O Redentor - Edgard Armond
O Redentor - Edgard Armond
O Redentor - Edgard Armond
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Título
O Redentor
Autor
Edgard Armond
Revisão
Maria Aparecida Amaral
Diagramação
Sônia Silva
Capa
Jaqueline Silva
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Ficha Catalográfica
ISBN: 978-858364-068-4
10-09894 CDD-133.901
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Índice para catálogo sistemático:
Editora Aliança
Rua Major Diogo, 511 - Bela Vista - São Paulo - SP
CEP 01324-001 | Tel.:(11) 2105-2600
www.editoraalianca.org.br | [email protected]
Contents
PRÓLOGO
Capítulo 1 EVANGELHOS APÓCRIFOS
Capítulo 2 A TRADIÇÃO MESSIÂNICA
Capítulo 3 O NASCIMENTO DO MESSIAS
Capítulo 4 CONTROVÉRSIAS DOUTRINÁRIAS
Capítulo 5 OS REI MAGOS
Capítulo 6 EXÍLIO NO ESTRANGEIRO
Capítulo 7 A CIDADE DE NAZARÉ
Capítulo 8 JERUSALÉM
Capítulo 9 JESUS NO TEMPLO
pítulo 10 O GRANDE TEMPLO JUDAICO
Capítulo 11 REIS E LÍDERES
Capítulo 12 AS SEITAS NACIONAIS
pítulo 13 A FRATERNIDADE ESSÊNIA
Capítulo 14 COSTUMES DA ÉPOCA
Capítulo 15 JESUS E OS ESSÊNIOS
Capítulo 16 O PRECURSOR
Capítulo 17 O INÍCIO DA TAREFA PÚBLICA
Capítulo 18 OS PRIMEIROS DISCÍPULOS
Capítulo 19 VOLTA A JERUSALÉM
Capítulo 20 AS ESCOLAS RABÍNICAS
Capítulo 21 NICODEMO BEN NICODEMO
Capítulo 22 REGRESSO À GALILÉIA
Capítulo 23 NA SINAGOGA DE NAZARÉ
apítulo 24 A MORTE DE JOÃO BATISTA
Capítulo 25 OS TRABALHOS NA GALILÉIA
Capítulo 26 PREGAÇÕES E CURAS
Capítulo 27 OUTROS LUGARES
apítulo 28 HOSTILIDADES DO SINÉDRIO
Capítulo 29 MARIA DE MAGDALA
Capítulo 30 O DESENVOLVIMENTO DA PREGAÇÃO
Capítulo 31 O QUADRO DOS DISCÍPULOS
Capítulo 32 CONSAGRAÇÃO E EXCURSÕES
Capítulo 33 A CENA DO TABOR
Capítulo 34 AS PARÁBOLAS
apítulo 35 O SERMÃO DO MONTE
Capítulo 36 ABANDONO DA GALILÉIA
apítulo 37 ÚLTIMOS ATOS NO INTERIOR
Capítulo 38 ÚLTIMOS DIAS EM JERUSALÉM
Capítulo 39 O ENCERRAMENTO DA TAREFA PLANETÁRIA
apítulo 40 PRISÃO E DISPERSÃO
Capítulo 41 TRIBUNAL JUDAICO
Capítulo 42 O JULGAMENTO DE PILATOS
Capítulo 43 PARA O CALVÁRIO
Capítulo 44 NOS DIAS DA RESURREIÇÃO
Capítulo 45 CONCLUSÃO
ADENDO
PRÓLOGO
PRÓLOGO
Inúmeras são as obras escritas sobre a vida e os fatos referentes a Jesus
de Nazaré — o Divino Redentor da humanidade terrena —, cada uma delas
apresentando-O de certa maneira, segundo pontos de vista pessoais ou
sentimentais sectários.
Animando-nos a escrever este livro, outro intuito não temos que render
homenagem humilde a tão excelsa entidade espiritual, tentando uma
reconstituição histórica de sua última passagem pela Terra, a cuja
humanidade legou a lembrança imorredoura do sacrifício da cruz e os
sublimes ensinamentos do Evangelho.
Não nos iludimos quanto às dificuldades da tarefa, pois que Jesus nada
escreveu de si mesmo, talvez porque sua divina presciência descortinava as
deturpações que sofreriam seus ensinamentos, não querendo concorrer para
as mistificações religiosas e as inevitáveis explorações de documentos e
relíquias que mais tarde ocorreriam; preferia, como diz um inspirado
instrutor espiritual dos nossos dias, que tais alterações fossem feitas “não
sobre o que escrevesse, mas somente sobre o que outros dissessem”.
Não havendo documentação original provinda de outra fonte, devemos
ater-nos aos Evangelhos, codificados na Vulgata Latina, cujos veneráveis
Autores não se preocuparam em mencionar os fatos cronologicamente; por
outro lado, cada um deles seguiu plano diferente, ou talvez nenhum,
omitindo circunstâncias e fatos que serviriam para identificar protagonistas e
situar os acontecimentos em datas e lugares apropriados.
O próprio Lucas que, não tendo sido discípulo, escreveu seu trabalho
lendo e ouvindo a uns e outros, anos depois do Gólgota, da mesma forma
não estabeleceu a necessária ordenação histórica, a sequência justa dos fatos,
provavelmente por já encontrar dificuldade em fazê-lo, não obstante ainda
viverem naquela época alguns dos “Doze”: Pedro e Tiago, em Jerusalém;
João, em Éfeso e outros alhures.
Estas falhas, entretanto, em parte se justificam, porque cada autor
escreveu isoladamente, em épocas diferentes, segundo aquilo de que se
lembrava e debaixo, ainda, da emoção do drama do Gólgota e do espírito
sacrificial que a todos empolgou enquanto viveram.
De outra parte, preciosas indicações e subsídios se perderam ao
transitarem os pergaminhos primitivos por milhares de mãos de adeptos na
Palestina e em outras partes e, ainda, por último, porque os documentos que
se salvaram e chegaram às mãos do erudito padre Jerônimo, a quem o papa
Damaso I, que exerceu o pontificado entre os anos 366 a 384, incumbiu de
codificar o cristianismo disperso, selecionando as 44 narrativas existentes na
época[1], todas com foro de autenticidade, tais documentos foram por
Jerônimo desprezados em sua quase totalidade, aceitando ele somente
aqueles que constavam terem sido escritos pelos apóstolos (testemunhas de
vista) a saber: João e Mateus, além de Marcos (que não o fora) e ainda de
Lucas, por suas ligações estreitas com Paulo de Tarso e de idoneidade
comprovada, elaborando assim a codificação intitulada “Vulgata Latina” até
hoje adotada, sem contestação, pela maior parte da cristandade.
Mas teriam tais Evangelhos sido escritos pessoalmente pelos
Apóstolos? Comparando-se Lucas 1:1 com “Atos dos Apóstolos” 1:1 que
dizem, sem exceção, nos cabeçalhos: “segundo Mateus, segundo João,
segundo Lucas e segundo Marcos”, enquanto o cap. 1º de Atos diz: “Fiz o
primeiro tratado, Teófilo, acerca de todas as coisas, etc.” não é de perguntar
porque Jerônimo em todos os cabeçalhos escreveu a ressalva “segundo
Marcos, segundo João, etc.”? Não é de se concluir que os documentos que
chegaram às suas mãos eram somente cópias, ou cópias de cópias, mas não
os originais? Não há, portanto, certeza de que os Evangelhos, como estão
escritos, representam exatamente aquilo que Jesus ensinou, na sua
integridade primitiva. Este fato, entretanto, em quase nada desmerece seu
altíssimo valor, visto que a estrutura fundamental, a base moral ou iniciática
é idêntica em todas as quatro narrativas.
E se nos voltarmos para as obras de caráter mediúnico, da mesma forma
encontraremos inúmeras divergências, de forma e de fundo, que não levam a
maiores certezas. Têm-se, então, a impressão de que ainda não chegou a
época de ser o assunto esclarecido pelos Instrutores Espirituais que,
conquanto se mostrem muitas vezes até mesmo prolixos na exposição de
assuntos doutrinários ou filosóficos, não trazem maiores esclarecimentos a
respeito da parte histórica da vida do Divino Messias.
Mas daí não se conclua que esta última seja desinteressante no seu valor
qualitativo, pois tudo que respeita à vida de Jesus tem alto valor iniciático e
edifica, sempre, em todos os sentidos. A vida dos condutores espirituais da
humanidade é sempre cheia de exemplos preciosos e educativos, porque
espelham condutas mais altas e perfeitas e traçam rumos sempre sequentes à
evolução dos seres habitantes dos mundos inferiores.
E nem há que admirar que muito se ignore sobre a vida de Jesus,
passada há quase vinte séculos, vivida com grandeza, mas com simplicidade,
preferentemente em contato com o povo ignaro e humilde, sem nenhuma
projeção de caráter político ou social, quando, nos dias que vivemos, neste
século de tamanha expressão científica, dispondo os homens de poderosos
meios de intercâmbio e publicidade, ainda também muito se ignore sobre
assuntos atuais de alto interesse para a evolução da coletividade humana.
O Autor
Observação:
Uma condensação deste livro foi incluída pelo autor na série Iniciação
Espírita, da Federação Espírita do Estado de São Paulo, no ano de 1950,
formando o tomo nº 2, sob o título A Vida de Jesus com as alterações que se
tornaram necessárias para a adaptação da matéria ao programa da Escola de
Aprendizes do Evangelho.
Obras Consultadas
Les Itineraires de Jesus — Gustave Dalman
O Nazareno — Sholem Asch
Jesus de Nazaré — Paul de Regla
Cristo Jesus — Rafael Housse
Jesus Cristo — Roselly de Lorgues
Jesus Desconhecido — Merencovsk
Os Evangelhos Sinóticos
Diversas obras mediúnicas
Capítulo 1 EVANGELHOS APÓCRIFOS
Capítulo 1
EVANGELHOS APÓCRIFOS
considerados não-autênticos
Capítulo 2
A TRADIÇÃO MESSIÂNICA
Nas religiões:
O primeiro princípio é Deus — o Pai Criador absoluto.
O segundo princípio — o pensamento abstrato fora de Deus
manifestado como criação pela ação dos agentes cósmicos — é o Filho.
O terceiro princípio — o pensamento divino derramado na
criação como vida, inteligência e amor — é o Espírito Santo.
Esta é a base fundamental das Trindades, imaginadas por algumas
religiões como a bramânica, a egípcia e a persa, entre outras, de onde foram
copiadas, inclusive por religiões dogmáticas cristãs.
Capítulo 3
O NASCIMENTO DO MESSIAS
AS PROFECIAS
As profecias sobre o nascimento do Messias cumpriram-se em quase
todos os detalhes e o próprio Jesus, nos diferentes atos de sua curta vida
pública de três anos, a elas se referia sempre e lhes dava constantes
testemunhos, colaborando para seu cumprimento.
Isso fazia não só para prestigiar os profetas, como canais que eram da
revelação, como para demonstrar que esta antecede sempre os
acontecimentos relevantes da vida da humanidade e que, uniformemente,
expressam-se os mandatários siderais pela boca dos profetas ou médiuns.
As profecias hebreias, referentes ao advento do Messias redentor,
confirmavam outras anteriores[4], proferidas em outras regiões do mundo de
então, no sentido de um nascimento miraculoso, contrário às leis naturais,
através de uma virgem, sem contatos humanos que, conforme referiam,
ocorrera com outros missionários religiosos ou fundadores de movimentos
espiritualizantes como, por exemplo, Zoroastro, Krisna, Buda.
Essa concordância permitia supor que os profetas hebreus deixaram-se
influenciar por essas notícias que, gravadas em seus subconscientes, vieram
à tona no transe das revelações, ou que, então, foram realmente verdadeiras,
como verdadeiras foram todas as demais que proferiram sobre, por exemplo:
a fixação de Jesus na Galileia, da qual fez centro para seus movimentos e
pregações; os sofrimentos do Messias; seus sacrifícios; a traição de Judas; as
atormentações e torturas na noite de sua prisão; a morte na cruz; a
ressurreição, etc.
Mas, se todas as profecias hebreias foram confirmadas, esta, entretanto,
do nascimento virginal não o foi mas, ao contrário, até hoje vem se tornando
motivo de controvérsias entre cristãos.
Quando o excelso Missionário, custodiado pelos seus luminosos
assistentes espirituais, aproximou-se da atmosfera terrestre, no crucial
sofrimento da redução vibratória para adaptação ao nosso mundo material
denso, onde seus assistentes já lhe haviam preparado o nascimento físico,
quatro grupos de iniciados maiores, pertencentes àquelas correntes a que já
nos referimos atrás, pressentiram essa aproximação e também se prepararam
para apoiar e receber condignamente tão sublime visitante; foram eles: os
sacerdotes do Templo-Escola do Monte Horeb na Arábia, dirigido por
Melchior; os Ruditas, solitários dos Montes Sagros, na Pérsia, cujo culto era
baseado no Zend-Avesta de Zoroastro e cujo chefe era Baltazar; os solitários
do Monte Zuleiman, junto ao Rio Indo, dirigidos por Gaspar, Senhor de
Srinagar e príncipe de Bombaim; e finalmente, os Essênios, da Palestina, que
habitavam santuários e mosteiros isolados e inacessíveis, nas montanhas
desse país, da Arábia e da Fenícia.
A esses iniciados foi revelado mediunicamente a próxima encarnação
do Messias, há tanto tempo esperado.
Melchior, Baltazar e Gaspar foram os visitantes piedosos que a tradição
evangélica chama de “Reis Magos” e que visitaram o Menino-Luz nos
primeiros dias do seu nascimento, em Belém.Foram tidos como magos
porque vieram da direção do oriente, onde ficavam a Caldeia, a Assíria, a
Pérsia, a Índia e onde a ciência da astrologia, da magia teúrgica e de outras
espécies eram praticadas livremente.
Aliás, o próprio Evangelho justifica os títulos, pondo na boca de um dos
magos, à sua chegada a Jerusalém, a seguinte frase: “Onde está aquele que é
nascido rei dos judeus? Vimos sua estrela no oriente e viemos adorá-lo”.
(Mateus 2:2)
Capítulo 4
CONTROVÉRSIAS DOUTRINÁRIAS
A CONCEPÇÃO
A respeito do nascimento de Jesus julgamos haver duas alternativas:
aceitar a concepção sobrenatural, como consta do Evangelho de Mateus e de
Lucas, ou admitir o nascimento natural, como querem várias correntes
espiritualistas e materialistas.
Conquanto os evangelistas citados narrem um nascimento sobrenatural,
o Evangelho em si mesmo, estudado no conjunto dos seus autores, oferece
elementos sérios para se optar pelo nascimento natural.
A primeira das duas versões consta, como dissemos, de Mateus e de
Lucas, mas não consta de João e de Marcos (também sinótico) sendo isso
deveras estranhável, porque fato de tamanha importância ou significação
espiritual, certamente que não ficaria esquecido deles, com a agravante de
que Lucas não foi contemporâneo dos acontecimentos, pois viveu vários
anos após a morte de Jesus e escreveu, mais que tudo, pelo que ouviu dizer
por terceiros.
É verdade que a seu tempo ainda viviam Tiago em Jerusalém e João em
Éfeso, ótimos informantes, mas deles não recebia coisa diferente daquilo que
eles mesmos informaram a outros, verbalmente ou por escrito, isto é,
nenhuma referência ao nascimento sobrenatural.
Por outro lado, o erudito padre Jerônimo[7], encarregado pelo papa
Damaso I, em fins do século IV, de selecionar e codificar os Evangelhos
existentes na época, adotados por várias correntes sectárias diferentes e
divergentes, em número de 44, ao proceder ao seu importante trabalho, teria
todo empenho em prestigiar a versão de Jesus-Deus, membro da Trindade
Católica Romana, dando ainda maior ênfase à versão sobrenatural o que,
aliás, não fez.
Se, além de Mateus e de Lucas, outros documentos houvessem,
provindos de apóstolos ou discípulos, com referência a esse nascimento
sobrenatural, é evidente que tais informações seriam mantidas na codificação
denominada Vulgata Latina, que até hoje faz fé em toda a cristandade, mas
tal não aconteceu.
Como o nosso objetivo não é discutir o assunto, citaremos unicamente o
que disse João 4:3, em sua Primeira Epístola Universal: “todo Espírito que
não confessa que Jesus Cristo veio na carne, não é de Deus”. Isto parece
concludente.
Nas demais epístolas de Pedro e Judas, da mesma forma, nada
encontramos que confirme o nascimento sobrenatural.
Pode-se, pois, concluir ou, pelo menos, aceitar o nascimento natural, na
concordância tácita dos cinco apóstolos: Pedro, João, Tiago, Judas e Marcos.
O CORPO DE JESUS
À primeira vista pode parecer que, aceita esta versão do nascimento
natural, qualquer outra consideração seria ociosa mas, em respeito às
argumentações dos que crêem em contrário (e são muitos), examinaremos
também este assunto e os fatores que intervêm na sua conceituação.
Sempre se julga desinteressante debater temas desta espécie, não só por
faltarem elementos sérios de comprovação, caso em que os argumentos não
sairiam do campo das opiniões pessoais, de valor sempre muito relativo,
como, também, porque a versão adotada pelos contestadores em nada
modificaria os fatos, tanto na sua origem, como na sua natureza e
consequências.
A controvérsia, assim como outras muitas existentes, vem de longe,
desde os tempos do cristianismo primitivo, tendo tido, mesmo, um ponto
alto no reinado do imperador Juliano — cognominado “O Apóstata” —
quando proliferavam seitas divergentes.
Juliano — chefe do império romano do Oriente, educado na religião
católica romana e dela tendo abjurado — convocou, no ano de 364, em
Constantinopla, sede do império, os representantes de todas essas seitas
divergentes cristãs; mandou fechá-los em um grande recinto e deu-lhes prazo
de alguns dias para acertarem suas divergências doutrinárias, que causavam
agitação e tumulto entre o povo.
Ao fim do prazo marcado, compareceu ao recinto para ouvir as
conclusões finais, verificando, porém, que não houvera entendimento algum
entre os disputantes, dentre os quais os mais intransigentes eram os
docetistas, surgidos no século II, que não reconheciam Jesus segundo a
carne e afirmavam que Ele possuíra somente um corpo aparente.
Essa opinião foi defendida também por Marcion, Atanásio, o Grande,
São João Crisóstomo, Clemente de Alexandria e outros luminares entre os
antigos padres cristãos.
O próprio Paulo de Tarso, em sua Epístola aos Romanos 8:3, diz: “que
Deus enviou Seu Filho em semelhança de carne”. Paulo era dotado de muita
cultura e viveu ainda perto do tempo de Jesus e teria elementos para afirmar
essa verdade.
Essa controvérsia permaneceu em toda a Idade Média, atingiu os dias
da codificação da Doutrina dos Espíritos, com Roustaing, e permaneceu até
hoje entre escritores e pregadores espíritas encarnados e desencarnados que,
na ausência de documentação probante, limitam-se, como dissemos atrás, a
formular suas próprias e mais ou menos respeitáveis opiniões pessoais.
Por isso limitamo-nos unicamente a abordar o assunto, como numa
simples troca de ideias e simples cooperação, perguntando:
P — Existe nos Evangelhos alguma coisa que prove ter sido fluídico o
corpo físico de Jesus?
R — Não. O que existe são alguns fatos ou palavras que poderão
alimentar tal suposição.
P — Existe alguma prova de que Seu corpo físico era de carne, igual ao
de outras pessoas comuns?
R — Sim, em termos, existe. Se não o fosse como poderia Ele ter
carregado nas costas, por vias urbanas estreitas e mal calçadas, irregulares e
íngremes, a pesada cruz de madeira, sob cujo peso caiu várias vezes? Só se
fosse por efeitos fenomênicos, o que seria uma incrível simulação da
verdade.
Nasceu, cresceu, viveu junto a Seus Pais e parentes; conviveu com
inúmeras pessoas; enfrentou multidões; sofreu a carga vibratória,
incrivelmente pesada, de milhares de necessitados e doentes; alimentou-se
muitas vezes em companhia de seus discípulos e seguidores; foi pregado na
cruz e ali desencarnou à vista de muitos.
P — Mas como, sendo de carne comum, poderia desmaterializar-se,
como fez várias vezes e de forma tão natural e perfeita, como consta dos
Evangelhos?
R — Porque tinha um corpo de carne, sem dúvida, porém de
consistência diferente, de densidade muito menor, de matéria mais pura, de
vibração muito mais alta, adequada a conter um Espírito de Sua elevada
hierarquia; corpo, a seu turno, gerado por um vaso físico devidamente
preparado e selecionado anteriormente ao nascimento, de vibração e pureza
que comportasse Sua permanência em nosso plano grosseiro e impuro.
Desta forma as desmaterializações e outros fenômenos narrados pelos
evangelistas se tornariam explicáveis em todos os sentidos. E mesmo que
assim não fosse, Jesus, pela sua alta posição de Governador Espiritual do
nosso planeta, possuía poderes para agir em todas as circunstâncias julgadas
justas.
P — Mas como pôde Ele conviver com seus discípulos, durante 40 dias,
após Sua morte na cruz?
R — Porque depois da morte, agora sim, estava utilizando um corpo
fluídico, numa densidade que permitiu manifestar-se de forma objetiva e
tangível no nosso plano.
Concluindo podemos, pois, dizer que Jesus possuía um corpo físico
especial de carne, perfeito, delicado e puro, de vibração superior ao comum
dos homens, enquanto viveu encarnado; e manifestou-se em corpo fluídico,
suficientemente condensado, após a crucificação e morte física.
Capítulo 5 OS REI MAGOS
Capítulo 5
OS REI MAGOS
Mas, este fato foi também percebido pelos sensitivos das Escolas de
Sabedoria já citadas, sobretudo pelos Essênios, que se mantinham em prece,
vigilantes, aguardando a hora do grande evento, do qual tiveram logo
informações diretas, por intermédio dos adeptos da Ordem e pelos irmãos
Terapeutas, que viajavam por toda parte, existindo, mesmo, alguns no
próprio local onde o acontecimento se deu. Quanto aos demais, devido às
enormes distâncias em que se encontravam, permaneceram investigando e
aguardando confirmações, porque ignoravam o local exato onde o
nascimento deveria ocorrer.
Mas, por fim, perceberam que a resposta estava no próprio céu, porque
a estranha conjunção de astros se operava no signo de Peixes que,
astrologicamente, era o que governava os fatos da nação judaica; ao demais,
verificaram que a profecia de Miquéias, muito remota, já informava a
respeito dizendo: “E tu, Bethleem Efrata, conquanto pequena entre as muitas
de Judá, de ti sairá aquele que será o senhor de Israel”.
Como também já o afirmara a profecia de Zoroastro, feita na Pérsia,
3.200 anos atrás, que dizia: “Oh, vós, meus filhos, que já estais avisados do
Seu nascimento, antes que qualquer outro povo; assim que virdes a estrela,
tomai-a por guia e ela vos conduzirá ao lugar onde Ele — o Redentor —
nasceu. Adorai-O e ofertai-Lhe presentes porque Ele é a palavra, o Verbo,
que formou os céus”.
E ainda não lhes sobrava, a esses Iniciados, o recurso da mediunidade?
Assim como aconteceu com os míseros pastores, que “viram e ouviram”,
não poderiam ter sido eles também avisados pelos Espíritos sobre tal
acontecimento, diretamente?
Nessas comunidades de solitários se realizavam práticas espirituais,
como as fazemos hoje; muitos deles possuíam magníficas faculdades e um
acontecimento desses, de tal significação para a vida planetária, certamente
que seria revelado a todos aqueles que merecessem conhecê-lo, no momento
oportuno. E entre estes se colocavam os chamados Reis Magos.
Concluindo, pois, que o Messias nascera na Palestina, esses detentores
da sabedoria espiritual de maior responsabilidade, partiram nessa direção,
para conhecerem e adorarem o alto espírito missionário.
Capítulo 6
EXÍLIO NO ESTRANGEIRO
Capítulo 7
A CIDADE DE NAZARÉ
Capítulo 8
JERUSALÉM
Fig.2
Capítulo 9 JESUS NO TEMPLO
Capítulo 9
JESUS NO TEMPLO
Capítulo 10
Capítulo 11
REIS E LÍDERES
Capítulo 12
AS SEITAS NACIONAIS
OS FARISEUS
O termo vem de perischins que significa separados, distinguidos.
Os fariseus eram considerados os verdadeiros judeus da época, os
melhores cultuadores e intérpretes da Tora. Dotados de mentalidade estreita,
levavam ao máximo rigorismo o culto exterior e a expressão literal dos
textos. De outra parte, esforçavam-se por impor ao povo regras e rituais que
jamais pertenceram aos ensinamentos de Moisés, dos quais se diziam e
julgavam fiéis seguidores. Ricos e orgulhosos, foi contra eles que Jesus
dirigiu grande parte de suas apóstrofes e advertências.
Criam na imortalidade da alma e na ressurreição. Eram fatalistas,
colocando sempre sob a vontade de Deus a boa ou a má conduta dos
homens. Criam também que as almas dos virtuosos voltavam a animar novos
corpos, enquanto as dos malfeitores e dos heréticos eram submetidas a
castigos eternos após a morte.
OS SADUCEUS
O termo vem de Sadic — o Justo — ou de Sadoc, justiça.
Tiveram sua origem no Egito. Usavam os cabelos penteados de forma
arredondada e em geral usavam tonsura.
Eram livres pensadores, materialistas e céticos. Não criam na fatalidade
ou no destino e também discordavam dos fariseus em atribuírem a Deus a
boa ou má conduta dos homens. O homem, diziam, deve guiar-se pelo livre-
arbítrio e é o único autor de sua infelicidade ou ventura.
Negavam a imortalidade da alma, a ressurreição e, decorrentemente, as
penas e recompensas futuras e, no culto, somente admitiam as práticas
fixadas pela Lei.
Eram menos numerosos que os fariseus, porém suas riquezas e prestígio
os colocavam nos postos mais altos da administração e da sociedade. Por
isso eram pacíficos e acomodados e não se deixavam empolgar pela geral
expectativa da vinda de um Messias nacional.
Disputavam sempre, e com frequente vantagem, o cargo de sumo-
sacerdote, pela grande influência que este exercia na vida da Nação.
OS ZELOTES, ou zeladores
Sua influência era sempre ocasional, não permanente como a dos dois
anteriores. Eram os remanescentes da seita nacionalista fundada por Jesus de
Gamala — o gaulonita — e vinham numa linha direta dos Macabeus, os
mais nacionalistas de todos os chefes e reis da antiguidade nacional.
Mais tarde esta seita adquiriu extraordinária importância na vida
política do país, porque dela vieram os elementos que mais decisiva e
definitivamente concorreram para o desencadeamento das revoltas de 70 e
117 a.D. contra os romanos invasores e que tiveram como resultado
primeiramente o cerco e a destruição de Jerusalém e do Templo e, mais
tarde, o epílogo desastroso do extermínio em massa da população, e
consequente expatriação dos que sobreviveram às represálias romanas.
OS ESSÊNIOS[21]
Seita dissidente que, por sua importância histórico-religiosa merece um
capítulo à parte, como segue:
pítulo 13 A FRATERNIDADE ESSÊNIA
Capítulo 13
A FRATERNIDADE ESSÊNIA
É sabido que João Batista era essênio, como essênio eram José de
Arimateia, Nicodemo, a família de Jesus e inúmeros outros que na vida do
Mestre desempenharam papéis relevantes, como também o próprio Jesus que
conviveu com essa seita, frequentando assiduamente seus mosteiros,
enterrados nas montanhas palestinas, onde sempre encontrava ambiente
espiritualizado e puro, apto a lhe fornecer as energias de que carecia nos
primeiros tempos da preparação para o desempenho de sua transcendente
missão.
Mas observe-se que os evangelistas e os apóstolos em geral, como
também Jesus, Ele mesmo que, frequentemente, se referia a escribas e
fariseus, todos guardaram silêncio a respeito dos essênios, não somente
sobre fatos, episódios, circunstâncias quaisquer em que estivessem
presentes, participando, mas nem mesmo sobre a existência deles; mas isso
se explica porque, sabendo que a comunidade dos essênios merecia a
hostilidade do clero judaico, que a considerava herética e rebelde, queriam
evitar que sobre ela se desencadeassem maiores perseguições.
Após a morte no Calvário e no decorrer das primeiras décadas, além do
trabalho dos apóstolos, foi em grande parte com base nos mosteiros essênios,
nas suas organizações assistenciais e no concurso diário e ininterrupto dos
Terapeutas, que o cristianismo se difundiu mais rapidamente na Palestina; e,
enquanto cooperaram nessa difusão, a comunidade essênia foi se integrando
no cristianismo, extinguindo gradativamente suas próprias atividades, o que
se completou com o extermínio da nação judaica no ano 117 a.D.
Assim como haviam apoiado anteriormente os Nazarenos e os
Ebionitas[22], a última atitude pública tomada pelos essênios teve lugar no
ano 105, reconhecendo o profeta Elxai, como chefe. Depois, correndo o
tempo, veio a elevação do suposto messias Bar Cocheba, a revolta geral
contra os romanos e a exterminação do povo judaico em toda a Palestina e
em outras províncias romanas.
Os documentos contendo suas tradições religiosas, elaboradas desde
início, ainda ao tempo de Moisés, e conservados por seu discípulo Essen, ao
declarar-se a revolta final do povo judeu, foram escondidos em grutas e
lugares secretos das montanhas, alguns deles estando sendo agora
descobertos nesses lugares, junto ao Mar Morto.[23]
Composição dos fragmentos do Antigo Testamento encontrados na região do Mar Morto.
(Reprodução do livro E a Bíblia Tinha Razão, de Werner Kefler.)
Capítulo 14 COSTUMES DA ÉPOCA
Capítulo 14
COSTUMES DA ÉPOCA
Capítulo 15
JESUS E OS ESSÊNIOS
Capítulo 16
O PRECURSOR
Capítulo 17
Capítulo 18
OS PRIMEIROS DISCÍPULOS
Capítulo 19
VOLTA A JERUSALÉM
Capítulo 20
AS ESCOLAS RABÍNICAS
Capítulo 21
Capítulo 22
REGRESSO À GALILÉIA
Capítulo 23
NA SINAGOGA DE NAZARÉ
Era agora um sábado, dia importante do ritual judeu. Havia uma lista de
inúmeras coisas que era proibido fazer. Nesse dia, se alguém quebrava um
membro ou torcia um pé, ou se feria num acidente, ficava sem remédio e
sem socorro (salvo o do próprio lar) até o pôr-do-sol seguinte. Nas vésperas,
ao crepúsculo, soava um sino, ou se dava outro sinal, e todos começavam
imediatamente a largar suas ocupações, regressando a suas casas, fechando-
se nelas; começava o repouso legal, durante o qual não se podia efetuar
atividade alguma e a própria alimentação já deveria estar previamente
preparada; somente era permitido comparecer à sinagoga local na manhã
seguinte.
Jesus, acompanhado de sua Mãe, seus parentes e discípulos, cumpriu o
rito e compareceu à sinagoga local onde chegara, já então, notícia de sua
presença na cidade, bem como sua fama de profeta. Seus constantes períodos
de ausência nos mosteiros e nas viagens e seu natural caráter concentrado e
recolhido, fizeram com que, para a maioria dos presentes na Sinagoga,
parecesse quase um estranho; mas em atenção ao fato de ser um rabi, como
tal se apresentando, acompanhado de seus discípulos, foi convidado pelo
hazan a fazer a pregação do dia.
O costume era que os Conselheiros da cidade fossem convocados em
rodízio semanal para esse trabalho, exceto para a parte final, referente aos
profetas, que cabia, nessas ocasiões, aos hóspedes de honra como, naquele
dia, Jesus era considerado.
Levantou-se Ele, pois, e dirigiu-se ao banco do pregador; cobriu-se com
o tallit — manto ou véu das orações —, tomou o rolo de pergaminho das
mãos do servente e, ao invés de ler o texto referido, já marcado, como seria
obrigatório, abriu-o na passagem de Isaías, que tratava do advento do
Messias e que dizia: “O espírito do Senhor está sobre mim e me ungiu para
que anuncie a Boa Nova aos pobres, para curar os de coração aflito, anunciar
aos cativos sua libertação, dar vista aos cegos, libertar os oprimidos e
apregoar o tempo das graças e dos galardões do Senhor”.
O normal era que o pregador, lido o texto, devolvesse o rolo ao servente
e passasse a comentá-lo, interpretando o sentido, como o fazemos ainda hoje
em nossos templos. Jesus, porém, lido o texto, sentou-se e permaneceu em
silêncio alguns momentos, sob o olhar inquiridor e desconfiado da
assistência até que, levantando-se de novo, acrescentou simplesmente: “Hoje
está se cumprindo esta Escritura que acabais de ouvir”, como dizendo e
deixando bem claro que Ele era ungido ao qual as Escrituras se referiam.
Compreendido isso, levantaram-se então os protestos gerais:
— Quem é este que fala desta forma?
— Não é este, porventura, o filho de José, o carpinteiro?
— Não é o mesmo cuja mãe e irmãos conhecemos?
Formou-se um tumulto e Jesus retirou-se sem mais palavras.
Depois disso, demorou-se ainda alguns dias em Nazaré e, no sábado
seguinte, na mesma sinagoga, quando pregava, interpretando o texto do dia,
contrariou novamente os assistentes, pelos ensinamentos que ministrava e
que não eram concordantes com aqueles que estavam acostumados a ouvir, o
que levou Jesus a declarar que ninguém é profeta entre os seus e que, por
isso, a graça de Deus é dada mais facilmente a estrangeiros.
Com isso os ouvintes se enfureceram, porque as Escrituras eram
privilégio de Israel, e seus ensinamentos os únicos verdadeiros; e,
acompanhando os mais exaltados, arrastaram Jesus para fora e tentaram
jogá-lo de uma ribanceira existente ali perto, porém, Ele, usando de seus
poderes, “passou entre eles” como diz o Evangelho, e abandonou em seguida
a cidade, não antes, entretanto de eleger mais dois discípulos que foram
Tiago — o Menor — e Judas Tadeu[29], dali seguindo para Cafarnaum, que
ficou sendo o centro de suas andanças e pregações.
apítulo 24 A MORTE DE JOÃO BATISTA
Capítulo 24
Capítulo 25
OS TRABALHOS NA GALILÉIA
CAFARNAUM
Cafarnaum ficava à beira do lago e, naqueles tempos remotos, era
importante centro comercial; possuía um porto de pesca, uma alfândega e
uma coorte de soldados romanos. Era ali que, sentado a uma guarita, na boca
da ponte de encostamento de barcos, permanecia o cobrador de impostos
chamado Levi, que, mais tarde, foi apóstolo com o nome de Mateus. À
mesma margem, bem mais para o sul, ficava Tiberíades, cidade pagã,
edificada por Herodes em homenagem a Tibério, o césar romano.
A maior parte do povo de Cafarnaum era formada de pescadores e
hortelãos, gente pobre e tão sobrecarregada de impostos que, em grande
porcentagem, se tornava assalariada dos ricos e dos comerciantes.
Raros possuíam recursos próprios, sendo apontados a dedo como, por
exemplo, acontecia em relação aos dois Zebedeus, Tiago e João, cuja mãe,
Salomé, possuía alguns barcos de pesca. Pela sua pobreza, o povo nem
mesmo tinha conseguido construir a sinagoga local, tendo sido preciso que o
centurião[32] comandante da coorte romana, fizesse para isso importante
donativo, visto ser homem piedoso e simpatizante da religião judaica, o
mesmo ao qual o Evangelho (Mateus 8:5-13) se refere como tendo recebido
uma graça de Jesus.
Jesus, ali chegando, repousou alguns dias em casa da sogra de Simão
Bar Jonas. Nesse tempo tinha ele quase 32 anos. Era esbelto, mas robusto,
estatura acima da mediana, rosto ovalado, emoldurado por uma barba fina,
castanho-avermelhada, repartida ao meio e encaracolada nas pontas; usava
cabelo caindo pelas costas, da mesma cor da barba. Tinha a testa alta e
ampla, olhos grandes, claros, têmporas encovadas; tez morena como a de sua
Mãe, sobrecílios e cílios compridos, sombreando o rosto.
Usava vestes brancas, compridas até os pés, tendo por cima uma túnica
azul-clara, sem mangas. Não usava, como os outros rabis do povo, cintas de
couro nos braços e na testa.
Segundo o costume da época e do local, usava sobre a camisa e a
túnica, uma capa e nesta, quatro borlas azuis que eram as franjas rituais de
rabi.
Quando a multidão o rodeava, pedindo socorro para seus males, ou
quando se emocionava por qualquer circunstância, um halo de luz ou de
fluidos fortíssimos o envolvia, sua face empalidecia e suas vestes
fulguravam, mormente quando era de noite. Nessas horas, grande poder
magnético irradiava dele e se espalhava a seu redor, influenciando a todos
que se aproximassem. Muitos se curavam somente ao entrar em contato com
sua aura poderosa, ou tocando suas vestes como, por exemplo, aconteceu
com a mulher que sofria de hemorragias, conforme relata o Evangelho.[33]
Os galileus seguiam os ritos da Tora e frequentavam Jerusalém nas
festividades nacionais, mas eram rebeldes a certas formal dades e exigências
impostas pelo clero e não seguiam à risca muitos dos preceitos. Tinham
costumes à parte. Não cumpriam, por exemplo, a rigor, o ritual dos
sacrifícios de sangue, nisto demonstrando serem mais evoluídos que os
judeus, e, aos sábados, nas suas sinagogas, cuidavam mais particularmente
de ouvir as interpretações da Lei.
Já anteriormente nos referimos ao cerimonial nos Templos e, se nas
sinagogas das grandes cidades, a organização interna comportava, além do
rabi, vários servidores do culto, comissões de trabalho social e um conselho
de anciãos, encarregado de ouvir e julgar as partes e dar sentenças que
competia ao hazan executar (pois tais sinagogas tinham atribuições
executivas municipais), nas cidades pequenas, entretanto, o hazan
acumulava todas as atribuições, tornando-se a principal autoridade local.
As sinagogas funcionavam como pequenas repúblicas: tinham um
presidente, um conselho de anciãos, um hazan, delegados, secretários e um
schamasch (auxiliar do Templo). Tinham, como já dissemos, jurisdição e
atributos executivos municipais, expedindo decretos-leis, pronunciando
sentenças corporais, menos penas de morte, que nas províncias, eram da
alçada real.
Já vimos também que os rabis recebiam instrução completa, justamente
para poderem atender ao povo como mestres religiosos, juízes, orientadores
sociais e conselheiros em geral.
Capítulo 26 PREGAÇÕES E CURAS
Capítulo 26
PREGAÇÕES E CURAS
Capítulo 27
OUTROS LUGARES
Capítulo 28
HOSTILIDADES DO SINÉDRIO
Capítulo 29
MARIA DE MAGDALA
Após permanecer ali alguns dias, Jesus voltou para Caná e Nazaré,
onde ficou algum tempo e depois novamente para Cafarnaum, continuando
suas pregações. Mas seus discípulos eram constrangidos a responder
perguntas insistentes feitas por fariseus da cidade, que lhes punham questões
nestes termos:
— Não compreendemos o vosso rabi: Ele conhece profundamente a Lei
e os profetas; diz que não veio para destruí-las, mas para confirmá-las, no
entanto, transgride a Lei a cada passo, desencaminhando o povo. Que dizeis?
— Ele sabe o que faz, respondiam os discípulos, e obra sempre para o
bem de todos. Além disso, é um grande profeta e opera milagres.
— Sim, retrucavam os interrogantes, mas seus atos destroem suas
palavras, e quanto aos seus milagres, não os negamos, mas julgamos que são
inspirados por Satã.
Outras vezes interrogavam em outros termos:
— Vosso rabi não pára; anda por toda parte, pregando e curando e
falando no reino que não é deste mundo. Que tem ele em vista? Transgride a
Lei e os costumes; prega contra a Tora e os sacerdotes do Templo…
porventura quer levantar o povo?
— Nada disso. Ele prega a purificação, o arrependimento dos pecados e
a redenção pelo amor ao próximo, pois somos todos irmãos, filhos do
mesmo Pai Celeste, respondiam os discípulos.
— Porventura então acha que os judeus são irmãos dos samaritanos
heréticos e dos pagãos impuros?
E assim tentavam confundir e comprometer também os discípulos, que
acabavam por fugir deles, para não comprometerem ainda mais o seu rabi.
Os fariseus, então, espalhavam pela cidade a versão de que Ele era
inspirado por Satã e, por isso, é que fazia curas e milagres que os sacerdotes
não podiam fazer. E assim, os ânimos de inúmeros moradores foram se
acirrando contra Jesus.
Mas Jesus, reunindo seus discípulos, falou-lhes com bondade e narrou-
lhes a parábola do Reino Divino em si mesmo mas, mesmo assim, os
discípulos se mostravam atemorizados e a partir daí, Judas, pelo menos,
começou a perder a fé no seu rabi.
E aconteceu que, naqueles dias, chegaram à cidade alguns delegados do
Sinédrio, para investigar oficialmente a conduta do rabi galileu e, tomando
conhecimento do que se dizia e do quanto ocorria, instalaram logo uma
espécie de tribunal investigador e convocaram testemunhas da cidade e das
vizinhanças.
A essa reunião compareceu também Simão, o fariseu de Naim, e alguns
discípulos de João Batista, moradores na cidade, aos quais interrogaram
perguntando:
— Por acaso vosso rabi, já morto, perdoava pecados de alguém?
E os discípulos de João confessavam que não:
— Nosso rabi mandava que se arrependessem, mas não perdoava
pecados.
Voltando-se os interrogantes para os mais cultos e prestigiados fariseus
e doutores da Lei presentes, perguntavam:
— Sabeis de algum rabi ou sacerdote que, por si mesmos, hajam
perdoado pecados?
E os interrogados unanimemente respondiam:
— Jamais conhecemos alguém, rabi, sacerdote, ou intérprete da Lei,
que perdoasse pecados.
E, terminada a investigação, os delegados do Sinédrio concluíram que
Jesus era, realmente, um transgressor da Lei e dos costumes de Israel,
principalmente por não respeitar o sábado, sentar-se à mesa e repartir o pão
com pessoas impuras e blasfemar contra Deus, perdoando pecados.
Mas Jesus, considerando as circunstâncias de estarem seus discípulos
atemorizados com a situação e também porque sua hora ainda não tinha
chegado, abandonou a cidade mais uma vez.
Capítulo 30 O DESENVOLVIMENTO DA PREGAÇÃO
Capítulo 30
O DESENVOLVIMENTO DA PREGAÇÃO
Capítulo 31
Capítulo 32
CONSAGRAÇÃO E EXCURSÕES
Capítulo 33
A CENA DO TABOR
Capítulo 34
AS PARÁBOLAS
Voltando novamente a Cafarnaum, Jesus pronunciou ali o Sermão do
Monte, bem como grande número de suas parábolas.
O sistema oriental de narrar as coisas é diferente do nosso. O discurso,
para nós, é considerado perfeito quando possui um preâmbulo, uma ideia
central e uma conclusão lógica e decorrente, com a qual se remata o assunto
de forma completa. É como num soneto: expõe-se o assunto ou a ideia
central e nos últimos dois versos fecha-se a exposição da ideia, com uma
chamada “chave de ouro”.
O oriental, pelo menos naqueles tempos remotos, em nada se
preocupava com isso; não analisava a ideia fundamental logo de início, mas
punha-a em evidência várias vezes durante a exposição, com digressões
várias, comparando-a com outras coisas, análogas ou não, até que o que
queria dizer ficasse bem claro e compreensível.
Nesse jogo de imagens é que se podia conhecer os mais sábios
pregadores.
As parábolas são uma forma e um exemplo desse modo de narrar e
Jesus, como é natural, empregava-as magistralmente, como recurso de
imaginação para os ensinamentos que difundia entre o povo ignaro e
simples, porém supersticioso.
A parábola (uma alegoria dentro da qual se disfarça uma ideia
importante) servia também para tornar indelével, na memória dos rústicos
que a ouviam, os substratos da doutrina que ensinava, tornando-os mais
acessíveis; e os próprios discípulos, graças a elas, puderam recompor mais
tarde, de memória, a maior parte dos ensinamentos que Jesus transmitiu.
Os profetas antigos e os rabis também usaram da parábola, mas nem
sempre para ensinar; porém Jesus assim fazia, procurando sempre promover
as transformações morais dos ouvintes, com suavidade e amor, dando
esperança e alegria. Utilizando-se de motivos naturais, ligados à vida do
povo comum como, por exemplo: a pesca, a colheita, a semeadura; referia-se
quase sempre ao passado, para obrigar os ouvintes a estabelecerem
comparações com o presente em que viviam. Por isso suas palavras tinham a
cor e o aspecto das regiões em que eram pronunciadas e ninguém deixava de
compreender o que Ele dizia.
Dentre os rabis que também usaram as parábolas, estavam os grandes
mestres Hillel, Gamaliel, Zakai e Schamai e, século e meio depois, ainda as
encontramos na boca do rabi Meir, um dos doutores da Lei que redigiram a
Mischná, em Iabné, após a destruição de Jerusalém pelos romanos, em 72.
Muitas foram as parábolas que Jesus pronunciou nas suas andanças
missionárias pela Palestina, porém o Evangelho somente guardou algumas
delas (naturalmente aquelas das quais os apóstolos se lembraram) e que
podem ser agrupadas em três classes, segundo o sentido[34]:
VIDA RURAL:
O semeador
O trigo e o joio
O grão de mostarda
A figueira estéril
Obreiros da vinha
Lavradores maus
A ovelha desgarrada
A figueira que secou
A semente que brota
O bom pastor
Apesar de Jesus ter agido e vivido junto ao lago do Kineret e ter tido
vários discípulos pescadores, não deixou parábola sobre pesca, peixes, etc.,
fora das referências feitas nas pregações.
USOS E
COSTUMES
SOCIAIS
Os Dez Talentos
O Senhor nos entrega os bens da Criação, necessários às nossas
necessidades e experiências evolutivas. Cada um recebe o que precisa e
jamais lhe é exigido esforço maior do que pode suportar.
Desses bens, nos utilizamos de forma diferente, segundo nossa
maturidade espiritual; uns, mais esforçados e diligentes, empenham-se em
aumentá-los, espalhando-os em torno, para que deles também outros se
beneficiem, enquanto os egoístas, preguiçosos ou gozadores, quando não os
dilapidam, limitam-se a conservar o que receberam, utilizando-o em
benefício próprio.
Os talentos que o Senhor distribui são dons de fortuna, de posição
social, de conhecimentos, que devem ser utilizados, compartilhados e
transmitidos a toda a humanidade; e tanto maior será a obrigação de assim se
proceder, quanto maior o volume ou a extensão dos bens recebidos.
Na parábola, dois dos beneficiários aplicaram bem os recursos que lhes
foram confiados, enquanto um terceiro, de compreensão mais estreita,
egoísta e mesquinha, imobilizou a sua parte, nada produzindo.
Os dois primeiros prestaram boas contas e foram recompensados, mas o
último não o fez e foi castigado, mandando o Senhor que os bens que
recebera lhe fossem tirados e doados aos que apresentaram resultados
satisfatórios porque: “ao que muito tem, ainda lhe será dado e, ao que tem
pouco, esse mesmo lhe será tirado”, porque quem não se esforça não merece
recompensa; e, mais ainda, mandou o Senhor que fosse ele posto fora do
reino, em esferas trevosas, onde imperam o sofrimento e as privações, para o
devido aprendizado.
O conceito final da parábola deve ser a sentença: “a cada um será dado
segundo suas obras”.
Veste Nupcial
O Senhor enviou seu filho à Terra, para que se fizesse a
confraternização dos homens, e todos foram convidados à tão divina
realização, tendo sido o Evangelho pregado por toda parte. Mas os homens
bem aquinhoados de recursos, não o receberam, nem lhe deram atenção,
continuando a viver de suas ambições e interesses materiais e alguns deles,
utilizando-se dos poderes de que dispunham, perseguiram e mataram os
arautos da Boa Nova.
A mensagem foi então transmitida ao povo humilde, entre bons e maus,
pacíficos e violentos, acomodados e rebeldes, e muitos dela se beneficiaram,
em magníficas demonstrações de fé e desprendimento. Muitos foram os
chamados, mas poucos os escolhidos.
O banquete de início oferecido a todos, e ao qual muitos não
compareceram, significa a comunhão dos que foram iniciados nas verdades
eternas e a estes é que foi entregue a veste nupcial; e o estranho que lá
penetrou clandestinamente, é o agente do mal que tenta solapar a obra
grandiosa da evangelização do mundo.
Nota: A significação desta parábola é quase a mesma a que se refere os
títulos: “Convite desprezado” e “As bodas”.
Viúva Oprimida
Homem prepotente e incréu, armado dos poderes da Justiça humana,
abusava dessa justiça e menosprezava direitos e interesses daqueles que de
suas funções dependiam.
E assim, uma viúva constantemente o solicitava para que julgasse uma
demanda, da qual dependia sua subsistência, e o Juiz, apesar de não temer
nem respeitar ninguém, nem mesmo Deus, por fim atendeu a viúva, para
livrar-se da importunação.
Esta parábola põe em evidência a necessidade de jamais se esmorecer
no recurso da prece, mantida pela fé, confiando sempre na justiça de Deus, e
confirma a promessa: “batei e abrir-se-vos-á”.
O Bom Samaritano
Um viajante judeu foi assaltado na estrada e ali deixado como morto.
Passaram por ele várias pessoas, inclusive um sacerdote, mas ninguém se
comoveu nem o acudiu, até que, por fim, passou um samaritano, raça
desprezada pelos judeus, por ser julgada inferior e herética; este, então,
apeou de sua montaria, colocou sobre ela o ferido, conduziu-o a uma
hospedaria e pagou ao estalajadeiro para cuidar dele.
Qual cumpriu o preceito da Lei que manda amar a Deus e ao próximo?
Esta parábola serve para mostrar que as separações de classe, segundo
os conceitos humanos, não são as que prevalecem espiritualmente e nenhum
valor têm para o julgamento de Deus.
O Rico Avarento
Um lavrador rico teve uma grande colheita e, não tendo onde guardá-la,
mandou demolir seus celeiros insuficientes, substituindo-os por outros
maiores, onde ao mesmo tempo, guardaria todos os seus vultosos bens.
Assim, pensava ele: minha alma descansará segura. Mas, na mesma
noite morreu, e seus bens, por quem foram aproveitados, já que para ele,
como morto, de nada valiam?
A parábola demonstra que somente os bens espirituais são duradouros e
prevalecem sobre a vida e a morte.
Fariseu e Publicano
Oravam em uma sinagoga, um fariseu e um publicano; o primeiro cheio
de presunção, alardeava seus mistérios e sua devoção, enquanto o outro,
humildemente, confessava suas faltas e arrependia-se delas, pedindo a
proteção de Deus.
O primeiro, porque se exaltava, seria, nos céus, humilhado e o segundo,
porque se humilhava, seria, nos céus, exaltado. Este era o ensinamento de
Jesus, que refletia a Justiça de Deus.
Os Primeiros Lugares
Quando se é convidado a uma festa ou cerimônia, a tendência geral é de
cada um se colocar em posição de destaque, vestindo-se com as melhores
roupas, enfeitando-se, perfumando-se e, no local, procurar pôr-se em
evidência entre as pessoas mais importantes; ninguém gosta de ficar
ignorado, relegado a um plano secundário.
Na parábola, Jesus, chamando a atenção para estas circunstâncias e
hábitos, aconselha a não se proceder dessa forma, para evitar dissabores e
juízos desfavoráveis; coloquemo-nos modestamente, em posição discreta e
digna, somente nos expondo, se a isso formos obrigados.
Vaidade ou amor próprio poderão fazer-nos supor que nossa presença
seja agradável e honrosa para os outros, quando muitas vezes acontece
justamente o contrário.
O exaltamento de si próprio poderá trazer amargas humilhações porque,
segundo a Lei, “aqueles que se exaltam serão humilhados”; e se tivermos
méritos verdadeiros na vida espiritual, eles brilharão como chama viva,
perante Deus.
Aconselha também que não convidemos para nossas reuniões familiares
somente pessoas ricas e importantes, para não suporem que visamos
retribuições, mas, sim, gente simples, modesta, das quais não se poderá
esperar retribuição alguma.
Jesus falava de hábitos e condições sociais, que a posse de bens e de
fortuna estabelecem e, em todos os casos e circunstâncias, devemos proceder
com modéstia e equanimidade, levando em consideração, mais que tudo, as
condições morais das pessoas.
O Rico e o Pobre
O rico vivia a banquetear-se e o pobre, do lado de fora, a aguardar
algumas migalhas que lhe viessem às mãos, para matar a fome.
E morreram ambos e então tudo mudou: o rico foi para as esferas
inferiores e o pobre elevou-se à outra, mais luminosa e feliz. E quando o rico
reclamou, lastimando-se do que acontecia, um assistente espiritual explicou
que ele já havia recebido na Terra sua recompensa, enquanto o pobre agora é
que recebia a sua.
Mas, respondendo ao rico que, neste caso, queria alertar seus familiares
que ainda estavam na Terra e pedia que os avisassem sobre como era a vida
espiritual, para que mudassem de hábitos e de crença, o assistente replicou
dizendo que isso não era necessário porque, na Terra, havia a Lei e os
profetas, que já tinham revelado essas verdades e que, se não agiam de
acordo com essas leis, era inútil qualquer outro aviso.
O rico, então, insistiu dizendo que se a advertência lhes viesse de um
parente morto, na certa que a levariam em conta, ao que o assistente
respondeu que se não acreditavam nessas leis e ensinamentos que lhes
estavam ao alcance, muito menos o fariam em se tratando de um morto…
A parábola é rica em ensinamentos: mostra que o arrependimento,
forçado pelas circunstâncias, não elimina as consequências de uma má
conduta, nem põe paradeiro à ação das leis divinas, que são irrecorríveis; que
os bens materiais não devem ser utilizados egoisticamente, somente em
benefício e gozo próprios; e que as diferentes condições dos Espíritos após a
morte são irreversíveis, cada um se colocando nos lugares ou condições que
lhes compete, segundo seu grau de evolução e seus atos; e as diferentes
condições da vida espiritual são asseguradas por fronteiras vibratórias que as
delimitam e separam, não podendo ser transpostas.
DOMÉSTICAS
E
FAMILIARES
Os Dois Filhos
O pai ordenou a um dos filhos que fosse trabalhar na vinha, mas este,
prometendo ir, não foi, enquanto o outro, mesmo havendo recusado de
início, arrependeu-se e foi.
Na parábola torna-se evidente que maus sentimentos são próprios de
muitos, porém o que importa é que se capacitem disso, arrependam-se,
decidam-se a melhorar e atender ao chamamento do Alto.
Os que procedem como o filho que se arrependeu têm o mérito da
honestidade, da decisão justa e do esforço em proceder bem, pelo que
receberão sua recompensa, entrando no Reino; o mesmo, porém, não
sucederá com os que, ouvindo e vendo, desprezam o chamamento e furtam-
se ao cumprimento do dever.
Face ao Evangelho redentor, não importa a natureza do pecado, mas a
decisão pessoal de reformar-se e o esforço em redimir-se.
O Filho Pródigo
Era o filho mais moço de um lavrador rico, que exigiu sua parte dos
bens da família por antecipação e partiu para outros lugares: queria conhecer
o mundo e libertar-se do esforço contínuo do trabalho familiar. Inexperiente,
foi explorado por muitos, esbanjou em pouco tempo o que o pai lhe dera,
chegando a passar fome e exercer trabalhos repugnantes para manter-se vivo.
Arrependido, regressou ao lar, disposto até mesmo a ser assalariado do
próprio pai, como os demais servos, mas foi recebido com alegria,
promovendo o pai uma festa de comemoração pela sua volta, porque a
família o recuperou ainda mais valioso, com a experiência que dá a
sabedoria.
Assim sucede com todo aquele que, iludido pelo mundo material,
deixa-se levar pelas suas atrações enganosas, volta as costas a Deus, faz-se
surdo aos conselhos, até que os sofrimentos e as vicissitudes inevitáveis lhe
despertem o entendimento e o façam voltar-se para as realidades do mundo
espiritual, para Deus.
O Credor Incompassivo
O trabalhador de uma propriedade obteve de seu Senhor o perdão de
suas dívidas, mas o mesmo não fez em relação a um outro que também lhe
devia, recorrendo à Justiça, pedindo sua prisão.
Quando o caso chegou ao conhecimento do Senhor, este voltou atrás,
cancelando o perdão que dera e mandando, da mesma forma, cobrar na
Justiça a dívida que havia perdoado.
A parábola põe em destaque o ensinamento de que devemos perdoar
aos nossos devedores, para também merecermos perdão de nossas faltas,
devendo-se compreender bem que as leis de Deus se exercem com todo rigor
e cada um colhe o fruto dos seus atos.
Não há propriamente, na vida espiritual, perdão de faltas cometidas,
mas o ressarcimento delas pela prática de atos meritórios, ocorrendo, ainda,
em certos casos, o chamado “acréscimo de misericórdia” para benefício dos
que o merecerem.
A regra é perdoar sempre e não julgar como juiz mas, em mundos
baixos como o nosso, somos obrigados muitas vezes a agir com rigor e
castigar o que erra, para que o mal não se multiplique maleficiando outros, e
para benefício do próprio culpado que, assim, tem oportunidade de
reconsiderar e se emendar.
Mordomo Infiel
Havendo sido desonesto, o administrador de um homem rico foi
chamado às contas e, antes que viesse a demissão e os castigos, convocou os
devedores da propriedade e mandou que confessassem dívidas menores que
as verdadeiras, com isso visando captar a boa vontade deles o que,
realmente, conseguiu.
Mas a parábola adverte quanto ao erro, porque quem não é fiel no
pouco, não poderá sê-lo no muito; se não formos fiéis na manipulação de
bens materiais perecíveis, como poderemos sê-lo na de bens verdadeiros, do
mundo espiritual? E se não formos fiéis na aplicação do bem alheio, como
poderemos receber, naquele mundo, o que a nós compete?
A parábola põe em destaque a verdade de que não podemos servir com
o mesmo zelo a dois senhores — a Deus e a Mamon.
As Dez Virgens
Nas cerimônias nupciais o noivo, ao chegar ao lugar das bodas, era
recebido por um cortejo de virgens, com lâmpadas acesas.
Nesta parábola, o noivo chegou de repente, e muitas das recepcionistas
estavam com suas lâmpadas apagadas e sem azeite para acendê-las ficando,
por isso, impedidas de entrar na casa.
É preciso, pois, estarmos sempre preparados, prontos a acender as
lâmpadas, para não ficarmos de fora, nas trevas, quando chegar a hora do
banquete espiritual, nos páramos celestes.
O Homem Previdente
Quem quiser encaminhar-se na vida espiritual, que é renúncia e
sacrifício, deve primeiramente examinar-se, para verificar as disposições
íntimas, a sinceridade, a capacidade de perseverar e dedicar-se, para não
parar no meio do caminho e deixar de alcançar o fim da viagem.
A Candeia
Os que já possuem as luzes do conhecimento espiritual não devem
sonegá-lo aos que ainda permanecem na ignorância ou na impiedade, porque
não se acende uma candeia para colocá-la debaixo de um velador, mas sim
em lugar alto, para que todos vejam a luz; porque esta é indispensável a
todos e nada há que possa ficar oculto, que ela não revele. Assim também
sucede com as verdades espirituais redentoras dos homens.
A Dracma Perdida
Uma mulher tinha dez dracmas, perdeu uma e se pôs a procurá-la por
toda parte, até que a achou, demonstrando com isso grande alegria, não pelo
valor da moeda — das menores entre todas — mas pelo prazer de
reencontrar aquele bem que completava o seu patrimônio.
Assim, na vida espiritual, devemos perseverar na conquista da verdade
até encontrá-la, para que possamos penetrar no Reino de Deus.
VIDA
RURAL
O Semeador
O semeador, no seu trabalho, lança as sementes, que vão tendo
diferentes destinos; uma parte é comida pelas aves, outra queimada pelo sol,
outra sufocada pelo mato e uma, mais feliz, cai em terra boa e brota e cresce
e dá frutos abundantes.
A parte comida pelas aves representa a interferência das forças do mal
no coração dos homens fracos; a queimada pelo sol representa o
enfraquecimento e a derrota do homem ante as vicissitudes da vida; a que foi
sufocada pelo mato indica que as ambições do mundo, as riquezas, as ilusões
dominaram-no, tornando-lhe a vida estéril; e a que foi lançada em boa terra é
o que compreendeu, assimilou os ensinamentos divinos, cresceu e expandiu-
se no serviço do bem, engrandecendo-se.
O Trigo e o Joio
Os bons obreiros semeiam a boa semente mas, terminado o trabalho e
enquanto descansam, os inimigos do bem semeiam o mal, de forma que a
seara apresenta sempre o bom produto misturado com o mau. E ambos,
todavia, crescem juntos e não se deve separar um do outro, a não ser quando
a seara amadurece e chega a hora da colheita quando, então, o joio pode ser
separado e queimado, enquanto o trigo, limpo, é recolhido aos celeiros.
À hora justa, assim como o trigo e o joio, os homens serão também
separados, e os sinos já estão tocando, avisando a chegada dessa hora…
O Grão de Mostarda
Semente das menores entre as sementes, entretanto, a da mostarda
cresce, desenvolve-se, lança o broto e ultrapassa as demais hortaliças,
chegando ao porte de uma árvore onde as aves fazem seus ninhos.
A parábola compara esse grão à virtude da humildade que, mesmo
parecendo insignificante, produz resultados espirituais de extraordinário
valimento.
A Figueira Estéril
Plantada em um horto, e não dando frutos, o senhor da propriedade
mandou cortar a árvore; mas o hortelão pediu que esperasse mais um pouco,
para que a adubasse convenientemente.
A parábola não conta o resultado, mas é evidente que quer referir-se ao
fato de que, mesmo sendo estéril de bons atos, com o adubo do
conhecimento, os homens podem melhorar, esmerando-se também em
atender aos preceitos do Evangelho, que é o adubo das almas.
Obreiros da Vinha
O dono de uma vinha contratou trabalhadores em diferentes horas do
dia pagando, à tarde, salário igual a todos eles; e ante as reclamações feitas
pelos que trabalharam mais tempo, explicou que ele era competente para
julgar o valor do trabalho de cada um, independentemente das horas
trabalhadas.
Espiritualmente, isso significa que o chamamento de Deus — o dono da
vinha — soa sempre, a qualquer hora, e todos os que atendem recebem
salário pela qualidade do trabalho produzido; em pouco tempo o trabalhador
diligente e devotado, mesmo quando tratado à última hora, pode realizar
trabalho muito mais meritório que outros que trabalharam mais tempo.
Por isso, a parábola declara que “os últimos serão os primeiros”, desde
que, obviamente, executem trabalho bom, segundo o julgamento de Deus.
Lavradores Maus
Alguns lavradores arrendaram uma propriedade com a condição de
cuidarem dela, fazê-la produzir e prestarem contas fielmente.
Ao tempo da colheita, o proprietário mandou receber a parte do
arrendamento que lhe competia, mas todos os portadores enviados, e até
mesmo seu próprio filho, foram maltratados ou assassinados pelos
arrendatários.
Na parábola, é possível que Jesus estivesse se referindo ao clero judaico
ou a outros que recusassem sua mensagem, ou a Ele mesmo, como filho de
Deus; e os maltratassem como realmente o fizeram criando, assim, entraves
à propagação do Evangelho, considerada sua natureza de ensinamento
universal.
A Ovelha Desgarrada
Assim como um pastor se aflige e sai à procura de uma só de suas
ovelhas que não tenha penetrado no redil e por fim a encontra, e alegra-se e a
traz de volta, porque todas merecem o seu cuidado e por todas se sacrifica,
assim também quando um homem se desvia do caminho certo, a palavra do
Senhor o alcança e, se é ouvida, o fato é comemorado porque “há sempre
alegria no céu quando um pecador se arrepende” e pelo Evangelho se
redime.
O Bom Pastor
As ovelhas conhecem o pastor, ouvem a sua voz e o seguem para onde
as levar; mas não seguem a estranhos, porque não conhecem a sua voz.
Jesus é o bom pastor que se sacrifica por suas ovelhas, e morre por elas.
Tem outros rebanhos em outros lugares, mas cuida delas com amor e as
levará ao redil com segurança, para que nenhuma se perca e para que haja
um só rebanho e um só pastor.
apítulo 35 O SERMÃO DO MONTE
Capítulo 35
O SERMÃO DO MONTE
Capítulo 36
ABANDONO DA GALILÉIA
Como viu que se aproximavam os dias derradeiros, dedicou-se Jesus,
mais diretamente, à instrução pessoal dos discípulos.
Foi com eles para o norte, chegando até a Cesareia de Felipe onde os
discípulos, admirados daquela grande cidade, construída em estilo romano,
saíram a passear, misturando-se com o povo.
Ao regressarem, Jesus perguntou o que, porventura, diziam d’Ele.
Responderam que ouviram muitas versões: uns diziam que, como Ele era
pobre e vivia rodeado de pobres, na certa que não era o Messias redentor de
Israel, que todo o povo esperava; outros diziam que, como Ele fazia
milagres, devia ser um profeta poderoso, como os antigos; outros pensavam
que Ele era o profeta João Batista, que voltara ao mundo; havendo ainda
outros que afirmavam que Ele era o próprio Elias, que vinha na frente para
anunciar o Messias verdadeiro.
Então Jesus perguntou o que eles, os próprios discípulos, pensavam a
respeito. E como, tomados de surpresa e indecisão, emudecessem, Pedro
adiantou-se e respondeu que Ele era o Cristo, o Filho de Deus vivo, ao que
Jesus logo esclareceu dizendo que Pedro não dissera aquilo por
conhecimento próprio, mas sim por inspiração do Alto, demonstrando,
assim, ter virtudes de espírito e dons proféticos; e que, essa revelação seria a
base sobre a qual se desenvolveria a propagação de seus ensinamentos na
Terra.
Acrescentou que teria de ir para Jerusalém, onde sofreria a morte pela
mão dos homens, como estava predito, e que ressuscitaria ao terceiro dia;
que estava próximo que tudo isso acontecesse e que, se realmente desejavam
ser seus discípulos, que renunciassem a si próprios, tomassem cada um a sua
cruz e o seguissem, pois que seu reino não era deste mundo.
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Judas de Kerioth
Desde o dia em que, em Cafarnaum, Jesus foi declarado transgressor da
Lei e inspirado por Satã, Judas começou, espiritualmente, a afastar-se d’Ele.
Possuidor de maior cultura que os demais discípulos e dotado de
imaginação fértil, porém doentia, meditava profundamente sobre tudo o
quanto via e ouvia, tanto no círculo dos próprios discípulos, como no meio
do povo e, por fim, já não mais sabia se Jesus era ou não o Messias
esperado.
Penetrou, assim, no terreno tormentoso da dúvida, aprofundando-se
nele, dia por dia, até que, com a entrada auspiciosa de Jesus em Jerusalém,
naquela Páscoa, vendo o povo confraternizar com os discípulos no caminho
da Betânia, cantando hosanas, encheu-se novamente de esperanças.
Foi um dos que mais depressa estendeu sua capa no chão para que o
Messias passasse; um dos que, na sua enorme alegria, mais dançou à frente
do cortejo; um dos que mais alto gritou: “Hosanas ao Filho de Davi! Glória
ao nosso rei-messias”. Quando viu, apavorado, que Jesus, ao chegar ao
Templo, nada fez para assumir o poder que o povo estava pedindo, descendo
do jumento silenciosamente e desaparecendo no meio da multidão que
enchia o Templo, sua decepção foi profunda e todos os seus sonhos de
ambição e glória desmoronaram.
Tinha errado mais uma vez. Jesus de Nazaré não podia ser o salvador
de Israel, o rei nacional, sendo simplesmente um profeta do povo humilde.
Assim sendo, pensava ele, não tinha sido ludibriado nas suas esperanças,
seus esforços, sua dedicação de vários anos? Não perdera todo o seu tempo,
fazendo-se discípulo daquele rabi?
Encostado a uma das colunas da galeria do Templo, junto à Porta
Dourada, um grande desespero apoderou-se dele e maldisse em alta voz, sem
o perceber, a sua infelicidade. Com a exuberância de gestos que lhe era
própria, repuxava os cabelos e a barba e batia no peito murmurando: infeliz,
infeliz!
Penetrando, assim, no campo da invigilância, nesse momento as forças
do Mal, das quais já se vinha tornando um alvo vulnerável, se apoderaram
dele; ficou hirto e frio, um suor viscoso caía-lhe da testa sobre o rosto
enquanto espuma amarelada como fel começou a escorrer pelos cantos dos
lábios brancos e cerrados.
Mas estava sendo observado por um sacerdote menor do Templo, que o
conhecia como discípulo de Jesus e que aproximou-se rapidamente, tomou-o
por um braço e o levou consigo para o interior, onde foi logo posto na
presença do sgan Jochanan, superintendente geral do Templo que, a sua vez,
o levou discretamente à presença do velho e astuto Hanan.
Da conversa que tiveram e do entendimento que foi feito em segredo,
resultou a traição nefanda que o Evangelho perpetuou na sua narrativa; mas
o canal mediúnico revelou em nossos dias que, na presença de Hanan, e já
passada, em parte, a crise nervosa que o envolvera, Judas relutou em trair o
Mestre sendo, por fim, convencido por uma série de argumentos, dentre eles
este de que o próprio Jesus já declarara a seus discípulos que, para cumprir
as Escrituras, deveria ser entregue ao Sinédrio para ser morto; porém o que o
Sinédrio desejava era retirar o rabi da circulação naqueles dias da Páscoa,
para evitar que houvesse tumulto e os romanos chacinassem o povo, como
era costume acontecer; e que ele, Judas, receberia umas trinta moedas de
prata, para afastar-se logo de Jerusalém. A estes argumentos e com a
promessa de que nenhuma referência se faria a ele no processo, que sabia já
estar iniciado contra seu Mestre e seus discípulos, Judas aceitou o acordo e
passou a estar, daquele momento em diante, à disposição do Sinédrio.
Também se sabe que recebeu o dinheiro, conforme estava também
predito nestes termos “trinta siclos de prata serão o seu preço…”.[36]
Prometeu entregar seu rabi no momento oportuno e, a partir daí, viveu
todas as suas horas debaixo de um transe permanente e doloroso, sem poder
dormir nem comer, presa fácil de forças tremendas que o dominaram
completamente.
Assim, três dias depois, quando Jesus, à ceia pascal, virando-se para ele
disse, num murmúrio que só ele ouviu “o que tens de fazer, faze-o logo”,
mecanicamente obedeceu, levantando-se em silêncio e saindo.
Com os olhos vermelhos e saltados das órbitas, barba e cabelos
revoltos, a capa esvoaçante a se enrolar nas pernas magras, lá se foi ele, o
pobre discípulo infeliz, a caminho do Templo, para remate de uma tarefa que
o transtornava além de toda compreensão.
— Não aguento mais, exclamava, tropeçando pelo caminho. Salva-me,
Senhor, deste tormento…
E a figura majestosa do velho Hanan estava à sua frente, dizendo,
untuoso: “nós o prenderemos somente durante os dias de festa”. E o Mestre,
severo, na sua voz cansada e triste acrescentava: “o que tens de fazer, faze-o
logo; vai depressa…” Mas era o Maligno, compreendeu ele depois, que o
estava empurrando para a desgraça.
E assim penetrou no Templo, dando aos sacerdotes a indicação de que o
rabi naquela noite estaria com os discípulos no Jardim do Getsêmani após a
ceia.
Como já dissemos, Judas era oleiro e natural de Kerioth, povoação
situada a 35 quilômetros a sul de Jerusalém. Era o único judeu entre os doze.
Moreno, alto, magro, barba grisalha, era um indivíduo sempre inquieto,
gesticulador, que caminhava angulosamente; profundamente místico,
visionário, impulsivo e sujeito, como já dissemos, a transes e perturbações
psíquicas; um tipo bem definido, bem caracterizado de médium
descontrolado, como muitos que vemos nos dias de hoje. Dentro do drama
crístico, tão cheio de lances dolorosos e heróicos, esta foi a parte que tocou a
Judas, o discípulo que mais sofreu durante a vida encarnada de Jesus e
aquele que até hoje carrega nas costas a cruz desta fanática e ignara
maldição popular, com o peso insuportável dos pensamentos de ódio e
vingança que, ano por ano, em toda a cristandade se manifestam.
Segundo o que se sabe, a carga terrível da maldição, de há muito, no
plano espiritual, já lhe foi tirada das costas e hoje Judas é um Espírito
liberto, dotado de imensa humildade, consciente do tremendo erro que
cometera.
apítulo 40 PRISÃO E DISPERSÃO
Capítulo 40
PRISÃO E DISPERSÃO
Capítulo 41
TRIBUNAL JUDAICO
Capítulo 42
O JULGAMENTO DE PILATOS
No relatório sobre Jesus, feito a Pilatos, por seus agentes, era posta em
evidência sua qualidade de Messias nacional, e como ele ignorasse a
significação do termo, explicaram-lhe que era o título religioso de um herói
nacional judeu, destinado a libertar o país da ocupação estrangeira. Concluiu
ele, então, erroneamente, que se tratava de um agitador, conspirador,
revolucionário. Por isso, naquela manhã, ao lhe trazerem o rabi escoltado e
de mãos amarradas para julgamento, ele imaginava muito claramente a
situação: conspiração contra Roma.
O julgamento deu-se no pretórium, que era uma plataforma elevada no
pátio aberto do interior do palácio de Herodes — antigo — onde se
hospedava o Procurador.
Mas, tendo ocorrido já a notícia de que Barrabás — o conspirador e
salteador — seria julgado naquela manhã e, juntamente, com ele o rabi de
Nazaré, uma multidão composta, em sua maioria, de partidários do primeiro,
aglomerou-se às portas do pátio, pedindo sua libertação.
A escolta trouxe em primeiro lugar o conspirador: um homem hercúleo,
atarracado, feroz, cabeludo e cuja enorme cabeça pendia para um lado. Ao
entrar, empurrado, um ritus de ódio repuxava-lhe a boca do lado esquerdo.
Quando parou frente a Pilatos, leram a denúncia, que era: “chefia de bando
armado; ataque a viajantes em estradas e a casas ricas para roubar; reunião
de armas proibidas e de gente para realizar um levante popular contra os
romanos naquela Páscoa”.
— Açoite e cruz — proclamou Pilatos, na sua voz sibilante; e que o
corpo permaneça na cruz para os corvos.[40]
E quando vinham os guardas trazendo o outro preso — Jesus — um
escravo ajoelhou-se ante Pilatos e entregou-lhe um bilhete de sua esposa
Cláudia Prócula (enteada de Tibério) intercede do a favor de Jesus: “Não
ergas a mão contra o homem justo”, pedia ela.[41]
Pilatos examinou o preso parado à sua frente, em silêncio, e mandou ler
a denúncia: “chefe espiritual do levante organizado por Barrabás. No caso de
êxito, assumiria o poder nacional como o rei-messias”.
— És então, o rei dos judeus? Perguntou Pilatos.
— Tu o dizes, respondeu Jesus.
Nos degraus de uma escadaria ali fronteira estavam de pé o velho
Hanan, o Promotor do Sinédrio e outros assistentes diretos do sumo-
sacerdote e, mais além, atrás das grades do portão do pátio, a multidão
formada de aderentes de Barrabás.
— De que acusais este homem? perguntou Pilatos, dirigindose aos
mensageiros do Templo.
— Blasfemou contra Deus, responderam. Alvoroça o povo e o incita à
revolta, desde a Galileia, por toda a nação.
— Não vês que te acusam de tudo isso? Nada tens a dizer em tua
defesa? perguntou a Jesus. Mas este guardou silêncio e permanecia imóvel,
de olhos baixos.
A esta altura, não só pelo que tinha ouvido ali como pelo pedido de sua
esposa, Pilatos já havia percebido que estava enganado em relação ao preso
e seu objetivo passou a ser, então, dar-lhe um castigo severo, mantê-lo preso
durante as festas e soltá-lo depois.
— Não encontro culpa neste homem. Mas, lembrando-se que era
costume soltar um preso em cada Páscoa, voltou-se para os assistentes e,
julgando-se seguro de seu intuito, declarou:
— Em homenagem à vossa festa, quem desejais que ponha em
liberdade: Barrabás ou o vosso rei?
Mas o velho Hanan, para ainda mais influir sobre a decisão, dirigiu-se à
multidão dizendo bem alto:
— Ele se intitula Messias. Se de fato o fosse, teria poder para libertar-se
a si mesmo. Deixemo-lo entregue ao seu próprio poder.
— Libertai Barrabás, gritou a multidão.
E Pilatos, indeciso ainda, perguntou ao povo:
— Que quereis que eu faça, então, do vosso rei?
Mas Hanan interveio logo, incisivo e maldoso:
— Ele não é nosso rei. É um impostor. Nosso rei é César. Crucificai-o.
Pilatos, percebendo o perigo da situação, lavou as mãos numa bacia de
água, à vista de todos e determinou fosse o preso levado, açoitado e depois
crucificado como rei dos judeus, porque esse, pelo que via, era o único
motivo que poderia justificar tal condenação.
Capítulo 43 PARA O CALVÁRIO
Capítulo 43
PARA O CALVÁRIO
Capítulo 44
Capítulo 45
CONCLUSÃO
ADENDO