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DOI: doi.org/10.55388/psicofae.v12n2.

442 Pluralidades em Saúde Mental


2023, v. 12, n. 2, psicofae.v12n2.442

A Direção do Tratamento a partir da Escuta de Psicólogos e Psiquiatras


que Atuam em um CAPS

Mariana de Paiva Pelet Vieira1 iD e Tiago Humberto Rodrigues Rocha2 iD

Universidade Federal do Triângulo Mineiro, Uberaba, Minas Gerais, Brasil

Resumo: A concepção do normal e do patológico associada a como o indivíduo se relaciona com seu
ambiente tem se desenvolvido no campo da psicologia. Nesse contexto, o sujeito com sofrimento
psíquico passa a não ser taxado pelo transtorno, mas como portador deste, aproximando as práticas
classificatórias da lógica dos serviços substitutivos em saúde mental, como os Centros de Atenção
Psicossocial (CAPS), oriundos da Reforma Psiquiátrica brasileira. A demanda de cura dos sujeitos é
transformada em demanda de inclusão social e escuta clínica, deixando a patologia determinada pela
exclusão social. Para tanto, torna-se necessária a promoção de novas formas de encarar a clínica e os
aparelhos de saúde mental. Nesse sentido, propõe-se a investigação sobre a hipótese de a Reforma
Psiquiátrica ter relegado a clínica a um segundo plano em relação à demanda social através da
percepção de como se dá a conduta terapêutica de psicólogos e psiquiatras de um CAPS. O presente
estudo é exploratório, descritivo e qualitativo, tendo sido utilizada uma entrevista semiestruturada. Os
participantes da pesquisa são psicólogos e psiquiatras atuantes em um CAPS do interior de Minas Gerais.
Contrariando nossa hipótese inicial, foi percebido que há um trabalho clínico que não é sobrepujado
pela retórica da inclusão, da oferta de discursos de adaptação e ressocialização. Partimos da definição
de clínica ampliada e da perspectiva lacaniana para analisar as práticas institucionais do CAPS. A análise
se deu a partir da teoria lacaniana dos discursos, em especial do discurso do analista, possibilitando a
restituição subjetiva e política de seus usuários. Percebemos que a instituição busca assegurar um lugar
que não cumpre a função de mestria, através de práticas como a ressignificação das crises. Destarte,
buscamos indicar como o funcionamento do CAPS pôde sustentar uma clínica da psicose atrelada ao
posicionamento político nos processos de inclusão social.

Palavras-chave: psicanálise, clínica, saúde mental, psicose, CAPS

1
Psicóloga pela Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM). E-mail: [email protected]
2
Psicólogo. Psicanalista. Doutor com dupla titulação em Psicologia Social pela Universidade de São Paulo (USP).
Doutor pela Université de Rennes 2 (França). Professor Adjunto do Departamento de Psicologia da Universidade
Federal do Triângulo Mineiro (UFTM). E-mail: [email protected]
Submetido em: 05/07/2023. Primeira decisão editorial: 09/10/2023. Aceito em: 23/10/2023.
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The Direction of the Treatment from the Listening of Psychologists and
Psychiatrists who Work on a CAPS

Abstract: The conception of the normal and pathological associated to how the individual relates to his environment
has been developed in the psychology field. In this context, the subject with psychic suffering stops being taken by his
disorder, but as bearer of his disorder, approaching the qualifying practices of the logic of mental health substitute
services, such as the Psychossocial Attention Centers (CAPS), natives of the Brazilian Psychiatric Reform. The subject’s
demand of cure is transformed in a social inclusion and clinical listening demand, leaving the pathology determined by
social exclusion. Therefore, it became necessary the promotion of new ways of facing the clinic and the mental health
apparatus. Thus, it’s proposed the investigation of the hypothesis that the Psychiatric Reform has relegated the clinic
to a background compared to the social demand thru the perception of how the therapeutic conduct of psychologists
and psychiatrists of a CAPS occur. This study is exploratory, descriptive, qualitative and has utilized a half-structured
interview. The participants of the research are psychologists and psychiatrists who work on a CAPS of the countryside
of Minas Gerais. Contradicting our initial hypothesis, it was perceived that exists a clinical work not surpassed by the
rhetoric of inclusion, the offer of speeches, adaptation and resocialization. We start by the definition of amplified clinic
and the lacanian perspective to analyse the institutional practices of the CAPS. The analysis was made from the lacanian
theory of discourses, specilly the analyst’s discourse, allowing the subjective and political restitution of its users. We’ve
perceived that the institution seeks to guarantee a place that doesn’t fulfill the mastery function, through practices
like the resignification of the crises. Finally, we pursued to indicate how the operation of the CAPS could sustain the
psychosis clinic associated to the political position in the social inclusion process.

Keywords: psychoanalysis, clinic, mental health, psychosis, CAPS

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Introdução sobre doenças e transtornos mentais. Além disso, o
DSM também surgiu da necessidade de criação de
O conceito de normalidade psíquica não é uma linguagem comum acerca das classificações
algo rígido, mas flexível tal como uma norma que de cada um dos transtornos. Segundo o manual,
se altera de acordo com sua relação com condições um transtorno mental se configura como uma
individuais, tornando o limite entre o normal e o síndrome ou padrão de comportamento psicológico
patológico impreciso. O que é normal, apesar de importante que se manifesta lhe causando algum
ser normativo em determinadas condições, pode sofrimento físico, mental ou prejuízo social (Kyrillos
ser considerado patológico em outra situação. Neto et al., 2014).
O sujeito é que avalia essa transformação, uma Para Kyrillos Neto et al. (2011), o DSM causou
vez que é ele quem sofre suas consequências, profunda transformação na história da psiquiatria
quando se sente incapaz de realizar as tarefas que moderna — desde a sua primeira edição até a mais
a nova situação lhe impõe (Canguilhem, 2009). recente atualização em 2022 (American Psychiatric
Nesse sentido, não é absurdo considerar o estado Association [APA], 2022). Sua proposta é de ser
patológico como normal, visto que este apresenta um sistema classificatório ateórico e operacional
uma relação com o conceito de normatividade da dos grandes quadros sindrômicos psiquiátricos.
vida (Canguilhem, 2009). A partir daí, os diagnósticos seriam considerados
O desenvolvimento da concepção do normal como instrumentos convencionais, dispensando
e do patológico, sob uma perspectiva qualitativa quaisquer referências de caráter ontológico. A
em que tudo se explica em relação ao indivíduo e única exigência seria a correspondência em seu
em como este se relaciona com seu ambiente, foi plano descritivo. O rompimento com a teoria ao se
amplamente estudada por Georges Canguilhem. descomprometer, decorreu então, da lógica em que
Em sua proposta, o autor estabelece a distinção a caracterização das formas de sofrimento psíquico,
de três vias de orientação teórica: a normatividade alienação ou patologia mental era acompanhada
no sentido biológico, social e existencial. Trata-se, da fundamentação ou de crítica filosófica. Além
então, de aspectos fisiológicos da estrutura do disso, após a terceira edição do DSM, quebrou-se
organismo vivo, de valores sociais que determinam a não apenas a união entre psicanálise e psiquiatria,
sua organização e de aspectos individuais que fazem mas também o modo de fundamentar e fazer
referência aos sujeitos que vivenciam a saúde e a psicopatologia na prática clínica de profissionais.
doença. Em sua teoria, Canguilhem apoia a existência É importante ressaltar que não se trata de uma
de normas tanto no estado normal quanto no estado disputa ideológica com a psiquiatria. Pelo contrário:
patológico. O patológico não é apenas a ausência a psicanálise conserva a função diagnóstica da
de normas e não corresponde necessariamente à psiquiatria sem abandonar a psiquiatria clássica,
anormalidade. Nessa mesma direção, o normal não salvaguardando a relevância e a singularidade da
implica em saúde por si mesmo (Camara, 2016). fala de cada sujeito nos níveis do enunciado e da
Assim, encontramos a necessidade de boas enunciação. O conhecimento psiquiátrico clássico
descrições psiquiátricas e psicanalíticas elaboradas consolidado a partir do momento em que se
visando estratégias de intervenção e transformação. começou a descrever, isolar e separar os fenômenos
Se fossem mero reflexo neutro das coisas mesmas, que afetam o doente é o principal referencial das
não seriam descrições de indivíduos (Dunker & práticas do hospital psiquiátrico. O que se coloca em
Kyrillos Neto, 2011). Nesse contexto, em resposta questão é que atualmente a psiquiatria se vê tomada
ao desenvolvimento de pesquisas sobre transtornos pelo furor farmacológico, distanciando-se de seu
de ordem psiquiátrica, tem-se a elaboração da saber clínico clássico (Kyrillos Neto et al., 2011).
primeira edição do Manual Diagnóstico e Estatístico O diagnóstico em psicanálise, além de
de Transtornos Mentais (DSM). Ele foi criado a partir ser estrutural é também transferencial, o que
da demanda de coletar informações estatísticas exige do terapeuta um exercício de incitar certa

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fala que indique algo da posição do sujeito na norteadora dos serviços substitutivos em saúde
fantasia. Trata-se de um direcionamento da fala, mental (Kyrillos Neto et al., 2014).
da ultrapassagem de fenômenos que viabiliza a Nessa direção, os serviços substitutivos de
formulação de um diagnóstico com função terapêutica saúde mental surgem na década de 1980 em um
e simultaneamente nos distancia de caricaturas e contexto crítico e de vigência do modelo manicomial
estereotipias de manuais como padrões de sofrimento e da privatização da assistência na forma de hospitais
psíquico (Dunker & Kyrillos Neto, 2011). e clínicas. A maioria desses serviços brasileiros teve
A psiquiatria propõe a resolução dessa inspiração no modelo italiano de Franco Basaglia de
problemática através de intervenções sobre as desinstitucionalização psiquiátrica. Nessa direção,
situações mais agudas e encaminhando esses a terminologia “reforma psiquiátrica” no contexto
pacientes para “psicoterapia”. Diz-se do modelo brasileiro ganha uma significação diferente: a
da Medicina Baseada em Evidências (MBE). A crítica às práticas asilares deixa de almejar seu
perspectiva de embasar a conduta clínica pela aprimoramento em humanização passando
eficácia leva a supervalorização da MBE. Sua noção de a questionar os pressupostos da Psiquiatria,
eficácia está associada ao tratamento em condições condenando seus efeitos de normalização, controle
de mundo ideal em que haja apenas supressão dos e docilização dos corpos. Logo, a Reforma Brasileira
sintomas. Entretanto, em psicologia considera-se começa a apresentar como foco principal a cidadania
que é a partir do sintoma que se inicia o trabalho do louco em relação à clínica (Kyrillos Neto, 2009).
terapêutico. A proposição de que o diagnóstico Ainda segundo o autor, os Centros de
não incida unicamente sobre o sintoma, mas sim Atenção Psicossocial (CAPS) surgem como reação às
sobre a implicação do sujeito no sintoma, faz com pretensões da Reforma Psiquiátrica Brasileira. Este
que a psicanálise crie condições para que a própria serviço apresenta cinco características fundamentais
intervenção clínica do profissional vá mais a fundo no que se refere à sua “prática terapêutica”:
da mera supressão sintomática. Para a psicanálise, assegurar o direito a asilo (o que não implica em
a prioridade é o sujeito em sofrimento em função exclusão); rapidez de respostas às crises; inserção
de sua estrutura subjetiva. Nessa direção, trata-se territorial; inversão no investimento (enfatizar o
de identificar o pathos em que o sujeito se encontra desenvolvimento social dos usuários do serviço sem
para subtrair a partir de sua peculiaridade a patologia uma preocupação maior com estruturas clínicas
que o acomete. Na psicanálise, preconiza-se o sujeito e quadros nosológicos) e, finalmente, o processo
enquanto atravessado pela linguagem. Isso significa de valorização, compreendido como a integração
que fazê-lo dizer por si mesmo sobre sua história de instituições no processo de compartilhamento
e seus sofrimentos a um interlocutor confere-lhe social. Tais características dos CAPS são reproduções
autonomia sobre o próprio discurso. Diz-se de uma da experiência basagliana no contexto brasileiro. São
clínica da fala. É o próprio sujeito que apresenta seu pressupostos que coordenam o funcionamento dos
caso em voz alta. Em função disso, o enfoque é dado serviços abertos em saúde mental e que permeiam o
à singularidade de cada enunciado, deixando de ter a campo das políticas públicas nessa área preconizadas
ênfase na descrição dos sintomas para se configurar pela Reforma. Pressupõe-se que, para a criação e êxito
como um atendimento clínico em saúde (Kyrillos de novos serviços em saúde mental, são necessários
Neto et al., 2011). profissionais com embasamento teórico-prático
Quanto ao uso diagnóstico do DSM, a partir distinto do modelo anterior (manicomial). No
de sua quarta versão, uma advertência é feita em entanto, é evidente que a experiência em ambos os
relação às classificações. O sujeito passa a não ser contextos (lógica manicomial e lógica humanizada
taxado pelo transtorno ao apresentá-lo. Em razão pós-reforma psiquiátrica) também se constitui como
disto, o DSM não apresenta a descrição “indivíduo uma maneira eficaz de perpetuação da crítica ao
esquizofrênico”, e sim “indivíduo com esquizofrenia”, modelo manicomial. Desse modo, contribui para
aproximando as práticas classificatórias da lógica a compreensão dos progressos representados

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pelos serviços substitutivos em saúde mental. No para cooperação com a pesquisa. A seleção foi
entanto, é importante ressaltar que as instituições intencional e compreendeu seis psicólogas e dois
de formação assimilaram poucos conteúdos dos psiquiatras atuantes no CAPS em questão. Do
debates suscitados pela Reforma, tanto no que tange total de dez profissionais da instituição, oito foram
aos currículos quanto às práticas extensionistas. entrevistados. Ao longo do texto, os participantes
Estas têm oferecido paulatinas contribuições quanto serão identificados por nomes fictícios: Elisa (54
às avaliações para seu desenvolvimento. Nos anos), Débora (33 anos), Amanda (47 anos), Carolina
aspectos essenciais para o bom funcionamento dos (35 anos), Marisa (65 anos) e Patrícia (44 anos) são
serviços substitutivos em saúde mental descritos as psicólogas e Jaime (43 anos) e Cícero (60 anos), os
previamente, percebe-se a ausência da dimensão psiquiatras, respectivamente.
clínica. A mudança no curso do investimento Em decorrência da pandemia da Covid-19, os
supõe que a Psiquiatria não preconize a patologia participantes foram contatados por telefone obtido
e enfatize a existência complexa dos usuários e sua através da instituição e concederam entrevistas que
ressocialização (Kyrillos Neto, 2009). foram audiogravadas de modo remoto. O material
A partir do exposto, demonstra-se, então, que a foi transcrito na íntegra, — incluindo-se pausas,
diferença da lógica diagnóstica do DSM e da psicanálise, interrupções e demais alterações discursivas que
enquanto teoria norteadora, suscita consequências possam ocorrer — e analisado segundo as diretrizes
relevantes para a condução do tratamento, uma vez da análise de conteúdo, com embasamento no
que o diagnóstico provém de uma definição prévia referencial teórico da psicanálise.
implícita ou explícita sobre a função de uma terapêutica, Segundo Turato (2008), a análise de conteúdo
influenciando a direção do tratamento pelos irá compreender várias fases. São elas: preparação
profissionais (Kyrillos Neto et al., 2011). Dessa forma, o inicial do material, que se refere à transcrição do
louco, ao ser deslocado para a posição de usuário dos material; a pré-análise, que implica a execução de
serviços de saúde mental, tem sua demanda de cura leituras repetidas dos dados até a exaustão e, por fim, o
transformada em demanda de inclusão. Sua patologia processo de categorização. A montagem das categorias
passa a ser definida pela exclusão social concreta e não ocorre a partir de dois critérios: relevância e repetição.
por uma nosologia neutra e transcendente, em um A relevância refere-se a aspectos que o pesquisador
processo de ressignificação do trabalho terapêutico considerou importantes para análise a partir de
(Kyrillos Neto, 2007). suas hipóteses, enquanto a repetição diz respeito
Nesse sentido, propõe-se a investigação sobre ao destaque de determinados pontos em função da
a hipótese de a Reforma Psiquiátrica ter relegado a frequência com que aparecem nas entrevistas dos
clínica a um segundo plano em relação à demanda diferentes participantes. Pode ainda ser necessária a
social através da percepção de como se dá a conduta etapa de subcategorização. Essa é inclusa caso existam
terapêutica de psicólogos e psiquiatras de um CAPS. tópicos que mereçam destaque, mas se relacionam
intrinsecamente a outros tópicos já existentes.
Metodologia Após a categorização será feita a sua análise
a partir do referencial psicanalítico de orientação
lacaniana. Em seguida, a análise tensionará o
O presente trabalho é exploratório, descritivo
resultado da apreciação dos dados com os principais
e qualitativo. O instrumento utilizado foi uma
aspectos da Reforma Psiquiátrica brasileira, o
entrevista semiestruturada. O roteiro foi elaborado a
funcionamento dos aparelhos substitutivos de saúde
fim de compreender quatro eixos temáticos: atuação
mental, a questão ideológica que perpassa todo o
do profissional na instituição; percepções acerca
processo de tratamento e, através do método da
da Reforma Psiquiátrica; das práticas clínicas; e de
psicanálise aplicada, abordaremos as perspectivas
ressocialização presentes no CAPS.
clínicas no tratamento institucional pensando a
Os participantes foram recrutados
realidade do CAPS em questão.
através de convite à coordenação da Instituição

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Quanto aos aspectos éticos, esta pesquisa Tem alguma questão aí, né, dentro que é
está contemplada pela Resolução n. 466, de 12 de psíquica que precisa ser cuidada. E tem uma
dezembro de 2012, do Conselho Nacional de Saúde questão que é social também. É um dos
e foi submetida e aprovada pelo Comitê de Ética em vínculos dessa pessoa, né, com a sua própria
Pesquisa da Universidade de origem do trabalho. vida e com a vida social. Seja ela familiar,
Todos os participantes formalizaram sua concessão seja ela a vida da rua, seja ela a vida ligada
através da assinatura do Termo de Consentimento a algum espaço, né, dentro do social e da
Livre e Esclarecido, conforme registro CAAE relação deles consigo mesmos (Amanda).
22321019.4.0000.5154 e parecer número 3.683.009. A partir daí, novos questionamentos
surgiram aos pesquisadores: afinal, quais aspectos
Resultados e Discussão deste serviço garantem esse trabalho de clínica e
ressocialização? O que sustenta uma prática que não
Dos dez profissionais previstos para conceder toma o viés ideológico da ressocialização como único
a entrevista, oito participaram, dentre eles, seis norte orientador para o trabalho e que, ao mesmo
psicólogas e dois psiquiatras. Uma vez que a coleta tempo, não perde os horizontes da clínica? Será
foi realizada em contexto de isolamento social, que a prática desenvolvida pelos profissionais desta
durante a pandemia da Covid-19, vale ressaltar que instituição tem seu desenvolvimento suportado
as entrevistas foram realizadas à distância. Desse de maneira individual, relativo à formação de cada
modo, considera-se que a coleta on-line foi feita profissional? Ou trata-se de algum dispositivo
de modo a evitar ao máximo a perda de dados não institucional que integra os princípios de resgate
verbais presentes nas interações de cada entrevista. da cidadania e ressocialização há tanto tempo
A partir da análise das entrevistas realizadas, estabelecida clínica da psicose?
questionava-se se nesse CAPS existia o risco de Considerando a análise das entrevistas,
ser uma instituição que prezasse por signos que, buscou-se discutir essa problemática acerca da
muito frequentemente, fazem da reinserção social prática desenvolvida na instituição a partir de dois
uma espécie de massificação restituidora de um eixos temáticos. Segundo os princípios propostos
significante faltante na relação do sujeito com a por Turato (2008), estes eixos foram montados em
realidade. Em razão disso, especulávamos também função do aparecimento por repetição e relevância,
se a esfera clínica do CAPS não teria sido relegada sendo eles: 1. O conceito de clínica ampliada, em
a um segundo plano, o que poderia comprometer que discutiremos sobre o modelo de atendimento
o funcionamento do fazer clínica na instituição. intersetorial em saúde mental empregado pelo CAPS
Entretanto, essa hipótese, no decorrer da coleta, e sobre a configuração transdisciplinar de sua equipe
foi contrariada. Não foi constatada uma perda para acolher seus usuários; 2. O assim chamado
da prática clínica, pois clínica e ressocialização se discurso do analista, em que tal conceito servirá como
mostraram andar juntas e entrelaçadas, refutando proposta para se pensar os modos de enlaçamento
nossa hipótese inicial. dos sujeitos que circulam dentro da instituição.
A maioria dos profissionais sempre ressaltava
a importância de ambas as esferas de atuação do Clínica Ampliada
CAPS andarem juntas: ressocialização e prática
clínica. Para eles, o conjunto é essencial para que a Quanto ao alcance da clínica no tratamento
proposta de tratamento da instituição seja eficaz. Às do sofrimento psíquico, é preciso considerar que “[...]
vezes, a clínica aparecia como um instrumento para o fenômeno social da loucura não deixa de ser, em
se atingir a ressocialização. Mas, de modo geral, nas alguma medida, sintoma do processo civilizatório [...]”
entrevistas ficou claro que a ressocialização é um (Fonseca & Kyrillos Neto, 2020 p. 6). Assim, o conceito
efeito da prática clínica cotidiana com os usuários, de Clínica Ampliada a define como um compromisso
tal como apresenta o seguinte relato: com o sujeito adoecido de modo singular; a

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responsabilização dos profissionais em relação aos Teve uma crise uma vez que a moça que faz
usuários dos serviços de saúde; a busca por ajuda comida participou e ela deu o desfecho da
em outros setores denominada de intersetorialidade; crise. O cliente conseguiu voltar da onde
o reconhecimento dos limites do conhecimento ele tava, que ele não queria voltar para o
dos profissionais de saúde e de suas tecnologias CAPS. Ela foi lá na rua buscar ele, porque o
para conseguirem buscar auxílio em outros setores; almoço estava na mesa e ela não abria mão
assumir um grande compromisso ético no trabalho dele almoçar. A gente ficou assim (cara de
em saúde (Ministério da Saúde, 2004). espanto) “que legal!” (Carolina).
A intersetorialidade mencionada se constitui Desse modo, o trabalho implica um contato
como um passo à frente do trabalho da equipe direto e duradouro com os diferentes profissionais
multiprofissional. O trabalho no CAPS inclui não apenas que atuam no serviço, dos secretários aos médicos,
psicólogos, psiquiatras, enfermeiros e assistentes atravessando as hierarquias funcionais e burocráticas
sociais, como também conta com a participação de (Figueiredo, 1997). Quando diferentes profissionais
outros profissionais. Os motoristas de van, as auxiliares auxiliam em crises, nem sempre sob uma perspectiva
de serviços gerais (ASG), que são responsáveis pela clínica, mas de cuidado com o usuário, o serviço
manutenção da instituição e pela alimentação dos ganha em termos de qualidade de atendimento e de
usuários, e que muitas vezes acabam participando do intersetorialidade.
acolhimento de crises eventualmente no CAPS. A ressignificação das crises, enquanto
O termo “crise” apresenta múltiplos sentidos passagem e não necessariamente um sintoma, é um
e se encontra em discursos cotidianos, bem como dos pilares mais importantes do projeto terapêutico
no campo da saúde mental. Ele pode portar o do CAPS. Assim, “Às vezes um outro ali né, que
significado de dor, sofrimento, ansiedade, felicidade, não é o profissional da saúde propriamente pode
patologia, dentre vários outros; geralmente indicando até entender essa crise com outro olhar menos
intensidade, incerteza e imprevisibilidade em seu patológico. Isso é muito potente também, né, no
uso. Essa polissemia da “crise” pode ser contraditória auxílio” (Jaime). Aqui, é legítimo pensar a metáfora
e confusa inclusive no modo como lidamos com ela delirante e a construção de um delírio possível serem
(Krachenski & Holanda, 2019). O trabalho com a crise concebíveis em um local onde o sujeito possa se
demanda conhecimentos específicos e técnica, mas o reconhecer como tal. A clínica ampliada, alicerçada
seu acolhimento, o CAPS mostra que a convivência e na prática que prima por não objetalizar o outro, mas
o vínculo com os usuários da instituição no cotidiano que permite que este alcance sua posição de sujeito
contribuem substancialmente para o estabelecimento do inconsciente, desejante, é o que nos permite
do laço entre os usuários e a instituição. Assim, visualizar uma prática que descentraliza da figura do
independentemente se esse acolhimento acaba sendo técnico a responsabilidade última pelo cuidado com
feito por um profissional especializado em saúde o usuário.
mental, se é feito por uma ASG, por uma secretária, A crise não é um sintoma. Como a palavra
por um outro usuário do CAPS ou por um familiar, isso expressa, a crise é um momento da experiência de
diz de uma intersetorialidade do serviço. uma pessoa. Em termos médicos fala-se de urgência,
Esse movimento que acontece na instituição ou em termos sociais, fala-se em gravidade. Já em
evidencia uma organicidade de seu funcionamento termos econômicos, ao se falar de crise, fala-se em
em que, apesar de haver cargos e funcionalidades excessiva despesa (Viganò, 2012). Assim,
específicas, o acolhimento do sofrimento mental é
A Fundação (o CAPS) nasce no momento de
exercitado por todos.
conversa sobre o hospício, no momento de
Eu percebo que todo mundo que precisa está denúncia dos horrores dos pátios do depósito
ali. Daquele cliente, daquela crise específica da desumanização. Então é um projeto que
e aí é hora de você usar sua bagagenzinha. É humaniza e liberta, mas no sentido da clínica
muito legal, inclusive não só a parte técnica. nova do direito à diferença. É a ideia da crise

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enquanto ponte, enquanto passagem e não No início conseguir alguma contratualidade
na versão da crise enquanto negatividade, para as famílias parar de internar porque
doença. Então esses são os dois nortes: a tinham aprendido a fazer a depositação na
vida enquanto impermanência aonde a dor, crise e a gente aprendeu desde muito cedo
a pedra e o espinho se é ponte para o novo. a não fazer a culpabilização, mas fazer uma
Não fica endurecida na negatividade da leitura do que passava, né. Do que que
doença. E o cuidado humanizado libertário era o modelo, a única coisa que existia e
de fazer caber na vida. Isso forma os dois ir conseguindo cuidar muito também dos
nortes (Cícero). familiares para poder também voltar a tomar
No esteio do pensamento freudiano, encargo e suportar junto as crises. Ao invés
Quinet (2011) nos recorda que, em relação ao que de fazer essa coisa toda: deposita no hospital
frequentemente se assume como o produto patológico, até a hora que eles não tinha mais nada na
a saber, o delírio é, na verdade, uma tentativa de casa, toda quebra de vínculo (Marisa).
reconstrução. Logo, segundo o mesmo autor: Nesse sentido, a ressocialização começa no
Não se pode, portanto, pretender curar o uso dos espaços de cuidado em saúde mental e vai
delírio, pois ele mesmo já é uma tentativa desde os cuidados conjuntos com os familiares até
de cura da foraclusão do Nome-do-Pai, dado a retomada das atividades da vida cotidiana ou até
que, continua Freud, é “uma peça que se cola a reinserção no mercado de trabalho, por exemplo.
lá onde houve uma falha na relação do sujeito Sabemos que a prática clínica do CAPS se sustenta
com a realidade” (Quinet, 2011, p. 76). pela lógica do discurso do analista que, por sua vez,
possibilita a ressocialização enquanto um efeito da
Tal como supracitado pelo autor, antes
restituição política e subjetiva do sujeito. Isso fica
da crise, a realidade do sujeito é sustentada por
mais evidente quando exercitamos o raciocínio
bengalas imaginárias e, dado o momento de
contrário. Se a ideologia por trás da necessidade
desencadeamento da crise, há uma dissolução
de ressocialização for pensada sob outra ótica, nos
imaginária e um desastre subjetivo que a posteriori
faz refletir sobre uma discussão importante. Quer
culminam em uma reestruturação da realidade a
dizer, contrariamente ao que foi evidenciado nas
partir do trabalho do delírio.
entrevistas, caso a prática de ressocialização do
Nessa direção, para que essa reestruturação
CAPS possuísse uma natureza compulsória, ela se
da realidade do sujeito aconteça a partir do trabalho
aproximaria do funcionamento do discurso do mestre
da crise, o profissional deve possibilitar que o sujeito
e também a partir da lógica do significante-mestre
autonomamente faça algumas escolhas no processo
oferecido pela instituição.
terapêutico. Ao colocar a reação terapêutica
Nele, a instituição ou os profissionais,
negativa como um limite à eficiência terapêutica da
estariam na posição de agente do discurso, que tem
análise, Freud diz em O eu e o id que, “afinal, deve
um poder sobre o outro (usuário), que, alienado
proporcionar ao Eu do paciente a liberdade de decidir
sobre sua própria condição, se engajará em práticas
de uma ou outra maneira, e não tornar impossíveis
de ressocialização para produzir resultados para a
as reações patológicas” (Freud, 1923/2011, p. 63).
instituição. A produção de resultados pode aparecer
Desse modo, a posição do técnico neste serviço é de
como uma estatística, como mais um usuário que
um facilitador da construção que o psicótico faz de si
retoma o trabalho, a vida social etc. Enquanto a
mesmo em suas relações sociais (Santos et al., 2019).
instituição e seus profissionais levam o crédito por
Ainda quanto ao espectro ampliado da clínica
uma prática que, na verdade é compulsória, vazia de
e sua relação com as irrupções de crise, a abordagem
significado e que não restitui o sujeito de sua própria
das famílias no processo de acolhimento de crises
subjetividade. Além disso, ainda nessa perspectiva
também evidencia a necessidade de incluí-las no
“compulsória”, poderíamos enxergar essa situação
campo intersetorial do CAPS, estabelecendo um
explicada segundo a lógica do significante-mestre
importante contraste histórico na saúde mental.

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oferecido pela instituição, alienando o “usuário indefinido —, pode ser entendida como uma forma
consumidor” das ofertas do CAPS. de metonímia da exclusão executada pelo próprio
A relativização de cada caso através do plano sistema que deveria capacitá-los como sujeitos.
terapêutico singular permite percebermos que para Metonímia, pois funciona como uma estratégia de
cada usuário a ressocialização significa algo diferente, opressão maior, praticada pelo Estado em relação
como pode ser observado pelo seguinte relato: aos sujeitos que nele deveriam se incluir. Estratégia
Ela (referindo-se à usuária com diagnóstico que começa a ser evidenciada e questionada,
psiquiátrico de transtorno de humor) tem particularmente, a partir do final dos anos 1970 pela
um nível de autonomia muito grande, mas opinião pública no contexto da exposição das práticas
que dentro, ela mesmo coloca assim — Eu de exclusão, de controle e de torturas realizadas pelo
fico pensando se algum dia eu conseguiria Estado durante o regime militar (Kyrillos Neto, 2007).
retornar para o trabalho. Eu acho que eu Nesse sentido, um dos relatos que apareceu
não conseguiria porque aquela questão de nas entrevistas coaduna com essa questão sob uma
estar com muitas pessoas num lugar só e ter outra ótica.
que cumprir uma jornada de trabalho, né. Para que haja um equilíbrio assim eu acho
Isso fez com que eu adoecesse, então eu não que o “lá fora” poderia estar mais “dentro”
consigo, né, tá dentro, caber dentro desse da clínica, dentro do CAPS, dentro da saúde
lugar. É… é… isso foi adoecedor (Amanda, mental. Pra poder ter um entendimento
julho 12, 2020). melhor sobre o que é vivenciado aqui e
Então ressocializar não é retornar ao sobre o que que acontece, sobre o que é a
trabalho e sim recuperar vínculos sociais, tornar a saúde mental, para poder ter uma harmonia
ocupar determinados espaços etc. Logo, a interface entre um e outro (Patrícia).
entre clínica e cidadania fica mesclada e varia de Assim, já que a hipótese inicial da pesquisa
caso a caso, mas prevalece em relativa harmonia. foi contestada, o que se coloca como questão, não
Logo, ao olhar para o sujeito com suas possibilidades é a massificação dos sujeitos ou a perda da clínica,
e inúmeros contornos, o que aparece não são e sim a instituição e o fazer da clínica ampliada
patologias, e sim os modos de ser em um dado como substituintes da personalização do analista.
contexto, permeado de significados e formas de Isso significa dizer que a instituição opera como um
expressar sua humanidade. O sofrimento, então, todo, permitindo que o discurso do analista circule.
não seria algo exterior à pessoa, mas um fragmento Não apenas na figura do profissional, mas no fazer
que o constitui, com a potencialidade de promover institucional em si.
mudanças significativas no sujeito e novas formas de
se colocar no mundo (Faria et al., 2020). O Discurso do Analista
A discussão sobre os processos de produção
de identidade social, tem em relação a estrutura Advertimos, inicialmente, que os profissionais
do sofrimento psíquico, um campo importante de da instituição atendem a partir de diferentes
desenvolvimento. Isso porque, ao ser visto como correntes teóricas. Dessa forma, propomos pensar
patologia, o sofrimento se torna em modo de sobre o discurso do analista não a partir da figura
compartilhamento de identidades que trazem consigo real do analista, ou seja, identificado a determinado
regimes de compreensão de afetos. Assim, podemos profissional. O que propomos é pensar que o
dizer que as patologias são áreas importantes dos discurso do analista é um ato produzido a partir de
processos de socialização (Safatle, 2018). uma posição não encarnada em um sujeito, mas que,
Percebe-se que a repercussão pública da sob determinadas circunstâncias, pode ser pensado
condição a que estavam submetidos os internos, ou a partir de um fazer institucional que independe da
seja, os que estão em um espaço interior — dentro orientação teórica do profissional. Nesse sentido,
de um dispositivo de tratamento, às vezes por tempo pretendemos pensar o que sustenta a prática dos

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profissionais do CAPS em sua impessoalidade, comando, que não pode ser contestado. O S2 é o
enquanto mecanismo que possa ocupar tal lugar. saber, também considerado, segundo Quinet (2009),
Quando Lacan (1970/1992) sistematiza a a repetição do S1 recuperada como campo do gozo.
lógica da experiência psicanalítica e os processos de Trata-se da repetição do fracasso em atingir a primeira
subjetivação em O avesso da Psicanálise, ele ressalta experiência de satisfação, dada sua impossibilidade
o funcionamento lógico de alguns significantes que lógica. Daí, ainda para o autor, que tal repetição
operam nas construções discursivas da cultura e engendra, no inconsciente a cadeia de significantes
revela os possíveis efeitos característicos do discurso que se constitui como o saber inconsciente (S2).
psicanalítico na subjetividade (Ferreira et al., 2014). O objeto a é a entropia do processo de
A teoria lacaniana dos discursos compreende quatro repetição do gozo, em que o sujeito busca obter
discursos: discurso da universidade, discurso do novamente aquela experiência que o S1 comemora,
analista, discurso do mestre e discurso da histérica. resta um gasto cujo efeito é um fracasso de gozo. A
Longe de um uso instrumental da teoria, os entropia da energia que cai desta repetição, o objeto
discursos servem como um modo de possibilidade a, nomeia o gozo não alcançado. Pelo lado do sujeito
de pensarmos onde o sujeito se aloca a partir de ($) do inconsciente, o significante barrado, castrado,
determinado laço social estabelecido pela via do que falha, é aquele que é produzido retroativamente
discurso. Assim, buscaremos lançar uma discussão pela insistência da cadeia de significantes como
a propósito da prática clínica desenvolvida na repetição (Quinet, 2009).
instituição, pensando quais atributos garantem a Figura 2
sustentação de uma clínica que preze pelo advento Esquema que representa as disposições dos matemas
do sujeito. no conjunto dos quatro discursos de Lacan
Figura 1
Discurso de Mestre Discurso da Universidade
Estrutura que representa as posições presentes nos
S1 S2 S2 a
quatro discursos de Lacan
S a S1 S
Discurso da Histérica Discurso do Analista
agente outro S S1 a S
a S1 S2 S1
verdade produção Nota. Fonte: Recuperado de “Do ato psicanalítico ao discurso do
analista: a estrutura do campo lacaniano” de R. S. Torres, 2013,
p. 142.
Nota. Fonte: Recuperado de “O discurso capitalista e seus gadgets”
de R. Badin, & M. Martinho, 2018, p. 143.
Para desenvolver essa discussão, nos
Cada um dos discursos, como mostra a figura ateremos apenas à contraposição entre os discursos
acima, possui elementos que ocuparão posições da do mestre e do analista. No discurso do mestre, como
estrutura que são estáticas: a posição de agente ou na relação do senhor e do escravo, por exemplo, o
de semblante de um discurso, do outro, da produção agente S1, sabe e comanda o outro S2, na posição
e da verdade. Partimos do pressuposto que todo de objeto, a produzir um excedente (a), dos quais
discurso possui uma verdade (algo que incita um gozará o senhor. No lugar da verdade, encontramos
discurso), e existe um agente, que dialoga com um $, castrado, que “se esconde” fica por debaixo da
outro, a fim de extrair dessa experiência, no laço barra do recalque e sustenta a posição de mestria do
social com o outro, uma produção. senhor. O que não se sabe, dentro deste circuito é
Os matemas presentes na álgebra lacaniana da ordem da impotência da produção (a) alcançar a
se dispõem de maneira ordenada e mutável verdade ($) do senhor, tamponando a falta.
nas posições da estrutura, donde: S1, S2, a e $, O discurso do mestre recusa a considerar
respectivamente. O S1, significante mestre, trata do a singularidade do sujeito, daí o lugar do outro na
significante tomado a partir de sua propriedade de estrutura do discurso do mestre restar ocupado não

35 M P P Vieira e T H R Rocha
por um sujeito, mas por um saber (S2) universal. pelo efeito do discurso do analista. Na última
Sob a ótica da instituição de saúde mental, esse posição, inferior esquerda, no lugar da verdade, está
discurso seria encarnado em um domínio muitas S2, que ilustra o saber inconsciente que se torna
vezes assumido pelo profissional sobre o paciente inacessível a qualquer conexão com os S1 do sujeito,
ao colocar o universal da reinserção social como representado pela não realização da alienação do
um operador que “faz funcionar” o cotidiano sujeito (impotência) ao saber do analista. Assim,
institucional. Aqui, concordamos com Nicolau e ao encontro com o pensamento de Pena (2017), a
Calazans (2016) sobre a proposição de tratar-se de circulação do discurso do analista move a construção
um poder atravessado por um pressuposto racional do caso em saúde mental, mas não existe uma forma
que não permite a escuta do sujeito. Isso implica definida, fechada, para tal construção.
em seu assujeitamento, por exemplo, ao aceitar Ao contrário do discurso do mestre, o
passivamente prescrições ou intervenções clínicas. discurso do analista não se constitui como um
No discurso do analista, no lugar de agente discurso de domínio. Ele é a causa do desejo de saber
do discurso está o a, representando o sintoma do o sentido dos sintomas que agem sobre o analisando
paciente em que o gozo pode ser colocado em através da associação livre (Álvares, 2006). O
questão, bem como suas saídas próprias em relação discurso do analista se endereça ao sujeito barrado,
a esse modo de gozo. À direita em cima, no lugar do enquanto o discurso do mestre se volta para o outro
outro do discurso, está seu reconhecimento como na posição de objeto, com um saber absoluto sobre
sujeito ($). Neste modo de enlaçamento discursivo, ele. O analista não atende às demandas do sujeito
o profissional de saúde mental, ao se fazer objeto do S barrado com o seu saber, mas com sua atuação
desejo do outro (a), permite que o outro, usuário do que permite ao sujeito um novo encontro com seu
serviço de saúde, tenha possibilidade de reconhecer desejo (Nicolau & Calazans, 2016).
sua condição de sujeito castrado ($), dividido, donde No discurso do analista, trata-se de se colocar
o manejo clínico torna possível o remanejamento como agente de um saber e não como causa do saber.
dos S1. Assim, a posição de escuta permite, a partir Isso significa que, no processo analítico, segundo a
deste modo de laço estabelecido, criar a possibilidade lógica do discurso do analista, em um certo momento,
de fazer-se Outro para o usuário-sujeito. Assim, há o processo de queda do sujeito suposto saber (o
percebe-se que não quer dizer que o sujeito não analista). Tal queda permite que o analisando se
tenha um pé na realidade, e sim que não é aí que ele identifique com essa posição de sujeito suposto saber
encontra seu lugar de sujeito (Tenório & Rocha, 2006). e produza novas organizações psíquicas no processo
Nessa direção, o usuário passa do lugar terapêutico (Ferreira et al., 2014).
de mero consumidor das ofertas protocolares do Nessa direção, o fato de o analista se
CAPS para o de um usuário-sujeito. Vicente (2018), encontrar na posição de agente ou semblante
retomando o pensamento de Basaglia, mostra que, de um discurso enquanto objeto a, possibilita-o
como “sindicalista”, o trabalhador de saúde mental sustentar as fantasias do sujeito barrado, ou seja, do
precisa atuar em termos de conscientização do paciente. Assim, ele poderá entrar em contato com
louco, para que ele seja ativo em suas reivindicações. seus significantes mestres (S1) e sair dessa posição
Em sucinta essência, o sujeito irá se “desalienar” de alienação, produzindo saberes sobre si mesmo.
através da tomada de uma posição reflexiva diante Desse modo, “tal fato combina com a ideia de que
do desconhecimento ideológico. Mais adiante em o analista e a situação da análise se estruturam a
nossa discussão, falaremos mais sobre essa mudança partir das possibilidades de fazer ‘como se’, de fazer
da posição do sujeito no processo terapêutico. a ‘aparência de’, enfim, de fazer semblante” (Dunker,
Abaixo e à direita, no lugar da produção, 2017, p. 55). Essa aparência de sustentação das
está S1 representando os significantes-mestres fantasias do outro, é o que viabiliza a produção do
deste usuário do serviço, mas que, aqui, tem a discurso do analista de uma forma mais solidária e
possibilidade de ter a cadeia significante rearticulada não transcendental, que denota um poder.

PsicoFAE: Plur. em S. Mental, Curitiba, 2023 v. 12, n. 2, psicofae.v12n2 36


Ao discorrer sobre a ressocialização, uma próxima oficina. Aí ele chegou, eu entreguei
das participantes relata sobre modo como se o trabalho para ele. Ele sentou, ficou olhando
estrutura o discurso dos profissionais da instituição: assim: — eu estou assustado! Como que eu
“Então o cuidado em Saúde Mental é respeitar o fiz, olha para isso! Eu estava delirando, eu
espaço do outro, não dá para ser invasivo nem tudo estava paranoico! (Amanda).
que é proposto é realizado, é feito” (Débora). A Assim, não silenciar a “monstruosidade
isso, complementa outro entrevistado: “não existe agressiva” concernente unicamente à subjetividade
possibilidade de cuidado com cidadania, liberdade, da técnica, permitiu que um ato fizesse operar algo na
dignidade humana sem o encontro verdadeiro de subjetividade daquela pessoa em questão, fazendo
escuta. É preciso permitir que o outro seja percebido emergir algo que previamente seria silenciado caso
como uma pessoa e uma história e não como um a técnica encarnasse o saber sobre o que deveria ser
diagnóstico, isso é fundamental” (Cícero). Ambas as esteticamente produzido.
falas ilustram que, mediante a posição de analista,
E aí eu fui trabalhando com ele né que, que
não existe um olhar sobre o outro como objeto.
existem coisas dentro que ele não gosta de ver.
Nessa direção, a escuta se constitui como essencial
Ele não gosta que apareçam sempre, mas que
na prática nos serviços de saúde mental, por tomar o
elas às vezes aparecem e o que que ele pode
discurso do sujeito como produção de uma verdade
fazer com aquilo que aparece? Através desta
sobre seu desejo. Ela identifica o sujeito como o
intervenção, o vampiro virou um Sagrado
verdadeiro operador do seu desejo (Moreira &
Coração de Jesus. Então ele fez toda uma
Kyrillos Neto, 2017).
compensação dentro disso, então a oficina
Diante disso, fica evidente que, nas práticas
de arte existe para isso. Não só para pintar
dos psicólogos e psiquiatras do CAPS em questão,
um quadro e vender um quadro, entendeu?
está presente o discurso do analista e não o discurso
Tem todo uma intervenção por trás, né. Quais
do mestre. A instituição busca sustentar um lugar
foram as permissões nos atravessamentos
que não cumpre a função de mestria através de
das dores daquele fazer né” (Amanda).
práticas como a ressignificação das crises através da
reorganização de fantasias, com o uso de ferramentas Assim, a cadeia significante coloca-se a
artísticas para produzir dizeres, sem ocupar o lugar deslizar e a ressignificação de sentidos engancha
de sujeito suposto saber. outros desdobramentos pela via da fantasia.
Para a psicanálise, os sintomas dos sujeitos Assim, o discurso do analista se constitui como
estão repletos de sentido, os quais devem ser um vínculo social que prescinde completamente da
analisados de maneira conjunta com o sujeito. Na palavra, ou seja, da produção de sentido (Viganò, 2012).
psicose isso também acontece. Mesmo em se tratando Esse discurso não opera segundo a lógica do saber
de um sofrimento grave e que frequentemente datado, concreto, materializado e pré-concebido. Na
é de difícil manejo, a psicanálise se ocupa desse clínica, ele opera segundo a lógica do significante que,
transtorno, buscando compreender e acolher esse no deslizamento da cadeia, produz um efeito de sujeito.
sujeito que sofre, incluindo-o ativamente em seu Não há, neste caso um setting pré-concebido,
processo (Muzeka, 2021). mas ele se encontra onde houver linguagem. Esse
fazer-se presente pela lógica do objeto a, que ocupa
Uma vez uma pessoa chegou, começou
o lugar de agente do discurso, permite um ato de
a fazer uma pintura né e a pintura era
puro dizer. Ele opera no discurso social como forma
uma monstruosidade era extremamente
de orientar os processos de subjetivação, não apenas
agressiva. Era um vampiro, então assim,
na esfera clínica, mas, sobretudo, na esfera cultural
e eu como eu sei que ele é paranoide, eu
(Ferreira et al., 2014).
vou deixar fazer a pintura dele, a arte é
Compreende-se que através do ato artístico
dele, enfim a criação é dele. Só que ele não
criativo se encontra uma possibilidade de abertura
terminou e deixou para terminar tudo na
ao discurso analítico. Assim como a obra de arte, o

37 M P P Vieira e T H R Rocha
discurso do analista teria o efeito de produzir fascínio você não tiver esta condição ali dentro desse
ao mesmo tempo em que produz um significante cuidado de estar próximo e o estar próximo
que indaga (Betts, 2006). Conforme supracitado não é só estar do lado né, é estar do lado
por Ferreira et al. (2014), aproximar a enunciação afetivamente (Amanda).
do analista da experiência estética seria, portanto, A fala deve ser priorizada não como
apostar que essa é capaz de alterar o lugar da manifestação patológica que demanda correção
enunciação do sujeito. ou resposta imediata, mas como possibilidade de
Nessa direção, a arte enquanto ferramenta mostrar outra dimensão da queixa que singulariza o
no processo de escuta na clínica da psicose, com pedido de ajuda. Por conseguinte, o tratamento se
frequência aparece nos discursos dos profissionais alicerça, inicialmente, no acolher e escutar ao invés
entrevistados; “o homem é sexualidade, trabalho, de ver e conter (Corbisier, 1992). O psicanalista,
espiritualidade, família, relação de vizinhança, arte. desse modo, não se impõe com seu ego. Isto não
Nós somos n linhas” (Cícero), ao que acrescenta: significa que a pessoa do analista seja pulverizada,
“Então não há arte apenas como produção de obra, despida de vaidades e quereres (Figueiredo, 1997).
mas o viver enquanto um viver artístico. À moda do Nessa direção, como o analista ocupa a
artista então, a arte como modo de vida” (Cícero). posição de sujeito suposto saber, ao fazer isto, ele
A escuta da clínica da psicose aparece restitui ao usuário sua condição de sujeito, saindo da
também pelo intermédio de experiências estéticas, posição de objeto. É através do discurso do analista
tal como segue: que há possibilidade de criação de teias e que estas
nessa oficina de artes a gente trabalha a questão se estendam entre um usuário e outro dentro do
da arte mesmo, mas a partir disso a gente vai serviço. Permite que o acolhimento psicológico não
extraindo nessa oficina conteúdos que têm ocorra apenas entre analista e paciente.
a ver com o dia a dia deles, com a vida deles, Não é só a gente que cuida. Eles cuidam,
que tem a ver com o que eles estão sentindo eles também fazem corpo e isso dá uma
naquele momento e a gente vai trabalhando continência, né, para aquele local. Porque
isso dentro dessa oficina. O objetivo da oficina é eles já viveram isso, e eles falam isso
uma oficina terapêutica também (Patrícia). constantemente em terapia, né. — A gente
Assim, o discurso da equipe na instituição já viveu isso, a gente sabe o que que é uma
muitas vezes se aproxima da linguagem artística para crise, então a gente também sabe como
acessar conteúdos inconscientes através das oficinas cuidar disso aí. A gente compartilha essa
terapêuticas. Ainda assim, elas desvelam a importância solidariedade (Amanda).
da arte pela via da incerteza do saber e não pela verdade Essa questão do cuidado ampliado em
que porta o discurso psicológico e/ou psiquiátrico. saúde aparece em outros discursos, como quando
Assim, “um CAPS com grau denso de psicoterapia nas observamos o seguinte relato:
oficinas não funciona. Que tem hora que é preciso da
Pode ser um outro usuário né, que também
arte pela arte, da alegria pela alegria, do social pelo
está vinculado àquela pessoa que é uma fonte
social, e isso compor um todo” (Cícero).
de confiança do usuário, né? Que às vezes é
Além disso, a relação entre terapeuta e usuário
capaz de intervir mais potentemente do que
nas entrevistas aparece constantemente mediada
o profissional de saúde propriamente, né. Em
pela empatia, denotando certa horizontalidade no
muita situação de crise então, tem isso aqui,
processo terapêutico, característico de um discurso
todo mundo pode intervir e é bom que seja
não dominante, ou seja, que não é de mestria.
assim mesmo, né. Porque é complicado às
Então essa questão de empatia de estar junto vezes, às vezes até acreditam que o psiquiatra
para estar junto, você precisa realmente que tem um poder mágico que vai resolver
estar presente e assim não adianta. Só se totalmente aquela crise, tudo (Jaime).
colocar nesse lugar de terapeuta, né, se

PsicoFAE: Plur. em S. Mental, Curitiba, 2023 v. 12, n. 2, psicofae.v12n2 38


Tal passagem nos conduz a pensar o discurso entre o individual e coletivo, não se trata mais de
do analista tomado em sua dimensão institucional, sair do campo privado analítico e ir para o público, e
em como ele circula no fazer clínica do CAPS, sim de se localizar antes o político no campo privado.
dispensando a materialidade de um analista. É no A subjetividade é algo que advém da vontade e da
discurso do analista que os diferentes profissionais, organização, tendo um caráter subversivo e político,
outros usuários e familiares conseguem sustentar a de certo modo.
posição de objeto a, sustentar a fantasia e suportar os Assim, “nos cuidados terapêuticos eu sempre
momentos de crise no laço com o Outro, permitindo o devolvo pro paciente que a responsabilidade é dele.
processo de retificação com os significantes mestres Gosto dessa palavra. Mas que a responsabilidade
(S1) que o determinaram. de retornar a uma vida mais saudável é dele, é
É essa retificação com os significantes questão de escolha e todos podem escolher” (Elisa).
mestres (S1) no processo terapêutico que permitirá Em outras palavras, o sentido se configura como
ao sujeito conquistar sua retificação subjetiva. De a relação do Eu com o sintoma, e se estabelece
acordo com Lacan (1966) e Macalpine (1972), uma das especialmente na relação com a primeira escolha de
etapas do desenrolar temporal de um tratamento, recorrer a um outro. E é nesta etapa que o analista
denominada como “retificação subjetiva” é a que pode produzir e introduzir junto ao paciente, essa
acontece durante as primeiras entrevistas com o retificação subjetiva (Nasio, 1999). Ou seja, isso
paciente. Nela, é introduzida ao sujeito, a noção possibilitará que ele recupere seu lugar de sujeito
de sua posição na realidade apresentada por ele. O político no campo social, fazendo uma alusão aos
foco do analista é a relação a partir da qual o sujeito termos “usuário-sujeito” e “sindicalista” citados
se localiza diante de seu sintoma. É uma relação anteriormente.
de sentido em que o paciente atribui um sentido a
cada um de seus sofrimentos. E é a partir daí que o Considerações Finais
analista tem sua primeira intervenção no processo
psicoterapêutico (Nasio, 1999).
Se a luta pelo engajamento dos familiares
De acordo com Brousse (2003), resgatando
no processo de desinstitucionalização e tratamento
o pensamento de Lacan, o inconsciente se produz
psicológico humanizado ao longo da Reforma
na relação que o sujeito estabelece com o Outro
Psiquiátrica representou um marco na mudança da
e em seu encontro com o Outro sexo. Ou seja, o
ótica dos transtornos mentais, isso fica mais evidente
inconsciente tem a ver com o que se produz no laço
quando damos um passo mais à frente. Ao se falar em
social. É aquilo que faz laço social com o Outro e os
ressocialização no sentido de os usuários ocuparem
outros, que o situa frente à cidade e a subjetividade
cada vez mais espaços, estamos nos referindo também
de seu tempo.
à percepção por parte da comunidade sobre a clínica
Ainda segundo a autora, a análise, embora
do CAPS de forma desestigmatizada e inclusiva.
pareça uma prática bastante individual, não se
Diante dos retrocessos que as políticas
distancia dos laços sociais que o indivíduo estabelece,
públicas de saúde mental vêm encarando, o trabalho
do coletivo. Na perspectiva analítica, a oposição entre
realizado no CAPS em questão mostrou-se como
individual e coletivo não se sustenta, pois o desejo
resistência e luta contra a perda da dimensão
que o sujeito busca decifrar em análise é o desejo
clínica, o que há de mais próprio a tais serviços.
do Outro. Portanto, é nessa perspectiva que Lacan
O enfrentamento dessas políticas e do próprio
vai dizer que o inconsciente é político. Existe uma
isolamento social decorrente da pandemia tem sido
referência ao desejo do Outro. De tal sorte, a partir
variáveis importantes para a reinvenção do “fazer
da operação analítica, em que o analista assume o
clínica” no CAPS. Desde a manutenção de vínculos
dever de política: devolver ao sujeito a escolha, a
terapêuticos e institucionais até a montagem
escolha decidida da relação que ele estabelece com
de oficinas terapêuticas e grupos terapêuticos.
seus significantes-mestres (S1). Da não separação
Destarte, as práticas e teorias norteadoras do

39 M P P Vieira e T H R Rocha
trabalho da equipe do CAPS ainda têm sustentado a Referências
clínica e o resgate da cidadania dos usuários, como
efeito da prática e não como produto de oferta a ser
American Psychiatric Association. (2022). Manual
incorporado.
diagnóstico e estatístico de transtornos
A atuação dos profissionais entrevistados
mentais: DSM5-TR (5a ed.). Artmed.
demonstrou que o trabalho executado pela clínica
extensa do CAPS viabiliza a ressignificação das Álvares, C. (2006). Os quatro discursos no Seminário
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