AUTOCONCEITO E QUALIDADE DE VIDA NA OBESIDADE INFANTIL Ok
AUTOCONCEITO E QUALIDADE DE VIDA NA OBESIDADE INFANTIL Ok
AUTOCONCEITO E QUALIDADE DE VIDA NA OBESIDADE INFANTIL Ok
Resumo
O diagnóstico da obesidade infantil tem se tornado cada vez mais recorrente e, no Brasil, pode
ser considerada uma questão de saúde pública. Sabe-se que a causa dessa doença é
multifatorial e que, considerando a subjetividade de cada indivíduo, fatores como o
autoconceito e a qualidade de vida podem ser afetados. Sendo assim, a presente pesquisa tem
por objetivo levantar dados acerca dessa temática, a partir de uma revisão sistemática de
periódicos indexados sobre autoconceito e qualidade de vida de crianças com obesidade.
Conclui-se que crianças obesas tendem a uma qualidade de vida mais baixa, quando
comparadas às crianças não obesas. Quanto ao autoconceito, dentre as dimensões presentes
nas variáveis de avaliação desse item, as crianças se vêem de forma positiva e negativa em
relação a alguns aspectos dessas dimensões. Com relação aos fatores psicossociais, foram
observadas a influência da estigmatização e discriminação sofrida pelas crianças obesas, seja
no contexto familiar, escolar ou social. Evidencia-se a partir desses estudos a importância da
dinâmica familiar, tanto no processo de desenvolvimento da obesidade quanto na eficácia do
tratamento.
Abstract
The diagnosis of childhood obesity has become increasingly recurrent and, in Brazil, can be
considered a public health issue. It is known that the cause of this disease is multifactorial
and, considering the subjectivity of each person, factors such as self-concept and quality of
life can be affected. Therefore, the present research aims to collect data on this subject from a
systematic review of indexed journals on self-concept and quality of life of children with
obesity. We conclude that obese children tend to have a lower quality of life, when compared
evaluation variables of this item, children see themselves in a positive and negative way
regarding some aspects of these dimensions. With regard to psychosocial factors, the
family, school or social context, was observed. From these studies, the importance of family
Uma vez que o estilo de vida começa a ser formado na infância, é possível afirmar que
uma criança com baixo nível de atividade motora e estimulação pode vir a se tornar um adulto
sedentário e, consequentemente, com pouca qualidade de vida (Guedes & Guedes, 1997).A
saúde e sendo considerado um grave problema de saúde pública (Battaglini, Zarzalejo, &
Alvarez, 1999; Cintra,1999, Frelut& Navarro, 2000 citados por Liberatoni, Gorayeb, Júnior&
Domingos, 2005).
de risco à saúde, e “pesquisas têm sido sugeridas no intuito de combater os fatores envolvidos
na sua origem e manutenção” (Moraes & Dias, 2013). É possível que se analise a obesidade
sob duas perspectivas, sendo a obesidade endógena e a exógena. A endógena ocorre com mais
DCNT’s caracterizam-se por seu histórico prolongado, com extenso período assintomático e
agravamento para estados de incapacidade ou mesmo falecimento (Lessa, 1998 citado por
Pinheiro, Freitas & Corso, 2004). Dessa forma, trata-se de uma doença que traz sérias
(OMS, 2013) – refere-se à “percepção do indivíduo sob sua posição na vida, no contexto da
QUALIDADE DE VIDA NA OBESIDADE INFANTIL 5
cultura e sistema de valores nos quais ele vive e em relação aos seus objetivos, expectativas,
mudanças ao longo da vida, e que dependem de outros aspectos para ser caracterizado.
De acordo com Ravens-Sieberer, Redegeld & Bullinger, 2001 citado por Poeta, Duarte
podendo direcionar políticas públicas que visem à melhoria da qualidade de vida” Afirmam
ainda que essa avaliação também poderia ser levada em consideração em crianças com
excesso de peso, sendo utilizada com contexto no tratamento. Bem como instrumento de
começa a ser construído na infância, a partir das interações com os outros indivíduos e das
interpretações que a criança faz do seu ambiente (Fierro, 1996 citado por Oliveira, Matsukura&
Fontaine 2017), “podendo ser alterado ao longo da vida, de acordo com as experiências que são
significativas para cada pessoa” (Harter, 1996 citado Oliveira, Matsukura e Fontaine 2017).
Desse modo, tanto a qualidade de vida quanto o autoconceito dependem de muitas outras
variáveis para serem mensurados, além de serem construídos sob a perspectiva individual de
cada sujeito.
científica e teve por objetivo realizar uma revisão sistemática sobre autoconceito, qualidade
de vida e seus impactos na vida de crianças obesas. Sabe-se que, apesar de ser uma temática
atual, ainda não é vasta a produção de artigos cujo tema aborde a obesidade infantil e os
Desenvolvimento
Métodos
Este artigo de revisão sistemática contou com buscas eletrônicas de artigos científicos
através dos sites SciELO (Scientific Eletronic Library Online),PePSIC, LILACS (Literatura
Resultados e discussão
Tabela 1
Tabela descritiva
Torcato tratamento e
prevenção.
A pesquisa das autoras Poeta, Duarte e Giuliano (2010) apresenta uma amostra de
comparação entre crianças obesas e não obesas. As autoras apontam estudos em que a
QUALIDADE DE VIDA NA OBESIDADE INFANTIL 11
mesma, além das comorbidades que acometem os obesos. Dessa forma, os resultados do
presente estudo apontam uma pior qualidade de vida em crianças e adolescentes com
obesidade em todos os domínios, entre eles o emocional, físico, social e psicossocial, quando
intervenção na qualidade de vida de crianças obesas. Essa intervenção contou com exercícios
destacam os prejuízos e impactos psicológicos e sociais a longo prazo na vida dos indivíduos,
tratamento da obesidade, tanto de ordem física quanto psicológica, que acabam por beneficiar
a qualidade de vida em diversos domínios da vida do sujeito. Citam ainda estudos que
indicam a relação entre sintomas depressivos em crianças obesas, quando comparadas às não
compararam crianças com peso saudável às crianças obesas. Foram usados instrumentos para
autores apontam pesquisas em que crianças e adolescentes obesos apresentam pior qualidade
da amostra apresentam qualidade de vida inferior à das crianças não obesas, sendo que, entre
os obesos, os adolescentes apresentam quadros ainda menos satisfatórios que os das crianças.
Dessa forma, o estudo sugere a relação entre sobrepeso/obesidade e a baixa qualidade de vida.
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correlação entre a obesidade e baixa qualidade de vida, principalmente em pacientes que não
diretamente no bem estar geral do indivíduo, incluindo seu estado emocional, sua condição
que contou com a participação de trinta crianças obesas em uma cidade brasileira, cujo
objetivo foi avaliar a qualidade de vida de tais crianças por meio da Escala de Avaliação da
Qualidade de Vida (AUQEI). Em relação aos estudos anteriores, que apontam uma
interferência da obesidade na qualidade de vida das crianças obesas, apenas o estudo de Bass
vida nas crianças em questão, tendo seus escores próximos às avaliações de qualidade de vida
Poeta, Duarte e Giuliano (2010); Poeta, Duarte, Giuliano e Mota (2013); Gouveia,
Frontini, Canavarro e Moreira (2016) e Tavares, Nunes e Santos (2010) apontam a associação
da obesidade com a baixa qualidade de vida. Já o estudo Bass e Beresin (2009) não revela
baixa qualidade de vida em crianças com obesidade, apesar de constatarem-se escores gerais
mais baixos que os resultados obtidos quanto à qualidade de vida em crianças não obesas.
investigadas algumas variáveis psicológicas entre crianças obesas e não obesas. Dentre essas
variáveis, avaliou-se o autoconceito. O artigo traz uma literatura vasta acerca dos aspectos
seus fatores, nessa pesquisa não foram apontadas diferenças significativas entre os dois
grupos de controle. Dessa forma, a hipótese inicial de que haveria diferença entre os grupos
foi refutada.
Simões e Meneses (2007) realizaram um estudo transversal, que teve como objetivo
autopercepção. O artigo traz, em sua literatura, estudos que revelam que crianças obesas
tendem a se perceberem de forma mais negativa e a sentirem-se menos satisfeitas com sua
aparência. Contudo, as conclusões apontam que aquelas crianças não possuem uma
O estudo de Carvalho, Cataneo, Galindo e Malfará (2005) teve por objetivo descrever
a percepção das crianças sob seus corpos. Dessa forma, foram comparados grupos de crianças
obesas e não obesas através da Escala Piers Harris de autoconceito e Eating Behvioursand
Body Image Test. Os autores citam estudos que relacionam o baixo autoconceito à obesidade
uma vez que possuem sofrimento psíquico, sentimentos de menos valia e alterações no
comportamento, bem como estudos que concluem com a não relação entre esses fatores. Já os
resultados obtidos nessa pesquisa, revelam que de maneira geral as crianças obesas não
reconhecem de forma otimista; bem como o que acontece com as crianças não obesas
Meneses (2007); Carvalho, Caetano, Galindo e Malfará (2005) e Braz e Castro (2016), pode-
se dizer que o baixo autoconceito não é um fator determinante na obesidade, mas existem
fatores decorrentes da doença e que podem acarretar na eclosão da mesma. Os quatro estudos
dimensões dentro do autoconceito que ocorrem, ora de forma otimista, ora desfavorável
dentro da percepção da criança sobre si mesma; ou seja, existem tanto aspectos negativos
quanto variáveis positivas dentro desta autopercepção. Os autores corroboram que, quando
comparadas às crianças não obesas, há diferença nos escores de algumas dessas dimensões e
semelhanças em outras.
Os autores Caetano et al. (2005), Simões e Meneses (2007) e Carvalho et al. (2005)
citam em seus estudos que podem ocorrer alguns prejuízos secundários da obesidade, que
No artigo de Melo, Serra e Cunha (2009), os autores afirmam que a obesidade traz
preconceito sofridos pelas crianças, além da comum ligação entre a obesidade e estereótipos
como “preguiça, feiúra, falta de autocontrole” (Wardle, Volz & Golding, 1995 citado por
Melo, Serra & Cunha, 2009).Referem-se ainda à família como parte fundamental do processo
de estigmatização da criança (Adams, Hicken & Salehi1988 citado por Melo, Serra & Cunha,
2009). Os autores concordam quanto ao impacto causado pela obesidade nos aspectos
O estudo de Kleiner, Neves, Urquieta e Torcato (2010) apresenta a família como uma
própria nutrição inadequada, conflitos familiares, carga horária escolar, exposição excessiva a
pela obesidade, que são a adiposidade, diabetes e outras alterações hormonais. Apontam ainda
que as alterações físicas podem impactar no estado emocional da criança, prejudicando – por
físicos.
QUALIDADE DE VIDA NA OBESIDADE INFANTIL 16
avaliadas crianças com obesidade, crianças com peso normal e crianças com obesidade em
tratamento. O estudo aponta que crianças obesas relatam menos qualidade de vida geral do
que crianças não obesas e, quanto ao autoconceito, também foram notadas diferenças
significativas, apontando autoconceito mais negativo nas crianças obesas, quando comparadas
As autoras supracitadas concluíram – por meio dos resultados – que crianças com
grupos em que são comparados, e têm uma percepção desfavorável de sua saúde geral.
para o surgimento e manutenção de alguns fatores saudáveis ou não. Dessa forma, consideram
que não houve diferenças significativas em relação ao sexo, nem uma idade prevalente do
étnico de crianças brancas, o que foi associado pelos autores a um nível econômico mais alto.
da obesidade.
Citam também estudos em que a obesidade dos pais é apontada como fator de risco para a
obesidade infantil, o que enfatiza a relação da dinâmica familiar com o surgimento da doença.
As autoras afirmam que a sociabilização das crianças obesas é reduzida, uma vez que sua
sociais.
autoconceito, além da importância dada aos estudos que abordam a dinâmica familiar nos
Considerações finais
emocionais, físicos e a forma como a criança lida com esses efeitos são fundamentais na
escolar ou social. Acredita-se que a ocorrência desses eventos influencia diretamente na forma
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como esses indivíduos se percebem e também em sua qualidade de vida. Evidencia-se a partir
vida são determinados pela junção de múltiplos fatores, dentre eles, a dinâmica familiar.
O presente estudo abrangeu apenas alguns aspectos que permeiam a obesidade infantil.
Desta forma, sugere-se que sejam feitas pesquisas que abarquem a relação entre o
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