ALPHA - v22 n1 2021 9 37
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2021
© Centro Universitário de Patos de Minas
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Resumo: Este artigo tem como objeto de investigação a formação epistemológica dos
pesquisadores em educação, no Brasil. Por meio de um breve resgate da história e da trajetória
da pesquisa educacional e da formação dos pesquisadores em educação, no Brasil, que, de forma
sistematizada, possui menos de um século, procurou-se delinear algumas questões que podem
permitir a elaboração de um olhar mais amplo, reflexivo e sistêmico sobre os caminhos, edificados
e em construção, dessa pesquisa e da formação dos seus pesquisadores, possibilitando-nos refletir
sobre diversos aspectos, entre os quais, aqueles que se relacionam à formação epistemológica do
pesquisador em educação. Posto que a epistemologia ocupa-se das questões relativas à obtenção,
à natureza, às características, às fontes, aos limites, à justificação e aos critérios que configuram e
categorizam o conhecimento científico, as reflexões, aqui apresentadas, partem do pressuposto
basilar de que a formação epistemológica desempenha papel relevante na formação do
pesquisador e, especificamente, do pesquisador em educação, uma vez que o entendimento e a
clareza quanto aos pressupostos epistemológicos, que constituem a construção do conhecimento
científico, podem contribuir para o avanço e a qualidade da pesquisa, ainda que seja possível
indagar que essa formação epistemológica, por si só, não constitui elemento garantidor de
qualidade e de desempenho.
Palvras-chave: Epistemologia. Pesquisa em Educação. Formação de pesquisadores em educação.
1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS
2 A PESQUISA EM EDUCAÇÃO
Uma vez que o objeto de investigação das reflexões ora apresentadas refere-se
à formação epistemológica dos pesquisadores em educação, faz-se necessário um esforço
inicial para elucidar a que se refere o termo “educação”, visando a delinear, com maior
rigor, a que tipo de pesquisa e a que pesquisador referimo-nos.
Sob a perspectiva etimológica, o termo educação é a forma nominalizada do
verbo educar. O vocábulo educação tem sua origem no verbo latino educare, no qual
Desse modo, a educação, como fato que se materializa a partir das condições
dadas, requer, também, o pensar e o refletir sobre as questões que perpassam a prática
educativa constituída por múltiplos sujeitos e complexos fatores. Portanto, faz-se
necessário entender a educação, também, como objeto da pesquisa educacional, que, por
sua vez, objetiva compreender, explicar e interpretar o fenômeno educativo.
Quanto à formação de pesquisadores educacionais, Saviani (2017) ressalta o
papel fundamental dos mestrados e dos doutorados em educação, aos quais compete
compreender a especificidade do fenômeno educativo e, por conseguinte, da pesquisa
educacional, e como essa se distingue, em vários aspectos, de outras modalidades de
pesquisa. Nas pesquisas educacionais, a educação dever ser considerada como ponto de
partida e de chegada das investigações, não bastando, apenas, abordar temáticas
genéricas sobre educação, pois se observa que, “[...] se toda pós-graduação em educação
envolve, de algum modo, pesquisa relacionada à educação, nem toda pós-graduação em
educação desenvolve pesquisas especificamente educacionais” (SAVIANI, 2017, p. 3).
Diante do exposto, verifica-se a necessidade de compreensão, pelos programas
de pós-graduação stricto sensu em educação, de que é papel da pesquisa educacional o
envolvimento com estudos e investigações de questões educacionais, objetivando a
[...] nem tudo que se faz sob a égide de pesquisa educacional pode ser
realmente considerado como fundado em princípios da investigação
científica, traduzindo com suficiente clareza suas condições de
generalidade e simultaneamente de especialização, de crítica e de
geração de uma problemática própria, transcendendo pelo método não
só o senso comum, como as racionalizações primárias (GATTI, 1992, p.
110).
por sua vez, vê-se influenciada por três principais aspectos: as denominações e os
conceitos utilizados, a própria ideia de campo e as questões de identidade e formas
investigativas, que se relacionam com os caminhos da pesquisa em educação e com as
suas relações com o meio social.
No que se refere às denominações e aos conceitos utilizados, deparamo-nos com
o debate sobre os termos utilizados para a qualificação de estudos, no vasto campo que
se denomina educação: pedagogia, ciências da educação, ciências do ensino, didática.
Não é incomum que a forma e os contextos de emprego desses termos tendam a
dificultar a delimitação de domínios e o clareamento de articulações, interfaces e
transvariações da educação com outros campos de conhecimento (LIBÂNEO, 2007).
Desse modo, tendo como escopo que o cuidado com a linguagem conceitual e
com as formas comunicativas, em todas as áreas, mas em especial no âmbito das ciências,
é fundamental, como apontam Mazzoti e Oliveira (2000), na presente investigação,
optou-se por utilizar a expressão “pesquisa em educação”, indicando uma posição
integradora, convergente de várias áreas, que tem como ponto de partida os processos
educativos. Entende-se, portanto, que a educação, como campo de conhecimento, “[...]
comporta a pedagogia, como construção e reflexão, e a didática, como reflexão para e
das ações educativas intencionais” (GATTI, 2012, p. 15).
A pertinência de se esclarecer o que abarca a expressão “pesquisa em educação”
reside no fato de que muitos campos há estudos que podem ser tomados como pesquisa
em educação e não somente os associados a disciplinas específicas, como pedagogia e
didática, ou ao rótulo genérico de ciências da educação (história da educação, filosofia
da educação, sociologia da educação etc.) ou mesmo ciências do ensino. Logo,
Por sua vez, Ferreira (2009) faz constar que uma das variáveis que nos auxilia a
entender a configuração da pesquisa, no país, é a história da universidade. No Brasil, no
período colonial, só havia ensino superior na área da Teologia e, mais tarde, esse ensino
estende-se às Engenharias e à Medicina, além de outras áreas, porém sem a
expressividade que, à época, já se apresentava na Europa. No período Imperial,
iniciaram-se tímidos movimentos em prol da configuração de espaços científicos, dentro
do acanhado, então, ensino superior nacional.
A esse respeito, Saviani (2000) faz referência à criação tardia de universidades,
no país, bem como à inexpressividade da pesquisa, até o início do século XX, destacando
que, somente após a revolução de 1930, e com as reformas de Francisco Campos, em
1931, é que foi instituído o regime universitário no Brasil. Nesse cenário, eram ofertados
apenas cursos de graduação, sendo que a formação de pesquisadores e de professores,
nas universidades, dava-se por meio de um processo espontâneo e
Sobre esse período, em consonância com Gouveia (1971), Gatti (2001) destaca
que, além das temáticas relacionadas à psicopedagogia, as pesquisas em educação,
também, estavam relacionadas a temas específicos, como
Autores como Lüdke (1986), Triviños (2001) e Nosella (2010) ressaltam que a
variedade de temas, abordagens, enfoques e contextos fez emergir, no final dos anos
1980, debates sobre o conflito das tendências metodológicas e sobre as diferenças nos
pressupostos epistemológicos das pesquisas em educação. Gatti (2001) afirma que os
temas e os referenciais, nos anos 1980 e 1990, diversificaram-se e, então,
A esse respeito, Nosella (2010) destaca que, entre o período de 1985 até os dias
atuais, por intermédio dos programas de pós-graduação stricto sensu, novos temas
emergem dentre as questões a serem investigadas, como formação de professores,
cultura escolar, currículo, infância, educação de jovens e adultos, educação inclusiva,
entre outros. Assim, a pesquisa em educação, nesse mesmo período, passa a apresentar
diversificação teórico-metodológica e fragmentação epistemológica e temática, o que faz,
então, emergirem críticas relativas à teoria e à metodologia.
Desse modo, considerada a consolidação dos programas de pós-graduação
stricto sensu em educação, no Brasil, faz-se pertinente trazer à baila a discussão da
apropriação dos fundamentos epistemológicos ou das diferentes concepções de
conhecimento, na produção e na prática dessa pesquisa, atentando-se para o aspecto da
formação epistemológica do pesquisador dessa área.
Portanto, não existem soluções fáceis e prontas para essas questões, que exigem
constantes reflexões e mobilizações, no sentido de redirecionamento de projetos e
programas. No contexto atual, essa é a tarefa mister que se apresenta para os 190
programas de pós-graduação stricto sensu em educação do país, com seus respectivos 286
cursos de mestrado e de doutorado.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
metodológicos, devido à pouca clareza que os investigadores pareciam ter sobre seus
pressupostos epistemológicos e filosóficos.
Ora, uma metodologia vincula-se a uma teoria e/ou epistemologia, que tem seus
limites, não conseguindo apreender e explicitar tudo do real, pois, como produto
humano, como cultura, toda teoria e toda epistemologia são limitadas. No entanto, ainda
que limitadas, são as teorias que tornam possível o desenvolvimento do espírito crítico-
reflexivo sobre a realidade. Lembremo-nos de que a teoria explica a realidade, na medida
em que produz uma metodologia que torna possível a aproximação da realidade
pesquisada. Aliás, esse é o pressuposto basilar da dialética materialista, ao postular que
a concretude não é da ordem do real, mas, sim, da ordem do teórico, de forma que o
trabalho teórico é o que constrói a concretude do real, substituindo a abstração vazia por
múltiplas determinações construídas por meio desse trabalho teórico.
É nesse sentido que a formação do pesquisador em educação não pode
prescindir de uma formação filosófica que permita a esse pesquisador pensar de maneira
mais crítica sobre os fundamentos e os métodos de suas pesquisas, aproximando-se, com
mais acuidade, do seu objeto de investigação: os fenômenos educacionais. Nessa direção,
as tendências epistemológicas, na pesquisa em educação, podem ser vistas como
REFERÊNCIAS
ABREU, Roberta Melo de Andrade; LIMA JÚNIOR, Arnaud Soares de. A formação do
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Campinas, Campinas, SP, v. 21, n. 1, p. 89-101, maio 2016. DOI:
https://doi.org/10.24220/2318-0870v21n1a2932. ISSN 2318-0870. Disponível em:
http://periodicos.puccampinas.edu.br/seer/index.php/reveducacao/article/view/2932.
Acesso em: 23 jan. 2019.
CURY, Carlos Roberto Jamil. Quadragésimo ano do parecer CFE nº 977/65. Revista
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DOI: https://doi.org/10.1590/S1413-24782005000300002. Disponível em:
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S141324782005000300002&lng=
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LIBÂNEO, José Carlos. Didática. 28. ed. São Paulo: Cortez, 2007.
LIBÂNEO, José Carlos. Pedagogia e pedagogos, para quê?. 10. ed. São Paulo: Cortez,
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MAZZOTI, Tarso Bolina; OLIVEIRA, Renato José de. Ciência(s) da educação. Rio de
Janeiro: DP&A, 2000.