Manuel Cadafaz de Matos - Leitura e Leitores de Cicero en Lisboa e Coimbra Ao Tempo de D. Joao III 1534-1543
Manuel Cadafaz de Matos - Leitura e Leitores de Cicero en Lisboa e Coimbra Ao Tempo de D. Joao III 1534-1543
Manuel Cadafaz de Matos - Leitura e Leitores de Cicero en Lisboa e Coimbra Ao Tempo de D. Joao III 1534-1543
XLVII (1995)
M A N U E L C A D A F A Z DE M A T O S
1
Francisco da Gama Caeiro [desaparecido do mundo dos vivos em Setembro de
1994], na última carta que escreveu ao autor deste estudo, datada de 9 de Junho de
1994.
2
Maria Helena da Rocha Pereira, «Nas Origens do Humanismo ocidental: os
tratados filosóficos ciceronianos», in Revista da Faculdade de Letras [da Universidade
do Porto], Línguas e Literaturas, II Série, vol. II, Porto 1985, p. 8.
740 MANUEL CADAFAZ DE MATOS
3
Manuel Cadafaz de Matos, «A presença de Cícero na obra de pensadores portu-
gueses nos séculos XV e XVI (1436-1543)», in Revista Humanitas, vol. XLVI,
Coimbra, Faculdade de Letras, 1994, pp. 259-304. Tendo-se registado três pequenas
imprecisões na composição desse nosso texto, gostaríamos de proceder, aqui, às respecti-
vas rectificações: na p. 265 (1. 18), onde se lê 1408, deve ler-se 1418; na p. 290 (Is. 21-
-22), onde se lê integra a data. deve ler-se apresenta a data; na p. 300 (1. 24); onde se
lê 38/ 56/ Pro sestio. Interrogatio in Vatinium, deve ler-se, 38 I 56 I Pro SestioJI 38-A,
Interrogatio in Vatinium; e ainda na p. 300 (1. 27), onde se lê 41 / 56 / De Aruspicum
Responsis, deve ler-se 41 / 56, De Aruspicum Responsibus.
Na secção desse nosso estudo referente ao humanista Lopo Senão e ao seu longo
poema De Senectute, devemos ao saber do Prof. Dr. Sebastião Tavares de Pinho, do
Instituto de Estudos Clássicos da Universidade de Coimbra e à sua Amizade, algumas
indicações que melhor permitem enquadrar (e até corrigir) aquelas nossas considera-
ções. Em uma amável carta de 13 de Dezembro de 1994, o investigador que dedicou a
Lopo Serrão a sua Tese de Doutoramento explicita:
«(...) Não conheço nenhum manuscrito autógrafo (nem apógrafo) do De
Senectute de L. Serrão: conheço tão-só o post scriptum que ele juntou a uma carta
autografa de S. Francisco Xavier escrita de Lisboa para S. Inácio de Loyola e do qual
reproduzi a assinatura na capa do meu livro e o próprio texto, pág. 30. Também não
está provado que o Dr. Paulo Afonso fosse castelhano; muito pelo contrário.
Finalmente, Lopo Serrão não terá terminado o seu poema em Paris, mas sim pouco
antes do desastre de Alcácer Quibir (1578), embora parte dele tenha sido composto
desde a juventude como ele diz».
4
Para além do estudo referenciado atrás na nota 2, vide, ainda, entre outros, o
capítulo que consagrou a Cícero in Estudos de História da Cultura Clássica, vol. II
Cultura Romana, Lisboa, 1984, pp. 175-183 (e bibliografia aí referenciada).
3
Luís de Pina e M. H. da Rocha Pereira, Thesaurus Pauperum, Porto, 1954-1955
(agradecemos a esta erudita a cedência de um exemplar, já hoje raro, desta edição).
LEITURA E LEITORES DE CICERO EM LISBOA E COIMBRA 741
6
Sebastião Tavares de Pinho, Lopo Serrão e o seu poema «Da Velhice».
Estudo introdutório, texto latino e aparato crítico, tradução e notas, Coimbra, INIC,
1987. Ainda a este investigador se ficou a dever a edição de A Amizade, de Cícero,
com criteriosas introdução, versão do latim e notas, Coimbra, INIC, 1993.
7
Para uma análise, mesmo que sumária, da biografia resendiana remetemos
para Diogo Mendes de Vasconcelos, Vida do Licenciado André de Resende, Évora,
Martinho de Burgos, 1593 (nova ed. por Bento José de Sousa Farinha, Lisboa, 1785,
pp. 11-36); e para Francisco Leitão Ferreira, «Notícias da Vida de André de Resende»,
in Arquivo Histórico Português, vol. VII, Lisboa, 1909, pp. 339-375 e 393-417; vol.
Vffl, Lisboa, 1910, pp. 62-69, 161-184 e 338-366; e vol. IX, Lisboa, 1914, pp. 177-
-248, todos com eruditas notas de Anselmo Bramcamp Freire.
8
Sensivelmente deste período da vida do grande humanista castelhano, António
de Nebrija, é a edição feita por este intitulada Auli Presii Flacci Satirae cii interpreta-
tiõe Aelii Antonii Nebrissensis grammatici atque regii historiógrafa..., Logrono, por
Michalis de Eguia, 1529, de que existe um exemplar, raríssimo, na LHITIPOR.
9
Em relação ao período da frequência de humanistas portugueses na universida-
de salamantina, um dos mais exigentes estudos continua a ser o do Prof. loaquim
Veríssimo Serrão, «Portugueses no Estudo de Salamanca (1250-1550), in Revista da
Faculdade de Letras, Lisboa, 3." série, n.° 5, de 1962.
10
Vide Manuel Cadafaz de Matos, Erasmo da Sua Modernidade, Braga, 1987.
742 MANUEL CADAFAZ DE MATOS
11
Américo da Costa Ramalho, Cícero nas orações universitárias do
Renascimento, in Revista da Faculdade de Letras [da Universidade do Porto], Línguas
e Literaturas. II Série, vol. TL, Porto, 1985, p. 29.
12
Idem, ibidem.
13
Idem, ibidem.
14
Vide Cataldo Parísio Sículo, Duas Orações, ed. M. Margarida Brandão G. da
Silva e A. Costa Ramalho, Coimbra, 1974, pp. 55-56; e, ainda, Maria Helena da Rocha
Pereira, «Presenças da Antiguidade Clássica em Os Lusíadas [Aveiro, 1984], nova ed.
in Novos Ensaios sobre Temas Clássicos na Poesia Portuguesa, Lisboa, Imprensa
Nacional-Casa da Moeda, 1988, p. 112.
LEITURA E LEITORES DE CICERO EM LISBOA E COIMBRA 743
13
Cataldo Sículo, na Oratio habita Bononiae publiée a Catalão in omnium sci-
entiarum et in ipsius Bononiae laudus, pronunciada, segundo Costa Ramalho, antes
daquele humanista vir para Portugal (em 1485 ou ainda antes). Nessa oratio Cataldo
põe em relevo uma passagem do Livro V das Tusculanas:
«Filosofia, ó guia da vida, ó pesquisadora da virtude e rechaçadora dos vícios!
Sem ti o que teria sido não apenas da minha vida, mas da vida de todos os
homens? Tu ãeste a luz às cidaães, tu chamaste à viãa social os homens que
andavam dispersos, tu juntaste-os primeiro pela residência em comum, depois
pelo casamento, a seguir pela comunhão das letras e da língua! Tu foste a inven-
tora das leis, a mestra dos costumes e da sua disciplina! Em ti nos refugiamos, a
ti pedimos auxílio, a ti, se antes confiávamos grande parte de nós, agora nos
confiamos profundamente e por inteiro! Um só dia bem vivido, segundo os teus
preceitos, é preferível à imortalidade no erro! A quem recorrer, senão a ti, que
nos concedeste a tranquilidade da vida e anulaste o terror da morte?»
A respeito desta passagem das Tusculanas perfilhadas por Cataldo Sículo, reme-
temos para Luís Carlos Stamato Marcelino de Carvalho, A Oração de Cataldo em
Bolonha: sua permanência na oratória do século XVI [Tese de Doutoramento], Rio de
Janeiro, Universidade Federal, 1980, e Américo da Costa Ramalho, op. cit., p. 39.
16
Se, em muitos dos casos com que deparamos, o intelectual humanista — a
um nível metodológico — explicita ao leitor, pelo menos, a obra de onde colheu deter-
minada ideia que referencia, outros há, porém, que o não fazem dessa forma. Há, ainda
— e este caso é muito frequente no período do Renascimento — aqueles que colhem
passagens de autores mais admirados e seguidos, de muitas das colectâneas que então
se publicavam especialmente para o efeito. Uma dessas edições mais utilizadas na
segunda metade do século XVI em Portugal era a preparada pelo humanista Mário
Nizzoli (que viveu entre 1498 e 1566) e se intitulou Nizolíus, sive Thesaurus
Ciceronianus, omnia Ciceronis verba, omnemaq; loquendi at que loquendi varietatem
complexus, nunc iterum, eruditi hominis hercules labore atque industria, quarta parte
auctior..., de que existe na Biblioteca Nacional, em Lisboa, a edição veneziana, da
Oficina Aldina, 1570: (87), 427 págs. Jerónimo Cardoso terá sido, a nosso ver, um dos
autores que perfilharam esta segunda forma de recorrência aos textos de clássicos que
mais procurava seguir.
744 MANUEL CADAFAZ DE MATOS
17
Justino Mendes de Almeida, «O primeiro lexicógrafo português de língua
latina», in Revista Euphrosyne, II, Lisboa, 1959, pp. 139-152.
18
Paul Teyssier, «Jerónimo Cardoso et les origines de la Lexicographie portu-
gaise», in Études de Littérature et de Linguistique, Paris, Centro Cultural Português da
Fundação Gulbenkian, 1990, pp. 199-230. Um outro lusófilo — e a quem Portugal, de
igual modo, tanto deve, I. S. Révah, é o autor de não menos valioso estudo, de interes-
se para esta matéria e intitulado «Les Origines de Jerónimo Cardoso, aucteur du premi-
er dictionnaire portugais imprimé», in Boletim da Academia das Ciências de Lisboa,
Nova Série, vol. XXXVI, Lisboa, 1964, pp. 277-279.
19
Américo da Costa Ramalho, op. cit., p. 38.
LEITURA E LEITORES DE CICERO EM LISBOA E COIMBRA 745
20
Barbosa Machado, Bibliotheca Luzitana, Lisboa, na Oficina de Inácio
Rodrigues, tomo III, 1752, p. 733 [cita-se a primeira edição, rara, disponível na LHITI-
POR], p. 733.
21
Idem, ibidem.
22
Catálogo dos Impressos da Tipografia Portuguesa do Século XVI — A
Colecção da Biblioteca Nacional, Introdução, organização e índices por Maria Alzira
Proença Simões, Lisboa, 1990, [espécie n.° 860, ali existente], p. 337. De registar que
tendo D. Máximo de Sousa, Cónego Regrante da Ordem de Santo Agostinho, vindo a
falecer em 1544 (devemos esta informação a Maria Alzira Proença, loc. cit.), e indican-
do Barbosa Machado que D. Teotónio foi aluno dele naquele mosteiro, só se pode con-
cluir que o filho de D. Jaime tenha frequentado as aulas naquela instituição entre 1538
e 1543.
746 MANUEL CAD AFAZ DE MATOS
aulas recebidas desse seu mestre, aprendeu por este livro a cultivar as
boas letras ciceronianas, a cultivar a oratória e os bons ensinamentos dos
mestre romanos.
Tendo esse livro sido impresso em 1535 na própria oficina conimbri-
cense dos cónegos regrantes de Santo Agostinho — numa cidade onde o
impressor Germão Galharde estivera activo pouco antes 2 3 — é mais do
que provável que D. Teotónio ainda aprendesse por ele, presumivelmente
no último ano da década de trinta ou nos primeiros anos da década de
quarenta em que presumivelmente estudou nessa instituição monacal.
A referida obra, Institutiones, de D. Máximo de Sousa afigura-se-nos,
apesar de tudo, ainda precursora no ensino das latinidades em Portugal.
A antecedê-la haviam estado a arte de Juan de Pastrana — ou seja,
Thesaurus Pauperum siue Speculum puerorum editum a magistro Johãne
de Pastrana, o famoso incunábulo português saído em Lisboa provavel-
mente em 1497 do prelo de Valentim Fernandes (de novo publicado em
1501 com revisão de João Vaz e em 1512) — e a Ar tis Grammaticae
24
praecepta, de Estêvão Cavaleiro , de Sevilha, 1503. E, no país vizinho, a
Arte de Nebrija (de Salamanca, 1481), essencialmente.
23
Já em 1531 Germão Galharde imprimira em Coimbra o livro com os
Tratados de Amizade, Paradoxos e Sonho de Cipião [de Cícero, em versão portuguesa
de Duarte de Resende, que fora feitor nas Molucas]. Vide Manuel Cadafaz de Matos,
«A Presença de Cícero na Obra de Pensadores Portugueses nos Séculos XV e XVI
(1436-1543), já cit., p. 285.
Para além do que então referimos sobre esta obra e tradução, é de destacar o
parecer que, pouco antes de 1870 (decerto), o Pe. Francisco dos Santos Saraiva deu,
por escrito, a Inocêncio Francisco Silva [de que este dá testemunho in Dicionário
Bibliográfico Português, Lisboa, Imprensa Nacional, Tomo Nono, 1870, p. 155], onde
refere que a tradução de Duarte de Resende de nenhum modo pode considerar-se fiel,
pois abundam nela as faltas de inteligência do texto, ou peca pelas impropriedades da
frase (na expressão de Inocêncio). E conclui o Pe. Francisco dos Santos Saraiva: «estes
exemplos de infedilidade sobram para provar a pouca perícia deste tradutor, sendo eles
todavia tantos, que bem se poderá formar um razoável volume.»
Desde recententemente, A Livraria Humanística da História da Tipografia da
Expressão Cultural Portuguesa (LHITIPOR), passa a dispor de um exemplar da edição
bastante rara da obra, saído dos prelos da Regia Oficina Tipográgica, 1790 [8.°, de
XXI-140 págs.], adquirido no Livreiro Antiquário Sr. Luís Gomes, em Lisboa.
24
Vide Artur Anselmo, Les Origines de l'Imprimerie au Portugal, Braga, 1983,
pp. 354-355. De registar que Estêvão Cavaleiro acabara, mesmo apesar dos seus oposi-
tores, por dar à estampa, em 1516, a sua Noua grammatices Mariae Matris Dei
Virginis ars.
LEITURA E LEITORES DE CICERO EM LISBOA E COIMBRA 747
INSTITVTIO
NES GRAMMA*
T Í C / £ EX CLE»
NARDO.
25
Algumas das principais edições de Nicolau Clenardo são apresentadas pelo
erudito José V. de Pina Martins em «Présence d'Érasme... N. Clenardus (1493-1542)»,
in Au Portugal dans le Sillage d'Érasme — Exposition Bibliographique en l'Honneur
de Marcel Bataillon, Paris, Centro Cultural Português da Fundação Calouste
Gulbenkian, pp. 182-187. Regista este investigador, in p. 183 e reportando-se à edição
Tabula in Grammaticen Hebraeam, de Clenardo, Paris, 1559, que ela foi dedicada pelo
humanista flamengo a «Nicolao Brissaeo Caroli Lotharingi Cardinalis et Principis
Theologo doctissimo, atque etiã in celebri Fuscanensi Abbatia eidem cardinali magnum
uicarium agenti», com data de Novembro de 1549. Este facto leva-nos a estabelecer
que nesses últimos anos de quarenta já Clenardo se relacionava em Paris com alguns
dos mais eminentes eruditos que se dedicavam ao estudo e à edição dos principais tex-
tos ciceronianos, de craveira de Lotharingus. A este reputado humanista se ficou a
dever — entre outros trabalhos ciceronianos de envergadura — a edição M.T.
Ciceronis, Academia Libri II, Paris, Mattaei Davidis, 1550 [de que se conserva um
exemplar, raro, na LHITIPOR].
26
Temos preparada a tradução (por nós finalizada em Salamanca na primeira
metade da década de oitenta), estudo e edição das Cartas de Santa Teresa a
D. Teotónio de Bragança. De registar que em 1583 foi dada à estampa, em Évora, na
oficina da Viúva de André de Burgos, o Tratado que escrivio la Madre Teresa de
lesus. A las Hermanas Religiosas de la Orden de nuestra Senora dei Carmen del
LEITURA E LEITORES DE CICERO EM LISBOA E COIMBRA 749
— o seu primeiro interesse pela obra de Cícero? Será, por outro lado, que,
depois de ter sido chamado ao Arcebispado eborense, o seu interesse pelas
latinidades e pelas obras do Arpinate em particular, esmoreceu bastante?
Não será de desprezar, também, a segunda hipótese. É um facto,
porém, que depois de 1542 — e também depois de 1557 — D. Teotónio
de Bragança era um leitor de obras de autores que respeitavam, significa-
tivamente, o modelo ciceroniano, tanto no domínio das humanidades
como no domínio da jurisdição civil.
Quanto ao primeiro desses domínios, é facto comprovado que
D. Teotónio se interessou em particular, a partir de 1542, pela obra de
D. Jerónimo Osório, um dos intelectuais que — essencialmente no domí-
nio da Teologia — mais trouxe ao nosso país o brilhantismo e, sobretudo,
a elegância da oratória ciceroniana bem como, até, a síntese de algumas
das ideias do pensador romano.
Poder-se-á dizer, assim, que D. Teotónio também bebeu Cícero atra-
vés da obra de D. Jerónimo Osório, a partir da década de quarenta. Em
rigor, deverá afirmar-se, antes, que o Arcebispo eborense também seguiu,
de alguma forma, o brilhantismo da exposição ciceroniana e, neste âmbi-
to, a obra de D. Jerónimo — que teve na sua Livraria pessoal e que leu
— serviu-lhe de guia, se não mesmo de modelo.
Um dos livros de D. Jerónimo Osório de que hoje não restam dúvi-
das integraram a Livraria de D. Teotónio de Bragança foi De Nobilitate
Civili libri duo, com De Nobilitate Christiana libri três, saído em Lisboa
da oficina de Luís Rodrigues em 1542 27 . Esta obra, ao que tudo indica,
foi terminada em Bolonha em 1539 e não em 1536 [segunda data proposta
por B. Machado].
28
Sobre Aires Pinhel remetemos para Francisco Leitão Ferreira, Notícias
Chronologicas da Universidade de Coimbra, Segunda Parte, vol. I, 1." ed. publicada,
revista e anotada pelo Prof. Joaquim de Carvalho, Coimbra, 1938, p. 97; Américo da
Costa Ramalho, Estudos sobre o Século XVI, Centro Cultural Português da Fundação
Calouste Gulbenkian, Paris, 1980, p. 353; e, sobretudo, Nuno J. Espinosa Gomes da
Silva, Humanismo e Direito em Portugal no Século XVI, Lisboa, 1964, pp. 250 e sgs.
29
Catálogo dos Impressos de Tipografia Portuguesa do Século XVI..., já cit.,
[esp. 591], p. 254. Também esta espécie bibliográfica apresenta ao leitor de hoje a indi-
cação da marca de posse de D. Teotónio de Bragança, já como Arcebispo de Évora.
Quanto a este livro inclinamo-nos a admitir, porém, que já o tenha estudado sobretudo
depois de lhe ser confiado o Arcebispado de Évora (nada podendo, no entanto, invali-
dar outra hipótese), ou seja, já depois da data de posse, em Dezembro de 1578.
LEITURA E LEITORES DE CICERO EM LISBOA E COIMBRA 751
30
Nuno Espinosa Gomes da Silva, op. cit., p. 251.
31
Idem, ibidem.
32
Idem, pp. 251-252 e 255.
33
Barbosa Machado, Bibliotheca Luzitana, ed. já cit., tomo III, p. 734.
752 MANUEL CADAFAZ DE MATOS
34
A. da Rocha Brito, versão em linguagem do Conimbriae encomium ab
Ignatio Morali editum [ed. original em Coimbra, no prelo de João da Barreira, 1554],
Figueira da Foz, Tipografia Popular, 1935.
33
Mário Brandão, edição, com revisão e prefácio do Conimbriae encomium,
Coimbra, 1938. Vide, ainda, Idem, in Estudos Vários, 1, Coimbra, 1972, pp. 277-308.
36
Albino Pedrosa Campos, Um luminar na Universidade de Coimbra no século
XVI: a obra desconhecida de Inácio de Morais [dissertação de licenciatura, dactilog.],
Coimbra, 1960.
37
Américo da Costa Ramalho, «O Conimbriae Encomium de Inácio de
Morais», in Revista Humanitas, n.° 29-30, Coimbra, 1977-1978, pp. 225-226. Vide,
ainda, de Aires Pereira do Couto, Tese do Doutoramento Inácio de Morais, Vida e
Obra, Coimbra, 1995.
LEITURA E LEITORES DE CICERO EM LISBOA E COIMBRA 753
38
Barbosa Machado, in op. cit., tomo II, apenas regista que este bragançano é
filho de Pedro Alvares de Morais e irmão de Nuno Alvares Pereira, do Conselho de
Estado de Portugal em Madrid [p. 544], Segundo A.P. Couto, é de crer que ele tenha
nascido nos primeiros anos do século xvi.
39
José V. de Pina Martins, no sub-capítulo que votou a Inácio de Morais na
obra Au Portugal dans le Sillage d'Erasme, indica como ano da morte do humanista
c. de 1580 [Paris, 1977, p. 164], Barbosa Machado, por seu lado, in op. cit., tomo II
[p 545], indica que ele «faleceu em o Real Convento de Alcobaça (...) pouco tempo
depois que Filipe Prudente se senhoreou deste Reino». Tendo Filipe U de Espanha sido
declarado rei de Portugal em 15 de Abril de 1581 — e este entrado finalmente em
Lisboa em 15 de Julho do mesmo ano — não andaremos longe da verdade se admitir-
mos a morte do humanista bragançano depois do período de Abril-Julho de 1581.
40
Algumas importantes achegas para o conhecimento da Livraria de
D. Teotónio, já enquanto Arcebispo eborense, foram dadas por Pinharanda Gomes.
Vide, deste Autor, a já citada obra O Arcebispo de Évora Dom Teotónio de Braga/iça
(Escritos Pastorais), de 1984, in p. 10 e pp. 58-59.
41
Encontra-se hoje suficientemente comprovado que, depois do ano de 1544
(o da morte de D. Máximo de Sousa seu antigo professor em Coimbra), D. Teotónio de
Bragança continuou a viver nessa cidade. Tal sucedeu, pelo menos, até 1549 — como
explicitámos atrás (por ter vestido então a «roupeta» da Companhia de Jesus — ou,
mesmo, até 1550, como deixa antever Pinharanda Gomes. Vide, desde Autor, op. cit.,
p. 11.
754 MANUEL CADAFAZ DE MATOS
42
Dos livros que integraram a Livraria de D. Teotónio, e que apresentam no
colófon a data de terem sido impressos antes de o aristocrata deixar a cidade do
Mondego, contam-se, de facto, uma parte daqueles que fizeram parte da «livraria que
doou à Cartuxa» de Évora e hoje integram as colecções da Biblioteca Central da
Marinha, designadamente: Juvenal, Argumenta Satyrarum (Nuremberga, 1497); Aelio
Aristides, Orationes (Florença, 1517); Guillaume Budé, Commentarii Linguae Graecae
(Basileia, 1530); Eustatio, Papekbolai eis ten Omeroy ilíada kai odys, ou Comentário à
Ilíada e à Odisseia (Roma, 1542-1550); Heródoto, Historio graphi, Libri (Colónia,
1526); Alberto Krantz, Chronica Regnorum Aquilonarium Daniae, Suetia, Norvagiae
(Argento-Estrasburgo, 1546); Tácito, Annalium (Basileia, 1544); Lorenzo Valla, De
Latinae Linguae Elegantiae (Paris,1541); ou os Opera, do mesmo autor (Basileia,
1540). — In Pinharanda Gomes, O Arcebispo de Évora, ed. cit., pp. 58-59.
Presumivelmente também do período em que este aristocrata viveu em Coimbra é a
edição de um texto de Oppiano intitulado Oppiani de piscibus libri V. Eiusdem de
uenatione libri III. Oppiani de piscibus Laurentio Lippio interprete libri V, Veneza, In
Aedibus Aldi et Andrae Soceri, 1517 mense Decembri (de que existem dois exempla-
res na Biblioteca Nacional, em Lisboa — um dos quais com a inequívoca marca de
posse de «Liber... D. Theotonio de Bragança...» — e um outro na LHITIPOR). Já
posterior, decerto, à saída de D. Teotónio de Coimbra é a edição que hoje se encontra
nas colecções da Biblioteca Nacional, em Lisboa, Aristotelis Summi Semper Philosophi
Opera, de Basileia, 1550 e referenciada pelo mesmo investigador in op. cit., p. 10, n.
6, que também pertenceu à Livraria de D. Teotónio de Bragança. Essa existência da
obra de Aristóteles na biblioteca pessoal de D. Teotónio não invalida, porém, que ele a
tenha adquirido em Roma, no começo da década de cinquenta e no período imediata-
mente posterior à sua edição.
LEITURA E LEITORES DE CICERO EM LISBOA E COIMBRA 755
45
Vide Belmiro Fernandes Pereira, «Livros raros na Biblioteca Municipal de
Aveiro», in Revista Humanitas, vol. XLI-XLII, 1990, p. 203. Na referida Biblioteca
esta espécie tem a quota BMA - Séc. XVI - 11. Na LHITIPOR foi incorporada, já após
a redacção deste estudo, uma espécie desta obra e impressor, só que editada em Paris
anteriormente (1534), que pertenceu ao Livreiro-antiquário D. José Telles da Silva e foi
comercializada em Janeiro de 1995 pelo Palácio do Correio Velho.
LEITURA E LEITORES DE CICERO EM LISBOA E COIMBRA 757
M. TVLLIICICERONIS
EPISTOLAR
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C^&^Áf'^t~° / ^j
P A R. I S 1 I S.
VB/iV •
M.D.X XX V I l ' 1 .
A edição das Epístolas de Cícero que pertenceu porventura à Livraria pessoal do humanista
Inácio de Morais — e descoberta por Mestre Belmiro Pereira na Biblioteca Municipal de
Aveiro — é encimada, à esquerda, de uma marca de posse (autografa?) que parece compro-
var esse facto. Chamamos também a atenção para a gravura da portada, que constitui, de
facto, uma das variantes das gravuras de portada mais frequentemente utilizadas no prelo
parisiense de Robert Estienne.
Contém
1. M. TVLLII CICERON1SI RHETORIC A. I PARISIIS.I EX OFFICINA
ROBERTI STEPHANI.I M.D. XXXVIII.I
758 MANUEL CAD AFAZ DE MATOS
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46
Idem, op. cit., pp. 203-204. Esta espécie tem a quota BMA - Séc. XVI - 11.
47
Tendo estas espécies bibliográficas parisienses com obras do Arpinate saído do
prelo de Robert Estienne, em 1538, importa referenciar, numa perspectiva iconográfica,
que na portada da edição das Epistolae é ostentada uma gravura, com a célebre árvore do
saber «estieniana», com o ramo, a cair, à esquerda. Na secção «Robert Estienne», in
Dictionnaire des Grands Noms de la Chose imprimée, da autoria de Jean-Claude
Faudouas [e com prefácio de Henri-Jean Martin], Paris, Ed. Retz, 1991, p. 57, apresenta-
-se, por sinal, uma mesma gravura (da árvore), da mesma tipologia desta, só que com o
ramo a cair para o lado direito, sem a presença do sábio, e com uma inscrição latina.
LEITURA E LEITORES DE CICERO EM LISBOA E COIMBRA 759
Barbosa Machado, op. cit., tomo II, p. 546. Em relação a esta última espécie
bibliográfica aqui descrita, In quosdam Dialécticos... de referenciar que a obra existe
na Biblioteca Nacional em Lisboa. (Vide Maria Alzira Proença Simões, Catálogo...,
ed. cit., n.° 519, p. 227). Tal sucede, também, com (um exemplar de) Conimbricae
Encomium.
760 MANUEL CAD AFAZ DE MATOS
49
Américo da Costa Ramalho, «A Palavra Lusíadas», in Estudos sobre o Século
XVI, edição de 1980 atrás referenciada, p. 231, onde este insigne Mestre conimbricen-
se, atribuindo à obra a data de 1554, dela colhe estes versos referentes ao futuro
D. Sebastião: «Nasce, pequenino, que hás-de sentar-te no trono de teus avós. Ó guia
dos Lusitanos! Nasce, pequenino!» (Nascere, parve puer, sólio sessurus auito, Ductor
Lysiadum: nascere, parve puer) [versos 31-32]. Registe-se que o Principe D. João
(filho de D. João III) falecera em 2 de Janeiro de 1554, tendo sido por essa altura que
Inácio de Morais compusera este seu trabalho.
50
Barbosa Machado, Idem, loc. cit.
51
Nuno Espinosa Gomes da Silva, op. cit., p. 258.
LEITURA E LEITORES DE CICERO EM LISBOA E COIMBRA 761
Esta questão não invalida, a nosso ver, que possamos aceitar que
Inácio de Morais, como cultor exímio da língua latina, não tenha continua-
do a admirar — e até a seguir a elegância latina do estilo de Cícero.
O Arpinate era, quer se queira quer não, uma referência obrigatória — no
domínio da oratória e do estilo mas ainda em outras vertentes do saber —
também para Inácio de Morais.
52
Mário Brandão, ed. de Conimbricae Encomium [de 1938, e já cit.), Prefácio,
p.9.
53
N. E. Gomes da Silva, idem, pp. 259-260. Regista ainda este teórico da
História do Direito que, em outros passos da obra de Inácio de Morais de 1562, o autor
aconselha os gramáticos que «cessassem as suas afrontas e se limitassem ao campo que
naturalmente lhes estava reservado (...) que continuassem a encher de tédio aqueles
que ainda os desejassem ouvir» (p. 262), não ficando atrás, em crueldade, a Mestre
Aires Barbosa, da mesma escola.
54
Barbosa Machado, in op. cit., loc. cit., apresenta este trabalho de Inácio de
Morais em primeiro lugar (numa perspectiva cronológica?), na relação na relação das
cerca de dez obras do humanista.
762 MANUEL CADAFAZ DE MATOS
53
Esta hipótese sobre o levantamento da data de nascimento provável do nave-
gador Pêro Lopes de Sousa, irmão de Martim Afonso de Sousa, é a perfilhada por
M. E. C. F. [Maria Emília Cordeiro Ferreira] in «Pêro Lopes de Sousa» Dicionário de
História de Portugal, vol. VI, Iniciativas Editoriais, s/ data, p. 79; e, ainda, na nova
edição da «Relação da navegação de Pêro Lopes de Sousa (1530-1532)», in Martim
Afonso de Sousa ..., sob a direcção de Luís de Albuquerque, Alfa, Biblioteca da
Expansão Portugesa 10, 1989, pp. 85 e sgs. Sobre este diário de navegação remetemos
— para além do códice da Biblioteca da Ajuda, 139/140-L-77 — para a edição, no Rio
de Janeiro, em 1940, com estudo crítico pelo Comandante Eugénio de Castro mas,
sobretudo, para a edição de Adolfo Varnhagen, Lisboa 1839.
36
Esta associação é da responsabilidade de Barbosa Machado, ibidem, loc. cit.
LEITURA E LEITORES DE CICERO EM LISBOA E COIMBRA 763
O aristocrata Pêro Lopes de Sousa, a quem Inácio de Morais dedicou a obra M.T. Ciceronis
Proaemium Rhetoricae, terá de ser encontrado provavelmente, segundo as mais recentes inves-
tigações fazem admitir, no clã de Martim Afonso de Sousa, na gravura, como o filho deste
(homónimo daquele) e menos do capitão-mor da frota que se destacou nos mares de Goa.
57
No entanto existem poemas dispersos do autor, já publicados (em obras de
outros intelectuais) que remontarão provavelmente a 1537.
764 MANUEL CAD AFAZ DE MATOS
38
Idem, ibidem, loc. cit.
59
Sousa Viterbo, que in O movimento tipográfico em Portugal no século XVI
(Apontamentos para a sua história), Coimbra, Imprensa da Universidade, 1924, estu-
dou pormenorizadamente a produção tipográfica em Coimbra ao tempo dos impressores
João Álvares e João da Barreira, é omisso em relação a esta obra.
60
Nessa viagem de Pêro Lopes de Sousa pelas costas do Brasil está presente,
conforme regista Capristano de Abreu — o autor do Prefácio à edição de 1940 organi-
LEITURA E LEITORES DE CICERO EM LISBOA E COIMBRA 765
zada pelo Comandante Eugénio de Castro (e referenciada atrás in nota 55) —, ao servi-
ço de Pêro Lopes de Sousa, no Pernambuco, Paulo Nunes Estaco, pai precisamente do
humanista português Aquiles Estaco que, como se verá, se notabilizou também no
século XVI nos estudos (e edições da obra) de Cícero. Vide Américo da Costa
Ramalho, «Aquiles Estaco no Brasil (Pernambuco 1532), constante do seu estudo
«Notas sobre a formação de Aquiles Estaco», in Estudos sobre o Século XVI, ed. já cit.
de 1980, p. 300.
61
M.E.C.F., na entrada «Pêro Lopes de Sousa» in Dicionário de História de
Portugal, vol. VI, loc. cit., apresenta para a morte deste navegador a data de «1539?»
que, hoje, já se encontra cientificamente resolvida. Vide nota 62.
62
ManueL Faria e Sousa, in Ásia Portuguesa, trad, de Maria Vitória Garcia
Santos Ferreira, Porto, Liv. Civilização, Bibl. Histórica, 1947, alude, in vol. Ill, pp. 29,
31, 127, 150 e 154 às viagens e feitos do irmão de Martim Afonso de Sousa. Este his-
toriador, com efeito, reportando-se a acontecimentos registados na índia ao tempo do
governo de Martim Afonso de Sousa, mais precisamente em 1544 — portanto quatro
anos após aquele que hoje se aceita como o da morte de Pêro Lopes de Sousa — regis-
ta [vol. Ill, p. 127]. «Enquanto acontecia assim, o governador foi organizando uma
armada de 45 naus com três mil homens de mar e guerra. Capitães de que se conserva-
ram os nomes: Pedro Lopes de Sousa...». Confirmando-se a data de 1540 (proposta
modernamente por autores como Carmen Radulet — vide nota seguinte) nesta data já
Pêro Lopes de Sousa havia falecido há cerca de quatro anos.
63
Na entrada sobre «Pêro Lopes de Sousa», constante do Dicionário dos
Descobrimentos Portugueses [Direcção de Luís de Albuquerque e Coordenação de
Francisco Contente Domingues], Lisboa, Editorial Caminho, 1994, vol. II, p. 1005, a
autora CR. [Carmen Radulet], sustenta que Pêro Lopes de Sousa pereceu no naurágio
da nau Esperança Galega, em 1540, durante a viagem de regresso de Goa para
Lisboa, próximo à ilha de S. Lourenço. Terá sido este trágico acontecimento que
motivou o humanista Inácio de Morais a evocar, numa elegia, o navegador que, na
perspectiva de M.E.C.F. [in art. já cit.], «teria cursado na Universidade de Lisboa
estudos de navegação...»?
766 MANUEL CADAFAZ DE MATOS
64
Essa militância é constante de várias obras do humanista de Roterdão, muito
em particular in Enchiridion Militis Christiani, que José V. de Pina Martins, in Au
Portugal dans le Sillage d'Érasme, ed. já cit., p. 77, não tem dúvidas em considerar
como «l'œuvre la plus important d'Erasme en ce qui concerne l'orientation essentielle
de sa pensée spirituelle».
65
Esse poema de Inácio de Morais em louvor de D. Luís de Ataíde foi publica-
do pela primeira vez, por António Pinto Pereira, na edição da História da India, no
Tempo em que a Governou o Visorey Dom Luis d'Ataíde, Coimbra, no prelo de
Nicolau de Carvalho, 1617 [primeiro caderno], pag. não numer. A aludida obra de
Pinto Pereira encontra algum paralelismo com a de António de Castilho e intitulada
Comentário do cerco de Goa e de Chaul no ano de 1570. Viso-Rey Dom Luís de
Ataíde, scripto por mandado d'el Rey nosso Senhor. Em Lisboa. M.D.LXXIII. Impresso
em casa de António Gonçalvez. Considerada também bastante rara por Inocêncio
Francisco Silva (Dicionário..., I, p. 108) é a edição desta obra saída em Lisboa, em
1736, na Oficina Joaquiniana da Música [de que existe um exemplar na Livraria
Humanística da História da Tipografia de Expressão Cultural Portuguesa, LHITIPOR].
66
Regista o Prof. Luís de Matos, in VExpansion Portugaise dans La
Littérature latine de la Renaissance [Tese defendida na Sorbonne em 31 de Janeiro da
1959], Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, Serviço de Educação, 1991, p. 435, que
o poema de Resende em louvor de D. Luís de Ataíde fora inicialmente publicado em
Roma (cerca de três anos depois do regresso triunfal desse defensor da soberania portu-
guesa na índia a Lisboa), em 1575. A nova edição desse texto veio a verificar-se nas
folhas preambulares da referida edição seiscentista da obra de António Pinto Correia.
LEITURA E LEITORES DE CÍCERO EM LISBOA E COIMBRA 767
AD 1 L L V S T R I S S 1 M V M
VÏRVMDOM.LVDOVICVMDE ATAÍDE
DE SPOá
Folha do poema que Inácio de Morais dedicou a D. Luís de Ataíde, que se notabilizou em
feitos militares no Oriente.
61
Não deixa de haver alguma coincidência no facto de esse modelo evocativo
estar presente em Os Lusíadas — impressos em 1572, primeiramente, em casa de
António Gonçalves, súmula maior da evocação dos feitos lusitanos no Oriente — e,
logo de seguida, ser continuado no referido poema de André de Resende (e também no
de Inácio de Morais se se aceitar que foi produzido também já posteriormente à pri-
meira edição da epopeia).
768 MANUEL CADAFAZ DE MATOS
68
Bebemos esta síntese, sobre o ideal da querela do ciceronianismo, de
Littérature, Textes et Documents, Moyen Age - XVIe, organiz. por Anne Berthelot e
François Cornilliat, Intr. por Jacques Le Goff. Paris, Ed. Nathan, Col. dirig. por Henri
Miterrand, 1988, pp. 224-225.
LEITURA E LEITORES DE CICERO EM LISBOA E COIMBRA 769
69
Erasmo, Cieronianus, 1528. Vide, ainda, trad, de Pierre Mesnard, Paris, Ed.
Vrin, 1970. Sobre as várias edições desta obra erasmiana vide Ferdinand Vander
Haeghen, Bibliotheca Erasmiana, Nieuwkoop, B. de Graaf, 1972 [reed.].
70
Joaquim de Carvalho, «A Livraria de um letrado do século XVI — Frei
Diogo de Murça», in Boletim da Biblioteca da Universidade de Coimbra, 1927 [repu-
blicado in Idem, Estudos sobre a Cultura Portuguesa do Século XVI, vol. II, pp. 111-
-139; e in Joaquim de Carvalho, Obra Completa, II, História da Cultura, sob a Dir. do
Prof. José V. de Pina Martins, Lisboa, Fundação C. Gulbenkian, 1982, pp. 569 e sgs.
Remetemos, ainda, a respeito da Livraria de Frei Diogo de Murça para Artur Moreira
de Sá, «Livros de uso de Frei Diogo de Murça», in Boletim da Biblioteca da
Universidade de Coimbra, n.° 33, Coimbra, 1977, pp. 69-109 [em separata]; e para
J. Mattoso, «Diogo de Murça (Frei)», in Verbo — Enciclopédia Luso-Brasileira de
Cultura, vol. 6, Lisboa, 1967, cols. 1434-35.
LEITURA E LEITORES DE CICERO EM LISBOA E COIMBRA 771
71
O Prof. João Manuel Nunes Torrão, tendo defendido na Faculdade de Letras
da Universidade de Coimbra, em Maio de 1991, a sua Tese de Doutoramento, subordi-
nada ao tema D. Jerónimo Osório e o Tratado «De Gloria», veio trazer achegas muito
válidas e inovadoras — abrindo assim novas hipóteses a outras formuladas por Barbosa
Machado — em relação à obra humanística do Bispo do Algarve. Uma dessas hipóte-
ses, e para além de vir alterar a data de nascimento de Jerónimo Osório de 1506 (pro-
posta por B. Machado) para fins de 1514 ou até mesmo Janeiro de 1515), diz respeito
à indicação de que o humanista não regressou de Itália a Portugal em 1539, como pro-
pôs o Abade de Sever, mas já em 1542 presumivelmente. Esse facto levou J. M. N.
Torrão a considerar que o De Nobilitate Christiana não foi escrito a partir de 1536
(data proposta por B. Machado), mas muito provavelmente a partir de 1539.
Agradecemos a este investigador e docente da Universidade de Coimbra o ter-nos adi-
antado, em fase prévia à publicação da sua Tese, algumas destas suas conclusões cien-
tíficas. Elas vêm provar [sobretudo a última data] que para um estudo da formação
ciceroniana em D. Jerónimo Osório — resultante, até, das leituras bibliográficas feitas
nesse período em Itália — torna-se necessário considerar apenas o período pós-1539.
72
Vide Joaquim Veríssimo Serrão, António de Gouveia e o seu Tempo,
Coimbra, 1966; e, ainda, Luís de Matos, «Sobre António de Gouveia e a sua Obra», in
Boletim Internacional de Bibliografia Luso-Brasileira, Lisboa, Fundação Gulbenkian,
1966, vol. VII, pp. 557-724, onde é apresentada uma exaustiva bibliografia da autoria
do humanista.
772 MANUEL CADAFAZ DE MATOS
niano cabe, numa primeira instância, a Resende e, logo numa segunda ins-
tância — não muito distante aliás da primeira — a Frei Diogo de Murça.
Colocando em paralelo os itinerários de formação humanística do
primeiro e do segundo humanistas portugueses, chega-se à inequívoca
conclusão que, em ambos, a estadia na Flandres — em universidades
dessa região como a de Lovaina — terão sido decisivas para captar o
essencial das ideias de Erasmo (como a parte perfilhada) no âmbito
dessa querela ciceroniano.. A discussão das ideias da querela, no âmbito
das universidades francesas, se bem que à altura fosse também uma rea-
lidade, viria anos depois a beneficiar de um novo implemento, com a
publicação das obras de Johannes Sambucus e de Pierre l a Ramée 7 3 ,
r e s p e c t i v a m e n t e o De Imitatione Ciceroniana dialogi três e o
Ciceronianus.
André de Resende em 1529 — e servimo-nos da magistral síntese
sobre a vida e obra do humanista estabelecida pelo Prof. Luís Sousa
Rebelo — encontrava-se em Lovaina (depois da sua intensa actividade
intelectual em alguns pontos da Península como por exemplo em Alcalá
de Henares e Salamanca, após o que regressou a Portugal). Isso sucedia,
já se vê, apenas alguns meses após a edição princeps do Ciceronianus de
Erasmo. Terá lido o português então essa obra? Estamos em crer que sim.
Caso não a tenha lido logo então tê-la-á lido — e até dada a amizade (e
correspondência) que estabeleceu com o humanista de Roterdão 7 4 —
pouco depois. A sua citação, já em 1534, em Lisboa, é a melhor prova
que poderíamos apresentar.
E quanto a Frei Diogo de Murça? O Prof. José Mattoso é bem claro
ao referir que, em 27 de Maio de 1533, Frei Diogo de Murça estava «cer-
tamente em Lovaina, onde recebeu o grau de doutor em Teologia» 7 5 . Este
facto explica que, também aí — e dados os interesses erasmianos (e não
só) que se lhe conhecem a partir dessa data — poderá ter conhecido, e até
perfilhado, as ideias erasmianas em torno do ciceronianismo.
73
Alude a este facto, embora sumariamente, o Prof. Léon Bourdon in
«Jugements d'humanistes anglais sur le Ciceronianisme de Jerónimo Osório», in
Revista Humanitas, vol. VI-VII da nova série [vol. IX-X da série contínua], Coimbra,
1957-58, p. 25.
74
Manuel Cadafaz de Matos, Erasmo da sua Modernidade, já cit., 1987; e do
Prof. Luís Sousa Rebelo, «Resende, Lúcio André de», in Dicionário de Literatura,
4.a ed., 1989, p. 925.
75
J. Mattoso, «Diogo de Murça (Frei), ELBC [vide, atrás, nota 69].
LEITURA E LEITORES DE CICERO EM LISBOA E COIMBRA 773
76
Artur Moreira de Sá, «Livros de Frei Diogo de Murça», ja cit., p. 20.
77
Francisco Leitão Ferreira, in Noticias Chronologicas da Universidade de
Coimbra, em edição do Prof. Joaquim de Carvalho, regista algumas das decisões de
Frei Diogo de Murça, após empossado Reitor da Universidade de Coimbra, em 5 de
Novembro de 1543: «(...) mandou El Rey D. João III vir de Paris a Marcos Romeiro e
Payo Rodrigues de Villarinho, ambos Doutores Teólogos por aquela Universidade, para
lerem nesta a Sagrada Escritura; o primeiro leu depois a cadeira de Véspera de
Teologia e foi Cónego de Coimbra; e o segundo, principal do Colégio das Artes e
Cónego Magistral de Évora; e para 1er a cadeira de Prima de Leis, a Fábio Arcas
Arnania, Doutor in utroque jure com trezentos e sessenta mil reis de salário; e para a
de Véspera da mesma Faculdade, a Ascanio Escoto, também Doutor in utroque jure...»
78
No estudo do Prof. Joaquim de Carvalho, já referenciado, divulgam-se um
«Recibo de Frei Heitor de Monforte, Procurador do Convento de Penha Longa, de
como lhe foram entregues os livros que tinham pertencido a Frei Diogo de Murça. 26
de Fevereiro de 1566.» [ed. cit., 1982, pp. 584 e sgs.]; e «Inventário dos Livros, que se
acharão no Collegio de S. Bento de Coimbra em huns cofres, por morte do Pe. Fr.
Diogo de Murça, e tinhão vindo da Costa; Mandados entregar ao Collegio de S.
Jeronymo de Coimbra pelo Snr. Rey D. João o 3.° e depois de sua morte pela Snra.
Rainha D. Catherina» [idem, pp. 601 e sgs.]. Este último documento é o ms. 610 da
Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra. Para uma leitura mais judiciosa destes
inventários regista ainda Moreira de Sá, in op. cit., p. 12: «Em 2 de Abril de 1551
[dias depois da morte de Frei Diogo] iniciaram-se os inventários dos [258] livros que
se encontravam nos Paços Reais [em Coimbra] e tinham vindo recentemente do
Colégio de S. Bento.»
774 MANUEL CADAFAZ DE MATOS
79
Estas referências a obras de Cícero constantes da referida Livraria encontra-as
o leitor in Joaquim de Carvalho, ed. cit., 1982, pp. 607-635.
LEITURA E LEITORES DE CICERO EM LISBOA E COIMBRA 775
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80
Vide José V. de Pina Martins Humanismo e Erasmismo na Cultura
Portuguesa do século XVI — Estudos e Textos, Paris, Fundação Calouste Gulbenkian,
Centro Cultural Português, 1973, p. 160 (n. 313), onde este erudito esclarece, que a
lista bibliográfica de Frei Diogo de Murça «é infinitamente preciosa para julgarmos
acerca da cultura humanística daquele letrado português». Para além de Erasmo estão
nela representados, com efeito, Guillaume Budé, Rudolfo Agrícola, Vives, A. Nifo,
Sadoleto, Ermolao Bárbaro, Pontano e Filelfo.
776 MANUEL CADAFAZ DE MATOS
ALGUMAS CONCLUSÕES
81
Eugénio Asensio, «Ciceronianos contra erasmistas en Espana, dos momentos
(1528-1560)», in Revue de Littérature Compareée, n.° 2-3-4, Paris, 1978, pp. 135 e
sgs., in Hommage à Marcel Bataillon, intelectual a quem Portugal também tanto deve
(de quem se comemorou no ano de 1994 o centenário do seu nascimento) e que tam-
bém aqui homenageamos.