Análise Das Teorias Da Soberania
Análise Das Teorias Da Soberania
Análise Das Teorias Da Soberania
RESUMO
Este estudo abordou a evolução e os desafios do conceito de soberania, desde suas origens na
Grécia Antiga e no Império Romano até as controvérsias contemporâneas desencadeadas pela
globalização e pela emergência de organizações supranacionais. Investiga-se as teorias da
soberania - Soberania Absoluta do Rei, Soberania Popular e Soberania Nacional - comparando
suas características, limitações e adaptações aos desafios atuais. O método utilizado inclui
uma análise crítica da literatura e um exame da prática da soberania no direito internacional e
na política global, destacando como as noções de soberania são reconfiguradas em resposta à
demanda por democracia e respeito aos direitos humanos. Os resultados evidenciam uma
tensão entre a manutenção da autoridade estatal soberana e as exigências de um mundo
globalizado, onde a soberania está cada vez mais condicionada pelo direito internacional, a
cooperação internacional e as considerações ambientais transnacionais. Assim, a pesquisa
conclui que, embora a soberania continue sendo um princípio orientador nas relações
internacionais, sua aplicação prática é cada vez mais limitada e adaptada para atender às
complexidades do cenário global moderno
1 INTRODUÇÃO
1
Graduanda no curso de Direito pelo Centro Universitário Mário Palmério. E mail:
[email protected].
2
Graduando no curso de Direito pelo Centro Universitário Mário Palmério. E mail:
[email protected].
2
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 Conceito de Soberania
A soberania popular, um pilar fundamental das democracias modernas, tem sido objeto
de intensos debates e análises ao longo da história. Este conceito, que coloca o povo como
detentor do poder supremo dentro de um Estado, evoluiu significativamente desde suas
origens filosóficas até sua aplicação prática nos sistemas políticos contemporâneos. Através
da análise de diferentes perspectivas e contextos históricos, podemos compreender melhor a
complexidade e a importância da soberania popular na construção de sociedades mais justas e
democráticas.
A ideia de soberania popular tem raízes profundas na filosofia política, com Jean-
Jacques Rousseau sendo um de seus principais teóricos. Rousseau argumentava que a
legitimidade de qualquer forma de governo derivava da vontade geral do povo, uma noção
que influenciou profundamente o pensamento político subsequente 10. No entanto, a aplicação
prática desse conceito enfrentou críticas e adaptações, como as formuladas por Benjamin
Constant, que destacou a necessidade de uma autoridade social limitada e regulada por
instituições constitucionais para a preservação da liberdade11.
No contexto contemporâneo, a soberania popular enfrenta desafios significativos,
como o negacionismo e a disseminação de desinformação, que podem deteriorar os
fundamentos da democracia e da liberdade12. A crise da democracia no Brasil, por exemplo,
9
BAMBIRRA, Felipe Magalhães. Soberania revisitada: construção histórico-filosófica e aproximativa entre
direitos humanos e soberania através da dialética do reconhecimento. Revista Brasileira de Estudos Políticos,
2017. Disponível em: https://periodicos.ufmg.br/index.php/rbep/article/view/17676. Acesso em: 02 abr. 2024.
10
MOSCATELI, R. Rousseau e a radicalidade democrática: um debate com a interpretação de Kevin
Inston. Princípios: Revista de Filosofia (UFRN), [S. l.], v. 30, n. 62, 2023. DOI: 10.21680/1983-
2109.2023v30n62ID31206. Disponível em: https://periodicos.ufrn.br/principios/article/view/31206. Acesso em:
2 abr. 2024.
11
HOEVELER, Rejane Carolina. Da soberania popular à accountability: as disputas sobre a definição de
democracia e a política externa estadunidense. Revista Novos Rumos, v. 56, n. 2, p. 71-88. Disponível em:
https://revistas.marilia.unesp.br/index.php/novosrumos/article/view/9584. Acesso em: 02 abr. 2024.
12
RÊGO, Tâmara Luz Miranda. OS MOVIMENTOS SOCIAIS E A PARTICIPAÇÃO POPULAR NO REGIME
DEMOCRÁTICO BRASILEIRO. Direito UNIFACS–Debate Virtual-Qualis A2 em Direito, n. 211, 2018.
Disponível em: https://revistas.unifacs.br/index.php/redu/article/view/5220. Acesso em: 02 abr. 2024.
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ilustra como a propagação de ódios, violências e fake news pode ameaçar a soberania popular
e os avanços civilizatórios. Além disso, a teoria dos freios e contrapesos é destacada como um
mecanismo essencial para a manutenção da soberania popular, equilibrando os poderes e
garantindo que nenhum ramo do governo se sobreponha aos outros13.
Os movimentos sociais desempenham um papel crucial na manutenção e no
fortalecimento da soberania popular, pois são expressões diretas da vontade e dos interesses
do povo. No Brasil, a participação popular por meio de movimentos sociais tem sido uma
força motriz para a evolução do regime democrático, embora o país ainda enfrente desafios
para alcançar um verdadeiro Estado Democrático de Direito.
A judicialização da política, fenômeno pelo qual o Judiciário assume um papel cada
vez mais ativo na esfera política, pode ser vista como uma ameaça à soberania popular, pois
fortalece as representações funcionais estatais em detrimento das representações políticas
tradicionais, como os partidos políticos14.
A soberania popular é um conceito dinâmico e multifacetado que continua a evoluir
em resposta aos desafios políticos, sociais e tecnológicos. A compreensão de sua trajetória
histórica e de seus desafios contemporâneos é essencial para a preservação e o aprimoramento
das democracias em todo o mundo. A participação ativa do povo, seja por meio de
movimentos sociais, seja pela vigilância constante sobre as ações do governo, é fundamental
para garantir que a soberania popular continue a ser a base da legitimidade política e da
governança democrática.
13
LEAL, Fellipe Guerin; NETO, Francisco Quintanilha Veras; BARCELLOS, Rafael Siegel. A força política do
poder constituinte derivado com fundamento na soberania popular: em defesa da constitucionalidade
superveniente e seu efeito de convalidação. A&C-Revista de Direito Administrativo & Constitucional, v. 23,
n. 91, p. 117-136, 2023. Disponível em: https://revistaaec.com/index.php/revistaaec/article/view/1735. Acesso
em: 02 abr. 2024.
14
MOTTA, Luiz Eduardo. JUDICIALIZAÇÃO DA POLÍTICA E REPRESENTAÇÃO FUNCIONAL NO
BRASIL CONTEMPORÂNEO: UMA AMEAÇA À SOBERANIA POPULAR? / LEGALIZATION OF
POLITICS AND FUNCTIONAL REPRESENTATION IN CONTEMPORARY BRAZIL: A THREAT TO
POPULAR SOVEREIGNTY?. REVISTA QUAESTIO IURIS, [S. l.], v. 5, n. 2, p. 256–285, 2012. DOI:
10.12957/rqi.2012.9878. Disponível em: https://www.e-publicacoes.uerj.br/quaestioiuris/article/view/9878.
Acesso em: 2 abr. 2024.
6
15
MALUF, Sahid. Teoria geral do Estado. 34. ed. São Paulo: Saraiva, 2018, 423 . p.
16
MALUF, Sahid. Op cit..
17
MALUF, Sahid. Op.Cit
18
REZENDE SANTOS, L.; GASPARDO, M. Agências de Rating e relativização da soberania nacional. Revista
Direito em Debate, [S. l.], v. 31, n. 58, p. e10394, 2022. DOI: 10.21527/2176-6622.2022.58.10394. Disponível
em: https://www.revistas.unijui.edu.br/index.php/revistadireitoemdebate/article/view/10394. Acesso em: 2 abr.
2024.
19
LACERDA, Moara Ferreira; CORRÊA, R.; AURÉLIO, M. Soberania nacional, direitos humanos e o paradoxo
democrático. Controvérsia (São Leopoldo), v. 19, n. 3, p. 107–123, 20 dez. 2023. Disponível em:
https://dx.doi.org/10.4013/con.2023.193.07. Acesso em: 02 abr. 2024.
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apreciação nacional, por exemplo, discute até que ponto a soberania nacional pode ser um
obstáculo ao reconhecimento dos direitos humanos em âmbito internacional20.
Além disso, a globalização econômica e a interdependência financeira impõem
limitações práticas à soberania nacional, exigindo dos Estados uma adaptação às normas e aos
mercados globais, o que pode comprometer a capacidade de autodeterminação nacional21.
Portanto, a teoria da soberania nacional continua sendo um conceito central na
compreensão do Estado e do direito internacional, mas enfrenta desafios significativos no
mundo globalizado. As críticas e limitações apontam para a necessidade de repensar a
soberania em termos mais flexíveis e adaptáveis, capazes de equilibrar a autonomia do Estado
com a cooperação internacional e o respeito aos direitos humanos e ambientais.
A teoria da Soberania Absoluta do Rei, prevalente durante a Idade Média até o início
da Idade Moderna, postula que o monarca possui poderes ilimitados sobre seu território e
súditos. Essa soberania é caracterizada pela concentração do poder político nas mãos do rei,
que governa por direito divino ou hereditário, sem a necessidade de consentimento dos
governados. Nessa perspectiva, o rei está acima das leis, sendo ele próprio a fonte de toda a
autoridade legal.
implicando que o exercício da soberania deve estar alinhado com a vontade geral da
população22
No plano internacional, a soberania dos Estados é limitada por uma série de fatores.
Primeiramente, o direito internacional impõe restrições à soberania, através de tratados,
convenções e normas que os Estados se comprometem a respeitar. Isso inclui, por exemplo, o
respeito aos direitos humanos, as leis de guerra e os acordos ambientais23
A globalização econômica e a interdependência entre os Estados também impõem
limitações práticas à soberania. A necessidade de cooperação internacional em áreas como
comércio, finanças e meio ambiente significa que os Estados frequentemente têm que ajustar
suas políticas internas para atender a acordos e padrões internacionais24.
Além disso, a emergência de conceitos como a "Responsabilidade de Proteger" sugere
que a comunidade internacional pode intervir em um Estado, inclusive militarmente, em casos
de graves violações de direitos humanos ou genocídio, desafiando a noção tradicional de
soberania não intervencionista25
A questão ambiental apresenta um desafio particular à soberania tradicional, uma vez
que problemas como mudanças climáticas, perda de biodiversidade e poluição transfronteiriça
não respeitam fronteiras nacionais. Isso requer uma abordagem cooperativa e multilateral,
onde os Estados aceitam limitações à sua soberania em prol de objetivos ambientais globais,
como evidenciado pela crescente importância da Governança Global Ambienta26
A soberania, embora continue sendo um princípio central da ordem internacional, não
é mais absoluta ou incontestável. As limitações à soberania refletem a necessidade de
equilibrar a autoridade estatal com as demandas de um mundo interconectado, onde desafios
transnacionais exigem soluções cooperativas e o respeito aos direitos humanos e ao meio
ambiente são vistos como imperativos universais. Assim, a soberania moderna é caracterizada
por sua natureza relativa, adaptável às exigências de um contexto global em constante
evolução.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
22
MALUF, Sahid. Op.Cit
23
HEIL, D. M. . SOBERANIA DO ESTADO E A GLOBALIZAÇÃO: EM BUSCA DE UMA GOVERNANÇA
GLOBAL AMBIENTAL. Revista Campo da História, [S. l.], v. 8, n. 1, p. 343–365, 2023. DOI:
10.55906/rcdhv8n1-021. Disponível em: https://ojs.campodahistoria.com.br/ojs/index.php/rcdh/article/view/105.
Acesso em: 3 abr. 2024.
24
HEIL, D. M. Op. cit.,
25
HEIL, D. M. Op. cit.,
26
HEIL, D. M. Op. cit.,
10