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Revista de Administração da Unimep

E-ISSN: 1679-5350
[email protected]
Universidade Metodista de Piracicaba
Brasil

Pereira Nunes, Moema; Matschulat, Sarah; Kalil Steinbruch, Fernanda


OS DESAFIOS LOGÍSTICOS DAS EMPRESAS BRASILEIRAS EM SUAS OPERAÇÕES
COM A ÍNDIA E A ÁFRICA DO SUL
Revista de Administração da Unimep, vol. 14, núm. 2, mayo-agosto, 2016, pp. 104-128
Universidade Metodista de Piracicaba
São Paulo, Brasil

Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=273746863005

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Revista de Administração da UNIMEP. v.14, n.2, Maio/Agosto- 2016
ISSN: 1679-5350
DOI: 10.15600/1679-5350/rau.v14n2p104-12

OS DESAFIOS LOGÍSTICOS DAS EMPRESAS BRASILEIRAS EM SUAS


OPERAÇÕES COM A ÍNDIA E A ÁFRICA DO SUL

THE LOGISTICS’ CHALLENGES OF BRAZILIANS COMPANIES IN THEIR


OPERATIONS WITH INDIA AND SOUTH AFRICA

Moema Pereira Nunes (PUCRS) [email protected]


Sarah Matschulat [email protected]
Fernanda Kalil Steinbruch (PUCRS) [email protected]

Endereço Eletrônico deste artigo: http://www.raunimep.com.br/ojs/index.php/regen/editor/submissionEditing/763

Resumo
O crescimento do comércio internacional tem revelado dificuldades na
operacionalização das transações comerciais. A falta de infraestrutura logística no Brasil é
cada vez mais destacada no ambiente de negócios global. Quando as empresas brasileiras
transacionam com parceiros de países com problemas semelhantes, como África do Sul e
Índia, estas limitações se tornam grandes entraves. Este artigo apresenta os resultados da
investigação dos aspectos logísticos destas operações, de tal forma que fosse possível revelar
que dificuldades as empresas estão enfrentando e que ações estão sendo adotadas para a
superação das mesmas. Os resultados deste estudo revelam que apesar do crescimento do
comércio entre Brasil-África do Sul e Brasil-Índia, ainda existe a necessidade de se aprimorar
os processos burocráticos e a infraestrutura provida a fim de diminuir os gargalos logísticos
existentes nos países, principalmente no que diz respeito ao transporte rodoviário e aos portos.
Palavras-chave: Logística. Entraves. Brasil. África do Sul. Índia.

Abstract
The growth of international trade has revealed difficulties in the operation of
commercial transactions. The lack of logistics’ infrastructure in Brazil is becoming more
prominent in the global business environment. When Brazilian’s companies transact with
partners from countries with similar problems, such as South Africa and India, these
limitations become major obstacles. This paper presents the research results of the logistical

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Os desafios logísticos das empresas brasileiras em suas operações com a índia e a áfrica do sul
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aspects of these operations, the difficulties that those companies are facing and what actions
are being taken to overcome them. Despite the growth of trade between Brazil - South Africa
- Brazil and India, the results of this study show that there is still the need to improve
bureaucratic processes and the infrastructure in order to reduce the existing logistical
bottlenecks in the countries, especially related to road transport and ports.
Keywords: Logistics. Barriers. Brazil. South Africa. India.

Artigo recebido em: 18/08/2014


Artigo aprovado em: 28/08/2014

Introdução
Nas últimas décadas, diversos países em desenvolvimento têm adotado ações de
liberalização econômica, as quais têm permitido o aumento de suas exportações e importações
(JU, WU e ZENG, 2009), além de apoiar a descentralização da produção (WEF, 2012). Índia
e África do Sul são notórias nos debates sobre o efeito da liberalização comercial no
crescimento econômico. Ambos passaram por processos de rápida abertura comercial na
década de 1990 (KUCERDA e RONCOLATO, 2011) e, assim como o Brasil, têm
apresentado considerável progresso no desempenho econômico nos últimos anos (SINGH,
2012). Entretanto, mesmo com ações de liberalização, como a redução de barreiras tarifárias
ou remoção de outras políticas de restrição ao comércio, a facilitação comercial local e os
serviços logísticos oferecidos também são fatores que podem afetar a participação dos países
no comércio internacional (WEF, 2012). As empresas, visando aumentar sua participação de
mercado e reduzir custos, têm optado por fazer parte deste mercado globalizado
(CHINELATO, CRUZ e ZIVIANI, 2009). A produção industrial cada vez mais é organizada
através de cadeias globais de suprimento sendo os bens processados e agregados de valor em
diversos países. Essa fragmentação geográfica da produção tem sido um dos principais
propulsores do crescimento do volume de comercializações internacionais nas últimas
décadas (WEF, 2012).
De acordo com Arvis et al (2007), um dos fatores fundamentais para o sucesso na
integração das cadeias globais de suprimento é a habilidade que uma organização tem para
levar bens de um país a outro de forma rápida, confiável e a um baixo custo. A falta de
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condições de logística eficiente dificulta o comércio exterior, gerando gastos de tempo e


dinheiro e, por vezes, até mesmo inviabilizando negócios (KORINEK e SOURDIN, 2011).
Dificuldades logísticas, como custos de distribuição doméstica e de serviços de
transporte, podem ser entraves para novos investidores (WEF, 2012), porém os desafios
enfrentados pelos sistemas logísticos globalizados podem variar de acordo com a região
(BOWERSOX e CLOSS, 2001) e também com a segmentação da indústria (WANKE e
HIJJAR, 2009). De acordo com dados do INTRACEN (2012), tanto a Índia como África do
Sul apresentam crescimento nos valores de suas exportações e importações mundiais ao longo
da última década. Também é possível observar crescimento comercial desses países com o
Brasil. Em 2011, tanto os valores exportados como os importados da Índia para o Brasil
foram cerca de 1020% maiores do que em 2001. A África do Sul, maior parceiro comercial do
Brasil no continente africano, apresentou um aumento de aproximadamente 296% no valor
importado do Brasil no mesmo período, enquanto o valor das exportações teve aumento em
218%. Já com a Índia, enquanto que em 1992 o comércio bilateral foi de apenas 177 milhões
de dólares, no ano de 2012 atingiu a marca de 10,6 bilhões, representando 2% do comércio
total do Brasil, e tornando a Índia o setimo maior mercado de destino das exportações
brasileiras (MERCOPRESS, 2013).
Aspectos relacionados com a percepção da qualidade da infraestrutura logística pelos
exportadores brasileiros foram investigados por Wanke e Hijjar (2009). Como resultado eles
identificaram que não existe um consenso sobre a percepção da qualidade neste tipo de
serviços. Aspectos como o tipo de carga exportada (contêiner ou granel) e configuração da
operação (porta-a-porto ou não) levam a divergências significativas de percepção. Neste
estudo, aspectos relacionados com o destino das cargas e as percepções de qualidade de
infraestrutura no destino não foram abordados. Dado este contexto e à luz das considerações
já feitas sobre as relações comerciais de empresas brasileiras exportadoras para a Índia e a
África do Sul, esta pesquisa investiga de que forma as empresas exportadoras e importadoras
brasileiras estão lidando com os desafios logísticos em suas operações com a Índia e a África
do Sul. O estudo compreende uma análise dos aspectos logísticos destas operações, de tal
forma que fosse possível revelar que dificuldades as empresas estão enfrentando e que ações
estão sendo adotadas para a superação das mesmas.
O tema desta pesquisa justifica-se pelo importante papel que a logística desempenha
no comércio internacional, podendo impactar de forma positiva ou negativa a competitividade
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das organizações (PONTES, CARMO e PORTO, 2009). Optou-se por realizar a pesquisa com
foco nas operações brasileiras com a África do Sul e a Índia por serem países que vêm se
destacando por seu considerável desenvolvimento econômico (SINGH, 2012) e devido ao
aumento do comércio destes com o Brasil, o qual tem trazido benefícios para o
desenvolvimento destes países (PURI, 2007).
Este artigo está organizado da seguinte forma: na sequência é realizada uma
investigação da literatura sobre logística internacional, os aspectos metodológicos do estudo
são posteriormente revelados, seguidos da análise das operações investigadas e, por fim, das
considerações finais da pesquisa.

Logística Internacional
A redução de barreiras ao comércio e o avanço das tecnologias de comunicação e
transporte permitiram que as atividades funcionais integradas se difundissem através de
diferentes organizações e regiões geográficas, criando um contexto global para as cadeias de
suprimentos (FAÇANHA, FELDMANN e SILVA, 2010). Com o aumento do comércio
internacional e surgimento de inovações, a logística internacional tem avançado nas últimas
décadas (ARVIS et al, 2012), exigindo maiores investimentos para se conseguir o
desempenho necessário e manter a competitividade das empresas (FIGUEIREDO e MORA
2009). A logística vem evoluindo desde suas raízes militares do século XIX até as atuais
cadeias internacionais de suprimentos (ARVIS et al, 2012), não sendo mais considerada
apenas um serviço isolado de transporte ou armazenagem (KERSTEN e KOCH, 2010). Uma
maior diversidade de produtos começou a surgir no mercado. As empresas passaram a adotar
a multimodalidade de transporte, utilizar sistemas informatizados, até que começaram a se
formar as cadeias de suprimentos, caracterizadas pela integração das organizações,
primeiramente de forma mais operacional, com fluxo de informações, produtos e dinheiro
(SOUZA e MOURA, 2007).
Com o passar do tempo as empresas participantes da cadeia têm buscado trabalhar de
forma conjunta, buscando a redução dos custos, dos desperdícios e a agregação de valor para
o consumidor final, gerando maior competitividade e expandindo os negócios ao longo prazo
(SOUZA e MOURA, 2007). A logística passou a envolver a integração de todas as atividades
ao longo da cadeia de valores: da geração de matérias primas ao serviço ao cliente final,
deixando de ser apenas uma forma de integração operacional, adquirindo um caráter
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estratégico e gerando competição não apenas entre empresas, mas entre as redes de negócio
(DI SERIO, SAMPAIO e PEREIRA, 2007).
Enquanto a globalização trouxe diversos benefícios econômicos, também aumentou a
complexidade da gestão da cadeia de suprimentos. A tomada de decisão passou a depender de
diversos participantes, muitas vezes localizados em diferentes pontos geográficos. Os
produtos muitas vezes têm de passar por diferentes entidades da cadeia de suprimentos até
chegar ao cliente final (BHATNAGAR e TEO, 2009). As empresas vêm buscando diferencial
competitivo, não simplesmente através de compra e venda internacional, mas também da
fragmentação da produção e de terceirização (STOREY et al, 2006). A maioria das marcas
conhecidas mundialmente depende de uma cadeia de suprimentos caracterizada pela
complexidade e instabilidade do ambiente de negócio internacional (FIGUEIREDO e MORA,
2009).
A logística internacional tem o desafio de lidar com as crescentes incertezas
relacionadas à distância, demandas, diversidade e burocracias envolvidas nas operações, e que
podem variar de região para região (PONTES, CARMO e PORTO, 2009). Conforme o local
onde é feita a produção e sua distância do mercado final, são exigidos diferentes níveis de
responsividade e agilidade em relação à demanda do mercado (CREAZZA, DALLARI e
MELACINI, 2010).
As cadeias globais de suprimentos podem ser bastante variadas e complexas e sua
eficiência logística depende de diversos fatores. Por vezes é o governo dos países que tem o
papel de prover investimentos em infraestrutura e política, como desenvolvimento de regimes
regulatórios para serviços de transporte, criação e implementação de procedimentos
aduaneiros eficientes (ARVIS et al, 2012). A infraestrutura logística é essencial nos custos das
empresas. No âmbito do comércio internacional, essa condição é ainda mais crítica, pois
reflete no preço que as mercadorias de um país chegam ao cliente no mercado externo,
implicando no nível de competitividade da empresa (PONTES, CARMO e PORTO, 2009).
Entretanto, a eficiência logística não depende simplesmente desses fatores, mas também
depende da qualidade dos serviços envolvidos nos processos (ARVIS et al, 2012).
Segundo Sheu, Lee e Niehoff (2006), cada transação internacional e movimentação de
mercadoria podem envolver diversos participantes. Enquanto os produtos e as informações se
movimentam entre as partes, cresce o risco de perda de informação, avaria dos produtos e de
atrasos. Além disso, as empresas podem enfrentar diversos entraves à logística, como
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exigência de documentação, modalidades de transporte, processamento de informações e


variadas regulamentações. Cada vez mais, a participação de Prestadores de Serviços
Logísticos (PSL) tem se tornado fundamental para o gerenciamento da logística internacional.
O PSL é parte da cadeia de suprimentos e tem o papel de atender as necessidades das
empresas que o contratam, além de contribuir para a satisfação do cliente final da cadeia.
Desta forma, um serviço de qualidade duvidosa pode comprometer a competitividade da
cadeia como um todo e afetar a percepção dos consumidores finais (MACEDO e CANEN,
2009).
O desempenho da logística de uma empresa não é tão simples de ser mensurado, pois
além de depender da condição da infraestrutura, envolve várias organizações, como clientes,
fornecedores e os PSLs (FORSLUND, 2007). Para permanecerem competitivas no mercado,
muitas empresas decidem focar em suas atividades principais (ou core business), utilizando-se
do serviço de terceiros para as demais atividades. Desta forma criam oportunidades para o
surgimento de novos atores no mercado para suprir a demanda por serviços, especialmente de
atividades logísticas (HILLETOFTH e HILMOLA, 2010).
As organizações normalmente utilizam os PSLs porque estes permitem que elas
foquem em suas competências centrais, oferecem flexibilidade tecnológica e podem dispor de
serviços em diversos pontos geográficos (VIVALDINI, 2011), através de cooperações e
parcerias com outros PSL em diferentes países, a fim de oferecer melhores serviços a nível
internacional (SCHMOLTZI e WALLENBURG, 2010). Segundo Guidolin e Monteiro Filha
(2010), a maior parte das empresas brasileiras ainda utiliza os PSLs em atividades específicas,
de forma isolada, e não como gestores de logística integrada.
Enquanto a qualidade do produto é um tópico discutido há bastante tempo no campo
de operações e gerenciamento, a discussão sobre qualidade de serviço tem se tornado mais
presente a partir do desenvolvimento em direção à economia de serviços (KERSTEN e
KOCH, 2010). Conforme Almeida e Zilber (2011), a logística pode criar valor e, assim, gerar
vantagem competitiva na medida em que os benefícios logísticos percebidos pelos clientes
são compatíveis ou maiores que o custo dos mesmos. A utilização de diferentes tipos de
PSLs também pode resultar em diferentes percepções de valor quanto aos serviços logísticos
(LAI, 2004). No Brasil, Wanke e Hijjar (2009) apresentaram as principais variáveis a serem
investigadas para a compreensão das percepções dos principais exportadores brasileiros sobre
a qualidade da infraestrutura logística, à luz a diferentes dimensões de segmentos (Quadro 1).
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Esta estrutura de variáveis será utilizada como base para o desenvolvimento desta pesquisa
segundo as definições metodológicas apresentadas posteriormente.

Variáveis relacionadas às dificuldades logísticas para exportação


1. Infraestrutura rodoviária de escoamento
2. Infraestrutura ferroviária de escoamento
3. Infraestrutura hidroviária de escoamento
4. Infraestrutura portuária de escoamento
5. Infraestrutura aeroportuária de escoamento
6. Infraestrutura de intermodalidade
7. Burocracia
8. Financiamento do governo
9. Legislação tributária
10. Receita Federal – horário de funcionamento
11. Tempo de liberação de mercadorias
12. Greves
13. Custos rodoviários de transporte nacional – escoamento interno
14. Preço do frete internacional
15. Disponibilidade de rotas internacionais de navios
16. Disponibilidade de rotas internacionais de aviões
17. Frequência de navios
18. Frequência de aviões
19. Falta de contêineres
20. Disponibilidade de armazenagem nos portos brasileiros
21. Acesso aos portos brasileiros
22. Filas nos portos brasileiros
23. Deficiência das EADIs
24. Dificuldades nas fronteiras terrestres
25. Deficiência dos portos nos países importadores
26. Distribuição nos países importadores
Quadro 1 – Variáveis relacionadas às dificuldades logísticas
Fonte: Wanke e Hijjar (2009, p. 148).

Método
O presente artigo é classificado como uma pesquisa aplicada exploratória que objetiva
entender a natureza e a fonte de problemas, gerando conhecimento para aplicação prática
(VERGARA, 2011). A pesquisa tem caráter qualitativo, pois visou captar as perspectivas e
interpretações de pessoas, explorando os significados de maneiras e em contextos que não
estruturam de forma rígida a direção da investigação (ROESCH, 1999).
O procedimento técnico empregado nesse estudo foi a pesquisa de campo. Conforme
Vergara (2011, p. 45), a pesquisa de campo é uma “investigação empírica realizada no local
onde ocorre ou ocorreu um fenômeno ou que dispõe de elementos para explicá-lo”. De acordo
com Barrat, Choi e Li (2011), a investigação qualitativa empírica caracteriza-se pela
utilização de dados do contexto do fenômeno de estudo para a sua investigação. Este tipo de
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pesquisa pode ser realizada através de entrevistas, aplicação de questionários, testes e


observação participante ou não.
As unidades de análise investigadas para a presente pesquisa foram empresas
brasileiras que têm relações comerciais há pelo menos três anos com a África do Sul ou a
Índia, através de exportações ou importações de bens. Nestas empresas, o foco foram
profissionais dos setores de comércio exterior ou logística, pois supostamente possuem maior
conhecimento e melhor entendimento para responder à questão de pesquisa. Um PSL também
foi objeto de investigação dado o potencial de contribuir com a análise do ambiente de
pesquisa. Os entrevistados foram selecionados por conveniência e a definição do número de
entrevistados ocorreu ao longo do processo de pesquisa. Ao passo que novas informações
deixaram de ser evidenciadas nas entrevistas, foi considerado que as informações levantadas
eram suficientes para a condução do processo de análise.
Foram realizadas entrevistas em profundidade as quais permitem entender o
significado que os entrevistados atribuem a questões e situações, além de compreender os
constructos que utilizam como base para suas opiniões (ROESCH, 1999). As entrevistas
foram realizadas com auxílio de um roteiro, o qual foi criado a partir das variáveis definidas e
testadas por Wanke e Hijjar (2009). Entretanto, visto que os fatores levantados por esses
autores referem-se principalmente às dificuldades de infraestrutura logística para exportação,
também foram acrescentadas ao roteiro questões referentes a outros aspectos logísticos
relacionados com a importação. Os entrevistados deste estudo são apresentados no Quadro 2.

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Entrevistado Setor industrial Atuação Entrevistado Experiência profissional


internacional da
empresa
E1 Indústria do A empresa atua há Coordenador de O entrevistado está no
ramo de mais de três anos logística internacional cargo há pouco mais de
borracha e com a África do Sul, um ano, porém possui
reforma de tanto com anos de experiência com
pneus exportações como este país.
importações.

E2.1 Indústria de A empresa atua há Analista de Dois anos de experiência


autopeças mais de cinco anos exportação no cargo
E2.2 como fornecedora Analista de Sete anos de experiência
para África do Sul e importação no cargo.
Índia e como
importadora da
Índia.
E3 Indústria do A empresa atua há Gerente de comércio O entrevistado trabalha há
setor coureiro três anos com internacional dois anos na empresa,
exportações para sendo que já possuía
África do Sul e vários anos de experiência
eventualmente com ambos os países no
importa da Índia. mesmo setor coureiro.
E4.1 Indústria de A empresa trabalha Analista de comércio Oito anos de experiência
componentes com a Índia com exterior no cargo.
E4.2 eletrônicos exportações e Analista de logística Dois anos de experiência
importações há no cargo.
aproximadamente 10
anos.
E5 Empresa A empresa possui Coordenador Não informada.
prestadora de unidades da África
serviços do Sul e na Índia
logísticos
Quadro 2 – Entrevistados
Fonte: Autores

As entrevistas ocorreram por telefone durante o primeiro semestre de 2013. Foram


conduzidas entrevistas semiestruturadas que, segundo Godoi (2006), permitem a compreensão
do significado atribuído pelo entrevistado ao objeto de estudo e seus atributos. As entrevistas
foram gravadas e transcritas, com exceção de E3, com o qual a pesquisa foi feita via correio
eletrônico, uma das alternativas para a realização de entrevistas em profundidade (MEHO,
2006). Em relação à análise dos dados obtidos através da pesquisa qualitativa, foi realizada a
análise de conteúdo dos mesmos. De acordo com Bardin (2002), este processo envolve a
categorização dos dados, a codificação e a sua análise efetiva. Realizou-se uma busca de

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dados secundários, a fim de complementar as informações levantadas a partir das entrevistas.


Os resultados obtidos na pesquisa são apresentados a seguir.

Análise Das Operações Logísticas

Para que fosse feita a análise das operações logísticas das empresas brasileiras com
empresas da África do Sul e da Índia, foi utilizado o conjunto de variáveis proposto por
Wanke e Hijjar (2009) para a condução do processo de identificação de aspectos que
dificultam e facilitam o processo logístico nestas operações. O Quadro 3 apresenta a síntese
dos aspectos identificados na pesquisa como facilitadores ou entraves das operações
logísticas. Na segunda coluna apresentam-se os aspectos relacionados com a operação dentro
do território brasileiro. A terceira coluna apresenta os aspectos referentes à África do Sul, e a
quarta coluna aqueles relacionados com a Índia.

BRASIL ÁFRICA DO SUL ÍNDIA


Facilitadores Tempo de liberação para Infraestrutura Serviço aéreo relativamente
exportação Malha rodoviária eficiente
Vantagens ao utilizar um único Malha ferroviária Tempo de liberação para
PSL Distribuição interna exportação
Tempo de trânsito Vantagens ao utilizar um
Tempo de liberação único PSL
para exportação
Vantagens ao utilizar
um único PSL
Entraves Alfândega e agentes de controle Atraso de Atraso de documentação
Burocracia documentação Burocracia
Custo de transporte rodoviário Greves Fila nos portos
interno Rotas e custos de Greves
Falta de modais alternativos transporte aéreo Rotas marítimas
Filas nos portos Rotas marítimas Tempo de liberação da
Greves Dificuldades de mercadoria
Infraestrutura portuária comunicação e Transporte rodoviário interno
Liberação das mercadorias acompanhamento Dificuldade de comunicação e
importadas acompanhamento
Qualidade do serviço de PSLs
Quadro 3 – Facilitadores e entraves logísticos
Fonte: Dados da pesquisa

Observando os dados do Quadro 3, é possível identificar que alguns aspectos são


contraditórios. Ao passo que o tempo de liberação no Brasil foi identificado como um
facilitador, a burocracia e a atuação dos agentes de controle é apontado ao mesmo tempo
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como um entrave. O tempo de liberação para exportação também foi destacado como positivo
para a África do Sul e Índia, nos quais atrasos de documentação são entraves. Entretanto,
como estes aspectos estão diretamente relacionados nos processos de exportação e
importação, revela-se como fundamental o entendimento mais aprofundado destes aspectos.
A África do Sul conta com uma infraestrutura considerada de padrão internacional,
possui uma malha rodoviária bem distribuída no país, estradas boas e preservadas, além de
uma malha ferroviária integrada com vários países africanos e que representa 80% da malha
instalada em todo continente (APEX-BRASIL, 2011). O país vem investindo em projetos de
infraestrutura, que visam à expansão de estradas e pontes, ampliação da capacidade e
eficiência dos portos e melhorias nos acessos e terminais aeroportuários
(SOUTHAFRICA.INFO, 2013). Nas operações entre Brasil e África do Sul, o tempo de
trânsito do transporte marítimo é relativamente curto, comparando com outros destinos, como
a própria Índia. Em relação ao comércio com a Índia, E4.1 destaca como aspecto positivo o
serviço aéreo, o qual diz ser consideravelmente mais eficiente que o marítimo e que poucas
vezes lhe gerou problemas, apesar de haver limitações com relação ao volume e a tramitação
de cargas via courier, além das dificuldades de liberação na Índia.
Com relação ao processo logístico no Brasil, foi identificado que, em processos de
exportação, os processos de movimentação de carga e o tempo de liberação normalmente são
considerados adequados. De fato, poucas dificuldades foram relatadas no que tangem as
exportações. Os entrevistados ainda destacam que poucas vezes seus processos parametrizam
em canal vermelho1.
Com relação aos serviços de prestadores, foi identificada a preferência pela utilização
de um único PSL especializado, que realiza o transporte interno, despacho aduaneiro até a
contratação do transporte internacional, lhe traz maior tranquilidade para trabalhar
comercialmente, dada a credibilidade do prestador e do estabelecimento de uma boa relação
de parceria. A qualidade dos prestadores especializados é considerada bastante satisfatória,
apesar de eventuais falhas A terceirização foi percebida como vantajosa para as empresas,
especialmente pelo conhecimento especializado e o ganho em escala.

1
Parametrização é o processo de seleção de processos de exportação e importação para a identificação do tipo
de vistoria que será feita na carga. Trata-se de um processo aleatório definido através do SISCOMEX.
Parametrização no canal vermelho significa que haverá conferência dos documentos do processo e conferência
física da mercadoria.
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As dificuldades logísticas enfrentadas nas operações com a Índia e a África do Sul são
diversas. A partir do cálculo da média da classificação dada de 1 a 5 pelos respondentes às
diversas variáveis logísticas (modelo de Wanke e Hijjar, 2009), foi possível destacar como
dificuldades mais críticas: as filas nos portos (4,2), a burocracia (4,1), o custo de transporte
nacional (4,0), a infraestrutura rodoviária (3,9) e portuária (3,9) de escoamento, e o tempo de
liberação de mercadoria no Brasil (3,9).
Questionados sobre o escoamento e acesso aos portos, por onde circula a maioria das
mercadorias de importação e exportação no Brasil (IPEA, 2012), os entrevistados relatam que
muitas vezes há demora para entregar as cargas em vários portos devido às filas, o que
acarreta na geração de custos. E4.1 complementa que os portos no Brasil são, em geral,
“pequenos e carecem de infraestrutura”. Esses custos gerados pelo congestionamento nos
portos acabam tornando o produto brasileiro mais caro, o que faz com que empresas busquem
produtos em outros países (VALOR ECONOMICO, 2013b).
Além disso, apesar da liberação de mercadorias para exportação normalmente não
gerarem problemas, os processos das cargas de importação são muito demorados. De acordo
com E4.1, “há terminais que, além de lentos na retirada de mercadorias de contêineres das
importações, muitas vezes acabam causando avarias nas mercadorias”. Apesar de ter subido
16 posições no ranking de LPI de 2007 para 2012, o que ainda trava o crescimento do Brasil,
segundo o Banco Mundial, é a falta de eficiência e eficácia da alfândega e de outros agentes
de controle na fronteira (FOLHA DE SÃO PAULO, 2013), dificuldades logísticas que
também foram relatadas pelos entrevistados.
Além da burocracia brasileira, foi destacado que nos processos de exportações para
Índia, a legislação daquele país também é um complicador. A emissão de documentos é
diferente do que no Brasil, o desembaraço por vezes leva mais de 5 dias, podendo atrasar a
entrega ao cliente. Conforme dados do The World Bank (2013), a Índia figura em 127º lugar
no ranking sobre facilidade de comercializar entre países, e dentre os três é o que mais exige
documentos. E2.1 e E1 também comentam sobre o atraso na documentação das cargas
importadas da Índia, que impossibilita o desembaraço, gerando aumento de custos com
armazenagem e gera o risco de parada na linha de produção. Também na África do Sul, E3
relata casos da documentação chegar após a mercadoria no destino, gerando despesas de
armazenagem para o cliente, que possui um prazo muito curto para liberar a mercadoria.

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O transporte rodoviário interno brasileiro é um dos aspectos logísticos criticado por


todos os entrevistados. O custo no Brasil é muito alto, bem acima da média praticada
mundialmente (CNI, 2010) e tende a aumentar, devido à nova legislação, que também
restringe o tempo de trabalho dos motoristas (FOLHA DE SÃO PAULO, 2013b). Os
elevados custos de transporte agregam muito ao preço do produto, juntamente com os custos
com energia, mão-de-obra e carga tributária, que tornam o Brasil cada vez menos atrativo
para a indústria. O Brasil carece de boas transportadoras, além da falta de transportes
alternativos, como o transporte ferroviário, o qual é bem mais utilizado em outros países,
porém no Brasil são insuficientes (IPEA, 2013). De acordo com Christ e Ferrantino (2011), os
problemas gerados pela deficiência no transporte interno podem apresentar três dimensões: o
custo financeiro do transporte terrestre, o custo de oportunidade causado pela lentidão nos
processos e a incerteza, associada com a imprevisão de chegada das mercadorias e falta de
informações. Foi identificado que o problema de transporte interno não ocorre apenas no
Brasil, mas que na Índia a situação também é bastante complicada, muitas vezes há
congestionamento no acesso aos portos, além das estradas e caminhões muitas vezes serem
precários.
Outro empecilho para a logística internacional são as greves, tanto no Brasil, como na
Índia e na África do Sul. Em 2012, por exemplo, greves como da ANVISA e Receita Federal
brasileira trouxeram alguns entraves para o comércio, como filas de navios esperando para
atracar, devido à dificuldade para conseguir autorização junto à ANVISA, além da demora na
liberação de processos, principalmente de importações, por causa da “operação-padrão” da
Receita Federal (ESTADÃO, 2013). No mesmo ano, na África do Sul, caminhoneiros
entraram em greve, atrasando a entrega de mercadorias (REUTERS, 2013), assim como na
Índia no início de 2013, quando ocorreram protestos de diversos setores, como manufatureiro,
de transportes e bancário, em relação a questões trabalhistas, alta de preços e casos de
corrupção, causando vários prejuízos ao comércio (JOC, 2013a; VALOR, 2013b).
Questionados sobre as dificuldades com transporte marítimo, foi relatada a existência
de problemas consideráveis nos portos brasileiros como lentidão nos processos, atrasos, casos
em que cargas deixam de embarcar por questões operacionais e omissões de navios pelos
mais diversos motivos. De acordo com E1, “as omissões de navios remetem em atrasos de
entrega, geração de incerteza e perda de competitividade”, visto a concorrência dentro da
África do Sul ser bastante forte, o que faz com que o cliente opte por produtos dentro do
Revista de Administração da UNIMEP – v.14, n.2, Maio/Agosto – 2016. Página 116
Os desafios logísticos das empresas brasileiras em suas operações com a índia e a áfrica do sul
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próprio país quando ocorrem maiores entraves, prejudicando as vendas da empresa e


diminuindo seu market share. Sobre as operações com a Índia com modal marítimo, E4.2
relata que são bastante complicadas, pois não existem rotas diretas, tornando necessário o
transbordo em outros portos, como o de Cingapura.
Em relação ao modal aéreo, apesar dos serviços serem considerados satisfatórios,
ressalta-se que os preços do transporte para África do Sul são um pouco elevados. E1 destaca
que o transporte aéreo poderia ser mais competitivo se existissem rotas saindo diretamente de
outras cidades – hoje a maioria dos processos aéreos passa pelos aeroportos de Guarulhos ou
Viracopos, em São Paulo. A Empresa 2, que possui um volume considerável de exportações
para África do Sul, afirma que uma das dificuldades também é a falta de voos, pois não são
muitas companhias aéreas que possuem rota para este país. O fato da empresa contratar
serviço rodoviário até São Paulo impossibilita a estipulação de uma data de saída da carga e
chegada ao destino logo no início do processo, o que gera insatisfação do cliente.
A respeito dos serviços logísticos, a falta de experiência tem levado a problemas como
erros em documentações, ou mesmo a falta destas. Foi destacada também a falta de
qualificação na parte operacional de muitas empresas. A falta de qualidade na comunicação
entre as empresas em diferentes países é outro aspecto crítico, pois muitas vezes faltam
informações adequadas e a diferença de fuso horário reduz o tempo de comunicação durante o
dia, o que acaba dificultando o processo de acompanhamento.
Ao passo que se investigavam as dificuldades existentes nas operações internacionais,
também foram levantadas algumas medidas adotadas pelas empresas e, posteriormente,
realizada uma pesquisas em fontes secundárias a respeito de soluções de melhorias que vêm
sendo planejadas pelos governos e órgãos públicos. Não é objetivo deste estudo propor novas
soluções para os desafios logísticos identificados, apenas identificamos aqui o que já está
sendo executado e poderia, portanto, contribuir com empresas que enfrentam problemas
semelhantes. O Quadro 4 apresenta uma síntese do que foi identificado na pesquisa empírica e
bibliográfica sobre formas de superação destes desafios. A primeira coluna apresenta o país
na qual a dificuldade foi identificada. A segunda coluna apresenta esta dificuldade e a terceira
as alternativas para superação da mesma que foram identificadas na pesquisa.

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Os desafios logísticos das empresas brasileiras em suas operações com a índia e a áfrica do sul
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País Dificuldade logística Alternativa


Filas e acesso aos portos Plano Nacional de Logística Portuária
Tempo de liberação de mercadorias Porto Sem Papel
Portos e aeroportos 24h
Parada de produção devido aos atrasos Antecipar entregas nos portos e aeroportos
Perda de competitividade internacional Bom relacionamento com cliente
Embarque aéreo
Programação de embarques com maior
Brasil antecedência
Utilização de outros fornecedores
Custo e disponibilidade de transporte Plano Nacional de Logística e Transporte
rodoviário Estabelecimento de contrato com transportadoras
Custo e disponibilidade de transporte Estabelecimento de contrato com armadores ou
internacional empresas de logística
Problemas operacionais
Problemas de comunicação
Qualidade da infraestrutura logística Plano Nacional de Infraestrutura
África do Falta de rotas marítimas em determinados Utilização de porto alternativos
Sul portos Utilização de centros de distribuição em
diferentes países
Tempo de liberação de mercadorias Portos e aeroportos 24h
Competitividade internacional Investimentos em infraestrutura logística
Índia Criação de políticas mais simplificadas
Aumento da complexidade das cadeias de Desenvolvimento de competências no setor de
suprimento recursos humanos
Quadro 4 – Dificuldades e alternativas identificadas
Fonte: Dados da pesquisa

A respeito das dificuldades enfrentadas com filas nos acessos aos portos e com tempo
de liberação de mercadorias, a Secretaria de Portos da Presidência da República – SEP/PR
iniciou nos últimos anos o chamado Plano Nacional de Logística Portuária – PNLP, o qual
pretende expandir a capacidade do sistema portuário brasileiro, visando adequar-se ao
crescimento econômico do país e a demanda pelos serviços, assim como melhorar o
desempenho da gestão dos portos (SEP, 2013).
Uma das soluções que vem sendo adotadas pelo Ministério do Desenvolvimento,
Indústria e Comércio Exterior é o processo de Porto Sem Papel – PSP. Trata-se de um sistema
criado para agilizar a logística portuária, reduzir o tempo de estadia dos navios nos portos e
também o tempo gasto com a documentação das cargas, que é de quase seis dias (PAC, 2013;
SERPRO, 2013). Outra medida, recentemente adotada no Brasil foi a operação “Porto 24h”,
que tem por objetivo aumentar o desempenho dos processos de movimentação de cargas e de
estocagem no retroporto, através de atendimento pleno dos órgãos anuentes durante todos os

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dias da semana, 24 horas por dia, para liberação de mercadoria, embarcações e veículos nos
portos (FOLHA DE SÃO PAULO, 2013a). Essa medida também deverá ser implantada nos
aeroportos, visto que hoje os principais aeroportos brasileiros levam em média de 5 a 10 dias
para liberação de cargas, enquanto que nos principais aeroportos do mundo este tempo é de
menos de 10 horas (FIRJAN, 2013). Medida semelhante foi adotada nos principais portos e
aeroportos da Índia em 2012, a fim de melhorar o fluxo das cargas e diminuir as barreiras no
comércio internacional (JOC, 2013).
Enquanto isso, para evitar o risco de parada de produção, devido aos atrasos das
mercadorias importadas, as empresas tem adotado ações como a programação de embarques
na origem com maior antecedência e manutenção de bons níveis de estoque. Para as
exportações, por exemplo, E2.2 afirma que tenta antecipar as entregas nos portos, porém que
isso nem sempre é possível dada a capacidade de produção. Para melhor atender seus clientes,
E1 relata que muitas vezes opta pela utilização de diferentes centros de distribuição
localizados em pontos estratégicos em diferentes continentes. Os entrevistados destacaram a
importância do bom relacionamento com o cliente, buscando sempre fornecer informações
atualizadas dos processos de forma a assegurar informações precisas sobre a previsão de
entrega das mesmas.
Quanto ao transporte rodoviário, em face ao aumento da economia e da demanda por
serviços, também foi criado, pelo Ministério de Transportes, o Plano Nacional de Logística e
Transportes – PNLT (MT, 2013). De acordo com Silva et al (2013), investimentos em
transporte rodoviário são importantes para a garantia da inércia da economia e podem também
colaborar com o aceleramento de seu crescimento. Neste cenário, estão previstos desembolsos
do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para o setor de
infraestrutura, sendo que no primeiro trimestre de 2013 foram investidos R$ 9,2 bilhões, dos
quais 50% foram destinados ao transporte rodoviário. Entretanto, esses investimentos só
devem aumentar à medida que forem feitas concessões na área de logística ao setor privado
(VALOR, 2013).
Segundo informações do governo sul-africano, o país também vem investindo em
questões logísticas para melhorar sua competitividade e facilitar o comércio internacional. O
Plano Nacional de Infraestrutura foi estabelecido com o objetivo de desenvolver os setores
rodoviário e ferroviário, criar infraestrutura adequada de armazenagem e logística, assim
como reduzir as barreiras ao comércio, instituindo processos aduaneiros mais eficientes e
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desenvolvendo os regulamentos e processos burocráticos. O governo acredita que o


crescimento do comércio exterior gera prosperidade, auxiliando na diminuição de pobreza,
desemprego e desigualdade (SOUTH AFRICA GOVERNMENT, 2013).
A Índia vem realizando esforços para a promoção de competitividade, entretanto,
ainda possui algumas áreas que necessitam de melhorias. Aspectos como a conectividade de
rodovias e ferrovias aos portos e a complexa legislação ainda precisam ser melhorados
(PANIGRAHI e PRADHAN, 2012). É preciso investir em infraestrutura logística e
estabelecer políticas mais simplificadas, além de desenvolver competências no setor de
recursos humanos, devido ao aumento da complexidade na gestão das cadeias de suprimentos
e a mudanças nas demandas do mercado (WEF, 2012).
Com relação à utilização de serviços, uma das alternativas relatadas pelas empresas
para enfrentar as dificuldades com o modal rodoviário, foi a realização de um contrato com
algumas empresas transportadoras para evitar a falta de disponibilidade de transporte
rodoviário e melhorando a programação e previsão de entregas. Como medida em relação aos
serviços de transporte internacional, para evitar que as cargas não embarquem no navio
programado, pode ser realizado o contrato direto com armador para garantir espaços
semanais, principalmente para os destinos mais frequentes, o que também ajuda a obter preços
mais competitivos. O desenvolvimento de um relacionamento direto com armador ou um PSL
especializado em determinado destino pode trazer maior garantia de embarque, aumentando a
percepção na qualidade no serviço, devido às melhores tarifas e maior suporte nos
desembaraços.

Considerações Finais
A partir das entrevistas e coleta de dados secundários, foram identificados alguns
facilitadores presentes nas operações com esses países, como o tempo de trânsito para a
África do Sul e também sua infraestrutura, o serviço aéreo para a Índia, considerado mais
eficiente que o marítimo, os processos de liberação das mercadorias para exportação no Brasil
e a qualidade com relação a serviços prestados por empresas de logística. Por outro lado,
também foram identificados vários entraves, principalmente as filas de acesso aos portos nos
países, a burocracia, infraestrutura de transporte, serviços de órgãos anuentes e as próprias
empresas PSLs.
Foi constatado que as empresas conseguem superar algumas destas dificuldades à
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medida em que investem em planejamento, contratos com PSLs e atendimento ao cliente.


Também foram identificadas medidas que vem sendo adotadas por parte dos governos em
face ao crescimento econômico dos países e ao aumento da demanda por serviços, como
investimentos em infraestrutura de transporte e planejamentos para melhoria dos processos
logísticos, principalmente no setor portuário, por onde passa a maioria das exportações e
importações.
Os resultados deste estudo apontam para o fato de que, apesar do crescimento do
comércio entre Brasil-África do Sul e Brasil-Índia, existe ainda a necessidade de se aprimorar
os processos burocráticos e a infraestrutura provida para diminuir os gargalos logísticos
existentes nos países, principalmente no que diz respeito a transporte rodoviário e portos.
Estas melhorias reduziriam os entraves dos processos levando a possibilidade de elevação do
nível de competitividade da indústria nacional no cenário global.
Com o aumento do comércio e da complexidade das cadeias globais, estratégias
logísticas tornam-se fundamentais para a minimização de custos financeiros e de
oportunidade, assim como para o melhoramento da percepção de qualidade dos serviços aos
clientes, fatores essenciais para a competitividade das empresas. Recomenda-se, portanto, que
as empresas que operam ou que pretendem operar nesses países levem em consideração as
possíveis dificuldades logísticas presentes nesses cenários, estudando-os com maior
profundidade e analisando também as particularidades do setor produtivo e do mercado, a fim
de possibilitar a realização de um planejamento logístico adequando e evitar transtornos e
impactos negativos que possam prejudicar sua competitividade no mercado internacional.
Algumas das limitações deste artigo referem-se ao número de empresas investigadas,
que representam apenas algumas dentre milhares empresas brasileiras que comercializam com
os países em questão, o que impossibilita a generalização das informações obtidas. Não
obstante, devido ao caráter exploratório e abrangência do tema, tornou-se difícil o
aprofundamento do estudo e a mensuração com assertividade. Desta forma, algumas soluções
apresentadas limitam-se às particularidades das empresas entrevistadas, tornando-se
necessária a avaliação de cada caso em particular para sua aplicação.
A partir deste estudo é possível propor outras investigações sobre o tema através do
aprofundamento da discussão acerca do impacto em diferentes setores produtivos ou em cada
empresa, através de estudos de casos. Outra oportunidade, através de diferentes métodos de
pesquisa, é realizar estudos comparativos sobre desempenho operacional de empresas
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exportadoras ou importadoras em um mesmo setor produtivo e identificar dificuldades na


gestão empresarial que devem ser aprimorados para minimizar o impacto das dificuldades
logísticas enfrentadas.

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