Prostituição Brasileira Sob A Ótica Da Dignidade Humana
Prostituição Brasileira Sob A Ótica Da Dignidade Humana
Prostituição Brasileira Sob A Ótica Da Dignidade Humana
São Luís
2023
AYNOAN LIMA DE OLIVEIRA
São Luís
2023
Oliveira, Aynoan Lima de. Uma Análise da Prostituição Brasileira sob a ótica da
dignidade humana: a desnecessidade da criminalização do lenocínio / Aynoan Lima
de Oliveira. - 2023. 51 p.
BANCA EXAMINADORA
_________________________________
Prof. Dra. Márcia Haydée Porto de Carvalho
(Orientadora)
________________________________
Examinador(a) 1
________________________________
Examinador(a) 2
AGRADECIMENTOS
This Final Course Assignment discusses the issue of prostitution in Brazil, from the perspec-
tive of the constitutional principle of human dignity, proposing a critical analysis of the crim-
inalization of pimping. It is argued that prostitution is an activity that involves the provision
of sexual services by individual and circumstantial life choice, that the criminalization of
pimping, which refers to the exploitation or facilitation of prostitution, is not necessary to
guarantee people's rights involved in this practice. This work highlights the importance of
considering the autonomy and freedom of people who choose to prostitute themselves, in ad-
dition to the role of the State and society in regulating and supporting sex workers, aiming to
promote decent working conditions and access to health services. and security. Furthermore,
it addresses the social and legal implications of the criminalization of pimping, arguing that
this approach can perpetuate the stigmatization and marginalization of sex workers, rather
than offering effective solutions to the issues they face. Therefore, the criminalization of
pimping is not the most appropriate approach to dealing with prostitution in Brazil, which
demonstrates the need for alternatives that promote the freedom, dignity and rights of prosti-
tutes, but without legitimizing sexual exploitation.
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 10
2 ASPECTOS HISTÓRICOS DA PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS SEXUAIS .............. 13
2.1 A Prostituição no Brasil ................................................................................................... 14
2.2 Os Sistemas Jurídicos adotados pelo Estado quanto à Prostituição ............................ 18
3 PARADOXO PENAL OU SOCIEDADE PARADOXAL? O LENOCÍNIO E O
BEM JURÍDICO EFETIVAMENTE TUTELADO NOS CRIMES SEXUAIS ........ 23
3.1 O Crime de Lenocínio no Brasil ...................................................................................... 24
3.2 A Dignidade Sexual como Bem Jurídico Tutelado e a Moralidade Pública Sexual ... 31
3.3 A Prostituição cerceada pelo Paternalismo Jurídico .................................................... 33
4 AUTONOMIA PARA SE PROSTITUIR: INTERVENÇÃO PENAL EXCESSIVA
COMO AFRONTA À LIBERDADE ............................................................................. 36
5 PROPOSTAS LEGISLATIVAS FRUSTRADAS SOBRE ATIVIDADES
ATINENTES A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS SEXUAIS ........................................ 39
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................... 44
REFERÊNCIAS ................................................................................................................ 48
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1 INTRODUÇÃO
prostituição era uma parte integrante da vida urbana, até a Idade Média, quando foi sujeita a
regulamentações religiosas e legais mais rígidas, a prática da prostituição sempre ocupou um
espaço na esfera pública e privada. Com o passar dos anos, a abordagem em relação à presta-
ção de serviços sexuais evoluiu, refletindo mudanças nos sistemas de valores, nas concepções
de moralidade e nas políticas governamentais. Esse processo histórico também foi abrangido
pela exploração, pela regulamentação estatal, e por lutas por direitos, tudo diante da estigma-
tização enfrentada por trabalhadoras do sexo ao longo do tempo.
É notório ao longo do capítulo que a prática foi moldada e influenciada por diferen-
tes contextos sociais e culturais, oferecendo uma visão abrangente das transformações e con-
tinuidades que caracterizam esse fenômeno ao longo dos séculos. Assim o desenvolvimento
da história social trouxe a mulher para o centro das análises, tornando-se uma categoria valio-
sa para a interpretação histórica, uma vez que as suas narrativas foram alteradas da mulher
"miserável", como vítima, humilhada, explorada para mulher rebelde e participante ativa nos
eventos históricos, sem reduzi-las a uma categoria homogênea, considerando as nuances de
suas experiências e contribuições individuais para a história.
O segundo capítulo retrata o paradoxo penal de um Código Penal que não criminaliza
o elemento principal da prostituição, mas impossibilita ou dificulta ao máximo a atividade
quando criminaliza as condutas acessórias, através dos crimes de lenocínio. Estes, por sua
vez, não trazem bases jurídicas sólidas que justifiquem a manutenção da criminalização das
casas de prostituição e da exploração financeira da atividade sexual consensual de terceiros
adultos e capazes. Esclarece-se, desse modo, que essa criminalização parece ser mais uma
punição de natureza moral e religiosa, com o intuito de preservar a "moralidade pública" e os
"bons costumes", conceitos esses predominantes na sociedade predominante de orientação
cristã.
Uma sociedade paradoxal que demonstra ínfimo progresso social, político e jurídico
com o reconhecimento da prostituição como uma atividade profissional pelo Ministério do
Trabalho desde 2002, mas que deixa de regulamentar essa profissão, nega a esses trabalhado-
res direitos fundamentais, como o acesso abrangente à saúde, o direito ao trabalho, à seguran-
ça pública e, acima de tudo, à dignidade humana. Também se busca abordar a inviabilidade de
misturar direito e moral na criminalização de comportamentos tidos como imorais. Para isso,
busca esclarecer os conceitos fundamentais, como a dignidade e a liberdade sexual, além do
bem jurídico tutelado nos crimes sexuais, que são essenciais para embasar qualquer processo
de criminalização em um Estado regido pelos princípios democráticos do Direito. Além disso,
também se analisa que as motivações legislativas para reprimir a prostituição perpassam o
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A história das mulheres e de gênero tornou-se uma categoria a ser objeto de análises
a partir da inclusão de identidades coletivas e da variedade de grupos sociais existentes. Em
todos os períodos da História, as sociedades ocidentais sempre definiram os papéis das mulhe-
res, cada uma no seu tempo e com as suas peculiaridades sociais, mas com o comportamento
feminino sempre balizado pelo sexo. A prostituição é tida, por sua vez, como a prática remu-
nerada mais antiga do mundo, mesmo sem datas precisas na história da humanidade (Soihet,
1997, p. 275-296).
Na Grécia Antiga, a prática existe desde o período arcaico, sendo inclusive regula-
mentada pelo Estado, pois os estabelecimentos chamados bordéis eram de propriedade estatal,
implicando o pagamento de tributos e a adoção de vestimentas para fins de distinção. A maio-
ria das prostitutas da época eram escravas e tinham sua liberdade condicionada à capacidade
de pagar por ela. Todavia, algumas cidadãs de Atenas, como as hetairas, se destacavam devi-
do à sua influência social e política, pois recebiam formação em escolas onde aprendiam so-
bre a arte do amor, literatura, filosofia e retórica. Elas detinham independência e educação,
possuíam refinamento, habilidades musicais e de dança, e participavam de debates filosóficos
e banquetes nos quais esposas e filhas não eram permitidas, interagindo inclusive em relações
sexuais com os homens presentes (Pomeroy, 1999).
Ao contrário do que se deu na Grécia, na Roma, as mulheres eram altamente valori-
zadas como esposas, o que resultou em um estigma mais pronunciado para as prostitutas. A
prática da prostituição em Roma guardava semelhanças com a Grécia, exceto pelo fato de que
os romanos adotavam uma postura mais moralista em relação a ela. Por esse motivo, era proi-
bido para as prostitutas se aproximarem do templo de Juno, a deusa olímpica associada às
esposas, e eram obrigadas a usar uma toga similar à vestimenta masculina para se distingui-
rem das mulheres respeitáveis da sociedade romana. A realidade do Império Romano foi se
amoldando com a consagração do cristianismo como religião oficial, a partir de Constantino,
quando a moralidade religiosa ganhou força e destaque. Logo, o sexo e a violência passaram a
ser mitigados, cedendo espaço para a devoção e a contemplação (Nucci, 2014).
No que diz respeito a história das mulheres no Ocidente Medieval, José Rivair Ma-
cedo em “A Mulher da Idade Média” afirma que “foi escrita por religiosos, inspirados por
princípios éticos impregnados pela ideia da culpa e do pecado, que associavam o sexo e/ou a
sexualidade ao Demônio; e a mulher, um instrumento demoníaco” (Macedo, 2002, p.10). O
autor ainda elenca que a prostituição era organizada e situada em zonas delimitadas, sob a
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ótica dos governos municipais. Em algumas cidades francesas medievais o meretrício era tole-
rado e existiam prostíbulos públicos e particulares, onde a fornicação era exercida livremente.
(Macedo, 2002).
Nickie Roberts (1998) observa que, durante a Idade Média, quando a Igreja Católica
exercia forte influência religiosa e moral, as mulheres estavam sujeitas a rigorosas normas de
comportamento, especialmente no que diz respeito à sexualidade, onde a preservação da vir-
gindade era valorizada como uma virtude feminina, enquanto a prostituição era vista como
um ato pecaminoso. No entanto, a prática da prostituição era tolerada como uma medida para
conter a incidência de estupros e, ao mesmo tempo, servia como uma válvula de escape para
os desejos sexuais dos homens, sendo um “mal necessário”. Na França, o rei Luís IX chegou a
ordenar a expulsão das prostitutas das cidades e vilarejos, o que gerou indignação na popula-
ção. Diante disso, ele determinou que retornassem às cidades, contudo com a condição de que
se mantivessem afastadas dos locais considerados respeitáveis, sendo relegadas a viver em
áreas segregadas nas periferias urbanas.
Quando se trata da Idade Moderna, Carlos Bauer (2001) assinala que a expectativa
era de que a mulher mantivesse sua pureza e se preparasse para a vida no âmbito doméstico.
Por contraste, a prostituta era estigmatizada como uma transgressora, associada à satisfação
dos desejos sexuais masculinos e à disseminação de doenças sexualmente transmissíveis. Essa
distinção marcou uma transformação, levando a prostituição a deixar de ser profundamente
estigmatizada para ser tolerada, e procurar os serviços de uma prostituta já não era encarado
como símbolo de vergonha. No entanto, a prostituta continuava a ser tratada como um objeto
transacionável, passível de compra, venda ou aluguel.
Os séculos XVIII e XIX nos países do Ocidente foram marcados pela industrializa-
ção e a consequente revolução econômica provocaram um grande êxodo rural, resultando em
um aumento do desemprego e uma piora das condições de vida nas cidades, o que gradativa-
mente impulsionou a prática da prostituição em toda a Europa, especialmente nas cidades da
Espanha e da França. Esse aumento da atividade levou a preocupações higienistas por parte de
autoridades e profissionais da medicina, que se viram obrigados a mobilizar forças policiais
para combater a propagação de infecções de doenças venéreas (Siqueira, 2022).
favores sexuais. Segundo o autor, essas mulheres eram pouco valorizadas, e os europeus se
aproveitavam das diferentes concepções sobre sexualidade para saciar seus desejos reprimi-
dos. Diante desse contexto, as mulheres portuguesas também se envolveram na prostituição
ao chegarem em grandes grupos ao Brasil para suprir a alta demanda masculina. Isso se dava,
em grande parte, devido à predominância de homens entre os colonizadores. A Igreja Católi-
ca, por sua vez, demonstrava preocupação com a miscigenação com as mulheres indígenas, e
desejava que mulheres de Portugal viessem dispostas a formar famílias com os viajantes des-
tinados ao Brasil (Estefam, 2016, p.169).
Arno Wehling (2005) assinala que há relatos da prática da prostituição desde o sécu-
lo XVI. As profissionais do sexo eram predominantemente mulheres negras e mulatas, po-
dendo ser escravizadas ou livres. No período Colonial, a legislação portuguesa e as práticas
sociais acentuavam o caráter subalterno da mulher, de modo a justificar a inferioridade femi-
nina através de legislações civis e canônicas. Bauer (2001) observa que a prática da prostitui-
ção remonta a esse período, quando as relações sexuais ocorriam de forma livre entre brancos
de origem europeia, mulheres indígenas e negras, mesmo que isso fosse desaprovado pelos
jesuítas. Estes últimos, inclusive, solicitavam a vinda de prostitutas europeias para atender aos
homens europeus que se encontravam na Colônia sem suas famílias.
Frisa-se que os europeus, ao terem filhos com as mulheres indígenas, contribuíam
para o processo de miscigenação. Por sua vez, a chegada de mulheres europeias tinha como
propósito promover casamentos e reprodução, visando fortalecer a população de ascendência
branca. No que diz respeito às mulheres negras escravizadas, a prostituição muitas vezes se
tornava uma maneira de sustentar seus senhores. Portanto, as relações sexuais se fundamenta-
vam na interseção entre sexo pluricultural, escravidão e concubinato, sempre sob a influência
do controle exercido pela moralidade religiosa.
Na mesma perspectiva, a influência da doutrina cristã, que persiste até os dias atuais,
manteve um papel destacado entre outras crenças no que diz respeito às representações da
sexualidade. Para Guimarães (2004), a economia baseada no sistema escravocrata e a menta-
lidade colonizadora foram, por um lado, responsáveis pela flexibilidade dos costumes e por
uma moral sexual que aceitava certas práticas, pelo menos dentro da classe dominante, contri-
buindo para a fama (muitas vezes questionável) da suposta libertinagem brasileira. Por outro
lado, desenvolveu-se um sistema de controle moral sexual, onde a esfera privada foi subordi-
nada aos interesses da igreja e da fé cristã. Dessa forma, a moral sexual e o entendimento co-
mum sobre o tema sexual se entrelaçaram com a moral religiosa (Guimarães, 2004).
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O Brasil República, por sua vez, foi marcado por um processo de higienização do es-
paço público. Estes evidenciavam a suposta imoralidade da cidade, onde antigas residências,
ruas estreitas e áreas de prostituição eram consideradas elementos a serem erradicados por
meio de políticas de purificação social. Diversos campos do conhecimento estabelecidos, co-
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racterizada por estigmas e uma atitude socialmente desaprovadora, além de esforços para sua
criminalização.
A prostituição é tratada como um fato atípico, mas que tem suas condutas acessórias
criminalizadas, o que reflete a forma como o Estado lida com o fenômeno. A doutrina explica
que, ao longo da história, outras opções jurídicas foram e continuam sendo utilizadas para
tratar socialmente a prostituição, cada uma possuindo peculiaridades e críticas.
Estefam (2016) expõe que existem três sistemas que descrevem as diferentes aborda-
gens em relação ao tema: o sistema regulamentarista, o sistema abolicionista e o sistema proi-
bicionista. Já Margotti (2017) analisa minuciosamente cada um desses sistemas, destacando a
existência de dois submodelos atualmente: um dentro do sistema abolicionista (o neo-
abolicionismo) e outro no sistema regulamentarista (o laboral). Frisa-se, precipuamente, que
estes sistemas (excetuando-se o regulamentarismo em sua vertente laboral), “dedicam-se, tão
somente, a suprimir e controlar a indústria do sexo, por condenarem a prostituição moralmen-
te e/ou considerarem-na uma violência contra as mulheres” (Margotti, 2017. p. 86).
Para a autora, o sistema proibicionista fundamenta-se na ótica de que a prostituição é
um desvio moral condenável e que deve ser punido criminalmente com vistas a ser erradica-
do. Dessa forma, esse modelo se caracteriza pela criminalização de todos os envolvidos com a
atividade da prostituição, isto é, a pessoa que se prostitui, o cliente e os que obtém lucro com
a atividade sexual alheia (Margotti, 2017, p.85).
Por sua vez, Estefam (2016), considera sistema proibicionista como uma abordagem
radical na luta contra a prostituição, transformando-a em uma atividade ilegal e sujeitando sua
demanda à criminalização, uma vez que a prostituição é vista como uma espécie de “câncer
social” a ser erradicado. Quando esse sistema não foca no profissional em si, concentra-se nos
intermediários que de alguma forma facilitam, exploram ou influenciam alguém a se prostitu-
ir. Isso se caracteriza pela criminalização da demanda, ou seja, da “contratação dos serviços
de prostituição, como meio de coibi-la, porquanto a providência tenderia a afugentar a cliente-
la que alimenta esse mercado (ao expor o contratante à perspectiva de uma persecução penal)”
(Estefam, 2016, p. 188-189).
Ainda, para o autor supracitado, nesse sistema a prostituição se mostra como um fe-
nômeno social indesejável que gera obstáculos para políticas da igualdade de direitos entre
gêneros. É vista como uma afronta aos direitos humanos, uma evidente expressão de violência
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Margotti (2017) observa que o sistema abolicionista, apesar de não impor penalidades legais
aos profissionais do sexo pela prática da prostituição, também não lhes concede o direito de
exercer a atividade de forma legal. Isso resulta na marginalização social dessas pessoas, que
enfrentam formas extremas de estigmatização e exclusão.
De certa forma, o sistema do abolicionismo foi estabelecido com o propósito de não
proibir a prostituição em si, mas sim de coibir sua exploração. Não se encara a prostituição
como um mal necessário, mas sim como algo que pode e deve ser evitado e censurado. Dessa
forma, para lidar com esse fenômeno social, deveriam ser empregados recursos de natureza
social, como meios educacionais e assistenciais, como medidas preventivas para proteger
aqueles que ingressam na prostituição, bem como medidas de reintegração social para os pro-
fissionais do sexo. Também se elimina qualquer forma de regulamentação e registro das pes-
soas envolvidas na prostituição, sob a alegação que o Estado não deve se envolver em uma
atividade considerada ilícita, como se estivesse concedendo uma autorização. Assim, o papel
do Estado fica limitado à manutenção da ordem, moral e saúde pública, com uma intervenção
puramente externa e restrita (Ferraz, 1976, p. 68).
O sistema abolicionista enfrenta críticas por encarar a prostituição como uma ativi-
dade de lazer sexual. Ele não adota uma abordagem pragmática, refugiando-se em um discur-
so moral que não corresponde à realidade, com a pretensão de erradicar a prostituição e, con-
sequentemente, todas as práticas discriminatórias que perpetuam uma visão estigmatizada de
mulheres e homens. Por esse motivo, alguns autores rotulam como proibicionista um sistema
que, na verdade, é formalmente abolicionista. Eles argumentam que a prostituição não deve
ter qualquer forma de legitimação legal, moral ou social, sendo alvo da perseguição do poder
público com o intuito de promover seu perecimento (Nucci, 2014).
Nesse mesmo contexto de ideias, Margotti (2017) argumenta que, nos dias atuais,
surge uma abordagem dentro do sistema abolicionista conhecida como neo-abolicionismo.
Dentro desse submodelo, mesmo que se reconheça a pessoa que se envolve na prostituição
como uma vítima, independentemente de ser uma profissional do sexo ou alguém explorado
sexualmente, ele também propõe a criminalização do cliente. Isso, de acordo com a autora,
representa uma clara violação da autonomia e liberdade individual desses clientes.
Por fim, o sistema regulamentarista, de acordo com Margotti (2017), encara a prosti-
tuição como um fenômeno social que não pode ser totalmente erradicado da sociedade. Por-
tanto, sugere que seja controlada e delimitada para prevenir os danos que pode causar ao teci-
do social. Sob essa análise, esse sistema considera a prostituição como moralmente condená-
vel, porém não passível de erradicação: “as prostitutas passam a ser consideradas uma espécie
perigosa e, para proteger a sociedade desse mal necessário, devem ser criados regulamentos e
políticas públicas com vistas a controlar a prostituição e as pessoas que a exercem” (Margotti,
2017, p. 92). Nesse sentido, o sistema prioriza a manutenção da ordem, saúde, moral e decên-
cia públicas, bem como assegura a satisfação das “necessidades masculinas" e a "devida sepa-
ração entre as mulheres respeitáveis e as outras".
É importante notar que essa abordagem dicotômica que busca proteger a saúde, mo-
ral e decência públicas, ao mesmo tempo em que atende às necessidades sexuais masculinas,
fundamentou a estruturação histórica desse sistema. A criação desse sistema foi baseada em
uma premissa predominantemente machista, que se concentrava nas percepções das necessi-
dades fisiológicas de satisfação sexual masculina e na crença de que a prostituição desempe-
nharia um papel importante em conter essas necessidades dentro dos limites morais estabele-
cidos (Margotti, 2017). Em contrapartida, Estefam (2017) sintetiza os fundamentos do sistema
regulamentarista em relação à prostituição e indica que este se baseou nos seguintes princí-
pios:
cada indivíduo vive sua sexualidade está sujeita a um tipo de vigilância sexual através de dis-
cursos que servem aos interesses de um Estado e de uma moral cristã.
O Código Penal Brasileiro, apesar de representar um Estado Democrático de Direito
que, em tese é laico e amoral, paradoxalmente está imbuído de condutas proibitivas e penas
impostas baseadas, tão somente, em aspectos morais e religiosos hegemonicamente conside-
rados como dignos e de valores louváveis. Portanto, a separação entre direito e moral é um
processo constante de avanço em comunhão com os estudos sobre bem jurídico, mas que,
hodiernamente, ainda há criminalizações travestidas de direito, mas que regulam tão somente
valores morais e religiosos.
(Brasil, 1915). Vale ressaltar que a lei de 1915 estabelecia que, para essa prática ser conside-
rada criminosa, o consentimento da vítima era irrelevante. (Andrade, 2016, p. 16).
Com o advento do Código Penal de 1940, houve uma ampliação e uma especificação
das condutas relacionadas ao lenocínio. O atual Código Penal, nos artigos 227 a 230, estabe-
lece como delitos a mediação para servir a lascívia de outrem, favorecimento à prostituição,
casa de prostituição e rufianismo no Título VI, da Parte Especial, atualmente intitulado dos
"Dos Crimes Contra a Dignidade Sexual" (Brasil, 1940). A legislação tem suas bases nesse
período e utiliza a terminologia "lenocínio" para englobar uma variedade de tipos de compor-
tamentos que têm em comum a interferência na atividade sexual de terceiros, com uma clara
ênfase na relação com o comércio sexual, especialmente ao lidar diretamente com a explora-
ção da prostituição (Bonfim, 2018).
Em agosto de 2009, entrou em vigor a Lei 12.015, que promoveu uma significativa
reforma nos delitos de natureza sexual presentes no Título VI do Código Penal brasileiro. Isso
incluiu a introdução de novos dispositivos, revisão e eliminação de outros. A modificação
mais proeminente e impactante foi a alteração do próprio título, que anteriormente era chama-
do de "Dos crimes contra os costumes" e passou a ser intitulado "Dos crimes contra a digni-
dade sexual" (Brasil, 2009).
Conforme observado pela doutrina, essa mudança reflete uma evolução na maneira
como o legislador, junto com a sociedade que ele representa, compreende o conteúdo e a
abrangência dos crimes sexuais no país (Mirabete, 2010). Nesse contexto, é relevante destacar
que a denominação anterior do Título VI evidenciava a ênfase dada pelo legislador de 1940 à
proteção da moralidade sexual e do decoro público nos crimes sexuais em geral, priorizando
esses valores sobre a proteção de outros bens jurídicos igualmente importantes, como a liber-
dade sexual e a integridade física e psicológica das vítimas.
Nesse sentido, o cerne da discussão ao avaliar ou interpretar as disposições legais re-
lacionadas à criminalização do lenocínio é a estratégia escolhida pelo Estado para lidar com a
questão da prostituição:
a) Mediação para servir a lascívia de outrem
No artigo 227 do Código Penal Brasileiro – CPB, O tipo básico, previsto no caput do
artigo 227 do CPB, penaliza com reclusão, de um a três anos, quando a vítima for maior de 18
anos, aquele que induzir alguém a satisfazer a lascívia de outrem. A intenção de lucro não é
indispensável para a caracterização do delito. O lenocínio se diferencia dos demais delitos do
mesmo capítulo pelo fato de que o autor não colabora para a prática da prostituição por parte
de terceiros, mas apenas induz a suposta vítima a satisfazer os desejos libidinosos de outra
pessoa, mediante a prática de atos de natureza sexual com um indivíduo específico. Tem-se,
dessa forma, o lenocínio principal, caracterizando um agente que toma a iniciativa de condu-
zir a vítima, ou seja, persuadi-la, a se envolver em atividades sexuais com outra pessoa, e,
assim, a corrompe por meio da intervenção de terceiros (Pierangeli; Souza, 2015, p. 91).
Ocorre que esse crime presume uma vítima que não tenha sido previamente corrom-
pida sexualmente ou envolvida em prostituição, caso contrário, seria considerado como um
ato impossível, uma interpretação amplamente aceita na doutrina. Portanto, a distinção fun-
damental deste crime em relação aos outros do mesmo conjunto reside no fato de que a prosti-
tuição sempre implica na repetição ou hábito da troca sexual com pessoas não especificadas, e
o fato de que o autor deste crime não atrai ou persuade a vítima a se envolver nessa atividade
é, sem dúvida, a principal razão pela qual as penalidades previstas no art. 227 são considera-
velmente mais leves do que as dos delitos subsequentes. (Marcão; Gentil, 2018, p.104).
Alguns defendem que a previsão em questão é inconstitucional, uma vez que está as-
sociada à prostituição de adultos que têm o pleno direito de dispor de seus corpos para satisfa-
ção de desejos libidinosos. Para Nucci (2014) a permanência dessa tipificação só se justifica-
ria ao considerar a moralidade sexual como um alvo de proteção legal, com a sociedade sendo
vista como sujeito passivo secundário. Isso, porém, não é mais aceitável no contexto de um
sistema de direito penal baseado no Estado de Direito. Logo, essa figura é, no mínimo, per-
meada de contradição, já que assinala ser “difícil imaginar uma sugestão de prática sexual por
meio de violência, sem ingressar no campo do estupro (ou da tentativa)” (Nucci, 2014, p.
184). Assim, percebe-se que a afronta se restringe ao âmbito moral, sem, portanto, afetar um
valor que possa ser considerado como um bem juridicamente protegido.
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O tipo penal do art. 228 está inserido no conceito de lenocínio acessório, pois presu-
me-se que as vítimas já estejam envolvidas na prática da prostituição. A redação atual foi am-
plamente expandida, de modo a abranger uma série de comportamentos que podem ser consi-
derados formas de exploração sexual, além da prostituição. No que diz respeito à parte inicial
do delito, nas modalidades de induzir ou atrair, uma pessoa que já está envolvida na prostitui-
ção não pode ser considerada como sujeito passivo, por motivos óbvios: se já está praticando
a prostituição, não pode ser induzida ou atraída para algo que já faz parte de sua rotina. No
entanto, no caso das modalidades de facilitar (a prática), dificultar e impedir (o abandono da
prostituição ou de outra forma de exploração sexual), é necessário que a pessoa que já está
envolvida na prostituição ou exploração sexual seja tratada como vítima. (Marcão; Gentil,
2018).
A redação do caput foi expandida por meio da Lei 12.015, mas isso não causou mu-
danças significativas no núcleo do delito. Este, por sua vez, pode ser cometido de diversas
maneiras, com os seguintes verbos: induzir, atrair, facilitar, impedir e dificultar. A indução
implica na persuasão ou influencia que é exercida sobre alguém para praticar algo; a atração
ocorre quando há motivação para alguém se aproximar, convencendo ou seduzindo; a facilita-
ção é o meio de proporcionar condições mais favoráveis para a prostituta no exercício da ati-
vidade que ela já se propôs a realizar. Isso pode envolver a intermediação com clientes, a faci-
litação da prática em determinado local ou estabelecimento, fornecendo acomodações ou dis-
ponibilizando recursos materiais como dinheiro, roupas, sapatos, joias ou um veículo. A sua
característica agravante de natureza subjetiva não considera mais a idade da vítima, como na
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versão original, mas incorpora elementos relacionados a relações de trabalho, com a pena va-
riando de 3 a 8 anos de prisão. Ainda, tem-se o uso de meios violentos, ameaçadores ou frau-
dulentos como qualificadores do crime, aumentando a pena para um intervalo de 4 a 10 anos
(Marcão; Gentil, 2018).
Ainda, a busca por lucro resulta em uma multa adicional, mas não está ligada à in-
tenção típica do delito. É importante destacar que não se trata de facilitar a entrada na prosti-
tuição ou em outra forma de exploração sexual, mas sim de permitir a facilitação do exercício
da atividade sexual para quem já tomou essa decisão ou já está envolvido nela. Por isso, em-
bora a prostituição em si não constitui um ato criminoso, a prostituta pode ser considerada
como sujeito passivo do crime na modalidade de facilitação. O legislador brasileiro rejeitou a
adoção de uma política paternalista direta, que criminalizaria o próprio ato de se envolver na
prostituição, considerando que tal abordagem refletiria um excesso de moralismo jurídico e
seria incompatível com o respeito à autonomia pessoal. Da mesma forma, o cliente que se
relaciona com um profissional do sexo não é criminalizado, desde que sua conduta não envol-
va incentivar ou favorecer a prostituição ou que ele não participe diretamente dos lucros obti-
dos (Carvalho, 2010).
c) Casa de prostituição
Casa de prostituição
Art. 229. Manter, por conta própria ou de terceiro, estabelecimento em que ocorra
exploração sexual, haja, ou não, intuito de lucro ou mediação direta do proprietário
ou gerente: (Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009)
Pena - reclusão, de dois a cinco anos, e multa (BRASIL, 1940).
Rufianismo
Art. 230 - Tirar proveito da prostituição alheia, participando diretamente de seus lu-
cros ou fazendo-se sustentar, no todo ou em parte, por quem a exerça:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
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3.2 A Dignidade Sexual como Bem Jurídico Tutelado e a Moralidade Pública Sexual
devidamente protegidos por outros ramos do Direito. Isto porque induzir uma pessoa, maior e
capaz, a satisfazer o desejo sexual de outra, atrair alguém, igualmente capaz, para a prostitui-
ção, manter um estabelecimento onde ocorra exploração sexual de pessoas maiores e capazes,
mesmo que sem intenção de lucro, ou tirar vantagem da prostituição de terceiros, são todas
condutas em que não há qualquer violação à autodeterminação ou à liberdade sexual de al-
guém. Pelo contrário, em todos esses exemplos, percebe-se apenas a proteção de valores mo-
rais, o que vai contra os limites estabelecidos pelo legislador para o conceito de bem jurídico.
Isso implica numa clara regulamentação de tabus morais que não deveriam ser objeto de pro-
teção pelo Direito Penal (Conegundes, 2015).
Destarte, pode-se inferir que, no que diz respeito à sexualidade, uma parte inalienável
da natureza humana, o que importa não é se o ato é digno ou indigno, mas sim se é realizado
com livre vontade ou se é imposto por meio de violência ou coerção, ou seja, se há um certo
grau de violação da autodeterminação sexual do parceiro. Assim, a liberdade sexual é o inte-
resse jurídico-penal que, sem sombra de dúvida, merece ser preservado no âmbito do Direito
Penal Sexual. Nesse sentido, em um crime sexual - como no caso dos Crimes de Lenocínio -
que é cometido por pessoas adultas e capazes, sem o uso de violência física ou moral, questi-
ona-se qual seria, verdadeiramente, o interesse jurídico-penal que está sendo lesado.
tificadamente, mas é fundamentada na busca pelo bem do sujeito cuja autonomia está sendo
limitada. Assim, uma das características principais do paternalismo, e o que teoricamente o
justifica, é a intenção, em tese, benevolente da medida coercitiva imposta: a intervenção ocor-
re sempre com o objetivo de proteger o "bem" ou os "interesses" da pessoa protegida, mesmo
que esse "bem" não coincida com o que o próprio indivíduo acredita ser o melhor para si.
O que se infere é que o crime de Lenocínio, hodiernamente, está situado no conflito
entre as abordagens moralistas e paternalistas no âmbito jurídico. A questão central gira em
torno de se compreender a incriminação do Lenocínio à luz do princípio que limita a liberda-
de, levantando a questão do valor da autonomia pessoal. Do ponto de vista da moralidade so-
cial e religiosa, o sexo é considerado moralmente aceitável somente quando ambas as partes
envolvidas agem motivadas por desejo sexual, acompanhado de amor ou afeto. Consequente-
mente, a prostituição é vista como contrária à moral, uma vez que o sexo em troca de dinheiro
não reflete uma motivação mútua e muitas vezes é interpretado como uma expressão da do-
minação ou exploração masculina. Albergaria e Lima (2012) afirmam que tais construções de
moralismo não devem ser incorporadas pelo Direito Penal, que está intimamente ligado à
Constituição.
Uma das principais categorizações do paternalismo inclui o paternalismo positivo,
que ocorre quando uma intervenção benevolente visa promover o bem do indivíduo protegido,
e o paternalismo negativo, que se manifesta quando a finalidade da intervenção não é promo-
ver o bem, mas sim evitar a ocorrência de um dano. O primeiro, claramente, restringe mais a
autonomia pessoal do que o segundo (Mendes, 2010). Além dessa classificação, há as formas
de paternalismo relevantes para a discussão sobre a legitimidade da punição do lenocínio, a
saber: os paternalismos moral, rígido e suave, direto e indireto (Martinelli, 2010, p.117).
O paternalismo moral se assemelha ao moralismo jurídico, uma vez que ambos vi-
sam evitar a transgressão de normas morais. Portanto, é comum afirmar que todo moralismo é
também paternalista, mas o contrário não é necessariamente verdadeiro. A distinção entre o
paternalismo rígido e suave diz respeito à qualidade das pessoas cujas liberdades enfrentam
cerceamento. Quando se considera que as pessoas que são capazes podem ser responsáveis ou
irresponsáveis, o paternalismo suave permite apenas a intervenção do sistema penal com o
propósito de proteger as últimas de suas próprias decisões. Assim, a lei estabelece a direção
predominante de seus interesses. Em contrapartida, o paternalismo rígido busca submeter a
liberdade de todas as pessoas a uma avaliação prévia e anterior sobre as escolhas consideradas
mais adequadas (Martinelli, 2010).
35
Essa intervenção leva o Estado a infringir a esfera pessoal do indivíduo alvo da ação
paternalista, uma vez que interfere em sua autonomia e não leva em consideração a capacida-
de e responsabilidade do indivíduo para tomar decisões por si próprio. Lyra (2014) aborda de
maneira enfática que o moralismo jurídico tenta impor o que ele considera um padrão de per-
feição moral, buscando uniformizar o caráter moral individual ao proibir comportamentos
vistos como imorais por alguns. Isso, segundo suas palavras, não apenas viola a autonomia e a
capacidade de autodeterminação, mas também a igualdade e até mesmo a própria democracia.
Sarmento (2016), por sua vez, salienta que princípios constitucionais como a laicidade e a
amoralidade impedem a adoção de ideais perfeccionistas por parte do Estado em sua aborda-
gem paternalista. Isso porque eles favorecem interpretações dominantes da moral, prejudican-
do as visões de vida divergentes de terceiros.
Existem situações em que certas formas de paternalismo são essenciais para promo-
ver uma convivência harmoniosa na sociedade. Isso é observado, por exemplo, no paternalis-
mo moderado presente em legislações que garantem direitos para crianças, adolescentes e
indivíduos que não possuem plena capacidade cognitiva (Feinberg, 1986). No entanto, quando
o paternalismo tem a motivação de limitar ser plenamente capaz e autônomo, mesmo que este
queira se privar de sua vida, integridade física, ou se colocar em riscos prováveis em busca de
prazer, torna-se injustificável. Portanto, quaisquer que sejam as formas de paternalismo do
Estado, só podem ser admitidas de forma excepcional, reforçando que violam diretamente a
autonomia e a liberdade individual. Isso acontece na tentativa de evitar que as pessoas reali-
zem ações que não afetam terceiros, não prejudicam qualquer interesse legal ou que sejam
apenas moralmente desaprovadas.
36
A dignidade humana presente na teoria contemporânea dos direitos humanos tem seu
fundamento no pensamento do filósofo Kant, que tentava delimitar o poder publico para pre-
servar os ideais de liberdade. Estes ideais são os responsáveis por tornar o poder político efi-
caz e longevo no momento que reafirma o uso das leis morais. A dignidade humana, portanto,
estabelece-se na perspectiva de que não se pode atribuir um valor quantificável à pessoa, por-
que o ser humano é um fim em si mesmo, o que significa que suas ações não podem contradi-
zer a humanidade presente em cada indivíduo, além da sua capacidade de autonomia para
determinar as leis que irão orientar sua própria vida e a dos outros. Desse modo, a vontade de
todo ser racional deve ser uma vontade universalmente legisladora, pois em cada indivíduo
reside toda a humanidade, representando a ideia da dignidade de um ser racional que não se
submete a nenhuma norma além daquela que ele estabelece para si mesmo (Kant, 2008).
No mesmo contexto, para o filósofo, só há valor moral em uma ação quando ela é re-
alizada por ser a coisa certa e não em razão de alguma vantagem ou interesse. Neste último
caso, caso ocorra, o valor moral será ausente. O que se tem, desse modo, é que a vontade au-
tônoma considera o agente moral como alguém independente de seus próprios objetivos e
relações pessoais, dando primazia ao que é ético sobre o que é bom, uma vez que as virtudes
não devem ser o foco das discussões morais na perspectiva kantiana de moralidade, liberdade
e razão. Logo, mesmo que a escolha de se envolver na prostituição seja moralmente censurá-
vel para a sociedade, ao refletir sobre a justiça, o correto é abster-se de julgamentos do tipo se
é bom ou ruim, se é eticamente correto ou incorreto se dedicar à prostituição. Isso porque é
necessário conceber a pessoa como um ser que detém livre arbítrio e desvinculado de precon-
ceitos morais. Sandel (2012) elucida:
A filósofa Arendt (2004) vai além do pensamento de Kant ao acrescentar que, além
da liberdade autônoma, os seres humanos também estão sujeitos às influências do mundo em
que vivem. Assim, ela inclui na noção de valor da liberdade como parte da dignidade humana
37
a prática das atividades públicas, considerando a liberdade e a política como inseparáveis. Ela
identifica as particularidades e generalidades da condição humana com base em três categori-
as fundamentais: o labor, o trabalho e a ação, que resultam na "vida ativa" do ser humano. O
labor é a atividade realizada com o corpo para atender às necessidades básicas da vida, isto é,
a necessidade útil que os seres humanos precisam suprir para simplesmente estarem vivos e
garantirem sua sobrevivência. Em contrapartida, o trabalho é a atividade realizada para aten-
der às necessidades inventadas pelos seres humanos, diferindo do labor, que supre uma neces-
sidade natural, pois o trabalho é realizado para satisfazer as invenções artificiais da humani-
dade. A ação, por fim, é realizada pelos cidadãos, através da interação humana com a ativida-
de política por excelência e plural, sendo o veículo da liberdade de dirigir a própria vida e o
passaporte para a expressão das especificidades individuais.
É importante trazer à discussão os ideais utilitaristas de Mill (2000) que defende que,
após a adoção de um governo com valores democráticos, é válido se atentar para que a vonta-
de da maioria não seja uma tirania para a vontade das minorias, uma vez que aquela pode não
ter adesão de todos os indivíduos. Para o filósofo, a tirania social tem potencial mais devasta-
dor do que a opressão política, considerando que “penetra mais profundamente nos detalhes
da vida, escraviza a própria alma, deixando poucas vias de fuga” (Mill, 2000, p. 10). A liber-
dade, portanto, seria o limite legítimo da sociedade sobre o indivíduo e a conduta humana
seria dotada de imprevisibilidade, já que a complexidade faz parte das relações humanas, de
modo que receitas de comportamento humano apenas tolhem as faculdades humanas.
Seguindo esse raciocínio, Mill (2000) desenvolve o conceito do princípio da autopre-
servação, capaz de legitimar a intervenção nas ações individuais dos seres humanos. A prática
da autopreservação é pertinente somente em situações em que outra pessoa possa sofrer algum
tipo de dano. Nesse contexto, a mera alegação do que é benéfico, do que é considerado o me-
lhor, não é suficiente para justificar a supressão do que é considerado um valor mais elevado:
a liberdade política de escolha. Então, para quem já alcançou a plena maturidade de suas fa-
culdades, a parcela de comportamento que se refere apenas a si confere uma independência
que, por direito, é absoluta. Em relação a si próprio, ao seu corpo e mente, o indivíduo detém
soberania.
Nessa perspectiva, Mill (2016) também desenvolveu uma teoria sobre o princípio do
dano, em que o julgamento social seguido da criminalização de comportamentos que não se
adequam ao senso comum são processos de exclusão. Sendo assim, criminalizar uma ofensa a
um sentimento ocorre em razão de uma moderação nas inclinações pessoais das pessoas, isto
é, não possuem gostos ou desejos fortes o suficiente para agir de maneira fora do comum,
38
logo não compreendem aqueles que os têm e os expressam. Isso resulta em uma produção de
narrativas que, em tese, buscam normalizar os comportamentos discordantes, mas ocorre que
a sociedade acaba por estabelecer normas gerais de conduta a serem seguidas por todos. Caso
contrário, destaca as características que distinguem certos indivíduos como traços de persona-
lidade desviante e, quando não os extingue, limita a capacidade de atuação autônoma desses
indivíduos.
A análise do autor nota que tentar forçar todas as pessoas a seguir as mesmas máxi-
mas e normas de pensamento e comportamento torna uma sociedade autoritária. No entanto, o
que nos distingue como indivíduos e como sociedade é nossa capacidade de exigir dignidade
e legalidade no tratamento das diferenças. Desse modo, comprometer-se com o processo civi-
lizatório é desafiador e requer a compreensão do limite entre a soberania do indivíduo sobre si
mesmo e a autoridade da sociedade para questionar comportamentos individuais reside na
recusa de permitir a intervenção no que diz respeito ao âmbito individual de interesse. Portan-
to, o princípio do dano atua como um guia para evitar interferências na liberdade individual,
através da criminalização de ações ou da ausência de regulamentação de atividades profissio-
nais que possam ser moralmente censuradas, mas que afetam apenas os interesses do próprio
indivíduo (Mill, 2016).
É notório para Mill (2016) que mesmo se as escolhas de alguém puderem ser preju-
diciais a si próprio, deve haver liberdade legal e social para que essa pessoa possa exercer tais
ações, já que o interesse que a sociedade tem em qualquer indivíduo é mínimo e completa-
mente indireto em comparação com o interesse que a própria pessoa tem em si mesma. Então,
qualquer dano que alguém possa sofrer como resultado de suas escolhas é insignificante em
comparação com a possibilidade de que a sociedade intervenha em sua liberdade de escolha.
Na mesma proporção, quando se trata do direito igual à liberdade, não é viável determinar o
que é certo ou errado com base na liberdade de uma pessoa para ter seu próprio plano de vida,
assim como na liberdade das outras pessoas que se sintam incomodadas com esse plano. Por-
tanto, para proibir um comportamento considerado imoral ou prejudicial à saúde ou liberdade,
é necessário que os danos associados a ele sejam comprováveis e não apenas presumidos ou
supostos. Se um comportamento não viola nenhum dever específico para com o público e não
causa prejuízo a um indivíduo identificável, cuja vontade ou liberdade tenha sido restringida,
no máximo, o que ocorre é uma inconveniência que a sociedade deve suportar em considera-
ção ao valor máximo da liberdade humana.
39
tes, com 13 PLs. Nenhum desses Projetos de Lei do Senado abordou a regulamentação da
prostituição (Faria, 2013, p. 61-62).
Os cinco projetos de lei (PL) que intentaram regulamentar a atividade da prostituição
foram: PL 1.312/75, proposto pelo Deputado Federal Roberto Carvalho (MDB/SP); PL
3.436/97, do Deputado Federal Wigberto Taturce (PSDB/DF); o PL 98/2003, do Deputado
Federal Fernando Gabeira (PV/RJ); o PL 4.244/2004, do Deputado Federal Eduardo Valverde
(PT/RO) e, por fim o PL 4.211/2012, cujo autor é o Deputado Federal Jean Wyllys
(PSOL/RJ). Apenas este continua em trâmite. Noutro extremo, há dois projetos que objetivam
reprimir mais a atividade, propondo a criminalização dos clientes, o PL 2.169/2003, do Depu-
tado Federal Elimar Máximo Damasceno (PRONA/SP), e o PL 377/2011, do Deputado Fede-
ral João Campos (PRB/GO). A análise deste trabalho irá se ater ao Projeto de Lei nº
4.211/2012, de autoria do Deputado Federal Jean Wyllys (PSOL/RJ) e ao Projeto nº
377/2011, do Deputado Federal João Campos (PRB/GO).
O projeto de lei 377/2011 prevê a criminalização das atividades ligadas à prostituição
e objetiva acrescentar artigo ao Código Penal para criminalizar quem paga ou oferece paga-
mento por serviços sexuais:
O que se extrai da justificativa do projeto é que ele se inspira no modelo legal sue-
co/nórdico de criminalização dos clientes, o qual tem uma vertente neo-abolicionista, defen-
dida por feministas radicais. O modelo adotado na Suécia é considerado um sucesso por ter
diminuído a incidência de prostituição pela metade desde que entrou em vigor a criminaliza-
ção dos compradores, além de oferecer programas de apoio para as mulheres que tenham sido
compradas (Barry, 2012). Ocorre que como já demonstrado, seria uma espécie de afronta à
liberdade e autonomia não só da pessoa que presta serviços sexuais, mas também do cliente.
O deputado ainda justifica que a integridade sexual não pode ser sujeita a contrato,
além de alegar que a prostituição se interliga a outras atividades danosas à sociedade, como
lesões corporais, tráfico e uso de drogas (Brasil, 2011). O projeto de lei sugere que tanto a
prostituição quanto a atividade daqueles que a exploram, mesmo quando consensual, não seri-
am atividades moralmente aceitáveis. A prática seria potencialmente prejudicial a dignidade
41
da pessoa que a pratica, mesmo que ela tenha escolhido essa atividade como profissão. Tem-
se meramente julgamento moral como base para punir determinado comportamento (Barreto,
2015).
No que tange à associação feita entre a prostituição e crimes de lesão corporal e tráfi-
co de drogas, estes últimos não são motivados por aquela. Isso porque a atração entres as prá-
ticas não está na suposta natureza profana e ilegítima que envolve a prostituição, mas sim no
fato de que ela permanece à margem de nossa legislação, esquecida e negligenciada pelas
autoridades públicas, que não agem efetivamente no combate de práticas ilegais, como o tráfi-
co humano e a exploração de pessoas forçadas à prostituição, incluindo menores e indivíduos
incapazes, muitas vezes dentro de estabelecimentos de prostituição (Pereira, 2016). O perfil
do deputado pastor e conhecido pelo projeto da “cura gay” e do projeto anti-aborto1 represen-
tam fortalecimento da atual conjuntura política brasileira dicotômica, somado ao fortaleci-
mento exponencial da Frente Parlamentar Evangélica, o que aumentam as chances de um pro-
jeto de lei com esse teor ter sua aprovação.
Em contrapartida, o projeto de lei 4211/2012 foi elaborado juntamente por prostitutas
organizadas e tem como autor o Deputado federal Jean Willys. É conhecido por projeto “Ga-
briela Leite”, prostituta ativista e atende aos anseios e discussões trazidas de movimentos so-
ciais que militam pelos direitos de profissionais do sexo e da regulamentação da prostituição.
Foi embasado no modelo legal da Alemanha e no art. 3º, inciso III da CRFB/88, que trata so-
bre a erradicação da marginalização, do inciso IV do mesmo artigo, que versa sobre a promo-
ção do bem de todos e do art. 5º, que dispõe sobre os direitos à liberdade, igualdade e segu-
rança. O projeto tem como objetivo alterar o Capítulo V, do Título IV da parte especial do
Código Penal, para definir e proibir a exploração sexual. Esta, por sua vez é caracterizada pela
apropriação total ou de mais de 50% do rendimento proveniente da prestação de serviços se-
xuais por terceiros, pela falta de pagamento pelo serviço sexual acordado e pela coação de
alguém a praticar prostituição sob grave ameaça ou violência. Nessa proposta, os artigos 228,
229, 230 e 231 do referido Código seriam modificados para inserir somente a proibição da
exploração sexual, enquanto o exercício da prostituição permanece legal (Brasil, 2012).
O deputado autor do projeto elucida, na justificativa do texto, que o objetivo princi-
pal do Projeto de Lei não se limita apenas a legalizar a profissão do sexo. Ao fazê-lo, busca-se
1
Disponível em http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=505415 acesso em
07 de julho de 2023. E Bancada evangélica irá se mobilizar para aprovar projeto anti-aborto, diz João Campos.
Disponível em https://noticias.gospelmais.com.br/bancada-evangelica-mobilizar-projeto-anti-aborto-74650.html
acesso em 07 de julho de 2023.
42
proporcionar aos profissionais do sexo acesso à saúde, garantias trabalhistas, segurança públi-
ca e, sobretudo, dignidade humana. Além disso, a regularização da profissão do sexo se torna
uma ferramenta eficaz no combate à exploração sexual, permitindo a fiscalização de estabele-
cimentos de prostituição e o controle estatal sobre esse serviço. Ao impor a marginalização
daqueles envolvidos no comércio sexual, na prática, estaria permitindo a ocorrência da explo-
ração sexual. Atualmente, não existe uma diferenciação clara entre prostituição e exploração
sexual, e ambos os casos são tratados como atividades marginalizadas e não são devidamente
supervisionados pelas autoridades competentes. Combater esse problema significa regularizar
a prática da prostituição e estabelecer leis que punam e previnam a exploração sexual (Brasil,
2012).
Coelho, Faria e Moreno (2013) argumentam que a regulamentação da prostituição só
faz sentido se desconsiderar a realidade e a natureza intrínseca da prostituição. Isso porque se
parte do pressuposto de que todas as pessoas, sobretudo mulheres, têm a liberdade de escolher
entre diferentes profissões, como ser advogada, médica veterinária, professora ou prostituta.
No entanto, afirmam que optar pelo socialmente mais aceito para garantir condições de vida
não é um critério adequado para quem busca promover igualdade e justiça social. O ponto
central da regulamentação é o trabalho com pessoas em geral, maiores de idade e plenamente
capazes de decidir o que desejam fazer em suas carreiras. É importante ressaltar que qualquer
pessoa que não queira mais se prostituir, seja por considerar isso uma forma de violência ou
por qualquer outro motivo, deve ter o direito, sob a proteção do Estado, de escolher outra pro-
fissão. Para isso, é fundamental a descriminalização da atividade de lenocínio, de modo que o
Estado e a sociedade como um todo possam agir de forma efetiva na promoção de políticas
públicas que garantam o direito de deixar a prostituição e exercer outra ocupação. Isso ocorre
porque não se ignora a dificuldade muitas vezes enfrentada por esses profissionais ao tenta-
rem reintegrar-se no mercado de trabalho, devido ao estigma que ainda permeia essa profis-
são.
O projeto Gabriela Leite encontra-se arquivado, enquanto o projeto 377/2011 ainda
está em tramitação, o que demonstra que quando se tratam de regulamentação ou descrimina-
lização total da prostituição, nenhum obtém êxito. Sob essa perspectiva, ao analisar a motiva-
ção que resultam na frustração dessas propostas, torna-se evidente que a estigmatização da
prostituição desempenha um papel significativo. Isso porque a estigmatização surge devido ao
fato de que ela posiciona a sexualidade em contraposição à função procriativa essencial da
família. Logo, as instituições sexuais que promovem a responsabilidade de procriar e criar os
jovens, como o casamento, por exemplo, são aquelas que recebem uma avaliação positiva da
43
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
nando a razão de certas coisas serem vistas como tabus. Em síntese, não há ameaça na sexua-
lidade da mulher, mas ainda assim o sexo quando oferecido por elas, muitas vezes é associado
a algo impuro, levando à estigmatização e criminalização injustificada. Logo, na realidade de
indivíduos que afirmam exercer a profissão de prostituta de maneira plenamente consciente,
cabe ao Estado o encargo de especificar qual direito considerado inviolável pela Constituição
estão violando, antes de optar pela criminalização ou de negar-lhes amparo legal. Na ausência
de uma justificativa substancial, a criminalização de todos os envolvidos de forma indireta na
prostituição e a omissão quanto à regulamentação da profissão constituem, por um lado, uma
inconstitucionalidade e, por outro, uma forma de discriminação que atenta contra os direitos à
liberdade e à igualdade de tratamento perante a lei. Essa situação é incompatível com nações
comprometidas com a proteção dos Direitos Humanos.
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