Mascaras Jurupixuna Analises DM Susana Carapito
Mascaras Jurupixuna Analises DM Susana Carapito
Mascaras Jurupixuna Analises DM Susana Carapito
As Moléculas da Cor: Nas Máscaras da Viagem Filosófica (1783-1792) e num Tecido Oriental (1880)
Susana Takato Oliveira Manaia Carapito
AS MOLÉCULAS DA COR:
NAS MÁSCARAS DA VIAGEM FILOSÓFICA (1783-1792)
E NUM TECIDO ORIENTAL (1880)
Mestrado em Química
2014 Departamento de Química
FCTUC
Setembro, 2014
Susana Takato Oliveira Manaia Carapito
As Moléculas da Cor:
Nas Máscaras da Viagem Filosófica (1783-1792)
e Num Tecido Oriental (1880)
Setembro 2014
Universidade de Coimbra
Agradecimentos
Gostaria de agradecer a todos os que fizeram parte da minha vida de uma forma positiva
Tenho de começar pelo meu orientador, Professor Doutor João Sérgio Seixas de Melo,
que esteve sempre disponível e que me incentivou e compreendeu muito mais do que
lhe cabia.
À Professora Doutora Marta Pinheiro por facilitar o diazometano para a metilação dos
meus compostos.
Aos colegas que me acompanharam no local de trabalho, Catherine, Sílvia, Pina, Raquel
Amaral, Ana, Joana, Telma, Raquel Rondão, obrigada por tornarem tudo mais fácil pela
À Professora Doutora Maria João Melo, Rita Castro, Diogo, Tatiana e Hélia, muito
À Dr. Maria Arminda Miranda e Dr. Maria Rosário Martins, muito obrigada pela
Aos meus Pais e à minha Avó Ana, vocês são a minha razão de ser.
I
Índice
Agradecimentos ................................................................................................................................ I
Índice .................................................................................................................................................. II
Abreviaturas ..................................................................................................................................... IV
Resumo.......................................................................................................................................... V
Abstract ........................................................................................................................................ VI
1. INTRODUÇÃO .......................................................................................................................... 1
II
2.3.3. Análise Microscópica de Cortes Estratigráficos Pictóricos para a Máscara Br.136 .......... 55
2.4. Equipamentos utilizados na análise das máscaras................................................................. 56
2.5. Identificação de Corantes na Seda Roxa ANT.M.227 .......................................................... 56
2.5.1. Metodologia ....................................................................................................................... 58
2.5.1.1. Método de Extração do Corante ................................................................................... 58
2.5.2. Desenvolvimento do método de Cromatografia de Alta Eficiência (HPLC) .................... 59
2.5.2.1. Resultados de Cromatografia de Alta Eficiência ............................................................ 61
2.5.3. Método experimental por GC-MS .................................................................................... 67
2.5.3.1. Resultados da análise por GC-MS .................................................................................. 68
3. CONCLUSÕES ......................................................................................................................... 77
ANEXO I ......................................................................................................................................... 87
ANEXO II ........................................................................................................................................ 94
ANEXO IV ...................................................................................................................................... 99
III
Abreviaturas
VF – Viagem Filosófica
Obs. - Observações
IV
Resumo
Neste trabalho foi efetuado o estudo da identificação das moléculas da cor em 3 objetos
históricos: duas máscaras dos índios Yurupixuna e uma peça de seda e algodão de cor
e Cuiabá, realizada por Alexandre Rodrigues Ferreira (ARF) em finais do Século XVIII e
Macau, reunida por Alberto Corte Real em finais do século XIX. Além do valor
permite uma alternativa no estudo e uma história mais completa destes objetos.
No caso das máscaras existiam indícios em memórias escritas por ARF, dos pigmentos
utilizados: urucu, crajiru de origem orgânica e ocre de origem inorgânica, os quais com
exceção dos ocres, se verificou já não existirem nas máscaras. A identificação dos
No caso da seda, de cor roxa, foi realizado um estudo exploratório que revelou a
corantes de origem natural. Estes compostos foram isolados por cromatografia de alta
eficiência e comparados com amostra de corantes conhecidos. Foi realizada ainda uma
V
Abstract
In this work we have investigated the source of colour, i.e., which molecules of colour
are present in three historical objects: two masks of the Amazona’s Jurupixuna indians
and a purple fabric of silk and cotton, belonging to the ethnographic collection of the
The two ethnographic masks, collected during the Philosophical Voyage undertaken by
Alexandre Rodrigues Ferreira (ARF) in the late 18th century through the Captaincies of
Grão-Pará, Rio Negro, Mato Grosso and Cuiabá and purple fabric of silk and cotton
used in the production of traditional chinese garments, part of the China and Macau
collection and obtained by Alberto Corte Real in the late 1800s. Adding to the
inestimable intrinsic value of these pieces, a different way of approaching the study,
Concerning the masks there were clues in the memoirs written by ARF of the source
of the pigments used: urucu, crajiru and ochre. The organic pigments can no longer be
found in the masks, only ochre colours remains. These were identified by X-ray
Concerning the purple silk, an exploratory study revealed the existence of synthetic dyes
produced in Europe a few years before the piece was collected, this fact runs against the
conventional wisdom that would point to the presence of dyes of natural origin, since
only synthetic dyes could be found in these samples. These were isolated by HPLC-DAD
and further compared to standard samples. The dye of this sample was also analysed by
GC-MS, witch confirmed the presence of a triphenylmethane dye and also the presence
of fatty acids.
VI
1. INTRODUÇÃO
1
2
1.1. As Máscaras da Viagem Filosófica
A Viagem Filosófica encetada por ARF foi uma consequência da Reforma Pombalina. As
Cabo Verde, Angola, Brasil), constituíram igualmente uma imagem do novo paradigma
Vandelli, lente de História Natural e Química da UC, foi um dos seus promotores. A
entrada e descoberta dum novo mundo, com as suas espécies, riquezas e gentes constitui
um momento único na história de Portugal. Uma história que ficou por contar, muito
por culpa da instabilidade política da época, que levou à queda do Marquês de Pombal e
pouco tempo depois, com as invasões Napoleónicas, à fuga do Rei e sua família para o
Brasil e à perda da história destas coleções, quer porque ficaram por organizar e estudar,
quer pela dispersão que os objetos acabaram por ter. Muitos foram para o Brasil, outros
incêndio das instalações da Escola Politécnica em março de 1978. Ao ter parte do espólio
ajudar a recuperar a história desta maravilhosa Viagem Filosófica. O que nesta tese se
apresenta é uma visão da origem das cores de algumas das máscaras dos índios
previsto, não foi possível identificar nenhuma molécula da cor de origem orgânica nas
máscaras. Porém, o que hoje se encontra nas máscaras fica estabelecido neste trabalho.
Juntamente com uma viagem global, que permite adicionar um capítulo mais à história
da Viagem Filosófica.
Iniciaremos esta tese com uma introdução aos atores desta história. Quem foi ARF, o
que se conta dos índios cujas máscaras são o objeto de estudo desta tese, que outras
3
1.1.1. Alexandre Rodrigues Ferreira - Uma Breve Biografia
mesmo nome, no dia 27 de Abril de 1756. Por vontade paterna seguiu estudos
boa educação rumou a Coimbra, onde se matriculou na Cadeira de Instituta (nome dado
4
Nos anos letivos de 1771-1772 e 1772-1773 a Universidade de Coimbra esteve
5
Figura 3 – Digitalização da matrícula de ARF no ano letivo de
1775/765. [Arquivo da Universidade de Coimbra].
1793 foi nomeado Oficial da Secretaria, Estado dos Negócios da Marinha e Domínios
6
Setembro de 1794 assume o cargo de Diretor interino do Real Gabinete de História
ano em que foi designado Administrador das Reais Quintas e posteriormente, Deputado
Figura 5 - Retrato do Marquês de Pombal (título obtido em 1770) [por Francisco José Resende,
1882, Reitoria da UC]. O Marquês de Pombal, Primeiro-ministro do Reinado de D. José I, de
1755 a 1777, foi o responsável pela Reforma Pombalina na Universidade de Coimbra.
7
1.1.2. Domingos Vandelli- Professor e Mentor
Filosóficas. Naturalista e químico, foi convidado pelo Marquês de Pombal para lecionar
correspondeu-se com Lineu e foi membro fundador da Academia Real das Ciências de
Lisboa, criada em 17798. Desde 1765 que Lineu recomendava a Vandelli que fosse
realizada uma viagem científica ao Brasil para a investigação natural desse país com tanto
8
Já em 1768 Vandelli tinha sido incumbido pelo rei Dom José I, de estabelecer um Real
Museu e Jardim Botânico junto ao Palácio Real da Ajuda, cuja finalidade seria dual:
que faria dele um monarca esclarecido e criar um local para experiências de agricultura
O Jardim deveria ser “recheado” com produtos dos reinos animal, vegetal e mineral,
económico de Portugal10.
vivia-se a crise do ouro, esta tinha começado nos primeiros anos da década de 1760 e
estava-se a agravar11; em 1778 é assinado o Tratado de Santo Ildefonso que trouxe novas
sobre as viagens para as colónias datam de 1778, é a partir deste ano que começam a
o então Ministro e Secretário de Estado Martinho de Mello e Castro (fez parte de dois
D. Maria), impulsionado pelas razões acima descritas, ordena então que Vandelli lhe
9
para empreender uma Viagem Filosófica e dela recolhesse tais resultados que
Vandelli indica Alexandre Rodrigues Ferreira e este aceita tal tarefa. Partiu para Lisboa
Esses 5 anos foram aproveitados para preparar a Viagem, em trabalhos de campo, como
Real Museu da Ajuda na recolha, preparação e remessa dos produtos naturais destinados
e costas do mar”. Neste manuscrito existem anotações feitas por ARF, o que indica que
Como o império Português não se cingia ao brasil, na mesma época em que é realizada
a Viagem Filosófica por ARF, outras três viagens são efetuadas para diferentes colónias
Portuguesas. Para Goa e Moçambique, foi enviado o naturalista Manoel Galvão da Silva,
partiram os naturalistas Ângelo Donati e José Joaquim da Silva, este último comandaria
a expedição, com o desenhista José António, e outra expedição seguiu para Cabo Verde,
estando à sua frente o naturalista João da Silva Feijó, este não se fez acompanhar de
11
1.1.4. Outras Expedições Científicas na Amazónia: antes e depois da Viagem
Filosófica
país foi percorrido por expedições, que no início tinham um carácter mais de
reconhecimento geográfico, mas que ao longo dos tempos até meados do século XVII
sobretudo o ouro. Em 1638 ocorre a primeira expedição naturalista (apesar de não ter
Holandesa das Índias Ocidentais, norteada pelo Conde Mauricio de Nassau, mas cujo
espírito pode ser personificado por Georg Marcgrave, dela resultaram coleções de
em 164812.
Terra nos pólos, fez a viagem de regresso a França, indo do Quito até ao oceano
Atlântico, pelo rio Amazonas, aproveitando para fazer a cartografia do rio e descrevendo
superficialmente a flora e fauna assim como os povos e lugares por onde passou.
A 26 de Fevereiro de 1745 chegou a Paris levando consigo uma coleção de mais de 200
publicou nas Memoires de l’Academie des Science, um relato da sua viagem, acompanhado
das medições realizadas e de um mapa do curso do rio Amazonas, onde descreve o canal
12
Figura 10 - Capa da 1ª edição da Historia Naturalis Brasiliae.[Fonte: Wikipédia].
13
Desde a Viagem Filosófica de ARF que decorreu de 1783 a 1792, até princípios do século
disputas internas e externas pelas riquezas brasileiras, o melhor era ter cuidado, assim a
Coroa Portuguesa não permitia que “vasculhassem” a sua colónia. Foi o que aconteceu
a Alexander von Humbodlt, em 1799, que apesar de chegar ao Rio Negro pelo
Cassiquare, foi logo inquirido pelo Capitão General do Pará sobre suas intenções em
viajar pelas regiões inóspitas da Amazónia. Certo é que a expedição em que Humboldt
Entre os anos de 1817 a 1820 outra famosa expedição percorreu o percurso indicado
na figura 13. O zoólogo Johann Baptist von Spix e o botânico Carl Friedrich Philipp von
14
Figura 12 - Percurso da Expedição de Martius e Spix15.
A parte da viagem feita a partir de Belém, no mês de Julho de 1819, e entrando pela
Bacia do Amazonas durou 8 meses, na maioria dos quais fizeram suas investigações
Japurá até à atual fronteira com a Colômbia, retornando a Belém em abril de 1820, de
onde partiram para a Europa com uma enorme coleção de objetos zoo-botânicos,
15
É difícil apurar ao certo qual o espólio resultante desta expedição que tenha sido
recolhido na Amazónia, mas ao todo Spix e Martius recolheram 3541 animais e 6500
plantas, transportaram ainda animais e plantas vivos para a Europa assim como quatro
índios, dois morreram durante a viagem, e uma menina da tribo Miranha e um rapaz Juri
de uma obra de 3 volumes, Viagem pelo Brasil (Reise in Brasilien). Os outros dois volumes
foram publicados já depois da morte de Spix (1826), sendo este reconhecido como co-
autor. Outra grande obra que resultou desta expedição foi a Flora Brasiliensis, cujo
primeiro fascículo de 140, foi publicado em 1840, e o último fascículo em 1915, 47 anos
1821), Georg Heinrich von Langsdorf (1824-1829). Excetuando a primeira, que por
razões políticas não entrou na Amazónia, todas foram a regiões diferentes do Brasil, e
na expedição de Langsdorf, que teve contacto com zonas parecidas com o Amazonas,
podemos ler relatos sobre a dificuldade de navegar e fazer o que fosse em floresta
tropical17, o que pode ser a razão principal do afastamento destas explorações ao norte
do Brasil.
16
1.1.5. A Viagem Filosófica de Alexandre Rodrigues Ferreira
Às seis horas e trinta minutos do dia 1 de setembro de 1783, parte Alexandre Rodrigues
expedição foram dois desenhadores, José Joaquim Freire e Joaquim José Codina e o
preparação para o envio para Lisboa do material recolhido, estudos sobre agricultura,
naturais e industriais locais, a verificação das condições materiais das vilas e fortalezas18,
A charrua Águia e Coração de Jesus com ARF chegou ao Pará às dezoito horas e trinta
17
Figura 14 - Mapa que mostra o percurso da Viagem Filosófica de Alexandre Rodrigues Ferreira
(1783-1792)19.
18
Durante os quase 9 anos que ARF esteve no Brasil percorreu mais de 39000 quilómetros
pelas Capitanias do Pará, Rio Negro, Mato Grosso e Cuiabá20 num longo percurso, que
se encontra descrito na figura 15. Ao longo desta viagem ARF foi enviando para o Real
reinos, peças das indústrias dos indígenas, as suas armas, vestes, adereços e tudo o que
lhe parecia ter interesse para quem lhe havia comissionado a expedição. Após a morte
de ARF, em Julho de 1815, Dona Germana, sua viúva, entregou a Félix de Avelar Brotero,
Quanto aos exemplares que ARF remeteu para o Real Gabinete da Ajuda não foi
encontrada uma descrição completa, mas sabe-se que entre 1803 e 1804 foram cedidos
por Vandelli ao General Lannes 126 aves, 2185 conchas e 15 exemplares de pepitas de
ouro21. Em 1808 o espólio é novamente delapidado por Geoffroy de Saint Hillaire que
levou do reino animal 76 mamíferos, 284 aves, 32 répteis, 97 peixes, 468 conchas, 12
crustáceos e 532 insetos, do reino vegetal foram levadas 2855 peças e do reino mineral
para onde também foi parte da coleção que na altura existia na Ajuda21. Em 1836 o
Museu da Ajuda foi encerrado e o seu acervo movido para a Academia Real das
exposição em Madrid, para a qual foram emprestadas peças, que não foram devolvidas
19
Ciências de Lisboa (antiga Escola Politécnica) e o que lá estava da componente de
O que resta hoje em dia, que inclui produtos manufaturados pelos índios e usados no
seu dia-a-dia, como armas, plumária, louças, vestes, máscaras e outros mais, pode ser
editada pela Editorial Kapa, em 2005. Existem ainda exemplares animais e minerais nas
outras galerias do Museu da Ciência, mas não é clara a quantidade e quais os espécimes
ao certo.
dos três reinos e outro de objetos etnográficos, composto por mais de quatro centenas
dos chamados “Productos Industriáes”20. Este envio está documentado na “Relação Dos
Produtos naturais e industraes que deste Real Museu se remetterão para a Universidade de
pelos Índios, como suas vestimentas, objetos de adorno, serviços de cama e de cozinha,
20
utensílios para tabaco, brinquedos, instrumentos musicais, louças, armas, entre outros e
Estes últimos treze objetos referidos são máscaras que na atualidade mais
máscaras, resulta do que nela está escrito, a impressão de que vieram para Coimbra em
21
A referência seguinte que se encontra sobre estas máscaras provém do inventário, de
Figura 16 - Digitalização da entrada do inventário de 1829, que diz respeito às máscaras dos
Índios Jurupixuna. [Fonte: inventário do Gabinete de História Natural da Universidade de
Coimbra de 1829].
Antiguidades, mas apenas refere doze máscaras. Mais tarde, em1881 é redigido novo
inventário que menciona treze Idolos dos indios. Entre 1910 e 1912, é inventariada por
“…13 máscaras, alvejadas e pintadas…estas máscaras são feitas e usadas pelos índios
Tikunas, que habitam a provincia do Maranhão e margem norte do Rio Solimões…única tribo
Faz-se notar que, no texto, aparece referência à tribo Ticuna como a autora das
máscaras e não a tribo Jurupixuna. Este facto é repetido pela investigadora Tekla
22
GAMCUC), reconhece uma máscara aí existente, como a representada na aguarela de
23
Foi a partir desta data que foram identificados os objetos etnográficos como
Amazónia, p.109).
Máscaras deste tipo só tinham sido descritas por Spix e Martius (página149 da referência
28), e fazem hoje dia parte da coleção de Spix e Martius do Museu de Etnologia de
Munique.
Como pelas memórias de ARF7, sabemos que ele descreve as máscaras que recolheu,
quanto ao seu uso e modo de fabrico, como sendo resultante do contacto com a tribo
Jurupixuna, então podemos dizer que, muito provavelmente, elas foram fabricadas por
esta tribo.
24
Br.135 Br.136 Br.137 Br.138 Br.139
25
Br.140 Br.141 Br.142 Br.143 Br.144
identificam a tribo Jurupixuna como não sendo a única a fazer máscaras, nem a pintar a
sua boca de preto22,23. Contudo no terceiro volume da obra Handbook of South American
Indians, encontramos referência aos Jurupixuna, num capítulo redigido por Alfred
Métraux seguido de outro redigido por Curt Nimuendajú sobre os Ticunas; é de referir
que esta tribo ainda hoje existe, enquanto a tribo dos Jurupixunas há muito que
desapareceu.
em Lisboa.
A informação existente sobre esta tribo não é muita, embora haja breves descrições
feitas por alguns autores, como por exemplo José Monteiro Noronha23 e Alfred Russel
Wallace22. No entanto, nenhuma é tão descritiva das suas cerimónias e uso das máscaras
como as memórias escritas por ARF (a transcrição destas memórias pode ser consultada
nos Anexos I e II deste trabalho). Através das memórias de ARF ficamos a saber que o
nome Yurupixuna (Juri ou Yuri) se deve ao facto destes Índios pintarem a zona à volta
da boca de preto, yuru = boca e pixuna = negro; ficamos também a saber que as máscaras
foram recolhidas na Povoação das Caldas em Setembro de 1785 e que seriam usadas em
bailes que constituíam formas de celebração de caçadas e pescarias, mas também uma
privada, servindo até de apoio para as suas deliberações. Alguns dos exemplos são os
26
doenças, entre outros. Sobre o seu modo de fabrico ficamos a saber também que para
construir as máscaras, era tecida uma estrutura de vime sobre a qual era aplicada
27
1.2. Tecido de Seda e Algodão Usado no Fabrico de Cabaias Pertencente à
Coimbra
No decorrer do século XIX, e por razões que tiveram início em meados do século XVIII,
efetivo das colónias. Desta forma, aliado aos interesses de ordem política e económica,
como primordial para depois poderem ser explorados esses territórios. É com esta
28
A recolha desta coleção foi motivada por Júlio Henriques, Diretor do Jardim Botânico e
pouco interesse. Assim contacta um conhecido seu, que na altura era Secretário do
localidades da China, acabaram por se estender até Timor. Depois de reunido o material
das recolhas foram feitas duas exposições em Macau e só depois remetido ao Museu
1880 e em 1882. O conjunto de material coletado neste período constitui uma parte
A seda é um bem precioso desde tempos imemoriais, sendo a China um dos países que
desde o terceiro milénio A.C. até ao século XV. Foi nesta data que a sua importância
29
A peça de tecido em estudo serviria para fazer cabaias. Um exemplo desta peça de
Figura 22 - Foto de cabaia em seda com bordado chinês da dinastia Quing (1644-1911),
30
2. PARTE EXPERIMENTAL
E RESULTADOS
31
32
2.1. Identificação de Pigmentos nas Máscaras da Viagem Filosófica
fabrico das máscaras são: ocra (óxidos de ferro que podem ser hematite - Fe2O3,
magnetite - FeO . Fe2O3, FeO, Goetite - FeOOH), urucu, extrato de sementes de Bixa
orelana, também conhecido como anato (contendo como fontes de cor os polienos,
33
2.1.2. Justificação da Escolha das Amostras
As máscaras estudadas foram intervencionadas algumas vezes. No entanto, quantas não
2ª – Restauro realizado de 1983 a 1985 no Instituto José Figueiredo (IJF) (único local
onde foram realizadas análises químicas), onde é identificado o urucu. (Resumo deste
3ª- Restauro realizado em 2005 por Pedro Sales. (Resumo deste relatório pode ser
Tendo lido o relatório de restauro de 1983-85, considerámos que uma peça adequada
para iniciar a procura de vestígios dos corantes orgânicos seria a de uma máscara onde
origem orgânica. Estes resultados encontram-se resumidos nos pontos 2.2.2 e 2.2.3
deste capítulo.
Na obra Memória da Amazónia28, página 150, podemos ler relativamente a uma túnica,
também ela pertença da coleção ARF e usada como complemento ao que seriam os
35
“Apesar de não ter mangas, este manto tem um motivo decorativo circular grande o qual é o
ilustração também documenta as cores e tons originais das pinturas dos Jurupixuna da peça,
“A identificação do material da Viagem Filosófica foi levada a cabo em 1981, quando o Museu
Antropológico e Laboratório em Coimbra reconheceram parte do seu acervo como uma das
Ainda que se tenha de verificar por análise molecular e que antropologicamente não se
possa afirmar que existe correspondência exata entre as aguarelas, que podem ter uma
anteriormente para identificação das máscaras quanto à sua proveniência e suas cores
originais.
nota-se que o vermelho existia de uma forma diferente (no cornicho completamente
36
vermelho e não listado como aparece agora; nos olhos, no pescoço, etc., onde aparece
de forma muito diferente). Tal revela de forma inequívoca que houve uma intervenção
do registo de inventário desse ano pode ler-se-. “…apenas quatro se encontram como
Várias questões se colocam. Desde logo, será que o que antes foi vermelho, pode ter
identificado como tal por análise de espectro de infravermelho). Uma observação mais
detalhada revela que as zonas vermelhas da aguarela (Figura 27) correspondem a zonas
37
2.2. Amostragem da máscara Br.147
Figura 28 – Amostragem da
amostra Br.147_1.
Figura 29 – Amostragem da
amostra Br.147_2.
38
Figura 32 – Amostragem da
amostra Br.147_3
Figura 33 – amostragem da
amostra Br.147_4.
Figura 34 – amostragem da
amostra Br.147_5.
39
2.2.1. Descrição das amostras da máscara Br.147
Figura 35 – Foto da amostra Br.147_1 obtida com microscópio ótico com ampliação de 40x.
A amostra Br.147_1 possui dois lados diferentes, em que (i) a camada superior onde se
encontra uma cor avermelhada que se apresenta como heterogénea, com partículas de
heterogéneo.
40
Fig. 36 – Foto da amostra Br.147_4, obtida com microscópio ótico com ampliação de 20x.
No caso da amostra Br.147_4 existem dois lados diferentes, a camada superior onde se
147_2, ilustrando como foram obtidos os dados que constam na Tabela 1 e Tabela 2.
41
Figura 37 – Espectro de infravermelho para a amostra Br.142 e respetivos componentes.
1319 1580
15000
1087
1009 1350
292 411
12000 495
226
Hematite
Negro de carvão
9000
Gesso
Carbonato de cálcio
42
2.2.2. Tabela 1 – Resumo das Análises Realizadas às Amostras da Máscara Br.147
Br.147.1 vermelho
Br.147_2 vermelho
pescoço mais
CaCO3, gesso, vermelho
Fe, Pb, Ti, Ca, S e K Negro de carvão, hematite, CaCO3, gesso
caulino
Br.147_2 branco
43
Br.147_4 vermelho
K, Ca, Ti, Fe, Pb branco fluoresce, CaCO3, hematite, magnetite ocre
Br.147_4 branco (reverso)
Si, Ca, K, Ti, Fe, Pb, Cu testa branco
(vestigial), Zn (vestigial) reverso
Br.147_5 vermelho
(221, 189, 408 ocre vermelho),
Si, S, K, Ca, Fe ,Ti, Pb (223,243,289,408 Fe2O3), 1008 cm-1 ocra talco, caulino,
(vestigial) mica, mineralite
calda(mistura de hematite, magnetite e MnO)
Br.147_5 vermelho
pontos mais
Si, K, Ca, Fe (muito menos)
escuros
44
2.2.3. Análise Microscópica de Cortes Estratigráficos Pictóricos para a
Máscara Br.147
a) b)
c) d)
e) f)
Figura 39 - Fotos tiradas com microscópio ótico, dos cortes transversais; a), c) e e) fotos com
ampliação respetivamente de 10,20 e 50x, com filtro F4 (luz polarizada); b), d) e f) com as
mesmas ampliações e filtro F8 (para fluorescência; luz azul).
45
2.3. Amostragem da máscara Br.136
46
Figura 43 – Amostragem da amostra
Br.136_4.
47
Figura 46 – Amostragem da amostra
Br.136_8.
48
Figura 49 – Amostragem da amostra
Br.136_11.
cobertas com pó; a camada inferior contém fibras e apresenta cor branca.
Figura 50 – Foto da amostra Br.136_4, obtida com microscópio ótico com ampliação de 50x.
49
Figura 51 - Foto da amostra Br.136_4 verso, obtida com microscópio ótico com ampliação de
50x.
K Ti
500
0
2,5317; 5,6732; 8,8147; 11,9562; 15,0977; 18,2392; 21,3807; 24,5222;
KeV
50
2.3.2. Tabela 2 – Resumo das análises realizadas às amostras da máscara Br.136
Foto micro.
Obs./descr. Camada superior cerosa,com PVA Parece ter fibras na camada inferior Parece ter fibras na camada inferior
Camada inferior com caulino
XRF 136_1_a - Fe, K, Mn, Pb 2a – Fe, Ca, K, Ti 3a - Fe, Ca, K, Ti, Cl, S ( frente)
136_1_b - Fe, K, Ti, Ca 2b – Fe, Ca, Ti, K, Mn 3b - “”, + Ca, e pouco menos de Fe
136_1_c - Fe, Mn, K, Ti, Ca 2c – Fe, Ca, Ti, K 3c – am + clara, Fe, K, Ba; Ca, Si ( tem
mto pouco Ca e bastante K)
136_1_d - Fe, Ca, Ti,K 2d – Fe, Ca, Ti ( verso?) 3d - am + clara, Fe, K, Ba; Ca, Si, Mn (tem
mto pouco Ca e bastante K)
2e – Fe, pouco Ca, K, Si(?), Ti verso? 3e – pouquíssimo Ca, Fe, Ba, K, Ca (v)
IR
---------------------- ----------------
PVA
51
Referência Br.136_4 Br.136_5 Br.136_7
Cor
Amarelo acastanhado Amarelo acastanhado Amarelo acastanhado
Foto
microscópio
Obs./descr.
Camada superior cerosa Camada superior cerosa
XRF 5 a – Fe, Ca, Ti,K, Pb (v), Hg (?)zona mais
4a – Fe, Ca, Ti, Cu 7 a – Fe, Ca, Ti, K,Si ( + claro)
avermelhada
4b – Ca, Fe, Ti, K, Si (+ clara) 5b – Fe, ca, k 7b – Fe, + Ca, Ti, K
4c – Fe, Ca, Ti, K, Cu (v) 5c – Fe, Ca, K, Pb?, Hg? 7c - +Fe, Ti, Ca, K ( + escuro)
5 d – Fe, Ti, - Ca ( verso)
52
Referência Br.136_8 Br.136_9 Br.136_10
Foto microscópio
8 c – com - Fe, mas = 9c - + Ca, - Fe, - Pb ( zona preta) 10c- “””””””( verso)
53
Referência Br.136_11 136_6
Cor Amarelo acastanhado Fibra vegetal
Foto microscópio
Obs./descr. Não aparenta ter cor. Não se
sabe qual a fibra.
XRF 11 a – Fe, Ti, k, Ca (v), Mn (v) Zona + clara 6a – Ca, K, Fe,Si
11 b – Fe, Ti, K, Ca intermédia, tem um pouco – 6b – “””””””””
de Fe
11 c- Fe, Ca, Ti, Mn, K – zona mais escura tem +
ferro
54
2.3.3. Análise Microscópica de Cortes Estratigráficos Pictóricos para a
Máscara Br.136
a) b)
c) d)
Na figura 50-a), a castanho vemos fibras, a amostra não mostra camadas cromáticas.
55
2.4. Equipamentos utilizados na análise das máscaras
A análise estratigráfica das camadas pictóricas foi realizada com um microscópio Zeiss
Axioplan 2 Imaging com câmara digital de alta resolução. A preparação dos cortes
estratigráficos foi feita utilizando resina acrílica, e as amostras assim preparadas foram
70 µm.
Para as análises de µ-Raman, foi usado um espectrómetro Labram 300 Jobin Yvon, com
sintetizada em 1856 por William Perkin, o primeiro corante orgânico não existente na
natureza, que valeu a Perkin o título de pai da química fina, levantou uma curiosidade
56
Sendo a China um país altamente tradicional, e com base em pesquisa de vários
não sendo púrpura de Tiro (extremamente caro) que era muito bom e fixava-se durante
muito tempo nos tecidos, podia ser obtido de líquenes ou da murexida, mas a cor assim
obtida era fugidia35, por isso as suspeitas eram de que o tecido de seda e algodão tivesse
sido tingido com mistura de corantes azuis e vermelhos, principalmente índigo para o
azul e ácido carmínico ou alizarina para o vermelho. Mas a hipótese de ser um corante
Como pode ser observado na figura 54, a peça em causa apresenta uma
distribuição heterogénea de cor, algumas zonas que não são bem definidas estão
57
descoradas, indicando que o corante degradou nessas áreas, contudo não é apresentado
maior concentração de cor e por esse motivo foi esse o local de amostragem,
2.5.1. Metodologia
sempre o seguinte: uma amostra de fio (0,2 a 0,8 mg), foi colocada num Eppendorf de
seguida o Eppendorf foi colocado num banho de água termostatizado a 60ºC, com
Table 3 Resumo das soluções mistura utilizadas para experimentar o melhor método de
extração.
1 Metanol Bom
M1
(1:3:3:4, v/v/v/v)
58
5 MeOH+1 gota de HCl 0.01M/H2O (pH=2) Solução menos corada que a obtida por
M1
Tendo-se verificado que o melhor método era o que utilizava, simplesmente o metanol
como solvente de extração (M1) e que a fibra ao final de 30 minutos ainda tinha cor
significativa, o tempo de extração foi aumentado para 1 hora, e pela mesma razão sofreu
Após a extração, o solvente foi evaporado com uma atmosfera azoto, e o extrato
resultante, reconstituído com metanol, filtrado com filtro Chromafil Xtra PET – 45/25,
e analisado por HPLC-DAD (do inglês High Performance Liquid Cromatography- Diode Array
Detector).
(HPLC)
e caracterização devido à diversidade química dos corantes que podem estar presentes.
Pela pesquisa efetuada, para a separação e identificação dos corantes presentes no tecido
de seda e algodão, pensámos que a técnica de HPLC-DAD seria adequada, pois a deteção
59
2130, injector automático L-2200. O detetor DAD, série L-2455, com software
EZChrom Elite versão 3.3.2 SP2. Para a separação de compostos utilizou-se uma coluna
30ºC e com dados DAD recolhidos a 530, 560 e 600 nm. O solvente B consiste numa
60
2.5.2.1. Resultados de Cromatografia de Alta Eficiência
Como se pode verificar na figura 55, os compostos foram separados com êxito pela
metodologia desenvolvida no decorrer deste trabalho, os picos apresentam-se bem
definidos e bem resolvidos.
DAD-CH1 530 nm
S5.3
25.0 Name
9 25.0
22.5 22.5
8
20.0 20.0
17.5 17.5
6
15.0 10 15.0
mAU
mAU
12.5
7 12.5
10.0
4 10.0
7.5 7.5
5.0
1 5.0
5 11
2.5
2 2.5
3
0.0 0.0
12 14 16 18 20 22 24 26 28
Minutes
61
Tabela 5 – Tempos de retenção, respetivos gráficos de absorção e máximos de absorção para
os diferentes compostos obtidos pela cromatografia do corante do tecido de seda e algodão.
18 18
16 16
283
243
14 14
1 14.02
12 12
283; 544
mAU
mAU
10 10
8 8
6 6
544
4 4
2 2
0 0
250 300 350 400 450 500 550 600 650 700 750
nm
14.44 Min
244
S5.3
12.5 Lambda Max 12.5
10.0 10.0
mAU
7.5 7.5
5.0 5.0
573
2.5 2.5
284
14.75 Min
S5.3
285
10.0 10.0
mAU
7.5 7.5
5.0 5.0
565
2.5 2.5
15.15 Min
S5.3
Lambda Max
14 14
12 12
287
554
10 10
247
mAU
6 6
4 4
2 2
250 300 350 400 450 500 550 600 650 700 750
nm
15.99 Min
6 S5.3 6
Lambda Max
291
5 5
249
4 4
565
mAU
3 3
2 2
1 1
0 0
250 300 350 400 450 500 550 600 650 700 750
nm
62
16.83 Min
S5.3
Lambda Max
22.5 22.5
561
20.0 20.0
17.5 17.5
6
15.0 15.0
mAU
mAU
12.5 12.5
10.0 10.0
294
7.5 7.5
247
5.0 5.0
2.5 2.5
0.0 0.0
250 300 350 400 450 500 550 600 650 700
nm
18.08 Min
S5.3
Lambda Max
16 16
570
14 14
12 12
7 18.08
10 10
mAU
8 8
296
6 6
326
4 4
2 2
0 0
250 300 350 400 450 500 550 600 650 700
nm
19.40 Min
S5.3
30 Lambda Max 30
567
25 25
20 20
mAU
15 15
10 10
298
5 5
248
0 0
250 300 350 400 450 500 550 600 650 700
nm
21.43 Min
45 S5.3 45
Lambda Max
40 40
573
35 35
30 30
9 21.43 25 25
573; 299
mAU
mAU
20 20
15 15
299
10 10
5 5
249
0 0
250 300 350 400 450 500 550 600 650 700
nm
23.75 Min
S5.3
Lambda Max
25 25
581
20 20
mAU
247
10 10
279
5 5
0 0
250 300 350 400 450 500 550 600 650 700
nm
63
26.29 Min
8 S5.3 8
Lambda Max
7 7
6 6
588
11
5 5
mAU
mAU
4 4
3 3
2 2
306
327
1 1
0 0
250 300 350 400 450 500 550 600 650 700
nm
Após a separação dos componentes do corante analisado, foi realizada uma pesquisa por
64
Comparando os dados da Tabela 5 com os da Tabela 6, pode-se confirmar a semelhança
20.0
35
17.5
30
15.0
25
12.5
mAU
mAU
20
10.0
15 7.5
5.0
10
2.5
5
0.0
0
-2.5
-5
0.0 2.5 5.0 7.5 10.0 12.5 15.0 17.5 20.0 22.5 25.0 27.5 30.0
Minutes
.
Figura 55 - Sobreposição do cromatograma do corante da amostra e o cromatograma
do corante violeta de metilo
30 30
19.26 Min
Smethylviolet1
Lambda Max
20 20
566
mAU
mAU
10 10
298
251
0 0
-10 -10
300 400 500 600 700
nm
Figura 56 – Espectro de absorção da fração com tempo de retenção de 19.26 minutos, e
absorção máxima para um comprimento de onda de 566 nm.
65
60 21.22 Min 60
Smethylviolet1
Lambda Max
574
40 40
mAU
mAU
20 20
299
249
0 0
100 100
23.43 Min
Smethylviolet1
Lambda Max
581
75 75
50 50
mAU
mAU
301
25 25
249
0 0
66
100 100
25.76 Min
Smethylviolet1
Lambda Max
75 75
589
50 50
mAU
mAU
25 25
304
252
0 0
misturas complexas, razão pela qual foi a técnica eleita para a separação e identificação
entanto como se pode verificar pela análise HPLC-DAD compostos que possivelmente
67
Os produtos de derivatização foram obtidos por adição lenta de solução de diazometano
acoplado com MSD 5975 Agilent Technologies. A amostra foi injetada num modo de
partição a uma temperatura de 250 º C. Os analitos foram separados por uma coluna
capilar HP-5MS (30 mx 0.25 mm x 0.25 µM). Inicialmente a coluna estava a 70ºC que
foram sofrendo aumentos a uma taxa de 15ºC/minuto, até atingir os 250º, mantida a
até aos 290ºC, o tempo total de corrida foi de 32 minutos. O gás de arraste usado foi o
hélio.
Os espectros de massa foram obtidos com ionização por impacto de eletrões (70 eV) e
corante do tecido.
68
Grupo I
2400
2200
2000 18,62
1800
Abundância relativa
1600
16,93
1400
1200 18,84
1000
800
600 Grupo II
400 28,92
28,06
200 29,88
0
16 18 20 22 24 26 28 30
A análise dos espectros de massa para os compostos com tempos de retenção de 16,93;
18, 62 e 18,84 minutos, ou Grupo I é de seguida apresentada.
74
5
3x10
87
Abundância relativa
5
2x10
5
1x10 43
55
+
143 M
+.
101 227 [M-31]
129 171 185 199 270
115 213 239
157
0
100 200
m/z
69
55
120000
69
Abundância Relativa
41
83
97
60000
110
123 264
222
137152 180
166 235
194 207 247 281 296
0
100 200 300
m/z
74
200000
Abundância Relativa
100000
43
57
143
m/z
70
Os fragmentos iónicos gerados após ionização originam um padrão de fragmentação
característico de ácidos gordos; os espectros de massa dos ácidos gordos sob a forma
duplas poderá não ser tão simples. De fato, a localização das ligações duplas pode ser de
dificuldade acrescida bem como a sua geometria, uma vez que os isómeros posicionais
cada espectro há uma perda de 31 unidades de massa a partir do ião molecular que
16,9 minutos, o seu espetro mostra o pico do ião molecular m /z = 270. Com o tempo
298. Com o tempo de retenção de 18,6 minutos foi identificado o ácido 9-octadecenóico
31 74
71
O ião molecular m/z = 296 é duas unidades de massa menor que o estearato de metilo
(18:0), o que revela que existe uma ligação dupla. Estes iões tendem a ser mais pequenos
que nos espectros dos ésteres dos ácidos gordos saturados. Apresenta-se de seguida
Ácido palmítico O OH
OH
O
Ácido oleico
O OH
Ácido esteárico
18.8 C19H38O2 298,50
Esta identificação foi deveras inesperada mas após longa pesquisa foi encontrada a razão
de ser destes ácidos gordos26. Em muitas situações a seda só era tingida depois de já
transformada em tecido, mas ainda contendo a goma que acompanha a seda dos casulos
depois de cozida, então para ficar em estado de tingir, tinha de ser fervida de vinte
minutos a duas horas em sabão de azeite e água. Uma vez removida a goma, o tecido
Voltamos agora a nossa atenção para os compostos do Grupo II. Neste caso os
72
em relação ao padrão de fragmentação, por esta razão é apresentado o espectro para o
composto com TR = 28,94 minutos, pois corresponde o pico com maior abundância
relativa do grupo. O respetivo espectro de massa pode ser observado na figura 66.
espectro.
N N
40000 N
254
30000 148
N
N
Abundância relativa
132
20000 N
N N
H
10000 77 113
N
210 237
N N
H
42 281
59 181 344 358
315
0
50 100 150 200 250 300 350
m/z
73
N
N N
H
C24H28N3+
Mol. Wt.: 358,50
vez por Verguin em 1859, que oxidou anilina que continha como impureza toluidina com
cloreto de estanho (IV), a estrutura do magenta pode ser consultada na figura 68.
NH2
C20H20N3+
Mol. Wt.: 302,39
Como podemos ver na figura 68, existem três grupos amino, e os hidrogénios destes
grupos podem ser substituídos por grupos alquilo. Dessas substituições surgem corantes
desta família como o violeta de metilo, o derivado pentametilado, descoberto por Lauth
28,06 minutos corresponde um ião molecular de m/z =346 e para TR = 29,88 minutos
Para apurar a estrutura correta destes compostos será necessária futura investigação
que passará pelo seu isolamento que pode ser feito usando HPLC e depois a sua análise
75
76
3. CONCLUSÕES
77
Neste trabalho procurámos efetuar um estudo das moléculas da cor em objetos
seda e algodão da China (1880). Com este estudo pretendemos acrescentar a uma
leitura, até agora histórica, feita com base numa análise quase somente documental, uma
perspetiva química.
Na amostra escolhida como representativa da cor vermelha analisada pelo IJF como
tendo corante orgânico urucu, Br.147_4, encontrou-se mínio (Pb3O4), (Figura. 40 e). Da
da fibra teria sido este pigmento – que tanto poderá ser o pigmento original como uma
reminiscência de algum restauro. Sobre o mínio, temos uma camada mais espessa de
espessura heterogénea, e que o uso do mínio não é descrito nas Memória de ARF.
Podemos ainda afirmar que, a camada referida e identificada pelo IJF como composta
estratigrafia podemos ver na Figura 54), da máscara Br.136 revelou ser um polímero à
verificado por analise futura e mais detalhada do espectro IR), aplicado possivelmente
78
Ainda que apenas se apresentem duas estratigrafias para um vermelho e o que se revelou
ser um branco, pode concluir-se que a sua construção é representativa das restantes
micro-amostras (Tabela 1e Tabela 2). Resumindo, podemos afirmar que para o vermelho
foi observada uma camada de preparação feita de caulino, seguida de uma camada de
mínio, e sob a qual foi sobreposta uma espécie de imprimitura com carbonato de cálcio
e finalmente uma camada de ocre, hematite. No caso do branco, este seria feito sobre
naturais ter existido sobre a camada vermelha, que com o tempo pode ter desaparecido,
ou de alguma forma removida com um dos restauros. Ou que estes ainda se possam
encontrar em outras máscaras não analisadas neste estudo. Seria de facto muito
Sobre o corante presente no tecido de seda e algodão, peça com número de inventário
Ant.M.227, podemos dizer que foi extraído com sucesso e que por HPLC-DAD foi
dos trifenilmetanos. Esta informação foi obtida por comparação dos espectros de
como violeta de metilo, mas que se conclui ser uma mistura de compostos. Após análise
devem a sua presença a um tratamento realizado no tecido antes de ser tingido, com a
79
tecido com sabão de azeite. No que respeita aos corantes foi identificado o violeta de
metilo. A presença de outros dois corantes da família dos trifenilmetanos foi detectada,
e algodão, usando técnicas de HPLC para separação e seguida de identificação por RMN.
80
4. REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
81
Referências Bibliográficas:
1 – GOELDI, Emílio – Ensaio sobre o Dr. Alexandre R. Ferreira: mormente em relação às suas
viagens na Amazónia e sua importância como naturalista. Pará, Brasil: Alfredo Silva & Ca,
s.d., 1895
7-FERREIRA, Alexandre Rodrigues- Viagem Filosófica pelas Capitanias do Grão Pará, Rio
Negro, Mato Grosso e Cuiabá, Memórias de Antropologia: Reproduções das Memória sobre
18/08/2014, em:
http://www.spq.pt/files/docs/Biografias/Domingos%20Vandelli%20port.pdf
10 - FIGUEIROA, Silvia F. de M., Silva, Clarete Paranhos da, & Pataca, Ermelinda
82
transição do século XVIII para o século XIX.História, Ciências, Saúde-Manguinhos, 11(3),
713-729. 2004.
http://www.brasiliana.com.br/brasiliana/colecao/obras/6/Historia-das-exploracoes-
cientificas-no-Brasil
13 – MELATTI, Julio Cezar- Notas para uma História dos Brancos no Solimões. [on
http://www.juliomelatti.pro.br/artigos/a-solimoes.pdf
Natureza e esboços de uma civilização. Revista Brasileira de História, 1995, v.15, nº 29,
p73-91.
http://www.fapesp.br/publicacoes/flora/
http://florabrasiliensis.cria.org.br/info?history
83
de 2014]. Disponível em: http://www.brasiliana.com.br/brasiliana/colecao/obras/117/a-
expedicao-do-academico-g-i-langsdorff-ao-brasil-1821-1828
colonias do Sertão da Provincia no anno de 1768. Pará. Typographia de Santos & Irmaos.
1862. p.44-58.
2013.
26 – MANCHESTER, Herbert; Cheney Brothers – “ The story of silk &Cheney silks. South
84
27 – WYCKOFF, WM. C. – Silk Manufacture in the United States. 446 Broome Street.
pigment media and vernishes, and supplement to existing library of Raman spectra of
30 – BEMISS, Elijah – The Dyer’s Companion. 2ª ed. New York: Evert Duyckinck, 1815.
31 – PARTRIDGE, William – Pratical Treatise on Dying Woollen. Cotton, and Silk. New
32 – LIU, Jian et al. – Characterization of dyes in ancient textiles from Yingpan, Xinjiang.
33 – LECH, Katarzyna, JAROSZ, Maciej – Novel methodology for the extraction and
study: chasubles from the Wawel Cathedral collection. Analytical and Bioanalytical
textiles from Mount Athos. Analytical and Bioanalytical Chemistry. 399. 2011, 3065-3079.
85
36 – Micaela M. Sousa, Maria J. Melo, A. Jorge Parola, Peter J. T. Morris, Henry S. Rzepa,
J. Sérgio Seixas de Melo "A study in Mauve. Unveiling Perkin's Dye in Historic Samples",
86
ANEXO I1
VII – MEMÓRIA
A tábua IVª explica o uso que têm as máscaras e as camisetas, que fazem os gentios
um desses bailes, por ocasião de me achar pelo mês de Dezembro do ano de 1785 na
povoação das Caldas, situada na margem oriental da foz do rio Cauburé. Vi quanto podia
N.º1
São duas máscaras inteiras, que na imaginação dos gentios, que as fizeram, representa
uma delas a figura de um peixe, e a outra é um mero capricho do seu entusiasmo, sem
objeto real a que se possa aplicar. Da casca de algum vime tecem eles primeiramente a
forma para cada máscara. Sobre ela vão assentando o pano, que lhes subministra a
consistência de papelão. Pintada a máscara com a ocra, com o urucu e carajuru, fica em
termos de servir para o baile. Note-se que, quando ela não cobre a face do mascarado,
descendo-lhe até ao pescoço, então da mesma entrecasca, porém mais delicada, fazem
a máscara separadamente para a face, golpeando-a aonde é preciso que tenha os olhos
87
Os motivos para semelhantes bailes são muitos, como logo direi. Por agora, basta
que se saiba, que um deles são as caçadas e as pescarias. Se a caçada for bem sucedida,
que eles caçaram, assim é a máscara que fazem para o baile. O festejo por causa de uma
boa caçada de porcos, por exemplo, se faz com uma máscara que representa a cabeça
Não se pode logo asseverar tão decididamente como tenho ouvido, que todos
estes bailes são instituições ímpias e supersticiosas, que todos eles consagram ao inimigo
comum; nem que todas estas máscaras sejam outras tantas representações dos seus
ídolos, e ainda mesmo vivas imagens do Demónio. Os missionários, que tem sido entre
de tudo quanto vêm fazer os gentios, principalmente se entre os seus usos e costumes,
lá chegam a descobrir alguma coisa, que lhes represente ser um dos objetos da sua maior
veneração. Se desconfiarem de tudo o que fazem os gentios, não vêem senão obras do
desde logo lhes atribuem ideias que, eles sim, são tão capazes de as adquirirem, como
os outros homens, porém que ainda não as têm. De onde procede, que em não poucas
ações dos gentios, estão alguns missionários descobrindo bem profundos vestígios dos
mais sublimes mistérios, interpretando a seu jeito certas expressões e cerimônias, que
eles não entendem, e transformando tudo quanto vêem, do que verdadeiramente é, para
É certo que, entre os diversos princípios de religião, que alguns dos gentios
professam, um deles é o de sustentarem que há Deuses autores dos males que afligem
a espécie humana. Tais como foram os Manáos habitantes nas margens e nos confluentes
88
do rio Negro, dos quais escreveu no seu Diário o R. José Monteiro de Noronha, que
com uma espécie de maniqueísmo, criam que havia dois Deuses, um chamado Mauaré,
autor de todo o bem, outro por nome de Sarauá, autor de todo o mal. A este
representam os gentios debaixo da formas as mais horríveis, e todo o culto que lhes
dão, o dirigem a fim de aplacar a cólera desta terrível divindade. Crêem, como os
antropomorfistas, que os seus Deuses têm forma humana, mas com uma natureza
fábulas as mais absurdas e incoerentes que se podem imaginar. Porém estes mesmos
nenhuma forma têm do culto público, não erigem templos em honra das suas divindades
e não têm ministros especialmente consagrados ao Seu Serviço. Em uma palavra, nem
todos professam uma e a mesma superstição, nem esta se envolve em todos os seus
bailes e festejos.
Nº 2
dita Caxinduba, com a diferença de serem mais largos os panos, que tiram para elas. Para
os tirarem mais largos, escolhem os troncos mais grossos. Cortados eles com o
comprimento que deve ter a farsa, fazem-lhes na casca uma incisão longitudinal,
introduzindo-lhes por entre os dois lábios da incisão, uma cunha de madeira, em ordem
a despegarem do tronco a casca, que está unida a ele. Porém a casca exterior é
entrecasca mais branca e interior. Com esta vestem o tronco, que já está despido;
servindo-se desta disposição, para se lhes facilitar a operação de baterem o pano; batem-
no, até ele escorrer a humidade, que têm, e até chegar a adquirir as dimensões do
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comprimento e da largura precisa para a execução da obra. Pinta-se diferentemente, e
Nº3
São dois canudos de taboca, que o mascarado traz nas mãos, cingidos de um
mascarado com os pés e com os canudos no chão, para soarem os cascavéis. Estes são
feitos das sementes de algumas frutas silvestres, enfiadas em algum cordel, ou de pita ou
de tucum.
América, têm observado os Europeus, pode-se ler o que alguns deles escrevem. Esta é
a paixão favorita dos habitantes desta parte do Globo. Sendo eles por natureza uns
languidez e indolência, sem ocupação alguma, que os possa animar e entreter; quando
ação, as faculdades ativas da Natureza. É verdade que entre eles a dança se não deve
ao inimigo, por uma dança solene e que de parte a parte principia a exprimir o seu
ressentimento e a vingança que se medita. Então esta dança é uma verdadeira cena, em
que se representa a campanha dos gentios. Parece que se está vendo a saída do Exército,
a sua marcha pelo país do inimigo, as precauções com que acampam, a ardileza com que
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se vão dispondo alguns destacamentos em emboscada, o modo de surpreender o
circunstâncias. Os actores, que figuram na cena, correm a ocupar os seus postos, com
tanto calor e entusiasmo, com tantos gestos e visagens, com as vozes tão prontas e
apropriadas à rapidez e à celeridade das suas evoluções, que aos Europeus, que os estão
vendo, custa bem a crer a aquela é uma mera cena de ensaio e não um combate real.
fome geral, alguma inundação repentina, alguma praga de ratos ou de formigas que lhes
pajé dispõe a dança; e das diferentes coisas que pede em nome do oráculo, que sempre
são as que deseja para si, faz depender a explicação do mistério. O entusiasmo supre a
maravilhoso, pelo temor em que os põem o seu feiticeiro, dispõem-se a estarem por
atenção aos cantos das aves e aos gritos dos animais. Todas estas circunstâncias lhes
adverte que dão prognósticos do futuro e se alguns delas pronuncia que lhes é
Se adoece algum deles, como os seus pajés atribuem origem das enfermidades a
que fazem consistir o remédio do enfermo. A dança é um dos mais eficazes, receitados
por semelhantes médicos. Se o doente não pode suportar a fadiga do exercício, o seu
médico a suporta por ele; eis aqui, quando o médico receita para o doente o que ele
deve tomar. Enfim, se eles querem aplacar a cólera dos seus Deuses, que nunca estão
bem com os índios, quando eles estão mal com os seus feiticeiros, ou quando se
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descuidam do seu sustento; se pretendem celebrar algum dos seus benefícios; se
testemunhar a sua alegria pelo nascimento de algum filho, se algum parente, de algum
amigo; ou se a sua tristeza e nojo pela morte de algum deles; se tratam de festejar algum
casamento, ou mesmo se a declaração do mênstruo em suas filhas, pela primeira vez que
são assistidas; se celebram alguma grande caçada ou pescaria, alguma colheita de frutas
da sua estimação para os seus vinhos e bebidas; eles têm danças diversas e convenientes
a cada uma destas situações, próprias para significarem os diferentes sentimentos de que
estão penetrados. Algumas são tão bárbaras, pois que toda a cerimónia consiste em se
açoitarem uns aos outros com azorragues, ou de corda ou de couro de peixe-boi, até
ficarem esvaídos em sangue, segundo já escrevi em outra Memória, onde expliquei o uso
Ora ainda que as danças não são animadas pela harmonia da música instrumental
e vocal, eles de dois modos se animam para elas: primeiro, pela monotonia que chã,
muito horríssona aos ouvidos dos que ouvem os torés, os trocanos e as trombetas;
Como ignoram a arte que têm os Europeus de darem aos licores, pela
fermentação, uma força de embebedar, obtêm o mesmo efeito que eles por diferentes
depois de mastigados por suas mulheres. A saliva excita neles uma fermentação vigorosa
e dentro de poucos dias fica um licor próprio para a sua bebida, as mulheres por
nenhuma forma são admitidas à dança; antes, se ela é dedicada a alguma consulta do
oráculo, bem se pode guardar a mulher que for espreitar, que não peça o oráculo, que
crápula. Para não caírem de todo, em eles principiando a cambalear, encadeiam-se uns
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com os outros, abraçando-se pelos pescoços. Em semelhante estado é que eles
cometem as maiores perfídias e impiedades. Rara é a dança que acaba sem efusão de
sangue. Uns investem às mulheres dos outros, pai não respeita filha, nem o irmão a irmã.
Toda a noite se passa nesta lida, enquanto não caem de todo. No seguinte dia a atitude
de seus corpos é o emblema do estado das suas almas. Muitas vezes necessitam de largo
dentro de suas palhoças. . Dormem a maior parte do dia, deitados se deixam estar em
uma inação insípida e estúpida. Festas há, que pelo seu instituto devem durar largos dias
sem interrupção. Por mais funestas que sejam as consequências das crápulas, eles só
deixam de beber, em se lhe esgotando a última gota dos seus vinhos. Faz-se digna de
reparo a cega paixão que tem o gentio por semelhantes festas; outro reparo merece a
circunstância seguinte, de que sendo eles naturalmente homens tristes e pensativos, não
carece que bebam. Mas basta a simples esperança de beberem para logo transbordar em
(Códice B. N. 21.1.1.19)
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ANEXO II1
XIV - MEMÓRIA
dos Párcos, e assim mesmo, os outros da margem ocidental do rio Japurá. Distinguem-
se dos outros gentios pelas suas máscaras. Os índios domesticados lhes dão na língua
geral o nome de – Yurupixunas (Juri ou Yuri), da palavra "Yuru" = boca, "pixuna" = negra.
Picam a cara com os espinhos da palmeira pupunha e com as cinzas das suas folhas
pulverizam as picaduras, arreigando-se-lhe de tal modo a tinta, que jamais se-lhe extingue
a máscara com que ficam. Muito trabalho e dor lhes custa este ornato, porque não raras
vezes lhes sobrevêm as erisipelas, de que alguns chegam a morrer. A dor é maior ou
orelha corre em ambas as faces uma linha delicada. A cabeça Nº 2º mostra duas; a do
porque têm o cuidado de acrescentar. Os adultos trazem toda a face mascarada, com a
diferença porém de que uns se contentam de fazerem aos lados da face o xadrez, em
que acaba a mascara da cabeça Nº 7º; outros o fazem também na testa e no espaço que
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medeia entre as sombrancelhas, como representa a cabeça Nº 8º. E, não contentes com
isto, trazem outros o beiço inferior furado e, no furo, introduzida uma marca de
coquilho. Os velhos são, entre eles, os mestres encarregados destes enfeites. Eles têm
mato retirado, onde não possam os pais ouvir o choro das crianças, quando se doem da
São índios humildes e sujeitos aos brancos que os domesticam. Aldeados que
sejam nas povoações para onde os descem, chegam a envergonhar-se tanto de terem a
cara mascarada, que alguns fazem a diligência possível por extinguir a tal máscara. Os
outros índios os desprezam; donde procede que, nas viagens que fazem as Canoas
equipadas com uns e outros, observam os brancos, que os Yurupixunas (Juri ou Yuri)
fazem ranchos separados; comem e dormem retirados deles; as suas armas são as
para o Real Gabinete as amostras que devem constar da Relação dos Produtos
95
ANEXO III
O IJf recebe a 1ª máscara, para fazer avaliação em 1983, juntamente com um texto que
indica os corantes relatados por ARF e a informação sobre a suspeita de que as máscaras
foram pintadas em Coimbra em algum momento entre 1806 e 1829. Caso o vermelho
tivesse sido pintado em Coimbra e não fosse original o melhor seria removê-lo.
2 – Tecidos
4 – Identificação de aglutinantes
Por observação microscópica dos cortes transversais das amostras de policromia, foi
possível distinguir dois tipos de pigmentos, de origem vegetal e mineral (Fot. 1) e que a
estrutura da policromia das várias peças era idêntica, uma preparação seguida de uma
Br.146.
96
Os pigmentos vegetais foram identificados através de IV, TLC E GC.
97
- Fizeram então GC dos extratos ao éter de ambos e concluíram que o óleo era o
98
ANEXO IV
Pela leitura deste relatório chega ao nosso conhecimento que os trabalhos deste
Viagem Filosófica, com números de inventário Br. 135 a Br.147, nem todas foram
intervencionadas. As que não foram alvo deste restauro são: Br.135, Br.137, Br.140 e
Br.141.
realizadas com emulsão aquosa de metilcelulose aplicada por injeção, solução que o
pigmentos minerais.
99
ANEXO V
Urucu
As sementes da planta estão contidas numa cápsula rodeada de uma polpa vermelha. O
[http://cameo.mfa.org/wiki/Annatto, em 24/07/2014].
Carajuru
As folhas depois de secas, adquirem um tom vermelho, então são fervidas e o extrato é
tratado com casca de árvore, o que faz precipitar o corante que é insolúvel em água,
100
ANEXO VI
Algumas estruturas possíveis para o composto com ião molecular com m/z = 344
N NH2
H
C23H26N3+
Mol. Wt.: 344,47
N N
H H
C23H26N3+
Mol. Wt.: 344,47
N NH2
C23H26N3
Mol. Wt.: 344,47
101
Algumas estruturas possíveis para o composto com ião molecular com m/z = 346
NH
N NH2
H C23H28N3+
Mol. Wt.: 346,49
NH
N N
H C23H28N3+ H
Mol. Wt.: 346,49
N N
H C23H28N3 H
Mol. Wt.: 346,49
102