Cláudio Luis de Araújo Neto - Tese (Ppgeca) 2021
Cláudio Luis de Araújo Neto - Tese (Ppgeca) 2021
Cláudio Luis de Araújo Neto - Tese (Ppgeca) 2021
Campina Grande – PB
Agosto de 2021
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Campina Grande – PB
Agosto de 2021
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Campina Grande – PB
Agosto de 2021
5
Dedicatória
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus por ter proporcionado esta experiência em minha vida, por me dar
coragem e discernimento, principalmente nos momentos difíceis.
A minha família, em especial a minha mãe, Rita e a minha irmã, Ruana que sempre me
apoiaram e incentivaram em todas as etapas da minha vida e ao meu pai Cláudio (in memoriam)
que deixou grandes ensinamentos e eternas saudades. A minha tia Goret, que, com o seu jeito
de mãe, sempre esteve procurando o melhor para mim. Ao meu afilhado Bernardo, que
renovava minhas energias em cada abraço!
Aos meus avós Antônio (in memoriam) e Irene, que além de me educarem, nunca
mediram esforços para me ajudar e sempre acreditaram em mim. Serei eternamente grato!
A minha esposa, Amanda, por toda paciência, compreensão, carinho e amor. Você foi a
pessoa que, literalmente, compartilhou comigo todos os momentos dessa trajetória.
A todos que compõem o GGA, excepcional espaço de aprendizagem! Em especial, ao
subgrupo de ensaios geotécnicos que liderei durante todo esse tempo. O conhecimento
adquirido como aluno de iniciação científica, mestrando e doutorando, que totalizaram 11 anos
de GGA, será eternizado. Obrigado por terem me recebido tão bem e me agraciado com tantas
oportunidades boas.
Aos meus amigos pela ajuda constante durante todo o período acadêmico. Foram
madrugadas de estudos, finais de semanas e feriados no laboratório, artigos que se eternizaram
mesmo sem ser publicados, coletas de dados no campo e em laboratório, reuniões constantes e
outras aventuras que proporcionaram a construção de amizades que vão além da academia!
Aos meus orientadores, Professora Veruschka Monteiro e Professor William de Paiva,
pelo apoio, paciência, cooperação, amizade, compreensão, confiança, disposição e dedicação
nesta jornada acadêmica.
Aos funcionários e professores do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil e
Ambiental, principalmente àqueles que fazem parte do Laboratório de Geotecnia Ambiental,
pelo apoio, orientação, amizade, paciência e conhecimentos transmitidos, que contribuíram
para o meu desenvolvimento intelectual e formação profissional.
Aos professores Márcio Camargo de Melo, Libânia da Silva Ribeiro, Gerson Marques
dos Santos e Maria Eugenia Boscov, por aceitarem o convite para participar da comissão
examinadora deste trabalho, pela atenção, sugestões e críticas propostas com o intuito de
aprimorar a pesquisa desenvolvida.
7
RESUMO
ABSTRACT
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Diagrama de fases e grupos de componentes dos resíduos sólidos urbanos ........... 25
Figura 2 - Distribuição Granulométrica do RSU para diferentes idades .................................. 29
Figura 3 – Peso específico de RSU coletados próximo à superfície de aterros........................ 31
Figura 4 – Variação do peso específico com a profundidade ................................................... 31
Figura 5 – Curva de compactação de resíduos sólidos urbanos (a) e variabilidade do ângulo de
atrito em função da umidade (b) ............................................................................................... 36
Figura 6 - Modelo da contribuição do reforço das fibras a resistência ao cisalhamento dos
RSU .......................................................................................................................................... 40
Figura 7 – Piezômetros: (a) Piezômetro simples; (b) Piezômetro multinível .......................... 48
Figura 8 – Piezômetro tipo Vector ........................................................................................... 49
Figura 9 – Representação de um experimento.......................................................................... 56
Figura 10 – Perfis de superfícies de respostas (a) e curvas de contorno (b) ............................ 58
Figura 11 – Neurônio artificial ................................................................................................. 59
Figura 12 - Representação da Função Limiar ........................................................................... 60
Figura 13 - Representação da função sigmoide ........................................................................ 60
Figura 14 - Representação da função tangente hiperbólica ...................................................... 61
Figura 15 - Arquitetura de uma RNA ....................................................................................... 62
Figura 16 - Geometria do Escorregamento............................................................................... 66
Figura 17 – Etapas da pesquisa................................................................................................. 72
Figura 18 - Localização do Aterro Sanitário em Campina Grande e dos municípios que
depositaram RSU no empreendimento entre 2015 e 2020 ....................................................... 74
Figura 19 - Células do Aterro Sanitário em Campina Grande-PB ........................................... 75
Figura 20 – Aterro Sanitário após junções de Células.............................................................. 76
Figura 21 – Sistemas de drenagem: (a) vertical; (b) horizontal; (c) superficial. ...................... 77
Figura 22 – Lagoas de acumulação de lixiviado e de águas pluviais ....................................... 78
Figura 23 - Local de coleta dos resíduos .................................................................................. 79
Figura 24 - Localização dos pontos de coleta dos RSU no ASCG – PB.................................. 80
Figura 25 - Coleta e acondicionamento dos resíduos no caminhão caçamba. ......................... 81
Figura 26 - (a) resíduos acondicionados no caminhão caçamba; (b) pesagem dos resíduos; (c)
disposição dos resíduos no galpão ............................................................................................ 82
Figura 27 - (a) resíduos dispostos no galpão; (b) homogeneização dos resíduos..................... 82
Figura 28 - Quarteamento dos resíduos .................................................................................... 83
Figura 29 – Locais de coleta dos resíduos com 1 e 2 anos de aterramento .............................. 84
Figura 30 – Retirada da camada de cobertura para coleta dos RSU com 1 ano de aterramento
.................................................................................................................................................. 85
Figura 31 – Preparação dos resíduos para caracterização físico-química e geotécnica: (a)
coleta; (b) pesagem; (c) homogeneização; (d) abertura de sacos plásticos; (e) quarteamento . 86
Figura 32 – Preparação de amostra: (a) picotagem; (b) diluição; (c) extrato ........................... 88
Figura 33 - Materiais espalhados e realização da segregação dos RSU ................................... 89
Figura 34 - Segregação dos RSU.............................................................................................. 89
Figura 35 – Material misto ....................................................................................................... 90
Figura 36 – Pesagem dos componentes dos resíduos: (a) Identificação dos recipientes; (b)
balança utilizada para pesagem dos resíduos; (c) pesagem dos materiais ................................ 91
Figura 37 – Secagem dos resíduos ao ar livre .......................................................................... 92
Figura 38 – Acomodação da manta sintética na vala ............................................................... 94
11
Figura 39 – Cubagem da cava: (a) abastecimento do caminhão pipa; (b) enchimento dos
recipientes; (c) preenchimento da cava com água; (d) cava preenchida .................................. 95
Figura 40 – Ensaio de permeabilidade: (a) amostra de resíduos; (b) compactação; (c)
permeâmetro a carga variável ................................................................................................. 100
Figura 41 – Alturas do maciço sanitário para análise da resistência ao cisalhamento ........... 102
Figura 42 – Moldagem dos corpos de prova para o ensaio de resistência ao cisalhamento: (a)
amostra; (b) inserção de resíduos na caixa de cisalhamento; (c) e (d) compactação da amostra;
(e) amostra na prena de cisilhamento direto ........................................................................... 104
Figura 43 - Instrumentação utilizada no monitoramento dos deslocamentos do Aterro
Sanitário: (a) placas de recalque; (b) marcos superficiais; (c) marco fixo; (d) estação total . 107
Figura 44 - Distribuição das placas superficiais e marcos topográficos na Célula ................ 108
Figura 45 - Localização dos piezômetros Pz1, Pz2, Pz3, Pz4 no Aterro Sanitário ................ 110
Figura 46 – Desenho esquemático do piezômetro instalado no ASCG: (a) corte transversal; (b)
corte longitudinal .................................................................................................................... 111
Figura 47 - (a) Processo de medição de líquidos no piezômetro de Casagrande; (b)
Instrumento utilizado na medição de líquidos ........................................................................ 112
Figura 48 - Monitoramento da vazão de lixiviado do ASCG na tubulação da LAL1 ............ 113
Figura 49 – Etapas do desenvolvimento da modelagem constitutiva e não constitutiva ....... 114
Figura 50 – Arquitetura da rede neural utilizada para predição: (a) tensão cisalhante; (b)
intercepto coesivo; (c) ângulo de atrito; (d) intercepto coesivo e ângulo de atrito ................ 118
Figura 51 – Geometria do Aterro Sanitário em Campina Grande .......................................... 120
Figura 52 – Perfil do corte A-X-B .......................................................................................... 121
Figura 53 – Perfil do corte C-X-D .......................................................................................... 121
Figura 54 – Composição gravimétrica dos resíduos com 0, 1 e 2 anos de aterrados ............. 125
Figura 55 – Fração da composição gravimétrica dos resíduos com 0, 1 e 2 anos de aterrados
................................................................................................................................................ 126
Figura 56 - Curva granulométrica dos resíduos com 0, 1 e 2 anos de aterrados .................... 128
Figura 57 – Distribuição granulométrica de resíduos ............................................................. 130
Figura 58 – Peso específico dos resíduos com 0, 1 e 2 anos de aterramento ......................... 131
Figura 59 - Umidade dos resíduos com 0, 1 e 2 anos de aterramento .................................... 133
Figura 60 - pH dos resíduos com 0, 1 e 2 anos de aterramento .............................................. 134
Figura 61 – Teor de sólidos voláteis dos resíduos com 0, 1 e 2 anos de aterramento ............ 136
Figura 62 – DQO e DBO dos resíduos com 1 e 2 anos de aterramento ................................. 138
Figura 63 – Curva de compactação dos resíduos com 0, 1 e 2 anos de aterramento.............. 140
Figura 64 – Permeabilidade à água dos resíduos aterrados .................................................... 143
Figura 65 – Modelo conceitual de porosidade dupla.............................................................. 145
Figura 66 – Gráfico de Pareto dos efeitos padronizados para o planejamento fatorial dos
resíduos com 0 (a), 1 (b) e 2 (c) anos de aterrados ................................................................. 146
Figura 67 – Superfície resposta e curva de contorno da permeabilidade à água dos resíduos
recém aterrados em função do peso específico e umidade de moldagem .............................. 148
Figura 68 – Superfície resposta da permeabilidade à água dos resíduos com 1 ano de aterrados
em função do peso específico e umidade de moldagem ......................................................... 149
Figura 69 – Superfície resposta da permeabilidade à água dos resíduos com 2 anos de
aterrados em função do peso específico e umidade de moldagem ......................................... 150
Figura 70 – Resultados dos ensaios de cisalhamento direto dos resíduos com 0 ano de
aterrados.................................................................................................................................. 151
Figura 71 – Resultados dos ensaios de cisalhamento direto dos resíduos com 1 ano de
aterrados.................................................................................................................................. 154
12
Figura 72 – Resultados dos ensaios de cisalhamento direto dos resíduos com 2 anos de
aterrados.................................................................................................................................. 156
Figura 73 – Precipitação e evaporação em Campina Grande ................................................. 158
Figura 74 – Recirculação de lixiviado: (a) resíduos; (b) camada de cobertura ...................... 159
Figura 75 – Variação da temperatura ambiente em Campina Grande .................................... 160
Figura 76 - Deslocamentos verticais do ASCG monitorados pelas placas de recalques ........ 162
Figura 77 – Fissuras na camada de cobertura do ASCG ........................................................ 163
Figura 78 – Velocidades de recalque do ASCG monitoradas pelas placas de recalques ....... 164
Figura 79 – Deformação específica da massa de resíduos em função do tempo.................... 165
Figura 80 – Deslocamentos horizontais do ASCG ................................................................. 167
Figura 81 – Velocidade dos deslocamento horizontais .......................................................... 169
Figura 82 – Vetores dos deslocamentos horizontais .............................................................. 170
Figura 83 – Nível piezométrico no piezômetro 2 ................................................................... 171
Figura 84 – Níveis de piezométrico no piezômetro 3............................................................. 171
Figura 85 – Níveis piezométricos no piezômetro 4 ................................................................ 172
Figura 86 – Drenagem superficial da Célula do ASGG ......................................................... 173
Figura 87 – Diferença entre nível medido e nível real de líquidos em piezômetro ................ 174
Figura 88 – Precipitação e vazão de lixiviado ........................................................................ 177
Figura 89 – Gráfico de Pareto dos efeitos padronizados para o planejamento fatorial dos
resíduos recém aterrados, ensaiados na condição não inundada (a) e inundada (b) ............... 182
Figura 90 – Gráfico de Pareto dos efeitos padronizados para o planejamento fatorial dos
resíduos com 1 ano de aterrados, ensaiados na condição não inundada (a) e inundada (b) ... 183
Figura 91 - Gráfico de Pareto dos efeitos padronizados para o planejamento fatorial dos
resíduos com 2 ano de aterrados, ensaiados na condição não inundada (a) e inundada (b) ... 184
Figura 92 – Superfície resposta para tensão cisalhante dos resíduos recém aterrados para a
condição não inundada em função da tensão normal e peso específico ................................. 188
Figura 93 – Superfície resposta para tensão cisalhante dos resíduos recém aterrados para a
condição inundada em função da tensão normal e peso específico ........................................ 189
Figura 94 – Superfície resposta para tensão cisalhante dos resíduos recém aterrados para a
condição não inundada em função da tensão normal e umidade ............................................ 190
Figura 95 – Superfície resposta para tensão cisalhante dos resíduos recém aterrados para a
condição inundada em função da tensão normal e umidade .................................................. 191
Figura 96 – Superfície resposta para tensão cisalhante dos resíduos recém aterrados para a
condição não inundada em função da umidade e peso específico .......................................... 192
Figura 97 – Superfície resposta para tensão cisalhante dos resíduos recém aterrados para a
condição inundada em função da umidade e peso específico ................................................ 192
Figura 98 – Gráfico da probabilidade normal dos resíduos dos modelos para predição da
tensão cisalhante na condição não inundada dos resíduos com 0 (a), 1 (b) e 2 (c) anos de idade
e na condição inundada dos resíduos com 0 (d), 1 (e) e 2 (f) anos de idade .......................... 196
Figura 99 – Valores experimentais vesus valores previstos pelos modelos de predição da
tensão cisalhante na condição não inundada dos resíduos com 0 (a), 1 (b) e 2 (c) anos de idade
e na condição inundada dos resíduos com 0 (d), 1 (e) e 2 (f) anos de idade .......................... 197
Figura 100 – Variabilidade do intercepto coesivo dos RSU na condição não saturada (a) e
saturada (b) ............................................................................................................................. 201
Figura 101 – Variabilidade do ângulo de atrito dos RSU na condição não saturada (a) e
saturada (b) ............................................................................................................................. 203
Figura 102 – Envoltórias de ruptura dos resíduos com 0 (a), 1 (b) e 2 (c) anos de idade na
condição não inundada e com 0 (d), 1 (e) e 2 (f) anos de idade na condição inundada ......... 205
13
Figura 103 – Coeficiente de correlação dos dados observados e estimados para: (a) tensão
cisalhante; (b) intercepto coesivo; (c) ângulo de atrito; (d) intercepto coesivo e ângulo de
atrito ........................................................................................................................................ 209
Figura 104 – Desempenho das RNA por meio do Coeficiente de determinação e eficiência
para os parâmetros: (a) tensão cisalhante; (b) intercepto coesivo; (c) ângulo de atrito; (d)
intercepto coesivo e ângulo de atrito ...................................................................................... 212
Figura 105 – Desempenho das RNA quanto ao erro de predição para: (a) tensão cisalhante; (b)
intercepto coesivo; (c) ângulo de atrito; (d) intercepto coesivo e ângulo de atrito ................ 215
Figura 106 – Estruturas e os parâmetros de avaliação das RNA: (a) tensão cisalhante; (b)
intercepto coesivo; (c) ângulo de atrito; (d) intercepto coesivo e ângulo de atrito ................ 219
Figura 107 – Performance das RNA escolhidas para predição da: (a) tensão cisalhante; (b)
intercepto coesivo; (c) ângulo de atrito; (d) intercepto coesivo e ângulo de atrito ................ 220
Figura 108 – Regressões da RNA selecionada para predidição da tensão cisalhantes dos
resíduos aterrados ................................................................................................................... 221
Figura 109 – Regressões da RNA selecionada para predidição do intercepto coesivo dos
resíduos aterrados ................................................................................................................... 222
Figura 110 – Regressões da RNA selecionada para predidição do ângulo de atrito dos resíduos
aterrados.................................................................................................................................. 223
Figura 111 - Regressões da RNA selecionada para predidição do intercepto coesivo e ângulo
de atrito dos resíduos aterrados .............................................................................................. 224
Figura 112 – Parâmetros utilizados na análise de estabilidade do ASCG: (a) corte A-B; (b)
corte C-D ................................................................................................................................ 227
Figura 113 – deslocamentos verticais monitorados pelos marcos topográficos ..................... 269
Figura 114 – Velocidades dos deslocamentos verticais monitorados pelos marcos topográficos
................................................................................................................................................ 269
Figura 115 - Superfície resposta para tensão cisalhante dos resíduos com 1 ano de idade para a
condição não inundada (a) e inundada (b) em função da tensão normal e peso específico, com
umidade fixada em 49,5% ...................................................................................................... 270
Figura 116 – Superfície resposta para tensão cisalhante dos resíduos com 1 ano de idade para
a condição não inundada (a) e não inundada (b) em função da tensão normal e umidade, com
peso específico fixado em 12,5 kN/m³ ................................................................................... 270
Figura 117 – Superfície resposta para tensão cisalhante dos resíduos com 1 ano de idade para
a condição não inundada (a) e inundada (b) em função da umidade e peso específico, com
tensão formal fixada em 175 kPa ........................................................................................... 271
Figura 118 – Superfície resposta para tensão cisalhante dos resíduos com 2 anos de idade para
a condição não inundada (a) e inundada (b) em função da tensão normal e peso específico,
com umidade fixada em 49,5% .............................................................................................. 271
Figura 119 – Superfície resposta para tensão cisalhante dos resíduos com 2 anos de idade para
a condição não inundada (a) e não inundada (b) em função da tensão normal e umidade, com
peso específico fixado em 12,5 kN/m³ ................................................................................... 272
Figura 120 – Superfície resposta para tensão cisalhante dos resíduos com 2 anos de idade para
a condição não inundada (a) e inundada (b) em função da umidade e peso específico, com
tensão formal fixada em 175 kPa ........................................................................................... 272
14
LISTA DE TABELAS
LISTA DE QUADROS
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 21
1.2 Objetivos......................................................................................................................... 23
2.1.2.7 Demanda Química de Oxigênio (DQO) dos resíduos sólidos urbanos ............ 34
3. METODOLOGIA................................................................................................................. 71
3.4.1 Modelagem constitutiva da resistência ao cisalhamento dos resíduos sólidos ......... 115
3.4.2 Modelagem não constitutiva da resistência ao cisalhamento dos resíduos sólidos .. 116
1. INTRODUÇÃO
resíduos ao longo do tempo. Dessa forma, é possível mitigar o número de rupturas dos maciços,
principalmente em um cenário de crescente demanda por construção, ampliação e adequação
de disposição final de RSU.
As condições meteorológicas que os resíduos estão submetidos são um dos fatores que
também podem afetar a estabilidade dos resíduos depositados em aterros. Altos valores de
umidade na massa de resíduos, ocasionados pela precipitação, acarretam aumento de
poropressão de líquidos nos maciços sanitários, que reduz a tensão efetiva, resultando em
menores valores de resistência ao cisalhamento, e, consequentemente, redução da estabilidade.
Em uma revisão detalhada da literatura, Alidoust et al. (2021) mostraram que grandes
tentativas, em escalas de laboratório e de campo, foram feitas para investigar o comportamento
de RSU sob várias condições, mesmo assim, existem limitações na utilização desses
parâmetros, pois o comportamento dos RSU pode variar enormemente de local para local. A
avaliação das propriedades dos RSU baseada em laboratório é altamente complexa e demorada,
o uso de modelos matemáticos ou numéricos para a estimativa das propriedades dinâmicas de
RSU pode economizar tempo e custo. Em comparação com os testes de laboratório e de campo,
a modelagem preditiva pode oferecer maneiras mais eficientes de estimar as propriedades dos
RSU, sendo aplicada a uma gama mais ampla de problemas.
Devido a necessidade de determinar com precisão os parâmetros de resistência ao
cisalhamento dos RSU, bem como as dificuldades relacionadas aos testes de campo e de
laboratório, considera-se necessária a avaliação de métodos alternativos para determinação
desses parâmetros e análise da estabilidade de taludes de aterros sanitários, abordando os
aspectos físico-químicos, biológicos e geotécnicos dos RSU, assim como as condições
meteorológicas. Quando essas características não são consideradas, o uso dos parâmetros de
resistência ao cisalhamento pode ficar inviabilizado, uma vez que, as características dos
resíduos são desconhecidas. Por isso, a seleção de parâmetros de resistência ao cisalhamento,
apropriados para um aterro sanitário, continua sendo um desafio de projeto de engenharia
(ZHAN et al., 2008).
Segundo Alidoust et al. (2021), há uma lacuna na aplicabilidade da inteligência artificial
às propriedades dinâmicas de RSU. Assim, as tentativas de desenvolver um método confiável
para prever os parâmetros de resistência ao cisalhamento dos RSU e aplicá-los em análises de
estabilidade de taludes de aterros sanitários, que é o foco deste trabalho, são novas e podem
adicionar mais informações sobre o projeto de aterros sanitários.
23
1.2 Objetivos
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Os resíduos sólidos urbanos são meios multifásicos construídos pelas fases: sólidas,
líquida e gasosa. A fase sólida dos resíduos apresenta diversos constituintes, formando um
arranjo poroso que pode estar preenchido por gases e/ou lixiviado (REMÉDIO, 2014). No caso
de aterros sanitários, segundo Carvalho (1999), inicialmente, tem-se o predomínio da fase
sólida, no decorrer do tempo, os processos de biodegradação convertem a fase sólida em
líquidos e gases.
A fase gasosa dos resíduos dispostos em aterros sanitários é composta por diversos
elementos, alguns presentes em grandes quantidades como o metano (CH4) e o dióxido de
carbono (CO2), e outros em quantidades menores incluindo amônia (NH3), hidrogênio (H2), gás
sulfídrico (H2S), nitrogênio (N2) e oxigênio (O2) (TCHOBANOGLOUS, THEISEN e VIGIL,
1993).
A fase líquida dos resíduos depositados em aterros sanitários, ou lixiviado, é proveniente
dos líquidos presentes no material, dos processos biodegradativos e de fontes externas, tais
como: sistemas de drenagem superficial; precipitação e; recirculação do próprio lixiviado. A
NBR 8419 (ABNT, 1996), define lixiviado (chorume) como “líquido, produzido pela
decomposição de substâncias contidas nos resíduos sólidos, que tem como características a cor
escura, o mau cheiro e a elevada DBO (demanda bioquímica de oxigênio).”
A fase sólida dos resíduos apresenta uma mistura de materiais de diferentes tipos, formas
e dimensões, que podem ser classificadas, segundo a E 1-7 GDA (DGGT, 1994), em estáveis
inertes, altamente deformáveis e degradáveis. Fucale (2005), Machado, Carvalho e Vilar (2009)
e Correia, Jucá e Motta. (2015), classificam a fase sólida em duas categorias: as fibras, como a
matriz de reforço, compostas, principalmente, por plásticos e têxteis; e a pasta sólida de
25
resíduos, representando a matriz básica, composta por todos os outros materiais sólidos não
fibrosos e mais susceptíveis à biodegradação.
A Figura 1 sumariza as informações correspondentes às diferentes propostas da
literatura para o de diagrama de fases e grupos de componentes dos RSU.
No Brasil, segundo o Plano Nacional de Resíduos Sólidos (BRASIL, 2012), 51,4% dos
resíduos coletados consiste em matéria orgânica putrescível. Este percentual pode estar
associado ao grau de desenvolvimento da região, ou seja, quanto mais elevado for esse valor,
menor será o nível de desenvolvimento. A Tabela 1 apresenta valores obtidos na literatura
técnica para a ocorrência dos principais componentes dos RSU do Brasil, informados por meio
da sua porcentagem em peso.
A composição gravimétrica dos RSU vai se alterando com o passar dos anos, após o
aterramento. No geral, ocorre a diminuição no tamanho das partículas, mudança na forma dos
materiais compressíveis e decomposição dos materiais biodegradáveis (ABREU, 2015).
Dixon e Langer (2006) estudaram o potencial de biodegradação dos vários componentes
de RSU e concluíram que a madeira, couro, matéria orgânica, papéis e papelão apresentam
potencial de biodegradação superior a 75% de seu peso seco, enquanto, plásticos flexíveis
apresentam apenas 23% e plásticos rígidos, metais e substâncias minerais possuem baixo
potencial de biodegradabilidade. Conforme Abreu (2015), a porcentagem de materiais
biodegradáveis tende a diminuir ao longo do tempo, enquanto, a porcentagem dos materiais
pouco ou não biodegradáveis aumenta em relação a massa total existente. Desta forma, a
composição gravimétrica dos RSU pode ser um indicativo do estágio de biodegradação ou da
idade de aterramento dos resíduos.
Os constituintes dos RSU influenciam a dinâmica dos aterros sanitários, quanto maior
for o percentual de determinado material, mais semelhante serão as características do maciço a
28
este componente. Segundo Zekkos et al. (2006) e Zekkos et al. (2010), a quantidade de matéria
orgânica, que corresponde ao maior percentual em massa dos resíduos, influencia
principalmente a estabilidade, os recalques, a umidade e a geração de gás e lixiviado de aterros
sanitários.
De modo geral, resíduos com um maior percentual de matéria orgânica apresentam
maior compressibilidade e menor resistência ao cisalhamento que resíduos com baixo
percentual desse componente (ZEKKOS et al., 2006). Logo, quanto maior for o percentual de
matéria orgânica, mais susceptíveis estarão os aterros sanitários à ocorrência de rupturas e
menor será o fator de segurança dos taludes.
finos apresentarão grandes recalques, resultantes tanto dos processos mecânicos quanto
biodegradativos (KNOCHENMUS et al., 1998; DIXON e JONES, 2005; BOSCOV, 2008).
A Figura 2 mostra as curvas do tamanho das partículas para RSU com diferentes idades
e a faixa de variação típica da granulometria de RSU sugerida por Jessberger (1994). A grande
faixa de variação da distribuição do tamanho das partículas é o resultado da composição
randômica ou heterogênea dos resíduos, assim como dos processos biodegradativos que
ocorrem ao logo do tempo. Esta variação da distribuição granulométrica dos RSU ao longo do
tempo pode também ser observada nos estudos desenvolvidos por Carvalho (1999), Zhan et al.
(2008), Gomes e Lopes (2012), Abreu (2015), Araújo Neto (2016).
De acordo com Von Blottnitz et al. (2002) o tamanho das partículas pode ser facilmente
definido quando as partículas têm formas regulares e o grande obstáculo para uso generalizado
da caracterização granulométrica dos resíduos é a forma irregular das partículas. Schreier e
Tomas (1998) destacam que resíduos sólidos não se movem ao longo da superfície da peneira,
como planejado, devido a sua morfologia.
Segundo Farias (2014) é preciso muita cautela para entender e comparar as
características granulométricas dos resíduos com a literatura existente, primeiramente devido a
heterogeneidade dos resíduos, cujas características se alteram com o tempo, e de lugar para
lugar e, principalmente, porque não há uma padronização da metodologia empregada para a
realização do ensaio.
30
um processo acentuado de degradação. Entretanto, deve-se ter cuidado com o uso desse
parâmetro para analisar a biodegradabilidade dos resíduos, pois alguns materiais inorgânicos
apresentam elevado teor de sólidos voláteis e são classificados como moderada a lentamente
biodegradáveis, e não rapidamente degradáveis como os têxteis que possuem um teor de
sólidos voláteis de 98%, os plásticos com 87% de sólidos voláteis, a borracha e couro com 74%
de sólidos voláteis e o papel e papelão com 81% de sólidos voláteis (SILVA e MOTA, 2019)
Em estudos realizados por Alves (2008) o teor de sólidos voláteis em resíduos antigos
foi de, no mínimo, 5%. Maciel (2003) encontrou um teor de sólidos voláteis de 8% para resíduos
com mais de oito anos de aterramento. Alcântara (2007) determinou o teor de sólidos voláteis
de resíduos depositados em lisímetros e verificou que os resíduos frescos possuíam cerca de
70% de sólidos voláteis, enquanto, os resíduos submetidos a um ano de degradação possuíam,
aproximadamente, 35% de teor de sólidos voláteis. Para Kelly (2002) resíduos contendo um
teor de sólidos voláteis menor que 10% correspondem a um material já estabilizado.
Machado et al. (2014) atribuíram parcialmente a diferença dos parâmetros de resistência
obtidos em sua pesquisa em relação a outros valores da literatura à umidade elevada dos RSU
brasileiros, associada à fração orgânica (teor de sólidos voláteis), que é maior do que a
encontrada nos RSU de países mais desenvolvidos.
A análise da Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO), segundo Lima (2004), pode ser
definida como a quantidade de oxigênio requerida durante o processo de estabilização da
matéria orgânica pela ação de microrganismos. De modo geral, a DBO de resíduos aterrados
tende a reduzir ao longo do tempo de disposição (ZIYANG et al., 2009).
Conforme Andrade (2014), os valores da DBO estão razoavelmente bem estabelecidos
para o lixiviado, mas para RSU há divergências em relação ao procedimento adotado para a
obtenção de extratos líquidos e em relação a que parcela da amostra adotar para a realização
dos ensaios. Mozer et al. (2019) sugerem adotar a relação DBO/DQO como indicador do estado
de degradação dos resíduos. De modo geral, quanto maior a razão entre a DBO e a DQO, maior
será o potencial de biodegradação dos resíduos aterrados e, consequentemente, mais susceptível o
maciço estará à ocorrência de movimentos de massa.
a b
Fonte: Cox et al. (2015).
isso, conforme Catapreta (2008), deve-se analisar os resultados do ensaio de compactação com
determinada cautela, pois os resíduos sólidos podem ser altamente compactados e seu peso
específico ser aumentado em até 30%.
Os resíduos sólidos constituem um meio poroso que permite um fluido percorrer entre
suas partículas com maior ou menor velocidade, o qual podem drenar os líquidos provenientes
de precipitações pluviométricas bem como aqueles gerados durante o processo de
biodegradação.
A condutividade hidráulica ou coeficiente de permeabilidade (k) dos RSU é importante
para a concepção e o dimensionamento dos sistemas de drenagem interno de lixiviado e biogás
nos aterros sanitários, na análise de recalques, que está relacionado com a redução do índice de
vazios associado à perda de água e gás, e nos estudos de estabilidade, porque a tensão efetiva
depende da poropressão (MOTTA, 2011).
Nos RSU o coeficiente de permeabilidade varia da ordem de 10-2 m/s a 10-11 m/s
(ANDRADES, 2018). Os principais fatores que influenciam na variação do coeficiente de
permeabilidade em RSU são a composição gravimétrica, o peso específico seco e a idade do
resíduo, valendo observar que a permeabilidade horizontal é maior do que a permeabilidade
vertical em RSU (BORGATTO, 2006). Manassero et al, (1996) sugerem o uso de um
coeficiente de permeabilidade de 10-5 m/s como uma primeira aproximação.
Baixas permeabilidades respondem pela formação de bolsões de gás e lixiviado, onde
se desenvolvem pressões neutras que podem afetar a estabilidade do maciço (BOSCOV, 2008).
Boscov e Abreu (2000) afirmaram que provavelmente os resíduos sólidos brasileiros possuem
baixos coeficientes de permeabilidade quando comparados com a literatura internacional
devido ao alto teor de material putrescível.
38
τ = c + σ ∗ tan φ 1
Sendo:
τ = resistência ao cisalhamento (kPa);
c = intercepto coesivo (kPa);
σ = tensão vertical (kPa);
φ = ângulo de atrito (º).
A resistência ao cisalhamento dos RSU tem sido determinada por meio de retroanálises
de rupturas reais, ensaios in situ e ensaios de laboratório. Dixon e Jones (2005) relatam que a
melhor metodologia para estudar a resistência ao cisalhamento dos resíduos sólidos é realizar
uma série de ensaios laboratoriais de grandes dimensões em conjunto com alguns ensaios de
campo em grande escala. Bray et al. (2009) recomendam, para determinação da resistência ao
cisalhamento dos RSU em laboratório, o ensaio de cisalhamento direto.
Comumente, as análises de resistência ao cisalhamento dos resíduos sólidos são
realizadas a partir de modelos e métodos estabelecidos para solos (CALLE, 2007). Apesar de
usuais, a interpretação dos resultados de tais análises fica sujeita a muitas incertezas, em virtude
da dificuldade de definir o modelo de ruptura mais apropriado para o comportamento especial
deste material (REMÉDIO, 2014). Na Tabela 2 é apresentado um quadro resumo com diversos
parâmetros de resistência.
42
por meio de medidores de vazão; e inspeções visuais. Dessa forma é possível garantir a
integridade de um aterro sanitário durante sua vida útil e após o seu encerramento.
Não existe nenhuma norma brasileira para a avaliação da estabilidade de maciços
sanitários com base na instrumentação de campo. A NBR 11682 (ABNT, 2009) indica modelos,
critérios e limites de avaliação para julgamento do comportamento de maciços terrosos com
base na instrumentação (BOSCOV, 2008).
Kaimoto, Cepollina e Abreu (1999) propuseram uma metodologia para avaliação da
estabilidade dos maciços sanitários com base no monitoramento geotécnico, cujo
procedimentos são:
• Estabelecimento de parâmetros iniciais de resistência;
• Desenvolvimento de um modelo de comportamento mecânico, considerando os
processos e as etapas operacionais, e a região e distribuição das poropressões;
• Verificação das condições de estabilidade;
• Implantação de instrumentos de medição dos deslocamentos e das poropressões;
• Inserção, iterativa e sequencial, dos dados de monitoramento ao modelo e às
análises efetuadas, procedendo-se ao reposicionamento e ajustes necessários;
• Análise conjunta do comportamento teórico e de campo.
A avaliação da estabilidade de maciços sanitários não deve ser feita apenas com base
nos resultados fornecidos pela instrumentação e modelos de comportamento. As inspeções
visuais devem ser, igualmente, levadas em conta no conjunto das características do aterro
sanitário, apoiando-se sobre conhecimentos e experiências adquiridas em outros
empreendimentos (CASTRO, 2008).
Para Silva (2014) e Catapreta e Simões (2016), a inspeção visual tem como objetivo
avaliar as condições dos sistemas de drenagem de águas pluviais, controle de processos
erosivos, ocorrência de trincas nos taludes e detectar alterações significativas ou anomalias na
superfície ou no comportamento estrutural do aterro sanitário.
As inspeções visuais devem ser realizadas regularmente, durante o período de operação
do aterro sanitário e após o seu encerramento. Deve ser dada importância a este tipo de
observação, dado que, no caso de aterros sanitários, 70% das emergências podem ser
identificadas visualmente (SILVA, 2014). As anomalias podem materializar-se como abertura
de fendas no topo da infra-estrutura, bem como, junto às cristas dos taludes, recalques
diferenciais, ressurgências de lixiviados, sistemas de drenagem danificados, presença de
vegetação arbórea de grande porte ou escorregamentos do maciço (TAVARES, 2011).
45
Rocha et al. (2016) propuseram uma redução dos valores que caracterizam os limites de
alerta para aterros encerrados, definindo que até um ano após o encerramento do aterro devem
ser utilizados os mesmos níveis da fase de operação. Após esse período, a variação máxima
aceitável pode ser reduzida para 10 mm/dia. A Tabela 5 apresenta a proposta de redução.
uma Célula, independem das Células adjacentes, dada a separação pela cobertura intermediária.
A hipótese de variação linear da poropressão de líquidos e gases com a profundidade,
geralmente utilizada nas análises de estabilidade, não representa de forma adequada a
distribuição das pressões geradas pelos líquidos e gases dentro de um maciço sanitário. A
interpretação das leituras dos piezômetros é bastante complexa. Não raramente, bolsões de gás
aprisionados nas Células drenam para a atmosfera pelo tubo do piezômetro durante a medição,
fazendo o lixiviado jorrar e inviabilizar, portanto, a leitura (BOSCOV, 2008).
Oliveira (2002) recomenda que as leituras piezométricas sejam realizadas em situações
normais de operação, em períodos de 15 a 30 dias. Andrades (2018), sugere que as medições
sejam realizadas nos mesmos períodos estabelecidos para os marcos superficiais, uma vez que
estes dois instrumentos estão intimamente ligados no que se refere a estabilidade dos taludes.
Conforme Boscov (2008) e Castro (2008), é possível medir a poropressão de líquidos e
gases em diferentes níveis de profundidade, quando há um extrato impermeável, com um
conjunto de piezômetros do tipo multinível, conforme ilustra Figura 7.
a b
Fonte: Parsons (1981).
Dunnicliff et al. (2012) afirmam que, para medidas de pressão de água em solos
orgânicos, se o diâmetro do tubo é menor que 8 mm, bolhas de gás podem ficar aprisionadas
no interior do tubo elevando o nível de água. Pata Strauss (1998), esse diâmetro limite varia
com a viscosidade do líquido. No entanto, o problema pode ser evitado se for utilizado um
piezômetro de tubo aberto com o diâmetro que não permita a elevação de líquidos e com uma
pedra porosa de alta pressão de borbulhamento.
Porém em aterros sanitário, os gases gerados podem ter influência considerável na
instabilidade de taludes, devido à sua geração contínua e por vezes intensa. Ao liberar o gás
produzido, mede-se apenas a pressão de lixiviado. Por isso, o uso de piezômetros de tubo
fechado, como o do tipo Vector, é mais indicado, uma vez que pode medir a pressão total no
ponto (lixiviado mais gás) (STRAUSS, 1998).
Segundo Strauss (1998), o princípio de funcionamento do piezômetro tipo Vector
(Figura 8) é relativamente simples: o lixiviado e o gás entram através do filtro no tubo externo
do piezômetro sendo que o gás tende a ascender no interior do tubo e o lixiviado a fluir até a
extremidade inferior, atingindo a parte perfurada do tubo interno. Portanto, no tubo interno
entrará somente lixiviado, cujo nível vai se elevar até atingir o equilíbrio com a pressão total de
gás e lixiviado no tubo externo. Faz-se então a medida do nível de lixiviado no tubo interno, de
forma análoga a um piezômetro de tubo aberto, e com este valor pode-se obter a pressão total
externa (gás + lixiviado) no ponto de medição.
A NBR 13896 (ABNT, 1997) estabelece que os sistemas de drenagem para a coleta e
remoção dos líquidos lixiviados do interior da Célula devem ser dimensionados para evitar a
formação de uma lâmina superior a 30 cm sobre a camada de impermeabilização da base. Esse
fato deve-se, entre outras motivações, à preocupação com o aumento do nível de líquidos no
interior da Célula acarretando surgimento de poropressões de líquidos elevadas. As
51
poropressões de líquidos e gases são geradas no interior dos vazios dos maciços sanitários
causadas pelos fluidos (lixiviado e biogás) que preenchem os poros.
A determinação da vazão de lixiviado, conforme Castro (2008), pode ser realizada pelo
método expedito empregando-se um recipiente graduado para a coleta de lixiviado, durante um
intervalo de tempo medido com auxílio de um cronômetro. Na impossibilidade da medição da
vazão pelo método expedito, poderá ser adotado, conforme o caso em análise, o medidor
triangular, retangular ou trapezoidal de vazão e até mesmo o emprego de calha tipo Parshall.
A medição de vazões de lixiviado em conjunto com medição de precipitação e
evaporação fornece subsídios para detectar eventual retenção de lixiviado, em desconformidade
com as médias observadas no passado. Isso pode indicar que o aterro apresentará maiores
pressões internas e, portanto, haverá uma redução na estabilidade do maciço (MARQUES,
2001; BENVENUTO, 2011).
Um indicador característico de um aterro pode ser representado como a relação entre o
volume precipitado de chuva sobre a área de disposição dos resíduos e o volume de lixiviado
medido no mesmo período. Variações nesse parâmetro indicam o comportamento dos sistemas
de drenagem interna, podendo indicar anomalias que são intensificadas quando há recirculação
de lixiviados, podendo colmatar os sistemas de drenagem interna e comprometer a estabilidade
do maciço (BENVENUTO, 2011).
As propriedades dinâmicas dos RSU são específicas do local e precisam ser avaliadas
separadamente em diferentes regiões. A avaliação laboratorial dos RSU é extremamente difícil
e complexa. Além disso, essas avaliações exigem muito tempo e custos, o que também pode
exigir pessoal treinado para realizar os ensaios. Para minimizar as dificuldades na determinação
das características dos RSU, modelos constitutivos e não constitutivos podem ser desenvolvidos
para estimação dessas características.
Em comparação com os testes de laboratório e de campo, a modelagem pode estimar de
forma mais eficientes as propriedades dos RSU. Conforme descrito por Keramati et al. (2019),
52
2018) e poucos são os estudos voltados para as propriedades dos resíduos (ALIDOUST et al.,
2021)
• Considerando a necessidade de determinar com precisão os parâmetros dos RSU, bem como
as dificuldades relacionadas aos testes de campo e de laboratório, o desenvolvimento de
modelos não constitutivos para previsão das propriedades de RSU pode ser um tópico de
interesse para os pesquisadores lançarem mais luz sobre a aplicação de Redes Neurais
Artificiais (RNA) no campo geoambiental e economizar tempo e custo em experimentos de
laboratório e/ou campo. Conforme Alidoust et al. (2021), os modelos de aprendizado de
máquinas, como as RNA, não foram aplicados as propriedades dinâmicas de RSU, existindo
uma lacuna nessa área do conhecimento. Assim, as tentativas de desenvolver um método
confiável para avaliar a resistência ao cisalhamento dos resíduos, por meio de redes neurais
artificiais, são novas e podem adicionar mais informações sobre o projeto de aterros
sanitários, principalmente quando aplicada na análise de estabilidade de taludes com
considerações sobre os processos biodegradativos dos resíduos.
dependência entre elas. Se determinada variável for, totalmente dependente de outra variável,
e não houver nenhum outro fator que interfira entre elas, têm-se então, uma correlação perfeita.
Porém, no caso de existirem outras variáveis que interferem na relação das viáveis, a correlação
diminuirá, podendo até deixar de existir. Segundo Devore (2018), o grau de correlação pode
ser determinado conforme Tabela 6.
opera sobre as variáveis de entrada (os fatores) e produz como saída as respostas observadas
(BARROS NETO et al., 2010). Ao determinar a função, por meio de regressão múltipla, pode-
se compreender melhor a natureza da reação em estudo, e assim escolher as melhores condições
de operação do sistema. Quanto menor for a influência dos fatores incontroláveis (ruídos),
melhores serão os resultados obtidos.
Y=a+ + + +⋯+ +ε 2
Sendo:
= variável dependente a ser prevista;
a = constante;
= coeficientes parciais de regressão (parâmetros do modelo);
= variáveis independentes;
K = número de variáveis independentes e;
ε = erro ou perturbação.
Uma outra forma de verificar o efeito dos fatores na variável resposta é por meio de
gráfico de superfície resposta ou curva de contorno, apresentados na Figura 10. Esses gráficos
são gerados a partir do modelo de regressão linear múltipla. Conforme Montgomery (2017) e
Zangeneh et al. (2002), o objetivo da superfície de resposta ou da curva de contorno é substituir
uma função de resposta complexa por uma função aproximada, estudando a significância
relativa de diversos fatores que se supõe ter influência na variável resposta, dessa maneira é
possível estudar a relação entre a variável resposta e os fatores experimentados. A significância
dos efeitos pode também ser investigada por meio do Gráfico de Pareto e análise de variância,
conforme descrito por Rodrigues e Iemma (2014).
58
a b
Fonte: Novaes et al. (2017).
Diversas ferramentas podem ser utilizadas para avaliar um modelo estatístico. Burnham
e Anderson (2004) destacam a importância da utilização de vários avaliadores para escolha e
análise de um modelo, uma vez que quanto maior o número de avaliadores analisados, mais
adequada e precisa é a escolha do melhor deles. Para Jerônimo (2015), a utilização de vários
avaliadores de qualidade de ajuste transforma a escolha dos modelos em um processo
minucioso, já que cada avaliador leva em conta determinadas características do modelo, tais
como o número de parâmetros e os resíduos estatísticos.
A forma mais simples de escolha de modelos baseia-se no uso do coeficiente de
determinação (R²). Porém, a análise de apenas um indicador não é suficiente ou adequada para
avaliação de quaisquer modelos, deve-se analisar também outros indicadores, como a
significância estatística dos coeficientes do modelo de regressão e os erros residuais.
Uma das condições exigidas pelo modelo estatístico é que os erros de ajustamento sejam
independentes e normalmente distribuídos. Tais verificações podem ser feitas por meio do
gráfico dos ensaios versus resíduos e no gráfico normal dos resíduos (RODRIGUES E IEMMA,
2014).
Além das entradas Ei, também se prevê uma entrada extra, chamada entrada de viés
(bias), que sempre tem como entrada o valor 1. Essa entrada, não identificada nos neurônios
biológicos, e opcional nas redes neurais, tem se mostrado muito útil em várias situações.
Segundo Artero (2009), a primeira parte do processamento, correspondente aos somatórios,
geralmente é indicada como uma variável net, conforme Equação 3.
3
= ∗ +
Sendo:
Ei = variáveis de entrada;
= pesos sinápticos das variáveis de entrada;
= peso sinápticos do viés.
A função de ativação, representada por φ(v), define a saída do neurônio em termos do campo
local induzido (HAYKIN, 2001). Segundo Haykin (2001), existem diversos tipos, as mais utilizadas
são:
60
1 se v 0 4
Y=
0 se v 0
1 5
φ v =
1+e
• Função tangente hiperbólica: O resultado de saída sempre assumirá valores reais entre
-1 e 1, representada pela Equação 6 e Figura 14.
1 e 6
φ v =
1+e
A rede neural é dada por um conjunto de neurônios (elementos processadores) que são
interligados por um número grande de conexões capazes de aprender (ajuste de pesos),
armazenar conhecimentos e adaptar a novas situações. O principal diferencial das redes neurais
artificiais é a capacidade de aprender por meio de exemplos (padrões), e de generalizar
(fornecer respostas adequadas para dados que não estão no conjunto de exemplos). Uma rede
neural possibilita solucionar problemas complexos sem a necessidade de definições explicitas
entre dados de entrada e saídas (BRAGA, 2014).
Quando modela-se uma RNA é necessário definir uma arquitetura, segundo Henriques
(2019), pode-se destacar as seguintes: Adaline, Redes Neurais Convolucionais, Perceptron
camada múltipla, Camada recorrente, Estrutura reticulada, Long, Short-Term Memory
(LSTM), Redes de Hopfield, entre tantas outras arquiteturas que existem e outras que ainda se
encontram em fase de desenvolvimento.
Em termos de topologia, para implementar uma RNA deve-se definir diferentes
variáveis, dentre as quais: a) o número de nós na camada de entrada (tal variável corresponde
ao número de variáveis que serão usadas para alimentar a rede neural, sendo normalmente as
variáveis de maior importância para o problema em estudo); b) o número de camadas
62
A avaliação do desempenho dos modelos não constitutivos é uma tarefa importante, que
auxilia na identificação dos melhores modelos que representem com precisão o comportamento
do RSU. Vários estudos desenvolvidos para resolução de problemas relacionados aos resíduos
sólidos aplicaram mais de um índice para avaliação de desempenho de RNA. Por exemplo,
Hadzima-Nyarko et al. (2019) aplicaram o coeficiente de determinação (R2), erro percentual
médio absoluto (MAPE) o raiz do erro quadrático médio (RMSE); Güçlü et al. (2011) adotaram
R2, erro quadrático médio (MSE), erro absoluto médio (MAE) e erro de porcentagem média
absoluta (MAPE); e Buyukada (2016) usou o erro de polarização médio (MBE), além de R2,
RMSE e MAE como índices de avaliação.
Xu et al. (2021) analisaram 177 artigos relacionados a RNA e RSU publicados entre
2000 e 2010. Os autores descobriram que 32 índices de avaliação diferentes estavam envolvidos
para avaliar o desempenho da modelagem de RNA. Dentre todos os índices de avaliação, o
R2 foi aplicado em mais de 90% dos estudos. RMSE, MSE, MAE e MAPE foram aplicados em
20% a 40% dos estudos, e os outros índices, como o coeficiente de eficiência (E) e o índice de
concordância de Willmott (d), foram relatados em menos de 10% dos estudos revisados.
Diversos índices de avaliação têm diferentes aplicabilidades e limitações. O R2 mede o
quanto a variável dependente pode ser explicada pelo modelo. Seu valor varia entre 0 e 1 (0 a
100%), e quanto maior o valor, melhor a concordância entre modelo e observação. O MAPE é
uma medida de erro percentual e não é adequado para dados contendo valores zero (XU et al.,
2021). Por isso, o uso desse índice para avaliação do desempenho de RNA para predição de
parâmetros de resistência não é adequado.
As medidas de erro absoluto, como RMSE, MSE e MAE, representam o desvio médio
entre o valor observado e predito. O MSE dá um peso maior para desvios grandes (pois os
resíduos são elevados ao quadrado), enquanto o MAE dá um peso igual a todos os desvios,
representando a verdadeira média dos desvios (resíduos). No RMSE os erros são elevados ao
quadrado antes de ter a média calculada. Portanto, pesos diferentes serão atribuídos à soma e,
conforme os valores de erros das instâncias aumentam o índice do RMSE aumenta
consideravelmente (CHAI e DRAXLER, 2014). Ou seja, se houver um outlier no conjunto de
dados, seu peso será maior para o cálculo do RMSE e, por conseguinte, prejudicará sua métrica
deixando-a maior. Se o RMSE ficar muito maior que o MAE, provavelmente, há presença de
outliers.
64
= 7
Sendo:
FS: fator de segurança;
: resistência ao cisalhamento (kPa);
: tensões cisalhantes desenvolvidas ao longo da superfície de ruptura (kPa).
66
A NBR 11682 (ABNT, 2009) estabelece valores para o FS admissível levando em conta
os níveis de segurança estabelecidos no projeto, conforme Quadro 4. A norma também ressalta
que, os fatores de segurança devem ser aumentados em 10% ou optar por modelos
probabilísticos quando houver uma grande variabilidade dos resultados dos ensaios.
68
permitem uma análise rigorosa da estabilidade de talude. A solução desse método é obtida por
interação das equações e da integralização dos diferenciais (REMÉDIO, 2014).
3. METODOLOGIA
C3
C4
C1
C2
Desde o início da operação do ASCG, julho de 2015 até agosto de 2019, foram
implantadas 4 Células, denominadas de Células 1 (C1), 2 (C2), 3 (C3) e 4 (C4). Além disso,
foram também dispostos RSU entre as Células 1, 2, 3 e 4 com o intuito de unificá-las, formando
uma única Célula de dimensões 225 x 225 m, conforme esquematizado na Figura 20.
76
O Aterro Sanitário possui uma camada de base formada por uma mistura compactada
de solo e bentonita na proporção de 4:1. No término da operação, os resíduos recebem uma
camada de 60 a 80 cm do mesmo solo utilizado na camada de base, sem a adição de bentonita.
O sistema de drenagem vertical distribuído na Célula do ASCG é responsável pelo
transporte ascendente de gases e pelo transporte descendente do lixiviado. Este sistema está
interligado ao sistema de drenagem horizontal que possui forma de espinha de peixe e foi
instalado sobre a camada de base do ASCG com intuito de conduzir o lixiviado captado para
77
quatro lagoas de acumulação de lixiviado. Além dos sistemas de drenagem vertical e horizontal,
o ASCG também possui um sistema de drenagem superficial de águas pluviais para evitar
infiltrações e acúmulo de líquidos na camada de cobertura do Aterro. Na Figura 21 pode-se
observar os sistemas de drenagem.
a b
c
Fonte: Acervo da pesquisa (2019).
interno com o intuito de evitar a dispersão de poeira. Na Figura 22 pode-se observar as Lagoas
de Acumulação de Lixiviado e a Lagoa de Drenagem de Águas Pluviais.
Para obter uma amostra representativa da massa de resíduos, coletou-se seis amostras
de resíduos distribuídas simetricamente na área de disposição de resíduos, conforme ilustrado
na Figura 24.
80
Ponto de coleta
Marco fixo
C4
C2
C3
C1
Figura 26 - (a) resíduos acondicionados no caminhão caçamba; (b) pesagem dos resíduos; (c)
disposição dos resíduos no galpão
a b
c
Fonte: Acervo da pesquisa (2018).
a b
Fonte: Acervo da pesquisa (2018).
83
Após a homogeneização dos resíduos realizou-se o quarteamento (Figura 28) com uma
pá carregadeira. Das quatro pilhas formadas, duas foram descartadas e duas homogeneizadas,
formando uma única pilha resultante das pilhas de lados opostos. Esse procedimento foi
replicado três vezes, obtendo-se, no término do procedimento, uma amostra com 731,4 kg de
resíduos necessários para a realização dos ensaios de caracterização físico-química e
geotécnica.
∗ ∗ 8
=
∗ 1 + ∗
Sendo:
= tamanho da amostra;
Z = valor crítico que corresponde ao grau de confiança desejado;
= desvio padrão populacional da variável estudada;
N = tamanho da população;
84
d = erro amostral.
Além da coleta e análise dos resíduos recém aterrados, foram coletados e analisados
resíduos com idade de aterramento de 1 e 2 anos pelo método de trincheiras, com auxílio de
uma retroescavadeira Caterpillar modelo 416e, em regiões pré-estabelecidas, conforme ilustra
Figura 29. A localização dos pontos de coleta dos RSU foi denida de acordo com o espaço de
tempo ocorrido entre a disposição dos resíduos e a data da coleta. A idade das amostras foi
confirmada pelas datas legíveis de documentos, bem como pelas datas de fabricação e/ou
validade escritas nas embalagens de produtos coletados nos pontos pré-definidos.
C4
C2
Local de coleta
dos RSU com 1
ano de aterramento
C3
a oeste de Greenwich, conforme ilustra Figura 29. A camada de cobertura do aterro era
composta por, aproximadamente, um metro e meio de solo compactado e fragmentos de rocha
que foram retirados para coleta dos resíduos, conforme ilustra Figura 30.
Figura 30 – Retirada da camada de cobertura para coleta dos RSU com 1 ano de aterramento
Visando obter uma amostra representativa dos resíduos com 1 ano de aterramento
realizou-se um planejamento estatístico, com um nível de significância de 10%, para
determinação do tamanho da amostra (Equação 8). Dessa forma, coletou-se aproximadamente
1 t de resíduos, sendo a amostra mínima necessária de 770 Kg de RSU para representar os
resíduos com 1 ano de aterramento. Após coleta dos resíduos com 1 ano de aterramento,
procedeu-se de maneira análoga à descrita no item 3.2.1, conforme ilustrado na Figura 31.
86
a b
c d
e
Fonte: Acervo da pesquisa (2019).
A coleta dos resíduos com 2 anos de idade ocorreu no dia 05 de novembro de 2019 na
segunda berma ao sul do ASCG, situado nas coordenadas, 7°16'46.80" latitude sul e 36°
0'42.15" a oeste de Greenwich, conforme ilustra Figura 29. O mesmo procedimento descrito
87
para coleta dos resíduos com 1 ano de idade foi realizado para coleta dos resíduos com 2 anos
de idade.
a b c
Fonte: Acervo da pesquisa (2019).
difícil identificação e que não se enquadra em nenhuma categoria, basicamente composta por
uma mistura de solo e material orgânicos não identificados.
Durante a segregação, os resíduos foram dispostos sobre uma manta plástica, separados
por categoria (Figura 34). Os que não se encaixaram em nenhuma categoria ou de difícil
identificação foram classificados como material misto (Figura 35).
9
= 100
Sendo:
= composição gravimétrica (%);
91
Figura 36 – Pesagem dos componentes dos resíduos: (a) Identificação dos recipientes; (b)
balança utilizada para pesagem dos resíduos; (c) pesagem dos materiais
a b c
Fonte: Acervo da pesquisa (2019).
10
= ∗ 100
= 100 11
Sendo:
PR = porcentagem retida no peneiramento grosso (%);
MR = massa retida (g);
MTS = massa total seca (g);
PP = porcentagem que passa no peneiramento grosso (%).
93
O peneiramento da fração fina foi realizado por meio de peneiras circulares, com malhas
variando de 9,5 mm a 0,072 mm. Pesou-se 1 Kg da amostra passante na peneira de malha 19,1
mm, e em seguida foi realizado o peneiramento por método manual.
Aconteceu a lavagem da amostra na peneira 0,072 mm como estabelece a NBR 7181
(ABNT, 2016). Desta forma, por fim, o material retido em cada peneira foi pesado.
Os resultados obtidos a partir das massas retidas em cada peneira para a fração fina são
calculados por meio das equações 12 e 13.
12
= . 100
= 100 13
Sendo:
PR = porcentagem retida no peneiramento fino (%);
MR = massa retida (g);
MTSPF = massa total seca da parte fina (g);
PP = porcentagem que passa no peneiramento fino (%);
N = fração que a massa fina representa do total da amostra (%).
O peso específico dos resíduos sólidos depositados no Aterro Sanitário foi determinado
por meio da relação do peso do material escavado pelo volume ocupado por ele. Não há ensaios
normatizados para a determinação do peso específico dos RSU, porém, utilizou-se a técnica
adotada por Shariatmadari et al. (2015) e Ramaiah et al. (2017) que consiste em abertura de
valas, coleta e pesagem dos resíduos, assim como determinação do volume por volume de água.
Os RSU escavados foram conduzidos para pesagem, e a vala foi forrada com manta
sintética de dimensões 3,2 x 4,0 m (Figura 38), tendo o cuidado em acomodar e regularizar o
fundo e as laterais. Para diferenciar a camada de cobertura e de resíduos, efetuaram-se
marcações com fitas para delimitação do limite máximo de água a ser inserido na vala.
94
Para a cubagem da cava, seu preenchimento foi realizado com água fornecida pelo
caminhão-pipa, proveniente da lagoa de drenagem de águas superficiais do Aterro Sanitário e
conduzido para o local de coleta dos resíduos. O volume de água necessário ao preenchimento
da cava foi medido com emprego de dois recipientes com volume de 60 L cada. Assim, realizou-
se o enchimento desses recipientes com água e em seguida foram despejados de forma gradativa
no interior da cava, até que atingissem as marcações de altura predeterminada, conforme
ilustrado na Figura 39.
95
Figura 39 – Cubagem da cava: (a) abastecimento do caminhão pipa; (b) enchimento dos
recipientes; (c) preenchimento da cava com água; (d) cava preenchida
a b
c d
Fonte: Acervo da pesquisa (2019).
γ═ 14
Sendo:
96
= . 100 15
Sendo:
w = teor de umidade dos resíduos sólidos (%);
= peso inicial dos resíduos sólidos (g);
= peso final após secagem dos resíduos sólidos (g).
Vale ressaltar que, não há consenso sobre a temperatura de secagem para definir o teor
de umidade dos resíduos sólidos. Segundo Gabr e Valero (1995), a temperatura deve ser de 60
°C, para evitar a perda de voláteis. König e Jessberger (1997) sugerem o uso de dois níveis de
temperatura, secando primeiro a 70 °C e depois a 105 °C. Resultados obtidos com outras
97
temperaturas entre 60 °C e 105 °C também são relatados: por exemplo, 85 ° C por Zornberg et
al. (1999). Coumoulos et al. (1997) compararam os resultados do teor de umidade dos resíduos
determinado a 105 °C por períodos de 18 h e a 60 °C por períodos de 48 h e obtiveram resultados
semelhantes. Gomes e Lopes (2012) realizaram testes para comparar os resultados obtidos para
em secagens a 105 °C, 90 °C e 60 °C com aqueles obtidos em temperatura de secagem de 60
°C a 105 °C. Os resultados não mostraram diferenças significativas, exceto no tempo necessário
para estabilizar o peso seco, que foi maior para as menores temperaturas de ensaio. Por isso,
nesta pesquisa utilizou-se a temperatura de secagem de 100 ºC, por, aproximadamente, 24 h.
necessário utilizar o cilindro maior para melhor acomodação dos resíduos, que apresentam
composição e tamanho dos grãos diferentes das partículas que compõem o solo.
Desse modo foi possível determinar a massa específica seca máxima, umidade ótima e
o grau de compactação dos resíduos, sendo os dois primeiros determinados pela curva de
compactação dos RSU e o último pela Equação 16.
16
= á
Sendo:
= grau de compactação dos resíduos sólidos;
= massa específica de campo dos resíduos sólidos;
á
= massa específica seca máxima dos resíduos sólidos.
Os ensaios de permeabilidade à água dos resíduos sólidos urbanos com diferentes idades
de aterramento foram realizados no permeâmetro de carga variável. Para realização do ensaio
foi confeccionado um tubo de carga e os procedimentos foram executados conforme
estabelecido na NBR 14545, método B (ABNT, 2021).
Com o propósito de melhor representar o coeficiente de permeabilidade dos RSU
realizou-se um planejamento fatorial para abranger diferentes cenários que os resíduos podem
estar submetidos no aterro sanitário. Estas configurações foram adotadas para as amostras de
resíduos recém dispostos no ASCG, assim como para aquelas que possuíam 1 e 2 anos de
aterramento.
As variáveis independentes determinadas neste estudo foram peso específico e teor de
umidade, sendo seus níveis fixados conforme Tabela 8. O coeficiente de permeabilidade é
identificado como variável resposta (dependente), dessa forma pode-se analisar a influência da
variabilidade do peso específico e teor de umidade na permeabilidade dos resíduos.
99
a b c
Fonte: Acervo da pesquisa (2020).
101
. ℎ 17
= ln
.∆ ℎ
Sendo:
= coeficiente de permeabilidade (cm/s);
∆ = diferença entre os instantes t2 e t1 (s);
ℎ = carga hidráulica no instante t1 (cm);
ℎ = carga hidráulica no instante t2 (cm);
= área interna da bureta blindada, somada à área interna do tubo de carga (cm2);
= altura do corpo de prova (cm);
= área do corpo de prova (cm²).
Os níveis determinados para peso específico e teor de umidade dos resíduos sólidos
foram os mesmos utilizados no ensaio de permeabilidade à água. Já os limites estabelecidos
para tensão normal aplicada na amostra de resíduos compreenderam uma faixa de 50 a 300 kPa.
Tensões equivalente a 5 m e 30 m de altura do maciço sanitário, considerando um peso
específico de 10 kN/m3, que, segundo Zekkos et al. (2006) e Boscov (2008), corresponde ao
valor médio da massa específica aparente para resíduos coletados na superfície.
A altura máxima estabelecida permite avaliar a resistência ao cisalhamento do ASCG
conforme cenário de projeto e possíveis configurações de operação. A altura mínima de 5 m
corresponde as tensões estabelecidas na primeira berma do maciço sanitário e a altura máxima
de 30 m representa a configuração de operação 2 do ASCG, conforme ilustrado na Figura 41.
apresentados na Tabela 11. Foram realizados 22 ensaios de cisalhamento direto para cada idade
dos resíduos (0, 1 e 2 anos), totalizando 66 ensaios.
A moldagem dos corpos de prova das amostras foi realizada em quatro etapas:
1. Preparação das amostras com dimensões de 1 a 3 cm de comprimento e de 0,5 a 1 cm
de largura e composição gravimétrica análoga ao da idade dos RSU investigados.
2. Determinação da quantidade de resíduos que deverão preencher a caixa de
cisalhamento, levando em consideração o peso específico do planejamento estatístico.
3. Correção da umidade para a umidade do planejamento estatístico.
4. Compactação da amostra com o auxílio de uma prensa hidráulica manual, deixando-
a rente à superfície da caixa.
A Figura 42 ilustra os procedimentos adotados para preparação da amostra.
104
Figura 42 – Moldagem dos corpos de prova para o ensaio de resistência ao cisalhamento: (a)
amostra; (b) inserção de resíduos na caixa de cisalhamento; (c) e (d) compactação da amostra;
(e) amostra na prena de cisilhamento direto
a b c
d c
Fonte: Acervo da pesquisa (2019).
horizontais foi utilizado o extensômetro da marca ELE, com precisão de 0,001 polegadas. A
horizontal força resistente foi determinada a partir de um anel dinamométrico com constante de
0,154 kgf/div e capacidade de 184,8 kgf.
As leituras foram realizadas em função da deformação horizontal de 0,5 % a 28 %, sendo
registrados os deslocamentos verticais e as tensões resistentes. Os ensaios foram realizados
conforme planejamento fatorial descrito na Tabela 11 para cada idade de aterramento dos
resíduos.
A velocidade do ensaio foi definida como a menor velocidade disponível no
equipamento, para que fosse garantida a condição drenada do cisalhamento. Dessa forma, a
velocidade de cisalhamento dos ensaios foi de 0,3 mm/min. Esta velocidade também foi
utilizada nos ensaios com condição não drenada.
Após a preparação do corpo de prova, com a caixa de cisalhamento já preparada, o
procedimento foi iniciado com a aplicação da carga normal necessária ao ensaio e após um
período de 5 minutos o ensaio de cisalhamento era iniciado. Esse procedimento inicial foi
adotado para padronizar os ensaios realizados.
Para os ensaios na condição inundada, foi utilizado como líquido imersor o ácido
acético. Dessa forma os processos biodegradativos foram inibidos durante o tempo de imersão
e realização do ensaio. Durante o período de imersão, a amostra era submetida a uma carga de
assentamento equivalente à 1/12 da carga estabelecida para o ensaio. Essa carga de
assentamento foi necessária após ter-se constatado, por meio dos testes realizados, um
comportamento expansivo das amostras quando imersas em ácido acético, que dificultava a
realização do ensaio.
Após 24 h de imersão, tempo necessário para que o ácido acético permeasse a caixa de
cisalhamento e fluísse pelos resíduos, o ensaio era iniciado seguindo os procedimentos descritos
para o ensaio de cisalhamento direto não inundado.
normais climatológicas do Brasil (INMET, 2021). Para este estudo, considerou-se os eventos
meteorológicos ocorridos entre janeiro de 2018 a dezembro de 2020, contemplando todo o
espaço temporal dos estudos realizados in situ.
O monitoramento foi iniciado com a Célula em operação, por isso, os marcos foram
instalados assim que as bermas foram finalizadas e, as placas foram instaladas quando o ASCG
possuiu berma com largura superior as das vias de acesso. O ideal seria a instalação das placas
no platô superior, após o término da operação da Célula.
O monitoramento dos deslocamentos superficiais horizontais e verticais da Célula do
Aterro Sanitário possibilitou avaliar a segurança dos taludes. Nesse contexto, a medição dos
deslocamentos foi realizada por meio de levantamento topográfico composto por uma estação
total Pentax R-205NE, marcos superficiais, placas de recalque e marcos fixos (Figura 43).
a b c d
Figura 45 - Localização dos piezômetros Pz1, Pz2, Pz3, Pz4 no Aterro Sanitário
Figura 46 – Desenho esquemático do piezômetro instalado no ASCG: (a) corte transversal; (b)
corte longitudinal
a b
As medidas dos níveis de piezométricos nos piezômetros foram realizadas com o auxílio
de um sensor eletrônico de nível piezométrico com tecnologia de emissão sonora e luminosa.
Quando inserido no piezômetro e, ao entrar em contato com o lixiviado, emitia um sinal sonoro
e luminoso (Figura 47). Com auxílio de uma trena se verificava a altura do nível do lixiviado
em relação a extremidade superior do piezômetro. Sendo o nível piezométrico determinado pela
diferença da altura do piezômetro pela altura do nível do lixiviado em relação a extremidade
superior do piezômetro.
112
a b
Fonte: Acervo da pesquisa (2019).
A modelagem constitutiva foi desenvolvida a partir dos modelos gerados por meio do
planejamento fatorial para determinação da resistência ao cisalhamento dos resíduos sólidos.
Dessa forma, foi possível formular seis modelos de regressão linear múltipla para determinação
da tensão de cisalhamento abrangendo variações inerentes aos RSU (idade, umidade, peso
específico, saturação e tensão normal). O intercepto coesivo e o ângulo de atrito foram obtidos
a partir das envoltórias de rupturas construídas com os resultados obtidos nos modelos do
planejamento fatorial.
A partir dos modelos de regressão linear múltipla obtidos na modelagem constitutiva,
foi construído um banco de dados das respostas tensão cisalhante, intercepto coesivo e ângulo
de atrito, abrangendo variações de idade dos resíduos (0, 1 e 2 anos), condição de saturação
(inundado e não inundado), umidade (34, 49,5 e 65%), peso específico (10, 12,5 e 15 kN/m³) e
tensão normal (50, 175 e 300 kPa). Com o banco de dados gerado foi possível realizar o
processo de modelagem não constitutiva. A Figura 49 apresenta as etapas do desenvolvimento
da modelagem constitutiva (modelo de regressão linear múltipla) e não constitutiva (redes
neurais artificiais).
114
τ=a+ + + + ⋯+ 18
Sendo:
τ = Tensão cisalhante;
a = Coeficiente angular da i-ésima variável;
= Número de variáveis independentes.
∑ ² 19
²=
∑ ²
Sendo:
R² = Coeficiente de determinação;
n = Número de variáveis;
XE = Variáveis estimadas;
XO = Variáveis observadas;
X = Média das variáveis.
Figura 50 – Arquitetura da rede neural utilizada para predição: (a) tensão cisalhante; (b)
intercepto coesivo; (c) ângulo de atrito; (d) intercepto coesivo e ângulo de atrito
a b
c d
Fonte: Acervo da pesquisa (2021)
O treinamento das redes neurais artificiais foi realizado com o módulo Neural Network
Toolbox, componente do software Matlab R2021a. Neste módulo, foi utilizado como algoritmo
de treinamento supervisionado o back-propagation e como rotina de otimização o Bayesian
regularization (trainbr) e o de Levemberg-Marquadt (trainlm), este último realiza as etapas de
treinamento, teste e validação. Além do algoritmo de treinamento e otimização, foram utilizadas
como função de ativação da camada oculta e da camada de saídas as funções: tangente
hiperbólica sigmoidal (tansig); logística sigmoidal (logsig) e; linear (purelin).
Quando utilizado o algoritmo Bayesian regularization (trainbr), foi selecionado, de
modo aleatório, 70% do conjunto total do banco de dados para treinamento das redes neurais e
119
os outros 30% dos dados, que não foram objetos de seleção aleatória para a etapa de
treinamento, foram utilizados na etapa de teste. Para o algoritmo Levemberg-Marquadt
(trainlm), selecionou-se, de forma aleatória, 70% dos de dados para treinamento, 15% para teste
e 15% para validação. Esta otimização matemática, que compreendeu na divisão dos dados em
conjunto de teste, validação e treinamento seguiu as recomendações descritas por Tatibana e
Kaetsu (2020) e Xu et al. (2021).
A modelagem não constitutiva por meio de redes neurais envolve um processo de
tentativa e erro. Quando a rede não apresenta um bom desempenho faz-se necessário analisar
outras tipologias de RNA, alterando o número de neurônios, conexões, taxa de aprendizado,
funções de ativação e adição ou remoção de parâmetros (ARTERO, 2009). Por isso, foram
testadas 54 RNA para predição da tensão cisalhante, 54 RNA para predição do intercepto
coesivo, 54 para predição do ângulo de atrito e 54 RNA para predição do intercepto coesivo e
ângulo de atrito, totalizando 216 RNA.
Para avaliar o desempenho das RNA, foram utilizados seis índices estatísticos:
coeficiente de correlação (r); coeficiente de determinação (R2); coeficiente de eficiência (E);
raiz do erro quadrático médio (RMSE); erro médio absoluto (MAE) e; erro quadrático médio
(MSE).
Apesar de Xu et al. (2012), Gao et al. (2018), Rocha et al. (2019) considerarem apenas
os RSU como constituintes do maciço sanitário na análise de estabilidade dos taludes, outros
elementos como a camada de cobertura, de base e subsolo podem desencadear a ruptura do
talude. Por isso, nesse estudo, considerou-se a presença de todos esses elementos, incluindo a
mudança das características dos resíduos conforme idade de aterramento. Araújo (2017)
verificou que a espessura da camada de cobertura do ASCG variava entre 0,6 e 1,0 m, por esse
motivo, considerou-se a camada de cobertura com uma espessura de 0,8 m. Já a camada de base
122
do ASCG possui uma espessura média de 0,6 m de solo compactado, sendo considerada essa
espessura para a camada de base na análise de estabilidade. O subsolo do ASCG, conforme
sondagem à percussão (SPT) disponível no ANEXO I, apresentou perfis com profundidade
variando de 0,4 a 0,8 m de solo, sendo considerado nesse estudo uma espessura média de 0,6
m.
Os parâmetros geotécnicos necessários para a análise de estabilidade dos taludes do
ASCG, por meio do GEO5, foram: intercepto coesivo, ângulo de atrito e peso específico dos
materiais envolvidos. Os parâmetros dos RSU foram determinados conforme caracterização
dos resíduos e das respostas obtidas pelas RNA. As características geotécnicas dos solos
(subsolo e camada de base e cobertura) do ASCG foram obtidas por meio da realização dos
ensaios regulamentados pelas normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) e
da American Society for Testing and Materials (ASTM), conforme Quadro 9.
maciço. O segundo, considerou-se o cenário mais crítico, com adoção do maior nível
piezométrico monitorado no ASCG durante o período da pesquisa.
Para considerações sobre a estabilidade dos taludes do ASCG, convencionou-se como
talude estável, com nível de segurança alto, aquele que possuiu um fator de segurança igual ou
superior a 1,5, conforme estabelecido na NBR 11682 (ANBT, 2009).
124
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
10
15
20
25
30
35
40
45
50
0
5
Vidro
Metal
Papel
Papelão
Compósitos
0 ano
Componentes
Têxteis sanitário
1 ano
Matéria orgânica
2 anos
Têxteis e couro
Plástico mole
Plástico duro
> 38,1 mm
Material misto
< 7 mm
125
Percentual (%)
9
Vidro
Papel
Madeira
Papelão
0 ano
1 ano
Compósitos
2 anos
Têxteis sanitário
Matéria orgânica
Têxteis e couro
Plástico mole
Plástico duro
126
127
80
70
60
50
40
30
20
10
0
0,01 0,1 1 10 100
Diâmetro das partículas (mm)
a idade de aterramento, maior o percentual de finos. Este comportamento pode ser atribuído a
biodegradação de componentes orgânicos de fácil de degradação e compressão de outros
componentes como resultado de fatores físicos e químicos. Reddy et al. (2015) e Mokhtari et
al. (2019) também verificaram aumento no conteúdo de finos conforme envelhecimento dos
resíduos.
Segundo os critérios de Remecom (Defra, 2004), que consideram como finos os
resíduos de granulometria inferior a 20 mm, observa-se na Figura 56 que o teor de finos variou
entre 59% a 68%. Os resíduos com 2 anos de aterramento são os que apresentam um maior
percentual de finos em todas faixa de tamanhos analisados, uma vez que, a sua curva
granulométrica está deslocada para esquerda.
Hartmann e Ahring (2006) afirmam que quanto menor for o tamanho das partículas,
maior será a velocidade das reações, uma vez que, haverá um aumento da área superficial e
maior interação com microrganismos, favorecendo, assim, a ocorrência de recalques. Porém,
os percentuais de finos podem ser materiais bioestabilizados ou de difícil degradação, como o
solo que é utilizado na camada de cobertura, que não contribuirá na ocorrência de recalques,
mas no aumento do peso específico e redução da permeabilidade e percolação de líquidos,
resistência ao cisalhamento e estabilidade dos taludes.
Na fração grossa (>20 mm) dos resíduos aterrados não foi possível determinar uma
relação do tamanho das partículas com a idade dos resíduos aterrados. As alterações
granulométricas que ocorreram nessa fração, durante o período investigado, foram
essencialmente físicas, e estas dependem de outros fatores, como grau de compactação, tensão
de confinamento e geometria dos resíduos, além da idade de aterramento. Para determinação
da relação de idade de aterramento dos resíduos com a granulometria da fração grossa, faz-se
necessária a análise de resíduos com um tempo de aterramento maior.
Verifica-se, ainda na Figura 56, que 13,5%, 22,4% ,13,5% dos resíduos com 0, 1 e 2
anos de aterrados, respectivamente, possuem diâmetro superior a 76 mm. Alguns autores como
Alcântara e Jucá (2010), Farias (2014), realizaram uma pré-seleção dos resíduos e retiram os
materiais com granulometria superior a 76 mm ou reduziram a quantidade de determinado
elemento, como o plástico. Porém, a remoção desses materiais pode deslocar as curvas
granulométricas e descaracterizar a granulometria dos resíduos.
Como não existe metodologia específica e consolidada para a análise granulométrica de
RSU, adotam-se geralmente as recomendadas para análises de solos, porém muitos objetos
encontrados nos resíduos têm tamanhos que excedem aqueles para os quais as normas foram
130
estabelecidas, por isso alguns autores realizam a remoção desses materiais. Outra problemática,
na análise granulométrica, é que os resíduos são difíceis de manusear e no peneiramento não se
movem ao longo da superfície da peneira da forma planejada (SCHREIER e TOMAS, 1998;
BLOTTNITZ, PEHLKEN e PRETZ, 2002). Porém, esta é a forma mais utilizada para
determinar as dimensões dos materiais que compõem os resíduos. De qualquer modo, a
comparação desses resultados com os dados da literatura deve ser feita com cautela, tendo em
vista a falta de uma padronização mínima para o ensaio (ARAÚJO NETO, 2016).
Na Figura 57, pode-se verificar o intervalo granulométrico sugerido por Jessberger
(1994) para RSU, as curvas granulométricas dos resíduos com 0, 1 e 2 anos de aterrados e a
granulometria dos resíduos gerados na cidade de Campina Grande (ARAÚJO NETO, 2016),
principal contribuinte na disposição de resíduos no Aterro Sanitário em estudo.
100
Porcentagem que passa (%)
80
60
40
20
0
0,01 0,1 1 10 100 1000
Diâmetro das partículas (mm)
Apenas os resíduos estudados por Araújo Neto (2016), que correspondem aos gerados
na fonte, enquadram-se na faixa granulométrica sugerida por Jessberger (1994). As curvas
granulométricas dos resíduos aterrados estão deslocadas à esquerda da faixa proposta e a fração
grossa, para os resíduos de 0 e 2 anos de aterrados, não se encontra dentro dos limites
determinados. Esse intervalo, proposto por Jessberger (1994), não se adequa para resíduos
aterrados, conforme verificado na Figura 56 e nos estudos realizados por Gomes e Lopes
131
(2012), Ramaiah, Ramana e Datta (2017) e Thakur, Gupta e Ganguly (2019), sendo necessário
a determinação de uma nova faixa granulométrica para estes resíduos.
20
Peso específico (kN/m³)
15
10
0
0 ano 1 ano 2 anos
Idade de aterramento
O aumento do peso específico dos resíduos de 4,4 kN/m³ (0 ano) para 19,1 kN/m³ (1
ano) indica a capacidade de deformabilidade dos resíduos. Ramaiah, Ramana e Datta (2017)
encontraram valores de peso específico de resíduos próximos à superfície de aterros sanitários
variando de 4,4 kN/m³ a 19 kN/m³ e Choudhury e Savoikar (2009) indicaram um peso
específico médio para resíduos próximos à superfície de aterro sanitário de 10 kN/m³, ocorrendo
um aumento em função da profundidade e idade de envelhecimento. Para Boscov (2008), o
peso específico médio dos resíduos varia de 1,1 a 19 kN/m³ e a maioria dos valores encontram-
se em torno de 10 kN/m³. O peso específico do ASCG foi, praticamente, o dobro do valor médio
encontrado na literatura. Essa característica pode proporcionar uma maior resistência ao maciço
sanitário.
O peso específico de, aproximadamente, 19 kN/m³, para as amostras de 1 e 2 anos de
aterramento, foi influenciado pelo método executivo do Aterro Sanitário, espessura da camada
de cobertura final, superior a 1 m, nos pontos amostrados, compressão e consolidação da massa
dos resíduos, por ser via de tráfego de veículos pesados, assim como presença de fragmentos
de rochas na massa de resíduos.
Pesos específicos elevados, como os determinados no Aterro Sanitário de Campina
Grande, favorecem a estabilidade dos taludes. Porém, podem comprometer o fluxo de líquidos
e gases no maciço sanitário e retardar os processos biodegradativos.
4.1.4 Umidade
30
25
20
15
10
5
0
0 ano 1 ano 2 anos
Idade de aterramento
1 m, que dificultada a infiltração de águas superficiais, pelo clima semiárido, caracterizado pelo
déficit hídrico, com pouca precipitação e elevada evaporação e, também, pela coleta dos
resíduos ser realizada nas primeiras camadas do Aterro Sanitário, onde todo líquido gerado e
infiltrado nessa região tendem a percolar para camadas adjacentes.
Essa redução da umidade ao longo do tempo apesar de retardar os processos
biodegradativos, uma vez que, não haverá o fluxo adequado de enzimas no ambiente e não
ocorrerá a diluição de materiais tóxicos, ela favorece a estabilidade dos taludes.
Outros autores como Azevedo et al. (2003) e Nascimento (2007), também verificaram
uma redução da umidade. Azevedo et al. (2003), coletou resíduos de diversas idades do Aterro
de Santo André, São Paulo e determinou uma relação direta da umidade com a idade dos
resíduos. Nascimento (2007) determinou umidades superiores a 100% para resíduos frescos e
de, aproximadamente, 60% para resíduos com 4 anos de aterrados.
4.1.5 pH
4
3
2
1
0
0 ano 1 ano 2 anos
Idade de aterramento
135
O pH do extrato de lixiviação dos RSU com 0 ano de aterramento foi de 5. Este baixo
valor de pH, pode ser justificado pelo fato de estar na fase inicial de biodegradação, valor
característico da fase III (fase ácida ou anaeróbia ácida). Logo, após o aterramento, a
degradação ocorre de forma intensa sob ação das bactérias acidogênicas, as quais segundo
Castilhos Junior (2003), liberam rapidamente concentrações de ácido láctico, amônia e ácidos
graxos voláteis, em maior quantidade, concedendo ao meio um pH abaixo da neutralidade. Para
o período investigado, aproximadamente, 64,2% dos resíduos depositados no ASCG eram
advindos do município de Campina Grande, logo este valor observado de pH é compatível ao
descrito por Ribeiro et al. (2016), que determinou o pH de 5,5 para os RSU desse município.
Tchobanoglous, Theisen e Vigil (1993) e Alcântara (2007) afirmaram que na fase ácida
da biodegradação dos RSU, o pH do meio tende a ficar próximo de 5 e na fase metanogênica,
após anos de aterramento, os valores de pH correspondem a uma faixa de 6,8 a 8,0. Pearse,
Hettiaratchia e Kumarb (2018) afirmaram que o pH ideal para a acidogênese, em aterros
sanitários, tem sido relatado na literatura entre 5,5 e 6,5. Kunz, Steinmetz e Amaral (2019),
afirmaram que as árqueas metanogênicas são extremamente sensíveis a variação do pH, com
um valor ótimo entre 6,7 e 7,5, enquanto, os microrganismos fermentativos são menos sensíveis
e se adaptam a maiores variações de pH, entre 4,0 e 8,5.
Após um ano de aterramento, verifica-se na Figura 60 uma elevação do pH para 6 e após
2 anos para 6,7. Conforme El-Fadel et al. (2002) valores de pH entre 6 e 7 são típicos de
resíduos de aterro sanitário com idade entre 5 e 10 anos. Dessa forma, pode-se dizer que o
processo biodegradativo no Aterro Sanitário em Campina Grande ocorre de forma acelerada,
favorecendo a rápida estabilização dos taludes e a não ocorrência de recalques acentuados. Esse
comportamento é favorecido pelas condições operacionais do Aterro Sanitário e climáticas da
região.
50
40
30
20
10
0
0 ano 1 ano 2 anos
Idade de aterramento
O elevado valor do teor de sólidos voláteis para os resíduos sólidos com 0 ano de
aterramento corrobora com a hipótese da incorporação da matéria orgânica ao solo utilizado na
camada de cobertura, não sendo possível sua identificação na composição gravimétrica (Figura
54). Os resultados de sólidos voláteis dos RSU com 0 ano de aterramento foram próximos ao
verificados por Ribeiro et al. (2016), que determinaram um teor de sólidos voláteis de 60% para
resíduos com 40 dias de aterrados na camada superficial de um biorreator com RSU da cidade
de Campina Grande (principal contribuinte de resíduos no Aterro Sanitário em estudo).
No primeiro ano de aterramento há uma redução do teor de sólidos voláteis de 67% para
7,4%, indicando uma elevada atividade biológica. Essa redução do teor de sólidos voláteis,
apesar de refletir a atividade biodegradativa dos resíduos, que é favorecida pelo alto percentual
de resíduos facilmente degradáveis, umidade ideal para atividades microbiológicas e
recirculação de lixiviado, pode também ser ocasionado pela inserção de solo utilizado como
camada de cobertura durante e após a operação da Célula.
Kelly (2002) e Decottignies et al. (2005) afirmam que os resíduos sólidos com teores de
sólidos voláteis inferiores a 10% correspondem a um material já bioestabilizado, esses valores
foram determinados para os resíduos com 1 e 2 anos de aterramento. Melo (2003), que
investigou a Célula 4 do Aterro da Muribeca, determinou valores de sólidos voláteis variando
de 6 a 18% para resíduos aterrados há 5 e 16 anos. Esses estudos indicam que os resíduos
depositados no Aterro Sanitário de Campina Grande têm uma elevada atividade microbiológica,
atingindo as características de aterro com idade superior a 5 anos no primeiro ano de operação.
137
varia entre 0,05 e 0,2. Quanto maior a razão, mais facilmente os resíduos serão biodegradados.
Não foi possível determinar a DBO e DQO dos resíduos com 0 ano de aterramento devido a
problemas operacionais e ajustes de metodologias ocorridos durante a fase de caracterização
dos resíduos.
10000
8000
6000
4000
2000
0
1 ano 2 anos
Idade de aterramento
DQO DBO
várias camadas de cobertura de solo e não passarem pelo mesmo processo dos resíduos
depositados no Aterro Sanitário em Campina Grande, apesar de possuírem idades próximas.
A DBO e DQO dos resíduos com 2 anos de aterrados, apesar de apresentarem uma leve
redução em comparação aos resíduos com 1 ano de aterrados, não indicaram intensa atividade
microbiológica, indicando que a DQO, apesar de elevada, corresponde ao material de difícil
degradação.
Os valores de DQO maiores que os valores de DBO indica a presença de matéria
orgânica resistente a degradação biológica, espécies inorgânicas reduzidas tais como íons
ferrosos, manganosos, sulfetos e cloretos. Essa característica indica a ocorrência de
deslocamentos brandos em um longo intervalo de tempo, não comprometendo a estabilidade
dos taludes.
8
Peso específico seco (kN/m³)
7,5
6,5
5,5
4,5
4
10 20 30 40 50 60 70
Umidade (%)
As curvas de compactação indicam um peso específico seco máximo 8,1 kN/m³, 6,7
kN/m³ e 6,9 kN/m³ e umidade ótima de 34%, 35% e 48%, para os resíduos com 0, 1 e 2 anos
de aterramento, respectivamente. As curvas obtidas apresentam comportamento semelhante às
verificadas em solos. König e Jessberger (1997) e Araújo Neto et al. (2015) também
constataram este mesmo comportamento, onde há uma elevação do peso específico seco até a
umidade ótima seguida de uma redução. Porém, a massa específica seca máxima obtida neste
ensaio é inferior às verificadas em solos. Segundo dados de Lambe e Whitman (1969), os
valores típicos do peso específico seco dos solos estão entre 13 e 21 kN/m³. Esta diferença pode
estar associada aos constituintes dos RSU que apresentam peso específico inferior aos dos grãos
do solo.
Gabr e Valero (1995), Marques (2001) e Oliveira et al. (2019) constataram que os
valores obtidos para a relação entre o peso específico seco máximo e umidade dos RSU não se
ajustam às curvas côncavas, não sendo possível definir o peso específico seco máximo e teor
de umidade ótimo.
Poucos são os estudos que investigam o peso específico seco máximo dos resíduos e,
quando se trata de resíduos com determinado tempo de aterrados, mais escassos são os estudos.
141
Quando analisado o peso específico seco máximo e a umidade ótima dos resíduos aterrados,
conforme ilustrado na Figura 63, verifica-se que os resíduos com 0 ano de aterrados possuem
um maior peso específico seco máximo e uma menor umidade ótima, quando comparado com
os parâmetros de compactação dos resíduos com 1 e 2 anos de aterramento. Caso ocorra a
mineração desses resíduos, para utilização, por exemplo, em camada de cobertura de aterro
sanitário, será necessário maior energia de compactação e uma maior umidade, que pode ser
corrigida por meio da recirculação de lixiviado.
Para Hanson et al. (2010) os esforços de compactação representam principal fator que
controla a densidade de curto prazo e a resultante da resistência ao cisalhamento dos resíduos
em aterros sanitários. Sendo, as práticas de compactação em aterros sanitários em comparação
com lixões, responsáveis pelo aumento de 20% nas propriedades de resistência ao cisalhamento.
Quando analisada a umidade natural dos resíduos (Figura 59) e a umidade ótima de
compactação (Figura 63), constata-se que os resíduos no ASCG, são compactados a uma
umidade superior a ótima. O processo de umedecimento dos resíduos (recirculação de lixiviado)
na etapa de compactação deve ser realizado conforme demando dos resíduos para obtenção da
umidade ótima de compactação, evitando o excesso de líquidos e redução do grau de
compactação. Após a compactação dos resíduos, recomenda-se a recirculação de lixiviado
conforme condições meteorológicas para não ocorrer a saturação ou acúmulo de líquidos no
maciço.
Para Blight (2008) a falta de compactação pode levar à ruptura do aterro porque, na
ausência de compactação efetiva dos resíduos ou compactação inconsistente em aterros, há uma
resistência ao cisalhamento relativamente baixa e uma massa de resíduos sem coesão.
Entretanto, o excesso dessa compactação pode impedir o fluxo de líquidos e retardar os
processos biodegradativos.
Uma boa compactação em campo, quando se trata de maciços sanitários, deve ser aquela
que favoreça, além da estabilidade, uma boa degradabilidade dos resíduos. Quando o grau de
compactação é excessivo, pode-se inibir os processos biodegradativos e, consequentemente, os
aterros terão suas deformações retardadas refletindo em um menor tempo de vida útil (Araújo
Neto, 2016).
Babu et al. (2015) relatam que o peso específico de RSU recém aterrados pode variar
de 4,0 kN/m³ a 16,0 kN/m³, dependendo apenas do grau de compactação atingido pelas
operações de disposição dos resíduos. Fassett et al. (1994) descrevem que os valores de peso
específico variam de 3,1 até 9,2 kN/m³, por camada, que tenha recebido uma pequena
142
compactação, 5,1 a 8,1 kN/m³ para compactação moderada e, 9 a 10,7 kN/m³ para camada com
boa compactação. Desta forma, o peso específico seco máxima dos resíduos encontrado nos
ensaios realizados em laboratório pertencem ao intervalo de compactação moderada
apresentado valores de 8,1 kN/m³, 6,7 kN/m³ e 6,9 kN/m³, para os resíduos com 0, 1 e 2 anos
de aterrados, respectivamente. Porém, conforme apresentado na Figura 58, os valores dos pesos
específicos determinados no campo são superiores a faixa sugerida por Fassett et al. (1994) e
aos valores estimados em laboratório.
Quando analisado o peso específico in situ dos resíduos com 1 e 2 anos de aterrados
(Figura 58), verifica-se que eles são superiores ao verificado na literatura e acima do seu
respectivo peso específico seco máximo obtido no ensaio de compactação. Essa característica
favorece o acúmulo de líquidos no interior do maciço, causando efeito contrário do desejado,
ou seja, redução da resistência ao cisalhamento e, consequentemente, vulnerabilidade da
estabilidade dos taludes.
Wiemer (1982), estudando aspectos operacionais de aterros na Alemanha,
especialmente o grau de compactação atingido pelos resíduos, afirma que, esse é um aspecto
determinante para a evolução dos valores de peso específico de um aterro ao longo do tempo.
Nesse estudo não será determinado o grau de compactação dos resíduos recém aterrados (0
ano), pois o peso específico desses resíduos foi determinado após sua escavação. Porém, os
resíduos com 1 e 2 anos de aterrados indicam um elevado grau de compactação dos resíduos no
Aterro Sanitário em Campina Grande, uma vez que, o grau de compactação foi superior a 200%
para os resíduos com 1 e 2 anos de aterrados.
A análise do grau de compactação dos resíduos aterrados deve ser realizada com cautela,
pois o peso específico determinado in situ é resultante de processos físicos, químicos e
biológicos, que não correspondem, necessariamente, ao processo de compactação. No Aterro
Sanitário em Campina Grande os processos biodegradativos foram intensos, já no primeiro ano
de aterramento, o que corroborou para aumento do peso específico dos resíduos.
água dos resíduos for muito baixo, o lixiviado não pode ser coletado a tempo, resultando em
altos níveis de piezométricos no interior do maciço sanitário. Isso pode ainda levar a vazamento
de lixiviado, poluição do solo e das águas subterrâneas, deslizamentos de aterros e outros
acidentes (CHEN et al., 2014; KOERNER E SOONG, 2000).
A Figura 64 apresenta os resultados obtidos no ensaio de permeabilidade à água dos
RSU com 0, 1 e 2 anos de aterrados. Com o planejamento fatorial foi possível otimizar a
realização dos experimentos, com um nível de significância de 5% e redução no número de
ensaios.
1,0E-01
γ = 15 kN/m³; w = 34%
1,0E-02
γ = 15 kN/m³; w = 65%
1,0E-03 γ = 12,5 kN/m³; w = 49,5%
1,0E-04 γ = 12,5 kN/m³; w = 49,5%
A permeabilidade à água dos resíduos aterrados (Figura 64) variou de 5x10-7 a 1,7x10-2
m/s. A menor permeabilidade foi verificada nos resíduos com maior peso específico (15
kN/m³), maior umidade de moldagem (65%) e com 1 ano de aterrado. Já a maior permeabilidade
foi verificada nos resíduos com menor peso específico (10 kN/m³), maior umidade de
moldagem (65%) e com 2 anos de aterrados.
Analisando a variação da permeabilidade à água com o peso específico dos resíduos,
verifica-se que, em todas as idades de aterramento os resíduos com maior peso específico (15
kN/m³) possuem as menores permeabilidades à água e os resíduos com menor peso específico
(10 kN/m³) possuem as maiores permeabilidades à água. Quanto a umidade de moldagem, a
permeabilidade à água dos resíduos recém aterrados reduz conforme aumento da umidade de
moldagem, para os resíduos com 1 ano de aterrados não foi possível definir uma tendência e
para os resíduos com 2 anos de aterrados há um aumento da permeabilidade conforme aumento
da umidade de moldagem.
144
finos, não são decisivos para redução da permeabilidade. Para que ocorra redução da
permeabilidade, é necessário não apenas a biodegradação dos resíduos, mas a sua densificação.
Figura 66 – Gráfico de Pareto dos efeitos padronizados para o planejamento fatorial dos resíduos com 0 (a), 1 (b) e 2 (c) anos de aterrados
p=,05
a
p=,05
Efeitos estimados (valores absolutos) b Efeitos estimados (valores obsolutos)
Umidade 4,8
p=,05
c Efeitos estimados (valores absolutos)
147
Conforme a Figura 66, o peso específico possui uma relação inversamente proporcional
a permeabilidade à água dos resíduos com 0, 1 e 2 anos de aterrados. Analisando o efeito da
umidade de moldagem na permeabilidade à água dos resíduos, observa-se uma relação
inversamente proporcional nos resíduos recém aterrados e diretamente proporcional nos
resíduos com 1 e 2 anos de aterrados. Estas relações podem, também, ser verificadas na Tabela
12, por meio do coeficiente de correlação de Pearson.
Ainda conforme o Gráfico de Pareto (Figura 66) e Tabela 12, o peso específico possui
maior influência na permeabilidade dos resíduos recém aterrados e com 1 ano de aterramento
quando comparado com a umidade de moldagem. Já nos resíduos com 2 anos de aterrados a
umidade de moldagem possui um efeito maior que o peso específico.
Na Figura 67 é possível verificar o comportamento da permeabilidade em função do
peso específico e da umidade de moldagem dos resíduos recém aterrados.
148
Conforme ilustrado na Figura 67, a menor permeabilidade à água dos resíduos recém
aterrados foi obtida em amostras com maior peso específico (15 kN/m³) e menor umidade de
moldagem (34%). A maior permeabilidade foi verificada em resíduos recém aterrados com
menor peso específico (10 kN/m³) e menor umidade (34%). Ainda é possível constatar que
resíduos com peso específico elevado, a variação da umidade de moldagem praticamente não
altera a permeabilidade.
O cenário ilustrado na Figura 67 auxilia a etapa de disposição de resíduos no ASCG.
Resíduos com peso específico elevado terá permeabilidade reduzida e o processo de
recirculação de lixiviado será menos eficiente. Após a disposição, os resíduos passam por
processos físicos e químicos que alteram as suas características, dentre eles, a permeabilidade.
Na Figura 68 é possível observar que a superfície resposta da permeabilidade à água dos
resíduos com 1 ano de aterrado possui comportamento diferente dos resíduos recém aterrados
(Figura 67).
149
Figura 68 – Superfície resposta da permeabilidade à água dos resíduos com 1 ano de aterrados
em função do peso específico e umidade de moldagem
Figura 70 – Resultados dos ensaios de cisalhamento direto dos resíduos com 0 ano de aterrados
152
A partir dos resultados apresentados na Figura 70, pode-se verificar que a tensão
cisalhante dos resíduos recém aterrados (0 ano de aterramento) cresce sem tendência de pico.
Este comportamento independe da variação de umidade e peso específico e pode ser explicado
pela presença de componentes fibrosos (reforços) como plástico, madeira e têxteis na
composição dos resíduos. Devido a estes elementos longilíneos ou fibrosos, os RSU recém
aterrados (0 ano) se comportam como um solo reforçado por fibras. Essa característica
proporciona uma maior estabilidade ao maciço sanitário.
A ausência de pico de tensão é comumente encontrada em curvas de resistência ao
cisalhamento de resíduos sólidos que possuem componentes fibrosos em sua composição. Gabr
e Valero (1995), Bareither et al. (2012), Reddy et. al. (2015), Feng et al. (2017) e Ramaiah,
Ramana e Data (2017) são exemplos de alguns estudos que constataram esse comportamento.
A presença de materiais fibrosos proporciona um incremento na resistência ao cisalhamento do
material. Segundo Borgatto (2010), as fibras são ativadas em função da tensão normal aplicada
e mobilização dos deslocamentos horizontais na amostra.
A maior tensão cisalhante foi verificada na amostra de resíduos com menor umidade e
maior tensão normal e peso específico, quando analisado o comportamento na condição não
inundada. A amostra com maior umidade e menor tensão normal e peso específico foi a que
apresentou uma menor tensão cisalhante. Este comportamento indica que o aumento da
umidade reduz o atrito entre os constituintes dos resíduos e, consequente, a tensão de
cisalhamento. Porém, quando há acréscimo da tensão normal e/ou do peso específico a
interação entre as partículas aumenta o que resulta em maiores tensões cisalhantes.
Para as menores tensões normais, tanto na condição inundada quanto na não inundada,
verifica-se que a resistência ao cisalhamento tende a se estabilizar, a partir do nível de
deslocamento horizontal de 5%, conforme observado na Figura 70. Para os demais níveis de
tensão normal, este comportamento não é observado. Esta estabilização indica que uma tensão
normal de 50 kPa ou inferior, não ativa as fibras presentes nos resíduos. Porém, para tensões de
300 kPa, verifica-se um incremento na tensão cisalhante à medida que o deslocamento aumenta.
De forma geral, verifica-se na Figura 70 que as maiores tensões cisalhantes foram
obtidas quando a amostra estava submetida as maiores tensões normais. Indicando que, quanto
maior a tensão de confinamento dos resíduos maior será a tensão cisalhante.
Para todas as tensões normais ensaiadas as curvas da tensão cisalhante versus
deslocamento horizontal, Figura 70, exibem concavidade voltada para baixo, tanto na condição
inundada, quanto na não inundada. Em alguns casos, as tensões parecem convergir para um
153
Figura 71 – Resultados dos ensaios de cisalhamento direto dos resíduos com 1 ano de aterrados
155
Figura 72 – Resultados dos ensaios de cisalhamento direto dos resíduos com 2 anos de aterrados
157
De acordo com as curvas tensão versus deformação horizontal, Figura 72, desde o início
do estágio de cisalhamento até a deformação entre 5% e 10%, a tensão cisalhante aumenta
acentuadamente, tanto para condição não inundada como para inundada. Este comportamento
também foi verificado nos resíduos recém aterrados e com 1 ano de aterramento. Após este
intervalo de deformação horizontal há um aumento lento e constante da tensão cisalhante para
as amostras submetidas a uma tensão normal de 300 kPa e uma tendência de constância da
tensão cisalhante para as amostras submetidas a uma tensão normal de 175 kPa e 50 kPa até o
término do ensaio.
Feng et al. (2017) realizaram uma investigação abrangente das propriedades geotécnicas
dos resíduos sólidos urbanos no maior Aterro Sanitário da China e constataram que a tensão de
cisalhamento aumentou rapidamente após um pequeno aumento no deslocamento horizontal e
então aumentou de forma lenta, mas continuamente até o maior deslocamento predeterminado.
Esta característica também foi observada nos estudos de Zhan et al. (2008), Bray et al. (2009)
e Reddy et al. (2009, 2011).
Reddy et al. (2009), Gomes et al. (2012) e Shariatmadari et al. (2014), verificaram que
a tensão cisalhante aumenta com um aumento da deformação relativa dos resíduos, sem
produzir qualquer pico na curva tensão cisalhante versus deformação. Os autores atribuíram
este comportamento a ativação das fibras presentes nos resíduos, não ocorrendo em resíduos
que estão sob baixas tensões normais (50kPa e 150 kPa) e baixos níveis de deformação.
Provavelmente, as fibras presentes nos resíduos com 0, 1 e 2 anos de idade coletados no ASCG
não foram ativadas quando submetidas às tensões de 50 kPa e 175 kPa, por isso, após a
deformação de 10% a tensão cisalhante permanece constate. Para a tensão de 300 kPa, após
10% da deformação horizontal, a tensão cisalhante tende a aumentar em todas as idades de
forma suave.
140
120
100
80
60
40
20
0
jan/18
fev/18
mar/18
mai/18
jun/18
jul/18
ago/18
set/18
out/18
nov/18
dez/18
jan/19
fev/19
mar/19
mai/19
jun/19
jul/19
ago/19
set/19
out/19
nov/19
dez/19
jan/20
fev/20
mar/20
mai/20
jun/20
jul/20
ago/20
set/20
out/20
nov/20
dez/20
abr/18
abr/19
abr/20
Coleta dos resíduos Coleta dos resíduos Coleta dos resíduos com
recém aterrados com 1 ano de aterrados 2 anos de aterrados
Tempo (mês/ano)
Precipitação (mm) Precipitação - Série histórica (1981 a 2010)
Evaporação - Série histórica (1981 a 2010)
anual histórica, que é de 777 mm. Por isso, acredita-se que, todas as precipitações ocorridas
durante o período monitorado foram consideradas na etapa de projeto e operação do ASCG,
uma vez que foram inferiores à média histórica. Dessa forma, este evento hidrológico não
apresenta riscos à estabilidade dos taludes do ASCG.
O monitoramento do ASCG abrangeu o período chuvoso da região, que, segundo Cunha
et al. (2019), se inicia em entre março e abril e finaliza em agosto. Dessa forma é possível
avaliar a influência das condições meteorológicas do período chuvoso e seco no ASCG.
Quando comparada a precipitação com a evaporação, Figura 73, verifica-se que,
historicamente, há um déficit hídrico na maior parte do ano. A evaporação é maior que a
precipitação em todos os meses do ano, exceto para os meses de maio, junho e julho. Esta
característica favorece o processo de recirculação de lixiviado, acelerando os processos
biodegradativos e, consequentemente, a bioestabilização do maciço sanitário. Esta prática de
recirculação foi executada no ASCG como alternativa de tratamento do lixiviado (Figura 74),
proporcionando uma aceleração no envelhecimento dos resíduos, conforme constatado no item
referente as características dos resíduos. Para maior eficiência da técnica de recirculação de
lixiviado é necessário realizar um controle do volume recirculado para subsidiar o balanço
hídrico do maciço sanitário.
a b
Fonte: Acervo da pesquisa (2019).
Estados Unidos, aos 400 mm de chuva que o aterro recebeu no mês anterior a falha. A
precipitação média anual na região do aterro é de cerca de 1.200 mm. Segundo Reynolds (2015),
no Aterro de Crossroads, nos Estados Unidos, após um período de chuva forte (125 mm em 10
dias), registrou-se rápidas rupturas (estimada em cerca de 1 minuto) envolvendo
aproximadamente 500.000 m3 de RSU e solo de cobertura que chega a atingir 50 m. Quando
a infiltração de águas pluviais e a recirculação de lixiviado, não são adequadamente controladas
e gerenciadas, podem levar ao acúmulo de níveis elevados de líquido e, consequentemente,
instabilidade dos taludes.
A temperatura ambiente, apesar de não influenciar diretamente na estabilidade dos
taludes de aterros sanitários, pode acelerar ou retardar os processos biodegradativos e,
consequentemente, a geração de lixiviado e biogás. Na Figura 75 é apresentada a variação da
temperatura ambiente registrada na Estação Meteorológica do INSA entre janeiro de 2018 e
dezembro de 2020.
35
Temperatura (°C)
30
25
20
15
jan/18
fev/18
mar/18
mai/18
jun/18
jul/18
ago/18
set/18
out/18
nov/18
dez/18
jan/19
fev/19
mar/19
mai/19
jun/19
jul/19
ago/19
set/19
out/19
nov/19
dez/19
jan/20
fev/20
mar/20
mai/20
jun/20
jul/20
ago/20
set/20
out/20
nov/20
abr/18
abr/19
abr/20
Coleta dos recém Coleta dos resíduos com Coleta dos resíduos com
aterrados 1 ano de aterrados 2 anos de aterrados
Tempo (mês/ano)
Temperatura média Temperatura máxima Temperatura mínima
mar/20
mai/19
nov/19
mai/20
nov/20
ago/19
ago/20
dez/19
dez/20
out/19
out/20
abr/19
abr/20
jun/19
jun/20
fev/19
fev/20
jan/20
set/19
set/20
jul/19
jul/20
0
-200
-400
-600
Recalque (mm)
-800
-1000
-1200
-1400
-1600
-1800
O maior recalque medido na Célula do ASCG foi de 1.493 mm, registrado na Placa 7.
De forma geral, no término do monitoramento, os recalques variaram de 753 mm a 1.493 mm.
O monitoramento das placas de recalque indica que os maiores recalques ocorrem na região
mais próxima do centro e ao sudoeste da Célula. Este comportamento é explicado pelos
acréscimos de cargas que ocorreram com a disposição de resíduos próximos a estas placas e
devido a influência da própria topografia do terreno, já que esta é a região que possui menor
cota topográfica.
A Figura 78 apresenta as velocidades dos deslocamentos verticais monitoradas por meio
das placas de recalque instaladas na Célula do ASCG.
164
4
Velocidade de recalque (mm/dia)
0
fev/19
mar/19
abr/19
mai/19
jun/19
jul/19
ago/19
set/19
out/19
nov/19
dez/19
jan/20
fev/20
mar/20
abr/20
mai/20
jun/20
jul/20
ago/20
set/20
out/20
nov/20
dez/20
Tempo (mês/ano)
Placa 01 Placa 02 Placa 03 Placa 04 Placa 05 Placa 06 Placa 07
Placa 08 Placa 09 Placa 10 Placa 11 Placa 12 Placa 13
Para Edil, Ranguete e Wuellner (1990), os fatores que afetam a magnitude e a velocidade
de recalques em resíduos sólidos são densidade inicial, quantidade de matéria orgânica, altura
e sobrecarga adicional, nível de lixiviados e fatores ambientais, como umidade, temperatura e
produção de biogás. Conforme apresentado no item de caracterização dos resíduos, o ASCG
apresenta características de processos biodegradativos acelerados, por isso, foram registradas
velocidades de recalques superiores a 1 mm/dia.
Com o passar do tempo estas velocidades tendem a reduzir, como verificado no estudo
de van Elk et al. (2019) que analisaram os recalques em longo prazo no vazadouro de
Marambaia, Nova Iguaçu, Rio de Janeiro e constataram uma baixa magnitude dos recalques.
Os autores atribuíram este comportamento à idade antiga dos resíduos no vazadouro e ao fato
do monitoramento ter iniciado cinco anos após o encerramento das operações no aterro, quando,
provavelmente, a grande proporção de recalques já havia ocorrido.
Araújo Neto (2016) monitorou as velocidades dos recalques dos RSU da cidade de
Campina Grande em um lisimetro durante 1.560 dias. O autor constatou que nos primeiros dias,
após a disposição dos resíduos, as velocidades dos recalques podem ultrapassar 45 mm/dia.
Porém, no decorrer do tempo as velocidades se aproximaram de 0 mm/dia. Com base nos
estudos de van Elk et al. (2019) e Araújo Neto (2016), espera-se que as velocidades dos
recalques do ASCG reduzam e se estabilizem.
A Figura 79 apresenta as deformações específicas sofridas pela massa de resíduos
disposta no ASCG.
9
8
7
Deformação (%)
6
5
4
3
2
1
0
fev/19
mar/19
abr/19
mai/19
jun/19
jul/19
ago/19
out/19
nov/19
dez/19
jan/20
fev/20
mar/20
abr/20
mai/20
jun/20
jul/20
ago/20
out/20
nov/20
dez/20
set/19
set/20
Tempo (mês/ano)
Placa 01 Placa 02 Placa 03 Placa 04 Placa 05 Placa 06 Placa 07
Placa 08 Placa 09 Placa 10 Placa 11 Placa 12 Placa 13
166
500
400
300
200
100
0
E 01
E 02
E 03
E 04
E 05
E 06
E 07
E 08
E 09
E 12
E 13
E 16
E 17
D 01
D 02
D 03
D 04
D 05
D 06
D 07
D 08
D 09
D 14
D 15
D 16
D 17
D 18
D 19
D 24
D 25
D 26
D 27
Marco topográfico
comum para aterros sanitários tendo em vista a heterogeneidade dos resíduos junto a outros
fatores operacionais como compactação e execução de camada de cobertura de solo que não
acontecem de forma uniforme.
Os menores deslocamentos horizontais reais ocorreram na região em que estão
localizados os marcos D26, D27, D21 e E16. Já os maiores deslocamentos horizontais reais
ocorreram na região onde estão localizados os marcos D14, D15, D16, D17, D18 e D29. A área
com maior deslocamento horizontal possui maior altura de resíduos, consequentemente, está
mais susceptível a movimentação de massa.
Teixeira e Pinheiro (2018) analisaram os deslocamentos horizontais dos Aterros
Sanitários de Minas do Leão, durante 1.800 dias, e de São Leopoldo, por um período de 1.458
e 2.067 dias. Em ambos os aterros foram monitorados apenas cinco marcos topográficos e os
deslocamentos horizontais variaram entre 0,33 e 1,8 m no Aterro de Minas do Leão e de 0,4 e
0,96 m no Aterro de São Leopoldo. Van Elk et al. (2018) verificaram durante um período de,
aproximadamente, 1.500 dias que os valores máximos dos deslocamentos horizontais do
Vazadouro de Marambaia, Nova Iguaçu, Rio de Janeiro foram 7 mm, o que pode ser
interpretado, conforme os autores, como deslocamentos horizontais nulos e/ou resultados da
própria calibração do instrumento.
Entre os marcos superficiais analisados no ASCG, os que possuíam resíduos mais
recentes apontaram um maior deslocamento horizontal, proporcionando maior instabilidade ao
maciço, porém a região com resíduos mais antigos apresentou os menores deslocamentos. Este
comportamento também foi constatado por Caldas (2017), ao analisar os deslocamentos
horizontais do Aterro Sanitário Metropolitano Centro, localizado na Bahia.
A Figura 81 apresenta a velocidade média dos deslocamentos horizontais monitorados
durante o período de julho de 2019 e dezembro de 2020.
169
1
horizontal (mm/dia)
0,8
0,6
0,4
0,2
E 01
E 02
E 03
E 04
E 05
E 06
E 07
E 08
E 09
E 12
E 13
E 16
E 17
D 01
D 02
D 03
D 04
D 05
D 06
D 07
D 08
D 09
D 14
D 15
D 16
D 17
D 18
D 19
D 24
D 25
D 26
D 27
Marco topográfico
Como não existem normas com valores de referência para deslocamentos horizontais
em aterros sanitários, pode-se utilizar a classificação do grau de risco em função sugerida por
Oliveira (1996) e/ou Grassi (2005). Observa-se na Figura 81 que as velocidades dos
deslocamentos horizontais estão próximas ou inferiores a 1 mm/dia, sendo classificadas com
aceitável.
Ao comparar as velocidades dos deslocamentos verticais com os horizontais, verifica-
se que a velocidade de movimentação vertical é superior a horizontal e a ocorrência de uma não
depende da outra. Este comportamento também foi verificado por Simões et al. (2009) e van
Elk et al. (2018).
Para melhor compreensão dos deslocamentos horizontais do ASCG, na Figura 82 é
possível observar o sentido, direção e módulo dos deslocamentos horizontais. A grandeza
vetorial foi aumentada em 50 vezes para uma melhor visualização e análise.
170
10
15
20
25
10
15
20
25
5
0
5
02/05/2018
09/05/2018
16/05/2018
23/05/2018
Piezômetro
26/09/2018
10/10/2018
31/10/2018
Tempo (dia/mês/ano)
Tempo (dia/mês/ano)
14//11/2018
21/11/2018
Nível piezométrico
Nível piezométrico
26/03/2019
10/04/2019
24/04/2019
06/06/2019
12/06/2019
10/07/2019
17/07/2019
24/07/2019
25/09/2019
16/10/2019
23/10/2019
31/10/2019
27/11/2019
05/12/2019
11/03/2020
171
172
20
Altura (m)
15
10
14//11/2018
23/05/2018
20/06/2018
04/07/2018
18/07/2018
08/08/2018
15/08/2018
22/08/2018
29/08/2018
06/09/2018
20/09/2018
10/10/2018
18/10/2018
31/10/2018
21/11/2018
28/11/2018
26/03/2018
10/04/2019
24/04/2019
06/06/2019
12/06/2019
10/07/2019
17/07/2019
24/07/2019
25/09/2019
16/10/2019
23/10/2019
31/10/2019
27/11/2019
05/12/2019
11/03/2020
Tempo (dia/mes/ano)
também a cota do maciço sanitário na região onde o piezômetro está instalado. Com o passar
do tempo observou-se um aumento dos níveis piezométricos nos piezômetros.
Fleming e Rowe (2004) relataram que, em alguns casos, o sistema de coleta e remoção
de lixiviado na base de um aterro sanitário fica frequentemente sobrecarregado e obstruído com
o passar do tempo. Isso pode ocorrer devido a formação de biofilmes e precipitação induzida
biologicamente de minerais, preenchendo assim o espaço vazio de um sistema drenagem e
levando a um aumento no nível piezométrico. Brune et al. (2020) apontam problemas de
incrustação e subdimensionamento de sistemas de drenagem de aterros sanitários como o maior
problema para eficiência da drenagem a longo prazo.
No ASCG, os elevados níveis piezométricos monitorados nos piezômetros podem estar
associados ao processo de recirculação de lixiviado na Célula do ASCG. Além disso, a região
onde os piezômetros estão instalados possuem resíduos novos e/ou com elevada umidade, o que
favorece uma maior geração de lixiviado e, consequentemente, uma lâmina de líquidos maior.
Em algumas áreas, como observado na Figura 86, a drenagem superficial da Célula ainda não
estava concluída, favorecendo assim um maior acúmulo de líquidos na camada de cobertura e
possível infiltração para o interior do maciço.
Outros fatores podem estar associados ao elevado nível piezométrico presente no aterro.
Dunnicliff (2012) explica que altos níveis piezométricos detectados podem estar associados ao
aumento da pressão no interior do piezômetro em decorrência da presença de bolsões de água
em camadas subjacentes, isoladas por camadas de baixa permeabilidade (Figura 87). O
movimento de percolação descendente desses bolsões é significativo no aumento da pressão,
elevando o nível de líquido medido no piezômetro para além do nível real.
Esse tipo de ocorrência é provável no ASCG, uma vez que, a sua metodologia de
execução envolve o emprego de camadas de solo sobrepondo as camadas de resíduos
depositados. Essas camadas de solo, quando compostas por material predominantemente fino
são, segundo Zhan et al. (2015), responsáveis pela formação de camadas de baixa
permeabilidade no interior de aterros sanitários, promovendo o acúmulo de líquidos em níveis
superiores. Zhan et al. (2015) recomenda a manutenção dos níveis pizométricos abaixo de 30%
da altura total do aterro para que haja melhor eficiência nos processos inerentes aos aterros
sanitários.
A elevação dos níveis piezométricos pode, também, está associado ao borbulhamento
de gases no interior do piezômetro. Para o Aterro em estudo, por meio de inspeção, foi possível
constatar o borbulho de gases no interior do Piezômetro 2, o que seria um indicativo da presença
desses gases. Segundo Dunnicliff (2012), ao ficarem retidas no interior do tubo, pela diferença
de tensão provocada, as bolhas influenciam na elevação do nível d’água, corroborando com a
leitura de nível de líquidos acima da real.
175
150 0,4
Vazão (l/s)
0,3
100
0,2
50 0,1
0 0
jan/18
fev/18
mar/18
abr/18
mai/18
jun/18
jul/18
ago/18
set/18
out/18
nov/18
dez/18
jan/19
fev/19
mar/19
abr/19
mai/19
jun/19
jul/19
ago/19
set/19
out/19
nov/19
dez/19
jan/20
fev/20
mar/20
abr/20
mai/20
jun/20
jul/20
ago/20
set/20
out/20
nov/20
dez/20
Tempo (mês/ano)
Tabela 13 – Valores de tensão cisalhante dos resíduos recém aterrados para deformação
horizontal de 10%
Tensão cisalhante
Fatores
(kPa)
Experimento Tensão Peso
Umidade Não
Normal Específico Inundado
(%) inundado
(kPa) (kN/m³)
1 300 15 65 169,04 108,09
2 300 10 65 159,04 106,18
3 300 10 34 160,46 127,13
4 300 15 34 218,56 174,75
5 50 15 34 69,99 30,47
6 50 10 65 18,09 29,05
7 50 15 65 31,09 34,28
8 50 10 34 31,43 30,95
9 (C) 175 12,5 49,5 112,37 79,99
10 (C) 175 12,5 49,5 113,32 40
11 (C) 175 12,5 49,5 110,47 98,09
Os valores das respostas de tensão cisalhante (Tabela 13) variaram de 18,09 a 218 kPa
para a condição não inundada e de 29,05 a 174,15 kPa para a condição inundada. A menor
tensão cisalhante foi verifica nos resíduos com menor peso específico (10 kN/m³), maior
umidade de moldagem (65%) e menor tensão normal (50 kPa), tanto para condição inundada,
quanto para não inundada. Já a maior tensão cisalhante foi verificada nos resíduos com maior
peso específico (15 kN/m³), menor umidade de moldagem (34%) e maior tensão normal (500
kPa).
179
Na Tabela 14 são apresentados os valores das tensões cisalhantes obtidas de acordo com
as tensões normais aplicadas, pesos específicos e umidades de moldagem dos resíduos com 1
ano de aterrados na condição não inundada e inundada. Esses resultados foram selecionados
obedecendo os mesmos critérios estabelecidos para os resíduos recém aterrados.
Tabela 14 – Valores de tensão cisalhante dos resíduos com 1 de aterramento para deformação
horizontal de 10%
Tensão cisalhante
Fatores (kPa)
Experimento Tensão Peso
Umidade Não
Normal Específico Inundado
(%) inundado
(kPa) (kN/m³)
1 300 15 65 223,32 198,08
2 300 10 65 163,32 179,99
3 300 10 34 189,51 193,8
4 300 15 34 250,93 204,75
5 50 15 34 75,7 79,52
6 50 10 65 42,85 27,14
7 50 15 65 79,04 69,52
8 50 10 34 34,28 35,23
9 (C) 175 12,5 49,5 136,65 130,46
10 (C) 175 12,5 49,5 142,84 127,13
11 (C) 175 12,5 49,5 128,56 112,85
Os valores das respostas de tensão cisalhante (Tabela 14) variaram de 34,28 a 223,32
kPa para a condição não inundada e de 27,14 a 198,08 kPa para a condição não inundada.
Quando comparado os valores das respostas de tensão cisalhante dos resíduos com 1 ano de
idade (Tabela 14) com os resíduos recém aterrados (Tabela 13) verifica-se um aumento de 89%
para a menor tensão registrada e de 2% para a maior, na condição não inundada e na condição
inundada há uma variação de -7% e 14%, para o menor e maior valor de tensão cisalhante.
Conforme verificado nas Figuras 13 e 14, o primeiro ano de aterramento dos resíduos
proporcionou um aumento na tensão cisalhante.
Shariatmadari et al. (2014) estudaram o efeito do envelhecimento no comportamento da
resistência ao cisalhamento de resíduos sólidos urbanos no aterro Kahrizak, o maior do Irã, e
constataram que os resíduos frescos apresentaram o menor valor de resistência ao cisalhamento
quando comparado com resíduos mais velhos (5, 14 e 21 anos). Ainda não existe um consenso
na literatura da evolução da resistência ao cisalhamento dos resíduos ao longo do tempo de
180
Tabela 15 – Valores de tensão cisalhante dos resíduos com 2 anos de aterramento para
deformação horizontal de 10%
Tensão cisalhante
Fatores
(kPa)
Experimento Tensão Peso
Umidade Não
Normal Específico Inundado
(%) inundado
(kPa) (kN/m³)
1 300 15 65 196,18 162,37
2 300 10 65 163,8 88,56
3 300 10 34 179,51 155,23
4 300 15 34 225,7 190,94
5 50 15 34 81,42 60,47
6 50 10 65 42,28 21,43
7 50 15 65 51,9 38,57
8 50 10 34 11,9 31,9
9 (C) 175 12,5 49,5 104,75 101,9
10 (C) 175 12,5 49,5 106,18 103,33
11 (C) 175 12,5 49,5 114,75 105,71
A menor tensão cisalhante, para os resíduos com 2 anos de aterramento (Tabela 14), foi
verificada nos resíduos com menor peso específico (10 kN/m³), menor umidade de moldagem
181
(34%) e tensão normal (50 kPa), para condição não inundada. Para condição inundada, a menor
tensão cisalhante foi verificada nos resíduos com menor peso específico (10 kN/m³), maior
umidade de moldagem (65%) e menor tensão normal (50 kPa). A maior tensão cisalhante foi
verificada nos resíduos com maior peso específico (15 kN/m³), menor umidade de moldagem
(34%) e maior tensão normal (500 kPa), para a condição não inundada. Para a condição
inundada a maior tensão cisalhante foi verificada nos resíduos com maior peso específico (15
kN/m³), menor umidade de moldagem (34%) e maior tensão normal (500 kPa).
A Tabela 16 apresenta a estatística descritiva dos resultados obtidos, por meio do
planejamento fatorial, para determinação da tensão cisalhante dos resíduos aterrados.
Tamanho amostral 11 11 11 11 11 11
Valor mínimo 18 29 34 27 12 21
Figura 89 – Gráfico de Pareto dos efeitos padronizados para o planejamento fatorial dos
resíduos recém aterrados, ensaiados na condição não inundada (a) e inundada (b)
Umidade Umidade
Tensão normal com peso específico Tensão normal com peso específico
a p=,05 b p=,05
Para condição inundada, por meio do gráfico de Pareto dos efeitos padronizados (Figura
89b), é possível constatar que a tensão normal exerce maior influência sobre os resultados de
tensão cisalhante e os demais fatores não exercem influência significativa. Porém, é possível
verificar na Figura 70 que a maior tensão cisalhante, à uma deformação horizontal de 10%, foi
obtida em resíduos com maior peso específico, menor umidade de moldagem e maior tensão
normal. E a menor tensão cisalhante, à uma deformação horizontal de 10%, foi obtida em
183
resíduos com menor peso específico, maior umidade de moldagem e menor tensão normal.
Provavelmente estes fatores não foram estatisticamente significativos devido ao intervalo de
confiança (95%) e as respostas (tensão cisalhante) apresentarem valores próximos para
configuração distintas.
Conforme resultados apresentados na Figura 89, a condição de inundação dos resíduos
recém aterrados (0 ano), anula, estatisticamente, os efeitos da umidade e peso específico para
tensão cisalhante a uma deformação horizontal de 10%.
Na Figura 90, que apresenta o gráfico de Pareto dos efeitos padronizados dos resíduos
com 1 ano de aterrados, sob condição não inundada (Figura 90a) e inundada (Figura 90b). É
possível constatar, para um nível de significância de 5%, que a tensão normal e o peso
específico exercem maior influência sobre os resultados de tensão cisalhante para as condições
não inundada e inundada de ensaio. Sendo assim, é possível dizer que esses dois fatores são
significativos para o processo, mas não excluem demais variáveis intervenientes ao processo.
Figura 90 – Gráfico de Pareto dos efeitos padronizados para o planejamento fatorial dos
resíduos com 1 ano de aterrados, ensaiados na condição não inundada (a) e inundada (b)
a p=,05 b p=,05
O gráfico de Pareto dos efeitos padronizados (Figura 91) indica, para um nível de
significância de 5%, que a tensão normal, peso específico e a interação da umidade com peso
específico exercem maior influência sobre os resultados de tensão cisalhante dos resíduos com
2 anos de aterrados para a condição não inundada.
184
Figura 91 - Gráfico de Pareto dos efeitos padronizados para o planejamento fatorial dos
resíduos com 2 ano de aterrados, ensaiados na condição não inundada (a) e inundada (b)
a p=,05 b p=,05
Para a condição inunda, Figura 91b, é possível constatar que todos os fatores têm
influência no processo, sendo que a tensão normal, peso específico e umidade exercem,
isoladamente, maior influência na tensão cisalhante para o modelo obtido. É possível dizer que
todos os fatores são significativos para o processo, com efeito menos expressivo para a
interação entre o peso específico e a umidade dos resíduos com 2 anos de idade.
Ao analisar o gráfico de Pareto dos efeitos padronizados de todas as configurações
ensaiadas é possível constatar que a tensão normal exerce maior influência na resistência ao
cisalhamento dos resíduos com 0, 1 e 2 anos de idade, independentemente da condição de
inundação, seguido do peso específico dos resíduos.
As Tabelas 17 e 18 apresentam a análise de variância (Anova) realizada para os
resultados dos planejamentos fatoriais dos resíduos recém aterrados (0 ano) na condição não
inundada e inundada, respectivamente. O coeficiente de determinação (R²) do modelo na
condição não inundado foi de 0,997 para um nível de significância de 5%, indicando que 99,7%
da variabilidade do processo pode ser explicada pelo modelo gerado, e de 0,908, para um nível
de significância de 5%, para o modelo na condição inundada, indicando que 90,8% da
variabilidade do processo pode ser explicada pelo modelo gerado.
Verifica-se na Tabela 17 que o p-valor observado para a tensão normal, peso específico,
umidade e a interação do peso específico com umidade foi menor que o nível de significância
(0,05), para a condição não inundada. Então, pode-se inferir que esses fatores afetam
significativamente a resposta tensão cisalhante, conforme já indicado pelo gráfico de Pareto
(Figura 62). Para a condição inundada (Tabela 18), apenas a tensão normal possuiu um p-valor
menor que o nível de significância (0,05), indicando que apenas esta variável afeta
significativamente a resposta tensão cisalhante, conforme já indicado no gráfico de Pareto.
A análise de variância (Anova) realizada para o resultado do planejamento fatorial para
determinação da tensão cisalhante dos resíduos com 1 ano de idade na condição não inundada
e inundada é apresentada nas Tabelas 19 e 20, respectivamente. O coeficiente de determinação
(R²) do modelo não inundado foi de 0,997 para um nível de significância de 5%, indicando que
99,7% da variabilidade do processo pode ser explicada pelo modelo gerado, e de 0,995, para
um nível de significância de 5%, para o modelo na condição inundada, indicando que 99,5% da
variabilidade do processo pode ser explicada pelo modelo gerado.
186
Como o p-valor, observado nas Tabelas 19 e 20, para a tensão normal e peso específico
foi menor que o nível de significância (0,05), pode-se inferir que esses fatores afetam
significativamente a resposta tensão cisalhante na condição não inundada e inundada, conforme
constatado, também, na Figura 90. Os modelos gerados para determinação da tensão cisalhante
dos resíduos com 1 ano de aterrados, assim como aqueles gerados para os resíduos recém
aterrados, podem explicar mais de 90% da variabilidade do processo.
Nas Tabelas 21 e 22 é apresentada a análise de variância (Anova) realizada para os
resultados dos planejamentos fatoriais dos resíduos com 2 anos de aterrados na condição não
inundada e inundada, respectivamente.
187
O p-valor de todos os itens analisados para condição inundada (Tabela 22) foi menor
que o nível de significância, pode-se afirmar que todas as parcelas do modelo influenciam no
processo, com nível de significância de 5%. Já para condição não inundada (Tabela 21), apenas
as variáveis, tensão normal, peso específico e a interação do peso específico com umidade
possuem significância estatística, a um nível de 5%, no modelo que determina a tensão
cisalhante dos resíduos.
Os modelos desenvolvidos, com um nível de significância de 5%, para determinação da
tensão cisalhante dos resíduos com 2 anos de aterrados apresentaram um R² de 0,988, para
condição não inundada, e de 0,983 para a condição inundada, indicando que 98,8% e 98,3% da
variabilidade do processo pode ser explicada pelo modelo gerado para condição não inundada
e inundada, respectivamente.
188
Figura 92 – Superfície resposta para tensão cisalhante dos resíduos recém aterrados para a
condição não inundada em função da tensão normal e peso específico
189
Figura 93 – Superfície resposta para tensão cisalhante dos resíduos recém aterrados para a
condição inundada em função da tensão normal e peso específico
Verifica-se nas Figuras 92 e 93 que o aumento no nível dos fatores tensão normal e peso
específico promove o aumento da tensão cisalhante. Pela inclinação das superfícies resposta, a
tensão normal possui maior influência na tensão cisalhante para ambas as condições (não
inundada e inundada), como também já observado na Figura 70 e na Tabela 17. O peso
específico possui maior influência na resistência ao cisalhamento dos resíduos na condição não
inundada quando comparada com a condição inundada, corroborando com os dados
apresentados na Tabela 17, onde foi constatado que está variável não apresenta significância
estatística.
Os materiais constituintes dos resíduos recém aterrados possuem alta compressibilidade.
Mesmo com o controle inicial do peso específico para realização do ensaio de resistência ao
cisalhamento, estes resíduos sofrem variações volumétricas, que implicam na variabilidade do
peso específico, podendo, esta característica, reduzir a influência da variável (peso específico)
na resposta (tensão cisalhante). Bray et al. (2009), Bareither et al. (2012) e Feng et al. (2017)
também constataram que o peso específico dos resíduos possui pouca influência na resistência
ao cisalhamento.
190
Estas características induzem que resíduos em camadas mais profundas possuem maior
resistência ao cisalhamento, devido a tensão de confinamento que está submetido e,
consequentemente, ao aumento do peso específico, no qual para Zekkos et al. (2006) é possível
assumir uma tendência de aumento do peso específico e tensão normal com a profundidade em
aterros sanitários.
Nas Figuras 94 e 95 são apresentadas as superfícies respostas do planejamento fatorial
do modelo para determinação da tensão cisalhante dos resíduos recém aterrados sob condição
não inundada e inundada, respectivamente, envolvendo as variáveis tensão normal e umidade,
com peso específico fixada em 12,5 kN/m³ (ponto central).
Figura 94 – Superfície resposta para tensão cisalhante dos resíduos recém aterrados para a
condição não inundada em função da tensão normal e umidade
191
Figura 95 – Superfície resposta para tensão cisalhante dos resíduos recém aterrados para a
condição inundada em função da tensão normal e umidade
A partir das representações gráficas dos modelos apresentados nas Figuras 94 e 95,
percebe-se a influência da tensão normal na tensão cisalhante. Este comportamento também foi
observado nas superfícies resposta apresentadas nas Figuras 92 e 93, quanto maior a tensão
normal, maior será a tensão cisalhante, para os intervalos investigados nesse estudo. A variação
da umidade, só promove alterações significativas, estatisticamente, na variável resposta (tensão
cisalhante) quando a amostra se encontra na condição não inundada. Para os resíduos sob
inundação a umidade possui pouca ou nenhuma influência. Este comportamento já era
esperado, pois durante a realização dos ensaios na condição inundada, as amostras encontram-
se saturadas.
Nas Figuras 96 e 97 são apresentadas as superfícies de respostas do planejamento
fatorial do modelo para determinação da tensão cisalhante dos resíduos recém aterrados sob
condição não inundada e inundada, respectivamente, respectivamente, envolvendo as variáveis
peso específico e umidade, com tensão normal fixada em 175 kPa (ponto central).
192
Figura 96 – Superfície resposta para tensão cisalhante dos resíduos recém aterrados para a
condição não inundada em função da umidade e peso específico
Figura 97 – Superfície resposta para tensão cisalhante dos resíduos recém aterrados para a
condição inundada em função da umidade e peso específico
193
As envoltórias de ruptura foram obtidas a partir das Equações 20, 21, 22, 23, 24 e 25
que descrevem os modelos resultantes do planejamento fatorial para cada cenário investigado.
O Quadro 10 apresenta um resumo do cenário correspondente a cada Equação.
Sendo:
τ = tensão cisalhante (kPa);
σ = tensão normal (kPa);
γ = peso específico (kN/m³);
w = umidade de moldagem (%).
Figura 98 – Gráfico da probabilidade normal dos resíduos dos modelos para predição da
tensão cisalhante na condição não inundada dos resíduos com 0 (a), 1 (b) e 2 (c) anos de idade
e na condição inundada dos resíduos com 0 (d), 1 (e) e 2 (f) anos de idade
3,0 3,0
2,5 2,5
,99 ,99
2,0 2,0
,95 ,95
1,5 1,5
Valor esperado da normal
-1,5 -1,5
,05 ,05
-2,0 -2,0
,01 ,01
-2,5 -2,5
-3,0 -3,0
a -4 -3 -2 -1 0
Resíduo
1 2 3 4
d -50 -40 -30 -20 -10
Resíduo
0 10 20 30
3,0 3,0
2,5 2,5
,99 ,99
2,0 2,0
,95 ,95
1,5 1,5
Valor esperado da normal
1,0 1,0
,75 ,75
0,5 0,5
,55 ,55
0,0 0,0
,35 ,35
-0,5 -0,5
-1,5 -1,5
,05 ,05
-2,0 -2,0
,01 ,01
-2,5 -2,5
-3,0 -3,0
b -8 -6 -4 -2 0 2
Resíduo
4 6 8 10 12
e -14 -12 -10 -8 -6 -4 -2
Resíduo
0 2 4 6 8 10
3,0 3,0
2,5 2,5
,99 ,99
2,0 2,0
,95 ,95
1,5 1,5
Valor esperado da normal
1,0 1,0
Valor normal esperado
,75 ,75
0,5 0,5
,55 ,55
0,0 0,0
,35 ,35
-0,5 -0,5
-1,5 -1,5
,05 ,05
-2,0 -2,0
,01 ,01
-2,5 -2,5
-3,0 -3,0
c -15 -10 -5 0
Resíduo
5 10 15
f -12 -10 -8 -6 -4 -2 0
Resíduo
2 4 6 8 10 12
é o modelo correspondente aos resíduos com 1 ano de idade, sob condição não inundada. De
forma geral, todos os modelos apresentam um bom ajuste e podem ser utilizados para
determinação da tensão cisalhante dos resíduos sólidos urbanos.
200
160
180
140
160
aterrados (kPa)
120
aterrados (kPa)
140
120 100
100 80
80
60
60
40
40
20
20
0 0
a d
0 50 100 150 200 250 0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200
Valores experimentais da tensão cisalhante dos resíduos recém aterrados (kPa) Valores experimentais da tensão cisalhante dos resíduos recém aterrados (kPa)
300 240
Valores previstos da tensão cisalhante dos resíduos com 1 ano de
220
250 200
180
200 160
aterrados (kPa)
aterrados (kPa)
140
150 120
100
100 80
60
50 40
20
0 0
250 220
Valores previstos da tensão cisalhante dos resíduos com 2 anos de
200
180
200
160
140
aterrados (kPa)
aterrados (kPa)
150
120
100
100
80
60
50 40
20
0 0
c f
0 50 100 150 200 250 0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200 220
Valores experimentais da tensão cisalhante dos resíduos com 2 anos de aterrados (kPa) Valores experimentais da tensão cisalhante dos resíduos recém aterrados (kPa)
198
Dessa forma, as tensões cisalhantes dos RSU foram determinadas por meio das
Equações 20, 21, 22, 23, 24 e 25. Sendo possível, também, a determinação dos interceptos
coesivos e ângulos de atrito. A Tabela 24 apresenta a estatística descritiva das tensões
cisalhantes dos resíduos aterrados obtidos por meio da modelagem constitutiva.
De forma geral, verifica-se na Tabela 24, que a tensão cisalhante aumenta conforme
avanço do envelhecimento dos resíduos e que a condição não saturada proporciona uma maior
resistência ao cisalhamento dos resíduos sólidos urbanos. Os resíduos com 1 ano de aterramento
apresentaram uma maior resistência e menos com uma redução da resistência ao cisalhamento
dos resíduos com 2 anos de aterros, eles ainda possuíram valores superiores aos resíduos recém
aterrados.
Tamanho amostral 12 24 24 22 20 24
Ao analisar a estatística descritiva dos interceptos coesivos dos resíduos sólidos, Tabela
25, verifica-se coeficientes de variação superiores a 35%, com amplitudes variando de 19,9 a
51,1 kPa., com amplitudes variando de 19,9 a 51,1 kPa. Na literatura também é verificada uma
dispersão desse parâmetro semelhante a obtida nesse estudo. Sivakumar Babu et al. (2014)
encontraram desvios padrão da ordem de 3,8 – 24 kPa, com coeficientes de variação de 57 –
80%, respectivamente, para o intercepto coesivo dos RSU. Em estudo realizado por Datta e
200
Figura 100 – Variabilidade do intercepto coesivo dos RSU na condição não saturada (a) e
saturada (b)
recém aterrados. Vale destacar, que o intercepto coesivo na condição não saturada, de forma
geral, é superior aos dos resíduos na condição saturada.
A Tabela 26 apresenta a estatística descritiva dos ângulos de atrito dos resíduos
aterrados obtidos por meio das envoltórias de rupturas.
Tamanho amostral 12 24 24 22 20 24
Ao analisar a estatística descritiva dos ângulos de atrito dos resíduos sólidos, Tabela 26,
verifica-se que este é o parâmetro de resistência ao cisalhamento dos resíduos que possui menor
variação, uma vez que apresentam coeficientes de variação inferiores a 20%. As maiores
variações foram registradas quando os resíduos estavam em condição de inundação (saturados).
Daciolo (2020) também verificou que o ângulo de atrito possui um menor coeficiente de
variação quando comparado com o intercepto coesivo.
Na literatura é verificada uma dispersão desse parâmetro semelhante a obtida nesse
estudo. Norberto et al. (2020) realizou um estudo estatístico dos parâmetros de resistência ao
cisalhamento coletados da literatura entre os anos de 1978 e 2018 constatou que o ângulo de
atrito variou entre 0 e 48,1°. Daciolo (2020), que também realizou um estudo estatístico de 296
ângulos de atrito dos RSU, verificou uma variação desse parâmetro entre 0 e 66°. Os autores
203
atribuem essa dispersão a método empregado para realização do ensaio, à natureza fibrosa dos
resíduos e sua alteração com o envelhecimento. Porém, com todas essas variáveis controladas,
ainda é possível observar uma variabilidade desse parâmetro. Por isso, os modelos
desenvolvidos nesse estudo consideraram a idade de aterramento dos resíduos, condição de
saturação, peso específico, umidade e tensões impostas aos resíduos.
O gráfico do tipo boxplot, apresentado na Figura 101, possibilita verificar graficamente
os valores dos ângulos de atrito dos resíduos em função da idade de aterramento e da condição
de saturação.
Figura 101 – Variabilidade do ângulo de atrito dos RSU na condição não saturada (a) e
saturada (b)
b
204
Figura 102 – Envoltórias de ruptura dos resíduos com 0 (a), 1 (b) e 2 (c) anos de idade na
condição não inundada e com 0 (d), 1 (e) e 2 (f) anos de idade na condição inundada
a d
300
200
150
100
50
0
0 50 100 150 200 250 300 350
Tensão normal (kPa)
300
250
Tensão cisalhante (kPa)
200
150
100
50
0
0 50 100 150 200 250 300 350
Tensão normal (kPa)
Verifica-se na Figura 102 que a inundação dos corpos de prova diminuiu as tensões
cisalhantes das amostras, reduzindo, portanto, a influência que o peso específico exerce na
resistência ao cisalhamento, como pode ser observado na Tabela 27.
Não 10 65 28,4 0
0
inundado 15 34 29,7 45,4
206
10 65 25,9 19,1
1
15 34 35,2 41
10 65 28,0 7,0
2
15 34 31,9 41,6
10 65 14,4 20,6
0
15 34 27,7 8,6
10 65 31,8 0
Inundado 1
15 34 27,0 52,9
10 65 17,6 2,0
2
15 34 29,7 28,4
Com o banco de dados (Tabela 28) obtido por meio das Equações 20, 21, 22, 23, 24 e 25,
construiu-se as RNA para determinação da tensão cisalhante dos resíduos sólidos urbanos com
0, 1 e 2 anos de aterrados. O desenvolvimento e validação dessas RNA substitui a utilização
das 6 equações desenvolvidas na modelagem constitutiva. Dessa forma, a RNA permite a
207
obtenção rápida e direta da tensão cisalhante dos resíduos aterrados, levando em consideração
a variação da idade, peso específico, umidade, tensão normal aplicada e inundação ou não dos
resíduos.
Tabela 29 – Banco de dados do intercepto coesivo e ângulo de atrito dos resíduos aterrados
Idade Condição de Peso específico Umidade de Intercepto Ângulo de
(ano) inundação¹ (kN/m³) moldagem (%) coesivo (kPa) atrito (°)
0 0 10 34 2,9997 28,31135
0 0 11 34 11,508 28,60363
0 0 12 34 20,016 28,89431
0 0 13 34 28,524 29,18336
⁞ ⁞ ⁞ ⁞ ⁞ ⁞
2 1 11 65 6,6817 18,96272
208
2 1 12 65 11,31 20,2591
2 1 13 65 15,938 21,53419
2 1 14 65 20,567 22,78728
2 1 15 65 25,195 24,02253
¹ Condição de inundação: 0 = não inundado; 1 = inundado.
Para obter a melhor estrutura de RNA para estimar a tensão cisalhante e os parâmetros
de resistência (intercepto coesivo e ângulo de atrito), várias estruturas de feedforward
backpropagation com três camadas e diferentes números de neurônios na camada oculta foram
investigadas. Nesta investigação, trainbr e trainlm foram usados como função de treinamento e
tansig, logsig e purelin como função de ativação (transferência). Os modelos apropriados foram
selecionados com base no MSE, MAE, RMSE, E, R2 e R. As estruturas e os resultados do
treinamento, teste e validação das RNA, assim como a avaliação do desempenho das RNA, são
apresentados no Apêndice E.
Os valores dos coeficientes de correlação (R) de todas as RNA treinadas, testadas e
validadas são apresentados na Figura 103. Dessa forma é possível verificar o quão bem as saídas
previstas pelas RNA correspondem as saídas reais. As melhores RNA são aquelas que possuem
R próximo ou igual a 1.
209
Figura 103 – Coeficiente de correlação dos dados observados e estimados para: (a) tensão
cisalhante; (b) intercepto coesivo; (c) ângulo de atrito; (d) intercepto coesivo e ângulo de
atrito
1,2
Coeficinete de correlação
0,8
0,6
0,4
0,2
0
0 3 6 9 12 15 18 21 24 27 30 33 36 39 42 45 48 51 54
Código da rede neural artificial
0,8
0,6
0,4
0,2
0
0 3 6 9 12 15 18 21 24 27 30 33 36 39 42 45 48 51 54
Código da rede neural artificial
1,2
Coeficiente de correlação
0,8
0,6
0,4
0,2
0
0 3 6 9 12 15 18 21 24 27 30 33 36 39 42 45 48 51 54
Código da rede neural artifical
1
0,8
0,6
0,4
0,2
0
0 3 6 9 12 15 18 21 24 27 30 33 36 39 42 45 48 51 54
Código da rede neural artificial
Figura 104 – Desempenho das RNA por meio do Coeficiente de determinação e eficiência
para os parâmetros: (a) tensão cisalhante; (b) intercepto coesivo; (c) ângulo de atrito; (d)
intercepto coesivo e ângulo de atrito
1,5
Valor do indicador estatístico
1
0,5
0
-0,5
-1
-1,5
-2
0 3 6 9 12 15 18 21 24 27 30 33 36 39 42 45 48 51 54
Código da rede neural artificial
R² E
a
213
1,5
Valor do indicador estatístico
0,5
-0,5
-1
-1,5
-2
0 3 6 9 12 15 18 21 24 27 30 33 36 39 42 45 48 51 54
Código da rede neural artificial
R² E
b
1,5
Valor do indicador estatístico
0,5
-0,5
-1
-1,5
-2
0 3 6 9 12 15 18 21 24 27 30 33 36 39 42 45 48 51 54
Código da rede neural artificial
R² E
c
1,5
Valor do indicador estatístico
1
0,5
0
-0,5
-1
-1,5
-2
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55
Código da rede neural artificial
Na Figura 104 é possível observar que várias RNA possuem um bom desempenho para
determinação da tensão cisalhante, intercepto coesivo e ângulo de atrito dos resíduos, pois
apresentaram coeficiente de determinação e de eficiência próximo ou igual a 1.
Para avaliação do desempenho das RNA, vários pesquisadores dividiram os valores de
R2 em três faixas, em que R2 > 0,9 indica desempenho de modelagem satisfatório, R2 entre 0,8
e 0,9 implica desempenho de modelagem razoável e R2 < 0,8 significa desempenho de
modelagem insatisfatório (COULIBALY e BALDWIN, 2005; XU et al., 2021). Das RNA
desenvolvidas nesse estudo, 24 RNA (44%) apresentaram um desempenho satisfatório para
predição da tensão cisalhante dos RSU, outras 22 RNA (41%), apresentaram um desempenho
satisfatório para predição do intercepto coesivo e 18 RNA (33%) apresentaram um desempenho
satisfatório para predição do ângulo de atrito. Quando analisadas as RNA para predição do
intercepto coesivo e ângulo de atrito de forma simultânea, 18 RNA (33%) apresentaram um
desempenho satisfatório para predição do intercepto coesivo e 14 RNA (26%) apresentaram um
desempenho satisfatório para predição do ângulo de atrito. No Apêndice Dé possível identificar
a arquitetura, o algoritmo e as funções utilizadas nas RNA que possuíram R2 > 0,9.
Apesar de 82 RNA apresentarem um R2 adequado para predição das variáveis
dependentes, Legate e McCabe Júnior (1999) relata que este índice é insensível a diferenças
aditivas e proporcionais entre as simulações e observações do modelo. Rold et al. (2021)
utilizaram a RNA para codificar imagens de satélites e fornecer informações socioeconômicas
e ambientais. Segundo os autores, o método fornece, com precisão, previsões com super
resolução. Entretanto, o R2 variou de 0,06 a 0,52 na análise do desempenho das RNA.
Para Bagheri et al. (2015), um alto valor de R2 não significa, necessariamente, uma RNA
perfeita. Altos valores de R2 podem ser obtidos mesmo quando os valores simulados pelo
modelo diferem consideravelmente dos valores previstos experimentalmente. As limitações do
coeficiente de correlação, conforme Legate e McCabe Júnior (1999), estão bem documentadas
em Willmott (1981), Kessler e Neas (1994), Legates e Davis (1997). Porém, tais medidas ainda
são utilizadas para avaliar a performance de uma RNA. Xu et al. (2021), por exemplo,
identificou que R2 foi aplicado em mais de 90% dos 177 artigos que analisaram sobre RNA e
RSU publicados entre 2010 e 2020. O coeficiente de determinação pode continuar sendo
utilizado, mas é necessário a análise de outros indicadores para avaliar o desempenho de RNA.
Por isso, ao analisar o coeficiente de eficiência (E), Figura 104, o número de RNA
consideradas ideais para predição das variáveis dependentes reduz, quando comparado com o
215
Figura 105 – Desempenho das RNA quanto ao erro de predição para: (a) tensão cisalhante; (b)
intercepto coesivo; (c) ângulo de atrito; (d) intercepto coesivo e ângulo de atrito
60
Valor do indicar estatístico
50
40
30
20
10
0
0 3 6 9 12 15 18 21 24 27 30 33 36 39 42 45 48 51 54
Código da rede neural artificial
MAE RMSE
a
216
60
Valor do indicar estatístico
50
40
30
20
10
0
0 3 6 9 12 15 18 21 24 27 30 33 36 39 42 45 48 51 54
Código da rede neural artificial
MAE RMSE
b
60
Valor do indicar estatístico
50
40
30
20
10
0
0 3 6 9 12 15 18 21 24 27 30 33 36 39 42 45 48 51 54
Código da rede neural artificial
MAE RMSE
c
35
Valor do indicar estatístico
30
25
20
15
10
5
0
0 3 6 9 12 15 18 21 24 27 30 33 36 39 42 45 48 51 54
Código da rede neural artificial
Verifica-se na Figura 105 que várias RNA apresentaram valores do MAE e RMSE
próximos a zero para predição das variáveis tensão cisalhante, intercepto coesivo e ângulo de
217
atrito. As RNA com códigos 22, 40, 49 e 51 apresentaram o menor valor do MAE e RMSE para
predição de tensão cisalhante. As RNA de códigos 24 e 42 também apresentaram o menor valor
do MAE (0,0025), porém não foram selecionadas, pois o valor da RMSE foi 0,003 e 0,0031,
respectivamente, enquanto o valor do RMSE das RNA selecionadas foi 0,0029. Todas as RNA
selecionadas também apresentaram um bom desempenho quando analisados os coeficientes de
correlação, determinação e eficiência.
Com intuito de selecionar apenas uma RNA para predição da tensão cisalhante, foi
analisado o MSE e apenas a RNA de código 51 apresentou o valor de 8,21x10-6, o menor de
todas as RNA desenvolvidas para predição da tensão cisalhante. Logo, a RNA com o código
51 apresentou os melhores resultados em comparação as outras RNA.
De acordo com o MAE e a RMSE, b, a RNA de código 40 mostra os melhores resultados
para predição do intercepto coesivo dos resíduos aterrados em comparação as outras RNA. Esta
RNA também apresentou um bom desempenho quando analisados os coeficientes de
correlação, determinação e eficiência, assim com o menor erro quadrático médio.
Para predição do ângulo de atrito, a RNA com o código 22 e 24 apresentaram o menor
valor do MAE e RMSE, conforme ilustrado na c. Porém a RNA com código 22 foi a que
apresentou um menor MSE. Essa RNA também foi selecionada quando analisados os
coeficientes de correlação, determinação e eficiência. Por isso, a RNA com código 22 tem
melhor resultado na predição do ângulo de atrito dos RSU aterrados em comparação com as
outras RNA.
Conforme o valor do MAE, RMSE e MSE (d), a RNA de código 40 foi a que possuiu o
menor valor em todos esses indicadores, configurando-se como a melhor RNA para predição
do intercepto coesivo e ângulo de atrito de forma simultânea. Essa RNA também foi selecionada
quando analisados os coeficientes de correlação, determinação e eficiência.
Na Tabela 30 é possível verificar os códigos das RNA com melhor desempenho para
predição das variáveis dependentes e suas respectivas arquiteturas. Os parâmetros de
treinamento e o desempenho estão descritos no Apêndice E.
218
De forma geral, observa-se na Tabela 30 que o algoritmo trainlm possuiu uma melhor
performance na modelagem da tensão cisalhante e o trainbr para modelagem do intercepto
coesivo e/ou do ângulo de atrito dos resíduos. A melhor performance, quanto ao tipo de
algoritmo, provavelmente está associada ao número de informações que compõem cada banco
de dados. O banco de dados da tensão cisalhante dos resíduos possuiu 6006 respostas, já o
banco de dados do intercepto coesivo e do ângulo de atrito possuiu 126 respostas para cada
variável.
O número de neurônios nas melhores RNA variou de 10 a 15, não sendo selecionada
nenhuma RNA com 5 neurônios. Quanto maior o número de neurônios na camada oculta,
maiores as interações, porém o tempo de processamento dos dados pode ser alto, inviabilizado
a utilização da RNA para predição das variáveis dependentes.
A melhor função de ativação em todas as camadas de saída das RNA foi a purelin, já na
camada oculta a tansig foi a que apresentou um melhor desempenho na RNA para predição da
tensão cisalhante dos resíduos e a logsig para a predição do intercepto coesivo e do ângulo de
atrito.
Na Figura 106 é possível observar as estruturas e os parâmetros de avaliação das RNA
selecionadas para predição das variáveis dependentes.
219
Figura 106 – Estruturas e os parâmetros de avaliação das RNA: (a) tensão cisalhante; (b)
intercepto coesivo; (c) ângulo de atrito; (d) intercepto coesivo e ângulo de atrito
a b
d
c
220
Observa-se na Figura 106 que todos os treinamentos foram interrompidos após 1000
interações e com uma performance (erro quadrático médio) próximo de zero. Na Figura 107 é
possível observar a redução do erro e o melhor desempenho obtido nas RNA.
Figura 107 – Performance das RNA escolhidas para predição da: (a) tensão cisalhante; (b)
intercepto coesivo; (c) ângulo de atrito; (d) intercepto coesivo e ângulo de atrito
a b
c d
Verifica-se na Figura 107 que o erro diminui ao longo dos períodos de treinamentos
sucessivos. Na análise da RNA de código 51, para predição da tensão cisalhante (Figura 107a),
nos primeiros treinamentos já se observa que erro se aproxima de 0. Nas RNA selecionadas
para predição do intercepto coesivo e ângulo de atrito, o menor erro quadrático médio só é
obtido no término das interações. A diferença na performance dessas RNA pode estar associada
ao número de elementos que compõem o banco de dados.
As Figuras 108, 109, 110 e 111 apresentam a análise de regressão da saída das RNA e
a entrada para treinamento, validação, teste e conjunto de dados gerais. A regressão entre a
entrada da rede e a função alvo para predição da tensão cisalhante, intercepto coesivo e ângulo
221
de atrito apresentaram coeficientes de regressão superiores a 0,99. Isso mostra que as RNA
selecionadas têm um poder superior a 99% para determinar o valor das variáveis dependentes,
conformo configurações analisadas. Todos os algoritmos de aprendizagem mostraram que a
saída da RNA está em estreita concordância com o valor real das variáveis dependentes.
Figura 108 – Regressões da RNA selecionada para predidição da tensão cisalhantes dos
resíduos aterrados
222
Figura 109 – Regressões da RNA selecionada para predidição do intercepto coesivo dos
resíduos aterrados
223
Figura 110 – Regressões da RNA selecionada para predidição do ângulo de atrito dos resíduos
aterrados
224
Figura 111 - Regressões da RNA selecionada para predidição do intercepto coesivo e ângulo
de atrito dos resíduos aterrados
Figura 112 – Parâmetros utilizados na análise de estabilidade do ASCG: (a) corte A-B; (b)
corte C-D
Daciolo et al. (2019), verificou, em um estudo bibliográfico, que o intercepto coesivo dos RSU
apresentou um coeficiente de variação de 85% e o ângulo de atrito de 47%. Ainda conforme os
autores, nos resultados obtidos apenas pelo ensaio de cisalhamento direto, o coeficiente de
variação reduziu para 72% e 45%, respectivamente. Mesmo com elevada variabilidade dos
parâmetros de resistência, projeto de aterros sanitários são elaborados com dados da literatura.
Este cenário evidencia a necessidade de obter parâmetros de resistência condizentes com as
características dos resíduos, sendo os modelos não constitutivos uma alternativa viável para
obtenção dessas variáveis.
Os resultados obtidos na análise de estabilidade de taludes para as seções do ASCG
permitiram avaliar a segurança do Aterro Sanitário em dois cenários distintos, um com o maior
nível piezométrico monitorado na Célula e, o outro sem a presença de líquidos no interior da
Célula. Os fatores de segurança obtidos estão descritos na Tabela 32.
FS = 2,88
B-X
FS = 3,05
232
C-X
FS = 3,16 FS = 2,18
D-X
FS = 2,56 FS = 2,15
233
5. CONCLUSÕES
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APÊNDICE A
APÊNDICE B
mar/19
mar/20
nov/18
mai/19
nov/19
mai/20
nov/20
ago/18
ago/19
ago/20
dez/18
dez/19
dez/20
out/18
out/19
out/20
abr/19
abr/20
jun/19
jun/20
fev/19
fev/20
jan/19
jan/20
set/18
set/19
set/20
jul/19
jul/20
0
-500
Recalque (mm)
-1000
-1500
-2000
-2500
D 01 D 02 D 03 D 05 D 06 D 07 D 08 D 09
D 12 D 13 D 14 D 15 D 16 D 17 D 18 D 19
D 20 D 24 D 25 D 26 D27 E 01 E 02 E 03
E 06 E 07 E 11 E 12 D 10 D 21 D 22 D 23
E 04 E 08 E 09 E 13 E 14 E 15 E 16 E 17
E 18 E 19 E 20 E 21 E 22 E 23 E 24 E 25
Figura 114 – Velocidades dos deslocamentos verticais monitorados pelos marcos topográficos
4
Velocidade (mm/dia)
0
ago/18
set/18
out/18
nov/18
fev/19
mar/19
mai/19
jun/19
jul/19
ago/19
set/19
out/19
nov/19
fev/20
mar/20
mai/20
jun/20
jul/20
ago/20
set/20
out/20
nov/20
dez/18
jan/19
abr/19
dez/19
jan/20
abr/20
dez/20
Tempo (mês/ano)
D 01 D 02 D 03 D 05 D 06 D 07 D 08 D 09
D 12 D 13 D 14 D 15 D 16 D 17 D 18 D 19
D 20 D 24 D 25 D 26 D27 E 01 E 02 E 03
E 06 E 07 E 11 E 12 D 10 D 21 D 22 D 23
E 04 E 08 E 09 E 13 E 14 E 15 E 16 E 17
E 18 E 19 E 20 E 21 E 22 E 23 E 24 E 25
270
APÊNDICE C
Figura 115 - Superfície resposta para tensão cisalhante dos resíduos com 1 ano de idade para a
condição não inundada (a) e inundada (b) em função da tensão normal e peso específico, com
umidade fixada em 49,5%
Figura 116 – Superfície resposta para tensão cisalhante dos resíduos com 1 ano de idade para
a condição não inundada (a) e não inundada (b) em função da tensão normal e umidade, com
peso específico fixado em 12,5 kN/m³
271
Figura 117 – Superfície resposta para tensão cisalhante dos resíduos com 1 ano de idade para
a condição não inundada (a) e inundada (b) em função da umidade e peso específico, com
tensão formal fixada em 175 kPa
Figura 118 – Superfície resposta para tensão cisalhante dos resíduos com 2 anos de idade para
a condição não inundada (a) e inundada (b) em função da tensão normal e peso específico,
com umidade fixada em 49,5%
272
Figura 119 – Superfície resposta para tensão cisalhante dos resíduos com 2 anos de idade para
a condição não inundada (a) e não inundada (b) em função da tensão normal e umidade, com
peso específico fixado em 12,5 kN/m³
Figura 120 – Superfície resposta para tensão cisalhante dos resíduos com 2 anos de idade para
a condição não inundada (a) e inundada (b) em função da umidade e peso específico, com
tensão formal fixada em 175 kPa
273
APÊNDICE D
Tabela 35 - Coeficiente de regressão para determinação da tensão cisalhante dos resíduos com
1 ano aterrados para condição não inundada
Estimativa por
Coeficiente
Erro t Calc intervalo (95%)
Fatores de p-valor
puro 2 gl Lim. Lim.
regressão
inf Sup
Média -90,1534 48,19560 -1,8706 0,202316 -297,52 117,2155
Tensão normal 0,5860 0,12195 4,80536 0,040682 0,061 1,1107
Peso específico 7,9495 3,67632 2,16234 0,163097 -7,868 23,7674
Umidade 0,6724 0,86434 0,77796 0,518014 -3,047 4,3914
Tensão normal com
0,0175 0,00811 2,16091 0,163262 -0,017 0,0524
peso específico
Tensão normal com
-0,0042 0,00131 -3,2414 0,083440 -0,010 0,0014
umidade
Peso específico com
-0,0215 0,06538 -0,3286 0,773689 -0,303 0,2598
umidade
APÊNDICE E
Quadro 12 – Resumo das RNA modeladas para predição da tensão cisalhante dos RSU aterrados
Feed forward BP Coeficiente de correlação Status do treinamento
Checagens
Algoritmo Código Arquitetura Função de adaptação Performance
Treinamento Teste Validação de validação Gradiente Épocas Mu
(Entrada-Oculta-Saída) (Oculta-Saída) (MSE)
1 4-5-1 Logsig-Logsig 0,855 0,848 - - 1,58E+03 0,55 495 5,00E+10
2 4-5-1 PureLin-Logsig 0,759 0,745 - - 1,76E+03 0,9 44 5,00E+10
3 4-5-1 Tansig-Logsig 0,851 0,869 - - 1,62E+03 1,06 231 5,00E+10
4 4-5-1 Logsig-Purelin 1 1 - - 3,46E-04 0,113 1000 5,00E+01
Trainbr
Quadro 13 – Resumo das RNA modeladas para predição do intercepto coesivo dos RSU aterrados
Feed forward BP Coeficiente de correlação Status do treinamento
Checagens
Algoritmo Código Arquitetura Função de adaptação Performance
Treinamento Teste Validação de validação Gradiente Épocas Mu
(Entrada-Oculta-Saída) (Oculta-Saída) (MSE)
1 4-5-1 Logsig-Logsig 0,822 0,7465 - - 158 2,6 876 5,00E+10
2 4-5-1 PureLin-Logsig 0,571 0,5 - - 170 3,57 113 5,00E+10
3 4-5-1 Tansig-Logsig 0,829 0,75 - - 171 6,43 325 5,00E+10
4 4-5-1 Logsig-Purelin 0,998 0,998 - - 0,411 0,0182 212 5,00E+10
Trainbr
Tr
280
Quadro 14 – Resumo das RNA modeladas para predição do ângulo de atrito dos RSU aterrados
Checagens
Feed forward BP Status do treinamento
Coeficiente de correlação de validação
Algoritmo Código
Arquitetura Função de adaptação Performance
Treinamento Teste Validação Gradiente Épocas Mu
(Entrada-Oculta-Saída) (Oculta-Saída) (MSE)
1 4-5-1 Logsig-Logsig 0,855 0,925 - - 6,65 0,197 334 5,00E+10
2 4-5-1 PureLin-Logsig 0,709 0,687 - - 10,5 0,494 1000 5,00E+06
3 4-5-1 Tansig-Logsig 0,728 0,626 - - 9,49 0,587 322 5,00E+10
4 4-5-1 Logsig-Purelin 1 0,999 - - 0,000128 0,00000269 591 5,00E+10
Trainbr
Tr
283
Quadro 15 – Resumo das RNA modeladas para predição do intercepto coesivo e do ângulo de atrito de forma simultânea dos RSU aterrados
Checagens de
Feed forward BP Status do treinamento
Coeficiente de correlação validação
Algoritmo Código
Arquitetura Função de adaptação Performance
Treinamento Teste Validação Gradiente Épocas Mu
(Entrada-Oculta-Saída) (Oculta-Saída) (MSE)
1 4-5-2 Logsig-Logsig 0,672 0,733 - - 83,5 1,24 1000 5,00E-01
2 4-5-2 PureLin-Logsig 0,527 0,336 - - 89,2 1,91 53 5,00E+10
3 4-5-2 Tansig-Logsig 0,704 0,682 - - 84,2 2,29 267 5,00E+10
4 4-5-2 Logsig-Purelin 0,992 0,986 - - 1,6 0,0272 121 5,00E+10
Trainbr
Tr
286
-
20 1783,8 42,2348 34,046 0,5762 0,1972 187,3558 13,6878 11,6254 0,3229 10,421 3,2282 2,3577 0,498 0,459
0,1189
21 1589,2 39,865 27,1127 0,7301 0,2848 163,606 12,7909 10,4038 0,6311 0,0229 10,3883 3,2231 2,33 0,5112 0,4607
22 8,4157E-06 0,0029 0,0025 1 1 0,0012 0,0353 0,0133 1 1 1,9718E-06 0,0014 0,0011 1 1
23 531,1589 23,0469 18,9445 0,8626 0,761 86,3787 9,294 7,5522 0,4896 0,4841 7,9781 2,8245 2,1054 0,6008 0,5858
24 8,9454E-06 0,003 0,0025 1 1 0,0018 0,0428 0,0195 1 1 2,0442E-06 0,0014 0,001 1 1
25 0,0075 0,0866 0,049 1 1 0,7711 0,8781 0,6141 0,9954 0,9954 7,5958 2,756 2,012 0,6061 0,6057
26 307,3994 17,5328 13,5391 0,8617 0,8617 92,9865 9,643 7,7827 0,5013 0,4447 7,5697 2,7513 2,0178 0,6071 0,607
27 0,0071 0,0844 0,0488 1 1 163,4919 12,7864 10,6649 0,4914 0,0236 7,6869 2,7725 1,9194 0,6031 0,6009
2,7647E-
28 1587,8 39,8468 26,8376 0,7291 0,2855 202,7744 14,2399 12,1583 -0,211 6,3406 2,518 1,1991 0,7991 0,6708
06
-
29 1784,1 42,2383 33,9955 0,5649 0,1971 187,341 13,6873 11,6192 0,294 10,4215 3,2282 2,3598 0,502 0,459
0,1188
-
30 2040,4 45,1709 37,4279 0,2112 0,0818 457,5392 21,3902 18,0602 0,0164 14,2586 3,7761 2,931 0,3725 0,2598
1,7324
31 0,00000974 0,0031 0,0026 1 1 1,0162 1,0081 0,7355 0,994 0,9939 0,0975 0,3122 0,2435 0,9954 0,9949
32 305,2535 17,4715 13,6412 0,8626 0,8626 87,7454 9,3673 7,4747 0,478 0,476 7,6929 2,7736 2,0492 0,6014 0,6006
33 9,6412E-06 0,0031 0,0026 1 1 4,0053 2,0013 1,3736 0,9761 0,9761 7,1043E-06 0,0027 0,0016 1 1
34 0,0185 0,1359 0,081 1 1 8,7914 2,965 2,2536 0,9496 0,9475 0,0707 0,2658 0,1668 0,9965 0,9963
35 307,4436 17,5341 13,5237 0,8617 0,8616 131,3032 11,4588 9,0661 0,3123 0,2159 8,0921 2,8447 2,0179 0,5952 0,5799
36 0,8156 0,9031 0,641 0,9996 0,9996 3,6978 1,923 0,998 0,9785 0,9779 0,005 0,0709 0,0401 0,9997 0,9997
37 1589,7 39,871 27,239 0,7289 0,2846 160,6562 12,675 10,1828 0,6994 0,0406 6,9706 2,6402 1,5036 0,7575 0,6381
-
38 1783,8 42,2354 34,0806 0,5755 0,1972 188,4906 13,7292 11,7581 0,3735 10,5469 3,2476 2,3626 0,5125 0,4525
0,1257
39 1589,5 39,8688 27,1852 0,7298 0,2847 161,3617 12,7028 10,2345 0,7069 0,0363 10,3128 3,2114 2,3327 0,4982 0,4646
40 8,2851E-06 0,0029 0,0025 1 1 0,000029117 0,0054 0,002 1 1 7,7031 2,7754 2,0284 0,6013 0,6001
41 305,349 17,4742 13,5958 0,8626 0,8626 86,5704 9,3043 7,563 0,4911 0,483 7,8741 2,8061 2,0821 0,5974 0,5912
289
42 8,7141E-06 0,003 0,0025 1 1 0,000037007 0,0061 0,0023 1 1 7,7869 2,7905 2,0977 0,6037 0,5958
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44 307,4892 17,5354 13,4881 0,8618 0,8616 83,161 9,1193 7,5575 0,5049 0,5034 7,5876 2,7546 2,0144 0,6075 0,6061
45 0,0154 0,124 0,0626 1 1 0,5376 0,7332 0,4231 0,9969 0,9968 7,599 2,7566 1,9887 0,6063 0,6055
- -
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0,0676 0,2087
-
47 1783,8 42,2349 34,0078 0,5721 0,1972 192,3518 13,8691 11,8618 0,3193 10,4314 3,2298 2,3582 0,5028 0,4585
0,1487
-
48 1587,8 39,8475 26,9105 0,7291 0,2854 239,2714 15,4684 12,7834 0,0149 6,0662 2,463 1,1037 0,8228 0,6851
0,4289
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50 305,284 17,4724 13,5433 0,8626 0,8626 86,5264 9,302 7,6545 0,4912 0,4833 8,1657 2,8576 2,1292 0,5938 0,5761
51 8,2132E-06 0,0029 0,0025 1 1 0,7906 0,8891 0,392 0,9954 0,9953 0,0704 0,2654 0,181 0,9965 0,9963
52 0,0044 0,0665 0,0349 1 1 1,3132 1,146 0,6916 0,9927 0,9922 0,0312 0,1766 0,1083 0,9984 0,9984
53 307,4602 17,5345 13,5094 0,8617 0,8616 83,4001 9,1324 7,549 0,5043 0,5019 7,6373 2,7636 2,0093 0,6039 0,6035
54 0,0038 0,062 0,0329 1 1 1,9966 1,413 0,9125 0,9883 0,9881 0,0236 0,1535 0,0901 0,9988 0,9988
290
23 85,0768 9,2237 7,5426 0,4923 0,4919 7,7637 2,7863 2,0724 0,6017 0,597
24 0,0025 0,0496 0,0386 1 1 0,0034 0,0584 0,0483 0,9998 0,9998
25 1,0937 1,0458 0,6478 0,9937 0,9935 0,146 0,3821 0,2917 0,9926 0,9924
26 83,718 9,1498 7,4759 0,5061 0,5 7,748 2,7835 1,9566 0,6028 0,5978
27 0,8104 0,9002 0,5286 0,9953 0,9952 0,2631 0,5129 0,3703 0,9864 0,9863
28 167,0934 12,9265 10,6486 0,5359 0,0021 11,0786 3,3284 2,4573 0,4495 0,4249
29 831,5222 28,8361 24,2526 0,046 -3,9659 85,2118 9,231 8,1431 0,3644 -3,4236
1,5935E-
30 202,7744 14,2399 12,1583 -0,211 14,4063 3,7956 2,9811 0,3374 0,2521
31
31 2,1678 1,4724 0,7173 0,988 0,9871 0,3781 0,6149 0,4018 0,9808 0,9804
32 85,6381 9,2541 7,5915 0,492 0,4886 8,3342 2,8869 2,1468 0,5985 0,5673
33 0,0902 0,3004 0,2101 0,9995 0,9995 0,0706 0,2657 0,1918 0,9964 0,9963
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35 658,0516 25,6525 20,0726 0,0354 -2,9299 96,9469 9,8462 2,1709 0,6098 -4,0328
36 571,2603 23,9011 20,1473 0,007 -2,4116 73,6706 8,5832 6,9302 0,0635 -2,8244
37 158,4409 12,5873 10,0114 0,6915 0,0538 9,9673 3,1571 2,1485 0,5455 0,4826
38 186,1086 13,6422 11,4967 0,3188 -0,1114 10,6614 3,2652 2,363 0,5124 0,4465
39 158,4826 12,589 9,9464 0,6956 0,0535 9,1137 3,0189 2,0338 0,6882 0,5269
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42 0,000076632 0,0088 0,0056 1 1 0,00003305 0,0057 0,0044 1 1
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292
47 205,8045 14,3459 12,2319 0,1936 -0,2291 24,564 4,9562 4,3731 0,003 -0,2752
1,5935E-
48 202,7744 14,2399 12,1583 -0,211 14,8228 3,85 3,0707 0,2919 0,2305
31
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2,4435E-
52 579,9563 24,0823 20,3103 -2,4635 1,3597 1,1661 0,4494 0,9531 0,9294
31
53 85,5801 9,251 7,6896 0,4903 0,4889 7,6238 2,7611 1,9916 0,6042 0,6042
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293
ANEXO I
294
295
296