Relatório Final

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EMPRESA BRASILEIRA DE SERVIÇOS HOSPITALARES

HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS


GERÊNCIA DE ENSINO E PESQUISA

RELATÓRIO FINAL DE ATIVIDADES DO BOLSISTA DO PROGRAMA


DE INICIAÇÃO TECNOLÓGICA DA EMPRESA BRASILEIRA DE
SERVIÇOS HOSPITALARES – PIT/EBSERH - EDITAL Nº. 01/2022

Autopercepção dos profissionais de saúde acerca do Desafio Global da


Segurança do Paciente, “Medicamentos Sem Danos”, e dos riscos para
crianças hospitalizadas em enfermaria de Pediatria: uma análise fatorial

Bolsista: Mateus de Araújo Prado


Orientador: Cristina Ortiz Sobrinho Valete;
Cristina Bruno Heleno

Período de vigência: abril de 2023 à abril de 2024


1. Resumo do projeto
Este estudo exploratório, com delineamento descritivo e quantitativo,
analisou a autopercepção dos profissionais da enfermaria pediátrica do
HU-UFSCar sobre o Desafio Global da Segurança do Paciente “Medicamentos
Sem Danos” e os riscos para crianças hospitalizadas. A pesquisa, realizada
entre abril de 2023 e abril de 2024 por meio de questionário online, contou com
48 participantes.
Houve uma análise descritiva e análise preliminar de risco com base em
cinco fatores que compunham o Desafio Global de Segurança do Paciente da
Organização Mundial da Saúde: Cultura de segurança, Competência
profissional, Processos assistenciais, Engajamento do paciente e família e
Cultura de relato de incidentes.
Os resultados indicam que, embora os profissionais reconheçam a
importância da segurança do paciente, há necessidade de fortalecer a cultura
de segurança, investir em educação e treinamento contínuos, aprimorar os
processos assistenciais e promover o engajamento do paciente e da família. A
pesquisa contribui para a comunidade científica com um artigo científico no
campo da pediatria e para a equipe local com um vídeo educativo.

2. Introdução
A segurança do paciente é um direito fundamental, especialmente para
crianças, e a administração segura de medicamentos em pediatria é crucial. A
OMS lançou o Desafio Global de Segurança do Paciente "Medicação sem
Danos" para reduzir danos evitáveis¹. Este estudo visa analisar a
autopercepção dos profissionais de saúde da enfermaria pediátrica de um
hospital universitário sobre os domínios do Desafio e os riscos associados, a
fim de identificar prioridades para educação em serviço e subsidiar a criação de
estratégias de intervenção assertivas ao sítio estudado.

3. Materiais e Métodos

Trata-se de estudo do tipo survey, transversal, prospectivo e


quantitativo. Foi aplicado um questionário aos profissionais de saúde que
atuam na enfermaria de pediatria de um hospital universitário, no período de 1
de março a 20 de setembro de 2023. A redação deste estudo seguiu o
recomendado pelo formulário CROSS ².

Foi construído um questionário com a colaboração de uma equipe


multiprofissional formada por especialistas no assunto. O grupo constituiu-se
de profissionais que atuam diretamente com segurança do paciente pediátrico
sendo: duas farmacêuticas de instituições diferentes, uma enfermeira, um
aluno de graduação em Medicina e uma médica especialista em Pediatria.
Foram realizadas reuniões programadas para discussão das perguntas
elaboradas, conforme preconizado na metodologia Delphi ³, tendo como base
os domínios do DGSP e as decisões foram tomadas por consenso. As
perguntas do questionário eram positivas, sendo esperadas as respostas do
tipo concordo totalmente e concordo.
O questionário incluiu perguntas sobre as características e formação dos
profissionais e os domínios do DGSP. Os domínios analisados foram Pacientes
e Público; Medicamentos; Sistemas e Práticas e Profissionais. Cada domínio
foi composto por um conjunto de componentes, totalizando 24 perguntas. Para
as respostas, foi elaborada uma escala Likert em cinco níveis (concordo
totalmente, concordo, não concordo nem discordo, discordo, discordo
totalmente). Inicialmente foi analisada a concordância dos profissionais acerca
das perguntas do questionário e posteriormente foi quantificado o potencial de
risco.

Para esta análise foram consideradas as respostas diferentes de


concordo e concordo totalmente, uma vez que era esperado que os
profissionais concordassem com as afirmações. As respostas com
concordância igual ou menor que 50% foram consideradas importantes. Para
cada componente também foi avaliado o potencial de risco, com sua
classificação, o que permitiu a identificação de prioridades. Os componentes
com maior discordância e com maior pontuação de risco foram considerados
prioritários. A matriz de risco proposta pelos pesquisadores foi adaptada,
conforme sugerido por Ruppenthal.4 Duas perguntas seguiam-se a cada
componente, uma sobre a frequência possível de ocorrência de evento adverso
por questões relacionadas ao componente (nunca, raramente, às vezes,
frequentemente, sempre) e outra sobre as consequências dos eventos
adversos com uso de medicamentos possivelmente relacionados ao
componente (óbito, dano grave, dano moderado, dano leve, evento sem
danos). Riscos > 10 foram considerados intoleráveis. Não foram investigados
os eventos adversos ocorridos na unidade.

A amostra foi de conveniência e a população do estudo foi constituída


por profissionais atuantes na enfermaria de pediatria de um hospital
universitário localizado no interior de São Paulo, e que participam da terapia
medicamentosa no setor (médicos, enfermeiros e técnicos de enfermagem). A
equipe total no período do estudo era constituída por 51 profissionais. O
hospital dispõe de sistema de prescrição eletrônica e a capacidade instalada
da enfermaria é de 17 leitos. Os profissionais foram convidados a participar do
estudo, de forma presencial, durante o horário de trabalho. A aplicação do
questionário se deu com auxílio de um tablet, sendo o mesmo respondido pelo
profissional, no tempo necessário para as respostas e sem influência dos
pesquisadores, após explicação sobre o estudo e assinatura do termo de
consentimento livre e esclarecido. Caso houvesse alguma dúvida, o
pesquisador estava próximo e era solicitado para explicar. A coleta e
gerenciamento de dados foi realizada com auxílio da plataforma REDCap.
Após a aplicação do questionário, os dados foram exportados para análise. Os
profissionais que inicialmente aceitaram participar, mas não concordaram com
o termo de consentimento livre e esclarecido e aqueles afastados durante o
período do estudo, foram excluídos.

Para as análises, foi utilizado o programa Stata versão 18.0 (Stata Corp,
L.C.). Foi avaliada a normalidade pelo teste de Shapiro-Wilk (p-valor= 0,03) e
realizada estatística descritiva, com cálculo das frequências, medianas e
intervalos interquartil (IIQ). Diferenças entre proporções das respostas em
relação à área de atuação do profissional, foram analisadas pelo teste do
qui-quadrado. Para as análises, foi considerado o p-valor < 0,05. Os resultados
são apresentados na forma de tabelas e gráficos.

Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da


instituição e todos os participantes assinaram termo de consentimento livre e
esclarecido.

4. Resultados alcançados

Cinquenta e um profissionais foram convidados a participar. Três


recusaram. Foram incluídos 48 profissionais. Os profissionais incluídos
apresentavam mediana de idade de 39 anos (IIQ 33-43,2 anos), sendo 43 do
sexo feminino (89,6%). Em relação à área de atuação, participaram 10
enfermeiros(as) (20,8%), 20 técnicos(as) de enfermagem (41,7%) e 18
médicos(as) (37,5%). Do total de participantes, 11 referiram formação de nível
superior (22,9%), 18 de pós-graduação lato sensu (37,5%) e 5 de
pós-graduação stricto sensu (10,4%). Questionados quanto ao regime de
trabalho, 44 (91,7%) dos profissionais afirmaram serem plantonistas, enquanto
4 (8,3%) eram diaristas. A maioria era do turno diurno (68,8%) e 27 (56,3%)
afirmaram não possuir outro vínculo de trabalho. Quanto à experiência clínica
na área pediátrica, 22 (45,8%) afirmaram que atuavam há menos de dois anos,
17 (35,4%) atuavam entre dois e dez anos e 9 (18,8%) atuavam há mais de 10
anos.

Domínio: Pacientes e público

Foi avaliada a concordância para as questões relacionadas com o


componente letramento dos pacientes. Trinta e seis (75,0%) profissionais
concordaram totalmente e 12 (25,0%) concordaram que “é essencial informar
aos pacientes quando eles entendem quais medicamentos estão sendo
administrados”. Trinta e oito (79,2%) concordaram totalmente e 10 (20,8%)
concordaram que “é essencial informar os responsáveis legais quais
medicamentos estão sendo administrados”. Trinta e dois (66,6%) concordaram
totalmente e 13 (14,9%) concordaram que “eu procuro educar meus pacientes
quando eles entendem, sobre a forma correta de tomar os medicamentos, bem
como seus efeitos, reações adversas e sinais de alerta”. Em relação ao
engajamento dos pacientes e responsáveis, 10 (20,8%) concordaram
totalmente e 20 (41,6%) concordaram, totalizando 62,4%, que “eu permito que
os responsáveis pelos meus pacientes assumam um papel ativo na terapia
medicamentosa”. Por outro lado, 8 (16,7%) concordaram totalmente e 12
(25,0%) concordaram, totalizando 41,7%, que “eu permito que as crianças sob
meus cuidados quando tem capacidade de entender, assumam papel ativo na
terapia medicamentosa” (Gráfico 1). Para esta última pergunta, não foi
observada diferença nas respostas de acordo com a área de atuação
(p-valor=0,47).

Domínio: Medicamentos

Houve maior concordância para o componente divergência com


nomenclatura, rótulo ou embalagem. Quarenta e três (89,5%) concordaram
totalmente e 2 (4,2%) concordaram que “quando há discordância no nome do
medicamento que eu vou administrar com o que está prescrito ou no rótulo ou
na embalagem, o medicamento não deve ser administrado antes de conferir
com o prescritor e dispensador”. Quarenta e cinco (93,7%) concordaram
totalmente e 2 (4,2%) concordaram que “é importante conferir o nome do
medicamento, rótulo e embalagem quando será administrada uma medicação”.
Entretanto, 13 (27,0%) profissionais discordaram e 7 (14,6%) não concordaram
nem discordaram, somando 41,6%, que “no leito do paciente só devem
permanecer medicamentos que estão atualmente em uso pelo mesmo
paciente” (Gráfico 2), sem diferença em relação a área de atuação (p-valor=
0,37).

Domínio: Sistemas e práticas

Neste domínio, foi observado que houve concordância total para a


afirmação “nas infusões de soro é importante conferir todos os ítens e fazer o
rótulo, que fica anexado ao frasco, com a identificação do paciente” e “é
essencial que o medicamento dispensado pela farmácia seja conferido com o
que está prescrito para o paciente, antes de administrar” (Gráfico 3). Por outro
lado, foi observado que 7 (14,5%) discordaram e 15 (31,3%) não concordaram
nem discordaram, totalizando 45,8% dos profissionais, que “as prescrições
médicas são de fácil entendimento”. A comparação desta resposta em relação
à área de atuação revelou não haver diferenças (p-valor= 0,60).

Domínio: Profissionais

No que se refere a este domínio, foi observada concordância total para a


afirmação “quando ocorre um evento adverso na unidade, ele deve ser
notificado” (Gráfico 4). Onze (22,9%) profissionais concordaram totalmente e
26 (54,2%) concordaram que “minha equipe de trabalho lida de forma
comprometida com os protocolos de segurança relacionados à terapia
medicamentosa, que podem evitar danos aos pacientes”. Em contrapartida, 20
(41,7%) dos profissionais concordaram que “você já teve conhecimento de
algum evento adverso relacionado a terapia medicamentosa ocorrido na
unidade”, sem diferença para estas respostas em relação a área de atuação
(p-valor=0,26). Ainda, 22 (45,8%) concordaram que “receberam algum
treinamento nos últimos 12 meses, relacionado a segurança com o uso de
medicamentos” . Para esta última pergunta, não foi observada diferença nas
proporções em relação à área de atuação (p-valor=0,37).

A análise de riscos resultou em riscos intoleráveis para todos os


domínios, dada a frequência reportada e a gravidade, sendo maiores para os
componentes presença no leito de medicamentos que não estão em uso pelo
paciente, prescrição, preparo e medicação (clareza das prescrições médicas) e
educação e treinamento (Tabela 1).

5. Discussão/ Conclusões

No presente estudo, que investigou a autopercepção da equipe


multiprofissional da enfermaria de pediatria de um hospital universitário, foi
observado que deve ser dada prioridade para a construção de barreiras para
os componentes presença no leito de medicamentos que não estão em uso
pelo paciente, prescrição, preparo e dispensação (com ênfase na clareza da
prescrição médica) e educação e treinamento, dada a menor concordância
encontrada e a maior pontuação do risco. Dois outros componentes merecem
destaque pela frequência, embora com menor potencial de risco. O
componente engajamento dos pacientes e responsáveis, em especial para a
participação ativa da criança na terapia medicamentosa, quando isto é possível
e ainda, o componente relatos de incidentes e aprendizagem com as falhas,
que revelou que a metade discordou sobre ter conhecimento de algum evento
adverso ocorrido na unidade relacionado a terapia medicamentosa.

No presente estudo, o componente “no leito do paciente só devem


permanecer medicamentos que estão atualmente em uso pelo mesmo
paciente” foi considerado prioritário. A presença no leito de medicamentos que
não estão em uso pelo paciente pode gerar redundância na administração de
medicamentos, com consequências como superdosagem e toxicidade.5 As
discrepâncias entre os medicamentos que o paciente utiliza e os medicamentos
prescritos no momento da internação também têm sido descritas como
recorrentes, sendo necessária a reconciliação medicamentosa no momento da
admissão do paciente, na transferência e na alta hospitalar, para evitar
possíveis danos com o uso indevido de medicamentos. Desta forma, deve ser
feito um trabalho junto a equipe estudada, para que os profissionais entendam
que os medicamentos 6 que não estejam em uso pelo paciente não devem
permanecer no leito e aumentem a vigilância deste componente.

A prescrição, preparo e dispensação são etapas críticas da terapia


medicamentosa. No presente estudo, outro componente identificado como
prioritário foi “as prescrições médicas são de fácil entendimento”.
Consideramos este resultado surpreendente, uma vez que a unidade utiliza o
sistema de prescrição eletrônica em 100% dos pacientes. A Organização
Mundial da Saúde estima que cerca de 50% dos medicamentos sejam
prescritos e usados de forma inapropriada.7 Para reduzir a frequência dos
eventos adversos relacionados ao uso de medicamentos, tem sido proposto
que a padronização dos medicamentos, a prescrição eletrônica, o treinamento
dos profissionais de saúde e o fortalecimentos dos sistemas de relatos de
incidentes contribuam para esta redução 8. Embora as prescrições eletrônicas
colaborem para a maior clareza no entendimento dos itens prescritos, venham
sendo progressivamente incorporadas na prática hospitalar e reduzam os erros
de medicamentos e dosagem, as evidências acerca da melhoria dos desfechos
nos pacientes são limitadas e ainda, a maioria dos estudos tem foco na
população adulta, sendo os resultados destes extrapolados para a população
pediátrica. Com o objetivo de conferir maior segurança na prescrição de
medicamentos e reduzir a prescrição de medicamentos potencialmente
inapropriados e potenciais omissões de prescrição na pediatria, foi criado em
2013 um instrumento chamado POPI (Pediatrics: Omission of Prescriptions and
Inappropriate prescriptions). Entretanto, este instrumento ainda precisa ser
amplamente testado na prática.9 A forma como a prescrição eletrônica vem
sendo usada na enfermaria pediátrica analisada precisa ser reavaliada, pois
esta etapa revelou fragilidade, indicando que ter um sistema eletrônico de
prescrição não garante a clareza das prescrições.
Foi observado no presente estudo que o componente “receberam algum
treinamento nos últimos 12 meses, relacionado a segurança com o uso de
medicamentos” também foi prioritário. Educação e treinamento em serviço são
os pilares para a efetivação de boas práticas na assistência medicamentosa e
para o cuidado em geral. Custodio et al. avaliaram a administração de
medicamentos endovenosos, antes e depois de um treinamento de
profissionais de saúde, e observaram efeitos positivos deste treinamento em 13
itens avaliados.10 Somente com a educação permanente em saúde (EPS), com
foco nos problemas enfrentados no cotidiano dos serviços, articulando
educação e trabalho, pode-se mudar os processos de trabalho e as práticas.
Embora a EPS e a segurança do paciente estejam intimamente ligadas, este
tema ainda precisa ser incluído de forma sistemática nos programas de
educação institucionais.¹¹ Interessante destacar que este componente
atravessa os demais, uma vez que é através da educação que podemos
efetivamente mudar os processos de trabalho relacionados. Consideramos que
a educação dos profissionais referente a segurança com uso de medicamentos
pode e deve ser intensificada nesta unidade.

O engajamento do paciente e sua participação ativa na terapia


medicamentosa e no seu cuidado em saúde é um desafio que precisa ser
enfrentado, em especial na criança. A baixa concordância observada no
presente estudo no que se refere ao engajamento da criança, revela a
dificuldade desta participação. Pacientes e familiares são parte da equipe,
podendo inclusive identificar incidentes que nem sempre são percebidos pelos
profissionais de saúde, uma vez que vivenciam um contexto mais amplo do
cuidado e seu olhar é diferenciado. ¹²,¹³ Entretanto, para que o paciente
participe, ele deve entender o que tem e a terapia que está sendo instituída,
sendo a comunicação efetiva a ferramenta que permite esta participação. Para
isso, há necessidade de escuta do paciente, disponibilidade de tempo, um
ambiente promotor de segurança e informação robusta sobre o tratamento e os
eventos relacionados aos medicamentos tanto para o paciente como para os
familiares, com utilização de técnicas como o “Teach-Back”.14 Importante
ressaltar que o engajamento de pacientes pela segurança do paciente foi o
tema do Dia Mundial da Segurança do Paciente de 2023, e foi adotado no
Brasil pela Sociedade Brasileira para a Qualidade do Cuidado e Segurança do
Paciente (SOBRASP) o slogan “Vamos fazer ouvir a voz dos pacientes”,
ressaltando a importância crucial do paciente para sua segurança, o que
independe da idade. A criança não deve ser considerada incapaz ou capaz
desta participação, nem tampouco deve ser levada em consideração apenas
sua idade cronológica. Ao contrário, deve-se entender que na infância esta
capacidade de participação é evolutiva e se dá de forma gradual, devendo este
aspecto ser respeitado e considerado. Neste sentido, a forma de comunicar
com a criança dependerá da sua capacidade de entendimento, cabendo ao
profissional de saúde e à família se empenharem em conjunto, para a
efetivação desta comunicação. 15, 16

O relato de incidentes e a aprendizagem com as falhas também foi outro


componente que chamou atenção, uma vez que a metade dos profissionais
não ouviu falar sobre algum evento adverso associado ao uso de
medicamentos que tenha ocorrido na unidade. Sabemos que não existe erro
zero, o que sugere que os profissionais não tenham tido acesso ao
conhecimento acerca dos eventos ocorridos ou ainda, que haja importante
subnotificação, ou medo de relatar que sabem sobre algum evento que
ocorreu. O aprendizado neste caso, deve ser visto como um processo
participativo que envolve um grupo de pessoas e realiza mudanças ativas no
comportamento. É pouco provável que esta aprendizagem ocorra se as
pessoas não tiverem conhecimento dos incidentes e não estiverem envolvidas.
Deve ser ressaltado que a base para os programas de segurança do paciente é
a notificação espontânea dos eventos, com a construção de ações de melhoria
de processos e fortalecimento da cultura de segurança do paciente, sem
punição dos profissionais envolvidos. 17, 18 E essa notificação pode ser feita
tanto pelos profissionais quanto pelo paciente e familiares. No Brasil, tem sido
descrito que a cultura punitiva aos profissionais de saúde ainda é frequente e
que muitos profissionais de saúde não notificam por medo. 19 Os sistemas de
notificação e aprendizagem apresentam desafios, como o feedback dos
profissionais, com o intuito de aprendizagem e prevenção da repetição do erro
e não a punição, a avaliação aprofundada dos incidentes e não somente a
“opinião” em nível local e por fim, os processos de redução sustentada de
riscos, que ainda tem muito a evoluir. 20 Este resultado chama atenção para que
uma reflexão mais aprofundada seja feita acerca da cultura de segurança da
unidade estudada.

Este estudo tem limitações. Trata-se de estudo em uma única unidade,


refletindo o construto dos profissionais da mesma sobre a assistência
medicamentosa. Também, não incluímos os profissionais farmacêuticos e o
tamanho da amostra pode ter dificultado o encontro de significância estatística.
Entretanto, a avaliação da frequência de concordâncias, aliada a estimativa de
risco potencial, pode ser uma ferramenta valiosa para a programação
assistencial local e fomentar o desenvolvimento de estratégias preventivas em
outros serviços, conforme preconizado pelo DGSP.

Conclui-se que os componentes presença no leito de medicamentos que


não estão em uso pelo paciente, prescrição, preparo e dispensação (clareza da
prescrição médica) e educação e treinamento foram considerados os
prioritários a serem trabalhados na equipe. Estudos futuros devem ser
realizados para aprofundar o entendimento sobre a falta de clareza das
prescrições médicas, e será construído um vídeo institucional para os
profissionais, como estratégia de educação em serviço.

6. Bibliografia

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https://www.scielo.br/j/csc/a/VZJJRXcjhPfY5vqCs4BMmFc/#

Gráfico 1. Autopercepção dos profissionais sobre o domínio pacientes e


público.

Gráfico 2. Autopercepção dos profissionais sobre o domínio


medicamentos.
Gráfico 3. Autopercepção dos profissionais sobre o domínio sistemas e
práticas.

Gráfico 4. Autopercepção dos profissionais sobre o domínio profissionais.

Tabela 1. Autopercepção dos profissionais sobre os riscos relacionados


aos componentes do Desafio Global da Segurança do Paciente.
PROBABILIDADE ANÁLISE PRELIMINAR DE RISCO
sempre 5 10 15 20 25

frequentemente 4 8 12 16 20
A, B, C

às vezes 3 6 9 12 15
D, E, F,
G, H, I,
J, K

raramente 2 4 6 8 10

nunca 1 2 3 4 5

RISCO sem dano dano dano óbito


danos leve moderado grave

GRAVIDADE

A- Presença no leito de medicamentos que não estão em uso pelo


paciente; B- Prescrição, preparo e dispensação; C- Educação e
treinamento; D- Letramento dos pacientes; E- Engajamento de pacientes
e responsáveis; F- Relatos dos pacientes e famílias; G- Divergência com
nomenclatura, rótulo ou embalagem; H- Administração e monitoramento;
I- Relatos de incidentes e aprendizagem com as falhas; J- Competência
do profissional; K- Comunicação e trabalho em equipe.

7. Dificuldades encontradas
O campo de estudo e pesquisa aplicado à pediatria naturalmente se
apresenta com menos recursos e bibliografia escassa se comparada ao campo
de outras faculdades na ciência.
Ainda observa-se um certo receio por parte dos entrevistados em
participarem de estudos que envolvem questionários, principalmente se
aplicados dentro da instituição em que trabalham, muito provavelmente por
sentirem-se avaliados de alguma forma.
Mesmo com o Termo de Livre Consentimento Esclarecido e todas as
instruções oferecidas aos participantes, pode-se observar uma autocobrança
individual por “responder corretamente”, questões que não tinham o intuito de
avaliar conhecimentos prévios.
Por fim, abordar uma equipe durante o turno de trabalho, respeitando as
escalas e momentos oportunos que não atrapalhem o desenvolvimento dos
serviços que estão sendo desenvolvidos na enfermaria, é um desafio no que
tange à identificação de janelas de oportunidade para abordagens em
momentos que não atrapalhe a prestação de serviço nem momentos básicos e
essenciais de descanso ou alimentação.

8. Produção no período e perspectivas de produtos científicos


Todo o estudo foi delineado e desenhado com o objetivo de identificar
alavancas e oportunidades práticas para desenvolver ferramentas de
treinamento e educação em saúde que abordem fragilidades pontuais e locais,
fugindo da generalização.
Cada unidade, setor, enfermaria, equipe e serviço possuem seus
próprios desafios, fortalezas e fraquezas e nosso objetivo foi utilizar-se do
método científico para identificar contribuições valiosas e desenvolver
tecnologias leves que tragam robustez à processos de segurança do paciente
pediátrico no que tange à terapia medicamentosa em toda cadeia que este
processo exige.
Por fim, a produção científica deu origem a dois artigos a serem
publicados em periódicos referentes ao assunto gestão e segurança do
paciente, uma apresentação-pôster em Congresso e um conteúdo audiovisual
pronto para ser utilizado pelo Hospital no treinamento e educação em saúde
dos profissionais do setor em que a pesquisa foi realizada.

9. Autoavaliação do bolsista
Este foi o primeiro projeto científico que participei em minha vida
acadêmica. Entre desafios e descobertas, aprendi grandes lições. O método
científico é uma jornada que merece e deve ser valorizada se enquanto
sociedade quisermos descobrir e desenvolver conhecimento e foi algo que
pude absorver e aprendi a executar. Os desafios de um pesquisador não se
limitam também a horas de leitura, buscas bibliográficas e longos períodos de
coleta de dados. A reflexão, o processo de transformar hipóteses em testes e
então realizar conclusões com bases estatísticas é um aprendizado que vou
carregar para minha carreira enquanto profissional da saúde e desenvolvedor
de conhecimento à comunidade científica.
No geral, tive que lidar com problemas pessoais e de saúde, mas com o
apoio de minhas orientadoras, avalio que minha primeira produção científica foi
satisfatória, uma vez que sem todo suporte que recebi nada disso teria sido
possível. Essa jornada de aprendizado me trouxe lições e responsabilidades
que agora fazem parte da minha bagagem enquanto acadêmico.
Espero em próximas oportunidades poder contribuir assiduamente e
com toda responsabilidade que a ciência moderna requer e exige.

10. Avaliação do orientador sobre o desenvolvimento do projeto e


desempenho do bolsista incluindo responsabilidades com o
projeto, proatividade e desempenho acadêmico e destino do
bolsista.
Data: 11 de março de 2024

Assinatura do orientador

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