Revista de Administração Da Unimep 1679-5350: E-Issn: Gzograzian@
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E-ISSN: 1679-5350
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Universidade Metodista de Piracicaba
Brasil
Resumo
O crescimento do comércio internacional tem revelado dificuldades na
operacionalização das transações comerciais. A falta de infraestrutura logística no Brasil é
cada vez mais destacada no ambiente de negócios global. Quando as empresas brasileiras
transacionam com parceiros de países com problemas semelhantes, como África do Sul e
Índia, estas limitações se tornam grandes entraves. Este artigo apresenta os resultados da
investigação dos aspectos logísticos destas operações, de tal forma que fosse possível revelar
que dificuldades as empresas estão enfrentando e que ações estão sendo adotadas para a
superação das mesmas. Os resultados deste estudo revelam que apesar do crescimento do
comércio entre Brasil-África do Sul e Brasil-Índia, ainda existe a necessidade de se aprimorar
os processos burocráticos e a infraestrutura provida a fim de diminuir os gargalos logísticos
existentes nos países, principalmente no que diz respeito ao transporte rodoviário e aos portos.
Palavras-chave: Logística. Entraves. Brasil. África do Sul. Índia.
Abstract
The growth of international trade has revealed difficulties in the operation of
commercial transactions. The lack of logistics’ infrastructure in Brazil is becoming more
prominent in the global business environment. When Brazilian’s companies transact with
partners from countries with similar problems, such as South Africa and India, these
limitations become major obstacles. This paper presents the research results of the logistical
aspects of these operations, the difficulties that those companies are facing and what actions
are being taken to overcome them. Despite the growth of trade between Brazil - South Africa
- Brazil and India, the results of this study show that there is still the need to improve
bureaucratic processes and the infrastructure in order to reduce the existing logistical
bottlenecks in the countries, especially related to road transport and ports.
Keywords: Logistics. Barriers. Brazil. South Africa. India.
Introdução
Nas últimas décadas, diversos países em desenvolvimento têm adotado ações de
liberalização econômica, as quais têm permitido o aumento de suas exportações e importações
(JU, WU e ZENG, 2009), além de apoiar a descentralização da produção (WEF, 2012). Índia
e África do Sul são notórias nos debates sobre o efeito da liberalização comercial no
crescimento econômico. Ambos passaram por processos de rápida abertura comercial na
década de 1990 (KUCERDA e RONCOLATO, 2011) e, assim como o Brasil, têm
apresentado considerável progresso no desempenho econômico nos últimos anos (SINGH,
2012). Entretanto, mesmo com ações de liberalização, como a redução de barreiras tarifárias
ou remoção de outras políticas de restrição ao comércio, a facilitação comercial local e os
serviços logísticos oferecidos também são fatores que podem afetar a participação dos países
no comércio internacional (WEF, 2012). As empresas, visando aumentar sua participação de
mercado e reduzir custos, têm optado por fazer parte deste mercado globalizado
(CHINELATO, CRUZ e ZIVIANI, 2009). A produção industrial cada vez mais é organizada
através de cadeias globais de suprimento sendo os bens processados e agregados de valor em
diversos países. Essa fragmentação geográfica da produção tem sido um dos principais
propulsores do crescimento do volume de comercializações internacionais nas últimas
décadas (WEF, 2012).
De acordo com Arvis et al (2007), um dos fatores fundamentais para o sucesso na
integração das cadeias globais de suprimento é a habilidade que uma organização tem para
levar bens de um país a outro de forma rápida, confiável e a um baixo custo. A falta de
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das organizações (PONTES, CARMO e PORTO, 2009). Optou-se por realizar a pesquisa com
foco nas operações brasileiras com a África do Sul e a Índia por serem países que vêm se
destacando por seu considerável desenvolvimento econômico (SINGH, 2012) e devido ao
aumento do comércio destes com o Brasil, o qual tem trazido benefícios para o
desenvolvimento destes países (PURI, 2007).
Este artigo está organizado da seguinte forma: na sequência é realizada uma
investigação da literatura sobre logística internacional, os aspectos metodológicos do estudo
são posteriormente revelados, seguidos da análise das operações investigadas e, por fim, das
considerações finais da pesquisa.
Logística Internacional
A redução de barreiras ao comércio e o avanço das tecnologias de comunicação e
transporte permitiram que as atividades funcionais integradas se difundissem através de
diferentes organizações e regiões geográficas, criando um contexto global para as cadeias de
suprimentos (FAÇANHA, FELDMANN e SILVA, 2010). Com o aumento do comércio
internacional e surgimento de inovações, a logística internacional tem avançado nas últimas
décadas (ARVIS et al, 2012), exigindo maiores investimentos para se conseguir o
desempenho necessário e manter a competitividade das empresas (FIGUEIREDO e MORA
2009). A logística vem evoluindo desde suas raízes militares do século XIX até as atuais
cadeias internacionais de suprimentos (ARVIS et al, 2012), não sendo mais considerada
apenas um serviço isolado de transporte ou armazenagem (KERSTEN e KOCH, 2010). Uma
maior diversidade de produtos começou a surgir no mercado. As empresas passaram a adotar
a multimodalidade de transporte, utilizar sistemas informatizados, até que começaram a se
formar as cadeias de suprimentos, caracterizadas pela integração das organizações,
primeiramente de forma mais operacional, com fluxo de informações, produtos e dinheiro
(SOUZA e MOURA, 2007).
Com o passar do tempo as empresas participantes da cadeia têm buscado trabalhar de
forma conjunta, buscando a redução dos custos, dos desperdícios e a agregação de valor para
o consumidor final, gerando maior competitividade e expandindo os negócios ao longo prazo
(SOUZA e MOURA, 2007). A logística passou a envolver a integração de todas as atividades
ao longo da cadeia de valores: da geração de matérias primas ao serviço ao cliente final,
deixando de ser apenas uma forma de integração operacional, adquirindo um caráter
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estratégico e gerando competição não apenas entre empresas, mas entre as redes de negócio
(DI SERIO, SAMPAIO e PEREIRA, 2007).
Enquanto a globalização trouxe diversos benefícios econômicos, também aumentou a
complexidade da gestão da cadeia de suprimentos. A tomada de decisão passou a depender de
diversos participantes, muitas vezes localizados em diferentes pontos geográficos. Os
produtos muitas vezes têm de passar por diferentes entidades da cadeia de suprimentos até
chegar ao cliente final (BHATNAGAR e TEO, 2009). As empresas vêm buscando diferencial
competitivo, não simplesmente através de compra e venda internacional, mas também da
fragmentação da produção e de terceirização (STOREY et al, 2006). A maioria das marcas
conhecidas mundialmente depende de uma cadeia de suprimentos caracterizada pela
complexidade e instabilidade do ambiente de negócio internacional (FIGUEIREDO e MORA,
2009).
A logística internacional tem o desafio de lidar com as crescentes incertezas
relacionadas à distância, demandas, diversidade e burocracias envolvidas nas operações, e que
podem variar de região para região (PONTES, CARMO e PORTO, 2009). Conforme o local
onde é feita a produção e sua distância do mercado final, são exigidos diferentes níveis de
responsividade e agilidade em relação à demanda do mercado (CREAZZA, DALLARI e
MELACINI, 2010).
As cadeias globais de suprimentos podem ser bastante variadas e complexas e sua
eficiência logística depende de diversos fatores. Por vezes é o governo dos países que tem o
papel de prover investimentos em infraestrutura e política, como desenvolvimento de regimes
regulatórios para serviços de transporte, criação e implementação de procedimentos
aduaneiros eficientes (ARVIS et al, 2012). A infraestrutura logística é essencial nos custos das
empresas. No âmbito do comércio internacional, essa condição é ainda mais crítica, pois
reflete no preço que as mercadorias de um país chegam ao cliente no mercado externo,
implicando no nível de competitividade da empresa (PONTES, CARMO e PORTO, 2009).
Entretanto, a eficiência logística não depende simplesmente desses fatores, mas também
depende da qualidade dos serviços envolvidos nos processos (ARVIS et al, 2012).
Segundo Sheu, Lee e Niehoff (2006), cada transação internacional e movimentação de
mercadoria podem envolver diversos participantes. Enquanto os produtos e as informações se
movimentam entre as partes, cresce o risco de perda de informação, avaria dos produtos e de
atrasos. Além disso, as empresas podem enfrentar diversos entraves à logística, como
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Esta estrutura de variáveis será utilizada como base para o desenvolvimento desta pesquisa
segundo as definições metodológicas apresentadas posteriormente.
Método
O presente artigo é classificado como uma pesquisa aplicada exploratória que objetiva
entender a natureza e a fonte de problemas, gerando conhecimento para aplicação prática
(VERGARA, 2011). A pesquisa tem caráter qualitativo, pois visou captar as perspectivas e
interpretações de pessoas, explorando os significados de maneiras e em contextos que não
estruturam de forma rígida a direção da investigação (ROESCH, 1999).
O procedimento técnico empregado nesse estudo foi a pesquisa de campo. Conforme
Vergara (2011, p. 45), a pesquisa de campo é uma “investigação empírica realizada no local
onde ocorre ou ocorreu um fenômeno ou que dispõe de elementos para explicá-lo”. De acordo
com Barrat, Choi e Li (2011), a investigação qualitativa empírica caracteriza-se pela
utilização de dados do contexto do fenômeno de estudo para a sua investigação. Este tipo de
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Para que fosse feita a análise das operações logísticas das empresas brasileiras com
empresas da África do Sul e da Índia, foi utilizado o conjunto de variáveis proposto por
Wanke e Hijjar (2009) para a condução do processo de identificação de aspectos que
dificultam e facilitam o processo logístico nestas operações. O Quadro 3 apresenta a síntese
dos aspectos identificados na pesquisa como facilitadores ou entraves das operações
logísticas. Na segunda coluna apresentam-se os aspectos relacionados com a operação dentro
do território brasileiro. A terceira coluna apresenta os aspectos referentes à África do Sul, e a
quarta coluna aqueles relacionados com a Índia.
como um entrave. O tempo de liberação para exportação também foi destacado como positivo
para a África do Sul e Índia, nos quais atrasos de documentação são entraves. Entretanto,
como estes aspectos estão diretamente relacionados nos processos de exportação e
importação, revela-se como fundamental o entendimento mais aprofundado destes aspectos.
A África do Sul conta com uma infraestrutura considerada de padrão internacional,
possui uma malha rodoviária bem distribuída no país, estradas boas e preservadas, além de
uma malha ferroviária integrada com vários países africanos e que representa 80% da malha
instalada em todo continente (APEX-BRASIL, 2011). O país vem investindo em projetos de
infraestrutura, que visam à expansão de estradas e pontes, ampliação da capacidade e
eficiência dos portos e melhorias nos acessos e terminais aeroportuários
(SOUTHAFRICA.INFO, 2013). Nas operações entre Brasil e África do Sul, o tempo de
trânsito do transporte marítimo é relativamente curto, comparando com outros destinos, como
a própria Índia. Em relação ao comércio com a Índia, E4.1 destaca como aspecto positivo o
serviço aéreo, o qual diz ser consideravelmente mais eficiente que o marítimo e que poucas
vezes lhe gerou problemas, apesar de haver limitações com relação ao volume e a tramitação
de cargas via courier, além das dificuldades de liberação na Índia.
Com relação ao processo logístico no Brasil, foi identificado que, em processos de
exportação, os processos de movimentação de carga e o tempo de liberação normalmente são
considerados adequados. De fato, poucas dificuldades foram relatadas no que tangem as
exportações. Os entrevistados ainda destacam que poucas vezes seus processos parametrizam
em canal vermelho1.
Com relação aos serviços de prestadores, foi identificada a preferência pela utilização
de um único PSL especializado, que realiza o transporte interno, despacho aduaneiro até a
contratação do transporte internacional, lhe traz maior tranquilidade para trabalhar
comercialmente, dada a credibilidade do prestador e do estabelecimento de uma boa relação
de parceria. A qualidade dos prestadores especializados é considerada bastante satisfatória,
apesar de eventuais falhas A terceirização foi percebida como vantajosa para as empresas,
especialmente pelo conhecimento especializado e o ganho em escala.
1
Parametrização é o processo de seleção de processos de exportação e importação para a identificação do tipo
de vistoria que será feita na carga. Trata-se de um processo aleatório definido através do SISCOMEX.
Parametrização no canal vermelho significa que haverá conferência dos documentos do processo e conferência
física da mercadoria.
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As dificuldades logísticas enfrentadas nas operações com a Índia e a África do Sul são
diversas. A partir do cálculo da média da classificação dada de 1 a 5 pelos respondentes às
diversas variáveis logísticas (modelo de Wanke e Hijjar, 2009), foi possível destacar como
dificuldades mais críticas: as filas nos portos (4,2), a burocracia (4,1), o custo de transporte
nacional (4,0), a infraestrutura rodoviária (3,9) e portuária (3,9) de escoamento, e o tempo de
liberação de mercadoria no Brasil (3,9).
Questionados sobre o escoamento e acesso aos portos, por onde circula a maioria das
mercadorias de importação e exportação no Brasil (IPEA, 2012), os entrevistados relatam que
muitas vezes há demora para entregar as cargas em vários portos devido às filas, o que
acarreta na geração de custos. E4.1 complementa que os portos no Brasil são, em geral,
“pequenos e carecem de infraestrutura”. Esses custos gerados pelo congestionamento nos
portos acabam tornando o produto brasileiro mais caro, o que faz com que empresas busquem
produtos em outros países (VALOR ECONOMICO, 2013b).
Além disso, apesar da liberação de mercadorias para exportação normalmente não
gerarem problemas, os processos das cargas de importação são muito demorados. De acordo
com E4.1, “há terminais que, além de lentos na retirada de mercadorias de contêineres das
importações, muitas vezes acabam causando avarias nas mercadorias”. Apesar de ter subido
16 posições no ranking de LPI de 2007 para 2012, o que ainda trava o crescimento do Brasil,
segundo o Banco Mundial, é a falta de eficiência e eficácia da alfândega e de outros agentes
de controle na fronteira (FOLHA DE SÃO PAULO, 2013), dificuldades logísticas que
também foram relatadas pelos entrevistados.
Além da burocracia brasileira, foi destacado que nos processos de exportações para
Índia, a legislação daquele país também é um complicador. A emissão de documentos é
diferente do que no Brasil, o desembaraço por vezes leva mais de 5 dias, podendo atrasar a
entrega ao cliente. Conforme dados do The World Bank (2013), a Índia figura em 127º lugar
no ranking sobre facilidade de comercializar entre países, e dentre os três é o que mais exige
documentos. E2.1 e E1 também comentam sobre o atraso na documentação das cargas
importadas da Índia, que impossibilita o desembaraço, gerando aumento de custos com
armazenagem e gera o risco de parada na linha de produção. Também na África do Sul, E3
relata casos da documentação chegar após a mercadoria no destino, gerando despesas de
armazenagem para o cliente, que possui um prazo muito curto para liberar a mercadoria.
A respeito das dificuldades enfrentadas com filas nos acessos aos portos e com tempo
de liberação de mercadorias, a Secretaria de Portos da Presidência da República – SEP/PR
iniciou nos últimos anos o chamado Plano Nacional de Logística Portuária – PNLP, o qual
pretende expandir a capacidade do sistema portuário brasileiro, visando adequar-se ao
crescimento econômico do país e a demanda pelos serviços, assim como melhorar o
desempenho da gestão dos portos (SEP, 2013).
Uma das soluções que vem sendo adotadas pelo Ministério do Desenvolvimento,
Indústria e Comércio Exterior é o processo de Porto Sem Papel – PSP. Trata-se de um sistema
criado para agilizar a logística portuária, reduzir o tempo de estadia dos navios nos portos e
também o tempo gasto com a documentação das cargas, que é de quase seis dias (PAC, 2013;
SERPRO, 2013). Outra medida, recentemente adotada no Brasil foi a operação “Porto 24h”,
que tem por objetivo aumentar o desempenho dos processos de movimentação de cargas e de
estocagem no retroporto, através de atendimento pleno dos órgãos anuentes durante todos os
dias da semana, 24 horas por dia, para liberação de mercadoria, embarcações e veículos nos
portos (FOLHA DE SÃO PAULO, 2013a). Essa medida também deverá ser implantada nos
aeroportos, visto que hoje os principais aeroportos brasileiros levam em média de 5 a 10 dias
para liberação de cargas, enquanto que nos principais aeroportos do mundo este tempo é de
menos de 10 horas (FIRJAN, 2013). Medida semelhante foi adotada nos principais portos e
aeroportos da Índia em 2012, a fim de melhorar o fluxo das cargas e diminuir as barreiras no
comércio internacional (JOC, 2013).
Enquanto isso, para evitar o risco de parada de produção, devido aos atrasos das
mercadorias importadas, as empresas tem adotado ações como a programação de embarques
na origem com maior antecedência e manutenção de bons níveis de estoque. Para as
exportações, por exemplo, E2.2 afirma que tenta antecipar as entregas nos portos, porém que
isso nem sempre é possível dada a capacidade de produção. Para melhor atender seus clientes,
E1 relata que muitas vezes opta pela utilização de diferentes centros de distribuição
localizados em pontos estratégicos em diferentes continentes. Os entrevistados destacaram a
importância do bom relacionamento com o cliente, buscando sempre fornecer informações
atualizadas dos processos de forma a assegurar informações precisas sobre a previsão de
entrega das mesmas.
Quanto ao transporte rodoviário, em face ao aumento da economia e da demanda por
serviços, também foi criado, pelo Ministério de Transportes, o Plano Nacional de Logística e
Transportes – PNLT (MT, 2013). De acordo com Silva et al (2013), investimentos em
transporte rodoviário são importantes para a garantia da inércia da economia e podem também
colaborar com o aceleramento de seu crescimento. Neste cenário, estão previstos desembolsos
do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para o setor de
infraestrutura, sendo que no primeiro trimestre de 2013 foram investidos R$ 9,2 bilhões, dos
quais 50% foram destinados ao transporte rodoviário. Entretanto, esses investimentos só
devem aumentar à medida que forem feitas concessões na área de logística ao setor privado
(VALOR, 2013).
Segundo informações do governo sul-africano, o país também vem investindo em
questões logísticas para melhorar sua competitividade e facilitar o comércio internacional. O
Plano Nacional de Infraestrutura foi estabelecido com o objetivo de desenvolver os setores
rodoviário e ferroviário, criar infraestrutura adequada de armazenagem e logística, assim
como reduzir as barreiras ao comércio, instituindo processos aduaneiros mais eficientes e
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Considerações Finais
A partir das entrevistas e coleta de dados secundários, foram identificados alguns
facilitadores presentes nas operações com esses países, como o tempo de trânsito para a
África do Sul e também sua infraestrutura, o serviço aéreo para a Índia, considerado mais
eficiente que o marítimo, os processos de liberação das mercadorias para exportação no Brasil
e a qualidade com relação a serviços prestados por empresas de logística. Por outro lado,
também foram identificados vários entraves, principalmente as filas de acesso aos portos nos
países, a burocracia, infraestrutura de transporte, serviços de órgãos anuentes e as próprias
empresas PSLs.
Foi constatado que as empresas conseguem superar algumas destas dificuldades à
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