EBOOK - Educacao Diversidade e Interculturalidade
EBOOK - Educacao Diversidade e Interculturalidade
EBOOK - Educacao Diversidade e Interculturalidade
Interculturalidade:
reflexões para giros decoloniais
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Ana Patrícia Sá Martins
Josenildo Campos Brussio
(Organizadora e Organizador)
Educação, Diversidade e
Interculturalidade:
reflexões para giros decoloniais
Apoio:
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Copyright © Autoras e autores
Todos os direitos garantidos. Qualquer parte desta obra pode ser reproduzida,
transmitida ou arquivada desde que levados em conta os direitos das autoras e dos
autores.
DOI: 10.51795/9786526506578
CDD – 370
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‘Os outros’, os diferentes, muitas vezes estão perto de
nós, e mesmo dentro de nós, mas não estamos
acostumados a vê-los, ouvi-los, reconhecê-los,
valorizá-los e interagir com eles. [...] O/a educador/a
tem um papel de mediador na construção de relações
interculturais positivas, o que não elimina a existência
de conflitos. [...] As relações entre cotidiano escolar e
culturas (s) ainda constitui uma perspectiva somente
anunciada em alguns cursos de formação inicial e/ou
continuada de educadores/as e pouco trabalhada nas
escolas. No entanto, considero que esta perspectiva é
fundamental se quisermos contribuir para que a escola
seja reinventada e se firme como um locus
privilegiado de formação de novas identidades e
mentalidades capazes de construir respostas, sempre
com caráter histórico e provisório, para as grandes
questões que enfrentamos hoje, tanto noplano local
quanto nacional e internacional.
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SUMÁRIO
PREFÁCIO 9
Jackson Ronie Sá-Silva
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DECOLONIALIDADE DO GRAFFITI E REEXISTÊNCIA 103
Gleydson Rogério Linhares dos Santos Coutinho, Ana Patrícia
Sá Martins, Josenildo Campos Brussio
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PREFÁCIO
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diversidade, alertando para a análise dos conceitos operados pela
perspectiva pós-crítica em educação. A escrita, do começo ao fim,
incita pensarmos sobre o pensar acerca das marcações que fazemos
quando utilizamos linhas de pensamento ou ferramentas epistêmicas
operadas por aqueles e aquelas que entendem a diversidade como um
campo complexo e sempre contingente. As argumentações
produzidas na obra tencionam a todo momento o cuidado que o
campo da Educação deve ter ao tratar das temáticas caras ao campo
da discussão da diversidade nos espaços escolares e não escolares de
aprendizagens.
Os capítulos que compõem o livro Educação, Diversidade e
Interculturalidade: reflexões para giros decoloniais são esclarecedores
quanto aos temas da educação para a diversidade. Quais temas? O
que a obra aborda? O livro em sua totalidade trata de temáticas
importantes para o campo da Educação e sua discussão na educação
básica: literatura infantil negra; identidade de crianças afro-brasileiras;
lei de cotas no Brasil; inclusão através das diferenças; afrocentricidade
em aulas de Educação Física; Lei 10.639/03 nas relações étnico-raciais
na Educação e o autorreconhecimento; história do racismo no Brasil;
decolonialidade, arte, graffiti e existências negras; ensino de Ciências
Naturais, decolonialidade e o corpo negro; racismo epistêmico na
formação docente; decolonialidade e relações étnico-raciais na
educação infantil.
Percebi o esforço teórico-metodológico de Ana Patrícia Sá
Martins e Josenildo Campos Brussio em operar com alguns conceitos
centrais da perspectiva decolonial de pensamento educacional.
Também evidenciei seus esforços professorais na organização
meticulosa da obra. Um esforço coletivo que envolveu a condução da
escrita inicial de estudantes de mestrado em Educação que estavam
vivenciando o componente curricular Educação, Diversidade e Políticas
Afirmativas, no ano letivo de 2022. Parabenizo-os pelo desafio sempre
produtivo de ensinar-pesquisar-escrever.
Os capítulos do livro Educação, Diversidade e Interculturalidade:
reflexões para giros decoloniais constituem materialidades curriculares
empoderantes para que professores do ensino fundamental, do
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ensino médio, do ensino técnico profissionalizante e do ensino
superior realizarem aulas inclusivas, contextuais, problematizadoras
e recheadas de alteridade quando aparecer discussões que suscitam a
existência plural do outro.
A professora Ana Patrícia Sá Martins e o professor Josenildo
Campos Brussio promoveram um exercício pedagógico plural, ao
conduzirem mestrandas e mestrandos a olharem as diferenças com
rigor e método. Ensinam a escrever e reescrever. Permitiram o
exercício teórico do pensamento diverso. Incitaram o olhar
hipercrítico. Interagiram para pensar a diversidade machucada e a
superação das dores pelo exercício de uma educação plural,
libertadora, ética, laica e cidadã.
Parabenizo os organizadores do livro, Ana Patrícia Sá Martins e
Josenildo Campos Brussio, pela produtiva ação de conduzir a feitura
de tão importante obra educacional. Parabenizo os professores e as
professoras do PPGE – UEMA que estiveram envolvidos na escrita
dos capítulos com seus orientandos. Parabenizo as mestrandas e os
mestrandos que se desafiaram a ler, escrever e se aprofundar na
discussão da temática da educação para a diversidade.
Que tal conhecer a obra Educação, Diversidade e Interculturalidade:
reflexões para giros decoloniais? Vamos utilizar este livro em nossas
aulas? Vamos praticar a alteridade, o respeito, a cidadania e o amor
comunitário?
Desejo a vocês uma boa leitura!
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POR (TRANS) FORMAÇÕES DE PROFESSORES/AS
QUE DE(S)COLONIZEM O INSTITUÍDO:
apontamentos dos organizadores
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oportunidades de argumentar, refletir e criar práticas docentes
decoloniais, as quais podem favorecer práticas docentes
diversificadas que dialogam com as realidades das quais muitos/as
de nós participa.
No primeiro capítulo, A Literatura infantil negra e a identidade
das crianças afro-brasileiras, incitados pela Ângela Maria Leonardo
Silva, problematizamos a dificuldade das crianças negras de se
identificarem com cultura afro-brasileira na educação infantil.
Assim, são sistematizadas algumas obras da literatura infantil que
tematizam as culturas afro-brasileiras como possibilidades ao
docente para práticas didáticas, sobretudo, nos anos iniciais do
ensino fundamental.
O segundo capítulo, A Lei de cotas no Brasil: avanços, desafios e o
processo de revisão, Dayvane Oliveira da Silva e Leonardo José Pinho
Coimbra nos provocam a refletir acerca da Lei n° 12.711/2012 e dos
discursos meritocráticos que circundam na sociedade brasileira
quanto às políticas afirmativas das cotas étnico-raciais, apontando
para necessária re-Ação perante os desafios ainda impostos à
maioria da população afro-descente do Brasil, mesmo após dez
anos de promulgação da Lei.
O terceiro capítulo, Representação do outro na educação escolar -
vozes sem eco: sobre a inclusão através das diferenças, assinado com
Jânio Oliveira Lima e Fernando Lucas da Silva Gomes, convida o/a
leitor/a (docente) para percepção dos padrões de normalidade
arrolados nos currículos escolares, que, em geral, consideram
inadequados/as alguns/as alunos/as, em virtude de seu porte físico,
da deficiência sociocognitiva,do gênero e/ou etnia. Conforme
argumentado pelos autores, faz-se urgente (des)construções
alternativas nas formações de professores/as e nas propostas
curriculares, de maneira a considerar a pluralidade que caracteriza
as salas de aula, de modo mais inclusivo e responsável.
O quarto capítulo, Afrocentricidade nas aulas de Educação
Física escolar, sob o olhar do professor de Educação Física Leandro
Fonseca Lima, destaca a relevância de inserirmos e incentivarmos
o diáologo com a educação afrocentrada, que oportunize o
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conhecimento e a valorização das culturas afro-brasileiras no
processo de formação histórico-cultural da sociedade brasileira.
Como incentivo às práticas escolares nas aulas de Educação Física,
são evidenciados exemplos de brincadeiras e jogos de origem afro.
No quinto capítulo, Racismo: uma herança histórica, desafiados
por Sandra Moreira de Freitas, argumentamos a necessidade de
problematizarmos o racismo estrutural, enraizado pelo processo de
escravização de negros/as africanos, mas que ainda sustenta e
legitima práticas racistas no Brasil e no mundo. A escola é aqui
apresentada como lugar privilegiado para discutir acerca da omissão
do Estado diante do racismo, do preconceito e das desigualdades
deles resultantes; como também um cenário através do qual se possa
proponha ações que promovam a igualdade racial no país.
No sétimo capítulo, Decolonialidade do graffiti e reexistência de
Gleydson Rogério Linhares dos Santos Coutinho, Ana Patrícia Sá
Martins, Josenildo Campos Brussio provocam-nos a refletir sobre a
importância da arte do Graffiti enquanto práxis pedagógica de
expressão de reexistências e decolonialidades. Propõe-se um
diálogo sobre reexistência, decolonialidade e linguagem artística
do graffiti, criticando, construindo e desconstruindo os padrões e
valores produzidos no que se refere à Educação
No oitavo capítulo, Corpos étnico-raciais, ensino de ciências
naturais e decolonialidade: discussões a partir da análise de representações
de livros didáticos do Ensino Médio, de Jucenilde Thalissa de Oliveira,
Ana Patrícia Sá Martins, Josenildo Campos Brussio somos levados
a pensar sobre os corpos racializados a partir de um
posicionamento crítico e decolonial, em que as construções de
sentidos sobre os corpos situam-se em questões históricas e
políticas etnocêntricas, com processos que marcam nossa existência
contemporânea através da colonialidade e que se convertem em
desigualdades não naturais, construídas sócio-historicamente.
No nono capítulo, Racismo epistêmico na formação inicial docente:
um estudo sobre o Estado da Arte na perspectiva decolonial, de Manoela
Pessoa Matos, Ana Patrícia Sá Martins, Josenildo Campos Brussio,
apresentamos a identificação e mapeamento de produções
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científicas existentes sobre a decolonialidade e o racismo
epistêmico na formação inicial de professoras e professores no
Brasil a partir das dissertações e teses disponibilizados no BDTD.
Partimos da necessidade de identificar nas produções intelectuais
e acadêmicas que espaços estão ocupando as perspectivas de
conhecimento dos povos que foram negados pela modernidade
colonial.
No penúltimo capítulo, Decolonialidade e relações étnico-raciais
na educação infantil: reflexões para uma formação continuada docente, de
Poliane de Lima Vaz da Costa, Ana Patrícia Sá Martins, Josenildo
Campos Brussio, Antônio Alves Ferreira, os autores nos convidam
a dialogar com perspectivas decoloniais de uma educação infantil
voltada às relações étnico-raciais, tema que tangencia todas as
etapas do desenvolvimento humano, mas que possuem
preocupações específicas com a faixa etária em discussão – a
educação infantil.
No último capítulo, Processo de Autorreconhecimento: as
implicações da Lei 10.639/03 nas relações étnico raciais na educação,
somos estimulados por Raimunda Nonata Paiva Andrade e Lêda
Maria de Sousa Rodrigues a analisar nossas práticas pedagógicas
quanto ao incipiente processo de autorreconhecimento de
brasileiros e brasileiras afro-descentes, os quais, conforme os dados
informados, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílios – PNAD (IBGE, 2019), 42,7% dos brasileiros se
declararam como brancos, 46,8% pardos e apenas 9,4% como pretos
e 1,1% como amarelos ou indígenas. A discussão perfilada nos
convoca, enquanto docentes, a entender como a colonialidade
sustentada nas instâncias sociais de poder precisa ser debatida nos
cenários escolares, no intuito de que possamos pensar em projetos
para resistir e re-existir, de modo mais equitativo com os diferentes
grupos étnicos, sobretudo, os afro-descentes e indígenas.
Quando os processos formativos nas universidades, mesmo
em cursos stricto sensu, possibilitam espaços para insurgências com
alunos/as em suas diversidades, o desejo e o clamor de/por
paradigmas que transgridam a modernidade e a colonialidade do
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saber, do poder e do ser tornam-se além de um sonho que um dia
venha a ser alcançado; se concretizam nas reverberAções de
homens e mulheres, professores/as, mestrandos/as, esperançosos
(no sentido freireano) à práticas docentes decoloniais, em respeito
aos aspectos éticos, étnicos e socioculturais, seja na formação inicial
ou continuada de professores/as.
Desejamos que as reflexões apresentadas na obra possam
contribuir para o fortalecimento das discussões que urgem em
torno da multidiversidade, pluriculturalidade e interculturalidade
de saberes decoloniais que eclodem no processo de mundialização.
É preciso transgredir, irromper, desobedecer aos paradigmas
colonizantes de forma a permitir que os paradigmas emergentes
como a decolonialidade, a afrocentricidade, a ecologia dos saberes,
nos levem a novos horizontes epistemológicos.
Sintam-se convidados a partilhar conosco dessas experiências
pedagógicas em um processo de construção teórica, prática, crítica
e libertária. Vamos seguir os passos do nosso mestre Paulo Freire
para a consolidação de uma pedagogia centrada em experiências
estimuladoras da decisão, da responsabilidade e da liberdade por
meio de um projeto político, pedagógico, crítico e reflexivo de uma
pedagogia decolonial, pluricultural e diversificada que respeite
todas as culturas e saberes locais em um verdadeiro exercício de
liberdade e democracia.
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A LITERATURA INFANTIL NEGRA E A IDENTIDADE DAS
CRIANÇAS AFRO-BRASILEIRAS
INTRODUÇÃO
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que consigam incluir as mulheres e homens negros e
afrodescendentes.
Neste sentido, elaboramos a seguinte questão
problematizadora: por que frequentemente a criança negra não se
identifica com a cultura afro-brasileira? Para obtenção das
respostas ao referido problema, nos utilizamos do aporte teórico
que embasou nosso estudo, o qual se sustenta em Lima (2008),
Machado (2006), Cavaleiro (2012), dentre outros, que tratam a
temática referente à literatura infantil negra e à valorização da
cultura afro-brasileira.
Desse modo, apresentamos proposições referentes à
identidade das crianças afro-brasileiras, literatura infantil negra e
listamos alguns autores desta literatura no Brasil. Infelizmente, é
notório que as escolas brasileiras ainda pouco têm o hábito de, ao
longo do ano letivo, ler e apresentar às crianças a literatura negra
infantil, tão rica e diversificada, que contam histórias de lutas, de
resistência e de vidas negras, as quais representam as crianças afro-
brasileiras.
A pesquisa justifica-se pela necessidade de trabalharmos
temáticas que contribuam de forma significativa para construção
identitária da criança afro-brasileira, e a escola constitui-se espaço
de valorização e aprendizagem da cultura africana, tendo como
mote a literatura infantil negra.
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ainda em nossos dias, nos deparamos com situações de desrespeito
e desvalorização de pessoas negras. Experiências marcantes, as
quais, só quem já sofreu preconceito racial, sabe da dor que
atravessa a alma.
Assim, é que devemos proporcionar às nossas crianças meios
para construírem suas identidades, conhecendo a cultua africana e
todo o legado deixado por estes povos que aqui viveram e fizeram
história. Que possam se autoafirmar afrodescendentes sem
vergonha, orgulhosos de sua descendência.
Nesta perspectiva, é que iremos dialogar sobre a identidade
das crianças negras e afrodescendentes no Brasil. Mas, o que é
identidade? Segundo o dicionário da Língua Portuguesa Saraiva
Júnior (2009, p. 166), identidade é “conjunto de características
próprias de uma pessoa”, sendo estabelecida através do nome,
lugar onde mora, sua data de nascimento e quem foram seus pais.
Para Hall (2011), a identidade é resultado de construções culturais,
não se constitui, portanto, algo pronto e acabado, mas está
permanentemente em processo ao longo da vida.
A identidade, pois, é a construção das peculiaridades pessoais
que vão dizer quem é, e a qual cultura pertencente. As crianças
constroem sua identidade a partir da socialização e interação nos
grupos dos quais fazem parte. Inicialmente, ela é construída na
família e depois na escola, aonde irá se relacionar com outras
crianças e adultos em uma diversidade de aprendizagens. Gomes
nos afirma que:
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de propiciar, especialmente na infância, vivências de respeito à
diversidade, valorização da cultura afro-brasileira e
autoconhecimento.
Apesar de alguns avanços com promulgações de leis sobre a
obrigatoriedade do ensino da cultura negra nas escolas e as
Diretrizes do Ensino da Cultura Afro-brasileira, temos que
garantir, tanto nas famílias, quanto nas escolas, espaços de respeito,
afirmação de direitos e aprendizagens sobre a cultura africana. As
crianças precisam compreender sua origem, e entender o porquê
de seus traços diferenciados: cor da pele, estética facial e corporal,
cabelos enrolados, dentre outros.
A cultura no Brasil de associar o preto a coisas feias, sujeira e
estereótipos relacionados a pessoas de pele preta, afeta
profundamente aqueles que sofrem preconceitos. Com as crianças
não são diferentes, elas sofrem porque são discriminadas e não
entendem a razão da diferenciação de pessoas. Assim,
percebemos que:
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mundo e com as pessoas presentes nessa socialização de forma ampla e
formadora. (SECAD, 2006, p. 37).
Identificar e corrigir a ideologia, ensinar que a diferença pode ser bela, que
a diversidade é enriquecedora e não é sinônimo de desigualdade, é um dos
passos para a reconstrução da auto-estima, do auto-conceito, da cidadania e
da abertura para o acolhimento dos valores das diversas culturas presentes
na sociedade.
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LITERATURA INFANTIL NEGRA
Como a cor é o sinal exterior mais visível da raça, ela tornou-se o critério
através do qual os homens são julgados, sem se levar em conta as suas
aquisições educativas e sociais. As raças de pele clara terminaram
desprezando as raças de pele escura e estas se recusam a continuar aceitando
a condição modesta que lhes pretendem impor. (FANON, 2008, p. 14).
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Neste sentido, não podemos deixar no esquecimento as
contribuições valiosas das culturas africanas, sendo elementos da
identidade negra em nosso país e valorizar apenas as contribuições
do povo europeu para a formação e transformação da sociedade
atual. Assim, vale ressaltar que todos tiveram contribuições
importantes para a nossa cultura: os povos originários
(inicialmente denominados de índios), os povos africanos e os
povos europeus. Contudo, a história contada pelos brancos é outra,
se autovalorizou e menosprezou a cultura originária e africana.
É nesse contexto de desvalorização da cultura negra e afro-
brasileira que a literatura infantil negra entra nas escolas,
timidamente ou obrigatoriamente, para cumprir determinações da
legislação nacional, com a Lei nº. 10.639, de 9 de janeiro de 2003,
que trata da inclusão no currículo oficial da Rede de Ensino, com a
obrigatoriedade do ensino da História e Cultura Afro-Brasileira.
Geralmente, essa temática é trabalhada com as crianças apenas no
mês de novembro, quando se comemora o Dia da Consciência
Negra, e consequentemente essa literatura também é apresentada
apenas neste período de comemorações.
As crianças negras e afrodescendentes brasileiras passam o
ano letivo inteiro trabalhando outras culturas, outras realidades,
acumulam conhecimentos sobre o mundo, mas, não conhecem de
forma aprofundada a sua própria história.
Portanto, faz-se importante lembrar que através da literatura
as crianças aprendem para além da imaginação, visto que, como
nos fala Lima (2008, p. 102): “[...] a literatura é, portanto, um espaço
não apenas de representação neutra, mas de enredos e lógicas, onde
“ao me representar eu me crio, e ao me criar eu me repito”.”
Daí a importância de possibilitar às crianças pequenas o
encontro com a literatura infantil negra, com histórias e escritas que
tratam das relações étnico-raciais e que desfazem concepções
enraizadas sobre o negro, sempre em papéis de submissão e
desvalorização identitária. Faz-se necessário que elas vivenciem
escritas de outras representações étnicas, como as dos povos
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originários e africanos, se distanciando, portanto, da eurocêntrica
que se perpetuou durante tanto tempo.
Apresentamos a seguir o Quadro 1, com alguns autores da
literatura infantil negra no Brasil, para mostrarmos autores negros
que escrevem para as crianças histórias que lhes outorgam outro
olhar para a cultura afro-brasileira, que buscam valorizar a história
de luta e resistência de homens e mulheres negras, e que ajudam na
construção identitária das crianças afro-brasileiras.
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meninas aprendendo a se aceitar fala
sobre a descoberta da beleza própria
e a autoaceitação.
Carmem Lúcia A Bisa fala cada coisa, Formada em Letras, e nascida em
Campos Meu Avô Africano. São Paulo (SP), é editora, consultora
editorial e autora de diversos títulos
infantis.
Meninas negras. Nascida em Belo Horizonte (MG), é
Maria do pedagoga, pós-graduada em Arte
Carmo Educação e escritora afro-brasileira.
Ferreira da Ligada principalmente à literatura
Costa (Madu infanto-juvenil, a autora busca
Costa) difundir a afirmação racial em suas
obras.
Davi Nunes Bucala: a pequena É baiano, nascido na cidade de
princesa do quilombo Salvador. Poeta, comunista,
do cabula. roteirista e escritor de livro infantil.
Nei Lopes Kofi e o menino de Nasceu no Rio de Janeiro – RJ, é
fogo, Histórias do Tio compositor, cantor, escritor,
Jimbo sambista, estudioso das culturas
africanas e autor de obras infantis.
H e l o ís a Histórias da preta, A Nasceu em Porto Alegre. Aos nove
P i re s L i ma semente que veio da anos, mudou-se para São Paulo,
África, O onde reside até hoje. Estudou
marimbondo que Psicologia na PUC e Ciências Sociais
veio do quilombo na USP, onde também concluiu
mestrado em Antropologia (2000), e
doutorado em Antropologia Social
(2005). É autora de livros infantis.
Fonte: Elaborado pela primeira autora.
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Toda obra literária, porém, transmite mensagens não apenas através do texto
escrito. As imagens ilustradas também constroem enredos e cristalizam as
percepções sobre aquele mundo imaginado. Se examinadas como conjunto,
revelam expressões culturais de uma sociedade. A cultura informa através
de seus arranjos simbólicos, valores e crenças que orientam as percepções de
mundo. E se pensarmos nesse universo literário, imaginado pela criação
humana, como um espelho onde me reconheço através dos personagens,
ambientes, sensações? Nesse processo, eu gosto e desgosto de uns e outros e
formo opiniões a respeito daquele ambiente ou daquele tipo de pessoa ou
sentimento. (LIMA, 2008, p. 102, 103).
METODOLOGIA
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Buscamos ainda leis e políticas públicas brasileiras,
relacionadas ao enfrentamento do problema evidenciado na
pesquisa. Relacionamos autores da literatura infantil com suas
respectivas obras literárias que tratam de temáticas relacionadas
aos africanos e afrodescendente brasileiros.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
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podem conhecer através da literatura negra, as histórias, seus
personagens e as “expressões culturais de uma sociedade”.
As escolas públicas, através da Lei nº. 12.244, de 24 de maio de
2010, que dispõe sobre a universalização das bibliotecas nas
instituições de ensino do país, recebem livros paradidáticos para
compor seu acervo literário, e observamos que dentre os títulos
temos um ou outro que contempla a temática da cultura africana.
Todavia, não podemos nos acomodar, busquemos outros meios
para proporcionar a literatura negra para nossas crianças. Hoje,
temos muitos acervos com bons livros e excelentes autores em sites
online, vídeos de leituras e contação de histórias os quais podemos
utilizar para preencher as lacunas da presença física de livros em
nossas escolas.
Importante ressaltar o crescimento no número de autores e
editoras especializadas nesta literatura (mesmo a passos lentos),
dedicados a atender e ajudar as crianças em sua construção
identitária e de valorização da cultura afro-brasileira. Nesse
sentido, almejamos que possamos nos empenhar em oferecer às
crianças possibilidades de autoconhecimento, autoestima e
autoafirmação como criança preta e orgulhosa em pertencer a uma
cultura diversificada.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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realidade que sustenta a supremacia da cultura branca e invisibiliza
a acultura afro-brasileira, tão latente na sociedade. Diante de
inúmeras obras e autores da literatura infantil negra que buscam
resgatar a cultura africana e afro-brasileira, é imprescindível
apresentá-las às crianças, para conhecerem sua história e sua cultura.
Contudo, sabemos que a sociedade brasileira muitas vezes
mascara a existência do preconceito racial em nosso país; o que
implica para que adultos, jovens e crianças ainda hoje sejam vítimas
de atitudes desrespeitosas e preconceituosas de pessoas que não
aceitam a diversidade e a diferença. Por isso, a necessidade de
assumirmos a existência do preconceito racial no Brasil, para
podermos combatê-lo, começando na infância, para que as crianças
construam sua identidade afro-brasileira e cresçam empoderadas e
orgulhosas de si mesmo, e, dessa forma, podemos nos utilizar da
literatura infantil negra, que de forma lúdica e prazerosa, auxilia
nesta construção identitária.
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Acesso em: 04/03/2023.
ZILBERMAN, Regina. A literatura infantil na escola. 11 ed. São
Paulo: Globo.
34
A LEI DE COTAS NO BRASIL:
avanços, desafios e o processo de revisão
INTRODUÇÃO
35
Conhecer a Lei n° 12.711/2012 é necessário para desconstruir
muito dos efeitos do que o velho discurso apregoado da
meritocracia tem trazido para a sociedade, colocando assim muitas
pessoas contra as políticas afirmativas das cotas étnico-raciais. Esse
posicionamento contrário, na maioria das vezes, se dá devido à
falta de conhecimento e de reconhecimento do quanto certa parcela
da população é discriminada, invisibilizada e sofre com a má
distribuição de renda em nosso país. Nesse sentido, a escrita do
artigo se justifica e se apresenta como uma leitura que esclarece e
aponta os avanços e desafios de dez anos da Lei de cotas étnico-
raciais em nosso país e alerta para o processo de revisão que já está
em pauta entre as autoridades competentes.
Para sua escrita, foram tomadas três questões norteadoras: a
Lei n° 12.711 de 29 de agosto de 2012 cumpriu com sua proposta de
redução das desigualdades sociais quanto ao acesso ao ensino
técnico profissional e ao ensino superior? Que desafios e avanços
podem ser pontuados ao longo desde a sua implementação? O que
precisa ser considerado no processo de revisão?
O objetivo geral é, pois, analisar os avanços e desafios desde a
implementação da Lei n° 12.711 de agosto de 2012. Para tanto,
elencamos como objetivos específicos: entender em que se baseiam
os discursos contrários a Lei de Cotas, pontuar os desafios que
permearam a implementação da Lei de Cotas, bem como os
avanços desde a sua implementação e refletir sobre o que precisa
ser revisto na lei findados os 10 anos propostos pelo Superior
Tribunal Federal.
Dessa forma, é feito um apontamento da referida lei falando
de suas características, dos processos que antecederam a sua
promulgação, pontuando em que se baseavam os discursos da
população que se manifestavam contrários a Lei de cotas, bem
como pontuando também os avanços que a lei trouxe quanto ao
combate às inúmeras desigualdades sofridas por parte da
população que não faz parte da elite da sociedade.
36
A LEI N° 12.711/2012 – A Lei de Cotas no Brasil
37
pela constitucionalidade das cotas, dessa forma invalidando todas
essas ações. Sobre essas ações Durans (2019) afirma que:
38
No ano de 2004, no governo do então presidente Luís Inácio
Lula da Silva, houve uma mudança nas políticas de cotas, e a
parceria passava a ser com as instituições privadas, dessa forma foi
criado um dos maiores programas voltados a questão em estudo, o
Programa Universidade para Todos – PROUNI. A Lei 11.096 de 13
de janeiro de 2005 “Institui o Programa Universidade para Todos -
PROUNI, regula a atuação de entidades beneficentes de assistência
social no ensino superior; altera a Lei nº 10.891, de 9 de julho de
2004, e dá outras providências.” (BRASIL; 2005; p.01). O PROUNI
concede bolsas de estudos parciais e integrais e perdura até os dias
de hoje como uma política de destaque no campo da Educação
Superior em nosso país.
Segundo Durans (2019), as primeiras instituições a adotarem o
sistema de cotas foram a UNB – Universidade de Brasília, a UERJ –
Universidade Estadual do Rio de Janeiro, a UENF – Universidade
Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, a UNEB –
Universidade do Estado da Bahia e a UEMS – Universidade
Estadual de Mato Grosso do Sul.
Após a criação dessas leis e da política de cotas já ser uma
realidade, é que foi instituída a Lei n° 12.711/2012, como meio de
garantir maior igualdade no acesso ao ensino superior e ao ensino
técnico no Brasil. Melero, Martins e Rossi (2018) destacam que há "
[...] na estrutura educacional brasileira uma elitização que discrimina
os menos favorecidos; ao verificar os resultados dos vestibulares,
observa-se o favorecimento de alunos brancos oriundos de escolas
privadas, especialmente em cursos mais concorridos” (p.05). Essa é
uma realidade que ainda afeta os estudantes das escolas públicas,
com destaque aos estudantes negros.
A Lei n° 12.711/2012 foi marcada por uma trajetória cheia de
lutas e desafios para aqueles que dela se valeriam diante da
sociedade, essas lutas se caracterizam principalmente pelo discurso
da meritocracia. Aqui se destaca que como toda política afirmativa,
tem um caráter temporário, o STF decidiu a necessidade de revisão
da lei após dez anos de sua implementação, com intenção de rever
39
o que logrou êxito e o que não foi eficaz, para assim buscar
aperfeiçoá-la de acordo com as demandas atuais.
Art.19°: "É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios
criar distinções entre brasileiros ou preferências entre si"(BRASIL;1988) -
com isso defendiam a ideia de que as cotas colocavam em posição de
distinção as pessoas que se encaixavam nelas em relação àqueles que delas
não podiam fazer uso;
40
Art.208 : "O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a
garantia de acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da
criação artística, segundo a capacidade de cada um" - os participantes
sustentaram o discurso da condição de igualdade baseados nesse artigo, e
defendem que “[...] as cotas raciais não promovem a igualdade, mas apenas
acentuam desigualdades prévias ou produzem novas desigualdades”
(MANIFESTO: Cidadãos anti-racistas contra as leis raciais; 2008).
41
Segundo Godoi e Santos (2021), esse crescimento do número
de alunos nas instituições federais fez com que as universidades
estaduais também aderissem à política de cotas, a exemplo citam a
Universidade de São Paulo (USP) e a Universidade de Campinas
(Unicamp), que eram instituições que se manifestavam contra essa
política, como resultado tiveram um crescimento no perfil dos
alunos egressos, como mostra as citações abaixo referentes à USP e
à Unicamp, respectivamente.
42
O grande desafio está na comprovação desses critérios, pois
“[...] há um forte controle dos mecanismos dessas ações”
(DURANS, 2019, p.15), o que faz com que o processo possa ser
burlado de acordo com os interesses de quem o faz. Pereira (2003)
pontua que esses critérios são arcaicos e anacrônicos, promovendo
constrangimento a quem necessita fazer uso das cotas, acrescenta
ainda que os direitos básicos como saúde, escola e assistência social
são submetidos a regras contratuais determinadas pelos
governantes.
Em meio aos avanços e desafios se chegou ao final dos 10 anos
estabelecidos para sua revisão, e agora se inicia mais um momento
marcante na luta pelos direitos de parte da população que sempre foi
invisibilizada por aqueles que detêm o poder econômico nas mãos.
METODOLOGIA
43
com o intuito de fazer o levantamento e discussão dos principais
pontos abordados nessas escritas.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O processo de revisão
44
considerar alguns pontos que segundo Godoi e Santos (2021)
precisam ser considerados.
O primeiro desses pontos é o que está estabelecido no Art. 6°
da Lei: “O Ministério da Educação e a Secretaria Especial de
Políticas de Promoção da Igualdade Racial, da Presidência da
República, serão responsáveis pelo acompanhamento e avaliação
do programa de que trata esta Lei, ouvida a Fundação Nacional do
Índio (FUNAI)” (BRASIL, 2012). Essa medida foi reforçada com o
Decreto n° 7.824/2012, o qual determina que esse acompanhamento
e avaliação devessem ser feitos em forma de relatório anual, no
entanto, esses relatórios nunca foram feitos e o que se sabe sobre
esse monitoramento é através de estudos e pesquisas realizados
através de dados oficiais, como é o caso do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE) e do próprio Exame Nacional do
Ensino Médio, no qual os alunos respondem um questionário
socioeconômico.
O segundo ponto está relacionado às cotas que tomam como
base a renda familiar per capita de até 1,5 salário-mínimo, pois essa
condição acaba gerando uma discrepância quanto a distribuição
(porcentagem igual) de vagas destinadas a esse público e ao
público com renda inferior a 1,5 salário-mínimo, uma vez que “[...]
historicamente os alunos que têm rendimento familiar abaixo de
1,5 salário-mínimo per capita representam muito mais do que 50%
do contingente total de estudantes da escola pública.” (GODOI;
SANTOS, 2021. P.21)
Outro destaque feito pelos autores é a necessidade de rever os
concursos de públicos de docentes universitários, haja vista que o
número de professores negros nas universidades é mínimo perto
da quantidade de professores brancos, e pensar em uma educação
para diversidade é também promover possibilidades de uma maior
heterogeneidade no quadro docente das universidades. É
preocupante o dado apontado por Godoi e Santos (2021), quanto a
esse ponto especificamente: “[...] não deve passar de 500 o número
de professores negros, entre os aproximadamente 45 mil
professores universitários, então ativos nas universidades federais
45
[...]” (p.22). Embora esse dado seja referente ao ano de 2005,
acreditamos que pouco mudou.
A Lei n° 12.990/2014 garante a oferta de 20% das vagas em
concursos públicos e ainda assim não tem sido suficiente para
mudar essa realidade, pois existem limitações que acabam por
impedir, como é o caso do Art.1°, o qual prescreve que essa reserva
de vaga só será garantida quando o número de vagas oferecidas for
igual ou superior a 3. Godoi e Santos (2021) salientam que essa
condição se configura como uma má aplicação da Lei de Cotas e
deve ser revisto juntamente com a revisão da Lei n° 12.711/2012.
Argumentamos, ainda, que um dos pontos que merece
atenção nessa revisão é a autodeclaração e o processo de
heteroidentificação. Godoi e Santos (2021) advertem que:
46
aderir ao sistema de cotas, isso devido ao “[...] dilema da
intelectualidade negra” (GODOI; SANTOS, 2021, p.25).
47
uma simples leitura, tomando todo o contexto que a escrita pode
contemplar. Para essa revisão, já se contam mais de 70 emendas,
que vão desde o acréscimo de critérios, retiradas de certos pontos
até a inclusão de novos públicos na política de cotas.
Dez anos não foram suficientes para o alcance dos objetivos
propostos na lei, o que evidencia a sociedade altamente racista e
preconceituosa em que vivemos. Sociedade essa que se recusa a ver
que as desigualdades entre os povos de nosso país é uma realidade,
e que só a força de vontade e o talento não são eficazes o suficiente
nessa luta.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
48
viveu a escravidão nos tempos passados, mas que carrega o peso
de sua cor para onde vai, sendo marginalizados e discriminados
pelo simples fato de ser negro. A política de cotas ganha um peso
ainda maior para os negros, pois através delas muitos têm
conseguindo chegar às instituições de ensino e assim buscar um
lugar na sociedade, altamente excludente e competitiva.
Com a Lei n° 12.711/2012 se teve grandes avanços no acesso de
negros, indígenas e pobres ao ensino superior, no entanto percebe-
se que ainda existem muitas lacunas que precisam ser revisadas e
outros pontos que necessitam ser acrescentados para que a garantia
de acesso à educação seja uma realidade cada vez mais viva para a
população que necessita fazer uso das cotas.
Não podemos nos calar nesse processo de revisão e
precisamos estar atentos às emendas que os parlamentares estão
propondo, para que os direitos já garantidos não sejam usurpados
aos nossos olhos e para que novos direitos sejam acrescidos à lei de
forma a aumentar ainda mais o número de estudantes que possuem
direito às cotas, nas academias.
REFERÊNCIAS
49
_________. Lei n° 12.711 de 29 de agosto de 2012. Disponível em:
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/lei/
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https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2014/lei/l
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[online]. 2022, v. 65, n. 1 [Acessado 13 Dezembro 2022].
Disponível em: https://doi.org/10.1590/dados.2022.65.1.258. Epub
20 Dez 2021. ISSN 1678-4588.
50
REPRESENTAÇÃO DO OUTRO NA EDUCAÇÃO ESCOLAR-
vozes sem eco: sobre a inclusão através das diferenças
INTRODUÇÃO
51
Tal ação ocorre de forma “piedosa” ou preconceituosa,
formulando representações direcionadas às pessoas consideradas
com deficiência ou por manifestações de sexualidades não
heteronormativas. Portanto, optamos por uma pesquisa que
procura delinear quais formas de representações são construídas
em indivíduos que possuem alguma deficiência ou performance
sexual distante da norma construída pela sociedade, em aspectos
estéticos e cognitivos.
Nessa trajetória, relacionada aos caminhos da inclusão e
aceitação do outro, encontramos diversas barreiras não apenas
arquitetônicas, mas de violência, ganhando até nome de bullying
(palavra de origem inglesa que pode ser traduzida como
“intimidar” ou “amedrontar”). Sua principal característica é a
agressão (física, psicológica, moral ou material), sendo sempre
intencional e repetida constantemente sem alguma motivação
específica. Deste modo, a criança ou adolescente acaba sendo
vítima de situações constrangedoras e desumanas.
Na construção do estudo, a fundamentação teórica elegeu uma
análise da literatura com base em revisão bibliográfica, verificando
como os agravantes de uma não inclusão, que integra e não acolhe
o outro, têm alterado o desenvolvimento de alunos, afetando ainda
a formação da personalidade e identidade desses educandos.
O objetivo geral deste estudo se configura, pois, em
compreender as representações vivenciadas por alunos
considerados inadequados por uma sociedade que direciona
padrões de normalidade. Como objetivos específicos, delineamos:
identificar como a aceitação ou não do outro pode influenciar no
desenvolvimento sociocognitivo dentro do ambiente escolar; e
refletir sobre a escola como agente inclusivo, respeitando as
diferenças e diversidades de cada aluno.
Quando uma educação que não respeita multiplicidade dos
alunos ocorre, os ingressos do sistema de ensino sofrem
preconceitos e marginalizações, perdendo o direito a educação e até
uma vida digna. É possível percebemos que se trata de uma luta
travada ao longo da história contra a intolerância, a vergonha e a
52
ignorância acerca de uma exclusão social, por vezes envolvendo o
núcleo familiar, ocasionando em um abandono intelectual e
favorecendo a rejeição e promoção de atitudes bárbaras em relação
aos educandos ditos diferentes.
Desse modo, foi fomentada a seguinte indagação: Como
podemos modificar concepções e comportamentos de não
aceitação ao outro, devido sua singularidade e diversidade própria,
através dos meios educativos para promover o ensino e a
aprendizagem de todos os alunos?
Assim, o princípio para levantar esse questionamento partiu
da verificação se a educação básica está reconhecendo e
respondendo às diversas dificuldades de seus alunos, acomodando
os diferentes estilos e ritmos de aprendizagem e assegurando uma
educação de qualidade para todos mediante currículos
apropriados, modificações organizacionais, estratégias de ensino,
recursos e parcerias com a comunidade.
O artigo está dividido em duas sessões: na primeira, A
inclusão do acesso, permanência e participação de todos no sistema
regular de ensino, na qual dialogamos com autores como Prieto
(2006), Figueredo (2013), dentre outros. Na segunda, Tessituras da
inclusão no contexto escolar, estabelecemos algumas discussões
com Louro (2019), Silva (2016) e demais autores que abordam uma
educação que não padronize os discentes, sendo estes também os
pilares para a construção teórica.
53
inclusão, não sabendo ministrar uma aula para a diversidade,
ficando receosos de como lecionar suas disciplinas de forma que
todos participem do processo de ensino e aprendizagem.
Surgindo assim, dentro da esfera educacional, diversos
conflitos de pensamentos sobre como devem ocorrer o acesso, e,
sobretudo, a participação e permanência de alunos considerados
com deficiências, necessidade educacionais especiais, transtornos,
etnias, culturas e manifestações diferenciadas. Esses ingressos
estão de certa forma vulneráveis a determinadas atitudes
discriminatórias em virtudes de muitos colegas de classe, gestão e
especialmente professores, que não compreendem como é ser um
profissional que lecione para uma turma heterogênica, a qual é um
constante desafio para a sua construção docente.
Estes profissionais estão rodeados por um multiculturalismo
e situações adversas que antes não ocorriam em uma escola
direcionada apenas para uma minoria detentora do poder, que
subjugava outros sujeitos que eram marginalizados e impedidos de
frequentar os bancos escolares. Entretanto, com o advento das
políticas públicas voltadas à inclusão de deficiências físicas e
dificuldades de aprendizagem, os portões para o ingresso de
alunos por meio de uma perspectiva da inclusão de todos foram
abertos. Então vamos dentro desse contexto procurar meios para
simplificar o que é inclusão escolar com base no que dispõe o
Ministério da Educação do Brasil (MEC):
54
um ensino de qualidade, equidade e com humanidade, sendo
valorizados pelas suas diferenças e levados a modelos de perfeição
inexistentes, mas criados por uma sociedade sem empatia pelo
outro. Segundo Prieto (2006, p. 56), “a formação de profissionais da
educação é tema de destacado valor quando a perspectiva do
sistema de ensino é garantir a matrícula de todos os alunos no
ensino regular, particularmente na classe comum”. Essa conjuntura
educativa visa o ingresso de todos os educandos independente de
qualquer caraterística, singularidade ou diferença.
E quais seriam esses aprendizes que são objetos de apreciação
da Educação Inclusiva? Como eles se apresentam dentro desse
universo educacional? Seguindo alguns apontamentos na
Declaração de Salamanca e com base no artigo 5 da resolução n°
02/2001 do documento de Diretrizes Nacionais para a Educação
Especial na Educação Básica, são contemplados os alunos que
apresentam:
55
deficiências se chama necessidades educacionais especiais, a expressão
significa:
A inclusão não diz respeito a colocar as crianças nas escolas regulares, mas
a mudar as escolas [...] diz respeito a ajudar todos os professores a aceitarem
a responsabilidade quanto à aprendizagem de todas as crianças [...] e não
apenas a aquelas que são rotuladas com o termo “necessidades educacionais
especiais” (MITTLER, 2003, p.16).
56
aprendizagem, precisamos compreender que a inclusão
educacional também precisa se relacionar aos aspectos sociais,
como o caso da sexualidade, assim, aprofundaremos este elemento
no próximo tópico.
57
ser encarada como uma limitação ou um transtorno global que
necessite de diagnósticos.
Ao refletirmos sobre uma escola não discriminatória, que
respeite a diferença dos estudantes, uma das primeiras ações que
podem corroborar para essa efetivação é o processo de
reconhecimento. Como afirma Silva (2012, p.97), “a questão do
outro e da diferença não pode deixar de ser matéria de preocupação
pedagógica e curricular”. É preciso reconhecer e não impor
determinados padrões aos alunos, ao mesmo tempo em que devem
ser evitadas práticas que se manifestam com posições neutras.
A partir do momento que o educador tenta ignorar a
multiplicidade existente no cotidiano escolar, ensinamentos que
contribuem para estranhar aqueles que não se encaixam na norma
criada podem surgir:
58
com limitação pelo seu nome, não utilizando o nome da deficiência
ou termos pejorativos, tais como: o deficiente, o aluno da inclusão,
o coitadinho. Se torna perceptível que ao concretizar esta ação,
consequentemente também envolve levar o aprendizado de
abordagens não excludentes para os demais alunos.
Porém, o elemento da linguagem não se relaciona
exclusivamente a deficiências, podendo também estar atrelada a
outros elementos de inferiorizam os sujeitos. Louro (2014, p.64)
discute que dentro do ambiente escolar “(...) temos de estar
atentas/os, sobretudo, para nossa linguagem, procurando perceber
o sexíssimo, o racismo e o etnocentrismo que ela frequentemente
carrega e institui”. Assim, refletir sobre sua própria linguagem
enquanto docente se torna um ato considerável, tendo em vista que
ela pode auxiliar na construção de um ambiente ríspido e
intolerante.
Outro elemento que acentua a segregação entre os indivíduos
no contexto escolar são as brincadeiras e insultos carregados de
preconceitos. Segundo Junqueira (2013, p.486), “tais ‘brincadeiras’
ora camuflam ora explicitam injúrias e insultos, jogos de poder que
marcam a consciência, inscrevem-se no corpo e na memória da
vítima e moldam pedagogicamente suas relações com o mundo”.
Dessa forma, para tornar a sala de aula distante de tais
atravessamentos, os profissionais necessitam de estratégias que
diminuam sua frequência, buscando alterações de posturas.
Como uma forma de tentar inibir esse comportamento, Silva
(2016) orienta o educador a discutir e refletir com todos os alunos
sobre as consequências que os insultos podem acarretar,
conversando sobre os elementos que dão origem a exclusão e
descriminação social. Ao pensar nesta perspectiva, a noção de
desconstrução surge rapidamente, por diversas vezes o
aparecimento de práticas discriminatórias no ambiente escolar é
alimentada pela convivência com sujeitos que instituem padrões de
normalidade. Sendo assim, a problematização explícita desses
insultos aparece como uma alternativa para contê-los.
59
METODOLOGIA
60
RESULTADOS E DISCUSSÃO
61
docente. Com isso, a interpretação do discente é reconhecida
dentro da vida escolar, valorizando particularidades que se
configuram com riquezas e são necessárias para a ressignificação
do ser educando.
Lanuti e Mantoan (2022) retratam sobe a classificação do “bom
aluno”, mas como determinar o que é um bom aluno? Quais as
representações que formam esse imaginário de ser esse ideal de
discente? Analisando tais questionamentos, é perceptível como
bases excludentes se consolidam. Podemos compreender que os
alunos são sujeitos heterogêneos, ao utilizar do enquadramento
dentro da linha de qualidade, baseada em aspectos quantitativos
(notas) e padrões de normalização, se torna uma ação inviável.
Muitos professores reforçam determinadas figuras ou
imagens de modelo, os quais chegam até ser cruéis. Nos discentes
que não alcançam tais metas classificatórias, sejam externas e
internas, podem surgir sentimentos de frustação. Assim:
62
padrões de sucesso e fracasso, estar nela pode ser arriscado e instável para
alguns. (LANUTI; MANTOAN, 2022, p.26)
63
Além dos critérios mais comuns de representação (citados acima), nas
escolas os alunos ainda são definidos pelo seu comportamento social,
desempenho nas atividades, rendimentos e notas das avaliações, interesse
por um determinado assunto, habilidades para uma determinada área do
conhecimento e pelos modos que expressam suas ideias. (LANUTI;
MANTOAN, 2022, p.26)
A escola não pode continuar ignorando o que acontece ao seu redor. Não
pode continuar anulando e marginalizando as diferenças – culturais, sociais,
étnicas – nos processos pelos quais forma e instrui os alunos. Afinal de
contas, aprender implica ser capaz de expressar, dos mais variados modos,
o que sabemos; implica representar o mundo a partir de nossas origens, de
nossos valores e sentimentos (MANTOAN, 2003, p.15)
64
formação de professores e conscientização da comunidade escolar,
é preciso pensarmos uma escola que não possua um único padrão
de alunado, mas que seja um ambiente onde todos devem ser
respeitos e compreendidos.
65
Conforme foi observado na fala dos autores, os elementos de
exclusão podem agir como uma força que sufoca os alunos,
acontecendo interruptamente por diversos setores ao mesmo
tempo, atingindo tanto os fatores sociais, como também os físicos.
Sendo assim, são esperadas determinadas alternativas, como
mudanças de postura e problematizações de conteúdos já
impostos. Apesar de compreendermos que se trata de uma tarefa
que não pode ser realizada instantaneamente, a urgência de
mudanças é improrrogável.
Como forma de alternativa ao combate de exclusões e à
construção de uma educação inclusiva em todos os sentidos, se faz
interessante pensarmos nos processos de formação de professores.
Tendo como consideração a pluralidade existente no ambiente
escolar, os docentes necessitam de um currículo que envolva tais
abordagens, no sentido de corroborar para a construção de um
local que não estabeleça demarcações de anormalidades sobre os
alunos que não se encaixem nos padrões criados.
É interessante refletirmos que a colocação encontrada nos
resultados, referente à diferença como ser preocupação curricular,
não se restringe necessariamente ao campo institucional. Quando o
professor dialoga sobre essa temática, apresentando considerações
viáveis para o rompimento de insultos realizados, por exemplo,
assume uma conduta que auxilia tanto na sala de aula, como no
corpo social. Uma sociedade permeada de cidadãos não praticantes
de descriminações se torna um espaço confortável para vivência de
todos os indivíduos em sua heterogeneidade.
Entretanto, seja no envolvimento de exclusões por elementos
sociais ou por deficiências, o docente necessita se manter atento
quanto aos conflitos que podem aparecer. Para Silva (2012, p.97),
“a volta do outro, do diferente, é inevitável, explodindo em
conflitos, confrontos, hostilidades e até mesmo violência. O
reprimido tende a voltar – reforçado e multiplicado”. Assim, a
emancipação antes citada deve propiciar a aceitação de si próprio e
do outro, não gerar conflitos, tendo o professor essa função de
mediar tais aspectos.
66
Conforme foi observado na discussão teórica realizada, além
dos elementos abstratos como falas e imposição de
comportamento, a exclusão também é impressa por meios
concretos. Na sala de aula, são verificáveis alguns instrumentos
que corroboram em segregações, como o caso dos livros didáticos,
recurso constantemente usado para auxiliar no processo de ensino-
aprendizagem. Neste caso, apresentar outros direcionamentos aos
alunos, trazendo exemplos de representações pode se tornar uma
posição viável. O aluno necessita se reconhecer nestes documentos
para compreender que a pluralidade é algo aceitável.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
67
e estratégias coerentes para socializar de forma educativa as
diversas crianças, adolescentes e jovens que chegam as instituições
educacionais.
Para tanto, além do diálogo realizado até então, se faz
indispensável discutirmos sobre os elementos de acessibilidade
dentro das instituições escolares, principalmente quando os fatores
de deficiências são colocados em foco. Sobre essa questão, a escola
deve oferecer uma arquitetura que contribua para a qualidade
educacional e alcance os objetivos pedagógicos (KOWALTOWSKI,
2011). Devemos refletir sobre os espaços físicos internos, como o
oferecimento de rampas e piso tátil, bem como instrumentos
didáticos que contribuem na inclusão.
Para uma educação que abrace a multiplicidade existente deve
reconhecer e questionar os elementos que compõe a sala de aula,
ao exemplo dos livros didáticos e paradidáticos. Segundo Louro
(2014, p.74), esses documentos “(...) têm sido objeto de várias
investigações que neles examinam as representações dos gêneros,
dos grupos étnicos, das classes sociais”. O estabelecimento de tais
padrões pode pressionar o alunado a podar suas particularidades
e a viver sobre as expectativas colocadas sobre eles, obedecendo
fielmente às noções normativas, que desprezam e ignoram a
pluralidade.
O aprofundamento teórico nos levou a compreender que
determinados atravessamentos normativos advêm de construções
sociais e se distanciam da perspectiva de naturalidade, como as
questões étnicas, de gênero, ou sexualidade. Sendo assim, trabalhar
essa temática no cotidiano escolar também pode oferecer subsídios
para a construção de sujeitos emancipados. que não se considerem
inferiores ou inválidos. A partir do momento que o aluno entende
que suas particularidades não devem ser consideradas impróprias,
as relações de soberania e submissão tendem a diminuir.
68
REFERÊNCIAS
69
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In: MINAYO, Maria Cecília de Souza (org). Pesquisa Social: teoria,
método e criatividade. Petrópolis, RJ: Vozes, 2016.
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STAINBACK S.; STAINBACK W. Inclusão: Um guia para
Educadores. Porto Alegre: Artmed, 1999.
70
AFROCENTRICIDADE NAS AULAS DE
EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR
INTRODUÇÃO
71
gênero musical lundu, que em conjunto com outros gêneros, deu
início à base rítmica do maxixe, samba, choro e bossa nova, além
da contribuição rítmica, também foram trazidos alguns
instrumentos musicais, como o berimbau, o afoxé e o agogô, todos
de origem africana. O destaque bastante conhecido deles no Brasil
é o berimbau, instrumento utilizado para criar o ritmo que caminha
nos passos da capoeira, uma dança afro-brasileira, pois nasceu no
Brasil (ALMEIDA, 2017, p.55).
No decorrer da sua trajetória, a Educação Física foi abordada
de diferentes maneiras. No começo tinha caráter tecnicista, onde
se destacava as pessoas fortes para defender a pátria. Em
momentos atuais, a Educação Física Escolar vem trabalhando com
as diversidades culturais dentro de suas aulas, para promover
alunos independentes e críticos através de seu material (FREITAS,
2021, p.71).
Pensando no papel educacional e referente às aulas de
Educação Física, surgiu a problemática desse estudo: Como a
Educação Física pode contribuir no combate às barreiras negativas
e equivocadas que permeiam a cultura afro-brasileira?
O objetivo desse estudo é analisar a história do povo negro
brasileiro, identificando a perspectiva de educação afrocentrada
através das aulas de Educação Física. É necessário que os
professores de Educação Física sejam capazes de quebrar conceitos
pré-estabelecidos que neguem a cultura negra, vencendo o racismo
existente no Brasil. Outra grande contribuição está no fato deste
servir de insumo para discussões acerca da temática no campo da
Educação Física, servindo como uma rica fonte de informação para
os estudantes em formação, tendo em vista que oferecerá
informações atualizadas e servirá de base para futuros estudos.
72
escravos para o país durante o período colonial. A cultura afro-
brasileira é caracterizada e construída pela incorporação das
expressões culturais dos africanos, com outras tradições e culturas
que formam a identidade brasileira como a indígena e a europeia
(BITIOLI; TONIOSSO, 2018, p.59).
Os afrodescendentes ou descendentes africanos fazem parte
da população brasileira e se declaram de cor ou raça preta ou parda.
Essa população ajudou muito na construção do Brasil, a cultura
africana chegou ao Brasil com os povos escravizados trazidos da
África, estes escravos pertenciam a diversas etnias, falavam
idiomas diferentes e trouxeram tradições distintas (CHAGAS,
2018, p.80).
A cultura africana ajudou a constituir a base dos atuais
costumes e traduções dos brasileiros, a cultura afro-brasileira está
presente em quase todas as formas que compõem a identidade
cultural nacional, como a dança, música, culinária, religião,
folclore, entre outras, constituída a partir das heranças culturais de
diferentes povos africanos (DIAS, 2019, p.67). De acordo com Dias
(2019, p. 67):
73
os bantus, oriundos de regiões que pertencem à Angola, Congo e
Moçambique (BITIOLI; TONIOSSO, 2018, p.59).
Outro aspecto de grande influência da cultura africana foi à
música e a dança. Com um tambor como base para os ritmos,
muitos gêneros musicais e de danças se consolidarão no país, como
o maracatu, a cavalhada, a congada, a capoeira, o samba, entre
outros (CHAGAS, 2018, p.80).
Vale ressaltar que os negros não são descendentes de escravos,
como dizem os livros escolares, são descendentes de civilizações
africanas de reinados fortes e poderosos, são descendentes de reis,
rainhas, príncipes e princesas, são parentes de homens e mulheres
que desenvolveram a escrita, astrologia, a ciências e as pirâmides,
são fruto de um povo que desenvolveu as técnicas agrícolas e que
domina a medicina alternativa (BITIOLI; TONIOSSO, 2018, p.57).
A referida lei não surgiu de um dia para o outro. Ao contrário, antes de ser
sancionada, passou por diversos estágios, resultando dos movimentos
negros da década de 1970 e do esforço de simpatizantes da causa negra na
década de 1980, quando diversos pesquisadores alertaram para a evasão e
para o déficit de alunos negros nas escolas, em razão, entre outras causas, da
ausência de conteúdos afrocêntricos que valorizassem a cultura negra de
forma abrangente e positiva (PEREIRA, 2019, p.126).
74
ela busca reconhecer e valorizar as contribuições da cultura
africana, dos africanos escraviza e dos afro-brasileiros para a
formação do país (ALMEIDA, 2017, p.55).
De acordo com o autor J. Aguiar; F. Aguiar (2019, p.95)
75
A data 20 de novembro foi escolhida por ser a data da morte
de Zumbi dos Palmares em 20 de novembro 1695. A Lei nº 10.639
de 09 de janeiro de 2003, incluiu o dia 20 de novembro no
calendário escolar e tornou obrigatório o ensino sobre história e
cultura afro-brasileira nas escolas (BRASIL, 2003).
A data traz reflexões sobre o passado e o presente, pois sabe-
se que apesar da Abolição da Escravatura, em 13 de maio de 1888,
a luta ainda continua. Esse dia também é uma forma de valorizar-
se um povo que contribuiu para o desenvolvimento da cultura
brasileira através da sua culinária, música, dança e lutas (AGUIAR;
AGUIAR, 2019, p.95).
METODOLOGIA
76
pesquisa no Brasil, que tenham publicação exclusiva em idioma
estrangeiro e que tenham a data da publicação fora da
compreendida entre 2012 a 2016.
Desta forma, serão utilizadas obras sobre Conselho Nacional
de Educação (CNE), Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN), Lei
de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN), Projeto
Político Pedagógico (PPP), Organização das Nações Unidas
(ONU), entre outras, mediante materiais gráficos e institucionais e
noticiais relacionadas à temática.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
77
etnias, os povos de língua iorubá, os de língua bantos e os
denominados sudaneses (FREITAS, 2018, p.78).
A população brasileira que possui descendentes africanos e
está vinculada a ancestrais que nasceram dessas três grandes
etnias, principalmente na Bahia, em Pernambuco, no Maranhão, na
Paraíba, no Rio de Janeiro e no norte do estado de Minas Gerais,
embora em outros locais do país a presença africana também tenha
sido marcante (RICHARPSON, 2020, p.91). Nesse contexto, de
acordo com Mattos:
78
açúcar, que era realizado em fazendas chamadas engenhos
(GOMES, 2019, p.18).
No engenho, normalmente tinha a casa grande, onde viviam
os donos da fazenda e alguns escravos trabalhavam fazendo
serviços domésticos. A senzala, que era uma espécie de galpão
onde os escravos ficavam amontoados e em condições precárias, o
canavial, a moenda e a roça era o local onde eles trabalhavam
(MATTOS, p.70, 2017)
Nesse contexto, muitos escravos tentavam fugir, alguns eram
capturados pelo capitão do mato e sofriam com duros castigos
físicos. Porém, os que conseguiam se refugiavam em locais
chamados de quilombos, os moradores dos quilombos eram
chamados de quilombolas. O mais famoso deles foi Zumbi dos
Palmares, ele liderou o Quilombo dos Palmares, sendo capturado e
morto no dia 20 de novembro de 1625 (FREITAS, 2018, p.78).
Dessa forma, em muitos estados do Brasil houve líderes que,
assim como o zumbi, lutaram contra a escravização. Em 13 de maio
de 1888, a Princesa Isabel assinou a Lei Áurea, oficialmente Lei n.º
3.353 de 13 de maio de 1888, que decretou o fim da escravidão no
Brasil. Mas, apesar do fim da escravatura por muito tempo,
faltaram leis e políticas públicas para que os negros libertos
conseguissem se adaptar e fossem aceitos pela sociedade brasileira
(BRASIL, 1988).
79
sociedade brasileira, como também influenciou na sua formação
cultural, como na música, na dança, instrumentos musicais, na
religião, e na culinária (FREITAS, 2021, p.71).
Para Ferraz (2017) na música e na dança, os africanos
trouxeram para a formação do país a sua cultura, rica de ritmos e
compassos rápidos, acompanhados e marcados por instrumentos
de percussão, como Afoxé, o agogô, o tambor, atabaque, cuíca,
marimbas e berimbau. Esses ritmos e compassos rápidos
permitiam na dança e na música variações e movimentos diferentes
e são a base de boa parte da música popular brasileira, por
exemplo, o gênero musical bundudo, que era cantado e dançado
pelos negros escravizados, deu origem com o passar do tempo, ao
maxixe, ao choro, a bossa nova e ao samba.
Na dança, os africanos trouxeram a capoeira, a congada, o
samba de roda e na religião tem-se o candomblé e umbanda. A
culinária afro-brasileira é adaptação de pratos de origem africana
com alimentos cultivados no Brasil. Os africanos tiveram que
recriar seus quitutes com os ingredientes locais, em lugar do
inhame, usaram a mandioca e para substituir o sorgo, utilizaram o
milho para compensar a falta de pimentas específicas, recorreram
aos condimentos locais e, mais tarde, ao azeite de dendê. Dentre os
pratos de origem africana, que são bastante apreciados na culinária
brasileira, estão o acarajé, o angu, a feijoada, o vatapá e muitos
outros pratos e receitas (FREITAS, 2021, p.71).
Brincadeiras Afrocentradas
80
brincadeiras com influência africana (FERRAZ, 2017). No Quadro
1 abaixo será explicado três brincadeiras da afro-brasileira.
As Danças Afrocentradas
81
retirados do seu país de origem para realizarem trabalho
escravocrata em solo brasileiro.
Esse estilo de dança foi registrado primeiramente na
composição de religiões africanas, e começou a se fortalecer em
meados do século XIX, com a ajuda do estribo sudaneses bantos,
dois povos situados em território africano e os indígenas que foram
responsáveis pela criação do candomblé e de outros segmentos
regionais, que deram origem a dança dos caboclos e outros aspectos
da cultura africana. A diversidade de ritmos culturais existentes,
foram oriundas de uma miscigenação que desenvolveu a
identidade cultural do Brasil (RICHARPSON, 2020, p.91).
De acordo com Hypolito (2019) Ao longo dos anos, a dança de
origem africana começou a ser modelada e encaminhada a
diferentes estados, a sua trajetória teve início com o fim da
escravidão e, em meados dos anos XX e XXX do século passado. Os
negros começam a migrar para o Rio de Janeiro deixando marcas
no samba e umbanda, uma variação da religião afro-brasileira, com
influências do Kardecismo, que desenvolveu um novo modelo de
entidade cristã denominada exu, no estado que contribuiu com a
fixação e a valorização de raízes da mestiçagem projetada no país.
Nos anos L e LX deste mesmo século, a crescente
industrialização fez com que o povo, que no início migrava para o
Rio de Janeiro, deslocam- se para São Paulo, consequentemente,
acabam divulgando e difundindo a cultura afro-brasileira. Nos
anos 70, com o movimento da contracultura, olhos são voltados
para o nordeste e a Bahia é redescoberta em diferentes setores
culturais, o estado é finalmente visto como um ponto turístico de
máxima importância para a história Brasil, por ser formado
basicamente, pela cultura afro (HYPOLITO, 2019).
Nesse contexto, depois que a umbanda alcançou um devido
status, o candomblé tornou-se referência e a dança passa a ser
visualizada de maneira marginalizada, por estar quase sempre
associada a uma adoração de deuses africanos (RICHARPSON,
2020, p.91).
82
Influência Africana na Música e Dança Brasileira
83
Cultura Afro-brasileira e Educação Física
84
equivocados que permeiam a cultura afro-brasileira, conectando as
atividades com o corpo, os conhecimentos sobre a história da
África, sua influência na cultura brasileira e conteúdos de outros
componentes curriculares (ALMEIDA, 2017).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
85
REFERÊNCIAS
86
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uma resposta ao racismo. In: II congresso de Educação, Iporá, p.70-
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HYPOLITO, A. L. M. Trabalho docente e o novo plano nacional de
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RICHARPSON, R. J. Pesquisa Social: métodos e técnicas. São Paulo:
Atlas, p.90-98, 2020.
87
88
RACISMO: UMA HERANÇA HISTÓRICA
INTRODUÇÃO
89
os colonizadores, implantar a escravidão. Deve-se salientar que o
negro tornado mercadoria não era escravo, mas sim um
escravizado. Ninguém nasce escravo, é assim transformado em
uma ordem escravocrata, pois a escravidão não é um fato natural,
é uma condição social imposta.
A história da escravidão no Brasil foi tão cruel e inacreditável
que choca e revolta a todos até hoje. Durante três séculos, o país
conviveu com essa prática, o que confunde a imagem do
trabalhador escravizado com a cor da pele do africano. Um sinal
claro de racismo. Mesmo após 130 anos de abolição da escravatura,
as consequências e as mazelas ainda perduram através da pobreza,
violência, indiferença a essas desigualdades por parte da
sociedade, oportunidades desiguais de trabalho e de estudo, entre
brancos e negros.
90
catequizá-lo, aculturá-lo; e os portugueses se viram forçados a
trocar de mão-de-obra.
Ainda no século XVI, começaram a chegar os primeiros
africanos através dos navios negreiros. Essa prática perdurou por
praticamente trezentos anos. Prática que enriqueceu a muitos:
Colonizadores, fazendeiros, traficantes de escravizados. Possuir ou
não escravizados chegou a ser medida de poder aquisito no Brasil:
quanto maior o número de escravizados africanos, maior era sua
fortuna.
A vida de um trabalhador escravizado não era fácil.
Trabalhava praticamente 20 horas por dia, era mal alimentado,
sofriam castigos físicos por qualquer motivo, ou sem motivo
aparente. Para as mulheres escravizadas era bem mais complicado,
porque os senhores as usavam como escravas sexuais. Esses
castigos eram impostos para que houvesse o temor dos senhores,
para que não houvesse tentativa de fugas ou rebeliões. Mortes eram
frequentes, devido aos maus tratos, castigos fortes o suficiente para
levar humanos à morte.
Por três séculos, essa prática perdurou no Brasil, foi o país do
continente americano que mais traficou humanos da África: quase
cinco milhões de pessoas. Nesse ínterim, revoltas, fugas, rebeliões
eram constantes nesse universo de poder e escravidão. Daí,
começam a surgir os quilombos – lugares para onde os negros
refugiados se escondiam. Vários quilombos se formaram ao longo
desse período. Mas o que se destacou em população e força foi o
Quilombo dos Palmares – no estado de Alagoas (na Zona da Mata).
91
foram sendo criadas no país contra a escravidão, embora por muito
tempo essas leis não foram respeitadas, e os negros continuavam
sendo tratados como sub-humanos. Considerando a história do
processo abolicionista, a escravidão teve fim no país em 1888, com
a lei Áurea. Esse fato se deu principalmente, através da pressão
externa dos países europeus, de movimentos internos
abolicionistas, da resistência dos escravizados. A abolição chegou
para os negros, porém foram entregues à própria sorte: sem
oportunidades de trabalho (remunerado) que lhes dessem meios de
sobrevivência digna, sem acesso aos estudos, foram para as
periferias das cidades e continuaram sendo vítimas de preconceitos
e violências.
A PÓS-ABOLIÇÃO
92
severamente questionada. Afinal, a privação de liberdade não
combinava com a nova etapa do capitalismo industrial. Assim, era
necessário transformar a mão-de-obra escravizada em
trabalhadores assalariados. Pois seriam os futuros consumidores
em seu sistema capitalista. Dessa forma, a Inglaterra proibiu o
tráfico de escravos: transformou a Marinha Real Britânica numa
arma contra o tráfico de escravos em qualquer parte do mundo,
pois permitiu que seus navios abordassem navios negreiros de
qualquer nacionalidade. Importar pessoas para serem escravizadas
acabou se tornando cada vez mais caro.
A força do abolicionismo em nosso país apresentou-se de
diversas maneiras. Associações abolicionistas surgiram aos montes
no país, conferências abolicionistas foram organizadas, eventos
públicos realizados, levantaram-se fundos para pagar a alforria de
escravos, advogados passaram a atuar efetivamente contra
senhores de escravos, jornalistas publicavam textos defendendo a
abolição e populares abrigavam escravos fugidos em suas casas. Os
escravos também atuaram na desestabilização da escravidão e
realizavam fugas em massa ou fugas individuais, formavam
quilombos que se tornavam centros de resistência, organizavam
revoltas que resultavam na morte de seus senhores. A década de
1880 registrou inúmeros casos de revoltas e fugas de escravos.
No Brasil, o tráfico foi oficialmente abolido em 1850, com a "Lei
Eusébio de Queirós". Mais adiante, em 1871, a "Lei do Ventre Livre"
garantiu a liberdade aos filhos de escravos; e, em 1879, teve início
a campanha abolicionista liderada por intelectuais e políticos.
Posteriormente, a "Lei dos Sexagenários" (1885) garantia a
liberdade aos escravos maiores de 60 anos. No final da década de
1880, o Brasil era o único país independente da América Latina que
ainda vivia no regime de escravidão. A abolição da escravidão no
país foi concedida pela Lei Áurea, aprovada pelo Senado e assinada
pela princesa Isabel, dia 13 de maio de 1888.
A campanha que culminou com a abolição da escravidão foi a
primeira manifestação coletiva a mobilizar pessoas e a encontrar
adeptos em todas as camadas sociais brasileiras. No entanto, após
93
a assinatura da Lei Áurea, não houve uma orientação destinada a
integrar os negros às novas regras de uma sociedade baseada no
trabalho assalariado. Esta é uma história de tragédias, descaso,
preconceitos, injustiças e dor. Uma ferida que o Brasil carrega até
os dias de hoje. Como destaca Florestan Fernandes (1964, p. 3):
94
A abolição não garantiu aos negros uma condição de vida
jurídica, digna de um trabalhador, nem provocou uma
transformação radical na vida do país. Os grandes latifúndios
continuaram a existir, continuando a exploração dos negros ou
agora com a mão de obra dos imigrantes europeus. E a população
escravizada, depois de libertada, foi marginalizada e entregues à
própria sorte. O negro inserido como escravizado no Brasil foi
gravado como a figura feia, preguiçosa, pessoa ruim, mau
elemento, inferiorizado pela sua cor da pele (sentimento esse já
bem definido no país pela figura do europeu – que se autointitulou
um ser superior devido a sua cor branca).
95
Dentro de semelhante contexto econômico, psicossocial e sociocultural, as
humilhações, os ressentimentos e os ódios, acumulados pelo escravo e pelo
liberto sob a escravidão e exacerbados de forma terrível pelas desilusões
recentes, lavravam destrutivamente o ânimo de negros e mulatos. Tudo
contribuía para aumentar sua insegurança, natural numa fase de mudanças
tão bruscas, e para agravar ansiedades e frustrações que não podiam ser
canalizadas “para fora” nem corrigidas construtivamente, através de
mecanismos psicossociais de interação com os “outros” e de integração à
ordem social emergente. As alternativas de escolha valorizadas social e
moralmente desde o passado remoto, conduziam as aspirações e as
identificações predominantes na direção da equiparação com os brancos das
camadas superiores. O êxito dos imigrantes fortaleceu ainda mais as
expectativas daí decorrentes. Todavia, as alternativas reais iam da
caboclização no campo à pauperização nas cidades, passando por “contratos
de trabalho” que não traduziam melhora sensível da situação da existência
anterior, piorando-a muitas vezes. (FERNANDES, 2008, p. 64).
96
olhos e cabelos. Os negros da África e os autóctones da Austrália possuem
pele escura por causa da concentração da melanina.
O RACISMO
O Brasil [...] ignorou o continente africano. Voltou suas costas à África logo
depois que não conseguiu mais burlar a proibição do comércio da carne
africana imposta pela Inglaterra por volta de 1850. A imigração maciça de
europeus ocorreu depois de alguns anos, e as classes dominantes
enfatizaram sua intenção e ação o sentido de arrancar da mente e do coração
dos descendentes escravos a imagem da África como uma lembrança
positiva de nação, de pátria, de terra nativa; nunca em nosso sistema
educativo se ensinou qualquer disciplina que revelasse algum apreço ou
respeito às culturas, artes, línguas e religiões de origem africana.
97
Há uma relação muito próxima entre a escravidão a que foram submetidos
os negros e a recusa às pessoas de cor negra... ‘O estigma em relação aos
negros tem sido reforçado pelos interesses econômicos e sociais que levaram
os povos negros à escravidão’. Daí o negro ter se convertido em símbolo de
sujeição e de inferioridade. E este conceito negativo sobre o negro foi forjado
(RUIZ, 1988, p. 100).
98
ambientes de lazer. Todos os dias nos deparamos ainda com ações
dessa natureza.
O RACISMO ESTRUTURAL
99
que utilizam mecanismos institucionais para impor seus interesses
políticos e econômicos”.
Esforços de toda a sociedade devem ser usados para que se
combata o racismo estrutural. Práticas antirracistas realmente
efetivas devem ser disseminadas, debatidas em todos os setores da
sociedade, principalmente nos órgãos de educação, na formação
direta dos indivíduos, para que novas mentalidades de igualdade
e diversidade sejam formadas. É urgente criar ações afirmativas
que busquem aumentar a participação desses grupos no processo
político, no acesso à educação, saúde, emprego, entre outros.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
100
A superação do racismo passa pela reflexão sobre formas de sociabilidade
que não se alimentem de uma lógica de conflitos, contradições e
antagonismos sociais que no máximo podem ser mantidos sob controle, mas
nunca resolvidos. Todavia, a busca por uma nova economia e por formas
alternativas de organização é tarefa impossível sem que o racismo e outras
formas de discriminação sejam compreendidas como parte essencial dos
processos de exploração e de opressão de uma sociedade que se quer
transformar. (ALMEIDA, 2019, p. 127).
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101
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102
DECOLONIALIDADE DO GRAFFITI E REEXISTÊNCIA
103
com o hip-hop condizente a Nóvoa (2022, p. 93), “minha recusa de
aceitar passivamente este estado de coisas. O meu interesse é o
caminho, a procura, a viagem, nunca a chegada a um qualquer
porto seguro”. E na militância de reexistir educacionalmente,
culturalmente, socialmente e politicamente atento ao desvelado
por Gonzales (1984, p. 233), “parece que a gente não chegou a esse
estado de coisas. O que parece é que a gente nunca saiu dele”.
A exemplificar a indagação acima, de acordo com as
Diretrizes Operacionais (IEMA, 2022), o Instituto Estadual de
Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão objetiva contribuir
com o decênio dedicado aos povos de ascendência africana. E as
atividades de aprendizagem intercultural do Programa de Escolas
Associadas da Organização das Nações Unidas para Educação, a
Ciência e a Cultura - UNESCO estão integradas a esse instituto.
Tais aspectos constituem a formulação da problemática a ser
analisada no âmbito da pesquisa “A pedagogia do graffiti e os
discursos acerca das relações étnico-raciais para construção decolonial de
reexistência”. Todavia, advertimos com Lopes e Macedo (2011, p.
40): “pode-se entender os discursos pedagógicos e curriculares
como atos de poder, o poder de significar, de criar sentidos e
hegemonizá-los”.
Ademais, inquietamos com Ribeiro (2019, p. 26): “a herança
escravista faz com que o mundo do trabalho seja particularmente
racista - o que também o torna um dos espaços emque a luta
antirracista pode ser mais transformadora”.
A respeito ao embate antirracista aferimos com Sant’Ana
(2005, p. 40), “cresce o nível de consciência de que o racismo é
maléfico e precisa ser combatido, denunciado e eliminado. E a sua
postura crítica como professor diante desta luta e denúncia é de
fundamental importância”.
O grafitti do qual consideramos suas possibilidades de
atuação antirracista, outrorafazia parte da disciplina de Arte, no
entanto, se alargou para a Área de Linguagem. Nessecontexto,
tornam-se questionáveis tanto interdisciplinaridade quanto arte
integral que pode ser realizada com duas ou mais linguagens
104
artísticas, entre Artes Visuais, Dança, Música e Teatro.Podendo ser
considerado o graffiti um movimento cultural e uma prática
educativa, entendemos-o também com Silva (2016, p. 134),
“artefato cultural, isto é, como o resultado de um processo de
construção social”. Sendo o mundo esmiuçado pertinente a Lima
(2022, p. 17), “de outra maneira, com um olhar mais atento”.
Conciliamos o desígnio cultural e pedagógico do graffiti com
Frigotto (2008, p. 48) “otrabalho interdisciplinar se apresenta como
uma problema crucial, tanto na produção do conhecimento quanto
nos processos educativos e de ensino”. E assemelhamos a Japiassu
(1976, p. 87), “constituem, por assim dizer, duas tarefas
complementares, tanto de uma ciência particular quanto da
integração das disciplinas”.
Ainda mais incisivo a respeito da cientificidade
interdisciplinar provocamos com Japiassu (2016, p. 05),
“lamentamos que em nosso atual sistema educacional seja
praticamente inexistente a prática interdisciplinar. O que existe
são encontrosmultidisciplinares”.
Adotamos a educação em interdisciplinaridade científica
como a afirmação de Demo (1998, p. 13), “processo de formação da
competência humana histórica. Entendemos por competências a
condição de não apenas fazer, mas de saber fazer e sobretudo de
refazer permanentemente nossa relação com a sociedade e a
natureza”.
Em consequência do violento histórico brasileiro de
colonialismo que se modificou, acentuamos com Machado e Soares
(2021, p. 988), “com a colonialidade, os modos de poder, de saber,
de ser dos povos colonizados são simplesmente silenciados e
busca-se impor os valores europeus, norte-cêntricos, como únicos
e universais”.
No tocante ao fechamento social brasileiro da colonialidade,
dizemos com Marín (2017, p. 89-90), “a sociedade fechada” é
entendida por Freire como aquela que teve sua origem na
experiência colonial do Brasil, escravista e antidemocrática”.
105
Nessa circunstância de colonialidade brasileira do conhecer,
“o currículo se liga com oprocesso de reprodução cultural e social”
(SILVA, 2016, p. 48). Suplementos com Silva (2016, p. 128), “o que
se tornava importante era a transmissão, ao Outro subjugado, de
uma determinada forma de conhecimento”.
Para que haja a suplantação educacional da imposição
cultural e social de reprodução ao outro, compactuamos com
Saviani (2012, p. 78), “o processo educativo é passagem da
desigualdade à igualdade”. O autor afirma ainda que “só é
possível considerar o processo educativo em seu conjunto como
democrático sob a condição de se distinguir a democracia como
possibilidade no ponto de partida e a democracia como realidade
no ponto de chegada” (SAVIANI, 2012, p. 78).
Para a transfiguração curricular em equidade diante do
histórico de colonialismo e colonialidade refutamos a imposição
cultural e social de reprodução ao outro no processo educativo
com Ferreira (2018, p. 151), “despatriarcalizar, desracializar,
desheteronormatizar, descristianizar, desocidentalizar são
desafios que se colocam na agenda do dia e,consequentemente, aos
currículos”.
Se faz necessário transfigurar humanamente a Educação de
maneira cientificamente despatriarcalizada, desracializada,
desheteronormatizada, descristianizada e desocidentalizada com
amplitude cultural, social e política. Como apontamos com Saviani
(2012, p. 111), “criar situações irreversíveis de tal modo que as
mudanças de governo não desmantelem aquilo que está sendo
construído”.
Consequentemente, entendemos a necessidade de
humanização no criar estrutural da própria Educação
independente de governo condicente a Walsh (2017, p. 53),
“criação de estruturas socioeducativas que dotem os “oprimidos”
com as ferramentas necessárias para revelar as raízes de sua
opressão e desumanização, identificar suas estruturas e agir sobre
elas também são componentes centrais” (WALSH, 2017, p. 48).
106
Apesar de muitos avanços e conquistas ainda estamos em
condições estruturais opressoras desumanas na Educação, por isso
concordamos com Walsh (2017, p. 53), “humanização [...] é
entendida a partir da desumanização produzida e inerente à
condição colonial; isto é, à colonialidade do ser, do saber e do
poder, e da própria existência”.
O desafio de humanizar e educar enviesa o Ensino Superior e
a Educação Básica, “o Brasil ainda é um dos países com os maiores
índices de analfabetismo. E esse problema foi acentuando-se, uma
vez que, à medida que o tempo passava, as questões relativas ao
aumento do analfabetismo também se agravavam” (SAVIANI,
2011, p. 94).
Pretendemos combater os discursos inversos a gravidade do
anafalbetismo brasileiro enviesados no Ensino Superior e na
Educação Básica que atentamos com Machado e Soares (2021, p.
994), “os grupos historicamente excluídos são, na verdade,
ludibriados, visto que, na prática, permanecem silenciados. Os
sujeitos que detêm o poder (político, econômico ou simbólico)
não renunciam a suas prerrogativas de classe”. Para tal
proposição, “perguntar como esses discursos se impuseram e a
vê-los como algo que pode e deve ser desconstruído” (LOPES;
MACEDO, 2011, p. 41).
Nesse sentido, almejamos desenvolver a pesquisa “A pedagogia
do graffiti e os discursos acerca das relações étnico-raciais para construção
decolonial de reexistência” levando em conta o enfoque dado aqui ao
princípio de reexistência, decolonialidade e linguagem artística do
graffiti, criticando, construindo e desconstruindo os padrões e
valores produzidos no que se refere à Educação. Sendo assim,
incitamos com Machado e Soares (2021, p. 1001), “que não haja
“padrões” e sim espaço para as distintas vozes”.
Atestamos em reexistência e decolonialidade da linguagem
artística do graffiti a despadronização das diversidade de vozes
com Ferreira (2018, p. 123), “quando não há justiça social e
equidade, o direito de todos é o direito de poucos que não querem
perder seus privilégios”. Por tanto, necessitamos arguir nos
107
espaços enunciando como Mignolo (2017, p.24) “colocar em
interrogação a enunciação (quando, por quê, onde, para quê) nos
dota do conhecimento necessário para criar e transformar”.
Sendo assim, ensejamos uma discussão com os
entrelaçamentos científicos entre reexistência, decolonialidade e
linguagem artística do graffiti, por meio de uma pesquisa
bibliográfica, para examinarmos a compreensão da concepção de
linguagem artística dograffiti como uma pesquisa. Nesse intento,
condizemos com Sá-Silva (2022, p. 26), “escrever é um ato político-
pedagógico, intencional, revelador de existência”.
Inicialmente neste artigo estudamos sobre a conceituação de
saberes artísticos e científicos. Em seguida, continuamos a nossa
investigação com o propósito de perceber as lacunas na literatura
acadêmica entre reexistência, decolonialidade e linguagem
artística do graffiti. Logo após conhecemos o graffiti na qualidade
de intervenção artística, educacional, cultural e política. E, em
seguida, procuraremos compreender o reexistir, o decolonial e a
arte em convergência no pesquisar social.
108
Entendemos que as diferenças sociais foram tratadas pelo
Ocidente de modo violento eassassino desde o início da expansão
européia em territórios dos povos originários de outros
continentes. E que para Dove (2017, p. 30), “chegada de
Colombo/Colon nas Grandes Antilhas, que marcou o início do
holocausto dos povos das Primeiras Nações”.
Desde o início do holocausto causado pela Europa o que antes
seria em outros continentes exisitir foi assassinado violentamente,
tendo os povos originários desses territórios além das margens
européias a necessidade de reexistir. Em um sentido decolonial, o
modo de sentir o mundo e a comunicação de sociabilidade da
linguagem artística do graffiti nos aproximam dessa reexistência
originária das Primeiras Nações.
Sendo assim, relatamos com Carbonel (2006, p. 64), “desde o
tempo das cavernas, o ser humano explora materiais, cores,
superfícies, formas, sons, silêncios, movimentos, procurando criar
sentido para sua existência e buscando comunicar-se”. A autora
alega ainda que “a expressão artística sempre apresenta uma visão
de mundo” (CARBONEL, 2006, p. 64).
Em princípio se tratando da averiguação para a nossa melhor
compreensão da caracterização comunitária das relações étnico-
raciais, da reexistência e da linguagem artísticado graffiti, tentando
também aproximar com a fala da Minayo (2007) no que se refere a
coletivo, a vida cotidiana e a humanidade, para melhor
compreensão de ambas as pesquisas retomamos a Durans (2018, p.
94), “esse pertencimento a um coletivo é também valorizado nas
produções que, por vezes, não recebem uma autoria individual,
mas sim coletiva”.
Correspondemos o pertencer da coletividade vivenciada pelo
hip-hop em suas produções artísticas, culturais e políticas à educação
e a sociedade em constante humanização de ambas, “tornando os
produtos (rap, graffiti, especialmente) como obras que trazem uma
visão de mundo compartilhada” (DURANS, 2018, p. 94).
Diferente da perspectiva hegemônica da sociedade ocidental,
acentuamos o conhecimento humano transgressor do hip-hop na
109
mesma linha de pensamento de Varzea, Ainbinder e Duarte (2010, p.
153), “o grafite é uma elegia ao transitório [...] é um sinal, aponta para
o passado, afirma o presente e avisa sobre o futuro”.
Para nós do hip-hop, tanto com a atualidade quanto com o
histórico da linguagem artística do graffiti, nos alertamos para
conscientemente transgredirmos entre passado, presente e o
futuro que deve ser mais humano e menos hegemônico. Nessa
acepção,“conhecer significa estar consciente do poder do
conhecimento para a produção da vida material, social e
existencial da humanidade” (PIMENTA, 2015, p. 08).
Tal fato de vivência humana da linguagem artística do graffiti
é corroborado quando descrevemos em historicidade a sua
produção das suas obras. Como Veratti e Silva (2014, p. 05),
“elemento do movimento HIP HOP mais antigo, podendo ser
retratado desde os tempos das cavernas por exemplo [...], os
artistas conseguiam se expressar utilizando o efeito aerado do
grafite atual”.
Podemos considerar que desde o período da arte rupestre já
havia experimentação e utilização de materiais variados durante o
processo de criação nas pinturas em paredes,possuindo assim as
suas técnicas e tecnologias de modo artesanal que ultrapassaram
os considerados modos primitivos daquela época segundo as
ideologias eurocêntricas.
Continuando o aprendizado na primeira parte do livrório
pesquisa social: teoria, método e criatividade (MINAYO, 2007),
pertinente as concepções de ciência e cientificidade, conceito de
metodologia de pesquisa, teorias, pesquisa qualitativa e ciclo da
pesquisa qualitativa, consegui entender melhor as permeações dos
conflitos e das contradições no campo científico para na prática
continuar o desenvolvimento do projeto de pesquisa.
Para além da arte e do graffiti, podemos investigar dos
diferentes períodos históricos como por exemplo, algumas
tecnologias, seus princípios e suas contribuições que aindapodem
estar presentes nos dias de hoje, cooperando inclusive com as
desconstruções e reconstruções das ciências sociais em seus
110
desafios científicos, sociais, culturais e políticos. Pois, “fue con la
invasión colonial-imperial de estas tierras de Abya Yala - las que
fueron renombradas “América” por los invasores como acto
político, epistémico, colonial - que este enlace empezó tomar forma
y sentido” (WALSH, 2013, p. 25).
De outra forma e outro sentido, renomeamos em Abya Yala
epistemologicamente evidenciando dentre os postulados artísticos
e científicos, problematizando com a linguagem artística do graffiti
as consequências coloniais-imperiais. Para Wanner (2001, p. 14), “a
questão polêmica, arte X ciência, sempre vem à tona, quando o
assunto é pesquisa, metodologias científicas e artísticas, suas
diferenças, semelhanças, seus conceitos eaplicabilidades”.
Nos atentamos a desvalorização da ciência da arte com a
linguagem artística do graffiti, distinguindo o artístico versus o
científico como ato político de colonialidade. Concordamos com
Tonet (2013, p. 732), "trata-se da divisão entre trabalho manual e
trabalho intelectual [...] Saber e fazer são separados e essa
separação é justificada teoricamente e contribui poderosamente
para manter a exploração e a dominação de classes”.
Mesmo com os avanços científicos da arte, os saberes e fazeres
do seu trabalho intelectual artístico enquanto pesquisa ainda
continuam tendo que combater a exploração da hegemonia de
colonialidade nos conceitos, nas metodologias e aplicabilidades.
Comtal característica, pretendemos continuar combatendo
consistentemente com a linguagem artística do graffiti no nosso
pesquisar.
Apesar de anunciar que nada sucede a criação do
pesquisador declama Minayo (2007, p. 25), “diferentemente da arte
e da poesia que se baseiam na inspiração, a pesquisa é um trabalho
artesanal que não prescinde da criatividade". Enunciamos uma
concepção diferente com Bourriaud (2011 p. 25), “toda prática
artística tem início com um conjunto de decisões (a escolha das
ferramentas, dos suportes, dos temas) e pela escolha de uma
atitude com a qual o artista habitará esses materiais”.
111
Assim como a pesquisa pode ser considerada um trabalho de
artesanato, as atividades humanas artísticas também podem
corresponder aos procedimentos, maneiras concretas e potenciais
de realização da cientificidade na pesquisa social. Há possibilidade
de produzir artede pesquisar para que possa se tornar “capaz de
exercitar um novo olhar e uma nova postura” (GOLDENBERG,
2020, p. 106). Vale salientar ainda que não reafirmo a forma como
são utilizadas algumas expressões, “primitivos”, “tempo das
cavernas”, “arte como inspiração”, mesmo entendendo as suas
colocações positivas.
Problematizamos também com um novo olhar e uma nova
postura a cientificidade da arte com a linguagem artística do graffiti
retomando o cultural, social e político juntamente com os nossos
povos originários e tradicionais das primeiras nações que tiveram
suas tecnologias e ciências de saberes, fazeres e vivências
usurpadas pela modernidade.
Em converso com Mignolo (2017, p. 17), “não podemos
encontrar o caminho de saída no reservatório da modernidade
(Grécia, Roma, Renascimento, Ilustração). Se nos dirigirmos ali,
permaneceremos presos à ilusão de que não há outra maneira de
pensar, fazer e viver”.
Questionamos esse científico ilusório moderno de pensar,
fazer e viver transposto pela colonialidade com a linguagem
artística do graffiti complementando ainda com Tonet (2013, p.
733), “a ciência moderna [...] se situa na passagem da centralidade
do objeto (na concepção greco‑medieval) para a centralidade do
sujeito (na concepção moderna)”. Alertamos a partir dos nossos
povos originários e tradicionais das primeiras nações emrelação ao
problema da centralidade da ciência moderna no sujeito europeu
buscando outra passagem científica de pensar, fazer e viver com a
linguagem artística do graffiti.
Nos descentralizamos da concepção creditada pela
modernidade com Dove (2017, p. 27), “o argumento europeu não
é historicamente creditável, porque é baseado em informaçõesque
têm excluído experiências outras, que não suas próprias”. E
112
contestamos essa histórica exclusão europeia com Tonet (2013, p.
731), “a cientificidade (não simplesmente a ciência) do mundo
moderno é a forma do fazer científico historicamente condicionada
pelo mundo moderno”.
Em consideração à cientificidade de outras experiências para
além do europeu, com ênfase nas dos nossos povos originários
e tradicionais das primeiras nações, contrariamos com a
linguagem artística do graffiti a ciência moderna.
Portanto, interrogamos com Silva (2016, p. 46) “a questão não
é saber qual conhecimento é verdadeiro, mas qual conhecimento é
considerado verdadeiro”. Mesmo que entendamos como Dove
(2017, p.24), “o holocausto ainda está em processo nos continentes
América, no norte e sul [...] a cultura europeia é antitética à cultura
e à sobrevivência dos povos das Primeiras Nações”.
Quanto à prática apreendida referente ao contexto de
observação, interação e descoberta (MINAYO, 2007), ainda será
desenvolvida na nossa pesquisa em construção decolonial de
reexistência com a linguagem artística do graffiti contrariando o
conhecimento da Europa considerado como verdadeiro na
América que exclui nos seus próprios territóriosas suas ciências
dos nossos povos originários e tradicionais das primeiras nações.
Almejamos contextualizar cientificamente na pesquisa para
com a educação das relações étnico-raciais por intermédio da
linguagem artística do graffiti como experiência contra o
holocausto ainda em processo. Inquirindo com o primor apontado
por Lima (2022, p. 16) “qualquer descoberta deveria ser sempre
libertadora, porque de alguma forma, é através delas que nos
constituímos sujeitos, mas a trajetória dela educação formal ou
informal mostra que nem sempre é assim”.
Em nossa pesquisa intencionalmente libertadora,
continuaremos nos constituindo enquanto sujeitos históricos
tendo nos nossos estudos científicos a continuação do
aprofundamento de determinado referencial teórico concernente à
reexistência, decolonialidade e linguagem artística do graffiti.
113
Apresentamos a seguir as seções sistematizadas e
atravessadas pela cientificidade da linguagem artística do graffiti
que teve até o presente momento textual um diálogo com o
capítulo dois o projeto de pesquisa como exercício científico e artesanato
intelectual do livro citado anteriormente, fontes diversas e práticas
educativas.
METODOLOGIA
114
diante dele”. E que segundo Demo (1998, p. 122), “consiste em
conhecer e analisar as contribuições teóricassobre um tema ou
problema”.
A dinâmica deste trabalho se desenvolveu vislumbrando o
olhar crítico à ciência, formação docente e interculturalidade.
Sendo assim, conforme Minayo e Sanches (1993, p. 245), “o
material primordial da investigação qualitativa é a palavra que
expressa a falacotidiana, seja nas relações afetivas e técnicas, seja
nos discursos intelectuais, burocráticos e políticos”.
Pretendemos aqui, portanto, desenvolver um artigo no qual o
objeto não fosse tratado isoladamente, mas enquanto uma
singularidade que se articula com a totalidade histórica, permeada
por contradições e rica em determinações. No mesmo
discernimento denota Trivinos (1987, p. 171): não é possível
analisar as informações tal como elas se apresentam. É necessário
organizá-las, classificá-las e, o que é mais importante, interpretá-
las dentro de um contexto amplo, para distinguir ofundamental do
desnecessário, buscar as explicações e significados dos pontos de
vista. O isolamento dos materiais reunidos só pode ser
compreendido, num primeiro momento, para melhor atingir suas
conexões dentro de um quadro teórico de um contexto maior.
Cabe ressaltar que consideramos necessária uma pesquisa
bibliográfica sistemática para análise da literatura acadêmica
acerca da temática reexistência, decolonialidade e linguagem
artística do graffiti, que está atravessando todo o processo de
investigação, objetivando o aprofundamento no futuro de suas
categorias da pesquisa.
Nesse sentido, consideramos adequada e mesmo
imprescindível a pesquisa bibliográfica no que se refere à
reexistência, decolonialidade e linguagem artística do graffiti como
forma de colher subsídios teóricos e outras informações que
sustentem a análise do atual quadro de vinculações entre ambas.
115
REAPRENDIZAGENS DECOLONIAIS
116
pedagógicas que dão presença à persistência, insistência e
sobrevivência do decolonial, ao mesmo tempo que o constroem,
representam e promovem pedagogicamente”.
Sendo assim, o graffiti/graphite/grafite apreendido
singularmente como um desenho de linguagem artística originária
desde a arte rupestre, tem em si um histórico pedagógico de
existência que requer decolonialidade para reexistir
culturalmente.
Desse modo, concebemos a culturalidade de uma das
linguagens artísticas da arte rupestre (o graffiti/graphite/grafite)
como pedagógica. Para Silva (2016, p. 139), “ao mesmo tempo que
a cultura em geral é vista como uma pedagogia, a pedagogia é vista
como uma forma cultural: o cultural torna-se pedagógico e a
pedagogia torna-se cultural”.
Na contemporaneidade, as composições dos afazeres culturais e
pedagógicos de determinada linguagem artística (o
graffiti/graphite/grafite) foram desenhadas inicialmente pelo
movimento social combativo do hip-hop, “construídas de diferentes
maneiras dentro das próprias lutas, como uma necessidade de
fundamentar e entender criticamente o que está contra, o que deve
ser resistido, levantar e agir” (WALSH, 2017, p. 63).
Fundamentamos o graffiti/graphite/grafite criticamente a partir
do hip-hop como desenho de construção decolonial de reexistência
para nos levantarmos e agirmos seja com a arte rupestre ou com a
linguagem artística contemporânea ao que devemos resistir.
A vista disso, compreendemos com Walsh (2017, p. 36), "os
desenhos [...] abrem uma janela para práticas políticas, sociais,
culturais, epistêmicas e existenciais insurgentes que ensinam a se
rebelar, resistir, seguir, prosperar e viver". Portanto, podendo ser
considerado o graffiti/graphite/grafite um movimento cultural e
uma prática educativa originária da arte rupestre para além da
apropriação europeia, o entendemos também com Silva (2016, p.
134), “artefato cultural, isto é, como o resultado de um processo de
construção social”.
117
O artefato cultural resultante das vivências culturais de uma
linguagem artística (graffiti/graphite/grafite) que tornaram-se
educacionais e pedagógicas, praticadas desde a arte rupestre até a
contemporaneidade, retratam construções sociais de uma
diversidade de povos. Como asseguramos com Coelho (2018, p.
13), “ao retratar as experiências da população, o grafite se
transforma em forma de aprendizado e incita a observação e
sensibilização humana, atitudes consideradas como propulsoras
do conhecimento”.
A humanização no conhecer propulsante dos conhecimentos
propiciados com uma linguagem artística (no caso o
graffiti/graphite/grafite) impulsiona as aprendizagens das
experiências das populações, das quais destacamos as dos povos
originários e tradicionais pertencentes às primeiras nações. E
podemos ainda dizer com Marín (2017, p. 77), "a educação popular
incluiu, entre outros referentes igualmente importantes, o debate
sobre a 'conscientização' e o diálogo" como necessários para a
produção de outras formas de conhecimento".
Neste sentido, a linguagem artística (do graffiti/graphite/
grafite) imersa na vida cotidiana ajuda a explorar o sentido
artístico de base popular, aproximando-se do cotidiano escolar e
possibilitando reflexões acerca da realidade das relações étnico-
raciais no Brasil e das culturas negra e indígena. Especificamente,
“o trabalho com grafite oferece ao estudante uma oportunidade de
[...] desenvolver capacidades individuais e coletivas através da
reflexão, do pesquisar, do pensar, do conviver e do aprender”
(COELHO, 2018, p. 17).
A respeito do aparecimento da linguagem artística (do
graffiti/graphite/grafite) no trabalho educacional e desenvolvimento
de capacidades individuais e coletivas, temos pesquisado a sua
cientificidade para com a educação das relações étnico-raciais.
Investigando “a importância do hip-hop no desenvolvimento de
conhecimentos para além da educação formal, tais como educação
política e direito à cidadania que reflete sobre a identidade social e
cultural” (COUTINHO, 2018, p. 36).
118
Torna-se de fundamental importância para nós uma reflexão
sobre a possibilidade de retorno aos questionamentos a respeito
do atendimento educacional e quais possibilidades de
contribuição no processo de aprendizagem por meio da linguagem
artística (do graffiti/graphite/grafite) enquanto educação formal e
não formal correlacionando o hip-hop e a Educação. Por
conseguinte, invocamos o processo dialético de letramentos da sua
cultura pedagógica de transformação com Dove (2017, p. 22), “a
força motivadora para a mudança social é, na realidade, uma
dialética cultural”.
Dessa forma cultural de motivação para a transformação
social, podemos averiguar o potencial interveniente que
representa a linguagem artística (do graffiti/graphite/grafite) para
os desafios e as possibilidades da educação das relações étnico-
raciais em suas atuações de letramento. Isso posto, demonstramos
com Souza (2019, p. 71), “falar em letramento de reexistência
implica considerar as práticas de letramentos desenvolvidas em
âmbito nãoescolar, marcadas pelas identidades sociais dos sujeitos
nelas envolvidos” .
À vista disso, o discurso pedagógico do rap, a linguagem
corporal do break e, principalmente, tratando-se da imagem
educativa do graffiti, são instrumentos importantes para o fazer
didático-pedagógico relacionado à realidade social e precisa ser
investigado no interior e exterior dos muros escolares e das
normas institucionais referentes à educação. Advertimos
condizente a Franco (2022, p. 18), “é necessária e fundamental a
presença da didática nos processos de formação, uma didática
crítica, intercultural, multidimensional e focada em uma nova
forma de considerar o ensino”.
A concepção de Paulo Freire enfatiza na educação uma
metodologia de ensino e aprendizagem que busca não somente o
treinamento de capital humano, mas sim almeja a conscientização
tanto dos educadores quanto dos educandos preparando-os para
uma transformação social, “quando falo em educação como
intervenção, me refiro tanto à que aspira a mudanças [...] quanto à
119
que, pelo contrário, reacionariamente pretende imobilizar a
História e manter a ordem injusta” (FREIRE, 1996, p. 68).
As leituras e escritas segundo a perspectiva do pensamento
freiriano não separam a escola do mundo, principalmente os
conhecimentos prévios do contexto social vivenciado
cotidianamente e suas expectativas. Nesse emboço libertário,
compactuamos com Lima (2022, p. 17), “é preciso ir além do óbvio,
descobrir que ler e escrever é uma forma importante de resistir a
outros claros propósitos de extermínio e violência”.
Movimento este de ensaios de liberdade pela educação de
forma a trabalhar a consciência e o desejo, interferidos
historicamente que resultaram na perda de parte significativa da
memória das pessoas pertencentes aos povos explorados e
oprimidos. Traçamos nessa mesma linha de pensamento com Sá-
Silva (2022), “quem escreve reaprende a escrever. Quem escreve
sinaliza outras escritas. Quem escreve incita outros a escrever.
Escrever tornar-se, desta forma, uma potente ação didática”.
Dessa maneira libertária de descobrir, reaprender, ler e escrever,
delineamos a reexistência decolonial da linguagem artística (do
graffiti/graphite/grafite) com Pimenta (2015, p. 08), “consciência e
sabedoria envolvem reflexão, isto é, capacidade de produzir novas
formas de existência, de humanização. E é nessa trama que se pode
entender as relações entre conhecimento e poder.”
Precisamos reexistir produzindo entre conhecimento e poder
novas formas de existência, uma delas está sendo com linguagem
artística (do graffiti/graphite/grafite) na nossa pesquisa. Reiteramos
com Marín (2017, p. 91), “a consciência avançará também para a
ideia de "compromisso histórico", que foi possível graças ao
desenvolvimento da consciência histórica como síntese da relação
consciência-mundo”
Convergente à extensão do graffiti/graphite/grafite enquanto
intervenção artística, educacional e histórica, propomos com
Luqueti, Pereira, Santos e Villaça (2017 p. 770): “o ensino do
grafite nas escolas como viemos propor engloba mais conceitos e
abrange uma gama ainda maior de aprendizagem e associações”.
120
O graffiti/graphite/grafite faz parte das composições de
linguagens artísticas na contemporaneidade, contudo o mesmo
também compõe a linha do tempo histórico artístico equivalente à
arte rupestre, pois alguns dos seus aspectos se assemelham e estão
relacionados principalmente pelas conectividades das vivências
do próprio cotidiano dos seus específicos períodos.
Além disso, questiono se há de fato dentre estes
conhecimentos agregação entre a história da arte, experiências
cotidianas e educação escolar, tendo as paisagens da cidade como
embasamentos para o desenvolvimento da educação das relações
étnico-raciais naformação docente.
Atualmente, os objetos de conhecimento relacionados à
linguagem artística (do graffiti/graphite/grafite) destacam-se por
transcorrerem em diferentes séries da educação básica, sendo
ministrados principalmente nas aulas da Disciplina de Arte.
Alguns dos temas desta manifestação artística que estão presentes
no currículo escolar do Ensino Médio dos quais podemos citar
como exemplos são arte rupestre, muralismo e arte urbana.
Mesmo a referência da linguagem artística (do
graffiti/graphite/grafite) estando presente nos objetos de conhecimento
do currículo escolar, há também uma problematização da sua
inserção na perspectiva de inclusão escolar, gerando questionamento
sobre desafios e possibilidades da educação. Abrangemos a partir de
Júnior (2017, p. 05) “a responsabilidade social que de fato interessa é
aquela que habilidosamente se articula com uma práxis
transformadora plena, ou seja, que supera a prática como uma
estratégia de mercado”.
Isto posto, pretendemos propor para a educação das relações
étnico-raciais por meio da da linguagem artística (do
graffiti/graphite/grafite) com responsabilidade social e intervenção
cultural. Além do mais precisamos em caráter emergencial como
assinalamos com Santos (2015, p. 268), “transformar a realidade e
edificar uma sociedade onde a discriminação de raça e a
exploração social sejam eliminadas”.
121
Com mediações nas escolas, a linguagem artística (do
graffiti/graphite/grafite) se torna uma das formas de comunicação
visual acessível, se tornando forte aliado para o desenvolvimento
de um linguajar compreensível. Através dessa, há oportunidade
para que grupos étnicos se identifiquem e valorizem suas culturas
em meio aos temas que são expostos nas paredes em respeito à
diversidade. Portanto, “todo conhecimento depende da
significação e esta, por sua vez, depende de relações de poder. Não
há conhecimento fora desses processos” (SILVA, 2016, p. 149).
Por intermédio da linguagem artística (do graffiti/graphite/
grafite) há significação do conhecimento decolonial de reexistência
em meio a relações de poder hegemônicas. Corporificamos com
Machado e Soares (2021, p. 991), “a decolonialidade nos propicia
incorporar o conhecimento produzido fora dos centros
hegemônicos, os assujeitados no processo de colonialidade
(negros, mulheres, indígenas, LGBTQIs, populações das classes
trabalhadoras, dentre outros)”.
Em razão disso, insurgimos com Franco (2022, p. 19), “a
educação não pode ser concebida, tratada, compreendida pela lógica
do mercado. Educação é direito e não mercadoria”. Conjecturamos
ainda com a autora, “que nossas escolas dependem de como o
processo de ensino é interpretado, tanto nas subjetividades dos atores
sociais quanto nas políticas públicas, e, mais ainda, nas práticas
institucionais escolares” (FRANCO, 2022, p. 15).
Orientamos com Walsh (2017, p. 67), “a decolonialidade não
é uma teoria a ser seguida, mas um projeto a ser assumido. É um
processo de ação para caminhar pedagogicamente” Para a
concretização dessa projeção decolonial assentamos com Mignolo
(2017, p. 23), “não há outra maneira de saber, fazer e ser
descolonialmente, senão mediante um compromisso com a
desobediência epistêmica”.
Devemos continuar a nossa reexistência decolonial
partilhando com a assertiva de Sant’Ana (2005, p. 58), “a nossa
luta, agora reforçada como medidas oficiais, deve centralizar-se
nas causas provocadoras e fortalecedoras destas sequelas que
122
mantêm o racismo, os preconceitos e as discriminações em
evidência”.
Retomamos ainda a linguagem artística (do
graffiti/graphite/grafite) como pertencente ao hip-hop para
ponderar que precisamos repensar a reexistência, o decolonial e a
arte com a afirmativa de Wash (2009, p. 22), “a interculturalidade
crítica tem suas raízes e antecedentes não no Estado (nem na
academia), mas nas discussões políticas postas em cena pelos
movimentos sociais, faz ressaltar seu sentido contra-hegemônico”.
Como elaboração decolonial tencionamos com a linguagem
artística (dograffiti/graphite/grafite) propondo com Wash (2009, p.
25) “a interculturalidade crítica como ferramenta pedagógica que
questiona continuamente a racialização, subalternização,
inferiorização e seus padrões de poder, visibiliza maneiras
diferentes de ser, viver e saber”.
Uma das nossas referências sociais para repensar reexistência,
decolonialidade e arte é o Movimento Organizado de Hip-hop
Quilombo Urbano, do qual eu sou militante desde o anode 2008.
O discurso pedagógico do rap, a linguagem corporal do break
e, principalmente, tratando-se da imagem educativa do graffiti, são
instrumentos importantes para o fazer didático-pedagógico
relacionado à realidade social.
Requeremos do mesmo modo pedagógico com a linguagem
artística (do graffiti/graphite/grafite) em interculturalidade
criticamente na sabedoria científica convergente a Machado e Soares
(2021, p. 997), “a abordagem intercultural crítica na educação [...]
pressupõe o questionamento dessa suposta universalidade do
conhecimento escolar”. Já que paradoxalmente “desenvolvemos uma
cultura que escamoteia sistematicamente o conflito, e as crises,
embora a sociedade viva em profundo conflito e crise”.
Para culminar essa controvérsia de colonialidade do saber com
a linguagem artística (do graffiti/graphite/grafite) problematizamos
com Machado e Soares (2021, p. 996), “o discurso “inclusivo” do
multiculturalismo e da interculturalidade se vende como uma
ferramenta a serviço de sociedades mais equitativas e igualitárias
123
quando, na verdade, há o desejo de controlar o conflito étnico e
manter a estabilidade social para impulsionar os imperativos
econômicos do neoliberalismo, da acumulação capitalista”.
Por outra incidência inclusiva, atravessada pela
interculturalidade crítica da linguagem artística (do graffiti/
graphite/grafite), denotamos com Walsh (2013, p. 66), “mais do que
“incluir” de forma multiculturalista, o esforço tem sido o de
construir, posicionar e procriar pedagogias que visem pensar “a
partir” e “com”, fomentando processos e práticas “praxistas” de
teorizar do pensar-fazer e interculturalização”.
No mesmo prospecto intercultural, agregamos pesquisa com
reexistência, decolonialidade e linguagem artística (do
graffiti/graphite/grafite) como o esboçado porGrosfoguel (2008, p.
411), “o novo universo de significação ou novo imaginário de
libertação necessita de uma linguagem comum, apesar da
diversidade de culturas e formas de opressão”.Como criticamos
com Japiassu (1976, p.88), “nos dias de hoje, parece que a
interdisciplinaridadeprecisa ultrapassar-sea si mesma”.Nos
sendo revelada a problematização entre reexistência,
decolonialidade e linguagem artística (dograffiti/graphite/grafite),
“a interculturalidade crítica parte do problema do poder, seu
padrãode racialização e da diferença (colonial, não simplesmente
cultural) que foi construída” (WALSH, 2009, p. 21).
Além disso, esse giro decolonial que estamos vivenciando
precisa ser ampliado no experienciar de ocupação das escolas e das
universidades e em outros espaços acadêmicos e educacionais com
pesquisa interdisciplinar, interculturalidade crítica e linguagem
artística (dograffiti/graphite/grafite).
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128
CORPOS ÉTNICO-RACIAIS, ENSINO DE CIÊNCIAS
NATURAIS E DECOLONIALIDADE: discussões a partir da
análise de representações de livros didáticos do Ensino Médio
INTRODUÇÃO
129
estereotipados e hierarquizados sobre aparências, etnias, raças e
tantos outros marcadores sociais. E segundo Nilma Gomes (2003) o
corpo se localiza em um terreno social conflitivo, uma vez que ele
também é encontrado na esfera da subjetividade. Sendo o corpo ao
longo da história uma divisa étnica marcante entre povos e símbolo
explorado constantemente nas relações de poder e dominação para
diferenciar e hierarquizar diferentes grupos (GOMES, 2003).
As diferenças entre as sociedades e os seres humanos não só
serviu, como continua servindo para a construção de fenômenos
etnocêntricos que constituem o preconceito e suas múltiplas
dimensões, racial, moral, social, religioso, entre outros. E nessa
perspectiva o racismo brasileiro é tanto naturalizado como ligado
a uma estrutura hierarquizada (DE PAULA, 2005). Percebendo
assim, que o ensino nas Ciências Naturais pode (e deve) colaborar
para uma educação contextual, crítica e problematizadora não
somente das questões biológicas, com também das questões
históricas, sociais e culturais que atuam sobre nossos corpos, o que
deve incluir sua diversidade étnica.
Conceber esse processo investigativo aliado a perspectiva
decolonial nos propõe assumir posicionamento de deslocamento
epistemológico, uma vez que nos reconhecemos dentro da
colonialidade, no sentido que, ainda ruminamos os males do
sistema histórico colonial que põe hegemonias nas formas de ser e
saber no mundo, para escapar desse processo e confrontá-lo
necessitamos nos distanciar das premissas de análise teórico-
metodológicas tradicionais, pois estas reproduzem a colonialidade
do saber (QUIJANO, 2009) que silencia os sujeitos colonizados, os
corpos colonizados.
Desse modo, nesse estudo trazemos como possibilidade de
vislumbrar esses corpos o olhar decolonial, que permite que
tomemos um posicionamento crítico as construções de sentidos
sobre os corpos situados sob questões históricas e políticas
etnocêntricas que normalizam diferenciações hierarquizantes de
povos e culturas, e que parte da crítica ao fenômeno histórico da
colonização e suas consequências – aos sujeitos não europeus – com
130
processos que marcam nossa existência contemporânea através da
colonialidade e que se convertem em desigualdades não naturais,
mas construídas sócio-historicamente.
O colonialismo como padrão de dominação/exploração e a
colonialidade como continuidade da anterior traz a produção de
invisibilidades históricas dos colonizados e valorização da cultura
do colonizador em diversos aspectos da nossa sociedade, como na
educação trazendo o desafio de descolonizar os currículos da
educação escolar em vista da necessidade de articulação e diálogos
entre a escola, currículo e a realidade social (CANDAÚ, 2010;
GOMES, 2012) e, a partir disso, devemos assumir um olhar crítico
e reflexivo sobre os povos e as culturas negadas e silenciadas no
processo educacional.
A partir desse contexto, trazemos como problemática central a
representação dos corpos étnico-raciais nos livros didáticos de
Ciências Naturais do Ensino Médio, entendendo que a
representação destes como em qualquer outra área de
conhecimento está sujeito a reprodução de concepções do contexto
sócio-histórico da temporalidade em que é concebido. Nesse
sentido, ao situar que as percepções sobre os corpos étnico-raciais
resguardam significações socialmente construídas significa
perceber que quando esses corpos se localizam em sociedades
historicamente colonizadas, marcas não superadas são
reproduzidas nos vários âmbitos da vida, estão nas relações sociais
como estão no processo educacional. De modo que nos
questionamos: Como os corpos étnico-raciais são representados no
nos livros didático de ensino de Ciências Naturais?
131
questionar as naturalizações que nos categorizam e nos
hierarquizam, pois estas resguardam discursos determinados
sócio-historicamente e, portanto, não neutros.
E para aprofundar discussões em torno dessa temática se fazem
relevantes enlaces teóricos com autores que se destinam a
problematizar questões de raça, etnia, racismo, identidade,
representatividade, a produção sociocultural do corpo, além da crítica
a geopolítica etnocêntrica na produção de saberes. Perspectivas que se
alinham ao pensamento pós-crítico que possibilitam trazer outros
olhares para o corpos étnico-raciais em considerar o currículo
educacional, o contexto sócio-histórico e cultural como também das
relações de poder que circundam a temática.
Desse modo, devemos nos atentar ao elemento raça como
conceito que surge nas ciências naturais para nomear o diferente,
que na classificação da diversidade humana surge uma
problemática: a valoração e hierarquização entre as raças. O fator
biológico (característica fenotípica como a cor da pele) dessa
diferenciação humana qualificou também aspectos intelectuais,
morais e culturais, considerando a raça branca superior as demais
(MUNANGA, 2003).
Essa hierarquização racial – leva em conta fatores de
diferenciação a partir de características físicas – e étnica – considera
as diferenças culturais dos povos distintos aos europeus – que se
utiliza da ciência foi preponderante para justificar e legitimar a
dominação sobre povos da América, Ásia e África, bem como,
práticas racistas (MUNANGA, 2003; SANT´ANA, 2005). O
emprego do termo raça está além da dimensão biológica ela implica
relações de poder, e como afirmado por Munanga (2003), raça:
132
Nesse sentido, o termo raça passa a apresentar-se como
categoria discursiva. Para Hall (2003) o termo “raça” como
categoria discursiva que pressupõe o racismo está organizado num
sistema de poder socioeconômico, de exploração e exclusão, cuja
construção é tanto social como política. E como prática discursiva
tenta justificar as diferenças sociais e culturais da exclusão racial
por distinções genéticas e biológicas e colocá-las como naturais.
Uma naturalização que “parece transformar a diferença racial em
um ‘fato’ fixo e científico, que não responde a mudança ou a
engenharia social reformista”, concepção que se assemelha com o
antissemitismo e o sexismo em que a biologia se torna a base da
questão (HALL, 2003, p. 69).
E mesmo tendo-se comprovado que raças humanas
biologicamente/cientificamente não existem, entretanto, nesse
campo de conhecimento se tem a sua presumida justificativa. A
aplicabilidade do termo deve-se, então, ser ressignificada,
politizando a identidade de indivíduos negros que foram
desvalorizados nos usos do termo nas manifestações de racismo
sobre a cor da pele, nos cabelos, e outras características que
determinaram a hierarquia que os inferioriza. E colocar que temos
não raças biológicas, mas sociais, que se constituem socialmente e
se revelam nas políticas, na cultura, na diferenciação dos
indivíduos produzindo exclusões, como as populações indígenas e
negras na situação brasileira (DIAS, et al., 2021) e que necessitam
de uma educação contextualizada e crítica inclusive nas disciplinas
das Ciências Naturais.
Dessa forma, a racialização é um fenômeno que se dá sobre
corpos que foram colonizados em uma construção de lógica
eurocêntrica que hierarquiza povos, culturas e saberes. Perceber o
corpo para além das determinações biológicas não se constitui
somente enquanto uma crítica, mas enquanto necessidade de
superação das amarras racionalizantes que legitimam e
naturalizam etnocentrismos construídos pela visão de mundo
ocidental. É nesse contexto que se torna relevante fundar nossa
133
problematização sob a perspectiva epistemológica decolonial para
se discutir o corpo étnico-racial.
Essa perspectiva epistêmica nos direciona a um pensamento
mais amplo ao cânone ocidental, devendo criticar a universalização
da ciência sob a égide eurocêntrica que não reconhece a pluralidade
do mundo e da produção de conhecimento em outras localizações
geográficas, bem como, os corpos e lugares étnico-raciais situados
em uma estrutura de poder de hegemonia eurocentrada
(GROSFOGUEL, 2009).
A crítica a colonialidade como matriz de dominação
contemporânea pós colonialismo se situa como padrão de poder
sob a retórica da modernidade no sistema-mundo que estabelece
relações intersubjetivas de dominação que fixa identidades de
lógica racial/étnica/geográfica e que naturaliza o padrão de poder
colonial, onde a ideia de raça/racismo estão estruturados e são
criticados pelo pensamento decolonial que dispõe-se a possibilitar
outro modo de pensar deslocando-se da centralidade do
paradigma do sistema-mundo eurocêntrico (QUIJANO, 2009;
MIGNOLO, 2017).
A perspectiva decolonial situa-se como um campo
epistemológico de problematização da colonialidade enquanto
perspectiva que nomeia e analisa os efeitos contemporâneos do
colonialismo histórico, implicando relações de poder no
eurocentrismo e na racionalidade moderna e que trazem para o
debate questões de dominação cultural e as hierarquias
epistemológicas nas suas diferentes formas, e pressupõe
reconhecer a subalternização de práticas e subjetividades de povos
historicamente dominados e seu silenciamento (BERNARDINO-
COSTA; GROSFOGUEL, 2016).
Pensar sobre esses corpos sob esse contexto torna necessário
percebermos também as suas dimensões no sistema educacional
brasileiro. E nisso, a educação para diversidade étnico-racial e
antirracista também é uma das preocupações registadas em nossas
legislações educacionais. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação
(Lei nº 9.394/96) pontua ainda nos seus princípios iniciais que a
134
educação deve considerar a diversidade étnico-racial em vista que
esta é uma característica própria da população brasileira (BRASIL,
1996). E nesse empenho para formalizar a discussão étnico-racial
na educação brasileira temos a Lei nº 10.639 de 2003 que
regulamenta o Ensino de História e Cultura Afro-brasileira e
Africanas, e posteriormente a Lei nº 11.645 de 2008 que
complementa com o ensino de História e Cultura Indígena que se
constituem pós recorrentes pressões históricas de movimentos
populares no sentido de valorizar os povos e as culturas que
formam nossa sociedade, prevendo mudanças no currículo escolar,
na formação de educadores e materiais didáticos, esta é uma
demanda que ultrapassa fronteiras disciplinares é uma ação
política afirmativa para a educação.
Nesse cenário a escola passa a possuir um papel importante na
concretização dessas ações afirmativas. Devemos ver o campo
escolar, como colocado pela Nilma Gomes (2003), como uma
instituição em que são aprendidos e compartilhados não somente
conteúdos e saberes escolares, mas também valores, crenças e
hábitos de uma sociedade em que se pode fazer presentes
preconceitos raciais, de gênero, de classe, assim como na sociedade.
E perceber o processo educativo escolar a sua relação com a cultura
nos permite compreender melhor os caminhos complexos da
construção das nossas identidades quando as dimensões sociais e
pessoais estão interligadas no processo formativo.
E nesse processo formativo escolar encontramos os livros
didáticos em que sua compreensão pode ser concebida desde a
determinação de sua produção para atender a um mercado – que
se situa sob lógica capitalista –, a escola, e no caso brasileiro
estabelecido como uma política pública pelo Programa Nacional do
Livro Didático (PNLD) em que são previstas determinações
específicas desde demandas sociais a políticas (MUNANKATA,
2012). O livro didático é um dos materiais pedagógicos mais
utilizados pelos professores/as, podendo ser interpretado devido
sua importância nesse contexto lhe confere por vezes caráter de
verdade, mas ele pode ser veículo de propagação de estereótipos
135
além apresentar papeis estigmatizados socialmente e promover
exclusão (SILVA, 2005), uma vez que, o livro didático reflete
segmentos sociais e o contexto temporal que o constituiu.
A relação entre os livros didáticos e o corpos étnico-raciais
poder ser compreendida através da representação que contém
sentidos, relações e significados. Nessa perspectiva a representação
social conjectura-se enquanto fenômeno social que só podem ser
entendidos por seu contexto de produção por suas funções
simbólicas e ideológicas que podem ser manifestadas por imagens,
contextos e categorias em uma comunicação que implica
determinações sócio-históricas de uma época e constituem uma
realidade (SPINK, 1993) que envolve processos simbólicos, relações
e práticas sociais dos sujeitos que constroem um senso comum,
formam identidades e sentimentos de pertencimento grupal
projetando valores e conceitos sobre pessoas e grupos, e servindo
para interpretar um realidade (ALVES-MAZZOTTI, 2008).
136
em todo o processo dessa investigação a fim de constituir o corpus
de análise da pesquisa (SÁ-SILVA; ALMEIDA; GUINDANI, 2009,
p.4) dada aqui pela compilação das representações de corpos
étnico-raciais.
A opção pela abordagem qualitativa do estudo se dá pela
compreensão de um fenômeno humano gerado socialmente que
depreende uma realidade que se quer interpretar (MINAYO, 2014)
em relação a uma problemática complexa e multifacetada de uma
realidade que não pode ser quantificada, envolvendo a percepção
de questões subjetivas, fenômenos e representações sociais, ideias
e discursos que circundam o tema a ser analisado (GOLDENBERG,
1997). Ou seja, “essa abordagem trabalha com o universo dos
significados, representações, crenças, valores e atitudes dos atores
inseridos em um grupo social. [...]como um dos elementos que
contribuem para a compreensão da realidade.” (MEDEIROS et al.,
2014, p. 100-103). A compreensão contextual é necessária para
tratar de corpos étnico-raciais no ensino de Ciências da Natureza
uma vez que seus sentidos possuem construções históricas e
socioculturais implicadas.
A análise e tratamento do material empírico que se trata das
representações (imagens) dos corpos étnico-raciais extraídas desses
livros, segundo Minayo e outros (2007) são compreendidas pelas
etapas: 1) Ordenação dos dados; 2) Classificação dos dados e; 3)
Análise propriamente dita, sendo a interpretação dos dados a partir
de uma perspectiva teórico-epistemológica que norteia a nossa
discussão, a dos Estudo Decoloniais. O processo de tratamento
desses dados pressupõe dimensões de categorização que surgiram
a partir do processo analítico dos documentos em perceber
semelhanças, dissonâncias e relações que permitem realizar
agrupamentos para a análise dos dados.
O processo de categorização realizado resultou em duas
categorias principais e seis subcategorias apresentadas no Quadro
1. As categorias gerais expressam dois sentidos principais para os
corpos étnico-raciais, nela se inserem ilustrações desses corpos que
tragam o sentido das ciências naturais na especificidade do campo
137
e explicação do conteúdo; enquanto a categoria geral sentido
sociocultural traz esses corpos para suas dimensões interpessoais
com relações sociais e culturais com sentidos que remetem a uma
explicação sócio-histórica.
138
Figura 1- Coleção de livros didáticos analisados
139
DISCUTINDO REPRESENTAÇÃO DOS CORPOS ÉTNICO-
RACIAIS NOS LIVROS DE CIÊNCIAS DA NATUREZA A
PARTIR DE UM DIÁLOGO DECOLONIAL
140
valorizado em detrimento dos outros, o que naturaliza relações de
poder entre corpos étnico-raciais, entendimento esse colocado por
estudos sobre relações raciais e decoloniais.
Em detrimentos dessas representações evidenciamos na
categoria geral Sentido Ciências Naturais a subcategoria mais
representativa foi Ciência e Medicina em que trazia ilustrações de
corpos negros como cientistas, médicos, estudantes e outros ao
abordar sobre o tema da Ciência, em que podemos destacar que as
figuras femininas negras nessas representações formaram a
maioria delas, e algumas dessas podem ser visualizadas na Figura
3. Apontamos também a utilização de imagens de cientistas reais e
mulheres negras, a utilização de ilustrações como essas permitem
desconstruir a percepção da imagem do cientista somente como um
homem e branco e nos aproxima de uma representação real e
palpável.
141
subalternos perpetuando relações raciais desiguais através de
processos de exclusão e representações estigmatizadas.
Circunstância advinda de um racismo que opera estruturalmente,
definindo lugares sociais para esses sujeitos, e seu combate
pressupõe várias dimensões, a econômica, a cultural, a política,
como também a educacional em desnaturalizar concepções
deterministas e subalternizadoras a esses corpos.
Outras ilustrações interessantes de serem discutidas são as da
categoria diversidade humana, como as exemplificadas na Figura
4 a seguir, são representações em que verificamos uma clara
intensão de promover a igualdade racial e o respeito a diversidade
dos seres humanos ao discutir sobre a evolução humana.
142
para que esse compromisso se efetive é fundamental que, trabalhando com
a realidade, num diálogo permanente, numa situação de aprendizagem
contextualizada, usando procedimentos adequados, o aluno se descubra
membro atuante dessa sociedade, na qual pode e deve ser capaz de interferir
e promover modificações que conduzam a um clima de verdadeira
cidadania e democracia (LOPES, 2005, p.187).
143
invasores/dominadores e que trazem nas diferentes áreas de
conhecimento os indígenas de forma deturpada e estereotipada, e
pouco debatida. Os autores colocam que diante disso é “preciso
compreender a história e a natureza da ciência, assim como os
processos de colonização do pensamento e as formas pelas quais se
manifestam, inclusive, nos conhecimentos científicos” (SOUSA;
COPPE, 2021, p. 13). E nisso, precisamos valorizar práticas,
identidades, povos e conhecimentos outrora invisibilizados pela
premissa científica eurocêntrica.
Lopéz (2015) diante da perspectiva sócio-histórica do corpo
nos direciona a pensar o corpo com uma realidade social, fruto de
construções históricas e representações culturais incutida de
relações de poder com usos políticos, e desse modo, é “relevante
entender não só a incorporação das desigualdades sociais, mas
também a incorporação da história. Isto é, a inscrição do passado
nos corpos, em uma dupla dimensão: objetiva e subjetiva.” (p. 306)
E nisso, entender o corpo também como atributo da
subjetividade colonial, ou seja, o corpo enquanto marca da
colonização, que implica perceber uma historicidade, uma política,
uma ideologia com a consequente valoração que circunda nossos
corpos a partir de um padrão de poder de hegemonia eurocêntrica,
esses aspectos tornam relevante pensamos nos corpos que foram
subjugados nesse processo e as concepções que se mantém sobre
eles a partir dessa lógica.
Assim, a presença/ausência do corpo racializado torna-se um
símbolo de exploração pelas relações de poder que hierarquiza as
diferenças. Nesse sentido, a crítica a colonialidade inscrita nos
corpos precisa nos levar a ressignificar a representação dos corpos
colonizados, a sua existência contemporânea em perceber as
manutenções da lógica colonial/moderna nos seu entendimento.
Percebendo que a colonialidade do poder age de múltiplas formas,
na linguagem, na narrativa e na representação, situadas em
hegemonias que reproduzem visões de mundo, natureza e
humanidade segundo um padrão de poder que é racializado e as
identidades sob essa lógica estabelecem relações intersubjetivas
144
com um sistema que naturaliza esse padrão de poder hierárquico
(GROSFOGUEL, 2009; QUIJANO, 2009).
O conhecimento possui múltiplas ancoragens que são
históricas, econômicas e políticas e que na colonialidade
inevitavelmente supõe uma lógica de racialização que oculta
corpos e vozes sob uma superioridade étnica e epistêmica a qual a
decolonialidade se propõe a desconstruir tornando visível a
geopolítica ou, melhor, a corpo-política do sistema/mundo colonial
moderno (MIGNOLO, 2017).
REFLEXÕES FINAIS
145
representações mais diversas e possibilidades de discussão do tema
das relações étnico-raciais, além de demostrar que esse também é
um espaço de pertencimento e crítica social e pode ir para além da
reprodução da desigualdade social podendo colocar-se
criticamente e ressignificando representações.
No entanto, ainda há mais a ser feito, principalmente a
escassez da representação dos corpos indígenas e a predominância
dos corpos brancos e masculinos. Mais do que representar, é
necessário possibilitar problematizações sobre a realidade desses
corpos e, desse modo, favorecer desconstruções e promover a
igualdade.
As representações podem ser um modo de favorecer
discussões sociais e históricas e o reconhecimento das identidades
étnico-raciais da sociedade brasileira, além de um modo
interessante de inclusão desses corpos nos livros didáticos de
Ciências da Natureza, em desconstruir estereótipos e preconceitos
sobre os corpos marcados no passado e no presente pela
colonização.
O olhar decolonial nos permitiu que enxerguemos esses
corpos e suas representações pelo processo histórico da
colonialidade fundada em relações poder e na dominação de
corpos étnico-raciais, que a partir da concepção de raça e diferenças
culturais estabelece relações hierárquicas e desiguais e seus
sentidos podem ser percebidos amplamente nas representações e
significados atribuídos a esses corpos, corpos colonizados.
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149
150
RACISMO EPISTÊMICO NA FORMAÇÃO INICIAL
DOCENTE: um estudo sobre o Estado da Arte na
perspectiva decolonial
INTRODUÇÃO
151
Violência, quando apontam que em 2018, 75,4% das vítimas da
letalidade policial eram pretas ou pardas.
Todo esse cenário é visto por Segato (2021, p. 324) como o
reflexo do imaginário social brasileiro com “baixíssimo nível de
consciência de classe”, que desconhece ou nega que a nossa
sociedade é marcada pela desigualdade e segregação onde cada um
é estratificado não apenas por classe, mas também por classe, raça,
gênero etc.
Como professora atuante nos cursos de licenciaturas, temos
nos empenhado a entender o processo e a maneira como a
discriminação ética/racial são engendradas no interior das
instituições de ensino, seja na formação inicial de professores, bem
como nos discursos e narrativas construídas e reproduzidas pelas
universidades, que não consideraram, muitas vezes, a diversidade
dos estudantes com os quais lidam.
Em face disso, constitui-se uma urgência questionarmos: Que
panorama encontramos na produção acadêmica brasileira sobre
decolonialidade na formação inicial de professoras e professores?
O racismo epistêmico está sendo discutido na universidade?
A partir dessas inquietações, na perspectiva decolonial,
desenvolvemos o presente trabalho, denominado Estado da Arte,
objetivando identificar as produções científicas existentes sobre
decolonialidade e racismo epistêmico na formação inicial de
professoras e professores. Assim, na primeira seção, trouxemos
discussões iniciais sobre o modelo colonizado de conhecimento, de
base racista, que atravessa o mundo acadêmico.
Na segunda seção, apresentamos a epistemologia decolonial,
enquanto movimento capaz de promover rupturas e
transformações no interior da universidade. Na sequência,
apresentamos o resultado do levantamento feito no repositório da
Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações (BDTD), na
qual buscamos identificar nos trabalhos mapeados os autores que
estão sendo referenciados, como também perceber a capacidade de
diálogo com a epistemologia decolonial. Pretendemos, contudo,
analisar a sistematização dos conceitos, possíveis lacunas e o nível
152
de interesse acadêmico em que as dissertações de mestrado, teses
de doutorado publicados tem sido produzido.
153
números de profissionais, prestadores de serviço, lideranças e
parceiros com perfil monolítico, que se vê a diversidade”.
No bojo dessa discussão, em um sentido eurocêntrico e
colonial-moderno, inserimos o racismo epistemológico nas
universidades, que segundo Grosfoguel (2016, p. 17) “é menos
visível que o racismo em nível social, político e econômico”.
154
tradição de pensamento de validade universal, que ocasionou uma
divisão abissal não somente na produção do conhecimento, mas no
âmbito da “economia, política, estética, subjetividade, relação com
a natureza, etc.” (COSTA; TORRES; GROSFOGUEL, 2020, p. 9).
Em consequência disso, a ideia de um conhecimento, tido
como universal e abstrato se converte em instrumento de negação
das sensações, das percepções corporais e existencial de povos e
culturas que não condiziam com o padrão estabelecido pelo
modelo europeu.
Desse modo, instaura-se na sociedade de forma global, o
universalismo abstrato de saberes e conhecimentos, que se
constitui “um tipo de particularismo estabelecido como
hegemônico e se apresenta sem determinações corporais e
localização geopolíticas das populações negras e africanas”
(COSTA; TORRES; GROSFOGUEL, 2020, p. 13).
Por sua vez, o universalismo abstrato implantou em nosso
imaginário social modelos de desenvolvimento científico
hierarquizados, resultando no estabelecimento de uma
“superioridade étnica e epistêmica” (MIGNOLO, 2017, p. 26).
A ideia de saberes e conhecimentos válidos intitulou o homem
branco como o único ser capaz de desenvolver conhecimento racional
e verdadeiro. Consequentemente, as crenças, tradições, os saberes e
conhecimentos dos povos indígenas e africanos foram percebidos de
formas distintas, e totalmente aniquiladas pela história.
Nesse entendimento, Abdias do Nascimento (2002) em seus
escritos sobre a população negra questionou o mito da democracia
racial, e a narrativa eurocêntrica do corpo-política e do
conhecimento. Ele propôs como alternativa ao universalismo
abstrato hegemônico nas instituições, o universalismo concreto,
que diferente do abstrato, baseia-se na utilização de diálogos
horizontais entre as diversas particularidades daqueles que foram
invisibilizados, subalternizados e negados pela colonialidade1.
155
Mais especificamente, o pensamento de Abdias do
Nascimento promove uma luta ampliada de recuperação e
reconhecimento não apenas dos saberes e conhecimentos que
foram invisibilizados pela colonialidade, mas insere a retomada da
sensibilidade e da localização geográfica e histórica do corpo negro
e indígena, que foram violentamente desprezados pela
modernidade.
Além disso, Nascimento (2002) elaborou o conceito de
Quilombismo como uma proposta de assunção do comando da
própria história para a construção de uma democracia plurirracial.
O Quilombismo de Abdias do Nascimento aponta para um
enfrentamento das formas modernas de exploração, violência
racial e colonial, empregada no sistema capitalista.
Os conceitos utilizados por ele são, sobretudo, considerados
uma visão crítica acerca da população negra do Brasil, que precisa
se ver representada sem relativismos epistemológicos, tão presente
nos discursos e narrativas da sociedade moderna.
Dussel (2016) também vai apontar que o universalismo
concreto pode ser entendido como uma ruptura da modernidade/
colonialidade e seu universalismo abstrato, bem como a “afirmação
da existência e o conhecimento das tradições culturais e filosóficas
que foram desprezadas pela modernidade” (COSTA; TORRES;
GROSFOGUEL, 2020, p. 16).
Cabe destacar que, tanto Abdias do Nascimento quanto
Dussel fortalecem o debate racial e retroalimentam a esperança de
construção de projetos políticos educacionais de resistência, de
reexistência e libertação.
Nessa conjuntura, concordamos com Boaventura de Sousa
Santos (2009, p. 5) quando afirma que na academia “há a
reprodução de discursos e epistemologias dominantes que relegam
muitos outros saberes para um espaço de subalternidade”.
156
Em consequência disso, temos a consciência de que o meio
acadêmico não pode ser indiferente ao racismo, por constituir,
segundo Grosfoquel apud Costa; Torres; Grosfoguel (2020, p. 11) o
“princípio constitutivo que organiza, a partir de dentro, todas as
relações de dominação da modernidade, desde a divisão
internacional do trabalho até as hierarquias epistêmicas, sexuais,
de gênero, religiosas”.
Para Segato (2021) as nossas universidades eurocêntricas não
estão formando sujeitos responsáveis por suas coletividades e
muito menos ativos no cuidado com a sociedade e a natureza. Pois:
157
formulação de propostas teóricas e metodológicas devam se dá a
partir “de arranjos transdisciplinares dos saberes para a construção
de diálogos interepistêmicos para alunos, professores e
pesquisadores” (CARVALHO, 2020, p. 97).
Carvalho (2020, p. 99) também acrescenta que na perspectiva
pluriepistêmica, o mundo acadêmico seria aquele em que “saberes
se encontram, e não apenas aquele em que as ciências estabelecidas
se encontram”.
Contudo, essas discussões sobre o sentido do saber e do
conhecimento científico produzido e reproduzido nas
universidades brasileiras, constituiu a base dessa investigação.
Despertando-nos a necessidade de identificar nas produções
intelectuais e acadêmicas que espaços estão ocupando as
perspectivas de conhecimento dos povos que foram negados pela
modernidade colonial.
158
Considerado por Torres (2020, p. 36) como um projeto
inacabado, a descolonização foi superada pelo uso do termo
“decolonialidade”, que se refere à luta contra a lógica da
colonialidade e seus efeitos materiais, epistêmicos e simbólicos”.
Trata-se, portanto, de um projeto ligado ao conceito de
humanização e libertação de povos e indivíduos colonizados pela
modernidade, e que, portanto, criticou todas as pressuposições
científicas da modernidade referentes a tempo, espaço,
conhecimento e subjetividade.
Em face disso, autores como Walter Mignolo, Enrique Dussel,
Aníbal Quijano, Maldonado Torres e outros, desenvolveram
trabalhos coletivos de investigação centrada na crítica à
modernidade ocidental/colonial, anunciando o conceito de
“Decolonialidade” com uma nova epistemologia de análise da
sociedade.
Para estes autores, a colonização significa um presente vivo,
pois suas lógicas continuam existindo e, por isso, as formulações
do grupo levantaram questões históricas e conceituais da relação
entre modernidade, colonialidade e decolonialidade, e trouxeram à
tona a problemática das narrativas heroicas e promissora do
colonialismo, e do usual conceito de descoberta, civilização e
escravidão na sociedade moderna e atual.
Nesse sentido, Torres (2020, p. 33) afirma que “territórios
indígenas são apresentados como descobertos, a colonização é
representada como um veículo de civilização, e a escravidão é
interpretada como um meio para ajudar o primitivo e sub-humano
a se tornar disciplinado”. Assim, a teoria decolonial abordada se
opõe a colonização, pois está atrelada ao conceito de libertação do
sujeito colonizado, nos âmbitos artístico, cultural, econômico e
representativo.
159
Para Mignolo (2017) a opção decolonial tornou-se não apenas
uma opção de conhecimento, uma opção acadêmica, um domínio
de estudo, mas uma opção de vida, de pensar e de fazer na
sociedade política global, capaz de romper com visões dualistas,
binárias e antagônicas, tais como: colonizador/colonizado,
branco/negro, homem/mulher, opressor/oprimido, Norte/Sul.
Nesse contexto, o giro decolonial surge como uma expressão
crucial para o projeto decolonial, que significa o compromisso e
atitude de enfrentamento dos efeitos da modernidade/
colonialidade, ou seja, no “distanciamento dos imperativos e das
normas criadas pelo cruzamento da colonialidade do saber, poder
e ser” (TORRES, 2020, p. 44).
Para Candau e Moreira (2010, p. 10) o pensamento decolonial
pode ser compreendido também como “[...] a reconstrução radical
do ser, do poder e do saber”. Ambos compreendem que a
decolonialidade implica considerar as lutas dos povos
historicamente subalternizados, para a construção de outros modos
de viver, de poder e de saber. Portanto, decolonialidade é
“visibilizar as lutas contra a colonialidade a partir das pessoas, das
suas práticas sociais, epistêmicas e políticas” (CANDAU;
OLIVEIRA; 2010, p. 10).
Ressaltamos que a colonialidade é uma lógica que não se refere
apenas à classificação racial. Estão interseccionadas, as questões de
gênero, sexistas, classistas, linguísticas, regionais, religiosas, na
produção/valorização do conhecimento.
Para Lugones (2008, p. 47) a colonialidade representa um
fenômeno amplo e um dos eixos do sistema de poder e, como tal,
“atravessa o controle do acesso ao sexo, a autoridade coletiva, o
trabalho e a subjetividade/intersubjetividade, e atravessa também
a produção de conhecimento a partir do próprio interior dessas
relações intersubjetivas”.
No âmbito educacional, a colonialidade se faz presente nas
práticas de ensino quando privilegia o conhecimento científico e deixa
de fora outras lógicas de produção de conhecimento, resultando no
silenciamento e subalternidade de muitos grupos e vozes.
160
Nessa perspectiva, Lugones (2008) traz referências para uma
educação decolonizadora como alternativa para abandonar o
pensamento colonizador que corresponde à matriz colonial de
poder. “A colonização tem sido usada para caracterizar tudo, das
hierarquias políticas e econômicas mais evidentes à produção de
um discurso cultural específico sobre o que é chamado de Terceiro
Mundo” (MOHANDY, 2020, p. 9).
A esse respeito Catherine Walsh (2001) aposta na
interculturalidade como alternativa de projeto social, político e
educacional de construção epistemológica e inclusão dos
conhecimentos que foram subalternizados, numa relação crítica,
descolonizadora e mais igualitária.
Para Walsh (2001) no campo educacional essa perspectiva não
restringe a interculturalidade à mera inclusão de novos temas nos
currículos ou nas metodologias pedagógicas, mas se situa na
perspectiva da transformação estrutural e sócio-histórica.
Em consonância com essa perspectiva, Walsh (2013) aponta a
necessidade da articulação entre o pedagógico e o movimento
prático decolonial como alternativa de ação para a mudança social
e reconstrução da humanidade.
A despeito do elo entre o pedagógico e o decolonial Walsh
(2013) afirma que não são pensados no sentido instrumentalista de
ensino e transmissão do conhecimento, nem estão limitados ao
campo da educação ou espaços escolares. Em vez disso, a
pedagogia é entendida como uma metodologia indispensável
dentro e para as lutas sociais, político, ontológico e epistêmico da
libertação.
METODOLOGIA
161
tem produzido no Brasil sobre racismo epistêmico na formação
inicial de professores na perspectiva decolonial?
De acordo com Magalhães e Real (2018, p. 468): “as pesquisas
do tipo “estado da arte” ou “estado do conhecimento” têm
aumentado no Brasil, estando presentes na produção científica de
várias áreas do conhecimento, particularmente da educação.
Através do estado da arte ou do conhecimento buscamos
recolher produções científicas existentes para auxiliar na leitura e
na compreensão do objeto a ser estudado. Desse modo,
pretendemos nos aprofundar e problematizar a nossa temática. Em
seguida, trazer para a superfície possíveis lacunas e contribuições
para o campo educacional científico.
Para a realização deste estudo, organizamos um percurso
metodológico, com seis etapas, a saber:
1ª Etapa: revisão de literatura sobre decolonialidade, racismo
epistêmico e formação inicial docente;
2ª Etapa: definição dos descritores, em seus títulos:
“decolonialidade” “decolonial”, “racismo epistêmico”, “formação
inicial de professores”, “decolonialidade e formação inicial de
professores”, “formação inicial de professores e racismo
epistêmico”;
3ª Etapa: Levantamento das fontes e coleta de dados nos
repositórios da Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações
(BDTD), contemplando teses e dissertações;
4ª Etapa: Leitura das produções localizadas, em que se
considerou como variáveis: os títulos, os resumos e as palavras-
chaves;
5ª Etapa: Seleção e leitura na íntegra dos trabalhos que
atendiam aos nossos critérios de objeto da investigação;
6ª Etapa: Descrição e análise dos resultados encontrados.
Desse modo, foi realizado o levantamento no repositório da
Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações (BDTD), na
qual buscamos dissertações e teses que contivessem no bojo da
discussão o racismo epistêmico na formação inicial de professores
a luz da epistemologia decolonial. Desse modo, para a catalogação
162
e sistematização dos trabalhos selecionados na BDTD, utilizamos
os seguintes descritores, em seus títulos:
•Palavras chaves: “decolonialidade”, “racismo epistêmico”,
“formação inicial de professores”, “decolonialidade e formação
inicial de professores”, “formação inicial de professores e racismo
epistêmico”;
•Ano de Publicação: 2010 a 2022
•Áreas de conhecimento: Educação
Ressaltamos que durante a seleção e uso dos descritores já
mencionados, identificamos que a epistemologia decolonial nas
pesquisas do Brasil juntavam-se às diversas abordagens no campo
da educação, como exemplo: as questões étnicas/ raciais, de
gêneros e culturais.
Nesse contexto, durante a garimpagem de textos,
identificamos que alguns pesquisadores utilizaram termos
similares da perspectiva decolonial, tais como: decolonialidade,
descolonial, decolonizar. Em face disso, foi preciso garimpar os
descritores na busca, o que resultou na ampliação de alguns
conceitos.
Para a seleção do período de publicação dos trabalhos,
focamos no espaço temporal entre os anos 2010 e 2022, por
considerarmos um marco-temporal importante, tendo em vista que
as bases históricas dos estudos decoloniais não são tão recentes, e
se encontram desde “a Conferência de Bandung de 1955”
(MIGNOLO, 2017, p. 14).
A seleção da área de concentração em “educação” se deu em
virtude do estudo estar inserido na área das licenciaturas, ou seja,
na formação inicial de professores. A seleção dos referidos textos
transcorreu de forma gradual, culminando na discussão dos
trabalhos e na produção de um Estado da Arte, sintetizado na
Tabela 1, apresentado na próxima seção.
163
O ESTADO DA ARTE SOBRE RACISMO EPISTÊMICO NA
FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORAS E PROFESSORES
164
acadêmico, tema que acreditamos ser de extrema importância
quando pensamos na melhoria da qualidade do ensino.
Já no descritor ‘Formação de professores e “decolonialidade”
e “decolonialidade” percebemos que representa uma temática,
ainda, incipiente nas produções científicas, embora o debate
decolonial em educação esteja ganhando força a partir de esforços
de grupos de pesquisa, movimentos e coletivos engajados com a
problemática das relações entre educação e o compromisso
decolonial.
Nesse contexto, reiteramos, a produção do grupo
“Modernidade/ Colonialidade”, formado por intelectuais de
diferentes nacionalidades da América Latina.
165
Como observado na Tabela 1, é possível perceber outra lacuna
quando se trata de estudos que visam a investigar a “Formação
inicial de professores e Racismo epistêmico”.
Desse modo, apesar de o racismo ser um tema central para
pensar a realidade social e educacional em nosso país, não
encontramos no descritor ‘racismo epistêmico’ no filtro de busca
‘todos os campos’ pesquisas de teses ou dissertações relacionados
a essa temática.
Portanto, quando observamos essa lacuna de produções
acadêmicas do nosso objeto de investigação, percebemos que as
temáticas que fazem interlocução com os estudos decoloniais estão
pouco privilegiadas hoje na educação. Essa realidade afeta a vida
acadêmica de várias formas, pois relaciona-se a leitura que se faz
da história que dividiu o mundo entre colonizadores e colonizados.
Para Segato (2021, p. 319), a crença na superioridade das ideias
dos europeus foi central na organização dos saberes e
conhecimentos nas universidades, “na distribuição racista do
prestígio acadêmico”. Segato (2021, p. 324) acrescenta que temos
uma história na qual fomos todos e todas racializado(as), em face
disso, o tema racismo acadêmico “afeta a universidade no mercado
global de ideias, determinando uma divisão mundial do trabalho
intelectual”.
Em consequência disso, perguntamo-nos: em que consiste esse
resultado inexpressivo de produções cientificas sobre o racismo
acadêmico? Por que essa temática não tem conseguido ocupar um
espaço de discussão nas pesquisas acadêmicas?
Dentro desse contexto, sobre a ausência de pesquisas sobre
este tema, retomamos Segato (2021, p. 319) por apontar que as
questões de ordem racial eram somente debatidas nas “fileiras do
movimento negro”.
Assim, mesmo que as universidades estejam lutando por uma
outra perspectiva de educação mais democrática, e existam ações
afirmativas de inclusão racial, a universidade ainda importa
ideologias eurocêntricas. E, fatores como a discriminação, o
conservadorismo, a resistência no meio acadêmico em termos
166
raciais coexistem com os discursos e narrativas sobre
representatividade e o direito à educação das pessoas que se
encontram historicamente em desvantagem ou excluídos.
Contudo, diante do montante apresentado na Tabela 1,
selecionamos apenas trabalhos localizados no descritor “Formação
de professores e decolonialidade” (9), pois não fugiam do nosso
interesse de investigação, isto é, a formação inicial de professores
na perspectiva decolonial.
A sistematização dos trabalhos selecionados está elencada no
Quadro 01.
167
en biología de la universidad distrital francisco dos professores, formação
josé de caldas y la universidad pedagógica inicial de professores
nacional (bogotá – colombia) / Maritza Mateus
Vargas. – 2021.
Fonte: Elaborado pela autora.
168
CONSIDERAÇÕES FINAIS
169
debates, sobretudo, de visibilidade, voz e vez a todos os que estão
“fora” do padrão impositivo acadêmico, político, social e
educacional eurocêntrico.
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171
172
DECOLONIALIDADE E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS NA
EDUCAÇÃO INFANTIL: reflexões para uma formação
continuada docente
INTRODUÇÃO
173
prática e teórica, em relação à colonialidade, chamado de “giro
decolonial”:
174
da autora como professora e supervisora da Educação Infantil, esta
temática era trabalhada esporadicamente no decorrer do ano letivo,
especificamente, nas datas comemorativas, apenas para cumprir
calendário.
Além disso, a ausência da temática nas formações continuadas
tornava o assunto mais distante da rotina escolar das crianças na
Educação Infantil, o que dificulta a construção de uma cultura
antirracista, construída em espaço adequado que é a escola.
Ademais, no processo de transformação das relações étnico-raciais,
a educação é dada como um dos principais ativos e mecanismos de
transformação de um povo, constituindo-se papel da escola o
estímulo à formação de valores, hábitos e comportamentos que, de
forma democrática e comprometida com a promoção do ser humano
na sua integralidade, respeitem as diferenças e as características
próprias de grupos e minorias. Assim, a educação é essencial no
processo de formação de qualquer sociedade e abre caminhos para a
ampliação da cidadania de um povo (BRASIL, 2004).
175
inessencialidade em atores privilegiados, colhidos de modo quase grandioso
pela roda viva da história. Introduz no ser um ritmo próprio, transmitido por
homens novos, uma nova linguagem, uma nova humanidade. A
descolonização é, em verdade, criação de homens novos (FANON, 1968, p.26).
176
direitos a essas populações. Neste sentido, o estudo pretende
contribuir para ampliar a reflexão a respeito deste tema e para a
construção de uma escola que valorize a diversidade.
177
visem à produção de outro modelo de ciência, conhecimento e
educação” (SANTOS, SANTIAGO e FARIA, 2016, p. 123).
Nessa perspectiva, a colonialidade funciona como uma base
para o estabelecimento do poder, do capital e do eurocentrismo,
erguendo práticas sociais comuns para o mundo em uma esfera
intersubjetiva central de orientação valorativa. Homem, adulto,
heteronormativo, branco, europeu e cristão foi, dessa forma,
reconhecido como auge de um processo, do novo e daquilo de mais
avançado (QUIJANO, 2005b).
178
e epistemologicamente os debates e as práticas vividas nas
instituições de educação infantil.
Nesse sentido, concordamos com Silva e Dias (2018, p. 122)
quando, refletindo a respeito da Educação Infantil, apontam:
Logo, para entrar em sintonia com esse tempo, faz-se necessário que os/as
educadores/as reconheçam as diferenças e sua transformação em
desigualdades, compreendendo os processos históricos, sociais, culturais,
políticos e econômicos que as geraram, além de serem capazes de propor
ações que se posicionem e que incidam contra toda e qualquer forma de
discriminação.
179
do moderno-colonial, sem evidentemente, deixar de lado – de modo
fundamentalista – positividades da produção cultural do norte global.
5. Pedagogias que se afirmam como utopia política: nesse sentido,
educadoras e educadores têm a direção da luta, da proposição, e não apenas
da crítica e da denúncia, deixando claro a politicidade da educação e a
educabilidade da política, tendo em vista um mundo solidário, democrático
e participativo.
180
das garras opressivas da herança colonizadora. Para isso, é preciso
valorizar o pensamento e as epistemes locais e regionais,
enfatizando as experiências e sociabilidades próprias destas
regiões e de seus habitantes. (REIS; ANDRADE, 2018).
A decolonialidade pode ser pensada como um projeto global
para intervenção, oposição e superação da colonialidade e da
modernidade, uma vez que ambas fazem parte dos desígnios
imperialistas que universalizam a epistemologia eurocêntrica com
o paradigma científico da modernidade vigente nas academias.
Nessa perspectiva, a decolonialidade como epistemologia, é
uma via antirracista para a superação do eurocentrismo, e esse
projeto pode ser abordado no currículo escolar para a construção
de uma epistemologia em que se coloca em prática a enunciação
discursiva local do negro como sujeitos formativos, elaboradores e
participantes de suas próprias histórias (BERNARDINO E
GROSFOGUEL, 2016).
181
modernidade e, em terceiro, porque tem sua origem no sul, dando assim
uma volta à geopolítica dominante do conhecimento que tem tido seu centro
no norte global. (WALSH, 2008, p. 25).
182
da valorização da história e da cultura dos afrobrasileiros e dos
africanos.“A educação das relações étnico-raciais impõe
aprendizagens entre brancos e negros, trocas de conhecimentos,
quebra de desconfianças, projeto conjunto para a construção de
uma sociedade justa, igual, equânime” (BRASIL Parecer do CNE,
2004a, p. 6).
Assim, as noções básicas que fundamentam o texto do CNE
dizem respeito à igualdade entre os sujeitos de direitos e o
reconhecimento dos grupos étnico-raciais. A nova legislação
associa nação democrática com o reconhecimento de uma
sociedade multicultural e pluriétnica, com o objetivo de educar na
pluralidade para a interculturalidade e a valorização das
identidades:
183
Diante disso, a construção de um projeto social voltado à
prática pedagógica decolonizadora para uma educação étnica-
racial é possível. O giro epistêmico (MALDONADO-TORRES,
2007), sendo um movimento de resistência teórico, político e
epistemológico, frente à lógica da modernidade/colonialidade
permite a superação dos padrões hegemônicos vigentes, pois
através deste conceito evidencia-se espaços epistemológicos, antes
invisibilizados pela lógica que opera na modernidade/
colonialidade.
Um projeto social direcionado à prática pedagógica
decolonizadora para uma educação antirracista, é uma forma de
resistência frente à colonialidade do poder, do ser e do saber.
Baseando-se no pensamento de Walsh (2008) é também um
“projeto de existência e de vida”.
Portanto, precisamos reconhecer o racismo em nós, assim a
comunidade como um todo e, por conseguinte, aos educadores,
que também fazem parte dessa comunidade, reeducarão a si
mesmas na finalidade de superar o racismo e construir relações
étnico-raciais outras.
184
outros/as ainda defendem que não há nas escolas espaço para este
tipo de debate veiculando este tipo de ensino e debate aos
antropólogos, sociólogos, etc. Gomes (2008) pondera que
185
enquanto os educandos serão sempre os que não sabem. (FREIRE,
2005, p. 67)
Para obter êxito, a escola e seus professores não podem improvisar. Têm que
desfazer mentalidade racista e discriminadora secular, superando o
etnocentrismo europeu, reestruturando relações étnico-raciais e sociais,
desalienando processos pedagógicos. Isto não pode ficar reduzido a
palavras e a raciocínios desvinculados da experiência de ser inferiorizada
vivida pelos negros, tampouco das baixas classificações que lhe são
atribuídas nas escolas de desigualdades sociais, econômicas, educativas e
políticas. (BRASIL, 2013, p. 88).
186
assumir”. Enfatizando, portanto, a necessária formação como
resposta a uma sociedade que ainda vive à sombra do preconceito
– de classe, de raça e de gênero. Assim, compartilhamos, com esta
reflexão, a importância da formação continuada e da pedagogia
decolonial. Uma incumbência que, além de ser coletiva, deve ser
discutida como responsabilização política, entendendo-se por
propiciar lógicas historicamente contestadas e oprimidas,
visibilizar e promover o protagonismo dos povos historicamente
submetidos.
A educação para as relações étnico-raciais exige ações
comprometidas com uma sociedade justa e democrática, em que
crianças negras e não negras tenham seus direitos plenamente
garantidos. Sendo assim, a atuação do professor ganha importância
na direção de garantir tais direitos a todas as crianças (DUARTE;
OLIVEIRA, 2011), com as quais convive nas instituições de
Educação.
Cabe ressaltar que a Educação das Relações Étnico-raciais
(ERER) está prevista em todos os níveis de Educação, da Educação
Infantil ao Ensino Superior, por meio da legislação, como o Parecer
03/04 (BRASIL, 2004a); as Diretrizes Curriculares Nacionais para a
Educação das Relações Étnico-raciais e para o Ensino de História e
Cultura Afro- Brasileira e Africana (2004b), o Artigo 26A da Lei de
Diretrizes e Bases da Educação brasileira (BRASIL, 1996), a
Resolução n° 5/2009 (BRASIL, 2009), que fixa as Diretrizes
Curriculares Nacionais para a Educação Infantil, entre outras leis
de âmbito nacional, estadual e municipal.
A formação continuada docente na Educação Infantil é
necessária para construção de uma pedagogia decolonial,
empenhada na descolonização do saber e do ser, na luta por uma
escola intercultural e antirracista. Neste sentido, seria adequado
pensar em uma nova Educação para as relações étnico-raciais, que
contemple todas as etapas da Educação, inclusive a formação
inicial dos professores. Afinal, os professores não podem ser os
únicos responsabilizados pela ausência da Educação das Relações
Étnico-Raciais (ERER) nas práticas pedagógicas.
187
METODOLOGIA
188
recepção), inferência esta que recorre a indicadores (quantitativos ou não)
(BARDIN, 2006, p. 38)
RESULTADOS E DISCUSSÕES
189
A educação das relações étnico-raciais tem por alvo a formação de cidadãos,
mulheres e homens empenhados em promover condições de igualdade no
exercício de direitos sociais, políticos, econômicos, dos direitos de ser, viver,
pensar, próprios aos diferentes pertencimentos étnico-raciais e sociais. Em
outras palavras, persegue o objetivo precípuo de desencadear
aprendizagens e ensinos em que se efetive participação no espaço público.
Isto é, em que se formem homens e mulheres comprometidos com e na
discussão de questões de interesse geral, sendo capazes de reconhecer e
valorizar visões de mundo, experiências históricas, contribuições dos
diferentes povos que têm formado a nação, bem como de negociar
prioridades, coordenando diferentes interesses, propósitos, desejos, além de
propor políticas que contemplem efetivamente a todos. (SILVA, 2011, p.13)
190
(WALSH, OLIVEIRA; CANDAU, 2018, p. 6). Fundamental deixar
manifesto que a proposta de uma pedagogia decolonial abarca não
somente a escola, mas também outras instituições de produção do
conhecimento.
191
Uma vez ocupando esses espaços de poder/saber e tendo mínima
consciência do que são e como operam (dentro da lógica aqui discutida), é
preciso desenvolver uma atitude de enfrentamento, o que não é tarefa fácil,
pois requer capacidade para transitar por poderes constituídos. Não
obstante, não basta conseguir transitar, é preciso ter atitude,
compreendendo que essa é “uma dimensão fundamental na tarefa de
produzir conhecimento”. A atitude precisa estar direcionada à produção de
uma episteme decolonial, para tanto, é indispensável ter uma atitude
decolonial, isto é, engendrar “projetos insurgentes que resistem, questionam
e buscam mudar padrões coloniais do ser, do saber e do poder”
(MALDONADO-TORRES, 2016, p. 88).
192
Educação das Relações Étnico-raciais e para o Ensino de História e
Cultura Afro-Brasileira e Africana (BRASIL, 2004b), o Artigo 26A
da Lei de Diretrizes e Bases da Educação brasileira, modificado
pela Lei n°10639/03 e Lei n° 11645/08 (BRASIL, 2008), o parecer
020/2009 (BRASIL, 2009), que determina a Revisão das Diretrizes
Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (2009), entre
outras leis de âmbito estadual e municipal, precisam ser instituído
na políticas escolares, garantindo a permanência de oferta de
cursos de formação, de uma pessoa responsável pela ERER na
Educação Infantil dentro das secretarias, a inclusão da Educação
Infantil na comissão da diversidade, a compra de materiais
didático-pedagógicos que propiciem, aos professores, realizar
práticas cada vez mais efetivas nas instituições, sempre pautadas
por reflexões qualificadas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
193
diversidade epistemológica como suporte para uma formação que
concorra para a promoção dessa justiça cognitiva. Constitui
perceber a necessidade de conhecer a dimensão epistemológica do
trabalho com a temática das relações étnico-raciais. E a lei 10.639/03
pode ser considerada um exemplo a ser seguido, mas é preciso que
se garanta o funcionamento dessa lei, e que o ensino infantil seja
capaz de colocar em pauta nas salas de aula as consequências das
relações coloniais e a importância do resgate de histórias do
subalternizados no Brasil. Um dos maiores desafios é pensar como
aplicar o projeto decolonial nas salas de aula e nas universidades
de modo que não recaia ainda na exclusão de perspectivas
subalternizadas.
Ao relacionar decoloniadade, formação de professores e a
proposta da educação étnico-racial, é possível apontar que as ações
dos professores podem ser fundamentais para construir uma nova
perspectiva que venha a desconstruir a colonialidade do ser,
através de pedagogias decoloniais, baseadas na educação
antirracista, pois retomar a ligação com o continente africano, é com
certeza abrir novas visões, que não aquela que contemple apenas
uma história única, com vistas também a atender à proposta da lei
10.639/03.
Diante desse quadro, pensar uma abordagem de formação
docente para a educação infantil, a partir do giro decolonial,
ancorado aos estudos de Mignolo (2008), significa estabelecer
outros modos de pensar/fazer a formação docente, em que se atente
à voz do educador, em uma perspectiva dialógica, partindo do
cenário bem conhecido, porém, ainda pouco explorado.
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200
PROCESSO DE AUTORRECONHECIMENTO: as implicações
da Lei 10.639/03 nas relações étnico raciais na educação
INTRODUÇÃO
201
afirmação da identidade dos alunos e apresentar as estratégias
utilizadas pelos docentes em prol da promoção da identidade
negra em sala de aula.
Segundo Brito, Bootz, Massoni (2018), o princípio da
interatividade dos estudantes com a informação, de modo que estes
possam aprender brincando e compartilhar o conhecimento através
de atividades cooperativas. Busca-se, ao fim e ao cabo, a
descolonização dos currículos. Como salienta Munanga (2004), a
pedagogia antirracista é construída a partir de temas multiculturais
voltados, na educação, para a identidade racial e a diversidade
cultural.
Mignolo (2017) é enfático ao abordar sobre o racismo
moderno/colonial, ou seja, a lógica da racialização que surgiu no
século XVI, tem duas dimensões (ontológica e epistêmica) e um só
propósito: classificar como inferiores e alheias ao domínio do
conhecimento sistemático todas as línguas que não sejam o grego. A
decolonialidade requer desobediência epistêmica, porque o
pensamento fronteiriço é por definição pensar na exterioridade, nos
espaços e tempos que a auto narrativa da modernidade inventou
como seu exterior para legitimar sua própria lógica de colonialidade.
Diante disso, a pesquisa tem como relevância social suas
contribuições a partir da abordagem sobre o autorreconhecimento
da identidade negra em sala de aula, bem como as práticas docentes
utilizadas na promoção da educação nas relações étnico-raciais com
a implementação da Lei nº 10.639/2003. No caráter acadêmico e
pessoal, pode favorecer no processo de construção de identidade
negra no espaço escolar, já que a Lei nº 10.639/2003 potencializa o
respeito à diversidade na construção social dos alunos.
Este estudo se caracteriza como um estudo bibliográfico com
abordagem qualitativa a partir de materiais já publicados. E está
subdividida da seguinte forma: introdução com a apresentação do
estudo; seguindo o referencial teórico sobre o processo de
autorreconhecimento e sobre a Lei nº 10.639/2003 em sala de aula,
finalizando com as considerações finais e as referências.
202
O AUTORRECONHECIMENTO E A IDENTIDADE NEGRA
NA MODERNIDADE
203
garantia de direitos como o acesso à educação, objetivando um
ensino de qualidade a todos.
Gonzalez (1984) enfatiza que a afirmação dos negros é uma
conquista. É verdade que o projeto das elites de fins do século XIX
prevaleceu e se mantém até hoje, mas não triunfou intacto. As ações
afirmativas conquistadas, a longo prazo e a duras penas, e, o
aumento de pessoas que se autodeclaram negras no Brasil, permite-
nos afirmar que, embora em ritmo lento, o projeto das elites de
negar e silenciar a negritude é cada vez mais abalado.
Nesta perspectiva, as mudanças sociais valorizando a
diversidade, rompendo estereótipos sociais como o racismo e a
discriminação, são frutos de constantes debates e leis que garantem
direitos básicos a todos os sujeitos, por isso a escola enquanto
espaço social tem uma responsabilidade essencial na formação da
sociedade, porém não é a única instituição responsável, a família, a
sociedade e o Estado fazem parte da base da construção social.
Santa’ana (2005, p. 62) destaca que preconceito “é uma opinião
pré-estabelecida, que é imposta pelo meio, época e educação. Ele
regula as relações de uma pessoa com a sociedade”.
Assim, as relações estabelecidas na sociedade têm variados
aspectos frente às classes sociais, religiões e culturas diversas e nem
sempre o respeito a essa diversidade era pauta de debates, havia e
ainda há resquícios de supervalorização de umas diante das
demais, o que potencializa o preconceito nessas relações.
Segundo Munanga (2004), no que tange ao atraso no debate
nacional acerca das políticas de ações afirmativas no Brasil, bem
como sobre o multiculturalismo na educação. Ambos foram
suprimidos durante muito tempo devido à manutenção do ideário
da democracia racial.
Contudo, mesmo no século XXI, ainda tem fortes vestígios do
desrespeito com a democracia racial, as relações étnico-raciais
necessitam se fazer presente, principalmente na escola com práticas
inclusivas e que possam sanar as problemáticas do preconceito e
discriminação racial, uma vez que estes têm altos índices no
204
contexto brasileiro, mesmo com as leis ainda é nítido tais aspectos
de desrespeito.
Conforme Mignolo (2017), a descolonialidade não é um projeto
que tenha por objetivo se impor como um novo universal abstrato
que substitua e “melhore” a reocidentalização e a
desocidentalização. É uma terceira força que, por uma parte, se
desprende de ambos projetos; e, por outra, reclama seu papel na
hora de construir futuros que não podem ser abandonados nem nas
mãos da reocidentalização, nem nos desenhos desocidentalizadores.
se neste momento a reocidentalização aspira manter as ficções do
norte atlântico universal, o que significaria manter a modernização
e a modernidade.
Para Quijano (2009), a articulação de elementos heterogéneos,
descontínuos e conflituosos numa estrutura comum, num
determinado campo de relações, implica, pois, requer, relações de
recíprocas, determinações múltiplas e heterogéneas. O
estruturalismo e o funcionalismo não conseguiram perceber essas
necessidades históricas. Tomaram um mau caminho, reduzindo-as
à ideia de relações funcionais entre os elementos de uma estrutura
societal. De todos os modos, no entanto, para que uma estrutura
histórica estruturalmente heterogênea tenha o movimento, o
desenvolvimento, ou se se quiser o comportamento, de uma
totalidade histórica, não bastam tais modos de determinação
recíproca e heterogênea entre os seus componentes.
Para Aguiar e Piotto (2018, p. 479), o Estado reconheceu a
existência da discriminação racial e sua relação direta com a
produção de desigualdades sociais, tardiamente, criando a partir
da década de 1990 “políticas públicas específicas destinadas a
promover afirmativamente os direitos da população negra”.
Pensando no contexto educacional brasileiro, pode-se destacar a
Lei 10.639/03 como uma das mais marcantes representantes de tais
políticas.
No que tange às relações-étnicos no sistema educacional
brasileiro, avanços importantes marcam as transformações nos
mais diversos espaços além da escola, através de movimentos e
205
debates que favoreceram os marcos legais com documentos
normativos, a exemplo da:
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:
XLII - a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível,
sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei (BRASIL, 1988).
206
No entanto, com as implantações legais, ainda se tem carência
da sua implementação em todas as escolas, mesmo com
significativos avanços na educação étnico-racial, a exemplo da Lei
10.639/03, sendo relevante no processo de ensino e no
autorreconhecimento dos alunos, ainda necessita de ações
afirmativas no contexto educacional.
Mignolo (2017) defende que a opção decolonial pelo momento
não é uma opção estatal. É uma opção da sociedade política global.
A sociedade política globais está constituída por milhões de
pessoas que se agrupam em projeto para ressurgir, reemergir e re-
existir. Isto já é não só resistir, porque resistir significa que as regras
do jogo são controladas por alguém a quem resistimos. Os desafios
do presente e do futuro consistem em poder imaginar e construir,
uma vez que se libera da matriz colonial de poder e lançamo-nos
ao vazio criador da vida plena e harmônica.
Assim, ainda conforme Mignolo (2017), a descolonialidade
não consiste em um novo universal que se apresenta como o
verdadeiro, superando todos os previamente existentes; trata-se
antes de outra opção. Apresentando-se como uma opção, o
decolonial abre um novo modo de pensar que se desvincula das
cronologias construídas pelas novas epistemes ou paradigmas
(moderno, pós-moderno, altermoderno, ciência newtoniana, teoria
quântica, teoria da relatividade etc.)
Com relação ao espaço escolar, Mizael e Gonçalves (2015)
afirmam que pensar a construção da identidade dos sujeitos é algo
bastante complexo, pois os seres humanos são submetidos a
constantes interações sociais, que os formam no que diz respeito a
sentimentos, ações, ideologias, pensamentos etc. Assim, essas
experiências da realidade da forma coletiva e individual permitem
a compreensão de comportamentos nos vários espaços sociais.
O autorreconhecimento é importante, uma vez que, segundo
os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – PNAD
(IBGE, 2019), 42,7% dos brasileiros se declararam como brancos,
46,8% pardos e apenas 9,4% como pretos e 1,1% como amarelos ou
indígenas. Por isso, as ações, principalmente no espaço escolar,
207
devem se concretizar em prol de contribuições para a sociedade em
meio a sua diversidade racial.
Bastos (2015, p.616) afirma que:
METODOLOGIA
208
A abordagem qualitativa trabalha com o universo dos
significados, dos motivos, das aspirações, das crenças, dos valores
e das atitudes. Esse conjunto de fenômenos humanos pode ser
compreendido como uma parte da realidade social. Isto permite
que o ser humano pense e interprete suas ações dentro da realidade
vivida. Neste tipo de abordagem não é possível quantificar, pois é
subjetiva em seus significados (MINAYO, 2007).
As bases dos dados bibliográficos foram Scielo, Google
Acadêmico entre outras fontes. Para a localização dos estudos
relevantes, que respondessem à pergunta de pesquisa, utilizou-se
de descritores indexados e não indexados (palavras-chave) no
idioma português. Como critérios de inclusão utilizaram-se
estudos disponíveis em sua totalidade, publicados em português.
Foram excluídos da busca inicial textos incompletos e outras
formas de publicação duplicadas e não condizentes com a questão
norteadora da pesquisa. Levando em consideração os aspectos
éticos da pesquisa quanto às citações dos estudos, respeitando a
autoria das ideias, os conceitos e as definições presentes nos dados
incluídos na revisão bibliográfica.
Os dados são importantes na construção do marco teórico
dando o embasamento necessário e significativo na abordagem da
pesquisa, sendo, portanto, de grande relevância tanto os dados
quanto a fundamentação teórica para o estudo a ser realizado.
Como critérios de inclusão foram utilizados estudos
disponíveis em sua totalidade, autores abordados na disciplina –
Educação, Diversidade e Políticas Afirmativas, em português e de
acordo com os objetivos da pesquisa em questão. Sendo excluídos
da busca inicial resumos, textos incompletos, publicação
duplicadas e não condizentes com a questão norteadora da
pesquisa, indisponível e fora da temática em questão.
Assim, a realização da pesquisa, a coleta e análise dos dados
levou em consideração o marco teórico que embasará a pesquisa
para o alcance dos objetivos propostos. De modo que a pesquisa
contemplará conceitos, conhecimentos gerais e específicos sobre a
209
abordagem a ser realizada, a fim de obter uma percepção diante do
presente estudo.
210
entanto, que nessa sociedade da informação a figura do professor é
indispensável na escola, já que informação não significa,
necessariamente, produção crítica e libertadora de conhecimento.
Os temas étnico-raciais precisam ser trazidos para o centro do
debate, mas é preciso, primeiro, tirá-los da invisibilidade para
depois fazer com que ocupem os mais diversos espaços.
Sendo que a identidade será não uma questão de substância,
mas de plasticidade. É uma questão de co-composição, de abertura
para o exterior de outra carne, de reciprocidade entre múltiplas
carnes e os seus múltiplos nomes e lugares. Nesta perspectiva,
produzir a história consiste em desatar e reatar nós e potenciais
situações. A história é uma sequência de situações paradoxais de
transformação sem ruptura, transformações na continuidade, de
assimilação recíproca de múltiplos segmentos do ser vivo. Daí a
importância, inerente ao trabalho, de pôr em relação os opostos, de
fagocitose e de reunir singularidades (MBEMBE, 2017).
Ainda de acordo com Almeida e Sanchez:
[...] a lei não garante, por si só, a efetivação de seus preceitos. Ela se torna
mais um instrumento para que, na dinâmica sociopolítica e no próprio
cotidiano escolar, com todas as contradições, conflitos e embates que ali se
dão, sejam produzidos os significados e os valores em torno de seu
conteúdo. (ALMEIDA; SANCHEZ, 2017, p. 58).
211
79-B da Lei 10.639/2003 tem produzido resultados diferentes. Algumas
escolas já trabalhavam com essa data antes mesmo da promulgação da 176
Lei, mas outras passaram a adotá-la após esse momento. Esse dia tem se
transformado em Semana da Consciência Negra em algumas escolas e
outras conseguem até mesmo estendê-lo para o mês inteiro. (GOMES;
JESUS, 2013, p.30).
212
é essencial no processo de formação social dos sujeitos, ainda mais
na escola.
Oliveira (2016) observa que no espaço escolar ocorrem
diferentes relações sociais e que estas refletem a diversidade
cultural da sociedade brasileira. Dessa forma, o espaço escolar
torna-se primordial para a preparação dos discentes para o
reconhecimento dos valores, costumes e contribuições da cultura
negra na formação da sociedade brasileira em um constante
processo de construção da identidade negra. Através de uma boa
educação é possível quebrar o preconceito racial contra os negros e
deixá-los ser eles mesmos, expondo suas culturas, religiões, usando
de seus direitos como todo cidadão brasileiro, onde estiverem, pois
são livres, não importando a cor da pele.
O currículo é criticado no que tange sua construção, uma vez
que traz uma versão única de fatos e histórias, o que pode
representar um risco que causa o empobrecimento frente à
pluralidade social, assim tem-se a necessidade do currículo
contemplar os conteúdos de matriz afro-brasileira nas etapas da
educação básica, bem como no ensino superior.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
213
modernidade, apresentando-se como um lado obscuro, atribuindo
à modernidade a característica monstruosa que de certa forma
ajuda nas permanências de muitos dos aspectos tradicionais no
contexto social, sendo as rupturas essenciais.
Conclui-se, portanto, que as contribuições da Lei nº
10.639/2003 no processo de autorreconhecimento da identidade
negra em sala são base para a democracia racial através da
valorização, do debate e de ações afirmativas através das relações
étnicos-raciais, assim entre as estratégias docentes, o diálogo sobre
a diversidade cultural é essencial. De acordo com Munanga (2008),
a nossa percepção de diferença situa-se no campo visual e ressalta
a importância do hábito de pensar nossas identidades.
Diante disso, nota-se que Lei nº 10.639/2003 defende a
superação do preconceito, do racismo e a invisibilidade cultural
presente no currículo, no livro didático entre tantos outros aspectos
que tendem a reforçar tais problemáticas de concepções
hegemônicas, no processo formativo da sociedade. Portanto, as
implicações desta lei em sala de aula são diversas e nos remete
ainda a reflexões tendo aspectos raciais como pano de fundo, de
modo que a escola e as estratégias pedagógicas têm um papel
essencial no processo educacional frente às relações étnico raciais,
contribuindo com o processo de autorreconhecimento na escola.
REFERÊNCIAS
214
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216
AS AUTORAS E OS AUTORES
217
formativos docentes (GEPPForD). Tem experiência na área de
Educação, com ênfase em Educação Infantil.
Lattes: http://lattes.cnpq.br/0476800795521365
E-mail: [email protected]
218
Gleydson Rogério Linhares Dos Santos
Coutinho – Mestrando em Educação, Pós-
graduado em Arte e Educação e em
Educação Especial Inclusiva, Licenciado em
Artes Visuais e Técnico em Guia de
Turismo. Atualmente, atua como professor
no IEMA, lecionou no IFMA no período de
2019 à 2021 e no PRONERA em 2020 e 2021. Pesquisador do MELP.
Membro do NEABI desde 2019. Integrante do NETHE entre 2015 e
2018. Têm atuação socioeducativa com educação popular e arte do
graffiti desde 2008 pelo Movimento Organizado de Hip-hop
Quilombo Urbano.
Lattes: http://lattes.cnpq.br/6209319731739266
E-mail: [email protected]
219
Estadual do Maranhão (DBIO-UEMA). Professor do Programa de
Pós-Graduação em Educação da Universidade Estadual do
Maranhão - UEMA (PPGE - UEMA / Mestrado Profissional).
Professor do Programa de Pós-Graduação em Educação Inclusiva
em Rede da Universidade Estadual Paulista (UNESP) e
Universidade Estadual do Maranhão - UEMA (PROFEI / UNESP /
UEMA / Mestrado Profissional). Fundou e coordena desde 2009 o
Grupo de Pesquisa Ensino de Ciências, Saúde e Sexualidade (GP-
ENCEX). Atua no ensino, pesquisa e extensão nas seguintes áreas:
Práticas Curriculares - dimensão político-social; dimensão
educacional; dimensão escolar; Didática e Metodologia das
Ciências Naturais; Ensino de Biologia; História da Biologia;
Filosofia da Biologia; História da Medicina; Saúde Coletiva;
Doenças Tropicais; Parasitologia; Metodologia da Pesquisa
Qualitativa; Pesquisa Documental; Sexualidade; Educação Sexual.
Tem se dedicado à escrita e ao aprofundamento teórico das
seguintes linhas de pensamento: estudos gays e lésbicos, teoria
queer, pós-estruturalismo, estudos foucaultianos e estudos
culturais.
E-mail: [email protected]
Lattes: http://lattes.cnpq.br/1439787124956370
220
Respectivas Literaturas pela Universidade Estadual do Maranhão -
CESC / UEMA (2009). Graduação em Pedagogia pela Universidade
Anhanguera - UNIDERP (2018). Graduação em Letras LIBRAS pelo
Centro Universitário Leonardo da Vinci UNIASSELVI (2022).
Atualmente é servidor da Secretária Estadual de Educação do
Estado do Maranhão na Unidade Regional de Caxias / MA como
professor / Intérprete de LIBRAS. Tem experiência na Pedagogia,
na área de LIBRAS e Letras como professor da Educação Básica e
Ensino Superior, de forma presencial e a distância, com ênfase em
Letras, Pedagogia e LIBRAS atuando principalmente no seguinte
tema: Narcisismo. Educação Especial, Surdez e Inclusão, Formação
de Professores e Práticas Educativas.
Lattes: https://lattes.cnpq.br/5394072277513805
E-mail: [email protected]
221
Religions (SISR). Membro da Associação Brasileira de
Pesquisadores/as Negros/as.
Lattes: http://lattes.cnpq.br/9072225990725799
Orcid: https://orcid.org/0000-0001-7721-9199
E-mail: [email protected]
222
Pedagogia, pela Faculdade Latino Americana de Educação,
FLATED. Graduação em Educação Física, pela Universidade
Ceuma (UNICEUMA).
E mail: [email protected]
Lattes: http://lattes.cnpq.br/4531755126266603
223
Pesquisa "Políticas de Formação e Trabalho Docente" -
GEPFORTRAD.
Lattes: http://lattes.cnpq.br/5474276294927880
E-mail: [email protected]
224
Poliane de Lima Vaz da Costa - Atualmente
é Mestranda em Educação pelo Programa
de Pós-graduação em Educação -PPGE -
Universidade Estadual do Maranhão-
UEMA. Participa do Núcleo de Estudos e
Pesquisas em Estado, Políticas Públicas
Educacionais e Democracia-NEPED. Possui
especialização em Docência do Ensino
Superior pelo Instituto de Educação
Sinapses. Pós -graduanda em Educação
Infantil e Alfabetização e Letramento. Graduada em PEDAGOGIA
pela Universidade Federal do Piauí (2014). É professora efetiva pela
prefeitura municipal de TIMON-MA - SECRETARIA MUNICIPAL
DE EDUCAÇÃO SEMED. Já esteve como coordenadora na
Educação Infantil e Ensino Fundamental em escola pública do
Município de Timon-MA.
Lattes: https://lattes.cnpq.br/1088809044581989
E-mail: [email protected]
225
Trabalho pela UFPI. Exerceu a função de voluntaria em uma
instituição publica nos anos Iniciais do Ensino Fundamental.
Mestranda em Educação pela Universidade Estadual do
Maranhão/UEMA. Professora regente na rede pública municipal
nos anos iniciais. Atua como tutora na modalidade regular nível
médio/inclusão.
Lattes: http://lattes.cnpq.br/7138431983729649
E-mail: [email protected]
226