que se deve fazer dos símbolos,
instrumentos e conhecimentos que se relacionam com este grau, cuja realização individual faz, de
fato, o Mestre Maçom e lhe confere os direitos e privilégios que estão implícitos neste grau, que são
a conseqüência de uma justa e perfeita observância dos deveres correspondentes.
Finalmente, na quarta, se examina o futuro destinado à nossa Instituição, como resultado natural de
seu passado, operativo no presente. Responde-se, assim no que tange à Sociedade à terceira
pergunta da Esfinge, que se refere especialmente a este grau, e cuja resposta individual correta
consagra, como tal, o perfeito Mestre Maçom.
Estamos certos de que nossos esforços em dar a conhecer aos Maçons a essência real de nossa
augusta e gloriosa Instituição, não deixarão de produzir, com a cooperação indistinta de todos os
que nos lerem, o resultado que mais ambicionamos, que é o de uma melhor compreensão e
realização do Plano do Grande Arquiteto com relação à nossa Ordem, plano com o qual todos temos
o privilégio e o dever de cooperar.
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A unificação maçônica, para a qual devem dirigir-se de maneira especial os esforços dos Mestres,
não pode ser senão o resultado natural e inevitável de uma melhor compreensão do que é, na
verdade, nossa Ordem, assim como de sua unidade indivisível, resultado dos esforços de todos os
que, com boa vontade se propõe e fazem o melhor que podem, a obra maçônica. Que cada um faça ,
em Loja e na Organização Maçônica a qual pertence, uma Obra inspirada pela mais elevada
compreensão dos Fins, Ideais e Propósitos da Instituição, e a Maçonaria progredirá efetivamente,
apesar das suas atuais divisões externas inevitáveis enquanto a Maçonaria permanecer polarizada
no exterior. Compreendendo, da mesma forma, o esforço dos demais em realizar o mesmo plano,
desaparecerá todo motivo de divisão, assim como toda distinção arbitrária de regularidade e, num
espírito de Compreensão, Tolerância e sincera Fraternidade, serão vencidos e desterrados os três
inimigos simbólicos de nossa Instituição.
PRIMEIRA PARTE
EXALTAÇÃO AO MAGISTÉRIO
Poucas cerimônias podem oferecer, com a mesma simplicidade, um aspecto tão trágico e um
significado tão sublime como aquela com que se recebe o Companheiro na Câmara dos Mestres.
Sua primeira acolhida é toda ao contrário do que ele esperaria, em princípio, como prêmio por seus
esforços. É introduzido brutalmente nessa Câmara, sob a acusação de um crime misterioso que
acaba de ser cometido, do qual não pode compreender nem a natureza nem a razão. É submetido a
um interrogatório severo, que lhe revela as suspeitas que pesam sobre ele, suspeitas que não
dissipam a brancura de suas mãos e de seu avental. Fazem-no passar, como prova decisiva, sobre o
cadáver, para ter a certeza de que seus pés não vacilarão nesse ato.
Finalmente, torna-se ele mesmo, protagonista da tragédia, sucumbindo por sua vez, sob os golpes
dos assassinos simbólicos, tomando o lugar do cadáver com o qual tem que se identificar, como os
antigos iniciados nos Mistérios de Osíris, participando da dor de todos os presentes.
Esta morte ou queda simbólica, em poder das forças que personificam a causa do mal, é a
preliminar necessária para a posterior anagogia ou ressurreição que espera o iniciado em sua
exaltação, seu perfeito renascimento na consciência do Real que é a Vida Eterna, Imortal e
Permanente.
Não se chega ao Magistério da Arte Real sem passar pela morte (e por todas as condições e
circunstâncias análogas da vida) com pé firme e seguro, que tenha o poder de superá-la, assim como
às demais ilusões das quais os homens são escravos.
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Pois, quando termina o temor das coisas, termina também nossa crença em seu poder e, como
conseqüência, seu próprio poder sobre nós e sobre nossa existência. Então deixamos de ser escravos
delas.
A ACUSAÇÃO
A acusação que leva o companheiro perante o umbral da Terceira Câmara acusação que se refere
a um crime ainda desconhecido para ele é o primeiro elemento que se apresenta à nossa
consideração.
Os outros Mestres o recebem de início, como juízes inexoráveis de sua conduta e de suas intenções.
Um juízo semelhante ao de Anúbis, naquele Ritual Iniciático egípcio chamado o Livro dos
Mortos . Suas boas e más ações passadas e sua conduta e intenções presentes serão pesadas, com
toda eqüidade e justiça, pois com estas tenta-se amortizar aquelas, para que se prepare dignamente
para o futuro que o espera.
Sua consciência, o avental cuja brancura se examina primeiro antes de admiti-lo, tem que ser
límpida e sem manchas (todos devem convencer-se disso). Suas mãos, símbolos do pensamento e
da vontade que concorrem na ação, têm de ser igualmente puras e limpas, para que se tornem
instrumentos de um Poder transcendente, que o fará superior aos demais aprendizes e companheiros.
Obtida esta dupla asseveração, lhe é franqueado o ingresso à Câmara dos Mestres, através da
palavra de passe, que ele não conhece ainda, pois não chegou ao Magistério da Arte da Sublimação
dos Metais ao qual ela se refere e, tampouco, passou pela morte simbólica, também indicada por
essa palavra.
A RETROGRADAÇÃO
Como agora tem que completar a retrogradação, que caracterizou sua quinta viagem de
Companheiro para chegar novamente ao umbral de sua recepção como Aprendiz, esta palavra que
representa uma nova passagem, mas ao contrário, isto é, do segundo ao primeiro grau, lhe é pedida,
depois de ser despojado do avental, que lhe foi dado ao final das três primeiras viagens de sua
iniciação.
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De fato, em sua quinta viagem, contemplando a Estrela Flamejante que brilha no Ocidente,
semelhante a traceria1 que se vê sobre as catedrais e que são iluminados pelos raios do sol quando
declina, o Companheiro faz no sentido inverso, o percurso da Quarta Viagem, na qual o Esquadro
do juízo tinha-se juntado à retidão de suas aspirações. Agora, tem que realizar, também em sentido
inverso, as três primeiras viagens simbólicas das provas do Fogo, da Água e do Ar, depois das quais
lhe foi permitido ver a luz da Verdade, que brilha somente sobre o Caminho da Virtude. Fazendo
novamente, do reconhecimento da Primeira à prática da Segunda, o movimento dos pés esquerdo e
direito, fixa seu olhar sobre a Estrela que reflete a própria Verdade em sua inteligência e em seu
coração, guiado pela ponta da espada (símbolo da Voz silenciosa da consciência), franqueia a Porta
do Templo com movimento retrógrado, isto é, ao contrário de como o fez quando Aprendiz.
As palavras graves que saem da escuridão na qual ainda se encontra, para perguntar-lhe se
realmente é inocente do crime que acaba de ser cometido reproduzem, em novo formato, o
simbolismo do cálice de amargura que, assim como antes tinha que anteceder às viagens ou estados
de progresso, agora tem que anteceder a retrogradação que as representa. Esta amargura não poderia
ser mais bem representada do que pela atmosfera de luta e consternação que reina na Terceira
Câmara que é, no entanto, uma reprodução simbólica do Quatro de Reflexão.
Convidado a sentar-se, o símbolo da morte se faz novamente presente diante de seus olhos,
enquanto o interrogatório ao qual é submetido faz lembrar seu primeiro testamento iniciático, e
também o interrogatório complementar que se faz ao recipiendário, antes dele realizar as viagens.
A CÂMARA DO MEIO
Como o sol ocultou-se na região tenebrosa do Ocidente e também desapareceu a Estrela vespertina
que iluminou a retrogradação, na noite que agora o rodeia, os olhares do candidato têm que ser
dirigidos, novamente, para o Oriente em busca de um sinal precursor da Nova Luz do Dia.
Aqui, a única luz é aquela que projeta uma caveira imagem das sombras do além túmulo que cai
sobre o macabro corpo do crime, que ocupa o lugar do altar.
Esta é a Câmara do meio, o Centro Oculto da Vida, escondido nas sombras da matéria, à qual não
se chega senão passando pela morte, ou seja, enfrentando-se sem temor com os fantasmas do além.
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Traceria - O termo traceria, ou arrendado, refere-se ao trabalho decorativo em pedra (também por vezes em madeira)
composto por elementos geométricos e utilizado na arquitetura, especialmente de grande desenvolvimento na
arquitetura gótica. Este ornamento pode subdividir-se em aberturas (como em rosáceas) em forma de renda perfurada
ou revestir áreas com formas em relevo podendo ser aplicado a janelas, arcos, ornamentando abóbadas e pináculos ou
cobrindo superfícies planas como painéis (de coro por exemplo) ou paredes. (N.T.)
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Esta Câmara é uma reprodução amplificada, mais trágica e sombria, do Quarto de Reflexão. É a
Câmara íntima da consciência, o lugar secreto do coração, no qual tinha sido deixado em completa
solidão, antes de ser admitido nas sucessivas provas da iniciação. Aqui, também lhe apresentam o
símbolo da morte, entre os dois Princípios da Vida: o Enxofre e o Sal, simbolizados pelas duas
colunas entre as quais está, para que realize seu próprio mercúrio filosófico individual.
Outra vez encontra-se numa gruta obscura, o antro de Mitra, e tem que visitar o interior da terra,
quer dizer, penetrar na aparência exterior das coisas e de si mesmo, reconhecendo a Vida Eterna e
Imortal do Ser Individual, na morte aparente de sua personalidade.
Mas, desta vez, tem que entrar mais íntima e profundamente, no lugar secreto no qual se esconde a
Realidade Verdadeira do universo e de seu próprio ser. Tem que encontrar o Sol da Vida no meio
da noite da Obscuridade e da Morte. Tem que usar seu sexto sentido, o discernimento, que constitui
a Luz Interior de seu ser. Aquela luz que não pode vir senão do centro de seu próprio crânio, onde
reside essa qualidade, única que pode guiá-lo nas trevas dos sentidos, projetando sua luz, entre as
sombras da matéria, na máscara da Vida, representada pelo cadáver com o qual se defronta.
Por essa razão, as perguntas que lhe fazem estão sintonizadas com o Mistério, em cujo meio se
encontra, referindo-se aos problemas que têm relação com a vida e a morte.
O símbolo deste terceiro grau é, em sua essência, a própria alegoria dos Mistérios Maiores da
antiguidade, que seguiam os Mistérios Menores, representados pelos dois primeiros graus
maçônicos. Tanto aqui como ali, o recipiendário tem que ser primeiro espectador e depois
protagonista de um drama que acaba com sua morte simbólica, à qual segue uma também simbólica
ressurreição ou elevação , que realiza sua exaltação.
Antes do drama, é oportuno que o candidato expresse suas próprias idéias sobre a vida e a morte,
que o levam a reconhecer a diferença entre personalidade e individualidade, e como a morte da
primeira conduz à exaltação da segunda. Com relação a este problema fundamental, serão feitas
outras perguntas de ordem prática sobre o direito de matar e a verdadeira natureza da solidariedade
maçônica, que nasce do reconhecimento de que um tal direito, em nenhum caso, pode ser
inteiramente justificado.
O que é a vida? O que é a morte? Só o Iniciado na Realidade, só quem sabe penetrá-la com a Luz
Interior e o olho do discernimento, pode responder satisfatoriamente por si mesmo a estas duas
perguntas, que constituem um mistério profundo, impenetrável e pavoroso para os profanos e para
cujo real entendimento de nada servem os postulados e dogmas das diferentes escolas científicas,
filosóficas e religiosas.
A Vida é algo que se manifesta de dentro para fora e que não se pode, por conseguinte, conhecer em
sua íntima essência e profunda Casualidade senão passando, por meio da inteligência, do exterior ao
interior. E, dessa maneira, torna-se individualmente patente a Realidade Invisível que se esconde e
se expressa na aparência visível, em uma obra de incessante construção, que origina todas as formas
e substâncias orgânicas, estudadas pela Biologia.
Quando se sabe o que é a Vida, considera-se a Morte como uma cessação aparente, que é realmente
uma mudança na manifestação exterior daquela, que nunca cessa, que nunca teve princípio e, sendo
eterna, é imortal e indestrutível até na forma ou matéria na qual se manifesta, pois esta continua
sendo veículo e instrumento para novas e infinitas expressões externas da Vida Interior.
Conhecendo-se esta Verdade e realizando-se no íntimo do coração sua mais profunda significação,
o homem liberta-se para sempre do temor da morte, porque a visão da Vida, como realmente é em
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essência, acende uma tocha diante da qual desaparecem e fogem as sombras e os fantasmas do
além. Assim responde o Iniciado à pergunta Aonde vamos? Que a todos, indistintamente, nos
apresenta a mística Esfinge de nossa vida exterior, cuja individual e correta resposta realiza o
objetivo real dos Grandes Mistérios: a Conquista da Imortalidade.
PERSONALIDADE E INDIVIDUALIDADE
O discernimento entre as duas polaridades do ser humano, que se distinguem com o nome de
Individualidade e Personalidade, é necessário para conseguir realizar esse objetivo. Personalidade
do latim persona - significava originariamente máscara , sendo o disfarce ou aparência com
que se cobre nossa Vida Interior em sua manifestação. É, em outras palavras, nosso ser físico-
psíquico que constitui o Homem Mortal e a Mente Objetiva, na qual se manifesta a realidade física
e se cristalizam nossas crenças, erros e preconceitos, assim como os veículos ou meios exteriores de
que se serve, constituindo seus corpos astral e físico.
Esta parte mais material de nosso ser, esta sua casca ou envoltório nasce, morre e se regenera,
reproduzindo-se em outras formas semelhantes. Estas variações e reproduções são o Mistério da
Geração com a qual o Companheiro tem que se enfrentar para reconhecer o significado da letra G,
que está na raiz de todas as manifestações da vida.
A Individualidade é algo muito diferente, por ser o princípio indivisível de nosso ser e da
universalidade da vida. É o que há de Eterno, Permanente e Imortal em nós, o que persiste através
de todas as mudanças exteriores da personalidade, sem que possam afetá-la. O reconhecimento
individual, ou consciência íntima acompanhada por uma absoluta certeza de sua Realidade, é o que
faz o verdadeiro Mestre, enquanto lhe confere e torna efetiva a Imortalidade.
Morrer para a ilusão da personalidade e renascer à Luz da Realidade que constitui nossa Vida
Individual e nosso mais verdadeiro ser: eis aqui, em poucas palavras, a tarefa que realmente
compete ao recipiendário que, na Câmara do Meio de sua própria consciência, se vê diante do
Mistério da Vida e da Morte.
Se a Vida é Una, matando qualquer uma de suas expressões exteriores, nos matamos a nós mesmos.
Porque todo Caim é um irmão exteriormente e interiormente é idêntico a Abel2. Este crime
originário é conseqüência do pecado original, que é a ilusão, simbolizada pela Ignorância, que atrai
para si como companheiros naturais, o Fanatismo e a Ambição.
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Caim e Abel correspondem simbolicamente aos irmãos Asvini da tradição ariana, os dois gêmeos Castor e Polux, o
primeiro filho de homem (e por isso mortal) e o segundo de Deus (imortal), ou seja, a Personalidade e a Individualidade
do homem, sempre associadas uma com a outra e inseparáveis para sua plena, completa e perfeita expressão. No mito
bíblico, a lenda iniciática está subdividida em duas histórias paralelas e inversas de Caim e Abel e de Esaú e Jacó, onde
o homem da terra mata primeiramente seu irmão celestial, enquanto este consegue adquirir novamente o direito de
precedência , que divinamente lhe corresponde, mas que humanamente não se quer reconhecer-lhe. (N.A.)
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O direito de matar nunca existe para o Iniciado, que deve sobrepor-se a suas causas, vencendo
todo erro e preconceito, tornando-se imune a toda paixão ou fanatismo sectário (religioso ou
anarquista) e superando toda ambição ou desejo naturalmente egoísta.
Assim, realiza seu dever de solidariedade para com todos os seres, indistintamente, para com todas
as manifestações da vida, e responde satisfatoriamente às três perguntas de seu testamento como
Aprendiz, que formam seu Programa Iniciático, pondo em prática o Grande Mandamento:
Ama o Princípio Universal da Vida com todo teu coração e a teu próximo como a ti mesmo .
O PODER DO AMOR
Com o objetivo de dar é convidado a fazer duas viagens que se juntam às cinco do grau de
Companheiro, para completar o número místico sete. Essas viagens acabam perto do Segundo e do
Primeiro Vigilantes aos quais brinda, respectivamente, com as Palavras de Aprendiz e Companheiro.
Nestas duas viagens também se sintetizam e se revisam as provas, esforços e progressos realizados
durante sua passagem através dos primeiros graus.
Começa, assim, para ele uma nova etapa evolutiva depois do retorno que o tinha colocado, outra
vez, no Quarto de Reflexão, diante das aparências simbólicas da morte, dos Princípios da Vida e de
seu próprio testamento iniciático.
A palavra de Aprendiz que lhe pede o Segundo Vigilante é a nova fé que renasce em seu coração,
depois de ter-se enfrentado com o Grande Mistério, à luz de seu discernimento individual. A
palavra de Companheiro que lhe exige o Primeiro Vigilante é a manifestação da esperança, que é
como a Estrela Matutina que ilumina sua senda, permitindo-lhe progredir.
Encontra-se, assim, em condiç es de cumprir uma terceira viagem misteriosa que o fará passar
sobre a morte e o levará a viver realmente, não como simples testemunha mas como protagonista,
o drama simbólico que constitui o objeto central do Terceiro Grau. Mas, antes lhe perguntam se está
disposto a atravessar o negro tártaro dos mistérios do além, para poder gozar da Paz do Olimpo
que nada terá o poder de turbar demonstrando, assim, aos presentes com a tranqüila e serena
segurança de sua caminhada, que está imune a toda cumplicidade no crime que lhe foi imputado, ao
ingressar na Terceira Câmara, por ter voltado , em virtude de seu discernimento espiritual, ao
estado edênico primitivo de inocência 3, livrando-se do Pecado Original da Ilusão.
A terceira viagem, do Ocidente ao Oriente, tem que se cumprir por um caminho mais novo e mais
reto, desconhecido nos primeiros graus. Quer dizer, por meio da marcha misteriosa dos Mestres,
que o faz ingressar na qualidade deles, passando por cima do túmulo com o qual se havia
defrontado, que fica no Oriente, diante do altar, depois de duas etapas que o conduziram até o Sul e
até o Norte.
Esta passagem, por um caminho estritamente interdito aos Aprendizes e Companheiros por
representar o Sancta Sanctorum , o verdadeiro Templo, imagem do Templo Salomônico, diante do
qual de encontram as duas Colunas (dentro do Templo Alegórico do Universo e do Homem,
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Em grego, akakia, como se verá mais adiante. (N.A.)
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indicado pela Loja nos dois graus), é em si simbólica. Materializa-se, pois, com esse ingresso, a
passagem pela Câmara do meio, que se encontra também no universo e no homem e simboliza o
sacrário íntimo da consciência, no qual se realiza a unidade de um com o outro.
Assim como acontece com os dois estados, positivo e negativo da consciência, o prazer e a dor, a
expansão e a contração, produzidos pelos dois Princípios do Bem e do Mal (uma das acepções das
duas colunas), este lugar central é pavimentado com quadrados brancos e pretos, dispostos
alternadamente, como num tabuleiro de xadrez, representando a unidade e continuidade dos opostos.
Assim como sobre o tabuleiro de xadrez, aqui se jogam todas as grandes partidas da vida, e as
vitórias sorriem mais facilmente para quem souber conservar-se mais desapaixonado e sereno.
Para chegar ao Magistério deve-se saber passar e permanecer, com firmeza sem vacilar ou deixar-se
impressionar, por estes dois estados opostos da consciência, até tornar-se dono soberano e absoluto
de ambos. É preciso sobrepor-se totalmente a estas duas condições contrárias de nosso ser interior,
resistindo e superando os impulsos que nos fazem vítimas passivas de um ou do outro.
Em outras palavras, o conhecimento do bem e do mal, que se faz por meio do Poder Enganador da
Ilusão (simbolizado na serpente bíblica que conduz o homem ao pecado, vítima e conseqüência
dessa mesma ilusão, enquanto o homem fica no exterior de um tal conhecimento) deve ser feito de
uma maneira diferente para o Iniciado que aspira ao Magistério (que é o domínio completo da
Natureza Interior, assim como da Exterior) entrando no centro do Poder da Ilusão, vencendo-o e
superando-o com o discernimento da Realidade Única.
Reconhecemos, assim, que existe uma só Realidade e que esta é o Bem, enquanto tudo o que se
chama mal é produto e conseqüência da ilusão. A consciência do mal é vencida e desterrada para
sempre e, com ela, seu poder sobre o homem e sua raiz interior, que é a causa da manifestação
física.
Assim, o coração fica limpo do pecado original e tendo se restituído intelectualmente, por seu
conhecimento da Verdade ao primitivo estado de inocência (e de toda cumplicidade nos crimes
ocasionados pela Ignorância, o Fanatismo e a Ambição, que tem sua origem neste pecado) pode
dignamente aspirar ao Magistério.
Este reconhecimento se faz em três etapas diferentes que repetem, outra vez, as três viagens do
Aprendiz e as três provas simbólicas do Ar, da Água e do Fogo.
Na primeira etapa, deve vencer a Ignorância, partindo do Ocidente (a região da aparência, dominada
pelo dualismo representado pelas duas colunas simbólicas dos dois princípios opostos e
complementares) e chegando ao Sul, quer dizer, a um estado de consciência aclarado pela Luz da
Verdade.
Na segunda, dominará o Fanatismo, paixão que faz do homem um escravo mais ou menos
inconsciente de sua própria emotividade. É necessário partir da cálida região do Sul, dominada
ainda pelas paixões, e parar diante do juízo severo da mente, que se encontra no Oriente, do lado
Norte, que caracteriza o domínio que se adquire e se realiza sobre si mesmo.
Seus pés juntos, formando um esquadro oblíquo, estão agora diante dos pés do morto indicando que,
identificando-se com ele, está destinado a tomar seu lugar para poder, no renascer para uma nova
vida, alcançar através de sua ressurreição espiritual, o grau de maior perfeição que resulta deste
processo de palingenesia ou regeneração.
AS SETE OBRIGAÇÕES
Mas, antes que isso possa verificar-se, o recipiendário deve selar de joelhos diante do altar, como
símbolo de extrema humilhação que o predispõe à suprema exaltação e com um novo juramento,
seus novos propósitos e disposições altruístas.
A primeira das obrigações que o futuro Mestre deve reconhecer, para ser digno deste título, é a do
segredo sobre o simbolismo do grau, com relação a todo profano e também a todo maçom que não
tenha obtido legalmente esse grau, em uma Loja de Mestres.
A segunda é a de obedecer às leis e regras da Ordem . Por estas Leis e Regras deve-se entender,
principalmente, as que não estão escritas e que formam o Corpo tradicional da Instituição, do qual
todo Mestre Maçom tem o dever de fazer-se fiel intérprete e depositário. Devendo, iniciaticamente,
considerar como secundária em importância a sua promessa de obediência a Estatutos e
Regulamentos particulares.
A terceira se refere ao dever da discrição, que o Mestre Maçom tem que praticar com Amor e
Benevolência, evitando relatar qualquer coisa que possa comprometer, delatar ou prejudicar um
irmão, guardando os segredos dos irmãos como se fossem os próprios .
As duas próximas obrigações referem-se à fraternidade, que é o primeiro dever de todos os Mestres
Maçons, em seus dois aspectos, negativo e positivo. Não deve falar mal de nenhum irmão, nem
escutar quem o faça, mas sempre defendê-lo. Não deve atentar contra a honra de suas famílias, mas
defendê-la quando seja necessário. Deve amparar e socorrer todo Mestre Maçom errante,
necessitado ou perseguido , e socorrer suas vi vas e órfãos. Finalmente, deve acudir ao chamado de
qualquer Mestre Maçom que faça o sinal de socorro, ainda que tenha que arriscar sua própria vida
ou sua posição.
A sexta obrigação é o dever de esforçar-se para tornar efetiva, com o domínio de si mesmo, a
atividade pelo Bem da Ordem e o Magistério efetivo da Arte.
Quanto à sétima, sela e confirma definitivamente sua qualidade de Membro da Ordem, da qual
promete ser para sempre um adepto fiel , trabalhando com todas suas forças para seu
engrandecimento e dignidade.
Como para todos os graus precedentes, também aqui há um castigo simbólico, ao qual
voluntariamente se submete quem faltar ao juramento: partir o corpo em duas partes arrancando e
queimando as entranhas e jogando ao vento suas cinzas.
Esta divisão do corpo em duas partes, preliminar de sua decomposição em diferentes pedaços
(como a que faz Tifón, símbolo do gênio do mal, com o corpo de Osíris) é característica da divisão
ou separação completa entre as duas partes ou polaridades, Superior e Inferior (ou seja, oriental e
ocidental) da natureza humana que são, respectivamente, a Individualidade (o Mestre interior o Ego
Superior, imortal e divino) e a Personalidade (sua companheira ou Ego Inferior). E o ternário,
Consciência, Inteligência e Vontade (representadas, respectivamente, pelo peito, a cabeça e os
braços) e sua expressão exterior por meio dos instintos (representados pelas entranhas) que,
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segundo sejam dominados ou dominem o homem, contribuem para sustentar e elevar o templo de
sua vida individual, ou para destruí-lo.
A parte instintiva do homem tem que ser, pois, arrojada e queimada toda vez que não se consiga
dominá-la, já que se torna um obstáculo para seu progresso ou exaltação.
Por esta razão, quem não consegue atingir a regeneração individual (espiritual e física) simbolizada
no Magistério, está sujeito à morte e à necessária reencarnação, arrancando-se e queimando-se, com
esta separação cada vez que alguém desencarna, os instintos que constituem a personalidade, o
homem mortal .
A LENDA DO GRAU
A lenda ou legado deste grau (o testamento filosófico que cada Mestre Maçom recebe com o grau
e do qual se faz, por meio de sua recepção, fiel depositário) é a adaptação histórica de um relato
simbólico. É o disfarce, sob uma nova forma, mais adaptada ao espírito dos tempos, de relatos,
mitos e lendas iniciáticas anteriores, com os mesmos elementos alegóricos e a mesma significação
fundamental.
A transmissão da verdade, por meio de alegorias e lendas simbólicas, é um costume iniciático que
remonta há mais distante antiguidade, à qual se sujeitaram os Sábios e Iniciados de todos os países.
Apresentando a Verdade sob a forma de um conto mítico ou histórico, ou ambos, temos a vantagem
de que este conto não só pode ser transmitido mais facilmente, mas também pode conservar-se em
sua essência fundamental, através de todas as idades e às mudanças que se verificam nos povos e
nos idiomas.
Quando se comunica ou se revela uma determinada Verdade, a possibilidade de sua fiel transmissão
é, ao contrário, muito limitada, porque depende primeiramente duma clara e perfeita compreensão
da mesma por parte de todos os elos que servem para a sua transmissão. Quando tal compreensão é
ofuscada e deficiente num só desses elos, a cadeia se rompe e se torna mais difícil reconstituí-la.
Esta é a razão pela qual os ensinamentos espirituais e filosóficos puros estão facilmente sujeitos a
degenerar-se com o tempo, todas as vezes que não sejam escritos por genuínos intérpretes, e sempre
que estes escritos sejam destruídos ou alterados.
Além disso, algumas vezes a revelação clara de uma verdade pode ser perigosa tanto para quem a
expressa como para quem a recebe, na proporção de sua compreensão. E não somente quando esta
compreensão seja deficiente, de maneira que a Verdade só é entendida em parte, mas também
quando a mente e os propósitos da pessoa não sejam suficientemente puros, e até procurem tirar o
maior proveito de tal conhecimento. Porque quanto mais souber uma pessoa animada por más
intenções, mais perigosa será para seus semelhantes. Além disso, sempre e em todas as partes há
ignorantes, fanáticos e ambiciosos prontos para dilapidar, crucificar ou suprimir, de alguma forma,
quem seja reconhecido como anunciador ou promulgador de verdades que eles não compreendem
ou que considerem perigosas para seus interesses.
A lenda do grau, assim como os hábitos rituais maçônicos, nos ensinam que a verdadeira palavra
como símbolo da própria Verdade e de sua compreensão mais profunda só pode sussurrar-se ao
ouvido dos que tenham dado provas da pureza de suas intenç es, chegando ao grau de
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compreensão necessário, por meio do estudo, da reflexão e da meditação, sem os quais de nada
serviria, quando não fosse perigosa sua revelação prematura.
Por outro lado, assim como os outros símbolos geométricos e figurados, uma lenda simbólica tem a
imensa vantagem de ser facilmente um receptáculo e ponto de apoio, não só de uma, senão de
muitas poderíamos dizer infinitas revelações da Verdade, sendo cada revelação especialmente
adaptada e vital para a pessoa que a intui ou a descobre.
Seu caráter enigmático e a importância que lhe é atribuída, sobretudo quando se dramatiza numa
cerimônia, faz de uma lenda religiosa ou iniciática um poderoso estímulo para a imaginação.
Primeiro porque contribui para vitalizá-la, depois para a reflexão e as faculdades racionais da
inteligência e, finalmente, para a intuição que se exerce sobre a mesma, junto com as demais
faculdades, que assim se desenvolvem e trabalham conjuntamente na busca da Verdade. Em outras
palavras, é dada, por meio da lenda, a primeira letra para que seja, individualmente, encontrada a
segunda.
A CONSTRUÇÃO DO TEMPLO
O motivo fundamental da Lenda é a construção do templo, isto é, a elevação dos esforços para um
fim espiritual ou ideal.
O nome Jerusalém , o lugar ou condição interior de reverência sagrada, também é alegórico de sua
qualidade.
Devido à universalidade destes esforços e aspirações e, por fim, da obra unitária e unitiva que os
realiza, o Templo se estende do Oriente ao Ocidente e do Norte ao Sul, sendo seu objetivo reunir os
homens livres e de bons costumes de todas as crenças, religiões e nações.
Assim, indivíduos de diferentes povos, diferentes cultos e nações diversas estão entre os
trabalhadores chamados a dar uma única forma exterior à Obra Universal, que deve ser realizada
em todos os tempos e em diferentes lugares. Concebido pela Sabedoria Espiritual, que simboliza
Salomão, o Templo se levanta para a Glória, (ou seja, a mais perfeita expressão) do Grande
Arquiteto do Universo, sendo dedicado para manifestar seus planos evolutivos para o mundo, os
quais incluem o Progresso de todos os seres, de todos os povos e de todas as nações.
Quem compreende estes planos e se esforça para realizá-los, por meio da elevação de sua própria
vida dedicada constantemente ao bem dos demais, se faz Arquiteto da obra. Assim, o trabalhador
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tírio Hiram nome que significa vida elevada - filho de uma vi va da tribo de Naftalí (na qual
se reconheceu a Natureza, Mãe Universal de todos os seres), expert em todo gênero de obras e
chamado, por deferência, Ahí (que quer dizer, pai meu ), é enviado e recomendado por Hiram, rei
de Tiro, a Salomão, que o designa chefe supremo dos operários reunidos para a construção do
Templo.
Os operários, vindos de todas as partes do mundo (no espírito de paz, dedicação e reverência que é
simbolizado no nome místico de Jerusalém), tinham diferentes graus de capacidade e diferentes
talentos individuais.
Era necessário dividi-los, segundo suas capacidades particulares, para poder aproveitar a melhor
obra de cada um. Por isso Hiram, homem justo e eqüitativo, constante modelo de retidão e
benevolência para com os demais e entendido em todo tipo de obras, os dividiu em três categorias:
Aprendizes, Companheiros e Mestres, e deu a cada um deles a maneira de serem sempre conhecidos
como tal, por meio de sinais, toques e palavras apropriados.
Tendo fabricado pessoalmente para este fim, e levantado diante do Templo duas grandes colunas de
bronze (que são descritas no primeiro Livro dos Reis, cap. VII, vv. 13-22), Hiram fez com que os
Aprendizes recebessem seu salário perto da primeira coluna, os Companheiros perto da segunda e
os Mestres na Câmara do meio , isto é, num lugar secreto que ficava dentro e por cima das duas
colunas, o que significa um estado de consciência superior aos que são representados pelas duas
colunas ou fundamentos.
Cada uma das três categorias se fazia reconhecer, como foi dito, para poder receber o salário que
lhe correspondia, ou seja, a instrução e os conhecimentos que lhe competiam, segundo seu grau
particular de compreensão e capacidade em aproveitá-los utilmente na Obra a que estava destinado.
Tão sabiamente dirigida e executada, com ordem e exatidão, segundo as instruções que cada qual
recebia pessoalmente, a obra avançava rapidamente, e a grande maioria dos trabalhadores em
número de 70.000 Aprendizes, 8.000 Companheiros, 3.600 Mestres e três Grandes Mestres estava
contente e satisfeita.
Apesar do número de trabalhadores, e de serem executadas todos os tipos de obras, não se ouvia
nenhum ruído de instrumentos de metal, porque as pedras e demais materiais eram trabalhados nas
cercanias, no lugar onde eram extraídos, para não contaminar o lugar sagrado, aonde chegavam já
prontos, para ocupar seu lugar. Esse silêncio evidencia ainda mais o caráter espiritual da construção,
pois toda obra espiritual deve realizar-se nessa condição, longe de todo ruído profano.
Durante os sete anos ou mais que durou a construção também não houve chuvas. Quer dizer que os
trabalhos estiveram constantemente a coberto, sem que houvesse nenhuma indiscrição exterior ou
interior, como devem ser todos os verdadeiros trabalhos maçônicos.
Também reinou a paz e a prosperidade foi constante durante toda a época da construção do Templo,
devendo-se entender com isso, que tais condições exteriores devem ser buscadas numa disposição
interior análoga e correspondente, além de indicar que as obras construtivas, de caráter permanente,
só são possíveis em épocas de paz e tranqüilidade econômica e social.
A construção começou no segundo mês do quarto ano do reinado de Salomão, enquanto esse Rei
esteve em correspondência epistolar com Hiram, Rei de Tiro, que o animou e auxiliou na Obra,
enviando-lhe trabalhadores experts e materiais apropriados .
Isso significa que foram aproveitadas, na Construção Unitária, tendências e materiais de diferentes
procedências, realizando-se a Obra na mais estreita e harmônica cooperação. Por esta mesma razão
simbólica Salomão, Hiram, Rei de Tiro e Hiram Abi, o filho da vi va , foram os três Grandes
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Mestres que presidiram a construção, simbolizando a Sabedoria, a Força e a Beleza que
sustentam toda Loja e presidem toda obra útil, formosa e duradoura.
Finalmente, o lugar escolhido para a construção foi o Monte Moria (palavra cuja etimologia guarda
relação com Mara , visão, revelação; e tem um evidente parentesco com Meru, o Monte Sagrado
dos Indos, e com Miriam ou Maria), isto é, no mesmo lugar no qual Abraão ofereceu seu filho Isaac
(Gêneseis 22-2). Isto nos dá outras preciosas indicações sobre o caráter eminentemente iniciático da
Obra, que só pode erguer-se por meio de um ideal ou visão elevada, tendo como preço a máxima
abnegação e sacrifício pessoal.
O CRIME
Esta admirável construção, concebida pela Sabedoria, realizada pela Força e dirigida pela Beleza, a
Ordem e a Harmonia, era e é um modelo de perfeição. Estava muito próxima de ser concluída,
quando o crime mais odioso que possa ser concebido pela perversidade humana e cometido por
causa da completa inversão dos valores que acompanha a Ignorância, o Fanatismo e a Ambição, pôs
fim, de uma maneira violenta e inesperada, à existência do mais justo, bom e desinteressado entre
os homens, que foi considerado depois como o Arquiteto por excelência, cujo elevado exemplo
esforçamo-nos por alcançar, com o Magistério.
Três operários da classe dos Companheiros, julgando-se por si mesmos dignos da maestria, ainda
que não fossem reconhecidos como Mestres e, querendo sê-lo a todo custo (apesar de não serem
considerados maduros ainda), tramaram um complô para apoderar-se, pela força, da Palavra
Sagrada e dos meios de reconhecimento dos Mestres. Os três malvados Companheiros cujos
nomes se identificam na mesma raiz yubel , que significa rio ou sinal , ou seja, com a corrente
da vida e dos interesses materiais, que ameaçam todas as conquistas e os esforços espirituais
esforçaram-se para obter a cumplicidade de outros Companheiros, mas só conseguiram convencer a
outros nove que também, no último momento sacudidos pelo remorso, preferiam retirar-se. Ficaram
sós os três cúmplices e, como os demais Mestres raramente ficavam isolados, resolveram obter a
Palavra, pela força, do próprio Hiram a quem, por sua bondade, esperavam intimidar mais
facilmente.
Escolheram o Meio-dia o momento em que o Sol, tendo alcançado o zênite, começa a declinar em
direção ao Ocidente como a hora mais propícia, dado que a essa hora o Mestre costumava ficar no
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Templo para revisar os trabalhos e elevar suas orações, enquanto os demais descansavam (o
Meio-dia é também o lugar onde senta o Segundo Vigilante, representado por Hiram, com relação a
Salomão e Hiram, Rei de Tiro que, respectivamente, governam o Oriente e o Ocidente), e se
prostraram nas três portas do Templo, que naquele momento ficavam desertas por já terem saído
todos os demais trabalhadores.
Quando Hiram, após terminar suas orações, apareceu pela porta do Sul, o Companheiro que ali se
encontrava ameaçou-o com sua Régua de vinte e quatro polegadas, pedindo-lhe a Palavra e o sinal
de Mestre. O Mestre respondeu-lhe como devia: Trabalha e serás recompensado! Vendo a
inutilidade de seus esforços, o Companheiro golpeou-o violentamente com sua Régua. E, tendo o
Mestre levantado o braço direito para parar o golpe destinado à sua garganta, caiu de costas e teve
seu braço paralisado.
Então Hiram foi para a porta do Ocidente, onde o esperava o segundo Companheiro, que também
lhe pediu a Palavra e o sinal de Mestre, recebendo por resposta: Trabalha e a obterás! Vendo
também este Companheiro a inutilidade de insistir, deu-lhe um forte golpe no peito com o Esquadro
de ferro de que estava armado. Meio aturdido pelo golpe, Hiram fez uso das poucas forças que lhe
restavam para sair pela porta do Oriente.
Mas ali era esperado pelo terceiro e mais mal intencionado dos três Companheiros que, recebendo
igual negativa a seu pedido da Palavra, deu-lhe um golpe mortal sobre a testa com o Malho que
tinha levado consigo.
Assim caiu Hiram, sob os golpes dos três assassinos, que depois se encontraram para pedir uns aos
outros os sinais e as palavras. Mas, ao comprovar que nenhum dos três os possuíam, ficaram
horrorizados pelo crime inútil e não tiveram outro pensamento além de ocultá-lo e fazer desaparecer
suas marcas.
A BUSCA
Como Hiram era sempre o primeiro a aparecer no local dos trabalhos, dando aos demais o exemplo
mais admirável de pontualidade, exatidão e precisão, não sendo visto na manhã seguinte,
suspenderam os trabalhos, pressagiando uma desgraça. Esses funestos pressentimentos tomaram
corpo quando os nove Companheiros arrependidos, que se tinham oposto à empresa dos três
malvados, comprovaram a sua ausência. Então, tendo passado o dia sem que aparecessem,
sentiram-se no dever de revelar a seus respectivos Mestres o complô e as justas suspeitas que
mantinham sobre eles.
Conduziram-nos diante de Salomão que, depois de ter escutado o relato dos três Mestres e dos nove
Companheiros, encarregou os primeiros de formarem três grupos, cada um deles unindo-se a outros
dois, para percorrer os paises e regiões do Oriente, do Ocidente e do Meio-dia, em busca de seu
Grande Mestre e Arquiteto Hiram Abi e dos três Companheiros, assim como da Palavra que se tinha
perdido pela desaparição do Mestre. Isto mostra como a verdadeira palavra deve, de certo modo,
identificar-se como o próprio Hiram, e com o estado de consciência ou realidade interior que
simboliza.
Depois de ter percorrido inutilmente durante três dias os caminhos e regiões próximas, na manhã do
quarto dia um dos Mestres que tinha ido para o Ocidente, estando sobre as montanhas do Líbano, à
vista do porto de Jopá (a cidade marítima mais próxima de Jerusalém) procurando um lugar onde
passar a noite, entrou numa caverna e foi surpreendido por vozes humanas. Percebeu que se
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tratavam dos três Companheiros que, obcecados pelo crime cometido, contavam uns aos outros
suas particularidades.
O Mestre em questão chamou então os outros que iam com ele, e estes os viram fazer dois sinais
simbólicos do castigo que queriam infringir-se pelo crime cometido, sinais que se adotaram depois,
segundo nos conta a mesma lenda, como meios de reconhecimento para os três graus.
Mas, quando os Mestres se precipitaram até o fundo da caverna para prendê-los, os três
Companheiros, aterrorizados pelo ruído, escaparam por outra saída que havia ali, e por mais que se
esforçassem, os Mestres não conseguiram encontrar seus rastros.
Tendo-se fixado previamente o sétimo dia para a reunião, resolveram pôr-se novamente a caminho
de volta para Jerusalém. Na noite do sexto dia, já perto da cidade, um dos três viajantes deixou-se
cair, extenuando, sobre um montículo que havia perto da cidade.
E observou que ali havia uma porção de terra recentemente removida, que emanava o odor
característico dos mortos.
Puseram-se os três a escavar e chegaram a apalpar um corpo, mas como era noite, não se atreveram
a continuar suas pesquisas. Recobriram o cadáver e cortaram e colocaram sobre o montículo, para
reconhecê-lo depois, um ramo de acácia, espécie de árvore muito comum nessa região.
Relataram, no dia seguinte, na presença de Salomão seu duplo descobrimento e este, não podendo
dominar a emoção que essa narrativa lhe causava, fez o sinal e pronunciou as palavras que se
usariam depois como sinal de socorro.
Ele encarregou os nove Mestres, que foram imediatamente àquele lugar, com o objetivo de
reconhecer se o corpo era realmente do Grande Mestre Hiram e, em caso afirmativo, que
procurassem nele os sinais por meio dos quais podia-se reconhecer a palavra, e que se fixassem nas
palavras que fossem pronunciadas ao levantá-lo.
Assim o fizeram e, uma vez posto a descoberto o cadáver, que tinha a testa ensangüentada, coberta
pelo avental, e sobre o peito a insígnia de seu grau fizeram, ao reconhecê-lo, o sinal de horror, que
depois se tornou um dos meios de reconhecimento entre os Mestres Maçons.
Mediram então a vala e comprovaram que tinha três pés de largura, cinco de profundidade e sete de
comprimento, sendo o comprimento na direção do Oriente para o Ocidente e a largura na direção do
Norte para o Sul.
Essas dimensões, assim como as demais particularidades do crime e de seu descobrimento, nos
revelam um drama inteiramente simbólico que se inseriu no quadro histórico, considerado mais
oportuno na época em que se fez tal adaptação de uma lenda mais antiga, e talvez diferente.
SIGNIFICADO DA LENDA
Até aqui, o relato. Agora nos compete entender o sentido alegórico, que constitui seu valor
essencial, e o segredo mais verdadeiro do grau.
Como em todas as lendas e, especialmente as que se escolheram como meios de transmissão para
determinados ensinamentos e verdades, seu significado é múltiplo, e as várias interpretações que se
deram e podem dar-se da mesma, podem ser agrupados, segundo nosso ponto de vista, em: 1) um
significado cósmico ou astronômico que vê na mesma, algum aspecto do drama do mundo e de suas
origens, assim como a vida nas diferentes estações; 2) um significado humano individual, mais
propriamente iniciático e místico, que considera como psicológicos os feitos relatados e os
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personagens a que se referem; 3) um significado social ou coletivo, como generalização de
sucessos históricos e indicações proféticas do futuro.
O primeiro sentido é puramente objetivo, comum e exotérico, e é natural que tenha sido o primeiro
a nascer e propagar-se em nossa Ordem, cujos ideais e finalidades têm sido, nos últimos séculos,
eminentemente profanos e exotéricos. É o único sentido que a maioria dos maçons lhe atribui, sem
dar-se conta de que tal interpretação está muito longe de explicar a razão do segredo que cerca a
lenda e sua comunicação, nem entender como possa ela conferir a qualidade de Mestre maçom.
Quanto ao terceiro sentido, pode vir independentemente do segundo, ou acompanhá-lo. É claro que,
neste último caso, sua compreensão será mais vital e mais profundo o ponto de vista. Com esse
sentido guarda relação a missão social da Ordem e a capacidade de atuar como Mestre na vida
exterior e no mundo.
Vejamos agora, mais detidamente, as três explicações fundamentais das quais todas as demais
interpretações podem ser consideradas como simples variações.
SENTIDO MACROCÓSMICO
Do ponto de vista puramente astronômico, os maçons imbuídos pelas idéias científicas que abriram
o caminho à interpretação naturalística também de outros mitos e lendas, viram em Hiram outro
protótipo do deus ou herói solar, como Hércules e Osíris, Mitra e Tammuz, Sansão, Salomão e
Jesus.
Filho de uma viúva, ou seja, da Natureza quando privada da Luz, tanto espiritual como material que
a ilumina e a fecunda Hiram, como o Sol, cuja luz é indispensável para despertar e animar toda a
natureza, é sempre o primeiro a apresentar-se no local dos trabalhos o Templo da Vida Universal,
concebido e planejado pela Suprema Inteligência Cósmica no qual todos os seres humanos, sub-
humanos e super-humanos (Companheiros, Aprendizes e Mestres) estão empregados em alguma
atividade construtiva, e recebem seu salário de acordo com suas próprias capacidades.
É precisamente nesta etapa evolutiva humana, quando facilmente dominam sobre a individualidade
os três maus companheiros do homem, que são a Ignorância (com o erro que quer entronar-se no
lugar da Verdade), o Fanatismo (que tributa suas honras à Ignorância e despreza a Verdade) e a
Ambição (ou seja, a usurpação da autoridade que encontra seu apoio mais estável na Ignorância e
no Fanatismo). São eles que atentam contra a Vida Elevada, o princípio luminoso da natureza,
simbolizado por Hiram, pretendendo obter do mesmo, à força, a palavra de poder, que somente se
alcança por meio do esforço individual no caminho reto da Evolução, sem conseguir outra coisa
senão obscurecer - ou matar simbolicamente aquela Luz Mestra que ilumina todo homem que
vem a este mundo .
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CRIME ASTRONÔMICO
Às doze horas do dia e os doze meses do ano representam os doze companheiros. Todos fazem sua
parte e contribuem para sua morte, mas enquanto os primeiros nove se afastam, os últimos três
persistem em seu mau propósito, e lhe desferem os três golpes, no terceiro dos quais ele sucumbe.
Isto é, sucumbe o dia com a chegada da noite (e aqui a analogia dos 9 Mestres, ou seja, as horas da
noite, que irão buscá-lo em vão, até que os últimos três, mais afortunados, consigam reconhecê-lo,
nas primeiras luzes da aurora) e sucumbe o ano, em seu término natural, com a chegada do Solstício
de Inverno. Duas mortes cíclicas, igualmente irreais, seguidas infalivelmente por uma virtual
ressurreição.
Os nove meses (assim como as nove horas da noite) se encarregam de seguir e perseguir, na roda do
ano, os três Companheiros que ocultam e escondem os raios benéficos do Sol, indo no caminho da
elíptica, do Oriente ao Ocidente, e voltando ao Oriente na busca do sol desaparecido, que
conseguem encontrar e vivificar, fazendo-o ressurgir de sua morte aparente e resplandecer
novamente na Natureza. Os três primeiros, que se encaminharam para o Ocidente, são os que dão o
sinal dos desaparecidos e guiam os demais na busca, descobrimento e ressurreição, na qual todos
participam.
Quanto às armas usadas pelos três maus Companheiros são, respectivamente: a diminuição das
horas do dia, simbolizada pela Régua de 24 polegadas, que dá o primeiro golpe. A passagem sobre
a linha solsticial, representada pelo Esquadro, que dá o segundo golpe. E a rigidez destrutiva da
temperatura, representada pelo Malho, que dá o golpe de misericórdia. Assim, morre o ano
simbolicamente, para renascer a nova vida com os meses da Primavera, do Verão e do Outono.
Assim também desaparece o Sol no Ocidente, sob os golpes de suas três últimas horas, sendo
procurado na obscuridade da noite pelas nove horas que precedem seu novo alvorecer.
HIRAM E OSÍRIS
Assim, não é difícil ver na morte de Hiram uma nova apresentação e uma nova adaptação de outros
crimes simbólicos que constituíam o que se pode considerar como o ponto culminante de todos os
mistérios da antiguidade. Particularmente, a morte de Osíris, que representa o Espírito Criador e
Princípio Vivificador da Natureza, personificada em Isis, sua irmã gêmea e esposa.
Com a deificação do personagem central e a representação a seu lado de uma divindade feminina
que joga um papel não menos importante, a lenda toma um aspecto mais solene e profundo, e a
alegoria se torna, metafisicamente, mais significativa e transparente. Não há maiores dificuldades
para ver em Osíris o Sol, e em Isis a Natureza fecundada por seus raios benéficos, cuja
produtividade diminui e quase morre nas horas da noite e nos meses do inverno (nas latitudes mais
afastadas do equador). Se bem que é igualmente certo, que a interpretação astronômica da lenda de
Hiram é filha da interpretação naturalista análoga de todos os mitos antigos, tal interpretação carece
de finalidade, e não se veria nela outra coisa que não o simples relato poético de um feito natural.
Por outro lado, não é difícil ver em Osíris e Isis (que resumem em si todas as divindades egípcias)
uma simples personificação simbólica dos dois Princípios impessoais que, na metafísica hindu,
respondem pelos nomes de Purusha e Prakriti, também simbolizados como Shiva e Shakti, e outros
casais divinos semelhantes. Purusha ou Shiva (ou seja, Osíris) é o Ser Puro, o Princípio do Ser, Pai
da consciência individualizada, da qual todas as formas de vida, e a natureza em seu conjunto,
21
assim como o homem, são outras tantas expressões. Prakriti ou Shakti (ou seja, Isis) é a
Substância Universal (Substância Energia que pode identificar-se com o poder do Ser), ou seja, a
Natureza Mãe de todas as formas das quais a consciência se reveste e nas quais se expressa.
Esse Tamas ou Tifón, essa Ignorância ou Obscuridade primordial que parece opor-se à expressão da
Luz, à plenitude da Vida que, no entanto, sempre acabam por triunfar é o que mata com seus
cúmplices (os outros dois gunas lhe servem ou estão sob seu domínio), despedaça (ou seja, fraciona
sua unidade essencial e primordial em múltiplas expressões) e esconde o Espírito na Matéria e a
Vida na Natureza. E esta, que já não a encontra, ainda que a tenha em si mesma, chora como Isis
essa Vida e essa Luz, com a dor e as lágrimas de todos os seres vivos que, sob seu estímulo,
evoluem , buscando em si mesmos, e logo revelando essa Divindade Latente, como perfeição.
Temos aqui um verdadeiro drama, uma tragédia real o drama da vida e a tragédia da evolução e,
portanto, um mistério real que bem merece ser objeto de estudo e meditação. Um drama universal
que justifica plenamente a universalidade e variedade de suas expressões e apresentações, e nos dá
uma razão do por quê formava o núcleo vital dos mistérios antigos.
O FILHO DA VIÚVA
Ainda que seja difícil ver em Hiram (a menos que não o identifiquemos com o próprio Grande
Arquiteto do Universo) o Princípio Criador e Espírito Universal, representado por Osíris, é evidente
que assim devemos interpretá-lo no que se refere a sua morte. Simbolismo da morte ou latência do
Espírito na matéria, da Luz nas trevas, da Sabedoria Onisciente do Ser no domínio da Ignorância ou
inconsciência. Mas Osíris renasce em seu próprio filho Horus, que é ele mesmo e, portanto, pode
muito bem ser o legítimo esposo de sua própria mãe. Nesse filho de viúva, no qual o Espírito
Universal se apresenta com a mesma identidade, ainda que sob uma personalidade diferente, nos é
mais fácil reconhecer o Hiram da lenda maçônica.
A morte de Osíris e seu renascimento como Horus com os quais o iniciado nos mistérios egípcios
deveria identificar-se são, em nossas cerim nias rituais, a morte e a elevação do próprio Hiram,
4
Guna é, segundo a filosofia Samkhya, uma das três "tendências" sattva, rajas e tamas que caracterizam um
comportamento, estado mental ou fenómeno natural.
Sattva ("ser", "existência" ou "entidade"), tem sido traduzido por equilíbrio, ordem e pureza. Este guna implica que a
pessoa com tendências sáttvica, tem um estado mental positivo e coerente. Psicologicamente é afetuosa, calma, desperta,
altruísta e lúcida. Tem grande amor pela meditação, filosofia e atividades espirituais.
Rajas (originalmente, "atmosfera, ar, firmamento") gera atividade. Este tipo de atividade é explicado pelo termo
yogakshem. Yogakshem é composto por duas palavras: yoga e kshem. Yoga, neste contexto, significa adquirir algo que
não se possui. Kshem significa perder algo que já se tem. Rajas é a força que cria desejos para adquirir coisas novas e
temores de perder aquilo que já se tem. Estes desejos e medos conduzem à atividade. (Rajas não tem qualquer relação
etimológica com a palavra raja.) As pessoas com tendências rajásicas são muito dinâmicas, egocêntricas, consumistas,
ambiciosas, vaidosas, sempre preocupadas e inquietas, com fome de poder, riqueza e prestígio.
Tamas (originalmente, "escuridão", "obscuridade") tem sido traduzido como inércia, negativo, letárgico, entorpecido ou
lento. Geralmente, está associado à escuridão, à ilusão ou ignorância. Uma qualidade tamásica indica que a pessoa tem
um estado mental auto-destrutivo, caótico ou embotado. Essa pessoa dedica-se constantemente a atividades destrutivas,
criminosas ou imorais, ou então é muito preguiçosa, pouco ambiciosa, passiva, ignorante e inconsciente, vivendo o dia-
a-dia de modo banal, embrutecido e conformista. (N.T.)
22
que todo Mestre Maçom tem que personificar. Os assassinos desse Princípio da Consciência, ou
Vida Espiritual da Natureza, são os três gunas pervertidos pelo domínio do primeiro (a Ignorância
que transforma a Atividade e a Inteligência em fanatismo e ambição), de cujos esforços em comum
sobrevém o drama cósmico da Involução. E a Natureza (Isis) trabalha penosamente buscando, e
tentando despertar, a Luz e a Vida Divina perdida e oculta nas aparências materiais (a terra que a
recobre).
Os mesmos três gunas, exaltados e enobrecidos pelo domínio do terceiro ou Sabedoria (que
transforma os outros dois na Perseverança e no Ardor, ou na Fé e na Esperança, como aqueles que
levam a cabo todas as empresas) são agora os três Mestres que, tendo identificado e vencido esses
três maus companheiros conseguem encontrar, despertar e elevar (ou seja, exaltar ) essa Luz e
essa Vida, para que afirme seu domínio sobre a matéria e a ilumine com sua presença. É a Evolução
que segue à Involução, que tem seu ponto crítico no estado humano (ou grau de Companheiro) a
partir do qual tem que chegar ao estado de Mestre, por meio de um esforço consciente.
Osíris, que assim renasce como Horus é, na interpretação naturalista, simplesmente o Novo Sol que
surge na Nova Aurora, ou a Natureza que se renova e regenera na primavera, depois de sua morte
invernal. Para nós, no entanto, no Grande Drama da Vida Cósmica, é a Corrente Evolutiva que se
afirma e se levanta vitoriosa sobre a morte aparente do princípio da Consciência, em sua involução
ou seja, a Luz do Ser que volta a resplandecer sempre mais clara, conforme a Vida se eleva em
sua expressão, como Inteligência e desejo de saber, Discernimento, Intuição e Sabedoria.
SIGNIFICADO INDIVIDUAL
Esta interpretação nos aproxima do significado místico individual que tem a Lenda para cada
Mestre Maçom, razão pela qual deve representar sua parte sucumbindo, por sua vez, como o
próprio Hiram ou como Osíris, nos antigos Mistérios egípcios, sob os golpes simbólicos dos três
inimigos, que também devemos buscar dentro de nós mesmos.
Hiram é em nós e para nós, essencialmente, o Ideal ou a aspiração para uma vida mais elevada, que
é continuamente ameaçado pela Ignorância, o Fanatismo e a Ambição que nos dominam e impedem
nosso progresso.
Quando este Princípio rege a consciência e dirige nossos pensamentos e ações, o Templo da vida
individual se eleva para Glória do Divino Arquiteto, expressando sua Sabedoria, sua Força e seu
Amor.
Mas nossas mais baixas tendências, nossos instintos e paixões egoístas podem conjurar contra este
Princípio e obscurecê-lo. Assim acontece em nós a simbólica Morte de Hiram , a morte do Ideal
exaltado, que dirigia sábia e inteligentemente nossa vida, para um fim superior.
Então, os trabalhos são suspensos em sinal de dor, pois desapareceu, com seu Ideal elevado, a
razão mais verdadeira de nossa vida e nossas melhores intenções. Os nove mestres eleitos saem à
sua procura, até que conseguem encontrá-lo, depois de uma longa peregrinação por diversas regiões
de nossos pensamentos habituais e nele buscam a palavra a verdadeira Palavra da Vida -
expressão do Verbo Divino, ou seja, o próprio Ideal que tem o poder de elevar-nos novamente, da
morte para a ressurreição.
No entanto, não termina aqui o sentido místico e palingenésico5 da lenda, que é ainda mais
profundo, relacionando-se diretamente com o triplo Mistério da Vida, da Morte e da Regeneração.
5
Palingenésico ou palingenético Segundo Schopenhauer, renascimento sucessivo dos mesmos indivíduos. (N.T.)
23
Devemos sublinhar o fato fundamental de que na Cerimônia da Exaltação como nos demais
Mistérios o recipiendário tem que se identificar com o protagonista do mito ou lenda sofrendo,
como ele, uma morte simbólica à qual se segue a ressurreição ou exaltação.
A esse respeito, não há diferença essencial entre a morte simbólica que, como Hiram, tem que
sofrer na Maçonaria o candidato à Maestria, e aquela pela qual tinham que passar os candidatos nos
mistérios de Dionísio, de Adonis, de Osíris, etc.
O mesmo deve-se dizer da paixão, morte e ressurreição de Jesus, essência dos Mistérios Cristãos e
ponto culminante de todo misticismo, dentro da própria religião.
O candidato sempre deve morrer para renascer: para nascer outra vez, da água e do espírito , como
explica o Capítulo III do Evangelho de São João, pois o que não nascer outra vez não pode ver o
reino de Deus .
É a morte do homem velho, a morte do Iniciado a seus erros, vícios, paixões e tendências negativas,
para que nasça o homem novo, o menino sábio , na luz da verdade e na prática da Virtude. A
morte do homem escravo de seus maus costumes, para o nascimento do homem livre por sua
própria retidão e hábitos construtivos. A morte da personalidade, atada com o sentido de sua
separação egoísta ao pecado original da ilusão, que é fonte de todos os males, e o renascimento da
individualidade livre, pela realização de sua própria unidade indivisível com o Princípio Uno da
Vida, manancial e realidade de todo Bem. Em outras palavras, nossa morte pessoal e ressurreição
individual em Cristo o Magister - ou seja, o homem que se livrou por completo do domínio do
mal e da ilusão.
O PECADO ORIGINAL
Cabe aqui uma explicação mais detalhada do pecado original, como é descrito no Capítulo III do
Gênesis e que tem um profundo valor iniciático.
Em seu conjunto, é uma formosa história simbólica do homem, em suas sucessivas encarnações
pessoais, e também a história alegórica da humanidade, desde o homem natural ou profano escravo
e vítima da ilusão (simbolizado por Adão e seus descendentes), até o perfeito iniciado que alcança o
Magistério, transformado em mais do que um homem, ou seja, verdadeiro Filho de Deus
(representado por Cristo).
Adão e Cristo estão ambos em nós, representando o primeiro, nossa origem ou ponto de partida, de
onde viemos materialmente. E o segundo, nosso Destino Divino, o fim ou termo de nossas
aspirações, até onde vamos e o que conseguiremos pelo esforço daquilo que somos
espiritualmente. No estado de evolução em que nos encontramos atualmente, Adão está atrás de nós,
como o impulso que nos conduziu a ser o que somos agora, enquanto o Cristo está adiante de nós e
nos indica o caminho que temos que seguir para alcançar o Magistério, morrendo na ilusão adâmica,
para renascer na consciência do Real, representada por Ele.
Vemos agora, em duas palavras, o que para nós representa a alegoria bíblica do pecado original
cuja raiz deve ser procurada nas antigas tradições caldéias (espero poder, nos Manuais seguintes,
fazer um estudo mais detido sobre os diferentes símbolos que se encontram reunidos na formosa e
significativa lenda).
24
Adão (Adam, o terrestre ) criado ou manifestado, diretamente pelo Princípio Divino, está num
jardim chamado Éden, situado no Oriente, quer dizer, do lado da origem das coisas, de onde
procede toda manifestação.
Então, de sua costela de um aspecto ou lado dele o Princípio Divino separa e forma Eva (Heva,
vida, existência ), sua mulher, mãe dos viventes . Isto quer dizer que de Adão, como consciência
individual, se separa um aspecto ou reflexo pessoal, naturalmente feminino e passivo com relação
ao primeiro, destinado a ser sua companheira.
Representando a mente concreta e a Consciência Pessoal, Eva está em contato mais direto com o
mundo exterior e sofre, assim, mais facilmente a influência da serpente mais astuta que todos os
animais (faculdades) do campo ou seja, o Poder da Ilusão, que nos faz considerar-nos como seres
separados e diferentes do Princípio Uno da Vida.
Escutando a voz exterior da Ilusão, ao invés da voz interior da Realidade (que é o próprio Princípio
da Vida), o homem come do fruto da rvore do Bem e do Mal (que é a Inteligência Objetiva), e
este último, expressando-se em sua consciência, em virtude do Poder da Ilusão, se tornará objetivo,
também exteriormente.
Nasce, assim, a consciência de separação (do Princípio da Vida) que engendrará o egoísmo,
representado por Caim (origem de todos os crimes), assim como o temor (que origina a adoração
material), representado por Abel.
Como resultado, o homem afasta-se por si mesmo, do Princípio de Vida (a Árvore da Vida que está
no meio do jardim de sua própria manifestação) e, como conseqüência, sai de seu estado de
inocência edênica e torna-se escravo da ilusão em todas as suas formas, condenando-se aos efeitos
dessa ilusão: a dor e o trabalho, concebido como obrigação e escravidão.
Ao Maçom Iniciado é dado o privilégio e o dever de libertar-se desse poder da Ilusão e de todas as
suas conseqüências.
Estes três inimigos escondem o cadáver a aparência morta da Individualidade, Princípio Elevador
e Arquiteto Iluminado da vida pessoal sob os escombros do templo da própria vida, para
sepultá-lo depois, na noite do esquecimento, e se escondem em uma cova situada no Ocidente, quer
dizer, em nossa própria personalidade.
Ali é preciso descobri-los e reconhecê-los como tais, e então desaparecerão sem deixar nenhum
traço.
Voltando desse descobrimento podemos encontrar novamente nosso Ideal sepultado, reconhecê-lo e
depois elevá-lo, com a ajuda de nossas faculdades superiores que são os nove Mestres inspirados
por Salomão, o princípio central diretivo da Inteligência.
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Para que esta elevação e ressurreição sejam efetivos, é necessário o concurso de três faculdades
fundamentais, assistidas pelas demais: a Fé, a Esperança e o Amor, que têm que dominar e guiar o
homem, no lugar da Ignorância, do Fanatismo e da Ambição.
Com a Vitória sobre o Fanatismo, símbolo de todas as paixões, por meio da Compreensão e da
Tolerância, nos estabelecemos mais firmemente sobre a Esperança (a Palavra Sagrada do Segundo
Grau) e com esta atitude nos colocamos acima de toda putrefação exterior, que não tem poder sobre
o Ideal estabelecido em nossa consciência.
No entanto, estas faculdades separadas não podem cumprir o milagre do despertar da morte para a
vida, se a elas não se juntar o Amor, a Palavra Secreta do Magistério.
É assim que os primeiros Mestres fracassam em seu intento de elevar o corpo de Hiram com os
toques e palavras dos dois primeiros graus e pronunciam, desalentados, as palavras que demonstram
a decepção da Fé e da Esperança, substituindo por estas a verdadeira palavra do Terceiro Grau. A
Fé e a Esperança não teriam poder, como o próprio cadáver que se esforçam em levantar, sem o
impulso e o alento vital, que só pode dar-nos a terceira palavra.
Mas, para que o Amor seja ativo em nós, como força onipotente, toda Ambição egoísta deve ser
vencida. O centro da Ambição, o egoísmo, deve ser desarraigado e desterrado de nosso ser, pois
está sempre pronto e disposto a dar o golpe mortal nas nossas mais nobres e elevadas aspirações,
esterilizando e tornando impotentes os esforços da Fé e da Esperança.
Só o Amor tem o poder de fazer-nos ressurgir da morte para a vida, em qualquer condição exterior
que nos encontremos. Só essa faculdade, uma vez que nos tenhamos libertado do Egoísmo, pode
tornar completa nossa regeneração e cumprir o milagre da ressurreição.
HISTÓRICO INICIÁTICO
Se a Lenda de Hiram tem um profundo sentido místico, referindo-se à nossa regeneração individual,
que acontece por meio da morte ou transmutação das tendências inferiores ou negativas (que matam
e sepultam as possibilidades, faculdades e ideais mais elevados de nosso ser) e nossa redenção das
mesmas, que nos faz ressurgir para uma nova vida liberando-nos do poder do mal e da ilusão e da
própria morte, que é uma das conseqüências do pecado original6, não menos importante é o
significado iniciático da lenda, que se refere diretamente à nossa Sociedade.
Os Mestres Maçons têm se esforçado para interpretar devidamente esta Lenda, aplicando-a com
igual discernimento ao passado, ao presente e ao futuro, que lhes compete prever e preparar, já que
esta interpretação tem que guiá-los em seus esforços e torná-los efetivos, pelo Bem da Ordem.
6
Voltaremos a insistir, oportunamente, sobre este interessante argumento (N. A.)
26
O personagem central da Lenda é, evidentemente, o espírito animador da Instituição que une e
reúne os trabalhadores, que dirige e coordena seus esforços para levar a cabo e conduzir à sua
finalidade a Grande Obra, que nossos esforços conjuntos se propõe efetuar, seguindo os planos de
uma Inteligência Superior.
Quanto aos três companheiros, que se esforçam para subornar os demais para cometer o crime
nefando, a própria tradição expressada em nossos rituais identifica-os com a Ignorância, o
Fanatismo e a Ambição. Por esta razão, são inteiramente justificadas as suspeitas que recaem sobre
o Companheiro que espera franquear o umbral da Terceira Câmara.
Quem pode confessar-se, de fato, imune a toda cumplicidade com estes três constantes inimigos da
Instituição, que se aninham nas covas do Ocidente (o domínio de toda expressão e realização
material), e se esforçam para aniquilar e transformar seu Espírito?
Quem pode dizer, com toda sinceridade, que não tramou com a Ignorância, atacando por meio de
alguma regra arbitrária ou pela sua própria compreensão limitada, as sublimes finalidades e
propósitos universais da Ordem, assim como o profundo valor de seu simbolismo, dando o primeiro
golpe que lhe imobiliza o braço direito e torna impossível sua perfeita expressão (garganta)?
Quem tem certeza de estar livre da intolerância e do fanatismo, vibrando com o Esquadro de ferro
de seu juízo pela condenação de opiniões e tendências diferentes, um golpe dirigido ao próprio
coração da Instituição, na qual hão de caber todas as tendências, opiniões e ideais que levam o selo
da sinceridade e da melhor boa vontade?
E, quem dominou tão completamente sua ambição e seus desejos pessoais, e está certo, pelo seu
altruísmo e desinteresse de não cooperar com a ferida do Malho fatal, que destrói constantemente o
Espírito verdadeiro que há de reinar na Maçonaria? A resposta sincera a estas perguntas e o
reconhecimento dos reais propósitos que o animam farão ver ao Companheiro se está efetivamente
na disposição de espírito necessária para poder franquear a porta do Magistério, no qual se ingressa
exclusivamente pela Câmara do meio de nossa consciência individual.
ASSASSINATO SIMBÓLICO
Mas, além deste assassinato do qual podem fazer-se cúmplices, com a melhor boa vontade, seus
adeptos mais entusiastas e seus mais fiéis trabalhadores (quando, por estreiteza de inteligência e de
coração, tentam impor e forçar a observação de regras e limites arbitrários e condenam aqueles que
não os observam como irregulares, ou sobrepondo indevidamente sua personalidade à
Impessoalidade da Obra), existe outro crime simbólico de uma natureza inteiramente diferente (se é
que se pode chamar crime) que, ao contrário do primeiro, deve ser considerado como necessário e
inevitável.
Este crime se refere à origem de nossa Instituição, com seus sinais, palavras e símbolos atuais e que
é, pode-se dizer, sua ata de nascimento.
É característico o fato de que os três assassinos estejam armados justamente com os instrumentos
distintivos das três Luzes (que representam os três graus), por meio dos quais consumam o ato
simbolicamente criminoso e, ademais, reunidos numa caverna, que tem toda a aparência de um
Templo Maçônico rudimentar, façam os sinais que desde aquele momento foram adotados na
Maçonaria, como meio de reconhecimento.
Isto nos ensina, uma vez mais, a duvidar das aparências, para ver as coisas em sua realidade, pois a
verdade pode estar onde menos a suspeitamos.
27
E a Verdade é, neste caso, que os três graus simbólicos são os próprios assassinos do Mestre
Hiram, que representa e personifica a Tradição Iniciática Universal (note-se o estreito parentesco
entre Hiram e Hermes, que não pode ser efeito de uma simples coincidência) que, ao encarnar-se
está escondida, sepultada e praticamente morta nos símbolos de tais graus.
Ainda que esses três graus não tenham conseguido a verdadeira palavra a que dá o Magistério
efetivo, tiveram um êxito notável em revelar e ocultar a Tradição Iniciática, escondendo-a
completamente dos olhos dos profanos, tanto dentro como fora de nossa própria Instituição e, de
fato, os símbolos maçônicos, como a própria Esfinge, são mudos também atualmente para a grande
maioria dos maçons, que não chegam a compreender deles mais do que seu significado exterior e
rudimentar. Os que buscam a Verdade hão de imitar os novos mestres, indo atrás dos vestígios do
desaparecido, assim como dos três culpados, para encontrar o primeiro e iluminar os segundos.
SENTIDO DA BUSCA
A tríplice busca atrás dos assassinos, do corpo de Hiram e de quem ocultou a palavra vivificadora,
é o trabalho essencial dos Mestres, que sempre se esforçam para encontrar algo que possa substituir
melhor o que foi perdido pela cumplicidade das causais determinantes, personificadas pela
Ignorância, pelo Fanatismo e pela Ambição. Primeiro, a busca é dirigida para os assassinos que são
localizados e reconhecidos. Isto deve ser feito no duplo sentido do assassinato, localizando e
reconhecendo nos três inimigos um obstáculo que nos impede de fazer um trabalho mais útil e
proveitoso pelo bem da Ordem. Temos que perseguir a Ignorância por meio do estudo, na qualidade
de Aprendizes, pela meditação na qualidade de Companheiros e com a instrução que se espera de
nós, quando somos Mestres.
O mesmo devemos fazer com o Fanatismo e a Ambição, abrindo nosso coração à tolerância (por
meio do Compasso de uma compreensão mais ampla que sempre acompanha o Esquadro de nosso
juízo), esforçando-nos para que nossa atividade seja constantemente inspirada pelo Amor e dirigida
ao Bem da Ordem e de nossos semelhantes.
Só temos que trabalhar, com extrema prudência e circunspecção, para evitar que fujam espantados
pela luz de nossas revelações, sendo dever dos verdadeiros Mestres cooperar com o pecador para
que se arrependa e se corrija, ao invés de julgá-lo, condená-lo e castigá-lo.
Uma vez encontrada nos assassinos a recordação do desaparecido, nossa busca deve dirigir-se para
os seus vestígios. Trata-se aqui de enfrentar todas as relíquias das antigas tradições e religiões, com
todas as superstições do passado, que podem ser encontradas tanto no Ocidente como no Oriente e
ao Meio-dia, buscando o significado desvanecido que se esconde sob uma aparência muitas vezes
enganadora, com o objetivo de reconstruir sua Unidade Vital.
Esta busca dos nove Mestres é, assim, muito parecida com aquela que faz Isis pelo Corpo de Osíris,
que foi despedaçado e escondido em toda a parte.
Tudo o que se encontre nesta busca deve ser reconhecido pelos sinais que leva. Para isto já não é
suficiente a obra de um Mestre isolado, mas todos deverão reunir-se, comprovando mutuamente que
o que foi encontrado é realmente o que se buscava. Assim, o Mestre que encontre os despojos os
cobrirá piedosamente, para evitar que se desagreguem ao contato com o ar e com a luz do dia, e
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porá por cima, para reconhecer o lugar, o simbólico ramo de acácia que significa, para os que o
entendem, que ali há vestígios de verdades imortais.
Só os Mestres conhecem a acácia e sabem que por trás da morte aparente da forma, persiste a
Vida Eterna e Imortal do Espírito. Por esta razão não há perigo que os profanos, guiados por esta
senha indicadora, possam desenterrar e profanar o cadáver. Além disso, o horror natural da morte os
impede, sendo também prerrogativa dos Mestres reconhecer a realidade da vida na aparência da
morte e, por conseguinte, só os Mestres possuem a capacidade de vivificar outra vez o cadáver e
trazê-lo à vida plena.
O SINAL DE MES RE
Assim como os Aprendizes e Companheiros, também os Mestres têm um sinal especial, por meio
do qual se reconhecem como tais. Este sinal indica sua qualidade de Mestres, como conseqüência
do esforço especial nele simbolizado.
Assim como o sinal do Aprendiz se refere ao domínio das palavras e ao constante esforço que deve
fazer o iniciado nesse grau, cuidando e retificando a expressão verbal de seus pensamentos; e o
sinal de Companheiro alude ao domínio das paixões e dos pensamentos, que deve buscar em seu
próprio coração, no centro de sua consciência e de seu ser; o sinal do Mestre indica um terceiro e
mais profundo estudo do domínio de si mesmo, o dos instintos, somente com o qual pode-se
conseguir a regeneração da própria personalidade.
Este é o significado real do sinal de Mestre e o castigo simbólico a que se refere é simplesmente a
conseqüência de não haver alcançado este domínio, porque somente no homem que se regenerou,
vencendo os instintos, integrou-se realizando a unidade da Personalidade com a Individualidade e,
por fim, se tornou imortal e indestrutível; enquanto quem não o consegue, é ainda mortal e, por
conseqüência, sujeito à divisão ou separação periódica entre a parte superior e imortal, que constitui
a Individualidade, e a parte inferior e mortal, que reveste a primeira e constitui a Personalidade.
A imortalidade efetivamente alcançada, quer dizer no mundo físico, é simbolizada na própria acácia
e em seu perfume (o odor de santidade), que por esta razão só os Mestres podem realmente
conhecer.
Mas esta palavra, como a maioria das que se usam com finalidade iniciática, tem um duplo sentido
etimológico. Além de fazer referência à árvore que produz a goma arábica, a palavra grega akakía
tem o significado de inocência, relacionando-se com o sânscrito ahimsa, a primeira e fundamental
entre as qualificações de yama7, a base ética da Yoga, ou seja, o caminho que conduz ao Magistério.
A FAIXA
7
A propósito da palavra Yama é interessante notar que, em sânscrito, corresponde ao nome do deus da morte, indicando
a morte iniciática dos instintos, ou seja, a regeneração com a qual se alcança o Magistério. (N.A.)
29
Qual é o significado da faixa, que caracteriza o Mestre maçom e o distingue dos Companheiros e
Aprendizes? A faixa é essencialmente um círculo, ou melhor, uma figura elíptica que se sobrepõe
obliquamente ao círculo formado inferiormente pelo avental.
A forma elíptica e sua obliqüidade sugerem imediatamente uma evidente analogia com a faixa
zodiacal da elíptica, ou seja, com os doze signos e constelações que marcam a senda dos astros de
nosso sistema solar, em seu caminho aparente, e também no real.
Agora, como a Astrologia nos ensina, cada ser e cada coisa têm seu próprio zodíaco, expressão
individual ou microcósmica de um único Princípio Universal ou macrocósmico.
Em outras palavras, há um círculo ao redor de todo centro e este círculo se divide naturalmente, por
meio da dupla ação da Cruz e do Triângulo, em doze partes ou zonas distintas cada uma das quais
participa, ao mesmo tempo, de um determinado elemento da Cruz e de um do Triângulo que
correspondem exatamente aos doze signos do zodíaco.
Isto significa que a Estrela Flamejante que representava, no estado de Companheiro, o Ideal e a
Inspiração para uma vida superior identificou-se, no estado de Mestre, com o próprio coração da
vida individual, da qual o zodíaco representa a expressão exterior.
A faixa do mestre mostra, por conseguinte, a identificação interior da consciência pessoal com a
Mônada, ou centro espiritual da Vida Individual, como resultado do domínio alcançado sobre os
instintos pela morte do que há de mortal em nós e é causa interior da morte física.
A harmonia assim conseguida e o completo desenvolvimento das faculdades que assim se realiza,
estão simbolizados no estudo da Música e da Astronomia que competem ao Mestre, como
complemento da Retórica.
A PALAVRA DE PASSE
É característico o fato de que a palavra de passe do grau de Mestre tenha sido e ainda seja, em
algum rito, adotada para o grau de Aprendiz. Como justamente se observou o Aprendiz não pode ter
palavra de passe pelo fato de que ingressa pela primeira vez na Ordem, porque a palavra de passe
não pode referir-se, simbolicamente, senão à passagem de um grau a outro.
Mas esta adoção não é inteiramente arbitrária, porque reflete a retrogradação, por meio da qual o
Companheiro ingressa na Terceira Câmara, como se ingressasse no grau de Aprendiz, terminando
por entrar no Quarto de Reflexão.
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A interpretação desta palavra é difícil, por tratar-se de um nome próprio o nome do quinto entre
os oito filhos de Jafet, filho de Noé. No entanto, o significado de tal nome, assim como a qualidade
especial de quem o personifica, podem nos dar alguma luz.
Diante disso, podemos interpretá-la como transmissão direta para a Tradição Maçônica da mais
pura Tradição Iniciática antediluviana, simbolizada em Noé. Em segundo lugar, dado que ao
mesmo personagem bíblico são atribuídos, particularmente, a indústria e o trabalho dos metais,
podemos ver nesta atribuição uma referência importante à transmutação e sublimação dos metais
que constituem a personalidade aqueles mesmos metais dos quais teve que se despojar, como
Aprendiz, ao ingressar no Quarto de Reflexão - e que deve ter transmutado ao sair novamente do
Quarto (que se identifica, como vimos, na Câmara do Meio) como Mestre.
Um tal significado é confirmado pelo próprio nome de Vulcano o forjador dos metais e artífice
construtor dos deuses que faz uma óbvia analogia com a palavra a que nos referimos.
Outros vêem nesta palavra uma simples hebraização do grego tumulum, ou seja, levantar do
sepulcro 8, acepção igualmente muito provável, seja pela morte simbólica que tem que sofrer
entrando na Terceira Câmara, seja pela elevação ou ressurreição do que há de morto no homem
ordinário e que, na prática, simboliza o sepulcro da Individualidade.
O TOQUE DO MESTRE
Este toque se distingue muito claramente dos toques do Aprendiz e do Companheiro, aos quais deve
suceder quanto maior seja o progresso na faculdade de conhecer a qualidade real ou o íntimo de
uma pessoa, reconhecendo o que existe em sua Câmara do meio, no lugar secreto que é o alento de
sua individualidade.
Além disso, as mãos que se entrelaçam estreitamente são o símbolo evidente da solidariedade
maçônica. É prerrogativa e privilégio dos Mestres tornar mais real, efetiva e tangível, no
reconhecimento do Único Princípio Central, do qual todos somos manifestações, diferentes somente
na aparência exterior.
Os cinco pontos de perfeição que acompanham o toque de Mestre e a comunicação da Palavra têm
um sentido análogo, já que por meio desse reconhecimento nossos pés direitos (a vontade de
progredir) marcham em uníssono. Os joelhos se acompanham num mesmo sentimento de reverência.
As mãos se unem em comunhão de intenções para a ação comum, e os peitos se aproximam em
unidade de inspiração. As mãos esquerdas se sustêm mutuamente na identidade de motivos, que os
impulsionam à ação.
Seu conjunto é o símbolo mais apropriado de uma cooperação realmente perfeita e uníssona.
A PALAVRA SAGRADA
8
Segundo a interpretação de Reghini em Le parole e di passo dei primi tre gradi massonici (N.A.)
31
É muito difícil dizer qual é a verdadeira palavra abreviada nas místicas iniciais M:. B:. N:. , pois
é pronunciada de formas diversas, segundo os ritos. Além do sentido que lhe é dado nos rituais de
a carne se separa dos ossos e construção que segue à destruição , a outra maneira de pronunciá-
la (além do sentido ritual: está em putrefação), é "quem nasceu do pai".
Esta última forma de pronunciá-la está em íntima relação com o nome próprio do filho incestuoso
de Loth, assim como com o do país no qual morre Moisés. Estas referências bíblicas não podem
estar desprovidas de significado simbólico, no entanto, deve-se considerar como outros sentidos o
de construção que está indicado pelas três letras hebraicas que abreviam tal palavra, e outros
sentidos análogos que podem derivar-se facilmente como o de: proteção ou liberação do filho , e
o que está escondido . Também é muito provável o significado de nascido do mar , segundo uma
transcrição dessa palavra aparecida em 1766; e outra interpretação que lhe dá o significado de vive
no filho . O mar é, pois, o meio originário de todas as formas de vida orgânica, e a água é o
elemento básico de toda regeneração. E cada personalidade humana é filha de uma anterior que teve
que passar pela morte para renascer em nova forma.
Não devemos esquecer, no entanto, que se trata de um mero substituto da Palavra Verdadeira e que,
por conseguinte, o sentido particular que lhe é dado tem um valor secundário. O que mais conta é o
sentido real de tal palavra, segundo mostra a Lenda, com especial referência à maneira com que foi
encontrada. É, pois, a palavra de vida que opera o milagre da ressurreição, frente às decepções da
Fé e da Esperança, representadas nas exclamações dos primeiros dois Mestres, que conseguem
levantar da Morte à Vida o cadáver de Hiram. Interpretando cabalisticamente as três letras
hebraicas Mem, Beth e Nun, com as quais se pode representar essa palavra, encontraremos um
significado mais satisfatório, por sua relação com a cerimônia da qual constitui a síntese e o
coroamento.
A primeira destas três letras é a décima terceira no alfabeto hebraico e significa águas . O décimo
terceiro arcano do Tarô é a morte ou regeneração, representando muito bem, a condição preliminar
do Magistério, enquanto as águas o elemento úmido, passivo, feminino, negativo e unitivo
indicam, com toda claridade, o batismo da água, ou seja, a negação do mal necessária para o novo
nascimento da água e do espírito , do qual fala Jesus a Nicodemus, no Evangelho de São João.
A segunda o é também na ordem alfabética e em seu valor numérico e aritmosófico, o arcano que
lhe corresponde representa Isis ou a Papisa sobre o umbral dos Mistérios, que indicam um véu
estendido dentre duas colunas (princípios complementares), atrás dos quais se esconde o Sancta
Sactorum, no qual se penetra pela Câmara do Meio.
O nome da letra significa casa, recinto e, por fim, templo, lugar sagrado e oculto , a Casa do
Espírito ou lugar secreto da consciência , no qual acontece o segundo batismo, ou seja, a pedra
filosófica por meio da qual se opera a transmutação.
A transmutação está muito bem simbolizada no décimo quarto arcano, que corresponde à letra Nun.
Não se pode pôr vinho novo em odres velhos , porque estes devem ser novos, ou seja, deve
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renovar-se segundo a essência ou vinho espiritual que estão chamados a conter, para poder
manifestá-la.
Quanto ao peixe, significado no nome da letra, indica a vida que nasce e se move nas águas o
elemento passivo e negativo que produziu a morte simbólica do iniciado uma vez que tenha sido
perfeita a regeneração. É característico que também o Cristo, ou seja, a perfeição iniciática, fosse
representado por um peixe nas primeiras épocas do cristianismo. Algo semelhante encontramos no
deus-peixe Oan dos Caldeus, ao qual se atribuiu toda a Sabedoria, assim como na mitra dos bispos,
reminiscência dos Mistérios homônimos, cuja forma parece indicar que quem se cobre com ela
nasceu misticamente do peixe ou como um peixe.
A Palavra Sagrada do Mestre também se refere ao processo pelo qual se dá a regeneração iniciática
individual, que é a forma pela qual se chega ao Magistério, e a faculdade ou qualidade que realiza
esse processo, ou seja, o Amor.
Este último sentido se faz necessário pela relação direta desta terceira palavra com o significado
evidente das palavras dos graus precedentes, às quais que segue e das quais é o coroamento, como o
demonstra a própria cerimônia da elevação, na qual o toque e a palavra de Mestre seguem as
Palavras de Aprendiz e de Companheiro.
Assim como a primeira palavra se refere à qualidade da Fé, que se adquire com o reconhecimento
de que a força se encontra em uma Realidade ou Poder Superior à aparência ilusória e exterior das
coisas; e a segunda se refere à Esperança, que se realiza esperando-se que se estabeleça e se faça
evidente aquilo que foi reconhecido por meio da Fé; a terceira palavra não pode referir-se senão ao
Amor, que se obtém com a morte do egoísmo e a regeneração individual, e é a Força Onipotente, a
única que pode suster a Fé e a Esperança isoladas, sobrepondo-se a suas decepções e vencendo-as.
Finalmente, se nos detivermos no significado exterior das inicias das três palavras, entendemos que
a palavra do Aprendiz refere-se à consciência do Bem ou seja, ao reconhecimento que a Realidade
e Essência Fundamental do Universo é boa e benéfica e, como tal, ativa e operativa no fundo de
todos os seres e de todas as coisas, apesar da aparência contrária ilusória que o iniciado deve
acostumar-se a superar, deixando de ser sua vítima e escravo.
O Companheiro deve, por sua vez de acordo com o sentido mais significativo da primeira letra de
sua própria palavra estabelecer-se na Justiça, reconhecendo-a como Lei Absoluta e Universal, a
que nenhum ser e nenhuma coisa podem nunca se subtrair, conformando com ela inteiramente todos
seus pensamentos, palavras e ações, e confiando constantemente em sua Onipresença, Onisciência e
Onipotência.
E o Mestre deve identificar-se com a Lei Moral, fazendo-se guiar em todas as coisas pelo sentido do
dever e pela retidão, mais do que pela conveniência e pelas considerações de interesse pessoal,
escolhendo constantemente o que seja melhor em si, ou seja, os valores verdadeiros, reais e
permanentes acima dos valores ilusórios, fictícios e passageiros. E, também deve morrer e
esforçar-se diariamente em fazê-lo para o vício, o erro, a ilusão, a consciência do mal, para a
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injustiça e a imperfeição e, enfim, para a própria morte, aprendendo a viver na Eternidade.
Somente assim pode chamar-se dvija ou duas vezes nascido tendo passado, pela morte, à Vida
Real e Imortal do Espírito.
O MILAGRE DA RESSURREIÇÃO
O significado real da palavra perdida, que os Mestres sempre buscam em seus trabalhos é muito
mais recôndito e profundo do que pode parecer à primeira consideração esotérica. Não se refere
somente à Tradição Iniciática e Maçônica em particular, mas a cada Mestre que há de descender à
tumba da personalidade que é, ao mesmo tempo, Ilusão, Trevas e Morte, para poder encontrá-la nas
profundidades de si mesmo e conseguir, por meio dela, levantar-se e viver no sentido mais real
dessa palavra.
Vencendo o vício com a Virtude, o erro com a Verdade e o egoísmo com o Amor, o Iniciado volta
ao estado de inocência, com o qual fica purificado e redimido do pecado original da Ilusão e de suas
conseqüências o Egoísmo, o Mal e a Morte e ressurge no Real, destruindo a raiz do mal e
conseguindo a Divina Liberação, que é a aspiração profunda de todo ser humano.
Este é o programa real da Maçonaria em seus três graus simbólicos, e nos graus filosóficos que
devemos interpretar e realizar procurando, como os nove mestres, a palavra perdida que produz o
milagre da ressurreição.
SEGUNDA PARTE
Depois de responder, como Companheiro com a consciência adquirida de seu Gênio Individual,
simbolizado na estrela - à pergunta Quem somos? E, depois de reconhecer a realidade de seu Ser
Eterno, Imortal e Indestrutível, o Mestre está agora, diante da terceira pergunta: Aonde vamos? ,
cuja perfeita resposta lhe permitirá trabalhar conscientemente no reconhecimento e na realização de
seu verdadeiro Destino.
Assim como o conhecimento dos seis primeiros números e dos correspondentes princípios
geométricos lhe foi útil e necessário para responder satisfatoriamente às duas perguntas
correspondentes aos dois graus precedentes, agora é preciso meditar e aprofundar os mistérios
relacionados com os números de sua idade, dos passos e da batida do grau.
Com este estudo adquirirá o perfeito domínio da Retórica, que não é para ele como o é para o
profano ostentoso e vão palavrório, mas a capacidade de falar em harmonia com o Princípio
Geométrico Construtor do Universo, cooperando na manifestação do Verbo, que é o Princípio
Latente de todo ser, de toda coisa e de toda atividade, criação e produção.
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No entanto, para que este Verbo ou potencialidade oculta interior possa realmente manifestar-se,
isto é, para que a Palavra adquira um poder efetivamente criativo e operativo, não é suficiente que
se inspire no simples conhecimento da Gramática e da Lógica. Ou seja, dos Princípios sobre os
quais se tenha estabelecido o Universo e das relações de afinidade e casualidade que regem as
diferentes coisas. Tampouco será suficiente, para o exercício das reais prerrogativas do Magistério,
conhecer a Aritmética e a Geometria.
Por maravilhosas que sejam as possibilidades filosóficas que se escondem na Divina Ciência dos
números e das Formas que Pitágoras e Platão nos ensinam, este estudo e este conhecimento têm que
se tornar vivo e atual, completando-se com a Música e a Astronomia.
Estas duas Artes como as demais não são para o Iniciado o que representam para o profano. Por
esta razão, são as últimas entre as sete artes, relacionando-se especialmente com a Aritmética e a
Geometria, com as quais completam o quadrivium. Ninguém pode ser realmente músico ou
astrônomo sem ser, ao mesmo tempo, um perfeito matemático como o é o Grande Geômetra do
Universo, cujos matemáticos Princípios aparecem manifestos na sublime Harmonia das Esferas. A
música é, pois, matemática falada, e a Astronomia matemática em ação.
IDADE DO MESTRE
Os sete anos, que formam a idade dos Mestres, se referem ao conhecimento e perfeito domínio de
tudo o que se relaciona com o número sete.
Este número nasce do seis pela União central dos dois triângulos entrelaçados, que formam o
símbolo conhecido com o nome de Selo de Salomão.
Também o encontramos no cubo, com a sétima face interior, o plano no qual há de dispor-se
interiormente o homem para medi-lo e medir-se nele, e que se obtém partindo pela metade a pedra
cúbica com o machado do discernimento. Além disso, é a união do ternário dos princípios com o
quaternário dos elementos, quando estes se somam àqueles.
Da mesma forma, se obtém um setenário, quando se entrelaçam naturalmente três círculos, fazendo
com que cada um deles passe pelos dois centros dos demais. Isto parece evidente quando de pintam
os três círculos com as três cores fundamentais resultando, de sua combinação, as sete cores do
espectro. O mesmo se verifica combinando as três qualidades ou gunas Atividade, Inércia e Ritmo,
que como vimos, constituem os três lados do Delta (fazendo deste os diâmetros dos três triângulos),
obtendo-se, desta maneira, o setenário dos planetas, conhecidos pela Astronomia e Astrologia
antigas.
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No Delta, deve-se distinguir os três vértices ou pontos que formam seu aspecto espiritual, dos três
lados que, opondo-se aos pontos, os manifestam materialmente. Os três pontos representam,
respectivamente, os três aspectos do Ser ou Essência Suprema: SAT o Ser ou Realidade em si
(existência absoluta); CHIT, o Ser como consciência (existência subjetiva); ANANDA, o princípio
de beatitude ou felicidade, como atributo inseparável do Ser (fulcro e princípio da existência
objetiva).
Quanto aos três lados, correspondem às três propriedades da Substância ou princípio materno e
formativo Atividade, Inércia e Ritmo - que materializam os Princípios Criativos do Enxofre, do
Sal e do Mercúrio.
Podemos indicar estas qualidades com as três cores fundamentais: vermelho, azul e amarelo e com
os três planetas, Marte, Saturno e Mercúrio, de cujas combinações obtemos os demais, ainda que,
estes últimos, pelo feito de serem centrais, constituem a origem e são os Princípios Espirituais
Criativos dos demais. Assim se originam as correspondências que aparecem na figura acima.
Outra combinação dos três círculos com os planetas e metais, diferente da anterior, é demonstrada
no desenho seguinte. Nele se tomam como fundamentais o Sol e a Lua, Princípios Espirituais, e se
põe sob Saturno como Princípio Material, originando-se Marte de sua combinação com o Sol,
Vênus de sua combinação com a Lua, Júpiter da união dos dois Princípios Espirituais e Mercúrio da
combinação dos três.
Há uma correspondência evidente e necessária entre as sete cores do espectro e as sete notas
musicais, assim como há entre os acordes de uns e outros, a gama luminosa vermelho, alaranjado,
amarelo, verde, azul, índigo e violeta reproduzindo-se na sonora do, ré, mi, fá, sol, lá, si da
qual é simplesmente, uma oitava mais elevada.
Se tivéssemos a retina suficientemente sensível, poderíamos ver os sons como vemos as cores, e se
nossos ouvidos fossem refinados o bastante, poderíamos ouvir as cores com suas notas
correspondentes.
Tal correspondência nos faz passar do domínio da Geometria ao da Música e põe esta em relação
com a Astronomia (por ser esta o Domínio da Luz e as sete cores, seus aspectos). Aplicando-a à
Retórica, podemos estabelecer, da mesma forma, uma gama vocal derivando as sete vogais i, e, a,
o, u, ô, û das três fundamentais a, i, u que se combinam exatamente como vimos para as cores, e
uma gama consonântica, formada analogicamente pelos contatos dental, palatal, gutural, cacuminal,
nasal, labial e labiodental (derivados das três articulações fundamentais dental, gutural e labial).
OS SETE PLANETAS
Os sete planetas entendidos, segundo a Astrologia, como princípios ativos tanto no Universo como
no homem constituem, com suas correspondências múltiplas e completas, um interessantíssimo
motivo filosófico.
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Estes planetas são no sentido de forças e princípios, dos quais os corpos celestes conhecidos com
o mesmo nome são a personificação material um temário fundamental formado pelos dois
luminares e por Mercúrio, e de um quaternário formado pelos pares de planetas, respectivamente,
benéficos (Júpiter e Vênus) e maléficos (Saturno e Marte), superiores (Saturno e Júpiter) e
inferiores (Marte e Vênus), ativos (Marte e Júpiter) e passivos (Vênus e Saturno). Os primeiros,
quer dizer, o ternário, corresponde ao domínio do Oriente, representados no Delta, e os segundos,
ou seja, o quaternário ao domínio do Ocidente, expresso pelas duas colunas.
A Lua, combinação passiva de água e terra, princípio receptivo, feminino e fecundo, magnético,
negativo e Mercúrio, mescla rítmica de ar e terra e quintessência elemental, princípio inteligente,
andrógino e mutável, eletromagnético, recebendo e refletindo as influências dos demais, dos quais é,
como o metal homônimo, um espelho fiel.
Júpiter, planeta benéfico por excelência, combinação rítmica de fogo e água, elétrico, positivo,
fecundo, princípio da retidão, da justiça e da benevolência, símbolo do Magistério. Marte,
combinação ativa de fogo e terra, elétrico, positivo, violento, masculino, princípio criador e
destruidor.
Vênus, fusão passiva de ar e água, feminino, magnético, harmônico e fecundo, princípio benéfico
do amor e da atração entre os dois sexos. Saturno, mescla passiva de ar e terra, estéril e maléfico,
magnético, princípio da negação e da destruição, da inércia e da gravidade.
OS SETE METAIS
Os sete metais estão em correspondência com os planetas, que se consideram como meios e
veículos de suas influências: o ouro com o Sol, a prata com a Lua, o mercúrio com o planeta
homônimo, o estanho com Júpiter, o ferro com Marte, o cobre com Vênus e o chumbo com Saturno.
Todos estes metais encontram-se dentro de nós, formando as qualidades positivas e negativas
virtudes e vícios - de nossa personalidade, que devemos transmutar de uma polaridade inferior para
uma superior. Nisto consiste a alquimia espiritual, com a qual, em sua palavra de passe, o Mestre
Maçom afirma ter-se adestrado.
O mercúrio, que reflete os demais metais, amalgamando-se com todos e assim assimilando suas
respectivas virtudes e defeitos, representa a Sabedoria, o equilíbrio, a medida e a Temperança,
podendo produzir o pecado capital da inveja.
O estanho, força coesiva capaz de ligar-se vantajosamente com os demais, representa a Justiça e a
Benevolência. No entanto, degenera, por suas propensões exteriores, na cobiça e no vício da gula ou
glutonaria.
O ferro, o metal da fortaleza sumamente útil em todo trabalho e atividade construtiva, tende a
produzir os excessos da cólera e da violência, assim como domina em toda fúria bélica destrutiva.
O cobre, que se aproxima por sua cor ao ouro, e cuja aleação9 o endurece e reforça, sendo por sua
maleabilidade e conservação preferido nas obras artísticas que assim se conservam através dos
séculos, é símbolo do Amor e de toda capacidade criativa e fecundidade produtiva, mas degenera no
vício, e particularmente na luxúria.
Enfim, o chumbo, mais pesado que todos os outros é o símbolo natural da prudência e da
concentração em si mesmo da austeridade, da severidade e do isolamento, da paciência e da firmeza,
da prudência e da perseverança. Degenera, porém, no temor e na preocupação, na ansiedade, no
egoísmo e na preguiça. Para que possam, purificados de suas escórias, combinarem-se se tornando
úteis para nosso progresso, esses metais devem ser postos no crisol da prova, mantendo sempre
aceso o fogo de um entusiasmo duradouro.
Assim, poderão forjar-se nos instrumentos de nossos talentos e faculdades, e nas virtudes que nos
adornam e embelezam a existência.
Isto é o que deve saber o Mestre Maçom toda vez que, por meio de sua palavra de passe, se
assemelha ao bíblico-mitológico forjador de metais.
OS SETE DIAS
Um exemplo da clássica e universal importância do número sete, representado nos sete planetas,
nos sete arcanjos ou Inteligências Forças e Poderes cósmicos que lhes correspondem,
encontramos nos sete dias da semana, por sua vez relacionados com os sete dias da criação.10
A ordem dos planetas, no nome dos sete dias, é obtida pela ordem dos mesmos, segundo sua
distância da Terra: Saturno, Júpiter, Marte, Sol, Vênus, Mercúrio e Lua, tomando-os de três em três,
isto é, segundo as linhas do heptagrama, que também correspondem ao acordo que pode existir
entre as notas musicais e entre as cores.
9 Aleação - Por aleação se entende a união íntima e homogênea de dois ou mais elementos, sendo ao menos um deles
um metal. É muito raro encontrar aleações na natureza, tradicionalmente se preparam misturando os materiais fundidos
e deixando esfriar a mistura. Quando intervém o mercúrio (Hg) fica em estado líquido, e nesse caso se denomina
amálgama. (N.T.)
10
Os antropólogos remontam a origem da semana ao culto dos números sagrados, ainda que sem dar nenhuma
explicação satisfatória sobre a razão de tal culto ou veneração, cuja importância se faz evidente, sobretudo por sua
relação com a Arquitetura Cósmica. Os antigos semitas parecem ter possuído a semana desde as épocas mais remotas,
como parte integrante da tradição cultural e religiosa que eles transmitiram ao Ocidente, junto com o estudo da
Astrologia e ao Oriente com a religião islâmica (N.A.).
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O domingo, ou dies Solis, está sob o domínio de Miguel, expressando a consciência ou
semelhança divina (Quem como Ele?), a Divindade Suprema, Bal ou Él, chamada depois pelos
árabes de Allah. O metal que corresponde a este dia, é o ouro, sua cor o laranja, seu perfume é o
sândalo e sua planta o louro.
A segunda-feira, ou dies Lunae, está sob o domínio de Raphael (o poder curador da Vida Divina),
que corresponde à divindade caldéia Sin, sendo seu metal a prata, sua cor o branco, seu perfume o
alóe.
A terça-feira ou dies Martis (o Nergal caldeu) corresponde a Gabriel (Força de Deus). Seu metal é o
ferro, sua cor o vermelho, seus perfumes a pimenta e o artemísia.
A quinta-feira ou dies Jovis é consagrada a Júpiter, que corresponde com o Marduk dos antigos
semitas e Zadek-El, a retidão ou justiça de Deus. Seu metal é o estanho, sua cor o carmesim, seu
perfume o açafrão.
A sexta-feira ou dies Veneris era consagrada a Vênus, a antiga Ninna ou Istar, correspondendo a
Anael (compaixão de Deus), com o cobre entre os metais, o verde ou anil entre as cores, o almíscar
entre os perfumes.
Finalmente, o sábado (ou sétimo), dies Saturni, sob o domínio do deus caldeu Nindar e de Casiel ou
Zafiel (virtude de Deus) entre os arcanjos, cujo metal, cor e perfume são, respectivamente, o
chumbo, o azul e a mirra.
Assim, cada planeta é, realmente, em seu sentido esotérico e como expressão do setenário, um
atributo ou aspecto do Ser e da Inteligência Divina, ao mesmo tempo em que é uma força particular
ou qualidade elemental. Estas últimas derivam, como vimos (assim como as sete cores que lhes
correspondem) da combinação das três qualidades, ou gunas: Rajas ou Atividade, Famas ou Inércia,
Satva ou Ritmo. Analogamente os sete atributos expressos nos nomes dos sete anjos podem ser
obtidos da combinação das três qualidades fundamentais do Ser: Sat, Chit e Ananda (que formam
os três pontos do Delta) e consciência, inteligência e vontade, que formam seus três lados.
Obtemos, assim, a figura abaixo na qual aparecem também as três virtudes teologais (fé, esperança
e caridade) e as quatro cardinais (prudência, justiça, temperança e fortaleza).
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Esta correspondência material e moral constitui a base filosófica da Astrologia ou linguagem dos
astros, aplicada à realização do Destino dos homens, em harmonia com os princípios da Arquitetura
Universal, a que se refere o estudo combinado da Música e da Astronomia, em relação com a
Retórica, que é competência dos Mestres.
Uma correspondência análoga podia ser estabelecida com os sete raios conhecidos pela literatura
ocultista moderna: o primeiro raio, da Vontade, correspondendo com a cor vermelha e com Marte.
O segundo raio, da Sabedoria, com a cor alaranjada e com o Sol. O terceiro raio da pura Inteligência,
com a cor amarela e com Mercúrio. O quarto raio da Inteligência Criativa com a cor verde e com
Vênus. O quinto raio da Inteligência Concreta, com a cor azul e com Saturno. O sexto raio do
Idealismo ou Misticismo, com a cor anil e com a Lua. O sétimo raio da Magia e da Ritualística,
com a cor violeta e com Júpiter. A ordem das cores tem correspondência direta com a escala
cromática.
OS DIAS DA CRIAÇÃO
Passando agora aos dias da criação, e estudando-os também com o Esquadro da razão e o Compasso
da compreensão, podemos ver neles as sete fases sucessivas que revelam e tornam perfeita a
manifestação do Universo.
Esta criação ou manifestação existiu no princípio, quer dizer, como Plano ou essência latente e
causal, por meio da qual se fez efetiva, começando com o movimento do Espírito de Deus a
Realidade em seu aspecto dinâmico ou Poder da Consciência sobre a face das águas , aspecto
estático da mesma Realidade.
O primeiro dia da criação, que corresponde ao Domingo, foi a manifestação da Luz ou Inteligência
Criadora, fundamento e princípio da energia e, por fim da matéria, pois esta é energia concentrada,
assim como aquela é concentração de Luz, de Inteligência e de Consciência.
No segundo dia, ou seja, Segunda-feira, produziu-se uma expansão ou firmamento no meio das
águas , separando-se as de baixo das de cima, e a expansão se chamou céus . Esta segunda fase se
refere à manifestação do espaço, por meio de uma expansão que se fez no elemento estático ou
negativo do ser (as águas), para que fosse uma base firme (ou firmamento) de tudo o que se
manifestaria depois.
A manifestação do espaço está muito bem simbolizada pela manifestação análoga ou separação
em conseqüência de uma expansão, na qual se esforça em expressar sua plenitude do círculo do
ponto em que ESTÁ POTENCIALMENTE CONTIDO produzindo-se, assim, tal espaço entre as
possibilidades latentes do ser e, separando-se as de cima (dentro do Ponto, numa dimensão diferente
das que conhecemos) das de baixo (base ou firmamento do Universo visível e invisível), sendo seu
resultado o Céu ou círculo (de caelum, cavilum ou koilon, oco ou vazio), no qual se formaram todas
as coisas.
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O terceiro dia, a Força ou Poder Divino, simbolizado no planeta Marte e no anjo Gabriel, faz
juntar como conseqüência da expansão que se produziu as águas de baixo NUM LUGAR, para
que se descubra ou revele a parte seca. Quer dizer, um princípio ou ponto energético consciente e
material diferente e separado do Ser indiferenciado, que pode identificar-se com o átomo primordial,
formando-se assim a terra (nome cuja etimologia quer dizer seca ou queimada, em latim, em
sânscrito e em hebraico) ou matéria, que é a substância de tudo.
Assim apareceram os astros como luminares na expansão dos céus para iluminar sobre a terra e
por sinais, e para as estaç es, e para os dias e anos . Isto é, a Luz ou Princípio Inteligente-
Energético, se manifestou nos átomos que formam a terra princípio seco ou separado -
agregando-os e iluminando-os com as modalidades vibratórias conhecidas como os quatro
elementos. (Veja o Manual do Companheiro ).
Esta formação da matéria, por meio do movimento ou iluminação, originou a distinção do tempo,
ou seja, a sucessão e duração dos ciclos e períodos (dias e anos) que o compõe.
No quinto dia, dia de Júpiter, Deus Pater a Divindade se faz Pai, nascendo a rosa da vida na cruz
dos quatro elementos, para infundir-se nestes e dominá-los. As águas (superiores, ou seja, dentro do
ponto da primeira manifestação) produzem répteis de anima vivente (a vida que se arrasta na
matéria) e aves que voam sobre a terra (impulso evolutivo que eleva a vida em sua manifestação
ascendente). É o estado vegetativo da vida, ainda que simbolicamente se fale de animais.
Durante do sexto dia dia de Vênus fez Deus animais da terra segundo seu gênero e ao
homem a sua imagem, para que domine sobre os peixes do mar, as aves dos céus, sobre todas as
bestas, em toda a terra, sobre todo animal que anda arrastando-se sobre a terra .
Nesta sexta fase há dois aspectos diferentes representados, respectivamente, nos dois triângulos do
Selo de Salomão: a involução do Espírito na matéria, que origina animais da terra , segundo o
gênero desta (adaptação ao ambiente) e evolução da matéria animada pelo Espírito a imagem de
Deus . São os dois impulsos indicados no estado precedente, que se tornam efetivos na vida,
respectivamente, animal e humana, esta ltima devendo dominar a primeira e toda a matéria,
como o indicam o sinal astrológico de Vênus e a Cruz Ansata ou Chave de Isis.
No sétimo dia acabou Deus sua obra e repousou de toda obra que havia feito. E abençoou o Sétimo
dia, e santificou-o, porque nele repousou de toda sua obra . O sétimo dia indica como o número
sete - a perfeição ou cumprimento e, por conseguinte, o descanso ou repouso que resulta desse
cumprimento e da perfeição assim alcançada. É a fase de unificação que se verifica no Yoga:
união e identificação de Shakti com Shiva ou da Matéria com o Espírito, nos dois centros , que se
encontram em todo indivíduo e em toda forma de vida, respectivamente, como raiz ou sustento
material (Muladhara) e essência ou impulso espiritual (Sahasrara).
O repouso de que se que fala consiste, portanto, no nirvana ou Beatitude (Ananda), que se consegue
pela união individual de Sat (o Ser) com Chit (a Consciência).
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As sete fases da manifestação, expressadas nos sete dias do Gênesis, podem ser simbolizadas nos
desenhos acima página, com os respectivos números e correspondências planetárias, com as quais
demonstram uma clara analogia.
ESCADA MÍSTICA
Em vários dos graus maçônicos faz-se referência à escada mística que une a terra com o céu , a
mesma que Jacó viu em sonhos. Esta escada, símbolo das virtudes e das qualidades espirituais da
alma, tem sete degraus que correspondem aos sete planetas, indicando o progresso (ou elevação
progressiva) do homem em sucessivos estados de consciência, do material ao divino.
Os estados ou condições da consciência, assim como os pensamentos que se elevam até o céu como
aspiraç es e os que se manifestam em nós como inspiraç es, são os anjos e arcanjos de Deus ,
Mensageiros ou expressões do Divino, que sobem e descem pela escada, que é realmente,
segundo a expressão de Jacó, casa de Deus e Porta do Céu . A própria torre de Babel surgiu com
um propósito análogo, como indica seu nome, que também significa Porta de Deus .
Os sete degraus ou portas da escada são, respectivamente, formados de chumbo, cobre, ferro,
estanho, amálgama, prata e ouro correspondendo aos sete planetas que dominam sobre estes metais
e as virtudes da Prudência, Temperança, Fortaleza, Justiça, Fé, Esperança e Caridade.
No entanto, não acaba aqui o significado da escada, que tem para os Mestres o mesmo valor que o
vão das colunas para os Companheiros. Há, nesta escada, um sentido individual espiritual em sua
essência, ainda que tenha também uma expressão física e fisiológica.
Este significado se refere aos sete chacras ou centros, dos quais nos fala a doutrina do Yoga, que
constituem uma verdadeira escada mística ao longo da espinha dorsal, precisamente no vão da
coluna de nosso Templo Individual. De baixo para cima, estes centros de energia, de vida e de
consciência, são designados pelos nomes de muladhara, swadhistana, manipura, anahata, vishudda,
ajna e sahasrara, sendo portas dos sete mundos: bhurloka, bhuvarloka, svarloka, maharloka, jana-
loka, taparloka y satialoka, do Mundo Físico Terrestre ao Mundo da Verdade.
SETE CHACRAS
Os sete chacras ou padmas - rodas ou lótus - manifestam, ao redor de seu centro, um número
variável de raios ou pétalas, expressões das forças ou modalidades vibratórias das que são
expoentes e que determinam seu número, o mesmo que suas funções psico-orgânicas.
Muladhara ou apoio raiz está na parte mais baixa da espinha dorsal, constituindo o centro de
gravidade do organismo. Tem quatro pétalas e corresponde ao elemento terra ou Prirhivi. É o lugar
da Shakti Mãe Kundalini, ou seja, da expressão individual do princípio energético universal ou
força criadora, que está enroscada , o que significa em estado latente. Neste centro está, como
animal simbólico, o elefante branco de Brahma, o aspecto criador da Divindade, e também símbolo
de estabilidade e imanência.
Swadisthana morada própria está na região sacral, presidindo os órgãos da geração. Tem seis
pétalas e corresponde ao elemento água ou Apas.
A força que mora neste centro é representada por um peixe ou crocodilo, chamado Makara e
consagrado a Vishnú, o aspecto conservador da própria Divindade. Manipura gema luminosa
é o centro da região lombar, tem dez pétalas e corresponde ao elemento fogo (Agni ou Tejas),
presidindo os instintos em geral e especialmente às funções digestivas (Samana). Nele está
representado um cordeiro que, analogamente, corresponde a Rudra ou Shiva, a Divindade
destruidora e renovadora.
Anahata som sem fricção está no centro do peito, como lugar físico da vida individual e da
capacidade de mover-se. Tem doze pétalas e corresponde ao elemento ar ou Varu. Em seu centro
representa-se um antílope, dentro do Selo de Salomão. Nele encontra-se a Árvore da Vida
(Kalpataru) que satisfaz todos os desejos, e um altar incrustado de pedras preciosas (Manipitha).
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Vishuddha, na região da garganta, preside a palavra, ou seja, o Verbo, e a sua manifestação física.
Tem dezesseis pétalas, correspondendo ao éter ou Akasha. Chama-se Porta da Liberação, e é
representado por um elefante branco dentro de um círculo, símbolo da pureza indicada por seu
nome.
Ajna, o sexto centro, deve seu nome à revelação da ordem interior do Mestre, ou à Voz do Silêncio.
Localiza-se no meio da cabeça, entre as duas sobrancelhas, e domina a Inteligência em geral e o
discernimento, em particular. É o centro da visão espiritual, e como tal tem sido chamado o Olho
de Shiva . Tem só duas pétalas e, portanto, pode ser comparado a um globo alado.
Sahasrara o miluple o lótus de mil pétalas está no vértice da cabeça. É o lugar de Shiva, a
Divindade latente em cada ser, que espera sua união com Shakti, a Força que está enroscada no
mais baixo dos sete centros, obtendo-se dessa união (Maithuna) a liberação, que é objetivo do Yoga
(palavra sânscrita que significa exatamente União).
Cada grau corresponde a um dos chakras ou degraus da escada mística, pela qual é necessário
descender para ascender outra vez até a sumidade.
CORRESPONDÊNCIAS FISIOLÓGICAS
Além de indicar os sete órgãos da ação (garganta, braços, ânus, órgãos genitais e pés, relacionados
com os cinco centros inferiores), este número tem uma notável importância na Arquitetura Orgânica
de nosso Templo Individual.
Há, em primeiro lugar, sete tecidos fundamentais: ósseo, muscular, conectivo, nervoso, epitelial,
adiposo e sangüíneo, derivados dos três primordiais, ectoderma, endoderma e mesoderma, que
formam o embrião, tendo os outros nascidos por duplicação do tecido primitivo, que provém da
germinação da primeira célula original. Estes sete tecidos são as pedras lavradas que formam o
edifício de nosso organismo, no qual se combinam em perfeita harmonia, para expressar o Milagre
da Vida dentro da morte ou inércia da matéria.
Correspondem, respectivamente: o primeiro, que forma os ossos, a Saturno. O segundo, que forma
os músculos, a Marte. O tecido conectivo a Vênus, os nervos a Mercúrio, o sangue a Júpiter, a
adiposidade à Lua, e a pele (da qual todos derivam, em última análise, por sucessivas modificações)
ao Sol, cujos raios benéficos necessita receber para que o corpo se purifique e possa conservar-se
em perfeita saúde. Na pele também se formam os órgãos dos sentidos ou janelas que iluminam
nosso Templo e se originam os elementos sexuais ou gônadas, que o reproduzem.
Nas três cavidades de nosso organismo há sete órgãos internos: o cérebro, na primeira; o coração e
os pulmões na segunda; o estômago, o intestino e o aparelho excretor, na terceira. O primeiro
contém o pensamento e serve para manifestá-lo, de uma maneira análoga a um instrumento musical.
O segundo distribui o sangue e os outros dois absorvem o ar para injetá-lo naquela. O estômago
elabora o alimento, o intestino o assimila, eliminando as substâncias que não possa aproveitar, e o
aparelho excretor descarta os restos da construção fisiológica.
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Há, além disso, sete glândulas fundamentais: a tireóide, os rins, o fígado, o baço e os testículos
ou ovários.
Finalmente, sete épocas fundamentais (os sete anos da Construção do Templo) que marcam o curso
ordinário da vida humana: infância, adolescência, juventude, virilidade, maturidade, velhice e
decrepitude dominadas, respectivamente, pela Lua, Mercúrio, Vênus, Sol, Marte, Júpiter e Saturno.
As três primeiras são de sete anos. As demais, uma ou mais vezes sete determinando-se, assim, um
ciclo normal diferente para cada indivíduo.
Como em todo setenário, as sete épocas se resolvem nas três idades: Juventude, Idade Adulta e
Maturidade, que estão simbolizadas nos três graus: Aprendiz, Companheiro e Mestre. Constituído o
primeiro, respectivamente, por três, o segundo por cinco e o terceiro por sete épocas diferentes, de
uns sete anos cada uma, fazendo um total de quinze épocas, ou seja, uma vida normal de 105 anos,
mesma idade que se obtém considerando sete anos as primeiras três épocas e três vezes sete as
quatro seguintes.
AS SETE ARTES
Também se relacionam com o número sete as sete artes, das quais já tivemos ocasião de falar.
A Gramática é o estudo dos sinais exteriores que representam as idéias, isto é, o estudo do mundo
físico para a compreensão da realidade espiritual, que no mesmo se manifesta. É, pois, a primeira
etapa no progresso iniciático e filosófico individual. Por meio da Gramática, o Aprendiz
compreende a Lógica, que há de manifestar na Retórica.
A Lógica (de logos , palavra, discurso) é o estudo dos nomes das coisas, das idéias a que as
mesmas se referem e que as relacionam logicamente umas com as outras se estabelecendo assim, na
mente individual, uma conexão interior entre as diferentes realidades que são expressas pelos sinais
ou letras da Gramática. O Companheiro deve aprofundar esta Arte, na qual se desenvolve sua
inteligência, manifestando-se seu Gênio Individual. E, por meio deste estudo, estará em condições
de iniciar-se nos elementos da Aritmética e da Geometria.
Com a Aritmética, pode-se penetrar o conhecimento dos Mistérios do Ser, ou seja, os princípios
essenciais das coisas, anteriores a sua manifestação geométrica no espaço.
O estudo desta última manifestação é objeto da Geometria, que se ocupa da gênesis da forma como
expressão dos Princípios Numéricos ou Noumênicos no espaço. Assim como a Aritmética se refere
ao Primeiro dia da Criação, no qual o espaço não se havia ainda manifestado do Oceano indistinto
do Ser as Águas Primordiais - cujas possibilidades de concentram na Unidade do Ponto Criador, a
Geometria se refere ao Segundo dia, no qual aparece o espaço, origem de toda forma ou
manifestação.
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A M sica nos ensina a Divina Harmonia ou conexão harm nica que existe entre todas as
coisas em sua manifestação progressiva, assim como o gênesis destas na sucessão do tempo, sobre o
Tear Imanente da Eternidade. Esta Arte deve ser aplicada à vida individual, para que a mesma possa
tornar-se intérprete da Sinfonia Universal que une todos os seres e toda a Criação em uma só
gloriosa expressão da unidade na multiplicidade . Como tudo é vibração, e toda vibração é som
musical, a própria Construção do Universo é uma Obra Musical. Por esse motivo a Música deve
encontrar sua aplicação em toda forma de Arquitetura ou Obra humana.
O estudo da Construção dos mundos, como resultado da Música, nos inicia no conhecimento da
Astronomia, isto é, da Lei dos Astros , que é a Gravitação Universal e, de um ponto de vista mais
profundo e essencial, o amor. Conformando sabiamente suas ações, palavras e pensamentos com
esta Lei, o Mestre torna-se um verdadeiro filósofo, quando ao Amor da Sabedoria une a Sabedoria
do Amor.
Deixa de ser, por esta Divina expansão de seu Ser que o assemelha a um Astro radiante, o escravo
das limitações exteriores às quais estão subjugados os homens, vítimas de seu próprio egoísmo, e já
delas libertado, se torna o Redentor e o Libertador dos demais.
Assim, somente através desta sétima Arte se atinge a Perfeição da Sabedoria e do Magistério ou o
domínio efetivo sobre todas as coisas: porque todas as coisas obedecem a quem se torna superior a
elas.
OUTROS SETENÁRIOS
Inesgotáveis são as possibilidades significativas do número sete e tudo o que pode encerrar sua
mística instrumentalidade, tanto no domínio macrocósmico como no microcósmico.
Chegamos no campo da última das sete artes ou ciências das que acabamos de falar, onde há
evidência de sistemas de sete sóis ou de sete estrelas, como aqueles do qual faz parte nosso próprio
sol, junto com as estrelas mais próximas. As sete irmãs da constelação das Plêiades, as sete estrelas
principais dos dois Carros ou Ursas, etc.
No planeta Terra encontramos sete continentes: os três do mundo antigo, as duas Américas, a
Austrália e a Antártica. E sete mares: os dois Pacíficos, os dois Atlânticos, o Índico, o Ártico e o
Mediterrâneo.
A mineralogia nos mostra exatamente sete sistemas cristalinos: monométrico, com três eixos
ortogonais iguais. Dimétrico, com dois eixos iguais e um diferente, todos ortogonais. Hexagonal,
com três eixos horizontais a 60° de distância um do outro e um quarto, perpendicular. Romboédrico,
com três eixos equivalentes, mas não perpendiculares. Trimétrico, com três eixos ortogonais
diferentes. Monoclino, com um só plano de simetria. Triclino, com três eixos diferentes e oblíquos,
e nenhum plano de simetria.
A geologia tem sete eras: a era formativa de nosso planeta, a azóica, a arqueozóica, a proterozóica,
a paleozóica, a mesozóica e a cenozóica.
E, de acordo com a tradição oculta, sete raças humanas: duas das quais atualmente extintas e
assexuadas, três raças viventes (Negróide ou Lemuriana, Mongólica ou Atlantiana e Caucásica ou
Ariana) e duas raças mais, que ainda virão.
47
NÚMERO OITO
Assim como o número sete é o sinal do Poder e do Domínio que se consegue com o Magistério, do
triunfo alcançado por meio da Sabedoria nascida do Amor sobre toda manifestação exterior, o
número oito indica a expressão do Amor em equilíbrio, que é constante irradiação.
Este número, que é o cubo do número dois, denota a Perfeição que se consegue na separação ou
estado de divisão, implícito no número dois, elevando-a à sua terceira potência. Em outras palavras,
enquanto o número sete indica o Amor em estado de potência, o número oito realiza e torna efetivo,
com o sacrifício, o Poder do Amor. Por conseguinte, este número corresponde também à Morte ou
crucificação que precede a plenitude da regeneração ou Ressurreição.
Por esta razão, oito são os passos da Marcha do Mestre, por meio da qual ele passa sobre a morte
pelo sacrifício da personalidade, com o desenvolvimento impessoal da Individualidade que
caracteriza os verdadeiros Mestres.
No entanto, a palavra sacrifício deve ser entendida em seu significado original, que a relaciona com
o latim sacrum facere fazer sagrado como conseqüência ativa da devoção, expressa no
número seis e realizada no número sete. Sacrificar e sacrificar-se é pensar, falar e trabalhar na
consciência do Divino, isto é, do ponto de vista interior da Realidade, em vez do exterior. Isso
significa manifestar o espírito em vez de fazer-se molde plástico e escravo das limitaç es e
condições expressas na matéria.
Assim, o número oito se expressa naturalmente em dupla cruz e na rosa dos ventos, que indicam a
constante irradiação de todo Centro, ou seja, a contínua multiplicação ou potencialização dos
esforços centrípetas da Individualidade. Multiplicação que se efetua em progressão geométrica, até
expandir-se por todo o Universo e encher com seu ser o espaço todo.
As possibilidades desta multiplicação, que constitui a Lei dos Astros (expressa pelo número oito em
sua fase inicial), não têm limites. Um exemplo evidente podemos encontrar na compensação que
pediu o Brahman Sisa, inventor do Xadrez, ao rajá que desejava dar-lhe uma prova de sua gratidão:
um grão de trigo para a primeira casa, dois para a segunda, quatro para a terceira e assim seguindo,
até a 64 . Ainda que à primeira vista parecesse uma pretensão muito modesta, o cálculo
demonstrou que não era possível ao rajá satisfazer a promessa que fez sem refletir.
Segundo esta mesma Lei, multiplicam-se a matéria e a vida, em suas diferentes espécies: o espaço
se enche de uma infinidade de sóis e de mundos11, e estes se recobrem com infinidades de seres;
diferentes manifestações individuais das infinitas possibilidades latentes no Mundo do espírito, ou
seja, nas águas acima dos Céus que formam, em sua essência, um todo único com as de baixo e
com toda a manifestação.
Este é o sentido do sacrifício da vida sobre a Cruz da manifestação, sacrifício que é expressão e
expansão do Ser e de suas mais elevadas possibilidades e que somente o Mestre sabe compreender e
realizar.
11
Segundo as recentes observações astronômicas, os milhões de galáxias ou sistemas estelares que compõem o cosmos,
vão se alargando e afastando continuamente uns dos outros, em todas as direções (N.A.).
48
Somente assim o Ser pode alcançar-se a si mesmo na universalidade da manifestação. E atingir seu
fim no sétimo dia, o do perfeito descanso, quando conseguiu unificar-se novamente, reunindo as
águas de cima com as de baixo , na expansão ou vazio que constituiu o Princípio da criação.
EQUILÍBRIO E JUSTIÇA
Em relação com o número sete, que inicia, organiza, produz, funda e cria, o oito é o que estabelece,
preserva e consolida. O primeiro é a manifestação do Princípio Criador ou energético, o segundo, a
Lei ou Ordem que tal ação estabelece. O primeiro representa o ardor ígneo purificado, enquanto que
o segundo é a concentração do sal.
Estes dois números correspondem às duas colunas B:. e J:., sobre as quais há de elevar-se o Arco
Real do Magistério, representado pelo número 9.
A cifra com que se representa o número 8, imagem de uma clepsidra12, indica a sucessão do tempo
em diferentes ciclos, cada um dos quais é a conseqüência do outro.
Além disso, a espiral serpentina é o símbolo natural da involução do espírito na matéria para elevá-
la e enobrecê-la, e da evolução da matéria para expressar e manifestar as possibilidades latentes do
espírito. Esta dupla corrente que realiza a perfeição da Grande Obra no equilíbrio ativo, que resulta
do contínuo fluir de todas as coisas, está muito bem representado na figura de Basílio Valentim aqui
reproduzida, que é uma variação do Caduceu e simboliza o Merc rio dos Sábios , no qual se unem
as propriedades ativas do enxofre e da fecundidade produtora do sal, realizando-se o místico
matrimônio dos dois luminares nos três mundos.
Nesta figura, assim com a cifra simbólica do número 8, encontra-se uma perfeita representação do
nexo que enlaça os dois mundos, Divino e Material que manam, respectivamente, das águas de
cima e das de baixo, do espaço produzido na segunda fase da criação, que se unem no foco ou no
Mundo Central interno da consciência individual como veículo, canal e meio de expressão de um e
de outro.
12
A clepsidra consiste em dois recipientes, colocados em níveis diferentes: um na parte superior contendo o líquido, e
outro, na parte inferior, com uma escala de níveis interna, inicialmente vazio. Através de uma abertura parcialmente
controlada no recipiente superior, o líquido passa para o inferior, observando-se o tempo decorrido pela escala. É uma
versão mais elaborada da ampulheta. Este tipo de instrumento evoluiu tecnicamente de forma a permitir uma medição
do tempo com maior exatidão. (N.T.)
49
Tal figura é, portanto, um símbolo claro do Mercúrio filosófico verdadeira encarnação individual
de Hermes ou Hiram que o Iniciado no Magistério deve realizar em si mesmo, reunindo em sua
própria consciência e inteligência, no místico matrimônio, a compreensão dos dois Mundos e
realizando, pelo equilíbrio de seu ser, a Divina Justiça.
OS OITO CABIRES
Considerados como os filhos de Efesto ou Vulcano e de uma filha de Proteu, nasceram do Fogo
Divino que se manifesta nas profundidades da terra, por sua ação forjadora nas emanações da
Substância Primordial (Proteu), naturalmente disposta a tomar qualquer forma. São, pois, estes
irmãos (quatro ou oito, segundo as diferentes tradições) as Inteligências Elementais, e como tais os
trabalhadores da Natureza, geradores dos fenômenos e reguladores das atividades exteriores da vida.
Por esta razão os marinheiros, especialmente, buscavam sua propiciação. Eram venerados também
como protetores das indústrias, das quais eram considerados os inventores.
Seus nomes eram sagrados e afirmava-se que eram dotados de um poder mágico, e que aqueles que
os conheciam podiam ter atendido qualquer pedido. Considerava-se um crime comunicá-los a quem
não fosse iniciado.
Segundo a tradição, um deles foi morto por seus irmãos, que Hermes depois fez voltar novamente á
vida, com o concurso e assistência dos outros. Há, nesta tradição, uma clara analogia com a morte e
ressurreição simbólica de Hiram, que tem que ser individualmente realizada por todo Mestre
Maçom.
OCTONÁRIO CHINÊS
13
Kabires: (fenício) Kabirim ou Cabires. Divindades e deuses muito misteriosos entre as nações antigas, incluindo os
israelitas; alguns dos quais, como Tharé, pai de Abraão, os adoraram com o nome de Teraphim. Entre os cristãos, os
Arcanjos são a transformação direta destes Cabires. Em hebraico, tal nome significa os poderosos , Gibborim.
Antigamente, todas as divindades relacionadas com o fogo (fossem divinas, infernais ou vulcânicas) eram chamadas
Cabirias. A voz Kabir é derivada do hebraico Habir, grande, e também de Kabar, um dos nomes de Vênus. Os Cabires
são os mais elevados espíritos planetários, os maiores deuses e os poderosos . Todos os Deuses de Mistérios eram
Cabires. Os Mistérios dos Cabires em Hebron eram presididos pelos sete deuses planetários, entre outros, por Júpiter e
Saturno, e sob seus nomes de mistério. Tanto na Fenícia como no Egito foram sempre os sete planetas conhecidos na
Antiguidade, os quais, juntamente com seu pai o Sol, ou seu irmão maior , constituem um poderoso grupo de oito
entidades; os oito poderes superiores, ou os assessores do Sol, que executavam ao redor deste a sagrada dança circular,
símbolo da rotação dos planetas em torno do Sol. Na Samotrácia e nos mais antigos templos egípcios, os Cabires eram
os grandes deuses cósmicos, os Sete e os Quarenta e Nove Fogos Sagrados; enquanto que nos santuários gregos seus
ritos vieram a ser principalmente fálicos e, portanto, obscenos para o profano. Neste último caso, os Cabires eram três e
quatro, ou sete (os princípios masculinos e femininos). São os Sagrados Fogos Divinos, três, sete ou quarenta e nove,
segundo requer a alegoria, os Filhos do Fogo, Gênios do Fogo etc. Seu culto era universal e estava sempre relacionado
com o fogo, razão pela qual o cristianismo fez deles deuses infernais. O título desses grandes, benéficos e poderosos
deuses era genérico; eram de um e outro sexo, assim como eram, também terrestres, celestes e cósmicos. Em seu
caráter de Regentes da humanidade, encarnados como Reis das Dinastias Divinas, deram o primeiro impulso à
civilização e encaminharam a mente com que haviam dotado os homens para a invenção e o aperfeiçoamento de todas
as artes e as ciências. A eles se atribui a invenção das letras (o devanâgarî, o alfabeto e linguagem dos deuses), das leis,
da arquitetura, de várias espécies de magia, do emprego medicinal das plantas etc. A eles se deve o conhecimento da
agricultura. Eram os Cabires divindades rodeadas de tão profundo e impenetrável mistério que a nenhum profano lhe
estava permitido falar deles nem mesmo nomeá-los, e em Mênfis tinham um templo tão sagrado que ninguém além dos
sacerdotes podia penetrar em seus recintos. Os Cabires presidiam os Mistérios e seu verdadeiro número jamais foi
revelado, por ser muito sagrado seu significado oculto. (N.T.).
50
Cabe também, no estudo do octonário, o símbolo que aqui reproduzimos e que nos vem da China e
é conhecido com o nome de Kua ou Trigrama de Fo-Hi.
Ao redor do centro aparecem as oito diferentes manifestações filhas, que realizam o cubo aritmético
da Dualidade Criadora, e podem ser consideradas como os próprios Princípios ou forças criadoras e
vivificadoras da Natureza, que vemos personificados nos cabires.
Os oito trigramas ou manifestações periféricas da tripla combinação dos dois Princípios centrais,
apresentam-se em quatro pares, cada um dos quais é produzido pela junção ou pelo predomínio de
um dos Princípios cuja subdivisão quaternária aparece nos diagramas que caracterizam os quatro
elementos.
Devemos, então, considerar: primeiro, um par de monogramas, representações diretas dos dois
Princípios Centrais, de cujas duplas ou triplas combinações resultam os seguintes. Segundo, quatro
diagramas concêntricos ou expressão quaternária da Dualidade Criadora, nos Princípios que
correspondem ao Fogo, à Água, ao Ar e a Terra. Terceiro, oito trigramas sucessivos que expressam
cada elemento em sua dupla polaridade e instrumentalidade, como Força Criadora que nasce da
irradiação octonária do Centro Originário.
Assim, o Fogo produz ao mesmo tempo a expansão que vivifica e o calor que abrasa, queima e
destrói. O Ar se sublima no éter e se materializa no vento. A Água se eleva nos vapores que
produzem as chuvas e se condensa em sua circulação sujeita à Lei da gravidade. E a Terra produz a
homogeneidade maleável dos metais e a coesão heterogênea das pedras.
OOITO VENTOS
Relacionam-se, da mesma forma, com os oito Cabires e com o octonário chinês os oito ventos. Os
quatro principais (filhos de Eos, a Aurora, e do titã Astreo: Boreas, Céfiro, Euro e Noto) e os quatro
secundários.
Boreas, o vento do Norte, era considerado raptor de jovens. Noto ou Austro, o vento do Sul, levava
as chuvas e as tempestades. Céfiro ou Favonio, o vento do Ocidente, era venerado como um deus
benéfico que favorecia a germinação, anunciando a primavera. Euro ou Vulturno, o vento do Este
(ou do Sudeste) que, ora seco, ora úmido, é sentido especialmente no solstício de Inverno.
Os outros quatro ventos são segundo as atribuições dos antigos: Caecias ou Grego, o vento do
Nordeste. Apelites ou subsolares, o do Sudeste. Lips ou Africus, o do Sudoeste. E Schiron ou Japyx,
o do Noroeste.
51
Esses oito ventos estão simbolicamente representados nos oito lados de um antigo monumento de
Atenas, conhecido com o nome de Torre dos Ventos. Ficavam encerrados numa caverna, na
fabulosa ilha de Eólia na qual aportou o herói Ulisses em uma de suas viagens - sob a custódia de
Eolo que os deixava livres, segundo a ordem que recebia dos deuses.
Essa caverna, na qual se reúnem todas as direções do espaço, representa as potencialidades latentes
da Natureza, que se manifestam exteriormente sob diferentes aspectos, quando as Inteligências os
deuses as invocam ou chamam à existência.
A Yoga, considerado como o processo que conduz à realização individual do Nirvana repouso ou
liberação por meio da união divina, compõe-se de oito etapas distintas, que são atingidas do
interior para o exterior.
Na terceira etapa Asana ou domicílio - trata-se de conseguir uma postura de imobilidade absoluta,
na qual possam efetuar-se, depois, as práticas fisiológicas contempladas nas etapas seguintes. Pode-
se comparar esta etapa com o grau de Mestre, por ser o exercício de Asana uma prática deliberada
de morte simbólica, para a consecução da regeneração individual.
Da Regeneração cuida-se na quarta etapa, no que se refere a sua base fisiológica, por meio de
Pranayama o domínio, extensão e suspensão da respiração, sendo este o caminho para dominar e
dirigir todas as funções e poderes latentes do organismo, até suspender por completo toda atividade
vital.
Na sexta Dharana ou fixação aprende-se a prática da concentração sobre uma idéia ou objeto
determinado, chegando a penetrá-lo e conhecê-lo em sua essência real, além de sua aparência. É a
condição de vidência que Balzac chamou specialité (do latim spicere ver ).
Sobre cada uma destas etapas voltaremos com mais detalhes nos Manuais seguintes desta série,
pois o fim perseguido pelo Yoga é o mesmo que busca a Maçonaria, e suas práticas estão indicadas
simbolicamente em nossas cerimônias rituais.
Assim como no centro do peito, no coração, converge o impulso animador dos dois braços, que
trabalham em perfeito acordo e harmonia com a idéia central que dirige seu movimento, é também
no centro de gravidade do organismo que se deve buscar a origem do movimento animador das
duas pernas, com cuja cooperação se realiza todo caminho ou progresso. Da mesma forma deve o
Iniciado combinar consensualmente os dois lados que formam o paralelismo inverso de sua própria
natureza, para que trabalhem numa mesma direção e cooperem pelo fim comum.
São igualmente elucidativas, deste ponto de vista, as duas figuras abaixo, que se referem ao perfeito
equilíbrio das forças que devem, individualmente, realizar-se na vida interior e exterior.
Um aspecto deste equilíbrio deve ser procurado entre os dois sexos, de cuja cooperação harmônica
resulta a sociedade e a vida das famílias e das nações.
Os dois sexos são, primitivamente, dois aspectos ou lados dirigidos como os dois braços e as duas
pernas para um único objetivo, para uma finalidade comum e suas diferentes atividades devem
coordenar-se harmoniosamente para conseguir esta finalidade, assim como está coordenada, com
funções diferentes e análogas, a atividade dos dois lados de nosso organismo.
Existindo os dois sexos, em estado potencial, no mesmo indivíduo, como o demonstram a anatomia
e a psicologia, sua diferenciação provem da direção diferente tomada, a cada vez, pela
Individualidade, sendo propósito final desta a reconstituição ou reintegração da unidade que resulta
do perfeito desenvolvimento e do equilíbrio entre estes dois lados da natureza humana.
53
Esta finalidade é demonstrada simbolicamente no andrógino Divino, que o Iniciado deve
encontrar e realizar em si mesmo, como conseqüência de sua completa regeneração individual.
Combinam-se, assim, e se realizam em seu único centro, as possibilidades iniciadas nos dois
infinitos (+ e -), assim como na dupla serpente do Mercúrio filosófico e do caduceu. Misturando-se
neste centro as águas de cima e as de baixo (o + infinito e o infinito da matemática) o Iniciado
descansa como a mística Rosa na Cruz da Perfeição, e pode então dizer, com real conhecimento:
Consummatum est!
O OCTAEDRO
A Cruz da Perfeição é a extensão, num mesmo plano, da pirâmide quadrangular assim como a Cruz
da Crucificação é resultado da extensão do cubo.14 Medindo-se na pirâmide, com seu coração no
vértice da mesma, o Iniciado consegue a perfeição, ou seja, a perfeita igualdade de suas quatro
dimensões.
Assim, deve-se considerar nesta perfeição seus dois aspectos, superior e inferior (os que se obtêm
por meio da união e identificação dos dois vértices opostos do octaedro), que devem praticamente
coincidir, projetando-se no quadrado central da realização. Realiza-se, então, em suas duas faces a
cruz Templária da perfeita individualidade, e pode manifestar-se neste Templo interior o Plano da
Nova Jerusalém, ou seja, uma vida exterior renovada pela renovação da Vida Interior.
NÚMERO NOVE
Vimos que o número sete é o resultado da combinação dos três elementos do Ternário, formando
um quaternário que se junta ao ternário primitivo.
Se, ao invés de combinar-se, misturarem-se uns com os outros, os três elementos se multiplicam
com a finalidade de desenvolver as qualidades que estão nos mesmos, num estado latente, para
manifestá-los em toda sua plenitude. Obtém-se, assim, o novenário como extensão ou quadrado
aritmético do ternário.
Da mesma forma, assim como o número sete é eminentemente ativo e criador (correspondendo à
coluna B:. do Templo maçônico e salomônico) e o número oito é passivo, equilibrante, conservador
e produtor (correspondendo à coluna J:.), o nove representa o terceiro elemento do ritmo e da
harmonia, da iluminação e da inteligência, que torna fecunda a união do setenário com o octonário,
o Arco Real do Magistério que se estende e eleva sobre as duas colunas, ou seja, o Amor que
complementa e une a Fé e a Esperança e as manifesta numa vida e numa atividade úteis e
proveitosas.
Por esta razão, o novenário, ou triplo ternário, foi adotado pelos Mestres como número simbólico de
seus toques e batidas.
14
Veja o Manual do Companheiro (N.A.).
54
Em relação com o número sete, como esforço ativo orientador na busca da Verdade, e com o
número oito, como equilíbrio que resulta do estabelecimento na própria Verdade, o número nove é
o símbolo da tradição ou conservação e transmissão dos conhecimentos iniciáticos, no segredo
inviolável da compreensão individual. Por conseguinte, deste terceiro número resulta o atributo
natural e necessário do Magistério, que se realiza na perfeição setenária e se expressa num
octonário, como força e poder de irradiação.
Entre os nove Mestres que foram em busca da Tradição sepultada com o Arquiteto Hiram entre as
ruínas do passado, foi justamente o terceiro grupo isto é, o que corresponde aos números sete, oito
e nove - o que conseguiu cumprir sua missão nas regiões do Ocidente. O sétimo Mestre descobriu e
localizou os assassinos na gruta de Ben-Acar (que significa filho do estrangeiro ou filho do
além ), perto de Jopá (a luz, a beleza, o resplendor). O oitavo encontrou a tumba de Hiram sobre o
cume de uma colina, que alguns identificam com o Monte Calvário, e colocou sobre a mesma, para
reconhecê-la depois, o ramo de acácia. Mas, foi somente o nono Mestre que, com o auxílio dos
outros dois, pôde levantar o Corpo de Hiram, vivificando por meio do Amor filosófico, a Tradição
aparentemente morta e sepultada.
Isto quer dizer que a plenitude operativa do Magistério, alcançada pela instrumentalidade dos dois
números anteriores, só se realiza no e por meio do número nove.
Como este último número se refere à Inteligência implícita na Tradição e a conseqüente capacidade
de transmiti-la e conservá-la, cabe estudar e examinar, em sua recíproca correlação sucessiva, os
Arcanos do Tarô que se referem à instrumentalidade dos três números, sete, oito e nove, e nos
apresentam tal instrumentalidade em forma de uma imagem simbólica e alegórica.
Estes três arcanos são, respectivamente, o Carro, símbolo do triunfo. A Justiça, símbolo da força
equilibrada em todas as suas direções. E o Ermitão, símbolo da luz oculta e de sua busca no silêncio
da concentração individual, por meio da qual pode ser realizada interiormente e expressada
exteriormente.
Este domínio é conseguido por meio do ternário superior, formado pelo Carro, o Homem que o guia
e o Teto ou baldaquim que o recobre.
55
O carro é o símbolo da mente como instrumento passivo e relativamente inerte da realização. O
homem indica a consciência individual que se estabelece e vive na mente, fazendo da mesma sua
própria casa ou mundo inferior. O Teto, semeado de estrelas, representa o Céu ou mundo divino, o
reconhecimento e fidelidade aos Princípios, a Realidade Suprema que põe sobre a cabeça do
homem a coroa luminosa de seu ser, símbolo da soberania, e em sua mão direita o cetro ou
capacidade de reger .
No segundo dos arcanos, tal símbolo é transformado numa espada de vigilância, segura com mão
firme e apontada para cima, em perfeita retidão de entendimento e aspirações, enquanto a mão
esquerda, sobre o coração, sustenta uma balança, símbolo de equidade, equilíbrio e precisão em
todo juízo e atividade mental.
Assim como na primeira figura, o triunfo ou domínio é alcançado dinamicamente, por meio do
movimento do Carro sabiamente guiado, na segunda se representa o aspecto estático interior de tal
triunfo, como estabelecimento em uma condição de firmeza e equilíbrio, que se torna o ponto
central de irradiação e gravitação. A própria tumba de Hiram, como centro de gravidade e ponto
central para o qual estão dirigidos e convergem os esforços da busca, é um símbolo da condição
mental de firmeza e irradiação equilibrada, representada pelo octonário.
O terceiro arcano mostra o movimento que se desenvolve ao redor do Centro Individual, alcançado
e estabelecido pela força e qualidades implícitas no primeiro. Aqui há uma Luz oculta ou velada,
que o Mestre manifesta e esconde ao mesmo tempo, por baixo do manto que o recobre, símbolo da
condição de Paz e Serenidade, obtida com sua Marcha ou passagem sobre o octonário, que tem o
poder de isolá-lo de toda força contrária, de todo poder ou influência exterior.
A luz oculta que se manifesta na iniciação, expressada nos trabalhos simbólicos, está muito bem
representada na forma do número 9, que também indica o movimento espiral que origina os mundos
ao redor de um centro de gravidade e Irradiação. Essa luz Oculta, que é a própria Tradição,
conservadora e irradiadora da Verdade, não pode ser encontrada senão nas mãos dos Mestres, já que
somente eles podem guardá-la e transmiti-la, em sua compreensão individual, manifestando-a e
ocultando-a, ao mesmo tempo, como mostra o nono arcano do Tarô. Só com esta Luz pode-se
encontrar o que foi perdido e vivificar-se aquilo que parece morto ou latente.
A prancheta para desenhar é outro interessante símbolo que se relaciona com o número nove,
representada, tradicionalmente, por um quadrilátero subdividido em nove partes por meio de sua
tríplice divisão vertical e horizontal.
No entanto, só os Mestres sabem e podem lidar devidamente com este símbolo do espelho límpido
e claro da Inteligência, por meio da regra que torna reta a linha traçada pelo lápis philosophorum do
entendimento profundo das coisas, com o auxílio do Esquadro do Juízo e do Compasso da Lógica,
da Razão e da Compreensão.
O que nos compete agora, com relação a este instrumento, é examinar suas aplicações quanto ao
quadro subdividido em nove partes iguais, que representam uma tripla extensão ou triplicidade do
ternário.
56
As nove cifras que podemos inscrever dentro dos nove quadrados, nos oferecem um guia para
este exame. Em cada uma das três linhas horizontais nas quais as dispomos, com os três números
que são objeto de estudo e compreensão, respectivamente, dos Aprendizes, Companheiros e
Mestres.
Quanto ás três colunas verticais, encontramos na primeira a unidade, sua expressão na tétrada e sua
realização num setenário. Na segunda encontramos a dualidade criadora que se expressa
interiormente no Poder da Inteligência (número cinco) e se realiza exteriormente na irradiação
equilibrada representada pelo octonário. E, na terceira, há o princípio do ritmo em sua tripla
expressão, como harmonia fundamental no reino dos Princípios, harmonia interior no domínio da
Inteligência e da vida humana, e harmonia exterior realizada pela soma da segunda com a harmonia
fundamental iniciada no ternário.
Assim, podemos ver nas três linhas horizontais os três mundos: o Mundo Divino dos princípios e da
Realidade fundamental; o mundo Interior da Consciência e Inteligência Individual e o Mundo
Exterior, dos Efeitos e da realidade sensível. E nas três colunas os três princípios da Unidade,
Dualidade e Trindade, ou seja, a Atividade Criadora, o equilíbrio Conservador que a complementa e
o Ritmo produzido por ambos, como soma e manifestação dos mesmos no espaço e no tempo.
NOVENÁRIO TRADICIONAL
Agora é possível compreender a relação lógica que se estabelece entre os primeiros nove Arcanos
que constituem o novenário tradicional.
O número um, o Mago ou adivinho, representa a unidade do Princípio Originário, cuja consciência
há de estabelecer-se em quem aspire a toda Obra Magna, a toda realização Divina. A letra A ou Alef,
que lhe corresponde, mostra a Unidade como origem de toda Dualidade e síntese realizadora do
Ternário.
O número dois, Ísis ou a Papisa, é a manifestação dual da Unidade que origina a feminilidade
receptora e produtora da Natureza representada na primeira, e o poder adaptador da Imaginação que
nos dá as chaves do Mistério encerrado pelo dualismo das duas colunas.
A letra B, ou Beith expressa esse dualismo, que nasce da curvatura ou abertura interior da Unidade
Mãe.
A letra C, ou Guimel, é a expressão natural desta vibração, que origina a letra G, princípio
geométrico e genético do Universo.
O número quatro, a Vontade ou Imperador, a cruz ou quadrado dos elementos que produz a pedra
cúbica da realização, mostra o tetragrama no qual se expressa a Unidade Fundamental, como centro
57
de atividade para trabalhar nas três dimensões que originam o espaço (também representado pela
pedra cúbica) pelo trabalho da Vontade.
A letra D, ou Daleth, é outra representação do espaço (criado no segundo dia ou fase genésica) que
é a porta da manifestação.
No Arcano precedente, vemos o reflexo interior do Primeiro Princípio como Vontade Individual.
No seguinte, expressão alegórica do número cinco a Razão ou Papa - vemos a Potência criadora
da Natureza, que se expressa na Inteligência Individual, por meio da qual se cria interiormente a
Causa de todo efeito ou manifestação exterior. A letra E, ou He, é símbolo deste poder manifestado
pela Individualidade no espaço.
Finalmente, no número nove vemos o Princípio da Luz Divina, Criadora dos mundos, simbolizada
na Imperatriz, que ilumina a escolha individual e caracteriza o Princípio Libertador do homem,
expressada exteriormente como a Luz Oculta da tradição e da religião (duas palavras e termos
equivalentes, em seu sentido interior), por meio da qual a Humanidade consegue a Perfeição do
Magistério, ou seja, o sábado individual no qual o Deus que vive em nós descansa, por ter
concluído sua Obra.
APLICAÇÕES DO NOVENÁRIO
As três linhas horizontais respondem às três perguntas: De onde viemos? Quem somos? Para
onde vamos? . Podemos, naturalmente, representar nas mesmas os três conceitos de passado, de
presente e de futuro.
Em relação aos três aspectos do tempo, pode-se considerar a primeira coluna como indicadora do
sujeito, a segunda do predicado e a terceira do objeto de uma determinada ação.
A prancha para desenhar, ou quadrado analógico do número três, apresenta-nos, assim, a mesma
ação com referência ao passado, ao presente e ao futuro.
Da mesma maneira podem atribuir-se às três linhas horizontais, respectivamente, a idéia ou motivo
da ação (que se refere ao Mundo dos Princípios); à vontade, impulso ou desejo que expressa a
mesma idéia ou princípio (Mundo Interior da consciência); e a ação que a manifesta (Mundo
Exterior dos efeitos). O sujeito, o verbo e o objeto indicados pelas três colunas são, assim, suas três
fases de ideação, volição e ação:
1. O pensador, o eu , centro de uma determinada atividade mental que emite uma idéia ou
pensamento (o Mago ou Adivinho do Tarô).
2. A ação de pensar, que está na mesma relação com o sujeito pensante que a que existe entre o
primeiro e o segundo arcanos do Tarô.
3. A idéia pensada, produto da ação de pensar (a Imperatriz do Tarô), com a qual se completa o
trinômio ou linha da Ideação.
4. O eu que quer uma determinada coisa, ou seja, a expressão ou realização da idéia pensada (o
Imperador).
7. O sujeito agente, ou seja, quem realiza uma determinada coisa, depois de tê-la pensado e querido
tornando-se o centro da ação (o Carro).
8. A ação de fazer, ou seja, a atividade na obra, de acordo com o que se pensou e quis (Justiça).
Pode-se combinar este quadro da realização com o precedente, que se refere aos três tempos,
resultando desta combinação um cubo que compreende em si a triplicidade do tempo, da ação e a
qualidade da mesma.
ALFABETOS MAÇÔNICOS
A combinação das duas linhas horizontais e das duas verticais em nove quadros serve, também,
como base dos alfabetos maçônicos, que podem ser feitos com chaves diferentes ou convencionais,
como as que indicamos a seguir, escrevendo-se cada letra com o ângulo ou quadrado no qual está
contida e distinguindo-se a segunda com um ponto e a terceira com dois pontos. As nove cifras
podem ser dispostas no quadrado de tal forma, que a adição de cada coluna horizontal ou vertical,
produza sempre como resultado o número quinze, que representa a soma das idades do Aprendiz,
do Companheiro e do Mestre.
Esta combinação, que forma o primeiro dos quadrados mágicos, recebeu o nome particular de
quadrado de Saturno, considerando-se como base talismânica da influência desse planeta, ou seja,
da virtus e da modalidade vibratória expressada e personificada em Saturno. Podemos ver neste
quadrado uma correspondência entre os três graus, representados pelas três colunas, e os três
tempos, representados pelas linhas horizontais. A primeira das quais responde (para cada grau) à
pergunta: De onde viemos? . A segunda responde à pergunta Quem somos? E a terceira à
pergunta Para onde vamos?
60
Finalmente, com referência a Saturno, podemos expressar neste quadrado os três tempos em suas
três formas: aoristo15 ou indefinida (estado de Aprendiz), imperfeita ou ativa (estado de
Companheiro) e perfeita ou cumprida (estado de Mestre), resultando assim os nove tempos
gramaticais indicados a seguir16:
Presente imperfeito: estou pensando, querendo fazendo. Presente perfeito: tenho pensado, querido,
feito.
Aoristo passado: pensei, quis, fiz. Passado imperfeito: pensava, queria, fazia.
Passado perfeito: tinha pensado, querido, feito. Aoristo futuro: pensarei, quererei, farei.
15
Aoristo Tempo da conjugação grega que indica haver a ação ocorrido em época passada sem determinar, porém, se
está inteiramente realizada no instante em que se fala. (N.T.).
16 Os tempos verbais do original espanhol são: Aoristo presente: pienso, quiero, hago. Imperfecto presente: estoy
pensando, queriendo, haciendo. Perfecto presente: he pensado, querido, hecho. Aoristo pasado: pensé, quise, hice.
Imperfecto pasado: pensaba, quería, hacía. Perfecto pasado: había pensado, querido, hecho. Aoristo futuro: pensaré,
querré, haré. Imperfecto futuro: estaré pensando, queriendo, haciendo. Perfecto futuro: habré pensado, querido,
hecho. Devido às diferenças entre as conjugações nos idiomas Espanhol e Português e, para não prejudicar ou deturpar
o significado do texto e a intenção do autor, optou-se por traduzir literalmente a tabela verbal, ao invés de adaptá-la à
nomenclatura oficial do nosso idioma. (N.T.).
61
Combinando-se os nove tempos com as três formas ativa, reflexiva e passiva, obtemos outro cubo,
que nos ajuda na compreensão filosófica da Retórica, cuja perfeita aquisição é prerrogativa do
Magistério.
NOVE MUSAS
Estas deidades benéficas, que têm o objetivo de eliminar a angústia e esquecer o mal, conhecem e
resumem em si mesmas, por sua origem imortal, tanto o Presente e o Passado como o Futuro. São
as constantes fontes inspiradoras do poeta e do artista, assim como do Iniciado e do Filósofo, três
categorias que podemos relacionar com os três graus da Maçonaria Simbólica. O poeta e artista
constitui a matéria prima do Iniciado e o Iniciado se faz perfeito com o Filósofo.
Portanto, não parecerá estranha a classificação das nove Musas num quadrado análogo aos
precedentes, no qual as três linhas horizontais indicam respectivamente o pensamento, o sentimento
e a ação.
Clio a inspiração do ouvido é a Musa da história, cuja fronte é cingida pelo laurel da glória
imortal.
Calíope a da voz preciosa preside a eloqüência e a poesia épica. Usa um diadema de ouro e
empunha a trombeta da fama.
Urania a inspiração celeste ou divina é a Musa da Verdade, vestida de azul e cingida por
brilhantes estrelas.
Erato a inspiração do amor - coroada de mirta e de rosas, acompanha com o alaúde da harmonia
as canções dos amantes.
Euterpe a encantadora é o Gênio da Música, inspirando com sua flauta mágica as mais preciosas
melodias.
Polimnia a inspiração religiosa - vestida de branco e recoberta de pedrarias, é a depositária da
Tradição, que se conserva em sua mão esquerda, enquanto com a direita impõe o silêncio.
Melpómene a inspiração trágica - formosa e grave, majestosamente vestida, leva em sua mão
direita o punhal simbólico da penetração no mistério do além, assim como da dor que nos permite
aproveitar as experiências da vida.
Talía a inspiração jovial é a Musa da alegria: coroada de hera, leva em sua mão a máscara da
comédia, desmascarando a trágica ilusão criada por Melpómene.
Terpsícore a inspiração animadora é a Musa da dança, a que inspira, coroada de flores, ao som
da harpa e do pandeiro.
NOVE CÉUS
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Tem aqui seu lugar os nove céus da concepção ptoloméica, evidente corrupção material de uma
tradição filosófica mais antiga.
O mais baixo de todos, o céu da Lua, corresponde ao mundo astral dos teósofos e ocultistas, que é o
que está mais próximo de nosso mundo físico ou sublunar e corresponde ao estado líquido da
matéria. É o mundo dos sonhos e onde domina a sensação.
O céu do Sol é o plano átmico ou do Espírito Puro, chamado também nirvânico, correspondendo ao
estado radiante da matéria. É o Princípio Latente da Vida Individual.
O céu de Saturno está acima do Tempo no qual se manifestam as coisas, às que tende a dissolver
em sua consciência de ananda ou perfeito repouso.
O céu das estrelas ou céu de Urano é o que forma o espaço, manifestando o aspecto chit, raiz da
Consciência Individualizada da Divindade.
Os Serafins cujo nome significa elevados correspondem aos Princípios Eternos que emanam
da essência do ser e são, portanto, imortais e indestrutíveis, como os que se estudam na Aritmética.
Expressões diretas da Unidade, presidem ao Amor.
As Dominações são as Leis que presidem a gravitação universal que domina toda forma ou
expressão material.
As Virtudes representam a força da expansão individual, que trabalha no sentido oposto à Lei de
Gravitação, e com a qual busca um equilíbrio dinâmico.
Esse Equilíbrio dinâmico se realiza nas Potestades, que originam os centros de irradiação e atração,
dos quais o Sol constitui um exemplo luminoso. Este equilíbrio é, pois, a essência de todo poder.
Os Principados são as Leis ou Princípios que governam a evolução da vida individual e coletiva,
administrando o Karma ou Destino.
Os Arcanjos são a expressão mais elevada, para a mente humana, destas Leis ou Princípios, que
descendem no homem em forma de inspirações.
E os Anjos são, em correspondência com os anteriores, os pensamentos dos homens que se elevam
no céu, como aspirações.
NOVE MESTRES
Com o estudo que fizemos do número nove, podemos agora compreender o significado dos nove
Mestres que foram em busca de Hiram e de seus assassinos. Buscando o Princípio Luminoso que
eleva, sublima e idealiza a vida, simbolizado no Sol, assim como a Tradição da Verdade em que se
expressa, que está sepultado, nenhum deles foi pelas regiões do Norte, mas se dividiram,
respectivamente, pelo Oriente, pelo Meio-dia e pelo Ocidente. E foram estes últimos os que
conseguiram descobrir a tumba e os assassinos, pois, evidentemente, eles só podem ser encontrados
no domínio da realidade manifesta, levantando o cadáver por meio da Palavra da Vida.
Além de indicar, de uma maneira genérica, a tarefa com a qual deve enfrentar-se todo Mestre
Maçom, que queira ser digno de tal nome, esforçando-se em buscar, encontrar e vivificar a Tradição
da Verdade morta na aparência exterior do simbolismo os nove Mestres indicam, evidentemente,
algo mais importante e preciso, enquanto a Lenda afirma que somente por meio deles o Magistério
simbólico morto ou latente como Hiram em sua tumba se torna individualmente efetivo.
Esta peregrinação dos nove Mestres refere-se à peregrinação individual que cada Mestre Maçom
tem que efetuar, em nove etapas ou graus sucessivos, por meio dos quais encontrará e porá em
condições de vivificar e fazer ressurgir em si mesmo o Hiram latente que, com sua recepção, lhe foi
dado conhecer a existência oculta.
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A alusão aos graus superiores, que tem por objetivo a realização filosófica do Magistério
Simbólico, não pode ser mais evidente para quem tem olhos para ver e ouvidos para ouvir o
significado profundo das coisas. Estes graus não são, em última análise, mais do que diferentes
etapas ou aspectos do Magistério e, como isto pressupõe, por sua vez os dois graus precedentes
como caminho para consegui-lo, é evidente que todo o simbolismo maçônico tem que ser estudado
e entendido filosoficamente nesses graus superiores.
Os nove Mestres indicam, também, quantos e quais hão de ser estes graus, sendo três grupos de três,
para realizar nele três vezes três a perfeição da Maestria, e referindo-se igualmente cada grupo e
cada Mestre de cada grupo a um dos três graus simbólicos.
Estendendo num novenário a tripla distinção de Aprendiz, Companheiro e Mestre, com a mais geral
de Filósofo, Teósofo e Adepto, podemos formar o seguinte quadro, que nos ilumina sobre o caráter
efetivo de cada um dos nove graus superiores simbolizados nos nove Mestres em busca de Hiram,
seja qual for o nome exterior que se lhe dê:
Sobre esta base, identificando cada um destes graus teóricos com os que se usam mais
universalmente nos diferentes Ritos, seguiremos nosso trabalho interpretativo nos nove tomos
seguintes desta obra.
Um total de sete graus, em vez de doze, seria também aceitável e até preferível. No entanto, o
número doze permite um acordo mais perfeito, por um lado com a Lenda de Hiram e por outro, com
os diferentes aspectos do simbolismo dos graus de diferentes ritos, ajustando-se muito bem à fusão
de todos num só, por basear-se na Lenda universalmente aceita como base da Maçonaria Simbólica.
Já falamos da estrela de sete pontas que está inscrita dentro de um heptágono que a circunscreve.
65
Com seu centro, esta estrela nos introduz no número oito e, da mesma forma, a irradiação
octogonal da estrela de oito pontas, que corresponde a um duplo quadrado nos faz chegar, com seu
centro, ao dinamismo do número nove.
Podemos, assim, formar uma idéia mais clara das relações que ocorrem entre os nove primeiros
arcanos do Tarô, os nove coros angélicos e os nove mestres e, quanto ao acampamento simbólico
descrito num dos graus superiores, pode fazer-se mais simples e expressivo, na forma que desde já
indicamos, incluindo no triângulo originário dos três graus simbólicos, os três triângulos
entrelaçados ou concêntricos.
A PEDRA CÚBICA
A beleza e a formosura da figura humana, assim como a de um edifício ou de uma obra de arte é, da
mesma maneira, função e resultado do grau de equilíbrio, harmonia e perfeita proporção de todas as
suas partes. Onde houver desproporção e excesso em qualquer sentido, aí se manifesta a
imperfeição que a afasta da aurea medietas e constitui, por conseguinte, um elemento de fealdade.
A beleza imortal e proverbial das estátuas gregas deriva exatamente desse perfeito sentido de
harmonia e equilíbrio e o conseqüente horror a todos os excessos que constitui a característica
mais sobressalente da antiga cultura helênica. O que eles mais reprovavam nos bárbaros (ou
estrangeiros) era esta tendência habitual à falta de harmonia e de equilíbrio.
A perfeita saúde e eficiência física assim como a maior longevidade, também dependem do grau de
equilíbrio, harmonia e proporção que saibamos manifestar em nossos hábitos fisiológicos. Todo
excesso, em qualquer sentido, se transforma em elemento destrutivo, enquanto a mais sóbria
frugalidade sempre caracteriza o Mestre Construtor.
No campo moral, todo vício é um mau companheiro que é preciso desmascarar e disciplinar, para
que não continue exercendo uma influência destrutiva sobre a Obra da Vida, em que está sendo
empregado. Uma imperfeição da Pedra a torna inapta, enquanto permanecer, para ocupar seu
melhor lugar no edifício social e humano.
O mesmo deve-se dizer, no Plano da Inteligência, das diferentes qualidades e faculdades cujo mais
harmônico, justo e equilibrado desenvolvimento caracteriza a genialidade verdadeira, ou seja, a
genialidade produtiva e fecunda. Pois o chamado gênio não consiste unicamente no
desenvolvimento da faculdade da memória, nem no da imaginação, tampouco se faz somente com a
lógica, nem com a mais cuidadosa e perfeita observação nem mesmo com a clareza do juízo. Não
consiste só na abundância das idéias, nem no oposto desenvolvimento mais perfeito da
concentração, na análise mais completa nem na mais diligente e fiel aplicação.
66
Nenhuma destas qualidades, isoladamente, faz o gênio verdadeiro que só se realiza com o mais
perfeito desenvolvimento equilibrado de todas elas indistintamente. Sem que nenhuma delas exceda,
em nenhum aspecto, mas que todas e cada uma saibam sempre conservar o lugar que lhes
corresponde e agir na mais perfeita harmonia, que é necessária para a produção literária, artística,
científica ou filosófica, de um gênero realmente superior.
Só a intuição, quando não é acompanhada pelo raciocínio, pode dar a percepção imediata da
Verdade, mas torna quem a percebe incapaz de expressá-la devidamente. Quanto ao raciocínio sem
a intuição, nos faz dar mil voltas e rodeios, mais ou menos satisfatórios e felizes no campo das
concepções e criações intelectuais, mas sempre nos fecha a passagem das regiões superiores, onde
resplandece a verdadeira luz, e somente onde se pode perceber a razão íntima das coisas, e
encontrar-se a melhor e mais satisfatória solução de qualquer problema que nos ocupe.
É preciso uma feliz cooperação e um harmônico desenvolvimento de ambas faculdades, que são
como duas faces paralelas igualmente necessárias e indispensáveis, para dar como resultado a pedra
cúbica, obtida com o desenvolvimento harmônico, equilibrado e paralelo de todos os talentos,
faculdades e tendências.
O estudo do novenário termina com a pedra cúbica de ponta que, em suas nove faces, reúne em si
mesma a perfeição do cubo e a elevação equilibrada da pirâmide de base quadrangular.
Abrindo esta pedra e estendendo suas faces, como aparece na figura acima, obtemos uma vez mais
o símbolo da cruz como expressão perfeita do Magistério, pela união de duas cruzes formada, a
primeira, pelos cinco quadrados que constituem as faces inferiores da pedra e, a segunda, pelos
quatro triângulos de seu vértice.
A primeira cruz, quadrilátera, é a cruz da matéria ou da natureza, formada pelos quatro elementos
que se desenvolvem, como faces do Akasha ou Quintessência a matéria radical ou Mulaprakriti
indicada pelo quadro central. A segunda cruz, formada pelos quatro ternários ou triângulos que
emanam de um centro ou ponto originário o vértice da pedra - é a cruz filosófica ou espiritual,
expressão tetrágona da Trindade ou Ternário Divino, crucificada na matéria, que tem que dominar
pelo sacrifício que manifesta na mesma, a consciência e a Vida do Espírito.
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Nesta pedra encontramos os Arcanos mais profundos do Magistério, sobre os quais não nos é
possível estendermo-nos neste Manual , que deve ser tido como uma simples introdução do
Magistério.
É característico o fato de que as duas cruzes são formadas por doze lados iguais, em clara
correspondência com os signos do Zodíaco (dos que falaremos no próximo tomo desta obra) e com
as doze horas ou divisões da noite da Matéria e do dia do Espírito.
A primeira é formada pela união de doze pontos, enquanto a segunda resulta unicamente de nove. E
a soma dos dois nos dá o místico número 21, o triplo setenário dos Arcanos do Tarô que é, ao
mesmo tempo, a soma triangular do número seis.
Como nove são as faces da pedra, nove também são seus vértices e dezesseis seus cantos. Estes
números se oferecem à meditação do Mestre, uma vez que se tenha compreendido bem o novenário
que resulta, aritmeticamente, de um triplo ternário e, geometricamente, de quatro triângulos que
partem do mesmo vértice.
Finalmente, a pedra cúbica de ponta apresenta-se a nossa consideração como imagem do perfeito
equilíbrio e da estabilidade tetrágona que o Mestre há de alcançar em sua manifestação terrestre,
enquanto sua consciência individual se estende e se eleva às regiões do espírito. No entanto, não há
elevação que não seja o resultado de uma correspondente humilhação: é preciso descender aos
infernos, visitando o interior da terra, para ter o impulso necessário que nos faça subir até o mais
alto dos Céus. Por conseguinte, a pedra cúbica de ponta encontra-se potencialmente contida na
pedra cúbica ordinária, na qual tem que se resolver, descendendo seu vértice até o centro do cubro,
que é a Câmara do Meio, na qual se obtém e se realiza o Magistério.
TERCEIRA PARTE
Assim como no grau de Aprendiz é representado, simbolicamente, o esforço que faz o candidato a
uma vida superior para encaminhar-se na senda da Verdade e da Virtude que à mesma conduz, e no
grau de Companheiro se indica aquele estado de firmeza em que se amadurece e se torna fecunda
tal aspiração ( transformando-se o aspirante em Trabalhador consciente e voluntário da Liberdade e
do Progresso), o grau de Mestre é o símbolo da perfeição que individualmente se consegue por
meio de tal esforço, e com seu estabelecimento efetivo e operativo.
Este grau indica a palingenesia integral da natureza humana, com a qual o homem se transforma
em mais do que homem por meio do Magistério ou do domínio exercido sobre todos os
componentes de seu ser, em todos os aspectos do mundo interior de sua personalidade, nos instintos,
não menos que nos pensamentos e nas palavras.
Como mostra o sinal de Mestre, o domínio dos instintos é a tarefa especial mais particular do
adepto deste grau, unindo esse esforço para dominar a parte subconsciente e instintiva que constitui
o fundamento ou alicerce de nossa natureza, ao domínio dos pensamentos e das palavras, no qual
começou a exercitar-se nos graus precedentes.
Somente quando se chega a dominar seus instintos, transformando-os de vícios ou liames que
prendem ao mundo da matéria e da ilusão, nas aspirações mais nobres de seu ser, as virtudes ativas
que expressam o mais elevado, ou seja, a imagem e semelhança de Deus , então se torna efetiva a
regeneração individual de toda a natureza humana, e esta se sublima e aperfeiçoa, conquistando-se
de fato a Imortalidade que é a Absoluta Liberdade e Liberação sobre a terra.
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Por conseguinte, a aplicação moral e operativa do ensinamento alegórico deste grau tem que
compreender, em primeiro lugar, esta técnica da Regeneração Individual, com a qual o homem
morre efetiva e completamente em seus vícios, erros e paixões, libertando-se do poder escravizante
da Ilusão. Morre para o egoísmo da personalidade e as limitações exteriores, que são seus efeitos,
purificando-se e redimindo-se por completo do pecado original, e renascendo no estado de
inocência, no Amor que libera e sublima, na Verdade e na Virtude que fazem desaparecer toda
sombra, mancha, trevas ou obscuridade de seu ser assim, como de sua vida.
MORTE INICIÁTICA
O primeiro e fundamental ensinamento que surge do estudo que fizemos na primeira parte, sobre o
significado da cerimônia com a qual se confere este sublime grau de Mestre, refere-se à necessidade
de morrer. No entanto, não se trata da morte ordinária, como a entendem os profanos e que infunde
tão grande terror aos seres vulgares, mas a morte iniciática ou filosófica, a qual fazia referência
Giordano Bruno escrevendo que coloro Che filosofano dirittamente intendono a morire .17
Esta morte é exatamente o contrário da morte ordinária, já que é a morte para a ilusão, para o
pecado e, por fim, para a própria morte. Com isso, o iniciado morre para tudo o que é origem e
causa de morte dentro de seu próprio ser, renascendo assim de todo impedimento e limitação.
Tal morte não pode ser conseqüência senão de uma reta, justa e perfeita filosofia , de um real
conhecimento e de uma efetiva penetração da Verdade que se encerra na aparência exterior da
existência e de suas limitaç es, e é em si Vida verdadeira e, portanto, Eterna e Imortal. O amor à
Verdade , que é o que realmente faz um filósofo, nos conduz à própria Verdade por meio de uma
morte progressiva e completa para o erro e para toda forma de ilusão.
É uma morte e um renascimento que se verifica durante cada dia e cada momento e que nos conduz
a reconhecer e realizar o que verdadeiramente somos. Nos liberta das escórias que constituem a
parte ilusória máscara ou persona de nosso ser e torna manifesto e ativo em nós o Potencial
Latente e Ilimitado do Espírito: nosso verdadeiro eu , Eterno, Imortal e Indestrutível.
Com esta morte na qual nos iniciamos como Aprendizes e para a qual nos preparamos como
Companheiros cooperamos conscientemente, como Mestres, com nossos pensamentos e
propósitos diários, com nossas palavras e ações, segundo estejam estes orientados filosoficamente,
isto é, por um profundo, intenso e mais que humano amor pela Verdade. Um Amor que é Virtude
(enquanto expressão da vis vitae interior) e verdadeira Força Onipotente.
Um exemplo poético desta qualidade preliminar, que faz o verdadeiro filósofo e, por fim, o Iniciado
e o Mestre, encontramos na narração hindu na qual um aspirante se apresenta a um Mestre, desejoso
de que este lhe ensine a Verdade. No entanto o Mestre, ainda que sem opor-se exteriormente a seu
desejo, para assombro do discípulo nunca de resolvia a iniciar suas lições e se mantinha em
completo silêncio. Cansado de esperar inutilmente, o aspirante se dirigiu a seu Mestre perguntando-
lhe quando começaria a ensinar-lhe algo. Como estavam perto de um rio, este último, em resposta
submergiu-lhe a cabeça na água e a manteve ali até que o discípulo, perto de afogar-se, fez os mais
desesperados esforços para salvar sua vida.
17
Os que retamente se aplicam à filosofia, tendem à morte , ou seja, se esforçam em pôr-se em harmonia com os
valores eternos e permanentes do Ser que estão acima das contingências fenomênicas da vida e da morte. (N.A.).
69
O espírito filosófico que se requer como condição preliminar para uma verdadeira morte
iniciática não poderia expressar-se com mais claridade. Com este espírito ingressa o candidato em
nossa Ordem, como verdadeiro Aprendiz , e em virtude desta capacidade, vontade e firme
propósito de aprender chega, finalmente, a conhecer sua mística e seus ensinamentos ocultos.
Somente com este espírito pode ser despertado o necessário discernimento que inicia ou introduz a
tal morte e pode torná-la efetiva. O homem nunca poderá morrer para o erro e a ilusão enquanto não
tenha aprendido a discernir entre ela e a Realidade.
O DISCERNIMENTO
Desde que o primeiro grau de tal discernimento realizado pelo Aprendiz (ou seja, quem aprende a
ver ou discernir a luz) não se tenha amadurecido e estabelecido como estado firme e condição
permanente da consciência, como qualidade interior dominante entre as demais faculdades da
inteligência (estado do Companheiro) é inútil falar de morte iniciática: morte para o Erro, o Vício e
a Ilusão, e renascimento na Verdade e na Virtude, que constituem e estabelecem o domínio da
Realidade.
Como se pode falar de Yoga, ou seja, de união divina individual, quando o Divino em nós ainda
não foi conhecido e reconhecido? Como se pode falar de Magistério e aspirar à qualidade de Mestre,
quando não sabemos o que significa ser mais que homem e não reconhecemos ainda em nosso Eu
Imortal o nosso Mestre individual? E, como podemos encontrar na Câmara do meio de nosso ser a
verdadeira morte iniciática, se não nos preparamos e não nos encaminhamos para ela por meio de
um espírito e uma vida realmente filosóficos? Esta é a verdadeira Filosofia que pode entender,
realizar e tornar efetivo o Magistério Simbólico.
Em primeiro lugar, há que se esforçar para adquirir discernimento. Por esta razão, neste Manual ,
que trata do Magistério Simbólico, temos que limitar-nos a esta única qualidade preliminar e
fundamental (a que em sua perfeição realiza a perfeição do Yoga e do Magistério, com a qual
identifica-se): o estudo da aplicação moral e operativa da doutrina simbólica do terceiro grau.
Também é adquirido pela prática da Virtude, aprendendo a preferir e antepor os motivos mais
nobres e elevados das ações aos motivos menos nobres e mais egoístas. Escolhendo
70
conscientemente entre um motivo e outro, entre uma e outra determinação, manifestamos com
essa escolha, um primeiro grau de discernimento individual e usamos e expressamos dessa maneira
este talento o mais precioso e soberano entre todos, já que é o único que pode tornar realmente
efetiva nossa soberania desenvolve-se com o uso e multiplica suas possibilidades abrindo-nos as
portas da Liberdade e do Progresso.
Por esta razão a Maçonaria nos ensina fundamentalmente a pensar por nós mesmos e a fazer o bem
pelo bem, independentemente e acima de qualquer outra consideração, pois só nesta senda
individual da verdade e da Virtude pode-se encontrar o discernimento necessário para poder
franquear a porta da Câmara do meio e aspirar realmente ao Magistério, mediante a transmutação
dos metais de nossas faculdades (simbolizada na palavra de passe) que se efetua com a projeção de
nossa própria Pedra Filosofal.
É ao realizar estas duas coisas que nos tornamos realmente Maçons: nosso discernimento cresce e
se desenvolve, e de um Magistério puramente simbólico, podemos passar a um Magistério efetivo,
real e filosófico.
Pensar por si mesmo com um propósito bem orientado e firmemente estabelecido para conhecer a
Verdade e superar assim toda forma de ilusão, desapegando-se das opiniões, idéias e teorias
expressadas por outros, mas também servindo-nos inteligentemente das mesmas: eis aqui a primeira
condição para encaminhar-se pela senda da Verdade e da Liberdade, com o uso e o
desenvolvimento de nosso discernimento individual.
Isto não deve levar-nos a desprezar sem consideração tudo o que nos venha do mundo exterior, toda
idéia ou impressão que pode ser-nos útil como material de construção de nosso edifício intelectual.
Pelo contrário, aquilo que nos chegue na forma que for, deve ser atentamente estudado e
considerado, mas deve sê-lo realmente, examinando-se e transmutando-se no crisol de nossa
Inteligência. Só assim aprenderemos a pensar por nós mesmos.
Nunca devemos deixar que outros pensem por nós, ou façam por nós a escolha que, em cada
circunstância, é prerrogativa, dever e privilégio de nossa individualidade. Só assim podemos
desenvolver nossa soberania espiritual sobre as coisas e circunstâncias, quando estas deixam de
determinar fatalmente nossa escolha, e nós mesmos escolhemos o que realmente queremos e
desejamos que se manifeste ou expresse em nossa existência, realizando-se o que está em estado
latente nas Infinitas Possibilidades do Ser.
Como não pode haver verdadeira escolha sem discernimento sendo, então, nossa própria liberdade
uma mera faculdade ou potencialidade latente - tampouco pode haver verdadeiro discernimento sem
escolha. São duas coisas inseparáveis que se desenvolvem uma com a outra, e fortificando-se, nos
impulsionam adiante pelo Caminho do Progresso e da Liberdade até livrarmo-nos de qualquer
limitação ilusória por mais real que possa parecer-nos - tanto interior como exterior.
São as duas colunas que abrem e guardam o ingresso na terceira câmara, como a espada flamejante
dos Querubins na entrada do Paraíso perdido.
São as duas linhas verticais do desenho enigmático que reproduzimos abaixo, e que os Mestres
devem conhecer e realizar em sua vida diária.
A linha esquerda que corresponde à coluna B:. e o número 7, é a que indica nosso discernimento
individual e nossa faculdade de pensar por nós mesmos levando, assim, em nossas próprias mãos as
rédeas do carro de nossos pensamentos. No domínio passivo da Fatalidade, representada pelo
número 6, ou seja, a escolha em seu estado facultativo e potencial, tal como a simboliza o sexto
71
arcano do Tarô, ou bem no domínio ativo da Supremacia indicada pelo número 9, que só pode
dar-nos a luz interior (simbolizada no nono arcano).
A linha direita que corresponde à coluna J:. e ao número 8 é a que indica, da mesma forma, a
perfeita e justa escolha, feita com a espada do reto Juízo e do discernimento, muito bem
representado pelo oitavo arcano.
FAZER O BEM
Fazer o Bem , isto é, trabalhar em qualquer condição e circunstância de acordo com nossos
Princípios, tendências e aspirações mais elevados, é o complemento natural de pensar por si mesmo,
a segunda das duas colunas do Magistério, por meio da qual se estabelece, em perfeita justiça, a
capacidade discriminatória da Inteligência, indicada pela primeira Coluna.
O bem deve ser feito por si mesmo, porque é Bem e bom, útil e necessário fazê-lo. Por escolha
individual da Luz Interior, independentemente de toda e qualquer consideração, regra ou razão
exterior. Independentemente das leis, regras, costumes e deveres que se tenham estabelecido,
indicado ou imposto do exterior pelas religiões, tradições, usos e costumes, ou pela opinião pública,
isto é, acima da aprovação ou desaprovação dos homens.
A Luz Interior deve indicar-nos, em cada circunstância, o que é bom ou melhor em si, uma vez que
crescemos por nossos esforços e acima das leis, regras e conselhos exteriores que nos guiaram na
primeira parte de nosso caminho, durante o desenvolvimento de nossa personalidade humana, mas
que não saberiam conduzir-nos à segunda, que é a expressão plena e livre de nossa Divina
Individualidade. Ninguém é Mestre realmente quer dizer, mais do que os demais senão na
medida em que se deixa guiar por este Guia interno, ou seja, por um claro discernimento interior do
Bom, Nobre, Digno, Reto e Elevado, do que corresponde realmente ao equilíbrio e justiça do Reino
de Deus, representado pelo décimo arcano, que pode ser considerado, também, como a objetivação
do mesmo símbolo do círculo entre as duas linhas paralelas que acabamos de estudar.
72
Fazer o bem pelo bem exige e expressa todas as qualidades que caracterizam o verdadeiro Mestre.
Só quando a ação está purificada de todo e qualquer motivo ou intenção egoísta e pessoal,
chegamos ao estado de inocência original, simbolizado no nome do raminho místico, que nos
reintegra ao estado edênico de plena possessão e domínio sobre a rvore da Vida , cujos frutos
amargos e doces temos provado e saboreado durante longo tempo, no caminho de todas as nossas
experiências humanas, depois de ter saboreado, por nossa própria escolha, o trágico fruto da Árvore
do Bem e do Mal.
Aprendemos a ser Mestres, deixando de ser guiados pelo nosso gosto pessoal e obedecendo à Voz
e Deus , ou seja, à expressão do Princípio mais alto, nobre e impessoal que constitui a Raiz de
nossa Individualidade e a Luz Interior que nos ilumina e nos dá o verdadeiro discernimento.
A PEDRA FILOSOFAL
Com este duplo esforço pensar por si mesmo e fazer o bem pelo bem conseguimos
desenvolver e criar em nós a verdadeira pedra filosofal, somente com a qual se pode operar a
perfeita transmutação ou trabalho dos metais, simbolizado em nossa palavra de passe e prerrogativa
especial de nosso Mestre Hiram Abi.
As colunas, de pedra maciça no grau de Aprendiz são, no grau de Companheiro, ocas e de metal.
Esta passagem, da pedra ao metal, é altamente significativa quando se pensa que os dois
representam diferentes aspectos de nossa personalidade.
A fundição das colunas e o trabalho especial feito sobre os capitéis segundo o relato do Livro dos
Reis assim como a palavra ou nome que lhes foi dado pelo Arquiteto de nossa Vida Individual,
são coisas da mais alta importância e, como Mestres simbólicos que aspiram ao Magistério
Individual e efetivo, temos o privilégio de meditar sobre elas.
Para encontrar a Verdade e realizar, em seu foro íntimo, a pedra filosofal mística, não se deve ficar
na superfície das coisas, mas deve-se penetrar em sua essência íntima, no seu propósito oculto e na
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sua realidade profunda. A Verdade não pode ser outra vez vivificada de outra maneira que não
através da compreensão individual do Iniciado, uma tradição aparentemente morta, por efeito da
ignorância de quem a recebeu e transmitiu.
Este trabalho de penetração compreensiva corresponde ao trabalho dos Mestres privilegiados para
encontrar, dentro da terra recém remexida, o corpo do Arquiteto Hiram Abi, assim como ao esforço
para levantá-lo e fazê-lo ressurgir.
Em qualquer lugar onde o Iniciado tenha que escavar e aprofundar , com o esforço de sua
inteligência, para buscar o que está escondido sob a superfície de uma aparência enganadora, tem
que cuidar para que não passe, inadvertido, para a mentalidade profana. Deve visitar o interior da
terra para poder descobrir o que se esconde em suas entranhas e tirar proveito de todos os tesouros
que ai estão ocultos para quem sabe reconhecê-los nas coisas mais simples, consideradas
ordinariamente como desprovidas de qualquer valor. Efetivamente, como nos dizem os filósofos
herméticos medievais, a matéria prima da qual se tira a pedra filosofal encontra-se por toda parte, e
os pobres a possuem assim como os ricos. Conhecida por todos, todos a desconhecem: o homem
vulgar a rejeita com desprezo enquanto o filósofo a acolhe com veneração .
A visita que deve ser feita nas entranhas da terra para encontrar, na tumba de Hiram, a palavra
perdida (ou seja, a verdade oculta) é a mesma visita que o Maçom tem que fazer, individualmente, à
pedra cúbica de sua personalidade purificada, para descobrir seu centro e elevá-lo, por meio da
extroversão da pirâmide quadrangular, potencialmente contida dentro da pedra cúbica ordinária, e
cuja elevação produz a pedra cúbica de ponta, característica do Magistério.
Na prática, há identidade entre a pedra assim obtida, visitando o interior do cubo, e a pedra filosofal
que trabalha a transmutação dos metais.
Chega-se a ser filósofo não por improviso, mas mediante um juízo perfeito, no qual o Esquadro é o
instrumento do discernimento e o Compasso é utilizado pela amplitude de visão que dirige os
passos da justa compreensão . Por esta razão, encontramos a primeira na cabeça e o segundo nos
pés da tumba de Hiram.
A retificação constante deve acontecer na mente do Filósofo ou Mestre, expert em todo gênero de
obras . Nunca há de terminar, uma vez que nela se pauta todo verdadeiro progresso e toda
possibilidade do mesmo. Quando um Mestre se perdia , sempre poderíamos encontrá-lo entre o
Esquadro e o Compasso, quer dizer que, se alguma vez um Mestre não se encontrasse à altura da
tarefa que lhe cabia, poderia encontrar-se novamente a si mesmo, e encontrar sua harmonia com o
Supremo Poder, adquirindo as qualidades que lhe faltavam por meio de um reto discernimento
(Esquadro) que o conduziria à justa e perfeita compreensão (Compasso) que necessitava. Entre
estes dois instrumentos está a Câmara do Meio da Verdade e da Virtude, na qual o Filósofo se
estabelece e volta consagrado e elevado como Mestre. Assim, realiza-se a Pedra Filosofal com a
matéria prima da Inteligência, oportunamente retificada por meio do trabalho que constitui seu
magistério.
A Pedra Filosofal é - como o dizem as duas palavras que compõe este termo a pedra ou
fundamento do amante da Verdade, ou seja, daquele que busca e encontra no amor da Sabedoria a
suprema Sabedoria do Amor. Conciliar o Amor com a Sabedoria e a Sabedoria com o Amor, de
maneira que sejam, cada um, o complemento do outro e o meio pelo qual se chega a ser um
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verdadeiro filósofo . É assim que se alcança a categoria de Mestre na Perfeita Filosofia, à
semelhança dos nove mestres que foram em busca do Arquiteto dos mais elevados Ideais e de sua
palavra vivificadora.
A transmutação e o uso correto dos metais, que concorrem para formar o Templo de nossa vida
individual, devidamente trabalhados, afinados e temperados é, como dissemos, prerrogativa dos
Mestres, porque os Aprendizes e Companheiros se limitam a utilizar e servir-se das obras feitas,
com tal intenção, pelos Mestres.
Ainda que a Pedra Filosofal seja necessária apenas para transmutá-los, não podemos forjá-los e
utilizá-los da forma mais conveniente e adequada sem servir-nos do calor que, corretamente
graduado, é necessário para sua transmutação.
O fogo vital é o meio do qual temos que nos servir para utilizar, forjar e transmutar os metais da
nossa personalidade, em harmonia com os planos diretores da Inteligência, para que possam realizar
as obras para as quais estão destinados. E o fogo vivo e ardente do entusiasmo alimentado pela
chama do Amor que nunca se apaga tem que ser o meio que devemos utilizar, de acordo com as
justas medidas da nossa Inteligência e o esforço ativo e forjador da Vontade para dominar e educar
sabiamente os instintos que sustentam o Templo de nossa vida e nos servem, em todas as tarefas da
existência.
Este é o trabalho que o Mestre deve realizar em si mesmo para conseguir o grau de domínio
individual que caracteriza o Magistério e distingue o terceiro dos dois primeiros graus maçônicos,
de acordo com os sinais de cada grau.
Para ter valor o valor que caracteriza e distinguem os metais nobres dos não nobres o domínio
dos instintos deve ser um trabalho contínuo, de cada dia e de todos os momentos, que requer uma
vigilância constante e ininterrupta para que nunca lhe falte e esteja sempre regulado o calor
necessário para conduzir a bom termo a Grande Obra de regeneração individual. Sem esse calor, a
Obra se perderia e os esforços não alcançariam a finalidade para a qual são dirigidos.
Assim, o Mestre terá que morrer para seus instintos inferiores, como morre o chumbo ao
transformar-se em ouro, quando é submetido às operações necessárias com a ação da pedra filosofal.
Não se pode tratar, em nosso simbolismo, de outra morte que não essa, já que em nossos trabalhos
nunca se cuida de destruir, mas de utilizar e transformar, para uma contínua e incessante renovação
construtiva.
Na verdade, não se trata propriamente de transmutar os metais de uma espécie em outra, mas cada
metal segundo sua espécie, de inferior em superior. Quer dizer, de um estado impuro e corruptível a
outro, de absoluta pureza e incorruptibilidade. Sob este aspecto o chumbo, purificado e
aperfeiçoado segundo sua espécie, não é menos útil e valioso que o ouro, porquanto não é menos
puro e incorruptível em seu estado de perfeição originária, conseguida com o processo de
regeneração de cada estado mental e emotivo impuro, num metal puro e nobre.
Vem depois o cobre da sensualidade e da luxúria, qualidade esta que subjuga o homem, faz dele o
escravo das mais baixas tendências animais, prostituindo a chama sagrada do Amor sobre o altar da
paixão, que queima a vida e embrutece a alma, obscurece a inteligência e, sobretudo, o
discernimento enquanto, por outro lado, exalta louca e desenfreadamente a imaginação, que se
compraz também nos erros e nos vícios, impulsionando-nos pela senda da degeneração. Mas, este
mesmo metal, em seu estado mais puro e refreado, é o Amor que eleva, enobrece e embeleza a vida
e, por fim, o atributo mais essencial do Magistério. Por esta razão foram de cobre as principais
obras atribuídas ao arquiteto Hiram e, especialmente, as duas colunas e a fonte de que nos fala a
Bíblia.
Devemos considerar, além do mais, que ainda que o cobre pertença à terceira categoria como
expoente do valor monetário (depois dos dois metais considerados mais preciosos), não deve ser
visto como menos valioso, mas ao contrário, porque aleando-se a eles, não só os fortalece e permite
sua melhor conservação mas é, também, o metal mais universalmente difundido e de circulação
mais freqüente. É o único que pode, por sua capacidade de subdivisão monetária, prover a todas as
pequenas necessidades diárias. Portanto, a qualidade do Amor, por degenerado que possa ser
superficialmente no dicionário da sensualidade, uma vez presente como metal constituinte da
individualidade, sempre fará de quem o possua um homem ou uma mulher realmente superiores.
Quanto ao ferro da ira e da violência, instrumento de todos os crimes do egoísmo, deve-se notar que,
enquanto por um lado se forjam com ele as espadas e punhais que matam, assim como os rifles, os
canhões e outros instrumentos bélicos, é também o metal com o qual se fazem os mais úteis
instrumentos da construção, porque nos serve especialmente para cortar as pedras, tirar-lhes as
asperezas, alisá-las e reduzi-las a seu estado de perfeição, para os propósitos aos quais estão
destinadas.
Este metal, tão útil em nossos trabalhos, corresponde à virtude cardinal da Fortaleza, à energia e
firmeza de propósito, somente com a qual se pode levar a cabo as mais excelentes resoluções. Por
esta razão, deve ser de ferro o Esquadro que nos serve para retificar nossos intentos, palavras e
ações e para comprovar a perfeita retidão da pedra que trabalhamos (assim como com o cobre do
Amor à Verdade, deve ser feito nosso Compasso). Mas devemos cuidar de não servirmo-nos deste
instrumento com fanatismo e intolerância para julgar os propósitos, palavras e intenções dos outros.
O estanho da gula e da glutonaria deve ser também transmutado na Temperança e sobriedade que
estabelece sobre uma sólida fundação: o vigor e a longevidade de nosso organismo. Assim como a
intemperança pode ser considerada como a origem ou o meio em que se desenvolvem todas as
enfermidades, por efeito do estado de contínuo desequilíbrio que estabelece em nosso organismo, a
sobriedade e a temperança reta e judiciosa constituem o meio para preservá-lo por mais tempo, nas
melhores e mais desejáveis condições.
Os apetites não devem ser destruídos, mas regulados e dominados, temperando-se com harmoniosa
e perfeita sabedoria, pois o estanho que lhes corresponde tem, entre os metais, uma função análoga
ao cimento ou argamassa que une as pedras formando, assim, os alicerces de nosso ser.
O mercúrio da inveja é totalmente deletério, porque corrói e debilita os demais metais do organismo
e torna nossa inteligência escrava das mais funestas e mortais ilusões. Deve ser aplicado sabiamente,
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estabelecendo-se num espírito de perfeita Justiça que nos impedirá, sobretudo, de ser a primeira
entre as vítimas de nós mesmos e conduzir à ruína nossa própria existência.
Vêm desse metal, líquido e pesado sensível a todas as mudanças de temperatura e de pressão, todos
os demônios dos lamentos, ressentimentos e recriminações. A debilidade e a auto piedade, impedem
o reflexo da perfeita Justiça, tanto no mundo interior da inteligência como no mundo exterior da
vida. O sábio tem o dever de arrancar pela raiz estas excrescências mórbidas da personalidade,
fazendo com que o espelho de sua inteligência, em vez de refletir formas ilusórias por efeito de
sua natural curvatura se disponha em plana e perfeita horizontalidade, para que represente
fielmente a imagem e semelhança da Divindade que tem o dever e o privilégio de expressar.
Passando à prata da avidez e da avareza, que é o metal que mais facilmente se une com o mercúrio,
temos que considerar nele um dos mais baixos aspectos do egoísmo e dos piores inimigos do bem-
estar social, instrumento de todas as traições e vilezas, meio de todas as negociatas e escravidões,
tanto morais como materiais. Temos de execrar este metal, em seu aspecto inferior, pelo qual
infinitos Judas se fizeram cúmplices dos piores crimes. Os povos e nações entre os quais esse metal
nunca domine, serão os mais elevados moralmente e os possuidores de verdadeira riqueza.
Finalmente, o ouro, que em seu aspecto mais degradado representa a soberba e o orgulho, sendo o
símbolo de todas as ambições (solidificadas pelo egoísmo) é também a Fé que constitui a Força
verdadeira da Individualidade. Por esta razão, deve ser purificado com especial cuidado, evitando
todas as incrustações egoístas que podem produzir-se no crisol em que se elabora para que, fundido
com a prata da Esperança e o cobre do Amor, como uma benção entre os homens, possam levantar-
se, em templos resplandecentes e luminosos, os mais elevados Ideais e as mais nobres aspirações.
SOBRIEDADE
Nisto há de distinguir-se o Iniciado do homem vulgar porque, enquanto este faz do comer uma das
finalidades da existência, em vista da qual concentra muitas vezes todas suas energias e recorre a
todos os meios lícitos e ilícitos, o primeiro reconhece a superioridade da Vida sobre o alimento, e a
necessidade de subordinar este às exigências espirituais daquela.
Não viemos ao mundo para comer e buscar por todos os meios a forma de satisfazer esta
necessidade.
Embora seja necessário comer para conservar nosso organismo num perfeito estado de equilíbrio
ativo e de eficiência, a finalidade de nossa existência não é o alimento nem a procura do mesmo.
Expressão de nossas qualidades divinas, o exercício e o desenvolvimento de nossas faculdades, o
uso de nossos talentos e poderes, e a manifestação de nossas potencialidades latentes num esforço e
numa atividade construtiva, devem ser úteis aos que nos rodeiam e ao mundo em geral.
Portanto, o Iniciado, longe de considerar a comida como o objeto de seus esforços, de seu trabalho
ou atividade não descuida de seu organismo, mas considera-o como o instrumento de sua atividade
e de seus esforços. E qualquer trabalho que faça, sempre o realiza A:.G:.D:.G:.A:.D:.U:., ou seja,
pura e simplesmente para cooperar com a expressão de um Plano ou Idéia Divina, buscando como
Mestre, seu salário na Câmara do Meio de seu próprio coração.
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Como nas demais atividades, temos que buscar no alimento a Glória, ou a melhor expressão do
Divino em nós. Não devemos, portanto, comer para saciar o estômago ou satisfazer um hábito ou
uma necessidade social, mas com o objetivo de prover nosso Templo Individual dos materiais mais
adaptados para sua elevação, a fim de que a imagem e semelhança divina na qual fomos criados
encontre sempre em nosso organismo físico uma expressão mais plena, pura e perfeita.
A sobriedade se impõe como regra absoluta e conditio sine qua non da efetividade do Magistério.
Quem aspira ao domínio que é superação do Inferior e a supremacia do Superior não deve
deixar-se dominar por aquilo que deve ser dominado. Os instintos têm que ser subjugados e atados
ao Carro Real do Magistério, para que se estabeleça a Perfeita Justiça do Reino e a Luz Interior se
expresse exteriormente com o domínio que lhe compete sobre a Roda do Destino. (Ver as lâminas 7,
8, 9 e 10 do Tarô nas páginas precedentes).
O Mestre Maçom deve encontrar e dominar o pior inimigo de sua vida, de sua saúde e de seu bem-
estar, que atenta diariamente contra o Templo de sua vida individual, segundo os Planos Ideais ou
Divinos. Se não o domina, tem que se resignar a ser dominado por este inimigo e entregar-lhe, por
completo, o controle de sua existência moral e material. Então, o sinal com o qual quer fazer-se
reconhecer como Mestre, terá como significado a separação inevitável entre a parte inferior e
superior de seu ser.
Pela sua ignorância, o homem come em excesso e ingere alimentos muito inadequados para a
perfeita conservação, eficiência e constante melhoramento de seu organismo que, ao invés de
regenerar-se continuamente, como deveria no curso de sua existência, está sujeito a uma
degeneração fatal e progressiva.
O fato de a degeneração senil ser a regra quase universal para a humanidade, enquanto a
regeneração é considerada como algo excepcional e milagroso mostra que, por seus hábitos físicos e
morais (que são outras tantas conseq ências do pecado original ) os homens, antes de favorecer a
regeneração, fazem o possível para impedir a perfeita manifestação da Vida Divina em seus
organismos. Como a alimentação é a base inegável da Pirâmide de nossa existência, é natural que
por aqui se deva começar, encontrando e estabelecendo na sua base orgânica, o processo de
completa regeneração individual que é o símbolo fundamental deste grau. Portanto, o Mestre deve
aprender a comer, não para satisfazer seus apetites e desejos, mas para favorecer uma melhor
expressão da Vida em seu organismo, disciplinando-se com vistas a alcançar o fim superior a que se
propõe.
A este propósito, devemos considerar três pontos fundamentais: quantidade, qualidade e uso (ou
seja, o modo de comer).
Com relação ao primeiro ponto, a quantidade, deve ser reduzida, pois é fato inegável e do qual cada
um pode convencer-se pela atenta observação de si mesmo, que sempre comemos mais do que o
necessário, ainda quando nos pareça comer pouco. Não se deve, no entanto, exagerar até o extremo
oposto e, sobretudo, não devemos agir com violência. Mas, é certo que a moderação favorece tanto
a boa digestão como o domínio de si mesmo, e que a quantidade de alimento realmente necessário
pode ser reduzida como alguns já puderam demonstrar a um mínimo inacreditável, sem que o
organismo sofra de nenhuma forma, mas ao contrário, se purifique e regenere.
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O segredo dessa redução consiste no uso que se faz do alimento, quer dizer, em sua perfeita
assimilação e a conseqüente redução a um mínimo variável também segundo a qualidade dos
alimentos das substâncias que se excretam por não serem assimiladas. Sobre este assunto não
devemos nos deixar enganar pelas conclus es científicas sobre as quantidades mínimas de
alimentos necessários para as diferentes categorias de indivíduos, pois na realidade não são outra
coisa senão a estatística dos hábitos alimentares ordinários, e há experiências que cada qual pode
repetir e confirmar por si mesmo de que este chamado mínimo deve ser considerado, na
realidade, como um máximo de tolerância orgânica e pode ser beneficamente reduzido pela
metade, terceira ou quarta parte, com a condição de que aprendamos a comer devidamente. Com
efeito, não há nada mais absurdo e menos sábio que o fato de encher o estômago com quantidades
de alimento que não podem ser totalmente assimilados, que sobrecarregam e fatigam inutilmente
nossos órgãos digestivos produzindo, por sua fermentação, impurezas que podemos conhecer pela
qualidade dos resíduos excretados.
FRUGALIDADE
O segundo ponto que temos que considerar é a qualidade dos alimentos, escolhendo os mais
convenientes do triplo ponto de vista higiênico, moral e espiritual.
Esta escolha nos conduz necessariamente à frugalidade do latim frux fruto , ou seja, devemos
considerar, como base de nossa alimentação, o preceito bíblico que se refere à humanidade antes do
pecado original e da Ilusão que induziu-nos a alterá-lo: Foi-lhes dada toda erva que dá semente,
que está sobre a face de toda a terra, e toda árvore em que há fruto que dá semente, para comer .
Os frutos e sementes das árvores e das ervas. Eis qual deve ser a base alimentícia de quem aspira à
Regeneração Individual. É a frugalidade o que se pede ao Iniciado na Verdade e na Virtude que
queira chegar ao Magistério real e efetivo.
Comer carne e matar para comer são, na verdade, erros. Duas conseqüências da ignorância dos
homens sob a influência do pecado original da Ilusão. O abandono completo desses hábitos atávicos
é a primeira etapa do domínio dos instintos que temos que conseguir no Magistério.
Do ponto de vista higiênico, nada mais impróprio como material de construção do Templo de nossa
vida orgânica, do que ingerir carne. Dela provem a destruição e ela leva consigo os princípios da
morte e da putrefação, além da marca de dor com que é obtida violentando, com um direito muito
discutível (e que prova a obtusão do sentido moral), uma expressão da Vida que tem finalidades
próprias, muito diferentes que as de servir como nosso alimento.
Não há necessidade de nos determos na consideração que a carne contém em si princípios tóxicos,
que são assimilados quando nos alimentamos dela, que sobrecarregam o organismo e são a origem
de muitas enfermidades, inclinando a uma velhice precoce e a uma morte prematura.
Do ponto de vista moral, comer carne representa uma cumplicidade implícita, com a qual alguém se
torna, consciente ou inconscientemente, mandatário de um crime que não deixa de sê-lo pelo fato de
não ser normalmente reconhecido. Um crime contra a Vida, que o Iniciado deve aprender a
respeitar, em todas as suas manifestações, indistintamente.
Tudo o que provém da morte e da dor deve ser evitado por quem aspira progredir, sendo que o
progresso moral constante é inseparável tanto do progresso material como do espiritual.
No entanto, não entram nesta delimitação os produtos que não precisam da morte e da dor do
animal e que, de certa forma, podem ser considerados como pertencentes à mesma categoria dos
frutos e dos vegetais, como o leite e o mel. Tanto um como o outro não é obtido violentando ou
destruindo uma livre expressão da Vida Universal, mas cooperando com ela por meio de seu cultivo,
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contribuindo com seu perfeito desenvolvimento e utilizando para fins superiores o que produzem
e tendem a produzir em superabundância.
Como se vê, num e noutro caso a diferença é enorme e essencial. Ajudando e favorecendo a perfeita
expressão da vida, cooperamos com os planos do Grande Arquiteto, tomando dela o que ela nos
oferece em compensação, como material de construção de nossos Templos orgânicos.
Do ponto de vista espiritual, deve-se notar que toda substância material pertence e tende à
finalidade para a qual se formou.
Portanto, a carne, elaborada e construída pelas paixões que animam os animais tende a fortalecer, e
fortalece efetivamente, o animal no homem, afastando-o do controle e do domínio sobre seus
instintos inferiores e obstaculizando a expressão de suas finalidades e ideais superiores.
Enquanto que nas frutas em geral, e nas árvores em particular, existe a mesma inclinação e a mesma
aspiração superior, que devem impulsionar o Maçom a superar-se e elevar-se acima da gravidade de
seus instintos e tendências materiais, impulsionando também as plantas a crescer verticalmente de
baixo para cima e da Terra para o Céu. Finalmente, nas frutas está presente o Princípio do Amor,
assim como a Força Geradora na qual se concentram as potencialidades vitais da planta, junto com
o esforço de dar-se e multiplicar-se, qualidades estas idênticas às que conduzem ao Magistério, no
qual devem aplicar-se as potencialidades da geração para alcançar a regeneração.
TERCEIRO PONTO
O terceiro ponto, ou seja, como devemos comer para obter o melhor resultado dos alimentos, não é
menos importante que os anteriores.
Em duas palavras, podemos dizer que consiste simplesmente em nunca engolir o alimento, mas
saboreá-lo e conservá-lo em nossa boca, até que seja completamente dissolvido pela saliva e tenha
desaparecido por si mesmo.
De fato, engolir qualquer coisa alimento ou bebida deve ser considerado como um processo e
um hábito anormal para o homem cujo organismo, e especialmente o aparelho digestivo, são
constituídos de uma maneira particularmente refinada, com relação à dos animais, para as
finalidades superiores para as quais foram destinados.
E, apesar disto, alguns animais podem dar lições ao homem sobre a maneira de comer.
É dever, prerrogativa e privilégio do homem dominar e superar a natureza. Mas isto não se obtém
indo de encontro e nem tampouco se sujeitando passivamente aos instintos e hábitos animalescos,
mas educando-os e guiando-os, para expressar um Ideal superior de perfeição.
Isto é o que devemos fazer, aprendendo a comer de uma maneira digna de nossa humanidade e de
nossas aspirações superiores, elaborando na forma mais assimilável, os materiais que entram em
nosso Templo orgânico, para serem utilizados na Obra da Vida.
Deixando cada bocado de alimento na antecâmara de nosso aparelho digestivo até que seja
inteiramente dissolvido ou amaciado pela saliva (formando uma espécie de creme leve, sobre o qual
os demais sucos digestivos podem exercer sua ação perfeita), realizamos como devemos nosso
papel no processo da digestão, e podemos estar certos de que o processo inteiro será completo e
perfeito.
A digestão bucal comporta uma tripla ação, mecânica, física e química, enquanto o alimento, além
de ser reduzido em partículas mínimas ao ser comprimido entre a língua, os dentes e o palato, deve
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dissolver-se e ser neutralizado ou alcalinizado pela saliva. A perfeita ação do suco gástrico sobre
o alimento assim preparado depende, sobretudo, desta neutralização ou alcalinização salival.
Para comer assim é necessário um pouco mais de tempo, especialmente no início. No entanto, este
tempo não será mal empregado, em vista da perfeita digestão que assim se obtém. A quem objetar
que não dispõe de tal tempo, pode-se responder que é muito melhor tentar encontrar o tempo
necessário para comer em perfeita paz e cuidadosamente, do que sobrecarregar o estômago com
material inadequado para a perfeição da Obra que queremos construir em nosso organismo.
Comer em paz é a primeira condição para uma boa digestão bucal, assim como para a digestão
gástrica e intestinal. A condição interior (mental e espiritual) de perfeita tranqüilidade é o primeiro
ponto e a base de todo o processo. Nunca se deve comer com pressa, nem com impaciência ou num
estado de irritação, preocupação e ansiedade. Essas emoções são verdadeiros venenos com os quais
se condimentam os alimentos, e não é de estranhar se a má digestão e os maus humores que
circulam em todo o organismo forem conseqüência inesperada de uma causa tão simples. Com
efeito, está demonstrado que, sob a ação de emoções desta natureza, a saliva e demais sucos
gástricos se alteram até transformar-se em venenos. Vemos, então, que não é conveniente servir-se
deles para nossa regeneração orgânica.
Concluindo, é necessário comer em paz e devagar , com a consciência de que estamos escolhendo
e preparando, do Armazém Universal da Natureza que nos proporciona os materiais mais adaptados
para a renovação de nosso organismo e da perfeição da Obra que se cumpre em nós, saboreando
tranqüilamente cada bocado de alimento e deixando que se dissolva por completo pela ação
harmoniosamente combinada da língua, dos dentes e da saliva, sendo esta última a que faz o
trabalho fundamental, da qual depende toda a digestão.
TEMPERANÇA
A aplicação deste processo, tanto nas bebidas que tenham sabor como nos alimentos sólidos, é o
melhor meio para evitar a intemperança. Deixando de engolir se torna impossível ingerir qualquer
bebida em quantidade que possa danificar nosso organismo, já que tal sistema repele o excesso
naturalmente.
A temperança ou moderação nas bebidas é a irmã natural da sobriedade e frugalidade nos alimentos,
enquanto a intemperança (a falta da têmpera necessária a nossos metais, para que nosso organismo
seja um perfeito instrumento na Grande Obra da Construção Universal), sempre está acompanhada
da falta de sobriedade e frugalidade, e que desaparecem, de uma maneira natural e quase sem
sacrifícios, com a presença delas.
Não há necessidade de discutir longamente sobre os efeitos do álcool. Seu próprio nome árabe
(igual ao da estrela Algol, que representa a Cabeça da Medusa, decepada por Perseu) significa,
simplesmente, demônio.
E que seja, de fato, um demônio ou espírito maléfico, quando se apossa do homem, é evidente e
facilmente demonstrável por seus efeitos, que vão desde a bebedeira ao delirium tremens e à
loucura, consignando-se nos descendentes, sob a forma de paralisia e outras doenças hereditárias.
Parece-nos suficiente dizer que, sendo um produto de desintegração, que se origina também em
nosso organismo, entre os que se eliminam pela pele tem, como a carne, uma tendência vibratória
desagregante, dissolvente e destrutiva, secando nossos tecidos e destruindo as células nervosas, que
são gradualmente substituídas por cartilagens.
O trinômio sobriedade, frugalidade e temperança tem que formar, portanto, a divisa de todo Mestre
Maçom que queira ser digno de tal nome e estar constantemente à altura da sublimidade deste grau,
ainda que alguns ou muitos possam mostrar-se indignos de ostentá-lo. Sem as três qualidades
mencionadas, o domínio dos instintos implicado no sinal de Mestre não é mais do que uma simples
formalidade e um símbolo incompreendido, e de nada serviria buscar nos graus superiores a
perfeição do processo de regeneração individual que tem, neste trinômio, a necessária base física,
moral e espiritual.
Quem deseja ser Mestre aprende a superar seus instintos e dominá-los governando-se com perfeita
sabedoria. Não há outro caminho para chegar a ser mais do que homem.
USO DA PALAVRA
Os mestres devem distinguir-se pelo uso da palavra que demonstra a perfeição por eles alcançada
ou que se esforçam constantemente para alcançar, pela Retórica.
Não é necessário, para isto, ser orador no sentido que se dá ordinariamente a este termo. Existe,
indiscutivelmente, também um Magistério da Oratória que, como tudo, se consegue por meio do
esforço individual. No entanto, a palavra do Mestre se distingue da palavra do orador pelo fato
fundamental de que, enquanto o orador põe toda sua atenção em adornar, tornar convincente e
agradável sua locução, preocupando-se muito mais com a forma e com a impressão que causem
suas palavras do que com sua substância, o Mestre concentra sua atenção na palavra e se esforça
para expressar-se da forma mais simples e facilmente assimilável para seus ouvintes.
Mestre é quem se estabeleceu na Fonte da Vida por meio de um esforço constante na senda da
Verdade e da Virtude e suas palavras, ao mesmo tempo simples e profundas, têm um sentido para
os homens qualquer que seja seu estado de evolução, progresso e desenvolvimento intelectual,
porque são verdadeiras palavras de vida, expressões do Amor à Sabedoria e da Sabedoria do Amor
que as origina.
Portanto, o Mestre que o é em toda a extensão da palavra, não se preocupa em fazer longos
discursos, exposições brilhantes e convincentes argumentações. Verdadeiro filósofo deixa estas
coisas para quem se compraz na vaidade exterior da forma, enquanto ele faz um molde plástico e
puro da inspiração que caracteriza constantemente todas suas palavras, cujo fim é simplesmente a
expressão do espírito que as anima.
A palavra do Mestre é o espírito que vivifica. A palavra que desperta os mortos, nas profundidades
das tumbas que os encerram e os ressuscita. A Palavra Taumatúrgica na qual vibram e se refletem o
ardor da Fé, a firmeza da Esperança e a Força Onipotente do Amor.
HARMONIA CONSTRUTIVA
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A aplicação da música à retórica faz com que a Palavra dos Mestres seja animada pelo espírito de
harmonia construtiva, que tem o poder de unir e sintetizar, num esforço comum, as tendências mais
diversas.
Esta Palavra, interpretada como tolerância compreensiva, e que revela um ardor sereno e pacífico,
despojado de todo fanatismo e de toda Ambição é, de fato, a única que pode realizar o milagre da
ressurreição dos Ideais e Aspirações, mortos no íntimo de todo ser humano, sepultados pelas
preocupações e a ignorância refletida nas considerações ordinárias da existência.
A Arte da Harmonia é, pois, a alma verdadeira da Arte da Construção. Toda atividade construtiva é
obra e resultado de uma harmonia interior que a dirige e cujas notas se expressam nas formas
visíveis. E isto se aplica tanto ao mundo físico como ao mundo moral e espiritual. Tudo,
indistintamente, é produto de vibrações que constroem quando são harmônicas e destroem quando
são desarmônicas.
Uma Loja Maçônica existe e trabalha com real eficiência, na medida em que seus Mestres sabem
expressar e concordar harmoniosamente seus Ideais numa perfeita sintonia, na qual se conciliam as
aspirações e os desejos de todos os seus membros. O mesmo deve ocorrer em todo Corpo Superior,
em toda Grande Loja, Agrupação ou Federação Maçônica.
A base do Governo Maçônico deve ser buscada justamente nesta Arte da Harmonia, que sabe juntar
e dirigir para uma mesma finalidade construtiva, indistintamente, todos os esforços, as aspirações e
as tendências.
A própria Vida é, em sua expressão, uma Harmonia e a Morte não é nada mais do que a destruição
dessa Harmonia, que constitui o nexo entre as diferentes partes de cada individualidade.
O milagre de Orfeu, que com sua lira faz aproximar as árvores e as rochas, deter os rios em seu
curso, apaziguar as tempestades e reunir a seus pés as mais temíveis feras, tem de ser
profundamente meditado pelos Mestres. Todos temos em nós um poder semelhante quando fazemos
vibrar em nosso coração a Lira da Harmonia, cujas notas inspiradas podem mudar por completo a
atitude dos seres, das coisas e das circunstâncias exteriores.
No entanto, não pode haver uma perfeita harmonia quando se desconhece a Lei Fundamental que
deve dominá-la, a única que pode realizar o milagre que da mesma se espera. Portanto, o
conhecimento da Música deve completar-se e tornar-se fecundo com o conhecimento da
Astronomia, que nos ensina a Lei Suprema que regula e governa tudo.
O Amor tem que ser a chave de toda Harmonia Construtiva, se quisermos que ela alcance a
finalidade para a qual é dirigida. Um Amor despojado de todo egoísmo e de toda ambição pessoal,
que não tenha outra intenção senão o Bem dos demais e a perfeição da Obra. Um amor que
resplandeça, constantemente, no esforço e no desejo de dar, como um Sol brilhante em sua
irradiação octonária, em todas as direções do espaço.
Por esta razão, para ser mestre no sentido real da palavra, é preciso ter matado o egoísmo, origem
de todos os males e misérias. É preciso levantar de sua tumba (que é a ilusão da personalidade) a
Individualidade, morta pelos erros e considerações materiais de seus inimigos: a Ignorância, o
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Fanatismo e a Ambição. Morrer para as considerações e interesses pessoais, aprendendo a
trabalhar somente pelo bem do mundo, na tarefa que nos seja particularmente designada. Eis aqui a
idéia diretriz e fundamental de todos os Mestres, que para sê-lo devem trabalhar com os astros que
nos dão continuamente sua luz, nos guiam e nos iluminam, satisfeitos com isto, sem esperar nosso
reconhecimento por seus benefícios. Assim como os astros nos dão a sua luz, cada Mestre deve
fundamentar seu dever em dar instrução, simplesmente porque sua Lei é dá-la, assim como a Lei
dos Astros é brilhar e iluminar. A instrução dos Mestres é a Luz simbólica que deve ser recebida em
todas as Lojas Maçônicas.
TRABALHO NOTURNO
Apesar de muitos Rituais abrirem (sem distinção para os três graus) os trabalhos ao meio-dia e
encerrá-los à meia-noite, na realidade, a idade maçônica implica numa hora diferente de trabalho.
Enquanto a hora mais apropriada para abri-los, no grau de Aprendiz, é ao amanhecer (ou seja, o
Princípio da Luz) e o meio-dia (a plenitude da Luz) para o grau de Companheiro, os trabalhos dos
Mestres devem ser abertos, mais propriamente, no pôr-do-sol que simboliza a Morte de Hiram,
como a hora mais adequada para revisar e aperfeiçoar os trabalhos que se tenha feito, enquanto os
demais descansam.
Esta hora simbólica também faz referência ao grau de domínio de si mesmo que deve ser alcançado.
Enquanto a manhã corresponde à primeira expressão da atividade, sobre a qual o Aprendiz deve
exercer seu controle, o meio-dia e a tarde têm relação com as regiões da mente iluminadas pelo Sol
da consciência individual a Estrela Flamejante e, analogamente, a noite simboliza a região
obscura da mente subconsciente e dos instintos, sobre a qual o Mestre deve estender sua vigilância.
Vigiar, enquanto os demais dormem na inconsciência e na ignorância, eis a tarefa superior dos
Mestres. Vigiar para prevenir os crimes que, de outra maneira se abateriam sobre os homens, pela
malícia de seus maus companheiros que são os erros, as paixões e os instintos. Prevenir a
Ignorância pela instrução, o Fanatismo pela compreensão e a benevolência, a Ambição pelo amor e
a bondade.
O Reino da Luz deve ser preparado e buscado na quietude e na obscuridade. A Luz deve ser
encontrada dentro, para que possa derramar-se e expandir-se para fora. Ninguém pode ser chamado
Mestre enquanto não tenha aprendido a buscar individualmente esta Luz no trabalho noturno e
solitário de sua própria consciência, em atitude meditativa.
A noite da consciência é a hora mais apropriada para vencer a Ilusão, que se aproveita da falta de
vigilância dos homens para dominá-los, assim como a obscuridade é a condição mais apropriada e
oportuna para a manifestação da Luz.
Enfim, o trabalho noturno dos Mestres refere-se, simbolicamente, à região subconsciente da mente,
que eles devem esforçar-se para dominar, através da repetição e da afirmação silenciosa da Verdade,
assim como pela contemplação incessante dos mais altos Ideais, para que estes possam expressar-se
interiormente e manifestar-se exteriormente.
QUARTA PARTE
O estudo que fizemos nos dois graus precedentes, sobre as origens e o desenvolvimento histórico de
nossa Instituição, esforçando-nos para responder às duas primeiras perguntas da Esfinge,
juntamente com o progresso que alcançamos, ingressando nesse terceiro grau, nos põe agora em
condições de afrontar a tarefa de responder, satisfatoriamente, à terceira pergunta do Monstro
mitológico, com o conhecimento de causa que constitui o Plano da Inteligência Criativa do
Universo.
UNIDADE DA INSTITUIÇÃO
Este é o primeiro e mais universal entre os marcos ou pedras fundamentais da Instituição, que todos
aqueles que querem o Bem da Ordem tem que reconhecer. O reconhecimento universal deste marco
é, pois, condição necessária e suficiente para a efetiva unificação da Ordem. As divisões exteriores
entre os maçons serão insignificantes, desvanecerão e deixarão de existir por completo quando
houver melhor compreensão e o reconhecimento universal entre as diferentes obediências
algumas vezes em conflito - e seus respectivos membros.
Um dos caracteres dominantes da Maçonaria deve ser o ecletismo, que permite a harmonia mais
completa entre diversas tendências, com a tolerância que nasce da compreensão e da solidariedade
fraternal, sem dividir jamais, mas reforçando a Unidade Indivisível da Instituição.
Em seu espírito e em sua essência fundamental, a Maçonaria nunca deixou nem nunca pode deixar
de ser una e indivisível apesar de, exteriormente, parecer dividida. Um mesmo Ideal, um mesmo
esforço, louvável, útil, proveitoso e necessário dirigido ao Bem da Ordem e da Humanidade, anima
os membros de diferentes obediências. E, se algo os separa, não são senão as barreiras arbitrárias e
ilusórias criadas pela Ignorância, o Fanatismo e a Ambição. Destrua, cada Mestre Maçom, em si
mesmo estes inimigos tradicionais, e será digno de tal nome, tendo colaborado na efetiva
Unificação da Ordem.
A Ignorância deve ser destruída pelo conhecimento da Verdade, o Fanatismo pela compreensão,
base de toda verdadeira tolerância, e a Ambição pelo amor fraternal. Assim se realiza o trinômio
Liberdade, Igualdade e Fraternidade, que conduz ao reconhecimento da igualdade de direitos para
todas as tendências, cuja liberdade, tolerância e compreensão produz a fraternidade que deve existir,
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de fato, entre todos os maçons, sem distinção, como núcleo da fraternidade universal da
humanidade.
Em outras palavras, temos que reconhecer que na verdadeira Maçonaria não podem existir divisões
reais de nenhum tipo, por ser una sua Alma e sua Essência e único seu Espírito. As divisões que
possam existir nela são, por isso mesmo, fictícias. Sua Unidade Interior será tanto mais efetiva
quanto maior for a compreensão individual que a realiza. Que não se procure no exterior as
barreiras que dividem os maçons, nem a destruição das mesmas, mas que cada maçom, com uma
compreensão cada vez maior, trate de destruir em si mesmo estas barreiras. A Maçonaria será
unificada de fato, como o é em princípio e por direito.
A compreensão dessa Unidade deve ser buscada nas origens e princípios da Instituição, quer dizer,
no Oriente e no Ocidente. Enquanto no Ocidente, no domínio da realidade visível, reinam as duas
colunas antagônicas que originam o contraste de quadros brancos e negros, entre a luz e a
obscuridade, entre a verdade e o erro (que muito bem podem representar o mosaico que nos oferece
o quadro exterior da Maçonaria Moderna) no Oriente, isto é, no interior, brilha a Luz branca
unitária e unificadora do Delta, ou seja, os Princípios Eternos sobre os quais se fundamenta nossa
Ordem, e por cuja mais perfeita compreensão se realiza.
Dirijamos ao Oriente nossos olhares e reconheçamos a unidade da Instituição e do Ideal que anima,
indistintamente, todos seus fiéis Trabalhadores, e seremos dignos da nobre tarefa que nos incumbe
de prever e preparar ou seja, profetizar construtivamente seu futuro.
O DOM DA PROFECIA
O dom da Profecia nasce da faculdade de ver e expressar o Verbo Criador inerente a todas as coisas
das quais constitui o Sopro Vital Animador, antes de sua manifestação exterior. É a comunhão
individual com o Verbo que coopera com sua expressão.
Não é uma faculdade passiva, como se crê ordinariamente, nem mero fruto da imaginação, mas é
essencialmente criadora, enquanto contribui para manifestar o que depois será reconhecido e aceito
universalmente. Todos os grandes inventores, filósofos e idealistas, todos os fundadores de
movimentos, os inovadores e líderes de idéias progressistas, os pioneiros em todos os campos da
vida e da atividade foram e são verdadeiros profetas, já que usando o Verbo Criador, contribuíram
para a manifestação de um Logos desconhecido para os demais, o Logos que está no princípio de
todas as coisas.
Speculare é ver, olhar , assim como indica sua etimologia. Especular sobre o futuro é chegar a vê-
lo, antecipá-lo em nossa consciência já que no Reino Absoluto do Ser, origem de toda existência,
tudo está eternamente presente e contribuir para manifestá-lo. É uma faculdade que todo mundo
exerce, mais ou menos inconscientemente, mas que é prerrogativa e privilégio dos Mestres, que se
sentam no Oriente da Realidade, fazê-la perfeita segundo a perfeição interior do Verbo, pois todos
os erros da visão se traduzem em imperfeições da realização.
A imaginação torna-se o instrumento de sua adaptação e expressão. Portanto, é necessário que esta
faculdade, que se esforça em reproduzir nossas especulações, esteja perfeitamente dominada e
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controlada pela Inteligência. Isto é o que caracteriza o verdadeiro dom da profecia, próprio das
naturezas superiores, o qual não deve ser confundido com faculdades parecidas que se manifestam
em seres ainda escravos da ilusão, do erro e das paixões. A clarividência do Iniciado não consiste
em ver no astral, numa bola ou num espelho mágico, um reflexo ilusório de coisas, pessoas, fatos e
acontecimentos que tenham acontecido ou venham a acontecer, mas sim numa relação ou contato
direto, intimamente estabelecido na consciência com a própria Origem das coisas, com o Verbo ou
Logos que as manifesta.
O Iniciado que aspira ao Magistério tem que se esforçar para desenvolver esta faculdade (ao invés
de ser um esforço dos nervos ópticos, que debilita a vista física, e muitas vezes produz a cegueira,
ou da chamada clarividência instintiva ou mediuanímica, que tem seu centro na região dos
instintos). Ao invés de ser o veículo passivo das sensações, impressões e emoções, a Imaginação
deve tornar-se o Instrumento fiel, perfeitamente controlado pela Inteligência, que realiza e torna
fecunda a Inspiração, por meio da visão da realidade, condição necessária para existir e, portanto,
manifestar-se exteriormente.
Ver a Realidade significa ver o que existe como Princípio Potencial Divino, Essência e Substância
Eterna e Imanente esperando, na visão individual, a oportunidade para manifestar-se numa forma
proporcionada à perfeição ou claridade de tal visão ou especulação. Eis aqui a clarividência dos
Mestres, o verdadeiro dom da profecia.
Esta Realidade, esta essência real da Instituição, é a que devemos esforçar-nos para ver para
podermos cooperar e contribuir eficazmente, preparando o futuro com verdadeiro espírito profético.
O estudo do passado nos serve de guia para compreender o presente e, por meio do Compasso
simbólico desta compreensão, apoiado sobre o próprio presente, traçar o círculo ou alcance das
possibilidades futuras.
Tal essência é espiritual. Quer dizer, existe e se manifesta, antes de tudo, individualmente no
espírito de seus adeptos. É o que os anima, os incita e os une, impulsionando-os a realizar a
Instituição como resultante de seus esforços conjuntos.
A essência da Instituição é aquele poder mágico ou força atrativa que une os esforços isolados num
Ideal comum. Em uma Palavra, é o estandarte ou sinal de reconhecimento que constitui o Verbo ou
Logos, Centro ou Altar da Loja. Isto é, do esforço construtivo que se manifesta com a cooperação
de todos para realizar o Verbo, Palavra ou Ideal.
Assim entendida, a essência da Maçonaria é, de fato, universal e sobre ela se baseia todo esforço
comum para a realização de um mesmo Ideal, toda atividade construtiva, segundo um Plano
uniformemente reconhecido e igualmente aplicado, ou seja, a essência e fundamento de toda
sociedade e de toda civilização.
Todo esforço ou atividade coletiva assim dirigida por um Princípio, Idéia, Logos ou Palavra, é
potencialmente uma loja maç nica ou construtora, pelo fato de juntar e unir diferentes
individualidades que cooperam para tal realização.
Quanto à forma exterior tomada pela agrupação construtora, pode variar indefinidamente em suas
particularidades. Mas, apesar de suas variações, sempre haverá algumas características universais,
que formam um centro comum de atração, no qual deverão modelar-se as diferentes agrupações,
livremente formadas. Assim, desta liberdade inicial e fundamental nascerá espontaneamente uma
igualdade de formas, que se traduzirá, na prática, numa fraternidade que juntará indistintamente
quantos constituírem as agrupações.
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Assim, passamos ao Reino Ideal dos Princípios, que constitui o Oriente simbólico para o qual
tendem todos os esforços e aspirações particulares. Assim como a compreensão individual e o
estabelecimento em Princípios que realiza o Logos, Verbo Criador ou Palavra de União, que une as
diferentes individualidades num esforço constritivo comum que tende, naturalmente, à
uniformidade pela mesma Unidade dos Ideais ou Princípios sobre os que se funda. Assim a loja
simbólica fica estabelecida em toda sua extensão, do Oriente onde tem sua origem, até o Ocidente
para onde se dirigem suas finalidades e no qual se repõem, se concentram, se concluem, se
enclausuram e se tornam efetivos todos os esforços.
Para fazer parte de uma agrupação é necessário penetrar na compreensão do Ideal, Palavra, Verbo
ou Logos que a anima e constitui seu Centro de União ou fundamento organizador. Esta é a
essência da iniciação.
Uma vez que se estabeleça na compreensão dos Princípios, e tal compreensão seja fecunda em
esforços e resultados construtivos, o Aprendiz transforma-se naturalmente em Companheiro dos
que, como ele, também estão firmemente estabelecidos na compreensão construtiva de um Plano ou
Ideal comum. E, quando esta compreensão começa a manifestar-se como genialidade individual
a letra G que está no centro da Estrela da Personalidade ingressa na Câmara do Meio e realiza o
Magistério Ideal da Arte podendo, então, ser Guia e Mestre já que se tornou mais que os demais.
Ainda que reunidos numa mesma Loja ou centro ideal comum, os Aprendizes, Companheiros e
Mestres que contribuem para formá-la, se diferenciam pelo grau de compreensão da Palavra, Ideal
ou Plano da Loja. Este grau de compreensão diferente é o que faz ou deveria fazer e determinar a
respectiva idade maçônica. De maneira prática, cada um destes graus tem uma palavra e um sinal de
reconhecimento diferente, com os quais se reconhecem entre si, enquanto não podem ser
reconhecidos pelos que ainda não alcançaram o mesmo grau. Mas essas palavras e sinais se
complementam e se completam, como logicamente tem que ser, por constituir diferentes graus de
compreensão da mesma Idéia Fundamental ou Logos essência da Loja.
A UNIDADE MAÇÔNICA
A Maçonaria radica nas Lojas, assim como estas radicam nos Princípios da Ordem dos quais se
manifestaram e continuam manifestando-se do interior para o exterior. Por sua vez, cada Loja
constitui um esforço diferente para realizar o Ideal, os Princípios e Finalidades da Instituição. Por
conseguinte, ela deve ser considerada como a verdadeira individualidade maçônica, em tudo
análoga aos indivíduos que formam a sociedade. É uma encarnação particular da Essência ou Alma
Grupo Universal da Instituição, limitada por determinadas condições de tempo e de espaço, assim
como pela compreensão individual de seus componentes.
O esforço para realizar ou tornar ativa uma Loja, elevando suas colunas, plasma um Ideal ou uma
compreensão particular da Instituição, cujo Espírito Eterno e Imortal se estende neste esforço que
une seus membros na comunidade dessa compreensão. A Loja vive segundo a Harmonia que se
realiza e a cooperação que se torna possível entre os membros que a compõe, já que assim como a
harmonia torna construtivos todos os esforços, toda dissonância se torna um elemento destrutivo, e
quando esta predomina e não pode concertar-se e resolver-se harmoniosamente, a Loja morre
derrubando as colunas, que são o símbolo da Porta ou Entrada, estabelecida no Ocidente da
realidade visível.
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Mas, a Instituição permanece, sobrevivendo a todos os esforços particulares que tiveram que
superar e transpor, e sua Alma Grupo continuará reencarnando, em outros esforços semelhantes,
somando-se num Ideal ou numa atividade construtiva comuns. Os mesmos membros de uma Loja
desfeita, assim como os que se separam de sua Loja Mãe, cooperarão nesta constante regeneração,
por meio de diferentes unidades exteriores, que se tornam cada vez mais receptivas e fiéis
expressões do Ideal Interior que as anima, fazendo a Maçonaria evoluir constantemente,
desenvolvendo-se sua Alma Universal com o desenvolvimento e a experiência acumulada no
conjunto das diferentes encarnações.
Só o Mestre, penetrando com o conhecimento de sua gênese, na essência eterna da Instituição, pode
compreender como, quaisquer que sejam, tenham sido ou cheguem a ser, as divisões ou distinções
aparentes em suas manifestações exteriores, a Maçonaria não pode nunca deixar de ser una e
indivisível. Se aparece dividida para seus membros, só o é ilusoriamente. Essa divisão não é real
nem permanente, apesar de sua atualidade.
Tudo o que possa fazer de arbitrário em diferentes obediências, terá forçosamente uma existência
temporal e transitória, pois as nuvens nunca podem ficar permanentemente diante do sol, e toda
obscuridade ou treva tem que ser penetrada e vencida pela Luz. Ainda que, ao ingressar na Loja, o
Iniciado tenha que parar entre as duas colunas símbolo de toda divisão que se encontram no
Ocidente, seu olhar se fixará no Oriente, de onde vem a Luz, e sob essa Luz a Maçonaria nunca
aparecerá realmente dividida.
CONSTRUIR A UNIDADE
Fixando nosso olhar no Oriente, com clarividência profética e realizadora, devemos construir no
Ocidente a Unidade que é, no Oriente, um fato absoluto, permanente e indestrutível.
A Unidade não pode ser construída senão por meio da própria unidade, isto é, devemos construir a
Unidade da Instituição por meio da unidade maçônica sobre a qual se baseia, em sua expressão
exterior, ou seja, a Loja.
A compreensão da unidade indivisível da Instituição, dentro das diferentes unidades que a compõe e
nas quais se manifesta, será a pedra fundamental e angular da construção. Inspirada nos planos da
Inteligência Criativa se desenvolve e se expressa, em formas sempre superadas e renovadas, para
adaptar-se às novas necessidades interiores e exteriores de tais planos.
Não se pode construir a Unidade reconhecendo a divisão e fomentando-a nas distinções arbitrárias
de regularidade e obediência. Não pode haver, no fundo, maior e melhor regularidade para os
componentes de cada Loja particular, do que a de seguir as regras fundamentais e genuínas da
Instituição, segundo a indicação interior de seu próprio Ideal. Tampouco pode haver uma
obediência mais elevada e legítima do que aquela que cada maçom se esforça para realizar para
com o próprio Grande Arquiteto, por meio de uma melhor compreensão de seus Planos e da sua
cooperação consciente e inteligente com os mesmos. Deve-se dar a máxima liberdade, tanto para as
Lojas como para os Maçons para que, em seus esforços individuais (sinceramente dirigidos para o
Bem da Ordem, sendo esta uma condição necessária para seu progresso) possam, de fato, construir
a Unidade Maçônica.
A autonomia das Lojas, dentro do reconhecimento da Unidade Indivisível da Instituição, deve ser
plena e absoluta, sem nenhuma restrição ou limitação exterior, e cada Loja deve ser considerada
soberana em sua Terceira Câmara, com a unanimidade dos membros que a compõem.
LOJA J S A E PERFEI A
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No entanto, para ter direito a essa completa autonomia e independência e ser capaz de realizá-la e
conservá-la, a Loja tem que ser, de fato, justa e perfeita no sentido de que devem ser no máximo
possível, verdadeiros os Mestres que a dirijam.
Neste sentido, deve ser considerada simples a Loja formada por um só Mestre qualquer que seja o
número dos componentes de sua terceira Câmara. Justa aquela integrada por dois e perfeita a Loja
em cuja direção concorrem três Mestres. Entendendo devidamente a qualidade de Mestre, muito
poucas são as Lojas que, com todo direito, podem ser chamadas simples. Um número menor ainda
as que podem ser consideradas quase justas. E quanto às Lojas perfeitas, podemos compará-las à
misteriosa ave Fênix da antiguidade, de cuja existência ninguém duvidava, mas que poucos olhos
podiam afirmar tê-la visto realmente.
Ainda que seja dado a muito poucos maçons verem uma Loja realmente justa e perfeita, porque
talvez não haja mais uma só em toda a superfície da terra que seja integrada por três Mestres, toda
Loja pode e deve aproximar-se da qualidade de tal, esforçando-se para tornar verdadeiros e efetivos
os seus trabalhos, para a realização das finalidades da Instituição, da qual cada Loja é legítima
representante.
Não se pode dizer o mesmo daquelas Lojas nas quais não haja nem mesmo um só Mestre entre os
que a dirigem. Essas Lojas precisam de tutela, enquanto por si mesmas, sem um reconhecimento
exterior, não se sentem legítimas representantes da Instituição e, portanto, não saberiam desejar,
fazer, nem conservar sua liberdade, soberania e independência.
Isto não significa que uma Loja, realmente digna de tal nome (pelo fato de estar regida pelo menos
por um Mestre) deva ser forçosamente livre e não aceitar ou reconhecer nenhum Alto Corpo ou
Autoridade Maçônica. Significa sim que pode sê-lo quando deva, pois o verdadeiro Iniciado prefere
em geral reconhecer as leis e submeter-se às autoridades exteriores, ainda que reconheça suas
imperfeições, abstendo-se de toda insubordinação simplesmente por ser este um elemento de
desordem. No entanto, continua conservando a mais plena liberdade de pensamento e de ação,
trabalhando constantemente em perfeita harmonia, para a afirmação daqueles Princípios, que
algumas vezes podem necessitar ou tornar desejável uma completa independência.
É necessário insistir no fato de que uma Loja se constitui unicamente pela livre e espontânea
vontade dos que a formam. Por razões e considerações exteriores é conveniente solicitar
previamente ou mesmo pedir depois a carta patente e o reconhecimento de determinado Alto Corpo
que seja considerado, na Jurisdição, o legítimo representante da Instituição. Mas, isto está
subordinado à livre vontade dos que constituem a Loja ou a dirigem, em virtude do direito inerente
no Magistério Maçônico, cujo livre exercício nenhum verdadeiro Maçom pode nunca contestar.
É legítimo e desejável que as Lojas se confederem e se unam entre si, para formar Altos Corpos de
diferentes denominações, aos quais podem delegar e reconhecer parte de sua autoridade e direitos.
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Autoridade e direitos estes indispensáveis para tornar efetiva a sua organização. Mas deve-se
considerar um abuso dessa autoridade e desses direitos o legislar, julgar ou excomungar por conta
própria outras Lojas que têm o mesmo direito de aceitar ou não tal autoridade. Tampouco é legítimo,
para estes Altos Corpos, proibir os membros e Lojas de sua Obediência toda relação com as Lojas
que não reconheçam tal Obediência, assim como negar o direito de visita aos membros destas Lojas,
considerando-os irregulares.
Com tal conduta estes Altos Corpos e Lojas por si mesmos se excluem da Universalidade da
Instituição, criando barreiras e divisões arbitrárias em sua Unidade Indivisível.
Toda Loja, constituída por Mestres Maçons que assim exercem o direito livre e soberano - pode e
deve considerar-se legítima e regular representante da Instituição, com a única condição de que
observe suas Leis e Regras Tradicionais, universalmente reconhecidas.
Não se pode dizer o mesmo das Grandes Lojas e Altos Corpos Maçônicos, pois seus direitos e a
autoridade que exercem estão subordinados aos das unidades maçônicas que os constituem ou
contribuem para formá-los. Sua legitimidade e regularidade são as que as Lojas, em particular, e a
Maçonaria Universal lhes reconhecem.
SOBERANIA DO MAGISTÉRIO
Qualquer que seja, então, o grau de seu desenvolvimento íntimo, todo Mestre exerce seu magistério
entre os Mestres, isto é, entre os que são mais que os demais. Por conseguinte, o Venerável de uma
Loja, assim como o próprio Grão Mestre é, simplesmente (em tudo o que diz respeito a sua
qualidade exterior, assim como a seus direitos), o primeiro entre seus iguais. 18
Efetivamente, o Venerável é um Mestre eleito entre os Mestres que formam a Loja, como membros
dotados do pleno gozo da qualidade e dos direitos maçônicos, e governa a Loja com a Autoridade
que estes lhe reconheceram e delegaram. Da mesma forma, o Grão Mestre é o Mestre eleito entre os
Mestres, que concorrem para formar uma Grande Loja ou Jurisdição Maçônica, que governam com
a mesma Autoridade reconhecida e delegada.
Assim, vemos que Governo da Instituição é prerrogativa do Magistério, e assim também deveria ser
o de toda sociedade ou Nação, porque somente a maestria dá a capacidade plena, tanto de governar
como de escolher com discernimento.
Portanto, o terceiro grau deve ser considerado como soberano, e devem ser universalmente
reconhecidos os direitos inerentes nesta Soberania entre os quais está o de fundar Lojas, com o
concurso de outros maçons como um dos marcos essenciais da Ordem.
Este marco, que faz reconhecer universalmente como tal, em pleno gozo de seus direitos, o Mestre
Maçom que recebeu tal investidura na Soberania da Terceira Câmara de uma Loja justa e perfeita, é
outro elemento necessário para reconstruir a unidade de nossa Instituição, em harmonia com os
Planos do Grande Arquiteto, cuja compreensão individual forma a verdadeira realeza do Magistério.
18
Os graus filosóficos têm que ser realmente espirituais. Numa Loja Azul e, especialmente diante dos Aprendizes e
Companheiros, os que são honrados com esses graus, nem se distinguem exteriormente dos demais Mestres. (N.A.).
91
O reconhecimento da Soberania do Magistério Maçônico emancipa naturalmente as Lojas de
toda autoridade fictícia ou arbitrária, assim como de toda obediência que não se baseie nos
Princípios genuínos e reais da Instituição que, para sê-lo, devem ser universalmente reconhecidos e
aceitos.
Toda Loja que se baseie nestes Princípios é considerada e é realmente representante legítima e
regular da Instituição. As demais Lojas que se sintam e sejam igualmente legítimas representantes
da Instituição, não podem deixar de reconhecê-la e reconhecer seus membros. Justamente nesse
reconhecimento universal, está a Unidade Real e Indestrutível que, em vão, poderíamos buscar
exteriormente antes de tê-la encontrado no interior.
A emancipação das Lojas não está no fato de não reconhecer a Autoridade legítima e regular dos
Altos Corpos (que representem e expressem a livre vontade dos Maçons que os compõem), mas
somente nos abusos e usurpações de uma tal Autoridade. Enquanto existirem esses abusos e
usurpações, haverá muitos cismas e divisões nas organizações maçônicas, e necessidade de Lojas
que busquem e afirmem exteriormente em nome da liberdade, que é a primeira prerrogativa do
Maçom, sua autonomia e independência, como Lojas livres formadas por maçons livres.
São estes erros, preconceitos, leis, regras e definições arbitrárias que dividem a Maçonaria e dão
origem a todos os cismas, que realmente impedem que a unidade exterior corresponda
perfeitamente à unidade interior Indivisível e Indestrutível da Instituição.
Portanto, a emancipação das Lojas não é em si mesma emancipação da Autoridade dos Altos
Corpos, mas dos erros e preconceitos que continuam aceitando das leis, regras e definições
arbitrárias que sancionam, dos abusos e usurpações que cometem. Quando os abusos deixem de
existir, as regras arbitrárias sejam suprimidas e se abandonem os erros e preconceitos, desaparecerá
a necessidade, a possibilidade e a utilidade, ainda que seja particular, de todo cisma, separação ou
divisão, eliminando ao mesmo tempo as violações da universalidade da Instituição.
Somente as Grandes Lojas e Altos Corpos que se emancipem das causas de divisões, em vez de
estabelecer-se sobre as mesmas, são os que podem sobreviver e cooperar com o Progresso e à
necessária regeneração maçônica.
DISCIPLINA E LIBERDADE
O Governo da Ordem deve ser feito com livre disciplina e disciplinada liberdade. Somente sobre
estas duas colunas ou Princípios, pode formar-se e descansar o Governo do Magistério.
A disciplina maçônica nunca deve ser imposta, mas sempre reconhecida e aceita livremente. Como
a Maçonaria tem por objetivo fundamental formar homens verdadeiramente livres, toda imposição
de qualquer natureza viola esse Princípio, e nunca poderá ser considerada como base de sua
disciplina, que é reconhecimento e ensinamento progressivo da Verdade e da Virtude.
Indubitavelmente, a liberdade tem que ser disciplinada, uma vez que se aprende por meio do estudo
da Verdade e se realiza com a prática da Virtude. A Liberdade Maçônica é conseqüência da
Disciplina Maçônica, entendida como escola da Verdade e da Virtude, e não tem nada a ver com a
licença profana, que é, na verdade, a escravidão do Vício e do Erro que torna necessários os
vínculos exteriores.
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A livre disciplina da Maçonaria e a liberdade disciplinada que na mesma se conseguem, devem
ser bem entendidas e realizadas pelos Mestres. Sem elas nenhum deles pode ser digno de tal nome,
enquanto que com elas, ele se torna mais do que os demais.
Adquirir estas qualidades é tornar-se verdadeiro Mestre subjugando os erros, vícios e vínculos da
personalidade à compreensão virtuosa da Individualidade, que encontra na realeza de seu Ser, a
Suprema Verdade e a mais perfeita Liberdade. Harmonizar no Poder Soberano do Amor, a mais
perfeita disciplina com a mais plena liberdade, eis o ideal pelo qual devem esforçar-se os que
queiram ser realmente Mestres em nossa Instituição. O Arco do Magistério, levantado pela Livre
Maçonaria, nunca poderia realizar-se e cobrir dignamente o Edifício simbólico da Ordem, sem o
concurso destas duas qualidades que se complementam, interpretando em seu significado moral as
duas Colunas que estão na entrada do Templo da Verdade e da Virtude.
Que saiba e lembre sempre, aquele que deseja fazer um útil e proveitoso Trabalho Maçônico, de
sobrepor o Compasso da Liberdade mais iluminada e compreensiva à justa e perfeita Disciplina do
Esquadro.
A GRANDE LOJA
Antes de 1717 a denominação de Grande Loja foi usada, ocasionalmente, por alguma Loja
particular que, por sua preeminência, queria distinguir-se das demais. Também depois, em 1725,
assumiu este título a Loja de York, apesar de não ter nenhuma outra Loja sob sua obediência.
Mas, desde o princípio do século XVIII, com a fundação da Grande Loja da Inglaterra, esta
denominação pode ser considerada própria de toda agrupação de Lojas, que nesta forma se dão e se
reconhecem um governo, uma disciplina e uma obediência comuns.
A primeira Grande Loja, neste sentido, foi a simples união ou assembléia dos membros
componentes das quatro Lojas que, nessa união, buscaram o meio de salvar-se de uma completa
dissolução. No entanto, é indubitável que a fortuna do novo organismo que foi como a semente da
qual brotou e se desenvolveu a Maçonaria em sua forma atual não se deveu tanto aos Princípios
Ideais, dos quais se fez promulgadora, quanto ao simples fato da união e do reconhecimento
complementar de um Governo ou Autoridade Central, personificada no Grão Mestre, a qual tanto
pode favorecer como obstar o progresso da Instituição.
Desde então, à semelhança das Lojas, as Grandes Lojas se multiplicaram em todos os países,
formando-se uma Grande Loja, pelo menos, em cada nação ou Estado.
Esta agrupação das Lojas em Grandes Lojas, benéfica pela união entre seus componentes que assim
se estreita e se fomenta, apresenta o inconveniente de que esse Governo Central possa usurpar os
direitos das Lojas particulares e legislar em nome da Instituição, com definições e limitações
arbitrárias, que revelam a incompreensão de suas verdadeiras finalidades e até deixar patente a
ignorância dos que a dirigem.
Assim, em várias jurisdições, esta união que deveria ser, segundo dissemos, livre disciplina e
disciplinada liberdade pode chegar a ser uma verdadeira sujeição, com juramento de fidelidade a
leis, regulamentos e definições, em parte arbitrárias, isolando-se e excluindo-se da Universalidade
da Instituição, da qual deixa de ser legítima representante, apesar de acreditar-se com direito de
julgar e excomungar, em seu nome, os Maçons e Lojas que não reconhecem sua autoridade assim
usurpada.
A dupla conseqüência, em virtude da manifesta irregularidade desse procedimento (pois como toda
Loja é, em princípio, uma legítima representante da Instituição, nenhum grupo ou agrupação de
Lojas tem o direito de legislar arbitrariamente sobre as demais) foi e é, a divisão da Maçonaria de
93
uma mesma Jurisdição, assim como a falta de reconhecimento universal entre organizações e
autoridades maçônicas de diferentes jurisdições e países.
Devido à usurpação de direitos e abusos da autoridade outorgada e reconhecida, com o único fim de
concretizar a união entre os maçons, novas Grandes Lojas mais de uma vez surgiram, para
enfrentar-se com as que já existiam, numa mesma Jurisdição. Algumas destas novas agrupações
tomaram, para distinguir-se, o nome de Grandes Orientes, enquanto um número menor, mais
recentemente, preferiu juntar-se sob a denominação mais liberal de Federações.
Cada uma destas três formas pode levar, e levará indubitavelmente, uma útil contribuição ao
progresso da Causa Maçônica, sendo a utilidade e efetividade de tal contribuição proporcional ao
empenho que cada uma coloque em vencer e desterrar os três inimigos clássicos da Instituição,
personificados nos assassinos do Arquiteto do Templo de Salomão, e objeto de especial estudo
deste grau.
Com a perfeita tolerância que nasce da compreensão, com a qual se desterram a Ignorância e o
Fanatismo, devemos todos, acima de nossa Ambição pessoal, cooperar segundo nosso próprio Ideal
particular (nossa parte no Plano Geral da Obra, que nos tenha sido especialmente assinalada e
encomendada pelo próprio Grande Arquiteto) para que se faça, na Organização Maçônica à qual
pertencemos, um verdadeiro trabalho pelo Bem da Ordem e da Humanidade, reconhecendo a
efetiva unidade indivisível, tanto de uma como da outra.
Que cada Grande Loja faça honrar seu nome! Que seja verdadeiramente uma Grande Loja,
elevando-se acima das mesquinharias, incompreensões, ambições e interesses pessoais e diferentes
formas de intolerância. Que forje para as Lojas dependentes, o exemplo e o Ideal do Trabalho
Maçônico educativo, orientador e construtivo em todos os campos da vida, que deve assegurar à
nossa Instituição um futuro mais brilhante. Que seja este Ideal, um verdadeiro Grande Logos,
Palavra ou Verbo incitador que, por si mesmo será suficiente para assegurar-lhe a mais perfeita
disciplina na mais plena liberdade.
Que cada Grande Oriente seja realmente um Grande Oriente. Um Luminar e um Manancial da Luz
Maçônica construtiva que continuamente procuramos em todas nossas reuniões! A função do
Oriente é a de orientar, iluminar e dirigir nossos passos para a Luz, nossos esforços em direção à
Verdade e à Virtude. Se esta é a função e o dever do simples Oriente de uma Loja, com mais razão
o Grande Oriente, que aspira a dirigir construtivamente os esforços de diferentes Lojas, tem que ser
realmente um Centro de Luz, um Sol que se levanta em toda sua força e brilha, manifestando o
Verbo Criador de um verdadeiro Mestre entre Mestres.
Que cada Federação seja uma Aliança, um pacto de união selado entre as Lojas que a compõe, e
realize o significado da corda mística com nós que se desenlaçam acima das doze colunas de nossos
Templos! Que deste Pacto, desta livre união entre iguais se manifeste uma verdadeira Fraternidade,
fundada sobre a mais plena e completa liberdade de seus componentes, e que esta união se estenda
indistintamente a todos os maçons, Lojas, Grandes Lojas e Organizações Maçônicas estabelecidas e
espalhadas sobre toda a superfície da terra! A Organização maçônica do porvir não pode surgir
senão da cooperação e dos esforços construtivos e unitivos de todas as organizações maçônicas
atualmente existentes.
94
O CIMEN O DA NI O
O cimento ou argamassa que efetivará numa União verdadeira a Unidade da Maçonaria Universal,
não pode ser senão o Amor Fraternal que nasce da consciência da própria Unidade Unidade de
Origem, de Ideais e de Finalidade – entre todos os membros e agrupações componentes de nossa
Instituição.
Mas, para que este cimento seja espalhado de maneira proveitosa, é preciso primeiro que os
materiais sejam convenientemente lavrados, esquadrados e retificados. Nenhum edifício, nenhuma
Construção Ideal do gênero que a Maçonaria quer levantar e levanta continuamente, com seus
esforços através dos séculos, pode-se fazer sem os materiais adequados e sem que cada um tome o
exato lugar que lhe corresponde, no Plano Universal da Obra.
Por isso a necessidade de preparar os materiais e fazer que cada um esteja verdadeiramente em seu
lugar. Todas as organizações maçônicas atuais todas as Lojas, Grandes Lojas, Grandes Orientes e
Federações, todos os Ritos e todas as Obediências são chamadas a esta Obra, na qual se cuida de
construir a unidade da Maçonaria Universal.
Cada Maçom em particular, cada Loja e cada Agrupação Maçônica é, ao mesmo tempo, um dos
materiais, um dos Operários e Arquitetos que devem fazer com perfeição sua parte no trabalho que,
em seu próprio Ideal ou Verbo particular, o Grande Arquiteto lhe encomendou. Que cada um faça
sua parte e se esforce em aperfeiçoar seu próprio material ou a obra que lhe foi assinalada, nas
circunstâncias, condições e oportunidades em que se encontra, esforçando-se em estar à altura de
seu próprio Ideal, sem tentar impô-lo aos demais. A Obra é Universal assim como cada um é
dirigido pelo Grande Arquiteto em todos seus particulares, ainda que nem sempre possa aparecer, à
nossa visão limitada, a unidade do Plano e da Obra.
Que todos os Maçons o saibam e, em particular os Mestres, para que se despojando de seus erros,
falta de compreensão e ambições pessoais, possam cooperar impessoalmente, como verdadeiros
Mestres, nesta Obra que os Mestres dirigem e para a qual todos, indistintamente, em sua qualidade
de maçons, foram chamados.
Os verdadeiros Mestres aparecerão quando seja necessário, para dar os últimos toques aos materiais
lavrados e espalhar sobre eles, com a Chama do Amor, o Cimento que faz a União permanente e
verdadeira.
A UNIDADE DO EDIFÍCIO
Não há razão para desperdiçar nossos esforços numa crítica inútil e destrutiva, nem nos fecharmos
em limitações que nos impedem de fazer um trabalho mais útil e proveitoso em benefício da Ordem,
posto que, uma mesma Inteligência, um mesmo Grande Arquiteto, realmente a dirige e nos dirige.
95
Basta que saibamos e queiramos reconhecê-lo, levantando nossos olhos acima da névoa
enganadora da Ilusão, que nos mantém na Ignorância, nos faz vítimas e instrumentos do Fanatismo
e escravos da Ambição.
Há uma unidade indissolúvel no Plano do Edifício, no próprio Edifício e em todas as suas partes,
apesar dos diferentes esforços individuais que, ainda que aparentemente encaminhados em diversas
direções, convergem realmente para a mesma finalidade, para um mesmo Ideal, para uma mesma
Palavra de Vida, que é aquele Verbo que está no princípio de nossa Instituição.
Temos que estar conscientes dessa Unidade Indissolúvel em todos os momentos, qualquer que seja
nossa parte e nossa tarefa na Obra, se quisermos que nossos esforços sejam dirigidos
construtivamente para o Bem Real da Ordem.
RECONHECIMETO UNIVERSAL
O reconhecimento universal entre todos os Ritos e as Obediências (incluindo as Lojas Livres que
existem em todas as partes do mundo e que são as primeiras que o praticaram, desde antes de 1717),
leva consigo a abolição necessária de toda arbitrária distinção de regularidade Este será o primeiro
passo para a efetiva unidade e unificação da Maçonaria Universal.
Aos Maçons e às Lojas que objetam que as Organizações Maçônicas às quais pertencem lhes
proíbem e lhes impedem de fazê-lo, como seria seu grande e verdadeiro desejo, perguntamos se a
liberdade, além de ser a primeira condição para ser admitido na Instituição, não é também seu
primeiro propósito e Suprema Finalidade. E convidamo-los a refletir se, tem mais valor sua
qualidade de membros da Maçonaria Universal ou a de membros daquela Organização Maçônica
particular, e se ela tem o direito de impedir-lhes a prática de um dever implícito em sua categoria de
maçom, acima de toda organização ou obediência.
É, pois, um dos marcos mais fundamentais e inamovíveis da Instituição aquele que afirma que todo
maçom deve ser reconhecido como tal em todo o Universo e por qualquer outro maçom ou
organização Maçônica. O direito de visita em qualquer assembléia da Fraternidade com a única
condição de que tenha o grau correspondente e faça reconhecer que o possui legitimamente é uma
conseqüência deste reconhecimento universal que a Maçonaria impõe a todos seus membros
indistintamente, e para o qual se adotaram os meios de reconhecimento.
É sempre possível reconhecer a qualidade real de maçom de quem possua os sinais e palavras
correspondentes, e reconhecer se realmente tomaram parte em trabalhos maçônicos, assim como a
qualidade e natureza destes trabalhos. E é muito raro o caso no qual um maçom autêntico esteja
inteiramente desprovido de todo documento que patenteie a legítima possessão dos sinais e palavras
de seu grau.
Finalmente, deve-se dizer que qualquer Grande Loja ou Organização Maçônica, por mais
autocrática que seja, deve ser sempre e de alguma forma, o expoente de seus membros. Assim, se
esses membros, trabalhando segundo sua consciência, se afastam de um regulamento baseado numa
compreensão imperfeita da verdadeira natureza da Ordem (ainda que esse regulamento esteja
sancionado por juramentos, que por essa mesma razão carecem de valor maçônico, ainda que
96
continuem tendo um valor individual) para observar um dos Princípios Fundamentais e Imutáveis
da Maçonaria Universal, ninguém pode realmente condená-los. E assim trabalhando, cooperam para
que tais erros e preconceitos sejam como hão de sê-lo definitivamente superados.
É certo que o reconhecimento universal é uma absoluta necessidade para a total Unidade Universal
da Instituição e, como esta faz parte do Plano do Grande Arquiteto, podemos profetizar com toda
segurança seu advento, mais cedo ou mais tarde.
Este reconhecimento universal entre todas as Lojas, Obediências e Ritos, incluídos aqui os que se
consideraram até agora como irregulares (definição inconsistente, fruto de uma forma de
fanatismo sectário, e que deveria ser completamente excluído da Maçonaria que aspira a ser
integrada por homens livres e a formá-los) nos defronta com a realidade da Co-Maçonaria, e
conseqüentemente, com o problema da admissão da mulher nos trabalhos maçônicos.
Antes de tudo, pode-se realmente definir como irregularidade o fato de seguir regras diferentes,
especialmente daquelas que segue quem assim as define, com incontestável arbítrio como base de
sua própria regra? Não seria a irregularidade mais uma ausência de regras do que uma regra que se
diferencia da correntemente admitida e aceita? Pode-se dizer que, com esta definição, se poria
abaixo todo o Edifício Maçônico. Mas, trata-se de uma ilusão, como aquela que faz tachar de
irregularidade uma regra simplesmente diferente e que bem pode ser melhor do que a que
seguimos, pois, aquilo a que chamamos regularidade pode ser a verdadeira irregularidade.
O Edifício Maçônico tem uma base espiritual muito profunda e permanente para que possa ir abaixo
pelo simples abandono de uma regra que pode ser útil, necessária e conveniente durante um período
determinado, mas que com o passar do tempo se torna inevitavelmente (como qualquer coisa que
persiste além da sua real necessidade) uma superstição, isto é, um obstáculo para o progresso que,
como tal, deve ser uma contínua superação.
Muito longe de desejar como nossa obra o demonstra uma ruptura e o abandono das Tradições e
Regras que representam o precioso legado do passado nos esforçamos, pelo contrário, para que
sejam mais bem conhecidas e melhor interpretadas.
A Maçonaria é muito bem representada pelo deus da antiguidade, do qual falamos na Primeira Parte
do Manual do Aprendiz . Esse deus que, além de presidir a iniciação, punha-se no papel de esfinge
sobre os termos ou fins materiais, tinha duas faces que estavam voltadas para o passado e para o
futuro.
Assim deve ser, e é realmente, nossa Augusta Sociedade e seus marcos. Baseando-se na Tradição
do Passado, sobre a qual fixa constantemente uma de suas duas faces, deve ter a outra fixa no porvir,
para saber enfrentar e corresponder dignamente, com sua tarefa presente, tirando proveito do
passado e preparando e antecipando o futuro.
Isso deve ser feito com o pretenso marco que, segundo alguns, excluírem terminantemente a mulher
da Maçonaria. É um marco real ou fictício? É transitório ou permanente? Saibamos julgar, com
discernimento necessário, igualmente sob a luz do passado, do presente e do futuro.
Excluir a mulher da iniciação sempre foi uma característica fundamental da Maçonaria? A Tradição
iniciática nos diz o contrário, porquanto nos Antigos Mistérios da Grécia e do Egito ela foi quase
sempre admitida, tanto quanto o homem. Um estudo histórico atento sobre o assunto, poderia trazer
à luz fatos e conclusões muito interessantes sobre este ponto.
97
É certo, por outro lado, que não era costume das Corporações de Canteiros e Construtores da
Idade Média como não o foi dos antigos Collegia Fabrorum e dos dionisíacos anteriores admitir
mulheres em seu seio, em razão do trabalho ou atividade material à qual se dedicavam. Quanto à
admissão da mulher nos princípios renovados da Maçonaria, como Instituição Moderna (à luz da
Declaração de Princípios da Grande Loja da Inglaterra) opuseram duplo obstáculo, devido ao fato
de ter sido essa Declaração derivada diretamente das corporações antigas num primeiro tempo, e,
num segundo, devido às violentas perseguições das quais foi objeto nossa Sociedade em quase
todos os países e que em alguns, não terminaram ainda.19 Se o homem podia desafiar o perigo de
pertencer a uma sociedade proibida, não se podia admitir a mulher em iguais condições.
Outros Ritos, entre os quais a pretensa Maçonaria Egípcia de Cagliostro, também abriram suas
portas para a mulher. Mas sua admissão definitiva não seria efetiva senão mais tarde, com a criação
da Maçonaria mista chamada O direito humano , cuja primeira Loja foi fundada em Paris em 1893,
como resultado da iniciação, onze anos antes numa Loja masculina (excomungada por esse fato), de
mademoiselle Deraismes.
Esta Organização universal, a qual dificilmente poderia negar-se o nome de maçônica, conta na
atualidade com centenas de Lojas simbólicas e Câmaras superiores. É um fato incontestável e é
necessário seu reconhecimento pela Maçonaria Oficial, seja com vistas a Unificação da Maçonaria
ou pelo fato de que, atualmente pode-se e deve-se discipliná-la, segundo cada Jurisdição julgue
conveniente, que já não se pode negar à mulher a participação na Grande Obra realizada por nossa
Instituição.
OS VERDADEIROS MARCOS
Voltando ao assunto dos marcos, sobre os quais só falamos ocasionalmente até agora, e que são
considerados como princípios fundamentais imutáveis de nossa Instituição, é nosso dever, como
Mestres Maçons perfeitamente conscientes em nossa missão privilegiada de profetizar e preparar o
futuro da Maçonaria, considerar primeiramente se a Maçonaria está baseada nos marcos ou se são
marcos que estão baseados na Maçonaria.
A diferença é essencial, e não consiste num mero jogo de palavras, pois no primeiro caso é a letra
que conta e tem uma importância soberana, limitando as possibilidades do espírito. No segundo
caso, o espírito é que tem realmente importância, e quanto à letra, pode e deve conformar-se com
ele.
Pensamos que cada Maçom deve ter a mais plena liberdade de aceitar uma ou outra destas duas
acepções, segundo seu próprio discernimento lhe indicar. No entanto, esta escolha determinará sua
conduta e o porá, segundo sua escolha, no campo rigidamente conservador ou no campo
progressista da Maçonaria.
19
Pelo contrário, parece ter tomado novo vigor, especialmente no velho Continente, com o prevalecer de
totalitarismos de diferentes cores, igualmente contrários a nossa instituição (N.A.).
98
Ainda que a atitude dos primeiros seja necessária para pôr um freio e contrabalançar, de certa
forma, os excessos aos quais podem ser e são muitas vezes levados os segundos, como aqui se trata
essencialmente de preparar o futuro, nos dirigimos especialmente aos progressistas, que melhor
poderão compreender-nos.
Para nós, a essência e os fundamentos da Maçonaria são espirituais. Não consistem exatamente em
determinados princípios expressos por palavras porque estes podem, do mesmo modo, tanto
manifestar como limitar, pelo fato de revelar e fixar em palavras, a essência e os alicerces
essencialmente espirituais da Instituição.
Em outras palavras, a essência real dos marcos nos parece muito bem representada pela figura do
deus Juno, que os preside. Os princípios espirituais que os constituem são eternos e invariáveis,
como o próprio deus, cujas duas faces representam um só e único ser. Mas, quanto a sua expressão
exterior, pode variar e varia continuamente, de idade em idade, segundo a compreensão dos homens
e o espírito dominante em cada época.
Assim, enquanto não colocamos em dúvida que a Maçonaria esteja baseada sobre certos princípios
fundamentais e imutáveis (que é dever e privilégio do Mestre Maçom estudar e reconhecer, e sem
os quais a Maçonaria deixaria de ser o que é) não cremos que possam e devam esses princípios,
necessariamente identificar-se com os que nos têm sido transmitidos, cuja legitimidade pode ser e
tem sido muitas vezes discutida.
LEIS N O ESCRI AS
Efetivamente, os marcos foram, primitivamente, as leis e regras não escritas da Instituição, e assim
deveriam, a nosso ver, ter permanecido para sempre.
Esta definição torna patente, uma vez mais, o caráter fundamentalmente espiritual de tais regras.
Como leis e regras não escritas , representam o que cada Maçom entende individualmente das
Finalidades e Princípios da Instituição, cujo espírito permanecerá sempre o mesmo, apesar da
expressão exterior diferente, que possa encontrar na compreensão dos homens.
Houve uma tendência (por certo louvável em sua finalidade de assegurar à Sociedade uma base
exterior estável e firme) em considerar esses marcos como verdadeiros dogmas, que como tais não
se diferenciam muito dos que caracterizam as diferentes Igrejas, enquanto a Maçonaria não tem
dogmas nem impõe crenças de nenhum tipo pois a Verdade, cujo Caminho a Maçonaria indica, há
de ser livremente entendida e individualmente realizada.
Essa tendência a dogmatizar em nome da Instituição, de alguns grupos particulares, foi vivamente
contestada, desde as primeiras Declarações de Princípios da Grande Loja da Inglaterra, pelas
demais Lojas então existentes, que apesar da beleza e aceitabilidade desses Princípios - se viam
lesadas em seu direito de interpretar livremente a Maçonaria, sendo esse o motivo pelo qual não
aderiram a ela. Isso foi, depois, constante e fecundo manancial de cismas maçônicos. A própria
cisão provocada por Lorenzo Dermott, que originou a oposição dos antigos aos modernos maçons,
aconteceu por essa mesma razão. Segundo eles, os modernos maçons tinham se afastado do
verdadeiro espírito e dos princípios de nossa Instituição.
LIVRE INTERPRETAÇÃO
99
Esta livre interpretação, ou seja, o direito de entender e interpretar livremente os Princípios e Regras
da Instituição deve ser considerada como um dos verdadeiros marcos, um dos princípios imutáveis
sobre os quais podem apoiar-se, de maneira estável, sua unidade e universalidade.
É louvável o esforço de uma determinada agrupação maçônica em fixar em uns quantos princípios
ou regras e em seus Estatutos e Regulamentos particulares, o que entendeu da Instituição. Mas não
se pode dizer o mesmo da intransigência dogmática com a qual se quer impor a outros que têm o
mesmo direito de livre aceitação e interpretação esta interpretação particular dos Princípios e
Regras da Ordem, como Estatutos e Regulamentos.
Todo marco real deve ter o caráter da Verdade, isto é, deve provar-se por si mesmo e não ser
imposto, como uma crença. Da mesma maneira que provamos e comprovamos a Lei de gravidade,
assim temos que provar e comprovar a efetividade dos marcos, para não deixar-nos confundir pelos
erros e as falsas interpretações, preconceitos e superstições do passado.
A Verdade se distingue por sua consistência e durabilidade, que é justamente o que a diferencia do
erro e da ilusão. Tem que ser assim em todos os tempos e por isso, universalmente aceitável e aceita.
Por esta razão, só no grau de Mestre podemos ocupar-nos dos marcos. Somente os Mestres estão
em condições de interpretá-los e julgá-los. Os Aprendizes e os Companheiros têm que se contentar
com os Princípios, Regras e Leis que lhe são dadas exteriormente, como um guia necessário, até
que tenham crescido a ponto de encontrar em si mesmos as Regras, Leis e princípios Universais não
escritos da Instituição.
GOVERNO DA INSTITUIÇÃO
Uma vez reconhecida a verdadeira natureza dos marcos de nossa Augusta Sociedade, estamos em
condições de voltar a examinar qual deve ser seu Governo. Governar, em sua acepção etimológica,
é equivalente a pastorear ou conduzir as reses .20
Como nossa Instituição é espiritual, também espiritual tem que ser seu governo. Não deve ser um
governo que ate, mas que liberte, guie e ilumine na senda da iniciação individual na Verdade e na
Virtude.
Um tal governo nada tem a ver com a administração que constitui, hoje em dia, a preocupação
essencial das organizações e autoridades maçônicas. Portanto, governo e administração têm que ser
duas coisas distintas, que não devem confundir-se na mesma autoridade, pois uma exclui
naturalmente a outra.
Na família, imagem da Sociedade, a primeira das duas atribuições pertence ao Pai, a segunda à Mãe.
Na Loja Maçônica o Governo é representado pelas três Luzes e a Administração pelos quatro
oficiais que se sentam no Oriente, nos dois extremos da balaustrada: o Secretário, o Orador, o
20
Do sânscrito gau, go (vaca, res) e bharati (marcar com ferro) de um primitivo sentido pastoral, a palavra passou ao
sentido náutico e logo ao político (N.A.).
100
Tesoureiro e o Hospitaleiro. As três Luzes dirigem e iluminam a Loja, e estes quatro
funcionários têm os livros respectivamente, das reuniões, das leis e regulamentos, do tesouro e da
beneficência e a administram.
Enquanto as três Luzes dão as diretrizes gerais a base das Leis e Princípios não escritos da
Instituição, segundo se vê e reconhecem respectivamente no Oriente da Pura Verdade, no Ocidente
de sua coerente aplicação e no Meio-dia de sua iluminada atuação, estes quatro oficiais os auxiliam,
traduzindo no plano material o que se delibere e decida no plano Ideal.
A função do Venerável é a de dirigir, iluminar a Loja com a Luz de sua Sabedoria relativa a nossa
Ordem". Esta luz deve vir diretamente do Oriente, isto é, do Mundo Divino dos Princípios, por
inspiração direta. Em outros termos, a Palavra do Venerável não deve ter nenhuma inspiração
exterior, mas deve ser como o sol que se levanta no Oriente, que expressa o que é em si mesmo.
O Primeiro Vigilante, que se senta no Ocidente, tem que vigiar para que esta luz seja recolhida e
aplicada no mundo material, quer dizer, deve cuidar, sobretudo, da aplicação prática dos princípios
que se reconhecem no Oriente, ou estado oriental da consciência. Sua função é, pois, dedutiva,
qualidade dominante no segundo grau maçônico, enquanto a indução predomina no primeiro
(representado pelo Segundo Vigilante) e a inspiração no terceiro.
Quanto ao Segundo Vigilante, que se senta no Sul, sua função é a de velar pela harmonia entre a
Inspiração que provem do Oriente e a dedução e aplicação dos Princípios que se realiza no Ocidente.
Deve ser um constante elemento de união, que harmoniza na Consciência, as funções da
Inteligência e da Vontade, representadas pelos dois primeiros.
Agora podemos entender, com mais clareza, qual deve ser a função complementar dos quatro
oficiais administrativos.
A função principal do Secretário é a de desenhar as pranchetas e cuidar dos arquivos da Loja. Nisto
devem incluir-se as entradas do tesouro e os gastos que se deliberem na Loja ou no Conselho das
Luzes. Em outras palavras, sua função é a de gravar ou escrever aquilo de que se fala.
A tarefa do Orador é análoga e inversa. Sua função consiste em falar o que se gravou ou escreveu.
Por esta razão, são confiadas à sua custódia as leis e regras escritas, sendo sua função recordá-las e
harmonizá-las com as que não estão escritas e que provêm das Luzes, principalmente do Oriente.
O Tesoureiro recolhe e custodia as entradas do tesouro e provê para os gastos, dando conta exata de
tudo.
Sua função está subordinada, assim como a do Hospitaleiro, que administra uma conta análoga e
provê a Beneficência da Loja, à do Secretário e do Orador, que administram tais contas em
harmonia com as decisões e deliberações da Loja e do Conselho das Luzes.
Antes de tudo, o que é a Grande Loja? Dá-se esse nome à representação de uma determinada
agrupação de Lojas, particularmente às Lojas de uma jurisdição: Oriente, Estado ou Nação.
Uma vez que a função de governo compete unicamente aos Mestres, a Grande Loja será, na prática,
o mesmo que a Terceira Câmara de uma Loja, sendo seus membros os Mestres que representam
com plenos poderes, suas respectivas Lojas em cuja terceira câmara darão conta do que na Grande
Loja se delibere, levando a esta as decisões daquela.
Sendo os Veneráveis os eleitos dos Mestres, está claro que a Grande Loja Ideal será um Conselho
de Veneráveis (um Conselho de Past Masters) no qual como na Terceira Câmara de uma Loja
descansa sua soberania.
O GRÃO MESTRE
Assim como o Presidente de uma Loja é o Mestre eleito entre os Maçons que a compõe, também o
Presidente da Grande Loja será o Grão Mestre eleito entre os Mestres Veneráveis que compõe a
mesma.
Será Venerável de uma Loja (ou um de seus Past Masters) aquele que for reconhecido digno e
eleito pelos demais, o que presida o Conselho, perdendo por isso a presidência de sua Loja, para
assumir a Grande Loja.
Desta forma simples, de uma Grande Loja formada pelo Conselho dos Veneráveis ou Past Masters
de qualquer Grande Oriente ou seja, daquele Oriente no qual houver o número suficiente de Lojas
para construí-lo cujo Grão Mestre é eleito entre os que foram Veneráveis, com os quais trabalha
de pleno acordo e harmonia, seriam eliminados mais facilmente muitos abusos que hoje se
lamentam, entre os quais a centralização excessiva e autoritária dos poderes e o fato fundamental de
que muitos poucos são os organismos maçônicos atualmente existentes que realmente representem
as aspirações e desejos das Lojas que os compõe.
Quanto às Lojas que estão isoladas ou com reduzido número em determinados Orientes,
permaneceriam com a faculdade de continuar livres ou agregar-se à Grande Loja formada por
aquelas Lojas com as quais tenham relações mais próximas, entre as quais poderiam escolher seu
representante.
Os poderes e prerrogativas do Grão Mestre podem continuar sendo os que indicam os marcos
geralmente reconhecidos, pois a vigilância do Conselho com o qual deveria sempre trabalhar em
harmonia exclui os abusos.
No entanto, deve-se excetuar o direito de conceder dispensas, que já não têm razão de ser, de fundar
Lojas, que é um direito que compete a todos os Mestres e de encerrá-las, porque seria um abuso.
Somente a quase unanimidade dos demais membros do Conselho poderia decretar a não
legitimidade de uma Loja determinada e, conseqüentemente, não reconhecê-la e excluí-la da
Grande Loja, por razões reais e evidentes para todos.
Considerando-se o Grão Mestre como o primeiro entre os Veneráveis, sua autoridade deveria ser
especialmente moral, educativa e representativa, com o conseqüente direito de presidir qualquer
assembléia da Fraternidade, recebendo em suas mãos o M.: dos Vven.: das Lojas de sua Jurisdição,
além do de convocar e presidir as reuniões da Grande Loja, de instruir Lojas de ocasião e de fazer
102
nelas maçons honorários, quer dizer, sem necessidade das provas da iniciação, e conferir graus
antes que tenha transcorrido o tempo necessário, sob a petição ou com o consentimento das
respectivas Lojas a que pertencem.
DEMAIS DIGNATÁRIOS
Os demais Dignatários ou Altos Funcionários da Grande Loja podem ser os sete correspondentes
àqueles de que falamos e que, numa Loja ordinária, presidem seu Governo e Administração. O
número de sete Lojas deve ser considerado como mínimo para formar uma Grande Loja num
determinado Oriente. Quando há menos de sete Lojas pode-se muito bem formar um Conselho de
Veneráveis, mas não uma Grande Loja.
Três destes Dignatários, por sua especial importância, atividade e função representativa (o Grande
Mestre, o Grande Secretário e o Grande Tesoureiro), devem sempre ser gratificados com uma
quantia mensal fixada pela Grande Loja, proporcionalmente a seus rendimentos, sem exceder nunca
no total das retribuições, a metade desses rendimentos, sendo a outra metade destinada aos gastos
em benefício da Ordem ou da agrupação que sancione o Conselho.
Quanto à contribuição das Lojas particulares com os gastos da Grande Loja, o mais justo e
conveniente seria que estas contribuíssem com uma quota mensal proporcional a seus rendimentos,
que os membros da Grande Loja fixassem unanimemente, como por exemplo, um décimo da
totalidade dos mesmos.
Com esta formação de Grandes Lojas em todos os Orientes onde haja um mínimo de sete Lojas,
estas poderiam juntar-se livremente eliminando-se, com a vigilância e a cooperação de seus
componentes, os abusos e usurpações que se lamentam nos organismos centralizadores e fazendo-se
um trabalho coletivo verdadeiramente útil pelo Bem da Ordem.
FEDERAÇÕES NACIONAIS
Existindo uma Grande Loja em cada Oriente de importância (ou simplesmente um Conselho de
Veneráveis quando, por diferentes razões, não se considere conveniente proceder à constituição da
Grande Loja) seria conveniente cimentar a união daquelas e destes (entendidos como formações
provisionais, constitutivas das primeiras) por meio de Federações Nacionais, podendo-se considerar
cada Federação como o Grande Oriente de um determinado país.
Os três tipos de organização maçônica, que agora estão lutando uns contra os outros, para
assegurar-se, cada qual sua hegemonia desconhecendo os demais, podem assim unificar-se nesta
síntese que os integra e põe cada qual no lugar que lhe corresponde na Grande Família Maçônica.
Família esta que é una e indivisível apesar dos obstáculos e barreiras que podem levantar entre seus
membros a Ignorância, o Fanatismo e a Ambição.
A Federação Nacional, integrada pelos representantes das Grandes Lojas, que se mantêm em ativa
correspondência e se reúnem a cada ano numa Grande Convenção, é presidida por um Muito
Poderoso Grão Mestre Soberano na Jurisdição do País eleito entre os ex-Grandes Mestres das
diferentes Grandes Lojas.
Dada a importância da tarefa que lhe é confiada e a responsabilidade que pesa diretamente sobre ele
devendo-se considerar o Grão Mestre Soberano do Grande Oriente como a Potência Maçônica
equivalente ao Governo Civil daquele país é conveniente que ele mesmo eleja e nomeie seus
colaboradores dando-lhes, com o cargo, a confiança que necessita para a mais plena e perfeita
eficiência da obra.
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Os membros do Grande Oriente, ou seja, do Comitê Permanente representativo da Federação
que colaboram com o Soberano Grão Mestre, serão: um Deputado Grão Mestre, em função de
Primeiro Grão Vigilante; um Grão Inspetor Geral, em função de Segundo Grão Vigilante (aos que
se podem dar também os nomes de Primeiro e Segundo Tenente de Grão Mestre), um Grão Mestre
Secretário, um Grão Mestre Orador, um Grão Mestre Tesoureiro e um Grão Mestre Hospitaleiro.
É conveniente e desejável que estes seis Grandes Dignatários, que devem auxiliar o Soberano Grão
Mestre de um país, sejam também escolhidos de preferência entre aqueles Ven.: HH.: que já
desempenharam, como honoráveis, o cargo de Grandes Mestres em alguma Grande Loja, pois todo
novo cargo, grau ou responsabilidade que se dá a um maçom tem que ser, além de uma nova
oportunidade de trabalho, prêmio pelo resultado de seu trabalho precedente, pelo Bem da Instituição.
GRAUS SUPERIORES
É preciso que estes graus não sejam dados arbitrariamente e que não sejam vendidos, e se concedam
unicamente como prêmio e resultado e conseqüentemente como nova oportunidade de progresso
do trabalho que os Mestres Maçons, que se julgam dignos deles, fizeram em suas respectivas Lojas
simbólicas.
Vimos, na Segunda Parte, como estes graus, para que haja a necessária correlação com a Lenda de
Hiram (que são ao mesmo tempo o coroamento dos graus simbólicos e a base dos graus filosóficos),
devem ser nove21 divididos em três grupos de três. Estes três grupos, além de relacionar-se com os
três graus fundamentais (dos quais constituem a multiplicação novenária.) podem servir muito bem:
o primeiro como base da Grande Loja e de sua relação com as Lojas particulares; o segundo como
um novo campo de estudo e de progresso que se abre aos que cobrem ou cobriram a dignidade de
Mestres Veneráveis de suas respectivas Lojas, e o terceiro como base da Federação Nacional e da
Organização e do Governo Universal da Ordem.
Sobre as particularidades desta atribuição que deve estar simbolicamente relacionada com o duplo
valor filosófico e operativo de cada grau falaremos nos tomos seguintes desta Obra.
CONFEDERAÇÃO UNIVERSAL
A dupla organização, simbólica e filosófica que acabamos de esboçar com o uso da faculdade
profética construtiva, que todos os Mestres têm o dever de exercer e desenvolver oferece a base
mais convincente e oportuna para a Unificação da Ordem numa Grande Confederação Universal,
que constitua seu único Supremo Conselho e Supremo Grande Oriente.
Aqui termina, com a meia-noite que corresponde à última polegada da regra, o trabalho noturno dos
Mestres Simbólicos, pois o estudo, a discussão e a compreensão do que é preciso para o Governo
Universal da Ordem, só podem ser feitos quando, no Grau Supremo da Maçonaria, se realize
realmente a perfeição do Magistério.
O progresso da Instituição, para as mais elevadas finalidades que lhe incumbem na época atual, tem
de ser a conseqüência necessária e natural de sua Regeneração Iniciática.
21
Ou seja, formar um total de nove, junto com os três primeiros graus (N.A.).
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REGENERAR-SE e tornar realmente efetivo o Magistério Simbólico representado na Lenda
de Hiram. Eis aqui a palavra perdida na qual temos que resumir e resumimos, como Mestres, nossos
esforços pelo Bem da Ordem, respondendo no que a esta se refere à terceira pergunta da Esfinge.
Nosso dever sempre é com o presente, como o único ponto de contato do círculo de nossa
existência particular com a linha da Eternidade, que não conhece princípio nem fim. Aproveitemos
dignamente o presente, com nosso olhar que abarca tanto o passado como o futuro, e nossos
esforços não serão inúteis para o Progresso da Instituição.
CONCLUSÃO
É um tema imenso, inesgotável em suas infinitas possibilidades, que hão de ser desenvolvidas
individualmente, já que só o que se pode fazer é fixar, sobre a base dos símbolos que se apresentam
a nossa consideração, algumas idéias radicais e fundamentais. E tirar, da harmônica combinação das
mesmas, as conclusões e aplicações que nos são mais úteis e proveitosas em nossa atual existência.
Aplicando os conhecimentos que obtivemos, nossa mente se abrirá a novas idéias e realizações mais
fecundas.
A Filosofia Maçônica deve aplicar-se à vida: seus símbolos têm de ser vividos de forma prática para
tornar-se realidade na Câmara do Meio das profundidades de nosso ser. Não se torna operativo e
fecundo de outra maneira, em vista do Ideal de Perfeição que queremos alcançar, um esforço que de
outra maneira permaneceria sempre num plano exclusivamente especulativo e estéril. Por
conseguinte, com a visão penetrante que se consegue na própria Câmara do Meio, temos que ver o
Plano, ou seja, a essência interior das coisas e distinguir, assim, claramente sua íntima realidade da
aparência externa.
No entanto, este Plano que provem de nossa percepção especulativa que corresponde ao Mundo
dos Princípios Eternos e das potencialidades latentes do ser tem que ser iluminado e vivificado
pelo esforço individual que o realiza, e constitui sua carne e seu sangue. Desta maneira se consegue
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levantar os mortos, ou seja, as potencialidades ocultas e adormecidas, uma vez que se tenham
reconhecido como tais, em espírito.
A Luz do Novo Dia, que os Mestres esperam na preparação silenciosa de seus trabalhos noturnos
precisa, para que possa aparecer, da co-participação ativa de seus esforços. O Novo Sol, ou seja,
Hiram redivivo, não se levantará sem esta conjuração dos Nove Mestres que conseguem vivificá-lo
pelo mágico poder de uma palavra que realiza um Novo Verbo, um novo Ideal que ilumine os que
andam e se arrastam nas trevas dos sentidos.
A Maçonaria que não é atualmente mais do que um símbolo do que deve ser na verdade há de
dar ao mundo esta palavra mágica que consiga levantá-lo das trevas da ignorância, esclarecendo e
fazendo acabar, para sempre, a obscura noite do materialismo que o domina. O mundo é um morto
que dorme na tumba das considerações materiais e precisa ser levantado por meio de uma nova Luz
de Verdade, de um novo Ideal animador, que somente os Mestres possuem e podem dar-lhe. E para
este fim, é necessário que Hiram o Ideal Maçônico latente e morto numa organização puramente
simbólica e exterior seja também elevado e vivificado, na compreensão individual de seus fiéis
adeptos.
Os mistérios, que até agora permaneceram muito misteriosos para os Maçons, hão de ser a levedura
mística que eleve a faça fermentar a massa inteira da humanidade, para o advento de uma Nova
Civilização, baseada numa interpretação mais justa e no estabelecimento dos Valores Espirituais,
em lugar dos materiais, que até agora dominam nas consciências.
Sejam os Mestres conscientes deste dever, cooperando para que se abram para a humanidade os
novos horizontes que hão de orientá-la para a Luz de um Novo Dia, para a Nova Civilização mais
luminosa, na qual se fixam os olhares expectantes de todos os homens.
FIM