Distúrbios Da Aprendizagem

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INSTITUTO EDUCACIONAL MARIS

Distúrbios da Aprendizagem

SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 5

1 APRENDIZAGEM E EDUCAÇÃO .......................................................................... 7

2 AS DIMENSÕES DO PROCESSO DE APRENDIZAGEM .................................... 10

2.1 Dimensão biológica ............................................................................................ 10

2.2 Dimensão cognitiva ............................................................................................ 10

2.3 Dimensão social................................................................................................. 10

2.4 Dimensão pedagógica ....................................................................................... 11

3 OS FATORES QUE LEVAM AOS PROBLEMAS DE APRENDIZAGEM ............. 10

3.1 Orgânicos .......................................................................................................... 10

3.2 Específicos ........................................................................................................ 10

3.3 Psicógenos ........................................................................................................ 10

3.4 Ambientais ....................................................................................................... 11

4 OS DISTÚRBIOS DA APRENDIZAGEM .............................................................. 12

4.1 Dificuldades Escolares Globais de origem Afetiva ............................................. 18

4.2 Dificuldade da leitura ......................................................................................... 20

4.3 Dificuldade da escrita ......................................................................................... 22

4.4 Dificuldade no raciocínio Matemático ................................................................. 24

4.5 Outros déficits .................................................................................................... 24

5 LEGISLAÇÃO DE APOIO PARA ATENDIMENTO DE CRIANÇAS 23COM


DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM .................................................................. 23

REFERÊNCIAS CONSULTADAS E UTILIZADAS .................................................. 29

AVALIAÇÃO ........................................................................................................... 30

GABARITO................................................................................................................37
INTRODUÇÃO

As ideias aqui expostas, como não poderiam deixar de ser, não são neutras,
afinal, opiniões e bases intelectuais fundamentam o trabalho dos diversos institutos
educacionais, mas deixamos claro que não há intenção de fazer apologia a esta ou
aquela vertente, estamos cientes e primamos pelo conhecimento científico, testado e
provado pelos pesquisadores.

Não obstante, o curso tenha objetivos claros, positivos e específicos, nos


colocamos abertos para críticas e para opiniões, pois temos consciência que nada
está pronto e acabado e com certeza críticas e opiniões só irão acrescentar e melhorar
nosso trabalho.

Como os cursos baseados na Metodologia da Educação a Distância, vocês


são livres para estudar da melhor forma que possam organizar-se, lembrando que:
aprender sempre, refletir sobre a própria experiência se somam e que a educação é
demasiado importante para nossa formação e, por conseguinte, para a formação dos
nossos/ seus alunos.

Assim, a apostila em questão traz os seguintes conteúdos: aprendizagem e


educação; as dimensões do processo de aprendizagem (biológica, cognitiva e social);
os fatores que levam aos problemas de aprendizagem (orgânicos, específicos,
psicógenos e ambientais); os distúrbios de aprendizagem e a legislação de apoio para
atendimento de crianças com dificuldades de aprendizagem, trata-se de uma reunião
do pensamento de vários autores que entendemos serem os mais importantes para a
disciplina.

Para maior interação com o aluno deixamos de lado algumas regras de


redação científica, mas nem por isso o trabalho deixa de ser científico.

Desejamos a todos uma boa leitura e caso surjam algumas lacunas, ao final
da apostila encontrarão nas referências consultadas e utilizadas aporte para sanar
dúvidas e aprofundar os conhecimentos.
1 APRENDIZAGEM E EDUCAÇÃO

A aprendizagem é o processo através do qual a criança se apropria ativamente


do conteúdo da experiência humana, daquilo que o seu grupo social conhece. Para
que a criança aprenda, ela necessitará interagir com outros seres humanos,
especialmente com os adultos e com outras crianças mais experientes. Nas inúmeras
interações em que se envolve desde o nascimento, a criança vai gradativamente
ampliando suas formas de lidar com o mundo e vai construindo significados para as
suas ações e para as experiências que vive (DAVIS E OLIVEIRA, 1994).

Sendo assim, pode-se definir mais claramente aprendizagem como um


processo evolutivo e constante que implica uma sequência de modificações
observáveis e reais no comportamento do indivíduo (físico e biológico e no meio que
o rodeia) atuante e atuado. Este processo se traduz pelo aparecimento de formas
realmente novas (POPPOVIC, 1968 apud CIASCA, 2008).

Por isso, a aprendizagem é considerada um processo integrativo, supõe uma


dinâmica interna, mental, ou seja, o indivíduo não acumula simplesmente
conhecimentos, mas passa a entender com mais profundidade as novas descobertas.

A aprendizagem está sempre se efetuando, é um processo que começa com o


nascimento, ou até mesmo antes dele, e continua de uma forma ou de outra, durante
toda a nossa vida e se acentua na escola, com o processo sistêmico de escolarização.

A aprendizagem é um fenômeno extremamente complexo, envolvendo


aspectos cognitivos, emocionais, orgânicos, psicossociais e culturais. A
aprendizagem é resultante do desenvolvimento de aptidões e de conhecimentos, bem
como da transferência destes para novas situações (STACCIARINI e ESPERIDIÃO,
1999).

O processo de aprendizagem é desencadeado a partir da motivação.

Esse processo se dá no interior do sujeito, estando, entretanto, intimamente


ligado às relações de troca que o mesmo estabelece com o meio, principalmente
escolar: seus professores e colegas. Nas situações escolares, o interesse é
indispensável para que o aluno tenha motivos de ação no sentido de apropriar-se do
conhecimento (HUERTAS, 2001).
No contexto do processo de escolarização inúmeros problemas são
detectados: dificuldades de coordenação motora, agressividade, falta de atenção em
sala de aula, dificuldade com ordenação e muitos outros.

Além dos inúmeros fatores que possibilitam o insucesso da criança, como


fatores biológicos, sociais, emocionais, pedagógicos, etc. outros motivos que levam
uma criança ao fracasso escolar seriam:

 Não estar amadurecida o suficiente para aprender determinados conceitos;

 Não estar motivadas, com a autoestima baixa;

 Ter problemas fisiológicos;

 Ter problemas sociais. A aceitação por parte do professor e dos colegas, o


afeto que recebem dos pais e das pessoas em geral são objetivos muito caro
às crianças. Muito do que elas fazem, se esclarece quando levamos isso em
consideração;

 Não ter tido experiências anteriores favoráveis, ou seja, o que elas estão
aprendendo no momento depende de conhecimentos que não obtiveram;

 Ter dificuldade de concentração;

 Podem estar numa escola onde a forma de ensinar não está de acordo com
sua forma de aprender.

É preciso ter sempre em mente que uma criança não aprende em função do
professor, mas em função dela mesma, de sua autoestima, porém, tanto o professor
quanto a família, são imprescindíveis para o sucesso da mesma. É necessário
compreender para melhor educar. É necessário que o professor esteja atento as
dificuldades que eventualmente possam surgir e se for preciso encaminhá-la a um
especialista.

O psicopedagogo, neste contexto, tem o papel significativo de estimular ou


facilitar o processo ensino-aprendizagem, e muitas vezes precisa apenas descobrir
na criança o que ela já sabe.

Até o momento discorremos sobre a importância da aprendizagem, pois bem,


agora podemos falar das funções da educação que segundo Paín (1992) são quatro
funções interdependentes, a saber:
1. Função mantenedora – ela garante a continuidade da espécie humana ao
reproduzir em cada indivíduo o conjunto de normas que regem a ação
possível.

2. Função socializadora – embora a educação não ensine a comer, a falar ou


cumprimentar, ela ensina que são as modalidades destas ações,
regulamentadas pelas normas do manejo, da sintaxe, os códigos gestuais da
comunicação. Ela leva o indivíduo a transformar-se socialmente, a identificar-
se com um grupo.

3. Função repressora – se de um lado a educação educa, de outro ela reprime


no sentido de conservar e reproduzir as limitações que o poder destina a cada
classe e grupo social, segundo o papel que lhes atribui na realização de seu
projeto socioeconômico.

4. Função transformadora – na medida em que as contradições do sistema


produzem mobilizações primariamente emotivas, os diversos grupos se
mobilizam e buscam por mudanças. São atitudes revolucionárias que também
passam pela educação (PAÍN, 1992).
2 AS DIMENSÕES DO PROCESSO DE APRENDIZAGEM

Na prática diagnóstica é necessário levar em consideração alguns aspectos ou


dimensões ligadas às três perspectivas1 de abordagem do fracasso escolar. Essa
interligação ajudará a construir uma visão gestáltica da pluricausalidade desse
fenômeno, possibilitando uma abordagem global do sujeito em suas múltiplas facetas.

2.1 Dimensão biológica

Os aspectos orgânicos estão relacionados à construção bifisiológica do sujeito


que aprende. Alterações nos órgãos sensoriais impedirão ou dificultarão o acesso aos
sinais do conhecimento. A construção das estruturas cognoscitivas se processa num
ritmo diferente entre indivíduos normais e os portadores de deficiências sensoriais,
pois existirão diferenças nas experiências físicas e sociais vividas.

Diferentes problemas do sistema nervoso central acarretarão alterações, como,


por exemplo, disfasias e afasias que comprometem a linguagem e poderão ou não
causar problemas de leitura e escrita.

Na realidade, crianças portadoras de alterações orgânicas recebem, na maioria


das vezes, uma educação diferenciada por parte da família, o que pode levar à
formação de problemas emocionais em diversos níveis, gerando dificuldades na
aprendizagem escolar.

-----------------------------------
1
1 – Tipo de cultura, condições e relações político-sociais e econômicas vigentes, o tipo de estrutura
social, as ideologias dominantes e as relações explícitas ou implícitas desses aspectos com a
educação escolar.
2
– Análise da instituição escola
3
– Aluno enquanto aprendente (WEISS, 1992, p. 2-5)
2.2 Dimensão cognitiva

Os aspectos cognitivos estão basicamente ligados ao desenvolvimento e


funcionamento das estruturas cognoscitivas em seus diferentes domínios. Weiss
(1992) inclui nessa grande área também aspectos ligados à memória, atenção,
antecipação, etc., anteriormente agrupados nos chamados fatores intelectuais.

Numa visão piagetiana, o desenvolvimento cognitivo é um processo de


construção que se dá na interação entre o organismo e o meio. Se esse organismo
apresenta problemas desde o nascimento, o processo de construção do sujeito
sofrerá alterações em seu ritmo.

2.3 Dimensão social

Os aspectos sociais estão ligados à perspectiva da sociedade em que estão


inseridas a família e a escola. Inclui, além da questão das oportunidades, as questões
ligadas à formação da ideologia em diferentes classes sociais.

A falsa democratização de algumas escolas em que se dá a mistura de crianças


de classe média com ampla base cultural com crianças de camadas menos
favorecidas da população, sendo essas últimas expelidas da escola por duas
reprovações é outro exemplo do problema de dimensão social.

Essa escola que finge aceitar a diversidade cultural constrói nessas crianças a
baixa autoestima, o sentimento de inferioridade que carregam para outras escolas
ditas mais fáceis. Isso acontece porque na realidade, não fazem dentro da escola
modificações curriculares e pedagógicas que auxiliem a criança menos favorecida a
ter uma ascensão no conhecimento e se igualar com as do 1º grupo (WEISS, 1992).

2.4 Dimensão pedagógica

Os aspectos pedagógicos contribuem muitas vezes para o aparecimento de


uma formação reativa aos objetos da aprendizagem escolar. Tal quadro confunde-se
às vezes, com as dificuldades de aprendizagem originadas na história pessoal e
familiar do aluno.
Nesse conjunto de fatores estão incluídas as questões ligadas à metodologia
do ensino, à avaliação, à dosagem de informações, à estruturação de turmas, à
organização geral, etc., que influindo na qualidade do ensino, interferem no processo
ensino-aprendizagem. Segundo Weiss (1992, p. 9) ficam diminuídas assim, as
condições de acesso do aluno ao conhecimento via escola.

A escola boa deveria ser estimulante para aprender, por essa razão, a função
básica dos profissionais da área de educação deveria ser:

a) melhorar as condições de ensino para o crescimento constante do processo de


ensino aprendizagem e assim prevenir dificuldades na produção escolar.

b) fornecer meios, dentro da escola, para que o aluno possa superar dificuldades
na busca de conhecimentos anteriores ao seu ingresso na escola.

c) atenuar, ou no mínimo, contribuir para não agravar os problemas de


aprendizagem nascidos ao longo da história pessoal do aluno e sua família
(WEISS, 1992).
3 OS FATORES QUE LEVAM AOS PROBLEMAS DE APRENDIZAGEM

3.1 Orgânicos

Refere-se ao crescimento orgânico, maturação neurofisiológica, a capacidade


de manipulação de objetos, etc. Em outras palavras:

 Integridade anatômica;

 Investigação neurológica;

 Funcionamento glandular.

São exemplos de fatores orgânicos: a saúde física, a falta de integridade


neurológica (sistema nervoso doentio), alimentação inadequada, etc.

3.2 Específicos

Estão relacionados a transtornos na área da adequação perceptivo


motora.(veremos detalhes no tópico sobre distúrbios da aprendizagem).

3.3 Psicógenos

Estão relacionadas aos fatores psicogênicos três possibilidades para o fato do


não aprender: Na primeira, este constitui um sintoma e, portanto, supõe a prévia
repressão de um acontecimento que a operação de aprender de alguma maneira
significa; na segunda, trata-se de uma retratação intelectual do ego. Tal retratação
ocorre em três oportunidades: sexualização dos órgãos, evitação do erro ou
compulsão ao fracasso diante do êxito, como castigo a ambição do ser; e a terceira,
quando o ego está absorvido em outra tarefa psíquica que compromete toda a
energia disponível.

São exemplos de fatores psicológicos: Inibição, fantasia, ansiedade, angustia,


inadequação à realidade, sentimento generalizado de rejeição.
3.4 Ambientais

Interessa neste momento as características de moradia, bairro, escola, lazer,


acesso a jornais, rádio, etc. Este fator é determinante no diagnóstico, na medida em
que nos permite compreender sua coincidência com a ideologia e os valores vigentes
no grupo. O paciente deve ser avaliado através de seu nível de consciência e
participação.

São exemplos de fatores ambientais: o tipo de educação familiar, o grau de


estimulação que a criança recebeu desde os primeiros dias de vida, a influência dos
meios de comunicação, etc.
4 OS DISTÚRBIOS DA APRENDIZAGEM

Segundo Nutti (2002) definir e distinguir distúrbio, transtorno e dificuldades e/ou


problemas de aprendizagem é uma das mais inquietantes problemáticas para aqueles
que atuam no diagnóstico, prevenção e reabilitação do processo de aprendizagem,
pois envolve uma vasta literatura fundamentada em concepções nem sempre
coincidentes ou convergentes.

Etimologicamente, a palavra distúrbio compõe-se do radical turbare e do prefixo


dis. O radical turbare significa “alteração violenta na ordem natural” e pode ser
identificado também nas palavras turvo, turbilhão, perturbar e conturbar. O prefixo dis
tem como significado “alteração com sentido anormal, patológico” e possui valor
negativo. O prefixo dis é muito utilizado na terminologia médica (por exemplo:
distensão, distrofia). Em síntese, do ponto de vista etimológico, a palavra distúrbio
pode ser traduzida como “anormalidade patológica por alteração violenta na ordem
natural” (COLLARES E MOYSES, 1992).

Portanto, um distúrbio de aprendizagem obrigatoriamente remete a um


problema ou a uma doença que acomete o aluno em nível individual e orgânico
(NUTTI, 2002).

Para Paín (1992) os Distúrbios, Dificuldades e Problemas de Aprendizagem,


sem dúvida, são os mais inter e multidisciplinar dos temas, porque requer o
envolvimento dos vários aspectos: psicológicos, orgânicos e sociais, e mescla, em seu
atendimento, os conceitos das diversas áreas: Psicologia, Fonoaudiologia,
Psicomotricidade e Sociologia.

O termo “transtorno” é usado por toda a classificação, de forma a evitar


problemas ainda maiores inerentes ao uso de termos tais como “doença” ou
“enfermidade”. “Transtorno” não é um termo exato, porém é usado para indicar a
existência de um conjunto de sintomas ou comportamentos clinicamente
reconhecíveis associados, na maioria dos casos, a sofrimento e interferência com
funções pessoais (CID - 10, 1993, p. 5).

Dentre vários outros autores, Fernández (1991) também considera as


dificuldades de aprendizagem como sintomas ou “fraturas” no processo de
aprendizagem, onde necessariamente estão em jogo quatro níveis: o organismo, o
corpo, a inteligência e o desejo. A dificuldade para aprender, segundo a autora, seria
o resultado da anulação das capacidades e do bloqueamento das possibilidades de
aprendizagem de um indivíduo e, a fim de ilustrar essa condição, utiliza o termo
inteligência aprisionada.

Reforçamos que a aprendizagem é um fenômeno extremamente complexo,


envolvendo aspectos cognitivos, emocionais, orgânicos, psicossociais e culturais e
resultante do desenvolvimento de aptidões e de conhecimentos, bem como da
transferência destes para novas situações.

A aprendizagem é o processo através do qual a criança se apropria ativamente


do conteúdo da experiência humana, daquilo que o seu grupo social conhece. Para
que a criança aprenda, ela necessitará interagir com outros seres humanos,
especialmente com os adultos e com outras crianças mais experientes.

Sobre a psicopedagogia, os distúrbios e dificuldades de aprendizagem


constituem-se os objetos de estudos desse profissional, ou seja, é por causa deles
que o profissional existe. Ao ser procurado pela escola, pelo professor ou pela família
tendo conhecimento do problema, ele poderá analisar e refletir a respeito:

a) Da aprendizagem e seu processo de escolarização;

b) Dos fatores que influenciam na aprendizagem humana e as causas do


fracasso escolar;

c) Da diferença entre Distúrbios, Dificuldades e Problemas de Aprendizagem e


finalmente;

d) Da importância da Psicomotricidade como recurso de atendimento


psicopedagógico.

É preciso ter sempre em mente que uma criança não aprende em função do
professor, mas em função dela mesma, de sua autoestima, porém, tanto o professor
quanto a família, são imprescindíveis para o sucesso da mesma.

Enfim, a importância e aplicabilidade prática de conhecer os distúrbios de


aprendizagem, reside justamente no fato da necessidade do professor estar atento as
dificuldades que eventualmente possam surgir e se for preciso encaminhá-la a um
especialista. E ao psicopedagogo, neste contexto, cabe o papel significativo de
estimular ou facilitar o processo ensino-aprendizagem, e muitas vezes precisa apenas
descobrir na criança o que ela já sabe.

Pela intensidade com que apresentam os sintomas e comportamentos infantis,


pela duração em que eles têm na vida escolar e pela participação do lar e da escola
nos processos problemáticos, fica difícil para o professor identificar os problemas de
aprendizagem de seu aluno.

Na verdade, quando o ato de aprender se apresenta problemático, é preciso


uma avaliação muito mais abrangente e minuciosa, cabendo ao especialista
Psicopedagogo realizá-la, a fim de identificar causas, e planejar possíveis correções.

Quando falamos de aprendizagem estamos nos referindo a um processo global


de crescimento, pois toda aprendizagem desencadeia, em algum sentido, crescimento
individual ou grupal.

A aprendizagem infantil, no que tange ao processo escolar em geral, está


intimamente relacionada ao desenvolvimento da criança, às figuras representativas
desta aprendizagem (escola, professores), ambiente de aprendizagem formal,
condições orgânicas, condições emocionais e estrutura familiar.

Qualquer intercorrência em um ou mais destes fatores, pode influenciar direta


ou indiretamente o processo de aquisição da aprendizagem.

Eis que agora precisamos definir linguagem para continuarmos nosso caminho
sobre os distúrbios de aprendizagem.

Podemos definir linguagem como um instrumento que, através de diversas


formas, o ser humano utiliza para se comunicar.

A comunicação ocorre através de gestos, expressões faciais, fala e escrita


formal obedecendo as regras da comunidade linguística na qual está inserida.

Diversas são as alterações que podem ser diagnosticadas durante o processo


de aprendizagem e consequentemente, o processo educacional em geral, como
desempenho e qualidade globais.

O atraso na linguagem traduz-se pela ausência da mesma na idade em que,


normalmente, ela se manifesta.
Caracteriza-se pela permanência de certos padrões linguísticos além da fase
da idade cronológica.

No atraso simples ou moderado observa-se a redução de padrões fonológicos.


No atraso grave de linguagem a criança apresenta todos os padrões fonológicos
reduzidos e também os padrões morfossintáticos estão muito reduzidos com,
praticamente, ausência dos elementos de ligação e estruturas frasais primitivas.

Sendo o atraso propriamente dito, apresenta transtornos nas demais áreas de


linguagem podendo estar implicados os mecanismos de memória imediata.

Dificuldades oro-motoras acompanham o atraso de linguagem necessitando de


um maior enriquecimento ou ajustamento das sensações proprioceptivas, facilitando
a fixação dos padrões fonológicos corretos.

São várias as classificações para os distúrbios de aprendizagem. Basicamente


temos dificuldades nos planos da leitura, da escrita e da matemática. Outras mais
globais seriam de origem afetiva.

Falaremos um pouco de cada uma delas, salientando que inúmeros autores


debruçam sobre o tema e são inúmeras as dicas ou maneiras de definir as
dificuldades, mas isso requer tempo e experiência por parte do profissional.

4.1 Dificuldades Escolares Globais de origem Afetiva

Os atrasos globais do desenvolvimento são caracterizados pelo atraso


psicomotor, da linguagem oral e da comunicação em geral, estando a criança
defasada em diversas áreas do desenvolvimento com ou sem problemas motores.

Aspectos cognitivos e perceptivos também podem acompanhar o Atraso Global


de Desenvolvimento.

Os padrões esperados para cada faixa etária dependem, além da estimulação


ambiental com qualidade, da maturação neurológica.

No quadro de atraso da linguagem devemos ressaltar a disfasia onde existem,


quase sempre, problemas de compreensão e sua evolução terapêutica é muito lenta.
Os fatores emocionais permeiam toda e qualquer relação que o indivíduo faça
ou venha a fazer consigo mesmo ou com o mundo exterior, o fator emocional e sua
estrutura não devem ser desprezados.

Levando-se em conta a estrutura familiar, social e as relações estabelecidas


entre si e o meio e a forma com que estas relações são feitas, influenciam, sem dúvida,
o desenvolvimento do processo de aprendizagem.

A maneira de encarar novas informações, a relação com este “novo” e a


disponibilidade da criança para permitir-se a aprender, estão intrinsecamente ligadas
com suas condições psicológicas.

A criança de seis anos que ingressa na escola básica acha-se bruscamente


confrontada com uma situação nova à qual terá de adaptar-se rapidamente. Os
problemas com os quais ela vai envolver-se implicam, em muitos casos, uma
reconsideração dos hábitos e atitudes anteriores. Particularmente confrontava-se com
o problema de sua própria eficácia, já que deve submeter-se às aprendizagens e ser
bem-sucedida de acordo com um ritmo que, na maioria dos casos não leva em conta
suas possibilidades reais (LE BOULCH, 1983).

Esta exigência de desempenho é exacerbada pelas comparações feitas de uma


criança a outra e este ambiente competitivo passará, rapidamente, a ter para ela uma
significação afetiva, e até mesmo moral, na medida em que as noções de bons e maus
alunos se desprenderão naturalmente do êxito ou do fracasso. A situação da criança
torna-se ainda mais difícil pela exigência dos pais que se sentem pessoalmente
implicados, e até traídos, quando seus filhos não chegam no nível das outras crianças
(LE BOULCH, 1983).

Esta análise sucinta põe em evidência o fato de que a aprendizagem escolar


definida como conteúdo é inseparável das condições das relações dentro da quais ela
é exercida. Compreende-se, então, que os problemas encontrados possam situar-se,
conforme o caso, mais no polo afetivo ou mais no plano funcional (ATHAR, 2004).

Durante o período escolar, seria possível, apoiando-nos nas atividades de


expressão espontânea realizadas em grupos, despistar entraves como inibição, a
insegurança, as dificuldades de comunicação, os atrasos de linguagem. A exploração
das situações lúdicas e do trabalho voltado para a imagem do corpo num clima de
segurança criado pela educadora, deveria permitir às crianças, vítimas de carências
afetivas ou, ao contrário, superprotegidas, a recuperação de uma parte de seu atraso
no plano funcional e, abordar o curso preparatório em melhores condições (ATHAR,
2004).

4.2 Dificuldade da leitura

A leitura é a possibilidade própria que cada uma das pessoas tem de dotar de
sentido e de significado, seja ela textos escritos, desenhos, comportamentos,
expressões e outros.

É fato que os indivíduos não nascem sabendo ler, mas também é fato que não
aprendem a fazê-lo apenas quando entram na escola (CHARTIER, 1998).

Com as crianças não é em nada diferente, uma vez que desde muito cedo elas
distinguem seus pertences dos de seus colegas, conhecem sua mãe e parentes mais
próximos, dias de sol, dias de chuva, dentre muitas outras coisas de nada valerá se
essas crianças não dominarem o saber ler e escrever. Ao não saberem lidar
livremente com sua língua, sem dúvida alguma sofrerão exclusão social e ainda pior,
serão cidadãos privados de parte de seus direitos, e ainda de assumirem seus
deveres, deixando então de lutar por seus desejos.

O trabalho escolar não pode minimizar o conceito de leitura e nem a


necessidade que cada criança tem de se relacionar com sua língua, de forma ampla,
criativa e autônoma. Não se trata de só trabalhar para que as crianças aprendam a
ler, mas sim trabalhar para que elas façam uso da linguagem em sua plenitude,
riqueza e complexidade em espaços de interlocução permanente.

Os aspectos funcionais do aprendizado da leitura

Percebem-se três grandes causas funcionais nos problemas de leitura escrita:


os déficits da função simbólica que podem ser observados nas debilidades, os atrasos
ou os defeitos de linguagem e os problemas essencialmente psicomotores.

Relacionar os problemas de orientação com a dificuldade de aprendizado da


leitura é algo clássico e que sobressai da evidência. Da observação desta
concordância, passa-se logo a fazer uma relação de causa e efeito. Na verdade,
felizmente, não é necessário que uma criança tenha podido verbalizar sua direita ou
sua esquerda para que possa ser confrontada com o aprendizado da leitura.

O problema é muito mais profundo. Não concerne apenas ao papel perceptivo,


mas surge de uma dificuldade muito mais fundamental que atinge a organização de
seu corpo próprio. A dificuldade de orientação e o problema de leitura não passam de
dois sintomas ligados à mesma causa: a dislateralidade.

A lateralização é a tradução de uma assimetria funcional. Os espaços motores


que correspondem ao lado direito a ao lado esquerdo do corpo não são homogêneos.
Esta desigualdade vai particularizar-se no decorrer do desenvolvimento e consolidar-
se quando os ajustamentos práxicos de natureza intencional. No maior número de
casos, esta lateralização é homogênea e sem ambiguidade. Noutros, ao contrário, e
particularmente no caso dos canhotos, podemos observar discordância.

As discordâncias que reterão aqui nossa atenção concorrem às que atingem a


organização do olhar e a organização da prevalência manual. As nossas próprias
observações nos permitem afirmar que em muitos casos de dislexia, constata-se uma
dominância cruzada da mão e da visão.

A leitura de um texto é feita graças a uma sucessão de movimentos oculares


bruscos e ritmados, orientados obrigatoriamente da esquerda para a direita. A
organização desta motricidade ocular é muito precoce.

Distúrbio da leitura

Dentro dos distúrbios da leitura temos:

Dislexia: Neurologicamente conceituando, trata-se da incapacidade de


compreensão do que se lê, devido à lesão no sistema nervoso central. Porém muitas
vezes esta condição apresenta-se sem qualquer comprometimento neurológico, neste
caso, dislexia poderá ser considerada a condição em que o aluno consegue ler, mas
experimenta fadiga e sensações desagradáveis.

As crianças disléxicas são maus leitores, uma vez que são capazes de ler, mas
não de entender o que leram de maneira eficiente.
Os disléxicos em geral são inteligentes, habilidosos, mas apresentam esse
quadro de dificuldade desde muito cedo, quando ainda na Educação Infantil, onde
deve ser trabalhado uma forma de melhorar esse quadro.

Uma criança disléxica encontra dificuldade para ler, e essas frustrações


acumuladas podem conduzir a criança a demonstrar comportamentos antissociais,
agressivos, resultando então em uma situação de marginalização progressiva da
criança (CASANOVA, 1997 apud MARTINS, 2006).

Quando os educadores se deparam com crianças inteligentes, saudáveis, mas


com dificuldades de ler e entender o que leram, devem investigar imediatamente se
há algum caso de dislexia na família. Em geral, a história pessoal de uma criança
dislexia, traz traços comuns, como o atraso de aquisição da linguagem, atraso de
locomoção, problemas com lateralidade e outros.

O diagnóstico da dislexia deve ser precoce, ou seja, já nos primeiros anos de


escolaridade da criança, prevenindo assim, futuros problemas de fundo emocional.

4.3 Dificuldade da escrita

A escrita é antes de qualquer coisa, um aprendizado motor. A aquisição desta


prática específica, particularmente complexa, exige que se eduque a função de
ajustamento. Antes que a criança aprenda a ler, o trabalho psicomotor terá como
objetivo proporcionar-lhe uma motricidade espontânea, coordenada e rítmica, que
será o melhor aval para evitar os problemas de escrita.

A habilidade manual será desenvolvida, quer pela utilização da modelagem do


recorte, da colagem, quer por exercício de dissociação ao nível da mão e dos dedos,
que identificamos como exercícios de percepção do corpo próprio fazendo atuar a
função de interiorização. O ritmo do traçado e sua orientação da esquerda para a
direita serão melhorados pelos exercícios gráficos baseados nas formas da pré-
escrita, como as diferentes hélices e guirlandas. O controle da velocidade e a
manutenção de sua constância serão obtidos por exercícios em séries crescentes e
decrescente. O trabalho que chamamos de controle tônico assume igualmente uma
enorme importância.
Portanto, é essencial para a criança dispor de uma motricidade espontânea,
rítmica, liberada e controlada, sobre a qual o professor poderá apoiar-se.

Aqui encontramos a disgrafia e a disortografia.

Disgrafia:

É a dificuldade em passar para a escrita o estímulo visual ou a percepção da


“coisa”. Caracteriza-se pelo lento traçado das letras, em geral são ilegíveis.

Existem vários níveis da disgrafia, desde a incapacidade de segurar um lápis e


traçar uma linha, até a apresentada por crianças que são capazes de fazer desenhos
simples, mas não cópias de palavras do quadro.

As principais características das crianças disgráficas são:

 Apresentação desordenada do texto;

 Margens mal feitas ou inexistentes;

 Espaço irregular entre palavras, linhas e entrelinhas;

 Traçado de má qualidade;

 Distorção de formas de letra e,

 Separação inadequada de letras.

Obs.: Todas as crianças canhotas, como aquelas que ainda não aprenderam a
dominância lateral definida, estão sujeitas à disgrafia, se não forem devidamente
orientadas quanto à postura, posição do papel e a apreensão do lápis (MARTINS,
2006).

Disortografia

Caracteriza-se pela incapacidade de transcrever corretamente a linguagem


oral, havendo trocas ortográficas e confusão de letras. Essa dificuldade não implica
na diminuição da qualidade do traçado das letras.

As trocas ortográficas são normais nas séries iniciais, porque a relação entre
palavra impressa e os sons ainda não estão totalmente dominadas.

As principais características das crianças que apresentam disortografia


costumam ser:

 Confusão de letra (consoantes surdas por sonoras: f/v; p/b; ch/j);


 Confusão de sílabas com tonicidades semelhantes;

 Confusão de letras simétricas (b/d; q/p) e semelhantes (e/a; b/h; f/t).

4.4 Dificuldade no raciocínio Matemático

Discalculia:

Falha na aquisição da capacidade e na habilidade de lidar com conceitos e


símbolos matemáticos. Basicamente, a dificuldade está no reconhecimento do
número e do raciocínio matemático. Atinge de 5 a 6% da população com problemas
de aprendizagem e envolve dificuldades na percepção, memória, abstração, leitura,
funcionamento motor; combina atividades dos dois hemisférios.

4.5 Outros déficits

Os déficits cognitivos podem ser causados por lesões neurológicas ou por


alterações perceptivas graves e não valorizadas precocemente que levem ao
desenvolvimento aquém das possibilidades da criança.

No caso das síndromes neurológicas podemos citar, por exemplo, aberrações


cromossômicas: Síndrome do 21, Síndrome de Turner, Síndrome Klinefelter.

Erros inatos ao metabolismo e transtornos endócrinos, também são


responsáveis por desenvolvimento de déficits cognitivos.

Também consideramos, como causa dos mesmos, transtornos endócrinos,


patologias pré-natal (rubéola, sífilis, uso de medicamentos); perinatal (prematuridade
e imaturidade, sofrimento neo-natal); pós-natal (encefalites, meningites, etc.).

Os déficits perceptivos - As capacidades de percepção visual e auditiva,


permitem captação dos estímulos ambientais e sua decodificação.

A linguagem vai se estruturando à medida em que esses fatores (visão e


audição) se desenvolvem, juntamente com a maturação neurológica e as habilidades
psicomotoras.

Necessárias para um adequado desempenho da escrita e da leitura a visão e


suas áreas perceptivas (coordenação viso-motora, posição no espaço, relação
espacial, constância de percepção e figura-fundo), bem como a audição e suas
habilidades (atenção, localização e discriminação) formam e estruturam a base desta
formalização da escrita e da leitura e interpretação da mesma.

A síndrome TDAH - A Síndrome do Déficit de Atenção com Hiperatividade –


TDAH, faz com que a criança apresente características como:

 Dificuldade de concentração;

 Impulsividade;

 Dificuldade de manutenção de atenção mesmo durante as brincadeiras;

 Parece não escutar quando é chamado;

 Não termina as atividades;

 Perde com facilidade os objetos;

 Facilidade para distrair-se com estímulos externos;

 Movimento frequente de mãos ou pés;

 Dificuldade de permanecer sentado;

 Dificuldade em se engajar em jogos ou atividades de leitura onde necessita


permanecer sentado

Para se obter um diagnóstico seguro desta Síndrome é necessário que a


criança seja avaliada por uma equipe multidisciplinar que inclui neuropsicologia,
fonoaudiologia, psicologia, neurologia e que estejam presentes ao menos em seis das
características acima citadas.

Certamente está Síndrome influenciará na qualidade do desenvolvimento da


aprendizagem escolar e muitas vezes defasagem em alguma área relacionada com a
linguagem.
5 LEGISLAÇÃO DE APOIO PARA ATENDIMENTO DE CRIANÇAS COM
DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM

Desde a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996, (Lei n. 9394


de 20 de dezembro de 1996) temos algum apoio considerável para os cidadãos que
apresentam dificuldades de aprendizagem.

Vamos a alguns detalhes dessas leis.

LDB 9.394/96

Art. 12 - Os estabelecimentos de ensino, respeitadas as normas comuns e as


do seu sistema de ensino, terão a incumbência de:

I - elaborar e executar sua Proposta Pedagógica.

V - prover meios para a recuperação dos alunos de menor rendimento.

Art. 23 - A educação básica poderá organizar-se em séries anuais, períodos


semestrais, ciclos, alternância regular de períodos de estudos, grupos não seriados,
com base na idade, na competência e em outros critérios, ou por forma diversa de
organização, sempre que o interesse do processo de aprendizagem assim o
recomendar.

Art. 24 - V, a) avaliação contínua e cumulativa; prevalência dos aspectos


qualitativos sobre os quantitativos e dos resultados ao longo do período.

Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 (ECA – Estatuto da Criança e do


Adolescente)

Art. 53, incisos I, II e III

[...] A criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao pleno


desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e qualificação
para o trabalho, assegurando-se lhes:

I – Igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;

II – Direito de ser respeitado pelos seus educadores;


III – Direito de contestar critérios avaliativos, podendo recorrer às instâncias
escolares superiores.

Deliberação CEE nº 11/96

Artigo 1º - “o resultado final da avaliação feita pela Escola, de acordo com seu
regimento, deve refletir o desempenho global do aluno durante o período letivo, no
conjunto dos componentes curriculares cursados, com preponderância dos aspectos
qualitativos sobre os quantitativos e dos resultados obtidos durante o período letivo
sobre os da prova final, caso esta seja exigida, considerando as características
individuais do aluno e indicando sua possibilidade de prosseguimento nos estudos.”

Indicação CEE nº 5/98, de 15/4/98

D.O.E. em 23/9/98

[...] educação escolar consiste na formação integral e funcional dos educandos,


ou seja, na aquisição de capacidades de todo tipo: cognitivas, motoras, afetivas, de
autonomia, de equilíbrio pessoal, de inter-relação pessoal e de inserção social.

[...] os conteúdos escolares não podem se limitar aos conceitos e sim devem
incluir procedimentos, habilidades, estratégias, valores, normas e atitudes. E tudo
deve ser assimilado de tal maneira que possa ser utilizado para resolver problemas
nos vários contextos.

[...] os alunos não aprendem da mesma maneira e nem no mesmo ritmo. O que
eles podem aprender em uma determinada fase depende de seu nível de
amadurecimento, de seus conhecimentos anteriores, de seu tipo de inteligência, mais
verbal, mais lógica ou mais espacial. No cotidiano da sala de aula, convivem pelo
menos três tipos de alunos que têm “aproveitamento insuficiente”: os imaturos, que
precisam de mais tempo para aprender; os que têm dificuldade específica em uma
área do conhecimento; e os que, por razões diversas, não se aplicam, não estudam,
embora tenham condições.
[...] recuperar significa voltar, tentar de novo, adquirir o que perdeu, e não pode
ser entendido como um processo unilateral. Se o aluno não aprendeu, o ensino não
produziu seus efeitos, não havendo aqui qualquer utilidade em atribuir-se culpa ou
responsabilidade a uma das partes envolvidas. Para recobrar algo perdido, é preciso
sair à sua procura e o quanto antes melhor: inventar estratégias de busca, refletir
sobre as causas, sobre o momento ou circunstâncias em que se deu a perda, pedir
ajuda, usar uma lanterna para iluminar melhor. Se a busca se restringir a dar voltas
no mesmo lugar, provavelmente não será bem-sucedida.

[...] O compromisso da Escola não é somente com o ensino, mas


principalmente com a aprendizagem. O trabalho só termina quando todos os recursos
forem usados para que todos os alunos aprendam. A recuperação deve ser entendida
como uma das partes de todo o processo ensino-aprendizagem de uma escola que
respeite a diversidade de características e de necessidades de todos os alunos.

[...] Dentro de um projeto pedagógico consistente, a recuperação deve ser


organizada para atender aos problemas específicos de aprendizagem que alguns
alunos apresentam, e isso não ocorre em igual quantidade em todas as matérias nem
em épocas pré-determinadas no ano letivo. A recuperação da aprendizagem precisa:
- ser imediata, assim que for constatada a perda, e contínua; ser dirigida às
dificuldades específicas do aluno; abranger não só os conceitos, mas também as
habilidades, procedimentos e atitudes.

[...] A recuperação paralela deve ser preferencialmente feita pelo próprio


professor que viveu com o aluno aquele momento único de construção do
conhecimento. Se bem planejada e baseada no conhecimento da dificuldade do aluno,
é um recurso útil.

Parecer CEE nº 451/98 - 30/7/98

D.O.E. de 01/08/98, páginas 18 e 19, seção I

"a expressão '...rendimento escolar...' que se encontra no inciso V do artigo 24


da Lei 9.394/96, não se refere exclusivamente a aprendizagem cognitiva. A legislação
sobre avaliação/verificação do rendimento escolar, sobretudo o referido artigo, não
restringe a expressão “rendimento escolar” exclusivamente à aprendizagem cognitiva.
A lei 9.394/96, ao tratar da educação básica, situou-a no quadro de abertura
que permitiu, aos que dela fossem cuidar, em seus diferentes níveis e modalidades, a
pensasse como um todo e a explicitasse, nos limites do seu texto, em sua proposta
pedagógica e em seu regimento. Na elaboração dessa proposta e desse regimento,
consubstanciado certamente numa visão de homem, de sociedade e, por
consequência, numa concepção de educação e de avaliação, cuidados especiais
deverão ser tomados para que estejam contidos, nesses instrumentos, procedimentos
referentes ao processo ensino-aprendizagem, e em particular ao de verificação do
rendimento escolar.

O legislador deixou sob a responsabilidade da escola e de toda sua equipe a


definição do projeto de educação, de metodologia e de avaliação a serem
desenvolvidas. Abandonou detalhes para agarrar-se ao amplo, ao abrangente.
Aponta, por isso, para uma educação para o progresso, onde estudo e avaliação
devem caminhar juntos, esta última como instrumento indispensável para permitir em
que medida os objetivos pretendidos foram alcançados. Educação vista como um
processo de permanente crescimento do educando, visando seu pleno
desenvolvimento, onde conceitos, menções e notas devem ser vistos como meros
registros, prontos a serem alterados com a mudança de situação. E, nessa busca do
pleno desenvolvimento e do processo do educando, estão presentes outros objetivos
que não só os de dimensão cognitiva, mas os de natureza sócioafetiva e psicomotora,
que igualmente precisam ser trabalhados e avaliados. O cuidado deve estar é no uso
que se pode fazer desta avaliação, não a dissociando da ideia do pleno
desenvolvimento do indivíduo.

Lei nº 10.172 de 9 de janeiro de 2001 - Plano Nacional de Educação

Capítulo 8 - Da Educação Especial

8.2 - Diretrizes
A educação especial se destina a pessoas com necessidades especiais no
campo da aprendizagem, originadas quer de deficiência física, sensorial, mental ou
múltipla, quer de características como de altas habilidades, superdotação ou talentos.
[...] A integração dessas pessoas no sistema de ensino regular é uma diretriz
constitucional (art. 208, III), fazendo parte da política governamental há pelo menos
uma década. Mas, apesar desse relativamente longo período, tal diretriz ainda não
produziu a mudança necessária na realidade escolar, de sorte que todas as crianças,
jovens e adultos com necessidades especiais sejam atendidos em escolas regulares,
sempre que for recomendado pela avaliação de suas condições pessoais. Uma
política explícita e vigorosa de acesso à educação, de responsabilidade da União, dos
Estados e Distrito Federal e dos Municípios, é uma condição para que às pessoas
especiais sejam assegurados seus direitos à educação.

Tal política abrange: o âmbito social, do reconhecimento das crianças, jovens


e adultos especiais como cidadãos e de seu direito de estarem integrados na
sociedade o mais plenamente possível; e o âmbito educacional, tanto nos aspectos
administrativos (adequação do espaço escolar, de seus equipamentos e materiais
pedagógicos), quanto na qualificação dos professores e demais profissionais
envolvidos.

O ambiente escolar como um todo deve ser sensibilizado para uma perfeita
integração. Propõe-se uma escola integradora, inclusiva, aberta à diversidade dos
alunos, no que a participação da comunidade é fator essencial. Quanto às escolas
especiais, a política de inclusão as reorienta para prestarem apoio aos programas de
integração.

[...] Requer-se um esforço determinado das autoridades educacionais para


valorizar a permanência dos alunos nas classes regulares, eliminando a nociva prática
de encaminhamento para classes especiais daqueles que apresentam dificuldades
comuns de aprendizagem, problemas de dispersão de atenção ou de disciplina. A
esses deve ser dado maior apoio pedagógico nas suas próprias classes, e não separá-
los como se precisassem de atendimento especial.

Parecer CNE/CEB nº 17/2001

Resolução CNE/CEB nº 2, de 11 de setembro de 2001.

O quadro das dificuldades de aprendizagem absorve uma diversidade de


necessidades educacionais, destacadamente aquelas associadas a: dificuldades
específicas de aprendizagem como a dislexia e disfunções correlatas; problemas de
atenção, perceptivos, emocionais, de memória, cognitivos, psicolinguísticos,
psicomotores, motores, de comportamento; e ainda há fatores ecológicos e
socioeconômicos, como as privações de caráter sociocultural e nutricional.
(SAMPAIO, 2006).
REFERÊNCIAS CONSULTADAS E UTILIZADAS

ATHAR, Patrícia Teixeira Correia Aben. A importância da psicomotricidade para a


Educação Física Escolar. Rio de Janeiro: Universidade Cândido Mendes, 2004.

Classificação de Transtornos Mentais e de Comportamento da CID-10:


Descrições clínicas e diretrizes diagnósticas. Organização Mundial de Saúde (Org.).
Porto Alegre: Artes Médicas, 1993.

COLLARES, C. A. L. e MOYSÉS, M. A. A. A História não Contada dos Distúrbios de


Aprendizagem. Cadernos CEDES n. 28, Campinas: Papirus, 1993, p.31-48.

ELLIS, Andrew W. Leitura, escrita e dislexia: uma análise cognitiva. 2 ed. Tradução
de Dayse Batista. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995.

LE BOULCH, Jean. A educação pelo movimento: a psicocinética na idade escolar.


Porto Alegre: Artes Médicas, 1983.

LOPES, Thereza Cristina dos Santos. Principais fatores relacionados à linguagem que
podem dificultar a aprendizagem. In: BELLO, José Luiz de Paiva. Pedagogia em
Foco. Rio de Janeiro, 2001. Disponível em:
<http://www.pedagogiaemfoco.pro.br/spfrl.htm>. Acesso em: 22 jul. 2010.

MARTINS, Vicente. Educação Especial, Dislexia e Gafes Linguísticas (2006).


Disponível em: <http://www.profala.com/arttf1.htm> Acesso em 23 jul. 2010.

NUTTI, Juliana Zantut. Distúrbios, transtornos, dificuldades e problemas de


aprendizagem. Disponível em:
<http://www.psicopedagogia.com.br/artigos/artigo.asp?entrID=339> acesso em: 10
dez. 2009.

SAMPAIO, Simaia. Legislação de apoio para atendimento de crianças com


dificuldades de aprendizagem. Disponível em:
<http://www.psicopedagogiabrasil.com.br/artigos_simaia.htm> Acesso em: 22 jul.
2010.

STACCIARINI, J. M. R.; ESPERIDIÃO, E. Repensando Estratégias de Ensino no


Processo de Aprendizagem. Revista Latino-Americana de Enfermagem, v.7, n. 5,
p.59-66, 1999.

WEISS, Maria Lucia L. Psicopedagogia clínica: uma visão diagnóstica. Porto Alegre:
Artes Médicas, 1992.
AVALIAÇÃO

1) Segundo Paín, a escola possui quatro funções interdependentes. Qual das funções
corresponde à seguinte fala: “ela garante a continuidade da espécie humana ao
reproduzir em cada indivíduo o conjunto de normas que regem a ação possível”.

A ( ) Função mantenedora.

B ( ) Função socializadora.

C ( ) Função repressora.

D ( ) Função transformadora.

2)” A falsa democratização de algumas escolas em que se dá a mistura de crianças


de classe média com ampla base cultural com crianças de camadas menos
favorecidas da população, sendo essas últimas expelidas da escola por duas
reprovações”. De qual dimensão estamos falando? Assinale a alternativa correta.

A ( ) Dimensão pedagógica.

B ( ) Dimensão social.

C ( ) Dimensão orgânica.

D ( ) Dimensão cognitiva.

3) Estão relacionadas aos fatores psicogênicos três possibilidades para o fato do não
aprender. A segunda possibilidade representa a retratação intelectual do ego. Essa
retração acontece em três oportunidades. Quais são elas? Assinale a opção correta.

A ( ) Sexualização dos órgãos.

B ( ) Evitação do erro.

C ( ) Compulsão ao fracasso diante do êxito.

D ( ) Todas as alternativas acima estão corretas.

4) Leia atentamente as afirmativas abaixo e assinale a opção correta.


I –Na verdade quando o ato de aprender se apresenta problemático, é preciso uma
avaliação muito mais abrangente e minuciosa, cabendo ao especialista

Psicopedagogo realizá-la, a fim de identificar causas, e planejar possíveis correções

II – A aprendizagem infantil, no que tange ao processo escolar em geral, está


intimamente relacionada ao desenvolvimento da criança, às figuras
representativas desta aprendizagem (escola, professores), ambiente de
aprendizagem formal, condições orgânicas, condições emocionais e estrutura
familiar

III – A comunicação ocorre através de gestos, expressões faciais, fala e escrita


formal obedecendo as regras da comunidade linguística na qual está inserida

A ( ) Somente está correta a alternativa I.

B ( ) Somente está correta a alternativa II.

C ( ) Todas as alternativas estão erradas.

D ( ) Todas as alternativas estão corretas.

5) Que tipo de transtorno são caracterizados pelo atraso psicomotor, da linguagem


oral e da comunicação em geral, estando a criança defasada em diversas áreas do
desenvolvimento com ou sem problemas motores? Assinale a alternativa correta.

A ( ) Transtornos invasivos do desenvolvimento.

B ( ) Transtornos globais do desenvolvimento.

C ( ) Transtornos de leitura.

D ( ) Transtornos de escrita.

6) A leitura de um texto é feita graças a uma sucessão de movimentos oculares


bruscos e ritmados, orientados obrigatoriamente da esquerda para a direita. A
organização desta motricidade ocular é muito precoce. Qual das opções abaixo nos
apresenta um distúrbio de leitura?

A ( ) Discalculia
B ( ) Disgrafia

C ( ) Dislexia

D ( ) Disortografia

7) A Disgrafia é a dificuldade em passar para a escrita o estímulo visual ou a


percepção da “coisa”. Existem vários níveis de disgrafia, desde a incapacidade de
segurar um lápis e traçar uma linha, até a apresentada por crianças que são capazes
de fazer desenhos simples, mas não cópias de palavras do quadro.
Assinale a opção que não apresenta característica de criança disgrafia:

A ( ) Confusão de sílabas com tonicidade semelhante.

B ( ) Margens mal feitas ou inexistentes.

C ( ) Separação inadequada de letras.

D ( ) Apresentação desordenada do texto.

8) “Falha na aquisição da capacidade e na habilidade de lidar com conceitos e


símbolos matemáticos. Basicamente, a dificuldade está no reconhecimento do
número e do raciocínio matemático. Atinge de 5 a 6% da população com problemas
de aprendizagem e envolve dificuldades na percepção, memória, abstração, leitura,
funcionamento motor; combina atividades dos dois hemisférios”. Assinale a opção que
representa a definição acima:

A ( ) Distúrbio de leitura - discalculia

B ( ) Distúrbio de leitura - disortografia

C ( ) Distúrbio no raciocínio matemático - dislexia

D ( ) Distúrbio no raciocínio matemático - discalculia

9) Dificuldade de concentração; Impulsividade; Dificuldade de manutenção de atenção


mesmo durante as brincadeiras; parece não escutar quando é chamado são
características de qual das síndromes abaixo?

A ( ) Síndrome de Klinefelter
B ( ) Síndrome de Turner

C ( ) TDAH

D ( ) Síndrome do 21

10) No tópico sobre a Legislação de apoio para atendimento de crianças com


dificuldades de aprendizagem, encontramos que:

“A criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao pleno


desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e qualificação
para o trabalho, assegurando-se lhes:

I – Igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;

II – Direito de ser respeitado pelos seus educadores;

III – Direito de contestar critérios avaliativos, podendo recorrer às instâncias


escolares superiores”.

Qual dos documentos abaixo refere-se ao trecho citado acima?

A ( ) Lei 9394/96 - LDB

B ( ) Lei 8069/90 - ECA

C ( ) Deliberação CEE 11/96

D ( ) Indicação CEE 05/98


GABARITO

Nome do aluno:_______________________________________
Curso:_______________________________________________
Data do envio:____/____/_______.

RESPOSTAS

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