Livro RodrigoNunes Tese
Livro RodrigoNunes Tese
Livro RodrigoNunes Tese
”
O TRABALHO EDUCATIVO COM A BRINCADEIRA DE
PAPÉIS SOCIAIS EM UMA PERSPECTIVA
HUMANIZADORA
2
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A Télos Educativa é uma
iniciativa coletiva em
contribuir com a divulgação
democrática do
conhecimento científico
crítico em educação. Não
possuímos qualquer tipo de
fins lucrativos. Todas as
obras podem ser acessadas
em nosso site sem custo.
G. Lukács
3
Página
Conselho Científico
ISBN 978-65-998898-4-4
1ª Edição
www.teloseducativa.wixsite.com/editora
Campo Grande, MS
5
2023
Página
© do autor:
Rodrigo Lima Nunes
1ª edição: 2023
Revisão
A revisão linguística e ortográfica
é de responsabilidade dos autores
ISBN: 978-65-998898-4-4
Versão digital Dezembro de 2023
Referências................................................................................................. 257
8
Página
PREFÁCIO
1
MARX, K. O 18 de brumário de Luís Bonaparte. São Paulo: Boitempo, 2011.
Página
O processo de apropriação e compreensão da realidade possibilita diferentes formas
de produção de conhecimentos, desde as artes, as filosofias, as religiões e as ciências, cada
qual objetivação interpretando a realidade segundo seus princípios, normas e métodos. A
ciência, por sua vez, possibilita a produção de conhecimentos sistematicamente organizados
e engendrados por meio das capacidades do pensamento objetivo do pesquisador sobre a
realidade e como resultado de um processo dialético repleto de contradições; processo esse
no qual os seres humanos estabelecem relações entre si e com a natureza por meio do
trabalho, e constituem-se como sujeitos sociais e históricos construtores da cultura.
Desde as primeiras páginas do livro, Rodrigo toma a concepção materialista histórica
e dialética como categoria fundamental para analisar e compreender a atividade do brincar
no processo de desenvolvimento da consciência das crianças na escola. E por assumir esse
princípio, Rodrigo entende as crianças em seu movimento dialético de formação e
transformação e toma as atividades ludo-pedagógicas como instrumentos essenciais para o
ensino no sentido de garantir um processo educativo emancipador no âmbito da educação
escolar no interior da escola pública.
O autor reconhece a atividade ludo-pedagógica a partir dos constructos Geipeeanos e
a assume como uma forma de “atividade lúdica e educativa, intencionalmente planejada e
orientada pelo professor, com a finalidade de construir consciências críticas e humanizadas
ou seja, não alienadas” (Viotto Filho, 2018, p.352).
Reitera que a concepção e conceituação de atividade ludo-pedagógica tem origem na
necessidade de superação do conceito de recreação e desenvolvimento espontâneo da
criança, muito presente na Educação escolar, visão que precisa ser superada considerando o
movimento histórico e dialético de desenvolvimento humano.
Ao ler o livro do professor Rodrigo, torna-se claro em cada uma de suas linhas o
compromisso do autor com a produção de conhecimento científico alicerçado no materialismo
histórico e seu esforço em superar a aparência dos fenômenos com os quais se depara na
escola. O autor deseja ir além do imediato empírico para desvelar as relações dinâmicas da
realidade pesquisada e captar as mediações que determinam o processo de construção da
2
VIOTTO FILHO, I.A.T. Processo grupal e construção coletiva do conhecimento: a história do GEIPEEthc.
10
In: VIOTTO FILHO, I.A.T.; NUNES, R.L.; SANTOS, A.A.N.; FELIX, T.S.P. (Orgs). Processo grupal e
práxis científica educativa: a história do GEIPEEthc. São Carlos: Pedro & João, 2018.
Página
consciência das crianças na escola, enfatizando a atividade do brincar nesse processo,
evidenciando o trabalho educativo do professor numa perspectiva histórico-cultural e
emancipatória.
É Marx (1845/2007, p.5353), em sua 11ª tese contra Feuerbach quem afirma que "os
filósofos apenas interpretaram o mundo de diferentes maneiras; o que importa é transformá-
lo” e salienta que não basta captar a realidade no plano do pensamento para contemplá-la,
mas, sim, compreendê-la nas suas múltiplas determinações para transformá-la. O filósofo
alemão enfatiza ainda que o pesquisador não pode se limitar à uma representação empírica
do objeto, mas deve avançar na sua análise e chegar na essência do objeto para
compreendê-lo na sua concreticidade, tal como afirma Kosik4 (2002).
O livro de Rodrigo Lima Nunes evidencia a construção de uma produção científica-
educativa, pressuposto fundamental das reflexões e produções do GEIPEEthc, pois volta-se
ao processo de aprendizagem, desenvolvimento e humanização de crianças que, desde a
mais tenra idade, precisam compreender a realidade de forma crítica e consciente e, claro,
considerando a sua situação social de desenvolvimento.
Rodrigo defende que é por meio da atividade do brincar na escola, que são criadas as
condições educativas lúdicas, como atividades orientadoras/guia e vitais para a efetivação do
processo de humanização das crianças, sendo que o trabalho educativo e crítico do professor
se torna imprescindível nesse processo.
Evidenciam-se os pressupostos do Materialismo histórico dialético e da Teoria
histórico-cultural desde as primeiras intervenções formativas realizadas na escola que
engendraram a tese de Doutorado que deu origem ao livro. O seu rigor conceitual e
metodológico apresenta-se como base para a construção de um trabalho de análise histórica
e crítica da sociedade e, simultaneamente, para a efetivação do processo de aprendizagem e
desenvolvimento das crianças sujeitos da pesquisa numa direção emancipatória.
Torna-se importante esclarecer que o trabalho de pesquisa do autor acontece desde o
chão da escola, em meio às relações sociais do mundo capitalista alienado e sob as
condições objetivas de vida de cada sujeito social, sendo que a educação escolar, tal como
evidencia Rodrigo, assume papel preponderante nesse processo, por possibilitar o acesso a
11
3
MARX, K.; ENGELS, F. A Ideologia alemã. São Paulo: Boitempo, 2007.
4
KOSIK, K. Dialética do concreto. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2002.
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objetivações culturais genéricas (filosofia, arte, ciência, política, ética) essenciais para o
desenvolvimento do pensamento, sentimentos e consciência das crianças numa direção
crítica e humanizadora desde o interior da escola.
Embora as funções psíquicas superiores dos seres humanos, segundo a Teoria
histórico-cultural, conquistem uma forma mais elaborada em estágio tardio de
desenvolvimento, precisamos enfatizar o caráter processual e cumulativo desse processo,
fato que denota a importância do trabalho de pesquisa do professor Rodrigo Lima Nunes
com crianças na idade pré-escolar.
Torna-se importante enfatizar que a preocupação com a aprendizagem e
desenvolvimento da criança, desde o seu nascimento, é decisivo para a Teoria histórico-
cultural, sendo que o trabalho educativo do professor se apresenta necessário para que esse
processo seja exitoso na educação escolar.
Sem sombra de dúvida, o trabalho de pesquisa intervenção-formativa realizado
explicita o rigor teórico e compromisso ético-político com a humanização dos seres humanos
e toma a educação escolar como essencial e imprescindível na efetivação desse processo.
Compreender a atividade do brincar como fator educativo desenvolvente na escola
deve ser o compromisso de todos os pesquisadores e professores que prezam por uma
educação escolar de qualidade, laica e crítica para as crianças, com vistas à construção de
suas consciências na direção e compromisso com a emancipação humana e social.
Ao longo das páginas do livro, Rodrigo salienta a importância do trabalho educativo
crítico do professor no processo de construção de atividades educativas humanizadoras na
escola, com a finalidade de fortalecer a educação escolar e possibilitar a construção de novas
atividades educativas críticas, alimentando um ciclo virtuoso de aprendizagem e
desenvolvimento que enfatiza a importância da atividade do brincar como atividade vital da
criança na educação infantil.
Em consonância com os pressupostos da Teoria histórico-cultural, Rodrigo evidencia
que o brincar é a atividade vital e principal da criança, pois é nessa atividade que a criança
12
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consegue suprir necessidades e desejos importantes ao seu desenvolvimento, tal como
afirma Vigotski5 (2008, p.25) quando salienta que na idade pré-escolar:
5
VIGOTSKI, L.S. A brincadeira e o seu papel no desenvolvimento psíquico da criança. Tradução: Zoia
Prestes. Revista virtual de gestão de iniciativas sociais. Junho/2008.
6
DUARTE, N. Vamos brincar de alienação? A brincadeira de papéis sociais na sociedade alienada. In:
ARCE, A.; DUARTE, N. Brincadeira de papéis sociais na educação infantil: as contribuições de Vigotski,
Leontiev e Elkonin. São Paulo: Xamã, 2006.
13
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presente na escola de educação infantil, e seja orientado numa direção crítica, consciente,
humanizadora e emancipatória.
Para encaminhar a finalização desse prefácio, lembro o leitor que ao inicia-lo,
apresentei uma citação de Marx evidenciando as vicissitudes do processo histórico e sua
determinação na construção da humanidade nos seres humanos, e o concluo com outra
citação do mesmo livro do grande filósofo alemão, quando afirma que:
Lembro-me que estava disposto a apresentar uma ‘nova língua’ aos estudantes, a
Teoria histórico-cultural de desenvolvimento humano, e foi naquele dia que observei os olhos
atentos e brilhantes daquele jovem estudante do 1º. ano do curso, que muito atento e
interessado, se apropriava e se objetivava daquela ‘nova língua’, aprendendo, ao longo do
tempo, a mover-se e expressar-se livremente, para hoje nos presentear com essa importante
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7
MARX, K. O 18 de brumário de Luís Bonaparte. São Paulo: Boitempo, 2011.
8
LEONTIEV, A. N. O desenvolvimiento do psiquismo. Lisboa: Horizonte Universitário, 1978.
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obra autoral que acrescentará significativo valor a pesquisa científica e à prática pedagógica
do professor na educação escolar.
Parabéns, Rod!!!
mail: [email protected]
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INTRODUÇÃO
10
Entenda-se “livre”, no presente contexto, sinônimo de espontânea.
Página
realizar uma brincadeira, pois, assim, segundo a orientação daquela discussão, não
haveria a eliminação do lúdico, da fantasia, da autonomia, da liberdade, dentre outras
justificativas pautadas, sobretudo, nas definições que assumem a brincadeira numa
perspectiva naturalizante, conforme apresentamos no início da presente introdução.
Considerando os argumentos naturalizantes acerca da brincadeira discutidos
naquele momento em específico, uma questão, deste então, passou a ser considerada,
ainda que limitada ao incipiente conhecimento e desenvolvimento consciente que
apresentávamos sobre o tema, a qual tentamos reproduzir nos seguintes termos à época
empregados: “mas, se foi falado que as crianças brincam de ser adultos, isso quer dizer,
elas reproduzem as coisas do mundo atual, e se o mundo atual se mostra tão ruim, se as
deixarmos brincarem sozinhas, elas não irão reproduzir tudo o que há de ruim no
mundo, consequentemente, desenvolverem-se também de forma ruim?”. Eis, assim, o
nascimento do presente tema que, desde então, tornou-se objeto de preocupação e
projeto de vida do pesquisador, na busca de compreender a brincadeira de papéis sociais
em sua gênese filogenética e ontogenética humana, bem como suas possibilidades de
aplicação pedagógica na educação infantil.
Após a participação naquele primeiro grupo de estudos e a posterior construção
do GEIPEEthc, nossos estudos se ampliaram a partir da orientação do Professor Tuim,
sob a ótica da Teoria histórico-cultural, momento em que iniciamos efetivamente a nossa
caminhada, embora com discussões ainda bastante elementares e realizadas durante o
período da graduação em Educação física com o Trabalho de Conclusão de Curso
intitulado “Jogo de papéis sociais e sua relação com a alienação capitalista”. Já no
Mestrado em Educação, de uma forma mais aprofundada, buscamos entender as
características e consequências da alienação no desenvolvimento da consciência das
crianças durante a realização de brincadeiras de papéis sociais com características
espontaneístas, sendo que este produto tomou por título "Atividade do jogo e
desenvolvimento infantil: implicações sociais para a construção da consciência da criança
na escola", dissertação defendida em abril/2013.
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Na dissertação de mestrado pesquisamos o quanto a alienação se faz presente na
brincadeira infantil e, consequentemente, no desenvolvimento da consciência das
crianças, sobretudo, no que tange a ruptura entre o sentido pessoal e o significado social
dos conteúdos e formas referentes aos modelos de relações sociais expressos nos papéis
sociais, pois, ao brincar espontaneamente, as crianças reproduziam um sentido falseado
em relação ao significado do papel social representado11, pois oriundo de vivências
bastante restritas e limitadas à situações de individualismos, preconceitos, difusão de
estereótipos, manifestação de violência física e simbólica, coerção, subjugação, ameaças
e imposição em relação ao comportamento do outro, preferência por papéis que
envolviam maiores ganhos financeiros, dentre outras manifestações presentes nos papéis
sociais tendencialmente alienadas e alienantes. Observamos e discutimos na dissertação
que tais tendências influíam no desenvolvimento da consciência das crianças,
considerando que tal consciência, tendo em vista as possibilidades de desenvolvimento
da criança, é engendrada na ação do brincar (NUNES, 2013).
É importante enfatizar que tais relações alienadas e alienantes eram reproduzidas,
sobretudo, quando as atividades assumiam um caráter espontaneísta, nas quais as
crianças representavam os papéis sociais sem a devida intervenção de um indivíduo mais
desenvolvido tal como o professor na escola; fato que nos fez pensar, ainda durante o
mestrado, possíveis possibilidades de enfrentamento dessas relações alienadas
manifestas durante a atividade do brincar na escola. Contudo, considerando os limites
postos em uma dissertação, bem como, a falta, naquele momento, de uma orientação
teórica que abarcasse aspectos pedagógicos na busca por tal enfrentamento, apenas
tangenciamos algumas discussões, nos mantendo, ainda, na aparência do fenômeno.
Fato que se colocou como principal objeto de estudo e tese que defenderemos ao longo
deste trabalho de pesquisa de doutoramento.
Desta feita, buscamos na presente tese dar o devido aprofundamento quanto às
possibilidades de enfrentamento das tendências alienadas e alienantes que se
21
11
Por exemplo: A criança assumir que brinca de médico porque esta profissão proporciona mais dinheiro
do que atuar enquanto médico na brincadeira visando o cuidado do outro.
Página
apresentam no contexto infantil e que subjazem a construção da consciência das
crianças. Sob estas condições, buscaremos desvelar o contexto da educação pré-escolar
atual, tendo em vista que tal contexto se apresenta, na maioria das vezes enquanto um
espaço voltado ao assistencialismo e espontaneísmo das atividades (PASQUALINI, 2011).
Acreditamos que tal enfrentamento pode ser alcançado a partir de possibilidades
pedagógicas pautadas no Materialismo Histórico e Dialético, Pedagogia Histórico-Crítica e
Teoria Histórico-Cultural, como já anunciado, sendo que tal prática educativa com a
brincadeira infantil deve se configurar numa práxis revolucionária, isto é, numa relação
de caráter teórico-prático que busque as máximas possibilidades de desenvolvimento dos
indivíduos que se encontram neste período de desenvolvimento psicológico (MARSIGLIA,
2013; PASQUALINI, 2011).
Sendo assim, ao estudarmos e nos instrumentalizarmos para o enfrentamento das
relações alienadas postas a partir do ideário hegemônico capitalista presente na
educação infantil, sobretudo na pré-escola, podemos pensar sobre alguns aspectos, os
quais tais situações podem efetivar quando da utilização de brincadeiras no contexto
escolar, quais sejam: 1- Como os professores sistematizam e organizam as brincadeiras,
caso as utilizem enquanto conteúdo de aula; 2 – Como se dá a reconstrução pelas
crianças dos papéis sociais durante a realização da brincadeira, tendo em vista os
condicionantes sociais capitalistas?12; 3 – Como efetivar, caso seja possível, uma
atividade de ensino da brincadeira que contribua para um desenvolvimento infantil em
uma perspectiva humanizadora?; Esses aspectos tornaram-se problemas a serem
respondidos e orientadores da nossa análise do objeto estudado.
Apresentamos, assim, o problema central que orientou esta pesquisa, qual seja:
há a possibilidade de enfrentamento das tendências alienadas e alienantes que se
apresentam na realização da brincadeira de papéis sociais na pré-escola, a partir de uma
atividade de ensino realizada pelo professor de forma direta e intencional? Tal problema
nos levou à construção e defesa da seguinte tese: Uma atividade de ensino da
12
Importante esclarecer que mesmo com a presença desse problema já na dissertação de mestrado,
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acreditamos que não foi possível o devido aprofundamento acerca dessa questão, o que nos levou à
necessidade de revisita-lo na pesquisa de doutorado ora discutida.
Página
brincadeira de papéis sociais, estruturada e efetivada a partir de uma prática pedagógica
direta e intencional e baseada em uma práxis científica educativa, que toma os
pressupostos do Materialismo Histórico e Dialético, Teoria Histórico-Cultural e Pedagogia
Histórico-Crítica, possibilita o enfrentamento das tendências alienadas e alienantes que
se fazem presentes no desenvolvimento da consciência dos alunos quando da realização
desta atividade, levando-os a um desenvolvimento humanizador, ou seja, pautado nas
máximas possibilidades de humanização dadas nesse período de desenvolvimento em
decorrência da apropriação de objetivações presentes na filosofia, nas ciências, nas
artes, na cultura corporal, na política, na ética e outras objetivações humano genéricas.
Enfatizamos, assim, a importância de uma educação escolar respaldada por
conhecimentos científicos, artísticos e filosóficos os mais desenvolvidos, essenciais ao
processo pedagógico, organizados e mediados de forma direta e intencionalmente,
buscando o desenvolvimento da consciência dos indivíduos a partir de suas máximas
possibilidades, engendrando condições tendencialmente humanizadoras no processo de
humanização das crianças na escola (PASQUALINI, 2011; MARSIGLIA, 2013; NUNES,
2013; NUNES; VIOTTO FILHO 2016).
Lançados o problema e a tese a ser defendida, para consecução desse trabalho,
assumimos como objetivo geral “Engendrar possibilidades pedagógicas teórico-práticas
para o ensino da brincadeira de papéis sociais em uma direção humanizadora, com vistas
ao enfrentamento das relações sociais tendencialmente alienadas e alienantes que
subjazem o desenvolvimento dos educandos na pré-escola”. Como objetivos específicos:
“Elaborar e aplicar um programa de intervenção, respaldado na atividade do brincar e
considerando os pressupostos do Materialismo Histórico e Dialético, Pedagogia Histórico-
crítica e Teoria Histórico-cultural; Analisar os condicionantes presentes no processo
interventivo-formativo que dão base para uma atuação humanizadora da prática
pedagógica com a brincadeira; Desvelar e construir possibilidades teórico-práticas de
ensino da brincadeira de papéis sociais na pré-escola, no que tange a possibilidade de
enfrentamento das tendências alienadas e alienantes concernentes às relações sociais
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capitalistas”.
Página
Salientamos que tal processo de pesquisa foi realizado em uma escola de
Educação Infantil e Ensino Fundamental I da cidade de Presidente Prudente/SP,
inicialmente com observações sistemáticas das aulas (cinco aulas) e, posteriormente,
efetivação de um processo interventivo-formativo (total de dezoito momentos com cerca
de uma hora) com crianças de um pré-dois (quatro-cinco anos de idade), realizada em
paralelo com o projeto de extensão já realizado pelo GEIPEEthc, contando com a ajuda
de outros integrantes do grupo, o que, sem sombra de dúvidas, levou a pesquisa à
proporções elevadas e profícuas de planejamento, execução e análise, como
demonstraremos neste relatório de pesquisa de tese de doutoramento.
Para a defesa da presente tese, portanto, estruturamos o trabalho em um formato
o qual acreditamos demonstrar o movimento teórico-prático que sintetiza o caminhar da
pesquisa de sua gênese à sua finalização, partindo do todo do objeto de estudo,
analisado em sua prática social desde o ponto do partida, inicialmente caótico, até o seu
ponto de chegada, configurado em uma expressão superior e requalificada (MARTINS,
2016), tendo como princípio norteador analítico a unidade mínima de análise ação ludo-
pedagógica humanizadora13 em direção ao desvelamento das múltiplas determinações do
fenômeno pesquisado.
Assim, iniciaremos a discussão apresentando uma seção que busca desvelar os
princípios epistemológicos, metodológicos e filosóficos do Materialismo Histórico
Dialético, em um esforço para apresentarmos as características de uma pesquisa
interventiva-formativa, bem como as nuances que nos levaram à elaboração da nossa
unidade mínima de análise; Explanaremos, em seguida, sobre as categorias
integradoras14 de nosso objeto de estudo, quais sejam: 1) A atividade dominante
brincadeira de papéis sociais em unidade com o desenvolvimento do psiquismo infantil;
2) A relação entre alienação social capitalista e o processo de desenvolvimento da
consciência dos indivíduos: tendências alienadas no processo de desenvolvimento do
13
Unidade mínima de análise a qual julgamos sintetizar a totalidade de nosso objeto de estudo. Iremos
apresentar a defesa de tal unidade enquanto microcosmo de nossa pesquisa na próxima seção.
14
Por “categorias integradoras do objeto” entenda-se as categorias teórico-práticas que, tomadas em
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relação com a unidade mínima de análise, tornam possível a análise do objeto estudado.
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psiquismo individual; 3) Educação escolar hegemônica versus educação escolar na
perspectiva da Pedagogia Histórico-crítica: Do geral à singularidade da educação no
período pré-escolar. Consideramos que tais categorias gerais integradoras do objeto, a
partir de um movimento analítico pautado na unidade mínima de análise, nos leva à
categorias mais específicas que auxiliam a compreender as 'Possibilidades de intervenção
pedagógica durante a realização da brincadeira, de forma a orientar a dinâmica da
distribuição dos papéis sociais e da utilização dos objetos, bem como sua mediação em
uma direção humanizadora, sem destituí-la de suas características essenciais', discussão
estruturada no último capítulo de nossa tese.
Convidamos, assim, que seja realizada uma leitura de totalidade do nosso
trabalho, para que não sejam engendradas compreensões lineares, padronizadas e
fragmentadas acerca do fenômeno aqui tratado, o que ensejaria uma compreensão
formal de uma proposição teórica que se efetiva a partir da lógica dialética, desde a sua
efetivação como também de sua exposição. Os capítulos deste relatório de pesquisa
estão articulados, essencialmente, em movimento processual, dinâmico, objetivo,
contraditório e de totalidade, como pede o método materialista histórico dialético.
25
Página
2. FUNDAMENTOS EPISTEMOLÓGICOS, METODOLÓGICOS E PRÁTICOS
DA PESQUISA: DO MÉTODO À UNIDADE MÍNIMA DE ANÁLISE
conjunto de, que tomem como critério de análise do objeto os pressupostos anunciados
Página
até o momento em relação com a confrontação prática desse objeto com a própria
realidade em que ele emerge.
Consideramos que não há outra possibilidade para tal estudo senão a utilização da
base epistemológica, metodológica e teórica do Materialismo Histórico Dialético, Teoria
Histórico-Cultural e Pedagogia Histórico-Crítica, pois, à nosso ver, são esses
conhecimentos que nos apresentam condições efetivas de apreensão do concreto caótico
ao concreto pensado, da aparência fenomênica à essência em suas múltiplas
determinações, da quietude à dinamicidade do real, da identidade irredutível às
contradições, ou seja, da heterogeneidade fragmentada e caótica colocada no cotidiano
em-si à uma miríade de determinações e inter-relações lógicas que só podem ser
desveladas quando elaboradas por processos de pensamentos altamente complexos, sob
a base de conhecimentos os mais elevados, entenda-se, aqueles que em seu âmago
conseguiram e conseguem, de fato, expressar no plano abstrato a essência da realidade
(NOVACK, 2006).
Desta feita, sem tergiversar acerca das abstrações teóricas que iremos realizar na
presente exposição, buscando a fidedignidade e a contraposição às atuais circunstâncias
que observamos nas várias construções científicas pautadas na lógica (alógica) do
relativismo formal, achamos conveniente, nesta segunda seção, apresentar de forma
explícita a base epistemológica, metodológica e filosófica, juntamente com a
apresentação do processo interventivo de pesquisa e a defesa e explicitação de nossa
unidade mínima de análise, antes de adentrarmos nas categorias teóricas integradoras
do objeto, nas quais nos respaldamos para a análise de nosso objeto de estudo, quais
sejam, atividade, consciência, alienação, brincadeira de papéis sociais, prática
pedagógica humanizador, pois, como afirma Marx (1996), há que se diferenciar
formalmente o método de exposição do método de investigação, sendo que ambos estão
voltados à explicitação e elucidação de determinado objeto que se apresenta ao
indivíduo pesquisador, desde a sua aparência fenomênica e que precisa ser desvelado
para se chegar à sua essência multideterminada.
27
Página
Assim sendo, discorreremos sobre os fundamentos do método Materialista
Histórico Dialético, com destaque as categorias totalidade, contradição e movimento;
relacionaremos tais categorias gerais de análise da realidade com o nosso objeto de
estudo, qual seja, a atividade de ensino da brincadeira de papéis sociais em unidade com
o desenvolvimento da consciência infantil em uma direção humanizadora, considerando o
movimento de construção presente na práxis científica educativa realizada para o
enfrentamento da alienação social capitalista que permeia as relações sociais de forma
geral e as atividades lúdicas estruturadas na escola de educação infantil. Caminharemos,
posteriormente, a uma descrição do processo interventivo da pesquisa, apresentando
suas características fundamentais, dando suporte a uma apreciação inicial do que foi
proposto na prática em direção ao desvelamento de nossa unidade mínima de análise, a
qual, permeará, todo o processo analítico do objeto.
Como foi apresentado na introdução, nossa pesquisa tem como tema geral de
estudo a busca por possibilidades pedagógicas intencionais com a brincadeira de papéis
sociais com vistas ao enfrentamento das relações sociais alienadas e alienantes que se
apresentam na escola e em contraposição à realização de brincadeiras infantis pautadas
em pressupostos pedagógicos espontaneístas, ou seja, que não oferecem possibilidades
de uma intervenção pedagógica intencional e planejada antes e/ou durante a realização
desta atividade pela criança na escola.
Como estamos há aproximadamente 11 anos convivendo dentro de escolas,
intervindo com professores, gestores, alunos e pais, observamos, em diferentes
momentos da rotina de aula das crianças, a utilização de uma proposta que é
denominada, na maioria das vezes como “hora da brincadeira”, proposta esta que,
hegemonicamente, tem por característica geral, manter a criança sem nenhum tipo de
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15
Acreditamos que não seja necessário retomar nossa história com o presente objeto, tendo em vista que
29
bojo dessas relações de produção que os homens constroem não apenas os meios para
Página
sua sobrevivência, mas, sobretudo, edificam a si mesmos. Neste sentido, o aspecto
essencial em toda e qualquer sociedade é o modo de produção sobre o qual se erige. A
história de seu desenvolvimento se revela na história do desenvolvimento das forças
produtivas - modos e meios pelos quais o homem produz - e das relações que, assim,
estabelecem entre si (MARTINS, 2008, p. 46).
Este fato nos leva a entender que é a partir da análise do modo de produção que
sustenta determinada sociedade, que se faz possível caracterizar sua estrutura e
dinâmica do ponto de vista social, político e econômico. Portanto, para analisarmos o
desenvolvimento dos seres humanos, devemos levar em conta a sociedade da qual este
indivíduo faz parte, do mesmo modo que, para entendermos determinada sociedade,
devem ser levadas em conta as formas de relações sociais que são mantidas pelo modo
de produção que organiza e estrutura determinada sociedade.
Portanto, o materialismo dialético como método de análise da realidade, ofereceu
a base para que Marx e Engels chegassem às suas concepções de indivíduo e sociedade.
A concepção materialista histórica, que caracteriza suas discussões filosóficas, alicerça-se
na ideia de homem enquanto um ser constituído e determinado por questões históricas e
sociais e não somente biológicas, mas, sobretudo, considerando as forças produtivas e
relações de produção presentes na sociedade capitalista, demonstrando a necessidade
de superação desse modo de produção para que sejam possibilitadas condições efetivas
de humanização dos seres humanos. Tecidas estas considerações discutiremos agora as
premissas da lógica dialética.
16
Marx e Engels não desconsideraram a importância de Hegel no que tange a evolução que o mesmo
efetivou no plano da lógica, contudo, foram capazes de enxergar os limites postos em sua formulação e
superá-la por incorporação, reformulando a lógica dialética sob a base materialista, deixando de lado os
35
conflitos entre a forma externa e sua estrutura interna. Para tanto, há que serem
Página
desveladas a história de nossa pesquisa, fato que será objeto de discussão do próximo
item.
17
Não queremos em momento algum afirmar que tais situações alienadas e alienantes são exclusivas das
regiões mais periféricas das cidades, mas que, predominantemente o que se observa, tais situações se
colocam de forma mais explícita nesses locais, sobretudo por conta do descaso social e econômico que
configura o cenário político atual diante deste nicho societário.
18
Assumimos o termo observações sistemáticas, tendo em vista que o pesquisador já foi para o ambiente
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escolar a ser investigado, com um conjunto de categorias gerais a serem observadas durante as aulas da
professora com a turma participante da pesquisa.
Página
no processo de desenvolvimento individual da criança19, optamos pela presente sala,
além de outros condicionantes, como, bom relacionamento com o professor e a história
que o GEIPEEthc já vinha construindo em projetos que já estavam sendo realizados
anteriormente com tais estudantes.
No período inicial de observações sistemáticas das aulas regulares, foram
registradas em diário de campo as atividades pedagógicas, ações e falas das crianças,
professor e pesquisador tomando como base as seguintes categorias gerais de
observação: 1) Estrutura/conteúdos da aula; 2) Estratégias de ensino-aprendizagem; 3)
Relações interpessoais durante a aula entre estudantes–estudantes, estudantes–
professor e estudantes–pesquisador; 4) Ações e falas das crianças diante dos conteúdos
apresentados; 5) Outras situações relevantes.
Explicitamos que este primeiro momento de observação, pautado em tais
categorias gerais, foi embasado e sistematizado sob a base de anos de experiência que
carregamos na efetivação de outras pesquisas, projetos de extensão e atividades de
cunho pedagógico com professores, gestores e alunos, tanto na instituição em que foi
realizada a pesquisa, quanto em trabalhos que já foram efetivados em outras escolas de
Presidente Prudente/SP.
O objetivo dessas observações iniciais se caracterizou em podermos ter uma
primeira apreciação quanto à rotina semanal da realidade que seria, posteriormente,
objeto de intervenção. Um contato mais completo, diário, com a presença do
pesquisador durante a maior parte do período em que as crianças permaneciam na
escola, para que assim pudéssemos obter um conhecimento mais aprofundado das
atividades pedagógicas, formas de relações sociais, dentre outras situações que
poderiam vir a ocorrer durante tal rotina.
Essa primeira aproximação com a realidade dos estudantes do pré-2,
proporcionou-nos uma apreciação inicial em relação ao objeto de estudo da pesquisa,
sobretudo quanto a uma primeira análise se haviam momentos destinados ao ensino
19
A discussão acerca da caracterização da brincadeira de papéis sociais enquanto atividade guia no período
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20
Adotaremos o termo pesquisador para designar o autor principal da tese e interventores para os
45
auxiliares membros do GEIPEEthc nos momentos interventivos, já que em cada intervenção haviam o
pesquisador, 2 interventores auxiliares e mais um responsável pela filmagem.
Página
2 TEMA DA INTERVENÇÃO: Atividades carregadas com ações caracterizadas
pelo espontaneísmo - “O mestre mandou”21.
21
Extrema importância enfatizarmos que não categorizamos a atividade “o mestre mandou” como um tipo
de brincadeira de papéis sociais. Utilizamos tal atividade por acreditarmos que ela poderia nos mostrar,
ainda que de forma aparente, significações que as crianças poderiam possuir acerca de diferentes papéis sociais, o
que, para nós, auxiliaria no processo de análise da evolução de tais significações quando colocados à prova ao final do
processo interventivo-formativo.
22
Explicitamos que a escolha dos desenhos, vídeos, livros de histórias infantis, bem como outros materiais utilizados
no processo interventivo-formativo foram selecionados pelo pesquisador a partir de critérios que se pautaram em:
necessidade de ampliação quanto a diferentes papéis sociais para além daqueles que as crianças demonstraram nas
primeiras intervenções; qualidade dos significados com o qual tais papéis sociais eram retratados nesses materiais.
46
Esta qualidade dos significados respeitava os direcionamentos colocados por nós no que tange os aspectos valorativos
humanizadores contrários à alienação (discussão realizada na presente tese).
Página
OBJETIVO: A partir da utilização de um vídeo de um desenho do “Chaves”, no
qual estavam presentes a reprodução de inúmeros papéis sociais como os de
professor, mamãe, rico, pobre, aluno, papai, empresário e etc., levar os
alunos à possibilidade de construção de interesse no que tange ao tema e ao
conteúdo de modelos de relação social que os mesmos poderiam reconstruir
na brincadeira de papéis sociais.
para que elas brincassem daquilo que haviam apropriado e com a participação
Página
direta dos interventores íamos revivendo a história e brincando dos papéis
sociais que lá estavam representados.
OBJETIVO: Por meio de uma visita à cozinha da escola, levar os alunos a uma
ampliação e aprofundamento das possibilidades de construção de interesse no
que tange ao tema e ao conteúdo para a realização da brincadeira de papéis
sociais a partir de outros modelos de relação social.
Há que ser salientado que nossos projetos de pesquisa, como o que culminou na
construção desta tese de doutorado, efetivam-se dentro de um projeto maior de
extensão universitária, projeto que denominamos guarda-chuva, sendo que o mesmo já
vem sendo desenvolvido pelos membros do GEIPEEthc desde o ano de 2016 na referida
escola, recebendo fomento do Programa Núcleo de Ensino da Pró-Reitoria de Graduação
da Universidade Estadual Paulista “Julio de Mesquita Filho” (UNESP)23. Todas as
pesquisas realizadas sob tais circunstâncias são avaliadas e autorizadas pela escola,
Secretária Municipal de Educação e Comitê de Ética da FCT/UNESP – Presidente
Prudente.
Os momentos interventivos, citados no quadro 1, contaram com a participação de
quatro membros do GEIPEEthc, tendo em vista melhorarmos a qualidade e organização
das intervenções e facilitar a coleta de dados, que foi realizada por meio de filmagens e
gravação de áudios, assim como anotações em diário de campo. Os momentos de
intervenção eram dirigidos, geralmente, pelo pesquisador principal (no caso, o autor
desta tese), dois interventores auxiliares, que ajudavam na organização e orientações
durante as atividades de intervenção que foram realizadas e um outro membro do grupo
que auxiliava filmando o processo interventivo.
23
Objetivo do projeto: construir atividades educativas de caráter ludo-pedagógicas para o desenvolvimento
dos alunos numa direção humano-genérica, tendo em vista contribuir para o enfrentamento, a partir do
54
trabalho educativo do professor, das situações de violência presentes nas relações sociais escolares.
Página
Eram realizadas, também, reuniões periódicas, sob orientação do pesquisador, no
sentido de planejar as atividades, seus objetivos, bem como discutir acontecimentos
passados e passos a serem efetivados, melhorados, retomados, para que o objeto de
estudo da tese fosse sempre revisitado e colocado a todo momento como norteador das
atividades pedagógicas. Esses encontros coletivos também possibilitavam o
aprofundamento de estudos acerca da Teoria histórico-cultural, assim como das
metodologias de ensino adotadas no processo interventivo-formativo, definição dos
conteúdos ludo-pedagógicos (construção dos interesses para a brincadeira, organização
do espaço, mediações a serem realizadas, materiais e etc.), dentre outras questões
relativas à realização do processo de pesquisa-intervenção.
Considerando as afirmações de Toassa (2004, p.63), ao discutir a função do
educador no processo de mediação das atividades educativas, principalmente no que
tange à transformação qualitativa do desenvolvimento da consciência das crianças, já
que o nosso objeto apresenta esta especificidade, a autora salienta que,
outro lado, quando dos estudos, planejamento, organização e intervenção junto aos
Página
estudantes, as ações sempre foram calcadas no lúdico. Buscando a origem do termo
lúdico no latim, que se expressa no termo ludus, que significa jogo, exercício, estado
imaginário, ou ainda, como afirma Luckesi (2002), que toma a ludicidade enquanto a
expressão externa observável da vivência lúdica, sintetizada em ações criadoras,
imaginativas e ficcionais; saltou aos nossos olhos, sobretudo quando da mediação do
pesquisador na atividade em unidade com a vivência, com a ação lúdica da criança
durante as atividades, uma importante questão e consequente revelação, mesmo que
ainda inicial, de que essa situação lúdica e pedagógica com características
humanizadoras poderia se configurar como nossa unidade mínima de análise.
Acreditamos ainda não termos conseguido expor com a profundeza necessária os
condicionantes teórico-metodológicos para comprovar a indagação quanto à unidade
mínima de análise de nossa pesquisa, para tanto, ainda há que se apresentar outras
questões de caráter metodológico, orientadoras das atividades propostas na pesquisa,
para que alcancemos tal meta.
24
Sermos capazes de produzir generalizações acerca do objeto que nos propomos estudar é condição para
o método materialista histórico e dialético, pois são a partir delas que conseguimos colocar em movimento
a própria construção dos conhecimentos e analisarmos a veracidade das proposições alcançadas em nossa
pesquisa. Ao contrário, sermos generalistas corresponderia a nos mantermos em uma descrição geral,
superficial, aparente do fenômeno estudado, o que ocasionaria em idealismos, fato que desde o início da
exposição afirmamos enquanto sendo algo prejudicial ao processo de construção de conhecimentos
58
científicos.
Página
Nesta contenda, assumindo a atividade social educativa enquanto possibilidade de
apropriação e objetivação dos seres humanos das objetivações materiais e simbólicas,
tomamos o pressuposto Vigotskiano de que qualquer função de caráter superior se dá
primeiro no plano social, para assim fazer parte do plano individual dos indivíduos,
efetivando uma pesquisa de caráter interventivo-formativa, ou seja, uma pesquisa que
nos dê a possibilidade de compreender o fenômeno em seu processo de gênese e causa,
tendo como base as ações educativas que efetivam tal processo (VIGOTSKI, 2000).
Como afirma Davidov (1988), há a possibilidade de realização de atividades que
ensinem e promovam o desenvolvimento das funções mais complexas, de caráter
superior, específicas aos seres humanos, a partir do desvelamento da necessidade
necessária ao processo de constituição dos indivíduos na relação com a realidade, ou
seja, levando em consideração as atividades dominantes responsáveis em atrelar a
realidade às necessidades de determinado período de desenvolvimento de um indivíduo
singular. Isto se processa através da utilização de instrumentos e meios pedagógicos que
são especialmente elaborados para que tal ensino seja efetivado, sendo, portanto,
possibilitadas as condições efetivas de análise do fenômeno a ser desvelado em sua
essência, pois, conforme Viotto Filho (2018, p.32) o conceito de intervenção-formativa
relaciona-se "à uma forma diferenciada, consciente e crítica de ação coletiva de
pesquisadores, orientada pelo método materialista histórico e dialético, com objetivo de
transformar a realidade concreta dos sujeitos participantes do processo de pesquisa"25.
Na esteira do experimento formativo, na tentativa de corroborar com tal
proposição metodológica, Davidov (1988, p.196) afirma que,
25
Este processo que denominamos pesquisa interventiva-formativa, o qual, segundo Viotto Filho (2018)
volta-se à construção de conhecimentos científicos com objetividade social, porque decorrentes da
59
consciência. Esse fato nos leva a necessidade de discutir tal categoria, tendo em vista,
Página
como já foi apresentado em subseções anteriores, a unidade dialética existente entre a
estrutura e funcionamento da atividade e a estrutura e funcionamento do psiquismo
humano.
Desta feita, assumir a unidade dialética entre atividade e consciência, radica na
compreensão do psiquismo humano “como um processo no qual a atividade condiciona a
formação da consciência, e esta por sua vez a regula: ‘trata-se de firmar a
impossibilidade da separação entre ambas, ou seja, afirmar sua interconexão, sua
intercondicionalidade’” (MARTINS, 2001 apud PASQUALINI, 2006, p. 88).
O desenvolvimento da consciência pauta-se, assim, na análise da vida cotidiana
real de cada indivíduo singular, haja vista que o psiquismo especificamente humano se
estrutura no bojo das relações objetivas que os seres humanos vivenciam, a partir das
possibilidades dadas nas atividades realizadas e nos condicionantes sociais efetivados
dentro de tal atividade (LEONTIEV, 1983).
Assim sendo, o estudo da atividade que os indivíduos realizam a partir das
condições sociais dadas, as formas de produção dadas na sociedade, o sistema de
relações sociais e as circunstâncias com as quais se defrontam em seu cotidiano,
oferecem o caminho para a análise da constituição da consciência, pois,
[…] para que a imagem tátil, visual ou auditiva do objeto surja na cabeça
do ser humano, é necessário que uma relação ativa seja estabelecida
entre o ser humano e tal objeto. A educação e o caráter completo da
imagem ditam os processos que fazem essa relação. Isso significa que
para explicar cientificamente o surgimento e as particularidades da
imagem sensorial subjetiva [consciência], não basta estudar, por um lado,
o mecanismo e o funcionamento dos órgãos dos sentidos e, por outro, a
natureza física das influências exercidas sobre eles pelo objeto. É
necessário penetrar na atividade do sujeito em sua relação direta com o
mundo dos objetos (LEONTIEV, 1983, p.26. Tradução nossa).
De acordo com Leontiev (1983), a atividade não pode ser considerada apenas
enquanto uma simples reação do organismo, tampouco um conjunto de reações
naturais, mas sim, um sistema que possui uma estrutura específica e complexa,
conversões e mudanças internas, isto é, uma dinâmica posta estre o social e o individual.
65
Página
Na própria organização corporal dos indivíduos está implícita a
necessidade de estabelecer um contato ativo com o mundo externo. Para
sobreviver, deve agir, produzir os meios de que necessitam para a vida.
Ao influir no mundo exterior, eles o transformam e, com isso, também
transformam a si mesmos. Por isso, tudo o que são é determinado por
sua atividade, que por sua vez, é condicionado pelo nível de
desenvolvimento que os meios e formas de organização alcançaram.
(LEONTIEV, 1983, p.16. Tradução nossa).
ações ou conjunto de ações que compõem uma determinada atividade, estão ligadas
Página
diretamente aos fins conscientes (objeto de satisfação da necessidade) que poderão (ou
não) ser atingidos dentro de uma atividade que foi instigada por um motivo. Portanto,
“Assim como o conceito de motivo está correlacionado com o conceito de atividade, o
conceito de objeto é correlacionado com o de ação” (LEONTIEV, 2014, p.189).
Segundo Leontiev (2014), a atividade sempre estará diretamente ligada ao
motivo, sendo este o motor que colocará em relação as ações e o objeto de satisfação da
necessidade. A atividade, contudo, não pode ser decomposta em ações separadas, pois a
atividade não pode ser entendida como um processo de adição de várias ações, e nem
podem ser confundidas como sendo a mesma coisa. Pensemos numa simples divisão
técnica de trabalho, que se coloca como necessária para que a necessidade seja suprida.
Primeiro ponto a ser colocado é, as ações ou complexos de ações a serem realizadas
pelos indivíduos dentro da atividade não necessariamente correspondem, de forma
direta, ao motivo. Em uma atividade de caça, por exemplo, um indivíduo pode ser
responsável em realizar a ação de espantar o animal para que um outro grupo o apanhe
em um local mais apropriado. Com este exemplo podemos perceber que a ação deste
primeiro indivíduo durante a atividade da caça, não está em consonância, em sua
aparência, com o motivo, qual seja, matar a fome com a carne do animal, mas sim, com
o objeto, qual seja com o resultado final do processo da atividade, desta forma motivo e
ação só se colocam em relação, quando postos em uma análise aprofundada da
atividade (LEONTIEV, 2014).
Assim,
26
De acordo com Facci (2006), em espanhol este termo é traduzido como “actividad rectora”, já no
português pode ser traduzido tanto por “atividade principal” ou por “atividade dominante”; optamos por
72
Desta forma, os indivíduos são impedidos, dada a supremacia das relações com as
Página
mercadorias, de se apropriar dos bens sociais produzidos pela humanidade, ou seja, das
objetivações materiais e simbólicas representadas em nível do gênero humano, fato que
imprime à alienação um caráter social, como também um caráter pessoal, influindo de
forma significativa e objetiva na formação da consciência dos indivíduos, por tornar as
relações sociais carregadas de processos alienados e alienantes (MARX, 1996;
MÉSZÁROS, 2006).
A escola, infelizmente, também está inserida nessa dinâmica, tendo em vista que
a mesma, na maioria das vezes, apresenta-se como uma instituição estruturada e
efetivada a partir dos preceitos da ideologia dominante, tomando como objetivo
precípuo, mesmo que implicitamente, para a efetivação e manutenção do status quo
(MÉSZÁROS, 2008).
Assim sendo, a compreensão acerca das concepções pedagógicas ligadas ao lema
anti-escolar e sua intimidade com determinada ordem social, como temos identificado,
pode efetivar-se na brincadeira que toma como premissa a espontaneidade, levando as
crianças a um desenvolvimento de suas consciências com tendências alienadas e
alienantes, pelo fato da brincadeira acabar, assim, reproduzindo modelos de relações
sociais do cotidiano alienado.
Acreditamos que tais determinações, contradições e intervinculações existentes no
nosso objeto de pesquisa, configura um importante caminho para a construção de um
conhecimento acerca da atividade de brincar na escola, pautado na realidade concreta e
não em idealismos falseadores da realidade.
A partir disso retomamos o fundamento inicial apontado na presente seção,
contudo, não mais em seu todo caótico, mas sim, tomado agora em sua concreticidade,
isto é, entendido em suas múltiplas determinações.
Considerando que a especificidade da brincadeira tem relação direta com os
papéis sociais existentes e vivenciados cotidianamente pelas crianças, sendo que tais
papéis sociais acabam reproduzindo tendências alienadas e alienantes presentes na
sociedade capitalista e que levam os indivíduos a um desenvolvimento de suas
75
77
integradoras do objeto, tomando como base relacional nossa unidade mínima de análise,
Página
organizando os dados empíricos sob a estrutura de episódios de pesquisa, como nos
orienta Nascimento (2011, p.12), pois,
80
Página
3 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DAS CATEGORIAS INTEGRADORAS DO OBJETO
EM RELAÇÃO COM A UNIDADE MÍNIMA DE ANÁLISE
27
Tendo em vista as especificidades desse trabalho, discutiremos a periodização do desenvolvimento até a
atividade dominante de brincadeira de papéis sociais, objeto de estudo da presente tese. Para um
aprofundamento maior sobre todo o processo de periodização do desenvolvimento intelectual ver: Facci
85
adulto,
Página
[...] as funções e trabalho do adulto na sociedade, reproduz ações
objetais generalizando-as em pensamento representacional; transfere
significado de um objeto para outro etc. Uma ação objetal, tomada
isoladamente, não tem “inscritas nela” as respostas a questões como:
para que isso foi feito? Qual é seu significado social? Qual é seu motivo
real? É somente quando uma ação objetal se torna incorporada em um
sistema de relações humanas que podemos descobrir seu verdadeiro
significado social, suas proposições enquanto relacionadas a outras
pessoas. Esse tipo de “incorporação” também tem lugar no brincar. O
jogo de papéis é uma atividade na qual a criança se torna orientada para
significados mais universais, mais fundamentais, da atividade humana.
Sobre essa base, a criança começa a despertar para atividades
socialmente valiosas e significativas, que é o indicador chave da sua
prontidão para a escola.
capitalista.
Página
3.1 A atividade dominante brincadeira de papéis sociais em unidade com o
desenvolvimento do psiquismo infantil
28
Utilizaremos nesse texto o termo brincadeira de papéis sociais para designar a atividade dominante no
período da infância, como já foi discutido quando da apresentação da periodização do desenvolvimento
89
intelectual. Ressaltamos tal informação tendo em vista as várias traduções utilizadas por inúmeros autores
quando dos estudos de tal atividade do ponto de vista da Teoria Histórico-cultural.
Página
processos dinâmicos e contraditórios que são necessários serem compreendidos tendo
em vista uma análise coerente de tal atividade.
Como sabemos, o ser humano só se humaniza, isto é, adquire as funções, as
características especificamente humanas, a partir de atividades que realiza sob a égide
das relações sociais, apropriando-se das objetivações culturais materiais e simbólicas
produzidas histórica e coletivamente pela humanidade. Sendo assim, as funções
especificamente humanas não estão dadas geneticamente, mas são adquiridas no âmbito
das relações sociais, ou seja, através de processos educativos.
Na infância pré-escolar, como já dito anteriormente, a brincadeira de papéis
sociais se apresenta como atividade dominante para o processo de humanização infantil
(efetivação das funções especificamente humanas), tendo em vista que é ela a
responsável em proporcionar possibilidades diferenciadas de relacionamento da criança
com o mundo que a cerca, ou seja, torna possível as condições de apropriação das
objetivações materiais e simbólicas pertencentes ao gênero humano.
Nesse movimento histórico e social, a mediação de outros seres humanos, como
nas atividades dominantes anteriores e posteriores, é condição imprescindível para as
apropriações e objetivações29 humano genéricas necessárias que irão efetivar a
superação desse período de desenvolvimento psíquico em direção ao próximo, qual seja,
o período no qual a atividade de estudo assume a dominância. Como afirma Nascimento
(2014, p.71), a brincadeira de papéis sociais, “permite à criança se relacionar e se
apropriar de muitas formas embrionárias das relações sociais, dos modos de ação do
homem no mundo, com os outros e consigo, objetivados nas diferentes esferas das
atividades humanas”.
Assim, é na brincadeira de papéis sociais que surgem e se diferenciam tipos novos
de atividades, por exemplo, a atividade de estudo, dominante no período posterior,
assim como, o processo de desenvolvimento das funções psicológicas superiores,
29
De acordo com Elkonin (1998), a base da brincadeira de papéis sociais são as relações que os homens
mantêm entre si. Portanto, as relações homem-homem, reconstruídas pelas crianças na brincadeira, são o
90
motor da apropriação pelas crianças das objetivações culturais materiais e simbólicas, sendo este, então, o
aspecto fundamental de tal atividade.
Página
movimenta-se, toma novas formas e nesse processo todo o sistema psíquico da criança
se reorganiza. Portanto, essa atividade é responsável pelas mudanças mais significativas
no sistema psíquico das crianças em idade pré-escolar, ou seja, na estruturação e
transformação de sua consciência e personalidade (LEONTIEV, 2006b).
Ao observarmos o papel que a brincadeira de papéis sociais apresenta no
processo de desenvolvimento infantil, tendo em vista a unidade dialética entre atividade
e desenvolvimento da consciência, há a necessidade da realização de três discussões que
se colocam como centrais para a compreensão aprofundada desta atividade, quais
sejam: as suas premissas históricas no processo de ontogênese humana; suas nuances
caracterizadas pela necessidade / motivo / conteúdo-forma; e as transformações
psíquicas que ocorrem na criança a partir da realização dessa atividade.
30
Lembrando que devido as diferentes formas encontradas na literatura quanto a aplicação do termo que
designa a forma evoluída da atividade lúdica da criança, optamos em utilizar, na presente tese, o termo
brincadeira de papéis sociais para a atividade que Elkonin (1998) designa como “jogo protagonizado”.
92
Quando as atividades de trabalho ainda eram muito simples, com instrumentos os mais
Página
simples, a criança era inserida na atividade de trabalho (vital) desde muito cedo,
contudo, a partir do desenvolvimento histórico social da humanidade, uma nova
realidade se apresenta e as crianças, por conta de suas condições de desenvolvimento,
vão sendo paulatinamente afastadas das atividades adultas. Desta feita, torna-se
necessário que ela, em um momento histórico intermediário, comece aprendendo a
manipular, o mais cedo possível, esses objetos que vão se tornando mais complexos
tendo em vista a superação de novas necessidades humanas que vão surgindo e se
efetivando a partir do próprio trabalho, objetos estes inacessíveis a ela em seu formato
real e em seu modo real de execução, aparecendo, assim, os primeiros equipamentos
em tamanho e complexidade menores (ELKONIN, 1998).
De acordo com Elkonin (1998), é preciso esclarecer que nas etapas iniciais de
desenvolvimento da humanidade, quando as forças produtivas eram ainda primitivas e
elementares, as ferramentas de trabalho permitiam incluir as crianças nesse processo de
produção próprio dos adultos, sem qualquer preparação prévia, sendo que nesse período
não existiam sequer exercícios para o manejo das ferramentas de trabalho e ainda
menos, o jogo protagonizado, pois, segundo o autor,
homens, isto é, as relações que os seres humanos estabelecem e mantêm entre si,
Página
considerando a sua vida em sociedade e as atividades realizadas no dia a dia. Sabemos
que as situações sociais objetivas oferecem, portanto, as bases para a atuação
(reconstrução dos papéis sociais) da criança na brincadeira, vez que a ação lúdica
realizada pela criança está pautada na realidade concreta por ela vivenciada em
sociedade.
Considerando a reconstrução pelas crianças, dos papéis sociais e,
simultaneamente, a apropriação do conteúdo dessa atividade de forma lúdica, cuja
origem encontra-se no trabalho social do adulto, podemos afirmar que na relação entre o
papel assumido (atividade portadora de um tema de trabalho) e as ações (que explicitam
os argumentos vivenciados pelas crianças referentes a esse trabalho), encontra-se a
chave para o conteúdo desta importante atividade, conforme nos orienta Elkonin (1998).
Segundo o autor,
alta que elas, afirmando que será a professora, mas a brincadeira acaba
rapidamente. Depois a mesma menina (secretária e professora), diz que
Página
vai brincar de médico e começa a ajeitar a cadeira para que uma outra
menina (sua paciente) deite e ela possa “atendê-la” e começa colocar a
mão na cabeça da amiga medindo a febre, mas logo a atividade também
acaba. - Duas meninas começam a brincar de casinha cuidando de duas
bonecas como se fossem suas filhas. Dizem que as cadeiras da sala são o
berço das crianças.
e por algumas teorias naturalizantes, de que a criança é um ser com um alto grau de
criatividade e desenvolvimento imaginativo, até maior que a do próprio adulto. Na
Página
verdade, como fica evidente, tal função surge na ação, em processo inicial, e não o
contrário, apresentando-se neste início ainda de forma rudimentar, contudo, já superior
à expressão elementar. Consequentemente, essa função psicológica, aliada à outras
funções, vai se complexificando no decorrer da vida objetiva dos indivíduos, atingido um
alto grau de desenvolvimento somente na idade adulta (ELKONIN, 1998).
Quadro 4 - Episódio 2: A mudança dos significados dos objetos como aspecto para a
efetivação da brincadeira em unidade com o desenvolvimento da imaginação infantil.
pesquisador. Ele relembra qual a função do bombeiro e eles pegam uma corda
e fingem ser uma mangueira e estão dentro do carro do bombeiro,
Página
começam a fazer o barulho da sirene e saem andando em fila como se
fossem apagar o fogo de algum lugar. Interventor junta-se as crianças que
estão brincando de médico e propõe fazer exame no Charlie que já estava com um
curativo no braço e explica que antes de colocar o curativo tem que fazer exame,
a médica pega o telefone e finge ser a máquina de exame. Jorge vai até o
hospital, Charlie que é o médico pergunta o que aconteceu, Jorge explica que ele
estava andando e caiu e quebrou a perna. O médico pega o telefone fingindo
ser a máquina de exame e começa a examinar o joelho.
Cenário cinco (Intervenção quinze) - Pesquisador: “oh, tem gente com fome ainda!
Olha que gostoso... O que os bonitos estão fazendo aí atrás? O que vocês estão
fazendo?” Criança: “apertando o botão que sai macarrão.” Pesquisador:
“apertando botão que sai macarrão?!” “Cadê a máquina que sai macarrão?”
Criança: “aqui!” Pesquisador: “deixa eu ver. Cadê a máquina de fazer macarrão?
Cadê o botão de fazer macarrão?” Criança: “aqui.” Isso tudo embaixo da mesa,
fingindo que ali tinha uma máquina de macarrão.
Cenário seis (Intervenção dezessete) – Charlie e Ana fazem de conta que
estão cozinhando alimentos, pegam ingredientes imaginários e começam
a mexer como se tivesse fazendo comida no restaurante e começam a
decidir o que será cada um dos instrumentos que eles tem... “vamos fazer
macarrão”, diz Ana e Charlie concorda. Interventor 2 continua preso na delegacia.
Jorge o colocou embaixo da mesa como se lá fosse a prisão da delegacia.
Cristina pega uma colher como se fosse uma pazinha e continua
brincando de jardinar, fazendo os movimentos de plantar, jogar água. Joaquim
começa a brincar de cabelereiro junto com as outras meninas... uma menina
105
O papel que a criança interpreta e a sua relação com o objeto, caso este
tenha seu significado modificado, sempre decorrem das regras, ou seja, a
situação imaginária, em si mesma, sempre contém regras. Na brincadeira,
a criança é livre. Mas essa liberdade é ilusória (VIGOTSKI, 2008, p.28).
CENA: Mediação do professor e assunção pelas crianças das regras implícitas aos
modelos de relação social reconstruídos na brincadeira.
Cenário dois (Intervenção cinco) – Pesquisador: “Agora, vocês viram que tem
muitas coisas no chão? Colocamos um monte de brinquedo né? Mas, antes de
deixar vocês brincarem...” Relembra os vídeos assistidos na intervenção anterior,
108
grande, olha que fogãozão grande! Olha aqui que panelão grande.”
Pesquisador: “Quem são essas pessoas lindas aqui? São as?” Crianças:
Página
“Cozinheiras”. Pesquisador: “Elas querem um abraço de vocês também (e
as crianças abraçam as duas cozinheiras da escola com muita alegria.
Elas são importantes para nós porque, o que elas fazem para a gente?”
Crianças: “Comida!” Pesquisador: “Comida, para matar a nossa?”
Crianças: “Fome!” Pesquisador: “Gente, essa cozinha é grandona?”...
Cenário seis (Intervenção quinze) - Pesquisador: “Cristina, o que você tá
fazendo? Você tá cozinhando? Você é cozinheira?” Cristina: “sim”.
Pesquisador: “o que você tá fazendo, comidinha?” Cristina: “comidinha”
Pesquisador: “você é o cliente, Jorge?” Jorge: “eu quero comida”.
Pesquisador: “olha, o Jorge falou que é o cliente, quem mais é cliente
que quer comida?” Criança: “eu”. Pesquisador: “então vamos sentar para
esperar a comida! Quem é o cliente, vai. Quem é o cliente senta para
esperar a comida. Vem Sophia, vem para cá. Quer puxar a cadeirinha?
Vem!” Pesquisador: “quem é o cliente? Vem Jorge... você pediu para o
João a comida?” Jorge: “aham!” Pesquisador: “então senta lá para
esperar que eu vou levar, senta lá para esperar. Eles são os clientes, eles
estão esperando a comida. Gente, oh, eles são os clientes do restaurante.
Eles querem comida, quem vai levar a comida para eles?” Jorge: “eu
quero pizza.” Pesquisador: “o Jorge quer pizza agora. Quem vai fazer
pizza para ele? Cadê o Fernando que é o pizzaiolo? O Fernando, o Jorge
quer uma pizza. Faz uma pizza pra ele, você é pizzaiolo. Leva lá pra ele,
pra ele comer.” João: “eu fiz macarrão com sopa.” Pesquisador: “vê se
ele quer macarrão com sopa. Gente, quem quer macarrão com sopa?”
Três crianças: “eu!” Pesquisador: “ele fez oh, o João fez. Vai Fernando,
vai levar a pizza para o Jorge. Fernando, assa uma pizza. O Jorge, oh sua
pizza. O Fernando fez, ele é pizzaiolo, né? Você é pizzaiolo, Fernando?”
Fernando: “sim”. Pesquisador: “ah, que legal! Oh, os clientes estão com
fome ainda, tem que acelerar essa comida!” Criança: “acabou tudo!”
Pesquisador: “vocês já deram comida para os bebezinhos?” Criança: “já!”
Pesquisador: “tá fazendo eles dormirem agora? E essa comida, sai ou
não sai Gustavo?” Fernando: “falta o prato!” Pesquisador: “falta o
prato?! Pega o prato para levar. O que os bonitos estão fazendo aí atrás?
O que vocês estão fazendo?” Criança: “apertando o botão que sai
macarrão”. Pesquisador: “apertando botão que sai macarrão?! Cadê a
máquina que sai macarrão?” Criança: “aqui!” Pesquisador: “deixa eu
ver... cadê a máquina de fazer macarrão? Cadê o botão de fazer
macarrão?” Criança: “aqui. Isso tudo embaixo da mesa”, fingindo que ali
tinha uma máquina de macarrão. Pesquisador: “e da onde sai o
macarrão?” Criança: “daqui, desse buraco”. Pesquisador: “ah... então
vocês têm que entregar o macarrão para a cozinheira. Que legal! Entrega
o macarrão pra ela!” Criança: “gente, vamos acelerar a cozinha porque
111
aos papéis reconstruídos pelas crianças, ou seja, elas se encontravam em uma situação
social de desenvolvimento na qual realizavam tal atividade em sua forma mais evoluída,
Página
com predominância dos modelos de relações sociais carregadas de detalhes, como nos
mostra Elkonin (1998). Contudo, há que ser observado que o processo interventivo
também colaborou efetivamente com essa transformação qualitativa da atividade, fato
que poderá ser vislumbrado mais adiante.
Evidenciamos, também, momentos nos quais as crianças, durante o processo
interventivo, atribuíam significados diferentes aos objetos e brinquedos que
disponibilizávamos a elas, fator primordial para análise do processo de desenvolvimento
da consciência infantil, tendo em vista a relação entre substituição dos significados dos
objetos e desenvolvimento da função psicológica imaginação, expressa na situação
fictícia (ELKONIN, 1998; MARTINS, 2006).
Por fim, as regras inerentes aos papéis sociais ditavam os modelos de relações
que eram reconstruídos pelas crianças durante as intervenções. Tais regras puderam ser
apresentadas e complexificadas durante o processo interventivo, seja nos momentos de
construção dos interesses e motivos (tema e conteúdo) das brincadeiras, seja durante a
realização da atividade propriamente dita. Essas regras eram o tempo todo avaliadas
pelos próprios alunos em relação aos papéis que assumiam dentro da atividade, fator
que pôde ser vislumbrado pelo pesquisador a partir da análise das ações ludo-
pedagógicas, além de observarmos, também, a avaliação do outro, do colega
personagem na atividade, assim como do pesquisador e interventores, sobre a forma
coerente de realização de tais modelos, sem causar comprometimento das características
fundamentais que caracterizam a brincadeira de papéis sociais; fator fundamental para a
análise do desenvolvimento da consciência infantil no que tange o autocontrole de sua
conduta e para uma primeira apreciação acerca das possibilidades interventivas no
interior desta atividade.
Em síntese, o que fica evidente é o quanto a brincadeira de papéis sociais se
apresenta como uma cadeia de complexos processos e relações que deve ser
compreendida e desvelada, tendo em vista a sua imprescindibilidade para o
desenvolvimento das crianças, sobretudo àquelas que encontram-se vivenciando o
113
caráter de atos mentais com significação de objetos que se realizam no plano da fala em
Página
voz alta e ainda se apoiam em ações externas, que, não obstante, já adquiriram um
caráter de gesto-indicação sintético”. Este fator representa, como podemos deduzir, a
indicação do desenvolvimento do pensamento como organizador da atividade, levando a
criança à uma situação na qual, sua “consciência”, deixa de estar limitada somente pela
ação, desenvolvendo assim, as primeiras formas de abstração.
Por último, quando tratamos da evolução da conduta arbitrada, estamos nos
referindo, ainda respaldados em Elkonin (1998), à relação que a brincadeira apresenta
com as diferentes regras de comportamento implícitas ao papel social que ela reconstrói.
Nesse sentido, a criança ao assumir o papel de um adulto, dentro da atividade, buscará
agir de uma forma coerente com as regras que estruturam tal papel, ocorrendo também,
necessariamente, uma necessidade de avaliar, o tempo todo, se suas ações estão
condizentes com tal conteúdo. Este fato representa uma condição essencial para a
criança, tendo em vista a tomada de consciência das regras implícitas ao papel social e a
possibilidade de controle de sua própria conduta, isso diante da necessidade de auto
avaliação contínua de sua função no decorrer da atividade.
Essa tomada de consciência das regras sociais e o paulatino controle de sua
conduta, expressa, também, de forma implícita, uma condição para a estruturação dos
valores morais da criança durante a brincadeira, pois este processo representa uma
constante elaboração e reelaboração das regras contidas nos papéis sociais e respectiva
avaliação da própria conduta pela criança. Esta reprodução das regras implícitas aos
papéis sociais, requer unidade entre aspectos cognitivos, significados sociais e aspectos
afetivo-motivacionais, situação que envolve os sentidos pessoais, estando, portanto,
ligados, necessariamente, à conteúdos morais, fato que possibilita o desenvolvimento de
valores que consolidam os traços de personalidade da criança (MARTINS, 2006).
Além dessas importantes contribuições oferecidas por Elkonin (1998) acerca da
brincadeira e o desenvolvimento psicológico das crianças, também Martins (2006)
apresenta discussão importante a ser considerada no processo de constituição da
consciência e personalidade da criança e relacionados à atividade de brincar. Podemos
117
desse processo. Torna-se crucial esta análise, pois a atividade de brincar, por ser vital e
Página
mover a criança numa direção humano-genérica, precisa ser compreendida e explorada
em suas características educativas humanizadoras.
Se o que importa é o lucro, para isso, a fome deve ser mantida apesar de
se poderem produzir alimentos para todos; a ignorância deve ser
mantida, apesar de se poder erradicá-la; muitos devem ficar sem casa e
sem assistência médica apesar de existirem os meios para abolir esses
sofrimentos; para acumular o capital, é necessário levar a humanidade à
beira de uma catástrofe nuclear, ou, ainda, destruir a natureza e romper
o equilíbrio ecológico, tudo isso é feito em nome do capital e em
120
Como consequência desses três primeiros aspectos, surge um quarto, que leva os
Página
seres humanos a uma das piores condições possíveis de relação social, qual seja,
enxergam-se, dentro dessa cadeia interacional, enquanto mercadorias, objetos, que
devem ser possuídos ou podem ser destruídos facilmente, dependendo da qualidade da
relação (MARX, 2004). Assim,
A vida cotidiana é a vida de todo ser humano, vez que estamos, todos,
indistintamente, submetidos às relações sociais do nosso dia-a-dia que são próprias da
vida em sociedade e, no bojo dessas relações cotidianas nos constituímos humanos.
Salienta Heller (1977) que diante da sociedade capitalista, o indivíduo singular, membro
de uma determinada classe social, estabelece relações cotidianas face a face, as quais
são definidas pela organização e modo de produção social estruturados pelos próprios
homens.
Os diferentes grupos sociais cotidianos, família, escola, igreja, trabalho, etc.,
127
segundo Heller (1977), por estruturarem-se por meio de relações próprias da sociedade
de classes, apresentam contradições e impõem ao indivíduo singular, o sistema de
Página
exigências próprio dessa forma de sociedade. Desta forma, não restam muitas
possibilidades de construção humana para além daquelas vividas no interior desses
próprios grupos, fato que caracteriza, portanto, a esfera das relações sociais cotidianas.
Podemos compreender, portanto, que a vida cotidiana preenche a vida de todo
indivíduo singular e, como afirma Duarte (2000), na sociedade de classes, fundada em
relações sociais de dominação e alienação, quando os seres humanos são deixados ao
sabor do cotidiano, acabam submetidos à um perverso processo de esvaziamento de sua
maneira de ser, isso por meio do esvaziamento das possibilidades de desenvolvimento
intelectual, afetivo e moral que se apresenta na estrutura social atual.
As formas de consciência construídas nas relações cotidianas e, portanto, a partir
de atividades e relações sociais alienadas e alienantes, levam os indivíduos a uma
compreensão imediata e pragmática da realidade, ou seja, sem a devida reflexão crítica
sobre a própria realidade (ROSSLER, 2006), fato que pode levá-los a decisões
equivocadas na esfera das relações sociais.
Heller (1977) afirma que todo indivíduo pertencente ao gênero humano, sendo
assim, inicia a sua vida apropriando-se, pela mediação de outros indivíduos, das
objetivações genéricas em-si, vez que necessita dos objetos e utensílios cotidianos, da
linguagem, dos usos e costumes do contexto social, histórico e cultural, para poder viver
e se adaptar à vida cotidiana.
Podemos compreender que cada sociedade define e carrega consigo através dos
hábitos, usos e costumes, o que é necessário para que os indivíduos sejam capazes de
viver a sua cotidianidade. Ser um sujeito social é ser considerado como aquele sujeito
que consegue viver a sua cotidianidade e nela objetivar-se como sujeito social, como
esclarece Rossler (2006).
Obviamente que, no movimento de apropriação dos objetos, linguagem, costumes
e outras objetivações cotidianas, desde o significado social de um prato, uma colher e
outros objetos domésticos, como também de objetos de trabalho como o computador, o
telefone, etc., o indivíduo, no caso, a criança em processo de aprendizagem social,
128
Outra questão importante apontada por Heller (2000) é que não há vida cotidiana
Página
sem heterogeneidade e hierarquia, ou seja, torna-se necessário a realização de diversas
atividades cotidianas de diferentes naturezas, para que o indivíduo possa viver em
sociedade e, nesse processo, há uma hierarquização, desde as mais simples até as mais
complexas, desde aquelas voltadas à reprodução, até aquelas relacionadas à criação,
desde as diárias e frequentes, até as eventuais, caracterizando, assim, uma
fragmentação hierarquizada das atividades da vida cotidiana.
Para a autora, a heterogeneidade torna-se imprescindível para que a cotidianidade
aconteça e os indivíduos possam viver e se organizar socialmente e, simultaneamente,
torna-se importante, também, o funcionamento de uma hierarquia espontânea e
necessária para que as atividades heterogêneas da vida se mantenham em movimento.
Nesse processo heterogêneo e hierarquizado, quando a maioria dos indivíduos são
obrigados a permaneceram presos somente a atividades que reproduzam o cotidiano em
sua imediaticidade e pragmatismo, surge assim a alienação, fenômeno social que separa
os indivíduos de atividades de natureza homogênea, tais como o estudo rigoroso, a
reflexão e análise crítica, a ação coletiva consciente com finalidades criativas e
transformadoras (HELLER, 2000).
É importante que se diga que a efetivação de um processo de homogeneização
precisa levar os indivíduos à estabelecerem relações com as objetivações não-cotidianas,
por meio de processos que garantam a eles possibilidades de reflexões críticas a partir
do acesso das objetivações genéricas para-si, tal como afirmam Duarte (1996) e Rossler
(2006), sendo que a escola deveria ser espaço que possibilita essas condições, tal como
defende Viotto Filho (2005; 2009; 2014), ao afirmar que a escola, entendida do ponto de
vista escola-comunidade, deve ser o lugar de homogeneização da vida cotidiana, espaço
de apropriação das objetivações humano-genéricas.
No entanto, como esclarece Heller (2000, p.37), "a alienação é sempre alienação
em face de alguma coisa e, mais precisamente, em face das possibilidades concretas de
desenvolvimento genérico da humanidade" e, segundo nossa compreensão, alienar o
indivíduo das possibilidades de apropriação de objetos humano-genéricos é apartá-lo das
130
A reflexão de Rossler (2006) nos possibilita pensar na criança que cresce, aprende
e se desenvolve no bojo das relações cotidianas alienadas, desde as relações
encontradas junto à sua família, parentes e amigos, como também, a partir de relações
sociais na escola, lugar que, a princípio, deveria ser responsável pela efetivação de
relações educativas não-cotidianas. Nesse movimento, retomamos a importância da
brincadeira de papéis sociais como atividade orientadora do processo de aprendizagem e
desenvolvimento das crianças e reconhecemos, que em seu cotidiano, as crianças
realizam brincadeiras que reproduzem relações, interações e papéis sociais próprios da
vida cotidiana, inevitavelmente, situação que implica, portanto, a reprodução de relações
alienadas e alienantes presentes na sociedade.
Assim sendo, se na escola forem possibilitadas às crianças condições pautadas
131
mas sim, pela via das apropriações genéricas para-si, tais como os conhecimentos
Página
científicos, históricos, filosóficos, éticos e políticos, objetivações que precisam ser
apropriadas no interior da escola, sendo que, para a criança, tais objetivações, segundo
nossa defesa, podem e devem fazer parte de uma brincadeira para-si e configurada
como atividade de brincar. O professor, portanto, é o responsável pela efetivação desse
processo educativo humanizador na escola, mas, para isso, há que serem desveladas as
possibilidades de intervenção pedagógica com esta atividade.
[...] Ele (Marx) nega que o homem seja um ser essencialmente egoísta,
porque não aceita algo como uma natureza humana fixa (e, na realidade,
não aceita nada fixo). Na visão de Marx, o homem não é, por natureza,
nem egoísta nem altruísta. Ele se torna, por sua própria atividade, aquilo
que é num determinado momento. E assim, se essa atividade for
transformada, a natureza humana hoje egoísta se modificará, de maneira
correspondente.
Assim, a sociedade capitalista e seu modo de produção, assim como sua principal
conquista, a propriedade privada, engendram relações sociais fragmentadas e alimentam
fenômenos tais como o consumismo, o individualismo, bem como outros fatores
característicos de um psiquismo alienado.
Capital tem relação com o dinheiro, pagamento de salários, consumo de
mercadorias, poder econômico e financeiro, aspectos próprios do sistema capitalista. À
137
medida que em nossa sociedade o dinheiro possui o “poder” de tudo comprar, esse
Página
elemento ganha forças metafísicas, onipresença, torna-se objeto de desejo para a
conquista de “liberdade” dos seres humanos. O objeto dinheiro ganha tamanha forma
que se sobrepõem ao próprio indivíduo, gerando a necessidade de ser substituído de
forma rápida e, muitas vezes, descontrolada, por mercadorias, situação que coloca o
consumo desses bens como condição de satisfação moral e sentimental (MÉSZÁROS,
2006).
Por fim, Mészáros (2006) apresenta a relação entre alienação e estética na
atualidade, em que o homem é avaliado somente pela sua forma aparente, isto é, o
homem se aliena do próprio homem, deixando de lado sua essência, ou, até mesmo,
tornando-a submissa às condições da aparência. A alienação em relação as diferentes
formas de arte e manifestações subjetivas, conforme afirma Vigotski (2001),
comprometem o processo de desenvolvimento dos sentimentos e emoções humanas.
Na sociedade capitalista, não por acaso, à grande maioria da população, torna-se
possível, somente, o acesso, por exemplo, no que tange aspectos estéticos, a objetos
artísticos produzidos de forma superficial, um tipo de arte empobrecida, destituída, na
maioria dos casos de um caráter crítico, muito menos emancipadora e,
consequentemente, desenvolvente de uma forma de consciência em uma direção
também superficial, fragmentada e efêmera (MÉSZÁROS, 2006).
Desta feita, para Rossler (2004, p.110), como consequência dessas condições, o
processo de alienação efetiva-se,
A partir das discussões realizadas até o momento nesta tese e acerca da origem e
estrutura da consciência humana, considerando o emprego dos instrumentos de
trabalho, assim como a divisão técnica da atividade laboral, podemos pensar que o
processo de alienação da consciência estrutura-se, em uma primeira análise, na
separação entre sentido pessoal e significado social (LEONTIEV, 2004).
Compreendemos que a partir da complexificação das operações na atividade do
trabalho e dos instrumentos de trabalho, institui-se a primeira transformação
fundamental para o alargamento da consciência humana. Isto se dá pelo fato de que,
das relações de troca. Este fato pode ser comprovado se considerarmos que na origem
das sociedades comunitárias não havia separação entre o trabalho e as condições
Página
concretas dos indivíduos, sendo que a atividade social se encontrava em total equilíbrio
com as necessidades para manutenção da vida.
31
Mais dados nessa direção podem ser vislumbrados na dissertação de mestrado de Nunes (2013) e no
livro de Nunes e Viotto Filho (2016).
Página
dividir os brinquedos durante a brincadeira, chegando, em alguns
momentos, a brigarem pelo material.
Cenário seis (Intervenção dezesseis) - Tem problema chegar por último? Vozes:
Não. Interventora: O importante é participar, não é? Tudo bem, chegar por último?
Tem problema? Gustavo: Sim. Pesquisador: Por que sim? Gustavo: Porque
perde e o negócio é ganhar. Pesquisador: mas qual é o problema em
perder? Gustavo: Porque o negócio é chegar na faixa (de chegada) e já
ganhar. Pesquisador: Mas se perder, qual é o problema? Gustavo: Não
ganha trofeú. Mas ele continua a discordar.
Enfim, é fato notório que a alienação social capitalista, tendo em vista os seus
aspectos práticos referentes ao processo de trabalho, influi diretamente na vida dos
indivíduos e em suas relações sociais. Esse fenômeno torna os papéis sociais carregados
de tendências alienadas e alienantes como temos dito, relações e ações fragmentadas,
caracterizadas por um rompimento entre o verdadeiro significado de cada atividade e
resumindo-se a um sentido pessoal pautado sob a égide da propriedade privada e pela
divisão social do trabalho, fato que leva à efetivação de expressões e ações egoístas,
individualistas, competitivas e excludentes por parte dos indivíduos em sociedade.
Assim, sabendo que a realidade apresenta tais características alienadas e
alienantes e, na brincadeira, quando a criança reconstrói modelos e assume papéis
presentes e próprios das relações sociais cotidianas, sobretudo quando essa atividade
não é pautada por uma ação educativa crítica que busque o enfrentamento dos aspectos
oriundos das relações e atividades alienadas e alienantes, elas viverão experiências
espontaneamente e, desta forma, vivenciarão um processo de reprodução da alienação
social, que redundará consequentemente, no desenvolvimento de suas consciências em
152
Não há como negar que toda instituição social está vinculada intrinsecamente a
uma determinada estrutura societária, funcionando a partir de determinadas demandas
desta sociedade e, também, contribuindo, de maneira direta, com a produção,
153
com elementos humanizadores, desde que isso seja possibilitado por alguém que tenha a
Página
consciência desse processo e de como superá-lo. Assim sendo, acreditamos que seja
necessário discutirmos ambas condições, para buscar as múltiplas determinações
condizentes com uma análise explicativa da realidade escolar.
Busquemos mais exemplos para podermos enxergar de forma ainda mais clara a
influência do capital nos complexos sociais que o constituem. Pensemos na ciência, pois
hoje temos uma ciência altamente desenvolvida, com inúmeros avanços em diversas
áreas do conhecimento, contudo, mesmo com tamanho desenvolvimento, ainda existe a
fome, a miséria, a exclusão social, a ignorância, os preconceitos, dentre outras formas de
relações de precarização humana e social que levam os indivíduos até à morte. Assim, as
relações de produção capitalistas determinam os caminhos a serem seguidos pela ciência
e, embora tenhamos um desenvolvimento nunca antes visto até então, nem por isso são
minimizadas as inúmeras desigualdades existentes na atual estrutura social (ROSSI,
2018). Caminhemos um pouco mais em tal análise. Rossi (2018, p.37) nos mostra,
também,
valia.
Página
Ou seja, o modo de produção capitalista ao mesmo tempo em que possui
possibilidades imensuráveis de desenvolvimento da sociedade e do gênero humano,
coloca entraves, de forma intencional, para que tais possibilidades estejam alienadas da
grande maioria da população, pois, o que vale para o capitalismo é o lucro através da
extração da mais-valia humana, como foi apresentado na citação anterior. A escola na
atualidade, como sabemos, está inserida nesse processo, como uma instituição
necessária à produção e reprodução da ideologia capitalista e, consequentemente, à
efetivação da alienação em suas relações estruturais e funcionais.
A partir dessa conjuntura é que se analisa a crise do sistema público de ensino, o
qual se encontra esmagado pelas demandas sociais que são exigidas pela sociedade
capitalista e pelos cortes de recursos para as instituições de ensino. Tudo isso caracteriza
de forma clara, a realidade instaurada pelo “neoliberalismo”, onde “tudo se vende, tudo
se compra”, “tudo tem preço”, ficando constatado também a “mercantilização da
educação” (MÉSZÁROS, 2008, p.16).
Uma forma de sociedade respaldada nesses ideais que obstaculizam o processo de
humanização dos indivíduos, acaba por transformar os espaços educacionais em
“shopping centers”, onde a lógica que impera é a de mercado, isto é, extração de lucro e
reprodução ideológica (MÉSZÁROS, 2008, p.16).
Com isso, a “especificidade da educação”, que para Saviani (2013b, p.22) deveria
estar pautada em “conhecimentos, ideias, valores, conceitos, atitudes, hábitos,
símbolos”, isto é, embasada em aspectos essenciais à formação “dos indivíduos
singulares” de forma humanizada, intencional e consciente, está, por outro lado, a patir
da atual conjuntura social, pautada nas necessidades e ideologia voltadas à manutenção
de uma pequena parte da população no poder, isto é, respaldada em uma educação
produtora e mantenedora da lógica do capital e de seus detentores.
A partir de uma análise histórica, Segundo Mészáros (2008), a instituição escola
há muito serve diretamente aos interesses da sociedade capitalista. Esse propósito, está
marcado tanto pelo papel da escola em fornecer conhecimento e mão-de-obra necessária
156
32
Já que, como apresentado no início da presente subseção, tendo em vista as contradições inerentes a
158
33
Concepção pedagógica gestada no bojo das discussões psicológicas piagetianas.
Página
movimento Escolanovista, surgido com o intuito de superação da proposta educacional
tradicional que imperava até então (FACCI, 2012). De acordo com Facci (2012, p. 122),
Tal afirmativa pode ser verificada, por exemplo, quando analisamos o Relatório
161
para a Unesco, produzido em 2010, sobre os quatro pilares que deverão sustentar a
educação no século XXI,
Página
A educação ao longo da vida baseia-se em quatro pilares: aprender a
conhecer, aprender a fazer, aprender a conviver e aprender a ser. -
Aprender a conhecer, combinando uma cultura geral, suficientemente
ampla, com a possibilidade de estudar, em profundidade, um número
reduzido de assuntos, ou seja: aprender a aprender, para beneficiar-se
das oportunidades oferecidas pela educação ao longo da vida. - Aprender
a fazer, a fim de adquirir não só uma qualificação profissional, mas, de
uma maneira mais abrangente, a competência que torna a pessoa apta a
enfrentar numerosas situações e a trabalhar em equipe. Além disso,
aprender a fazer no âmbito das diversas experiências sociais ou de
trabalho, oferecidas aos jovens e adolescentes, seja espontaneamente na
sequência do contexto local ou nacional, seja formalmente, graças ao
desenvolvimento do ensino alternado com o trabalho. - Aprender a
conviver, desenvolvendo a compreensão do outro e a percepção das
interdependências – realizar projetos comuns e preparar-se para
gerenciar conflitos – no respeito pelos valores do pluralismo, da
compreensão mútua e da paz. - Aprender a ser, para desenvolver, o
melhor possível, a personalidade e estar em condições de agir com uma
capacidade cada vez maior de autonomia, discernimento e
responsabilidade pessoal. Com essa finalidade, a educação deve levar em
consideração todas as potencialidades de cada indivíduo: memória,
raciocínio, sentido estético, capacidades físicas, aptidão para comunicar-
se. - No momento em que os sistemas educacionais formais tendem a
privilegiar o acesso ao conhecimento, em detrimento das outras formas
de aprendizagem, é mister conceber a educação como um todo. Essa
perspectiva deve no futuro inspirar e orientar as reformas educacionais,
seja na elaboração dos programas ou na definição de novas políticas
pedagógicas (DELORS, et al., 2010).
Ou seja, torna-se papel das “futuras” reformas educacionais retirarem, ainda mais,
o foco da busca por uma educação pautada em um processo que trabalhe com os
conhecimentos mais elaborados, de forma direta e intencional, enfatizando e
institucionalizando programas que valorizem o espontaneísmo e os conhecimentos
cotidianos em-si, sob a falsa máscara de que isso é caminho para a autonomia e
liberdade dos estudantes.
Consideramos importante fazer essa reflexão, pois, a difusão do citado lema e sua
efetiva aplicação na escola, tendo em vista a organização e orientação em relação a
brincadeira de papéis sociais, por exemplo, configura-se como uma situação que
alimenta a ideologia dominante, efetivando a construção de tendências alienadas e
162
atração se dá pelo fato dessa proposta unir ideias que são contrárias a uma atuação
Página
pedagógica direta e intencional a qual a educação escolar como um todo deveria possuir,
facilitando, assim, o trabalho a ser realizado em tal nível educacional.
Dentre as ideias permeadas por tal pedagogia, dentro da linha construtivista
“aprender a aprender”, destaca-se que,
Podemos, pois, dizer que a natureza humana não é dada ao homem, mas
é por ele produzida sobre a base da natureza bio-física.
Consequentemente, o trabalho educativo é o ato de produzir, direta e
intencionalmente, em cada indivíduo singular, a humanidade que é
produzida histórica e coletivamente pelo conjunto dos homens (SAVIANI,
2013b, p.13).
contudo, não se preocupam com a necessidade de uma atividade que produza, direta e
Página
intencionalmente, estes fins, além de engendrarem dicotomias que prejudicam o ato
educacional (DUARTE, 1996).
À educação escolar cabe, portanto, o papel de transmissão de conteúdos que
levem os indivíduos a compreenderem e participarem da sociedade em que vivem de
forma crítica. Para isso, considera o diálogo entre professores e educandos, o respeito
em relação ao desenvolvimento psicológico dos alunos e a superação do senso-comum,
como os pontos fundamentais do processo educativo. Isso nos leva a entender que o
conhecimento trazido de fora pelos alunos também se faz importante, contudo, somente
como ponto de partida. No ponto de chegada espera-se que os alunos ascendam à
expressão elaborada, sistemática, dos conhecimentos mais elaborados (SAVIANI,
2013b).
Para que tal objetivo seja alcançado, fica evidente que os conhecimentos a serem
transmitidos pelos professores no ato educativo, apresentam um grau maior de
complexificação que a apreciação da realidade pautada no senso-comum. É importante
salientar que o conhecimento cotidiano, ou, de senso-comum, está implícito no
conhecimento erudito, correspondendo à expressão aparente, superficial, heterogênea,
pragmática da realidade. Já os conhecimentos sistematizados são aqueles que estão para
além do cotidiano, correspondendo à apreciação da essência dos fenômenos postos na
realidade objetiva, sendo assim, apresentam um alto grau de abstração e sistematização,
sendo muito mais difíceis de serem construídos e apropriados.
Nesse caminho, a escola deve socializar o conhecimento mais elaborado,
sistematizado, ou seja, deve trabalhar com os conhecimentos científicos, filosóficos e
artísticos, tomados em suas expressões mais elevadas (SAVIANI, 2013b) e, nessa
direção histórico-crítica, como defende Viotto Filho (2014, p.76), a “escola, mesmo sob
as condições do sistema capitalista, poderá contribuir para a superação de valores
individualistas e para a construção de sujeitos que tenham consciência do nós”. Esclarece
o autor que essa forma de consciência histórico-crítica, a ser desenvolvida na escola-
comunidade será “uma consciência que tenha condições de avaliar criticamente a
171
Página
realidade, reprimir características e aspectos particulares, individualistas e alienados que
distanciam o sujeito da genericidade” (VIOTTO FILHO, 2014, p.76).
A prática pedagógica histórico-crítica assume, assim, em relação ao método de
ensino, cinco momentos dialeticamente interdependentes que permeiam o ato
educacional, quais sejam, prática social, problematização, instrumentalização, catarse e
prática social requalificada (MARTINS, 2016). A autora frisa que tais momentos, em suas
articulações dinâmicas entre ensino e aprendizagem, referem-se à organização lógica do
ensino, expressando-se, desta feita, como abstrações a orientarem as ações concretas
da realidade, não sendo, portanto, procedimentos didáticos, o que romperia com um
constructo pedagógico pautado no materialismo histórico e dialético.
Como pôde ser observado, a prática social deve ser assumida como ponto de
partida e ponto de chegada, sendo ela o substrato real em que são efetivados os
processos lógico-abstratos de problematização, instrumentalização e catarse, atos de
pensamento que possibilitam uma percepção e compreensão mediata daquilo que é
captado de forma imediata pelos órgãos sensitivos (MARTINS, 2016; SAVIANI, 1991).
Tomar a prática social como ponto de partida e chegada do ato de ensino,
remete-se à uma condição dialética na qual, inicialmente, os alunos apresentam um
conhecimento sincrético de determinado conteúdo e o professor apresenta uma síntese,
ainda precária, do mesmo conteúdo. Isto quer dizer que, o professor já está apropriado
dos níveis mais elaborados do conteúdo tratado, mas, precisa levar em consideração as
apropriações em-si que os alunos apresentam. Contudo, esse conhecimento, do ponto de
vista do professor, como já fora dito, ainda não é sintético em sua plenitude, pois, além
de não existirem conhecimentos absolutos e estanques sobre as coisas, ele ainda não foi
colocado a prova do contexto do alunado com os quais irá trabalhar, intentando objetivar
neles a expressão mais elaborada de tal conteúdo. Sendo assim, como ponto de partida,
o professor deve levar em consideração os conhecimentos que os alunos trazem sobre
determinados conteúdos, levando-os, ao final do ato educativo, a uma objetivação
qualitativamente superior, a partir das abstrações lógicas do pensamento
172
de forma direta e intencional pelo professor, como afirma Pasqualini (2011), o primeiro
Página
ponto a ser defendido é o ensino como elemento fundante da atividade pedagógica do
professor na educação infantil.
Como já foi discutido anteriormente, o desenvolvimento das capacidades
especificamente humanas não se dá de forma natural e espontânea por meio de
processos maturacionais do córtex cerebral, mas sim, encontra-se ligada as condições e
possibilidades objetivas da sociedade em que os indivíduos estão inseridos, assim, o
processo de desenvolvimento especificamente humano não se dá de outra forma, senão,
por processos educativos (PASQUALINI, 2011).
Assim o vínculo entre a criança e a sociedade em que ela está inserida se dá
através de atividades que são fundamentais ao processo de constituição de sua
consciência e personalidade, ou seja, as atividades dominantes, atividades estas que
formam uma unidade com o desenvolvimento das funções psicológicas superiores,
dentro de um determinado período de vida psíquica (PASQUALINI, 2011).
Desta feita, a transição de uma atividade a outra no processo de periodização do
desenvolvimento psicológico individual ocorre a partir de mudanças, transformações,
saltos qualitativos, que se efetivam a partir de uma contradição correspondente ao modo
de reprodução da vida da criança e as potencialidades que superam este modo de vida
dado. Assim, ocorre a mudança de atividade, representando um novo estágio de
desenvolvimento da criança (LEONTIEV, 2006b).
Essas primeiras constatações influem diretamente na atuação do professor quanto
à organização de sua atividade de ensino, pois como afirma Pasqualini (2011, p. 69),
Podemos afirmar que não basta expor a criança a estímulos diversos, não
basta disponibilizar a ela os objetos da cultura; mais que isso, é preciso
organizar sua atividade [...]. Logo, fica evidente a pertinência da
intervenção intencional do educador no processo de desenvolvimento da
criança [...]”.
Assim sendo, o fim a ser alcançado pela educação escolar infantil deve
estar pautado na tarefa do professor em fazer com que a criança se aproprie do
patrimônio cultural construído historicamente pelo conjunto dos seres humanos como
175
Quadro 8 - Episódio 6: A prática social tomada em seu ponto de partida e chegada dentro do
ato educativo com a brincadeira de papéis sociais.
a gente vai fazer hoje? Uma criança disse que iriam brincar de cowboy, pois tinha
um chapéu em cima da caixa. Pesquisador disse que poderiam brincar do que eles
Página
quisessem, porém, haviam algumas regras que eles deveriam respeitar.
Pesquisador: Eu e a pro (Interventora) trouxemos algumas coisas para vocês
brincarem. Uma criança levantou no centro da roda e disse que queria brincar de
cavalinho e começou a brincar como se estivesse montado em um cavalo
imaginário. Pesquisador: A gente quer que vocês brinquem com as coisas que a
gente trouxe, que nem vocês brincam com os brinquedos que vocês trazem para a
escola. Mas tem as regras que vocês têm que respeitar, vocês lembram quais as
regrinhas? Uma criança vai até o meio da roda e diz: Mas tem que brincar sem
brigar - Pesquisador: Então antes da gente começar, vamos entender as regrinhas,
a primeira já foi falada, qual é? Crianças: Brigar. Uma criança fala “não mexer nos
computadores” (pois estávamos realizando a atividade na sala de computação da
escola). Pesquisador a parabeniza e enfatiza essa regra a todos os alunos. Os
próprios alunos iam falando e o Pesquisador enfatizando, não pode xingar, não
estragar os brinquedos e nem chutar eles. - Interventora: “Pesquisador
(Pesquisador), a gente pode inventar brincadeira? Pode usar quantos brinquedos
quiser da caixa? Pesquisador responde que sim. Pesquisador pegou a caixa e
perguntou: “vamos ver o que tem aqui dentro?” - Todas as crianças saíram dos
seus lugares na roda e correram para olhar o que tinha dentro da caixa e
começaram a pegar os brinquedos de forma desordenada e empurrando um a
outro. Pesquisador: “Voltem para os seus lugares, voltem, voltem” - Interventora:
“Mas vocês disseram que não pode empurrar?” Interventora: “Vamos fazer uma
brincadeira? Quando o Pesquisador colocar a caixa no centro da roda, vamos
brincar de estátua, ninguém pode sair do seu lugar.” Pesquisador colocou a caixa
no centro da roda e começou a tirar os brinquedos da caixa e colocá-los no chão.
Pesquisador: “Olha o tanto de coisa na caixa”. Algumas crianças se aproximaram
para ver os brinquedos. Uma criança pegou o brinquedo e ficou olhando.
Pesquisador: “Voltem para os seus lugares, é pra ficar brincando agora?” - As
crianças responderam que não. Pesquisador diz: Vamos brincar, então? E eles
começam a pegar os brinquedos. Interventor enfatiza que é para dividir os
brinquedos. As crianças começaram a brincar com os brinquedos da caixa pela sala
de informática. Duas crianças pegam uma bolinha de tênis e dizem que estão
brincando de jogar futebol. Pesquisador pergunta que jogador eles são, um dos
alunos responde que é o Neymar. Durante um momento eles param de focar na
bolinha e começam a chutar uma bola imaginária, depois começam a chutar as
pernas um do outro. Um outro aluno coloca um óculos escuro e diz que vai brincar
de espião. Dois alunos pegam dois violões em miniatura começam a fazer de conta
que estão tocando e falam que são cantores sertanejo, ambos estão com chapéus
de cowboy. As meninas sentam todas juntas em roda, enquanto os meninos todos
estão em pé realizando atividades que, aparentemente, são mais dinâmicas. Um
aluno está com um chapéu e uma lupa de brinquedos e diz que é um detetive,
contudo não apresenta características de que está de fato realizando o papel.
178
Interventora chega na roda das meninas e pergunta do que elas estão brincando,
elas dizem que é de salão de beleza. Uma menina está em pé e fica pegando
Página
materiais coloridos e começa a enfeitar as outras meninas que estão sentadas, à
princípio, parece que ela é a dona do salão e as outras são clientes. A interventora
começa a brincar com elas e começa a ser enfeitada. (esta atividade já dura cerca
de 12 minutos da intervenção). Depois elas começam a se dispersar. Uma criança
pega um chapéu de cowboy e começa a realizar movimentos como se estivesse
montando um boi. Uma menina pega o telefone que levamos e começa a falar nele
como se fosse uma secretária e fica durante um bom tempo no telefone. Um
menino pega as serpentinas que as meninas estavam usando para se enfeitar no
salão de beleza e começa a andar fazendo movimentos como se estivesse
rebolando, quando um outro menino aponta pra ele e dá risada, então ele tira
rapidamente a serpentina e as joga no chão, parando o que estava fazendo. Há
um aluno que fica durante toda a intervenção brincando de carrinho. Enquanto
dois alunos meninos ficam durante toda a intervenção brincando de futebol.
Parece-me que o interesse maior está no papel de ser Neymar e Messi do que de
fato chutar ou jogar a bola, pois o jogo se dá de forma aleatória e eles conversam
o tempo todo como se fossem tais jogadores. Durante um momento da aula o
Pesquisador chega até a aluna que está com o telefone e começa a conversar com
ela sobre o que ela estava brincando (secretária). Quando começam a chegar
outras alunas. Aí elas dizem que vão brincar de escola. A mesma aluna que era
secretária começa a organizar as outras três meninas para que elas se sentassem
no chão e depois pega uma cadeira para ficar mais alto que elas afirmando que
será a professora, mas a brincadeira acaba rapidamente. Depois a mesma menina
(secretária e professora), diz que vai brincar de médico e começa a ajeitar a
cadeira para que uma outra menina (sua paciente) deite e ela possa “atendê-la” e
começa colocar a mão na cabeça da amiga medindo a febre, mas logo a atividade
também acaba. Duas meninas começam a brincar de casinha cuidando de duas
bonecas como se fossem suas filhas. Dizem que as cadeiras da sala são o berço
das crianças, mas a brincadeira não se dá de forma efetiva, pois a todo momento
elas se dispersam para olhar os outros amigos e parecem mais tentar organizar os
brinquedos a serem utilizados do que de fato brincar de casinha. Dois meninos e
uma menina acham um material que dá para tapar os olhos e começam a brincar
de cabra-cega, mas sem respeitar, de fato, as regras da atividade. A menina está
com os olhos tapados. As crianças demonstram muita dificuldade em brincarem de
forma conjunta, sobretudo para dividir os brinquedos durante a brincadeira,
chegando, em alguns momentos, a brigarem pelo material. Chegando ao fim da
intervenção quase metade dos alunos já estão sentadas nas cadeiras da sala sem
realizar nenhuma atividade. As crianças brincaram com todos os brinquedos que
tinha na caixa. Pesquisador: “Vamos guardas as coisas na caixa?” Uma criança
estava saindo da sala antes da intervenção acabar. Pesquisador: Vamos fazer o
círculo de novo. Interventora: “Calma não terminamos ainda a aula, vamos
conversar” Interventora: “Vou fechar o olho e quando eu abrir quero ver uma roda
179
bem bonita” Interventora pergunta várias vezes se podia abrir os olhos para as
crianças rapidamente se organizarem em círculo, para começar a conversa final da
Página
intervenção. Criança: “Abre mais a roda”. Criança: “Pode abrir”. Pesquisador: “O
que vocês acharam dessa aula?” Todas as crianças levantaram a mão para poder
dizer algo para o Pesquisador, pois uma das regrinhas era não falar junto com
todos e esperar sua vez para dar uma opinião. Pesquisador: “Posso perguntar para
cada um de vocês, do que vocês brincaram?” - Em sequência da roda, as crianças
foram dizendo sobre quais brinquedos brincaram - Criança: Pokémon - Criança:
Carrinho - Criança: Detetive - Criança: Carrinho - Criança: Carrinho - Criança:
Pokémon - Criança: Boneca e médico - Criança: Boneca - Criança: Mamãe e
filhinha – Interventora: “Do que vocês brincaram? - Criança: Brinquei como eu
brinquei na minha casa - Criança: Médica e cobra cega - Criança: Médico - Criança:
Médica Criança: Futebol - Criança: Médico - Criança: Cabra cega, bate-bate, espião
- Criança: Pizzaiolo. Pesquisador perguntou se gostaram das brincadeiras e se
poderia voltar na próxima semana para brincar mais. As crianças responderam que
sim. Interventora organizou a fila das crianças todos misturados para voltarem
para a sala.
Cenário dois - Intervenção dois - (prática social inicial) - As crianças entram na sala
para começar a intervenção e sentaram no círculo. Pesquisador: “Deixa eu
perguntar uma coisa pra vocês, vocês sabem brincar de o mestre mandou?”;
Crianças: “Simmm”; Pesquisador: A primeira atividade que a gente vai fazer hoje
é: O mestre mandou. Sabe quem vai ser o mestre? Eu. Pesquisador: “Então todo
mundo de pé”; As crianças levantaram animadas e saltitando para começar a
brincadeira. Pesquisador começou a explicar a atividade com perguntas: “Quem é
o mestre?”, “quem vocês têm que obedecer?” “Quero ver se sabem fazer tudo que
eu falar, será que sabem?”. Começaram a andar pela sala sob orientação do
interventor e assim a atividade começa. Pesquisador: “O mestre mandou vocês
fazerem um policial”. Algumas crianças começaram a imitar sirene da polícia,
outras correram de crianças que faziam uma arma com a mão. Pesquisador:
“Estátua, nossa vocês estão craques em. O mestre mandou vocês fazerem um
motorista”. As crianças começaram a fazer barulho de carro com a boca, imitar
uma buzina, correr como se estivesse com as mãos no volante, bater uma nas
outras. Todos os alunos estavam participando da atividade. Pesquisador: “Estátua,
o mestre mandou vocês fazerem uma pessoa pobre”; As crianças começaram a
andar com a cabeça triste, as mãos para trás. Uma criança deitou no chão,
Pesquisador perguntou o porquê, ela respondeu que “morre”. Pesquisador: “Por
que ela morre?”. Aluno: “Porque elas passam fome”. Pesquisador: “Estátua, agora
quero que façam uma pessoa rica” As crianças começaram a pular e gritar
demonstrando alegria. Pesquisador: “Porque vocês ficaram felizes?” Criança:
“Porque a gente tem dinheiro” Criança: “Uuuu eu tenho dinheiro!!!”. Pesquisador:
“Estátua, agora quero que vocês façam um médico”. Algumas crianças começaram
a imitar o som da sirene da ambulância com a boca. Outras ficaram sem fazer
180
de cowboy e com o violão e diz que está brincando de cowboy e que o violão é
uma chave de fenda e que ele ia arrumar as coisas. Romulo está novamente
Página
brincando de carrinho (mesma coisa da aula anterior). As meninas estão com as
serpentinas no pescoço, como se estivessem arrumadas e uma delas está com a
lupa na mão e diz que está brincando de detetive e que está tentando achar uma
formiga. Uma criança queria brincar com um brinquedo que o outro estava
brincando (Um carrinho) e a outro brigou dizendo que não queria dividir.
Interventora disse que o brinquedo pode ser dividido e não precisa brigar por isso.
Algumas meninas começaram a brincar de família, mamãe e filhinhas com as
bonecas usando as cadeiras como se fosse o berço. Ana dá um nome para a
boneca que é sua filhinha, mas no vídeo não dá para ouvir qual era. Duas
detetives chamam a Interventora, que está com a câmera de vídeo e mostram que
acharam uma formiga morta. Cristina e Ana continuam a brincar de mamãe e
filhinha, mas agora estão embaixo das cadeiras e afirmam que ali é a casinha
delas. Na casa tem as bonecas, filhinhas que estão dormindo, um violão, um
chapéu de cowboy e elas começam a enfeitar a casinha com as serpentinas.
Romulo, Joaquim e Gustavo estão com o telefone e tratores em miniatura e dizem
que estão brincando de sítio. Gustavo fica no telefone recebendo ligações de
pedidos de comida e Joaquim e Romulo brincam com os tratores como se
estivessem em uma colheita. De uma hora para outra Gustavo diz “estou ligando
para a mãe dele. Interventora pergunta, “Por que?”, Gustavo diz: Porque o Romulo
quer falar com ela. Gustavo passa o telefone para Romulo que começa a conversar
como se estivesse mesmo falando com a própria mãe e Gustavo começa a dar
risada. Cerca de 5 meninos ainda continuam com a bola de futebol. Interventora
pergunta para o Cristian do que eles estão brincando e ele fala “de futebol”.
Interventora pergunta quem é seu time e ele “Atlético Mineiro”. Amy pega a lupa e
outras três meninas estão sentadas nas cadeiras como se fossem pacientes, ela
afirma para a interventora que está brincando de médica e começa a fazer de
conta que está examinando suas pacientes. Coloca uma das pacientes deitada,
juntando mais cadeiras como se fosse uma maca. Cristina e Ana continuam a
brincar de casinha embaixo das cadeiras e chamam a interventora para ver como a
casa estava enfeitada com as serpentinas. Fernando ainda continua com o chapéu,
um óculos escuro e usa o violão como se fosse uma arma agora. E finge estar
atirando nas pessoas. Interventora pergunta o que ele está fazendo e ele afirma
“matando pessoas”. Romulo e Gustavo continuam com o telefone e dizem que
agora estão brincando de corpo de bombeiro. Romulo está com o telefone e finge
estar recebendo chamadas de emergência. João e Jorge continuam a jogar futebol
e afirmam ao interventor que são o Neymar, quando Jorge diz que também é o
Neymar, João fica triste. Cristian começa a falar que tem também é o Messi. Ana e
Cristina continuam a brincar de mamãe e filhinha, só que agora uma boneca é a
filha. Interventora pergunta se está tudo bem e Ana responde “está tudo bem”.
Logo após fala “mas teve um tubarão que mordeu minha filhinha” a interventora
pergunta se ela já levou sua filha ao médico e ela “sim, mas tá demorando”. A
182
interventora então fala para elas que em outro espaço da sala onde outras
meninas estavam brincando de hospital, que lá tem médico para elas levarem a
Página
filhinha. Cristina chama a Amy que é a médica e diz “ela morreu” (a boneca
filhinha) e Amy sai dizendo que então não tem mais jeito. Ana continua dizendo
que vai deixar a filha no hospital para ela melhorar. As atividades que estão
ocorrendo neste momento são o futebol com cerca de 5 meninos, dois grupos de
meninas brincando de casinhas, três meninos brincando de corpo de bombeiro e 4
meninas brincando de hospital. Todos estão participando. Interventora pergunta
para os meninos que estão brincando de corpo de bombeiro se eles estão
recebendo muitas chamadas, Gustavo responde que “sim, estamos trabalhando
muito”, logo após pega o telefone e começa a fingir que está conversando,
recebendo uma chamada para resgate. Pesquisador está participando da
brincadeira de hospital e a médica Amy começa a fazer exames nele. Primeiro na
boca e depois começa a tocar a barriga dele. A médica pega um pedaço de
madeira fina, palito de churrasquinho e coloca no braço dele como se fosse uma
seringa aplicando remédio, ele finge que está doendo e uma outra paciente o
abraça dizendo que já ia parar de doer. Depois pede para o paciente interventor
abrir os olhos para que fosse examinado e novamente a boca. Agora, no jogo de
futebol, Cristian finge dar um carrinho em João que cai como se tivesse se
machucado. Miguel finge ser árbitro e aplica várias vezes o cartão apontando para
ele dizendo “expulso”. Cristian coloca a mão no rosto como se estivesse
decepcionado e diz “nãoooo”. Cristian que foi expulso vai se sentar numa cadeira
como se fosse o banco de reserva. Duas meninas estão sentadas na sala de espera
e dizem que demora muito para serem atendidas (no hospital). Fernando agora
vira matador de zumbi, ainda usando o violão como arma. Ana diz que agora está
brincando de médico, interventora pergunta se ela está esperando para ser
atendida e ela diz que não, “eu sou a gata da Amy” (a médica). Charlie, Romulo e
Gustavo entram embaixo das carteiras e dizem estar brincando ainda de corpo de
bombeiro, contudo Charlie fala para interventora quando ela pergunta quem eles
são “Eu sou o papai, o Romulo é meu filho e o Gustavo é o cachorro” e o mesmo
começa a latir como um cão. Pesquisador: “Agora é hora de?” As crianças
responderam: “Guardar!!!” Todas as crianças começaram a guardar os brinquedos
dentro da caixa. Pesquisador: “Todos guardando as coisas dentro da caixa, agora
quero ver o círculo de novo, vou fechar o olho, cadê o círculo?”. As crianças
começaram a gritar e correr para formarem o círculo. Pesquisador: “Quem gostou
das atividades de hoje?”. Todas as crianças levantaram a mão e gritaram “EEEU”.
Pesquisador: “Por que que gostaram?”. Criança: Porque a gente brincou.
Pesquisador: “Brincou do que?”. Criança: De médico. Criança: de Futebol. Criança:
de família, tia, mãe, irmão, filha, pai. Criança: Eu era o Cristiano Ronaldo no
futebol. Criança: Eu era o Neymar. Criança: Eu era o Kazin do Corinthians.
Pesquisador: “Teve mais brincadeiras além dessas?”. Fernando: Matador de Zumbi.
Pesquisador: “Quem brincou de policial?”. Criança: Eu brinquei de policial no
mestre mandou. Romulo diz “eu brinquei de bombeiro, o Charlie era o pai, eu era
183
que bom Milene que você é jardineira. Milene: toma pra você. E dá uma flor
imaginária para o interventor. Interventor: nossa, obrigado. Pesquisador: O que as
Página
professoras estão ensinando? Criança: copiar. Pesquisador: o que é isso? Criança:
é um coração e uma estrela. Pesquisador: vocês estão copiando? Miguel, Laura,
vocês tem que copiar. Olha o Jorge cabelereiro, que lindo! Olha o Jorge arrumando
o cabelo da pro, que lindo! Você é cabelereiro, Jorge? Jorge: sim! Pesquisador: ele
tá fingindo que é um cabelereiro. O que você é, minha linda? Criança: eu sou
médica. Pesquisador: você vai cuidar de quem? Eu tô doente! Criança: prô, você tá
doente? Vem cá que eu sou médico. Pesquisador: estátua! Quero um círculo bem
lindo aqui no centro, todo mundo!
34
Para efeito de análise e exposição de ações que podem ser vislumbradas a partir da problematização,
instrumentalização e catarse dentro do processo educativo com a brincadeira, deixaremos os dados os
187
interventora fala, leva para o hospital e as crianças se juntam e levam ele para o
hospital. Agora são três meninas brincando de futebol dizendo ser a Marta e a
Página
interventora participa da atividade. Interventora orienta que sempre que alguém
sofrer uma falta forte, tem que levar para o hospital. As meninas continuam
participando da brincadeira de futebol com o incentivo do interventor. Relembram
sobre os jogadores de futebol e que conheceram o Neymar a Marta. Pesqisador
pergunta se menino e menina podem brincar e todos dizem que sim. Pede para
que levantem a mão, quem brincou, e os meninos e as meninas levantam a mão.
Intervenção sete - Pesquisador: A gente vai visitar agora um estádio de futebol. As
meninas ficam de boca aberta, e levanta as mãos falando “Timão”. Pesquisador:
Olha o nosso estádio aqui, Apresentando um gramado. Pesquisador: Vamos jogar
bola então? A interventora joga a bola. E todos saem correndo atrás da bola,
meninos e meninas. Pesquisador: Vamos jogar bola então. Todo mundo corre atrás
da bola, trombando nos amigos. Pesquisador pega a bola. Pesquisador: Quem é o
Neymar? Todos os meninos levantam a mão. Pesquisador: Quem quer ser
a Marta? Todas as meninas levantam a mão. Pesquisador: Eu quero ser a
Marta. Eu posso ser a Marta. Maioria: Não. Pesquisador: Mas eu vou ser a
Marta. As crianças dão risada. Pesquisador: Então, vamos jogar. Tem um cano
ao longo do campo. A bola vai em direção a esse cano. Pesquisador: Aí é fora.
Cristian pega a bola e lança por cima da cabeça. Pesquisador: Isso, cobra lateral.
Todos saem correndo atrás da bola. Algumas meninas ficam olhando distante da
bola. Pesquisador: Cadê as martas? As meninas tentam ir em direção da bola.
Mas ficam com receio, pois todos os meninos estão correndo atrás da bola. A bola
vai em direção ao cano novamente. Cristian: A bola saiu. Pesquisador: Saiu, aí é
fora. Charlie sai correndo para pegar a bola, enquanto as outras crianças esperam.
Pesquisador: Traz para o campo. Em um outro momento de intervenção.
Pesquisador: Agora precisamos ficar quietinhos para assistir o desenho. Desenho
do Chaves sobre uma partida de futebol. Pesquisador: Todos vão ficar quietinhos
para assistir o desenho. Todos: Sim. Pesquisador: Vamos lá, vou soltar o desenho
então. Todas as crianças assistem o desenho, com os olhos fixos na tela.
Pesquisador: Gente, ó, fica no lugar ainda. Vou fazer uma pergunta para vocês,
vamos ver se vocês prestaram atenção no desenho. Pesquisador: Quero que
vocês respondem quem é essa pessoa que estava no desenho?
(apresenta uma folha com um desenho). Todos: o jogador de bola.
Pesquisador: É o? Vozes aleatórias: futebol, é o jogador. E esse?
Pesquisador: é a jogadora de. Todos: Futebol. Pesquisador: Então
menino e menina podem jogar futebol? Todos: Siim. Pesquisador: E esses?
Quem são esses gente? Vozes aleatórias: Torcida. Pesquisador: o que a torcida
faz? Voz aleatória: Torce. Pesquisador: E como que ela torce? Vamos torceer.
Todos: Eeeeeeee, levantando os braços. Pesquisador: Comemora quando sai um
gol, saiu um gol, como vamos comemorar? Todos: Levantaram os braços e
gritaram: EEEEEEE Pesquisador: E esse? Jorge quero que você descobre qual é
esse? Jorge: Juiz. Charlie: Juiz. Todos: Juiz. Pesquisador: O que o Juiz faz? Voz
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aleatória: Dá cartão, apita. Pesquisador: Ele apita o jogo, ele que controla as
regras do jogo. Pesquisador: E essse? Todos: vendedor. Pesquisador: É o
Página
vendedor de? Todos: Sorvete. Pesquisador: Tem vendedor de sorvete dentro do
estádio. Maioria: Não. Pesquisador: Tem sim, vocês não viram o Kiko comprando
sorvete dentro do estádio. Todos: Sim. Pesquisador: Quem vendeu o sorvete para
ele? Todos: O vendedor de sorvete. Pesquisador: Isso, o sorveteiro, vendendor de
sorvetes. E... o que é isso aqui? Maioria: Estádio. Pesquisador: É o estádio, onde o
jogador joga, a jogadora joga. É onde o Juiz apita. Intervenção onze -
Pesquisador: Sabe o que nós vamos fazer agora? Maioria: Brincar? Pesquisador:
Nós vamos visitar um estádio de futebol; Todos as crianças ficam felizes, pulando
de alegria. Pesquisador: Vamos fazer a fila. Todas as crianças organizam a fila.
Pesquisador: Gente, gente vamos lá: Estádioo. Todos: Estádioooooo.
Pesquisador: Para entrar no estádio, o que precisa fazer? ...Pagar a?
Entrada para o bilheteiro (pesquisador se finge de bilheteiro)
Pesquisador: Sabe como que paga a entrada? (antes do Pesquisador falar,
Jorge já vai e o abraça) Com abraço. Quem me der um abraço pode entrar. As
crianças abraçam o pesquisador e correm para a quadra. Pesquisador: Vamos todo
mundo para a arquibancada, vem todo aqui. Todas as crainças correm para a
arquibancada. Pesquisador: Agora que estamos na torcida, vamos torcer. Todas
as crainças levantam as mãos e gritam: AEEEEE, BRASIIIL, BRASIIIL. Pesquisador:
Olha o que têm no estádio? Tem o jogador e a Jogadora, tem o que mais?
Pesquisador: A torcida. João grita: Juiz. Pesquisador: Tem o Juiz e têm o
vendedor de sorvete. Quem vai se o jogador? Maioria levanta a mão. Pesquisador:
E as jogadoras? A maioria das meninas levantam a mão, e todos que querem ser
jogadores correm para fazer uma fila à frente do Pesquisador.Pesquisador: Quem
vai ser torcida, nem todos podem ser jogadores. Algumas crianças vão para a
arquibancada. Pesquisador: Quem vai ser o vendedor de sorvete? Duas crianças
levantam a mão. Pesquisador: Quem vai ser a marta? As meninas levantam a mão.
Pesquisador: Quem vai ser o Neymar? Os meninos levantam a mão. Pesquisador:
Vai vem cá, os jogadores. Um pouco para esse lado, um pouco para outro lado.
Pesquisador: Quem vai ser o goleiro? Vai lá Jorge, ser o goleiro. Há cerca de 5
meninas e 6 meninos para brincarem de jogar futebol. Pesquisador: Pesquisador
fica com a bola nas mãos, as crianças ficam esperando ele soltar, todas ficam com
olhos fixos olhando para as mãos do Pesquisador à espera dele soltar a bola.
Pesquisador: Cadê a torcida? A torcida grita: EEEEEEE. E o pesquisador solta a
bola e uma menina grita que é a Marta. Todas as crianças saem correndo atrás da
bola, aglomerando-se tudo em cima da bola. Pesquisador: Bola é do goleiro.
Pesquisador diz que vai ser o Juiz. E o goleiro pega a bola na mão. Pesquisador:
Pode soltar a bola goleiro, solta a bola. O goleiro joga a bola para frente e a Clara
sai correndo dominando a bola e todas as crianças correm atrás da bola.
Pesquisador: Dá a bola para o goleiro, eu sou o juiz agora. As crianças entregam a
bola para o goleiro e em seguida ele solta chutando a bola para frente. Todos
saem correndo atrás da bola, do gol à outro Gol. João domina a bola e direciona
190
para o gol, até que o goleiro vai pegar a bola na mão, João chuta a bola para
dentro do Gol e grita Cristiano Ronaldoooo. Interventor: Foi falta, o João chutou a
Página
bola que estava na mão do goleiro. Foi cobrado a falta. Pesquisador: Juiz apitou,
Intervalo de jogo. Interventora: Senta lá todo mundo de novo. É o seguinte,
Interventor fica em pé aqui do meu lado. Interventora: Eu vou fazer uma
pergunta, presta bastante atenção. Quem quer ser torcedor levanta a mão? Três
crianças levantaram a mão. Interventora: Sabe porquê? Dá para brincar de tudo,
quem quer ser torcedor,será um pouco, depois será jogador . Nós vamos trocando.
Interventora: Quem quer ser torcedor vem aqui com o interventor. Nisso foram
nove crianças com o interventor. Interventora: Agora eu preciso de duas pessoas
para ser vendedor. Quem quer ser vendedor? Duas crianças levantam o braço e
junto com o pesquisador começam a fazer de conta que estão fabrincado o sorvete
para ser vendido. Uma aluna se torna a vendedora e o pesquisador e outro aluno
são os ajudantes. Pesquisador: Ai, Gustavo está entregando o sorvete...
Pesquisador: a Sophia está entregando, e eles estão pagando com abraço...
Interventor: quero sorvete. Pesquisador: Quer do que, Pesquisador? interventor:
chocolate. Criança: chocolate. Pesquisador: ele quer de chocolate, entrega um de
chocolate. Interventor: Obrigado! Me dá um abraço... pesquisador: Isso, dá um
abraço. Interventora: Pesquisador o jogo vai começar. Pesquisador: Ta, a torcida
está comprando sorvetes. Agora a gente vai ser torcida junto com vocês.
Pesquisador: Vamos torcer agora?? Crianças: Vamos!! Pesquisador: Brasil!!
Crianças: Brasil! Brasil! Brasil! Brasil... Pesquisador: vem torcer... vem torcer!
(falando com outras crianças). Pesquisador e crianças: Brasil! Brasil... Gustavo:
agora eu vou jogar bola. Pesquisador: óh, o Gustavo quer ser jogador agora, prô!
Gustavo: quem vai ser juiz? Pesquisador: hã? ... Vamos fazer a “ola” agora, vocês
lembram da “ola”? Vai, vai, vai... Oooooh (fazendo a “ola” com as crianças)...
Aee!!! Vai, de novo vai...1 2 3 eee ooooh (novamente fazendo a “ola”)... Aee!!
Agora precisamos fazer dois times de futebol. Interventora: Agora temos nove
crianças e precisamos fazer dois times. Interventora: Vamos lá, hein. E ela solta a
bola. Com um time reduzido, as crianças correm atrás da bola, direcionando ela
para o Gol. 3 meninas e 4 meninos são os jogadores. Durante a partida, parece-
me que o centro da atenção está em reproduzir o papel do jogador assumido do
que de fato jogar a bola, pois eles fazem os barulhos de como se estivessem
jogando, gritam o nome dos jogadores que assumiram. Alguns nem utilizam a bola
do jogo. Realizam a atividade como se estivessem fazendo movimentos de uma
partida de futebol fingindo estar com uma bola. O goleiro pega a bola e joga para
frente. Todas as crianças correm atrás da bola e direciona para o outro gol. Ao
chutar dentro do Gol, tem cinco crianças como goleiro dentro do Gol. No Gol
oposto tem quatro crianças. As crianças correm atrás da bola, ao domina-la e
correr com ele em direção ao gol. Pesquisador: Apita, Final de Jogo. Pesquisador:
Vem todo mundo aqui na torcida de novo. Todas as crianças correm para
arquibancada. Pesquisador: Quem gostou de brincar no estádio levanta a mão?
Todos levantam a mão. Pesquisador: Quem foi jogador de futebol levanta a mão.
191
mas tá demorando”. A interventora então fala para elas que em outro espaço da
sala onde outras meninas estavam brincando de hospital, que lá tem médico para
Página
elas levarem a filhinha. Cristina chama a Amy que é a médica e diz “ela morreu” (a
boneca filhinha) e Cristina sai dizendo que então não tem mais jeito. Ana continua
dizendo que vai deixar a filha no hospital para ela melhorar. As atividades que
estão ocorrendo neste momento são o futebol com cerca de 5 meninos, dois
grupos de meninas brincando de casinhas, três meninos brincando de corpo de
bombeiro e 4 meninas brincando de hospital. Interventor está participando da
brincadeira de hospital e a médica começa a fazer exames nele. Primeiro na boca e
depois começa a tocar a barriga dele. A médica pega um pedaço de madeira fina,
palito de churrasquinho e coloca no braço dele como se fosse uma seringa
aplicando remédio, ele finge que está doendo e uma outra paciente o abraça
dizendo que já ia parar de doer. Intervenção quatro - Pesquisador: agora que
conheceram o bombeiro, irão ver a próxima profissão e mostra o
desenho. Crianças respondem que é o médico. Pesquisador: O que o
médico faz? Crianças: Cuida das pessoas, dá remédio, cura as pessoas,
da injeção, tira o bebê (Pesquisador incentivando e questionando);
Jorge: Eu sei, ele cuida de filhotes. Pesquisador: Isso, tem um médico só
de animais e esse chama-se veterinário. Pesquisador: E o que mais o
médico faz? Além de tudo isso que já falaram? Crianças: Examina, cura
crianças. Pesquisador: Isso, muito bem... e ele faz exames? Crianças: Faz
raio-x. Crianças: Isso, tira o sangue... Pesquisador: Muito bem!! E médico
pode ser mulher também? Crianças respondem que sim!! Pesquisador: E
agora vamos ver o vídeo sobre o médico. Pesquisador: Enquanto veem o vídeo
pergunta o que o médico receitou para a moça... Criança responde: fruta e
Pesquisador explica que é sal de fruta, um remédio que ajuda a melhorar dor de
estômago. Eles prestam muita atenção no desenho. Pesquisador: Então, o que
médico faz mesmo? Crianças retomam: cura, faz exame, da vacina,
examina, faz curativo. Pesquisador: E o médico é legal também? Ajuda
bastante a gente? Crianças respondem que sim. Intervenção cinco - Um
grupo de meninas brinca de médico. Interventor pergunta quem é a
médica... uma aluna responde ser ela e finge estar fazendo um curativo.
Sempre é a mesma aluna que assume o papel de médica. Há cerca de
sete alunas que estão na atividade e a médica afirma que todas elas são
pacientes. Interventor pergunta porque ela sempre brinca de médica.
Aluna: Porque ganha muito dinheiro. Interventora se junta ao grupo de
crianças que estão brincando de médico. Organiza, dizendo que algumas serão
médicas e outras pacientes. E as médicas começam a atender os pacientes. Depois
invertem na organização dos papéis. Gustavo é médico e examina a colega e
começam a brincadeira, fazem curativos, fazem exames. Interventor junta-se as
crianças que estão brincando de médico e propõe fazer exame no Charlie que já
estava com um curativo no braço e explica que antes de colocar o curativo tem
que fazer exame, a médica pega o telefone e finge ser a máquina de exame. E faz
193
curativo no braço, depois diz que precisa ficar em repouso e ir buscar comida com
o cozinheiro para ficar forte de novo. João também diz que sofreu uma falta no
Página
futebol e é atendido por outra médica, como o interventor havia feito. Interventora
orienta que sempre que alguém sofrer uma falta forte, tem que levar para o
hospital. Pesquisador está brincando de médico e Gustavo diz que ele terá que
pagar pelo exame que fez. E Pesquisador pergunta se podem fazer caridade,
e crianças dizem que sim. Depois Pesquisador explica que fazer caridade
é quando não precisa pagar, porque faz pra ajudar, não pra receber
dinheiro de volta. As crianças dizem que precisa pagar, Pesquisador diz que
está muito caro e crianças dizem que não precisará. Jorge vai até o hospital,
Charlie que é o médico pergunta o que aconteceu, Jorge explica que ele estava
andando e caiu e quebrou a perna. O médico pega o telefone fingindo ser a
máquina de exame e começa a examinar o joelho. As duas brincadeiras que
continuam a serem realizadas são a de partida de futebol e de hospital e elas
mantém uma relação de quem machuca no jogo vai ao hospital para ser
examinado e cuidado. O interventor participando da atividade e duas crianças
caem no chão como se estivessem se machucado, eles dizem que são o Neymar e
o Cristiano Ronaldo. O interventor começa a chamar os médicos e eles pegam
essas crianças e colocam em cima de duas cadeiras como se fosse uma maca para
que fossem examinados. Interventor pergunta se ele está bem, se está muito
doentinho e ele balança a cabeça dizendo que sim. Crianças que brincam de
médico: fingem que uma quebrou a perna e a médica ajuda a engessar.
Interventora pega uma vassoura e diz que ia limpar o hospital para que ficasse
limpinho, uma aluna finge estar com uma vassoura e começa a varrer o chão
também. Pesquisador retoma a profissão médico e pergunta quem brincou. As
crianças levantam a mão e dizem o que fizeram: curativo, passou remédio, ajudou
o jogador. Disseram que usaram o telefone para marcar médico e fizeram exames.
Pesquisador pergunta o que é mais importante em ser médico, ganhar dinheiro, ou
cuidar das pessoas? Todos respondem que é cuidar das pessoas. Intervenção seis
- Pesquisador: Vocês gostam de dançar? Todos: Sim. Pesquisador: Então todo
mundo de pé, vai. Interventora: Eu vou aqui na frente, hein! Pesquisador: É para
vocês acompanharem, tá? Jorge: Eu vou ficar em fileira. E eles se organizam em
duas fileiras. Interventora: Olha, vamos prestar atenção na música para dançar.
Pesquisador: Mas tem uma coisa, no final do vídeo vocês terão que descobrir qual
profissão que é. Combinado? Todos: Sim. Interventora organiza todas as crianças
atrás dela, e fala: “Ninguém pode passar dessa linha”. Delimitando o espaço para a
dança. Pesquisador: Solta o vídeo e todos começam a dançar, olhando a
Pesquisador e o vídeo ao mesmo tempo e tentam reproduzir os movimentos.
Gustavo fica de braços cruzados e não dança, o pesquisador vai até ele e
pergunta por que ele não está dançando. Gustavo: Homem não dança.
Interventor afirma que sim, que homem dança e ele pode dançar
também e ele começa a dançar. Ao final da música. Jorge: Eu sei é de médica.
Pesquisador: Qual é a primeira profissão? Jorge: Eu sei é de médica Todos:
194
desvelados em relação a uma prática pedagógica com a brincadeira de papéis sociais que
caminhe no sentido do enfrentamento da alienação social capitalista, ou seja, em uma
Página
direção humanizadora. Identificamos que os pressupostos da prática pedagógica
histórico-crítica quando assumidos e efetivados em um processo interventivo com a
brincadeira na pré-escola, contribuem com o enfrentamento da alienação social em três
âmbitos, quais sejam, primeiro, na ampliação da gama de possibilidades temáticas a
serem trabalhadas com as crianças quando da construção dos motivos que levam à
realização desta atividade, tirando-as dos limites impostos pela sua cotidianeidade,
sobretudo quanto a limitação de modelos de relações sociais à serem utilizados por elas
como forma de representação.
Segundo, também quando da construção do motivos que levam à brincadeira, tais
pressupostos pedagógicos mencionados, contribuem com a construção dos conteúdos
dos modelos de relações sociais pautados em significados os mais qualitativos,
superando apreensões tendencialmente alienadas e alienantes que subjazem as
atividades na sociedade capitalista e sintetizadas em relações sociais empobrecidas e
relegadas à fragmentação quanto ao verdadeiro papel das funções sociais humanas;
funções essas necessárias à manutenção de qualquer estrutura societária.
Terceiro, verifica-se que tendências humanizadoras, isto é, colocadas
contraditoriamente àquelas tendências alienadas e alienantes já apresentadas
anteriormente, e que podem ser expressas a partir de conteúdos humano-genéricos
como cooperação, amizade, superação da individualidade e enaltecimento do trabalho
em grupo, respeito, equidade, igualdade e diálogo, são colocadas como possibilidades de
reconstrução pelas crianças, nas brincadeiras de papéis sociais, isso, quando da
realização desta atividade, ocorrerem processos interventivos dos professores a partir de
ações ludo-pedagógicas conscientes e contrárias às tendências alienadas e alienantes,
contribuindo com a construção da consciência das crianças em uma direção
humanizadora.
Assim sendo, tendo como base os cinco momentos da prática pedagógica
histórico-crítica, ficou evidente o quanto tal prática contribui, de fato, para a ascensão de
um conhecimento embasado no contidiano em-si à um que esteja em um patamar mais
196
199
Página
4 A ATIVIDADE DE BRINCAR NA PRÉ-ESCOLA: POSSIBILIDADES DE
ORGANIZAÇÃO E EFETIVAÇÃO DO ENSINO DA BRINCADEIRA DE PAPÉIS
SOCIAIS EM UMA DIREÇÃO HUMANIZADORA
CENA UM: Evolução dos temas e conteúdos das brincadeiras a partir da prática
social tomada em seu ponto de partida e chegada.
com ele, apontando para um amiguinho de sala”. Pesquisador colocou uma caixa
colorida fechada no meio do círculo com um chapéu de cowboy em cima. Uma
Página
criança levantou para pegar o chapéu. Pesquisador disse para se acalmarem e se
sentarem nos seus lugares para ele explicar a atividade. Eles pareceram ansiosos.
Interventora: Já que todo mundo gosta de brincar aqui, o que a gente vai fazer
hoje? Uma criança disse que iriam brincar de cowboy, pois tinha um chapéu em
cima da caixa. Pesquisador disse que poderiam brincar do que eles quisessem,
porém, haviam algumas regras que eles deveriam respeitar. Pesquisador: Eu e a
pro (Interventora) trouxemos algumas coisas para vocês brincarem. Uma criança
levantou no centro da roda e disse que queria brincar de cavalinho e começou a
brincar como se estivesse montado em um cavalo imaginário. Pesquisador: A
gente quer que vocês brinquem com as coisas que a gente trouxe, que nem vocês
brincam com os brinquedos que vocês trazem para a escola. Mas tem as regras
que vocês têm que respeitar, vocês lembram quais as regrinhas? Uma criança vai
até o meio da roda e diz: Mas tem que brincar sem brigar - Pesquisador: Então
antes da gente começar, vamos entender as regrinhas, a primeira já foi falada,
qual é? Crianças: Brigar. Uma criança fala “não mexer nos computadores” (pois
estávamos realizando a atividade na sala de computação da escola). Pesquisador a
parabeniza e enfatiza essa regra a todos os alunos. Os próprios alunos iam falando
e o Pesquisador enfatizando, não pode xingar, não estragar os brinquedos e nem
chutar eles. - Interventora: “Pesquisador (Pesquisador), a gente pode inventar
brincadeira? Pode usar quantos brinquedos quiser da caixa? Pesquisador responde
que sim. Pesquisador pegou a caixa e perguntou: “vamos ver o que tem aqui
dentro?” - Todas as crianças saíram dos seus lugares na roda e correram para
olhar o que tinha dentro da caixa e começaram a pegar os brinquedos de forma
desordenada e empurrando um a outro. Pesquisador: “Voltem para os seus
lugares, voltem, voltem” - Interventora: “Mas vocês disseram que não pode
empurrar?” Interventora: “Vamos fazer uma brincadeira? Quando o Pesquisador
colocar a caixa no centro da roda, vamos brincar de estátua, ninguém pode sair do
seu lugar.” Pesquisador colocou a caixa no centro da roda e começou a tirar os
brinquedos da caixa e colocá-los no chão. Pesquisador: “Olha o tanto de coisa na
caixa”. Algumas crianças se aproximaram para ver os brinquedos. Uma criança
pegou o brinquedo e ficou olhando. Pesquisador: “Voltem para os seus lugares, é
pra ficar brincando agora?” - As crianças responderam que não. Pesquisador diz:
Vamos brincar, então? E eles começam a pegar os brinquedos. Interventor enfatiza
que é para dividir os brinquedos. As crianças começaram a brincar com os
brinquedos da caixa pela sala de informática. Duas crianças pegam uma bolinha de
tênis e dizem que estão brincando de jogar futebol. Pesquisador pergunta que
jogador eles são, um dos alunos responde que é o Neymar. Durante um momento
eles param de focar na bolinha e começam a chutar uma bola imaginária, depois
começam a chutar as pernas um do outro. Um outro aluno coloca um óculos
escuro e diz que vai brincar de espião. Dois alunos pegam dois violões em
miniatura começam a fazer de conta que estão tocando e falam que são cantores
207
sertanejo, ambos estão com chapéus de cowboy. As meninas sentam todas juntas
em roda, enquanto os meninos todos estão em pé realizando atividades que,
Página
aparentemente, são mais dinâmicas. Um aluno está com um chapéu e uma lupa de
brinquedos e diz que é um detetive, contudo não apresenta características de que
está de fato realizando o papel. Interventora chega na roda das meninas e
pergunta do que elas estão brincando, elas dizem que é de salão de beleza. Uma
menina está em pé e fica pegando materiais coloridos e começa a enfeitar as
outras meninas que estão sentadas, à princípio, parece que ela é a dona do salão
e as outras são clientes. A interventora começa a brincar com elas e começa a ser
enfeitada. (essa atividade já dura cerca de 12 minutos da intervenção). Depois elas
começam a se dispersar. Uma criança pega um chapéu de cowboy e começa a
realizar movimentos como se estivesse montando um boi. Uma menina pega o
telefone que levamos e começa a falar nele como se fosse uma secretária e fica
durante um bom tempo no telefone. Um menino pega as serpentinas que as
meninas estavam usando para se enfeitar no salão de beleza e começa a andar
fazendo movimentos como se estivesse rebolando, quando um outro menino
aponta pra ele e dá risada, então ele tira rapidamente a serpentina e as joga no
chão, parando o que estava fazendo. Há um aluno que fica durante toda a
intervenção brincando de carrinho. Enquanto dois alunos meninos ficam durante
toda a intervenção brincando de futebol. Parece-me que o interesse maior está no
papel de ser Neymar e Messi do que de fato chutar ou jogar a bola, pois o jogo se
dá de forma aleatória e eles conversam o tempo todo como se fossem tais
jogadores. Durante um momento da aula o Pesquisador chega até a aluna que
está com o telefone e começa a conversar com ela sobre o que ela estava
brincando (secretária). Quando começam a chegar outras alunas. Aí elas dizem
que vão brincar de escola. A mesma aluna que era secretária começa a organizar
as outras três meninas para que elas se sentassem no chão e depois pega uma
cadeira para ficar mais alto que elas afirmando que será a professora, mas a
brincadeira acaba rapidamente. Depois a mesma menina (secretária e professora),
diz que vai brincar de médico e começa a ajeitar a cadeira para que uma outra
menina (sua paciente) deite e ela possa “atendê-la” e começa colocar a mão na
cabeça da amiga medindo a febre, mas logo a atividade também acaba. Duas
meninas começam a brincar de casinha cuidando de duas bonecas como se fossem
suas filhas. Dizem que as cadeiras da sala são o berço das crianças, mas a
brincadeira não se dá de forma efetiva, pois a todo momento elas se dispersam
para olhar os outros amigos e parecem mais tentar organizar os brinquedos a
serem utilizados do que de fato brincar de casinha. Dois meninos e uma menina
acham um material que dá para tapar os olhos e começam a brincar de cabra-
cega, mas sem respeitar, de fato, as regras da atividade. A menina está com os
olhos tapados. As crianças demonstram muita dificuldade em brincarem de forma
conjunta, sobretudo para dividir os brinquedos durante a brincadeira, chegando,
em alguns momentos, a brigarem pelo material. Chegando ao fim da intervenção
quase metade dos alunos já estão sentadas nas cadeiras da sala sem realizar
208
que é a mamãe e Ana é a filha. Joaquim está com o telefone na mão e diz que
está falando com a mãe dele. Cerca de 6 meninos continuam brincando com a
Página
bolinha de tênis simulando estarem jogando futebol. Fernando está com o chapéu
de cowboy e com o violão e diz que está brincando de cowboy e que o violão é
uma chave de fenda e que ele ia arrumar as coisas. Romulo está novamente
brincando de carrinho (mesma coisa da aula anterior). As meninas estão com as
serpentinas no pescoço, como se estivessem arrumadas e uma delas está com a
lupa na mão e diz que está brincando de detetive e que está tentando achar uma
formiga. Uma criança queria brincar com um brinquedo que o outro estava
brincando (Um carrinho) e a outro brigou dizendo que não queria dividir.
Interventora disse que o brinquedo pode ser dividido e não precisa brigar por isso.
Algumas meninas começaram a brincar de família, mamãe e filhinhas com as
bonecas usando as cadeiras como se fosse o berço. Ana dá um nome para a
boneca que é sua filhinha, mas no vídeo não dá para ouvir qual era. Duas
detetives chamam a Interventora, que está com a câmera de vídeo e mostram que
acharam uma formiga morta. Cristina e Ana continuam a brincar de mamãe e
filhinha, mas agora estão embaixo das cadeiras e afirmam que ali é a casinha
delas. Na casa tem as bonecas, filhinhas que estão dormindo, um violão, um
chapéu de cowboy e elas começam a enfeitar a casinha com as serpentinas.
Romulo, Joaquim e Gustavo estão com o telefone e tratores em miniatura e dizem
que estão brincando de sítio. Gustavo fica no telefone recebendo ligações de
pedidos de comida e Joaquim e Romulo brincam com os tratores como se
estivessem em uma colheita. De uma hora para outra Gustavo diz “estou ligando
para a mãe dele. Interventora pergunta, “Por que?”, Gustavo diz: Porque o Romulo
quer falar com ela. Gustavo passa o telefone para Romulo que começa a conversar
como se estivesse mesmo falando com a própria mãe e Gustavo começa a dar
risada. Cerca de 5 meninos ainda continuam com a bola de futebol. Interventora
pergunta para o Cristian do que eles estão brincando e ele fala “de futebol”.
Interventora pergunta quem é seu time e ele “Atlético Mineiro”. Amy pega a lupa e
outras três meninas estão sentadas nas cadeiras como se fossem pacientes, ela
afirma para a interventora que está brincando de médica e começa a fazer de
conta que está examinando suas pacientes. Coloca uma das pacientes deitada,
juntando mais cadeiras como se fosse uma maca. Cristina e Ana continuam a
brincar de casinha embaixo das cadeiras e chamam a interventora para ver como a
casa estava enfeitada com as serpentinas. Fernando ainda continua com o chapéu,
um óculos escuro e usa o violão como se fosse uma arma agora. E finge estar
atirando nas pessoas. Interventora pergunta o que ele está fazendo e ele afirma
“matando pessoas”. Romulo e Gustavo continuam com o telefone e dizem que
agora estão brincando de corpo de bombeiro. Romulo está com o telefone e finge
estar recebendo chamadas de emergência. João e Jorge continuam a jogar futebol
e afirmam ao interventor que são o Neymar, quando Jorge diz que também é o
Neymar, João fica triste. Cristian começa a falar que tem também é o Messi. Ana e
Cristina continuam a brincar de mamãe e filhinha, só que agora uma boneca é a
211
filha. Interventora pergunta se está tudo bem e Ana responde “está tudo bem”.
Logo após fala “mas teve um tubarão que mordeu minha filhinha” a interventora
Página
pergunta se ela já levou sua filha ao médico e ela “sim, mas tá demorando”. A
interventora então fala para elas que em outro espaço da sala onde outras
meninas estavam brincando de hospital, que lá tem médico para elas levarem a
filhinha. Cristina chama a Amy que é a médica e diz “ela morreu” (a boneca
filhinha) e Amy sai dizendo que então não tem mais jeito. Ana continua dizendo
que vai deixar a filha no hospital para ela melhorar. As atividades que estão
ocorrendo neste momento são o futebol com cerca de 5 meninos, dois grupos de
meninas brincando de casinhas, três meninos brincando de corpo de bombeiro e 4
meninas brincando de hospital. Todos estão participando. Interventora pergunta
para os meninos que estão brincando de corpo de bombeiro se eles estão
recebendo muitas chamadas, Gustavo responde que “sim, estamos trabalhando
muito”, logo após pega o telefone e começa a fingir que está conversando,
recebendo uma chamada para resgate. Pesquisador está participando da
brincadeira de hospital e a médica Amy começa a fazer exames nele. Primeiro na
boca e depois começa a tocar a barriga dele. A médica pega um pedaço de
madeira fina, palito de churrasquinho e coloca no braço dele como se fosse uma
seringa aplicando remédio, ele finge que está doendo e uma outra paciente o
abraça dizendo que já ia parar de doer. Depois pede para o paciente interventor
abrir os olhos para que fosse examinado e novamente a boca. Agora, no jogo de
futebol, Cristian finge dar um carrinho em João que cai como se tivesse se
machucado. Miguel finge ser árbitro e aplica várias vezes o cartão apontando para
ele dizendo “expulso”. Cristian coloca a mão no rosto como se estivesse
decepcionado e diz “nãoooo”. Cristian que foi expulso vai se sentar numa cadeira
como se fosse o banco de reserva. Duas meninas estão sentadas na sala de espera
e dizem que demora muito para serem atendidas (no hospital). Fernando agora
vira matador de zumbi, ainda usando o violão como arma. Ana diz que agora está
brincando de médico, interventora pergunta se ela está esperando para ser
atendida e ela diz que não, “eu sou a gata da Amy” (a médica). Charlie, Romulo e
Gustavo entram embaixo das carteiras e dizem estar brincando ainda de corpo de
bombeiro, contudo Charlie fala para interventora quando ela pergunta quem eles
são “Eu sou o papai, o Romulo é meu filho e o Gustavo é o cachorro” e o mesmo
começa a latir como um cão. Pesquisador: “Agora é hora de?” As crianças
responderam: “Guardar!!!” Todas as crianças começaram a guardar os brinquedos
dentro da caixa. Pesquisador: “Todos guardando as coisas dentro da caixa, agora
quero ver o círculo de novo, vou fechar o olho, cadê o círculo?”. As crianças
começaram a gritar e correr para formarem o círculo. Pesquisador: “Quem gostou
das atividades de hoje?”. Todas as crianças levantaram a mão e gritaram “EEEU”.
Pesquisador: “Por que que gostaram?”. Criança: Porque a gente brincou.
Pesquisador: “Brincou do que?”. Criança: De médico. Criança: de Futebol. Criança:
de família, tia, mãe, irmão, filha, pai. Criança: Eu era o Cristiano Ronaldo no
futebol. Criança: Eu era o Neymar. Criança: Eu era o Kazin do Corinthians.
212
sim?! Olha, tem uma surpresa muito boa para vocês... Vocês vão brincar
agora, espera ai, o Pesquisador já vai falar! (suspense)... Vocês lembram
Página
da nossa caixa da surpresa? Crianças: sim! Não! Renan: é da prô
(interventora). Pesquisador: isso, é da prô (interventora), sabe demais
hein! Olha, alguns combinados antes de eu abrir a caixa da surpresa.
Criança; não brigar! Pesquisador: pode brigar? Crianças: Não!
Pesquisador: é pra emprestar o brinquedo para o amigo? Crianças: sim!
Pesquisador: é Gustavo? É Joaquim? É né! Gustavo: sim. Pesquisador:
então tá bom! Vamos abrir a caixa da surpresa! Podem brincar! Espera aí
que o Pesquisador vai virar no chão, calma aí, espera! Vocês podem
brincar do que vocês quiserem! Criança: eu sou o Neymar! Pesquisador:
ela tá brincando de fazer sorvete. Hana, você tá brincando de cozinha?
Cristina: Hana, não! Pesquisador: Cristina! Você tá brincado do que,
Cristina? Cristina: comidinha. Pesquisador: tá brincando do que, Jorge?
Jorge: de construir o campo de futebol. Pesquisador: que legal! Quem
vocês são? Cristian: eu sou o Neymar. Pesquisador: quem mais é
Neymar? O Romulo... Messi? Crianças: eu sou o neymar, eu sou o
neymar. João: Cristiano Ronaldo. Ana: eu sou a Marta. Pesquisador:
quem que é a professora? Criança: a Clara. Crianças: eu... Pesquisador:
tem três professores? Que legal! Ai que cabelereira mais linda. Criança:
Pesquisador, Pesquisador, Pesquisador, dá o passe, dá o passe.
Pesquisador: aí parceiro, toca pra mim. Eita! Tirou a bola. Gustavo, o que
você é? Gustavo: eu estou brincando de carrinho. Pesquisador: você é
motorista? E essa luva aqui, é de pilota! Que luva bonita! Toca pra mim
parceiro, é eu e você, parceiro! Tá falando com quem? Eu preciso falar
com o médico, eu tô doente! Criança: oi, ele tá doente, tá? Pesquisador:
oi? Não entendi! Criança: médico, ele tá doente. Você tá com dor de
cabeça? Pesquisador: estou com dor de cabeça. Criança: ele tá com dor
de cabeça. Falando ao telefone. Pesquisador: você vai chamar o médico
pra mim? Criança: ele disse pra você marca uma sessão. Pesquisador:
marcar uma sessão pra mim? Criança: ele chegou. Pesquisador: é o
médico? Fala, médico. O que você é secretária?! Pode mexer. Vai médico,
me examina! Você que é a medica? Criança: eu sou. Pesquisador: sarou!
Criança: você tá enfermado. Pesquisador: hã? Criança: você tá
enfermado, pronto. Pesquisador: Que bom! O que você é Miguel?
Cristian, o que você é? Maitê: tô com dor de barriga. Pesquisador: o
médico, a Maitê tá com dor de barriga. É muita ou pouca dor? Ele tá
perguntando pra você, o que eu falo? Maitê: fala que tem que tomar um
remédio. Pesquisador: mas você tá com muita dor? Ela tá com muita dor,
ela quer tomar remédio. Maitê: remédio químico. Pesquisador: remédio
químico. Cadê o médico dela? Ela tá doente! Vai Cristian, ela precisa de
um remédio. Jorge: eu dou o remedinho. Pesquisador: o Jorge te deu
remédio. Agora tem que sarar! Jorge: tem que tomar 10 dias esse
215
vivências em-si que os alunos tinham fora da escola, além dos conteúdos estarem,
hegemonicamente, pautados em sentidos carregados das tendências alienadas e
Página
alienantes, citadas anteriormente. Já no fim do processo interventivo, pôde ser
observado uma ampliação em quantidade dos temas representados pelas crianças
durante as brincadeiras, além de uma evolução qualitativa quanto às significações que
elas demonstravam acerca dos significados presentes nos modelos de relações sociais,
apresentando características mais estáveis e pautados em tendências huanizadoras.
Desta forma, afirmamos que a intervenção contribuiu quanto a esse primeiro aspecto.
Mas para que isso ocorresse, foi necessário todo um conjunto de atividades, com
inúmeras ações ludo-pedagógicas que proporcionassem tal evolução.
B) Assim sendo, tendo em vista ações ludo-pedagógicos pautadas na utilização,
desde vídeos com imagens reais, desenhos, contação de história, até visita à lugares,
além da utilização de materiais impressos com imagens para ajudar no processo,
apresentaram-se como possibilidades de construção dos motivos/necessidades,
ampliação e complexificação dos sentidos pelas crianças das regras presentes em tais
modelos de relação – há que se considerar que cada uma das ações pedagógicas
utilizadas em tal construção apresentaram diferentes níveis de influência, pois, como
ficou evidente, a visita aos locais e a explicação pelo professor dos papéis sociais e seus
conteúdos referentes a tal espaço, tiveram uma representatividade muito maior do que a
utilização de desenhos em vídeo, por exemplo. Contudo, há que se levar em
consideração, também, que dentro dos limites e possibilidades que se colocam quanto às
questões de autorização para realização de visitas e manutenção da segurança das
crianças, a repetição quantitativa de momentos de vídeo com características qualitativas
acerca da exposição do tema e dos conteúdos, por exemplo, também é um fator de
importante construção desses motivos e necessidades que levam à brincadeira de papéis
sociais.
Como afirma Elkonin (1987, p. 92; tradução nossa),
35
Esclarecemos que não utilizávamos a caixa em todos os momentos interventivos, mas sim, os materiais
que haviam nela os quais achávamos conveniente utilizar na brincadeira proposta.
Página
Quanto a escolha dos espaços, a mesma era realizada levando em conta àquilo que
havíamos de possibilidades na escola: Sala de informática (Imagem B), Parquinho
(Imagem C) e quadra (Imagem D); Por último, em relação à organização do espaço,
utilizamos, basicamente, fitas adesivas para demarcarmos no chão os locais onde as
crianças brincariam de papéis sociais determinados (estratégia pedagógica), elementos
visuais como papéis impressos com o desenho do papel social a ser representado em
determinado espaço (Imagem E) e elementos sonoros como caixinha de som, ou,
durante todos os momentos a utilização do diálogo para manter a organização da
brincadeira.
Imagem 1
Imagem 4
36
Neste episódio traremos para análise àquelas intervenções as quais julgamos demonstrarem com maior
clareza a discussão analisada. Tendo em vista a quantidade de dados que poderíamos utilizar, julgamos
233
necessário esse recorte. Esclarecemos que não colocaremos em Negrito as partes mais importantes por
todas elas se mostrarem importantes para a análise desse episódio.
Página
objetos, de modo a fazer com que aquelas crianças que muitas vezes se colocam
em papéis centrais assumam papéis secundários e aquelas que se colocam em
papéis secundários, assumam, também, em determinados momentos, papéis
centrais. Acreditarmos que tal alternância se mostra fulcral quanto à condição de
interiorização dos significados das regras presentes nos modelos de relação social,
por nós construídos quando da intervenção dos motivos que levam a brincadeira,
por todas as crianças que faziam parte do processo interventivo. Além, também,
da possibilidade do professor atuar durante a brincadeira mediando as ações das
crianças de forma a construir possibilidades diferenciadas de desenvolvimento de
suas consciências, seja assumindo um papel lúdico da brincadeira, sendo atuando
enquanto orientador durante o processo, efetivando a apropriação e objetivação
pelas crianças de tendências humanizadoras.
Gustavo? Você está colocando para assar o pão? Oh Interventor, o Gustavo vai
colocar o pão dele para assar, deixa ele por, aí é o forno Gustavo? Tem que
Página
esperar, não tem? Vamos esperar o pão ficar pronto, então. Oh, vocês são muito
bonzinhos! Vocês me deram o pão sem eu precisar comprar. Gustavo: agora
compra! Pesquisador: não, eu não tenho dinheiro, eu sou pobre. Criança: tó,
dinheiro! Pesquisador: vocês estão me dando dinheiro? Para comprar o pão?
Criança: tó! Tó! Pesquisador: aah, brigado!! Crianças: tô...tô...tô. Pesquisador: um
monte de dinheiro para mim... um monte de dinheiro pra mim! Posso devolver
agora para vocês. Cadê o meu pão agora? Oh, e se ao invés de vocês me darem
dinheiro, eu tenho uma ideia... eu tenho uma ideia. Ana e Gustavo, eu tenho uma
ideia: eu posso comprar o pão dando um abraço? Posso pagar o pão dando um
abraço em vocês? Gustavo: tem que ter moeda também! Pesquisador: não, mas
eu só tenho um abraço para dar... Ana: mas eu te dei moeda. Pesquisador: ah não
Ana, aceita um abraço do Pesquisador? Ana: tá! Pesquisador: aceita!? Então vai,
eu vou comprar um pão com um abraço... dá um abraço. Aee!! Cadê meu pão
agora? Huum... que gostoso!! Gustavo: quer mais? Ana: você não deu um abraço!
Pesquisador: vem me dar um abraço para eu comprar o pão então! Pronto,
comprei três pães! Dei três abraços. Um... cadê o segundo? ... dois, e agora o do
Gustavo... huum (comendo os pães). Que gostoso!! Já enchi a barriga, agora
tenho que ir no cabelereiro. Três meninas e um menino finge que estão mexendo
os ingredientes no vasilhame. No cabeleiro... Interventor: você é cabeleireira?
Sophia: Eu sou. E pega o secador para secar o cabelo do menino. Interventor:
Quem vai cuidar do meu cabelo? Sophia Faz silêncio e continua mexendo no
cabelo, finalizando o penteado com o pente. Pesquisador e Interventor sentam na
cadeira para serem atendidos no salão. Três meninas e um menino mexe nos
cabelos dos inetrventores, passando o pente, secando o cabelo, fazendo a barba,
usando materiais simulados. Usam uma caneta como se fosse uma maquininha de
cortar o cabelo. Óh, quem falou que eu tinha que ir no cabelereiro? Quem vai
arrumar meu cabelo? Você é cabelereira? Criança ao fundo: Sou!! Pesquisador:
aaah, que legal! Então vai. Olha o secador aqui. Que gostoso mexendo no meu
cabelo... Interventor: estou gostando, podem continuar! Pesquisador: vocês estão
deixando bonito? Criança: tá!! Interventor: não quero ficar careca não, hein!
Cristian (cabeleireiro): tá careca! Interventor: careca não. Pesquisador: você tá
secando o meu cabelo? Cristian: já ficou careca! Criança: já secou... Pesquisador:
você também é cabelereiro? Interventor: cadê o meu cabelo?? Pesquisador: hein,
você é cabelereiro também? Criança: olha seu cabelo. Pesquisador: vocês estão
fazendo o que agora? Já acabou? Crianças: já! Criança: Cristina, sai! Pesquisador:
senta aqui no salão de espera, você fica para próxima, senta aqui. João: shampoo,
shampoo! Pesquisador: aqui é cadeira de espera, senta aqui, espera. João:
shampoo! Pesquisador: o João também é cabelereiro! Interventor: quantos
cabelereiros tem na minha cabeça? Crianças: vários! Pesquisador: que é isso que
vocês estão usando? Criança: cadê, eu preciso de... Pesquisador: o que é isso?
Criança: eu preciso de shampoo. Criança: cortador! Pesquisador: ah! É a
236
careca?! Criança: “não tem cabelo”. Criança: eu vou cantar uma música bonitinha
com ela. Pesquisador: ela tá cantando já! A Milene ta pedindo para você começar.
Página
Solta o som DJ! Ó, vocês vão ser Dj e eu vou dançar tá? Põem a música Dj, vai!
Olha elas tocando e eu tô dançando. Criança: eu tô cantando a música da Elsa!
Pesquisador: então canta vai, para eu dançar! Criança: “a neve...”! Pesquisador:
com o microfone ela tá cantando... vai, vai Hana. Vai Milene, canta! Vem, Charlie!
Vamos dançar eu e você que elas vão pôr a música! Vamos? Charlie: não quero.
Pesquisador: por que você não quer? Charlie: eu não vou dançar com você.
Pesquisador: então vai lá Dj, vai lá! Faz de conta que você é Dj, vai lá! Só um
pouquinho, por favor, ela tá pedindo! Ela tá querendo dividir com você. Então
deixa só um Dj só vai, vamos dançar! Vai, a gente vai dançar enquanto vocês
põem a música! Charlie: eu não sou... Pesquisador: hã? Charlie: eu não sou dj!
Pesquisador: por que você não é dj? Charlie: eu não quero. Pesquisador: você não
quer?! Ela (Milene) está oferecendo as coisas, mas ele não quer. Milene: tio, eu
quero tocar a música dos “cinco patinhos”. Pesquisador: dos cinco patinhos?! Vai,
o tio Interventor vai ser... ah, não precisa, chegou outro Dj, vem! Vamos dançar!
Criança: não quero. Pesquisador: mas você não falou que ia dançar comigo?
Criança: eu quero cortar meu cabelo. Pesquisador: depois você vai cortar o cabelo,
vem, vamos dançar. Solta a música Dj, canta Milene! Milene: eu não estou
ouvindo! Pesquisador: eu tô vai, faz de conta! Interventor: como tá alta a música,
você não tá ouvindo?! Pesquisador: a música tá alta, eu não estou nem ouvindo,
olha o Dj tocando! Que bonito o Dj tocando!Vocês estão tocando dj? A Milene tá
cantando? Ai que linda! Vamos dançar, vamos dançar, vamos dançar! Ai cansei!
Acabou a música dj? Acabou? Criança: acabou. Pesquisador: acabou?! Parou?! No
salão de cabelereiro tinham 9 crianças querendo mexer no cabelo apenas de uma
criança. O pesquisador estava ao lado, conversando. Pesquisador: Deixa um
pouquinho cada um. Pesquisador: Como vocês vão pagar o cabelereiro? As
crianças se abraçam. Pesquisador: Pagou com abraço? As duas crianças que se
abraçaram disseram: Sim. Você não quer cortar o cabelo agora? Vamos lá cortar o
cabelo. Ó, tem uma escova perdida aqui dos cabelereiros, todos! Agora alguns
começaram a brincar de pega-pega. Ó, a Hana vai cortar o cabelo agora! Eu sou o
ajudante do cabelereiro, vai! Cristian: cadê o shampo? cadê o shampo? cadê o
shampoo? Pesquisador: cadê o shampoo? Ali o shampoo, ó! Criança: ali o
shampoo! Pesquisador: isso! Gente, como que vocês vão pagar para o cabelereiro?
Criança: eu tenho mil reais. Pesquisador: você tem o que? Criança: mil reais.
Pesquisador: mas, sabe como que paga nesse cabelereiro? Criança: eu sei.
Pesquisador: com abraço! Criança: não! Não é não. Pesquisador: é sim, não é com
abraço que paga aqui? É água, é água! Tá bom, tá bom, já passou bastante!
Cristian: é água de verdade! Pesquisador: é creme. Olha como tá ficando bonito o
cabelo dele, e cheiroso. Ó, tá pronto, sabe como que paga aqui? Tem que ser com
abraço. Já acabou, agora eu sou o próximo. Ele vai ter que pagar vocês com
abraço! Pagou com abraço? Pagou com abraço? Criança: é! Pesquisador: tá
pagando com abraço também? Agora sou eu! Cristian: agora sou eu. Pesquisador:
238
aé, é ele! Agora é o Cristian. Criança: cadê o shampo? Cadê o shampo? Criança:
pode pôr mais água? Pesquisador: mas não, já acabou. Faz de conta que tem! Na
Página
padaria. Interventor pergunta se o pão já está pronto, Ana diz que só daqui 6
horas e continua fingindo estar colocando os ingredientes em uma vasilha, junto
com um auxiliar. Na parte do Dj, Hana pega um objeto e começa a fingir que é um
microfone dizendo ser uma cantora e que iria cantar. Começa então a fazer
movimentos com a boca, mas sem som, e começa a dançar como se estivesse se
apresentando. Interventor novamente na Padaria. Os alunos avisam que o pão
está pronto. Dão a vasilha para ele como se tivesse pão dentro, ele faz que vai
pegar com a mão, mas as crianças dizem que é para ele pegar com a colher. Uma
Aluna diz: To fazendo canjica, também, você quer? Outra aluna que se juntou a
brincadeira diz que vai fazer cupcake para o Pesquisador e ele finge estar
comendo, Ana diz para o Pesquisador: é para comer sentado. Duas meninas e um
menino estão brincando de padaria nesse momento. Interventor: Faz aquele
cupcake para a Pesquisador. É muito bom. Interventora: Chocolate, açucar...
Colocando os ingredientes no vasilhame. Pesquisador: Estátua. As crianças param
onde estavam. Pesquisador: Vamos fazer um círculo rapidinho. Pesquisador: eu
vou fechar o olho e quero todos sentados. Pode abrir o olho? Todos: não
Pesquisador: Vocês gostaram de brincar hoje? Todos: sim. Pesquisador: Do que
vocês brincaram? João: cabelereiro. Os demais: Cabelereiro. Pesquisador: Que
mais? Vozes aleatórias: Dj, padaria, nave. Pesquisador: Vocês gostaram de brincar.
Todos: Sim. Pesquisador: Vocês vão brincar mais ainda.
chutando uma bola. Pesquisador: Vamos voltar para o treem. Todos saem
correndo para voltar para o trem. Interventora: Agora quem vai pilotar o trem é a
Página
Milene. Milene qual é a próxima parada? Milene: Pizzaria. Pesquisador: Posso falar
uma ideia, e se a gente for na padaria. Vozes aleatórias: pizza, pizzaria.
Pesquisador: Vocês querem ir na pizzaria? Todos: Pizzariaaaaa. Milene: Piuuui tic
tac e finge dirigir o trem segurando cones redondos. Milene: Já chegamos na
pizzariaaa. Todos descem correndo, sentam na mesa e começam a comer a pizza
imaginaria. Pesquisador: Vou fazer a pizza, Pizza para você, pizza para você. E as
crianças começam a comer a pizzaa. Pesquisador: Me ajudem a fazer a pizza
agora. As crianças começam a fingir que estão amassando a massa junto com o
pesquisador. Pesquisador: Agora comam a pizza que vocês fizeram... e todos
fingem comer. Pesquisador: Já encheram a barriga? Todos: Sim. Pesquisador:
Então vamos voltar para o trem. Todos voltam para os seus lugares. Interventora:
Agora a maquinista será a Cristina. Para onde você vai levar a gente? Pesquisador:
Esse é o último lugar que a gente vai, então tem que ser especial. Interventora h:
E se a gente for em uma festa, onde tem DJ bem maneiro? Cristina: vamos a
festa. Cristina: PUIUUU TIC TAC. Todos: Piuui tic tac. Interventora: Chegamos.
Pesquisador: Vamos para a festa. Todos descem loucamente do trem para ir para
a festa, ao descer eles começam a dançar. Pesquisador: quem vais ser o Dj. O
João será o Dj... e ele faz de conta que está usando um fone e começa a fazer
movimentos com a mão como se estivesse mexendo em um disco. Pesquisador:
Vamos dançar... e todos dançam. Pesquisador: Todo mundo volta para o Trem,
todos voltem para o trem. Todas as crianças voltam para o trem. Pesquisador:
Essa foi a última viagem que fizemos no trem do Nicolau. Pesquisador: Mas, como
é a nossa viagem, acho que temos que ir para o salão de beleza também.
Interventora: Eu também. Alunos: tambémmm... Isabella se torna a maquisnista.
Pesquisador: piuuui tic tac. Todos: Piuuui Tic tac. Pesquisador: Chegamos. Todos
descem e começam a mexer no cabelo do amigooo. Pesquisador: Todos venham
aqui com o Pesquisador. Todas as crianças chegam próximo ao Pesquisador.
Pesquisador: Todos dão tchau ao trem do SR Nicolau. Todos: Tchauuu.
Pesquisador: Agora vamos para a sala de aula. E todos voltam para a sala de aula.
Pesquisador: Quero um círculo bem bonito aqui no fundo, posso abrir o olho?
Todos: não. E coemçam a organizar o círculo. Pesquisador: Um, dois, três eeee...
possso abrir? Vou abrir... Pesquisador: Vamos abrir um pouco amis a roda. Quem
gostou de passear no trem od Sr nicolau? Todos: Siim. Pesquisador: vocês
gostaram de ir para os lugarem que nós visitamos? Todos: Sim. Pesquisador: A
gente foi para onde? Vozez aleatórias: parquinho, quadra, pizzaria, cortar o cabelo,
pipoca, dj. Pesquisador: vocês gostaram da viagem? Todos: siim. Interventora: E
também vimos um monte de gente no meio do caminho. Pesquisador: quem vocês
viram no meio do caminho? Vozes aleatórias: A vaca, a estação, senhora, crianças
jogando bola. Pesquisador: para onde mais? Criança: pipoca. Pesquisador: para
pipoca! Que mais? Criança: Dj! Pesquisador: e para festa onde o dj toca! Vocês
gostaram da viagem? Crianças: sim! Interventora: e também a gente viu um
241
monte de pessoas no caminho, não viu? Criança: a vaca. Pesquisador: o que mais
vocês viram no caminho? Criança: a estação. Pesquisador: que mais? Criança: as
Página
meninas. Pesquisador: as meninas jogando bola, que mais? As meninas lavando
roupa também? Não? Vocês não viram?!
tem que fazer ela dormir agora? Essa daqui tá com fome também, ninguém vai dar
comida pra ela? Uma criança começa a dar comida imaginária para a outra boneca.
Página
Pesquisador: Ai que gostoso! Hum, hum, hum!Vamos Sophia brincar, vamos? Em,
vamos? Você quer conhecer a cozinha comigo, vamos? Oh, a Sophia quer
conhecer a cozinha: aqui é onde os bebezinhos estão com fome. Olha a filhinha da
Milene, ela quer comer! Você não quer ajudar a dar comidinha, hã? Não? Então
vamos lá conhecer onde eles estão fazendo a comida. Oh, aqui é onde as pessoas
estão fazendo a comida, olha que legal! Você não quer fazer comida? Não?! Então
vamos ali no outro. Gente, o que vocês estão fazendo? Criança: cozinhando.
Criança: comidinha. Criança: eu tô cozinhando sal! Pesquisador: tá o que? Criança:
cozinhando sal. Pesquisador: cozinhando sal? Criança: aham! Pesquisador: mas sal
é ruim pra comer, não é? Vem Sophia, Vem! Gente, a Sophia quer brincar, ajuda a
Sophia brincar de cozinheiro. Jorge: eu sou a cliente, tá? Pesquisador: hein? Jorge:
eu sou o cliente. Pesquisador: você é o cliente, Jorge? Jorge: eu quero comida.
Pesquisador: olha, o Jorge falou que é o cliente, quem mais é cliente que quer
comida? Criança: eu. Pesquisador: então vamos sentar para esperar a comida!
Quem é o cliente, vai. Quem é o cliente senta para esperar a comida. Vem Sophia,
vem para cá. Quer puxar a cadeirinha? Vem! Pesquisador: quem é o cliente? Vem
Jorge! Jorge... Jorge... você pediu para o João a comida? Jorge: aham!
Pesquisador: então senta lá para esperar que eu vou levar, senta lá para esperar.
Eles são os clientes, eles estão esperando a comida. Gente, oh, eles são os clientes
do restaurante. Eles querem comida, quem vai levar a comida para eles? Jorge: eu
quero pizza. Pesquisador: o Jorge quer pizza agora, Jorge? Jorge: aham.
Pesquisador: dá comida para eles comerem... Jorge: eu quero pizza. Pesquisador:
olha, o Romulo tá fingindo que tá comendo, que legal... você comeu o que
Romulo? Jorge: Pesquisador, eu quero pizza. Pesquisador: gente, o Jorge quer
uma pizza. Quem vai fazer pizza para ele? Cadê o Fernando que é o pizzaiolo? O
Fernando, o Jorge quer uma pizza. Faz uma pizza pra ele, você é pizzaiolo. Leva lá
pra ele, pra ele comer. João: eu fiz macarrão com sopa. Pesquisador: vê se ele
quer macarrão com sopa. Gente, quem quer macarrão com sopa? Três crianças:
eu! Pesquisador: ele fez oh, o João fez. Vai Fernando, vai levar a pizza para o
Jorge. Fernando, assa uma pizza. O Jorge, oh sua pizza. O Fernando fez, ele é
pizzaiolo, né? Você é pizzaiolo, Fernando? Fernando: sim. Pesquisador: ah, que
legal! Nossa, que panelão... João: eu tô ficando rico... eu tô ficando rico.
Pesquisador: tá esperando ficar quente? João: eu tô ficando rico... Pesquisador: tá
ficando rico?! Por que João? João: porque eu tô vendendo, osh! Pesquisador: mas
você tá vendendo com o que? Você lembra o nosso dinheiro, como que é? Um
abraço! Tem que pedir um abraço em troca! Oh, os clientes estão com fome ainda,
tem que acelerar essa comida! Criança: acabou tudo! Pesquisador: vocês já deram
comida para os bebezinhos? Criança: já! Pesquisador: tá fazendo ele dormir agora?
E essa comida, sai ou não sai Gustavo? Gustavo: não, não tem comida aqui não!
Pesquisador: gente, oh, os bebezinhos estão com fome de novo... O Charlie, os
bebezinhos estão com fome também. Olha o Fernando entregando as comidas
243
para os clientes! Criança: tô com fome! Pesquisador: gente, vira aqui pra mim, vira
aqui pra mim. Vamos todo mundo gritar junto “tô com fome?” Jorge: tô com fome!
Página
Pesquisador: 1, 2, 3, e... Pesquisador e crianças: tô com fome! Criança: tô com
fome! João: toma, suco de uva! Dando para o interventor um copo. Pesquisador: o
Fernando, você tá fazendo pizza? Fernando: tô! Pesquisador: aé?! Bastante pizza?
Fernando: falta o prato! Pesquisador: falta o prato?! Pega o prato para levar. Olha
a Ana Clara, trouxe um monte de comida... Olha, tem comida... pra você!
(Pesquisador fingindo comer) Ana Clara: já comeu? Pesquisador: você come
sozinha? Já comeu tudo João, da panela? João: rapei tudo. Pesquisador: rapou a
panela? Tá com fome ainda? Criança: tô. Pesquisador: oh, tem gente com fome
ainda! Olha que gostoso... O que os bonitos estão fazendo aí atrás? O que vocês
estão fazendo? Criança: apertando o botão que sai macarrão. Pesquisador:
apertando botão que sai macarrão?! Cadê a máquina que sai macarrão? Criança:
aqui! Pesquisador: deixa eu ver... cadê a máquina de fazer macarrão? Cadê o
botão de fazer macarrão? Criança: aqui. Isso tudo embaixo da mesa, fingindo que
ali tinha uma máquina de macarrão. Pesquisador: e da onde sai o macarrão?
Criança: daqui, desse buraco. Pesquisador: ah... então vocês têm que entregar o
macarrão para a cozinheira. Que legal! Entrega o macarrão pra ela! Olha, isso ai
Cristina! Vai pegar mais macarrão? Vocês estão apertando para descer o
macarrão? Criança: gente, vamos acelerar a cozinha porque os clientes já estão
gritando. Pesquisador: o que foi? Criança: eles estão gritando porque eles estão
com fome. Pesquisador: eles estão com fome? Gente, os clientes estão com fome,
vamos acelerar essa cozinha. Criança: eles estão pedindo mais macarrão!
Pesquisador: mais macarrão gente, eles estão com fome! Vai Cristina, faz Cristina!
Os clientes estão com fome! Gustavo: quer brigadeiro? Pesquisador: eu quero!
Você fez? Gustavo: sim. Pesquisador: cadê? Gustavo: brigadeiro com coco.
Pesquisador: ah, eu quero! Cadê o brigadeiro? Olha, vocês estão usando o forno...
brigadeiro de forno? Gustavo: é brigadeiro de coco! Pesquisador: ai que gostoso!
Eu quero brigadeiro de coco! Como que você faz, Gustavo? Gustavo: assim ó! E
começa a fingir que está misturando ingredientes em cima da mesa e colocando
para fazer na panela. Pesquisador: posso tirar uma foto de você fazendo?
Brigadeiro de coco! Cadê o brigadeiro de coco? Ai que fome que eu estou para
esperar esse brigadeiro! Ana: tem que pagar o brigadeiro com abraço.
Pesquisador: tem que pagar o brigadeiro com abraço, Ana? Gustavo: não tem,
não. Pesquisador: tem sim, a Ana falou. Gustavo: não tem não, tem que pagar
sem abraço. Pesquisador: não, com abraço... mas vocês falaram que não precisava
pagar. Ana: tem que pagar com abraço. Pesquisador: a hora que vocês me derem,
eu pago com abraço! Igual a Ana falou... Interventor: a Sophia quer cozinhar
agora. Pesquisador: a Sophia quer cozinhar também! Já tá pronto? Ajuda ele a
fazer brigadeiro para mim. Olha... a Sophia está ajudando o Gustavo a fazer o
brigadeiro. Hum, mas que brigadeiro gostoso... o Interventor também quer!
Interventor: eu também quero, cadê meu brigadeiro? Pesquisador: Ana, deixa eu
pagar o brigadeiro, vem cá! Deixa eu te dar um abraço, vem Gustavo! Vou dar um
244
Como evidenciado a partir dos dados das intervenções, houve a possibilidade real
de organização e distribuição dos papéis sociais e dos objetos no início e durante a
realização das brincadeiras de papéis sociais, quando tomados os devidos cuidados pelo
professor de não agir de forma autoritária e impositiva, mas sim a partir do diálogo e
criação de motivos para que tal distribuição ocorra. Esse diálogo pode ocorrer a partir de
perguntas problematizadoras ou a partir de ações motivadoras pautadas em uma
245
afetação calcada em valores positivos, como, alegria, diversão, satisfação, levando assim
Página
a criança a assumir diferentes papéis sociais, quando ela mesma não o faz, ou dividir e
trocar os objetos com outras crianças.
Além disso ficou evidente que o professor durante a brincadeira pode, tanto
assumir um papel lúdico dentro da atividade e ajudar as crianças no processo de
organização e efetivação das regras presentes nos papéis que elas assumiram, o que não
deixa de ser uma importante forma de mediação pedagógica, sobretudo ao poder
apresentar significações contrárias às tendências alienadas e alienantes que poderão
estar presentes, ou, considerando a dinâmica da realidade e da própria atividade, em
diferentes momentos, o professor também poderá atuar de forma pedagógica sem
necessariamente assumir um papel, desde que tal mediação se dê, também, sob os
moldes de uma ação ludo-peagógica humanizadora. Retomemos a cena da intervenção
13, com o tema “passeio no trem do Sr. Nicolau” para observarmos melhor esse fato:
Pesquisador entrega um papel para cada aluno afirmando que aquele era o bilhete para
que eles entrassem no trem. As crianças, uma a uma, o abraça em forma de pagamento
do bilhete. A Interventora é a maquinista (usa luvas e chapéu) e cada criança vai até ela,
entrega o bilhete e entra no trem. Os alunos entram no trem. Interventora: Todos estão
assentos nos seus acentos? Todos: Sim. Interventora: Então eu vou fechar o vagão, para
dar início a viagem Mágica. Vozes aleatórias: Ai que da hora. Interventora: Tripulantes
estão preparados? Todos olham pela janela e dão tchau. Interventora: Todos comigo,
fazem o barulho do Treeeem. E todos cantam com ela “Piui, tique-taque”. Interventora:
Chegamos na primeira parada, aqui as crianças estavam fazendo o que? João: Jogando
Bola. Interventora: Vamos dar tchau para os meninos que estavam jogando bola. Todos:
Tchauuu. Os outros interventores fingem estar jogando bola do lado de fora do trem.
Interventora: Agora nós vamos voltar para a nossa viagem. Me ajudem, hein. Todos:
Piuuui. Tic tac. Eles dão tchau. Aluno: Pro, olha uma vaca! E aponta para fora do trem.
Interventora: Chegamos a próxima parada, o que estão vendo lá fora? Vozes aleatórias:
as senhoras estão lavando roupas no lago. Interventora: Vamos dar tchau para as
senhoras? E todos dão tchau para elas. Interventora: Vamos voltar para a viageeem,
246
ajuda eu. Todos: Piuuuuui tic tac. Interventora: Chegamos na próxima parada, alguém
Página
sabe oq tem nessa paradaaa? João: Temos que dar tchau para a vaca. Interventora:
Então vamos dar tchau para a vaca. Todos: Tchau vacaaa. Dois interventores fingem ser
vacas fazendo Muuuuu. Interventora: Vamos seguir viageem, me ajudemm. Todos:
Piuuui tic tac. Interventora: Próxima paradaaa, qual foi a próxima paradaa do livro.
Pesquisador: O trenzinho chegou aonde? Clara: Na estação. Interventora: Então vamos
descer do treem e vamos para a estação. Todos saeem pela frente do trem. Pesquisador:
Espera eles na porta e diz eu sou um vendedor de pipoca agora, Cadê a fila para
comprar pipoca? As crianças começam a fazer a fila. Pesquisador: Cadê o dinheirinho de
vocês para comprarem pipoca? Todos vão até a Interventora para pegar dinheiro
(pedaço de papel), ao pegarem o dinheiro voltam para a fila para comprar pipoca.
Pesquisador: Qual é o seu pedido? Criança: Quero uma pipoca. Ela entrega o dinheiro e
o pipoqueiro entrega a pipoca para ela. Pesquisador: Qual é o seu pedido? Charlie: quero
uma pipoca. Jorge quer ser o pipoqueiro, assim o pesquisador deixa ele ser o pipoqueiro.
Jorge: qual é o seu pedido? Ana: Eu quero uma pipoca. Jorge deixa de ser pipoqueiro e
começa outro aluno a ser pipoqueiro. João pega a sua pipoca e fingee que está
comendo. Comprando as pipocas as crianças voltaram para o Trem, elas mesmas dizem
que tem que voltar para o trem quem já comprou. Interventora: Todo mundo no seu
assento, pq o tripulante Jorge agora vai ser o maquinista. Criança: Tem que fechar a
porta para a gente poder viajar. Interventora: Para onde você vai, pode ser qualquer
lugar? Interventora mantem-se em pé mediando a atividade sem assumir um papel em
específico. Jorge: parquinho. Clara: Aee, parquinho. As próprias crianças começam a
assumir os papéis da atividade. Jorge: Piuuuu, tic tac. Todos: Piuuui Tic tacccc. Jorge:
Chegueii. Interventora: Nós chegamos no parquinhoo, qual será a nossa parada? Voz
aleatória: eu sei. Pesquisador: Nós vamos descer no parquinho para brincar?
Interventora: Vocês querem descer no parquinho para brincar? Todos: Siiim.
Pesquisador: Então vamos descer no parquinho para brincar. Todos descem do trem e
começam a fingir que estam brincando no parquinho, pulando, correndo, brincando de
rela-rela. Pesquisador: vamos voltar para o Trem? Todos voltam para o trem.
247
Pesquisador: Olha, o Everson é o senhor Nicolau agora. Pesquisador: Para onde vamos
Página
agora? Everson diz que é a quadra. Interventora: Prestem atenção, a próxima parada é a
quadra. Todos: AEEEEE. Everson: Piuuui Tic tac. Todos: Piuuui tic tac. Interventora:
Chegamos a próxima paradaa. Todos descem do trem e começam a brincar na quadra,
jogando futebol na quadra, meninos e meninas, fingindo estarem chutando uma bola.
Pesquisador: Vamos voltar para o treem. Todos saem correndo para voltar para o trem.
Interventora: Agora quem vai pilotar o trem é a Milene. Milene qual é a próxima parada?
Milene: Pizzaria. Pesquisador: Posso falar uma ideia, e se a gente for na padaria. Vozes
aleatórias: pizza, pizzaria. Pesquisador: Vocês querem ir na pizzaria? Todos:
Pizzariaaaaa. Milene: Piuuui tic tac e finge dirigir o trem segurando cones redondos.
Milene: Já chegamos na pizzariaaa. Todos descem correndo, sentam na mesa e
começam a comer a pizza imaginaria. Pesquisador: Vou fazer a pizza, Pizza para você,
pizza para você. E as crianças começam a comer a pizzaa. Pesquisador: Me ajudem a
fazer a pizza agora. As crianças começam a fingir que estão amassando a massa junto
com o pesquisador. Pesquisador: Agora comam a pizza que vocês fizeram... e todos
fingem comer. Pesquisador: Já encheram a barriga? Todos: Sim. Pesquisador: Então
vamos voltar para o trem. Todos voltam para os seus lugares. Interventora: Agora a
maquinista será a Cristina. Para onde você vai levar a gente? Pesquisador: Esse é o
último lugar que a gente vai, então tem que ser especial. Interventora h: E se a gente
for em uma festa, onde tem DJ bem maneiro? Cristina: vamos a festa. Cristina: PUIUUU
TIC TAC. Todos: Piuui tic tac. Interventora: Chegamos. Pesquisador: Vamos para a festa.
Todos descem loucamente do trem para ir para a festa, ao descer eles começam a
dançar. Pesquisador: quem vais ser o Dj. O João será o Dj... e ele faz de conta que está
usando um fone e começa a fazer movimentos com a mão como se estivesse mexendo
em um disco. Pesquisador: Vamos dançar... e todos dançam. Pesquisador: Todo mundo
volta para o Trem, todos voltem para o trem. Todas as crianças voltam para o trem.
Pesquisador: Essa foi a última viagem que fizemos no trem do Nicolau. Pesquisador:
Mas, como é a nossa viagem, acho que temos que ir para o salão de beleza também.
Interventora: Eu também. Alunos: tambémmm... Isabella se torna a maquisnista.
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Pesquisador: piuuui tic tac. Todos: Piuuui Tic tac. Pesquisador: Chegamos. Todos descem
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e começam a mexer no cabelo do amigooo. Pesquisador: Todos venham aqui com o
Pesquisador. Todas as crianças chegam próximo ao Pesquisador. Pesquisador: Todos dão
tchau ao trem do SR Nicolau. Todos: Tchauuu.
Primeiro ponto: no início do passeio no “trem do Sr. Nicolau”, a interventora
assume o papel de maquinista, direcionando quais serão os locais que eles iriam visitar,
utilizando como instrumentos um boné, um cone circular como guia e luvas de frio. Há
papéis sociais na realização da atividade? Sim! Há a maquinista (interventora), os
tripulantes (alunos) e os personagens que vão surgindo fora do trem conforme a história
contada a partir do livro. Há substituição de significado de objetos? De maneira indireta,
sim, pois os alunos se imaginavam em um trem, além do instrumento utilizado pelo
maquinista não ser próximo à realidade, vê-se a utilização do cone como guia do trem.
Há regras? Sim. Tanto aquelas relacionadas ao papel do maquinista, quanto a dos
passageiros que tinham que se manter sentados em seus assentos, além das regras
presentes nos papéis que iam surgindo durante o passeio. Portanto, havia brincadeira de
papéis sociais? Sim.
Segundo ponto: em um determinado momento da brincadeira a interventora deixa
de ser maquinista e uma outra criança assume tal papel, contudo, ela (interventora) não
desaparece da atividade, continua nela, mas agora sem um papel definido. A atividade
deixou de ser brincadeira de papéis sociais? Não, pois continuou carregando suas
características essenciais. A interventora mesmo deixando de ter um papel definido,
continuou orientando a atividade? Sim! A partir de uma ação ludo-pedagógica
humanizadora, ou seja, ela continuou na atividade enquanto indivíduo responsável em
enriquecer e mediar os acontecimentos referentes à história contada, além de manter a
dinâmica da organização dos papéis sociais. Quais eram as características de tal ação
mediadora ludo-pedagógica, por um lado, a interventora possuía as objetivações
pedagógicas necessárias para assumir uma mediação pautada em uma linguagem
acessível à compreensão da criança, possibilidades teórico-práticas de enriquecer a
atividade com novas possibilidades de conteúdos e regras, por outro, fazia isso com
249
Diagrama 2 - Síntese das condições postas ao professor que efetivam a brincadeira de papéis
sociais entendida como atividade de brincar.
250
256
Página
REFERÊNCIAS
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