Parecer - Erros e Omissões
Parecer - Erros e Omissões
Parecer - Erros e Omissões
Rui Andrade 1
Advogado
Junho de 2023
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CONSULTA
3. Se nesta primeira fase de E&O os riscos são diferentes dos da segunda fase
de E&O (obra).
4. Tempos de resposta.
Tomando em conta os elementos que nos foram fornecidos, estamos em
condições de emitir o esclarecimento solicitado, que será sintético em razão do
prazo em que nos foi pedido.
I – ANTECEDENTES ........................................................................................................ 4
A. A LEGISLAÇÃO ANTERIOR AO CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS
(“CCP”) ...................................................................................................................................... 4
B. A EVOLUÇÃO DA MATÉRIA NO CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS ......... 4
II. QUADRO LEGAL ATUAL ...................................................................................... 10
A. A REDAÇÃO ATUAL DAS DISPOSIÇÕES RELEVANTES...................................... 10
B. O CONCEITO DE ERRO OU OMISSÃO ................................................................................. 15
NO CASO DE A CONCEÇÃO CABER AO EMPREITEIRO .......................................................................... 16
NO CASO DE A CONCEÇÃO CABER AO DONO DA OBRA....................................................... 17
Os erros e omissões cuja deteção é exigível na fase de formação do contrato, 3
que devem ser identificados no primeiro terço do prazo fixado para a
apresentação das propostas -........................................................................................ 21
Os erros e omissões cuja deteção é exigível aquando da consignação total ou
da primeira consignação parcial, com um prazo de 60 dias para o empreiteiro
deles reclamar – ................................................................................................................ 22
os erros e omissões cuja deteção é apenas exigível durante a execução da
obra, os quais devem ser reclamados no prazo de 30 dias - ................................. 23
Potenciais linhas de defesa do projetista.................................................................... 23
O limite de responsabilidade do projetista salvo negligência grosseira ou dolo
............................................................................................................................................... 26
C) CONCLUSÕES .......................................................................................................... 27
I – ANTECEDENTES
E por assim ser, a lei de 2008 julgou que, para a expurgação de todos os
erros iniciais das peças do procedimento, não seria suficiente a iniciativa da 5
Embora o caderno de encargos tenha sido viciado por uma deficiência, que
se assinalará, o objetivo prosseguido é a identificação e deteção dos erros
e omissões, a tempo de não contaminar as propostas e, em consequência,
de não contaminar o clausulado contratual final.
Além disso, nesse caso em que o adjudicatário era responsável por não ter
identificado atempadamente o erro ou omissão, a lei, no n.º 2 do artigo 377º,
não lhe reconhecia o direito ao preço, nem a obter a prorrogação do prazo
de execução do contrato.
No que diz respeito a erros e omissões cuja deteção fosse exigível na fase
de formação do contrato e não tivesse sido realizada, a entidade
adjudicante e o adjudicatário repartiriam os custos das prestações
necessárias ao seu suprimento (n.º 3 e n.º 5 do artigo 378º);
Quanto a erros e omissões cuja deteção não tivesse sido exigível na fase
de formação do contrato, o adjudicatário não poderia ser responsabilizado
pela sua não deteção, pelo que a entidade adjudicante ficaria integralmente
responsável pelos custos das prestações necessárias ao seu suprimento
(n.º 2 do artigo 61º e n.º 3 do artigo 378º);
Porém, ao se conceder este novo prazo não se deu conta de que constava
do projeto legislativo preparado para o artigo 50º, uma remissão, no seu n.º
4, determinando que a negligência dos interessados na fase pré-contratual
teria como consequências aquelas que fossem previstas nos n.ºs 4 e 5 do
artigo 378º.
Assim, só após ter perdido esse (segundo) prazo pode o adjudicatário ser
responsabilizado “por suportar metade do valor dos trabalhos
complementares e de suprimento desses erros e omissões”, nos termos da
parte final do n.º 3 do artigo 378º; ou adicionalmente, dos trabalhos de
suprimento daqueles erros ou omissões que não sejam sequer
identificados, na fase de execução do contrato, no prazo de 30 dias a contar
da data em que lhe fosse exigível a sua deteção (n.º 4 do artigo 378º).
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II. QUADRO LEGAL ATUAL
13. Assim, os artigos 50º e 378º passaram a ter a seguinte redação, que ainda
hoje se mantém em vigor:
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22. Na verdade, ainda que seja possível detetar um determinado erro na fase
de formação do contrato, uma coisa é o grau de exigência que recai sobre
um interessado, em que a obra é uma mera possibilidade a que concorre,
dispondo de um prazo muito reduzido para estudar o projeto e apresentar
uma lista de erros e omissões, outra bem diferente é o estudo, preparação
e planeamento exigível a um empreiteiro que, por ser o adjudicatário e ter
celebrado o contrato de empreitada, sabe que irá realizar a obra e até já
teve acesso aos prédios em que os trabalhos devem ser executados.
Ora, esta solução fará com que o empreiteiro possa reclamar de erros e
omissões muito para além do momento em que, em sede de execução da
obra, lhe era exigível a sua deteção e até muito depois de se ter concluído
o trabalho necessário ao seu suprimento, tendo sempre direito a receber
metade do respetivo valor.
25. É que a alínea b) do n.º 2 do artigo 27º da Lei nº 30/2021 prevê que as
alterações à parte III do CCP relativas à modificação de contratos e
respetivas consequências se aplicam a contratos que se encontrem em
execução à data da entrada em vigor deste diploma, desde que o
fundamento da modificação decorra de facto ocorrido após essa data.
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27. Nos termos previstos no n.º 6 do artigo 378º do Código dos Contratos
Públicos se dispõe que:
29. A única hipótese em que o projetista pode ser responsabilizado por erros e
omissões grosseiros detetáveis no 1º terço do prazo de entrega das
propostas – aqui por aplicação da parte final do nº 3 do art. 378º do CCP, é
na situação em que o erros e omissão tendo sido reclamado nesse prazo,
não tenha sido aceite e, mais tarde venha a comprovar-se ser necessária a
sua execução.
30. Assim, desde que sejam razoáveis ou nos casos em que exista uma dúvida
fundada, na perspetiva do projetista, é sempre preferível a aceitação de
erros e omissões reclamados no 1º terço do prazo contratual, porque
evitam uma eventual reclamação futura a formular junto do projetista e, caso
se venha a revelar que tais trabalhos, afinal, não são indispensáveis à
realização da obra, o dono da obra sempre poderá pela sua supressão
durante a fase de execução, sem qualquer consequência desde que o saldo
de trabalhos complementares e a menos não venha a atingir os 20% do
preço contratual – cfr. art. 406, alínea b) do CCP.
35. Caso a reclamação seja após os 30 dias em que deveriam ser detetados, o
dono da obra será responsável por metade e o empreiteiro pela outra
metade
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37. Para este efeito devem ser exaustivamente exploradas as cláusulas abertas
contidas nas disposições legais, no caderno de encargos e nas peças
escritas e desenhadas do projeto de execução, em especial, a dos trabalhos
preparatórios ou acessórios, a de responsabilidade do empreiteiro e as
resultantes das regras de medição.
39. Se, no final, o projetista vier a ser acionado, quer pelo dono, quer pelo
empreiteiro, podem usar outras linhas de defesa.
40. Uma contra uma eventual demanda do empreiteiro: é que assim como a
corresponsabilização do empreiteiro assenta na violação dos deveres de
colaboração, informação, diligência e boa-fé, estes deveres são igualmente 24
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SOB A PERSPETIVA DE RESPONSABILIZAÇÃO DO PROJETISTA
Natureza Prazo Dono da Obra Empreiteiro Observações
Caso as reclamações sejam aceites no
segundo terço do prazo de entrega das
proposta (com ou sem prorrogação),
serão incorporadas no preço contratual,
pelo que não existe motivo para
responsabilização do projetista; nesta
Se aceites, serão incorporadas
situação, a eventual responsabilização
GROSSEIROS, ou seja, na proposta de preço do O empreiteiro terá direito a
1º terço do prazo de do projetista, neste caso perante o dono
que seja exigível detetar no empreiteiro; se recusadas e na receber a totalidade se os
entrega das da obra, só pode ocorrer se a
primeiro contacto com os fase de execução vier a ser reclamar nesse prazo, quer
propostas reclamação não for aceite e durante a
documentos concursais detetada essa necessidade, sejam aceites
fase de execução vier a confimrar-se a
responde por 100% do preço
necessidade da sua execução; se a
reclamação não tiver sido feita pelo
adjudicatário, o projetista poderá invocar
essa situação para sustentar a
inaplicabilidade da parte final do nº 3 do
art. 378º do CCP
A alegação de que a reclamação é
intempestiva e, portanto, a
responsabilidade é repartida de forma
Exigível detetar após a 60 dias a contar da Se cumprir o prazo de
Dono da Obra responde por igualitária pelo dono da obra, minimiza o
análise mais detalhada dos consignação total ou reclamação tem direito a
100%, se o prazo de risco de acionamento porque, como se
documentos e a da primeira 100%; se não cumprir, tem
reclamação for cumprido disse, enquanto o primeiro tem a
consignação da obra consignação parcial direito a 50%
obrigação legal de acionar o projetista, o
segundo tem uma mera faculdade que, a
maioria das vezes, não usa.
A alegação de que a reclamação é
intempestiva e, portanto, a
responsabilidade é repartida de
30 dias a contar da Se cumprir o prazo de forma igualitária pelo dono da obra,
OCULTOS - que só sejam Dono da Obra responde por
data em que seja reclamação tem direito a minimiza o risco de acionamento
detetáveis na fase de 100%, se o prazo de
exigível a sua 100%; se não cumprir, tem porque, como se disse, enquanto o
execução reclamação for cumprido
deteção direito a 50% primeiro tem a obrigação legal de 26
acionar o projetista, o segundo tem
uma mera faculdade que, a maior
das vezes, não usa.
C) CONCLUSÕES
VII. Assim, desde que sejam razoáveis ou nos casos em que exista uma
dúvida fundada, na perspetiva do projetista, é sempre preferível a
aceitação de erros e omissões reclamados no 1º terço do prazo
contratual, porque evitam uma eventual reclamação futura a formular
junto do projetista e, caso se venha a revelar que tais trabalhos,
afinal, não são indispensáveis à realização da obra, o dono da obra
sempre poderá pela sua supressão durante a fase de execução, sem
qualquer consequência desde que o saldo de trabalhos
complementares e a menos não venha a atingir os 20% do preço
contratual – cfr. art. 406, alínea b) do CCP.
Assinado de forma
Rui digital por Rui
Andrade
Andrade Dados: 2023.06.22
18:26:36 +01'00'