Sistemas Lineares: 1 Introdução
Sistemas Lineares: 1 Introdução
Sistemas Lineares: 1 Introdução
⃝
c Departamento de Computação, Universidade Federal de Ouro Preto.
Sistemas Lineares
Marcone Jamilson Freitas Souza, Departamento de Computação, Instituto de Ciências
Exatas e Biológicas, Universidade Federal de Ouro Preto, 35400-000 Ouro Preto, MG, Bra-
sil. Homepage: http://www.decom.ufop.br/prof/marcone, E-mail: [email protected]
1 Introdução
Propõe-se, neste capítulo, apresentar métodos numéricos para resolver sistemas lineares
postos na forma:
a11 x1 + a12 x2 + ··· + a1n xn = b1
a21 x1 + a22 x2 + ··· + a2n xn = b2
. . . . . . . . . (1.1)
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
an1 x1 + an2 x2 + ··· + ann xn = bn
ou, equivalentemente:
∑
n
aij xj = bi ∀i = 1, 2, . . . , n (1.2)
j=1
isto é, resolveremos sistemas lineares nos quais o número de equações é igual ao de incóg-
nitas.
Ax = b, em que:
Na forma matricial, um sistema linear é representado por
a11 a12 · · · a1n
a21 a22 · · · a2n
A= . . . . −→ Matriz dos coecientes
.. .
.
.
.
.
.
an1 an2 · · · ann
x1
x2
x = . −→ Vetor das variáveis (ou incógnitas)
..
x
n
b1
b2
b = . −→ Vetor dos termos independentes
.
.
bn
É comum também representar o sistema Ax = b pela sua matriz aumentada, isto é,
por:
a11 a12 ··· a1n | b1
a21 a22 ··· a2n | b2
[A | b] = . . . . . −→ Matriz aumentada do sistema
.. .
.
.
.
.
. | ..
3 Sistemas Triangulares
3.1 Sistema Triangular Superior
Denomina-se sistema triangular superior a todo sistema Ax = b em que aij = 0 ∀j < i,
ou seja, a sistemas da forma:
a11 x1 + a12 x2 + a13 x3 + ··· + a1n xn = b1
a22 x2 + a23 x3 + ··· + a2n xn = b2
a33 x3 + ··· + a3n xn = b3 (3.3)
. . .
.
.
.
.
.
.
ann xn = bn
Tais sistemas são resolvidos por substituições retroativas, por meio de equações da
forma:
∑
n
bi − aij xj
j=i+1
xi = ∀i = n, . . . , 1 (3.4)
aii
∑
n
(a) Se bi − aij xj = 0 =⇒ Sistema compatível e indeterminado
j=i+1
∑
n
(b) Se bi − aij xj ̸= 0 =⇒ Sistema incompatível
j=i+1
3.1.2 Algoritmo
Apresentamos, pela Figura 1, o pseudocódigo do procedimento que resolve um sistema
triangular superior por intermédio de substituições retroativas. Supõe-se neste procedi-
mento que aii ̸= 0 ∀i, isto é, que os elementos diagonais da matriz dos coecientes do
sistema são todos não-nulos.
Sistemas Lineares 3
procedimento SubstituicaoRetroativa(n,A,b,x);
1 xn ← bn /ann ;
2 parai de n − 1 até 1 passo −1 faça
3 SOMA ← 0;
4 para j de i + 1 até n faça
5 SOMA ← SOMA + aij × xj ;
6 m-para;
7 xi ← (bi − SOMA)/aii ;
8 m-para;
9 Retorne x; { Retorne o vetor solução }
m SubstituicaoRetroativa ;
a11 x1 = b1
a21 x1 + a22 x2 = b2
. . . . . (3.5)
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
an1 x1 + an2 x2 + ··· + ann xn = bn
∑
i−1
bi − aij xj
j=1
xi = ∀i = 1, . . . , n (3.6)
aii
∑
i−1
(a) Se bi − aij xj = 0 =⇒ Sistema compatível e indeterminado
j=1
∑
i−1
(b) Se bi − aij xj ̸= 0 =⇒ Sistema incompatível
j=1
3.2.2 Algoritmo
O pseudocódigo do procedimento para resolver um sistema triangular inferior por meio
de substituições progressivas é mostrado na Figura 2. Supõe-se neste procedimento que
aii ̸= 0 ∀i.
4 Marcone Jamilson Freitas Souza
procedimento SubstituicaoProgressiva(n,A,b,x);
1 para i 1 até n faça
de
2 SOMA ← 0;
3 para j de 1 até i − 1 faça
4 SOMA ← SOMA + aij × xj ;
5 m-para;
6 xi ← (bi − SOMA)/aii ;
7 m-para;
8 Retorne x; { Retorne o vetor solução }
m SubstituicaoProgressiva ;
4 Métodos Numéricos
Os métodos numéricos destinados a resolver sistemas lineares são divididos em dois grupos:
os métodos diretos e os métodos iterativos.
5 Métodos Diretos
São métodos que produzem a solução exata de um sistema, a menos de erros de arredon-
damento, depois de um número nito de operações aritméticas.
Com esses métodos é possível determinar, a priori, o tempo máximo gasto para resolver
um sistema, uma vez que sua complexidade é conhecida.
A clássica Regra de Cramer, ensinada no ensino médio, é um método direto. En-
tretanto, pode-se mostrar que o número máximo de operações aritméticas envolvidas na
resolução de um sistema n×n por este método é (n + 1)(n!n − 1) + n. Assim, um
computador que efetua uma operação aritmética em 10−8 segundos gastaria cerca de 36
dias para resolver um sistema de ordem n = 15. A complexidade exponencial desse
algoritmo inviabiliza sua utilização em casos práticos.
O estudo de métodos mais ecientes torna-se, portanto, necessário, uma vez que, em
geral, os casos práticos exigem a resolução de sistemas lineares de porte mais elevado.
Apresentaremos, a seguir, métodos mais ecientes, cuja complexidade é polinomial,
para resolver sistemas lineares. Antes, porém, introduziremos uma base teórica necessária
à apresentação de tais métodos.
7x1 + 4x2 − 2x3 + x4 = 14, 308
3x1 + 11x2 + 4x3 − 5x4 = 25, 744
(5.7)
−2x1 + 3x2 + 8x3 + 2x4 = −3, 872
10x1 − 5x2 + x3 − 3x4 = 36, 334
A resolução deste sistema pelo método de Gauss envolve duas fases distintas. A pri-
meira, chamada de fase de eliminação, consiste em transformar o sistema dado em um
sistema triangular superior. A segunda, chamada de fase de substituição, consiste em
resolver o sistema triangular superior através de substituições retroativas.
Para aplicar a primeira fase, utilizemos o quadro abaixo, onde cada grupo de linhas re-
presenta um passo (ou estágio) da obtenção do sistema triangular superior. Trabalharemos
com 3 dígitos com arredondamento na apresentação em ponto utuante.
2, 700
0, 001
x̄ =
0, 894
−2, 810
R = b − Ax̄ (5.10)
14, 308 7 4 −2 1 2, 700 0, 002
25, 744 3 11 4 −5 0, 001 0, 007
R = b − Ax̄ =
−3, 872 − −2
=
3 8 2 0, 894 −0, 007
36, 334 10 −5 1 −3 −2, 810 0, 015
ε = max |ri | = max {|0, 002|, |0, 007|, | − 0, 007|, |0, 015|} = 0, 015
1≤i≤n 1≤i≤4
5.1.3 Algoritmo
Apresentamos, a seguir, o pseudocódigo do procedimento relativo à fase de eliminação
do método de Gauss. À ele se segue o procedimento de substituição retroativa descrito
à página 3. Esse algoritmo supõe que os elementos diagonais (akk ) são não-nulos. Na
hipótese de existir algum akk = 0, esse elemento deve ser colocado em outra posição fora
da diagonal principal, por intermédio de operações de troca de linhas e/ou colunas.
procedimento Eliminacao(n,A,b);
1 para k de 1 até n − 1 faça
2 para i de k + 1 até n faça
3 m ← −aik /akk ;
4 para j de k + 1 até n faça
5 aij ← aij + m × akj ;
6 m-para;
7 bi ← bi + m × bk ;
8 m-para;
9 m-para;
10 Retorne A e b; { Retorne a matriz aumentada modicada }
m Eliminacao ;
5.1.4 Complexidade
Para avaliar o número máximo de operações aritméticas envolvidas na resolução de um
sistema n×n pelo método de Gauss, mostra-se, pela Tabela 2, a complexidade de pior
caso das fases de eliminação e substituição.
Na Tabela 2 são usados os seguintes resultados, dados pelas Equações (5.11) e (5.12):
∑
N
N (N − 1)
i= (5.11)
i=1
2
∑
N
N (N + 1)(2N + 1)
i2 = (5.12)
i=1
6
3
Como se observa, o método de Gauss tem complexidade polinomial O(n ). Um com-
−8
putador que faz uma operação aritmética em 10 segundos gastaria 0, 0000257 segundos
para resolver um sistema 15×15 (Um tempo innitamente inferior àquele gasto pela Regra
de Cramer, conforme dito à página 4).
(k−1)
(k) aik
mik = − (k−1)
∀i = k + 1, · · · , n (5.13)
akk
(k−1)
Observe que o pivô do k -ésimo passo da fase de eliminação é sempre akk , isto é, o
(k−1) (k−1)
elemento diagonal da matriz A do sistema transformado A x = b(k−1) obtido no
passo anterior.
Desvantagens do método de Gauss:
(i) Não pode ser aplicado quando o pivô for nulo (akk = 0);
(ii) Os erros de arredondamento cometidos durante um passo da obtenção do sistema
triangular se propagam para os passos seguintes, podendo comprometer a validade
da solução obtida.
Para contornar o problema (i) e minimizar o problema (ii), a ideia é usar uma estratégia
de pivoteamento, conforme a seguir se descreve.
Sistemas Lineares 9
(i) No início da etapa k da etapa de eliminação, escolher para pivô o maior elemento,
em módulo, dentre os coecientes:
(k−1)
aik ; i = k, k + 1, · · · , n
{
0, 0002x1 + 2x2 = 5
(5.14)
2x1 + 2x2 = 6
{
0, 0002x1 + 2x2 = 5
(5.15)
−19998x2 = −49994
cuja solução é:
[ ]
0, 0001
x̄ =
2, 4999
[ ] [ ] [ ]
5 4, 9998 0, 0002
R = b − Ax̄ = − =
6 5 1
{
2x1 + 2x2 = 6
(5.16)
1, 9998x2 = 4, 9994
cuja solução é:
[ ]
0, 5001
x̄ =
2, 4999
[ ] [ ] [ ]
5 4, 9999 0, 0001
R = b − Ax̄ = − =
6 6, 0018 −0, 0018
(k−1)
Pivô = a(k−1)
rs = max |aij |;
∀ i,j≥k
Por esta técnica, uma matriz A é decomposta como o produto de duas matrizes L e
U, sendo L uma matriz triangular inferior e U, uma matriz triangular superior, isto é:
A = L.U
Ax = (L.U )x = L.(U x) = b
Fazendo-seU x = y podemos resolver o sistema Ax = b em dois passos: Primeiramente,
resolvemos o sistema triangular inferiorLy = b, obtendo ȳ como solução. Em seguida, com
a solução ȳ obtida no passo anterior, resolvemos o sistema triangular superior U x = ȳ ,
obtendo x̄ como solução. Em outras palavras, decompomos a resolução de um sistema
linear na resolução de dois sistemas triangulares: o primeiro, triangular inferior, que se
resolve facilmente por substituições progressivas (basta aplicar o Algoritmo da Fig. 2,
considerando elementos diagonais unitários) e o segundo, triangular superior, que se resolve
por substituições retroativas (Algoritmo da Fig. 1).
Antes de descrevermos o método da decomposição LU com detalhes, apresentaremos
alguns conceitos necessários à sua fundamentação.
(0) (1)
Sejam A ,(0)A ,(0) A(2) , M (0)
eM
(1)
matrizes denidas conforme a seguir:
(0)
a11 a12 a13
(0)
= a(0) a22 a2n −→ Matriz A original
(0)
A(0) 21
(0) (0) (0)
a31 a32 a33
Sistemas Lineares 13
M (0) A(0) A
Logo:
(2)
A = M (1) M (0) A
Premultiplicando ambos os membros da expressão anterior pela inversa de M (1) M (0) ,
obtemos:
(M(1)
M (0) )−1 A(2) = (M (1) M (0) )−1 M (1) M (0) A = IA = A
| {z }
I
(0) −1
∴ A = (M (1)
= (M (0) )−1 (M (1) )−1 A(2)
M ) A (2)
(ii) L é uma matriz triangular inferior, cujos elementos da diagonal principal são unitários
e abaixo de cada elemento diagonal lkk = 1 encontram-se os multiplicadores da etapa
k da fase de eliminação com sinal trocado.
(ii) Fazer U x = y;
3x1 + 2x2 + 4x3 = 1
x1 + x2 + 2x3 = 2 (5.17)
4x1 + 3x2 − 2x3 = 3
(a) Obtenção da fatoração LU da matriz dos coecientes:
Logo:
3 2 4
......
1 0 0 3 2 4
.
A(2) = .
1/3 . 1/3 2/3
=⇒ L = 1/3 1 0
e U = 0 1/3 2/3
......... 4/3 1 1 0 0 −8
.
.
4/3 1 . −8
(b) Resolução do sistema Ly = b:
Sistemas Lineares 15
y1 + = 1 ⇒ y1 = 1
(1/3)y1 + y2 = 2 ⇒ y2 = 5/3
(4/3)y1 + y2 + y3 = 3 ⇒ y3 = 0
[ ]t
∴ ȳ = 1 5/3 0
u1j = a1j ∀j = 1, · · · , n
∑
i−1
uij = aij − lik ukj ∀j = i, · · · , n; i ≥ 2
k=1
li1 =
ai1
∀i = 2, · · · , n
u11 ( )
∑
j−1
lij =
1
ujj aij − lik ukj ∀i = j + 1, · · · , n; j ≥ 2
k=1
3x1 − 4x2 + x3 = 9
x1 + 2x2 + 2x3 = 3 (5.18)
4x1 − 3x3 = −2
(a) Fatoração LU :
Passo k = 1:
A matriz dos coecientes e o vetor de permutação originais são:
3 −4 1 1
A(0) = 1 2 2 ; P (0) = 2
4 0 −3 3
Dado que na coluna k=1 o maior elemento está na terceira linha, devemos permutar
as linhas L1 e L3 , o que resultará na seguinte matriz dos coecientes transformada:
16 Marcone Jamilson Freitas Souza
(1)′ . (1)′
. (1)
L2 3/4 . -4 13/4 L2 ← L3 1
(1)′ . (1)′
. (1)
L3 m32 = −2/(−4) = 1/2 1/4 . 2 11/4 L3 ← L2 2
. ′ ′
(2) . (2) (1) (1)
L3 1/4 -1/2 . 35/8 L3 ← (1/2) × L2 + L3 2
4 0 −3 3
= 1 2 = 2
′ ′
A(0) 2 ; P (0)
3 −4 1 1
Passo k = 2:
Analogamente, dado que na coluna k = 2, o maior elemento está na terceira linha,
devemos permutar as linhas L2 e L3 , o que resultará na seguinte matriz dos coecientes
transformada:
4 0 −3 3
= 3/4 −4 13/4 = 1
′ ′
A(1) ; P (1)
1/4 2 11/4 2
4 2 14 l11 0 0 l11 l21 l31
2 17 −5 = l21 l22 0 0 l22 l32
14 −5 83 l31 l32 l33 0 0 l33
| {z } | {z }| {z }
A L Lt
Resolvendo-o, obtemos:
√ √
l11
= a11 = 4 = 2 l21 = al11
21
= 22 = 1 l31 = a31
= 14
=7
√ √ l11 2
= a22 − l21
l22 2 = 17 − 1 = 4
= l22 (a32 − l31 l21 ) = 14 (−5 − 7 × 1) = −3
l32 1
√ √
= a33 − l31
l33 2 − l2 =
32 83 − 72 − (−3)2 = 5
Conhecido o fator L, resolvamos, agora, o sistema triangular inferior Ly = b:
2 0 0 y1 14
1 4 0 y2 = −101
7 −3 5 y3 155
[ ]t
cuja solução é: ȳ = 7 −27 5
O passo seguinte, agora, é resolver o sistema triangular superior U x = Lt x = ȳ :
2 1 7 x1 7
0 4 −3 x2 = −27
0 0 5 x3 5
cuja solução é:
[ ]t
x̄ = 3 −6 1
em que:
(0)
(0)
x̄1 δ1
(0) (0)
x̄2 δ2
x̄(0) =
..
; ∆(0) =
..
. .
(0) (0)
x̄n δn
( )
A x̄(0) + ∆(0) = b
Ax̄(0) + A∆(0) = b
A∆(0) = b − Ax̄(0) = R(0)
∴ A∆(0) = R(0) , isto é, para determinarmos a parcela de correção ∆(0) basta resol-
(0)
vermos um sistema linear em que A é a matriz dos coecientes do sistema original e R
(0)
é o resíduo produzido pela solução x̄ .
Com isso, obteremos:
(0) (0)
x̄1 + δ1
(0) (0)
x̄2 + δ2
x̄(1) = x̄(0) + ∆(0) =
.
.
.
(0) (0)
x̄n + δn
Evidentemente, x̄(1)
também pode não ser uma boa solução. Neste caso, procura-
(2) (2)
remos uma solução ainda melhor x̄ , na forma: x̄ = x̄(1) + ∆(1) , sendo a parcela de
(1) (1)
correção ∆ obtida resolvendo-se o sistema A∆ = R(1) , no qual R(1) é o o resíduo
(1)
produzido pela solução aproximada x̄ .
Este processo é repetido até que uma das seguintes condições seja satisfeita:
(k)
(i) max |ri | < ε, sendo ε a precisão estabelecida;
1≤i≤n
Obs.: Dado o fato de que no processo de renamento de uma solução devem ser resolvidos
vários sistemasA∆(k) = R(k) , com k = 1, 2, · · · , ITERMAX, sendo a matriz dos coeci-
entes a mesma, o método mais indicado é o da decomposição LU com pivotação parcial.
Exercício
Resolva o sistema (5.21), a seguir, pelo Método da Decomposição LU retendo durante os
(k)
cálculos 3 casas decimais (com truncamento). Rene a solução até que max |ri | < 0, 010
1≤i≤n
ou k>2 iterações.
3x1 + 5x2 + 3x3 = 5
7x1 − 3x2 + x3 = 10, 416 (5.21)
2x1 + 4x2 − 5x3 = 19, 652
(a) Obtenção da fatoração LU da matriz dos coecientes:
A tabela 8 apresenta os passos relativos à fatoração LU , sem pivotação, da matriz dos
coecientes do sistema (5.21).
Desta tabela resulta a seguinte matriz:
3 5 3
........
.
A(2) =
2, 333 .
. −14, 665 −5, 999
..............
.
.
0, 666 −0, 045 . −7, 267
1 0 0 3 5 3
∴ L = 2, 333 1 0 e U = 0 −14, 665 −5, 999
0, 666 −0, 045 1 0 0 −7, 267
20 Marcone Jamilson Freitas Souza
.
(1) . (1) (0) (0)
L2 2,333 . -14,665 -5,999 L2 ← −2, 333 × L1 + L2
.
(1) . (1) (0) (0)
L3 m32 = −(0, 670)/(−14, 665) = 0, 045 0,666 . 0,670 -6,998 L3 ← −0, 666 × L1 + L3
.
(2) . (2) (1) (1)
L3 0,666 -0,045 . -7,267 L3 ← 0, 045 × L2 + L3
(k)
Como max |ri | = 0, 014 > 0, 010 devemos prosseguir com o renamento da solução
1≤i≤3
atual x̄(0) .
(c) Determinação de x̄(1) :
Como x̄(1) = x̄(0) + ∆(0) ,
então para calcular a nova solução x̄
(1)
, devemos obter a
(0) (0)
parcela ∆ , a qual é obtida resolvendo-se o sistema linear A∆ = R(0) .
(c.1) Resolução do sistema Ly = R(0) :
y1 + = 0 ⇒ y1 = 0
2, 333y1 + y2 = −0, 012 ⇒ y2 = −0, 012
0, 666y1 − 0, 045y2 + y3 = −0, 014 ⇒ y3 = −0, 014
[ ]t
∴ ȳ = 0 −0, 012 −0, 014
Sistemas Lineares 21
[ ]t
(0) (0) (0)
(i) Escolher uma aproximação inicial x(0) = x1 x2 ··· xn arbitrária;
(ii) Gerar aproximações sucessivas x(k) a partir de x(k−1) com base nas seguintes equações
de iteração:
(k)
Sinteticamente, cada componente xi é determinada com base na seguinte equação:
∑
n
(k−1)
bi − aij xj
j=1
(k) j̸=i
xi = ∀i = 1, 2, · · · , n (5.23)
aii
Na forma matricial:
0 −a12 /a11 −a13 /a11 ··· −a1n /a11
−a21 /a22 0 −a23 /a22 ··· −a2n /a22
J = . . . . . (5.25)
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
−an1 /ann −an2 /ann −an3 /ann ··· 0
b1 /a11
b2 /a22
D= . (5.26)
.
.
bn /ann
(k) (k−1)
(1) max |xi − xi | < ε, em que ε é a tolerância permitida;
1≤i≤n
Exemplo:
Resolver o sistema (5.27), a seguir, pelo método de Jacobi usando como aproximação
[ ]t (k) (k−1)
e como critério de parada max |xi − xi | < 0, 001 ou
(0)
inicial x = 0 0 0
1≤i≤3
k > 10 iterações:
10x1 + 2x2 + x3 = 7
x1 − 15x2 + x3 = 32 (5.27)
2x1 + 3x2 + 10x3 = 6
(a) Equações de iteração:
(k−1) (k−1)
(k) 7 − 2x2 − x3
x1 =
10
(k−1) (k−1)
(k) 32 − x1 − x3
x2 =
−15
(k−1) (k−1)
(k) 6 − 2x1 − 3x2
x3 =
10
{
0 se i = j
fij =
−aij /ajj se i ≠ j
Se x̄ é a solução de Ax = b então podemos escrever:
x̄ = J x̄ + D (5.28)
24 Marcone Jamilson Freitas Souza
( )
x(k) − x̄ = J x(k−1) − x̄ ∀k = 1, 2, · · · (5.30)
(k)
e1 = 0e1
(k−1)
+ f12 e2
(k−1)
+ ··· f1n en
(k−1)
e(k) =
(k−1)
f21 e1 + 0e2
(k−1)
+ ···
(k−1)
f2n en
2
(5.32)
...
.
.
.
.
.
.
.
.
. . . .
(k) (k−1) (k−1) (k−1)
en = fn1 e1 + fn2 en + ··· 0en
Aplicando propriedades de módulo sobre as equações do sistema (5.32), obtemos:
∑
n
(k) (k−1)
∑
n
(k−1)
∑
n ∑
n
|ei | ≤ e1 |fi1 | + e2 |fi2 | + · · · + e(k−1)
n |fin | (5.33)
i=1 i=1 i=1 i=1
i̸=1 i̸=2 i̸=n
Teorema: (Critério das colunas) É condição suciente para que o Método de Jacobi
convirja que:
∑
n
|ajj | > |aij | ∀j = 1, 2, · · · , n (5.34)
i=1
i̸=j
O critério das colunas estabelece que se os elementos diagonais forem dominantes nas
colunas, então o Método de Jacobi converge, independentemente da solução inicial.
Provaremos, agora, esse fato.
Prova:
∑
n
|ajj | > |aij | ∀j = 1, 2, · · · , n
i=1
i̸=j
podemos escrever:
∑n
aij
<1 ∀j = 1, 2, · · · , n
i=1
ajj
i̸=j
Sistemas Lineares 25
∑
n
∴ |fij | < 1 ∀j = 1, 2, · · · , n
i=1
i̸=j
∑
n
Seja |fij | < L < 1 ∀j = 1, 2, · · · , n. Levando esse resultado na expressão (5.33),
i=1
i̸=j
obtemos:
∑
n
(k)
∑
n
(k−1)
ei ≤L ei ∀k = 1, 2, · · ·
i=1 i=1
∑
n
(1)
∑
n
(0)
ei ≤L ei
i=1 i=1
∑
n
(2)
∑
n
(1)
∑
n
(0)
ei ≤L ei ≤ L2 ei
i=1 i=1 i=1
.
.
.
∑
n
(k)
∑
n
(0)
ei ≤ Lk ei
i=1 i=1
∑
n
(k)
lim ei →0
k→∞
i=1
(k) (k)
Do resultado anterior extraímos que ei → 0 =⇒ ei → 0 ∀i = 1, 2, · · · , n. Assim,
(k) (k) (k)
como ei = xi − x̄i ∀i, obteremos: xi → x̄i =⇒ x (k)
→ x̄, conforme queríamos
demonstrar.
Sinteticamente:
Sistemas Lineares 27
∑
i−1
(k) ∑
n
(k−1)
bi − aij xj − aij xj
(k) j=1 j=i+1
xi = ∀i = 1, 2, · · · , n (5.35)
aii
Na forma matricial, o Método de Gauss-Seidel pode ser posto na forma:
sendo:
0 0 0 ··· 0
−a21 /a22 0 0 ··· 0
−a31 /a33 −a32 /a33 0 ··· 0
L=
. . . . .
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
−an1 /ann −an2 /ann −an3 /ann ··· 0
0 −a12 /a11 −a13 /a11 ··· −a1n /a11
0 0 −a23 /a22 ··· −a2n /a22
0 0 0 ··· −a31 /a33
U =
.. . . . .
. .
.
.
.
.
.
.
.
0 0 0 ··· 0
b1 /a11
b2 /a22
D= .
.
.
bn /ann
A Equação (5.36) pode ser escrita na forma x(k) = Gx(k−1) + D̄. De fato, a partir de
(5.36), podemos escrever:
x (k)
− Lx
(k) (k−1)
= Ux +D
(I − L) x(k) = U x(k−1) + D
−1 −1
x(k) = (I − L) U x(k−1) + (I − L) D
| {z } | {z }
G D̄
∴x (k)
= Gx(k−1)
+ D̄.
G = (I − L)−1 U (5.37)
Exemplo:
Resolver o sistema abaixo (que é o mesmo sistema 5.27 usado para exemplicar o Mé-
(0)
todo de Jacobi) pelo Método de Gauss-Seidel usando como aproximação inicial x =
[ ]t (k) (k−1)
0 0 0 e como critério de parada max |xi − xi | < 0, 001 ou k > 10 iterações:
1≤i≤3
10x1 + 2x2 + x3 = 7
x1 − 15x2 + x3 = 32
2x1 + 3x2 + 10x3 = 6
28 Marcone Jamilson Freitas Souza
x(k) = (k)
Lx + U x
(k−1)
+ D, onde:
0 0 0 0 −2/10 −1/10 7/10
L = 1/15 0 0 , U = 0 0 1/15 e D = −32/15
−2/10 −3/10 0 0 0 0 6/10
(k−1) (k−1)
(k) 7 − 2x2 − x3
x1 =
10
(k) (k−1)
(k) 32 − x1 − x3
x2 =
−15
(k) (k)
(k) 6 − 2x1 − 3x2
x3 =
10
CRITÉRIO DAS COLUNAS: É condição suciente para que um sistema linear con-
virja usando um método iterativo que:
∑
n
|ajj | > |aij | ∀j = 1, 2, · · · , n
i=1
i̸=j
∑n
i=1 |aij |
i̸=j
Além do mais, quanto mais próximo de zero estiver a relação max , mais
1≤j≤n |ajj |
rápida será a convergência.
Sistemas Lineares 29
CRITÉRIO DAS LINHAS: É condição suciente para que um sistema linear convirja
usando um método iterativo que:
∑
n
|aii | > |aij | ∀i = 1, 2, · · · , n
j=1
j̸=i
∑n
j=1 |aij |
j̸=i
Além do mais, quanto mais próximo de zero estiver a relação max , mais
1≤i≤n |aii |
rápida será a convergência.
∑
i−1 ∑
n
(|aij | ∗ βj ) + |aij |
j=1 j=i+1
βi = (5.38)
|aii |
β = max βi < 1
1≤i≤n
Exemplo 1:
Vericar se há garantia de convergência do sistema a seguir usando um método iterativo.
3x1 + x3 = 3
x1 − x2 = 1 (5.39)
2x1 + x2 + 3x3 = 9
(a) Critério das colunas:
Como o critério das colunas não é vericado para as colunas 1 e 2 (bastava que não fosse
satisfeito para uma única coluna), concluimos que esse critério não garante convergência
se usarmos um método iterativo.
Como o critério das linhas não é vericado para as linhas 2 e 3, concluimos que não há
garantia de convergência, por esse critério, se usarmos um método iterativo.
|a12 |+|a13 |
β1 = |a11 | = |0|+|1|
|3| = 1/3
|a21 |×β1 +|a23 | |1|× 13 +|0|
β2 = |a22 | = |−1| = 1/3
|2|× 13 +|1|× 13
β3 = |a31 |×β|a
1 +|a32 |×β2
33 |
= |3| = 1/3
β = max βj = max{ 13 , 13 , 13 } = 31
1≤i≤3
Como β = 1/3 < 1 resulta que o critério de Sassenfeld foi satisfeito. Portanto, pode-se
aplicar um método iterativo ao sistema (5.39), uma vez que há garantia de convergência
do mesmo.
Exemplo 2:
Vericar se há garantia de convergência do sistema a seguir usando um método itera-
tivo.
Sistemas Lineares 31
0, 5x1 + 0, 6x2 + 0, 3x3 = 0, 2
x1 + x2 + x3 = 0 (5.40)
0, 4x1 − 0, 4x2 + 1x3 = −0, 6
Solução:
Claramente os critérios da linha e da coluna não se aplicam. Apliquemos, então, o
critério do raio espectral. As matrizes de iteração dos métodos de Jacobi e Gauss-Seidel,
dadas respectivamente por (5.25) e (5.37), são:
0 −1, 2 −0, 6
J =L+U = −1 0 −1 =⇒ ρ(J) = 1, 1200
−0, 4 0, 4 0
0 −1, 2 −0, 6
G = (I − L)−1 U = 0 1, 2 −0, 4 =⇒ ρ(G) = 0, 6928
0 0, 96 0, 08
Como ρ(J) > 1 e ρ(G) < 1 então somente pelo Método de Gauss-Seidel haverá con-
vergência.
Observação: Para o cálculo do raio espectral de uma matriz A, lembre que ele é o maior
autovalor (λ) da equação característica, dada por det(A - λI)=0, em que I é a matriz
identidade, λ são os autovalores e det é o determinante. A equação característica do
método de Jacobi aplicado à matriz dos coecientes do sistema dado é:
−λ −1, 2 −0, 6
det(J − λI) = −1 −λ −1 = −λ3 + 1, 04λ − 0, 24 = 0
−0, 4 0, 4 −λ
−λ −1, 2 −0, 6
det(G − λI) = 0 1, 2 − λ −0, 4 =0
0 0, 96 0, 08 − λ
Exemplo:
Na decomposição LU da matriz
3 −4 1
A= 1 2 2
4 0 −3
A = M + Ni
x = s + ti
b = c + di
{
(2 + 3i)x1 + (4 − 2i)x2 = 3 + 5i
(5.41)
7ix1 − 4x2 = 9 + 3i
temos:
[ ] [ ] [ ]
2 + 3i 4 − 2i s1 + t1 i 3 + 5i
A= , x= , b=
7i −4 s2 + t2 i 9 + 3i
Sistemas Lineares 33
[ ] [ ] [ ] [ ]
2 4 3 −2 3 5
∴ M= , N= , c= , d=
0 −4 7 0 9 3
{
Ms − Nt = c
Ns + Mt = d
[ ][ ] [ ]
M −N s c
=
N M t d
Exercício:
Aplicar o método anterior para encontrar a inversa da matriz:
3 5 3
A = 7 −3 1
2 4 −5
{ {
x − y = 1 x − y = 1
(a) e (b)
x − 1, 00001y = 0 x − 0, 99999y = 0
O que aconteceu e por quê? Esta é uma situação em que o sistema é dito mal condi-
cionado.
Dizemos que um sistema é bem condicionado (estável) se pequenas mudanças nos coe-
cientes e nos termos independentes acarretam pequenas mudanças na solução do sistema.
No caso de sistemas mal condicionados, pequenas mudanças nos dados de entrada
provocam grandes variações na solução nal.
Um critério prático para vericar se um sistema é mal condicionado consiste em avaliar
o determinante normalizado da matriz dos coecientes, dado por:
det A
det(NormA) = (5.42)
α1 α2 . . . αn
√
sendo αi = a2i1 + a2i2 + · · · + a2in
Se o módulo desse determinante estiver muito próximo de zero (| det(NormA)| ≪ 1)
pode-se esperar o mal condicionamento do sistema.
Exercício:
Verique se o sistema (5.43) é mal condicionado.
7x1 + 8x2 + 9x3 = 24
8x1 + 9x2 + 10x3 = 27 (5.43)
9x1 + 10x2 + 8x3 = 27
Sistemas Lineares 35
5.14 Aplicações
5.14.1 Eletricidade
Seja o diagrama de circuito dado pela Figura 9:
A 2Ω
100 V 1
1Ω
2Ω 2
B 5Ω 3Ω
0V
3
Pela Lei de Ohm, a corrente que ui do nó p para o nó q de uma rede elétrica é
V −V
calculada com base na fórmula Ipq = pRpq q , com I em ampères e R em Ohms, sendo Vp
e Vq as voltagens nos nós p e q , respectivamente, e Rpq a resistência no arco pq .
Pela Lei de Kircho, a soma das correntes que chegam a cada nó é nula; assim, as
equações que relacionam as voltagens podem ser obtidas.
Para o diagrama de circuito considerado, pede-se:
(b) Aplique o critério de Sassenfeld ao sistema resultante para mostrar que ele converge
usando um método iterativo;
(c) Resolver o sistema formado por um método iterativo, com ε < 0.5, a m de se obter
as voltagens em cada nó do circuito.
Resposta: A solução do sistema que contém as voltagens do circuito com erro ε < 0, 5 é,
pelo Método de Gauss-Seidel:
74, 99
V̄ = 70, 95
59, 17
t
Observação: A solução exata é V̄ = [76 72 60] :
massas dos produtos resultantes, então iguale a quantidade de cada elemento químico que
aparece no lado esquerdo da equação à quantidade desse mesmo elemento que aparece no
lado direito da equação. Esse procedimento, feito para cada elemento químico, resultará
em um sistema de equações lineares, onde as incógnitas são os coecientes estequiométri-
cos xi da reação química. No caso de haver mais incógnitas do que equações, o sistema
é indeterminado, isto é, há uma innidade de soluções para ele. Para gerar uma dessas
soluções, basta atribuir um valor qualquer a uma das incógnitas. Caso apareçam valores
negativos para alguma incógnita, tente outra atribuição, já que no caso real os coecientes
estequiométricos são números inteiros positivos. Se a solução do sistema for fracionária,
multiplique-a pelo determinante do sistema. Isto fará com que todos os coecientes sejam
inteiros.
Referências
[1] L.C. Barroso, M.M.A. Barroso, F.F. Campos Filho, M.L.B. de Carvalho e M.L. Maia.
a
Cálculo Numérico (com aplicações), Editora HARBRA, São Paulo, 2 edição, 1987.
a
[2] F.F. Campos Filho, Algoritmos Numéricos, Livros Técnicos Cientícos Editora, 2
edição, Rio de Janeiro, 2007.
[3] E. Kreyzig, Advanced Engineering Mathematics, John Wiles & Sons Inc., 70th
edition, New York, 1993.