Meet Cute Diary - Emery Lee
Meet Cute Diary - Emery Lee
Meet Cute Diary - Emery Lee
Capa
Página do Título
Créditos
Gatilhos
Dedicatória
MeetCuteDiary postou:
Tudo começou com uma sorveteria.
A doçura já estava no ar, o açúcar correndo em minhas veias, me
deixando bêbado. Eu nunca tinha ido à loja antes, mas um amigo a
recomendou como o lugar mais delicioso da cidade, e eu precisava
saber com certeza.
Mas então eu o notei. Ele entrou com um grupo de amigas o
cercando, e eu não pensei muito sobre isso quando elas se sentaram à
mesa logo atrás da minha. Claro, eu não tinha dado uma boa olhada
nele, e não é como se eu tivesse ido a uma sorveteria em busca de
amor.
Terminei meu sundae e empurrei minha cadeira para trás, pronto
para ir. Mas no momento em que tentei me levantar, ele se recostou,
esticando os braços e esbarrando em mim. Eu me virei, os olhos se
arregalando quando o encarei, e finalmente dei uma boa olhada nele –
alto, cabelo escuro, uma mandíbula tão perfeita que ele poderia muito
bem ter sido a inspiração para o David.
— Oh, hum, desculpe — ele disse, se apressando para tirar uma
mecha de cabelo do rosto.
Minha respiração ficou presa na garganta, mas consegui dizer
rapidamente. — Não, foi minha culpa.
Ele sorriu de volta para mim, e eu podia dizer que ele estava
nervoso, mas eu não o questionaria. Afinal, eu estava nervoso
também. Quando nos afastamos, não achei que o veria novamente.
Enquanto descia a rua, ouvi o som de passos apressados atrás de
mim. Quando me virei, lá estava ele, uma expressão preocupada no
rosto e sua respiração ofegante.
— Ei, hum, você esqueceu sua carteira — disse, com o rosto
vermelho de tanto correr. Ele a estendeu para mim e eu peguei com as
mãos trêmulas.
Eu ri. — Foi mal.
— Está tudo bem. — disse. — Na verdade, estou feliz por ter a
chance de te ver outra vez. Eu estava me perguntando se talvez você
gostaria de tomar um café comigo?
E estamos namorando desde então.
Anônimo
MeetCuteDiary postou:
Eu balancei a cabeça, meu coração disparado. Ele era o cara mais
bonito que eu já tinha visto – uma daquelas barbas de lenhador
gostosas e olhos verdes brilhantes. — Me desculpe —, eu disse. — Eu
posso ser desajeitado às vezes.
E ele riu, com um brilho nos olhos ao dizer: — Está tudo bem.
Estou feliz que você não fez uma piada sobre se apaixonar por mim.
Eu ri também. Ele enfiou as mãos nos bolsos e disse: — Sabe, não
posso acreditar que não nos conhecemos antes.
— Acabei de me mudar para cá.
— Oh, bem, você gostaria que alguém mostrasse a cidade algum
dia?
Eu sorri, calor se espalhando por mim. — Eu adoraria.
E nós temos saído desde então.
Anônimo
DebunkingMCD postou:
É honestamente constrangedor ver todos vocês acreditarem nessa
porcaria do Meet Cute Diary. Não há muitas pessoas trans no mundo,
e eu prometo a você que nem todas têm finais felizes. Por que você
não olha para os FATOS reais de uma vez? Vou continuar coletando
mais deles no meu blog para pessoas que se preocupam com a lógica
e a razão.
MeetCuteDiary postou:
Tudo começou em uma padaria, nós dois capturando o olhar um
do outro lado da sala e minha respiração foi varrida quase
imediatamente. Não tive coragem de falar com ele e fui para casa sem
esperança, sabendo que nunca mais o veria.
Então, quando entrei na livraria no dia seguinte, todo bem vestido
para minha entrevista, a última coisa que eu esperava era encontrá-lo
ali como se o destino estivesse nos unindo. Enquanto ele folheava um
livro no balcão da frente, seu corpo congelou, seus olhos erguendo-se
para encontrar os meus.
— Oi —, ele disse. Ele parou por um momento, como se seu
coração estivesse batendo muito rápido para ele pensar. — Você
deve… você está aqui para a entrevista?
Eu balancei a cabeça lentamente. — Eu estou.
Ele sorriu. — Vou chamar o gerente. — Ele se virou para se
retirar para a sala dos fundos e fez uma pausa, sua mão vagando
preguiçosamente em direção ao seu cabelo escuro e encaracolado. Ele
se virou lentamente, com os olhos arregalados ao dizer: —
Independentemente do que aconteça na entrevista, você gostaria de
tomar um café comigo mais tarde?
Eu sorri. — Eu adoraria.
E estamos namorando desde então.
Anônimo
Desta vez, ando um pouco mais rápido, a emoção dirigindo a cada passo. Eu
chego à loja em apenas cerca de vinte minutos e espreito pela janela para ver
Drew parado na caixa registradora contando dinheiro.
Quando eu bato no vidro, seu olhar dispara e um sorriso se abre em seu
rosto quando ele me vê.
Depois de colocar o dinheiro de volta na caixa registradora, ele desliza até
a porta, destrancando-a por tempo suficiente para eu entrar.
— Você chegou aqui mais rápido do que eu esperava —, diz ele.
Eu sorrio. — Bem, eu estava por aqui, então não era grande coisa.
— Posso ir fazer um café para você, se quiser.
Eu sorrio enquanto me jogo no tapete ao lado de uma caixa aberta de
livros. Eles são da seção de autores locais, este título específico é chamado de
The Blonde Conspiracy. — Obrigado! — Eu digo, e enquanto Drew vai até o
fundo para preparar um café com leite para mim, eu fico olhando para a capa
do livro artisticamente ilustrada e me pergunto como deve ser ter um livro
publicado em uma livraria local. Antes do Diário, eu costumava tentar
escrever novos projetos toda vez que a inspiração surgia, mas sempre os
abandonei. Eles simplesmente nunca se sentiram tão inspirados, como se não
tivessem uma vida real para eles.
Drew sai com outra xícara de café e entrega para mim. Eu sorrio de novo,
notando o pequeno símbolo de reciclável na parte inferior. Sempre quis um
cara que luta por uma causa, então isso parece mais um sinal. Eu tomo um
gole, com cuidado para não me queimar antes de dizer: — Então, por que
você queria que eu viesse?
— Eu meio que quero te perguntar uma coisa, se você não se importa —,
diz ele.
Eu digo: — Vá em frente —, antes de tomar outro gole.
— Você é dono do blog Meet Cute Diary?
Eu engasgo, o café escorrendo da minha boca para a frente da minha
camisa. Drew contorna o balcão e retorna com alguns guardanapos, mas
ainda estou tossindo meus pulmões.
Como diabos ele sabe sobre o Meet Cute Diary?
— Vou interpretar isso como um sim —, diz ele, sorrindo para mim. —
Isso é muito legal. Acho que nunca conheci uma celebridade antes.
Pego os guardanapos dele e os uso para tentar limpar a bagunça na minha
camisa. Meus olhos ardem quando pergunto: — Como você sabe disso?
— O blog? — Ele dá de ombros. — Eu acompanho há seis meses e
também vi as histórias postadas no Insta. E tem aquela pessoa no TikTok que
os interpreta. Difícil não notar um blog tão fofo.
Lágrimas brotam dos meus olhos. — Você acha que é fofo?
— Bem, sim. Um monte de gente encontrando o amor na rua? Ele
apareceu no meu painel um dia, então eu enviei para minha prima. Ela é
trans.
Eu aceno com a cabeça, mas minha mente está indo muito rápido para
acompanhar qualquer uma dessas coisas. Drew sabe sobre o Meet Cute
Diary. Drew segue o Meet Cute Diary.
— De qualquer forma, tinha um post sobre uma sorveteria tipo há uma
semana que parecia muito familiar, e outro sobre uma livraria, e parecia
muito com este lugar, e eu não queria ser arrogante por perguntar, mas. . . —
Ele encolhe dá de ombros novamente, encostando-se na prateleira mais
próxima. — E. . . quero dizer, o nome do administrador é Noah.
Eu estou tremendo. Puta merda. Nunca, em meus sonhos mais loucos,
pensei que chegaria a esse ponto.
E todas as vezes que pensei em ser pego por alguém, pensei que seria um
dos fanáticos da minha antiga escola. Eu sempre me preocupei que eles
pudessem me descobrir, descobrir que eu era trans e apoiar o amor trans em
vez de denunciar tudo como um pecado, e então eu seria expulso ou suspenso
ou receberia oração nas missas semanais da escola.
Mas isso é diferente. Meu coração está batendo forte no meu peito, mas
animado, não apavorado. É o momento em que minha máscara foi retirada e a
identidade civil revelada, mas nas mãos de um fã, alguém que está pronto
para me dar toda a gratidão que minha máscara me negou por tanto tempo.
Então ele diz: — Isso significa que todas as histórias são inventadas?
Quero dizer, dado que todas as que foram comigo tiveram finais alternativos.
E eu estou murchando, a respiração escapando de mim enquanto um
rubor aquece meu rosto. — Sim —, eu digo. — Elas são todas inventadas.
Falsos encontros fofos.
Ele arqueia uma sobrancelha. — Quer dizer, são histórias legais, mas por
que passar por todo esse aborrecimento se elas nem são reais?
Parece uma pergunta estranha, já que estamos literalmente parados no
meio de uma livraria. Mas é claro que ele não entenderia. Ele provavelmente
teve toneladas de namoradas com histórias super fofas envolvendo todas elas.
Ele é um lindo cara cis branco. Ele pode conseguir quem quiser, e tenho
certeza que ele só pensa em quando vai se casar e começar uma família, não
em se vai.
Eu poderia pegar qualquer volume nesta loja e mostrar a ele seu final
feliz. Claro que ele não conseguia entender por que alguns de nós estamos tão
desesperados para fazer o nosso.
— Às vezes as pessoas precisam de ajuda para acreditar no amor —, eu
digo. — Tento dar isso a eles com o Diário. — Eu não conto a ele sobre
minhas fantasias. Ainda não chegamos a esse nível de relacionamento.
Ele sorri. — Isso é muito legal da sua parte. Quer dizer, tentando ajudar
estranhos aleatórios assim. A maioria das pessoas não se importaria.
E eu sorrio porque, uau. Becca é a única pessoa que sabe sobre o Diário
porque mesmo depois de mudar meu nome e sair de casa, algo nisso sempre
pareceu um tabu. Como, talvez, se eu expressasse meu raciocínio por trás da
criação do Diário, todo mundo pensaria que eu era uma criança perdida
fazendo um grande negócio por nada. Mas ouvir essas palavras agora,
especialmente de um cara que eu meio que usei para inventar minhas
histórias – bem, é super fofo.
Mas agora ele também sabe que é falso, e talvez ele não saiba sobre o
troll, mas ele também poderia saber, e ele poderia fornecer a eles mais
informações para destruir tudo.
— Posso ser honesto com você? — Eu pergunto.
Ele da de ombros. — Não tenho nada contra isso.
— Há um troll tentando provar que o Meet Cute Diary não é real.
Ele arqueia uma sobrancelha. — Mas não é real.
— Eu sei, mas as pessoas precisam acreditar que é, sabe? Eu não quero
que as pessoas deixem de acreditar que as pessoas trans podem ter um
romance digno de conto de fadas. Eu não quero que percam isso, mas se
forem convencidas de que é tudo falso. . .
— Tenho certeza de que as pessoas simplesmente vão ignorar. O blog é
tão popular, e as pessoas praticamente te adoram.
Mas não tenho tanta certeza. Já perdi quase dois mil seguidores e só se
passaram alguns dias.
— Eu sei que provavelmente não parece grande coisa para você, mas há
tantas pessoas para quem isso é importante —, eu digo. — Quer dizer, recebi
mensagens de pessoas dizendo que o Diário é a razão pela qual não se
mataram. Eu não posso apenas assistir isso pegar fogo.
— Não, eu entendo —, diz ele. — Prima trans, lembra?
Eu expiro. — Então você não vai contar a ninguém que é falso?
Ele concorda. — Definitivamente não. Na verdade, eu vou superar você
nisso. Diga-me o que posso fazer para ajudar.
O que, a oferta é doce o suficiente que já fez meu coração disparar, mas
eu apenas rio, desajeitadamente virando meu rosto. — A verdade é que a
única maneira que conheço de salvar o Diário é provando de alguma forma
que todas essas histórias falsas são reais.
Se fosse uma ficção romântica, essa seria a parte em que ele pega minha
mão e diz: Não posso mudar todas as histórias, mas estou no comando desta,
e acho que podemos torná-la real. Apenas me use.
Em vez disso, ele diz: — Apenas me use. . .
Espere o que?
— O-o quê? — Eu digo, definitivamente eu acidentalmente derramei
meus pensamentos no mundo real e o ouvi mal.
Ele dá de ombros. — Vamos jantar. Depois, você pode postar algumas
fotos e contar a todos que você conhece que o Diário é real, porque uma das
histórias era sobre você. Parece bom?
Eu pisco, minha mente falhando em calibrar. Ele acabou de sugerir uma
AU de falso namoro? Estou em uma AU de falso namoro?
— Você tem certeza que quer fazer isso?
Ele ri, empurrando a estante e fechando o espaço entre nós. — Por que
não? Quer dizer, eu amo o seu blog, então provavelmente vamos nos dar
muito bem, e eu não posso recusar a chance de dar uma olhada nos bastidores
quando tenho certeza que muitas pessoas matariam por uma. Além disso, eu
odiaria ver o blog desmoronar por causa de algum troll.
Ficamos em silêncio por um momento, meu coração batendo forte em
meus ouvidos. Gostaria que Becca estivesse aqui para ver isso, ou pelo
menos uma equipe de filmagem para que eu pudesse filmar e mostrar a ela
mais tarde.
Drew arqueia uma sobrancelha e diz: — Então, isso é um não…?
— É um sim! — Eu digo, um pouco rápido demais e um pouco alto
demais.
— Desculpe, quero dizer, é – sim, eu gostaria.
A porta da frente se abre e meus olhos voam para pegar Amy entrando
pela porta.
— Drew! — Amy solta.
Drew revira os olhos, voltando para trás do balcão. — Sempre pronto
para trabalhar, tia Amy.
Amy vai para a sala dos fundos e Drew sorri para mim. — Podemos
resolver os detalhes mais tarde, ok? Durante o jantar?
Eu sorrio. — Parece perfeito.
Inbox (83)
Anônimo perguntou: O encontro da livraria era super fofo, mas acho
que isso é mais fácil quando você inventa tudo, né? Você vai
responder as chamadas de atenção ou só continuar postando essas
hiatórias não explicativas vagas? É muito patético continuar
ignorando todos. Se você é um mestre do amor, deve parar de se
esconder atrás de histórias falsas ou, pelo menos, admitir tudo e
deixar de ser duas caras.
Mando mensagem para Brian para que ele saiba que não precisa me buscar
porque tenho um encontro. Ele responde com “Isso é uma piada?” então nem
me preocupo em responder.
Apesar de ter sido abertamente rejeitado para o cargo, ninguém me manda
para fora da loja. Na verdade, passo o resto do dia procurando novos
empregos e lendo alguns dos comentários do Diário em minha última
postagem para Drew, que está muito animado com eles. Os bons, de qualquer
maneira. Eu meio que pulo os ruins. Becca me respondeu no meio do dia para
dizer: Desculpa, esqueci de postar por causa de um trabalho da escola.
Vou cuidar disso mais tarde. Então, conto que tenho uma solução para que
ela não tenha que se preocupar com isso, embora uma parte de mim esteja
meio magoada por ela ter esquecido do Diário tão facilmente.
Às seis horas, Drew fecha a loja e se vira para mim. — Que tipo de
comida você gosta?
Eu dou de ombros. — Todo tipo de comida. Comida é boa.
— Eu gosto de como você pensa.
Ele pega minha mão, o que pode ser um exagero, já que nós dois estamos
apenas fingindo estar atraídos um pelo outro, e então caminhamos pela faixa
até onde a maioria dos negócios ativos está. Ali estão alguns bares, alguns
clubes, algumas lojas de sobremesa. Drew me leva em direção a um pequeno
restaurante chique, e eu me arrependo de derramar café na minha camisa já
grande quando entramos.
O anfitrião está todo vestido de preto, seu cabelo meio ondulado como se
o vento fizesse o penteado perfeito em seu caminho para o trabalho. Não
posso reclamar quando ele nos leva a uma mesa alta, que, você sabe, é meio
difícil de alcançar quando você tem cerca de um metro e sessenta.
De qualquer forma, quando me sento no assento, o anfitrião já se foi,
deixando dois menus para nós na mesa.
— Peça o que quiser —, diz Drew. — Eu pago para você.
Eu suspiro. — Porque ainda não tenho salário?
Drew ri. — Temos que fazer isso parecer um encontro de verdade. Ah, e
provavelmente deveríamos tirar uma selfie antes de sairmos daqui.
— Oh, certo —, eu digo.
Quando Drew sugeriu pela primeira vez o encontro falso, não parecia tão
real quanto agora. Claro, não é o encontro que me pega desprevenido, mas a
realidade da postagem, de anexar meu rosto da vida real a esta pessoa online
que mantive separada de mim por tanto tempo. — Eu, uh, só um segundo.
Eu escorrego para fora da minha cadeira e vou direto para o banheiro,
esquivando-me de um garçom chocado que sai da cozinha. É um espaço
muito chique, considerando que o objetivo é dar uma cagada, mas as luzes
fazem minha pele parecer amarela enquanto eu me olho no espelho.
Não posso dizer que passo muito tempo olhando meu próprio reflexo.
Quer dizer, provavelmente deveria, já que mereço esse tipo de beleza na
minha vida, mas odeio a sensação de olhar para um estranho. Como se
alguém fizesse photoshop em minha imagem antes de jogá-la no espelho, e
agora estou mais baixo e mais magro e parecendo muito mais feminino do
que deveria ser.
E assim que eu postar essa foto, meus seguidores não me verão mais. Eles
não vão ver o Noah que se parece com Pharrell ou Rock ou Bruno Mars. Eles
vão ver aquela pessoa no espelho, aquele que o mundo continua tentando
desenterrar, não importa o quanto eu trabalhe duro para encobri-lo.
Mas essa postagem vai salvar o Diário e, não é sobre mim. Se usar um
rosto ao qual não me sinto conectada é o suficiente para salvar o amor trans, é
o mínimo que posso fazer. Além disso, o mod Noah é uma pessoa que usei
por tanto tempo, quem se importa se eu tiver que ajustá-lo um pouco? Nada
demais.
Eu molho um pouco as mãos e uso para alisar um pouco o cabelo. Então
respiro fundo algumas vezes para afastar a ansiedade antes de voltar para o
restaurante e deslizar para o meu lugar.
Drew me olha de soslaio quando me sento, então apenas digo: — O diário
é muito importante para mim. Eu não compartilho isso com muitas pessoas.
Ele acena com a cabeça uma vez. — Sim, isso faz sentido.
— Eu só quero que tudo isso corra perfeitamente —, eu digo. — Você
sabe, para o Diário.
Drew sorri. — Bem, eu agradeço por você ter me contado o grande
segredo, e estou feliz em ajudar. Certamente é melhor do que ficar em casa
assistindo Rick e Morty.
Eu retribuo seu sorriso e procuro algo para cortar a estranheza no ar.
Finalmente, eu digo: — Então, você faz isso com frequência?
Drew arqueia uma sobrancelha. — Oh, sim, eu saio com todos os
entrevistados.
A risada sai de mim naturalmente, como se a piada fosse parte de um
roteiro que ele escreveu só para mim. — Bem, é tecnicamente um encontro
falso —, digo, embora, se ele for um verdadeiro fã de romance, ele saberá
exatamente como isso geralmente termina. — E obrigado por isso, por falar
nisso. Eu agradeço você ter se ofertado para ajudar o Diário.
Ele me encara por um momento antes de dizer: — Para ser honesto, tenho
pensado em você desde todo o incidente da sorveteria.
Eu franzo minhas sobrancelhas, meu coração acelerando. — Porque
nossas mãos se encontraram?
— Bem, sim, eu acho, mas na verdade eu estava pensando sobre a
postagem do blog. Eu não sei. Foi lindo, se isso não for estranho. E foi
incrível quanta atenção recebeu por um post tão curto.
E eu sorrio porque há algo incrivelmente romântico na ideia de que esse
cara esteve apaixonado pela minha escrita antes mesmo de me conhecer. E,
bem, é muito engraçado que ele pense que essa é a parte estranha, e não o
fato de que eu escrevi uma história falsa em que ficamos juntos sem saber
nada sobre ele.
— O ponto era fazer as pessoas acreditarem no amor —, eu digo.
Ele sorri. — Sim, acho que funciona.
É como se alguém tivesse afrouxado um parafuso na minha mandíbula
porque eu simplesmente não consigo parar de sorrir.
Então ele diz: — Você acha que isso vai ser suficiente para salvar o
Diário?
Eu paro, o sorriso desaparecendo do meu rosto. — Quer dizer, espero que
sim. Não sei o que fazer além disso.
Ele mexe na borda de seu menu, sua voz subindo uma oitava quando ele
diz: — Sabe, se você precisar da minha ajuda com o Diário, eu ficaria feliz
em ajudar. Quer dizer, sou um grande fã. É como ajudar a fazer um filme da
Disney.
E tudo em que posso pensar é que é lindo como ele é um pouco tímido,
mas no bom sentido.
— Eu adoraria —, eu digo.
Ele me dá um sorriso lindo enquanto meu coração dá cambalhotas no
meu peito. É apropriado que nosso encontro falso termine com uma das
minhas maiores excitações – um sorriso criado para partir corações
Não tenho certeza de quanto tempo ele pede para a pausa do almoço, mas
pegamos uma carona até este quarteirão cheio de lojas de fotos e comida
tailandesa. Drew me guia em direção a um pequeno restaurante chinês local,
e entramos, o cheiro de pato imediatamente caindo sobre nós.
— Você me parece o tipo de pessoa que gosta de comida exótica —, diz
Drew.
E não tenho certeza do que há de — exótico — na comida chinesa
decente, mas meu estômago já está roncando só de ficar parado na porta da
frente e estou com fome demais para me importar. Pegamos uma mesa e, para
minha alegria, o cardápio está repleto de churrasco chinês. Não posso dizer
que sou o mais versado em comida chinesa, mas se for carne e for churrasco,
não vou reclamar.
— Os tamanhos das porções são enormes, então não vai com calma —,
sugere ele.
Eu sorrio. — Você subestima o quanto eu posso comer.
Apesar disso, sim, vou pegar leve porque não quero zerar a carteira dele,
mas caramba, minha boca está salivando.
— Então, deveríamos definir alguns parâmetros sobre isso? — ele
pergunta.
Eu congelo, meu lábio subindo. — O que você quer dizer?
— Bem, se vamos construir todo esse relacionamento falso, sinto que
temos que definir algumas regras básicas —, diz ele. — Você sabe, como
quem tem permissão para saber e como vamos nos comportar em público e
essas coisas todas.
Este é um pequeno soluço que eu não esperava, mas não muito difícil de
resolver. — Quanto menos pessoas souberem, menor será a chance do troll
descobrir —, eu digo.
Ele concorda. — Verdade. Então, isso significa que provavelmente
devemos agir como um casal em público, hein?
Eu dou de ombros, mas estou muito bem com isso. — Devemos nos
comportar o mais naturalmente possível.
— Então, nada de flertar com mais ninguém? — ele diz.
Eu balanço minha cabeça. — Definitivamente não. E devemos fazer todas
as coisas que faríamos se estivéssemos namorando, — eu digo.
— Especialmente online, certo? — ele diz. — Já que o troll pode estar
assistindo. Certifique de me marcar em tudo, e eu vou reproduzir no meu
blog também.
Eu sorrio.
— Então, quais são seus planos para o verão?
Faço uma pausa, esperando para ver se ele vai me perguntar mais alguma
coisa sobre o nosso namoro falso antes de voltar ao menu. É basicamente um
trabalho de tempo integral apenas tentar manter o controle de todos os
números de pratos que desejo pedir. — Trabalhar, você sabe, assim que eu
encontrar um emprego. Provavelmente passar algum tempo com meu irmão.
Eu não tenho muito planejado. — E, claro, ter o romance perfeito e fofo, mas
não preciso contar isso a ele.
— Para onde você vai depois?
— Califórnia.
Ele sorri. — Parece legal. Eu nunca não morei em Denver.
— Eu morei na Flórida toda a minha vida até agora. É uma grande
mudança, mas estou feliz com isso —, eu digo. A verdade é que estou bem
em nunca mais voltar para a Flórida enquanto eu viver. As únicas boas
lembranças que tenho desse lugar são com Becca, e ela pode simplesmente
vir me visitar em Cali.
— Posso mostrar a cidade se você quiser —, diz ele. — Há algumas
coisas legais aqui. Estamos um pouco limitados porque não tenho carro, mas
ainda há algumas coisas incríveis, especialmente se você gosta de atividades
ao ar livre.
Eu não gosto, de fato, de ar livre. Insetos, grama molhada, serviço de
celular instável? Sim, parece um pesadelo vivo. Mas pode ser fofo fazer
algumas coisas ao ar livre com um par. Talvez uma curta caminhada, um
campo de flores ou uma observação das estrelas ao luar.
Eu sorrio. — Claro, eu adoraria.
Ele sorri de volta. — Meus amigos vão fazer uma fogueira esta noite, se
você quiser ir.
Oh, fogueiras são sexy. Definitivamente estou dentro.
Nunca fui a uma fogueira antes, então já sinto que estou subindo de nível.
Este não é apenas um daqueles eventos fofos que só existem nas músicas
antigas da Taylor Swift, mas é perfeito para conseguir mais algumas fotos
para o Diário.
Quando pegamos nossa comida, eu praticamente engulo a minha e os
olhos de Drew se arregalam como se ele não tivesse imaginado que era
fisicamente possível para mim comer tanto. Quando eu era mais jovem,
minha mãe sempre dizia que você não deve comer muito quando está
conhecendo um cara – se ele acha que você tem um grande apetite, ele não
vai querer namorar você. Parece justo que agora que tenho idade suficiente
para tomar minhas próprias decisões, eu faça exatamente o oposto.
— Estou feliz por você ter sido entrevistado para trabalhar na loja,
mesmo que você não tenha conseguido o emprego —, diz Drew, e eu
congelo, a gordura de pato escorrendo pelo meu queixo.
— Espera, sério?
— Sim —, ele diz. — Estou feliz por ter te conhecido. Tipo, conhecer
você. Ser fã do blog não conta.
Eu sorrio, afinal, como você não sorriria com algo assim?
— E estou feliz que você será minha companhia na fogueira.
Eu congelo. — Espere —, eu digo, porque temos que fazer isso direito.
Os passos um e dois eram simples, mas a noite passada foi o primeiro
encontro ou seria a fogueira? Acho que depende do que considero ser o
Convite, que, para fins de Diário, foi quando ele sugeriu o namoro falso, mas
isso não pode contar como um Convite real porque foi obviamente encenado.
A fogueira poderia ser o segundo encontro, mas isso significaria que nunca
teríamos uma Consulta adequada, o que poderia nos ferrar a longo prazo…
— Noah? — ele diz.
Eu olho para cima para encontrá-lo olhando para mim, agora mesmo
percebendo que meu garfo está a meio caminho da minha boca, então eu o
coloco suavemente no meu prato. — Desculpe —, eu digo. — Apenas
resolvendo alguns detalhes executivos.
Ele levanta uma sobrancelha, mas não pergunta.
Não é o jantar perfeito e a noite sob as estrelas que eu sempre imaginei,
mas talvez a fogueira pudesse ser um bom primeiro encontro. Isso
significaria apenas que o resto disso fazia parte do planejamento do Diário,
então não conta.
Quando saímos do restaurante, Drew desliza sua mão na minha e dá um
beijo rápido na minha bochecha. — Que tal? — ele diz.
E uau, eu sei que tudo isso é falso, mas parece muito real – a sensação de
sua mão na minha, a gentileza quando ele me beijou, o tom baixo de sua voz
como se estivéssemos compartilhando algum segredo íntimo, que, eu acho
que meio que estamos.
— É perfeito —, eu digo.
Ele sorri. — Então, você quer voltar para a loja?
E quase parece uma piada que ele está mesmo perguntando. Quero dizer,
ele é lindo e estamos trabalhando para criar o romance perfeito, mesmo que
ainda não seja totalmente real. Por que eu iria querer ir para casa?
Eu aperto sua mão, com um sorriso no rosto enquanto digo: — Eu
adoraria voltar para a loja com você.
E quando ele liga para a carona, tudo que consigo pensar é que, pela
primeira vez na vida, as coisas estão na verdade se alinhando com as histórias
que criei na minha cabeça.
Becca, você NÃO vai acreditar no que aconteceu agora mesmo!
Me liga quando der!
Entregue
MeetCuteDiary postou:
Nada como ter planos para o fim de semana e t alguém especial
para compartilhar isso com você. ;)
Uncharming respondeu: MDS, Noah, estou tão feliz por vocês dois!
Bubblebath respondeu: Noah!!! Isso é tão fofo!!!
Gen54life respondeu: Esse blog é MÁGICO. Você é literalmente
Cupido!
Carregar mais comentários . . .
A festa começa às sete, embora ainda não esteja escuro. Deixo um post
provocativo para meus seguidores para aquecer um pouco para as fotos que
vou postar depois da fogueira. Basicamente, quero deixar claro que sou o Rei
do Amor e deixar o troll tremer na base enquanto me vê transcender a internet
para me tornar um deus do amor. E é bom ver todos os comentários positivos,
permitindo que eles me acalmem para o meu grande encontro.
Enquanto espero que Drew me busque, envio uma mensagem de texto
para Becca com o link do blog de Drew, mesmo que ela tenha me enviado
uma mensagem mais cedo para me avisar que ela estaria fora de contato
enquanto estuda para uma grande prova. Então eu sento no sofá e procuro por
mim mesmo para ter uma ideia da personalidade de Drew. Ele não faz
postagens originais, na maioria das vezes apenas compartilha coisas do
fandom. Eu pulo todo o texto de Star Wars e DC, já que nunca gostei de
nenhum deles. É bom termos fandoms diferentes. Isso significa que podemos
compartilhar um com o outro e encontrar novas paixões.
Eu paro na postagem do Diário, Drew reblogou a postagem detalhando
nosso relacionamento. Ele acrescentou um comentário sobre como somos
importantes um para o outro, o que parece um pouco forte, considerando que
apenas começamos a fingir que estamos saindo, mas as respostas são todas
muito favoráveis, então provavelmente está tudo bem.
Enfim, Drew aparece alguns minutos depois e me manda uma mensagem
para sair.
— Você poderia ter entrado —, digo quando o cumprimento na rua. Seu
cabelo tem aquele tipo de aparência bagunçada ao vento e suas roupas
parecem cuidadosamente escolhidas, mesmo na estranha iluminação amarela
perto da rua.
Ele sorri. — Parece um pouco cedo para conhecer o irmão, não acha?
Seu amigo mora bem longe da cidade. Não consigo ver muito quando as
luzes da cidade desaparecem atrás de nós, mas há um contorno fino e escuro
de montanhas à distância e as estrelas já estão começando a ganhar vida.
A casa parece bastante normal – dois andares aninhados em uma pequena
colina com uma passagem de pedra que leva até a varanda. Drew me leva
para o quintal, onde as pessoas já estão em um lindo pátio de pedra forrado
com pequenas luzes brilhantes. Ariana Grande flutua ao nosso redor a partir
dos alto-falantes embutidos na beirada do pátio.
A galera é composta por oito pessoas, a maioria segurando copinhos
vermelhos ou cigarros. Seis garotos, duas garotas, provavelmente todas cis, a
julgar pela vibe de atleta que estão passando.
— Ei, Drew!
O cara que está acenando para nós tem uma aparência muito amigável,
grandes músculos sob uma camiseta preta e coque masculino. — E aí cara?
Drew dá um soquinho no cara. — Nada demais. Tentando fugir do
trabalho.
— Cara, você é tão velho pra caralho.
Drew me bate com o ombro e diz: — Este é Noah. Noah, este é Freddie.
Nós nos formamos juntos.
Eu congelo, meus olhos se arregalam. — Espere, quantos anos você tem?
— Ah Merda! — Freddie diz, se virando para os outros participantes da
festa. — Drew vai para a cadeia!
Minha mente roda enquanto a realidade da minha situação recai sobre
mim. Não acredito que em meio a toda emoção, nem pensei em perguntar a
idade dele. Quer dizer, merda, ele poderia ter trinta anos, três diplomas
universitários e duas ex-esposas. Ok, provavelmente não as graduações.
Drew revira os olhos e se volta para mim. — Dezoito —, diz ele. — Nós
nos formamos no mês passado.
Eu soltei um suspiro. Drew tem apenas dezoito anos e, na verdade, tenho
dezesseis, então poderia ser pior. Não é nem tecnicamente ilegal. É
basicamente a linha perfeita entre namorar um garoto da faculdade e namorar
um garoto do ensino médio.
Então, com idade suficiente que provavelmente não vou falar para Brian,
mas nada com o que me preocupar. Sério, o que eu deveria estar preocupado
é como vamos fazer funcionar esse primeiro encontro, que eu tenho apenas
setenta e oito por cento de certeza que é na verdade o primeiro encontro, mas
não posso simplesmente fingir que é o segundo encontro quando não temos a
base do primeiro encontro. Não, as estrelas podem ter se alinhado para nos
levar até aqui, mas se vamos continuar atingindo todos os alvos, não posso
simplesmente sentar e deixar isso ao acaso.
Drew envolve um braço em volta da minha cintura e diz: — Você quer
uma bebida ou algo assim?
Eu não posso dizer que sou um grande bebedor. Na verdade, não posso
dizer que estive em uma festa em que se bebia álcool antes deste verão. Mas
também estou ciente de que estou em um evento com um grupo de novos
estudantes universitários, e não é como se eu nunca tivesse visto um filme
adolescente antes. Eu sei como isso funciona – todos nós roubando goles de
copos vermelhos Solo enquanto nos perdemos em nossa juventude enquanto
toca uma música alegre e boa que vai nos embalar. Eu não vou ser o perdedor
em nosso primeiro encontro que estraga o clima sentando no canto mexendo
com os polegares, e Drew provavelmente está hiperconsciente de nossa
diferença de idade agora, então eu preciso fazer uma declaração, mostrar a ele
que sou maduro e totalmente o tipo de cara que se encaixa com seus amigos.
— Claro.
Drew vai pegar as bebidas e eu me sento com o resto do grupo. Eles
parecem como se estivessem brigando por algum videogame ou algo assim,
então eu meio que me sento e finjo que estou interessado.
— Você fuma, Noah?
Eu olho para o cara ao meu lado. Ele é o único membro do grupo que não
é branco, então estou tentado a me aproximar um pouco mais dele. Eu olho o
cachimbo em seu colo, lembrando a mim mesmo que maconha é totalmente
legal aqui, e provavelmente não importaria mesmo se não fosse. Eu preciso
ser o Noah Legal. O Noah Suave. Noah do segundo encontro.
— Uh, não, não, na verdade, — eu digo. Suave. Eu considero dar um
soquinho nele de qualquer maneira. Talvez seja uma daquelas cenas em que o
garoto nerd diz: — Ah, que diabos! — então eu dou uma longa tragada, e de
repente todos estão torcendo por mim enquanto eu surfo no colchão direto do
telhado.
Drew se senta ao meu lado e me passa um copo de plástico. Eu não tenho
ideia do que tem nele, mas eu tomo de qualquer maneira, lutando contra o
gosto terrível.
— Noah é da Flórida —, diz Drew.
Um dos caras sem nome se vira para mim e diz: — Merda, lá é, tipo, país
das armas, não é?
— Eu sou de Miami —, eu digo. — Eu só conheço três pessoas que tem
uma arma.
Uma das garotas se inclina em minha direção, seu rosto corado como se
ela estivesse bebendo há muito tempo. — Nossa, você deve ir à praia tipo
todos os dias. Eu gostaria de poder ser tão bronzeada.
Eu pressiono meus lábios porque eu honestamente não sei como
responder.
Drew ri, e não sei dizer se ele a acha engraçada ou apenas sabe que foi
uma coisa ridícula de se dizer, e me pergunto se devo dizer algo sobre como a
coisa toda é desconfortável. Então ele diz: — Então, fogueira?
Freddie se estica e diz: — Eh, pode ser. Jeff, vá buscar os fósforos.
Um garoto magricela com cabelo escuro revira os olhos antes de se
levantar e correr para dentro de casa.
Eu não teria imaginado pela frente, mas o quintal de Freddie é enorme e a
fogueira fica em algum lugar perto do meio. Todos nós nos juntamos ao redor
dela – o que provavelmente não é o mais seguro, já que não tenho certeza de
quanto todo mundo está bebendo – e Jeff volta correndo com um pacote de
fósforos.
Drew envolve seu braço em volta da minha cintura novamente, me
puxando para ele. Está quase completamente escuro agora, pequenas estrelas
piscando acima de nós. A multidão aplaude quando Freddie joga o fósforo e a
pilha se ilumina.
O calor me assusta, e dou um passo para trás, um sorriso já se formando
em meu rosto por causa de Drew atrás de mim.
Ele se inclina para mim e pergunta: — Quer tirar uma selfie?
Eu aceno enquanto ele puxa seu Galaxy e me vira para que a fogueira
fique atrás de nós. As chamas amplificam as sombras em nossos rostos, mas
sua câmera ainda consegue filtrar a luz da maneira certa. Eu sorrio quando
seu dedo paira sobre o botão, e quando ele está prestes a clicar nele, seu rosto
se vira, seus lábios capturando os meus.
Ele se afasta; minhas bochechas estão vermelhas. Ele olha para o telefone
para verificar a imagem. — Nada mal —, diz ele, segurando para que eu veja.
Quer dizer, você só pode ver um terço do meu rosto por causa do ângulo
da cabeça dele, mas no que diz respeito a fotos fofas de fogueira, está
definitivamente entre os dez primeiros.
— Envie isso para mim —, eu digo. — Quero postar no Diário.
Ele ri, colocando o telefone de volta no bolso. — Tudo bem, mas sem
mais conversas sobre o diário. Você terminou o trabalho da noite, então
vamos nos divertir.
Eu sorrio. — Estou surpreendentemente satisfeito com isso.
Eu não sei quantos drinks eu bebi, mas domingo de manhã, eu encontro Drew
na livraria como planejado, tirando o fato de que eu me sinto morto. Tive que
encostar minha cabeça contra a janela fria no caminho para não cair em cima
do carro de Brian, e agora estou de pé com minha cabeça contra o balcão para
parar de latejar .
Foi uma noite ótima. Não contei quantas vezes Drew e eu nos beijamos,
mas foi definitivamente mais do que o número de bebidas que tomei. Foi um
pouco estranho estar perto de seus amigos, já que eles são um pouco mais
velhos e esmagadoramente brancos, mas depois de uma hora ou mais, todos
começaram a se borrar em um grupo grande e harmonioso. Ou talvez eu só
estivesse bêbado. Eu não sei.
— Noah?
— Mmmmm.
Eu me afasto enquanto a mão de Drew se arrasta pelas minhas costas. Eu
não tinha percebido que ele estava tão perto.
— Você está bem? — ele pergunta.
Eu concordo. — Só uma dor de cabeça.
Ele joga a cabeça para trás e ri, e o som parece uma marreta contra o
interior do meu crânio. Eu descanso minha cabeça em seu ombro, o cheiro de
sua colônia me atingindo como um tapa na cara, mas está tudo bem. É um
tipo bom de dor.
Ele passa a mão pelas minhas costas. — Então, talvez da próxima vez
você não deva se sentar e beber durante a noite.
Eu rio. Embora tenha começado como minha tentativa de acompanhar
Drew e seus amigos, não demorou muito para eu perceber que estava me
divertindo muito. Ainda assim, é bom ouvi-lo dizer isso. Como se tentar
acompanhá-lo seja ridículo, porque ele não se importa se eu beba ou fume ou
me sente em um canto brincando com meus polegares.
— Foi divertido —, eu digo. — Acho que. . . bem, posso ter ido um
pouco mais longe do que deveria.
— É esse o seu jeito de me pedir para ficar de olho em você no futuro? —
ele pergunta.
Eu dou de ombros. — Não me importo de ter você para me proteger.
— Você viu minha postagem? — Drew pergunta, mas tenho que admitir
que não. Não é como se eu estivesse particularmente alfabetizado tropeçando
em casa e desabando na minha cama na noite passada.
Pego meu telefone para percorrer seu blog. É basicamente a mesma
postagem repetida, já que ele a fez trinta vezes respondendo aos comentários.
É a nossa foto na frente da fogueira com o comentário — aquele momento
em que você oficializa as coisas.
— Espere, — eu digo. — Somos oficiais?
Ele sorri. — Bem, namorados falsos oficiais. Espero que você não se
importe que eu tome liberdade criativa na história. Eu só percebi que já que
as pessoas ficavam pedindo mais detalhes, deveríamos dar a elas o que elas
queriam, certo? Essa é a primeira postagem que fiz com mais de dez notas,
então eu diria que me saí muito bem.
Isso é definitivamente um eufemismo, já que a postagem tem quase mil
notas agora, e eu nem mesmo a postei da conta oficial do Diário. Eu acho que
alguns fãs com seguidores suficientes deram ao post engajamento, o que pode
ser uma coisa boa, desde que não saia muito do controle.
— Você deveria me dizer primeiro da próxima vez, — eu digo. — Quero
dizer, quero ser capaz de controlar a narrativa que estamos pintando.
— Sim, totalmente, eu entendo, — Drew diz enquanto arruma uma pilha
de marcadores. — Eu acho que fui pego no momento, sabe? Não é todo dia
que faço parte de algo tão legal e me diverti muito na noite passada.
Eu sorrio, o calor me enchendo. Lembro a mim mesmo que isso é bom,
não apenas para o Diário, mas para nosso relacionamento de longo prazo.
Afinal, foi Drew quem nos tornou falsos oficiais, o que pode significar que
ele está disposto a nos tornar verdadeiros oficiais, como se talvez ele gostasse
tanto de mim quanto eu dele.
— Drew! — Amy grita, enviando outra onda de dor percorrendo minha
cabeça. — Se você não colocar sua bunda de volta no trabalho, eu juro por
Deus!
— Desculpe, tia Amy, — Drew responde, se afastando apenas o
suficiente de mim para parecer que ele tem uma tarefa em mente. Ele abaixa
a voz e diz: — Ela está pegando no meu pé ultimamente. Ela não conseguiu
ganhar uma ajuda extra, e acho que esse é o meu problema agora.
Eu rio, mas a verdade é que meio que me arrependo de ter ido à loja. Não
que eu não ame a ideia de passar meu domingo com Drew, mas minha cabeça
está se partindo, e eu meio que quero rastejar para a cama por mais mil anos.
— Você pode ir ao meu apartamento mais tarde? — Eu pergunto.
Drew sorri. — Absolutamente. Assim que meu turno terminar, eu estarei
lá.
— Então eu provavelmente deveria ir para casa, — eu digo, já pegando
meu telefone para chamar uma carona. Considerando que estou pagando
apenas por uma viagem só de ida, meus pais definitivamente não podem
chamar isso de abuso dos privilégios do cartão de crédito. Eu só tenho que ter
certeza de deixar de fora a parte de estar de ressaca demais para funcionar
quando eu explicar a viagem.
— Antes de você ir, — Drew diz, deslizando de volta até mim e
envolvendo um braço em volta da minha cintura. — Para o Diário, sabe.
E então seus lábios estão contra os meus, meu corpo derretendo contra o
seu lado e minha cabeça girando, mas desta vez no bom sentido.
Passo 5: A Viagem (A Paixão, parte 1)
É o momento em que você perde o fôlego pela primeira
vez e percebe que essa pessoa é importante para você.
Domingo, 3 de junho
DebunkingMCD postou:
Vocês estão falando sério? Este menino de 12 anos arranja um
namorado e, de repente, os fatos não importam para vocês?
Literalmente, nada disso faz sentido. Vou postar mais links mais tarde
Na manhã seguinte, Brian me acorda cedo e me leva para trabalhar com ele,
embora eu ainda não tenha sido contratado. — Será mais fácil para você se
atualizar se você já estiver lá. Além disso, assim que eles o conhecerem,
tenho certeza de que estarão mais inclinados a contratá-lo.
— Porque eu sou bonito demais para resistir? — Eu digo.
Ele geme. — Só deixe a conversa comigo, ok?
O “acampamento” não é o que eu esperava. Nenhuma cabana
extravagante com uma placa de Bem-vindo ao acampamento pendurada na
porta da frente. Nenhum lenhador robusto é visto na entrada, de flanela
xadrêz e cortando lenha. Nenhuma criança usando gorros de alce bregas
enquanto correm em direção ao lago inexistente, esperando para pular do cais
quase estável para a água verde e turva. Na verdade, nem mesmo é um
acampamento de verdade. É apenas um grande centro comunitário em blocos
na base das montanhas, dividido em três edifícios brancos igualmente
enfadonhos e mais estacionamento do que vegetação real ao redor.
— Todas as atividades ao ar livre são realizadas fora do local, e todo
mundo só pega um ônibus —, diz ele.
— Ugh, isso é decepcionante. Pensei em pelo menos tirar fotos minhas
descendo uma cachoeira de caiaque para o meu blog.
— Você percebe que não está aqui para se divertir, certo?
— Hm?
Entramos na pequena área de escritórios, onde duas pessoas mais velhas
estão paradas. E quero dizer mais velhos. . . cinquenta, talvez? Onde estão
todos os caras gostosos de vinte e poucos anos e usando shorts?
Ninguém olha para cima quando entramos, e estremeço com o
pensamento de que eles podem estar ocupados. Quer dizer, este é um
acampamento de verão, certo? Tudo que você precisa fazer é deixar as
crianças correrem e se certificar de que não se afoguem ou algo do tipo.
Parece bem fácil.
— Ei, Georgette —, diz Brian para a mulher que embaralha os panfletos
atrás de uma longa mesa de madeira. Ela tem uma sombra de olho verde
horrível que a deixa pálida, mas também há gatinhos fofos na gola de sua
camisa, então acho que eles se cancelam. — Este é meu irmão, Noah. Ele está
procurando um emprego para o verão, se houver espaço.
A voz de Brian é doce, uma daquelas vozes que tenho certeza que as
vovós amam. Estou meio que esperando que Georgette corra ao redor da
mesa e belisque suas bochechas.
— Quantos anos tem ele? — ela pergunta, nem mesmo tirando os olhos
do trabalho.
— Dezesseis.
Ela olha para cima e parece me ver, seus olhos se estreitando
ligeiramente. — Normalmente não contratamos adolescentes.
— Ele não seria o primeiro, certo? — Brian diz. — Noah trabalha muito
duro e vai se dedicar totalmente.
Ela olha entre nós dois lentamente, meticulosamente, como se ela fosse
um gato escolhendo qual de nós agarrar primeiro. Finalmente, ela diz: —
Você está com sorte. Um de nossos conselheiros juniores voluntários desistiu
ontem, o que significa que nossa única chance de substituí-los será com um
salário pago. Você lida bem com crianças de quatro a sete anos?
Estou surpreso que ela ainda não tenha me chamado de criança, mas eu
apenas digo: — Sim, eu amo crianças!
Tenho certeza de que Brian pode ver através das minhas mentiras com
bastante facilidade, mas ele apenas sorri para Georgette. Ela olha de Brian
para mim novamente antes de dizer: — Não tenho tempo para fazer uma
entrevista, mas podemos começar e deixar seu supervisor decidir se você se
encaixa. Isso vai nos poupar algum tempo de qualquer maneira. Você
receberá um salário semanal se ficar.
Eu quero dizer um salário semanal? É isso? Em vez disso, apenas sorrio e
digo: — obrigado!
Georgette me passa um panfleto com as palavras Bicormac Springs
Summer Camp na frente, depois se vira para Brian e diz: — Você pode levá-
lo ao centro de recreação?
— Sim —, diz Brian, rapidamente me guiando pela porta enquanto o
sorriso desaparece do meu rosto.
— O que foi isso? — Eu pergunto.
Brian ri. — Georgette não é a mais amigável, mas ela tem um coração
muito bom, pelo que posso dizer. Eu queria simplificar isso para que eu
pudesse começar a trabalhar.
— Achei que fosse apenas orientação —, digo.
Ele dá de ombros. — Sim, é, mas estou fazendo treinamento de RCP¹.
Você sabe, porque eu tenho idade suficiente para ser algo além de ser babá de
um bando de crianças de seis anos.
Eu reviro meus olhos. — Irra.
O centro de recreação é provavelmente o maior espaço aqui. É pior do
lado de fora – a tinta branca descascando e a grama ao redor parecendo bem
marrom – mas por dentro parece meio que um ginásio de colégio, das
arquibancadas às paredes semi-acolchoadas. O chão parece uma quadra de
basquete, mas as linhas não estão marcadas. Há algum espaço contra a parede
oposta forrada com mesas, e há quatro pessoas se movimentando carregando
coisas de uma rampa perto das arquibancadas.
— Ok —, diz Brian, dando um tapinha no meu ombro. — Boa sorte,
mano. Vejo você depois do trabalho.
Ele sai do centro de recreação e eu fico ali parado sem jeito por um
momento, enquanto considero para onde ir. Não há muitas pessoas na sala,
muito menos um grupo de boas-vindas de crianças da minha idade esperando
para me mostrar minha tarefa. Na verdade, entre as pessoas que entram e
saem do centro e as duas pessoas que estão limpando ou o que quer que seja,
a única pessoa que parece ter quase a minha idade é uma criança sentada em
uma das mesas distantes folheando uma pilha de papéis.
É uma caminhada meio longa, mas eu engulo e sigo em sua direção.
Espero que ele possa me dizer no que estou me metendo ou, pelo menos,
espero que esses papéis sejam um guia de boas-vindas e um mapa.
Conforme me aproximo da mesa, percebo que o cara parece meio mal-
humorado e hostil, o que é bem lamentável, já que ele é muito bonito – maçãs
do rosto salientes, uma leve camada de sardas, lábios expressivos. Eu me
aproximo da mesa e digo, — Oi —, acenando para dar um efeito. — Hum, eu
queria saber se você sabe para onde eu devo ir. Eu sou novo e…
E então ele abre a boca, mas não são palavras que saem. É vômito. Em
cima de mim.
Eu grito, o que é a única reação racional, e enquanto a umidade escorre
lentamente pela minha perna, espero que as pessoas corram e tentem me
salvar, mas ninguém pisca.
O garoto finalmente parece reconhecer que estou tomando seu café da
manhã e diz: — Meu Deus.
— Você está dizendo, oh meu Deus, mas não é você que está coberto pela
bile de outra pessoa! — Eu grito.
— Lamento muito —, diz ele, mas já estou me afastando para certificar
de que não tem outra dose à espera.
Ele pega um walkie-talkie da mesa e fala nele, dizendo: — Bev, você
pode trazer algumas toalhas e, hum, sabonete?
— Sabonete? — Eu digo. — Como isso vai ajudar?
— Eu-eu não sei —, diz ele. Ele me diz para esperar lá enquanto ele pede
a alguém para limpar a cena, mas tenho certeza de que ele está apenas
tentando escapar do olhar mortal que estou jogando para ele.
Então eu fico lá como a exposição de arte mais nojenta do mundo,
tentando não pensar sobre isso, por mais cinco minutos antes que uma mulher
– estou supondo que Bev – apareça com algumas toalhas e me arraste de
volta para me enxaguar. E agora, além de arruinar uma das melhores adições
ao meu novo guarda-roupa, estou tremendo no frio do Colorado, cheirando a
tecido encharcado e nem sei o que mais.
— Caramba —, diz Bev, sua voz um pouco nasalada. — Começo difícil
de manhã, hein?
E ela ri, mas eu estou fervendo. Quer dizer, além do fato de que essa
coisa toda é tão nojenta que estou preocupado com se respirar vai me deixar
com náuseas, é absolutamente humilhante. É meu primeiro dia em um novo
emprego e já vou ser o alvo da piada porque o Sardas não aguentava o
almoço. Quero dizer, inferno, ele deveria ser o único aqui fora se
transformando na porra de um picolé, não eu. E assistir Bev se divertindo
como ela reflete sobre o quão sortuda ela é por não ser eu está me irritando.
Finalmente, eu digo: — Sim, manhã difícil, mas provavelmente não tão
ruim quanto a daquele cara. Eles o deixaram vir trabalhar assim?
Bev balança a cabeça lentamente. — Devin terá que ir para casa passar o
dia.
Oh, é esse o nome dele? Nojento. Tenho certeza de que ele vem de
alguma família branca rica e está aqui apenas para matar o tempo durante o
verão. E quanto mais penso nisso, mais inexplicavelmente zangado fico. Quer
dizer, vamos lá. Eu nem queria estar aqui em primeiro lugar, e só consegui o
emprego porque Brian deu um jeitinho.
— De qualquer forma, você deveria voltar para dentro. Podemos ter
algumas calças sobrando no armazenamento, se você quiser trocar as suas.
— Obrigado —, eu digo, porque é a coisa educada a se dizer, mas vamos
ser sinceros aqui. Minhas calças são de camurça, e ela não tem nada que
valha a pena substituí-las.
Eu volto para o centro de recreação para descobrir que há mais pessoas do
que antes. É uma espécie de alívio saber que pelo menos uma parte
considerável da equipe não viu minha humilhação. Só espero poder acobertar
isso. Então, posso trabalhar para ser pago para poder voltar ao meu verão.
Inbox (537)
Redgreenmachine perguntou: Ei, Noah! Amo o blog. Você já pensou
em dar conselhos amorosos?
Unpinupgod perguntou: Sei que você deve estar ocupado com o
namorado novo, mas quando teremos posts novos? Semanalmente?
Anônimo perguntou: Não sei se você viu minha pergunta semana
passada, mas eu queria saber se você vai postar fotos novas logo?
O dia leva uma eternidade para terminar, antes de eu finalmente conseguir
entrar de volta no carro de Brian e fingir que não perdi um dia inteiro ali.
Quando voltei para o centro de recreação, descobri que Devin já tinha saído.
Chocante. De qualquer forma, passei por um “treinamento”, que basicamente
significava falar sobre as coisas que eu deveria e não deveria fazer com
crianças indisciplinadas, lidando com regulamentos de segurança ou o que
fosse, e repassando os fundamentos do que o acampamento oferecia, noventa
por cento dos quais Eu não estaria nem perto porque não era um adulto legal
com nenhuma habilidade especial.
E, claro, como se as coisas do acampamento não pudessem ficar mais
ruins, não há absolutamente nenhuma rede de celular, então eu não tenho a
chance de olhar as postagens do Diário até estar voltando até o carro. As
pessoas estão devorando meu relacionamento com Drew, na verdade ainda
mais do que os encontros fofos. Os engajamentos estão nas alturas e as
pessoas continuam pedindo mais postagens, então é justo que eu cumpra.
Qualquer coisa para mostrar ao troll que sua tentativa de me derrubar me
elevou ainda mais.
Então eu vejo o que está causando o ataque de mensagens positivas –
Drew me marcou em outro post, este uma recapitulação detalhada do nosso
encontro na noite passada, além de uma foto minha pegando bebidas na
cozinha que eu nem tinha percebido que ele tirou. A postagem é fofa e está
gerando muito engajamento no Diário, mas ainda me atinge como um tapa na
cara. Bem, um tapa nas fantasias, eu acho, já que a noite passada tinha sido
quase fofa o suficiente para eu acreditar que nosso relacionamento não era
apenas um show para um bando de fãs da internet.
Brian me cumprimenta com um “já voltou ao telefone?” Porque ele foi
obviamente criado por homens das cavernas e não entende que só porque
algo é digital não o torna menos importante do que algo na vida real.
Eu apenas resmungo em resposta enquanto coloco meu telefone virado
para cima no meu colo e coloco meu cinto de segurança.
— Suas calças estão bem?
Eu gemo antes de finalmente olhar para cima para encontrar sua
expressão maliciosa. — Você ouviu?
Ele ri. — Certeza que todo mundo ouviu. Essa história se espalhou tipo
um incêndio.
Eu forço para baixo o calor subindo em minhas bochechas e me viro para
olhar pela janela. Sim, o acampamento de verão foi uma má ideia. Eu deveria
ter apenas me inscrito para uma Old Navy ou algo assim.
— Não é grande coisa —, diz Brian enquanto sai do estacionamento. —
Quer dizer, isso deu uma boa risada, mas você não é a primeira pessoa que já
recebeu um vómito e não será a última. Embora você possa ser a primeira
pessoa a ser vomitada por outro membro da equipe.
Eu reviro meus olhos.
— De qualquer forma, tente não se preocupar muito com isso —, diz
Brian. — Quer dizer, é um acampamento de verão. Todo mundo está
recebendo alguma merda desagradável neles.
— Isso não me faz querer voltar —, eu digo.
Brian encolhe os ombros. — Então não faça isso, mas você vai ter que
arranjar outro emprego ou mamãe vai ficar chateada.
E obviamente eu sei disso, mas ouvi-lo dizer isso só baixa meu humor
ainda mais. É melhor Becca responder esta noite porque tenho muito a dizer.
Na verdade, Becca não atende, então acabo ligando para Drew. Ele me
coloca no viva-voz porque está consertando a bicicleta de seu irmão mais
novo ou algo assim, o que significa que tenho que manter a classificação livre
na minha fala caso alguém entre, mas, uau, falo tudo.
E depois, ele diz algo como: — Você é tão bravo?
Então eu falo de novo.
— Ok, ok, — ele diz, — respira. Pelo menos você tem um emprego,
certo?
Talvez, e talvez eu não esteja bravo com ele, mesmo que ele tenha
postado sem minha permissão de novo, estou apenas chateado porque as
coisas têm estado bagunçadas ultimamente – vomitado, o surto massivo nas
demandas do Diário desde que o troll apareceu, sendo meio ignorado por
Becca.
E sim, é a última parte que dói mais.
— Noah?
— Desculpa, — eu digo. — Estou um pouco distraído.
— Algo com o Diário? — ele pergunta.
— Não —, eu digo, — e para ser honesto, não acho que você possa
ajudar com isso.
Ficamos em silêncio por um tempo e, por um momento, me pergunto se
ele desligou. Em seguida, ele diz: — Sinto muito.
E é tarde, e eu tenho que acordar cedo amanhã de manhã para trabalhar
em um trabalho que não tenho certeza se quero, mas de repente eu quero vê-
lo.
— Quanto tempo você vai levar para terminar essa bicicleta? — Eu
pergunto.
— Acabei de terminar, por quê?
— Você quer ir olhar as estrelas ou algo assim? De preferência algo super
romântico? Hum, sabe, para o Diário.
Ele ri e diz: — Estarei aí em vinte minutos.
Uma coisa boa sobre namoro falso com um cara cis mais velho é que
podemos andar por aí à noite sem nos preocupar se alguém pular sobre nós.
Afinal, Drew tem quase um metro e oitenta de altura e, embora não seja um
jogador de futebol, não tenho dúvidas de que ele daria um soco bem feio se
tentasse.
Está frio pra caralho, e eu não percebo até que já estamos a alguns
quarteirões do apartamento. Como um verdadeiro herói do romance, ele tira a
jaqueta e a joga em volta dos meus ombros, e eu me aconchego no cheiro
opressor de sua colônia até me deixar tonta.
— Então, onde estamos indo? — Eu pergunto.
Ele encolhe os ombros. — Não faço ideia. Achei que poderíamos andar
até encontrar algo legal.
Mas está tudo praticamente fechado, então estamos apenas curtindo a
noite. Eu não me importo. Não é como na Flórida, onde os mosquitos
enxameiam cada centímetro do seu corpo se você ousar sair depois das sete.
O ar está frio e seco contra a minha pele, embora minha respiração fique mais
difícil a cada passo.
— Você não faz muitas caminhadas, não é? — pergunta.
Eu dou risada, balançando minha cabeça. — Eu sou da Flórida. O mais
próximo que temos de uma montanha lá embaixo é um depósito de lixo.
Drew estremece. — Nojento. Você tem que sair mais. Tenho certeza que
você pode encontrar uma trilha incrível para caminhadas em Cali.
Mas não quero pensar em Cali, ou no fim do verão e em nós seguirmos
caminhos diferentes. Só quero pensar nas estrelas enquanto olham para nós
como se fôssemos as duas únicas pessoas no mundo, o calor de sua jaqueta
fazendo cócegas em minha pele.
— Drew? — Eu chamo.
Ele se vira para olhar para mim e eu só quero beijá-lo. Então eu beijo.
Seus dedos serpenteiam por baixo de sua jaqueta enquanto tentam
encontrar minha pele. Eles estão frios quando deslizam por baixo da minha
camisa e sobem no meu peito.
Seus beijos são famintos, como se ele estivesse tentando ter controle
sobre meu corpo, e uma parte de mim quer deixar. Diz que sou jovem e é
verão, e devo apenas me render a todos os desejos que já passaram pelo meu
cérebro.
Mas outra parte de mim sente que algo está errado. Eu me afasto dele,
minha respiração irregular por causa da caminhada e do beijo.
— Sinto muito —, digo, mas não tenho certeza do porquê. Quer dizer, ele
me beijou de volta, então ele não deve ter odiado, mas não há ninguém por
perto para quem atuar, e eu não tenho certeza do que isso significa para nós
ou para mim ou qualquer outra coisa.
— Algo errado? — ele pergunta.
E eu não sei. Talvez eu tenha seguido muito bem os passos para o
relacionamento perfeito, e esteja me perdendo na hesitação que nos levará ao
pico perfeito, mas Deus, eu gostaria que pudéssemos superar isso já. Drew
está olhando para mim como se sentisse falta do meu corpo contra o dele, e
eu quero dar isso a ele.
Mas também quero ir para casa.
— Sinto muito —, eu digo. — Estou apenas ficando meio cansado.
Ele passa a mão pelo cabelo e suspira. — Sim, está muito tarde, hein?
Você quer voltar?
Eu aceno, aliviado por ele não me pressionar para mais nada. Ele apenas
desliza sua mão na minha, e nós contornamos a rua novamente, rastejando no
nosso caminho de volta para o apartamento. Finalmente, quando estamos lá
embaixo, começo a puxar sua jaqueta para devolver a ele, mas ele diz: —
Está tudo bem. Eu pego na próxima.
Eu quero protestar porque algo sobre o peso disso parece muito pesado
em meus ombros, mas eu não. Eu sei que já arruinei sua noite. A última coisa
que quero fazer é insultá-lo.
Ele me deseja boa noite e eu corro escada acima, protegendo meu rosto
do frio e da humilhação que toma conta de mim.
Inbox (783)
Anônimo perguntou: Ei, Noah! Suas postagens estão sendo
excluídas? Eu não vejo nenhuma faz um tempo
Msjaygatsby perguntou: Tenho certeza de que sua caixa de entrada
está cheia, mas você recebeu minha última pergunta? Eu não quero te
perseguir.
Pinkpurpleblue perguntou: Quando recebemos atualizações do
relacionamento? Aliás, amo esses encontros mais que fofos!
Na manhã seguinte, Brian não pergunta por que eu saí tão tarde, mas sei que
ele me ouviu chegar em casa. Parte de mim está aliviada que ele está me
dando espaço, mas a outra parte deseja que ele aja mais como nossos pais –
me dando um sermão sobre ser responsável e ficar seguro e me fazer sentir
como se todas essas decisões não estivessem penduradas apenas em meus
ombros, mesmo que eu meio que falei merda para ele outro dia.
Estou exausto, já que não fui dormir até quase duas e Brian me acordou
às seis e meia. É bem ridículo que eles nos façam vir tão cedo, já que o
acampamento ainda nem começou, mas acho que a orientação de Brian
envolve um trabalho real que leva tempo real, em vez de ficar sentado
ouvindo um monte de velhos falando sobre seus netos.
As luzes brilhantes do centro de recreação me dão dor de cabeça e luto
para manter os olhos abertos enquanto me jogo nas arquibancadas. O erro que
cometi ontem foi pensar que precisava encontrar algumas responsabilidades.
Eu sou praticamente inútil por aqui, então se alguém precisar de mim, eles
vão me encontrar.
E embora eu tenha me envergonhado ontem à noite, eu queria que Drew
estivesse aqui. Não, eu gostaria de estar de volta à livraria. Drew poderia me
preparar café e poderíamos conversar sobre o Diário, e as coisas se
encaixariam.
— Bom Dia.
Eu olho para cima e me encolho. Devin está parado perto de mim, um
porta-copos quadrado nas mãos com dois copos Starbucks dentro.
— O que? — Eu solto.
— Eu. . . sinto muito por ontem —, diz ele. — Eu trouxe uma oferta de
paz.
Suas mãos estão tremendo tanto que tenho certeza que ele vai derramar o
café quente em mim. Dois por dois, eu acho.
Eu me levanto e estabilizo o porta copos antes que ele escorregue de suas
mãos. — Os dois são para mim? — Eu pergunto.
Seus olhos se arregalam. — Você quer os dois?
Eu dou de ombros, mas decido pegar um dos copos. Se ele derrubar o
outro, é problema seu. — O que é? — Eu pergunto enquanto levo a tampa
aos meus lábios.
— Vanilla latte.
Eu congelo, pensando em jogar a maldita bebida na sala, mas também
percebendo que esta é minha única chance de tomar um café durante o dia. —
Como você sabia que lattes de baunilha são minha bebida favorita?
Devin pisca, retirando seu próprio copo da sacola e colocando o papelão
feio na arquibancada. — Eu não sabia —, diz ele. — Acho que eles são um
clássico.
Aceitando que ele não tem perseguido secretamente minha vida desde
antes de conhecê-lo, tomo um gole e, Deus, sinto falta do café Starbucks. Tão
doce e puro.
Estou esperando que Devin entenda isso como sua deixa para ir embora,
mas em vez disso, ele se senta, graciosamente a cerca de um pé e meio de
distância de mim. Ele começa a mexer na tampa do copo e diz: — Lamento
muito por ontem. Eu não pensei que isso fosse acontecer.
Eu reviro meus olhos. — Sim, nem eu. Sempre otimista.
Ele olha para cima e sorri, mas eu não sei de que diabos ele está sorrindo.
— Eu esperava que pudéssemos começar de novo. Você sabe, porque
trabalharemos juntos durante o verão.
Parece um pouco hipócrita dizer a ele para ir se foder enquanto estou
bebendo o café que ele me trouxe, mas também não tenho certeza de como
deixar claro que não vim aqui para fazer amigos.
Finalmente, suspiro, pondo meu café na mesa e estendendo a mão para
ele, dizendo: — Noah.
Ele o pega e sorri. — Devin.
— Então, eu ouvi.
— Você é irmão de Brian, certo? — ele diz.
Eu paro, uma sobrancelha levantada. — Ele te contou sobre mim?
Devin balança a cabeça. — Acabei de ouvir algumas pessoas no
escritório falando sobre.
Ficamos em silêncio, e o único barulho de fundo era o som de tênis
rangendo no chão recentemente encerado. Talvez eu deva encontrar algo para
fazer. Me sinto meio mal sentado por aí quando estou sendo pago, mas eu
simplesmente não quero sentar mais com Devin.
Eu me levanto e olho para ele com um sorriso forçado. — Bem, é melhor
eu ir.
Ele olha para mim, as sobrancelhas franzidas. — Onde você está indo?
— Você sabe, tenho que trabalhar. Arrumar essas coisas ou o que for.
Devin pisca uma vez e diz: — Não fazia ideia que você estaria tão
ansioso.
— Tenho que me sustentar, — digo, quase para me virar e fugir.
Então Devin diz: — Tudo bem, se você diz. Estamos limpando a sala de
ensaio.
Eu congelo. Ele acabou de dizer “estamos?” — Hum, o quê?
— Quero dizer, tem sido usada o ano todo para se preparar para
programas, mas é onde as crianças mais novas estarão…
— Você tem certeza de que é minha tarefa? — Eu digo, esperando que
ele diga algo como Oh, não, eu só estava balbuciando porque sou um idiota!
Vá encontrar sua verdadeira missão.
Em vez disso, ele dá de ombros e diz: — Quer dizer, sou seu supervisor,
então. . .
— Você é meu o quê? Você tem uns doze anos.
Ele ri, levantando-se. E sim, ele é mais alto do que eu, o que não percebi
antes. — Na verdade, tenho dezessete anos —, diz ele, — mas faço parte do
conselho estudantil que organiza o acampamento. Está pronto?
Claro que não estou, mas eu aceno de qualquer maneira, porque agora eu
sei que meu salário está na palma da mão dele.
Depois que chego em casa, tomo um banho e tiro uma longa soneca.
Acordo logo depois das cinco com uma mensagem de texto de Becca dizendo
que ela finalmente está pronta para conversar.
Então, eu a enfrento e ela está sentada em sua cama com seu yorkie,
Noodles.
— Ei, estranho —, ela diz.
Eu reviro os olhos. — O que está acontecendo? Não tenho notícias suas
faz muito tempo.
Ela suspira, dando tapinhas na cabeça de Noodles uma vez antes de
colocá-lo no chão. Ele parece entender que o FaceTime significa nenhum
tempo para Noodles, porque ele dá um pequeno grunhido antes de pular da
cama.
— Você sabe, tem escola e… — Ela para. — Bem, comecei a falar com
essa garota.
Eu grito e ela revira os olhos. — Não, sério, quem é ela? Fala!
Becca suspira novamente e diz: — Eu vou te contar tudo, mas não fique
bravo, ok?
Eu levanto uma sobrancelha. — Por que eu ficaria bravo?
— É Gina Paris.
Eu congelo, meu lábio curvando um pouco. Então, Gina Paris é essa
garota da nossa – bem, da Becca – escola, e ela é o tipo fofo e alegre com
cabelos esvoaçantes e luxuriantes e um sorriso de estrela de TV. Meio que
me lembra Maggie, sem o paladar para cozinha “exótica”. De qualquer
forma, o problema é que ela também faz parte de um grupo denominado
Forward Thinkers no campus, que trata do feminismo e dos direitos das
mulheres, que, por definição, inclui apenas mulheres cis.
— Por que você está falando com Gina Paris? Fazendo a lição de casa?
Becca revira os olhos. — Eu sabia que você ficaria bravo.
— Claro que estou bravo! — Eu digo. — Você está flertando com uma
TERF!
— Ela não é TERF! — Becca diz. — Sério, ela não é. Eu falei com ela
sobre isso. Ela apóia mulheres trans. Ela simplesmente não consegue colocar
o resto do grupo a bordo.
— Sim, tenho certeza. Super conveniente.
Becca geme. — Tanto faz. Olha, a questão é que não estamos mais
conversando, ok? Não deu certo e eu simplesmente superei isso.
Ficamos quietos e eu não sei o que dizer. Quer dizer, sinto muito,
geralmente é a resposta esperada, mas não sinto. Eu quero que Becca seja
feliz, mas ela pode ser feliz com alguém que não é uma TERF. Essa parece
ser a resposta óbvia.
— Drew me levou a um encontro interessante hoje, — eu digo.
Becca me olha como se estivesse prestes a desligar. Então ela diz: —
Onde ele te levou?
Então, eu conto tudo que ela perdeu, finalmente terminando com todas as
coisas de mais cedo, de Red Rocks ao meu quase apagão durante o almoço.
Finalmente, Becca diz: — Então, vocês ainda são uma coisa?
— Não somos uma coisa.
Becca zomba, mas parece haver um pequeno sorriso em seu rosto, como
se ela estivesse um pouco feliz por não ser a única que ainda está solteira.
Então, quase me sinto mal dizendo: — As coisas estão indo muito bem
—, porque sei que deve ser uma sensação de merda saber que estou
construindo um relacionamento incrível quando o dela não deu certo. Mas
também espero que ela pelo menos fique feliz por mim, e talvez um pouco
dessa felicidade a ajude a esquecer Gina Paris para sempre. — Quero dizer,
tecnicamente ainda somos namorados falsos, mas ele definitivamente gosta
de mim. Nós superamos a Hesitação e estamos no limite, e então tenho
certeza que vamos finalizar tudo.
Becca revira os olhos, mas é um algo melhor do que desligar. — Sim, ok.
Você não acha que essas categorias são um pouco ridículas?
— Não, de jeito nenhum —, eu digo, e, eles são ótimos. Eles não são
apenas o rascunho perfeito para o Diário, mas estão todos funcionando, como
se eu tivesse recebido uma inspiração divina ao escrevê-los. É a maneira
perfeita de nos guiar para um relacionamento seguro e duradouro.
— Você não acha que é uma espécie de exploração tentar enganá-lo para
que ele se apaixone por você usando seu amor pelo Diário?
Que, uau, ok, rude. Não é como se eu tivesse encontrado um cara
qualquer na rua e dito a ele que ele tinha que se apaixonar por mim. O diário
sou eu. São todos os meus desejos, esperanças e sonhos internos. Drew foi
quem sugeriu o encontro falso em primeiro lugar, e se ele não quisesse
concordar, ele poderia parar a qualquer momento.
E eu sei que estou olhando furioso quando digo: — Acredite em mim,
Drew está a fim de mim. Não estou explorando nada, apenas ajudando-o a
ver com mais clareza.
— Acho que você só precisa ter certeza de que está interessado nele, não
apenas usando-o para marcar pontos de verificação em seu painel.
— O que isso quer dizer? — Eu solto.
— Isso significa que há uma diferença entre estar afim de alguém porque
você acha que é a pessoa certa para você e estar afim de alguém porque você
sabe que ela é errada para você e você prefere se preparar para o fracasso do
que ter que enfrentar o trabalho de um verdadeiro relação. E, francamente,
nenhum dos “romances” do seu Diário jamais pareceu algo que você quisesse
se comprometer e Drew não é diferente.
Um silêncio pesado paira entre nós enquanto eu luto contra a vontade de
dizer algo de que vou me arrepender.
— Eu gosto dele —, eu digo, mas, francamente, estou prestes a terminar
esta conversa. Sei que as coisas não estão indo muito bem para Becca agora,
mas não achei que ela descontaria em mim.
— Então, estou feliz por você —, diz ela, mas ela não parece nada feliz.
Ela parece ciumenta e talvez um pouco vingativa, como se ela não fosse ficar
satisfeita até saber que também estou infeliz.
Passo 7: A Ligação
É o momento em que você forma uma conexão que é
impossível quebrar, o momento que muda você para
sempre.
Inbox (1,047)
Anônimo perguntou: Ei, Noah! Percebi que você não está
respondendo às mensagens como costumava fazer. Você
provavelmente está ocupado tendo o relacionamento mais fofo de
todos os tempos com Drew! Quando você puder, pode nos atualizar
sobre como as coisas estão indo e talvez postar mais algumas fotos de
casal? Obrigado!
Quando chego ao trabalho na segunda-feira, o lugar já está repleto de
crianças e seus pais. Parece que todos estão fazendo fila para se inscrever e
pegar seus panfletos de segurança ou o que for.
Dormi durante quase todo o fim de semana porque estava cansado até os
ossos e, como previsto, literalmente tudo dói. Mesmo agora, estou meio
mancando em direção ao centro de recreação porque cada passo parece com a
morte e minha postura usual parece uma contorção miserável. A boa notícia
foi que a armadilha mortal de Drew de um encontro ganhou muita força e as
pessoas passaram todo o fim de semana me parabenizando e delirando sobre
o quão grande eu sou.
— À sua esquerda.
Eu quase salto para fora da minha pele quando me viro para encontrar
Devin andando atrás de mim.
— Que porra é essa, cara? — Eu pergunto.
Ele dá de ombros. — Eu estava apenas avisando que estava aqui.
Deus, odeio quando as pessoas se aproximam sorrateiramente de mim.
Ele tem outro porta-café, dois copos Starbucks nele. Ele puxa um e passa
para mim. — Vanilla latte.
Eu balancei minha cabeça. — Não preciso que você compre café para
mim —, digo, o que é verdade porque não só parece explorador deixá-lo
gastar cinco dólares em café para mim todas as manhãs, mas se vou meu
relacionamento com Drew uma coisa real, é estranho deixar outro cara me
comprar café.
— Eu tenho um vale especial, compre um, leve outro —, diz. — Apenas
pegue.
O que, quer dizer, se for de graça…
Pego o copo e tomo um gole, o calor e a doçura me invadindo. Junto
todas as minhas forças para não gemer em voz alta enquanto fazemos o nosso
caminho para o centro de recreação, Devin segura a porta aberta para mim.
— Espero que você esteja animado —, diz. — Hoje é o dia em que tudo
acontece!
— Você quer dizer, o dia em que começaremos a ser babás?
Ele ri, mas eu não estava brincando. — Sei que você está aqui apenas
porque precisa ser pago, mas as crianças são muito amáveis. Acho que você
vai gostar delas.
Provavelmente não, considerando que odeio crianças, mas eu aceno de
qualquer maneira porque não quero que ele me denuncie.
O centro de recreação está mais ocupado do que eu nunca. Parece que
parte do ataque violento de crianças e pais transbordou para cá, mas as
crianças parecem menores, ou talvez seus pais sejam apenas mais altos do
que os pais de fora…
— Devíamos cumprimentar alguns dos pais, — Devin diz, mas sua voz
vacila e ele parece um pouco verde.
Dou um passo para longe dele para evitar uma repetição da semana
passada. — Por que?
— Porque eles vão querer conhecer as pessoas que supervisionam seus
filhos.
Eu suspiro porque sei que ele vai me arrastar até lá contra a minha
vontade e fazer eu me misturar. Ele toma outro gole de seu café e suspira,
apertando os punhos trêmulos. — Ok, vamos fazer isso.
Devin me leva para a frente para que possamos nos apresentar aos pais
que preenchem lentamente o centro de recreação, e sua voz treme a cada frase
que ele solta. Seguro a vontade de alertar os pais para que se afastem alguns
metros e fazemos nossa ronda, falando sobre como estamos — animados —
para conhecer seus pirralhos.
Finalmente, eliminamos a maior parte da multidão. Todo mundo parece
estar indo em direção às arquibancadas, e Devin me guia para fora do centro
de recreação e em direção à sala de ensaio.
— Os pais vão passar por uma orientação rápida, depois vamos buscar as
crianças. Durante os acampamentos diurnos, temos crianças de quatro a sete
anos. Apenas as crianças de oito a treze anos fazem os acampamentos
sleepaway.
Eu sei que o acampamento funciona em ciclos semanais, então todas as
crianças aqui hoje terão ido embora na próxima segunda-feira, mas ainda
parece exaustivo. Eu nunca percebi que me sentiria tão feliz por nunca ter ido
para um acampamento de verão.
— Eu não vou cuidar dos acampamentos sleepaway — eu digo.
Devin sorri. — Eu sei, mas você pode querer reconsiderar isso mais
tarde. É a melhor parte do acampamento.
Eu reviro meus olhos.
No momento em que as crianças correm para a sala de ensaio, grandes
sorrisos idiotas em seus rostos, estou trabalhando com o resto da minha
energia do café e pronto para ir para casa. Devin assobia para chamar a
atenção deles – quase me assustando no processo – e então ele faz todos se
sentarem em um grande círculo para que possam dizer seus nomes e falar
sobre coisas que gostam.
— Eu vou começar —, diz Devin, seu sorriso tão grande quanto o das
crianças babonas. — Eu sou Devin! Meus pronomes são ele/dele, e eu adoro
filmes da Disney. Alguém viu Coco?
E toda a sala irrompe quando as crianças começam a gritar sobre seus
filmes favoritos da Disney ou simplesmente a gritar de forma ininteligível.
Devin assobia novamente, e todos eles param como moscas presas em
uma armadilha. Eu me pergunto se eles vêm programados assim ou se deram
algo para eles durante a orientação.
— Incrível! — Devin diz. Ele se vira para mim e diz: — Sua vez!
Eu pisco para ele porque esta é a coisa mais humilhante que fiz desde que
fui escalado para o papel do Peru de Ação de Graças em uma maldita peça
pré-escolar. Eu suspiro e digo: — Eu sou Noah. Meus pronomes são ele/dele
e eu gosto de anime?
E eu tenho certeza que nenhuma dessas crianças sabe o que é um anime,
mas eles explodem novamente, como se fosse a coisa mais legal que eles já
ouviram e, na verdade, é bem legal. Como ter seu próprio esquadrão de
torcida que o aplaude por não fazer nada em particular.
Devin assobia novamente e faz um gesto para a menina sentada ao meu
lado. Ela é uma garota morena, seu cabelo amarrado em pequenas tranças
com esses laços rosa fofos neles. Ela sorri largamente e diz: — Eu sou
Bailey. Eu declaro ela, e Moana!
E as crianças perdem tudo de novo.
Eu me viro para Devin, que honestamente parece que caiu no maior
estado de euforia, e não posso deixar de rir porque, uau, essas crianças nem
sabem do que estamos falando, mas com certeza estão se divertindo. Eu me
pergunto se eu já fui assim. Eu duvido.
Levamos meia hora para dar a volta no círculo e, quando terminamos,
metade das crianças está brincando com os sapatos ou engatinhando no chão.
Devin desenrola uma TV velha e um DVD player ainda mais antigo e
coloca um pequeno disco dentro. Ele chama a atenção das crianças e faz com
que se reúnam na frente da tela antes de apertar o play. Em seguida, ele
diminui as luzes e se senta ao meu lado no fundo da sala.
Não tenho certeza de qual filme ele escolheu, mas há um monte de
anúncios da Disney, então acho que isso resolve tudo.
Baixo a minha voz e digo: — Isto é um zoológico.
Ele sorri. — Você só tem que os manter entretidos. Tudo o que eles
querem é se divertir.
Ficamos em silêncio quando o filme começa. Então eu viro minha cabeça
e digo: — Por que você começou introduzindo seus pronomes? As crianças
nem sabem o que isso significa.
— Talvez não, mas eles vão ouvir sobre essas coisas em algum lugar,
então por que não começar agora? Posso apresentar isso aqui, ou posso
esperar que outra pessoa os ensine errado.
Eu arqueio uma sobrancelha. — Você não me parece um ativista dos
direitos trans.
Devin ri. — Eu sou não-binário.
— Espera, sério?
Ele dá de ombros. — Não me diga que você pensou que eu era cis.
Uma criança na parte de trás do grupo se vira, coloca um dedo nos lábios
e faz um som alto de shhh para Devin. Devin levanta as mãos em sinal de
rendição e faz um movimento para zipar os lábios.
Eu reviro meus olhos, mas é meio amável o quão bem Devin parece se
dar bem com essas crianças. Eu nunca teria paciência para isso, mas me
pergunto se há uma criança trans no grupo que encontrará muito mais
confiança em assumir por ter conhecido Devin. Inferno, se alguma garota
trans que eu nunca conheci pessoalmente pode me inspirar a me aceitar no
colégio, eu imagino que Devin abrindo essas crianças para pronomes agora
fará toda a diferença. Imagine saber que ser trans não é apenas uma coisa,
mas algo que você tem permissão para ser. Eu me pergunto se eu teria me
encontrado antes.
E talvez isso seja parte de me encontrar agora. Talvez essa seja a maneira
do destino me ajudar a encontrar uma criança como eu e dar a ela algo que eu
nunca tive.
E talvez isso não signifique nada, mas ainda não consigo deixar de sorrir.
Só ficamos com as crianças até uma hora. Em seguida, mais dois
conselheiros os levam para passar algumas horas ao ar livre até que os pais os
busquem. Devin parece quase melancólico ao vê-los ir, e então me diz para
começar a limpar.
Além de apenas pegar todos os lápis de cera e DVDs espalhados, também
temos que esfregar o chão para limpar todos os fluidos corporais que as
crianças deixaram para trás. O dia me convenceu firmemente de que crianças
são nojentas, e eu prefiro cortar meu próprio útero à mão do que dar à luz
uma, mas pelo menos está basicamente acabado e estou sendo pago.
Devin coloca essa playlist, e não sei se é intencionalmente gay – Halsey,
Hayley Kiyoko, Troye Sivan – ou se isso acaba acontecendo quando você é
gay e curte seu pop indie.
— Você teve um dia divertido? — ele pergunta. Ele puxa um limpador
de spray para limpar todas as janelas e espelhos.
Eu dou de ombros. — Não sei se ‘diversão’é a palavra certa para isso,
mas não foi tão terrível.
Ele ri. — Quando comecei a trabalhar no acampamento, era muito
estressante, mas está melhorando. Você meio que percebe que eles são
crianças, o que significa que, por mais indisciplinados e incontroláveis que
possam ser, eles também lhe darão muito mais espaço de manobra do que
qualquer adulto.
Ele provavelmente está certo sobre isso, mesmo que tivesse que usar
alguma palavra estranha do SAT para explicar. Não posso dizer que fiz algo
particularmente bem hoje, mas as crianças pareciam gostar bastante de mim.
Uma garotinha até me trouxe o desenho de um coração e disse: — Eu te
amo, Sr. Noah —, o que foi fofo.
— Há quanto tempo você trabalha no acampamento? — Eu pergunto.
— Este é o meu segundo ano —, diz Devin. — Eu não moro em Denver
há muito tempo, mas se eu morasse, provavelmente estaria aqui há mais
tempo.
É meio nauseante como ele está apaixonado pelo acampamento e pelas
crianças e todo aquele jazz, mas estou tentando dar uma chance a ele. Eu
ainda não consigo dizer que Devin é a minha xícara de chá – entre o assobio
estranho e balançar a cabeça enquanto ele limpa e o sorriso arrogante, ele é
apenas animado demais para o meu gosto – mas algo sobre ele se assumindo
para mim me fez gostar dele um pouco mais. Como se talvez não sejamos
totalmente opostos, e eu aguentaria ser um pouco mais legal com ele.
Eu passo meu esfregão no chão. — De onde você se mudou?
— Flórida – saco de bolas de Satanás.
Eu rio porque costumávamos chamá-lo assim também. É o pequeno pênis
pendurado na borda dos EUA. — Eu também sou da Flórida —, eu digo. —
Qual condado?
— Dade, você?
Eu congelo, meu esfregão parando no meio do caminho. — Também.
Ele sorri. — Mundo pequeno.
Ele está definitivamente certo sobre isso. — Por que você saiu?
A sala fica em silêncio depois disso, o som de Troye Sivan abafado no
fundo, e eu me pergunto se eu passei dos limites. não importa muito. Estou
apenas conversando um pouco, mas parece que perguntei a ele sobre sua avó
morta ou algo assim.
Finalmente, ele diz: — Eu me assumi na escola e as pessoas não
aceitaram muito bem.
Eu congelo, minhas mãos segurando o cabo do esfregão até que tenha
quase certeza de que vou ficar com farpas. — Porque você se assumiu não
binário?
Ele ri, mas soa vazio. — Na verdade, eu pensei que era uma garota trans.
Eles não aceitaram isso.
E de repente algo clica em mim e o esfregão cai de minhas mãos, a
madeira colidindo com o chão em uma estalo oco.
Devin me encara, as sobrancelhas levantadas. — Você está bem?
— Você foi para o St. Francis? — Eu pergunto, minha voz suave.
E os olhos de Devin se arregalam. — Como você soube disso?
— Porque eu estava um grau abaixo de você, — eu digo. — Eu me
lembro quando você se assumiu. Estava por toda a escola.
E Devin fica vermelho, o que provavelmente é justo, já que acabei de
colocá-lo na berlinda assim. Ele vira o rosto para longe de mim, mas já que
ele está limpando um espelho, não adianta muito. — Sim, eu – foi um erro.
— Um erro?
— Quer dizer, eu pensava que era uma garota naquela época, e acho que
uma parte de mim pensava que, se eu assumisse, as coisas seriam mais fáceis.
Em vez disso, eu fui intimidado até o fim, e agora eu nem sei o que eu sou,
sabe?
Eu balanço minha cabeça porque ouvi-lo dizer que foi um erro me deixa
inexplicavelmente zangado. Quer dizer, eu nunca o conheci de verdade na
escola, mas a história de uma garota trans corajosa o suficiente para viver sua
verdade no St. Francis? Essa merda me fez continuar. Essa foi a razão pela
qual tive a coragem de examinar a transnidade em primeiro lugar. Foi a razão
pela qual fiquei acordado por horas, encontrando as palavras certas, olhando
para a transição. Foi a razão pela qual finalmente tive confiança para dizer a
Becca e Brian quem eu sou, para fazer o Diário. É por isso que Noah existe.
E Devin está dizendo que foi tudo um engano?
— Não foi um erro —, digo.
Ele olha para mim então, seus olhos arregalados encontrando os meus
através do espelho.
— Achei que você fosse a pessoa mais corajosa do St. Francis. Inferno,
em todo o maldito país. Só me assumi porque tive você como modelo. Não se
atreva a chamar isso de erro.
Ele cora, sua voz suaviza quando diz: — Obrigado.
Eu reviro meus olhos. — Pelo que?
— Por dizer isso.
Ficamos em silêncio por um momento, e eu luto para me concentrar em
meus movimentos com o esfregão, em vez da tensão estranha pairando no ar.
Finalmente, Devin diz: — Eu pensei que era um idiota, sabe? Por sempre
pensar que era trans, em primeiro lugar. Eu me senti um mentiroso e um
constrangimento e uma vergonha para pessoas trans de verdade.
Eu levanto uma sobrancelha. — Por que?
Ele dá de ombros. — Porque depois que saí e nos mudamos para cá, não
me sentia mais como uma menina. Pelo menos, não.
— Você se sente como uma agora?
Ele dá de ombros novamente. — Eu não sei. Quer dizer, eu não me sinto
como um menino. Quase nunca me sinto, mas não sei se o que estou sentindo
é disforia ou só…
Ele para, e eu quero dizer a ele que entendo. Quer dizer, não totalmente,
porque sou um menino e sei que sou um menino, mas isso não significa que
não foi difícil descobrir. Houve momentos em que pensei que talvez estivesse
apenas sendo dramático, talvez eu fosse apenas uma moleca que não gostava
de usar vestidos. Eu não precisava ser um menino, certo?
Exceto que eu sou.
Eu coloco o esfregão e me sento no chão. Não somos particularmente
próximos, mas algo sobre estar no nível dos olhos dele parece melhor agora.
Eu digo, — Houve rumores sobre o que aconteceu depois que você se
assumiu. Eles são verdadeiros?
Ele para de esfregar o espelho e se vira para mim. — Quais?
— Aqueles que diziam que você tentou se matar?
Ele suspira, mas eu não preciso que ele continue falando. Inferno, aquele
suspiro sozinho pesa algumas milhares de libras, e eu sinto que posso ver
todo o peso de sua miséria no colégio refletido em seus olhos.
Finalmente, ele diz: — Sim, eu tentei. É por isso que meus pais me
tiraram da escola e nos mudamos para o outro lado do país. Eles pensaram
que fugir me faria melhor.
— Foi?
Ele ri, mas não responde. Não tenho certeza do que esperava da conversa,
mas está muito claro para mim que acabou. Pego o esfregão novamente e
começo a esfregar o chão com mais força do que deveria. Acho que parte de
mim espera poder apagar mais do que germes e manchas de sujeira, como se
o passado pudesse ser lavado com a mesma facilidade.
Ei, Becca, eu preciso mesmo falar com você. Por favor me liga
quando puder.
Entregue
MeetCuteDiary postou:
Ei, galera!
Desculpa, eu tenho estado meio que sumido. Drew e eu temos
passado muito tempo juntos, e acabamos de sair do encontro no cina
mais fofo do mundo. Obrigado por todo o apoio e lerei suas
mensagens em breve! Ah, e aqui estão algumas fotos!
Sério, Becca, eu sei que você está ocupada, mas vamos lá! E o
nosso dia no spa???
Entregue
No caminho para casa, Brian para para pegar Maggie na casa de algum amigo
ou algo assim. Eu não os vi juntos recentemente, mas se isso era para me dar
alguma esperança de que eles estariam se separando em breve, fiquei
completamente arrasado no momento em que Brian saltou do carro e correu
para abraçá-la. Nojento.
Brian me chuta para fora do banco do passageiro para que Maggie possa
pular na frente, e eu apenas reviro os olhos antes de deslizar para o banco de
trás. Está bem. Estou tentando fingir ser invisível em vez de ficar de vela
para eles.
Percebi que Maggie não me convidou para nada desde o jogo de trivia, e
não sei se isso é um reflexo do quanto perdemos feio ou o fato de eu não ter
conseguido o emprego na livraria e, por extensão, o desconto dela. Brian
afirma que ela não tem feito nada digno de Noah recentemente, mas ele
também está mais obcecado por Maggie do que antes. É como se cada receita
que ele tenta fazer, mais o convence de que ele precisa ser o chef perfeito dos
sonhos de Maggie, o que também é nojento.
Maggie continua falando sobre assistir esse filme gay porque ela tem um
amigo gay, e meus olhos reviram em minha mente com o absurdo. Quero
dizer, sério, quem age como se soubesse algo sobre ser gay só porque tem um
amigo gay?
E Brian ri junto como se ela fosse a pessoa mais engraçada que ele já
conheceu, e eu terei que lavar minhas orelhas com sabão. Ele nunca teria
pensado que as piadas dela eram engraçadas antes. Inferno, um ano atrás, nós
dois estaríamos tirando sarro de como ela soa ridícula, e ainda assim eu fui
amarrado por quinze minutos de total tortura antes de finalmente chegarmos
em casa.
Quando Brian destranca a porta do apartamento, vou direto para o meu
armário. Ele grita algo sobre o jantar atrás de mim, mas eu simplesmente o
ignoro enquanto fecho a porta. Esta é a parte em que ligo para Becca apenas
para obter uma mensagem sobre a caixa de mensagens estar cheia, e antes
que eu possa sequer pensar sobre meu próximo movimento, estou ligando
para Drew. Eu conto a ele sobre o trabalho e ele fala sobre seu irmão, e
nenhum de nós está falando muito sobre algo importante, mas não importa.
De alguma forma, sinto que ele sabe exatamente do que preciso.
Drew sai do trabalho pouco depois das cinco, então ele passa pelo
apartamento para que possamos tirar mais algumas fotos para o Diário. Não
me incomodo em dizer a Brian que estou descendo, já que ele e Maggie estão
tão presos um ao outro que nem perceberão que eu fui embora.
Drew está sentado na calçada, o telefone em mãos e os olhos grudados
nele. E tem muito para se admirar – o arco de suas costas, a forma como seu
cabelo escuro reflete a luz do sol, a linha perfeita de sua mandíbula.
Ele se vira, seus olhos se arregalando quando me vêem. — Oh, ei.
— Ei, — eu digo, sentando no meio-fio ao lado dele.
— Tudo bom? — ele pergunta.
Eu dou de ombros. — Além de ter que cuidar de Devin? Sim, está tudo
bem, eu acho.
Drew arqueia uma sobrancelha. — Não é o colega que vomitou em
você? Achei que você o odiasse.
— Devin usa pronomes elu/delu —, eu digo. — E eu não sei. Eu acho
que elu não é tão ruim. Como você está?
Ele encara o chão. — O trabalho é um pé no saco. Estamos nos
preparando para um evento com autor, então temos que ter o controle de
todos os seus livros como se alguém .
aparecesse para comprá-los.
MeetCuteDiary postou:
[. . .] Finalmente, nós pulamos na água juntos, perdendo-nos nos
braços um do outro. Foi tudo muito romântico e doce. Foi o momento
em que soubemos que estávamos destinados a ficar juntos.
Enfim, aqui estão algumas fotos de antes!
Deve ser muito ruim se Drew nem mesmo se sente mais confortável em
ficar em casa. Eu respondo: Posso fazer alguma coisa para ajudar?
A tela do meu telefone muda quando Drew me liga, e eu murmuro um
rápido — Me dá um segundo — para Brian antes de pedir licença e ir até
meu armário.
— Ei, está tudo bem? — Eu pergunto enquanto fecho a porta atrás de
mim.
— Sim, só precisamos de uma mudança de cenário —, diz ele. — Na
verdade, eu queria falar com você sobre o Diário.
— Oh? O que tem ele?
— Bem, já que você vai viajar para o acampamento, quer que eu atualize
para você?
Eu estremeço, minha mente voltando para todas as postagens que Drew
fez sem permissão. Bem, e sua bagunça de blog. Não é horrível, por si só.
Quer dizer, não há nada de errado em casais terem gostos totalmente
diferentes, mas não sei como me sinto sobre ele correr solto com o Diário por
um fim de semana inteiro, especialmente porque não posso contar com o
sinal para monitorá-lo.
— Hum, está tudo bem —, eu digo. — Vou agendar algumas postagens e
responde aos comentários mais tarde. — Embora eu ache que não tenho
respondido aos comentários, então isso pode ser irrelevante.
— Oh, ok, — Drew diz. — Eu só pensei que poderia me dar algo
divertido para fazer enquanto espero você voltar.
Meu coração está meio pesado e estou quase tentado a ceder, mas este é o
Diário. Não estou pronto para correr esse tipo de risco, mesmo que ame
Drew. — Posso desistir da viagem, se você quiser.
— Não, não faz isso —, diz ele. — Quer dizer, o dinheiro é bom e você já
perdeu uma semana de trabalho. Nós ficaremos bem.
— Ok, — eu digo, mas me sinto um pouco apreensivo.
— Sério, Noah, — ele diz. — Eu não preciso que você cuide de mim. Eu
apenas pensei que iria me divertir nas redes sociais por um fim de semana,
mas não é grande coisa.
— Você ainda pode postar, — eu digo. — Quer dizer, se você quiser
postar sobre nós e o Diário, não me importo.
Drew ri. — Sim, eu sei. Meu blog atingiu quase três mil seguidores desde
que mencionei pela primeira vez que namoro você, então tem isso. Vou
escrever algumas coisas fofas e deixar todos os seus seguidores com inveja.
Eu sorrio. — Ok, apenas não faça nada exagerado. Queremos ter certeza
de que é natural para os leitores — .
— Eu entendi. Confie em mim.
Inbox (1,453)
Missamericanbi perguntou: Eu sei que você provavelmente não vai
ver isso, já que também não respondeu a ninguém, mas, se você tiver
a chance, tenho uma amiga que tem estado muito triste ultimamente.
Ela é trans, o namorado dela acabou de terminar com ela e eu
esperava que você pudesse lhe dar alguns conselhos, uma vez que seu
relacionamento é tão ideal? Por favor, isso significaria o mundo para
ela.
Fiel à minha palavra, faço as malas na quinta à noite, logo depois da meia-
noite. Estou lutando para juntar tudo e mal me lembro de experimentar meu
binder antes de enfiá-lo em minha mochila. Eu agendo algumas postagens
para o Diário, já que não estarei por perto para atualizá-lo, e faço o meu
melhor para responder a todas as perguntas sobre minha postagem de
Paradise Cove. É bom ver que o Diário está ainda melhor do que eu e quase
dobrou de seguidores desde que apresentou Drew. Eu mandei um e-mail para
Drew com um arquivo de fotos, ideias de histórias e outras coisas para que
ele possa se divertir postando enquanto eu estiver fora. Estou um pouco
preocupado com o que ele tem em mente, mas confio nele, e é só um fim de
semana.
Sexta de manhã, Brian me arrasta para fora da cama e vamos para o
acampamento. Temos que nos encontrar lá e reunir todas as crianças. Então,
pegamos um ônibus para o chalé. As crianças que estamos levando são um
pouco mais velhas do que meu grupo normal – os de 8 a 12 anos de idade – e
estou um pouco nervoso com isso, honestamente. E depois há a coisa de
compartilhar uma cabana. Não sou bom em espaços compartilhados ou ao ar
livre, ou, em qualquer espaço que não posso cuidar completamente de acordo
com minhas preferências pessoais.
Quando Brian e eu estacionamos, já há um grupo de pais dizendo tchau
para os filhos e ajudando-os a entrar no ônibus. Georgette está lá e me diz
para esperar no ônibus enquanto eles continuam carregando, então eu vou,
apertando minha mochila para caber no corredor.
Devin está sentado perto do fundo, uma rosquinha pendurada em sua
boca. Elu acena para mim e faço a caminhada miserável da vergonha
enquanto minha bolsa bate em tudo em um raio de oito quilômetros.
Quando chego à última fileira, Devin se inclina um pouco para que eu
possa jogar minha bolsa no chão e deslizar ao lado delu.
— Bom dia —, elu diz, todo brilhante e alegre, mesmo que ainda não
sejam nem oito horas.
Eu sorrio de volta para elu, mas é mais como uma careta.
Devin ri, me passando um copo do Starbucks e, honestamente, não tenho
certeza do que fiz para merecer. Entre o frio da manhã no Colorado e a falta
de sono – que é principalmente minha culpa – o café parece vida em minhas
mãos, respirando suavemente em mim.
— Você está animado? — Devin pergunta.
E é uma pergunta bem inútil, já que qualquer um pode dizer que não
estou. É ruim o suficiente que eu nunca tenha feito um acampamento
sleepaway antes, mas também sei que é provável que eu perca o sinal e Drew
não será capaz de me localizar se ele precisar de mim. Considerando que esta
é a nossa primeira vez separados como namorados de verdade – ou, bem,
como qualquer coisa na verdade – me sinto péssimo sabendo que não posso
garantir uma resposta a tempo.
Devin abre uma caixa de donuts, e eu pego um porque vou morrer antes
de recusar comida grátis. É doce contra a minha língua, e eu apenas o deixo
assentar na minha boca por um momento enquanto meu cérebro luta para
acordar.
— Espero que não seja um problema —, diz elu, — mas estive pensando
sobre o assunto do pronome de novo.
Eu me viro para elu, esperando parecer mais uma pessoa humana agora.
— Você quer mudar de novo?
Elu encolhe os ombros. — Eu não odeio elu/delu, mas não parece certo,
sabe? Como ele/dele, eu acho.
— Então, o que você quer usar agora?
Devin olha para mim como se elu estivesse preocupado que eu ficasse
bravo, antes de suspirar e dizer: — Ile/dile parece bom?
E eu nunca tinha ouvido esses sons antes na minha vida, mas eu aceno de
qualquer maneira. Não é meu trabalho dizer a Devin quais pronomes ile pode
ou não usar.
Eles dirigem o ônibus mais rápido do que o esperado e, nos próximos
vinte minutos, estaremos correndo pela rua, indo para o meio do nada.
Pego meu telefone para verificar se há sinal ou uma mensagem de Drew.
Parece que tenho o primeiro, mas não o segundo ainda.
Devin tem uma linha de açúcar no lábio dile por causa do donut, então eu
pego um guardanapo e o enfio em sua cara.
Ile ri, puxando da minha mão e limpando o açúcar. — Desculpa.
Eu reviro meus olhos. — Você se desculpa demais.
Ficamos sentados em silêncio por um tempo. Eu nem percebo que
desmaiei até que meu telefone vibra, o movimento me chocando e me
acordando, e eu me afasto de onde minha cabeça caiu no ombro de Devin.
— Que diabos? — Eu digo.
Os olhos dile se arregalam. — O quê?
— Você me deixou dormir no seu ombro?
— Eu não deveria ter deixado você dormir no meu ombro?
Eu cruzo meus braços enquanto clico no meu telefone. — Eu tenho um
namorado.
Devin ri. — Você adormeceu. Isso não é traição.
Mas sinto que sim.
Eu afasto a sensação enquanto olho para o meu telefone, uma mensagem
de Drew colorindo a tela. Ei, as coisas estão ficando meio difíceis aqui.
Você pode conversar?
Eu suspiro, digitando rapidamente, Estou trabalhando, mas ligo para
você mais tarde?
Okay.
E oficialmente me sinto o pior namorado do mundo, mas não sei mais o
que fazer.
Minha caixa de entrada do Tumblr está cheia de mensagens, mas
simplesmente desligo as notificações, já que não tenho energia para
responder agora e deveria me concentrar em trabalhar neste fim de semana.
Quando chegamos ao nosso destino, todos nós saímos do ônibus e eles
fazem uma contagem formal antes de sermos divididos em grupos. Existem
cinco cabines e dez líderes, incluindo Devin e eu. Nosso principal trabalho
nesta viagem é apenas ser RAs da cabine e garantir que todos sejam
comportados na hora de dormir. Por enquanto, conduzimos nosso grupo de
seis meninos até nossa cabana e os deixamos escolher seus beliches e colocar
suas coisas no chão.
Eu olho para o meu telefone novamente e, felizmente, parece que ainda
tenho sinal na cabine.
Devin grita: — Ok, dez minutos, então vamos para o lago!
Pego minha bolsa e procuro o protetor solar e imediatamente percebo que
esqueci de embalar. Perfeito.
— Protetor solar?
Eu olho para cima para ver Devin segurando uma lata de spray para mim,
e eu a pego, espirrando rapidamente em meus braços e pernas. Normalmente
não me queimo muito, mas o câncer de pele é real.
Eu entrego o protetor solar com um murmúrio, — Obrigado.
— Sem problemas —, diz ile. — Tem algo errado? Você parece
incomodado.
Mas eu apenas balanço minha cabeça porque falar com Devin sobre meu
namorado parece errado. Quer dizer, nem tenho certeza se somos amigos ou
apenas colegas de trabalho, e não parece certo despejar esse tipo de coisa em
alguém que mal conheço.
Reunimos as crianças e nos dirigimos para o lago, onde os outros grupos
estão começando a se formar. Há oito outros conselheiros conosco, além dos
coordenadores Georgette, Bev e esse cara chamado Frank, que juro nunca ter
visto antes na minha vida. Durante o dia, nosso trabalho no fim de semana é
basicamente fazer tudo o que os coordenadores mandam, seja ajudar as
crianças nas atividades ou apenas procurar o papel higiênico extra. No
primeiro dia, estou inflando um monte de carros alegóricos e, mesmo que não
seja a pior tarefa que eu poderia estar fazendo, eu meio que gostaria que a
carga de trabalho fosse um pouco mais intensa para que eu pudesse parar de
pensar em Drew.
Eu ligo para ele durante a minha pausa para o almoço, mas a conexão é
instável, então não conversamos muito. Ele apenas desabafa sobre como as
coisas estão uma merda em casa e como ele está tendo problemas para animar
Jordan. Eu prometo que podemos fazer algo divertido quando eu voltar, mas
parece vazio. Se eu fosse um namorado decente, estaria lá agora.
Sexta, 22 de junho
Lectabaeries postou:
Sabe quando você ama um blog porque é tão sincero e real, e
então o criador apenas meio que desaparece e parece que você está
assistindo a 15ª temporada de um programa que deveria ter sido
cancelado depois da quinta?
Drew
Aff, estou tão entediado e com saudades de vc. Esse lugar é um
saco.
Vi esse vídeo e lembrei de você. [Link]
Esse acampamento é mais interessante que eu, hein?
Ah, você provavelmente não tem sinal, né? To com saudades.
Espero que vc receba isso.
And.rew03 postou:
[. . .] Ele não conseguia parar de me enviar mensagens de texto
enquanto estava no acampamento sobre o quanto sentia minha falta e
queria me ver novamente. É difícil ficar longe de alguém de quem
você tanto gosta.
Então, quando ele voltou para a cidade, já tínhamos planos
traçados. Eu sabia que tinha que fazer algo especial para compensar o
quão solitário ele se sentia sem mim para lhe fazer companhia. Era
como um filme se desenrolando na vida real enquanto ele corria para
os meus braços, e eu o balançava, lágrimas escorrendo por seu rosto
como se nosso tempo separados tivesse sido um pesadelo terrível e
tudo estava perfeito agora que ele estava aqui.
Wehavechemistry postou:
Alguém conhece algum blog que posta histórias de romance
curtas e fofas? De preferência de não-ficção? Desde que o Meet Cute
Diary parou de postar, preciso de algo novo para ocupar meu tempo
Juleslovesny postou:
Hum, então acho que o Meet Cute Diary está compartilhando
postagens roubadas agora?? Como isso aconteceu? Alguém conhece
algum blog alternativo porque estou cansada de todo o drama neste.
Primeiro, descobrimos que é falso e agora é uma história de roubo?
Sim, estou fora. O blog não vale o aborrecimento.
Domingo de manhã, fico na cama até tarde porque ainda estou de ressaca
das cervejas que bebi depois da minha briga com Drew. E tipo, isso significa
muito, porque eu odeio cerveja.
Finalmente saio do quarto logo após às uma e encontro um post-it na
porta da frente que diz: Saí com alguns amigos. Tire o lixo.
— Excelente.
Normalmente, se eu estivesse com esse humor péssimo, eu ligaria para
Drew e pediria a ele para sair comigo, mas isso definitivamente não vai
acontecer. Não sei se ele vai se desculpar pela noite passada ou não, mas não
quero vê-lo, mesmo que ainda esteja se recuperando do divórcio dos pais.
E depois há o fato de que hoje é a primeira manhã em que não recebi uma
mensagem de "bom dia" dele e tenho certeza de que ele não se esqueceu
simplesmente.
Ligo para Becca, esperando que ela possa me ajudar com o Diário. Para
minha surpresa absoluta, ela atende no terceiro toque, com a voz baixa
enquanto diz: — Olá?
— Oh meu Deus, Becca, você não vai acreditar. . .
— Noah —, ela me corta, e eu congelo porque algo em sua voz
simplesmente não soa bem. Não parece Becca.
Ficamos em silêncio por um momento antes de ela dizer: — Não quero
falar com você agora.
— Eu. . . — Honestamente, não acho que ela já tenha dito algo assim para
mim antes, e eu nem tenho certeza de como responder. Finalmente, eu digo:
— Aconteceu alguma coisa? Você está com raiva de mim?
Ela suspira. — É meio interessante como você sempre pergunta se estou
bravo com você, em vez de perguntar como estou.
Sim, ela está certa. Eu não fiz isso. — Eu sinto Muito. Eu estive muito
ocupado com Drew e. . .
— E eu não preciso que você termine isso. É sempre a mesma coisa com
você. Nossa amizade é sempre uma rua de mão única, e eu só. . . eu
simplesmente não posso lidar com isso agora, ok? Eu preciso de espaço.
Meu coração dá um salto e sinto que vou vomitar. — Você está dizendo
que não quer mais ser minha amiga?
— Claro que não. Só estou dizendo. . . — Becca faz uma pausa, sua voz
sumindo. A estática crepitante se interpõe entre nós por um momento antes
de ela dizer: — Quando você me disse que estava se mudando para o outro
lado do país, chorei por três dias.
— Eu também. — Não tenho certeza de onde isso vai dar, mas a deixo
falar.
— Mas não pelas mesmas razões, ok? Eu estava apavorada. É como se eu
não conseguisse lembrar quem eu era antes de sermos amigos ou quem eu
sou sem você. Eu senti como se tudo de mim estivesse desaparecendo.
— Você acha que eu não senti o mesmo?
— Claro que não, Noah. Quero dizer, sim, você sentirá minha falta e terá
que fazer novos amigos e aprender a navegar em uma nova escola, mas você
sabe quem você é. Você sempre soube quem você é e, mais do que tudo,
sempre fui apenas a melhor amiga de Noah.
Eu não falo Eu não posso. Como você responde a algo assim?
A ideia de que Becca não é nada além de minha amiga é honestamente
tão absurda. Ela tem sido meu escudo desde que nos tornamos amigos, a
pessoa que pula na minha frente sempre que algo dá errado. Foi ela quem me
impediu de fazer coisas imprudentes e quem me orientou a tomar a decisão
inteligente.
Mas talvez seja esse o problema. Eu sempre me coloquei tão longe dos
holofotes que sua única escolha foi trabalhar nos bastidores.
— Estamos crescendo, sabe? — Becca diz, sua voz baixa como se ela
estivesse preocupada que eu ficasse bravo. — Você está se mudando e logo
estaremos indo para a faculdade. É ingênuo pensar que poderíamos ficar
juntos para sempre. Sempre chegaria um dia em que você não atenderia o
telefone.
— Então você parou de responder primeiro?
— Não é isso que você faria?
E, claro, é exatamente o que eu faria! Esse é o problema!
Supõe-se que Becca seja a madura, a cola. Embora eu tivesse um ataque e
agisse como uma criança, ela deveria ser a base para garantir que eu não
caísse em um abismo sem fim. O que eu deveria fazer quando ela
simplesmente parou de estar lá?
Mas seus medos são meus medos, e eu tenho tanto medo de todas as
coisas que vou perder, nunca me ocorreu que Becca teria medo de perder as
mesmas coisas.
Porque estou sempre me colocando em primeiro lugar.
— Então, o que você quer que eu faça? — Eu pergunto, tentando manter
meu nível de voz.
— Você está chateado —, diz ela.
— Não, — eu digo, e honestamente explode minha mente que eu quero
dizer isso. Eu não sou louco. Eu só estou. . . bem, acho que só quero aprender
a mexer nas cortinas por um tempo, para que ela possa fazer uma pausa. —
Quero dar a você o mesmo apoio que você sempre me deu, então me diga
como, eu acho.
Becca solta um suspiro. — Eu só preciso de um pouco de espaço. Algum
tempo para descobrir as coisas.
— OK.
— E Noah?
— Sim.
— Você sempre será meu melhor amigo. Eu prometo.
E eu sei que ela fala sério, mas também sei que as coisas não duram para
sempre. O que quer que seja, está mudando, e eu só tenho que manter a
esperança de que nosso novo algo seja suficiente.
Quando desligamos, volto imediatamente para o Diário. Eu sei que
prometi a ela que não faria nada sem falar com ela primeiro, mas foi ela quem
disse que não queria falar, então. . .
Domingo, 1 de Julho
MeetCuteDiary postou:
Corre o boato de que o Diário está postando histórias roubadas
sem permissão para usá-las. Eu não sei quem começou esse boato, ou
por que você odeia tanto o Diário, mas você pode, por favor, me
mandar uma mensagem e nós podemos resolver isso? Você vai
machucar tantas pessoas por causa de um boato que nem sabe se é
verdade. Por favor, entre em contato comigo, e nós resolveremos isso.
Por favor.
Passo 10: Libertação
O grande conflito que tenta separar vocês dois, o
momento em que você pensa que talvez o relacionamento
não sobreviverá.
Segunda, 2 de julho
Itwasntme postou:
Alguém mais viu aquele post do Meet Cute Diary e ficou um
pouco apreensivo? Vocês acreditam que o Diário é inocente aqui? eu
ñ sei se quero continuar a apoiá-los com todo este drama
Isleofsunshine postou:
@MeetCuteDiary Eu sei quem falou aquilo de você, mas essa
pessoa não vai falar ou revelar o próprio nome. Se você tem algo a
dizer, posso fazer isso por você.
Devin me deixa do lado de fora do prédio, e eu pego o elevador. Minha
mente está girando desde que saímos e eu lembrei que preciso checar o
Diário.
Estou prestes a enfiar minha chave na porta quando ouço uma risada alta
e estridente vindo do outro lado. Maggie?
Coloco meu ouvido contra a porta e ouço Brian dizer: — Noah pode ficar
com isso, mas vou esconder a maior parte. Ele vai comer tudo
O que, dada a minha semana, é um insulto Estou prestes a abrir a porta e
colocar Brian em seu lugar quando Maggie diz: — Ele come muito para uma
garota —, e eu congelo, minha mão pairando perto da maçaneta.
— Ele é um garoto —, Brian diz, sua voz forte.
Maggie ri. — Okay, tá, mas ainda tem um corpo de garota. Qualquer um
pensaria que ele comeria como uma garota.
Brian fica quieto por um momento e então diz: — Só porque ele nasceu
num corpo feminino, não significa que ele tem corpo de menina ou que é uma
menina.
— Por que você está sendo tão dramático sobre isso? Ele nem está aqui.
Quase consigo imaginar Brian revirando os olhos, as costas rígidas
enquanto diz: — Porque ele é meu irmão? Não importa se ele não pode ouvir
você. Você ainda deve respeitá-lo.
Meu coração bate um pouco mais rápido quando eu imagino Brian parado
na cozinha, seus olhos se estreitando acusatoriamente para Maggie. Quer
dizer, é revigorante ouvi-lo me defendendo, embora ele pense que não estou
por perto para ouvir isso, mas é ainda melhor saber que eu estava certo sobre
Maggie ser um monte de bosta.
Uma fantasia rápida de Brian apontando para a porta enquanto Maggie
sai, cabeça baixa e uma mala na mão vem à mente antes de eu balançar minha
cabeça e decidir parar de escutar. Eu sei que eles provavelmente vão se
reconciliar em algumas horas e cair nos braços um do outro logo depois
disso, mas um cara pode sonhar.
Começo para destrancar a porta apenas para ouvir o clique da fechadura
do outro lado. Eu salto um pé para trás para não parecer que estava lá
ouvindo quando a porta se abriu, Brian e Maggie olhando para mim.
— Ei! — digo, dando a eles um aceno rápido.
Brian levanta uma sobrancelha. — Estou levando Maggie para fora —,
ele diz.
Eu aceno, o contornando para entrar no apartamento. — Legal. É bom ver
você, Maggie! — digo, embora seja tudo menos sincero. Em seguida, vou
direto para o meu canto.
Não sei se Maggie me oferece uma resposta e, honestamente, não me
importo em descobrir. Fechando a porta do quarto atrás de mim, eu me jogo
no colchão e pego meu laptop.
No segundo que eu abro o Tumblr, meus olhos se fixam no pequeno
número vermelho sobre minhas perguntas. Ok, não é mais tão pequeno.
Quando passou de dois mil? Inferno, eu mal me lembro disso passando por
duzentos.
Abrindo minhas notificações, encontro alguém que me marcou em uma
postagem dizendo que retransmitirá uma mensagem para o troll. Perfeito.
Poderiam ter me enviado uma DM como uma pessoa normal, mas ao invés
disso, decidiram tornar tudo isso público como se estivessem apenas
saboreando minha miséria.
Eu clico no blog deles e mando uma DM, dizendo: Ei, eu só quero dizer
que sinto muito pelo mal-entendido e que se quiserem que eu remova
uma história do blog, eu posso fazer isso. Também devemos discutir
como querem se retratar, já que as histórias não são roubadas e isso foi
apenas uma coincidência estranha.
Brian bate na porta uma vez antes de dizer: — Noah, venha me ajudar a
enrolar alguns rolinhos de ovo.
Eu suspiro e pressiono enviar antes de fechar meu laptop e fazer meu
caminho para a cozinha. — Eu estava ocupado —, eu digo.
Ele sorri. — Então isso significa que você não está mais, certo? Essas
coisas demoram uma eternidade.
Sento em um dos bancos do balcão e puxo as pequenas embalagens para
mim. Eu costumava ajudar minha mãe a enrolá-los quando éramos crianças e,
sim, eles demoram uma eternidade. E há uma precisão cirúrgica em garantir
que você os enrole o suficiente para que não derramem, mas também em não
rasgar a fina embalagem de farinha.
Trabalhamos em silêncio por alguns minutos enquanto empurro o Diário
para fora da minha cabeça apenas para tê-lo substituído por um pensamento
mais irritante. — Então, o que você está escondendo de mim?
Brian olha para mim como se eu tivesse começado a falar japonês. — O
que?
— Você disse a Maggie que eu como tudo, então você estava escondendo
a maior parte de alguma coisa. O que era?
Eu encontro os olhos de Brian, mas ele parece muito congelado, como se
não pudesse ouvir nada do que estou dizendo.
— Olá, cérebro —, eu digo.
— Noah, sinto muito —, diz.
Eu levanto uma sobrancelha. — Então você não tem comida para mim?
Ele revira os olhos. — Você sabe o que eu quero dizer.
E sim, eu sei, mas estou meio que ignorando porque é mais fácil sugerir
algo totalmente fora do assunto do que abordar o fato de que Brian está
namorando uma transfóbica. Quer dizer, já era ruim o suficiente quando
Becca estava conversando com um TERF, mas era apenas uma conversa, e eu
vi a maneira como Brian olha para Maggie. Odeio sentir que estou
oferecendo a Brian a oportunidade de escolher Maggie em vez de mim.
Mas também não posso simplesmente fingir que não aconteceu.
Brian abaixa a colher de madeira que estava usando para colocar a carne
nas embalagens de rolo de ovo e diz: — Você ouviu toda a conversa?
Eu encolho os ombros. — A maior parte dela.
— Eu. . . eu sinto muito. Eu sinto. Eu nunca pensei que Maggie iria. . .
— Está tudo bem —, digo, porque eu não quero que ele reitere tudo que
Maggie disse. Ouvir aquilo uma vez foi o suficiente. — Obrigado por me
defender.
Ele sorri. — Você é meu irmão. Como eu não defenderia?
E eu sorrio de volta. Ok, talvez Brian não esteja escolhendo Maggie em
vez de mim. Talvez ele possa encontrar uma maneira de se equilibrar entre a
transfobia de merda dela e eu, sem nunca nos forçar a nos misturar. Não é a
pior opção, considerando que sou muito bom em mentir para mim mesmo.
Brian pega a colher novamente, trabalhando na confecção de seu próprio
rolo de ovo longo e magro, enquanto eu faço o meu curto e rechonchudo.
Honestamente, quanto mais carne você enfia nos primeiros, menos precisa
fazer. É um plano infalível.
Em seguida, ele faz uma nova pausa e diz: — Eu terminei com Maggie.
Minha cabeça levanta com isso e eu luto contra a vontade de lançar meu
punho no ar como aquela cena icônica de Breakfast Club e me decidir —
Que? Por quê?
Brian revira os olhos novamente. — Porque eu não posso estar com
alguém que fala merda sobre meu irmão mais novo, ok?
Limpo uma lágrima falsa do meu olho, minha voz alta quando digo: —
Você não precisava fazer isso por mim.
Brian balança a cabeça, usando a colher para atirar pedaços de carne em
mim. — Que droga, Noah, nós dois sabemos que você queria isso.
— Eu sou tão óbvio?
— Sim —, ele diz. Então olha para baixo e diz: — Mas quem sabe, talvez
eu deva apenas confiar no seu julgamento de agora em diante.
— Porque eu sou um gênio?
— Estou implorando pelo quinto neste caso.
Eu sorrio, mas também, meu coração está leve. Chega de Maggie. Chega
de Brian e Maggie. Quero dizer, uau, que bem-aventurança total e completa.
Então Brian diz: — Eu não sabia que você e Devin eram tão próximos.
Eu congelo, o calor subindo para meu rosto. — Não estamos! — Eu
estalo, mas acho que não é totalmente verdade. Não pensei que estivéssemos
tão próximos antes desta tarde, mas agora ele sabe sobre o Diário, o que
significa que basicamente faz parte do meu círculo íntimo. Inferno, ele sabe
mais do que Brian.
— Ele é legal. Você não precisa ficar tão na defensiva —, diz Brian,
colocando cuidadosamente a saliência em uma das embalagens. Ele
definitivamente parece mais confortável agora que os holofotes estão fora
dele.
— Devin usa pronomes e/el agora, — eu digo reflexivamente. — E eu
não estou na defensiva. Só não quero que as pessoas tenham a ideia errada.
— Sinto muito sobre os pronomes, e quem exatamente são as pessoas?
Eu encolho os ombros porque não consigo explicar. É algo sobre a
maneira como Becca riu de mim quando eu contei a ela sobre Devin, como se
ela pensasse que há algo acontecendo lá que simplesmente não existe. E
agora o jeito que Brian está falando sobre eles como se eu devesse estar
pensando em quem levar ao baile ou algo assim.
— Oh, Drew veio enquanto você estava fora —, diz Brian.
Minhas mãos saltam de um rolo de ovo dobrado pela metade. — O que?
Por que você não começou com isso?
Brian encolhe os ombros. — Eu meio que esqueci, para ser honesto. Ele
perguntou se você estava em casa. Eu disse que você tinha saído com um
amigo e ele simplesmente foi embora.
Minhas mãos estão tremendo, mas não tenho certeza do porquê. Isso é
uma coisa boa, certo? Significa que ele veio se desculpar? Ou significa que
ele veio terminar comigo?
— Aconteceu alguma coisa entre vocês dois? — Brian pergunta e, por um
momento, posso ouvir uma nota de tristeza em sua voz, como se eu
provavelmente devesse ter contado a ele sobre tudo isso antes.
— Eu. . . eu não sei, — eu digo. — Fomos a uma festa e as coisas ficaram
meio estranhas. — Afasto as embalagens. Não consigo reunir forças para
lidar com eles adequadamente.
— O que ele fez?
Eu encolho os ombros. — Ficou bêbado e não quis ir embora, embora
devêssemos ir à festa de Devin.
— Então, vocês estão brigando ou algo assim?
— Sinceramente não sei, mas se ele veio aqui à minha procura,
provavelmente devia ir falar com ele. Eu não quero que ele tenha ideias
engraçadas sobre onde eu estive.
Brian suspira. — Termine de rolar esses rolinhos de ovo primeiro.
Eu gemo, mas obedeço. Eu sinto que devo isso a ele.
— Além disso, Noah?
Eu olho para cima.
— Só porque ele é seu namorado não significa que você deve nada a ele,
ok? Se ele está ficando possessivo. . .
Eu balanço minha cabeça. — Ele está bem, Brian. Só não quero que ele
fique com ciúmes.
— Eu sei. Só tome cuidado, ok? Alguns caras não agem da mesma forma
quando estão com ciúmes.
E eu sei o que ele está tentando me dizer, mas algo assim não se aplica a
Drew. . . pelo menos, não acho que poderia.
Tento ligar para ele assim que terminar de enrolar o último rolinho de
ovo, mas ele não atende o telefone. Acabo conseguindo uma carona até a casa
dele, batendo na porta e esperando pacientemente que alguém finalmente a
abra.
A porta se abre e um homem branco mais velho com olhos estreitos olha
para mim. — Não aceitamos advogados aqui.
— Estou aqui para ver Drew, — digo.
Ele me olha como se estivesse prestes a me empurrar para fora de sua
porta antes de voltar para casa e fechar a porta. Estou prestes a me virar e sair
quando a porta se abre novamente, desta vez Drew espiando a cabeça para
fora. — Noah? O que você está fazendo aqui?
— Brian me disse que você veio, então pensei em retribuir o favor. Você
quer conversar?
Ele sai para a varanda e fecha a porta atrás de si. — Sim, eu quero, mas
eu não quero fazer isso aqui.
— Por causa de seus pais?
Ele concorda. — Vamos apenas. . . você quer dar um passeio?
Concordo com a cabeça, embora Drew more em um bairro totalmente
suburbano, e parece meio vago para nós simplesmente dar um passeio por
essas ruas residenciais. Os vizinhos provavelmente estão acostumados com
ele por perto, então espero que ninguém tente atirar em nós.
A casa de Drew é a terceira do fim da rua, mas alcançamos a placa de
pare antes que ele comece a falar.
— Lamento pelo sábado —, diz ele.
— Não consigo imaginar por quê.
Ele sorri. — Eu não queria beber muito, então eu meio que me envolvi
com tudo e lamento que você não tenha ido à festa do seu amigo.
Há algo no jeito que ele fala que meio que me deixa mal. — Não pude ir
— como se eu tivesse me perdido e simplesmente não conseguisse, ao
contrário de ele me dizer ativamente que eu só poderia ir se quisesse
terminar.
— Esquece, — eu digo.
— Espera. — Ele pega minha mão, me virando para encará-lo. — Eu te
amo, Noah. Eu quero fazer as pazes com você.
Meu coração pula uma batida. Eu sabia que ele me amava quando
chegamos ao outono – quero dizer, esse é o ponto principal dessa etapa, na
verdade – mas ainda é bom ouvi-lo dizer isso. Isso limpa minha cabeça, me
lembrando da importância do que construímos entre nós. — Oh? Quão?
— Eu tenho um amigo que está oferecendo uma noite na floresta para o
Quatro de Julho. Vai ser super legal.
Eu estremeço, a imagem perfeita de nós parecendo mais como vidro
quebrado.
— Isso é um não? — Drew pergunta.
Eu balancei minha cabeça. — Não, não é um não, é só – os pais de Devin
estão dando uma festa e eu prometi a eles que iria.
Drew geme. — Devin de novo? Mesmo?
— O que isso significa? — Eu pergunto, ombros tensos. — E é meu
amigo, e eu já perdi sua última festa.
— Parece que vocês dois estão ficando terrivelmente próximos. Você
estavam juntos hoje? Quando fui ao seu apartamento?
Eu rolo meus olhos. — Que diferença faz?
— Olha, eu não me importo com quem você sai, certo? Mas quando você
está constantemente tentando se livrar da mesma pessoa, é difícil não ficar
com um pouco de ciúme.
— Me livrar de você? Concordamos em ir à festa juntos e hoje você
apareceu sem me avisar que estava vindo —, digo. — Nada disso é minha
culpa.
Drew suspira. — Apenas me diga uma coisa. Você contou a eles sobre o
Diário?
Eu paro, uma sobrancelha levantada. — E se eu fizesse?
— Deus, Noah, o Diário deveria ser o nosso negócio. Agora você está
apenas compartilhando com alguém?
— Eu fiz o Diário, — eu digo. — É a minha coisa. Posso escolher a quem
contar.
Drew faz uma pausa como se estivesse procurando as palavras certas.
Finalmente, ele diz: — Eu sei, e não quero brigar com você. É apenas. . .
Depois de tudo que vem acontecendo ultimamente, só quero poder passar um
tempo com você. Você sabe, sem Devin entre nós.
— El não está entre nós, — digo. — Eu estou indo para a festa de Devin
no quatro de julho. Podemos fazer algo depois, se você quiser. Estarei livre
depois das sete.
Eu congelo quando as palavras saem da minha boca, esperando que ele
revide – dizer que isso simplesmente não é aceitável. Seu rosto está franzido,
suas sobrancelhas tensas como se ele não pudesse relaxá-las, e ele está
obviamente chateado comigo, mas eu vim até aqui para pedir desculpas e
quase não sinto como se tivesse uma. Inferno, parece que tudo mudou, e
agora eu devo sentir culpa por algo que não fiz.
Eu odeio saber que se ele me disser que não posso ir para a casa de
Devin, eu não irei. Nada mudou, e se ele insistir que a única coisa que
mantém nosso relacionamento é a natureza terrível dos amigos dele, não terei
escolha. Porque eu não posso perder o Diário, e agora, a única coisa que
mantém meus seguidores por perto é o amor por Drew.
Meu amor por Drew. Porque nos amamos, certo? Esse é o ponto
principal.
Finalmente, ele suspira, passando a mão pelo cabelo. Ele se afasta de mim
como se fosse desaparecer na noite antes de voltar, suas sobrancelhas
finalmente relaxadas. — Ok —, diz ele. — Vou planejar algo divertido para
nós.
Forço um sorriso no rosto porque deveria estar grato. Eu posso sair com
Devin e passar um tempo com Drew fazendo qualquer encontro bonitinho
que ele planeje para nós.
Mas, estou apenas cansado
Quarta, 4 de julho
Perrilicious postou:
Estou meio envergonhado de ser fã do Meet Cute Diary agora.
Peço desculpas aos meus seguidores por ter promovido este blog. Eu
oficialmente parei de seguir ele e não vou mais falar sobre.
IsleofSunshine postou:
Depois de falar com Noah e dar a ele a chance de resolver as
coisas sobre o Meet Cute Diary, parece muito claro que ele não se
desculpará por roubar as histórias das pessoas e continuará a fazê-lo.
Estou bloqueando qualquer pessoa que continue a seguir ou se
associar a esse blog e recomendo que o resto de vocês façam o
mesmo.
Deve ser alguém com quem você pode falar da mesma maneira que
falaria comigo.
Alguém que se dá bem com sua família e lhe dá as boas-vindas na
família deles.
Alguém que entende que você come como um monstro e o apóia
com uma boa comida.
Alguém que é honesto e vulnerável com você e permite que você
seja um idiota obstinado, mas no bom sentido.
Alguém que te faz sorrir.
Francinethescenequeen postou:
De acordo com aquele post que está circulando, bloqueei o Meet
Cute Diary e bloquearei qualquer pessoa que não seguir o exemplo.
Não podemos permitir que mestres manipuladores percorram a
comunidade LGBT. Vamos parar com esse abuso agora
Nossa festa de Natal em julho é exatamente como você imaginaria uma festa
de Natal estereotipada de escritório. Uma árvore de Natal alta e brega no
canto que alguém se deu ao trabalho de decorar com enfeites feitos à mão
pelas crianças, uma longa mesa de comida de bandejas de biscoitos
comprados em uma salada de macarrão de alguém, brancos idosos vestidos
com suéteres de Natal horríveis.
Todo mundo meio que flutua pela sala se misturando ou comendo. Sem
surpresa, Brian parece perfeitamente em casa entre a multidão mais velha,
enquanto eu estou quase saltando nos meus calcanhares enquanto espero que
Georgette chame o nome de todos para distribuir seus presentes do Amigo
Secreto. Honestamente, parece que estou em um centro de aposentadoria,
desde as lentas canções de Natal que provavelmente têm alguns séculos de
idade até os pequenos sanduíches chiques. Não consigo imaginar nenhuma
dessas pessoas se divertindo em festas. Você sabe, reais.
Georgette leva todos nós para o Amigo secreto e ela começa a xingar. Na
verdade, não sei se existe algum método acontecendo aqui, mas ela começa
com uma garota chamada Margaret e passa para Billy, e eu não tinha
percebido que havia tantas pessoas no acampamento que nem sequer
reconheço. Quer dizer, Bev está no canto conversando com Brian sobre algo
que provavelmente só os velhos acham engraçado, e aquele cara, Frank, do
acampamento do sleepaway também está aqui, mas os outros conselheiros
são todos estranhos, exceto Devin, que fica sentade sem jeito com suas mãos
fortemente atadas.
E com cada nome que passa, sinto meu coração subir no peito um pouco
mais enquanto espero pelo momento que vai nos levar juntos.
Georgette diz: — Holly, você é a próxima.
E meu coração começa a bater forte. Tipo, venha já. Dê as pessoas o que
elas querem!
Finalmente, quando ela chama o nome de Devin, el rapidamente pega seu
presente. E se vira, e seus olhos fixam-se nos meus, e parece que o mundo
está desacelerando, como se este fosse o momento em que tudo viria à tona e
nós trocamos um beijo sincero enquanto os créditos rolavam.
E então el passa para uma garota que eu não conheço, e els compartilham
algumas risadas, mas eu sinto meu estômago afundar. Tanto para a nossa
troca de presentes românticos. Só quero que essa festa acabe, como ontem.
Meu presente é de uma das voluntárias e ela me passa o presente sem
olhar para mim. É um cartão-presente da Target, o que é justo, já que minha
lista inteira era apenas de lugares para comprar cartões-presente, e meu
coração não está nisso de qualquer maneira. Estou apenas executando os
movimentos roboticamente.
Meu nome é chamado e eu luto para pegar o presente, e eu já sei que
Devin sabe que os tirei porque o meu é o último presente, e me sinto um
perdedor quando o passo para el e digo: — Feliz Natal em julho ou tanto faz.
Meu coração dói, meu peito balança, mas uma vez que o presente está
fora de minhas mãos, um pouco de alívio toma conta de mim. Meu destino
está selado.
Devin sorri, pegando a sacola da minha mão e dizendo: — Feliz Natal em
julho para você. — E me dá o sorriso mais lindo de todos. — E valeu.
Eu aceno, mas Deus, meu coração está tendo um momento difícil no meu
peito.
Todo mundo já está passando da troca de presentes enquanto Devin puxa
o papel de seda da sacola. Estou meio irritado que todos estão seguindo em
frente quando Devin ainda nem conseguiu abrir o presente, mas estou feliz
que seus olhos estão longe de nós, como se este momento fosse apenas nosso
para compartilhar. Finalmente, Devin agarra o presente, puxando-o e
desdobrando-o para revelar uma camiseta preta com as palavras Tem Leite?
nela.
Seus olhos se arregalam. — Isso é uma camiseta de leite?
E meu primeiro instinto é gaguejar: — Estava pensando no que você
disse, sabe, sobre leite e. . .
E me sinto o maior idiota do mundo por seguir o conselho de Brian e
fazer uma piada interna. Mas depois de dias procurando pelo presente
perfeito, eu quase desisti até que topei com a camiseta, e então tudo que eu
conseguia pensar era quando el disse que era dois por cento menino.
Devin ri e diz: — É incrível! Eu amei!
Eu sorrio. — Mesmo?
— Sim, é o melhor presente que já ganhei.
Eu rolo meus olhos. — Ok, você não precisa fingir que gosta tanto.
El bate no meu ombro. — Não, sério, e eu falo sério. Eu amo presentes
pessoais, e isso é muito atencioso. Eu amei mesmo.
Meu coração bate forte e el está me dando aquele sorriso com covinhas e,
Deus, quero beijar el, mas viro o rosto em vez disso.
Em seguida, Devin diz: — Também tenho algo para você.
Meus olhos disparam, rosto quente. — Espere o que?
— Quer dizer, eu sei que não sou seu amigo secreto nem nada, mas você
foi o amigo mais incrível neste verão e eu queria te dar uma coisa —, diz el.
Eu aceno, mas el já está pegando um pequeno pacote e passando para
mim. Está embrulhado em um pequeno papel de embrulho de pinguim, seus
grandes olhos azuis olhando para mim enquanto eu rasgo o papel.
E meus dedos congelam. É um caderno. Bem, acho que é mais como um
diário. Tem uma capa de tecido e páginas com pautas universitárias, e
pequenos desenhos semelhantes a rabiscos no canto de cada página – xícaras
de café, caiaques, espumantes, chá de boba.
— Eu fiz para você, — Devin diz, meus olhos flutuando para encontrar
seu rosto. — Quer dizer, achei que você poderia querer algo para escrever.
Sabe, algo diferente do Diário. Então você pode se concentrar em seu ofício.
Está tudo bem?
Tudo bem? Passei a semana passada tentando encontrar o presente
perfeito para Devin, e agora el me superou com um presente super atencioso
e feito à mão que de alguma forma parece resumir todo o nosso
relacionamento em um monte de adoráveis rabiscos. E el nem era meu amigo
secreto.
Eu olho para el e os encontro olhando para mim. Eu odeio que estamos a
apenas alguns centímetros de distância, mas parecem quilômetros.
E logo serão.
Eu suspiro, minhas mãos suadas. Sinto-me um pouco enjoado ao dizer: —
Quero falar com você sobre uma coisa. Tudo bem?
E os olhos de Devin estão arregalados, mas el acena com a cabeça de
qualquer maneira.
Eu pego sua mão e os puxo para fora do escritório. Não quero que todos
me ouçam despejar minhas entranhas. E sim, ok, eles provavelmente não
estão prestando atenção em nós de qualquer maneira, mas me faz sentir
melhor colocando algum espaço entre nós e eles. Ou talvez seja bom
caminhar, ter algum tempo entre este momento e o que sei que virá a seguir.
E, é claro, quando saímos para o corredor, eu olho para cima e vejo um
pequeno pedaço de visco pendurado logo acima da porta. Quem quer que seja
o idiota que colocou lá. . .
— Sobre o que você quer falar comigo? — Devin pergunta.
Tento pensar em maneiras de protelar, qualquer coisa que me dê uma
chance de recuperar o fôlego. E então eu me ouço dizer: — Eu gosto de você.
..
Devin sorri. — Eu espero que sim. Trabalhamos juntos durante todo o
verão.
Eu rolo meus olhos. — Não, tipo, estou atraído por você.
Os olhos de Devin se arregalam e me preocupo que el vá fugir ou
começar a engasgar ou algo assim, mas el apenas enfia a camisa debaixo do
braço e diz: — Oh.
— Sim, — eu digo. — Eu sinto muito. Eu sei como isso deve ser
estranho.
E sorri. — É lisonjeiro, na verdade.
— Bem, eu estou feliz, eu acho, — digo. — Acho que estava me
perguntando se você se sentiria da mesma maneira.
— Eu não pensei em você dessa forma, — Devin diz, e eu sinto meu
coração saltar do meu peito. Este parece ser um excelente momento para
mudar meu nome e me mudar para a Sérvia.
Então el diz: — Honestamente, acho que nunca senti atração por
ninguém.
Eu faço uma pausa, minha cabeça chicoteando. — Eu pensei que você
disse que gostava de caras.
— Eu gosto. No entanto, apenas romanticamente.
— É isso que eu estou dizendo.
— Você está dizendo o quê?
— Que estou romanticamente a fim de você!
E sim, eu acabei de gritar bem alto e tenho certeza de que todos no
escritório estão maravilhados com o quão perdedor eu sou. Na verdade, isso
provavelmente vai cair como uma daquelas histórias infames de "Festa de
Natal". Oh meu Deus! Vocês se lembram daquela vez que Noah gritou seu
amor para alguém que o rejeitou totalmente? Hilário!
A boca de Devin se abre, um rubor crescendo em suas bochechas, mas el
não diz nada, e não tenho certeza do que devo dizer neste momento. Sinto
que devo tranquilizar el, dizer que está tudo bem que el não sinta o mesmo.
E então el diz: — Espera, é mesmo?
Eu encolho os ombros. — Sim. Não é tão estranho assim.
El balança a cabeça. — Não, para mim é. Diga isso de novo.
Eu apenas levanto uma sobrancelha. — Por que?
— Apenas faça isso, por favor. Preciso ter certeza de que ouvi direito.
Deus, de todas as coisas que eu imaginei que Devin fosse, cruel não é
uma delas, mas eu agradeço de qualquer maneira. — Devin, eu tenho
sentimentos por você. Sentimentos românticos. Inferno, eu chegaria ao ponto
de dizer que estou apaixonado por você. Eu só. . . nunca conheci ninguém
como você antes e precisava que você soubesse como me sinto antes do fim
do acampamento.
E não sei o que estou esperando neste momento, mas certamente não é
que as lágrimas comecem a escorregar pelas bochechas de Devin, seus olhos
arregalados enquanto dizem: — Eu também te amo.
— Você. . . espera, o quê?
El dá de ombros. — Quer dizer, eu pensei que era totalmente óbvio.
Achei que foi por isso que você desistiu da festa. . . porque não queria que
seu namorado visse o quanto eu gostava de você.
Eu balanço minha cabeça porque eu sinto que ele acabou de começar a
falar em vulcano. — Você gosta de mim esse tempo todo?
El acena com a cabeça. — Sim, acho que sim.
E eu cruzo o espaço entre nós em um segundo, puxando seu rosto para o
meu, nossos lábios pressionados juntos. Meu nariz esbarra no del, nossos
queixos se comprimem.
E el recua, olhos arregalados, respiração irregular.
— Você está bem? — Eu pergunto.
El acena com a cabeça, mas eu poderia muito bem ter dado um soco no
peito del. Suas bochechas estão vermelhas, suas mãos trêmulas. — Sinto
muito, — el engasga. — É que. . . eu nunca beijei ninguém antes e eu. . .
Eu pego sua mão na minha, apenas para descobrir que também estou um
pouco trêmulo. Esfrego meu polegar sobre suas juntas. — Eu sinto muito. Eu
deveria ter perguntado primeiro.
Devin ri, apertando minha mão. — Tudo bem. Você apenas. . . você me
pegou desprevenido. Desculpa.
— Não. Não foi justo eu beijar você quando você não estava pronte.
Eu soltei sua mão, dando um passo para trás. El ainda parece um pouco
irregular, como se o vento tivesse soprado e nos sacudido profundamente.
Por fim, el sorri, com as bochechas vermelhas e diz: — Mas agora estou.
E sorrio de volta porque não consigo nem contar quantas horas passei
desejando poder beijar el. Mas agora posso.
Tento envolver meus braços em volta de seu pescoço, mas eles não são
longos o suficiente, então ficam pendurados desajeitadamente em seus
ombros, o que eu poderia me sentir pior se os braços de Devin tivessem uma
missão. Em vez disso, uma mão rasteja desajeitadamente contra meu braço
enquanto a outra permanece mole ao lado do corpo. Eu rio contra sua boca, e
el ri de volta, nossas risadas se misturando em uma respiração rápida e rostos
calorosos.
Quando finalmente nos separamos, tudo que quero fazer é puxar el de
volta para mim, mas não o faço. Enrolo nossos dedos e digo: — Obrigado
pelo presente. Acabei de perceber que ainda não tinha dito isso.
Devin sorri largo o suficiente para fazer minha cabeça girar. Então el diz:
— De nada. Devemos voltar para a festa, certo?
E eu concordo com a cabeça porque pelo menos quando estivermos lá
dentro, posso me perder em nosso tempo juntos e tentar esquecer que, em três
semanas, estarei na estrada para a Califórnia e longe del novamente.
Passo 11: O Gesto
É a maior jogada para salvar o relacionamento.
Sábado, 28 de julho
Howdyheather postou:
Então, o Meet Cute Diary acabou oficialmente? Não houve novas
postagens em um mês. Eu acho que o mod fugiu depois que a história
que vazou saiu? Alguém tem alguma recomendação nova?
Paramos em uma loja de fotos para almoçar e Devin pede um chá mate, e eu
fico olhando preguiçosamente para a xícara, tendo uma crise existencial.
Quer dizer, eu nem sabia que gostava de mate, muito menos o suficiente para
pedir um grande. O que mais eu não sei sobre el? Que outros segredos estão
esperando para rastejar para fora da madeira e destruir toda a nossa relação?
— Noah? — Devin diz, brincando preguiçosamente com seu canudo. —
Você está bem?
— Estou bem —, respondo, e é rude, e não sei por que faço isso, mas não
posso voltar atrás. Eu deveria estar aproveitando as últimas horas que tenho
com Becca e a última semana que passamos juntos, mas tudo que posso
pensar é em nosso rompimento iminente e quem vai dizer as palavras
primeiro. Vamos voltar para a lojinha de boba a que me levaram? O ginásio?
Starbucks? Nunca mais vou conseguir beber um latte de baunilha sem pensar
no amor que perdi?
Isso é diferente de perder Drew. Claro, eu estava temendo as
consequências finais, mas isso era porque eu sabia que não deveríamos estar
juntos e não queria ter que limpar a bagunça.
Mas Devin foi perfeito. Tenho sido mais feliz nas últimas duas semanas
do que em todo o meu tempo em Denver. Inferno, talvez minha vida inteira.
E foi tudo que imaginei para mim quando criei o Diário e tudo que pensei que
poderia encontrar com Drew, e agora devo desistir de tudo.
Becca pega meu chá da minha mão e aperta os olhos para vê-lo. — O que
eles colocam nessas coisas?
Devin ri, mas soa meio vazio. Ou sua risada sempre soou assim? Ótimo,
ainda nem terminamos, e já estou esquecendo o som da sua risada.
— Há mais alguma coisa que vocês dois queiram fazer? — Devin
pergunta.
Becca encolhe os ombros. — Na verdade, estou meio cansada.
Provavelmente voltarei para poder dormir um pouco.
Eu me engasgo com chá. — Espera, o que? Você já está indo? Quase não
passamos tempo juntos!
Becca levanta uma sobrancelha. — Você é quem está agindo como um
zumbi desde que saímos do apartamento.
E sim, eu sei disso, mas é porque estamos meio que sem tempo.
— Noah, está tudo bem, — Devin diz, estendendo a mão para mim, mas
eu a empurro para longe.
— Não, não está tudo bem! — Eu estalo. — Vocês dois estão me
abandonando e, aparentemente, eu sou o único que se importa.
A mesa fica em silêncio por um minuto, e eu me pergunto se fui longe
demais, afugentando as duas pessoas que mais significam para mim em
questão de segundos.
Finalmente, Becca diz: — Você é quem está se mudando para a
Califórnia.
E Deus, eu sei que ela está certa, mas isso é um golpe baixo pra caralho.
Sim, fui eu que a deixei na Flórida e eu quem vou Devin em Denver, mas não
é como se fosse propósito, ou mesmo por escolha própria. Ela acha que eu a
deixaria se eu tivesse escolha?
E sei que não estou sendo razoável, mas não consigo parar. Eu chicoteio
minha cabeça em direção a Devin, que está olhando preguiçosamente para
seus pauzinhos. — Você tem algo a dizer? — Eu estalo.
Devin olha para mim por um momento, como se verificando se minha
pergunta era dirigida a el, antes de dizer: — Não.
— Não?
— Eu não vou brigar com você, Noah. Se você quer atacar e arruinar
nossa última semana juntos, você vai fazer isso por conta própria.
Ficamos sentados durante o almoço em silêncio, mas mais do que
qualquer coisa, eu meio que só quero chorar.
Quando voltamos para o prédio, Becca se vira e vai para o carro de seu tio
com um rápido adeus para Devin e nada para mim. Eu não posso culpá-la.
Devin chega ao apartamento como costuma fazer, mas assim que
chegamos à porta, el se vira para sair.
— Espere, — eu digo.
Devin se vira hesitante, me olhando como se esperasse que eu jogasse
meu sapato nel ou algo assim.
— Você pode entrar um pouco? — Eu pergunto.
Devin acena com a cabeça e me segue para dentro.
Penso em ligar um pouco de música ou pelo menos a TV para preencher
o espaço com um pouco de barulho, mas sei que isso só vai me distrair.
Eu sabia desde a festa de Natal que isso estava chegando e continuei
adiando porque esperava que meus sentimentos desaparecessem e não doesse
tanto. Mas meus sentimentos não desapareceram, e estou começando a pensar
que nunca desaparecerão, e agora estou destruindo tudo por medo de não ser
capaz de me agarrar à única coisa que sei que não posso ter.
— Devin —, eu digo.
El já tem lágrimas nos olhos, então imagino que já saiba o que vem a
seguir. El esfrega a mão em seu rosto e diz: — Esta é a parte em que você diz
que não quer mais me ver, não é?
Espero que el baixe a mão antes de dizer: — Não é... estou indo embora
em breve e, quando for, não sei se nos veremos de novo e não sei como. . .
devo lidar com isso.
Devin olha para seus pés, uma expressão triste em seu rosto, e não sei o
que dizer. Não quero ê machucar, mas é tudo o que tenho feito, atacando
porque não sei como viver nisso entre o que deveria ter sido um
relacionamento perfeito.
Odeio saber que a dor em seu rosto é inteiramente minha culpa e, não
importa o que eu faça agora, vou continuar machucando el. E eu odeio saber
que não tem como continuarmos como éramos, e provavelmente el vai se
culpar por tudo isso, mas não sei como fazer melhor.
Por fim, digo: — Amo você, Devin. Eu só. . . eu gostaria de não estar me
mudando para a Califórnia. Eu gostaria de poder ficar aqui com você para
sempre, mas não posso, e isso significa que preciso aprender a viver sem
você por perto. Isso é difícil para você também, certo? Saber que estamos
seguindo caminhos separados? E eu simplesmente não sei se vale a pena a
dor de tentar manter um relacionamento durante tudo isso. Preciso de tempo
para pensar e decidir se vale a pena tentar fazer isso funcionar.
— Oh, — el diz.
E então mergulhamos no silêncio. Sinto que deveria dizer outra coisa,
mas não sei o que dizer. Pedir desculpas parece falso, e eu não sou
exatamente bom em confortar as pessoas, mas apenas ficar ali em silêncio
parece errado, como se eu estivesse extraindo sua dor.
Finalmente, Devin diz: — Independentemente do que você decidir,
espero que tudo corra muito bem para você na Califórnia, Noah. Eu quero.
Você merece ser feliz.
— Você também —, eu digo, porque não consigo pensar em mais nada, e
fico lá me sentindo como o idiota que diz "você também" quando o garçom
diz para você aproveitar sua refeição, mesmo depois que Devin sai, fechando
a porta atrás del.
Domingo, 29 de julho
Thebraveofheart postou:
Então. . . o Meet Cute Diary apenas. . . acabou? Parece que o mod
não está mais postando e todo mundo está partindo? O que devemos
fazer se quisermos histórias trans felizes?
Na manhã seguinte, eu acordo com uma dor de cabeça, que só parece justo.
Becca provavelmente já está na estrada de volta para a Flórida, e onde quer
que Devin esteja, acho que não tenho permissão para me preocupar com isso,
já que fui eu que pedi espaço. Tento fechar os olhos novamente quando ouço
uma batida flutuando na porta da frente. Foi isso que me acordou em
primeiro lugar?
Eu rastejo para fora da cama e deslizo para fora do armário. Brian não
está em lugar nenhum, e o pequeno relógio digital acima do fogão diz que é
pouco depois das dez.
Abro a porta para encontrar um cara que não reconheço segurando um
pequeno pacote. — Noah? — ele pergunta.
Eu concordo.
— Eu moro no final do corredor. Uma criança me deu isso e me disse
para dar a você às dez.
Estou hesitante em aceitar o pacote dele porque, inferno, pode ser antraz,
mas eu aceito, fechando a porta atrás de mim.
Não é uma caixa grande e estou um pouco assustado, mas arranco a fita
assim mesmo e abro para revelar um copo Starbucks reutilizável. Pego e
encontro uma pequena carta dobrada colada com fita adesiva no interior, que
diz:
Noah,
Há um latte de baunilha grátis esperando por você no Starbucks.
Vá buscá-lo e peça espuma extra. Ah, e então, você sabe, siga as
instruções e outras coisas.
Com amor,
Devin
Noah,
se você está lendo isso, significa que está seguindo minha busca, e
eu agradeço porque me esforcei muito nisso. De qualquer forma,
pegue seu café e saia do Starbucks. Há uma carona esperando para
levá-lo ao seu próximo destino.
Com amor,
Devin
Um barista coloca meu café no balcão. Eu pego antes de sair pelas portas
da frente. Um veículo compartilhado está parado do lado de fora, o que é
super suspeito, mas respiro fundo e deslizo para o banco de trás.
— Para onde vamos? — Eu pergunto.
O cara dá de ombros. — Estou apenas seguindo o mapa, garoto.
Também super explicado.
Eu preguiçosamente bebo meu café, mas meus nervos estão ganhando
vida. Para onde diabos estamos indo, e que diabos Devin está planejando?
O carro para em frente à casa de chá onde Devin me levou quando contei
a el sobre o Diário. O motorista apenas me dá uma olhada até que finalmente
saio do carro. A loja parece fechada, então não tenho certeza do que estou
fazendo aqui até que o carro se afasta e me viro em direção ao
estacionamento para encontrar Becca olhando para mim.
— Becca? — Eu digo. — Achei que você já tivesse ido embora.
— Eu teria — , diz ela, — você sabe, se Devin não tivesse tentado me
envolver nessa coisa toda.
Eu sorrio. — Você tem um bilhete para mim?
— Talvez, — ela diz. — Você tem um pedido de desculpas para mim?
Deus, isso é tão Becca, mas é muito reconfortante ouvir agora. — Eu
sinto muito. Eu sinto muito, droga. Tenho sido um péssimo melhor amigo
porque estou com medo de perder você e com medo de ficar sozinho.
Ela sorri, rapidamente me puxando para um abraço, e eu não quero soltar,
mas eventualmente ela me empurra e diz: — Vamos lá. Tenho que voltar
antes que minha mãe fique chateada e você tenha alguém para conhecer.
— Meu bilhete? — Eu digo.
Ela revira os olhos e puxa um pedaço de papel do sutiã.
— Nojento —, eu digo.
Ela encolhe os ombros antes de deslizar para o banco do motorista do
carro de seu tio. Eu aperto o cinto antes de abrir o bilhete.
Noah,
sinto muito, a loja esteja fechada. Tive de escolher entre conseguir
Becca ou chá para você, e decidi pela primeira opção.
Você se lembra quando viemos aqui pela primeira vez? Foi a
primeira vez que você se abriu comigo sobre, bem, tudo. Não sei o
quanto tudo isso significou para você, mas significou o mundo para
mim. Não houve muitas pessoas com quem eu pudesse falar desde que
deixei a Flórida, mas naquele dia, com você, eu finalmente senti que
poderia ser eu. Como se eu não estivesse errade e, honestamente, isso
é exatamente o que eu precisava.
Sei que essas últimas semanas foram difíceis para você e, não sou
terapeuta, mas também sei o quanto você precisa de Becca agora. Ela
é um pilar em sua vida que eu nunca tive, e estou feliz, mas você deve
saber que me afastar dela não é o fim. Ela sempre será sua melhor
amiga, mesmo se vocês estiverem separados, e sempre amará você.
Assim como precisei aprender a me amar novamente, você precisa
aceitar que estar separado não significa estar sozinho. Depois de se
abrir para isso, você estará pronto para passar para a próxima etapa
de sua missão.
Becca te guiará.
Com amor,
Devin.
No momento em que Becca para o carro, há lágrimas escorrendo pelo
meu rosto. Eu sei que assim que eu sair, ela vai sair da minha vida por Deus
sabe quanto tempo, e dói só de pensar nisso.
— Você sabe o que está no bilhete? — Eu pergunto.
Ela encolhe os ombros. — Eu não li, se é isso que você quer dizer. Isso
pareceu meio invasivo, mas Devin me avisou.
— Sinto muito —, digo, e sei que ela sabe disso, mas não consigo
formular outras palavras.
— Noah, você sabe que sempre vou te amar, certo? — ela diz. — E eu
sempre estarei lá para você. Mesmo que nem sempre possa atender o
telefone.
E eu aceno porque eu sei, mas Deus, eu odeio isso.
Nós saímos do carro e ela deu a volta ao meu lado para me abraçar
novamente. Lágrimas escorrem pelo meu rosto e pelo ombro dela, e me sinto
meio mal por isso, mas é a minha hora de chorar. Eu mereço isso.
Finalmente, eu me afasto e digo: — É melhor você ir me visitar na
Califórnia.
Ela sorri. — Você está de brincadeira? Garotas de Hollywood? Meninas
de Santa Monica? Não vou perder isso. — Ela beija minha bochecha e
acrescenta: — Sabe, não sou uma pessoa que permite suas escolhas ruins na
vida.
Isso está muito claro.
— Então, se isso ajudar, não acho que Devin seja uma escolha de vida
ruim.
Eu levanto uma sobrancelha. — Longa distância nunca funciona.
Ela encolhe os ombros. — Quem sabe. Talvez às vezes isso aconteça. De
qualquer forma, você trabalhou tanto para encontrar um amor épico neste
verão. Parece um desperdício simplesmente jogá-lo fora, não acha?
Eu estreito meus olhos para ela com desconfiança, mas ela já está
voltando para o lado do motorista do carro. Ela dramaticamente abre os
braços como um apresentador de game show anunciando um carro novo. —
Termine sua missão. Deixe-me saber como ficou.
Eu sorrio. — Obviamente.
E então ela desliza de volta para o carro e vai embora.
E eu estou sozinho.
Espera.
Eu me viro para descobrir que estou parado no estacionamento do
acampamento, o escritório me encarando de volta. Mas o acampamento
acabou semanas atrás, então todo esse lugar deveria estar vazio, certo?
Eu sigo em direção ao escritório da frente para descobrir que as luzes
estão acesas lá dentro. Empurrando a porta, espero encontrar Devin lá com
um sorriso bobo em seu rosto, mas em vez disso encontro Georgette, que
parece entediada enquanto digita algo no computador.
Sua cabeça salta quando eu entro e ela diz: — Ah, Noah. Achei que você
estaria por perto em breve.
— Você também faz parte do esquema de Devin? — Eu pergunto.
Ela sorri talvez o primeiro sorriso que vi em seu rosto – e me entrega um
bilhete.
Noah,
Ok, quase pronto. Venha me encontrar onde nos conhecemos. Lá,
você receberá sua recompensa.
Com amor,
Devin
MeetCuteDiary postou:
Tudo começou com um acampamento de verão.
Eu estava muito chateado com o fato de que eu tinha que estar lá.
Eu só tinha conseguido o emprego porque meu irmão tinha decidido
por mim que eu merecia, e enquanto eu esperava por caras gostosos e
um amor verdadeiro, tudo que eu estava conseguindo estava perdido e
confuso.
Parei para perguntar a um garoto da minha idade sobre o
funcionamento interno do acampamento e então as coisas desandaram
muito rápido.
Basicamente el vomitou em cima de mim e eu fiquei furioso
porque era nojento, mas também porque canalizei toda a minha raiva
de estar ali para essa pessoa, que foi a gota d'água.
Só no dia seguinte, depois que el me trouxe o café, é que ê vi pela
primeira vez. E só recentemente comecei a perceber o quão
importante aquele momento foi para mim. Pode não ter sido um
encontro fofo, ou pelo menos não um típico encontro fofo, mas foi
fofo porque foi a primeira vez que conheci a pessoa que mudou meu
mundo para melhor.
Passei todo esse tempo pensando que encontros fofos eram a
epítome da felicidade e que, se eu pudesse apenas dá-los aos meus
leitores trans, os estaria salvando do mundo ao seu redor. Agora
percebo que este Diário sempre foi uma aventura egoísta. Sobre me
dar esperança por um amor que eu nunca pensei que encontraria.
Mas eu encontrei. Portanto, embora este Diário tenha sido mais
uma coleção de minhas esperanças pessoais do que a biografia de
qualquer pessoa, espero que esta história dê esperança a alguns de
meus leitores também. Eu entendo se todos vocês quiserem abandonar
o navio, e ninguém vai culpar vocês. O fato é que menti e tentei fazer
com que todos pensassem que essas histórias eram verdadeiras,
quando isso nunca foi verdade. Até meu relacionamento com Drew
foi apenas um remake de Hollywood.
Espero que as verdades pessoais que todos vocês encontraram ao
ler este blog permaneçam com vocês, mesmo se vocês deixarem o
Diário para trás. No final do dia, acho que é disso que se trata o Diário
– lembrar a todos que você merece amor, e o mais importante é que
vocês saibam disso, não importa o que venha a seguir.
E não sei como será esse blog daqui a uma semana, um mês ou
um ano. Eu mal sei o que será amanhã, mas contanto que possa
significar algo para alguém – contanto que possa brilhar um pouco de
luz para uma criança trans em algum lugar que não tem nenhuma – eu
não vou desistir disso. Eu prometo.
— O que devo fazer com isso? — Devin pergunta, um pequeno pote de
granulado na mão.
Eu reviro meus olhos. — Coloque nos cupcakes, obviamente.
— Eca, não, isso é nojento.
— Tudo bem, — eu digo, arrancando o pequeno frasco de sua mão. — Eu
vou comer.
Devin estremece. — Oh, Deus, Noah, por favor, não me faça assistir isso.
Meus pais chegarão a qualquer minuto e depois nos levarão para jantar.
Eles passarão a noite em um hotel e, amanhã de manhã, nós três partiremos
para a Califórnia. Convidei Devin para me ajudar a fazer cupcakes, o que
basicamente se traduz em Devin fazendo cupcakes enquanto eu assisto, mas
eu só queria algo divertido para fazermos enquanto esperamos, de preferência
algo que mantenha nossas mãos ocupadas e algo que eu possa fazer para que
meus pais achem que meu tempo aqui foi produtivo.
O talento de Devin brilha nos redemoinhos elevados do glacê, e agora nós
dois podemos apreciá-los sem minha falta de habilidade desperdiçando a
massa perfeitamente boa.
Eu sou grato por como Devin se encaixa perfeitamente em minha vida, e
estou um pouco infeliz. Quer dizer, pelo menos se nos ressentíssemos um do
outro agora, seria muito mais fácil. Do jeito que está, minha vitória final é
mostrar isso aos meus pais quando eles entrarem.
— Você está bem? — Devin pergunta.
Eu encolho os ombros, porque odeio colocar meus problemas sobre eles.
E levanta uma sobrancelha e diz: — Noah, por favor, seja honesto
comigo.
Eu sorrio. — Me passa um cupcake?
E Devin me supera, segurando um cupcake para eu dar uma mordida, e é
doce e perfeito e eu quero beijar el, mas el está do outro lado do balcão e eu
não sou alto o suficiente.
— Então, algo interessante aconteceu na noite passada, — Devin diz.
Eu levanto uma sobrancelha. — Oh? O que?
— Meu pai conseguiu a promoção e vai aceitá-la.
Eu sinto minha respiração ficar presa na minha garganta. — Oh? Onde?
— Minhas mãos tremem de medo de que vamos dizer Nova York, ou
Vermont, ou Londres, em algum lugar, e vai ser difícil para nós até mesmo
usar o Skype.
Em seguida, enfia o dedo na cobertura do cupcake e levanta para lamber.
— Califórnia.
Meu queixo cai porque essa não é apenas a última coisa que eu esperava
que eles dissessem, mas é mais do que eu me permiti ter esperanças. — Você
está falando sério?
El acena com a cabeça. — Sim, em São Francisco.
E meu coração murcha porque San Francisco fica longe de Los Angeles.
Inferno, podemos muito bem estar em estados diferentes.
— Oh, — eu digo.
Devin franze a testa. — Achei que você ficaria mais feliz com isso. Tive
que sentar com meu pai em frente a um PowerPoint inteiro para convencê-lo
a não assumir o cargo em DC.
E eu sei que el provavelmente está pulando para alguma conclusão sobre
como estou triste porque não quero ficar perto del, então eu digo, — São
Francisco não é perto. Não é como se eu pudesse convencer meus pais a me
dirigirem seis horas para ver você.
Devin sorri. — Noah, eu tenho um carro. Eu vou te visitar.
Meus olhos se arregalam. — Tão longe?
E dá de ombros. — Se você quiser.
E é claro que eu quero que el faça isso. Não consigo pensar em nada que
eu queira mais. — Vou pagar pela gasolina —, digo. Não que eu tenha um
emprego, mas tenho certeza que o Banco de mamãe e papai podem descobrir
algo. Além disso, consegui economizar algum dinheiro – palavras que nunca
pensei que diria – do acampamento, então posso muito bem gastá-lo em
encontros com Devin, já que não vou precisar mais disso para inspirar o
conteúdo do Diário.
El sorri. — Não se preocupe com isso. Eu só quero poder ver você.
Meu telefone vibra, e presumo que seja Brian, que disse que estaria de
volta em uma hora, você sabe, espero que antes que nossos pais cheguem. Eu
olho para a tela e vejo que é na verdade uma dm no Tumblr, o que, porra,
ótimo.
Agora que oficialmente eliminei Drew de todos os cantos da minha vida,
finalmente fiz um post pedindo desculpas ao Diário por todas as minhas
mentiras e todas as outras besteiras que coloquei de volta quando pensei que
sabia algo sobre o amor .
Mas não fiquei para ver as respostas das pessoas. Honestamente, eu nem
sei mais o que o Diário deveria ser. Parece insincero continuar postando
histórias falsas, mas não quero tornar meu relacionamento com Devin um
éter super público. Uma parte de mim continua repetindo a voz de Drew,
enquanto ele diz que foi minha culpa que terminamos porque deixei o Diário
ficar entre nós. Sei que estávamos fadados ao fracasso o tempo todo, mas se o
Diário fez parte disso, não vou deixar isso bagunçar meu relacionamento com
Devin.
Além disso, no final das contas, o Diário é sobre pessoas trans e reviver
sua esperança de amor. Eu não quero que seja sobre mim. Eu quero que seja
sobre eles.
Mas ainda assim, isso me deixa perplexo. O Diário é importante, mas se
eu quero ajudar jovens trans da mesma forma que Devin me ajudou, não me
sinto mais a melhor pessoa para controlá-lo. Perdi a confiança dos meus
leitores e não sei como recuperá-la. Quando falei pela última vez com Becca
sobre isso, ela disse que talvez pudesse assumir por um tempo, mas acho que
deveria ser dirigido por um autor trans. Isso, e a escrita de Becca é uma
merda.
A mensagem é longa e considero simplesmente ignorá-la, mas, por fim,
aceito-a e leio:
Caro Noah,
Você não me conhece, mas há algum tempo sou seguidora do Meet Cute
Diary. Sou uma garota trans que mora em Wisconsin e namoro meu
namorado há quase dois anos. Nós nos conhecemos quando o carro de
meus pais quebrou e tivemos que pegar carona até uma parada próxima.
De qualquer forma, é uma história muito fofa e adoraria compartilhá-la
no Diário, mas prefiro que seja creditada em minha conta do que postada
anonimamente. Depois de ver você compartilhar sua própria história
publicamente, acho que significaria muito mais dessa forma. Isso é algo
que eu posso fazer? Por favor deixe-me saber!
MeetCuteDiary postou:
Ei, pessoal! Estamos oficialmente abertos para submissões no
Diário. Se você deseja enviar anonimamente, pode fazê-lo entrando
no anonimato e enviando-nos uma pergunta. Se você quiser ser
creditado em sua história, inclua como gostaria de ser chamado e o
endereço do seu blog no pedido ou envie-nos um e-mail (o endereço
está em nossa bio)!
Obrigada!
Mod Becca
— Vocês conseguem me ver?
— Eu consigo.
— Espera aí.
O Wi-Fi está ruim desde que chegamos na nova casa, então tentar
hospedar uma chamada no Skype é um pesadelo. Tudo o que tenho são duas
caixas pretas e um áudio irregular.
Finalmente, as imagens aparecem – Becca, sentada em sua cama com
Noodles no colo, e Devin no chão de seu quarto, caixas empilhadas bem atrás
del.
— Olá, gente bonita —, digo.
Becca revira os olhos. — Pare de flertar comigo, Ramirez. Seu amor vai
ficar com ciúmes.
Devin ri. — Está tudo bem. Você estão espalhados pelo país. Não me
preocupo com essa competição.
— Ok, chega, — digo. — Esta é a primeira reunião oficial da equipe
Meet Cute Diary. Vamos falar sério.
Mas eu sabia que isso não seria sério.
Depois que abri as inscrições no Diário, só fez sentido recrutar Devin e
Becca para me ajudar. Quer dizer, os dois já investiram bastante no Diário e,
mais importante, em mim, então não é como se pudessem dizer não.
E embora Becca faça barulho sobre a coisa toda, eu sei que ambos estão
honrados por fazer parte do time. É diferente de quando arrastei Drew para
isso. Esta é uma parceria de três vias e igualdade, e não só fez o blog parecer
mais real e vivo, mas finalmente me deu a chance de me concentrar em outras
coisas da minha vida, como preparar meu guarda-roupa para um novo ano
letivo em uma nova cidade.
— Ok, vocês dois vão ter que fazer anotações, — digo.
Devin revira os olhos. — Excelente. Vou procurar uma caneta.
El se levanta para começar a vasculhar as caixas, então me sinto meio mal
por isso. El vai se mudar para São Francisco na próxima semana e prometeu
vir me ver antes do início do ano letivo, mas por enquanto está preso em
Denver, vivendo de caixas.
— Basta usar o telefone —, diz Becca.
— Nada como a boa e velha caneta e papel!
— Esta reunião é necessária? — Becca pergunta. — Achei que a questão
principal era se afastar do Diário e deixar as pessoas explorarem suas próprias
histórias.
— É —, eu digo, — mas ainda temos que mantê-lo organizado. Além
disso, estou me perguntando se talvez devêssemos deixar as pessoas
contarem seus romances, mesmo que não sejam belos encontros. Como vocês
dois sabem, alguns dos melhores relacionamentos florescem sem envolver a
fofura dos encontros.
Devin acena com a cabeça enquanto se senta novamente em seu colchão.
— Sim, também tenho essa impressão.
Becca geme. — Se vocês não pararem de ser fofos, vou encerrar a
ligação.
Devin sorri. — Desculpa. Honestamente, Noah, é o seu blog. Você deve
fazer o que achar melhor.
Mas não é mais meu blog, e estou bem com isso. Quer dizer, dificilmente
sou a mesma pessoa que era quando comecei, e agora, mais do que qualquer
coisa, quero que seja um recurso – algo que as pessoas em todo o mundo
podem recorrer e aprender. Você sabe, para que não cometam os mesmos
erros que eu cometi, mas também para que possam ter a chance de encontrar
o que eu tenho.
Gosto de saber que Becca e Devin fazem parte da equipe. Isso significa
que podem me ajudar a me orientar de volta aos eixos na próxima vez que eu
quase nos expulsar de uma cachoeira, e que melhor maneira de organizar meu
espaço na internet do que compartilhá-lo com as duas pessoas que mais amo?
— Ok, mas é melhor você não chamar de Diário-de-todos, mesmo que
não sejam encontros fofos —, diz Becca.
Eu ri. — Não definitivamente NÃO. Não acho que o nome precise mudar.
Eu só acho que devemos expandir para que não seja limitado por essa ideia
estranha do que o romance deve ser, sabe? Quero que as pessoas possam
celebrar quaisquer relacionamentos que as façam felizes. Acho que esse é o
espírito do Diário, de qualquer maneira.
E, não tenho certeza de como definir o sentimento que estou procurando,
mas está lá, eu sei que está, e não importa o tempo que demore para
descobrir, eu sei que terei as pessoas que amo me apoiando em cada passo do
caminho.
AVISO
Esperamos que tenha gostado do livro. Por favor, deixe uma avaliação
positiva no perfil da autora em redes como Amazon, Goodreads, Skoob etc.
Tudo bem se a resenha/avaliação for escrita em português, contanto que você
não diga que leu em português em momento algum, evitando também prints
do livro. Se tiver condições, por favor, adquira a obra, é o mínimo que
podemos fazer!