Tânia Luísa Inês Guerreiro Lopes - Tese de Mestrado - 168 077
Tânia Luísa Inês Guerreiro Lopes - Tese de Mestrado - 168 077
Tânia Luísa Inês Guerreiro Lopes - Tese de Mestrado - 168 077
DrpaRraMENTo op EcoNoMIA
MrsrnnDo EM Ru-eçÕss INrrnNACroNArs E
Esru»os Eunopsus
JUGA§X.ÁVE*\O CONWI*ruO
DE t:991 A 19il95
Um desmembramento anunciado
Evona
2007
UE
168
077
UNrvpRstDADE ps Évone
DgpRRTaMENTO og ECONOMI,A
MEsrneoo EMRnmçÕrs INrrnN.tcIoNAIS E
Esrupos Eunoprus
JUGOSLÁVIA:0 CONFtrrO
nE ÁwtAtw$
Um desmembramento anunciado
,luna 7v
Évone
2007
Jucosúvre: O Coun tro or 1991 a 1995
AcnApECIMENTOS
Este trabalho é especialmente dedicado a todos aqueles que lutam pela Liberdade e
Dignidade do Ser Humano.
I
Jucosúvte: O Conn rro os l99l a 1995
REsumo
pretende ainda apresentar, à luz das teorias existentes, as possíveis cau§as Pútamaior camificina
em plena Europa, desde o final da II Guerra Mundial.
2
JucoslÁvr* O Coummo pBl99l e 1995
SUMI\4ARY
3
Jucosúua: O Corruto oe 1991 e 1995
ÍNprcn
Agradecimentos 1
Resumo/Summary 2
Lisa deAbreviaturas 5
Introdução Geral 6
Conclusão 129
Anexos 131
BibliograÍia 139
4
Jucosúvra: O Coun rro osl99l.l 1995
LTSTA DE ABREVTATURAS
CE ComunidadeEuropeia
CEE Comunidade Económica Europeia
CSCE Conferência para a Segurança e Cooperação na Europa. Conference on S'ecurity
and Cooperation in Europe.
FMI F undo MoneÉrio lnternacional
FORDEPRENU Força de Deslocação Preventiva das Nações Unidas.
FORPRONU Força de Protecçáo das Nações Unidas
ÍDZ União Democrática Croaa. Hrvatska Demokrastsla Z$edrua'
HV E:<ército Croaa. Hrvatska Voj ska
HVO E:rército Croaa Bósnio. Hrvatsko V[iecé Obrane
IFOR Implemenation Force
JNA Exército Federal Jugoslavo. Jugoslavija Narodne Armija
KPJ Partido Comunista daJugoslávia. Komunisticka PartijaJugoslav[ie
NATO North Atlantic Treaty Organization. Organiza$o do Tátado do Atlântico
Norte.
NDH Esado Nacional de Croácia Nezavisna Drzsva,Hryatska
ONU Organizaçáo das Naçóes Unidas
ONURC Opera$o das Naçóes Unidas para o Resabelecimento da Confiança na Croácia
OSCE Organização para a Segurança e Cooperação na Europa- Organization for
Sirurity and Co-operation in Europe
PESC PolíticaE:rtema e de Segurança Comum
RS República Sérvia da Bósnia-Herzegovina. Republika Srpska
SDA Partido de ÂcAo Democrática. Sranka Demokraska Akcije
SDS Partido Democútico Sérvio. Srpska Demokratska Sfianka
SFOR Sabilization Force. Força de Esubilização das Nações Unidas
SFRI Socüatistiõkâ Federativna RepublikaJugoslavija. Repúbüca Federal Socialisa da
Jugoslávia
Sry Liga dos Comunises daJugosláüa- Savez I(omunisaJugoslavije
SRJ Savezna RepubliloJugoslavija. República Federal da Jugosláüa
TPI Tribunal Penal Internacional
UE UniãoEuropeia
UEO União da Europa Ocidenal (Western European Union - WEU)
URSS União das Repúblicas Socialistas Soviéticas
TSRS E:ército dos sérvios bósnios.Vojska Republika Srpska.
5
Jucosr.Ávn: O CoNrurooB l99l A 1995 -
INrnoDUÇÁo GnRAL
Um dos motivos que levou à escolha do tema, foi a percepção do facto de muitos
dos trabalhos publicados e consulados, apresenarem interpretações simplisus por demais e,
muitas vezes, claramente parciais. Estas explicaçóes, mais do que conribuir para perceber o
que ocoÍreu na ex-Jugosláüa entre 1991e 1995, são um entave à sua compreensão, já que
6
JUGosLÁVIA: O CONFLIO DE 1991 4 1995
7
Jucosúvn: O Corwmo pe l99L e 1995
num capítulo indiüdual, se justifica por uma questão de maior clarrere e de modo a não
prejudicar a compreensão sequencial do conflito, urnavez que iria tornar ainda menos clara
a percepção de um episódio já basante confuso na sua essência. Finalmente, no último
capítulo, será realizada uma t€ntativa de explicação das causas especíÍicas do conflito ne ex-
Juggslávia, tendo como referência as teorias apresenadas no primeiro capítulo.
A sua
ortensão deve-se essencialmente à compleddade do tem4 como qualquer outro tema que
trate de relações enffe seres humanos, não pretendendo ser uÍne apresentaçáo er<austiva das
diversas causas do conflito, tnâs sim aquelas julgadas as que mais contribuíram para o tipo
(üolento, com numerosas üolações de direitos humanos) e duração (de 1991 a 1995) deste
conflito.
I -ENqua»RA{ENTo
8
JucosÁvta:OCoNnno»B l99l a 1995
Jugoslávia; por outro lado, 6o pouco será abordada a situação dos púes da ex-Jugosláüa
após a assinatura dosAcordos de Dayton, suaviabilidade ou futuro.
tr -Mr:ro»oloclA
Deüdo às restri@es materiais e de tempo, não foi feia um estudo "no terreno", pelo
que a metodologia seguida nesta dissertação foi a identiÍi@Éo, recolha e análise da literatura
e meios audiovisuais mais relevantes sobre a história da região da antigaJugosláüa e acercÍl
do conflito (de modo a identiÍicar os principais pontos de vista acÊÍct do conflito,
apresentando as opiniões divergentes e convergentes, oiplorando ainda aquelas que aPesar
de menos divulgadas podem, no enanto, contribuir pam unrâ melhor percep$o dos
acontecimentos); análise de documentos oficiais emitidos por organizeções internacionais
(nomeadamente ONU e NATO); informações fornecidas pelos órgãos de comuniczréo
social a nível mundial; ter.üos publicados por divenos centros de investigação Paru t pazl
literatura produzida por analistas e finalmente, as üsões críticas daqueles que estiveram em
contacto directo com a situação no teÍTeno (iornalistas) ou tiveram um envolvimento
directo no processo de resolução do conflito (Cutileiro, Orven, Carrington).
A metodologia seguida foi primeiramente a recolha de informação atrevés da
pesquisa de diversa literatura e documentos (escritos e audioüsuais) existentes acerca do
essunto em análise, seleccionando a informação tendo em consideraçáo a qualidade,
credibilidade e pertinência. Seguidamente realizou-se o processo de análise da informação
considerada mais relevante.
9
JucoslÁue: OCoururropB l99l A 1995
CapÍrul,o I
A GupRRA coMo FENóMENo socIAL2
posse dos bens ameaçafu tornadas precárias as condições de existência própria e dos seus
próximos." O autor diferencia desta, o conflito, sendo este mais lato, já que econtece semPre
que "as necessidades e os interesses de um indMduo ou de um grupo são incompatíveis
com aqueles de um outro indiúduo ou de um outro grupo, e Poranto não podem ser
satisfeitos senão com prejuízo de um ou do outro" (2@0: 5ú)3. tlma outra definição de
guerra é a oferecida por Gaston Bouthoul (1966: 51) " a guerra é a, lua armada e
sanguinolentâ entre grupos organizados" e esclarece que o que une o gruPo, pode ser'um
laço familiar, consanguíneo, verdadeiro ou imaginado (...) d. ÍtaítÍeza religiosa ou política",
essaunião pode basear-se ainda na fidelidade à mesma dinastia, na língua comum, na raça,
nos interesses económicos, na situa$o çogníÍica" na comunhão ideológice" entre muitos
outros.
O General Albero Piris4 (1995: 24), recordando Juan Iagorgette, refere "a
complexidade de qualquer rcntad\,'â de classific"çáo das caus,ls da guerra [dado que] são üio
numerosos e variados os móbeis da guerra como os. desejos e os interesses humanos,
qualquer tenativa de cla.ssiÍicar o fenómeno bélico não pode ser rigoroso." (tradu$o nossa).
O mesmo aresa Jaume Puig (2005: 79), com a seguinte aÍirmação: "As oçlicações
2
Neste trabatho não se entrarão em questóes filosóficas acerca das causalidades das guerres, nem 6o pouco acerca das
distinçóes entre causas necessáriasi, suficientes ou contributivas, utne viez que ultrapassam o objectivo deste aabalho.
Para umadefiniÉo drs últimas, ver Ronald Glossop (2001), "ConÊontingWar", p. 57-d).
3
Segundo a definição apresenada no Dicíonfuio dc RelaçArs Intenudona§ Boniface, Pascal (dir.) (l»61'9. 165'166.. "(...)
umionflito designa uma oposição de interesses que não se traduz forçosamente pelo emprego d" fo.ça armade" (...)
Quaado o conÊonto degpnera em conÍlito armado, confunde-se en6o com a gueÍrà e os dois termos
são
i;difercntemente usados. Desse modo Íàla-se do conÍlito na ex-Jugoslávia para designar a guerra qne rebentou no seio da
federagáo jugoslava a seguir ao afundamento do bloco de kste (...)". N" sequência desa definiçáo, os termos guere e
conÍlito serão utilizados como sinónimos ao longo do tqro.
4.Alberto Piris é General de Artilharia na Reserva do E:ército Espanhol e analisa do Centro de Investigrión pualaPaz.
10
JucosLÁvIA: OCotm,noos 1991 e 1995
unilaterais e de uma s6 causa não são apropriadas para a orplicação de fenómenos sociais
complexos, como os conflitos, as gueÍTas civis, as rebeliões ou os movimentos armados. Não
há uma única Glusa que, por si só, e por mais importante que possa parecer, seja responsável
por um conflito armado".
Apesar das dificuldades acima referidas ao estudo deste tem4 e de se dever ter
presexte que seú sempre um eshrdo incompleto, será feia uma tenAtiva nesse sentido, já
que, ciando Michael Hourard (TIu uusu of wars, Counterpoint, Iondres, 1984, p.35 apd
Piris, 1995: 26), "o conhecimento das causas e da natureza &s guerras é uma característica
necessária dos cidadãos instruídos" (mdução nossa) ou ainda uma fimse recordada por
Gaston Bouthoul (1966: 26) "se queres t Pu,estuda a guerra".
Na classiÍicação das clusas das guerras deveú ter-se em conta que - tomando a
analogia feiA por Rondd Glossop (2007:59) entre as causas das doenças e as causas das
guerTes, quando afirrna que podem encontrar-se as causas específicas Para uma determinada
doença" mas não se podem encontrer as causas para "a doeng" em geral - após serem
AscausASDÀS GUERRAS
l1
JucoslÁua: OCoumrtooB 1991e 1995
se útil, já que permite comparar conflitos concretos bem como as suas raíz.es (Nikitin,
2000).
Causas HrsróRrcÂs
12
JucosúvrA: OCoNruroDE l99l A 1995
Causas rnnnrronran
O território tem sido uma das principais causas das guerras desde os tempos pré-
históricos, quando os povos procumvaÍn defender territórios de eça e colheia; mais tarde, o
objeaivo passou a ser a defesa de importantes rotrs, ocupaçáo de novos territórios para
obtençâo de mercados, apropriação de recursos naturais, criaç.áo de zonas de segurança,
acesso a üas fluviais navegáveis ou portos marítimos. Mas, se por um lado estes objeaivos
faco das fronteiras da maioú dos Btados estarem
são menos comuns na actualidade, pelo
completamente formadas, não podendo ser alteradas ou üoladas, e ainda devido ao
desenvolvimento do Direio Intemacional e de instâncias jurídicas internacionais que
permitem a resolução pacÍÍica dos conÍlitos territoriais, por outro, o território continua a ser
um factor imporante no desencadeer e na duraSo de certos conflitos, ainda mais se se tiver
em conta que o território é a base espacial do poder do Estado e que não pode haver um
Esado sem território (Nogueira Pints, TW: 14; Piris, 199i5:30-32), Consequentemente,
continuam a persistir as disputas acerca de territórios reiündicados por dois Estados que,
por motivos históricos ou porque foram entretanto perdidos numa guerra anterior, ou ainda
por motivos políticos ou esfttégicos, procuram recupeú-los aúavés da forg @uig, 2@5;
H{dinja( 2001: 24; Piris, 1995:3U33).
Âs guerras para conquisa de territórios, podem ainda er em üsta a obtençâo de
recursos naturais como a água" recursos do mar, solo fértil, recursos minerais e recursos
indusriais (económicos) como infu-estruturas industriais, fontes de energia, cidades e
portos, recursos financeiros, recursos humanos, entre outros. O ganho ou perda de
teiritórios que possuem recursos naturah esstssos ou valiosos como peróleo, gás, minérios,
ouro, cobre, urânio, etc., continua a ser de e:(Eeme importância geoestrâtégica e económica
para os Estados ou grupos, nos tempos modemos (Puig 2005; Nikitin, 2m0). Hqidinjak
(2001: 15) refere ainda a imporÉncia dos mitos acerca do território, já que estes,
apresentando-o como um "op"ço nacional sagradoo, fornecem um forte motivo pare que
umana$o lute pelo seu território.
No entanto, com excepçáo dos territórios com elevado valor geoestratégico ou
económico, o território enquanto causa de conflito diminuiu bastante depois de 1945 e m
opiniâo de Nogueira Pinto (1999: 14) rnão seú a principal causa dos conflitos recentss.
CausAsEcoNóurcas
13
JucosúvrA: OCoNFLmoDE l99l A 1995
satisfa$o de outras necessidades de subsistência das sociedades, é lógico concluir que muius
das guerras que se combatem actualmente têm alguma causa económica (Glossop,2001: 68;
Piris, 195: 33-34).IJm er<emplo deste tipo de guerras, são as g:.erras entre os séculos KV
até inícios do século )§Ç em que os grandes impérios europeus pr@unram apoderar-se de
bens e territórioss dos povos da América ÁÊica e Ásia lclossop, 2001: 70; Piris, l9F/5:33).
Assim se geraram três tipos de guerras: as guerrÍts das grandes potências conra os paÍses
menos desenvolüdos, que pretendiam conquistar; as gueras entre as próprias potências, ao
concorerem entre si pela posse daqueles teiritórios; finalmente as guerras dos territórios
anteriormente conquistados, pela "libera$o nacional" e pelo controlo dos seus próprios
recunios naturais (Glossop, ?.üJt: 70-77). Aqui podem igualmente ser considemdas as
guerra§ que têm como causr o acesso a recursos naturais esçtssos ou considerados
economicamente ütais, como é o c:so na actualidade, de fontes de energia como o carvão e
o pefióleo 6 lGlossop, ?-A07:69;Piris, 195:37). Dwe ainda ter-se em conra que Des guerras
passadas, e mesmo nas
modemas, muitos combatentes eram mercenários, daí que a
apropriação de bens representaria uma importante força motivadomT 6linde e Pulkinnen,
2000).
Segundo Nogueira Pinto (1999: 15), as causas económicas dos conflitos, nas quais se
incluem as lutas por recursos coloniais, quer sejam rotes ou monopólios comerciais, têm
vindo a diminuir, no entarnto, e mais recentemente, a crescente imporÉncia dos recursos
perolíferos, lwou por o<emplo à guerra do Golfo; o autor desraca ainda a águ4 enquanto
recurso esctsso, como uma possfuel causa de imporantes disputas por motivos económicos
no futuro.
E:riste uma outra perspectiva quando se fala em causas económies, que resulA
direcamente do faco de que, para iniciar uÍu gueÍra, um paÍs tení de ser economicamente
forte. Neste caso considera-se que, se o país que iniciou a guerre não gpzasse das necesúrias
condiçôes económicas, enüio esh não tçria ocorrido (Piris, 1995: 33-34). No entanb
podemos contrapor a esta visão, o facto de os conÍlitos armados de maior üolência tçrem
sido desencadeados em países muito pobres, como é o caso dos países afrienos.
s
Como se verificq as causas económicas esÉo intimamen@ retacionadas com as causas territoriais.
ó
Albero Piris insere este tipo de conflitos nos conflitos ambienais. Ver Piris ( I9FiS), p. 37 .
7
Um ercmplo são as recerües guerras no continente úicano, que envolver;m não €rdrcibs profissionais mas milÍcias
primdas, apoiadas por redes tansnacionais e que dizem respeim a recursol, e onde normalmente o comandante local
controla as mioas, ou ouro tipo de recursos, e utiliza-as para gerar fornrna pessoal (Flinde e PulLin"eq 2üD).
t4
JUGoSLÁVIA: O CoNFuTo DB I99I A 1995
I Dentro das guerras de supenbundância Bouthoul inclui o impedalismo ecouómioo como um âctor para as guerras de
escoameno de mercadorias, O imperialisrno económico consise em "assegurar pela força ou por intimida$o, mercados
privilegiados oude colocar emigra$o, mercadorias e capitais" (Bouúoul, 19&:3131.
e
A pnúria como causa da guerr4 é muito rara ms sociedades arcluÍdas (Bouthoul, 196ó: 308).
t0
Leia-se, guerras com causas económicas.
tr Paul Collier baseia o seu estudo de 2000 para o World Bank, em padrões empíricos globais recolhidoe entre 1965 e
199 e num outro estudo (Collier, 2002), e.aminou 160 paÍscs e 78 guen'as civis enm 1960 e 1999, com o objectivo de
deseurrolver um modelo esadstico para explicar a iocidêuch de urne guerrâ civil num gats, emrninando o impacto de
diversas variáveis explicatirns para deste modo prarer o risco de deÍlagraÉo de ,'m, guerra civil.
12
Grrcrra civil é aqui classificada como um couflio inlemo, com pelo menos mil mortes relacionadas com a batalha
(Collier, ã)ü):5).
r5
Jucosúvre: O CoNFlno DE l99l A 1995
dos conflitos armados nos últimos dez anos. Albero Piris, refere especificamente, o papel
das instituições financeiras internacionais, para o clima de üolência e insabilidade que se
üve actualmente nesses países, já que em muitos cesos para poderem eceder aos
empréstimos e ajudas dessas instituições, os govemos foram obrigados a adoptar os
denominados Programas de Âjuste Estrutural, que obrigaram a numeros:E priratizações e
cortes dústicos nas despesas sociais, o que levou ao aumento da pobreza, da desigualdade
social, e atÉ da degredaÉo do meio ambiente. Daqui surgiram países que, apesar de
democráticos, apresentavarn uma grande instabilidade, pobreza e grande potencial para o
despoletar da üolência (íbid.).
IGnnette Benedia por ouro lado, defende que a pobreza por si ú, não é suficiente
pâra que su{a um conflito amedo. Já o mesmo não se pode dizer em relação ao aumento
das disparidades de oportr.rnidades, ou o acesso a recursos, que podem efuivemente ter
uma relação com os conflitos violentos. Mais, uma distribui$o desigual dos recursos
económicos e naturais, em cor{uga$o com falhas institucionais, podem levar à
fragmenação da sciedade e lwar à mobiliza$o para conflitos armedos, entre grupos
concorrentes @enedicg 1999).
Ceusas psrcorócrces
Para o general Alberto Piris (1995: ã), ," causas psicológicas relacionam-se
directamente com as percepções humanas, sendo que estrs es6o muitas vezes associadas à
forma como a história foi narrada e até falseada, como é o caso das lendas que glorificam os
heóis nacionais e que pessam a facos históricos ensinados nas escolas. Os meios de
comunicaçáo influem. de forma excepcional nas percepções dos acontecimentos, já que
13
Tambérn denomirnadas omm.düia,
ta
O autor refere ainda outros âsbres que podenr contribuir para o despolear de uma guerra civil, como a elqrada
dispemao geográfica da de er ooorrido uma
populafo,já que toma dificil o controlo do territ6rio pelo goveruo; o frco
guerra civil recente; o amarho da diáspora de um país; e airda o bairc nÍvel de educa$o da populaSo (Collier, 20{D),
rs
Paul Collier (2000: 18 2002), refere no entatrto, que os sets estudos esadsticos demonsEaram que a desigualdade
paÍece Dão aumenar o risco de um conllio civil.
L6
JucosúvlA: O CoNFIJro DE l99l À 1995
CausasÉrulcas
mais antigos da
Os conflitos com carrsas étnicas incluem-se nos tipos de conÍlitos
tenta impor a outro o
humanidade e sáo conflitos que surgem quando um gruPo humano
seu idioma a sua religião ou os seus cosírmes. Piris dá como
oremplo algumas passagens da
diferentes ribos' se, no
Bíblia" que descrwem a crueldade e violência das grrerras entre
e utilizando a
pxsado, os conflitos étnicos subjupvam um gruPo a outro, escravizando-o
8eflrsa em ser dominado Por um
sua força de trabalho, hoje em dia eaa-se mais de unra
gnrpo, de uma cultura diferente e que é visto como e§trenho
ou estrangeiro @iris,
oufio
1995:3435).
tenitoriais' já
MuiEs vezes os motivos étnicos interligam-se com os económicos e
que ne maioria r|,q vezes, o domhio de um gnrpo sobre outro
é acompanhado por
grupos oprimidos e por elpulsóes
desigualdades económicas, saque de rrecur§os naturais dos
16
autor dá como errcrnplo a cadeia de nodcias norte-americaoa
o t»!;»\'
CNN (Piris'
t7 sendo a educação dada às raparigs €mctamente no sentido oposto, inentirando uma admde
No caso dos npazes,
posiva e seanndária (Piris' 195: 29).
l7
Juaosúvr* oCoNrrrmDE l99l A 1995
forgdas de territórios, que são vistos pelo grupo dominador como essenciais ou esratégicos
para a sua sobrevivência (rlld.).
Pam perceber as qrusas étnicas dos conflitos, convém compreender o que são grupos
étnicos. Segundo PeterAnderson (1996:278) "grupos étnicos são o meio através do qual, as
Pe§soâs se sentem suÍicientemente semelhantes, em relação à sua origem racial, costumes,
usos e interesseso e em resulbdo, se unem com o objectivo de criar um grupo social que
possa "desenvolver os seus póprios valores, interesses e asprrações e que consiga oferecer
alguma protecçáo dos mesmos". Com a formação destes grupos ambém é formada uma
"memória coleaiwa (.. .) onde se podem guardar e alimentar ofensas históricas". A qistência
de teis memórias significa que, as velhas dispuas nâo morrem e que podem pennanecer
uma potencial causa de guera-
IGlevi Holsti (2@1) por seu laclo, mosEa-se relutante em aceiar o conceito de
"conflito étnico" e quento à imporáncia do facor éürico como origem de um conflito, já
que, segundo ele, o número de casos em que diíerentes etnias convivemm em paz durante
séculos, é maior do que aqueles em que se verificaram conÍlitos. Segrndo o professor, os
conflitos ocorrem quando os líderes mobilizam os grupos, aé os levar à situação em que se
começam a rratar entre si, e acrescena que a üolência étrica raramente surge de forma
espontânea, e que quando tal acontece, é resultado da mobilização e liderança dos polÍticos,
ou da decomposição da autori.lade pública-
ParaAnúony D. Smiú, um grupo étnico'8 o<iste quando se denomina a si mesmo
ou é denominado, por um nome colectivo, com unu história comum, a mesrna cultura e
religião, uma mitologia própria, uma noção de solidariedade, e unul referência a um
tenitório (ThE Ethnic Orígiru of Natioru, Blachrell, Oford, 1986 in Wieüorka" 7913:12,-/
12s).
Nikitin (2000), insere as relações étnicas enquanto causa das guerras, nas luus pelo
poder, dentro da esGra socid. Podem ser luus pela autonomi4 pela represenução polÍtica
das minorias, estrutura da governa$o, autdeterminação, secessão ou acesso dos grupos
étnicos e nações ao poder e eos refllrsos. O facto de a elite que governa um Esado pertencer
a urne etnia ou tribo diferente daquela da maioria da população que govem4 pode
conribuir fortemente para o um conflio, tal como o faco de se verificar
desencadear de
uma grande discrepância a nfuel económico entre as diferentes etnias. O caso em que existe
um legado, em que um grupo procuravingar-se de ouEo de uma diferente etnie, também é
um factor imporante no despolear de conflitos étnicos.
Segundo Bispo (2@5), euando os grupos temem pela sua seguranç4 tenam eles
póprios asseguru a sua defesa, que pode raduzir-se no reforço da sua próprh identidade e
ÍE (Jma outra defini$o é a apresenada por Helen Watson, segundo a qual um gnrpo étnico é de6nido pot traços
culnrrais como a lÍngua, o dialeao, o vestuário, oc costumes ou a religião @oag e Wasoo, 2üE).
18
JUGo§LÁVIA: O CONFLNO DE I99I A 1995
na adopção de uma posição defensiva que poderá significar o uso da violência Os líderes e
agiadores desempenham aqui um imporante papel, ao fragmentar sociedade, a
sublinhando as diferenças enfe os úrios grupos. A escalada da violência surç da ideia real
ou imaginária, de que se o grupo úo agir contra o eventgal opositoç seú por ele dominado
de forma intolerfuel. O autor faz alrrrü referência a dois tipos de caalizadores que podem
conduzir a graves divergências dentro de uma sociedade multiétnica: os activistas étnicos e
os activistas políticos. Os instrumentos normalmente utilizados por estes, são as memórias
colectinas, os mitos e as emoçóes, que Polarium a sciedade, o que alimenA o "ciclo ücioso
do medo étnico e da violência". Os aaivisas políticos dGrençiam-se dos activistas étnicos,
pelo fac6 de não compartilharem obrigatoriamente das crengs o<remhtas, Proqfando
essencialmente uma posiéo polÍtica e poder; no entanto, ambos podem ser o resultado da
radicaliza$o da sociedade. Conforme refere o autor' a etnicidade pode oferecer uma
oportunidade pam os políticos ganharem ou alargarem o seu eleitorado' com o objeAivo
último de obterem ou reterem o pder político. Os factores não racionais como as
memórias políticas e mitos, ambém podem servir para polarizar a sociedade, deformando a
imagem do adverúrio, e até os factos históricos podem, ao serem transformados em lendas,
servir para justificar a superioridade de um grupo, avivando ainda mais os ódios entre eles
(Bispo,2005).
Hinde e Pulkinnen (2000), recordando M. Hastings e J' Jenkins (Thc banfu for tlrc
Fatklan* (1983). Londres: Pan), referem o papel decisivo dos líderes na transiçáo de um
conflito para a üolênci4 já que podem encorqiar a hostilidade em relaSão a um gruPo
erúerior, com a finalidade de consoüdar a sua pópria Posi§ão ou adquirir poder. Hinde e
Pulkinnerl referem ainda existir uma clara separaSão entre actos violentos entre gnrPos
úo
pecluenos, dispuUs entre grupos religiosos ou étnicos e as guerTa§ internacionais como a II
Guerra Mundial. Segundo eles, existe uma continuidade dos conflitos entre gruPos em
pequena escala e o caso exüremo das BueÍras intemacionais.
paul Collier QüI|,,20|/z),nos seus estudos sobre as causas dos conflitos civis, refere
como cagst imporAnte a "dominação étnicare", que faz duplicar a probabilidade de um
conflito; logo, quanto mais fragmenAda uma sociedade e§tiver em vários g'uPos étrricos,
menos proúvel seú o surgimento de conflitos, já que não exisre o predomÍnio de um grupo
sobre os outros4. Daqui, Collier conclui que os ódios érricos e religiosos não são uma
imporante causa dos conÍlitos, o que implicaria que as sociedades homogéneas seriam mais
seguras, o que nâo severifica segundo os seus estudos, pelo que, os conflitos úo são gerados
por esses ódios. De acordo com Collier, o ressentimento étnico, é activamente fabricado
'Ethnic dominânce" tro originrl, o que qneÍ dizer que o maior gnrpo emico !9 t3-!{t é maiori4
Íe mas náo uma
maioria esmagadora, ou seja represena eÍlre 45o/o t9ff/o üpopula$o
-estudo,
(collier, 2w e2w2).
dÀiod" oo seu Collier (ã[0: 7) defende iue a diversidade étoica e religiosa nlio iüla trmr soci€dade
"o--brr"
*"is p.tigo* * verdade Oma-a mais segUra relativamente à possfuel irrupgo de uma ggerra civil'
t9
JUGoSLÁvtA: OCoNFLIToDE I99I A 1995
pela entidade que se rebelg como força motiradora; assim, quando @orrem conflitos em
sociedades eüricamente diversas, elas dão a ilusão de terem tido causadas por ódios étnicos.
Desa forma são os conÍlitos que fazem nascer o 6dio entre os grupos, e não o invereo.
entanto, nos seus estudos, Nicholas Sambanis chega a conclusôes que
No
contrariam aquelas de Collier, justificadas pelo facto de não ser feia uma distinção entre
guerras civis em geral e o caso particular das guerrx civis étnicas, que segundo Sambanis
têm causas distintas. Desta fonna afirma ter encontrado nos seus estudos, uma,relasão
positiva entre o nível de heterogeneidade émica e o despoletar de uma grerra civil éurica, ou
sej+ a probabilidade desa seú tanto maior quanto maior for o grau de diversidade étnica
(Sambanis, 2ffi7)21.
De acordo com Hinde e Pulkinnen, o que ocorre muias vezes, é que as diferenças
éuricas e religiosas úo utilizadas para justificar ou e:<acerbar tensôes cuja oriçm é mais
imediata, como a pobrezâ ou o desemprego (Flinde e Pulkinnen, 20ü)).
Para Piris (795: 34-35), mesmo existindo um conflito étnico, este não dá
obrig'atoriamente origem a uma Buerr4 se existir um sistema democrático, que permia a
oçressão das diferenças e liberdades dos diferentes Supos.
NecroNar:suo
Glossop (2001) refere que, para que o nacionalismoz possa surgir, primeiro deve
enistir a identiÍicação com o grupo, e ocplica que um indMduo se identifica com um grupo,
quando sente que o que é bom para o grupo é bom para ele e o que prejudica o grupo
arnbém o prejudica a ele, daí que os líderes se sintam pressionados para prosseguir os
interesses do grupo e, caso não o fagm, outro líder que prometa fazer melhor, seú
escolhido. Esta identificaSo com o gnrpo, parece aumentar em situaçóes competitivas ou,
quando os membros de um grupo político ou religioso, enfrenam a pereegui$o por parte
de outros. Regra çral, todos os grupos procumm ser os melhores e os vencedores, o que
resulta no aumento ü competitiüdade entre eles e, no caso de haver o recurso à üolênci4
pode desencadear urna gueÍrit. Uma possfuel forma de eütar este tipo de conÍlitos, é enar
persrredi-los a unirem-se, formando um grupo maior, de forma a luurem contra um
inimigo comum (Glossop, 2001: 7 í79).
2!
Como se pode verificar pelos dois mmplos ciados, as teorias que enam detemrinar e explicar as causas das guerras
reorrendo a dados esrztGticos, têm chegado muiqs vezes a conclus6es contradi6rias, o que lerra a questiouar a rralidade
deasas mesmas conclusões
2 Para Glossop QCíJI: 76), as guerrãs causadas pelo nacionalismo úo recentes já que, até fiuais do sésrlo XVtrI, as
guen"s eram combatidas por merceuários que ofereciam os seus serviços em Eoca de dinheiro ou dos despojos de
guerra uáo qistiudo um seutimento nacionalista. O seutimeuto nacionalista, tem sido uma caraçteútica das guerras
nos últimos 350 aoos.
20
Jucosúvn: OCoNrurroDE l99l A 1995
nacionalisnro é a
23 O Tenente-Genenl António Bispo (2m5), trmb€m apresen6 uma no$o de nacionalismo: "O
ideologia em omo da causa da Nago, dos se'r" valores, da sua identidade"'
2{ Hinde e pulkinnen diG*nci; e patriotismo: enquanr o primeiro ynn-lica um seutimeato de
superioridade sobre outros grups nacionais e a necessidade de poder sobre eles, o segundo desigoa esseacialmene o
pú (lliude e Pulkinnea 2ffi).
amor pelo púprio
ãô L"orrri- ese tipo de mo.,imeom de imovimeato reinryÂctoniscP,".eirtugrdtionltt rmtmenf , e dixingte'se
"iiao o-r r* que u"qu"le é um Estado,Naçiio que tenta integrar o território-de outro lstado-Naçilo' euquano
do--erio,
Ofti-" e p""o dcum territ6üo que procura ser integrado nouuo Esado'NaSo (Glmop, 2{y;1: 81).
"ã "
2t
JUGOSLÁVI,A: O CoNFIIIO DE I99I A 1995
Ceusasporfncas
bWar may be seen as inerriàble to 8ãfeguaÍd rational independen e and values, and nationalisn is fostered by
politicians and individual. other thas those qrho do the actual kiling. (...)Nationalism is augmened by caegorisatiou of
the enenry as euch, aod this is asisted by propaganú portmying them as wil, dangerous, and even as sub-humau: suú
i-agBs depand for úeir effectiveuess ou group solidarity, fear ofstrangerq and defensiveues, Portapl ofthe euemy as
suFhumar, evil aud lackirg in idividuatity helps to justify agresion agairst úern (...)" (ÊIhde e Pulkiunen, 2000).
3 Outros âcores a ter ern conta sáo a exiséncia ou uão de dilspora e proximidade desa; o direio ou não à auonomia
das diferentes nacionalidades dentro do mesmo Estadol e o respito pelas miuorias ou sua discrimiuago (Bispo, 2005).
ã Apesar de que, na opinião de Nikitin (2ün), numa federago exisa uma menor probúilidade do surgimeno de
conflitos de interesses entre os divenos grupos, já que podem ser resolvidos atrarés do sistema de regulamenação do
Esado, das auoridades legais, e atrarés de medidas administratins, legais e ecouómicas.
22
Jucosúvn: OCoNFLIToDE 1991 A 1995
, Uma viúo diêrene é a de Paul Colüer, que uo seguimetrto de esrudos efectrado, concluiu não haver uma correla$o
entrc democracia, ditadura e repr€ssão polÍticq e o risco de coúito uuma sociedade (Collier, 2(ffi e ãXE). Também
Robert IGptau é da opinião que a demmacia não Êz com que un:t sociedade scja mais es6vel ou melhor, e se
conribuir para tal é assim porque os problemas existentes nessa sciedade já foram anteriormente r€solvidm (IGplar,
t999).
P No qual compilou a infomaSo referene às yariáveis económicas, sociah e políticas de 161 púes, no perÍodo entre
1960 e 1999 (§ambanis, 2{X)1).
23
Jucosúvn: O Cor.mr,no DB l99l A 1995
Jaume Puig (2005) refere como causas políticas para um conÍlito, as divergências
acere do sistema ou regime político; a lua pelo poder político; motivações ideológicas; ou
exigências de secessão ou de autonomiÀ I
MITTARISMo
O militarismo é üsto, nos temPos modemos, como uru causa de conflito, utna vez
que os governos invocando motivos de segurança nacional, mantêm, ampliam e
modemizam as suas estruturas e material müar (Piris, 1995: 3&39). Por outro lado, o
militarismo ambém esd relacionado com a pobreza nos países em vias de desenvolvimento,
onde partes subsanciais dos orsâmentos úo gastas no rearnamento, ao invés de serem
utilizados na melhoria da situaçáo económica do país ou das condiç&s de üda da população.
Pelo contrário, a situaçáo Íinanceira desses paGes vê-se agrxtaü jí que, geralmente a comPra
de armamento é feiu com recurs,o a empréstimos com elevados juros, o que agrava
maior probabilidade da eclosão de uma guerra, visto estas acçóes serem interpreadas pelos
países vizinhos como uma ameaçA que dwe ser anulada o quanto antes (Glossop,2N7:84-
86). Consequentemente, rüna guera pode ter início apenas devido à percep$o de ameaga
por parte dos países que tenham litÍgios com aquele que adquire ou desenvolve armamento,
sem que este último tenha tido a intenSo inicial de desencadear rune guera- Ânderson
(1996: 2t2), refere igualmente a tendência dos Estados â ârÍrâf,eÍr-se, aPeru§ como
precaução, ou sej4 quando um país vê um outro a desenvolver ou adquirir arÍna[lento,
pode ser ler"ado a acredier que esse armamenb pode vir a ser utilizado contra si, o que
leràrá a que o primeiro Arnbém adquira ou desenvolna aÍÍnamento, com o objectivo de se
proteger, ou como dissuasão. Cada paÍs vai aumentar sistematicamente o seu arÍIramento,
simplesmente como resposta ao amamento de um pafu vizinho. No enbnto, Glossop
defende que a corrida eos armementos, mais do que causa das guerrÍui, normalmente é o
resultado de outras cÍ[l§Í§, como a lua pelo @er por er<emplo; tem coníldo a §ua
importância como facbr conributivo para a guelra (Glossop, 2001: 8440. De ressalvar o
facto de que, quando os govemos anteciPam orisco de um conflito, normalmente
aumentam o§ seus gastos militares, e neste G§o, o que Parece UIne causa do conflitO, é na
realidade o resultado do conflio eminente (Collier,2AO2).
24
Jucosúvw O Conruno DB l99l A 1995 -
Causas rDEoLócICÂs
Um factor que pode originar um conflito, é o caso de um gruPo que tenta imPor a
outro, a sua própria religião ou conücçÔes políticas, o que levaú a que o gruPo a quem úo
impostas tais "crenças" se oponha a al imposição, inclusive recorendo à üolência (Glossop,
2C0l: 77-72). Segrndo o autor QCÍJ7 72), no mundo modemo o objectivo deste tipo de
conflito é o controlo de informaÉo3l e do sistema de educação,já que os valores e "crenças"
da população dependem da inforrna$o a que tem acesso. Este é o caso dos países com
lÍderes autoritários, que tentarm manter e população na ignorância, controlando a informação
disponfuel; no enanto, a propagação da telwisão por saélite ou da Interneq têm Ornado
este controlo e manipula$o adavez mais diflcil. A imposição de uma ideologia polÍtica ou
religião, pode não se cingir ao interior de uma sociedade, e pode ultrapassar as Êonteiras do
paÍs, estendendo-se inclusivamente a todo o muudo, o que fará com que certos gruPos
tentem, recorrendo à üolência se necesúrio, proteger ao w.lores tradicionais conra as ideias
estrangeiras. Âs guerras com base em doutrinas abstractas, têm a particularidade de ser ainda
mais üolentas do que aquelas prorrocadas pela obtenç:o de bens fisicos, já que cada uma das
partes em confronto se julga na frosse da verdade e da justiça e porbnto, julga ter o direito
quase divino de a impor àqueles que não partilham delC e até maoÍ ou morrer se for
necessário (Glossop, 2N1:73). Âs causas ideológicas têm caracterizado muias das guerras
intra-esaais dos últimos vinte e cinco anos, e sená, na opinião de muitos autores, antÁo das
futuras gueras do século)§(.
Nikirin (2000), defende que as diferengs políticas ou de interesses não lerram à
guerrd, a não ser que sejam manipuladas e leudas a ex(tremos, através das idmlogias e da
onós
propaganda. As ideologias, que podem tomar várias formas, desde a menblidade do
contra elesn, religiões, ou intolerância em relaçáo a outras naç&s, sâo artificialmente
qscerbadas e utilizadas pelos líderes políticos, como forma de iniciar ou obter aPoios Para a
guerra- Nos tempos modemos, esta tarefa pode ser mais eficazmente realizada através da
utilização dos meios de comunicaçáo e emPresâs especializadas nessa área
3r
Especificarnente, o controlo do meios de comunica$o (Glossop, 2m1: 72)
ç
3
IucosúvrA: O CoNTLITo DB l99l A 1995
ParaJaime Nogueira Pinto (199: 15), o factor ideol6gico é um dos factores que foi
ganhando cadavez maior importância como factor de conflio ao longo do século )§(
Causas ouMocRÁFrcAs
guerra unu vez que, quando aquela situação se verifica" são postas em marcha as instituições
a que o autor dá o nome de "instituições destrutivas", nas quais se insere a guerr4 que é
iniciada com o objectivo de "rela:rar" a popula$o ou sej4 diminuir a pressão demogúfica
faceao nfuel de produção, para manuten$o do equilÍbrio demogúfico-económico.
26
JUGOSLÁVIA: OCOIüLTTODE I99I A 1995
CapÍrwoII
Hrsrórua»anrcno
Para compreender o que se passou nos Balcãs entre 1990 e 1995, é necessário ter
uma noçáo da divenidade de povos e culturas, que ao lonp dos séculos se foram insalando
o modo como se relacionaram desde enü[o, até aos nossos dias. Relatar,
nesta região, e
descrwer, tenar perceber a história e modo de pensar desses povos serão precisamente os
objectivos deste capÍtulo.
Para o fim aqui pretendido, vamos situar o início da história dos Balcãs por volta do
séc. III da nossa er4 altura em que ocorremm as invas&s das tribos çrmânicas na zona dos
Blliass2 (Rados, 1999: 70).
No ano 395 d.C., após a morte do imperador Teodósio, o Império Romano foi
definitivamente dividido no Império do Oriente ou Bizantino e no Império do Ocidente.
Âqui ocorre a primeira divisão religiosa nos Balcãs, já que o Império do Oriente esava sob a
auoridade do patriarca de Consantinopl4 enquano que o Império do Ocidente estara
subordinado ao bispo de Roma O Império do Oriente incluh a acfial Albânia, o actud
Mrcedónia e Parte da Croácia,
Montenegro, a Sérvia (incluindo o Kosorro e a Vojvodina), a
enqrunto que o tmpério do Ocidente incluía a cosa dálmata até Dubrovnik (na actual
Croácia) e a maior parte da Bósnia-Heuegwina e Eslovénh (Girío,1W:9-10\.
Âs nibos eslarns chegam aos Balcãs porvola dos sécs. M eVII, e enquanto os sérvios
se fi:ram no actual Sudmte da Sérvia e se oçandem Para o actual Montenegro e
' Este Êcto seria mair arde iwocado por cÍrxrtas e mugulrnauos bósmiog como prova da sua origem germânica,
nomeadamente durante a tr Guerra Mundial.
27
JucosrÁvra:OCoNruroDE l99l A 1995
Após uma cura er<isÉncia, a Croácia perde a sua independênçia em 1102 ao ser
assinada a PaAa ConuenÍt, Segundo este acordo, os croatas Passaram a considerar o rei
húngaro como seu soberano, aüavés de uma união pessoal das duas coroes, dandese a
integra$o do reino croata na coroa magier (Girão, l97z 86; Knrlic, 199,8:94; Rados, 1999:
1s).
No)OI, é fundado pelo rei Nemanja o Estado sérvio medierral, que se irá situar
séc.
geogra6camente sempre àvola da actual provÍncia do l(osovo (Rados, 1999: 73).
Durante os séculos )(II e KV existe efectivaments um Estado independente da
Bósnia" tendo sido referido peh primeira vez em 1180, conseguindo assim witar a
dominaçáo croato-húngara- O Esado medieval independente da Bósnia., incluiu na suil
orpansão a Herzegoüna e a Dalmácia, tornando-se durante a govemaçáo do rei Tvrtko I
(1353-1391) o maior Estado ocidental dos Balcãs. Dururte a govema$o de Kulin-ban
s De refeú que os eslovenos virreram sob domÍnio germanoaustrÍaco de 874 aÉ 1918 (Gitão,19D7.. 113).
!4 Em 1054 é formada a Igreja Católica romaaa, reunida atrás do papa e a Igreja Ortodo:a greco-eslarra que se reúne à
vola do patriarca de Consuntinopla (Carpentier e lebrun, 1996: 148).
28
JUGoSLÁVIA OCoNFLIToDB I99I A 1995
Império Romano do Oriente, o destino dos eslavos do Sul vai ser determinado por dois
grandes Impérios que luam entre si para dominar o espaço dos Balcãs. De um lado está o
Império Austro-Húngaro dos Húsburgos, que domina a Croácia e a província Eslovena, e
do ouEo estão os Otomanos, que oaupam a Sérvia e a Bósnia-Herzegovina. Enquanto a
Bósnia-Herzegwina constituía a Êenre avançada do Império Otomano, encontrando-se
33
Que gorrcmou entre 1331-1355.
s No enanto existe alguura cootovérsia acerca do local geográfico erocto da Batalha do l(osovo, " O local da baalha de
1389 e a provÍncia otomana dlo são as mesuus que a da provínciajugoslava de 1945 à qrul ns referimos actualmene"
(Noel Malcolrn,Is lKosoro Real?, Foragl,$air,Yol7Blll,lW,p.ll7 in Cílnra.Nz:77.
29
JUGosúvIA: OCONFLITODE I99I A 1995
,a f""jin* esabelecidâ por vola de Én, tomou-se um território com esatuto eÉpeciel e grande auonomia
denominada Fmnteira Miliar do Irupério Habsburgo na Croáci4 em 1630, altura em que o imprador Ferdinando tr,
num docr:menro intirríado Stauta Vatadprum, concedeu à popula$o da Kqiine isenSo das obrigações feuúis,
liberdade para eleger os seus próprios líderes e pam praticar o seu Cristianismo Ormdm e complea autonomia em
rela$o à nobreza croata em troca dos seus serviços militares (Noel Malcoh, A&nh. A St ttt His/oty. Nesr York Ntnr
York Uuiversity Press, 194, pp. 72-73 in I'IajdiÍÚah 2m11 15;.
30
JucosúvlA: O CoNrum DE l99l A 1995
em declínio, só a política de equilíbrio Balan« Pour, emgrande parte fomenada pela Grã-
Breanh4 que no séc. XD( dominava o Mediterrâneo, iria impedir que o Império Otomano
não fosse repartido pelos esados euroPeus (Girão, 19p7: 7&;Rados, 7999: l3)'
Podem ser identificados aqui dois tipos de interesses, Por um lado os britânicos, que
tinham uma política de domínio do Mediterrâneo e da rota das Índia§, e do outro a Rússia'
que progredia para Sul e se esforçawa por estender a sua influência nos Balcás aproveitando-
se da solidariedade eslarn e ortodors rní§, que acima de tudo, pretendia conseguir o üio
desejado acesso ao "mar quente'. A Inglaterra não o queria de forma ,lg,rm4 pelo que a
integridade do Império Otomano iria permânecer Por um longo perÍodo de temPo como
um princípio sagrado. Os interesses chocavam e desA forma Processo de o
desmembramento do Império Otomano pelos eês imperialismos -
Russo, Britânico e
Ausro-Húngaro - seria travado pelas s"r" próprias rivalidades (Girão, 1997:7*19).
À medida que o Império Otomano se ia desintegrandon uma das potências europeias
dflreria assumir o controlo dos Balcãs e, durante o séc. XDÇ desenrola-se uma luA das
potências europeias pelo controlo clas terras que aquele império ia abandonando. A Rússia e
a Áustria-Hungria apresentavam-se como os melhores candidaOs (Rados, 19D:20'23)'
Os PRoJEc"ros NÀcIoNÁIs
O XD( seria marcado pelos nacionalismos, que emergiam por toda a Europa
séc.
primeiro na região OcidenAl, depois na Âlemanha e lúlia' e finalmente nà zona Cenml e
Balcânica (Girão, 1997; 7O). O principal objectivo dos povos eslanos do Sul em a
independência nacional, atrar,és da criaçao do púprio EsAde'Na$o croâta, sérvio ou
esloveno, e só em segundo lugar estaYa a ideia de criar um Estado comum' A wolu$o do
desperar nacional, imporado da Europa Ocidenal, foi muito diferente entre o§ diversos
povos eslavos do Sul e, durante muito tempo o factor aúerno foi rnais importeÍrte que o
próprio desenvolvimento da consciência nacional. Na primeira meade do séc. XDÇ de enEe
todos os eslavos, somente o Montenegro e a Sérvia eram estados independentes deJacfo, e
existia entre aqueles pertencentes ao Império Austro-Húngaro, um sentimento comum de
subjugação (Rados, l94D:36). Restavam aos eslavos do Sul três saÍdas: a soberania húngara'
nações próprias ou ulna nação eslava com a Sérvia e o Montenegro. Os croatas e os
eslovenos viam com bons olhos a segunda opSo, mas imss-se a terceira (Fuente, s.d.).
3l
JucosúvrA: O CoI.rFLrro DB l99l A 1995
s O norne "Ilirismo" provém de uma designa$o admioisratirra atribuÍda à região, pelas tropas napoleónicas aquaudo da
irvasão de u'n. parte dos Balcãs. O Movimeno IlÍrico surgiu nas décadas de 1&i0 e 1840, depois de ter sido imposto o
húngaro como lÍnguâ oficial ern vez do latinr, teudo sido fundarlo por figuras da cultuta e ciência croata. Este
movimefto conava corn inúmeros apoiantes na Croácia, na Daknácia, na EslovÉnia e na Bó,snia-Herzegovina §iksic e
Rodrigues, 1996l. l9).
3e
Tradicionalrnente usado pelos ortodoxos (sérvios, montenegriuos e maced6nios).
32
Juoosr,Ávn: OCoNFLIToDB l99l A l99S
33
Jucosúvre: O CoNFLmo DB l99l A 1995
nunqr terem sido consultados. Isto fez com que a ocupa$o tivesse uma forte resistência no
interior da Bósnia, não só dos muçulmanos, mas também dos sérvios e dos croatas que se
ÂmuaJucosrava
As Gurnnas BarcÂnucas
4 Neste prÍodo de ocupação de Bósnia pelo Im$rio Ausro-Húlgro, houve uma fore emigz@ de muçulmauos
para a Turquia e muios ortodcos emigraram para a Sénria (Girão, 1997: 102; Rados, lW:14).
34
JucosúvrA: O CoNFLno DE l99l A 1995
sérvios num único Esado (Rados, 1999:30). Â Bulgária" por seu lado, havia sido reduzida
pelo Congresso de Berlim e pretendia o seu território à custa da Turquia- Desta
"l*g".
forma, os interesses da Bulgária e da Sérvia coincidiam, e os dois estados estabelecem uma
coÍrtra a Turquiae em 1911, a que mah tarde aderem ainda a Grécia e o
"li*ç"
Montenegro. Em Outubro de 1912 tem início a Primeira Guerra Balcânica da qual os
Otomanos saem derrotados e em que os territórios da Sérvi4 Bulgária Grécia e
Montsnegro úo alargados à cusa daqueles (fuid;104).
Uma segunda alteração das fronteiras nos Balcãs viria a acontecer depois da Segunda
fl A parte secrea do acordo reGria que a Maced6nia seria cedida pelos séndos ao búlgaÍc (Rados,l99t 30)
6 surge como um norn reino com a ajuda da Àustria-Hungria, como Êeio ao poder sérvio.
Que
e Capigl dâ Bó,süie-HerzegúdnÀ
35
Jucosúvn: O CoNruroDE l99l A 1995
36
JucosúvtA: O coNFLmo DB l99l À 1995
4O Comite lugoslavo era formado por inelecurais e polÍticos croatas, sérios e outros eslavos do Sul, que viviam no
Império Âustro-Húngaro e estavam exilados em Loudre&
37
Juco§úvrA: O CoNFLno DE l99l A 1995
4e A» de Ounrbro de f916, íoi constioÍdo em Tageb o Conselho Nacional, que dria negociar uma união com a
Sénia eMontenegro (Girãro, 1997:261.
s Que era consriruÍdo por sénrios e gne era um Esado liwe desde long daa e devia tarrrbém desisú da sua
indepeadência (al como a Sérvia).
st Ainda antes da rmião dc eslavos do Sul, o Couselho de Zagreb pediu a ajuda do exércio sérvio, assim a presença das
tropas sérvias, apesar de necessÍria, em visa com algum ressentimeno (Gitão, 1997: 28).
3E
JucosúvrA: O CoNFuro DB l99l A 1995
Desta forma" a primeira Jugoslávia foi construída com base nos arrenjos impostos
pelos Aliados, aos vencidos da I Guerra Mundial. O novo país assemelhava-se a uma m:rnta
de retalhos, constituÍda por diferentes regióes, naçôes, e religiões, incluindo territórios que
haviam sido austríacos, búlgaros, húngaros e otouumos (Cutileiro, ?-003'. ?5; Nilaic e
Rodrigues, 1996:22).
A I Guerra Mundial terminou formalmente com a Conferência de Paz de Paris em
7979, em que se assinaram divemos traados, sendo o mais imporante o Tratado de
Versalhes. Nesse Traado, o novo Esudo dos Eslavos do Sul foi imediaamente reconhecido
pelo presidente norte-americaÍro'WoodrowWilson, que supostamente desconhecia o acordo
secreto de londres. Os Esados Unidos seriam, a primeira grande potência a reconhecer
oficialmente o ReinoJugoslavo em Fevereiro de 1919, e foi este o primeiro envolvimento
directo dos Esados Unidos nos assuntos geoestratégicos da Europa no século )O(P. Após a
Conferência de Paz, a Alemanha teve de devolver terras a outros paGes; a monarquia dos
Habsburgos terminou e a Polónia Checoslováquia Hungria eJugoslávia tornaram-se novos
esados. Após a I Guerra acontecia o terceiro ajustamento das fronteiras nos Balcãs, com o
desmantelamento do Império Austro-Húngaro e a fundaSo do Reino dos Sérvios, Croaus
e Eslovenos. As fronteiras foram radicalmente alteradas à cusa dos vencidos da guerra:
Áustria, Hungria e Bulgária (Girão, 7997:?Â;Nilsic e Rodrigues, 1996:,22;Rados, 1999).
A chamada PrimeiraJugoslávia iria durar de 79t8 a1947.
ÀPntuunaJucosúuÀ
s Derrido ao acordo secreto de Ioudres, s6 a 28 deJunho, a França e a Grã-bretanha recoúeceram aJugoslávia {Rados'
lW:46).
39
Juco$ÁvrA:OCoNrutroDE l99l A 1995
40
JucosúvrA: O CoNrlrro DE l99l A 1995
sisterna financeiro úo funcionarra, lüna vez que continuavam a ügorar quatro moedas
diêrentes existentes nos regimes anteriores; para além disso, a desruição durante a I Guerra
Mundial foi enorme, só na Sérvia houve cerca de 630 milvítimas e calcula-se que.hourre no
total, um milhão e novecentos mil morüos na regiãoJugosláüa (Rados, 1999:46).
. Ern Outubro de7/29 deu-se a queda da Bolsa deVall Stree! que rnarcou o início de
urna grirye crise económic4 que conduziu a urna depressão a nível mundial. Durante a
década de trinta a Europa üveu uma depressão económica sem precedente, ao me§mo
tempo que se assistiu ao qocerbar dos nacionalismos que' um Porrco por toda a Parte, se
menifestarram atranés do fascismo e no nacional-socialismo (Girão' 1997:42).
Entretanto, todas as tentativas do rei para estabelecer um consenso foram infrudferas
e, a 9 de Outubro 7934, o rei Âlorandre seria assassinado num atenado em Marselh4 por
um macedónio ligado a elementos separatistas croatás denominados utashâs', deiando por
terra os seus esforços de reconciliaçâo servo-croata, amvés da cria$o da na$o jugoslava
(Girão, 1997: 47; Niksic e Rodrigues, 1996:3071' Rados, 7999; 52).
s O Movimeno Utash4 era um grupo separatista croac, fimdado em 1929 por Ante Pavelic, e que contava com o aPoio
do líder fascista ialiano Benito Musolini,
4t
Juoost.ÁvlA: O CoNTToDE l99l A 1995
s Seguudo esse pacto - quÊ contou com o apoio dos croatas e eslovenos e a oposiçáo dos sérvio - plo teritório da
Jugoslávia Eâo dsveriâm pssar troprs alemiis ou dos seus aliados, nem as forgs do Eixo pediriam ajuda militar à
Jugoslávia §ikic e Rodrigues, 1996: 308; Girão, 1997: 46-47; Rados, |W: *55).
s O tÍder uash+ Ane Pavelic, havia chegado mm o exércio ialiano a 15 de Abril de 1941 e auoproclamara-se chefe do
primeiro Esado Croata que "desde há mil anos se pretendia independente" (Bemdd Êerct , Jugosltviz: Otí§tw il'un
?.onjir,l* Motde Editious, Bruxelles, 1993, pág,, 31 ií Gido, lW: 49). Parrelic iria negar o caúcter eslavo da Croácia,
afirmaudo que os seús habiantee eram germânicos e seú cúmptice de Hider, tendo enviado inclusirameorc uura
brigada croata para luar ao lado das tropas al@âs contra a LIRSS e declarado guen:r Íros Esados Unidos e à Grá-
Breaoha (Giráo, 197: 91; Rados, 19P: 58).
42
JUGo§LÁVIA: O CONFUTO DE I99I A 1995
cooperu com o moümento utasha (Girão, 1997:49-50; Nilsic e Rodrigues, 1996t 77;
Rados, lD9;58- 67).
No entanto, o Esado úrdependente da Croácia nunca foi um estedo independente,
mas sim um território dividido em duas zonali, urna sob protec$o alemã e outra sob
protecção ialiana e a política do movimento utash4 que teve todas as características de um
partido nazi, efectuou-se massacnmdo sérvios, ciganos, judeus e errecutando uma estrateia
de erradicação dos sérvioss: "Matar um terço, expulsar outro e converter à fé católica o
resante" (Rados, 7999: 5A5\. Iogo após o esabelecimento do Estado independente da
Croáçia, comeseram as atrocidades contra os sérvios, sendo sobretudo os sérvios da Iqiina
os mais atingidos pela morandade dos utasha Tudo isto fez com que os sérvios se
juntassem à resistência antifascista (Cutileiro,2ffi3: 154; Girão, 1997).
 primeira resistênciat antifascisa denro daJugoslávia começou em Maio de 7941
e foi liderada por um nacionalista sérvio, sob autori.lade do rei; em Junho iniciou-se a
revolta dos partisan, organizedos pelos comunistas e comandados porJosep Broz Titos' um
comunista croeta, e que desencadearam acções de guerrilha conra o Esado croata. Â
diferença enüre os rchetnils e os partisan residia essencialmente nas ideologias e nos
objectivos a alcançar. Enquanto os tchetnils lutavam pela libertação da Sérvia, com o
objectivo de liberur os territórios onde viviam sérvios e formar uma Grande Sérvia, que
dweria incluir o território da Bósnia-Herzegovina; os partisan lutavam pela rwoluçáo
política e social dos povos jugoslavos e o seu objectivo era a criação de uma Jugoslávia
comunista segundo o modelo soviético. Devido a divergências ideológicas com o
movimento nacionalisa sérvio rchemih os partisan acabariam por deinr a Sérvia em 1941,e
dirigir-se para o território da Bósnia-Herzegovina (Cutileiro, 2003; 154; Girão, 1997: 5l;
Rados, 1999:59-64).
Durante a GuetrÀ o território daJugoslávia foi diúdido ente a Alemanha nazi e os
seus aliadosIúlia, Hungria e Bulgfuia e posteriormente foraÍn formados úrios estados
"fantoche" nesta região. O território da Eslovénia foi anexado pela Alemanha a Norte, e a
Sul foi ocupado pela IÉlia Mussolini incorporou ainda extensas partes da Croácia, quase
toda a costa adriática e assumiu igualmente a oprotecção" do Montenegro, que também
perdeu territórios para a Albânia Algumas partes do None da Croácia foram integradas na
Hungrie A Sérvia foi corada no Sul pela Grande Albânia, ulna novÍr forma$o estaal
s Segundo os sendç6 de ÍeceDseamsnb americanos, cerca de 7í) mil sérvios foram morms pelo regime utasha durante
a I Graade Guerra (Giráo, 1997: 50).
e Essa resistência assumiu o aome de tchetnik, nome dado à resisÉncia sérvia contra o Imffrio Oomano.
$ Tito foi nomeado secreúio-ge.rÀl do Partido Comunisa Jugoslavo m 7937. O Partido Comunisa da Jupstávia
(IlP), criado em 1919, harria sido proibido depois de 1921, devido à polÍtio anticomunisa de Alerondre I, leal ao Czar
russo e à França. Depois de ter sido ilegalizado ficou clandestino aÉ à §egunda Guerra Mundial. O Reino daJugoslÁvia
menteve a sua polÍtica anticomuuisa aé 1940, tendo sido um dos últimos países a reconhecer a TIRSS (Cutileiro, 2ü)3:
26; Rados, |W:50).
43
JUGOSLÁVIA: O CONFLNO DE I99I A 1995
forrnade e oflrpadâ pelos ialianos. Partes do Ieste e do Sul da Sérvia e ainda a maior parte
da Macedónia foram incluídas na Gmnde Bulgária, que Embém cooPerou com as forças
Norte da Sérvia foram incluídas na Grande Hungfia; a Sérvia
fascistas, enquanto as terras do
Central, passou a ser um território direcamente administado pelaAlemanha; o l(osovo foi
integrado na Albânia. Como resulado, o Reino daJugosláüa desaparecia em Abril de 1941
(Nilrsic e Rodrigues, 1996; Rados, 7999:57-58).
Âposição dos muEulmanos da Bósnia-Herzegovin4 durante o conflito entre,sérvios
e os croaas, foi basante ambígua. Enquano que, no período entre as duas guerras, a
simpatia muçulmana estaye com Zagreb, a política oficial muçulmana apoiana o Reino da
Jugoslávia, onde deveria ser assegurado o estatr,rto de autonomia para a Bósnia-Herzegpvine-
Os muçulmanos viriam a ter uma grande participação nas forgs das SSse alemãs, em parte
derrido ao Memorando enüado a Hitler em 7942, no qual se referia a oripm dos
muçulmanos nas tibos germânicas godas, e consequentemente a Pertensa à raça ariana.
Como resultado, em 1943 nascia a Trigésima Divisão das SS, denominada Handzar60,
apenÍs composte por muçulmanos bósnios e que viria a praticar numerosÍs atrocidades,
sobrenrdo conEa os sérvios no kste da Bósnia- Mas a vçrdade é que, mesmo que os
muEulmanos quisessem cooperar com os sérvios ou comunistas, não tiveram muitas
oportunidades para o fazer, dwido por um lado, às atrocidades que os nacionalises sérvios
cometeram contrz os muçulmanos na Herzegovina, e Por ouro, deüdo ao caúcter anti-
religioso que o comunismo havia assumido na URSS (Niksic e Rodrigues, 1996;77; Rados,
leee).
De 7947 a 7944 zotaa da Jugoslávia seria marcada por nüssírcres, desrui$o de
^
propriedades e eryulsões da popula$o. As guerras no tÊrritório daJugosláüa foram cnréis,
contudo, o número encto de sérvios vítimas do massacre uesha na Croácia nunca foi
determinado, já que a maioria das valas comuns nunca foi aberta, e algumas nem foram
assinaladas, dwido à política oficial de "fratemidade e unidade" das nações jugoslaras
posteriormente adopada por Tito (Giráo, 1997:. 5V56; Niksic e Rodrigues, 7996; 55-56;
Rados, 7999: 64). As atrocidades foram cometidas por utashas, rchetnila, PaÍtisen'
muçulmanos e albaneses e, ciando Cutileiro (?.003: M), embora o regime comunista
pregasse a reconcilia$o par{ugoslava "(...) os rancores não haviam sido esquecidos. Não
podiam manifesar-se, mas, tal como altares de fés interditas escondidos por paredes falsas,
guardaram na alma de cada um ânimo para barbaridades futuras."
5e
Sigla de Schutz-Saffel, F,squadráo de ProteSo, corpo da políciâ militrrizada .o'i (s.v. «SS» in Diúzírb ila Üngua
Potitgae C-arrtmtprAnzd do Aradefiia dis Cifuria, de Usbo, AcaÃemia das Ci8ncias de Lisboa e Ediorial Verbo, 2@l),
o Handzar, provém do árabe "haujara", âca destinada a corar a cabeça ou pescoço. Segundo fontes oficiais jugoslams e
fontes militares dos púes europeus, eso divisão das SS, teú sido responMvel pela morte de r'árias centenas de milhrres
de sérvios, juders e ciganos, entre 1%1 e 1944 §ikic e Rodrigues, 796:77).
M
JuaosÁvr* O CoNFLITo DE l99l A 1995
No que respeia aos Aliados, se ao início da Guerr4 o seu apoio fora dado aos
tcheurils, posteriormente, vários relatórios dos oficiais briánicos, que elogianam a forma de
lua dos partisan, levaramWinston Churchill a apoiá-los e a cottar relações com os tchetnik
Desa forma os partisan passariam a ser o instrumento da política dos Aliados naJugoslfuia6t
(Girão, 79D7 : S7;Rados, 1999: 63-@).
A data que assinalou a subida definitiva dos partisan foi a 8 de Outubro de 7943,
quando altália de Mussolini capitulou, e o movimento de libertaçáo de Tito ganhou novos
partidários denro da própria Jugoslávia- Nos dois meses seguintes foram fundados os
govemos provis6rios dos povos que iriam formar a novaJugoslávia- Nesse mesmo ano, os
comunistas jupslaros, liderados por Tito decidiram fundar um novo Estado, com
caracteúticas de um Estado federal, composto por seis 'repúblicas" e na segunda reunião do
Â\/NOJ, na Bósnia-Herzegoüna em Novembro de l943,foram esabelecidos os princÍpios
fundamentah do futuro Estado comunista O primeiro desses princÍpios era o direio à
autodeterminaÉo dos povos do Reino daJugoslávia pelo qual cada povo podia e:rercer esse
direio, incluindo o direito de separação; este princípio foi adopado para witar a hegemonia
sérvia, que havia camaerizado o primeiro Esado dos Eslavos do Sul. O segundo princípio,
foi o da substituição do rei pelo Comité Nacional de Liberago daJugosláüa (NI(VO), um
govemo provMrio, cujo presidente seria Tito (Nilsic e Rodrigues, 1996 31; Rados, 1999:
6s-66).
Depois dos partisan@ terem sido reconhecidos em 1943 como qrército aliado, em
1944, sío reconhecidas as decisões do AVIr{OJ sobre o federalismo, e o qrército de Tito
como único orército legal daJugoslávia (Rados,7»9;6ó). Nesse mesmo ano, Churchill e
Esaline chegam a um acordo e diüdem a Jugosláüa comunista ao meio: meade foi
considerada como zona de inÍluência soüética e a outre meade sob influência dos
vencedores ocidengis, através da apücação da política de meade metade, que caracterizou a
Guerra Fria que se instalou na Europa após a Segunda Guerra Mundial. Mas, em 1945, a
Jugoslávia comunisa seria considerada como fazendo parts do Bloco de kste (Niksic e
Rodrignes, 7996: 24; Rados, 7999: 771).
Em Setembro de l944,as forças aliadas em conjunto com forgs de Tito, lançaram
as
uma ofensiva conftâ o exército alemáo que oflrparra aJugoslávh e, antes do fim de Outubro,
Belgrado e a maiorh dos bastifu* chave daJugoslávia foram liberadas.
6!
Em NovembÍo de 1942, Tito fundou na cidade de Bihr, na Bóaniq o Conselho AntiGscista de Liberaçáo Popular da
Jugoslávia (ÀVI{O), que marcou o início da construgSo do futuro Estado comunista (Rados, 199: 65).
e Os partisan omunistas, embora ao inÍcio fossern na sua maioria sérvio, ao longo da guerra foram incluindo gente
odas as nacionalidadesjugmlzvas que lutavam contra as forças mupantes (Cutileiro, 2ffi3: 22).
45
Jucost.ÁvrA: O CoNFLrro DB l99l A 1995
Onrclrvrs»rTITo
6 Calorla-se que no peído entre 1945 e 1946, cerca de cento e cirquena mil pesses terão sido mortas em
san€ametrtos de colaboracionistas ou supostos colaboracionistas, principalmente uosha e ehemik (Cutileiro, 200.3: 2;
Giráo, 197: 52; Rados,lWzT0).
46
JUGOSLÁVIA: OCONFLITODB I99I A 1995
47
Jucosúvra O CoNFrJro DE l99l A 1995
comunista, surgiu em 1947, a Doutrina Truman, definida como urna política de apoio aos
povos liwes, defesa da liberdade e da democracia e que conÍirrnava a divisão ideol6gica entre
as duas grandes potências saÍdas da II Guerra Mundial (Girão, 1997: 62; Np, 2002: 146;
Rados,1999:70).
Em 1948 acontecia a rupüra entre Tito e Esaline quando, depois de vários confliüos
devido à recusa de Tito em seguir as directivas de Moscovo, nurna resolução do
Cominforme, Tito foi acusado de traição ao marxismo e de esabelecer um revisionismo
capialista Para Tito tomara-se claro que Esaline queria dominar as polÍticas intema e
er.ternÍr daJugoslávia AJugoslávia era obrigada a rnírnter relaçóes comerciais com a IJRSS,
que apenas beneficiavam esta últim4 enquanto prejudicavam gravemente a economia do
novo Estado FederaL eram celebrados acordos comerciais forçados entre os dois países, que
só traziam vantagens comparativas à União Soviética e onde a Jugoslávia era obrigada a
aceitar o que lhe era enviado, mesmo que não precisasse e ao preço estipula<lo por Moscovo;
a exporta$o de matérias-primas e produtos agrícolas para a União Soviética era feia a
preços baixos, definidos por Moscovo, enquÍrnto os produos de Moscovo deviam ser pagos
em ouro ou moedas fortes. Como consequência da expulsão do Cominform, aJugoslávia
teve de abandonar o comércio com os países do Comecon (Conselho de Assistência
Económica Mútua), que a obrigou a voltar-se para os países ocidenais (Cutileiro, [email protected];37;
Girâo, 1997:60; Rados, 1999:77). Assim em 1949, o presidente Harry Truman saiu em
defesa da integridade e independência daJugoslávia, e declarou que uma agressão conEa a
48
JucosúvrA: o CoNFuro DE l99l A 1995
49
JucoslÁvrA: ocoNFuroDB l99l A 1995
Após o primeiro desantrviamento da Guerra Fria, nos anos sessenta, Tito, tentando
tirar proveito da posição impora$o de bens de
geoestratégicâ da Jugoslávia, autorizou a
consumo, enquanto a autoges6o levou a uma maior liberalização da economi4 que
conduziu ao progresso. O nfuel de üda nesse perÍodo aproximou-se dos países do Ocidente
e o crescimento económico daJugoslfuia pode até ser comparado ao doJapão nesse período
(Rados, 1999). Enreanto, tprâaa da terceira vi4 permitiu que se esabelecessem relações
comerciais faroráveis com a CEEd, que se viria a tomar o principal parceiro daJugoslávia.
A partir de1968, a Liga dos Comunisas da Jugoslávia (S§, or-KP), já esbva
realmente descentralizada e o poder efectivo, esta\ra nas mãos dos partidos das repúblicas.
Em Novembro desse ano, foram aprovadas novas alterações à Constituiçáo: foi dada às
proúncias autónomÀs da Sérvi4 o l{osovo e aVojvodina um estaírto igual ao das repúblicas
perante a ffieraçáo; a República da Bósnia-Herzegovina foi definida como Estado dos
séwios, croates e muçUlmanos, reconhecendo os muçulmanos como naçâo dentro ü
federa$o jugoslava. C-omo consequênci4 a Jugoslávia assemelharra-se mais a uma
confederação, o que lwou ao surgimento de vários moümentos nacionalisas, como foi o
caso da província autónoma do l{oswo, que nessír altum já era maioritariamente povoada
por albaneses, onde se veriÍicaram manifesações nâs qrreis era exigido o estaírto de
República, o que permitiria obter o direito à autodeterminação, conforme previsto na
Constituição da Jugoslávia (Rados, 1999: 7 Ç77\.
Neste perÍodo iriam surgir uma série de morrimentos de caúcter nacionalisa nas
diversas repúbücas. O movimento nacionalisa esloveno surgiu por volA de 1969, e t*e
como pano de fundo a disribui$o das verbas vindas dos crditos esfrngeiros, tendo a
Eslovénia acusado o governo central de descriminação em relação à distribuiSo dos
dinheiros para a construsão das nov:rs auto-estradͧ (ibid.:78). O nacionalismo croata, que
se traduziu no movimento conhecido como "Primavera Croata", entre 1969 e 7977, Arc
início em dois tipos de reivindicações, que conjunbmente dnhem como objectivo último,
maiores liberdades civis e maior autonomia para a Croácia (Rados, 1999). Um, dizia respeito
às exigências económicas do pvemo croate, gue pretendia uma alteração na disribuiçáo do
orçamento federal, de modo a obter o conrolo sobre o dinheiro do turismo que começãva a
ser a principal fonte de rendimento da Repúblicad, Outro dizia respeito à língua servo-
ó7
De acordo com Rados (199:11í116), as relações oficiais etrtre a Jugoslávia e a CEE' iniciades wr l9Çl quattdo a
Comuuidade reconheceu a Jugoslávir, caracterizaram-se pela particuladrlade de que odos os acordos tiveram por
origem acontecimenms polÍticc: "as primeiras coweÍsaçõe.s úrias entre a Jug;oslávia e a CEE, coiucidiram com a
interengo soviética na Checosloúquia em 1968"; o stgundo aordo em 1976, eeguiu-se à visis de korrid Brcjuev a
Belgrado, na Entativz de apruimar aJugoslávia do Bloco de Leste; o último a.ordo, ern 1980, foi assinado meses autes
aa úrnsao do Afeganistão pela URSS e na iminência da morte de Tito, Na opinião de Rados, Pode ooncluir-se que a
cooperaso entre aCEE e aJugoslávia foi para a CES acima de o:do, uma estratégia polÍtica nas relações Leste-Oeste.
6 Nos anos sesseub como conrequência da maior úemrra ern rela$o ao werior, houve uma explosão turktica na cosa
adriática No ano de 1969 por eamplo, a Croácia obteve 2"5 mil milhõ€§ de dólares de rceias de turirmo (Radoa, 1999:
m.
50
Jucosl-ÁvlA: o coNRlroDE l99l A 1995
Constituição, que na realidade limitou o poder do govemo central e reforçou o poder das
repúblicas, dando origem a unrâ competição permanente ente esas, principalmente a nfuel
económico, já que todas as decisôes Íderais
deviam ser tomedas Por consenso entre es
repúblicas (Garde, 79V2: 703; Rados, 7999). Para além disso, a Constituição atribuh às
provÍncias autónomas da Sérvia, Kosovo e Vojvodina um estaírto praticamente idêntico ao
das repúblicas6e. Estas alteraçOes indignaram os sérvios, urne vez que lhe foram subtraídas
dur" zonas imporantes da sua república: a VojvodinC de economia rica e o Kosovo, com
um sigrrificado simbólico especial (Cutileiro, 2ffi3: 36; Garde, tW} 103-104). A
Constituição de 1974iú ainda aribuir aos muç:ulmanos, o estatuto de pwo constitutivo da
Jugoslávia. Essa foi uma decisão bem reflectida da parte de Tito,
já que conseguiu atingir
dois objeaivos: por um laclo tomou a Bósnia-Herzegovina a mais titisa das repúblicas
jugoslavas; por outro, conseguiu agradar a todo o mundo islâmico, tendo em conte o
Moümento dos Náo-Alinhado§m, em cuja fundação Tito participara, e que englobava a
maiorparte dos estados islâmicos (GiÉo, 1997;103).
Segundo Milan Rados (199: 80):
e As repúblicas e as províncias ficavam também doadas de um presidente e de um parlameuto (Gatde, 1992:. 103); assim
a V{vàina e o l(osovo, foram praticamente removidas da juridiçeo dâ sén'i4
rt'''a vez que as prodncias tinham direio
d" vlar a" decis6es que diziam respeito à república dâ Sérvi& ao pirslro que a Sérvia, são rinhe jui§diÉo sobre as
pmvíncias (Batakovic, 195).
h No ioí"io da Guerra Fria, a Jugmláviâ comlmista dio Ézia parte de neúrmr blao, já que a ideia da polÍtica
intemacional de Tio era a de firgir da domina$o soü&ica, ttüur ao mesmo emPq niio Permitir gue os paGes capialisas
domirassem a Jugoshvia, *g"ird" desa form+ urna linha independeute dw dois btaos.-Nas mesmas circüustânciss
outrõ esados da ÁÊica e da 1955, se reúnem na CooGÉncia de Baoduug e criam
Isia que, em
"n*ot""*--rã "íg*r
o Movimenm dos-Xeo-Aliúados, de que Tito passaria ser lÍder. Ba combina$o do movimeno dos nilo-alinhados,
a
com a originalidade poÍtica e económica intema da autogestão, deu duranrc algtuul anos um certo prcsdgio àJugoslávia
(Cutileiro, ãXLl: 37; Rad6, lW tl+115).
51
JucosLÁvrA: O CoNruno DB l99l A 1995
"A Históú sugere que o sistema político Íderalista é üável somenre nruna
sociedade democraticamente organizada - naJugoslávia comunista a autonomia das
entidades sigrrificou o fim do sistema, onde uma nação começou a competir com a
outra" (...) a descentralização daJugoslávia assegurou um crescimento económico
entre 1960 e 1970, mas ao mesmo tempo fez nascer as aspirasóes nacionalistas."
Nos anos oitenta a Jugosláüa entraria numa crise económica e nurur turbulência
polÍtica muito grave.
Nos anos cinquenb e sessenta, a Jugoslávia gozou de um forte crescimento
económico, peíodo em que recebeu quantidades substanciais de {uda do qrterior, urna vez
52
JucosúvrA: O CoNFLmo DE l99l A 1995
que ere vistâ como um "tamp:io" contra um possfuel ataque so\riético ao Sudeste da Europa.
Depois, nos enos setentq as qiudas começa&lm a diminuir e foram substituídas por
empréstimos comerciris. Simulaneamente, e devido ao abrandamento no crescimento dos
paÍses ocidenais, a Jugoslávia üu diminuÍdas as $üs erportações, bem como es remessas
dosjugoslavos a trabalhar no exterior. 8lr.7979 a dfuida atingiu proporções de crise, cerca de
20 mil milhóes de dólares; em 1980 o défice comercial chegou até aos 3,5 mil milhões de
dólares e a infla$o começou a subir; e em 1982 foi acordado um Plano de Recuperação, que
implicava tanto uma liberaliza$o, como austeridade. Isto fez aumenBr a concorrência enEe
as repúblicas por recursos, e levou ao florescimento do situa$o
mercado negro. Â
económica, continuaria a agra\râr-se durante toda a década de oitenta, com a inflaÉo cada
vez mais alta, desemprego, urna enorrne dfuida e:*ema baixa produtiüdade e o crescimento
a reduzir-se, depois dos bons resultados conseguidos nos anos sessente e setentaTl
?tA inÍlesro subiu de l2P/o en 1987, para ?SV/o em 19§ e a dÍvida externa em 1988 atiagia os 33 mil milhões de
dólares, donde 20 mil milh6es eram em divisas ocidenais (Rados, lW:83).
53
Jucosúvre: O Cor.ruro DB l99l A 1995
o Govemo federal viu-se obrigado a introduzir novas medidas restritivas. Desa forma, em
1983, foi sugerida a toal implemenação de uma economia de mercado e a liberalização do
comércio, mas o sistema de autogestão náo chegou a ser anulado. A situaçáo económica
piorou rapidamente, e foi necesMrio endurecer ainda mais as medidas de racionaliza$o.
Face à crise económica jugoslav4 as potências ocidenAis, enüe a§ qrreis os EUd reagiram
enüando dinheiro "fresco" foi reprogramada 85% da dfuida extema daJugoslávia, sob uma
e
condição única: o Estado JugOslavo deüa implemenar uma economia de mercado. EsA
ajuda ei<terior, ficou a dwer-se ao facto de muitos púes terem investido fortemente na
Jugosláüa; e ao façlo da Guerra Fria ainda estar presente, daí que a esabilidade jugoslan
continuasse a ser imporante nos jogos geoeskatégicos das potências ocidentais (Rados,
1999: ü2). Outro ano imporante foi o ano de 79Ü, quando para fazer frente ao crescente
défice comercial, o primeiro-ministro da federaSo, oPtou Por reabrir as negociaçóes para
obten$o de empréstimos; assim sendo, o FMI e o Banco Mundial, confirmaram que a§
instituiçôes financeiras internacionais estavam disposAs a 4iudar a Jugoslávia semPre que
esta praticasse turür verdadeira reforma a nfuel económico. Contudo, t'is reforma§
obrigaram o primeiro-ministro a abandonar qualquer esforço destinado a recuPemr o
crescimento económico e, em vez das melhorias desejadas, em Outubro de 19S/ os Preços
do petróleo, do gá" e dos transportes, subiram, os salários diminuíram, as tal§§ de juro
eumentaram, e â moda foi desr"alorizada diversas vezes. Em 1989 ean de infla$o mensal
atingiu os 2500 por cento e o desemprego foi em média de 14ol" durante toda a década
(Cutileiro, 2@3: 3Ç37 ;I(aldor, 7W: 37 ;Rados, |W: 8l-{2; Rueda 2ffi3l. 29-30).
O primeiro conflito aberto entre as repúblicas viria a acontecer enüe 1985 e 1987'
quando se opuseram a Sérvia e a Eslovénia, dwido a diferentes üsões sobre o socialismo.
Depois de 1985, a perwtroiha viria a exercer um efeito demwratizador nos Balcãs, e foi
precisamente o gue aconteceu na Eslovénia e na Croácia" depois de 1957. A Eslovénia,
adoptou um socialismo mais humano, com aberhra às liberdades fundamenais e com
melhores resulados na economiaz. ASérvia, em parte dwido )s srrâs provúrcias autónomas,
I{osovo e Vojvodina estava mais preocupada com a soberania do seu Estado e com a suâ
na§rio, ao mesmo tempo Slobodan Milosevic arrastava a república numa onda de
nacionalismo oscerbado. Quanto ao govemo comunisE da Croácia, durante os enos oitenE
opüou pelo que ficou conhecido como o "silêncio croata". Os croaBs, que tinhem como
objeAivo fundar seu Esado nação desde 1102, optamm por encobrir o objecivo da
o
independência durante tda a década" com o silêncio, que seria quebndo em 1990 pelo lÍder
do HDZ, Franjo Trudjmarq que começou então a falar abertamente na independência da
54
JucosúvrA: O CoNFLro DB l99l A 1995
Croácia De referir que este objectivo foi desde sempre apoiado e fomenedo pela diáspora
croata, basante numerosa em países como a Alemanha, os Estados Unidos e a Âustúlia.
Fraqio Trudjman contou ainü com o apoio da Igreja Cart6ha. que viria a ser um dos
primeiros estados a recoúecer a Croáçta independente. Na Bósnia-Heruegovina vigorara
um regime de comrpção e arbitrariedade (Girão, 1997:. ffi;Rados, 1999).
 década de oitenta foi ainda cerarlrrizada pela apresenação pública de diversos
programas nacionalises que, no entanto, tiveram um objectivo comum: desintegrar a
Jugoslávia e legitimar o pder dos nacionalistas. Mas a realiza$o dos projecos nacionalisas
não seria fâctl, já, que em todas as repúblicas, com ercepçtio da Eslovénia" existiam fortes
minorias de ouros povos. A desintegra$o do Estado Íâíeral, que começou com rivalidades
enüre as repúblicas, evançou rapidamente para alua pela defesa dos interesses pessoais dos
dirigentes locais, juntamente com a com:pçáo e o agnryamento da situa$o económica
(Nilsic e Rodrigues, 19Fi6:36; Rados, 799P 86). Segundo Rados (1999: 86) "Os tr& pilares
do sistema daJugoslávia pós-Tito (o Partido Comunisu, o Estado federal e a economia de
autogestão)já esavam paralisados na década de oitenta."
Em 1986, os membros da Academia de Ciências e Artes da Sérvia elaboraram um
tsrto intitulado " O Memorando sobre a Posi$o dos Sérvios naJugoslfuia"u, que viria a ser
adopado como prognmra por Slobodan Miloswic. O novo objeaivo nacionalisa sérvio
passaria enÉlo a sen tdos os sérvios num só Esado. O Memorando, no seu essencial,
abordarra a situaçáo dificil em que a Sérvia se encontrava dentro daJugoslávia, e que tal
situa$o era da responsabilidade, sobrefirdo, de croatas e eslovenos, e que os sérvios nunca
haviam sido recompensados pelos sacriftcios feitos para a criaçáo daJugosláüa. Fazia ainda
referência ao facto de as medidas tomadas por Tito, terem sido uma forma de castigar o
povo sérvio, e que aquele, para conseguir umaJugoslávia forte, havia seguido uma política
de manutenSo de uma Sérvia fuca. Também a nível económico os sérvios teriam sido
prejudicados, quando comparados por enemplo com a Eslovénia e com a Croácia. Â situaSo
no l{osovo era igualmente abordada, sendo referida como utna guerre contra a popula$o
sérvia. O Memorando utilizava ainda o termo "coligaSo anti-sérvia", para se refeú a uma
suposta aliang política de croatas e eslovenos cona? o povo séndo Glajdinjak, 2001;
Milisevic, 2005; Ni}sic e Rodrigues, 1996: 201. Rados, 1999: 9*96). De acordo com o
Memorando a na$o sérvia esava "cansada de odas as alegaç&s e culpa.s sobre uma alegada
e defendia que se as outras naçõesjugoslavas desejavam formar os seus próprios
estados, deveriam fazê-lo, rnas nesse caso, os séwios, enquanto única nação que havia
investido o seu próprio estado na Jugoslávia" deveria rnanter todos os territórios onde
existisse uma maioú sérvia, para que 'os sérvios possam Íinalmente üver num só Esado"
B Este docrrmeoo não era o primeiro do génem, recordexe o Memorando escrio em 1844 por Iliia Garasanin.
55
JucosrÁvn: o Coururro DE l99l A 1995
(Nilrsic Rodrigues, 7996235-36).0 Memorando indicara ainda que, a siflraçáo dos sénrios
e
na Croácia era crucial para a unificação nacional, e colocava o confliO servo-crc,ate no centro
do problemajugoslavo.
as relações na Jugoslávia eram dominadas por
No final da década de oitenta,
completo pelos nacionalismos desenvolvidos nas repúblicas (Rados, 1999: Ü). Tudo se
acelerou com o aparecimento do líder sérvio Stobdan Milosevic, que se aproveitou da
frustra$o dos sérvios e da perda de influência da Sérvie no seio da Jugoslávia cornunista,
para criar um sentimento anti-titisa e nacionalista- Slobodan Milosevic iriâ â§sentar a suâ
campanha nos temas abordados no Memorando e desta forma conseguiria mobilizar a
popula$o e finalmente chegar ao poder. Tendo em üsta estes objectivos, seleccionou
especiÍicamente dois temas: o primeiro - necesúrio para ganhff o apoio poPular, num paÍs
que se debatia com graves difiçuldades económicas e onde o despesismo e os privilégios
eram evidentes - a luta contra os privilégios da noruerúeianra, o desperdício e a comrpçáo,
lua esa a que Miloseüc daria o nome de "revolução antiburrcrática"; o segundo, a situaéo
dos sérvios no Kosovo, que alegadamente e de acordo com o Memorando, sofriam a
opressão da maioria albanesa do l{osovo e eram útimas das politicas anti-sérvias e genocidas
no l(osovo (Garde, 7992:25Ç?55:l Sowards' 2004).
No dia 24 de t$al de 1987, Miloseüc deslocou-se ao I(osovo, onde fez o que foi
considerado mais imporante discurso de toda a sua carreira política e que o iria
o
transformar num herói para muitos sérvios. Âí proferiu a famosa Êase "Não se PreocuPem'
serão protegidos. O Kosovo é parte integrante da Sén i4 e não permiúei que ninguém vos
volte a bater" §iksic e Rodrigues, 19962 95). Entretanto, Slobodan Milosevic havia tomado
o @er no PaÍtido ComunisA Sérvio e conseguiria ainda alargar o §eu pder ao
Montenegro e às regiões autónomas da Vojvodina e do l(osovo, através de uma série de
demissões e substituiçôes forçadas entre 1988 e 1989. Miloseüc conseguiu desa forma" o
con6olo de quatro das oito entidades federais da Jugoslávia logo, meade dos assentos da
Presidência Federal, conseguindo ainda o controlo toal dos meá.ia, o que iria facilitar a ac@o
de propaganda da sua campanhaTa. Em Março de 1989, Slobodan Milosevic retira a
autonomia à Vojvodina e ao l{osovo por meio de alteraçóes à Constitui$o da Sérvia ç
coloca o l(osovo sob um regime de ercepçâo, o que permitiu o despedimento maciço de
albaneses no sector público (Cutileiro, 2CÍJl2: D9; Garde, 7992: ?57'258; Rados, 7999: Ü-
88; Rornr, 1998: 745). Com a nova Constitui$o, a minoria sérvia do I{osovo foi
transformada em maioria, e os albaneses foram tansformados em minoria (Rados, 1999:
e7).
7o
all the mediâ were controlled by the regime and were efiectively passi"g ú" qerygÉ that regime wanted
"(...) o be
passed. This was again a messâgB of úaimidtiou ond suffedn& a m"etass úrt
t-.!ffid and Serbia have to be
à.f"oa.a. Ooo AJ"o".t"rt 4 íh" media presented only viaims Êom the Serbian side" (Milisevic' 2@5: I1).
56
Jucosr,Ávre: O Coun no DE l99l A 1995
57
Jucosúvre: o CoNn rro DE l99l A 1995
CapÍturo III
O CoNTLITO
Na década de oitenta, para além das divergências que opunham Belgrado, Ijubljana e
Zagreb, a represúo sérvia no Kosovo, após os primeiros tumultos logo em 1981, implicara
um aumento das despesas miliares, para as quais as repúblicas do Norte da Jugoslávia a
Eslovénia e a Croácia, não estavam dispostas a contribuir. A Eslovénia decidiu entáo
suspender as sues contribuições para o orsâmento federal, entrando em conÊonto com a
Sérvia- Miloswic entetanto alarmara as outras repúblicas - já apreensiras dwido ao
discuno nacionalisa adopado pela Sérvia - ao retirar as autonomias do Kosovo e da
Vojvodina. Sem Tito, o poder central praticamente desaparecera e depois de Gorbachor', o
contexto internacional dei:sra de incentivar apoios financeiros dos países ocidentais à
Jugoslávie (Cutileiro, ?-Cfi3 4l; Garde, 19/22 2&). "Ente 1989 e 1997, o que resawa da
coesão na Heração desfez-se..." (Cutileiro, 2üJ3:41).
OcauntHopamAGUERRA
1990
58
Jucosúvr,A: OCoNEIJToDE l99l A 1995
75
Dmovsek (s.ô: 107): "they [§A] had damaged ÍiíemlYugoslávia wiú the Ifusoro crisis, the repression there and the
úuse of human rights, and úat vrbat txas happening in Slovenia was in fact noúing more tlau a normal response o the
undemocraú pmgress of events iu Serbia, and specifically in Kosovo, and a defensive reaction üe erter more explicit
Greater Serbian nationalism tbat was tbreatening the oúer nations in Yugoslavia and which had úeady brought dovm
more democratic regimes in Montcnegro, Vojvodina and Kosovo and was now threetening otheͧ-"
59
JucosúvlAr O CoNFLITo DB l99l A 1995
foram os próprios eleitores que votatam ersctamente naquilo que pretendiam, ou seja, uma
forte dose de retórica nacionalisa por parte dos líderes partidários. Âo longo do ano de 1990,
decorreram as campanhas eleiorais para as primeiras eleições multipartidáriari, que iriam ser
influenciadas pelas aspirações nacionalistas expressÍs nas obras de dirigentes como Alija
Izetbegovic, na Bósnia-Herzegovina e de Franjo Trudjman, na Croácia Essa.s obras viriam a
ter um papel fundamental sobre a opinião pública e na acção política que se seguiu. Existiu
no entanto, um elemento comum aos diversos objeaivos nacionalises dâs váries repúblicas,
alepdamente todos os povos que habiAvam a JugOsláüa corriam Perip: todas as naçóes
jugosla*,as tinham sido vítimas dos sérvios; os sérvios por seu lado, consideravam que
tinham sido postos em perigo por todas as outras nações (Nil<sic e Rodrigues, 7996:36).
Desta forma" ao longo de 1990 os diriçntes locais destruíram sistematicamente as
reformas do primeiro-ministroAnte Markoüc e não houve eleições para a federa$o, já que
na realidade nenhuma república as queria, para não dar legitimidade ao govemo Íêderal. Na
opinião de Rados, o único objectivo dos novos líderes consistia em anular a legitimidade da
S§, e substituiJa peta nova legitimidade nacionalisa, pelo que nes eleições das repúblicas
predominou um só tem4 o nacionalismo e a independência nacional. No enanto, a nova
democracia e a sua legitimidade democútica eram falsas; os eleitos eram nacionalistas que,
logo que tomaram poder, comesaram a tra\zr a oposiçáo, a limitar a liberdade de
o
imprensa, e conservar o controlo económico e no çral, todos os novos poderes oPeraram
uma tremenda guerra propagandística (Rados, 199: 89'9O). Segundo Milrrra Djilas (apd
Rados, 7999:97) ' as novâs geraçfu dos políticos são tanto mais bem sucedida.s quanto mais
propagam o nacionalismo frequentemente e:rtremista'e desta form4 de acordo com Rados
(7999 91), a transi$o dos poderes naJugosláüa comunista, tal como nos ouEos púes do
Leste europeu, realizou-se "por via dos nacionalismos virulentos e demagógicos"'
Milan Kucan, candidao às eleições na Eslovéni4 havia apresentado como objeaivo
durante a sua campanha" libertar os eslovenos da fuerago jugoslarta, urna vez que esta se
apresentave adavez menos venBjosa para aquela república que enr visa pelos eslovenos
como o cofre pagador das repúblicas pobres e ainda tinha de contribuir para as despesas da
represúo no l{osovo, com a qual discordava; para além de que, se senú cada vez mais
ameagda rus suas liberdades pelas aspiraçóes hegemónicas da Sérvia (Cutileiro, ?.ffJ3l.63).
No segtrimento desta polític4 em Março76, o Parlamento da Eslovénia adoptou uma série de
emendas à ConstituiSo e eliminou o terÍno "socialisa" detodos os organismos oficiah.
Ao longo de Abril e Maio de 1990, fonm realizadas as primeiras eleições
multipartidárias na Eslovénia e na Croácia, que resultaram na vitória do anticomunismo e
do nacionalismo, ao mesmo tempo que se registava também nas outras repúblicas, uma
Já em Sercmbro de 1989 tinham sido realizadas alteràsões à ConstituiÉo da EslovéEia que lhe daum o direio à
76
60
JUGoSúVIA: O CONFLTTO DE I99I A 1995
61
JucosúvlA:OCoNrLIroDE 1991 A 1995
esus o primado absoluto perante a federaSo. Â Croácia adoptou e stra novr ConstituiçáoD a
pluripartidário. Bsa altera$o iria no enürnto, aumentar ainda mais a tensão entre os sérvios
e os croatas já que, enquanto a Constitui$o federal de 7974, definia a Croácia como "Estado
de croatas, sérvios e ouffos poyos que aí üvem", Trudjman argumentou que o novo terÚo
deveria ter em conta que os sérvios constituíam apems onze por cento dos habiantes da
Croácia e assim a nov.a Constinri$o passou a definir a Croâcra como 'Estado nacional do
povo croata, e de todos os séwios, mUçulmanos, eslovenos, húngaros e checos qUe sejam
seus cidadãos nacionais". Desa forma, os sérvios deixaram de ser considerados como povo
coustituinte, para passarem a esar equiparados às outras minorias dentro da Croácia (Girão,
1997 : 70; Rados, l99: 89).
Seguidamente os novos @eres procuraram legitimar a soberania estaal dos
Esados-república ararrés de plebiscitos, pelo que foram realizados referendos sobre o futuro
esbtuto em todas as repúblicas: na Blovénia foi realizado a ?3 de Dezembro de 1990, e
mostrou a vontade dos seus povos pela secessão e independência da república; na Croácia a
19 de Maio de !9Bl, e na Bósnia-Herzegovina a29 de Fevereiro e 1 de Março de 1W2
(nesa última como pré-requisito ü
Comunidade Europeia para o seu reconhecimento)
(Kipp e Thomas, 193; Markovic, 1995; Rados,l99:97).
Por último, em Dezembro de 19fl), ambém se realizaram as primeiras eleiçóes
multipartidárias no Montenegro, gurhas pelos ex-comunistas pró-sérvios e na Sénda, onde
foram boicoadas pelos albaneses do Kosovo e donde saiu vencedor o partido socialista, ex-
partido comunista; Miloseüc foi eleito o presidente da Sérvia (Rados,1999:90).
1991
O ano de 1991, começou com urnâ ordem da Presidência Federal para a dissolução
de todas as formaçôes paramiliares (fazendo uma referência especial à Croácia e à enrada
de armamento ilegat dâ Hungria" também com o apoio da Iúlia e da Áustria) e que dava o
62
Jucosúue: O CoNruto DB l99l A 1995
prazo *é 21 de Janeiro para que fsÍhq as arrrus fossem enEegues ao JiNÂ (Grande
Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, 7997: 3&S;Drnovsek, s.d.: 220).
Entretanto durante o mês de Março, verificaram-se divergências internas na Sérvi4
em oposiçáo a Slobodan Miloseüc, tendo sido organizada pela oposição no dia 9, uma
manifestação que acabou com a cidade de Belgrado ocupada por blind«los do e#rcito.
Vários dirigentes da oposição viriam a ser presos nos dias seguintes àqueles distúrbios
(Niksic e Rodrigues, 7!)6t316; Drnovselg s.d.: ã6).
AcrreRRA
m
"Mais grarre do que urdo, a gente de cada um dos lado, incluindo os próprios chefes políticos, estara inteiramente
couveucida que tinh, raáo no que pensawa sobre os desÍpios maliguos da gente do outro lado" (Cutileiro' 2$3: 6fl
63
JucosúvrA: OCoNFLnoDB l99l A 1995
guerr4 no mês deJunho de 1991 ainda seria feig uma derradeira proposta sobre a reforma
do Estado federal pelos presidentes da Macedónia e da Bósnia-Herzegoün4 que
pretendiam a forma$o de uma esp&ie de Comunidade dos Estados Independentes,
semelhante à que sucedeu à URSS. Slobodan Milosevic e Franjo Trudjman acabariam no
entanto por rejeitar esta proposta (Cutileiro, 2003:40;Nilçsic e Rodrigues' 1996).
A declaração de independênciae da Eslwénia e da Croácia chegaria no dia 25 de
Junho de 1991, tendo sido logo suspensa a ConstituiSo daJugoslávia nos seus territórios.
8r
Este referendo foi boicotado pelos sérvios.
e A Maceddnia proclama a sua soberania a 15 de Seembro (Nibic e Rodrigues, 79962 378)
@
JUGoSLÁVIA: OCoNFLIToDE I99I A 1995
Os eslovenos colocaram de imediato os seus soldados nas fronteiras com a Áusria e altÁliu
as fronteiras da República da Eslovénia da SFBJ, agora extemas. No dia seguinte, o Govemo
83
 cidade de Vukonar, situada na Eslavóuia Orieoul perto da Êonteira com a Sérvia, era considerada estratégicq uma
vez que constituía rrm, passaggm entre a Sérvia e as zouur de popula$o sérvia nas partes ocidenais da Bósoia e da
Krliina sendo ainda urna fonte de petróleo. No Outono de 191, verificaram-se fortes combaes à vola de Vukovar gue
Gz om que muims croatas fugissem dâ cidâde (Rados, 19991 13f ; Soqràrds, 2m4.
65
JUGo§úVIA: O CoNFLITo DE I99I A 1995
Nesse mês ainda, teire início um aaque doJNÀ a Vukorrar, na Eslavónia Oriental, que iria
durar de Agoso t Novçmbro de 1991, quando ficou sob controlo das forgs sérvias
17 de
(Nilrsic e Rodrigues, 19Fi6:, 631' Sá'e2,1993:122). Segundo Sfuz, as imagens da capitulaéo
daquela cidade iniciaram uma mudança na atitude por parte da comunidade intemaciond.
A 8 de Agosto de 1997 parou oÍicialmente a guerra na Eslovénia, enqrümto na
Croácia aumentava a violência (Rados, 1999: 143).
Enketanto, a 21 de Agosto, um acontecimento na URSS iria influenciar a nova
posiSo comum da CEE. Nessa data, a velha guarda comunista, Penmtc a perda das suas
atribuições, intenbu um golpe de Estado, tentando travar a transformação política e
económica na URSS. Esa tenativa de golpe de F,stado terminou com a subida ao poder de
Boris lelsin, a proclama$o da independência da Fedenção Russa e, como consequência, o
& A cidade de Drbrormik represena uma enorme fonte de receias de turismo e é onde as estradas do interior atiugem o
Mar AdÉático (Sorarús, 2{D4).
66
JUGo§LÁvtA: OCoNFLIToDE I99I A 1995
acontecimenüos, segundo Rados (1999: 144), enquanto os Esados Unidos oPBram por não
se manifestar, a Alemanha já reunificada agarrou a liderang da Comunidade Europeia,
utilizando decisfu comuns da CE para atingir os seusi objeaivos de interesse nacional.
as
movimentos coordenados, para bloquear os quartéis do exército Íêderal, Para que est€
abandonasse a Croácia, já que segrndo Sáez (7993: 722), as autoridades croatas, não se
tinham preparado para combater num conflito armado aquelas camcteísticas. Segundo o
autor, tda aquela situaçáo permitiu aos croatas apresentarem-se penrnte a opinião pública
mundial, como útimas da agressão sérvia- A partir de 7 de Setembro de 1991, foram
assinados sucessivos cessar-fogos, num total de quinze, tendo sido sucessivamente üolados.
O último, o chamado Plano Vance, assinado a 2 deJaneiro de 19/2 entre represenBntes do
JNA e do gorremo croeta, apesar de incidentes esporádicos, foi respeiado. Este cessar-fogo
lwou o Conselho de Segurança da ONU a autorizer o envio de capacetes azuis para as
zonis em conflito na Croácia (Niksic e Rodrigues, 7D6:320;Pereira' 1999:655:,5âç2,1993:
1»-12i).
A ideia do envio de uma força miliur dos europeus para aJugoslávia, foi desde cedo
considerada pela CE, para o que deveria ser utilizada a UEO. A ideia do envio de uma forg
de interposi$o europei4 que partiu da Frang e da Alemanh4 seria apesar de tudo Po§E de
lado, numa reunião da UEO a 19 de Setembro de l99l,pelos bri6nicosr Qüe se oPuseram a
este tipo de intervençáo no conflito. Desta forma foi considerada uma oura op@o para a
B No mesmo dia, * 1y1r66[gnia, era realizado um referendo sobre a indepeadência (Markovic' 199Q
67
JucosrÁvra: O CouFuro DB l99l A 1995
forg miliar a intervir naJugoslávia: seria en6o uma força da ONU. Esa forg começou a
sua actuação três meses após o início dos conflitos na Jugoslávia (Rados, 7999: 163;
Woodward,2ffi0: 154).
A primeira acção concreta da ONU foi efeaivada a 25 de Setembro de 1991, pela
Resolu$o 713, quando o Conselho de Segurança impôs um embargo geral à venda de
armas e equipamento militar à Jugosláüa a fim de atenür os violentos corrúates que
sacudiam o país (Cutileiro, 2fi)3: 155; Niftsic e Rodrigues, 7996:' 318; Rados, 1999). No
entanto, segundo Valle (2ffi1: 110), Bona continuou a fornecer secretamente a Croácia em
annas e munições.
A 3 de Outubro de 7997 aconteceu a morte ile jure do Estado Federal, guando o
govemo sérvio, com o apoio do Montenegro, tomou o poder na presidência daJugoslávia; a
partir desse momento, o JNÂ passãrÀ a responder direcBmente a Miloswic. A 15 de
Dezembro de l»7 o parlamento da federa$o era dissolvido e no dia 19 Ante Markoüc
demitia-se do cargo de primeiro-ministro (Niksic e Rodrigues, 7996:,3201, Rados, 7999:V2-
93;Sâez,l93:72-723).
A 8 de Outubro, com o Íim da moratória de três meses estabelecida nos Acordos de
Brioni, as assembleias da Eslovénia e da Croácia, cortaram definitivamente todos os laços
legais com a República Federal daJugoslávia (Markovic, 1995; Niksic e Rodrigues, 1996:
318). No mesmo dia, o Parlamento da Bósnia-Herzegovina proclama a sua soberania e
iniciam-se os combates na república- Para além do problema específico da B6snia-
Herzegoüna enquaÍrto espaço onde vivam numerosas populaçóes de três nacionalidades
diferentes, convém não esquecer a política comunista para a quesüio das nacionalidades.
Antes do regime de Tito, aJugoslávia úo esarra diüdida em unidades étricas, rnari com o
intuito de satisfazer as aspirações e exigências nacionalistas, e evitar possfueis rePresálias Por
parüe dos sérvios devido aos nussÍrcres da II Guerra Mundial, Tito traçou as fronteiras
étnico-geográficas de tal forma que deimram cerca de 307o dos Srvios em repúblicas que
náo a sna (Girão, 1997:72). Na opinião de Girão (|Wt 73) para que o Estado federal
jugoslavo se tornÍsse forte e a diadura se pudesse impor, era necessário acalmar o ímpeto
dos sérvios, que haviam saÍdo da guerra do lado dos vencedores, e estavam desejosos de
vingang conEa os croatas. A solu$o encontrada por Tio foi dividi-los, para atenuer a sua
força (Girãq 197:72-73; Pereira 1999:655)' Ainda a I de Outubro, o secreÉriogeral da
ONu nomeou Cynrs Vance, ex-secreúrio de Esado norte-americano, como seu enviado
especial para negociar um cessar-fogo para a Croácia (Niksic e Rodrigues, 1996: 318). Esu
nomea$o sigrificou, de acordo com Rados (79D:[ff), que o envolümento da ONU no
conflito jugoslavo seria a partir de então, guiado pelos Esados Unidos, Al como tinha
acontscido na Guerra do Golfo.
68
Juc,oslÁvrA: o CoNFuro DE l99l A 1995
Jugoslfuiâ era dos lÍderes sérvios, que obrigaram es outms repúblicas, em defesa
própna a
optar pela independência, depois de verem retiradas as autonomias às províncias do Kosovo
e daVojvodina (Cutileiro, 200,3:4).
A 23 de Novembro de 7991 Slobodan Miloserric, Franjo Trudjman e Veljko
IGdljwic (minisro da Defesa da FederaSo), enconeam-se em Genebra com Iord
Carrington e Cyn:s Vance, para assinar mais um acordo de cessar-fop. Dado que os
presentes possúam a legitimidade requerid4 foi feito o conüte para o enüo de epacetes
azuis da ONLI86, reforçado com a assinatura do cessar-fogo. Como resulcldo, o Conselho
de Segurang aprovou t 27 de Novembro a resolução 721, qr;re previa a possibilidade de
envio das forças da ONU com mandato de pwrt-krqiÍrg, ou sej4 forças de interposiSo e
e Para que a força miliar da ONU pudesse âctuar em eniúrio jugoslavo, eÍa necesMrio um conüte formal de uma
entidade interna, reconhecida intemacionalmente (Rados, 1999: 167).
69
Jucosúvra: OCoNFUToDB l99l A 1995
viriam a veriÍicar no final de 7991. A 15 de Dezembro pela resolução 724, íoi enáo
elaborado um plano para a operasáo de paz da ONU, tendo sido enviado um Pequeno
grupo de pessoal da oNU para aJugoslávia- Â 2 de Janeiro de 7992, em Sarqiwo, é assinado
um novo cessar-fogo, pelos representântes do JNA e do ex6rcito croate (Markovic, 19951
Nilaic e Rodrigues, 199 6: 3 79 -320 ;).
EnfeAnto a Alemanha demonstrava o seu empenho no reconhecimento da
ú Outro olemplo do apoio da Aemaúa à Croáciâ foi a adopgo no dia 4 de Dezembro, pelo Parlameno de T.egreb
incitado por Bãna de uma lei constitucioral sobre protec$o das minorias, elaborada com a ajuda de um professor
a
alemão (Michael l'ibtzl" Limits oJ PewosiotGanaq ütd dE Yugoslo crisls, 1991-1992, Vestport' lW, W.79-8íJ in
Cutileiro, 2ü)3: 66). I€i esta, €sigidâ pela CE, para o reconhecimeno da independência da Croácie.
B Ou Tratado de Maâstricht
70
Jucosúvr,A: O CoNFuroDB l99l A 1995
s À Comissão de Ârbitragem dweria emiú o seu parecer ad dia 15 deJaneiro; no mesmo dia o Conselho de Minisaos
deveria omar a decisão final (Radc, l989t 157-1fi).
7l
Jucosúvn: OCoNrutroDB l99l A 1995
grande parte dâs armas do§d quando este reúou da Croáci4 em 7997; daÍ que ambos os
lados tivessem amplo acesso a armâmento §iksic e Rodrigues, 1996:748).
7982
72
JucoslÁu* O Counmo DE l99l A 1995
controlo das milÍcias inegulares sérvias, para que estas lerrassem a cabo o que foi
denominado de "limpeza étnica". Âs cidades convertenrm-se no principal alvo dos ataques,
já que era precisamente aÍ que residia a maioria da população muçulmana §ilsic e
Rodrigues, 1996: 320; Sáe,, 7993: 7?3).
Entreanto na Bósnia-Herzegovina, e de modo a cumprir os requisitos exigidos pela
Comissão Badiner, para o reconhecimento internacional, foi organizado um referendo nos
dtes29 de Fwereiro e 1 de Março de 79V2, de muçulmanos e croatas, que os sérvios
boicoaram (Nilsic e Rodrigues, 7996:.320;Rados, 799;97). Conforme foi divulgado pela
CE, nesse referendo votaram cerca de 66olo dos eleitores inscritos e desses, 99p/o votâmm a
favor da soberania. A Comissão de Badinter considerou que dois terços da população bósnia
tinham votado pela independência e sugeriu o reconhecimento da república" O
reconhecimento seria oficializado no dia 6 de Âbril de 19y2, quando os combates já se
haüam generalizado na Bósnia-Herzegovina (Niksic e Rodrigues, 7996: 83; Rados, 1999:
173-174; Rueda, 2@3: 45-46). Uma das razóes para a esmagadora ütóú da opSo pela
independência" no referendo realizado pelos croatas e muçulmanos, foi o facm de estes não
desejarem ficar vinculados a unur estrutura polÍtica dominada pela Sérvia tendo em conta
que a Eslovénia e e Croí,cia jâ, haviam sido reconhecid"t pl"
CE e tinham abandonado a
Fedemgo Jugoslara (Niksic e Rodrigues, 19,6: 320; Sâez, 1993: 123). Após o
reconhecimento pela CE, seguiu-se o recoúeçimenO pelos EUÂ e por toda a comunidade
internaçional. "O reconhecimento intemacional foi o sinal para que a gueÍra começasse"
(Rados, 7999:777).
Iogp aÉs serem divulgados os resultados do referendo na Bósnia-Herzegoüna de
imediato, membros das forgas paramiliares sérvias começaram a consünrir barricadas e a
esabelecer bases de íranco-atiradores em vola do Parlamento bósnio em Sar4jevo. Os
represententes sérvios no Parlamento da Bósnia-Herzegovina reflrsâram-se e eceitar a
separa$o da FederaSoJrgod*c e optrram porjunar-se aos projectos pansérvios. Era o
começo da guerra na Bósnia-Herzegovina que rebentan definitivamente a 7 de Abril,
precisamente quando a Comunidade Internacional decidiu reconhecer a Bósnia-
Herzegovina como Estado independente Eueda 2003: tt6). No dia 7, a República Sérvia da
Bósnia-Herzegovina { declarava a sua independência em Banja Luka (Markoüc, 1995;
Pereira, 1W9l. 656) e a partir desse mês começavam a chegar ao Norte e Lese da Bósnia-
Herzegoüna" forgs paramiliares provenientes da Sérvia, entre as quais as famosas brigades
73
JucosúvrA: O CoNFLJTo DE l99l A 1995
estrangeiros (principalmente bri6nicos e americanos). Neste conflito, que iria durar desde
Íinah de Março de 79/2 até Novembro de 195, confrontaram-se não só sérvios contra
muçulmanos e croatas, mas também úToaas contra muçulmanos, que em 1993 e 1994
luaram entre si na Bósnia-Herzegwina Central e na Herzegovina Ocidental, e ainda
muçtrlmanos contra muçulmanos em Bihac, em 1994, A gperra viria a ceifar a üda de cerca
de 100 mil pessoas e expulsar das suas terras Perto de um milhão (Cutileiro, 2OO3:71).
Âpeur de nunca terem estado ausentes, os EUA tiveram um papel secundiÍrio entre
Julho de 1991 e Março de |9V2,akura em que decidiram intervir no conflito que acabava de
rebentar (Zimmermann, s.d.). De acordo com Valle (2N7: 172), os Estados lJnidos,
simultaneamente aliados e concorrentes da Alemanha nos Balcãs, iriam esforçar-se por
agrev:u ainda mais a situaçáo nos Balcãs, a fim de tomar a stla Presença polÍtico-militar
indispenúvel - arriscando-se a que os diüdendos ôssem monopolizados por Bona - e em
Março de l9/2, os americanos inciam Alija Izetbegoüc a rejeitar o acordo concluído em
Lisboa que prwia a partilha da Bósnia-Herzegoüna Se em 1991, os EUÂ defendiam a
unidade da Jugoslávi4 a partir de Março de 79t2, o secreúrio de estado James Baker,
mostrou que os EUÂ desejavam ver a Bósnia-Herzegovina reconhecida A 6 e 7 de Abril
esta era reconhecida por todos os estados ocidentais (Valle' 2ff)1: 112).
À negociações sobre o Plano Cutileiro para e paz nL Bósni4 decorreram entre
Fwereiro e Março de 7!)2, e terÍni&[am com a assinatura da "Declaração de Princípios" a
18 de Março, pelos líderes Alija Izetbegovic, do SDA, Radovan l(aradzic, do SDS, e Mate
Boban, doÍlDZ, em Sarajevo. O documento assinado reconhecia e existência de fronteiras
elúemas na república da Bósnia-Herzegovina e propunha a divisão do território da Msnia
em três unidades territoÍiais (I(aldor, 1999: @), designadas cantões.Já durante o Verão, Alija
Izetbegoüc viria a rejeiur o dwumento, alegadamente incentivado pelos EUÂ (Cutileiro,
2h3t71;Markovic, 1995; Niksic e Rodrigues, 796:81).
A 7 de Abril pela Resolu$o 749, o Conselho de Segurança autot'tzava finalmente o
posicionamento da FORPRONU nas zonas de protecÉo da ONU na Croáciaer. De referir,
que o contingenre da FORPRONU, foi inicialmente enviado aperuui para o conÍlito na
Croácia, sem um mandato adequado pam um maior envolvimento na Bósnia-Herzegovinâ
(Rados, 799:20\. Bósni4 na Primavera foram enviados
Face ao deteriorar da situaçáo na
obserr"adores miliares, e a FORPRONIJ começou com um mandato que se limiarra a
garantir o acesso e a distribuição da ajuda humanitária; apenas em Junho seriam enviados
capacetes azuis para o aeroporto de Saqjevo (Cutileiro,2003: 111; Rueda 2ffJ'3:67).
í Âs zouas de proecSo das Na§6es Unidas na Croáciâ, eram zouas nas quais os sérvios eram maioria ou uma minoria
subsancial da popufuao, e onde as tensões eútre sérvios e crmtas tiuham já originado conÍlios ârmedos. Na Croácia
de proecgo das Naçôes Unidas: Eslry6nia Orienal, Eslav6nie Ocidental
existiam três zonas e l(rajina
(www.uo-org/DepwDPKO/Missionírmprofor-b.htn).
74
Jucosúua: O Coxn rro DE l99l A 1995
membros da ONU (Niksic e Rodrigues, 1996; Pereira, 79992 656; Rados, 7999:174).
A 30 de Maio de 1W2, jâ com a FORPRONU no telreno' o Conselho de
Seguranç4 pela Resolução 757, decretou um embargo comercial, petrolÍfero e aéreo contra
duas Repúblicas, a Sérvia e o Montenegro, dwido ao apoio direco de Belgrado às
aaividades dos sérvios bósnios e ao bombardeamento de Sarqiwo. Embargp que' no
entanro, era sistematicamente üolado através do trânsito pelo rio Danúbio (Nilsic e
Rodrigues, 1996: 707; Rados, 1999). fu sanções não solucionaram o conflito e através da
ResoluSo m, em Setembro, as sanções aumentaràIn a nfuel polÍtico. A novaJugOslávia
jâ,
e No Veráo de 192, Sarajwo foi cercada e bombardeada pelos sérvios (Cutileiro' 2000: 15-16)
75
JucosúvlA: O CoNFLrro DE l99l A 1995
76
JUCOSLÁVIA: OCONFUTODE I99I A 1995
7993
s No dia 2 de Agoso de §q2, no dilirio norte-americano, Ncw York Nemnday, foi publicado um artigo com o darlo
"Os carnpos da Lorte na Bómia", oude era rerrel«lo que os sérvios detinham campo de concentraÉo (Radog
19»t1&).
q
Até 13 de fuosto, a Cruz Vermelba visitou 13 canrpos controlados pelas rês pares e com hase nos rclatório da Cruz
Vermelha seriã aprorada a resolu$o nt de 13 de Âgpsto, que coudenara sqrer:rmentÊ a'limpeza étnica" e qi-gia o
aceeso a todos os campos de deteoçáo e a odas as pris6es. A 18 de Dezembro de lW2, *a eprovah a Resolução 798
que
exigia o encerramento de todos os campc de prisioneirm na Bósnia-Henegorio+ especialmene os campos de d9te9Éo
p"ã muthe"e". Os campos de deten6o foram encenzdos, no entanto, a ooca de prisioneiros apeuas seú rcsolvida já
depois da assinanrra dos Acordos de Dal,ton (Rados, 199: 2B).
77
Jucosúvn: OCor.rrrroDE l99l  1995
presidente da SRJ, que propunha a diüúo da Bósnia em dez prorríncias. Ao início os croata§
aceiAram as ü'ês partes do Plano, enquanto os sérvios e muçulmanos criticaram as
propostas, já que nâo concordavam com o território que lhes havia sido atribuído. No final
de Janeiro, depois de Slobodan Miloseüc, por pressão das potências ocidentais, ter
anunciado que não iria ajudar miliarmente Radovan l{araÁzic, os sérvios Msnios
predispuseram-se a assinar todo o Plano se os muçulmanos aceitassem, mas Âliia
Izetbegoüc recusou assinaÍ, possivelmente à espera da reac$o dos Estados Unidos (Nilsic e
Rodrigues, 1996; Pereira, 199:657;Rados, 1999: 185-186).
Uma das consequências do Plano Vance-Owen, foi o rompimento da aliang
muçulmano-croate, devido às divergências provocades pelos mapas ProPostos de divisão
territorial da Bósnia, que acabaram por causar tensão política e conflitos armados enEe os
croahs e os muçulmanos. Como consequênciq em Fevereiro de 1%3 o exército dos croatas
bósnios, FIVO, cercou os muçuhnanos na B6snia Central, nulna zonâ ainda úo definida
pelo Plano Vance-Owen, dei:rando aos croatas e muçulmanos a decisão sobre quem a iria
controlar (Rados, 199.9:. 189).
'Warren
A 10 de Fevereiro de 1993%, o secreÉrio de Estado norte-americano,
Christopher, anunciava que os Estados Unidos tinham a intenção de se empenhar mais
activamente na resolução do conÍlito da Bósnia-Herzegoünâ nomeadamente usando os
meios milibres da NATO (Markovic, 1995; Rados, 7D9:244).
A 22 desse mês, pela resolução 808, o conselho de segurança da oNU anunciou a
criação de um tribunal internacional para julgar os crimes de guerra naJugosláüa. A 25 de
Maio, pela resolu$o ffX7, foi estabelecido o Tribunal Penal Intemacional para a ex-
Jugoslávia que entrou em funcionamento em }{at4e 17 de Novembro de 1993
(Cutileiro,
2[3,156;Niksic e Rodrigues, 1996:3?5;Peretra" 199:657;Rados, 1999:.213'274).
Depoh do malogro das negociações deJaneiro, em Março e Abril de 1993 seria feia
urne novzr tentâtiva, ao mesmo tempo que continua'na a pressão através de Slobodan
Miloswic. A 11 de Março, Slobodan Milosevic encontra\ã-se com François Mitterrand em
Paris. Nessa reunião, Mitterrand reafirmou e ami?:rÃe da Frang Para com a Sérvia' e
Miloswic prometeu que iria aceitar a proposta do PlanoVance-Owen sobre a Constitui$o
e o cessar-fogo, e que iria continuar a negociar os rurpas, mas pedia em contrapartida o
le\rantamento das sanções. François Mitterrand prometeu enÉo pressionar Helmut Ktrol,
para que a Alemanha aceitasse o leyantamento das sançóes contra o§ sérvios. Â mudança
definitirra na estratégia do governo de Miloswic aconteceu no momento em que Boris
Ielsin ganhou o referendo na Rrlssia, em Âbril de 1993. A partir desse momento, SloHan
s De relembnr que a ã) de Janeiro de 193, Bill Ctinon" um democrata, tomou pose corno presideute dos EUÂ'
acabando com doze auo de domÍnio repúticaoq com Ronald Reagau e George Buú. Segundo Rados, enquano
Ronald Reagan desruiu o comnnismo, George Brrsh, após a Guerra do Golfo' Eotou crier uma norn ordem
intemacional em termos wilsonianc §ikic e Rodrigues, 196: 325; Radc, 19,9.. ?-44).
78
IucosúvrA: OCoNFLIToDB l99l A 1995
Milose'ric, desistiu do seu objeaivo de unir todos os #rvios num só Estado, seguindo a
esraégia de Ieltsin, de coopera$o com o Ocidente. Com a eúdência da mudanp de
estratégia de Slobodan Miloseüc, decorreu en6o outra tentstive das negociações de paz
(Nilrsic e Rodrigues, 7996:326;Rados, 199).
A 25 de Março, Cynrs Vance e David Owen apresentaram urna no\Ia ver§ão do plano
de paz para a Bósnia- Os muçulmanos assinaram finalmente o plano, os croatas também,
nus os sérvios condicionaram a assinatura do Plano a urrur deciúo da sua assembleia
(Markoüc, 1995; Niksic e Rodrigues, 1996:326).
Dwido aos crescentes confrontos na Bósnia-Herzegoüna durante a Primarera de
7993, eà cadavez maior dificuldade dos capacetes azuis em assegunr o respeito da zona de
exclusâo úrex., o Conselho de Seguranç4 adopa a 31 de Março, a resoluçáo 816 e na
Abril e opetzção Duty Flight, pera aplicar o respeito ú z.ona
sequência desta, inicia-se a 12 de
de exclusão aérea (Niksic e Rodrigues, 1W6:326; Rados, t9%:217). Essa acção surgiu, nas
palanras de Rados (1999 D5) como 'a primeira missão histórica [da Nato] numa acção
miliur fora das fronteiras dos Estados-membros".
Depois das sanções, foram criadas zonas de segurang nâ Bósnia, de forma a Proteger
a popula$o ciül nas zonas de maior conflito, principalmente devido aos combates entre os
muçulmanos e os sérvios nos arredores de Srebrenica (Rados, 199P:212) (ver anexo II).
No dia 16 de Abrit de 1993, a ONU decidiu aProvzr a resoluçáo 819, pela qual
Srebrenica foi declarada "zona de segurança" das Nações Unidas e no dia 18 as primeiras
forças da FOPaPRONU chegavam à cidade §iksic e Rdrigues, 1996: 727). No dia
segninte o Conselho de Segurança adopBva a resolu$o &20, que agruva.Yl, as sançóes
internacionais em vigOr conü? a Sérvia e o Monüenegro, c;tso os sérvios Msnios se
recusassem a aceitar o Plano de Paz Vance-Gyen. Algo* diâs mais Urde Warren
Christopher declarava que os Btados Unidos esaram preparados para utilizar a força contra
gs sérvios da Msnia (Nilsic e Rodrigues, 1996; Rados, 7999t194).
79
JucosúuA: O CoNFLITo DB l99l A 1995
pretendia uma acçáo concreta na resoluçáo do conÍlito jugoslavo (Rados, 1999: 193). No
mesmo dia pela Resolução 824 da ONU, adicionavam-se às zone§ de segurang já
adstentes, Sarqiwo e os enclaves muçulmanos de ZepU Gorazde, Bihac e Tuzla (Rados,
te99).
Depois dos sérvios bósnios terem rejeiado o PlanoVance-Owen, foi anunciado que
os Esudos Unidos e a Rússia PrePâmvam um novo plano de Paz e a.2 de lvlaio. em
Washington, os ministros dos negócios es6angeiros do Reino IJnido, França ,Rú§sl4
Espanha e Esados Unidos adopAram um Plano de Ac$o para t Paz na Bósnia, que úo
viria a obter quaisquer resulados (Nilsic e Rodrigues, 1996:328;Rados, 7999:195-796).
Já em Junho, no dia 29, no Conselho de Segurança, foi debatida uma
proposa de
resolução que propunha o Íim do embargo de armas aos muçulmanos. Os Estados Unidos
vog&lm ao lado dos paÍses de Terceiro Mundo e islâmicos, a favor da resoluçáo, mâs esta
seria rejeiada pela abstençáo dos paÍses da Europa Ocidenal e da Rússia (Nilsic e
80
Juoosúvre: O CoNrumo DE l99l A 1995
Depois de, a 14 de Âgosto, as forças sérvias aceiarem retirar da.s zonas nos arredores
de Sarajevo% que tinham ocupado nas senumas anteriores, inicia-se a segunda ronda do
Plano Owen-stoltenberg; em que sérvios e croatas aceitam as nova§ ProPostss? tendo os
últimos proclamado a sua unidade nacional a 27 de Agosto, atrarrés da República da Herceg-
Bosna; os muçulmanos rejeiam o Plano, pedindo a continuação das negociações (Markovic,
1995; Nilrsic e Rodrigues, 1996;Pereira.7999:657; Rados, 1D9:199). Â 1de Setembro
culmina a segunda ronda do Plano Owen-Stoltenberg, com a assinatura do acordo de
princÍpios, mx a29 de Setembro, o parlamento Msnio aabatiapor rejeitar o Plano dePaz,
ao o<igir a "devoluçáo dos territórios cupados pela força", já depois de lhes ter sido
concedido o acesso ao rur, e:<igido na ronda anterior (Cutileiro, 2003: 156; Rados, 1999:
te9-2m).
Depois das eleições de 1993 na França, rusceu um novo entendimento entre este
paÍs e a Alemanha que dweria dar origem ambém a um novo equilÍbrio seryo-croata na
7»4
%
Pelo que foi decidido pela Nao, que náo havia justificaÉo, naquele momeuto , gan raida q)nrà os sérvios bósrios
(Markovic, 195).
e ÂlainJuppé e Klars Kinb[ respectinamente (Mar&ovic, 195).
81
JUGo§úV[ff OCONFTÍIODE I99I A 1995
imagsns das mortes chocaram a opinião pública que aribuiu o ateque aos sérvios, apesar das
posteriores investigações lwades a cabo por peritos da ONU, nunca terem conseguido
identficar os verdadeiros autores do atentado. Apesar disso, de forma a agir perante a
opinião pública, a 6 de Fevereilo Boutros Ghali, secreúrio-geral da ONU, solicitou à
NATO que obtivesse a ilttrlrr:rflo para desencadear acçóes miliares punitivas conEa os
sénrios, caso fosse solicitado pela ONU. No dia 9, o Conselho da NATO reuniu-se e
lançou um ultimato: no prazo de dez dias, as forgs sérvia.s bósnias dsveriam lewÍrtar o cerco
a Sarajevo e, retirar ou entregar à ONU tdas as armas pesadas que estivessem a menos de
20 quilómetros do centro cidade, sob pena de raifu aéteos (Rados, 79D:229}
No dia Bill Clinton telçfonara a Boris Ielsin, para lhe dizer que não
11 de Fenereiro,
tinha sido possfuel aviúJo da imposigo do ultimato. Ielsin iniciou então umjogode forças
s Este arentado provocou cerca de 68 moros e 2ÍE ferido; em Agoso de 1D5, hnreria uma uora explosão no mercado
de §arajevo (Rueda, 2fi)3: 't8, Valle' 2ü)1: 238).
82
JucosúvlA: O CoNruI]o DB l99t A 1995
entre a Rrlssia e a NATO, ao responder que os ataques não dwiam ser decididos pela
I{AIO, mas sim pela ONU. A solu$o enconEada Para o descontentarnento da Rússia'
seria o posterior enüo de capacetes azuis russos p{ra,zaoÍ:r;. de Sarajevo. A crise terminou a
17 de Fevereto, quando representantes russos úrmaram que os séwios Msnios iam retirar
a artilharia pesada de Sarqievo no prazo estipulado; t 2t de Fevereiro, Yasushi Als§higg
confirmava a retirada de armamento dos sérvios Msnios dos arredores de Sarqievo, que
evitaram um confronto direco com a NATO §iksic e Rodrigges, 1996 336;Rados, 1999:
n9-230).
No dia 28 de Fwereiro de l994,no âmbito da operaçfia Dary FIW,F'16 americanos
da NATO, abatiam quatro aüões sérvios nos céus de Baqja Luka, o que, juntamente com a
proibiçáo de voos miliares, signiÍicou a quase toal neutralização do poder aéreo sérvio
(Perena" 1999:658; Rados, 1999 : 272).
431 de Março o Conselho de Segurang adoptou a resoluçâo 908 em que, para além
83
JucosúvlA: O CoNFLno DE l99l A 1995
criticada pelos países europeus, que afirmaram que al decisão poderia intensificar os
conflitos e poderia pôr em perigo a üda dos capacetes azuis no terreno, na sua maioria
europeus'' (Markwic, 1995; Niksic e Rodrigues, 7996: 340;Rados,.l999: D3).
A 25 de Maio, decorrem as conversações preliminares entre os rePresentanrcs do
Grupo de ConAcO e os representantes da Federação Croato-Muçulmana e dos sérvios da
Bósniâ, em que foi discuride a divisão do tenitório da Bósnia-Herzegovina e os mape§ que
fi:arram as fronteiras entre a Federa$o Croato-MuEulmana e a República Srpska o a 5 de
(Markoüc, 1995;
Julho foi enviada às partes em conflito a ProPosta sobre o Plano de Paz
Niksic e Rodrigues, 1996: 347; Rados, 199i9: D0-221). A 16 de Julho os croatas assinam o
mapa proposto e a 18 de Julho (Markovic, 1995; Nilsic e Rodrigues: 1996: 341) o
parlamento da Federação Croato-Muçulman4 pressionado pelos Esados unidos, ac,ahaia
por votar a favor do Plano. Os #rvios pediram a continuaçáo das negociações,
principalmente no que dizia respeito aos mapas propostos, mas Íinalmente a 28 deJulho, o
Parlamento sérvio bósnio reunido em Pale, recusou o Plano do Grupo de Contacto, tendo'
lhe sido dada uma segr.rnda hipótese pelo Grupo, para reconsider:r a sua Posição (Markovic,
1995; Niksic e Rodrigues: 7996:341). Esa rejeição do Plano pelos sérvios bósnios resultou
no rompimento político definitivo entre o governo de Slobodan Miloseüc e Radovan
Kandzic, já que Miloseüc defendeu expliciamente a assinatura do Plano do Grupo de
Contacto. Â 3 de Agosto o parlamento dos sérvios bósnios em Pale, volta a não aceitar o
mapa do Grupo de ContacO marcando um referendo para os dils 27 e 28 de Âgo§joroB
(Markovic, 1995) e como consequência dessa decisão, no dia 4 de Âgosto, Slobodan
Milosevic anunciou um corte de relações com os sérvios da Bósnia-Herzegovina Milosevic
opara pela cooperação absolua com os Btados lJnidos, seguindo a estratégia de Ieltsin, e
foi para atingir os seus novos propósiOs que oPtou por "sacrificar" I(aradzic. Em
dificuldades pelas sanções internacionais, a partir de Agosto de 1994, Milosevic reforçou a
suâ nowr estratégia 'pacifista" e seguindo esa linh+ nomPeu as relações económicas,
militares e políticas com a República Srpska; foi ainde imposto um embargo qua§e totel à
República Srpska e tdas as fronteiras d" SBI, Sérvia e Montenegro, foram fechadas aos
sérvios da Bósnia-Herzegovina. Â partir desse momento, ces§aram as negociações com os
sérvios bósnios e estes ficaram completamente isolados (Markovic, 1995; Niksic e
Rodrignes, 7996: 125; Rados, 7999: 2)l).
Após a mudança de atitude de Milosevic, surgiram alguns atritos enüre o§ membros
do Grupo de Conacto, utna vez que os russos defendiam que deviam fazer-se mais
cedências aos sérvios, incluindo o lerrxramento imediato das sançôes conea a S\f,
t@
,{pesar disso, segundo a imprensa, a ajuda miütar, sobÍetudo americana e alemâ, continuava a chegar aos muEulmauos
e croaes em grandes guantidades (Rados, 1999: 23).
lB O refercúo kyaáo a cabo aa República Srpska sobre os mâpas pÍopostos pelo Grupo de Contacto, twe como
resulcdo a rejeiçâo dos rnapas por cere de 960lo daqueles que votaram (Markovic' 1D5)'
84
JUGoSúVIA:OCONFUTODB I99I A 1995
7995
rB Pela resoluSo 981 era criada a ONURC para a Cmácia, a 28 de Âbril a ONU âPr§\rava a reduSo dos eGctivos de
doze mil para oi1o mil setecenos e cinqueuta; pela resoluÉo 9& a FORPRONU passaria apenas a referir-se à misúo na
Bósnia-Herzegour:a; pela resolu@o 9ú é criada a FORDEPRENU, para a Macedóuia- Âs três miss6es eriam rnandato
at6 30 de Novembro de 1995 (www.nao.inúfor/ur/un-resol-htrn e Niksic e Rdrigues, 196: 351-352)'
85
Jucosúvt* OCourlrrooB l99l e 1995
G De acordo com Cutileiro (?üJ3: l?3), em 1995 os americanos e os eumpeus uniram-se e decidiram impor a paz aa
Jugosllvia; Trudjman, eú entâo sido aconselhado a eryulsar
c sérvio dâ IkÀjinâ recorrcndo à força milicr' co-m o
ãfjec*o de deúiar os séryios de B6cnia-Herzegovina.- Cutileiro, reíerindo-se às iovestidas croatas na KÍCiins' úrma
q; "(...) para acabar com a catásrofe humanitária na Bósoia-Herzegwina (.'.) foi preciso *ecutar ne KÍajina a Ínâior
operação de limpeza éoica, até entlio eÍbctuada na ex-Jugoslávia".
-E"lrrrOnia-
,& A Ocideual era rrrna zotu controlada rtlor réruior desde 191, e erã uttul dag zonac protegida§ da
FORpRONU. Esta acgo, justificada pelo go*.-o p"la necessidade de controlar a auto<trada Zageb'Belgrado'
-J-refugiâd* "r*t
pr*r cerca de 30 séÍüos (Rados,
"
1990: Zll; Niteic e Rodrigues, 1996); ern retaliaçâo c sénrios
ooaas langram mÍsseis sobrc a-caprtal, zagreb (Markovic, 191 Nikic e Rodrigues,196t,351'352).
to para Raios (lW:235), Existe AnAa oútra razão para a guerra úcrta entre os sérvios e a FORPRONU: o Àtaqne à
Eslevóoiâ Ocidànd peto wércio da Croácia a 1 de Maio, teú sido omada pelos sérvios como um incentivo Pâra
glle
atacaseÍn ,, z* d" segúratrça. Pan o sérvios bósnios, uma vez que a ONU não havia PÍoECido os terriÚrios dos
úwios na Croácis" não põdia outro modo com as zonas de segurang dm muçtlmanos na Bósnia-Herzegovina"
agfu de
16
Por esta alture, os séfoos bósie já baviam feito como reféus centenâs de militarcs da ONU.
,, À Forp, a" neacÉo napiaa foãm implonenadas pelo Couselho de Segurança a 16 de Junho de 195' atrarés da
nesom$ 998, p"b õr"l foi auorizado o reforço das forças da ONU em 12"5fi) militares (Markovic' 195; Nihic e
Roddgues, 1916:3531.
tto ps"acotdo Ii"d* (lgfft 2i5l, a dstisão do ennolvimento da NAIO no confronto directo com os sérvios da
Bósoia, ficou
"o-
adever-se à ;udança de posiÉo francesa, nomeadamenüe do seu noro presidente Jacques hirac
C_(eleito a
7 de úo de 1g5), que depois da tomada ae rcfens de capacetes azuis frauceses, opou por apoiar os bombardeamenm'
acabando com a protec$o dada aé entiio aos sérvios.
86
JucosúvtA: O CoNFLno DE l99l A 1995
rr A 8 de Julho er do exérciO da Croácia eotrar na Bóania Ocideutal, para apiar os croaas bósnios contre os
^,tez
Srpska (Markoüc, 195; Niksic e Rodrigues, 199,6;356')'
séwios da República
itÀ Sa" Aó"a, ar,iOo a"'I,nT O atiagiram uma poição ãe mkseis séwic nos arredores de Kniu (Markovic' 1995;
Nitsic e Rodrigues, 196).
i" Súao aof,* a, U1ÍI+CR, fui"r- cerca de 150 mil sérvios dâ Krâjina, http'/tt/wr.unorg/Door§Q§G-Rpíchtle-
a.hd  oreauizaéo Human Rigfs Watch refere 2ü) mil refugiados, htp:/hrw.org/ÍePore/19íCroatiahrn Pfuinas
corsultadas a 28 de Dezembro de 2ü)6.
87
Jucosúvl O CoNFurlo DE l99l A 1995
seu posto (Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, 79962 739; Markoüc, 195; Niksic
e Rodrigues, 1996;, 356).
O colapso dos sérvios da Croácia pode ser explicado por diversas razóes: primeiro
pela surpresa dos aaques do exército croata, depois pela confiança dos sérvios nas forgs da
FORPRONU mas, sobretudo, pela ausência de apoio da Sérvixrr4 s dqe forças dos sérvios da
Bósnia-Herzegovina (Markovic, 1995; Nilsic e Rodrigues, 1996; Rados, 7%9: ?31).
fomecimentos
Quanto ao suce§so das operações do oército croata, deveu-se sobretudo aos
de armas, vindas da Alemanha, Áustria Hungria, Polónia e aé do Chile e da Bolfuiails e às
contribuições financeiras dos emigrantes croatas nos EUÀ A junEr a hto, a remodelação
das Forgs Armadas croatas, em 7994 e 1995, quando insfutores militares estrangeiros
começâram a treinar as tropas do HVrt6 (Cutileiro, 2003:69:. Niksic e Rodrigues, 796:147;
Yalle,2@1:734).
A 7 de Âgosto a Armija conseguia controlar o bastião chave do dissidente
rr4
Desde Agoslo de lgg4 gnire Slobodan Miloserric, numa posição cada vez mais diíIcil devido às sanç6es inemacionais'
opa;x por ãop.o com os paGes ocidentais e em €special com os Esados Unidos, deixando as forças §érvias da l(rdine
isoladas §ibic e Rodrigues' 196: 125; Rados, 199: ?21).
la por seu l«lo, os sérvios também receberam apoios dos ortodoros russos, búlgaros, romenos e gregos, principalmente
a nÍvel de assisência miliar e fomecimeuo de anques e mÍsseis §alle' 2(X)1: lll-ll2),.
lló tlm ercmplo é a empresa norte-americara Upru, Uititary professloual Resources Inc, uma empresa privzü, que
fomece forma$o ministrada por oficiais norte-americanm na reserva, que começou a treirur o elércio croata a partü de
1994, com o coúecimento e aprova$o do govemo norte-americeno §ibic e Rodriguu,796z 147).
117
A República da Bósnia Ocidental foi proclamâda em Setembro de 1993 e tinha sede em Velika Kladusa (Markovic,
19s).
E8
Jucosúvra: OCoNFLIToDE l99l A 1995
maior operaçáo militar de toda a sua história" (Cutileiro, 2003: 115; Nilsic e Rodrigues,
7996t 357;Rueda, 2003: 49-50; Valle,2001: 238).
Na madrugada de 30 de Agosto, foi realizado um etaque combinado da artilharia
pesada da FRR e de raides aéreos da NAIO, numa operação denominada Forg Deliberad4
contra nos arredores de Sarqievo. Os aüões da Nato atacaram ainda
asi posições sérvias
posições sérvias perto de Tuzla, Gorazde e Mostar (Markoüc, 1995; Niksic e Rodrigues,
7996: 72%730; Rados, 1999: ?37). A 1 de Setembro a NÂTO suspende a operação e é
langdo um ultimato para que os sérvios retirem as arÍnâs pesadas Pera üna distância de,
pelo menos, vinte quilómetros à volta de Sarajevo. Face à ausência de uma resposta
satisfatória" a 5 de Setembro a NATO reinicia a ac§o militar conúa os sérvios b6snios à
vola de Sarajwo. Os aaques de NATO foram suspensos no dia 14 de Setembro, depois de
uma reunião entre Richard Holbrooke, Slobdan Milosevic e os líderes sérvios bósnios,
Radovan lGradzic e Ratko Mladic, que se comprometsmm a retirar as arÍne§ pesadas dos
arredores de Saqjwo dentro de seis dias (Markoüc,7995; Niksic e Rodrigues, 1996:359i,
Rados, 19992 235438; Valle, 20fl1: 112). O general Ratko Mladic e as suͧ tropas foram
assim obrigados a abandonar as posiçóes oü'rprdas nos arredores de Samjwo, ao mesmo
tempo que as tropas ü
Federa$o CroateMuçulmana assegunrvem várias conquisus
noutras zonas do território (Enciclopedia Universal, 1997:529:. Niksic e Rodrigues, 1996:
359). A 21 de Setembro, a ONu assegurava ter recebido garantias que a ofensira Croato-
Muçulrnana na Bósnia Ocidenal iria cessar. Como resultado, no dia 5 de Outubro foi
assinado um cessar-fogo de dois meses em toda a Bósnia-Herzegovina, que foi
implemenado no dia 12, que permitiu o inÍcio das negociaçes que culminaram com os
Àcordos de Dayton (Markovic, 1995; Nilsic e Rodrigues, 7996:360-362: Rueda 2003: 50).
Entretanto, a 8 de Setembro, com a derrogx sérvia esperad4 recome§eram a§
numa reunião em Genebra, com represenEntes da comunidade intemaciond e
da Bósnia-Herzegovin4 Croácia e Jugoslávia (Markoüc, 1995; Nitsic e Rodrigues, 1996:
358; Rados, 1999:?38).
A 1 de Nwembro iniciam-se as negociaç&s de Daltorç no estâdo de Ohio, nos
EUÀ com a participaçáo de Slobodan Milosevic, Allia Izetbegovic e Franjo Trudjman e
ainda de Warren ChristopheE secretário de esado norte-americano, Igor Ivanov, Ministro
dos Negócios Estrangtiros da Rússia, e Carl Bildt, enüado da União Europeia; a 2l de
Novembro são concluídas as negociaçôes paÍa a paz rra Bósnia-Herzegovina e o acordo é
rubricado (Cutileiro, 2003: 108; Niksic e Rodrigues, 796;Rados, 19992 239).
A 14 de Dezembro era formalmente assinado o Acordo de Dayton em Paris. Em
conformidade com este acordo a Bósnia-Herzegovina pemraneceu como um Estado
unificado, composto por duas identidades, a Federaçáo da Bósnia-Herzegovina (Croato-
Muçuftnana) e a República Sérvia da B6snia-Herzegovina (República Srpska), a primeira
89
JucosúvrA: O CoNruTo DE l99l A 1995
com 517o dos território e a segunda com os restantes 49% (Cutileiro,2003:15; Rados, 1999:
239; Vaisse, 7997: 193). A IFOR seria implementada no dia 15, pela resoluçáo 1031, com
mandato de um ano com a missão de faciliAr a implemenação do acordo de Dayton'
cessando o mandato da FOF.PRONU na Bósnia; entraYa em funcionamento no dia 20
(Markovic, 1995).
CoNrcrusÁo
It8 De rccordar que em 19,!2 o govemo cr@te, para respouder às exiggncias da Comunidade Buro,peiz' havia feio
altera§6€s à Constinrição, de forma a garantir os direitos das miuorias sénias, no entantor em 1995 norms alEraç6es à
Consúnriçao, anularam os direitos dos sérvios que desejarram 6car neq suas ctsas, oú que queriam regressar depois de
terem fugido da Croácia (Rados, 1999: 109).
tle Segundo Rados (19: 109), só de Sar{evo fonm expulsoe 150 mil séwios bósnios, dos quais 50 mil já depois do
Acordo de Dayor-
90
JucosúvlÂ: O CoNFuro DB l99l A 1995
r8 Em l»3 houve urna "limpeza éuica" ua pare muplmana da cidade de Moser, eleia capial da Herceg-Bmna
(Nilsic e Rodrigues, 19916: 1541.
9r
JucoslÁvrA: o coNfl.rro DE l99l A 1995
CapÍrwoIV
O PApgT DA COMUNIDADE INTTNNACIONAL NO
CoNrrrro
CoMUNDÂDE INTERNACIOI.IAL
92
JucosúvrA: OCoNFLTToDE l99l A 1995
artificiais criadas por Tito - orja independência apenas dependeria da simples realização de
referendos, e não tiveram em conta que a federaçáo jugoslava era urna união de povos
constituintes que se encontravam dispersos por todas as repúblicas. Daí resultou a posição
da Alemanha, que considerou logo ao inÍcio, o conflito como urna agressão de um esado
soberano, a Sérvia sobre oufio, a Eslovénia- Este foi, segundo o auto& o primeiro erro da
comunidade internacional, ou seja reconhecer prenrafi.rramente a Eslovénia e a Croácia sem
ter em conta os direitos e reivindicações das minorias, especialmente rlaCrolcta- O segundo
erro foi o reconhecimento da Bósma, a república com maior número de povos
constituintes, e sem que previamente tivesse sido estabelecido um arranjo entre os diversos
povos sobre o modo de funcionamento do novo estado. IJm outro erro da comunidade
intemacional e que terá contribuído para o escalar da üolência, foi a tomada de posiSo a
favor de um dos lados, diabolizando o outro, que no casc, era o que de mais meios dispunha
para continuar com a guerra(Oliveira 2ffJ4:.137-734).
Para Vesna Pesic (1996) a comunidade internacional, dweria ter trabalhado
activamente com as partes em conflito, no sentido de acordar $mstiht Eto tempráno, ctso
o desmembmmento dos estados multinacionais não fosse precedido por um consenso
intemo $Íulto aos ternos para a cria$o dos novos estados, incluindo as fronteiras e o
estatuto das minorias, e uma ideia clara quanto aos futuros arrar{os a nfuel da segurança e
cooperaçáo. Para o autor, o reconhecimento pela comunidade intemacional dos novos
estados que emergirâm do desmembramento da federaç5o jugoslavâ, foi remendamenrc
insuÍiciente parâ essegurar apaz e a segurança.
A comunidade intemacional falhou em entender que o uódio o medo" não erarn
e
endémicos na Bósnia, mes tinham sido fabricados ao longo da guerra (Kaldor, 1D9: 58).
Apesar das inúmeras conferências internacionais, resoluções das Naçóes Unidx,
sanções, bloqueios, cessar-fogos e envio de capacetes ezuis, a comunidade intemacional não
conseguiu evitar o derramamento de sangue na ex-Jugoslávia e, só ao fim de quaro anos foi
possfuel terminil com as mortes e destruição, recorrendo ao bombardeaÍnento de uma das
cordenaSo com a ofensiva do erército croaa na Krajina
partes do conflito, em e das forças
croatGmusulÍnanas na Bósnia-Herzegovina (Oliveira, 2íNl: 275-278).
93
JucosúvrA: OCoNTLrIoDE l99l  1995
AT.EMANHA
94
Jucosúua: OCor.rrrroDE l99l A 1995
Eslovénia (Sâe2,793:129). Âpenas tuna serürna depois da omada de uma posição comum
pela CE, relativamente Írc, processo de aconselhamento juno da Comisúo Badinter, Bona
ânunciou, a ?3 de Dezembro, que iria reconhecer a Eslovénia e a Croácia e esabelecer
lig'açôes diplomáticas no dia 15 de Janeiro (Gow, 1997: 170-171). Esta deciúo levou ao
deteriorar das relações entre o,s membros da União EuroPela, prejudicando gravemente a
PESC, e levaria posteriormente a acusações da culpa alemã na guerra da ex-Jugoslávia já que
a CE fortemente pressionada pelos alemiies, apesar das reticências fiancesas, acabaria por
reconhecer as duas Repúblicas, Eslovénia e Croácia no dia 15 deJaneiro de 19T2.Em Abril,
ao mesmo tempo que era recoúecida a Bósnia-Herzegovinq üarrlrvam-se üolentos
confrontos entre muçulmanos, croatas e sérvios (Girão, 7997i Gow, 1D7: l&174; Rados,
799:159).
Depois da tenúo causada pelo reconhecimento da Croácia e da Eslovénia, a
prioridade da Alemanha passou e ser a reconciliação com a União Europeia e o
95
JucosúvrA: o coNFLno DE l99l A 1995
foralecimento de uma posição comum (Gow, 197: 16Ç174)- "A Jugoslávia foi uma
oportunidade para a Alemanha se transformar de um penitente humilde, num gigante
responsável dentro da política europeia " (radução nossa) (Gornr, 1997: lÜ2),
FRÂNÇA
A Frang pode ser c:iraúe/tzada, como urna potência de tamanho médio e enquirnto
tal, de acordo comJames Gow (1997), normalmente não pode actuar de forma unilateral na
maior parte das instâncias; assim sendo, a maior oportunidade para ter algum tipo de papel
no panoralu intemacional, é através das organizações internacionais de que faz patts,
nomeadamente através da União Europei4 da NATO, ü UEO e da ONU (Gow, 1D7:
15&166).
Com o fim da Guerra Fria e da diüsão da Europa" o papel da França ficou diminuído
em terÍnos estratégicos europeus em favor da Alemanha; assim a França é vista como um
país que necessita de redefinir o seu papel no mundo. Como refere Gow (197)' a posição
deste país durante o conÍlito da ex-Jugoslávi4 carecterizou-se pela diferença; essa
"diferença' significava que os membros das organizações internacionais de que faz parte,
teriam de se adapar às suas posições, o que assegurÍrya que o seu sÍdrrrs e influência não eram
diminuídos.
Desde o início do conflito na Jugoslávi4 a posição da França mostrou-se
marcadamente pró-sérvia- Os motivos prendiam-se por um lado, à memória histórica de
aliang com a Sérvia, e por outro, como forma de compensar o apoio dado pela Alemanha à
Eslovénia e à Croácia, contrabalançado o poderio da Àlemanha Íta zotte dos Balcãs (Gow,
79972 75*166; Rados, 7999: 201; Slez, 79932 129). Érr. Agosto de 7991, era defendida na
França uma inErvengo armada da (JEOr21, para tentâr restaurar a unidade daJugoslávia;
no entanto, no final desse ano, o seu entendimento do conflito viria a modificar-se (Gow,
7997:758-166).
Âssim, no final de 1991 a Frang deixou de dar o seu apoio a urre Jugoslávia
unificada e posteriormente passou de uma posição prô.sérvia Para um compromisso no uso
da forg confia olado sérvio, apesar de nunca ter deisdo de estabelecer conbctos
diplomáticos e âvorecer uma maior úertura diplomática da Sérvia- De acordo com Gorn,
(1997) esa mudança Íicou a dsver-se a quatro factores. Primeiro, deüdo à mudança de
pder em Paris e consequente substitui$o de alguns membros prôsérvios do govemo. Â
r2r
A França estara desejosa de ver a UEO, como â semente parÀ a cria$o de uma forg e de uma polÍtica de defesa europeia'
para criar urna esuora europeia em alteroatir.a à NATO, que permiúh diminuir a influência americana na Eumpa, Pelo
que nos últimos anos havia aproveitado odas as oporornidades para pmmover a Uniâo como o braço amrado dâ CB (Go%
1997:l*16É).
96
JucosúuA: o coNruro DE l99l A 1995
segunde raáo deveu-se à influência do çneral Morillon, que serviu como comandante da
FORPRONU na Bósnia-Herzegoüna, que embora ao inÍcio se mostrasse contra umâ
intervenção armadã, no final da sua missão já acrediava que esta seria necess{ria para a
resolução do conflito. O terceiro motivo, foi o maior coúecimento da situaç.ão no teÍreno,
e consequentemente da responsabilidade dos sérvios no conflito da Bósnia-Herzegoüna.
Por fim, havia o motivo de natureza humanitári4 que aliás teú lenado o presidente François
Mitterrand a uma visia sulpres,r a Saqiwo, no final de Junho de 1992 e que tsve como
resultado a abertura do aeroporto à ajuda humanitária internacional e a quebra do cerco à
capial Msnia acabando ao mesmo tempo por evitar o uso da força contra os sérvios. Estas
acções iriam valer à Franp a entrada no Grupo de Contacto, na Primavera de 1994 (Gow
7997:758-166).
Jâ em 79i5, depois da eleiSo deJacques Chirac como Presidente, a França Pas§ou a
assumir uma posiçáo infloiível contra os er(cessos dos sérvios da Bósnia; estÊs hâviam
cometido o erro de tomar como reÍéns centenas de capacetes Àzuis, entre os quais franceses,
e os humilharem em público. "A França arrtünou de vez supostas lealdades históricas e
integrou (...) um força de reacçáo rápida que castigou a artilharia sérvia e contribuiu mais
ainda que os raifu aéreos da NATO para enfraquecer os sérvios bósnios entes de estes
aceitarem o acordo de Dayton." (Cutileiro,2003: 55-56).
GnÁ-Bnmaxna
97
JuaoslÁvr* oCoururoDB l99l A 1995
98
JUGosúvIA: OCoNFLITODB I99I A T995
Tunqua
A Turqui4 paÍs de maioria muçulrnana é um país que por motiraos históricos e pelo
faco de aí viverem mais pessoas de ascendência bósnia do que nâ própria Bósnia tem
profundas relações sentimentais com a Bósnia-Herzegovine, daí o interesse demonstrado
em relaçáo aos muçulmanos daquela ex-república jugoslava- Após a queda dos comunismos
nos Balcãs, a Turquia retomou a posi$o de potência regional, tendo a sua força aumentado
significativamente durante a Guerra do Golfo (Cutileiro,2003; Niksic e Rdrigues, 1996:
257; Rados,1999).
Âpesar de se manter relatirramente discreta no decurso da crise jugoslav4 os
responúveis oficiú turcos, sempre disseram gue ne zona dos Balcãs, "existem dois milhões
de pessoas de origem turca e sete milhôes de muçulmanos" (Niksic e Rodrigues, 196:257),
que na perspectirra de Ancare, fazem parte da herança legada pelos turcos nos Balcãs. Para
além disso, os Balcãs constituem e sempÍe constituíram, uma região cnrcial Panr os
interesses turcos a longo prazo na Europq e a Turquia sempre se mostrou muito sensfuel a
uma substancial modificação do statu ryo plíaco e militar na região, que pudesse ür a
ameaçeÍ os seus interesses. Este apoio ambém terá servido para contrebelensar o apoio dos
99
Jucosr,Áua: OCoxrr.noDB l99l A 1995
gregos ortodoxos aos sérvios, como urna er<tensão dojá longo conflito greco-turco. A sua
influência na z.ona viria a ser reconhecida pela comunidade intemacional, daí que tenha
contado com soldados na SFOR e ru IFOR (Cortés, 1D9; Cutileiro, ?.0A3; Niksic e
Rodrigues, 7996t, ?57).
miliar da Turquia
De notar no entanto as, por diversas vezes referidas, qiodas a nÍvel
aos muçulmanos da Bósnia, tal como aos muçulmanos da Albânia fazendo uso da
influência que ainda detém na região (Correia"2$4:265), como por ocmplo nos finais de
lDZ, qtendo os Esados Unidos detecaram uma rota de contrabando de armas do Irão para
a Bósnia-Herzegovina com a participação da Turquial2a (Nilsic e Rodrigues, 1916: 15Ç
151).
VATIcANo
t% O Waúingnr Pos de 12 de Maio de 1996, afrrmm que o Paquisrtll,o, Malásia, Aíbia Saudia, Bnmei, Ârgentin+
Hungria, Turquia e o hâo, haviam fornecido secretamente amurnento à Bósoia-Herzegoviu e à Croácia, logo a partir
d6s finrir de 1992, üolando o embargo imposo pela ONU, a 25 de Setembro de l9Dl (in Nihic e Rodrigues' 196:
1s(Lls1).
100
JucoslÁvrA: O CoNFLrroDB 1991 A 1995
IrÁue
 Iúlia é um país, que .tada a sua proximidade com a regEo balcânica, sempre teve
interesses comerciais e culturais na Jugosláüa e para além disso possui ainda "memórias
históricas de amizade e de conflito, de invasão, ocupa$o e retirada - de vitória e de derroa"
com aquela região (Cutileiro, 2003: 59).
Iogo no inÍcio da crise, a Iúlia tentou convencer a Alemanha a aguardar Por uma
solução conjunta negociada, em vez de fazer pressiirc para o reconhecimento da Croácia"
Posteriormente apoiou a independência do Norte jugoslavo nus com oums intenções: o
minisüo dos negócios estrangeiros ialiano, em 1991 e 199t2, falana numa cooperação enúe a
Itáltu a Croácia, a Eslovénia, a Hungria e a Checoslováqul4 Para diminuir a zotra de
influência daÂlemanha (Cutileiro, ?-003:59-ffi; Rados, 1999; Rueda, 20íJ3:61).
fusim que a Eslov6nia foi reconhecida, a Itália apressou-se a pedir indemnizações e
restituiçôes de propriedade àquele país, devido às elpulses de ialianos da Eslovénia depois
da derrota da IÉlia na II Guerra Mundial. Depois de resolvidas as questões com a Eslovénia,
os interesses ialianos nos novos púes da ex-Jugoslávia passaram a ser essencialmente
económicos e comerciais.-Deve ainda referir-se que no Montenegro e no IGsovo se sente
uma forte presença cultural ialiane, já que grande parte da população fala italiano, não
derrido à ocupação da Segunda Grande Guerr4 nras por causa da cadeia de telwisão ialiana
RAIUNO e do contrabando (Cutileiro,2ffJ,3:59-{íJ}
A persistência das reivindicações "periféricas" da ltÁlil relatirramente à popula$o
ialiana da Ísria e da Dalmáci4 lwou a que fosse incluída no Grupo de Conacb,
juntamente com is grandes potências europeias (Sáez, 1993).
Rússn
I ,].
-iÂ:' ,
-ldrJ
JucosúvrA: oCoNFuroDB l99l A 1995
rã Como por eremplo, a oposição dâ Rússiâ no inÍcio de 199.3 e uma intervenso miliar contra a Sérvia, teodo
conra essa república (§âez, 1993: 1]zl.,-129),
erpressado o desejo de que fossem lerranadas as sanções
102
JUcosLÁvIA: O CONFLTTO DE I99I A 1995
com ligeiras diferenças, principalmente por desejar Presenrar uÍra certa imagem de
neutralidade, mais do que por conücçóes políticas; a oufia, que se identificarra com o sector
político nacional-conservador, apoiava a posição dos sérvios, defendendo conseque.ntemente
um maior apoio russo à Jugoslávia para além de culpar os muçulmanos pela dura$o do
conflio e apresenava como única saída a cantonização da Bósnia-Herzegoün4 ou a
repartição desta entre a Sérvia e a Croácia.
Apartir de Dezembro de 79Pl3, a situaçáo política na Rússia começou a modificar-se
rapidamente. Boris Ieltsin, que entlio se encontmva sob forte pressão dos seus adversários
internos, começou a alterar a sua posição, mosüando uln menor empenho com a Nato e o
Ocidente. Âcusou então os países ocidenais de prosseguirem a mesma política de confronto
que havia aractsnzado a Guerra Fria, já que a RGsia sempre enqrrou o envolvimento
directo da Nato na ex-Jugosláüa, como uma esrateia da Aliança Para se eryandir Para os
países da Europa Cenral e de kste. Entretanto, na Primarrera de 7994, ocolTeu um novo
ponto de üragem, após a decisão da Nato de iniciar ataques aéreos contra os sérvios da
Bósnia- A partir daÍ verificou-se urur mudança de posiSo da Rússia com uma maior
participação e presença directa no conÍlito daJugoslávia. Â sua posição deixava de ser neutra
e assumia o papel de uma verdadeira potência militar (Cortés, 199; Nihic e Rodrigues,
1996:242).
No entanto, durante toda a guerra daJugoslávia a Rússia viria a ser marginaliz^da,
urn vez que por sistema a Rússia apenes era consultada depois das decisôes já terem sido
tomadas e consumadas pela Nato, obrigande-a desa forma a apoiar as decisões dos países
ocidenais (Niksic e Rodrigues, 19,6:239).
No cômputo çral, de acordo com Sáez (7993), a Rússia demonstrou uma grande
falta de poder dwido essencialmente às circuns6ncias, já que a sua capacidade de
intervençâo se encontra\rà paralisada quer pela dissolução da estrutura soviética quer pelas
tensões nacionalisus fraccionárias dentro da própria federaSo.
FÀSEGEoRGEBUSH
103
Juaosúvr* o CoNFuroDB l99l A 1995
!á De recordar que a Guerra do Golfo decorreu entre Agosto de 19$ e Fwereiro de 1991
tz Ente Outúm de 1991 e Maio de 199.
IM
Jucosúvn: OCoNFLITToDB l99l A 1995
se os EUA tivessem utilizado a força miliur para defender a cidade, é possfuel que tal tivesse
desincentivado os sérvios dos posteriores ataques na Bósnia. O antigo embaixador, refere
ainda que o reconhecimento da Blovénia e da Croácia por parte da CE, veio alte.rar todo o
conterúo no qual as decisões políticas americanas foram tomadas e toda a abordagem
ocidental ao problema jugoslavo.
Varren Zimmermann, a posiçáo da administra$o Bush de não utilizar forças
Para
terresEes americanas Íicou a deirer-se a três factores: primeiro, a já referida mem6ria da
guerra do Vietname; a segunda, relacionada com a visão predominante durante a orecução
da Guerra do Golfo, ou seja, que úo deveria haver nenhuma intervenção americana a não
ser que os objectivos fossem claros, os meios aplicados assegurassem uma ütória relativâ,
houvesse uma estratégia de saÍda e as bai:as americanas fossem mínimas; o terceiro factor
esava relacionado com as efeições presidenciais, a realizar em Novembro de 7W2, que no
Verão de 1992 erem uma das principais preocupações da administração Bush, que levou a
que fossem ponderadas as consequências políticas de uma intervenSo nos Balcãs
(Zimmermann, s.d.; Sáez, 1993). Mas um factor preialecia sobre todos os ouEos: o medo
de baips americanas. LJma ouüa oçlicação, estava relacionada com a aversão a conflitos em
que não eram claros quem eram as vÍtimas e quem eram os agressores, unür vez que naquela
altura a culpa era aribuÍda às quatro pertes em conflito, daí o argumento adoptado pelo
Penúgono e pela CIA, de que aquela era uma guerra de "ódios ancestrais", lop que os EUA
não deveriam intervir. Rados (1D9: 136) refere ainda" o facto de que recentemente os
americanos tinham ravado a Guerra do Golfo e estavam ainda a gerir o conflito no Médio
Oriente.
E:ristem ainda úrias outras oplicações para a não intervençáo americana durante a
administração de Georp Bush, no conÍlitojugoslavo. Primeiro, o conflito naJugoslávia não
afecava direcamente os interesses dos EUA nos Balcãs, urnâ vez que os objectivos
estratégicos naquela zona estavam cobertos pela Grécia e pela Turquia, no limite do flanco
Sul da NÂTO; depois, a desintegrago da URSS fez com que aJugoslávia perdesse o valor
geopolítico que anteriormente detinha; por fim, a ausência de interesses económicos e
polÍticos nessa região, ao conEário do que acontece por exemplo no Golfo Pérsico, e que
deixava o espaço balcânico à margem da'nova ordem mundial" anunciada por George Bush
(Gow, 1997: 2024.D; Sâez, 1993:128). James GotÃ, (1994, refere ainda a fala de interesse
em relaçáo ao conÍlito, demonstrado pela opinião pública american4 situaSo que se veio a
modificar com as primeiras imagens dos ataques sérvios na Bósnia- Para além dhso, o
síndroma do Vieurame e da Somália, fazin com que dguns altos cargos e oficiais dos EUA
preferissem a precauçáo, já que tinhâm a percepSo que uura implica$o maior dos EUÂ
para além do apoio diplomático, seria demasiado complena e d§endiosa (Gow, 197).
105
IUco§úvIA: OCONFLITODE I99I A 1995
Ainda segundo James Gow (1997:203), a posi$o dos EUA na fase Bush, deveu-se
"à tentativa hesiente de reposicionamento dos Esados Unidos no sistema intemacional" e
ao facto de a Crise do Golfo e a situação da União Soüética náo permitirem que os EUA
tivessem tempo para se preocuParem com este conÍlito. No enanto, os ELIÂ nunca
debsram de intervir no conflito, como quando por enemplo, ainda em 19{2, o embai:ador
Warren Zimmermann teú dito a Alija Izetbegoviclã que não era obrigado a assinar
documentos com os quais úo concordasse. Posteriormente, Izetbegovic retirou o acordo ao
documento que já tinha assinado; ao fazer isto, estava a confiar no apoio americano, algo que
se tomou numa característica do relacionamento entre os EUA e os muçulmanos (Gow,
1997:2lo).
FASECTSIToN
106
JUGoSLÁvtA: OCONFUIODE I99I A 1995
lD3, as soluções com recurso à força foram ocasionalmente consideradas, nus semPre
afastadas e a administração Clinton parecia reÍlectir a ausência de uma estratégia. Â
caraaerizaÇíro feia por Waren Christopher do confliüo, em Maio de 1993, numa
conferência de imprensa, rrurcou o início de declaraçóes que defendiam uma linha de
raciocínio da administração segundo a qual, a Bósnia enr um problema europeu e que
represenbvÍr um conflito de "hostilidades étnicas ancestrais"; declarações que implicarram
que não hâvie nada que os EUA pudessem ou devessem fazer. JunAmente com a op$o da
não intervençáo miliar no conÍlito, a adminisração Clinton manteve a posição consistente
de que era urna guerra de agressão, os sérvios eftrm os agressores e os musulnranos as
se da abordagem musculada que haüa defendido durante a campanha e nos primeiros meses
da sua presidência, para além da pouca inclinação por soluções militares, teú estado a sua
delicada relação tanto com os militares americanos, como com o Pentágono, o que não
permiú Clinton ignorar a oposição do Penúgono em colocar forças miliares americanas
a
na Bósnia- Esta era Ambém a posição çral do Congrcsso Americano, da impressa e público
americanorD (Zimmermann, s.d.). Oliveira (2üJ7:.276) atribui ainda esa mudanp de
atitude ao facto de a adminisração se ser apercebido dos potenciais custos económicos e
americâne sobre croatas e muçulmanos bósnios para que em Fevereiro, com o apoio alemão,
aceitassem a Federa$o Croato-Muçulmana e ainda a criaSo em Março, do Grupo de
Contacto, junando à sua volta os Estados mais interessados na zona dos Balcãs, a Rússia' a
Franç4 o Reino unido, aAlemanha e a IÉlia- A inclusão da Rússia deveu-se por um lado, a
sahrar Ieltsin na cena intemacional e por outro, para aproveiar a ligação particular entre a
Rússia e a Sérvia AAlemanha foi incluída dwido ao seu poderio económico, bem como ao
seu interesse pela zona dos Balcãs, especificamente pela Croácia (Cutileiro, ?.N3:48; Nilsic
e Rodrignes, 1996; Rados, 7999:279).
tã Para além da uoa administrago de Clinon ter criticado o Plano Vancc-Orren, ao nresmo temPo que e§te eEl
debatido, ua Primsvep de 1»3, estava a bâver uma imensa cobernrra mediática à vola da guerra na Bósnia, com as
cedeias de telwisão CNN, ÂBC eure outra& . dar máxima ateuçáo ao conflito e que' segundo Gow, corneçaram a
formar uma opinião pública nos EUA (Gost,lW:215).
to7
JUcosLÁvI,A: OCoNFLITODE I99I A 1995
no conflito. Â partir daí, a administração Clinton conYenceu-se que "a Bósnia pderia
torÍraÍ-se um tema embaraçoso para a campanha presidencial [ao longo de 1995] e que o
mú sensato seria tirar partido da situaçao e convertê-la num potencial tnrnfo eleitoral"
(Oliveira 2N7: ZT7 47 8).
 nfuel erúemo Oliveira QCf7;277-278) refere que, a perpetuação do 6sffiito s íles
barbaridades na ex-Jugosláüa ameasãvam a cria$o de uma nova ordem naEuropa Central e
de kste, assente nos princípios da democracia liberal, direitos humanos, economia de
mercado, e em arranjos de segurança, promovida pelos EUA; em segundo lugar, a situa@o
dos muçulmanos da Bósnia, foi visa como urna potencial ameaça às relações de Washingon
com o mundo islâmico, o que tinha implicações directas para os interesses americanos no
Médio Oriente (Oliveira 2ü07: ZT7-278). Segundo Zimmermann, a mudanp de atitude,
Íicou a dever-se ainda ao faco de se ter tornado claro para a administra$o, que as fizcas
iniciatiras europeias úo dariam resulados e que a Bósnia iria continuar um problema por
resolver, pelo qual os EUA seriam culpabilizados.
um outro factor prende-se direcAmente com a Nato e os objectivos deÍinidos por
'Washington quento ao futuro da referida naquela zona do globo, e aos
interesses estetégicos dessa região para'Washingon, Segundo esb linha de análise, uma
participação no conÍlito da Msnia deveria solucionar o fuhrro da Nato, utna vez que o
conflio da B6snia se apresenta\ra como urna oportunidade única no novo contêúo político
europeu pdsqueda do Muro de Berlim e Íim da União Soviética, parajustificar e acelerar a
orpansão da Aliang em direcção ao IcsE da Europa §iksic e Rodrigues, 196:.742-143;
Rados, 1999). Segundo Rados (1999) ao decidir empenhar-se activamente na resoluçáo do
conflito da Bósnia, Washingon pretendia atingrr determinados objectivos que se prendiam
com a rn:urutenção da sua liderança na Nato, e através dela manter o estaüuto privilegiado na
sitnaçáo geopolÍtica da Europa e na zona dos Balcãs. Correia QO04:265) concorda, ao referir
que os Balcãs deipram de ser uma plaaforma da orpansão da inÍluência russa para Ocidente
108
JucosúvrA: o coNFLno DE l99l A 1995
tr O apoio finauceiro dos Esadm Unidos à.Armija Msnia foi oficializado a panir de 1994 e a 4 de Setembro desse ano,
e coúorme Valle (2001), os americauos ofereceram ainda, ao comando bómio, inforrnações recolhidas pelos seus
saÉlites (Rados, lWl
235Q38iYalle, 2(X)1: 13t136).
r3r O MIIRI (MilicryProfessional Resources Inc.) começou a treinar o edrcito crma a pertir de 1994 (Nibic e
Rodrigueq 1996: 147) e em Agooo de 195, qiudou o edrcito croaa a erçulsar os sérvios da l{rajina §alle, 2(X)1: 134).
109
JucosrÁvrn: OCoNrrrroDE l99l A 1995
opinião mundial, Clinton ganhou o apoio da Nato para realizar ataques aéreos contra os
sérvios da B6snia. A campanha de bombardeaÍnentos teve como resulado o acordo dos
fim da Guerra e, de acordo com Zimmermann, os resultados políticos
sérvios em negociar o
de Clinton foram atingidos, sem a utiliza$o de um único soldado norte-ameriquto no
terreno (Zimmermann, s.d.).
Cutileiro pN2:2.?3) defende que em Dayton, com a reeleiçáo de Clinton emjogo,
foi retirado o apoio aAlija Izetbegwic, a quem havia sido dado durante os últimos três anos,
na obtençâo de um Esado da Msnia unitário (Cutileiro, 2Wà ?.?i), e que, até ao Verão de
1995, os americanos se rrecusaram a aceitar que só podeú ser obtida uma solução polÍtica
para o conflito da Bósnia, se esta contemplasse os interesses dos sérvios e croatas e niio
apenas os dos muçulmanos, apesar de essa ser a conücçáo geral. Para Cutileiro (2N2: D6),
Washington precisarra de declarar que havia paz na Bósnia antes das eleições de Novembro
de 1996 e foi essa a principal razÁo pela qual encetou uma combinaSo de intensas
movimentações polÍticas com a intervençáo miliar, que conjuntamente resultaÍam no
Acordo de Dal,ton (Cutileiro, 2002: 226).
A actua$o da diplomacia norte-americana nos Balcãs, evoluiu semPre de acordo
com as motivaçóes políticas intemas dos EUÀ o que lhes valeu inúmera.s críticas, como por
o<emplo as de Daüd Owen, mediador da União Europeia para o conflio, que criticou de
forma amarga a aúração dos EUA durante o conflito: " a diplomacia desse paÍs [EUÂ]
durante os dois últimos anos é culpada por ter prolongado de forma desnecesúria a guerra
na B6snia. [...] Se Washingon tivesse apoiado o plano de paz Vance-Orren de Fevereiro de
1993, ter-se-iam eviado muias mortes' (apzd Nilsic e Rodrigues, 1996: 1S).
OurRosPAÍsEs
Quanto aos países vizinhos também desempenharam o seu papel no conflito, sem
terem no entento a influência das grandes potências ocidentais. A Hungria colocou-se ao
lado da Eslovénia e da Croácia e tenüou mesmo intervir na Vojvodina onde existe uma
significativa minoú húngara. A Roménia apoiou a Séwia sem se comprometer demasiado.
A Grécia por um lado mostrou-se solidária com a Sérvia, sendo um país ortdo:ro, rnas ao
mesmo tempo receava ari repercussões que o conflito poderia ter na Macedónia e no I(osovo
e ainda a influência que a Turquia poderia voltar a ter na zona. A Bulgária ambém se
mosrou preocupada com a Macedóni4 e a Albânia continuou a ercricer a sua influência
adavezmaior no l(osovo, em nome da constru$o de uma Grande Albânia (Correia 20M:
26s).
ll0
JUGo§LÁVI,A: O CoNTTO DE I99I A 1995
CorrulrnaorEunopnra
Este conflito foi visto pela Comunidade Europeia como a'sua hora". O faco de este
ser um conflito europeu e de a administra$o Bush náo ver os interesses dos EUÂ
directa:mente ameaçados pelo conflito na e»r-Jugoslávia levou a que tanto euroPel§ como
americanos considemssem que era da responsabilidade dos primeiros tenEÍ encontrar utna
No entanto, logo começaram as divergências
solução para o conflito (Oliveira, 20fll:274).
entre os parceiros europeus, com a Alemanha a amq{ar não ratificar o Tratado de
Maastricht caso a CE não reconhecesse a independência da Croácia. Este seria mais tarde
considerado um dos maiores erros da Comunidade úetemacional e considerado um dos
principais factores para o eclodir do conflio na ex-Jugoslávia numa altura em que o conflito
ainda não tinha atingido as proporções e violência posteriores.
Uma das críticas à Comunidade Europeia, reÊre-se ao reconhecimento dos
resultados do referendo realizado na Msnia-Heruegovina- De acordo com Tucker e
Hendrickson çAwriÍn and Bosnia, National Interest 33, Outono de 1993 ír Markoüc, 1995),
o facto de o referendo ter sido boicoado Por cerca de um terço da populaSo da Bósnia,
tomou claro que haveria recurso às armas caso o novo Estado fosse reconhecido. Os autores
reGrem ainda que o referendo que a Comuni.lode Europeia aceitou como válido, constituía
ele pr6prio uma üolação da Constituigo jugoslava de 1974, quc fazia depender o direito à
secessão,do consentimento mútuo das resantes repúblicasl32 e regióes autónomas da
federação. Para Tucker e Hendrickson, o reconhecimento da Bósnia-Heruegwina,
constituía uma intervençáo ilegal nos assuntos internos daJugoslávia que Belgrado tiúa o
direito de contestar.
Posteriormente todos os Planos de Paz da iniciativa da Comunidade Europeia seriam
um fracasso, quer deüdo à fragilidade e posições divergentes dos seus membros,
demonstradas ao longo de todo o conÍlito, quer pela falta de apoio e até boicote por parte
dos EUA O que deveú ser "a hora" da União Buropei4 foi acima de tudo, mais um
E Este foi aliás, o principal problema e motino referido por Dmovsek para a forma como se procerxsou a secessão da
Eslovénia, já que qru\uer vomsão no sentido da saÍü da Eslo{érüa da federado jugssla\rÀ enr sistematicâmente
bloqueada pelos voos dos rcpresentantes da Sérvia e das repúblicas suas aliãdâ8.
lll
JUGoSúYIA: O CONFLITO DE I99I A 1995
erremplo de que sem o apoio americano, a Comunidade Europeia úo tem nem a força, nem
o prestígio para resolver um conflito dentro do seu próprio continente.
tt2
Jucosúvr.A: O CoNFLrro DB 1991 A 1995
CONSI»SRAÇÓES FINAIS
No que se segue deve ter-se em conta que, regra geral, as diferentes causas de guerr4
como classificadas no Capítulo I, se correlacionam e se potenciam entre si, pelo que se tonxr
problemático diferenciá-las, isolá-las e classificá-las com ersctidão, saber onde uma acaba e
outra se inicia, para mais que muius delas têm uma relação circular entre si, originando e
sendo originadas por outras. É precisamente este facto que tonu extremamente dificil a
interpretaçáo e compreensão dos inúmeros conflitos que nrarca&lm e rnarcam ainda hoje, o
mundo em que üvemos.
Seguidamente e tentando, apesar da dificuldade, ter como referência o Capítulo I,
onde foram agrupadas e descries algumas causas de guerra, ir-se-á tentar oferecer uma
possível errplicação da.s diferentes causas do conÍlito na ex-Jugoslávia, tendo sempre em
mente que será apenas uma interpreaçáo de entre as inúmeras possfueis, e que nuncr as
113
JucosúvrA: o CoNFLrro DE l99l A 1995
atrocidades cometidas pelos uasha, enquanto os croaEs evoqtmm Ante Pavelic e todos os
sírnbolos utasha, em memória do extinto Estado Independente daCroácru existente durante
aII Guerra Mundial. Os sérvios recordaram ainda os sacriftcios que fizeram nas lutas conúa
o império Otomano e depois conEa as forças nazis, existindo o sentimento que esses
sacrificios nunca foram reconhecidos pela comunidade intemacional, que semPre os
manipulou em função dos seus interesses. Milosevic usou sistematicamenüe a hist6ria para
mobilizar os sérvios de todas as repúblicas: utilizou a memória dos massacres utasha para
mobilizar os sérvios da Croácia, e lembrou o berço da naSo sérvi4 e as batalhas aí traradas
para mobiliz:r a população do Ibsovo e da própria Sérviar33. Tanto os líderes sérvios como
os croatâs, fizeram uma utiliza$o das memórias históricas como forma de propaganda e em
ambos os casos a história foi distorcida e reconstruída de modo a servir os resPectivos
"A máquina de propaganda modema conseguiu, duas gerações depois da tr Guerra Mundial, atavés de uma batalha
13â
de memórias .érvios e cÍoaEs, impor on poues semanas uma visão e urna termiaologia arcaicas' 6zendo do
conllim acnral"nt""
urna nÍna versão daquela guerra" Para os sérvios é como se tivesse volado ao ano de 1941, em que a
Crúcia independente se prepârÃra para realiz:r um rro\ro nussacÍe da minoria sénria; e, Pâre txt crxrtas' a elwisáo
apÍesenb os sérvios de preferêacia em uniíormes tcheúdb, barbudos, com um boné PtetÍr com uma águia bruca. A
força de manipular as anatogias listOricas deuto dos seus discunos nacionalisus, c dirigentes conseguiram impô-la ao
seu povo e i acrediar neta eles próprios. Todos se apresentãrâm como vÍtirnas de hisdri4 mas de uma história
deformada, congtrúü sobre a mitologiÂ" (traduÉo uossa) (Rup"rlc lWzt lLllri e ainda "a pro,paganda nacioualisa e
discunos de 6dio, gerados dentro da Séwiq eragerarÀm o terror da ts€gundâl Guerra criando "mem6rias' dos crimes
Utaúa mesmo entre as pessoas que úo foram suas vÍtimas" (taduÉo uossa) Glqidinjalí' ãnl: Z3).
tL4
JucosLÁvIA: O CoNFLITo DE l99l A 1995
regióes, que pela sua localiza$o e interesse estratégico, foram dispuadas pelas várias facçôes
e onde se registaram os mais longos e mais üolentos combates de todo o conflito. No caso
da Bósnia-Herzegovin4 há a desacar a esratégia dos sérvios, iniciada em Âbril de 19V2, no
sentido de conseguir conrolar o már<imo território possfuel, especialmente Íta aoÍta Este da
Bósnia (adjacente à Sérvh), como um Passo Para uma possível união com a Sérvia- No final
do Verão de 79V2, dois terços da Bósnia esavam já nas mãos dos sérvios: a Perte oriental
próxima da Sérvia, um estreito corredor atravessando de Este para Oeste em direcçáo à
Croácia, e território em arnbos os lados da fronteira bósno+roata à vola da região da Iftàjina
da Croácia (Sowards, ?.004). Como acima foi referido, tanto os croates, como o§ sérvios,
apresentaram reivindicações históricas sobre o território da Bósnia, reclamando para si esse
mesmo território. Posteriormente seriam proclamadas, unto pela comunidade croata como
pela comunidade sérvia, as suas próprias repúblicas denEo da Bósnia-Herzegoüna e
pretenderam integrar a maior fatia possÍvel de território na sua área de influênciat3s' De
acordo com a arúlise apresentada no Guia Prático do Ministério da Defesa, os objectivos
imediatos das partes, no conflito da Msnia foram: defender os interesses onde as respctivas
comunidades eram maioriúrias; ma:rimizar o seu espaço teiritorial; controlar as zonas chave
do terreno, nomeadamente as vias de comunicação que permitissem a continuidade
territorial; controlar a capital, Sar{wo, reclamada por muçulmanos e sérvios, e Mostar, a
principal cidade da Herzegovina, dispuada pelos muçulmanos e croatas. De observar que,
as mais sangrentas batalhas e os cercos mais longos, verificaram-se precisamente em zorül§
ou cidades de grande importância geoestratégica: a capiAl Sarqiwo, com populaçáo
maioritariamente muçulmana, que sofreu o cerco dos sérvios bósnios durante três anos que,
por fim, proclamaràm Pale como a sua capital; a "bolsa" de Bihac, enclave muçulmano, que
os sérvios bósnios cersrmm, apoiados pelo dissidente muEulmano Abdic, e tentaram ocuPar
sem sucesso; as cidades de Srebrenica, Zepa Gotazde e Tuzla, enclaves muçulmanos em
tenitório controlado pelos sérvios-bósnios, e onde se veriÍicaram as mais üolentas operaç6es
de "limpeza éürica"t6; areglão de Kupres, aravés d" qu"l os muçulmanos' juntamente com
os croatas, tentaram isolar Knin, a capial da Krajina; o corredor do Nerewa, onde
qristem
lls
JucoslÁvrA: O CoNFLrro DE l99l A 1995
importantes insalações hidroeléctricas (RuedC 2003: 38) e onde se situa avia de acesso mais
úpida entre a capial Sar4jwo e o Mar Adriático, e que foi dispuado pelas três partes em
conÊonto, inclusirramente entre os muçulmanos e crcrtas (Ministério da DeGsa 199.8: 13-
14).
116
JucosúYrA: O CoNruro DE l99l e 1995
Consequentemente, um dos objeaivos das guerras enEe as viíriâs facções foi sempre
tentar conquistar o mádmo temitório possfuel, de forma a incluir as zonÍts conquistadas nos
novos estados nascidos depois do nm da guerra- Assrm, recorrendo à violência as part€s
rcntaram obter mais território do que aquele que lhes tinha sido atribuído nos temPos de
Tito; exemplos l«lo sérvio, e do lxlo croata e "república"
disso, são a República Srpska do
independente dos croatas, a Herceg-Bosna Se as questóes territoriais não podem ser
consideradas a principal causa do conflito, teiáo sido no entanto decisivas nas estratégias
adopadas pelos miliures e milícias em confronto, e determinaram sem drfuiú os locais e
duração dos diversos ataqu6.
De entre as inúmeras causas do conflio jugoslavo, as causas étnicas foram aquelas
que recolheram maior número de apoiantes. Segundo estas' a populaçeo daJugosláüa teú
sido sempre caracterizada por unu grande complexidade e fala de homogeneidade,
composg por variados grupos, que lonp de compartilhar uma identidade comum'
fortes sentimentos nacionalistas e de rivalid«le'37. Entre as diferengs que
caracterizam esses povos, encontra-se o idioma- Assim, na er<-Jugoslfuia existiam três línguas
principais: o do checo e do polaco); o macedónio (com Ponbs
esloveno (próximo
semelhantes ao búlgaro); e o servrcÍoaB (com dois dialecos, um falado nas zonas
ocidentais, outro falado Íras zonírs orientais, e escrito com dois alfabetos, o latino e o
cirÍlico). A religião foi outro aspecto diferenciador das váúas culturas entre as repúblicas,
apesar de que, na realidade, os habitantes dos Balcãs se teúâm convertido às religiões que
por proximidade ou por motivos polÍticos mais lhes conünham. Assim, de acordo com esta
óptica na guerra jugoslava enfrentararn-se povos que historicamente estiveram sepandos
por diferengs linguísticas, culturais e religiosas e por fortes sentimentos de rivalidade que se
üaduziraÍn num nacionalismo enacerbado. No enanto, o artigo referido (ver nota de
rodapé) ressalva que, de facto existiam muitos pontos em comum a nfuel da cultur4 e que es
autoridades e poderes públicos das repúblicas, se esforçaram em erqltar e institucionalizar os
aspectos diferenciadores em denimento dos comuns; e em alguns casos chegaram mesmo a
modificar-se, ou até invenrar-se, suposhs madiçóes e manifesações sócioculturais. Miliseüc
(2005), recorda a utilização do Memorando, no processo de "euriciza$o" da popula$o
sérvia, no qual participaÍaÍr anto as elites políticas, como os clérigos, intelecnrais e
jomalistas. Edgar Morin (1996: 15), ambém classifica o conflito jugoslaro como um
conflito étnico quendo refere que "(...) a comunidadejugoslawa das nações e das etnias (...)
por ser constituída por elementos saídos de destinos históricos muito diferentes, era
demasiado 6ágil e recente pÍra se cristalizâr em comunidade de destino". Morin oplicc
que é precisamente o sentimento de "comunidade de destino" que ao ser edificada sobre
lt7
Jucosúvra: OCoNrrrroDB l99l A 1995
§ A tensâo entre o campo e a cidade também onstioiu, ao que parece, um ârror decisivo. Os proagonisras das principais
dispucs interétnicas foram quase sempre geues do campo, muito mais permeáveis aos discursos nacionalisms agressivos e
mais inclinadas a iwocar velhos coneBcioss bistóricos mal resolüdo Gaibo, 194).
ll8
JUGoSLÁvtA: O CoNFLITo DE I99I A 1995
119
JucosrÁvrn: O CoNruro DE l99l A 1995
IJma versão ligeiramente diferente, mas com a.s mesrníts conclusões, é a de Rupnik
(1992; 15-77), segundo a qual os dois modelos existentes como reacção à decomposição do
sistema titista consistimm, flor um lado, no nacionalismo da Sérvia, por outro, no desejo por
uma úpida democratiza$o na Eslovénia- Milosevic iniciou enülo a chamada "revoluçáo
cultural" que assentou no facto de os sérvios se considerarem os principais lesados pela
Jugoslávia titist4 mas ao mesmo tempo, ocuparem uma posiçâo predominante dentro do
aparelho federal e sobretudo dentro do o<ército, e daÍ a oposi$o de Belgrado à proposa de
transforma$o da Jugoslávia numa confederação democútica (Rupnik, l9!2: 15-17)-
Miloserric começou enüio a criticar a política de Tito, e ao mesmo tempo preparou urnÍl
mobilização popular que aliava o descontentamento contra a burocmcia, ao nacionalismo, e
desta forma encorajou a revolta em nome do ideal jugoslavo e da Grande Sérvia. Para
Rupnik (1D2: 17-78), Miloseüc utilizou a Grusa dos sérvios fora da Sérvia como meio de
chegar ao poder, e depois, a guera pam nranter esse poder. Por seu lado, os eslovenos
optaram por um mdelo de saída do comunismo, mais próximo do modelo centro-
europeu, escolhendo um sistema polÍtico pluralista e demoqático (Rupnilc 7W2: 17-18) e
nesse sentido, no Outono de 1989, a Eslovénia adoptou uma série de medidas
constitucionais para proteger-se face ao nacionalismo de Miloseüc, entre elas: o direito de
secesúo unilaterat o direito erclusivo de decretar o estado de emergência dentro do seu
tenitório; aautonza$o para a formação de unidades miliares dentro das suas fronteiras; e a
mais significativ4 que a legislaSo federal já não seria aplicada no seu territóriot3e (Cintra
2WZ62-63). Estas medidas, tiveram como principal consequência o deteriorar das relaçóes
entre a Eslovénia e a Sérvia sendo Milosevic incentivado inclusivamente, o rompimento a
nível económico com os empresários eo govemo esloveno (íhid.: e6\.
Em 1989, o resubelecimento da autoridade sobre o Kosovo e aVojvodina através de
emendas à Constitui$o, pela Séni4 nrarcou o início da repressão conEa os albaneses do
Kosorro. Estefactojunamene com a tentstiva de domínio do Partido ComunisaJugoslavo
por parte de Slobodan Miloseüc, segundo Morin (1996: ?5) Ieyaria à secessão do Partido
Comunista esloveno e à sua opção nacionalista O nacionalismo de Milosevic, com a sue
le  propósio, Dmovsek (s.ú:1&19) lenúra que, enquauto presirtente da presid8ncia fedsral, deÊndsu sempre o sisEmâ
multipartidário e a distin$o clara entre o Estado e os corpm do pãrtido.
120
Jucosúvre: OCoNFLmoDE l99l A 1995
repressão no l(osovo, ambém fomentou a rudializrl$o dos croatas e por sua vez' a
represúo contra os sérvios dessa república (Morin, 1996:?-5).
O faao de os votos da Sérvia serem influenciados pelos votos das duas províncias
autónomas, Vojvodina e l(osovo, que tinham poder de veto no Parlamento sénrio, criou um
desequilíbrio em que a população maioritária (sérvios), efectivamente não tinham uma
represena$o independente. Isto constituh um sério problem4 que lwou a um sentimento
de injustig entre os sérvios e que foi utilizado por Slobodan Milosevic (Sorensen, 7D9:9)
na contestação ao regime de Tito; esta contestasÍio fez-se atribuindo-lhe o prosseguimento
de uma política segundo a qual, umaJugoslávia forte implicaria uma Sérvia íraca (Correia
2Co4: ?58; Rupni( 19{22 17). Na verdade, a república Sérvia foi a única onde foram
demarcadas regifu autónomas em função de minorias, que efectivamente fragilizaraÍn a
Sérvia, facto que Miloseüc saberia aproveitar. Correia Q@4: ?59), defende que os
primeiros tumultos no Kosovo, a que se seguiram restrições da Sérvia às autonomias
regionais, fizeram nascer nas outras repúblicas "os fanasmas de uma ameaça centralizadora
e hegemónica sérvia". Milosevic saberia aproveitrr os distúrbios no l(osovo, durante os
tzt
JucosúvrA: O CoNFLITo DE l99l A 1995
íace à grave situa@o económica que se vfuia140 (Rueda 2OO3: 4245). Este fenómeno foi
especialmente visfuel na república da B6snh-Herzegovin4 onde rapidamente foram
repartidos os ministérios, adminisrações e empres,§ públicas pelos três partidos vencedores
das eleições. Âo longo de 7991, assistiu-se a uma crescente animosidade entre os diversos
líderes políticos das repúblicasr eue ss reflectia cada vez mais nas ruas (Rueda 2ffJ3:4245).
Os resulados das eleições multipartidárias lsvadas a cabo nas repúblicas, mostraram
o sentido que cada uma delas desejava prosseguir. Se, na Eslovénia e na Croáci4 as éleições
multipartidárias retiram os comunises do poder, na Séwia Milossvic optou por nümter os
ex-comunistas no poder recorrendo ao nacionalismo, pelo que Belgrado era visto por
aquelas repúblicas, como o principal obsúculo e lutür úpida ransi$o em direc$o à
democracia e à economia de mercado. As eleições multipartidárias, realizadas de forma
dispema nas várias repúblicas, tomaraÍn impossfuel a emergência de penonalidades políticas
transnacionais, e conribuíram pera deslegitimar o pder fferal, transferindo
definitivamente as decisôes políticas peÍa es repúblicas (Rupnik 7W2:77-78). Ássim para a
Eslovénia e para a Croácia, sair do comunismo e da influência sérvie, implicarra sair da
Jugoslávia (ihill.: 78).
Já depois da declaração de independência da Eslovénia e da Croácia, os croahs e
muçulmanos da Bósnia-Herzegovina, procuraram também a independência desta república,
uma yez que úo desejarram continuar ünculados e ume estrutura política dominada pela
Sérvia, sem o conrapeso da Croácia (Sáe2,193), pelo que se confronaram com a oposiçáo
da Séwia, que paÍa além de não querer perder o seu esatuto de capial Heral, se deparava
com o problema de ter minorias consideúveis na Bósnia e na Croácia, e de ser ladeada por
duas provínciÍls com minorias sérvias, o l(osorro e a Vojvodina (Morin, 7996: 24). Carlos
Taibo (1994), por exemplo, defende que um dos factores que erplicam os conflitos
jugoslavos é a presença de sérvios nas lárias repúblicas, nomeadamente na Croácia - nas
Eslavónias e na IGajina -
na B6snia, e em menor número no Montenegro, Kosovo e
Macedónia No território da Msnia, para além da maioú muçulman4 existiâm ainda áreas
fortemente povoadas por croetas. Desa forma aJugoslávia constituía um espaço geogúÍico
marcado petos diversos quzamentos de povos, em que o melhor ocmplo era a república da
Bósnia-Herzegoüna
Para o final foram delsdas as cilrsas de ordem econ6mica, precisamente com o
propósito de mosmr a imporÉncia decisiva que tiveram na opção de secessão primeiro da
Eslovénia e depois da Croácia, que levariam por sua vez à desintegraÉo do estado
jugoslarrola'.
ro De referir a irsisoência do primeiro-ministro Ânte Markovic para que as eleiçóes para a federação fossem realizadas
antes das eleições nas repúblicas, más a Eslovénia insistiu para que fosse ao contrário e as elei@s para a fedemSo uurca
se chegaram a realizar (Cio'ta.N2:72).
lal Para uma melhor compreenúo do que a seguir se reGre, ver o amxo III.
r22
JuaoslÁvre: OCoNFLI'roDE l99l A 1995
disparidade do PIB entre as diferentes regiões, sendo a Eslovénia a mais rica e desenvolvida,
e o Kosovo a mais pobre e menos desenvolüda; as políticas de redistribuição do orçamento
federal; e os fundos de qiuda às regiões mais pobres (Cintra 2002:22).
Começando pela última os fundos de desenvolümento das regões mais pobres,
foram considerados como uma das principais ceusas dos pedidos de secesúo da Eslovénia e
da Croácia- A Croácia, e sobretudo a Eslovénia ao serem as repúblicas mais pósperas e
ocidentalizadas, ahvés das quais se realizana grande pare do comércio com a Europa
Ocidenal, e onde estavam localizados grandes empreendimentos comerciais e industriais,
nunca viram com bons olhos os impostos que as empresas situadas no seu território eram
obripdas a pagar, para serem depois redistribuídos através dos fundos PaÍâ o
desenvolvimento das regrões mais pobres da Federaçãoto' (Cit,"q 2002:43; Moncada, 2001:
27). As croatas e os eslovenos sentiam que eram eles que Pagawm as despesas do país,
graças ao turismo do Âdriático e à sua indústria que produzia bens para orportação, e
opunham-se à subsidiarização das fábricas não lucrativas da Séwia e da Macedónia
(Sowards, 2(M). Consequentemente, a obriga$o de contribuir Per:r os fundos de
desenvolvimento, cor{ugada com o úpido declínio económico daJugoslávia na década de
oitent4 provocou uma situação que viria também a pesar nos futuros separatismos
(Moncada 2OOl:27). Depois de 1985, aquelas duas repúblicas comesa.ram a criticar o facto
de náo poderem dispor dos lucros das empresas dos seus territórios, e que fosse o governo
federal a decidir onde deveriam ser investidos aqueles lucros, que normalmente iam Para as
regrões menos desenvolüdas ou pam financiar o er<ército (Cintrc 2N2: aú47). "Com a
ausência de democracia, as lutas a nfuel federal sobre os gastos públicos e a reforma política
não puderam ser resolüdos pelo voto popular, ou sejq pelos canais não-violentos de
resoluçáo de conflitos" (fuilL.:4n.
 ftagmenação a nfuel económico da ÍLderago jugoslav4 havia comegdo logo nas
décadas de cinquena e sessentá, com a competi$o pelos dinheiros dos empréstimos e
créditos estrangeiÍos, fáceis de obter até à década de setenta- Esa competiSo, aliada à
burocracia da autogesüio local, lwou ao aumento do controlo administrativo denro dos
territórios e incentivou t crra$lo de monopólios económicos locais, que eram defendidos
por meios políticos. A economia começou enfio a segrir princípios territoriais, em vez de
princípios funcionais económicos (Sorensen, 1999: lU71).
O caso da Eslovénia é bem demonsmtivo do problema a nfuel de desigualdades
económicas dentro daJugoslívia: os eslovenos representavam P/o da popula$o jugoslava e
assegunr\zlm um terço do PNB e um quarto das receius de etpona$o. Por ouüo lado,
t€ Â dtulo de eríemplo, o produto nacional g apiu ntEslanêna era cioco vezes superior ao do I(oorro.
t23
Jucosávre: OCoNmrnrDB l99l A 1995
Jugosláüa, já que preferiam reinvestir os lucros das suas indústrias mais desenvolüdas, nas
suas próprias regifu. Sob o sistema constitucional descentralizado, que entrou em ügor
com a Constitui$o de 1974,as diversas regiões haviam-se tomado rivais a nfuel económico,
ao invés de parceiros. Apesar des restantes nacionali.tades acrediarem que emm
prejudicadas pela o<cessiwa influência dos sérvios, estes acrediavam que o sistemajugoslavo
os colocava em desvanagem, e que as perdas que haviam sofrido nas anteriores guerras, lhes
conêriam o direio à asshtÉncia das repúblicas mais ricas (Sowards, 2ffi4).
Entreanto aJugosláüa foi vendo a sua situa$o económica deteriorar-se e, nos finais
dos anos oitenta, a descida dos salários e do nfuel de vida provocararn o medo da pobreza e a
fi'ustraçáo na população (Sorenserl 1999: l5),o que conribuiu para egravar ainda mais ajá
precária estabilidade da República Federal daJugosláüa. "O declúrio do nfuel de üda é Éo
grande que é dificil imaginaÍ outro pú gue náo reagiria a esa situa$o através de mudangs
polÍticas redicais, ou mesmo através de uma rwoluçáo" (traduSo nossa) (Harold Lydall,
Yugoslavia in Crisis, Clarendon Press, O:úrd, 1989, p. 9 apuil Gerde,79/2: 708).
movimentos pollticos ,5s co6rrnistis cÍnueçaram coustinrir-se em 1989 (Garde , lW2z 265)
'6 Na Cmácia, os a
124
JUGo§úVI,A: O CoNFLIIo DE T99I A 1995
disputas entre os líderes das repúblicas e o govemo ffieral acerca do orçamento federalls,
dos impostos, e &
jurisdição sobre o investimento e comércio sr.temo (Susan L.
'Woodward, Ballun Tmgedy: Clwos and Diwlutbn aJtn tfu Coli War, Brookings Institution
Press, Washington, D.C., 1995, pp. 274, in Hajdinjals 2001: 43). Na opinião de Gow
(I*giíinucy anil tlu Military: Tlu Yugahu Crisis, 1992 ra Hajdiqialq 20o7z 44), ôi o choque
económico e a incapacidade dos govemos de Millça Planinctas e Branko Mikulic para lidar
com a situação que arminaram Jugoslávia A "prosperidade artificial" gerada pelas ajudas
a
exteriores acabaria em 1980, quando o FMI começou a impor duras condições Pílra e
realização dos empréstimosre. O agravamento da situaçao rapidamente desruiu a confiança
popular nos líderes e no partido comunista, o que criou uma atrnosfera de regionalismo e
hostilidade. Por toda a Jugoslávia as autoridades das repúblicas rcrnaram-se mais
interessadas em retirar o mais possível e enviar o mínimo possível para a federa$o. Desde
7986, a maioria das repúblicas deinra de contribuir com regu.laridade para o orçamento
êderal, o que naturalmente agravou a crise e tomou a recuperação económica virtualmente
impossfuel (Flajdinjals, 2ü07: /14 15). De acordo com Hqidinjalq em democracias, esta
situago seria resolüda com a concorrência normal entre os úrios partidos políticos, a
proporem úrias soluções; no entaÍrto, nurnâ Jugoslávia centralizada e de partido único, a
situação levou as elites das repúblicas, penmte o visfuel declínio da federação, a lutarem para
protsger e controlar as fontes de iqvezaque ainda resavam em cada república-
A
situaSo socioeconómica no período imediaamente anterior à secessão da
Eslovénia e da Croácia foi caracterizada por um crescente deteriorar. Assim, as dificuldades
económicas ssntiÍles pela populaSo durante este peíodo, fizeram com que, de acordo com
Raul Rueda, as bases sociais que deviam garantir a esabiüdade do govemo e permitir uma
democratiza$o, se vissem cada vez mais defraudxlas pela crescente desigualdade social, pelo
crescente desinvestimeno na indústria, sem perspectivas de novos investimentos nas regióes
mais pobres, aumento da incerteza s da dificuldade em obter bens básicos, e o desemprego,
especialmente nos sectores mú jovens e trabalhadores úo qualiâcados (Rueda, 2N3;29-
30).
14{
Em 1989, a relação eb vez meis instável enre as repúblicas 6cou bem üsÍvel quando a Bslovénia deircu de
conribuir para os firndos de desenvolvimento, a que se seguiu o boicote da Sérvia aos produos eslovenos (Ciuta, 2002:
6S6e).
t6Milb Planiuc foi Primeira-Ministra daJugoslávia eatre 19e e 1986, seguida por Bnnko Mihrlic qne acabiúia por se
demitir em 1989, admitindo a sua incapacidade para resolver a hiperinÍla$o e melhorzr a economia Foi sucedido por
Ante Markovic.
t6 Lrma das medidas tomadas uo sentido de aumentú as enporações e reduzir as imporaç6es beneficiou
desproporciouadamente a EslovÉuia e a Croácia o que conribuiu pam aumentar as difetenças entre as repúblicas.
Deüdo à pressão do FMI para a coutinuaçâo da des/aloria{âo do dinar, aJugoslávia ennou em hiperinfla$o, guÊ Por
vola de 1989 ultrapassou o
1400 por ceuto. Âs grores, aueriormente praticamente inexistentes, toÍIuÍruu-se quase
dilrias na segunda meade da década de oiteaa (lüjdinjak,Nl: tA).
t25
Jucosúvr* O CoNFr,rroDE l99l A 1995
A importância do áctor económico fica bem demonstrado por aquele que viria a ser
primeiro-minisro da Eslovénia,Janez Dmovsek (s.d.: 17) quando refere que, acima de tudo
os eslovenos queriam a mudança e procunryam uma maior eficiência económica Drnovsek
explica que o descontentamento dos eslovenos em rela$o à federação jugoslava, havia
surgido pelo sentimento de que a Eslwénia enquanto a república mais desenvolvida da
federaçáo, esteva a ser, nas suas púvras, "e:plorada" pelas repúblicas do Sul, mais pobres e
que a Eslovénia estava a pagar demasiado a essas mesnus repúblicas. Os eslovenos
comparavam constantemente o seu nfuel de vida com a dos italianos e atstríacos, e
acrediEvam que se súsem da federação jugoslarr4 conseguiriam obter o mesmo nfuel de
üda e desempenho económico dos seus vizinhos. Dmovsek recorda ainda" que alertou para
o facto de que "certos políticos" se estavam a aproveitar da desasrosa situa$o económica da
federa$o jugosla4 para alimentar a tensão entre os vários povos daJugoslávia
Para Sorensen (7999),o ambiente de colapso económico, numa federa$o alamente
descentralizada, com as suas novÍts elites proteccionisas, era ideal para o novo nacionalismo
popular. A
política lerrada a cabo anto pelo presidente croata, como pelo esloveno, de
reforçar a soberania das suas repúblicas, aliado com o nacionalismo de Milosevic, deitariam
por terra quaisquer resultados das reôrmas económicas libereis e constitucionais, levadas a
cabopeloPrimeireministroAnteMarkoüc 2ffi1:Ü).
Um aspecto referido por Paul Collier (2m0), no seu trabalho sobre as causas
económicas dos confliOs civis, é a tentativa de secessão por perte das regióes mais ricas de
um pú, em que o seu objectivo é apderar-se da terra onde as mercadorias primáriast{ úo
geradas.Dá enáo como erremplo o caso da Eslovénia, que sendo a região mais rica da
Jugosláüa foi a primeira a separar-se, seguida pela segunda região mais rica a Croácia
Defende ainda que a partir da secessão destas duas repúblicas, a Jugoslávia Passou a
caracterizar-se pela dominância étnica dos sérvios (que não enistia antes da secesúo). Â
guerra civil seguiu-se.
Se, no anteriormente referido, de certa forma fica Patente uma óptica em que se
considera unr:r cÍmsl especÍica como e principal causa do conflito, seguidamente
apresentam-se várias interpreações, que lorrrírm uma posição mais abrangente relativamente
às causas desa guerra, considerando úo uma qrusír como a qlusa principal, mas várias, que
se interrelacionam.
Desa forma, pode proceder-se à identifica$o de várias causas imediatas do
conflito naJugoslávia. Algumas delas tiveram como principal resultado, o facto de terem
provocado rrrn sentimento de insegurança entre as repúblicas, e :rs ter conduzido a urna
situação, em que foram levadas a acreditar que a suít única opção era a saída o mais
l{7
"primary commodities" no original
t26
JucosúvrA: OCoNFLIToDE l99l A 1995
127
JUGoSúVIA: O CONFLITO DB 199I A 1995
128
JucosúvrA:OcoNFLnoDE t99l A 1995
CoNcrusÁo
que muitas vezes dependem das crenças religiosas, políticas, entre ouffa§, de cada um, e face
ao que anteriormente foi orposto, apenas resta concluir que o conflito jugoslavo foi o
resulado de imensas varifueis que se cor{ugaram no local e momento tal, que tiveram
como resultado um dos mais afiozes conflitos das últimx décadas, e sem drfuida o maior
desde o final de II Guerra Mundial, e depois d" qod a maioria dos europeus Pen§ou que
seria impossfuel voltar a viver-se uma tal camificina.
Resta agarrar nas palavras de Rueda (?-A03:21), quando refere o quão fácil é em
determinados conterúos, desenhar e erccutar uma guerr4 baseando-se em Pre§§uPo§tos
falsos e na construéo de inimigos artificiais.
Uma última palavra para referir, a esperança para que este trabalho possa couribuir
pam tuna melhor compreensão do conflito, e como fonte de outros Pontos de visa e de base
para um maior aprofundamento do tema, para aqueles que se interessaÍn por conhecer
melhor o conÍlito que, novemente e penmte a inacçáo dos políticos mundiais e Perante a
incredulidade dos povos europeus, trouc de novo os medos de novas guerras sanguinária§'
há Anto tempo extintas do continente europeu e a percepSáo que, me§mo em pleno século
)§(1, e num dos continentes vistos como mais humanos e defensores dos Direitos do
Homem, mesmo neste local e nesta época, ainda existe o perigo de repeti$o d⧠mâis
horrendas demonseaçóes do pior que e<iste em todo o ser humano.
129
JucosúvrA: O CoNFLITo DB l99l A 1995
Que este trabalho permia acima de tudo, a quem o ler, colocar a mão na consciência
e perceber o que cada um de nós pode fazer para eütar que este tipo de acontecimentos se
volte a repetir. Foi esse o principal objectivo desta tese.
130
Juc,o§IÁvrA: OColüffoDB l99l A 1995
AI{D(OS
131
Juaosúvr* OCoNruroDB l99l A 1995
ANE»«o I
Seguindo de pero Ronald Glossop (2001), irão aqui distinguir-se três significados de
nacionalismo. Dois deles estiio relacionados com a identificação com o grupo, e para §e
compreenderem toma-se necessário distinguir Naçáo, de Estado-'Nação. O termo Nação' é
um gruPo de pessoas que Peftencem e
utilizado como sinónimo de povo, ou seja, refere-se a
uru mesnur resá, usrm a mesma língua partilham a mesnu religião e tradiç&s culturais e
vêm-se como um grupo homogéneo. Este signiÍicado, de acordo com Glossop, não implica
qualquer unidade polÍtica ou edstência de um Esado-Na$o. É o significado étnico-racial
de nacionalismo (Glossop,2@7:7Çn. O termo Esado-Nação, implica a existência de
uma população que habia um território, sob a autoridade de um govemo. Neste caso a
popula$o não é constituída necessariament€ por um gruPo homogéneo, podendo conviver
por o<emplo diGrentes grupos culturais, que utilizam uma língua diferente e com culturas
dGrentes (iürrí).
Âssim, o nacionalismo, quando está relacionado com a Naçáo, é denominado etno-
nacionalismo (Glossop utiliza o termo "raçial-ethnic-nacionalism", P. 77) e lmplia a
132
JucosúvrA: O CoNFLrro DE l99l A 1995
133
JUGoSLÁVI,A: O frNFLTTO DE I99I A 1995
AxmroII
SnSSREr.ttCÂ
de lW2 ganharam o controlo da cidade. Nos finais de Abril desse ano, Nasser Oric, um
polÍcia muçulmano local, organizou um levantamento e, após tr& semanas de combates
conseguiu reconquistar a cidade, pelo que os muçulmanos conseguiram garantir uma ilha
no território do coração da República Srprk . Nos meses seguintes, foram levados a cabo
uma série de raides contra as posições dos sérvios em redor da cidade Gl"jdinjdÉ 2@1:70;
Nilrsic e Rodrigges, 7%6:72Ç7fi. Para além disso, as forps de Nasser Oric, lançaram
vários ataques a ülas sérvias em redor de Srebrenica, nomeadamente a 14 de Dezembro de
7992, qvando duas vilas foram queimadas e 63 sérvios foram mortos e, t7 de Janeiro de
7993, di;. do NaAl Ortodo:ro, quando num ataque surPresa contra Posiçóe§ dos #rvios, a
norte de Srebrenica, os seus homens incendiaram diversas aldeias, compleamente
desprotegidas e durante o quel muitos civis séndos foram mortos (Hajdinjalq Zffill. Ü2;
Rados, 7999:212). Em resposa aos ataques, Srebrenica foi totalmente cercada pelas tropas
do general Ratko Mladic, e como consequência, começaÍâm a chegar à cidade ntunerosas
vagas de refugiados, que firgiam aos avanços das forças sérvias. A situa$o era preocuPante,
urnavez que a cidade se debatia com excesso de popula$o e más condições de üda e assim
no dia 11 de Março, o çneral Philip Morillon, comandante da FORPRONU, decidiu
deslocar-se a Srebrenica (Rados, 19É/9 272). EsA deslocaç5o não seria muito feliz, já que,
ap6s receberem ordens de Sarqievo, os muçulmanos Pu§eÍam centenas de mulheres e
crianças à Êente dos blindados e impediram a partida do çneral Morillon e dos capacetes
Muis, que ficaram reféns da popula$o muçulman4 só conseguindo sair dois dias depois
(Rados, 212). Entretanto milhares de muçulmanos foram sendo evacuados pelas
199 9r:
forç2s da ONU até que, em Abril, os sérvios emitiram um ultimab, que dava 48 horas ao
exército muçulmano bósnio para a rendiSo do enclave e no qual exigiam que os habitante§
t34
Jucosúvn: OCounrroDB l99l A 1995
135
Jucosúvn: OCoNFLITIoDE 1991 A 1995
ANo«O III
A cruss ncoNórraceJucosreva
136
Jucosúua:OCourrmoDE l99l A 1995
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JUGo§LÁVTA: O CoNruTo DE I99I A 1995
Outro ano de ertrema importância, foi o ano de 1989, quando o novo primeiro-
ministno Ante Markovic, encetou uma série de novas medidas económicas ainda mais
dústicas do que as que viúam sendo implemenadas até enÉo, no sentido de.alcançar a
estabilizaéo económica e transiçáo Pare uma economia de mercado; medidas essas
necessárias para a obtenção dos desejados empéstimos internacionais (Cintra,20mt 62-63).
Este eúdo da economia, lerrou a que as repúblicas, caü vez mais, adoptassem
políticas que favoreciam os seus interesses particulares, em detrimento de uma verdadeira
polÍtica económica nacional. Fomentou-se assim a criasáo de empresas, sobretudo em
sectores estratégicos como a energt4 maérias-primas e transformasão de bens industriais,
que se identificrvem com a própria república e não com a Federação Jugoslava- Tudo isto
fez com que surgissem enorrnes diêrenças intemas ao nÍvel do desenvolvimento
económico de determinadas áreas, e levou à fragmenação da Jugoslávia em regiôes ricas e
regióes pobres @efensa s.d.).
No início dos anos noventa, o processo de esabilização começou a ser üsto como
contrário aos interesses económicos das repúblicas, pelo que as elites, principalmente da
Eslovénia e da Croácia iniciaram uma série de movimentos com o objectivo de desmantelar
o sistema comunisa e nurnter o poder nas repúblicas (Cintra, 2N2:21),
Verificou-se finalmente, que as reformas económicas prometidas pelo último
primeiro-ministro jugoslavo Ante Markovic, não eram exequfueis, devido aos problemas
políticos e estruturais existentes, tal como era impossível seguir uma política
macroeconómica no ambiente descenmlizado que cararÍrerizava a Jugoslávia' em que as
elites buroçráticas locais salvaguardavam as suírs posições contra as ameaças Herais (Grande
Enciclopédia PorüEues,r e Brasileira, 1997:305; Sorensen, 1999).
13E
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