Design Gráfico - Uma História Concisa - Richard Hollis

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0 designer

[ diretor de arte
eo]
11. OS ESTADOS UNIDOS
NOS ANOS 30

Para muita gente na Europa, inclusive 0 designer Raymond Loewy,


"a America parecia ser urn lugar incrivelmente maravilhoso, viril e
moderno". Ele imigrou para os Estados Unidos apes a Prime ira Guerra
Mundial e, em 1940, redesenhou 0 macodo cigarro Lucky Strike. A
imagem da America nao se originava apenas do cinema, mas tambem
das paginas das revistas populares e de seus amincios.

Chesterfield, outdoor,
c. 1935

A interdependencia economica entre as revistas e os anuncios re-


fletia-se na semelhanca de design existente entre as materias das revis-
tas e as paginas de propaganda. Ambas tinham titulos, colunas em tex-
to e 0 mesmo tipo de ilustracao, A medida que 0 jomalismo e a publi-
cidade passaram a depender cada vez mais das imagens - 0 elemento
"artistico" -, sua reproducao e layout tomaram-se responsabilidade de
urn "diretor de arte".
Nos Estados Unidos, 0 cargo de diretor de arte veio antes da profis-
sao de design grafico, 0 Clube dos Diretores de Arte de Nova York foi
fundado em 1920. A exposicao anual e a publicacao de seuAnuario aju-
... '.' daram no reconhecimento de designers cujo trabalho nao era em si pu-
blicitario, como a criacao de timbres e de material de exposicao,
Se por urn lado os europeus admiravam 0 dinamismo da atividade
comercial norte-americana, os norte-americanos por sua vez voltavam-se
para a Europa em busca de cultura modema e sofisticacao. Ao procurar
talentos na Europa, 0 editor nova-iorquino Conde Nast descobriu essas
qualidades num membro de sua propria equipe, 0 russo Mehemed
Fehmy Agha, que na epoca trabalhava na edicao alema da /lOgue, em
Bedim. Em 1929, Conde Nast levou Agha para os Estados Unidos
como diretor de arte da Vogue, da House and Garden e do "caleidosco-
pio da vida modema", a Vanity Fair. Como diretor de arte, Agha assu-
miu 0 controle das revistas e pas sou ate a contribuir pessoalmente com
fotografias e artigos. Introduziu na revista a elegancia parisiense e a
experiencia alema, assim como fotos que "saiam" pelos cantos da pa-
gina e os "tons duplos" (fotos em preto e branco impressas em duas co-
res). Em 1932, usou pela primeira vez na Vogue uma foto totalmente
colorida. Agha tinha urn completo conhecimento das tecnicas fotogra-
ficas e de impressao, alern de estar a par do movimento de vanguarda.
fl!
,! 102DESIGN GRAFICO

VanityFair, pagina
dupla, 1936 1M. F. Agha]

Encorajou seus designers a pilhar os tesouros do "temple do construti-


vismo". Tambem introduziu a folha dupla quadriculada e 0 espelho,
para que os elementos do layout fossem colados com precisao, dispen-
sando 0 uso dos antigos esbocos desenhados a lapis. Ele foi tambem 0
primeiro a encarar a revista como uma sene de paginas duplas em vez
de uma sequencia de paginas individuais. Agha introduziu tecnicas de
composicao em que 0 texto imitava 0 arranjo das fotos adjacentes, alern
de artificios de diagramacao que uniam graficamente as paginas de uma
mesma materia, de modo que formassem uma unidade distinta dentro
da revista. Ele planejava a edicao da revista antes que as fotos fossem
tiradas e empregou os melhores fot6grafos da epoca, incluindo Edward
Steichen e GeorgiJ!Hoyningen-Huene, da Alemanha, e 0 jovem Cecil
Beaton, da Inglaterra.
As capas da Vtmity Fair eram geralmente obra de pintores ~ entre
VanityFair, capa. 1934
eles Raoul Dufy - e ilustradores, com destaque para Paolo Garretto. [iluslrador Paolo Garretto
Para a edicao de julho de 1934, Garreto representou a presenca de inte- [diretor de arle M. F. Agha]
lectuais no govemo americana colocando urn chapeu de formatura e
6culos sobre 0 Capit6lio de Washington. Esse tipo de justaposicao de
simbolos tomou-se a partir de entao uma praxe no design grafico, A
chamada (0 titulo na parte da frente da revista) raramente dispensava 0
uso de caracteres maiusculos robustos sem serifa, mas variava, apare-
tendo com letras vazadas e sombras, ou com luzes, flores ou bandeiras.
As capas com fotos coloridas identificam Agha como urn diretor de
arte modemo e original. 0 estilo grafico da imagem tinha de represen-

VanityFair, capa, 1934


THE S.flTUl{DAY 1M. F. Agha]
EVENING POST
t'e •• ;~'; :;'.' iF:,.'fr::t",.",,, TheSaturdayEvening Post,
capa. 1916
[ilustrador Norman Rockwell]

THE EMPIRE BUILDER5-B)'!'brrRob"t'Rin,h>rt


o DESIGNER E 0 DIRETOR DEARTE 103

tar 0 conteudo darevista, mas 0 truque por tras da elegancia da imagem,


a atencao dada a cada detalhe de modo que contribuisse para 0 efeito
geral precisavam ser ocultados. Segundo Agha, 0 diretor de arte "planeja,
coordena e ensaia, mas nao atua; pelo menos, nao em publico". As atua-
coes publicas eram deixadas para os metodos mais tradicionais de ilus-
tracao de capa. Esses metodos sao exemplificados pelas ilustracoes fei-
tas, desde a Primeira Guerra Mundial ate a decada de 60, para 0 Satur-
day Evening Post por Norman Rockwell, cujo talento para criar ilustra-
coes era urn dos prazeres dos leitores da revista. Tal como os autores da
maior parte das ilustracoes publicitarias, Rockwell tambem produziu
cenas da vida domestica, Essas cenas eram freqiientemente copiadas de
fotos e podiam ser descritas como "fotograficas", possuindo exatamen-
te aquilo que faltava nos instantaneos, cor e extrema nitidez. 0 que dava
autoridade a uma fotografia, porem, era 0 fato de ela parecer ter sido
produzida por uma maquina, Manipulada pelo diretor de arte, a foto
substituiu em grande parte as ilustracoes desenhadas.
Agha permaneceu na Conde Nast ate 1943. Suas tecnicas foram
expandidas e desenvolvidas em outras revistas por designers que ha-
viam trabalhado com ele e tambem por Alexey Brodovitch, que, tendo
Harper's Bazaar, paqina da chegado de Paris em 1930 para lecionar na Filadelfia, comecou a tra-
revista, 1936 [fot6grafo Man
Ray] [diretor de arte Alexey balhar como diretor de arte na revista concorrente, a Harper's Bazaar,
Brodovitch] em 1934. Brodovitch trabalhava com alguns dos fotografos europeus
contratados por Agha, alern de Bill Brandt, Brassai, Cartier-Bresson e
seus protegidos, os americanos Irving Penn e Richard Avedon. Para
criar as capas, Brodovitch contratava Cassandre, cujos posteres haviam
sido exibidos no Museu de Arte Modema de Nova York no comeco de
1936. Os efeitos de Brodovitch baseavam-se no contraste. Ele refinou
a tecnica de Agha no uso Bodoni, cujo brilho dava realce as fotografias
ferozmente recortadas, dramaticamente justapostas e elegantemente ar-
ranjadas em seqiiencias graficas.

Harper's Bazaar, paqina


a'Lpla da revista, 1938
[fot6grafo Hoyningen-Huenel
[diretor de arte Alexey
Brodovitch]

A direcao de arte foi uma contribuicao especificamente americana


ao design grafico, Apesar disso, a concorrencia comercial necessitava
de imagens de identificacao para distinguir uma marca da outra. Para
obter isso, e preciso criar uma mensagem simples, memoravel, que
seja transmitida com clareza mas de espaco para urn tanto de expressao
estetica, como acontece com a logomarca da Coca-Cola. 0 maco de
104 DESIGN GRAFICO

Lucky Strike criado por Loewy e urn outro exemplo. Como era uma
recriacao de urn design ja existente, 0 poder de decisao estetica se limi-
tou it alteracao da cor; mas 0 resultado final dessa escolha foi tao cru-
cial quanta pratico, Como explicou Loewy: "Antes - 0 velho maco do
Lucky Strike era verde-escuro. Na parte da frente, ficava 0 famoso
alvo vermelho do Lucky Strike. A parte de tras continha urn texto que
pouca gente lia. A tinta verde era cara e exalava urn leve odor. Depois Lucky Strike. novo design

- 0 novo maco e branco e 0 alvo vermelho permaneceu inalterado. 0


do rnaco de cigarro
1940, de Never Leav~
texto na parte de tras foi transferido para as areas laterais, e 0 alvo apa- Well Enough Alone
rece nos dois lados. Os custos de impressao foram reduzidos." [Raymond Loewy]

••
Cl G.AR ET.T E S

"Concentracao« ,
Essas observacoes simples e prosaicas refletem uma preocupacao anuncio da Container
com 0 processo de impressao, com a imagem do produto (ao coloca-la Corporation of America,
anuncio, 1938 IA. M.
em ambos os lados do maco, ele duplicou sua exposicao) e com a res- Cassandre]
posta do consumidor (0 maco branco, segundo 0 artista, sugere "fres-
cor de conteudo ~ureza na fabricacao"),
o envolvimento direto do diretor de uma companhia com a emba-
lagem ou design de umproduto deixou de existir com a crescente utili-
zacao de agencies de publicidade e 0 surgimento do gerenciamento es-
pecializado nas companhias. 0 primeiro design corporativo completo,
todavia, foi adotado pela Container Corporation ofAmerica (CCA). A
adocao do design foi iniciada pelo proprietario da companhia, Walter
Paepcke. Em 1936, ele designou urn ditetor de arte para a CCA, Egbert
Jacobson, e para cuidar da publicidade da empresa contratou a mais
~ltiga agencia de propaganda dos Estados Unidos, a firma N. W. Ayer,
da Filadelfia. Charles Coiner, 0 diretor de arte da Ayer, estava esperan-
do no cais quando Cassandre chegou de Paris em 1936, em uma via-
gem de trabalho a Nova York. Antes de deixarem 0 cais, Cassandre ja AMERICA HAS CLOSED ITS FIST
aceitara urn contrato para criar 0 primeiro de uma serie de anuncios
para a Container Corporation (que mais tarde veio a incluir 0 notoria-
mente pretensioso "Grandes Ideias do Homem Ocidental"). Esses anun-
cios tinhamcomo objetivo dar it companhia "uma personalidade dis-
tinta e identifica-la com 0 que havia de melhor nas artes graficas",
disse Paepcke. Na realidade, embora a associacao de designers e artis-
tas para a promocao das grandes empresas tenha conferido status aos
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primeiros, foi somente nos primeiros anuncios, naqueles feitos antes .".....---._ ~---
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do final da Segunda Guerra Mundial, que designers como Herbert YOUNG & RUSIC;"M, II'lCORPORATED • AOVUTlSING

Matter e Matthew Leibowitz tiveram a. oportunidade de demonstrar


que 0 desenho grafico podia combinar palavras comuma imagem para "A America fechou a mao ..
transmitir uma ideia. a publici dade tem primeiro
de superar a relutanda em
Os negocios tambem estimularam 0 design de informacao, As com- gastar... dinheiro", poster,
panhias farmaceuticas, com seus folhetos promocionais, tiveram parti- 1933 [Young and Rubicam]
o DESIGNER E 0 DIRETOR DE ARTE 105

cular importancia nessa area pelo uso que faziam de tabelas, mapas e
diagramas. Esses elementos graficos cumpriam urn papel fundamental
nas paginas da revista de neg6cios Fortune. A revista mensal, de for-
mato grande, fora lancada poucos meses antes do grande crack da bolsa
de 1929. Suas capas na decada de 30 apresentavam sofisticadas pintu-
ras e ilustracoes, muitas vezes realizadas por artistas esquerdistas co-
mo Leger, Diego Rivera eBen Shahn, Aos poucos esse tipo de ilustra-
<,;ao foi perdendo terreno para 0 trabalho de designers graficos locais e
irds passando",
137 estrangeiros, como Will Burtin, que foi diretor de arte da Fortune na de-
.andre] cada de 40.
o design grafico modemo europeu disseminou-se nos Estados
Unidos gracas a imigracao para 0 pais de muitos profissionais da area.
A contribuicao de seus trabalhos foi sentida instantaneamente. Aqueles
que lecionavam, como Brodovitch, puderam educar uma nova geracao.
Herbert Matter se fixou em Nova York e se estabeleceu como fot6gra-
fo, trabalhando para Agha na Vogue e para Brodovitch na Harper s
Bazaar. A tomada do poder pelos nazistas forcou a emigracao de Will
Burtin, que deixou para tras uma bem-sucedida firma de design em
Colonia em 1938. Poucos meses ap6s sua chegada aos Estados Unidos,
comecou a dar aula numa das escolas de arte comercial de Nova York,
o Pratt Institute. Juntou-se a ele nessa escola Ladislav Sutnar, 0 desig-
ner do pavilhao nao construido da Tchecoslovaquia na Feira Mundial de
Nova York de 1939, que se encontrava entao em dificuldades financei-
ras na~dade.

spa da revista,
oert Bayer]

.,'.

Herbert Bayer, ao visitar Nova York em 1936, foi incumbido de orga-


nizar uma exposicao sobre a Bauhaus, que teve inicio no Museu de Arte
Modema no final de 1938. Decidiu ficar nos Estados Unidos e tornou-se
uma importante influencia, especialmente no design de exposicces. Scha-
winsky estava lecionando com Albers no Black Mountain College.
Moholy-Nagy chegara da Inglaterra e, com seu conterraneo, 0 hungaro
Gyorgy Kepes, lutava para criar uma nova Bauhaus, que viria a se tomar
o Institute of Design, em Chicago. Os livros de Moholy-Nagy (publica-
dos posteriormente), The New Vision (A nova visao - 1944) e Vision in
auhaus, slmbolo
roo prospecto, Motion (Visao em movimento - 1947), eo de Kepes, Language ofVision
1937 (A linguagem da visao - 1944), contribuiram para 0 surgimento de novas
106 DESIGN GRAFICO

posturas em relacao apercepcao, num mundo grafico dominado pela fo-


tografia. Integrando texto, imagem e legenda, tiveram grande influencia
no design de livros e na criacao de layouts de revistas.
Lester Beall, Alvin Lustig e Paul Rand, designers com carreiras
estabelecidas antes 1940, foram os tres norte-americanos que sobres-
sairam apos a Segunda Guerra Mundial. Autodidata, Lester Beall tra-
balhava em Chicago desde 1927 como designer de anuncios autono-
mo. Em 1935, mudou-se para Nova York e em 1937 tornou-se urn dos
primeiros designers americanos a ter seu trabalho exposto na revista
mensal alerna Gebrauchsgraphik. Nesse mesmo ano, 0 Museu de Arte
Moderna expos os posteres criados por Beall para a Rural Electri-
fication Administration, que fazia parte de urn programa do presidente
Works Progress
Roosevelt para melhorar as condicoes de vida das vitimas da Depres- Administration Federal
sao. Mais de 30 mil designs de poster foram feitos para esse projeto, a Arts Project,poster,
maioria dos quais impressos por serigrafia, que permitia apenas 0 uso Cleveland, Ohio, c. 1939
[Stanley T. Clouqh]
de algumas cores uniformes. Beall disse que esses trabalhos foram in-
fluenciados pelos "posteres politicos americanos, 0 poster de recruta-
mento da Guerra Civil e a Die Neue Typographie ... e pela busca dos
designers por formas vigorosas, diretas e estimulantes," As formas gra-
ficas retiradas da bandeira americana proporcionavam justamente 0 a esquerda e abaixo
Rural Electrification
Administration, poster,
c. 1937 [LesterBeall]

vigor, a objetividade e 0 estimulo que Beall buscava, e ele freqiiente-


merite utilizava esse expediente com originalidade. Seu poster de jo-
yens fazendeiros apoiando-se numa cerca transmite uma ideia simples
de seguranca: sob a bandeira americana eles fazem parte do New Deal.
Em muitos dos depoimentos gravados de Beall, pode-se discernir urn
eco da visao utopica de William Morris - "a feiura e urn tipo de anar-
quia que deveria ser eliminada" -, so que numa versao americana - "0
born design e urn born negocio".
Os trabalhos mais importantes de Alvin Lustig foram na area de
design de livros. 0 tempo que passara na comunidade de Frank Lloyd
Wright serviu para que germinassem em sua cabeca alguns dos mais
originais trabalhos de tipografia. 0 uso que Lustig fazia do material ti-
pografico tinha uma inventividade comedida que faz os trabalhos de
tipografos alemaes como Joost Schmidt, que utilizava material seme-
lhante, parecer toscos e indisciplinados.
o DESIGNER E 0 DIRETOR DE ARTE 107

i
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'fHii.: ;:'~~-:~_s.-;t-~i§-~_/li-i:H'- UN. DI • • LOW Ii

to direito
~ Ghl'st in the
A linguagem grafica de Lustig em trabalhos posteriores e muitas
'derblows, folha de vezes dificil de ser distinguida da de Beall ou do trabalho do virtuo-
stodo livre, paqina so Paul Rand, Nessa epoca, Rand era diretor das revistas Esquire e
pia, 1940 [Alvin Lustig]
Apparel Arts, Em suas capas, e na capa da revista bimensal Direction,
,'rna Rand afirmava estar "tentando fazer 0 trabalho que faziam Van Does-
obinson Jeffers, folha
~ rosto do livro, 1938
IvinLustigl

burg, Leger e Picasso - trabalhar com 0 espirito deles". Na realidade,


ao utilizar a montagem e a colagem, especialmente combinando re-
cortes de papel colorido com fotografias e desenhos de traces econo-
micos, ele e alguns outros estavam reutilizando os mesmos elemen-
tos da arte moderna europeia - principalmente os usados por Ma-

,irection, capada revista,


~38 [Paul Rand]
r 108 DESIGN G"Mea

tisse, Picasso Ii! Mira - e improvisando uma linguagem visual flexi-


vel. Isso nao era apenas uma maneira de exercitar uma estetica avan-
cada. Como insistia 0 pragmatismo americana de Beall, "e preciso
haver uma conexao funcional direta entre 0 design (e seus elementos)
eo tema ou mensagem que os designs estao tentando projetar". Alem
de desenvolver a arte da tipografia, esses artistas utilizavarn uma tee-
nica que, duas decadas mais tarde, veio a ser reconhecida como
design grafico.

Funny Business, capa


da revista, 1937
[LesterBeall]

J
12. GUERRA E PROPAGANDA:
DECADA DE 20 A 1945

Quando a guerra foi declarada em 1939,0 design grafico corneca-


va a desempenhar urn papel crucial na vida politica dos paises, particu-
larmente na epoca das eleicoes. as muros ficavam cobertos de p6ste-
res, as ruas de folhetos e faixas, e cartazes proliferavam em comicios e
dernonstracoes. Na Europa, os inimigos eram envilecidos por meio de
ilustracoes malevolas; imagens her6icas de membros do partido, iden-
, tificados por simbolos, faixas, uniformes e pela saudacao, representa-
yam a forca e a integracao de uma crenca; nas guerras civis, 0 soldado
permanecia impavido, junto com 0 trabalhador e 0 campones resolu-
tos; as bandeiras nacionais e os simbolos heraldicos foram substituidos
pelo machado e pelo feixe de varas (fasces) do Imperio Romano, pela
foice e pelo martelo, pela bandeira vermelha e a suastica.
Da mesma maneira como 0 bigode preto, 0 chapeu-coco e a benga-
la identificavam 0 comediante Charlie Chaplin, a imagem pessoal e
caracteristica dos lideres politicos passou a ser representada bidimen-
sionalmente. As figuras de Hitler, Mussolini e Stalin corporificavam a
forca, 0 poder e a ideologia da Alemanha nazista, da Italia fascista e da
Russia sovietica, as nomes foram substituidos por titulos, como aeon-
tecia com os bens de consumo. Hitler e Mussolini passaram a ser co-
nhecidos como "0 lider", Der Fuhrer e II Duce. A imagem de Stalin
aparecia ao lado da de Lenin, como se 0 primeiro fosse 0 sucessor na-
tural do segundo. As imagens dos lideres, reforcadas pela constante
aparicao na primeira pagina dos jomais e das revistas ilustradas, em
p6steres e em selos postais, tomaram-se ieones.

,l""-'.
canto direito
"Vote no 'Sim'", poster do
referendo de Hitler, 1934

(Mussolini) Ano XII da era


fascista (fotomontagem),
poster, 1934
[Xanti Schawinsky]

A fotografia era urn veiculo de propaganda particularmente util,


Ela nao apenas mudou a mane ira como as imagens eram produzidas,
mas tambem 0 modo como eram vistas. As maquinas de tirar retrato,
cujo uso se tomara bastante difundido, demonstravam que qualquer
objeto colocado na frente de uma lente podia ser registrado com relati-
!
'!
110 DESIGN GRAFleO

va objetividade. Mas tal realidade era muitas vezes subvertida atraves


docopioso usa do aerografo no retoque da imagem impressa. Enquan-
to isso, artistas comprometidos com causas sociais e. politicas, como
Kathe Kollwitz na Alemanha eBen Shahn nos Estados Unidos, manti-
nham viva nos posteres a tradicao da 'ilustracao desenhada e pintada.
A Guerra Civil Espanhola de 1936-37viu surgir uma enorme va-
riedade de impressionantes designs republicanos. Eram pinturas exe-
cutadas numa grande diversidade de estiIos heroicos e acompanhadas
de legendas com letras simples. Essas ilustracoes eram reconhecida-
mente influenciadas pelo trabalho dos russos Deni e Moor e dos "tres
Cs" franceses - Cassandre, Colin e CarIu. Mas foi na fotografia que
ocorreram as inovacoes mais significativas. CarIu fundara 0 Office de centro I'

Propagande Graphique pour la Paix em 1932, ana em que tambem pro- "Pero desarmamento"
poster. 1932 [Jean CarlUI

cantoesquerdo
"De-lhe abrigo",
poster, 1937 [Padial]

Dernonstracao, Paris,
duziu urn de seus mais celebres posteres, Combinando a foto de uma 1936, fotografia
mae e urna crianca com ilustracoes desenhadas de avioes e bombas, a
imagem antecipou 0 bombardeamento das cidades espanholas e a mor-
-te de civis. A fotografia provou ser urn meiobem mais eficiente de pro-
testocontra as atrocidades da guerra do que as ilustracoes caricaturadas
da Primeira Guerra MundiaI.
t. A'fotografia, utilizadapor CarIu como ilustracao retorica, pas sou a

servir de prova, ajudando a criar urn sentimento de solidariedade em

cantoesquerdo
Poster republicano,1937
[Pere Catala Pic]

"Nas colonias escolares do


Ministerio da Educa<;ao,
os filhos de nossos
combatentes levam uma
vida saudavel e feliz",
poster, 1937
[Mauricio Amster]

j
GUERRA E PROPAGANDA: DECADA DE 20 A 1945 111

casa e simpatia no exterior. Os posteres republicanos tambern empre-


gavam as fotos como ilustracoes documentais, registrando os novos
servicos sociais, especialmente aqueles ligados a educacao e ao bem-
estar da crianca, Mais revolucionario do que tudo isso, porern; era 0
arranjo cuidadoso e dramatico dos elementos fotograficos, que por si
s6 transmitia a mensagem desejada.
A fotografia, alem de sua funcao documental, podia tambern ser
usada para manipular simbolos atraves da iluminacao e do recorte de
imagens. 0 poster mostrando urn pe, calcando urn sapato tipico de
campones, a equilibrar-se sobre uma suasticae uma foto simples e nao
uma montagem. 0 slogan aparece em letras minusculas e em catalao,
"Aixafem el Feixisme", "Esmaguemos 0 fascismo". Impresso logo
abaixo da imagem, ele e superfluo.ja que a imagem transmite diversas
mensagens. Esse poster registra urn evento: "Veja, os camponeses es-
tao acabando com os fascistas", declara ele; "eles sao fortes 0 suficien-
te para esmaga-los com os pes". Assim como a suastica simboliza os
nazistas, a alpercata representa 0 campones, 0 poster substitui ainda a
imagem estereotipica do totalitarismo, a bota de cano alto.
Os uniformes e distintivos eram itens essenciais na guerra politica
dos anos 20 e 30, especialmente na Alemanha. 0 nazismo, desde seu
nascimento na decada de 20, incorporou as convencoes existentes na
epoca em sua propaganda visual, adotando 0 vermelho, 0 preto e 0
branco da bandeira imperial em suas faixas. Em Mein Kampf, publica-
do na decada de 20, Hitler planejou cada urn dos simbolos a serem
adotados pelo Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemaes.
o nacional-socialismo seria representado pelo branco e pelo vermelho:
branco para a pureza racial e, para seu programa social, 0 mesmo ver-
melho que tanto 0 impressionara ao presenciar urn comicio marxista,
"urn mar de bandeiras, echarpes e flores vermelhas", A suastica, ja
usada como simbolo do anti-semitismo, foi posteriormente combinada
com a aguia imperial alerna para servir de emblema do Terceiro Reich.
o simbolo sobreviveu aos nazistas, passando a identificar movimentos
de direita, geralmente agressivos. A Frente Vermelha do Partido Co-
munista, com sua bandeira vermelha e estrela de cinco pontas, enfren-
tava nao apenas a suastica dos nazistas, mas tambem as tres setas incli-
nadas da Frente de Ferro dos Sociais Democratas.
Para os Aliados na Segunda Guerra Mundial, a imagem de Hitler-
Simbolo da Frentede com 0 cabelo caindo no meio da testa, 0 bigode preto e a faixa de brace
Ferro dos Sociais
Democratas derrotando
a suasnca nazista,
detalhe de um poster,
c. 1930

WAST€'lHE. FOOD
AND
lHE.HUN
"Desperdice comida e ajude
o huno", poster, c. 1942
[C. K. BirdI "Fougasse"]
112 DESIGN GRAFICO

- tomou-se 0 simbolo do inimigo; urn simbolo odiado, mas tambem


ridicularizado.
Ele foi representado varias vezes escutando"conversas impruden-
tes", urn tema muito explorado por ambos os lados. Na Gra-Bretanha,
esse t6pico inspirou 0 poster "Sua conversa pode matar seus compa-
nheiros", urn dos mais brilhantes trabalhos de uma serie de designs rea-

"Sua conversa pode matar


seus companheiros"
poster, 1942
[Abram Games]

"A conversa mata"


poster, 1942
[Abram Games]

lizados por Abram Games, urn artista notavel por suas ideias e tecnica,
Esses posteres sao geralmente compostos por uma serie de imagens
fundidas 9U vimMfladas umas as outras, selecionadas para serem com-
preendidas instantaneamente. As imagens sao ligadas entre si por meio
de slogans simples. As palavras nao sao utilizadas como legendas para
as imagens, nem as imagens funcionam como meras ilustracoes para os
slogans. "As palavras especialmente", afirmou Games, "precisam tra-
balhar juntamente com 0 design, e nao ser uma simples reflexao acres-
centada depois ... Os posteres nao devem contar uma hist6ria... mas
dar 0 seu recado."
A habilidade tecnica de Games na pintura era prodigiosa. Todos os
elementos de seus posteres eram produzidos sem 0 uso de fotos ou
"composicao tipografica, Ele desenhava os slogans com letras maiuscu-
las estreitas ou com tipos estreitos de serifas largas, perfeitamente es-
pacados e muitas vezes quebrados em diferentes partes, com parte da
mensagem em letras escuras sobre fundo claro e 0 resto em letras cla-
ras sobre fundo escuro. Filho de fot6grafo, Games conseguia reprodu-

"Estamos todos juntos


russo", poster dos
telefones da Agencia
Geral de Correio, c. 1943
[F. H. K. Henrion]
GUERRA E PROPAGANDA: DECADA DE 20 A 1945 113

zir com 0 aer6grafo a mesma variedade de tons de uma fotografia. Com


essa tecnica ele criava em sua prancheta de desenho exatamente as ima-
gens de que precisava - imagens na posicao e no tamanho certo. Seu
realismo tridimensional incrementava 0 choque provocado pela drama-
tica justaposicao de seus elementos graficos, dando uma textura uni-
forme e harmonica a toda a area do poster.
Enquanto Games trabalhava diretamente para 0 Ministerio da Guer-
ra, os demais designers da Gra-Bretanha trabalhavam sob a coordena-
9ao do Ministerio da Informacao. Num espirito de urgencia e concor-
rencia profissional, produziram posteres para levantaro moral, encora-
jar a producao e fornecer instrucoes especificas aos civis sobre como
lidar com situacoes de guerra. Os designers adaptavam seu modo de
trabalho para adequa-lo ao assunto que precisavam explorar. As tecni-
cas variavam, indo de caricaturas humoristicas ao uso de fotografias de
esnidios apresentadas em sequencias diagramaticas, com instrucoes
numeradas. Os posteres falavam uma linguagem marcadamente direta,
'pere! Conte lentamente embora efeitos radicalmente surrealistas tambem se achassem presen-
c15antesde se mover tes, especialmente nos trabalhos de G. R. Morris e Reginald Mount.
" blecaute", poster,
2 [G. R. Morris]
Ainda se passariam muitos anos antes que as fotos coloridas vies-
sem a ser utilizadas nos posteres. A forma mais comum de expressao
pict6rica era a foto em preto e branco com areas de cores uniformes so"
brepostas a ela, Durante a guerra na Gra-Bretanha, essa tecnica foi uti-
lizada por Henrion numa serie de posteres, Com a entrada dos Estados
Unidos na guerra, em 1941, Henrion foi empregado em Londres pelos
Ministerios da Informacao britanico e norte-americano. 0 ministerio
americana produzia propaganda dirigida aos trabalhadores e civis nos
Estados Unidos e as tropas na frente de batalha.

6)~
o governo encomendara posteres a alguns designers modernistas,
~~
~~
incluindo Matter e Leo Lionni. Lionni usou fotos repetidas em seus
posteres Keep 'em Rolling (Nao os deixe parar) e ele e muitos outros
usaram 0 mesmo artificio de Lester Beall de fazer referencias a ban-

,00 deira norte-americana. Jean Carlu, que por coincidencia se encontrava


nos Estados Unidos quando a Franca se rendeu as forcas alemas, foi
encarregado de criar urn poster para estimular a producao industrial.
Cern mil c6pias de seu Production (Producao) foram impressas e dis-
tribuidas em fabricas, 0 sucesso desse trabalho levou 0 Ministerio da
114 DESIGN GRAFICO

"A resposta americana!


Producao", OEM p6ster.
1942 [Jean Carluj .

Informacao norte-americano a manter Carlu como consultor na area de


posteres.
o Ministerio da Informacao norte-americano produziu urn grande
mimero de relatorios governamentais. Alem desses relatorios, criou tam-
bern folhetos, muitos deles bastante sofisticados, com fotos e diagramas
estatisticos. Esses folhetos eram atirados de avioes sobre 0 territorio ini-
migo, junto com tabloides que abordavam a guerra sob a perspectiva dos
Aliados. Entre as publicacoes destinadas ao publico americana, havia
duas revistas, a de jornalismo fotografico Victory (Vit6ria) e a curiosa-
mente elegante USA: A Portrait in Miniature ofAmerica and Americans
in Wartime (Urn retrato em miniatura dos Estados Unidos e dos america-
nos em tempo d_~ guerra). Esta ultima foi projetada por Bradbury
Thompson em foffuato mimisculo, de 12,7 em por 10,16 em, e sua dia-
grarnacao misturava os estilos das revistas Life e Reader's Digest.
WestvacoInspirations,
* paqina dupla da revista,

***
1942 [Bradbury Thompson]

*
***
**
*
**
Thompson estava ficando famoso com os designs que criava para 0
jornal publicitario de uma empresa de fabricacao de papel, chamado
ff'estvaco Inspirations (ver pp. 122-23). Durante a guerra, grande parte
do jornal era dedicado a propria guerra. Dentro do mesmo espirito de
publicidade, os amincios da Container Corporation mostravam a parti-
cipacao da companhia no esforco de guerra.
A publicidade nos regimes totalitarios era urn reflexo da ideologia
do estado, e na Alemanha nazista ela fornecia ao partido uma grande
renda. Seu recuo do estilo modernista, para a adocao de uma variedade
de estilos nacionalistas, foi tambem imitado na Uniao Sovietica, onde "Pacotes de presente para
os posteres adotaram elementos do realismo socialista. Hitler", anuncio da CCA, 1943
[Jean Carlul
GUERRA E PROPAGANDA: DECADA DE20 A 1945 115

"Tres em um: pasta de


papel, moinhos de
fabrica<;ao de papel
e fabricas de
embalagem ... tudo isso
numaso organiza<;ao!",
anuncioda CCA, 1943
[Matthew Leibowitz]

"Aperte a batao. Compre


bonus de guerra... solte
asbombas", anuncio da
CCA,1943
[Leo Lionni] Sendo 0 mais moderno dos meios de propaganda, as exposicoes
haviam se tornado importantes em muitos paises. Construcoes e ima-
gens em tamanhos gigantescos impressionavam os visitantes, ao mes-
mo tempo que os confrontava com objetos e modelos reais. As mais
importantes exposicoes europeias antes da guerra foram a exposicao
da Revolucao Fascista em Roma, em 1933, e a exposicao de Hitler
"De-me quatro anos",em 1937; mas as feiras comerciais continuaram
a ocorrer nos paises do Eixo mesrno durante a guerra, Tambem nos Es-
tados Unidos as exposicoes eram consideradas um meio eficaz de en-
volver as pessoas no esforco de guerra. No Museu de Arte Moderna de
Nova York, Herbert Boyer realizou duas exposicoes contrastantes em
1942 e 1943.0 nome da prime ira, "Caminho para a vitoria", definiu 0
estilo do layout de Bayer. Os visitantes eram direcionados a percorrer
uma rota que passava por uma exibicao de textos e fotografia, algumas
das quais eram imensas e coladas diretamente sobre a parede da gale-
cantodireito ' ria, ilustrando as concepcoes americanas de liberdade. Para a mostra
"De-me[Hitler] quatro anos", "Rota aerea para a paz", a ideia de Bayer foi "deixar a magica dos ma-
sxposicao, Berlim, 1937 pas e a geometria dos globos transmitir 0 carater do projeto". A expo-
centro sicao combinou a historia da fabricacao de mapas com a historia da
"Rot1-Jerea para a paz", evolucao da aviacao. A "Rota aerea para a paz" permitiu a Bayer de-
e~pffsicao, Nova York, 1943 senvolver suas nocoes bauhausianas sobre os angulos de visao, utiliza-
[Herbert Bayer]
das por ele nos anos 30. Sua ideia consistia em combinar a perspectiva
"
abaixo
"Terra devoluta e agricultura",
do visitante com a do fotografo: a exposicao continha uma rampa, de
painel da exposicao, Sofia,
1942[ErbertoCarboni]
116 DESIGN GRAFICO

onde os visitantes podiam olhar para baixo e observar vistas aereas


panoramicas. A principal atracao da mostra era urn globo de propor-
yoes gigantescas. Os visitantes entravam dentro da esfera para ver urn
mapa do mundo no qual as areas distantes do planeta se achavam liga-
das de urn jeito impossivel de ser reproduzido num globo convencio-
nal, onde mais da metade do mundo permanece invisivel aos olhos do
observador.
No comeco da guerra, a Gra-Bretanha havia criado no Ministerio
da Inforrnacao urn departamento de exposicoes. Seu primeiro diretor-
geral foi Frank Pick, 0 diretor de design do metro de Londres. A frente
desse departamento estava Milner Gray (da Basset Gray). A equipe
formada por Gray manteve-se ocupada com uma serie de exposicoes
que variavam muito em conteudo, ambito e tamanho. Essas exposi-
coes visavam levantar 0 moral da populacao e enfatizar os feitos da
Gra-Bretanha durante a guerra, como, por exemplo, na exposicao "Or-
gulho de Londres", sobre 0 bombardeamento da cidade. Essas mostras,
todavia, tambem contiriham ideias sobre a liberdade democratic a e a
reconstrucao do pais no pos-guerra, Outras mostras, como a "Gas Ve-
nenoso", informavamo publico sobre 0 que fazer e como se comportar
em circunstancias especiais. As exposicoes eram montadas em locais "Somos pela paz. Mas nao
tememos 0 perigo e estamos
pouco convencionais -lugares bombardeados, estacoes de metro etc. - prontos para revidar (ada
e levadas a todas as partes do pais e do mundo. As mostras tornaram-se golpe desferido pelos que
urn meio de informar 0 publico, urn meio que sobreviveu por muito fomentam a guerra.
- Stalin", poster, 1932
tempo apos a guer~sob a forma de feiras comerciais e mostras inter- [Gustav Klutsis)
nacionais.
Emboratenham sido a mais proeminente contribuicao dos desig-
ners a luta politica e a propaganda de guerra, os posteres cairam em
desuso como meio de publicidade nos vinte e cinco anos que se se-
guiram a guerra. As revistas, que levavam noticias daguerra aqueles
que ficavam em casa (os que estavam na frente de batalha tambem ti-

Defesaaerea,poster
de exposicao. 1943
[Kumi Sugai]

nham seus proprios periodicos), cresceram em importancia e torna-


ram-se os maiores utilizadores do design grafico nos anos do pos-
guerra. Menos conspicuo foi 0 impulso dado pela guerra aos procedi-
mentos met6dicos na criacao de design e a ideia do design como

J
GUERRA E PROPAGANDA: DECADA DE 20 A 1945 117

meio de resolver problemasde comunicacao. Os principios desenvol-


vidos pelo gestaltismo, que nos tempos de paz encontrariam seus
equivalentes nas pesquisas de mercado, foram aplicados em areas
como camuflagem e identificacao. 0 simbolo de identificacao das
aeronaves norte-americanas foi modificado, perdendo a enfase em
sua rotundidade, para evitar confusiio com a insignia vermelha japo-
nesa. Mais importante de tudo, as pressoes da epoca de guerra, que
exigiam uma rapida compreensao dos fatos e das situacoes antes da
tomada de qualquer decisao, estimularam 0 desenvolvimento do design
de informacao.

~ direita
·~conomia de guerra,
. ~gina dupla da revista
mme, 1942
ador Irving Geisl
r de arte Francis
er]
J
l 0 designer e 0
diretor de arte

13. OS ESTADOS UNIDOS:


1945 A DECADA DE 60

Foram os diretores de arte, nos anos 30, que instituiram 0 design gra-
fico, especialmente na publicidade e no layout das revistas. Na decada
seguinte, os designers firmaram seu papel nas comunicacoes comerciais,
tanto entre as corporacoes e seus clientes como dentro das proprias com-
panhias. A industria e 0 cornercio empregavam cada vez mais designers.
Como esses profissionais designariam a si mesmos tomou-se urn assun-
to bastante discutido. Em 1958, os diretores de arte, segundo informou a
revista Print, chegaram it conclusao de que a palavra "arte" nao transmi-
tia a ideia adequada, discutindo-se "seriarnente a necessidade de mudar
o nome da profissao para 'engenharia visual' ou 'design grafico'''. 0
livro mais influente da epoca, todavia, Thoughts on Design (Reflexoes
sobre 0 design), de Paul Rand, publicado pela primeira vez em 1947, liga
a palavra "grafico" it arte e nao ao "design".
o Art Directors Annual (Anuario de diretores de arte) de 1951es-
pecificou as areas de atividade profissional dos designers antes de elas
serem estendidas ao cinema e it televisao. Sao seis categorias de design
impressa que permaneceram mais ou menos as mesmas por cinqiienta
anos: 1,2 e 3, revista,jomal e publicidade em periodicos; 4, mala dire-
ta e jornais de eJillresa (house organs); 5, posteres, anuncios, calenda-
rios, capas de disco e sobrecapas de livro; 6, design editorial (revistas).
Os designers atuavam individualmente em uma ou varias dessas areas
ao mesmo tempo. Podiam trabalhar sozinhos, com assistentes, em gru-
po (no departamento de design de uma grande organizacao) ou numa
agencia de publicidade.
As mudancas nas tecnicas de impressao afetaram a relacao do desig-
ner coni 0 processo industrial. Em todos os tipos de impressao, a tipogra-
fia estava cedendo lugar it litografia. Algumas poucas palavras ainda eram
impressas no papel por meio de tipos metalicos. 0 designer ainda dava ins-
'trucoes de composicao ao impressor, mas as provas eram geralmente re-
cortadas e paginadas no estudio, prontas para serem fotografadas e trans-
formadas em chapa de impressao, em vez de serem montadas na sala de
composicao do impressor. Isso deu maior controle ao designer. 0 surgi-
mento de novos materiais permitiu aos designers adicionar tons ao dese-
nho (por meio depontos), e 0 uso de fotostaticas, uma tecnica simples
para amp liar e reduzir imagens, permitiu-Ihes realizar experiencias gra-
ficas, como mudancas de tamanho, impressao negativa e positiva e in-
versao de tipos (Ietras brancas sobre fundo preto). Paul Rand, que se tor-
nara 0 mais influente dos principais designers norte-americanos, devotou
urn ensaio ao uso do preto, Uma das ilustracoes desse trabalho foi 0 de-
sign para a parte da frente de urn catalogo, "A tensao entre 0 preto e 0
branco na capa eintensificada atraves do contraste entre uma grande area
em preto com uma pequena area em branco."
Durante muito tempo Rand liderou a area de publicidade e, mais
"Arte do seculo XX: Colecao
tarde, 0 design de identidades corporativas. De 1941 a 1954, foi diretor Arensberg". capa do
de arte da agencia William H. Weintraub em Nova York. Em seu livro, catalog 0, 1948 [Paul Rand]
o DESIGNER E 0 DIRETOR DE ARTE 119

Thoughts on Design (Reflexoes sobre 0 design), varias vezes reimpres-


so, Rand observou que 0 designer precisava "descobrir urn meiode
cornunicacao entre ele e 0 espectador", Ele tirou 0 maximo proveito de
todo 0 vasto conjunto de tecnicas introduzidas pelo movimento moder-
nista, especialmente a colagem, os fotogramas e os recortes. Alern
disso, Rand tomou emprestadas as caracteristicas estilisticas de pinto-
res como Miro eArp e as faixas horizontais de Paul Klee. Essas carac-
teristicas tornaram-se uma presenca constante em seus trabalhos. Rand
geralmente utilizava imagens prontas, em vez de fotos tiradas au pro-
duzidas por ele. A assimetria livre, elegante e impecavel de seus tipos e
a a
frequentemente comparada escrita mao. Sua assinatura no design
reforca a ideia de que e0 designer, e nao a cliente, que esta se comuni-
cando com 0 espectador.
Para que urn anuncio "seja bem-sucedido entre os concorrentes, 0
designer precisa muitas vezes evitar cliches visuais, interpretando a
lugar-comum de maneira inesperada". Rand desempenhou urn papel
fundamental na nova mane ira de combinar palavras e imagens para a
transmissao de uma ideia, Ele foi urn pioneiro da Nova Publicidade, na
qual 0 espectador tinha urn papel ativo e nao passivo; na qual a curiosi-
dade despertada pelo anuncio necessitava da inteligencia do especta-
dor para completar 0 sentido. Essa tecnica amadureceu nos anuncios
da Volkswagen no comeco dos anos 60. Ostipos e as imagens eram
isolados, nao aparentando possuir qualquer qualidade estetica alern de
uma habilidosa producao de texto e imagem. Os titulos apareciam (mui-
tas vezes de maneira absurda) na forma de etiquetas ou slogans que
reproduziam a voz de urn comercial de teve. Os titulos pareciam pala-
vras faladas. 0 bloco de texto atraia a leitura gracas a seu arranjo sim-
ThinksmaR. ples, em colunas estreitas, e suas frases e paragrafos curtos.
Antes do aparecimento da Nova Publicidade, 0 design passou par
urn estagio de desenvolvimento interrnediario, que consistiu na total
"Pense pequeno", anunoo, integracao da palavra com a imagem e na utilizacao de textos minimos.
1959[Doyle Dane Bernbach]
[diretorde arte Helmut Krone] o produto nos ammcios dos chapeus Disney - urn criado por Rand, em
1947, e 0 outro por Gene Federico, em 1949 - sai do mundo do design
sofisticado, que manipulava imagens ja prontas, para ingressar no
simulado mundo "real" do romance cheio de glamour, descrito na foto
produzida por umdiretor de arte.

Chapeus Disney, anuncio,


1946 [PaulRand]

Chapeus Disney, poster


()
.,
_~II
para ambientesfechados,
1949[Gene Federico]
120 DESIGN GRAFICO

Woman's Day, anuncios'


de paqina dupla, 1951'54
[GeneFederico]

Na agencia Doyle Dane Bernbach, fundada em 1949 por urn reda-


tor de publicidade e colega de Rand na Weintraub, Federico produziu
outros exemplos brilhantes de anuncios com direcao de arte. Para con-
veneer as agencias a comprar espaco publicitario na revista Woman:S
Day, Federico dispos fotos de uma leitora do peri6dico ao longo de
paginas duplas. Essas fotosdemonstravam sua condicao de consumi-
dora fazendo referencias as suas necessidades - seja cuidando de si
mesma, dos filhos ou de animais de estimacao -, pois, quando a mulher
sai de casa, lembra 0 amincio as agencias de publicidade, "elanao
compra apenas a Woman:S Day!" No que diz respeito ao design grafi-
co, 0 impecavel artificio de substituir as letras "0" da expressao "go
out" (sair de casa) por pneus brancos de bicicleta fez desse ammcio urn
dos trabalhos mais admirados pelos diretores de arte.
Federico passara quase urn ana trabalhando na revista Fortune, que
teve como dire!gr de arte, de 1945 a 1949, Will Burtin. Na nova era
atomica, Burtid'Usava a paginas da Fortune para apresentar dados esta-
tisticos e amp las informacoes cientificas ao mundo tecnocratico dos
neg6cios. Suas capas eram uma versao decorativa dos graficos de
informacao. Na guerra, ele desenhara manuais de arma para a forca ae-
rea dos Estados Unidos. Esses manuais demonstram seus metodos,
Burtin deu uma das mais claras e coerentes explicacoes a respeito do
design grafico, "Sempre que uma mera recitacao dos fatos for insufi-
ciente, excessivamente demorada ou confusa para 0 leitor, e que uma
intensa organizacao visual for necessaria a sua exposicao, temos 0
design como resultado. Esse design precisa ter as mesmas qualidades
de uma boa prosa. Ele precisa ser lido com facilidade." Burtin analisa
as duas paginas de urn trabalho em que ensinou os aviadores a montar

Manual de manutencao
de armas da torca aerea,
setas sobrepostas pelo
designerpara indicar 0
movimento dos olhos
sobre a paqina, c. 1944 e
1948 [Will Burtin]
o DESIGNER E 0 DIRETOR DEARTE 121

uma arma. Essas paginas usavam tecnicas cinematicas, em vez de ima-


gens quadradas que teriam quebrado 0 fluxo visual. Os titulos, pela
mesma razao, foram impressos em negrito, nao em tipos largos. Ao tra-
tar de assuntos complexos, como instruir os aviadores a levar em con-
sideracao 0 angulo e a velocidade das aeronaves de ataque, Burtin con-
cebia ilustracoes diagramaticas que eram ao mesmo tempo elaboradas
e faceis de serem compreendidas. "Como sempre acontece quando to-
dos os elementos de urn design sao reconhecidos, estudados e coeren-
temente reunidos, 0 resultado dificilmente e desagradavel aos olhos -
deveras ele chega a ter a beleza de uma declaracao bern enunciada -,
alern de atingir seu objetivo. Usando esses principios e recursos visuais,
o tempo de treinamento dosartilheiros aereos foi cortado exatamente
pela metade - de doze para seis sernanas,"
Burtin acreditava que, "a medida que a vida se torna maiscom-
plexa, ela requer uma linguagem cada vez mais abrangente. A repre-
sentacao grafica proporciona essa abrangencia, aquela sintese da arte
com a ciencia de que tanto necessita a vida contemporanea't-Seu tra-
balho para a empresa farrnaceutica Upjohn, onde assumiu em 1948 0
cargo de diretor de arte da revista interna da companhia, a Scope,
substituindo Lester Beall, expressava seudesejo de "vincular 0 carater
do anunciante a natureza da industria farmaceutica e a sua formacao
cientifica".

Scope, capa da revista, 194~


[Lester Beall]

Scope, paqina do indice,


1954 [Will Burtin]

Diagrama das celulas


sangUineas, paqina __ w~.

da revista Scope, 1949


~,_ ..
...
[Lester Beall]
-.~-~'

--
Scope, capa da revista, 1948
[Wili Burtin]
,I
t~
o DESIGNER E 0 DIRETOR DEARTE 125

em Nova York. Os m6veis de Eames eram distribuidos por Herman


Miller, e sua publicidade e catalogos, criados no escrit6rio de Eames,
adotavam 0 modemo modelo europeu de design de informacao,
A direcao de arte do Sweet's Catalogue Service (service de catalo-
gos) pas sou as maos de Ladislav Sutnar em 1941. Esse catalogo fomecia
a industria informacao sobre produtos. Nos livros Catalog Design
(Design de catalogo - 1944) e Catalog Design Progress (Desenvolvi-
mento do design de catalogo - 1950), ambos publicados pela Sweet,
Sutnar alegava "nao apenas mais informacoes factuais, mas tambem uma
melhor apresentacao, com clareza visual e precisao, obtidas por interme-

Sweet's Catalog Service,


sirnbolos

CatalogDesign Progress,
paqina dupla, 1950
[Ladislav Sutnar]

dio de ... arranjos capazes de transmitir urn fluxo de informacao", As


Maquinas Adco-x,
logotipo e simbolo, 1956 cern paginas do Catalog Design Progress, subintitulado Advancing
[La~a" Sutnar] Standards a/Visual Communications (Padroes avancados de comunicacao
visual), estao entre os mais importantes textos sobre design grafico de


informacao ja escritos em Ingles. 0 argurnento de Sutnar e apresentado
em pequenas secoes, raramente maiores do que urn paragrafo de texto,
Areas de cor uniforme em formato geometrico simples - especialmente
setas em forma de cunha, circulos e elipses - sao utilizadas para organi-
zar 0 fluxo de informacao. 0 livro contem inumeros exemplos de proble-
mas, suas solucoes e todo 0 tipo de informacao, incluindo ainda uma ca-
deira criada por Eames e urn anuncio de Rand. Sutnar mostrou como tabe-
las e diagramas ajudavam a reduzir a quanti dade de texto.
"Uma necessidade grafica", escreveu Sutnar, "precisa ser analitica
e radicalmente dicotomizada em funcao e forma, conteudo e formato,
utili dade e beleza, racional e irracional e assim por diante. A funcao do
design pode entao ser definida como a resolucao do conflito entre tais
dicotomias, criando-se uma nova entidade."
o trabalho de Sutnar na area de catalogos obrigava-o a lidar com 0
design de marcas e com a padronizacao de todos os designs de uma
companhia, como acontecia com a Container Corporation.
126 DESIGN GRAFICO

Rand tambem estava envolvido no design de algumas das empresas


mais famosas, a comecar pela IBM, na qual passou atuar, a partir de
1956, como consultor extemo. Os diferentes departamentos da empresa
ficaram livres para utilizar como quisessem "0 elemento unificador
basico que liga fortemente todo 0 material impresso da IBM" - 0 logo-
tipo da IBM, criado por Rand. Mas, como seu departamento de publica-
cao produzia sozinho duzentos impressos diferentes a cada mes, era
preciso criar regras de design simples que .incluissem "0 uso, sempre IBM, variacoss do logotipo
que possivel, de uma familia de tipos padrao [semelhante ao Trump's de 1956, em IBM House
Style, 1969 [Paul Rand]
City Medium], alem de uma solucao de design simples e funcional". No
final da decada de 60, essas regras simples haviam se desenvolvido e se
transformado num enorme fichario, 0 IBM Design Guide (0 guia de ABCDEFG
design da IBM). Os tipos extravagantes deveriam ser evitados, "a me- HIJKLMNQ
nos que absolutamente essenciais", e foram substituidos por um tipo
convencional sem serifa.
PQRSTUV
o guia da IBM foi um dos primeiros desses manuais considerados WXYZg
necessarios a programacao visual de uma companhia. Esses manuais
visam impor a disciplina visual em todos os setores de uma organiza-
123458789
Alfabeto da IBM, 1956
c;aopor meio de um conjunto de regras abrangentes. Essas regras defi-

@ -~.
nem nao apenas 0 jeito de desenhar a marca ou 0 logotipo da empresa,
mas tambem a maneira de utiliza-los. Determinam que tamanho e cor
devem ter em determinadas situacoes e 0 jeito correto de desenhar
cada papel timbrado da companhia, cada pacote, embalagem, veiculo e
cartaz. Essa prolijllmac;ao visual tinha sempre como base a marca e as
letras da companhia, como no exemplo dos designs da Westinghouse,
tambem criados por Rand, que levou em consideracao a possibilidade
®o:..
de virem a ser usados em pecas de animacao no cinema e na televisao,
Para responder as perguntas: "Por que se preocupar tanto com a imagem?
Westinghouse
Antigo logotipo e marca da
Por que nao nos preocuparmos apenas em gerenciar nossas compa-
Westinghouse usados como
nhias?", a Harvard Business Review inspirou-se num livro de Kenneth ilustracao de anuncio. 1961
E. Boulding, The Image (A imagem -1958), assinalando que "nao e [Paul Rand]
apenas 0 conhecimento e a informacao que norteiam 0 comportamen-
to humano, mas as imagens que possuimos ... a imagem ... anula a
'Complexidade da corporacao diversificada modema. Mas isso nao faz
dela uma ferramenta operacional menos trabalhavel, Longe disso. Na
verdade, ea realidade que cria a necessidade da ilusao",
Os esquemas de identidade visual eram considerados por muitos
como maneiras de disfarcar a realidade. Em 1955, a companhia ferro-
viaria de Nova York, New Haven e Hartford pediu conselhos a Herbert
Matter quando os passageiros comecaram a reclamar da rna qualidade
de seus servicos, 0 presidente da companhia achava que um "design
moderno e melhorias tecnol6gicas nos motores, carros e sistemas de
sinalizacao, alern de uma imagem corporativa mais imponente, trariam
melhores resultados do que se eu usasse 0 velho logotipo e as insipidas
cores verde-oliva e vermelho-toscano", Matter escolheu 0 vermelho, 0
preto e 0 branco. A pintura do material rodante ainda estava em anda-
mento quando 0 presidente da companhia deixou 0 cargo. Na verdade,
a programacao visual de Matter - como a de Rand na IBM, quando foi
introduzida na empresa - dependia do logotipo. A regra a ser seguida
em relacao ao logotipo era que, quando ele fosse impresso numa so cor,
130 DESIGN GRAFICO

Expo 5
Design do pavilhiio
norte-arnencano, "A Rua";
Bruxelas, 1958 [Brownjohn'
Chermayeff & Geismar)"

artes graficas norte-americanas, porque "muito da vitalidade e espirito


e
do pais expresso por meio de designs". Herb Lubalin, designer de pu-
blicidade de Nova York e autor de textos e designs desse numero, intitu-
lado "Carnival of the Eye" (Parque de diversoes do olho), fez um bom
resumo: "No fundo da arte grafica americana esta a ideia, 0 conceito. Amerika, "Parque de
Tudo mais - a fotografia, a tipografia, a ilustracao e 0 design - esta a seu diversoes do olho"
capa da revista, 1963
service". A carreira de Lubalin exemplifica um tipo caracteristicamente
[Herb Lubalin]
americana de design grafico e seu desenvolvimento,
Como muitos outros designers cujas carreiras cornecaram antes da
Segunda Guerra Mundial, Lubalin havia trabalhado na Feira Mundial
de 1939. Ele trab;;Rhavaem agencias de publicidade e, desde 1945, es-
tava na Sudler and Hennessey, especializada em produtos farmaceuti-
cos. Nessa companhia, a primeira contribuicao de Lubalin foi utilizar
palavras como imagens. Ele estendeu os limites da composicao recor-
tando provas, reespacando-as e enfatizando detalhes, como foi descrito
num livro publicado em 1961, intitulado simplesmente typography (ti- Sudler, Hennessey &
pografia). 0 autor da obra foi Aaron Bums, um designer que dirigia a Lubalin, logotipo, 1959
The Composing Room, uma companhia de composicao que alem de pos- [Herb Lubalin]
suir urn espaco para exposicoes publicou antes da guerra a revista PM Anuncio de rernedio,
e sua sucessora A-D. 0 entusiastico Burns introduziu novas familias de 1958 [Herb Lubalin]
tlpo e, em 1960, produziu quatro livretes: com Lester Beall (sobre auto-
moveis), com Brownjohn, Chermayeffe Geismar (sobre Nova York), com
Gene Federico (sobre macas) e com Lubalin (sobre jazz). Essas obras
sao uma expressao madura do design grafico moderno norte-americano.
(Elas despertaram grande interesse na Europa ao serem reimpressas na
revista da industria grafica alerna Der Druckspiegel.) A essa altura, um rein bronchioles, reduct histamille-induced
vocabularic nacional, com imagens e palavras proprias, era utilizado com congestion and irritation throughout the res-
piratory trad,liqaefy tfIick,lenac:ious mucus.
seguranca e espirito, Esse vocabulario era servido por uma industria de PYRIBENlAMIHE UPECTORANTwith Ephedrine
......... '....--U""'..., .
OClfWf_'. ...--CI1tOIt'~CIIUIl
artes graficas que proporcionava fotos, tipografia e impressao de alta '

qua1idade pro fissional.


Lubalin tarnbem contribuiu para 0 desenvolvimento das revistas. Em
1961, .foi incumbido de redesenhar a Saturday Evening Post. 0 uso de
maiusculas compactas e pesadas nos titulos, em substituicao ao tipo Ro-
man fino, e 0 emprego de fotos com natureza morta em lugar de pinturas
realistas na ilustracao dos contos foram inovacoes que consternaram os
1eitores das pequenas cidades norte-americanas. No ana seguinte, Lu-
balin desenhou uma nova revista, Eros. Era uma revista cara, de capa
o DESIGNER E 0 DIRETOR DEARTE 131

ARE APPLES
PECULIARLY,
ESPECIALLY,
EXCLUSIVELY ~.
OR EVEN -..r'.
CHARACTERISTICALLY.¥;.
AMERICANP --- ... • --
- ---
"Amor as macas". da serie dura, com urn elegante layout improvisado, que lembrava urn conjunto
About US (Sobre os Estados de exercicios visuais. A revista durou pouco. 0 trabalho seguinte foi para
Unidos), Composing Room
mc.,livrete, 1960 a Fact, na qual Lubalin utilizou urn estilo economico: na capa, urn cabe-
[Gene Federico] calho arrojado, em Times Bold, e, na parte de dentro, 0 texto composto
em duas colunas simples, em Times, com titulos centralizados.

Saturday Evening Post, capa

tasn
da revista, 1961 (ilustrador
Norman Rockwell)
[HerbLubalin]

Fact, capa da revista, 1964


[HerbLubalin]

A insistente afirmacao de Lubalin de que 0 "conceito" era a princi-


pal caracteristica do design grafico americana foi cornprovada pelas
capas da revista Esquire, onde dois dos mais importantes designers da
epoca trabalharam consecutivamente como diretores de arte: Henry
"" '. Wolf e George Lois. Quando Wolftornou-se diretor de arte em 1952, a
Esquire tinha urn logotipo e. uma marca - uma cabeca redonda, com
dois olhos arregalados e urn bigode branco. Wolfmanteve ambos, mas
explorou-os e, mais tarde, absorveu-os nas fotos ou montagens de seus
designs para a capa da revista. 0 rosto com bigode apareceu sob a
forma de uma cabeca frenol6gica, na parte de tras de uma cadeira de
ferro trabalhado, num balao, num ovo, num botao de campanha e num
selo postal. As paginas de texto eram concebidas de acordo com seu
conteudo. As paginas com contos eram diagramadas em duas colunas e
continham ilustracoes s6brias; as materias, como a feita em novembro de
1957 sobre a bolsa de valores de Nova York,usavam fotos dramaticas que
saiam da pagina, titulos em estilo de telex e tabelas semelhantes as da For-
tune. Os titulos, tais como nos posteres, eram dispostos em grupos com-
pactos, bern no estilo de Wolf, que assimilara 0 padrao jornalistico.
Geralmente, como disse 0 editor da Esquire ao comentar uma exposi-
\(aO sobre revistas organizada por Wolf em 1965, "no complicado ne-
Esquire, capa da revista, 1955 g6cio de extrair mensagens de uma mente para colocar em outra (co-
[HenryWolf]
132 DESIGN GRAFICO

municacaovcomo eles chamam), as revistas sao unicas, Elas sao 0 re- Harper'sBazaar. cap~ •
da revista, 1959.'
sultado de uma luta. Nao necessariamente uma luta contra a vida, mas [fot6grafo Richard Avedon]
certamente uma luta contra 0 tempo. Dois tipos de pessoa montam [Henry Wolf]
uma revista, e-seus pontos de vista sao geralmente opostos. Ha 0 pes-
soal da palavra - os editores ~ que estao preocupados com 0 texto da
revista, e 0 pessoal das imagens - que esta preocupado com 0 visual
da revista... Em nenhum outro tipo de comunicacao este tipo de tensao
mantem-se tao firme e inabalavel", Nas paginas criadas por Wolf ne-
nhum sinal dessa tensao e percebido.
Na epoca em que isso foi dito, todavia, Wolf estava na Harper S
Bazaar, onde produziu capas .surpreendentemente originais. Suas fotos
de estudio, cuidadosamente controladas, provocavam urn choque sur-
realista - tecnica que ele tomou a utilizar numa nova revista, Show, lan-
cada em 1962.
Essas capas de Wolf eram conceitosfotograficos, Elas nao se apoia-
yam em palavras; so as usavam como etiquetas ou como pretexto para
uma imagem. Em contrapartida, as capas para a Esquire produzidas pOI
Lois, como diretor de arte publicitario, dependiam da colaboracao entre
SHew
palavras e imagens e da cooperacao do leitor para resolver a tensao en-
tre as duas. A resolucao dessa tensao liberava a mensagem. "Urn traba-
Iho planejado", disse ele.vnao serve para a parte da frente de uma revis-
tao 0 design e uma harmonia de elementos. A capa e uma declaraciio"

Ii
11
1'1 Show, "Kennedys demais",
capa da revista, 1963
il
"
[Herny Wolfl

11 Esquire, "A masculimzacao


ji da mulher americana", capa
da revista, 1965
w
,',
[fot6grafo Carl Fischer]
[George Lois]

A primeira companhia a obter total integracao entre publicidade e


identidade visual corporativa foi a CBS Television, e isso aconteceu
gracas ao trabalho dedicado de um diretor e do compromisso profis-
sional assumido por sucessivos diretores de arte. 0 primeiro deles foi
Williani Golden. Em 1937, apos trabalhar com Agha na Conde Nast,
Golden entrou para a Columbia Broadcasting System. Isso foi muito
tempo antes do surgimento da televisao, Golden voltou para a compa-
nhia como diretor de arte apes a guerra e foi 0 responsavel pelo design
do "olho" que caracteriza a marca da companhia. Ele tinha uma per-
cepcao realista da eficacia desse simbolo: "Se voce gosta dos progra-
mas que a CBS transmite, provavelmente acha que 0 simbolo e born,'
Golden tambem tinha uma explicacao pratica para sua criacao; era
como "urn simbolo em movirnento. Consistia numa serie de olhos con-
Columbia Broadcasting
centricos. A camara se aproximava para mostrar que a pupilaera uma System, simbolo
iris, 0 diafragma de uma camara que se abria para mostrar a identifica- [William Golden]

...
,
o DESIGNER E 0 DIRETOR DE ARTE 133

r;ao da rede e depois se fechava", Uma versao estatica desse simbolo


foi muito utilizada. Urn ana depois, Golden sugeriu que a companhia
tentasse algo diferente, mas foi lembrado de urn velho axioma: "II pro-

CBS
---- ,
vavelmente na hora em que voce esta comer;ando a ficar cansadodo
seu trabalho que 0 publico comeca a nota-lo,'
As letras escolhidas por Golden para a CBS eram de urn design
neoclassico frances, criado por volta de 1800 e semelhante ao Bodoni.

f
DODCERS~ Golden obrigou a equipe de designers (urn dos quais naquela epoca era
BlAHKS{l
Lois) a redesenhar 0 alfabeto, letra por letra, uma letra por semana.
Apesar disso nao havia rigidez naaplicacao desses elementos graficos,
Numa longa serie de anuncios na imprensa que se tornaram celebres
por sua engenhosidade grafica, Golden nem sempre utilizou esse tipo
M uncio da radio CBS, 1950 ou 0 simbolo da companhia.
[designer Irving Miller]
Golden morreu em 1959 e foi sucedido por Lou Dorfsman, que ja
[diretorde arte Wiiliam
Golden] fazia parte da equipe da CBS. Dorfsman deu inicio aos mais ambicio-
sos projetos visuais da companhia, usando de firmeza profissional para
TItulode programa da CBS,
implementa-los. 0 designer,disse ele, "alem de mostrar que 0 projeto
c. 1957 [Georg Olden]
vern ao encontro de uma necessidade, precisa ainda informar como ele

aM vai funcionar, quanta vai custar, para quem, e como sera distribuido".
Urn de seus mais memoraveis anuncios apareceu no sernanario da in-

ew dustria do entretenimento, 0 Variety, espremido no meio de uma serie


de colunas de classificados de casas it venda. Dizia simplesmente que
os programas da CBS atingiam 750 mil lares a mais do que a segunda
rede de teve, Era impossive! nao ve-lo.ja que era 0 unico item da pagi-
na impressa em vermelho.

Capa de livrete
da CBS, 1956
[Lou Dorfsman)

Golden dizia que "imagern corporativa" significava "a impressao


geral que uma companhia deixa no publico por meio de seus produtos,
politicas, acoes e esforcos publicitarios", Dorfsman conseguiu isso por
meio de inumeras campanhas publicitarias baseadas nos principios da
Nova Publici dade. Ele seguia 0 exemplo de Lubalin, usando familias
de tipo para criar uma imagem, e de Lois, unindo numa unica ideia pa-
lavras e imagens separadas na pagina.
o born design de uma imagem corporativa podia ser testemunha-
do nos layouts de impressos promocionais e relat6rios feitos por Dorfs-
man, que se igualavam aos da Esquire no uso de fotos e na elegancia
da tipografia. Esse padrao foi estendido a toda a CBS com urn zelo
quase obsessivo. Quando a companhia mudou-se para novas depen-
Capa de disco de Thelonius dencias, oitenta rel6gios foram desmontados para que seus algarismos
Monk,1965
[fot6grafo W. Eugene Smith] fossem substituidos par outros da mesma familia de tipos adotada
[JerrY Smokier] pela CBS.
134 DESIGN GRAFICO

Em meados da decada de 60, 0 design grafico se estabelecera como


uma profissao especializada. A prova do vigor dessa atividade profis-
sional podia ser encontrada mensalmente nas revistas do setor, como
Print, Communication Arts e Art Direction. Todas as cidades grandes
dos Estados Unidos tinham seu proprio c1ube ou associacao de direto-
res de arte, e 0 American Institute of Graphic Arts (AIGA - Instituto
Americano de Artes Graficas) elegia seu "Diretor de Arte do Ano". Os
designers eram ecleticos, e varies estilos e posturas floresciam. Uma SociedadeHaYdr
das tendencias no design grafico americano era representada por de- capa de livrete
c. 195,
signers nostalgicos, voltados para a ilustracao, como Joseph Lowe os [Joseph LOll
profissionais do Push Pin Studios (fundado em 1924), que evitavam
usar os processos padrao de impressao em quatro cores. 0 trabalho da
Push Pin aparecia na revista autopromocional Monthly Graphic, bern
como em sobrecapas de livros e capas de disco. As editoras e gravado-
ras tambem empregavam designers mais modernistas como Lustig e
Roy Kuhlman, cujos trabalhos tinham urn visual tipicamente america-
no, caracterizado pelo uso de tipos condensados grandes e maiusculos,
semelhantes aos usados em posteres.
Son Nova
Capa de disco com recortes,
1967 [Milton Glaser]

•'t
canto esquera
Monthly Graphi,
paqina dupla, 195
[Push Pin Studio

Marques de Sad,
capa de Iivroc
Grove Press, 195
[Roy Kuhlrnai

As ideias formuladas na era pioneira do design grafico europeu


haviam sido assimiladas por designers como Bayer, Burtin, Sutnar e
Walter AHner. Nascido em Dessau, AHner estudara por algum tempo
na Bauhaus. Numa visita feita ao estudio Isotype de Otto Neurath, em
Viena, conhecera Tschichold, que the arranjou urn trabalho como as-
sistente de Piet Zwart na Holanda. Depois de Zwart, AHner trabalhou
com Jean Carlu em Paris, em 1933. Chegou aos Estados Unidos em
1949 e ingressou na revista Fortune em 1951.

Fortun
capa da revista, 19~
[Walter AlinE
o DESIGNER E 0 DIRETOR DEARTE 135

Moholy-Nagy morreu em 1946. Seu livro Vision in Motion (Visao


em movimento - 1947) foi influente tanto pelo modo como expos as no-
vas maneiras de olhar, que resultaram das descobertas feitas pela arte
moderna, ciencia e tecnologia, como por seu layout. Naquela epoca as
gravuras da maior parte dos livros ilustrados eram impressas naforma de
"estampas", em papel brilhante, de qualidade superior, que propiciava
um resultado mais nitido. As estampas eram colocadas em secoes dentro
do livro ou na parte de tras do volume. Moholy-Nagy acreditava firme-
mente que "as ilustracoes devem acompanhar 0 texto, e nao ser busca-
das ... sao colocadas no ponto em que sao mencionadas no texto, ou em
tamanho pequeno na margem grande da pagina, ou em tamanho maior
dentro do corpo do texto ou na pagina oposta". Esse foium desenvolvi-
mento do "typofoto", que utilizava 0 texto como "ilustracao verbal".

Vision in Motion (Visao


m movimento), paqina
lluplado livre, 1947
lLaszlo Moholy-Nagy)

Herbert Bayer formara uma boa clientela em Nova York durante a


guerra e idealizara a mostra "A Arte Moderna na Publicidade", em
Chicago, onde foram exibidas as artes-finais dos anuncios feitos para a
Container Corporation of America. No ana seguinte, tornou-se 0 con-
sultor de design da companhia. Embora Bayer esteja associado a cam-
panha de relacoes publicas "Grandes Ideias do Homem Ocidental", ele
tambem foi responsavel pelo design do World Geo-GraphicAtlas (Atlas
geografico mundial), patrocinado pela CCA entre 1949 e 1952. Esse
trabalho e urn marco na hist6ria do design de informacao; e tanto urn
anuncio das possibilidades das tecnicas da ilustracao para explicar e
relacionar distancia, tempo, movimento e quanti dade, quanta urn atlas
dos sistemas e recursos do mundo.

World Geo-Graphic Atlas


(Atlas geo-grafico mundial),
paqina dupla do livre, 1953
IHerbertBayer]
136 DESIGN GRAFICO

Quase todos os designers importantes estavam envolvidos com 0


ensino, de modo que as atitudes programaticas de Sutnar e Burtin se
misturavam com 0 ecletismo pragmatico de Beall e Rande com 0 este-
ticismo perfeccionista de Brodovitch. As companhias estrangeiras, como
as empresas farmaceuticas suicas Geigy e CIBA, abriram seus proprios
escritorios de design nos Estados Unidos, assim como a IBM 0 fez na
Europa e no Japao, Gracas a essas iniciativas, e atraves das revistas
europeias Gebrauchsgraphik e Graphis, 0 design americano nao ape-
nas tornou-se reconhecido internacionalmente, como pas sou tambern a
Butazolidin, remedio
ocupar uma posicao de proeminencia no mercado. para artrite reumat6ide
A ten sao que sempre existira entre 0 "born design" (como os apro- antlncio da Geigy, 1964
vados pelo Museu de Arte Moderna de Nova York) e 0 design grafico [Fred Troller]

do qual 0 mundo comercial parecia necessitar estava comecando a se


manifestar. Henry Wolf, que conseguira aumentar espetacularmente a International Harvester
circulacao da Esquire, estava preocupado com a incomoda situacao logotipo, 1960
profissional do designer. Ele percebeu que "os problemas que deve- [RaymondLoewyj

riam chegar ate nos de maneira simples e clara, e somente com exigen-
cias essenciais a pressionar-nos a descobrir novas solucoes, acabam
chegando com volumosas recomendacoes e resultados de pesquisa que
muitas vezes tornam a apontar para 0 sagrado e segura caminho do
meio", 0 trabalho realizado por grandes firmas comerciais de design, ChaseManhattan Bank,
como a de Raymond Loewy, baseava-se em pesquisas com 0 consumi- simbolo, 1963
[Chermayeff & Geismar]
dor, "dando aos consumidores aquilo que eles querem, e em grande
quantidade!", di~ ele. Contudo, elas produziram trabalhos que nada
ficaram a dever aos realizados pelos novos grupos de design, como 0
Chermayeff & Geismar. Loewy, por exemplo, criou para urn de seus
clientes, a fabricante de maquinas agricolas International Harvester,
Green lighting Company,
uma marca que trazia as iniciais da companhia ao mesmo tempo que simbolo, c. 1955

.j.
sugeria a frente de urn trator. [Louis Danzigerj

~,~
Novas tecnicas foram desenvolvidas para descobrir mais a respeito
dos consumidores e daquilo que eles queriam. A CCA montara em
1940 urn Laboratorio de Design equipado com uma camara que era ~.~
.capaz de registrar os movimentos do olho sobre urn design. A Landor
Associates trabalhava junto com seu Instituto para Analise de Design,
observando e entrevistando compradores em seu supermercado de men- Better Vision Institute
tira. Em meados da decada de 60, a unica diferenca real entre os produ- (montagem de retrato de
tos era a maneira como eram percebidos pelos consumidores. Urn pro- Walter Gropius),capa
de Iivrete, 1950
"Grandes ldeias do Homem
Ocidental..
'0 que vai destruir os Estados
Unidos e... 0 amor pela vida
tacil e 0 desejo de enriquecer
rapido', de TheLetters of
TheodoreRoosevelt" (As cartas
de Theodore Roosevelt),
anundo da CCA, 1960
[Herbert Bayer]
o DESIGNER E 0 DIRETOR DE ARTE 137

duto podia se distinguir do outro apenas pela imagem que projetava -


ou que era projetada sobre ele. Como disse Walter Landor: "a batalha
para ganhar 0 coracao dos consumidores esta apenas comecando", Ou-
tros designers imigrantes eram menos confiantes em relacao a isso,
habituados que estavam ao idealismo europeu, representado pela maxi-
ma de Moholy-Nagy de que "e 0 homem, nao 0 produto, que se deve
ter em mente".
o comentario ironico de Schawinsky foi urn retrato fragmentado
do diretor da Bauhaus de Weimar - usado como imagem na capa do li-
vrete do Better Vision Institute. 0 anuncio feito por Herbert Bayer para
a CCA ilustra 0 amor americano "pela vida facil" por meio de uma
montagem com os itens "notorios de consumo".
Variantes do ]
modernismo
na Europa
14. A SUrC;A E 0 NEUE GRAPHIK

o modernismo tornou-se uma cruzada na Suica nos anos que se


seguiram a Segunda Guerra Mundial. Suas pressuposicoes tornaram-
se uma questao de fe, Na Kunstgewerbeschule, na Basileia, os estudan-
tes reimprimiram os trabalhos mais importantes da decada de 20, como
o timbre criado pela Bauhaus. Seu professor, Emil Ruder, estava per-
plexo com 0 fato de que tal trabalho fosse considerado obsoleto, mas
Tschichold, 0 grande defensor da Nova Tipografia em 1925, sustentava
que esses trabalhos haviam introduzido duas nocoes erradas. A primei-
ra era a rejeicao do layout centralizado; a segunda, 0 uso exclusivo de
Analise diagramMicade tipos sem serifa, que Tschichold agora considerava serem "basicamen-
pintura por Max Bill, de te adequados as criancas pequenas; para os adultos sao mais dificeis de
KalteKunst?(Arte Iria?),
1957[Karl Gerstner)
ler do que os tipos cujas serifas tern uma funcao e nao sao meramente
ornamentais. Alem disso, a assimetria nao e de jeito nenhum superior a
simetria; ela e so diferente. Ambos os metodos sao validos".
Max Bill, ao refutar tais argumentos em 1946, disse que eram tipi-
cos das pessoas que queriam voltar a usar metodos antigos por acreditar
que, pelo mero fato de terem sobrevivido, eram eficientes. "Felizmen-
te", disse Bill, "existem pessoas jovens, que olham para a frente, que
nao aceitam cegamente argumentos como esses," Desses jovens de que
Bill estava falando, 0 mais articulado era urn designer da Basileia cha-
"canon sagrado" das mado Karl Gerstner. Em 1955, a revista de arquitetura e design profis-
proporcoes de um livro no
lim da Idade Media, sional Werk dedicou urn numero ao design grafico, Gerstner foi encar-
diagrama, 1953 regado de sua edicao e layout. Como Bill, Gerstner tambem era urn
[Jan TschicholdJ
pintor da escola pos-construtivista suica, a escola de artistas "concre-
tistas" que usavam sistemas e ideias matematicas, No trabalho para a
Werk, Gerstner esforcou-se ao maximo para deixar bern claro que 0
design grafico nao tinha nada a ver com a arte, mas que certamente se
beneficiaria da rigorosa disciplina imposta pela arte concreta, que ele e
outros haviam estendido ao design. Enquanto Tschichold estava inte-
ressado na geometria e nas proporcoes das paginas de urn livro, Gerst-
ner e seus colegas desenvolviam 0 controle da "grade". Uma forma
simples de utilizacao desse metodo pode ser encontrada nos primeiros
livros produzidos pelos escribas, nos quais a posicao das colunas e das
Grade para Schiff nach linhas numa pagina e reproduzida nas paginas seguintes por meio de
Europa, 1957
[Kali Gerstner) marcas na folha. Acredita-se que 0 uso moderno desse metoda tenha
sido introduzido por Bayer na Bauhaus. Era utilizado, segundo expli-
cou Gerstner, como "urn regulador proporcional para layout, tabelas,
imagens etc.". Gerstner citou 0 cornentario de Einstein a respeito do
modulo: "E uma escala de proporcoes que dificulta 0 ruim e facilitao
born." Diferentemente do trabalho de divisao de pagina realizado par
Tschichold, as grades de Gerstner nao eram criadas a partir das propor-
<,;oes de determinada folha, mas a partir de uma unidade basica de me-
dida tipografica. Essas grades eram frequentemente elaboradas e lem-
bravam construcoes cabalisticas de desnecessaria complexidade, mas
ele as usava de maneira expressiva, para controlar as ideias,
140 DESIGN GRAFICO

No design que Gerstner criou em 1957 para 0 livro de seu colega


Markus Kutter, Schiffnach Europa (Navio para a Europa), a superficie
foi dividida em seis quadrados; cada quadrado foi subdividido em ou-
tros quadrados, sete por sete; estes foram entao divididos pela menor
unidade de tamanho de tipo (mais 0 espaco entre as linhas), formando
quadrados menores ainda, tres por tres. Isso deu a Gerstner aquilo que
ele chamou de "tela flexivel, na qual a imagem tipografica e acomoda-
da com uma liberdade quase ilimitada de expressao". Essa liberdade
foi explorada para enfatizar os diferentes tiposde discurso utilizados
pelo autor, inclusive 0 estilo de jomais, textos de anuncios, script de
filmes, alem da narrativa tradicional.

Schiff nach Europa,


A partir de 1;;9, Gerstner passou a dirigir junto com Kutter uma capa e paqinas duplas,
agencia publicitafia na Basileia, quando entao fez experiencias com as 1957 [Karl Gerstner)
unidades basicas de tipografia. No trabalhoque realizou para a compa-
nhia Bech Electronic Centre, Gerstner fez permutacoes com as letras
BEC e brincou com os elementos tipograficos da loja "boite a musi-
que". 0 ideograma que criou para 0 National Zeitung (Noticias Na-
cionais), usando as letras "N" e "T", revelou igual engenhosidade.
Esse tipo de trabalho era sustentado por uma serie de afirmacoes
te6ricas e programas praticos. Junto com Kutter, Gerstner publicou a
primeira pesquisa abrangente sobre a hist6ria e a base racional do mo-
~ernismo no design grafico, 0 Die neue Graphik (1959). A obra foi.se-
guida por trabalhos mais te6ricos, 0 Programme entwerfen (Programas
de design - 1963) e Compendium fur Alphabeten (Compendio para os
literatos - 1971). Esses livros tinham em comum 0 conceito de Siste-
ma, no qual urn efeito estetico emerge da escolha lucida de meios gra-
ficos limitados. Esse foi principio empregado por ele ate a epoca em National Ze/tung, da
serie de pasteres, 1960
que mais ou menos abandonou 0 design para dedicar-se a arte, no co- [Karl Gerstner]
meco da decada de 70.
Para escrever sobre publicidade em sua edicao Cia Werk, Gerstner
escolhera Siegfried Odermatt, urn designer conternporaneo seu, com
muitos anos de experiencia numa agencia de Zurique. Odermatt reto-
mou as ideias de Stankowski e Cyliax e as explorou livremente. Nos
anos 30, Stankowski e Cyliax haviam sido os pioneiros da nova
publicidade em Zurique. 0 trabalho de Oderrnatt enfatizou a distan-
cia que separava Nova York de Zurique no que dizia respeito as ideias
sobre publicidade. A diferenca mais 6bvia entre os dois centros era
que os anuncios suicos eram mais uma obra de designers do que de
diretores de arte. Eles raramente dependiam de urn unico titulo; 0

.'-1
MODERNISMO NA EUROPA 141

maior tamanho de tipo era usado para 0 nome do produto; a imagem


provinha diretamente do produto, em vez de ilustrar urn conceito de
marketing.
Na Werk, Odermatt descreveu os quatro principios que norteavam a
publicidade:

I. Chamar a atencao,
2. Apresentacao clara e objetiva do produto, servico ou ideia.
3. Apelo aos instintos do consumidor.
4. Ficar na memoria do consumidor 0 item anunciado.

Odermatt fazia uma distincao entre amincios isolados e anuncios


produzidos em serie que, por meio de urn design funcional, da repeti-
I;ao cuidadosamente planejada (e especialmente por meio da ideia
basica), podia estender a vida util, geralmente curta, de urn design.
A serie que criou para os rodizios Bassick, em 1957, demonstrou
isso. Odermatt apresentou 0 produto atraves de urn desenho tecnico,
dramatizado pelo contraste grafico resultante da inversao do preto com
o branco (linhas brancas tracadas em areas pretas). 0 desenho mecani-
co e preciso sugeria a precisao da fabricacao, 0 preto representava
ainda a cor da roda de borracha, e 0 branco, 0 metal ~ 0 mesmo trata-
mento que Beardsley dava ao contomo e a cor.
No ana seguinte, Odermatt produziu uma serie de anunciosde ape-
!ices de segura em frances e alemao. Nesses trabalhos, criados em for-
mato pequeno, ele dramatizava urn risco, como 0 de "assalto" ou "aci-
dente", fundindo a imagem e a palavra fotograficamente.
Junto com sua parceira Rosmarie Tissi, Odermatt refinou o.uso do
espaco, Este era regulado por uma grade, na qual as partes da mensa-
The YellowBook (0 livro
amarelo), desenhoda
capa, 1894
[AubreyBeardsley]

Neuenburger / La
Neuchateloise, anuncios
desegura, 1960
[Sie~ied Ddermatt]

Form 60, anunciosdos


vencedores da cornpeticao
dedesign, 1960
[Siegfried OdermattJ

mettez LaNeuchateloise

furd'esenFafl

5<"~~"ri>< _~::.~.:~:~.~~~aer
......

gem se relacionavam numa estrutura bern delineada, imaculadamente


demonstrada no anuncio que preparou para a competicao Form 60,
promovida pela loja Globus. A grade do amincio apresentava buracos
que eram usados para relacionar, separar e enfatizar elementos. A dis-
ciplina nao dogmatica de Odermatt e Tissi e sua grande producao de
propaganda cultural e industrial num periodo de mais de tres decadas
deram a eles uma duradoura fama internacional. .
142 DESIGN GRAFICO

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A influencia internacional da Suica baseava-se na revista Graphis, Fur dasAlter, p6ster, 1949
public ada mensalmente em Zurique desde os ultimos dias da guerra na [Carlo Vivarellij
Europa. A Graphis trazia, em doses equilibradas, reproducoes de tra- acima, ao centro
balhos intemacionais, discussoes sobre a arte comercial estrangeira e Bauen und Wahnen, capa
materias sobre reproducoes de obras de artes, livros de edicao limitada da revista, 1948
[RichardPaulLohse]
e assuntos historicos, Urn veiculo de influencia mais especificamente
suico era a revista Neue Grafik (Novo design grafico), lancada em 1958 acima, a esquerda
por quatro nomes da velha escola: Richard P. Lohse, urn pintor concre- "The International
Committee of the Red
tista; dois designers graficos, Josef Miiller-Brockmann e Hans Neu- Crassis helping - but it
burg, que fora cola.,Qorador de Stankowski; e Carlo Vivarelli, arquiteto needseveryone's help"(O
e artista que traba'TIiara para Boggeri em Milao (ver capitulo 15). Vi- Cornite Internacionalda
Cruz Vermelhaesta
varelli fora responsavel por uma importantissima obra da Neue Graphik ajudando, mas precisa
suica, 0 poster Fiir das Alter (Ajude os idosos), em 1949. da ajuda de todos),
Juntos os editores partiram para "criar uma plataforma internacio- poster, 1944
[Hans Neuburg]
nal para a discussao do desenho grafico moderno e da arte aplicada. Ao
contrario das publicacoes existentes, a Neue Grafik tern uma postura ca-
racterizada pela exclusividade, coerencia e irredutibilidade". Realmente,
a revista publicava pouquissimos trabalhos modernos estrangeiros, em-
bora tenha se tornado 0 principal meio de disseminacao das obras dos
artistas pioneiros dos anos 20 e 30, muitos dos quais escreviam a partir
de suas proprias experiencias, 0 principal deles foi Max Bill, cuja car-
reira se estendeupor muitas decadas, abrangendo arte, arquitetura e
design. Bill colaborou em muitos dos primeiros numeros da revista.
De todos os editores, Miiller-Brockmann era 0 mais ativo na area
comercial. A serie de posteres criados por ele, a partir do comeco da de- NeueGrafik
cada de 50, para 0 Tonhalle (salao de concertos) de Zurique mostra a NewGraphicDesign
emergencia eo desenvolvimento daquilo que ogrupo chamou de "Kons- Graphisme actue!
truktive Grafik". Miiller-Brockmann comecou criando ilustracoes ex-
travagantes e amaneiradas, totalmente incompativeis com urn designer
comprometido com 0 Neue Graphik, que rejeitava 0 uso do desenho li-
vre por nao ser nem objetivo nem "construtivo", Apos isso, passou a
adicionar tipos a imagens "concretas" (matematicas) de geometria pla-
na e, em 1958, integrou texto e imagem atraves da grade.
Alem dos desenhos tecnicos e geometricos, a Neue Graphik exigia
fotos para suas imagens. Miiller-Brockmann adaptou-se a esse princi- Neue Grafik, capa da
pio criando posteres sobre os perigosdo trafego, dramatizados por mu- revista, 1958
[Carlo VivarelliJ
MODERNISMO NA EUROPA 143

'Musica viva, p6ster


do concerto, 1958, e
'explica<;ao diagramMica
, [Josef Muller-Brockmann]

dancas de escala, pelo corte radical de fotografias em preto e branco,


pelo freqiiente uso de eixos diagonais, por letras coloridas para slogans
de quatro ou cinco silabas, e por ordens que sugeriam brados: "Menos
barulho", "Cuidado com a crianca!" ,

"Menos barulho",
p6ster, 1960
[Josef Muller-Brockmann]

"Cuidado com a
crian<;a", poster, 1953
[Josef Muller-Brockmann]

Giselle, p6ster do bale, 1959


[Armin Hofmann]

Como tipo, Muller-Brockmann e seus colegas usavam quase que


exclusivamente 0 Akzidenz, Eparadoxal que tipos mais geometricos,
como 0 Futura, nao tenham sido considerados adequados a urn padrao
grafico tao rigidamente geometrico. No segundo numero da Neue Gra-
jik, Emil Ruder introduziu a nova familia de tipos Univers, criada por
urn designer treinado em Zurique, Adrian Frutiger, para a companhia
de fundicao de tipos Deberny & Peignot (ver p. 164). Esse design, em-
bora sem serifa, tinha urn carater ligeiramente caligrafico. Em 1957,
Letras no tipo Neue surgiu mais urn design sem serifa, a familia de tipos conhecida como
Haas Grotesk Neue Haas Grotesk, que logo foi rebatizada como Helvetica. Para ade-
[Max Miedinger, 1957] quar-se a urn programa sistematico e coerente de espessura de tracose
larguras, ela teve de perder muito de sua forca, a forca das antigasle-
C) tras de madeira usadas em posteres, Os tipos mais largos e mais pesa-

--
en
dos tornaram-se elementos graficos essenciais nos anos 50 e 60, tendo
sido explorados por todos os designers "construtivistas".
Quando os designers arranjavam as palavras verticalmente, enfati-
zavam suas qualidades abstratas e puramente graficas, Em 1959, para
CD o titulo de urn poster de espetaculo de bale ao ar livre, foi utilizada uma
144 DESIGN GRAFICO

versao redesenhada do tipoAkzidenz de espessura media. As curvas


bern menos acentuadas do Helvetica proporcionariam urn paralelis-
mo bern menos dinamico aos movimentos da figura retratada - urn
dinamismo intensificado pel a imagem desfocada e pelo corte da foto.
A palavra "Giselle" tornou-se uma imagem tarnbem forte: 0 pingo so-
bre 0 >;';'...,um.,circulo em vez de urn retangulo - e as curvas do "s" e do
"c:;?'$~~S'~S do 'I' e do 'I' evocam 0 movimento da bailarina sob
a-luz do palco. \~l
,0" 0 designer do~~~ ..: ter de Giselle foi Armin Hofmann, que deu aula
I ~!1Mve~~.:' asil~ia, a partir de 1947, e tambern n~ Filadelf~a
.eem Yale nos ano~.$, . Pento no uso das letras, Hoffman fOJ responsa-
v..e1;junto com Ems~Keller e Alfred Willimann em Zurique, pela cria-
·1
<;i'l9-,de-centena.~'4l(llons logotipos e marcas suicos.
». ,..-;......
Steiner, logotipo, 19S3
I [Alfred Willimannl

Therma, equipamento
eletrico, logotipo antigo e
novo, 1958 [Carlo VivarelliJ

,.,
As letras unidas criadas por Carlo Vivarelli para a Therma, em 1958, Electrolux,
formavam urn verdadeiro logotipo: na forma de uma unica peca metali- simbolo,
1962 [Carlo
ca, esse simbolo podia ser facilmente anexado aos itens e equipamentos Vivarellij
de cozinha desenhados pela empresa, cujo programa de design corpora-
tivo abrangia toda uma gama de atividades prornocionais, semelhante
ao que acontecia na Olivetti (ver capitulo 15).
Tal como ologotipo da Therma, outros simbolos, como 0 da Elec- Exposicao Nacional Suir;a,
trolux (Vivarelli, 1962) e 0 da Exposicao Nacional Suica de 1964 simbolo, 1964
(Hofmann), foram escolhidos atraves de competicoes, 0 reconhecimen- [Armin Hofmann]

to publico do design fazia que houvesse concorrencia para a criacao do


design de selos e cedulas de dinheiro. A selecao anual dos melhores
posteres suicos e dos livros mais bern desenhados do ana e a serie de
exposicoes de design no Gewerbemuseum (Museu de Artes e Oficios)
em Basileia e Zurique encorajavam 0 envolvimento do publico e estimu-
lavam clientes como a Therma. Nos anos 60 foram publicados livros que
demonstravam a integracao do design grafico na vida cultural e comer-
cial do pais: Design grafico de uma cidade suica, Design industrial
suico, Design grafico para a industria quimiea.
Como acontecia nos Estados Unidos, a industria farmaceutica em-
pregava designers, muitas vezes em tempo integral. A simetria revisio-
nista de Tschichold serviu 11 Roche. 0 "estilo suico" primitivo foi con-
solidado pela equipe da Geigy, que no comeco dos anos 50 incIuia
Gerstner e Gerard Ifert, sob a direcao de arte de Max Schmid e Gott-
fried Honegger. Ao mesmo tempo que esse estilo se espalhava pelos
Estados Unidos (onde Schmid passou a dirigir 0 departamento de design
da Geigy em 1955), outros poderosos elementos permaneceram imu-
MODERNISMO NA EUROPA 145

taveis na Suica. Eles podiam ser encontrados nos trabalhos de desig-


ners como Tschichold, que refinavam posturas conservadoras - espe-
cialmente na area do design de livros -, ou nos tradicionais posteres
ilustrados.

"Micorene" da Geigy,
anuncio, 1956
iEnzO Resli]

"Mogadon" da Roche, folha


.deroslo da brochura, 1965
[Jan Tschichold]

Em 1964, 0 International Council of Graphic Design Associations


(ICOGRADA - Conselho Internacional das Associacoes de Design
Grafico) se reuniu em Zurique. Alguns dos nomes que criaram a pro-
fissao, incluindo Stankowski, da Alemanha, Schuitema, da Holanda,
e Burtin, dos Estados Unidos, discutiram a questao "Design profissio-
nal ou arte comercial?". Neuburg apresentou os "amistosos contendo-
res" como "aquele artista grafico classico e livre, com inclinacao para
o desenho ou a pintura" e "sua contraparte intelectual, construtivista,
voltada para a funcionalidade" - esse ultimo representando a tenden-
cia da Neue Graphik. Essa discussao ja era universal. Em 1959,
Masaru Katsumie, editor da revista japonesa Graphic Design, enfati-
zou sua preferencia por designers "construtivistas": "Em vez de Ray-
mond Savignac, eu selecionei Max Bill. Em vez de Herbert Leupin,
preferi Josef Miiller-Brockmann. Em vez de Hans Erni, introduzi Karl
Gerstner."
Ao optar enfaticamente por Design Grafico, que ele acreditava es-
tar "firrnemente ligado Ii impressao", em detrimento de Arte Comercial,
Katsumie parece ter feito uma distincao baseada na ideia de reproducao,
As imagens do Design Grafico eram produzidas por fotografia, parte de
urn processo industrial, que podia ser reproduzida multiplas vezes a par-
tir de urn negativo original. A Arte Comercial, por outro lade, empregava
ilustracoes feitas Ii mao.
A distincao feita entre as duas categorias de designer nao era ne-
cessariamente tao exclusiva. Muitos dos principais designers suicos
trabalhavam em varios veiculos de cornunicacao grafica. Em 1945,
Kurt Wirth produzia posteres com suas pr6prias linoleogravuras, im-
pressas tipograficamente. Ao mesmo tempo, produziu trabalhos que
em nada se distinguiam do design grafico "construtivista", Em 1954,
Hans Emi pintara uma memoravel imagem composta, de qualidade
fotografica, na qual urn cranio se fundia a uma explosao atomica, Essa
imagem foi usada pelo artista num poster sobre desarrnamento nuclear
em 1960 (ver p. 1).0 fato de a imagem ter sido produzida por pintura ou
fotomontagem nao afetou em quase nada a ideia grafica, .
146 DESIGN GRAFICO

"Guerra atOmica: Nao"


poster, 1954
[Hans Erni]

o designer de poster Leupin estabelecera-se nos anos 40 com re-


presentacoes hiper-realistas dos produtos. Posteriormente, adotou urn
estilo informal semelhante ao utilizado pelos affichistes franceses. Ti-
pico dessa ultima fase e urn par de posteres para os sapatos Bata, cria-
do em 1954.

Sapatos Bata, poster


duplo,1954
[Herbert Leupin]

;1
:1
1
1

a
abaixo, esquerda
Tribune de Lausanne,
Em 1955, Leupin criou uma das mais economicas composicoes de poster, 1955
texto e imagem, combinando "manha" e "jornal" num bule de cafe bran- [Herbert Leupin]
co, animado por uma tampa semi-aberta, semelhante a uma boca. "Canetas esferograficas
Bic escrevem clara e
suavemente", anuncio,
1962 [Ruedi Kuelling]

il

[:~i1r:~.?~:;~:~~,~~3[:;;2!;i~~:~n! :1

r~¥~~~i~il~~i:j!;~!;'~:'i;i; I

Ruedi Kuelling, que trabalhara com Grignani em Milao (ver capi-


tulo 15), criou uma das mais simples e memoraveis marcas graficas,
usada em posteres e em pequenos anuncios impressos da caneta Bic.

,
JL.
MODERNISMO NA EUROPA 147

Produzida com uma caneta esferografica, a imagem descreve perfeita-


mente 0 objeto que a produziu. Criado por designers suicos na Suica,
esse tipo de trabalho pertence a uma tradicao mais antiga do que 0 "es-
tilo suico".
as pioneiros de antes da guerra ansiavam por objetividade na co-
municacao visual. A Neue Graphik consumou esse desejo. Ela foi
uma forca intemacionalizante na nova profissao, ajudando a estabele-
cer uma disciplina e uma linguagem tipografica para 0 "design de in-
formacao" antes da chegada da fotocomposicao e das imagens geradas
por computador.

Schwaben Brau,
AAAA AA
••••••
descansos de capo e
verculo de entrega,
logotipo da cervejaria,
1961 [Nelly Rudin]

~ -,
15. A ITAuA E 0 ESTILO MILANES

Embora tenha sido 0 futurismo, junto com a revista Campo Grafteo


(ver p. 41), a grande forca propulsora do movimento vanguardista na
Italia na decada de 30, foi gracas principalmente a urn unico homem,
Antonio Boggeri,que 0 movimento continuou avancando apos esse pe-
riodo. Em 1924, Boggeri, urn violinista profissional entusiasmado por
fotografia, juntou-se II equipe de administracao da Alfieri & Lacroix,
uma companhia milanesa de composicao e fotogravura. Visitando es-
critorios vizinhos, Boggeri encontrou exemplares da revista inglesa
Commercial Art e da USSR in Construction, que traziam artigos de
Tschichold explicando a Nova Tipografia e a tecnica de fotomontagem.
Inspirado por esses artigos, Boggeri estabeleceuum esnidio em Milao,
em abril de 1933. No ana seguinte, a capa da Campo Graftco trazia uma
foto do Studio Boggeri. Na mesma epoca, Boggeri alinhou-se IIpostura
modemista da revista com respeito II tipografia, embora seu interesse
real fosse 0 "typofoto". Tentou convencer seus clientes de que "0 ex-
traordinario gosto estetico e a seducao visual dos meios de comunica-
9aO demonstrariam a excelencia do produto". 0 gosto estetico do Stu-
dio Boggeri evoluiu e transformou-se no estilo milanes do pos-guerra,

Maquina de escr
'''l;6~'G. Olivetti M40, folheto, 1
Of:1~ • • ,.""", '; [Xanti Schawir


Studio Bog'
o Studio Boggeri apresentava urn visual mais europeu do que pro- slmbolo,l
[Deberny & Peig
priamente Italiano. Seu simbolo foi desenhado em Paris pela Debemy
& Peignot. Boggeri foi apresentado aos lideres do movimento vanguar-
dista, como Bayer e Moholy-Nagy, atraves de Xanti Schawinsky, que
montara urn escritorio de design em Milao em 1934. Schawinsky trou-
xera consigo tecnicas tipicas do ultimo periodo da Bauhaus ~ desenhos
realistas feitos com aerografos, montagens e layouts disciplinados em
grades simples e bern delineadas. Todas essas tecnicas foram desenvol-
vidas nos anos 30 por outros designers associados a Boggeri.
Por intermedio de Boggeri, Schawinsky passou a trabalhar para a
Olivetti, que fabricava maquinas de escrever e equipamento de escrito-
rio. Dirigida pelo engenheiro Adriano Olivetti, a companhia tinha urn
programa de design abrangente, que incluia 0 complexo habitacional,
os hospitais e as escolas construidas para seus funcionarios, Schawins-
ky selecionou e juntouelementos de imagem e texto que identificas-
sem a Olivetti e ligassem 0 nome da empresa ao seculo XX e aos benefi-
Phonola, capa da broch
cios trazidos pela tecnologia. 0 poster com fotomontagem que criou do radio, l'
em 1934 reproduz a mesma simetria direta encontrada no trabalho de [Luigi Veron
150 DESIGN GRAFICO

Massa com ovo Barilla


"Tire essa ideiada su~
cabeca". anuncio, 1956
[Erberto Carboni]

to do design grafico Italiano por trinta anos. Carboni era especialista em


design de exposicoes comerciais, urn campo no qual a Italia era insu-
peravel, Durante os anos 30, ele utilizara uma mistura de estilos pos-
cubistas e em 1936 incluiu toda uma variedade de ingredientes moder-
nistas em seu poster para os chapeus Cervo "Bantam": colagem de ren-
da na fotomontagem do rosto de uma crianca com chapeu contra urn
fundo uniforme xadrez. A imagem continua sendo grafica e nao repre-
sentacional. Ha urn contraste entre a bidimensionalidade do suporte gra-

Flal•
fico (0 papel) e a profundidade espacial sugerida pelo tons da fotografia.
o apego de Carb9,ji a urn rigoroso modernismo evidenciou-se tambern
em seus trabalhos posteriores, ate mesmo naqueles feitos para urn mer-
cado popular - como por exemplo na promocao e embalagem dos pro- Radioitaliana,
simbolo, 1949
dutos da companhia de massas Barilla, nos anos 50 -, enos simbolos [Erberto Carboni]
estritamente geometricos criados para a radio e teve italianas.
Essa exposicao ostensiva e espontanea dos metodos graficos e da Ielevisaoitaliana,
manipulacao do espaco, renovada constantemente pelo emprego dos simbolo, 1953
[Erberto Carboni]
;1
mais recentes meios de desenvolvimento de novas formas de expressao,
era tipica da escola de Milao. 0 design fazia parte da vida economica e
cultural da cidade e era promovido nas exposicoes trienais. Seu cresci-
mento foi patrocinado pelos jornais da industria grafica, como 0 Linea
Grafica e Pagina, e reconhecido nas revistas de design e arquitetura, Linea Grafica, design
como a Stile Industria e Domus, que publicavam designs graficos es- da capa, 1954
[Bruno Munari]
trangeiros, especialmente aqueles feitos nos Estados Unidos, alem de
estudos no campo da teoria da comunicacao e pesquisas em diversas
areas, como na dos sinais de trafego,
A mais importante figura associada a Boggeri foi Max Huber, 0
primeiro de uma serie de designers suicos a chegar a Milao, Esses de-
signers foram cruciais para 0 desenvolvimento da linguagem grafica
de Boggeri. A supremacia dos suicos na area do design grafico ja havia
sido confirmada atraves de seu pavilhao na Trienal de Milao de 1936.
o pavilhao fora concebido por Max Bill, com quem Huber trabalhara
durante a guerra. Huber chegou em 1940, munido de uma extraordina-
ria habilidade tecnica, resultante de sua experiencia profissional numa
agencia de publicidade de Zurique e numa das mais avancadas empresas
graficas, Permaneceu em Milao por dezoito meses, ate que a Segunda

CENTRO UN'VERSITARIO BELAS ARTES· BWlIOTECA


1"52 DESIGN GRAFICO

Iha, que tambem representava a bandeira suica estendida, margeada por


cunhas alongadas nas cores verde e azul. Em 1957, ele usou elementos
semelhantes no poster para a corrida de 500 milhas de Monza. Entre
esses dois trabalhos, produziu urn design radical para a loteria do
Grand Prix de Monza de 1948, urn design impecavel em sua execucao.
Como numa pintura abstrata, enormes setas em cores uniformes (ver-
melho, azul e verde) tracam uma curvae se sobrepoem umas as outras,
num espaco criado pela afiada perspectiva das letras desenhadas a mao.
Fotos recortadas e cores uniformes tornaram-se ingredientes conven-
cionais no design grafico italiano, masfoi Huber 0 primeiro a usa-los
de mane ira criativa.
Em 1950, Huber cornecou a ajudar a loja de departamentos La Ri-
'f La Rinascente, papef
nascente a introduzir urn estilo unificado, desenvolvido por sucessivos
I de embrulho da loja de
diretores de arte. Ele ligou visualmente as etiquetas, as embalagens e 0 departamentos, 1950
material promocional dentro da loja com as vitrinas, posteres e a publi- [Max HUber]
cidade impressa. Para a marc a da loja, Huber combinou num unico ~ ~". ";RinascE
'"Rino"ji,.J·i a
O~~II
simbolo urn "R" maiusculo em Futura Bold com urn "I" mimisculo em .
I Bodoni italico: uma conjuncao que simbolizava a posicao de Milao
como ponto de encontro das culturas do norte e do suI da Italia. Essa ('-..-.. QlW»SOI

Ji conjuncao de opostos vinha sendo usada como artificio ret6rico na pu-


blicidade havia muito tempo. 0 exemplo mais comum disso era a de- 5°U~"l~o:
f monstracao de causa e efeito realizada atraves do artificio do "antes" e
"depois", muito utilizado nos remedies populares e adotado pelos de-
signers graficos,
l,B
'"RonaIJ
B.~ ~~x,
,/I
~u&)5DU!H111 ~_"

~-J!'!'gt]'UMi![;r'p
In qu. . . onu~ "i:=.~~~~:..:§~'''~.
iiiIl~J .~
II Politecnico, design
do sernanario, 1945
[Albe Steiner]

Visita a uma Iabrica da


Olivetti, capa de livrete,

~t
: i
1949 [Albe Steiner]

Ar-flex, logotipo, 1956


[Albe Steiner]

.~ :
Ol" r. .It:'-::X
..-
Urn dos mais celebres exemplos desse tipo de justaposicao, usando
a "guerra" e a "paz", foi obtido girando-se uma foto de armas de fogo,
com fumaca saindo de seus canos, ate noventa graus e transforman-
do-as assim em charnines de fabrica, Essa imagem apareceu nurn
folheto que anunciava 0 semanario cultural de esquerda milanes Il Po-
litecnico, em 1945. Seu criador foi Albe Steiner, que havia anterior-
mente trabalhado com Boggeri. 0 envolvimento de Steiner com a poli-
tica levou-o a escrever, ensinar e a participar do movimento de resis-
tencia durante a guerra, da reconstrucao do p6s-guerra e de urn progra-
rna de alfabetizacao no Mexico.
Steiner foi 0 diretor de arte de La Rinascente de 1950 a 1954. A
loja patrocinava urn premio anual de design. 0 premio, urn compasso
MODERNISMO NA EUROPA 153

que dividia uma reta na proporcao aurea, foi desenhado por Steiner,
que 0 converteu num simbolo grafico para ser utilizado em publicida-
de. Seus trabalhos graficos usavam tecnicas de vanguarda. Junto com
Lissitzki, ele foi urn dos poucos designers a produzir urn fotograma
para uso comercial. (Os componentes de uma maquina de escrever apa-
receram na capa de urn livrete da Olivetti em 1949.)
A publicidade da Olivetti eassociada em primeiro lugar a Giovanni
Pintori, que entrou para a companhia como designer em 1936 e hi tra-
balhou como diretor de arte de 1950 a 1968. Pintori utilizava diversas
tecnicas, Muitas vezes ele criava urn ambiente poetico e ambiguo, no
qual somente 0 nome fazia referencia ao produto. Os anuncios impres-
sos baseavam-se no isolamento de urn aspecto de uma maquina que
pudesse ser desenvolvido como elemento grafico principal. A mesma
familia de tipos Grotesque em negrito e italico era usada nos titulos e
no nome do produto Olivetti. Seguindo 0 exemplo das companhias far-
maceuticas, a Olivetti foi uma das primeiras empresas multinacionais a
Compasso o' oro, estabelecer urn estilo corporativo padronizado, utilizado em todos os
da La Rinascente, prernio
de design, 1954
seus escritorios espalhados pelo mundo. A IBM era sua maior concor-
[AIbe Steiner] rente nessa area.
A Pirelli, fabricante intemacional de pneus, visava nao apenas a
padronizacao de seus designs, mas tambern uma alta qualidade grafi-

Studio 44 da Olivetti, poster


de rnaquina de escrever,
c. 1936 [Constantino Nivola)

Lettera 22 da Olivetti, Ii
p6ster, 19 so: .
(Giovanni Pintori]

ca. Para seus posteres, como a Olivetti, ela contratava os services de


Savignac, Andre Francois e Armando Testa, que dirigia sua propria
agencia em Turim. Para exposicoes, chamava Carboni. E para os mil
Olivetti, logotipo, 1947 impressos produzidos anualmente pela empresa empregava os mais
notaveis talentos milaneses, especialmente Ezio Bonini, Aldo Cala-
olivetti bresi, Bob Noorda, a equipe de Confalonieri e Negri e Pino Tovaglia.

19~ ~
Esses designers tinham sorte: a Pirelli tinha urn logotipo tao simples e
Olivetti, sim.bolo,
(Marcello Nizzoli]
IFiI reconhecivel que podia tornar-se 0 elemento central do design, Apesar
disso, porem, acabaram criando, nas representacoes graficas dos pneus
e suas qualidades, urn vocabulario mais extenso do que 0 utilizado em
olivetti qualquer outro produto.
Grande parte dos trabalhos mais originais dos designers milaneses
foi criada para a industria farmaceutica: nos anos 40, Huber, Bonini,
Walter Ballmer, Remo Muratore e Vivarelli, todos designers de Bogge-
156 DESIGN GRAFICO

bre objetos tridimensionais e produziu imagens espaciais espetaculares


por meio de distorcoes geornetricas complexas.
Grignani acreditava que 0 individuo criativo na Italia, diferente-
mente do que acontecia nos Estados Unidos, "e freqiientemente seu
proprio diretor de arte, assim como designer, fotografo, desenhista tee-
nico e retocador". Achava que 0 trabalho em equipe podia inibir a cria-
tividade do designer. Era mais comum na Italia do que nos outros luga-
res 0 designer trabalhar em mais de uma area da atividade grafica. Al-
guns designers deram importantes contribuicoes em varias areas de es-
pecializacao. Marcello Nizzoli, por exemplo, tomara-se diretor de arte
da Olivetti em 1938 e, apos a guerra, desenhou para a companhia rna-
quinas de escrever que se tomaram urn sucesso intemacional. Tipica-
mente versateis eram tambem Bruno Munari (ver p. 41) e Enzo Mari, Pellizzari, anunciode
equipamento de irriga,ao,
ambos interessados em design tridimensional. 0 poster que Munari 1949 [Antonio Pellizzari]
criou em 1960, no qual juntou mais de trinta diferentes versoes impres-

Campari, poster, 1960


[Bruno Munari]

sas do nome Campari sobre urn fundo vermelho, foi urn exemplo quase
unico do uso de colagem em publicidade. Nos anos 60, Munari tambem
trabalhou com Huber fazendo projetos graficos de livros para a editora
Einaudi. Ele enfatizava a tridimensionalidade dos volumes com podero-
sos elementos retangulares, que foram repetidos nas capas de livro cria-
das por Mari para a companhia Boringhieri. 0 trabalho dos designers
italianos, especialmente 0 de Grignani, era admirado no exterior, como
eta tambem a perfeicao tipografica dos anuncios para os rifles de caca
Luigi Franchi, criados por Calabresi na Boggeri. Esse trabalho reconci-
liava a tipografia disciplinada com a imagem objetiva e dramatica. Ca-
labresi era originario da Suica, e, embora seu design se escorasse no
rigor suico, possuia a alegria e 0 contraste inventivo tipicos dos italia-

Luigi Franchi, anundo de


armasesportivas, 1960
[Aldo Calabresi]

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