Doencas Causadas Por Virus
Doencas Causadas Por Virus
Doencas Causadas Por Virus
DOENÇAS
CAUSADAS
,
POR VIRUS'
Mirtes Freitas Lima
Thor Vinícius Martins Fajardo
1 Os autores agradecem ao pesquisador Gilmar B. Kuhn, da Embropa Uva e Vinho, Bento Gonçalves, RS, pela
concessão de fotos com sintomas de viroses para ilustração deste copítulo.
Uva de Mesa Fitossanidade Frutas do Brasil, 14
Sintomatologia e epidemiologia
rais, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, para plantas indicadoras herbáceas, por
Rio Grande do Sul e na região do Subrné- ser limitado aos tecidos do floema.
dio do Vale do São Francisco. Em São O GFkV é disseminado por meio de
Paulo, a sua incidência média em cultiva- material propagativo infectado, utilizado
res de copa e porta-enxerto foi de 58% e na produção de mudas e em enxertia. No
de 18,1%, respectivamente (KUNIYUKI; Brasil, além da cv. St. George, os porta-
COSTA, 1994). No Rio Grande do Sul, a enxertos Kober 5BB e Golia também são
mancha-das-nervuras foi detectada, ocor- utilizados na identificação do mosaico
rendo em 19,8% das cultivares produtoras das nervuras, em São Paulo (KUNYIUKI;
e em 6,9% dos porta-enxertos. A infecção COSTA, 1994).
latente também pode ocorrer em cultiva-
res de copa e de porta-enxerto.
NECROSE-DAS-NERVURAS
Agente causal Vein necrosis diseose
c
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331 pb
•
Figura 6. Análise em gel de agarose 1,5% dos produtos da RT-PCR,realizada
utilizando-se RNA total, extraído de videiras e testadas para Rupestrís stem píttíng-
assocíated vírus (RSPaV).A seta indica o fragmento específico de DNA amplificado com
331 nucleotídeos (pb = pares de base). M = marcador DNA /adder p/uso
1 - 20 = amostras de videira testadas; 21 - 23 = controle positivo; 24 = controle
negativo.
Frutas do Brasil, 14 Uva de Mesa Fitossanidade
o
A B ~
;E
"i.
>
~
j
2
- CPGLRaV-3
3
25,9
19,4
••
5
14.8
M 1 2
6
Figura 7. Western b/ot utilizando
antissoro contra Grapevine /eafroll-
associated virus 3. A seta à direita indica 7
a banda correspondente à proteína
capsidial do GLRaV-3. 1 = extrato de
videira sadia. 2 = extrato de videira 8
infectada com GLRaV-3. M = posição dos
padrões de massa molecular, em kDa. Figura 8. Hibridização dot-b/ot com
sonda não radioativa para a detecção
do Rupestris stem piHing-associated virus
(RSPaV).A (1-8) = diferentes videiras
e a revelação da membrana é feita utili- infectadas. 1B = controle negativo
(videira sadio). 2B = controle positivo.
zando-se reagentes específicos.
Outros métodos moleculares incluem
as hibridizações, Northern blot (utilizada na obra especializada, sendo mais utilizada na
detecção de RNA) e Southern b/ot (emprega- caracterização de isolados virais e, espora-
da na detecção de DNA). Em ambos os dicamente, como método diagnóstico.
casos, o ácido nucleico viral, imobilizado
em membranas de náilon} é detectado por
meio da utilização de sondas moleculares Controle
(Figura 8), constituídas por fragmentos da
sequência do genoma do vírus a ser detec- A utilização de material propagativo
tado, e que podem ser sintetizadas in vitro. livre de doenças é extremamente impor-
As sondas podem ser radioativas, ou seja, tante para culturas perenes, como a videi-
marcadas com 32p ou, ainda, as chamadas ra, multiplicada, essencialmente, por via
sondas frias, marcadas com digoxigenina. propagativa. Entre os problemas fitossa-
Para as amostras serem consideradas posi- nitários da cultura, os vírus constituem o
tivas, deve haver complementaridade entre principal grupo de patógenos dissemina-
a sequência utilizada como sonda e aquela dos por meio da multiplicação vegetativa.
do vírus presente na amostra testada e Esses infectam a videira, de forma sistê-
imobilizada na membrana, formando "du- mica, podendo ser detectados em todas
plexes". Esses resultados positivos são de- as suas partes e, nesse caso, quando as
tectados pela presença de manchas na plantas-matrizes estão infectadas, os ví-
membrana que serve de suporte para os rus permanecem nas mudas. Além da dis-
ácidos nucleicos das amostras. Essa técni- seminação, a propagação vegetativa pro-
ca é altamente específica e requer mão de picia acúmulo desses patógenos, ao longo
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de vários anos, originando doenças com- dos clones candidatos, que são plantados
plexas. em campo e avaliados por um período de
Uma vez estabelecidas nas plantas 2 a 3 anos.
do parreiral, não existem medidas curati- A avaliação sanitária das plantas se-
vas que possam ser adotadas visando o lecionadas é feita utilizando-se as ferra-
controle das viroses. Videiras afetadas mentas diagnósticas anteriormente des-
apresentam redução de vigor, declínio e critas: a indexação em plantas lenhosas
queda da produtividade, além de servi- ou herbáceas, os testes sorológicos e os
rem como fonte de inóculo viral para a testes moleculares. Clones selecionados
disseminação secundária, que ocorre por segundo os resultados desses testes cons-
meio de vetores, como insetos e nematoi- tituirão as fontes primárias de material
des, para plantas sadias. Considerando propagativo e devem ser cultivados sob
todos esses fatores, o método mais im- condições controladas, em casa de vege-
portante e eficiente para o controle de vi- tação telada.
roses em culturas perenes inclui a aplica-
ção de ações como a seleção sanitária, a
termoterapia e o cultivo in vitro, e a eli- Termoterapia e cultivo in vitro
minação de vetores.
A termoterapia associada à cultura
de tecidos pode ser utilizada na obtenção
Seleção sanitária de plantas sadias a partir de videiras in-
fectadas com vírus. O método baseia-se
o plantio de mudas certificadas, li- no princípio de que a inativação desses
vres de vírus, é de fundamental impor- patógenos em material vegetal infectado
tância ao estabelecimento de novas áreas, é possível, por meio de sua exposição
pois reduz o risco de introdução desses prolongada ao calor. Ainda, o vírus não
patógenos no parreiral. A qualidade sani- seria capaz de atingir o ápice caulinar ou
tária do material propagativo a ser utiliza- o meristema das brotações novas, surgi-
do na produção de mudas é de grande das nas plantas durante o tratamento ter-
relevância, e a seleção sanitária se consti- moterápico, pois essa condição seria des-
tui na primeira etapa desse processo. As favorável à multiplicação viral.
estacas enraizadas e as gemas devem ser O processo é trabalhoso, oneroso e
oriundas de plantas matrizes, livres de ví- demanda um longo período de tempo
rus para os quais tenham sido indexadas. para que novas videiras sejam obtidas a
Para a obtenção dessas plantas, que partir das plantas tratadas e para que o
constituem as fontes primárias de propa- processo de indexagem seja concluído.
gação, é necessário realizar várias etapas, Entretanto, é um método eficiente para a
as quais incluem a seleção sanitária e a obtenção de videiras livres de vírus. As
seleção clonal. A primeira envolve a es- plantas infectadas são mantidas à tempe-
colha de plantas dentro do parreiral se- ratura de 37°C a 38°C, por um período
gundo a conformidade varietal, vigor que varia de 30 a 150 dias ou mais, de
vegetativo, produtividade e qualidade sa- acordo com o vírus a ser eliminado. Para
nitária, observada ao longo de sucessivos o GFLV, esse período situa-se em torno
ciclos vegetativos. Videiras livres de do- de 30 a 42 dias; 90 dias para o GVB; 60 a
enças e com boas características produti- 120 dias para os GLRaVs; 150 dias para o
vas são selecionadas. Os clones oriundos GVA; e mais de 150 dias para o RSPaV.
dessas plantas são mantidos em campo e As técnicas de cultura de tecidos são
analisados por alguns ciclos vegetativos. empregadas após as plantas terem passa-
A seleção clonal é realizada pela escolha do pela termoterapia, quando os ápices
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das brotações são retirados e utilizados cochonilhas presentes nas principais regi-
na micropropagação de segmentos cauli- ões vitícolas e a magnitude de sua atua-
nares de uma gema, ou os meristemas são ção, como vetaras de vírus. Algumas das
excisados e mantidos sob condições in espécies já identificadas em parreirais
vitro. As plantas regeneradas e resultan- brasileiros são Pseudococcusviburni, P. vitis,
tes desse processo passam por procedi- P. longispinus e Planococcuscitri (BOTTON
mentos de indexação utilizando testes et al., 2007).
biológicos, sorológicos e moleculares, Segundo Botton et aI. (2007), o
descritos anteriormente, para certificação controle desses insetos é ainda uma prá-
do seu estado sanitário. Em muitos casos, tica pouco frequente, pois as cochoni-
a seleção sanitária, combinada à termote- lhas são difíceis de serem detectadas,
rapia/cultura de tecidos, é utilizada na permanecendo no solo ou sob a casca
obtenção de plantas livres de vírus e, no das videiras, grande parte do tempo. En-
caso de cultivares selecionadas, esse pro- tretanto, o controle desses insetos no
cedimento é muito importante. parreiral é muito importante e deve ser
considerado pelos produtores, principal-
mente, quando esses são vetores, estão
Controle de vetares virulíferos e podem transmitir vírus
para plantas sadias.
Apesar de o material propagativo ser Dessa maneira, o estabelecimento de
a principal via de disseminação de vírus medidas racionais é imprescindível, a
em videira, alguns desses patógenos tam- exemplo do monitoramento do vetar em
bém são disseminados por insetos e ne- campo, visando a detecção dos focos de
matoides, como descrito anteriormente. infestação e do período que as ninfas mi-
Por exemplo, GLRaV-1 e GLRaV-3 (gê- gram do solo para a parte aérea das plantas
nero Ampelovirus) e GVA e GVB (gênero (BOTTON et al., 2007) para, assim, dar
Vitivirus) são disseminados por cochoni- suporte à definição do melhor momento
lhas de maneira semipersistente. para a utilização do controle químico. Essa
De modo geral, nesse tipo de trans- estratégia busca reduzir a disseminação da
missão, o vírus é adquirido quando esses doença quando essa encontra-se estabele-
insetos se alimentam em planta infectada, cida no parreiral.
por cerca de 15 minutos. Esse tempo é O GFLV é disseminado no solo por
denominado período de acesso de aquisi- nematoides do gênero Xiphinema, que são
ção, durante o qual as cochonilhas adqui- capazes de reter o vírus por muito tempo.
rem e acumulam as partículas virais. A Quando videiras infectadas por GFLV
transmissão para videiras sadias ocorre são eliminadas, parte de suas raízes ainda
durante o processo de alimentação desses permanecem no solo, por longos anos,
insetos virulíferos nessas plantas, por cer- constituindo reservatório do vírus, que
ca de 30 minutos, entretanto, esse perío- podem ser transmitidos pelos vetores
do pode ser bastante variável. A alimen- para plantas sadias no parreiral. Dentro
tação em plantas doentes, por períodos da área, os nematoides podem ser disse-
mais longos, aumenta a eficiência de minados pelo solo, água e por meio de
transmissão desses patógenos. A multi- práticas culturais.
plicação do vírus no vetor não ocorre, as- As raízes de videira, remanescentes
sim como também não há transmissão no solo, devem ser arrancadas e destruí-
viral para os descendentes. das, e o replantio de mudas no mesmo
No Brasil, são escassas as infor- local infestado com nematoides não deve
mações disponíveis sobre as espécies de ser efetuado imediatamente, mas somen- .
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te após um período de 10 anos, em mé- brar o ciclo do nematoide vetor. Com re-
dia. Nessas e em áreas ainda não implan- lação ao controle químico, devido ao alto
tadas, o pousio prolongado, a eliminação custo do tratamento com nematicidas, é
de plantas daninhas e a fumigação do recomendado apenas em áreas muito li-
solo podem ser adotadas, visando que- mitadas, como viveiros.