Estudo de Funções - Notas de Aula
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CONJUNTOS
A noção de conjuntos é bastante importante pois é por meio dela que conceitos
matemáticos são expressos de maneira mais elegante e sucinta. Um conjunto é for-
mado por elementos. Usualmente, representaremos conjuntos por meio de letras
maiúsculas. A notação padrão para conjuntos consiste em expressar os elementos
que o constituem dentro de chaves. Por exemplo, escrevemos
A = {1, 2, 3}
para representar o conjunto A composto pelos elementos 1,2 e 3. Usamos o sím-
bolo “∈” para representar pertencimento: 1 ∈ A significa que o elemento 1 pertence
ao conjunto A. Por outro lado, 4 6∈ A significa que o elemento 4 não pertence ao
conjunto A.
A notação de conjunto é conveniente para se representar elementos que pos-
suem uma determinada propriedade ou atendem uma determinada condição. Em
vez de escrevermos “o elemento x atende a condição P”, simplesmente representa-
mos por B o conjunto de todos elementos que satisfazem a condição P e escreve-
mos x ∈ B. Por exemplo, no lugar de dizermos que um número y é ímpar, fazemos
I = {· · · , −5, −3, −1, 1, 3, 5, · · · }
representar o conjunto de todos números ímpares e escrevemos y ∈ I.
Por fim, dentro do estudo de representação de conjuntos, há uma álgebra deri-
vada das relações de inclusão, união e interseção (que serão estudadas logo mais)
que faz com que o manuseio de conjuntos (e consequentemente, de escrita mate-
mática) se torne algo simples e exato.
O CONJUNTO VAZIO
Um conjunto peculiar é o conjunto vazio. Tal conjunto é denotado por 0/ e é o
único conjunto que não possui elementos. Por mais que soe como uma ideia tola
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A RELAÇÃO DE INCLUSÃO
Exemplo 1.4. A relação de inclusão é uma relação reflexiva, isto é, para qualquer
conjunto A vale A ⊆ A, ou seja, todo conjunto A é subconjunto de si mesmo. Outra
inclusão imediata (mas um pouco mais confusa) é 0/ ⊆ A. De fato, se tal relação
não fosse verdade, deveria existir algum elemento dentro de 0/ que não é elemento
de A, e como 0/ não possui elementos, tem-se a inclusão. Em outras palavras, o
conjunto vazio é subconjunto de qualquer outro conjunto.
O COMPLEMENTAR DE UM CONJUNTO
Ac = {x ∈ U; x 6∈ A}.
De fato, admita que x ∈ (Ac )c ; por definição, temos que x não está em Ac ,
isto é, não está fora de A. Logo, pelo princípio do terceiro excluído, x deve
estar em A e isto mostra que (Ac )c ⊆ A. De maneira semelhante mostramos
que A ⊆ (Ac )c de onde surge a igualdade desejada.
• se A ⊆ B, então Bc ⊆ Ac .
A segunda propriedade que acabamos de provar pode ser escrita usando a notação
=⇒ (símbolo que significa “implica”) assumindo a forma seguinte
A ⊆ B =⇒ Bc ⊆ Ac .
Bc ⊆ Ac =⇒ A ⊆ B.
Bc ⊆ Ac ⇐⇒ A ⊆ B.
lidar com implicações lógicas: “se vale a propriedade P, então vale a propriedade
Q”. Em notação de conjuntos, se A é o conjunto de todos elementos que possuem
a propriedade P e B o conjunto de todos elementos que possuem a propriedade Q:
A ⊆ B.
P =⇒ Q (isto é, A ⊆ B) e Q0 =⇒ P0 (isto é, Bc ⊆ Ac )
x ∈ A ∩ B ⇐⇒ x ∈ A e x ∈ B.
OBS:
Ressaltamos que, ao contrário do que ocorre no uso convencional do conectivo
“ou”, em matemática dizer x ∈ A ou x ∈ B não impede que x esteja em A e em B ao
mesmo tempo. A figura abaixo ilustra a ideia de união e interseção dos conjuntos
A e B.
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A ∪ B = {1, 2, 3, 4, 5, 6} e A ∩ B = 0.
/
• Comutatividade.
A ∪ B = B ∪ A e A ∩ B = B ∩ A.
8 CAPÍTULO 1. CONJUNTOS
• associatividade.
(A ∪ B) ∪C = A ∪ (B ∪C) e (A ∩ B) ∩C = A ∩ (B ∩C).
A ∩ (B ∪C) = (A ∩ B) ∪ (A ∩C)
e
A ∪ (B ∩C) = (A ∪ B) ∩ (A ∪C).
(A ∪ B)c = Ac ∩ Bc .
(A ∩ B)c = Ac ∪ Bc .
(a) (X c ∪Y )c .
(b) (X c ∩Y ) ∪ (X ∩ Z c ).
(c) (X ∪Y )c ∩ Z.
(a) (X ∪Y ) ∩ Z = (X ∩ Z) ∪ (Y ∩ Z)
(b) X ∪ (Y ∩ Z)c = X ∪Y c ∪ Z c .
Capítulo 2
Números Naturais
Já dissemos que a linguagem de conjuntos é ferramenta essencial na síntese
da escrita matemática. O principal objeto de estudo da matemática são os núme-
ros, entes abstratos desenvolvidos como modelos que permitem contar, medir e
comparar quantidades de uma grandeza.
Usualmente, a escrita matemática é estruturada por meio de definições, teore-
mas e demonstrações. As definições tem por objetivo expressar de maneira breve
objetos e/ou propriedades que requerem o emprego de uma sentença longa para
serem explicados. É uma forma de economizar energia, em vez de, repetidas vezes
nos referirmos a um par de números que não possuem divisores em comum além
do número 1, dizemos que os números são primos entre sí e temos um exemplo
de definição. Com as definições em mãos, por meio de um encadeamento de argu-
mentos lógicos, construímos as demonstrações de afirmações (teoremas) relativas
à estrutura dos objetos estudados. Todavia, conforme percorremos o caminho re-
verso das definições, em determinado momento chegaremos a conceitos primitivos
para os quais não cabe definição e que obedecem leis que não admitem demonstra-
ção, os axiomas. Como exemplo de tais conceitos primitivos, podemos recorrer à
geometria e citarmos os pontos, retas e planos, não são definidos, apeanas consti-
tuem o espaço geométrico que estudamos e obedecem alguns axiomas como: por
dois pontos passa uma e somente uma reta.
Aqui veremos um resumo da teoria matemática que estuda os números natu-
rais, onde os conceitos primitivos são “número natural” e “sucessor” e os axiomas
são os de Peano 1 .
O conjunto
N = {1, 2, 3, 4, 5, . . .}
dos números naturais é um conjunto que satisfaz uso do conceito primitivo de
1 Giuseppe Peano foi um matemático italiano responsável pela formalização dos números naturais
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m + n = n + m e m · n = n · m.
(m + n) + p = m + (n + p)
e
(m · n) · p = m · (n · p).
m · (n + p) = m · n + m · p.
(m + n)2 = m2 + 2 · m · n + n2 .
De fato,
(m + n)2 = (m + n) · (m + n)
= m · (m + n) + n · (m + n)
= m2 + m · n + m · n + n2
= m2 + 2 · m · n + n2 .
Exemplo 2.2. Verifiquemos por indução que para qualquer natural n vale a igual-
dade
1 + 3 + 5 + · · · + (2n − 1) = n2 ,
isto é, a soma dos n primeiros ímpares vale precisamente n2 . Denotemos por X o
conjunto dos naturais para os quais a igualdade é válida. Claramente temos que
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Exemplo 2.3. Recorde-se que um número natural p é dito primo quando só pode
ser expresso como produto de dois naturais p = m·n no caso de ser n = 1 ou n = p.
Por exemplo, 2, 3, 5, 7 e 11 são primos; já 6 não é primo, pois podemos escrever
6 = 2 · 3. Um resultado bastante interessante da Teoria dos Números diz que todo
número natural maior do que 1 ou é primo ou é um produto de fatores primos.
Utilizaremos o princípio da boa ordenação para provar este resultado. Seja X o
conjunto dos números naturais maiores que 1 que ou são primos ou produtos de
fatores primos. Note que se m, n ∈ X, então m · n ∈ X pois será um produto de
fatores primos. Nosso objetivo é mostrar que X = N − {1} (essa notação repre-
senta os naturais maiores que 1). Seja Y o complementar de X em N − {1}, ou
seja, o conjunto dos naturais maiores que 1 que não são primos e não se escrevem
como produto de primos. Claramente X = N − {1} ⇐⇒ Y = 0. / Provemos então
que Y = 0. / Faremos isto por redução ao absurdo, ou seja, suporemos que existe
algum elemento em Y e obteremos algum absurdo, o que significará que Y não
pode ter elementos. Se por absurdo for Y 6= 0,
/ sendo Y ⊆ N, pelo princípio da boa
ordenação, existirá um menor elemento a ∈ Y . Como a não é primo (pois está em
Y ), temos que podemos escrever a = m · n com m e n menores que a (pois n e m
são diferentes de 1). Ora, sendo m < a e n < a, temos que m, n ∈ X (pela minima-
lidade de a). Mas então, pelo que observamos acima, teremos a = m · n ∈ X, o que
contradiz o fato de ser a ∈ Y . Esta contradição nos diz que deve ser Y = 0/ como
queríamos mostrar. 2
f : X −→ Y
(lemos “uma função f de X em Y ) é uma regra que diz como associar a cada
elemento x ∈ X um único elemento f (x) ∈ Y (lemos f de x). O conjunto X chama-
se o domínio da função, e o conjunto Y chama-se o contra-domínio da função.
Para cada x ∈ X, o elemento f (x) ∈ Y chama-se a imagem de x pela função f , ou
o valor assumido pela função f no ponto x ∈ X. Escreve-se x 7→ f (x) para indicar
que f transforma (ou leva) x em f (x).
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16 CAPÍTULO 3. CONJUNTOS FINITOS E INFINITOS
Exemplo 3.4. A função f : N −→ N dada por f (x) = 2x é tal que apenas os nú-
meros pares são imagem de algum natural pela função f . Já a função s : N −→ N
dada por s(x) = x + 1 associa a cada natural x seu sucessor. Claramente o único
natural que não é imagem de algum natural pela função s é o número 1 (o único
natural que não é sucessor de ninguém).