Dedini: A Força de Um Ideal

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DEDINI

a fora de um ideal

Regina Machado Leo

DEDINI
a fora de um ideal

preciso o trabalho de muitas pessoas para se forjar um ideal. A Dedini agradece a todos aqueles que contriburam no passado e hoje colaboram para que suas importantes conquistas se tornassem realidade.

Crditos Pesquisa e Edio de texto Regina Machado Leo Produo Grfica Maria Machado Leo Gomes de Moraes Consultoria Tcnica Jos Luiz Olivrio; Sergio Leme dos Santos e Tarcisio Angelo Mascarim Fotografias Paulo Altafin; arquivos Dedini; museus Histrico e Pedaggico Prudente de Moraes, Republicano Conveno de Itu e arquivo histrico Gustavo Teixeira Reviso Rafael Varela Junior Impresso Pancrom Indstria Grfica Ltda. Tiragem 2 000 exemplares
DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAO NA PUBLICAO (CIP) DIVISO DE BIBLIOTECA E DOCUMENTAO ESALQ/USP

Todos os direitos reservados.

Leo, Regina Machado Dedini: a fora de um ideal / Regina Machado Leo. - - Piracicaba: R. M. Leo, 2005. 288p. : il. Bibliografia.

Dedini S.A. Indstrias de Base Rod. Rio Claro Piracicaba, km 26,3 CEP 13.414 970 Caixa Postal 1249 Piracicaba So Paulo Brasil Impresso em 2005

I. Empresa Dedini 2. Indstria de bens de capitais 3. Indstria sucro-alcooleira CDD 338.9816

Sumrio
Prefcio
.................................

Apresentao Prlogo

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21

Introduo

A industrializao em Piracicaba . . . . . . . . 37 Modernizao das usinas . . . . . . . . . . . . . . . 60 A todo vapor


. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 93 ................

A revoluo do lcool

122

Tempos difceis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 143 Retomada do desenvolvimento


......

172

Conquistando mercados . . . . . . . . . . . . . . 197 A Dedini no terceiro milnio Atravessando fronteiras


..........

216 231 244 267

.............. ........

Responsabilidade corporativa Trabalhando pelo amanh

...........

Prefcio
Piracicaba como capital nacional do acar. Panorama da cidade e do pas no incio do sculo XX: o surgimento da indstria.

sandio exeros dolorercil utat. Ut wissed doluptat. Ut do duisl eu feugait aliquisit ut dolor aliquisisl exero odiatummy nulpute uerilit aut adigna feuismod doloreet velendre consecte dolent veliquipsum at, conse molortie corerae seniamet, vulput loreraestrud ent aute facil ing enit vulla feumsandre exer sum inim. Lorero ea faccumsan velisl euis num amconsequat. Ut eliquisl endrem quametue esto do dunt ut praesse magna faccumsan henit wisis alit ad essed magnibh exero od te feuisim eniam dolore mod dolesed euis aliquis endignibh euissequat lumsan ut dolortio esto ero od dio dolor iurem vulla core core vero conse dolorero conullu patem ent dolenisl utem eum iuscillam inci eugueriure diatuer ureet do corpercing exer augait wis nos alis nim nim dolum digna ad magna faciliquisl iriuscipit ulla feu facidunt nim ipit aut ip euismodo odiamcon utat, vulputpatue faci tie veliquis num in ver autpatum nim veniscil irit vel inibh eugiatie eliquat, vulluptat. Duip etue et lorper sim zzriusci bla facin hendiat lutpat ing ea feum velent at, quisciduisl utat augue velit elent nonsequam, core vel utat atis non hendiam onsectem iureet aut et, quat ing etue modolor aliquisl exeriuscin hendio odipit aliquisl ullumsan vel doloborper at, ver susci tat dolore dip ero core dion veliquis nibh eugue magnit in velit at, vel er iurero exer sed modigna feummy nullam velestrud min hendrer sit nis alisisi tat la am dolore Loreet nostie estrud mincidunt lor illan ex ero dio dolobore magna feu feugait, sed moloreet, quisi te esting ex et irit ip eum qui
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Naquela poca, a Dedini teve importante e inquestionvel papel. Maior produtora nacional de bens de capital destinados ao setor sucroalcooleiro, ela foi responsvel pela construo de inmeras destilarias em vrios pontos do Pas, que passaram a produzir o combustvel automotivo. Por inmeros motivos, o Prolcool foi desacelerado, mas, hoje, decorridos mais de 30 anos, o mundo inteiro se interessa pela pioneira experincia brasileira. No incio do sculo XXI, o panorama energtico se transformou. Alm dos aumentos sucessivos dos preos do petrleo, que permanecem em patamares elevados, o mercado internacional do lcool se consolidou, com a deciso de muitos pases de adicion-lo gasolina. Paralelamente, com a introduo dos veculos com combustvel flexvel no Brasil, que hoje j ultrapassaram um milho de unidades fabricadas, alcanou-se maior estabilidade no mercado domstico. Com certeza, o que estamos assistindo, nos dias atuais, a transio da civilizao dependente do petrleo para uma nova matriz energtica, de combustveis vegetais, que se tornaro, a partir ele agora, importantes commodities no mercado internacional. Mais uma vez, as empresas Dedini - fiis a seu passado de constantes inovaes, em termos de solues industriais, sobretudo, aquelas voltadas para o setor sucroalcooleiro - voltam a desempenhar papel decisivo. Aliando-se a parceiros internacionais, capacitaram-se para atender a esse novo mercado de biocombustveis e, atualmente, puderam fornecer bens e plantas completas para as indstrias que j esto produzindo biodiesel no Brasil. Nesse contexto, o Plano Nacional de Agroenergia, lanado recentemente em Piracicaba, contribuir para a definitiva consolidao dos biocombustveis no Brasil. Elaborado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuria (Embrapa), o plano cria as bases para o consrcio Brasileiro de Agroenergia, que rene vrios rgos de governo, alm de empresas privadas. O fundo de investimento que alavancar seu desenvolvimento vai contemplar a pesquisa em agroenergia, estudando mais de quarenta variedades vegetais oleaginosas, espcies florestais destinadas produo energtica, e o aproveitamento de resduos e biogs, entre outras fontes.
Colaboradores da Fundio Dedini (Piracicaba, SP) em outubro de 2005

O Brasil possui todas as condies para assumir a liderana mundial na produo de energia limpa e renovvel. Para tanto, precisamos, mais que nunca, que a tecnologia de produo, em todos os nveis, seja cada vez mais eficiente, para gerar produtos competitivos no exigente mercado internacional. E essa ser, sem dvida, a grande contribuio da Dedini para o desenvolvimento do nosso Pas.

Roberto Rodrigues
MINISTRO DE ESTADO DA AGRICULTURA, PECURIA E ABASTECIMENTO

Apresentao

o ano em que a Dedini completa 85 anos de existncia, resolvemos editar este livro para contar uma histria de muita dedicao, trabalho, sacrifcios, e, principalmente, de muito idealismo. Com esta iniciativa, queremos prestar nosso tributo a seu fundador, Mario Dedini, que, nos distantes anos 1920, abriu as portas, ao lado do irmo Armando Cesare, de uma modesta oficina mecnica, que se transformaria na maior indstria da cidade de Piracicaba, durante muito tempo, criando milhares de empregos, e influenciando, decisivamente, no seu progresso. Tal fato no foi, porm, seu maior feito: esse homem simples e decidido, lder nato, nos deixou um inesquecvel legado de honestidade, amor ao prximo, responsabilidade e superao incessante de desafios, que permanece presente em todas as decises da empresa e permeia, at hoje, nossa atuao. Baseados nesses princpios, construmos o fundamento da nossa estratgia empresarial: total respeito ao clientes, comprometimento com a modernizao tecnolgica e valorizao constante dos nossos colaboradores, pois eles so nosso maior patrimnio. Dessa forma, este livro pretende ser, tambm, uma homenagem a todos aqueles que de alguma forma contriburam para que pudssemos chegar at aqui. Essa publicao mostra que no se consegue desassociar a longa trajetria da Dedini da evoluo recente do Brasil. Verifica-se que a empresa sobreviveu, ao longo do tempo, a todas as influncias das

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diferentes conjunturas vividas pelo pas, desafiando suas crises e aproveitando os perodos de progresso e crescimento. A histria da Dedini , tambm, a histria da indstria de bens de capital do Brasil, setor indispensvel para seu desenvolvimento, sobre o qual se apia toda a cadeia produtiva, extremamente sensvel aos percalos da economia. Com persistncia e confiana, a Dedini conseguiu vencer todos os desafios e agora vive um momento extremamente promissor, por causa do reconhecimento generalizado da importncia das energias limpas e renovveis, como o lcool e o biodiesel, e da busca incessante por solues ambientalmente corretas. Nesse contexto, possumos uma matriz extremamente dinmica de produtos, alinhada aos aspectos do meio ambiente, energia, produtividade e otimizao de recursos industriais, o que vem nos garantindo constante expanso e crescimento. Dessa forma, encaramos o futuro com bastante otimismo, e nos unimos ao esforo de todo o setor produtivo para construir um pas melhor, em que se busca resultados em longo
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prazo, buscando a plena realizao das pessoas, e em consonncia com um objetivo muito maior, que ultrapassa os resultados financeiros, e contempla, antes de tudo, o desenvolvimento sustentvel. Finalmente, a histria da Dedini, mostrada neste livro, nos leva a refletir sobre a importncia, para as geraes futuras, de dar continuidade a esse grande projeto empresarial, que atua em setores estratgicos da economia nacional influencia, de forma to decisiva, na vida da comunidade. Temos certeza que nossos sonhos sero, sempre, o motor que move nossa vontade, criando motivao e comprometimento para continuar com essas realizaes apaixonantes, narradas ao longo desta publicao.

Dovilio Ometto
PRESIDENTE

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Piracicaba como capital nacional do acar. Panorama da cidade e do pas no incio do sculo XX: o surgimento da indstria brasileira.

Prlogo

ezesseis de janeiro de 2004, dezesseis horas. Nos gramados recm-aparados da Fundio, a mais nova unidade industrial da Dedini situada no Bairro da Cruz Caiada, margem da rodovia que liga Piracicaba a Rio Claro pousa um helicptero da Fora Area Brasileira. Dele, descem o presidente Luiz Incio Lula da Silva e sua comitiva. A recepo feita pelo governador Geraldo Alckmin, pelo prefeito de Piracicaba, na poca, Jos Machado, por diversas autoridades e por diretores da empresa. No essa a primeira vez que um presidente da Repblica vem inaugurar uma fbrica da Dedini. Em 1958, Juscelino Kubitschek, acompanhado do ento governador Jnio Quadros, comandou as festividades de abertura da Siderrgica Dedini S.A. A indstria logo se firmou no cenrio nacional na produo de vergalhes para a construo civil, gerando empregos e divisas, e cumprindo importante papel social na cidade e na regio. Naquela ocasio, Kubitschek fez questo de deixar seu testemunho escrito de prprio punho: Como Presidente da Repblica, dominado pela preocupao de estabelecer bases slidas e poderosas indstria do meu pas, quero louvar, com calor e entusiasmo, iniciativas como estas de Mario Dedini, que contribuem para a emancipao econmica do Brasil e firmam, assim, os alicerces da nossa soberania. Essa era, ento, a palavra de ordem: estimular a industrializao. Logo aps sua posse, JK ressaltava a necessidade de adotar-se uma nova mentalidade dinmica e moderna, e de um estado de esprito propcio ao desenvolvimento. E assim surgiram, naquela poca, principalmente

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em So Paulo, as fbricas de automveis e autopeas, de eletrodomsticos, as metalrgicas e muitas outras, que, ativaram o consumo, trazendo progresso. Atualmente, o Brasil vive novamente um clima de otimismo. Em seu discurso de janeiro de 2004, em Piracicaba, o presidente Lula reafirmou sua crena no desenvolvimento da indstria nacional, louvando as vantagens competitivas do pas na fabricao de lcool, de acar e de bens de capital voltados para atender esse setor. Nesse cenrio propcio ao crescimento, a Dedini se prepara para vencer os novos desafios com tenacidade e confiana. Ao completar 85 anos, apresenta-se com fbricas no estado de So Paulo (Piracicaba e Sertozinho) e no Nordeste (Recife e Macei), onde trabalham cerca de 4 000 colaboradores, produzindo plantas completas e equipamentos para usinas de acar e destilarias, responsveis por 80% do lcool produzido no Brasil. Alm disso, a Dedini produz cervejarias, fbricas de sucos e fertilizantes, unidades de energia e de co-gerao, e de tratamento de efluentes industriais. Atua, tambm, nos setores de papel e celulose, qumica e petroqumica, siderurgia, alimentos e peas fundidas. Liderando a produo nacional de bens de capital destinados a usinas de acar e destilarias de lcool, a tradicional empresa vem cumprindo importante papel na modernizao do setor, como agente difusor de inovaes tecnolgicas. Na cidade onde se instalou, a Dedini foi sempre um importante vetor de desenvolvimento, contribuindo em obras de melhoria de infra-estrutura e de grande alcance social, gerando empregos, e formando mo-de-obra altamente especializada. Ao longo do tempo, as empresas Dedini se constituram verdadeiros celeiros de novas indstrias, pois muitos de seus antigos funcionrios aproveitaram a experincia nelas adquiridas para montar seus prprios negcios. Graas a isso, Piracicaba tornou-se um dos mais importantes plos nacionais de produo metalrgica e mecnica. Sua forte influncia extrapolou os limites do municpio, medida que possibilitou a nacionalizao de inmeros equipamentos antes importados, e contribuiu decisivamente para o aumento da produtividade no setor de acar e lcool. Hoje, o Brasil lidera o mercado internacional, oferecendo essas duas commodities a preos inferiores aos

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Fundio Dedini em 2005

dos concorrentes de outros pases, cujos fabricantes, muitas vezes, se beneficiam de polticas protecionistas de seus governos. No incio desse terceiro milnio, a Dedini aproveita a grande experincia adquirida no seu passado de trabalho, e a dedicao permanente de seus colaboradores para enfrentar novos desafios que lhe so colocados, na produo de bens de capital sob encomenda de alta qualidade. Para tanto, vem assumindo plenamente suas responsabilidades e compromissos com a comunidade em que se acha inserida e, tambm, com a preservao do ambiente. Essa atuao, para ela, no nenhuma novidade, como pode-se verificar na histria que ser agora contada.

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INTRODUO

Tradio canavieira
Se se olha para o nascente, se v flora diferente. S canaviais e suas crinas, e as canas longilneas de cores claras e cidas, femininas, aristocrticas...
Joo Cabral de Melo Neto, 1979.

Canavial no municpio de Piracicaba (SP)

verde brilhante e vioso dos canaviais sempre constituiu um elemento marcante na paisagem de Piracicaba, situada no corao do estado de So Paulo. Estendendo-se por colinas suaves e vales frteis, a cana-de-acar influenciou decisivamente a vida da cidade e determinou seu desenvolvimento, por meio da fabricao de acar, lcool, aguardente e da produo de equipamentos destinados a esses processos industriais. No passado, e, durante muito tempo, as lavouras de cana se estendiam a perder de vista em toda a regio. As plantas cresciam com vigor, beneficiadas pelas condies propcias. Quando maduras, com seus colmos repletos de acar, eram preparadas para a colheita: primeiro, ardiam em chamas durante toda a noite, para, na madrugada seguinte, serem cortadas habilmente por um exrcito de trabalhadores, encarregados de coloc-las a bordo dos caminhes que as transportariam, dia-e-noite, para as usinas, onde as moendas extraam o caldo doce. Hoje, a situao mudou bastante: as queimadas esto desaparecendo, pelas exigncias das leis ambientais, e os trabalhadores so substitudos por mquinas possantes. O grande nmero de engenhos e usinas existentes no municpio reduziu-se, atualmente, a apenas uma unidade, ainda em funcionamento. As extensas plantaes de cana perderam espao

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Salto do rio Piracicaba, no final

para outras culturas, sendo pressionadas, tambm, pela expanso urbana. Mesmo assim, as atividades relacionadas com a cana-de-acar e seus derivados ainda desempenham importante papel na vida da cidade, desenvolvendo-se em perfeita sintonia com a indstria de bens de capital surgida, inicialmente, para atender s demandas dos produtores rurais. A agroindstria canavieira a mais antiga atividade agrcola brasileira assumiu, nos dias atuais, nova e importante dimenso, que extrapola as fronteiras do pas, com a possibilidade de substituio da gasolina pelo lcool e de aproveitamento do bagao para gerao de eletricidade, que representam alternativas energticas ambientalmente corretas.

do sculo XIX. No seu entorno, iniciou-se o povoamento da cidade

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margem do rio
A exemplo de outras regies do Brasil, o efetivo povoamento de Piracicaba iniciou-se na segunda metade do sculo XVIII. Suas terras eram, at ento, praticamente desabitadas, simples passagem para quem se dirigia para Cuiab, por uma longa picada aberta nas matas. O progresso s chegou quando se esgotaram os veios de ouro no interior do pas, encerrando o ciclo da minerao: a nica alternativa que restou aos paulistas foi se dedicar ao cultivo da terra, atividade que, antes, eles menosprezavam. Em 1765, o governador da provncia, o capito portugus Luiz Antonio de Souza Botelho e Mouro, conhecido como Morgado de Mateus, comeou a estimular o aumento do nmero de povoaes em So Paulo, baseadas no desenvolvimento agrcola. Assim, surgiram, alm de Piracicaba, So Jos dos Campos, Itapetininga, Registro e muitas outras localidades. Para oficializar a fundao do povoado, Morgado de Mateus mandou Antonio Correa Barbosa, exmio fabricante de barcos de Itu. Ele desobedeceu s ordens do

governador, que desejava criar um posto de abastecimento no rio Tiet, e estabeleceu o ncleo a setenta quilmetros acima do ponto indicado, nas proximidades da bela cachoeira existente no Piracicaba, conhecida como o salto. Sob sua direo, o modesto povoado comeou a organizarse: a mata fornecia madeira para o fabrico de canoas e a terra era frtil para o plantio. O ncleo original desenvolveu-se margem esquerda do rio, a partir de uma pequena igreja, com plantaes a sua volta. Comeava, assim, a explorao agrcola, que segundo Mario Neme (1974) fixou o homem terra, ergueu cidades, abriu estradas e deu aos paulistas sua primeira fonte de riqueza estvel e organizada. A cana-de-acar apareceu como uma alternativa natural de plantio, pois sua tcnica de cultivo j era dominada desde os tempos dos primeiros colonizadores. Essa explorao traria grande expanso para o estado paulista, com a abertura de novas vias terrestres e a reativao de outras abandonadas. As lavouras irradiaram-se de Campinas, Itu e Porto Feliz para Capivari, e alcanaram Piracicaba, onde as

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terras se mostraram favorveis a seu desenvolvimento.

Acar e aguardente
Dessa forma, em 1816, a ento freguesia de Piracicaba, com 2 000 habitantes, solicitou sua emancipao administrativa de Itu e sua elevao condio de vila. Um dos argumentos apresentados para conseguir tal melhoria foi o fato de possuir catorze engenhos de acar e quatro de aguardente, estando doze em fase de organizao. O cultivo de cana e a fabricao de acar e aguardente passaram a ser as principais atividades econmicas da cidade e, por ocasio de sua transformao em Vila Nova da Constituio, em 1822, o ncleo de povoamento encontrava-se cercado de engenhos e canaviais, com estrutura fundiria bem definida: as grandes propriedades plantavam e processavam o produto, enquanto as menores, mais afastadas da vila, instalaram-se em reas abertas, intercaladas com matas, dedicando-se pecuria e agricultura de subsistncia. A legislao exigia uma distncia de meia lgua entre

os engenhos instalados, mas, muitas vezes, no era obedecida. Em 1836, Piracicaba tornara-se um dos ncleos mais prsperos da provncia, contando com 78 engenhos, normalmente movidos a trao animal, pois sua montagem era mais fcil e barata. A maior parte dos engenhos da regio fabricava o chamado acar batido, denominao usada desde os tempos coloniais para qualificar sua produo: essa era a quarta categoria existente, depois do acar branco macho, do redondo e do inferior, conforme explicou o jesuta Joo Antonio Andreoni, o Antonil, no livro Cultura e Opulncia, de 1711. Telarolli (2004) relatou a forma mais comum de obteno de acar batido em Piracicaba. Segundo ele, o mel proveniente de acar macho, na casa de purgar, escorria atravs de um furo existente na base das formas, em que se obtinham os pes de acar, com a ajuda da filtragem pelo barro. O caldo assim obtido era aquecido em um tacho colocado sobre a fornalha, alimentada, geralmente, com lenha; a borra, formada superfcie, era retirada com uma grande escumadeira, e aproveitada como rao animal.

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Ainda aquecido, o caldo era transferido para mais dois tachos para decantar, operao feita com auxlio de conchas de cabo longo. Aps a verificao do ponto adequado de cozimento, com retirada de uma amostra, a massa fervente era despejada em caixas de madeira. Nesse momento, com o acar ainda quente, dois trabalhadores, um de cada lado, batiam com uma enxada, esparramando, mexendo e raspando at o fundo da caixa. O resultado era um acar moreno, tipo mascavo.

Novo ciclo econmico


A partir do sculo XIX, a economia canavieira nacional foi bastante prejudicada pela conjuntura internacional. Nessa poca, a fabricao do acar feito de beterraba alcanou grande desenvolvimento na Europa, chegando a superar o da cana-de-acar. Assim, os europeus libertaram-se do fornecimento do produto proveniente das Amricas. Por outro lado, a indstria aucareira das Antilhas, adotando tcnicas e equipamentos mais avanados, expandira-se bastante, e passou a fazer forte concorrncia ao Brasil, em termos de

qualidade e preo. Para piorar as coisas, no incio do sculo XIX, pases como Inglaterra, Frana e Holanda estabeleceram barreiras compra do acar brasileiro, em favor de suas colnias. Diante da conjuntura desfavorvel, os preos do produto, em 1830, caram pela metade, e a indstria nacional ainda sofria deficincias internas, empregando tcnicas rudimentares no cultivo e processamento da cana. Alm disso, as embalagens do acar destinado exportao eram precrias, em caixotes de madeira; sua perecibilidade aumentava, devido ao mau estado das vias terrestres, especialmente na estao chuvosa. Assim, o Brasil perdeu, aos poucos, a liderana na produo aucareira. No estado de So Paulo, os agricultores voltaram-se, ento, para a explorao de outra cultura que apresentava maior potencial de venda: o caf, que j havia se instalado no Rio de Janeiro e se estendia pelo vale do Paraba. Piracicaba no escapou do declnio do acar e expanso do caf. Mesmo perdendo espao, no entanto, as lavouras de cana nunca chegaram a desaparecer,

A cultura da canade-acar propiciou o estabelecimento dos primeiros moradores de Piracicaba, determinou seu desenvolvimento e transformou a cidade, no passado, na capital nacional do acar.

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apesar de apresentarem desempenho mais modesto e continuarem sendo cultivadas por meio de tcnicas arcaicas. Em 1836, juntamente com Itu, Porto Feliz e Capivari, Piracicaba fornecia aproximadamente metade do acar produzido e exportado no estado. Alm do caf, tambm o algodo passou a competir com a cana em rea plantada no municpio, entre 1860-1870. Como ocorreu em outros pontos do pas, a transformao dos antigos engenhos em grandes usinas processou-se de forma bastante lenta, a partir de 1875, atravessando toda a primeira metade do sculo XX. A estrutura da produo, herdada dos tempos coloniais, era muito atrasada, baseada em instalaes precrias e aparelhos de baixo rendimento. O mesmo obsoletismo verificava-se na indstria. A utilizao do bagao como combustvel, prtica conhecida h algumas dcadas em outros pases, s foi introduzida no pas por volta de 1857, inicialmente na Bahia, passando, depois a ser de uso generalizado em Pernambuco e em outros locais. Assim, muitos engenhos, paralisados pela falta de lenha, puderam voltar atividade.

Com o decorrer do tempo, no entanto, houve algumas inovaes tcnicas no setor: o ano de 1817 marca a introduo do vapor na agroindstria canavieira. Pernambuco importava tantas mquinas desse tipo da Inglaterra que, em 1829, a empresa Harrington & Star montou uma fundio no Recife para a fabricao de peas. Logo depois, David Bowmann instalou outra; surgiu, tambm, uma firma nacional, a Fundio dAurora, que se aventurou na construo de aparelhos completos. Apesar do pioneirismo da metalurgia pernambucana, o governo do Rio de Janeiro, pressionado, talvez, pelos fornecedores ingleses de equipamentos, resolveu acabar com a primeira fbrica de motores a vapor instalada na Amrica do Sul. Em 1836, as importaes para maquinrios agrcolas foram consideradas isentas de pagamentos de impostos, e impuseram taxas sobre o ferro bruto e outros metais necessrios s fundies. O Segundo Imprio transcorreu em um quadro de contradies no setor aucareiro, com o antigo coexistindo com a modernidade. Em 1852, foram

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introduzidas novas moendas na agroindstria canavieira em Pernambuco, desenvolvidas pelos irmos Alfredo e Eduardo de Mornay, que aumentaram em 50% seu rendimento.

para se libertar do fornecimento irregular de terceiros. Discorrendo sobre o assunto, a escritora Silvia Sampaio (1976) explicou que o antigo engenho funcionava somente com um terno de moendas, acionado por mquina a vapor, e a evaporao efetuava-se a fogo direto. Em conseqncia, era baixa a recuperao do acar contido na cana. A elevada porcentagem de desperdcios industriais fazia com que o produto obtido fosse mais impuro, de pior aspecto e de conservao mais difcil. O processamento exigia grande nmero de trabalhadores, portanto, seu custo de fabricao era elevado. A moderna usina, por sua vez, utilizava a evaporao a vcuo da gua contida no caldo da cana. Ao longo do tempo, os conjuntos de moendas, sempre com maior capacidade de extrao, passaram a retirar da cana o mximo de acar, utilizando o bagao nas fornalhas das caldeiras como fonte energtica. A qualidade do produto pde, ento, ser melhorada, obtendo acar cristalizado com menos impurezas. Do melao, era possvel fabricar o lcool. Os proprietrios eram pessoas

Surgem os engenhos centrais


Um fato novo ocorreu em 1875, quando o governo imperial passou a incentivar a tradicional indstria aucareira no Brasil. A tentativa visava melhorar o rendimento das lavouras e modernizar a fabricao. Surgiram, assim, os engenhos centrais, grandes unidades destinadas moagem de cana e processamento do acar, que se constituram em embries das modernas usinas. Inicialmente, tais estabelecimentos foram financiados pelo capital estrangeiro e receberam garantias do governo para seu funcionamento. Favorecidos, tambm pelo desenvolvimento de ferrovias, que possibilitou a vinda da matria-prima de locais mais distantes, os engenhos centrais comearam a instalar-se. Por volta de 1890, j cultivavam sua prpria cana,

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Engenho Central de Piracicaba: uma das mais importantes indstrias da cidade, at 1920

jurdicas, a grande maioria, sociedades annimas, buscando a reduo de custos da produo, e a melhoria da produtividade. Graas aos incentivos do governo, surgiram muitos interessados na instalao de engenhos centrais: dos 87 projetos aprovados, no entanto, foram implantados, efetivamente, doze engenhos centrais no pas. Em Piracicaba, aproveitandose dos subsdios concedidos pela Lei imperial 1.237, foram criados dois empreendimentos desse tipo

pioneiros em So Paulo a Cia. do Engenho Central, em 1881, e o Engenho Central Monte Alegre, em 1888, fundado por Antnio Alves Carvalho. O primeiro resultou da fuso de capitais franceses com os dos poderosos fazendeiros da regio, Estevo de Rezende, o futuro Baro de Rezende, e o Baro de Serra Negra. Assim, a empresa instalou-se margem direita do rio Piracicaba, visando o aproveitamento da gua para movimentao de mquinas. O Engenho Central entrou, oficialmente, em operao, em

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1883, e, at o final dos anos 1920, foi a maior e a mais importante indstria da regio. Era praticamente auto-suficiente, pois, alm, do processamento industrial, cuidava da produo e do transporte de sua matria-prima. Todos os equipamentos e materiais necessrios a seu funcionamento foram importados da Frana, fabricados pela Brissonneau Frres & Companie, de Nantes. A cana era fornecida pelas fazendas do Baro de Rezende, incorporadas ao patrimnio da usina. Para seu transporte, foram construdos quinze quilmetros de linha frrea, das lavouras at o interior da fbrica. Os trens saam do Engenho, percorriam a chamada avenida dos bambus (hoje, avenida Maurice Allain), trafegando paralelamente aos trens da Cia. Sorocabana, em direo estao Baro de Rezende. Desde sua criao, o Engenho Central enfrentou muitas crises, que exigiram vrias reestruturaes societrias, com diferentes denominaes: Empresa do Engenho Central (1881), Niagara Paulista (1891), Societ de Sucrrie de Piracicaba (1899) e, finalmente, Societ de Sucrrie Brsilienne (1907). Esta ltima,

cuja sede era em Paris, possua, tambm, unidades produtivas em outros locais. O Engenho Central de Piracicaba, possua vrios alqueires de terra no entorno, que, mais tarde, foram incorporados ao bairro da Vila Rezende. Seu primeiro gerente foi Holger Jensen Koch, substitudo por Daniel Rinn. Posteriormente, outros profissionais dirigiram o empreendimento, a maioria deles de nacionalidade francesa. Esses administradores introduziram novas tecnologias e importaram equipamentos modernos, contribuindo para o desenvolvimento da produo de acar e lcool no Brasil. Em 1884, o Engenho Central de Piracicaba produziu 30 000 arrobas de acar, enquanto todos os outros estabelecimentos existentes no estado de So Paulo, somados, fabricaram, apenas, 16 000 arrobas. Naquela poca, o produto perdia terreno para o caf e havia muitos engenhos desativados, chamados de fogo-morto. O Engenho Central reativou a produo aucareira e devolveu a Piracicaba a posio de centro tradicional nessa fabricao.

Os engenhos centrais tornaram-se


agentes de mudana na tradicional indstria aucareira brasileira. Promoveram maior utilizao das estradas de ferro e do trabalho livre, incentivaram a substituio da trao animal pelo uso do vapor como fora motriz, e introduziram equipamentos mais avanados na fabricao do acar.

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Crise nos engenhos


No final dos anos 1800, os engenhos centrais comearam a entrar em crise. Os diversos estudos sobre as causas desse fracasso apontam a retrao do mercado internacional, os problemas com o fornecimento de cana, a falta de planejamento nos transportes e no emprego de capitais. Eles sofreram, tambm, com a inexperincia de muitos administradores, com a dificuldade de substituio de peas dos maquinrios, e a deficincia de mo-de-obra especializada para realizar os reparos necessrios nos equipamentos. Alm disso, o desinteresse de fornecedores, que preferiam produzir aguardente, ou mesmo acar pelos velhos mtodos, e o custo excessivo representado pela aquisio de lenha para as caldeiras, que, muitas vezes, era consumida em volume quase equivalente ao da cana moda, contriburam para a derrocada do modelo proposto. Em sua maioria, esses estabelecimentos acabaram arrematados pelos prprios fornecedores de equipamentos, ou por seus prepostos, como aconteceu com os engenhos centrais de Piracicaba, Porto Feliz, Rafard e Lorena, no estado de So Paulo, adquiridos pelos prprios franceses que os montaram. Dessa forma, surgiu, no incio do sculo XX, a Cia. Sucrrie Brsilienne, que se transformou na maior produtora de acar de So Paulo.

Tempos de mudana
De qualquer forma, ao tentar reduzir os custos de fabricao com a introduo de novas tcnicas no setor, decretava-se o fim dos velhos engenhos: eles acabaram feridos de morte pelo emprego do vapor como fonte de energia. As novas moendas podiam processar maiores quantidades de cana, extraam grandes volumes de caldo, e obrigaram a reformulao dos mtodos tradicionais de fabricao. Nessa poca, alguns engenhos evoluram e transformaram-se em usinas. Outros limitaram-se a eliminar as fornalhas tradicionais os bangs , que lhes davam o nome, adotando, quando muito, o processo a vcuo e as turbinas, ficando na metade do caminho do desenvolvimento tecnolgico. As novas indstrias assim constitudas tambm utilizavam a matria-prima proveniente de

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Fazenda Monte Alegre, em 1845, onde foi instalado um engenho central que se transformou, mais tarde, em usina

seus prprios canaviais, o que as tornava mais independentes do fornecimento de terceiros. Com o tempo, a essas novas unidades, denominadas usinas de acar, somaram-se outras, de iniciativa privada, tanto no Nordeste, que concentrava a maior parte da produo brasileira, como em So Paulo. Aproveitando a poltica governamental de incentivo produo aucareira, outro Engenho, o de Monte Alegre, foi modernizado e teve sua capacidade industrial aumentada, em fins do sculo XIX. Com financiamentos obtidos

junto ao Banco Real de So Paulo, suas instalaes foram remodeladas, transformando o velho engenho em uma usina que, em 1910, foi incorporada Sociedade Annima Refinadora Paulista S. A., de propriedade da famlia Morganti. Mais tarde, durante a dcada de 1920, o estabelecimento teria grande expanso, tornando-se um dos maiores complexos agroindustriais do acar do estado de So Paulo. A pesquisadora Eliana Tadeu Terci destaca que a modernizao da arcaica estrutura produtiva da indstria aucareira, com o advento dos engenhos centrais

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e das usinas, desencadeou um processo de transformaes tcnicas, econmicas e sociais no municpio de Piracicaba. As usinas, embora mantivessem as fases de produo dos engenhos, modificaram o processo de fabricao, adotando, alm de profissionais mais especializados, novo padro tcnico e de controle administrativo. A partir de 1889, o acar comeou a perder gradativamente posies nas exportaes brasileiras, e o setor foi abalado por uma srie de desequilbrios entre a oferta e a demanda. Mesmo com a crise, em 1896, o municpio de Piracicaba era, ao lado de Capivari, o maior fabricante de acar do estado, cabendo a Santa Brbara o primeiro lugar em aguardente. Por outro lado, observa-se que, mesmo em seus tempos ureos, o caf no chegou a alcanar grande destaque na regio. No final do sculo XIX, a cidade de Piracicaba beneficiouse, tambm, do dinamismo de Luiz Vicente de Souza Queiroz, precursor do processo de industrializao local. Em 1876, o arrojado empresrio empregou seus capitais na instalao de uma fbrica de tecidos, a partir do algodo, qual deu o nome de

Santa Francisca. O estabelecimento, chamado, mais tarde, de Arethuzina, foi, posteriormente, adquirido por outros empreendedores e, em 1918, transformou-se na Cia. Agrcola e Industrial Boyes, controlado por empresrios de origem inglesa. Outra agroindstria, com mentalidade mais moderna, surgiu, ainda, em Piracicaba, em 1911: a usina Capuava, fundada pelo empresrio Cristiano Mathiessen, de origem dinamarquesa. Com orientao tcnica avanada para a poca, j possua, em 1921, lavouras de cana mecanizadas, prtica, ento, pioneira. Trs anos depois, foi implantada ao lado do estabelecimento uma unidade de produo de gs carbnico, a partir da fermentao do caldo da cana, fato indito no Brasil. A fabricao de acar foi paralisada em 1945, quando a empresa deixou de ser familiar para transformar-se em sociedade annima. Prosseguiu, entretanto, fabricando aguardente e, tambm, gs carbnico, a partir de leo combustvel, at os anos 1970.

Benefcios do caf
Graas breve passagem das lavouras de caf rumo ao Oeste, a

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cidade pde, tambm, melhorar, relativamente, o transporte ferrovirio. Apesar de precrios, os trens serviram para que as usinas de acar pudessem escoar suas produes durante muito tempo. O surto cafeeiro promoveu, tambm, a vinda de imigrantes para trabalhar nas lavouras da regio (ver boxe p. 34). Geralmente eram italianos que permaneceram fiis sua origem rural. Aproveitando o desmembramento de grandes glebas de terras no interior do Brasil, conseguiram tornar-se proprietrios, a maioria fornecendo cana para os engenhos centrais e usinas. o caso tpico de Santana e Santa Olmpia, dois bairros rurais de Piracicaba, situados a doze quilmetros do centro da cidade, fundados em 1877 por tiroleses, imigrados do Trento, ento territrio austraco. Uma dessas famlias, os Vitti, conseguiu adquirir uma fazenda que, a partir de 1910, comeou a ser dividida entre seus descendentes. Com a crise do caf, os tiroloses passaram a cultivar cereais, mas logo depois plantaram cana, pois prximo dali, um pequeno engenho de aguardente se transformaria na maior usina da regio,

at hoje em funcionamento: a Costa Pinto, da qual os tiroleses se tornariam importantes fornecedores de matria-prima. Observa-se que os dois tipos de lavoura dominantes do cenrio piracicabano, no final do sculo XIX e no incio do seguinte, no apresentaram o aspecto de esvaziamento observado em outras reas do pas, quando entraram em decadncia. A cana, responsvel pelos primeiros desbravamentos, s perdeu intensidade por volta de 1850. Cedeu espao apenas durante um curto perodo ao caf, instalado em Piracicaba por ocasio de sua passagem para a regio Oeste paulista. A explicao para este fato que os agricultores preferiram ampliar as lavouras de cana e aperfeioar os antigos engenhos, do que instalar novos maquinrios para o benefcio do caf. Assim, durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), quando So Paulo tornou-se importante plo aucareiro, ameaando a hegemonia de Pernambuco, ento, o principal estado produtor do Brasil, Piracicaba expandiu ainda mais a fabricao de acar e os canaviais firmaram definitivamente seus domnios na regio.

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CHEGAM OS IMIGRANTES
Fazer a Amrica foi o sonho de muitos italianos que deixaram a ptria a partir da segunda metade do sculo XIX. Calcula-se que, de 1878 at os dias atuais, cerca de um milho e meio de pessoas daquele pas estabeleceramse no Brasil. O fenmeno concentrou-se mais entre 1887 a 1902, quando o nmero de imigrantes ultrapassou a cifra de 900 000 indivduos. A Itlia vivia, ento, aps a unificao de seu territrio, momentos de modernizao no campo, principalmente no Norte. Os agricultores ali estabelecidos, perseguidos pela grande presso demogrfica e castigados por altos impostos, no conseguiam sobreviver, restando-lhes como sada vender suas terras e trabalhar para os grandes proprietrios rurais, ou ento, nas indstrias emergentes no pas. Para esses modestos camponeses, tornara-se impossvel praticar economia de subsistncia, em funo da unificao monetria, do aparecimento do sistema fiscal nacional e de um tmido movimento de capitalismo agrrio. Por isso, a alternativa de imigrao era uma oportunidade para essas pessoas melhorarem de vida, trabalhando em locais onde pudessem aproveitar a experincia j adquirida. E principalmente nas lavouras do Brasil, que, ento, necessitavam de grandes contingentes de mo-de-obra para sua expanso. Dessa unio de interesses, estabeleceu-se um intenso fluxo migratrio entre os dois pases, estimulado por intensa propaganda efetuada pelos agentes das companhias de navegao. Muitas vezes, estes acenavam com falsas promessas de enriquecimento rpido e de liberdade, contando maravilhas sobre a nova terra. Aos imigrantes italianos apresentavam-se, de imediato, duas possibilidades: trabalhar nas fazendas de caf ou nas colnias de povoamento nas reas de fronteira. Mais tarde, quando decidiram transferir-se para os centros urbanos, os imigrantes desempenharam importante papel no desenvolvimento do setor industrial e de servios. O percurso Itlia-Brasil era feito em aproximadamente trs semanas pelos navios a vapor. Em seu interior, reinava uma separao rgida entre a primeira, segunda e terceira classes. Nesta ltima, onde o espao era mais precrio, os viajantes passavam a maior parte do tempo no convs, quando as condies climticas permitiam. A superlotao, a pouca variedade de alimentos e a higiene precria podiam provocar a difuso de doenas. A bordo desses navios estreitavam-se os laos de solidariedade, embora houvesse dificuldades de comunicao, pois muitas pessoas falavam diferentes e incompreensveis dialetos. De qualquer forma, a ansiedade, a preocupao com o futuro e a esperana de encontrar oportunidades na nova ptria eram sentimentos comuns a todos. No Brasil, aguardava-se com ansiedade essa mo-deobra estrangeira que viria substituir os escravos, libertados pela Lei urea, em 1888. Eles se dirigiram para vrios pontos do pas, desde o Nordeste at os estados do Sul, inclusive, na Amaznia; mas foi em So Paulo onde se estabeleceram 70% dos recm-chegados. Para receb-los, foi criada, na Capital, uma hospedaria que podia abrigar 1 200 pessoas, mas teve de acolher, em determinados momentos, at 6 000 imigrantes. Ali eles eram registrados, recebiam refeies e aguardavam transporte ferrovirio para as fazendas do interior. Nessas propriedades, que viviam o apogeu do ciclo do caf, famlias inteiras eram contratadas. Somente parte do pagamento era feita em dinheiro (proporcional ao nmero de plantas que os agricultores cuidavam); o restante era representado pela permisso de criar animais e cultivar pequenas lavouras de subsistncia. Dessa forma, muitos italianos trabalharam arduamente e conseguiram juntar economias para adquirir suas prprias terras. Outros preferiram encarar os desafios dos centros urbanos, preenchendo vazios no mercado de trabalho com a prestao de servios e, principalmente, na indstria. Quem soube aproveitar as oportunidades e contou com um pouco de sorte, conseguiu amealhar verdadeiras for-

Presena italiana em Piracicaba: artistas do Circolo Drammatico Italiano Vittorio Alfieri, fundado por Giuseppe Campagnoli, em 1897, que faziam recitais e espetculos na cidade

tunas, conquistando rapidamente posies importantes na dinmica e flexvel sociedade da poca. Assim, at 1915, registrou-se uma forte preponderncia de mo-de-obra rural e ncleos com baixo nvel de escolaridade. A partir de ento, acentuou-se a vinda de indivduos sozinhos, com alguma especializao, como pedreiros, operrios de fbricas. Nessa poca, desembarcou no Brasil o italiano Mario Dedini (1893-1970).

Sua trajetria no difere muito da de tantos outros cidados italianos decididos a conquistar a Amrica. Proveniente da distante Lendinara, na regio vneta, chegou em momento favorvel para o progresso e a ascenso social. Ele soube, como alguns de seus compatriotas, aproveitar as oportunidades e escrever uma histria pessoal de sucesso, repleta de criatividade, esforo e esprito empreendedor.

Em 1905 quase metade dos habitantes de Piracicaba era de origem italiana e portanto, essa foi a influncia mais forte

CAPTULO 1

A industrializao em Piracicaba
Ptria todo lugar que o homem forte escolhe para morada.
Quinto Crcio, escritor romano, no sculo I.

Equipamentos Dedini para usina de acar, nos anos 1940

m Piracicaba, ocorreu o casamento perfeito entre a agricultura e a indstria, uma sendo, ao mesmo tempo, causa e efeito da outra, convivendo, quase sempre, em simbiose econmica. Essas atividades progrediram e se retraram inmeras vezes, influenciadas por estmulos externos, nacionais ou mundiais do mercado aucareiro, sujeito a freqentes desequilbrios. At mesmo a mais antiga fbrica da cidade, a Arethusina (mais tarde, Boyes), tambm fazia parte dessa integrao, pois tecia o algodo para confeco das sacas que embalavam o acar. As atividades agroindustriais ligadas cana-de-acar, principal fora econmica da regio, determinaram o aparecimento de diversas empresas no municpio para atender suas demandas. No incio do sculo XX, alm do Engenho Central de Piracicaba e o de Monte Alegre, havia a usina Capuava, em funcionamento desde 1911. A princpio, as usinas piracicabanas possuam oficinas prprias para reparo dos equipamentos, mas, ao longo do tempo, com a expanso aucareira, tal prtica tornou-se invivel, proporcionando condies para o surgimento de novos empreendimentos, com a criao de oficinas especializadas destinadas sua manuteno. Dessa forma, surgiu em Piracicaba um mercado consumidor cativo, representado pelos engenhos e usinas. Por decorrncia natural, a indstria

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aucareira passou a solicitar servios de reparos das oficinas mecnicas e metalrgicas j instaladas na cidade, operadas, na maioria, por imigrantes, com capitais prprios e com pessoal por eles treinados para realizao dos trabalhos. No incio do sculo XX, a empresa de maior expresso em Piracicaba era a Krhenbhl, fundada por suos, em 1870. Reunia serraria e carpintaria a vapor, uma fundio de bronze, mecnica, ferraria, serralheria e depsito de ferro, onde fabricavam foges e arados, alm de se encarregarem da importao de maquinismos para a lavoura e indstria, mediante comisso razovel. A empresa, pioneira na produo de carroas e carros de trao animal, fornecia para vrias regies do estado de So Paulo. Com o advento dos veculos a motor, porm, foi obrigada a mudar seu foco de atuao, passando a fabricar foges e arados

em sua bem aparelhada fundio. Esses industriais pioneiros destacaram-se pelo exemplo de iniciativa empresarial, deixando um importante legado tcnico e profissional. Nos anos 1940, seus descendentes venderam algumas mquinas e equipamentos Dedini e dedicaram-se, apenas, comercializao de implementos agrcolas. O restante da indstria local constitua-se de pequenas oficinas mecnicas, como a de Joo Martins (1900), a Funilaria Vesuvio, de Victorio Furlani (1907), e a Teixeira Mendes & Cia. Dedicavamse aos consertos de mquinas e implementos agrcolas e alguns, tambm, fabricavam veculos de trao animal, que se constituram, durante muito tempo, grandes vetores do desenvolvimento. Neles se transportavam os mais diversos produtos, como lcool, aguardente e gneros alimentcios. Eram, ainda, utilizados para conduzir as pessoas em diversas ocasies, para todos os lugares.

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Normalmente, a fabricao e manuteno de tais veculos era uma atividade familiar. Os empregados fixos eram raros, s contratados quando aumentava a demanda, muito influenciada pela expectativa das safras agrcolas. Para atender s encomendas, maiores no ms de maio, os empresrios adiantavam o preparo de alguns componentes. As peas eram adquiridas de caixeiros-viajantes e chegavam cidade por via frrea. Geraldo Hasse (1996) descreveu em detalhes a confeco dessas carroas: as molas eram feitas na marreta. Nas pontas em que se encaixam as rodas, o eixo, originalmente quadrado, era malhado na bigorna at ficar redondo. Emendava-se, ento, o aro da roda por caldeamento. A solda com eletrodo foi uma inovao implementada mais tarde, apenas, a partir de 1950 e, mesmo assim, nem todos os ferreiros conseguiram adot-la.

Carroas utilizadas no transporte de acar no sculo XIX

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Na estruturao do madeirame, o segredo estava na fabricao dos cubos, feitos preferencialmente de madeira mais resistente. Desse material, eram feitos os varais, corrimo e fueiros. Para completar as rodas, eram cortadas as cambotas (sees curvas das rodas) com serra-fita, de acordo com moldes apropriados altura de cada carroa. Os carrinhos comuns tinham rodas com 1,30 metro de dimetro. A linha de montagem terminava com a confeco da caixa de carga, que era, geralmente, decorada com pinturas pelo arteso.

de caminho. Em Piracicaba, j conhecida como a capital do acar, no entanto, uma dessas modestas oficinas evoluiu de forma muito diferente de tantas outras existentes na poca. Adquirida em 1920, pelos irmos Mario e Armando Cesare Dedini, esta oficina passou, logo depois, a fornecer peas de reposio para os inmeros engenhos existentes na regio. Desmontando-as, desenhando e modelando-as, conseguiu-se, em 1929, construir um conjunto completo para moagem de cana-de-acar. Ao longo do tempo, o pequeno estabelecimento transformou-se em uma empresa de porte, sempre de carter familiar e genuinamente nacional. Diversificou sua produo, acumulou vantagens competitivas, soube aproveitar as oportunidades de mercado, e tornou-se, nos anos 1950, lder na produo de equipamentos para o setor sucroalcooleiro, posio que ocupa at os dias atuais, apesar das incertezas da economia brasileira e das inmeras crises que foi obrigada a enfrentar ao longo do tempo. Tudo comeou em meados de 1920, quando Mario Dedini chegou de charrete, com seu

A Oficina Dedini
No interior do pas, a produo de carrinhos, carretas, carroas, carroes, charretes, trolleys e semitrolleys s perdeu o vigor a partir dos anos 1960, com o advento da indstria automobilstica. Nessa poca, a maioria das oficinas fechou. Outras transformaramse em fbricas de carrocerias

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cunhado Bepe Corrente, ao bairro da Vila Rezende, reduto dos imigrantes italianos (ver boxe p. 42), para verificar a situao da oficina de ferraria e carpintaria que Jos Sbravatti queria vender. Nela, consertava e fabricava veculos de trao animal, como trolleys, tlburis, carroas, carroes, charretes e alguns equipamentos agrcolas, como bicos de arados e grades. O estabelecimento funcionava em um prdio alugado, com 400 metros quadrados, situado avenida Conceio 3, 5 e 7, e, na poca, havia oito pessoas ali trabalhando. Compunha-se de uma seo de carpintaria e ferraria, e possua torno mecnico ingls, serra de fita, rebolo, esmeril, motor eltrico de 3 hp, mquina para aplainar madeira, mquina para perfurar e outra para prensar ferro. O preo pedido inicialmente pela oficina era de oito contos e quinhentos mil ris, mas Mario Dedini s possua trs contos. Juntando a poupana de quinhentos mil ris do irmo Armando Cesare, faltavam, ainda, cinco contos de ris, emprestados pelo seu patro Luiz Lombardi, da usina Santa Brbara, onde o jovem Mario trabalhava,

para serem descontados de seus pagamentos futuros. Aps as negociaes e formalizada a venda no tabelio por sete contos de ris, Armando Cesare assumiu o comando do negcio, enquanto o irmo Mario continuou trabalhando na usina Santa Brbara durante certo tempo; conseguia, no entanto, ser liberado s sextas-feiras para auxiliar no trabalho em Piracicaba. Devido presteza e qualidade dos servios e localizao estratgica da oficina, em uma rua pela qual passavam obrigatoriamente os veculos que transitavam pelo bairro da Vila Rezende em direo zona rural, os clientes no paravam de chegar. Em 1922, a oficina passou a chamar-se Mario Dedini & Irmo, com capital elevado para dez contos de ris. O objeto social da empresa era, ento, explorar o fabrico de veculos em geral, mquinas agrcolas e outras, e vendas a varejo.

No bairro da Vila Rezende, em


Piracicaba, uma pequena oficina de ferraria e carpintaria evoluiria de forma diferente das outras e tornaria-se, ao longo do tempo, o mais importante complexo industrial da cidade.

Atendimento nos engenhos


Dessa forma, com o crescente aumento das encomendas, Mario resolveu afastar-se da

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A VILA REZENDE NOS ANOS 1920


A Vila Rezende pode ser considerado o bairro mais antigo do municpio. Aos poucos, deixou suas caractersticas rurais, para tornarse urbanizado, principalmente, com a chegada dos imigrantes italianos, estabelecidos em peso naquela parte da cidade. Situado margem direita do rio Piracicaba, era ligado ao centro, na dcada de 1920, por uma nica ponte, chamada de nova. Entre o rio e a avenida (hoje Rui Barbosa) serpenteava a linha frrea da Sorocabana. As vias que cortavam o bairro, sem pavimento, eram chamadas de avenidas, por serem mais largas que outras existentes na cidade. Assim, por ocasio das chuvas, enchiam-se de barro e, na falta delas, ficavam cobertas por uma densa nuvem de p, que invadia casas e estabelecimentos comerciais, causando inmeras reclamaes. Em 1923, pelos jornais, os moradores cobravam do prefeito municipal providncias a respeito, solicitando que os livrasse do flagelo horrvel e pestilento da poeira imunda, que tudo invade!. O problema era amenizado, precariamente, por um cidado chamado Dominguinho, que, vrias vezes por dia, passava com sua carroa, jogando gua no leito das vias. O principal meio de transporte pblico, naquela poca, eram os bondes, que passavam com intervalos de quarenta minutos. Enquanto esperavam, os rezendinos aproveitavam para colocar a conversa em dia e saber as novidades. Os jovens mais afoitos e corajosos especializaram-se em uma aventura: descer do bonde em movimento. Alguns o faziam com grande facilidade, descendo tanto de frente como de costas. No grupo que fazia a faanha com graa e estilo e coragem havia muitas moas, como a jovem Ada, filha de Mario Dedini, e Janeth, conhecida como a francesinha, filha de Jean Joseph Morlet, tcnico francs de destilarias, que morou durante algum tempo na Vila Rezende. J os garotos, mais travessos, divertiam-se de outra forma: passavam sabo nos trilhos para ver o bonde escorregar. O que de fato acontecia. O motorneiro tinha, ento, de jogar areia nos trilhos para restabelecer o trfego. Os veculos de trao animal eram tambm muito importantes no comeo do sculo XX, transportando bens e passageiros. Aos sbados, domingos e feriados, por exemplo, o ptio da propriedade da famlia Valler, na avenida Santo Estevo, ficava repleto de trolleys, carroas e at carroes. Nas cocheiras, os animais recebiam cuidados e alimentao, enquanto seus proprietrios, moradores da zona rural, aproveitavam para fazer compras e passear. O local mais bonito do bairro era, sem dvida, o parque do Mirante, onde se contemplava as guas ainda lmpidas do Piracicaba despencarem no salto, formando ondas sinuosas e levantando uma garoa fina que alcanava as margens. Nos meses chuvosos, o barulho da queda era to alto que impedia qualquer conversa. Era o lugar predileto dos casais de namorados. O futebol era o esporte mais praticado na Vila, que chegou a ter vrias agremiaes como o Esporte Clube Ipiranga, a Associao Atltica Sucrrie, o Luzitano Futebol Clube, o River Plate e o Atltico Piracicabano. Fiel tradio italiana, havia, tambm, muitos adeptos do bocce, cujos praticantes misturavam, em seus dilogos, palavras dos dois idiomas, portugus e italiano. Nas casas do bairro da Vila Rezende, no faltava msica. O rdio estava comeando, mas muitas famlias possuam precrios gramofones. Alm disso, muitos moradores tocavam instrumentos musicais: os sons dos violes, cavaquinhos, violas, bandolins e flautas enchiam as ruas de alegria nas serenatas noturnas. O bairro teve at uma orquestra formada por jovens, organizada pelo proco da igreja da Imaculada Conceio, o padre italiano Julio Caravello, que era um msico nato. Outro orgulho do bairro era a Corporao Musical Unio Operria, fundada em 1906, que durante anos a fio esteve presente em todas as cerimnias e eventos importantes de Piracicaba. O escritor Alcides Aldrovandi, cujo pai foi presidente da banda durante muitos anos contou em seu livro (1991) que era praxe, no feriado de 1 de Maio, o Dia do

Margens do rio Piracicaba no incio do sculo XX. Ao fundo, o bairro da Vila Rezende

Trabalho, os msicos fazerem a alvorada, percorrendo as casas das principais autoridades da cidade. A primeira parada era, invariavelmente, em frente residncia do patrono e mentor da banda Unio Operria, Mario Dedini. At hoje, os msicos conservam essa tradio, tocando neste dia, bem cedinho, para seus descendentes. Naquele longnquo bairro da cidade do interior, aconteciam verdadeiros saraus literrios: na residncia de Alberto Bergamin, que trabalhava na Oficina Dedini, reuniam-se, de tempos em tempos, cerca de dez a quinze pessoas, na maioria casais, muito compenetrados, para sesses de leitura. Ali o membro mais velho, Joo Bosni, lia, em voz alta,

trechos de livros para um grupo de vizinhos semi-analfabetos, mas com grande curiosidade e interesse para conhecer os romances famosos. A Vila Rezende tinha vida prpria e foi, ao longo do tempo, desenvolvendo-se, juntamente com as indstrias Dedini. Muitas das famlias que ali viviam tinham, porm, o sonho de atravessar a ponte sobre o rio e galgar uma melhor posio na sociedade. Os sinais mais visveis dessa escalada eram quando conseguiam ganhar o suficiente para que seus filhos prosseguissem os estudos e para construir uma residncia no centro da cidade, onde habitavam as pessoas mais influentes.

usina Santa Brbara, ainda, durante os anos 1920, para auxiliar o irmo, sobrecarregado de trabalho. Naquela poca, eles perceberam que poderiam partir, tambm, para consertar algumas peas mais simples dos numerosos engenhos de acar e de aguardente existentes na regio, cujos proprietrios sofriam para obter material de reposio que, muitas vezes, tinha de ser importado, obrigando-os a paralisar suas atividades. Surgia, assim, um interessante mercado para a Oficina Dedini, que logo se viu obrigada a aumentar o nmero de funcionrios, e, ao mesmo tempo, adquirir mais mquinas, com os lucros advindos da prpria

atividade, ou ento, recorrendo a emprstimos dos empresrios ligados produo aucareira. Todos tinham interesse em auxiliar os irmos Dedini, devido inexistncia de profissionais capacitados tarefa de prestarlhes assistncia tcnica. Inicialmente, os dois irmos residiam em uma casa vizinha oficina, pequena e desconfortvel, e trabalhavam ao lado de seus primeiros empregados. Armando Cesare casou-se com Stella Biondo (1900-1968), com quem teve cinco filhos (Emilia Helena, Leopoldo, Ermelinda, Iracema e Edna). O segundo filho do casal, Leopoldo, nasceu na usina Ester, onde seu pai estava trabalhando por certo perodo, fazendo reparos nos equipamentos. Mario Dedini chegara da Itlia por volta de 1914 (ver boxe p. 43). Aps passar algum tempo em Santa Rosa de Viterbo (SP), entre outros imigrantes italianos, conseguiu, por meio deles, obter um emprego em uma usina de acar que comeara a se instalar em Santa Brbara (SP), e levava o nome da cidade (hoje Santa Brbara DOeste). Pouco tempo depois, animado com a nova ptria, mandou

Escritura de compra da Oficina Dedini, em 23 de agosto de 1920

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Grupo de funcionrios pioneiros da Oficina Dedini, por volta de 1920. Da esquerda para a direita: Virginio Rizzoto, Guido Spessotti, Angelo Rizzolo, Eugenio Daniotti, Ledemar Castellani, Dante Cardinalli, Joo Stockmann, Armando Cesare Dedini, Angelo Sega, Antnio Baroni, Amador (?), Joo Daniotti (na fresta da porta) e Desiderio Pescarim

chamar o irmo Armando Cesare, que necessitou de uma autorizao especial para viajar, pois era, ainda, menor de idade. Ele veio acompanhado da irm Clementina, casada com um dos membros da famlia Rossin, que tambm se estabeleceria no Brasil. Enquanto Armando Cesare instalou-se na cidade de Piraju (SP) como ferreiro, Mario participou da montagem da usina Santa Brbara, cujos equipamentos eram importados da Frana. Logo dominava a tcnica de fabricao e tornou-se seu

encarregado, apesar de no ser engenheiro. Mais tarde foi promovido a chefe geral, recebendo, sempre, melhores remuneraes, medida que acumulava mais funes e responsabilidades. Mesmo depois de desligar-se da usina Santa Brbara, ao montar seu prprio negcio, Mario continuou, durante vrios anos, prestando assistncia tcnica quela empresa. Ao que parece, nos primeiros tempos, era comum os irmos Dedini se deslocarem para fazer servios no campo. Segundo

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Mario Dedini (segundo da esquerda para a direita) e seus companheiros na usina Santa Brbara, na cidade paulista de mesmo nome, nos anos 1920

relato de Jovelino Furlan ao mdico e escritor Alcides Aldrovandi (1991), eles cuidavam da manuteno do engenho de pinga na Fazenda Santo Antonio, de propriedade da sua famlia. Enfrentando dificuldades para vender sua cachaa, os Furlan resolveram montar um moinho de fub movido a fora hidrulica. Quando as pedras do moinho ficavam lisas, Mario vinha picote-las. Por muito tempo, a famlia guardou como lembrana a alavanca de ferro por ele utilizada para fazer esse servio.

bom momento no estado de So Paulo, e, conseqentemente, em Piracicaba, importante regio produtora. O crescimento teria sido ainda maior, no fosse a ocorrncia de grave doena nas plantaes, o chamado mosaico, que, naquela poca, dizimou muitos canaviais brasileiros. O problema foi contornado, porm, graas ao importante trabalho realizado na Estao Experimental existente na cidade, onde foi desenvolvida uma variedade conhecida como cana javanesa, ou POJ, resistente molstia. Piracicaba foi a primeira localidade a proceder substituio das lavouras afetadas. Alm de ser resistente ao mosaico, a nova variedade era mais rica em sacarose, e enfrentava melhor as geadas, contribuindo, assim, para aumentar a produtividade. Graas a essas vantagens, expandiu-se rapidamente para outras regies do estado. Dessa forma, no perodo de 1925-1926 a 1928-1929, a produo de acar em So Paulo cresceu seis vezes, atingindo quase um milho de sacas (de sessenta quilos). Mesmo assim, no se conseguia atender demanda do mercado interno, avaliada

Doena nos canaviais


Quando Mario Dedini se estabeleceu na Vila Rezende, a lavoura aucareira vivia um

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Dedini 85 anos

MARIO DEDINI: UMA VIDA DEDICADA AO TRABALHO, FAMLIA E COMUNIDADE


Mario Dedini nasceu em 23 de setembro de 1893, na pequena Lendinara, situada ao norte da Itlia. Os primeiros habitantes da vila, repleta de histrias e glrias de um passado longnquo, foram os sobreviventes da Guerra de Tria. Mais tarde, ficou em poder dos romanos. Foi dominada, tambm, pelos austracos por muito tempo. Essa cidade vneta denominada a Atena do Polesine, banhada pelo rio Adige, hoje com 13 000 habitantes, viveu seu apogeu durante a Repblica de Veneza. Foi ali que Mario Dedini cresceu, cercado da famlia: os pais, Leopoldo e Amalia, e os irmos (Clementina, Palmira e Armando Cesare). Era, ainda, quase criana, quando resolveu ser mecnico, pois preferia, muito mais, sujar as mos de graxa, lidando com mquinas, do que de terra, cuidando da lavoura. Contrariando a vontade do pai, Leopoldo, que preferia v-lo trabalhando ao lado dos irmos no campo, montou uma pequena oficina nos fundos da casa, onde consertava mquinas e implementos agrcolas da famlia e dos vizinhos. Estudou desenho mecnico na Escola Tcnica da cidade e, ao que consta, teria trabalhado, tambm, um certo tempo, na usina de acar de beterraba ali instalada, uma das maiores da Itlia. Diante da instabilidade econmica e poltica reinante na Europa e ameaas da guerra iminente, a famlia conformou-se com sua vinda para fazer a Amrica no incio da dcada de 1910. Antes da partida, sua me, Amlia, teria jogado uma moeda para o alto: dependendo do resultado, ele se estabeleceria na Amrica do Norte ou na do Sul. A sorte decidiu pela segunda. Assim, Mario Dedini embarcou, sozinho, no navio Principessa Elena, em Gnova, com destino ao porto de Santos. Tinha apenas 21 anos e muita vontade de vencer. Viajava com simplicidade, mas no em condies precrias, como vieram tantos imigrantes. No bolso, carregava o dinheiro para a passagem de volta, caso no acostumasse na nova ptria. Ao chegar no Brasil, Mario Dedini foi, inicialmente, para a usina Amlia, em Santa Rosa de Viterbo (SP), do grupo Matarazzo. Segundo relato de Ottilia Furlan Dedini, em setembro de 2005, havia, na poca, muitas dificuldades para arrumar emprego, e, por isso, nos primeiros tempos de Brasil, o jovem imigrante no recusou nenhum servio, at lenha cortou. Sua vocao para consertar mquinas, porm, logo foi descoberta pelo gerente da usina, Ferrucio Silviero. Este senhor, competente profissional e especialista em cozimento de acar a vcuo, o encaminhou, ento, para a usina Santa Brbara, em fase de montagem, em Santa Brbara DOeste. Enviou, antecipadamente, um telegrama com a mensagem: Segue o Mario. O encarregado de receb-lo na estao foi Adolfo Lourencini, que havia conhecido Mario Dedini na infncia, ainda no pas natal. Segundo depoimento de Vidal Florindo Lourencini, em 1991, seu tio Adolfo, no entanto, no distinguiu o amigo do passado entre os passageiros que desembarcaram na estao ferroviria de Santa Brbara. Seguiu pelo caminho da usina at encontrar o hspede mais adiante, andando a p pela estrada, carregando sua mala.

Aps breve dilogo em italiano e um abrao efusivo, quando se reconheceram, Lourencini levou Mario at sua casa, onde ele residiu durante algum tempo. Mais tarde, o jovem instalou-se em uma penso. Ali conheceu a cunhada do proprietrio, Mariana Corrente (1899-1928), chamada de a Morena, que morava em Piracicaba, por quem se apaixonou e se casou, em maio de 1918. Logo depois, ele chamou seu irmo Armando Cesare (1897-1926) para estabelecer-se no Brasil. Inicialmente, o trabalho de Mario Dedini era auxiliar os engenheiros franceses na instalao da usina que ali estava sendo montada. Terminada essa tarefa, j dominava a tcnica de fabricao de acar de cana. To bem e to depressa que, quando se iniciou a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), e o ento chefe da usina, Louis Cutieux, precisou voltar para a Frana, ele pde assumir seu lugar.

Retrato de famlia: Mario Dedini, sua me, Amalia, e a segunda esposa, Ottilia, com netos (sentados). De p, da esquerda para a direita: sua filha Ada e o marido Dovilio Ometto; os filhos Armando e Nida (com o marido Arnaldo Ricciardi)

Em depoimento de maio de 2005, a filha mais velha de Mario Dedini, Nida, relembra uma histria que ouviu muitas vezes do pai: a persistncia e o amor ao trabalho ajudaram-no a impor-se diante dos novos patres. Ele conseguiu, depois de muito empenho, colocar em funcionamento um equipamento desativado, apesar da descrena e das caoadas dos colegas que o observavam, durante muitos dias, consertando e emendando, incansavelmente, as tubulaes. Mario Dedini j desempenhava com competncia suas funes, quando recebeu um convite dos colegas para trabalhar em Cachoeiro do Itapemirim (ES). Segundo contam, o

jovem teria recusado, comentando: No, no, grazie. Preferisco stare qui, perche qui devo fare fortuna. (No, no, obrigado. Prefiro ficar aqui, porque aqui vou fazer fortuna.) Firme nessa deciso, Mario adquiriu, em agosto de 1920, juntamente com o irmo, a oficina de Jos Sbravatti, instalada nos fundos de uma casa pertencente a sua sogra, no bairro da Vila Rezende, em Piracicaba. Comearam a trabalhar, inicialmente, no conserto de veculos e implementos agrcolas, depois na reforma e fabricao de equipamentos e mquinas para usinas de acar. Quando uma epidemia de tifo levou seu irmo, Armando Cesare, em 1926, e dois anos depois, sua esposa, Marianna Corrente, Mario precisou de toda coragem para refazer a vida. Na Itlia, foi buscar a me, Amlia, j viva, para ajudar a criar seus trs filhos: Nida, ento com seis anos, Ada, com quatro, e Armando, com seis meses. A av cuidou da educao das crianas e ensinou-os a rezar na lngua italiana, hbito que levaram pela vida. A filha mais velha, Nida, que tambm contraiu tifo, e quase morreu naquela poca, relembra que, quando foi matriculada na escola, falava muito pouco o portugus, pois se comunicava com sua av somente em dialeto vneto. Foram tempos muito difceis. Quem conta a piracicabana Ottilia Furlan Dedini, com quem Mario Dedini se casou em 1938. Ela decidiu que no teria filhos, para criar os do marido. Completamente sem experincia, tive de aprender a fazer todo o servio da casa, inclusive costurar roupas para a famlia. Costumvamos, tambm, preparar lanches para o pessoal que trabalhava na oficina. Quando algum se machucava, fazamos os curativos. No tnhamos dinheiro para nada. Ela se

recorda que, em um desses difceis momentos, Mario Dedini precisou empenhar seu relgio para pagar seus funcionrios.

O comeo de tudo
Durante a dcada de 1930, quando ocorreu a modernizao dos antigos engenhos, incentivada pelo Instituto Nacional do Acar e lcool, Mario Dedini, hbil negociante, ofereceu condies favorveis aos usineiros para troca de equipamentos, aceitando os usados como parte do pagamento, e entrando como scio de vrios empreendimentos. Dez anos mais tarde, j vendia usinas de fabricao prpria e abria novas empresas. Assim, conseguiu amealhar grande fortuna. Desse modo, o empresrio atravessou a crise econmica de 1930 e, dez anos depois, j se permitia produzir usinas completas. Seu scio nesses empreendimentos, o filho de imigrantes Pedro Ometto, tambm enriqueceu e ficou conhecido como o rei do acar. Atualmente, a famlia Ometto a maior produtora de lcool e acar do pas. Nos anos 1960, Mario Dedini separou-se de Ottilia Furlan. Casou-se, ento, na Bolvia, com Ignes Seghessi, que o acompanhou at o fim de seus dias. Mario est sempre presente em minha vida, tenho a ntida impresso que est sempre ao meu lado, contou Ignes, em depoimento de setembro de 2005. At hoje fao suas comidas prediletas, como spaghetti alio e olio e ouo as peras que ele tanto gostava. Homem simples e afvel, Mario Dedini era sempre muito elegante; nunca saa sem o relgio no pulso e sem o mao de cigarros da marca Petit Londrinus no bolso. Quan-

O filho de humildes camponeses italianos no se conformou com as difceis


condies impostas pelo regime autocrtico e pela rgida sociedade do seu tempo, onde um pequeno nmero de proprietrios de terras, de capital de crdito submetia uma vasta multido de homens que s contavam com os prprios braos para sobreviver. Esprito audacioso e aventureiro, Mario Dedini deslocou-se da Itlia para o Brasil para aqui implantar uma empresa sempre pautada nos princpios da liberdade, valorizao do trabalho e do esprito do dever.
(Depoimento da escritora piracicabana Myria Machado Botelho, em maio de 2005).

do surgiram os problemas cardacos, chegou a parar de fumar por conselho mdico, mas j era tarde, pois sua sade estava irremediavelmente comprometida. A tenacidade e engenhosidade de Mario Dedini permitiram que ele criasse, ao longo do tempo, um impressionante conglomerado empresarial: em 1987, dezessete anos depois de sua morte, o grupo Dedini era, ainda, o maior da cidade, com 24 empresas e 11 365 funcionrios. O faturamento naquele ano foi de 282 milhes de dlares. Esse imprio permitiu que Piracicaba se tornasse um dos mais importantes plos de desenvolvimento da indstria de base nacional. Mario Dedini gostava de novidades tecnolgicas. Apesar de ser o maior fabricante de moendas do Brasil, no hesitou, nos anos em 1960, em trazer da Alemanha um sistema diferente o difusor adquirindo a licena de fabricao. Ouvindo conselho dos especialistas, principalmente, da Escola de Agronomia, foi pioneiro, tambm, na aplicao de vinhaa nas lavouras de cana de sua propriedade, em vez de descart-la nos cursos dgua, como era, ento, costume das usinas. A atuao mais expressiva de Mario Dedini, no entanto, foi a extensa obra social realizada em benefcio da comunidade e a favor da cidade que adotou. Durante toda sua vida, ele deu inmeros exemplos de humanismo, criando e ampliando hospitais (como a primeira maternidade da Santa Casa de Misericrdia, que leva o nome de sua me, Amalia Dedini), escolas (Vila Rezende), asilos (Oratrio So Mario, para os padres Salesianos), igrejas (como a da Vila Rezende, rplica da existente na sua distante Lendinara), postos de puericultura, alm de contribuir para inmeras obras assistenciais.

Em tempos de guerra, Mario

Mario Dedini provou que


a vida se constri do cho para as alturas e a riqueza no demora em casa, sem a severidade do trabalho. Em vida, soube criar o hoje e o porvir, assim permitindo que, no monumento que esta terra lhe ergueu em praa pblica, se inscrevesse o aviso letreiro: Contemporneo da posteridade. E, na verdade, esse gigante do insofrevel surto de industrializao do Brasil moderno foi s o que foi, porque assim deveria s-lo. (Theobaldo de Nigris, em 18-121970, por ocasio da inaugurao da herma em sua homenagem na Escola do Senai, em Piracicaba).

Dedini tambm colaborou: por ocasio da Revoluo de 1932, apoiou a luta dos paulistas, fabricando granadas de mo em sua oficina para serem doadas ao exrcito revolucionrio. Mais tarde, durante a Segunda Guerra Mundial, colocou disposio das foras aliadas sua indstria para produzir capacetes para soldados e peas (ps) para metralhadoras. Muitas vezes, suas doaes extrapolavam os limites da cidade: certa vez, atendendo ao apelo do governo federal, Mario Dedini desembolsou, no anonimato, a quantia de quase dois milhes de cruzeiros para restaurar e adaptar o Palcio Panphili Doria, que se transformaria na sede da embaixada do Brasil em Roma. Paralelamente sua brilhante trajetria, desenvolveu-se, tambm, a cidade de Piracicaba, que passou, de modesto centro agrcola, a importante centro industrial, em grande parte pelo mrito do filho ado-

tivo, Mario Dedini. Bairros inteiros, como a Cidade Jardim, surgiram com seu apoio. De seu bolso, saiu dinheiro para alargar pontes, rasgar avenidas, construir o estdio de futebol, e, at mesmo, para resolver o problema do precrio abastecimento de gua da cidade. Em 1960, a populao, agradecida e reconhecendo o extenso legado de seu cidado benemrito, erigiu-lhe, na praa principal da cidade, um monumento em granito rosa, obra do artista Luis Morrone. O grupo de trs figuras esculpidas em bronze mostra Mario Dedini ladeado por um ferreiro e uma cortadora de cana, representando as duas foras de trabalho que o auxiliaram a construir sua obra. As honrarias e a grande manifestao de afeto recebidas

em vida, no entanto, nunca o fizeram esquecer do passado de operrio humilde e modesto, nem sua origem italiana, qual permaneceu fiel at o final da vida. Mario Dedini faleceu em 1970, de insuficincia cardaca. Sua ltima apario pblica tinha sido vinte dias antes, na inaugurao das novas dependncias da loja Dedini, por coincidncia, instalada exatamente no mesmo local onde, cinqenta anos antes, montara a oficina com seu irmo. Seu cortejo fnebre foi acompanhado por centenas de pessoas a p, como tributo ao seu expressivo trabalho. Para seus descendentes, Mario Dedini foi sempre uma presena marcante. A filha mais velha, Nida, guarda at hoje um conselho importante do pai: Seja trabalhador, organizado, honesto e sempre vencers!. Os netos, por sua vez, sabiam que a aparncia autoritria e requintada do av escondia um temperamento amoroso e gentil, demonstrado freqentemente na intimidade familiar, impondo respeito e contribuindo para sua educao. O neto mais velho, Marcos, lembra-se que, sistematicamente, Mario Dedini recebia todos eles em seu escritrio, fazendo elogios ou censurando-os, quando preciso. Todos sabiam que aquela era a hora da verdade: ningum conseguia esconder nada do av. No final do encontro, havia sempre uma mesa montada com aperitivos para a confraternizao. Juliana, uma das netas, recorda-se, em depoimento de abril de 2005, que, certa vez, uma amiga contou-lhe que o pai costumava acord-la, quando adolescente, dizendo: Acorde, nessa hora o Mario Dedini j est h muito tempo trabalhando na fbrica!. Sua irm, Cludia, tambm, confessou, em junho de 2005, que o av foi a figura mais marcante em

sua vida. Tive o privilgio de conviver bastante com ele e receber sua ateno. O nonno sabia ser, ao mesmo tempo, impositivo e gentil e valorizava muito as mulheres. Outra neta, Maria Beatrice, comentou, em entrevista aos jornais, que sempre lhe surpreendia o fato de que o av, apesar da origem humilde, ter-se tornado um homem to fino e educado, com grande cultura, que encantava a todos. A essas palavras, o neto Mario Dedini Ometto completa, em depoimento de junho de 2005: Meu av tinha o dom de convencer cada um de ns, os netos, de que era seu predileto. Isto era o resultado de sua liderana natural. Com essa idia, ns crescemos. Mario Dedini tentou aposentar-se duas vezes. Na primeira, disse filha Nida que, para marcar o evento, deixaria de lado o inseparvel relgio do pulso. Embarcou, ento, para a Itlia, em uma longa viagem. Quando voltou, no gostou do rumo que suas empresas tomavam, e resolveu reassumir. Continuou trabalhando por mais algum tempo, at sua sade permitir. O seu escritrio, no entanto, s foi desmontado aps sua morte. Hoje, a sala foi restaurada, sendo cuidadosamente mantida pelo neto, Mario Dresselt Dedini, tornando-se uma espcie de museu dentro da empresa. Em depoimento de abril de 2005, Malo, como conhecido, comenta que o av possua trs caractersticas marcantes: era visionrio, pois antevia os fatos, idealista, pois lutava para realizar seus sonhos e, principalmente, um grande altrusta, pensando sempre nos outros. nesse exemplo de coragem e determinao que ele e os outros descendentes de Mario Dedini procuram espelhar em suas vidas.
Monumento em homenagem a Mario Dedini na praa principal da Vila Rezende, em Piracicaba (SP)

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em 2,5 milhes de sacas. Com o aumento das vendas do produto, foi possvel diminuir a grande capacidade ociosa da indstria aucareira paulista, observada em anos anteriores. Na esteira desse desenvolvimento, a pequena oficina expandiu-se, tornando-se as Oficinas Dedini, passando por grande transformao qualitativa. Para atender demanda das usinas da regio, foram adquiridas a fundio de ferro, equipada com um forno Cubillot, e algumas mquinas de segunda mo. Essa expanso era de interesse dos empresrios do setor, que se viam assistidos com mais presteza e rapidez, libertando-se das dificuldades de importao de peas e das visitas espordicas de tcnicos vindos de centros distantes. Como morador vizinho s Oficinas Dedini, Alcides Aldrovandi, j falecido, sempre foi muito ligado empresa. Ele conta em seu livro (1991) que a fundio, instalada avenida Salaz, era um prdio amplo e alto. No fundo, estava instalado o forno e o restante da rea ficava reservada para a modelagem das peas a serem fundidas. As caixas compunham-se de duas partes. Uma,

abaixo do nvel do cho, onde era feito o molde, e, a segunda, sobreposta primeira, onde era posta a outra metade do modelo. Para sua confeco, usava-se uma terra especial, de cor cinza e de textura muito fina. Aps a operao, a caixa era separada, retirando-se a parte superior, e, em seguida, o molde de madeira. Recolocada a parte superior, j com orifcio e canal ligado ao vazio da modelagem, a pea era encaminhada para a etapa seguinte: a fundio. Essa fase atraa at pessoas de fora. Era um verdadeiro espetculo pirotcnico: os cadinhos de ferro derretiam, eram retirados do forno e levados para encher as caixas, explodindo em grande nmero de estrelas, escreveu Aldrovandi em seu livro. O ferro fundido preenchia o volume vazio das caixas, modelando as diversas peas encomendadas. Aps alguns dias, j resfriados, os recipientes eram abertos, sendo as peas retiradas e enviadas para usinagem e acabamento. De tanto observar o trabalho nas Oficinas Dedini, Aldrovandi conta que, quando garoto, ele e seus amigos resolveram abrir sua prpria fundio no quintal da

Aprendizes e funcionrios da Oficina Dedini

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casa. Ali, em um rancho improvisado, montaram caixas e, com restos de terra recolhidos na indstria, fundiram soldadinhos para brincar, pesos para linhas de pesca, uma pequena barra de ferro inscrita com a palavra Paris, e at um crucifixo.

Recrutando aprendizes
Entre os funcionrios pioneiros das Oficinas Dedini podem ser citados os nomes de Carlos Mahn (Carlo), Amadeu Galani, Humberto Perozzi, Pedro Segatto, Joo Baptista Galvani (Imbica), Ledemar Castelani, Antnio Galvani, Virgnio Magagnato, Orlando Galvani, ngelo Rizzolo e Alberto Bergamin. O treinamento do pessoal era feito dentro do prprio estabelecimento: admitiam-se menores de idade, como auxiliares de determinado funcionrio, do qual se tornavam aprendizes, adquirindo conhecimentos para, depois de algum tempo, poderem operar sozinhos as mquinas. Observando o trabalho dos mais velhos, muitos deles tornaram-se bons profissionais. Esse costume de trazer crianas para a oficina, hoje totalmen-

te improvvel e desaconselhvel, na verdade, naquela poca, era uma soluo perfeita para os pais: preferiam muito mais ver seus filhos aprender um ofcio, do que ficarem vagando pelas ruas, ou irem nadar no traioeiro rio Piracicaba. Esse era o divertimento predileto dos moleques, brincadeira muito perigosa, que tirou a vida de muitos deles. Alcides Aldrovandi relata em seu livro (1991), que tambm freqentou a oficina, quando garoto. Ajudava seu padrinho, Pedro Segatto, como podia, trazendo-lhe ferramentas, parafusos e cola. Assim como os outros meninos, muitas vezes era requisitado para comprar cachaa para o pessoal nos bares prximos. Segundo ele, quando a tarefa era mais difcil, como, por exemplo, ferrar rodas, os operrios pediam mais a bebida, para resfriar, como diziam. Nessas situaes, os meninos revezavam-se, e iam a bares diferentes, para no dar na vista que se estava bebendo muito na oficina. O trabalho desinteressado dos garotos chamou ateno de Carlos Mahn, o Carlo, que resolveu incentiv-los, fazendo uma surpresa. No dia do pagamento, eles tambm receberam

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um envelope com cinco mil ris. Todos ficaram muitos felizes, pois, assim, passaram a fazer parte da equipe de Mario Dedini. Outro desses aprendizes foi Euclydes Rizzolo. Em depoimento de 2005, relata que o pai, Alcides, um dos primeiros funcionrios das Oficinas Dedini, sabia de suas travessuras, e exigiu que fosse trabalhar em sua companhia. Inicialmente, Rizzolo era menino de recados. Mais tarde, foi transferido para o escritrio. Sua vivacidade chamou a ateno de Mario Dedini, que perguntou a seu pai por que ele no prosseguia nos estudos. Manca i soldi (Falta dinheiro), foi a resposta. Mario Dedini no respondeu, mas, no ms seguinte, ao abrir o envelope que recebia todo ms como pagamento, Rizzolo percebeu, com surpresa, que, em vez do costumeiro valor de cinco mil ris, recebera muito mais. Com esse dinheiro, a me comprou-lhe roupas novas e ele pde cursar a Escola de Comrcio Cristvo Colombo, sem deixar suas obrigaes nas Oficinas Dedini. Ali permaneceu at os anos 1950, quando foi convidado para trabalhar na recm-fundada Cooperativa Piracicabana de Usinas de

Acar e lcool (Copira), embrio da futura Copersucar. Alm do trabalho na oficina, o ento garoto Alcides Aldrovandi tambm foi testemunha de cenas marcantes na residncia dos Dedini, na avenida Conceio, onde residiram Mario e Armando Cesare Dedini, com suas respectivas famlias. Em seu livro, ele conta o entra-e-sai interminvel e a comoo causada pela doena e morte precoce da primeira esposa de Mario Dedini, Mariana Corrente, vtima de febre tifide, que deixou trs filhos: Nida (que se casaria com Arnaldo Ricciardi), Ada (primeira esposa de Dovilio Ometto) e Armando (que se casaria com Norma Dresselt Dedini). Ela no resistiu epidemia, apesar de todos os cuidados do mdico Andr Ferreira dos Santos, o Dr. Preto, como era conhecido, por causa da cor de sua pele, e das oraes da conhecida benzedeira Carolina Martins, que se revezaram na sua cabeceira, recordou-se Aldrovandi. Veiculado pela gua, alimentos crus, moscas, esgotos e pelo contato direto com portadores da doena, o tifo encontrou, naquela poca, condies

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Reformando peas e mquinas


para usinas de acar, Mario Dedini j era, no final de 1920, capaz de fazer alguns equipamentos em sua oficina. Assim, a evoluo para a fabricao foi uma decorrncia natural do empreendimento.

ideais para sua proliferao na cidade. A molstia, que, desde 1911, se espalhara pelo estado de So Paulo, trazida pelos imigrantes espanhis e portugueses, atingiu Piracicaba com maior intensidade na dcada de 1920, levando as pessoas aterrorizadas a abandonar a cidade. A epidemia s foi controlada quando a prefeitura modificou o sistema de coleta de lixo, passou a adicionar cloro na gua destinada ao abastecimento e combateu focos do mosquito transmissor. Mario Dedini tambm perdeu seu irmo, em 1926, vitimado pelo tifo. Passou a dirigir a oficina sozinho, mudando sua denominao para M. Dedini. Na vizinha Santa Brbara dOeste, foi buscar o nico filho homem do irmo, Leopoldo (1919-1976), para encaminh-lo na vida. Com dez anos, ento, o menino foi trabalhar como aprendiz na oficina. Apesar de muito inteligente, no gostava de estudar. Aprendeu o ofcio na prtica, e, muito jovem, com catorze anos, nos anos 1930, marcou sozinho no campo a estrutura da usina Santa Elisa, que a Dedini estava montando em Sertozinho (SP). Quem conta sua esposa, Dulce Cardinalli Dedini, em

depoimento de maio de 2005, com quem Leopoldo se casou em 1943, e lhe deu quatro filhos (Roberto, Elisabeth, Renata e Amlia). Leopoldo Dedini tornou-se um dos principais assistentes do tio, durante vrios anos, acompanhando a expanso da modesta oficina, sempre presente no seu dia-a-dia e participando de seus grandes momentos. Nos anos 1960, saiu para dirigir uma das empresas do grupo, a Mausa, cujo controle acionrio assumiria mais tarde.

Da reforma fabricao
Em meados de 1920, Mario Dedini j estava apto para fabricar o primeiro conjunto de moagem de cana. Para tanto, o empresrio inspirou-se em equipamentos semelhantes, que j havia consertado ou reformado. Como possua uma pequena fundio de ferro e bronze, ele reproduzia inmeras peas, quebradas ou desgastadas durante o processo e fabricao de acar, que precisavam ser substitudas durante a safra ou para a seguinte. Eram, principalmente, eixos, engrenagens, luvas, camisas, mancais, facas, rodetes,

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Projeto de moenda elaborado na Oficina Dedini, em fevereiro de 1930

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entre outras. Comeava, assim, a diversificao da produo. Quando desmontava as moendas de seus clientes, com certeza aproveitava para copiar seus componentes, desenhando e preparando os modelos para serem fundidos em ferro e, posteriormente, submet-los usinagem. Nesse momento, o conhecimento de desenho mecnico que possua foi de grande valia, permitindo, inclusive, melhorar a qualidade e o desempenho das moendas e de outros equipamentos das usinas. No final de 1920, o estabelecimento da famlia Dedini j se espalhava por vrios barraces vizinhos, abrigando vrias forjas para trabalhos de ferreiros e carpinteiros, em oficinas de consertos e de modelagem em madeira para fundio de peas. A antiga fundio situava-se na avenida Salaz (hoje Mario Dedini), atrs da avenida Conceio. A empresa contava com 36 funcionrios e continuou a expandir-se ao longo dos anos. O progresso da indstria repercutiu no bairro da Vila Rezende, que ganhou, naquela poca, at um banco prprio, denominado Agrcola de Piracicaba.

Medalha de ouro oferecida por Mario Dedini aos funcionrios com 25 anos de trabalho na sua empresa

O estabelecimento, no entanto, durou pouco tempo: seu gerente especulou na bolsa de valores de So Paulo com o dinheiro dos clientes, e levou-o falncia. Segundo Aldrovandi, Mario Dedini era comparado ao rei Midas: Tudo que fazia, dava lucros. Comprava uma caldeira velha, abandonada no canto de uma usina, reformava e vendia e assim a oficina foi crescendo. Segundo ele, o servio aumentou tanto que seu irmo, Jos Aldrovandi, chefe do escritrio da empresa, precisou contratar mais um guarda-livros (contador) para auxiliar o primeiro encarregado dessa tarefa, Sebastio de Oliveira. O escolhido foi Lzaro Pinto Sampaio, que trabalhara como telegrafista da Estao Ferroviria da Vila Rezende, e se tornou um dos principais assistentes de Mario Dedini durante longo perodo.

Trabalho social
Desde aquela poca, o industrial costumava ajudar seus colaboradores e os moradores do bairro. Parece ter sido pioneiro ao conceder ao pessoal o direito de consultar o mdico e o hospital

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de sua preferncia. Tambm no hesitou em despedir um tcnico estrangeiro que para ele trabalhava por haver desrespeitado um dos operrios da oficina. A cada cinco anos, Mario Dedini promovia um grande almoo de confraternizao na sua prpria residncia para aqueles colaboradores pioneiros, entregando-lhes, ao final, presentes valiosos. Nessas festas, os participantes se emocionavam. Nunca faltava msica. O prprio industrial dava o exemplo, danando alegremente com seu pessoal. Nos primeiros tempos, os colaboradores da empresa formavam uma grande famlia, ajudando-se entre si e aos mais necessitados. Um fato ocorrido nos anos 1930 ilustra bem isso. Sabendo da morte de um morador da Vila Rezende, aps longa molstia, que deixou viva e trs filhos na misria, morando em um barraco improvisado, um grupo de funcionrios uniu-se para construir-lhes uma casa nova, em regime de mutiro, nos seus dias de folga. Os trabalhado-

res da Dedini ajudaram, tambm, a erguer a Capela da Vila Rezende. Em seu livro sobre a Santa Casa de Misericrdia de Piracicaba (2004), a jornalista Nilma de Oliveira Moratori relata um dos exemplos da generosidade de Mario Dedini para com aquele hospital. Por ocasio da desativao do Sanatrio So Luiz, ele adquiriu, por dois contos e quinhentos mil ris, uma caldeira e a autoclave da instituio, indicados pelo mdico Coriolano Ferraz do Amaral. Os equipamentos, que valiam muito mais, foram reformados e instalados na oficina, contribuindo para impulsion-la. Pouco tempo depois, Ferraz do Amaral procurou Mario Dedini, propondo-lhe vender os equipamentos para a Santa Casa, da qual era provedor. O empresrio pediu tempo para pensar, e depois de visitar o local onde seriam instalados, cedeu-os, sem aceitar nada em pagamento. Ele mesmo encarregou-se do transporte e da instalao do maquinrio. Esta seria uma de suas inmeras doaes quele hospital.

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CAPTULO 2

Modernizao das usinas


O trabalho sempre me divertiu e nunca achei minha vida difcil. Sempre fui otimista e confiei no futuro.
Mario Dedini (1893-1970), fundador das empresas Dedini, em setembro de 1967.

o dia 29 de outubro de 1929, conhecido como a Quintafeira Negra, o centro financeiro de So Paulo foi abalado pelas informaes da derrocada da Bolsa de Nova York. As ruas centrais da principal cidade brasileira ficaram repletas de pessoas perplexas e atemorizadas, em busca de notcias mais detalhadas sobre a falncia do maior mercado de aes do mundo o norte-americano. A grande depresso amargada pelos pases desenvolvidos, verificada a partir de ento, no arrefeceu, no entanto, o nimo de muitos empreendedores instalados no Brasil. Nas primeiras dcadas do sculo XX, continuaram investindo e expandindo suas fbricas, apesar dos reflexos inevitveis da grave crise internacional. A extraordinria produo de mquinas e equipamentos para todos os setores, observada nos anos seguintes, principalmente em So Paulo, abriu caminho para a consolidao definitiva do parque industrial brasileiro (ver boxe p. 62). O governo fez sua parte, tomando medidas para resguardar a economia nacional dos impactos negativos vindos do exterior: queimou os excedentes da produo de caf, ento, enfrentando grave crise; desvalorizou a moeda vigente, o mil-ris, e elevou o preo dos produtos estrangeiros, obrigando os empresrios a fabricar no pas tudo aquilo que vinha do exterior.

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CRISES CONSTANTES NAS LAVOURAS ESTIMULAM A INDUSTRIALIZAO NO BRASIL


Nas primeiras dcadas do sculo XX o dinheiro mudou de mos mais de uma vez no Brasil. Os tradicionais proprietrios rurais sofreram duramente com a instabilidade do mercado internacional. Ao mesmo tempo, nasceram muitas fortunas, algumas construdas por imigrantes como Mario Dedini, que, com trabalho e tenacidade, contriburam para o progresso industrial do pas. At 1914, o estado de So Paulo, assim como o Brasil, vivia acomodado em sua condio de exportador agrcola, principalmente de acar e, depois, de caf. A constante produtividade e a decidida interveno do governo paulista sobre as condies de mercado mantinham este ltimo como principal item da pauta de exportaes. Houve tempos em que a renda obtida com o caf suportou todos os investimentos de So Paulo, a ponto de as taxas incidentes sobre ele dispensarem qualquer outro imposto estadual. A situao da economia cafeeira tornou-se preocupante nas primeiras dcadas de 1900. O Brasil fornecia 60% do produto consumido no mundo, quando, em 1915, os Estados Unidos o maior comprador taxaram-no como suprfluo naquele pas. Trs anos depois, uma grande geada causou grande destruio nos cafezais paulistas. Para contornar a crise iminente, o governo tentou montar uma estratgia para manuteno dos preos por meio do Instituto Paulista de Defesa Permanente do Caf (IPDPC). Foi em vo: em 1928, os produtores amargavam grandes estoques e dvidas ainda maiores, devido queda acentuada das vendas externas. A gota dgua foi a grande depresso internacional, marcada pela quebra da bolsa de Nova York, a maior do mundo, no dia 29 de outubro de 1929, que deixou, de uma hora para outra, dezesseis milhes de ttulos sem nenhum valor. Ruim de um lado, bom de outro. Com a crise que sacudiu a economia internacional, os preos dos importados foram s alturas. Muitas indstrias de porte que forneciam para o Brasil foram falncia, e o pas viu-se obrigado a produzir os bens para abastecer seu mercado interno. A indstria nacional, tmida e incipiente, foi obrigada a adequar-se aos novos tempos. No incio do sculo XX, as fbricas paulistas eram voltadas, principalmente, para os bens de consumo: alimentos, tecidos simples, bebidas e utenslios. Aos poucos, comearam a diversificar-se, produzindo, tambm, alguns itens para construo civil, alm de mveis. Em 1925, seria inaugurada a primeira linha de montagem de automveis da General Motors do Brasil que, em apenas um ano de funcionamento, fabricou 25 000 veculos. Somente 4% dos produtos industrializados eram, na poca, bens de produo, como mquinas industriais e agrcolas. Assim, durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), pequenas oficinas instalaram fundies e forjarias destinadas a recuperar peas gastas, e foram rapidamente elevadas condio de fbricas. Terminado o conflito, no entanto, a maior parte dessas empresas acabou, quando os proprietrios rurais recuperaram seu poder de compra, e voltaram a encomendar suas mquinas agrcolas no exterior. Foram poucas aquelas fbricas que conseguiram sobreviver, graas tenacidade e viso de seus proprietrios. A Dedini estava includa nessa lista seleta. Para tanto, preciso lembrar que se aproveitou da conjuntura favorvel. Diante da derrocada do caf, os empresrios aplicaram seus capitais na montagem de usinas de acar no sul do pas, pois ali j havia infra-estrutura instalada: populao, capital, mo-de-obra, facilidade de transporte do produto destinado exportao e consumo. A qualidade do acar fabricado deixava, ainda, no entanto, muito a desejar. O Brasil s conseguiu abastecer os mercados dos pases desenvolvidos por um certo perodo, durante os dois conflitos mundiais, quando as produes das naes envolvidas na guerra praticamente ficaram paralisadas. Quando a situao se normalizou, o mercado internacional voltou a enfrentar grande instabilidade, com descompasso entre a oferta e a demanda, com inevitveis conseqncias negativas sobre os preos. Vrias tentativas de normatizao foram efetuadas e, finalmente, em 1937, conseguiu-se fechar um acordo na Conferncia Internacional do Acar em Londres, que vigorou at 1953. Pela primeira vez, o Brasil participava de um acordo no gnero, cabendo-lhe uma cota de exportao de 60 000 000 de toneladas por ano.

Assim, alguns setores da indstria siderrgico, qumico, metal-mecnico e de implementos agrcolas puderam desenvolver-se como nunca. Para tanto, os empreendedores aproveitaram o mercado e o consumo criados durante o ciclo do caf, que proporcionou as divisas necessrias importao de bens de produo e os capitais necessrios para a instalao de seus estabelecimentos. Em Piracicaba, a Dedini, foi uma das empresas que soube aproveitar as oportunidades surgidas, alcanando grande expanso, conquistando clientes e ampliando sua linha de produtos. Foi a poca de absoro de tecnologias, no mais para atender os engenhos de acar, mas, tambm, para suprir as novas usinas, que estavam se estabelecendo, exigindo equipamentos cada vez mais pesados e sofisticados. Em 1929, foi dado um grande passo nesse sentido, com o desenvolvimento do projeto e fabricao de um conjunto completo de moendas, com todos os acessrios. Era composto por trs cilindros horizontais, nas dimenses de dezoito por trinta polegadas, capaz de moer cerca de cem

toneladas de cana por dia, possibilitando a produo de 15 000 a 18 000 sacas (sessenta quilos) de acar por ano. O equipamento foi vendido a Virgolino de Oliveira, proprietrio da usina Nossa Senhora da Aparecida (em Itapira, SP), um dos melhores amigos de Mario Dedini (ver boxe p. 66). Presteza, garantia e manuteno: esse trinmio constituiu a chave do sucesso das Oficinas Dedini em seus primeiros tempos. Aos poucos, as usinas passaram a exigir um dimensionamento maior dos aparelhos de extrao de caldo da cana e de todo o processo de fabricao. Dessa forma, a empresa foi ampliando, aos poucos, o peso e a escala de seus produtos, enquanto criava uma imagem comercial altamente positiva, baseada na qualidade. Quando eclodiu a crise de 1929, os preos dos equipamentos importados ultrapassaram os dos produtos Dedini, que j possuam a vantagem de no pagarem royalties pela tecnologia, nem eram onerados pelos elevados fretes martimos. Por todos esses fatores, a demanda pelas moendas fabricadas em Piracicaba foi grande, desde o incio. Havia, ainda, outra

O processo de industrializao
ocorrido em So Paulo, a partir da dcada de 1930, aumentou a densidade populacional dos centros urbanos e melhorou o nvel de renda. Conseqentemente, o consumo de muitos bens e alimentos cresceu bastante, inclusive do acar, que at ento era trazido de outros estados.

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Transporte de equipamentos para a usina Nossa Senhora da Aparecida, em Itapira (SP)

vantagem: os clientes contavam com assistncia tcnica imediata, devido proximidade da oficina com as usinas de acar, e no dependiam mais das visitas espordicas de profissionais vindos de pontos distantes. Com a expanso, o capital social da M. Dedini, que, em 1926, era de 50:000$000 (cinqenta contos de ris), foi elevado para 150:000$000 (cento e cinqenta contos de ris), em 1932, sendo esse valor totalmente integralizado. As mquinas operatrizes eram, ainda, de pequeno porte e

a maioria delas foi adquirida de segunda mo. Alm das peas de carpintaria e ferraria, havia, na poca, na oficina, uma seo mecnica, com seis mquinas de furar, trs grandes tornos mecnicos, outros cinco menores, trs plainas limadoras, seis plainas de mesa, uma vertical, alm de outros acessrios. Funcionava, tambm, a fundio, com seus fornos, sees de modelagem e de caldeiraria leve. O nmero de funcionrios passara para quarenta, crescendo, pelo menos, cinco vezes em dez anos.

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Regulamentao do mercado aucareiro


Com a crise do caf, em 1929, os agricultores passaram a investir na lavoura canavieira, principalmente os paulistas, tornando o estado auto-suficiente na produo de acar, e privando a outra grande rea fornecedora, o Nordeste, do seu maior mercado consumidor. Dessa forma, a produo paulista de acar, que foi de 155 348 sacas de sessenta quilos em 1925, passou para 1 853 937 sacas em 1934. Paralelamente, com a finalidade de incentivar a fabricao de lcool, o governo Vargas ofereceu um prmio de cinqenta contos de ris primeira destilaria construda no pas at 31 de maro de 1932, capaz de produzir, no mnimo, 15 000 litros por dia, e tornou obrigatria a adio de 5% de lcool gasolina importada. Estimulou-se, tambm, a instalao de destilarias que produzissem lcool diretamente da cana-de-acar. Sem seu maior comprador A partir de 1932, foram e diante da impossibilidade de firmados contratos com parexportao, por causa dos preos ticulares para a implantao desestimuladores, a agroindstria dessas destilarias e, em novembro aucareira nordestina viu-se diante daquele ano, limitou-se a prode uma grave crise. Para salv-la da duo de acar pela mdia das bancarrota, o governo de Getlio safras dos cinco anos anteriores. Vargas decidiu intervir no assunto, Essa restrio s seria, no entaninicialmente, por meio da Coto, amplamente aplicada, quatro misso de Defesa da Produo de anos mais tarde. O governo estaAcar e da Comisso de Estudos beleceu, ainda, estoques regulasobre o lcool-motor. Esses dois dores para o acar e incentivou rgos seriam incorporados, pouco as exportaes. depois, em 1933, pelo Instituto do O IAA manNos anos 1930, Acar e do lcool teve estveis os a Dedini se beneficiou (IAA), que passou preos internos do a estabelecer a do apoio governamental acar, tomando poltica para o setor como base aqueles ao setor sucroalcooleiro sucroalcooleiro. vigentes no Rio de

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Janeiro, o que favoreceu ainda mais a produo do Centro-Sul. Outra medida de impacto foi a proibio da montagem de novos engenhos e usinas, em julho de 1933, sem prvia consulta e aprovao. A licena s seria concedida quando a usina utilizasse canaviais j existentes, ou modernizasse engenhos desativados. A finalidade expressa do IAA era assegurar o equilbrio interno entre as safras anuais e o consumo de acar e estimular o fabrico do lcool anidro, por meio das destilarias centrais. Para tanto, a produo de acar foi limitada a cotas, proporcionais capacidade instalada de cada usina e produo dos cinco anos anteriores. Nessa altura, So Paulo j se tornara o segundo produtor nacional, s superado por Pernambuco. Todas essas medidas adotadas acabaram por estabilizar o mercado interno de acar. Se, de um lado, a poltica do novo rgo, que estipulou o sistema de cotas de produo por estados da federao, salvou a economia aucareira nordestina da falncia, de outro, levou a indstria paulista auto-suficincia. Segundo estudiosos, essa atuao

governamental impediu a concorrncia prejudicial entre usinas demasiadamente prximas, alm de possibilitar a melhor alocao de recursos financeiros, antes utilizados na aquisio desenfreada de terras para cultivo de cana. Nos anos 1930, Piracicaba produzia cerca de 20% do acar do estado. Aproveitando a possibilidade de financiamento para aquisio e instalao de destilarias de lcool anidro, anexas s usinas, entrou em funcionamento a primeira unidade do Brasil em Piracicaba (1933), com capacidade de produo de 12 000 litros por dia. Nessa poca, a Societ des Sucrries Brsiliennes comeou, tambm, a fabricar lcool anidro em todas as suas unidades.

Equipamentos Dedini instalados em usina de acar, na dcada de 1940

Concorrncia fraca
Essa conjuntura foi muito benfica para a M. Dedini, que passou a auxiliar os empresrios paulistas a transformar os arcaicos engenhos turbinadores (que no possuam cozedores a vcuo) em modernas usinas. Assim, quando ocorreu o deslocamento do plo aucareiro do Nordeste para o Sudeste brasileiro, a empresa era praticamente a

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nica em todo o territrio nacional com condies de fornecer mquinas e equipamentos especficos para atender a esse novo mercado em expanso. Pelo que se tem conhecimento, no incio do sculo XX, estavam em funcionamento a antiga Fundio do Brasil, do Recife, que prestava servios de reparos e reformas, e a Esperana. Esta pequena indstria instalada em Itabira (MG) fabricou, durante algum tempo, mquinas para o setor aucareiro, vendidas em So Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. Ao longo do tempo, surgiram outros estabelecimentos para atender o setor canavieiro, mas a maioria era constituda de pequenas oficinas, mal aparelhadas, com mo-de-obra sem especializao e, portanto, de vida efmera. Nos anos 1920, atuavam, no estado de So Paulo, a Martins Barros, na Capital, fabricante de pequenas moendas de cana; a Tonanni, em Jaboticabal, produzindo centrfugas para engenhos turbinadores; e a da famlia Krhenbhl, em Piracicaba, que tambm fabricava moendas e alguns implementos agrcolas (cujo maquinrio foi, mais tarde, adquirido pela Dedini).

No Rio de Janeiro, j operava, tambm, desde 1935, a Companhia Federal de Fundio, que produzia vrios equipamentos, como centrfugas, cristalizadores, bombas, trilhos e prensas, entre outros. Tambm naquela cidade, a Fundio Guanabara Cia. Metalrgica fabricava alguns itens para usinas e destilarias. No incio da dcada de 1940, surgiu, na Capital de So Paulo, ainda, a primeira empresa especializada na construo de destilarias, a Sociedade Construtora de Destilarias e Indstrias Qumicas (Codiq), que passou a fornecer equipamentos nacionais aos interessados. A empresa foi fundada e administrada por engenheiros franceses, que haviam trabalhado na Societ des Etablissements Barbet, responsvel pela instalao de inmeras fbricas de lcool anidro e retificado e indstrias qumicas no pas, at ento importadas. A maioria dos estabelecimentos era constituda, portanto, de pequenas oficinas pulverizadas na Capital, no interior de So Paulo ou na cidade do Rio de Janeiro, fabricando apenas determinados tipos de equipamentos. Como a concorrncia no setor de bens para produo sucroalcooleira era, ento, quase inexis-

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tente, a Dedini viu-se estimulada a investir, ainda mais, na ampliao da sua linha de produtos.

A primeira usina
Uma experincia considerada decisiva para que a Dedini passasse condio de empresa nacional fabricante de equipamentos ocorreu em 1932. Nessa ocasio, Mario Dedini foi at a regio de Campos (RJ), tradicional plo aucareiro, para avaliar as condies de uma usina, velha e desgastada, que seu compadre e amigo Pedro Ometto desejava adquirir para instalar na fazenda Boa Vista, em Iracempolis (SP), prximo a Piracicaba. Surpreendidos pela ecloso da Revoluo Constitucionalista de 1932, os dois amigos foram obrigados a permanecer no Rio de Janeiro at o restabelecimento do sistema de transportes. O negcio, porm, se concretizou, e as pesadas mquinas da usina foram desmontadas e transportadas para as Oficinas Dedini por trem, onde seriam reformadas; inclusive o conjunto de dois ternos de moendas, com dimenses de vinte por trinta polegadas, e um conjunto esmagador, acionado

por mquina a vapor. Eram equipamentos maiores e mais complexos do que aqueles construdos at ento, e a experincia adquirida nesse trabalho permitiu a acumulao de maior conhecimento tcnico sobre o assunto. Pouco tempo depois, a Dedini construiu e vendeu ao comendador Virgolino de Oliveira outro conjunto de moagem com a mesma capacidade, com projetos dos prprios tcnicos da empresa. A partir da, a linha de produtos ampliou-se ainda mais, com a fabricao de outros equipamentos para as usinas. Outro passo importante daqueles tempos foi a aquisio de um forno, inicialmente a leo e, depois, eltrico, que possibilitou a produo de peas de ao. Com a instalao de um forno da marca Fulmina, foi possvel, tambm, fabricar eixos das moendas que obtiveram muito sucesso, pois os utilizados at ento, importados da Alemanha, quebravam facilmente. Nessa poca, em um ato patritico, Mario Dedini resolveu colaborar com a Revoluo Constitucionalista de 1932. Para tanto, efetuou algumas modificaes na estrutura e programao da oficina, e passou a fabricar ma-

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O TRIO INCOMPARVEL
Por volta de 1928, o imigrante Pedro Ometto (18931966) procurou Mario Dedini na sua oficina, estabelecida no bairro da Vila Rezende. Desejava ampliar e modernizar seu engenho, no bairro da gua Santa, nas proximidades de Piracicaba, onde, juntamente com os irmos, plantava cana e fabricava aguardente. A conversa rendeu muito mais que uma simples venda: nascia, naquela ocasio, uma amizade entre os dois empresrios, que duraria todas suas vidas. Era, tambm, o incio de parceria frutfera em inmeros negcios bem-sucedidos, que contriburam para transformar Pedro Ometto no rei do acar, pioneiro de um grupo que at hoje domina a produo sucroalcooleira do pas, e Mario Dedini no maior fabricante nacional de bens de capital para o setor de acar e lcool. Logo depois, em 1930, foi a vez de Virgolino de Oliveira (1901-1962), um jovem moreno e alegre, visitar a Oficina, procura de Mario Dedini. Ele queria conversar sobre a reforma de seu engenho de acar batido, prximo cidade paulista de Itapira. Aps longa conversa, o negcio foi realizado. Mario facilitou o pagamento, apesar da transao importar em alguns milhares de ris, e recusou o fiador oferecido por Virgolino, respondendo que sabia estar tratando com um homem de bem, e que isto lhe bastava. Bons tempos aqueles em que as negociaes se baseavam na confiana mtua. Estava formado, assim, o trio de amigos, inseparveis no trabalho e no lazer, fortalecido por inmeras sociedades em negcios, e por laos de compadrio e de parentesco, estabelecidos ao longo do tempo. Com Pedro Ometto, Mario Dedini encontrava-se quase diariamente em Piracicaba. Nos finais de semana, ele costumava, sistematicamente, visitar o amigo Virgolino em Itapira, onde promoviam, com as respectivas famlias, churrascos e festas sempre muito alegres e animadas. Em 1936, Mario Dedini ficou scio de Pedro Ometto na usina Costa Pinto, at hoje em funcionamento em Piracicaba, fornecendo equipamentos no s para essa, mas para muitas outras indstrias da famlia Ometto. Mario Dedini s deixaria de ser scio da famlia Ometto em 1965, um ano antes da morte do amigo Pedro. Em 1941, Mario convidou o filho de Pedro, Dovilio, que acabara de formar-se em engenharia agronmica na Luiz de Queiroz para trabalhar com ele na oficina. Dois anos depois, Dovilio se casaria com a filha do grande amigo Mario, Ada. Mais tarde, tornou-se o sucessor do sogro, no comando do conglomerado de empresas por eles formado. A amizade entre os trs empresrios durou enquanto viveram: Virgolino de Oliveira foi o primeiro a falecer, vtima de trgico acidente areo; depois, em 1964, foi a vez de Pedro Ometto, e, finalmente, Mario Dedini, em 1970. Quem conviveu com os trs amigos, costuma
Os amigos Pedro Ometto, Mario Dedini e Virgolino de Oliveira

dizer que, onde quer que estejam, com certeza, eles ainda esto juntos, entabulando negcios, trocando idias, fazendo piadas e inventando novidades...

terial blico para suprir o exrcito paulista com peas de reposio e munio para serem utilizadas pelas tropas em combate. O principal destaque nesse esforo de guerra foi a fabricao de granadas, em ferro fundido, com formato de abacaxi, como passaram a ser chamadas; na verdade, lembravam a aparncia da fruta, com sua cpula arredondada, a outra extremidade cilndrica e o invlucro, modelado com pequenos quadrados. No se sabe quantas unidades foram produzidas, mas o certo que o industrial no recebeu nenhuma remunerao pelo trabalho.

Vetor de progresso
A partir da dcada de 1930, o carro-chefe na produo da empresa passou a ser os conjuntos de moagem de cana, inicialmente, feitos em ferro fundido. Para comercializ-los, Mario Dedini adotava mtodo peculiar e muito eficiente, praticado at os anos 1960. Por meio de acordos pessoais, ele oferecia novos equipamentos para ampliao e modernizao das usinas, aceitando as mquinas obsoletas como parte do pagamento.

Muitas vezes, oferecia conjuntos completos de moagem atualizados e com maior capacidade. Segundo o relato de seu genro, Dovilio Ometto, em abril de 2005, presidente do grupo Dedini, desde os anos de 1970, que assistiu inmeras vezes a essas negociaes, elas realizavam-se na base da confiana: o empresrio no se importava de vender menos, quando percebia que o comprador no necessitava de equipamentos de maior capacidade. O cliente vinha, geralmente, com dinheiro contado para a compra do maquinrio. Meu sogro, ento, fazia-lhe um planejamento, aconselhandoo a no gastar tudo com mquinas e investir, tambm, na melhoria de suas plantaes de cana. Quando obtivesse lucros, voltaria para ampliar a usina. A forma de pagamento, geralmente, era parcelada: um tero por ocasio do pedido, um tero na entrega do equipamento, e o restante, somente, quando terminasse a primeira safra. Mario Dedini

Caderno de anotaes de Mario Dedini, em 1939

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Caldeira tipo locomotiva na usina Nossa Senhora da Aparecida, em Itapira (SP), em 1944. Em destaque, seu proprietrio, Virgolino de Oliveira

escrevia os pedidos em blocos de notas, e supervisionava diretamente sua fabricao. As mquinas usadas, recebidas como parte do pagamento, por sua vez, eram reformadas e revendidas s unidades de menor porte. Por isso, o economista Barjas Negri afirma, em seu estudo sobre a Dedini (1977), que esse tipo de comercializao funcionou, naquela

poca, como um importante vetor irradiador de progresso tecnolgico no setor aucareiro. De um lado, permitiu a consolidao da posio da empresa, ampliando significativamente sua participao no mercado, e, de outro, exerceu papel ativo na dinamizao daquele tipo de agroindstria, por meio do incremento da produtividade mdia.

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Associao benfica
Mario Dedini ia, ainda, mais longe: quando identificava interessados em investir no setor aucareiro sem capital suficiente, associava-se para viabilizar o empreendimento, fornecendo os equipamentos. A primeira usina da qual entrou como scio foi a Costa Pinto, instalada em Piracicaba, em 1936, juntamente com as famlias Ometto e Bassinelo, cujo capital na poca era de 600:000$000 (seiscentos contos de ris). A produo inicial daquela usina foi de 6 055 sacas de acar. A maior parte dos equipamentos foi fornecida pela prpria empresa, e apenas uma parte importada da Europa. Mais tarde, quando fossem exigidas peas de reposio, ou houvesse necessidade de adquirir novos produtos para ampliar a capacidade, eles teriam, com certeza, a marca Dedini. Nos anos seguintes, alm da Costa Pinto, outras usinas foram instaladas, tambm, nesse regime de associao: a So Francisco do Quilombo, em Charqueada (SP), e a Bandeirantes, no Paran, ambas em 1942. Tais parcerias foram benficas para a empresa, uma vez que Mario Dedini era, ao mesmo tempo, fabricante de equipamentos para o

setor e proprietrio de usinas; estas funcionavam como verdadeiros laboratrios para seus produtos, constantemente aperfeioados e testados nas unidades em que participava como acionista. No perodo de 1939-1945, coincidindo com o aumento da produo paulista de acar, a Dedini vendeu a diversas unidades fabris pelo menos catorze conjuntos de moagens, com grande porte para a poca (29 por 36 polegadas, 24 por 48 polegadas e 26 por 48 polegadas). Esses maquinrios j possuam mais de 90% de capacidade de extrao de caldo. Em So Paulo, dentre as usinas que adquiriram equipamentos estavam: Pedra (Serrana), Santa Cruz (Capivari), Santa Elisa (Sertozinho), Santa Lucia e So Joo (Araras), Paraso (Charqueada), Costa Pinto (Piracicaba). Havia tambm, compradores de outros estados, como as usinas Porto Real (Floriano, RJ), Bandeirantes (Bandeirantes, PR) e Fundao Brasil Central (Rio Doce, GO), entre outras.

Auto-suficincia paulista
Nessa poca, com a poltica de estmulo do IAA para ampliar e modernizar antigos engenhos, o nmero de usinas instaladas em

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So Paulo dobrou, passando de vinte, em 1929, para quarenta, em 1945. Dessa forma, o estado deixou, nos anos seguintes, de ser dependente do acar proveniente de outros locais, passando a produzir as quantidades necessrias para atender a demanda do mercado. Ao trmino da Segunda Guerra Mundial, os usineiros paulistas reforaram a presso junto ao IAA para ampliar suas cotas de produo, o que acabou ocorrendo em 1946. Com o objetivo de modernizar a obsoleta fabricao nacional de acar, o governo concedeu cotas aos engenhos turbinadores para transformaremse em usinas. Autorizou, tambm, a instalao de novas unidades. Em decorrncia dessa situao, a cidade de Piracicaba, um dos mais tradicionais centros produtivos de acar e lcool, recebeu impacto positivo dessa onda de desenvolvimento. A substituio dos engenhos pelas usinas ocorreu no mesmo ritmo do resto do pas, mas a concentrao e a modernizao dos estabelecimentos, no entanto, foram impressionantes.
Mquina fresadora na Oficina Dedini, na dcada de 1940

pela extensa rea rural do municpio. Dez anos depois, a relao oficial estava reduzida a cinco grandes usinas responsveis pela produo local de acar: Piracicaba (antigo Engenho Central), Costa Pinto, Modelo, Santo Antnio e Monte Alegre. Destas, apenas uma sobreviveu at os dias atuais, a Costa Pinto, pertencente ao grupo Cosan. Piracicaba no conseguiu, no entanto, manter a hegemonia da produo em relao a outros municpios paulistas. A grande expanso das lavouras na dcada de 1950 ocorreu nos municpios canavieiros da Mdia Depresso Perifrica e, principalmente, em reas novas do planalto paulista, onde no haviam sido instaladas usinas. Regies como as de Ribeiro Preto e a vizinha Sertozinho tornaram-se rapidamente as maiores produtoras do estado. Um dos maiores beneficiados com a modernizao da indstria aucareira paulista, e, especialmente, de Piracicaba, foi o empresrio Mario Dedini, proprietrio da nica fbrica capaz de fornecer equipamentos para esses estabelecimentos. Sua empresa determinou e influenciou profundamente a expanso industrial na cidade.

Em 1953, o IAA havia registrado 56 pequenos engenhos de acar e aguardente, disseminados

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Diversificao da produo
Com o crescimento do parque aucareiro paulista, foi necessrio produzir conjuntos de moagem com maior capacidade e, tambm, diversificar a linha de produtos para atender de forma mais completa as necessidades das usinas. Assim, nos anos 1940, a M. Dedini fabricava, alm dos conjuntos de moendas, tanques, caldeiras, evaporadores, cristalizadores, aquecedores, turbinas, motores a vapor, secadores de acar, bombas, ejetores e condensadores, entre outros. Para fabricar caldeiras e seus acessrios, a M. Dedini enfrentava grandes dificuldades naquela poca. As chapas de ao utilizadas na sua confeco eram importadas dos Estados Unidos e a tcnica muito rudimentar, com o emprego de um sistema de soldar as chapas na base de rebite a quente, operao que demandava muito tempo e esforo. Somente no final dos anos 1930 foi introduzida a solda eltrica, mas, mesmo assim, a empresa ainda ficou na dependncia do fornecimento de eletrodos importados. Durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), a Dedini fabricou dois conjuntos de

moendas dos tamanhos 24 por 48 polegadas e 26 por 48 polegadas, sendo o primeiro entregue para a usina Costa Pinto, ento, ainda, de propriedade das famlias Ometto e Dedini. Era um conjunto com quatro ternos de moendas dessa dimenso, muito maior que as produzidas na poca, capaz de processar 1 000 toneladas de cana por dia, o que permitiu a grande expanso daquela unidade. Naquela ocasio, a empresa passou a fabricar os equipamentos preparadores de cana, os jogos de facas rotativas, cortadoras e niveladoras de cana. Produzia, tambm, motores a vapor verticais, destinados ao acionamento dos jogos de facas e esteiras de cana, com tecnologia adquirida, tambm, a partir das inmeras reformas e consertos feitos para clientes.

Cresce a produo de lcool


Outro fato que influenciou grandemente o setor canavieiro, durante os anos 1940, foi a poltica do IAA para incrementar a produo nacional de lcool. At ento, sua fabricao era uma atividade marginal e irregular, geralmente vinculada s

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Caldeira fabricada pela Dedini, em 1946

usinas. Basta lembrar que, em 1933, havia no Brasil somente uma destilaria de lcool anidro, instalada em Piracicaba, cuja real capacidade de produo era controvertida. Alguns falavam em 5 000 litros, outros em 12 000 litros por dia. Em 1934, mais trs destilarias iniciaram suas atividades, em Pernambuco e no Rio de Janeiro. Aos poucos, o setor privado respondeu ao chamado do governo e, diante dos estmulos, foram criadas vrias unidades anexas s usinas. Esse crescimento deveu-se, principalmente, iseno de tarifas de importao de vasilhames para transporte e armazenamento

do produto, e, tambm, obrigatoriedade de adio de lcool anidro gasolina. Em 1941, o teor mnimo da mistura passou de 5% para 20%. O governo concedeu, ainda, outros incentivos para estimular a fabricao de lcool, incluindo facilidades para compra no exterior de mquinas e equipamentos para essa finalidade. Em decorrncia da poltica do governo, em 1939, j funcionavam 39 destilarias no Brasil, que podiam fabricar 33 milhes de litros de lcool anidro por ano, embora sua capacidade nominal fosse maior. Em 1941, o nmero havia-se elevado para 44 unidades, com produo anual

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Antigas instalaes da Construtora de Distilarias Dedini Codistil, no bairro da Vila Rezende, na dcada de 1940

efetiva de 76,6 milhes de litros anuais. Era, ainda, no entanto, muito pouco para atender a demanda de todo o pas pelo carburante nacional. Dessa forma, abriu-se um atrativo mercado para a indstria de bens de capital voltada para o setor alcooleiro, que soube aproveitar essa oportunidade, aumentando sua capacidade de produo.

Construo de destilarias
Investir na produo de equipamentos para fabricao de lcool era uma idia antiga,

que Mario Dedini conversava h tempos com seus amigos, os irmos Waldomiro, Amrico e Alcides Perissinotto, todos moradores da Vila Rezende. Eles foram pioneiros na confeco de artefatos em cobre, em Piracicaba, consertando panelas, baldes e outros utenslios. Depois de algum tempo, passaram a fazer alambiques para destilao de aguardente e a oficina cresceu, mudando-se para novo ponto, situado no primeiro quarteiro da avenida Dr. Eullio (hoje Monsenhor Jernymo Gallo). Na dcada de 1940, Amrico Perissinotto montou uma fbrica

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de destilarias em sociedade com o especialista francs, Jean Joseph Morlet. A coluna por eles idealizada destilava a pinga, transformando-a em lcool puro. Uma delas foi vendida a Umberto Aldrovandi, que a instalou em seu engenho na chamada Estrada do Meio, na zona rural de Piracicaba. Por ocasio da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), devido falta de combustvel, os proprietrios de carros de aluguel da cidade enfrentaram o racionamento; para continuar trabalhando, eles enchiam metade do tanque com gasolina e completavam-no com lcool proveniente do engenho do Aldrovandi. Assim, a mistura de lcool com gasolina para abastecimento de veculos j ocorria com sucesso em Piracicaba, em 1940, muito antes de generalizar-se pelo pas. Diante da conjuntura, Mario Dedini decidiu fundar a Construtora de Distilarias Dedini Codistil, constituda em 8 de fevereiro de 1943, e instalada avenida Dona Francisca, 215, na Vila Rezende, prxima Oficina Dedini. Ocupava, inicialmente, rea total de 1 470 metros quadrados, sendo 885 m2 constitudos por edificaes.

Quando iniciou as atividades possua, apenas, seis funcionrios; algum tempo depois, a equipe era formada por 165 pessoas. O objeto social da nova empresa era a fabricao e o comrcio de mquinas, alambiques, aparelhos, peas, acessrios e instalaes do ramo, bem como a montagem de destilarias para lcool e aguardente. Nos primeiros tempos, a nova empresa foi dirigida por Waldomiro Perissinotto e Lzaro Pinto Sampaio. Depois, pelo sobrinho de Mario Dedini, Narciso Gobbin, conhecido como Nino, que permaneceu no posto at os anos 1990, quando saiu do grupo para dirigir sua prpria empresa. O capital social registrado da Codistil era de Cr$ 400 000,00, distribudo entre os seguintes acionistas: Waldomiro Perissinotto (Cr$ 100 000,00), Nida Dedini Ricciardi e Ada Dedini (Cr$ 75 000,00 cada uma), Dovilio Ometto e Leopoldo Dedini (Cr$ 50 000,00 cada um), Ottilia Furlan Dedini (Cr$ 25 000,00), Arnaldo Ricciardi (Cr$ 15 000,00) e Lzaro Pinto Sampaio (Cr$ 10 000,00). A Codistil operava de forma semelhante Oficina Dedini: no

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incio, fazia apenas alambiques de pequena capacidade, alm de reformar e consertar equipamentos j existentes nos engenhos de aguardente do municpio. Gradativamente, passou a fabricar algumas peas, cuja tecnologia era de domnio pblico. Dessa forma, habilitou-se para construir uma destilaria completa, em 1943, instalada na usina da Barra (Barra Bonita, SP), ento propriedade de Pedro Ometto, cuja capacidade de produo era de 12 000 litros de lcool retificado por dia. Quando terminou a Segunda Guerra Mundial, em face da expanso da empresa, o capital social foi elevado para Cr$ 1 200 000,00, e foram admitidos novos acionistas, alm dos j existentes: Mario Dedini, Armando Dedini e Amrico Perissinotto. Os alambiques fabricados pela Codistil para fabricao de aguardente de cana, de melao ou de cereais englobavam vrios tipos: com caldeiras simples ou mltiplas, com ou sem retificadores, aquecidos a fogo ou a vapor, em serpentinas, borbotores, ou camisas. Podiam operar a banho-maria, serem fixos ou mveis, com capacidade de carga que variava de cinco litros, para anlises de amostras, at 5 000

litros para cada corpo ou caldeira de produo diria. As colunas destilatrias para fabrico do lcool podiam utilizar diversos tipos de vinhos: de cana, melao, matrias amilceas, suculentas ou alcolicas. Sua capacidade de carga atendia tambm, desde a escala de laboratrio, at produes maiores do que 60 000 litros por dia. No primeiro decnio de atividades, a Codistil j havia fabricado, pelo menos, 140 destilarias para aguardente, e trinta para produo de lcool. Sua atuao englobava inmeras instalaes industriais de destilao para fabricao contnua de aguardente, de lcool retificado de baixo e alto grau; para retificao de flegmas ou aguardentes; para destilao-retificao (contnua direta e indireta) para obteno de lcool retificado industrial, fino e extra-fino e destilao-retificao-desidratao contnua, direta para lcool anidro. As instalaes para destilarias Codistil eram fornecidas completas, com os equipamentos destinados ao preparo do mosto, do levedo alcolico, de fermentao, reservatrios diversos, estruturas metlicas e outros acessrios.

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No setor de construo de alambiques e destilarias, a Codistil enfrentou, na dcada de 1940, a concorrncia da Morlet S.A., tambm instalada em Piracicaba, com uma centena de funcionrios aproximadamente, constituda com capitais locais que teve grande expanso nos anos seguintes. Em 1960, a Dedini adquiriu a parte majoritria de suas aes, ento, em poder do grupo Bardella, de So Paulo. Posteriormente, em 1969, a empresa foi totalmente absorvida e incorporada Codistil.

tempo em Piracicaba, e s regressaram ao continente europeu depois do trmino do conflito. Paralelamente, prosseguiam na empresa os esforos para melhorar a tecnologia de produo, com o aperfeioamento dos conjuntos de moagem de cana, bastante superiores em tamanho e produtividade. Com dimenses de 34 por 54 polegadas, passaram a contar com quatro ternos de moendas, podendo processar 1 500 toneladas de cana por dia. Um pouco mais tarde, em 1954, as moendas passaram a ser construdas com maiores dimenses, acionadas por turbinas da marca GHH, importadas da Alemanha. As primeiras foram instaladas na usina Central de Piracicaba. Tais equipamentos seriam capazes de atender a demanda do setor nos vinte anos seguintes. Nessa mesma poca, a Dedini j produzia motores a vapor horizontais, de at 1 000 hp, destinados a movimentar os conjuntos de moendas, at ento importados. No decorrer do tempo, muitos outros aparelhos entraram na linha de produo da empresa, com destaque para as caldeiras geradoras de vapor, de vrios tipos, indis-

Evoluo tecnolgica
Durante a Segunda Guerra Mundial, as oficinas Dedini tambm se engajaram ao esforo blico e produziram capacetes e ps de metralhadoras para as tropas aliadas. Mario Dedini no deixou, entretanto, de ajudar seus compatriotas. Por volta de 1943, ele trouxe marinheiros de um navio italiano para trabalhar em suas oficinas. Eles haviam ficado detidos no porto de Santos, devido proibio de navegao que os aliados, entre eles o Brasil, impuseram aos pases do chamado Eixo (Alemanha, Itlia e Japo). Os italianos viveram durante algum

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pensveis ao funcionamento das usinas que, juntamente com as moendas, se tornaram os principais equipamentos produzidos pela indstria. Dessa forma, ao trmino da Segunda Guerra Mundial (19391945), a M. Dedini consolidou-se como uma empresa nacional de grande porte, capaz de produzir todos os equipamentos para usina de acar, passando a atender, em nvel nacional, as necessidades dos produtores. Intensificou seu ritmo de produo, em virtude da expanso da indstria aucareira paulista. Assim, o aumento de capacidade produtiva, aliado valorizao das reservas financeiras, acumuladas pela empresa durante o conflito, permitiram seu fortalecimento e reequipamento. Em 11 de novembro de 1945, a empresa deixou de ser individual, adquirindo a denominao M. Dedini & Cia., elevando seu capital social de Cr$ 1 000 000,00 para Cr$ 6 000 000,00, dividido entre os seguintes acionistas: Mario Dedini (Cr$ 2 000 000,00), seus filhos Armando, Ada e Nida com Cr$ 1 000 000,00 cada um; seu sobrinho Leopoldo Dedini e seu genro Dovilio Ometto, com Cr$ 500 000,00 cada um.

Montagem de moendas nas Oficinas Dedini para a usina Santa Elisa, Sertozinho (SP), em 1948

Buscando o equilbrio
Durante o ps-guerra, o setor aucareiro voltou a enfrentar problemas. Para contorn-los, o governo instituiu, em 1947, o Estatuto da Lavoura Canavieira, que estabeleceu o mximo de 60% do consumo de matria-prima a ser fornecido pelas lavouras prprias das usinas, devendo o restante ser obrigatoriamente proveniente de plantadores autnomos. Essa poltica governamental teve grandes repercusses; passados os primeiros anos de restries e dificuldades, o mercado reencontrou o equilbrio entre a oferta e demanda. Para tanto, foi necessrio que o IAA comprasse e estocasse grandes quantidades de acar durante vrias safras. Estimulado por aquele rgo, o tradicional segmento canavieiro pde modernizar-se, ao longo do tempo. Gradativamente, os velhos engenhos desapareceram, abrindo espao para as usinas. Em 1925-1926, eles eram responsveis por 42% do total fabricado pelo pas. Essa participao caiu para 20%, em 1947-1948, at tornar-se inexistente, nos anos posteriores. Embora no conseguisse corrigir a instabilidade do setor,

inerente prpria natureza do produto, a poltica do IAA consolidou a indstria aucareira em bases mais slidas, organizada para crescer e para melhor enfrentar os impactos das crises internacionais. Apesar das reclamaes dos produtores paulistas, que se viram limitados no crescimento, o IAA assegurou ao Nordeste a manuteno dessa atividade, vital para seu desenvolvimento; no entanto, em ritmo muito menor do que no Centro-Sul.

Abertura das importaes


Com o trmino da Segunda Guerra Mundial, cessou a proibio das importaes de equipamentos, e a economia nacional viveu um breve momento de euforia, diante do acmulo de reservas monetrias decorrentes da suspenso das compras no exterior no perodo em que durou o conflito. A conseqncia imediata dessa poltica cambial para a economia aucareira foi, em um primeiro momento, o aumento das importaes para aquisio de mquinas e equipamentos. Nessa poca, o estado de So

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Paulo foi favorecido pelo IAA, com aumento da sua cota de produo para que pudesse suprir a demanda de acar no mercado interno. Assim, precisava importar diversos equipamentos para modernizar ainda mais seu parque fabril. Quando o governo acenou com a possibilidade de aquisio de mquinas no exterior, em vez de prejudicada, a Dedini tambm beneficiou-se com a elevao dos preos de seus produtos para um patamar mais alto, nivelando-os com os dos importados. Segundo Barjas Negri (1977), esse dinamismo eficiente da empresa, perfeitamente ajustado s condies de mercado, expressava-se no contnuo avano tecnolgico verificado naquela poca, nos equipamentos produzidos, no que se refere capacidade e escala, ou na introduo de novos aparelhos na linha de produo. A poltica cambial praticada com a retomada das importaes de bens de consumo e de capital, no entanto, foi desastrosa para o pas, provocando grande endividamento. No ano de 1947, j havia vultosos dficits nas transaes correntes e, diante

dessa situao, o governo decidiu introduzir novamente rgidos controles administrativos s importaes consideradas suprfluas, em substituio desvalorizao cambial antes adotada. Dessa forma, no incio da dcada de 1950, foram tomadas diversas medidas visando estimular o desenvolvimento econmico, tais como investimentos em sistemas de transporte e energia e a instituio de uma reforma cambial. Essas modificaes influenciaram positivamente o processo de industrializao em curso do pas, consolidando uma reserva de mercado para as produes que possibilitassem substituio de importaes; estas, por sua vez, passaram a obedecer a taxas de cmbio mais elevadas. A concesso de subsdios e o favorecimento entrada de capital estrangeiro destinados expanso da indstria de bens de capital sob encomenda, de bens de consumo durvel e de bens intermedirios e insumos necessrios ao desenvolvimento industrial, acabaram, no entanto, contribuindo para aumentar o processo inflacionrio. Desde meados da dcada de 1940, a indstria pesada vinha se

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consolidando no Brasil, estimulada pelo governo Vargas. Esse setor da economia caracterizavase pela forte interveno direta ou indireta do Estado, e pela participao do capital estrangeiro. Assim, surgiram, nessa poca: a Cia. Vale do Rio Doce (1942), a Acesita (1944), e a Companhia Siderrgica Nacional (1945), entre outras. No incio da dcada seguinte, instituiu-se o monoplio estatal sobre o petrleo, com a instalao da Petrobras, aps campanha com grande mobilizao popular, e estabeleceu-se o Banco Nacional de Desenvolvimento Econmico (BNDE, hoje BNDES), que se tornaria, nos anos seguintes, o principal agente financiador de projetos na rea siderrgica e de gerao eltrica. Por outro lado, os preos do acar no mercado internacional haviam-se elevado durante a Segunda Guerra Mundial, mas o Brasil tinha dificuldades para export-lo, devido precariedade do transporte martimo. O escoamento das safras era mais problemtico no Nordeste, o que contribuiu, ainda mais, para acelerar o processo de decadncia das usinas ali instaladas e a transferncia do eixo produtivo para So Paulo.

Aumenta a diversificao
Em 1948, surgiu em Piracicaba a Metalrgica de Acessrios para Usinas S.A. Mausa, como resultado da associao do industrial Lino Morganti, at ento diretor da Refinadora Paulista S.A., do engenheiro Rubem de Souza Carvalho e do tcnico Joo Bottene, perito em indstria mecnica e ex-proprietrio de um estabelecimento de consertos e reparos dos trens da E. F. Sorocabana, entre 1925 e 1940. Mais tarde, Mario Dedini e outros membros de sua famlia associaram-se Mausa, adquirindo, sucessivamente, aes da empresa, at obterem seu total controle acionrio. Essa indstria tornou-se um importante estabelecimento da cidade, em funcionamento at os dias atuais, fornecendo produtos para usinas de acar e de lcool e para outros setores, como petroqumico e de fabricao de papel. No incio, a Mausa utilizava a seo mecnica da M. Dedini para usinagem de suas peas. Em pouco tempo, a nova fbrica estava produzindo 30% dos equipamentos necessrios instalao das usinas de acar. A Dedini fornecia o restante. Tanto uma como

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outra empresa trabalhavam pelo sistema de encomendas. O objetivo social da Mausa era fabricar mquinas e acessrios, consertos e instalaes industriais, realizar importaes e exportaes de mquinas. Um belo prdio para abrigar a fbrica foi erguido no centro de Piracicaba. Com capital de Cr$ 1 600 000,00 (um milho e seiscentos mil cruzeiros), a empresa tinha como scios: Joo Bottene, Romeu de Souza Carvalho, Lino Morganti, Mario Dedini, com participao de 15% cada um; Armando Dedini, Leopoldo Dedini, Dovilio Ometto e Arnaldo Ricciardi, com participao de 10% cada um. A Mausa fabricava aqueles equipamentos para as usinas no produzidos pelas outras duas

unidades (Metalrgica e Codistil), e cuja tecnologia no havia sido assimilada ainda. Assim, recorreu-se ao conhecimento de profissionais especializados para desenvolver novos produtos, como foi o caso de Joo Bottene, que alm de possuir participao acionria, tambm tornou-se diretor-gerente da nova empresa. Com a instalao da Mausa, pretendia-se obter uma diviso de trabalho mais eficiente, permitindo produo em maior escala e, conseqentemente, com maior economia. A fabricao abrangia uma linha mais diversificada para atender as usinas como filtros para caldos, diversos tipos de filtros rotativos, centrfu-

diversificao das linhas de progas convencionais, decantadores duo. Com isso, a rentabilidade (clarificadores), redutores de do grupo cresceu, auxiliada por velocidade, bombas para diversos uma poltica de vendas eficiente, fins industriais, mesas alimentaque oferecia doras de cana, assistncia tcpontes rolantes, Em agosto de 1949, nica localizada alm de muitos a Dedini comemora novo e facilidades de outros. financiamento Em 1950, as feito: no tempo recorde de aos clientes. oficinas Dedini sessenta dias conseguiu transformamAlm disso, fabricar e embarcar no se em sociedao setor aucade annima, reiro vivia um porto de Santos (SP), com com a denomibom momento, destino a Macei (AL), nao M. Dedini com o desloMetalrgica S.A. cerca de 1 500 toneladas camento do Dessa forma, eixo produtor de mquinas diversas e nessa poca, as para o sudeste destilarias para ampliao trs empresas brasileiro e a a Metalrgica, transformao da indstria sucroalcooleira a Codistil e a dos velhos do Nordeste. Mausa posengenhos em suam conmodernas dies de atender s principais usinas, como j foi dito antenecessidades das usinas e, por riormente. Um bom exemplo isso, tiveram um extraordinrio disso foi o caso da famlia Zanin. crescimento. Naquela poca, o Aproveitando a experincia na nmero de funcionrios ultraproduo do acar batido, passou os mil, sendo quase 30% eles resolveram acatar um deles empregados junto s duas conselho de Mario Dedini, amigo empresas mais novas do grupo. da famlia de longa data, para abandonar a produo de aguarEssa expanso foi resultado dente na Fazenda So Joaquim, em do contnuo aperfeioamento Araraquara (SP), e montar uma tcnico, que possibilitou o usina de acar cristal. aumento da produtividade e a

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Por volta de 1947, o industrial visitou o amigo e sugeriu o empreendimento a Domingos Zanin. A conversa entre os dois ficou gravada na memria de seus descendentes. Mario Dedini teria comentado que Ci vuole uma spinta per crescere! ( preciso um esforo para crescer!). O amigo, Domingos, respondeu: Ma dove sono gli sghei? (Mas, onde est o dinheiro?). O Sr. Mario retrucou: Ma certo! Si lavora e si paga! (Ora! Trabalha-se, e paga-se!). Assim surgiu a usina Zanin. Em 1947, a produo da Dedini j estava bastante diversificada, a ponto de fabricar unidades completas de fabricao de acar. Entre 1945-1948, colocou em funcionamento as usinas: Palmeiras (Araras), Modelo (Piracicaba), Barra Grande (Lenis Paulista), no estado de So Paulo, e Adelaide, em Ilhota (SC). Participou, tambm, como acionista da usina Fronteira,

em Frutal (MG), fornecendo equipamentos para sua reforma. Em 1950, Dovilio Ometto j aparece nos documentos da sociedade como diretor-gerente, ao lado de Mario Dedini. O diretor comercial era seu sobrinho, Leopoldo Dedini. Quando a empresa tomou a denominao de M. Dedini S.A. Metalrgica, naquele ano, foi criado mais um cargo na diretoria, ocupado por Armando Dedini. Em um contexto de fraca concorrncia, aliada grande capacidade produtiva, a Dedini firmou-se como lder do mercado naquela poca, dominando o cenrio industrial da cidade. Alm da M. Dedini S.A. Metalrgica, da Mausa e da Codistil Construtora de Distilarias Dedini S.A., todas pertencentes famlia Dedini, havia, em Piracicaba, naquela poca, apenas um estabelecimento com atuao significativa no setor, a Morlet S.A. Equipamentos para Indstrias.

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DOVILIO OMETTO: A GARANTIA DE CONTINUIDADE


Corria o ano de 1941. O piracicabano Dovilio Ometto, um dos filhos do rei do acar, Pedro Ometto, acabava de formar-se engenheiro agrnomo pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, sem sentir, na verdade, nenhuma vocao para o trabalho rural. Sua inteno era aprofundar mais seus estudos, principalmente na rea da mecnica, que o atraa bastante. Esse homem calmo e ponderado que, quando jovem, passava horas olhando as estrelas, intrigado com o que havia no infinito, define-se como um incansvel otimista e idealista: Sonhava at acordado, gostava de imaginar o que havia no cu e com esses pensamentos, chegava sublimao, recorda-se, emocionado, em depoimento de abril de 2005. Assim, quando recebeu o convite do melhor amigo de seu pai, o industrial Mario Dedini, para trabalhar em suas empresas, recusou de forma educada, mas firme. Foi, ento, para a cidade de Campinas (SP), juntamente com o amigo Andr Tosello, onde fez cursos na rea de seu interesse. Sua negativa, entretanto, no convenceu o interlocutor, que, na verdade, queria encaminhar a vida profissional do filho do dileto amigo Pedro. Passados seis meses da conversa inicial, o comendador voltou carga, comentando: Chega de teoria, vamos prtica!. Dessa forma, Dovilio voltou para Piracicaba e comeou a trabalhar nas Oficinas Dedini. Inicialmente, acompanhou as montagens de peas, e logo descobriu que aquele era o lugar ideal para desenvolver sua enorme curiosidade. Considerava um desafio colocar mquinas desativadas em funcionamento. Certa vez, ele encontrou um forno com acionamento hidrulico abandonado na rea da sucata e no descansou enquanto no o consertou. Assim, o prprio Mario Dedini, quando havia equipamentos com problemas, costumava dizer: Chama o Dovilio que ele d um jeito!. Em outra ocasio, quando estava sendo instalado um forno eltrico de ltima gerao na Siderrgica, acompanhou de perto sua montagem, a ponto de ficar 48 horas sem voltar para casa. Em 1943, Dovilio casou-se com a filha do meio de Mario Dedini, Ada (que viria a falecer precocemente, em 1974, aos 48 anos), com quem teve os filhos Mario, Claudia e Juliana. casado em segundas npcias com Carmen Eugenie Ometto. Dovilio permaneceu ao lado do sogro todas as horas e acompanhou ativamente o crescimento do imprio por ele criado. Por ocasio da maior crise vivida pela empresa, em meados de 1960, vendeu toda a sua participao no grupo Ometto e empregou o dinheiro na Dedini, sem exigir nenhuma data para retorno do emprstimo. Meu sogro no gostava de pegar financiamentos junto a bancos. Por isso, quando lhe ofereci dinheiro para saldar os compromissos urgentes, ele no hesitou. Aceitou, dizendo que eu
Dovilio Ometto, presidente das empresas Dedini, em seu escritrio situado na matriz, Piracicaba (SP), em outubro de 2005

era muito inteligente, pois o dinheiro voltaria com muitos dividendos. Para mim, isso foi um grande estmulo. Muito tempo depois, Dovilio ficou sabendo que seus irmos ficaram muito preocupados com sua atitude drstica. E formaram um fundo financeiro para auxili-lo, caso ele precisasse mais tarde. No foi necessrio. A Dedini venceu aquela crise e, muito depois, Dovilio converteu o dinheiro emprestado em aes, demonstrando, mais uma vez, sua confiana no futuro das empresas. Aos poucos, Dovilio foi-se impondo como gerente-geral do grupo, recebendo, segundo ele, todo o apoio do sogro. Assim, quando Mario Dedini faleceu, em 1970, Dovilio assumiu naturalmente o comando das empresas, por consenso dos acionistas. Para ele, foi um momento difcil: Era impossvel substituir um homem to carismtico como Mario Dedini. Por isso, procurei profissionalizar as empresas, contratando pessoas conceituadas e altamente qualificadas para dar conta dessa tarefa. Ao longo do tempo, vieram muitas outras crises, e a Dedini resistiu a todas, graas ao comando firme de Dovilio Ometto. No sem sacrifcios. Nessa luta pela sobrevivncia, precisou desfazer parte substancial de seu patrimnio. Agora, no incio do terceiro milnio, a empresa navega em guas mais calmas, com boas perspectivas de expanso nos prximos anos, impulsionada por uma conjuntura econmica favorvel. Recentemente, em abril de 2005, o esprito empreendedor de Dovilio Ometto foi reconhecido em nvel nacional. Ele recebeu o prmio de Lder Setorial categoria indstria de base (bens de capital), concedido pelo jornal Gazeta Mercantil. Dessa forma, passou a fazer parte de um seleto grupo de mil empresrios do Brasil que discutem e sugerem solues para o desenvolvimento do pas. Dovilio Ometto um homem introspectivo, sempre muito interessado em novidades e leitor incansvel, o que lhe permite estar sempre atualizado. No momento, confessa sua admirao pelo norte-americano Jack Welch, alto

executivo que comandou a multinacional General Electric at 2001, tornando-a uma das corporaes mais admiradas do mundo. Seguindo esse caminho, est implantando em suas empresas o famoso processo de gesto, o Seis Sigma, preconizado por aquele administrador. Com um estilo completamente diferente do sogro, Dovilio freqenta diariamente a sede administrativa da Dedini. Formou, ao longo do tempo, uma equipe competente, recrutada dentro da prpria empresa e em indstrias do setor de bens de capital, que vem implantando conceitos modernos de administrao, e buscando imprimir a marca da excelncia na tradicional indstria. Dovilio Ometto objetiva agora enxugar e modernizar a estrutura operacional da Dedini. Preocupa-se, tambm, em torn-la uma empresa cidad. Para tanto, espelha-se na imagem do fundador, de quem grande admirador: Mario Dedini foi um grande homem, teve uma vida emocionante. Foi um grande empreendedor, muito trabalhador, demonstrando, sempre, bastante iniciativa em seus negcios. Aprendi muito com seu exemplo. O empresrio no gosta de recordar fatos passados. No sou bom para guardar datas, comenta, sorrindo. Prefere falar do futuro, pois o considera mais intrigante. Considera que o setor de bens de capital sob encomenda est prestes a viver um momento de grande crescimento, semelhante ao do Prolcool, nos anos 1970, devido ao interesse despertado, em especial, pelo biodiesel. Sua equipe j fez os clculos: quando se efetivar a adio desse carburante fabricado a partir de leos vegetais ao diesel, j prevista em legislao no Brasil, a demanda ser maior ainda de quando se iniciou a mistura de lcool gasolina. Se isso se concretizar, mais uma vez, o grupo empresarial que Dovilio Ometto comanda ser bastante beneficiado, mostrando que sua f inabalvel em um futuro melhor e seu otimismo contagiante sero justamente recompensados.

CAPTULO 3

A todo vapor
Olha com que amplido no horizonte das vrzeas O spero manto das chamins se perde ao longe...
Ribeiro Couto, escritor brasileiro, no final da dcada de 1930.

Vapor dgua em chamins de usina paulista de acar e lcool

o Paulo no pode parar. Essas palavras de ordem retratavam a nervosa transformao ocorrida na economia paulista que, nos anos 1950, congregava quase 40% dos operrios da indstria nacional. Segundo o historiador Sergio Buarque de Holanda, as grandes concentraes de massa, altamente urbanizadas e alfabetizadas, em torno dos estabelecimentos fabris, passaram a dar um cunho indito e peculiar ao estado paulista, em relao ao restante do territrio brasileiro, bem distante dos tempos em que predominavam os interesses dos grandes proprietrios rurais. Observa-se que, no perodo de 1948 a 1960, a taxa mdia anual de crescimento industrial foi de 11,2%, enquanto o da agricultura, 4,3% por ano. Data dessa poca, a chegada ao pas das empresas multinacionais, implantando a indstria automobilstica e de eletrodomsticos. A expanso aumentou a capacidade de trabalho e fez emergir a chamada primeira gerao do consumo. Assim, ao mesmo tempo em que se fortaleceu o operariado e os movimentos sociais, ampliou-se a classe mdia no Brasil. Esse progresso foi impulsionado ainda mais pela poltica do presidente Juscelino Kubitschek (1956-1961), que queria dar ao pas cinqenta anos de progresso em cinco. Seus planos previam a industrializao acelerada e a transferncia do exterior para o territrio nacional das bases

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do desenvolvimento. Pela implantao do seu famoso Plano de Metas, com pesados investimentos em energia e transportes, o presidente abriu a economia para o capital estrangeiro, e possibilitou aumento de 80% na produo da indstria nacional. Kubitschek atingiu muitas das metas planejadas. A produo de ao dobrou no perodo, foram instaladas as hidreltricas de Trs Marias e Furnas e construda a nova capital do pas, Braslia. Mais de 20 000 quilmetros de novas estradas foram abertos, privilegiando o transporte rodovirio, em detrimento do ferrovirio. Eram objetivos ambiciosos para um pas que, no incio daquele governo, ainda amargava uma renda de apenas US$ 205 per capita, exibia altos ndices de mortalidade infantil e analfabetismo, e possua um estgio tecnolgico equivalente ao dos Estados Unidos h um sculo atrs, ou seja, 1860.

dos equipamentos para a indstria aucareira, principalmente, com a entrada em funcionamento da Mausa e da Codistil, quando ocorreu maior diversificao da linha de produo. Nessa poca, o mercado apresentava grande expanso (cerca 16% ao ano) e a Dedini beneficiou-se desse momento: no perodo de 1947 a 1952, suas vendas aumentaram seis vezes e meia, apresentando taxa mdia anual de crescimento de 60%, principalmente com a comercializao de onze usinas no perodo. O momento coincidiu com a efetivao de grandes investimentos na capacidade produtiva da empresa. As instalaes foram reformadas e ampliadas para receber o maior torno vertical existente na Amrica do Sul, pesando 120 toneladas, que possibilitava trabalhar peas com at 4,50 metros de dimetro. Haviam sido adquiridas, tambm, duas possantes fresas para peas com at cinco metros de dimetro, alm de um novo torno e uma plaina horizontal, com sessenta toneladas de peso cada. Convidado para conhecer as novas mquinas da Dedini, no incio de 1950, o ento presidente

Diversificao e expanso
Diante dessa poltica desenvolvimentista, na dcada de 1950, a Dedini j fornecia a maior parte

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do IAA, Edgard de Gis Monteiro, reconheceu o importante papel exercido pela empresa piracicabana no reequipamento da indstria aucareira nacional, declarando, na ocasio, ao peridico So Paulo Aucareiro: Vi hoje mquinas admirveis, de comprovada eficincia tcnica, o que assegurar s usinas de acar do pas maiores facilidades para aquisio de maquinaria, desde as mais simples, at grandes moendas de at 2 500 toneladas dirias, sem as protelaes na aquisio de material estrangeiro.

com capacidade para fornecer quase a totalidade dos equipamentos necessrios s usinas de acar e destilarias de lcool. Na opinio de Barjas Negri (1977), essa expanso possibilitou sua consolidao definitiva como uma fabricante de nvel nacional. A partir do momento em que a empresa comeou a produzir usinas de acar completas, a importao declinou consideravelmente, representando, em 1953, apenas 18% da oferta dos equipamentos. Nos anos seguintes, foi praticamente inexistente, restringindo-se a um ou outro item mais sofisticado.

Nacionais substituem importados


Em 1953, os jornais noticiavam que as sete usinas e destilarias instaladas em Piracicaba produziam 1,5 milho de sacas de acar, 3,31 milhes de litros de lcool comum e 3,5 milhes de litros de lcool anidro. Nessa poca, ocorreu um fato novo, quando um decreto do governo proibiu as importaes de equipamentos para o setor de acar e lcool. Os estudiosos do assunto acreditam que tal fato possibilitou Dedini absorver a fatia de mercado pertencente aos fornecedores estrangeiros, pois era, ento, a nica instalada no pas

A usina mais bonita do Brasil


Em janeiro de 1954, a conceituada revista norte-americana The Sugar Journal publicava em reportagem de capa a notcia da construo pela Dedini da usina Nossa Senhora da Aparecida, em Itapira (SP), de propriedade de Virgolino de Oliveira. Na opinio da revista, aquela era, certamente, a mais bonita e moderna usina do Brasil, combinando o melhor que existe em projeto de arquitetura com o que h de mais arrojado em performance

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de moagem. A matria informava, tambm, que a Oficina Dedini era uma gigantesca fbrica instalada em mais de 300 000 metros quadrados, provavelmente, a maior fundio da Amrica do Sul, brilhando com suas modernas mquinas de grandes dimenses.

Participao social
Nessa poca, a Dedini j influenciava fortemente a vida de Piracicaba. Um exemplo disso foi quando viabilizou a compra, pela prefeitura municipal, da empresa de Melhoramentos Urbanos, responsvel pelo precrio e deficiente abastecimento de gua na cidade. No dia 15 de maio de 1952, o comendador Mario Dedini entregou um cheque pessoal de Cr$ 4 000 000,000 ao prefeito Samuel de Castro Neves, para pagamento da primeira parcela da aquisio da companhia, ficando, outro tanto, para vencer dois meses depois. Dessa forma, ocorreu considervel melhoria nesse imprescindvel servio pblico para a populao da cidade. A iniciativa foi considerada quase to importante como o dia
Torno vertical de 120 toneladas instalado na Dedini no incio dos anos 1950: o maior da Amrica do Sul, na poca

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em que a gua encanada jorrou pela primeira vez em um chafariz na praa principal de Piracicaba, no final do sculo XIX. Depois do pico de crescimento observado no final dos anos 1940, o mercado de bens de capital para o setor aucareiro estabilizou-se. A comercializao de unidades completas diminuiu, e passou a ser mais direcionada para ampliaes e modernizaes. Tal situao ocorreu porque as usinas deram um salto qualitativo, aumentando a escala da produo para obter maior rendimento industrial. Assim, o ritmo das vendas da Dedini arrefeceu um pouco, diante da queda da demanda. Nessa poca, a empresa procurou melhorar a qualidade tcnica de seus produtos e pde, assim, manter sua posio de lder no mercado. Procurou, tambm, abrir novas reas de atuao.

cio. O capital social da nova empresa, de Cr$ 1 200 000,00, era, assim, constitudo: Mario Dedini, Ottilia Furlan Dedini, Armando Dedini, Nida Dedini Ricciardi e Ada Dedini Ometto, com Cr$ 200 000,00 cada um; Alfredo Rossini e Aldrovando Fleury, com Cr$ 50 000,00 cada um, e Osmany Junqueira Dias com Cr$ 100 000,00. Como acontecera antes, os integrantes da sociedade, no-pertencentes famlia, eram tcnicos especializados com bastante conhecimento ou, ento, pessoas de confiana dos outros acionistas. A Cermica parece ter sido criada para atender s necessidades da M. Dedini S.A. Metalrgica e de outras ligadas ao grupo, no que se refere ao fornecimento de materiais de construo civil. No incio, fabricava basicamente itens feitos de cermica vermelha manilhas, telhas, tijolos e congneres. No final dos anos 1950, a Cermica Dedini deu um salto tecnolgico e passou a fabricar materiais refratrios para revestimento interno de caldeiras, fornos industriais e canais de chamins destinados s indstrias em geral. Novas

Produo de refratrios
Um passo nesse sentido foi a instalao da Cermica Dedini Ltda., em 1952, destinada fabricao de tijolos, telhas, manilhas, ladrilhos e outros produtos de barro cozido, indstria e comr-

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mquinas foram adquiridas e houve elevao no capital social. Na alterao de 23 de outubro de 1957 retiraramse os acionistas que no eram membros da famlia, e outros foram admitidos. Mais tarde, essa indstria, que funciona at hoje, passou a chamar-se Dedini Refratrios. Outra empresa do grupo, a Siderrgica, que seria criada dois anos depois, tornou-se consumidora cativa dos produtos da Cermica e serviu, durante muito tempo, como campo de testes para seus produtos.

Surge a Siderrgica
A instalao da Siderrgica Dedini parece ter surgido da necessidade de melhor atender as outras unidades do grupo, com relao ao fornecimento de peas fundidas em ao, ferro e bronze. Foi constituda em 17 de maro de 1955, ocupando uma rea prxima Metalrgica, com oito alqueires, avenida 1 de agosto, Vila Rezende. Seu capital social inicial era de Cr$ 100 000 000,00, sendo 10% subscritos por ocasio

de sua instalao, e, o restante, a ser integralizado pela diretoria. O presidente da Siderrgica era Mario Dedini, e os diretores, Dovilio Ometto, Leopoldo e Armando Dedini. Os acionistas eram os mesmos da Metalrgica, com a seguinte distribuio: Mario Dedini e Arnaldo Ricciardi, 1,7% cada um; Dovilio Ometto e Leopoldo Dedini, 8,3% cada um; Nida Dedini Ricciardi, 20%; Ada Dedini Ometto, 22%, e Armando Dedini, 38%. A nova sociedade tinha como objetivo a siderurgia propriamente dita, consecuo de laminao de ferros, fabricao de pregos, parafusos e afins, tubos de

Anncio no The Sugar Journal (1954) considera a usina Nossa Senhora da Aparecida, em Itapira (SP), projetada e construda pela Dedini, como uma das mais bonitas e eficientes do mundo

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Siderrgica Dedini implantada em meados de 1950, no bairro da Vila Rezende, Piracicaba (SP)

ferro, semelhantes para industrializao e respectivo comrcio. A laminao e a produo de tubos destinavam-se a completar os aparelhos da caldeiraria do setor de acar e lcool, e, tambm, de vcuos, evaporadores etc. Os pregos fabricados, por sua vez, visavam atender demanda do setor ferrovirio, pois, naquela poca, efetuaram-se muitas ampliaes na rede existente.

No incio, as instalaes da Siderrgica receberam forno para fundio de bronze, depois, ampliado, tambm, para ferro e ao. Operava, basicamente, com sucata. Quando inaugurou, em 1955, uma linha de montagem da laminao de vergalhes para a construo civil, a nova indstria expandiu-se bastante. Em dois anos, o nmero de funcionrios passou de 45 para 225, e a pro-

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duo anual saltou de trs para dezesseis toneladas. Mais tarde, foi instalado um alto forno para processar minrio de ferro, mas, at os anos 1970, ele no funcionava regularmente. Alm dos setores de aciaria e laminao dos vergalhes, possua, em anexo, uma fbrica de parafusos e uma diviso cermica, cuja produo se destinava constante renovao dos refratrios dos fornos Siemens-Martin.

O presidente foi recebido com bastante entusiasmo por populares, funcionrios e diretores da Dedini, e, no final do dia, Kubitschek fez questo de deixar um bilhete escrito de prprio punho, em que ressaltava o arrojo e a imponncia das instalaes da indstria de Mario Dedini. A Metalrgica e a Siderrgica operavam em perfeita integrao: a primeira recebia ao lquido da aciaria da segunda, e, tambm, chapas de ao da Cia. Siderrgica Nacional, da Cosipa e da Usiminas. A Metalrgica possua trs divises: fundio, caldeiraria e mecnica. Da fundio, saam peas de ferro carbono, de ao carbono e de aos-liga, destinadas ao abastecimento de outras reas do grupo. Fabricava, tambm, produtos para outros ramos industriais, tais como corpos de prensas, matrizes para estamparia, barramentos para tornos e outras peas de alto valor agregado. A caldeiraria fornecia todos os equipamentos necessrios s usinas de acar, inclusive, caldeiras de vrios tipos. A mecnica chegou a ter em operao, mais tarde, nos anos 1970, cerca de 370 mquinas operatrizes de grande porte para usinagem de peas

No final dos anos 1950, os engenheiros da


Cia. Paulista de Fora e Luz, concessionria responsvel pelo fornecimento de energia eltrica na regio, tiveram de rever o planejamento da demanda de eletricidade para Piracicaba, diante do crescimento industrial da cidade, alavancado, principalmente, pela expanso das Oficinas Dedini. Para tanto, foi necessrio instalar uma potente sub-estao prpria, que exigiu altos investimentos da empresa. Nesta poca, o municpio estava entre os cinco mais progressistas do Brasil.

Arrojo da indstria piracicabana


Uma prova do prestgio das indstrias comandadas por Mario Dedini foi a visita, a Piracicaba, do ento presidente da Repblica, Juscelino Kubitschek, em 13 de maro de 1958, para inaugurar a expanso da Siderrgica, que acabara de instalar um dos maiores fornos eltricos do Brasil e sua moderna laminao. O presidente estava acompanhado do governador do Estado, Jnio Quadros, do general Nelson de Mello, dos deputados Ulisses Guimares, Joo Pacheco e Chaves, Ivette Vargas, Athi Jorge Coury e outras autoridades.

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maiores, alm de equipamentos especializados no preparo de peas mdias e pequenas. Na Metalrgica havia, ainda, a diviso de estudos e projetos, responsvel pela criao da maioria dos equipamentos de sua linha de produo. No bem equipado laboratrio fsico-qumico existente eram examinados, analisados e testados todos os produtos utilizados e fabricados pelas empresas do grupo.

cimentos para Minas Gerais, Paran e Santa Catarina. Nesse nmero no estavam computadas as pequenas mquinas manuais e as de trao animal, destinadas, ainda, aos pequenos engenhos de aguardente, de acar batido e de rapadura. As dimenses das moendas fabricadas variavam desde quatro por quatro polegadas at 38 por 78 polegadas, com capacidade de esmagamento de cem quilos at 5 000 toneladas por dia de cana. Eram projetadas detalhadamente na seo tcnica da empresa, que contava com desenhistas, copistas e oramentistas. Ali eram, tambm, elaborados os projetos de construo de usinas completas, alm de reformas e ampliaes. Outro carro-chefe da produo eram as caldeiras. Nessa poca, j haviam sido fabricadas mais de duzentas unidades de vrios tipos: verticais, multitubulares horizontais com tubos de fumaa, do tipo locomvel ou locomotiva, ou martimas. Havia, ainda, as caldeiras aquotubulares: de tubos verticais (tipo Stirling), ou de tubos retos e cmaras seccionais, alm das caldeiras especiais com paredes dgua na fornalha.

Contabilizando resultados
Por volta de 1950, um impresso publicitrio informava que a Dedini contava com mais de 2 000 clientes em vrios pontos do Brasil, e possua a capacidade para produzir mais de 10 000 toneladas de peas por ms. Nessa poca, a empresa j havia fabricado 64 usinas completas e 178 equipamentos de moagem, movidos energia hidrulica, eltrica e a vapor. O catlogo dizia, ainda, que as moendas da empresa processavam mais de 760 000 toneladas de cana por dia em terras brasileiras. A maior parte era destinada a So Paulo, mas houve forne-

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Pioneirismo tecnolgico
Naquela poca, a empresa lder do grupo em vendas continuava a ser a Metalrgica, que conseguiu sustentar o faturamento global das unidades fabris nos final dos anos 1950 e na dcada seguinte, devido ao avano tecnolgico verificado, principalmente, na fabricao dos conjuntos de moagem e das

caldeiras a vapor, que representavam, ento, 30% das vendas. Assim, em 1954, a Dedini forneceu usina Piracicaba (antigo Engenho Central) um conjunto de moendas composto por quatro ternos (do tamanho 37 por 78 polegadas), com capacidade de moagem diria superior a 3 500 toneladas de cana por dia. Esse equipamento permitiria usina fabricar quase um milho

Conjunto de moendas fabricado pela Dedini em 1954 para a usina Piracicaba (antigo Engenho Central)

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Projeto de caldeira Dedini, elaborado na dcada de 1940

de sacas de acar, de 60 quilos, por safra (em cerca de 180 dias de trabalho), produo, ento, indita no pas. Somente mais tarde, na safra de 1957-1958, uma indstria de Pernambuco conseguiria igualar esse feito. Com relao s caldeiras a vapor, a inovao tecnolgica foi constante: no incio eram multitubulares (as chamadas tubos de fogo, rebitadas). Mais tarde (1949), passaram a ser fabricadas para as linhas de produo de acar aquelas com tubos curvos verticais, e com trs corpos. Posteriormente, elas tornaram-se verticais, com dois bales e quatro paredes de gua

(V2/4) e vertical com dois bales e cinco paredes de gua (V2/5). At 1940, as caldeiras fabricadas pela Dedini no possuam superfcie de aquecimento superior a 350 metros quadrados. Visando atender expanso das usinas brasileiras, a capacidade foi aumentando e, em 1958, j apresentavam 1 000 metros quadrados de superfcie de aquecimento. Como no havia, ainda, legislao especfica no Brasil para a construo, instalao e manuteno desses equipamentos, as Oficinas Dedini seguiam, na fabricao, as normas internacionais, usadas em pesquisa e desenvolvimento, testes de produtos, sistemas de qualidade e transaes comerciais em todo mundo, estabelecidas pela ASTM International, na poca, conhecida como American Society for Testing and Materials. Para aperfeioar a produo de caldeiras aquotubulares, pela primeira vez, a Dedini foi obrigada a recorrer tecnologia estrangeira, adquirida da firma norte-americana Combustion Engineering Inc., qual pagou royalties, entre 1954 e 1957. Na construo das caldeiras empregavam-se

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(leo, lenha, bagao, cascas, chapas especiais, de vrias espesserragem, cavacos, sabugos etc). suras, provenientes da Companhia Siderrgica Nacional, de Volta RedonTais avanos tecnolgicos, da (RJ); os tubos eram que demandaA Dedini j da Mannesmann, adequavam grandes dos a suportar altas investimentos possua condies presses; os vigamentos, na fabricao, para exportar seus patamares, corrimos asseguraram a e demais acessrios de liderana nacioequipamentos no sua estrutura metlica, nal da Dedini no final da dcada de construdos em ferros setor aucareiro 1950. Em agosto de perfilados, e adquiridos ao longo do de terceiros; todas as tempo. Assim, 1958, uma comitiva partes em ferro e ao at meados de de usineiros da Refundido, no entanto, 1950, no havia pblica Dominicana eram desenhadas e consainda nenhum trudas pelos tcnicos visitou as instalaes outro produtor da Dedini. Os fundos nacional, exceto da indstria piraciboleados e as bombas de ela, que produalimentao das caldeicabana, que, pouco zisse caldeiras a ras eram, tambm, de vapor e conjuntempo depois, fabricao prpria. tos de moagem comeou a vender completos de Ateno especial maior porte. A para vrios pases foi dada aos superaempresa era, quecedores, economida Amrica Latina. ento, responszadores, aquecedores vel por mais de de ar e sopradores de 95% do valor total das vendas de fuligem, aparelhos das caldeiras equipamentos para o setor. indispensveis para se obter Os estudiosos verificaram que, maior aproveitamento do vapor, naquela poca, outras indstrias maior economia de combustvel e estabelecidas exploravam uma aumento da capacidade de profatia de mercado em que no duo. As fornalhas, por sua vez, enfrentavam concorrncia to foram projetadas para trabalhar forte, concentrando o foco em com diversos materiais de queima

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unidades de menor porte. Dedicavam-se a produzir determinados equipamentos de caldeiraria leve, como tanques, aquecedores, cristalizadores, evaporadores, entre outros, que apresentavam tecnologia mais simplificada e exigiam menores investimentos em mquinas operatrizes.

controlada integralmente pelo grupo Dedini. Adquiriu a denominao de Dedini Equipamentos Eltricos Ltda (mais tarde, nos anos 1990, esta empresa foi vendida e, depois, desativada). Barjas Negri (1977) relata, que, nessa poca, a Siderrgica Dedini j vinha operando com maior escala de produo, e seus transformadores eltricos de alta voltagem queimavam e desgastavam-se constantemente, devido ao excesso de atividade: Assim, a Dedini Capellari operava como uma eficiente oficina de reparos da Siderrgica, evitando eventuais paralisaes prolongadas dos fornos eltricos. Outra empresa do grupo surgiu em 31 de janeiro de 1959 para atuar, tambm, no setor canavieiro: a Motocana S.A. Mquinas e Equipamentos Agrcolas. Com capital de Cr$ 3 000 000,00, seu objetivo era fabricar, em estabelecimento prprio, ou de terceiros, mquinas e implementos para a moto-mecanizao canavieira. Situava-se, tambm, na Vila Rezende, em Piracicaba, nas proximidades das outras unidades da Dedini, utilizando tecnologia basicamente francesa.

Ampliando a atuao
Mais uma diversificao do grupo foi a criao, em 1957, da Dedini Capellari S.A. Transformadores, tambm em Piracicaba, com capital de Cr$ 300 000,00. A sociedade apresentava, inicialmente, a seguinte composio: 43,7% pertenciam famlia Capellari, 26,7% famlia Dedini e o restante dividido entre Dovilio Ometto (18%), Narciso Gobbin (8,3%) e outros (3,3%). O objeto social era a fabricao de transformadores de voltagem de corrente eltrica e afins. Esse produto destinava-se, principalmente, a atender as usinas de acar, embora fosse comercializado para indstrias de outros setores. Com a denominao de Superkavea S.A., essa produtora de transformadores eltricos, passou, em 1968, a ser

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No incio, a Motocana tinha como scios uma espcie de holding a Administrao e Participaes Dedini (com Cr$ 1 000 000,00) e uma empresa francesa, proprietria de diversas usinas na regio, a Societ de Sucreries Brsiliennes (Cr$ 1 000 000,00), alm de outros acionistas individuais: Jean Gallois (Cr$ 250 000,00), Pierre Navarro (Cr$ 200 000,00), Marc Mouros (Cr$ 200 000,00), Dourival Cruz Lima (Cr$ 250 000,00) e Francisco Antonio Costa Netto (Cr$ 100 000,00). Assim, ao iniciar a fabricao de implementos agrcolas, o grupo Dedini conseguiu atuar nos diversos nveis da produo aucareira, da lavoura at a usina, abrangendo o atendimento a industriais e a fornecedores de cana.

Logo depois de sua instalao, a Motocana foi tambm bastante auxiliada pela poltica governamental, que estimulava o aumento da produo de acar e lcool, garantindo financiamentos para ampliao e modernizao das usinas (resoluo 1761, de 12-12-1963). Por meio desse instrumento, o IAA estabeleceu o Plano de Expanso da Produo Aucareira, cuja meta era a obteno de cem milhes de sacas de acar, a ser atingida na virada daquela dcada, ou seja, na safra de 1970-1971. Para tanto, permitiu o aumento das cotas de produo das usinas existentes, o que exigiria, naturalmente, sua ampliao e,

Colheita mecanizada de cana-de-acar, na dcada de 1960

tambm, a construo de mais cinqenta novas unidades para fabricar mais de quinze milhes de sacas de acar por ano. Diante desse estmulo, a Dedini tratou de equipar-se para atender a essa demanda, efetuando grandes investimentos em maquinrios, que somaram, na poca, mais de US$ 800 000,00. Assim, seria possvel garantir a fabricao, no prazo seguinte de dois anos, de, pelo menos, 32 usinas, com capacidade total de produo de mais de dez milhes de sacas de acar. Com a mudana do cenrio poltico e econmico nacional, a empresa, no entanto, pagaria caro por esse vultoso investimento.

que a iniciativa era muito benfica: em 1955, a Copira enviou o empresrio Homero Correa de Arruda sede do IAA, no Rio de Janeiro, para expor o alcance da crise decorrente de uma geada, que havia castigado os canaviais, e buscar solues. Diante do xito dessa iniciativa, a nova instituio foi se firmando, passando a atuar como eficiente interlocutora, discutindo e encaminhando os problemas do setor. Assim, abriuse um canal de comunicao entre o empresariado e governo, que contribuiu para regularizar o mercado do acar, cujos preos estavam aviltados. Em 1959, a Copira fundiu-se com outra cooperativa, a Coopereste, da regio de Ribeiro Preto, para formar a Copersucar (Cooperativa Central dos Produtores de Acar e de lcool do Estado de So Paulo). Com o objetivo principal de disciplinar a comercializao do acar, a instituio inovou no mercado, embalando, com maior higiene e praticidade, o acar cristal das usinas associadas em sacos de cinco quilos. Mais tarde, a partir de 1969, em vez de representantes de vendas, passou a ter entrepostos para comercializar seus produtos

Maioridade da indstria aucareira


Demonstrando a fora da economia canavieira na regio de Piracicaba, surgiu, em 1953, a Cooperativa Piracicabana de Usinas de Acar e lcool (Copira), a partir da organizao de um grupo de usineiros, coordenados por Dovilio Ometto. A idia inicial era facilitar a compra de insumos em conjunto para as usinas, mas logo percebeu-se

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e chegou a congregar 80% das usinas paulistas. Outro exemplo da grande influncia do setor aucareiro em Piracicaba foi a realizao, a partir de 1958, das Semanas Canavieiras, reunindo representantes de diversas empresas e instituies estaduais. Os encontros incluam passeatas com carros alegricos pelas ruas da cidade, mostras de produtos, e serviam como boas oportunidades para entabular novos negcios.

Celeiro de indstrias e formao de especialistas


Para Silvia Sampaio (1972), as empresas Dedini funcionaram, ao longo do tempo, como verdadeiras escolas de aprendizado tcnico e aperfeioamento de mo-de-obra; foram, tambm, embries de novas fbricas, pois muitos de seus funcionrios, aps adquirirem experincia tcnica e profissional, estabeleceramse por conta prpria. Assim,

Equipe de projetistas das Oficinas Dedini na dcada de 1950

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determinado artigo que os grandes industriais no forneciam. Entre os anos 1950 e 1960, verifica-se que o dinamismo da indstria mecnica transformou Piracicaba no maior centro fornecedor da Amrica Latina de equipamentos para usinas e destilarias de lcool e aguardente. So exemplos desse fato e evidncias da especializao tcnica existente em Piracicaba: a Metalrgica Piracicabana S.A. Mepir (1952), a Metalrgica Conger S.A. (1962), a Metalrgica e Fundio Santo Antonio MEFSA (1967), a Metalrgica So Carlos (1968), a Fundio Bom Jesus (1969), a HIMA S.A. Indstria e Comrcio (1969) e a Indstria e Comrcio Fazanaro Ltda. (1970). Embora o objetivo inicial de quase todas essas empresas instaladas tenha sido o atendimento do mercado sucroalcooleiro, a maioria diversificou suas atividades para outros setores. Com essa expanso industrial, a cidade apresentou significativo crescimento, atraindo outros estabelecimentos, principalmente devido existncia do enorme contingente de mo-de-obra especializada. Assim, instalaramse fbricas destinadas ao atendimento do setor automobilstico.

Descarregamento de cana-deacar em usina, nos anos 1950

surgiram a Santin S.A. Indstria Metalrgica (1948) e a Mario Mantoni Metalrgica. Segundo a pesquisadora, independentemente da ao direta do grupo industrial M. Dedini, mas, por efeito de sua influncia, outros estabelecimentos mecnicos e metalrgicos desenvolveram-se na cidade; geralmente, eram de propores mdias e pequenas, e procuraram preencher as lacunas ainda existentes no fornecimento de peas, acessrios e aparelhos para usinas e destilarias de lcool e de aguardente, especializando-se em um

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Outro segmento que ganhou, tambm, grande impulso na cidade, a partir dos anos 1950, foi o de papel e papelo, aproveitando o bagao resultante do processamento da cana para produo de celulose. Data dessa poca, a instalao da Refinadora Paulista S.A. Celulose e Papel, pela famlia Morganti, mais tarde, em 1969, adquirida pelo grupo Silva Gordo, e hoje unidade da Votorantim. A Dedini tambm atuou nessa rea, com a empresa Cimape. Visando a verticalizao da produo, a famlia Morganti instalou, tambm, em 1953, a Itelpa S.A., destinada fabricao de telas metlicas, peas indispensveis ao fabrico de papel e, mais tarde, a Indusfios, que fornecia fios de bronze para a Itelpa. A expanso canavieira seria, ainda, responsvel direta ou indireta pelo estabelecimento de vrias indstrias no municpio, ligadas produo de lcool e seus subprodutos, como adubos, solventes e desinfetantes para usinas, mquinas e aparelhos para cultivo e corte de cana e engarrafamento de aguardente. A grande oferta de acar, por sua vez, contribuiu para o estabelecimento de vrias fbricas de doces e balas.

Crise vista
Em decorrncia dessa poltica desenvolvimentista de Kubitschek, em 1961, o Produto Interno Bruto brasileiro alcanava taxa de crescimento expressiva, 10,3%, para declinar, nos anos seguintes, a taxas inferiores a 4% ao ano, em mdia. Esse esforo acabou levando o pas a uma grande crise econmica. O estmulo instalao de empresas estrangeiras constituiu-se uma medida controvertida, pois, se de um lado permitiu a incorporao de novas tecnologias, ameaou, de outro, a sobrevivncia da indstria nacional. O temido fantasma da inflao comeou a rondar a economia, e colocou em xeque, principalmente, as empresas nacionais, mais descapitalizadas. No caso da indstria, houve grande desajuste entre a capacidade instalada e a demanda do mercado interno, quadro agravado, ainda mais, pela instabilidade poltica do pas. A partir de 1958, o saldo da balana comercial tornou-se negativo, e ocorreu crescimento das despesas com o servio da dvida externa. Aumentaram os conflitos com as instituies de

Placa afixada nos produtos de fabricao Dedini no passado

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Embarque de equipamentos fabricados pela Mausa para a Venezuela

financiamento internacionais, como o Banco Mundial, culminando com o rompimento do acordo com Fundo Monetrio Internacional (FMI), em 1959. No setor aucareiro, em meados de 1960, ocorreu uma superproduo, principalmente em So Paulo, obrigando as usinas a deixarem a matria-prima no campo para evitar maiores prejuzos com seu processamento. Naquela poca, a cana no-colhida correspondeu a treze milhes de sacas de acar. Muitas indstrias no conseguiram sobreviver. Em Piracicaba, a tradicional Societ de Sucrries Bresiliennes teve de encerrar suas atividades, vendendo suas usinas e aes a outros grupos.

Enfrentando a crise
Para enfrentar a queda do faturamento, o grupo Dedini apos-

tou firme na diversificao de sua linha de produo, no final dos anos 1950. Quando agravou-se a crise no setor aucareiro, a indstria passou a incrementar, no s a fabricao de pregos e parafusos para o setor ferrovirio, como a de bens de capital sob encomenda para outros tipos de indstria. Dessa forma, passou a oferecer tanques estacionrios para gases liquefeitos de petrleo, vasos para a indstria qumica e petroqumica, moinhos de bolas para minerao, mquinas diversas para produo de cimento, autoclaves e cozinhadores para processamento de papel e celulose, entre outros. A Siderrgica, por sua vez, integrada Metalrgica, fabricava cilindros, engrenagens, bases e outras peas

em ferro, ao e bronze, garantindo Dedini destaque nacional nesse setor. Essa empresa havia sido favorecida pela poltica de incentivos, estabelecida pelo governo de Juscelino Kubitschek no Plano de Metas (1957-1958), que pretendia implantar uma estrutura industrial integrada no pas, prevendo a modernizao nos transportes e gerao de energia. Esses objetivos beneficiaram os setores de siderurgia e construo civil, que receberam

com satisfao a realizao de grandes obras, como a transferncia da capital brasileira do Rio de Janeiro para o Centro-Oeste brasileiro, com a construo de Braslia, a ampliao de portos, construo de novos aeroportos e rodovias. A expectativa, tambm, era de que, at 1960, a produo nacional de ao em lingotes e laminados fosse duplicada. Outra planta do grupo que apresentou grande

desenvolvimento, a despeito da situao desfavorvel do setor aucareiro, no final dos anos 1950, foi a Mausa. No decnio compreendido entre 1950-1960, chegou a duplicar seu faturamento. A explicao dos economistas para esse fato foi a pequena concorrncia na sua rea de atuao e a proibio das importaes pelo governo, em 1953. Alm disso, aquela empresa diversificou e modernizou sua linha de produo, fabricando diversos acessrios para refinarias de acar. As centrfugas foram os equipamentos que mais receberam inovaes no decorrer do tempo: no incio, eram manuais, depois passaram a ser semi-automticas e, no incio da dcada de 1970, tornaram-se completamente automticas. Para aperfeioar tais aparelhos, a Mausa adquiriu no exterior, em 1956, licena para utilizar a marca de uma indstria de centrfugas para fermento. A empresa passou a atuar, tambm, em outros setores, alm do aucareiro, como papel e celulose, alimentcio e farmacutico, fabricando pontes rolantes, motores eltricos, filtros de segurana e de presso, balanas etc.

Ao sabor da poltica do lcool


Paralelamente, a Codistil apresentou desempenho irregular entre os anos 1950 e 1960, pois dependia basicamente da poltica governamental estabelecida para o lcool. Quando sua produo era incentivada, as encomendas aumentavam; caso contrrio, sofria instabilidade nas vendas. Na dcada de 1950, a Codistil j havia fabricado mais de 200 destilarias capazes de produzir, no total, mais de 1,1 milho de litros de lcool e de aguardente por dia. A empresa tinha sido pioneira na construo e aplicao industrial do chamado processo Melle-Boinot-Almeida, suprimindo a utilizao do cido sulfrico na fermentao dos mostos de cana, melao e matrias amilceas. Naquela poca, acreditava-se que tal mtodo garantiria maior economia de insumos, como o enxofre, maior conservao dos aparelhos de destilao e melhor desempenho da fermentao. Apesar desses esforos, verifica-se que, durante a dcada de 1950, os preos do petrleo importado no estavam em patamares elevados; desse modo, a produo de lcool foi

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desestimulada e sua mistura gasolina apresentou percentuais irregulares ao longo dos anos. Em conseqncia, sua fabricao era uma atividade marginal nas usinas, realizada principalmente para dar um destino ao melao, subproduto do acar. As destilarias possuam grande capacidade ociosa e no atraam investimentos dos empresrios. Tal fato prejudicava as vendas de equipamentos para os fabricantes de lcool; mesmo assim, para consolidar sua posio no setor, a Dedini adquiriu, em 1969, o controle de uma empresa concorrente, a Morlet S.A. Equipamentos para Usinas de Acar e lcool, tambm, estabelecida em Piracicaba, desde 1936, que atuava na mesma faixa de mercado. A negociao envolveu uma cifra significativa na poca (Cr$ 550 000 000,00); foi, porm, muito simples e sem formalidades, entre Mario Dedini e Amrico Perissinotto, acertada em uma simples folha de papel. Destaque especial estaria assegurado Codistil, no entanto, alguns anos depois, com o advento do Programa Nacional do lcool (Prolcool).

Unio de esforos
Com o objetivo de racionalizar a administrao de suas empresas, a Dedini resolveu efetuar a fuso da Metalrgica com a Siderrgica, em 12 de dezembro de 1958. Na verdade, a medida procurava, tambm, melhor aproveitar a poltica de incentivos concedidos indstria pelo governo Kubits-

Acerto entre Mario Dedini e Americo Perissinotto para aquisio de aes da Codistil e Morlet, em julho de 1969

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chek, destinados especificamente siderurgia. Assim, tornava-se mais fcil repass-los s reas da metalrgica e da mecnica, em que o grupo atuava. Assim, a Siderrgica transformou-se na Administrao e Participao Dedini S.A. Esta sociedade era a maior acionista da Metalrgica, representando a primeira tentativa de administrao por meio de uma espcie de holding. Outro fato beneficiou o grupo Dedini naquela poca. Em 1963, o governo, por meio do IAA, que ditava a poltica para o setor sucroalcooleiro, instituiu o Plano de Expanso da Produo Aucareira, garantindo financiamentos s usinas de acar para aquisio de equipamentos para ampliao e modernizao. Dessa forma, no perodo de 1958 a 1970, as vendas da Metalrgica representaram, em mdia, metade do faturamento do grupo. Com exceo da Siderrgica, todas as empresas do grupo Dedini possuam alguma ligao com o setor sucroalcooleiro, sujeito a muitas instabilidades. Apesar de trabalharem de forma integrada, permitindo crescimento harmnico nas vendas, no estavam livres dos impactos negativos da conjuntura econmica.

Assim, em 1967, a Metalrgica viveu uma de suas maiores crises. Pela primeira vez, a empresa encerrou seu balano contbil com prejuzo, o que a obrigaria a arcar com uma enorme dvida financeira nos anos seguintes. Em 1968, foi obrigada a dispensar, pelo menos, 30% de sua fora de trabalho.

Instabilidade e conflitos sociais


Enquanto isso, em nvel nacional, o sucessor de Kubitschek, Jnio Quadros (1961), no soube contornar a crise emergente. Sua poltica de combate inflao incluiu uma reforma cambial, que exigiu o corte de subsdios a diversos produtos, entre eles, o trigo e a gasolina, e ocasionou o aumento do custo de vida. Para piorar a situao, os salrios estavam congelados e o crdito restrito. A poltica de austeridade ganhou tantos opositores que levou renncia do presidente, em agosto de 1961. Assumiu a presidncia seu vice, Joo Goulart (1961-1964), que tomou posse sob um novo regime: o parlamentarismo. A crise na economia agravou-se, com o recrudescimento da

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inflao, a desacelerao do desenvolvimento industrial, o desequilbrio das finanas pblicas e o agravamento dos conflitos sociais, em torno da posse da terra e redistribuio de renda. Na opinio de alguns, 1961 marcou o fim da poca da rpida industrializao. Nos dois anos seguintes, houve acentuado declnio na evoluo do Produto Interno Bruto, cuja mdia mal superou o crescimento demogrfico. O produto industrial verificado em 1963 teve taxa negativa de incremento. Em meio a srias apreenses e angustiosas

Embarque ferrovirio de engrenagens de moendas para o Nordeste

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A Dedini vence em
agosto de 1965 a concorrncia internacional para o fornecimento de uma usina completa para instalao na cidade argentina de San Martin, com capacidade de moagem de 1 500 toneladas dirias equivalente a 250 000 sacas de acar e 2,5 milhes de litros de lcool por safra. A indstria brasileira competiu com quinze empresas especializadas da Frana, Inglaterra, Polnia, Holanda e Japo.

expectativas, ocorreu a queda de Joo Goulart, em maro de 1964, substitudo por uma junta militar no comando do pas. Inaugurou-se uma era de autoritarismo, marcada pela cassao de mandatos e de direitos polticos, fim das eleies diretas, que culminou com o fechamento do Congresso nacional. O general Humberto de Alencar Castello Branco foi empossado presidente em abril de 1964 para governar at 1966, mas ficou no poder at 1967. Um novo modelo econmico foi projetado, com a reforma bancria, a criao do Banco Nacional da Habitao (BNH) e do Fundo de Garantia por Tempo de Servio (FGTS). Previa-se a modernizao da mquina estatal, o fortalecimento da empresas privadas e o estmulo entrada de capital estrangeiro. O novo regime adotou o Plano de Ao Econmica do Governo (PAEG) dependente e associado a investimentos internacionais, mas manteve a matriz industrial implementada pelo Plano de Metas. Na tentativa de conter a inflao, a poltica empregada foi recessiva. Dessa forma, o custo social dessas mudanas foi muito alto.

Para o setor aucareiro e de bens de capital sob encomenda, uma medida do regime militar teria, particularmente, impacto muito negativo. Em 1964, revogou-se o programa de construo de cinqenta novas usinas para a produo de mais quinze milhes de sacas por ano, formulada pelo governo anterior, deixando de homologar a concorrncia para essa finalidade. A indstria de bens de capital, que havia se equipado para atender aquela demanda, sofreu um duro golpe com o cancelamento das encomendas. A situao econmica nacional, na verdade, melhoraria somente mais tarde, a partir de 1968, quando o ritmo de crescimento das atividades foi retomado, provocando o fenmeno conhecido como milagre econmico, no perodo de 1967 a 1973. Foi quando o ento ministro da Fazenda, Antnio Delfim Neto, reverteu a poltica restritiva de seu antecessor, Roberto Campos. Reduziu os juros, injetou crdito na economia, e retomou os investimentos do governo. O Brasil viveu, assim, poca de grande desenvolvimento.

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Mantendo posio
A Codistil, que monopolizou o fornecimento de destilarias no Brasil at o final dos anos 1960, procurou, a partir da, diversificar sua produo para tentar escapar das incertezas do mercado do lcool, que flutuava ao sabor das polticas governamentais. Dessa forma, alm de destilarias completas, com todos os acessrios, passou a fabricar alguns equipamentos para o setor aucareiro, como secador-esfriador de tambor rotativo a contra corrente; turbo secador-esfriado vertical, unidade para transporte de recuperao de p; unidades a granel ou ensacado (empilhadeiras e transportadoras de correia ou helicoidal) e equipamentos para calagem contnua. Para a indstria de fertilizantes, a Codistil fornecia unidades completas de fabricao e para o setor qumico e petroqumico, vasos de presso, reservatrios, autoclaves e agitadores. Em menor escala, atendia, tambm, os setores de papel, alimentos e cermica. Em face do aumento da concorrncia, com o estabelecimento de outra empresa em Piracicaba, na dcada de 1960, a Metalrgica

Conger, que tambm fabricava destilarias, a Codistil procurou maior aperfeioamento tcnico, visando aumentar a produtividade de suas plantas industriais. Nessa poca, procurou incrementar as exportaes, fornecendo equipamentos e destilarias para diversos pases Amrica Latina.

Recuperao da economia
A recuperao da economia brasileira iniciou-se no final da dcada de 1960. Dois fatos marcaram essa poca: em primeiro lugar, a criao do Sistema Financeiro de Habitao, que favoreceu o crescimento da construo civil e, em segundo, a expanso dos sistemas de crdito ao consumidor, e a instituio de consrcios para aquisio de bens durveis. Dessa forma, entre os anos de 1967 e 1969 tais fatores beneficiaram o desenvolvimento dos seguintes setores da economia nacional: material de transporte (53,1%), material eltrico (37,2%); minerais no-metlicos (39,4%) e metalurgia (32,8%). Todos eles estavam, de alguma forma, ligados construo civil e indstria de bens durveis.

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Bomba para motor a vapor fabricada pela Dedini

O progresso industrial verificado, nessa poca, procurou aproveitar a capacidade j instalada, e foi favorecido pela diminuio do processo inflacionrio ento verificado. Os investimentos pblicos e privados foram retomados praticamente at 1973. Um dos setores beneficiados com essa expanso foi de bens de capital sob encomenda. A partir de 1968, a Dedini conseguiu recuperar o nvel das vendas, principalmente na Metalrgica. Entre os anos de 1967 e 1969, o fornecimento de acessrios para as usinas de acar aumentou, para decair nos anos seguintes. Nessa poca, tambm, o mercado

tornou-se mais competitivo e a Dedini comeou a enfrentar a concorrncia de outras empresas que haviam se instalado nos anos anteriores, principalmente na rea de caldeiraria leve. A crise ocorrida no setor canavieiro, a partir de 1969, no entanto, no atingiu somente a Dedini; muitas empresas piracicabanas tiveram de encerrar suas atividades, como, por exemplo, a Metalrgica Santa Cruz Ltda., que possua mais de 250 trabalhadores, e produzia inmeros equipamentos para as usinas de acar. Tambm a Mepir Meta-

lrgica Piracicabana S.A., aps sofrer inmeras dificuldades financeiras, foi obrigada a vender suas instalaes industriais a alguns dos acionistas do grupo Dedini. Por outro lado, a produo da Siderrgica estava fortemente atrelada s decises governamentais, sofrendo as variaes das encomendas do setor pblico, seu principal cliente. Assim, em 1967, alm de receber o impacto dos efeitos da desacelerao da construo civil, a empresa foi prejudicada pelas medidas de conteno das despesas do governo, com a diminuio das vendas e atrasos nos pagamentos. Pela primeira vez em sua histria, os salrios dos funcionrios no foram pagos em dia. Mario Dedini fez o que pde para livrar suas empresas da crise, autorizando, at, a venda de imveis particulares e de algumas usinas (So Francisco, Catanduva e So Jorge). Apesar disso, a situao agravou-se nos anos seguintes, exigindo transformaes estruturais no grupo. Para promover o saneamento financeiro, o genro do fundador, Dovilio Ometto, vendeu toda sua participao acionria no grupo Ometto, e injetou os recursos na

Incansvel em busca de novidades tecnolgicas,


Mario Dedini trouxe da Alemanha, por volta de 1967, a patente de um novo processo de extrao do caldo de cana o difusor , que permitia a obteno de maior produo de acar por tonelada de cana. Uma unidade piloto foi instalada em usina de sua propriedade, a So Francisco, em Charqueada (SP), para avaliao de resultados.

Dedini, sem data marcada para retomo desses investimentos. Somente mais tarde, foi efetuado acerto de contas, com a capitalizao do crdito, cujo valor foi baseado em um levantamento efetuado por empresa de auditoria de padro internacional, e aprovado, de comum acordo, pelos acionistas. Mesmo a melhoria do panorama econmico, verificada no final da dcada de 1960, que possibilitou a recuperao gradativa no volume de vendas na Dedini, foi insuficiente para devolver a autonomia financeira existente no passado. Apesar disso, sua atuao continuava vital para o progresso da cidade onde se instalou, gerando empregos, possibilitando constantes inovaes tecnolgicas e incrementando o desenvolvimento da economia local.

CAPTULO 4

A revoluo do lcool
O lcool o combustvel do futuro. H bastante lcool na colheita anual de um acre de batatas para fazer funcionar o maquinrio necessrio para cultivar esses campos durante cem anos.
Henry Ford, empresrio norte-americano, pioneiro na fabricao de automveis em 1925.

Produtos Dedini em pavilho de exposies, na dcada de 1970

uando os grandes produtores de petrleo do Oriente Mdio surpreenderam a todos, em 17 de outubro de 1973, com a deciso de suspender os embarques do produto por tempo indeterminado, o mundo no foi mais o mesmo. Naquela poca, a maioria dos pases havia construdo suas riquezas aliceradas na matriz petrolfera, e verificou, com amargura, a fragilidade de suas economias. A notcia do embargo repercutiu fortemente na Europa ocidental, nos Estados Unidos e no Japo. Os rabes, responsveis por cerca de 25% do fornecimento do petrleo consumido no mundo, impuseram um boicote seletivo aos compradores, dividindo-os em trs categorias amigos, neutros e inimigos e estabeleceram diferentes cotas no suprimento do precioso leo. No incio, o embargo foi recebido com certo descrdito, mas logo se percebeu a gravidade da situao, tornando necessria a adoo de medidas de racionamento dos combustveis. O Brasil vivia, desde o incio de 1970, o que se convencionou chamar de milagre econmico. A situao nacional era considerada excelente: o Produto Interno Bruto (PIB) apresentava, ento, crescimento da ordem de 12% ao ano. O saldo da balana comercial girava entre o relativo equilbrio e o dficit, nunca superior a um bilho de dlares.

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Em 1972, a dvida externa estava, aparentemente, contida. Por isso, no incio, a crise internacional parecia no afetar o pas. Foi o tempo dos empreendimentos grandiosos, com a instalao das hidreltricas de Itaipu e Tucuru, a abertura da rodovia Transamaznica, cortando a maior floresta tropical do mundo, e a construo da ponte ligando o Rio de Janeiro a Niteri, maravilha da engenharia nacional. Muitas dessas obras, como a Ferrovia do Ao, no chegaram a se concretizar, embora tenham consumido recursos gigantescos. Como a maioria delas foi viabilizada com financiamentos externos, a dvida nacional, tanto interna como externa, cresceu muito, a partir de ento. Em contrapartida, o PIB continuava apresentar elevadas taxas de crescimento. O xito dos primeiros anos estimulou os responsveis pela conduo da economia brasileira (Antnio Delfim Neto e Joo Paulo dos Reis Velloso) a anunciarem novos milagres. O Primeiro Plano Nacional de Desenvolvimento (I PND) estabelecia metas ambiciosas e previa o ingresso do Brasil no

mundo desenvolvido, at o final do sculo XX. Nessa poca, a Dedini esteve presente em algumas das obras mais significativas do pas, como as usinas hidreltricas de Itaipu, Urubupung, Capivara, gua Vermelha, Ilha Solteira, Promisso, Salto Santiago e de Avanhandava. Contribuiu, tambm, com material e equipamentos, para a usina nuclear de Angra dos Reis, ponte Rio-Niteri, aeroporto internacional do Rio de Janeiro, metr de So Paulo e do Rio, plo petroqumico e o porto do Rio Grande do Sul, Ferrovia do Ao, alm das rodovias dos Imigrantes e dos Bandeirantes.

Otimismo em Piracicaba
Nos primeiros anos da dcada de 1970, acompanhando o ufanismo e otimismo generalizado em decorrncia do bom desempenho da economia, foi idealizado um Distrito Industrial na zona leste de Piracicaba, que deveria receber, inicialmente, uma unidade de produo de tratores e motoniveladoras da empresa norte-americana Caterpillar Tractor Company. A fbrica foi construda e, muito tempo

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depois, a companhia desativou todas suas instalaes na Capital de So Paulo e mudou-se definitivamente para a cidade. A Dedini, por sua vez, resolveu erguer uma sede administrativa prpria, um magnfico edifcio com oito pavimentos, somando 4 500 metros quadrados de rea construda, situado, como no podia deixar de ser, na Vila Rezende, nas proximidades do seu parque industrial. A obra, cuja arquitetura, considerada revolucionria

na poca, assinada pelo escritrio paulista Croce, Aflalo e Gasperini, foi concluda em 1980 e inaugurada com grande festa. No hall de entrada, ficavam expostas algumas maquetes das inmeras usinas e destilarias construdas pela empresa. O prdio, no entanto, nunca chegou a ser totalmente ocupado. Nos anos 1990, fez parte do patrimnio desmobilizado e, hoje, funciona como um centro empresarial, que leva o nome de

Antigo prdio da administrao central do grupo Dedini, em Piracicaba (SP), construdo em 1980, hoje um centro comercial

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Mario Dedini, abrigando dezenas de estabelecimentos. Outra grande obra do perodo foi a instalao da Dedini Caldeiraria Pesada (mais tarde, desativada e, atualmente, transformada na Fundio, no bairro do Capim Fino, s margens da rodovia que liga Piracicaba a Rio Claro). A construo do enorme galpo foi uma verdadeira obra-prima de engenharia, devido s suas dimenses. Considerada, na poca, o maior espao de trabalho livre existente no Brasil, possua cerca de 6 000 metros quadrados de rea construda, com altura mxima de 43 metros. A edificao permitia a execuo de testes dinmicos de grandes equipamentos e apresentava total flexibilidade e rapidez nas operaes, conseqentemente, maior produtividade. A Caldeiraria Pesada Dedini abrigou o maior

torno com eixo horizontal do hemisfrio Sul, que possibilitava o trabalho de peas de grandes dimenses (sete metros de dimetro e 24 metros de comprimento). Somente a National Aeronautics and Space Administration (Nasa) possua um maquinrio com maiores dimenses, destinado usinagem de componentes de foguetes espaciais. O projeto das instalaes da Caldeiraria Pesada foi aprovado em janeiro de 1977, e o incio das obras ocorreu no ms seguinte. Em outubro do mesmo ano, a nova unidade j entrava em funcionamento, pois j havia uma encomenda urgente: a fabricao de um forno de cimento, em parceria tecnolgica com a Kawasaki Heavy Industries Ltd.

Anncio da Codistil comemora bons resultados do Prolcool

Modernizao do parque aucareiro


No que se refere economia canavieira, verifica-se que, at os finais dos anos 1960, apresentava problemas estruturais, decorrentes da baixa produtividade agrcola, e do elevado nmero de usinas de pequeno porte. O parque industrial, alm de obsoleto, encontra-se com a capacidade de

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produo esgotada, obrigando a realizao de moagens prolongadas, com grandes prejuzos, advindos do baixo rendimento. Havia, ainda, o grande fracionamento das cotas agrcolas, com o estabelecimento de minifndios improdutivos. Alm disso, a reduzida lucratividade do setor ocasionava a demanda de capitais com custos financeiros elevados, praticamente proibitivos para a realizao dos investimentos necessrios. Por volta de 1970, as previses indicavam que o ritmo de crescimento da produo mundial de acar seria mais lento do que o aumento do consumo, prevendo-se uma situao de desequilbrio no mercado, em favor dos produtores, o que causaria elevao nas cotaes. O IAA decidiu, ento, em agosto de 1971, implementar um programa que procurava corrigir as distores do setor, visando o reaparelhamento do parque industrial, com a reduo dos custos das empresas, por meio de vrias medidas. A principal foi a concesso de financiamentos para fuso, incorporao e relocalizao de usinas, eliminando as pequenas

e mdias unidades de baixa eficincia. Incentivou, tambm, a mudana de usinas situadas em reas imprprias para outras regies com maior potencial, e at pioneiras naquela atividade. O governo acenou, ainda, com a possibilidade de financiamentos para racionalizao da agroindstria, permitindo a aquisio de equipamentos mais modernos e o desenvolvimento de novas tecnologias para solucionar os problemas de produtividade industrial e de qualidade operacional, possibilitando a correo dos pontos de estrangulamento existentes. Em conseqncia, a distribuio fsica das empresas sofreu vrias transformaes durante a dcada de 1970: muitas unidades, consideradas improdutivas, encerraram suas atividades. Suas cotas de moagem foram transferidas para outras usinas mais eficientes e capazes de capitalizar os ganhos da economia de escala. Um exemplo tpico dessa mudana foi o que aconteceu com a tradicional usina Monte Alegre, em Piracicaba. Em 1975, foi incorporada ao grupo Ometto. Seus equipamentos estavam superados, mas suas lavouras de

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cana, produtivas ainda, foram divididas entre outras unidades: Iracema, Costa Pinto, Santa Brbara e as indstrias Dedini. Continuou funcionando at 1980, moendo cana de seus fornecedores, at ser completamente desativada. Paralelamente, com o objetivo de estimular a expanso da lavoura canavieira, foram desenvolvidos programas de melhoria da assistncia tcnica aos agricultores. O resultado foi a elevao da capacidade de fabricao de 5,4 milhes de toneladas de acar (1971-1972) para, aproximadamente, 11,4 milhes, a partir de 1978, permitindo que o Brasil assumisse a liderana da produo mundial, posio que manteria durante vrios anos seguintes. Para viabilizar o programa foram alocados recursos provenientes do Fundo Especial de Exportao do IAA, que apresentava, ento, grande saldo positivo, em decorrncia do bom comportamento dos preos internacionais do acar naquela poca. Dessa forma, as usinas recomearam a adquirir equipamentos de grande porte, uma vez que as fuses e o fechamento de unidades menos produtivas eram incentivados pelo rgo estatal.

Os produtos mais requisitados eram moendas de cana, caldeiras geradoras de vapor e turbo-redutores de velocidade. Nesses itens, a Dedini dominava completamente a tecnologia, e s havia, na poca, dois concorrentes significativos. Tais empresas, no entanto, no possuam a mesma capacidade produtiva e, por isso, muitas vezes, perdiam o cliente pelo preo. Assim, em 1973, em decorrncia do programa de apoio agroindstria aucareira, a Dedini recebeu inmeras encomendas para ampliao de usinas existentes, que trabalhavam com financiamentos a juros subsidiados. A isso, somou-se a melhoria do mercado internacional, que propiciou exportaes de acar a preos compensadores. Dessa forma, quando surgiu o Programa Nacional do lcool, em 1976, a agroindstria canavieira estava plenamente capacitada para aproveitar parte da capacidade de moagem instalada, direcionando-a produo de lcool nas destilarias anexas s usinas.

Segundo choque
O Brasil vivia, assim, uma iluso de prosperidade, quando, no

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Dovilio Ometto recepciona o presidente Ernesto Geisel e autoridades no stand da Dedini, em feira industrial realizada em meados da dcada de 1970

primeiro dia de 1974, no entanto, chegou outra m notcia: o preo do petrleo seria duplicado ou triplicado, exigindo medidas urgentes. A ao do governo na rea energtica contemplou, ento, investimentos para a explorao de petrleo em territrio nacional e a adio de lcool gasolina importada. O povo brasileiro verificou, com tristeza que o sonho acaba-

ra quando comeou a enfrentar o desabastecimento de produtos bsicos e foi obrigado a recorrer ao crdito fornecidos pelos agentes financeiros para cumprir seus compromissos rotineiros. Alm disso, a inflao comeava a prejudicar as atividades do pas. Em funo da crise mundial do petrleo e dos efeitos negativos na balana de pagamentos, os produtores de acar e lcool

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do estado de So Paulo reivindicavam insistentemente, desde o incio da dcada de 1970, a definio de uma poltica de estmulo mistura de lcool anidro gasolina, com o objetivo de reduzir o impacto da crise externa sobre a economia brasileira. Para tanto, os produtores solicitaram a fixao de um preo de paridade entre o acar e o lcool, para estimular a fabricao desse combustvel. A idia era, ento, aproveitar a capacidade instalada das destilarias anexas nas usinas, ainda, com considervel ndice de ociosidade, financiar sua modernizao, ou a construo de novas unidades junto s usinas que ainda no as possuam. Atendendo aos apelos dos empresrios, o presidente Ernesto Geisel (1974-1979) instituiu, em 11 de novembro de 1975, o Decreto n. 76.595, fixando as diretrizes do Programa Nacional do lcool, que se tornaria o maior programa energtico de sucesso no mundo para substituir o petrleo. Paralelamente, Geisel investiu, tambm, maciamente, na produo de insumos bsicos (petrleo, ao, energia eltrica,

entre outros) e na indstria de bens de capital. Sem a euforia do milagre, ficara mais difcil conter as manifestaes polticas no pas. Por isso, o presidente iniciou um processo de abertura com a passagem do poder para os civis, de forma lenta e gradual. Um legado negativo de sua gesto, no entanto, foi o aumento da dvida externa, que triplicou seu valor, em relao ao governo anterior. O II PND, que estabelecia as metas para a economia entre 1975 e 1979, continuava, ainda, a apresentar um cenrio otimista para o Brasil, estimulando a substituio das importaes de bens de capital. Acredita-se que este tenha sido o perodo mais favorvel para a nacionalizao de tecnologia e de crescimento para esse setor.

Prolcool: energia verde e amarela


O Programa Nacional do lcool teve duas fases bem distintas: a primeira, entre 1975 e 1979, visando a produo de lcool anidro, destinado mistura com a gasolina; e a segunda, no perodo de 1980 a 1985, consolidando-se como programa energtico al-

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ternativo, por meio da fabricao de lcool hidratado utilizado em substituio gasolina. No incio dos anos 1970, existia no Brasil quase uma centena de usinas de acar que produziam lcool esporadicamente, quase todas situadas no Nordeste e em So Paulo. Com o advento do Prolcool, aquelas j existentes utilizaram os financiamentos disponveis para ampliao das unidades produtoras de etanol. Surgiram, tambm, mais de 180 unidades autnomas em outras regies, como no CentroOeste e no Paran. Somente em So Paulo, responsvel, naquela poca, por 70% do fornecimento de lcool no Brasil, a produo cresceu sete vezes, entre as safras de 1975-1976 e 1979-1980. Assim, as lavouras do interior do estado paulista transformaram-se em um verdadeiro mar de cana. A cultura passou a ser novamente de grande importncia econmica: era a primeira em produo, a segunda em valor agrcola e a terceira em rea cultivada. A fabricao de lcool alastrou-se por quase todo o estado, concentrando-se, principalmente, nas regies

de Campinas e Ribeiro Preto, com a instalao de dezenas de destilarias autnomas ou anexas, produzidas pela indstria mecnica e metalrgica instalada em Piracicaba e Sertozinho. Nessa poca, os tcnicos da Codistil, uma das empresas Dedini, fizeram grande esforo de venda. Em inmeras reunies com empresrios rurais e lderes polticos em vrias cidades, explicavam detalhes do Programa, forneciam informaes sobre a instalao de destilarias, mostrando as possibilidades de negcios. Com essa iniciativa, surgiram muitos novos empreendimentos na rea. Dessa forma, quase todas as destilarias de lcool, no s em So Paulo, mas no pas, foram fabricadas no interior paulista, como, tambm, os demais equipamentos e acessrios: moendas, turbinas, redutores e aparelhos de caldeiraria leve e pesada. O pesquisador Renato Srgio Maluf (1984) contabilizou que, entre 1974 e 1983, as nicas duas fbricas de destilarias do pas Codistil e Conger , localizadas em Piracicaba, forneceram 471 novas unidades. A consolidao do Prolcool teve reflexo alta-

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Montagem de usina fabricada pela Dedini, na Venezuela, em 1972

mente positivo no nvel de renda e de emprego na cidade. Dessa forma, em 1976, a Codistil produziu a maior destilaria do mundo da poca, para a usina So Martinho (Pradpolis, SP). Apresentava avanados recursos em destilao, com comandos distncia, representando o primeiro passo para automatizao. No ano seguinte, a empresa venceu, tambm, a concorrncia da Petrobras para fornecer a primeira usina de lcool a partir da mandioca

(Curvelo, MG), com capacidade de 60 000 litros por dia.

Estimulando as exportaes
Enquanto isso, a Mausa destinava grande parte de sua produo ao reequipamento e expanso das usinas brasileiras, principalmente as do Nordeste, e a M. Dedini comeou, nos anos 1970, a aventurar-se no mercado externo, amparada por

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financiamentos concedidos pelo Banco do Brasil. O grupo estava, ento, capacitado a fornecer desde os parafusos necessrios instalao de uma usina at os equipamentos pesados, como os conjuntos de moendas, passando por todos os acessrios, inclusive, os transformadores. Em 1971, a Dedini venceu uma concorrncia internacional (da qual participaram empresas da Inglaterra, Frana, Japo, Alemanha e Estados Unidos) para fabricao e montagem de uma usina de acar completa na Venezuela, a Central Santa Maria, em Maturin. Com capacidade inicial para processar 2 400 toneladas de cana por dia, a planta representou, na poca, uma venda de US$ 6,5 milhes. Depois dessa unidade, muitos outros negcios concretizaram-se no exterior. Aps essa transao, a empresa brasileira venceu mais uma concorrncia em Honduras, para fabricao e montagem de uma unidade, capaz de moer, inicialmente, 2 000 toneladas de cana por dia, e outras duas, na Venezuela, para fornecimento de fbricas de xarope concentrado. Essas ltimas foram as primeiras do tipo no mundo e destinavam-

se a abastecer as refinarias de acar durante todo o ano, uma vez que, por causa do regime de chuvas daquele pas, muitas regies aucareiras sofriam a falta de matria-prima durante vrios meses do ano. Nos anos 1970, a Codistil, tambm j fornecia para o mercado externo, exportando para a Venezuela, Bolvia e Paraguai. A empresa utilizava ao inoxidvel sueco e japons, cobre e alumnio, produzindo destilarias para lcool e aguardente, instalaes para fbricas de adubos e fertilizantes, alm de aparelhos para outras indstrias qumicas e petroqumicas.

Perdemos o grande lder: Mario


Dedini. O condutor, o dnamo propulsor de nossa grandeza industrial. Escultor do monumento erigido ao progresso da agroindstria lcoolaucareira, que combinou audcia com inteligncia, f com trabalho, constncia com pugnacidade, fazendo surgir de uma

Morte do fundador
Nesse contexto, a Dedini prosseguiu sua trajetria, abalada em fevereiro de 1970, pela morte de seu fundador, Mario Dedini, depois de cinqenta anos de trabalho dedicado a suas indstrias. Em conseqncia, ocorreram muitas mudanas administrativas. Assumiu o comando do grupo o genro de Mario Dedini, Dovilio Ometto, que procurou, antes de tudo, profissionalizar todas as atividades.

humilde oficina de consertos de mquinas agrcolas, o maior complexo industrial dedicado fabricao do acar construdo na Amrica Latina. Assim foi a manchete do Jornal de Piracicaba de 1 de maro de 1970, dia seguinte da morte do empresrio.

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Dovilio Ometto assina contrato de associao da Dedini com as empresas japonesas Kawasaki Heavy Industries e C. Itoh, em 1973

Ampliando o leque
Por causa das dificuldades surgidas naquela poca, muitas vezes, a Dedini foi obrigada a reduzir as horas de trabalho de seus funcionrios, chegando at a paralisar a produo, e conceder frias coletivas. Alm de incentivar as vendas externas, o grupo tentou diversificar suas atividades, passando a atender outras reas, alm do setor sucroalcooleiro, como a indstria petroqumica, de minerao, usinas hidreltricas, celulose e papel. Passou a fabricar, tambm, equipamentos para manuseio de cargas, tratamento de lixo, alm de estruturas metlicas para vrias finalidades.

Segundo o estudo efetuado pela pesquisadora Silvia Sampaio (1972), no incio da dcada de 1970, o grupo Dedini era responsvel, sozinho, pela maior concentrao financeira de Piracicaba, detendo 3,6% dos estabelecimentos fabris existentes, e reunindo 38,9% do capital total investido. Alm disso, seu faturamento representava 34,4% das vendas totais do municpio e empregava 33,5% de toda a mo-de-obra industrial. A Dedini foi, tambm, pioneira no desenvolvimento de turbinas a vapor no Brasil, utilizadas tanto na gerao de energia eltrica, como mecnica. O primeiro contrato foi firmado

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em 1965, com a empresa alem Gutehoffenngsshutte Sterkrade (GHH). Posteriormente, para aperfeioar ainda mais esse item, foi firmada outra parceria, em 1972, com a companhia alem Siemens, que duraria at os anos 1990. Mais tarde, em 1976, a Dedini adquiriu tambm licena para fabricar turbinas com tecnologia inglesa, da empresa Allen (mais tarde absorvida pela Rolls Royce).

A primeira medida foi a constituio de uma holding, no ms de maro daquele ano, com o nome M. Dedini S.A. Participaes. Foi criada outra empresa nova, com o nome de M. Dedini S.A. Metalrgica, com capital de Cr$ 38 100 000,00, sendo Cr$ 38 040 000,00 integralizados aps a conferncia dos bens existentes e o saldo restante, Cr$ 60 000,000, completado em dinheiro por diversos acionistas. A nova sociedade tinha como objetivo a fabricao, montagem, reformas e comercializao, inclusive no exterior, de mquinas, equipamentos, aparelhos componentes e acessrios para as indstrias aucareira, de cimento, celulose, petroqumica, qumica em geral, de minerao, naval, termoeltricas, hidreltricas, e outros setores da mecnica e caldeiraria pesada em geral, bem como a fundio de ferro, ao e metais no-ferrosos, tubos de ferro e materiais refratrios. Para atender a esses novos setores da produo, o grupo incorporou tecnologia internacional. Assim, logo aps a constituio da nova empresa, a participao acionria dos japoneses ficou definida em

A joint venture com japoneses


Procurando consolidar o processo de diversificao de suas atividades, sem abandonar o mercado de acar e lcool, a Dedini precisou recorrer a associaes com as empresas estrangeiras, vendendo-lhes parte de suas aes e recebendo em troca capital para aquisio de novas mquinas e ampliao de instalaes, bem como tecnologia avanada, principalmente, nas reas de minerao, siderurgia, cimento, entre outras. Para tanto, recorreu associao com as empresas japonesas Kawasaki Heavy Industries Ld. e C. Itoh Co. Ltd. (hoje Itochu), o que propiciou grandes transformaes no desempenho do grupo em 1973.

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Assemblia Geral Extraordinria de 30 de maro de 1973. O capital social da Metalrgica foi elevado para Cr$ 50 800 000,00, sendo a diferena, de Cr$ 12 700 000,00, subscrita em dinheiro pelas empresas japonesas. A composio acionria ficou assim constituda: Dovilio Ometto, Pedro Duarte, Waldyr Antonio Gianetti, Mario Dedini Ometto, Claudia Dedini Ometto Gianetti e Juliana Dedini, e os participantes da empresa M. Dedini Participaes, com 75%; o restante (25%), com as empresas Kawasaki Heavy Industries (17,5%) e C. Itoh & Co. Ltd (7,5%). Alm do aporte de capital, essas empresas obrigaram-se a transferir tecnologia e assistncia tcnica na fabricao de
Transporte de chamin incineradora fabricada pela Codistil

turbinas a vapor at 10 000 kw, para uso terrestre; caldeiras power boiler, para recuperao de lixvia preta e de calor; equipamentos para siderurgia e para a produo de cimento. Depois de muitas negociaes, surgiu a Dedini-Kawasaki Engenharia Ltda., com sede em Piracicaba e escritrio instalado em So Paulo. No primeiro ano de funcionamento, j contava com quase noventa funcionrios e consumira investimentos da ordem de Cr$ 115 milhes. A associao com os japoneses permitiu Dedini aumentar sua atuao nos setores de siderurgia, cimento, minerao e energia, fornecendo equipamentos que, at ento, eram totalmente importados. Exemplo disso foi a comercializao, em

1976-1977, da maior usina do mundo de hidratao de cal, para a Companhia Vale do Rio Doce, com capacidade de produo de 66 toneladas por hora. Essa unidade permitiu a expanso das usinas de pelotizao do minrio de ferro, necessria para atender demanda de exportao daquela companhia. A Dedini era responsvel por 70% dos equipamentos, fornecendo britadores, moinho de bolas, separador, conjunto de tanques de compresso, entre outros. O restante foi importado do Japo, sob a responsabilidade da Kawasaki. Os negcios em parceria com a empresa japonesa continuam at os dias atuais (ver Captulo VII).

Informatizao e qualificao
Nessa poca, a Dedini apresentava mais exemplos de pioneirismo, ao proceder informatizao da sua rea de engenharia. Foi a primeira empresa nacional de bens de capital a implantar o programa Computer Assistent Design (CAD), para elaborar projetos, em 1976. Foi, tambm, a primeira empresa de bens de capital nacional a receber a certificao da American Society of Mechanical Engineers (ASME), conceituada associao de engenharia norte-americana, que estabelece os procedimentos de excelncia em fabricao de diversos itens. Naquela ocasio, os selos de qualidade (S e U) foram obtidos para produo de caldeiras e vasos de presso.

Ainda em 1976, foi criado dentro da Metalrgica um sistema de contabilizao de custos industriais que obteve grande projeo no setor. O processo foi elogiado at pelos tcnicos do Banco Nacional do Desenvolvimento Econmico e Social, o BNDES, que recomendaram sua aplicao junto a seus muturios.

um dia inteiro para realizar uma ligao interurbana para o interior de So Paulo e isso prejudicava o atendimento ao cliente. Para as comunicaes escritas, os funcionrios utilizavam aparelhos telex, hoje, completamente obsoletos. Mesmo assim, o escritrio comeou a concretizar negcios em vrios estados do Norte e Nordeste do pas. Montou-se uma equipe de tcnicos que vinham de So Paulo para resolver eventuais problemas nas usinas e destilarias e, aos poucos, a indstria piracicabana conquistou a confiana dos empresrios locais. Naquela poca, foi ofertada Dedini uma unidade industrial, recm-construda, localizada em Jaboato, com 31 000 metros quadrados. Em face das boas perspectivas de negcios, as instalaes foram adquiridas e a fbrica (Codistil Nordeste) iniciou suas operaes em 1979, prestando servios de construo e montagem de equipamentos, nas reas de caldeiraria e mecnica. Foi um choque para a concorrncia existente. Quando se instalou no Nordeste, a Dedini tinha menos de 10% do mercado, e por volta de

Atuao no Nordeste
Em meados da dcada de 1970, a Dedini resolver instalar uma subsidiria no Nordeste. At ento, as usinas e destilarias daquela regio adquiriam equipamentos, principalmente, da Cosinor, Norao, Fives Lille Nordeste, todas em Pernambuco, e das Mquinas Piratininga. Em um primeiro momento, comeou a fornecer peas de reposio e, logo depois, passou a efetuar reformas nos maquinrios. Havia muitos problemas para realizar tais trabalhos; os mais graves eram a longa distncia das fbricas em Piracicaba, com muitas dificuldades no transporte dos equipamentos e de comunicao com a matriz. Normalmente, demorava-se

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O LCOOL BRASILEIRO VENCE DESAFIOS E CONQUISTA NOVOS MERCADOS


Quando os rabes impuseram boicotes ao fornecimento do petrleo, na dcada de 1970, diversas alternativas para sua substituio foram consideradas e depois descartadas, quer por seu alto custo, quer por sua difcil implementao. O Brasil foi um dos nicos pases que conseguiu atravessar a crise energtica mundial de forma inovadora, criando o primeiro programa de substituio da gasolina com a utilizao de um combustvel limpo, renovvel, totalmente nacional. O aproveitamento da energia gerada a partir da fotossntese tornou-se possvel por causa da ampla oferta de cana-de-acar existente no pas. Graas ao Programa Nacional do lcool Prolcool foi possvel desenvolver vrias regies do Brasil, interiorizando e descentralizando o progresso, antes restrito s grandes cidades. Criou-se, tambm, uma ampla oferta de emprego e beneficiou-se a economia, com significativa economia de divisas, por meio da reduo das importaes. A partir de 1986, o Prolcool comeou a ser desativado por diversas circunstncias conjunturais. E a produo de carros a lcool foi drasticamente reduzida no Brasil nos ltimos anos, apesar de todos os efeitos positivos da sua utilizao. Para muitos analistas, isto foi um grande equvoco. Com a fabricao dos veculos com motores com combustvel flexvel no Brasil, o lcool recuperou seu lugar na matriz energtica nacional. Alm disso, cada vez maior o nmero de pases interessados em combustveis alternativos, que no causem prejuzos ao ambiente, que sejam renovveis, e que possam diminuir a dependncia dos derivados de petrleo. O Brasil , ao mesmo tempo, o maior produtor e o maior consumidor de lcool do mundo. A preocupao em conquistar novos mercados tem sido uma constante no setor canavieiro, que no tem poupado esforos para abrir novas fronteiras para o combustvel verde-amarelo, limpo e renovvel.
Destilaria fabricada pela Codistil com capacidade de produo de 150 000 litros de lcool por dia

1983, j era responsvel por 60% das vendas no setor. Somente no perodo de 1975 a 1983, foram instaladas dezenove novas destilarias naquela regio. A Dedini fornecia as fbricas completas, incluindo estudos de viabilidade econmica, elaborao dos projetos tcnicos, assessoria nos financiamentos bancrios para sua viabilizao, e sua colocao em marcha.

No balano consolidado do grupo, de 1979, a Dedini registrou um patrimnio lquido de Cr$ 5,5 bilhes, com vendas de Cr$ 7 bilhes. Segundo notcia de jornais da poca, essa cifra era, ento, quase o dobro da arrecadao de Porto Alegre, e o equivalente a 30% da receita da Capital de So Paulo.

com capacidade para produzir 120 000 litros de lcool por dia. Na linha de acar e lcool, havia processadores para tratamento de caldo, secadores, transportadores, armazenadores e vrios outros acessrios. Para destilarias de lcool e aguardente, fabricava equipamentos completos para vrios tipos de etanol, incluindo prdios metlicos, trocadores de calor, aquecedores, painis de comando, reservatrios etc. Na linha de fertilizantes, fabricava tambores rotativos (granuladores, secadores e resfriadores), misturadores, peneiras vibratrias, elevadores, moinhos, ciclones, lavadores, silos e outros estruturas, alm de unidades inteiras para preparo de determinados tipos de adubos, conhecidos como supertriplos. A Codistil atendia, ainda, indstria de processamento de argila (com atomizadores para massa cermica, separadores de p e vasos agitadores) e, tambm qumica e petroqumica, construindo vasos de presso, torres de fracionamento, intercambiadores de calor, reservatrios, autoclaves, reatores, bandejas de destilao e apurao, estruturas metlicas e caldeiraria em geral.

Crescimento acelerado
Uma das unidades do grupo Dedini que mais apresentou expanso, durante a dcada de 1970 foi, sem dvida, a Codistil. Ao completar 37 anos, em 1979, a empresa orgulhava-se de ser a responsvel indireta por 89,7% do volume de lcool produzido no pas naquele ano, ou seja, 3,41 bilhes de litros. Era considerada uma das maiores fbricas de destilarias do mundo e exportava para vrios pases das Amricas, como Bolvia, Costa Rica, Paraguai, Venezuela e Honduras, entre outros. Naquela poca, a Codistil possua 1 600 funcionrios e era capaz de fornecer, por ms, at cinco unidades completas

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Em 1979, a Codistil comemorava a entrega, no tempo recorde de dez meses, de uma destilaria de lcool anidro para a Codesa Corporacin Costarricense de Desarrollo, da Costa Rica. No ano seguinte, vendeu equipamentos para a usina So Martinho, em Pradpolis (SP), possibilitando que esta indstria se tornasse a maior do mundo, com capacidade para fabricar um milho de litros de lcool, a cada 24 horas. Nessa poca,

a empresa j fornecera, desde 1946, quase 400 destilarias. O sucesso do Prolcool fez com que o otimismo tomasse conta das indstrias de bens de capital instaladas em Piracicaba voltadas, principalmente, para atendimento do setor sucroalcooleiro. Contando com a facilidade de investimentos, a maior parte das empresas pde ampliar suas instalaes, modernizar seus equipamentos e aperfeioar sua base tecnolgica.

Vista area da Codistil, s margens da rodovia Rio Claro-Piracicaba, na dcada de 1980, hoje matriz das empresas Dedini

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CAPTULO 5

Tempos difceis
O lcool uma das solues brasileiras mais imediatas, mais consistentes e, sobretudo, de durao infinita para o problema energtico; nenhuma das dificuldades que possam ocorrer tm carter intransponvel ou duradouro...
Joo Guilherme Sabino Ometto, empresrio do setor sucroalcooleiro, em 1986.

Detalhe de equipamento fabricado pela Dedini, em Sertozinho (SP)

o incio dos anos 1980, o Brasil viveu tempos de glria em termos de gerao de energia. O lcool o combustvel verde movimentava a maior parte da frota nacional de veculos. A Petrobras comemorava: em 1980, conseguiu superar suas marcas na extrao de petrleo, o que contribuiu para diminuir a dependncia do leo estrangeiro. No ano seguinte, inaugurava-se, tambm, a maior hidreltrica do mundo, a de Itaipu (PR), e entrou em funcionamento a usina de Angra dos Reis (RJ), colocando o pas no seleto grupo de produtores e usurios da energia nuclear. A partir daquela poca, no entanto, a economia nacional mergulharia em profunda crise, com atividade econmica em baixa e inflao em alta. O produto da indstria de transformao decresceu 6,4%, e os setores de bens de capital e de consumo durveis foram os maiores responsveis por esse resultado negativo. A dvida externa atingiu a marca assustadora de US$ 100 bilhes em 1983. No exterior, o Brasil passou a ser um investimento de risco. A forte resistncia dos bancos estrangeiros em continuar financiando o dficit brasileiro do balano de pagamentos exigiu drsticas mudanas na poltica econmica. A crise foi agravada por novo aumento dos preos do petrleo e pela elevao das taxas de juros. A recesso

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veio acompanhada da acelerao da inflao, que ultrapassou o patamar dos 100% ao ano. Em 1983, o governo brasileiro fechou acordo com o Fundo Monetrio Internacional (FMI), que passou a monitorar a economia. O desemprego aumentou, trazendo, como conseqncia, o aumento das tenses sociais. Naquele ano, o governo do general Joo Baptista de Oliveira Figueiredo (1979-1985) assinou, seguidamente, quatro cartas de intenes com o FMI, assumindo compromissos que no conseguiu honrar. A inflao saltou para 211% e o PIB caiu 3,5%. Vivia-se um clima de crescente liberdade. Com o final do governo Figueiredo, encerrou-se, definitivamente, o regime militar, terminando com o longo perodo de autoritarismo. O Brasil ganhou uma nova Constituio (1987) e reconquistou o direito de escolher seu presidente pelo voto direto (1989). A luta pela redemocratizao foi, no entanto, penosa para o pas: uma sucesso de escndalos financeiros e pacotes econmicos marcaram os anos 1980. Com a difcil tarefa de contornar a situao e em

momento de grande comoo nacional, com a morte do presidente Tancredo Neves, recm-empossado, assumiu o vice, Jos Sarney (1985-1990), que, logo depois, lanou programa de estabilizao econmica, substituindo a moeda nacional, o cruzeiro, pelo cruzado. A este plano, conhecido como Cruzado, seguiram-se outros, contendo medidas fiscais (Cruzadinho e Cruzado II), sem atingir resultados efetivos, pelo menos, no que se refere melhoria da qualidade de vida da populao: 35% das famlias brasileiras viviam, ainda, abaixo da linha de pobreza, com renda mensal inferior a meio salrio mnimo. Os salrios estavam congelados e a inflao ultrapassava a taxa anual de 365%. Em 1986, o governo declarou a moratria unilateral da dvida externa, e demitiu o ministro da Fazenda, o empresrio Dilson Funaro. Assumiu a pasta Luiz Carlos Bresser Pereira, que instituiu outro plano econmico, conhecido com seu nome. Tambm no conseguiu se manter no cargo: foi substitudo por Malson da Nbrega, que, em janeiro de 1987, lanou o chamado Plano

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Vero, substituindo o cruzado pelo cruzado novo. Simples questo de semntica: a inflao continuava a subir, at atingir, naquele ano, a estratosfrica taxa de 1 765%, quase inviabilizando as atividades econmicas no pas e estimulando a especulao financeira. A atividade industrial decresceu e o desemprego aumentou ainda mais. Um dos setores mais afetados foi o de bens de capital por encomenda, onde a Dedini atuava. Nessa poca, muitas outras indstrias fecharam suas portas. Para piorar a situao, por volta de 1986, o governo comeou a desestimular o Prolcool, que tanto contribura para manter as atividades de algumas empresas do grupo.

O grupo iniciara os anos 1980 com planos ambiciosos de investimentos e o desenvolvimento de vrias novidades tecnolgicas. O conglomerado era, ento, constitudo por vinte empresas, onde trabalhavam cerca de 11 000 colaboradores. Na rea de acar e lcool, estudava-se o aumento da extrao na moagem da cana e o aprimoramento do sistema de difusores, a melhoria do rendimento e eficincia da fermentao e destilao, o menor consumo de vapor, e o aproveitamento da vinhaa como fonte de energia para destilarias. Alm disso, pesquisava-se o estudo da tecnologia do plasma e o desenvolvimento de novos produtos siderrgicos; a produo de escavadeiras para utilizao na minerao de carvo, e, tambm, de vrios tipos de caldeiras: de pequeno porte e com leito fluidizado, para queima de lixo e recuperao de calor. Trabalhava-se, ainda, para desenvolver tcnicas de mistura de leo com carvo vegetal e gua para substituir o leo combustvel, bem como o projeto de uma nova turbina multiestgios. Dois processos que resultariam em inovaes tecnolgicas

Selo comemorativo do 60 aniversrio das empresas Dedini

Dificuldades vista
Mesmo com a crise, duas empresas do grupo Dedini a Siderrgica e Metalrgica apareciam, respectivamente, como a primeira e a terceira indstrias do municpio em arrecadao do Imposto sobre Circulao de Mercadorias (ICM), segundo levantamento da Prefeitura de Piracicaba realizado em 1986.

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o Methax e o Biostil seriam responsveis pela manuteno do pioneirismo do grupo Dedini durante a dcada de 1980. O primeiro consistia na produo de gs metano combustvel, a partir de um resduo industrial, a vinhaa; o segundo, pretendia incrementar a produo de lcool, a partir de um sistema com fermentao e destilao acopladas, permitindo baixo consumo de energia e grande reduo na gerao de efluentes.

Combate poluio
Desde 1982, a Dedini vinha se preocupando em desenvolver sistemas para diminuir a poluio causada pelas agroindstrias. Uma das primeiras iniciativas foi a tecnologia para tratamento da vinhaa, ou seja, a biodigesto anaerbia (sem a presena de ar) para produo de gs, por meio do sistema Methax. Este projeto obteve grande repercusso. Um convnio com a Prefeitura de So Joo da Boa Vista (SP) viabilizou seu uso em nibus urbanos, mediante adaptaes nos motores. Com a queda dos preos do petrleo, no entanto, na segunda metade da

dcada de 1980, cessou, praticamente, o interesse em combustveis alternativos, e o Methax caiu no esquecimento. H alguns anos, porm, o assunto voltou tona: acredita-se que esse sistema seja, at hoje, uma soluo vivel para implantao em plantas industriais onde a vinhaa provoque impacto ambiental e no possa ser descartada nas lavouras. Em 1986, foi oferecida Codistil (coligada da Dedini), pela Paques Water System, uma tecnologia semelhante ao Methax. Essa empresa desenvolveu know-how no tratamento de efluentes. Assim, foi firmado um contrato de parceria para fornecimento do sistema no Brasil, tambm, para alguns setores, como, por exemplo, o cervejeiro. Desde ento, j foi comercializada mais de uma centena de unidades industriais para essa finalidade. Ao longo desse perodo, inmeras modificaes de engenharia foram efetuadas no sistema anaerbio empregado. Para completar o tratamento, a Paques desenvolveu, tambm, um sistema aerbio, denominado Circox, para substituir, por um simples reator, as extensas

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lagoas anteriormente utilizadas para essa finalidade. A preocupao da Dedini com o destino de efluentes continuou nos anos mais recentes, oferecendo, a partir de 2003, um processo de tratamento de esgotos domsticos, mais compacto e flexvel, conhecido como Ubox.

de lcool produzido; com esse processo, poder-se-ia reduzir esse volume a menos de um litro. Trabalhava com matria-prima concentrada (xarope, melao etc.), utilizando a fermentao contnua em uma nica dorna. Com a tecnologia Alfa Laval, a Codistil, mediante pagamento de royalties, desenvolveu e forneceu a primeira planta no Brasil em escala comercial para a usina So Luiz, em Pirassununga (SP). Posteriormente, produziu, tambm, equipamentos para a destilaria Goioer, em Goioer (PR), e Coamo, em Campo Mouro (PR), e, ainda, uma para o Paquisto, em Islamabad. Diante do recente aumento da produo do lcool, nos anos 2000, esse assunto foi reativado, principalmente, por causa do risco ambiental decorrente da aplicao de milhares de litros de vinhaa no solo. A Dedini retomou o tema por acreditar no grande potencial de comercializao desse sistema. Assim, localizou um processo mais avanado, de concentrao da vinhaa, desenvolvida pela empresa austraca Vogelbusch, com a qual assinou contrato de transferncia de tecnologia em 2005.

Maior produo de lcool


Por volta de 1982, a Dedini, por meio de sua coligada, a Codistil, continuava a estudar formas de otimizar ainda mais a produo de lcool. Assim, identificou uma planta piloto na Austrlia, desenvolvida pela empresa Alfa Laval, que vinha obtendo bons resultados, com a vantagem de gerar baixo nvel de efluentes. Era um momento oportuno, pois havia bastante preocupao com o destino da vinhaa produzida nas usinas. Surgiu, assim, o sistema Biostil, que permitia a obteno de alto rendimento alcolico, baixo consumo de energia e grande reduo de efluentes: enquanto as destilarias convencionais geravam de dez a treze litros de vinhaa para cada litro

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ANTECIPANDO O FUTURO
Pode-se dizer que a Dedini antecipou o futuro, quando, em 1984, lanou o Methax, sistema que permitia a transformao da vinhaa subproduto poluente e malcheiroso resultante da destilao do caldo fermentado da cana-de-acar em gs combustvel. A primeira unidade foi instalada na usina So Luiz, em Pirassununga (SP). O empreendimento foi feito em parceria com a PEM Planejamento, Engenharia e Manuteno Ltda. e podia fabricar dois tipos de gs: o biogs, de poder carburante menor, ideal para consumo caseiro, e o biometano, mais puro e mais caro, utilizado como combustvel para veculos. O biogs obtido em Pirassununga foi utilizado, no incio, para movimentar a frota de caminhes e veculos da usina. Era uma grande vantagem, pois as destilarias empregavam, ento, at 6% do lcool fabricado para movimentar seus veculos. O maior benefcio, no entanto, era o ambiental: depois de passar pelo processo de gaseificao, o que restava da vinhaa era um lquido quase sem carga orgnica, mas, ainda, altamente nutritivo, utilizado para fertilizar o solo. Em 1989, a Dedini assinou um protocolo de cooperao tcnica com a Prefeitura de So Joo da Boa Vista (SP) para uso do metano no transporte coletivo. A distribuio e o abastecimento da frota municipal ficou a cargo da distribuidora Cia. Brasileira de Petrleo Ipiranga, que j vinha efetuando outros testes com o gs natural em vrias capitais do pas. A Mercedes Benz se encarregou das adaptaes dos motores dos nibus. Caso optasse pelo metano, estariase obtendo benefcios econmicos, pois seu uso permitia ganho de 10% a 15% por quilmetro, com aumento da vida til do motor em at 50%.

Unidade pioneira Methax, em So Joo da Boa Vista, para produo de gs. Pgina ao lado: nibus abastecido com o produto.

O projeto teve grande repercusso e foi um dos doze que a Mercedes selecionou, em nvel mundial, para divulgar durante a Eco-92, realizada no Rio de Janeiro, como exemplos de solues ecologicamente corretas. Essa experincia indita de uso veicular do gs foi pioneira no Brasil. Nos ltimos anos, tem aumentado bastante o interesse no destino final da vinhaa. Calcula-se que para cada litro de lcool produzido obtm-se de dez a treze litros do sub-produto. O material continua a ser utilizado na fertirrigao dos canaviais, mas, em algumas circunstncias, com o aumento da produo de lcool, tal soluo poder oca-

sionar saturao do solo em potssio e no ser mais ambientalmente correta, exigindo o tratamento prvio. Este torna-se mais imprescindvel, ainda, quando se trata de plantaes instaladas em reas com lenol fretico pouco profundo, em que pode haver eventual contaminao. Por isso, a Dedini fechou, recentemente, parceria com empresa austraca, a Vogelbusch, para fabricar um equipamento que reduzir, por evaporao, 40% da vinhaa. Com isso, ser possvel obter significativa reduo dos custos no transporte e na logstica despendida para sua aplicao no campo.

Vento a favor
A Codistil, por sua vez, depois de enfrentar um pequeno decrscimo nas vendas no incio dos anos 1980, recebeu novo impulso com a aprovao, pela Comisso Nacional de lcool (Cenal), de uma centena de projetos de novas destilarias, financiadas com recursos do Banco Mundial. Pelo contrato firmado com aquela instituio, as operaes de crdito no mbito do Prolcool, relativas a equipamentos, servios e obras deveriam ser adquiridas por meio de licitaes internacionais, envolvendo fornecedores prqualificados do pas e do exterior. Assim, na concorrncia realizada no incio de 1984, entraram cinco empresas e consrcios nacionais, e outras trs, envolvendo firmas e consrcios estrangeiros. Na aprovao dos primeiros quarenta projetos, cujas encomendas somavam cerca de US$ 242 milhes, 38 ficaram a cargo de empresas genuinamente nacionais a Dedini, a Zanini e o consrcio CCVP. As duas licitaes restantes foram vencidas por consrcios com participao de companhias estrangeiras, mas apresentavam ndices de nacionalizao de 92% a

97%. Segundo comunicado do Ministrio da Indstria e do Comrcio (Carta Cenal no 06, de 6-2-1984), esse fato atestava o elevado grau de competitividade da indstria nacional de equipamentos. Favorecida pelo Prolcool, a Codistil tornou-se a maior fabricante de destilarias do mundo. Em 1980, as unidades que construiu eram responsveis por quase 90% da produo de lcool do pas. Naquele ano, possua 1 600 colaboradores e inaugurou sua nova sede administrativa, no bairro do Capim Fino, margem da rodovia Piracicaba-Rio Claro. Em 1983, a Codistil comemorava seus quarenta anos de existncia com a venda da sua 500 destilaria de lcool. Era, ento, a maior do mundo, com capacidade de produzir 300 000 litros por dia, considerado um modelo de quarta gerao, de alto rendimento, com drstica diminuio do consumo de vapor.

Campo de testes
Sempre buscando novos negcios e testar novos produtos, a Dedini implantou, entre 1981 e 1982, a destilaria So Joo, em So Joo da Boa Vista (SP). A insta-

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lao dessa unidade industrial constituiu-se em recorde mundial de prazo: decorreu um ano, entre a aprovao do projeto, instalao e funcionamento. A planta comeou a moer em julho de 1982, com capacidade para fabricar 180 000 litros de lcool hidratado por dia. Era uma indstria modelo: a idia era contemplar as tecnologias mais avanadas e promissoras. Ali foi instalado o primeiro aparelho, patenteado com o nome de Flegstil. Era uma novidade no mercado: uma coluna de destilao que possibilitava menor consumo de vapor. Esse equipamento , at hoje, um dos mais vendidos pela empresa. Naquele perodo, foi lanado, ainda, na destilaria So Joo, o Ionic, processo pioneiro para garantir a qualidade do lcool, mediante o uso de resinas que atuam sobre as impurezas do lcool, reduzindo sua acidez. Durante muito tempo, esse sistema teve seu espao no mercado, mas com o aperfeioamento do Flegstil, ao longo dos anos, ele se tornou desnecessrio. Outra tecnologia inovadora implantada naquela unidade, entre 1983 e 1984, foi o Methax, citado anteriormente.

Na base do desenvolvimento brasileiro


Por ocasio do seu 65 aniversrio, em 1985, o grupo Dedini reunia, alm da holding, Dedini S.A Administrao e Participaes, um grupo de 32 empresas, onde trabalhavam mais de 11 000 colaboradores, produzindo variada linha de produtos, destinados aos mais diferentes setores da economia. Alm da constante presena no mercado sucroalcooleiro, o grupo direcionava sua atuao para a metalurgia e siderurgia, concentrando esforos na pesquisa e desenvolvimento de alternativas na gerao e transformao de energia. As trs principais plantas eram a Metalrgica, a Codistil e a Siderrgica. A primeira, embrio de todo o complexo, evolura a partir da antiga oficina, na dcada de 1920, tornando-se uma das maiores fabricantes de bens de capital sob encomenda do pas, destinados, principalmente, ao setor sucroalcooleiro. Mais tarde, passou a atender outros segmentos. Estava, ento, instalada em rea de 970 000 metros quadrados, sendo 93 000 m2 construdos. Empregava 2 300 funcionrios, e produzia cerca

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de 4 500 toneladas por ms de equipamentos variados. A Metalrgica havia realizado importantes avanos na gerao de energia, fabricando turbinas a vapor para atender as necessidades de diferentes mercados. As turbinas de simples estgio possuam potncia varivel, entre 12 e 4 000 hp, destinando-se s indstrias qumica, sucroalcooleira, petroqumica, entre outras. Por sua vez, as turbinas de multi-estgios (de 1 000 a 100 000 kW) podiam ser usadas para acionar geradores, compressores, sopradores e bombas, atendendo, alm das indstrias citadas, siderrgicas, fbricas de papel e celulose, fertilizantes, madeireiras etc. Para desenvolver ainda mais esse item, a Dedini firmou, naquela poca, contrato de cooperao tcnica com a alem Siemens A.G., especializada nessa fabricao. A diviso de caldeiras produzia, por volta de 1985, geradores de vapor que utilizavam materiais alternativos slidos (carvo, bagao, refugos, borra

Unidade Biostil na usina So Luiz, em Pirassununga (SP), no final da dcada de 1980

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de caf e outros) para substituir o emprego de combustveis considerados crticos em siderurgia, petroqumica, plantas trmicas, usinas de acar, destilarias de lcool, indstrias alimentcias e outras. Alm desses produtos, fabricava caldeiras para recuperao de enxofre, de hidrognio, e um avanado sistema de recuperao de gases. O alto padro de qualidade internacional da Metalrgica evidenciava-se, ento, pelo fato de exportar tecnologia em acar e lcool para as companhias Andritz Machinenfabrik, austraca, e Soracen, francesa. A Siderrgica, por sua vez, era, ento, uma das maiores usinas privadas brasileiras, ocupando rea construda de 78 567 metros quadrados, em terreno de 358 620 m2. Contava com 2 300 funcionrios, aproximadamente, e dentre suas principais divises estavam a aciaria, com oito fornos eltricos e dois lingotamentos contnuos; a laminao, com trs unidades capazes de produzir mensalmente 25 000 toneladas de barras de ao para a construo civil e para fins mecnicos, obtidas em leito de resfriamento; as fundies leve, mdia e pesada,

com capacidade para fabricar 2 000 toneladas de peas por ms, em todos os tipos de metais ferrosos. A tecnologia adquirida ao longo do tempo, obedecendo a padres internacionais de qualidade, permitia o fornecimento de diferentes produtos aos mais variados segmentos: cimento, minerao, hidreltrico, naval, siderurgia, sucroalcooleiro e de mquinas em geral. O grupo englobava, ainda, empresas que atuavam na rea de destilao (Codistil), material refratrio (Dedini Refratrios Ltda.), comercializao de barras de ao para concreto armado (Dedini Comrcio de Aos), projetos de engenharia industrial (Dedini-Kavasaki Engenharia S.A.), na fabricao de equipamentos de corte e carregamento para o setor canavieiro (Dedini Mquinas e Sistemas), e na fabricao de transformadores e prestao de servios eltricos (Dedini Equipamentos Eltricos Ltda.). Sua tradicional loja, a Dedini Comercial Ltda., fundada no passado, vendia mais de 10 000 itens para consumo e manuteno das indstrias em geral, funcionando como verdadeiro pulmo para os clientes do grupo, pois seu estoque

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permitia o pronto atendimento de peas de reposio e minimizava os investimentos em almoxarifados por aquelas empresas. Havia, ainda, as usinas. Uma delas era a Acar e lcool So Luiz S.A., em Pirassununga (SP), fundada nos anos 1960, com 750 funcionrios, que produzia acar e lcool. Ali foi, tambm, desenvolvido um processo pioneiro para obteno de acar invertido a partir da cana-de-acar: o produto Gludex, que apresentava qualidades especficas de higroscopicidade, viscosidade e resistncia cristalizao. Por isso, era bastante utilizado pelas indstrias alimentcias e farmacuticas. A outra unidade era a destilaria So Joo, em So Joo da Boa Vista (SP), instalada em 1982, que fabricava e comercializava lcool. Servia como verdadeiro laboratrio para testar novos produtos desenvolvidos pela Dedini (ver p. 146).

dcada de 1980, a exemplo do que ocorreu nas outras companhias estabelecidas no pas. No final de 1989, o conglomerado previa investimentos de US$ 165 milhes durante os prximos cinco anos, mas foi abalado por planos econmicos recessivos e o desaquecimento da economia; suas empresas acumularam sucessivos prejuzos, agravados pelos vencimentos dos investimentos efetuados na dcada anterior. Para administrar seu endividamento, a diretoria do grupo procurou, primeiramente, os parceiros japoneses Kawasaki e C. Itoh , para tentar convenclos a manter suas participaes, comparecendo no aumento do capital. Diante da negativa, dirigiu-se ao BNDES, conseguindo obter o parcelamento de seus compromissos, e, inclusive, capitalizao com emisso de aes resgatveis. Mesmo com as grandes dificuldades conjunturais, o grupo instalou, naquela poca, duas empresas: a Dedini Corretora de Seguros S/C. Ltda., para melhor proteger seus ativos, e a Codismon Metalrgica Ltda., destinada prestao de servios de montagens dos produtos fabricados.

Em busca de ajuda
A conturbada conjuntura nacional atrapalhou, no entanto, os planos de expanso e a performance da Dedini durante a

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Medidas extremas
No trmino de seu governo, Jos Sarney acumulou pontos muito negativos para o pas. Sob seu comando, a economia atingiu a maior taxa de inflao (mensal e anual) e o menor salrio mnimo real. Em conseqncia, enfrentou inmeras greves e amargou baixos ndices de popularidade, agravados por denncias de escndalos. Fernando Collor de Mello (1990-1992) foi o primeiro civil eleito pelo voto direto desde 1960. Foi, tambm, o primeiro escolhido dentro das regras da Constituio de 1988, com plena liberdade partidria. Collor, ex-governador de Alagoas, assumiu com o apoio das foras conservadoras, derrotando, no segundo turno, o ex-metalrgico e lder da esquerda, Luiz Incio Lula da Silva. Entre suas promessas de campanha, estavam a moralizao da poltica e o fim da inflao. Acenava, tambm, com a modernizao do pas, a reduo do papel do Estado e a eliminao dos controles burocrticos da poltica econmica, oferecendo apoio s empresas nacionais para que aumentassem sua eficincia e competitividade no mercado global.

Ao assumir o poder, o jovem presidente informou que s possua uma bala na agulha para matar o drago da inflao. Assim, puxou o gatilho s 7h15 da manh da sexta-feira, 16 de maro daquele ano. Algumas das medidas anunciadas eram j conhecidas em planos econmicos anteriores: congelamento de preos e salrios, troca de moeda (cruzado novo pela volta do cruzeiro), aumento de tarifas pblicas, prefixao da inflao quinzenal e depois, mensal, entre outras. A grande novidade ficou por conta do bloqueio das aplicaes financeiras (no over night e nos fundos), das contas bancrias e das poupanas, que deixou empresas e pessoas fsicas, do dia para a noite, sem nenhum dinheiro para cumprir seus compromissos. O cruzeiro tornou-se dinheiro raro e caro. Quem tinha dlares, trocou. Quem possua algum patrimnio foi obrigado a desfazer-se dele por preos irreais, e quem no tinha outra alternativa quebrou. Em seguida, Collor tomou rgidas medidas de enxugamento da mquina estatal, como a demisso em massa de funcio-

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nrios pblicos e a extino de autarquias, fundaes e empresas pblicas. Ao mesmo tempo, anunciou providncias para abrir a economia nacional competio externa, facilitando a entrada de mercadorias e capitais estrangeiros no pas. Inicialmente, as elites polticas e empresariais apoiaram a desregulamentao da economia e a reduo da interveno estatal no setor.

Nos primeiros meses, o Plano Collor parecia dar certo, com a estabilizao momentnea da inflao, mas, logo depois, comearam a aparecer os problemas: a atividade industrial cara 10,3% a pior taxa obtida desde 1981. Crescia a economia informal e, no final do ano, o drago da inflao mostrava que no havia sido abatido: em dezembro de 1990, atingiu a taxa de 1 118,54% ao ano.

Chapas de ao inoxidvel na fbrica de Piracicaba (SP)

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Em fevereiro do ano seguinte, a ento ministra da Fazenda, Zlia Cardoso de Mello, ainda tentou salvar o plano, instituindo novo aumento de tarifas pblicas e o congelamento de preos, salrios e das prestaes da casa prpria; promoveu a desindexao da economia (abolindo o ndice de correo, BTN); criou um ndice (TR) para remunerar a poupana e extinguiu as aplicaes financeiras, do tipo over night. Sem obter resultados, a ministra e toda sua equipe foram demitidos. Marclio Marques Moreira foi nomeado em seu lugar. Modificou o comando da economia, mas a recesso continuou a mesma.

condies especiais. O parque fabril destinado produo de bens para o setor sucroalcooleiro, instalado no municpio obteve, naquela poca, notvel crescimento, sendo responsvel pela maior parte dos equipamentos fornecidos para todo o Brasil. Paralelamente, a lavoura canavieira apresentou grande expanso, com o processamento de mais de 10,6 milhes de toneladas de cana, em 1985-1986. Para tanto, houve significativo aumento na rea plantada, que substituiu, at, florestas e pastagens. Naquela safra, a produo de lcool atingiu seu pico: quase seiscentos milhes de litros, 192,3% superior ao total fabricado em 1981-1982. Nos anos anteriores, a cidade havia apresentado notvel crescimento, com a chegada de grande nmero de trabalhadores, especializados ou no, que vieram em busca de emprego na indstria e nas lavouras. No perodo de 1974 a 1983, a populao piracicabana cresceu 83,88%, enquanto a rea urbanizada expandiu 124,57%, superando bastante as necessidades de ocupao. A cidade enfrentou, ainda, problemas na sua infra-estrutura,

Reflexos em Piracicaba
A consolidao do municpio de Piracicaba como plo industrial retirou de sua economia o carter sazonal conferido pela agricultura. A regio passou a ser mais influenciada pela conjuntura nacional do que pelas safras agrcolas. O advento do Prolcool havia possibilitado a manuteno do nvel de emprego e permitiu a modernizao de suas usinas, graas aos financiamentos em

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com o aparecimento de inmeros loteamentos perifricos, normalmente afastados do centro, que provocaram a ocorrncia de enormes vazios na malha urbana. Ocorreu, assim, uma especulao descontrolada e mau uso do solo, com evidente prejuzo sobre a qualidade de vida. No incio dos anos 1980, surgiu uma nova caracterstica no desenvolvimento de Piracicaba, que modificou consideravelmente sua paisagem: a verticalizao das construes, fenmeno tambm observado em outras cidades brasileiras. Naquela poca, Piracicaba j se destacava como centro regional de comrcio e servios. A rede bancria era bastante ampla e a cidade continuava a destacar-se na educao, com inmeras universidades. Os tradicionais estabelecimentos comerciais, concentrados na rea central, foram obrigados a enfrentar a concorrncia do Shopping Center Piracicaba, instalado em 1987, em terras da Dedini, margem direita do rio, nas proximidades da ponte conhecida como Lar dos Velhinhos. No final dos anos 1980, observou-se a deteriorao das

condies de vida da populao, aumentando o nmero de favelas e o desemprego. A crise atingiu em cheio o prspero municpio e uma de suas principais indstrias, a Phillips, fechou suas portas, transferindo-se da cidade. A desacelerao fez-se sentir na queda da arrecadao de impostos e foi agravada, ainda mais, pelo desaquecimento do Prolcool.

Crise no setor de bens de capital


O agravamento da crise do lcool, no entanto, podia ser observado na safra 1988-1989, quando o setor canavieiro passou a priorizar, em lugar do combustvel, a fabricao do acar. O resultado foi verificado, assim como em outras regies brasileiras, pela falta do produto para o abastecimento dos veculos, seguida pela queda progressiva e acelerada da demanda por carros a lcool. O esvaziamento do Prolcool, na segunda metade dos anos 1980, foi compensado pela alta dos preos do acar no mercado internacional. Assim, diversas destilarias autnomas, que s produziam lcool, equi-

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param-se para produzir tambm acar. Sensivelmente prejudicada pela recesso, a indstria de bens de capital ficou aliviada com essa safra de novas encomendas. Muitos chegaram a acreditar que os bons tempos haviam voltado. Naquela poca to auspiciosa, nos anos 1970, esse segmento industrial, representado pela Associao Brasileira da Infra-estrutura e Indstrias de Base (ABDIB), empregava 150 000 pessoas e faturava mais de US$ 8 bilhes por ano. No final de 1980, o nmero de trabalhadores cara para 30 000 e obtinha cerca de US$ 2 bilhes com suas vendas anuais. Logo, os empresrios perceberam que o aumento das encomendas era ilusrio. A situao agravou-se ainda mais quando Collor cancelou reajustes previstos e, tambm, muitos contratos firmados com as companhias estatais siderrgicas, como a Cosipa e Companhia Siderrgica Nacional, que supriam, com seus pedidos, as empresas de bens de capital. O jornalista Geraldo Hasse (1996) comenta que, de um grupo empresarial de elite que, em 1980, assumira a liderana no debate sobre qual seria o projeto de

desenvolvimento mais adequado para realizar o sonho de Brasil Potncia, a ABDIB transformouse, em 1990, em um autntico clube de falidos. Todas as empresas do setor sofreram profundas transformaes: algumas simplesmente desapareceram, outras fundiram-se, deixaram-se absorver, ou foram obrigadas a reduzir suas atividades. Dessa forma, no surpreendia que, nas prprias reunies da ABDIB, na dcada de 1990, os empresrios comeassem a admitir algo que, at ento, significaria uma capitulao: a fuso entre eles. Como recurso extremo, os industriais ainda tentaram promover sua atividade, por meio de uma campanha publicitria, elaborada gratuitamente pela agncia MPM Propaganda, cujo lema era: Um pas que no investe no futuro no tem futuro. A primeira tentativa de fuso entre a Confab e a Filsan, no mbito da ABDIB, no obteve sucesso. A Zanini S.A. Equipamentos Pesados, por sua vez, iniciou negociaes para se associar Nardini, uma fundio de Limeira (SP), e, quando essa iniciativa fracassou, passou a estudar a fuso com a Dedini, retomando uma antiga conver-

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sao. Nos anos 1960, quando Mario Dedini ainda dirigia a empresa, j haviam sido entabuladas algumas negociaes com a famlia Biagi, para a realizao de algumas operaes em conjunto, que no obtiveram xito. A oportunidade de formar uma parceria surgiu, novamente, no incio de 1990, com a idia de um consrcio entre as duas empresas para trabalhar no Ir. O objetivo era consolidar uma forte posio competitiva nos mercados nacional e internacional, mediante um processo de racionalizao operacional a ser executado por uma administrao profissionalizada, sem interferncias familiares, dizia um documento redigido naquela poca.

Catlogo de divulgao dos produtos da antiga empresa DZ, em meados de 1990

A proposta do Ir
A possibilidade de fornecimento de cinco usinas no Ir foi apresentada diretoria da Dedini pelo empresrio Wolfgang Sauer, que fora presidente da Volkswagen do Brasil e estava, na poca, atuando no comrcio exterior. Tratava-se de um empreendimento com finalidade estratgica, pois o governo

iraniano pretendia desenvolver uma regio muito pobre daquele pas, procurando aumentar a oportunidade de emprego com a instalao das indstrias. O valor do pacote estava estimado em mais de US$ 600 milhes, valor bastante significativo para a Dedini. Dessa forma, a empresa aliou-se Zanini para tentar concretizar o interessante negcio e, juntas, investiram mais de US$ 2 milhes na

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Fabricao de equipamentos pesados na unidade fabril da Dedini, em Sertozinho (SP)

elaborao da proposta. As duas companhias concorriam com quinze consrcios de vrias partes do mundo. Os engenheiros encarregados desse trabalho demoraram um ano nessa tarefa e recordam-se da correria e das noites passadas em claro para preparar os documentos exigidos para seleo dos fornecedores. Depois de embalados, os volumes contendo as propostas, em sete vias, pesaram setecentos quilos e lotaram uma caminhonete de grande porte.

Foi preciso at atrasar em trs horas a partida do vo para embarc-los, a tempo de participar da concorrncia internacional. Os brasileiros tinham todas as vantagens competitivas, mas no conquistaram o negcio. O governo iraniano preferiu entreg-lo para o Egito, com quem possua crditos. Alis, das cinco usinas previstas, acabou concretizando-se a construo de apenas uma unidade. De qualquer forma, essa proposta serviu de balo

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de ensaio e acabou unindo as tradicionais concorrentes no Brasil Dedini e Zanini , que passaram, a partir de ento, a estudar a participao conjunta em outros empreendimentos.

ficaram de fora algumas empresas pertencentes ao grupo Biagi, como a Zanini Internacional, a Sermatec e a Renk-Zanini, e, tambm, a diviso de turbinas, da Dedini. As duas ferrenhas concorrentes que, muitas vezes, mediram suas foras para conquistar clientes, implantar novas tecnologias e superar recordes de produo tiveram trajetrias, at certo ponto, semelhantes. A Zanini havia iniciado suas atividades nos anos 1950, a partir de uma oficina mecnica, que prestava servios na regio de Sertozinho (SP). Em 1951, fabricou seu primeiro equipamento: uma caldeira, fornecida usina Bela Vista. Sete anos depois, produzia sua primeira moenda. A primeira usina completa, a Vale do Rosrio, foi projetada e instalada em 1965. O crescimento dessa empresa familiar foi rpido. Em 1964, j era uma sociedade annima com a denominao de Zanini S.A. Equipamentos Pesados, atuando, alm do mercado sucroalcooleiro, em minerao, papel e celulose, controle ambiental e transporte de cargas industriais. A nova empresa formada pela Dedini e Zanini chamou-se

A fuso Dedini e Zanini


Assim, ainda no embalo do consrcio para venda de equipamentos ao Ir, em 1990, as duas empresas emitiram uma nota oficial, manifestando a inteno da fuso. A iniciativa recebeu o apoio do ento ministro da Administrao, Joo Santana, e foi estimulada por Wolfgang Sauer, mentor da criao da indstria Autolatina (consrcio entre a Ford e a Volkswagen do Brasil), o mesmo que fizera a prospeco da venda para o Ir. Sauer tornara-se presidente do conselho da Zanini e, com a colaborao do prefeito Waldyr Trigo e do Sindicato dos Metalrgicos de Sertozinho, conseguiu um emprstimo-ponte junto ao BNDES para viabilizar o empreendimento. Os preparativos para a fuso duraram dois anos, consumidos em discusses e estudos para compatibilizar ativos, passivos, dbitos e crditos. Da fuso

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DZ S.A. Engenharia, Equipamentos e Sistemas, e desde a sua criao, j era a maior fornecedora para o setor sucroalcooleiro. No ano seguinte, aumentou seu capital com o ingresso da ATB-Badoni, representante brasileira do conglomerado italiano E. Fochi, com sede em Bologna, detentora de tecnologia sofisticada e muito bemsucedida. A multinacional atuava nas reas de petrleo e petroqumica, minerao, portos, energia, cimento, ao e meio ambiente, por meio de sua coligada no Brasil. Acreditava-se que este grupo estrangeiro auxiliaria no aumento da participao da DZ fora do pas, pois possua no currculo atividades nas reas da petroqumica, minerao, porturia, energia, cimento, ao e meio ambiente. A DZ tinha reas distintas de atuao: equipamentos para acar e lcool e equipamentos industriais para atender outros setores, como petroqumica, petrleo, portos, minerao, siderurgia, papel e celulose, cimento, controle ambiental, energia, hidroeltrica, elevao e transporte de cargas industriais.

Somando a capacidade instalada das duas empresas, a DZ apresentava nmeros impressionantes: a sede era em Piracicaba, onde, tambm, havia unidades fabris, alm de Sertozinho. Possua escritrios regionais no Nordeste e representantes comerciais em vrios pases. Seu parque industrial ficou com 74 200 metros quadrados de rea construda, e com capacidade de produo de 154 000 horas/homem por ms, segundo propagandas da poca. As duas empresas somaram, tambm, seus acervos tecnolgicos, as parcerias firmadas ao logo do tempo e seu histrico de certificaes de qualidade. Dessa forma, tornou-se a maior fabricante mundial de equipamentos para o mercado de acar e lcool. Procurando oferecer tratamento mais gil e personalizado a seus clientes, e buscando maior controle de qualidade, a DZ criou o conceito de clulas-de-produtos. Cada clula era especializada em determinada rea de produo, com organizao interna prpria, e sub-clulas de engenharia, custos, administrao de contratos, engenharia industrial e planejamento de controle da produo.

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PROGRAMA RGD: GARANTIA DE QUALIDADE


O Programa de Reposio Garantida Dedini (RGD) foi criado em 1982, com o objetivo de oferecer ao cliente o melhor preo, o melhor prazo, a melhor qualidade e o melhor atendimento ao mercado. Estava voltado, tambm, para efetuar um trabalho de ps-venda, fornecendo informaes sobre o andamento das encomendas, e oferecendo servio de assistncia tcnica permanente ao setor sucroalcooleiro. Naquela poca, foi feito um zoneamento para cobrir todo o campo de atuao da empresa, criando-se territrios para melhor racionalizar o trabalho da equipe de vendas e planejando cuidadosamente as atividades de atendimento ao mercado de acar e lcool em todo Brasil. O programa foi importantssimo para a Dedini, quando o setor mergulhou em profunda crise, no final da dcada de 1990, e os projetos de construes de novas unidades, ampliaes e modernizaes ficaram completamente paralisados. Foi a reposio de peas que conseguiu sustentar o nvel de faturamento do grupo na virada do milnio. Com as mudanas implementadas, a partir de 1983, o sistema RGD obteve um crescimento espetacular: o volume de negcios, equivalente a R$ 8 milhes naquele ano, deve atingir, em 2005, mais de R$ 100 milhes no mercado nacional. Esse sucesso decorrncia do trabalho integrado de todas as reas que compem o sistema RGD: desde a equipe de prospeco de negcios, passando pela engenharia, reas fabris, controle de qualidade, expedio e assistncia tcnica ps-venda. Para tanto, a equipe de tcnicos do RGD vive sempre a campo, agindo como elo de ligao entre o fornecedor e seus clientes, buscando atender suas necessidades, ouvindo atentamente suas sugestes e detectando as dificuldades do dia-a-dia. Dessa forma, foi possvel aprimorar as tecnologias de produo e melhorar a qualidade dos servios ao longo do tempo. O sistema RGD tornou-se to forte dentro do grupo que hoje permeia todas suas atividades industriais, e est sendo, inclusive, difundido por outros locais, como Estados Unidos, Amricas e Indonsia. Segundo seus idealizadores, o programa alavanca a venda de outros equipamentos e fornece muita segurana para os clientes: eles sabem que podem contar com assistncia tcnica, a qualquer dia e hora, pois existem, sempre, plantonistas para efetuar servios de emergncia. A assistncia tcnica opera em trs nveis: dimensionando o maquinrio de acordo com a capacidade produtiva prevista; efetuando anlises crticas para sua melhor utilizao, e realizando a manuteno propriamente dita. Alm disso, os profissionais do RGD fornecem consultoria na aquisio de peas de reposio, em otimizao de equipamentos (repotenciamento), na atualizao tecnolgica e nas reformas e ampliaes. Desde 2004, o RGD vem sendo implementado em outras reas de atuao do grupo, principalmente no setor de energia (caldeiras). Procura, tambm, divulgar, tanto interna como externamente, sua filosofia de trabalho de fornecedores de solues, pois, afinal, esto plenamente conscientes de que o sucesso de qualquer empreendimento envolve sempre uma equipe bem entrosada e eficiente para deixar o cliente cada vez mais satisfeito.

Para que todo o esquema montado funcionasse, contava com o apoio da estrutura dos departamentos j instalados das duas empresas, como, por exemplo, o Sistema de Reposio Garantida da Dedini (RGD), servio de atendimento personalizado, que garantia, inclusive, servios de emergncia durante 24 horas aos clientes (ver boxe p. 165). Formalizada a unio, a DZ nasceu com um passivo de cerca de US$ 50 milhes, equacionado em longo prazo, com taxas de juros mximas de 12% ao ano. Segundo Geraldo Hasse (1996), se a nova empresa tivesse conseguido implementar adequadamente o plano de fuso, poderia ter-se sustentado com a simples unificao operacional, pois possua tecnologia e mercados para prosseguir.

grupo italiano Fochi, que entrou para auxiliar no processo, acabou atrapalhando mais ainda. Houve muitas dissenses e a ciso acabou sendo oficialmente assinada em 31 de dezembro de 1994. Pelo acordo, a Zanini retiravase da sociedade, ficando com os imveis em Sertozinho. A Dedini assumiu o controle da DZ, para evitar sua falncia, com a misso de promover o saneamento financeiro e dar continuidade s atividades em Sertozinho, e, desde ento, no tem economizado esforos e sacrifcios nesse propsito. Nesse empreendimento, as duas companhias perderam considervel patrimnio, mas o realismo acabou impondo uma reengenharia em ambos os lados. A demisses inevitveis de trabalhadores, voluntrias ou no, ocorridas em Sertozinho, acabaram por ter um aspecto positivo: muitos desses ex-funcionrios da DZ aproveitaram seu conhecimento e acabaram se estabelecendo por conta prpria. Em conseqncia, surgiram inmeras indstrias metalrgicas e mecnicas de pequeno porte, geridas com eficincia, que hoje so bastante significativas para a economia local.

Choque cultural
Ocorreu, no entanto, o que foi chamado de choque cultural, entre Piracicaba e Sertozinho. O primeiro problema foi o atraso em oito meses nas medidas de saneamento previstas no documento de fuso. Em vez de representar uma soluo, a DZ produziu mais prejuzos. O

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Agrava-se a crise
Ao assumir o controle acionrio da DZ S.A. Engenharia, Equipamentos e Sistemas, em 1995, a primeira medida tomada pela Dedini foi efetuar a diviso da empresa em duas unidades de negcios, uma exclusiva para atender o mercado de acar e lcool, a outra para variados tipos de equipamentos industriais. As altas taxas de juros praticadas naquela poca inibiam os investimentos das indstrias, provocando diminuies das encomendas. A diretoria da Dedini estimava reduo de 22% nas suas atividades entre 1995-1996. Na Siderrgica, a situao era, tambm, difcil, devido estagnao do setor de construo civil. Dessa forma, o consumo de vergalhes permaneceu estacionado entre 1995-1996, em nveis de 1,65 milho de toneladas anuais, representando consumo de onze quilos por ano por habitante. Assim, a Dedini foi obrigada a efetuar uma recomposio financeira, tanto acionria, como de seus dbitos. Nessa poca, o presidente, Dovilio Ometto, teve, segundo seus assessores mais diretos, uma postura muito firme e no permitiu que

a crise da empresa prejudicasse os acionistas, ou seus credores. Ele sinalizou de forma clara comunidade e ao mercado que a situao era sria, mas que a empresa estava disposta a honrar seus compromissos. Segundo esses observadores, tal atitude no muito comum, quando se trata de companhias de propriedade familiar, como o caso da Dedini. S foi possvel devido personalidade singular de Dovilio Ometto, caracterizada por grande confiana na tradio da sua indstria, e na crena inabalvel de uma reao positiva do mercado. Com uma viso otimista e dinmica, ele agiu como sempre fez: continuou trabalhando em negcios no-especulativos, preocupando-se em desenvolver tecnologias e preservando seus colaboradores. De qualquer forma, foi forado a desfazer-se de muitos ativos importantes, que apresentavam maior liquidez, para saldar seus dbitos.

Denncias e impeachment
Desde de 1991, no entanto, as dificuldades encontradas

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pelo plano de estabilizao econmica, que no acabou com a inflao e aumentou a recesso no pas, comearam a minar o governo de Fernando Collor. A situao se agravou com denncias de corrupo e mau uso do dinheiro pblico, envolvendo ministros, altos funcionrios e familiares do presidente. Assim, foi instalada uma Comisso Parlamentar de Inqurito, em maio de 1992. Diante da confirmao das denncias, a populao se manifestou em todo o pas, pedindo o impeachment (impedimento) do presidente, votado em setembro daquele ano pelo Congresso Nacional, sob forte presso da vontade popular. Collor foi afastado do cargo e teve seus direitos polticos cassados por oito anos. Foi denunciado, tambm, pela ProcuradoriaGeral da Repblica por crimes de formao de quadrilha e de corrupo. Dessa forma, em 29 de dezembro de 1992, assumiu, em carter definitivo, o vicepresidente, Itamar Franco. Na tentativa de debelar a crise econmica e controlar a inflao, o novo presidente chamou para ocupar a pasta da

Fazenda o socilogo e senador Fernando Henrique Cardoso que, no final de 1993, anunciou vrias medidas para estabilizao da moeda. Em 1 de julho de 1994, implantou o Plano Real, novo pacote econmico que, entre outras disposies, mudou a moeda de cruzeiro real para real. O Plano Real, lanado em julho de 1994, foi o programa de estabilizao de maior xito no pas. Ao contrrio de outros, com apenas alguns meses de durao, conseguiu ultrapassar a gesto de Itamar Franco e perpetuar-se no governo seguinte. Alm do sucesso no declnio da inflao, procurou preservar as atividades econmicas e manter o nvel do emprego. As denncias de irregularidades, no entanto, no pararam. Entre 1993 e 1994, nova Comisso Parlamentar de Inqurito do Congresso Nacional investigou problemas na elaborao do Oramento da Unio, provando o envolvimento de ministros, parlamentares e altos funcionrios em um esquema de manipulao das verbas pblicas, desviadas para empreiteiras e apadrinhados polticos.

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A autoridade do presidente, contudo, no foi abalada pelo resultado das investigaes. Em janeiro de 1995, Itamar Franco deixou o governo com um dos mais altos ndices de popularidade verificado na Repblica, apoiando a candidatura de seu ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso.

Novo governo
Senador e ex-chanceler, Fernando Henrique apresentou-se

disputa eleitoral como o idealizador do Plano Real. Seu programa de campanha foi centrado na estabilizao da moeda e na reforma da Constituio. Assim, conquistou a presidncia no primeiro turno das eleies, derrotando inmeros candidatos. Seu primeiro mandato foi de janeiro de 1995 a dezembro de 1998. Com sua reeleio, pde permanecer no cargo at o final de 2002. Em ambos os pleitos, teve como principal concorrente o candidato

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do Partido dos Trabalhadores (PT), Luiz Incio Lula da Silva. No dia em que Fernando Henrique assumiu a presidncia pela primeira vez, passou a vigorar o Tratado de Assuno, negociado durante o governo Collor, com o objetivo de implantar o Mercosul. Esse acordo, assinado pela Argentina, Uruguai, Paraguai e Brasil, estabelecia a criao de uma rea de livre-comrcio. Houve muitos atritos entre os pases-membros, mas, apesar dos desentendimentos, o Mercosul propiciou um melhor intercmbio comercial na Amrica Latina.

poltico, mas os conflitos de interesses impediram sua aprovao. O presidente deu continuidade ao Plano Real. Em seguida, promoveu alguns ajustes na economia, como o aumento da taxa de juros para desaquecer a demanda interna, e a desvalorizao do cmbio, para estimular as exportaes e equilibrar a balana comercial. Com a implementao do plano, obteve-se, finalmente, o controle da inflao em nveis mais baixos: no final de 1995, situava-se em torno de 23% ao ano. No segundo semestre de 1996, porm, surgiram sinais de recesso econmica, como a queda nos nveis de consumo, demisses de empregados em massa e o aumento da inadimplncia. A reduo da atividade econmica provocou desemprego nos setores industrial e agrcola. Por outro lado, a demora na implementao da reforma agrria agravou os conflitos no campo. Outro problema enfrentado pelo governo foi o aumento da dvida interna que passou de US$ 60 bilhes de dlares para mais de US$ 500 bilhes. A situao piorou no final de 1997, com a crise na bolsa de valores

Reforma constitucional
No incio de sua administrao, Fernando Henrique esforou-se para conseguir a aprovao de suas propostas. Dentre as principais, destacaramse: a quebra dos monoplios do petrleo e das telecomunicaes e a alterao do conceito de empresa nacional, para no discriminar o capital estrangeiro. Diversas outras reformas foram discutidas pelo Congresso Nacional, nos anos seguintes, nos mbitos tributrio, financeiro e

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de Hong Kong, que se alastrou pelo resto do mundo, atingindo fortemente o Brasil. As reservas monetrias brasileiras caram de US$ 74 bilhes, em abril de 1998, para US$ 42 bilhes, em outubro daquele ano. O governo procurou salvar o Plano Real e impedir a sada de divisas, mediante a elevao das taxas de juros e com o anncio de novas medidas econmicas. Foi obrigado, tambm, a recorrer ao Fundo Monetrio Internacional, obtendo um emprstimo emergencial da ordem de US$ 40 bilhes. Em contrapartida, teve de adotar um rigoroso reajuste fiscal, com desvalorizao cambial, aumento da arrecadao e diminuio de gastos pblicos. Tais medidas agravaram, ainda mais, a recesso no pas.

Sacrifcio inevitvel
Diante da difcil conjuntura nacional, que continuava abalada devido a dificuldades para se pro-

mover a estabilizao econmica, a Dedini viu-se com alto nvel de endividamento. A situao ficou ainda pior com o fracasso da fuso com a Zanini, que impingiu prejuzos companhia. Completamente descapitalizada, a empresa foi obrigada, em 1994, a vender 49% das aes da Siderrgica para a BelgoMineira, com sede em Minas Gerais. Desde sua fundao, em 1921, essa companhia pertencia ao grupo Arbed, de Luxemburgo; em 2002, uniu-se Usinor (Frana) e Aceralia (Espanha), para formar o maior conglomerado siderrgico do mundo: Arcelor. Mesmo diante das dificuldades financeiras, o grupo Dedini promoveu, em 1996, a ampliao da destilaria So Joo, transformando-a em uma usina de acar e lcool para processar cerca de um milho de toneladas de cana. O projeto, que consumiu investimentos de US$ 13 milhes foi instalado em 1998.

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CAPTULO 6

Retomada do desenvolvimento
A Dedini tem uma histria de tenacidade e esperana, f e coragem, vitrias e crises, e, principalmente, de muito trabalho e desprendimento.
Dovilio Ometto, em 1980, por ocasio do 60 aniversrio da empresa, que dirige desde 1970.

N
Na pgina seguinte, detalhe de trabalho na unidade fabril de Sertozinho (SP)

o final do sculo XX, a Dedini apresentava-se como sobrevivente de um passado tumultuado, sofrendo, ao longo do tempo, todos os reflexos das crises econmicas ocorridas no pas, que, praticamente, destruram a indstria de bens de capital nacional. Segundo um de seus diretores, o que mais impressiona na empresa sua enorme capacidade de resistncia s inmeras dificuldades, alm do firme propsito de gerar e manter empregos. Devido ao fato de ser familiar e ter capital nacional, a grande vantagem competitiva da Dedini a agilidade nas decises, por meio de uma administrao formada por executivos e acionistas com viso compartilhada, que sabe conviver com suas diferenas e chegar ao consenso. Tal fato compensa, em parte, as dificuldades para atrair capitais para transform-los em investimentos, geralmente, mais fceis de serem obtidos pelas empresas multinacionais. Por volta de 1996, o tradicional grupo se via mergulhado em profunda crise, e s conseguiu sobreviver promovendo a desmobilizao de parte de seu patrimnio. Paralelamente venda de aes da Siderrgica e de outros ativos, a Dedini apresentou ao BNDES um projeto de reestruturao econmica e financeira, propondo o equacionamento de suas pendncias.

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O grupo passou a constituirse, basicamente, de duas unidades operacionais: a Dedini S.A. Agro Indstria e a Codistil S.A. Dedini. A primeira reunia as usinas e fazendas, e a segunda englobava as atividades de produo de bens de capital, agindo como ncora dessa sociedade. No mbito desse projeto, foi adquirido, em junho de 1996, o controle acionrio total da Codistil (34,664% das aes, que se encontravam nas mos de terceiros). Parte do pagamento foi efetuado com a cesso da unidade de fabricao de turbinas. O endividamento com bancos e tributos, no entanto, continuava alto: em dezembro daquele ano, ultrapassava os R$ 351 milhes, equivalentes, na poca, a mais de US$ 338,2 milhes. O plano de reestruturao societria foi aprovado por unanimidade pelos acionistas em dezembro de 1996. Estabeleceu que parte do acervo patrimonial da Dedini S.A. Administrao e Participaes investimentos que possua nas empresas controladas Dedini S.A. Agroindstria e Codistil seria separado, e passaria a compor uma nova empresa, denominada DDN Participaes Ltda.

As demais coligadas do grupo continuaram a ser controladas pela holding Dedini S.A. Administrao e Participaes. Dessa forma, em 1997, a Dedini vendeu o restante de suas aes da Siderrgica (51%) para a BelgoMineira, e desfez-se de mais alguns imveis. Pde, assim, saldar suas dvidas, pagando, inclusive, as aes resgatveis adquiridas pelas holdings dos acionistas: Doado S.A. Participaes (constituda pelos descendentes de Dovilio e Ada Dedini Ometto), AD Participaes Ltda. (descendentes de Armando e Norma Dedini) e Nidar Participaes Ltda. (famlia Arnaldo e Nida Dedini Ricciardi). O BNDES forneceu fundings necessrios para os bancos privados prorrogarem algumas pendncias mais cruciais do grupo: o dbito da DZ com os bancos privados e o da Dedini Agro Indstria com o Banco do Brasil. Diante desses acertos financeiros, as dvidas caram, passando para R$ 257,3 milhes em dezembro de 1997, equivalentes a US$ 230,7 milhes. Eram, ainda, valores muitos altos, constitudos, principalmente, por emprstimos em bancos e por dbitos com impostos.

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Livre mercado
Apesar da grande diversificao da Dedini, a atuao no mercado sucroalcooleiro continuava a ser, ainda, bastante significativa na transio para o sculo XXI. Por isso, a situao desse setor apresentava grande influncia no desempenho do grupo. E, naquela poca, a conjuntura no poderia ser pior. Segundo a pesquisadora Mrcia Azanha Ferraz Dias de Moraes (2004), enquanto o governo ditou a poltica de comercializao para os produtos da cadeia da cana-de-acar, os efeitos do excesso de oferta dessa matria-prima ficaram minimizados. Quando, a partir de 1998, diminuiu a interveno do Estado no setor, sentiram-se os impactos negativos, com redues importantes no preo do lcool e, tambm, no do acar, cujas cotaes apresentaram queda no mercado internacional. A situao se agravou ainda mais com uma supersafra obtida em 1998-1999. Em conseqncia, houve diminuio no nmero de usinas em operao. A oferta de empregos foi menor e os fornecedores de cana enfrentaram inmeros problemas. Reforou-se

a necessidade de encontrar um novo modelo de gesto para o setor, capaz de associar aes pblicas e privadas, assegurando a estabilidade dos preos e a disponibilidade dos principais produtos. Devido s suas caractersticas especiais, ou seja, possibilidade de gerar produtos to distintos como o acar, o lcool e a energia eltrica , a cadeia canavieira encontrou grandes dificuldades para atuar em ambiente de livre mercado, pois so muitas as variveis que a influenciam. Se por um lado, a reduo da interveno governamental, como era exercida, com controle nos preos, a definio nas quantidades fabricadas e a interferncia na comercializao, aumentavam a eficincia do sistema, por outro, impuseram novos desafios para o setor privado. Dessa forma, um dos ramos do grupo, a Dedini S.A. Agro Indstria (DAI) enfrentou grandes dificuldades naquela poca, prejudicada pela queda da receita, devido ao achatamento dos preos do acar e do lcool, e, tambm, pela forte presso dos bancos para receber dvidas vencidas, ameaando sua execuo. Por causa disso, outra empresa da Dedini, a

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Viso noturna da usina de acar e lcool Vale do Paranaba, em Capinpolis (MG)

Dulcini, fabricante de acar lquido e do acar invertido (Gludex), apresentou grande prejuzo no seu balano de 1999. Diante dessa difcil situao, a administrao da Dedini resolveu vender a terceiros seus negcios na rea de acar lquido e invertido, mantendo o patrimnio da usina instalada em So Joo da Boa Vista. Com os recursos obtidos na transao, pde adquirir ttulos do tesouro nacional, enquadrando-se no Programa Especial de Securitiza-

o Agrcola (PESA), oferecido pelo governo, naquela poca, para auxiliar as empresas rurais a escapar da insolvncia. A Dedini Agro Indstria conseguiu, assim, regularizar sua situao junto ao Banco do Brasil. Posteriormente, em 2001, o controle acionrio dessa empresa foi transferido para outros membros da famlia Ometto, deixando de fazer parte do grupo, com uma nova denominao: Dedini S.A. Indstria e Comrcio, englobando as usinas So Joo e So

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Luiz. Viviam-se, ento, momentos difceis na conjuntura nacional, que prejudicavam bastante as atividades empresariais.

energia eltrica para dez estados do Centro-Sul sofreu interrupo, em virtude da queda do sistema, atingindo cerca de sessenta milhes de consumidores. Com a popularidade em queda, Fernando Henrique promoveu uma reforma ministerial e anunciou um plano para aumentar as exportaes e a produo de gros. Os ruralistas, por sua vez, exigiam a renegociao de suas dvidas para corrigir o descompasso entre os preos dos produtos agrcolas, e os valores dos financiamentos, reajustados pelas elevadas taxas de juros. O governo cedeu s presses, revendo dbitos de R$ 25 bilhes. Mesmo assim, em 1999, o presidente obteve os mais baixos ndices de popularidade, desde quando assumiu a presidncia pela primeira vez. Em agosto, os partidos de oposio organizaram a Marcha dos Cem Mil, em protesto contra o governo. A reao de Fernando Henrique veio com o anncio do Plano Plurianual (PPA), em outubro de 1999, que previa investimentos de R$ 1,1 trilho de reais em vrias reas. Para o ano de 2000, o governo estabelecia as seguintes metas: crescimento de 4% do

Problemas polticos
Turbulncias na rea econmica marcaram o incio do segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso, iniciado em janeiro de 1999 e finalizado em dezembro de 2002. Simultaneamente, fortes ataques especulativos moeda, o real, reduziram as reservas financeiras do pas, obrigando o governo a abandonar a poltica de sobrevalorizao cambial. Mesmo assim, foi feito novo acerto com o FMI. O Brasil conseguiu obter emprstimo de US$ 41,5 bilhes de dlares, com o compromisso de reduzir gastos pblicos, incrementar as exportaes e aumentar a arrecadao por meio de impostos. Em conseqncia, a taxa de juros foi elevada mais uma vez. A mudana do sistema cambial, porm, no conseguiu trazer segurana ao mercado. O desgaste na rea econmica repercutiu em outros setores do governo. O processo de privatizaes foi posto em dvida, quando o fornecimento de

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Produto Interno Bruto (PIB), inflao em torno de 4% e gerao de 8,5 milhes de empregos. O plano de reformas sofreu, porm, duro golpe, com a deciso do Supremo Tribunal Federal (STF) de considerar inconstitucional a cobrana de aposentadoria de servidores ativos e inativos. Com a deciso, o governo deixou de arrecadar cerca de R$ 2,4 bilhes de reais; para compensar o rombo no oramento, anunciou cortes de investimentos e passou a considerar novo aumento de impostos.

des continuassem trabalhando e, em conseqncia, a partir de 2000, o desempenho da economia nacional melhorou. Contribuiu, tambm, para esse fato, a acomodao ao ajuste cambial efetuado no ano anterior. A Dedini pde, assim, retomar seu ritmo normal de produo, compensando as quedas ocorridas nos anos anteriores e logo estava, novamente, operando no limite mximo da capacidade instalada. A expanso teria sido maior no ano seguinte, se no fosse a instabilidade ocorrida em nvel internacional, como a crise polticofinanceira ocorrida na Argentina e os atentados terroristas nos Estados Unidos, que ocasionaram elevao na cotao do dlar e geraram novas incertezas nos mercados. Com a globalizao, a economia nacional ficara mais suscetvel ainda s turbulncias provenientes do exterior. s voltas, tambm, com uma crise energtica, que exigiu grande esforo de toda a sociedade para economizar energia eltrica e evitar um temido apago o colapso no fornecimento de eletricidade , o empresariado brasileiro foi obrigado a enfrentar, ainda, a drstica reduo das

Recuperao
Reconhecendo o alto endividamento tributrio apresentado pelas empresas em geral, o governo promulgou a Lei no 9964/2000, que instituiu o Programa de Recuperao Fiscal (Refis), permitindo o parcelamento de dbitos tributrios federais, vencidos at fevereiro de 2000. Em troca, as companhias recolheriam aos cofres pblicos, mensalmente, um percentual que variava entre 0,3% a 1,5% sobre sua receita, dependendo da sua atividade. Este programa possibilitou que muitas firmas em dificulda-

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linhas de crdito internacionais, tanto para exportao como para capital de giro. Alm disso, no mercado cambial, a forte desvalorizao do real em relao ao dlar, ocorrida na segunda metade de 2002, teve um impacto negativo, aumentando os custos das empresas, principalmente, daquelas que tinham seus passivos indexados moeda norte-americana. Todos esses fatos refletiram negativamente, prejudicando o desempenho das atividades econmicas. Ao final de dois mandatos, Fernando Henrique exibia um balano social positivo de suas realizaes, mostrando que, por exemplo, entre 1993 e 2000, a percentagem da populao abaixo do nvel de pobreza diminura de 43% para 30%. O nmero de crianas fora da escola tinha se reduzido, assim como a mortalidade infantil. Alm disso, de 1994 a 2001 foram criados 1,8 milho de novos empregos, o que permitiu manter a taxa de desemprego por volta de 6%. Na rea econmica, alm do controle da inflao, a administrao de Fernando Henrique conseguiu estimular o fluxo do comrcio exterior, possibilitando

que o saldo da balana comercial deixasse de ser negativo. De 1993 at 2001, o Brasil no parou de crescer, a taxas mdias de 3,3% ao ano. O pas conseguiu um fato raro: estabilizar sua economia e, ao mesmo tempo, desenvolver-se em todos os setores. Mesmo diante de tantas conquistas positivas, o desgaste poltico do governo, aliado grave recesso, impediram que Fernando Henrique fizesse seu sucessor presidncia, Jos Serra. Aps trs derrotas em pleitos anteriores, foi eleito, com mais de 60% dos votos vlidos, o candidato da oposio, o ex-metalrgico Luiz Incio Lula da Silva, em outubro de 2002. Foi o primeiro lder de esquerda que chegou ao poder no Brasil e, logo depois de sua posse, as preocupaes com uma eventual instabilidade poltica se dissiparam. O novo mandatrio assumiu o cargo em momento de normalidade e manteve, em parte, a poltica monetria do governo anterior, com taxas de juros altas para conter a inflao, e procurando trazer a taxa de cmbio a patamares mais compatveis. Verificando que o primeiro programa de recuperao fiscal

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A mais nova fbrica Dedini a


Fundio, ocupando uma rea construda de 18 000 metros quadrados. a maior do Brasil no seu segmento e uma das maiores da Amrica Latina, com capacidade projetada de produo de 22 000 toneladas por ano. Pode fundir peas pesando at 35 toneladas.

no tinha sido suficiente para que as empresas cumprissem seus compromissos tributrios e previdencirios, o governo acenou com um novo Refis (Lei n. 10.684, de 30-5-2003). Abria-se, assim, a possibilidade de parcelar dbitos com vencimento at fevereiro de 2003.

Volta normalidade
Ao enquadrar-se no primeiro programa de parcelamento de dbitos fiscais, em 2000, a Dedini pde equacionar todas suas pendncias com a Receita Federal e com o Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS), passando a operar com maior tranqilidade. Nos anos seguintes, o grupo assistiu, tambm, lenta retomada do nvel de vendas, inclusive no setor sucroalcooleiro, cujas atividades estavam restritas simples reposio de peas. Entre 1997 e 2000, a Dedini no fabricara nenhuma moenda nova o tradicional carro-chefe das vendas. Isso significava estagnao, pois a indstria canavieira havia paralisado os investimentos no aumento da capacidade de moagem. Na safra de 2000-2001, segundo a Unio da Agroindstria

Canavieira de So Paulo (Unica), as usinas processaram cerca de 256 milhes de toneladas de matria-prima, o volume mais baixo dos dez anos anteriores, mas logo depois, em 2003-2004, no entanto, observou-se uma recuperao: moeram quase 360 milhes de toneladas, representando incremento de mais de 40%. A reao do mercado exigiu novos equipamentos para seu processamento. Essa era a grande especialidade da Dedini, que possua, ento, dois focos de negcios: um, de equipamentos para acar e lcool e, outro, englobando todos os demais. Procurando, tambm, aproveitar todas as oportunidades, a empresa forneceu, durante algum tempo, equipamentos para usinas termoeltricas, que sempre tiveram um papel reduzido na matriz energtica brasileira. Em decorrncia da crise, que atingiu o auge em 2001, o uso dessas unidades passou a ser aventado, para que funcionassem como reguladoras de oferta de eletricidade, compensando situaes crticas de escassez de chuvas e de extremo esvaziamento dos reservatrios. Dessa forma, a Dedini buscou parceiros estratgicos para

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viabilizar tais empreendimentos e conseguiu, naquela poca, efetuar algumas vendas nessa rea.

Novos investimentos
Mesmo sem completar seu saneamento financeiro, a Dedini viu-se obrigada, no final de 2002, a investir na implantao de uma nova unidade fabril, para cumprir seu acordo com a BelgoMineira, efetuado por ocasio da transferncia do controle acionrio da sua siderrgica para

aquela companhia, que previa a mudana da fundio existente para outro local. Essa instalao deu-se em momento desfavorvel, em que muitas plantas congneres estavam sendo desativadas em vrias partes do mundo, por falta de encomendas. Foi considerado, na poca, um verdadeiro ato de coragem do presidente Dovilio Ometto, que tirou do prprio bolso o investimento necessrio adaptao da fbrica existente (antiga Caldeiraria Pesada) ao

Colaborador da Fundio Dedini em 2005

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TECNOLOGIA DHR PERMITE AUMENTAR O RENDIMENTO NA PRODUO DE LCOOL


O sistema Dedini Hidrlise Rpida (DHR) um projeto muito especial dentro da empresa, pois, no Brasil, raro o envolvimento to grande de uma indstria na pesquisa e no desenvolvimento de um sistema, desde prottipos em laboratrio, at sua implantao em larga escala. O que animou sua implementao foi a pouca ateno dada pelo setor sucroalcooleiro ao bagao e palha da cana-de-acar (conjunto de pontas e folhas, de alto potencial energtico, responsveis por 2/3 da energia contida na planta). Durante quase quinhentos anos de explorao, praticamente, s se utilizou o caldo da cana nas usinas, e a tecnologia desenvolvida visava, principalmente, sua mxima extrao e seu mximo aproveitamento. Por ocasio do Prolcool, nos anos 1980, no entanto, comeou-se a pensar em otimizar o aproveitamento do bagao para produo de mais acar e lcool, disponibilizando o restante para diversos fins. Alm da gerao eltrica excedente, sabia-se que o material podia ser aproveitado na produo de rao animal para engorda de bovinos em confinamento, e na fabricao de celulose e papel. Na busca incessante para agregar mais valor cana, a Dedini comeou a investigar a hidrlise, a partir de uma sugesto do prprio presidente da empresa, Dovilio Ometto, que estudara a literatura pertinente. A seu pedido, a equipe de pesquisa e desenvolvimento comeou a analisar o estado da arte mundial desse processo, que consiste na transformao da celulose em acares. A reao feita, por meio da gua, em meio cido, por catalisadores, mas precisa, para tanto, vencer a lignina, material resistente, que bloqueia o acesso celulose e hemicelulose, outros componentes do bagao, responsveis pela formao dos acares. Delineou-se, assim, uma tecnologia que utilizava solventes da lignina menos agressivos, mais eficientes e mais rpidos. Dessa forma, a fibra do bagao era colocada, em alta temperatura, em um meio contendo gua e cido. Em alguns minutos, a lignina se solubilizava, tornando acessvel a celulose e a hemicelulose. A hidrlise pde ser feita, ento, em apenas quinze minutos, em vez de quatro a seis horas, como antes. Sendo assim, os acares no precisam ficar tanto tempo dentro de um meio to agressivo. O produto formado era, ento, retirado do reator utilizado para essa finalidade, interrompendo-se sua degradao, com resfriamento da temperatura (flasheamento); o caldo obtido era enviado para fermentao e, posteriormente, para a destilao (ver esquema). O projeto comeou a ser desenvolvido em escala de laboratrio pela Dedini, entre 1981 e 1982. Tempos depois, em 1991, foi montada uma unidade piloto, no bairro Capim Fino, ao lado do prdio da Fundio, com capacidade para produzir cem litros de lcool por dia, a partir do bagao, que funcionou durante trs anos. A concluso dos testes foi que, utilizando a palha da cana e o bagao gerado pela usina, poder-se-ia, praticamente, dobrar a produo de lcool hidratado em uma mesma rea: 12 050 litros, em vez de 6 400 litros de lcool por hectare de cana plantada. Outra vantagem essa fabricao ter um custo 40% menor do que o produto obtido a partir do caldo. Segundo os responsveis pelo projeto Dedini Hidrlise Rpida (DHR), foram enfrentadas dificuldades de todo o tipo para o desenvolvimento dessa tecnologia. Inicialmente, foram usados dois reatores para o processo, mas, depois, decidiu-se utilizar apenas um, contnuo, para obter-se o mesmo resultado. Em determinados momentos, o trabalho envolveu uma equipe de quase vinte pessoas, pois o projeto demandava especialistas em vrias reas. Calcula-se que j foram investidos aproximadamente US$ 12 milhes. Para viabiliz-lo, a Dedini obteve financiamento do Banco Mundial, por meio do governo brasileiro. Em novembro de 1997, a empresa assinou contrato de cooperao tcnica com a Copersucar, visando otimizar algumas fases desse processo.

Planta industrial com o processo Dedini Hidrlise Rpida: aproveitando o bagao e a palha da cana-de-acar para produzir mais lcool

Essa parceria teve desdobramento: em fevereiro de 2002, a Dedini, Copersucar e a Fundao de Amparo Pesquisa do Estado de So Paulo (Fapesp) assinaram novo convnio para instalao de uma unidade semi-industrial, na usina So Luiz, em Pirassununga (SP), para produo de 5 000 litros de lcool por dia, a partir do bagao, que comeou a funcionar no ano seguinte. Assim, a escala do projeto foi aumentada em cinqenta vezes. Nessa etapa, os tcnicos trabalharam inicialmente com a hidrlise por carga (batelada) e, depois, em sistema contnuo. Vrias modificaes foram efetuadas ao longo do tempo, principalmente com relao alimentao do reator com o bagao. O objetivo estabelecer parmetros de engenharia para trabalhar em escala industrial, pois no h, ainda, nada conhecido na literatura a respeito. Por isso, os tcnicos esto realizando cuidadosas medies. J existem vrias usinas interessadas em implant-lo, ao final do estgio de desenvolvimento. Acredita-se que essa tecnologia, mais acessvel em termos de custos de implantao, ter, em breve, grande impacto na produo de lcool, principalmente em pases com poucas reas destinadas ao plantio de cana. importante, tambm, pelo valor conferido palha e ao bagao, materiais desperdiados pelas usinas no passado, que esto adquirindo, hoje, um significado econmico cada vez maior.

novo uso, orado, na poca em R$ 40 milhes. A iniciativa acabou se tornando um sucesso. Em 2005, a Fundio operava no limite mximo de sua produo, sendo que, a maior parte destinada ao consumo de outras unidades fabris da Dedini e o restante vendido a terceiros. O mercado apresenta-se em expanso, efetuando, inclusive, negcios em outros pases (Sucia, Estados Unidos, ustria, Frana). A inaugurao da nova Fundio realizou-se no dia 16 de janeiro de 2004, com a presena do presidente Luiz Incio Lula da Silva, do governador de So Paulo, Geraldo Alckmin, da ento ministra de Minas e Energia, Dilma Rousseff, e do prefeito de Piracicaba, na poca, Jos Machado. Alm dessas autoridades, estiveram presentes os deputados Antonio Carlos de Mendes Thame (federal) e Roberto Moraes (estadual), o ento secretrio estadual da Habitao, Barjas Negri, o presidente do Sindicato dos Metalrgicos, Jos Luiz Ribeiro, entre outros. Esse evento marcou uma nova etapa na vida do tradicional grupo empresarial piracicabano, que passou a concentrar suas atividades, principalmente, na rea

de produo de bens de capital: a antiga Codistil S.A. Dedini transformou-se em Dedini S.A. Indstrias de Base. A nova companhia passou a ter quatro focos principais de negcios, que apresentam independncia entre si nas aes comerciais e na elaborao de projetos. So eles: equipamentos pesados, para acar e lcool, para energia e em ao inoxidvel.

Novidades tecnolgicas
Firme na sua tradio de desenvolver e lanar novas tecnologias no mercado, a Dedini continuou investindo no aumento da produtividade no processamento da cana-de-acar. Esse assunto j vinha sendo pesquisado pelos tcnicos da empresa, desde a metade da dcada de 1980, quando comeou a estudar-se a utilizao do bagao e da palha para aumentar a produo de lcool. O sistema, denominado Dedini Hidrlise Rpida (DHR), foi submetido a inmeros testes de laboratrio. Em 1991, foi instalada uma unidade piloto para avaliar sua eficincia. Os resultados foram analisados durante vrios anos e, em 2002, foi montada a operao em carter

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semi-industrial, com capacidade de 5 000 litros dirios. Os trabalhos prosseguiram em parceria entre o Centro de Tecnologia Canavieira (Copersucar), a Fundao de Amparo Pesquisa do Estado de So Paulo (Fapesp) e a Dedini. Assim, o processo pde ser aperfeioado e patenteado pela empresa no Brasil, Unio Europia, Rssia, Estados Unidos e diversos outros pases. Atualmente, rene equipamentos capazes de hidrolisar o bagao da cana em alguns minutos, enquanto os convencionais levam horas para efetuar o trabalho. Hoje, o DHR est em fase final de testes na instalao semi-industrial na usina So Luiz, em Pirassununga (SP). Os pesquisadores acreditam que, com o uso do bagao, ser possvel obter aumento de 87% no rendimento industrial, utilizando-se a mesma rea plantada de cana. E explicam por qu: considerando uma produtividade mdia de oitenta toneladas de cana por hectare, e que toda ela ser destinada fabricao de lcool, haver 6 400 litros de lcool produzido diretamente da cana e outros 5 600 litros a partir do bagao e da palha. Em outras

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BIODIESEL: ALTERNATIVA ENERGTICA PROMISSORA


No foi por acaso, em visita recente a Piracicaba, que o ministro da Agricultura e Abastecimento, Roberto Rodrigues, referiu-se cidade como a locomotiva da agroenergia brasileira. Escolhida como o plo nacional de biocombustveis, em 2003, por sua forte tradio em pesquisa e desenvolvimento de energias renovveis, a cidade se projeta, em nvel nacional, como um centro articulador dessas polticas to ecologicamente corretas. Por isso, o plo, que funciona nas dependncias da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq-USP), pretende catalisar as discusses sobre o assunto, liderando e estimulando o uso dessas fontes energticas, iniciando seu trabalho com o biodiesel. O principal objetivo transform-lo em uma commodity, facilitando sua insero no mercado internacional. O biodiesel definido, quimicamente, como steres derivados de lipdeos ou cidos graxos, que pode ser produzido, juntamente como a glicerina, a partir de uma reao provocada por etanol ou metanol, na presena de um catalisador. Sua produo significa menor poluio, mais empregos no campo, menor dependncia de importaes e mais recursos na balana de pagamentos do pas. Trata-se de uma alternativa inesgotvel e renovvel ao uso do combustvel de origem fssil, com a grande vantagem de ser limpo. Os tcnicos calculam que uma tonelada de biodiesel evita a emisso de 2,5 toneladas de gs carbnico na atmosfera, se comparado ao diesel. Contribui, tambm, para eliminao do enxofre, que provoca a chuva cida. Dessa forma, apostando firme no aumento desse mercado no pas, a Dedini firmou parceria com a empresa italiana Ballestra, em julho de 2004, para fabricao no pas de unidades industriais destinadas produo em larga escala de biodiesel, que pode ser fabricado a partir de vrias matrias-primas soja, mamona, palma (dend), girassol, amendoim, caroo de algodo, entre outras, conforme a disponibilidade regional. Este o primeiro consrcio formado para o fornecimento desse tipo de equipamento para plantas industriais que operam volumes superiores a 40 milhes de litros de biocombustvel por ano. Dentre as inmeras vantagens do processo, esto o fato de ser contnuo e de permitir a utilizao de multi-leos. Pode operar tanto por rota metlica como por etlica. Permite, ao mesmo tempo, um alto rendimento de converso da matria-prima em produto final e apresenta baixo consumo de utilidades. Alm disso, apresenta gerao reduzida de efluentes e menor custo operacional. A parceria firmada entre a Dedini e a empresa italiana Ballestra tem o respaldo do Programa Nacional de Produo e Uso do Biodiesel, pelo qual a Agncia Nacional do Petrleo reconhece oficialmente o produto como combustvel, acompanhando-o por um conjunto de regulamentaes, que definem suas especificaes, estruturam a cadeia produtiva e apresentam critrios para tributao e fiscalizao. Inicialmente, o programa prev, at 2006, a mistura facultativa de 2% de biocombustvel ao diesel derivado do petrleo. Com isso, cria-se uma demanda de 720 milhes de litros por ano do produto. A lei define, tambm, que a percentagem ser maior at o final de 2005, com adio de 5%. Os analistas do setor acreditam que, at 2020, a mistura atinja 20% de combustvel vegetal, criando uma demanda aproximada de treze bilhes de litros por ano. Por isso, j prevem que o Programa do Biodiesel adquirir, ento, uma relevncia para o pas semelhante a do Prolcool, nos anos 1970 e 1980. Tal objetivo no difcil de ser atingido, principalmente quando se observa o uso de biocombustvel nos pases mais desenvolvidos.

A Alemanha, por exemplo, maior produtora mundial, j possui uma parcela bastante significativa de sua frota de veculos movida a esse tipo de produto, contando com uma rede de mais mil postos de abastecimento. Atualmente, o Brasil consome quase 40 bilhes de litros de diesel por ano. Desse volume, cerca de seis bilhes so importados, a um custo de US$ 1,1 bilho. Portanto, a utilizao de combustvel vegetal possibilita a obteno de expressivos benefcios econmicos, contribuindo para o equilbrio da balana comercial brasileira e desenvolvendo, ainda mais, a agroindstria nacional. Para que o programa brasileiro de biodiesel se concretize, no entanto, preciso, ainda, equacionar o problema do fornecimento de gros para atender demanda de matria-prima e resolver a questo tributria que onera a cadeia produtiva. Como feito na Europa, deve-se adotar uma poltica fiscal inteligente para conferir viabilidade produo de biodiesel. Mesmo diante do impasse econmico, a Dedini j comea a atender os interessados na fabricao de biodiesel. Para a Agropalma, no Par, forneceu recentemente a engenharia, e todos os equipamentos necessrios: tanques para matria-prima e insumos, reatores, destilador, condensadores, torre e acessrios para recuperao do metanol, reservatrios de produtos, caldeira de fluido trmico, torres de resfriamento, instalaes eltricas e sistema de automatizao. Inaugurada em abril de 2005, a usina tem capacidade para produzir 8,5 milhes de litros de biodiesel por ano, a partir de um subproduto da refinaria de leo de palma (dend), denominado borra cida, que consiste basicamente de cidos graxos. O processo flexvel, pois prev a utilizao como reagente tanto do lcool como do metanol.
Posto de abastecimento de biodiesel na capital de So Paulo, em outubro de 2005

Os tcnicos da Dedini vo ainda mais longe. Na sua viso, o que se apresenta para o futuro prximo a instalao de usinas integradas para produo simultnea de acar, etanol e biodiesel, utilizando a infra-estrutura disponvel em plantas que processam a cana como matria-prima (ver boxe p. 194).

Agropalma no Par: produzindo biodiesel a partir de resduos do leo de dend

palavras: a produo de lcool por hectare pode aumentar de 6 400 para 12 000 litros, ou seja, quase duplica, na mesma rea cultivada (ver boxe p. 182). Outro assunto bastante estudado pelos profissionais da empresa foram as tcnicas para desidratao do lcool. Desde que o uso do benzeno foi compulsoriamente aposentado, por ser considerado muito poluente, a indstria vem analisando diversas possibilidades para efetuar essa operao, sem

prejuzo ao ambiente, levando em considerao a relao de custo e benefcio, economia de vapor e qualidade final do produto. A definio da alternativa mais adequada sistema ciclohexano, destilao extrativa ou peneira molecular fica por conta dos seus clientes, e, sabendo disso, a Dedini passou a oferecer, a partir de 2003, equipamentos de desidratao por ciclohexano otimizados, aps testes em unidade piloto.

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Dedini 85 anos

Dessa forma, foi possvel obter um consumo energtico quase nulo de vapor em plantas industriais j existentes, efetuando somente a alterao de fluxos e refluxos e com o aproveitamento da energia utilizada na produo de lcool hidratado. Em unidades novas, o sistema consome pouco mais que o da peneira molecular (cerca de meio quilo de vapor por litro de lcool). Outro processo disponvel para desidratao do lcool anidro que tem despertado interesse a destilao extrativa (etileno glicis). Esse sistema, desenvolvido com tecnologia nacional, apresenta as vantagens de ter custos de instalao e operao relativamente baixos, alm de consumo razovel de vapor. A peneira molecular, por sua vez, cujo investimento exigido maior do que para instalao da destilao extrativa, extremamente vantajoso nas indstrias de grande porte. Como no utiliza produtos qumicos, possibilita a produo de lcool anidro de qualidade, atendendo as exigncias do mercado internacional. Em meados de 2004, a Dedini exportou a primeira planta desidratadora de lcool via peneira molecular para

a Petrojam Petroleos Jamaicanos, em Kingston, na Jamaica.

Apostando no biodiesel
Em janeiro de 2004, a Dedini divulgou mais uma vez seu engajamento em programas de substituio ao diesel. Assim ocorreu nos anos 1980, quando lanou o Methax (ver Captulo V). A partir de ento, diversos estudos foram realizados, pois existem vrias matrias-primas que podem ser utilizadas para a fabricao do biodiesel, principalmente, os derivados da soja, algodo, amendoim e dend. Este ltimo, de origem africana, tambm conhecido como palma, est sendo utilizado na primeira usina em funcionamento no pas. Inaugurada em abril de 2005, com a presena do presidente Lula, a Agropalma, a planta industrial foi fornecida em regime de chave-na-mo pela Dedini. A usina, instalada em Tailndia, a 150 quilmetros de Belm, pertence ao grupo Faria, atualmente, o maior fabricante de leo de palma da Amrica Latina. O produto usado na indstria alimentcia. Antes de serem transformados em combustvel vegetal, os resduos provenientes da indstria eram aproveitados na fabricao de sabo-

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PIRACICABA: RUMO AO FUTURO

Piracicaba em 2005: retomando o crescimento industrial

No final do milnio, Piracicaba atingiu a populao de 328.312 habitantes. A seu redor, gravitam onze municpios (guas de So Pedro, Capivari, Charqueada, Jumirim, Mombuca, Rafard, Rio das Pedras, Saltinho, Santa Maria da Serra, So Pedro e Tiet), constituindo uma das microrregies do estado de So Paulo. Segundo o diagnstico, elaborado em 2001 pela organizao no-governamental Piracicaba 2010, todos os problemas decorrentes do modelo de desenvolvimento nacional, adotado a partir dos anos 1970, reproduziram-se em menor escala no municpio nos anos seguintes, como, por exemplo, a concentrao de terras e de renda, a diminuio da produo per capita de alimentos e o xodo rural. A isto, podem ser acrescentados: o aumento do nmero de favelas e a presso de demanda sobre a infra-estrutura existente de sade, educao e transporte. A cidade possui hoje um perfil agroindustrial, e continua sendo bastante influenciada pela cultura da cana-de-acar, que tanto contribuiu para a formao scio-econmica da regio. Exemplo recente desse fato a notcia, em abril de 2005, da instalao de empresa multinacional da Coria do Sul, a Cheil Jedang Corporation, em uma rea de cinco milhes de metros quadrados, no distrito de rtemis, para

fabricar um aminocido utilizado na rao animal, a partir da cana-de-acar. O municpio deixou de ser, entretanto, grande produtor dessa cultura, apesar da rea plantada ter diminudo ao longo do tempo. A cana continua a ser, no entanto, cadeia produtiva muito significativa, pois emprega (em 2005) quase 4 000 trabalhadores, no campo e na indstria. Dessa forma, o diversificado parque fabril instalado no municpio, que conta com empresas de porte e com tecnologia avanada e competitiva, um de seus principais pontos fortes, vetor do desenvolvimento regional e permanente gerador de riquezas, de empregos e de renda, que vem contribuindo cada vez mais para a melhoria da qualidade de vida da sua populao. Nesse contexto, a atual administrao municipal est procurando consolidar Piracicaba como uma cidade com caractersticas industriais que constri fbricas, monta usinas de acar e lcool, em momento que aumenta a demanda por combustveis ecologicamente corretos e crescem as vendas de veculos com combustvel flexvel. Assim, pensa-se at em instalar um terceiro distrito industrial no setor noroeste do municpio, para abrigar novos empreendimentos decorrentes da nova onda de progresso.

netes. So cidos graxos, espcie de borra, de pouco valor econmico. Para construir a planta de biodiesel, os tcnicos da Dedini receberam informaes sobre o processo dos docentes da Universidade Federal do Rio de Janeiro, proprietria da patente, com base em testes de laboratrio. Coube equipe da Dedini desenvolver a concepo, a engenharia (inclusive o sistema de automao) e efetuar o detalhamento do projeto. Tambm executou a montagem da unidade fabril, colocando-a em marcha (ver boxe p. 186).

Diante dessa possibilidade, o setor sucroalcooleiro reagiu positivamente, retomando o nvel dos investimentos em ampliao da capacidade produtiva, e impulsionando as vendas de equipamentos. Por outro lado, a reao positiva do mercado, aliada ao esforo para operacionalizar as atividades e equacionar os dbitos, fez com que o nvel de endividamento casse, em 2003, para R$ 24,3 milhes. Contribuiu para esse resultado, a alienao de sua participao acionria junto Dedini S.A. Indstria e Comrcio, que controlava as usinas de acar e lcool. No final de 2004, a Dedini equacionou seus dbitos fiscais e previdencirios, destinando 1% de seu faturamento para a Receita Federal e 1% para o INSS. Pde, tambm, voltar a recolher em dia seus impostos. Estava, assim, preparada para retomar seu crescimento, expandir sua rea de atuao e voltar a investir em recursos humanos, operacionais e, principalmente, em novas tecnologias, recuperando as marcas registradas que fazem parte de sua longa histria: dinamismo, pioneirismo e competncia.

Em outubro de 2005, a Dedini fechou


contrato com o grupo Bertin, de Lins (SP), para fornecimento da maior planta do mundo de biodiesel a partir de sebo bovino, com capacidade de produo de 110 milhes de litros por ano.

Clima de otimismo
Depois de muitos anos de dificuldades, a administrao da Dedini pde respirar aliviada, com a esperana de realizar bons negcios. A expectativa criada em torno do Protocolo de Kioto, que prev a reduo gradativa das emisses de gs carbnico (CO2) na atmosfera e a ampliao do uso dos combustveis provenientes da biomassa, como o lcool, e sua mistura com a gasolina, aumentaram as chances de o Brasil tornar-se o maior exportador de biocombustveis do mundo.

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As empresas Dedini influenciam a vida da cidade de Piracicaba


Desde o passado, a participao da Dedini no desenvolvimento da cidade foi bastante significativa. Com o apoio de seu fundador, Mario Dedini, e de seus sucessores, foram construdos hospitais, pontes, creches, igrejas, espaos para lazer e esportes. Eis algumas contribuies mais recentes. Copersucar Ceagesp-Piracicaba

Campus Unimep-Taquaral

Em 1953, Dovilio Ometto coordenou um grupo de empresrios para criar uma associao, denominada Cooperativa Piracicabana de Usinas de Acar e lcool (Copira), para cuidar dos interesses do setor sucroalcooleiro, que seis anos depois, foi transformada na Cooperativa Central dos Produtores de Acar e de lcool do Estado de So Paulo (Copersucar). Esta, por sua vez, uma das maiores do mundo na sua rea de abrangncia.

No incio da dcada de 1970, Dovilio Ometto resolveu estimular o desenvolvimento na zona sul da cidade, onde a Dedini era proprietria de terras: a fazenda Taquaral. Dessa forma, doou uma rea para implantao do entreposto municipal de hortigranjeiros, o Ceagesp-Piracicaba, em maro de 1983. Atualmente, existem 130 permissionrios atuando no local, que comercializam cerca de 4 600 toneladas de mercadorias por ms.

Sempre estimulando o desenvolvimento do municpio, a Dedini permutou, por uma rea de cinco alqueires s margens do rio Piracicaba, uma gleba de terras da antiga fazenda Taquaral, com a Universidade Metodista de Piracicaba (Unimep), onde foi instalado o novo campus daquela instituio de ensino, inaugurado em 1972. Ali estudam hoje mais de 14 000 alunos, em 39 cursos de graduao, vrias especializaes e sete cursos de ps-graduao.
Shopping Center Piracicaba

Em outubro de 1987, a cidade ganhou seu primeiro centro de compras, o Shopping Center Piracicaba. O empreendimento foi erguido pela construtora paulista Chap Chap, em um terreno de 70 000 metros quadrados, s margens do rio Piracicaba, de propriedade da Dedini, com o apoio da prefeitura municipal. Atualmente, funcionam no local 140 lojas,

Nesta pgina, ao lado: aspecto do Ceasa que abastece Piracicaba com produtos hortifrutigranjeiros. Na pgina seguinte, alunos do Senai (acima) e crianas em atividades de esporte e lazer

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Dedini 85 anos

que empregam cerca de 1 500 funcionrios. O local visitado mensalmente por 600 000 pessoas.
Casas populares

Por volta de 1995, comeou a ser implantado o ncleo habitacional Comendador Mario Dedini, em terras pertencentes Dedini na zona norte da cidade. O empreendimento resultou de uma parceria com a Prefeitura, por meio da Empresa Municipal de Desenvolvimento Habitacional de Piracicaba, que ali implantou a infra-estrutura necessria. Em 2005, o ndice de ocupao do loteamento de 70%, onde reside uma populao de quase 10 000 pessoas.
Senai Bairro Alto

Centro de Atividades Mario Mantoni (Sesi)

Para o Servio Social da Indstria (Sesi), no bairro Vila Industrial, a Dedini doou uma rea de 70 000 metros quadrados para construo do Centro de Atividades Mrio Mantoni, inaugurado em maio de 1995. No local, so ministrados cursos de ensino e telecursos, com mais de 700 alunos em vrios nveis. So, tambm, realizadas atividades scio-culturais, de recreao e esporte.

Desde a sua criao, em 1947, a unidade do Servio Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) vem recebendo apoio das empresas Dedini. Por isso, leva o nome do seu patrono, Mario Dedini, permanente incentivador da capacitao profissional de jovens para atuar na indstria piracicabana. Atualmente, a escola possui 285 alunos. Muitos deles so contratados como aprendizes e, at hoje, encontram seu primeiro emprego na prpria Dedini.

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NOVA ONDA DE PROGRESSO NA INDSTRIA CANAVIEIRA: A USINA INTEGRADA


Observando a possibilidade cada vez mais prxima de alcanar-se uma perfeita integrao da fabricao de lcool com a de biodiesel, os profissionais da Dedini acreditam que o setor sucroalcooleiro est prestes a ingressar no quinto estgio de sua evoluo. As fases anteriores so: aumento da capacidade dos equipamentos; aumento dos rendimentos; maior aproveitamento da energia da cana-de-acar; e maior aproveitamento dos produtos e subprodutos da cana-de-acar. Na quinta fase, a usina deve se transformar em unidade de produo simultnea de alimentos e energia. De acordo com essa tica, a integrao oferece vrias vantagens, pois a usina pode oferecer sua capacidade instalada na indstria e na lavoura, e todos seus recursos humanos, gerenciais, operacionais, logsticos na integrao econmica, energtica e de processos. Nos dias atuais, grande parte da agroindstria canavieira j produz gros, principalmente soja, em rotao com a cana-de-acar, pois ela serve para incorporar nitrognio no solo e, ao mesmo tempo, contribuem para que a cana-de-acar crie defesas para livrar-se de pragas e doenas. Alm disso, a usina pode fornecer, ainda, a energia obtida a partir do bagao e a outra matria-prima necessria para o biodiesel: o lcool. Calcula-se que, para obter uma tonelada do biocombustvel so necessrios 130 litros de etanol. O desafio da Dedini desenvolver equipamentos para promover essa integrao. Alis, isso no novidade para a empresa: em 1985, forneceu equipamentos para a Coamo, cooperativa que rene produtores de soja, em Campo Mouro (PR). Essa usina, alm de fabricar lcool, fornecia vapor de processo e energia eltrica para movimentar uma planta vizinha daquela associao, produtora de leo.

Filial Vale do Paranaba da usina Laginha Agro Industrial S.A., em Capinpolis (MG)

Os tcnicos acreditam que tal integrao vai ocorrer em trs etapas: a primeira, na indstria o setor agrcola cultiva os gros, troca por leo e produz o biodiesel na usina, aproveitando o lcool ali fabricado. Na segunda fase agrcola e industrial , o leo j ser processado na prpria usina, e no trocado ou comprado de terceiros, utilizando a energia gerada pelo conjunto. Assim, o biodiesel ser fabricado de forma mais econmica. Na terceira etapa, a idia promover a integrao de processos nas cadeias produtivas de cana e de gros. A planta industrial deve aproveitar a sinergia de todas as operaes da fabricao (ver esquema na pgina anterior).

No sistema proposto, existe possibilidade do uso do biodiesel na prpria frota da unidade de produo mquinas, caminhes, veculos leves, motores , possibilitando significativa reduo no custo dos combustveis. A Dedini se declara, desde j, disposta a encarar os desafios dessa tarefa de implementar esse novo conceito: o Brasil imbatvel na produo de soja e de cana, e quando utilizar tal potencial da produo canavieira e de gros em sinergia, acredita-se que os resultados sero fantsticos. Por isso, essa idia est causando grande interesse e entusiasmo no setor sucroalcooleiro.

CAPTULO 7

Conquistando mercados
No necessrio esperar para empreender, nem ter xito para perseverar.
Guilherme de Orange, prncipe holands, no sculo XVII.

Dedini ingressou no novo milnio como uma das poucas remanescentes da indstria nacional de bens de capital sob encomenda. A empresa suportou, nos ltimos vinte e cinco anos, inmeros planos econmicos. Conseguiu sobreviver implantao de quinze diferentes regulamentaes salariais, a dezoito polticas cambiais, cinco controles de preos e a 21 renegociaes da dvida externa, segundo clculos de seus diretores. Essa sobrevivncia obstinada a tantas crises no foi por acaso. Dentre os fatores que contriburam para isso, pode-se citar, entre outras, a diversificao oportuna da sua produo, com a atuao em novos mercados, como o de alimentos, sucos, bebidas, energia, equipamentos pesados e tratamento de efluentes, firmando, para tanto, parcerias tecnolgicas com empresas de renome mundial. Alm disso, conseguiu preservar as equipes de engenharia internas, altamente especializadas, e, ao mesmo tempo, aproveitou a flexibilidade da sua capacidade industrial para se ajustar aos diferentes ciclos de crescimento da economia nacional. Paralelamente, manteve um forte relacionamento com os clientes, embasado na confiabilidade da marca dos produtos e servios Dedini e na imagem de uma empresa responsvel no cumprimento de contratos.

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Com o recente conjunto de medidas adotado por sua administrao, as empresas Dedini conseguiram recompor o capital de giro e salvaguardar boa parte do patrimnio. Essa atuao firme e corajosa baseouse, especialmente, no princpio da transparncia, estabelecendo negociaes com fornecedores e instituies financeiras. Permitiu que se mantivesse a viso para o

crescimento sustentado, voltando-se a investir. Ao completar 85 anos de existncia, a Dedini S.A. Indstrias de Base, que concentra as atividades de fabricao de bens de capital sob encomenda, a principal empresa. Suas atividades esto centradas, basicamente, em quatro focos de negcios, incluindo equipamentos pesados, de ao inoxidvel, de energia e de acar e de lcool.

Principais focos de negcios e reas de atuao da Dedini Indstrias de Base S. A. em 2005


SETOR PRINCIPAIS REAS DE ATUAO FATURAMENTO (R$ MIL) 2004 2005 (*)

Acar e lcool (**) Equipamentos de ao inoxidvel e sistemas Equipamentos pesados Energia Total
(*) (**) Previso

Usinas de acar e de lcool; fornecimento de peas de reposio Cervejaria, tratamento de efluentes, biodiesel (***) Siderurgia, energia, petroqumica, minerao e fundidos Plantas de co-gerao, caldeiras

214 708

324 000

142 663

179 000

54 921

124 000

38 916 451 208

70 000 697 000

Inclui o Sistema Reposio Garantida Dedini (RGD).

(***) Nesses setores atua com tecnologia prpria e, tambm, com licena de fabricao; nos demais (indstrias de alimentos, bebidas, sucos, qumica, papel e celulose, fertilizantes, estruturas metlicas, automotiva e tampos industriais) projeta e fabrica com base em informaes de clientes, ou tecnologia licenciada.

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Dedini 85 anos

Alm de liderar o mercado de bens para o setor sucroalcooleiro (inclusive de co-gerao de energia), cervejaria e tratamento de efluentes industriais, a empresa importante fornecedora para a indstria de sucos, estruturas metlicas, siderurgia, fertilizantes e controle ambiental. Est capacitada a fornecer, tambm, produtos para as indstrias de papel e celulose, cimento, minerao, hidromecnica, qumica, petroqumica, farmacutica, metalrgica, de petrleo, gs e automotivo. Fabrica peas fundidas, equipamentos para energia trmica e tampos industriais. Efetua, ainda, servios de engenharia, executa montagens e oferece assistncia permanente a seus clientes.

Reposio Garantida Dedini (RGD) fornece peas e componentes de reposio, executa reformas, otimizaes e presta servios permanentes de engenharia e assistncia tcnica. Para ter idia da importncia da Dedini nesse mercado, basta dizer que, at 2004, j vendera mais de 730 destilarias e mais de uma centena de usinas de lcool completas, fornecidas em regime de chave-na-mo, que produzem cerca de doze bilhes de litros de etanol por ano, o equivalente a 80% do total fabricado no pas, atualmente. No exterior, 23 plantas industriais completas levam a marca da empresa.

Misso
Dentro da sua viso de procurar ser, antes de tudo, uma empresa de excelncia, a Dedini tem como misso: desenvolver, produzir e comercializar bens de capital sob encomenda e servios, com tecnologia, qualidade e condies adequadas s necessidades dos clientes, visando assegurar e ampliar a participao no mercado global, proporcionando retorno aos acionistas e promovendo o desenvolvimento sustentvel.

Novos lanamentos
Sempre atenta s necessidades dos clientes do setor sucroalcooleiro, a Dedini lanou em 2004, atravs do sistema de Reposio Garantida Dedini, algumas inovaes que contriburam para melhorar a performance das usinas de acar e lcool. As moendas foram otimizadas, possibilitando um aumento de 20% na capacidade de processamento. Alm disso, uma nova concepo de seu acionamento propor-

Acar e lcool
O principal foco de negcios da Dedini sempre foi o atendimento ao setor sucroalcooleiro. Nessa rea, produz usinas completas de acar e de lcool, alm de equipamentos para recepo e preparo da cana-de-acar; extrao e tratamento do caldo; estocagem de produtos e gerao de energia. Por meio do sistema

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cionou dobrar a potncia, sem modificaes no layout original. A placa desfibradora, tambm, teve seu ngulo modificado, melhorando a operao de preparo da cana-de-acar. Outra tecnologia revolucionria em termos de refinao do acar foi apresentada em 2005, durante o Terceiro Simpsio Internacional e Mostra de Tecnologia da Agroindstria Sucroalcooleira (Simtec), em Piracicaba, com lanamento comercial previsto para o ano seguinte. Trata-se do sistema Dedini Refinado Direto (DRD), que consiste na produo de acar sem a necessidade de seu posterior deslocamento para a refinaria. Alm de garantir maior qualidade, o novo processo reduz os custos de produo quase pela metade. O projeto, desenvolvido durante dois anos, atualmente, est, em fase de testes. Quando for implantado em larga escala, poder dar s usinas uma importante possibilidade de escolha e de barganha: a fabricao de acar bruto ou refinado, de acordo com as variaes do mercado e do andamento de negociaes.

Caldeiras para biomassa


As caldeiras so um captulo parte na produo da Dedini. Alm de ser a mais tradicional fabricante nacional no setor sucroalcooleiro, possui o maior nmero de unidades instaladas nas indstrias, bem superior aos demais concorrentes. Com grande experincia e forte presena no mercado, a empresa possui parque fabril dotado de excelentes qualificaes tcnicas, que dispe de certificao de qualidade (selo da American Society of Mechanical Engineers, ASME e ISO 9000, verso 2000). A linha atual compreende variados tipos para atender diferentes capacidades de gerao e presses de operao. Podem ser verticais e com um s passe de gases, com queima sobre grelha (linha AZ), ou sustentadas em estruturas metlicas, com queima predominante em suspenso (linha AT). A linha Cogemax especialmente projetada para operao de plantas de co-gerao com queima suplementar. Nesse segmento de caldeiras que consomem biomassa, a Dedini atua com sua prpria tecnologia, fruto da experincia consolidada pelo fornecimento de mais de

Em agosto de 2005, a Dedini fechou


contrato para fornecimento da maior destilaria de lcool hidratado do mundo, a partir do caldo de cana-de-acar, com capacidade de produzir 700 000 litros de lcool por dia. A planta, com tecnologia Destiltech, ser instalada na usina Volta Grande, em Minas Gerais, e deve entrar em operao em 2006.

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1 400 caldeiras, no Brasil e no exterior, nos seus 85 anos de existncia. Antecipando a futura demanda por produtos de maior volume e presso, motivada pela gerao de maiores excedentes de energia, a empresa est preparando o lanamento de uma linha de caldeiras do tipo single drum, que podem suportar presses superiores a 80 kg/cm2, e com capacidades superiores a 250 toneladas de vapor por hora.

Bom momento
O mercado sucroalcooleiro, no qual a Dedini tradicionalmente lder em fornecimento de produtos e servios, composto por mais de 300 indstrias em

atividade em todo o pas, que entram em operao em dois perodos distintos: entre setembro e maro, no Norte-Nordeste, e entre abril e novembro, no Centro-Sul. Com o passar do tempo, a maioria passou a produzir, ao mesmo tempo, lcool anidro e hidratado, alm de acar, montando sistemas de grande flexibilidade. Em 2005, o setor canavieiro vive um bom momento; a maioria das usinas possui projetos de ampliao e esto previstos, nos prximos anos, investimentos significativos na instalao de quase cinqenta novas plantas no pas. O objetivo aumentar a capacidade de fabricao de lcool, atualmente, no limite mximo.

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de liderana assegurada, devido s condies extremamente favorveis de solo, clima, topografia, da disponibilidade de reas agricultveis em seu territrio, e do domnio completo da tecnologia. Mesmo diante da projeo de crescimento vegetativo da produo mundial, estimado em 2,5% ao ano, so processadas, atualmente, mais de 180 milhes de toneladas de cana para fabricao de acar. Alm disso, com a recente deciso da Organizao Mundial do Comrcio (OMC) de reduzir os subsdios concedidos aos produtores de acar da Unio Europia, espera-se uma queda no volume da oferta naquele continente. Acredita-se que o Brasil tem grandes chances de suprir o mercado europeu, por possuir o menor custo de produo do mundo. Nessa rea, a Dedini fechou, recentemente, importantes negcios: alm de vender a maior usina de lcool hidratado do mundo, para o grupo Caet (MG), assinou contrato com a empresa norte-americana U.S. Sugar Corporation para fornecer o maior conjunto de moendas (tandem) do mundo, com ca-

Caldeira Dedini instalada na usina Coinbra Cresciumal S. A., em Leme (SP)

Os especialistas acreditam que essa expanso, no entanto, ser insuficiente para atender s projees da demanda interna e de exportaes, diante do sucesso das vendas nacionais de veculos com combustvel flexvel e das elevaes sucessivas nas cotaes do petrleo, que fazem crescer, em todo o mundo, a procura por outras fontes alternativas de energia. Por outro lado, com relao ao acar, o Brasil tem posio

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Dedini 85 anos

pacidade de moagem de 28 000 toneladas de cana por dia.

Petrleo e gs
No caso do petrleo, o Brasil deu um grande salto na explorao martima em guas profundas e hoje produz 90% do que consome, cerca de 1,6 milho de barris por dia. Esta uma atividade em expanso: a Petrobras sinaliza com o crescimento de 8% ao ano da produo nacional. Para tanto, aquela companhia planeja grandes investimentos globais, no Brasil e no exterior. Tais recursos sero aplicados em vrias reas, desde a explorao e produo, at transportes, passando pelas refinarias. A iniciativa implica na aquisio de variados equipamentos, tais como vasos, torres, tanques e trocadores de calor. Como h, ainda, muitos itens importados, a Petrobras vem incentivando, desde 2002, o aumento da participao da indstria brasileira em seus programas de desenvolvimento, trabalhando em conjunto com as entidades de classe, e procurando que, pelo menos, 60% do maquinrio necessrio seja adquirido no mercado nacional. Alm disso, a Petrobras opera hoje onze refinarias; algumas possuem vrios equipamentos instalados h mais de trinta

Equipamentos pesados
Ao longo do tempo, a Dedini vem abastecendo com equipamentos de grande porte alguns dos setores mais expressivos da economia nacional, tais como as indstrias de petrleo, de gs, petroqumica, minerao, siderurgia e hidrogerao. Atende, tambm, a produo de peas fundidas para terceiros. At 1990, a participao nesses segmentos era bastante expressiva, mas, ao longo do tempo, diminuiu. Por volta de 2001, os negcios estavam concentrados na unidade de Sertozinho, que contava, apenas, com 200 funcionrios. Havia muitos problemas na execuo dos contratos. A partir dessa poca, o setor comeou a se recuperar, principalmente, com a expanso dos investimentos no pas em siderurgia, petroqumica, cogerao e energia termoeltrica. A preocupao passou a ser a reativao da carteira dos clientes. Nos dias atuais, os negcios esto bem ativos em diversas reas desse mercado.

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anos, portanto, em fase final de sua vida til. Assim, existe um mercado potencial para reposio que comea a apresentar demanda crescente. A estatal tambm trabalha com expectativa de crescimento na demanda de gs natural, o que exigir grandes investimentos para dar maior segurana ao sistema e atender a um nmero maior de usurios. Nessa rea, a Dedini espera tambm realizar bons negcios. Outro setor que apresenta boas perspectivas de crescimento o petroqumico. Essa indstria est apostando na revitalizao da economia e deve ter sua rentabilidade impulsionada, pois a demanda por tais produtos est diretamente relacionada com o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). Caso essa recuperao se confirme, haver necessidade de novos empreendimentos e ampliao dos existentes. Para a indstria de petrleo, de gs e petroqumica, a Dedini vem fornecendo, principalmente, vasos de presso, reatores, torres de resfriamento, trocadores de calor e tanques de armazenamento. Pretende-se,

no entanto, com a realizao dos novos investimentos, aumentar a presena nessa rea, melhorando as condies de competitividade e diversificando a linha de produtos. O setor em que se espera maior expanso o petroqumico, onde a empresa possui maior tradio de atuao.

Gerao hidreltrica
Hoje, a capacidade instalada de gerao do sistema interligado nacional (considerando a metade brasileira de Itaipu), situa-se em 72 843 MW. A distribuio por fonte de gerao : usinas hidrulicas, com 87,6%, trmicas convencionais, com 9,6%, e nucleares, com 2,8%. Com a definio do Programa de Incentivo s Fontes Alternativas de Energia (Proinfa), que liberou, em maro de 2004, a instalao de mais 3 300 MW, observa-se a retomada dos projetos de expanso, em grande parte, pelas usinas hidreltricas. De acordo com as concesses j outorgadas, a gerao de energia hdrica dever crescer 29 000 MW, at 2010. Esta situao implicar no aumento de investimentos na capacidade instalada.

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reduo de custos e economia de tempo. Dessa forma, tornou-se conhecida na indstria automobilstica, fechando contratos para fornecer 2 500 toneladas de peas por ano. So bases, anis, punes e outros componentes, utilizados em estampagem e laterais, portas, caps e outros itens dos veculos.

Minerao
O minrio de ferro , hoje, o mais extrado no mundo. O Brasil lidera essa produo: em 2002, gerou 240 milhes de toneladas, das quais 170 milhes foram exportadas. Esse mercado vem apresentando, nos ltimos anos, excelentes taxas de crescimento, at acima de 10% ao ano, por causa da maior demanda pelo ao. A grande consumidora a indstria siderrgica, principalmente a da China que, nos dias atuais, tem liderado os investimentos nesse setor. Em decorrncia, os preos do minrio de ferro subiram, estimulando os produtores a efetuarem novos investimentos. Por isso, as grandes empresas que atuam no setor, como a Companhia

Teste de qualidade em equipamento para hidreltrica fabricado pela Dedini

A Dedini pode contribuir para o fornecimento de equipamentos para atender essa demanda (diversos tipos de comportas, grades, caixas espirais, pr-distribuidores e partes de turbinas hidrulicas e de hidrogeradores), cujo mercado estava estimado em cerca de R$ 1,1 bilho (em 2004).

Indstria automobilstica
A partir de 2004, a Dedini dominou e aprimorou a tecnologia para fornecimento de peas fundidas no processo full mold, que permite alta produtividade,

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Vale do Rio Doce (CVRD), MBR e Samarco, de Minas Gerais, esto planejando um aumento de suas atividades para os prximos anos, no s na extrao de ferro, mas em outros minerais, como o cobre e o alumnio, tambm bastante procurados. Para atender a esses investimentos, a Dedini pode fornecer vrios itens, como britadores, moinhos, fornos e peneiras. A maior competitividade da empresa fica por conta dos equipamentos de maior porte, destinados moagem e britagem.

lingotamento contnuo, fornos de calcinao, equipamentos de movimentao e portas para coquerias, entre outros. Com a retomada das oportunidades comerciais nesse segmento, concretizadas a partir de 2004, bem como o aumento de produtividade e a atualizao dos equipamentos decorrentes dos investimentos previstos, estimase que a participao da empresa seja bem expressiva. Para tanto, j vem mantendo entendimentos com os principais detentores de tecnologia, como a SMS, Voest Alpine e um grupo de empresas japonesas (Hitachi Metals Ltd., Sumitomo Heavy Industries Ltd., Kawasaki Heavy Industries Ltd., denominado JP Steel Plantech Company (SPCO). Na rea de coqueria, possui licenciamento da SHI (equipamentos de movimentao) e YTT (portas).

Siderurgia
O crescimento da produo mundial de ao bruto continua em ritmo acelerado e o Brasil est inserido nesse mercado como o maior fornecedor da Amrica do Sul, seguido pela Argentina. A expectativa que a produo nacional de ao cresa cerca de 20% entre 2004 e 2010, exigindo novos investimentos, com expanso de usinas existentes e implantao de novas unidades. Para esse setor, a Dedini fabrica sistemas de lavagem e de recuperao de gases, convertedores, mquinas de

Contrato recorde
Em 2005, a Dedini assumiu a liderana do consrcio internacional para ampliao de uma unidade da aciaria da Companhia Siderrgica de Tubaro (CST), em Vitria (ES). O contrato, no

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valor de R$ 250 milhes, prev o fornecimento de equipamentos para o setor de lingotamento contnuo. A encomenda um desafio para a fbrica, que h 25 anos no fazia algo no gnero. O conjunto sair praticamente montado, para facilitar a instalao no local definitivo.

Consumidoras de vapor
Dentro do foco de negcio da energia, um produto importante oferecido pela Dedini so as caldeiras industriais, adquiridas pelas grandes consumidoras de vapor, tais como as indstrias de alumnio, energia eltrica, papel e celulose, qumica, petroqumica, siderrgica, alimentos, petrleo e gs. As melhores oportunidades de negcio esto nos seis primeiros segmentos. At 2010, calcula-se que a maior parte das vendas para esses setores se destine a ampliaes de plantas j existentes e a instalaes de novas unidades. No futuro prximo, prev-se, tambm, a substituio de equipamentos antigos, desgastados ou obsoletos, por outros mais modernos, para atender s exigncias da legislao ambiental, cada vez mais rigorosa.

Este mercado apresentou uma boa expanso conjuntural em 2001, influenciado pela crise da energia eltrica, voltando depois normalidade. Espera-se que, em mdio e longo prazo, no entanto, com o aumento do uso do gs natural, retome o crescimento, pois as plantas de co-gerao eltrica e de gs natural representam uma boa alternativa para certas indstrias que no dispem de resduos combustveis suficientes para suprir suas demandas de vapor e eletricidade. A Dedini atua de forma ampla e flexvel nesse mercado. Com tecnologia prpria, a empresa fornece caldeiras convencionais de mdio porte para queima de gs natural, leo combustvel e biomassa florestal. Em parceria com fornecedores brasileiros, comercializa caldeiras de pequeno e mdio portes para recuperao de calor e de gases em indstrias qumicas e de gases de exausto de turbinas a gs em termeltricas do tipo heat and power. Possui, tambm, licena de detentores internacionais de tecnologia para fabricao de caldeiras especiais, de mdio e grande portes, para queima de carvo,

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Detalhe da unidade fabril de Sertozinho (SP), em 2005

oil-emulsion, leo combustvel, e biomassa florestal. Produz, ainda, caldeiras para combustveis especiais e para recuperao de calor em plantas de co-gerao e ciclos combinados. Finalmente, pode efetuar otimizaes e reformas de produtos prprios ou de terceiros.

Energia dos ventos


Bastante incentivada pelo Programa de Incentivo s

Fontes Alternativas de Energia (Proinfa), a gerao de energia elica uma alternativa recente no Brasil, com maior potencial de expanso, basicamente, em trs plos: no Nordeste, na regio de Cabo Frio (RJ) e no Rio Grande do Sul, prximo a Porto Alegre. Assim, atualmente, algumas empresas estrangeiras se instalaram no Brasil com a idia de comercializ-la, colocando-a na rede de transmisso de energia eltrica.

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A Dedini est sendo procurada por esses grupos internacionais para estabelecer parcerias, devido sua capacidade de fabricar as torres, que apresentam at cem metros de altura e, tambm, s peas de ferro fundido para suporte das ps, colocadas na parte superior. O mercado foi dimensionado para o fornecimento de cerca de 2 000 torres, at 2007.

Material imbatvel
O ao inoxidvel participa, cada vez mais, da vida das indstrias de todo mundo, por permitir grande flexibilidade no uso e devido s inmeras qualidades: durvel, resistente, bonito e limpo. Novos tipos esto surgindo, possibilitando aplicaes, at ento, impensadas, como, por exemplo, em revestimentos externos de prdios e paredes de estaes metrovirias. A Dedini possui amplo domnio no processamento desse material, compreendendo a recepo da matria-prima, passando por seu manuseio e por todas as etapas da fabricao, empregando as tcnicas mais modernas disponveis em dobramento, corte e soldagem.

Dessa forma, pode atender aos mais diversos ramos industriais: cervejaria, tratamento de efluentes, biodiesel, alimentos, bebidas, sucos, qumica, papel e celulose, fertilizantes, estruturas metlicas, automotiva e tampos industriais. Nos trs primeiros, atua com tecnologia prpria, nos demais, a empresa desenvolve a engenharia e se encarrega da fabricao, a partir de projeto bsico fornecido pelo cliente. Hoje, esse foco de negcio, isoladamente, representa, na empresa, cerca de 30% a 35%, em termos de vendas e de produo. Nesse mercado, um fornecimento significativo ocorreu em julho de 2004. O Departamento Municipal de guas e Esgoto de Poos de Caldas (MG), colocou em operao a primeira unidade do mundo para tratamento de esgotos domsticos com o reator Ubox, fabricada pela Dedini. A planta, que contempla o sistema aerbio e anaerbio em um mesmo tanque, objetiva a descontaminao das guas de uma represa e servir a uma populao de 10 000 pessoas, aproximadamente. Acredita-se que sistemas semelhantes possam ser instalados, tambm, em vrias

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Cervejaria Lokal, em Terespolis (RJ)

outras cidades do Brasil, pois so compactos e flexveis.

Constante expanso
Com a crise do Prolcool, a partir de 1985, a Codistil, uma das empresas Dedini, comeou a buscar novos mercados para ocupar seu parque fabril j instalado. O foco centralizouse, em primeiro lugar, nas cervejarias, que apresentavam, ento, grande potencial de expanso. O perodo ureo de fornecimento ocorreu entre 1991 e 1995, quando essas indstrias expandiram bastante sua produo, exigindo novos equipamentos e plantas. Nos anos seguintes, a Dedini tornou-se altamente capacitada para atender as necessidades de crescimento da indstria cervejeira, tanto em unidades completas (turn key), como em equipamentos isolados, como cozedores, reatores, fermentadores, reservatrios e tanques, silos, roscas transportadoras etc. Atualmente, a empresa lder nacional, possuindo uma fatia de mais de 60% desse mercado, hoje bastante aquecido, inclusive, com vendas para o exterior.

Em maio de 2005, havia vrias encomendas em andamento: uma sala de cozimento para a Cia. Ambev, na Repblica Dominicana, e outra para a Lokalbier, em Terespolis (RJ). Estava fabricando tanques fermentadores para a Cervejaria Petrpolis (Boituva, SP) e trs plantas completas: uma para IBI, em Igarau (PE), outra para Coroa, em Domingos Martins (ES), e a terceira para Schincariol, em Trs Lagoas (MS). Para melhor atender as demandas de mercado, a Dedini possui licenas tecnolgicas de duas conceituadas empresas, a alem Huppmann (desde 1991) e a sua Filtrox (desde 1995). A primeira possibilita o fornecimento de unidades completas do tipo chave-na-mo (turn key), e a segunda fornece tecnologia para filtrao e estabilizao da cerveja. Buscando sempre maior aprimoramento nessa rea de bebidas, a Dedini foi buscar na Holanda uma moderna tecnologia na fabricao de tanques cilndricos verticais de ao inoxidvel para armazenar lquidos. Adaptada s condies brasileiras, associa mesa rotativa, sistema de soldagem de serpentinas no

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costado, e prtico, permitindo sua verticalizao. Alm disso, dispensa o uso de guindastes para movimentao na montagem. Atualmente, existe uma equipe de dez engenheiros para atender somente esse segmento, que apresenta grande potencial de vendas. A produo brasileira gira, hoje, em torno de 8,5 bilhes de litros de cerveja e doze bilhes de litros de refrigerantes por ano. A cerveja feita em 47 fbricas, que geram 150 000 empregos diretos e indiretos. A AmBev lidera as vendas dessa bebida, com quase 70% do mercado. Quanto aos refrigerantes, os mais vendidos so os de sabor cola (46%) e guaran (27%). A Coca-Cola detm 77,5% do mercado de refrigerantes com sabor cola (seguida pela Pepsi). A categoria da bebidas nocarbonatadas (sem gs) tambm vem apresentando crescimento, tanto no Brasil como no exterior, tais como sucos de fruta, guas e chs, por causa da maior procura por bebidas saudveis e nutritivas. A Dedini espera expandir sua atuao nessa rea. Recentemente, foi efetuado um fornecimento importante: a venda de 36 tanques de ao inoxidvel para a Citrosuco,

em 2002, cada um deles com capacidade para armazenar mais de 3,7 milhes de litros de suco.

Tanques cilndricos verticais


A Dedini vive sempre em busca de inovaes. Por isso, em janeiro de 2004, trouxe da empresa holandesa Oostwalder (OTS) a tecnologia de fabricao dos tanques cilndricos verticais, construdos tanto em ao inoxidvel como em ao carbono, em que a solda das virolas realizada em um ponto fixo. Para que isso acontea, o tanque precisa rotacionar. Dessa forma, o produto obtido de qualidade superior e sua instalao se torna 40% mais rpida, comparado com a dos processos tradicionais, pois reduz-se a movimentao durante a montagem. Tais tanques so muito utilizados para armazenagem de sucos de laranja (tanks farms) e so construdos em vrias dimenses. Para a unidade da Cutrale, em Conchal (SP), a Dedini fabricou oito deles, em tempo recorde. Esses produtos servem, tambm, para estocar aguardente. A Caninha 51, por exemplo, adquiriu vrias

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unidades, com capacidade de trs milhes de litros cada, para sua fbrica em Pirassununga (SP).

Indstria qumica
A abertura do Brasil ao comrcio internacional e integrao do Mercosul, levaram o setor qumico a apresentar uma tendncia de substituio de fbricas polivalentes de especialidades qumicas, com at quatrocentos diferentes produtos em linha, por estruturas mais enxutas e especializadas, que passaram a atuar somente em determinados segmentos onde detm a tecnologia. Hoje, a tendncia geral produzir, por encomenda, um nmero menor de produtos, mas com maior valor agregado e em maiores volumes. A administrao da Dedini acredita que a empresa possui grande potencial para aumentar sua atuao no segmento qumico, fornecendo equipamentos em ao inoxidvel e carbono, reatores, vasos de presso, trocadores de calor, e outros equipamentos especiais sob encomenda. Para tanto, investiu na produo, de acordo com as mais modernas tendncias tecnolgicas, introduzindo inovaes

Tanques em ao inoxidvel na unidade de Piracicaba

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como corte a plasma, soldagem orbital e no uso de ligas dplex no processo, entre outras. Dessa forma, pde vender, em 2004, uma torre de processamento contnuo para secagem, destinada fbrica de sabo em p da Unilever do Brasil, situada em Indaiatuba (SP). A encomenda, com nove metros de dimetro e cinqenta metros de altura, foi fabricada e instalada no prazo recorde de seis meses.

Auto-suficincia
Desde a dcada de 1970, o Brasil passou da condio de importador de papel e celulose para um dos maiores produtores do mundo. A indstria nacional passou a atender a demanda para os diversos tipos de papis, e hoje, aquele destinado imprensa (papel

Equipamento Dedini destinado produo de fertilizantes

jornal) o nico que ainda depende, em parte, de importaes. Em condies normais, o consumo geral de papel um dos melhores indicadores para a avaliao do desempenho da economia. E, no caso brasileiro, desde o incio da dcada de 1990 at hoje, as fbricas do setor apresentam ndices de ocupao acima de 80%. Os investimentos anunciados so voltados, principalmente, para produo da celulose. A participao da Dedini no setor de papel e celulose bastante estimulada pela capacidade de produo e pelo excelente nvel de qualidade. Engloba sistemas de evaporao, vasos de presso, torres, colunas, reatores, trocadores de calor, digestores, tanques e reservatrios, entre outros.

Fertilizantes
A produo nacional de fertilizantes quase totalmente

destinada ao abastecimento do mercado interno. O consumo anual gira hoje em torno de sete milhes de toneladas de NPK (nitrognio, fsforo e potssio), sendo que mais de metade ainda importada. Para aumentar a competitividade, ganhar escala e reduzir custos, o caminho encontrado pelo setor, recentemente, foi realizar fuses, aquisies e associaes. O processo de concentrao, caracterizado pela expanso ou entrada de grandes grupos multinacionais na rea, veio acompanhado por novos investimentos. As indstrias que produzem matrias-primas bsicas e fertilizantes esto melhorando o processo produtivo, ampliando a capacidade instalada, e aperfeioando a logstica da distribuio. Com tecnologia de ponta desenvolvida em parceria com seus clientes, ou trabalhando sob licena de empresas especializadas, a Dedini detm cerca de 10% desse mercado e pode fornecer projetos completos para a indstria de fertilizantes, alm de diversos equipamentos, como misturadores, secadores rotativos, silos de armazenamento,

sistemas de dosagem e pesagem, resfriadores rotativos, fornos de transferncia e sistemas transportadores, entre outros. Nessa rea, atualmente, a Dedini est fabricando tambores rotativos e secador granulador para a planta da Ultrafertil, em Indaiatuba (SP), com entrega prevista para 2005.

Inovaes tecnolgicas
Graas ao empenho de seus colaboradores, as empresas Dedini geraram, ao longo do tempo, treze invenes, que resultaram na concesso de doze registros de patentes, nas diversas reas de atuao. H, ainda, mais uma dezena de processos em andamento, com solicitaes j depositadas no Brasil e em vrios pases do exterior. Somente no perodo de 2003-2004, as empresas Dedini investiram aproximadamente R$ 70 milhes, equivalentes a US$ 25 milhes, procurando manter a capacidade produtiva instalada. Alm disso, confirmando seu histrico de pioneirismo e liderana tecnolgica, continuam aperfeioando e lanando constantemente novos produtos.

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CAPTULO 8

A Dedini no terceiro milnio


Tudo loucura ou sonho no comeo. Nada do que o homem fez no mundo teve incio de outra maneira, mas tantos sonhos se realizaram que no temos o direito de duvidar de nenhum.
Monteiro Lobato (1882-1948), escritor paulista.

estabilizao das principais variveis macroeconmicas, a reduo das taxas de juros, a retomada dos crditos interno e externo e a reduo do risco Brasil, que passou a atrair os desconfiados empreendedores estrangeiros, foram aspectos determinantes para a retomada dos investimentos da iniciativa privada, nos primeiros anos de 2000. Acreditando nas possibilidades do futuro, a Dedini se comprometeu com o crescimento e preparou um plano em longo prazo, que previa aplicao de recursos da ordem de R$ 270 milhes em expanso industrial, modernizao tecnolgica, incremento s exportaes, conservao do ambiente e incluso social. Com a implementao desse projeto, a Dedini pretendia, de acordo com as expectativas e projees daquela poca, atingir, em 2008, um faturamento bruto anual prximo a US$ 400 milhes, exportando cerca de 20% a 40% de sua produo e mantendo importantes posies de mercado nos seus quatro focos de atuao: equipamentos pesados, de acar e lcool, de ao inoxidvel, e de energia. Dessa forma, em julho de 2004, a empresa encaminhou cartaconsulta ao BNDES, visando a obteno de parte dos recursos para

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viabilizao de seu projeto. Para tanto, em uma primeira etapa, pretendia financiar, junto quele rgo governamental, cerca de R$ 130 milhes, em dez anos. O restante dos recursos necessrios seria obtido com o lanamento de R$ 100 milhes em debntures. Os recursos seriam empregados para atender s exigncias do mercado, canalizados, basicamente, para a modernizao de equipamentos, para o desenvolvimento tecnolgico de processos e para a expanso da capacidade produtiva. Na segunda fase do projeto, estavam previstos mais

investimentos, calculados em cerca de R$ 90 milhes, para dar seqncia proposta de atender, de forma satisfatria, ao crescimento do setor sucroalcooleiro, em funo das possibilidades efetivas de exportao do lcool, principalmente para o Japo e pases europeus. Nesse caso, o Brasil coloca-se com excelentes possibilidades de atender esse mercado. Tal atuao depende, no entanto, da assinatura de acordos governamentais com os pases signatrios do Protocolo de Kioto. Aps o equacionamento dos seus dbitos fiscais, a Dedini

Evoluo do faturamento bruto em bens de capital das empresas Dedini*

(*) valores histricos em R$ mil (**) previso

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precisou, novamente, efetuar reformulaes no seu planejamento estratgico. Em consonncia com essas modificaes, dever apresentar, brevemente, um novo projeto de investimentos ao BNDES. No documento, foram revistas as previses de faturamento at o final da dcada, superadas antes do tempo, devido melhora da conjuntura econmica e ao aumento das vendas no setor de bens de capital sob encomenda. Como no plano anterior, grande parte do financiamento se destina

ao parque fabril, visando sua modernizao e adequao aos novos tempos de expanso.

Aniversrio feliz
Deixando as dificuldades no passado, a Dedini passou a encarar o futuro com maior confiana e otimismo, principalmente por causa da melhoria do cenrio poltico e econmico, mais favorvel realizao de negcios. Por isso, ao completar 85 anos de existncia, no faltavam motivos para as comemoraes.

Evoluo dos investimentos* efetuados pelas empresas Dedini** (1999 2005)

(*) valores histricos em R$ mil (**) investimentos efetuados em manuteno de capacidade e treinamento de pessoal; tecnologia; desenvolvimento; produtividade; nova Fundio; sistema Oracle.

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Suas fbricas funcionavam em plena capacidade e as vendas ultrapassaram as previses mais otimistas. Nos ltimos dois anos, seu faturamento praticamente dobrou. Acredita-se que, nesse ritmo, o valor previsto de um bilho de reais para 2010 talvez seja atingido at 2008. A nova estratgia para o primeiro decnio de 2000,

denominado grande projeto Dedini, pretende aumentar a receita lquida e criar centros de excelncia de desempenho em todas atividades, implementando aes estratgicas e projetos de inovao e melhoria contnua. Assim, as empresas Dedini pretendem expandir sua atuao no mercado global e aumentar sua competitividade.

Sede das empresas Dedini em Piracicaba (SP), em 2005

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Para tanto, utiliza modernas ferramentas e mtodos de gesto, com eficincia reconhecidamente comprovada.

Em busca da qualidade
Desde sua fundao, a Dedini sempre trabalhou para aperfeioar a qualidade de seus produtos e servios, e essa iniciativa tornou-se um diferencial no seu mercado de atuao. No incio dos anos 1980, no entanto, comearam a ser exigidos vrios requisitos na atuao das indstrias brasileiras. Adequando-se nova realidade, a empresa passou a formular polticas especficas nessa rea, envolvendo, entre outros fatores, os procedimentos mais adequados para planejamento, execuo e controle de todas as operaes e atividades. Assim, nessa poca, foi desenvolvido o sistema de Garantia de Qualidade Dedini (GQD) na Metalrgica, focado, principalmente, na produo, desde o processo de pr-venda at a entrega final. O objetivo era dotar a empresa de gerenciamento prtico e estruturado, incrementando a produtividade e a eficincia operacional,

Capacidade fabril
A Dedini S.A. Indstrias de Base possui, atualmente, uma das maiores estruturas produtivas de bens de capital sob encomenda instaladas no Brasil, com seis parques industriais e onze fbricas em operao, localizadas estrategicamente em quatro importantes regies, duas no estado de So Paulo e duas no Nordeste (Pernambuco e Alagoas), representando uma rea total de mais de um milho de metros quadrados, em 2005.
CAPACIDADE UNIDADE/ LOCAL FBRICA DE PRODUO ANUAL (HORAS/ HOMEM)

Equipamentos em ao inoxidvel Piracicaba (SP) Perfis e estruturas metlicas Caldeiraria Tampos industriais Piracicaba (SP) Piracicaba (SP) Usinagem (mecnica pesada) Fundio Caldeiras Sertozinho (SP) Equipamentos pesados Usinagem (mecnica pesada) Recife (PE) Macei (AL)
Fonte: Dedini.

1 000 000

483 000 670 000 714 000 1 000 000 500 000 144 000

Caldeiraria (ao carbono e inoxidvel) Mecnica pesada

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EMPRESAS DEDINI
Posio Acionria em 2005
A Dedini se constitui hoje de empresas com capital nacional, pertencentes s famlias Ometto e Dedini, conforme se v no quadro:

para atender plenamente os requisitos exigidos e garantir a satisfao dos clientes. Para desenvolver esse trabalho, organizaram-se equipes multifuncionais dentro da empresa, que elaboraram os manuais de procedimentos para atender os requisitos normativos e, tambm, as necessidades operacionais de todas os departamentos. Naquela poca, a Petrobras contribuiu e incentivou bastante essa mudana de comportamento nas empresas brasileiras, apresentando uma srie de exigncias nas suas aquisies

de bens e servios de terceiros. A Dedini tratou de habilitar-se como fornecedora, o que representava, ento, uma referncia e um diferencial importante no mercado. Assim, em 1988, obteve o certificado de cadastro, tornando-se qualificada, oficialmente, para vender estatal brasileira do petrleo uma srie de produtos, como caldeiras, turbinas, vasos de presso e redutores, entre outros. Paralelamente, comeou a trabalhar, tambm, na obteno da certificao junto conceituada American Society of Mechanical Engineers (ASME). Os

Conselho de Administrao da DDP Participaes S.A., em outubro de 2005 (da esq. para a dir.): Sergio Leme dos Santos, Jos Luiz Olivrio, Tarcisio Angelo Mascarim, Giuliano Dedini Ometto Duarte, Juliana Dedini Ometto (Presidente), Adriana Dedini Ricciardi, Marco Renaux Dedini Ricciardi, Mrcia Farah de Toledo Dedini e Mrio Dresselt Dedini

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primeiros produtos que conquistaram o direito de usar os selos concedidos pela instituio foram as caldeiras (selo S) e os vasos de presso (selo U), fabricados, respectivamente, pela unidade da caldeiraria da Metalrgica e por uma das empresas do grupo, a Codistil. Os certificados so datados de 1988, e chegaram aps rigoroso processo de avaliao pelos tcnicos do National Board e da Lloyds Register do Brasil. Assim, a Dedini passou a fazer parte de um grupo seleto de companhias nacionais que obtiveram o reconhecimento internacional na fabricao de produtos determinados. Ao longo do tempo, a qualificao se estendeu para outros bens fabricados pela Dedini. Alm das revalidaes e ampliaes para outros produtos, vrias certificaes especficas foram conquistadas junto a diversos rgos, com destaque para aquelas obtidas junto Coordenadoria de Projetos Especiais do Ministrio da Marinha (Copesp), e ao Instituto Brasileiro de Siderurgia (1994). Em 1992, a Dedini tornou-se a primeira companhia de Piracicaba

Cenas do trabalho na sede da Dedini, em 2005

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Evoluo das Certificaes de Qualidade na Dedini

a obter a certificao de aprovao ISO 9001, concedido pela Lloyds Register Quality Assurance do Brasil. O documento foi validado nos anos seguintes, e em 1996, quase todas as unidades da Dedini (mecnica, fundio, equipamentos pesados, caldeiraria) possuam os certificados ISO 9001/9002.

Aperfeioamento constante
Como a busca pela qualidade incessante, os processos de revalidao e manuteno dos certificados prosseguiram nos anos seguintes, com a unificao dos sistemas de gesto aplicveis aos projetos de fabricao de caldeiras, vasos de presso, tanques de armazenagem e equipamentos para indstria de cimento, minerao, ao, papel e celulose, siderurgia, papel e celulose, qumica e petroqumica, acar e lcool, cervejaria, entre outros. Por outro lado, a Petrobras, que hoje modificou sua estratgia de avaliao, incluiu as unidades da Dedini situadas em Piracicaba e Sertozinho no seu cadastro de fornecimento tcnico nvel A, em 2005. Dessa forma, no decorrer do tempo, estruturou-se na Dedini um sistema de gesto da qualidade na indstria que estabelece todos os

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procedimentos para fornecimentos de bens e servios. A partir das solicitaes dos clientes, so utilizados os recursos materiais e humanos disponveis para materializar as solues. Todas as operaes realizadas so medidas por indicadores predeterminados. No final, realizam-se avaliaes das diversas etapas para se definir eventuais correes. Os tcnicos que atuam na rea comentam que se, no passado, a busca pela excelncia era um diferencial para as empresas, hoje tornou-se obrigao, um requisito bsico para a produo.

Produtividade Treinamento Pontualidade na entrega

Indicadores da qualidade na produo


A performance nas empresas Dedini medida sistematicamente, por meio de indicadores preestabelecidos, definidos pelas metas a serem atingidas, comparadas com o real. Os fatores analisados so os seguintes:

Nesse contexto, a poltica de qualidade estabelecida hoje para as empresas Dedini consiste em atender plenamente s expectativas atuais e futuras dos clientes, atravs da responsabilidade e lealdade, como valores indiscutveis na conduo dos negcios; modernizao tecnolgica e capacitao dos recursos humanos como diferenciais no mercado; agilidade no fornecimento de solues completas; parcerias com fornecedores para obter excelncia na qualidade dos produtos e comprometimento de todos na busca de melhorias contnuas. Essa poltica tem trazido resultados palpveis e positivos. Os indicadores dos custos da no-conformidade so sistematicamente medidos, desde a implantao da gesto de qualidade, na dcada de 1980. Hoje, a Dedini est procurando implementar uma abordagem sistmica, dividindo a empresa por processos, de acordo com o ISO 9001:2000, para facilitar a gesto e agregar melhorias na companhia. A busca pela excelncia j deu bons resultados. Em 2004,

Satisfao do cliente Custos provenientes da no-qualidade Resultados de auditoria interna

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Dedini 85 anos

Colaborador da Dedini na fbrica de Piracicaba (SP), em 2005

a empresa recebeu o prmio de melhor desempenho, no setor de mquinas e equipamentos, concedido pela Fundao Instituto Miguel Calmon de Estudos Sociais e Econmicos. A homenagem procura estimular a busca da produtividade e lucratividade nas companhias brasileiras e foi recebida em cerimnia no Rio de Janeiro, por um dos acionistas, neto do fundador da empresa, Mario Dresselt Dedini.

certificaes. Em 2005, a Dedini se prepara para adquirir o selo ISO 14 000, relativo gesto ambiental, nas unidades da caldeiraria e fundio. No ano seguinte, procurar credenciar-se para o ISO 18 000, que trata da segurana e sade ocupacional; a etapa seguinte ser a responsabilidade social (norma SA 8000). Finalmente, caminha para atingir, por volta de 2010, o sistema de gesto integrada, quando se tornar, ento, uma empresa de excelncia. No caso da gesto ambiental, o trabalho realizado procura identificar as atividades que, eventualmente, possam causar impactos ambientais, e define as formas para sua minimizao. Essa tarefa prev a implementao de aes preventivas e corretivas, tais como reciclagem de materiais, disposio final de resduos e, tambm, o treinamento para o pessoal que atua nas vrias unidades operacionais. Para tanto, est sendo efetuado o mapeamento de cada um dos processos, trabalho que envolve, praticamente, quase todas as reas da produo.

Novas metas
Dentro de seu Plano Estratgico, traado para o perodo de 2005 a 2010, o objetivo da Dedini tornar-se uma empresa de excelncia. No se trata apenas de aperfeioar os produtos e o controle das operaes, mas, tambm, de proporcionar a seus colaboradores melhoria na qualidade de vida. As metas envolvem, ainda, a consolidao da certificao. O caminho a ser traado nessa rea longo e envolve a plena conscientizao da diretoria e o constante treinamento de pessoal. O processo passa por vrias etapas de

Reproduo de um dos certificados de qualidade (ISO 9001:2000) recebido pelas empresas Dedini

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Dedini 85 anos

Programas de produtividade
Para aumentar a competitividade nos mercados em que atua, a Dedini mantm, sistematicamente, os investimentos em programas de qualidade e produtividade, voltados para a melhoria de competitividade e atendimento a seus clientes. Buscando sempre a excelncia, a companhia vem adotando vrias ferramentas gerenciais nos seus processos operacionais. Para controlar sua variao, utilizada a metodologia Seis Sigma, de forma integrada ao sistema Kawasaki Production System (KPS), destinado reduo de desperdcios na indstria. Tanto um como outro mtodo constituem-se em prticas modernas para a melhoria dos resultados e competitividade da empresa.

a fora de um ideal

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CAPTULO 9

Atravessando fronteiras
Vivemos em uma aldeia global, um acontecimento simultneo em que o tempo e o espao desapareceram. Os meios de comunicao nos envolvem a todos e nos aproximam. Eles esto nos colocando, de novo, em contato com as emoes tribais das quais havamos nos afastado.
Marshall McLuhan (1911-1980), pensador canadense, em 1967.

m agosto de 2004, um nibus, trafegando pelas rodovias da regio de Queensland, na Austrlia, chamava a ateno de quem por ali passava. Na carroceria, levava escritas as mensagens the clean green machine e ethyl: renewable fuel and home grown energy. Algo que poderia ser traduzido como a mquina verde e limpa e lcool: combustvel renovvel e energia produzida em casa. Era o Expresso Etanol, conduzindo uma caravana de empresrios, tcnicos e membros do governo brasileiro, que viajou para o longnquo continente, com a misso de divulgar as vantagens do combustvel nacional: o lcool. Distribuindo material publicitrio, conversando com produtores de acar, dirimindo dvidas, e realizando palestras para os interessados, os integrantes do Brazilian Ethanol Roadshow percorreram vrias cidades, levando a proposta de montar um programa de uso do combustvel naquele pas, denominado Ethanol Program in Australia. A idia foi muito bem-recebida e obteve grande divulgao nos meios de comunicao, tornando-se at assunto de uma matria de capa em revista especializada. Atualmente, cresce o movimento para transformar a mistura de lcool, obrigatria na Austrlia por motivos ambientais; hoje ela apenas autorizada.

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Do grupo que participou da viagem, fazia parte um diretor da Dedini, Jos Luiz Olivrio, hoje encarregado de uma misso muito especial: consolidar a posio da empresa no mercado internacional. Ele retornou ao Brasil com boas notcias. Um dos empresrios locais, representante de uma associao de fornecedores de cana, lanou, h pouco tempo, o Austcane Project, que pretende utilizar a tecnologia Dedini na instalao da planta industrial j projetada. O empreendimento, cujo projeto foi aprovado em abril ltimo, possibilitar a produo de acar, lcool e energia de forma integrada, processando 12 000 toneladas de cana por dia. De posse do projeto de uma usina ideal com base na tecnologia brasileira, os empreendedores solicitaram o apoio do governo local, obtendo o financiamento para a realizao desse estudo; este estmulo significa uma espcie de sinal verde para o uso do etanol na Austrlia. Acredita-se que o mercado para bens de capital na Austrlia apresente bom potencial: existem hoje 29 usinas de acar em atividade, que podem

ser ampliadas para a fabricao de lcool. A partir de agora, prev-se, tambm, a instalao de novas unidades. Oportunidades como essa demonstram que a Dedini est no caminho certo. Alis, dentro de seu planejamento estratgico, considera-se a exportao como um dos principais pilares de sua expanso e ampliao de mercado. A premissa assumida de que, nos prximos anos, as exportaes estaro centradas, principalmente, em unidades de fabricao de lcool a partir da cana-de-acar, aproveitando o reconhecimento da marca Dedini no exterior, em face de sua liderana no mercado nacional. Afinal, a empresa responsvel por mais de 80% dos equipamentos instalados em usinas de lcool e destilarias do pas. Na rea de manuteno da indstria sucroalcooleira (fornecimentos de peas e componentes de reposio), a empresa exporta, atualmente, cerca de 20% de seu faturamento, com significativa participao em alguns mercados, como o do Paraguai, Colmbia, Repblica Dominicana, Estados Unidos e Amrica Central. Este comrcio

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Dedini 85 anos

est em expanso, devido ao aumento do interesse mundial em torno da produo de etanol. Outro campo em que a Dedini espera obter bons resultados no exterior, em futuro prximo, no fornecimento de caldeiras a biomassa, para co-gerao de energia eltrica. Nessa rea, a empresa detm a tecnologia e lidera as vendas nacionais. Acredita-se que, a exemplo da situao ocorrida no Brasil, esse setor dever crescer em outros pases significativamente nos prximos anos, em paralelo com a expanso da indstria de acar e lcool. Um sinal dessa abertura ocorreu recentemente, quando, em parceria com a empresa finlandesa Kvaerner, a Dedini forneceu tubules e partes de presso para caldeiras destinadas a indstrias do setor de papel e celulose, como a Arauco e CPMC Pacifico (ambas do Chile).

exterior. No se atuava com foco, objetivos precisos ou cotas a serem atingidas. Havia cinco representantes, atendendo os Estados Unidos, Amrica Central, Colmbia, Peru e Argentina. A partir de uma determinao direta do presidente Dovilio Ometto, a empresa passou a priorizar as exportaes. Ele tratou pessoalmente da dinamizao do novo departamento, acompanhando sua evoluo e os acontecimentos. A seus subordinados contou que obter sucesso no exterior era um de seus maiores sonhos, pois enxergava o grande potencial de sua empresa l fora, devido ao domnio da tecnologia e qualidade de seus produtos. De olho na globalizao, e diante da melhora da conjuntura nacional, que permitiu a retomada das atividades da Dedini no mercado interno, Dovilio Ometto decidiu que havia chegado a hora de investir na atuao junto a outros pases. Alm disso, observando a boa aceitao do sistema Reposio Garantida Dedini (RGD), cobrindo praticamente todo o territrio de um pas com dimenses continentais como o Brasil, concluiu que poderia atuar, tambm, com sucesso no exterior.

Mudana de mentalidade
At o ano 2000, existia na Dedini um setor de exportao, voltado, praticamente, a atender as consultas que vinham do

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Para aumentar sua participao no mercado externo, a administrao da Dedini est bem consciente que precisa acompanhar a tendncia mundial do comprometimento com responsabilidade: hoje, no basta mais colocar produtos, preciso vender performance. Isso implica em manter um relacionamento duradouro e aberto com o cliente, prestando-lhe assessoria em engenharia, manuteno, reposio de peas e eventuais expanses e reformas.

tcnicos da companhia efetuaram palestras e demonstraram a linha de produtos. Em um esforo de marketing, a empresa tornou-se tambm mais presente em acontecimentos como este, no Brasil e no exterior: a participao em feiras de negcio subiu de duas, em 2000, para dez, em 2005, e de cinco para trinta eventos por ano, no mesmo perodo.

Vendendo tecnologia
Paralelamente, alm de exportar bens e servios, a Dedini est negociando a transferncia de tecnologia no exterior. Historicamente, a empresa sempre preferiu vender os equipamentos, mas essa ao apresenta um limite logstico: pode haver perda de competitividade quando fornece para pases muito distantes, levando em considerao o peso e as grandes dimenses das peas. Por isso, vem estudando a comercializao de suas tecnologias, o que, em alguns casos, pode ser mais interessante do que o prprio fornecimento de bens. Foi o que ocorreu em 2003, quando assinou contrato para transferncia de conhecimentos sobre processo

Vitrine para o mundo


Aproveitando a conjuntura favorvel realizao de negcios, a Dedini aumentou, nos ltimos anos, sua participao em congressos, feiras e seminrios, com o objetivo de aumentar sua visibilidade. Assim, enviou delegaes s reunies promovidas a cada quatro anos pela International Society of Sugar Cane Technicians Congress (ISSCT), realizadas em setembro de 2001 e fevereiro de 2005, respectivamente, em Brisbane (Austrlia) e na cidade de Guatemala (Guatemala). Nesse ltimo encontro, do qual participaram 54 pases, os

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Dedini 85 anos

DEDINI EXPORTA O MAIOR E MAIS MODERNO CONJUNTO DE MOENDAS DO MUNDO


Uma notcia promissora na rea de exportao surgiu em dezembro de 2004, quando a Dedini assinou importante contrato com a empresa norte-americana U.S. Sugar Corporation, para fornecimento da engenharia de instalao, diversos equipamentos, instalao e treinamento de pessoal, destinados a ampliar a sua planta industrial, situada em Clewiston, na Flrida. O pacote adquirido, no valor de US$ 13 milhes, engloba equipamentos para preparo da matria-prima (picador, jogo de facas, desfibrador e peneiras rotativas); condutores de cana, instrumentao e controles; um tandem, com seis ternos de moendas (com dimenses de 56 por 100 polegadas), com capacidade de moagem de at 28 000 toneladas por dia, alm da superviso de montagem e instalao. Esse ser o maior em capacidade e o mais moderno tandem do mundo. Contar com os mais avanados conceitos de engenharia, aplicao de materiais e controle j empregados em instalaes similares. Trata-se de projeto indito, pois o maior conjunto de moendas fabricado pela Dedini, at ento, possua as dimenses de 54 por 90 polegadas. Nessa venda, a Dedini concorreu com cinco outras empresas de vrios pases, inclusive do Brasil. Vrios fatores parecem ter contribudo para o resultado final: desde a bem elaborada proposta, que apresentou solues inovadoras em diversos aspectos, at as reunies realizadas nos Estados Unidos pelos profissionais da empresa, quando os consultores da U.S. Sugar Corporation ficaram satisfeitos com o alto nvel de conhecimento tcnico dos engenheiros brasileiros. Colaborou tambm para deciso a visita realizada pelos tcnicos da companhia norte-americana ao Brasil. Na ocasio, puderam verificar o desempenho e a performance dos equipamentos instalados em algumas usinas nacionais. A delegao ficou, tambm, bem impressionada com a simplicidade de soluo, tanto em nvel dos equipamentos como na forma operacional. O projeto incorpora uma srie de avanos em relao aos j existentes: na mecnica, na configurao e no acabamento. Possui, tambm, alto grau de automao, sistemas especiais de travamento e de acompanhamento. Na sua fabricao esto sendo empregados materiais de alta qualidade, para diminuir os custos de sua manuteno, tais como aos inoxidveis, ligados, temperados e revestidos (submetidos a tratamento trmico para aumentar sua durabilidade). As encomendas comeam a ser entregues a partir de outubro de 2005, sendo necessrios inmeros embarques sucessivos no porto de Santos, com destino a Miami. O incio da operao est previsto para setembro de 2006, possibilitando que a empresa norte-americana passe a processar, diariamente, 38 000 toneladas de cana, em uma s unidade. Atualmente, a U.S. Sugar Corporation possui duas plantas de fabricao de acar tipo cristal, mas pretende fechar uma delas para aumentar a produtividade, diminuir os custos e melhorar assim sua competitividade no mercado.

Moenda fabricada para a U.S. Sugar Corporation (EUA), montada em Piracicaba, em outubro de 2005

de destilao para uma empresa indiana, a Uttan. O negcio, com durao de dois anos, objetiva aproveitar o grande interesse internacional no know-how brasileiro na fabricao de usinas de lcool.

Diferentes culturas
Para atender essa nova poltica de expanso, foi reorganizado o departamento de exportao, pois, para atuar com eficincia em mercados externos

so necessrios amplos estudos prvios, a respeito da legislao, cultura, gostos, preferncias, hbitos de compra e diferenas polticas, entre outros fatores, dos pases com os quais se pretende desenvolver negociaes. Alm disso, exige-se pessoal habilitado para essa tarefa, que pressupe desde o perfeito domnio de idiomas estrangeiros, conhecimento dos procedimentos de exportao, at uma cultura exportadora de todos os

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setores participantes no processo. Envolve, ainda, a adequao dos documentos internos (manuais, desenhos, especificaes etc.) s normas internacionais. Dessa forma, a empresa tratou de capacitar os colaboradores encarregados do trabalho. Cursos de idiomas foram disponibilizados para a equipe, ministrados na prpria empresa. Foram organizados, tambm, treinamentos sobre os diversos aspectos da exportao, envolvendo logstica, administrao e legislao especfica. Alm disso, sabe-se que preciso ter bastante sensibilidade e experincia para lidar com os diferentes costumes de cada povo.

Considerando a grande dimenso das obras que envolvem a construo de uma planta industrial no exterior, a Dedini sempre buscou parcerias na implantao desses empreendimentos, com o objetivo de somar esforos e baratear custos. Na maioria das vezes, essa estratgia revelou-se acertada, pois cada empresa envolvida trabalha em sua rea de especialidade, com entrosamento e foco bem definido nas atividades propostas, agregando, assim, maior valor ao produto final.

Bons resultados
Nos dias de hoje, a Dedini atua no mercado externo oferecendo seus produtos e servios, procurando expandir sua carteira de clientes, por meio de intermedirios: tradings e empresas exportadoras. Trabalha, tambm, diretamente, com pessoal prprio, operando a rede de representantes mantidos no exterior ou, ainda, em parcerias. Dessa forma, por meio da multinacional Andritz, instalada no Brasil e nos Estados Unidos, a Dedini est conseguindo efetuar negcios interessantes. Recentemente, conseguiu comercializar

Parcerias estratgicas
Ao longo do tempo, a Dedini efetuou inmeras vendas para o exterior, destacando-se o fornecimento de seis usinas completas, chave-na-mo, para a Venezuela e Paraguai, alm de mais de vinte destilarias de lcool. O fornecimento englobava no s os equipamentos, mas, tambm, a engenharia civil, eltrica e de interligaes. Alm de trabalhar com equipes prprias, a empresa contratava servios no local.

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partes de presso de caldeira de recuperao qumica, que opera em temperatura de 441C e capacidade de processamento de 171 toneladas por hora. Transaes internacionais podem ser efetuadas, ainda, pela empresa, com a utilizao de programas bilaterais de governo, sendo o brasileiro uma das partes, ou, ainda, por meio de formao de joint ventures (associaes) com companhias de outros pases. Participa, tambm, de licitaes de organismos financeiros internacionais e de auxlio a pases em desenvolvimento. Em conseqncia dos esforos e mudanas implementadas, as exportaes da Dedini evolu-

ram onze vezes entre 2000 e 2004, passando de R$ 6,8 milhes para R$ 75 milhes, enquanto as transaes globais da empresa cresceram trs vezes: de R$ 203,5 para R$ 597,9 milhes. Assim, adquiriram maior significado nas vendas totais. O bom desempenho deve continuar em 2005, quando se espera atingir R$ 78 milhes. A meta da administrao dobrar sua participao no faturamento global da empresa at 2010. Existem, tambm, projetos para instalar unidades de operao em outros pases, principalmente para atender os grandes centros produtores de acar e lcool, a partir da cana-de-acar. No incio, tais locais efetuaro servios de reformas em peas e fornecero componentes de reposio, mas, no futuro, podero se transformar em unidades produtoras. Atualmente, est sendo analisada a possibilidade de implantao de tais plantas no Mxico e Estados Unidos e, tambm, em outros pases na Amrica Central. Nesses postos avanados pretende-se, no incio, comercializar peas de reposio destinadas aos equipamentos de fabricao do setor sucroalcoo-

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leiro. Em uma primeira etapa, a Dedini est interessada em consolidar sua posio na Amrica Latina, mas pretende, tambm, atuar nos mercados de vrios pases, como Estados Unidos, Mxico, ndia, Filipinas, Senegal, Ilhas Maurcio, Sucia, Paquisto e Etipia, entre outros.

Desidratao de lcool
Um passo importante para a internacionalizao da Dedini

ocorreu em 2004, quando, em carter pioneiro, a empresa vendeu no exterior uma planta desidratadora de lcool, por meio de peneira molecular, para a empresa Coimex Trading Company. Os equipamentos foram instalados na Petrojam Petroleos Jamaicanos, na cidade de Kingston, na Jamaica. A unidade, que entrou em funcionamento no ano seguinte, objetiva desidratar o etanol exportado para os Estados Unidos, para adio gasolina.

Preparo para embarque de alguns componentes do maior conjunto de moendas do mundo, exportado para os Estados Unidos

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Para os tcnicos que atuam na rea, a parceria estabelecida com a Coimex coloca a Dedini num seleto grupo de fornecedores internacionais e abriu as portas de um mercado muito promissor: o de tratamento do etanol. Nos ltimos anos, o produto se transformou em commodity, e vem apresentando grande procura. Em conseqncia, ser necessria a instalao de um maior nmero de unidades desidratadoras, normalmente prximas aos terminais porturios de descarga e embarque. Hoje, tais plantas existem em alguns portos, como nos de Roterd (Holanda) e Mobile (Estados Unidos), bem como no da Rssia, entre outros. Nesses locais efetuado o tratamento, que visa incorporar ao etanol as caractersticas e peculiaridades de cada pas que ir consumi-lo.

sa holandesa Paques j forneceu, pelo menos, dezesseis unidades de tratamento de efluentes para diversos pases. Estimulada pela aplicao de leis ambientais mais rigorosas e pelo aumento da conscientizao ecolgica, essa rea apresenta grande potencial de negcios na Amrica do Sul, com vendas estimadas, em 2005, em cerca de US$ 15 milhes. Outro setor atraente o de fornecimento de peas fundidas em ao e ferro, principalmente, de grande porte (acima de dez toneladas), com maior valor agregado. Os principais clientes so empresas fabricantes de bens de capital, na rea de minerao, siderurgia, cimento e hidrogerao. Nesse campo, a Dedini exporta cerca de 3 000 toneladas por ano.

Exportao: importncia estratgica


Para a Dedini, a poltica de exportaes no se constitui apenas em representao fsica fora do Brasil. Assume, antes de tudo, grande importncia estratgica, sob diversos pontos de vista:

Novos caminhos
Alm da especial nfase no mercado sucroalcooleiro, a Dedini vem procurando, tambm, expandir sua lista de clientes no exterior em outras reas. Em parceria com a empre-

Insere-se na orientao da poltica global de marketing da empresa

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Representa a internacionalizao da marca Dedini Reduz a dependncia da empresa em relao ao mercado domstico Pode ampliar o ciclo de vida de seus produtos Contribui para o aprimoramento da qualidade dos produtos e de seus colaboradores compatvel com a cultura, responsabilidade e viso delineadas para a empresa Possibilita a reduo dos custos operacionais, medida que oferece flexibilidade para trabalhar nos perodos de baixa carga nas fbricas Facilita o acesso s tecnologias mais avanadas

pases compradores, assim como os subsdios concedidos aos concorrentes provenientes de pases desenvolvidos, que possuem fartos recursos financeiros. Dessa forma, a administrao da Dedini vem trabalhando para conseguir, junto s instituies governamentais brasileiras, a disponibilizao de linhas de financiamento que operem com taxas de juros compatveis com o mercado internacional para seus clientes, alm de uma maior abertura para garantias diferenciadas. Acredita-se que estes so fatores relevantes para estimular o crescimento das exportaes do pas, especialmente do setor de bens de capital sob encomenda. Alm disso, considerando a volatilidade cambial reinante em quase todos os pases, e no apenas naqueles em desenvolvimento, preciso haver um mecanismo de proteo contra as variaes das moedas. Essa proteo de grande importncia para minimizar o risco das exportaes, uma vez que, nesse segmento, as operaes de venda so, sempre, de prazo mais longo, variando de seis a doze meses.

Vencendo obstculos
Para conseguir seu intento de internacionalizao, os profissionais da Dedini sabem que preciso ultrapassar muitas barreiras. Dentre as que mais dificultam os negcios no exterior podem ser citadas a burocracia, a estrutura deficiente dos portos martimos, a poltica cambial, o protecionismo importao nos

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A PRESENA DA DEDINI NO MUNDO


Acordos tecnolgicos

Alemanha ustria Estados Unidos

Holanda Itlia Japo

Sua Sucia

Representantes e agentes (julho de 2005)


Argentina Austrlia Barbados Belize Bolvia Chile China Colmbia Costa Rica El Salvador Equador Estados Unidos

Guadalupe Guatemala Guiana Francesa Haiti Honduras Ilhas Maurcio Indonsia Jamaica Martinica Mxico Nicargua Nigria

Panam Paquisto Paraguai Peru Porto Rico Repblica Dominicana Senegal St. Kitts Trinidad Tobago Uruguai Venezuela

Clientes

Argentina Austrlia Barbados Belize Bolvia Canad Chile Colmbia Costa Rica Equador Estados Unidos El Salvador Etipia

Filipinas Guadalupe Guatemala Haiti Honduras Ilhas Maurcio ndia Indonsia Jamaica Martinica Mxico Nicargua Nigria

Paquisto Panam Paraguai Peru Repblica Dominicana Senegal Sucia Tailndia Trinidad e Tobago Uruguai Venezuela

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CAPTULO 10

Responsabilidade corporativa
O desenvolvimento sustentvel coloca um desafio ao tradicional modo de pensar das organizaes, pois a melhoria de sua performance no depende apenas dos produtos vendidos, dos servios prestados e do lucro auferido, mas, tambm, do impacto sobre o bem-estar humano e social e da manuteno do ambiente, do qual a vida depende.

Colaborador da Dedini na fbrica de Sertozinho (SP)

uito tempo antes que se tornasse uma prtica comum nas empresas brasileiras, a Dedini j exibia uma extensa folha de servios prestados a seus colaboradores e comunidade em que se insere. Essa mentalidade pioneira, to preconizada nos dias atuais, se deve a seu fundador, Mario Dedini. Ele deixou registradas, tanto na cidade em que viveu, como na memria das pessoas que amparou, inmeras provas de solidariedade e, principalmente, de respeito por quem com ele trabalhava. A ponto de uma funcionria da empresa, com bastante atuao na rea social comentar: Mario Dedini foi um daqueles homens que nascem com uma aura clara, transparente, e uma vocao para se tornar uma alma solidria, que deixa marcas para sempre. Quem concorda com esse testemunho o advogado Gustavo Jacques Dias Alvim, hoje reitor da Universidade Metodista de Piracicaba (Unimep), que atuou na Dedini durante dezessete anos, entre 1965 e 1982. Ele conta, em depoimento de junho de 2005, que, quando foi contratado, a empresa no enfrentava, na realidade, grandes problemas jurdicos; havia algumas questes tributrias, dvidas na elaborao de contratos, cobranas e poucas pendncias trabalhistas. Alis, a respeito de seus funcionrios, o advogado foi instrudo por Mario Dedini, por ocasio de sua contratao: Veja bem, no quero

Instituto Ethos, em 2005.

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que sejam ignorados os direitos dos meus trabalhadores. Tudo deve ser pago e cumprido direitinho. Gustavo Alvim diz que tal declarao o impressionou muito, pois na poca a maior parte de seus clientes no adotava essa filosofia. O atual reitor da Unimep guarda boas recordaes do trabalho na Dedini: Para mim, foi uma verdadeira escola, pude crescer profissionalmente e aprendi muito com a figura inesquecvel de Mario Dedini, homem simples, de pouca instruo, mas inteligente e criativo. Era um grande empreendedor, dotado de generoso corao, sempre preocupado em ajudar na soluo dos problemas da comunidade. Assim, em consonncia com seu modo de ser, Mario Dedini fundou, em carter pioneiro, a Caixa Beneficente dos Empregados da Oficina Dedini, em 1954. Era uma organizao jurdica de direito privado, sem fins lucrativos, com autonomia administrativa para gerar recursos e oferecer benefcios de amparo aos trabalhadores. Os fundos necessrios para seu funcionamento provinham dos prprios funcionrios, que, a cada ms, colaboravam com 2% de seus vencimentos e, tambm, do prprio idealizador do siste-

ma. Mario Dedini contribua com o equivalente ao dobro do valor arrecadado junto a seus colaboradores. Com isso, o empresrio garantia, de forma sustentvel, assistncia mdico-hospitalar e farmacutica a todos. Exigia, tambm, que esse atendimento fosse sempre de boa qualidade. O sistema evoluiu com o tempo, acompanhando a expanso das empresas. Transformou-se em Servio Social e Beneficente dos Empregados de M. Dedini S.A. Metalrgica e, mais tarde, em Servio Social dos Empregados do Grupo Dedini.

A Fundao Mario Dedini


A partir dos anos 1980, passou a chamar-se Dedini Servio Social, que cuidava, tambm, de outras unidades do grupo, sendo sucedido, em 2004, pela Fundao Mario Dedini, com objetivos mais abrangentes. dirigida por um conselho deliberativo e uma diretoria executiva, que definem e coordenam os programas, as campanhas e os projetos solidrios na rea da ao comunitria. Os principais objetivos da Fundao so proporcionar

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assistncia social, mdica, hospitalar e farmacutica, procurando oferecer melhor qualidade de vida a seus participantes, alm de criar um elo de segurana e responsabilidade entre os colaboradores e a empresa. Dessa forma, age diretamente, mantendo servios prprios, ou celebrando convnios, contratos e acordos com terceiros. Alm disso, participa e promove congressos, seminrios, fruns, campanhas, feiras e outros encontros de interesse para o desenvolvimento da educao familiar. Organiza, ainda, oficinas de motivao com carter educacional, artstico e cultural, bem como palestras, enfocando temas que estimulam valores ticos e a cidadania. Procura, ainda,

oferecer oportunidades de aprendizado, e incentivar aes de responsabilidade social e de preservao do meio ambiente. Outra misso da Fundao intensificar programas de parcerias na comunidade, por meio de aes consistentes, principalmente, aquelas voltadas para o desenvolvimento social. Nesse sentido, promove doaes a entidades assistenciais, cumprindo as condies e limites estabelecidos pelo seu Conselho Deliberativo. A Fundao Mario Dedini composta por todos os colaboradores da Dedini que, com seus dependentes, somam mais de 8 000 usurios do sistema. Em 2004, possua uma receita de aproximadamente R$ 4,5 milhes por ano. Os fundos para sua manuteno provm da contribuio

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Controle automatizado de operaes na Fundio Dedini, em Piracicaba (SP)

efetiva das empresas (70%) e dos funcionrios associados (30%). Alm das contribuies, fazem parte do seu patrimnio os recursos oriundos de diversas aes, como, por exemplo, doaes espontneas e receitas de promoes, entre outras.

Driblando a inflao
No passado, outra importante iniciativa de cunho social foi a Cooperativa de Consumo das Firmas Dedini Ltda., onde os colaboradores da empresa podiam adquirir gneros de primeira necessidade com excelentes condies de preo e qualidade. Surgiu em dezembro de 1964, pelo idealismo e entusiasmo de 62 fundadores, tendo Dovilio Ometto como presidente. Foi a segunda a

instalar-se na cidade (a primeira foi a Cooperativa do Engenho Central). O principal objetivo era restaurar o poder de compra dos operrios, castigados pela inflao e pelos altos preos praticados pelo comrcio local. Em 1965, a Cooperativa possua novecentos associados e sede prpria. A diretoria era constituda pelos prprios trabalhadores, enquanto a Dedini fornecia subsdios e toda a infra-estrutura necessria. A entidade funcionou durante muito tempo com sucesso, e foi desativada somente em outubro de 1996.

Mudana de mentalidade
No decorrer do tempo, o trabalho na rea social nas

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Dedini 85 anos

empresas Dedini abandonou o carter, at certo ponto, assistencialista, em que se procurava cobrir quaisquer necessidades de seus colaboradores, em termos de oramento, sade e educao. Nos dias atuais, os conceitos e valores da moderna administrao se modificaram e se ampliaram. As aes empresariais se afastam da simples benemerncia; pensase mais em termos de incluso social. Por isso, desenvolvemse na Dedini os projetos com potencial transformador, priorizando atividades culturais, educacionais, esportivas recreativas, entre outras. Nesse sentido, procura-se dialogar com as partes interessadas (stakeholders), mobilizando a rede de contatos, descobrindo formas de melhor inseri-las na estrutura corporativa, sempre respeitando sua diversidade tica, religiosa e cultural. Um exemplo disso so os programas desenvolvidos com voluntrios, que contam, inclusive, com a participao de outras companhias. Uma das primeiras aes realizadas com esse enfoque nas empresas Dedini, foi a cons-

tituio, em 2003, do Comit de Responsabilidade Social. Composto por acionistas, diretores e profissionais do setor, a entidade recebe, analisa pedidos e aprova doaes para os programas considerados consistentes, e que possam agregar maior responsabilidade sua imagem institucional. Segundo os especialistas da rea, o trabalho de insero social caminha em paralelo com a inovao tecnolgica, priorizando a conservao do ambiente e o uso de energias limpas, como formas de reduzir o impacto das atividades econmicas sobre os recursos naturais, e beneficiando a comunidade como um todo.

A Dedini tem como


princpios do seu comportamento e do seu processo decisrio: a tradio, a qualidade, o empreendedorismo, o comprometimento, alm da responsabilidade tcnica, comercial e social. Esses valores so exercitados no cotidiano pela administrao e colaboradores.

Valores imutveis
Dessa forma, a administrao da Dedini tem plena conscincia que seu maior patrimnio so seus colaboradores e, portanto, vem se adequando aos novos tempos para melhor cumprir as responsabilidades. Assim, formulou uma abrangente poltica com base em sua misso, valores e crenas, que norteiam seu desempenho.

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Poltica corporativa das empresas Dedini em 2005

Satisfazer as necessidades de seus clientes Proporcionar o mais alto nvel de satisfao de seus colaboradores Promover a iniciativa, a criatividade, as competncias tcnica e gerencial, visando permanente melhoria em todos os nveis da empresa Buscar a contnua utilizao de novas tecnologias para operar com elevada qualidade, produtividade e lucratividade Conciliar o desenvolvimento de suas atividades com a preservao do ambiente Atuar com responsabilidade social na comunidade na qual est inserida Atender aos interesses de seus acionistas

Dedini atua em sintonia com o departamento de recursos humanos. A primeira proporciona a necessria assistncia de sade aos funcionrios e seus familiares. Promove atividades educativas e culturais, cumprindo variado calendrio anual de eventos, estimulando a comunicao social e a integrao, por meio de diversas dinmicas de grupo. Por sua vez, o departamento de recursos humanos cuida dos aspectos relacionados ao pessoal: proviso (planejamento, recrutamento e seleo); aplicao (administrao e avaliao de desempenhos); manuteno (salrios e benefcios); desenvolvimento (treinamento) e monitorao (segurana e relaes de trabalho). Os profissionais dessa rea so encarregados da organizao do banco de horas de trabalho e do programa de participao nos resultados. O objetivo do setor cumprir a legislao trabalhista e promover justia social, por meio de benefcios e salrios compatveis. A atuao nessa rea transformou a Dedini em uma verdadeira referncia no mercado de trabalho.

Valorizando as pessoas
Ao longo do tempo, buscou-se, tambm, maior profissionalizao na companhia, sendo que, hoje, a Fundao Mario

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Dedini 85 anos

Evoluo do nmero de colaboradores* (1999-2005) Dedini S.A. Indstrias de Base

A Dedini considera seu grande diferencial competitivo os colaboradores que contribuem na produo de bens e na prestao de servios. Em 2005, eles somam quase 4 000 pessoas, atuando nas diversas unidades de So Paulo (Piracicaba e Sertozinho) e do Nordeste (Recife e Macei).

Fonte: diretoria Dedini. (*) inclui efetivos e terceirizados (**) previso

Sade em primeiro lugar


A Fundao Mario Dedini tem procurado aperfeioar cada vez mais seu sistema administrativo. Ampliou o nmero de convnios com hospitais, com mdicos de vrias especialidades, e com laboratrios de anlises clnicas, colocados disposio dos colaboradores da empresa. Sistematicamente, ouvem-se os usurios para avaliar a qualidade do atendimento, e hoje o ndice de satisfao com os servios recebidos se situa por volta de 80%.

Mantendo benefcios
Apesar da grave crise enfrentada pela Dedini nos anos 1990, houve muita preocupao da administrao em resguardar, na medida do possvel, os benefcios adquiridos. Mesmo assim, foi inevitvel a realizao de algumas mudanas, de forma a assegurar esses ganhos e, ao mesmo tempo, adequar o nvel de gastos na rea com que a empresa poderia arcar, em tempos de dificuldades. A partir de 2001, foram firmados contratos para atendimento com trs redes

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Atendimento ambulatorial a colaborador da Dedini, em Piracicaba (SP)

de farmcias da cidade, que do abatimento de 20% sobre tudo que vendem. Alm disso, os medicamentos com receita so comprados com 30% de desconto e debitados na folha de pagamento. Foram contratadas tambm duas cooperativas da cidade para prestar atendimento odontolgico aos colaboradores da Dedini e suas famlias, que operam com tabelas de preos subsidiados e permitem, tambm, o desconto em folha. Atualmente, a Dedini possui, tambm, seis ambulatrios mdicos para atendimento exclusivo dos colaboradores e prestadores de servios, instalados em suas plantas industriais.

Passaporte para a modernidade


Desde 2003, a Dedini vem preparando e divul-

gando, a cada ano, o balano social de suas empresas. Este documento , hoje, o ponto alto da gesto de responsabilidade social, ferramenta fundamental para a consolidao de uma cultura empresarial que privilegia a transparncia e permite sociedade conhecer e valorizar os esforos para conciliar o sucesso econmico com resultados positivos na rea scio-ambiental. , tambm, um instrumento de dilogo entre as partes interessadas, permitindo que se situem em relao aos concorrentes e comunidade, e aumentando a comunicao das oportunidades e dos desafios na rea de abrangncia. Uma pesquisa recente da Associao Brasileira dos Dirigentes de Vendas e Marketing (ADVB), de agosto de 2005, que recolheu dados junto a cerca de 3 000 empresas de todos os portes

Assistncia mdico-hospitalar oferecida aos colaboradores da Dedini


REDE CREDENCIADA 2003 2004 2005 (*)

Total de atendimentos Nmero de usurios


Fontes: Balanos Sociais (2003 e 2004). (*) previso

32 727 8 006

38 480 8 223

45 290 9 008

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Dedini 85 anos

Investimentos sociais realizados pelas empresas Dedini (em reais)


ITEM 2003 2004 2005 (*)

Remuneraes de funcionrios Remuneraes de terceiros Encargos Alimentao Assistncia sade Transporte de pessoal/ treinamento/ comunidade e eventos educativos Total

53 906 292,63 24 724 839,00 48 162 861,96 5 972 176,31 4 162 832,84 2 452 674,88 139 381 677,62

59 436 626,00 26 402 008,00 52 151 887,99 6 260 355,17 4 279 629,21 2 461 756,93 150 992 263,30

79 830 830,30 30 516 015,00 61 498 945,77 7 957 178,67 5 763 953,52 4 879 163,11 190 446 086,37

No h melhor investimento
do que apostar nas pessoas, em sua capacidade de aprender e

Fontes: Balanos Sociais (2003 e 2004); diretoria Dedini. (*) previso

e regies do Brasil, mostrou que a maioria delas 72% no publica balanos sociais, apesar de reconhecer sua grande importncia. Alm disso, o estudo detectou uma queda nos investimentos em aes sociais de 14% em 2004, em relao ao ano anterior. Nessa rea, a Dedini segue caminho inverso, contrariando a tendncia geral. Aproveitando a recuperao financeira de suas empresas nos ltimos anos, retomou suas aplicaes, ampliando o leque de atuao para beneficiar um nmero maior de pessoas, no s em suas fbricas, mas tambm junto comunidade em que atua.

Participao dos lucros


Acreditando que o trabalho de seus colaboradores fator decisivo na construo de seu sucesso, a Dedini criou e incentiva a participao de seus colaboradores no programa de resultados. O projeto estimula a melhoria contnua da qualidade e da produtividade e procura reduzir o absentesmo, medida que estabelece compensaes financeiras por essas atitudes positivas. O sistema de participao nos lucros foi criado por uma medida provisria do governo, e, posteriormente, transformou-se em lei com o nome de poltica de

multiplicar conhecimentos e, assim, promover a transformao social. (Zilda Arns Neumann, fundadora e coordenadora das pastorais da criana e da pessoa idosa, em 2004, no prefcio do balano social Dedini 2004).

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firmados com os sindicatos de trabalhadores das duas cidades, e mediante a divulgao interna de grficos e informaes consolidadas dos resultados atingidos, foi possvel efetuar, a mais de 2 600 colaboradores, o pagamento de valores em torno de R$ 1 100,00 a cada funcionrio, referentes ao perodo e 2003 e 2004. Essa quantia correspondia, na poca, de um salrio mdio dos funcionrios que recebem o pagamento por hora trabalhada (horistas). Para a grande maioria dos colaboradores (cerca de 70%), esta participao representou o recebimento de um 14 salrio no ano. A partir de 2005, tambm as unidades fabris do Nordeste se beneficiaro desse programa.

Capas dos Balanos Sociais da Dedini de 2003 e 2004

participao nos resultados. Trata-se de uma proposta defendida h tempos pelos sindicatos, nem sempre praticada pelas empresas. Em 1996, a Dedini instituiu o primeiro programa nessa direo. A partir de 2002, o projeto foi ampliado, contando com a representao de comisses dos funcionrios, nas unidades situadas em Piracicaba e em Sertozinho, discutindo-se metas e estabelecendo desafios. Assim, cada colaborador podia conhecer a influncia de sua participao efetiva nos resultados do negcio. Dessa forma, atravs da assinatura de acordos coletivos

Perfeita simbiose
Ao longo do tempo, as empresas Dedini conseguiram estabelecer um nvel adequado de relacionamento com as entidades sindicais. Trata-se de um convvio mais amadurecido e responsvel, privilegiando as

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negociaes ponderadas, em vez de atitudes radicais que, eventualmente, conduzem a greves e conflitos trabalhistas. Um ato positivo nesse sentido foi o movimento liderado pela Dedini, por meio de seu diretor Tarcisio Angelo Mascarim, em 1991, para a criao de uma entidade patronal com sede na cidade de Piracicaba, o Sindicato das Indstrias Metalrgicas, Mecnicas, de Material Eltrico, Eletrnico, Siderrgico e Fundies de Piracicaba, Saltinho e Rio das Pedras (Simespi). Nos primeiros tempos, a iniciativa contou com a adeso de apenas nove empresas locais, mas, em meados de 2005, possua mais de 170 filiadas. A entidade passou a participar de todas as decises importantes para os trabalhadores, principalmente aquelas relativas aos aumentos salariais, antes atreladas ao sindicato da categoria estabelecido em So Paulo. Dessa forma, foi possvel estabelecer uma negociao mais direta, rpida e positiva, uma vez que a realidade da Capital totalmente diferente daquela reinante nas cidades do interior.

Desde ento, as convenes coletivas so negociadas em Piracicaba por meio de acordos. O resultado disso foi o fim das greves. Alm disso, o Sindicato dos Metalrgicos possui, hoje, uma liderana ponderada, mais voltada para a conservao de empregos, que dialoga bem com os empresrios. Prova incontestvel desse bom relacionamento ocorreu por ocasio das comemoraes do 85 aniversrio da Dedini, em setembro de 2005. Uma das homenagens prestadas empresa, na Cmara municipal, foi iniciativa de um de seus colaboradores, o vereador Jos Luiz Ribeiro, o mais votado da histria da cidade, que tambm lder sindical. Na oportunidade, ele ofereceu diretoria uma escultura em bronze, com 22 centmetros de altura, da artista plstica Shirley Xavier da Silveira, denominada Integrao: so duas figuras, um executivo e um operrio, fundidos em uma nica pea, em perfeita simbiose, representando, como explicou Ribeiro, que na Dedini uma no vive sem a outra, convivendo em harmonia.

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Escultura em bronze denominada Integrao, oferecida pelo Sindicato dos Metalrgicos de Piracicaba a Dedini, por ocasio de seu 85 aniversrio

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Gerao de empregos
A Dedini sempre praticou poltica de manuteno de postos de trabalho, evitando, dentro do possvel, as temidas demisses. Mesmo em fases crticas, recorreu alternativa de estabelecer bancos de horas, recurso previsto na legislao. Por essa estratgia, em tempos de recesso e de baixas encomendas, o funcionrio permanece em casa, e, quando a situao melhora, volta ao servio, recebendo as horas em haver. Em uma das suas fases mais difceis, nos anos 1990, a Dedini foi obrigada a recorrer, pela primeira vez, ao mecanismo, tambm legal, de reduo de salrio e de trabalho, na sua unidade de Sertozinho. Naquela poca, havia necessidade de demitir cem dos trezentos colaboradores daquela fbrica. Graas a esse recurso, as dispensas puderam ser, ento, evitadas. Com a recente melhoria da conjuntura, a unidade de Sertozinho retomou o ritmo de trabalho, e hoje conta com 1 300 operrios.

preocupao constante da Dedini. Desde 2000, vem promovendo, em mdia, 55 000 horas de treinamento ao ano. Somente em 2004, cada funcionrio recebeu, em mdia, 21 horas de cursos de aperfeioamento. A partir de agora, essas aes devem ser ampliadas mais ainda, pois uma das estratgias estabelecidas pela administrao, para o primeiro decnio de 2000, desenvolver seu capital humano. Como diz um dos diretores: As mquinas podem ser vendidas, se deterioram, ficam ultrapassadas, mas as pessoas e o conhecimento adquirido so,

Capacitao de pessoal em Escola Senai, em Piracicaba (SP), entidade apoiada pela Dedini

Investindo no pessoal
A capacitao de todos os colaboradores sempre foi uma

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Capacitao e aperfeioamento de mo-de-obra nas empresas Dedini


2000 2001 2002 2003 2004 2005(*)

Nmero de pessoas treinadas

2 131

2 644

2 682

2 520

2 600

3 111

Fonte: Departamento de Recursos Humanos. (*) previso

realmente, nossa prioridade. Investindo nelas se ganha em comprometimento, em produtividade e em resultados. Dessa forma, buscando a elevao gradativa das competncias de seus colaboradores, a Dedini organiza sistematicamente vrios programas de desenvolvimento profissional. Fiel ao objetivo de preparar futuros gestores e lideranas, desenvolvidos em paralelo ao crescimento previsto dos negcios, no Brasil e no exterior, o departamento de Recursos Humanos tambm iniciou, em maro de 2005, o programa de trainees das empresas Dedini, que contou com a inscrio de 250 candidatos, dos quais dezoito foram selecionados. Inicialmente, os contratados passaram, durante sessenta dias, por perodo de integrao e ambientao. Na oportunidade, conheceram em detalhes todas reas, negcios e mercados de atuao das empresas Dedini.

Aps a fase de adaptao, efetuou-se uma customizao das atividades e projetos a serem desenvolvidos pelos novos profissionais, em suas respectivas reas de trabalho. Nessas atividades, os jovens estiveram sempre acompanhados por funcionrio experiente designado pela empresa, uma espcie de padrinho. Da mesma forma que ocorria no passado, na antiga Oficina Dedini, quando os aprendizes se desenvolviam com a bno de um operrio mais velho que ensinava e avalizava seu desempenho.

Buscando integrao
Propiciar condies favorveis para melhorar a qualidade de vida de seus colaboradores um desafio constante de todos os gestores das empresas Dedini. Procurando estreitar os relacionamentos e promover a inte-

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ESPORTE PARA TODOS


As empresas Dedini possuem longa tradio no apoio aos esportes amadores em Piracicaba, revelando talentos e contribuindo para que a cidade se sobressasse em inmeras competies esportivas. Desde 1989, por exemplo, patrocina o programa municipal Desporto de Base, criado com o objetivo de oferecer oportunidades para que os cidados crianas, jovens, adultos, portadores de deficincias e grupos de terceira idade possam praticar e vivenciar esportes, e no somente assisti-los. O projeto considerado um sucesso e j recebeu at prmios, por ter possibilitado a instalao de ampla e diversificada rede de inter-relaes na cidade. Compe-se de um grupo de vinte professores de educao fsica e dez estagirios, que se revezam, de duas a cinco vezes por semana, para atender cerca de 3 000 interessados por ano. As diversas modalidades (futebol, voleibol, basquetebol, futebol de salo, handebol, natao, tnis de mesa, canoagem etc.) so desenvolvidas em escolas, centros comunitrios e outros locais disponveis, em quinze diferentes bairros da cidade. A metodologia aplicada envolve trs fases distintas: a ldica, de iniciao e recreao; a de aperfeioamento tcnico-esportivo, de treinamento, e a de especializao e performance de alto nvel. No raramente, os participantes do programa passam pelas trs etapas e alcanam bom nvel tcnico e competitivo. Acredita-se que parte do sucesso recente obtido pela cidade de Piracicaba em competies esportivas, como, por exemplo, nos Jogos Regionais, pode ser creditada ao trabalho esportivo de base, que propicia condies para o aprimoramento dos atletas. Uma das prioridades da iniciativa tirar menores carentes das ruas, oferecendo-lhes boas opes de recreao, dirigindo-os para atividades positivas e educando-os, atravs da prtica do esporte. Nesse quesito, os resultados tm demonstrado eficincia no desenvolvimento da capacidade fsica, motora e mental dessas crianas e, especialmente, na melhoria da sua socializao. Fiel sua tradio de apoio na rea dos esportes, a Dedini , hoje, tambm, uma das patrocinadoras da Associao de Basquetebol XV de Piracicaba, nas categorias adulto e juvenil. Dessa forma, contribui para resgatar a tradio nessa modalidade, na qual, no passado, a cidade se destacou bastante. Ao mesmo tempo, colabora para a incluso social de cerca de uma centena de jovens participantes.

Atividades esportivas patrocinadas pela Dedini em Piracicaba (SP)

grao de seus colaboradores e familiares, a Dedini desenvolve, sistematicamente, diversos programas para aumentar o bem-estar e a satisfao de uma populao estimada em mais de 8 000 pessoas. Muitas atividades realizadas visam integrar a famlia no contexto da organizao, promovendo, periodicamente, visitas de seus filhos e esposas s fbricas. Nessas ocasies, so realizados eventos culturais e recreativos. So oficinas de artes, de reciclagem de materiais, palestras, apresentaes de artistas, visitas monitoradas etc.

Dessa forma, desde 2003, formou-se um grupo de uma centena de voluntrios, que promove campanhas de doao (tais como alimentos e agasalhos), realizam visitas e prestam apoio financeiro a entidades assistenciais, hospitais, moradores de rua etc. As iniciativas recebem pleno apoio da administrao da companhia. O pessoal envolvido j conhece o reforo que receber no seu trabalho: normalmente, ao volume recolhido por meio de doaes, a administrao e os acionistas acrescentam o dobro. Para ter uma idia da importncia social dessas realizaes, basta saber que, somente com a arrecadao obtida em uma das recentes campanhas de doao de leite, foi possvel abastecer, durante trs meses, as entidades sociais de Piracicaba com o produto. Alm disso, a Fundao Mario Dedini realiza programas especficos, junto a seus colaboradores e comunidade, visando preveno de doenas, combate aos vcios, ao estresse, obesidade, entre outras. Estimula, ainda, prticas saudveis como os esportes (ver boxe na pgina anterior).

Atuao na comunidade
Nos dias atuais, os profissionais que atuam na rea social tm procurado aprimorar a conscincia comunitria dos colaboradores, estimulando uma viso para fora em direo s pessoas mais necessitadas. O trabalho, realizado nas cidades onde existem unidades fabris instaladas, procura despertar a cooperao no fortalecimento de aes sociais que contribuam para amenizar os problemas da populao mais carente.

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Dedini 85 anos

Firme na sua tradio, as empresas Dedini continuam, ainda, contribuindo para o embelezamento e progresso de Piracicaba, cidade onde est instalada desde os anos 1920. Recentemente, colaboraram, junto com a Prefeitura municipal, no desenvolvimento de vrios projetos, como os de revitalizao da orla urbana do rio Piracicaba, do Jardim Zoolgico, das construes do Memorial Repblica, do projeto do Museu de Cincia e Tecnologia e da instalao de unidades de sade em bairros carentes. Incentivam, ainda, a realizao de inmeras atividades culturais. Trabalho semelhante realizado, tambm, em Sertozinho (SP), onde est localizada uma de suas unidades fabris. Naquela cidade, a Dedini recebeu o prmio Top of Quality 2003, da Ordem dos Parlamentares do Brasil e do Ministrio da Educao e Cultura, pelos trabalhos sociais desenvolvidos na comunidade e pela colaborao na Campanha Nacional Contra as Drogas. Em 2003, foi homenageada, tambm, com o ttulo de Empresa Cidad, concedido por unanimidade pela Cmara Municipal de Sertozinho, em

reconhecimento pela sua atuao junto populao local.

Cuidando da sade da famlia


Investindo na preveno de doenas e na descentralizao do atendimento mdico, as empresas Dedini formaram, em 2003, parceria com a prefeitura municipal para desenvolver o Programa Sade da Famlia em Piracicaba. O primeiro passo foi a viabilizao da construo da unidade de sade no bairro Mario Dedini II, levando assistncia mdica sua populao, estimada em cerca de 3 500 pessoas, por meio do trabalho de agentes comunitrios mdicos, enfermeiros e auxiliares. Pelo convnio firmado, a Dedini doou os materiais necessrios construo do prdio, com cerca de 200 metros quadrados, orado, na poca, em quase R$ 30 000,00. A municipalidade ficou encarregada do fornecimento da infra-estrutura e da mo-de-obra, alm da realizao das obras. Por ocasio da inaugurao do posto de sade, Juliana Dedini Ometto, membro do

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Conselho da Dedini, declarou que a ao da empresa atendia solicitaes da comunidade, proporcionando condies para que populao, principalmente a de baixa renda, tivesse acesso medicina preventiva e assistencial: Esperamos que essa atitude sirva de exemplo a outras empresas, para que entendam que o poder pblico, sozinho, no consegue desenvolver aes que modifiquem a realidade. Esta parceria muito positiva, e, certamente, ser uma referncia na cidade. Com a instalao do programa, membros da administrao municipal comentaram, na ocasio, que pretendiam mudar o perfil da sade na cidade. Para tanto, mantinham, ento, vinte grupos ligados ao Programa de Sade da Famlia, trabalhando em diversos bairros, possibilitando a elevao do nmero de atendimentos de 10 000, em 2001, para 60 000, no ano seguinte, segundo dados da assessoria municipal de imprensa. A prefeitura considerava a participao da iniciativa privada fundamental para o processo: Devido ao porte, tradio e competncia tcnica das empresas Dedini, essa parceria torna a cidade mais forte e preparada para enfrentar os problemas do presente e

prever os do futuro, declararam, na poca, as autoridades municipais. Em dezembro de 2004, foi inaugurado mais um posto de atendimento desse importante programa municipal: a unidade de sade Armando Dedini. Desta vez, no bairro Bosque dos Lenheiros, no setor oeste de Piracicaba, um dos mais carentes da cidade. Com recursos doados por membros da famlia Dedini, foram erguidos o prdio e adquiridos os equipamentos; o pessoal foi contratado pela prefeitura.

Respeito ao ambiente
Paralelamente ao trabalho social, vrias iniciativas so realizadas em defesa do ambiente e na utilizao racional dos recursos naturais renovveis. A atuao se desenvolve em duas direes bem definidas. A primeira se revela no seu comprometimento em fornecer equipamentos destinados a reduzir a poluio e conservar os recursos naturais (como as unidades de fabricao de biodiesel e as unidades de tratamento de efluentes industriais e de esgotos domsticos), bem como os que propem o uso de energia limpa.

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o caso, por exemplo, daqueles direcionados para a co-gerao de eletricidade com o aproveitamento da biomassa, para a fabricao do lcool, das peas fundidas para gerao de energia elica e das pequenas centrais hidreltricas (PCHs). A atuao da empresa no combate poluio crescente. Durante 2004, forneceu oito plantas para tratamento de efluentes industriais, metade delas no exterior. O total de carga orgnica tratada somente por essas unidades

de 80 275 quilos de demanda qumica de oxignio por dia. o equivalente poluio diria gerada por uma populao de 600 000 pessoas. Com esses equipamentos contribui, assim, para a conservao dos recursos naturais renovveis. A segunda vertente do trabalho ambiental realizado pela Dedini se refere gesto praticada dentro de suas empresas, acompanhando a tendncia mundial de maior conscientizao em torno dessas questes. Dessa forma, por volta de 1980, foi iniciado trabalho

Plantio de rvores nativas s margens do ribeiro Guamium, em Piracicaba (SP), promovido pela Dedini, que mereceu prmio de Destaque ambiental: 2005, concedido pelo Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente (Condema)

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que objetiva otimizar o uso dos recursos naturais e minimizar os impactos causados pelos processos industriais no ecossistema. Ao longo do tempo, inmeras aes vem sendo implantadas, procurando dar um destino adequado aos resduos e efluentes, e aperfeioando o sistema de despoeiramento de materiais. Dessa forma, espera-se reduzir a emisso de particulados e melhorar a qualidade do ar. Alm disso, a Dedini foi pioneira, na regio, no aproveitamento de um dos resduos gerados na produo, a escria (borra do forno), utilizando-a para pavimentar ruas de bairros carentes da cidade.

um futuro solidrio e consiste na fabricao de artefatos de concreto para pavimentao e guias de proteo de caladas, jardins etc. A produo obtida doada a entidades carentes. Os resultados dessa iniciativa so significativos: permite o processamento e reaproveitamento de resduos da areia de fundio, cujo descarte sempre problemtico para a indstria e representa um resgate da cidadania dos detentos, contribuindo para sua reintegrao na sociedade. Alm disso, favorece as entidades beneficentes que recebem, gratuitamente, o produto fabricado. A idia de promover a ressocializao constante dentro do sistema prisional, mas nem sempre pode ser implementada, por problemas de segurana. Em Piracicaba, foi preciso vencer muitos obstculos. O sucesso da iniciativa se deve ao conjunta do grupo Dedini, que patrocina o projeto, doa a matria-prima e fornece os materiais e equipamentos necessrios ao seu funcionamento; da Secretaria de Segurana Pblica do Estado de So Paulo, e da empresa piracicabana Ambiental Paulista, encarrega-

Resgate da cidadania
Na nova Fundio, os fornos trabalham com gs natural, em substituio ao leo, e o sistema de areia opera em circuitos fechados. Com isso, possvel recuperar cerca de 90% do material utilizado, que processado para a fabricao de pisos de concreto. Esse trabalho desenvolvido com cerca de quarenta detentos da unidade prisional de Piracicaba. Iniciado em 2001, faz parte do Programa Construindo

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da da organizao das tarefas e do treinamento de pessoal. Os participantes do programa possuem equipamentos de segurana, uniformes e contam com alimentao adequada. O mais importante, no entanto, o recebimento de remunerao pelo trabalho, e a possibilidade de obter eventuais redues na pena. Com a vantagem adicional de poderem aprender um ofcio, que pode lhes ser til quando ganharem liberdade.

ribeiro Guamium, em Piracicaba nas proximidades da matriz, de onde feita a captao da gua utilizada pelas fbricas. Em rea de 70 000 metros quadrados, esto sendo plantadas 11 000 mudas de espcies arbreas nativas. Uma quantidade equivalente de rvores est sendo plantada para formar um bosque em rea de 50 000 metros quadrados, no entorno da Fundio. No futuro, o local dever ser utilizado para atividades de Educao Ambiental e de lazer para os colaboradores da empresa. A significncia do trabalho na rea ambiental comea a ser reconhecida. Em outubro deste ano, a empresa recebeu o prmio Destaque Ambiental 2005, categoria Empresa, concedido pelo Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente (Condema). A homenagem se refere implantao do projeto de recomposio florestal, que envolveu o plantio de milhares de rvores, acima citado. Segundo os membros do Condema, ao longo desses 85 anos, a Dedini tem recebido homenagens pela contribuio economia nacional, mas pouco lembrada pelas aes de proteo poluio atmosfrica, dos resduos industriais.

Reconhecimento
A Dedini possui, ainda, uma estao de tratamento de gua (ETA), que atende ao consumo das unidades fabris de Piracicaba (da matriz e da Fundio). Por meio dela, possvel melhorar a qualidade da gua e permitir sua reutilizao, reduzindo a necessidade de captao. Investimentos esto sendo consolidados para a implantao, em breve, de estao de recepo de esgotos, sendo a gua tratada obtida no processo reaproveitada no resfriamento dos fornos. Em relao ao reflorestamento, a Dedini iniciou, em 2004, projeto para recuperao da vegetao das margens do

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CAPTULO 11

Trabalhando pelo amanh


O desconhecido de ontem a verdade de amanh.
Camille Flammarion, astrnomo francs (1842-1925).

or ocasio de seu 85 aniversrio, completado em agosto de 2005, o clima de otimismo e alegria nas empresas Dedini. No para menos. A economia nacional vive um bom momento. Aps apresentar vrios meses consecutivos de queda nos preos, a inflao poder fechar o ano em 5,1%, atingindo a meta estabelecida. Em 2006, espera-se que esse ndice fique abaixo dos 4,5% previstos. Com isso, o poder de compra dos consumidores e a renda das empresas devem crescer mais. Outro fator positivo foi a gesto bem-sucedida do agronegcio e do comrcio exterior, que trouxe ao pas supervits na balana comercial cada vez mais elevados. As vendas brasileiras bateram sucessivos recordes e atingiram pela primeira vez na histria, em setembro de 2005, a marca de US$ 110 bilhes de dlares no perodo de um ano. Nesse mesmo ms, como conseqncia do bom desempenho da economia nacional o risco Brasil, ou seja, o indicador que demonstra a confiana do investidor na capacidade do pas arcar com seus compromissos externos, atingiu os nveis mais baixos dos ltimos anos. Ainda em setembro, o governo iniciou uma poltica de diminuio de juros, efetuando uma pequena reduo na taxa bsica (Selic), de 19,75% para 19,50% ao ano. Mesmo assim, os ndices praticados

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no pas continuam sendo um dos mais altos do planeta, dificultando os investimentos, encarecendo o consumo e prejudicando o crescimento do Produto Interno Bruto. Embora, em 2005, a expanso do PIB deva superar as metas previstas, situando-se em torno de 3,5%, ou talvez um pouco mais, ficar bem abaixo das marcas alcanadas por outros pases sul-americanos. Venezuela, Chile, Argentina, Uruguai devem crescer em torno de 6% no ano. Sem falar nos gigantes asiticos, como a China e ndia, que devero apresentar expressivos incrementos no PIB, da ordem de 8,8% e 7%, respectivamente. Verifica-se que o Brasil est sendo arrastado pela conjuntura mundial favorvel, que atravessa um ciclo de grande expanso. Os pases ricos apresentam grande disponibilidade para investimentos e tm canalizado tais recursos para as naes emergentes. Devido s baixas cotaes do dlar, as empresas brasileiras esto, tambm, com maior facilidade de captar fundos no exterior. Para completar o quadro favorvel, o recente anncio,

com sucesso, pelo tesouro nacional, da emisso de ttulos da dvida externa no mercado internacional em reais ampliou, ainda mais, o clima de confiana na economia brasileira. Dessa forma, so vrios os fatores que levam crena da sua definitiva consolidao, a despeito dos graves problemas polticos enfrentados pela administrao de Luiz Incio Lula da Silva, a partir do segundo semestre de 2005. Parece interminvel a sucesso de escndalos e denncias de corrupo, envolvendo parlamentares e altos dirigentes do partido do governo. A crise abalou o ndice de popularidade do presidente Lula e dificultou a votao, pelo Congresso, de matrias de grande interesse nacional, como as reformas poltica, tributria, trabalhista e previdenciria. Os analistas observam, no entanto, uma surpreendente maturidade e independncia dos agentes privados empresas, trabalhadores, consumidores, poupadores, donas-de-casa, estudantes, entre outros em relao aos problemas polticos. Os mais diversos segmentos que constituem a sociedade brasi-

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leira continuam trabalhando, incrementando a economia e impedindo, pelo menos at agora, que a paralisia do governo prejudique seu cotidiano. Nem a expectativa de eleies em 2006, que costuma prenunciar incertezas e turbulncias, reduz o mpeto da onda otimista que toma conta dos sensveis mercados no pas. Atualmente, existe uma expectativa favorvel, mesmo diante dos inmeros problemas a serem resolvidos, alguns crnicos, que dificultam o desenvolvimento brasileiro. Dentre eles, podem ser citados a m distribuio de renda, os entraves da burocracia, as deficincias na infra-estrutura, a controvertida poltica cambial e os juros altos.

menos, trinta novas unidades at 2010. Estima-se que ocuparo, juntas, rea de 805 000 hectares, e processaro cerca de sessenta milhes de toneladas de cana por volta de 2010, segundo clculos da Unio das Usinas e Destilarias do Oeste Paulista, a UDOP. A produo nacional de acar bate recordes e o lcool, mais que nunca, est em alta, devido a seu grande apelo ambiental, como combustvel renovvel e no-poluente. Alm disso, com o aumento dos preos internacionais do petrleo, a utilizao do etanol volta a ser uma alternativa extremamente interessante, do ponto de vista econmico.

Mais acar e lcool


Nesse contexto, os negcios relativos ao setor sucroalcooleiro nacional, responsveis, pelo menos, por metade da receita da Dedini, tambm esto bastante aquecidos. Em vrios pontos do territrio nacional, expandem-se as lavouras e cresce o nmero de usinas. Somente em So Paulo, espera-se a instalao de, pelo

Mercado em alta
No incio do terceiro milnio, a cadeia sucroalcooleira movimenta cerca de R$ 36 bilhes por ano, o que corresponde, aproximadamente, a 3,5% do Produto Interno Bruto. Possui grande importncia social, pois gera cerca de 3,6 milhes de empregos diretos e indiretos, congregando mais de 70 000 agricultores.

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Para se ter idia do potencial desse mercado, basta citar que mais de 50 000 empresas brasileiras so beneficiadas com as aquisies de equipamentos e insumos e com a contratao de servios, efetuadas pelas usinas de acar e de lcool. O setor apresenta hoje grande dinamismo, em termos de aumento de consumo e de recuperao de preos. No caso do lcool, os fatores que influenciaram positivamente foram a intensificao das vendas dos carros com combustvel flexvel, tendncia que parece se estender para toda a frota nacional de veculos; a reduo de impostos incidentes sobre o produto e a melhoria de seus preos de venda no mercado interno.
Detalhe de equipamentos destinados evaporao do caldo de cana-de-acar, fabricados pela Dedini

maior do que a atual, que pode fechar o ano de 2005 com at 440 milhes de toneladas de cana-deacar, segundo recente levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento, a Conab. Com relao ao acar, cujo comrcio mundial vinha apresentando crescimento vegetativo, tambm h sinais recentes de expanso. Com se no bastasse o incremento nas compras da China (que afetou a cotao internacional da commodity) e a momentnea quebra na safra de alguns grandes produtores, como a ndia, h, ainda, outro fator positivo: a deciso da Organizao Mundial do Comrcio a respeito do produto europeu. A instituio condenou os subsdios concedidos s exportaes de acar de beterraba, fabricado pelos pases que compem o bloco. Apesar da Unio Europia ter demonstrado inteno de acatar a deciso, ainda no foi tomada nenhuma medida a respeito. O fato, porm, foi suficiente para movimentar o setor. Especialistas acreditam que o Brasil possui todas as condies de preencher uma parcela significativa do mercado que se abrir com o fim

Dessa forma, a previso dos empresrios de que, entre 2005 a 2010, a demanda por etanol dobre, exigindo que o Brasil passe de uma produo atual de 16,7 bilhes para 27 a 30 bilhes de litros. Para tanto, necessitar expandir a rea plantada em cana-de-acar (hoje, so seis milhes de hectares). Com os investimentos em novas unidades, prev-se que a capacidade de moagem seja 50%

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O setor sucroalcooleiro
o nico do pas a dominar todos os estgios da tecnologia e da produo agrcola e industrial. altamente competitivo internacionalmente, pois possui o melhor desempenho, no que se refere s relaes entre rendimentos, produtividade e custos. Essa situao se deve integrao entre as bases que sustentam esse desenvolvimento: os fabricantes de equipamentos, as unidades produtivas, os centros de pesquisa tecnolgica, e o conjunto de consultores especializados.

dos subsdios, devido s condies extremamente favorveis de solo, clima, topografia, tradio, disponibilidade de reas agricultveis, e domnio de tecnologias, que aumentam sua competitividade em relao a outros pases.

presso e em reduo do consumo de vapor de processo. Estas tecnologias so comerciais e j utilizadas por vrias usinas. A falta de garantias de mercado e de uma poltica de preos para vendas dos excedentes de energia eltrica, que causavam profunda insegurana aos investidores, tendem a ser superadas com o anncio do Programa de Energias Alternativas, o Proinfa. Acredita-se que esse programa, aliado abertura de linhas de crdito disponibilizadas pelo BNDES, especficas para compra de equipamentos para gerao de vapor e energia eltrica, tero impacto positivo no setor sucroalcooleiro. Por isso, no decorrer do tempo, a maioria das usinas, buscando ganhos de competitividade, dever aderir a esse programa. Nessa etapa de seu desenvolvimento, cada vez mais prxima, tornar-se-o verdadeiras centrais energticas, e no somente produtoras de acar e lcool. Tal fato pode abrir amplo mercado para a venda de novas unidades geradoras de vapor e de energia eltrica, incluindo as caldeiras, indispensveis

Energia da biomassa
Outro mercado que evoluiu bastante nos ltimos anos foi o de gerao de energia a partir da biomassa. As usinas brasileiras conquistaram, a partir da dcada de 1980, a auto-suficincia em energia trmica e, tambm, na eltrica, por meio de sistemas de co-gerao com uso do bagao. Essa cmoda posio lhes permite que vendam os excedentes para o mercado. Nesse item, sabese que existe, ainda, grande potencial de gerao energtica, com o aproveitamento da palha da cana. Essa disponibilidade est sendo avaliada, e provvel que esse resduo seja, tambm, incorporado ao sistema de gerao de energia no futuro prximo. A viabilizao desse potencial adicional implica em utilizao de ciclos a vapor de mais alta

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modernizao e ao aumento da eficincia no parque industrial. No fornecimento desses itens, a Dedini possui grande experincia e tradio e, sem dvida, conquistar significativa fatia de mercado.

comercializar diesel misturado com biodiesel, na proporo de 2% (B2). O combustvel provm de duas usinas: a Agropalma (PA), e a Soyminas, que fabricam o produto a partir de palma (dend) e de girassol, respectivamente. Alguns grupos empresariais (inclusive, estrangeiros) esto anunciando, tambm, pela imprensa, investimentos em plantas de biodiesel, o que deve aumentar, ainda mais, no futuro prximo, a disponibilidade do produto para os consumidores. Nesse campo, a Dedini sai frente. A planta da usina Agropalma, recentemente inaugurada no Par, foi concebida e fornecida pela empresa em regime de chave-na-mo (turn key). Seus tcnicos tm recebido muitas consultas e, acredita-se que, a partir de agora, muitos negcios nessa rea devero se concretizar. Alm dos benefcios ambientais, por ser menos poluente, o uso do biodiesel representar ganhos para a economia nacional, pois reduzir as importaes de diesel importado. O programa foi criado pelo governo, tambm, como instrumento de incluso social, pois, com sua implementao, dever

Revoluo energtica
Outro fato novo que vem repercutindo positivamente no setor sucroalcooleiro o advento do biodiesel. O programa lanado pelo governo federal, em dezembro de 2004, prev a adio de combustvel renovvel ao de origem fssil. Por enquanto, a mistura opcional, mas, a partir de 2008, se torna obrigatria. Em 2013, a lei prev o aumento da mistura ao leo na proporo de 5%. Nesses nveis, no h necessidade de adaptao dos motores dos veculos. Ao contrrio: segundo os especialistas, com seu uso, o desempenho torna-se melhor, devido a seu poder lubrificante. Apostando no sucesso da iniciativa, alguns postos de abastecimento de So Paulo e Belo Horizonte, da empresa mineira Ale, comearam, em 2005, em carter pioneiro, a

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haver maior oferta de emprego e aumento de renda para quem vive e trabalha no campo. Apesar de serem poucas, ainda, as usinas em funcionamento no pas, espera-se grande expanso nesse setor. Especialistas afirmam que, caso o Brasil consiga implantar um programa nacional para utilizao do biodiesel, dever se tornar uma potncia energtica mundial, pois so quase ilimitadas as possibilidades de produo, e h muitos os pases interessados na tecnologia desenvolvida no pas. Essa iniciativa brasileira se insere perfeitamente na recente tendncia observada nas naes desenvolvidas. Na Europa, por exemplo, a previso de que, at 2010, 5,75% da energia fssil seja substituda pela renovvel e, at 2020, 20%. A Agncia Internacional de Energia prev que, at 2020, cerca de 30% da matriz energtica do planeta seja de biocombustveis. Ainda, h, no entanto, algumas dificuldades a serem vencidas para a expanso do uso do biodiesel no Brasil. Essas barreiras so econmicas, e no tecnolgicas. No momento atual, os empresrios esto aguardando medidas de ordem

fiscal para viabilizar o Programa Nacional de Combustveis. Hoje, o custo do combustvel vegetal equivalente ao do diesel derivado do petrleo, e isso no estimula os investimentos nesse campo. De acordo com a legislao em vigor que tributa o produto com altos impostos, o bioetanol perde mercado at para o metanol importado. Em visita recente a Piracicaba, em julho de 2005, o ministro da Agricultura, Pecuria e Abastecimento, Roberto Rodrigues, reiterou sua confiana no sucesso dos combustveis renovveis: Tenho certeza de que a nica sada produzir combustveis lquidos de origem vegetal. E anunciou a criao, em Piracicaba, do Consrcio de Agronegcios. O grupo envolver todas as reas ligadas bioenergia, em uma integrao que pretende a criao de uma nova commodity: o biodiesel. Em apoio a essa tese, foi anunciado, em agosto de 2005, que o governo federal estuda mudanas na lei do biocombustvel para estimular o crescimento da produo at 2008, quando o Brasil dever efetuar a mistura obrigatria de 2% ao diesel no mercado interno. Atualmente,

Cervejaria Lokal, em Terespolis (RJ)

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Nos oito primeiros meses de 2005,


os anncios de investimentos em energia, telecomunicaes, petrleo, gs, transportes e logstica pelas empresas privadas brasileiras ultrapassaram a cifra de US$ 18,7 bilhes, com crescimento de quase 75% em relao ao mesmo perodo do ano anterior, mostrando que, superada a crise, hora de retomar as expanses.

Vista geral da unidade de calderaria Dedini, em Piracicaba (SP), em 2005

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a produo no chega sequer a cem milhes de litros; e quando a medida entrar em vigor, a demanda dever atingir, aproximadamente, um bilho de litros, segundo estimativas. O governo poder realizar, tambm, leiles de venda de biodiesel para os produtores e importadores de diesel. uma maneira de criar um mercado "compulsrio" para a oferta do produto, antes de 2008. Os leiles vo, prioritariamente, ofertar a mercadoria proveniente de usinas com uma espcie de selo, garantindo que parte de sua matria-prima foi adquirida dentro da agricultura familiar.

a se explorar nesse campo no Brasil e vrios empreendimentos esto em andamento. Espera-se a reao, tambm, no fornecimento de equipamentos para a indstria petroqumica, que vem operando no limite de sua capacidade e, cuja expanso estava paralisada, nos ltimos anos. Devem surgir, ainda boas oportunidades no campo petrolfero, no s na explorao como no refino, principalmente, na regio Nordeste do pas. Novos investimentos devero concretizar-se, tambm, no segmento de papel e celulose. Outra rea de interesse o desenvolvimento de pequenas centrais hidreltricas (dez a trinta megawatts), pois as unidades de maior porte (acima de 100 megawatts) vm enfrentando problemas na rea ambiental para conseguir licena de funcionamento. Como a tendncia de demanda por energia eltrica sempre crescente, a Dedini j est procurando aumentar sua participao nesse mercado, estabelecendo parcerias com outras empresas para acompanhar a expanso dessas instalaes no pas, fornecendo os equipamentos necessrios.

Outras perspectivas
No somente no segmento sucroalcooleiro que as empresas Dedini esperam expanso de seus negcios. Com a retomada dos investimentos pblicos e privados, que devem se concretizar a partir de agora, outras reas de atuao sero, tambm, beneficiadas. Acredita-se, por exemplo, que o mercado de siderurgia e minerao continue aquecido nos prximos anos, pois h muito

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Grande motivao
Dessa forma, diante de uma conjuntura mais favorvel, as empresas Dedini se consolidam como centro de excelncia na produo e buscam, agora, aumentar sua participao no mercado internacional, praticando uma poltica de exportao mais arrojada. Com sua liderana assegurada nos setores de sua especialidade, tm investido constantemente em novas tecnologias, firmando parcerias estratgicas para fornecer a seus clientes o que h de mais moderno no mundo em termos de eficincia, qualidade, produtividade e custos. Para atuar de forma globalizada, as empresas Dedini esto perfeitamente capacitadas e motivadas para atender duas das grandes demandas da humanidade nos dias atuais: aumentar a disponibilidade de energias renovveis, diante da morte longamente anunciada do petrleo, e contribuir para a conservao ambiental, procurando a sustentabilidade dos sistemas de produo.

A Dedini est plenamente consciente de que, hoje, para atender o mercado externo com eficincia, exigida, cada vez mais, a prtica da responsabilidade social e ambiental, principalmente, por parte das empresas instaladas em pases com grande patrimnio em biodiversidade e recursos naturais, como o Brasil. Com essa viso, aproveitando a grande experincia e a tradio do passado, a administrao da Dedini, perfeitamente integrada ao conjunto de seus colaboradores, continua trabalhando, hoje, com respeito, competncia, tica e transparncia, cumprindo seu papel de empresa cidad para oferecer dias melhores para as futuras geraes. Dessa forma, respeitando seus valores imutveis, a Dedini busca garantir sua perpetuidade no mundo dos negcios, alinhada aos conselhos de seu lder, Dovilio Ometto: No somos eternos, mas podemos ser perenes. Esta uma misso audaciosa, e, ao mesmo tempo, nossa obrigao com a sociedade.

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ADMINISTRAO ESTATUTRIA DAS EMPRESAS DEDINI


SETEMBRO 2005

1. DDP Participaes S.A.


CONSELHO DE ADMINISTRAO
PRESIDENTE SUPLENTES

Juliana Dedini Ometto


MEMBROS

Jason Figueiredo Passos Jos Marcelo Jardim de Camargo Mariana de Toledo Dedini Marcos Dedini Ricciardi
DIRETORIA
PRESIDENTE

Adriana Dedini Ricciardi Giuliano Dedini Ometto Duarte Jos Luiz Olivrio Mrcia Farah de Toledo Dedini Marco Renaux Dedini Ricciardi Mrio Dresselt Dedini Sergio Leme dos Santos Tarcisio Angelo Mascarim

Tarcisio Angelo Mascarim


VICE-PRESIDENTE

Jos Luiz Olivrio

2. Dedini S.A. Indstrias de Base


CONSELHO DE ADMINISTRAO
PRESIDENTE SUPERINTENDENTES NOMEADOS

Dovilio Ometto
MEMBROS

Antonio Carlos Pereira Jos Eduardo Ribeiro Josu Aparecido Vitti Marcos Jos Ramalho Sidinei Maganhato Junior
GERENTES GERAIS NOMEADOS

Antonio Roberto de Azevedo Muller Juliana Dedini Ometto Tarcisio Angelo Mascarim
SUPLENTES

Giuliano Dedini Ometto Duarte Jason Figueiredo Passos Jos Marcelo Jardim de Camargo
DIRETORIA
PRESIDENTE

Fernando de Souza Barini Geraldo Rocha Menezes Nelson Pulitano Junior


CONSULTORES

Antonio Ernesto Ferreira Mller Basilio Vieira da Silva Netto Hermann H. Wever
2.1

Dovilio Ometto
DIRETORES

Jason Figueiredo Passos Jos Francisco Gonzales Davos Jos Luiz Olivrio Tarcisio Angelo Mascarim
DIRETORES NOMEADOS

Codistil do Nordeste Ltda.


ADMINISTRADORES

Jos Luiz Olivrio Tarcisio Angelo Mascarim


2.2

Antonio Carlos Christiano Jos Cssio Daltrini Renato Herz Sergio Leme dos Santos Sergio Tamassia Barreira

Codismon Metalrgica Ltda.


ADMINISTRADORES

Jos Luiz Oliverio Tarcisio Angelo Mascarim

282

2.3

Denel Dedini Energia e Equipamentos Ltda.


ADMINISTRADORES

2.7

Insertec Dedini Ltda.


CONSELHO DELIBERATIVO
MEMBROS

Jos Luiz Olivrio Tarcisio Angelo Mascarim


2.4

Julio Astigarraga Aguirre Julio Astigarraga Urquiza Mario Dresselt Dedini Tarcisio Angelo Mascarim
DIRETORIA

Dedini S.A. Administrao e Participaes


CONSELHO DE ADMINISTRAO
PRESIDENTE

Edison Domingos Vitti Tarcisio Angelo Mascarim


2.8

Juliana Dedini Ometto


MEMBROS

Adriana Dedini Ricciardi Giuliano Dedini Ometto Duarte Jos Luiz Olivrio Mrcia Farah de Toledo Dedini Marco Dedini Ricciardi Mario Dresselt Dedini Sergio Leme dos Santos Tarcisio Angelo Mascarim
DIRETORIA
PRESIDENTE
2.10 2.9

Dedini Service Projetos, Construes e Montagens Ltda.


ADMINISTRADORES

Jos Luiz Olivrio Tarcisio Angelo Mascarim

Comercial Paraisolndia Ltda.


ADMINISTRADORES

Jos Luiz Olivrio Tarcisio Angelo Mascarim

Dedini Corretora de Seguros Ltda.


ADMINISTRADORES

Tarcisio Angelo Mascarim


VICE-PRESIDENTE

Jos Luiz Olivrio Tarcisio Angelo Mascarim Waldimir Roberto Tremocoldi


2.11

Jos Luiz Olivrio


2.5

DZ S.A. Engenharia, Equipamentos e Sistemas


DIRETORIA

Congonhas Servios e Suprimentos Aeronuticos Ltda.


ADMINISTRADORES

Jayme Pena Schutz Tarcisio Angelo Mascarim


2.6

Jason Figueiredo Passos Tarcisio Angelo Mascarim


2.12

Dedini Refratrios Ltda.


ADMINISTRADORES

Dedini International Trading Corporation


ADMINISTRADORES

Jos Luiz Olivrio Tarcisio Angelo Mascarim

Dovilio Ometto Tarcisio Angelo Mascarim

283

Bibliografia consultada
ALDROVANDI, A. A vila e seus viles (A histria de um bairro). Piracicaba: Prefeitura Municipal de Piracicaba / Secretaria de Ao Cultural, 1991. 200p. ALLEONI, O.N. Uma fresta para o passado. A presena italiana em Piracicaba. Dcada de 1880 e 1890: vislumbres do sculo XX. Piracicaba: O. N. Alleoni, 2003. 294p. AMORIM, H. V. & LEO, R. M. Fermentao alcolica: cincia e tecnologia. Piracicaba: Fermentec, 2005. BANESPA S.A. Banespa 60 anos. Fernando Milliet de Oliveira (Apresentao). So Paulo: Projeto/PW. 1986. 132p. BARREIRA, S. Produo de biodiesel integrada com usinas de acar e lcool. Piracicaba: Dedini (palestra). Jul.2005. In: www.dedini.com.br, consultado em agosto de 2005. CARRO, A.M. & BILAC, M.B. As empresas familiares e a gerao de empregos em Piracicaba Setores industrial, comercial e de servios: agosto 1996 / julho 1999. Piracicaba: Unimep. CHRISTO, T. Histrias ao p da cana. So Paulo: Segmento. 2003. 226p. GUIA INTERNACIONAL DO LCOOL. Ribeiro Preto: Procana Informaes e Eventos, s/d. 320p. GORDINHO, M.C. lbum de lembranas de Pedro Ometto. So Paulo: Marca Dgua, 1993. 52p. GORDINHO, M.C. Os Ometto. So Paulo: a autora, 1986. 152p. HASSE, G. Filhos do fogo. Memria industrial de Sertozinho 1896-1996. Ribeiro Preto: Cu e Terra, 1996. IL BRASILE E GLI ITALIANI. Vitaliano Rotellini (apresentao). So Paulo: Fanfulla. 1906. 1 187p. LEO, R. M. Piracicaba: passado e presente. Piracicaba: Prefeitura Municipal de Piracicaba. 1988.

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COLEES DE PERIDICOS CONSULTADOS: Canal D (jornal interno) Dedini em notcia (jornal interno) Dedininforma (jornal interno) Dirio de Piracicaba Dirio de S. Paulo Fanfulla Folha de Piracicaba Folha de S. Paulo Gazeta de Piracicaba Gazeta Mercantil Jornal de Piracicaba Jornal do lcool (jornal interno) O Estado de S. Paulo Revista Mirante Revista Veja

PESQUISA DOCUMENTAL E ICONOGRFICA: Arquivos da usina Monte Alegre Arquivos empresas Dedini Instituto Histrico e Geogrfico de Piracicaba Museu Gustavo Teixeira de So Pedro Museu Histrico e Pedaggico Prudente de Moraes Museu Mrio Dedini Museu Republicano Conveno de Itu Sociedade dos Tcnicos Aucareiros e Alcooleiros do Brasil (Stab)

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Agradecimentos
Ada Brentel Adriana Dedini Ricciardi Ahyrton Luppe Campos Andr Augusto Antonio Aparecido Berto Antonio Carlos Colognesi Benedito Emerson Fernandes Carla Cynthia Smanioto Carlos Rodrigues da Silva Cssia Spinosa Cristiano Diehl Neto Denise Maria Mainardi Dulce Cardinalli Dedini Eliana Maria Garcia Haldumont Nobre Ferraz Hebe Nouer Junior Geraldo Rocha Menezes Giuliano Dedini Ometto Duarte Jos Flvio Machado Csar Leo Jos Luiz Olivrio Juliana Dedini Ometto Mrcia Farah de Toledo Dedini Marlene Tobaldini Maria Aparecida Sanches Antunes Maria Cristina Moura Rocha de Andrade Mario Dresselt Dedini Marta Regina Maganhato Rossin Mnica Santana Monclair Gomes de Almeida Norivaldo Zimmermann Ophir Figueiredo Junior Pablo Carjol Delvage Renato de Albuquerque Ferreira Rodrigo Luiz dos Santos Rodrigo Marcos dos Santos Rodrigo Sanches Sergio Leme dos Santos Silvia Maria Morales Funes Silvia Mendes Bueno Renato de Albuquerque Ferreira Rudnei Joo Furlan Tarcisio Angelo Mascarim Wilson Guidotti Junior

Entrevistas e depoimentos
Antonio Carlos Pereira Carlos Rodrigues da Silva Claudia Dedini Ometto Gianetti Dovilio Ometto Dulce Cardinalli Dedini Edna Dedini Nogueira Eliana Maria Garcia Elisabeth Flora Adamoli Simes Emilia Helena Dedini Cenedese Euclydes Rizzolo Gustavo Jacques Dias Alvim Ignes Seghessi Jason Figueiredo Passos Jayme Pereira Schtz Joo Aldrigui Neto Jos Cssio Daltrini Jos Francisco Gonzales Davos Jos Luiz Olivrio Jos Paulo Stupiello Juliana Dedini Ometto Luiz Francisco Bueno Marcos Dedini Ricciardi Marcos Jos Ramalho Mario Dedini Ometto Mario Dresselt Dedini Myria Machado Botelho Nida Dedini Ricciardi Norma Dresselt Dedini Ottilia Furlan Dedini Reginaldo de Mello Renato Herz Sergio Leme dos Santos Srgio Tamassia Barreira Tarcisio Angelo Mascarim

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