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Vastu Shastra

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Assim como o Feng Shui da China, o Vastu Shastra indiano nos dá a técnica de como

harmonizar o ambiente, influenciando nossas vidas e indica a harmonia que se deve ter
entre os elementos fora e dentro do corpo, no ambiente de residência ou de trabalho.

"Uma casa adequadamente desenhada e agradável será a morada da boa


saúde, riqueza, inteligência, boa progênie, paz e felicidade e redimirá seu dono
de débitos e obrigações. Negligenciar os cânones da Arquitetura resultará em viagens
desnecessárias, mal nome, perda da fama, lamentações e desapontamentos. Todas as
casas, vilas, comunidades e cidades, portanto, deverão ser construídas de acordo com o
Vastu Shastra. Trazido à luz em favor do universo inteiro, esse conhecimento é para a
satisfação, melhoria e bem-estar generalizado de todos."

Saramananga Sutradhara

Reproduzo aqui, em sua quase totalidade, o artigo que fiz para o


caderno cultural VEDA, Visão Contemporânea da Milenar Cultura
Védica, o qual foi lançado na Bienal do Livro de 1997, que aconteceu no
Rio de Janeiro, e cuja edição está hoje praticamente esgotada. Este
artigo, chamado "Vastu Shastra, a Ciência do Bem Viver", foi fruto de
meus estudos sobre o assunto, com o qual tive contato no Brasil e
aprofundei numa viagem à India em 1996, sendo que esta foi,
provavelmente, a primeira publicação sobre o assunto em língua
portuguesa, pelo menos no Brasil.

Outros artigos do autor publicados sobre o Vastu Shastra:

Revista Época - Edição 271 - 28/07/03 - O feng shui da hora

Diário de Pernambuco - Edição de Segunda-Feira, 17 de Março de 2003 - Vastu


Shastra: Do projeto da casa à mobília

Sempre ouvimos falar de casos de lugares onde nada dá certo ou onde ninguém é feliz e
de outros onde tudo prospera. Já viu um ponto comercial que vive mudando de dono e
atividade freqüentemente? Por que isto acontece? O Vastu Shastra tem a resposta.
Confira nas páginas seguintes.

Espero que goste.

Fernando Dias
Arquiteto & Urbanista

Conta o Matsya Purana que certa vez o Senhor Shiva estava lutando arduamente com um
demônio chamado Andhakasura, numa guerra que durou vários anos. Durante a guerra,
Shiva começou a suar profusamente. Uma gota de seu suor caiu de seu rosto e
transformou-se num enorme e voraz fantasma de aparência terrível. Como estava com
muita fome, ele começou a devorar a todos, inclusive o corpo morto de Andhakasura no
final da batalha.
Não satisfeito, entretanto, ele fez penitências e pediu a Shiva a bênção de poder devorar os
três mundos. Satisfeito com suas austeridades, Shiva concedeu-lhe a bênção e todos os
semideuses ficaram horrorizados. Temerosos, eles capturaram-no, jogaram-no sobre a
terra com o rosto para o chão e puseram-se em cima dele, cada um sobre uma parte de seu
corpo, de modo que ele ficasse preso assim para sempre.

Pesaroso, ele perguntou-lhes como haveria de satisfazer sua fome e outras necessidades
naquela condição. Tendo compaixão dele, os semideuses concederam-lhe a bênção de
receber oferendas das pessoas que o adorassem no momento de começar qualquer
construção, na ocasião da ocupação da edificação e em quaisquer ocasiões similares em
que se usasse o solo. Eles também deram-lhe o poder de atormentar quem quer que
construísse algo sem antes adorá-lo ou contra sua vontade, torturando seu corpo.

O Senhor Brahma deu-lhe o nome de Vastu Purusha e desde então tornou-se praxe todos
os que usam a terra primeiramente adorá-lo e satisfazê-lo para obterem êxito em suas
construções e moradias.

O Vastu Purusha, com a cabeça a Nordeste (direção


mais importante) e os pés a Sudeste, dentro da Vastu
Mandala, um quadrado subdividido em 81 partes (9
´9) ou 64 (8´8). Sobre esses quadrados 45
semideuses estão dispostos (alguns ocupam mais de
um quadrado), cada um controlando uma parte de
seu corpo.

Assim, a escritura Vastu Shastra apresenta os princípios para se construir de modo a não
desagradar o Vastu Purusha e a sempre ganhar seu favor.

Explica-se a importância desse conhecimento da seguinte maneira:

"Uma casa adequadamente desenhada e agradável será a morada da boa saúde, riqueza,
inteligência, boa progênie, paz e felicidade e redimirá seu dono de débitos e obrigações.
Negligenciar os cânones da Arquitetura resultará em viagens desnecessárias, mal nome,
perda da fama, lamentações e desapontamentos. Todas as casas, vilas, comunidades e
cidades, portanto, deverão ser construídas de acordo com o Vastu Shastra. Trazido à luz
em favor do universo inteiro, esse conhecimento é para a satisfação, melhoria e bem-
estar generalizado de todos."

Para cada tópico os Vedas apresentam diversas explicações em diferentes níveis, desde a
mais metafísica até a mais "palpável". No entanto, todas são autênticas, possibilitando que
todos os tipos de pessoas compreendam a verdade de acordo com o nível de entendimento
que tenham.
Em outro nível, portanto, podemos dizer que nosso corpo, o ambiente construído e a
natureza de modo geral (prakriti) são constituídos pelos mesmo cinco elementos básicos
(panchabhutas). Há uma relação sutil entre os elementos de fora e de dentro do corpo e os
do lugar de residência e trabalho.

Entendendo a influência dessas cinco forças naturais podemos melhorar nossas condições
de vida, projetando adequadamente nossas edificações ou pelo menos ajustando e
modificando certos hábitos, objetos ou ambientes noa lugar casa onde já vivemos. Como
qualquer forma fixa, os edifícios (sejam casas ou prédios) criam uma concentração ou
dispersão de energias cósmicas e tectônicas (do interior da terra), as quais podem ser
benéficas ou danosas para seus ocupantes, dependendo da forma, proporção, orientação
em relação aos pontos cardeais e localização das aberturas (portas e janelas).

As escrituras védicas revelam um conhecimento exato e profundo da manipulação desses


campos energéticos num nível desejado e o Vastu Shastra contém a essência desse
conhecimento. Com ele pode-se locar uma obra de tal maneira que absorva o benefício
máximo dos elementos da Terra, bem como dos campos magnéticos que a circundam.

Os cinco elementos, ou panchabhutas, com seus correspondentes na linguagem moderna


são:

 Akasha – espaço ou vácuo,


 Vayu – ar ou elementos gasosos,
 Agni – fogo ou energia (luz, calor, radiações, etc.),
 Jala – água ou líquidos, e
 Bhumi – terra ou sólidos.

Divisão da casa em quatro setores,


segundo os elementos e as
atividades adequadas para cada
setor

Vayu – ar Akasha – éter

Movimento Atividades
Espirituais e
Intelectuais

Jala – água Agni – fogo

Repouso Energia
Tranquilidade Temperatura
Calor

É bem verdade, entretanto, que a vida hoje em dia não é mais como há cinco mil anos,
quando a cultura védica estava plenamente manifesta, pelo que surge a necessidade de
algumas adaptações. A maioria de nós vive em grandes metrópoles. Nos tempos védicos as
maiores cidades eram feitas para poucos milhares de habitantes e nunca ultrapassavam
seus limites. A expansão só era possível juntando-se vilas próximas em corporações
municipais. Ainda assim, cada vila era independente e permanecia separada das outras por
parques e estradas.

O atual estado de adensamento de nossas moradias, o uso maciço de apartamentos e a


pouca disponibilidade de espaço tornam impraticáveis certos princípios do Vastu Shastra,
como veremos adiante. A solução ideal seria mudarmos para ambientes mais naturais e
espaçosos, algo bem longe da realidade da maioria. Como se isto não bastasse, nosso estilo
de vida (em meio a energia elétrica, lâmpadas fluorescentes, computadores e máquinas) é
cada vez mais artificial. Vivemos mergulhados num oceano de ondas eletromagnéticas
(rádio, TV, telefones celulares, eletrodomésticos...) e cercados por estruturas de concreto
armado. Nada disso era usado nos tempos védicos, pois quanto mais artificial nossa vida,
mais prejudicial é, a nós próprios e ao meio ambiente. Se por um lado resolvemos um
problema, criamos inevitavelmente outros no seu lugar. O automóvel, com a sua poluição,
engarrafamento e desastres é um bom exemplo a respeito.

O melhor seria afastar-se disso tudo, contudo, a maior parte das pessoas simplesmente não
quer (ou não pode) abrir mão desse estilo de vida. A solução então é aprender a evitar o
supérfluo e usar os objetos com um mínimo de impactos negativos.

É aí que entram os princípios do Vastu Shastra, complementado com outras informações,


no que diz respeito às invenções modernas. O Vastu Shastra, porém, dita até os
pormenores da construção – como a melhor direção para se começar a escavar a terra e
levantar uma parede – e ensina os melhores momentos (muhurtas) para cada fase da
construção, com precisão de minutos, coisas que, apesar de relevantes, não são facilmente
aplicáveis em nossa atual construção civil.

Um arquiteto védico era como um alfaiate, pois fazia a casa sob medida para cada pessoa,
levando em conta o tipo de terreno adequado para ela e seu mapa astral, por exemplo. A
própria medida usada como módulo para todas as dimensões da casa era individual para
cada proprietário, o talam, equivalente ao palmo ou ao comprimento do rosto.

O talam, medida padrão da casa

Como adotar isso numa sociedade que muda cada vez mais rápido, na qual dificilmente
alguém vive mais de vinte ou mesmo dez anos no mesmo lugar?

Se, contudo, por um lado alguns princípios não são muito práticos para nossa época,
outros podem ser adotados sem reservas por qualquer um. Vamos enumerar então alguns
deles:
 Cada semideus rege um diferente aspecto da vida, por isto é importante dispor os
ambientes da casa de acordo com a localização de cada um deles, para evitar
conflitos (ver tabela a seguir).

Divisão da casa em nove setores segundo as direções (pontos cardeais),


com os respectivos semideuses, sua principal característica e algumas
possibilidades de uso do espaço

Noroeste – Vayu, Norte – Kuvera, Nordeste – Esha,


o senhor do vento o tesoureiro dos auspiciosidade
semideuses
Escritório Lugar para adoração
Lugar para guardar
Loja valores Sala de estudo

Sala de estar Sala de estar Quarto para crianças

Oeste – Varuna, Centro – Leste – Surya,


o senhor da água Brahma‚ o maior o senhor do Sol
dos semideuses
Sala de jantar Sala de Estar
Espaço aberto para a
Quarto entrada de luz e Banheiro
ventilação

Sudoeste – Nirutti, Sul – Yamaraja, Sudeste – Agni,


a morte o senhor da morte a controladora
do fogo
Quarto Quarto
Cozinha
Depósito para coisas Despensa
pesadas Medidores de
eletricidade

 É essencial que todas as paredes (inclusive os limites do terreno) estejam alinhadas


com os eixos Norte-Sul e Leste-Oeste verdadeiros (e não magnéticos) da Terra,
admitindo-se uma tolerância de 10 graus. Paredes curvas ou em outras direções só
devem ser usadas com muito conhecimento de onde e como. Logo, a forma ideal
para o terreno e a casa é o quadrado ou o retângulo. Isto assegurará o fluxo das
energias com um mínimo de interferências. Se o terreno for irregular, a
recomendação é ajustá-lo, somando ou subtraindo áreas. Isto não necessariamente
significa pobreza arquitetônica. Na cultura védica não existe uma separação rígida
como a nossa entre os vários departamentos do conhecimento e da vida.
Arquitetura, escultura, pintura, decoração, bem como espiritualidade, música,
dança, culinária, os aromas, as vestimentas, etc, é o conjunto integrado que produz
beleza e harmonia a nada é visto separadamente. O arquiteto védico fazia muito
mais do que simplesmente desenhar e construir.
 Dentro do terreno, a edificação deve estar mais a Oeste que a Leste e mais ao Sul
que ao Norte, de modo que sempre haja mais espaço livre a Norte e Leste (veja
figura). Além disso, deve haver mais e maiores aberturas a Norte e Leste. Assim
pode-se aproveitar melhor as boas energias que vêm destas direções, como os
saudáveis raios ultra-violeta (que vêm do Leste), que são anti-sépticos e purificam o
ambiente.
 Seguindo este raciocínio, deve-se proteger o Sul e o Oeste, de onde vêm influências
negativas, como os raios infra-vermelhos do Sol da tarde (do Oeste), diminuindo-se
as aberturas e usando vegetação mais alta e densa nessas direções.
 O telhado deve ter caimento para Leste ou Norte e o terreno, para Leste, Norte ou
Nordeste, pois a água sempre deve escorrer para uma dessas direções. O telhado
pode ser simétrico, mas nunca irregular.
 Água subterrânea (como poços e cisternas) deve estar a Nordeste, mas sem cruzar a
diagonal do terreno (veja figura acima). O encanamento também deve vir dessa
direção. Isto faz com que a água absorva os raios ultra-violeta e fique mais
protegida dos infra-vermelhos. Se não puder fazer isto, é bom pelo menos expor
água de beber ao Sol da manhã por algum tempo (em uma garrafa de vidro fechada,
por exemplo).

Defeitos básicos devem ser corrigidos, especialmente a Nordeste e Sudeste, mas


não se deve corrigir apressadamente e sim contar com a orientação de pessoas bem
versadas e de experiência no campo.

Muitos dos princípios do Vastu Shastra podem ser facilmente encontrados em


qualquer construção harmônica ao redor do mundo, como as pirâmides do Egito, as
pirâmides astecas ou o templo do Sol em Konark, na Índia, bem como em muitas
tradições populares.

Podemos dizer que o Vastu Shastra é uma das necessidades para se viver bem. Se todos os
outros fatores forem iguais, a correta aplicação do Vastu Shastra facilitará a prosperidade,
o sucesso e a felicidade. Sempre ouvimos falar de casos de lugares onde nada dá certo ou
onde ninguém é feliz e de outros onde tudo prospera. Isto se deve à aplicação ou não
(mesmo que inconsciente) de princípios que o Vastu Shastra explica detalhadamente.

*****

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