Um Olhar Na Dívida Externa de Angola - 074623

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UM OLHAR SINTÉTICO NA DÍVIDA EXTERNA ANGOLANA

Morais Ngunga Alberto1

A dívida externa (dívida pública externa) são todas as obrigações (empréstimos) que um
Estado contrai a outro Estado ou bancos ou empresas ou pessoa física estrangeira.

A dívida externa serve para financiar os défices orçamentais e outras necessidades


conjunturais ou estruturais do país.

A dívida externa divide-se em três pilares:

1º – Dívida Externa Comercial.

É o tipo de dívida contraída a bancos (títulos e obrigações) e empresas (fornecedores)


estrangeiras.

2º – Dívida Externa Bilateral.

Consiste na dívida contraída de Estado para Estado.

3º – Dívida Externa Multilateral.

Dívida contraída junto das instituições multilaterais, tais como, o Fundo Monetário
Internacional, Banco Mundial, Banco Africano de Desenvolvimento, etc.

1. Qual é o valor total da dívida externa de Angola?


2. Qual é o peso de cada tipologia de dívida na estrutura total?
3. Quem são os credores estratégicos de Angola e qual é a geopolítica nos bastidores da
dívida externa?

1 - Qual é o valor total da dívida externa de Angola?

A dívida externa totaliza 49.644,6 milhões de USD. Sendo a China o maior credor, isto é,
ocupando uma parcela de 17.921 milhões de USD, correspondendo um peso percentual de
36% da dívida total. Os EUA posicionam-se como o terceiro maior credor de Angola, atrás da
Gra Bretanha. Veja a figura 1 abaixo.

1
- Formador e Consultor de Gestão de Empresas e Finanças Empresariais.
1
Figura 1 – Dívida externa Angolana em valores absolutos e percentuais.

Fonte: Jornal Expansão, 8 de Março de 2024, p.7.


Elaborado por: Jornal Expansão.

2 - Qual é o peso de cada tipologia de dívida na estrutura total?

Segundo o Jornal Expansão2, dos 49.644,6 milhões de USD, “72% são da dívida externa
comercial (repartida entre a dívida a bancos e empresas) ”.

A dívida bilateral e multilateral soma 28% do total, isto é, o primeiro tem um peso de 9% e o
segundo 19% do total geral.

Os números acima indicam que os investimentos ou os défices orçamentais de Angola são


financiados em grande medida por bancos e empresas estrangeiras (maioritariamente
chinesas).

Em 2023 a dívida comercial encolheu 6% (2.471,2 milhões de USD) face ao ano de 2022
como mostra a figura abaixo (figura 2).

Figura 2 – Estrutura da dívida externa angolana.

Fonte: Jornal Expansão, 8 de Março de 2024, p. 7. Elaborado por: Jornal Expansão.

2
- Jornal Expansão, edição de 8 de Março de 2024, p.7.
2
A amortização e o serviço da dívida externa (os juros ou custos associados a dívida pública)
estão a atrasar investimentos importantes no sector da saúde, educação, formação profissional,
entre outros sectores.

Os investimentos já realizados com esses fundos externos, não impactam na qualidade de vida
diária do povo angolano.

“As políticas económicas e sociais são instrumentos utilizados pelo Estado


para intervir na vida económica e social da comunidade, com vista a atingir
determinados objectivos previamente definidos.
Os principais objectivos das políticas económicas são a melhoria na afectação
dos recursos a fim de chegar à expansão da produção e do crescimento e
desenvolvimento económicos, associados à estabilização dos preços e ao
equilíbrio das contas externas. [Cujo] objectivo principal é a melhoria das
condições de bem-estar através da satisfação das necessidades colectivas [Por
exemplo; saúde, emprego, redistribuição de rendimentos, etc.] ”. 3

Tantos milhões em dívida externa, porém, as condições conjunturais (de curto prazo –
inflação, desemprego, etc.) e as estruturais (médio ou longo prazo – combate da pobreza,
formação, etc.) não são resolvidos.

Face ao exposto acima é pertinente perguntarmo-nos o seguinte: onde foi aplicado o dinheiro
todo que devemos a nível externo?

Será que foi aplicado nas escolas ou no novo aeroporto ou nas estradas nacionais ou nas
linhas férreas ou nos edifícios governamentais ou na alimentação da população ou na
agricultura ou nos “marimbondos”?

Infelizmente, não temos informações transparentes acerca da aplicação desses fundos que
endivida todos angolanos hoje e os do amanhã.

Assim como relata o Jornal Expansão na edição supracitada (ibidem), “cada um dos
34.094.077 angolanos deve actualmente 1.456 USD aos credores externos. Sendo desse valor,
524 USD é a dívida de cada angolano à China”.

Talvez seja por isso que os chinocas levam nossas moedas metálicas, fios condutores de
média e alta tensão, sargetas, etc. Aliás, também comem os nossos gatos e cães, escravizam
ou maltratam os nossos irmãos nas suas empresas, exercem actividade comercial
contrabandeada ou a margem da lei, enfim.

3
- COSTA, Paulo: ECONOMIA E GESTÃO, Portugal, Nova Editora, 2007, p. 267.
3
3 - Quem são os credores estratégicos de Angola e qual é a geopolítica
nos bastidores da dívida externa?
Os credores estratégicos de Angola são a China e os EUA.

A dívida externa pressiona Angola e seu governo para um posicionamento político e


económico, face aos seus credores. A figura a seguir (figura 3) é inequívoca nos dados que
nos apresenta.

Figura 3 – Os credores Estratégicos de Angola e Geopolítica nos bastidores da Dívida Externa.

Fonte: Jornal Expansão, 8 de Março de 2024, p.7


Elaborado por: Jornal Expansão.

4
Angola e a China comungam as mesmas ideologias partidárias, isto é, quanto ao partido no
poder (partidos trabalhistas – comunistas/socialistas). Angola é dependente da China em
termos de obrigações ou dívida e venda de petróleo (a China é o maior comprador de petróleo
de Angola – antes foi o EUA).

EUA é o pai das instituições financeiras mundiais (multilaterais), dono do maior dinheiro do
mundo e o poder económico e político mundial. Angola precisa desse parceiro estratégico na
alavancagem e sustentabilidade da sua economia e posicionamento regional.

Rússia é o contrapeso do equilíbrio político e militar do mundo. Parceiro estratégico


tradicional de Angola (político e militar). Qual é o seu lugar hoje na economia e política de
Angola?

A estabilidade social e económica do povo angolano dependerá do posicionamento do seu


governo face aos colossos da economia, política e do militarismo mundial.

Finalizando, o país está sem rumo. Logo, está dançando a música daquele que toca mais alto.
Quem está a tocar mais alto nesse momento é a China, i.e., no quesito financiamento. No
entanto, os EUA não querem nos perder assim tão facilmente. Por isso, usa todas as armas
nucleares financeiras internacionais para nos colocar no cafrique. E sem fôlego, cedemos a
pressão e alinhamos com eles. Deixando de lado aquele parceiro estratégico militar e político
tradicional (A Rússia – basta dar uma olhada na pressão que a Rússia está sofrer do governo
angolano para retirar a sua empresa Alrosa da Catoca ou do sector diamantífero. Há uma mão
dos EUA nisso)4.

Nota outra confusão do confuso (do governo angolano). A China está na refinaria do Lobito
(foi reforçado isso recentemente pelo Presidente na sua visita à China). Os EUA querem
investir no corredor do Lobito (manifestação do Presidente por ocasião da sua visita nas terras
do “tio sun”.).

Já imaginou a geopolítica e a geoestratégia nos bastidores dessa confusão do governo


angolano?

Benguela nunca será “Califórnia” (promessa de Presidente do partido na situação em 2017).


Pelo contrário, será um palco de guerra fria, i.e., disputa de poder comercial daquele território
e da região austral de África (com adesão da África do Sul à comunidade dos BRICS, os EUA

4
- VOA, 23 de Outubro de 2023 (https://www.voaportugues.com); Novo Jornal, 15 de Março de 2024
(https://novojornal.co.ao)

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precisam com urgência tirar a influência da África do Sul na região austral). A aposta deles é
sem dúvida Angola.

Os fortes vão lutar (China e EUA) e os francos vão sofrer (Angola e os seus vizinhos da
região austral).

Os financiamentos feitos por essas potências não visam interesses dos angolanos. Visam
os seus próprios interesses estratégicos mundiais ou regionais.

Precisamos explorar mais as nossas potencialidades naturais. Para o efeito, precisamos apostar
seriamente na formação de qualidade do angolano. Por essa via, vamos deixar de ter um único
produto e passaremos a especialização de mais produtos. Buscando dessa forma, a vantagem
comparativa e competitiva no cenário internacional. Em consequência disso, garantiremos
mais superavit nas contas externas e maior reservas (internacionais). Seguindo esse caminho,
teremos mais divisas para amortizar os empréstimos e os serviços da dívida sem impactar
negativamente na moeda nacional.

A estabilidade social e económica do povo angolano não deve depender dos colossos da
economia, política e do militarismo mundial, ou seja, dos neocolonizadores ou exploradores.

A chave para se conseguir esse desiderato está no comprometimento social do partido que
governa perante o povo, e.g., não colocar os interesses particulares acima dos colectivos.

Termino essa minha observação sobre a dívida externa angolana com uma citação do
Professor Doutor Zanzala (parafraseando Vilfredo Pareto)5. É mais uma chamada de atenção
para quem governa e precisa criar uma economia do bem-estar.

“O bem-estar máximo, (…), ocorre quando já não há mudanças capazes de


deixar uma pessoa em melhor situação, sem deixar outras em situação pior.
Assim, o estado óptimo de Pareto implica: uma distribuição ideal de bens
entre consumidores; uma alocação técnica ideal de recursos; e quantidades
ideias de produção”.

Se os “marimbondos” melhorarem suas vidas, sem deteriorar a dos outros, então teremos o
bem-estar máximo ou estado óptimo”.

5
- ZANZALA, Julien David: BANCA ANGOLANA EM ANÁLISE – ESTUDO COM ENFOQUE NA
MODELAÇÃO MATEMÁTICA, Luanda, Nova editora, 2023, p. 138.
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