Artigo 8053
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1 INTRODUÇÃO
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facilitando aos pequenos empresários e cooperativas o conhecimento gerencial e tecnológico
necessário para que o APL consiga otimizar seu desenvolvimento.
No caso da Bahia, a base do conceito originalmente utilizado pela RedeAPL
fundamentava-se na definição adotada pela RedeSist, porém, com algumas diferenças. Ao
contrário da RedeSist que define um APL como aglomerações territoriais de agentes
econômicos, políticos e sociais, que apresentam vínculos mesmo que incipientes (Cassiolato e
Lastres, 2001) a RedeAPL, por sua vez, considerava também que os atores do aglomerado
deveriam atuar em regime de estreita cooperação.
Na teoria, estas aglomerações estimulam processos interativos de aprendizado em
nível local, viabilizando o aumento da eficiência produtiva, melhoria de processos, redução de
custos e aumento da produtividade, criando um ambiente propício à elevação da
competitividade dos agentes atuantes na região. Além disso, as interações entre empresas e
destas com o arcabouço institucional presente nas aglomerações costumam ter impactos
significativos em termos das capacitações dos gestores das empresas e da mão-de-obra de
forma geral, contribuindo para dinamização desses espaços econômicos. (Santos, Diniz e
Barbosa; 2004). Suzigan (2006, p. 12) afirma que “a proximidade geográfica facilita a
transmissão de novos conhecimentos caracterizados como complexos, tácitos e específicos
para determinados sistemas de produção e inovação”.
De maneira geral é possível perceber que as empresas que se agrupam formando
clusters e APLs conseguem atingir níveis de eficiência, que não conseguiriam caso
permanecessem atuando isoladamente (Erber, 2008). A aglomeração de empresas é um
elemento positivo, permitindo vantagens de escala, de difusão de conhecimento, de oferta de
mão de obra como também infraestrutura e serviços.
Deste modo em função da imprecisão conceitual para denominar as formas de
aglomeração de atividades produtivas será utilizado neste trabalho o conceito de Arranjo
Produtivo Local da RedeSist.
3. O território do sisal
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Tabela 1 - Território de identidade do sisal - Escolaridade da população
residente com mais de 10 anos - 2010
Grau de escolaridade Pessoas %
Sem instrução e fundamental incompleto 314314 71,8
Fundamental completo e médio incompleto 51785 11,8
Médio completo e superior incompleto 63577 14,5
Superior completo 7990 1,8
Não determinado 1594 0,4
Total 437666 100
Fonte: Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2010
O grau de escolaridade, por sua vez, reflete-se nas questões relacionadas à renda,
tipo de ocupação e qualificação do trabalhador. Para avaliar estas questões no que se refere
ao território de identidade do sisal e aos municípios que compõem o APL vamos utilizar
dados provenientes do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados- CAGED
inicialmente consolidados em informações anuais, que permitirão avaliar o saldo de
empregos a cada ano da série, permitindo identificar períodos com aumento do contingente
de trabalhadores com carteira assinada. Neste quesito observa-se que o saldo de empregos
gerado pelo território no período é pouco representativo em relação ao total gerado pelo
Estado. O território teve uma participação relativa significativa apenas nos anos em que o
saldo de empregos em termos absolutos no Estado diminuiu (2001 e 2003). Na média o
território do sisal foi responsável, na década, apenas pela geração de 2,6% do saldo de
empregos formais do Estado.
A faixa etária com resultados mais significativos em termos de geração de
empregos formais no território é a de 18 a 24 anos, seguida pela de 25 a 29 e 30 a 39. Após
os 40 anos observam-se saldos negativos, indicando um número maior de demissões que
admissões. Este perfil, no entanto, acompanha o comportamento do saldo de empregos
gerados para o estado como um todo (tabela 2).
Tabela 2 - Evolução do saldo de empregos celetistas, segundo a faixa etária território do sisal e Bahia
2000-2010
Faixa Etária 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010
18 a 24 438 666 595 996 1.023 754 550 229 610 742 951
25 a 29 142 371 299 690 375 314 9 10 117 173 267
30 a 39 153 272 169 653 464 328 -88 -130 207 225 90
40 a 49 -2 16 40 180 211 172 -62 -52 -20 12 -64
50 a 64 -16 4 17 15 38 85 -49 -30 -16 -65 -20
8
65 e mais -4 -8 -8 -6 -11 -3 -13 -4 -3 -5 -5
Total 711 1.321 1.112 2.528 2.100 1.650 347 23 895 1.082 1.219
Bahia 28.760 11.719 34.925 24.395 50.029 61.488 22.750 55.984 38.124 71.176 91.402
Fonte: TEM-CAGED, 2001-2010
Tabela 6 - Distribuição percentual dos ocupados, segundo a faixa salarial em salários mínimos –
Território de Identidade, Bahia - 2000/2010.
Mais de 1
Até 1 a2 Mais de 2 a Mais 3 a 5 Mais de 5 a Mais de 10 a Mais de Sem
Ocupados salário salários 3 salários salários 10 salários 20 salários 20 salários rend.
2000 2010 2000 2010 2000 2010 2000 2010 2000 2010 2000 2010 2000 2010 2000 2010
Sisal 38,6 69,8 19,0 18,1 6,0 3,3 5,2 2,2 3,1 0,9 0,7 0,2 0,2 0,0 27.1 5,5
Bahia 34,8 53,7 19,6 25,6 6,6 6,8 6,2 5,2 4,6 3,8 1,9 1,4 1,0 0,7 25,3 2,9
Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) - Censo Demográfico, 2000/2010.
5. Conclusão
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falta de infraestrutura seja social ou física e a renda insuficiente agrava o pleno
desenvolvimento da cadeia produtiva do sisal. Esta ausência, por sua vez, permite o
surgimento de ONGs – Organizações Não Governamentais objetivando preencher, de algum
modo, o espaço não ocupado pelo estado no que diz respeito ao atendimento das demandas
sociais emergentes, fazendo então aliança com os movimentos populares da região.
O semiárido precisa de uma política regional construída a partir da sua realidade
atual, que traduza as necessidades reais locais e reflita os interesses da região. Compreender a
realidade contemporânea, transformada pela ampliação do mercado e das relações a partir do
advento da globalização, e identificar os obstáculos que se apresentam na relação produtiva da
cadeia do sisal, assim como ações estratégicas que possam ser respostas para os entraves que
hoje se apresentam é essencial para o planejamento do desenvolvimento regional do
semiárido baiano, e desse modo assegurar a sobrevivência da cultura sisaleira no Estado.
A realidade social deve ser não só percebida, mas levada em conta, pois só a partir
delas é que politicas públicas efetivas serão construídas, pois o desenvolvimento da produção
acontece mediante transformações e mudanças na forma de ocupação do espaço e nas suas
condições próprias de funcionamento, hoje abertas a um mercado globalizado. As
experiências vividas nos últimos anos devem ser objeto de análise e instrumento de
elaboração para novas estratégias assim como favorecer uma interface efetiva entre a vivência
das organizações sociais e as políticas públicas aplicadas expressas nos programas e/ou
projetos do governo para que se obtenha efetividade na continuidade da cadeia produtiva do
sisal no semiárido baiano.
Deste modo, conclui-se afirmando que é fundamental analisar a questão do
emprego, da ocupação e renda do trabalhador, correlacionando-os com a qualidade de vida,
sendo esta uma forma concreta, numa sociedade de troca como a nossa, de inserção social.
Sob este enfoque, tem-se que, em função dos dados apresentados, e apesar de alguns avanços
no que concerne a inovações e diversificação de produtos, o arranjo produtivo do sisal não
evoluiu dentro do conceito de aglomeração produtiva e não contribuiu significativamente para
a melhoria dos indicadores sociais referentes ao território no qual está inserido.
Referências
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