TCC - Dimensionamento de Reservatório em Concreto Armado - Robot

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

CENTRO TECNOLÓGICO DE JOINVILLE


CURSO DE ENGENHARIA CIVIL DE INFRAESTRUTURA

LEONARDO VERONA MASCHIO

DIMENSIONAMENTO DE RESERVATÓRIO EM CONCRETO ARMADO: ESTUDO


DE CASO DA ESTAÇÃO DE TRATAMENTO DE ESGOTO JARIVATUBA –
JOINVILLE/SC

Joinville
2022
LEONARDO VERONA MASCHIO

DIMENSIONAMENTO DE RESERVATÓRIO EM CONCRETO ARMADO: ESTUDO


DE CASO DA ESTAÇÃO DE TRATAMENTO DE ESGOTO JARIVATUBA –
JOINVILLE/SC

Trabalho apresentado como requisito para


obtenção do título de bacharel no Curso
de Graduação em Engenharia Civil de
Infraestrutura do Centro Tecnológico de
Joinville da Universidade Federal de
Santa Catarina.

Orientadora: Dra. Anelize Borges Monteiro

Joinville
2022
LEONARDO VERONA MASCHIO

DIMENSIONAMENTO DE RESERVATÓRIO EM CONCRETO ARMADO: ESTUDO


DE CASO DA ESTAÇÃO DE TRATAMENTO DE ESGOTO JARIVATUBA –
JOINVILLE/SC

Este Trabalho de Conclusão de Curso foi


julgado adequado para obtenção do título
de bacharel em Engenharia Civil de
Infraestrutura, na Universidade Federal de
Santa Catarina, Centro Tecnológico de
Joinville.

Joinville (SC), 16 de dezembro de 2022.

Banca Examinadora:

________________________
Dra.
Anelize Borges Monteiro
Orientadora/Presidente

________________________
Dra.
Valéria Bennack
Universidade Federal de Santa Catarina

________________________
Dr.
Julián Asdrubal Buriticá García
Universidade Federal de Santa Catarina
RESUMO

O concreto armado é um dos materiais mais utilizados na execução de reservatórios


para o armazenamento e tratamento de líquidos. A grande incidência de
manifestações patológicas nos reservatórios de concreto armado no país,
provocadas principalmente por equívocos de dimensionamento e de controle de
fissurações, motivou o desenvolvimento deste trabalho. Nesse contexto, a análise de
tais estruturas torna-se fundamental para a formação de um engenheiro civil e o
presente trabalho tem por objetivo um estudo de caso do dimensionamento das
paredes circulares dos reservatórios para tratamento de efluente doméstico da
Estação de Tratamento de Esgoto Jarivatuba em Joinville/SC, sob domínio da
Companhia Águas de Joinville. Os reservatórios, após a conclusão das obras em
2017, apresentaram inúmeras fissurações, o que levou à redução em
aproximadamente 30% da sua capacidade de tratamento. Para as análises aqui
desenvolvidas, utilizou-se o software Autodesk Robot Structural Analysis, no qual
foram calculados os esforços provenientes dos carregamentos hidrostáticos e das
variações uniformes de temperatura e, posteriormente, obteve-se as áreas de
armaduras necessárias para suportar tais esforços. Como resultado foi possível
observar diferenças entre as considerações utilizadas para a execução do projeto e
as considerações prescritas pelas Normas Brasileiras, concomitantemente com uma
grande discrepância entre os valores obtidos para os esforços e áreas de armaduras
e os valores de projeto. A verificação do projeto e o dimensionamento de armaduras
foram embasados nas normativas brasileiras e acervos técnicos que regem o
dimensionamento de reservatórios. Como resultado, obtiveram-se taxas de
armaduras longitudinais circunferenciais, necessárias para resistir aos esforços
encontrados, 315% superiores e armaduras de engastamento 95% superiores às
adotadas em projeto, em conjunto com equívocos na adoção do cobrimento mínimo
e aberturas de fissuras muito superiores às máximas permitidas.

Palavras-chave: Reservatórios. Dimensionamento. Patologias. Autodesk Robot


Structural Analysis.
ABSTRACT

Reinforced concrete is one of the most used materials in the execution of reservoirs
for the storage and treatment of liquids. The high incidence of pathological
manifestations in reinforced concrete reservoirs in the country, caused mainly by
misconceptions of sizing and control of cracks, motivated the development of this
work. In this context, the analysis of such structures becomes fundamental for the
formation of a civil engineer and the present work aims at a case study of the design
of the circular walls of the reservoirs for treatment of domestic effluent of the
Jarivatuba Sewage Treatment Plant in Joinville/SC, under the control of the
Companhia Águas de Joinville. The reservoirs, after the completion of the works in
2017, presented numerous cracks, which led to a reduction in approximately 30% of
their treatment capacity. For the analyses developed here, the Autodesk Robot
Structural Analysis software was used, in which the efforts resulting from hydrostatic
loadings and uniform temperature variations were calculated and, later, the areas of
reinforcement necessary to support such efforts were obtained. As a result, it was
possible to observe differences between the considerations used for the execution of
the project and the considerations prescribed by the Brazilian Standards,
concomitantly with a large discrepancy between the values obtained for the efforts
and areas of reinforcements and the project values. The verification of the design
and the dimensioning of reinforcements were based on Brazilian regulations and
technical collections that govern the sizing of reservoirs. As a result, longitudinal
circumferential reinforcement rates were obtained, necessary to resist the efforts
found, 315% higher and set-up reinforcements 95% higher than those adopted in the
project, together with misconceptions in the adoption of the minimum cover and crack
openings much higher than the maximum allowed.

Keywords: Reservoirs. Dimensioning. Pathologies. Autodesk Robot Structural


Analysis.
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas


ACIJ - Associação Empresarial de Joinville
BIM - Building Information Modeling
CAA - Classe de Agressividade Ambiental
CAJ - Companhia Águas de Joinville
CT - Carga Térmica
ELS - Estado-Limite de Serviço
ELS-CE - Estado-Limite de Compressão Excessiva
ELS-D - Estado-Limite de Descompressão
ELS-DEF - Estado-Limite de Deformações Excessivas
ELS-DP - Estado-Limite de Descompressão Parcial
ELS-F - Estado-Limite de Formação de Fissuras
ELS-VE - Estado-Limite de Vibrações Excessivas
ELS-W - Estado-Limite de Abertura das Fissuras
ELU - Estado-Limite Último
GQM - Gerência de Qualidade e Meio Ambiente
MEF - Método dos Elementos Finitos
NBR - Norma Brasileira
PH - Pressão Hidrostática
PP - Peso Próprio
RSA - Robot Structural Analysis
SC - Santa Catarina
LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Classe de resistência e Grupo do concreto .............................................. 16


Figura 2 - Valores de Eci e Ecs conforme a classe de resistência do concreto ......... 17
Figura 3 - Valores dos coeficientes de ponderação γc e γs ....................................... 19
Figura 4 - Classes de agressividade ambiental ......................................................... 20
Figura 5 - Qualidade do concreto vinculada à CAA................................................... 21
Figura 6 - Cobrimento nominal de armadura vinculado à CAA ................................. 22
Figura 7 - Correspondência entre a CAA e a relação água/cimento ......................... 22
Figura 8 - Requisitos do concreto para condições especiais. ................................... 23
Figura 9 - Exigências relativas à fissuração .............................................................. 24
Figura 10 - Gráfico do limite de abertura de fissuras ................................................. 25
Figura 11 - Coeficiente γf = γf1 . γf3 ........................................................................ 28
Figura 12 - Valores do coeficiente γf2 ....................................................................... 29
Figura 13 - Combinações últimas .............................................................................. 30
Figura 14 - Combinações de serviço ......................................................................... 32
Figura 15 - Causas intrínsecas das manifestações patológicas ................................ 33
Figura 16 - Eflorescência e carbonatação em fissura ............................................... 35
Figura 17 - Reservatórios apoiados ao nível do solo ................................................ 36
Figura 18 - Reservatório apoiado sobre pilares......................................................... 36
Figura 19 - Reservatórios apoiados sobre estruturas................................................ 37
Figura 20 - Reservatório apoiado sobre edifício ........................................................ 37
Figura 21 - Tipos de reservatórios (TSUTIYA, 2014). ............................................... 38
Figura 22 - Formatos dos reservatórios em planta .................................................... 39
Figura 23 - Paredes pelo método Hangan-Soare (1959) .......................................... 42
Figura 24 - Ábaco para valores de K ......................................................................... 43
Figura 25 - Ábaco para valores de K₀ ....................................................................... 44
Figura 26 - Ábaco para valores de K1 ....................................................................... 45
Figura 27 - Ábaco para valores de K' ........................................................................ 46
Figura 28 - Ábaco para valores de K'' ....................................................................... 47
Figura 29 - Ábaco para valores de K2 ....................................................................... 48
Figura 30 - Sistema contínuo discretizado em elementos finitos............................... 50
Figura 31 - RSA: Interface do Autodesk Robot Structural Analysis ........................... 52
Figura 32 - Localização da ETE Jarivatuba ............................................................... 54
Figura 33 - Planta arquitetônica ETE Jarivatuba ....................................................... 55
Figura 34 - Paredes dos reservatórios ...................................................................... 56
Figura 35 - Seção típica das paredes circulares ....................................................... 57
Figura 36 - Medidas da parede secante e circular .................................................... 58
Figura 37 - Medidas da vista em planta .................................................................... 58
Figura 38 - Zonas dos reservatórios .......................................................................... 60
Figura 39 - Tubulações para distribuição de oxigênio nos reatores .......................... 61
Figura 40 - Armaduras longitudinais da parede circular e secante ............................ 62
Figura 41 - Armaduras da passarela da parede circular ........................................... 63
Figura 42 - Fissuras dos reservatórios ...................................................................... 64
Figura 43 - Eflorescência do concreto nos reservatórios .......................................... 65
Figura 44 - Limite de abertura de fissuras através do gráfico do Eurocode 2 (2006) 68
Figura 45 - Posição da parede secante do reservatório ............................................ 71
Figura 46 - RSA: Caixa de diálogo com características do concreto conforme a NBR
6118 (ABNT, 2014) ................................................................................................... 72
Figura 47 - RSA: Caixa de diálogo com características do aço conforme a NBR 6118
(ABNT, 2014) ............................................................................................................ 72
Figura 48 - RSA: Layout de seleção de projeto ......................................................... 73
Figura 49 - RSA: Caixa de diálogo para seleção do formato da casca no RSA ........ 74
Figura 50 - RSA: Caixa de diálogo para as propriedades da casca cilíndrica ........... 75
Figura 51 - RSA: Caixa de diálogo para definição de divisões da estrutura cilíndrica
.................................................................................................................................. 76
Figura 52 - RSA: Caixa de diálogo para configurações da parede secante .............. 77
Figura 53 - RSA: Apoios da estrutura ........................................................................ 77
Figura 54 - RSA: Sistemas de coordenadas locais ................................................... 78
Figura 55 - RSA: Caixa de diálogo de tipos de carga ................................................ 79
Figura 56 - RSA: Caixa de diálogo para definição de cargas de superfície .............. 80
Figura 57 - RSA: Caixa de diálogo para configuração da pressão hidrostática ........ 81
Figura 58 - RSA: Carga hidráulica aplicada na parede circular ................................. 81
Figura 59 - RSA: Caixas de diálogo de configuração das cargas térmicas ............... 82
Figura 60 - RSA: Cargas de variação térmica aplicadas nas paredes do reservatório
.................................................................................................................................. 83
Figura 61 - RSA: Combinações de carregamentos configuradas manualmente ....... 83
Figura 62 - RSA: Sistema de coordenadas (x,y,z) para a parede circular ................. 85
Figura 63 - RSA: Mapa das forças Nxx para o CASO 1 ............................................ 85
Figura 64 - RSA: Mapa de forças normais verticais para o CASO 1 ......................... 86
Figura 65 - RSA: Mapa de momentos Mxx para o CASO 1 ...................................... 87
Figura 66 - RSA: Mapa de momentos Myy para o CASO 1 ...................................... 88
Figura 67 - RSA: Mapa de forças Nxx para o CASO 2 .............................................. 89
Figura 68 - RSA: Mapa de forças normais verticais para o CASO 2 ......................... 90
Figura 69 - RSA: Mapa de momentos Mxx para o CASO 2 ...................................... 91
Figura 70 - RSA: Mapa de momentos Myy para o CASO 2 ...................................... 92
Figura 71 - RSA: Mapa de forças Nxx para o CASO 3 .............................................. 93
Figura 72 - RSA: Mapa das forças normais verticais para o CASO 3 ....................... 94
Figura 73 - RSA: Mapa de momentos Mxx para o CASO 3 ...................................... 95
Figura 74 - RSA: Mapa de momentos Myy para o CASO 3 ...................................... 96
Figura 75 - Distribuição de momentos de Guerrin e Lavaur (2003)........................... 96
Figura 76 - Ábaco para obtenção da taxa de armadura de flexão composta normal
................................................................................................................................ 103
Figura 77 - Valores de taxa de armadura para flexão conforme fck do concreto .... 104
Figura 78 - Valores de Kc e Ks segundo Pinheiro (2007) ........................................ 105
Figura 79 - RSA: Deslocamentos globais para a efeitos da PH .............................. 111
Figura 80 - RSA: Deslocamentos globais para efeitos da dilatação térmica ........... 112
Figura 81 - RSA: Deslocamentos globais para efeitos da contração térmica .......... 113
Figura 82 - Mísula do reforço estrutural .................................................................. 115
LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Dimensões dos reatores ......................................................................... 59


Quadro 2 - Armadura presente nos Reatores ........................................................... 63
Quadro 3 - Parâmetros do concreto para o dimensionamento .................................. 67
Quadro 4 - Parâmetros do aço para o dimensionamento .......................................... 68
Quadro 5 - Coeficientes de ponderação para as combinações de carregamento .... 70
Quadro 6 - Comparativo entre esforços de projeto e esforços calculados através do
RSA ........................................................................................................................... 97
Quadro 7 - Comparativo entre áreas de armaduras ................................................ 106
Quadro 8 - Coeficientes de ponderação para as combinações de carregamentos
frequentes - ELS ..................................................................................................... 107
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 12
1.1. OBJETIVOS ....................................................................................................... 14
1.1.1. Objetivo Geral ................................................................................................ 14
1.1.2. Objetivos Específicos ................................................................................... 14
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ............................................................................ 15
2.1 ESTRUTURAS EM CONCRETO ARMADO........................................................ 15
2.1.1. Concreto......................................................................................................... 15
2.1.1.1. Classes de resistências ................................................................................ 16
2.1.1.2. Módulo de elasticidade ................................................................................. 16
2.1.1.3. Massa específica .......................................................................................... 17
2.1.1.4. Coeficiente de dilatação térmica .................................................................. 17
2.1.1.5. Coeficiente de Poisson ................................................................................. 17
2.1.2. Aço.................................................................................................................. 18
2.1.2.1. Classes de resistências ................................................................................ 18
2.1.2.2. Módulo de elasticidade ................................................................................. 18
2.1.2.3. Massa específica e coeficiente de dilatação térmica .................................... 19
2.1.3. Coeficientes de Ponderação das Resistências dos materiais .................. 19
2.1.4. Classe de agressividade ambiental ............................................................. 20
2.1.4.1. Cobrimento de armadura.............................................................................. 20
2.1.4.2. Relação água/cimento .................................................................................. 22
2.1.5. Controle de fissuração.................................................................................. 23
2.2. AÇÕES EM ESTRUTURAS DE CONCRETO ARMADO ................................... 25
2.2.1. Estados-limites .............................................................................................. 26
2.2.2. Combinações de ações................................................................................. 27
2.2.2.1. Coeficientes de ponderação ......................................................................... 27
2.2.2.2. Combinações últimas ................................................................................... 29
2.2.2.3. Combinações de serviço .............................................................................. 31
2.3. PATOLOGIAS EM ESTRUTURAS DE CONCRETO ARMADO......................... 32
2.4. RESERVATÓRIOS ............................................................................................ 35
2.4.1 Classificações dos reservatórios ................................................................. 35
2.4.1.1. Classificação quanto à posição do reservatório em relação ao solo ............ 36
2.4.1.2. Classificação quanto ao formato da cuba e do fechamento ......................... 38
2.4.1.3. Classificação segundo o uso e natureza do líquido conservado .................. 40
2.4.1.4. Classificação em relação ao volume armazenado ....................................... 40
2.4.2. Métodos de cálculo de parede circular de reservatórios ........................... 40
2.4.2.1. Método Analítico de Guerrin e Lavaur (2003) ............................................... 41
2.4.2.2. Método dos Elementos Finitos ..................................................................... 49
2.5. SOFTWARE AUTODESK ROBOT STRUCTURAL ANALYSIS ......................... 51
3. METODOLOGIA ................................................................................................... 53
3.1. LOCALIZAÇÃO .................................................................................................. 53
3.2. CARACTERÍSTICAS DOS RESERVATÓRIOS DA ETE JARIVATUBA ............ 56
3.2.1. Dimensões e classificações dos reservatórios .......................................... 56
3.2.2. Estrutura ........................................................................................................ 61
3.2.3. Patologias nos reatores ................................................................................ 63
3.3. PARÂMETROS E CRITÉRIOS ADOTADOS ..................................................... 65
3.3.1. Materiais ......................................................................................................... 66
3.3.2. Fissuras.......................................................................................................... 68
3.4. CARREGAMENTOS CONSIDERADOS ............................................................ 69
3.5. CONFIGURAÇÕES DO SOFTWARE E MODELAGEM DOS REATORES ....... 70
3.5.1. Configurações das cargas no software....................................................... 78
4. RESULTADOS ...................................................................................................... 84
4.1. ESFORÇOS CALCULADOS .............................................................................. 84
4.2. DIMENSIONAMENTO DE ARMADURAS .......................................................... 97
4.2.1. Armadura circunferencial ............................................................................. 98
4.2.2. Armadura vertical ........................................................................................ 100
4.2.3. Armadura de engastamento ....................................................................... 104
4.3. COMPARATIVO ENTRE ARMADURAS .......................................................... 105
4.4. VERIFICAÇÃO DAS FISSURAS ...................................................................... 106
4.4.1. Tensão de tração para armadura no Estádio II ......................................... 107
4.4.2. Cálculo da abertura de fissuras da parede circular ................................. 109
4.4.2.1. Abertura de fissuras para tração ................................................................ 110
4.4.2.2. Abertura de fissuras para flexão ................................................................. 110
4.5. VERIFICAÇÃO DAS DEFORMAÇÕES MÁXIMAS .......................................... 110
5. CONCLUSÕES ................................................................................................... 114
REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 117
12

1. INTRODUÇÃO

Segundo Kirby et al. (1956), os primeiros reservatórios dos quais se tem


notícia são as cisternas construídas em rochas sã por uma civilização que
posteriormente se tornou a comunidade grega, 25 séculos a.C. De acordo com Teles
(1984), em 1880 foi inaugurado no Brasil um grande reservatório, o Reservatório de
Pedregulho, na cidade do Rio de Janeiro, com capacidade para armazenar 80
milhões de litros, utilizado para um novo sistema de abastecimento de água da
cidade e construído em alvenaria de pedra, com arcadas e tetos abobadados. Esse
reservatório juntamente com outros quatro distribuídos em vários pontos da cidade
constituíam o grande sistema abastecedor de água planejado pelo Eng. Jerônimo de
Moraes Jardim.
Atualmente, as estruturas construídas para reserva de fluídos têm merecido
atenção especial, principalmente em obras que atendam a população de modo a
coletar, reservar, tratar e devolver ao meio ambiente os recursos necessários para a
vida na Terra. Evidencia-se que os reservatórios utilizados para tratamento de
efluentes residenciais em estações de tratamento são de grande importância à
população. Prado (2014) destaca que a Estação de Tratamento de Esgotos (ETE)
tem por finalidade remover os poluentes dos esgotos, os quais têm potencial de
causar deterioração da qualidade dos corpos d´água.
Neste contexto, delimitam-se as análises deste trabalho aos reservatórios de
tratamento de esgoto localizados na cidade de Joinville, região norte do estado de
Santa Catarina (SC), que dispõe da Companhia Águas de Joinville (CAJ) para
tratamento e coleta do esgoto residencial. A necessidade da universalização do
saneamento básico após aprovação da Lei Federal nº14.026/2020, que atualiza o
Marco Legal do Saneamento Básico e prevê a garantia de 90% da coleta e
tratamento de esgoto no País, fomenta grandes investimentos no setor, com
projeção de aplicação, entre 2022 e 2026, de mais de R$900 milhões pela CAJ
(Associação Empresarial de Joinville - ACIJ, 2022).
Na última década, Joinville ficou marcada pela construção da Estação de
Tratamento de Esgoto Jarivatuba, sendo uma das mais modernas estações do
segmento na América Latina (COMPANHIA ÁGUAS DE JOINVILLE, 2021). A
estação é composta por quatro reservatórios circulares em concreto armado que
13

funcionam como reatores biológicos e atualmente estão passando por uma obra de
reforço estrutural. Souza e Ripper (1998) discorrem que o crescimento acelerado da
construção civil provocou a necessidade de inovações que trouxeram, em si, a
aceitação implícita de maiores riscos. Ademais, afirmam que dentre os principais
motivos pelos quais são necessários reforços estruturais estão: a correção de falhas
de projeto e execução, e o aumento da capacidade portante da estrutura, para
permitir modificações em seu uso.
Segundo Favale (2020), responsável pelo projeto de reforço estrutural dos
reservatórios da ETE Jarivatuba, esses reatores biológicos portam deficiências
estruturais nas paredes circulares, constatadas nos relatórios de verificação da
estrutura. Vistorias técnicas indicaram intensa fissuração nos quatro reservatórios
com consequente vazamento de efluente tanto pelas paredes verticais quanto na
junção entre as paredes e a laje de fundo, que acabaram por impedir a total
utilização da capacidade de tratamento da estação. Com isso, o reforço estrutural foi
projetado de maneira a adequar a armadura aos esforços solicitantes.
Além do reforço estrutural, para assegurar a estanqueidade e durabilidade
da estrutura, foi proposto pela Petra Consultoria (2020) um projeto de
impermeabilização externa e interna das paredes, juntamente com injeção de gel e
espuma em poliuretano para tratamento das fissuras presentes nas paredes e
reparos em patologias presentes na estrutura. Segundo a NBR 9575 (ABNT, 2010),
impermeabilização é o conjunto de operações e técnicas construtivas (serviços),
composto por uma ou mais camadas, que tem por finalidade proteger as
construções contra a ação deletéria de fluidos, de vapores e da umidade.
Os reservatórios, objetos deste estudo, foram construídos em concreto
armado moldado in loco, com diâmetro interno de 58,4 m e paredes com 6,0 m de
altura, e com base circular cuja espessura varia entre 0,30 e 0,40 m (FAVALE,
2020). Com a execução do reforço estrutural, as espessuras das paredes dos
reatores passaram de 0,40 m para 0,50 m e na sua base foi executada uma mísula
de 0,67 m de altura, resultando em uma espessura final de 1,40 m no encontro entre
a parede e a base do reator.
Embasado em normativas nacionais, foram calculados os esforços para três
casos de combinações de ações, visando a obtenção das tensões e momentos
imprescindíveis ao dimensionamento das taxas de armaduras necessárias para
suportar tais solicitações. Posteriormente foram verificados os esforços resultantes
14

de um caso de combinação para a obtenção das máximas aberturas de fissuras da


estrutura.

1.1. OBJETIVOS

Para solucionar a problemática da verificação das deficiências nas


armaduras estruturais nas paredes circulares dos reservatórios, foram propostos,
neste trabalho, os seguintes objetivos.

1.1.1. Objetivo Geral

Analisar o dimensionamento das armaduras propostas no projeto inicial,


antes de ser executado o reforço estrutural, dos reservatórios para tratamento de
esgoto na ETE Jarivatuba, na cidade de Joinville (SC).

1.1.2. Objetivos Específicos

 Apresentar as características dos reservatórios em concreto armado e


classificar os reservatórios da ETE Jarivatuba;
 Expor os métodos de dimensionamento analítico e computacional;
 Calcular os esforços atuantes na estrutura pelo Método dos Elementos
Finitos, através de um software de análise estrutural;
 Apontar as vantagens do software Autodesk Robot Structural Analysis;
 Dimensionar as armaduras para as paredes circulares dos reservatórios;
 Comparar os esforços e armaduras calculados com os de projeto;
 Calcular a abertura de fissuras conforme os esforços calculados;
 Analisar possíveis equívocos no desenvolvimento de projeto;
 Sugerir recomendações para o dimensionamento de reservatórios circulares.
15

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Para se avaliar a concepção e o dimensionamento dos reservatórios em


concreto armado, é importante compreender quais as principais características
destas estruturas e as solicitações atuantes sobre elas. Ademais, os métodos
cálculos, juntamente com a apresentação das principais patologias presentes nestas
estruturas são indispensáveis para o presente trabalho. Assim, particularidades e a
compreensão de cada componente que implica no objeto deste estudo são de
grande notabilidade e serão explicadas a seguir.

2.1 ESTRUTURAS EM CONCRETO ARMADO

As estruturas em concreto armado são estruturas resultantes da união entre


concreto simples e barras de aço, essas estruturas são habitualmente utilizadas
para as construções presentes, devido a sua vantagem econômica, segurança, mão
de obra abundante e bom desempenho nesta união aço-concreto, garantindo
resistência contra as solicitações das quais a estrutura necessite suportar. Para o
dimensionamento destas estruturas, é necessário conhecer as características dos
materiais que as compõem e dos tipos e formas de solicitações que podem atuar
sobre elas. Tais atributos estão presentes em normativas nacionais e internacionais
e serão detalhados a seguir.

2.1.1. Concreto

O concreto é um material composto, constituído por água, cimento e


agregados miúdos como as areias e graúdos como as britas, podendo conter
também adições e aditivos químicos com finalidade de melhorar ou modificar suas
características básicas. As principais características do concreto para o
dimensionamento de estruturas estão presentes na NBR 6118 (ABNT, 2014) e NBR
8953 (ABNT, 2015) e serão apresentadas a seguir.
16

2.1.1.1. Classes de resistências

Segundo a NBR 8953 (ABNT, 2015) os concretos para fins estruturais


podem, em relação a sua resistência característica a compressão (fck) determinada
em ensaios laboratoriais, ser classificados em dois grupos (I e II) e também em
classes distintas, conforme consta na Tabela 1 da NBR 8953 (ABNT, 2015),
ilustrada na Figura 1, que apresenta os grupos e as classes de resistência do
concreto em relação ao fck dado em MPa.

Figura 1 - Classe de resistência e Grupo do concreto

Fonte: NBR 8953 (ABNT, 2015).

2.1.1.2. Módulo de elasticidade

Os módulos de elasticidade inicial (𝐸𝑐𝑖) e secante (𝐸𝑐𝑠) do concreto são


parâmetros físicos relacionados à medida de deformação do concreto sob ações de
tensões, comumente de compressão, dependendo do emprego e das características
dos materiais em sua composição, esses que acabam por alterar seu fck. A Tabela
8.1 da NBR 6118 (ABNT, 2014), ilustrada na Figura 2, fornece valores estimados de
módulo de elasticidade inicial e secante em função da classe de resistência do
concreto, considerando a utilização do granito como agregado graúdo.
17

Figura 2 - Valores de 𝐸𝑐𝑖 e 𝐸𝑐𝑠 conforme a classe de resistência do concreto

Fonte: NBR 6118 (ABNT, 2014).

2.1.1.3. Massa específica

A massa específica é uma grandeza física, correspondente a relação entre a


massa e o volume de um material. A NBR 6118 (ABNT, 2014) é aplicada para
concretos com massa especifica normal compreendida entre 2000 e 2800 kg/m³, a
norma cita também que para concretos com massa específica real não conhecida
pode-se utilizar 2400 kg/m³ para concreto simples e 2500 kg/m³ para concreto
armado. Ademais, quando se conhecer a massa especifica do concreto simples,
para o concreto armado é adicionado um valor de 100 a 150 kg/m³ ao valor do
concreto simples.

2.1.1.4. Coeficiente de dilatação térmica

O coeficiente de dilatação térmica é um parâmetro físico, que diz respeito à


capacidade que os materiais têm de mudar suas dimensões, em relação à variação
de temperatura. A NBR 6118 (ABNT, 2014) cita em seu item 8.2.3 que o coeficiente
de dilatação térmica do concreto, para fins de análise estrutural, pode ser admitido
como 10−5 /ºC.

2.1.1.5. Coeficiente de Poisson

O coeficiente de Poisson (𝑣) é um parâmetro adimensional, resultado da


relação entre valores absolutos da deformação transversal e da longitudinal, visto
que, toda tensão aplicada em um corpo provoca, ao mesmo tempo, deformação no
seu sentido de aplicação e também uma deformação no sentido transversal. A NBR
18

6118 (ABNT, 2014) admite para estruturas de placas ou métodos baseados na teoria
da elasticidade um valor de 0,2 para o coeficiente de Poisson.

2.1.2. Aço

O aço para concreto armado são ligas de ferro que, para melhorar suas
propriedades, são adicionados elementos químicos, como o carbono, que aumenta a
resistência do aço com a elevação do teor de carbono, que varia entre 0,08% e
0,50% para estruturas de concreto armado. As normas que regulamentam e
caracterizam o aço para utilização em armaduras de concreto armado é a NBR 7480
(ABNT, 2007) e a NBR 6118 (ABNT, 2014). As principais características do aço para
o dimensionamento dessas estruturas serão apresentadas a seguir.

2.1.2.1. Classes de resistências

A classe de resistência do aço está relacionada com sua resistência


característica ao escoamento (fyk), cuja denominação é dada pelas letras CA que
representam concreto armado e o número seguinte representa o fyk. Segundo a
Tabela B.3 da NBR 7480 (ABNT, 2007) o aço CA-25 é o aço de fyk igual a 250 MPa,
o aço CA-50 é o aço de fyk igual a 500 MPa e o aço CA-60 é o de fyk igual a 600
MPa.

2.1.2.2. Módulo de elasticidade

A NBR 6118 (ABNT, 2014) divide as classificações de algumas


características do aço conforme sua aplicação. Para armaduras passivas, definida
pela NBR 6118 (ABNT, 2014, p. 4) como: “[...] qualquer armadura que não seja
usada para produzir forças de protensão, isto é, que não seja previamente
alongada”, a norma fornece no item 8.3.5 o módulo de elasticidade do aço, caso não
haja ensaios ou valores dos fabricantes, podendo ser admitido igual a 210 GPa. E
para armaduras ativas, ou seja, armaduras que recebem esforços de protensão, o
item 8.4.4 da norma define, também para casos com falta de dados específicos, um
valor de 200 GPa para fios e cordoalhas.
19

2.1.2.3. Massa específica e coeficiente de dilatação térmica

Para massa específica, a NBR 6118 (ABNT, 2014) apresenta em seus itens
8.3.3 e 8.4.2 os valores da massa especifica do aço para armaduras passivas e
ativas respectivamente, ambas com valor igual a 7850 kg/m³. Para o coeficiente de
dilatação térmica, a norma fornece para ambos o mesmo valor do coeficiente de
dilatação térmica do concreto de 10−5 /ºC.

2.1.3. Coeficientes de Ponderação das Resistências dos materiais

Segundo a NBR 6118 (ABNT, 2014), os valores de resistência de cálculo


dos materiais devem ser minorados, uma vez que, os valores característicos de
amostras ou lotes de ensaio, têm alguma probabilidade de serem superiores, sendo
assim, desfavorável para a segurança.
Com isso a norma define que os valores de resistência de cálculo (𝑓𝑑 ) para
os materiais devem seguir a equação 1:

𝑓𝑘
𝑓𝑑 = (1)
𝛾𝑚

em que:
𝑓𝑘 é a resistência característica;
𝛾𝑚 é o coeficiente de minoração das resistências, apresentado a seguir.

A norma apresenta na Tabela 12.1, ilustrada na Figura 3, os valores dos


coeficientes de ponderação para o concreto (𝛾𝑐 ) e para o aço (𝛾𝑠 ), para os casos de
combinações do estado-limite último, tratadas na seção 2.2.2.2.

Figura 3 - Valores dos coeficientes de ponderação 𝛾𝑐 e 𝛾𝑠

Fonte: NBR 6118 (ABNT, 2014).


20

Para combinações do estado-limite de serviço, apresentadas na seção


2.2.2.3, as resistências não necessitam de minoração, logo 𝛾𝑚 = 1,0.

2.1.4. Classe de agressividade ambiental

Segundo a NBR 6118 (ABNT, 2014), a agressividade do meio ambiente é


atinente às ações físicas e químicas que atuam sobre as estruturas, não
dependendo de ações mecânicas, dilatação ou contração devido a variação térmica,
retração hidráulica e outras ações antevistas no dimensionamento das estruturas.
A classe de agressividade ambiental (CAA) é definida pelo responsável do
projeto estrutural através da classificação geral do tipo de ambiente onde será
implementado o projeto, a NBR 6118 (ABNT, 2014) apresenta na Tabela 6.1,
ilustrada na Figura 4, as CAA conforme o tipo de ambiente e relaciona os riscos de
deterioração da estrutura.

Figura 4 - Classes de agressividade ambiental

Fonte: NBR 6118 (ABNT, 2014).

2.1.4.1. Cobrimento de armadura

Posteriormente a determinação da classe de agressividade ambiental, é


possível definir a qualidade do concreto e o cobrimento, uma vez que, segundo a
21

NBR 6118 (ABNT, 2014), a durabilidade das estruturas é demasiadamente


dependente das características do concreto e da espessura e qualidade do
cobrimento da armadura.
Na ausência de ensaios comprobatórios de desempenho da estrutura frente
ao ambiente previsto, a NBR 6118 (ABNT, 2014) fornece na Tabela 7.1, ilustrada na
Figura 5, a correspondência entre a CAA e a qualidade do concreto para estruturas
de concreto armado e concreto protendido.

Figura 5 - Qualidade do concreto vinculada à CAA

Fonte: NBR 6118 (ABNT, 2014), adaptado pelo autor.

Outrossim, a norma apresenta na Tabela 7.2 a correspondência entre a


classe de agressividade ambiental do meio e o cobrimento de armadura nominal,
para uma variação aceitável limite de dez milímetros.
22

Figura 6 - Cobrimento nominal de armadura vinculado à CAA

Fonte: NBR 6118 (ABNT, 2014).

2.1.4.2. Relação água/cimento

A relação água/cimento é descrita pela NBR 12655 (ABNT, 2015) como o


quociente entre a massa do conteúdo efetivo de água e a massa do conteúdo de
cimento Portland e outros materiais cimentícios. Essa relação é dependente da CAA,
visto que a durabilidade de uma estrutura é inerente à qualidade do concreto
utilizado.
A norma apresenta na Tabela 2, ilustrada na Figura 7, os valores que
correspondem ao limite da relação água/cimento para cada CAA.

Figura 7 - Correspondência entre a CAA e a relação água/cimento

Fonte: NBR 12655 (ABNT, 2015), adaptado pelo autor.


23

Ademais, a norma reforça que para condições especiais, como concretos


para estruturas de baixa permeabilidade à água, devem-se seguir os requisitos
expressos na tabela ilustrada na Figura 8.

Figura 8 - Requisitos do concreto para condições especiais.

Fonte: NBR 12655 (ABNT, 2015), adaptado pelo autor.

2.1.5. Controle de fissuração

Segundo Cunha (2011), a fissuração excessiva em estruturas de concreto


armado é um dos problemas encontrados com grande frequência nas construções,
sejam obras de infraestrutura e edificações, podendo ser originada por erro de
projeto, falha de materiais e erros de execução. O autor reforça que o controle de
fissurações deve ter mais relevância no desenvolvimento dos projetos, visto que o
aumento da formação e abertura de fissuras provoca a diminuição da rigidez da
estrutura podendo levar ao colapso estrutural.
A NBR 6118 (ABNT, 2014) trata, no item 13.4, do controle de fissuração e
proteção das armaduras, e apresenta na tabela ilustrada na Figura 9 valores de
aberturas máximas características (𝑤𝑘 ), sob solicitações das combinações de ações
em serviço, apresentadas na seção 2.2.2.3, vinculados à CAA e ao tipo de concreto
estrutural.
24

Figura 9 - Exigências relativas à fissuração

Fonte: NBR 6118 (ABNT, 2014).

A norma reforça que os valores tabelados acima visam garantir a proteção


adequada das armaduras quanto à corrosão. Todavia, devido ao estágio atual dos
conhecimentos e à alta variabilidade de grandezas envolvidas, esses valores limites
devem ser tratados apenas como critérios para um projeto adequado. A norma
reforça que no caso de estruturas onde as fissuras podem afetar sua funcionalidade,
como na estanqueidade dos reservatórios, devem ser adotados limites menores
para as aberturas de fissuras. Concordante com essa exigência e com a
necessidade da adoção de valores menores de aberturas de fissuras, o Eurocode 2,
Part 3 (2006) apresenta um gráfico, ilustrado na Figura 10, no qual é possível
determinar o limite máximo de abertura de fissuras para um reservatório em concreto
armado através dos valores da altura de coluna d´água (ℎ𝐿 ) e espessura da parede
(t).
25

Figura 10 - Gráfico do limite de abertura de fissuras

Fonte: European Committee for Standardization - Eurocode 2 (2006).

2.2. AÇÕES EM ESTRUTURAS DE CONCRETO ARMADO

As ações em estruturas de concreto armado são todos os agentes


responsáveis por produzir estados de tensões e deformações, em virtude dessas
ações, e por gerar solicitações pelas quais as estruturas são submetidas e
projetadas. Segundo a NBR 6118 (ABNT, 2014), para a análise estrutural devem ser
consideradas todas as ações que produzam efeitos significativos para a segurança
da estrutura examinada, levando-se em consideração os possíveis estados-limites
últimos e de serviços, os quais serão descritos adiante na seção 2.2.1.
Logo, as ações a serem consideradas são classificadas, conforme sua
variabilidade no tempo de vida estrutura, segundo a NBR 8681 (ABNT, 2003), em:
 Ações permanentes: são as ações que ocorrem com valores
constantes ou de pequenas variações em torno das suas médias, ao
decorrer, praticamente, de toda a vida da construção. São subdividias
em diretas, aquelas nas quais estão presentes o peso próprio da
estrutura, dos equipamentos e dos elementos da construção e
empuxos de terra devido ao peso próprio, e em indiretas, as ações
permanentes geradas pela protensão, recalques de apoio e retração
dos materiais;
 Ações variáveis: são ações decorrentes de cargas acidentais da
construção, tal como seus efeitos. São dividas, conforme a NBR 6118
(ABNT, 2014), em ações variáveis diretas, ou seja, ações constituídas
pelas cargas acidentais previstas para o uso da construção, ação do
26

vento e da pressão hidrostática, e ações variáveis indiretas, ou seja,


ações decorrentes das variações uniformes e não uniformes de
temperatura e ações dinâmicas para estruturas sujeitas a choque ou
vibrações;
 Ações excepcionais: são ações decorrentes de causas como colisões
de veículos contra a estrutura, incêndios, enchentes, sismos
excepcionais e explosões.

2.2.1. Estados-limites

Os estados limites de uma estrutura, segundo a NBR 8681 (ABNT, 2003)


são os estados a partir dos quais a estrutura apresenta um desempenho inadequado
às finalidades propostas da construção. A mesma norma, juntamente com a NBR
6118 (ABNT, 2014), definem o Estado-Limite Último (ELU), como o estado-limite
devido a sua simples ocorrência, relacionado ao colapso ou qualquer outra forma de
ruína estrutural que determine a inutilização parcial ou total da estrutura. Ademais, a
primeira norma citada esclarece que o Estado-Limite de Serviço (ELS) é o estado
que, devido a sua ocorrência, causa efeitos estruturais que impedem a estrutura de
cumprir as condições especificadas para o uso normal da construção ou que
apontem indícios do comprometimento da estrutura. Já a NBR 6118 (ABNT, 2014)
divide o estado-limite de serviço em sete tipos, sendo eles:
 Estado-limite de formação de fissuras (ELS-F): estado em que se
inicia a formação de fissuras em uma estrutura, atingido quando a
tensão de tração máxima na seção for igual à resistência do concreto
à tração na flexão;
 Estado-limite de abertura das fissuras (ELS-W): estado em que as
fissuras demonstram aberturas iguais aos máximos especificados no
item 2.1.5;
 Estado-limite de deformações excessivas (ELS-DEF): estado em que
as deformações na estrutura atingem os limites para a utilização
normal da construção;
 Estado-limite de descompressão (ELS-D): estado em que um único
ou um conjunto de pontos de uma dada seção transversal da
27

estrutura alcançam o valor de tensão normal nula, não havendo


tração em nenhum ponto restante na seção;
 Estado-limite de descompressão parcial (ELS-DP): estado em que se
garante a compressão na seção transversal na região onde existem
armaduras de protensão;
 Estado-limite de compressão excessiva (ELS-CE): usual para
concreto protendido é o estado onde as tensões de compressão
atingem o limite convencional estabelecido em projeto;
 Estado-limite de vibrações excessivas (ELS-VE): estado no qual as
vibrações na estrutura atingem limites estabelecidos para o normal
uso da construção.

2.2.2. Combinações de ações

Segundo a NBR 6118 (ABNT, 2014), o carregamento em uma estrutura é


descrito pela combinação de ações que tem uma possibilidade não desprezível de
ocorrência simultânea na estrutura. A combinação das ações para a análise
estrutural de uma edificação deve ser feita de maneira que possam ser
estabelecidos os efeitos mais desfavoráveis para a mesma. A norma descreve
também que, a verificação da segurança estrutural em relação aos estados-limites
deve ser realizada em função das combinações últimas a das combinações de
serviço respectivamente.
Devido às incertezas a respeito dos valores de ações constatadas durante a
análise de uma estrutura, para as combinações de ações são atribuídos coeficientes
de ponderação para majorar estes valores, estes coeficientes variam de acordo com
o estado-limite e a classificação da ação e serão apresentados a seguir.

2.2.2.1. Coeficientes de ponderação

Conforme o item 11.7 da NBR 6118 (ABNT, 2014), para a determinação das
combinações, as ações devem ser majoradas pelo coeficiente 𝛾𝑓 que é o resultado
da multiplicação dos valores de 𝛾𝑓1, 𝛾𝑓2 e 𝛾𝑓3 (equação 2). O coeficiente 𝛾𝑓1 leva em
consideração a variabilidade das ações, já o 𝛾𝑓3 leva em conta possíveis erros de
28

avaliação dos efeitos causados por cada ação e o 𝛾𝑓2 é a parte do coeficiente 𝛾𝑓 que
considera a simultaneidade da atuação das ações na estrutura.

𝛾𝑓 = 𝛾𝑓1 . 𝛾𝑓2 . 𝛾𝑓3 (2)

Os coeficientes de ponderação das ações no ELU, 𝛾𝑓 = 𝛾𝑓1 . 𝛾𝑓3, são


apresentados na Figura 11, que ilustra a Tabela 11.1 da NBR 6118 (ABNT, 2014), e
os coeficientes de ponderação 𝛾𝑓2 apresentam-se na Figura 12 que ilustra a Tabela
11.2 da mesma norma.

Figura 11 - Coeficiente 𝛾𝑓 = 𝛾𝑓1 . 𝛾𝑓3

Fonte: NBR 6118 (ABNT, 2014).


29

Figura 12 - Valores do coeficiente 𝛾𝑓2

Fonte: NBR 6118 (ABNT, 2014).

Em geral, o coeficiente de ponderação do ELS pode ser dado pela igualdade


𝛾𝑓 = 𝛾𝑓2, onde o valor de 𝛾𝑓2 é variável conforme a verificação que se deseja fazer.
Para combinações raras o valor de 𝛾𝑓2 = 1, para combinações frequentes o valor de
𝛾𝑓2 = 𝛹1 e para combinações quase permanentes o valor de 𝛾𝑓2 = 𝛹2 .

2.2.2.2. Combinações últimas

Conforme a NBR 6118 (ABNT, 2014), uma combinação última pode ser
classificada como:
 Normal: combinação em que devem estar inclusas as ações
permanentes e a ação variável principal, com seus valores
característicos e as demais ações variáveis consideradas
secundárias, com seus valores de combinação reduzidos;
 Especial ou de construção: combinação que deve conter as ações
permanentes e, quando existir, a ação variável especial com seus
valores característicos e as demais variáveis com seus valores
reduzidos de combinação;
30

 Excepcionais: combinação em que devem figurar ações permanentes


e, quando ocorrer, a ação variável excepcional, com seus valores
representativos e as demais ações variáveis com a probabilidade não
desprezível de ocorrência simultânea com seus valores de
combinação reduzidos.
A Figura 13 ilustra a Tabela 11.3 da NBR 6118 (ABNT, 2014), que apresenta
as combinações ultimas para as três classificações citadas.

Figura 13 - Combinações últimas

Fonte: NBR 6118 (ABNT, 2014).

Em sua dissertação, Costa (1998) afirma que uma estrutura ou qualquer


componente da mesma não deve atingir os estados limites de ruína ou de serviço,
confirmando que, cada parte tem que apresentar ao longo de sua vida útil as
qualidades relativas ao estado limite de ruína, ou seja, não romper e não perder
estabilidade. Já para o estado limite de serviço o autor cita o não deslocamento
prejudicial à utilização da edificação e o não surgimento de fissuras prejudiciais ao
uso da obra ou durabilidade da estrutura. Conjuntamente, o autor reforça que, em se
tratando de reservatórios, os limites de aberturas de fissuras devem ser respeitados,
31

uma vez que a estanqueidade é a principal função do reservatório e que de nada


adianta sua segurança e estabilidade sem armazenar fluídos.

2.2.2.3. Combinações de serviço

As combinações de serviço são classificadas, de acordo com a NBR 6118


(ABNT, 2014), conforme sua permanência na estrutura:
 Combinações quase permanentes: são combinações que podem
atuar durante a maior parte do período de vida da estrutura, sua
consideração pode ser necessária quanto à verificação no ELS-DEF;
 Combinações frequentes: são combinações que se repetem
periodicamente durante a vida da estrutura, sua consideração pode
ser necessária quanto à verificação dos ELS-F, ELS-W, ELS-VE e
ELS-DEF, decorrentes de ação da temperatura ou do vento que
possam comprometer as vedações;
 Combinações raras: são combinações que ocorrem algumas vezes
durante o período de vida da estrutura, sua consideração pode ser
necessária quanto à verificação do ELS-F.
A norma apresenta em sua Tabela 11.4, ilustrada na Figura 14, as
combinações de serviço para as ações conforme as classificações mencionadas.
32

Figura 14 - Combinações de serviço

Fonte: NBR 6118 (ABNT, 2014).

2.3. PATOLOGIAS EM ESTRUTURAS DE CONCRETO ARMADO

Patologias são manifestações, consequências e mecanismos de ocorrência


das falhas dos sistemas de desagregação das estruturas. São encargos da
engenharia patológica e terapêutica das construções estudar os patológicos
apresentados nas estruturas, avaliando e identificando as principais causas, origens,
formas de manifestação, métodos e técnicas adequadas para finalizar esses
problemas e/ou evitar suas reincidências. Desta forma, a estrutura do reservatório
pode apresentar diversas manifestações patológicas. Sendo assim, quando surgem
sinais externos de patologias como manchas incomuns, fissuras, deformações e
entre outros, está acontecendo algo de errado na mesma (BORGES, 2008).
Helene (1988) compreende a patologia do concreto armado como a ciência
que estuda os sintomas, mecanismos, causas e origens dos problemas patológicos
encontrados nas estruturas executadas em concreto armado. O autor reforça que os
danos nas estruturas podem vir a causar apenas incômodos para aqueles que irão
utilizar a obra segundo o fim para que foi feita, tais como pequenas infiltrações até
33

grandes problemas que podem levar a estrutura ao colapso, e que existe a


possibilidade de vários fatores para a existência de um dano qualquer.
Trindade (2015) afirma que as manifestações patológicas em estruturas de
concreto armado, que compreendam sua causa na concepção do projeto, são
aquelas que transcorrem de um mau planejamento do mesmo ou falhas técnicas,
sejam por desconhecimento de métodos ou negligência. Essas patologias podem se
originar de um mau lançamento da estrutura em programas computacionais, erros
em execução de anteprojeto ou até mesmo na elaboração do projeto de execução.
Como exemplo, as fissuras em uma viga devido ao erro de cálculo da flecha, ou
fissuras de elementos estruturais devido a não ser respeitado ou mal interpretado o
ELU.
Souza e Ripper (1998) classificam as causas intrínsecas das manifestações
patológicas como aquelas em que os processos de deterioração da estrutura são
originados dos materiais e das peças estruturais durante as fases de execução e
utilização, falhas de origem humana e acidentes. A Figura 15 relaciona as principais
causas intrínsecas das patologias em estruturas de concreto armado.

Figura 15 - Causas intrínsecas das manifestações patológicas

Fonte: Souza e Ripper (1998), adaptado pelo autor.


34

Dentre as principais patologias devidas a processos físicos de deterioração,


pode-se citar a fissuração. Segundo Trindade (2015) as fissuras são as
manifestações que mais chamam a atenção dos leigos devido seu aspecto
desagradável esteticamente, juntamente com a sensação de insegurança. Conforme
Cánovas (1988), elas são manifestações que, além do próprio risco que trazem para
a segurança da estrutura, acabam por ser uma abertura para a ocorrência de
corrosões das armaduras, já que acabam por desproteger as armaduras de aço. De
maneira geral, sua causa se deve a deficiências de projeto e erros de execução.
Segundo Fusco (2008), o concreto é um material poroso, e essa
característica pode comprometer sua durabilidade devido aos ataques do meio onde
está inserido, principalmente pelo gás carbônico, gerando a carbonatação, e
consequentemente o risco de corrosão da estrutura. Com a abertura das fissuras
esse processo é facilitado, uma vez que a entrada do agente de deterioração ocorre
através dos vãos fissurados, juntamente com a porosidade do concreto. Segundo a
NBR 6118 (ABNT, 2014), a despassivação por carbonatação do concreto é um
mecanismo preponderante de deterioração relativo à armadura do concreto armado,
e maneiras de minimizar esse efeito são descritos abaixo.

É a despassivação por carbonatação, ou seja, por ação do gás carbônico da


atmosfera sobre o aço da armadura. As medidas preventivas consistem em
dificultar o ingresso dos agentes agressivos ao interior do concreto. O
cobrimento das armaduras e o controle da fissuração minimizam este efeito,
sendo recomendável um concreto de baixa porosidade. (ASSOCIAÇÃO
BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2014, p. 16)

Outro fenômeno decorrente da abertura de fissuras é a eflorescência do


concreto, que, segundo Souza (2008), trata-se de depósitos cristalinos de cor
esbranquiçada que surgem na superfície das estruturas decorrentes da lixiviação
(extração de uma substância de um sólido por meio de sua dissolução em um
líquido). Portanto, são formados através de sais transportados pelos líquidos, que
pode ser resultante das infiltrações em fissuras, quando em contato com o ar,
solidificam-se formando essa matéria de aspecto esbranquiçado. Assim, em
conjunto com a carbonatação avançada e o processo corrosivo surgem sinais
evidentes nas fissuras e desplacamentos das camadas de cobrimento expondo
ainda mais as armaduras. A Figura 16 ilustra o fenômeno da carbonatação e
eflorescência em uma fissura.
35

Figura 16 - Eflorescência e carbonatação em fissura

Fonte: Autor (2021).

2.4. RESERVATÓRIOS

A seguir descrevem-se as classificações dos reservatórios mais utilizados


segundo alguns autores, juntamente com a apresentação de um método analítico de
cálculo de paredes circulares, através de ábacos e equações simples.
Posteriormente são apresentados os conceitos básicos do Método dos Elementos
Finitos, implementado em vários softwares de análise estrutural para o cálculo de
esforços, tensões, deformações, etc., permitindo também a análise de elementos
com características particulares, como é o caso dos reservatórios da ETE
Jarivatuba.

2.4.1 Classificações dos reservatórios

Em geral, os reservatórios são classificados quanto à sua posição em


relação ao solo, ao formato da cuba e do fechamento, ao uso e ao volume e
natureza do líquido armazenado, estas classificações são detalhadas a seguir.
36

2.4.1.1. Classificação quanto à posição do reservatório em relação ao solo

Guerrin e Lavaur (2003) definem o reservatório como um recipiente que


contém um líquido, comumente água potável, podendo também armazenar
hidrocarbonetos como o petróleo, bebidas como cerveja e vinho, águas servidas -
todos os resíduos líquidos domésticos e industriais. Os autores classificam os
reservatórios segundo a sua posição em relação ao solo da seguinte maneira:
 apoiado ao nível do solo ou muito pouco apoiado (Figura 17): a
fundação do reservatório é sempre colocada em contato com o solo;

Figura 17 - Reservatórios apoiados ao nível do solo

Fonte: GUERRIN e LAVAUR (2003), adaptado pelo autor.

 apoiado sobre pilares ou ligeiramente elevados (Figura 18): são


reservatórios elevados, apoiados acima do nível do solo sobre um
conjunto de pilares.

Figura 18 - Reservatório apoiado sobre pilares

Fonte: GUERRIN e LAVAUR (2003), adaptado pelo autor.


37

 sobre estruturas (Figura 19): são reservatórios apoiados acima do


nível do solo sobre uma estrutura, como por exemplo caixas d´água
isoladas.

Figura 19 - Reservatórios apoiados sobre estruturas

Fonte: GUERRIN e LAVAUR (2003), adaptado pelo autor .

 sobre edifícios (Figura 20): podendo esta ser uma maneira econômica
de utilizar uma estrutura existente para alimentar não somente o
edifício onde consta o reservatório, como os próximos de nível
inferior.

Figura 20 - Reservatório apoiado sobre edifício

Fonte: GUERRIN e LAVAUR (2003), adaptado pelo autor.


38

Já para Tsutiya (2014), a classificação de um reservatório diante do terreno


em que se encontra pode ser dada por:
a) Reservatório enterrado: é aquele que se situa inteiramente abaixo da
cota do terreno em que está localizado;
b) Reservatório semienterrado: é aquele que apresenta pelo menos um
terço da sua altura total abaixo da cota do terreno em que está
localizado;
c) Reservatório apoiado: é o reservatório cujo fundo se encontra a uma
profundidade correspondente a menos de um terço de sua altura total
acima do nível do terreno em que está localizado;
d) Reservatório elevado: é aquele cuja cota do terreno em que está
localizado está abaixo da cota do fundo do reservatório.
A Figura 21 ilustra os quatro tipos de reservatórios conforme a classificação
apresentada acima.

Figura 21 - Tipos de reservatórios (TSUTIYA, 2014).

Fonte: Tsutiya (2014).

2.4.1.2. Classificação quanto ao formato da cuba e do fechamento

Visando uma execução econômica nas fundações e na estrutura, em


conjunto com uma boa utilização da área disponível, a escolha do formato do
reservatório deve ser levada em consideração. Nesse sentido, as formas mais
usuais de construção variam entre retângulos, círculos, hexágonos e outras
(TSUTIYA, 2014), conforme ilustra a Figura 22. Quanto ao fechamento, Guerrin e
39

Lavaur (2003) classificam como fechado, como caixas d´água e não fechado, como
no caso das piscinas. Já para o formato da cuba, os autores dividem os
reservatórios em quatro campos:
 reservatório circular;
 reservatório quadrado;
 reservatório retangular;
 reservatório de qualquer formato.

Figura 22 - Formatos dos reservatórios em planta

Fonte: Tsutiya (2014).

Scheffer (2010) destaca que o reservatório circular se apresenta mais


eficiente na resistência às solicitações, visto que tais reservatórios não são
solicitados a momento em torno do eixo angular, sendo solicitados
predominantemente por esforços de tração. Já os reservatórios quadrados e
retangulares apresentam maior facilidade construtiva e, em alguns casos, sua
implantação em terrenos de dimensões limitadas permite um melhor aproveitamento
da área do lote.
De acordo com Venturini (1977), os reservatórios circulares, quanto à
distribuição dos esforços, se comportam melhor devido às simetrias de revolução de
sua superfície. Já as formas retangulares não possuem simetria de revolução como
as circulares, resultam em esforços maiores. Teoricamente, os reservatórios
circulares demandam menor área de aço, resultando desta maneira em
reservatórios mais econômicos quando comparados com os de formas retangulares.
40

2.4.1.3. Classificação segundo o uso e natureza do líquido conservado

Guerrin e Lavaur (2003) categorizam os reservatórios conforme o uso,


considerando reservatórios de armazenamento, quando se trata somente de líquidos
diversos, como de armazenamento de água. Os autores definem também como
reservatórios de tratamento quando se trata da purificação de águas servidas, ou
seja, todos os resíduos líquidos residenciais ou industriais, como no caso das
estações de tratamento de efluentes e mistura de produtos, e para o uso esportivo
como as piscinas.
Quanto à natureza do líquido conservado, os autores generalizam como
reservatórios de água, reservatórios de bebidas como vinhos, cidras e cervejas,
cisternas industriais de produtos negros, como alcatrão e betume, e reservatórios de
hidrocarbonetos, entre eles, petróleo, óleo diesel, gasolina, dentre outros derivados.

2.4.1.4. Classificação em relação ao volume armazenado

De acordo com Hanai (1977), um dos critérios principais que leva à distinção
dos reservatórios é quanto ao seu volume, classificando como pequenos
reservatórios os com menos de 500 𝑚³, médios aqueles com capacidade entre
500 𝑚³ e 5000 𝑚³ e grandes aqueles com volumes superiores a 5000 𝑚³. Cabe
observar, dadas suas características, que os reservatórios elevados com mais de
1000 𝑚³ já são considerados grandes.

2.4.2. Métodos de cálculo de parede circular de reservatórios

Scheffer (2010) menciona que existem diferentes métodos que podem ser
utilizados para o cálculo das solicitações atuantes em reservatórios de concreto
armado e por consequência seu dimensionamento. O autor afirma que estes
métodos variam entre os mais complexos e simplificados, podendo ser adequados a
vários tipos de estrutura, dependendo das condições de contorno, no caso as
particularidades da edificação.
Nos itens a seguir são sintetizados um método analítico de cálculo de
parede circular de reservatórios, proposto por Hangan-Soare (1959) e aprimorado
41

por Guerrin e Lavaur (2003) e uma abordagem computacional de cálculo de esforços


em estruturas, através de softwares que utilizam o Método dos Elementos Finitos.

2.4.2.1. Método Analítico de Guerrin e Lavaur (2003)

Para reservatórios circulares e apoiados, o dimensionamento das paredes


pode ser realizado através do procedimento descrito por Guerrin e Lavaur (2003),
baseado no método de Hangan-Soare (1959), onde consideram a parede como um
elemento de superfície não plana, sendo uma casca cilíndrica composta de anéis
limitados por planos horizontais. Segundo os autores, os principais esforços
solicitantes nas paredes são provenientes da força de tração radial gerada pelo
empuxo da água.
De acordo com a NBR 6118 (ABNT, 2014, p. 84), elementos de superfície
são descritos como: “elementos em que uma dimensão, usualmente chamada de
espessura, é relativamente pequena em face das demais [...]”. Esta mesma norma
reforça que as cascas são elementos de superfície não planos.
Basicamente, o método de cálculo proposto por Guerrin e Lavaur (2003) considera a
parede com um engastamento elástico em relação à laje de fundo rígida e mantém a
interação entre os dois elementos. Através de ábacos com parâmetros de entrada
simples, sendo eles: (a) a relação entre a espessura da parede e a espessura da
laje de fundo; e (b) o produto entre o coeficiente de amortecimento e a altura do
nível d´água, é possível calcular os esforços atuantes na parede do reservatório,
obtendo-se um coeficiente 𝐾. A equação 3 apresenta a relação (a) e a equação 4 o
produto (b).

e
(3)
e′

β .h (4)

em que:
e é a espessura da parede circular;
e′ é a espessura da laje de fundo;
h é a altura da coluna d´água.
42

β é o coeficiente de amortecimento, calculado por Guimarães (1995) na


equação 5:

1
[3(1 − ν2 )]4 (5)
β=
√Re

em que:
ν é o coeficiente de Poisson;
Re é o raio efetivo do reservatório.
A Figura 23 representa as paredes dos reservatórios e como se dá o
carregamento hidrostático pelo método de Hangan-Soare (1959) adaptado por
Guerrin e Lavaur (2003).

Figura 23 - Paredes pelo método Hangan-Soare (1959)

Fonte: Guerrin e Lavaur (2003), adaptado de Hangan-Soare (1959).

Em posse dos valores apresentados anteriormente é possível determinar o


coeficiente 𝐾 pelo ábaco ilustrado na Figura 24 e em seguida o momento fletor no
engastamento inferior da parede pela equação 6 de Guerrin e Lavaur (2003).
43

Figura 24 - Ábaco para valores de 𝐾

Fonte: Guerrin e Lavaur (2003), adaptado pelo autor.

O momento fletor no engastamento inferior é obtido pela equação 6:

M₀ = K . 𝛶 . h3 (6)

em que:
M₀ é o momento característico do engastamento inferior;
K é o coeficiente retirado do ábaco ilustrado na Figura 24;
𝛶 é o peso específico do líquido;
h é a altura da lâmina do líquido.

Para determinar o ponto onde acontece a inversão dos esforços na parede,


é necessário calcular a posição do momento fletor nulo, avaliado na equação 7 por
Guerrin e Lavaur (2003):
44

X0 = K 0 . h (7)

em que:
X0 é a posição do momento fletor nulo;
K 0 é o coeficiente retirado do ábaco de Guerrin e Lavaur (2003) ilustrado na
Figura 25 a seguir.

Figura 25 - Ábaco para valores de K₀

Fonte: Guerrin e Lavaur (2003), adaptado pelo autor.

Os autores também apresentam a posição onde o momento fletor negativo é


máximo, calculado pela equação 8, através da determinação do coeficiente K1
apresentado no ábaco da Figura 26.

X1 = K 1 . h (8)
45

em que:
X1 é a posição do máximo momento fletor negativo;
K1 é o coeficiente retirado do ábaco de Guerrin e Lavaur (2003), ilustrado na
Figura 26.

Figura 26 - Ábaco para valores de K1

Fonte: Guerrin e Lavaur (2003), adaptado pelo autor.

Ademais, o método proposto por Guerrin e Lavaur (2003) determina o


momento fletor máximo negativo através de uma equação similar à do momento
fletor máximo de engastamento, porém com valor negativo e com o coeficiente 𝐾’ ao
invés de 𝐾, conforme a equação 9:

3
M′ = −K′. 𝛶 . h (9)
46

em que:
M ′ é o momento característico do engastamento inferior;
K′ é o coeficiente retirado do ábaco de Guerrin e Lavaur (2003) ilustrado na
Figura 27.

Figura 27 - Ábaco para valores de K′

Fonte: Guerrin e Lavaur (2003), adaptado pelo autor.

Por fim, para a determinação da tensão de tração máxima na parede do


reservatório e da posição deste valor, Guerrin e Lavaur (2003) apresentam as
equações 10 e 11 a seguir:

Tração máxima:
Nφ, máx = K′′. 𝛶 . R . h (10)
47

Posição do ponto de máxima tração:

X2 = K 2 . h (11)

em que:
Nφ, máx é o valor da tensão de tração máxima na parede do reservatório;
K′′ é o coeficiente retirado do ábaco de Guerrin e Lavaur (2003), ilustrado na
Figura 28 a seguir;
X2 é a posição do ponto de maior tração;
K 2 é o coeficiente retirado do ábaco de Guerrin e Lavaur (2003), ilustrado na
Figura 29.

Figura 28 - Ábaco para valores de K′′

Fonte: Guerrin e Lavaur (2003), adaptado pelo autor.


48

Figura 29 - Ábaco para valores de K 2

Fonte: Guerrin e Lavaur (2003), adaptado pelo autor.

Os valores das posições de momento fletor nulo, máximo momento fletor


negativo e máxima tração são limitados por Guerrin e Lavaur (2003) segundo as
equações 12, 13 e 14, respectivamente. Observa-se nessas equações que tais
posições não dependem da altura da lâmina do líquido.

Posição limite para X0 :

X0,máx ≈ 1,2 . √𝑅𝑒 (12)

Posição limite para X1 :

X1,máx ≈ 1,8 . √𝑅𝑒 (13)

Posição limite para X2 :

X2,máx ≈ 0,6 . √𝑅𝑒 (14)


49

em que:
X0,máx é o valor limite para a posição do momento fletor nulo;
X1,máx é o valor limite para a posição do máximo momento fletor negativo;
X2,máx é o valor limite para a posição de máxima tração.

2.4.2.2. Método dos Elementos Finitos

O Método dos Elementos Finitos (MEF) tem por objetivo principal a obtenção
do estado de tensão e deformação de um sólido de geometria definida quando
solicitado por ações exteriores, podendo ser aplicado para a resolução de problemas
de engenharia, dentre os quais se destacam os campos da Mecânica Estrutural,
Mecânica dos Solos, Hidrodinâmica e Transferência de Calor (AZEVEDO, 2003).
Com uma extensa aplicação na análise de estruturas como reservatórios,
barragens e edifícios, o MEF é descrito por uma ideia de inicialmente subdividir o
domínio do problema em subdomínios de dimensões finitas, tais que os subdomínios
formem um conjunto igual ao domínio original. Posteriormente, sobre cada
subdomínio, de forma isolada, adota-se um comportamento aproximado, local, para
as incógnitas do problema. Estes subdomínios, denominados elementos, ligam-se
entre si em pontos chamados nós (ALVES, 2007).
Alves Filho (2003) afirma que a análise de uma estrutura utilizando o MEF é
composta por três etapas:
1) Pré-processamento: é a etapa em que ocorre a especificação da
geometria modelo, juntamente com a definição das propriedades do material que a
compõe. Após a criação do elemento, é preciso realizar a sua descrição, gerando
sua malha de subdivisões;
2) Processamento: é a etapa que contempla os cálculos matriciais para a
determinação dos deslocamentos, reações de apoios, forças internas dos
elementos, dentre outros;
3) Pós-processamento: o objetivo desta etapa é fornecer a visualização da
solução obtida, através de resultados numéricos, gráficos, isofaixas, dentre outros, e
sua compatibilidade com o problema físico decorrente do carregamento indicado.
O MEF pressupõe a divisão do domínio de integração em um número finito
de diversas áreas denominadas elementos finitos, o que transforma o elemento
50

contínuo em discreto. A combinação dessas regiões denomina-se malha e pode ser


aumentada ou diminuída variando assim a dimensão do elemento finito. O ponto
onde ocorre a intersecção das linhas de contorno de cada elemento é chama de nó
(ASSAN, 1999). A divisão do domínio e o surgimento dos elementos finitos e dos
nós está representada na Figura 30.

Figura 30 - Sistema contínuo discretizado em elementos finitos

Fonte: Autor (2022).

O MEF fornece uma análise sistemática, onde sua solução é em suma


determinada por softwares computacionais (FISH; BELYTSCHKO, 2007). Conforme
Bathe (2014), por se tratar de um método numérico, a metodologia deve ser capaz
de obter soluções que atendam a critérios de precisão. Caso não sejam atingidos
tais critérios é necessário realizar novamente a análise com a malha de elementos
finitos mais refinada, por exemplo, até que se atinja a acurácia aceitável dentro de
uma tolerância pré-definida.
51

2.5. SOFTWARE AUTODESK ROBOT STRUCTURAL ANALYSIS

Segundo Pinheiro (2022), com a evolução da informática nas últimas


décadas, grande parte das áreas da engenharia civil foi beneficiada, dentre elas a de
cálculo estrutural. Com o crescimento da construção civil e a execução de estruturas
cada vez mais inovadoras e desafiadoras do ponto de vista de concepção estrutural,
a ascensão e evolução dos modelos matemáticos e softwares se faz necessária.
Conforme cita o autor, além da segurança, outro fator importante dos projetos é a
produtividade, pois os profissionais de engenharia necessitam finalizar seus serviços
no menor prazo possível e dentro de um orçamento acessível. Logo, o surgimento
de softwares para cálculo estrutural contribuiu para o projetista alcançar todos esses
requisitos.
Atualmente no mercado, diversas ferramentas computacionais para a
análise de estruturas são empregadas, dentre elas os softwares Ftool, Eberick, SAP
2000, TQS e o Robot Structural Analysis. Segundo Pinheiro (2022), o Autodesk
Robot Structural Analysis (RSA) é um software de análise de solicitação estrutural, o
qual é implementado com o MEF, em que, verifica a conformidade do código e usa
fluxos de trabalho integrados ao BIM (Building Information Modeling), além de
auxiliar a criar projetos mais completos e confiáveis, que sejam precisos e
coordenados com o BIM.
As principais vantagens fornecidas por este software são:
 Possuir uma versão gratuita e bem completa para estudantes,
acessada através de uma conta na Autodesk vinculada com a
universidade;
 Apresentar uma interoperabilidade com o software Revit e outros da
plataforma BIM;
 Não exigir demais das máquinas em termos de tempo de
processamento e ocupação de memória para a execução de tarefas
simples, como a análise de uma viga biapoiada;
 Apresentar um fácil acesso às configurações de materiais e
combinações de carga;
 Trazer biblioteca própria de estruturas e carregamentos pré-definidos;
52

 Apresentar um grande acervo de normas internacionais para o


dimensionamento de estruturas em concreto armado, metálicas e de
madeira;
 Acolher uma grande possibilidade de mapas e diagramas de
resultados;
 Deter uma interface de fácil compreensão e intuitiva, como ilustrada
na Figura 31.

Figura 31 - RSA: Interface do Autodesk Robot Structural Analysis

Fonte: Autor (2022).

Atualmente o RSA apresenta uma grande biblioteca de normas


internacionais para o dimensionamento de estruturas em concreto armado, porém o
software ainda não possui normas nacionais, como a NBR 6118 (ABNT, 2014), o
que leva o usuário a configurar as diretrizes de projeto conforme estas normas. Essa
é uma tarefa pouco trabalhosa quando posta em comparação com as vantagens
apresentadas pela utilização do software.
Pinheiro (2022) conclui que, por se tratar de um software desenvolvido pela
Autodesk e possuir versão estudantil, a disseminação do uso para alunos de
graduação poderia trazer grandes benefícios para o entendimento de projetos
estruturais, além de aproximá-los de uma realidade profissional.
53

3. METODOLOGIA

Neste capítulo serão apresentadas as premissas, considerações,


combinações de carregamentos e método utilizado para o dimensionamento das
paredes dos reservatórios, atuantes como Reatores Biológicos da ETE Jarivatuba,
tomando como base as informações colhidas em projeto. Posteriormente serão
apresentadas as configurações inseridas no software para a completa fidelidade das
condicionantes de projeto.
Atualmente os reservatórios em questão estão passando por uma obra de
reforço estrutural e revitalização da impermeabilização, todavia o presente trabalho
pretende tratar sobre o projeto inicial de execução dos reservatórios, que gerou a
necessidade de tal reforço, sua descrição e suas particularidades iniciais de projeto
serão consideradas.
Com base em informações obtidas em projetos e memorial de cálculo, foi
possível dimensionar as paredes circulares dos reservatórios, para isso, utilizou-se
do software Autodesk Robot Structural Analysis, configurando-o conforme as
normativas brasileiras e modelando a estrutura conforme características fornecidas
em projeto. Posteriormente inseriu-se as combinações de cargas conforme a NBR
6118 (ABNT, 2014) para o reservatório sob ação da pressão hidrostática e o
reservatório vazio sob efeitos da variação térmica, com isso obteve-se os esforços
de tensões e momentos para a parede circular e após determinou-se as taxas de
armaduras necessárias para suportar tais esforços. Determinou-se também a
abertura máxima de fissuras para a estrutura sob os esforços calculados neste
trabalho e a armadura presente no projeto dos reservatórios, ainda foi determinado
através do software os deslocamentos máximos da estrutura sob as combinações de
ações citas.

3.1. LOCALIZAÇÃO

Os reservatórios, objetos de estudo deste trabalho, estão localizados na


Estação de Tratamento de Esgoto Jarivatuba da CAJ, na Rua Rio Velho, bairro
Ulysses Guimarães, na cidade de Joinville, Santa Catarina conforme a Figura 32.
54

Figura 32 - Localização da ETE Jarivatuba

Fonte: CAJ (2021), adaptado pelo autor.

No total são quatro reservatórios nomeados reatores A, B, C e D simétricos


e espelhados ao redor do centro de distribuição e possuem mesmas dimensões e
funções conforme a Figura 33.
55

Figura 33 - Planta arquitetônica ETE Jarivatuba

Fonte: CAJ (2021), adaptado pelo autor.


56

3.2. CARACTERÍSTICAS DOS RESERVATÓRIOS DA ETE JARIVATUBA

Os reservatórios da ETE Jarivatuba tiveram a execução de seu projeto no ano


de 2014 e sua fase de concretagem concluída em 2017, mesmo ano dos primeiros
testes de carga, em que se observou o surgimento das primeiras patologias. As
dimensões, características e particularidades dos reservatórios estão descritas a
seguir.

3.2.1. Dimensões e classificações dos reservatórios

Os reservatórios são compostos por duas paredes, a circular, responsável por


receber as solicitações da estrutura, e a secante, que atua como uma parede
divisória não estrutural, que será tratada adiante. As paredes dos reservatórios são
ilustradas na Figura 34, e a Figura 35 descreve o corte típico da parede circular,
ilustrando a base, passarela e o efluente dos reservatórios.

Figura 34 - Paredes dos reservatórios

Fonte: Autor (2022).


57

Figura 35 - Seção típica das paredes circulares

Fonte: Autor (2022).

As dimensões principais dos reservatórios são visualizadas na Figura 36,


que ilustra o corte típico das paredes circular e secante, e na Figura 37, que ilustra a
vista em planta dos reservatórios, onde o raio externo é representado pela sigla Re e
o raio interno é representado pela sigla Ri. Ambas as ilustrações apresentam as
medidas de projeto, todavia sem escala, servindo apenas para uma melhor
compreensão, visto as particularidades desta estrutura.
58

Figura 36 - Medidas da parede secante e circular

Fonte: Autor (2022).

Figura 37 - Medidas da vista em planta

Fonte: Autor (2022).


59

Desse modo, é apresentado no Quadro 1 o apanhado das principais


medidas dos reservatórios.
Quadro 1 - Dimensões dos reatores

Medida Dimensão(m)
Altura das paredes 6,0
Comprimento da secante 49,0
Espessura da parede circular 0,4
Espessura da secante 0,4
Comprimento da secante 49,0
Largura da passarela 1,3

Espessura da passarela 0,2


Perímetro externo 185,98
Perímetro interno 183,47
Raio externo 29,6
Raio interno 29,2
Volume interno 15955 m³
Espessura da base Entre 0,3 e 0,4
Fonte: Autor (2022).

Conforme as classificações de Guerrin e Lavaur (2003), Hanai (1977) e


Tsuyita (2014), pode-se definir os reservatórios como de grande volume (maior que
5000 m³), quanto ao apoio pode ser classificado como apoiado a nível do solo ou
simplesmente apoiado, no que concerne ao formato é do tipo circular sem
fechamento e no que diz respeito a natureza do líquido é descrito como reservatório
de tratamento, uma vez que sua função é tratar águas servidas domésticas.
Segundo a Gerência de Qualidade e Meio Ambiente (GQM) da CAJ (2021),
a função dos reservatórios é a de atuarem como reatores biológicos, com a tarefa de
realizar o tratamento biológico do efluente doméstico, através do método dos lodos
ativados, modalidade aeração prolongada, ciclos intermitentes e fluxo contínuo. Para
isso, utiliza-se apenas um tanque para cumprir as funções de aeração com
membranas difusoras de ar no fundo do reservatório, sedimentação do lodo gerado
e esvaziamento parcial do tanque para o descarte. Os reatores biológicos são
divididos por uma parede secante, caracterizando uma zona de pré-reação (menor
60

área) e uma zona de reação (maior área), conforme apresentado na Figura 38.
Apesar da aparente separação, essas zonas são comunicadas por vãos abaixo da
parede secante.

Figura 38 - Zonas dos reservatórios

Fonte: Autor (2022).

Para o método de tratamento adotado é necessário um sistema de aeração


fixo circular. O sistema é composto por um conjunto de tubulações em aço inox que
fazem a distribuição do oxigênio proveniente dos sopradores (Figura 39) para a
tubulação submersa onde estão presentes as membranas difusoras. Segundo a
empresa fornecedora do sistema, B&F Dias (2022), os sistemas fixos dispõem de
componentes que permitem uma distribuição de ar mais homogênea e sistema de
purgamento automático (liberação pré-programada do ar através das membranas
para o tratamento) para maior flexibilidade e confiabilidade operacional.
Estes componentes são sensíveis à incidência direta de luz solar, o que
impediu qualquer análise da laje de fundo e das arestas de engastamento interno
entre a parede circular e a base do reservatório. No que diz respeito às patologias
presentes na laje de fundo dos reservatórios, não foi possível obter informações e
61

laudos pertinentes da real situação. Apenas é apontado, segundo Favale (2020),


como uma base estável apoiada sobre blocos quadrados de 60 cm de aresta de
estacas pré-moldadas de seção quadrada de 26 cm de aresta, considerada essa
perfeitamente apoiada para os dimensionamentos.

Figura 39 - Tubulações para distribuição de oxigênio nos reatores

Fonte: Autor (2022).

3.2.2. Estrutura

Os reservatórios foram projetados e executados considerando-se a Classe


de Agressividade Ambiental IV e cobrimento de 4,0 cm, com concreto de resistência
característica à compressão (𝑓𝑐𝑘 ) de 40,0 MPa e para as armaduras foi utilizado aço
CA-50. O volume de concreto em projeto é de 1612,5 m³ por reator contabilizando
uma escada de acesso à passarela, laje de fundo, paredes, passarela e dois
pequenos pilares internos de sustentação de equipamentos, o fator água/cimento
definido pelos projetistas foi de 0,45 e teste de abatimento do concreto (slump test)
igual a 10 ± 2 cm. Sua fundação está apoiada sobre blocos de altura, largura e
62

comprimento de 0,6 m de estacas pré-moldadas de concreto, de seção quadrada


com área de fuste de 676 cm² de altura variável conforme a nega especificada em
projeto de 5,0 mm para uma altura de queda de um metro de um martelo de 1,5 tf.
As armaduras longitudinais, desconsiderando armaduras construtivas, da
parede circular e da parede secante, estão apresentadas na Figura 40, enquanto a
armadura da passarela está representada na Figura 41. Os diâmetros e
espaçamentos de todas armaduras estruturais estão no Quadro 2.

Figura 40 - Armaduras longitudinais da parede circular e secante

Fonte: Engest (2014), adaptado pelo autor.


63

Figura 41 - Armaduras da passarela da parede circular

Fonte: Engest (2014), adaptado pelo autor.

Quadro 2 - Armadura presente nos Reatores

Estrutura Armaduras Aço Ø (mm) Espaçamento (cm)


Verticais (engaste) CA-50 12,5 10,0
Parede circular Verticais CA-50 10,0 10,0
Longitudinais CA-50 10,0 10,0
Verticais CA-50 10,0 10,0
Parede secante
Longitudinais CA-50 10,0 10,0
Passarela Radiais CA-50 8,0 15,0

Fonte: Autor (2022).

3.2.3. Patologias nos reatores

Após levantamento de campo, Favale (2020) afirmou que não há


possibilidade de utilização dos reatores nas condições observadas, uma vez que a
estrutura não é estanque o suficiente para a atividade a que se destina. As
patologias encontradas foram generalizadas nos quatro reservatórios com as
mesmas características. Há uma especificação sobre a formação de fissuras,
espaçadas em média por uma distância de 1,0 metro, variando entre 0,2 mm e 0,8
64

mm de abertura, maiores que as máximas permitidas para qualquer estrutura,


conforme observado na seção 2.1.5, de 0,4 mm e também que há limite para os
reservatórios calculada adiante. Os reservatórios apresentam o fenômeno de
carbonatação, lixiviação e por consequência a eflorescência do concreto, reforçando
que essas anomalias transpassam as paredes e consequentemente expõe as
armaduras ao processo de corrosão, favorecido pela abertura de fissuras. As
fissuras presentes na estrutura estão apresentadas na Figura 42 e o visível
fenômeno da eflorescência visualizado na Figura 43.

Figura 42 - Fissuras dos reservatórios

Fonte: CAMPANER (2020), adaptado pelo autor.


65

Figura 43 - Eflorescência do concreto nos reservatórios

Fonte: Autor (2021).

3.3. PARÂMETROS E CRITÉRIOS ADOTADOS

Para a análise dos reservatórios será utilizado método computacional


através do software Autodesk Robot Analysis Structural, apresentado na seção 2.5.
O método analítico, apresentado na seção 2.4.2.1 de Guerrin e Lavaur (2003),
considera apenas o reservatório como uma casca cilíndrica, contínua e uniforme,
que não é o caso dos reservatórios da ETE Jarivatuba, uma vez que, a presença da
parede secante engastada em suas extremidades laterais na parede circular do
reservatório modificam a distribuição dos esforços de maneira particular, não sendo
66

viável equacioná-la e calculá-la através de um método analítico. Ademais, notam-se


limitações nos ábacos, onde a combinação de um raio efetivo de aproximadamente
29 metros e seis metros de altura fornece valores não encontrados nos limites dos
ábacos.
Como mencionado na seção 2.5, para o dimensionamento de uma estrutura
no RSA são necessárias inserções de parâmetros de materiais conforme as normas
nacionais. A verificação segue a maior similaridade possível entre os preceitos
utilizados em projeto da Engest (2014), porém algumas diretrizes foram distintas,
como máximos valores admitidos de aberturas de fissuras e cobrimento de armadura
baseados em normas nacionais e bibliografias consagradas.

3.3.1. Materiais

Para os parâmetros do concreto utilizado na verificação das paredes


circulares, serão utilizados fatores apresentados na seção 2.1.1:
 A classe de agressividade ambiental, definida na seção 2.1.4, é a
classe IV, citada como a classe a ser adotada para reservatórios de
estações de tratamento de esgoto no apêndice c da Tabela 7.2 da
NBR 6118 (ABNT, 2014), ilustrada na Figura 6;
 A classe de resistência do concreto adotada foi a C40 apresentada
na seção 2.1.1.1, mesma utilizada no projeto Engest (2014), portanto
fck= 40 MPa. Concordante com a Tabela 6.1 da NBR 6118 (ABNT,
2014), ilustrada na Figura 5;
 O módulo de elasticidade secante do concreto, apresentado na
seção 2.1.1.2, é igual a 32 GPa;
 A massa específica do material é a massa específica do concreto
armado, apresentada na seção 2.1.1.3, de 2500 kg/m³;
 O coeficiente de dilatação térmica do concreto é apresentado na
seção 2.1.1.4 com valor de 10−5 /ºC;
 O coeficiente de Poisson do concreto, apresentado na seção 2.1.1.5,
é igual a 0,2;
 O cobrimento adotado, também proveniente da Figura 6, é igual a 50
mm, diferente do adotado em projeto de 40 mm.
67

O Quadro 3 apresenta os parâmetros do concreto utilizados para a


verificação estrutural das paredes circulares dos reservatórios da ETE Jarivatuba.

Quadro 3 - Parâmetros do concreto para o dimensionamento

Parâmetros do concreto
Classe de agressividade IV
Classe C40
Resistência característica à compressão – fck (MPa) 40,0
Módulo de elasticidade secante – Ecs (GPa) 32,0
Coeficiente de dilatação térmica 10−5/ºC
Coeficiente de Poisson 0,2
Massa específica (kg/m³) 25,0
Cobrimento (mm) 50
Fonte: Autor (2022).

Para os parâmetros do aço utilizado na verificação das paredes circulares,


serão utilizados fatores apresentados na seção 2.1.2:
 A classe de resistência do aço, definida na seção 2.1.2.1, adotada foi
a CA-50, mesma utilizada em projeto da Engest (2014), logo fyk = 500
MPa;
 O módulo de elasticidade do aço para armaduras passivas,
apresentado na seção 2.1.1.2, é igual a 210 GPa;
 A massa específica do aço, apresentada na seção 2.1.1.3, é igual a
7850 kg/m³;
 O coeficiente de dilatação térmica do aço, apresentado também na
seção 2.1.1.3, é igual a 10−5/ºC.

O Quadro 4 apresenta os parâmetros do aço utilizados para a verificação


estrutural das paredes circulares dos reservatórios da ETE Jarivatuba.
68

Quadro 4 - Parâmetros do aço para o dimensionamento

Parâmetros do aço
Classe CA-50
Resistência característica de escoamento – fyk (MPa) 500,0
Massa específica (kg/m³) 7850,0
Coeficiente de dilatação térmica 10−5/ºC
Módulo de elasticidade (GPa) 210,0

Fonte: Autor (2022).

3.3.2. Fissuras

Conforme apresentado na seção 2.1.5, a NBR 6118 (ABNT, 2014) reforça no


item 13.4.3 que no caso da estanqueidade de reservatórios, devem ser adotados
valores menores para a abertura das fissuras. Visto a necessidade de se adotar
valores menores de aberturas de fissuras, toma-se como base o gráfico do
Eurocode 2, Part 3 (2006), ilustrado na Figura 10.
A Figura 44 apresenta o gráfico e o valor limite de abertura de fissuras de
0,15 mm para os reservatórios deste estudo com nível máximo de extravasão de
seis metros de nível d´água (ℎ𝐿) e espessura (𝑡) de 40 centímetros.

Figura 44 - Limite de abertura de fissuras através do gráfico do Eurocode 2 (2006)

Fonte: European Committee for Standardization - Eurocode 2 (2006), adaptado pelo autor.
69

3.4. CARREGAMENTOS CONSIDERADOS

As diferentes ações atuantes em estruturas são descritas na seção 2.2,


desse modo as ações pertinentes para a verificação das paredes circulares dos
reservatórios são:
 Peso próprio: Ação permanente direta, correspondente ao peso
próprio da estrutura, conforme definido na seção 2.1.1.3 como 25
kN/m³;
 Ação da água: Ação variável direta, conforme a NBR 6118 (ABNT,
2014) o nível de água utilizado para o dimensionamento deve ser o
máximo possível compatível com o sistema de extravasão, neste caso
o nível máximo é de seis metros;
 Variações uniformes de temperatura: Ação variável indireta, causada
pela insolação direta na estrutura, neste caso utilizado uma oscilação
média de dez graus centígrados, conforme o item 11.4.2.1 da NBR
6118 (ABNT, 2014) para elementos cuja menor dimensão seja inferior
a 50 centímetros.

As ações dos ventos foram desconsideradas para os cálculos, visto que, a


ação dos ventos deve ser calculada, quando necessário, em reservatórios elevados
(ROCHA, 1974), o qual não é o caso do objeto deste estudo. Ademais, adotou-se o
peso específico do efluente doméstico como o mesmo da água, segundo a
Fundação Nacional de Saúde (2004) o efluente doméstico é composto por 99,9% de
água e apenas 0,1% de sólidos. A carga da passarela, foi considerada junto ao peso
próprio da estrutura.
Logo, baseado na seção 2.2.2, as paredes do reservatório serão avaliadas
em três casos distintos, o primeiro caso onde as ações são provenientes dos
esforços hidrostáticos do efluente em nível máximo e do peso próprio, o segundo e o
terceiro caso dos esforços provenientes do peso próprio e da variação térmica, com
a estrutura vazia, pois, segundo Guerrin e Lavaur (2003), a temperatura e a retração
agem sobre um reservatório de mesma maneira que estruturas de concreto
convencionais, desde que ele esteja vazio, quando o reservatório está cheio há o
efeito do inchamento e não de retração, o que ajuda a minimizar as tensões de
tração no concreto.
70

Conforme o item 2.2.2.1, obtiveram-se os coeficientes de ponderação de


carregamentos normais (peso próprio e carga hidráulica) igual a 1,4 e para
carregamentos excepcionais (variação de temperatura) igual a 1,2 e 0,6, resultando
em 0,72. Os casos de combinações e os respectivos coeficientes de ponderação
estão apresentados no Quadro 5.

Quadro 5 - Coeficientes de ponderação para as combinações de carregamento

Combinação Peso próprio T (+10º) T (-10º) Empuxo


ELU Coeficiente de ponderação
CASO 1 1,4 - - 1,4
CASO 2 1,4 0,72 - -
CASO 3 1,4 - 0,72 -
Fonte: Autor (2022).

3.5. CONFIGURAÇÕES DO SOFTWARE E MODELAGEM DOS REATORES

Devido à deficiência de armadura longitudinal na passarela do reator, como


apresentado na Figura 41, esta não foi considerada para o dimensionamento como
uma viga de bordo ou viga de coroamento acima da parede circular, apenas
adicionada ao peso próprio da estrutura. A parede secante foi adicionada a uma
distância de 13 metros da tangente da parede circular, mesma distância de projeto,
como apresentado na Figura 45, engastada nas laterais e na laje de fundo.
71

Figura 45 - Posição da parede secante do reservatório

Fonte: Autor (2022).


Para as configurações do concreto armado, conforme a NBR 6118 (ABNT,
2014), adotaram-se os parâmetros apresentados na seção 3.3.1 para o concreto e
aço, posteriormente foi adicionado as características ao RSA conforme apresentado
nas Figura 46 e Figura 47 respectivamente. Foi utilizado um peso específico de 25
kN/m³ - peso específico do concreto armado - devido ao fato do software contabilizar
o peso próprio da estrutura como o peso do concreto utilizado.
72

Figura 46 - RSA: Caixa de diálogo com características do concreto conforme a NBR


6118 (ABNT, 2014)

Fonte: Autor (2022).

Figura 47 - RSA: Caixa de diálogo com características do aço conforme a NBR 6118
(ABNT, 2014)

Fonte: Autor (2022).


73

Posteriormente para o lançamento da estrutura no software, na interface


inicial de Novo Projeto optou-se pela utilização de uma estrutura básica do tipo
Projeto de Casca como ilustrado na Figura 48.

Figura 48 - RSA: Layout de seleção de projeto

Fonte: Autor (2022).


Em seguida, foram definidos os eixos estruturais de inserção do objeto e na
aba Seleção do banco de dados da estrutura escolheu-se Placas e Casca e uma
casca genérica no formato cilíndrico com base circular (Figura 49), posteriormente
foram adicionadas as medidas do reservatório estudado, raio, altura da parede,
espessura da parede e da base e o material como o configurado anteriormente, c40-
6118, conforme ilustrado na Figura 50.
74

Figura 49 - RSA: Caixa de diálogo para seleção do formato da casca no RSA

Fonte: Autor (2022).


75

Figura 50 - RSA: Caixa de diálogo para as propriedades da casca cilíndrica

Fonte: Autor (2022).

Após o processo inicial foi definida a quantidade de divisões da estrutura


para a malha. A divisão do elemento verticalmente foi feita conforme sugestão do
próprio software, em 25 elementos ao longo da altura, horizontalmente foi feita em
25 elementos para cada quarto da parede circular totalizando 100 elementos e a
divisão da base foi feita em 25 elementos no sentido do raio do reservatório
totalizando 7550 nós, como ilustrado na Figura 51. Devido as dimensões e
complexidade da estrutura não foi possível efetuar a divisão do elemento em mais
partes, uma vez que o computador utilizado não suportava tais particularidades em
rápida execução.
76

Figura 51 - RSA: Caixa de diálogo para definição de divisões da estrutura cilíndrica

Fonte: Autor (2022).

Posteriormente, com a estrutura circular montada, adicionou-se a parede


secante , distante 13 metros da tangente em um eixo de estrutural pré-definido. Para
a parede utilizou-se a opção de adicionar elementos estruturais do tipo parede, com
espessura definida (TH40) de 40 cm e o material c40-6118 conforme Figura 52.
77

Figura 52 - RSA: Caixa de diálogo para configurações da parede secante

Fonte: Autor (2022).

Com a inserção da parede secante, os apoios do reservatório foram


adicionados. Devido à falta de informações sobre recalques e deficiências nas
fundações, como citado na seção 3.2.1, para a análise das paredes, estes apoios
foram considerados apoios fixos dispostos por toda a base da estrutura, como
ilustrado na Figura 53.

Figura 53 - RSA: Apoios da estrutura

Fonte: Autor (2022).


78

Dada a geometria circular da estrutura foi necessário ajustar o sentido dos


sistemas locais de coordenadas (x, y, z) dos quatro painéis de parede circular
criados automaticamente pelo software para a adição dos carregamentos, a Figura
54 demonstra o sistema criado pelo software e o sistema após o ajuste de
coordenadas.

Figura 54 - RSA: Sistemas de coordenadas locais

Fonte: Autor (2022).

3.5.1. Configurações das cargas no software

O RSA possui uma grande variedade de cargas pré-configuradas e o usuário


deve apenas inserir os valores e informar ao software o sentido, a direção e a
localização da atuação dos carregamentos. O projetista parte da escolha do nome
da carga e legenda, posteriormente da natureza da solicitação, seja ela morta
(permanente), viva (móvel), térmica, sísmica, vento ou acidental. A subnatureza da
carga, também definida nesta fase inicial, leva em consideração o material das
estruturas onde serão inseridas as cargas, sejam elas estruturas metálicas, de
concreto pré-moldado, estruturas em concreto armado moldadas no local, dentre
outras. A Figura 55 apresenta a caixa de diálogo no software onde é possível fazer a
definição da natureza, nome, subnatureza e legenda das cargas atuantes.
79

Figura 55 - RSA: Caixa de diálogo de tipos de carga

Fonte: Autor (2022).

Posteriormente é possível adicionar as definições de carga, a princípio


escolhendo o modelo de estrutura a ser aplicada a carga, sendo nós, elementos de
barra e elementos de superfície. Após a escolha do modelo de estrutura, neste caso
uma estrutura de superfície, apresentam-se alguns tipos de carregamento, dentre
eles a pressão hidrostática, carga térmica e algumas cargas distribuídas conforme a
Figura 56.
80

Figura 56 - RSA: Caixa de diálogo para definição de cargas de superfície

Fonte: Autor (2022).

Com isso, caracterizou-se a carga hidráulica ou pressão hidrostática (PH) da


parede circular do reservatório em nível máximo de extravasão, já definida
geometricamente pelo software como uma distribuição triangular, com um peso
unitário (massa específica) configurado de 1000 kg/m³, concordante com as
características do efluente apresentadas na seção 3.4, um intervalo de ação de
carga de seis metros, e a direção Z no sentido negativo, conforme ilustrado na
Figura 57. Em seguida adicionou-se a PH por toda a parede circular do reservatório,
conforme a Figura 58.
81

Figura 57 - RSA: Caixa de diálogo para configuração da pressão hidrostática

Fonte: Autor (2022).

Figura 58 - RSA: Carga hidráulica aplicada na parede circular

Fonte: Autor (2022).


82

Para a caracterização da carga térmica (CT), inicialmente adotou-se uma


temperatura com variação positiva de 10ºC positivos para verificar efeitos de
dilatação. Para efeitos de retração térmica adotou-se uma variação de dez graus
centígrados negativos, a Figura 59 demonstra a caixa de diálogo de configuração da
CT positiva e negativa.

Figura 59 - RSA: Caixas de diálogo de configuração das cargas térmicas

Fonte: Autor (2022).

A Figura 60 apresenta as cargas de dilatação (Temperatura +) e retração


(Temperatura -) respectivamente, aplicadas nas paredes do reservatório.
83

Figura 60 - RSA: Cargas de variação térmica aplicadas nas paredes do reservatório

Fonte: Autor (2022).

O peso próprio (PP) da estrutura foi estipulado anteriormente como sendo de


25 kN/m³, conforme a Figura 46. O PP caracterizado como uma carga de natureza
morta (permanente) é adicionado as combinações, onde o próprio software simula
suas ações conforme as medidas e geometria da estrutura, sem a necessidade de
inserção de carregamentos distribuídos simulando essa solicitação como em outros
softwares de cálculo estrutural, como por exemplo o software STRAP.
Conforme apresentado no Quadro 5, as combinações foram configuradas no
RSA, adicionando os respectivos coeficientes de ponderação segundo a NBR 6118
(ABNT, 2014) e alterando a natureza do caso de combinação para Estruturas
moldadas no local. A Figura 61 apresenta as combinações para os três casos do
ELU citados, onde na coluna Definição a carga do PP é dada pelo número um, a
carga da PH pelo número dois e a CT de dilatação e a CT de retração pelos
números três e quatro respectivamente.

Figura 61 - RSA: Combinações de carregamentos configuradas manualmente

Fonte: Autor (2022).


84

4. RESULTADOS

Com a inserção dos carregamentos na estrutura modelada no software é


possível obter os principais esforços para cada caso de combinação de cargas
descritas anteriormente na seção 3.4 e os deslocamentos máximos da estrutura.
Neste capítulo serão apresentados os mapas de esforços calculados na parede
circular do reservatório, uma comparação entre os esforços encontrados neste
trabalho e os esforços calculados no projeto inicial dos reservatórios. Em seguida, é
apresentado o dimensionamento das armaduras de aço para a parede circular com
os valores de solicitações obtidos através do RSA e são mostrados os
deslocamentos máximos da estrutura.

4.1. ESFORÇOS CALCULADOS

Para cada caso de combinação do ELU, conforme apresentado no Quadro 5


e na Figura 61 da seção 3.4, onde:
 CASO 1: Caso de combinação onde há a presença da pressão
hidrostática com o reservatório em nível máximo de extravasão;
 CASO 2: Caso de combinação onde ocorre a variação térmica
positiva de dez graus centígrados e o reservatório se encontra vazio;
 CASO 3: Caso de combinação onde ocorre a variação térmica
negativa de dez graus centígrados e o reservatório se encontra vazio.
Serão apresentados os mapas de resultados para forças normais
circunferências ou forças de membrana horizontais (𝑁𝑥𝑥), forças normais verticais
(𝑁𝑦𝑦), momentos fletores verticais (𝑀𝑦𝑦) e momentos fletores transversais (𝑀𝑥𝑥). A
Figura 62 ilustra a direção das coordenadas para a parede circular, na qual se
apresenta a coordenada x como uma coordenada horizontal radial em cada ponto da
parede circular e a coordenada y como uma coordenada vertical em cada ponto da
parede circular, este esquema de coordenadas é válido para todos os mapas
apresentados nas Figura 63 à Figura 74.
85

Figura 62 - RSA: Sistema de coordenadas (x,y,z) para a parede circular

Fonte: Autor (2022).

Para o CASO 1, a maior força normal circunferencial, na parede circular, foi


de 134,65 tf/m na extremidade superior da parede circular e a menor -17,52 tf/m no
engastamento entre a parede circular e a base. A Figura 63 apresenta o mapa das
forças 𝑁𝑥𝑥 para esta combinação.

Figura 63 - RSA: Mapa das forças 𝑁𝑥𝑥 para o CASO 1

Fonte: Autor (2022).


86

Conforme representadas na Figura 64, a maior força normal vertical foi de


17,73 tf/m na região inferior do engastamento entre a parede secante e a parede
circular e a mínima de -18,32 tf/m na região ao lado da maior.

Figura 64 - RSA: Mapa de forças normais verticais para o CASO 1

Fonte: Autor (2022).

Para este mesmo caso, o menor valor de momento fletor transversal


calculado foi de -10,77 tfm/m na região do engastamento entre as paredes e o maior
valor de momento transversal foi de 4,00 tfm/m. A Figura 65 apresenta o mapa de
momentos 𝑀𝑥𝑥 para esta combinação.
87

Figura 65 - RSA: Mapa de momentos 𝑀𝑥𝑥 para o CASO 1

Fonte: Autor (2022).

Ademais, ainda no CASO 1, o menor valor de momento fletor vertical


calculado foi de -33,14 tfm/m na região do engastamento da parede secante com a
base do reservatório e o maior valor de momento vertical foi de 7,96 tfm/m na faixa
horizontal central em relação à altura da parede circular. A Figura 66 apresenta o
mapa de momentos 𝑀𝑦𝑦 para esta combinação.
88

Figura 66 - RSA: Mapa de momentos 𝑀𝑦𝑦 para o CASO 1

Fonte: Autor (2022).

Para o CASO 2, a maior força normal circunferencial, na parede circular, foi


de 44,22 tf/m na extremidade superior da parede circular e a menor de -187,61 tf/m
nas regiões dos engastamentos entre as paredes e a base. A Figura 67 apresenta o
mapa das forças 𝑁𝑥𝑥 para esta combinação.
89

Figura 67 - RSA: Mapa de forças 𝑁𝑥𝑥 para o CASO 2

Fonte: Autor (2022).

Em relação às forças verticais, de acordo com a Figura 68, a maior foi de


30,88 tf/m na região inferior da parede secante próximo aos extremos horizontais e a
mínima de -66,16 tf/m na região inferior do engastamento entre as paredes.
90

Figura 68 - RSA: Mapa de forças normais verticais para o CASO 2

Fonte: Autor (2022).

Em relação aos momentos fletores transversais 𝑀𝑥𝑥 , observa-se na Figura


69 que o menor valor obtido foi de -10,96 tfm/m na região superior do engastamento
da parede secante com a parede circular e o maior valor foi de 3,09 tfm/m ao lado do
menor.
91

Figura 69 - RSA: Mapa de momentos 𝑀𝑥𝑥 para o CASO 2

Fonte: Autor (2022).

Ainda no CASO 2, o menor valor de momento fletor vertical calculado foi de -20,59
tfm/m na região do engastamento da parede circular com a base do reservatório e o
maior valor de momento vertical foi de 7,79 tfm/m na faixa horizontal central em
relação à altura da parede circular. A Figura 70 apresenta o mapa de momentos
𝑀𝑦𝑦 para este caso de combinação.
92

Figura 70 - RSA: Mapa de momentos 𝑀𝑦𝑦 para o CASO 2

Fonte: Autor (2022).

Para o CASO 3, a maior força normal circunferencial, na parede circular foi


de 195,79 tf/m na região central da parede secante e na base da parede circular e a
menor de -44,22 tf/m nos limites superiores da parede circular. A Figura 71
apresenta o mapa da força 𝑁𝑥𝑥 para esta combinação.
93

Figura 71 - RSA: Mapa de forças 𝑁𝑥𝑥 para o CASO 3

Fonte: Autor (2022).

A maior força normal vertical para este caso foi de 66,16 tf/m na região
inferior do engastamento entre as paredes e a menor de -30,88 tf/m na região
inferior da parede secante próximo aos extremos horizontais, como ilustrado na
Figura 72.
94

Figura 72 - RSA: Mapa das forças normais verticais para o CASO 3

Fonte: Autor (2022).

Para este mesmo caso, o menor valor de momento fletor transversal


calculado foi de -3,09 tfm/m e o maior valor de momento transversal foi de 10,96
tfm/m na região do engastamento superior entre as paredes, a Figura 73 apresenta
o mapa de momentos 𝑀𝑥𝑥 para esta combinação.
95

Figura 73 - RSA: Mapa de momentos 𝑀𝑥𝑥 para o CASO 3

Fonte: Autor (2022).

Contudo, ainda no CASO 3, o menor valor de momento fletor vertical


calculado foi de -7,79 tfm/m na faixa horizontal central em relação à altura da parede
circular e o maior valor foi de 20,59 tfm/m na região do engastamento da parede
circular com a base do reservatório. A Figura 74 apresenta o mapa de momentos
𝑀𝑦𝑦 para este caso de combinação.
96

Figura 74 - RSA: Mapa de momentos 𝑀𝑦𝑦 para o CASO 3

Fonte: Autor (2022).

Percebe-se a grande influência do engastamento entre as paredes,


sobretudo para momentos, diferenciando-se, nesta região, do padrão de distribuição
destes esforços como ilustrado nas imagens no canto superior direito dos ábacos de
Guerrin e Lavaur (2003). A Figura 75 apresenta o comportamento esperado dos
momentos na parede circular de um reservatório circular de Guerrin e Lavaur (2003).

Figura 75 - Distribuição de momentos de Guerrin e Lavaur (2003)

Fonte: Guerrin e Lavaur (2003).


97

Com a obtenção dos esforços máximos e mínimos para os três casos


combinação de cargas no ELU analisados, é possível fazer um comparativo entre
esses esforços e os esforços utilizados em projeto para o dimensionamento das
armaduras das paredes circulares dos reservatórios. O Quadro 6 apresenta o
comparativo entre os valores utilizados de momento de engastamento na base,
momento da parede circular e tensão normal máxima para o dimensionamento das
armaduras da parede, de acordo com o projeto da Engest (2014) nomeado
PROJETO, e os mesmos esforços correspondentes com valores encontrados nos
mapas obtidos neste trabalho com o RSA, conforme cada caso de combinação de
ações.

Quadro 6 - Comparativo entre esforços de projeto e esforços calculados através do


RSA

Matriz Momento no M.máx na Tensão Tensão


engastamento parede circular normal máx. normal máx.
horizontal vertical
PROJETO 11,2 (tfm/m) 4,62 (tfm/m) 46,6 (tf/m) -
CASO 1 33,14 (tfm/m) 7,96 (tfm/m) 134,65 (tf/m) -18,32 (tf/m)
CASO 2 -20,59 (tfm/m) 7,79 (tfm/m) -187,61 (tf/m) -66,16(tf/m)
CASO 3 20,59 (tfm/m) -7,79 (tfm/m) 195,79 (tf/m) 66,16(tf/m)

Fonte: Autor (2022).

Nota-se a grande disparidade entre os esforços, principalmente na tensão


normal máxima horizontal, responsável pelo dimensionamento das armaduras
longitudinais circunferenciais. Mais observações serão tratadas na próxima seção e
na seção 5.

4.2. DIMENSIONAMENTO DE ARMADURAS

De acordo com os esforços apresentados anteriormente, serão


dimensionadas as armaduras para a parede circular do reservatório, visando garantir
as condições de resistência e durabilidade prescritas na NBR 6118 (ABNT, 2014),
juntamente com a verificação de abertura de fissuras, para manter a estanqueidade
do reservatório. Ao final desta seção, será apresentado um comparativo entre a
98

armadura dimensionada aqui e a armadura presente nos reservatórios antes do


reforço estrutural, segundo o projeto da Engest (2014).

4.2.1. Armadura circunferencial

A armadura longitudinal circunferencial é posicionada na direção horizontal


da parede (longitudinal), a fim de resistir às forças de tração causadas
principalmente pelo empuxo de água. Contudo, segundo Campos (2018), a
intensidade dos momentos transversais é baixa em relação à intensidade da força
normal de tração, de forma que há uma menor influência no dimensionamento da
armadura circunferencial da parede. Logo, o esforço principal para o
dimensionamento desta armadura é o esforço de tensão normal máxima, obtida no
CASO 3 de 195,79 tf/m ou conforme a equação 15:

𝑁𝑑𝑥, 𝑚á𝑥 = 1920,04 𝑘𝑁/𝑚 (15)

Logo, a armadura circunferencial é calculada pela equação 16:

𝑁𝑑, 𝑚á𝑥
𝐴𝑠 = (16)
𝜎𝑠𝑑

em que:
𝐴𝑠 é área de armadura circunferencial da parede;
𝑁𝑑, 𝑚á𝑥 é o esforço normal de tração na parede;
𝜎𝑠𝑑 é a máxima tensão de tração permitida na armadura de cálculo,
imediatamente após a ocorrência da fissuração.

A NBR 8800 (ABNT, 2008) em seu Anexo O, item 5.2.4, define que o valor
de máxima tensão de tração é limitado pela equação 17:

2
𝑓𝑐𝑘 3
𝜎𝑠𝑡 = 810 . √𝑤𝑘. √ ≤ 𝑓𝑦𝑠 (17)
ф

em que:
99

𝜎𝑠𝑡 é a máxima tensão de tração permitida na armadura de cálculo,


imediatamente após a ocorrência da fissuração, sem minoração;
𝑓𝑐𝑘 é a resistência característica a compressão do concreto, que aqui é 40
MPa;
𝑤𝑘 é calculado na seção 3.3.2, igual a 0,15 mm;
𝑓𝑦𝑠 é a resistência ao escoamento do aço das armaduras, neste trabalho
igual a 500 MPa;
ф é o diâmetro das barras de aço, seguindo o projeto (ENGEST, 2014)
adota-se o diâmetro da armadura longitudinal de 10 mm. A NBR 6118 (ABNT, 2014)
limita esse valor em até 20 mm.

Desta forma, tem-se na equação 18:

2
403
𝜎𝑠𝑡 = 810 . √0,15 . √ = 339,27 𝑀𝑃𝑎 = 33,93 𝑘𝑁/𝑐𝑚2 (18)
10

Logo, a equação 19 define 𝜎𝑠𝑑:

33,93 𝑘𝑁/𝑐𝑚²
𝜎𝑠𝑑 = = 29,50 𝑘𝑁/𝑐𝑚 (19)
1,15

Assim, tem-se, através da equação 16 que a armadura circunferencial


necessária é:

1920,04 𝑘𝑁/𝑚
𝐴𝑠 = = 65,09 𝑐𝑚2 /𝑚
29,50 𝑘𝑁/𝑐𝑚²

A NBR 6118 (ABNT, 2014, p. 131) define que: “Em elementos estruturais
onde o controle da fissuração seja imprescindível por razões de estanqueidade [...] a
armadura mínima de tração para controle de fissuração pode ser calculada pela
relação:” (equação 20).
𝑘 . 𝑘𝑐 . 𝑓𝑐𝑡, 𝑒𝑓 . 𝐴𝑐𝑡
𝐴𝑠, 𝑚í𝑛 = (20)
𝜎𝑠

em que:
100

𝐴𝑠, 𝑚í𝑛 é a área de armadura na zona tracionada;


𝐴𝑐𝑡 é a área de concreto na zona tracionada;
𝜎𝑠 é a tensão máxima permitida na armadura imediatamente após a
formação da fissura. A Tabela 17.2 da NBR 6118 (ABNT, 2014) fornece para barras
de 10 mm de diâmetro e sem armaduras ativas, o valor de 𝜎𝑠 igual a 360 MPa.
Porém, a norma cita que um valor inferior que a resistência de escoamento pode ser
necessário para satisfazer os limites de abertura de fissuras. Neste caso será
utilizado um valor reduzido em 20 MPa totalizando 340 MPa;
𝑓𝑐𝑡, 𝑒𝑓 é a resistência média à tração efetiva do concreto no instante em que
se formam as primeiras fissuras. Como não se determinou a idade em que ocorrem
as primeiras fissurações, a norma recomenda adotar valor mínimo de 3 MPa;
𝑘 é um coeficiente que considera os mecanismos de geração de tensões de
tração. Para o caso das paredes do reservatório, o valor assumido por 𝑘 se baseia
no caso de deformações impostas intrínsecas do item 17.3.5.2.2 da NBR 6118
(ABNT, 2014), onde será adotado o caso de tração pura: 𝑘 = 0,5, considerado para h
> 0,8 m;
𝑘𝑐 é um coeficiente que considera a natureza da distribuição de tensões na seção,
imediatamente antes da fissuração, onde para tração pura, 𝑘𝑐 tem um valor de 1,0.
Logo, tem através da equação 20:

0,5 . 1,0 . 3 𝑀𝑃𝑎 . (40 𝑐𝑚 . 100 𝑐𝑚)


𝐴𝑠, 𝑚í𝑛 = = 17,69 𝑐𝑚2 /𝑚
340 𝑀𝑃𝑎

𝐴𝑠, 𝑚í𝑛 ≤ 𝐴𝑠 (21)

Portanto, a armadura circunferencial da parede circular dos reservatórios é


para cada face da parede é calculada através da equação 22:

𝐴𝑠 65,09 𝑐𝑚2 /𝑚
𝐴𝑠, 𝑓𝑎𝑐𝑒 = = 32,55 𝑐𝑚2 /𝑚 (22)
𝑛º 𝑑𝑒 𝑓𝑎𝑐𝑒𝑠 2

4.2.2. Armadura vertical

Para Guimarães (1995), diante da ação variável do peso próprio da parede


ao longo da altura, calcula-se a armadura em função do esforço normal 𝑁𝑦, ou seja,
101

em função de uma compressão centrada na parede. Segundo Campos (2018), a


armadura vertical da parede circular do reservatório é estabelecida através da flexão
composta normal. Através dos ábacos propostos por Venturini (1987) é possível
obter a taxa de armadura vertical necessária.
Para a consulta nos ábacos são necessários os parâmetros adimensionais
de entrada 𝜇 e 𝜈 para a obtenção da taxa de armadura 𝜔. Com os resultados obtidos
para os momentos através da altura da parede circular, a combinação que apresenta
o maior momento máximo é a do CASO 1, com um valor de 7,96 tfm/m ou 78,06
kNm/m e o maior esforço vertical normal é no CASO 3, cujo valor é 66,16 tf/m ou
648,81 kN/m.
Além disso, para a consulta no ábaco é necessária a definição da altura útil
(equação 23) e a relação (𝑑/ℎ) expressa na equação 27:

𝑑 = ℎ − 𝑑´ (23)

em que:
𝑑 é altura útil em centímetros;
ℎ é a espessura da parede, igual a 40 cm;
𝑑´ é a distância entre o eixo da armadura de compressão e a face mais
próxima do elemento em centímetros, dada pela equação 24:

ф𝑙
𝑑´ = 𝑐 + ф𝑡 + (24)
2

em que:
ф𝑙 é o diâmetro da barra longitudinal, neste caso a de projeto de 10,0 cm;
ф𝑡 é o diâmetro dos estribos, adotado neste caso de 0,5 cm;
𝑐 é o cobrimento obtido na seção 3.1.1 de 5 cm;

Logo, da equação 24 e 23 respectivamente:

1,0
𝑑´ = 5 + 0,5 + = 6,0 𝑐𝑚
2

𝑑 = 40 − 6,0 = 34,00 𝑐𝑚
102

Os parâmetros adimensionais dos ábacos de Venturini (1987) são expressos


nas equações 25 e 26:

𝑀𝑑
𝜇= (25)
𝐴𝑐 . 𝑓𝑐𝑑 . ℎ

𝑁𝑑
𝜈= (26)
𝐴𝑐 . 𝑓𝑐𝑑

em que:
𝑓𝑐𝑑 é a resistência característica a compressão do concreto minorada pelo
coeficiente apresentado na seção 2.1.3.

Logo, definem-se 𝜇 e 𝜈 através das equações 25 e 26, respectivamente:

78,06 𝑘𝑁𝑚
𝜇= = 0,017
40000
0,4 𝑚 . 1,0 𝑚 . 𝑘𝑁/𝑚2 . 0,4 𝑚
1,4

648,81 𝑘𝑁
𝜈= = 0,057
40000
0,4 𝑚 . 1,0 𝑚 . 𝑘𝑁/𝑚2
1,4

Além desses parâmetros é necessário definir a relação entre o 𝑑′ e a


espessura da parede na equação 27:

𝑑 ′ 6,0
= = 0,15 (27)
ℎ 40

Em posse de todos os valores calculados acima, através do Ábaco A-3 de


Venturini (1987), para quantidade de barras de armadura indefinidas, ilustrado na
Figura 76, obteve-se uma taxa de armadura 𝜔 de 0,0. Logo será adotada a
armadura mínima.
103

Figura 76 - Ábaco para obtenção da taxa de armadura de flexão composta normal

Fonte: Venturini (1987), adaptado pelo autor.

A armadura mínima a ser adotada, segundo Campos (2018), é a armadura


mínima vertical negativa para flexão. A NBR 6118 (ABNT, 2014) apresenta em sua
Tabela 17.3 (representada na Figura 77) as taxas mínimas de armaduras para
flexão, conforme a resistência característica a compressão do concreto. Para o
concreto C40, a taxa de armadura mínima é de 0,179.
104

Figura 77 - Valores de taxa de armadura para flexão conforme fck do concreto

Fonte: NBR 6118 (ABNT, 2014), adaptado pelo autor.

Portanto, tem a armadura mínima calculada nas equações 28 e 29:

𝐴𝑠 𝑣𝑒𝑟𝑡. , 𝑚í𝑛 = 𝐴𝑐 . 𝜌𝑚í𝑛 (28)

0,179
𝐴𝑠 𝑣𝑒𝑟𝑡. , 𝑚í𝑛 = 𝐴𝑠 𝑣𝑒𝑟𝑡. = . 40 𝑐𝑚 . 100 𝑐𝑚 = 7,16 𝑐𝑚2 /𝑚 (29)
100

4.2.3. Armadura de engastamento

Para a armadura de engastamento da parede circular com a base do


reservatório, Pinheiro (2007) apresenta na Tabela 1.1 valores dos parâmetros 𝐾𝑐
(equação 30) e 𝑘𝑠 (equação 31) para a determinação da armadura no ELU:

𝑏 . 𝑑2
𝐾𝑐 = (30)
𝑀𝑑

𝐴𝑠 . 𝑑
𝐾𝑠 = (31)
𝑀𝑑

O maior momento de engastamento, da combinação CASO 1, e o mesmo


tem um valor de 33,14 tfm/m ou 𝑀𝑑 𝑒𝑛𝑔. , 𝑚á𝑥 = 324,99 𝑘𝑁𝑚/𝑚

Portanto, 𝐾𝑐 é calculado da equação 30 :

100 𝑐𝑚 . (34 𝑐𝑚)2


𝐾𝑐 = = 3,557 𝑐𝑚2 /𝑘𝑁
32499 𝑘𝑁𝑐𝑚
105

A Figura 78 apresenta o valor de 𝑘𝑠 para o valor 𝑘𝑐 calculado anteriormente,


concreto C40 e aço CA-50. Para o valor de 𝑘𝑠, optou-se por não realizar a
interpolação e adotar o maior valor da faixa de 0,025.

Figura 78 - Valores de 𝐾𝑐 e 𝐾𝑠 segundo Pinheiro (2007)

Fonte: Pinheiro (2007), adaptado pelo autor.

Portanto, da equação 31, calcula-se 𝐴𝑠:

𝐾𝑠 . 𝑀𝑑 0,025 𝑐𝑚2 /𝑘𝑁 . 32499 𝑘𝑁𝑐𝑚/𝑚


𝐴𝑠 = = = 23,90 𝑐𝑚2 /𝑚
𝑑 34 𝑐𝑚

A verificação de armadura mínima segue a equação 23, em que se obteve


7,16 cm²/m, portanto 𝐴𝑠, 𝑚í𝑛 ≤ 𝐴𝑠.

4.3. COMPARATIVO ENTRE ARMADURAS

Este capítulo apresenta a comparação entre as áreas de armaduras


necessárias da parede circular calculadas neste trabalho através do software RSA, e
as armaduras presentes nos reservatórios da ETE Jarivatuba. As armaduras
utilizadas foram apresentadas no Quadro 2 e o Quadro 7 apresenta o comparativo
das armaduras verticais, longitudinais e de engastamento.
106

Nota-se uma grande disparidade entre as taxas de armaduras, sobretudo


nas armaduras circunferenciais (longitudinais) devido à grande diferença destes
esforços citada na seção 4.1. A taxa de armadura vertical, obtida na seção 4.2, com
o valor mínimo indicado pela NBR 6118 (ABNT, 2014), é a única taxa onde as
armaduras de projeto são suficientes para resistir aos esforços levantados na seção
4.1.

Quadro 7 - Comparativo entre áreas de armaduras

ARMADURAS As. Projeto As. Calculada


Longitudinais 7,85 cm²/m 32,55 cm²/m
Verticais 7,85 cm²/m 7,16 cm²/m
Engastamento 12,27 cm²/m 23,90 cm²/m
Fonte: Autor (2022).

4.4. VERIFICAÇÃO DAS FISSURAS

As verificações da formação e abertura de fissuras levam em conta os


esforços encontrados na seção 4.1 e a armadura utilizada no projeto dos
reservatórios. Para as combinações de verificação do ELS utilizaram-se dos valores
dos coeficientes apresentados na Figura 12 e da equação das combinações
frequentes para o ELS:

𝐹𝑑, 𝑠𝑒𝑟 = ∑ 𝐹𝑔𝑖𝑘 + 𝛹1 . 𝐹𝑞1𝑘 + ∑ 𝛹2𝑗 . 𝐹𝑞𝑗𝑘 (31)

O Quadro 8 apresenta os novos casos de combinações permanentes no ELS,


inseridos no RSA, para obtenção do maior momento desta combinação e o maior
esforço de tração, ambos para o cálculo da tensão de tração no centro geométrico
da armadura considerada, calculada no Estádio II.
107

Quadro 8 - Coeficientes de ponderação para as combinações de carregamentos


frequentes - ELS

Combinação Peso próprio T (+10º) T (-10º) Empuxo


ELS Coeficiente de ponderação
CASO 4 1,0 - - 1,0
CASO 5 1,0 0,5 - -
CASO 6 1,0 - 0,5 -
Fonte: Autor (2022).

Com isso, foram calculados os maiores valores de momento para a


combinação frequente, resultando no valor de 23,67 tfm/m, e para a força normal
com o valor de 96,18 tf/m, ambas para o CASO 4 de combinação no ELS, portanto,
tem-se 𝑁𝑑, 𝑓𝑟𝑒𝑞 (equação 32) e 𝑀𝑑, 𝑓𝑟𝑒𝑞 (equação 33):

𝑁𝑑, 𝑓𝑟𝑒𝑞 = 943,20 𝑘𝑁/𝑚 (32)

𝑀𝑑, 𝑓𝑟𝑒𝑞 = 232,12 𝑘𝑁𝑚/𝑚 (33)

4.4.1. Tensão de tração para armadura no Estádio II

Para o cálculo da abertura de fissuras é necessário verificar a tensão de


tração de armadura, calculada no Estádio II, definido segundo a NBR 6118 (ABNT,
2014) como o que admite comportamento linear dos materiais e despreza a
resistência à tração do concreto, onde ocorre as fissurações no concreto. As tensões
de tração para tração simples e para flexão simples estão expressas nas equações
34 e 35, respectivamente.

𝑁𝑑, 𝑓𝑟𝑒𝑞
𝜎𝑠, 𝑡𝑟𝑎çã𝑜 = (34)
𝐴𝑠

𝛼𝑒 . 𝑀𝑑, 𝑓𝑟𝑒𝑞 . (𝑑 − 𝑥, 𝐼𝐼)


𝜎𝑠, 𝑓𝑙𝑒𝑥ã𝑜 = (35)
𝐼, 𝐼𝐼

em que:
108

𝛼𝑒 é a relação entre o módulo de deformação do aço (𝐸𝑠) e o módulo de


deformação secante do concreto (𝐸𝑐𝑠) obtidos no Quadro 4 e 3 respectivamente,
calculado através da equação 36:

𝐸𝑠 210 𝐺𝑃𝑎
𝛼𝑒 = = = 6,56 (36)
𝐸𝑐𝑠 32 𝐺𝑃𝑎

𝑥, 𝐼𝐼 é a posição da linha neutra no Estádio II calculado através da equação


37:

𝐴𝑠 . 𝛼𝑒 2 . 𝑏𝑤 . 𝑑
𝑥, 𝐼𝐼 = . ( −1 + √1 + ) (37)
𝑏𝑤 𝐴𝑠 . 𝛼𝑒

15,71 𝑐𝑚² . 6,56 2 . 100 𝑐𝑚 . 34 𝑐𝑚


𝑥, 𝐼𝐼 = . ( −1 + √1 + ) = 7,40 𝑐𝑚
100 𝑐𝑚 15,71 𝑐𝑚2 . 6,56

𝐼, 𝐼𝐼 é o momento de inércia da seção fissurada de concreto no Estádio II,


dado pela equação 38:

𝑏𝑤 . 𝑥, 𝐼𝐼³
𝐼, 𝐼𝐼 = + 𝐴𝑠 . 𝛼𝑒 (𝑑 − 𝑥, 𝐼𝐼 2 ) (38)
3

100 𝑐𝑚 . (7,40 𝑐𝑚)3


𝐼, 𝐼𝐼 = + 15,71 𝑐𝑚2 . 6,56 (34 𝑐𝑚 − [7,40 𝑐𝑚]2 ) =
3

𝐼, 𝐼𝐼 = 11.368 𝑐𝑚4

Portanto, para a tensão de tração, da equação 34, e para a tensão de flexão,


da equação 35, tem-se respectivamente:

943,20 𝑘𝑁 𝑘𝑁
𝜎𝑠, 𝑡𝑟𝑎çã𝑜 = = 60,04 = 600,4 𝑀𝑃𝑎
15,71 𝑐𝑚² 𝑐𝑚2

6,56 . 23212 𝑘𝑁𝑐𝑚 . (34 𝑐𝑚 − 7,40 𝑐𝑚) 𝑘𝑁


𝜎𝑠, 𝑓𝑙𝑒𝑥ã𝑜 = 4
= 356,29
11368 𝑐𝑚 𝑐𝑚2
109

= 3562,9 𝑀𝑃𝑎

4.4.2. Cálculo da abertura de fissuras da parede circular

Conforme a NBR 6118 (ABNT, 2014), a abertura de fissuras a ser verificada


deverá ser o menor valor entre as duas expressões (equações 39 e 40) abaixo:

ф𝑖 𝜎𝑠𝑖 3𝜎𝑠𝑖
𝑤𝑘1 = . . (39)
12,5 . 𝜂1 𝐸𝑠𝑖 𝑓𝑐𝑡𝑚

ф𝑖 𝜎𝑠𝑖 4
𝑤𝑘2 = . . ( + 45) (40)
12,5 . 𝜂1 𝐸𝑠𝑖 𝜌𝑟

em que:
𝑤𝑘1 e 𝑤𝑘2 são valores característicos das aberturas de fissuras (máximo de
0,15 mm);
ф𝑖 é o diâmetro das barras da armadura utilizada, igual a 10 mm;
𝜂𝑖 é o coeficiente de conformação superficial da armadura considerada,
obtido da Tabela 8.3 da NBR 6118 (ABNT, 2014), de 2,25 para barras nervuradas;
𝜎𝑠𝑖 é a tensão de tração no centro de gravidade da armadura considerada;
𝑓𝑐𝑡𝑚 é a resistência à tração média do concreto, dada pela equação 41:

2 2
𝑓𝑐𝑡𝑚 = 0,3 . 𝑓𝑐𝑘 3 = 0,3 . 40 3 = 3,51 𝑀𝑃𝑎 (41)

em que:
𝜌𝑟 é a taxa de armadura passiva ou ativa aderente em relação à área da
região de envolvimento 𝐴𝑐𝑟𝑖, descrito no item 17.3.3.2 da NBR 6118 (ABNT, 2014) e
calculado através da equação 42:

𝐴𝑠, 𝑏𝑎𝑟𝑟𝑎 0,52 . 𝜋 𝑐𝑚²


𝜌𝑟 = = = 0,005 (42)
𝐴𝑐𝑟𝑖 10,0 𝑐𝑚 . 15 . 1,0 𝑐𝑚

em que:
𝐴𝑐𝑟𝑖 área da região de envolvimento da armadura considerada.
110

4.4.2.1. Abertura de fissuras para tração

Para a verificação, utiliza-se o menor valor dentre as expressões 39 e 40.

10 𝑚𝑚 600,4 𝑀𝑃𝑎 3 . 600,4 𝑀𝑝𝑎


𝑤𝑘1 = . . = 0,52 𝑚𝑚
12,5 . 2,25 210000 𝑀𝑃𝑎 3,51 𝑀𝑃𝑎

10 𝑚𝑚 600,4 𝑀𝑃𝑎 4
𝑤𝑘2 = . .( + 45) = 0,86 𝑚𝑚
12,5 . 2,25 210000 𝑀𝑃𝑎 0,005

Observa-se que o menor valor encontrado foi de 0,52 mm, acima do limite
aceitável de 0,15 mm, apresentando um valor que torna a estrutura suscetível a não
estanqueidade e exposição das armaduras à corrosão.

4.4.2.2. Abertura de fissuras para flexão

Do mesmo modo, para a verificação, utiliza-se o menor valor dentre as


expressões 39 e 40.

10 𝑚𝑚 3562,9 𝑀𝑝𝑎 3 . 3562,9 𝑀𝑝𝑎


𝑤𝑘1 = . . = 18,37 𝑚𝑚
12,5 . 2,25 210000 𝑀𝑝𝑎 3,51 𝑀𝑝𝑎

10 𝑚𝑚 3562,9 𝑀𝑝𝑎 4
𝑤𝑘2 = . .( + 45) = 5,09 𝑚𝑚
12,5 . 2,25 210000 𝑀𝑝𝑎 0,005

Observa-se que o menor valor encontrado foi de 5,09 mm, muito superior ao
limite aceitável de 0,15 mm, apresentando uma grande suscetibilidade ao colapso da
estrutura, como mencionado por Cunha (2011), provocando a diminuição da rigidez
da estrutura podendo levar a tal fato.

4.5. VERIFICAÇÃO DAS DEFORMAÇÕES MÁXIMAS

Segundo a NBR 6118 (ABNT, 2014), os deslocamentos-limites são definidos


como valores práticos empregados para a verificação do estado-limite de
111

deformação excessiva da estrutura. Esses valores visam proporcionar um adequado


comportamento da estrutura em serviço, dentre eles a aceitabilidade sensorial do
usuário, efeitos específicos da edificação e em elementos não estruturais. Através
do software RSA é possível obter os deslocamentos globais da estrutura, sem
escala, servindo como ilustração para melhor compreensão das deformações.
A Figura 79 apresenta os deslocamentos máximos da parede circular do
reservatório, para a situação do reservatório em nível máximo de extravasão, em
que é possível observar os maiores deslocamentos, na ordem de quatro milímetros,
presentes fora da zona de engastamento com a parede secante, parede essa que
não recebe esforços da variação térmica para este caso.

Figura 79 - RSA: Deslocamentos globais para a efeitos da PH

Fonte: Autor (2022).

A Figura 80 apresenta os deslocamentos máximos da parede circular do


reservatório, para a situação do reservatório vazio, sob efeitos da variação térmica
112

positiva, na ordem de cinco milímetros. É possível observar deformações presentes


na parede secante, que para este caso recebe esforços da variação térmica.

Figura 80 - RSA: Deslocamentos globais para efeitos da dilatação térmica

Fonte: Autor (2022).

A Figura 81 apresenta os deslocamentos máximos da parede circular do


reservatório, para a situação do reservatório vazio, sob efeitos da contração térmica,
na ordem de cinco milímetros. Também é possível observar deformações presentes
na parede secante, que para este caso, recebe esforços da variação térmica,
contudo, a parede limita os deslocamentos da parede circular na região do
engastamento.
113

Figura 81 - RSA: Deslocamentos globais para efeitos da contração térmica

Fonte: Autor (2022).

Conforme a NBR 9575 (ABNT, 2010), a impermeabilização rígida não é a


recomendada para este sistema estrutural, uma vez que, é feita por materiais não
suscetíveis à deslocamentos dos elementos. A impermeabilização proposta
inicialmente foi do tipo resina epóxi (ENGEST, 2014), caracterizada como
impermeabilização rígida, não sendo ideal para esta estrutura.
114

5. CONCLUSÕES

Este trabalho tratou da verificação do dimensionamento das paredes


circulares dos reservatórios da ETE Jarivatuba de Joinville/SC, para tal propósito
utilizou-se do software Autodesk Robot Structural Analysis para determinar os
esforços através do método dos elementos finitos, com embasamento em
normativas brasileiras e acervos técnicos, procurando obter estes valores e
determinar a áreas de armaduras de aço para efetuar um comparativo com o projeto
dos reservatórios.
Este software apresenta inúmeras vantagens, como a oferta de uma versão
gratuita para estudantes, mapas de resultados bem ilustrativos, juntamente com uma
grande biblioteca de normas internacionais, estruturas e carregamentos pré-
definidos. Evidenciou-se também uma grande facilidade de modelagem estrutural e
uma ótima interação com a plataforma BIM.
Inicialmente, apresentaram-se as classificações dos reservatórios e
definiram-se os reservatórios de estudo como apoiados, circulares, abertos de
grande dimensão para o tratamento de efluentes. Posteriormente expuseram-se o
método analítico de dimensionamento de reservatórios, através de ábacos, proposto
por Guerrin e Lavaur (2003), e o método de dimensionamento computacional
através do MEF. Por conseguinte, analisou-se o projeto dos reservatórios, onde se
constatou que o cobrimento adotado de quatro milímetros não estava de acordo com
a NBR 6118 (ABNT, 2014) e com a Norma anterior, uma vez que o projeto data de
2014 mesmo ano da publicação da Norma.
A partir dos parâmetros de dimensionamento e combinações de cargas
adotadas, constatou-se uma grande diferença entre os esforços calculados e
esforços apresentados em memorial de cálculo de projeto, em que o momento
máximo de engastamento calculado foi 196% maior, o momento máximo na parede
circular foi 72% maior e a tensão normal máxima horizontal apresentou a maior
diferença de 320%.
Através dos valores dos esforços, calculou-se a área necessária de
armadura para suportar tais esforços onde se verificou uma grande deficiência entre
algumas armaduras nos reservatórios, obteve-se áreas de armaduras longitudinais
115

315% maiores, e de armaduras de engastamento 95% maiores. As armaduras


verticais presentes nos reservatórios são suficientes.
Verificou-se também a abertura máxima de fissuras, onde através de
normativas nacionais e internacionais constatou-se um valor de 0,15 mm. Para os
esforços calculados e as armaduras de projeto dos reservatórios, verificou-se a
abertura de fissuras, chegando a valores muito superiores ao aceitável para a
estrutura em estudo, sendo 0,37 mm superiores ao máximo para tração e 4,94 mm
para flexão, devido aos esforços dimensionados superiores aos utilizados para o
projeto das armaduras. Apontando a suscetibilidade da não estanqueidade dos
reservatórios, exposição das armaduras para efeitos prejudiciais das manifestações
patológicas e provocando a diminuição da rigidez da estrutura podendo levar ao
colapso estrutural.
A deficiência de armaduras é comprovada através do reforço estrutural
optado pela Companhia, no qual foi acrescido aproximadamente 45% do volume de
concreto de projeto em microconcreto projetado de alta resistência alcançando 55
MPa nas paredes circulares e aproximadamente 100% do volume de aço utilizado
no projeto, juntamente com uma mísula na base conforme a Figura 82 a seguir.

Figura 82 - Mísula do reforço estrutural

Fonte: Autor (2022).


116

Possíveis equívocos de projeto foram observados, a utilização de um


cobrimento e opção de impermeabilização inadequados, falta de informações no
memorial de cálculo a respeito das combinações de carga, levam a acreditar que os
esforços térmicos com o reservatório vazio não foram considerados, uma vez que
são responsáveis pelos maiores esforços de tração circunferencial na estrutura,
onde foi observado a maior disparidade entre valores calculados e valores de
projeto. Ademais, percebe-se a influência da parede secante na disposição de
esforços, sendo um dos principais locais da estrutura a receber esforços de tensão
vertical, esforço esse não presente em memorial de cálculo.
Recomenda-se para o dimensionamento de reservatórios circulares de
grandes dimensões e com características particulares, como uma parede divisória, a
utilização de mais de um software de cálculo e a inserção do máximo de
características possíveis para obtenção de resultados mais fiéis. A inserção do
máximo de particularidades da estrutura é comprovada pelo fato das paredes
secantes dos reservatórios, objeto de estudo desse trabalho, serem responsáveis
por modificar a disposição de esforços pela estrutura.
Por fim, apresentam-se três sugestões para futuros trabalhos:
 Verificação do comportamento estrutural dos reservatórios sob
efeitos de gradiente térmico em uma situação de variação do nível de
efluente;
 Detalhamento da armadura calculada neste trabalho e o
levantamento de custos para a comparação com os custos do reforço
estrutural em execução;
 Realização de um comparativo entre as armaduras obtidas e as
taxas de armaduras necessárias para a execução de reservatórios de
mesma capacidade, porém de formato retangular.
117

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