10172-Texto Do Artigo-40562-1-10-20181022
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INTRODUÇÃO
Neste trabalho será discutida a função social da empresa, não somente como uma relação clássica
entre capital-trabalho, mas sob viés da dignidade humana, e como agente capaz de reduzir as
desigualdades sociais e gerar riqueza, não somente para os sócios/acionistas, mas para a
coletividade. Analisar-se-á, então, o principio da função social da empresa sob a perspectiva
constitucional.
Com efeito, o presente artigo pretende compreender a função da sociedade empresaria como meio
de possibilitar a dignidade humana preconizada na constituição federal.
METODOLOGIA
Assim, ao lado de possibilitar a intervenção estatal (embora com limitações) na área econômica, a
Constituição brasileira de 1988 garantiu diversos direitos aos cidadãos e instituiu deveres ao
Estado, estabelecendo um caminho que este deverá trilhar: o avanço da justiça social e da
igualdade material entre os indivíduos. Trata-se, portanto, de uma constituição dirigente[4] ao
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definir, “por meio das chamadas normas constitucionais programáticas, fins e programas de ação
futura no sentido de melhoria das condições sociais e econômicas da população” (BERCOVICI,
1999, p. 36).
Com efeito, ao mesmo tempo que estabelece garantias liberais, mas não cria um estado liberal[5],
prevê direitos sociais, sem, contudo, criar um estado social[6]. Garante a livre-iniciativa e a
propriedade privada (princípios basilares do liberalismo econômico), mas também prevê
expressamente a dignidade da pessoa humana como princípio fundamental, além de outros
princípios caros às constituições econômicas do início do século XX. Tem-se, então, que “No
desempenho do seu novo papel, o Estado, ao atuar como agente de implementação de políticas
públicas, enriquece suas funções de integração, de modernização e de legitimação capitalista”
(GRAU, 2001, p. 28).
É nesse contexto, portanto, que a função social da empresa deve ser compreendida. O lucro,
assim, nunca deixará de ser o elemento essencial das sociedades empresárias, as quais, porém,
devem ser analisadas à luz da Constituição Federal, notadamente sob o princípio da dignidade
humana. A sociedade empresária, por conseguinte, goza de relevante papel no desenvolvimento
econômico e social.
A propriedade dos bens de produção[7], nesse sentido, deve cumprir a função social, ou seja, não
almejar apenas fins lucrativos das sociedades empresárias, mas também ser norteada pelos
princípios constitucionais. A função social da empresa se trata, nesse contexto, de espécie do
gênero função social da propriedade que está amparada no Artigo 5º, XXIII, e 170, III, da
Constituição Federal/1988. Assim, não obstante a garantia da propriedade privada (artigo 5º,
XXII), mostra-se fundamental que esta seja cumpridora de função social.
Com efeito,
Cumpre sua função social a empresa que gera empregos, tributos e
riqueza, contribui para o desenvolvimento econômico, social e cultural da
comunidade em que atua, de sua região ou do país, adota práticas
empresariais sustentáveis visando à proteção do meio ambiente e ao
respeito aos direitos dos consumidores. Se sua atuação é consentânea
com estes objetivos e se desenvolve com estrita obediência às leis a que
se encontra sujeita, a empresa está cumprindo sua função social; isto é,
os bens de produção reunidos pelo empresário na organização do
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Assim, para exercer sua função social a propriedade precisa produzir de modo a colaborar para a
melhoria de condições, não apenas de seu titular, mas para toda a coletividade, em constante
observância ao objetivo constitucional de estabelecer uma sociedade justa e igualitária. A
propriedade, ao não cumprir com sua função social, não poderá ser amparada pelo ordenamento
jurídico, uma vez que os seus princípios fundamentais reprimem os interesses exclusivamente
patrimoniais – e individuais.
Nesses termos, as sociedades empresariais não podem ser vistas apenas como capitalistas – no
sentido de buscar exclusivamente o lucro -, mas também sobre a ótica social ao gerar riquezas –
seja para seus titulares ou para seus empregados, mediante remuneração direta. Com efeito, a
empresa, ao desempenhar atividade econômica, ao mesmo tempo que busca o lucro deve exercer
deveres e responsabilidades sociais, isto é, a sociedade empresária deve ser compreendida sob à
luz da constituição federal, seus princípios e direitos fundamentais, os quais impõe uma nova ética
empresarial (GOMES, 2006).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente artigo analisou as sociedades empresárias sob à ótica constitucional e a partir da nova
ética empresarial. Esta, por sua vez, assevera que as sociedades empresárias não detêm viés
exclusivamente capitalista, buscando o lucro de seus titulares, mas, sobretudo, função social
relevante dentro da comunidade em que está inserida, gerando renda e riqueza para a
coletividade.
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Keywords: business company; social responsibility; economic and social development; private
property; business activity.
REFERÊNCIAS
GRAU, Eros Roberto. A ordem econômica na Constituição de 1988. São Paulo: Malheiros.
2001.
TOMASEVICIUS FILHO, Eduardo. A função social da empresa. Revista dos Tribunais, São
Paulo, v. 92, n. 810, p. 33-50, abr. 2003.
[1] Podem-se citar, exemplificativamente, as Constituições de 1891, 1934 e 1946. A primeira trouxe avanços
no que se refere às garantias dos direitos individuais, estabelecendo a figura do habeas corpus (art. 72, §22º)
como garantia contra a violência ou coação por ilegalidade ou abuso de poder e a “Declaração de Direitos”,
bem como adotou a clássica separação de poderes instituída a partir da teoria de Montesquieu; a segunda,
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por sua vez, buscou inspiração no constitucionalismo europeu do pós-guerra de 1914/1918 e nas
Constituições representativas do constitucionalismo social do início do século XX; e, a última conjugou a
democracia liberal com as aquisições sociais, como, por exemplo, o direito de greve e a participação dos
trabalhadores nos lucros das empresas.
[2] Exemplificam-se com as Constituições de 1937 e 1967 (e a Primeira Emenda de 1969). Aquela fora
outorgada para estar a serviço do detentor do poder, no qual a Presidência da República se sobrepunha a
todos os demais órgãos e poderes, não obstante a previsão constitucional da tripartição de poderes; e
segunda, estava voltada para o fortalecimento do Poder Executivo e da autoridade do Presidente de
República, outorgada em plena ditadora militar.
[3] Art. 173. Ressalvados os casos previstos nesta Constituição, a exploração direta de atividade
econômica pelo Estado só será permitida quando necessária aos imperativos da segurança
nacional ou a relevante interesse coletivo, conforme definidos em lei. [...]
[4] Canotilho (1994) questiona se a constituição é um simples instrumento de governo ou, pelo
contrário, deve transformar-se num plano normativo-material que define tarefas, estabelece
programas e define fins. A constituição, questiona, seria só uma lei só do Estado ou também um
estatuto jurídico-político do Estado e da Sociedade. Para Bercovici (1999, p. 37-38), “A dualidade
marca as discussões em torno da Constituição, contrapondo a idéia de sociedade civil e liberdade
(mercado) à idéia de sociedade e igualdade (Estado).” Assim, “A função da Constituição dirigente
é a de fornecer uma direção permanente e consagrar uma exigência de atuação estatal
“(BERCOVICI, 1999, p. 40).
[5] Posner (2010), ao analisar a taxonomia do Estado Liberal (chama-o de estado “verdadeiramente limitado),
entende que este tem tão somente uma única função: assegurar a segurança física (interna e externa). O
Estado, além disso, deverá estabelecer “um aparato mínimo de ordem pública, dentro do qual a iniciativa
privada possa ocupar o maior espaço possível.” (POSNER, 2010, p. 142).
[6] Trata-se de Estado prestador e objetiva equalizar o patamar social mínimo, promovendo o bem comum
com a prestação assistencial geral e econômica. O Estado, portanto, tem responsabilidades sociais, como a
previdência, habitação, saúde, educação, entre outros. Não se trata, porém, de modelo radical socialista, com
possibilidade de estatização totalizante, mas se afastou da ideia liberal pura.
[7] Por bens de produção compreendem-se todos os reunidos pela sociedade empresária/simples (ou
empresário individual/EIRELI) para a organização do estabelecimento empresarial. Este, por sua vez, é o
conjunto de bens – corpóreos e incorpóreos - que o empresário reúne para exploração de sua atividade
econômica. Compreende os bens indispensáveis ou úteis ao desenvolvimento da empresa, como as
mercadorias em estoque, máquinas, veículos, marca e outros sinais distintivos, tecnologia etc. Trata-se de
elemento indissociável à empresa (COELHO, 2016).
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