Contenção de Solo
Contenção de Solo
Contenção de Solo
OBRAS DE
CONTENÇÃO
Estruturas de
contenção de solos
por gravidade
Caroline Silva Sena
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Introdução
As estruturas de contenção de solos por gravidade são consideradas a solução
estrutural mais antiga e relativamente barata, pois não exigem mão de obra
especializada. Elas são assim denominadas porque garantem a estabilidade do
sistema com o peso próprio, ou seja, são pesadas e de grandes dimensões e ainda
têm como função suportar as tensões horizontais originadas pelo peso próprio
do maciço do solo e também por sobrecargas externas.
Neste capítulo, você identificará os principais tipos de muros de arrimo por
gravidade e também seus aspectos técnicos; verá os conceitos importantes sobre
o empuxo da terra e os coeficientes de segurança que garantem a estabilidade
de maciço de terra.
2 Estruturas de contenção de solos por gravidade
a b
Muros de Gabião
Os muros de gabiões, mostrados na Figura 2, são bastantes utilizados nas
estruturas de contenções por gravidade em gabiões na engenharia geotécnica.
Esse tipo de estrutura é muito vantajoso tanto do aspecto técnico quanto
do aspecto econômico, pois garante a resistência desejada na maioria das
situações e não precisa de mão de obra especializada. Esses muros geralmente
possuem uma altura de 2 metros, podendo chegar até 4 metros.
Figura 4. Cribwalls.
Fonte: mrizag/Shutterstock.com.
6 Estruturas de contenção de solos por gravidade
Muro de pneu
Os muros de pneus apresentados na Figura 5 são formados por camadas
horizontais de pneus que são amarrados entre si com corda ou arame e
preenchidos com solo compactado. A grande vantagem dessas estruturas é
a reutilização de pneus descartados, que se apresenta como uma solução
que combina a elevada resistência mecânica do material com o baixo custo,
comparativamente aos materiais convencionais (GERSCOVICH; DANZIGER;
SARAMAGO, 2016).
Empuxo
O valor da resultante de empuxo de terra, bem como a distribuição de tensões
horizontais ao longo do elemento estrutural, depende de como o processo
de interação solo-estrutura vai ocorrendo durante todas as fases da obra.
O empuxo atuando sobre o elemento estrutural provoca deslocamentos hori-
zontais que, por sua vez, alteram o valor e a distribuição do empuxo ao longo
das fases construtivas da obra (GERSCOVICH; DANZIGER; SARAMAGO, 2016).
Segundo Gerscovich, Danziger e Saramago (2016, p. 1):
Ea
Ep
T
N R
Figura 6. Empuxos.
Fonte: Adaptada de Barros et al. (2017).
Estruturas de contenção de solos por gravidade 9
O ponto de aplicação do empuxo é dado por H/3 (Figura 7), sendo H a altura
do talude; deve-se considerar o solo sem sobrecarga.
1 2
=
2
10 Estruturas de contenção de solos por gravidade
onde:
E = empuxo;
K = coeficiente de empuxo;
Ka = coeficiente de empuxo ativo; Ka = tg 2(45–φ/2); φ = ângulo de atrito
interno do solo;
Kp = coeficiente de empuxo passivo; Kp = tg 2(45–φ/2); φ = ângulo de
atrito interno do solo;
γ = densidade do material;
H = altura do talude
Empuxo de água
No cálculo do empuxo, deve-se considerar esse empuxo isoladamente, pois
as teorias mais utilizadas — Rankine e Coulomb — não preveem os esforços
devido à percolação da água. Outro fator importante é que os coeficientes de
empuxo se referem às tensões efetivas, e que a água exerce igual pressão em
todas as direções, sendo o empuxo da água perpendicular à face de contenção.
Seu cálculo é dado por:
= ≤ 1,5
= ×
= × + × 0
Equação:
+
= ≤ 1,5
onde:
Ep = empuxo passivo;
Ea = empuxo ativo;
S = esforço cisalhante na base do muro.
Capacidade de carga: essa verificação deve garantir que o solo em contato com
a base do muro não rompa nem tenha deformações excessivas. A distribuição
de tensões na base do muro é admitida linear. Deseja-se que a resultante das
forças atuantes se encontre no núcleo central da base, pois, assim, o solo
estará apenas sob solicitação de tensões de compressão.
Na Figura 9 temos um exemplo de uma representação das cargas de con-
tenção com perfil em “L”.
1 2
= ∗ cos i
2
1 2
= ∗ cos i
2
Exemplo prático
Neste exemplo prático, vamos verificar a estabilidade do muro ao tomba-
mento. Na Figura 10, temos um muro de gravidade construído em concreto
ciclópico cuja altura é de 50 cm, largura de 150 cm e apresenta os seguintes
dados técnicos:
14 Estruturas de contenção de solos por gravidade
γconc = 25 kN/m³;
γsolo = 18 kN/m³;
Ka = 0,333;
Kp = 0.
Cálculo do empuxo
Ea = γKaH2/2;
Ea = (18 × 0,33 × 0,52)/2 = 0,7425 kN;
Ponto de aplicação do empuxo ativo = ya = H/3 = 0,5/3 = 0,17 m.
= ≤ 1,5
= ×
= × + × 0
Estruturas de contenção de solos por gravidade 15
Momento resistente
Mres = Ep × Yp + Pp × X1 + W × X0
Sendo Ep = 0, Mres = Pp × X1 + W × X0
Momento solicitante
= ×
= ≤ 1,5
24,4
= = 100,82 ≤ 1,5
0,242
Observe que o valor foi muito alto, logo a estrutura deverá ser
redimensionada.
Referências
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR11682:2009. Estabilidade de
encostas. Rio de Janeiro: ABNT, 2009.
BARROS, P. L. A. et al. Obras de contenção: manual técnico. Curitiba: Maccaferri, 2017.
Disponível em: https://marcosporto.eng.br/wp-content/uploads/2018/02/TM-_-BR-_-
-Manual-Obras-de-Conten%C3%A7%C3%A3o-_-PT-_-Feb21.pdf. Acesso em: 30 abr. 2021.
CAPUTO, H. P. Mecânica dos solos e suas aplicações. 6. ed. Rio de Janeiro: LTC, 1987. v. 2.
CARVALHO, P. A. S. (coord.). Manual de geotecnia: taludes de rodovias; orientação para
diagnostico e soluções de seus problemas. São Paulo: Ipt, 1991.
DOMINGUES, P. C. Indicação para projeto de muros de arrimo em concreto armado. 1997.
Dissertação (Mestrado em Engenharia de Estruturas) — Escola de Engenharia de São
Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos, 1997.
GERSCOVICH, D.; DANZIGER, B. R.; SARAMAGO, R. Contenções: teoria e aplicações em
obras. São Paulo: Oficina de Textos, 2016.
16 Estruturas de contenção de solos por gravidade
Leitura recomendada
CRAIG, R. F. Mecânica dos solos. 7. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2004.