Tânia Luísa Inês Guerreiro Lopes - Tese de Mestrado - 168 077

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UNrvrRsrDADE oE Évona

DrpaRraMENTo op EcoNoMIA
MrsrnnDo EM Ru-eçÕss INrrnNACroNArs E
Esru»os Eunopsus

JUGA§X.ÁVE*\O CONWI*ruO
DE t:991 A 19il95
Um desmembramento anunciado

rÂma rúse NÊs cusRRErRo LoPES


OrunII.TIooÀ: PRoFESSoRDoUToR SILVERIo DA RoCHA E CI.JNHA

Evona
2007

UE
168
077
UNrvpRstDADE ps Évone
DgpRRTaMENTO og ECONOMI,A
MEsrneoo EMRnmçÕrs INrrnN.tcIoNAIS E

Esrupos Eunoprus

JUGOSLÁVIA:0 CONFtrrO
nE ÁwtAtw$
Um desmembramento anunciado

rÂme ruÍse nGs cusRREno LoPEs


ORTENTADaR: pRoFESSoR DouroR slr,vÉnro pe RocHA E cLJNHA

,luna 7v

Évone

2007
Jucosúvre: O Coun tro or 1991 a 1995

AcnApECIMENTOS

Gosaria de agradecer a todos aqueles que contribuíram para a realização desa


disseraso, sejam professores, amigos, familiares e a todos aqueles que toÍnamm mais fácil a
recolha de toda a informação necessária à realiza$o deste trabalho. Ainda um agradecimento
especial ao ProfessorDoutor Silvério da Rocha e Cunha, orienador desa dissera$o, pelas
sugestões, conselhos e acima de tudo à abertura demonstrada em relaçáo às ideias dos seus
alunos e incentivo pera o desenvolvimento dessas mesmas ideias.

Este trabalho é especialmente dedicado a todos aqueles que lutam pela Liberdade e
Dignidade do Ser Humano.

I
Jucosúvte: O Conn rro os l99l a 1995

REsumo

Jucosúvra: o Coxrrrro on7991t1995

O conÍlio na ex-Jugoslávia revestiu-se de uma grande complexidade, de urn


multiplicidade de conflitos ocorridos entre 1991 e 1995,até à assinatura do Acordo de Da1,ton, e
ainda do número de partes em conflito. Ao longo de tês anos e meio confrontamm-se sérvios

contra muçulmanos, muçulmanos conra croâtâs, croetás contra sérvios e inclusiramente


muçulmanos contra muçulmanos. Os cessar-fogos sucederam-se, uns após outros, sem que
nenhum fosse efectivamente respeiado, tal como aconteceu aos sucessivos planos de paz,
intenados uÍna e outre vez pela comunidade internacional, até que a paciência e a própria
esperança numa resoluçáo do conflito quase se esgotaram. Finalmente em 1995, não sem antes a
NÂTO ter desencadeado várias ofensivas contre os sénrios da Bósnie" foi finalmente assinado o
Acordo de Dayton que, desa vez, com o apoio da maior potência mundial e dos seus aliados,
Íinalmente acabou com a matança enEe os Povos daex-Jugoslávia
Este trabalho pretende relatar os acontecimentos do conflito propriamente dio, focando
com maior porÍnenor o da Bósnia-Herzegoün4 entre 1991 e 195,de uma forma táo imparcial
quanto possível, sem dei:ar de referir os antecedentes históricos que marGram os Povos
constituintes da Jugosláviq porque aquilo que um povo é hoje, é o resultado da sua Própria
História, referindo ainda o papel da chamada "Comunidade Internacional" ao longo do conflito,
e como a sua acçáo (ou inac@o) contribuiu pam o cessar ou prolongamento do conflito e

pretende ainda apresentar, à luz das teorias existentes, as possíveis cau§as Pútamaior camificina
em plena Europa, desde o final da II Guerra Mundial.

2
JucoslÁvr* O Coummo pBl99l e 1995

SUMI\4ARY

Yucosranrya: THE coNFLICT FRoM 7991ro 1995

The conflia in formerYugoslaüa was a conflict characterized by a mqior complexity, by


a multiplicity of conflicts between 1991 and 1995, until úe Dayton Agreemeng and parties
involved in the conflict. For three years and half úere were confrontations between Serbs and
Muslims, Muslims and Croats, Croats and Serbs and even Muslims fooght amongst each other.
The cease-Íire succeeded, one after anoúer, none of them being respected, the same happening
wiú the peace plans, attempted several times by the international community, to a point where
patience and hope on a solution itself almost ran out. Finally, in 1995, notbefore NATO actions
against Serbsin Bosnia aking place, úe Dayton Agreement was finally signed, úis time wiú
úe support of the greatest world power and its allies, and it seems to have ended úe carnage
between úe peoples ofúe formerYugoslavia.
This work intends to describe the events of úe conÍlict itse[, focusingwith more deail
that one in Bosnia-Herzegoün4 betrneen 1991 and 1995, in an impartial way, without
forgetting the historical background ofthe peoples inYugoslavia, because what a people is today,
is the reflection of its own History also referring the actions of the so called 'International
Communiqf duringthe conflict, and how its action (or inaaion) has contributed to the ending
or lasting of the conÍlict, and also intends to present, based in the existing theories, the possible
câuses to úe major carnage in the Europe itse[, after SecondWorld'War.

3
Jucosúua: O Corruto oe 1991 e 1995

ÍNprcn

Agradecimentos 1

Resumo/Summary 2

Lisa deAbreviaturas 5

Introdução Geral 6

Capítulo I - A Guerra como fenómeno scial 10

Capítulo tr - História da região n


Capítulom-Oconflito 58

Capítulo IV- O papel da Comunidade Intemacional no conflito 92

Considerações nnais 713

Conclusão 129

Anexos 131

BibliograÍia 139

4
Jucosúvra: O Coun rro osl99l.l 1995

LTSTA DE ABREVTATURAS

AvNOJ Conselho Ântifascisa de Libertação Popular da Jugosláúa Ântifasisticko


V(§ ) ece Narodnog Oslobodenj
Jugoslavije
a

CE ComunidadeEuropeia
CEE Comunidade Económica Europeia
CSCE Conferência para a Segurança e Cooperação na Europa. Conference on S'ecurity
and Cooperation in Europe.
FMI F undo MoneÉrio lnternacional
FORDEPRENU Força de Deslocação Preventiva das Nações Unidas.
FORPRONU Força de Protecçáo das Nações Unidas
ÍDZ União Democrática Croaa. Hrvatska Demokrastsla Z$edrua'
HV E:<ército Croaa. Hrvatska Voj ska
HVO E:rército Croaa Bósnio. Hrvatsko V[iecé Obrane
IFOR Implemenation Force
JNA Exército Federal Jugoslavo. Jugoslavija Narodne Armija
KPJ Partido Comunista daJugoslávia. Komunisticka PartijaJugoslav[ie
NATO North Atlantic Treaty Organization. Organiza$o do Tátado do Atlântico
Norte.
NDH Esado Nacional de Croácia Nezavisna Drzsva,Hryatska
ONU Organizaçáo das Naçóes Unidas
ONURC Opera$o das Naçóes Unidas para o Resabelecimento da Confiança na Croácia
OSCE Organização para a Segurança e Cooperação na Europa- Organization for
Sirurity and Co-operation in Europe
PESC PolíticaE:rtema e de Segurança Comum
RS República Sérvia da Bósnia-Herzegovina. Republika Srpska
SDA Partido de ÂcAo Democrática. Sranka Demokraska Akcije
SDS Partido Democútico Sérvio. Srpska Demokratska Sfianka
SFOR Sabilization Force. Força de Esubilização das Nações Unidas
SFRI Socüatistiõkâ Federativna RepublikaJugoslavija. Repúbüca Federal Socialisa da
Jugoslávia
Sry Liga dos Comunises daJugosláüa- Savez I(omunisaJugoslavije
SRJ Savezna RepubliloJugoslavija. República Federal da Jugosláüa
TPI Tribunal Penal Internacional
UE UniãoEuropeia
UEO União da Europa Ocidenal (Western European Union - WEU)
URSS União das Repúblicas Socialistas Soviéticas
TSRS E:ército dos sérvios bósnios.Vojska Republika Srpska.

5
Jucosr.Ávn: O CoNrurooB l99l A 1995 -

INrnoDUÇÁo GnRAL

A guerra foi e será certamente alvo de análise, refloáo, interpreação e discussão,


enquanto fenómeno que uns tenam perceber, outros tenülm orplicar, outros ainda
aprender, ouüros esquecer. Milhares de páginas se terão escrito acer@ do tema, fazendo
referência ao melhor e ao pior do Ser Humano. Através dela nascem os heróis e através dela
nascem os ülões. poderemos deixar de a tenbr compreender e, no entanto, jamais
J"mú
conseguiremos entendê-la na totalidade e impedir que volte a acontecer. Daí o fascínio do
temâ, atracçáo e repulsq que ao mesmo tempo provocr. LJm tema por demais debatido, mas
jamais esgoado, assim é o tema da guerra, daí mais este tmbalho.
A importância do estudo da guerra é bem explicitada pelo programa do Curso "I:s
Causas de la Guerra"l leccionada pelo Comandante Enrique Diaz Criado, do Exército
Espanhol:

"Comprender las Grusas de las gueÍTas no es una cuestión emocional e


intuitiva; requiere un enfoque multidisciplinar que permia *:uilir:r las actitudes
personales ente la agresión y la üolencia" comprender el comportamiento de los

Brupos y de sus líderes en situaciones de crisis y conocer el mecanismo de


toma de
decisiones públicas. Desde la perspectiva teórica se puede acometer el análisis
histórico de las guerras pasadas, para anticipar posibles causÍls inmediaas y profundas
de las gueras en el futuro'

Um dos motivos que levou à escolha do tema, foi a percepção do facto de muitos
dos trabalhos publicados e consulados, apresenarem interpretações simplisus por demais e,
muitas vezes, claramente parciais. Estas explicaçóes, mais do que conribuir para perceber o
que ocoÍreu na ex-Jugosláüa entre 1991e 1995, são um entave à sua compreensão, já que

t Curso Guerra" da Universidade Carlos Itr de Madrid, Deparamenode EsrategiayOrganización de


"Ias Causas de la
página consultada
la Escuela de Guena del §iército de Tierra- htç/Âvww.uc3m.eíuóm/grallES/ESHU/tas-causas.doc,
a 23 deJaneiro de 2(X}6.

6
JUGosLÁVIA: O CONFLIO DE 1991 4 1995

esquecem o caúcter multidimensional e da imensa complexidade do conflio, deste ou de


qualquer outro.
Esa disseraso procum identificar e orplicar, de acordo com os trabalhos existentes,
as causas do conflito e o modo complexo como estâs se interligam e, como Por sua vez,
exercem um efeito multiplicador enüre si. Procrrrando oferecer uma visão mais alargada das
diferentes visóes apresenadas por aqueles, cuja responsabilidade exigiria outro tipo de
discurso e interpretaÉo, como por exemplo a do Primeiro-Ministro bri6nicoJohn'Major,
quando em Abril de 1993 explicava do seguinte modo as origens do conflito na Bósnia
(Noel Malcom, Nsnia. A Short Hist'0ry apuil Oliveira, 2001: 275):

"O principal elemento por detrás do que aconteceu na Bósnia é o colapso da


União Soüética e da disciplina que isso exercia sobre os ódios ancesmis na velha
reemergiram, e
Jugosláüa. LJma vez desaparecida essa disciplina, os ódios ancestrais
nós começámos aver as suÍls consequências assim que os combates tiveram início.'

Adisseração encontra-se dividida em qrr:úro capítulos. O primeiro capítulo aborda a


literatura dominante acerql da teoria da origem das guerras, no qual são referidos os autores
mais influentes e suas teorias acerce do tema. Serão apresenhdas indiüdualmente aquelas
que se aplicam ao cílso em questão, de modo a restringir um tema que, tendo sido
amplamente tratado, jamais será encerrado e acerca do qual continuaráo a surgir no\râs
posições, até deüdo à própri" natureza mutável da guerra. No segundo capítulo, Procura
dar-se uma cobertura histórica dos antecedentes dos Povos que têm habitado a zona dos
Balcãs, desde os primeiros povos que aí se insalaram e construírem eli suas ciülizações. Este
capítulo será essencial para a compreensão das posições assumidas pelos diferentes Povos
antes, dumnte e depois do conflito, porque aquilo que um povo é, resula do caminho
percorrido enquanto povo com uma cultura" lfog,tq religião, costrumes e tradição próprias.
O terceiro capítulo aborda o período da guerra propriamente dita, ou seja a fase bélica do
conflito, as moümentaçóes das partes em conflio, os objectivos que pretendiam atingir, a
Para a obtenção dt paz
*Comunidade Internacional" e todo o processo
actuaÉo da dita
(cessar-fogos, acordos, conferências, planos de paz, sançóes). Seú este o capítulo mais
extenso,já que se entou, atmvés de muitas e variadas fontes, epre§enhr o maior número de
factos conhecidos, dando uma üsão, o mais ampla possível, dos acontecimentos. Qualquer
tentativâ de sumarização neste ponto do trabalho, poria em risco a imparcialidade do
trabalho e consequentemente as ilações que se pretende seja possfuel retirar com o toÚo. O
capítulo quarto apresentâ o papel da comunidade intemacional ao longo do conÍlito, QUer
no seu conjunto quer individualmente, focando as posições tomadas e as altemções sofridas
conforme as condições no teÍreno se foram modificando. De referir que a aPr€sentação

7
Jucosúvn: O Corwmo pe l99L e 1995

num capítulo indiüdual, se justifica por uma questão de maior clarrere e de modo a não
prejudicar a compreensão sequencial do conflito, urnavez que iria tornar ainda menos clara
a percepção de um episódio já basante confuso na sua essência. Finalmente, no último
capítulo, será realizada uma t€ntativa de explicação das causas especíÍicas do conflito ne ex-
Juggslávia, tendo como referência as teorias apresenadas no primeiro capítulo.
A sua
ortensão deve-se essencialmente à compleddade do tem4 como qualquer outro tema que
trate de relações enffe seres humanos, não pretendendo ser uÍne apresentaçáo er<austiva das
diversas causas do conflito, tnâs sim aquelas julgadas as que mais contribuíram para o tipo
(üolento, com numerosas üolações de direitos humanos) e duração (de 1991 a 1995) deste
conflito.

I -ENqua»RA{ENTo

A escolha do tema em questão ficou a dever-se a motivos de interesse pessoal, de


motivação moral pela busca.ou reposiçáo da verdade e pelo sentimento da necessidade de
perceber o passado para que se possa compreender o futuro e, se possível, evitar a repetição
de tais acontÊcimentos.
Com esta dissertação pretende-se contribuit p"m um melhor conhecimento do
conflito que ocorreu na ex-Jugoslávia entre 1991 e 7995. Contribuir para a destrui$o de
alguns mitos utilizados como justiÍicação pera o conflio, compreensáo do imbróglio de
planos de paz, seu sucesso ou seu fracasso e quâl o conributo das Parües em conflito e,
principalmente, provoçr a reflo6o aceÍç.a das suas causâs, aprofundando e aPresentado as
comploes redes de adversários, aliados, participantes directos e indirectos, interesses
intemos e s.ternos. Acima de tudo pretende-se dar uma visão mais ampla do conflito, do
que a apresenada pela generalidade dos meios de comunicação e analisas, apresentando
diferentes interpretações do conflito e tirando partido do disanciamento temporal e
emocional sempre essencial quando se pretende faz.er uma análise just4 equiativa e isena
de qualquer acontecimento. Provocar o questionar das opiniões e o<plicações vigentes acerca
das várias origens do conflito.

Objeaivo geral Contribuir para um conhecimento mais aprofundado dos vários


conflitos que, no seu conjunto, ficaram conhecidos como "Guerra daJugosláüa'-
Objeaivos específicos: identiÍicar e analisar as diversas crusas que contribuímm para
o despolear ou prolongamento do conflito na ex-Jugoslávia.
Este tabalho não pretende ser um estudo teórico sobre as c:rusas da guerra em geral,
mas sim cingir-se âo crso especíÍico das causas que estiveram na oriçm da guerra da ex-

8
JucosÁvta:OCoNnno»B l99l a 1995

Jugoslávia; por outro lado, 6o pouco será abordada a situação dos púes da ex-Jugosláüa
após a assinatura dosAcordos de Dayton, suaviabilidade ou futuro.

tr -Mr:ro»oloclA

Deüdo às restri@es materiais e de tempo, não foi feia um estudo "no terreno", pelo
que a metodologia seguida nesta dissertação foi a identiÍi@Éo, recolha e análise da literatura
e meios audiovisuais mais relevantes sobre a história da região da antigaJugosláüa e acercÍl
do conflito (de modo a identiÍicar os principais pontos de vista acÊÍct do conflito,
apresentando as opiniões divergentes e convergentes, oiplorando ainda aquelas que aPesar
de menos divulgadas podem, no enanto, contribuir pam unrâ melhor percep$o dos
acontecimentos); análise de documentos oficiais emitidos por organizeções internacionais
(nomeadamente ONU e NATO); informações fornecidas pelos órgãos de comuniczréo
social a nível mundial; ter.üos publicados por divenos centros de investigação Paru t pazl
literatura produzida por analistas e finalmente, as üsões críticas daqueles que estiveram em
contacto directo com a situação no teÍTeno (iornalistas) ou tiveram um envolvimento
directo no processo de resolução do conflito (Cutileiro, Orven, Carrington).
A metodologia seguida foi primeiramente a recolha de informação atrevés da
pesquisa de diversa literatura e documentos (escritos e audioüsuais) existentes acerca do
essunto em análise, seleccionando a informação tendo em consideraçáo a qualidade,
credibilidade e pertinência. Seguidamente realizou-se o processo de análise da informação
considerada mais relevante.

9
JucoslÁue: OCoururropB l99l A 1995

CapÍrul,o I
A GupRRA coMo FENóMENo socIAL2

De entre as inúmeras deÍiniçôes existentes do fenómeno da guerra" uma primeira


deÍinição podeú ser a apresenada por Norberto Bobbio (2000: 511), segundo a qual o
Estado de Guerra é o "(...) esado no qual a sua vida [do Homem] é colocada em perigo, a

posse dos bens ameaçafu tornadas precárias as condições de existência própria e dos seus
próximos." O autor diferencia desta, o conflito, sendo este mais lato, já que econtece semPre
que "as necessidades e os interesses de um indMduo ou de um grupo são incompatíveis
com aqueles de um outro indiúduo ou de um outro grupo, e Poranto não podem ser
satisfeitos senão com prejuízo de um ou do outro" (2@0: 5ú)3. tlma outra definição de
guerra é a oferecida por Gaston Bouthoul (1966: 51) " a guerra é a, lua armada e
sanguinolentâ entre grupos organizados" e esclarece que o que une o gruPo, pode ser'um
laço familiar, consanguíneo, verdadeiro ou imaginado (...) d. ÍtaítÍeza religiosa ou política",
essaunião pode basear-se ainda na fidelidade à mesma dinastia, na língua comum, na raça,
nos interesses económicos, na situa$o çogníÍica" na comunhão ideológice" entre muitos
outros.
O General Albero Piris4 (1995: 24), recordando Juan Iagorgette, refere "a
complexidade de qualquer rcntad\,'â de classific"çáo das caus,ls da guerra [dado que] são üio
numerosos e variados os móbeis da guerra como os. desejos e os interesses humanos,
qualquer tenativa de cla.ssiÍicar o fenómeno bélico não pode ser rigoroso." (tradu$o nossa).
O mesmo aresa Jaume Puig (2005: 79), com a seguinte aÍirmação: "As oçlicações

2
Neste trabatho não se entrarão em questóes filosóficas acerca das causalidades das guerres, nem 6o pouco acerca das
distinçóes entre causas necessáriasi, suficientes ou contributivas, utne viez que ultrapassam o objectivo deste aabalho.
Para umadefiniÉo drs últimas, ver Ronald Glossop (2001), "ConÊontingWar", p. 57-d).
3
Segundo a definição apresenada no Dicíonfuio dc RelaçArs Intenudona§ Boniface, Pascal (dir.) (l»61'9. 165'166.. "(...)
umionflito designa uma oposição de interesses que não se traduz forçosamente pelo emprego d" fo.ça armade" (...)
Quaado o conÊonto degpnera em conÍlito armado, confunde-se en6o com a gueÍrà e os dois termos
são
i;difercntemente usados. Desse modo Íàla-se do conÍlito na ex-Jugoslávia para designar a guerra qne rebentou no seio da
federagáo jugoslava a seguir ao afundamento do bloco de kste (...)". N" sequência desa definiçáo, os termos guere e
conÍlito serão utilizados como sinónimos ao longo do tqro.
4.Alberto Piris é General de Artilharia na Reserva do E:ército Espanhol e analisa do Centro de Investigrión pualaPaz.

10
JucosLÁvIA: OCotm,noos 1991 e 1995

unilaterais e de uma s6 causa não são apropriadas para a orplicação de fenómenos sociais
complexos, como os conflitos, as gueÍTas civis, as rebeliões ou os movimentos armados. Não
há uma única Glusa que, por si só, e por mais importante que possa parecer, seja responsável
por um conflito armado".
Apesar das dificuldades acima referidas ao estudo deste tem4 e de se dever ter
presexte que seú sempre um eshrdo incompleto, será feia uma tenAtiva nesse sentido, já
que, ciando Michael Hourard (TIu uusu of wars, Counterpoint, Iondres, 1984, p.35 apd
Piris, 1995: 26), "o conhecimento das causas e da natureza &s guerras é uma característica
necessária dos cidadãos instruídos" (mdução nossa) ou ainda uma fimse recordada por
Gaston Bouthoul (1966: 26) "se queres t Pu,estuda a guerra".
Na classiÍicação das clusas das guerras deveú ter-se em conta que - tomando a
analogia feiA por Rondd Glossop (2007:59) entre as causas das doenças e as causas das
guerTes, quando afirrna que podem encontrar-se as causas específicas Para uma determinada
doença" mas não se podem encontrer as causas para "a doeng" em geral - após serem

identificadas as ctusíls específicas de cada gueÍra, podem agruPar-se consoante as suls


características, não querendo no entarnto significar que as causas referidas se verifiquem em
todas as gueÍras. Como refere Glossop (ihid.),qualquer tenativa de identificação da causa de
todas as gueÍTas resultaria num fracasso.

AscausASDÀS GUERRAS

Na impossibilidade de apresenar todas as teorias existentes relativamente às causas


da guerra pelo seu número, diversidade e especificidade, optou-se Por Íazsr ume selec$o
tendo em üsta o objectivo do presente trabalho, já que nem todas as categorias de causas
apresentadas estão presentes no conflito em quesáo.
Seguidamente será realizado um trabalho de agrupamento das divereas causas de
acordo com a sua natureze, tal como sugere Bouthoul (1966: 29\, de forma a oferecer um
resumo estruturado, operacional e compreensfuel. Deve notar-se que existem diferentes
classificações segundo os diversos autores, es que aqui se apresenBm seguem um critério de
operacionalidade e aplicabilidade ao caso em esürdo, tendo arnbém como objectivo limitar
o domínio do trabalho.
No que se segue, deverá ter-se em conte que muius vezes as luus Por recur§os
naturais e económicos se interligam com contradições políticas, culturais e ideológicas, que
muias vezes são apenas a parte üsível de razões económicas e políticas muito mais
profundas. No enüurto, para fins analíticos, apresentâr tipologias de causas da guerra torna-

l1
JucoslÁua: OCoumrtooB 1991e 1995

se útil, já que permite comparar conflitos concretos bem como as suas raíz.es (Nikitin,
2000).

Causas HrsróRrcÂs

As causas históricas estão geralmente presentes em todos os conflitos, podendo ser


identiÍicadas circunstâncias mais próximas do conflito ou mais longínquas. A utilização da
história pode manifestar-se de diversas formas. A memória de grandes feitos históricos,
ensinados nas escolas e propagados pelos meios de comunicaéo, podem funcionar como
força motivadom para um conflito; o retorno aos tempos gloriosos passados e entretatrto
perdidos, em que um povo ou Esado goT*r'rzado estaürto de grande potência é igualmente, e
não poucas vezes, utilizado como justificação pera uma guelra (Piris, 1995:32-33). Os laços
históricos com outro Esado, ambém podem explicar se não o início, pelo menos a
propagação de certos conflitos. A história pode inclusivamente ser instrumenalizada de
forma intencional; al
ocorre quando dirigentes políticos, intelectuais e militares apelam à
memória histórica dos seus povos, com o objectivo de demonizar e denegrir a imagem dos
adversários e, através da alteração e adaptação da história aos seus interesses, incentivam e
legitimam a necessidade do confronto. Desa forma a história é modificada e deturpada de
forma a senrir os interesses das respectivas partes em confronto (fuid.). Esa mesma opinião é
partilhada por Hajdinjak (2@1: 24), quando refere que as elites podemfizer uso do passado,
ou de certas partes do passado, para'manipular as emoções colectivas, e gprar e controlar a

mobilização das massas".


utiliza$o intencional e programede da história como justificação, a
Para além desa
história pode ainda conribuir de oums formas pem o desencadsar ou para o prolongamento
de um conflito. Segundo'WibergQü04:41), muitas vezes a história percepcionada ou mitos
históricos são mais imporantes que a "hist6ria objectiva". Se muitas vezes a segunda é
alterada, como resulado de norns descoberas ou interpretações, tal acontece ainda com
maior frequência com a primeira, daí que Pera o autor, Para se perceber um conflito é
necessário conhecer não só a sua história real mas ambém as swrs histórias imaginárias.
Pode dizer-se que a história es6 sempre presente nos conflitos e é utilizada como
força motivadora e ne propaganda (Piris, 1995). Esta instnrmenalização da história é bem
expliciada por Anthony D. Smitl\ (The Ethnb Odgiru d Blacknell Publishers,
Natíons,
Cambridge, 1996, pp. 20Ç208 apd Hajdinjak, 2001: 11) quando refere que "O passado
define o presente da Na$o e direcciona-a para o futuro" Ínas que "as necessidades Presentes
e os objectivos futuros (...) influenciam o modo como o passado é reconstruído'e por isso
os mitos representam um aspecto fundamenal na "construção de uma nação" (tradução
nossa).

12
JucosúvrA: OCoNruroDE l99l A 1995

Causas rnnnrronran

O território tem sido uma das principais causas das guerras desde os tempos pré-
históricos, quando os povos procumvaÍn defender territórios de eça e colheia; mais tarde, o
objeaivo passou a ser a defesa de importantes rotrs, ocupaçáo de novos territórios para
obtençâo de mercados, apropriação de recursos naturais, criaç.áo de zonas de segurança,
acesso a üas fluviais navegáveis ou portos marítimos. Mas, se por um lado estes objeaivos
faco das fronteiras da maioú dos Btados estarem
são menos comuns na actualidade, pelo
completamente formadas, não podendo ser alteradas ou üoladas, e ainda devido ao
desenvolvimento do Direio Intemacional e de instâncias jurídicas internacionais que
permitem a resolução pacÍÍica dos conÍlitos territoriais, por outro, o território continua a ser
um factor imporante no desencadeer e na duraSo de certos conflitos, ainda mais se se tiver
em conta que o território é a base espacial do poder do Estado e que não pode haver um
Esado sem território (Nogueira Pints, TW: 14; Piris, 199i5:30-32), Consequentemente,
continuam a persistir as disputas acerca de territórios reiündicados por dois Estados que,
por motivos históricos ou porque foram entretanto perdidos numa guerra anterior, ou ainda
por motivos políticos ou esfttégicos, procuram recupeú-los aúavés da forg @uig, 2@5;
H{dinja( 2001: 24; Piris, 1995:3U33).
Âs guerras para conquisa de territórios, podem ainda er em üsta a obtençâo de
recursos naturais como a água" recursos do mar, solo fértil, recursos minerais e recursos
indusriais (económicos) como infu-estruturas industriais, fontes de energia, cidades e
portos, recursos financeiros, recursos humanos, entre outros. O ganho ou perda de
teiritórios que possuem recursos naturah esstssos ou valiosos como peróleo, gás, minérios,
ouro, cobre, urânio, etc., continua a ser de e:(Eeme importância geoestrâtégica e económica
para os Estados ou grupos, nos tempos modemos (Puig 2005; Nikitin, 2m0). Hqidinjak
(2001: 15) refere ainda a imporÉncia dos mitos acerca do território, já que estes,
apresentando-o como um "op"ço nacional sagradoo, fornecem um forte motivo pare que
umana$o lute pelo seu território.
No entanto, com excepçáo dos territórios com elevado valor geoestratégico ou
económico, o território enquanto causa de conflito diminuiu bastante depois de 1945 e m
opiniâo de Nogueira Pinto (1999: 14) rnão seú a principal causa dos conflitos recentss.

CausAsEcoNóurcas

Se tivemos em conur que as primeiras gu.erras tiveram como objectivo a apropriação


de recursos como a terr4 o gado, a águ4 bens diversos e até pessoas (escravos), ou ainda para

13
JucosúvrA: OCoNFLmoDE l99l A 1995

satisfa$o de outras necessidades de subsistência das sociedades, é lógico concluir que muius
das guerras que se combatem actualmente têm alguma causa económica (Glossop,2001: 68;
Piris, 195: 33-34).IJm er<emplo deste tipo de guerras, são as g:.erras entre os séculos KV
até inícios do século )§Ç em que os grandes impérios europeus pr@unram apoderar-se de
bens e territórioss dos povos da América ÁÊica e Ásia lclossop, 2001: 70; Piris, l9F/5:33).
Assim se geraram três tipos de guerras: as guerrÍts das grandes potências conra os paÍses
menos desenvolüdos, que pretendiam conquistar; as gueras entre as próprias potências, ao
concorerem entre si pela posse daqueles teiritórios; finalmente as guerras dos territórios
anteriormente conquistados, pela "libera$o nacional" e pelo controlo dos seus próprios
recunios naturais (Glossop, ?.üJt: 70-77). Aqui podem igualmente ser considemdas as
guerra§ que têm como causr o acesso a recursos naturais esçtssos ou considerados
economicamente ütais, como é o c:so na actualidade, de fontes de energia como o carvão e
o pefióleo 6 lGlossop, ?-A07:69;Piris, 195:37). Dwe ainda ter-se em conra que Des guerras
passadas, e mesmo nas
modemas, muitos combatentes eram mercenários, daí que a
apropriação de bens representaria uma importante força motivadomT 6linde e Pulkinnen,
2000).
Segundo Nogueira Pinto (1999: 15), as causas económicas dos conflitos, nas quais se
incluem as lutas por recursos coloniais, quer sejam rotes ou monopólios comerciais, têm
vindo a diminuir, no entarnto, e mais recentemente, a crescente imporÉncia dos recursos
perolíferos, lwou por o<emplo à guerra do Golfo; o autor desraca ainda a águ4 enquanto
recurso esctsso, como uma possfuel causa de imporantes disputas por motivos económicos
no futuro.
E:riste uma outra perspectiva quando se fala em causas económies, que resulA
direcamente do faco de que, para iniciar uÍu gueÍra, um paÍs tení de ser economicamente
forte. Neste caso considera-se que, se o país que iniciou a guerre não gpzasse das necesúrias
condiçôes económicas, enüio esh não tçria ocorrido (Piris, 1995: 33-34). No entanb
podemos contrapor a esta visão, o facto de os conÍlitos armados de maior üolência tçrem
sido desencadeados em países muito pobres, como é o caso dos países afrienos.

Já Glossop (2001), relaciona a situa$o económica de um país, especificamente a


prosperidadg com a fruseação de um povo, ou sej& enquanto a prosperidade taÍ:a apaz
mais proúvel, a adversidade económica pode gerar ressentimento, hostilidade e frustração
na populaçáo, que pode entiio ser direccionada pelos lÍderes, contra outro paÍs ou contra as
minorias denro desse mesmo país. Portanto, os períodos de crise económica aumentam a

s
Como se verificq as causas económicas esÉo intimamen@ retacionadas com as causas territoriais.
ó
Albero Piris insere este tipo de conflitos nos conflitos ambienais. Ver Piris ( I9FiS), p. 37 .
7
Um ercmplo são as recerües guerras no continente úicano, que envolver;m não €rdrcibs profissionais mas milÍcias
primdas, apoiadas por redes tansnacionais e que dizem respeim a recursol, e onde normalmente o comandante local
controla as mioas, ou ouro tipo de recursos, e utiliza-as para gerar fornrna pessoal (Flinde e PulLin"eq 2üD).

t4
JUGoSLÁVIA: O CoNFuTo DB I99I A 1995

predisposiSo da popula$o para alterar a situação recorrendo à üolência podendo originar


uma guerra; isto verifica-se taÍrto no caso de conflitos enre Esados como denüo dos
próprios Esados (Glossop, 2CiJ7:. 71). Âs causas económicas @em ambém ser
relacionadas com as demogÉÍicas, se tivermos em cona a existênch de bens e recursos
limiados e uma popula$o em expansão, na medida em que, se a tals de crescimento da
produSo não acompanhar a ta:s de crescimento da população, a consequência seú a
competiçâo pelos bens existentes, podendo resultar em conflitos violenos enEe pequenos
gnrpos, por exemplo, entre os grupos mais pobres da sociedade e os mais ricos (Collier,
2000: 11; Glossop, 2001).
(796), defende que unür guerra tem causas económicas, quando
Gaston Bouúoul
nasce de rivalidades económicas entre os adverúrios. Algumas serão motirradas por
necessidades económicas, enquanto outras são gueras de lu<o, em que uma das partes
busca um enriquecimento suplementar. Ássim Bouthoul (1966: 309) defende que existem
dr,< si6pç§ss que podem lerrar um povo à guerr4 são elas a superabundância8, em que a
riqueza é utilizada para adquiú armas, abastecimentos e mercenários, tendo um efeio
psicológico ao aumentar a waidade, o orgulho e a prepotência; e a penúria, em que um Povo,
sob amraça da fome, inicia uma guerre com o intuito de se apropriar das resenras
alimentares de outros povos ou alargar o seu território à custa daquelese. No entanto,
Gaston Bouúoul defende que guando se aprofirndam as autênticas motirações para as
gueras económicasro estas são na verdade psicológicas (Bouthoul, 1966;3M), "os factores
económicos parecem esur ao sewiço das impulsões belicosas" (íbid,:3aQ.
Nos recentes anos têm surgido estudos denominados de teorias económicas da
violência civil. Um dos investigadores mais influentes nesta área, Paul Collierll, com bese
nos seus esírdos coneluiu que: um úpido crescimento económico reduz o risco de um
conflito; o nfuel, o crescimento e a estrutura de rendimentos de um paG, úo factores muito
imporaffes para a deflagra$o de uma guerra civill2; um baixo nfuel de rendimento, o

I Dentro das guerras de supenbundância Bouthoul inclui o impedalismo ecouómioo como um âctor para as guerras de
escoameno de mercadorias, O imperialisrno económico consise em "assegurar pela força ou por intimida$o, mercados
privilegiados oude colocar emigra$o, mercadorias e capitais" (Bouúoul, 19&:3131.
e
A pnúria como causa da guerr4 é muito rara ms sociedades arcluÍdas (Bouthoul, 196ó: 308).
t0
Leia-se, guerras com causas económicas.
tr Paul Collier baseia o seu estudo de 2000 para o World Bank, em padrões empíricos globais recolhidoe entre 1965 e
199 e num outro estudo (Collier, 2002), e.aminou 160 paÍscs e 78 guen'as civis enm 1960 e 1999, com o objectivo de
deseurrolver um modelo esadstico para explicar a iocidêuch de urne guerrâ civil num gats, emrninando o impacto de
diversas variáveis explicatirns para deste modo prarer o risco de deÍlagraÉo de ,'m, guerra civil.
12
Grrcrra civil é aqui classificada como um couflio inlemo, com pelo menos mil mortes relacionadas com a batalha
(Collier, ã)ü):5).

r5
Jucosúvre: O CoNFlno DE l99l A 1995

declínio económico ea dependência face a mercadorias primáriasl3, aumentam


subsancialmente o risco de conflitola (Colliea 20üJ e2OO2).
Ainda denro das causa.s económicas há que refeú o caso da pobreza. A pobreza, a
crise económica e a desigualdadels, es6o normalmente associados aos conflitos intemos,
nomeadamente às guerrx civis. Os Esedos ditatoriú são os mais propensos à insebilidade
e à violênci4 já que normalmente mentêm os priülégios de uma minori4 q<cluindo a
maioria da popula$o, dando origem em muitos casos e gueÍns civis @iris, 195: 36), como
se pde verificar no qrso dos países em vias de desenvolvimento, onde ocotrerÀn a maioú

dos conflitos armados nos últimos dez anos. Albero Piris, refere especificamente, o papel
das instituições financeiras internacionais, para o clima de üolência e insabilidade que se
üve actualmente nesses países, já que em muitos cesos para poderem eceder aos
empréstimos e ajudas dessas instituições, os govemos foram obrigados a adoptar os
denominados Programas de Âjuste Estrutural, que obrigaram a numeros:E priratizações e
cortes dústicos nas despesas sociais, o que levou ao aumento da pobreza, da desigualdade
social, e atÉ da degredaÉo do meio ambiente. Daqui surgiram países que, apesar de
democráticos, apresentavarn uma grande instabilidade, pobreza e grande potencial para o
despoletar da üolência (íbid.).
IGnnette Benedia por ouro lado, defende que a pobreza por si ú, não é suficiente
pâra que su{a um conflito amedo. Já o mesmo não se pode dizer em relação ao aumento
das disparidades de oportr.rnidades, ou o acesso a recursos, que podem efuivemente ter
uma relação com os conflitos violentos. Mais, uma distribui$o desigual dos recursos
económicos e naturais, em cor{uga$o com falhas institucionais, podem levar à
fragmenação da sciedade e lwar à mobiliza$o para conflitos armedos, entre grupos
concorrentes @enedicg 1999).

Ceusas psrcorócrces

Para o general Alberto Piris (1995: ã), ," causas psicológicas relacionam-se
directamente com as percepções humanas, sendo que estrs es6o muitas vezes associadas à

forma como a história foi narrada e até falseada, como é o caso das lendas que glorificam os
heóis nacionais e que pessam a facos históricos ensinados nas escolas. Os meios de
comunicaçáo influem. de forma excepcional nas percepções dos acontecimentos, já que

13
Tambérn denomirnadas omm.düia,
ta
O autor refere ainda outros âsbres que podenr contribuir para o despolear de uma guerra civil, como a elqrada
dispemao geográfica da de er ooorrido uma
populafo,já que toma dificil o controlo do territ6rio pelo goveruo; o frco
guerra civil recente; o amarho da diáspora de um país; e airda o bairc nÍvel de educa$o da populaSo (Collier, 20{D),
rs
Paul Collier (2000: 18 2002), refere no entatrto, que os sets estudos esadsticos demonsEaram que a desigualdade
paÍece Dão aumenar o risco de um conllio civil.

L6
JucosúvlA: O CoNFIJro DE l99l À 1995

me§mo' seggndo o autor,


apresentam uma determinada forma de ver o mundo e @em
ou tllnas Poutls, cadeias
fomentar a agressiúdade. Este facto é agravado pelo âcto de umao
das ggerrasl6' e
de televisão apresentarem para todo o mundo uma única perspectiva
sobre aquelas.
contribuírem assim de modo desmesurado para moldar a opinião mundial
que é dada
Os factores psicológims, podem ainda relacionar-se com a educação
a üolênciar7, que de certa forma
desde cedo às crianças, que incentivam a competitiüdade e
a cultura de glorificação da guerra que, Por um lado
recomPen§a a violência e
têm a ver com
1995: 2&30)'
por ouü'o despreza a cooperação pacífica (Flinde e Pulkinnen, 2000; Piris,
jogos de guerra, que encorajam a
Hinde e Pulkinnen (2000) assinalam ainda os efeitos dos
pxte da vida normal dos
ideia da guera como um jogo inofensivo e como algo que faz
jogos de computadores
adultos; o§ autore§ v&m igualmente com PreocuPaçáo os modemos
que trezem aos jovens a üolência' sob a forma de realida<le virtual'
e do modo
Anderson (19962 2Ú) faz referência ao importante papel da "percepção"
que têm dele, tendo em
como os seres humanos reagem, não ao mundo real mas à imagsm
entre outros, pela
conta que a percep$o do mundo e dos problemas é influenciadar
pela sociedade em que
informa$o a que têm acesso, pelos valores inculcados pela famflia ou
se inserem, e pela educa$o que receberam. Desta forma
o modo como percepcionam o
espíritos desde a
mundo é influenciado pelos "valores e preconceitos, gravados nos [seus]
devido às diferenças' na
inÍância". O resultado, é que muiUs guerras Parecem ter começado
do mundo'
percepção que os políticos tinhâm dos acontecimentos e

CausasÉrulcas

mais antigos da
Os conflitos com carrsas étnicas incluem-se nos tipos de conÍlitos
tenta impor a outro o
humanidade e sáo conflitos que surgem quando um gruPo humano
seu idioma a sua religião ou os seus cosírmes. Piris dá como
oremplo algumas passagens da
diferentes ribos' se, no
Bíblia" que descrwem a crueldade e violência das grrerras entre
e utilizando a
pxsado, os conflitos étnicos subjupvam um gruPo a outro, escravizando-o
8eflrsa em ser dominado Por um
sua força de trabalho, hoje em dia eaa-se mais de unra
gnrpo, de uma cultura diferente e que é visto como e§trenho
ou estrangeiro @iris,
oufio
1995:3435).
tenitoriais' já
MuiEs vezes os motivos étnicos interligam-se com os económicos e
que ne maioria r|,q vezes, o domhio de um gnrpo sobre outro
é acompanhado por
grupos oprimidos e por elpulsóes
desigualdades económicas, saque de rrecur§os naturais dos

16
autor dá como errcrnplo a cadeia de nodcias norte-americaoa
o t»!;»\'
CNN (Piris'
t7 sendo a educação dada às raparigs €mctamente no sentido oposto, inentirando uma admde
No caso dos npazes,
posiva e seanndária (Piris' 195: 29).

l7
Juaosúvr* oCoNrrrmDE l99l A 1995

forgdas de territórios, que são vistos pelo grupo dominador como essenciais ou esratégicos
para a sua sobrevivência (rlld.).
Pam perceber as qrusas étnicas dos conflitos, convém compreender o que são grupos
étnicos. Segundo PeterAnderson (1996:278) "grupos étnicos são o meio através do qual, as
Pe§soâs se sentem suÍicientemente semelhantes, em relação à sua origem racial, costumes,
usos e interesseso e em resulbdo, se unem com o objectivo de criar um grupo social que
possa "desenvolver os seus póprios valores, interesses e asprrações e que consiga oferecer
alguma protecçáo dos mesmos". Com a formação destes grupos ambém é formada uma
"memória coleaiwa (.. .) onde se podem guardar e alimentar ofensas históricas". A qistência
de teis memórias significa que, as velhas dispuas nâo morrem e que podem pennanecer
uma potencial causa de guera-
IGlevi Holsti (2@1) por seu laclo, mosEa-se relutante em aceiar o conceito de
"conflito étnico" e quento à imporáncia do facor éürico como origem de um conflito, já
que, segundo ele, o número de casos em que diíerentes etnias convivemm em paz durante
séculos, é maior do que aqueles em que se verificaram conÍlitos. Segrndo o professor, os
conflitos ocorrem quando os líderes mobilizam os grupos, aé os levar à situação em que se
começam a rratar entre si, e acrescena que a üolência étrica raramente surge de forma
espontânea, e que quando tal acontece, é resultado da mobilização e liderança dos polÍticos,
ou da decomposição da autori.lade pública-
ParaAnúony D. Smiú, um grupo étnico'8 o<iste quando se denomina a si mesmo
ou é denominado, por um nome colectivo, com unu história comum, a mesrna cultura e
religião, uma mitologia própria, uma noção de solidariedade, e unul referência a um
tenitório (ThE Ethnic Orígiru of Natioru, Blachrell, Oford, 1986 in Wieüorka" 7913:12,-/
12s).
Nikitin (2000), insere as relações étnicas enquanto causa das guerras, nas luus pelo
poder, dentro da esGra socid. Podem ser luus pela autonomi4 pela represenução polÍtica
das minorias, estrutura da governa$o, autdeterminação, secessão ou acesso dos grupos
étnicos e nações ao poder e eos refllrsos. O facto de a elite que governa um Esado pertencer
a urne etnia ou tribo diferente daquela da maioria da população que govem4 pode
conribuir fortemente para o um conflio, tal como o faco de se verificar
desencadear de
uma grande discrepância a nfuel económico entre as diferentes etnias. O caso em que existe
um legado, em que um grupo procuravingar-se de ouEo de uma diferente etnie, também é
um factor imporante no despolear de conflitos étnicos.
Segundo Bispo (2@5), euando os grupos temem pela sua seguranç4 tenam eles
póprios asseguru a sua defesa, que pode raduzir-se no reforço da sua próprh identidade e

ÍE (Jma outra defini$o é a apresenada por Helen Watson, segundo a qual um gnrpo étnico é de6nido pot traços
culnrrais como a lÍngua, o dialeao, o vestuário, oc costumes ou a religião @oag e Wasoo, 2üE).

18
JUGo§LÁVIA: O CONFLNO DE I99I A 1995

na adopção de uma posição defensiva que poderá significar o uso da violência Os líderes e
agiadores desempenham aqui um imporante papel, ao fragmentar sociedade, a
sublinhando as diferenças enfe os úrios grupos. A escalada da violência surç da ideia real
ou imaginária, de que se o grupo úo agir contra o eventgal opositoç seú por ele dominado
de forma intolerfuel. O autor faz alrrrü referência a dois tipos de caalizadores que podem
conduzir a graves divergências dentro de uma sociedade multiétnica: os activistas étnicos e
os activistas políticos. Os instrumentos normalmente utilizados por estes, são as memórias
colectinas, os mitos e as emoçóes, que Polarium a sciedade, o que alimenA o "ciclo ücioso
do medo étnico e da violência". Os aaivisas políticos dGrençiam-se dos activistas étnicos,
pelo fac6 de não compartilharem obrigatoriamente das crengs o<remhtas, Proqfando
essencialmente uma posiéo polÍtica e poder; no entanto, ambos podem ser o resultado da
radicaliza$o da sociedade. Conforme refere o autor' a etnicidade pode oferecer uma
oportunidade pam os políticos ganharem ou alargarem o seu eleitorado' com o objeAivo
último de obterem ou reterem o pder político. Os factores não racionais como as
memórias políticas e mitos, ambém podem servir para polarizar a sociedade, deformando a
imagem do adverúrio, e até os factos históricos podem, ao serem transformados em lendas,
servir para justificar a superioridade de um grupo, avivando ainda mais os ódios entre eles
(Bispo,2005).
Hinde e Pulkinnen (2000), recordando M. Hastings e J' Jenkins (Thc banfu for tlrc
Fatklan* (1983). Londres: Pan), referem o papel decisivo dos líderes na transiçáo de um
conflito para a üolênci4 já que podem encorqiar a hostilidade em relaSão a um gruPo
erúerior, com a finalidade de consoüdar a sua pópria Posi§ão ou adquirir poder. Hinde e
Pulkinnerl referem ainda existir uma clara separaSão entre actos violentos entre gnrPos
úo
pecluenos, dispuUs entre grupos religiosos ou étnicos e as guerTa§ internacionais como a II
Guerra Mundial. Segundo eles, existe uma continuidade dos conflitos entre gruPos em
pequena escala e o caso exüremo das BueÍras intemacionais.
paul Collier QüI|,,20|/z),nos seus estudos sobre as causas dos conflitos civis, refere
como cagst imporAnte a "dominação étnicare", que faz duplicar a probabilidade de um
conflito; logo, quanto mais fragmenAda uma sociedade e§tiver em vários g'uPos étrricos,
menos proúvel seú o surgimento de conflitos, já que não exisre o predomÍnio de um grupo
sobre os outros4. Daqui, Collier conclui que os ódios érricos e religiosos não são uma
imporante causa dos conÍlitos, o que implicaria que as sociedades homogéneas seriam mais
seguras, o que nâo severifica segundo os seus estudos, pelo que, os conflitos úo são gerados

por esses ódios. De acordo com Collier, o ressentimento étnico, é activamente fabricado

'Ethnic dominânce" tro originrl, o que qneÍ dizer que o maior gnrpo emico !9 t3-!{t é maiori4
Íe mas náo uma
maioria esmagadora, ou seja represena eÍlre 45o/o t9ff/o üpopula$o
-estudo,
(collier, 2w e2w2).
dÀiod" oo seu Collier (ã[0: 7) defende iue a diversidade étoica e religiosa nlio iüla trmr soci€dade
"o--brr"
*"is p.tigo* * verdade Oma-a mais segUra relativamente à possfuel irrupgo de uma ggerra civil'

t9
JUGoSLÁvtA: OCoNFLIToDE I99I A 1995

pela entidade que se rebelg como força motiradora; assim, quando @orrem conflitos em
sociedades eüricamente diversas, elas dão a ilusão de terem tido causadas por ódios étnicos.
Desa forma são os conÍlitos que fazem nascer o 6dio entre os grupos, e não o invereo.
entanto, nos seus estudos, Nicholas Sambanis chega a conclusôes que
No
contrariam aquelas de Collier, justificadas pelo facto de não ser feia uma distinção entre
guerras civis em geral e o caso particular das guerrx civis étnicas, que segundo Sambanis
têm causas distintas. Desta fonna afirma ter encontrado nos seus estudos, uma,relasão
positiva entre o nível de heterogeneidade émica e o despoletar de uma grerra civil éurica, ou
sej+ a probabilidade desa seú tanto maior quanto maior for o grau de diversidade étnica
(Sambanis, 2ffi7)21.
De acordo com Hinde e Pulkinnen, o que ocorre muias vezes, é que as diferenças
éuricas e religiosas úo utilizadas para justificar ou e:<acerbar tensôes cuja oriçm é mais
imediata, como a pobrezâ ou o desemprego (Flinde e Pulkinnen, 20ü)).
Para Piris (795: 34-35), mesmo existindo um conflito étnico, este não dá
obrig'atoriamente origem a uma Buerr4 se existir um sistema democrático, que permia a
oçressão das diferenças e liberdades dos diferentes Supos.

NecroNar:suo

Glossop (2001) refere que, para que o nacionalismoz possa surgir, primeiro deve
enistir a identiÍicação com o grupo, e ocplica que um indMduo se identifica com um grupo,
quando sente que o que é bom para o grupo é bom para ele e o que prejudica o grupo
arnbém o prejudica a ele, daí que os líderes se sintam pressionados para prosseguir os
interesses do grupo e, caso não o fagm, outro líder que prometa fazer melhor, seú
escolhido. Esta identificaSo com o gnrpo, parece aumentar em situaçóes competitivas ou,
quando os membros de um grupo político ou religioso, enfrenam a pereegui$o por parte
de outros. Regra çral, todos os grupos procumm ser os melhores e os vencedores, o que
resulta no aumento ü competitiüdade entre eles e, no caso de haver o recurso à üolênci4
pode desencadear urna gueÍrit. Uma possfuel forma de eütar este tipo de conÍlitos, é enar
persrredi-los a unirem-se, formando um grupo maior, de forma a luurem contra um
inimigo comum (Glossop, 2001: 7 í79).

2!
Como se pode verificar pelos dois mmplos ciados, as teorias que enam detemrinar e explicar as causas das guerras
reorrendo a dados esrztGticos, têm chegado muiqs vezes a conclus6es contradi6rias, o que lerra a questiouar a rralidade
deasas mesmas conclusões
2 Para Glossop QCíJI: 76), as guerrãs causadas pelo nacionalismo úo recentes já que, até fiuais do sésrlo XVtrI, as
guen"s eram combatidas por merceuários que ofereciam os seus serviços em Eoca de dinheiro ou dos despojos de
guerra uáo qistiudo um seutimento nacionalista. O seutimeuto nacionalista, tem sido uma caraçteútica das guerras
nos últimos 350 aoos.

20
Jucosúvn: OCoNrurroDE l99l A 1995

O termo nacionalismo' pod. adquirir três sigrificados diferentes de acordo com


Glossop (ver aneno I): um relaciona-se com a identifica$o de um indMduo com o seu
grupo étnico-racial; outro, refere-se à lealdade de um indMduo ao seu EsAdo-Naçáo e é
sinónimo de patriotismoa, e encontra-se presente na maioú dos conflitos intemacionais;
uma terceira noçáo, e aquela que aqui será focada, é a que se relaciona com a noção do
direito à autodetermineção de um Povo, ou *jq uo direito de cada grupo étnice-racial ao
seupróprio Esado-Nação independente, e dos seus membros de viveremjuntos num único
Esudo.Naçáo homogéneo (Glossop, 2007: 75-Ú). Continuando a segrir Glossop (2fr)1:
79-83), ests última no$o de nacionalismo pode ser causa de guerrr de diversas formas'
Uma prende-se ao facto de aquele tipo de nacionalismo' ao legitimar o
direito à
autodeterminação dos povos, poder servir de base teórica aos movimentos de libera$o de
g.upos colonizados conra o§ gruPos colonizadores, seja esta colonização política ou
económicâ como é o caso mais frequente na actualidade. Uma outra, é o ca§o em que
favorece o aparecimento de movimentos separatistss denfo de um EsEdo-Naçáo, que têm
originado muitos conflitos, já que os gu/emos centrai§ irão luur contra aqueles
movimentos, de modo a evitar a perda de uma pârte do território; pode umbém acontecer
que, grupo étnico.racial que pretende constituir seu próprio Esado'Nação
o o
independente, esüeja disperso por vários EsAdos-Nação. Uma terceira forma pela qual o
nacionalismo contribui Para a guera' é pelo surgimento dos chamados moümentos
irredentistas, que surgem quando um Esado-Nação reclama um território situado noutro
Estado-Nação, povoado pelo mesmo grupo étnico-racial que o seu. Prwisivelmente, o
outro Estado-Nação estará disposO a iniciar urna guerrár com o objectivo de manter a
integridade do seu território. Por último, o nacionalismo pode ser ceusa de guerra' quando
um determinado g.uPo ébrico, dentro de um Estado-Naçáo, pretende a §ua união com um
outro Esado-Nação, com o qual se identifica e se sente mais pr6ximo culturalmenteã.
Em qualquer dos casos, o nacionalismo pode contribuir Para instigar o 6dio entre
nações, umavez que geralmente acentua os Írspectos positivos da própú naSo e o§ asPectos
negativos das outras nações, criando umavisão dhtorcida da realidade. Cada grupo vê-se a si
próprio como represenhnte de todas as virtudes e, eo outro, como o sírnbolo de todo o mal.
Glossop defende, no entanto, que o nacionalismo é mais o resultado do endoutrinamento
praticado pelos líderes e prop:gndi5tas na preparação de uma Suerra' do que uma causa das

nacionalisnro é a
23 O Tenente-Genenl António Bispo (2m5), trmb€m apresen6 uma no$o de nacionalismo: "O
ideologia em omo da causa da Nago, dos se'r" valores, da sua identidade"'
2{ Hinde e pulkinnen diG*nci; e patriotismo: enquanr o primeiro ynn-lica um seutimeato de
superioridade sobre outros grups nacionais e a necessidade de poder sobre eles, o segundo desigoa esseacialmene o
pú (lliude e Pulkinnea 2ffi).
amor pelo púprio
ãô L"orrri- ese tipo de mo.,imeom de imovimeato reinryÂctoniscP,".eirtugrdtionltt rmtmenf , e dixingte'se
"iiao o-r r* que u"qu"le é um Estado,Naçiio que tenta integrar o território-de outro lstado-Naçilo' euquano
do--erio,
Ofti-" e p""o dcum territ6üo que procura ser integrado nouuo Esado'NaSo (Glmop, 2{y;1: 81).
"ã "

2t
JUGOSLÁVI,A: O CoNFIIIO DE I99I A 1995

guerras (Glossop, 20Ol: V2)%. No entanto, segundo o autor, úo se devem menosprez[ os


um povo que apoia as acções agressivas de um líder,
sentimentos nacionalises de na
obten$o de melhores condições económicas pera o Bado-Naçáo, ou nâ procura de
controlo sobre outros Estados-Nafo.
ParaAntónio Bispo (2005), o nacionalismo assume a sua forma mais radical, quando
existe o sentimento de que os'ralores da Nago estiio em perigo. Os nacionalismos devem
ainda ser diferenciados, tendo em conta factores que influenciam a probabilidade de recuno
à üolência- Há que diferenciar se se ratam de nacionalismos com Estado, que procurarão
reforçar o poder do Estado, ou se úo nacionalismos que consideram não possuir um Esado
que os represenE, e neste caso, procurarão a separa$o do regime e a constituição do seu
próprio Estado'. O autor acrescente que i{ primeira medida dos riscos à paz numa região,
especificamente colocados pelo fenómeno do nacionalismo, podeú ser encontrada na
proporção dos movimentos nacionalisas que não atingiram ainda o estatuto de Esedo" e
prossegue: "Os mitos chawinisas siio a marca çral do nacionalismo,
eue se passam através
da escolq da literatura ou dos contactos com as elites políticas". O colapso do Esado, é um
dos principais factores para o ressurgimento dos movimentos nacionalistas já que, o Esudo
enquanto entidade legítim4 garante a represenatiüdade de todas as nacionalidades e
favorece a coesão entre elas (Bispo, 2005). O mesmo defende Anthony Smith, quando
reGre que não é o nacionalismo em si o responsável pelo colapso dos Estados, mâs que os
nacionalismos normalmente emergem das ruínas de Esados que, quer por razões étnicas ou
não, dei:aram de serüáveis (Smith, 1999 129).

Ceusasporfncas

Para Nikitin (2000), deriyam tanto das diferengs


es Gms:ls políticas das gtrerras não
de interesses, mas sim ü vonude política e, dentro das causas políticas há dois qtsos a
considerar: as Grusas políticas intemas e âs curs:§ políticas internacionais. Quanto às
primeiras, o objectivo pode ser a redistribuição do poder entre os diversos grupos ort no
caso de uma federação, as regifu podem aspirar à autodeermina$o ou à modificaSo do
tipo de relaçfu denro da federaçãoâ, ou seja, o regime político, o nfuel de democratiza$o

bWar may be seen as inerriàble to 8ãfeguaÍd rational independen e and values, and nationalisn is fostered by
politicians and individual. other thas those qrho do the actual kiling. (...)Nationalism is augmened by caegorisatiou of
the enenry as euch, aod this is asisted by propaganú portmying them as wil, dangerous, and even as sub-humau: suú
i-agBs depand for úeir effectiveuess ou group solidarity, fear ofstrangerq and defensiveues, Portapl ofthe euemy as
suFhumar, evil aud lackirg in idividuatity helps to justify agresion agairst úern (...)" (ÊIhde e Pulkiunen, 2000).
3 Outros âcores a ter ern conta sáo a exiséncia ou uão de dilspora e proximidade desa; o direio ou não à auonomia
das diferentes nacionalidades dentro do mesmo Estadol e o respito pelas miuorias ou sua discrimiuago (Bispo, 2005).
ã Apesar de que, na opinião de Nikitin (2ün), numa federago exisa uma menor probúilidade do surgimeno de
conflitos de interesses entre os divenos grupos, já que podem ser resolvidos atrarés do sistema de regulamenação do
Esado, das auoridades legais, e atrarés de medidas administratins, legais e ecouómicas.

22
Jucosúvn: OCoNFLIToDE 1991 A 1995

ou a forma de governo. À nível da política intemacional, as qlusas de uma guerm podem


encontrar-se na lua pela modiÍicação de fronteiras, por lidgios acerca do território, alianças
ou compromissos com outros Bbdos-NaSo. Ainda dentro das causas polÍticas, e
articulando-se directamente com as causas étnicas, o facto de a elite govemante de um
unu etnia ou tribo diGrente daquela da maioria da populaçáo que
estado, pertencer a
govem4 pode constituir um forte contributo para o deflagrar de um conflito (Nikitin,
2000).
Piris (1995: 21), refere a falta de democracia enquanto factor modemo de conflito»,
na medida em que os sectores oprimidos da sociedade se rebelam pelos seus direitos. Nas
sociedades em que as liberdades públicas, os direitos humanos e os direitos civis são
respeitados, e onde as instituiçóes democráticas úo mais estáveis, ercistem mais
possibilidades de que os conflitos se resolvam sem recurso à violência; nessas sociedades a
lei tem a fun@o de proteger os direitos de todos os cidadãos, incluindo as minorias, daÍ que
sejam sistemas menos propensos ao surgimento de conflitos em sociedades multiculturais,
multiétnicas ou multireligiosas. Quando al não acontece, caso dos regimes ditatoriais, os
sectores oprimidos da sociedade, a quem são recusados os direitos e liberdades, ou o acesso a
um maior bem<star, podem insurgir-se de formaüolenta (Piris, 7995:35-36). Geralmente
os Estados democúticos tendem a relacionar-se de forma pecífra entre eles, o que não
impede no entanto que, Estados democúticos com interesses económicos ou geopolÍticos
no exerior, accuem de forma imperialist4 ou que ajudem govemos diaoriais em troca de
beneficios económicos (úrd.). Nikitin (2000), partilhada mesru opinião, quando refere que
o facto de um sistema político ser democrático, contribui paÍ:l que sejam eüminadas muitas
das possfueis causas políticas de uma guerra. Uma outra situaSo pode ocorrer quando um
regime político, confrontado com nulls desempenhos internos e crescente criticismo
intemo, desencadeia um conflio intemaciond com a Íinalidade de unir a população contra
um inimigo extemo, e assim direccionar a hostilidade da popula@o contra um inimigo
e*erior e náo conra si (Nikitin, 2000). A mesnür linha de pensamento é partilhada por
Nicholas Sambanis que, num esnrdo para o World Banks, concluiu que a fala de
democracia é um imporante factor no desencadear de uma guerra civil étnica (Sambanis,
2c01).
Hinde e Pulkinnen (2000), referem ainda a utilizago da propaganda feita pelos
governos em perÍodos de guerra, com o objectivo de aumenar a conücçâo da necessidade

, Uma viúo diêrene é a de Paul Colüer, que uo seguimetrto de esrudos efectrado, concluiu não haver uma correla$o
entrc democracia, ditadura e repr€ssão polÍticq e o risco de coúito uuma sociedade (Collier, 2(ffi e ãXE). Também
Robert IGptau é da opinião que a demmacia não Êz com que un:t sociedade scja mais es6vel ou melhor, e se
conribuir para tal é assim porque os problemas existentes nessa sciedade já foram anteriormente r€solvidm (IGplar,
t999).
P No qual compilou a infomaSo referene às yariáveis económicas, sociah e políticas de 161 púes, no perÍodo entre
1960 e 1999 (§ambanis, 2{X)1).

23
Jucosúvn: O Cor.mr,no DB l99l A 1995

da guerra para mantsr a integridade nacional ou ordem intemacional, e persuadir a


populaSo dajusteza da guerra. Muius vezes a guerra éjustificada por preconceitos, que são
passados de gera@o em geraçáo, de Al forma que as geraçôes que realmente se combatem,
nunca tiveram contacto e são inclusivamente ignorantes acerca da realidade dos factos.

Jaume Puig (2005) refere como causas políticas para um conÍlito, as divergências
acere do sistema ou regime político; a lua pelo poder político; motivações ideológicas; ou
exigências de secessão ou de autonomiÀ I

MITTARISMo

O militarismo é üsto, nos temPos modemos, como uru causa de conflito, utna vez
que os governos invocando motivos de segurança nacional, mantêm, ampliam e
modemizam as suas estruturas e material müar (Piris, 1995: 3&39). Por outro lado, o
militarismo ambém esd relacionado com a pobreza nos países em vias de desenvolvimento,
onde partes subsanciais dos orsâmentos úo gastas no rearnamento, ao invés de serem
utilizados na melhoria da situaçáo económica do país ou das condiç&s de üda da população.
Pelo contrário, a situaçáo Íinanceira desses paGes vê-se agrxtaü jí que, geralmente a comPra
de armamento é feiu com recurs,o a empréstimos com elevados juros, o que agrava

enorÍnemente o seu endividamento (íhkl,).


O facto de um país ou desenvolver arÍnamento, pode contribuir para uma
se arÍnar,

maior probabilidade da eclosão de uma guerra, visto estas acçóes serem interpreadas pelos
países vizinhos como uma ameaçA que dwe ser anulada o quanto antes (Glossop,2N7:84-

86). Consequentemente, rüna guera pode ter início apenas devido à percep$o de ameaga
por parte dos países que tenham litÍgios com aquele que adquire ou desenvolve armamento,
sem que este último tenha tido a intenSo inicial de desencadear rune guera- Ânderson
(1996: 2t2), refere igualmente a tendência dos Estados â ârÍrâf,eÍr-se, aPeru§ como
precaução, ou sej4 quando um país vê um outro a desenvolver ou adquirir arÍna[lento,
pode ser ler"ado a acredier que esse armamenb pode vir a ser utilizado contra si, o que
leràrá a que o primeiro Arnbém adquira ou desenvolna aÍÍnamento, com o objectivo de se
proteger, ou como dissuasão. Cada paÍs vai aumentar sistematicamente o seu arÍIramento,
simplesmente como resposta ao amamento de um pafu vizinho. No enbnto, Glossop
defende que a corrida eos armementos, mais do que causa das guerrÍui, normalmente é o
resultado de outras cÍ[l§Í§, como a lua pelo @er por er<emplo; tem coníldo a §ua
importância como facbr conributivo para a guelra (Glossop, 2001: 8440. De ressalvar o
facto de que, quando os govemos anteciPam orisco de um conflito, normalmente
aumentam o§ seus gastos militares, e neste G§o, o que Parece UIne causa do conflitO, é na
realidade o resultado do conflio eminente (Collier,2AO2).

24
Jucosúvw O Conruno DB l99l A 1995 -

Segundo (Nikitin, 2000), a mera acumulação de arsenais militares, armamento ou a


er<istência deum orército bem treinado e em crescimento, pode ser por si só uma causa de
guerra, quer o desenvolvimento destes arsenais ou exércitos se epresentem com o nome de
"defesa", "protecçÍ[o", "estabilidade" otl"paz'. Também Hinde e Pulkinnen (2000) são da
opinião que, a simples oristência de serviços armados e o estatuto que estes detêm,
legitimam a guerra como meio de resolver os conflitos.

Causas rDEoLócICÂs

Um factor que pode originar um conflito, é o caso de um gruPo que tenta imPor a
outro, a sua própria religião ou conücçÔes políticas, o que levaú a que o gruPo a quem úo
impostas tais "crenças" se oponha a al imposição, inclusive recorendo à üolência (Glossop,
2C0l: 77-72). Segrndo o autor QCÍJ7 72), no mundo modemo o objectivo deste tipo de
conflito é o controlo de informaÉo3l e do sistema de educação,já que os valores e "crenças"
da população dependem da inforrna$o a que tem acesso. Este é o caso dos países com
lÍderes autoritários, que tentarm manter e população na ignorância, controlando a informação
disponfuel; no enanto, a propagação da telwisão por saélite ou da Interneq têm Ornado
este controlo e manipula$o adavez mais diflcil. A imposição de uma ideologia polÍtica ou
religião, pode não se cingir ao interior de uma sociedade, e pode ultrapassar as Êonteiras do
paÍs, estendendo-se inclusivamente a todo o muudo, o que fará com que certos gruPos
tentem, recorrendo à üolência se necesúrio, proteger ao w.lores tradicionais conra as ideias

estrangeiras. Âs guerras com base em doutrinas abstractas, têm a particularidade de ser ainda
mais üolentas do que aquelas prorrocadas pela obtenç:o de bens fisicos, já que cada uma das
partes em confronto se julga na frosse da verdade e da justiça e porbnto, julga ter o direito
quase divino de a impor àqueles que não partilham delC e até maoÍ ou morrer se for
necessário (Glossop, 2N1:73). Âs causas ideológicas têm caracterizado muias das guerras
intra-esaais dos últimos vinte e cinco anos, e sená, na opinião de muitos autores, antÁo das
futuras gueras do século)§(.
Nikirin (2000), defende que as diferengs políticas ou de interesses não lerram à

guerrd, a não ser que sejam manipuladas e leudas a ex(tremos, através das idmlogias e da
onós
propaganda. As ideologias, que podem tomar várias formas, desde a menblidade do
contra elesn, religiões, ou intolerância em relaçáo a outras naç&s, sâo artificialmente
qscerbadas e utilizadas pelos líderes políticos, como forma de iniciar ou obter aPoios Para a
guerra- Nos tempos modemos, esta tarefa pode ser mais eficazmente realizada através da
utilização dos meios de comunicaçáo e emPresâs especializadas nessa área

3r
Especificarnente, o controlo do meios de comunica$o (Glossop, 2m1: 72)

ç
3
IucosúvrA: O CoNTLITo DB l99l A 1995

ParaJaime Nogueira Pinto (199: 15), o factor ideol6gico é um dos factores que foi
ganhando cadavez maior importância como factor de conflio ao longo do século )§(

Causas ouMocRÁFrcAs

Segundo Gaston Bouúoul (1966: ní27), o suPerPovoamento pode conduzir à

guerra unu vez que, quando aquela situação se verifica" são postas em marcha as instituições
a que o autor dá o nome de "instituições destrutivas", nas quais se insere a guerr4 que é
iniciada com o objectivo de "rela:rar" a popula$o ou sej4 diminuir a pressão demogúfica
faceao nfuel de produção, para manuten$o do equilÍbrio demogúfico-económico.

O que facilmente se conclui do anteriormente é o facto de tdas as


apresentado,
causas apresentadas estarem relacionadas de modo direco ou indireco com unur ou úrias
outras causas e combinarem-se de tal forma que os seus efeitos são muitas vezes
multiplicados (Piris, 1995: 34).

26
JUGOSLÁVIA: OCOIüLTTODE I99I A 1995

CapÍrwoII
Hrsrórua»anrcno

Para compreender o que se passou nos Balcãs entre 1990 e 1995, é necessário ter
uma noçáo da divenidade de povos e culturas, que ao lonp dos séculos se foram insalando
o modo como se relacionaram desde enü[o, até aos nossos dias. Relatar,
nesta região, e
descrwer, tenar perceber a história e modo de pensar desses povos serão precisamente os
objectivos deste capÍtulo.

Âs ORrcEr.rs - Do IupÉruo Rovaxo À I Gupnna MUNDIAL

Para o fim aqui pretendido, vamos situar o início da história dos Balcãs por volta do

séc. III da nossa er4 altura em que ocorremm as invas&s das tribos çrmânicas na zona dos
Blliass2 (Rados, 1999: 70).
No ano 395 d.C., após a morte do imperador Teodósio, o Império Romano foi
definitivamente dividido no Império do Oriente ou Bizantino e no Império do Ocidente.
Âqui ocorre a primeira divisão religiosa nos Balcãs, já que o Império do Oriente esava sob a
auoridade do patriarca de Consantinopl4 enquano que o Império do Ocidente estara
subordinado ao bispo de Roma O Império do Oriente incluh a acfial Albânia, o actud
Mrcedónia e Parte da Croácia,
Montenegro, a Sérvia (incluindo o Kosorro e a Vojvodina), a

enqrunto que o tmpério do Ocidente incluía a cosa dálmata até Dubrovnik (na actual
Croácia) e a maior parte da Bósnia-Heuegwina e Eslovénh (Girío,1W:9-10\.
Âs nibos eslarns chegam aos Balcãs porvola dos sécs. M eVII, e enquanto os sérvios
se fi:ram no actual Sudmte da Sérvia e se oçandem Para o actual Montenegro e

' Este Êcto seria mair arde iwocado por cÍrxrtas e mugulrnauos bósmiog como prova da sua origem germânica,
nomeadamente durante a tr Guerra Mundial.

27
JucosrÁvra:OCoNruroDE l99l A 1995

Herzegpüna, os croabs errpandem-se para Ocidente na actual Croácia e Partes da Bósnia


(GiÉo, 7997:86; Rados, 19992l1).
Enúe o séc. VII e )í os Balcãs váo sofrer a influência de dois impérios, o de Carlos
Magno, que dominava o Ocidente e Norte dos Balcãs (onde se situam a actual Blovénia,
Croâi;a e Bósnia) e o Império Bizantino que chegara até à Dalmácia (Rados, 1999: 72).
Assim, a maior parte da popula$o bósnia e dos croatss seguiam o sistema feudal
característico da Europa Ocidental, enquento que as terras conEoladas pelo Oriente,
seguiam o sistema do atpan sérvio (dbrd.). Assim se comesam a constmir as diferenças
polÍticas, religiosas e culturais entre sérvios e croaess.
No D( foi fundado o primeiro Estado croata, que na altura não incluía nem a
séc.
Dalmácia nem a Eslavónia. Em 9?5, o reí Tomislav funda a Croácia medieval, e é este rei
que vai estender este primeiro Esado croata até aos limircs mánimos que alguma vez írâ
atinú, razÁo pela qual ainda hoje é recordado pelos croatas como símbolo da nação croaa
(Girão, lD7:86; Rados, 1999: l4).
Noséc. X dá-se a primeira uniÍica$o dos sérvios que ainda dependiam
politicamente do Império Bizantino. A primeira referência à Bósnia é feia em 958, altura
em que as suas terras se encontra\ram sob domínio dos príncipes séwios, mas logo em 9() a
Bósnia passa a depender da Croácie, sob o rei Tomislav e durante o séc. XI ora depende ü
Sérvia ora depende üCrúcwrras sempre dependente do Império Bizantino (Rados, 1999:
13-1,6).
Em 1054 dá-se a ruptura entre a Igreja do Oriente (ortodo:<a) e a Igreja do
Ocidentes (católica) (Girão, 1997 : 1O).

Após uma cura er<isÉncia, a Croácia perde a sua independênçia em 1102 ao ser
assinada a PaAa ConuenÍt, Segundo este acordo, os croatas Passaram a considerar o rei
húngaro como seu soberano, aüavés de uma união pessoal das duas coroes, dandese a
integra$o do reino croata na coroa magier (Girão, l97z 86; Knrlic, 199,8:94; Rados, 1999:
1s).
No)OI, é fundado pelo rei Nemanja o Estado sérvio medierral, que se irá situar
séc.
geogra6camente sempre àvola da actual provÍncia do l(osovo (Rados, 1999: 73).
Durante os séculos )(II e KV existe efectivaments um Estado independente da
Bósnia" tendo sido referido peh primeira vez em 1180, conseguindo assim witar a
dominaçáo croato-húngara- O Esado medieval independente da Bósnia., incluiu na suil
orpansão a Herzegoüna e a Dalmácia, tornando-se durante a govemaçáo do rei Tvrtko I
(1353-1391) o maior Estado ocidental dos Balcãs. Dururte a govema$o de Kulin-ban

s De refeú que os eslovenos virreram sob domÍnio germanoaustrÍaco de 874 aÉ 1918 (Gitão,19D7.. 113).
!4 Em 1054 é formada a Igreja Católica romaaa, reunida atrás do papa e a Igreja Ortodo:a greco-eslarra que se reúne à
vola do patriarca de Consuntinopla (Carpentier e lebrun, 1996: 148).

28
JUGoSLÁVIA OCoNFLIToDB I99I A 1995

(1180-1204) a população do lado ocidenal do Bado da Bósnia pertencia à Igreja católica,


enqtranto que na parte orienal de Hum, a população era ortodots- Em 1355, após a morte
do rei Dusan, que levou ao desmantelamento do Império Sérvio, Tvrtko I conquistou as
regiões de Hum, Zea e Sandzak aos sérvios e ainda uma parte da Cosa Âdriática,
aproveiando-se aqui ambém da debilidade croatGhúngara (Rados, 1W9:76'17).Em73Tl
T\rrtlro I autoproclamou-se com o dtulo "Rei da Bósnia e da Sérvia" (Girão, lW:700), Até
ao séc. XIII, as duas mais influentes religiões da Bósnia-Herzegovina foram a católica e a
orodo:ra já que a religião muEulmana só mais arde viria a marcar estes povos.
Depois da morte do Imperador Dusan3s, seguiu-se a dispua do território entre os
seus sucessores, e foi precisamente este fragilidade que levou a que os sérvios acabassem por
ser derrotados pelos Otomanos, que enretanto se tinham deslocado para a Europa do Sul.
Os sérvios acabaram por perder duas grandes baalhas contÍÍr os fitrcos otornfltos, a

primeira a Batalha de Maritza em 7377, a segund4 a Baalha do Campo dos Melros no


Kosovos, em 1389. É rr""a última batalha que os sérvios perdem a sua independência e
soberania" razáopr'la qual se tornou mítica na hisdria do povo sémio (Giráo,797:17;
Rados, 199Fr; l3).
O Império Otomano iria permanecer nos Balcãs até à Primeira Guerra Balcânica, em
1912. Âssim, segundo Rados (199: 13) "Ao longo de cinco séculos de ocupa$o do Islâo, a
igreja Ortodo»<a sérvia e a cultura oral popular transmitiram a ideia de que a derrota tinha de
ser anulada e o sonho de reconstruir o Esado sérvio tomou-se um mito de defesa da
identidade nacional e da resistência perante a islamizaSo."
Deve referh-se que, após a enrada do Império Otomano e do Islão, no Sul dos
Balcãs, muiüos sérvios emigraram para o Norte e para o Ocidente e, no sft. X/' ultrapassam
o rio Danúbio, a Norte, Íicando assim dispersos pela zona dos Balcãs. É nesa altura que, a
conüte dos reis austríacos, os sérvios ocupam os territórios correspondentes às actuais zouas
da Vojvodina e Eslavénia Oriental (a Norte), e da Krajina (a Ocidente), pouco povoadas e
deràstades pela gtrerr4 e gue úo servir de zona "tampão" entre crisüios e otomanos (Rados,
7999:13).
A partir ü queda de Consentinopla em 1453 (Girão, 7997: 10), que pôs fim ao

Império Romano do Oriente, o destino dos eslavos do Sul vai ser determinado por dois
grandes Impérios que luam entre si para dominar o espaço dos Balcãs. De um lado está o
Império Austro-Húngaro dos Húsburgos, que domina a Croácia e a província Eslovena, e
do ouEo estão os Otomanos, que oaupam a Sérvia e a Bósnia-Herzegovina. Enquanto a
Bósnia-Herzegwina constituía a Êenre avançada do Império Otomano, encontrando-se

33
Que gorrcmou entre 1331-1355.
s No enanto existe alguura cootovérsia acerca do local geográfico erocto da Batalha do l(osovo, " O local da baalha de
1389 e a provÍncia otomana dlo são as mesuus que a da provínciajugoslava de 1945 à qrul ns referimos actualmene"
(Noel Malcolrn,Is lKosoro Real?, Foragl,$air,Yol7Blll,lW,p.ll7 in Cílnra.Nz:77.

29
JUGosúvIA: OCONFLITODE I99I A 1995

parcialmente islamizada azonadeKrqiina3T, formada maioriariaments por sérvios e Povos


que haüam caÍdo sob ocupação otonuma e a quem os Habsburgos ofereciam terras e outro§
beneÍIcios, formarra uma fronteirz miliar que funcionou como linha avangda do Império
Habsburgo conta os turcos Otomanos (Girão, 7997:.18).
Por vola de 1463, o exército írrco entra na Bósnia-Herzegovina e na Dalmácia,
destmindo o Esado Bósnio medieval, e interrompendo o Pr@e§so de formação de uma
identidade Msnia (Rados, 799: 17). Â ocupa$o duraú até 1878, com o Congresso de
Berlim e a.ssim, quatro séculos depois da sua conquista, o Império Otomano perde a
adminisaação da Bósnia-Herzegovina a favor do Império Àustro-Húngaro que, em 1908
ane:a formalmente o território (Cutileiro, ?-0il.3 : 753; Giráo, 1997 z ?.0).
Ern 1527, os turcos derroam os exércitos croaut e húngaro no qlmPo de Mohac,
ficando a Croácia reduzida e uma pequena área a bste e a Sul de Zagreb. Como
consequência do avanço dos Otomanos, hotwe um forte êxdo das populaçôes que fugiam
aos ocupantes, tendo algumas áreas da Bósnia sido, neste perído, islamizaclas. Nesse
mesmo ano de 1527, os croâtas e os húngaros passaram para a coroa dos Habsburgos (GiÉo,
7997 : 86; Rojo, 7WZ 26).
Ainda no inÍcio do séc. XVI, os reis austríacos de dinestia dos Habsburgos
vmazoozfronteiriça miliur com um comando ligado aVien4 para defender o
sul do Império AustreHúngaro conra o Império Otomano. IJma vez que a população
local croaa era insuÍiciente para defender esa área, os sérvios foram convidados a ocuPír
estas terras, devendo em contrapartida luar confa a expansão Otomana (área da K.rjina)
(Hajdinjalí, 2001: 15; Rados, 1999;75). A lGqjina rePresenEvâ desa forma, a divisória entre
o Império Otomano e dos Hab,sburgos, mes rePre§entave ambém a divisória enft as

populaçóes católicas e as populações ortodo:<as na zona Balcânica (Giráo, 1997;88).


Entrehnto na Europa, em 1789 deu-se a RevoluSo Francesa, que iria inspirar toda
uma fase de nacionalismos e independências, por tdo o mundo. A Sérvia consegu.iria
finalmente ganhar a sua autonomia do Império Otomano aravés de duas batalhas, a
primeira em 18O4 e a segunda em 1815, num período em que o Império Oomano já se
debatia com gr:ryes crises intemas. Estas rebeliões, que levarrm à interven$o aa Áustria, da
Rússia e de outras potências europeias nos Balcãs, conduziram à reconstituição de um reino
sérvio. ÂRússi4 vinhajá encorajando movimentos insurreccionais nas provÍncias Balcânicas
contra os Turcos, dsde o séc. XVIII e, quando o Império Otomano enra deÍinitivamente

,a f""jin* esabelecidâ por vola de Én, tomou-se um território com esatuto eÉpeciel e grande auonomia
denominada Fmnteira Miliar do Irupério Habsburgo na Croáci4 em 1630, altura em que o imprador Ferdinando tr,
num docr:menro intirríado Stauta Vatadprum, concedeu à popula$o da Kqiine isenSo das obrigações feuúis,
liberdade para eleger os seus próprios líderes e pam praticar o seu Cristianismo Ormdm e complea autonomia em
rela$o à nobreza croata em troca dos seus serviços militares (Noel Malcoh, A&nh. A St ttt His/oty. Nesr York Ntnr
York Uuiversity Press, 194, pp. 72-73 in I'IajdiÍÚah 2m11 15;.

30
JucosúvlA: O CoNrum DE l99l A 1995

em declínio, só a política de equilíbrio Balan« Pour, emgrande parte fomenada pela Grã-
Breanh4 que no séc. XD( dominava o Mediterrâneo, iria impedir que o Império Otomano
não fosse repartido pelos esados euroPeus (Girão, 19p7: 7&;Rados, 7999: l3)'
Podem ser identificados aqui dois tipos de interesses, Por um lado os britânicos, que
tinham uma política de domínio do Mediterrâneo e da rota das Índia§, e do outro a Rússia'
que progredia para Sul e se esforçawa por estender a sua influência nos Balcás aproveitando-
se da solidariedade eslarn e ortodors rní§, que acima de tudo, pretendia conseguir o üio
desejado acesso ao "mar quente'. A Inglaterra não o queria de forma ,lg,rm4 pelo que a

integridade do Império Otomano iria permânecer Por um longo perÍodo de temPo como
um princípio sagrado. Os interesses chocavam e desA forma Processo de o
desmembramento do Império Otomano pelos eês imperialismos -
Russo, Britânico e
Ausro-Húngaro - seria travado pelas s"r" próprias rivalidades (Girão, 1997:7*19).
À medida que o Império Otomano se ia desintegrandon uma das potências europeias
dflreria assumir o controlo dos Balcãs e, durante o séc. XDÇ desenrola-se uma luA das
potências europeias pelo controlo clas terras que aquele império ia abandonando. A Rússia e
a Áustria-Hungria apresentavam-se como os melhores candidaOs (Rados, 19D:20'23)'

Os PRoJEc"ros NÀcIoNÁIs

O XD( seria marcado pelos nacionalismos, que emergiam por toda a Europa
séc.
primeiro na região OcidenAl, depois na Âlemanha e lúlia' e finalmente nà zona Cenml e
Balcânica (Girão, 1997; 7O). O principal objectivo dos povos eslanos do Sul em a
independência nacional, atrar,és da criaçao do púprio EsAde'Na$o croâta, sérvio ou
esloveno, e só em segundo lugar estaYa a ideia de criar um Estado comum' A wolu$o do
desperar nacional, imporado da Europa Ocidenal, foi muito diferente entre o§ diversos
povos eslavos do Sul e, durante muito tempo o factor aúerno foi rnais importeÍrte que o
próprio desenvolvimento da consciência nacional. Na primeira meade do séc. XDÇ de enEe
todos os eslavos, somente o Montenegro e a Sérvia eram estados independentes deJacfo, e
existia entre aqueles pertencentes ao Império Austro-Húngaro, um sentimento comum de
subjugação (Rados, l94D:36). Restavam aos eslavos do Sul três saÍdas: a soberania húngara'
nações próprias ou ulna nação eslava com a Sérvia e o Montenegro. Os croatas e os

eslovenos viam com bons olhos a segunda opSo, mas imss-se a terceira (Fuente, s.d.).

Como resultado, quando os nacionalismos suryirem na zona dos Balcãs, estes já


eram ou pan-sérvios, defensores de uma Grande Sérvia, ou Pancroatas, defensores de uma
Grande Croácia; não existindo a pretensão de unir estes dois povos. Para os croata§' as ideias
de independência tinhâm como principal objectivo a liberaso face ao Império Austro'

3l
JucosúvrA: O CoI.rFLrro DB l99l A 1995

Húngaro, tendo surgido o Movimento Ilírico§ (Moncadâ, 2001:?i:Rados, 1999 37-39). A


ideia nacional croata, elaborada por Ante Starcevic, na segunda metade do séc. XDÇ evocrva
a 'Grande Croácia" de Tomislav, que deveria incluir também a Dalmácia, a Eslavónia, a
Bósnia-Herzegovina e a \Iojvodina tendo aquele recusado o uso do cirflico3e e defendido a
ideia de uma raça croata pur4 pelo que a lft{ina rePresentava um problema, üsto ser
maioriariamente povoada por sérvios, que segundo ele, deveriam ser eliminarlos para
conseguir uma Croácia etrricamente pura Logo, o ódio aos sérvios da Krajina e mais arde
aos sérvios da Bósnia-He transformou-se no primeiro pilar do nacionalismo
croata preconizado por Starceüc. IJm conceito diferente, era o defendido pelo bispo Josip
Strossmayer (1815-1905), apoiante da "unidade nacional" de toda.s as naçôes Eslavas do Sul,
que em 1868 fundaria em7-agreb a ÂcademiaJugoslava das Ciência.s e Belas Artes (Girão,
1997; Nilrsic e Rodrigues, 79,6l,l&;Rados, 1999:3940).
Do lado sérvio, ambém surgiram morzimentos políticos e culturais com base na
unidade nacional dos eslarros do Sul. Os sérvios pretendiam acima de tudo, consoüdar a sua
libertação do Imffrio Otomano, daí surgindo a ideia dos eslavos do Sul. Ilija Garasanin
(1812-7874), ministro do interior sérvio, sob influência de algurs círculos da emigra$o em
Paris, elaborou a ideia da Grande Sérvia, por oposi$o à Grande Croácia de furte Sarceúc.
Em um Memorandor {üe se destinava a servir como "programa nacional"
1844, escreveu
sérvio a longo prazo. Este Memorando foi o primeiro e único documento do géuero até
198( quando membros da Academia Sérvia das Ciências e Belas Artes formularam um
novo prognuna nacional sérvio (Cutileiro, 2003: 20; Niksic e Rodrigues, 79)6: 19-20;
Rados,1999).
Âprincipal característica das ideias nacionalistas, anto de croahs como de séwios, foi
acima de flrdo, o desejo de independência face ao império Âustro-Húngaro e Otomano,
respectiramente. Daqui se conclui que, em ambas as ocasiôes que os eslavos do Sul se
uniram, foi mais dwido a condicionanes eÉeriores, do que o resulado de uma vontade
própria (Cutileiro, 2O03:20), Assim surgiram úrios programas nacionais, o que segundo
Nilsic e Rodrigues (796:2),
widencia uma particularidade de todos os povos dos Balcãs,
"que sempre tiveram apercepção de serem coloodas em perigo por algu.ém, um sentirnento
dpico das minorias".
Entre 1853 e 1856 tem lugar a Guerra da Crimeie, na qual se opuseram a Rússia e a
Turqui", e na qual a Rússia alegou que pretendia defender os cristãos ortodoxos subjug'ados

s O norne "Ilirismo" provém de uma designa$o admioisratirra atribuÍda à região, pelas tropas napoleónicas aquaudo da
irvasão de u'n. parte dos Balcãs. O Movimeno IlÍrico surgiu nas décadas de 1&i0 e 1840, depois de ter sido imposto o
húngaro como lÍnguâ oficial ern vez do latinr, teudo sido fundarlo por figuras da cultuta e ciência croata. Este
movimefto conava corn inúmeros apoiantes na Croácia, na Daknácia, na EslovÉnia e na Bó,snia-Herzegovina §iksic e
Rodrigues, 1996l. l9).
3e
Tradicionalrnente usado pelos ortodoxos (sérvios, montenegriuos e maced6nios).

32
Juoosr,Ávn: OCoNFLIToDB l99l A l99S

aos otomânos, sendo que na realidade aspirava a controlar os estreitos do Bósforo e


Dardaneloso e assim assumir um papel dominante nos Balcãs. Entretanto, a Grã-Bretrnha
estava interessada em manúer o statu Euo la zona, preserrrando o controlo çestptégico do
Mediterrâneo e acabando com as pretensões russas sobre os estreitos. Consequentemente os
interesses britânicos otomanos confronavam-se com as pretensões russas na zona
e
balcânica. Por sua vez a Áusria jogarla com o conflio entre a Grã-Breanha e a RrÍssia.
EntreEnto, a Françq a Grã'Bretanha e a Áustriâ, aliaram-se para impedir a expansão da
Rússia e apoiaram a Turqui4 declarando guerra à Rússia- Esta acabaria por sair derrotada e
trye de desistir temporariamente de dominar os estreitos e os Balcãs (Girão, 7997: 2A;
Oliveira, ?-007: 2(fl; Rados, 79D: 22).
Em 1867 foi esabelecida uma monarquia dual entre a Áustria e a Hungria, e a
Croâçie foi mais uma vez dividida4t (Girão, 797: 89).
Após a guerra da Crimeia e a derrota da Rússia, o Traado de Paris de 1856 menteve
o Império Otomano na. ?,oÍra dos Balcãs sob a garantia das potências ocidentais. Mais arde,
em 7877-1ü842, os leventamentos das divenas populaçôes cristás (sérvias, búlgaras,
montenegrinas e Msnias), levam de novo os russos a intervir nos Balcãs. Desta feita" se a
Rússia derroasse os Otomanos, conseguiria não ú o controlo dos estreitos, como ainda
estender a sua influência ao Médio Oriente, os interesses geopolíticos briÉnicos,
daí que estes tentassem de novo salvar o Império Otomano, mas desa vez a Rússia sairh
vencedora No entanto, por pressão da Grã-Bretanha, os russos seriam obrigados a partilhar
as zonas de influência nos Balcãs (Giráo, lW:20; Rados, 799:24).
A 3 de Março de foi assinado o acordo de São Stefano, que acabou com a
1878
Guerra RusseTurc4 que criou a Grande Bulgárie e cedeu a autonomia à Bósnia-
Herzegoüna, à Sérvia e ao Montenegro. No entanto, este acordo mosrou-se de§a§Eoso
para a Sénda já que a Bulgária acabou por o$par partes da Sérvia e da Macedónia O acordo
de São Stefano seria substituído por um novo, no Congresso de Berlirn" assinado pela
Rússla Turqui4 França, Inglaterra Alemanha Áusria e Itália" cujo objeaivo era impor um
novo equilíbrio entre as potências internacionais Íta z§Ítt dos Balcãs, e que estabeleceu
úrios esados independentes nos Balcãs. A "Grande Bulgária" foi substancialmente
reduzida; foi reafirmada a independência oficial da Sérvia e do Montenegro; e a Bósnia-
Herzegovina foi enregue ao protec-torado da Áusfia-Hungria que, vinte anos depois, a iria
anerar (Girâo,l/)7:102; Niksic e Rdrigues, 79,6:?3; Oliveira, ?.00l:273; Rados, 1999:
2+2s).

€ Os estreitos do Bôforo e Dardanelm âzern a ligação entre o Mediterrâneo e o Mar Negro.


atADalmáciaeaÍstiaficaramparaaÁusdaaCroáciaeaEslav6niapamaHungria(Girão, 1997:89).
a Guerra Russo-Turca-

33
Jucosúvre: O CoNFLmo DB l99l A 1995

Quanto à Bósniâ, durante séculos os seus habitrntes haüam sido incumbidos de


defender as fronteiras do Império Otomano, lutando contra os Habsburgos, mas agora,
como resultado dos acordos entre Íui potências, encontravaÍn-se submetidos Áusria, sem à

nunqr terem sido consultados. Isto fez com que a ocupa$o tivesse uma forte resistência no
interior da Bósnia, não só dos muçulmanos, mas também dos sérvios e dos croatas que se

uniram contra o ocupant§43 (Girão, lW: lV2; Rados, 1999).


Em 1903 houve uma mudança de líder no reino da Sérvi4 tendo sido demrbada a
dinasú Obranoüc, que havia cooperado com aÁustria-Hungria e substituída pela dinasú
Karadjordwic (Rados, 1999; 2Í3).
A partir do momento em que Império Austro-Húngaro anerra a Bósnie, obsenra-se
um sentimento anti-austríaco nas comunidades bósnias e inclusivamente na Dalmácia, onde
em 1907, foi fundada a Coligação Servo-Croab. A anemçáo levou muitos jovens
nacionalisas sérvios da Bósnia a declararem-se nacionalisus jugoslavos, nos quais se incluh
Gavrilo Princip, que viria a assassinar o arquiduque Fnncisco Fernando (ihiil.:2940).

ÂmuaJucosrava

A anera$o da Bósnia-Herzegwina pelo Império Austro-Húngaro, a 5 de Outubro


de 1908, apoiada pela Alemanha e criticada pela Rússia. contribuiu parà o avivar do
nacionalismo, que nesta altura era a principal ideologia europeia (Girão, 1997:272,; Rados,
1999228).
O primeiro factor que contribuiu para a meterializ,aSo ü ideiajugoslava na Croáci4
foi a política çrmano-ausríaca- No segu.imento desta polÍtica, a Áu"tria pressionou a
Hungria para intensifiqf o seu domínio sobre os croatas, de forma a conrolar mais
eficazmente a CosaAdriática. A resposa a esta presúo, foi o surgimento da coüga@o servo-
croata na Dalmácia, que anunciou como objectiro a cria$o de um Estado eslavo comum
nos Balcãs, fora do ImpérioAustro-Húngaro. Desta form4 estavam por um lado os croatas.
que pretendiam a sua independência perante os húngaros, tendo sido ajudados pelos séndos
da região da Delmácia; por outro, os sérvios, que preendiam a unificaSo de todos os
sérvios, e para isso conavam com a ajuda dos croatas (Rados, 1999:47).

As Gurnnas BarcÂnucas

Nas vésperas da I Guerra Mundial os dois principais objectivos do Reino da Sérvia


eram, primeiro, nüuxter a sua independência e segundo, conseguir a unifica$o de todos os

4 Neste prÍodo de ocupação de Bósnia pelo Im$rio Ausro-Húlgro, houve uma fore emigz@ de muçulmauos
para a Turquia e muios ortodcos emigraram para a Sénria (Girão, 1997: 102; Rados, lW:14).

34
JucosúvrA: O CoNFLno DE l99l A 1995

sérvios num único Esado (Rados, 1999:30). Â Bulgária" por seu lado, havia sido reduzida
pelo Congresso de Berlim e pretendia o seu território à custa da Turquia- Desta
"l*g".
forma, os interesses da Bulgária e da Sérvia coincidiam, e os dois estados estabelecem uma
coÍrtra a Turquiae em 1911, a que mah tarde aderem ainda a Grécia e o
"li*ç"
Montenegro. Em Outubro de 1912 tem início a Primeira Guerra Balcânica da qual os
Otomanos saem derrotados e em que os territórios da Sérvi4 Bulgária Grécia e
Montsnegro úo alargados à cusa daqueles (fuid;104).
Uma segunda alteração das fronteiras nos Balcãs viria a acontecer depois da Segunda

Guerra Balcânica, em que se estabeleceram as fronteiras entre a Sérvia" o Montenegro, a


Grécia, a Bulgária, a Roménia e a Albâniaas §ye, 2002: 1(X)). Esta Segunda Guerra
Balcânica" em 1913, pretendeu solucionar o problema das fronteiras entre os ütoriosos da
Primeira Guerra, ou seja, diüdir es terras libertadas pelos Turcos, e teve como principal
causa a dispua enfre a Bulgária e Sérvia relativamente à Macedónia. Âssrm, gregos e sérvios
aliaram-se contra a Bulgária e mais arde os romenos e os montenegrinos junuram-se
àqueles, acabando por derroar a Butgária- EnüeEnto, a Alemanha e a Áustri4 nunca
deixaram de interfeú no confliüo, contribuindo pere nunter a insabilidade üzotta-
No final das guerrx, a Sérvia tinha duplicado o seu território e a reconsfrlção do
esado sérvio ficou Íinalmente concluído. Apesar disto, a Sérvia saiu bastante enftaquecida
das duas guerras e as suas relações com a Áustria-Hungria eram adavez mais tensas (Girão,
lW:22; Rados, 1999).

Da I GUSRRA MuNonr À PRIMEIRAJUcoSIÁVIA

O período que antecedeu a I Guerra Mundial, caracterizou-se pelo conflito latente


entre a Sérvia e o Império Austro-Húngaro, sobretudo por crusa da Bósnia-Herzegovina
onde, no inÍcio do séc. )§Ç a maioria da populaSo era sérvia. A independêncie de Sérvia,
incentivou as tendências nacionalistas nos ouúos povos eslavos do Sul, que aspinrvam a ter o
seu próprio Esado ou a uma unificação num Estado eslavo ,7999:34). (Rados

Derrido ao esEdo de tensáo vivido enre o Imp,ério Austro-Húngaro e o reino da


Sérvia, a visita do futuro imperador Austro-Húngaro, Francisco Fernando, a Sarajevo6,
precisamente a 28 deJunho, dia em que se comemorava a Baalha do I{osovo, foi vhta pelos
séndos como uma provoca$o. Nesse dia, Graülo Princip, com ligações à organiza$o sérvia

fl A parte secrea do acordo reGria que a Maced6nia seria cedida pelos séndos ao búlgaÍc (Rados,l99t 30)
6 surge como um norn reino com a ajuda da Àustria-Hungria, como Êeio ao poder sérvio.
Que
e Capigl dâ Bó,süie-HerzegúdnÀ

35
Jucosúvn: O CoNruroDE l99l A 1995

"Milo Negra" e ao movimento Jwem Bósnia", assassinara o herdeiro Francisco Fernando


(tuid.:33).
Após o atentado, a Áustria-Hungria fazw ultimato aos sérvios e, argumentando
não ter Íicado satisfeita com a resposta do Reino da Sérvia, declara a guerra precisamente um
mês depois do assassinato. Entretanto, todas as potências europeias começenrm a formar as
srra" alianças. Â Áustria-Hungria já tinha pedido o au:úio alemão no caso de entrar em
guerra directa com a Sérvia, e indirectamente com Rússia; por seu lado, o primeiro-n'rinisro
sérvio pediu qjuda ao Czar ü
Rússia No Veúo de 1915, a situa$o da Sérsia piorou ao
entrarem dois novos oércitos em cen4 o austroalemão e o búlgaro. Â Bulgfuia" que hania
sido derroada na Segunda Guerra Baldnicâ, aliara-se com írs forsas austro-alemãs para
recuperar o controlo sobre a Maced6nia Os sérvios, que se vêem atacados por dois lados,
retiram para Sul onde recebem a protecção da Franç4 podendo enconüar-se aí a origem da
amizade franco.sérvia, tantas vezes referida aquando o último conflito naJugoslávia (Rados,
7989:3435).
De referir que na I Guerra Mundial, honre sérvios a combater sérvios, já que muitos
dos que viviâm no Império AustreHúngaro (na Croácia e na Bósnia-Herzegovina),
combateram ao lado das tropas austrohúngaras, conEa a Sérvia Quanto aos muçulmanos
da Bósnia-Herzegovina apesar de se mosúarem leais à Áustria-Hungria mantiveram
contâctos com os sérvios e alguns combateram mesmo ao seu lado, tendo em conta urna
possÍvel expansão dos sérvios no final da guerra. Os croatas da Bósnia-Herzegoüna estarram
mais divididos; uns queriam juntar-se aos sénrios, outros estabelecer o seu Estado nacional
independente e outros aind4 queriam manter-se dentro do Império Austro-Húngaro, mas
com uma maior autonomia polÍtica (Girão, 1997:26;Rados, 1999:35-36).
Iogo em 1914,o Reino da Sérvia informou os aliados que, o seu objeaivo depois da
guerra enr formar um novo Esado que reuniria sérvios, croatas e eslovenos gue viviâm nos
Behãs47 e, ainda durante a Guerr4 iniciaram-se as negociações entre o govemo da Sérvia e o
ComitéJugoslavo, para a forma$o de um futuro Esado comum (Girão, 1D7:26; Rados,
1999t,4243).
P.ara que pudesse nasicer uma nação de todos os eslaivos do Sul, era necesúria a queda
de dois impérios, o Otomano e o dos Habsburgos. O Império Otomano já esava em
declínio, mas não o Império Arsro-Húngaro e para além disso, no inÍcio da Guerra as
forgs da Entente úo pretendiam desmantelar aÁustria-Hungria. À Gra-nreanha não lhe
interessava a expansão da Sérvi4 uma vez que a via como urna aliada natural da Rússia, que
era considerada a principal rival da Grã-Bretanh4 já que podia arrançar para o Médio
Oriente e ameâçar as srÍrs possessões nessÍr zona. A França considerarra a Alemanha o

a' Na denominada D?Ílantão de Ni&

36
JucosúvtA: O coNFLmo DB l99l À 1995

principal inimigo, mais do que a Áusda-Hungria. A Rússia arnbém não desejava o


desmantelamento da monarquia dos Habsburgos, ulna vez que não lhe interessava que os
católicos, croatâs e eslovenos, se unissem aos ortodoxos, sérvios e montenegr.inos, ntun
Esado comum e aumentessem a influência do Vaticano nos Balcãs (Girão, 7W:25; Rados,
1919:41).
Iogo, no início da Guerr4 haviam muies razões para que os fuürros vencedores
mantivessem a Áustria-Hungria e poucls para permitirem o estabelecimento de um Esado
comum dos eslavos do Sul. No enanto, a revoluçâo bolchwique na Rússia em 1917,
contribuiu para que as forças útoriosas desejassem ter nos Balcãs um Estado forte, capaz de
resistir às influências comunisus, e os "Catorze Ponúoso de WoodrowVilson, que abriram a
portâ à autodeterminação dos povos, vieram alterar aquela situação a favor dos eslavos do
Sul (Girão, 1997 ; 27 ; Rados, 1999: 4142).
Os aliados da Entente pretendiam que os paÍses vizinhos dos eslavos do Sul
entrassem na guerra ao seu lado, e por isso estavam dispostos a beneficiar a lúlia, a Bulgária
e a Roméni4 com algumas concessões terrioriais à custa dos sérvios e dos croatas. Assim,
em 1915 era assinado o TraAdo de Ipndres pela Grã-Brehnha a França e a Rússia que, Para
tentar convencer a Iúlia ajuntar-se a eles, lhe prometeram as regiões da Ísfia e da Dalmácia,
ambicionadas pela Itália" facto que poderia atirar por terra asi aspirações jugoslavas (Girão,
1997 : 26; Rados, 1999; 4l).
Nesse mesmo ano era çriado o Comité Jugoslavo em Iondress, que tinha como
objeaivo a cria$o de um Esado comum de três pwos constitucionais, os sérvios, os qoatas
e os eslovenos. Âpesar dos membros do Comité Jugoslavo pretenderem a independência
dos seus povos, no seu próprio Estado, depoh de conhecerem a oristência do acordo secreto
de Londres, que previa que unu grande parte da costa adriática fosse incluída na ltália"
aperceberam-se que a única solu$o possfuel era a união num EstadoJugoslavo, já que não
conseguiriam a cria$o dos respectivos estados independentes (Girão, 1997: ?:6; Rados, 1999:
43).
As primeiras acções concretas para a fundação do Estado comum, foram realizadas
com a adopção da Dectaração de Coúr, assinada em 20 deJulho de 1917, pelo Primeiro-
Ministro da Sérvie, Nikola Pasic e pelo presidente do Comité Jugoslavo, furte Trumbic.
Segundo aquela Declara$o, o Estado comum seria uma monarquia constitucional e
parlamentar, com a dinasú lGradjorjevic à cabeg do Reino dos Sérvios, Croatas e
Eslovenos, onde seú garantida a liberdade de religião e permitida a utilização tanto do
cirílico como do latim; no entanto a Declaração não especificaa se o novo estado seria uma

4O Comite lugoslavo era formado por inelecurais e polÍticos croatas, sérios e outros eslavos do Sul, que viviam no
Império Âustro-Húngaro e estavam exilados em Loudre&

37
Juco§úvrA: O CoNFLno DE l99l A 1995

federação de parceiros iguah ou, se representaria simplesmente uma exEnsão do sistema


administrativo sérvio (GiÉo, ;Rados, 7D9: tA).
7997 : 27

EmJunho de 1918, depois dos aliados concederem o direito à autodeterminação aos


polacos e aos checos, o Comité Jugoslavo pede para ser o representante dos Eslavos que
habiavam no Império Âustro-Húngaro e pede que os eslavos do Sul tenhâm direito à
autodeterminaSo (Girão, 1997 : 2&;Rados, 1999: M).
Em Âgosto desse ano, os eslavos do Império Austro-Húngaro, abandonanam a ideia
de um Esado eslavo no interior da Áusnia-Hungria e, a 29 de Outubro de 1918, era
anunciado, pelo Conselho Nacionalae emZagreb, um novo Estado de eslovenos, croatas, e
sérvios que viviam na Áustria-Hungia" O Conselho Nacional de Zagreb, para além da
independência complea perants a coroa austro-húngar4 anunciou também a unificação da
Dalmách e Eslavónia, com a Croâsa- Em Novembro, rePresenanrcs do Conselho
Nacional, do ComitéJugoslavo e do governo sérvio, assinaram em Genebra uma declaração
sobre o esabelecimento de um estado dos Eslavos do Sul. Simultaneamente, aVojvodina, o
Monrenegros ainda querenta e dois, dos cinquenta e dois distritos da Bósnia-
e
Herzegovina, declararam a sua unificaçáo com a Sérvia- O elército sérvio enEava em
Sarqiwo a 6 de Novembro de 1918, e turu senuma depois em Zagreb. Finalmente, a 1 de
Dezembro de 1918, o púrcipe regente Alorandre Iüradjorjevic anunciava a funda$o do
Reino dos Sérvios, Croaas e Eslorrenos (Girão, 1997:27-28; Rados, 79919:45).
Cabe aqui clarificar que, como Cutileiro refere (2003: 20) a união dos croatas,
sérvios e eslovenos, foi uma realidade "mais imposa do que voluntária". Por um laclo, os
croatas opBram pela união dos eslavos do Sul, como forma de evitar que o seu teritório
fosse repartido pelos aliados depois da guerr4 e ainda devido à ameag da Iúlia" o que os
colocou dependentes do er<ército sérviosr; por seu lado, os sérvios teriam preferido a opção
da Grande Sérvia, que incluiria todos os sénrios, já que erarn os mais numerosos e se
enconravam espalhados por toda a região da futura Jugosláüq mas da qual tiveram de
desistir por üês motivos: a cria$o da Abânia em 7913, que impedia qualquer oipansão da
Sérvia para Sul; a RwoluSo bolcheüque de 1917, que tirou o apoio da Rússia à Sérvia; e, já
depois da Guerra" a política do presidente Wilson, que defendeu a autodeterminação dos
povos, o que favorecia a independência dos croatas e eslovenos. Deste modo tudo se
coqjugou para que os sérvios, os croatas e os eslovenos se unissem numa só na$o
(Cutileiro, ?-0fll3 : N-27 ; Girâo, 1997 : ?3-32).

4e A» de Ounrbro de f916, íoi constioÍdo em Tageb o Conselho Nacional, que dria negociar uma união com a
Sénia eMontenegro (Girãro, 1997:261.
s Que era consriruÍdo por sénrios e gne era um Esado liwe desde long daa e devia tarrrbém desisú da sua
indepeadência (al como a Sérvia).
st Ainda antes da rmião dc eslavos do Sul, o Couselho de Zagreb pediu a ajuda do exércio sérvio, assim a presença das

tropas sérvias, apesar de necessÍria, em visa com algum ressentimeno (Gitão, 1997: 28).

3E
JucosúvrA: O CoNFuro DB l99l A 1995

Desta forma" a primeira Jugoslávia foi construída com base nos arrenjos impostos
pelos Aliados, aos vencidos da I Guerra Mundial. O novo país assemelhava-se a uma m:rnta
de retalhos, constituÍda por diferentes regióes, naçôes, e religiões, incluindo territórios que
haviam sido austríacos, búlgaros, húngaros e otouumos (Cutileiro, ?-003'. ?5; Nilaic e
Rodrigues, 1996:22).
A I Guerra Mundial terminou formalmente com a Conferência de Paz de Paris em
7979, em que se assinaram divemos traados, sendo o mais imporante o Tratado de
Versalhes. Nesse Traado, o novo Esudo dos Eslavos do Sul foi imediaamente reconhecido
pelo presidente norte-americaÍro'WoodrowWilson, que supostamente desconhecia o acordo
secreto de londres. Os Esados Unidos seriam, a primeira grande potência a reconhecer
oficialmente o ReinoJugoslavo em Fevereiro de 1919, e foi este o primeiro envolvimento
directo dos Esados Unidos nos assuntos geoestratégicos da Europa no século )O(P. Após a
Conferência de Paz, a Alemanha teve de devolver terras a outros paGes; a monarquia dos
Habsburgos terminou e a Polónia Checoslováquia Hungria eJugoslávia tornaram-se novos
esados. Após a I Guerra acontecia o terceiro ajustamento das fronteiras nos Balcãs, com o
desmantelamento do Império Austro-Húngaro e a fundaSo do Reino dos Sérvios, Croaus
e Eslovenos. As fronteiras foram radicalmente alteradas à cusa dos vencidos da guerra:
Áustria, Hungria e Bulgária (Girão, 7997:?Â;Nilsic e Rodrigues, 1996:,22;Rados, 1999).
A chamada PrimeiraJugoslávia iria durar de 79t8 a1947.

ÀPntuunaJucosúuÀ

Eml920 realizaram-se as primeiras eleições liwes, nas quais participam 22 partidos e


que deram mais deputados aos dois grandes partidos sérvios e, a 28 deJunho de 1921, surge
urur no\a Constitui$o, obtida com os votos dos dois grandes partidos sérvios, de um
pequeno partido esloveno e do partido muçulmano (Cutileiro, 2003:?5Q6;Girio,1997:.33;
Rados, 7W:48).I,op se verificaram grandes desentendimentosjá que os sérvios er:rm a

favor do centralismo e os croatas se oPunham, e propunham um sistema político
descentralizado. Mas as forças centralistas gatúem, e a Constituição é adopuda. A Croácia
desaparece do mapa com e nora Constituição, enquanto os muEulmanos bósnios
conseguem por e.:«emplo, que as seis províncias bósnias se mantenham tal como existiam
durante a administra$o do Império Otomano (Rados,1999: 49).

s Derrido ao acordo secreto de Ioudres, s6 a 28 deJunho, a França e a Grã-bretanha recoúeceram aJugoslávia {Rados'
lW:46).

39
Juco$ÁvrA:OCoNrutroDE l99l A 1995

Assrm, desde o inÍcio, o pú


fortemente centralizado, foi dominado pela Sérvia e,
desde o início, a lealdade e convicçáo da Croácia ao novo estado jupslavo, foram incertas.
De 7/21 a l/28, os croatas sempre mantiveram a espenmsa de que conseguiriam obter um
Esado próprio. Em79?3, realizam-se as segundas eleições legislati\asjugoslaras, nas quais o
Partido do nacionalisa croata Sqiepan Radic, consegue um amplo apoio na lua por uma
Croácia independente, em oposiçáo ao estado cenEalizado, imposüo pela Constitui$o de
1921 (Cutileiro, 2@3: 26; Rados, 7W9: 50).
Fnte 1927 e 1V29, o novo Reino dos Sérvios, Croatas e Eslovenos, seria
caracterizado por uma série de crises, por instabilidade e desentendimentos enEe os úrios
partidos; os sérvios defendendo o centralismo e os croatas o federalismo, que lhes garantiria
maior autonomia, agravado ainda pelo descontentamento dos cnoatas com o predomínio dos
sérvios no Governo, na Âdministra$o e nas chefias miliures. A situação era de al forma
instável que, em 1128, ocorreu um atentado em plena assembleia: no dia 20 de Junho, um
depuado montenegrino disparou contra qrutro deputados croatas, ferindo gravemente
S$epan Radic, que viria a morÍer alguns meses depoh. Na sequência do atentado e da
prolongada oise política, a 6 de Janeiro de 7V29, o rei Alerandre aboliu a Constituição,
dissolveu o Parlamento, baniu todos os partidos com cariz nacional e proclamou a diadura
pessoal real. Este nwo regime anunciou como objectivo polÍtico, a unidade nacional e
integridade territorial jugoslava, e para al foi criado um novo insFumento político: o
Partido NacionalJugoslavo. Apesar dos esforços de rei para diminuir as diferenças intemas
um novo patriotismo supranacional, a hegemonia sérvia, ao invés de se esbater,
através de
aumentou e endureceu ainü mais (Cutileiro, 2M3:27; Gváo, 19f7:33-34; Rados, 1999;
47-st).
Na sequência ú instaura$o da diadura, foram criadas uma série de leis que
limitaram a liberdade de imprensa e a actividade dos partidos políticos, tendo por enemplo,
sido proibidos os partidos nacionais, religiosos ou regionais. A diadura trourc ambém uma
nova organização administrativa, dividindo o Estado em noYe prwíncias, que não
coincidiram com os critérios de divisão histórica ou naciond, tudo com o objeaivo de
reforçar a unidade estatal. Nesu altura o Reino dos Sénrios, Croatas e Eslovenos PÍssa a
denominar-se Reino da Jugoslávia. Vários foram os países que apoiaram a diadura do rei
Aloandre, enüe eles a França, que pretendia neutralizar o crescente poder da Alemanha
hitleriana os Esados Unidos e a Grã-Bretanha, que esPere!'âm que o rei conseguisse
rnanter o seu enército forte (Rados, 1999:51-52).
A situação econ6mica da Jugosláüa era pouco favoúvel desde a sua constinriç5o: a
indústria empregeva 67o da populaSo activa do noro Estado e a agricultura cerca de 807o; o
nível de üda era muito baixo, por er(emplo, em 1931 o rendimento pa capiU naJugoslávia
era 60 dólares, enquírnto nos Esados Unidos era S2ldólares e na Alemanha 337 dólares; o

40
JucosúvrA: O CoNrlrro DE l99l A 1995

sisterna financeiro úo funcionarra, lüna vez que continuavam a ügorar quatro moedas
diêrentes existentes nos regimes anteriores; para além disso, a desruição durante a I Guerra
Mundial foi enorme, só na Sérvia houve cerca de 630 milvítimas e calcula-se que.hourre no
total, um milhão e novecentos mil morüos na regiãoJugosláüa (Rados, 1999:46).
. Ern Outubro de7/29 deu-se a queda da Bolsa deVall Stree! que rnarcou o início de
urna grirye crise económic4 que conduziu a urna depressão a nível mundial. Durante a
década de trinta a Europa üveu uma depressão económica sem precedente, ao me§mo
tempo que se assistiu ao qocerbar dos nacionalismos que' um Porrco por toda a Parte, se
menifestarram atranés do fascismo e no nacional-socialismo (Girão' 1997:42).
Entretanto, todas as tentativas do rei para estabelecer um consenso foram infrudferas
e, a 9 de Outubro 7934, o rei Âlorandre seria assassinado num atenado em Marselh4 por
um macedónio ligado a elementos separatistas croatás denominados utashâs', deiando por
terra os seus esforços de reconciliaçâo servo-croata, amvés da cria$o da na$o jugoslava
(Girão, 1997: 47; Niksic e Rodrigues, 1996:3071' Rados, 7999; 52).

Da II Gupnna MUNDIAL ÀJucosúvlA CoMUNISTA

Por esta altur4 por toda a Europa riunfavam os fascismos: na Alemanha e na


Áust ia na Hungria e na lúlia. Por seu lado, o território jugoslavo era um espaso onde se
confrontanam os vários interesses geopolíticos das potências europeias, e o príncipe regente
Paulo Karadjordjwic, percebeu que era urgente sahrar a Jugoslávia dx ltália fascista e da
Alemanha nazi (Rados, 7999:53-54). Desta forma, em Âgosto de 7939, o Govemo assinou
um acordo com a oposição croatâ, que ficou conhecido como Sporaatm (compromisso), que
criou uma Croácia autónom4 que se autogoveÍrur\ra em tudo e:cepto nos assuntos de defesa
e política e)úemâ, provocando grande descontentamento entre os sérvios. A assinatura deste
acordo ficou a dwer-se à ameaça da aproximação da II Guerra Mundial, às reivindicações
cada vez mais insistentes dos croatas e à dissolução da Checoslováquia perante o poderio de
Hitler. Iogo depois da assinatura do Sporaztru', foi nomeado um novo govemo de coügção
e foi com este novo governo que se estabeleceu a nov:r província autónom4 a Boruviru
(provÍncia) da Crolcil, que não só conquistou uma larga autonomia política, como abarcava
o imenso tenitório constituído pela futura Croácia titista, a maioria da Eslovénia a maior
part€ da Dalmácia e partes da Bósnia-He considerada terra de ninguém e cobiçada
por sérvios e croatas. Assim sendo, os croatas obtinham finalment€ aquilo que reclamavam

s O Movimeno Utash4 era um grupo separatista croac, fimdado em 1929 por Ante Pavelic, e que contava com o aPoio
do líder fascista ialiano Benito Musolini,

4t
Juoost.ÁvlA: O CoNTToDE l99l A 1995

desde o Íim do Império Âustro-Húngaro: o direito de esabelecer o seu próprio Parlamento


emZagreb (Cutileiro, ?.003:27;Girão, 1997: 44 45; Rados,l!)9:54).
A 25 de Março de 1947, representantes do govemo jugoslavo, numa tentativa de
maÍrüer a Jugoslávia fora do conflito, assinaram em Vienâ o "Pacto Tripartidos" com a
Alemanha altÁliae oJapão, um sistema de aliança que daria um esatuto de neutralidade à
Jugoslávia- Conmdo, de volta a Belgrado, a27 de Março, é efeauado um golps miliar, cuja
organiza$o foi atribuída aos britânicos, que demrbou o governo e declarou o prftrcipe
Pedro, o novo rei. O novo governo tentou evitar o pior enviando recados conciliatórios aos
alemães, mas o golpe de Estado iria lerrar Hitler a bombardear Belgrado no dia 6 de Abril de
7947, O e:<ército do Reino daJugoslávia acabaria por capitular a 17 de Abril, enquanto o rei
e o govemo partiam para o erdlio emAtenas (Cutileiro, 20íJ3:28;Girío,7997;,$G47; Nilsic
e Rodrigues, 1996:308; Rados, 7999:*-55).
Segundo Rados (1999: 57), no Reino da Jugoslávia, durante a II Guerra Mundial
existiram não um4 mas três guerras. A primeira foi a preservaçáo da soberania do Reino dos
Eslavos do Sul, que foi rapidamente perdida perante o @er avassalador das forgs fascistas,
o que levou à posterior cupação e diüsão do tenitório jugoslavo devido à sua imporáncia
geoestra.tégica, como ponte de comunicação. A segunda foi a guerra ciüI, consequêrrcia do
âparecimento de forgs nacionalisus, onde a tendência mais üsfuel foi o ercermÍrio dos
sérvios. A terceir4 foi a guerra antifascisa desenvolvida por duas forças com bases

ideológicas diferentes: os tchemil§, dos nacionalistas sérvios e os partisan, dos comunistas


jugoslavos.
Em Âbril de 1941, era fundado o Estado Independente da Croácia Por um (NDff:
lado, devido ao interesse dos alemães na estabiliza$o da região e por outro, para eplorar o
descontentamento dos croates, que iriam daí por diante lutar ao lado das forças nazis. Este
esado incorporou no seu território o centro da Croácia, toda a Bósnia-Herzegwina - já que
era considerado um fÊÍritório com população historicamente croab, apesar de ser na altura
de população de maioria sérvia - e uma parte do norte da Sérvia. De acordo com a política
uusha de Ante Pavelics, todos os muçulmanos bósnios foram considerados como as 'flores
da nago croata" e foi-lhes prometida a continuaçáo da liberdade da religião muEulmana
dentro do seu Estado, e assim o maior partido muçulmano da Msnia-Herzegovina decidiu

s Seguudo esse pacto - quÊ contou com o apoio dos croatas e eslovenos e a oposiçáo dos sérvio - plo teritório da
Jugoslávia Eâo dsveriâm pssar troprs alemiis ou dos seus aliados, nem as forgs do Eixo pediriam ajuda militar à
Jugoslávia §ikic e Rodrigues, 1996: 308; Girão, 1997: 46-47; Rados, |W: *55).
s O tÍder uash+ Ane Pavelic, havia chegado mm o exércio ialiano a 15 de Abril de 1941 e auoproclamara-se chefe do
primeiro Esado Croata que "desde há mil anos se pretendia independente" (Bemdd Êerct , Jugosltviz: Otí§tw il'un
?.onjir,l* Motde Editious, Bruxelles, 1993, pág,, 31 ií Gido, lW: 49). Parrelic iria negar o caúcter eslavo da Croácia,
afirmaudo que os seús habiantee eram germânicos e seú cúmptice de Hider, tendo enviado inclusirameorc uura
brigada croata para luar ao lado das tropas al@âs contra a LIRSS e declarado guen:r Íros Esados Unidos e à Grá-
Breaoha (Giráo, 197: 91; Rados, 19P: 58).

42
JUGo§LÁVIA: O CONFUTO DE I99I A 1995

cooperu com o moümento utasha (Girão, 1997:49-50; Nilsic e Rodrigues, 1996t 77;
Rados, lD9;58- 67).
No entanto, o Esado úrdependente da Croácia nunca foi um estedo independente,
mas sim um território dividido em duas zonali, urna sob protec$o alemã e outra sob
protecção ialiana e a política do movimento utash4 que teve todas as características de um
partido nazi, efectuou-se massacnmdo sérvios, ciganos, judeus e errecutando uma estrateia
de erradicação dos sérvioss: "Matar um terço, expulsar outro e converter à fé católica o
resante" (Rados, 7999: 5A5\. Iogo após o esabelecimento do Estado independente da
Croáçia, comeseram as atrocidades contra os sérvios, sendo sobretudo os sérvios da Iqiina
os mais atingidos pela morandade dos utasha Tudo isto fez com que os sérvios se
juntassem à resistência antifascista (Cutileiro,2ffi3: 154; Girão, 1997).
 primeira resistênciat antifascisa denro daJugoslávia começou em Maio de 7941
e foi liderada por um nacionalista sérvio, sob autori.lade do rei; em Junho iniciou-se a
revolta dos partisan, organizedos pelos comunistas e comandados porJosep Broz Titos' um
comunista croeta, e que desencadearam acções de guerrilha conra o Esado croata. Â
diferença enüre os rchetnils e os partisan residia essencialmente nas ideologias e nos
objectivos a alcançar. Enquanto os tchetnils lutavam pela libertação da Sérvia, com o
objectivo de liberur os territórios onde viviam sérvios e formar uma Grande Sérvia, que
dweria incluir o território da Bósnia-Herzegovina; os partisan lutavam pela rwoluçáo
política e social dos povos jugoslavos e o seu objectivo era a criação de uma Jugoslávia
comunista segundo o modelo soviético. Devido a divergências ideológicas com o
movimento nacionalisa sérvio rchemih os partisan acabariam por deinr a Sérvia em 1941,e
dirigir-se para o território da Bósnia-Herzegovina (Cutileiro, 2003; 154; Girão, 1997: 5l;
Rados, 1999:59-64).
Durante a GuetrÀ o território daJugoslávia foi diúdido ente a Alemanha nazi e os
seus aliadosIúlia, Hungria e Bulgfuia e posteriormente foraÍn formados úrios estados
"fantoche" nesta região. O território da Eslovénia foi anexado pela Alemanha a Norte, e a
Sul foi ocupado pela IÉlia Mussolini incorporou ainda extensas partes da Croácia, quase
toda a costa adriática e assumiu igualmente a oprotecção" do Montenegro, que também
perdeu territórios para a Albânia Algumas partes do None da Croácia foram integradas na
Hungrie A Sérvia foi corada no Sul pela Grande Albânia, ulna novÍr forma$o estaal

s Segundo os sendç6 de ÍeceDseamsnb americanos, cerca de 7í) mil sérvios foram morms pelo regime utasha durante
a I Graade Guerra (Giráo, 1997: 50).
e Essa resistência assumiu o aome de tchetnik, nome dado à resisÉncia sérvia contra o Imffrio Oomano.
$ Tito foi nomeado secreúio-ge.rÀl do Partido Comunisa Jugoslavo m 7937. O Partido Comunisa da Jupstávia
(IlP), criado em 1919, harria sido proibido depois de 1921, devido à polÍtio anticomunisa de Alerondre I, leal ao Czar
russo e à França. Depois de ter sido ilegalizado ficou clandestino aÉ à §egunda Guerra Mundial. O Reino daJugoslÁvia
menteve a sua polÍtica anticomuuisa aé 1940, tendo sido um dos últimos países a reconhecer a TIRSS (Cutileiro, 2ü)3:
26; Rados, |W:50).

43
JUGOSLÁVIA: O CONFLNO DE I99I A 1995

forrnade e oflrpadâ pelos ialianos. Partes do Ieste e do Sul da Sérvia e ainda a maior parte
da Macedónia foram incluídas na Gmnde Bulgária, que Embém cooPerou com as forças
Norte da Sérvia foram incluídas na Grande Hungfia; a Sérvia
fascistas, enquanto as terras do
Central, passou a ser um território direcamente administado pelaAlemanha; o l(osovo foi
integrado na Albânia. Como resulado, o Reino daJugosláüa desaparecia em Abril de 1941
(Nilrsic e Rodrigues, 1996; Rados, 7999:57-58).
Âposição dos muEulmanos da Bósnia-Herzegovin4 durante o conflito entre,sérvios
e os croaas, foi basante ambígua. Enquano que, no período entre as duas guerras, a
simpatia muçulmana estaye com Zagreb, a política oficial muçulmana apoiana o Reino da
Jugoslávia, onde deveria ser assegurado o estatr,rto de autonomia para a Bósnia-Herzegpvine-
Os muçulmanos viriam a ter uma grande participação nas forgs das SSse alemãs, em parte
derrido ao Memorando enüado a Hitler em 7942, no qual se referia a oripm dos
muçulmanos nas tibos germânicas godas, e consequentemente a Pertensa à raça ariana.
Como resultado, em 1943 nascia a Trigésima Divisão das SS, denominada Handzar60,
apenÍs composte por muçulmanos bósnios e que viria a praticar numerosÍs atrocidades,
sobrenrdo conEa os sérvios no kste da Bósnia- Mas a vçrdade é que, mesmo que os
muEulmanos quisessem cooperar com os sérvios ou comunistas, não tiveram muitas
oportunidades para o fazer, dwido por um lado, às atrocidades que os nacionalises sérvios
cometeram contrz os muçulmanos na Herzegovina, e Por ouro, deüdo ao caúcter anti-
religioso que o comunismo havia assumido na URSS (Niksic e Rodrigues, 1996;77; Rados,
leee).
De 7947 a 7944 zotaa da Jugoslávia seria marcada por nüssírcres, desrui$o de
^
propriedades e eryulsões da popula$o. As guerras no tÊrritório daJugosláüa foram cnréis,
contudo, o número encto de sérvios vítimas do massacre uesha na Croácia nunca foi
determinado, já que a maioria das valas comuns nunca foi aberta, e algumas nem foram
assinaladas, dwido à política oficial de "fratemidade e unidade" das nações jugoslaras
posteriormente adopada por Tito (Giráo, 1997:. 5V56; Niksic e Rodrigues, 7996; 55-56;
Rados, 7999: 64). As atrocidades foram cometidas por utashas, rchetnila, PaÍtisen'
muçulmanos e albaneses e, ciando Cutileiro (?.003: M), embora o regime comunista
pregasse a reconcilia$o par{ugoslava "(...) os rancores não haviam sido esquecidos. Não
podiam manifesar-se, mas, tal como altares de fés interditas escondidos por paredes falsas,
guardaram na alma de cada um ânimo para barbaridades futuras."

5e
Sigla de Schutz-Saffel, F,squadráo de ProteSo, corpo da políciâ militrrizada .o'i (s.v. «SS» in Diúzírb ila Üngua
Potitgae C-arrtmtprAnzd do Aradefiia dis Cifuria, de Usbo, AcaÃemia das Ci8ncias de Lisboa e Ediorial Verbo, 2@l),
o Handzar, provém do árabe "haujara", âca destinada a corar a cabeça ou pescoço. Segundo fontes oficiais jugoslams e
fontes militares dos púes europeus, eso divisão das SS, teú sido responMvel pela morte de r'árias centenas de milhrres
de sérvios, juders e ciganos, entre 1%1 e 1944 §ikic e Rodrigues, 796:77).

M
JuaosÁvr* O CoNFLITo DE l99l A 1995

No que respeia aos Aliados, se ao início da Guerr4 o seu apoio fora dado aos
tcheurils, posteriormente, vários relatórios dos oficiais briánicos, que elogianam a forma de
lua dos partisan, levaramWinston Churchill a apoiá-los e a cottar relações com os tchetnik
Desa forma os partisan passariam a ser o instrumento da política dos Aliados naJugoslfuia6t
(Girão, 79D7 : S7;Rados, 1999: 63-@).
A data que assinalou a subida definitiva dos partisan foi a 8 de Outubro de 7943,
quando altália de Mussolini capitulou, e o movimento de libertaçáo de Tito ganhou novos
partidários denro da própria Jugoslávia- Nos dois meses seguintes foram fundados os
govemos provis6rios dos povos que iriam formar a novaJugoslávia- Nesse mesmo ano, os
comunistas jupslaros, liderados por Tito decidiram fundar um novo Estado, com
caracteúticas de um Estado federal, composto por seis 'repúblicas" e na segunda reunião do
Â\/NOJ, na Bósnia-Herzegoüna em Novembro de l943,foram esabelecidos os princÍpios
fundamentah do futuro Estado comunista O primeiro desses princÍpios era o direio à
autodeterminaÉo dos povos do Reino daJugoslávia pelo qual cada povo podia e:rercer esse

direio, incluindo o direito de separação; este princípio foi adopado para witar a hegemonia
sérvia, que havia camaerizado o primeiro Esado dos Eslavos do Sul. O segundo princípio,
foi o da substituição do rei pelo Comité Nacional de Liberago daJugosláüa (NI(VO), um
govemo provMrio, cujo presidente seria Tito (Nilsic e Rodrigues, 1996 31; Rados, 1999:
6s-66).
Depois dos partisan@ terem sido reconhecidos em 1943 como qrército aliado, em
1944, sío reconhecidas as decisões do AVIr{OJ sobre o federalismo, e o qrército de Tito
como único orército legal daJugoslávia (Rados,7»9;6ó). Nesse mesmo ano, Churchill e
Esaline chegam a um acordo e diüdem a Jugosláüa comunista ao meio: meade foi
considerada como zona de inÍluência soüética e a outre meade sob influência dos
vencedores ocidengis, através da apücação da política de meade metade, que caracterizou a
Guerra Fria que se instalou na Europa após a Segunda Guerra Mundial. Mas, em 1945, a
Jugoslávia comunisa seria considerada como fazendo parts do Bloco de kste (Niksic e
Rodrignes, 7996: 24; Rados, 7999: 771).
Em Setembro de l944,as forças aliadas em conjunto com forgs de Tito, lançaram
as

uma ofensiva conftâ o exército alemáo que oflrparra aJugoslávh e, antes do fim de Outubro,
Belgrado e a maiorh dos bastifu* chave daJugoslávia foram liberadas.

6!
Em NovembÍo de 1942, Tito fundou na cidade de Bihr, na Bóaniq o Conselho AntiGscista de Liberaçáo Popular da
Jugoslávia (ÀVI{O), que marcou o início da construgSo do futuro Estado comunista (Rados, 199: 65).
e Os partisan omunistas, embora ao inÍcio fossern na sua maioria sérvio, ao longo da guerra foram incluindo gente
odas as nacionalidadesjugmlzvas que lutavam contra as forças mupantes (Cutileiro, 2ffi3: 22).

45
Jucost.ÁvrA: O CoNFLrro DB l99l A 1995

Onrclrvrs»rTITo

A 7 de Março de 7945, foi formado o go\rerno provisório, no qual Tito era o


primeiro-ministro e a 11 de Novembro ôram realizadas as eleiç&s daJugosláüa liwe, em
que a Frente Popular daJugoslávia (NF), chefiada pelos comunistas, ganhou com novenb
por cento dos votos. A República Federal Popular daJugosláüa (FNR) seria proclanada a
29 de Novembro de 1945 (Girão, 7997:52-53; Niksic e Rodrigues, 7996:308; Rados, 1999:
67§).
Depois da capitulação do terceiro Reiclr, o Estado independente da Croácia üu chegar
ao 6m a sua breve existência como aliado de Hider. Entretanto milhares de croatas,
receando um qiuste de contas pelos massacres dos utasha, fugiram procurando a Protecção
dos aliados. Depois de receberem garantias dos britânicos que não seriam entregues aos
partisan, entregaÍam as arÍnas e renderam-se, mas aqueles, negando o que haüam
prometido, entreTàram:nos aos apoiantes de Tito, tendo sido assassinados milhares de
combatentss dos movimentos utasha, rchetnike outros colaboradores6 (Cutileiro, 2C[,3:22;
Girão, 1997 : 52; Rados, 7W: 70).
Ingo a 20 de Maio de 1945, a Jugoslávia comunista teve o seu primeiro conflito
e:úemo, após a II Guerra Mundial, com as potências ocidenais, na denominada crise de

Tiste.llmavez que os partisan haviam liberado a ?.ona a Norte do Adriático, no final da


guerra reivindicaram-na como parte daJugoslávia; no entento, os govemos norte-americano
e bri6nico, erdgiraÍn a retirada das tropas de Tito de uma parte da zona liberada, sob ameag
de uma intervenção militar. Esa crise terá contribuído para que Tito se virasse para a
ideologia de Esaline; e Guerra Fria tinha começado e Tito te're de ligar-se a Moscovo para
defender os ganhos da sua revolução social, o que aumentou ainda mais a concentraçáo de
poderes nas mãos dos comunistas (Rados, 1D9). Enreanto todos os partidos polÍticos
foram abolidos, fizeram-se numerosas prisões e perseguiu-se sistematicamente a igreja
Católica devido à sua colaboraçáo com o regime uasha durante a guera (Girão, lD7:53;
Rados, 1999l. 69). O
ano de 1945 seria ainda marcado pela rerrola dos kosovares, que
pretendiam junar-se à Albânia e que seria üolenamente abafada pelos partisan (Cutileiro,
2003:22\.
O fim da II Guerra Mundial raria um novo ajuste das Êonteiras daJugosláüa agora
com a Iúlia e , Áustr[ dois dos derrotados do conflito (Rados, 799D: tM).

6 Calorla-se que no peído entre 1945 e 1946, cerca de cento e cirquena mil pesses terão sido mortas em
san€ametrtos de colaboracionistas ou supostos colaboracionistas, principalmente uosha e ehemik (Cutileiro, 200.3: 2;
Giráo, 197: 52; Rados,lWzT0).

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JUGOSLÁVIA: OCONFLITODB I99I A 1995

Àsituaçáo económica da República Federal Popular daJugoslávia (FI.{R} no final da


Guerra era desasEos4 com apenas 30Y" de capaciáade produtiva em funcionamento. Iogo
em 1945 Tito começou gma série de nacionalizações, tal como aconteceu noutros países
comunistas. A reforma agrâia ina durar até 1953, quando o Partido Comunisu Jugoslavo
(KP) finalmente recoúeceu o fracasso da sua política agdcob. De referir que enÉio, oitene
por cenüo da população jugosle\ra era qrmponesa e que durante a guerra foi ela a base de
apoio ao monimento de Tito (Rados, 7999:6*69).
 divisão da Europa acordada primeiro enre Churchill e Esaline em Moscovo, e
depois ambém com Roosevelt em lalta" deLsra a Jugoslávia no limite entre o kste e o
Oeste, uma vez que por um lado o regime havia sido reconhecido pelos aliados logo em
1945, mas por outro foi dado a Moscovo o direito de influência sobre o país, que üria durar
apenas atÉ 1948, altura em que Tito rompeu com Estaline (Cutileiro, 200'3:32),
Entretanto, Tito começou a delinear as fronteiras do novo Estado entre as seis
repúblicas: Sérviq Croácie, Eslovénia, Bósnia-Herzegoüna Macedónia e Montenegro. O
Conselho Antif*cisa da Vojvodina decidiu incluir o território da Vojvodina na República
Sérvia e as zorurs que acíralmente corespondem à Eslavónia Oriental, apesar de em 1945
serem de população maioriariamente sérvia, foram colocadas no território da República
Socialisa da Croácia. Quanto às regióes do Centro e do Sul da Croácia, correspondentes à
f."ji"a também de maioria sérvia, foram avaliadas úrias formas de normalizar as relações
entre croatas e sérvios e foi posa a hip6tese da cria$o de uma proúncia autónoma sérvia na
Croácia, no enurnto, a decisão final viria a encluir esta opSo, já que muitos croegs viviam
naqueles territórios. Houre ainda problemas no traçado das fronteiras da República da
Bósnia-Heuegovina: por ocmplo a área periférica de Bihac era de maioria muçulmân4
mas a Croácia queria inclui-la na sua República; a cidade de Drvar com popula$o
maioriariamenre sérvia e Duvno, cujo território era povoado por croatas, ficaram apesar de
tudo, incluídas na Bósnia-Herzegoüna A região do Sandzalq habiada maiorieriamente por
muçulmanos e o l(osovo, de população maioriariamente albanesa ficaram, apesar de tudo,
incluídas na República Sérvia- Desa forma, as decisões sobre as fronteiras das Repúblicas
foram tomadas de forma Épida e sem que chegasse a haver qualquer discussão popular
sobre o assunto. As fronteiras continuariam a constituir um sério problema nas décadas
seguintes, sobretudo dwido ao faaa de existirem grandes bolsas de minorias dentro das
repúblicas, e da influência das nações de oriçm no sentido de defender essas mesrrͧ
minoras. Foi atrarrés deste compleno equilÍbrio entre as rárias nacionalidades e respectiras
minorias, que Tito conseguiria presenrar o Esado daJugoslávia (Brogan, 1989;371; Rados,
199:105-106).
Nos finais de 1945, os EUA üam com preocupaçâo o alargamento da zona de
influência de Eseline ao Leste da Europ4 assim para fazer Êente ao opansionismo

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Jucosúvra O CoNFrJro DE l99l A 1995

comunista, surgiu em 1947, a Doutrina Truman, definida como urna política de apoio aos
povos liwes, defesa da liberdade e da democracia e que conÍirrnava a divisão ideol6gica entre
as duas grandes potências saÍdas da II Guerra Mundial (Girão, 1997: 62; Np, 2002: 146;
Rados,1999:70).
Em 1948 acontecia a rupüra entre Tito e Esaline quando, depois de vários confliüos
devido à recusa de Tito em seguir as directivas de Moscovo, nurna resolução do
Cominforme, Tito foi acusado de traição ao marxismo e de esabelecer um revisionismo
capialista Para Tito tomara-se claro que Esaline queria dominar as polÍticas intema e
er.ternÍr daJugoslávia AJugoslávia era obrigada a rnírnter relaçóes comerciais com a IJRSS,
que apenas beneficiavam esta últim4 enquanto prejudicavam gravemente a economia do
novo Estado FederaL eram celebrados acordos comerciais forçados entre os dois países, que
só traziam vantagens comparativas à União Soviética e onde a Jugoslávia era obrigada a
aceitar o que lhe era enviado, mesmo que não precisasse e ao preço estipula<lo por Moscovo;
a exporta$o de matérias-primas e produtos agrícolas para a União Soviética era feia a
preços baixos, definidos por Moscovo, enquÍrnto os produos de Moscovo deviam ser pagos
em ouro ou moedas fortes. Como consequência da expulsão do Cominform, aJugoslávia
teve de abandonar o comércio com os países do Comecon (Conselho de Assistência
Económica Mútua), que a obrigou a voltar-se para os países ocidenais (Cutileiro, [email protected];37;
Girâo, 1997:60; Rados, 1999:77). Assim em 1949, o presidente Harry Truman saiu em
defesa da integridade e independência daJugoslávia, e declarou que uma agressão conEa a

Jugoslávia não deipria os Estados Unidos indiferentes, isto é, o bloco ocidenal úo


permitiria que o orército vermelho invadisse a cosa adriática (Girão, 7W:62-63; Rados,
1999:713).
Por volta de 1950 era oÍicialmente iniciado o sistema de autoges6o* qo"
caracteúou o regime de Tito, em oposiçâo ao modelo soviético. Simultaneamente foram
tomadas outras iniciativas, como o desenvolüdo do movimento cooperativo, a
colectivização da agricultum foi abandonada" foram encetadas algrrmas medidas de
descenralizaçáo e unu ligeira liberalização económica (Girão, 1997: 67-62; Rados, 1999:
74).
EmÂgosto de 1951, no seguimento do apoio ocidental em caso de agresúo da União
Soüética e para reforçar a sua posiSo, os Eshdos [Jnidos, a França e a Grâ-Bretanhq
concederam à Jugoslávia uma ajuda económic4 Íinanceira e miliar de aproximadamente
cinquenta milhões de dólares; ajuda que se prolongou atÉ 1957, quando Tito renunciou à

I Comié de lDfonúa$o Comunista


6 A auogesáo caraceri?áva-se pela exisencia de Conselhos de Trabalbadoren, que tbhaÍn autoridade para tot tr
decisões económicas tlllr suâs empre&§. Cada empresa ou e*çloraçáo agrlcola definia os sers púprios objmivos de
pmduç:o e decidia os investimentos necesúrios para o crescimento futuro; m saláÍios ficflrÀm dependentes dos
resuludos da ernpresa (Soqãr&, Zma).

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JucosúvrA: o CoNFuro DE l99l A 1995

qjuda miliar norte-american4 em consoniincia com a novir política externa de não-


alinhamento (Rados, 7999: ll3).
Ern 1952 o Partido Comunisa da Jugoslávia passava a denominar-se Liga dos
Comunistas da Jugoslávie e no ano seguinte entrava em vigor a nova Constituição, que
tomou Tito presidente, e que fazia ama ruptura total com a Constinrição de 1946,
praticamente copiada do modelo soüético (Cutileiro, ?,O03:35; Giráo, 1997: 67).
 reconcilia$o da Jugosláüa Comunista com o Blco de kste aconteceria só em
7955, jâ depois da morte de Esaline. Nesse ano Nikita Ikurchev visitou Belgrado e foi
assinada uma declarafo na qual se afirmava a igualdade dos partidos comunistas e das

soberanias dos estados e ainda o respeito pela independência (Rados, 7999:113).


Em 7961 a esagnação econ6mica da Bósnia-Herzegwina era visÍvel e a República
foi declarada "subdesenvolüda". Este atraso t€ve como consequência a emigra$o de muitos
cidadãos, sobretudo sérvios, pera o estrangeiro, o que levou a que a partir da década de 1960,
a Bósnia-Herzegovina se tivesse tornado predominantemente mu$rlrnana §il«sic e

Rodrigues, 1996:7872; Rados, 19992 701-103).


No inÍcio dos anos sesseng aumentâram as tensões entre os reformistas liberais,
partidários da descentralização para as repúblicas, e os conservadores, a favor do cenralismo
federal, tendo surgido a necessidade de introduzir reformas tento a nfuel político como
económico. Neste conter.to, as reformas políticas e económicas avânçaram de forma
paralela, até que em 7963 foi aprovada a nova Constituiçáo, que constituía um compromisso
entre liberais e conservadores (Rueda 2ffi3:28). Com esta nova Constitui$o, foi alterado o
nome da Jugoslávia para República Federal Socialista da Jugoslávia, o partido foi
descentralizado e regionalizado, e alargaram-se as competências das repúblicas. As medidas
tomadas, embora necessárias paraüna govemação mais estável, fizeram com que o desejo
da independência nacional fosse de novo reacendido (Cutileiro,20fll3z 35; Fuente, s.d.;
Rados,1999:75;).
Depois do Congresso d, Lig, dos Comunises em 1964, foi decidido dar maior
autonomia às empresas, aumentar as medidas para a implemeneçáo de uma economia de
mercado, e avansar com a descentraliza$o do shtema polÍtico. As reformas económicas6,
que tinham como objectivo a abertura da economia jugoslava ao Ocidente, tiveram no
enhnto como consequência, o agrryamento dos conflitos enre as forças conserr"adon§, que
pretendiam continuar com o centralismo comunista, e as forças deferuoras da liberalização
(Rados, 799Y,75:76).

6À reformas económicas raduziram-se concÍeamenE na desraloriza$o do dinrar, de forma a aumenter tul


eryortações; redu$o dos imposto aduaneiros de modo a aumenar as importaç&s, nomeadamente de novz ecnologia;
restri$o dos crédios para controlar a iníaÉo; fi:o$o dos Baiírios ern funçáo da produtividade; e correc$o dos preços
(Rados, 199:75-76).

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JucoslÁvrA: ocoNFuroDB l99l A 1995

Após o primeiro desantrviamento da Guerra Fria, nos anos sessenta, Tito, tentando
tirar proveito da posição impora$o de bens de
geoestratégicâ da Jugoslávia, autorizou a
consumo, enquanto a autoges6o levou a uma maior liberalização da economi4 que
conduziu ao progresso. O nfuel de üda nesse perÍodo aproximou-se dos países do Ocidente
e o crescimento económico daJugoslfuia pode até ser comparado ao doJapão nesse período
(Rados, 1999). Enreanto, tprâaa da terceira vi4 permitiu que se esabelecessem relações

comerciais faroráveis com a CEEd, que se viria a tomar o principal parceiro daJugoslávia.
A partir de1968, a Liga dos Comunisas da Jugoslávia (S§, or-KP), já esbva
realmente descentralizada e o poder efectivo, esta\ra nas mãos dos partidos das repúblicas.
Em Novembro desse ano, foram aprovadas novas alterações à Constituiçáo: foi dada às
proúncias autónomÀs da Sérvi4 o l{osovo e aVojvodina um estaírto igual ao das repúblicas
perante a ffieraçáo; a República da Bósnia-Herzegovina foi definida como Estado dos
séwios, croates e muçUlmanos, reconhecendo os muçulmanos como naçâo dentro ü
federa$o jugoslava. C-omo consequênci4 a Jugoslávia assemelharra-se mais a uma
confederação, o que lwou ao surgimento de vários moümentos nacionalisas, como foi o
caso da província autónoma do l{oswo, que nessír altum já era maioritariamente povoada
por albaneses, onde se veriÍicaram manifesações nâs qrreis era exigido o estaírto de
República, o que permitiria obter o direito à autodeterminação, conforme previsto na
Constituição da Jugoslávia (Rados, 1999: 7 Ç77\.
Neste perÍodo iriam surgir uma série de morrimentos de caúcter nacionalisa nas
diversas repúbücas. O movimento nacionalisa esloveno surgiu por volA de 1969, e t*e
como pano de fundo a disribui$o das verbas vindas dos crditos esfrngeiros, tendo a
Eslovénia acusado o governo central de descriminação em relação à distribuiSo dos
dinheiros para a construsão das nov:rs auto-estradͧ (ibid.:78). O nacionalismo croata, que
se traduziu no movimento conhecido como "Primavera Croata", entre 1969 e 7977, Arc
início em dois tipos de reivindicações, que conjunbmente dnhem como objectivo último,
maiores liberdades civis e maior autonomia para a Croácia (Rados, 1999). Um, dizia respeito
às exigências económicas do pvemo croate, gue pretendia uma alteração na disribuiçáo do
orçamento federal, de modo a obter o conrolo sobre o dinheiro do turismo que começãva a
ser a principal fonte de rendimento da Repúblicad, Outro dizia respeito à língua servo-

ó7
De acordo com Rados (199:11í116), as relações oficiais etrtre a Jugoslávia e a CEE' iniciades wr l9Çl quattdo a
Comuuidade reconheceu a Jugoslávir, caracterizaram-se pela particuladrlade de que odos os acordos tiveram por
origem acontecimenms polÍticc: "as primeiras coweÍsaçõe.s úrias entre a Jug;oslávia e a CEE, coiucidiram com a
interengo soviética na Checosloúquia em 1968"; o stgundo aordo em 1976, eeguiu-se à visis de korrid Brcjuev a
Belgrado, na Entativz de apruimar aJugoslávia do Bloco de Leste; o último a.ordo, ern 1980, foi assinado meses autes
aa úrnsao do Afeganistão pela URSS e na iminência da morte de Tito, Na opinião de Rados, Pode ooncluir-se que a
cooperaso entre aCEE e aJugoslávia foi para a CES acima de o:do, uma estratégia polÍtica nas relações Leste-Oeste.
6 Nos anos sesseub como conrequência da maior úemrra ern rela$o ao werior, houve uma explosão turktica na cosa
adriática No ano de 1969 por eamplo, a Croácia obteve 2"5 mil milhõ€§ de dólares de rceias de turirmo (Radoa, 1999:
m.

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Jucosl-ÁvlA: o coNRlroDE l99l A 1995

croata, tendo sido inclusivamente proclamado no vbor (assembleia ou parlamento), a língua


croate como a língru oficial da Croâçta.Apesar do movimento nacionalisa desa república
ter como objeaivo principal uma maior liberalização do sistema político, foi Ambém
direccionado contm os sérvios que viüam na República. APrimavera Croaa, mostrava utna
vez mais que a independência continuÍlva a ser o principal objecivo dos croatas (úní).
Assim sendo, a atrnosfera vivida na Heração, raracceítzave,-se Por rirralidades e
descontentamento entre es repúblicas, com eslovenos e croatas a queinrem-se que
contribuÍam mais para o orsâmento da êderação do que recebiam, e as repúblicas menos
desenvolvidas da fuera$o, como a Bósnia-Herzegovina e a Macedóniâ' a acusarem as
repúblicas mais ricas do Norte, de o<plora$o (Girão, 7997:681' Niksic e Rodrigues, 1996:
32; Rados, 79D:83}
Como consequência daqueles tumultos, em 1974 foi elaborada unür no\ra

Constituição, que na realidade limitou o poder do govemo central e reforçou o poder das
repúblicas, dando origem a unrâ competição permanente ente esas, principalmente a nfuel
económico, já que todas as decisôes Íderais
deviam ser tomedas Por consenso entre es
repúblicas (Garde, 79V2: 703; Rados, 7999). Para além disso, a Constituição atribuh às
provÍncias autónomas da Sérvia, Kosovo e Vojvodina um estaírto praticamente idêntico ao
das repúblicas6e. Estas alteraçOes indignaram os sérvios, urne vez que lhe foram subtraídas
dur" zonas imporantes da sua república: a VojvodinC de economia rica e o Kosovo, com
um sigrrificado simbólico especial (Cutileiro, 2ffi3: 36; Garde, tW} 103-104). A
Constituição de 1974iú ainda aribuir aos muç:ulmanos, o estatuto de pwo constitutivo da
Jugoslávia. Essa foi uma decisão bem reflectida da parte de Tito,
já que conseguiu atingir
dois objeaivos: por um laclo tomou a Bósnia-Herzegovina a mais titisa das repúblicas
jugoslavas; por outro, conseguiu agradar a todo o mundo islâmico, tendo em conte o
Moümento dos Náo-Alinhado§m, em cuja fundação Tito participara, e que englobava a
maiorparte dos estados islâmicos (GiÉo, 1997;103).
Segundo Milan Rados (199: 80):

e As repúblicas e as províncias ficavam também doadas de um presidente e de um parlameuto (Gatde, 1992:. 103); assim
a V{vàina e o l(osovo, foram praticamente removidas da juridiçeo dâ sén'i4
rt'''a vez que as prodncias tinham direio
d" vlar a" decis6es que diziam respeito à república dâ Sérvi& ao pirslro que a Sérvia, são rinhe jui§diÉo sobre as
pmvíncias (Batakovic, 195).
h No ioí"io da Guerra Fria, a Jugmláviâ comlmista dio Ézia parte de neúrmr blao, já que a ideia da polÍtica
intemacional de Tio era a de firgir da domina$o soü&ica, ttüur ao mesmo emPq niio Permitir gue os paGes capialisas
domirassem a Jugoshvia, *g"ird" desa form+ urna linha independeute dw dois btaos.-Nas mesmas circüustânciss
outrõ esados da ÁÊica e da 1955, se reúnem na CooGÉncia de Baoduug e criam
Isia que, em
"n*ot""*--rã "íg*r
o Movimenm dos-Xeo-Aliúados, de que Tito passaria ser lÍder. Ba combina$o do movimeno dos nilo-alinhados,
a
com a originalidade poÍtica e económica intema da autogestão, deu duranrc algtuul anos um certo prcsdgio àJugoslávia
(Cutileiro, ãXLl: 37; Rad6, lW tl+115).

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JucosLÁvrA: O CoNruno DB l99l A 1995

"A Históú sugere que o sistema político Íderalista é üável somenre nruna
sociedade democraticamente organizada - naJugoslávia comunista a autonomia das
entidades sigrrificou o fim do sistema, onde uma nação começou a competir com a
outra" (...) a descentralização daJugoslávia assegurou um crescimento económico
entre 1960 e 1970, mas ao mesmo tempo fez nascer as aspirasóes nacionalistas."

Depois de uma década de sessenb de relativo sucesso a nfuel económico, o primeiro


choque petrolÍfero egn 7973, fez com que a situaçáo económica daJugoslávia se comesasse a
degradar, e com a segunda crise do petróleo, em tw9, a derrocada iria acelemr-se ainda
mais. Os mecanismos da autoçstão mosüraram-se inadequados pua fazer face à crise
mundial; o pú começou a empobrecer e começâram as misérias "terceiro mundistas":
cort$ de electicidade, fala de combustfuel e comrpção furante. Ás disparidades regionais
em vez de diminuírem continuarram a crescer e as qiudas às regiões pobres, desperdigda em
investimentos imprdutivos, era ineficiente. A junar a tudo isto, o facto de as repúblicas
rivalizarem entre si, procurando beneficios próprios, em vez de procurarem complemenar-
se em beneficio da Íbderago (Garde, lg2: 704708; Girão, 7997: 67; Encyclopaedia
Universalis, 1996:938). Conforme Afonso Rojo (lugosláuk: Holocausro tas Bahõs,l9f2,pâg,
a3 oprd Girão, 7Wz 67) "Em meados doa anos 80, estavam criedas as condições económicas
para a ocorrência de uma espantos:I hecatombe. Faltavam as condições polÍticas e essas não
târdariam a chegar".
Nos últimos anos de Tito, a situa$o intema daJugoslávia foi marcada pela tensao
entre croatas e sérvios, com revoltas, sequestros e assassinatos, que provocâram uma forte
repressão. De acordo com Cutileiro (2003: 38), aJugosláüa tinha sobrwivido por um lado,
dwido ao próprio Tito, que "além de chefe absoluto era ambém mito fundador da segunda
Jugoslávia" e Por ouro, devido à "conveniência ocidenal de manter a aparência de uma
Jugosláüa independente e economicamente vifuel na baalha travada contra a União
Soviética". Depois da morte de Tito, restava apenas a conveniência ocidenal, que também
acabaria no finâl da Guerra Fria

DEpors DE Tfro: o DESMEMBMMENTo DAJucosrÁvrA

Nos anos oitenta a Jugosláüa entraria numa crise económica e nurur turbulência
polÍtica muito grave.
Nos anos cinquenb e sessenta, a Jugoslávia gozou de um forte crescimento
económico, peíodo em que recebeu quantidades substanciais de {uda do qrterior, urna vez

52
JucosúvrA: O CoNFLmo DE l99l A 1995

que ere vistâ como um "tamp:io" contra um possfuel ataque so\riético ao Sudeste da Europa.
Depois, nos enos setentq as qiudas começa&lm a diminuir e foram substituídas por
empréstimos comerciris. Simulaneamente, e devido ao abrandamento no crescimento dos
paÍses ocidenais, a Jugoslávia üu diminuÍdas as $üs erportações, bem como es remessas
dosjugoslavos a trabalhar no exterior. 8lr.7979 a dfuida atingiu proporções de crise, cerca de
20 mil milhóes de dólares; em 1980 o défice comercial chegou até aos 3,5 mil milhões de
dólares e a infla$o começou a subir; e em 1982 foi acordado um Plano de Recuperação, que
implicava tanto uma liberaliza$o, como austeridade. Isto fez aumenBr a concorrência enEe
as repúblicas por recursos, e levou ao florescimento do situa$o
mercado negro. Â
económica, continuaria a agra\râr-se durante toda a década de oitenta, com a inflaÉo cada
vez mais alta, desemprego, urna enorrne dfuida e:*ema baixa produtiüdade e o crescimento
a reduzir-se, depois dos bons resultados conseguidos nos anos sessente e setentaTl

(Cutileiro, 2@3; 3Ç37 ;I(aldor, 7999: 37 ;Rados, 199: 81-85).


Quando Tito morre, a 4 de Maio de 1980, é a Constituição de 7974 que ügora: a
presidência colegial, que dweria ser assegurada rotativamente durante um ano, pelos
representantes de cada uma .la" seis Repúblicas e das duas regiões autónomas, é uma
presidência paralisada pelos seus mecanismos de tomada de decisão e burocracias estatais; os
congressos d" Liga tornam-se locais de discussão entre os líderes das repúblicas, tomando
impossfuel a tomada de acções concretas; o partido transforma-se do dia para a noite, numa
jusaposição de partidos nacionais de cada república, com diferentes visões acerca do futuro
da Federação (Cutileiro, 2003:3Ç37; Niksic e Rodrigues, 7996:312; Flados, 199:$-82).
Entre 1980 e 19$, aumentaram as aspiraçóes de cada república em oposição ao
F,sado federal, aga.varam-se as divergências de interesses entre sérvios e as outras
nacionalidades, e aparecenrm personalidades que viriam a destacar-se na sucessiÍo de crises
políticas e de guerras (Cutileiro,2003:38).
Os primeiros sinais de insatisfação política acontecemm logo em 1981, quando se
iniciaram uma série de protestos na cidade de Pristina, capial da proúncia aut6noma do
I(osovo. Âs demonstrações começaram com protestos esírdantis (reprimidas pela polícia,
maioriariamente sérvia), no entanto, averdadein questiio residia nas relações entre sérvios e
albaneses que viviam naquela prwÍncia e, em última análise, na lua da populaSo albanesa
para que o I(osorro recebesse o estatuto de república (Rados, 19,9: M). Como obserrra
Rados (1999: 84), as exigências nacionalisas albanesas erolaram o naçionalismo sémio, que
por sru vez provocou o nacionalismo croeE-
Entretanto, a economia ambém dava sinais de que eram necesúrias mudangs. Três
anos após a morte de Tito, a crise tinha afectado gravemente o nfuel de üda da população, e

?tA inÍlesro subiu de l2P/o en 1987, para ?SV/o em 19§ e a dÍvida externa em 1988 atiagia os 33 mil milhões de
dólares, donde 20 mil milh6es eram em divisas ocidenais (Rados, lW:83).

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Jucosúvre: O Cor.ruro DB l99l A 1995

o Govemo federal viu-se obrigado a introduzir novas medidas restritivas. Desa forma, em
1983, foi sugerida a toal implemenação de uma economia de mercado e a liberalização do
comércio, mas o sistema de autogestão náo chegou a ser anulado. A situaçáo económica
piorou rapidamente, e foi necesMrio endurecer ainda mais as medidas de racionaliza$o.
Face à crise económica jugoslav4 as potências ocidenAis, enüe a§ qrreis os EUd reagiram
enüando dinheiro "fresco" foi reprogramada 85% da dfuida extema daJugoslávia, sob uma
e

condição única: o Estado JugOslavo deüa implemenar uma economia de mercado. EsA
ajuda ei<terior, ficou a dwer-se ao facto de muitos púes terem investido fortemente na
Jugosláüa; e ao façlo da Guerra Fria ainda estar presente, daí que a esabilidade jugoslan
continuasse a ser imporante nos jogos geoeskatégicos das potências ocidentais (Rados,
1999: ü2). Outro ano imporante foi o ano de 79Ü, quando para fazer frente ao crescente
défice comercial, o primeiro-ministro da federaSo, oPtou Por reabrir as negociaçóes para
obten$o de empréstimos; assim sendo, o FMI e o Banco Mundial, confirmaram que a§
instituiçôes financeiras internacionais estavam disposAs a 4iudar a Jugoslávia semPre que
esta praticasse turür verdadeira reforma a nfuel económico. Contudo, t'is reforma§
obrigaram o primeiro-ministro a abandonar qualquer esforço destinado a recuPemr o
crescimento económico e, em vez das melhorias desejadas, em Outubro de 19S/ os Preços
do petróleo, do gá" e dos transportes, subiram, os salários diminuíram, as tal§§ de juro
eumentaram, e â moda foi desr"alorizada diversas vezes. Em 1989 ean de infla$o mensal
atingiu os 2500 por cento e o desemprego foi em média de 14ol" durante toda a década
(Cutileiro, 2@3: 3Ç37 ;I(aldor, 7W: 37 ;Rados, |W: 8l-{2; Rueda 2ffi3l. 29-30).
O primeiro conflito aberto entre as repúblicas viria a acontecer enüe 1985 e 1987'
quando se opuseram a Sérvia e a Eslovénia, dwido a diferentes üsões sobre o socialismo.
Depois de 1985, a perwtroiha viria a exercer um efeito demwratizador nos Balcãs, e foi
precisamente o gue aconteceu na Eslovénia e na Croácia" depois de 1957. A Eslovénia,
adoptou um socialismo mais humano, com aberhra às liberdades fundamenais e com
melhores resulados na economiaz. ASérvia, em parte dwido )s srrâs provúrcias autónomas,
I{osovo e Vojvodina estava mais preocupada com a soberania do seu Estado e com a suâ
na§rio, ao mesmo tempo Slobodan Milosevic arrastava a república numa onda de
nacionalismo oscerbado. Quanto ao govemo comunisE da Croácia, durante os enos oitenE
opüou pelo que ficou conhecido como o "silêncio croata". Os croaBs, que tinhem como
objeAivo fundar seu Esado nação desde 1102, optamm por encobrir o objecivo da
o
independência durante tda a década" com o silêncio, que seria quebndo em 1990 pelo lÍder
do HDZ, Franjo Trudjmarq que começou então a falar abertamente na independência da

z que a maioria dos eslovenos


Janez Dmovsek em entrevista ao Der Spiqaet de 2, dE l,tbio de 1989: " Estou conveucüo
desejam 6zer pare de um esado jugoslavo, mas na mndiSo de que seja um estado modemo e democráticor com úna
economia de sucesso, Dão ap€uas ün estado qualquer." (tradu$o nossa) (Dmov:e§ s-d-: 37).

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JucosúvrA: O CoNFLro DB l99l A 1995

Croácia De referir que este objectivo foi desde sempre apoiado e fomenedo pela diáspora
croata, basante numerosa em países como a Alemanha, os Estados Unidos e a Âustúlia.
Fraqio Trudjman contou ainü com o apoio da Igreja Cart6ha. que viria a ser um dos
primeiros estados a recoúecer a Croáçta independente. Na Bósnia-Heruegovina vigorara
um regime de comrpção e arbitrariedade (Girão, 1997:. ffi;Rados, 1999).
 década de oitenta foi ainda cerarlrrizada pela apresenação pública de diversos
programas nacionalises que, no entanto, tiveram um objectivo comum: desintegrar a

Jugoslávia e legitimar o pder dos nacionalistas. Mas a realiza$o dos projecos nacionalisas
não seria fâctl, já, que em todas as repúblicas, com ercepçtio da Eslovénia" existiam fortes
minorias de ouros povos. A desintegra$o do Estado Íâíeral, que começou com rivalidades
enüre as repúblicas, evançou rapidamente para alua pela defesa dos interesses pessoais dos
dirigentes locais, juntamente com a com:pçáo e o agnryamento da situa$o económica
(Nilsic e Rodrigues, 19Fi6:36; Rados, 799P 86). Segundo Rados (1999: 86) "Os tr& pilares
do sistema daJugoslávia pós-Tito (o Partido Comunisu, o Estado federal e a economia de
autogestão)já esavam paralisados na década de oitenta."
Em 1986, os membros da Academia de Ciências e Artes da Sérvia elaboraram um
tsrto intitulado " O Memorando sobre a Posi$o dos Sérvios naJugoslfuia"u, que viria a ser
adopado como prognmra por Slobodan Miloswic. O novo objeaivo nacionalisa sérvio
passaria enÉlo a sen tdos os sérvios num só Esado. O Memorando, no seu essencial,
abordarra a situaçáo dificil em que a Sérvia se encontrava dentro daJugoslávia, e que tal
situa$o era da responsabilidade, sobrefirdo, de croatas e eslovenos, e que os sérvios nunca
haviam sido recompensados pelos sacriftcios feitos para a criaçáo daJugosláüa. Fazia ainda
referência ao facto de as medidas tomadas por Tito, terem sido uma forma de castigar o
povo sérvio, e que aquele, para conseguir umaJugoslávia forte, havia seguido uma política
de manutenSo de uma Sérvia fuca. Também a nível económico os sérvios teriam sido
prejudicados, quando comparados por enemplo com a Eslovénia e com a Croácia. Â situaSo
no l{osovo era igualmente abordada, sendo referida como utna guerre contra a popula$o
sérvia. O Memorando utilizava ainda o termo "coligaSo anti-sérvia", para se refeú a uma
suposta aliang política de croatas e eslovenos cona? o povo séndo Glajdinjak, 2001;
Milisevic, 2005; Ni}sic e Rodrigues, 1996: 201. Rados, 1999: 9*96). De acordo com o
Memorando a na$o sérvia esava "cansada de odas as alegaç&s e culpa.s sobre uma alegada
e defendia que se as outras naçõesjugoslavas desejavam formar os seus próprios
estados, deveriam fazê-lo, rnas nesse caso, os séwios, enquanto única nação que havia
investido o seu próprio estado na Jugoslávia" deveria rnanter todos os territórios onde
existisse uma maioú sérvia, para que 'os sérvios possam Íinalmente üver num só Esado"

B Este docrrmeoo não era o primeiro do génem, recordexe o Memorando escrio em 1844 por Iliia Garasanin.

55
JucosrÁvn: o Coururro DE l99l A 1995

(Nilrsic Rodrigues, 7996235-36).0 Memorando indicara ainda que, a siflraçáo dos sénrios
e

na Croácia era crucial para a unificação nacional, e colocava o confliO servo-crc,ate no centro
do problemajugoslavo.
as relações na Jugoslávia eram dominadas por
No final da década de oitenta,
completo pelos nacionalismos desenvolvidos nas repúblicas (Rados, 1999: Ü). Tudo se
acelerou com o aparecimento do líder sérvio Stobdan Milosevic, que se aproveitou da
frustra$o dos sérvios e da perda de influência da Sérvie no seio da Jugoslávia cornunista,
para criar um sentimento anti-titisa e nacionalista- Slobodan Milosevic iriâ â§sentar a suâ
campanha nos temas abordados no Memorando e desta forma conseguiria mobilizar a
popula$o e finalmente chegar ao poder. Tendo em üsta estes objectivos, seleccionou
especiÍicamente dois temas: o primeiro - necesúrio para ganhff o apoio poPular, num paÍs
que se debatia com graves difiçuldades económicas e onde o despesismo e os privilégios
eram evidentes - a luta contra os privilégios da noruerúeianra, o desperdício e a comrpçáo,
lua esa a que Miloseüc daria o nome de "revolução antiburrcrática"; o segundo, a situaéo
dos sérvios no Kosovo, que alegadamente e de acordo com o Memorando, sofriam a
opressão da maioria albanesa do l{osovo e eram útimas das politicas anti-sérvias e genocidas
no l(osovo (Garde, 7992:25Ç?55:l Sowards' 2004).
No dia 24 de t$al de 1987, Miloseüc deslocou-se ao I(osovo, onde fez o que foi
considerado mais imporante discurso de toda a sua carreira política e que o iria
o
transformar num herói para muitos sérvios. Âí proferiu a famosa Êase "Não se PreocuPem'
serão protegidos. O Kosovo é parte integrante da Sén i4 e não permiúei que ninguém vos
volte a bater" §iksic e Rodrigues, 19962 95). Entretanto, Slobodan Milosevic havia tomado
o @er no PaÍtido ComunisA Sérvio e conseguiria ainda alargar o §eu pder ao
Montenegro e às regiões autónomas da Vojvodina e do l(osovo, através de uma série de
demissões e substituiçôes forçadas entre 1988 e 1989. Miloseüc conseguiu desa forma" o
con6olo de quatro das oito entidades federais da Jugoslávia logo, meade dos assentos da
Presidência Federal, conseguindo ainda o controlo toal dos meá.ia, o que iria facilitar a ac@o
de propaganda da sua campanhaTa. Em Março de 1989, Slobodan Milosevic retira a
autonomia à Vojvodina e ao l{osovo por meio de alteraçóes à Constitui$o da Sérvia ç
coloca o l(osovo sob um regime de ercepçâo, o que permitiu o despedimento maciço de
albaneses no sector público (Cutileiro, 2CÍJl2: D9; Garde, 7992: ?57'258; Rados, 7999: Ü-
88; Rornr, 1998: 745). Com a nova Constitui$o, a minoria sérvia do I{osovo foi
transformada em maioria, e os albaneses foram tansformados em minoria (Rados, 1999:
e7).

7o
all the mediâ were controlled by the regime and were efiectively passi"g ú" qerygÉ that regime wanted
"(...) o be
passed. This was again a messâgB of úaimidtiou ond suffedn& a m"etass úrt
t-.!ffid and Serbia have to be
à.f"oa.a. Ooo AJ"o".t"rt 4 íh" media presented only viaims Êom the Serbian side" (Milisevic' 2@5: I1).

56
Jucosr,Ávre: O Coun no DE l99l A 1995

Ao mesmo tsmpo, dwido às reformas económicas que vinham sendo


implemenadas na Federaçáo jugoslav4 iniciam-se uma série de grwes, a infla$o sobe e o
primeiro-ministro Branko Mikulic acabaria por se demitir em 1989, sendo substiírído por
Ante Markoüc. Em 1989, a situação económica daJugosláüa era desastrosa e, sob pressão
dos credores intemacionais, o govemo liderado por Ante Markorric, decidiu realizar uma
nova reforma económica e política, que foi uma das mah avangdas de todo o hste
europeu. Como resulado o sistema de autoges6o foi consideravelmente reduzido, foi
conseguida uma significativa reduçáo da ta:<a de inflação e os preços mantiveram-se estáveis
ao longo de 1990. A opinião pública tanto intema como extsrna, foi basunte favorável às
reformas adoptadas pelo novo govemo, no entanüo segundo Rados (1999: B-85), o
primeiro-ministro cometeu o erro de não dil e etensáo derrida aos problemas políticos
intemos e aos poderes das repúblicas, que por aquela altura estavam já demasiado
preocupados com os seus próprios objectivos e daí que não se tenham empenhado pam que
as reformas atingissem os objectivo pretendidos. "Nem os parceiros extemos fizeram algum
esforço para apoiar uma transformaÉo democrática e económica daJugoslávia comunista -
por via pacÍfica" (Rados, 199: 85),
Entreanto a nfuel intemacional, os acontecimentos sucediam-se. Em 1989 cah o
muro de Berlim, e a Comunidade Europeia declarava a sua posição oficial em relação à
Jugoslávia: "manter a integridade territorial e a unidade deste Estado, mas transformá-lo
num paÍs com um sistema político democútico e com unu economia de mercado" (Rados,
7%9: 138). Este apoio à integridade e unidade daJugoslávia teve como principal motivo o
facto de que, enquanto existhse a União Soviética, não era desejável que uma Hera$o
semelhante fosse desmantela.la, hto porque o desmantelamento de uma federa$o podia
Provocr o desmantelamento da outra Por isso a comunidade internacional, nomeadamente
os Esados lJnidos, a CEE e a União Soüétic4 estiveram de acordo em 1989 e 1990, dando
o seu apoio a umaJugoslávia unida e demerática e posteriorment§, a 23 deJunho de 7991,
a CEE dava a conhecer a sua posição de não recoúecer declarações unilaterais de
independência das Repúblicas jugpslânas (íhid.: 138-140).
A seguir a1989, finalmente ocorria o colapso dos regimes comunisbs da Europa de
I-este e o seu impacto viria a ser decisivo no desenrolar dos acontscimentos (Girão, 1D7:
68).

57
Jucosúvre: o CoNn rro DE l99l A 1995

CapÍturo III
O CoNTLITO

Na década de oitenta, para além das divergências que opunham Belgrado, Ijubljana e
Zagreb, a represúo sérvia no Kosovo, após os primeiros tumultos logo em 1981, implicara
um aumento das despesas miliares, para as quais as repúblicas do Norte da Jugoslávia a
Eslovénia e a Croácia, não estavam dispostas a contribuir. A Eslovénia decidiu entáo
suspender as sues contribuições para o orsâmento federal, entrando em conÊonto com a
Sérvia- Miloswic entetanto alarmara as outras repúblicas - já apreensiras dwido ao
discuno nacionalisa adopado pela Sérvia - ao retirar as autonomias do Kosovo e da
Vojvodina. Sem Tito, o poder central praticamente desaparecera e depois de Gorbachor', o
contexto internacional dei:sra de incentivar apoios financeiros dos países ocidentais à
Jugoslávie (Cutileiro, ?-Cfi3 4l; Garde, 19/22 2&). "Ente 1989 e 1997, o que resawa da
coesão na Heração desfez-se..." (Cutileiro, 2üJ3:41).

OcauntHopamAGUERRA

1990

O ano de 1990 seria um ano decisivo. O presidente da Presidência Federal pretendia


levar à assembleia Heral, para serem discutidos, essuntos como a democratização polític4 o
pluralismo, a repressão sérvia no Kosovo, os direitos humanos, a economia de mercado, a
europeia (Dmoweh sd.), e a partir desse ano, a Eslovénia e a Ctoâcia
intensificam os pedidos para a reorganiza$o daJugoslávia e fala-se numa confedera$o de
repúblicas soberanas. O problema desta proposta residia no faco de que, o governo Heral
passaria a ter apenasi poderes consultivos, pelo que teria menos poderes que o governo das
república.s, o que para os sérvios em inadmissível, tendo em conta que cerce de 30% da sua
popula$o üvia fora da Sérvia e, na sua opinião, delraria de estar protegtda pelo governo

58
Jucosúvr,A: OCoNEIJToDE l99l A 1995

federal ou pelo govemo da Sérvia. Âs exigências da Croácia e da Blovénia, no sentido de


afrounamento da federaSo, continuaram no entanto a aumenar e houve inclusivamente
declarações de que os seus pedidos não fossem aceites procurariam a secessão (Girão, 1997:
68-69; Rados, 7999; 92).
Enüio, entre os dias 20 e 24 deJaneiro, realizou-se o XM e último Congresso da Lip
dos Comunistas üJugoslávia onde se confrontaram directamente a delegação sérvia e a
deleg,ação esloven4 cada uma defendendo ProPosEs oPostas. O Partido Comunista
esloveno propôs a transforma$o d, Lig" dos Comunistas em oito partidos distintos e

autónomos e a opção do sistema de eleiç&s multipartidárias; os sérvios por seu lado,


defendiam um centralismo democútico da Lig" A total oposição de Miloseüc
relativamente às propostas apresentadas pelos eslovenos, levou-os a abandonar o Congresso;
formaram-se assim doh blocos, um constituÍdo pela Sérvia as suas duas províncias (I(osovo
eVojvodina) e o Montenegro, liderado por Milosevic; e outro, formado pela Croácia pela
Bósnia-Herzegoüna e pela Macedónia- O Congresso acabaria por ser adiado e mais tarde a
S§ seria nnahente desmantelada e Rdrigues, 1996: 1@; Peretra' 1995: 655;
§ilsic
Rados, 1999:88 Rueda ?-ffi3 42). Devido ao impasse que se viüa e na impossibilidade de
aproraçâo das medidas propostas, foram agendadas eleições multipartidárias a nÍvel das
repúblicas, que se iriam rezilizar primeiro na Eslovénia, que cada vez menos se identificava
com o comunismo, üolaçóes de direios humanos, especiÍicamente no Kosovo, e que via a
integração na União Europeia como única forma de sahrar a economia jugoslavaTs
(Dmovse§ s.d.).
um dos problemas da Constitui$o da Jqqslávia, residia no facto de, apesar de
contÊmplar o direio à secessão e à autodeterminação das repúblicas, especiÍicar que as
fronteiras não poderiam ser alteradas sem o consentimento de todas as repúblicas e
províncias e einda, que as fronteirâs entre as repúblicas só poderiam ser alteradas pr mútuo
çonsentimento. Para além disso, referia que as Forgs Armadas jugoslavas deveriam
defender a soberania, independência e integridade tÊrritorial daJugosláüa- Tudo iso, aliado
ao facro da Sérvia deter quaEo dos oito votos da presidência federal, tornava praticamente
impossfueis quaisquer alterações à constituição, pretendidas pela Eslovénia e pela Croáci4 de
forma a saírem de forma legal da Federação Jugoslava (Drnovseh s.d.; Girão, 7997: 69;
Rados,1999zV2).
Como em todo o bste euroPeu, a grande viragem naJugosláüa dar-se-ia com es
primeiras eleições multipartid,árias em 1990 e, segundo Ni*sic e Rodrigues (7996:76-77),

75
Dmovsek (s.ô: 107): "they [§A] had damaged ÍiíemlYugoslávia wiú the Ifusoro crisis, the repression there and the
úuse of human rights, and úat vrbat txas happening in Slovenia was in fact noúing more tlau a normal response o the
undemocraú pmgress of events iu Serbia, and specifically in Kosovo, and a defensive reaction üe erter more explicit
Greater Serbian nationalism tbat was tbreatening the oúer nations in Yugoslavia and which had úeady brought dovm
more democratic regimes in Montcnegro, Vojvodina and Kosovo and was now threetening otheͧ-"

59
JucosúvlAr O CoNFLITo DB l99l A 1995

foram os próprios eleitores que votatam ersctamente naquilo que pretendiam, ou seja, uma
forte dose de retórica nacionalisa por parte dos líderes partidários. Âo longo do ano de 1990,
decorreram as campanhas eleiorais para as primeiras eleições multipartidáriari, que iriam ser
influenciadas pelas aspirações nacionalistas expressÍs nas obras de dirigentes como Alija
Izetbegovic, na Bósnia-Herzegovina e de Franjo Trudjman, na Croácia Essa.s obras viriam a
ter um papel fundamental sobre a opinião pública e na acção política que se seguiu. Existiu
no entanto, um elemento comum aos diversos objeaivos nacionalises dâs váries repúblicas,
alepdamente todos os povos que habiAvam a JugOsláüa corriam Perip: todas as naçóes
jugosla*,as tinham sido vítimas dos sérvios; os sérvios por seu lado, consideravam que
tinham sido postos em perigo por todas as outras nações (Nil<sic e Rodrigues, 7996:36).
Desta forma" ao longo de 1990 os diriçntes locais destruíram sistematicamente as
reformas do primeiro-ministroAnte Markoüc e não houve eleições para a federa$o, já que
na realidade nenhuma república as queria, para não dar legitimidade ao govemo Íêderal. Na
opinião de Rados, o único objectivo dos novos líderes consistia em anular a legitimidade da
S§, e substituiJa peta nova legitimidade nacionalisa, pelo que nes eleições das repúblicas
predominou um só tem4 o nacionalismo e a independência nacional. No enanto, a nova
democracia e a sua legitimidade democútica eram falsas; os eleitos eram nacionalistas que,
logo que tomaram poder, comesaram a tra\zr a oposiçáo, a limitar a liberdade de
o
imprensa, e conservar o controlo económico e no çral, todos os novos poderes oPeraram
uma tremenda guerra propagandística (Rados, 199: 89'9O). Segundo Milrrra Djilas (apd
Rados, 7999:97) ' as novâs geraçfu dos políticos são tanto mais bem sucedida.s quanto mais
propagam o nacionalismo frequentemente e:rtremista'e desta form4 de acordo com Rados
(7999 91), a transi$o dos poderes naJugosláüa comunista, tal como nos ouEos púes do
Leste europeu, realizou-se "por via dos nacionalismos virulentos e demagógicos"'
Milan Kucan, candidao às eleições na Eslovéni4 havia apresentado como objeaivo
durante a sua campanha" libertar os eslovenos da fuerago jugoslarta, urna vez que esta se
apresentave adavez menos venBjosa para aquela república que enr visa pelos eslovenos
como o cofre pagador das repúblicas pobres e ainda tinha de contribuir para as despesas da
represúo no l{osovo, com a qual discordava; para além de que, se senú cada vez mais
ameagda rus suas liberdades pelas aspiraçóes hegemónicas da Sérvia (Cutileiro, ?.ffJ3l.63).
No segtrimento desta polític4 em Março76, o Parlamento da Eslovénia adoptou uma série de
emendas à ConstituiSo e eliminou o terÍno "socialisa" detodos os organismos oficiah.
Ao longo de Abril e Maio de 1990, fonm realizadas as primeiras eleições
multipartidárias na Eslovénia e na Croácia, que resultaram na vitória do anticomunismo e
do nacionalismo, ao mesmo tempo que se registava também nas outras repúblicas, uma

Já em Sercmbro de 1989 tinham sido realizadas alteràsões à ConstituiÉo da EslovéEia que lhe daum o direio à
76

autodetermina$o e secesáo (Tschenccher' 2(M).

60
JUGoSúVIA: O CONFLTTO DE I99I A 1995

forte reac6o contra a política nacionalista de SloMan Miloseüc. Na Eslorréniq o primeiro


presidente eleito foi Milan lfucan, ele próprio um ex-comunista; ra Croâcra ganhou o
FÍDZn,de Franjo Trudjman, um partido com características da direia nacionalista §ilsic
e Rodrignes, 1996: 45:Perer4 1995: 655;Rados, 7999: 89).
Com a ütóú de Trudjmarlteve inÍcio um movimento de cont€§tago da
permanência da Croácia na Federa$o Jugoslava- Antigos símbolos do NDH, como por
oremplo burdeira, começaÍam novarnente a ser utilizados, o que Provocou o medo entre
a

os sérvios, com receio de uma repeti$o dos acontecimentos da II Guerra Mundial.


Entretanto as autoridades croatas começâclm a despedir os sérvios dos cargos públicos, com
o argumento de que estÊs haviam sido beneÍiciados durante aJugoslávia comunista, em que
40% dos membros do Partido Comunisa da Croácia e 67o/o dos elementos da polícia da
Croácia eram sérvios e incentivaram a peneguiçáo aos sérvios que viviam em Zagteb e
nouüras localidades (Rados, 7999;730-137). Em resposta foi criado em Knin na Dalmácia o
Conselho Nacional Sérvio, que organizou um referendo em AgOsto de 1990 sobre a
permanência da Iftajina r:nCroâcb,que mostrou o desejo dos séwios pela permanência na
Federa@o Jugoslara - referendo esse, considerado ilegel e inválido pelo govemo croata - e
foi proclamada a autonomia de vários territórios de maioria sérvia na Croácia (Gitão' 7997:
92; Rados, 1»g). O medo e o sentimento nacionalista dos sérvios d, K.qii* foi ainda
incentivado a partir da Séwia, onde se úrmava que os sérvios da Croácia tinhem direio a
defender-se do "Esado utasha de Fmqio Trudjman' (Rados, 7999t730). Nesse mesmo ano,
o Conselho Nacional Sérvio proclamara a Região Autónoma Sérvia da I(rajina.
A 2 deJulho de 190, a Assembleia da Eslovénia, decidiu aprovar uma declaração de
soberaniq ne quel afirmarra úo reconhecer a Constitui$o jugoslava nem a§ outra§ lei§
federais, ficando assim cada vez mais Pelto da secesúo (Ischentschet, 2004; Markovic,
1995). No mesmo mês, o parlamento croata" eliminava a denominação "socialista" do título
da república ral como a Eslovéniajá havia feito, e relegava o uso do alfabeo cirflico aPeruui
às zonas onde os sérvios eram maioria. Na Sérvia o Partido Comunisa anunciou a sua
dissolu$o, provmda pela exigência da oposição em realizar eleições livres, e a criaçáo de
um novo partido denominado Partido Socialisa Sérvio (Grande Enciclopédia Portuguesa e
Brasileira, 1991: 305-308; Markovic, 1995).
As eleiçóes multipartidárias na Bósnia-Herz.egoitra78, que tiveram lugar durane os
meses de Novembro e Dezembro de 1990, resultaram na esmagadora ütória dos três
grandes partidos nacionais, que representâ\ram as diversas alternativas émicas da populaçáo
da Msnia- população muçulmana votou maiorihriamente no Partido de Âc$o
A
Democútica de Alija lzetbegovic, que obtwe 86 lugares; os sérvios votemm no Partido

7 União Demosática Croata ou Comunidads Democútica Croata' formada em Fwereiro de 1989'


ã Em Novembro decorrem também as eleiç6es multipartidárias ne Macedó''ia

61
JucosúvlA:OCoNrLIroDE 1991 A 1995

Democrático Sérvio, de Radovan Í{aradzic, comT2lugares; e os croatas vohÍam notsíD.Z,


Comunidade Democnítica Croat4 uma entensão do partido de Trudjman" que ficaram com
44 lugares. Foi enáo formado um govemo conjunto e Aija Izetbegovic, enquÍmto lÍder do
maior partido, romou-se o presidente do Governo de coligação da Bósnia-Herzegovina
(Girão, L997:7};Nilsic e Rodrigues, 1996; Rados, |W:%;Rueda' 20fl,3:43).
D"pois das eleições, foram adoptadas novas Constituições nas repúblicas, dando a

esus o primado absoluto perante a federaSo. Â Croácia adoptou e stra novr ConstituiçáoD a

22 de Dez,errbro de 1990, na qual se proclamava como um Esbdo soberano e

pluripartidário. Bsa altera$o iria no enürnto, aumentar ainda mais a tensão entre os sérvios
e os croatas já que, enquanto a Constitui$o federal de 7974, definia a Croácia como "Estado
de croatas, sérvios e ouffos poyos que aí üvem", Trudjman argumentou que o novo terÚo
deveria ter em conta que os sérvios constituíam apems onze por cento dos habiantes da
Croácia e assim a nov.a Constinri$o passou a definir a Croâcra como 'Estado nacional do
povo croata, e de todos os séwios, mUçulmanos, eslovenos, húngaros e checos qUe sejam
seus cidadãos nacionais". Desa forma, os sérvios deixaram de ser considerados como povo
coustituinte, para passarem a esar equiparados às outras minorias dentro da Croácia (Girão,
1997 : 70; Rados, l99: 89).
Seguidamente os novos @eres procuraram legitimar a soberania estaal dos
Esados-república ararrés de plebiscitos, pelo que foram realizados referendos sobre o futuro
esbtuto em todas as repúblicas: na Blovénia foi realizado a ?3 de Dezembro de 1990, e
mostrou a vontade dos seus povos pela secessão e independência da república; na Croácia a
19 de Maio de !9Bl, e na Bósnia-Herzegovina a29 de Fevereiro e 1 de Março de 1W2
(nesa última como pré-requisito ü
Comunidade Europeia para o seu reconhecimento)
(Kipp e Thomas, 193; Markovic, 1995; Rados,l99:97).
Por último, em Dezembro de 19fl), ambém se realizaram as primeiras eleiçóes
multipartidárias no Montenegro, gurhas pelos ex-comunistas pró-sérvios e na Sénda, onde
foram boicoadas pelos albaneses do Kosovo e donde saiu vencedor o partido socialista, ex-
partido comunista; Miloseüc foi eleito o presidente da Sérvia (Rados,1999:90).

1991

O ano de 1991, começou com urnâ ordem da Presidência Federal para a dissolução
de todas as formaçôes paramiliares (fazendo uma referência especial à Croácia e à enrada
de armamento ilegat dâ Hungria" também com o apoio da Iúlia e da Áustria) e que dava o

r A Eslovénia adoptou a nsva ConstituiÉo a 23 de Dezembm de 1991

62
Jucosúue: O CoNruto DB l99l A 1995

prazo *é 21 de Janeiro para que fsÍhq as arrrus fossem enEegues ao JiNÂ (Grande
Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, 7997: 3&S;Drnovsek, s.d.: 220).
Entretanto durante o mês de Março, verificaram-se divergências internas na Sérvi4
em oposiçáo a Slobodan Miloseüc, tendo sido organizada pela oposição no dia 9, uma
manifestação que acabou com a cidade de Belgrado ocupada por blind«los do e#rcito.
Vários dirigentes da oposição viriam a ser presos nos dias seguintes àqueles distúrbios
(Niksic e Rodrigues, 7!)6t316; Drnovselg s.d.: ã6).

AcrreRRA

Ap6s as eleições na Croácia, as populações sérvias da I(rajina e da Eslavónia Oriental,


viram com receio a subida ao poder de Fraqio Trudjman, e reruscemm os receios pela
repetição dos acontecimentos ainda bem presentes nas memórias dos sérvios da Croácia.
Por seu lado, Miloserric junamente com os chefes nacionalisus das regrões sérvias da
Croácia e com a colaboraçáo da imprensa sérvia, contribuíram para aünar esses receios em
vez de os acalmar, rüna vez que, na opinião de Cutileiro QffJ,}. 67) tal era conveniente eos
seus planosm.
Iogo no irúcio de 1991, os sérvios da Iúqiina declaram-na separada da Croácia, e nos
meses de Março e Âbril, ocorriam os primeiros confrontos entre as milÍcias sérvias e a
osepamr
polícia croata- O JNA foi entáo enviado Para a Croáci4 com a missão de os

beligerantes e restaurar a ordem" e em Setembro, o governo croata ordensra o cerco às


crsernari doJNd tendo.se iniciado os confrontos directos entre o§Âe o e:rército croata
(Cutileiro, 2@3: 154; Rados, 79992 730.13li Saé2, 1993: 721'723)
Entretanto na Bósnia-HerzegwinU a27 de Fwereiro, Alija Izetbegoüc afirmava no
parlamento que estava preparado pam essegurer a soberania da Bósnia-Herzegovina
Segundo as palavras de Izetbegwic: "Sacrificarei a paz pela soberania da Bósnia-
Herzegoün4 mas nli,o sacrificarei a soberania da Bósnia-Herzegovina pela Paz". Para os
sérvios estas palavras foram como uma declaração de gUerra, pelo que §e recusarrm a
discutir a declaração sobre a soberania da Bósnia-Herzegwina, ProPosta Por um Projecto
conjunto do SDA e do HDZ (Niksic e Rodrigues, 1996:79). No dia 25 do mês seguinte,
tudo indica que os líderes da Sérvia e da Croácia, Slobodan Milosevic e Franjo Trudjman,
antevendo os acontecimentos por vir, tiveram uma reunião para alegadamente diüdir a

m
"Mais grarre do que urdo, a gente de cada um dos lado, incluindo os próprios chefes políticos, estara inteiramente
couveucida que tinh, raáo no que pensawa sobre os desÍpios maliguos da gente do outro lado" (Cutileiro' 2$3: 6fl

63
JucosúvrA: OCoNFLnoDB l99l A 1995

Bósnia-Herzegovina entre si §iksic e Rodrigues, 7996:64; Rados, 1999:776; Rueda 2003:


4).
Em Maio realizarram-se os referendos na Croácia- O dos sérvios d, t<rSii"r' a 72 de
Maio, em antecipação ao referendo marcado pelos croahs, com o slogan "se a Croâcra-
continuar na Jugoslávia queremos uma autonomia cultural; se a Croácia ficar fora da
Jugoslávia queremos a unifica$o com a Sérvia." (Rados, 1999:91), tendo sido aprovada a
sua permanência naJugoslávia. Iogo de seguida iniciam-se as hostilidades e no final,do ano
de l!p1 seria prelamada a "República da lGqiina Sérvia" independenter eue se viria a
extinguir em Agoso de 1995. A Croácia fez o seu referendosl sobre a independência no dia
19, no qual 92"/o dos croatas votamm a favor da secessão daJugoslávia (Cutileiro, 2N3;67;
Girão,1997; Niksic e Rodrigues, 1996:376). No final do mês de Maio, Franjo Trudjman
faria uma visiA informal ao govemo alemão, altura em que segundo Rados, teú sido
encorajado a aumentar a intensidade do conflito com oJNA (Rados, 1999: 145).
No que respeita à posiçáo da Comunidade Europeia perante o conÍlito jugoslavo,
esb er4 em 1989, a de manter a integridade da Jugoslávi4 o que coresPondia de certo
modo, à continuação da política orercida durante a Guerra Fria Num contexto
intemacional carzaeiz.ado pela queda do muro de Berlim (1989), pela insabilidade política
pelas mudangs no kste europeu e apreensão com o desmembramento da IJRSS, a
Comunidade Europeia negligenciou os acontecimentos da Jugoslávia e só se empenhou
realmente numa resolução do conflio daJugoslávia depois dos incidentes ermados terem
eclodido. Consequentement§, foi jí
em 1997, a 29 e 30 de Maio, que Jacques Saner'
presidente em e:<ercício do Conselho Europeu, eJacques Delors, se deslocaram a Belgrado,
a pedido do govemo federal e das repúblicas da Bósnia-Heruegovina e da Macedónia para
oferecer dinheiro da União Europeia e co
/encer as partes a fazer as Pezes antes que
entrassem em guera aberta- Slobodan Milosevig Franjo Trudjman e Milan Ku@n,
responderam que a mediação da CEE não era necesúria (Cutileiro, 2ffi3:. 12-73; Rados,
199: 139; Woodward,2@0: 155).
Apesar da desintegra$o iminente e quando Jugosláüa esBrra Prestes a imergir na
a

guerr4 no mês deJunho de 1991 ainda seria feig uma derradeira proposta sobre a reforma
do Estado federal pelos presidentes da Macedónia e da Bósnia-Herzegoün4 que
pretendiam a forma$o de uma esp&ie de Comunidade dos Estados Independentes,
semelhante à que sucedeu à URSS. Slobodan Milosevic e Franjo Trudjman acabariam no
entanto por rejeitar esta proposta (Cutileiro, 2003:40;Nilçsic e Rodrigues' 1996).
A declaração de independênciae da Eslwénia e da Croácia chegaria no dia 25 de
Junho de 1991, tendo sido logo suspensa a ConstituiSo daJugoslávia nos seus territórios.

8r
Este referendo foi boicotado pelos sérvios.
e A Maceddnia proclama a sua soberania a 15 de Seembro (Nibic e Rodrigues, 79962 378)

@
JUGoSLÁVIA: OCoNFLIToDE I99I A 1995

Os eslovenos colocaram de imediato os seus soldados nas fronteiras com a Áusria e altÁliu
as fronteiras da República da Eslovénia da SFBJ, agora extemas. No dia seguinte, o Govemo

Federal, anulou a decisão, declarando o acto ilegal e o JNA, conforme a Constitui$o da


SFBJ, foi enviado com a missão de conrolar as fronteiras erúemas da Federago, e alguns
enclaves esratégicos ocupados pelas forgs eslovenas. O enército fferal awmçou Para a
Eslovénia e cerql de um mês depois, as tropas retiravam pxaaCroáaa depois da assinatura
de um cessar-fogo, a 3 de Julho, entre o erército federal e a defesa da Eslovénia e dos
Âcordos de Brioni, a 7 de Julho, por pressão da CE. Três meses depois, em Outubro, a
Eslovénia em um EsAdo independente e em Janeiro de 7992 era reconhecida pela
comunidade intemacional. A relatirra facilidade com que a Eslovénia obteve a sua
independência quando comparada com a Croácia ou com a Bósnia-Herzegoüna ficou a
dever-se principalmente ao facto de lá viverem poucos sérvios, daÍ o pouco interesse de
Belgrado em mantê-la na federa$o. O conflito na Eslovénia foi o primeiro conflito armado
na Europa após a tr Guerra Mundial, gue durou dez dia.s e em que foram regisados cerca de
49 mortos e 187 feridos doJNÀ e 10 mortos do lado dos eslovenos (Cutileio, 2AA3:63-64:'
Nilrsic e Rodrigues, 3947; Sáez, 7993: l2D-121;Yalle, 2001: 110).
19P16

O caso da Croácia pelo conrário, não se iria assemelhar ao da Eslovénia nem em


duraçâo, nem em vítimas. Â independência desa república marcou o inÍcio de um conflito
entre a maioria cronta e a minoria sémia (11% da populaSo total da república), que era
maioritária nas regiôes e f."ji"n Eslavónia Ocidental e Eslavónia Orienal. I-ogo que a
Croácia proclamou a independência" fonnâràm-se milÍcias irregulares sérvias, que iniciaram
ataques às forgs da polícia croata, "libertando" os territórios onde vivam populações sérvias.
O exército fferal aproveitou estes eventos para se declarar força de interposi$o entre es

duas comunidades, mas beneficiou efectivamente os sénrios (Sâe2,7993:121'123).


Segundo Rados (1991: 129), no momento da prclamação da independência da
Croácia, a 25 deJunho, os croatas ainda não estevam preparados Pare a guerra e queriam
saber qual seria a resposa à declaração de independência da Eslovénia particularmente da
Âlemanha daÍ que se mostrassem mais cautelosos. A acrescentar a isto, a otal oposiSo da
numerosa minoria sérvia da Koji"r, que se mostrou inteiramente oposta à declara$o de
independência da Croácia (Rados, 19W: 729). No inÍcio
de Julho ocorrenrm grirves
incidentes em Zageb e rapidamente a üolência se espalhou a oufrs regifu da Croácia.
.Assim, entre â Primavera e o Veráo de 1D1, comesavlr a guerra rn Croáaa entre croatas e
sérvios, e na qual o o<ército federal jugoslavo, que dweria interpor-se aos combatentes,
tomou o partido dos sérvios e participou entre outros, na destrui$o de Vukovara e no

83
 cidade de Vukonar, situada na Eslavóuia Orieoul perto da Êonteira com a Sérvia, era considerada estratégicq uma
vez que constituía rrm, passaggm entre a Sérvia e as zouur de popula$o sérvia nas partes ocidenais da Bósoia e da
Krliina sendo ainda urna fonte de petróleo. No Outono de 191, verificaram-se fortes combaes à vola de Vukovar gue
Gz om que muims croatas fugissem dâ cidâde (Rados, 19991 13f ; Soqràrds, 2m4.

65
JUGo§úVIA: O CoNFLITo DE I99I A 1995

bombardeamento de Dubrovnike. Os sérvios croatas seriam ainda apoiados por unidades


paramilitares provenientes da Sérvia; por seu lado, as forças paramilitares croatas, tarnbém
iniciaram açtos de üolência, cercando as cÍsenus do exército federal durante úrios meses
(Cutileiro, 2003: 68-69;Nilçsic e Rodrigues, 1996: 46).
Iogo ,pós a declaraçáo de independência da Eslovénia e da Croácia, a CE decidiu
enviar duas missões de representantes nos dia 28 e 30 de Junho, Para tentar resolver
pacificamente o conflito e no dia 5 de Julho a CE tomarra as primeiras medidas concretas:
um embargo à venda de armas e suspensão do protocolo financeiro com aJugoslávia. Os
Acordos de Brioni foram finalmente assinados no dia 7 deJulho de 7991, por iniciathra da
missão da CEE, pelos representantes da Croácia, e da Eslovénia e pelos represenantes das
autoridades federais. Nestes acordos, que representa,Jrirm a primeira interven$o oficial da
CE no conflito balcânico, constarra um cessar-fogo imediato, a retirada das tropas do §A
para as casernas, a desmobilização das forças eslovenas e a suspensão por três meses da
proclamação de independência eslovena e croâta (Niksic e Rodrigues, 7996:3941:' Rados,
7999;Sáe2,79.3).
Quanto à posição adopada pela comunidade internacional, viria a sofrer alteraçOes
conforme o desenrolar dos acontecimentos. Em Âgosto de 1991, a comunidade
internacional, incluindo os países da CE e os EUd cor»iderarra que a responsúilid«le pelo
conflito naJugosláüa se encontrevà em ârnbos os lados, e a CE estava de acordo quanto à
necessidade enviar uma força de intelposição para witar a escalada dos conflitos na

Jugoslávia. No entanüo, a ainda URSS de Mikhail Gorbachov, considerou que o enüo de


uma tal força seria uma ingerência nos assuntos internos da Jugosláüa posi@o e§ta que
poderia provoc:r um conflito europeu (Rados, 1999). Seria a partir de Âgosto de 1991 que,
segundo Rados (799: 733-1M), a Alemanha iú iniciar o apoio propagandístico à Croácia.

Nesse mês ainda, teire início um aaque doJNÀ a Vukorrar, na Eslavónia Oriental, que iria
durar de Agoso t Novçmbro de 1991, quando ficou sob controlo das forgs sérvias
17 de
(Nilrsic e Rodrigues, 19Fi6:, 631' Sá'e2,1993:122). Segundo Sfuz, as imagens da capitulaéo
daquela cidade iniciaram uma mudança na atitude por parte da comunidade intemaciond.
A 8 de Agosto de 1997 parou oÍicialmente a guerra na Eslovénia, enqrümto na
Croácia aumentava a violência (Rados, 1999: 143).
Enketanto, a 21 de Agosto, um acontecimento na URSS iria influenciar a nova
posiSo comum da CEE. Nessa data, a velha guarda comunista, Penmtc a perda das suas
atribuições, intenbu um golpe de Estado, tentando travar a transformação política e

económica na URSS. Esa tenativa de golpe de F,stado terminou com a subida ao poder de
Boris lelsin, a proclama$o da independência da Fedenção Russa e, como consequência, o

& A cidade de Drbrormik represena uma enorme fonte de receias de turismo e é onde as estradas do interior atiugem o
Mar AdÉático (Sorarús, 2{D4).

66
JUGo§LÁvtA: OCoNFLIToDE I99I A 1995

rápido desmantelamento do império soviético (Rados, 1999: 1'14). Perante estes

acontecimenüos, segundo Rados (1999: 144), enquanto os Esados Unidos oPBram por não
se manifestar, a Alemanha já reunificada agarrou a liderang da Comunidade Europeia,
utilizando decisfu comuns da CE para atingir os seusi objeaivos de interesse nacional.
as

 queda do império soüético e a subida do nacionalismo na Alemanha iriam ser


cruciais na reuniáo de 27 de Agosto de 7991, na qual foi adopada uma declaração que
alterou a posição comum da CE e ne qual a Croâcia foi aceite pela CE como sujeito do
direito internacional. Nessa reunião foi esabelecida uma Comisúo de Arbitragem e foi
pedido às partes que aceitassem participar numa Conferência de Paz para aJugoslávia; mas
para que a conferência pudesse realizar-se, os combates no teÍreno dweriam parar
(Markoüc, 1995; Rados, 199: 145-146). A Conferência de Paz patrocinada pela CEE,
iniciou os ú:abalhos a 7 de Setembro de 1991§ em FIai4 e foi presidida por Iord Peter
Carringon, do Reino Unido. No enbnto, a§ esPeranças deposiadas na conferência
rapidamente se dissiparam, já que tanto Slobodan Milosevic como Franjo Trudjman, se
refllsaram a aceitar o compromisso proposto. Â segunda ronda da Conferência de Paz foi
convocada para 18 de Outubro de 7991, mas o líder da Sérvia iria recusar-se a aceitar a
independência das repúblicas, dizendo que se neg'àva a aceitar que aJugosláviajá não exisú
(Markoüc, 1995; Nilçsic, 19916; 318;Rados, 1999l. 157).
partir dos meses de Setembro e Outubro foram iniciados os primeiros
Entreanto, a

movimentos coordenados, para bloquear os quartéis do exército Íêderal, Para que est€
abandonasse a Croácia, já que segrndo Sáez (7993: 722), as autoridades croatas, não se
tinham preparado para combater num conflito armado aquelas camcteísticas. Segundo o
autor, tda aquela situaçáo permitiu aos croatas apresentarem-se penrnte a opinião pública
mundial, como útimas da agressão sérvia- A partir de 7 de Setembro de 1991, foram
assinados sucessivos cessar-fogos, num total de quinze, tendo sido sucessivamente üolados.
O último, o chamado Plano Vance, assinado a 2 deJaneiro de 19/2 entre represenBntes do
JNA e do gorremo croeta, apesar de incidentes esporádicos, foi respeiado. Este cessar-fogo
lwou o Conselho de Segurança da ONU a autorizer o envio de capacetes azuis para as
zonis em conflito na Croácia (Niksic e Rodrigues, 7D6:320;Pereira' 1999:655:,5âç2,1993:
1»-12i).
A ideia do envio de uma força miliur dos europeus para aJugoslávia, foi desde cedo
considerada pela CE, para o que deveria ser utilizada a UEO. A ideia do envio de uma forg
de interposi$o europei4 que partiu da Frang e da Alemanh4 seria apesar de tudo Po§E de
lado, numa reunião da UEO a 19 de Setembro de l99l,pelos bri6nicosr Qüe se oPuseram a
este tipo de intervençáo no conflito. Desta forma foi considerada uma oura op@o para a

B No mesmo dia, * 1y1r66[gnia, era realizado um referendo sobre a indepeadência (Markovic' 199Q

67
JucosrÁvra: O CouFuro DB l99l A 1995

forg miliar a intervir naJugoslávia: seria en6o uma força da ONU. Esa forg começou a
sua actuação três meses após o início dos conflitos na Jugoslávia (Rados, 7999: 163;
Woodward,2ffi0: 154).
A primeira acção concreta da ONU foi efeaivada a 25 de Setembro de 1991, pela
Resolu$o 713, quando o Conselho de Segurança impôs um embargo geral à venda de
armas e equipamento militar à Jugosláüa a fim de atenür os violentos corrúates que
sacudiam o país (Cutileiro, 2fi)3: 155; Niftsic e Rodrigues, 7996:' 318; Rados, 1999). No
entanto, segundo Valle (2ffi1: 110), Bona continuou a fornecer secretamente a Croácia em
annas e munições.
A 3 de Outubro de 7997 aconteceu a morte ile jure do Estado Federal, guando o
govemo sérvio, com o apoio do Montenegro, tomou o poder na presidência daJugoslávia; a
partir desse momento, o JNÂ passãrÀ a responder direcBmente a Miloswic. A 15 de
Dezembro de l»7 o parlamento da federa$o era dissolvido e no dia 19 Ante Markoüc
demitia-se do cargo de primeiro-ministro (Niksic e Rodrigues, 7996:,3201, Rados, 7999:V2-
93;Sâez,l93:72-723).
A 8 de Outubro, com o Íim da moratória de três meses estabelecida nos Acordos de
Brioni, as assembleias da Eslovénia e da Croácia, cortaram definitivamente todos os laços
legais com a República Federal daJugoslávia (Markovic, 1995; Niksic e Rodrigues, 1996:
318). No mesmo dia, o Parlamento da Bósnia-Herzegovina proclama a sua soberania e
iniciam-se os combates na república- Para além do problema específico da B6snia-
Herzegoüna enquaÍrto espaço onde vivam numerosas populaçóes de três nacionalidades
diferentes, convém não esquecer a política comunista para a quesüio das nacionalidades.
Antes do regime de Tito, aJugoslávia úo esarra diüdida em unidades étricas, rnari com o
intuito de satisfazer as aspirações e exigências nacionalistas, e evitar possfueis rePresálias Por
parüe dos sérvios devido aos nussÍrcres da II Guerra Mundial, Tito traçou as fronteiras
étnico-geográficas de tal forma que deimram cerca de 307o dos Srvios em repúblicas que
náo a sna (Girão, 1997:72). Na opinião de Girão (|Wt 73) para que o Estado federal
jugoslavo se tornÍsse forte e a diadura se pudesse impor, era necessário acalmar o ímpeto
dos sérvios, que haviam saÍdo da guerra do lado dos vencedores, e estavam desejosos de
vingang conEa os croatas. A solu$o encontrada por Tio foi dividi-los, para atenuer a sua
força (Girãq 197:72-73; Pereira 1999:655)' Ainda a I de Outubro, o secreÉriogeral da
ONu nomeou Cynrs Vance, ex-secreúrio de Esado norte-americano, como seu enviado
especial para negociar um cessar-fogo para a Croácia (Niksic e Rodrigues, 1996: 318). Esu
nomea$o sigrificou, de acordo com Rados (79D:[ff), que o envolümento da ONU no
conflito jugoslavo seria a partir de então, guiado pelos Esados Unidos, Al como tinha
acontscido na Guerra do Golfo.

68
Juc,oslÁvrA: o CoNFuro DE l99l A 1995

Numa sessão da Assembleia da Bó,snia-Herzegwina a 14 de Outubro de 191, Âlija


Izetbegovic propôs a votaçáo da declaração de independência- No dia seguinte o SDA e o
HDZ insistiram na proposu sobre a soberania da república, a que o SDS de Radovan
Karadzic se opôs e acabou por abandonar o hemiciclo, úrmando que o§ muçulnuno§
pretendiam constituir um Esado muçulmano fundamenalista Os depuados do SDA e do
HDZ, que peÍÍümecemm na assemblei4 acabam por adopar a declaraSo de independência
(Niksic e Rodrigues, 7996: 378; Rados, 79Fl9: 177). Alguns dias mais Brde, a 9 e 10 de
Novembro de 79p7, os sérvios bósnios votavem por unanimidade, pela permanência na
Jugoslávia; sendo que no dra24 de Outubro
já haviarn proclamado a Assembleia dos Sérvios
da Msnia-Herzegwine, em Banja Luka" A decisâo seguinte dos dirigentes sérvios Msnios
foi declarar a sua República Sérvia da Bósnia-Herzegovina, a 9 de Janeiro de 19D2,
proclamandea como parte integrante da FederaSo Jugoslava (Grande Encicloffdia
Portuguesa e Brasileira l9V2:347;Niksic e Rodrigues, 1996: 80-81; Sâe2,79)3).
 5 de Novembro Miloseüc recusa, mais uma vez, a proposta de Lord Carrington, a
quara desde o inÍcio da Conferência para ePaz, e em consequência dessa atitude, no dia 8
de Novembro, nurna reunião da CEE, foram adoptadas sanções económicas e comerciais
contra a Jugoslávia, incluindo o embargo petrolífero. As sanções seriam aplicadas àquelas
repúblicas que não contribuíssem para o processo de resoluçáo do conflito, enqrunto que a§
que decidissem cooperar, dnhern a Promess:l de ajuda da Comunidade. DesA Íotma, a2 de
Dezembro de 191, como consequência das rejeiçóes da Sérvia a CEE lsvàntou as sançôes
contra a Croáqq a Eslovénia, a Bósnia-Herzegovina, a Macedónia mantendo sanções conEe
a Sérvia e o Montenegro (Nilsic e Rdrigues, 7D6t'379; Rados, 1D9:152).
A 15 de Novembro de 1991, o Bundesug aProvirya uma resolução exigindo o
reconhecimento da Croácia, e afirmava que a resPonsabilidade ü desintegração da

Jugoslfuiâ era dos lÍderes sérvios, que obrigaram es outms repúblicas, em defesa
própna a
optar pela independência, depois de verem retiradas as autonomias às províncias do Kosovo
e daVojvodina (Cutileiro, 200,3:4).
A 23 de Novembro de 7991 Slobodan Miloserric, Franjo Trudjman e Veljko
IGdljwic (minisro da Defesa da FederaSo), enconeam-se em Genebra com Iord
Carrington e Cyn:s Vance, para assinar mais um acordo de cessar-fop. Dado que os
presentes possúam a legitimidade requerid4 foi feito o conüte para o enüo de epacetes
azuis da ONLI86, reforçado com a assinatura do cessar-fogo. Como resulcldo, o Conselho
de Segurang aprovou t 27 de Novembro a resolução 721, qr;re previa a possibilidade de
envio das forças da ONU com mandato de pwrt-krqiÍrg, ou sej4 forças de interposiSo e

não de combate, nus apenas se as condiçóes no EITeno o permitissem. Essas condições só se

e Para que a força miliar da ONU pudesse âctuar em eniúrio jugoslavo, eÍa necesMrio um conüte formal de uma
entidade interna, reconhecida intemacionalmente (Rados, 1999: 167).

69
Jucosúvra: OCoNFUToDB l99l A 1995

viriam a veriÍicar no final de 7991. A 15 de Dezembro pela resolução 724, íoi enáo
elaborado um plano para a operasáo de paz da ONU, tendo sido enviado um Pequeno
grupo de pessoal da oNU para aJugoslávia- Â 2 de Janeiro de 7992, em Sarqiwo, é assinado
um novo cessar-fogo, pelos representântes do JNA e do ex6rcito croate (Markovic, 19951
Nilaic e Rodrigues, 199 6: 3 79 -320 ;).
EnfeAnto a Alemanha demonstrava o seu empenho no reconhecimento da

independência da Eslovénia e da Croácia- a 3 de Dezembro o presidente esloveno Milan


Kucan, numa deslocação a Bona e após um encontro com Helmut Kohl, declarava à
imprensa ter recebido garantias da Alemanha de que a Eslovénia seria reconhecida antes do
Naal; a meslna declaração seria feita por Franjo Trudjman rês dias depois. No dia 4, a
Alemanha anunciara sanções económicas unilaterais contra a Sérvia e Montenegror (Nilsic
e Rodrigues, 7996:319; Rados, 19D9:7fi).
O mês de Dezembro foi um mês decisivo para a ainda CEE, com acontecimentos
que iriam ter influência nas posições subsequentes da comunidade europeia e na suíl
resposta às decisões unilaterais da Âlemanha Nesse mês, uma reunião de impor6ncia üal
entre os chefes de Esado e ministros da União Europeia teve lugar em Maastricht; o
objectivo dessa reunião era ratificar o Traado da União Europeias, pelo qual seria criada a
moeda única europeia e concebida uma Política Er$ema e de Segurança Comum (Rueda
2ç/133: 60-61; Valle, 2001: 110-111). Tendo em conta a impor6ncia desta reunião para o

futuro da União Europeia, e o poderio daÂlemanha enquento primeira potência económica


europeia e enquanto base indispensável à futura moeda única, e de acordo com Valle (2001:
17U117) aAlemanha conseguiu forçar Brualas, a reconhecer a independência da Croácia e
da Eslovénia. Desa forma, segundo o autor, o Traado de Maastricht
acabou Por ser
assinado, sob a ameaça da não assinatura da Âlemanha (caso não fossem reconhecidas as
independências da Eslovénia e da Croácia), marcando o regresso em forg dos alemães aos
Balcãs. "A unidade daJupslávia acabava assim por ser sacrificada para manter, julgava-se o
da União Europeia" (Valle, 2fr)1: 111). Em reac$o ao reconhecimento da Croáciq os
sérvios da região da l{rajina decidiram tamMm erercer o seu direito à autodeterminação,
reunindo-se numa República independente, nras que a União Europeia não iria reconhecer.
Segundo Valle (2001: 111): "O erro de julgamento dos europeus (...) será faal, pois
provocaráüolentas reacçóes anti-croatas Por Parte de Belgrado".

ú Outro olemplo do apoio da Aemaúa à Croáciâ foi a adopgo no dia 4 de Dezembro, pelo Parlameno de T.egreb
incitado por Bãna de uma lei constitucioral sobre protec$o das minorias, elaborada com a ajuda de um professor
a
alemão (Michael l'ibtzl" Limits oJ PewosiotGanaq ütd dE Yugoslo crisls, 1991-1992, Vestport' lW, W.79-8íJ in
Cutileiro, 2ü)3: 66). I€i esta, €sigidâ pela CE, para o reconhecimeno da independência da Croácie.
B Ou Tratado de Maâstricht

70
Jucosúvr,A: O CoNFuroDB l99l A 1995

No mesmo mês, os sérvios da Bósnia-Herzegwina avisaram que iriam proclamar o


seu próprio Esado independente, caso essa república fosse reconhecida internacionalmente
(Markovic, 195; Rados, 1$9;7Tl).
 16 de Dezembro de l99l foi convocada uma reunião er<tràordinária do Conselho
de Minisros dos Neg$cios Esrançiros da CE, para definir as condições Para o
reconhecimento dos novos paÍses do Leste Europeu e daJugoslávia Entre essas condiçôes
estava a garantia dos direitos dos grupos étricos e das minorias e a continuação das
negociaçóes na conferência de Haia. Âs repúblicas da Jugosláüa que pretendessem o
reconhecimento da sua independência teriam primeiro de requerer o pedido à presidência
da Conferência de FIai4 que por sua vez o submeteria à Comissão de fubitragem, affes da
tomada de decisão deÍinitiva do Conselhos (Rados, 1999:157-758). A Eslovénia e a Croácia
apresenaram o pedido no dia 19 de Dezembro; a Bósnia-Herzegovina e a Macedónia no dia
20 de Dezembro (fuiil.:158).
Finalmente t
23 de Dezembro de 797, a Alemanha, considerando que as duas
repúblicas cumpriam os requisitos prwistos pela CEE e antecipando-se aos §elrs parceiros
comunitários, reconheceu unilatemlmente a independência da Eslovénia e da Croácia,
apesar da sua implemenaçáo de íacto ser aPeÍra§ a 15 de Janeiro de 19ff2 (Girão, 7997: Tl;
Nilaic e Rodrigues, 1916 3?-0; Pereira, 1999: 655; Rados, 19»). O reconhecimento por
parte da Âlemanha do Vaticano, entre outros paGes, antes do reconhecimento pela CEE,
deixou-a perante um facto consumado que a levou ao recoúecimento das duas repúblicas a
15 deJaneiro de 79V2 (Cutileiro, 2ü)3; Rados, 1999: 759;Sáe2,1993:129; Valle, 2001: 110-
111).
De referir que, enquanto que a guerra na Eslovénia foi uma guerÍâ entre o exército
da Eslovénia e o §À composto por úrias nacionalidades, na Croácia o caso foi diêrente; a
partir da Primavera, as repúblicas já se recusavam a enviar recruas para o§Â e a Sérvia e o
Montenegro enrm as únicas a contribuir em homens e remessas para o financiamento do
JNÀ Daqui ter-se fàtado essencialmente de uma guerra entre croatas e sénrios. Â Sérvia

tomara-se de facto responsável pelo §A


na segunda metade de 1991 e o §A Pas§am e
defender os interesses dos sérvios (Rados, 1999:132; Rueda' 2003:.45),
Durante guerre na Croácia, cuja fase mais agrda foi deJulho a Dezembro de 1991,
a

afluíam à república equipamentos provenientes dos arsenais do exinto Pacto de Vanóüa


(Rússrq Ucrânia, Eslováquia e sobretudo da exinta República Democrátie Alemã) e da
Hungriq que constituÍa um canal priülegiado para a passagem de material íornecido pela

Âlemanha- As milícias independentistas sérvias, foram ainda apoiadas em homen§ e material


pelo exército federal dirigido por Belgrado; por ouúro lado, os croatas também ficaram com

s À Comissão de Ârbitragem dweria emiú o seu parecer ad dia 15 deJaneiro; no mesmo dia o Conselho de Minisaos
deveria omar a decisão final (Radc, l989t 157-1fi).

7l
Jucosúvn: OCoNrutroDB l99l A 1995

grande parte dâs armas do§d quando este reúou da Croáci4 em 7997; daÍ que ambos os
lados tivessem amplo acesso a armâmento §iksic e Rodrigues, 1996:748).

7982

No dia 2 deJaneiro de 1W2, Cyrus Vanct, enviado esPecial da ONU, conseguia um


cessar-fogo entre o JNA e o er<ército croatq e a 3 de Janeiro de 1992, após seis meses de
rnassacres de civis, destruiçáo e o<pulsões, a guera era susPensa ru Ctoácta, o que iria
permitir o envio de capacetes azuis para aquela república (Cutileiro,2ffiS:68; Rados, 1999:
163). Â 14 deJaneiro de 1912, chegam cinquenta observadores para aJupsláüa, enviados
pela ONU com a missão de ügiar o cessar-fogg e prepamr o envio dos capacetes azuis
(Nitrsic e Rodrigues, 7996:3?.0;Pereira, 1999:655). Como resultado do respeito pelo cessar-
fogo, o Conselho de Segurança adoptou a ResoluSo 743, de 21 de Fevereiro de 1992, que
decretava a formaçáo da FORPRONLJ, Força de Protecção das Nações Unidas, Para um
perÍodo inicial de doze meses e previa o enüo de 14 mil €pecetfs azuis para a Croácia
(Niksic e Rodrigues, 79Fl6:320; Rados, l9§9). AFORPRONU entral/a no terreno a 9 de
Março e de imediao oJNA iniciou a sue retiradâ da Croácia (Rados, 7999:7(É).
Depois da Croácia e da Eslovénia terem apresenado os seu§ pedidos de
recoúecimento da independência, a Comissão de Arbitragem emitiu a 11 deJaneiro várias
recomendações. Assim, recomendou o reconhecimento da Eslovénia e da Macedónia
considerando que ambas cumpriam os requerimentos necesúrios. Relativamente à Croácia,
a Comissão suçriu que a Constituiçáo, dweria ser modificada de modo a Proteger o
estatuto de autonomia das minorias no seu território. Quanto à Bósnia-Herzegpvin4 para
que pudesse ser reconhecid4 seria necessário que primeiro realizasse um referendo e que a
sua população se mostÍasse a favor da soberania da república(Markoüc, 1D5; Rados, 1999:
109). No seguimento das sugestóes da Comisúo Badiner, a 14 de Janeiro de 19T2, o
presidente Frarjo Trudjman enüou por escrito à presidência da CE uÍna Promessa de que
iria respeiAr os direitos das minorias e do Homem. No entanb, depois d" g,r.t"a em 1995,
seriam feitas alterações que anularam os direitos dos sérvios que pretendiam continuar a
viver na Croácia (Rados, 1999). No dia 15 deJaneiro de 7W2, o Conselho de Ministros da
CE, pressionado pelos alemães, apesar das reticências Êancesas e das recomendações da
Comissão de Arbiragem, decidiu que iria reconhecer a Eslovénia e a Croácia; quanto à
Bósnh-Herzegovina e à Macedónia hsvia ainda assuntos que deüam ser resolvidos,(Rados,
1999; Rueda, ?.N3:45).
Com os seus objectivos miliares na Croácia mais ou menos cumpridos, o qército
federal, retirou para a Bósnia-Herzegoüna, onde seguiu a mesrna e§fatégia que havia
seguido na Croácia: ocupação de territórios que depois eram abandonados e dei:sdos sob

72
JucoslÁu* O Counmo DE l99l A 1995

controlo das milÍcias inegulares sérvias, para que estas lerrassem a cabo o que foi
denominado de "limpeza étnica". Âs cidades convertenrm-se no principal alvo dos ataques,
já que era precisamente aÍ que residia a maioria da população muçulmana §ilsic e
Rodrigues, 1996: 320; Sáe,, 7993: 7?3).
Entreanto na Bósnia-Herzegovina, e de modo a cumprir os requisitos exigidos pela
Comissão Badiner, para o reconhecimento internacional, foi organizado um referendo nos
dtes29 de Fwereiro e 1 de Março de 79V2, de muçulmanos e croatas, que os sérvios
boicoaram (Nilsic e Rodrigues, 7996:.320;Rados, 799;97). Conforme foi divulgado pela
CE, nesse referendo votaram cerca de 66olo dos eleitores inscritos e desses, 99p/o votâmm a
favor da soberania. A Comissão de Badinter considerou que dois terços da população bósnia
tinham votado pela independência e sugeriu o reconhecimento da república" O
reconhecimento seria oficializado no dia 6 de Âbril de 19y2, quando os combates já se
haüam generalizado na Bósnia-Herzegovina (Niksic e Rodrigues, 7996: 83; Rados, 1999:
173-174; Rueda, 2@3: 45-46). Uma das razóes para a esmagadora ütóú da opSo pela
independência" no referendo realizado pelos croatas e muçulmanos, foi o facm de estes não
desejarem ficar vinculados a unur estrutura polÍtica dominada pela Sérvia tendo em conta
que a Eslovénia e e Croí,cia jâ, haviam sido reconhecid"t pl"
CE e tinham abandonado a
Fedemgo Jugoslara (Niksic e Rodrigues, 19,6: 320; Sâez, 1993: 123). Após o
reconhecimento pela CE, seguiu-se o recoúeçimenO pelos EUÂ e por toda a comunidade
internaçional. "O reconhecimento intemacional foi o sinal para que a gueÍra começasse"
(Rados, 7999:777).
Iogp aÉs serem divulgados os resultados do referendo na Bósnia-Herzegoüna de
imediato, membros das forgas paramiliares sérvias começaram a consünrir barricadas e a
esabelecer bases de íranco-atiradores em vola do Parlamento bósnio em Sar4jevo. Os
represententes sérvios no Parlamento da Bósnia-Herzegovina reflrsâram-se e eceitar a
separa$o da FederaSoJrgod*c e optrram porjunar-se aos projectos pansérvios. Era o
começo da guerra na Bósnia-Herzegovina que rebentan definitivamente a 7 de Abril,
precisamente quando a Comunidade Internacional decidiu reconhecer a Bósnia-
Herzegovina como Estado independente Eueda 2003: tt6). No dia 7, a República Sérvia da
Bósnia-Herzegovina { declarava a sua independência em Banja Luka (Markoüc, 1995;
Pereira, 1W9l. 656) e a partir desse mês começavam a chegar ao Norte e Lese da Bósnia-
Herzegoüna" forgs paramiliares provenientes da Sérvia, entre as quais as famosas brigades

deArkan §iksic e Rodrigues, 19962327;Rados, 19992 774178).


O conflio da Bósnia-Herzegovina recebeu uma grande atensão da Comuni'l'de
trnternacional e foi objeoo de pelo menos cinco Planos de Paz, preparados por mediadores

s A partir de 12 de Ag6to de 1992, passaria a denominar-se República Srpslo-

73
JucosúvrA: O CoNFLJTo DE l99l A 1995

estrangeiros (principalmente bri6nicos e americanos). Neste conflito, que iria durar desde
Íinah de Março de 79/2 até Novembro de 195, confrontaram-se não só sérvios contra
muçulmanos e croatas, mas também úToaas contra muçulmanos, que em 1993 e 1994
luaram entre si na Bósnia-Herzegwina Central e na Herzegovina Ocidental, e ainda
muçtrlmanos contra muçulmanos em Bihac, em 1994, A gperra viria a ceifar a üda de cerca
de 100 mil pessoas e expulsar das suas terras Perto de um milhão (Cutileiro, 2OO3:71).
Âpeur de nunca terem estado ausentes, os EUA tiveram um papel secundiÍrio entre
Julho de 1991 e Março de |9V2,akura em que decidiram intervir no conflito que acabava de
rebentar (Zimmermann, s.d.). De acordo com Valle (2N7: 172), os Estados lJnidos,
simultaneamente aliados e concorrentes da Alemanha nos Balcãs, iriam esforçar-se por
agrev:u ainda mais a situaçáo nos Balcãs, a fim de tomar a stla Presença polÍtico-militar
indispenúvel - arriscando-se a que os diüdendos ôssem monopolizados por Bona - e em
Março de l9/2, os americanos inciam Alija Izetbegoüc a rejeitar o acordo concluído em
Lisboa que prwia a partilha da Bósnia-Herzegoüna Se em 1991, os EUÂ defendiam a
unidade da Jugoslávi4 a partir de Março de 79t2, o secreúrio de estado James Baker,
mostrou que os EUÂ desejavam ver a Bósnia-Herzegovina reconhecida A 6 e 7 de Abril
esta era reconhecida por todos os estados ocidentais (Valle' 2ff)1: 112).
À negociações sobre o Plano Cutileiro para e paz nL Bósni4 decorreram entre
Fwereiro e Março de 7!)2, e terÍni&[am com a assinatura da "Declaração de Princípios" a
18 de Março, pelos líderes Alija Izetbegovic, do SDA, Radovan l(aradzic, do SDS, e Mate
Boban, doÍlDZ, em Sarajevo. O documento assinado reconhecia e existência de fronteiras
elúemas na república da Bósnia-Herzegovina e propunha a divisão do território da Msnia
em três unidades territoÍiais (I(aldor, 1999: @), designadas cantões.Já durante o Verão, Alija
Izetbegoüc viria a rejeiur o dwumento, alegadamente incentivado pelos EUÂ (Cutileiro,
2h3t71;Markovic, 1995; Niksic e Rodrigues, 796:81).
A 7 de Abril pela Resolu$o 749, o Conselho de Segurança autot'tzava finalmente o
posicionamento da FORPRONU nas zonas de protecÉo da ONU na Croáciaer. De referir,
que o contingenre da FORPRONU, foi inicialmente enviado aperuui para o conÍlito na
Croácia, sem um mandato adequado pam um maior envolvimento na Bósnia-Herzegovinâ
(Rados, 799:20\. Bósni4 na Primavera foram enviados
Face ao deteriorar da situaçáo na
obserr"adores miliares, e a FORPRONIJ começou com um mandato que se limiarra a
garantir o acesso e a distribuição da ajuda humanitária; apenas em Junho seriam enviados
capacetes azuis para o aeroporto de Saqjevo (Cutileiro,2003: 111; Rueda 2ffJ'3:67).

í Âs zouas de proecSo das Na§6es Unidas na Croáciâ, eram zouas nas quais os sérvios eram maioria ou uma minoria
subsancial da popufuao, e onde as tensões eútre sérvios e crmtas tiuham já originado conÍlios ârmedos. Na Croácia
de proecgo das Naçôes Unidas: Eslry6nia Orienal, Eslav6nie Ocidental
existiam três zonas e l(rajina
(www.uo-org/DepwDPKO/Missionírmprofor-b.htn).

74
Jucosúua: O Coxn rro DE l99l A 1995

A Sérvia e o Montanegro não solicitaram o recoúecimento da CE, tendo opado


por proclamar um EsAdo comum, a República Federal daJugosláüa (S\) numa sessão da
Âssembleia Nacional no dia 27 de Abril de 7992 (Markovic, 1995; Niksic e Rodrigues, 1996:
320; Rados, 7999 762). togo a segulr, em Maio, a presidência d, SBI decidiu a retirada dos
cidadãos da Sérvia e do Montenegro do JNÀ que essva situado na Bósnia-Herzegovina
(Rados, 79Fl9: 778). A declara$o do novo Esado comum de SéÍvh e Montenegro, veio
alterar a situa$o do JI.{A e a partir desse momento os efectivos do exército federal na
Bósnia-Herzepvina traÍsformaram-se em força armada da República Sérvie da Bósnia-
Herzegovina, sob o comando do general Ratko Mladic. Até final do mês retiraram-se do
JNA na Bósnia-Hetzegovin4 cerca de cÀtoÍzemil soldados cidadãos da nova República S\|'
mas ainda ficaram 80 mil considerados sérvios locais. As forças miliares sérvias da Bósnia-
Herzegovina ficariam com todo o armamento do JNÂ para além do apoio das forças
paramiliares e de ajuda "logÍstica" vindas da Sérvia (Rados, 199:178;Sáe2,7993;725).
Segundo Niksic e Rodrigues (7996:83), o primeiro objectivo das forças armadas da
Bósnia-Herzegoüna foi obrigar oJNA a deixar o território da república- Assim, em Maio de
1992, u forgs Msnias atacamm o quartel-general do §d em Sarqiwo. Este ataque §eria
utilizado como justiÍica$o para a intensificação do cerco e bombardeamento de Sarajwo
por parte dos sérvios.
Msnia-Herzegwin4 aCroáciae a Eslovénia seriam admitidas como
A22 de Maio, a

membros da ONU (Niksic e Rodrigues, 1996; Pereira, 79992 656; Rados, 7999:174).
A 30 de Maio de 1W2, jâ com a FORPRONU no telreno' o Conselho de
Seguranç4 pela Resolução 757, decretou um embargo comercial, petrolÍfero e aéreo contra
duas Repúblicas, a Sérvia e o Montenegro, dwido ao apoio direco de Belgrado às
aaividades dos sérvios bósnios e ao bombardeamento de Sarqiwo. Embargp que' no
entanro, era sistematicamente üolado através do trânsito pelo rio Danúbio (Nilsic e
Rodrigues, 1996: 707; Rados, 1999). fu sanções não solucionaram o conflito e através da
ResoluSo m, em Setembro, as sanções aumentaràIn a nfuel polÍtico. A novaJugOslávia
jâ,

(SBD foi eraluída dos trabalhos da Âssembleia-Geral da ONU e convidada a faz*r um


pedido de admissão às Nações Unidas (Nilsic e Rodrigues, 1996; Rados, 7999:770).
Pode dizer-se que a ONU actuava em duas linhas de ac$o diferente*: por um lado
eram aplicadas as sanções comerciais, e Por outro era Pre§taílâ qiuda humaniúria à
popula$o. Dado que a maioria dessa ajuda ficava na posse dos contrabandistas locais, foram
adopadas úrias resoluções: a 8 deJunho, a Resolu@o 758 determinou o envio adicional de
€pacetes azuis para o aeroporto de SarajwoE, para permitir a sua reabertura e a chegeda de
ajuda à população; a D de Junho foi enviado um novo reforço da FORPRONU para o

e No Veráo de 192, Sarajwo foi cercada e bombardeada pelos sérvios (Cutileiro' 2000: 15-16)

75
JucosúvlA: O CoNFLrro DE l99l A 1995

aeroporto, de forma a assegurar a distribuição da qiuda; a 13 de Agoso de 1992 eram


aprorradas as Resoluçôes Tl0 e Tl7, sobre o encaminhamento da ajuda humaniúria,
considerando a possibilidade do recurso à força miliar para permitir a disnibuiSo do
awdlio humanidrio na Msnia e o acesso a todos os campos de detenção; e, no dia 14 de
Setembro de 1992, o Conselho de Seguranç:, pela ResoluEão T16, alargav?' o mandato da
FORPRONU para a B6snia-Herzegoün4 para prorcger os comboios humani6rios (Nilsic
e Rodrignes, 7996: 322-3%; Rados, 7999: 270217).
No dia 16 de Junho de lW2, Aliia Izetbegovic e Franjo Trudjman assinavam um
pacto formal para legitimar a preseng do errércio croeta e das forgs do Brército Croata
Bósnio GM) no teiritório da Bósnia-Herzegoün4 dado que os sérvios eram considerados
um inimigo comum. Daí nasceu a aliança miliar entre muçulmanos e croabs, para enpulsar
o JNA do território da Bósnia-Herzegovina. Apesar disso, o resultado das campanhas
militares no território bósnio, durante 19y2, foi caracterizado pelos ganhos tenitoriais dos
sérvios, que conseguiriam o controlo de cerca de7Oo/o do território (Markovic, 195; Rados,
1999:180).
A 28 de Junho de lW2 o presidente ftancês François Mitterrand visiava Sarqievo. Â
visia foi efecnrada dois dias depois dos Esados Unidos úrmarem que se devia usar a força
pam a resoluçáo do conflito na Msnia-He Asim, Mitterrand foi a Sarqievo com o
propósio de mostrar que o aeroporto estava aberto, e desta forma conseguiu eütar uma
intervenção miliar do Ocidente contra os sérvios. Depois da visia do presidente franc& a
Sarqiwo, os sérvios retiraram do aeroporto, este foi aberto à qfuda humaniúria" o bloqueio
foi quebrado por wna ponte aérea e foram deslocados para lá capacetes azuis (franceses) pela
Resolução 761 (Niksic e Rodrigues, 1996:,32; Rados, 199: 201).
No mês de Junho verificaram-se uma série de protesos em Belgrado, organizados
pela oposiSo séwia e pela Igreja Ortodoxa, em que era exigida a demissão de Slobodan
Milosevic, cujo partido havia entretanto ganho as eleiçóes legislatiras a 31 de Maio, e a
realização de novas eleições (Markoüc, 1995; Grande Enciclopédia Pornrguesa e Brasileira"
799.3:354-355).
A 10 deJulho de 1992, as sanções económicas (adopadas pela Resolução 757, e3O de
Maio) foram reforgdas quando Nato enviaram navios, aviões e helicópteros para
a UEO e
as fuuas da Jugoslávia efectuando uma ügilância militar mârítima no nur Âdrútico. A
operação denominada Shap Cuard, tinha como objeaivo fazer cumprir o embargo
comercial e miliar decreado pelo Conselho de Seguranç4 e foram uma consequência dos
bombardeamentos sérvios a Saqjwo (Markoüc, 1995; Rados, 1999:.209-270).
Nos dias 26 e 27 de Âgosto de 19{2, teve início urna nolre Conferência pzrra aPaz ra
Jugoslávia em Londres (que acabou com a ConfeÉncia de Paz europeia), em que foi
substituído o negwiador da CE, Iord Carrington por outro britânico, Iord Daüd Owen,

76
JUCOSLÁVIA: OCONFUTODE I99I A 1995

continuando o americÍulo CynrsVance como representante da ONU (Cutileiro, 2003:156;


Rados, 1999: 181). A Conferência teve lugar numa annosfera carregad4 prwocada pelas
nodcias publicadas a2de Agosto na imprensa american4 da descoberta de "campos de
concentra{áo'ts. Dwido àquelas notícias, David Owen pediu que fossem realirados raida
aéreos conffi os séwios, nus tento os americanos como os bri6nicos se mosüaram contra a
decisão; mais Arde verificou-se que as ouEas Part§§ ambém .conEolavam campos de
deten@o (Nilsic e Rodrigues, 7996:322;Rados, 7W:181-182). Â "descoberta" de campos
de deten@o, levou o Conselho de Seguranç4 a solicitar a todas as Partes que âutorizâssem a§
organizaçóes internacionais a visiar os campos de detençáoq (Rados, 7999t273)-
A 6 de Outubro era aprovada a resolução 780, que instituiu uma comissão de
inquéritos intemacional, para investigar os crimes de guerra perpetrados na ex-Jugoslávia"
Segundo Rados (19D: 170), essa resolução foi resulado da pressão da opinião pública
internacional, provocada pelas imagens transmitidas pela telwisão, que faziam recordar o
Holocausto durante a II Guerra Mundial.
Para além da 4juda humaniúria e da imposiSo de sançóes, a ONU tinha ainda uma
terceira linha de acçáo: o esAbelecimento de zonas de protec$o. DesA forma, a 9 de
Outubro de foi adopada a resolução 781, que esabeleceu vrna ?.oÍtl de exclusão aérea
799/2

sobre tdo o território da Bósnia-Herzegovina §iksic e Rodrigues, 196: 326; Rados,


lggg). A16 de Novembro de 7992 era adopada a Resolu$o 7Ü, qule reforçava as sanç&s
contra a Sérvia e Montenegro, implemenendo um bloqueio internacional (Rados, 1999:
170).

7993

EmJaneiro de 193, ficava bastante visfuel a debilidade do mandato de peau-keepirtg


dos capacetes azuis da FOF.PRONU, quando os croatas aâÉram os sérvios emvárias zonas
de segurança sob controlo da FORPRONU. A FORPRONU aPems pode obserrrar, já que
o mandato de peau-kuping apenas lhes permitia oferecer mediação e nada mais (Markovic,
1995; Nilçsic e Rodrigues, 1996:,?-5; Rados, 1999:769).
De 2 a 4 de Janeiro de 1993, decorreu a primeira ronda do Plano vance-o'n en, com
Alija Izetbegoüc, Radovan l(aradzic, Mate Boban e ainda Fraqio Trudjman e Dobrica Kosic,

s No dia 2 de Agoso de §q2, no dilirio norte-americano, Ncw York Nemnday, foi publicado um artigo com o darlo
"Os carnpos da Lorte na Bómia", oude era rerrel«lo que os sérvios detinham campo de concentraÉo (Radog
19»t1&).
q
Até 13 de fuosto, a Cruz Vermelba visitou 13 canrpos controlados pelas rês pares e com hase nos rclatório da Cruz
Vermelha seriã aprorada a resolu$o nt de 13 de Âgpsto, que coudenara sqrer:rmentÊ a'limpeza étnica" e qi-gia o
aceeso a todos os campos de deteoçáo e a odas as pris6es. A 18 de Dezembro de lW2, *a eprovah a Resolução 798
que
exigia o encerramento de todos os campc de prisioneirm na Bósnia-Henegorio+ especialmene os campos de d9te9Éo
p"ã muthe"e". Os campos de deten6o foram encenzdos, no entanto, a ooca de prisioneiros apeuas seú rcsolvida já
depois da assinanrra dos Acordos de Dal,ton (Rados, 199: 2B).

77
Jucosúvn: OCor.rrrroDE l99l  1995

presidente da SRJ, que propunha a diüúo da Bósnia em dez prorríncias. Ao início os croata§
aceiAram as ü'ês partes do Plano, enquanto os sérvios e muçulmanos criticaram as
propostas, já que nâo concordavam com o território que lhes havia sido atribuído. No final
de Janeiro, depois de Slobodan Miloseüc, por pressão das potências ocidentais, ter
anunciado que não iria ajudar miliarmente Radovan l{araÁzic, os sérvios Msnios
predispuseram-se a assinar todo o Plano se os muçulmanos aceitassem, mas Âliia
Izetbegoüc recusou assinaÍ, possivelmente à espera da reac$o dos Estados Unidos (Nilsic e
Rodrigues, 1996; Pereira, 199:657;Rados, 1999: 185-186).
Uma das consequências do Plano Vance-Owen, foi o rompimento da aliang
muçulmano-croate, devido às divergências provocades pelos mapas ProPostos de divisão
territorial da Bósnia, que acabaram por causar tensão política e conflitos armados enEe os
croahs e os muçulmanos. Como consequênciq em Fevereiro de 1%3 o exército dos croatas
bósnios, FIVO, cercou os muçuhnanos na B6snia Central, nulna zonâ ainda úo definida
pelo Plano Vance-Owen, dei:rando aos croatas e muçulmanos a decisão sobre quem a iria
controlar (Rados, 199.9:. 189).
'Warren
A 10 de Fevereiro de 1993%, o secreÉrio de Estado norte-americano,
Christopher, anunciava que os Estados Unidos tinham a intenção de se empenhar mais
activamente na resolução do conÍlito da Bósnia-Herzegoünâ nomeadamente usando os
meios milibres da NATO (Markovic, 1995; Rados, 7D9:244).
A 22 desse mês, pela resolução 808, o conselho de segurança da oNU anunciou a
criação de um tribunal internacional para julgar os crimes de guerra naJugosláüa. A 25 de
Maio, pela resolu$o ffX7, foi estabelecido o Tribunal Penal Intemacional para a ex-
Jugoslávia que entrou em funcionamento em }{at4e 17 de Novembro de 1993
(Cutileiro,
2[3,156;Niksic e Rodrigues, 1996:3?5;Peretra" 199:657;Rados, 1999:.213'274).
Depoh do malogro das negociações deJaneiro, em Março e Abril de 1993 seria feia
urne novzr tentâtiva, ao mesmo tempo que continua'na a pressão através de Slobodan
Miloswic. A 11 de Março, Slobodan Milosevic encontra\ã-se com François Mitterrand em
Paris. Nessa reunião, Mitterrand reafirmou e ami?:rÃe da Frang Para com a Sérvia' e
Miloswic prometeu que iria aceitar a proposta do PlanoVance-Owen sobre a Constitui$o
e o cessar-fogo, e que iria continuar a negociar os rurpas, mas pedia em contrapartida o
le\rantamento das sanções. François Mitterrand prometeu enÉo pressionar Helmut Ktrol,
para que a Alemanha aceitasse o leyantamento das sançóes contra o§ sérvios. Â mudança
definitirra na estratégia do governo de Miloswic aconteceu no momento em que Boris
Ielsin ganhou o referendo na Rrlssia, em Âbril de 1993. A partir desse momento, SloHan

s De relembnr que a ã) de Janeiro de 193, Bill Ctinon" um democrata, tomou pose corno presideute dos EUÂ'
acabando com doze auo de domÍnio repúticaoq com Ronald Reagau e George Buú. Segundo Rados, enquano
Ronald Reagan desruiu o comnnismo, George Brrsh, após a Guerra do Golfo' Eotou crier uma norn ordem
intemacional em termos wilsonianc §ikic e Rodrigues, 196: 325; Radc, 19,9.. ?-44).

78
IucosúvrA: OCoNFLIToDB l99l A 1995

Milose'ric, desistiu do seu objeaivo de unir todos os #rvios num só Estado, seguindo a
esraégia de Ieltsin, de coopera$o com o Ocidente. Com a eúdência da mudanp de
estratégia de Slobodan Miloseüc, decorreu en6o outra tentstive das negociações de paz
(Nilrsic e Rodrigues, 7996:326;Rados, 199).
A 25 de Março, Cynrs Vance e David Owen apresentaram urna no\Ia ver§ão do plano
de paz para a Bósnia- Os muçulmanos assinaram finalmente o plano, os croatas também,
nus os sérvios condicionaram a assinatura do Plano a urrur deciúo da sua assembleia
(Markoüc, 1995; Niksic e Rodrigues, 1996:326).
Dwido aos crescentes confrontos na Bósnia-Herzegoüna durante a Primarera de
7993, eà cadavez maior dificuldade dos capacetes azuis em assegunr o respeito da zona de
exclusâo úrex., o Conselho de Seguranç4 adopa a 31 de Março, a resoluçáo 816 e na
Abril e opetzção Duty Flight, pera aplicar o respeito ú z.ona
sequência desta, inicia-se a 12 de
de exclusão aérea (Niksic e Rodrigues, 1W6:326; Rados, t9%:217). Essa acção surgiu, nas
palanras de Rados (1999 D5) como 'a primeira missão histórica [da Nato] numa acção
miliur fora das fronteiras dos Estados-membros".
Depois das sanções, foram criadas zonas de segurang nâ Bósnia, de forma a Proteger
a popula$o ciül nas zonas de maior conflito, principalmente devido aos combates entre os
muçulmanos e os sérvios nos arredores de Srebrenica (Rados, 199P:212) (ver anexo II).
No dia 16 de Abrit de 1993, a ONU decidiu aProvzr a resoluçáo 819, pela qual
Srebrenica foi declarada "zona de segurança" das Nações Unidas e no dia 18 as primeiras
forças da FOPaPRONU chegavam à cidade §iksic e Rdrigues, 1996: 727). No dia
segninte o Conselho de Segurança adopBva a resolu$o &20, que agruva.Yl, as sançóes
internacionais em vigOr conü? a Sérvia e o Monüenegro, c;tso os sérvios Msnios se
recusassem a aceitar o Plano de Paz Vance-Gyen. Algo* diâs mais Urde Warren
Christopher declarava que os Btados Unidos esaram preparados para utilizar a força contra
gs sérvios da Msnia (Nilsic e Rodrigues, 1996; Rados, 7999t194).

Na Primaver4 irromperam üolentos confrontos entre croeta§ e muçulmanos no


Centro e Sudoeste da Bósnia-Herzegoüna que foram interrompidos um ano depois, em
resultado da iniciativa política de Washington que, no início de 1994, impôs régUas nos
combates croats-muçulÍnanos §ilaic e Rodrigues, lD6; 152).
No dia 2 de Maio de 1993, I&radzic assinn'a o Plano de Paz Vance-Ouren, em
Atenas, no entanto a sua aprovação ficaria dependente, segundo uma reunião da Assembleia
O referendo acabou
dos sérvios bósnios, do referendo a realizar nos dias 15 e 16 de Maio.
finalmente por rejeiur a assinatura do Plano Vance-Owen (Niksic e RodrigUes, 196;
Rados,1999).
A 6 de Maio, 'W'arren Christopher, secreúrio de Esado norte-americano,
encontreva-se com representantes da cE e aÍirmava que o president€ norte-emericano

79
JucosúuA: O CoNFLITo DB l99l A 1995

pretendia uma acçáo concreta na resoluçáo do conÍlito jugoslavo (Rados, 1999: 193). No
mesmo dia pela Resolução 824 da ONU, adicionavam-se às zone§ de segurang já
adstentes, Sarqiwo e os enclaves muçulmanos de ZepU Gorazde, Bihac e Tuzla (Rados,
te99).
Depois dos sérvios bósnios terem rejeiado o PlanoVance-Owen, foi anunciado que
os Esudos Unidos e a Rússia PrePâmvam um novo plano de Paz e a.2 de lvlaio. em
Washington, os ministros dos negócios es6angeiros do Reino IJnido, França ,Rú§sl4
Espanha e Esados Unidos adopAram um Plano de Ac$o para t Paz na Bósnia, que úo
viria a obter quaisquer resulados (Nilsic e Rodrigues, 1996:328;Rados, 7999:195-796).
Já em Junho, no dia 29, no Conselho de Segurança, foi debatida uma
proposa de
resolução que propunha o Íim do embargo de armas aos muçulmanos. Os Estados Unidos
vog&lm ao lado dos paÍses de Terceiro Mundo e islâmicos, a favor da resoluçáo, mâs esta
seria rejeiada pela abstençáo dos paÍses da Europa Ocidenal e da Rússia (Nilsic e

Rodrigues, 7996: 329; Rados, |W: D3).


Depois do falhanço do Plano dePaz Vance-Owen, surgiu urna outríâ tentatiu de
mediação intemacional, desta vez mediada por Daüd Owen e Thonreld Stoltenberg que
substituiu Cynrs Vance como represenhnts da ONU em Maio, gue foi apresentada a29 de
Julho, em Genebm (Niksic e Rodrigues, 7996:330; Rueda,2003:48). Com o Plano Ou'en-
Stoltenberg foi retomado, de certo modo, o Plano Cutileiro de 79/2, de diüdir a Bósnia-
Herzegovina em três partes, que na altura havia sido rejeiado pelos muçulmanos. Por
aquela altur4 os muçulmanos que represenq\ràm 43Y" ü população, ocuPavam 30% do
território, os sérvios com 34o/o da população, @uPavaÍn 51,7o/o e os croata§, corn l7o/o do
total da populaSo da Bósni4 ocupa\ram 15,ff/o. A primeira ronda das negociações
diplomáticas à vola do Plano Owen-stoltenberg seriam suspensas logo a 5 de Agosto,
dwido a conflitos entre sér'Íios e muçulmanos nos arredores de Sarqiwo @nciclopedia
Universal, 1995l. 478: Rados, 1999: 797-198). No dia 2, os sérvios bósnios haüam
desencadeado um contra-atâque à volta de Saqjevo, contra urna ofensiva muçulmana mal
sucedida. De segrrida, a NATO emitiu uma declaração na qual se dizia preparada para iniciar
ahques aéreos contra alvos bósnio:; ataques que oficialmente foram previstos conra todos
os beligerantes que não respeitassem as forças das Nações Unidas, nus que dnhem em üsta
principalmente os sérvios bósnios. Iogo no dia seguinte, após a decisão de efectuar possfueis
raids aêreos contrà alvos sérvios, suryiram divergências enEe os americanos e os membros
europeus de NATO, já que a CE estava preocupada com a segurança da Europa, com a
possfuel reacçáo da Rússia, e ainda com a drscente tensão política entre â Âlemanha e a
diso, foi aprovada a 9 de Agosto, pelos embabadores da NAIO, arealiza$o
França. Apesar
de aaques aéreos selectivos na Msnia-Herzegovin4 caso fossem aprorados pelas Nações
Unidas (Markoüc, 1995; Rados, 1999).

80
Juoosúvre: O CoNrumo DE l99l A 1995

Depois de, a 14 de Âgosto, as forças sérvias aceiarem retirar da.s zonas nos arredores
de Sarajevo% que tinham ocupado nas senumas anteriores, inicia-se a segunda ronda do
Plano Owen-stoltenberg; em que sérvios e croatas aceitam as nova§ ProPostss? tendo os
últimos proclamado a sua unidade nacional a 27 de Agosto, atrarrés da República da Herceg-
Bosna; os muçulmanos rejeiam o Plano, pedindo a continuação das negociações (Markovic,
1995; Nilrsic e Rodrigues, 1996;Pereira.7999:657; Rados, 1D9:199). Â 1de Setembro
culmina a segunda ronda do Plano Owen-Stoltenberg, com a assinatura do acordo de
princÍpios, mx a29 de Setembro, o parlamento Msnio aabatiapor rejeitar o Plano dePaz,
ao o<igir a "devoluçáo dos territórios cupados pela força", já depois de lhes ter sido
concedido o acesso ao rur, e:<igido na ronda anterior (Cutileiro, 2003: 156; Rados, 1999:
te9-2m).
Depois das eleições de 1993 na França, rusceu um novo entendimento entre este
paÍs e a Alemanha que dweria dar origem ambém a um novo equilÍbrio seryo-croata na

Jugosláüa. Os franceses e os alemães tentâram ultrapassar as divergências sobre o conflito da


Jugoslávia e o resulado foi a proposa dos minisros dos negócios estrangeiros da Frang e
da Alemanha', a 8 de Nwembro, para o levanamenüo do embargo à Federação Jugoslava
caso os sérvios da Bósnia cedessem uma parte dos territórios que controla'ram. Essa
proposta seria adopeda numa reunião do Conselho de Ministros da União EarcpeiU aD
de Novembro (Markovic, 1995; Niksic e Rodrigues, 1996:333; Rados, 199:203).
Foi convcada para dia 29 de Norrembro, em Genebra, urna nova ronda de
negociações sobre o Plano Owen-Stoltenbery no entanto, dwido à falta de progressos
quanto à obten$o de um consenso entre as partes, as negociações foram concluídas. Foram
marcadas novas negociações para 21 eDde Dezembro, em Genebra: tetnto os sérvios como
os croetas aceitaram as no'nàs alterações territoriais propostrs no Plano, nus os muçulmâÍros
criticaram os rn:rpes de divisão territorial, nomeadarnente no que dizia respeito ao acesso ao
mar e eo esatuto de Sarajevo (Markoüc, 1995; Rados, 79D:2A3'205).
Com o fim de 1993 veio também o fim de todas as iniciativas ewopeias, já que
segundo Rados (1999: 206), os Esados Unidos não queriam aceitar os planos euroPeus, e
incentivarram os muçulmanos a rejeitá-los. Desta forma a União Europeia acabaria derrotada
na guerra da Bósnia-Herzegovina e seriam os EUÂ a tonur as rédeas a partir de enáo.

7»4

%
Pelo que foi decidido pela Nao, que náo havia justificaÉo, naquele momeuto , gan raida q)nrà os sérvios bósrios
(Markovic, 195).
e ÂlainJuppé e Klars Kinb[ respectinamente (Mar&ovic, 195).

81
JUGo§úV[ff OCONFTÍIODE I99I A 1995

Em Janeiro decorreram várias negociações na tentativa de resolu@o do conflito


bósnio: no dia 10 em Bona, Frurjo Trudjman aPre§enta um novo mapa de diviúo da Bósnia
a Alija Izetbegovic, que úo aceita o maPa; a 18 e 19, nova ronda de negociaçôes em
Genebra, sem no entanto resultarem em quaisquer Progressos (Markovic, 1995; Niksic e
Rodrigues, 7996t 334).
Nos finais de 1993, inÍcios de 1994, os EUA comegrram a pôr em pútica a sua
es6atégia px.7- a zona dos Balcãs. Para atingir os seus objeaivos estratégicos, Washington
promoveu a criaSo de uma Federação Croate.Muçulmana na Msnia-Herzegovina (Nilsic
e Rodrigu.es, 79962 146;Rados, 7999i:218). Esa iniciativa, nos finais de Fevereiro de 799,4,
que teve o apoio político alemão, parecia por um lado assegurar o protagonismo dos Esados
Unidos no conÍlito da Bósnia e ao mesmo tempo aquietar as preocupações ocidenuis em
relaçáo ao possfuel nascimento de um esado islâmico no seio da Europa (Grande
Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, 7995: 131; Ni}sic e Rodrigues, 7D6: lM). Como
resultado, o govemo bósnio e as autoridades croatas da Herzegovina Ocidenal puseram fim
aos combates que duravam d.esde o ano anterior, e os croates sú a ameap de sançóes pelos
Estados (Jnidos, foram obrigados a aceitar a Federa$o (Cutileiro, ?-003:Tl; Rados, 1999:
108; Rueda, 2003: 4S). A 18 de Março era assinado em Washingon, o acordo entre
muçulmanos e croatas, que esabelecia a criação da Federação Croato'MuEulrnana e foi
ainda assinada uma declaraçáo de princípios para o estabelecimento de uma conÍdera$o
entre a nova FederaSo e t Crúç:ra (Perelra, 7999: 658;Rados, 19)9: 218; Rueda, 2üJ,3z 48),
De referir que aquelas negociaçôes aconteceraÍn num cenário marcado pela erylosão,
no dia 5 de Fevereiro de 1994, de um morteiro no mercado de Markales, no centro de
Sarajevo. O gwemo Msnio condenou o ataque e pediu que fosse levantado o embargo às
arÍnas, parl que os muçulmanos bósnios se pudessem defender (Rueda, 2(X)3: '$8). As

imagsns das mortes chocaram a opinião pública que aribuiu o ateque aos sérvios, apesar das
posteriores investigações lwades a cabo por peritos da ONU, nunca terem conseguido
identficar os verdadeiros autores do atentado. Apesar disso, de forma a agir perante a
opinião pública, a 6 de Fevereilo Boutros Ghali, secreúrio-geral da ONU, solicitou à
NATO que obtivesse a ilttrlrr:rflo para desencadear acçóes miliares punitivas conEa os
sénrios, caso fosse solicitado pela ONU. No dia 9, o Conselho da NATO reuniu-se e
lançou um ultimato: no prazo de dez dias, as forgs sérvia.s bósnias dsveriam lewÍrtar o cerco
a Sarajevo e, retirar ou entregar à ONU tdas as armas pesadas que estivessem a menos de
20 quilómetros do centro cidade, sob pena de raifu aéteos (Rados, 79D:229}
No dia Bill Clinton telçfonara a Boris Ielsin, para lhe dizer que não
11 de Fenereiro,
tinha sido possfuel aviúJo da imposigo do ultimato. Ielsin iniciou então umjogode forças

s Este arentado provocou cerca de 68 moros e 2ÍE ferido; em Agoso de 1D5, hnreria uma uora explosão no mercado
de §arajevo (Rueda, 2fi)3: 't8, Valle' 2ü)1: 238).

82
JucosúvlA: O CoNruI]o DB l99t A 1995

entre a Rrlssia e a NATO, ao responder que os ataques não dwiam ser decididos pela
I{AIO, mas sim pela ONU. A solu$o enconEada Para o descontentarnento da Rússia'
seria o posterior enüo de capacetes azuis russos p{ra,zaoÍ:r;. de Sarajevo. A crise terminou a
17 de Fevereto, quando representantes russos úrmaram que os séwios Msnios iam retirar
a artilharia pesada de Sarqievo no prazo estipulado; t 2t de Fevereiro, Yasushi Als§higg
confirmava a retirada de armamento dos sérvios Msnios dos arredores de Sarqievo, que
evitaram um confronto direco com a NATO §iksic e Rodrigges, 1996 336;Rados, 1999:

n9-230).
No dia 28 de Fwereiro de l994,no âmbito da operaçfia Dary FIW,F'16 americanos

da NATO, abatiam quatro aüões sérvios nos céus de Baqja Luka, o que, juntamente com a
proibiçáo de voos miliares, signiÍicou a quase toal neutralização do poder aéreo sérvio
(Perena" 1999:658; Rados, 1999 : 272).
431 de Março o Conselho de Segurang adoptou a resoluçâo 908 em que, para além

da arúlise do papel da ONU na resolu$o do conflito naJugosláüa, foi decidido o enüo


adicional de 3500 capacetes azuis, em vez dos 8500 pedidos pelo secretário-geral da ONU
(Markoüc, 1995; Nilsic e Rodrigues, 1996t'337)-
Apartir de Março, os Estados Unidos iriam ser determinantes no conflito da Bósnia-
Herzegwina. Mas, para.poder realizar o Plano de Paz preparado pelos Esados LJnidos, seria
necessário criar um instrumento intemacional Para a sua aplica$o, daí que tenha sido
decidido reunir os países que mais interesses tinham na zotta dos Balcãs, a Rússia" a
Alemanha, o Reino Unido e a França e, a25 de Abril de 1994, foi oficialmente formado o
Grupo de Conacto. O plano de paz dos Estados tlnidos, que ficaria conhecido como Plano
do Grupo de ConActol0o, foi definido em negwiações durante Abril e Maio. No dia 5 de
Julhofoi apresenada uma versão modificada do original às partes, que haviam rejeitado
todos os mapas propostos aé en6o, mas no dia 28 de Julho, os sérvios Msnios acúariam
por rejeiar o Plano (Cutileiro, 2003: 156; Rados, 199B1'219-21; Valle, 2Ü01:112)'
Entregnto nos dias 10 e 11 de Âbril, F-16 americanos da NATO haviam langdo
rails eéreos sobre as forças sérvias à volA de Gorazde, para protecçáo do pessoal da
FOFpRONU e para prwenir o avanso das sérvioslol (Grande Enciclopédia Portuguesa a
Brasileira, 1995: 132; Markovic, 1995; Pereira ,7999: 658).
Al2deMaio de lgg4,oCongresso dos Esados Unidos, soliciave ao presidente Bill
Clinton, que fosse ls\rânEdo unilateralmente o embargo de aÍmamento aos muçulmanos da
Bósnia-Herzegovina, alegando que estes estariam em clara desrrantaçm caso §e continua§se
a implementar o embargo a todas as repúblicas da ex-Jupslávia- Esa decisão foi fortemente

e Ewiado das Naç6es Unidas para o couÍlio da Bósnia-Herzegwina.


to Para o que foi iomeado um-noro enviâdo nore-amedcano, Richard Holbrooke'
t6 Raids àro qo" provoclÍam uma fore reac{âo da RGsie, que avisou oa EUA que tai§ deci§óe§ dwiam ser sempre
preadidas de consultas enre c dois paÍses §iksic e Rodrigues, 196)'

83
JucosúvlA: O CoNFLno DE l99l A 1995

criticada pelos países europeus, que afirmaram que al decisão poderia intensificar os
conflitos e poderia pôr em perigo a üda dos capacetes azuis no terreno, na sua maioria
europeus'' (Markwic, 1995; Niksic e Rodrigues, 7996: 340;Rados,.l999: D3).
A 25 de Maio, decorrem as conversações preliminares entre os rePresentanrcs do
Grupo de ConAcO e os representantes da Federação Croato-Muçulmana e dos sérvios da
Bósniâ, em que foi discuride a divisão do tenitório da Bósnia-Herzegovina e os mape§ que
fi:arram as fronteiras entre a Federa$o Croato-MuEulmana e a República Srpska o a 5 de
(Markoüc, 1995;
Julho foi enviada às partes em conflito a ProPosta sobre o Plano de Paz
Niksic e Rodrigues, 1996: 347; Rados, 199i9: D0-221). A 16 de Julho os croatas assinam o
mapa proposto e a 18 de Julho (Markovic, 1995; Nilsic e Rodrigues: 1996: 341) o
parlamento da Federação Croato-Muçulman4 pressionado pelos Esados unidos, ac,ahaia
por votar a favor do Plano. Os #rvios pediram a continuaçáo das negociações,

principalmente no que dizia respeito aos mapas propostos, mas Íinalmente a 28 deJulho, o
Parlamento sérvio bósnio reunido em Pale, recusou o Plano do Grupo de Contacto, tendo'
lhe sido dada uma segr.rnda hipótese pelo Grupo, para reconsider:r a sua Posição (Markovic,
1995; Niksic e Rodrigues: 7996:341). Esa rejeição do Plano pelos sérvios bósnios resultou
no rompimento político definitivo entre o governo de Slobodan Miloseüc e Radovan
Kandzic, já que Miloseüc defendeu expliciamente a assinatura do Plano do Grupo de
Contacto. Â 3 de Agosto o parlamento dos sérvios bósnios em Pale, volta a não aceitar o
mapa do Grupo de ContacO marcando um referendo para os dils 27 e 28 de Âgo§joroB
(Markovic, 1995) e como consequência dessa decisão, no dia 4 de Âgosto, Slobodan
Milosevic anunciou um corte de relações com os sérvios da Bósnia-Herzegovina Milosevic
opara pela cooperação absolua com os Btados lJnidos, seguindo a estratégia de Ieltsin, e
foi para atingir os seus novos propósiOs que oPtou por "sacrificar" I(aradzic. Em
dificuldades pelas sanções internacionais, a partir de Agosto de 1994, Milosevic reforçou a
suâ nowr estratégia 'pacifista" e seguindo esa linh+ nomPeu as relações económicas,
militares e políticas com a República Srpska; foi ainde imposto um embargo qua§e totel à
República Srpska e tdas as fronteiras d" SBI, Sérvia e Montenegro, foram fechadas aos
sérvios da Bósnia-Herzegovina. Â partir desse momento, ces§aram as negociações com os
sérvios bósnios e estes ficaram completamente isolados (Markovic, 1995; Niksic e
Rodrignes, 7996: 125; Rados, 7999: 2)l).
Após a mudança de atitude de Milosevic, surgiram alguns atritos enüre o§ membros
do Grupo de Conacto, utna vez que os russos defendiam que deviam fazer-se mais
cedências aos sérvios, incluindo o lerrxramento imediato das sançôes conea a S\f,

t@
,{pesar disso, segundo a imprensa, a ajuda miütar, sobÍetudo americana e alemâ, continuava a chegar aos muEulmauos
e croaes em grandes guantidades (Rados, 1999: 23).
lB O refercúo kyaáo a cabo aa República Srpska sobre os mâpas pÍopostos pelo Grupo de Contacto, twe como
resulcdo a rejeiçâo dos rnapas por cere de 960lo daqueles que votaram (Markovic' 1D5)'

84
JUGoSúVIA:OCONFUTODB I99I A 1995

enqgirnto os Estados Unidos preferiam espeÍar. O resulado destas divergências, foi a


decisão do Conselho de Segurang em lerranbr parcialmente as sançôes contra a Sémia e o
Montenegro, a?i de Setembro (Perer4 7999:658;Rados, 7999:?-2).
A 19 de Dezembro, Jimmy Carter, antigo presidente americano, após conversações
com Franjo Trudjman emZagreb, com Izetbegoüc em Sarajwo e com Iüradzic em Pale,
conseguiu obter um cessar-fogo de quatro meses, assinado no.dia 31 e que entraria em ügor
a 1 de Janeiro; os quaúo meses serviriam Para a continuaçáo das negociações' Parâ a
obtenção üpazruMsnia-Herzegovina @nciclopedia Universal, 7997:529; Pereira' 1999:
658; Rados, 799:223).
No final de 7994, o exército dos sérvios bósnios conhecia as suÍts primeiras
importantes derrotas miliares, no Noroeste da Bósnia-Herzegovina (Nilsic e Rodrigues,
1996:725-726).

7995

O cessar-fogO conseguido porJimmy Carter, nunca chegaria a ser totalmente


respeitado, tendo a pausa servido acima de tudo, para que ͧ parte§ em confronto se
reabastecessem de armamento, através das redes de confabando, que eram cada vez em
maior número (Enciclopedia Llniversal, 7997 : 528).
Entreanto Fnnjo Trudjman mostrava-se caÃavez mais impaciente com a Presen§a
das Naçôes Unidas ru Croíaa jâ' que, como estas esavam posicionadas na linha divisória
com a Krajina, temia que ficasse consolidada a divisâo da Croácia, pelo que, no início de
Janeiro de 1995, avisou que não ia renovar o mandao das Nações Unidas (Cutileiro,2ü)3:
69; Markovic, 1995; Niksic e Rodrigues, 1996:346).
A 20 de Março, o cessar-fogo para a Bósnia - que mrncr foi toblmente respeiado
por gualquer das partes - era ostensivamente violado pela Armija na região de Tuzla. A 31,
daa de termo da missão da FORPRONIJ, o Corselho de Segurança da ONU aProvou
várias resoluções para as missÕes na Croácia, na Bósnia e na Macedóni4 segundo as quais a
FORPRONU seria dividida em três unidarles militares distintas para cada uma dessas
zonasle (Markoüc, 1995; Niksic e Rodrigues, 1996:350-351).
No dia 1 de Maio de 1995, um dia depois de tÊrminar o cessar-fogo obtido por
JimÍny Carter, recomeçaram os combetes em grande escala por toda a Bósnia-Herzegoün4
incluindo os ataques a capaceEs azuis, e no mesmo dia o exército croata iniciana um ataque

rB Pela resoluSo 981 era criada a ONURC para a Cmácia, a 28 de Âbril a ONU âPr§\rava a reduSo dos eGctivos de
doze mil para oi1o mil setecenos e cinqueuta; pela resoluÉo 9& a FORPRONU passaria apenas a referir-se à misúo na
Bósnia-Herzegour:a; pela resolu@o 9ú é criada a FORDEPRENU, para a Macedóuia- Âs três miss6es eriam rnandato
at6 30 de Novembro de 1995 (www.nao.inúfor/ur/un-resol-htrn e Niksic e Rdrigues, 196: 351-352)'

85
Jucosúvt* OCourlrrooB l99l e 1995

à zona Eslavónia ocidentalrG, conhecida por operação Relâmpago (Blit )t*


da
(Enciclopedia universal, 7997: S}9;Nilsic e Rodrigues, 7996:352; Pereira, 7w9: 658).
Entretanüo, nos dias ?5 e 26 de Maio, aüões da NATO langvam novos a6que§
aéreos sobre posiçóes estratégicas dos sérvios bósnios petto de Pale, depois destes últimos
terem sido aüsados que dweriam cessar os combates Ítz ?§na, de Sar{wo e entregar todo o
arÍnamento pesado às forgs da ONU. Em realiação, os sérvios come§arem a fazer reféns
entre os soldados e obserrradores de ONU, e a utilizá-los como e§ordos humanosl0; no
toal, foram feitos reféns mais de 350 elementos da FORPRONLI e somente a 19 deJunho
o último g'upo viria a ser liberado, depois de intensas negociações, nas quais Milosevic terá
tido um imporAnte papel como mediador (Markovic, 1995; Grande Enciclopédh
Portuguesa e Brasileira, 19P,6:136;Nilsic e Rodrigues, 1996:'352).
A3 de Junho , face à crhe de reféns da ON[J1m, os ministros da defesa dos países da
Nato e da União Europeia, tomaram a decisão de criar uma Força de Reacção Riípidal@,
constituída por Êanceses, briánicos e holandeses, com a misúo de reforgr a ProtecÉo à
FORPRONU e oferecer apoio na orecuçáo da sua missão. A24 de Julho chegarram as
primeiras unidades da FRR aos montes Igman, nos arredores de Sarajworro lMarkovic,
1995; Niksic e Rodrigues, 1/)6:353; Rados, 199p: ?3Ç?35; Vaisse, 7997: 193)'
Nesse mesmo mês iriam ter lugar alguns dos acontecimentos mais trágicos de todo o
conÍlito na ex-Jugoslávia No início do mês, foi desencadeado um assalto das íorças sérvio
bósnias, chefiadas pelo general Ratko Mladic, sobre dois 'enclaves seguros" da ONU:
Srebrenica e ZepU que acabaram Por §er conquisadas nos dias 77 e ?5 de Julho,
respectivamente; no dia 19 os sérvios bósnios, em coordenação com os séwios croatas da

G De acordo com Cutileiro (?üJ3: l?3), em 1995 os americanos e os eumpeus uniram-se e decidiram impor a paz aa
Jugosllvia; Trudjman, eú entâo sido aconselhado a eryulsar
c sérvio dâ IkÀjinâ recorrcndo à força milicr' co-m o
ãfjec*o de deúiar os séryios de B6cnia-Herzegovina.- Cutileiro, reíerindo-se às iovestidas croatas na KÍCiins' úrma
q; "(...) para acabar com a catásrofe humanitária na Bósoia-Herzegwina (.'.) foi preciso *ecutar ne KÍajina a Ínâior
operação de limpeza éoica, até entlio eÍbctuada na ex-Jugoslávia".
-E"lrrrOnia-
,& A Ocideual era rrrna zotu controlada rtlor réruior desde 191, e erã uttul dag zonac protegida§ da
FORpRONU. Esta acgo, justificada pelo go*.-o p"la necessidade de controlar a auto<trada Zageb'Belgrado'
-J-refugiâd* "r*t
pr*r cerca de 30 séÍüos (Rados,
"
1990: Zll; Niteic e Rodrigues, 1996); ern retaliaçâo c sénrios
ooaas langram mÍsseis sobrc a-caprtal, zagreb (Markovic, 191 Nikic e Rodrigues,196t,351'352).
to para Raios (lW:235), Existe AnAa oútra razão para a guerra úcrta entre os sérvios e a FORPRONU: o Àtaqne à
Eslevóoiâ Ocidànd peto wércio da Croácia a 1 de Maio, teú sido omada pelos sérvios como um incentivo Pâra
glle
atacaseÍn ,, z* d" segúratrça. Pan o sérvios bósnios, uma vez que a ONU não havia PÍoECido os terriÚrios dos

úwios na Croácis" não põdia outro modo com as zonas de segurang dm muçtlmanos na Bósnia-Herzegovina"
agfu de
16
Por esta alture, os séfoos bósie já baviam feito como reféus centenâs de militarcs da ONU.
,, À Forp, a" neacÉo napiaa foãm implonenadas pelo Couselho de Segurança a 16 de Junho de 195' atrarés da
nesom$ 998, p"b õr"l foi auorizado o reforço das forças da ONU em 12"5fi) militares (Markovic' 195; Nihic e
Roddgues, 1916:3531.
tto ps"acotdo Ii"d* (lgfft 2i5l, a dstisão do ennolvimento da NAIO no confronto directo com os sérvios da
Bósoia, ficou
"o-
adever-se à ;udança de posiÉo francesa, nomeadamenüe do seu noro presidente Jacques hirac
C_(eleito a
7 de úo de 1g5), que depois da tomada ae rcfens de capacetes azuis frauceses, opou por apoiar os bombardeamenm'
acabando com a protec$o dada aé entiio aos sérvios.

86
JucosúvtA: O CoNFLno DE l99l A 1995

Kqiin4 atacaram oum ízone de segurança', o enclave de Bihacltr §iksic e Rodrigues,


1996:726e 355; Rados, 1999 ?36;Ruede' 2Cíll3t 49). Depois de ter conquisado Srebrenica
e ZepL o exército sérvio Msnio prosseguiu em direc$o a Gorazde. Foi en6o decidido na
Conferência Internacional em Londres, a 21 deJulho, que um ataque dos sérvios a Gorazde,
teria uma resposta "substancial e dechiva" Por Parte das forps da NATO; contudo, apesar
daquela decisão, não foram tomadas medidas concrebs para a Protecção daquele enclave. A
partir de 25 de Âgosto as forças da FORPRONU começam a abandonar Gorazde, e a cidade
passa a ser defendida pelos aüões da NATO (Cutileiro, 2003l.71; Nilsic e Rodrigues, 196;
Rados,l99:AQ.
O ano de 1995 seria um ano decisivo para o exército da Croácia (I{V), que conseguiu
uma série de imporantes ütórias miliares. No final de Julho foi desencadeada uma
ofensiva militar na Bósnia-Herzegovina Ocidental (em coordenação com o ÉIVO e a
Armija) e no início de Agoso, três meses depois da Operação Blitz na Eslavónia Ocidental,
o FIV desencadeou a Operação Tempestade na IG{ina (Markovic, 1995; Niksic e
Rodrignes, 1996; Rados, 199. §l:231). Para os sérvios croatas' seria o ano da sua derrota O
colapso Íinal dos Srvios da I(rajina acontecia enke os dias 4 e 6 de Àgosto, com ajá referida
"Opera$o Tempestade", na qual o erército croata, de acordo com José Cutileiro (2@2:
279),foi"treinado por mercenários americanos pagos porWashingon" e contou ainda com
o apoio da NATOlt2 (Pereira, 794/52 659; Rados, 199: ?32, Nilsic e Rodrigues; l»6). A5
de ÂgosO as forças croahs entravem finalmente na capiAl da auoproclamada República
sérvia da Koji"a l(nin (Markoüc,79Fr5i Nitsic e Rodrigues, 1996; Rados, 799:232). Os
sérvios dâ Krejina optaram então por não oferecer resistência e cerce de 150 a 2(X) mil113
sérvios croatÀs fugiram para os territórios conEolados pelos sérvios na Bósnia-Herzegovina
ou em direc$o à Sénia, dei:<ando para trás casas, teÍr:§ e gpdo (Cutileiro,2Wà219; Nihic
e Rodrigtres, 1996). Os EsAdos Unidos oParam por não condenar oçliciamente o ataque
croata, aperüs a violência utilizada enqrunto o Conselho de Seggranp de ONU criticou a
ac@o daCroáita, sem no enanto impor quaisquer sanções
miligr (Markovic, 1995; Nilsic
e Rodrigres, 7996:,356; Rados, 1999:232). Nesa altura verificaram-se fortes divergências
entÍe o General Ratko Mladic e Radovan l(aradzic, quando lGradzic tentou despromover o
general Mladic, com o objedivo de assumir direcAmente o comando do qército' No
entanto o general Mladic com o apoio de generais sérvios bósnios acabaria por reassumir o

rr A 8 de Julho er do exérciO da Croácia eotrar na Bóania Ocideutal, para apiar os croaas bósnios contre os
^,tez
Srpska (Markoüc, 195; Niksic e Rodrigues, 199,6;356')'
séwios da República
itÀ Sa" Aó"a, ar,iOo a"'I,nT O atiagiram uma poição ãe mkseis séwic nos arredores de Kniu (Markovic' 1995;
Nitsic e Rodrigues, 196).
i" Súao aof,* a, U1ÍI+CR, fui"r- cerca de 150 mil sérvios dâ Krâjina, http'/tt/wr.unorg/Door§Q§G-Rpíchtle-
a.hd  oreauizaéo Human Rigfs Watch refere 2ü) mil refugiados, htp:/hrw.org/ÍePore/19íCroatiahrn Pfuinas
corsultadas a 28 de Dezembro de 2ü)6.

87
Jucosúvl O CoNFurlo DE l99l A 1995

seu posto (Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, 79962 739; Markoüc, 195; Niksic
e Rodrigues, 1996;, 356).
O colapso dos sérvios da Croácia pode ser explicado por diversas razóes: primeiro

pela surpresa dos aaques do exército croata, depois pela confiança dos sérvios nas forgs da
FORPRONU mas, sobretudo, pela ausência de apoio da Sérvixrr4 s dqe forças dos sérvios da
Bósnia-Herzegovina (Markovic, 1995; Nilsic e Rodrigues, 1996; Rados, 7%9: ?31).
fomecimentos
Quanto ao suce§so das operações do oército croata, deveu-se sobretudo aos
de armas, vindas da Alemanha, Áustria Hungria, Polónia e aé do Chile e da Bolfuiails e às
contribuições financeiras dos emigrantes croatas nos EUÀ A junEr a hto, a remodelação
das Forgs Armadas croatas, em 7994 e 1995, quando insfutores militares estrangeiros
começâram a treinar as tropas do HVrt6 (Cutileiro, 2003:69:. Niksic e Rodrigues, 796:147;
Yalle,2@1:734).
A 7 de Âgosto a Armija conseguia controlar o bastião chave do dissidente

muçulmano Fikret Abdic, que entretanto havia proclamado a República da Bósnia


OcidentalrlT. No mesmo dia, forças do exército croata e da Armija bombardeavam uma
coluna de refugiados sérvios que fugiam d" KrSiina. No dia 10, seis dias após o início da
ofensirra croata, o Conselho de Segtrrança adopAva a resolu$o 1(89, pela qual origia que a
Croácia cessesse imediaamente todas as acções militares na Iftajina (Markoüc, 195; Niksic
eRdrigues, 79ú, 35Ç357).
A 28 de Agosto ocorreu um novo at€ntado de morteiro no mercado de Sarajevo,
semelhante ao que haüa ocorrido em Ferrereiro do ano anErior, provocando desavez cerca
de quarenta mortos e oitenta feridos. Os muçulmanos bósnios acusamm os sérvios de serem
os responsáveis pelo ataque, enquanto os sérvios bósnios negaftlm as acusa@es e exigiram
que a ONU investigasse o atentado. Âs investigações le\radas a cabo por elemenos da
ONU, nunca permitiram chegar a uma conclusão sobre de que lado partiram os obuses que
atingiram o
mercado, no enanto os sérvios bósnios seriam considemdos como os
verdadeiros culpados pelo atenado. Âs imaçns entretanto difundidas pelos meios de
comunicaçáo internacionais, provocafilm a indignaçáo da opinião pública ocidenal e como
consequênci4 no dia seguinte a NATO desencadeou, nas palavras de Rueda (2003: 50) " a

rr4
Desde Agoslo de lgg4 gnire Slobodan Miloserric, numa posição cada vez mais diíIcil devido às sanç6es inemacionais'
opa;x por ãop.o com os paGes ocidentais e em €special com os Esados Unidos, deixando as forças §érvias da l(rdine
isoladas §ibic e Rodrigues' 196: 125; Rados, 199: ?21).
la por seu l«lo, os sérvios também receberam apoios dos ortodoros russos, búlgaros, romenos e gregos, principalmente
a nÍvel de assisência miliar e fomecimeuo de anques e mÍsseis §alle' 2(X)1: lll-ll2),.
lló tlm ercmplo é a empresa norte-americara Upru, Uititary professloual Resources Inc, uma empresa privzü, que
fomece forma$o ministrada por oficiais norte-americanm na reserva, que começou a treirur o elércio croata a partü de
1994, com o coúecimento e aprova$o do govemo norte-americeno §ibic e Rodriguu,796z 147).
117
A República da Bósnia Ocidental foi proclamâda em Setembro de 1993 e tinha sede em Velika Kladusa (Markovic,
19s).

E8
Jucosúvra: OCoNFLIToDE l99l A 1995

maior operaçáo militar de toda a sua história" (Cutileiro, 2003: 115; Nilsic e Rodrigues,
7996t 357;Rueda, 2003: 49-50; Valle,2001: 238).
Na madrugada de 30 de Agosto, foi realizado um etaque combinado da artilharia
pesada da FRR e de raides aéreos da NAIO, numa operação denominada Forg Deliberad4
contra nos arredores de Sarqievo. Os aüões da Nato atacaram ainda
asi posições sérvias

posições sérvias perto de Tuzla, Gorazde e Mostar (Markoüc, 1995; Niksic e Rodrigues,
7996: 72%730; Rados, 1999: ?37). A 1 de Setembro a NÂTO suspende a operação e é
langdo um ultimato para que os sérvios retirem as arÍnâs pesadas Pera üna distância de,
pelo menos, vinte quilómetros à volta de Sarajevo. Face à ausência de uma resposta
satisfatória" a 5 de Setembro a NATO reinicia a ac§o militar conúa os sérvios b6snios à
vola de Sarajwo. Os aaques de NATO foram suspensos no dia 14 de Setembro, depois de
uma reunião entre Richard Holbrooke, Slobdan Milosevic e os líderes sérvios bósnios,
Radovan lGradzic e Ratko Mladic, que se comprometsmm a retirar as arÍne§ pesadas dos
arredores de Saqjwo dentro de seis dias (Markoüc,7995; Niksic e Rodrigues, 1996:359i,
Rados, 19992 235438; Valle, 20fl1: 112). O general Ratko Mladic e as suͧ tropas foram
assim obrigados a abandonar as posiçóes oü'rprdas nos arredores de Samjwo, ao mesmo
tempo que as tropas ü
Federa$o CroateMuçulmana assegunrvem várias conquisus
noutras zonas do território (Enciclopedia Universal, 1997:529:. Niksic e Rodrigues, 1996:
359). A 21 de Setembro, a ONu assegurava ter recebido garantias que a ofensira Croato-
Muçulrnana na Bósnia Ocidenal iria cessar. Como resultado, no dia 5 de Outubro foi
assinado um cessar-fogo de dois meses em toda a Bósnia-Herzegovina, que foi
implemenado no dia 12, que permitiu o inÍcio das negociaçes que culminaram com os
Àcordos de Dayton (Markovic, 1995; Nilsic e Rodrigues, 7996:360-362: Rueda 2003: 50).
Entretanto, a 8 de Setembro, com a derrogx sérvia esperad4 recome§eram a§
numa reunião em Genebra, com represenEntes da comunidade intemaciond e
da Bósnia-Herzegovin4 Croácia e Jugoslávia (Markoüc, 1995; Nitsic e Rodrigues, 1996:
358; Rados, 1999:?38).
A 1 de Nwembro iniciam-se as negociaç&s de Daltorç no estâdo de Ohio, nos
EUÀ com a participaçáo de Slobodan Milosevic, Allia Izetbegovic e Franjo Trudjman e
ainda de Warren ChristopheE secretário de esado norte-americano, Igor Ivanov, Ministro
dos Negócios Estrangtiros da Rússia, e Carl Bildt, enüado da União Europeia; a 2l de
Novembro são concluídas as negociaçôes paÍa a paz rra Bósnia-Herzegovina e o acordo é
rubricado (Cutileiro, 2003: 108; Niksic e Rodrigues, 796;Rados, 19992 239).
A 14 de Dezembro era formalmente assinado o Acordo de Dayton em Paris. Em
conformidade com este acordo a Bósnia-Herzegovina pemraneceu como um Estado
unificado, composto por duas identidades, a Federaçáo da Bósnia-Herzegovina (Croato-
Muçuftnana) e a República Sérvia da B6snia-Herzegovina (República Srpska), a primeira

89
JucosúvrA: O CoNruTo DE l99l A 1995

com 517o dos território e a segunda com os restantes 49% (Cutileiro,2003:15; Rados, 1999:
239; Vaisse, 7997: 193). A IFOR seria implementada no dia 15, pela resoluçáo 1031, com
mandato de um ano com a missão de faciliAr a implemenação do acordo de Dayton'
cessando o mandato da FOF.PRONU na Bósnia; entraYa em funcionamento no dia 20
(Markovic, 1995).

CoNrcrusÁo

De acordo com (Kaldor,1999:33-34) o conflito na ex-Jupslávia foi caracterizado


por diversas formas de "limpeza émica", em que os croatas a realizaram na sua forma mais
'suave', a seguir às eleiçôes de 19fl), quando se assistiu a uma série de despedimentos e à
substitui$o dos polícias sérvios nas zorürs de maioria sérvia- Os sérvios da Croácia segundo
a autora, iniciaram a limpeza étnica na sua forma "mais üolenta", em conjunto com oJNA e

os grupos paramilitares, ündos da Sérvia; posteriormente os sérvios bósnios adoparam-na


como estratégia, sendo copiados pelos croatas, na Bósnia-Hetzegovina e tteCroácia.
Àpós três anos e meio de guetra, as consequências da chamada limpeza étnica,
ficaram bem visfueis em cada uma das repúblicas. A Blovénia continuou a ser a mais
homogénea das seis repúblicas da ex-Jugoslávia e a Croáci4 depois de 1995, ambém se
tomou nas palavrx de Rados (7999:109),um pú qtuse "etnicamente puro'118. Na Bósnia-
Herzegovina o processo foi semelhante: no território da República Stptka, diminuiu o
número de habientes de religião muçulman4 enquanto na Federação Croato-MuEulmana
se assistiu à partida de milhares de cidadãos de oriçm #rvia alguns dos qt'ais já depois da
assinatura dos Âcordos de Da),tonlle (Rados, 1994i: 1@). Assrm, após a assinatura dos
Acordos, continuaram as acções de limpeza étnica, mas desta vez e nas palarras de Rados
(1999 : 109) atral,és de "manipulações eleitorais".
Desde o início, o conÍlito foi caraaerizado por divergências nos objeaivos a atingir
por cada uma .lrs partes envolvidas, em que o caso da Bósnia-Herzegovina foi o mais
emblemático, já que de acordo com Rados (1999: 90) os objectivos de cada um dos três
partidos que formaram o novo goyerno após as primeiras eleições multipartidárias, eram
muito diferentes: o SDÀ antes da independência da Blovénia e da Croácia pretendia a

It8 De rccordar que em 19,!2 o govemo cr@te, para respouder às exiggncias da Comunidade Buro,peiz' havia feio
altera§6€s à Constinrição, de forma a garantir os direitos das miuorias sénias, no entantor em 1995 norms alEraç6es à
Consúnriçao, anularam os direitos dos sérvios que desejarram 6car neq suas ctsas, oú que queriam regressar depois de
terem fugido da Croácia (Rados, 1999: 109).
tle Segundo Rados (19: 109), só de Sar{evo fonm expulsoe 150 mil séwios bósnios, dos quais 50 mil já depois do
Acordo de Dayor-

90
JucosúvlÂ: O CoNFuro DB l99l A 1995

con1,ersão do Estado jugoslavo numa conffera$or pÍlssoll depois a defender a criaSão na


Bósnia-Herzegovina de um Btado unitário dominado pelos muçulmanos; o SDS, primeiro
quis eüar a independência da Bósnia-Hetzegoüna, depois passou a defendq a diviúo
étrica da república e posterior união com a Sérvia; o LDZ, teve posiçóes ambígUas,
defendeu primeiro a independência da B6snia" e pretendeu depois estender a Croácia a
todos os territórios croatas da Bósnia-Herzegovina (Rados, 7999:90).
guerra foi sobretudo entre dois grupos: sérvios de um lado e croata§ e
Â
muçulmanos do outro. No entanto, se em 1992, os croatas luaram conúa os sérvios ao lado
dos muçulmanos, em 1993 e 1994, o:oat;g e muçulmanos combateram-se na Bósnia-
Herzegolina central e na Herzegovina Ocidentall' lcutileiro, 2@3). Em Novembro de
7994 o exército bósnio uma ofensiva em Bihac, conEe os muçulmanos (apoiados
lançarra
pelos sénrios da I{rajina) leais a Fikret ÂMic, que haviam criado em Setembro de 1993 a
Província Âutónoma da Bósnia Ocidental @nciclopedia Universal, 1997: 528; Grande
Enciclopédia Pomrguesa e Brasileira 7D6: 733). Este façto é bem demonstrativo da

complexidade do conÍlito, e do erro ao consideú-lo um conflito aperus entre diferentes


eteias.
De acordo com Cutileiro Qffi3 75), ao longo do conflio cada uma das partes seguiu
um determinado padrão nas negmiações dos sucessivos planos, desde a Conferência de
Londres em19/2até aoAcordo de Dayton em 1995. Os muçulmano§, na esPenmçâ de uma
intervenção miliar dos Esados LJnidos, evitaram assumir quaisquer compromissos, até que
a esperada 4juda chegasse: assinavam os acordos, esPerando que ͧ outra§ parte§ não o
fizessem, pelo que seriam responsabilizados pelo falhanço das negociaçóes; Posteriorment€
voltavam aüás nos acordos já assinados, pelo que Cutileiro os responsabilira por diversos
bloqueios nas negociações e pela perda de algumas oportunidades Para se chegar mais cedo à
paz. Os croatas aliarram-se ora a muçulmanos ora a séwios, conforme as circunsáncias e os
interesses do momento. Os sérvios, prosseguiam ume estmtégia de ganhos tÊrritoriai§,
através das ofensirras miliares seguidas pela orpulsáo das populaçoes de outras origens, que
depois queriam ver reconhecidos nos acordos. Consequentemente as três partes acabaram
por adiar vtlu pazt que segundo o autor poderia ter sido alcangda lop na Primavera de
1D2 (Cutileiro ; 2003; 7 í7 6).

r8 Em l»3 houve urna "limpeza éuica" ua pare muplmana da cidade de Moser, eleia capial da Herceg-Bmna
(Nilsic e Rodrigues, 19916: 1541.

9r
JucoslÁvrA: o coNfl.rro DE l99l A 1995

CapÍrwoIV
O PApgT DA COMUNIDADE INTTNNACIONAL NO
CoNrrrro

Pela sua localizaSo fisica, os Balcãs foram permenentemente influenciados pela


intervenção de potências ertemâs. No seu tempo, foram not6rias as influências do Império
Âustro-Húngaro e Otomano, período em que se formaram bolsas de minorias, semPre
activas nas reiündicaç&s Para a recon§trução do mapa político. Já durante o séc. XDÇ os
Balcãs foram palco das dispuas pelo equilÍbrio de poder entre as potências europeias' Reino
Unido, França e Rússia, que dispuaram os territórios abandonados pelos turcos. Durante a
II Guerra Mundial, surgiu uma nova influência çrmano-italiâner que Por suâ vez §e
confrontou com a influência dos briánicos e dos soviéticos, que apoiaram os moümentos
da resistência naJugoslávia e na Grécia (Correia, 20Mz 251). Com o nm da Guerra Fria' a

er<temas das grandes potências que, de


Jugoslávia viria mais urna vez a sofrer as influências
algurne forma contribuíram para o desenrolar dos acontecimentos entre 1991 e 1995, o que
onovas
leva a que Rueda (2@3: 19) deÍina a guera da Msnia, como fazendo Parte des ditas
glerraso, em que as causas são sobretudo internas ou locais, rn:§ que são em grande medida
influenciadas pelo conter<to internacional, ta[to e nfuel das Glllsasi como da sua Própria
evolugo.

CoMUNDÂDE INTERNACIOI.IAL

Oliveira pW4z 137-734) apresena algumas razões para o fracasso da comunidade


internacional na resoluçáo do conflito da ex-Jupslávia" uma delas seria a percep$o
equfuoca da comunidade intemacional em relaçáo à natureza do Heralismojugoslavo e das
causas da sua disolução. A comunidade intemacional viu a Hera$o jugoslava como uma

união de territórios soberanos - quando na rryalidade eram tsrritórios com fronteiras

92
JucosúvrA: OCoNFLTToDE l99l A 1995

artificiais criadas por Tito - orja independência apenas dependeria da simples realização de
referendos, e não tiveram em conta que a federaçáo jugoslava era urna união de povos
constituintes que se encontravam dispersos por todas as repúblicas. Daí resultou a posição
da Alemanha, que considerou logo ao inÍcio, o conflito como urna agressão de um esado
soberano, a Sérvia sobre oufio, a Eslovénia- Este foi, segundo o auto& o primeiro erro da
comunidade internacional, ou seja reconhecer prenrafi.rramente a Eslovénia e a Croácia sem
ter em conta os direitos e reivindicações das minorias, especialmente rlaCrolcta- O segundo
erro foi o reconhecimento da Bósma, a república com maior número de povos
constituintes, e sem que previamente tivesse sido estabelecido um arranjo entre os diversos
povos sobre o modo de funcionamento do novo estado. IJm outro erro da comunidade
intemacional e que terá contribuído para o escalar da üolência, foi a tomada de posiSo a
favor de um dos lados, diabolizando o outro, que no casc, era o que de mais meios dispunha
para continuar com a guerra(Oliveira 2ffJ4:.137-734).
Para Vesna Pesic (1996) a comunidade internacional, dweria ter trabalhado
activamente com as partes em conflito, no sentido de acordar $mstiht Eto tempráno, ctso
o desmembmmento dos estados multinacionais não fosse precedido por um consenso
intemo $Íulto aos ternos para a cria$o dos novos estados, incluindo as fronteiras e o
estatuto das minorias, e uma ideia clara quanto aos futuros arrar{os a nfuel da segurança e
cooperaçáo. Para o autor, o reconhecimento pela comunidade intemacional dos novos
estados que emergirâm do desmembramento da federaç5o jugoslavâ, foi remendamenrc
insuÍiciente parâ essegurar apaz e a segurança.
A comunidade intemacional falhou em entender que o uódio o medo" não erarn
e
endémicos na Bósnia, mes tinham sido fabricados ao longo da guerra (Kaldor, 1D9: 58).
Apesar das inúmeras conferências internacionais, resoluções das Naçóes Unidx,
sanções, bloqueios, cessar-fogos e envio de capacetes ezuis, a comunidade intemacional não
conseguiu evitar o derramamento de sangue na ex-Jugoslávia e, só ao fim de quaro anos foi
possfuel terminil com as mortes e destruição, recorrendo ao bombardeaÍnento de uma das
cordenaSo com a ofensiva do erército croaa na Krajina
partes do conflito, em e das forças
croatGmusulÍnanas na Bósnia-Herzegovina (Oliveira, 2íNl: 275-278).

Seguidamente apresentam-se os países güe, quer enquento membros de


organizaçóes intemacionais quer individualmente, maior influência, directa ou indirect4
tiveram ao longo do conÍlito na ex-Jugoslávia entre 1991 e 1995 e o modo como essíl
influência foi ocrcida-

93
JucosúvrA: OCoNTLrIoDE l99l  1995

AT.EMANHA

Ao longo do conflito na ex-Jugosláüa, a posiçáo alemã foi caracterizade por um lado,


pelo apoio oglícito à Eslovénia e à Croácia na sua luta pela independência e, por outo lado,
pela forte hostilidade em rela$o aos sérvios, quer fossem da Cro6aa, da Msnia ou da Sérvia
§ados,79D:720).
São de diversa naÍrreza as razóes apontades para a posição alemã face ao pedido de
reconhecimento da Eslovénia e da Croácia, umas resultantes da situaçao intema viúda na
alturao outras derivadas da conjuntura na Europa de Leste e outros ainda relacionados com
as esraÉgias das grandes potências mundiais. Para James Gow (1997), a Alemanha
defendeu o direito à independência da Croácia e da Eslovéni4 simplesmente pelo faco de
ter sido através do direito à autodeterminação que conseguiu a sua própria reunificação, após
a queda do Muro de Berlim. Segundo o autor, pare um país ainda Perturbado com a sua
própria unificaçáo, pelo fim ü Guerra Fria e pelo colapso do regime comunista na Europa
de kste, a Eslovénia e a Croácia fomm üstas como dois paÍses à Procum da sua Pr6Pú
autodeterminaçáo e a tentar fugir à opressão comunista Do ponto de üsta do povo alemão,
a guera na ex-Jugoslávia, foi vista como unür guerra de agresúo da Sérvia pó-comunisa e

doJNr\ contra as democracias emergentes da Eslovénia e da Croácia (Goq 1997).


LJm ouúo motivo, apresentado por Rados (1»9), refere a necessidade de
normaliza$o da política erúema da Alemanha; esta, com o fim da Guerra Fri4 sentia a
necessidade de se tomar um Estado normal e assumir os direios e derreres nas relações
seus

intemacionais, incluindo o direito a estabelecer a sua própria zorru de influência @ados,


1999: l7l). O govemo alemão, teú assim iniciado, logo após a queda do Muro de Berlim,
como referem Nilsic e Rodrigues (196: ?23) com "método, prudência e eficácia", o
alargamento da sua zona de influência num espaço com fortes tradiçóes germânicas, durante
muito rcmpo domínio dos Habsburgos e, onde por razóes históricas se incluíam a Fslovénia
e a Croácia
O facor de proximidade emocional entre o povo alemão e os povos das repúblicas à
prtrura da independência é aponudo como decisivo, já que os üolentos combates que ne
alnrra se desenrolaivam na Croácia as üolaçôes de cessar-fogo e as atrocidades cometidas,
sensibilizaram a opinião pública alemã, que pressionou o governo a tomar medidas de apoio
aos eslovenos e aos croatas @ados, 1999:771).É de ter ainda em conta, a relação especial da
Alemanha com a Croâçta, que remonta à II Guerra Mundial (recorde-se a ligação do
govemo de Ante Parelic com o regime rnzi), e para a qual contribuiu ambém a forte
presença de imigrantes croaEs na Alemanha, que aí criaram amizades e fomentaram

94
Jucosúua: OCor.rrrroDE l99l A 1995

hostitidade em relação à Sérvi4 e os milhares de turisas alemães que desde a década de


Gow,7997:1«-774).
setenta pass:§ram férias na cosa da Dalmácia (Cutileiro, 21J03:57-52;
Gow (1997: lefiq acrescenta o forte papel desempenhado pelos Esados Unidos
ao tsrem apoiado e incentirrado a Alemanhâ, a urna maior intervenção na liderança da
Europa. Adicionalmente, dwe ter-se presente a pressão sob a qual o govemo alemão se
encontavq por parte da opinião pública alemã, deüdo à situa$o do seu país no contexto da
União Europeia. Bona encontravil.-se a braços com a delicada tarefa de tenar convencer os
alemães, que o seu pú não estâ\ra a dar mais do que recebia com o traado de MaasÍricht,
sobre a lJnião Europeia (Gow; 197: 1e174).
IJma outra perspectira é a oferecida por José Cutileiro em iA Vida e Morte dos
Outros" (2003: 51), na qual o autor defende que, o que realmente determinou a linha prô'
croata da Alemanha e a hostilidade em relaçáo à Sérvia, foi a forte rejeiSo da üolência nas
relações intemacionais, que os próprios alemães hrviam sentido depois da erperiência do
nazismo e da divisão forçada do seu país. Estes teriam üsto na Sérvia de Milosevic, uma
manifesta$o do mal que haüam rejeitado em si e náo podiam por isso, tolerar nos outros.
Um objeaivo mais imediato é o apresenbdo por Hans-Dietrich Genscher, ministro
dos neg6cios estrangeiros, segundo o qual o reconhecimento prenuturo da Eslovénia e da
Croáci4 teria como objectivo internacionalizar o conflito e em função disso, contrariar o
avanço sérvio na Croácia (fi2 Nilsic e Rodrigues, 7996:228).
De qualquer forma, a pressão política levou o chanceler Helmut Khol a assegurrr ao
povo alemáo, a 2 deJulho de 7997, que iria defender o princípio da autodeterminação da
Eslovénia e da Croácia que a própria Alemanha semPre tinha procurado (Gorr, 7997:.1@
167). Desa forma, a Âlemanha, demarcou-se de uma decisão que derria ser tomada pela CE
no seu conjunto, adianando-se ao reconhecimento das independências da Croácia e da

Eslovénia (Sâe2,793:129). Âpenas tuna serürna depois da omada de uma posição comum
pela CE, relativamente Írc, processo de aconselhamento juno da Comisúo Badinter, Bona
ânunciou, a ?3 de Dezembro, que iria reconhecer a Eslovénia e a Croácia e esabelecer
lig'açôes diplomáticas no dia 15 de Janeiro (Gow, 1997: 170-171). Esta deciúo levou ao
deteriorar das relações entre o,s membros da União EuroPela, prejudicando gravemente a
PESC, e levaria posteriormente a acusações da culpa alemã na guerra da ex-Jugoslávia já que
a CE fortemente pressionada pelos alemiies, apesar das reticências fiancesas, acabaria por
reconhecer as duas Repúblicas, Eslovénia e Croácia no dia 15 deJaneiro de 19T2.Em Abril,
ao mesmo tempo que era recoúecida a Bósnia-Herzegovinq üarrlrvam-se üolentos
confrontos entre muçulmanos, croatas e sérvios (Girão, 7997i Gow, 1D7: l&174; Rados,
799:159).
Depois da tenúo causada pelo reconhecimento da Croácia e da Eslovénia, a
prioridade da Alemanha passou e ser a reconciliação com a União Europeia e o

95
JucosúvrA: o coNFLno DE l99l A 1995

foralecimento de uma posição comum (Gow, 197: 16Ç174)- "A Jugoslávia foi uma
oportunidade para a Alemanha se transformar de um penitente humilde, num gigante
responsável dentro da política europeia " (radução nossa) (Gornr, 1997: lÜ2),

FRÂNÇA

A Frang pode ser c:iraúe/tzada, como urna potência de tamanho médio e enquirnto
tal, de acordo comJames Gow (1997), normalmente não pode actuar de forma unilateral na
maior parte das instâncias; assim sendo, a maior oportunidade para ter algum tipo de papel
no panoralu intemacional, é através das organizações internacionais de que faz patts,
nomeadamente através da União Europei4 da NATO, ü UEO e da ONU (Gow, 1D7:
15&166).
Com o fim da Guerra Fria e da diüsão da Europa" o papel da França ficou diminuído
em terÍnos estratégicos europeus em favor da Alemanha; assim a França é vista como um
país que necessita de redefinir o seu papel no mundo. Como refere Gow (197)' a posição
deste país durante o conÍlito da ex-Jugoslávi4 carecterizou-se pela diferença; essa

"diferença' significava que os membros das organizações internacionais de que faz parte,
teriam de se adapar às suas posições, o que assegurÍrya que o seu sÍdrrrs e influência não eram
diminuídos.
Desde o início do conflito na Jugoslávi4 a posição da França mostrou-se
marcadamente pró-sérvia- Os motivos prendiam-se por um lado, à memória histórica de
aliang com a Sérvia, e por outro, como forma de compensar o apoio dado pela Alemanha à
Eslovénia e à Croácia, contrabalançado o poderio da Àlemanha Íta zotte dos Balcãs (Gow,
79972 75*166; Rados, 7999: 201; Slez, 79932 129). Érr. Agosto de 7991, era defendida na
França uma inErvengo armada da (JEOr21, para tentâr restaurar a unidade daJugoslávia;
no entanto, no final desse ano, o seu entendimento do conflito viria a modificar-se (Gow,
7997:758-166).
Âssim, no final de 1991 a Frang deixou de dar o seu apoio a urre Jugoslávia
unificada e posteriormente passou de uma posição prô.sérvia Para um compromisso no uso
da forg confia olado sérvio, apesar de nunca ter deisdo de estabelecer conbctos
diplomáticos e âvorecer uma maior úertura diplomática da Sérvia- De acordo com Gorn,
(1997) esa mudança Íicou a dsver-se a quatro factores. Primeiro, deüdo à mudança de
pder em Paris e consequente substitui$o de alguns membros prôsérvios do govemo. Â
r2r
A França estara desejosa de ver a UEO, como â semente parÀ a cria$o de uma forg e de uma polÍtica de defesa europeia'
para criar urna esuora europeia em alteroatir.a à NATO, que permiúh diminuir a influência americana na Eumpa, Pelo
que nos últimos anos havia aproveitado odas as oporornidades para pmmover a Uniâo como o braço amrado dâ CB (Go%
1997:l*16É).

96
JucosúuA: o coNruro DE l99l A 1995

segunde raáo deveu-se à influência do çneral Morillon, que serviu como comandante da
FORPRONU na Bósnia-Herzegoüna, que embora ao inÍcio se mostrasse contra umâ
intervenção armadã, no final da sua missão já acrediava que esta seria necess{ria para a
resolução do conflito. O terceiro motivo, foi o maior coúecimento da situaç.ão no teÍreno,
e consequentemente da responsabilidade dos sérvios no conflito da Bósnia-Herzegoüna.
Por fim, havia o motivo de natureza humanitári4 que aliás teú lenado o presidente François
Mitterrand a uma visia sulpres,r a Saqiwo, no final de Junho de 1992 e que tsve como
resultado a abertura do aeroporto à ajuda humanitária internacional e a quebra do cerco à
capial Msnia acabando ao mesmo tempo por evitar o uso da força contra os sérvios. Estas
acções iriam valer à Franp a entrada no Grupo de Contacto, na Primavera de 1994 (Gow
7997:758-166).
Jâ em 79i5, depois da eleiSo deJacques Chirac como Presidente, a França Pas§ou a
assumir uma posiçáo infloiível contra os er(cessos dos sérvios da Bósnia; estÊs hâviam
cometido o erro de tomar como reÍéns centenas de capacetes Àzuis, entre os quais franceses,
e os humilharem em público. "A França arrtünou de vez supostas lealdades históricas e
integrou (...) um força de reacçáo rápida que castigou a artilharia sérvia e contribuiu mais
ainda que os raifu aéreos da NATO para enfraquecer os sérvios bósnios entes de estes
aceitarem o acordo de Dayton." (Cutileiro,2003: 55-56).

GnÁ-Bnmaxna

Em 1991, o Reino Unido, alinhandese de certa forma com a posiSo francesa,


mosEou-se reticente em aceiar o reconhecimento de novos estados saÍdos dos processos de
autodetermina$o (Ruda, ?-ffi31' Síez, 19932 729). A análise inicial do Reino unido em
relaçáo ao conflito, era similar ao 6ancês, consenrador e contido; enquanto a quesÉo
dominante para os franceses enr a nranutenção de um estado jugoslavo unido, o Reino
Unido, na opinião de Gow (7997), inicialmente üu a guerra como um conflito étnico e
histórico e elçlicana o conflito jugoslavo pela animosidade histórica entre Írs partes. No
enulnto, a sua posiçáo perante o conÍlito viria a modiÊcar-se: se no comeso da crise, Iondres
tentou manter a federa$o, posteriormente passou a defender uma soluçáo global negociada
e finalmente, de forma a não confariar a Alemanha e não mostrar uma Comunidade
Europeia desunida, acabou por sejuntar à decisão consensual de reconhecimento da Croácia
(Cutileiro, 2M3 5Ç 59). De acordo com Cutileiro, londres eve desde o inÍcio uma visão
equilibrada quanto às responsabilidades das diversas partes no conÍlito da ex-Jugoslfuia,
fuindo à visão mais ou menos generalizada primeiro dos croatas e eslovenos e mais tarde
dos muçulmanos, como as únicas vítimâs no conflito. Esa posição, valeu a Iondres duras

97
JuaoslÁvr* oCoururoDB l99l A 1995

acusações do presidenteMsnio Alija Izetbegovic, em Dezembro de 19/2, de constiírir o


maior problema ao progresso das negociações para a resoluçáo da guerra no seu pú (Gow,
79972 774-175). Mú taride, em meados de Outubro de 1993, o Reino Unido sofria as
críticas do presidenteBill Clinton, devido à sua oposiSo em relação ao lerranamento parcial
do embargo à imporação de armas pela Bósnia-Herzegwina, defendida pelos americanos
(Cutileiro, 5Ç 591' Gour, 1997).
Durante todo o conflito, o Reino Unido optou por nunca actu:r unilateralmente,
pelo que odas as suas acçôes seriam realizadas através de organizações multinacionais:
ONU, NATO, UEO, CSCE, mas principalmente através da União Europeia. De acordo
com Gour (799n, um dos objectivos do Reino Unido era aurnentar a notoriedade do pú
dentro da União Europeia e da ONU, daÍ ter concordado em enviar troPas Para a Msnia
como parte das forças da FORPRON(J'', ao mesmo tempo que tenta\ra. eütar que os seus
parceiros e aliados assumissem compromissos que depois pudessem ür a mostrar-se
impmticáveis ou demasiado dispendiosos financeiramente. Isso pôde ser visto no início do
conÍlito, com a recusa no úpido reconheçimento da independência das repúblicas e mais
tarde, quando contrariou a vontade dos EUA de leventar o embargo às armas e iniciar
ataques aéreos conra (Gow, 1997). Os britânicos nunca partilharam da
as forças sérvias
visão dos EUÂ quanto aos beneficios da Operação Lfi and Srrikr (Gow, 199f, qae foi aliás
fortemente rejeiada pela França e pela Grã-Breanh4 os dois países com maior número de
soldados no terreno, que receavam pela segurança dos seus militares (Niksic e Rodrigues,
7996:206). Segundo os britânicos, em qualquer conflito étnico, a intervenção e:úerior em
favor de uma das partes, apenas resultarie no aumento dos confrontos e iria incentivar ainda
mais o derramamento de smgue (Goq 1997).
 relutância dos EUA em comprometer-se com forças no terrenolu, foi decisiva
para determinar a atinrde britânica relativamente ao uso da força, e ao tipo de acção militar a
ser posa em pútica na Bósnia. Apesar das reticências da França e do Reino Unido
relativamente ao uso da forç4 üram-se ambos sujeitos à pressão americana e decidiram que
era inútil resistir
um presidente americano que tinha encetado uma determinada linha de
a
acção. O apoio do Reino Unido aos Estados Unidos para a utilização da força aéree,
aumentou depois da nomeação de Michael Rose como chefe do comando da FORPRONU
na B6snia, apoio este que senriu para melhorar as relações entre os dois paGes; no entanto os
britânicos continuaram a defender que se podeú conseguir muito mais através da
FORPRONU, do que através da retirada dessas forgs e levantamento dos embargos,
defendido pelos EUA (Gow, 1997: 17+7gZ).

rz O Reino Unido enviou o segundo meior cootingente de tropas a operarem ua FORPRONU.


lz Os EUA apenas estavam dispocms a utilizar a sua força úrea-

98
JUGosúvIA: OCoNFLITODB I99I A T995

Segundo Cutileiro (2m3: 56-59) as trocas de informaçóes militares entre os EUAe a


Grã-Bretanha mantiveram-se durente todo o conflito, apesar do desentendimento político,
que durou de lgTZ a 1995, e que viria a terminar apenas depois da op$o de um plano
polÍtico aceiúvel aos sérvios, junamente com a operação militar, que os americanos
aceitaram, segundo o eutor, para que a questÍio jugoslava fosse resolüda antes das eleiçóes
americanas, de forma a favorecer a reeleiçáo de Clinton; plano esse muito semelhante aos
planos europeus precedenEs, que os americanos tinham 4iudado a tonur inüáveis
(Cutileiro, 2003 : 5Ç 59).
No Unido - tal como a França, com assento Permanente no Coruelho
geral, o Reino
de Segurauça das Nações Unidas, contribuindo com meios consideúveis à FORPRONU e
posteriormente à IFOR/SFOR - ocrrpou um lugar de maior destaque do que outros PaÍses
europeus nas negociaçôes políticas e arranjos miliares intemacionais, tendo contado com
dois represenuntes diplomáticos Lord Caningon, que presidiu à conferência europeia e
Daüd Owen, que co-presidiu à conferência intemacional que se seguiu, sem no entanto
assumir um papel determinante (Cutileiro, 2ú3 5Ç59;Sâez,l93:129). Desde o início do
conflito, até ao final, a Grã-Breanha manteve a inten$o de resolver os conflitos de forma a
dei:sr a região da ex-Jugoslávia o mais esável e equilibrada possível, e o suâcientemente
forte de forma a garanú a ordem à sua vola (Cutileiro, 2003: 5G59).

Tunqua

A Turqui4 paÍs de maioria muçulrnana é um país que por motiraos históricos e pelo
faco de aí viverem mais pessoas de ascendência bósnia do que nâ própria Bósnia tem
profundas relações sentimentais com a Bósnia-Herzegovine, daí o interesse demonstrado
em relaçáo aos muçulmanos daquela ex-república jugoslava- Após a queda dos comunismos
nos Balcãs, a Turquia retomou a posi$o de potência regional, tendo a sua força aumentado
significativamente durante a Guerra do Golfo (Cutileiro,2003; Niksic e Rdrigues, 1996:
257; Rados,1999).
Âpesar de se manter relatirramente discreta no decurso da crise jugoslav4 os
responúveis oficiú turcos, sempre disseram gue ne zona dos Balcãs, "existem dois milhões
de pessoas de origem turca e sete milhôes de muçulmanos" (Niksic e Rodrigues, 196:257),
que na perspectirra de Ancare, fazem parte da herança legada pelos turcos nos Balcãs. Para
além disso, os Balcãs constituem e sempÍe constituíram, uma região cnrcial Panr os
interesses turcos a longo prazo na Europq e a Turquia sempre se mostrou muito sensfuel a
uma substancial modificação do statu ryo plíaco e militar na região, que pudesse ür a
ameaçeÍ os seus interesses. Este apoio ambém terá servido para contrebelensar o apoio dos

99
Jucosr,Áua: OCoxrr.noDB l99l A 1995

gregos ortodoxos aos sérvios, como urna er<tensão dojá longo conflito greco-turco. A sua
influência na z.ona viria a ser reconhecida pela comunidade intemacional, daí que tenha
contado com soldados na SFOR e ru IFOR (Cortés, 1D9; Cutileiro, ?.0A3; Niksic e
Rodrigues, 7996t, ?57).
miliar da Turquia
De notar no entanto as, por diversas vezes referidas, qiodas a nÍvel
aos muçulmanos da Bósnia, tal como aos muçulmanos da Albânia fazendo uso da
influência que ainda detém na região (Correia"2$4:265), como por ocmplo nos finais de
lDZ, qtendo os Esados Unidos detecaram uma rota de contrabando de armas do Irão para
a Bósnia-Herzegovina com a participação da Turquial2a (Nilsic e Rodrigues, 1916: 15Ç
151).

VATIcANo

O Vaticano foi um dos esados responsabilizados pelo reconhecimento prematuro da


independência da Eslovénia e da Croácia, tendo apoiado e até pressionado a essa tomada de
posi$o. O
relacionamento entre a Jugoslávia e o Vaticano, tornara-se complicada
principalmente depois da II Guerra Mundial, em grande parte dwido à protecção .lada Pelo
Vaticano ao arcebispo Stepinac; o que era incompreensÍvel para os sérvios e que qlusou
grande ressentimenüo dada a proximidade do arcebispo com a "administração fascista e
sanguinária de Ante Pavelic" (Cutileiro; 2C0'3:. 49). Posteriormente , em 7952, Stepinac seria
feito cardeal pelo Papa o que levaria ao corte de relações de Belgrado com o Vaticano
(Cutileiro, 2003 : 49 -50).
1991,jl com o conflito daJugoslávia prestes a rebentar, o Vaticano pretendia o
EÃr.
reconhecimento urgente da Croácia, já que na opinião de Rados (7999), lhe interessava
assumir a protecção dos católicos da Jugoslávia e no Outono de 191, segundo Cutileiro
(2003), representantes do Vaticano deslocaram-se à Alemanha pam pedir urgência no
reconhecimento da Croácia já que não queriam ser o primeiro estado a reconhecer as
independências, em oposiçâo à orienação oficial da comunidade intemacional, de apoiar a
unidade da Jugoslávia (Cutileiro, 2003: 49-50; Rados, 1999).
Consequentemente o Vaticano, desempenhando um "papel de poÉncia espiritual"
(Cutileiro, 2üJ3 46) viria a adiantar-se, tal como a Âlemanha ao reconhecimento pela
Comunidade Europeh das independências da Croácia e da Eslovénia, numa eüdente
manobra proteccionisa (Saé2, 1993).

t% O Waúingnr Pos de 12 de Maio de 1996, afrrmm que o Paquisrtll,o, Malásia, Aíbia Saudia, Bnmei, Ârgentin+
Hungria, Turquia e o hâo, haviam fornecido secretamente amurnento à Bósoia-Herzegoviu e à Croácia, logo a partir
d6s finrir de 1992, üolando o embargo imposo pela ONU, a 25 de Setembro de l9Dl (in Nihic e Rodrigues' 196:
1s(Lls1).

100
JucoslÁvrA: O CoNFLrroDB 1991 A 1995

Desa forma r Croícia recebeu o apoio do Vaticano, em nome de uma suPoste


"frenfe católica conra a ortodoxia eslava e o Islão", mas onde segundo Nilsic e Rodrigues
(7996:145) 'se escondem sobretudo interesses polÍticos e económicos".

IrÁue

 Iúlia é um país, que .tada a sua proximidade com a regEo balcânica, sempre teve
interesses comerciais e culturais na Jugosláüa e para além disso possui ainda "memórias
históricas de amizade e de conflito, de invasão, ocupa$o e retirada - de vitória e de derroa"
com aquela região (Cutileiro, 2003: 59).
Iogo no inÍcio da crise, a Iúlia tentou convencer a Alemanha a aguardar Por uma
solução conjunta negociada, em vez de fazer pressiirc para o reconhecimento da Croácia"
Posteriormente apoiou a independência do Norte jugoslavo nus com oums intenções: o
minisüo dos negócios estrangeiros ialiano, em 1991 e 199t2, falana numa cooperação enúe a
Itáltu a Croácia, a Eslovénia, a Hungria e a Checoslováqul4 Para diminuir a zotra de
influência daÂlemanha (Cutileiro, ?-003:59-ffi; Rados, 1999; Rueda, 20íJ3:61).
fusim que a Eslov6nia foi reconhecida, a Itália apressou-se a pedir indemnizações e
restituiçôes de propriedade àquele país, devido às elpulses de ialianos da Eslovénia depois
da derrota da IÉlia na II Guerra Mundial. Depois de resolvidas as questões com a Eslovénia,
os interesses ialianos nos novos púes da ex-Jugoslávia passaram a ser essencialmente
económicos e comerciais.-Deve ainda referir-se que no Montenegro e no IGsovo se sente
uma forte presença cultural ialiane, já que grande parte da população fala italiano, não
derrido à ocupação da Segunda Grande Guerr4 nras por causa da cadeia de telwisão ialiana
RAIUNO e do contrabando (Cutileiro,2ffJ,3:59-{íJ}
A persistência das reivindicações "periféricas" da ltÁlil relatirramente à popula$o
ialiana da Ísria e da Dalmáci4 lwou a que fosse incluída no Grupo de Conacb,
juntamente com is grandes potências europeias (Sáez, 1993).

Rússn

A Rússia viveu o período do conflito na Jugoslávia debatendo-se com os seus


próprios problemas internos e tentendo adaptar-se às mudanças que ocorriam dentro do seu
paG. Como refere Gow (7997:186), enqumb se desenrolarra a guera de dissolução da

Jugoslávia, Moscovo tomou-se da capial da União Soüética, na capital da Federaçâo Russa.

I ,].

-iÂ:' ,

-ldrJ
JucosúvrA: oCoNFuroDB l99l A 1995

Uma ransforma$o de proporções hist6ricas, que exigia um período de adapação e de


consolida$o.
 dissolu@o daJugoslávia, era uma ques6o que dizia muito mais a Moscovo do que
a qualquer outra capial, já que a guerra e destrui$o na Jugoslávia fomeceu um espelho a
Moscovo, que a interpretou como um mau e<emplo para a dissoluçáo da União Soüética,
tendo em conta que eram ambas Hemções comunistas multinacionais, assentes na
soberania formd das repúblicas federais (Gow, 1997: l86.ní).
No começo, aquando da declara$o de independência da Eslovénia e da Croía4 t
reac$o de Moscovo foi a de nüuxter a unidade da ffera$o pois, se as repúblicas da
Jugoslávia conseguissem a independência, al pod"ú constituir um incentivo para a saÍda
União Soüética (Gow,1997:18Ç207;Sâe2,1993). Entretanto, o Processo
das repúblicas da
democratizador na Uniáo Soüética foi acelerado com a tentati\/il. falhedade golpe de estado,
a 18 e 19 de Agosto de 191, pelas forgs que se opunham às reformas que vinham sendo
implementadas por Gorbachov, e ao longo de 1991 sucederam-se as declarações de
independência das repúblicas da União Soviética (Gow, 197: 7W201; Vaisse, §m. A
partir da tÊntativa de golpe de estado, de acordo com Sáez (1993), a opçáo por uma
dissolução negociada ganhou terreno, sem no entanto dei:or de ser prestado um certo apoio
às reiündicaçóes de Milosevic, em nome da tradiÉo histórica pantslava, o que de ecordo
com o autor, contribuiu para bloquear as iniciativas a nível das organizações de que a Rússia
fazie partets (Slez, 1993).
Depois do fracasso da proposta de Gorbachov e com âs declarações de independência
das repúblicas, no final de 7991 a União Soüética dei:ava de existir e, e Partir desse
momento, a perspectira de Moscovo passou a ser a penpectiva da Federa$o Russa e úo
mais a da União Soüética (Gow, 1997: t92-201).
No que se refere à política extemâ, o início da crise daJugoslávia coincidiu com o
maior empenho dos dirigentes de Moscovo, primeiro com Miküail Gorbachov e depois
com Boris Ieltsin, em estabeleçer um novo relacionamento e uma maior cooperação com os
seus antigos rivais, sobretudo com os paÍses da Europa Ocidenal e os EUA, o que fez com
que desde o inÍcio da crisejugoslara a política oficial da Rússia se tenha tentado alinhar com
as posições ocidentais (Gow, 197: 186; Nilsic e Rodrigues, 1996: ?39). Ajustificação era
que, para Moscovo, quer com Gorbachov quer com Ieltsin, em terrnos estratégicos, era mais
importante estabelecer uma parceria com o Ocidente que tenar construir a sua própria
esfera de inÍluência nos Balcãs (Niksic e Rodrigues, 19916: ?39). Cortés (1999) refere no
entanro, a q<istência de duas posições anag6nicas no início do conflito daJugoslávia quanto
à posi$o a tomar: uma defendia o alinhamento da posição nsse com a dos púes ocidenais,

rã Como por eremplo, a oposição dâ Rússiâ no inÍcio de 199.3 e uma intervenso miliar contra a Sérvia, teodo
conra essa república (§âez, 1993: 1]zl.,-129),
erpressado o desejo de que fossem lerranadas as sanções

102
JUcosLÁvIA: O CONFLTTO DE I99I A 1995

com ligeiras diferenças, principalmente por desejar Presenrar uÍra certa imagem de
neutralidade, mais do que por conücçóes políticas; a oufia, que se identificarra com o sector
político nacional-conservador, apoiava a posição dos sérvios, defendendo conseque.ntemente
um maior apoio russo à Jugoslávia para além de culpar os muçulmanos pela dura$o do
conflio e apresenava como única saída a cantonização da Bósnia-Herzegoün4 ou a
repartição desta entre a Sérvia e a Croácia.
Apartir de Dezembro de 79Pl3, a situaçáo política na Rússia começou a modificar-se
rapidamente. Boris Ieltsin, que entlio se encontmva sob forte pressão dos seus adversários
internos, começou a alterar a sua posição, mosüando uln menor empenho com a Nato e o
Ocidente. Âcusou então os países ocidenais de prosseguirem a mesma política de confronto
que havia aractsnzado a Guerra Fria, já que a RGsia sempre enqrrou o envolvimento
directo da Nato na ex-Jugosláüa, como uma esrateia da Aliança Para se eryandir Para os
países da Europa Cenral e de kste. Entretanto, na Primarrera de 7994, ocolTeu um novo
ponto de üragem, após a decisão da Nato de iniciar ataques aéreos contra os sérvios da
Bósnia- A partir daÍ verificou-se urur mudança de posiSo da Rússia com uma maior
participação e presença directa no conÍlito daJugoslávia. Â sua posição deixava de ser neutra
e assumia o papel de uma verdadeira potência militar (Cortés, 199; Nihic e Rodrigues,
1996:242).
No entanto, durante toda a guerra daJugoslávia a Rússia viria a ser marginaliz^da,
urn vez que por sistema a Rússia apenes era consultada depois das decisôes já terem sido
tomadas e consumadas pela Nato, obrigande-a desa forma a apoiar as decisões dos países
ocidenais (Niksic e Rodrigues, 19,6:239).
No cômputo çral, de acordo com Sáez (7993), a Rússia demonstrou uma grande
falta de poder dwido essencialmente às circuns6ncias, já que a sua capacidade de
intervençâo se encontra\rà paralisada quer pela dissolução da estrutura soviética quer pelas
tensões nacionalisus fraccionárias dentro da própria federaSo.

Esra»os Uxrnos DA AMÉRIcâ

FÀSEGEoRGEBUSH

Os Estados Unidos, segundoWarren Zimmermann, foram o primeiro paÍs ocidenal


aprever a ineviabilidade da dissolu$o daJugoslávia atrav& dum relat6rio apresentado Pela
CIA em Setembro de 1990, antes do início do conflito. A preocupação essencial nessa alnrra,,
era o facto de que a dissolução daJugoslávia poderia contribuir para a dissolução da União

103
Juaosúvr* o CoNFuroDB l99l A 1995

Soviética de Gorbachov, que então a adminhmÉo de Bush procurava rürnter a todo o


cr§üo.
Em 1991, com o conflito já activo, a administn$o Bush dava a entender que não
pretendia achxr na crise daJugoslávia, já que não existia um forte motivo que justificasse
uma interven$o armada; as úrias partss em confronto procuravam então o seu apoio, que
na Primavera de 1997 era dada à unidade daJugoslávia. Assim, a administação Bush optou
por encorqiar os europeus a tonur a iniciativa da resolu$o do conflio, oferecendo o seu
apoio (Cutileiro,2003:4ó; Gow, 197.Yalle,2-001: tlZ). A2l de Junho de 1997, o
secretário de EsadoJames Baker, visitou Belgrado tendo-se encontrado com Ânte Markoüc
e os líderes das seis repúblicas, e aÍirmou que os Esados Unidos apoiawam a unidade da
Jugoslávia. Na opinião de Warren Zimmermman, esa visia veio demasiado tarde e deveria
ter acontecido seis meses antes mas, nessa altura, Bush esava ocupado com a preparaçáo da
Guerra do Golfotã (Cutileiro, 2003:46; Rados, lW:l39iZimmermann, s.d).
Depois do golpe de Moscovo em Agoso de 79t, a posi$o americana começou a
alterar-se e na Primavera de 79/2 o apoio americano os muçulmanos e
pass:rva para
independência da Bósnia-Herzegovina (Cutileiro, 200,3: 4Ç47; Rados, 1999: 139). Como
erplica Zimmennanrl no início de Março de 79Í2 o ponto de üsta da embabsda americana
em Belgrado, e que ganhou apoio em Washingon, era que a inrcmacionaliza$o do conflito
na Bósnia aravés do reconhecimento da sua independência podeú deter a iminente
agressão sérvia. Consequentemente, ainda nesse mês, os EUA fizeram pressão no seio da
NATO para o reconhecimento da Eslovénia, Croácru Bósnia e Macedónia (Zimmermann,
s.d.) e no dia 10,James Baker deslocava-se a Bn»alas para pedir o reconhecimento imediato
da Bósnia-Herzegovina sem o qual os Estados Unidos não reconheceriam a Eslovénia e a
Croácia (Valle, 2001: 112). No mês seguinte, Baker voltarra a afirmar a vontade americana,
de acordo com Valle, sob pressão dos lobbies croata e muçulmano e ainda da Alemanha para
o reconhecimento de Croâçn e da Bósnia-Herzegpvina (Valle, 2(X)1: 112). O
reconhecimento vrria a 7 de Abril, mas segundo Zimmermann, demasiado urde, pois os
ataques sérviosjá haüam começado. Segundo Cutileiro (N03: 47) esa mudança teve uma
dupla causa: "por um lado, a pulsão wilsoniana da política erúerna americana foi estimulada
em Âbril desse ano pelas atrocidades da guerra da Bósnia; por outro lado, conünha a
Washingon mostrar que não tinha objecçôes de princípio contra musuknanos".
Zimmermann refere como momento decisivo o aEque do §À à cidade croata de
Dubrovnikr', em que a opinião que prevaleceu foi aquela que rectrsinra a intervençáo
miliur americana para defender a cidade, deüdo às memórias dos desastrosos resuhados da
interven$o no Meürame. Zimmermann defende que estc foi um momento decisivojá que,

!á De recordar que a Guerra do Golfo decorreu entre Agosto de 19$ e Fwereiro de 1991
tz Ente Outúm de 1991 e Maio de 199.

IM
Jucosúvn: OCoNFLITToDB l99l A 1995

se os EUA tivessem utilizado a força miliur para defender a cidade, é possfuel que tal tivesse
desincentivado os sérvios dos posteriores ataques na Bósnia. O antigo embaixador, refere
ainda que o reconhecimento da Blovénia e da Croácia por parte da CE, veio alte.rar todo o
conterúo no qual as decisões políticas americanas foram tomadas e toda a abordagem
ocidental ao problema jugoslavo.
Varren Zimmermann, a posiçáo da administra$o Bush de não utilizar forças
Para
terresEes americanas Íicou a deirer-se a três factores: primeiro, a já referida mem6ria da
guerra do Vietname; a segunda, relacionada com a visão predominante durante a orecução
da Guerra do Golfo, ou seja, que úo deveria haver nenhuma intervenção americana a não
ser que os objectivos fossem claros, os meios aplicados assegurassem uma ütória relativâ,
houvesse uma estratégia de saÍda e as bai:as americanas fossem mínimas; o terceiro factor
esava relacionado com as efeições presidenciais, a realizar em Novembro de 7W2, que no
Verão de 1992 erem uma das principais preocupações da administração Bush, que levou a
que fossem ponderadas as consequências políticas de uma intervenSo nos Balcãs
(Zimmermann, s.d.; Sáez, 1993). Mas um factor preialecia sobre todos os ouEos: o medo
de baips americanas. LJma ouüa oçlicação, estava relacionada com a aversão a conflitos em
que não eram claros quem eram as vÍtimas e quem eram os agressores, unür vez que naquela
altura a culpa era aribuÍda às quatro pertes em conflito, daí o argumento adoptado pelo
Penúgono e pela CIA, de que aquela era uma guerra de "ódios ancestrais", lop que os EUA
não deveriam intervir. Rados (1D9: 136) refere ainda" o facto de que recentemente os
americanos tinham ravado a Guerra do Golfo e estavam ainda a gerir o conflito no Médio
Oriente.
E:ristem ainda úrias outras oplicações para a não intervençáo americana durante a
administração de Georp Bush, no conÍlitojugoslavo. Primeiro, o conflito naJugoslávia não
afecava direcamente os interesses dos EUA nos Balcãs, urnâ vez que os objectivos
estratégicos naquela zona estavam cobertos pela Grécia e pela Turquia, no limite do flanco
Sul da NÂTO; depois, a desintegrago da URSS fez com que aJugoslávia perdesse o valor
geopolítico que anteriormente detinha; por fim, a ausência de interesses económicos e
polÍticos nessa região, ao conEário do que acontece por exemplo no Golfo Pérsico, e que
deixava o espaço balcânico à margem da'nova ordem mundial" anunciada por George Bush
(Gow, 1997: 2024.D; Sâez, 1993:128). James GotÃ, (1994, refere ainda a fala de interesse
em relaçáo ao conÍlito, demonstrado pela opinião pública american4 situaSo que se veio a
modificar com as primeiras imagens dos ataques sérvios na Bósnia- Para além dhso, o
síndroma do Vieurame e da Somália, fazin com que dguns altos cargos e oficiais dos EUA
preferissem a precauçáo, já que tinhâm a percepSo que uura implica$o maior dos EUÂ
para além do apoio diplomático, seria demasiado complena e d§endiosa (Gow, 197).

105
IUco§úvIA: OCONFLITODE I99I A 1995

Ainda segundo James Gow (1997:203), a posi$o dos EUA na fase Bush, deveu-se
"à tentativa hesiente de reposicionamento dos Esados Unidos no sistema intemacional" e
ao facto de a Crise do Golfo e a situação da União Soüética náo permitirem que os EUA
tivessem tempo para se preocuParem com este conÍlito. No enanto, os ELIÂ nunca
debsram de intervir no conflito, como quando por enemplo, ainda em 19{2, o embai:ador
Warren Zimmermann teú dito a Alija Izetbegoviclã que não era obrigado a assinar
documentos com os quais úo concordasse. Posteriormente, Izetbegovic retirou o acordo ao
documento que já tinha assinado; ao fazer isto, estava a confiar no apoio americano, algo que
se tomou numa característica do relacionamento entre os EUA e os muçulmanos (Gow,
1997:2lo).

FASECTSIToN

Com a chepda da nova administra$o à Casa Bmnc4 emJaneiro de 79P.3, quando os


sérvios já haüam assumido o conrolo de cerca de setenta por cento da Bósnia e montado o
cerco a Sarajevo, houve uma altera$o no trataÍnento da crise daJugoslávia que se deveu em
grande medida à nova perspectiw apresentada por Bill Clinton, segundo a qual a guerra na
Bósnia-Herzegovina era unür gueira de agressão, em que o agressor era a Sérvia e o agredido
a Bósnia (Gow, 1997; Nilsic e Rodrigues, 79§16: l9O; Zimmermann, s.d.). Bill Clinton,
havia criticado George Bush durante a campanha eleioral, acusandoo de ter voltado as
costas eos direitos humanos e aos valores democráticos e assim, na primeira declara$o da
nova adminisfafo sobre o conflito da BósniA a 10 de Fevereiro de 1D3, Warren
Christopher deu a entender a preocupaçáo da administração com o conflito da Bósni4 e a
sua possível propagação aos paÍses vizinhos. Zimmermann refere que a adminhtra$o
recusou dar o seu apoio inicial ao Plano Vance-Owen" assumindo (incorrecamente, na
opiniâo do autor) que era inaceitável Para os mu$rlmanos, o que teú aumentado as
elpectativas dos muçulmanos numa intervençáo mais musculada dos EsAdos Unidos.
No entanto esa posi$o inicial de Clinton, assim como a suavonade de intervenção
militar contra os sérvios foi passageira- O ponto de üragem, de acordo com Zimmermann,
ocorreu com a visiB do secreúrio de esAdo Warren Christopher à EuroPq em Maio de
1993, patrla tentar \ender" a proposta de levangmento do embargO conEe a B6snia aos
aliados, e simulAneamente usar o @er aéreo conEa os sérvios, que não foi aceie pelos
europeus. A partir daí, Clinton dei:rou de defender a intervençâo miliur e ao lonp dos
primeiros dois anos da sua administração, a opção foi a procura de soluções diplomáticas, até

mesmo quando eram impossfueis ou irelsràntes (Zimmermanrl s.d.). Durante o resto de

tãJá depois dc Izetbegovic ter assinado o Àcordo de Lisbo' de cantotriza$o da B6'sniÀ

106
JUGoSLÁvtA: OCONFUIODE I99I A 1995

lD3, as soluções com recurso à força foram ocasionalmente consideradas, nus semPre
afastadas e a administração Clinton parecia reÍlectir a ausência de uma estratégia. Â
caraaerizaÇíro feia por Waren Christopher do confliüo, em Maio de 1993, numa
conferência de imprensa, rrurcou o início de declaraçóes que defendiam uma linha de
raciocínio da administração segundo a qual, a Bósnia enr um problema europeu e que
represenbvÍr um conflito de "hostilidades étnicas ancestrais"; declarações que implicarram
que não hâvie nada que os EUA pudessem ou devessem fazer. JunAmente com a op$o da
não intervençáo miliar no conÍlito, a adminisração Clinton manteve a posição consistente
de que era urna guerra de agressão, os sérvios eftrm os agressores e os musulnranos as

vÍtimas (Zimmermann, s.d.).


Zimmermenn deGnde que, entre as úrias razóes gue levaram Bill Clinon a afastar-

se da abordagem musculada que haüa defendido durante a campanha e nos primeiros meses
da sua presidência, para além da pouca inclinação por soluções militares, teú estado a sua
delicada relação tanto com os militares americanos, como com o Pentágono, o que não
permiú Clinton ignorar a oposição do Penúgono em colocar forças miliares americanas
a
na Bósnia- Esta era Ambém a posição çral do Congrcsso Americano, da impressa e público
americanorD (Zimmermann, s.d.). Oliveira (2üJ7:.276) atribui ainda esa mudanp de
atitude ao facto de a adminisração se ser apercebido dos potenciais custos económicos e

humanos que runa eventual intervençâo acarretaria para os EUÀ


As imagens televisirras das mortes no mercado de Sarajevo em Fevereiro de 1994,
fizeram com que administração, sempre sensível aros meilia, conseguisse a ameasa Por Perte
da Nato para que os sérvios retirassem a sua ertilherie dos arredores da cida<le
(Zimmermanrl s.d.). Para Valle (2(X)1: 172), a partir de Março de 7»4, o papel de
\trashingtonviria a ser determinante no processo de repartiso da Bósnia-Herzegwina
No enanto, apesar da reçusa em intervir direcamente no conflito, os EUA nunca
dei:<aram de actuar por conta própria. Disso são o<emplos, ainda durante 1994, ú pressão

americâne sobre croatas e muçulmanos bósnios para que em Fevereiro, com o apoio alemão,
aceitassem a Federa$o Croato-Muçulmana e ainda a criaSo em Março, do Grupo de
Contacto, junando à sua volta os Estados mais interessados na zona dos Balcãs, a Rússia' a
Franç4 o Reino unido, aAlemanha e a IÉlia- A inclusão da Rússia deveu-se por um lado, a
sahrar Ieltsin na cena intemacional e por outro, para aproveiar a ligação particular entre a
Rússia e a Sérvia AAlemanha foi incluída dwido ao seu poderio económico, bem como ao
seu interesse pela zona dos Balcãs, especificamente pela Croácia (Cutileiro, ?.N3:48; Nilsic
e Rodrignes, 1996; Rados, 7999:279).

tã Para além da uoa administrago de Clinon ter criticado o Plano Vancc-Orren, ao nresmo temPo que e§te eEl
debatido, ua Primsvep de 1»3, estava a bâver uma imensa cobernrra mediática à vola da guerra na Bósnia, com as
cedeias de telwisão CNN, ÂBC eure outra& . dar máxima ateuçáo ao conflito e que' segundo Gow, corneçaram a
formar uma opinião pública nos EUA (Gost,lW:215).

to7
JUcosLÁvI,A: OCoNFLITODE I99I A 1995

No início de 1995, a Adminisúação Clinton começou a ponderar a hipótese de


recorrer ao poder aéreo da Nato, para fomecer alguma força militar à sua política balcânica
(Oliveira, 2CÍJ.1: /77-278) e segundo Zimmermann, em meados de 1995 a administraSo
finalmente unia-se em romo de uma mesma polÍtica" Esa decisão foi marcada por motivos,
quer de ordem e:üernâ, quer interna. A nível interno, as eleiçôes desempenharam um papel
decisivo na opção dos EUA por wna maior intervenção no conflito bósnio, já que uma
vitória no plano intemacional seria útil a Bill Clinton no combate pré-eleitoral das eleições
que se aproximavam (Oliveira 2ffJl:ZT7-278; Rados, 7999;Zimmerrnarln, s.d.); por outro
lado, de acordo com Oliveira, as imagens do cerco a Sar4jevo e a revelaçáo do massaçre de
Srebrenica em 1995, junamente com o que Zimmermann denomina de "efeito CNN",
fizeramcom que aumentasse o apoio ü opinião pública americana, à intervençáo dos EUA

no conflito. Â partir daí, a administração Clinton conYenceu-se que "a Bósnia pderia
torÍraÍ-se um tema embaraçoso para a campanha presidencial [ao longo de 1995] e que o
mú sensato seria tirar partido da situaçao e convertê-la num potencial tnrnfo eleitoral"
(Oliveira 2N7: ZT7 47 8).
 nfuel erúemo Oliveira QCf7;277-278) refere que, a perpetuação do 6sffiito s íles
barbaridades na ex-Jugosláüa ameasãvam a cria$o de uma nova ordem naEuropa Central e
de kste, assente nos princípios da democracia liberal, direitos humanos, economia de
mercado, e em arranjos de segurança, promovida pelos EUA; em segundo lugar, a situa@o
dos muçulmanos da Bósnia, foi visa como urna potencial ameaça às relações de Washingon
com o mundo islâmico, o que tinha implicações directas para os interesses americanos no
Médio Oriente (Oliveira 2ü07: ZT7-278). Segundo Zimmermann, a mudanp de atitude,
Íicou a dever-se ainda ao faco de se ter tornado claro para a administra$o, que as fizcas
iniciatiras europeias úo dariam resulados e que a Bósnia iria continuar um problema por
resolver, pelo qual os EUA seriam culpabilizados.
um outro factor prende-se direcAmente com a Nato e os objectivos deÍinidos por
'Washington quento ao futuro da referida naquela zona do globo, e aos

interesses estetégicos dessa região para'Washingon, Segundo esb linha de análise, uma
participação no conÍlito da Msnia deveria solucionar o fuhrro da Nato, utna vez que o
conflio da B6snia se apresenta\ra como urna oportunidade única no novo contêúo político
europeu pdsqueda do Muro de Berlim e Íim da União Soviética, parajustificar e acelerar a
orpansão da Aliang em direcção ao IcsE da Europa §iksic e Rodrigues, 196:.742-143;
Rados, 1999). Segundo Rados (1999) ao decidir empenhar-se activamente na resoluçáo do
conflito da Bósnia, Washingon pretendia atingrr determinados objectivos que se prendiam
com a rn:urutenção da sua liderança na Nato, e através dela manter o estaüuto privilegiado na
sitnaçáo geopolÍtica da Europa e na zona dos Balcãs. Correia QO04:265) concorda, ao referir
que os Balcãs deipram de ser uma plaaforma da orpansão da inÍluência russa para Ocidente

108
JucosúvrA: o coNFLno DE l99l A 1995

e passamm a ser uma plataforma de projecção da influência nor@-americana para hste


(Correia 2C04l. 265). De acordo com Rados (1999: ?24), a partir do momento em que a
URSS foi desmantelada e desapareceu o seu "inimigo ideológico e militar", tomava-se
necessário encontrar umajustificaSo para a existência da Nato. Se por um lado os europeus,
sobretudo franceses e alemães, pretendiam uma seÍluríurça da Europa menos dependente
dos Esados Unidos e da Rússia e mais volada para a OSCE, a UE e uEO, os americanos
consideravam obrigatória a sua presenp activa na segurançâ da Europa. Iogo, segundo o
autor, durante a guerra da Bósni4 um dos objeaivos dos Esados Unidos foi mostrar aos
etrropeus que sem a Nato e colrsequente intervençáo dos EUÀ os europeus não
consegniriam resolver os conÍlitos naEuropa (Rados, 1919:.224). Niksic e Rodrigues (1D6:
2{2) fazem ainda referência à importância estrâtégica da zona dos Balcãs para os EUd já que
nessa zona poderiam estabelecer um corredor de ligação com um esPaço üul, o Médio
Oriente, onde se situam precisamene as maiores resenràs de petróleo do mundo,
"protegidas por monarquias conservadoms e corrupEs que Washington não prescinde de
apoiar".Ainda segundo os autores, esta é ume zona através d, qod os EsAdos Unidos se
estariem a servir, no sentido de desenvolver a suÍr diplomacia, numa tentatirra de
"reconciliação com o mundo muçulmano"r eue se degradara devido à Guerra do Golfo,
Ía?Áo eliâs paÍa a sua posição anti-sérvia (Niksic e Rodrigues, 1996t 730) e para conter unür
Rúsia, que aparentava querer assumir de novo o seu lugar no sistema internacional. Os
EUA teriam ainda tenado criar um "arco de contenção" (Niksic e Rodrigues, 7996:249) à
vola da Sérvia e Montenegro, dois possfueis aliados da Rússia, através de acordos bilaterais
com a Blovénia, Croácie, Bósnia-Herzegoüna, Albânia, H*gia Bulgária e Macedónia, no
sentido de precaver qualquer alastrarnento do conÍlio à Macedónia ou entre a Grécia e a
Turqui4 o que a acontecer poria em risco as suas relações com o Médio Oriente.
Ouro aspecto a ser referido relativamente à actuação dos EUÀ diz respeio ao apoio
financeiro e militar presado aos mu$rlmânos da Bósnia, vindo a público por jornais e
rwistas norte-amerienas ao longo de 1995, segundo as quais o governo norte-americano
sabia e autorizou o fomecimento de armas à Bósnia-Heruegovinals çNiksic e Rodrigues,
196: 150). Na impressa era igualmente referenciada uma empresíl privada norte-americana,
que teú tido um papel determinante no apoio e no fieino do erército croata e da Armija
bósniat3r.
Entreano no Verão de 1995, com a operação militar croaa na Iftajina que permitiu
um maior equilÍbrio dos poderes no teÍreno, e o nürssacre de Srebrenicq que chocou a

tr O apoio finauceiro dos Esadm Unidos à.Armija Msnia foi oficializado a panir de 1994 e a 4 de Setembro desse ano,
e coúorme Valle (2001), os americauos ofereceram ainda, ao comando bómio, inforrnações recolhidas pelos seus
saÉlites (Rados, lWl
235Q38iYalle, 2(X)1: 13t136).
r3r O MIIRI (MilicryProfessional Resources Inc.) começou a treinar o edrcito crma a pertir de 1994 (Nibic e
Rodrigueq 1996: 147) e em Agooo de 195, qiudou o edrcito croaa a erçulsar os sérvios da l{rajina §alle, 2(X)1: 134).

109
JucosrÁvrn: OCoNrrrroDE l99l A 1995

opinião mundial, Clinton ganhou o apoio da Nato para realizar ataques aéreos contra os
sérvios da B6snia. A campanha de bombardeaÍnentos teve como resulado o acordo dos
fim da Guerra e, de acordo com Zimmermann, os resultados políticos
sérvios em negociar o
de Clinton foram atingidos, sem a utiliza$o de um único soldado norte-ameriquto no
terreno (Zimmermann, s.d.).
Cutileiro pN2:2.?3) defende que em Dayton, com a reeleiçáo de Clinton emjogo,
foi retirado o apoio aAlija Izetbegwic, a quem havia sido dado durante os últimos três anos,
na obtençâo de um Esado da Msnia unitário (Cutileiro, 2Wà ?.?i), e que, até ao Verão de

1995, os americanos se rrecusaram a aceitar que só podeú ser obtida uma solução polÍtica
para o conflito da Bósnia, se esta contemplasse os interesses dos sérvios e croatas e niio
apenas os dos muçulmanos, apesar de essa ser a conücçáo geral. Para Cutileiro (2N2: D6),
Washington precisarra de declarar que havia paz na Bósnia antes das eleições de Novembro
de 1996 e foi essa a principal razÁo pela qual encetou uma combinaSo de intensas
movimentações polÍticas com a intervençáo miliar, que conjuntamente resultaÍam no
Acordo de Dal,ton (Cutileiro, 2002: 226).
A actua$o da diplomacia norte-americana nos Balcãs, evoluiu semPre de acordo
com as motivaçóes políticas intemas dos EUÀ o que lhes valeu inúmera.s críticas, como por
o<emplo as de Daüd Owen, mediador da União Europeia para o conflio, que criticou de
forma amarga a aúração dos EUA durante o conflito: " a diplomacia desse paÍs [EUÂ]
durante os dois últimos anos é culpada por ter prolongado de forma desnecesúria a guerra
na B6snia. [...] Se Washingon tivesse apoiado o plano de paz Vance-Orren de Fevereiro de
1993, ter-se-iam eviado muias mortes' (apzd Nilsic e Rodrigues, 1996: 1S).

OurRosPAÍsEs

Quanto aos países vizinhos também desempenharam o seu papel no conflito, sem
terem no entento a influência das grandes potências ocidentais. A Hungria colocou-se ao
lado da Eslovénia e da Croácia e tenüou mesmo intervir na Vojvodina onde existe uma
significativa minoú húngara. A Roménia apoiou a Séwia sem se comprometer demasiado.
A Grécia por um lado mostrou-se solidária com a Sérvia, sendo um país ortdo:ro, rnas ao
mesmo tempo receava ari repercussões que o conflito poderia ter na Macedónia e no I(osovo
e ainda a influência que a Turquia poderia voltar a ter na zona. A Bulgária ambém se
mosrou preocupada com a Macedóni4 e a Albânia continuou a ercricer a sua influência
adavezmaior no l(osovo, em nome da constru$o de uma Grande Albânia (Correia 20M:
26s).

ll0
JUGo§LÁVI,A: O CoNTTO DE I99I A 1995

De referir ainda, a actuação de alguns Bados islâmicos, nomeadamente a Argélia o


Irão e o Afeganisülo, que interferiram no conÍlito aravés dos seus sectores mais radicais, que
participaram directamente na gueÍra combatendo ao lado dos muçulmanos da B6snia-
Herzegovina" em que o objeaivo seria a criaçáo de um Esado de maioria muçulmana no
continente europeu (Correia, 2004:. 265).

CorrulrnaorEunopnra

Este conflito foi visto pela Comunidade Europeia como a'sua hora". O faco de este
ser um conflito europeu e de a administra$o Bush náo ver os interesses dos EUÂ
directa:mente ameaçados pelo conflito na e»r-Jugoslávia levou a que tanto euroPel§ como
americanos considemssem que era da responsabilidade dos primeiros tenEÍ encontrar utna
No entanto, logo começaram as divergências
solução para o conflito (Oliveira, 20fll:274).
entre os parceiros europeus, com a Alemanha a amq{ar não ratificar o Tratado de
Maastricht caso a CE não reconhecesse a independência da Croácia. Este seria mais tarde
considerado um dos maiores erros da Comunidade úetemacional e considerado um dos
principais factores para o eclodir do conflio na ex-Jugoslávia numa altura em que o conflito
ainda não tinha atingido as proporções e violência posteriores.
Uma das críticas à Comunidade Europeia, reÊre-se ao reconhecimento dos
resultados do referendo realizado na Msnia-Heruegovina- De acordo com Tucker e
Hendrickson çAwriÍn and Bosnia, National Interest 33, Outono de 1993 ír Markoüc, 1995),
o facto de o referendo ter sido boicoado Por cerca de um terço da populaSo da Bósnia,
tomou claro que haveria recurso às armas caso o novo Estado fosse reconhecido. Os autores

reGrem ainda que o referendo que a Comuni.lode Europeia aceitou como válido, constituía
ele pr6prio uma üolação da Constituigo jugoslava de 1974, quc fazia depender o direito à
secessão,do consentimento mútuo das resantes repúblicasl32 e regióes autónomas da
federação. Para Tucker e Hendrickson, o reconhecimento da Bósnia-Heruegwina,
constituía uma intervençáo ilegal nos assuntos internos daJugoslávia que Belgrado tiúa o
direito de contestar.
Posteriormente todos os Planos de Paz da iniciativa da Comunidade Europeia seriam
um fracasso, quer deüdo à fragilidade e posições divergentes dos seus membros,
demonstradas ao longo de todo o conÍlito, quer pela falta de apoio e até boicote por parte
dos EUA O que deveú ser "a hora" da União Buropei4 foi acima de tudo, mais um

E Este foi aliás, o principal problema e motino referido por Dmovsek para a forma como se procerxsou a secessão da
Eslovénia, já que qru\uer vomsão no sentido da saÍü da Eslo{érüa da federado jugssla\rÀ enr sistematicâmente
bloqueada pelos voos dos rcpresentantes da Sérvia e das repúblicas suas aliãdâ8.

lll
JUGoSúYIA: O CONFLITO DE I99I A 1995

erremplo de que sem o apoio americano, a Comunidade Europeia úo tem nem a força, nem
o prestígio para resolver um conflito dentro do seu próprio continente.

tt2
Jucosúvr.A: O CoNFLrro DB 1991 A 1995

CONSI»SRAÇÓES FINAIS

No que se segue deve ter-se em conta que, regra geral, as diferentes causas de guerr4
como classificadas no Capítulo I, se correlacionam e se potenciam entre si, pelo que se tonxr
problemático diferenciá-las, isolá-las e classificá-las com ersctidão, saber onde uma acaba e
outra se inicia, para mais que muius delas têm uma relação circular entre si, originando e
sendo originadas por outras. É precisamente este facto que tonu extremamente dificil a

interpretaçáo e compreensão dos inúmeros conflitos que nrarca&lm e rnarcam ainda hoje, o
mundo em que üvemos.
Seguidamente e tentando, apesar da dificuldade, ter como referência o Capítulo I,
onde foram agrupadas e descries algumas causas de guerra, ir-se-á tentar oferecer uma
possível errplicação da.s diferentes causas do conÍlito na ex-Jugoslávia, tendo sempre em
mente que será apenas uma interpreaçáo de entre as inúmeras possfueis, e que nuncr as

esgotaú, deüdo à própria complexidade do conflito e à impossibilidade de erylica$o de


algurnâs dessas causas, que descansam no mais profundo reclrrrto do espírito humano.

tlm dos primeiros problemas que se nos apresenta quanto ao conflitojugoslarro, é o


de saber se se ràtou de uma guerra ciül ou não. As opiniões diverçm logo aqui' já que Por
exemplo Rupnik (19V2: 77-12) obsenra que, apesar da guerra da Jugoslávia ter sido
carecterizada como guerra ciüI, nibal ou ainda provocada pelo ódio ancestral entre os
diferentes po\ros que a compõem, defende que o conflio teve principalmente causa§
políticas e que a guerra não foi nem civil nem jugoslav4 uma \rcz que não opôs drres pafte§
de uma naçáo, mas opôs diferentes na@s entre si. Quanüo ao ódio ancesEal entre sérvios e
croatas, afirma que é bastante recente, já que as primeiras tensões só foram realmente
üsfueis pouco anes da I Guerra Mundial. Comini partilha da mesma opinião, referindo que
a Jugoslávia não era um Estade-Naçáo, mas sim um país comPosto de seis 'nações
constituintesn - eslovenos, croatas, sérvios, macedónios, muçulmanos (no sentido políticQ e

113
JucosúvrA: o CoNFLrro DE l99l A 1995

montenegrinos - todos com dGrentes culturas, tradições, religião e etnologia (Corstni


1ee6).
PosiSo diíerente é a apresenada por Markoüc (1995), quando defende que a guera
naJugoslávia foi, desde o início, üna gueÍra de secessão, em que as repúbücas separatistas
praticaram uma luta armada contrâ as partes dissidentes da sua população e contra o govemo
federal. Defende gw, â decisão do govemo federal de tentar manter a integridade da
Jugoslávia foi legítima, tanto no que se refere à Constituição como às leis internacionais,

que é deste modo que todos os Estados reagem Penmte aquele tipo de sinraSo. O autor
guera como unu guerra civil, pela posse de um esado já desfeito; desta formA
classifica a
ao longo do conflito, as forças séwias procuraram controlar as áreas em que a sua etnia
representava a maioria da população desde há séculos e daí que, na opinião de Markoüc, a
sua reivindicação fosse inteiramente legítima; o autor critica ainda a rapidez com que as
repúblicas separatistas ransformaram as fronteiras administrativas criadas por Tito, em
fronteiras internacionais, sem acautelar o formato érrico das novas identidades.
Quanto às causas propriamenE dias, este foi um conflito no qual a história
desempenhou um papel de o<trema importância. Tal foi visfuel, esPecificamente, no
decuno do conflito bósnio, em que a história foi sistematicamente utilizada quer Por sérvios
quer por croatas, para tenar "provar" que o território da actual Bósnia-Herzegwina
pertencia a si e não aos outros. Também na república da Croácia" os sérvios recondanrm a§

atrocidades cometidas pelos uasha, enquanto os croaEs evoqtmm Ante Pavelic e todos os
sírnbolos utasha, em memória do extinto Estado Independente daCroácru existente durante
aII Guerra Mundial. Os sérvios recordaram ainda os sacriftcios que fizeram nas lutas conúa
o império Otomano e depois conEa as forças nazis, existindo o sentimento que esses
sacrificios nunca foram reconhecidos pela comunidade intemacional, que semPre os
manipulou em função dos seus interesses. Milosevic usou sistematicamenüe a hist6ria para
mobilizar os sérvios de todas as repúblicas: utilizou a memória dos massacres utasha para
mobilizar os sérvios da Croácia, e lembrou o berço da naSo sérvi4 e as batalhas aí traradas
para mobiliz:r a população do Ibsovo e da própria Sérviar33. Tanto os líderes sérvios como
os croatâs, fizeram uma utiliza$o das memórias históricas como forma de propaganda e em
ambos os casos a história foi distorcida e reconstruída de modo a servir os resPectivos

"A máquina de propaganda modema conseguiu, duas gerações depois da tr Guerra Mundial, atavés de uma batalha
13â

de memórias .érvios e cÍoaEs, impor on poues semanas uma visão e urna termiaologia arcaicas' 6zendo do
conllim acnral"nt""
urna nÍna versão daquela guerra" Para os sérvios é como se tivesse volado ao ano de 1941, em que a
Crúcia independente se prepârÃra para realiz:r um rro\ro nussacÍe da minoria sénria; e, Pâre txt crxrtas' a elwisáo
apÍesenb os sérvios de preferêacia em uniíormes tcheúdb, barbudos, com um boné PtetÍr com uma águia bruca. A
força de manipular as anatogias listOricas deuto dos seus discunos nacionalisus, c dirigentes conseguiram impô-la ao
seu povo e i acrediar neta eles próprios. Todos se apresentãrâm como vÍtirnas de hisdri4 mas de uma história
deformada, congtrúü sobre a mitologiÂ" (traduÉo uossa) (Rup"rlc lWzt lLllri e ainda "a pro,paganda nacioualisa e
discunos de 6dio, gerados dentro da Séwiq eragerarÀm o terror da ts€gundâl Guerra criando "mem6rias' dos crimes
Utaúa mesmo entre as pessoas que úo foram suas vÍtimas" (taduÉo uossa) Glqidinjalí' ãnl: Z3).

tL4
JucosLÁvIA: O CoNFLITo DE l99l A 1995

Wiberg QW4: 47)tY, refere ainda toda a "invençáo da história" ocorrida na


interesses.
Federação Jugoslaa nas últimas décadas, como forma de legitimar os regimes pós-
comrtnistas, movimentos nacionalistas, movimentos secessionistas, etc.
Quanto t€rritoriais, há a considerar o caso específico de algumas cidades e
às causas

regióes, que pela sua localiza$o e interesse estratégico, foram dispuadas pelas várias facçôes
e onde se registaram os mais longos e mais üolentos combates de todo o conflito. No caso
da Bósnia-Herzegovin4 há a desacar a esratégia dos sérvios, iniciada em Âbril de 19V2, no
sentido de conseguir conrolar o már<imo território possfuel, especialmente Íta aoÍta Este da
Bósnia (adjacente à Sérvh), como um Passo Para uma possível união com a Sérvia- No final
do Verão de 79V2, dois terços da Bósnia esavam já nas mãos dos sérvios: a Perte oriental
próxima da Sérvia, um estreito corredor atravessando de Este para Oeste em direcçáo à
Croácia, e território em arnbos os lados da fronteira bósno+roata à vola da região da Iftàjina
da Croácia (Sowards, ?.004). Como acima foi referido, tanto os croates, como o§ sérvios,
apresentaram reivindicações históricas sobre o território da Bósnia, reclamando para si esse
mesmo território. Posteriormente seriam proclamadas, unto pela comunidade croata como
pela comunidade sérvia, as suas próprias repúblicas denEo da Bósnia-Herzegoüna e
pretenderam integrar a maior fatia possÍvel de território na sua área de influênciat3s' De
acordo com a arúlise apresentada no Guia Prático do Ministério da Defesa, os objectivos
imediatos das partes, no conflito da Msnia foram: defender os interesses onde as respctivas
comunidades eram maioriúrias; ma:rimizar o seu espaço teiritorial; controlar as zonas chave
do terreno, nomeadamente as vias de comunicação que permitissem a continuidade
territorial; controlar a capital, Sar{wo, reclamada por muçulmanos e sérvios, e Mostar, a
principal cidade da Herzegovina, dispuada pelos muçulmanos e croatas. De observar que,
as mais sangrentas batalhas e os cercos mais longos, verificaram-se precisamente em zorül§
ou cidades de grande importância geoestratégica: a capiAl Sarqiwo, com populaçáo

maioritariamente muçulmana, que sofreu o cerco dos sérvios bósnios durante três anos que,
por fim, proclamaràm Pale como a sua capital; a "bolsa" de Bihac, enclave muçulmano, que
os sérvios bósnios cersrmm, apoiados pelo dissidente muEulmano Abdic, e tentaram ocuPar
sem sucesso; as cidades de Srebrenica, Zepa Gotazde e Tuzla, enclaves muçulmanos em
tenitório controlado pelos sérvios-bósnios, e onde se veriÍicaram as mais üolentas operaç6es
de "limpeza éürica"t6; areglão de Kupres, aravés d" qu"l os muçulmanos' juntamente com
os croatas, tentaram isolar Knin, a capial da Krajina; o corredor do Nerewa, onde
qristem

s Ver pág. 12 deste trabalho.


ts Eremplo disso, úo a República Srpsto do lado sérvio, e do lado croaa a "república" indepeodente dos cretas, a
Herceg-Bosna (posteriormente ocina).
ts Seguudo Roux (1998: 143) a expressão "limpeza étuica" desigru "de maneira cómoda, mas por vezes inmcta' porque
o criõrio d, desdmin so nem sempre é émLo, um conjuuto de púticas visando a homogeoeiza$o uacional forgda
através da eliminação (oçulsão, massacre) doo indesejáveis.'

lls
JucoslÁvrA: O CoNFLrro DE l99l A 1995

importantes insalações hidroeléctricas (RuedC 2003: 38) e onde se situa avia de acesso mais
úpida entre a capial Sar4jwo e o Mar Adriático, e que foi dispuado pelas três partes em
conÊonto, inclusirramente entre os muçulmanos e crcrtas (Ministério da DeGsa 199.8: 13-
14).

Quanto à Croácia, Cortés (1999) afirrna que os ataques à IG"jin, no inÍcio de


Agoso de 1995, tiveram como objectivos, primeiro, recuperar o território ocupado pelos
sérvios e depois, resabelecer as comunicaçôes entre a capial (Zagreb) e Split (na Cosa
Adriática) e reabrir a auto-estrada ente Rijeka e Split (Cortés, 1999). Também a ter em
cont4 o carácter estratégico da zona da Dalmácia enquanto zona costeira, e o citso específico
da cidade de Dubrovnilq no sul da região, de üal importânciajá que constifiría uma enorrne
fonte de receitas de turismo para o governo croata, para além de que, é aÍ que as esradas do
interior atingem o Mar Adriático (Sounrds, 2ffJ/.). A Sérvia também cobiçava a costa
dâlmata e em qso de secessão da Croácia perderia o acesso a essa cosb e ao oeste
continental (Morin, 79E16: 24),
Correia refere ainda a imporÉncia do território, que para o autor, justifie por um
lado o interesse dos países estrangeiros pela região, e por ouüro, a fala de união dos povos
que aí habiam. .Assim para Correia QW: 245), o facto da Jugoslávia ter sido cenário dos
mais duradouros conÍlitos na Europ4 dwe-se à sua posição geogúfica no continente
europeu, enquanto cenário de sucessivas invasões e de 'anag6nicos projectos imperiais que
aí se têm confrontado". Quanto à falta de união dos pwos da região, é atribuída à
morfologia da penÍnsula balcânica: a compartimena$o e obstáculos à circulação,
provocados pelo Danúbio e consequente separaçáo das duas grandes cadeias orogúficas, os
Cárpatos a Norte e os Balcãs a Sul, ajudam a erplicar a frágl unidade política regional. Â
abundância de pequerus comunidades nacionais, seú o resultado directo do facto de a
região ser aÍaúerizeÁz por zonas monbnhosas, bastante arborizadas e água em abundância,
o que oferece condições basante favoráveh ao estabelecimento de refrlgios, para
sobrwivência e resistênçia durante longos períodos, contra invirsores estrangeiros.
Hqidiqiak (2001: 15) faz referência a alguns mitos er<istentes relativamente ao
tenitório jugoslavo, como por eramplo o l(osovo e a lGajina (Fronteira Miliur), no cirso
dos sérvios. A lftajina ambém seria reivindicada pelos croatas, por mzóes similares às dos
sérvios em relaçáo ao Kosovo, tttna vez que Knin (a maior cidade da Kt"ji* e a sua capial
depois da'secesúo" em relagão à Croácia) havia sido o cento a partir do qual o primeiro
reino medieval cÍoab nasceu, no início do século D( (Britannica 79,8:639).
Pare Pesic (7996), o caso da B6snia-Herzegovina foi o mah problemático à

dissolu$o pacÍfica da Jugoslávia porque aÍ viviam sérvios e croatas em grande número e


ambos tinham pretensões históricas ao território daquela república-

116
JucosúYrA: O CoNruro DE l99l e 1995

Consequentemente, um dos objeaivos das guerras enEe as viíriâs facções foi sempre
tentar conquistar o mádmo temitório possfuel, de forma a incluir as zonÍts conquistadas nos
novos estados nascidos depois do nm da guerra- Assrm, recorrendo à violência as part€s
rcntaram obter mais território do que aquele que lhes tinha sido atribuído nos temPos de
Tito; exemplos l«lo sérvio, e do lxlo croata e "república"
disso, são a República Srpska do
independente dos croatas, a Herceg-Bosna Se as questóes territoriais não podem ser
consideradas a principal causa do conflito, teiáo sido no entanto decisivas nas estratégias
adopadas pelos miliures e milícias em confronto, e determinaram sem drfuiú os locais e
duração dos diversos ataqu6.
De entre as inúmeras causas do conflio jugoslavo, as causas étnicas foram aquelas
que recolheram maior número de apoiantes. Segundo estas' a populaçeo daJugosláüa teú
sido sempre caracterizada por unu grande complexidade e fala de homogeneidade,
composg por variados grupos, que lonp de compartilhar uma identidade comum'
fortes sentimentos nacionalistas e de rivalid«le'37. Entre as diferengs que
caracterizam esses povos, encontra-se o idioma- Assim, na er<-Jugoslfuia existiam três línguas
principais: o do checo e do polaco); o macedónio (com Ponbs
esloveno (próximo
semelhantes ao búlgaro); e o servrcÍoaB (com dois dialecos, um falado nas zonas
ocidentais, outro falado Íras zonírs orientais, e escrito com dois alfabetos, o latino e o
cirÍlico). A religião foi outro aspecto diferenciador das váúas culturas entre as repúblicas,
apesar de que, na realidade, os habitantes dos Balcãs se teúâm convertido às religiões que
por proximidade ou por motivos polÍticos mais lhes conünham. Assim, de acordo com esta
óptica na guerra jugoslava enfrentararn-se povos que historicamente estiveram sepandos
por diferengs linguísticas, culturais e religiosas e por fortes sentimentos de rivalidade que se
üaduziraÍn num nacionalismo enacerbado. No enanto, o artigo referido (ver nota de
rodapé) ressalva que, de facto existiam muitos pontos em comum a nfuel da cultur4 e que es
autoridades e poderes públicos das repúblicas, se esforçaram em erqltar e institucionalizar os
aspectos diferenciadores em denimento dos comuns; e em alguns casos chegaram mesmo a
modificar-se, ou até invenrar-se, suposhs madiçóes e manifesações sócioculturais. Miliseüc
(2005), recorda a utilização do Memorando, no processo de "euriciza$o" da popula$o
sérvia, no qual participaÍaÍr anto as elites políticas, como os clérigos, intelecnrais e
jomalistas. Edgar Morin (1996: 15), ambém classifica o conflito jugoslaro como um
conflito étnico quendo refere que "(...) a comunidadejugoslawa das nações e das etnias (...)
por ser constituída por elementos saídos de destinos históricos muito diferentes, era
demasiado 6ágil e recente pÍra se cristalizâr em comunidade de destino". Morin oplicc
que é precisamente o sentimento de "comunidade de destino" que ao ser edificada sobre

r37 íEl Coríicb en Yugulãvia", hüp//defensa.on/coúflictúúalcaoes/RFY.df PtgiEa co$ultada a 24 deJaneiro de 2m6.

lt7
Jucosúvra: OCoNrrrroDB l99l A 1995

uma hhtória comum e partilha de valores, crensâs e costumes, "confere substância e


consistência" à identidade nacional.
Outro ponto de visa é defendido por aqueles que recusam classficar o conÍlio na
ex-Jugosláüa como conflito étnico, pelo menos no que se refere ao conÍlito entre sérvios e
croatas, já que segundo Michael Ignatieff (El hotwr ild gwrrao. Guena étniu y co*uianda
mailerwt, 199., p. 4243 in Ruedâ, 2003:39) qualificar sérvios e crc,aes de grupos éurims
diferentes, constitui um erro, já que pam além de falarem mais ou menos a mesma'lÍngua,
ambém procedem do mesmo grupo racial dos eslavos do Sul dos Balcãs. Hinde e
Pulkinnen (2000) defendem que, muitas vezes a etnicid«le ou a religião são utilizadas por
aqueles que têm influência, de forma a direccionar o ódio entre diferentes grupos; esse teú
sido o caso no processo de desmembramento daJugosláüa onde já existia um desemprego
elevado, o nfuel de üda tinha descido dramaticamente, e a situaçáo podia ser erçlorada por
líderes ambiciosos.
Rueda (2003: 40), lembra que dwem ainda ter-se em conta os factos que permitiram
a úpida propagação dos medos, tais como: a fala de acesso dos meios ruraisls a meios de
comunicação para além des 'efiçiais", que teú facilitado a difirsão de certos medos e
temores; a instrumentaliza$o que foi feia da religião; e, o recurso a urna retórica
fortemente carregada de apelos à simbologia histórica.
No que respeia ao nacionalismo como causa do conflito, para além do que foi
referido nos capítulos anteriores, cabe ainda apresentâr as posições de alguns autores, que
atribuem ao nacionalismo a principal causa do conflito jugoslavo. IJma dessas interpretações
é a deVesna Pesic (1996),que defende que a maior causa da crisejugoslava foi a ideologia de
um "nacionalismo agressivo", praticado pelos membros da vel}a nonwnklaatra, qae
procuraÍem essegunr as suis posições de poder, ameaçada.s pela mudança democrática-
Dado que os burocratas do gorremo, membros do pe$ido e oficiais do erército, estavam na
sua maioria concentrados na Sérvia, esta república foi a primeira a formar uma colipção,
para travar a "rwoluçáo democrática" que os poderia remover do poder (Pesic, 1996).
Cintra (N02: 13) vê o desenvolvimento do nacionalismo jugoslavo, não como
resultado dos ódios culturais e éúricos, mas sim como consequência da colisão entre os
úrios interesses nacionalisas, conjugada com o diÍlcil processo de transição socioeconómica
e as divergências políticas preer<istentes no território. E, refere o caso especÍfico da Croáci4
que utilizou o nacionalismo como meio de ober a indspendência e concentrar os seuri
recursos no seu próprio território, urna vez que durante esse processo, as repúblicas
deipram de enviar os impostos para a federação e começaram a tributar os produtos vindos

§ A tensâo entre o campo e a cidade também onstioiu, ao que parece, um ârror decisivo. Os proagonisras das principais
dispucs interétnicas foram quase sempre geues do campo, muito mais permeáveis aos discursos nacionalisms agressivos e
mais inclinadas a iwocar velhos coneBcioss bistóricos mal resolüdo Gaibo, 194).

ll8
JUGoSLÁvtA: O CoNFLITo DE I99I A 1995

das oums repúblicas (Cintra, 2CíJi2: ?ia§. Consequentemente, na opinião de Misha


Glenny (Tlrc Fall of Yugwlauia in C:ratra. ?-002: 31), o conflito não teve oriçm nas diêrengs
étnicas ou históricas, mas sim nos ideólogos nacionalisbs que em 1991 fomenaram o
conflito.
De referir, a "mobiliza$o" realizaüpelos lÍderes políticos, espirituais e intelectuais,
que através dos seus discunos e num conterúo de crescente incerteza polÍtica e económica,
foram construindo uma paranóia colectirra" que alimentou um medo aüvez mais forte em
ooutros".
relaçáo aos As elites governantes, sobrefido croatas e sérvias, conseguiram assim
criar comunidades a partir do medo (Rued4 2@3:39).
De seguida apresentam-se os acontecimentos polÍticos que mârcamm a Jugoslávia
no peíodo anterior ao início do conflito e consequente conributo para o início do conflito.
Pode dizer-se que, desde a fundaSo da Jugoslávia duas polÍticas nacionalistas
distinas competiam pela liderança sobre o futuro político do paÍs: de um lado, o
separatismo croata que aspirava a um estado independente (Pesic, 1996), e que semPre §e
havia ressentido da sua inclusão num esbdo uni6rio, nomeadamente naJugosláüa Federal,
na qual, na sua perspectiva, havia um papel eraessivo do govemo federal no domírrio
económico, e "um papel esmagador dos #rvios nos órgáos de segurança (fotça" armadas,
polícia) " (Krulic, 7998: 94); do outro, o centralismo sérvio, que luava para conservar o
esado unitário daJugosláüa sob o seu domÍrio (Pesic, 196). Nos anos enteúores à morte
de Tito, a situa$o económica haüa adquirido oúrema importância, e a descenralizaçáo
económica fez com que cada república tivesse as suas próprias regras, pelo que caü
govemante dentro de cada repúblic4 tentava aumentar o seu poder ao invés de prosseguir os
interesses da federago (Cinra, 2ffJl2:24-26).4 ransferênú do poder, a nfuel económico e
político, em direcçáo às repúblicas, havia sido reforçado com a Constiürição de 1974 o qae,
ao Íim de alguns anos, transformou aJugoslávia nunu soma de oito nações, oito economias
e oito partidos comunistas.
Entretanto, com o fim do regime comunista na União Soüética, já nÁo fazia sentido
que a Jugoslávia mantivesse o sistema comunist4 que implicava que o poder estivesse
concentrado em Belgrado e consequentemente em Miloseüc, impossibilitando que os
gol/emos de cada república procedessem às desejadas reformas, pelo que se seguiu uma lub
pelo domínio dos apamtos esBtais e políticos e na qrsl, os líderes das repúblicas, apelaram
ao sentimento étnico-nacionalisa das respectivas populaç6es (Cinra" 2002:2426),
Durante a década de oitenta, ao mesmo tempo que se procediam a alterações a nÍvel
económico, ambém se foi desenvolvendo um debate polÍtico acerca de qual deveria ser o
modelo de esado. Por esE' altura existiam três proposas: a defendida pela Eslovénia, que
propunha uma confederaçáo de repúblicas soberanas; e ProPosb do governo federal, de
estabelecimento de um modelo económico liberal, com poderes centralizados para gerir

119
JucosrÁvrn: O CoNruro DE l99l A 1995

uma política maçroeconómica coerente com a economia de mercado abene, em


conformidade com as exigências do FMI; e finalmente, a proposta federal da Sérvia, baseada
na recentralizaçáo do poder em Belgrado. Toda esa discusúo erscerbou os ilnimos
nacionalistas de alguns lÍderes das repúblicas, e assim, aJugoslávia pré-bélica apresentava um
contelúo político e socio-económico explosivo, que propiciou o aparecimento e
desenvolvimento de movimentos polÍticos, orientados para a resoluçáo bélica dos problemas
(Ruedc 2N3:37). I

IJma versão ligeiramente diferente, mas com a.s mesrníts conclusões, é a de Rupnik
(1992; 15-77), segundo a qual os dois modelos existentes como reacção à decomposição do
sistema titista consistimm, flor um lado, no nacionalismo da Sérvia, por outro, no desejo por
uma úpida democratiza$o na Eslovénia- Milosevic iniciou enülo a chamada "revoluçáo
cultural" que assentou no facto de os sérvios se considerarem os principais lesados pela
Jugoslávia titist4 mas ao mesmo tempo, ocuparem uma posiçâo predominante dentro do
aparelho federal e sobretudo dentro do o<ército, e daÍ a oposi$o de Belgrado à proposa de
transforma$o da Jugoslávia numa confederação democútica (Rupnik, l9!2: 15-17)-
Miloserric começou enüio a criticar a política de Tito, e ao mesmo tempo preparou urnÍl
mobilização popular que aliava o descontentamento contra a burocmcia, ao nacionalismo, e
desta forma encorajou a revolta em nome do ideal jugoslavo e da Grande Sérvia. Para
Rupnik (1D2: 17-78), Miloseüc utilizou a Grusa dos sérvios fora da Sérvia como meio de
chegar ao poder, e depois, a guera pam nranter esse poder. Por seu lado, os eslovenos
optaram por um mdelo de saída do comunismo, mais próximo do modelo centro-
europeu, escolhendo um sistema polÍtico pluralista e demoqático (Rupnilc 7W2: 17-18) e
nesse sentido, no Outono de 1989, a Eslovénia adoptou uma série de medidas
constitucionais para proteger-se face ao nacionalismo de Miloseüc, entre elas: o direito de
secesúo unilaterat o direito erclusivo de decretar o estado de emergência dentro do seu
tenitório; aautonza$o para a formação de unidades miliares dentro das suas fronteiras; e a
mais significativ4 que a legislaSo federal já não seria aplicada no seu territóriot3e (Cintra
2WZ62-63). Estas medidas, tiveram como principal consequência o deteriorar das relaçóes
entre a Eslovénia e a Sérvia sendo Milosevic incentivado inclusivamente, o rompimento a
nível económico com os empresários eo govemo esloveno (íhid.: e6\.
Em 1989, o resubelecimento da autoridade sobre o Kosovo e aVojvodina através de
emendas à Constitui$o, pela Séni4 nrarcou o início da repressão conEa os albaneses do
Kosorro. Estefactojunamene com a tentstiva de domínio do Partido ComunisaJugoslavo
por parte de Slobodan Miloseüc, segundo Morin (1996: ?5) Ieyaria à secessão do Partido
Comunista esloveno e à sua opção nacionalista O nacionalismo de Milosevic, com a sue

le  propósio, Dmovsek (s.ú:1&19) lenúra que, enquauto presirtente da presid8ncia fedsral, deÊndsu sempre o sisEmâ
multipartidário e a distin$o clara entre o Estado e os corpm do pãrtido.

120
Jucosúvre: OCoNFLmoDE l99l A 1995

repressão no l(osovo, ambém fomentou a rudializrl$o dos croatas e por sua vez' a
represúo contra os sérvios dessa república (Morin, 1996:?-5).
O faao de os votos da Sérvia serem influenciados pelos votos das duas províncias
autónomas, Vojvodina e l(osovo, que tinham poder de veto no Parlamento sénrio, criou um
desequilíbrio em que a população maioritária (sérvios), efectivamente não tinham uma
represena$o independente. Isto constituh um sério problem4 que lwou a um sentimento
de injustig entre os sérvios e que foi utilizado por Slobodan Milosevic (Sorensen, 7D9:9)
na contestação ao regime de Tito; esta contestasÍio fez-se atribuindo-lhe o prosseguimento
de uma política segundo a qual, umaJugoslávia forte implicaria uma Sérvia íraca (Correia
2Co4: ?58; Rupni( 19{22 17). Na verdade, a república Sérvia foi a única onde foram
demarcadas regifu autónomas em função de minorias, que efectivamente fragilizaraÍn a
Sérvia, facto que Miloseüc saberia aproveitar. Correia Q@4: ?59), defende que os
primeiros tumultos no Kosovo, a que se seguiram restrições da Sérvia às autonomias
regionais, fizeram nascer nas outras repúblicas "os fanasmas de uma ameaça centralizadora
e hegemónica sérvia". Milosevic saberia aproveitrr os distúrbios no l(osovo, durante os

q'lais os sérvios ecrl§ram os albaneses de os quererem expulsar daquela região e o exército


jugoslavo de não os defender; sob Tito, este tipo de acontecimento seria aíastado dos meios
de comunicaçáo, de acordo com a polÍtica de "unidade e Êatemidade', mas com Milosevic,
essesdisúrbios foram difundidos por todos os meios de comunicação até à enaus6o, com o
objeaivo de agiur as pabóes nacionais. Miloseüc começou a "denunciar" publicamente o
'çncídio" contra os sérvios no I(osovo, na surt próPú pátria e assim foi provocado e
encor{ado um sentimento de unidade e solidariedade entre o povo sérvio, e incutido um
sentimento de responsabilidade para com todos os sérvios, independentemente da república
em que vivessem. Desta forma o lÍder sérvio criou uma vage de nacionalismo sérvio e um
sentimento de unidade nacional que se estendeu a todas as repúblicas onde viviam sérvios, e
que se traduziu na reivindicaSo duma Grande Sérvia (Garde,7992: ?J,5-256). A principal
consequência dos comíêios de Miloseüc em 1988 e 1989, foi o encerbar das tensôes étnicas
dentro de todas as repúblicas e segundo Garde (19V2:259), represenavam uma amsa§a Pam
todas elas.
Ouro importante factor polÍtico com consequências a nível económico, já,rudécaÁa
de noventa, foi o fracasso da proposta de uma conffera$o de esados independentes,
apresentada no último Congresso d, Liga dos Comunises, e o facto de que posteriormente
às eleiçóes multipartidárias nas repúblicas em 1990, se tenha rrcrificado uma ruPtura
institucional e territorial, atra\rés da constitui$o de administraçôes e instituiçóes financeiras
próprias das repúblicas, o que levou à percep$o de que não qristia uma solução cor{una

tzt
JucosúvrA: O CoNFLITo DE l99l A 1995

íace à grave situa@o económica que se vfuia140 (Rueda 2OO3: 4245). Este fenómeno foi
especialmente visfuel na república da B6snh-Herzegovin4 onde rapidamente foram
repartidos os ministérios, adminisrações e empres,§ públicas pelos três partidos vencedores
das eleições. Âo longo de 7991, assistiu-se a uma crescente animosidade entre os diversos
líderes políticos das repúblicasr eue ss reflectia cada vez mais nas ruas (Rueda 2ffJ3:4245).
Os resulados das eleições multipartidárias lsvadas a cabo nas repúblicas, mostraram
o sentido que cada uma delas desejava prosseguir. Se, na Eslovénia e na Croáci4 as éleições
multipartidárias retiram os comunises do poder, na Séwia Milossvic optou por nümter os
ex-comunistas no poder recorrendo ao nacionalismo, pelo que Belgrado era visto por
aquelas repúblicas, como o principal obsúculo e lutür úpida ransi$o em direc$o à
democracia e à economia de mercado. As eleições multipartidárias, realizadas de forma
dispema nas várias repúblicas, tomaraÍn impossfuel a emergência de penonalidades políticas
transnacionais, e conribuíram pera deslegitimar o pder fferal, transferindo
definitivamente as decisôes políticas peÍa es repúblicas (Rupnik 7W2:77-78). Ássim para a
Eslovénia e para a Croácia, sair do comunismo e da influência sérvie, implicarra sair da
Jugoslávia (ihill.: 78).
Já depois da declaração de independência da Eslovénia e da Croácia, os croahs e
muçulmanos da Bósnia-Herzegovina, procuraram também a independência desta república,
uma yez que úo desejarram continuar ünculados e ume estrutura política dominada pela
Sérvia, sem o conrapeso da Croácia (Sáe2,193), pelo que se confronaram com a oposiçáo
da Séwia, que paÍa além de não querer perder o seu esatuto de capial Heral, se deparava

com o problema de ter minorias consideúveis na Bósnia e na Croácia, e de ser ladeada por
duas provínciÍls com minorias sérvias, o l(osorro e a Vojvodina (Morin, 7996: 24). Carlos
Taibo (1994), por exemplo, defende que um dos factores que erplicam os conflitos
jugoslavos é a presença de sérvios nas lárias repúblicas, nomeadamente na Croácia - nas
Eslavónias e na IGajina -
na B6snia, e em menor número no Montenegro, Kosovo e
Macedónia No território da Msnia, para além da maioú muçulman4 existiâm ainda áreas
fortemente povoadas por croetas. Desa forma aJugoslávia constituía um espaço geogúÍico
marcado petos diversos quzamentos de povos, em que o melhor ocmplo era a república da
Bósnia-Herzegoüna
Para o final foram delsdas as cilrsas de ordem econ6mica, precisamente com o
propósito de mosmr a imporÉncia decisiva que tiveram na opção de secessão primeiro da
Eslovénia e depois da Croácia, que levariam por sua vez à desintegraÉo do estado
jugoslarrola'.

ro De referir a irsisoência do primeiro-ministro Ânte Markovic para que as eleiçóes para a federação fossem realizadas
antes das eleições nas repúblicas, más a Eslovénia insistiu para que fosse ao contrário e as elei@s para a fedemSo uurca
se chegaram a realizar (Cio'ta.N2:72).
lal Para uma melhor compreenúo do que a seguir se reGre, ver o amxo III.

r22
JuaoslÁvre: OCoNFLI'roDE l99l A 1995

Enke as razões económi@s para a desintegração jugoslava, podem ser desBcadas: a

disparidade do PIB entre as diferentes regiões, sendo a Eslovénia a mais rica e desenvolvida,
e o Kosovo a mais pobre e menos desenvolüda; as políticas de redistribuição do orçamento
federal; e os fundos de qiuda às regiões mais pobres (Cintra 2002:22).
Começando pela última os fundos de desenvolümento das regões mais pobres,
foram considerados como uma das principais ceusas dos pedidos de secesúo da Eslovénia e
da Croácia- A Croácia, e sobretudo a Eslovénia ao serem as repúblicas mais pósperas e
ocidentalizadas, ahvés das quais se realizana grande pare do comércio com a Europa
Ocidenal, e onde estavam localizados grandes empreendimentos comerciais e industriais,
nunca viram com bons olhos os impostos que as empresas situadas no seu território eram
obripdas a pagar, para serem depois redistribuídos através dos fundos PaÍâ o
desenvolvimento das regrões mais pobres da Federaçãoto' (Cit,"q 2002:43; Moncada, 2001:
27). As croatas e os eslovenos sentiam que eram eles que Pagawm as despesas do país,
graças ao turismo do Âdriático e à sua indústria que produzia bens para orportação, e
opunham-se à subsidiarização das fábricas não lucrativas da Séwia e da Macedónia
(Sowards, 2(M). Consequentemente, a obriga$o de contribuir Per:r os fundos de
desenvolvimento, cor{ugada com o úpido declínio económico daJugoslávia na década de
oitent4 provocou uma situação que viria também a pesar nos futuros separatismos
(Moncada 2OOl:27). Depois de 1985, aquelas duas repúblicas comesa.ram a criticar o facto
de náo poderem dispor dos lucros das empresas dos seus territórios, e que fosse o governo
federal a decidir onde deveriam ser investidos aqueles lucros, que normalmente iam Para as
regrões menos desenvolüdas ou pam financiar o er<ército (Cintrc 2N2: aú47). "Com a
ausência de democracia, as lutas a nfuel federal sobre os gastos públicos e a reforma política
não puderam ser resolüdos pelo voto popular, ou sejq pelos canais não-violentos de
resoluçáo de conflitos" (fuilL.:4n.
 ftagmenação a nfuel económico da ÍLderago jugoslav4 havia comegdo logo nas
décadas de cinquena e sessentá, com a competi$o pelos dinheiros dos empréstimos e
créditos estrangeiÍos, fáceis de obter até à década de setenta- Esa competiSo, aliada à
burocracia da autogesüio local, lwou ao aumento do controlo administrativo denro dos
territórios e incentivou t crra$lo de monopólios económicos locais, que eram defendidos
por meios políticos. A economia começou enfio a segrir princípios territoriais, em vez de
princípios funcionais económicos (Sorensen, 1999: lU71).
O caso da Eslovénia é bem demonsmtivo do problema a nfuel de desigualdades
económicas dentro daJugoslívia: os eslovenos representavam P/o da popula$o jugoslava e
assegunr\zlm um terço do PNB e um quarto das receius de etpona$o. Por ouüo lado,

t€ Â dtulo de eríemplo, o produto nacional g apiu ntEslanêna era cioco vezes superior ao do I(oorro.

t23
Jucosávre: OCoNmrnrDB l99l A 1995

sempre estiveram mais próximos da Europa Ocidenal. não só geogmficamente como


ambém culturalmente, do que as outras repúblicas. Para os eslovenos, para além de esarem
convencidos que emm eles quem *t
ría com qiuda Parâ as repúblicas menos
"orrsib
desenvolüdas, também consideravam que essn ajuda era mal utilizada; desa forma, para o
povo esloveno, incluindo os dirtgenrcs comunistas, a Eslovénia ganhava muito menos com a
do modelo
sua participaçâo na economia jugoslava, do que ganharia se se aproxirnasse
económico ocidenal e dos países ocidenais (Cintra 2W2:43; Garde, lWZ:262-264).Ext
forma de pensar generalizada da popula$o eslovena, coqjugada com a cada vez maior
liberdade de impressa na Eslovénia ao longo dos anos oitenta, fiz*rum não só aumentar as
crÍticas como também as exigências por uma verdadeira economia de mercado, o fim do
monopólio comunista e a liberdade de o<presúo. Em 1988 começavam a constituir-se os
primeiros movimentos políticos da oposição143, tendência esa que os diriçntes comunistas
eslovenos não s6 não combateram, como inclusivamente apoiaram. Este foi ambém um
período marcado pelas crescentes preocupat'oes e oposi$o dos eslovenos em relação à
política dos sérvios no Kosovo contra os albaneses (Garde, l9V2:262-2il). Para a Eslovéni4
cadavez haviam menos motivos, quer económicos quer políticos, para continuar integrada
na federação jugoslarra (Cintra, NV2: 43).
Para Sourards QCo4), a descentraliz:$o económica fez com que os eslovenos e os
croatas se oprrsessem ao planeamento económico centralizado e, principalmente, aos
onerosos esforços para construir fábricas nas regiões menos desenvolvidas do Sul da

Jugosláüa, já que preferiam reinvestir os lucros das suas indústrias mais desenvolüdas, nas
suas próprias regifu. Sob o sistema constitucional descentralizado, que entrou em ügor
com a Constitui$o de 1974,as diversas regiões haviam-se tomado rivais a nfuel económico,
ao invés de parceiros. Apesar des restantes nacionali.tades acrediarem que emm
prejudicadas pela o<cessiwa influência dos sérvios, estes acrediavam que o sistemajugoslavo
os colocava em desvanagem, e que as perdas que haviam sofrido nas anteriores guerras, lhes
conêriam o direio à asshtÉncia das repúblicas mais ricas (Sowards, 2ffi4).
Entreanto aJugosláüa foi vendo a sua situa$o económica deteriorar-se e, nos finais
dos anos oitenta, a descida dos salários e do nfuel de vida provocararn o medo da pobreza e a
fi'ustraçáo na população (Sorenserl 1999: l5),o que conribuiu para egravar ainda mais ajá
precária estabilidade da República Federal daJugosláüa. "O declúrio do nfuel de üda é Éo
grande que é dificil imaginaÍ outro pú gue náo reagiria a esa situa$o através de mudangs
polÍticas redicais, ou mesmo através de uma rwoluçáo" (traduSo nossa) (Harold Lydall,
Yugoslavia in Crisis, Clarendon Press, O:úrd, 1989, p. 9 apuil Gerde,79/2: 708).

movimentos pollticos ,5s co6rrnistis cÍnueçaram coustinrir-se em 1989 (Garde , lW2z 265)
'6 Na Cmácia, os a

124
JUGo§úVI,A: O CoNFLIIo DE T99I A 1995

O agravamento contílruo das condições económicas, contribuiu ainda para avivar as

disputas entre os líderes das repúblicas e o govemo ffieral acerca do orçamento federalls,
dos impostos, e &
jurisdição sobre o investimento e comércio sr.temo (Susan L.
'Woodward, Ballun Tmgedy: Clwos and Diwlutbn aJtn tfu Coli War, Brookings Institution

Press, Washington, D.C., 1995, pp. 274, in Hajdinjals 2001: 43). Na opinião de Gow
(I*giíinucy anil tlu Military: Tlu Yugahu Crisis, 1992 ra Hajdiqialq 20o7z 44), ôi o choque
económico e a incapacidade dos govemos de Millça Planinctas e Branko Mikulic para lidar
com a situação que arminaram Jugoslávia A "prosperidade artificial" gerada pelas ajudas
a

exteriores acabaria em 1980, quando o FMI começou a impor duras condições Pílra e
realização dos empréstimosre. O agravamento da situaçao rapidamente desruiu a confiança
popular nos líderes e no partido comunista, o que criou uma atrnosfera de regionalismo e
hostilidade. Por toda a Jugoslávia as autoridades das repúblicas rcrnaram-se mais
interessadas em retirar o mais possível e enviar o mínimo possível para a federa$o. Desde
7986, a maioria das repúblicas deinra de contribuir com regu.laridade para o orçamento
êderal, o que naturalmente agravou a crise e tomou a recuperação económica virtualmente
impossfuel (Flajdinjals, 2ü07: /14 15). De acordo com Hqidinjalq em democracias, esta
situago seria resolüda com a concorrência normal entre os úrios partidos políticos, a
proporem úrias soluções; no entaÍrto, nurnâ Jugoslávia centralizada e de partido único, a
situação levou as elites das repúblicas, penmte o visfuel declínio da federação, a lutarem para
protsger e controlar as fontes de iqvezaque ainda resavam em cada república-
A
situaSo socioeconómica no período imediaamente anterior à secessão da
Eslovénia e da Croácia foi caracterizada por um crescente deteriorar. Assim, as dificuldades
económicas ssntiÍles pela populaSo durante este peíodo, fizeram com que, de acordo com
Raul Rueda, as bases sociais que deviam garantir a esabiüdade do govemo e permitir uma
democratiza$o, se vissem cada vez mais defraudxlas pela crescente desigualdade social, pelo
crescente desinvestimeno na indústria, sem perspectivas de novos investimentos nas regióes
mais pobres, aumento da incerteza s da dificuldade em obter bens básicos, e o desemprego,
especialmente nos sectores mú jovens e trabalhadores úo qualiâcados (Rueda, 2N3;29-
30).

14{
Em 1989, a relação eb vez meis instável enre as repúblicas 6cou bem üsÍvel quando a Bslovénia deircu de
conribuir para os firndos de desenvolvimento, a que se seguiu o boicote da Sérvia aos produos eslovenos (Ciuta, 2002:
6S6e).
t6Milb Planiuc foi Primeira-Ministra daJugoslávia eatre 19e e 1986, seguida por Bnnko Mihrlic qne acabiúia por se
demitir em 1989, admitindo a sua incapacidade para resolver a hiperinÍla$o e melhorzr a economia Foi sucedido por
Ante Markovic.
t6 Lrma das medidas tomadas uo sentido de aumentú as enporações e reduzir as imporaç6es beneficiou
desproporciouadamente a EslovÉuia e a Croácia o que conribuiu pam aumentar as difetenças entre as repúblicas.
Deüdo à pressão do FMI para a coutinuaçâo da des/aloria{âo do dinar, aJugoslávia ennou em hiperinfla$o, guÊ Por
vola de 1989 ultrapassou o
1400 por ceuto. Âs grores, aueriormente praticamente inexistentes, toÍIuÍruu-se quase
dilrias na segunda meade da década de oiteaa (lüjdinjak,Nl: tA).

t25
Jucosúvr* O CoNFr,rroDE l99l A 1995

A importância do áctor económico fica bem demonstrado por aquele que viria a ser

primeiro-minisro da Eslovénia,Janez Dmovsek (s.d.: 17) quando refere que, acima de tudo
os eslovenos queriam a mudança e procunryam uma maior eficiência económica Drnovsek
explica que o descontentamento dos eslovenos em rela$o à federação jugoslava, havia
surgido pelo sentimento de que a Eslwénia enquanto a república mais desenvolvida da
federaçáo, esteva a ser, nas suas púvras, "e:plorada" pelas repúblicas do Sul, mais pobres e
que a Eslovénia estava a pagar demasiado a essas mesnus repúblicas. Os eslovenos
comparavam constantemente o seu nfuel de vida com a dos italianos e atstríacos, e
acrediEvam que se súsem da federação jugoslarr4 conseguiriam obter o mesmo nfuel de
üda e desempenho económico dos seus vizinhos. Dmovsek recorda ainda" que alertou para
o facto de que "certos políticos" se estavam a aproveitar da desasrosa situa$o económica da
federa$o jugosla4 para alimentar a tensão entre os vários povos daJugoslávia
Para Sorensen (7999),o ambiente de colapso económico, numa federa$o alamente
descentralizada, com as suas novÍts elites proteccionisas, era ideal para o novo nacionalismo
popular. A
política lerrada a cabo anto pelo presidente croata, como pelo esloveno, de
reforçar a soberania das suas repúblicas, aliado com o nacionalismo de Milosevic, deitariam
por terra quaisquer resultados das reôrmas económicas libereis e constitucionais, levadas a
cabopeloPrimeireministroAnteMarkoüc 2ffi1:Ü).
Um aspecto referido por Paul Collier (2m0), no seu trabalho sobre as causas
económicas dos confliOs civis, é a tentativa de secessão por perte das regióes mais ricas de
um pú, em que o seu objectivo é apderar-se da terra onde as mercadorias primáriast{ úo
geradas.Dá enáo como erremplo o caso da Eslovénia, que sendo a região mais rica da
Jugosláüa foi a primeira a separar-se, seguida pela segunda região mais rica a Croácia
Defende ainda que a partir da secessão destas duas repúblicas, a Jugoslávia Passou a
caracterizar-se pela dominância étnica dos sérvios (que não enistia antes da secesúo). Â
guerra civil seguiu-se.
Se, no anteriormente referido, de certa forma fica Patente uma óptica em que se
considera unr:r cÍmsl especÍica como e principal causa do conflito, seguidamente
apresentam-se várias interpreações, que lorrrírm uma posição mais abrangente relativamente
às causas desa guerra, considerando úo uma qrusír como a qlusa principal, mas várias, que
se interrelacionam.
Desa forma, pode proceder-se à identifica$o de várias causas imediatas do
conflito naJugoslávia. Algumas delas tiveram como principal resultado, o facto de terem
provocado rrrn sentimento de insegurança entre as repúblicas, e :rs ter conduzido a urna
situação, em que foram levadas a acreditar que a suít única opção era a saída o mais

l{7
"primary commodities" no original

t26
JucosúvrA: OCoNFLIToDE l99l A 1995

rapidamente possível, da federação jugoslava, assim: a proclamaSo em 1989, do esado de


sítio no Kosovo, juntamente com a retirada da autonomia da Vojvodina e do Kosovo, foi
vista como um indício do que poderia acontecer nas outras repúblicas, nomeadamente na
Eslovénia e na Croácia; esse medo foi ainda amplificado pela constante pressão de
Miloseüc para conrolar as instituições federais, nomeadamente através do veto dos
sérvios, a 15 de Maio de 7»| à. subida à Presidência Colegial federal do croaa Stipe
Mesic. Do outro lado, esbva a opção de Milosevic, pela üa da violência, seguida como
forma de atingrr os sels objectivos, como foi o caso daquela que seria considerada como a
sua verdadeira üragem, a oposiçáor§, dentro da própria Sérvia" a Slobodan Milosevic' que
teú enüio optado por uma fup em frente, em direcçâo ao nacionalismo e o recurso à
violência para se manter no poder, e disso seria exemplo o recurso à forg pelo exército
federal, depois da proclamação de independência da Blovénia e da Croácia, para tentar
manter a federaçáo jugoslava (Drnovsek, s.d.: 256; Rupni( 1992:73).
Por outro lado, o rápido declínio económico dos anos oitenta na Federação
jugoslava, levaram a um descontenamento generalizado da popula$o com o sistema
político. Esa situação, juntamente com a manipulação dos sentimentos nacionalistas
levada a cabo pelos políticos, apenas levou à ainda maior desesabilização da política
jugoslava (Briannica, 1998:6?3). Uma linha de raciocínio semelhante, é a de Smitha" que
defende que não foram os ódios étnicos ou as diferenças religiosas que criaram os
conflitos, foram entes os conÍlitos que inspiraram os ódios e recordaram às pessoas Íts suas
diferenças religiosas. Os conflitos por sua vez, tinham tido a sua origem nas divergências
económicas, anteriormente referidas, e políticas, especificamente devido ao domínio
sérvio no Partido Comunisa e no sistema miliar jugoslavo, e pelo facto de o governo
êderal esar sedeado em Belgrado (Smitha s.d.).
Já Markovic (1995), enconúa a origem do processo de destruição daJugoslávia, na
decisão unilateral da Bslovénia e da Croácia (seguidas pela Bósnia-Herzegovina) de se
separarem,juntamente com a passiüdade Ocidenel em relaSo àvontade alemã de legitimar
o desmembramento antes de serem decididas e acordadas questões chave, como as novi§
fronteiras e os direitos das minorias dentro de cada república.
Para Mil<e Bowker (77u utan in Yagoslauia: Rasia ani the Intematiorul Cownunity,
Europe-Âsia Studies Vol. 50 (n,7998 ir
Cintre, 2002:29), dado que a federaçâo jugoslava
era um estado artificial - em grande medida resulado dos arranjos pós-guerra entre as
potências europeias e que só havia sobreviüdo det'ido à liderang de Titolae e à ideologia
comunista, que servia de fotç" unificadora dâs diferentes nacionalidades - o

l€ Pelo Movimento Séndo da Renow$o.


to De acordo com Glossop (?,@1 75-79), e estratégia seguida por Tito na Jugosláviâ, bavia sido unir os povos
jugoslat/os, fonnando um g:upo maior, de forma a lutarem conra úru fuimigo comum; daí que após a su:r morte, se
tenham iniciado lutas pelo poder, que até enüio eram inadmisstÍveis.

127
JUGoSúVIA: O CONFLITO DB 199I A 1995

desmembramento da Jugosláüa ficou a dever-se à combinaSo de uma série de âctores


como: as velhas rivalidades étrricas, as desigualdades económicas entre as seis repúblicas, as
luus pelo poder por parüe das elites, e ainda um factor interno (a crise económica) e outro
e:cemo (o colapso do regime comunista).
Este último ponto de vista acaba por juntar a maioria das posições anteriormente
o que vem confirmar a variedade e o grande número de variáveis que' ac, se
referidas,
combinarem entre si, tiveram como resultado uma situa$o erplosiv4 que só seú résolüda
com o recurso à violência entre aqueles que durante déedas haüaÍn sido vizinhos e se
haüam considerado como o povo Jugoslavo".

128
JucosúvrA:OcoNFLnoDE t99l A 1995

CoNcrusÁo

Pam compreender um conÍlito de modo a preveni-lo, ou pelo meno§ confiolar e


limitar a sua evolução, é necessário que primeiro se proceda à identificação das causas dos
conÍlitos em geral, e posteriormente às causas de cada conflito em especÍfico. Só assim seú
possfuel o desenvolvimento de uma teoria que inclua os passos a dar, antes e durante o
conflito, tal como as posteriores iniciativas a tonur no sentido de recuperaSo das sociedades
que sofreram os serrs efeitos. Daí que um conhecimento rigoroso das suas causas seja o
passo inicial para a sua resoluçáo (Piris, 195: 39). Este foi precisamente o intuito do
rabalho que aqui se apnesentou.

Face às quase inÍinies interpreaçóes surgidas para a explica$o do conflito jugoslavo,

que muitas vezes dependem das crenças religiosas, políticas, entre ouffa§, de cada um, e face
ao que anteriormente foi orposto, apenas resta concluir que o conflito jugoslavo foi o
resulado de imensas varifueis que se cor{ugaram no local e momento tal, que tiveram
como resultado um dos mais afiozes conflitos das últimx décadas, e sem drfuida o maior
desde o final de II Guerra Mundial, e depois d" qod a maioria dos europeus Pen§ou que
seria impossfuel voltar a viver-se uma tal camificina.
Resta agarrar nas palavras de Rueda (?-A03:21), quando refere o quão fácil é em
determinados conterúos, desenhar e erccutar uma guerr4 baseando-se em Pre§§uPo§tos
falsos e na construéo de inimigos artificiais.
Uma última palavra para referir, a esperança para que este trabalho possa couribuir
pam tuna melhor compreensão do conflito, e como fonte de outros Pontos de visa e de base
para um maior aprofundamento do tema, para aqueles que se interessaÍn por conhecer
melhor o conÍlito que, novemente e penmte a inacçáo dos políticos mundiais e Perante a
incredulidade dos povos europeus, trouc de novo os medos de novas guerras sanguinária§'
há Anto tempo extintas do continente europeu e a percepSáo que, me§mo em pleno século
)§(1, e num dos continentes vistos como mais humanos e defensores dos Direitos do
Homem, mesmo neste local e nesta época, ainda existe o perigo de repeti$o d⧠mâis
horrendas demonseaçóes do pior que e<iste em todo o ser humano.

129
JucosúvrA: O CoNFLITo DB l99l A 1995

Que este trabalho permia acima de tudo, a quem o ler, colocar a mão na consciência
e perceber o que cada um de nós pode fazer para eütar que este tipo de acontecimentos se
volte a repetir. Foi esse o principal objectivo desta tese.

130
Juc,o§IÁvrA: OColüffoDB l99l A 1995

AI{D(OS

131
Juaosúvr* OCoNruroDB l99l A 1995

ANE»«o I

NAcroNAusMo, NaçÃo, Estapo-NaÇÁo

Seguindo de pero Ronald Glossop (2001), irão aqui distinguir-se três significados de
nacionalismo. Dois deles estiio relacionados com a identificação com o grupo, e para §e
compreenderem toma-se necessário distinguir Naçáo, de Estado-'Nação. O termo Nação' é
um gruPo de pessoas que Peftencem e
utilizado como sinónimo de povo, ou seja, refere-se a

uru mesnur resá, usrm a mesma língua partilham a mesnu religião e tradiç&s culturais e
vêm-se como um grupo homogéneo. Este signiÍicado, de acordo com Glossop, não implica
qualquer unidade polÍtica ou edstência de um Esado-Na$o. É o significado étnico-racial
de nacionalismo (Glossop,2@7:7Çn. O termo Esado-Nação, implica a existência de
uma população que habia um território, sob a autoridade de um govemo. Neste caso a
popula$o não é constituída necessariament€ por um gruPo homogéneo, podendo conviver
por o<emplo diGrentes grupos culturais, que utilizam uma língua diferente e com culturas
dGrentes (iürrí).
Âssim, o nacionalismo, quando está relacionado com a Naçáo, é denominado etno-
nacionalismo (Glossop utiliza o termo "raçial-ethnic-nacionalism", P. 77) e lmplia a

identifica$o de um indMduo com urla naçáo ou povo homogéneo. Neste sentido o


indMduo identiÍica-se naturalmente com ouEos, que se assemelham a si fisicamente, que
falam a mesmÍr lftrgrra professam a mesrna religião e partilhâm da mesma herança culnrral.
Neste caso pde haver a tendência para ver aqueles que não partilham das mesmas
semelhanças, como estranhos, incivilizados, e em casos elúremos, nem serem considerados
seres humanos (Glossop, 2ü01: 77). Por outro laclo, se o terrno nacionalismo se relaciona
com o Esado-Na$o, en6o significa lealdade ao Estado-Na5áo, ou pahiotismo. O autor
defende que estÊ tipo de nacionalismo nâo nasce naturalmente mas, Em de ser inculcado na
populaáo através de um esforço deliberado, por forma a criar lealdade ao Estado, às suas
instinriç&s e aos selrs símbolos, como a bandeira e o hino nacional (ún{. Dessa forma o
o<ército presa juramento à bandeira e o ensino da história às crianças recorre muitas vezes a
heróis nacionais, grandes feitos históricos e vitórias milieres, de modo a inculcar a noção do
"nós" e dos "outros', sendo o "nós" um gruPo heterogéneo, comPosto por todos os
indMduos que habiam o Esedo-Nação.

132
JucosúvrA: O CoNFLrro DE l99l A 1995

A terceira noção de nacionalismo, ao contrário das anteriores, não se relaciona com a


identificação com o grupo. NesA noção, o üermo nacionalismo pode ser visto como uma
doutrina ou crença. Glossop (2001:77) define este tipo de nacionalismo, como a percepção
de cada grupo étnico-racial, de que tem direito a constituir o seu próprio EsBdo-Nação
independente, e que todos os membros daquele grupo étnico-racial, deveriam üver juntos
num úÍrico Esado-NaSo independente. Esa ideia está ligada à noção de autodeterminaçâo
nacional e foi esta no$o de nacionalismo, que serviu de base aos movimeútos de
independência nacional contra os colonizadores esüangeiros e, mais recentemente, aos
movimentos separatistas de minorias étnico-raciais dentro dos Esados-Nafo. O faco de
que, idealmente, e de acordo com este tipo de nacionalismo, o EsAdo-NaSo deveria ser
etnicamente puro (Glossop, 2fi)1: fi,lananltz alguns problemas, especialmente nos casos
em que existem enclaves de um determinado grupo étnico-racial, no territ6rio de um outro
grupo étnico-racial, ou em áreas mistas.

133
JUGoSLÁVI,A: O frNFLTTO DE I99I A 1995

AxmroII

SnSSREr.ttCÂ

Srebrenica é uma cidade da Bósnia-Herzegovina lwalizada perto de uma mina de


pra1,aque aliás deve o seu nome, na qual antes do início do conflito,75"/oü população era
muçulmana e?SY" sér-oi.tu A cidade havia-se mantido da violência que caracterizou
^íasada
outras cidades, devido ao acordo que os muçulmanos haviam feito com os sérvios, acordo
esse que havia sido respeiado até à chegada de milícias paramiliares sérvias que, no início

de lW2 ganharam o controlo da cidade. Nos finais de Abril desse ano, Nasser Oric, um
polÍcia muçulmano local, organizou um levantamento e, após tr& semanas de combates
conseguiu reconquistar a cidade, pelo que os muçulmanos conseguiram garantir uma ilha
no território do coração da República Srprk . Nos meses seguintes, foram levados a cabo
uma série de raides contra as posições dos sérvios em redor da cidade Gl"jdinjdÉ 2@1:70;
Nilrsic e Rodrigges, 7%6:72Ç7fi. Para além disso, as forps de Nasser Oric, lançaram
vários ataques a ülas sérvias em redor de Srebrenica, nomeadamente a 14 de Dezembro de
7992, qvando duas vilas foram queimadas e 63 sérvios foram mortos e, t7 de Janeiro de

7993, di;. do NaAl Ortodo:ro, quando num ataque surPresa contra Posiçóe§ dos #rvios, a
norte de Srebrenica, os seus homens incendiaram diversas aldeias, compleamente
desprotegidas e durante o quel muitos civis séndos foram mortos (Hajdinjalq Zffill. Ü2;

Rados, 7999:212). Em resposa aos ataques, Srebrenica foi totalmente cercada pelas tropas
do general Ratko Mladic, e como consequência, começaÍâm a chegar à cidade ntunerosas
vagas de refugiados, que firgiam aos avanços das forças sérvias. A situa$o era preocuPante,
urnavez que a cidade se debatia com excesso de popula$o e más condições de üda e assim
no dia 11 de Março, o çneral Philip Morillon, comandante da FORPRONU, decidiu
deslocar-se a Srebrenica (Rados, 19É/9 272). EsA deslocaç5o não seria muito feliz, já que,
ap6s receberem ordens de Sarqievo, os muçulmanos Pu§eÍam centenas de mulheres e
crianças à Êente dos blindados e impediram a partida do çneral Morillon e dos capacetes
Muis, que ficaram reféns da popula$o muçulman4 só conseguindo sair dois dias depois
(Rados, 212). Entretanto milhares de muçulmanos foram sendo evacuados pelas
199 9r:

forç2s da ONU até que, em Abril, os sérvios emitiram um ultimab, que dava 48 horas ao
exército muçulmano bósnio para a rendiSo do enclave e no qual exigiam que os habitante§

t34
Jucosúvn: OCounrroDB l99l A 1995

fossem evacuados para território muçulmano. Os muçulmanos concordaram com o


desarmamento mediado pela FORPROITfU, que significava de facto a sua rendição. No dia
16 de Abril, a ONU aprovava a resolução 819, pela qual Srebrenica foi declaradauzorla de
segurança", e no dia 18 as primeiras forgs da FORPRONU chegavam à cidade. O acordo
de desarmamento, nunca chegou a ser totalÍnente aplicado, e as milÍcias muçulmanas de
Nasser Oric, prosseguiram com os ataques contras as posições sérvias, ao longo de 1994 e
1995, apesar de se encontrarem completamente cercadas pelas forças sérvias, estas llltimes
fortemente armadas. Estes frequentes ataques terão sido o principal motivo que teú levado à
üolência praticada pelos sénios, após a conquista desta "zona de segunng" da ONU.
Ássim, no dia 10 deJulho de 1995, na véspera do ataque final à ci.l'de por parte dos sérvios,
cerca de 12 mil muçulmanos, incluindo homens e Íapazes, iniciaram uma caminhada na
tenretiva de chegar ao território controlaclo pelo governo bósnio, durante a qual tiveram de
atravessar território conuolado pelos sérvios, o que se iria revelar fatel. O apoio aéreo pedido
no dia 10, pelos capacetes azuis holandeses à Nato, apenas chegaria a meio do dia seguinte, e
logo foram abandonadas pemnte as ameeçes dos sérvios, que entretento haviam conseguido
capturar soldados da FORPRONU. A ONU nada conseguiu faz*r para salvar os
muEulmanos de Srebrenica, e como resultado, entre três a oito mil muçulmanos, conforme
as fontes, foram mortos; uns em üolentos combates, enqrü[rto outros acabaÍiam Por ser
simplesmente e:<ecuados (Cutileiro, 2-M3: lll-ll3; Girão, 1997:129; Niksic e Rodrigues,
796:728; Rados, 1999)

135
Jucosúvn: OCoNFLITIoDE 1991 A 1995

ANo«O III

A cruss ncoNórraceJucosreva

A experiência da "autogestiio" havia tido o seu inÍcio na Primarrera de 1950 e,


juntamente com este sistema, iniciou-se também um peíodo de indusrializa$o e de
Eansformação da sociedade rural jugoslava- Ao longo de décâd4 o Bovemo jugoslavo, já
enüio pressionado pelo FMI, e tendo como objeaivo último a integraSo nos mercados
mundiais, iniciou uma polÍtica económica assente nas eryomções, pare o que dependia das
imporaçóes de componentes e matérias-primas. Nessa altur4 a obtenção de empréstimos,
era ainda relativamente fácil, anto devido ao crescimento económico a nfuel mundial, como
ao interesse dos países ocidenais em manter aJugoslávia fora da esfera soviética (Sorensen,
1%9:7A-1,7).
Apesâr dos resulbdos positivos do sistema de auogesdÍo, este também provocou
uma maior concorrênú entre as repúblicas e as diferenças económicas entre esr^s
começaçlm e agra\rar-se (Defensa s.d.; Sorensen, 19D: 10-11). Âssim teve início a
fragmena$o da economia, que comprometia seriamente o desenvolvimento da Federação
Jugoslarra a longo prazo. A descentralizaSo seria agravadzcom a Constitui$o de 1963, aurro
em que parafazer frente aos desequillbrios regionais foram criados os Fundos Federais para
o Desenvolümento, com o objectivo de ajudar as regões menos desenvolvidas, rn ts que por
outro lado, sobrecarregarram as empresíui situadas nas regiões mais desenvolvi.las,
nomeadament€ a Eslovénia e a Croácia (Defensa, s.d.; Sorensen,l999: l5).
O crescimento econ6mico que caracterizara as décadas de cinquenta e sessent4 e
que se derteu em grande parte aos empréstimos e$ernos, chegaria ao fim na década de
setene. De acordo com Susan L. Woodward (BalkanTragedy: Cluos anil Disslution aÍfr the
Coll War, Brookings Institution Press, Washington, D.C., 1D5, pp. 2142 in Iüjdinjalq
20o1: 43), os problemas económicos jugoslavos começaram, com as mudanças na
conjuntura intemacional. Â recessão que começou em 7975 no Ocidente, e que lwou à
depressão económica mundial na década de oitenta, viria também a atingir aJugosláüa- Os
seusi govemos haviam alimenedo o crescimento económico na década de setenta com
sucessivos empréstimos e, depois do segundo aumenb de preços do petróleo em 197ü
7979, ts ta:as de juro eumentaram exponencialmenter guse duplicando a dfuidajugoslava,

136
Jucosúua:OCourrmoDE l99l A 1995

para os 20 mil milhôes de dólares; o produto e o rendimento pr upita diminuíram e a tars


de inflação tornou-se cadavez-, maior (Garde,19V2:708),
A partir dal, a má, conjuntura intsrnacional prwocada pela crise petrolífera; a
diminuição das o<ponaçôes; o aumento da dfuida elúenra; os investimentos não renéveis; as
fábricas de indGtria pesadr enormemente ineficientes; o facto de as repúblics serem
concorrente§ em vez de se complemenErem, e daí úo aproveitarem as economias de escala;
e ainda o facto de cada uma delas pretender dotar-se de um sistema produtirrc complêto, em
beneficio da p.ópria república e não da federa$o, agravâram ainda mais a crise económica
(Britannica 7998: 6111' Cintrc 2@l2: 37-38; Encyclopaedia Universdis, 7996: 938;
Sorensen, 1999:15).
Na década de oitenta, a crise viria a manifestar-se em toda a sua força: Os anos
oiterua, seriam caracterizados por unra grande austeridade, existência de inúmeros conflitos
orçamentais e ainda Por utna política económica orientada para a integra$o nos mercados
mundiais @ncyclopaedia tJniversalis, 7996: 938; Sorensen, 7999: 70-17), paftr o que era
u{gente reduzir o deficit na Balança Comercial e a dfuida erúerna 1987 seria um ano de
ümgem, em que o primeiro-ministro Branko Mikulic, para faz*r frente às crescentes
dificuldades económicas, reabriu as negociaçôes com o FMI. No entânto, as condições
impostas pela instituigo, exigiram reformas económicas ainda meis drásticas, obrigando o
primeiro-ministro a desistir de quaisquer medidas para estimular o crescimento económico.
Enre as medidas adopudas em Outubro de 79ü, incluÍram-se a subida dos preços do
petróleo, gás, alimentos e transportes, para além de cortes salariais, subida das u:os de juro,
introdução de um sistema fueral de imposto sobre o ralor acrescentado, e dewalorização da
meda" Para além das exigências de carácter económico, as instituiçôes financeiras
internacionah ainda exigiram que fossem realizadas alteraçóes constitucionais que
as§eguressem as condições de pagamento dos empréstimos intemacionais @ueda, 2UJ/3:29-
30). Os custos sociais destas medidas seriam enonnes, já que para restringir a despesa
pública, era necessário reduzir os fundos para as prestaçôes sociú, precisamente quando o
desemprego essrvzr na sua âse mais aguda, e a inflação reduzia o pder de compra da
populago @riannica 199Í3: 6ll). Assim, as dificuldades económicas sentidas pela
popula$o durante período, fizeram com que, de acordo com Raul Rueda, as bases
esse
sociais que deviam garantir a esabilidade do govemo e permitir uma democratizaçáo, se
vissem ada, vsz, mais defraudadas pela crescente desigualdade smial, pelo crescente
desinvestimento na indústria, sem perspectivas de novos investimentos nas regiões mais
pobres, pelo aumento da incerteza e da dificuldade em obter bens básicos, e pelo
desemprego, especialmente nos sectores mais jovens e rabalhadores não qualificados
(Rueda, 2003:29401.

137
JUGo§LÁVTA: O CoNruTo DE I99I A 1995

Outro ano de ertrema importância, foi o ano de 1989, quando o novo primeiro-
ministno Ante Markovic, encetou uma série de novas medidas económicas ainda mais
dústicas do que as que viúam sendo implemenadas até enÉo, no sentido de.alcançar a
estabilizaéo económica e transiçáo Pare uma economia de mercado; medidas essas
necessárias para a obtenção dos desejados empéstimos internacionais (Cintra,20mt 62-63).
Este eúdo da economia, lerrou a que as repúblicas, caü vez mais, adoptassem
políticas que favoreciam os seus interesses particulares, em detrimento de uma verdadeira
polÍtica económica nacional. Fomentou-se assim a criasáo de empresas, sobretudo em
sectores estratégicos como a energt4 maérias-primas e transformasão de bens industriais,
que se identificrvem com a própria república e não com a Federação Jugoslava- Tudo isto
fez com que surgissem enorrnes diêrenças intemas ao nÍvel do desenvolvimento
económico de determinadas áreas, e levou à fragmenação da Jugoslávia em regiôes ricas e
regióes pobres @efensa s.d.).
No início dos anos noventa, o processo de esabilização começou a ser üsto como
contrário aos interesses económicos das repúblicas, pelo que as elites, principalmente da
Eslovénia e da Croácia iniciaram uma série de movimentos com o objectivo de desmantelar
o sistema comunisa e nurnter o poder nas repúblicas (Cintra, 2N2:21),
Verificou-se finalmente, que as reformas económicas prometidas pelo último
primeiro-ministro jugoslavo Ante Markovic, não eram exequfueis, devido aos problemas
políticos e estruturais existentes, tal como era impossível seguir uma política
macroeconómica no ambiente descenmlizado que cararÍrerizava a Jugoslávia' em que as
elites buroçráticas locais salvaguardavam as suírs posições contra as ameaças Herais (Grande
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