Int. Geral
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Visão resumida
Os filósofos da linguagem não se ocupam muito do que significam palavras ou frases
individuais. Qualquer dicionário ou enciclopédia pode resolver o problema do significado das
palavras quase sempre ou talvez. O mais interessante é o que significa para uma palavra ou
frase significar alguma coisa. Por que as expressões têm os significados que têm? Como uma
expressão pode ter o mesmo significado de outra? E, principalmente: qual o significado de
"significado"?
A pergunta "qual o significado do 'significado'?" não tem uma resposta óbvia. A
tradição empirista tratou o significado do "significado" como uma ideia provocada por
um signo. Teorias da condição de verdade tratam os significados como condições sob as
quais uma frase envolvendo uma expressão pode ser verdadeira ou falsa. Teorias do
significado como uso entendem o significado como algo relacionado a atos de fala e frases
particulares. Teorias pragmatistas tratam o significado como consequência. Teorias
referenciais do significado tratam o significado como algo equivalente às coisas no mundo
conectadas às palavras que as designam.
A filosofia da linguagem investiga a relação entre o significado e a verdade. Frases sem
significado podem ser verdadeiras ou falsas? E as frases sobre coisas que não existem, como
o Papai Noel (Pai Natal)? Quando dizemos que algo é verdade, o que é verdadeiro? A frase?
A questão do aprendizado da linguagem levanta algumas questões interessantes. É possível
haver pensamento sem linguagem? O quanto a linguagem influencia o conhecimento do
mundo. É possível raciocinar sem linguagem??
História[
A investigação filosófica da linguagem pode ser encontrada já nos textos
de Platão, Aristóteles e autores estoicos.[1]
No Crátilo, Platão trata de questões concernentes à relação entre os nomes e as coisas que os
mesmos designam. Tal relação é natural ou convencional? No final do diálogo, ele admite
que convenções sociais estão envolvidas na fixação dos nomes às coisas e que há problemas
na ideia de que palavras e fonemas têm significados naturais.
Platão também é responsável pela explicação da possibilidade do discurso sobre a falsidade e
o não-ser. É fácil explicar como falamos sobre o que é, existe ou acontece. Se o céu está azul,
e dizemos "o céu está azul", o que dizemos é verdadeiro, pois se relaciona de maneira
adequada com a cor do céu, o estado de coisas. Mas se o céu está azul e dizemos "o céu não
está azul", o que dizemos é falso e aqui temos um problema, pois o que dizemos não se
relacionada a nada. Se não se relaciona a nada, então não se relaciona, pois o nada não é nada
(coisa alguma, ou, mais adequadamente em Filosofia, ente físico ou ideia alguma), e não
pode ser o elemento de uma relação. E, no entanto, falamos muitas coisas que não são, ou são
falsas. Isso é possível, segundo Platão, porque as frases são complexas, ao contrário
dos nomes, que são simples. Um nome designa a coisa que designa se a coisa existe, ou não
designa nada se a coisa não existe. A frase não nomeia coisa alguma. Nela se atribui
um predicado a um sujeito gramatical e é nessa atribuição que há espaço para que se diga, de
uma coisa, algo que não cabe a ela. Eis onde nasce a possibilidade do discurso sobre a
falsidade e o não-ser.
Aristóteles ocupou-se de questões de lógica, das categorias e do significado. Ele separou
todas as coisas nas noções de gênero e espécie. Ele defendeu que o significado de
um predicado é estabelecido através da abstração das similaridades entre várias coisas
individuais. Tal teoria deu origem ao nominalismo, na Idade Média, mas há influência
aristotélica também na posição oposta, o realismo, sobre os universais. Dentre os
medievais, Pedro Abelardo é notável pela antecipação de muitas ideias modernas sobre a
linguagem.
O debate sobre o significado dos universais interessou a vários filósofos. Qual o significado
de "pedra", por exemplo? Para os realistas a palavra refere-se a uma entidade abstrata (a
teoria das formas ou ideias de Platão é um exemplo de realismo). Para os nominalistas a
palavra é um som comum que utilizamos para designar cada pedra.
A filosofia da linguagem foi considerada importante por vários filósofos modernos,
incluindo John Austin, Ferdinand de Saussure, Schopenhauer, Umberto
Eco, Hegel, Herder, Wilhelm von Humboldt, Kant, Leibniz, Locke, Nietzsche, Charles
Sanders Peirce, John Searle, Vico, Foucault e Wittgenstein.
Embora os filósofos sempre tenham discutido a linguagem, ela começou a desempenhar um
papel central na Filosofia no final do século XIX. No século XX, a Filosofia da Linguagem
tornou-se tão importante que, em alguns círculos de filosofia analítica, os problemas da
Filosofia em geral foram tratados como problemas de Filosofia da Linguagem.
Linguagem e mundo
As teorias da referência investigam como a linguagem interage com o
mundo. Frege defendeu uma teoria da referência na qual uma expressão tem
sua referência determinada pelo sentido ou modo de apresentação, isto é, pela maneira como
o referente é apresentado ao falante. Em contraste, e em resposta
ao idealismo de Bradley, Bertrand Russell criou uma teoria da referência direta.
A teoria da referência mediada de Frege difere da teoria da referência direta de Russell no
tratamento dos nomes logicamente próprios. Na explicação de Russell, o único significado
dos mesmos são seus respectivos referentes. Na explicação de Frege, qualquer expressão
referencial tem um sentido e uma referência. Nomes correferenciais, como "Samuel
Clemens" e Mark Twain", causam problemas para a visão diretamente referencial em geral
(embora não causem problemas especificamente para a teoria da referência direta de Russell,
pois na mesma nem todos os nomes próprios gramaticais são nomes logicamente próprios). A
teoria de Frege, por sua vez, encontra dificuldades na articulação e especificação das
características dos sentidos.[2]
Ludwig Wittgenstein (1889-1951) foi, sem dúvida, um dos filósofos mais influentes do
século 20 e o principal responsável pela chamada virada linguística da filosofia, movimento
que colocou a linguagem no centro da reflexão filosófica, deixando de figurar apenas como
um meio para nomear as coisas ou transmitir pensamentos.
Em sua trajetória intelectual, Wittgenstein foi capaz de realizar uma profunda revisão de sua
própria teoria, a tal ponto que muitos estudiosos de sua obra filosófica a dividem em dois
períodos: o "primeiro Wittgenstein", que corresponderia ao seu "Tractatus Logico-
Philosophicus", publicado em 1921, e o "segundo Wittgenstein", cuja obra principal é
"Investigações Filosóficas", publicada postumamente.
Embora se tratem de "dois wittgensteins", que influenciaram escolas filosóficas diferentes, a
linguagem permanece o tema principal de sua reflexão e o que fornece unidade a sua obra.
Tractatus Logico-Philosophicus
No "Tractatus Logico-Philosophicus" - um conjunto de aforismos e corolários divididos de 1
a 7 -, Wittgenstein tenta romper com a visão tradicional da filosofia, que vê o mundo como
um mero agregado de coisas que podem ser pensadas de modo independente umas das outras.
Tal visão não é incorreta, apenas incapaz de explicar qual a relação existente entre as coisas.
As coisas, por si só, não têm sentido, pois elas ganham significado quando relacionadas com
outras coisas. Da mesma forma como não conseguimos pensar em algo fora do espaço e do
tempo, "também não podemos pensar em nenhum objeto fora da possibilidade de sua ligação
com outros" (Tractatus, 2.0121).
Para que algo possa ter significado é preciso que apareça dentro de uma relação com outros
objetos em um determinado estado de coisas. Estar ligado a um estado de coisas é, ao mesmo
tempo, a condição para que um objeto possa aparecer e ser pensado.
Com as palavras acontece a mesma coisa. Elas só adquirem significado quando inseridas em
uma frase, pois somente as frases podem ser consideradas verdadeiras ou falsas. Dizer, por
exemplo, "cadeira" é algo que carece de complemento para se tornar uma unidade
significativa. É somente quando tenho uma frase como "a cadeira está na cozinha" que posso
dizer se essa proposição é verdadeira ou falsa.
Eu não poderia, porém, saber se uma frase é ou não verdadeira se ela não correspondesse à
estrutura do mundo, ou seja, a ordem das coisas no mundo. Mas como a linguagem pode
representar a estrutura do mundo?
Conexão entre palavras e objetos
Para Wittgenstein isso só seria possível se existisse uma correspondência entre o mundo, o
pensamento e a linguagem. Dito de outra maneira, se houvesse uma correspondência entre a
figuração do mundo na linguagem e o próprio mundo afigurado.
Como explica Wittgenstein, "na figuração e no afigurado deve haver algo de idêntico, a fim
de que um possa ser, de modo geral, uma figuração do outro". (2.161). "O que a figuração
deve ter em comum com a realidade para poder afigurá-la à sua maneira - correta ou
falsamente - é a sua forma de afiguração" (2.17). Portanto, não basta que exista uma
correspondência entre a palavra e a coisa designada, pois nas frases falsas também se fala
sobre objetos. Caso contrário, elas não seriam falsas, mas apenas absurdas.
Mas como Wittgenstein pode demonstrar isso? Como pode ele provar que pensamento,
linguagem e mundo têm a mesma forma lógica? Aqui chegamos a um ponto decisivo para a
filosofia: segundo Wittgenstein, isso não pode ser demonstrado, é algo que apenas se mostra.
Para demonstrar aquilo que se mostra através da linguagem e do mundo seria preciso uma
teoria que se referisse à totalidade do mundo e da linguagem.
Isso é, no entanto, impossível, pois quando falamos sobre o mundo já estamos dentro da
forma lógica e não há como vê-la de fora. "Para podermos representar a forma lógica,
deveríamos poder-nos instalar, com a proposição, fora da lógica, quer dizer, fora do mundo"
(4.12). Teríamos que colocar-nos, como diziam os medievais, no ponto de vista de Deus, algo
que é igualmente impossível, a menos que o próprio Deus o revelasse para nós.
Função da filosofia: esclarecer pensamentos
Daí que as investigações sobre o sentido do mundo como totalidade não é assunto para o
filósofo, mas para o místico: "O sentimento do mundo como totalidade limitada é o
sentimento místico" (6.45). A filosofia não tem nada a dizer sobre a forma lógica, já que a
forma lógica é a condição de possibilidade de toda e qualquer figuração e não pode, ela
mesma, ser afigurada. A forma lógica não se explica, se mostra, e "o que pode ser mostrado
não pode ser dito" (4.1212).
Assim, quando alguém quiser dizer algo de metafísico como "ser" ou "essência", explicar-lhe
que não conferiu um significado preciso ao que diz e sugerir que ele reconstrua sua
proposição. Os filósofos deveriam resignar-se ao sétimo aforismo do Tractatus que diz que
"sobre aquilo que não se pode falar, deve-se calar".
Todavia, não deixa de ser curioso que o próprio Wittgenstein teve de se valer de proposições
gerais e metafísicas para expor suas teses. Ele afirma, por exemplo, que a totalidade das
proposições é a linguagem; que a proposição é uma figuração da realidade; que os limites do
mundo são os limites da minha linguagem etc. Ou seja, ele não se limita ao que se mostra,
mas pretende falar sobre como as coisas são em sua totalidade.
Assim, o seu Tractatus deve também ser entendido como uma pretensão de dizer algo de
metafísico e, portanto, um contra-senso. Para sair dessa, Wittgenstein usa a genial analogia da
escada que deve ser jogada fora após se subir por ela (6.54). A filosofia é essa escada que ele
usou para descrever a estrutura lógica do mundo e da linguagem. Feito isso, sua função está
praticamente encerrada e Wittgenstein, coerente com seu pensamento, preferiu mergulhar em
um silêncio que durou vários anos a continuar a dizer mais contra-sensos.
"Minhas proposições" - diz Wittgenstein - "elucidam dessa maneira: quem me entende acaba
por reconhecê-las como contra-sensos, após ter escalado através delas - por elas - para além
delas. (Deve, por assim dizer, jogar fora a escada após ter subido por ela.)" (6.54).