A Caminho de Casa - Jacob Boehme
A Caminho de Casa - Jacob Boehme
A Caminho de Casa - Jacob Boehme
«Esse Pai, que Boehme chama também de “Mãe”, é uma mulher a parir.
A segunda aparece-nos como o esforço da criança para se libertar do ventre materno e a terceira parece
materializar as dores do parto.
Esse desejo tenebroso ficaria para sempre insatisfeito se a luz não surgisse e não o transformasse em doçura,
em desejo de amor.
Em si próprio, o desejo glutão da primeira natureza, o de Saturno que devora os seus filhos, é o tormento do
inferno.
Boehme não hesita em colocar o inferno nos quatro primeiros graus da natureza eterna (...).
No quinto grau, com o nascimento do Filho, simbolizado pelo “coração de Deus”, que é o local (a base) da
verdadeira vida, a voracidade saturnina transforma-se em desejo de amor.
Esta quinta “forma”, que representa o jorrar da luz no fogo, corresponde a Vénus.
Como na obra alquímica, esta transmutação consiste numa morte e num renascimento.
Uma morte que não é uma morte, diz Boehme. É a morte do primeiro desejo, que cai quando jorra a luz no
brilho que rasga a noite.
No ciclo do homem, será a morte da vontade própria. O homem deve morrer a si próprio. Mas é um
morrer que não é uma morte, porque é o prelúdio de um novo nascimento. (...)
No sexto grau, Boehme celebra a vinda do Espírito.
A Divindade tenebrosa do Pai, que tinha sucedido a uma claridade sem substância, “sem brilho”, torna-se
numa Divindade radiante no Filho, e Deus conhece-se no Espírito Santo.
O Espírito Santo faz com que elas aí resplandeçam uma a uma pela sua operação, a que Boehme chama a
abertura dos selos.»
No entender de Jacob Boheme, a "queda do homem do paraíso" só foi possível quando o Grande
Arquiteto do Universo atribuiu ao homem a capacidade de utilizar-se do livre-arbítrio, ou
seja, poder pensar e fazer tudo o que deseja.
Porém, em contrapartida, estará sempre sujeito as Leis Cósmicas da causa e efeito, que vivenciará na diversidade.
Se intuirmos, observamos que, de forma análoga, o mesmo processo "da queda do paraíso" ocorre,
ciclicamente, em nossas vidas.
Permanentemente, talvez mesmo todos os dias, estamos sujeitos a sofrer "quedas" e "subidas"; seja
"queda" afetiva, "queda" financeira, nas relações familiares, no trabalho, etc..
Nós escolhemos a nossa família, onde queremos habitar, nosso emprego, se estudamos ou não, se temos filhos
ou não, etc.. .
Mesmos pressionados, a decisão é sempre nossa.
Sob inspiração, Jacob Boheme escreveu: "Se a vida natural não tivesse contrariedade alguma e não
tivesse limite, nunca perguntaria pelo fundamento de que provém, de modo que o Deus
oculto permaneceria desconhecido para a vida natural .
Além do mais, se não houvesse contrariedade alguma na vida, não haveria perceptibilidade ou
sensibilidade, nem vontade, nem operatividade, nem entendimento, nem conhecimento, pois
algo que tem uma única vontade não tem divisibilidade, ... ainda que seja boa em si mesma,
não conhece o mal e o bem, pois nada tem em si para torná-los perceptíveis".
Sempre incentivados pelos exemplos dos Mestres, estudamos, meditamos e oramos com o objetivo do
aperfeiçoamento espiritual para que, no final deste ciclo de vidas, possamos caminhar um
pouco mais na nossa evolução.
Devemos incluir o objetivo de superar, quotidianamente, cada "queda" que se nos apresente, utilizando os
conhecimentos que adquirimos.
Diz a Lei de Moisés: "Não procureis saber o que ignorais enquanto não tiverdes praticado o que já
conheceis".
No eixo central (imagem da esquerda) pode ver, no fundo, o mundo escuro (na foto, em alemão: Finstere
Welt).
Este é o lugar onde Deus tem nascimento.
É o centro.
Depois em cima, no coração, é o lugar de Deus Filho (na foto, em alemão: Jesus).
Depois, na cabeça, é o lugar de Deus o Espírito Santo (na foto, em alemão: Geist H).
Entre o centro de Deus Filho e Deus Espirito Santo, na garganta, é o centro do quarto onde está a Sofia (na
foto, em alemão: Sophia).
Sofia é o "espelho da divindade".
Isto significa que a Sofia é uma imagem da Santíssima Trindade: Deus Pai, Deus Filho e
Deus Espírito Santo.
No Novo homem, Satanás (os quatro humores) estão completamente presos no inferno, depois de uma
prolongada batalha espiritual.
No homem natural (que ainda não é renovado) Satanás está livre para navegar em todo o seu corpo e
especialmente a dominar os temperamentos.
Depois, em cima, na parte de trás, podemos ver quatro vapores que se levantam nas costas até o pescoço.
os quatro humores que são os quatro dragões a subir pelo corpo até
Estes são
ao pescoço .
Depois na cabeça, você pode ver o pensamento (na foto, em alemão: Sinnen).
Como já vimos, na foto à esquerda, profundamente dentro da cabeça, está o Espírito Santo.
Tradicionalmente no Ocidente, também, se atribuí o desenvolvimento das três virtudes teológicas a cada uma
fé para a compreensão, a caridade para a vontade e
das três potências:
esperança para a memória.
Tinha pouca escolaridade e desde muito pequeno trabalhou como pastor de ovelhas numa montanha nos
arredores de Gorlitz e mais tarde se tornou aprendiz de sapateiro.
Profundamente impressionado com a previsão, Böhme se tornou cada vez mais intenso em sua busca da
verdade e em 1600 entrou num estado alterado de consciência que lhe trouxe Visões
Divinas durante sete dias nos quais permaneceu numa misteriosa condição e os mistérios do mundo
invisível lhe foram revelados.
."Abriu-se para mim um largo portão e em um quarto da hora vi e aprendi mais do que veria e aprenderia
em muitos anos de universidade.
Por essa razão, estou profundamente admirado e dirijo a Deus minhas orações, agradecendo-lhe por isto.
Porque vi e compreendi o Ser dos seres, o Abismo dos abismos e a geração eterna da Santíssima Trindade,
o descendente e origem do mundo de todas as criaturas, pela divina sabedoria:
Soube e vi por mim mesmo os três mundos, ou seja, o divino (angelical e paradisíaco), o das sombras (que deu
origem e natureza ao fogo) e o mundo exterior e visível (sendo à procriação ou o nascimento exterior tanto do
mundo interior como do espiritual).
Vi e conheci toda a essência do trabalho o mal e o bem original e a existência de cada um deles; e também
como frutificou com vigor a semente da eternidade.
E isso de tal forma que dela fiquei desejoso e rejubilei-me".
Jakob Böhme revelou para toda a humanidade os mais profundos segredos da alquimia.
Ele morreu cercado por seus famíliares em um domingo, 20 de novembro de 1624, ouvindo músicas celestiais.
Jacob Böehme tinha como emblema uma cruz negra com rosas douradas.
Os escritos de Boehme são atualmente de muito difícil leitura, mas a sua
existência brilhou como um farol através das obscuras épocas do
“iluminismo” secular.
Tratava-se de um artesão e pai de família – não de um pastor, um monge, um cardeal ou um aristocrata – que
foi eleito para desentranhar mistérios muito profundos, e que não viveu apenas a crença que era conveniente
para sua posição social, mas viveu a lúcida consciência de Deus.
O exemplo de Boehme demonstrou que o Cristianismo poderia ser mais do que ética e
Escrituras (ainda que ele fosse um grande conhecedor delas), e mais que ritos, estética e
sacramentos.
uma realidade interior mais real que tudo o que existe no mundo
Poderia ser
e mais preciosa que tudo o que o mundo podia ensinar.
A sua mensagem, se dirige tanto ao intelecto como às emoções mas também penetra nas atividades
da metafísica e da cosmogonia.
Talvez possa ser desnecessário saber como funcionam as partes da alma e do espírito
humanos que fazem as diferentes hierarquias angelicais, ou quão complicado é o próprio
ser de Deus.
Não obstante, alguns são naturalmente inquisitivos e não se contentam quando lhes dizem “não te
metas naquilo que não te diz respeito e deixa estas questões em mãos de quem as entendem”.
“De maneira que cada um chega a ser um Cristo (ou um Ungido) a partir desta deificada raiz que se abre
dentro de sua própria alma” .
Mas, assim como todos os Sábios se encontram no topo da montanha, essas expressões são o lugar no qual,
encontram juntos o Cristianismo e a Kabbalah, o
como Boehme bem sabia, se
Hermetismo e a Alquimia, aos quais podemos somar o Sufismo, o
Hinduísmo dos Upanishads e o Budismo Mahayana.
o indivíduo ainda tem a
O teósofo sabe que, qualquer que seja o destino deste planeta,
possibilidade de conseguir nesta vida o que Boehme chama de “novo
nascimento”.
Em princípio, o caminho do teósofo cristão é uma senda estritamente interior, sem necessidade de
que outros o saibam.
Em muitos aspectos, a Alquimia e a Teosofia são paralelas, se é que não idênticas em sua intenção; mas seu
vocabulário imaginal é diferente.
A teosofia cristã espera, e recebe experiências no mundo imaginal que se revestem de figuras bíblicas e
símbolos: a Trindade, Lúcifer, Cristo, a Virgem Sophia, etc.
Os dramatis personae da alquimia consistem mais de metais e minerais (Mercúrio, Enxofre, Sal, Magnésio,
Antimônio, Prata, Ouro, etc.), uma coleção de animais e aves (Dragão, Leão, Sapo, Águia, Pelicano, Perú Real,
etc.) e uma quantidade de figuras da mitologia clássica (os sete deuses e deusas planetários, mais Hércules,
Atalanta, Osíris, etc.).
A literatura alquímica se propõe a ensinar como devem ser trabalhadas as substâncias físicas, e um primeiro
nível interpretativo de seus símbolos constitui um código pré-científico de procedimentos químicos.
Os historiadores da ciência mostraram que os textos alquímicos ensinam como se deve fazer, por exemplo,
para extrair ouro de minerais compostos valendo-se do antimônio.
Mas, especialmente desde 1600, coincidindo com a teosofia de Boehme e movimentos afins, os textos
alquímicos se tornaram, aparentemente, cada vez menos químicos.
menos
Autores como Heinrich Khunrath, Cessare della Riviera e Thomas Vaughan estão claramente
interessados no trabalho de laboratório do que em uma alquimia
espiritual.
O princípio da alquimia espiritual estabelece que as substâncias representem elementos existentes no homem
e no mundo espiritual, e os procedimentos têm lugar dentro de sua alma.
o alambique ou o crisol é o complexo psicofísico
Eis aqui alguns exemplos:
humano, e o laboratório é o mundus imaginalis, o universo real, mas que não é
físico, no qual têm lugar as transmutações espirituais.
O fogo é o esforço interior e deliberado que se efetua durante a meditação, o qual pode chegar a
induzir uma sensação de calor, e sua regulação se realiza mediante controle da respiração, como no yoga.
A purificação do material requer agora um controle além do normal da mente (= a “fixação do Mercúrio”), mas
o trabalho real de transmutação ocorre só então.
Para quem em seu coração (para citar a Boehme) “operou a Sagrada Trindade”, a morte não pode
ser nada mais que um acidente químico.
Os novos alquimistas trabalham com substâncias físicas, mas com conhecimento das forças
sutis (planetárias, elementais e, inclusive, angelicais) e com o efeito do operador sobre o material.
E que vemos as estrelas pela única razão de que nesse momento compartilhamos de sua perpétua criação?
Então, os estados mentais e imaginais seriam os que teriam precedência, seguidos pelos procedimentos
químicos.
PARTE 2
O demônio continua em seu próprio domínio ou principado e não, de forma alguma, naquele em que Deus o
criou, mas no doloroso e angustiante nascimento da eternidade, no centro da natureza e propriedade da ira,
na propriedade onde a dor, a angústia e as trevas têm início.
Há sempre algum bem em todas as coisas, que mantém o mal cativo e fechado em si; mas ele pode
caminhar e comandar na parte má ou propriedade má , quando esta manifesta um desejo mau, unindo este
desejo à fraqueza.
De fato, isto não pode ser feito pelas criaturas inanimadas; só o homem o pode fazer, ao trazer o centro
de sua vontade com o desejo para fora do centro eterno, que é o campo do encantamento e da falsa
magia.
A vontade do diabo também pode penetrar este campo, para onde o homem traz o desejo de sua alma, que
também nasceu da natureza eterna.
Mas o demônio não tem extra poder sobre o tempo ou condição temporária, deste mundo, no fogo ele
procede como que na turba (dano ou dor), em grandes temporais ou tempestades de trovões, relâmpagos e
ele não pode direciona-los, pois ele não é mestre ou senhor,
granidos; mas
apenas servo.
Ora, Deus criou todas as coisas para e onde deveriam estar, os anjos para o céu e no céu; o homem para o
paraíso e no paraíso.
Se portanto, o desejo da criatura deixa sua própria mãe, entra então numa vontade contrária, numa
inimizade, passando a ser atormentada pela contrariedade de onde se encontra., consequentemente uma falsa
vontade surge na boa vontade; esta penetra novamente o seu nada, ou seja, no fim da natureza e da criatura,
deixando a criatura em seu próprio mal ou fraqueza, o que se passou com Lúcifer e Adão; não tivesse a
vontade do amor de Deus encontrado Adão e por pura misericórdia penetrado novamente a humanidade ou a
natureza humana, poderia não haver nenhuma boa vontade no homem.
Portanto, toda especulação ou questionamento com relação à vontade de Deus, não passa de coisa vã, a
menos que a mente esteja convertida.
Enquanto a mente permanecer cativa no desejo próprio da vida terrestre, não poderá compreender o que
é a vontade de Deus; a mente pesquisa, mas no eu, de um jeito e de outro, mesmo assim não encontra
repouso; é que o desejo próprio traz, cada vez mais, a inquietação.
No entanto, quando ela mergulha totalmente na misericórdia de Deus, desejando morrer para si mesma e
ter a vontade de Deus como guia para a compreensão, reconhecendo a si mesma como um nada, não
desejando nada senão aquilo que Deus deseja, então ambos irão conhecer e realizar a vontade de Deus.
Enquanto a vontade própria do homem permanecer no eu, não estará no plano e chamamento de Deus;
ela não é chamada, pois deixou seu lugar correto original: mas quando a mente se voltar novamente para o
chamado, ou seja, para a resignação, então a vontade estará no chamado de Deus, ou seja, no lugar em que e
para o qual Deus a criou;
O poder que Ele nos deu é o Seu plano, para o qual e no qual Ele criou o homem à Sua imagem.
Não pode, de fato, enquanto se fixa em si mesmo, em seu desejo próprio, servindo apenas à lei do pecado na
carne.
Pois, ele fica preso, na condição de um servo do pecado; mas quando ele toma o centro de sua mente,
canalizando-a para a vontade e obediência à Deus, então ele pode.
Deus criou a vontade da mente para o paraíso e no paraíso, a fim de que fosse sua
companheira no reino da alegria divina.
Ela não deveria ter-se removido de lá; mas já que o fez, Deus trouxe Sua vontade
novamente para a carne; com isto nos deu o poder de trazermos nossa vontade novamente para o paraíso,
acendendo ali, uma nova luz, o que nos transformaria novamente em filhos de Deus.
Não foi Deus quem insensibilizou o homem; mas a vontade do próprio homem, que penetrou a
vida carnal do pecado, o que endureceu seu coração.
A vontade do eu trouxe a vaidade deste mundo para a mente, com isto ela ficou e ainda permanece
fechada.
Deus não deseja nada senão o que é semelhante ao Seu próprio desejo;
Seu desejo nada recebe se não for desejo.
Toda ficção e artifício dirigidos à Deus, seja lá o nome que tiverem, inventados e realizados pelos homens,
como caminhos que levam à Deus, não passam de trabalho perdido e esforço inútil, desprovido de uma
nova mente.
Não há outro caminho que leve à Deus, senão uma nova mente, que deixou a
fraqueza e penetrou o arrependimento pelos pecados cometidos e morre para o pecado da alma, a fim de não
mais querer o pecado.
O Cristo diz: “A menos que te tornes crianças, não verão o reino de Deus”.
A mente tem que se tornar completamente nova, como uma criança que nada sabe sobre o pecado.
O Cristo diz também: “É preciso nascer de novo, ou não verás o reino de Deus”.
Todos os pecados cometidos devem morrer na vontade da alma, do contrário, não pode haver a
visão de Deus.
Pois, a vontade terrestre, no pecado e na natureza colérica, não verá a Deus.
Só a natureza regenerada é capaz da visão divina, ou êxtase.
A alma não pode herdar o reino de Deus neste tabernáculo terrestre.
Mas a adulação externa do ser que se considera filho de Deus, por imputação ou implicações
externas, é falsa e vã.
A obra feita na carne ou pela carne unicamente exterior, não faz o filho de Deus, o que o faz é a
obra no espírito que pelo seu trabalho interior, é tão poderosa que brilha intensamente,
como uma nova luz, na vida exterior; provando ser o filho de Deus, através de sua conduta e ações
externas.
Se alguém se gaba de ser o filho de Deus e ainda faz o corpo queimar em pecados, não é um verdadeiro filho,
nem está apto a receber qualquer herança; mas permanece preso pelas correntes do demônio em trevas
espessas.
Se ele não encontrar em si mesmo um sincero e honesto desejo de boa vontade no amor, então esta
pretensa filiação não passa de invenção da razão, procedente do eu.
Ele não pode ver a Deus, a não ser que nasça de novo, através de seu
poder e vida, que é Seu verdadeiro filho.
Mas, talvez tu irás dizer: “Eu tenho uma vontade, de fato, de assim proceder;o faria de livre
vontade, mas estou tão obstruído que não consigo”.
Não, tu homem desprezível, Deus te criou para ser seu filho; mas tu não
queres; o sofá macio no mal é mais querido a ti do que te apartar do mal
imediatamente.
Preferes a alegria da fraqueza do que a alegria de Deus.
Ainda estás totalmente engolido pelo eu, vivendo de acordo com a lei do pecado, o que te obstrui.
Relutas em morrer para o prazer da carne, portanto não estais na
filiação.
Deus te criou para isto, mas tu não queres.
Mortificar a vontade má é algo complicado; ninguém está
disposto a fazê-lo.
Todos ficaríamos felizes de sermos os filhos de Deus, se o pudéssemos ser com esta
espessa veste da natureza caída.
Mas isso é impossível.
Este mundo passa, e a vida externa deverá morrer.
Portanto, não é tão fácil se tornar um filho de Deus, como imaginam os homens.
De fato, não é problema para aquele que se revestiu da filiação, em quem a luz brilha; para estes, é uma
alegria.
O homem deve lutar até que o centro negro, que se encontra fechado, se romper e abrir, e a
centelha permanecer ali, acesa pelo fogo; com isto o nobre ramo de lírio branco brota imediatamente, como o
divino grão de mostarda, disse o Cristo.
Um homem deve orar sinceramente, com grande humildade, e por um tempo, permanecer como
que um tolo em sua própria razão e se ver esvaziado de compreensão, até que o Cristo seja
formado nesta nova encarnação.
Então, quando o Cristo nasce, Heródes está pronto para matar a criança, a qual busca externamente por
perseguições, e internamente pelas tentações, para provar se esse ramo de lírios será suficientemente forte
para destruir o reino do demônio, manifestado na carne.
“Serei simples em meu interior, e nada compreenderei, com receio de que minha compreensão se exalte e
peque.
Irei me jogar aos pés de meu Deus, em Sua corte, a fim de que eu possa servir meu Senhor, naquilo que me
mandar.
Não saberei nada de mim mesmo, para que a vontade e o poder de meu Senhor possa me conduzir e orientar, e
que eu possa fazer unicamente o que Deus fizer através de mim.
caso Ele não me
Irei adormecer em mim mesmo até que o Senhor me desperte com seu espírito; e
desperte, então irei eu olhar para Ele em silêncio, e aguardar seus
comandos”.
Observamos plenamente, que a verdadeira fé nunca esteve tão fraca desde o tempo de
Cristo, como está agora.
No entanto, o mundo grita alto dizendo: “Temos a verdadeira fé”; E falam de um filho com tamanha
controvérsia, que nunca foi pior na face da terra.
O Pai agora chama aos homens no amor, mas eles não irão ouvir, pois os ouvidos estão tapados com a
avareza e a voluptuosidade.
Mas a voz do Senhor soou em todos os confins da terra e uma fumaça surgiu; no meio dela há um grande
brilho e esplendor.
Aleluia. Amén.
Publicada por Christiano à(s) 11/08/2012 03:42:00 da tarde 0 comentários
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Enquanto o eu ou a razão estiverem cativas de uma prisão sólida e cerrada, ou seja, na cólera de Deus e na
materialidade, torna-se muito perigoso para um homem fazer uso da luz do conhecimento no eu, como se
ela estivesse em sua posse, pois, a ira do eterno e da natureza temporal logo irão tomar o gosto por isso, e
então o eu e a própria razão do homem irão surgir no orgulho, deixando de lado a verdadeira humildade
resignada para com Deus.
Vemos que freqüentemente, nos dias de hoje, o mesmo erro traz o perigo sobre os iluminados filhos de Deus;
quando o sol da grande presença da santidade de Deus brilha neles, fazendo com que a vida triunfe, a razão se
enxerga como que num espelho, a vontade invade o eu, buscando a si mesma, experimenta o que é o centro,
de onde brilha a luz; a vontade com seu próprio movimento e força se lança neste centro, de onde surge o
abominável orgulho e o amor próprio; esta é então a razão própria da criatura, não mais é o espelho da
Sabedoria eterna, julgando-se maior do que realmente é; depois disto, o que quer que faça, pensa ser a
vontade de Deus que faz através dela e nela, continuando com seu desejo próprio; esse desejo próprio surge,
prontamente, no centro da natureza, adentrando aquele falso desejo do eu contra Deus; a vontade entra
então num auto-conceito e exaltação.
Com isto, o homem fica como que bêbado no eu; e ainda o convence de que está sendo guiado por
Deus; com isto o bom princípio, onde a luz divina brilha na natureza, começa a se deteriorar e a luz de Deus
deixa o homem.
Mas ainda fica a luz da razão, a luz exterior da natureza exterior ainda permanece brilhando na criatura e o eu
se lança nela, acreditando ser a primeira luz de Deus; mas não é bem assim.
Nesta auto exaltação na luz de sua razão exterior, o mal que tinha sido forçado a sair da primeira luz, que era
divina , retorna mais forte para sua primeira casa; ‘’encontrando a casa limpa e adornada, ali faz sua
morada, sendo pior para o homem do que antes”.
Esta casa que está tão limpa e adornada, é a luz da razão no eu onde o mal encontra uma porta aberta, a
fim de entrar com seu desejo e assim separar a alma, exaltando-se a si mesmo.
Ali ele entra, coloca seu desejo na luxúria do eu e das más imaginações, onde o espírito da vontade vê a si
mesmo nas formas das propriedades da vida na luz exterior, e então o homem se afunda em si mesmo, como
se estivesse bêbado, as estrelas se apegam a ele, trazendo suas fortes influências (na razão exterior) a fim de
que ele ali possa buscar e manifestar as maravilhas de Deus.
Pois, todas as criaturas suspiram e almejam a Deus, e ainda que as estrelas não possam apreender o espírito
de Deus, é preferível ter um lugar de luz (neste caso, o homem) onde possam se regozijarem, do que uma casa
fechada onde não possam ter descanso.
Assim caminha o homem, como se estivesse bêbado, na luz da razão exterior, chamada de estrelas,
apreendendo grandes e maravilhosas coisas, contando com uma orientação contínua.
O mal, presente, observa se alguma porta permanece aberta para ele, através da qual possa aceder ao
centro da vida, para que o espírito da vontade possa atingir o topo do orgulho, ou da cobiça (de onde surge a
arrogância, a vontade da razão desejando ser honrada); pois supõe ter atingido toda a felicidade, ao adquirir a
luz da razão, pensando controlar a casa dos mistérios ocultos que está fechada; mas que só Deus pode abrir,
não o homem da razão.
O homem iludido, acredita ter alcançado o topo, que a honra se deve a ele, pois ele adquiriu a compreensão
da razão, mas não lhe passa pela cabeça que o mal afinal apenas o fez casar com seu desejo nas sete formas
da vida do centro da natureza, nem que cometeu um erro abominável.
Desta errada compreensão da razão surgiu uma falsa religião, onde os homens ensinam e criam regras
baseadas em conclusões da razão, e que pretende colocar a criança (do homem) , embriagada em seu próprio
orgulho e auto-desejo, sobre o trono, trono esse que afinal pertence ao mal que aí tem seu abrigo o tempo
todo.
O mesmo acontece com todos aqueles que já foram, alguma vez, iluminados por Deus e que mais uma
vez abandonaram a verdadeira resignação, desmamando, deixando o puro leite de suas mães, ou seja a
verdadeira humildade.
A razão irá perguntar: Qual o problema que um homem consiga a luz de Deus e também a luz da natureza
exterior e da razão, a fim de ordenar sua vida sabiamente ?
Quando a luz de Deus se manifesta pela primeira vez na alma, ela brilha como a luz de uma vela, acendendo
a luz exterior da razão, imediatamente; porém, ela não se revela totalmente à razão, a ponto de ficar sob o
domínio do homem exterior.
Não, o homem exterior se vê apenas através do brilho desta luz, da mesma forma como se vê através de um
espelho; por este intermédio ele aprende a se conhecer, o que é bom e proveitoso para ele.
Mas se a razão, que é o eu criaturalizado, não vai além do que vê no eu da criatura, e não entra com a
vontade do desejo no centro, na busca de si mesmo, assim procedendo se separa da substância de Deus (que
surge juntamente com a luz de Deus, de onde a alma se deve alimentar e refrescar) e come só da substância e
da luz externa, fica diminuida ou melhor desiqulibrada porque perdeu a parte divina e se agarrou apenas à
parte externa terrestre.
A vontade da criatura deveria mergulhar totalmente em si mesma, com toda sua razão e desejo, julgando-se
uma indigna criança, não merecedora de tão alta graça; não deveria atribuir qualquer conhecimento ou
compreensão a si mesma ou desejar de Deus que o eu de suas criaturas tivesse qualquer compreensão; mas
mergulhar sincera e profundamente na graça e amor de Deus, desejando estar como que morta para
resignando-se totalmente ao espírito de Deus no
si mesma e para sua própria razão, na vida divina,
amor, para que Ele faça com ela o que e como quiser, como se fosse Seu próprio
instrumento.
Sua própria razão não deve entrar em nenhum tipo de especulação, seja em questões humanas ou
divinas; não ter vontade ou desejo de nada senão a graça de Deus.
Como uma criança, deve buscar continuamente os seios da mãe, e sua fome penetrar continuamente o amor
de Deus, e nunca, por motivo algum, saciar esta fome.
Quando a razão exterior triunfa na luz dizendo: “Tenho a verdadeira criança”, então a vontade do desejo deve
se curvar até à terra, num ato de profunda humildade e da mais simples ignorância, dizendo: “Tu és um tolo
e nada mais tens do que a graça de Deus. Deves te revestir desta crença com grande humildade, e não te
tornar nada em ti mesmo.
Tudo o que tens, ou que está em ti, deve ser considerado nada mais que
um mero instrumento de Deus; tu deves trazer este desejo, unicamente para a misericórdia de
Deus, deixando de lado todo o teu próprio conhecimento e vontade; estes devem ser considerados como que
nada e nunca induzir qualquer vontade a integrá-los novamente”.
Se trouxeres esse desejo, unicamente para a misericórdia de Deus, a vontade natural começará a ficar fraca
e frágil e o demônio não é mais capaz de separar a alma com seu desejo mau, pois os lugares onde
encontrava repouso se tornaram extremamente impotentes, estéreis e secos; então, o Espírito Santo que
procede de Deus, toma posse das formas de vida, fazendo com que Seu domínio prevaleça.
Ele acende as formas de vida com Suas chamas de amor; surge então, o alto conhecimento do centro de todas
as coisas, de acordo com a constelação externa e interna ou complexo astral da criatura, num fogo bastante
sutil e seco, que aparece num grande deleite.
Neste instante a alma humilde, mostra desejos de mergulhar na luz e se considera como sendo nada e
indigna.
Quando o seu próprio desejo penetra aquele nada (onde Deus cria), realizando ali o que é a vontade de
Deus; o espírito de Deus emerge através do desejo da humildade resignada; então o eu humano segue
imediatamente o espírito de Deus, numa alegria humilde e estremecedora; neste estado ele poderá ver o que
é no tempo e na eternidade, pois tudo é apresentado diante dele.
Seja feita a tua vontade, eu nada posso fazer, eu nada sei; não irei a
E dirá :
lugar algum, senão para onde tu me guiares como instrumento teu; faz de
mim e em mim a tua vontade”.
Em tal humildade e total resignação, a faísca de poder divino cai no centro das formas de vida, como uma
faísca no pavio, acendendo-o.
Uma vez que a luz do poder divino se acende, a criatura deve seguir em frente, como um instrumento do
a criatura não é mais possessão
espírito de Deus, falando o que é ditado pelo espírito de Deus;
de si mesma, mas é um instrumento de Deus.
Não pode haver distracções pois, tão logo, numa mínima proporção que seja, a alma divagar em
suas próprias buscas e especulações, Lucifer (a má vontade, a vontade do eu ) a verá no centro das formas de
vida, separando-a, a fim de adentrar o eu.
É preciso portanto, continuar perto da humildade resignada, para o seu bem, devendo sugar e beber da
fonte de Deus e não abandonar, de forma alguma, os caminhos de Deus.
Pois tão logo a alma prove do eu, e da luz da razão exterior, ela passa a ter opinião própria e vai agir no
exterior e não na fonte, tornando-se seca.
A alma continua então de erro em erro, até se submeter de novo à resignação, reconhecendo-se como uma
criança maculada, de razão resistente, e assim conquistar novamente o amor de Deus.
O que é muito mais difícil de conseguir neste caso do que no primeiro,
pois, o mal a trouxe para fortes dúvidas, e não irá abandonar a sua presa
tão facilmente.
Toda especulação com relação as maravilhas de Deus é muito perigosa, pois o espírito da vontade pode
rapidamente se desviar da rota certa e se ficar cativo de novo no exterior .
Só quando o espírito da vontade caminha com determinação em direção ao espírito de Deus, ele tem
poder na humildade resignada para admirar as maravilhas de Deus.
Não digo que o homem não deva pesquisar e aprender sobre as artes naturais e as ciências; não; este
conhecimento é útil para ele; mas o homem não deve começar com sua própria razão.
O homem não deve deixar que a sua vida seja guiada pela luz da razão exterior, que é boa em si, mas deve
mergulhar com esta luz na mais profunda humildade diante de Deus, e colocar o espírito e a vontade de
Deus adiante de todas as suas pesquisas, a fim de que a luz da razão possa ver e conhecer as coisas através da
luz de Deus.
Ainda que a razão possa ser bastante sábia em sua esfera própria, ajudando o homem a acumular
conhecimento, ela não deve arrogar tal sabedoria e conhecimento para si mesma, como se fosse sua
possessão; deve dar glória por ela a Deus, somente a Ele pertence toda sabedoria e todo conhecimento.
Quanto mais profundo a razão mergulhar na humildade simples, à vista de Deus; quanto mais ela se julgar
indigna aos olhos de Deus; mais verdadeiramente morre no auto desejo, mais o espírito de Deus a penetra,
trazendo-a ao mais elevado conhecimento, a fim de que com o tempo venha observar os grandes mistérios e
maravilhas de Deus.
Pois, o espírito de Deus somente opera na humildade resignada, naquilo que não busca e nem
deseja a si mesmo.
O espírito de Deus se apodera de tudo o que deseja ser simples e humilde diante de Deus, trazendo-o para
Suas maravilhas; somente aqueles que temem e que se curvam diante de Deus é que O deleitam.
Deus não nos criou sómente para nós mesmos, mas para sermos
instrumentos de Suas maravilhas, através dos quais deseja manifestá-las.
A vontade resignada confia em Deus e espera dele tudo de bom; mas a vontade própria do alto se conduz a
ela mesma , pois está separada de Deus.
Tudo o que a vontade própria faz é pecado contra Deus; pois abandonou aquela ordem onde Deus a criou,
adentrando a desobediência, desejando ser seu próprio senhor e mestre.
Quando a vontade do homem morre para si mesma, fica livre do pecado pois, não deseja mais nada senão
aquilo que Deus deseja de Sua criatura; deseja fazer unicamente aquilo para que Deus a criou; aquilo que Deus
fará através dela; e muito embora seja ela quem faz, não deixa de ser apenas um instrumento do fazer,
pelo qual Deus realiza a Sua vontade.
O homem pensa consigo: “Faço meu trabalho não para mim mesmo, mas para Deus, que me chamou e me
escolheu para isto; sou apenas um servo em sua vinha”
Ele ouve continuamente a voz de seu Mestre, que em seu interior o instrui naquilo que deve ser feito.
O Senhor fala nele e o comanda a fazer o que Ele teria feito por ele.
O eu, no entanto, faz o que a razão externa das estrelas comanda, razão onde o mal paira com seu desejo.
Tudo o que é feito pelo eu, é feito sem a vontade de Deus, em conjunto com a
fantasia, a fim de que a cólera de Deus ali realize o seu passatempo.
Nenhum trabalho feito sem a vontade de Deus pode atingir o Reino de Deus; não passa de uma
imagem inútil, ou de um trabalho manufaturado, nesta grande agitação da humanidade.
Nada agrada a Deus, senão aquilo que Ele próprio faz usando a vontade como instrumento.
Pois, só há um único Deus na essência de todas as essências, e tudo aquilo que trabalha com Ele, naquela
essência é um espírito com Ele.
Mas aquele que trabalha consigo mesmo, em sua própria vontade, está apenas consigo mesmo
e não em Seu domínio.
De fato, está sob aquele domínio universal da natureza, pela qual toda vida está sujeita a Ele, o bem e o
mal, mas não sob aquele governo divino especial dentro dele, que só compreende o bem.
Não é divino o que caminha e trabalha sem a vontade de Deus.
Portanto, o que quer que seja feito por conclusões do eu humano, em matéria de religião, é uma mera
ficção. Trata-se de Babel, um trabalho das estrelas, do mundo exterior, não reconhecido por Deus como Seu
trabalho.
Trata-se apenas de uma luta romana da natureza, onde o bem e o mal combatem um contra o outro; o que um
constrói, o outro destrói.
Esta é a grande miséria dos fúteis distúrbios dos homens, uma questão a ser julgada por Deus.
Aquele que se preocupa ou trabalha muito em tais tumultos, trabalha apenas para o seu julgamento
final pois tudo deve ser separado na putrefação.
Pois, aquilo que é lançado à cólera de Deus, por ela será recebido e mantido no mistério do desejo até o dia
do julgamento de Deus, quando o bem e o mal deverão ser separados pela eternidade.
Mas se o homem parar e se afastar de si mesmo, penetrando a vontade de Deus, aquele bem que também
foi lançado por ele, deverá se liberar do mal por ele lançado.
Como disse Isaías: “Ainda que seus pecados sejam vermelho escarlate, se houver o arrependimento, eles se
tornarão como a lã, brancos como a neve”.
Pois, o mal deve ser devorado pela morte na ira de Deus, e o bem deve florescer, como um rebento da
terra selvagem.
Todo o falso desejo, através do qual o homem planeja juntar para si, bens materiais, prejudicando ou
ofendendo o próximo, é levado para a cólera de Deus e pertence ao julgamento.
No julgamento tudo será manifestado, cada poder e cada essência, toda causa e todo efeito, tanto no bem
como no mal, serão apresentados diante a cada um no mistério da revelação.
Todas as más obras, feitas propositadamente, pertencem ao julgamento de Deus.
Mas as obras daquele que se voltou contra a vontade, deixando o seu poder, pertencem ao fogo que purifica.
Ambos os tipos de obras deverão ser manifestados no final.
Pois, cada criatura inteligente que perdeu seu lugar ou estado na ocasião em que Deus a criou pela
primeira vez, encontra-se em desordem e miséria, até que se recupere.
Uma criatura criada das trevas não tem sofrimento algum nas trevas; assim como uma serpente venenosa não
sofre com seu veneno.
O veneno é a sua vida; mas se ela tiver que perder seu veneno e ter algo de bom em seu lugar, tendo que
manifestá-lo em suas essências, isto seria o sofrimento e a morte para ela.
Assim o bem é um tormento para um ser cuja natureza é má, e o mal, da mesma forma, é sofrimento e morte
para o bem.
O homem foi criado do paraíso, para o paraíso e no paraíso; do amor, para o amor
e no amor de Deus; mas se ele lança a si mesmo à cólera, que trata-se de um sofrimento venenoso e
morte, então aquela vida de amor paradisíaca contrária, é dor e tormento para ele.
De Deus e em Deus existem todas as coisas; a luz e as trevas, o amor e o ódio, fogo e luz; mas ele só
se denomina Deus, à luz de Seu amor.
Publicada por Christiano à(s) 11/08/2012 02:40:00 da tarde 0 comentários
Etiquetas: Jacob Boehme
S E X TA - F E I R A , 2 D E N O V E M B R O D E 2 0 1 2
Prefácio do autor
Este texto é para quem tiver aberto os olhos ‘para dentro’, os restantes nada verão senão escuridão e a
sua própria angustia.
A Sofia sempre permanece á porta da alma, batendo e alertando-a quando a alma caminha por vias
perigosas.
Se a alma a dado momento tem firmeza e determinação para a conversão e arrependimento do seu
coração e assim desdenhar o mundo e se virar para Ela, Ela está pronta e mostra-se á alma ávida de
Amor.
Nesse momento ocorre um julgamento dos seus pecados num flash que faz com que a alma retome sua
indignidade, se envergonhe dos seus actos e se interiorize, sentindo e conhecendo-se a si mesma
como indigna de receber tal Jóia.
Mesmo assim pede a Pérola à Sofia para manter o seu êxtase e estado celestial.
Mas a Sofia não se une imediatamente à alma, ou seja, não desperta imediatamente a extinta
imagem celeste na alma, desaparecida de Adão no paraiso.
Não o faz, porque pode ser perigoso para a alma sedenta, pois se Adão e Lucifer cairam e mesmo
os santos a cada dia ‘caiam sete vezes’, o mesmo pode acontecer ao homem que ainda está fortemente
atrelado à vaidade.
O reatar da relação Sofia-alma deve aguardar o teste e prova da alma para se ver se está firme e
resoluta.
A Sofia deixa de novo a alma, retira dela os raios do Seu amor, a alma sente-se abandonada,
às suas provas, pois tem de vir diante dos portões do inferno primeiro, num teste que é uma prova de
fogo ás suas convicções e mostrar-se vitoriosa e firme na sua resolução celeste, aí a Sofia a apoiará
nesse combate entre o céu e o inferno.
A alma que sai vencedora deste combate pelo amor da sua nobre Sofia, é então finalmente coroada e
celebra-se o Casamento Real onde a nobre Pérola é semeada em grande triunfo, mesmo que seja ainda
pequena como um grão de mostarda, mas que só estará em plena posse da alma após a morte
fisica como se explica abaixo.
Abençoados aqueles que passam esta prova de fogo a tempo na sua vida de se tornarem uma fortaleza
contra o inimigo enquanto neste mundo viverem e não esperam pela hora da morte para tomarem essa
resolução.
A alma :
Ó nobre Sofia, estou extasiada com o vislumbre da Tua face que me deste a conhecer.
Onde estiveste por tanto tempo escondida ?
Tu me livraste do inferno e transformaste a morte em vida em mim, tu me redimiste da agonia do
condutor igneo, concede-me a tua doce Pérola para que habite em mim para sempre.
A Sofia :
Ó nobre noivo, és mil vezes bem vindo.
Por que me esqueceste tanto tempo? Eu estava à tua porta mas não me vias.
Eu chamava-te e teus ouvidos não me ouviam.
Voltaste teu rosto contra mim e não vias a minha luz porque caminhavas no vale das trevas e
estavas sumptuoso no poder da cólera de Deus.
Tu rompeste o laço de matrimónio e dedicaste teu amor e afeição a um estranho e Eu, tua
noiva, permaneci só na substância extinta, sem o poder da tua força ignea.
Não pude me alegrar sem a tua força ignea, pois tu és meu marido.
O brilho do meu esplendor se manifesta através de ti.
Tu não podes manifestar minhas maravilhas ocultas em tua vida ignea nem trazê-las á majestade, sem
mim tu és uma casa escura, onde não há senão angustia, miséria e
tormentos horriveis.
Ó meu noivo, permanece com teu rosto para mim virado, dá-me teus raios de fogo.
Traz o teu desejo (ígneo) para dentro de Mim para com esse acto Eu me inflamar, então trarei os
raios do Meu Amor, da minha meiguice para a tua essência ígnea, permanecendo unida a ti para sempre e
seremos eternamente exultados por todos os anjos do céu.
habites a minha fé e operes as tuas ígneas
Meu querido Amor, te imploro que
maravilhas em meu Amor, foi para isso que Deus te criou e te deu existência.
A alma :
Ó minha noiva, Tu que restauraste a minha miséria com a Tua meiguice e trouxeste a água da montanha ao
meu interior saciando minha grande sede, Tu que transformaste minha angústia de fogo em grande
alegria.
Ó inefável Amor, concede-me Tua Pérola, a fim que eu continue nesta alegria para sempre.
A Sofia :
Meu querido, muito me alegras em tua iniciação.
De facto já rompi em ti, através da cólera de Deus, as correntes e laços que te mantinham preso.
Mas tu estás a pedir-me algo excessivamente grande de mim que não posso ainda confiar
em tuas mãos.
Queres minha Pérola como sendo tua.
Mas tu ainda permaneces em grande perigo, caminhando em dois perigosos reinos.
Caminhas no reino onde Deus chamava a si mesmo um Deus forte e ciumento e um fogo que consome.
Caminhas também no mundo exterior onde habita a vã e corrupta carne e os prazeres do mundo e onde os
assaltos do demónio te perseguem a cada instante .
a qualquer altura ainda poderás trazer em tua grande alegria, outra vez as
Assim sendo, tu
coisas terrenas para junto da minha beleza, obscurecendo minha Pérola.
Poderás te tornar orgulhoso, como Lucifer, quando tinha a Pérola em seu poder e te afastares da harmonia
de Deus, como ele fez, e então ficarei de novo privada de meu Amor para sempre.
Não, guardarei a minha Pérola em mim e habitarei no céu em ti, em tua extinta mas agora
revivida humanidade em mim.
Reservarei minha Pérola para o paraiso, até que tu afastes as coisas
terrenas de ti, e só então permitirei que a possuas.
Irei, contudo, te mostrar meu amável semblante e os doces raios da Pérola durante o resto da tua vida
terrestre.
Irei habitar com a própria Pérola no coral inteiro e serei tua amável e fiel noiva.
Não posso me expor à tua carne terrestre, pois sou uma Rainha celeste e meu reino não
é deste mundo.
Ainda assim, não irei colocar um fim em tua vida exterior, mas aliviá-la frequentemente com meus raios
de Amor, pois tua humanidade exterior pode voltar !
Meu querido noivo, faz apenas a minha vontade e não irei te deixar sózinho nesta vida.
Tu deves nesta vida, trabalhar e gerar frutos, tu és a raiz desta Árvore da Pérola, galhos
devem ser gerados de ti, todos eles devem brotar na angústia desta vida.
Mas eu surjo também com teus galhos, na seiva, produzindo frutos em teus ramos e tu nada sabes
disto, pois o Altissimo assim o ordenou, que Eu habitasse contigo e em ti.
Sê paciente, afasta-te dos prazeres do mundo e coloca rédeas no cavalo indisciplinado.
Irei visitar-te na tua essência ígnea e te darei meu beijo de amor.
Trarei comigo do paraiso uma grinalda como prova da minha afeição e a colocarei sobre ti, o que te
deixará muito feliz.
Mas,não te darei minha Pérola para que a possuas durante a vida terrestre.
Deves permanecer na resignação, ouvindo a música que o Senhor toca na harmonia que agora
existe em ti, tu que agora és um mensageiro de Seu Verbo.
A alma :
Eu me comprometo contigo e me submeto à tua vontade, ó esposa amada.
Não me dás tua Pérola mas conduz-me com teus raios de amor na minha peregrinação terrestre.
Daqui em diante serei só Teu.
Nada desejarei para mim a não ser aquilo que Tu desejas através de mim.
Estou em paz, pois sei que estarás comigo sempre em todos os meus problemas e não me irás
abandonar.
Volto minha face ígnea para ti e juntos faremos deste fogo uma chama de
Amor.
A Sofia :
Meu nobre noivo, fica tranquilo, estarei contigo para sempre, até ao fim do mundo.
Virei a ti e em ti farei a minha morada.
Tu irás beber da minha fonte, pois agora sou tua e tu és meu, o inimigo não mais nos vai
separar.
Trabalha em tua propriedade ígnea e eu colocarei os meus raios de amor em tua obra.
Iremos assim plantar e fertilizar a vinha de Deus.
Tu com a essência de fogo, Eu com a essência da luz e do crescimento.
Sê tu o fogo que Eu serei a água.
Juntos iremos realizar esta obra neste mundo que Deus nos designou ,
servindo-O em seu templo que somos .
AMÉN !!