A Experiencia Das Produtoras Culturais Colaborativas
A Experiencia Das Produtoras Culturais Colaborativas
A Experiencia Das Produtoras Culturais Colaborativas
Pedro Jatobá3
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Mestrando do Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Sustentável do Trópico
Úmido - Núcleo de Altos Estudos Amazônicos – Universidade Federal do Pará (UFPA)
Av. Perimetral, nº1 – Bairro Guamá – Belém – PA – Brazil
[email protected]
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Mestranda do Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Sustentável do Trópico
Úmido - Núcleo de Altos Estudos Amazônicos – Universidade Federal do Pará (UFPA)
Av. Perimetral, nº1 – Bairro Guamá – Belém – PA – Brazil
[email protected]
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Mestrando em Gestão Social e Desenvolvimento de Territórios do Centro Interdisciplinar
de Gestão Social (CIAG - Escola de Administração da Universidade Federal da Bahia
(UFBA)
Abstract.
This article reports "Producers collaborative cultural (PC)" (escolha o termo) as
social technologies for local development, with observations about concepts that
guide collaborative work such as community communication and free software. The
work purposes to analyse communicative and cultural actions of the "Produtoras
Colaborativas" within digital culture, allied to popular culture works and Free
Software use as a philosophy and tool to promote local development and free
culture.
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1. Introdução
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comunitária e serviços de tecnologias livres à grupos culturais, artistas e instituições públicas,
fazendo a reflexão sobre a cultura livre e desenvolvimento local.
"Hoje, o que é federativo no nível mundial não é uma vontade de liberdade, mas de
dominação, não é o desejo de cooperação, mas de competição, tudo isso exigindo
um rígido esquema de organização que atravessa todos os rincões da vida humana.
Com tais desígnios, o que globaliza falsifica, corrompe, desequilibra, destrói.”
(SANTOS, Milton, 2008)
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caso do Downing, que considera então que, "A mídia radical alternativa constitui a forma
mais atuante da audiência ativa3 e expressa as tendências de oposição, abertas e veladas, nas
culturas populares" (Downing, 2002).
Ainda para colaborar com o nosso entendimento dos conceitos e ações das produtoras
culturais colaborativas, consideramos as discussões da teoria da ação comunicativa de Jurgen
Habermas. O teórico ressalta a razão como sendo instrumental, estabelecidas nas sociedades
capitalistas modernas, que estabelecem normas, regras e critérios de decisão racionais, onde
meios são estabelecidos, calculados e planejados para o atingimento de determinados fins,
sendo normatizados socialmente enquanto razão de pensar e agir.
Em contraponto, Habermas fala da teoria da ação comunicativa, guiada por uma
racionalidade comunicativa, cujas premissas são do uso do diálogo e da argumentação como
promotores de discussões nas esferas públicas pelo social, (re)definindo o modus operandi da
sociedade, baseado no comum acordo entre os falantes, como vemos na definição do autor,
3 Segundo Downing, o termo “Audiência Ativa”, refere-se é “a audiência que elabora e molda os produtos da
mídia, e não apenas absorve passivamente as suas mensagens.” DOWNING, John, 2002.
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softwares livres para a produção da comunicação comunitária. Esse conceito de cultura
popular diversas vezes é colocado como sinônimo de popular, alternativa, participativa ou
radical. Dessa forma, iremos considerar a comunicação comunitária, sendo aquela produzida e
fomentada pelas comunidades comunitárias, grupos de movimento sociais e culturais, artistas,
entre outros, ou seja, difere-se da comunicação corporativa gerenciada por empresas de mídia.
A comunicação comunitária produzida pelas produtoras culturais colaborativas é
subsidiada pela utilização de softwares livres de comunicação para a criação de textos, blogs e
sites, áudio de entrevista, vídeo e tvs web, rádios online, fotografias, entre outras, que também
são publicadas com licenças livres.
A opção pela utilização de softwares livres para a produção de conteúdos comunitários
se dá não apenas por uma escolha técnica, mas principalmente por um posicionamento
político. “O software livre engloba diversas características não apenas tecnológicas, mas
também social, cultural e ética que apontam para uma alternativa aos modelos econômicos
vigentes, que são neoliberalistas, os quais pregam a livre concorrência através da competição
e da busca do lucro lucro individual a todo custo.” (CUNHA e FILHO, 2013, p.10).
Ainda segundo os autores, o trabalho com software livre é pautado pela ética hacker
cujas premissas são o compartilhamento do conhecimento, o trabalho colaborativo e a
liberdade.
“Os hackers do SL possuem uma ética que é compartilhada pelo movimento como
modo de vida e trabalho, a chamada ética hacker, que como já foi dito, permite
nortear a postura dos membros em torno do uso e desenvolvimento dos programas.
Neste sentido, a ética hacker se torna mediadora do processo de compartilhamento do
conhecimento tecnológico” (CUNHA; FILHO, 2013. p. 11)
Outro conceito fundamental que norteia o trabalho das PCs, é o de Cultura Livre ou
Cultura do Remix que é a liberdade de criar ao beber de diferentes fontes de inspiração. Esta
liberdade não se dá entretanto sem deveres, como por exemplo fornecer as devidas
referências de quem a obra foi derivada e manter esta liberdade de derivação na nova obra.
Apesar da tecnologia ter se inspirado muitas vezes na natureza ou em outras áreas do
conhecimento humano para organizar suas topologias e estruturas de funcionamento, a
criação das licenças livres tem uma inspiração direta da Gnu Public Licence (GPL) originária
do projeto GNU/LINUX referente ao sistema operacional em software livre mais utilizado
atualmente.
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Conforme informado nos documentos descritivos das Produtoras Colaborativas de
Pernambuco, Belém, Bahia e outras, o projeto se trata de uma tecnologia social de fomento a
cultura e a comunicação comunitária desenvolvida pela necessidade de espaços de inclusão
digital que buscam oferecer de forma social produtos, serviços e saberes de forma sustentável
e solidária. Foram base desta construção, diferentes iniciativas de mídia livre como o Portal
Som do Mangue e a Revista impressa O Diluvio no Rio Grande do Sul, bem como as
vivências autogestionárias do Laboratório de Conhecimentos Livres do Fórum Social Mundial
de 2005 e do programa cultura viva do Ministério da Cultura. Esse processo possibilitou a
utilização da internet como meio para a divulgação das ações e serviços da PCs, como destaca
Eduardo Lima1,
As experiências com o portal som do mangue de 2002 a 2004 evidenciou o potencial da
internet como canal de divulgação de produtos, serviços e saberes, assim como espaço de
comunicação. Um exemplo claro era os espaço de divulgação de fotógrafos, artesãos e
músicos incluindo registro de sua produção e canais de comunicação . A experiência com a
revista O dilúvio entre 2005 a 2007 evidenciou a importância da comunicação local com a
produção de eventos e circulação de produtos de artistas (como livros, dvds e cds) em
livrarias, bancas de revista e demais pontos de venda. A revista O Dilúvio possuía todo seu
conteúdo licenciado em creative commons e encartava conteúdos livres que apesar de
vendidos na banca também estavam livres para download na internet. Um exemplo é a banda
Eddie de Olinda/PE que circulou na região sul encartado na revista mas possui toda sua
discografia para download em seu site oficial (http://www.bandaeddie.com.br/). A revista
circulava 4.000 exemplares gratuitos pela região metropolitanda de Porto Alegre e região dos
vale dos sinos (Canoas, São Leopoldo e Novo Hamburgo) e conseguia com este modelo
evitar o comum encalhe dos periódicos em pontos de venda. Quando funcionava como canal
de distribuição para artistas a revista era vendida em bancas, livrarias, pontos de cultura,
centros acadêmicos e tinha 40% da sua receita revertida para o artista, e os demais valores
auferidos eram divididos entre o vendedor e os custos de empacotamento e transporte do kit
revista e produto cultural).
O programa Cultura Viva contribuiu bastante para o debate sobre cultura livre no
Brasil ao incluir uma diretriz específica sobre software livre e cultura digital entre seus pilares
estruturantes. Ao investir em equipamentos multimídia e equipar centros culturais, o
ministério da cultura indicava a não compra de licenças proprietárias de software com
dinheiro público e sim o fomento ao uso e capacitação de jovens, artistas e produtores locais
no uso e apropriação de softwares livres para produção cultural. Para tentar viabilizar isso
foram organizadas equipes regionais que derivaram em pontões de cultura digitais e que
tentaram atuar localmente no desenvolvimento, formação e articulação em rede dos atores
ligados a cultura livre em seus respectivos territórios.
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3. A Experiência das Produtoras Culturais Colaborativas no Brasil
Após análise dos relatos dos documentos das PCs e entrevistas com os integrantes das
equipes dos projetos de Pernambuco, Bahia (Salvador), Pará, Porto Alegre e Vale do Capão,
podemos observar o processo de desenvolvimento das ações, podemos constatar alguns êxitos
quanto ao envolvimento dos projetos com o fomento da cultura livre e comunicação
comunitária.
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órgãos municipais, estaduais e federais. Sendo através destes recursos possível pagar os
profissionais envolvidos e estruturar os equipamentos e espaços físicos para o aprimoramento
dos serviços prestados. Neste tempo também a Produtora [email protected] realizou diversas
trocas solidárias com artistas locais onde os mesmos realizaram apresentações artísticas em
ações culturais da [email protected] em troca de serviços de registro audiovisual,
comunicação e divulgação na internet.
Ainda em 2012 foi criada a Produtora Colaborativa Livre em Belém, reunindo pessoas
ligadas as redes de cultura digital e software livre com o intuito de difundir oficinas de
apropriação tecnológica junto a escolas públicas e grupos culturais da periferia de Belém.
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Através de uma parceria entre a PC e a Universidade Federal do Pará, um grupo de
acadêmicos da universidade juntamente com ativistas de software livre começaram a fazer
uma série de formações dentro da instituição de ensino para alunos dos mais variados cursos,
dentre as atividades realizadas pode-se destacar: oficinas de metareciclagem, oficina de áudio,
oficina de vídeo, oficina de edição gráfica, oficina de editoração eletrônica, oficina de
gerenciadores de conteúdos para web, oficina de mapas colaborativos e palestras sobre cultura
digital e desenvolvimento local. Foi criada uma lista de e-mails para articular os participantes
das oficinas onde são publicados informes, articulado encontros e compartilhados
conhecimentos técnicos da área de software livre. Através de uma parceria com o Projeto
UFPA 2.0, coordenado pela Pró-reitoria de Relações Internacionais, essas oficinas tem tido
continuidade, inclusive sendo organizadas para públicos específicos como é o caso dos
acadêmicos africanos que estudam em Belém e a partir dessas vivências já estão fazendo um
planejamento para a criação de uma nova Produtora Colaborativa Brasil-África.
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Em outubro de 2013 foi realizado o I encontro nordestino de produtoras culturais
colaborativas com apoio da Faculdade de Educação da UFBA. A atividade contou com a
participação de 4 produtoras de Recife/PE, Salvador, Alagoinhas e Palmeiras na Bahia e onde
cada coletivo apresentou seu histórico de principais atividades, desafios e potencialidades de
trocas. Em novembro de 2013 como conclusão do projeto R.E.D.E.S.~C.D.2 foi realizado
dentro o II Encontro de Conhecimentos Livres da Chapada Diamantina o I Encontro
Nacional de Produtoras Culturais Colaborativas que contou com a participação de 6
produtoras colaborativas das regiões norte, nordeste e sul do país. Durante os 3 dias de
encontro foram apresentadas ferramentas livres de gestão colaborativa e economia solidária
como a plataforma CORAIS e o Espaço ESCAMBO bem como debatido possibilidades
ações em rede, trocas de conhecimentos e circulação de artistas dentro da programação
cultural das produtoras em seus territórios.
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desenvolvimento dos seus projetos e ações como uma tecnologia social voltada para o
desenvolvimento local de determinadas comunidades e grupos culturais, cujos objetivos são
promover o compartilhamento de conhecimentos tecnológicos livres, a autogestão dos
projetos e empreendimentos coletivos, a sustentabilidade dos grupos envolvidos e a produção
da comunicação comunitária através das mídias populares e digitais.
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resolução de problemas comuns, representa um vetor de mudança social positiva.
Como tudo que é novo gera medo, e comunidade escolar teve que começar a utilizar o
softwares livres, mesmo com pouca ou nenhuma formação específica para utilizá-los. Esse
processo tem provocado estranhamento, incômodo por parte principalmente dos professores,
que em alguns casos, até substituem ilegalmente os softwares livres por softwares piratas.
Porém, mesmo com esse contexto, as Produtoras Colaborativas enxergam a oportunidade para
que a comunidade escolar e grupos culturais dos bairros se apropriem do espaço dos
laboratórios de informática, que muitas vezes estão sendo sub-utilizados ou mesmo
sucateados pela falta de uso e manutenção, transformado-os em espaço de produção
colaborativa de conhecimento, através das ações de comunicação comunitária e cultura, com a
participação dos alunos e professores, envolvendo os conteúdos curriculares e o saber popular.
4 Disponível em http://http://www.participa.br/
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vislumbrar a possibilidade da utilização dos laboratórios de informática das escolas como
espaços de criação e produção de tecnologias livres e comunicação comunitária. O laboratório
de informática pode ser utilizado para diversos fins que vão desde o acesso à internet e
digitalização de textos, até ao desenvolvimento de novas tecnologias, após a formação de
cultura digital realizada com alunos e professores. A criação de produtoras colaborativas
comunitárias se torna viável, pois os recursos iniciais para o começo do trabalho é baixo, ou
seja, deve-se investir inicialmente em formação, transferência da tecnologia social das
produtoras colaborativas aos grupos culturais e a comunidade escolar, pois os recursos
materiais necessários para o espaço, como sala, mesas e cadeiras, computadores e internet, já
existem dentro dos laboratórios de informática da rede pública de ensino
Para que essa metodologia da criação de PC's nas escolas ganhe escala, para que os
alunos, professores e agentes culturais comecem a trabalhar na criação de comunicação e no
desenvolvimento de tecnologias livres, capazes de possibilitar um re-arranjo na forma como
se produz conteúdo nas escolas, além de possibilitar a criação de negócios colaborativos que
fomentem a cultura através do software livre, será necessário um maior investimento voltado
à formação dos professores, artistas e agentes culturais dos bairros, para que além de se
apropriarem do trabalho da cultura digital, também possam fazer o planejamento participativo
dos bairro para a criação de projetos que solucionem os problemas comuns.
5. Conclusão
Mas para que esses casos relatados possam ser reproduzidos, verifica-se o papel
fundamental da universidade que através da extensão universitária pode contribuir
co-substancialmente para que a tecnologia social das Produtoras Colaborativas Livres
cheguem as comunidades interessadas em organizar uma inteligência coletiva focada na
melhoria da qualidade de vida das pessoas.
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6. Referências Bibliográficas
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