Agricultor Organico

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Agricultor

Expediente

REITOR DO IFAM
Jaime Cavalcante Alves

PRÓ-REITORA DE ENSINO
Rosangela Santos da Silva

PRÓ-REITOR DE PESQUISA, PÓS-GRADUAÇÃO E INOVAÇÃO


Jucimar Brito de Souza

PRÓ-REITORA DE EXTENSÃO
Maria Francisca Morais de Lima

PRÓ-REITOR DE GESTÃO DE PESSOAS


Leandro Amorim Damasceno

PRÓ-REITORA DE PLANEJAMENTO E ADMINISTRAÇÃO


Adanilton Rabelo de Andrade

Diretoria de Extensão e Produção


Aline Zorzi Schultheis

Coordenação Sistêmica do Projeto


Antônia de Jesus Andrade Braga

Professor Conteudista
Felipe Mesch

Diagramação
Anne Karoline da Silveira Cabral

Revisão
Jorge Ernande Gomes de Magalhães Filho
Apostila do curso FIC - Agricultor Orgânico

Disciplina: Produção e Conservação de Sementes,


Implantação e Produção de Mudas
Sumário

1. Acesso e conservação de sementes crioulas.................................................................. 7

2. Técnicas especiais para produção de sementes........................................................11

3. Recipientes e substratos para a produção de mudas.........................................19

4. Estruturas para a produção de mudas...............................................................................23

Referências Bibliográficas.......................................................................................................................29
1 Acesso e conservação de sementes crioulas

Semente crioula é uma herança de sabedoria que recebemos de nossos


ancestrais. Elas guardam em si a riqueza natural das nossas terras e, por
essa razão, devem ser preservadas e disseminadas. No cenário atual, a
agricultura familiar exerce papel fundamental no cultivo e preservação
deste rico material genético.

Variedades de sementes crioulas


Fonte: Projeto Colabora

Semente crioula é um nome utilizado de forma genérica para os


materiais de propagação, onde podemos incluir mudas, estacas,
bulbos, raízes, sementes e também raças de animais domésticos.
Esses materiais podem ser classificados como Crioulos desde
que estejam adaptados ao seu local de origem. São variedades
desenvolvidas, adaptadas ou produzidas por agricultores familiares
ou camponeses, assentados da reforma agrária, quilombolas ou
indígenas, com características bem determinadas e reconhecidas
pelas respectivas comunidades.

A agricultura familiar tem uma missão e uma virtude muito grande em


manter a disponibilidade e a continuidade das sementes crioulas. Além da

Curso FIC - Agricultor Orgânico 7


preservação deste tipo de material, a possibilidade de não dependência
de nenhuma empresa ou país, é fundamental para garantir a segurança
e soberania alimentar dos povos.
As sementes crioulas por serem adaptadas aos locais, são mais resistentes
e menos dependentes de insumos externos. Apresentam também uma
garantia de diversidade de alimentos e contribuem com a biodiversidade
dentro dos sistemas de produção. Garantir a biodiversidade é assegurar
a sustentabilidade dos sistemas naturais (ecossistemas) e dos sistemas
cultivados (agroecossistemas).
As variedades crioulas foram oriundas de um processo constante de
seleção e desenvolvimento realizado pelas comunidades tradicionais e
indígenas. Essas tradições milenares foram repassadas de gerações após
gerações.

Mas como acontece a adaptação das sementes crioulas?

Para que uma raça de animal ou uma determinada variedade vegetal


esteja adaptada a um local, é preciso que os seus guardiões e guardiãs -
“as pessoas que cuidam, selecionam e multiplicam” - façam este trabalho
por um período de tempo que seja capaz de diferenciá-las do material
original. Esta adaptação requer normalmente 5 ciclos de reprodução
da planta ou do animal sob o cuidado de seus guardiões e guardiãs nas
condições de manejo do local. Ou seja, uma semente crioula de um lugar
distante não será crioula em outro sistema diferente, imediatamente.
Precisará de um período de uso para que as adaptações se manifestem e
possa ser novamente uma semente crioula, agora de um novo ambiente!

Podemos encontrar sementes crioulas em qualquer lugar?

Sim! Mesmo na cidade você poderá encontrar Sementes Crioulas se


conhecer alguém que cuide, selecione e multiplique algum organismo
vivo adaptado àquela condição. São chamados Guardiões e Guardiãs da
Agrobiodiversidade! Mas também, caso você frequente alguma feira livre
de agricultores orgânicos e agroecológicos, pode ter certeza de que ali
você encontrará vários destes Guardiões.
As Sementes Crioulas têm uma forte ligação com a forma de cultivo
escolhida pelos agricultores, sendo o manejo orgânico e agroecológico os
preferidos. A Semente Crioula precisa, portanto, ser cuidada e multiplicada,
ano após ano, para que esteja vigorosa e disponível. Esta é uma das formas
de se conservar as Sementes Crioulas e chama-se conservação pelo uso
(conservação in situ – on farm).
Também existem algumas instituições públicas e privadas que

8 Produção e Conservação de Sementes, Implantação e Produção de Mudas


mantêm estes materiais seguros em Bancos ou Casas de Sementes,
impedindo que ocorram perdas de materiais por algum descuido ou
algum problema socioambiental. Este tipo de conservação, identificada
como ex situ, mantém as condições climáticas adequadas aos materiais
ali armazenados e pode ser encontrada em instituições de pesquisa e
assistência técnica.

Dezenas de variedades de semente crioulas de milho compartilhas durante encontro


de guardiãs e guardiões - Giorgia Prates
Fonte: Giorgia Prates

Conservação

1º – As sementes devem ser secas à sombra, até que apresentem


umidade entre 10 e 13% e armazenadas em embalagens impermeáveis, ou
seja, em embalagem que não permita a troca de umidade do ambiente
externo com as sementes armazenadas no interior dessas embalagens.
Como exemplo, pode-se utilizar as garrafas pet.
2º – Para eliminar o ar nas garrafas pet, chacoalhe-as enquanto estão
sendo preenchidas, para acomodar as sementes, até encher as garrafas
completamente. Embaladas em garrafas pet, as sementes podem ficar
por até dois anos em ambientes secos e na sombra.
3° – Podem ser utilizados produtos alternativos para diminuir o ataque
de pragas, como a pimenta do reino moída, cinza ou terra de formigueiro
(5 gramas por quilo de sementes).
4º – Havendo possibilidade, essas embalagens contendo as sementes
ficarão mais bem armazenadas em ambiente refrigerado (na parte baixa

Curso FIC - Agricultor Orgânico 9


da geladeira, onde ficam os legumes e as verduras) até que sejam utilizadas
no próximo plantio, garantindo e aumentando, assim, sua porcentagem
de germinação.
5º – Sempre que realizar uma troca ou coleta de sementes é importante
fazer a identificação delas por meio de um Questionário para coleta de
sementes. Guarde com cuidado o questionário, preencha o rótulo com
base no questionário e cole na embalagem onde serão armazenadas as
sementes. É bom fazer dois rótulos e colocar um deles dentro da garrafa
para não correr o risco de perder as informações caso perca o rótulo
externo.
6º – No caso dos ramos de mandioca, eles podem ser conservados no
campo mesmo. São colocados em feixes em pé embaixo de uma árvore
na sombra até o momento do plantio das manivas.

Sementes crioulas armazenadas Identificação das sementes crioulas


Fonte: ICAPER

10 Produção e Conservação de Sementes, Implantação e Produção de Mudas


2 Técnicas especiais para produção de sementes

As sementes apresentam-se como importante insumo à agricultura e,


para atender a demanda de disponibilidade destas em âmbito nacional,
o sistema de produção de sementes visa, além de produzir, garantir a
origem genética e as características de qualidade das sementes.

Escolha da semente e da variedade

Deve-se, em primeiro lugar, escolher as melhores sementes, de origem


conhecida, de boa sanidade, descartando-se as piores. É preciso definir
as qualidades que queremos para as nossas sementes, como: sementes
grandes ou pequenas; resistência ao caruncho e a outras pragas, à seca,
ao tombamento; bom empalhamento; altura da planta; porcentagem de
óleo; entre outras.
O grupo de produtores de sementes da região pode fazer um ou vários
Campos de Observação de Variedades, para identificar aquelas que
possuem as qualidades desejadas e que melhor se adaptem na localidade.

COMO FAZER UM CAMPO DE OBSERVAÇÃO DE VARIEDADES?

A. escolhidas as variedades, usar o espaçamento médio que se pratica


na região;
B. fazer o plantio em área de fertilidade média ou um pouco abaixo da
média da propriedade, onde apresente as mesmas condições para
todas as variedades;
C. usar 2 fileiras de 5 metros por variedade;
D. se definir por adubar, utilizar a mesma quantidade para cada varieda-
de e a mesma quantidade que se costuma utilizar na roça;
E. repetir a mesma variedade 3 vezes;
F. acompanhar diariamente, fazendo comparações e anotando cada
passo do desenvolvimento das variedades.

Saber o tipo de flor que dá origem à semente

A maioria das sementes que cultivamos vem das flores. As plantas que
dão flor funcionam como animal e gente: para formar a semente, o pólen

Curso FIC - Agricultor Orgânico 11


que vem da parte masculina tem que encontrar um óvulo, que fica na
parte feminina, para fertilizar.
Existem plantas em que as partes feminina e masculina estão bem
juntas na mesma flor e bem protegidas do vento e da visita dos insetos.
Essas plantas raramente cruzam com outras plantas vizinhas. É o caso
do feijão, amendoim, gergelim, algodão, arroz, soja e outras. Nesse caso,
em sua maioria, as flores são autofecundadas (A), ou seja, de polinização
fechada, conforme ilustra a figura abaixo.
Há plantas em que as partes feminina e masculina estão separadas
uma da outra, mas na mesma planta. É o caso do milho, da abóbora, do
girassol e da mamona. Nesse caso, a maioria das flores tem a fecundação
cruzada (C), embora possa ter alguma percentagem de autofecundação,
conforme mostra a figura a seguir. Saber o tipo de flor da semente é
importante, pois ela vai influenciar:

• no maior ou menor isolamento do campo de sementes;


• na quantidade mínima necessária de sementes para se fazer o plantio
de um campo de produção de sementes.

Fonte: Embrapa

As variedades locais das sementes devem ser coletadas,


preferencialmente, nas áreas das roças. Deve-se ter o cuidado de coletar
sementes de pelo menos 200 plantas, andando em ziguezagues no
terreno, com colheita tanto em manchas de terra boa como em terra fraca.

12 Produção e Conservação de Sementes, Implantação e Produção de Mudas


Se as sementes já estiverem no paiol, no caso do milho, separar pelo
menos 200 espigas, escolhendo em diversas partes da pilha de milho. Se
forem de outras espécies já debulhadas, coletar a quantidade indicada
na tabela anterior, mas procurando retirar uma mesma quantidade
dos diferentes vasilhames em que elas estiverem armazenadas. Tais
procedimentos são recomendados para garantir a variabilidade das
sementes.
Quando coletamos pela primeira vez as sementes é importante fazer
o registro de sua origem para que saibamos a família e a comunidade
onde eram cultivadas e suas principais características. Toda área de roça
ou qualquer lavoura pode ser também um campo de sementes. Mas para
isso é preciso tomar alguns cuidados e práticas para se obter sementes
de boa qualidade. Esses cuidados devem ser registrados na Ficha de
Acompanhamento do Campo de Produção de Sementes. Esses cuidados
se iniciam com a escolha da variedade, com o isolamento da área da roça
(se for necessário) e com o manejo adequado da lavoura até a sua colheita
e posterior armazenamento.

Escolha da área e isolamento

Plantar em solo com fertilidade média ou um pouco abaixo da média


da propriedade evita que a semente fique “viciada” com solos férteis. Para
garantir a diversidade genética, recomenda-se escolher uma área de, no
mínimo, 3.000 m2. O isolamento, de acordo com a tabela anterior, é usado
com especial cuidado nas culturas em que há fecundação cruzada. Serve
para evitar que variedades comerciais (híbridas) “castiguem” a crioula,
provocando misturas de características indesejáveis. As lavouras devem
ser isoladas de outros plantios da mesma espécie, para evitar cruzamentos
e a consequente mistura do material.

Curso FIC - Agricultor Orgânico 13


Fonte: Embrapa

Como fazer o isolamento?

Uma maneira de fazer esse isolamento é escolher uma área que fique
distante de outra área com o mesmo cultivo, obedecendo às indicações
da tabela anterior das distâncias mínimas de outras lavouras. Se no local
em que se separam os cultivos existirem barreiras naturais (matas, rios,
montanhas, etc.), essa distância de isolamento poderá ser menor, pois
haverá uma “cortina” de isolamento. No caso de não se poder plantar
distante, as plantas que possuem polinização aberta devem ter o seu
plantio efetuado em épocas diferentes, evitando coincidência no período
de florescimento.

Preparo da terra

É muito importante que a terra esteja em boas condições para receber


a semente. Fazer o plantio em nível, tirando as enxurradas que cortem a
área da lavoura. Ao se manterem os restos culturais sobre o solo, evita-se
o crescimento do mato, bem como a perda de água.

Adubação

Não é necessário usar adubo químico para melhorar o terreno. A melhor


adubação é a verde (feijão de porco, crotalária, mucuna, amendoim
forrageiro, feijão guandu, fava, etc.). Essas plantas fixam o nitrogênio ao
solo, além de cobri-lo, evitando a erosão e a perda d’água. A adubação
pode ser completada com resíduos de outras culturas (palhada de arroz,
feijão, milho, tortas de frutas e oleaginosas), estercos (aves, suínos, gado),
ou, ainda, rochas moídas (calcário e fosfato natural).

14 Produção e Conservação de Sementes, Implantação e Produção de Mudas


Semeadura

Para evitar problemas futuros, como misturas e desuniformidade


da lavoura, é importante “catar” as sementes boas e fazer o teste de
germinação antes da semeadura.

Testando a germinação (teste de emergência)

Para saber o percentual de germinação é necessário plantar 400


sementes no campo. Após alguns dias, contar as plantas que germinaram
normais e dividir por quatro, para encontrar o percentual. O ideal é, no
mínimo, 85%. Porém, cada cultura tem a porcentagem recomendada.

Consórcios

Pode-se implantar o campo de sementes com outros cultivos em


consórcio, tomando os cuidados para se evitar cruzamentos indesejáveis,
ou seja, o cruzamento com outra variedade do mesmo cultivo e na mesma
área de roça.

Qual espaçamento é o mais indicado?

Para um campo de melhoramento e produção de sementes é


recomendado utilizar o espaçamento utilizado na região. É importante
que os próprios agricultores definam seus espaçamentos, considerando
as diversas situações, como consórcios, características da variedade,
ambiente de cultivo, etc.

Desbaste ou raleamento

Consiste em eliminar as plantas que estão em competição em uma


mesma cova. É o momento de definir o número de plantas desejado por
metro linear. Deve ser feito quando as plantas atingirem um palmo de
altura.

Eliminação de plantas (purificação)

Essa operação consiste na eliminação de todas e quaisquer plantas que


possam vir a comprometer um campo de sementes (plantas raquíticas,
doentes e danificadas). Esse trabalho deve, na medida do possível, ser
executado nas seguintes épocas: assim que as plantas nascerem, pouco

Curso FIC - Agricultor Orgânico 15


antes do florescimento, no florescimento, na formação dos grãos e antes
da colheita.

Controle das ervas espontâneas

Os campos de sementes devem ser manejados por meio de capinas


ou roçadas, de forma que o mato não comprometa o rendimento das
variedades. De 25 a 30 dias após o plantio, pode-se fazer a primeira capina
para controlar o mato. Não deixar desenvolver plantas de “garrancho”
dentro da lavoura ou próximo dela.

Controle de pragas e de doenças

Para que o campo de sementes não seja comprometido com pragas


e doenças, algumas caldas de conhecimento do agricultor podem ser
aplicadas preventivamente, durante o desenvolvimento vegetativo, antes
da floração e na formação dos grãos.

Pré-colheita

Se a roça for muito grande, após a segunda capina e eliminação das


plantas mais fracas, divide-se o campo em 3 áreas, de acordo com as
diferenças do terreno (fertilidade, inclinação, quantidade de plantas por
m2). É nessas áreas que vai se fazer a seleção mais aprimorada e que vai
se fornecer as sementes da família para o próximo plantio. Dias antes da
colheita deve-se marcar com uma fita as melhores plantas de cada área
dividida no terreno.

Colheita

A colheita deve ser realizada logo que for identificada a maturação ou


ponto de colheita, garantindo sementes ausentes do ataque de insetos,
bem como danificadas pelo clima.

Seleção

Deve ser feita na lavoura, identificando as plantas com características


desejáveis, como: porte médio ou alto; caule forte, bem enraizado, com
maior número de cachos, vagens ou capulhos; menor número de capítulos
ou espigas; folhas grandes, espigas, cachos, capítulos, vagens ou capulhos
grandes; espigas bem empalhadas; além de outras características
desejadas, como resistência a pragas, a doenças e à seca. Fazem-se dois

16 Produção e Conservação de Sementes, Implantação e Produção de Mudas


tipos de seleção, de acordo com o destino da semente:

A - Primeira seleção é aquela em que a família seleciona com mais


cuidados e critérios as sementes que vão ser utilizadas por ela própria
no próximo plantio (Semente da Família). Essas sementes serão
colhidas nas três áreas que foram demarcadas;
B - Segunda seleção é aquela que vai ser feita em toda a lavoura. Essas
sementes vão ser destinadas à sua troca ou à sua comercialização
(Semente do Vizinho).

Como fazer a seleção?

A - SELEÇÃO DAS SEMENTES PARA O PRÓXIMO PLANTIO (SELEÇÃO


ESTRATIFICADA)

Os agricultores que optarem pela divisão do campo de sementes em três


terrenos (bom, médio e fraco) deverão:
 colher 50 espigas, capítulos, cachos ou vagens de cada rua em sacos
separados e identificados com o número da área e da rua;
 assim, de cada saco com 50 espigas, cachos ou vagem, devem-se
selecionar a(os) 15 melhores.

B - SELEÇÃO DAS SEMENTES PARA TROCA OU COMERCIALIZAÇÃO


(SELEÇÃO MASSAL)

Essa segunda seleção é realizada por meio da colheita em todo o campo


de semente, descartando apenas aquelas plantas que não apresen-
tam o padrão da variedade e as plantas que se apresentarem definha-
das ou com ataque de pragas e de doenças.
 Colher no mínimo 300 espigas, cachos, vagens, para sementes da
próxima safra, garantindo, assim, a diversidade genética;
 Escolher a cada 10m a melhor espiga, cacho ou vagem, que venha da
melhor planta com as características desejadas.

Secagem

Espalhe uma camada fina de semente numa superfície de secagem


(terreiros, lonas plásticas) para permitir a circulação do ar. Durante a
operação há necessidade de movimentação periódica das sementes com
rodos de madeira, para secagem mais rápida e uniforme, evitando, assim, o
superaquecimento. Não se deve deixar as sementes no período de sol mais

Curso FIC - Agricultor Orgânico 17


quente nem no sereno, pois pode diminuir a germinação.

Como saber se as sementes estão secas?

Uma boa maneira de saber se as sementes estão secas o suficiente é


morder o grão e verificar se ele oferece resistência. Outra, é chacoalhar as
sementes nas mãos e ouvir se ocorre um barulho seco.

NÃO SE DEVE DEIXAR AS SEMENTES SECAREM NO CAMPO


(PRÓPRIA PLANTA) POR LONGOS PERÍODOS APÓS O PONTO DE
COLHEITA.

A prolongada exposição a fatores climáticos adversos, bem como ao


ataque de pragas e doenças, pode prejudicar a qualidade do material,
comprometendo, inclusive, o armazenamento.

Armazenamento

As sementes, após limpas, podem ser guardadas em vasilhames, em


tambores ou em sacos plásticos, bem fechados e armazenados em local
coberto e fresco. Nessas condições e sob uma temperatura média de 25°C
as sementes mantêm sua qualidade por cerca de nove meses.
As sementes que foram colhidas para continuidade do plantio do
próximo campo de sementes devem ser armazenadas em frascos
separados. Para o armazenamento de espigas de milho é fundamental
que elas se encontrem secas e bem empalhadas para estarem protegidas
de carunchos.

18 Produção e Conservação de Sementes, Implantação e Produção de Mudas


3 Recipientes e substratos para a produção de
mudas

O sistema de produção de mudas tem o objetivo de garantir a


sobrevivência das mudas no campo, necessitando-se para isso produzir
mudas de rápido crescimento, sadias e vigorosas.

Recipientes

Sendo que o tipo de recipiente influi diretamente na formação


do sistema radicular da muda e nas respostas à luminosidade, é de
fundamental importância a escolha da embalagem.

Algumas características do recipiente devem ser observadas na sua


escolha:
• resistência ao período de encanteiramento;
• facilidade do preenchimento com substrato;
• facilidade de manuseio;
• facilidade de acondicionamento para transporte;
• permeabilidade às raízes;
• boa capacidade de retenção de umidade;
• facilidade de decomposição no solo;
• permitir o plantio mecanizável; e
• ter custo acessível.

Inúmeros são os tipos de recipientes encontrados no mercado, dentre


eles: paper-pot, blocos ou bandejas de polietileno, de isopor, tubos de
polietileno, sacos de polietileno, fértil-pot, toga-flora e laminado, jacás,
latas, vasos de barro e outros.
O paper-pot, o fértil-pot e o toga-flora são recipientes de papel menos
conhecidos e apresentam as seguintes características:
(1) contem fibras artificiais e produtos químicos que aumentam sua
resistência e permeabilidade além de estimular o desenvolvimento da
muda;
(2) composto em geral por uma mistura de fibras de madeira, musgo e
uma fração de fertilizantes e calcário;
(3) revestido em uma das faces com película de plástico e fora de uso. O

Curso FIC - Agricultor Orgânico 19


paper-pot assemelha- se ao saco de polietileno em termos de qualidade
do desenvolvimento das mudas, além de ser de mais fácil manuseio.

Paper-pot Fertil-pot Bandeja de polietileno


Fonte: Sumauma Consultoria

Bandeja de isopor Tubo de polietileno Saco de polietileno


Fonte: Revista Campo Negócios

Saco plástico

É um recipiente ainda utilizado na produção de mudas pela facilidade


de manuseio e disponibilidade em várias dimensões. Apesar disso,
destacam-se algumas desvantagens:

• espiralamento do sistema radicular, resultando em falhas pós-plantio;


• a quantidade de substrato utilizado dificulta o transporte e manuseio
no campo;
• necessidade de que o substrato esteja seco para o enchimento, o
que exige área de armazenamento para que não haja solução de
continuidade em períodos chuvosos;
• queda no rendimento da operação de plantio mecanizado, devido à
necessidade de retirar o plástico.

É importante lembrar que a muda colocada em embalagem plástica


ressente-se mais cedo do crescimento em altura do que do crescimento em

20 Produção e Conservação de Sementes, Implantação e Produção de Mudas


diâmetro. Portanto, a embalagem deverá sempre ter maior comprimento
do que largura.

Tubos de polietileno

Este tipo de embalagem foi inicialmente utilizado pela Aracruz Florestal


no Espírito Santo e foi difundido com rapidez no Brasil para produzir
mudas de eucalipto. Hoje é utilizado para outras espécies.
Consiste em um tubete individual que tem como suporte bandejas de
isopor, de metal ou mesmo de polietileno. As medidas variam segundo os
objetivos da produção das mudas. Apresenta arestas internas que evitam
enovelamento e na ponta é perfurado para que as raízes não cresçam
demais.

Esta embalagem apresenta as seguintes vantagens:

• possibilidade de mecanização da semeadura;


• menores problemas com o enovelamento das raízes;
• possibilidade de mecanização no plantio;
• maior quantidade de mudas transportadas do viveiro para o campo
por viagem;
• menor peso e maior facilidade de manuseio, aumentando o
rendimento das operações de plantio.

Um dos substratos mais comuns nas misturas para tubetes é a


vermiculita, que é estéril, o que resulta na necessidade de maior número
de adubações.

Substrato

Os tipos de substratos utilizados no enchimento das embalagens são


variados:

• areia;
• cama de frango;
• casca de arroz carbonizada;
• esterco de gado curtido;
• folhas de eucalipto curtidas;
• galhos de eucalipto carbonizados;
• moinha de carvão vegetal;

Curso FIC - Agricultor Orgânico 21


• serragem curtida;
• terra de subsolo;
• terriço;
• turfa palhosa ou argilosa.

22 Produção e Conservação de Sementes, Implantação e Produção de Mudas


4 Estruturas para a produção de mudas

Viveiro

É definido como sendo uma área delimitada de terreno contendo


um conjunto de instalações, utensílios e técnicas apropriadas onde se
concentram as operações na produção de mudas. Os viveiros podem ser
separados em dois tipos, de acordo com o tempo de duração da produção
das mudas:

- Permanentes

São aqueles destinados à produção de mudas permanentemente e


por isso possuem características próprias, como boa localização, com
construções definitivas de casas, galpões, depósitos, canteiros e sistema
de irrigação; deve-se ter o cuidado no planejamento com a rede viária e
elétrica, além da facilidade de mão-de-obra.

Viveiro permanente
Fonte: Agência Pará

- Temporários

Nesse caso a produção será por tempo limitado, em área geralmente


menor, sendo instalados próximos às áreas de plantio para diminuir
custos de transporte, sendo esse seu principal objetivo; suas instalações
são rústicas, com canteiros simplesmente elevados com relação ao solo,
irrigação com regadores ou aspersores se possuir conjunto mecanizado.

Curso FIC - Agricultor Orgânico 23


Viveiro temporário
Fonte: IFNMG

Quanto ao tipo de proteção às raízes:


- Viveiros de raiz nua

• Produzem mudas sem a proteção de suas raízes com substrato e, ou,


recipientes; Semeadura feita diretamente nos canteiros;
• Mudas são retiradas apenas na ocasião do plantio;
• Tomar muito cuidado para evitar danificar as raízes, insolação direta,
vento no sistema radicular (ressecamento e morte);
• Menores custos de produção (compra e preenchimento de
embalagens);
• Otimização do espaço de produção e transporte.

- Viveiros de recipientes

• Produzem mudas em embalagens, com sistema radicular protegido;


• Maiores custos de produção (compra e preenchimento de
embalagens, maior área de produção);
• Adaptação e desenvolvimento mais fácil logo após o plantio.

24 Produção e Conservação de Sementes, Implantação e Produção de Mudas


Quanto à estrutura:

- Ao ar livre

Ausente de estrutura as mudas são dispostas e produzidas a céu aberto,


sem qualquer proteção contra luminosidade, ventos, chuvas, dificultando
os tratos culturais. Recomendável somente para espécies que suportam
tais condições.

Fonte: Instituto de Biologia UFRJ

- Rústico suspenso

Estrutura precária, é utilizado somente em locais impróprios para


instalação permanente de viveiro, como em regiões ribeirinhas e várzeas.

Fonte: IFRN

Curso FIC - Agricultor Orgânico 25


- Palha

Estruturado com madeira e palha de palmeiras da região, permite a meia


sombra e um ambiente adequado para várias espécies.

Fonte: Agriconline

- Ripado

Mais durável que o de palha, utiliza esteios, pernas-mancas e ripas de


madeira em sua construção.

Fonte: Biowit

26 Produção e Conservação de Sementes, Implantação e Produção de Mudas


- Metálico

De aço galvanizado, com diversos tipos de cobertura, é encontrado no


mercado em módulos ou fabricado sob encomenda, oferecendo uma gama
de aplicabilidade.

Fonte: Zanatta Estufas

- Madeira e Sombrite

Construído em madeira e tela de sombrite, permite uma ampla variação


de graus de insolação.

Fonte: Agropedia

Curso FIC - Agricultor Orgânico 27


- Aramado e sombrite

Utiliza o sombrite sobre aramado, o que resulta em uma estrutura mais


leve e durável. Melhor relação custo/benefício.

Fonte: Agropedia

28 Produção e Conservação de Sementes, Implantação e Produção de Mudas


Referências Bibliográficas

ALVES, A. F. [et al.]. Sementes crioulas e famílias guardiãs em terras


capixabas. – Vitória, ES: Incaper, 2022. 31 p.: il. Color. – (Incaper, Documentos,
288).

BLAINSKI, J. M.L. Sementes Crioulas: soberania e sustentabilidade. 2020.

GÓES, A.C.P. Viveiro de mudas: construção, custos e legalização, 2. ed.


atual. e ampl. - Macapá: Embrapa Amapá, 2006. 32p. il.; 21 cm (Embrapa
Amapá. Documentos, 64).

LOPES, N.F.A. [et al.]. Produzindo sementes agroecológicas em sistemas


diversificados de produção. Centro de Agricultura Alternativa do Norte de
Minas (CAA-NM), 2018.

MACHADO, A. T. A conservação e o desenvolvimento das sementes crioulas


em uma perspectiva interdisciplinar da agrobiodiversidade. 2022, 25p.

OMAR, D. Silvicultura Sustentável: métodos e praticas, 2010.

Curso FIC - Agricultor Orgânico 29

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