Psicologia Forense Huss Matthew T
Psicologia Forense Huss Matthew T
Psicologia Forense Huss Matthew T
HUSS
Psicologia
Forense
PESQUISA,
PRÁTICA CLÍNICA
E APLICAÇÕES
Matthew T. Huss é professor de psicologia na Creighton
University (Nebraska, EUA). Atuou como consultor para
diversos importantes periódicos.
H972p Huss, Matthew T.
Psicologia forense [recurso eletrônico] : pesquisa, prática clínica e
aplicações / Matthew T. Huss ; tradução: Sandra Maria Mallmann da
Rosa ; revisão técnica: José Geraldo Vernet Taborda. – Dados eletrônicos. –
Porto Alegre : Artmed, 2011.
Versão impressa
desta obra: 2011
2011
Obra originalmente publicada sob o título Forensic Psychology: Research, Clinical Practice, and Applications
ISBN 9781405151382
©2009. Authorised translation from the English language edition published by Blackwell Publishing
Limited. Responsibility for the accuracy of the translation rests solely wtih Artmed Editora S.A. and is not
the responsibility of Blackwell Publishing Limited. No part of this book may be reproduced in any form
without the written permission of the original copyright holder, Blackwell Publishing Limited. All Rights
Reserved.
SÃO PAULO
Av. Embaixador Macedo Soares, 10.735 - Pavilhão 5 - Cond. Espace Center
Vila Anastácio 05095-035 São Paulo SP
Fone (11) 3665-1100 Fax (11) 3667-1333
IMPRESSO NO BRASIL
PRINTED IN BRAZIL
Agradecimentos
como caixa de ressonância para algumas
das minhas ideias, frequentemente sem
que eu me desse conta. Outros colegas es
tavam mais afastados da produção deste
livro, mas são igualmente importantes.
Jenny Langhinrichsen-Rohling e Alan
Prefácio
forenses. O âmbito de sua atuação é
definido pela adesão à literatura
empírica, atuação dentro da própria
experiência e evitar a atuação como
A psicologia forense está se tornando um ator legal (p. ex., advogado, juiz e
cada vez mais popular, tanto em nível de júri) e, em vez disso, atuar como psi
espe cialização quanto de graduação. No cólogo dentro do contexto legal. Ao
en tanto, o próprio termo psicologia forense longo deste livro, são mencionadas
é interpretado de maneiras diferentes questões relativas ao âmbito da atua
pelos estudiosos e pelo público em geral. ção e, por vezes, explicadas em maior
profundidade. Além disso, são discu
Alguns especialistas na área o utilizam
tidas as ramificações éticas e legais da
para des crever o amplo campo da
atuação realizada fora do âmbito da
psicologia e do direito que inclui a
atuação do profissional.
prática clínica da psico logia, a psicologia
2. Desse modo, o livro enfoca a prática
penitenciária, psicologia policial e áreas
clínica apoiada empiricamente e colo
não clínicas da psicologia e do direito (p. ca pouca ênfase nos aspectos da psi
ex., comportamento do júri, identificação cologia forense que atualmente têm
de testemunhas oculares). Existem pouco apoio empírico ou são pura
diversos livros disponíveis que focalizam mente sensacionalistas. Não está den
o campo mais amplo. Contudo, faltam tro do escopo deste livro identificar a
livros de qualidade que focalizem melhor prática clínica, mas será dada
unicamente a prática da psicologia foren ênfase ao uso da pesquisa e à neces
se, que é principalmente exemplificada na sidade de que os psicólogos forenses
avaliação e tratamento de indivíduos que sejam conhecedores atuantes. Parte
interagem com o sistema legal, para estu dessa ênfase será avaliar criticamente
dantes de graduação e até para recém-for aspectos da prática clínica que preci
mados. Este livro foi concebido para focar sam de maior apoio empírico.
a definição mais restrita ou tradicional da 3. O texto também coloca os estudantes
psicologia forense – a prática da psicolo diante da jurisprudência e do direito
codificado necessários à prática da
psicologia forense. Os estudantes de- estilo da sua redação tem a intenção
viii Prefácio de ser especializado, mas acessível
aos estudantes. Este livro focaliza não
vem reconhecer que os psicólogos fo só a aplicação da psicologia forense
renses precisam estar familiarizados
com as leis de uma determinada juris
dição para que possam ser úteis aos como também a ajuda aos estudan tes
tribunais. A discussão significativa da para que obtenham uma com
jurisprudência e do direito codificado preensão adequada do treinamento/
também possibilita que os estudantes educação necessários e do emprego
entendam o papel da lei na formação das oportunidades disponíveis. Para
dos contornos da psicologia forense e o instrutor, existem alguns capítulos
na vida das pessoas que sofrem im iniciais para tornar o resto do texto
pacto da psicologia forense. flexível, de modo que ele possa esco
4. Este livro encoraja o conhecimen to da lher os capítulos de acordo com o seu
lei como uma entidade viva e que interesse/conhecimentos ou comple
mentar o texto como desejar.
respira na prática da psicologia
forense e também na sua capacidade O livro está organizado em cinco par tes
de ser terapêutica ou antiterapêutica diferentes. A primeira parte do texto
para as pessoas que são afetadas por abrange os Fundamentos da Psicologia
ela. O termo jurisprudência terapêu Forense e é composta por três capítulos.
tica é utilizado em um sentido amplo O Capítulo 1 serve como o principal ca
nesta obra, como um modo de alertar pítulo introdutório, “O que é psicologia
os alunos para a importância da lei, e forense?”, e começa a introduzir as ideias
pretende sugerir que a lei pode ter que os estudantes vão encontrar ao lon
go do livro. O Capítulo 1 se concentra
efeitos positivos ou negativos, depen
em definir o que a psicologia forense é e
dendo da sua determinação original e
o que ela não é. Os aspectos mais sen
do modo como é aplicada.
sacionalistas da psicologia forense são
5. O livro busca incorporar exemplos do mencionados juntamente com descrições
mundo real que prendam a aten ção frequentemente imprecisas na mídia. O
dos estudantes. Estudos de caso e campo mais amplo da psicologia e do
exemplos da vida real são direito será referido, mas deixamos cla ro
recorrentes, por meio de quadros que o foco principal deste livro será a
com textos espe ciais e da sua prática clínica da psicologia forense. O
integração ao próprio livro. Esse capítulo conclui discutindo o treinamen
objetivo é especificamente to e educação necessários para se tor nar
importante em um livro que enfoca a um psicólogo forense. O Capítulo 2,
prática da psicologia clínica no sen “Avaliação, tratamento e consultoria em
tido de dar ao estudante uma visão psicologia forense”, serve como mais um
introdutória da prática real da psico capítulo introdutório e descreve a ava
logia forense. liação clínica e tratamento de uma forma
ampla e dentro de um contexto forense.
6. Esta obra pretende ser útil tanto para
Especificamente, ele discute os desafios
estudantes quanto para instrutores. O
peculiares que os psicólogos forenses
com frequência enfrentam clínica, legal e sexual contra adultos e crianças, uma vez
eticamente. É apresentado o termo âmbito que vem recebendo atenção crescente por
da prática e explica-se como ele será inte parte por da mídia e da literatura especí
grado ao longo de todo o texto. O fica. Esse capítulo discute o tratamento,
capítulo avaliação e avaliação de risco dos agres
sores sexuais. Também é dada atenção
especial às diferentes leis que afetam os
final dessa parte, “Testemunho pericial e agressores sexuais, tais como a
o papel de um perito”, oferece uma intro notificação
dução sobre a importância do direito na Prefácio ix
prática da psicologia forense. Os leitores
são incentivados a pensar sobre os efeitos à comunidade, leis de registro e leis para
de longo alcance da lei não somente em o predador sexualmente violento (SVP).
termos de prática da psicologia forense, A terceira parte, “Leis de Saúde Men tal e
mas também sobre as pessoas que estão Psicologia Forense”, começa pelo Ca
diretamente envolvidas no sistema legal. pítulo 7, “Inimputabilidade e responsabili
A ideia de jurisprudência terapêutica é in dade criminal”. Esse capítulo é o primeiro
troduzida e será usada durante todo o de três que são focar o papel geral da apti
livro como um tema. Todo esse material dão mental e a ideia de que a lei muda
está organizado em torno do papel de com frequência quanto a como define
ampliação e do impacto potencial dos pe doença mental dependendo da questão
ritos forenses e o testemunho dos legal. Os padrões variáveis de
peritos. A segunda parte do livro está inimputabilidade são discutidos
organi zada sob a categoria de “Violência juntamente com outras mudan ças
e Psi relevantes para as questões legais rela
cologia Forense”. O Capítulo 4 é cionadas. As medidas clínicas relevantes e
dedicado inteiramente a uma discussão os vários mitos que rondam a inimputabi
da psicopa tia. É dada atenção especial à lidade são examinados em profundidade.
distinção entre psicopatia e transtorno da Várias outras defesas legais envolvendo
perso nalidade antissocial. Esse capítulo responsabilidade criminal também são
revisa a literatura geral que enfoca a discutidas brevemente. O Capítulo 8, “Ca
psicopatia e, especificamente, a sua pacidade civil e criminal”, enfoca
relevância para a violência. O Capítulo 5, questões em torno da capacidade civil e
“Avaliação do risco de violência”, revisa criminal e a distinção entre capacidade
a história da avaliação clínica e do risco criminal e inimputabilidade. Ele examina
atuarial, junta mente com as limitações de os diferen tes pontos ao longo do processo
ambos. Uma discussão específica sobre de julga mento em que a capacidade pode
diversas abor dagens atuariais ou ser ava liada e os casos legais relevantes e
estruturadas para avaliação de risco medidas usadas na prática clínica, com
serão feitas dentro do contexto da boa parte do foco na capacidade para se
realização da avaliação de ris co e manejo submeter a jul gamento. O Capítulo 9,
do risco em contextos e situa ções “Restrição civil”, define a internação
clínicas. O capítulo final dessa parte, civil, descreve sua base histórica e discute
“Agressores sexuais”, examina a agressão
a evolução mais recen te em capítulo, mas abrange diversos aspectos
procedimentos de internação civil. do direito civil relevantes para a prática
Especificamente, internação sem hospi forense. O Capítulo 13, “Danos pessoais
talização, diretivas psiquiátricas prévias e e discriminação no direito civil”, enfoca
coerção são examinadas com alguma diversas áreas da psicologia forense que
profundidade. Os alunos são expostos à são menos sensacionalistas e muito pouco
inter-relação entre internação civil, insani estudadas. No entanto, a área pode repre
sentar o campo maior da prática forense.
dade e capacidade.
O Capítulo 13 descreve áreas como danos
Na quarta parte do livro, “Crianças e
pessoais, avaliações médicas psicológicas
a Família na Psicologia Forense”, cada um
independentes, reivindicações de indeni
dos três capítulos aborda alguns aspectos
zação de trabalhadores e assédio sexual e
da família. O Capítulo 10, “Violência do
discriminação no emprego. Essas áreas
méstica e perseguição (stalking)”, começa da psicologia forense são frequentemente
x Prefácio ignoradas nas pesquisas, mas oferecem
uma oportunidade única para a prática
definindo violência doméstica e discute a da psicologia forense.
Sumário
importância do exame crítico da literatu
ra referente às taxas de prevalência. Esse
capítulo focaliza a etiologia, avaliação,
avaliação de risco e tratamento dos per
petradores de violência doméstica. O Ca
pítulo 11, “Delinquência juvenil e justiça
juvenil”, enfoca o papel de mudança das
cortes juvenis como reação à percepção
pública do crime juvenil e as realidades
PARTE I Fundamentos da
da violência juvenil. São examinadas as psicologia forense . . . . . . . . . . .
dife renças entre os infratores juvenis e os 19
in fratores adultos, sendo dada uma
atenção específica aos mitos e realidades
1 O que é psicologia forense?
em torno dos tiroteios em escolas. O
Uma introdução .............................. 21
Capítulo 12, “Guarda dos filhos“, expõe
os estudantes à literatura legal e O que é psicologia forense? ................
psicológica que envolve determinações
21 Isto é psicologia forense?
sobre a guarda dos filhos. É dada atenção
especial às diferenças en tre avaliações ............... 21 A origem da psicologia
para guarda dos filhos e avaliações forense
psicológicas junto com temas de objetivo .................................................. 23
da prática que estão envol
Nossa definição de psicologia
forense
7 Inimputabilidade e
responsabilidade criminal ............ 171
8 Capacidade civil e
Justificativa para defesa por criminal ............................................ 197
inimputabilidade
Levantando a questão da
.................................... 171 Padrões de
capacidade em procedimentos
inimputabilidade ............. 173 Padrão criminais
da besta selvagem ............. 173 ..................................................... 198
M’Naghten Capacidade para submeter-se a
........................................... 174 A regra julgamento (CST)
do produto e Durham ...... 176 A .................................... 199 Prevalência
regra do Instituto Americano da CST ............................ 200
de Direito (ALI) e Brawner Procedimentos em CST ...................
............... 177 Lei de reforma da 201 Avaliações de capacidade
defesa por .............. 202 Medidas de capacidade
inimputabilidade (1984) ................. .................. 203 Outras variáveis
relacionadas à 228 Processo de restrição civil
capacidade .................... 229 Restrição civil
................................................ 208 ambulatorial ........... 230 Exame
Âmbito da prática nas empírico da restrição
avaliações de capacidade .............. civil ambulatorial e outras
209 Recuperação da capacidade mudanças nas leis de
............... 209 Programas de restrição
I
.................................................... 339
Sumário 17
PARTE
Glossário
.................................................. 343
Referências .............................................
Fundamentos
da
psicologia
forense
Suprema Corte
dos EUA
Corte de Apelação
Tribunais Estaduais Cortes
Cortes Intermediárias de
e as cortes federais (ver Figura 1.2). Em ou menos favoráveis a uma das partes
alguns aspectos, esses dois sistemas di envolvidas no processo. Também exis
Figura 1.2 O sistema judiciário nos
Estados Unidos.
30 Matthew T. Huss tem muitos exemplos específicos em que
as cortes federais têm jurisdição, como
assumir um determinado caso. A batalha quando uma questão constitucional é
legal entre a antiga pôster da Playboy e central para um caso ou existe uma dis
atriz Anna Nicole Smith e os filhos do puta entre dois estados. No entanto, as
seu falecido marido em relação à herança decisões da Suprema Corte dos Estados
dele é um exemplo sobre o qual se dis Unidos nem sempre estão vinculadas a
cute para qual jurisdição o caso deve ser todas as cortes estaduais. Por exemplo,
encaminhado (ver Quadro 1.2). Nesse em um caso que discutiremos no Capí
caso, uma das discussões era se o caso tulo 3, que focava a admissibilidade do
deveria ser julgado na Califórnia ou no testemunho de um especialista, Daubert
Texas. Essa questão é importante porque vs. Merrell Dow (1993), os estados não
cada estado tem leis diferentes que legis tiveram que seguir a decisão da Supre
lam sobre testamentos e podem ser mais ma Corte porque envolvia uma inter
Carreiras na psicologia
e até mesmo nas faculdades e universi
forense
dades. Em qualquer um desses
Quando o sistema legal começou a re cenários um psicólogo forense pode
conhecer o benefício da psicologia, as trabalhar como administrador,
oportunidades de carreira também se terapeuta, pesqui sador ou avaliador
ampliaram (Roberson, 2005). Como va de políticas. Uma boa fonte de
mos discutir no Capítulo 2, os psicólo informação sobre as carreiras em
gos forenses tipicamente se envolvem psicologia forense e o campo mais
em três atividades principais: amplo da psicologia e direito está
avaliação, tratamento e consultoria. dispo nível no APLS (Bottoms et al.,
Por exemplo, um psicólogo forense 2004).
pode avaliar um acusado para
estabelecer a imputabili dade As relações entre
(Capítulo 7) ou tentar determinar o
melhor interesse de uma criança em
direito e psicologia
uma situação de custódia (Capítulo Lembre-se, eu disse que a psicologia
12). Um psicólogo forense pode tentar forense era a interseção da psicologia
res taurar a capacidade de um clínica e o direito. Tem havido muitas
acusado para que ele possa se tentativas de explicar as relações entre
submeter a julgamento (Capítulo 8). a psicologia e o direito. Essas
Um psicólogo forense pode avaliar tentativas vão desde a descrição
psicopatia em um indivíduo tripartite de Ha
(Capítulo 4) que poderia ser libertado ney (1980) – psicologia em direito, psi
da prisão como parte de uma cologia e direito e psicologia da lei –
avaliação de risco para determinar o até a teoria de Monahan e Walker
seu poten cial para violência futura (1988), que aponta que a ciência social
(Capítulo 5). O psicólogo forense recai so bre a autoridade social, o fato
pode, então, ter que testemunhar em social e a estrutura social. Não vou
uma audiência ou jul gamento a me deter na abordagem dessas
respeito dos seus achados. Contudo, a teorias, mas é impor tante saber que,
maioria das questões legais é nos dois exemplos, es ses especialistas
resolvida sem que o psicólogo foren se defenderam a aplicação da pesquisa
testemunhe como perito (Capítulo 3). em ciências sociais para au xiliar o
Com a emergência da psicologia foren sistema legal. Uma conceituali zação
se, surgiu um leque ainda mais amplo teórica mais recente da relação entre a
de opções de carreira. Os psicólogos fo psicologia e o direito que vamos
renses trabalham em uma variedade utilizar neste livro é algo chamado
de contextos, tais como cadeias e juris prudência terapêutica. A
prisões, hospitais estaduais, agências jurisprudência terapêutica (JT) foi
definida como “o uso das ciências probabilidade de que aquele acusado
sociais para estudar até que ponto perpetre o crime no futuro. Se uma
uma regra ou prática legal promove o corte de apelação de cidir que existe
bem-estar psicológico e físi co das sigilo paciente-cliente para os
pessoas que ela afeta” (Slobogin, psicólogos, os clientes podem se
1996, p. 767). A jurisprudência terapêu dispor mais a compartilhar
tica inclui não só o impacto da lei informações com o seu terapeuta. As
leis de respon sabilidade civil de um
codifi
estado particu lar podem ser escritas
de modo que os sem-teto tenham
maior probabilidade de ser civilmente
cada ou da jurisprudência, mas responsabilizados por que eles são um
também o processo legal menos perigo para si mesmos sob condições
formal que pode focar as ações dos severas de incapacidade
juízes ou advogados. Como a JT se
espalhou, ela também tem sido
aplicada de modo mais geral para
de provisão. Todos esses são exemplos
sugerir algum outro modo pelo qual a
em que podemos examinar a lei a
lei possa ser terapêutica (útil de
alguma maneira) ou antiterapêutica partir da perspectiva da JT e, o que se
(detrimen tal de alguma maneira). espera, melhorar a administração e
Além disso, a aplicação da JT não aplicação da lei. Neste livro, a JT será
infere que uma ação particular deva importan
ter algo a ver com psi te porque vai enfatizar como a lei
coterapia ou mesmo a psicologia pode ter consequências reais sobre
clínica em geral. Isso significa que a algum as pecto da psicologia forense,
lei pode ter um impacto fora da rotina intencional mente ou sem intenção. A
da culpa ou inocência de um acusado lei pode ser uma entidade viva que
ou a negligên respira, e essa constatação é
cia de um acusado em uma causa civil. importante para o nosso estudo da
A JT sugere que a lei importa além das psicologia forense. Os psicó logos
leis de uma sala de audiências e pode forenses devem estar conscientes das
ter um impacto profundo na prática consequências da lei e do sistema
da psicologia forense e em nossas legal quando dão assistência aos tri
vidas que vai muito além do que nós
bunais. A JT será usada como modo de
rotinei
destacar o impacto da lei na prática da
ramente imaginamos.
psicologia forense. A JT não é
Há uma variedade de maneiras pe
certamen te a única maneira de tornar
las quais o sistema legal pode ter um
isso claro e, para ser honesto, não
im pacto benéfico ou detrimental nas
existe nada de tão profundo em
pes soas que ele afeta. Por exemplo, se
um relação à JT. A ideia da jurisprudência
juiz nunca obriga a tratamento os per terapêutica simplesmen te destaca
petradores de violência doméstica que algumas formas importantes pelas
se apresentam diante dele, isso pode quais a lei pode ter ramificações
ter um impacto negativo na positivas e negativas na prática da psi
cologia forense e formas pelas quais a direito usa o sistema adversarial, pelo
psicologia forense pode dar assistência menos em países da Comunidade
ao sistema legal. Britânica, como Estados Unidos,
Canadá, Reino Unido e Austrália, nos
quais se espera que os dois lados
O conflito entre o opostos esforcem-se ao máxi
direito e a psicologia mo para chegar à vitória. Espera-se
que a verdade seja revelada como
Algumas pessoas poderiam
resultado do esforço desses dois lados
argumentar que a interseção entre a
em darem o melhor de si. Essa
psicologia e o direito é na verdade abordagem frequen
uma colisão. A psi cologia e o direito temente entra em conflito com a
são duas disciplinas muito diferentes psicolo gia, que, ao contrário, usa a
que abordam a solu ção dos experimen tação, por meio da
problemas de maneiras também pesquisa objetiva. Embora haja vezes
muito diferentes. Haney (1980) e em que é introduzida a parcialidade
Ogloff e Finkelman (1999) no processo empírico, a intenção é
identificaram vários conflitos entre a revelar uma verdade objetiva. O
psicologia e o direito. direito e a psicologia também diferem
Psicologia Forense 33 pois, enquanto a psicologia é descriti
va, o direito é prescritivo. A psicologia
Em geral, o direito tende a ser dogmá descreve o comportamento humano, e
o direito dita ou prescreve como os hu-
tico, e a psicologia tende a ser baseada
34 Matthew T. Huss
empiricamente. Essa dicotomia sugere
que o direito está baseado nos
preceden tes. O princípio de stare manos devem se comportar. Outra dife
decisis, manter a decisão, está no rença fundamental entre os dois é que
cerne da lei. A lei se ba seia muito em a psicologia é nomotética e o direito é
decisões legais anteriores e é ideográfico. A psicologia focaliza o
resistente a mudar aquelas decisões agre gado ou as teorias amplas que
anteriores. O sistema legal está organi podem ser generalizadas para
zado hierarquicamente, com regras e inúmeros casos. O direito focaliza um
procedimentos específicos. A caso individual ou um padrão
psicologia, por outro lado, tem seu específico de fatos. Por fim, a
foco na reunião de inúmeras psicologia é probabilística e o direito é
informações, com conclu sões que definitivo. A psicologia fala da
podem ser alteradas ao longo do probabili dade de ocorrer um
tempo, pois a pesquisa examina uma determinado evento ou não se trata de
determinada questão segundo diferen um erro aleatório que a ocorrência de
tes perspectivas. A psicologia aceita um determinado evento. Em
que é provável haver mudanças contraste, o direito tenta ser certeiro,
durante a nossa busca da verdade. direto. Um réu é culpado ou inocente.
Esses dois sistemas também dife Cada uma das evidências é admissível
rem na maneira como chegam à ou não é admissível.
verdade quando a compreendem. O É claro que todas essas diferenças
são artificiais de certo modo, porque e vamos examiná-los ao longo de todo
são conceitualizadas como uma este livro.
dicotomia e não uma dimensão.
Nenhuma dessas diferenças é
verdadeira para cada disci Educação e treinamento
plina em todos os casos, mas elas são, em psicologia forense*
em geral, mais verdadeiras para uma
disci plina do que para outra. E o que é Como me torno um
mais importante, essas diferenças vão psicólogo forense?
até o cerne do conflito entre essas
duas disci plinas e com frequência A questão de como se tornar um
causam conflito para os psicólogos psicólo go forense é complexa. Além
que escolhem traba lhar dentro do disso, fazer essa pergunta pode
sistema legal. Por exem plo, uma colocar o proverbial carro diante dos
advogada de defesa local certa vez me bois. Por exemplo, quan tas pessoas
pediu para testemunhar em um caso crescem ouvindo a pergunta: “O que
em que uma mulher tinha agredido você quer ser quando crescer?”. Todos
seu marido. Fazendo isso, ela queria nós já ouvimos isso uma vez ou outra.
que eu testemunhasse sobre a Quantos de nós respondemos di
relevância da síndrome da mulher zendo: “Eu quero ser um estudante
espancada (ver Ca pítulo 3) para esse
uni versitário!”. É bastante improvável
caso. Entretanto, exis tem poucas
que algum de nós tenha dado essa
pesquisas científicas válidas que
resposta, mesmo se soubéssemos
garantam qual a constelação pecu liar
quando crianças o que era uma
de traços que foram descritos como a
síndrome da mulher espancada (SME) universidade. Entretanto, quem está
e as características que a separam do interessado em ser um psicó logo
TEPT. forense deve se dar conta de que
existe um meio (universidade) para
atin-
Contudo, ela estava convencida de que
a SME era a melhor estratégia para o
* N. de R.: Os programas de ensino aqui
jul gamento nesse caso, e não se descritos são disponibilizados nos EUA.
importava que houvesse pouco
embasamento cien tífico para isso. Seu
trabalho era defen der a sua cliente. O gir o objetivo (tornar-se um psicólogo
meu trabalho era apresentar a fo rense) e que a pós-graduação pode
pesquisa científica objetiva mente. Por não ser para todos.
fim, eu não testemunhei no caso Se você está interessado em se tornar
sobretudo porque a advogada não um psicólogo forense, precisará buscar
queria que eu testemunhasse de admissão em um programa de pós-gra
acordo com a minha interpretação da duação em psicologia. Contudo, a natu
literatura científica. A psicologia reza do programa será tão variada
forense está reple ta desses tipos de quan to os papéis e responsabilidades
conflitos entre a psico logia e o direito, dos psicólogos forenses. A primeira
pergunta que você deve se fazer: Um profundidade da prática e a
doutorado ou mestrado é a melhor capacidade de praticar com maior in
opção para mim? Existem várias dependência, dependendo de onde
publicações diferentes que falam das você mora e das leis que governam a
vantagens e desvantagens dos prática da psicologia. Essas vantagens
programas de mestrado e doutorado podem ser acentuadas na psicologia
em geral (p. ex., Actkinson, 2000). forense, es pecificamente devido à
Além dessas considerações gerais, necessidade de avaliação e
existem al gumas questões específicas habilidades para avaliação na prática
da psicologia forense que devem ser forense.
levadas em con sideração. A maioria
dos estudantes in teressados na Modelos de
psicologia forense tem seu foco na treinamento em
obtenção de um grau de doutora do
psicologia forense
(PhD ou PsyD). Embora os programas
de doutorado proporcionem maior Programas de graduação conjunta. A pró
flexi bilidade profissional e tenham xima pergunta a ser feita depois de es
vantagens em relação aos programas colher o tipo de grau que você gostaria
de mestrado, você também pode de buscar é o modelo ou tipo de treina
planejar uma carrei ra viável na mento que você gostaria de ter. Muitos
psicologia forense depois de obter um estudantes acham que para se tornar
grau de mestrado. Além disso, os um psicólogo forense você precisa
programas de mestrado apresentam obter um diploma tanto em psicologia
padrões de admissão menos competiti quanto em direito (Melton et al.,
vos, levam menos tempo para ser con 1999). Eles então ficam frustrados
cluídos, permitem que você receba quando não conse guem ser admitidos
mais cedo um salário profissional, em um dos poucos programas de
podem ser mais abundantes em uma graduação conjunta. En tretanto, a
determinada área geográfica e têm graduação conjunta é apenas uma das
mais probabilida de de permitir um formas de se tornar um psicó logo
estudo de meio-turno. Além disso, forense e pode até não ser o melhor
pesquisas sugerem que não existem caminho. Além do mais, a admissão
diferenças salientes na qualida de geral em um programa de graduação
do serviço prestado por clínicos em conjun ta é muito competitiva devido
nível de mestrado e doutorado (Cla às altas exigências de admissão à
velle e Turner, 1980), embora essa maioria dos programas e à sua
respos escassez. Um pro grama de
Psicologia Forense 35 graduação conjunta é um pro grama
em que você obtém o grau tanto em
psicologia quanto em direito. Esse
ta não seja clara em relação ao trabalho
processo significa obter o típico grau
forense especificamente. No entanto, 36 Matthew T. Huss
aqueles que alcançam o grau de douto
rado têm em geral muitas vantagens
dis tintas em relação ao clínico com de advogado, um JD ou Juris Doctorate
nível de mestrado. Essas vantagens e PhD em psicologia. Algumas
incluem um maior alcance e escolas, como a Universidade do
Nebraska, ofe recem uma variedade
de combinações de graduação
(PhD/MLS e MA/JD). Atualmente tar incorrendo em despesas adicionais,
não existem programas de graduação como o pagamento por sua educação
conjunta no Canadá, mas os ou empréstimos educativos. Além do
estudantes em programas de psicolo mais, a obtenção de uma graduação
gia forense naquele país obtiveram in conjun
formalmente Bacharelado em Direito, ta não significa necessariamente que
o equivalente a JDs fora dos Estados você terá mais opções de carreira.
Unidos, durante o seu treinamento. Como mencionam Melton e
Um programa de graduação conjunta colaboradores (1999), empregos
pode ser vantajoso porque permite relacionados à psicolo
treina mento nas duas disciplinas gia podem ponderar se você vai ser
simultanea mente, o que aumenta as um advogado algum dia e os
chances de um entendimento empregos rela cionados a direito
verdadeiro da integração da podem ponderar por que você tem
psicologia e o direito. A formação esse PhD e como ele será útil na
dentro das duas disciplinas também prática do direito. Embora seja
aumenta as opções de carreira. necessário um conhecimento das leis,
Embora possa parecer atraente certamente não é preciso obter um di
graduar-se em direito e psicologia, ploma de advogado para adquirir esse
existem alguns in conhecimento e atuar como psicólogo
convenientes (veja Melton et al., 1999). forense. Em consequência, os
As desvantagens de seguir o cami nho estudantes devem pensar seriamente
da graduação conjunta se referem ao se a gradua ção conjunta é a melhor
tempo, custos e esforço que envolve a opção para que eles se tornem
obtenção de duas formações psicólogos forenses.
avançadas. Existe uma razão para que
esses progra mas sejam raros e tenham Programas de especialização.
padrões de admissão competitivos. Outro modelo de treinamento para
Eles simples mente não são para psicologia forense é participar de um
todos. É difícil tran sitar entre duas programa de pós-graduação que
disciplinas diferentes, muito mais forneça especia
duas diferentes faculdades, maneiras lização em treinamento forense.
de pensar ou até mesmo a lo calização
Nesses programas de especialização,
do campus. Você também fica na
os alunos focarão na obtenção de um
faculdade por mais tempo e, confor
grau em psi cologia clínica, mas
me apontei anteriormente, as crianças
também receberão algum treinamento
não crescem ansiando pela glória de
especializado em psicologia forense.
uma vida como estudante
O treinamento espe cializado pode
universitário. Enquanto está
consistir de seminários em temas
estudando, você não está tendo uma
forenses, prática ou estágios clínicos
renda profissional, você está vivendo
em ambientes forenses ou mes mo
em nível de pobreza e pode es
fazendo alguns cursos na escola de
direito. Os alunos que participam des
ses programas de especialização fre
quentemente se envolvem em muitas participaram de um programa geral
das mesmas atividades que os alunos em psicologia clíni ca ou
da graduação conjunta. Entretanto, aconselhamento. Eles podem ter
eles não vão preencher os requisitos Psicologia Forense 37
para
participado de uma prática na prisão
local, obtido uma residência pré-douto
obter um diploma em direito e rado em instituições forenses depois
poderão ter maior dificuldade com a de terem concluído seu trabalho final
integração da psicologia e o direito. ou tiveram uma oportunidade de
Um programa como o oferecido pela treina mento pós-doutorado depois
Universidade Simon Fraser em British que obti verem seu PhD. Embora
Columbia, no Canadá, é um exemplo nenhuma des sas opções tenha a
de um progra mesma profundidade do treinamento
ma com ênfase especial em psicologia forense que você recebe nos
forense. Os programas que oferecem programas de graduação conjunta e
ên fase em psicologia forense também de especialização, elas são mais abun
são mais abundantes do que os dantes e permitem mais abrangência
programas de graduação conjunta e de treinamento. Por exemplo, você
oferecem um treinamento mais pode entrar na graduação achando
abrangente em psico logia clínica em que de seja ser um psicólogo forense e
geral (ver Tabela 1.3). então percebe, depois de obter
alguma expe riência, que essa não é a
Programas gerais. A maioria dos melhor opção para você. Esses
psi cólogos forenses na verdade não programas gerais têm maior
obteve os seus diplomas em um probabilidade de permitirem que
programa de graduação conjunta ou você obtenha experiência em diversas
de especializa ção. Em vez disso, eles áreas da psicologia clínica e não o for
Termos-chave
amicus curiae programa de graduação
atos ilícitos lei civil conjunta
avaliador de lei codificada psicologia clínica
políticas common law jurisdição psicologia forense
corte de jurisprudência stare decisis
apelação corte jurisprudência transtorno de estresse
distrital terapêutica mens rea pós-traumático
direito criminal nomotética (TEPT) vara distrital
perfil criminal
psychology: Models from the Villanova
Conference. American Psychologist, 52, 1301–
1310.
Leitura complementar Packer, I. K., & Borum, R. (2003). Forensic
training in practice. In A. M. Goldstein (Ed.),
Bersoff, D. N., Goodman-Delahunty, J.,
Handbook of psychology: Vol. 11. Forensic
Grisso, J. T., Hans, V. P., Poythress, N. G., &
psychology (pp. 21–32). Hoboken, NJ: Wiley.
Roesch, R. (1997). Training in law and
2 Avaliação, tratamento e
consultoria em
psicologia forense
devem lhe ser familiares se você já fez o
curso de psicologia clínica. A avaliação
forense normalmente consiste da avalia
ção de um indivíduo na tentativa de au
xiliar os tribunais na abordagem de uma
Até aqui você recebeu uma introdução à questão legal. Por consequência, existem
psicologia forense, mas neste capítulo inúmeras considerações éticas que são
iremos examinar mais de perto as prin peculiares à avaliação forense (ver Capí
cipais áreas envolvidas na prática da psi tulo 3 para uma discussão completa). A
cologia forense. A prática forense pode avaliação forense baseia-se em métodos
ser dividida em três áreas específicas: e instrumentos similares à avaliação te
avaliação, tratamento e consultoria. As rapêutica geral, mas também utiliza al
duas primeiras áreas não são únicas da guns métodos forenses específicos. Ao
psicologia forense, mas são centrais para discutirmos o tratamento psicológico no
a prática da psicologia clínica e, portanto, contexto forense, nos deteremos em
grande parte nos infratores criminais e
nos aspectos do tratamento que preci
sam ser especialmente considerados. A informações que permitam chegar a uma
terceira área, consultoria, é mais prová conclusão sobre a saúde mental do exa
vel de ocorrer na prática forense do que
minando, mas é também fazer isso com o
na prática clínica rotineira e, portanto,
objetivo de informar a corte (Nicholson,
pode não ser familiar. A consultoria é
1999). Conforme mencionado anterior
frequentemente ignorada, mas tem um
mente, esses métodos estão baseados nos
papel extremamente importante para os
mesmos métodos que os psicólogos clí
psicólogos forenses. Os psicólogos foren
nicos usam para avaliar todo indivíduo
ses geralmente auxiliam os advogados
que apresenta uma preocupação quanto
ou os próprios tribunais na compreensão
à saúde mental e consistem de entrevis
de aspectos do comportamento humano
tas, testagem psicológica e coleta de in
e saúde mental que não envolvem direta
formações de arquivo e de terceiros. A
mente a avaliação ou o tratamento de in
diferença é que, em um contexto forense,
divíduos. No entanto, o psicólogo foren
esses métodos assumem uma importân
se que presta consultoria está engajado
cia adicional porque têm implicações de
em um aspecto crucial da prática forense
longo alcance que vão muito além de um
que vem crescendo em âmbito e frequên
diagnóstico acurado e podem definir até
cia (Andrews, 2005).
Termos-chave
Resumo
A avaliação forense é parte fundamen
tal da prática forense e a atividade mais conflitantes do sistema de justiça
comum que os psicólogos forenses de criminal e do sistema de saúde mental
sempenham. As avaliações forenses são e as evi dências do sucesso dessas
realizadas para auxiliar o tribunal em abordagens de tratamento.
res posta a uma questão legal Atualmente, a literatura psi cológica
particular. Por consequência, as deixa relativamente claro que o
avaliações forenses ten dem a diferir tratamento pode ser bem-sucedido e
das avaliações terapêuticas tradicionais que existem componentes específicos
em vários aspectos: (1) metas e carac terísticos dos programas de
objetivos; (2) relação entre as partes; (3) tratamento bem-sucedidos.
identidade do examinando; (4) conse A área final da prática forense é a
quências e (5) precisão das informações. consultoria forense. A consultoria fo
A avaliação forense normalmente con- rense inclui uma variedade de tarefas
64 Matthew T. Huss informais que podem ser distintas da
avaliação e tratamento e também se so
brepõem a eles. Como o papel do
siste de uma entrevista clínica que pode
consul tor forense tende a encorajar o
ser não estruturada, semiestruturada
psicólogo forense a trabalhar como
ou estruturada; a testagem psicológica,
advogado, po dem surgir certas
que pode incluir uma variedade de
questões profissionais e éticas que
testes psi
devem ser cuidadosamente
cológicos para avaliar personalidade, in consideradas.
teligência, déficits neuropsicológicos ou
entrevista não estruturada instrumentos para avaliação
entrevista forense
semiestruturada necessidades
ganho secundário criminogênicas princípio da
âmbito da prática
informações de arquivo responsividade psicologia
avaliação
instrumento penitenciária testes
terapêutica
forensemente relevante objetivos
confiabilidade
instrumentos forenses espe testes projetivos
distorções cognitivas
cializados validade
entrevista estruturada
psychology: Emerging topics and expanding roles
(pp. 465–488). Hoboken, NJ: John Wiley & Sons.
Gendreau, P. (1996). Offender rehabilitation:
What we know and what needs to be done.
Leitura complementar Criminal Justice and Behavior, 23, 144–161.
Grisso, T. (2003a). Evaluating competencies:
Drogin, E. Y., & Barrett, C. L. (2007). Off the Forensic assessments and instruments. New
witness stand: The forensic psychologist as York: Kluwer Academic/Plenum Publishers.
consultant. In A. M. Goldstein (Ed.), Forensic
Testemunho pericial e o
3 papel
de um perito
auxiliá-la. Também é importante perceber
que os psicólogos forenses geralmente
atuam como peritos sem que testemu
nhem no tribunal, e boa parte da nossa
discussão neste capítulo se propõe a dis
tinguir o perito que testemunha do perito
A prática da psicologia forense com fre
que não testemunha.
quência acaba tendo o psicólogo forense
Ao concordar em entrar na sala do
no papel de testemunha perita. Como
tribunal, o psicólogo defronta-se com
testemunha perita, os psicólogos podem
vários desafios importantes aos quais ele
auxiliar a corte diretamente, informan do
não está exposto na rotina de sua prática
sobre os achados psicológicos e sua
clínica (Brodsky, Caputo e Do
aplicação a uma questão legal particular.
No entanto, é importante lembrar que os mino, 2002). A natureza antagonista do
psicólogos forenses estão meramen te próprio sistema legal é um desafio para
prestando assessoria ao sistema legal. O os psicólogos forenses. Os psicólogos ti
sistema legal e os juízes em particular picamente atuam em ambientes em que
são resistentes a que sua autoridade seja existe cordialidade e discussão aberta de
usurpada ou substituída por evidências ideias. No entanto, a natureza anta
psicológicas (Ogloff e Cronshaw, 2001). gonista da sala do tribunal pode deixar
O propósito do psicólogo forense como claro que as ideias e conclusões não se
testemunha perita não é substituir a auto rão discutidas, mas criticadas dentro de
ridade da corte para tomar decisões, mas uma atmosfera competitiva. Além disso,
essa crítica é realizada em um local mui síndrome de trauma por estupro, hipno
to público e existe pouco apoio ao perito se ou evidências por meio de polígrafos.
que testemunha. Um perito não pode se Uma metanálise é uma análise estatística
dar ao luxo de solicitar um intervalo ou em que os estudos disponíveis são com
telefonar para um amigo para pedir um binados estatisticamente para fazer e res
conselho enquanto está no papel de ponder perguntas que não são possíveis
testemunha. Ele está realmente sozinho. com apenas um único estudo. Essa abor
Toda essa experiência acontece em um
dagem estatística ajuda a complementar
contexto com o qual o perito na maior
a abordagem tradicional de resumir uma
parte das vezes não está familiarizado, e
área de pesquisa que consistiu de leitu ra
essa é outra razão pela qual o testemu
das pesquisas disponíveis e chegar a
nho do perito foi chamado de a expe
riência profissional potencialmente mais uma conclusão com base na consideração
assustadora em psicologia (Brodsky et racional dos diferentes estudos. Nietzel e
al., 2002). colaboradores (1999) encontraram um
O uso crescente de profissionais da impacto modesto entre esses tipos dife
saúde mental como peritos testemunhas rentes de casos de testemunho de peritos.
nos Estados Unidos, Canadá e em mui No entanto, não há indicação de que os
tos lugares por todo o mundo (Colbach, tribunais já estejam fartos do testemunho
1997; Knapp e VandeCreek, 2001; Saun dos psicólogos forenses ou que o estejam
ders, 2001) sugere que eles produzem um descartando.
impacto significativo no sistema legal. A. Além disso, a maior parte do traba lho
Hess (2006) sugere que, à medida que forense não culmina no testemunho do
nossa sociedade se torna mais compli especialista. O trabalho de consultoria
cada e o conhecimento se expande em por sua própria natureza não resulta no
66 Matthew T. Huss testemunho objetivo de um especialista.
As avaliações e o tratamento forense tam
um ritmo exponencial, existe uma ne
cessidade ainda maior de especialistas.
Na verdade, ele sugere que não utilizar bém não tendem a acabar com o testemu
um perito em um caso constitui uma fa nho da sala do tribunal, provavelmente
lha profissional por parte do advogado porque a grande maioria dos casos é re
(Hess, 2006). Contudo, a verdade é que o solvida antes do julgamento. Entretanto,
impacto do testemunho de um perito na ainda é importante focar atenção especial
tomada de decisão do júri não está nos peritos que testemunham, porque
completamente claro (Nietzel, McCarthy boa parte da visão do público sobre a
e Kern, 1999). Nietzel e colaboradores psicolo gia forense está baseada nessas
realizaram uma metanálise de 22 exibições públicas do trabalho forense.
estudos publicados examinando o Além disso, muitos dos temas que
impacto do testemunho de especialistas discutirei em rela ção ao testemunho de
dentre uma variedade de casos, peritos, como ques tões éticas e
incluindo tópicos di parcialidade, são a realidade de todo o
trabalho forense em que o psi cólogo está
versos como abuso infantil, identificação
atuando como um especialista objetivo,
de testemunhas oculares, inimputabilida
resulte isso em testemunho no tribunal
de, mulheres espancadas ou evidência de
ou não. o uso de uma variedade de achados e mé
todos psicológicos para auxiliar a corte,
incluindo algumas áreas clinicamente re
História do lacionadas com o comportamento crimi
testemunho pericial nal. Embora as suas primeiras alegações
referentes à capacidade da psicologia de
Os psicólogos nem sempre testemunha
fazer a diferença na sala da corte tenham
ram amplamente como peritos. As opi
sido excessivamente otimistas (Benjamin,
niões variam, mas Gravitz (1995) sugere
que um dos primeiros exemplos de tes 2006), Munsterberg estimulou a conside
temunho de perito nos Estados Unidos ração da possibilidade, apesar das críticas
que poderia ser considerado sob a ideia feitas pelos estudiosos legais como John
geral da psicologia ou psiquiatria forense Wigmore (ver Quadro 3.1 para discussão
ocorreu em um julgamento por assassina da critica de Wigmore a Munsterberg).
to em 1846. John Johnson foi julgado pelo Psicologia Forense 67
assassinato de Betsey Bolt, como parte de
um plano para encobrir uma anterior O status profissional dos psicólogos
agressão sexual da Sra. Bolt por Johnson. clínicos na parte inicial do século XX tor
Uma especialista, Amariah Brigman, tes nou improvável que os psicólogos inva
temunhou exaustivamente sobre o estado dissem as salas dos tribunais. Durante a
de saúde mental de uma das testemunhas
infância da psicologia clínica, os psicó
que havia sido paciente em um hospital
logos clínicos eram em sua maior parte
psiquiátrico. Entretanto, a maioria das
vistos como administradores de testes
tentativas iniciais de encorajar o uso de
psicológicos e certamente secundários
princípios psicológicos no sistema legal
ocorreu antes que o campo da psicologia aos psiquiatras no campo da saúde
clínica estivesse formalmente estabele mental. Em consequência, os psiquiatras
cido e, assim, ocorreram em áreas como foram os únicos consistentemente
percepção e cognição (p. ex., identifica- capazes de teste munhar em questões
legais (Ewing, 2003). Essa prática mudou
com Jenkins vs. Esta dos Unidos (1962). A
ção de testemunhas oculares). Essas pri opinião da maioria na Corte de
meiras tentativas foram auxiliadas por Apelações no Distrito de Co lumbia,
figuras significativas como Hugo Muns conforme o Juiz David Bazelon, a quem
terberg (Capítulo 1) e seu livro On the wi também mencionarei no Capítulo 7
tness stand (1908), em que ele incentivava (inimputabilidade), decidiu que, devido
■ Competição
Evidência de síndrome:
área controversa de
testemunho pericial
Ao concluir o capítulo sobre o
testemunho do perito, vamos nos focar
em uma área de testemunho que é
frequentemente contro versa. Ao
examinar a evidência de síndro me e a
controvérsia que a rodeia, o objeti vo não
é acusar os psicólogos forenses que