A Idade Média e A Construção Da Sociedade Internacional Europeia 2

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Aula 18 de agosto – 2º RI – Manhã


Bom dia meus caros alunos.
Na aula de hoje daremos continuidade a discussão das
características fundamentais da Idade Média europeia e os
elementos definidores do modo de produção feudal.

A IDADE MÉDIA E A CONSTRUÇÃO DA SOCIEDADE


INTERNACIONAL EUROPEIA (CONTINUAÇÃO)

A Vida Religiosa e Intelectual

A Igreja e sua Atuação


• Nos primeiros tempos do cristianismo, não havia diferença
hierárquica marcante entre seus pregadores e dirigentes. Com a
expansão da fé cristã, surgiu a necessidade de se dividirem as
incumbências, para se obter eficiência no trabalho
evangelizador.
• Surgiu, assim, a hierarquia eclesiástica. Os sacerdotes de uma
região (diocese) eram chefiados por um bispo. Os arcebispos,
além de governarem sua arquidiocese, supervisionavam certo
número de dioceses. Acima dos bispos, e arcebispos, em certos
lugares, havia os patriarcas. A organização tinha, como chefe
supremo, o bispo de Roma, o Papa.
• Ao lado dessa organização geral, que herdou muitos aspectos da
administração romana, desenvolveu-se um conjunto de normas
disciplinares, que, com o tempo, se constituiu no Direito
Canônico, baseados no qual funcionavam os tribunais
eclesiásticos das dioceses e, mais tarde, a Inquisição.
OBS: No decorrer da Idade Média, o Direito Canônico acabou por
sobrepor-se ao Direito Romano, mesmo nos tribunais civis.
• Na época das invasões do século V, a Igreja era a única força
organizada, o que lhe valeu sua rápida expansão entre os
bárbaros e lhe permitiu exercer o papel de modeladora das
instituições surgidas na Europa, a partir de então.
• De certa época em diante, o Papa acumulou suas funções de
chefe religioso com as de soberano de Roma, e, mais tarde, de
grande parte do território da Itália (o Patrimônio de São Pedro
ou Territórios Pontifícios).
• O Papado, com características também de Estado leigo,
envolveu-se em questões políticas, muitas vezes com reflexos
negativos em sua autoridade religiosa.
• Teve, sobretudo, de fazer concessões aos demais Estados, das
quais surgiram a interdependência entre os poderes temporal e
espiritual, e, principalmente, a intromissão de governantes
leigos em assuntos especificamente religiosos. Um aspecto
dessa intromissão era o direito de os soberanos nomearem os
bispos e os párocos (investidura).
• Nomeavam-se indivíduos alheios à carreira eclesiástica, que
freqüentemente desconheciam a doutrina, cometiam e
permitiam que se cometessem abusos, principalmente a
desobediência ao celibato e a prática de simonia
(comercialização de coisas sagradas).
• A generalização da vida monástica foi resultado de homens que
não admitiam a indisciplina eclesiástica. Em 529 ao estabelecer
a “regra” da ordem que traz seu nome, São Bento opôs a vida
em comunidade ao ideal individualista dos eremitas do Oriente.
• Os monges ou monjas se organizavam em comunidades de
meditação, pobreza, penitência, trabalho e obediência à “regra”,
para, com seu exemplo, depurarem a Igreja de seus aspectos
mundanos.
• As principais ordens monásticas medievais foram as dos
beneditinos, cartuxos e cistercienses.
• Passaram a existir, assim, duas espécies de clero: clero regular,
sujeito às regras da comunidade monástica, e clero secular,
vivendo e atuando no mundo.
• No século XI, o Papa Gregório VII, antigo monge do Mosteiro
de Cluny, na França, iniciou uma reformulação dos hábitos
clericais. Com os Concílios de Roma de 1073 e 1075, combateu
a inobservância do celibato clerical e a simonia, limitando, por
outro lado, o sistema das investiduras dos bispados e paróquias
pelos governantes civis.
• Não concordando com isso, Henrique IV, Imperador do Sacro
Império Romano Germânico, entrou em luta com o Papa.
Excomungado, e tendo contra si a rebelião dos seus súditos,
humilhou-se junto ao Pontífice, peregrinando até Canossa, norte
da Itália, para receber o perdão.
OBS: A questão das investiduras só se encerrou, no entanto, com a
Concordata de Worms, de 1122, firmada entre o Papa Calisto II e
o Imperador Henrique V, sendo fixados os limites de competência
dos dois poderes.
• A solução do problema das investiduras fez crescer a autoridade
do Papado, que já fora bastante ampliada, a partir do Concilio
de Clermont (1095), pela submissão dos governantes de várias
regiões à ideia das Cruzadas.
• Importante aspecto da vida da Igreja medieval foi o combate às
dissidências doutrinária ou heresias.
• A princípio, fizeram-se sentir antigos movimentos heréticos
(arianismo, monofisismo, maniqueísmo, etc.).
• Em 1054, o chamado Cisma do Oriente, liderado por Miguel
Cerulário, Patriarca de Constantinopla, acentuando velhas
divergências, separou, da Igreja Romana, a chamada Igreja
Ortodoxa Oriental.
• Em fins do século XII, surgiu a heresia dos valdenses
(seguidores do francês Pierre de Vaux - Valdus). Eram
contrários ao sacerdócio e ao culto, afirmando bastarem, para a
salvação, as orações particulares e a prática dos ensinamentos
da Bíblia.
• Pouco depois, os albigenses ou cátaros (puros), com centro em
Albi, na França, pregavam ideias maniqueístas, segundo as
quais, o corpo humano era impuro e representava o Mal,
enquanto que a alma representava o Bem. Não se alimentavam
de produtos provenientes dos animais, pois acreditavam que
também neles se encarnavam as almas.
• Mais tarde, surgiram os movimentos de John Wiclef (1320 -
1384), que combatia o fiscalismo da Igreja e pregava o livre
exame da Bíblia, e Jan Hus (1369 - 1415), que pregava
reformas radicais na Igreja.
• O aparecimento de heresias levou o Papa Gregório IX a instituir,
em 1231, os tribunais da inquisição, justiça eclesiástica dirigida
pelos frades dominicanos, para julgar os acusados de heresia e
de outras falhas espirituais e morais.
OBS: As sentenças eram executadas pela autoridade civil e as
penas mais comuns eram: prisão a pão e água, flagelação,
amputação da língua, confisco de bens e morte na fogueira.
• No século XIII, o clero regular se diversificou, com o
aparecimento das ordens mendicantes. Sujeitos às normas da
vida monástica, seus frades combinavam o recolhimento com a
atividade no mundo, vivendo, a princípio, da caridade pública.
• Em 1208, foi fundada por São Domingos de Gusmão a Ordem
dos Dominicanos, dedicou-se ao combate às heresias. A ela
pertenceram Santo Alberto Magno e Santo Tomás de Aquino,
notáveis entre os maiores filósofos e teólogos medievais.
• A Ordem dos Franciscanos foi fundada em 1209 por São
Francisco de Assis. A ela pertenceram São Boaventura,
Alexandre de Halles e Duns Scoto, de grande destaque na
Filosofia e na Teologia cristã da época.
• De 1309 a 1417, a Igreja passou por uma fase anárquica, quanto
à sua direção, iniciada com a residência dos Papas em Avignon
(França).
OBS: Entre 1378 e 1417, houve Papas em Roma e outros em
Avignon, chegando, uma vez, a haver, ao mesmo tempo, três
deles.
• O problema, conhecido como Cisma do Ocidente, só foi
resolvido com a eleição de Martinho V, em 1417, pelo Concilio
de Constança.
OBS: Durante a Idade Média, a Igreja exerceu, em termos gerais,
poder temporal e espiritual, influenciando a vida política, social,
econômica e intelectual tanto positivamente (combateu a usura
desenfreada; orientou a conduta do povo, particularmente dos
governantes; imprimiu valores cristãos à cavalaria feudal;
cristianizou os bárbaros germânicos; incentivou a difusão do
cristianismo no Oriente; prestou assistência social à pobreza,
através das ordens religiosas; preservou a cultura intelectual, pelas
obras de seus pensadores, e a cultura clássica, através do trabalho
dos monges copistas), quanto negativamente (Mostrou-se
intolerante com as outras religiões; violenta no combate distorções
doutrinárias representadas pelas heresias; exerceu patrulhamento
ideológico, coibindo o desenvolvimento científico; justificou as
desigualdades sociais; etc.).

O Pensamento Cristão, a Filosofia e a Ciência


• Desde seu aparecimento, o pensamento cristão apresentou duas
tendências opostas:
1 ) Acentuadamente mística, era pessimista e fatalista, com
a

profundas influências maniqueístas, preocupava-se


excessivamente com a noção de pecado e procurava levar o
homem a ver na vida terrena uma desgraça, da qual devia
libertar-se, em busca da vida futura.
2 ) marcadamente racionalista, encarando, de forma otimista, a
a

salvação do homem, sendo a vida terrena valorizada como um


dom de Deus, que devia ser cuidado e desenvolvido, dando
direito, com seu sucesso, à felicidade após a morte.
OBS: Tal conflito de posições, por sinal ainda presente no
cristianismo em nossos dias, dividiu os pensadores cristãos
durante as várias fases da Idade Média.
• A primeira tendência predominou até o século XI e foi
incentivada pelo impacto causado pelas invasões bárbaras e
pela ruína do Império Romano. A ela se deveu a grande
expansão da vida monástica, característica da primeira fase da
Idade Média.
• Nos séculos XII e XIII, predominou a tendência racionalista,
resultando dessa o aparecimento das ordens mendicantes,
voltadas para o mundo e opostas ao espírito monástico.
• Ambas as tendências produziram grandes teólogos. Como
suporte para suas colocações, tais teólogos desenvolveram
sistemas filosóficos que, vistos globalmente, constituem a
chamada filosofia escolástica, mais voltada, até o século XI,
para Santo Agostinho, e, através dele, para Platão. Depois,
predominou o aristotelismo.
• Os maiores nomes da Teologia, também dedicados à Filosofia,
foram na Idade Média: Scoto Eriúgena, considerado o iniciador
da escolástica, Santo Anselmo, Pedro Abelardo e São
Boaventura, na área platônica; Alexandre de Halles, Santo
Alberto Magno, Duns Scoto e, sobretudo, Santo Tomás de
Aquino, na área aristotélica.
OBS: Se o século XIII pode ser considerado o período mais rico
do pensamento teológico e filosófico do cristianismo medieval, os
séculos XIV e XV constituem um período de crise para a teologia
cristã e para a escolástica, ao mesmo tempo em que se acentuam
os elementos desagregadores que levariam à Reforma.
• É difícil medir-se a influência do pensamento cristão na Idade
Média. Formulado pelos teólogos e pelos concílios, e difundido
pelos pregadores e pelos mestres das universidades, ele, além
de moldar a própria concepção que o homem tinha de si
mesmo, estabeleceu doutrinas a respeito de praticamente todos
os aspectos da vida econômica, política e social. Tais doutrinas,
uma vez implantadas, constituíram a própria base ideológica
das estruturas medievais.
• Quanto à Ciência da Idade Média europeia ocidental, cumpre
dizer que continuou a ser (como na Antigüidade) uma parte dos
estudos filosóficos. A Filosofia, porém, estava profundamente
voltada para o esclarecimento de problemas teológicos,
dificultando o desenvolvimento científico.
OBS: Assim, enquanto seus aspectos “propriamente filosóficos”
recebiam grande atenção, aqueles que poderíamos chamar de
"propriamente científicos" eram, em geral, deixados de parte.
• Por isso, persistiram, de modo geral, as noções científicas dos
antigos, divulgadas, em sua maior parte, pelas obras dos
pensadores árabes da Península Ibérica. A estes se deveram,
também, algumas realizações novas, no campo da Medicina, da
Matemática e, sobretudo, da Alquimia, de que, bem mais tarde,
se originaria a Química.
• Entre os pensadores cristãos, poucos se podem lembrar, em
matéria de contribuições para a Ciência, além de Santo Alberto
Magno e de Roger Bacon.

As Artes
• As realizações artísticas da Idade Média Ocidental foram
bastante modestas, até o século X. A partir de então, observou-
se uma fase de grande desenvolvimento das artes, intensificada,
mais tarde, com a generalização da vida urbana.
A Educação e as Universidades
• A educação escolar assumiu, na Idade Média Ocidental, variadas
formas. Suas instituições mais características foram, no entanto,
as escolas mantidas pelos mosteiros e pelas catedrais, bem
como as universidades.
• As escolas dos mosteiros e das catedrais ministravam ensino
básico para os estudos superiores de Filosofia e Teologia dos
clérigos.
• Tal ensino, aberto também aos leigos, tinha por disciplinas as
“Sete Artes Liberais”, divididas, conforme o costume romano,
em dois conjuntos, o “trivium”, composto de: Gramática
(Línguas e Literatura), Retórica (Prosa, Verso, Leis e Oratória)
e Dialética (Lógica) e o “quadrivium”, em que apareciam: a
Aritmética, a Geometria (com elementos de Geografia e
História Natural), a Astronomia (incluindo aspectos da Física e
da Química) e a Música (muito voltada para estudos de
Acústica).
• Após o “trivium”, o estudante recebia o título de Bacharel em
Artes e, após o “quadrivium”, o de Mestre em Artes.
• A partir do século XII, difundiram-se as universidades, as
primeiras das quais já existiam desde os séculos IX (Salerno) e
XI (Bolonha), na Itália.
• Originadas do espírito corporativista medieval, organizavam-se
como corporações, ora de estudantes, ora de professores e,
ainda, de estudantes e professores; contavam com uma escola
de artes e uma ou mais faculdades especializadas (Filosofia,
Direito, Medicina, etc.).
• Sujeitas à censura eclesiástica gozavam, contudo, de autonomia
frente às autoridades em geral, tendo recursos financeiros
próprios.
OBS: Transformaram-se nos centros por excelência da atividade
intelectual.
• As mais importantes universidades medievais parecem ter sido a
de Bolonha (1088), procurada por seus estudos de Direito, e a
de Paris (1200), onde eram famosos os estudos de Filosofia e
Teologia.
• Orientando-se pelo modelo das precedentes, surgiram outras: as
de Pádua, Roma e Nápoles, na Itália; Oxford (1240) e
Cambridge (1264), na Inglaterra; Montpellier (1289) e
Toulouse, na França; Viena, na Áustria; Heidelberg, Erfurt e
Leipzig, na Alemanha, Salamanca, na Espanha, e Coimbra, em
Portugal.
OBS: Além dos títulos de Bacharel e Mestre, as universidades
outorgavam o de Doutor, todos referentes ao magistério.
• O ensino fazia-se em três fases: “lectio” (apresentação da
matéria pelo professor), “quaestio” (explicação da matéria e
levantamento de objeções, pelos assistentes do professor) e
“disputatio” (arguições e debates, em que atuavam os alunos e
assistentes, orientados pelo professor).
• O aprendizado se fazia pela memorização das afirmações dos
professores, dada a escassez de livros.
• Nos corpos discentes, misturavam-se alunos de todas as
procedências, sobretudo nas universidades que se sobressaíam
em alguma especialidade, sendo célebre a vida de excessos dos
estudantes medievais.

Abraço do prof. tio Aly.

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