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JURIS:CV:STJ:2012:43

Relator: Raúl Querido Varela

Descritores: Reivindicação de propriedade; Indeferimento liminar da petição inicial;

Processo: 1

Nº Convencional: 43/2012

Data do Acordão: 16/02/2012

Votação: vencido

Área Temática: Civil e Processo Civil

SUMÁRIO

1.A lei especial prevalece sobre a lei geral de acordo com velho Brocardo in
specialis non derogati generali.
2.A Lei 38º/VII/2009 de 27 de Abril, no seu artº32º diz o seguinte: Tomado
conhecimento da apreensão o terceiro que invoca a titularidade de coisas,
direitos ou valores apreendidos pode deduzir no respectivo processo a defesa
dos seus direitos através de requerimento fundamentado em que alegue e
prove factos de que resulta a sua boa-fé.

DECISÃO TEXTO PARCIAL

Não disponível.

DECISÃO TEXTO INTEGRAL

Acordam, em conferência, no supremo Tribunal de Justiça - 1ª


Secção.

P, solteiro, comerciante, residente em São Lourenço dos Órgãos,


intentou a presente acção de reivindicação de
propriedade contra o Estado de Cabo Verde, pedindo que este
seja condenado a reconhecer o direito de propriedade do A
sobre os prédios sitos em Palmarejo e a devolver-lhos ao seu
legítimo dono, propriedade essas que foram declaradas
perdidas à favor de Estado por sentença proferida num
processo-crime e que foi confirmado por acórdão do STJ 98/2010
de 01 de Julho, alegando que não foi ouvido nesse processo.

O Mº Juiz indeferiu liminarmente a petição com o fundamento de


que a decisão que declarou os imóveis perdidos à favor de
Estado foi proferida no âmbito de um processo-crime por tráfico
de droga e branqueamento de capitais e a defesa de direitos de
terceiros de boa-fé deve ser feita por incidente próprio que corre
por apenso à acção criminal, sendo materialmente incompetente
a jurisdição cível.

Inconformado recorreu o A que apresentou doutas alegações


concluídas do seguinte modo:
I- A competência afere-se em função do pedido.
II - O pedido concreto do ora recorrente é a da ineficácia de uma
decisão judicial relativamente a ele que envolve a perda de
um direito de propriedade por violação do princípio do contraditório.
III – O Tribunal Comum é o Cível e a plenitude da jurisdição civil
pertence em primeira instância ao Tribunal de Comarca.
IV - O Juiz da causa violou, portanto, os artigos 68º e 69º do CPC.
V - O Juiz da causa violou o direito de acesso à justiça que tem
dignidade constitucional.
VI- Violou igualmente o direito ao contraditório e o direito a um
processo
justo e equitativo.
Não houve contra alegações.
Corridos os visto legais cumpre decidir.
O ora recorrente intentou acção de reivindicação de propriedade
contra o Estado, pedindo lhe seja reconhecido o direito de
propriedade sobre dois imóveis em poder de Estado e que este seja
condenado a devolver-lhe os referidos imóveis que indevidamente
tem em seu poder. Configura-se a acção de reivindicação prevista
no artº1308º do CC.
Só que tais imóveis foram declarados perdidos à favor de Estado no
âmbito de um processo-crime por tráfico de droga e lavagem de
capitais. A lei especial prevalece sobre a lei geral de acordo com
velho Brocardo in specialis non derogati generali.
A Lei 38º/VII/2009 de 27 de Abril, no seu artº32º diz o seguinte:
Tomado conhecimento da apreensão o terceiro que invoca a
titularidade de coisas, direitos ou valores apreendidos pode deduzir
no respectivo processo a defesa dos seus direitos através de
requerimento fundamentado em que alegue e prove factos de que
resulta a sua boa-fé.
O requerimento será autuado por apenso, notificando-se o Mº Pº
para em 10 dias deduzir oposição.
Se a questão se revelar complexa quanto a titularidade dos bens
apreendidos, o Juiz pode remeter aos terceiros para os meios cíveis
daí que cabe em 1ª linha ao Juiz/penal decidir pretensão do
recorrente.
A decisão impugnada interpretou e aplicou pois, correctamente o
direito, não merecendo censura.
Pelo exposto e nos termos referidos, decide-se negar provimento ao
recurso e confirmar o doutamente decidido na Instância a quo, com
custas pelo recorrente.
--------------------------------------------------------------------------Praia, 16 de
Fevereiro de 2012.--------------------------------------------------Ass. Drs.
Raul Querido Varela – relator, Manuel Alfredo Monteiro Semedo e
Anildo Martins – a djuntos.----------------------------------------------------
Acordam, em conferência, na Secção Cível do Supremo Tribunal de Justiça:
C. OLIVEIRA, solteiro, controlador de tráfego aéreo, residente na Prainha – Praia,
intentou, por apenso aos autos de providência cautelar de restituição provisória de
posse a presente acção declarativa de condenação, com processo ordinário contra J.
CARDOSO, ambos com os demais sinais dos autos, pedindo a condenação deste a
reconhecer-lhe o seu direito de propriedade sobre o veículo automóvel Opel corsa de
matrícula ST-19-HU e o pagar-lhe a quantia referente aos danos patrimoniais a liquidar
em execução da sentença e pelos danos morais no montante mínimo de quinhentos
mil escudos.
Para tanto, e resumidamente, alega que é dono e possuidor da referida viatura, por a
ter adquirido ao R, no valor de 1.125.000$00, mediante celebração de um contrato de
compra e venda, levado a cabo pela pessoa encarregada por este para o efeito, a E.
Ortet, pessoa que recebeu dele aquele montante e, em Abril/Maio de 2004, entregou-
lhe a viatura em causa, mantendo-se na posse da mesma, até que, em Abril de 2006, o
R veio subtrair-lha.
Juntou documentos e apresentou testemunhas.

Regularmente citado na sua própria pessoa, o Réu apresentou contestação, pugnando


pela improcedência da acção, por alegadamente não ter negociado coisa alguma com
o A e, consequentemente, não ter recebido qualquer montante deste por conta de
qualquer negócio, mas sempre foi admitindo que estava ao corrente do negócio que a
E. vinha encetando com o A.
Ainda, deduziu reconvenção, pedindo que se declare nulo e de nenhum efeito o
negócio celebrado entre o reconvindo e a Srª E. Ortet e ainda a condenação do Autor a
pagar-lhe a quantia de 1.400.000$00, uma vez que a restituição em espécie não será
possível. Como fundamento da sua pretensão, invoca os factos constantes de fls. 10 a
12 que aqui se dão por inteiramente reproduzidos.
Juntou documentos.
O Autor replicou pugnando pela improcedência da reconvenção, concluindo
como na petição inicial.
O Réu treplicou reiterando a sua posição, concluindo como na reconvenção.
Elaborou-se Despacho Saneador que concluiu pela existência de todos os
pressupostos processuais e pela validade e consistência da instância.
Organizou-se a Especificação e Questionário que não sofreram reclamação.
Realizada a audiência de discussão e julgamento, a Mmª juiz a quo proferiu
douta sentença, julgando parcialmente a acção procedente e, em
consequência,
1. Condena o Réu:
a) A reconhecer o direito de propriedade do Autor sobre a viatura de marca
Opel Corsa de matricula ST-19-HU;
b) A pagar ao Autor a quantia de 96.000$00 (noventa e seis mil escudos), a
título de privação do uso da referida viatura;
2. Mas, absolve o Réu do restante pedido formulado pelo Autor. E, finalmente,
3. Julga improcedente, por não provada, a reconvenção e, em consequência,
absolve o Autor do pedido.
Inconformado, o R interpôs o presente recurso, concluindo profusamente o
seguinte;
«- A Sra. Estela não agiu como representante do recorrente na venda do
veículo automóvel;
- Não tinha poderes conferidos para representar o recorrente e
consequentemente ter legitimidade no contrato de compra e venda;
- Não agiu nesse mesmo negócio com base em contrato de mandato, nem com
base em mandato com representação e muito menos em mandato sem
representação;
- Muito menos muito menos como mandatário sem representação com
mandato para alienar;
- O mesmo se dirá que não agiu com representação sem poderes;
- Antes promoveu uma venda de coisa alheia;
- Não houve representação formalizada em procuração e nem houve
ratificação do contrato de compra e venda se se entender que a actuação
ocorreu com base em representação sem poderes;
- Não se verificaram os requisitos de mandato sem representação de forma a
legitimar a actuação com base nesse tipo de mandato; e
- Não ocorreu a mandato para alienar do mandatário sem representação e a
existir nenhuma fundamentação a respeito foi feita na sentença;
- A sentença exarada pela Meritíssima Juiz a quo não deve proceder e o
presente recurso deve merecer provimento»;
Termina, pedindo que seja dado provimento ao recurso, mediante alteração da sentença
recorrida e sua substituição por uma outra, que julgue a acção improcedente e não provada,
por um lado e, por outro, julgue procedente a reconvenção, com todas as consequências
legais.
A instância continua válida, não se verificando quaisquer nulidades ou excepções que impeçam
o conhecimento do mérito da causa.
Não obstante a profusão das conclusões, três são as questões essências a decidir:
1º - Se o negócio feito pela E., com o conhecimento e consentimento do R, é ou não eficaz em
relação a este, o titular registado, desde Dezembro de 2004;
2º - Se, em qualquer caso, ocorreu uma transferência possessória a favor do A, desde
Abril/Maio de 2004.
3º - Se, ainda assim, o pedido reconvencional é viável.
E esta delimitação de questões deve assim ser feita, porquanto, não se pode esquecer que
estamos no âmbito de uma acção real, mais concretamente, de uma acção de reivindicação do
direito de propriedade sobre um veículo automóvel, uma coisa sujeito a registo.
Vejamos, antes, a factualidade que a instância a quo julgou provada:
«1. No dia 3 de Dezembro de 2003, a E. e o Autor encetaram negócio de compra e venda da
viatura de marca Opel, modelo Corsa, cor azul e de matrícula ST - HU - 19, pelo preço de
1.125.000$00 (um milhão e cento e vinte cinco mil escudos);
2. E combinaram o pagamento do preço nas prestações seguintes:
a) No dia seguinte, 4 de Dezembro de 2003, o Autor pagaria 200.000$00 (duzentos mil
escudos);
b) Poucos dias depois, logo que o Autor recebesse um financiamento bancário que havia
solicitado para o efeito, pagaria 800.000$00 (oitocentos mil escudos);
c) Finalmente, o Autor pagaria os restantes 125.000$00 (cento e vinte e cinco mil escudos),
assim que pudesse;
3. No dia 10 de Dezembro de 2003, o Autor já tinha pago à E. e esta recebeu, por conta da
compra do veículo automóvel supra descrito 1. 000.000$00, (um milhão de escudos);
4. E. entregou o referido veículo automóvel ao Autor em Abril /Maio de 2004;
5. E. Ortet recebeu de C. Oliveira, um irmão do Autor, o montante de 3.250.000$00 (três
milhões duzentos e cinquenta mil escudos pela venda de uma viatura Rover 75;
6.Desde do facto referenciado em 4, o Autor passou a usar o veículo, nele circulando na via
pública;
7. O Autor celebrou com a Companhia Seguradora Impar o contrato de seguro obrigatório,
referente à viatura identificada em 1;
8. O Autor levou o veículo para manutenção e assistência técnica;
9.Em Julho de 2005, o Autor viajou de férias para S. Vicente e levou o automóvel;
10. No mês de Abril de 2006, o Autor ausentou-se do Pais, por um período de dois meses e
deixou o carro à guarda do irmão A. Oliveira;
11. O Sr. A. Oliveira foi a S. Vicente e deixou o carro parado na porta do prédio onde reside, na
Praça de Palmarejo e quando voltou não encontrou o carro onde o havia deixado;
12.O Sr. A. Oliveira, supondo se tratar de um furto, apresentou queixa à Policia de Ordem
Pública e depois saiu pela cidade procurando a viatura;
13.Nessa busca encontrou o Réu a quem contou o sucedido tendo este confirmado que foi ele
quem havia levado a viatura rebocado e guardado num outro sítio;
14. E justificou o Réu que a Estela não lhe havia entregue o dinheiro da venda desse carro;
15.O Réu, apoderou-se da viatura identificada em 1, que se encontrava estacionada na porta
do prédio onde reside o irmão do Autor, A. Oliveira, junto á praça de Palmarejo;
16.O Réu é comerciante, importador grossista inscrito na Direcção Geral do Comercio
conforme alvará nº 23-PR-94;
17.O réu importou de Holanda - Rotterdam um veículo automóvel Opel Corsa Unit, identificado
em 1, que foi embarcado na data de 29 de Outubro de 2003;
18.Que foi submetido a despacho aduaneiro através do despachante oficial, Sr. José Maria
Barbosa Vicente em 5 de Dezembro de 2003;
19.Logo após o despacho o Réu entrou na posse do veículo;
20. Entre Janeiro e Março de 2004, o referido veículo esteve estacionado na oficina da Alucar, à
espera da reparação na sua ignição, entretanto avariada, onde o deixou o Réu;
21. Em Abril de 2004 o Réu regressa a Holanda, seu pais de acolhimento, onde adquire um
“kit” completo de ignição e envia-o à empresa Alucar para o conserto da viatura deixado aí
estacionado;
22. Em Julho de 2004, o Réu regressa de Holanda e constata que o veículo foi levantado da
empresa Alucar pela E. no dia 20 de Abril de 2004;
23. O Réu questionou a Sra. E. sobre o veículo e esta informou-lhe de que o Autora estava
interessado na sua aquisição e que aguardava um financiamento bancário para o pagar e,
confiando no mesmo, deu-lhe a viatura para circular;
24. Que durante os meses de Julho a Novembro de 2004, o Réu permaneceu na Praia, e sempre
que instava a Sra. Estela sobre o veículo, esta repetia sempre que o Réu aguardava o
financiamento bancário para concretizar a compra do veículo;
25. Em Dezembro de 2004, o Réu regressa à Praia insistindo sempre com a Sra. E. sobre o
negócio da compra e venda do veículo prometido concretizar, continuou sempre a proferir a
mesma justificação;
26. Em Dezembro de 2004 o Réu regista o veículo em seu nome;
27. No dia 15 de Dezembro de 2004, faleceu a Sra. E.;
28. A Senhora E. Ortet vivia em concubinato com o Réu;
29. Era e é ainda hoje de domínio público que a tal Sra. E. vendia a terceiros carros que o Réu
enviava do estrangeiro para vender;
30. Era a referida senhora que tratava de todos os assuntos do Réu relacionados com o
negócio dos carros, em quaisquer instituições públicas e privadas, como por exemplo,
Alfândega, Enapor, Despachante oficial, Conservatória dos Registos da Praia, oficinas de carros
e stands de automóveis;
31. Através da E., muita gente comprou viaturas ao Réu;
32. Foi um conhecido do Autor, de nome A. Andrade, que lhe apresentou à Sra. E, para que ela
lhe desse todas as informações necessárias para a compra do carro que o Autor pretendia
fazer;
33.A E. confirmou ao Autor que, realmente, vendia carros que vinham de fora, a mando do
Réu;
34. No dia 3 de Dezembro de 2003, a E. chamou o Autor para assistir ao desembarque da
viatura referida em 1;
36. Autor, enquanto esteve privado do veículo, por actuação do Réu, andou de táxis;
37. O Autor teve que financiar a deslocação aérea de duas pessoas para serem inquiridas no
âmbito providência cautelar de restituição provisória de posse».
**
Perante um tal quadro fáctico, e com o qual não podemos deixar de concordar,
defende o R, ora recorrente, que a decisão de reconhecer o A, ora recorrido, como
proprietário do veículo automóvel em causa, com base na alegada compra e venda,
deve ser alterada, posto que foi ele recorrente, e não este recorrido, quem adquiriu o
dito veículo por compra e venda, devidamente registado a seu favor, e que nunca o
vendeu ao A, directamente ou por interposta pessoa, embora tenha tolerado o seu
uso, precisamente, por a sua antiga companheira marital, E. Ortet, lhe ter informado
do interesse deste na dita compra;
Já, por sua vez, o A, ora recorrido, defende que comprou no R o dito veículo, por
interposta pessoa, sim, a Srª E., com quem, aliás, o R vivia maritalmente e a quem o A
pagou o preço e de quem recebeu o veículo em, questão, desde Abril/Maio de 2004.
Antes de mais, convém reafirmar que estamos a mover-nos no âmbito de uma acção
de reivindicação de veículo automóvel devidamente identificado, razão pela qual
competia sempre ao A fazer a alegação e prova do facto de que origina o direito real
invocado, qual seja, o direito de propriedade sobre o dito veículo, o que, em princípio,
teria de ser demonstrado pela via da chamada aquisição originária de domínio, por sua
parte e/ou dos seus antepossuidores, se acaso não puder beneficiar da presunção
baseada na posse ou no registo, pois sabido é que, «Nas acções reais, a causa de pedir
é o facto jurídico de que deriva o direito real», e não o próprio direito real, conforme
resulta do preceituado no nº 4 do art. 498º do Cpc.
Nesta espécie de acção, à partida, compete ao autor alegar e provar factos donde
resulta que o direito de propriedade sobre a coisa litigiosa lhe pertence e, de seguida,
que esta coisa se encontra na posse ou na detenção do demandado, a quem passará a
competir, se assim entender, a prova do contrário, assumindo assim o ónus de alegar e
provar que é titular de um direito que legitima a recusa da restituição, de tal sorte que,
havendo reconhecimento do direito da propriedade reivindicado, a restituição
somente poderá ser recusada nos casos previstos na lei, de conformidade, aliás, com o
preceituado nas disposições conjugadas dos arts. 1308º e 342º, ambos do Código
Civil[1].
No presente caso, devemos adiantar que a nossa primeira percepção é a de que a
solução encontrada pela douta sentença é acertada, pois será aquela que melhor se
adequaria à factualidade dada por provada, a qual pouco abonaria a favor de uma
decisão de conteúdo favorável ao R.
Senão vejamos.
A referida factualidade aponta claramente no sentido de que o R, que vivia no
estrangeiro, encarregava a E., pessoa com quem vivia maritalmente e residia no país,
de despachar e negociar, em nome própria, os veículos que enviava do estrangeiro,
exactamente aquilo que ocorreu na presente causa. No entanto, sempre se dirá que
não é essa prática reiterada a dever isentar o A, ora recorrido, de assumir o ónus de
alegar e provar o direito por si peticionado, pois sabido é, pelo disposto na última
disposição atrás citada, que «Aquele que invocar um direito cabe fazer a prova dos
factos constitutivos do direito alegado».
E só assim não seria, operando-se a inversão do ónus da prova, se estivéssemos no
âmbito das acções de simples apreciação ou declaração negativa, no qual, em geral,
há-de competir ao réu a prova dos factos constitutivos do direito que arroga, nos
termos recortados pelo art. 343º/1; ou, noutras acções, «(…) quando haja presunção
legal, dispensa ou libertação do ónus da prova, ou convenção válida nesse sentido, e,
de um modo geral, sempre que a lei o determine»; ou, ainda, «(…) quando a parte
contrária tiver culposamente tornado impossível a prova ao onerado (…)». É o que se
pode sacar do preceituado no art. 344º/1 e 2.
Ademais, sabido é que «Quem tem a seu favor a presunção legal escusa de provar o
facto a que a ela conduz», sendo, no entanto, seguro que «As presunções legais
podem, todavia, ser ilididas mediante prova em contrário, excepto nos casos em que a
lei o proibir», nos termos enfaticamente recortados pelo art. 350º/1 e 2.
Será que qualquer uma das partes ou ambas alegaram em seu benefício presunções do
direito de propriedade?
No presente caso, que o R, ora recorrente, adquiriu a viatura em questão por compra e
venda, devidamente registado a seu favor em data posterior, não pode existir uma
qualquer dúvida, até porque é com base nesse mesmo acto de aquisição que o A, ora
recorrido, fundamenta a sua condição de transmissário da posse de proprietário dessa
mesma viatura, precisamente, por estar sobejamente provado que o R estava a par das
negociações entabuladas entre o A e Estela, pessoa esta que notoriamente vinha
assumindo os negócios das viaturas que o R ia enviando do estrangeiro, soçobrando,
então, a queixa deste em como aquela não lhe prestara contas do negócio ora em
questão.
Aliás, somente assim se podia entender que alguém, negociante profissional do ramo
automóvel, envia uma viatura do estrangeiro; faz o seu desembaraço alfandegário;
envia peças do estrangeiro e paga o respectivo conserto; recebe a notícia da pessoa
encarregue do negócio aqui em Cabo Verde que tal viatura fora entregue a um
comprador interessado, não faz absolutamente mais nada e deixa que este
comprador, até ver, dele desconhecido, utilize essa mesma viatura durante dois anos
e, perante a morte abrupta daquela pessoa, se permite apossar-se da viatura, que
estava estacionada à porta do referido comprador, só porque passou a ser o titular
inscrito e porque aquelas contas estavam em vias de nunca virem a ser prestadas, em
face do citado falecimento.
De qualquer maneira, não será o facto de o R ser o adquirente da dita viatura, e/ou o
facto de a E. ter falecido, eventualmente, sem ter prestado as contas do dito negócio,
a obstarem a transferência da posse da dita viatura para a esfera jurídica do A, com a
concomitante perda de posse por parte do R, nos termos do art. 1264º, contanto que,
na contra face, o A tenha, nos termos de qualquer uma das alíneas do art. 1260º,
adquirido o tal «poder que se manifesta quando alguém actua por forma
correspondente ao exercício do direito de propriedade (…)».
No presente caso, é indubitável que o A indicou uma forma legítima de adquirir a dita
viatura, qual seja, a realização da compra e venda celebrado com o R, o anterior
possuidor, embora na pessoa da sua notória encarregada de negócios do ramo
automóvel, adquirindo assim a posse a dita viatura nos termos da al. b) do citado art.
1260º. E, convenhamos, não se pode separar esse animus possessório do A,
direccionado à efectivação de um negócio com E., a pessoa disso encarregada de facto
por aquele anterior possuidor, pois que, conforme ensina Manuel Rodrigues [2], «Ao
acto jurídico, quando existir, se há-de recorrer sempre para averiguar qual o animus
daquele que, em virtude dele, detém a coisa.
E contra a vontade que da causa deriva não é permitido alegar uma vontade concreta
do detentor, salvo se este houver invertido o título da posse».
Mas, mesmo que assim não tivesse sucedido, o exercício ostensivo e reiterado, com
publicidade, de actos materiais correspondentes ao exercício do direito de legítimo
proprietário da viatura, traduzido num uso intensivo de uma coisa com alta taxa de
desvalorização (12,5% ao ano, segundo a Tabela de Amortização e Reintegração,
publicada pela Portaria nº 3/84, de 28 de Janeiro), e por um relativamente largo
período de dois anos, não deixaria de ter provocado a perda da inicial posse do R, pois
sabido é que o possuidor perde a posse pela cedência, sim, mas também pela posse de
outrem, mesmo contra a vontade desse antigo possuidor, se a nova posse houver
durado por mais de um ano. Di-lo muito claramente o citado art. 1264º/1 c) e d).
É certo que, contra esta situação, alega o R que tolerou o uso pelo A da viatura em
causa, mas nada apoia uma tal tese, pois que não alegou uma qualquer razão especial
que pudesse justificar que alguém, negociante profissional no ramo automóvel, assim
procedesse. Ou seja, entre o A e o R não havia qualquer relacionamento pessoal, (pelo
menos não vem alegado) a justificar um acto de favor de tamanha grandeza, e por um
período de tempo relativamente tão dilatado. Ademais, não é, por conseguinte, crível
a única justificação apontada pelo R, em como teria consentido ao A essa alegada
utilização precária, singelamente, por a sua companheira marital lhe ter informado que
o A havia solicitado um empréstimo bancário, com vista à realização da respectiva
compra.
É uma explicação pouco inteligível no âmbito do comércio de veículos, de tal sorte que
nada poderá ser apontada à alegada aquisição da posse da dita viatura por parte do A,
nos termos anteriormente referidos, e não é o facto de o R entender que se tratou de
venda de coisa alheia, a obstar essa aquisição possessória, acompanhada da
concomitante perda possessória de sua parte, pois sabido é que a posse fundada em
qualquer modo abstractamente legítimo de adquisição da coisa, independe quer do
direito do transmitente e quer da validade substancial do negócio jurídico, unicamente
podendo essa aquisição ser catalogada presuntivamente de má-fé, por falta de título,
algo que interfere unicamente com o alongamento do prazo de adquisição originária
do direito correspectivo, via usucapião, nos termos conjugadamente prevenidos nos
arts. 1256º, 1257º e 1284º e segs.
No caso presente, não está em causa a aquisição originária do direito de propriedade
sobre o dito veículo, mas tão-somente, como vimos já, a sua aquisição por via
presuntiva: no registo vigente desde Dezembro de 2004, a favor do R; ou, antes, na
comprovada posse a favor do A, a partir de Abril/Maio 2004, perante a insubsistência
da cedência precária alegada pelo R. Ademais, não será a alegada nulidade do
contrato de compra e venda a mudar o rumo desse entendimento.
A este último propósito, fosse defensável a nulidade do negócio por falta de
legitimidade da Estela, e não fosse esta a pessoa encarregada pelo R para fazer o
negócio em questão, de duas, uma: ou se socorre desse negócio, nulo embora, para
estabelecer o animus da posse do A; ou, se parte do entendimento de que o negócio
nulo não produz qualquer efeito, e, então, o recurso à presunção legal ou judicial para
estabelecer a intenção daquele que detém o corpus se apresenta como última saída.
Manuel Rodrigues[3] toma posição a um tal propósito, asseverando «(…) que nestas
hipóteses, e mesmo em face da teoria da causa, se deve admitir o princípio de que um
acto jurídico embora nulo, de nulidade absoluta, tem o valor de imprimir à posse o seu
carácter, e portanto que é por ele que se há-de averiguar qual o animus do
adquirente».
Por conseguinte, estando provado que a transferência de posse do veículo em questão
teve por causa um contrato de compra e venda celebrado, verbalmente, com o
anterior dono e possuidor, o ora recorrente, mas por intermédio de interposta pessoa,
a E., sua então companheira marital, pessoa que notoriamente entabulava esses
negócios em nome próprio, mas por conta do R, ora recorrente, não se pode deixar de
tomar esse negócio como causal da posse da R, independentemente de estar
formalizado o negócio entre o representado e aquela representante voluntária.
Semelhante posse, por não ser titulada, era presuntivamente de má-fé, nos termos do
nº 2 “in fine” do art. 1257º, mas tal presunção é de se considerar ilidida por prova em
contrário, já que, manifestamente, ao adquirir tal posse, a R ignorava que o direito de
quem quer que fosse, designadamente do representado R, estivesse a ser posto em
causa, sobremaneira, quando entregara à pessoa que lhe conferiu a posse do veículo
em causa, alegadamente, a mando do R, mais de 85% do preço combinado, contra o
competente recibo passado por aquela pessoa.
Assim, é de se considerar que a posse R era de boa-fé, nos termos do nº 1 do mesmo
artigo atrás citado.
Porque tal posse foi tomada de forma pública, de boa-fé, continuamente, e sem
violência, mas também sem ser levada a qualquer registo, não está em condições de
tempo para justificar a aquisição do correspectivo direito de propriedade, por a
usucapião, nos termos prevenidos pelo art. 1295º.
Mas, então, como resolver um tal conflito, perante a presunção da existência do
direito de propriedade com fundamento numa posse iniciada pelo A em Abril/Maio de
2004, contra a presunção decorrente do registo efectuado a favor do R somente em
Dezembro desse mesmo ano, sendo certo que este perdera a sua posse, mediante a
posse melhor e incompatível daquele.
Para resolver um tal conflito de presunções, preceitua o art. 1265º/1 que «O possuidor
goza da presunção da titularidade do direito, excepto se existir, a favor de outrem,
presunção fundada em registo anterior ao início da posse».
Quer isto muito singelamente significar que a posse surge com clara prevalência sobre
o registo, pois que, se este tiver a mesma idade, prevalecerá sempre a posse em
detrimento do registo.
No presente caso, a posse do A sobre a viatura em questão é 7 meses mais antiga que
o registo efectuado a favor do A.
Assim sendo, a douta decisão recorrida não podia deixar de considerar que a compra e
venda invocada pelo A é válida e eficaz, a ponto de provocar a transferência a favor
deste da posse do R, que, por seu turno, perde essa mesma posse,
independentemente dos contornos pouco claros do seu relacionamento com a E.,
notoriamente, sua encarregada de negócios no ramo automóvel, aqui em Cabo Verde.
E o que dizer sobre a decisão do pedido reconvencional?
Para basear o seu pedido reconvencional, qual seja, o da declaração da nulidade da
compra e venda do veículo em questão, o R invoca que a E., vendera ao A coisa que a
ele R pertencia, abrigando-se no preceituado do art. 892º, que previne e sanciona
aquela invalidade negocial.
A isto, e por aquilo que se tem por provado, sempre se dirá que nem o A alegou que o
contrato de compra e venda do referido veículo fora negociado pela Estela, no
interesse próprio desta, mas, sim, sempre a mando e no interesse do R; nem este
alguma vez entendeu que a Estela estava a negociar como se fosse dona do dito
veículo, algo que ficou claro, quando a esta pedira explicações sobre a entrega desse
veículo ao A; e nem a E., (ou seus sucessíveis) é parte nesta acção para assumir ou,
então, negar que negociara, com o A, a referida viatura em nome e interesse próprios
dela.
Por outro lado, a referida invalidade não está legalmente desenhada para acudir às
situações da espécie indicada pelo R, ora recorrente, pois que, o dono que não tenha
participado na alineação de uma coisa de sua pertença não tem interesse, pelo menos
directamente, em invocar o referido instituto jurídico unicamente perante o
comprador, para fazer reverter a seu favor a coisa negociada por outrem como se
coisa própria fosse.
Perante semelhante situação, querendo recuperar tal coisa, restará aquele que se
considera dono, neste caso o R, reivindicar a coisa para si, se e quando não interviera
de nenhum modo no negócio invocado pela parte contrária, sobremaneira, quando
não faz intervir a pessoa que alegadamente vendera coisa dele R. E somente uma
participação do R num tal negócio poderia tornar inteligível esse pedido de declaração
de nulidade, mas é o próprio R a alegar que não participara nele.
Portanto, mais do que a simples declaração de nulidade – a sanção civil que o citado
art. 892º fulmina a disposição de coisa alheia, melhor talhado para regular os
interesses daqueles que intervieram no negócio subjacente – uma tal disposição de
coisa será, no entanto, completamente ineficaz, em relação a quem se considera dono
dessa mesma coisa, objecto de um tal negócio, precisamente por nele não ter
intervindo, pouco ou nada interessando a este a invocação de uma tal invalidade.
Aliás, a um tal propósito, tem a doutrina portuguesa, produzida no âmbito de
normativo muito semelhante, entendido[4], una voce, que «a nulidade da venda
prescrita no art. 892º apenas se refere, no entanto, às relações entre o vendedor e o
comprador da coisa alheia. No que se refere ao verdadeiro proprietário da coisa, a
venda como “res inter alios acta”, é verdadeiramente ineficaz».
Aliás, basta uma leitura perfunctória do regime legal especial em questão,
comparando-o com o regime geral, para se aperceber, por exemplo, que a ausência no
processo da pessoa dada pelo R como vendedora, a E., inviabiliza o debate quer sobre
a boa ou má-fé desse interveniente no negócio que se pretende nulo, quer sobre o
dever de restituição do preço a favor do comprador da coisa negociada, quer sobre a
convalidação desse negócio nulo, se e quando o dito veículo fosse transaccionado
como se fosse propriedade do alegada vendedora, etc., nada que impeça o verdadeiro
dono de accionar aquele que estiver na posse ou na detenção da coisa reivindicada.
Poderia caber, sim, ao comprador, o A, ora recorrido, aproveitar-se da consagração do
princípio da nulidade do contrato, a invocação dessa invalidade contra a alegada
vendedora E., caso esta tivesse agido no interesse próprio, «(…) antes e
independentemente de ver a sua posse sobre a coisa afastada ou prejudicada pela
reivindicação da coisa por parte do seu verdadeiro proprietário (…)»[5]. Ademais,
somente pela via desse instituto jurídico, eventualmente, poderia o comprador
conseguir a convalidação do negócio ou a restituição do preço pago na referida
transacção, nos termos dos arts. 894º e segs.
Mas, não é isso que aconteceu, pois que, como se referiu já, quer o A e quer o R
sempre encararam uniformemente o papel da E., no dito negócio: o de alguém que
estava a vender e a receber o preço, a mando e no interesse do R, que não de simples
angariadora de clientes para negociar directamente com o R. De resto, não fosse
assim, mal se perceberia como é que o R deixara que a utilização da viatura por parte
do A se prolongasse por dois anos, para só depois empreender a acção directa de
recuperação de tal coisa. E se assim fez, deveria, ao menos, demonstrar que cedera a
sua posse ao A a título precário, algo que não ficou demonstrado, até porque não se
dignou a apresentar nenhuma prova nesse sentido, quiçá, confiando única e
cegamente na presunção decorrente do registo.
Daí que devia, sim, concluir pela reivindicação da propriedade da dita coisa, se não
com base numa posse que perdera já, mas então com base na presunção do registo,
de modo que somente lhe restaria tal possibilidade, se falhar, como falhou, a alegação
de cedência a título precário a favor do A, que, na contra face, conseguiu provar, à
saciedade, que a Estela Fernandes era quem se encarregava de todo o negócio de
veículos que o R enviava do estrangeiro, e que foi nessa qualidade que tal negócio se
realizara, pouco importando os aspectos de forma do mandato existente entre a E., e o
R, além da confessada vivência marital entre estes, sendo, no entanto, seguro que a
transferência da posse de proprietário do A, ora recorrente, para o R, ora recorrido, se
deu com base nesse negócio patrocinado pela E., mas no interesse daquele.
Não obstante, o R reconvinte não teve a ousadia de reivindicar para si o veículo em
questão, escudando-se na invocação de uma nulidade que, legalmente, não foi
especialmente prevenida para beneficiar quem, como ele, pretende ser ainda dono
que não interveio no negócio translativo da coisa que ele pretende nulo, precisamente
por essa falta de sua intervenção.
Enfim, não tendo o dito veículo sido dado como coisa perdida ou materialmente
destruída, também não é compreensível o pedido de condenação do A no pagamento
do respectivo valor, quando o pedido da sua restituição e da concomitante
condenação do A no pagamento de uma indemnização a título de violação do direito
de uso seria a via legalmente prevenida para casos semelhantes.
Nesta conformidade, e sem necessidade de mais considerações, acordam os juízes da
Secção Primeira do STJ em negar provimento ao recurso, confirmando a douta decisão
recorrida.
Custas pelo recorrente, com procuradoria a favor do A, que se fixa em 6% do valor da
causa até 1.500 contos e 3% sobre o valor excedente.
Registe e notifique.
Praia,
Texto processado e revisto pelo Juiz Relator.

____________________________
/Manuel Alfredo Monteiro Semedo/Juiz Relator

[1] Diploma a que pertencerão os demais normativos doravante citados, salvo indicação expressa em contrário.
[2] In A posse - Estudo de Direito Civil Português. pag. 222.

[3] In A Posse Estudos de Direito civil Português; Ed. Almedina Coimbra 1981. Pag. 224.

[4] Pires de Lima e Antunes Varela, in Código Civil Anotado, Vol. II. da Coimbra Editora Limitada; 3ª Ed. Revista e actualizada. Pag.
190.

[5] Ob. Cit. Pag. 190 e vº.

Descritores:

Providência Cautelar; Reivindicação de propriedade; Restituição provisória da posse;


Compra e venda/Nulidade;
Acordam, em conferência, na 1ª Secção do Supremo Tribunal de Justiça:
No Juízo Cível do Tribunal da Comarca de Santa Catarina, M e
marido, com identificação nos autos, intentaram a presente
providência cautelar de restituição provisória de posse contra A,
identificada na pi, alegando em síntese que o prédio rústico
identificado na pi está na sua posse há muitos anos por força de
um contrato de arrendamento com os anteriores proprietários
mas que no dia 15 de Maio de 2011 tomaram conhecimento de
que o mesmo tinha sido invadido pela requerida com uma
máquina retroescavadora/caterpilar, tendo feito terraplenagem
e uma fossa e acomodando terras no interior do prédio o que
impede os requerentes de semear como vinham fazendo de há
anos.

Inquiridas as testemunhas a Mª Juiz deu como provado a posse e


esbulho invocado e ordenou a providência requerida.

Inconformada veio a requerida da providência interpor recurso para este


Tribunal e apresentou doutas alegações assim concluídas:
A requerida é a única possuidora e legitima proprietária do
terreno em causa;

A cópia do contrato nos autos apresentado pela requerente não


pode fazer fé
em juízo, por ser um título inidóneo;

Não se vislumbra dos autos qualquer ligação entre a requerente


e os titulares
referidos na cópia do contrato;

O despacho foi decidido sem observância dos pressupostos


legais, com a
violação dos art. 393º do CPC;
Não houve contra-alegações.

Por acórdão nº48/2012 de 29 de Fevereiro decidiu-se a questão


prévia do efeito atribuído ao recurso, confirmando-se a decisão
da 1ª Instância.

Cabe agora decidir a questão de fundo.

A requerida da providência cautelar não se conformando com a


decisão que decretou a penhora interpôs recurso que foi
admitido como agravo para subir em separado.

Nos termos do artº742º do CPC aplicável, cabe as partes


indicaram por meio de requerimento nas 48 horas seguintes à
notificação do despacho que admitiu o recurso para subir em
separado, as peças do processo de que pretendem certidão para
instruir o recurso.

A Secretaria só tem a obrigação de transcrever a decisão de que


se recorre e o requerimento para a interposição do agravo deve
ainda certificar narrativamente a data da apresentação do
requerimento de interposição de recurso, a data da notificação
ou publicação do despacho ou sentença de que se recorre e o
valor da acção.

Cabe assim ao agravante o ónus de instruir o recurso.

O Tribunal ad quem só poderá requisitar, em caso de falta, os


elementos de transcrição obrigatória.
O recorrente vem discutir a matéria de facto mas este Tribunal
não dispõe de elementos para censurar a decisão da Instância a
quo sobre a matéria de facto porque não conhece a prova
produzida na 1ª Instância, sendo certo que impende sobre a
agravante o ónus de instruir o recurso.

Pelo exposto e nos termos referidos decide-se negar provimento


ao recurso com custas pela agravante, confirmando-se a douta
decisão impugnada.------------------Praia, 15 de Junho de
2012.-----------------------------------------------------------------

Aass. Drs. Raul Querido Varela – relator, Manuel Alfredo


Monteiro Semedo e Anildo Martins –
adjuntos.------------------------------------------------------------------
URIS:CV:STJ:2013:54

Relator: Anildo Martins

Descritores: Recurso contencioso; Acto administrativo; Embargo Administrativo; Recorribilidade


do acto; Tempestividade do recurso;

Processo: 24.2003

Nº Convencional: 06/2013

Data do Acordão: 18/02/2013

Meio Processual: Contencioso Administrativo

Área Temática: Direito Administrativo

SUMÁRIO

O embargo configura uma medida de tutela cautelar da legalidade urbanística


traduzida na suspensão imediata dos trabalhos em curso e consequente paralisação ou
suspensão da licença, quando esta tenha sido previamente concedida. Por estarmos
perante uma obra licenciada, o embargo traduz-se num acto sobre acto (ou acto de 2º
grau) na medida em que os seus efeitos vão repercutir-se sobre acto anterior que é o
acto de licenciamento da obra, cujos efeitos são suspensos.

DECISÃO TEXTO PARCIAL

Não disponível.

DECISÃO TEXTO INTEGRAL

Acordam, em conferência da 3ª Secção, os Juízes do Supremo Tribunal de


Justiça:
I. A COOPERATIVA X (adiante recorrente), com sede na Praia,
representada pela sua Direcção, com os demais sinais identificativos nos
autos, impugnou contenciosamente o acto da CÂMARA MUNICIPAL DA
PRAIA (adiante CMP ou e.r.) que decretou o embargo à obra da
recorrente, datado de 26.09.2003, pedindo a anulação desse acto, por
estar inquinado dos vícios de violação de lei, vício de forma e
incompetência, e ainda a condenação do Município da Praia a pagar-lhe
uma indemnização no valor de um milhão de escudos, por danos
decorrentes da ilegal paralisação da obra em referência.
Juntou os documentos de fs. 9/28 (auto de embargo, certidão do registo
predial e PUDP, Plano Urbanístico Detalhado do Palmarejo) e
posteriormente de fs. 49/51 (pedido de esclarecimento datado de
09.10.2003) dos autos.
A entidade recorrida apresentou a sua resposta (fs. 36/40) à p.i.
defendendo a irrecorribilidade do acto recorrido, a intempestividade do
recurso por o acto recorrido ser meramente confirmativo de outro
anterior e concluindo no sentido da improcedência do recurso.
Nas suas alegações a recorrente reiterou os termos da sua p.i..
O MP emitiu o seu parecer no qual defende que o acto não é
contenciosamente impugnável por confirmativo de acto anterior qual seja
o de 25.07.2003; que a decisão de 26.09.2003 que decretou o embargo da
construção do muro de protecção padece de violação de lei e de
incompetência; e que a recorrente não provou os requisitos da
responsabilidade civil pelo que não procede o pedido de indemnização.
Conclui que deve ser rejeitado o recurso e, se assim se não entender, que
se lhe deve dar parcial provimento com absolvição da e.r. quanto à
indemnização peticionada.
Corridos os vistos legais cumpre decidir.
II. A questão de fundo a apreciar e decidir nos presentes autos cifra-se em
saber se, por um lado, o acto impugnado padece dos vícios que lhe são
imputados, e se, por outro, se deve proceder o pedido de indemnização
formulado.
É a seguinte a factualidade pertinente que resulta da prova documental
constante dos autos:
1º Consta da Conservatória dos Registos da Região da Praia (Secção Predial, Comercial
e Automóvel) a inscrição nº 18.765 de um tracto de terreno para construção sito em
Cova Minhoto, medindo 10.000 m2, com as confrontações seguintes: “Norte com
Planalto, Sul com mar, Leste com Cova Figueira e Oeste com rocha Preta” –
documentos de fs. 10 e 11;
2º Pelo Edital nº 8/97 da Câmara Municipal da Praia fora aprovado o Plano Urbanístico
Detalhado (PUD) e respectivo regulamento de Palmarejo Cova Minhoto – documento
de fs. 12/14;
3º À recorrente foi inicialmente concedido o “Alvará de licença” datado de 17.02.2000
e válido até 17.08.2000 – doc. de fs. 16;
4º Após requerimento da recorrente – fs. 17 -, à mesma foi concedido o “Alvará de
licença” nº 377, de 19.06.2003, válido até 17.09.2003 – docs. de fs. 18 e 19;
5º Através do auto de embargo datado de 25.07.2003 foi notificada a Cooperativa X
nomeadamente “para imediatamente suspender todos os trabalhos de construção
urbana que já deu início em Palmarejo – “Cova de Minhoto” – documento de fs. 21 dos
autos;
6º A ora recorrente deduziu “reclamação” (fs. 22) a esse embargo através de
requerimento dirigido ao Presidente da Câmara Municipal da Praia solicitando que “se
digne mandar suspender o referido embargo”;
7º Sobre esse requerimento, o PCMP proferiu o seguinte despacho: “Após ter
verificado “in loco” a situação dos trabalhos em execução pela Cooperativa de
Habitação X, determino a suspensão do embargo, por ser o mesmo declarado contra-
senso. Cumpra-se”.
8º Uma vez retomadas as obras de construção do muro de vedação, as mesmas vieram
a ser suspensas através do embargo de 26.09.2003, nos termos do qual a Cooperativa
X foi notificada nomeadamente “para imediatamente suspender todos os trabalhos de
construção urbana que já deu início em Cova de Minhoto” – documento de fs. 9 dos
autos;
9º O recurso contencioso deu entrada na Secretaria deste STJ a 07.11.2003 – p.i. fs. 2.

*
Vejamos primeiramente as questões prévias suscitadas e que respeitam à
(ir)recorribilidade do acto impugnado e à (in)tempestividade do recurso
interposto.
Entende a e.r. que o acto impugnado é confirmativo do embargo anterior,
este datado de Julho de 2003, e que também se trata de um acto de
natureza provisória.
Entretanto após esse embargo de Julho, foi proferido despacho, após
requerimento da ora recorrente, pelo PCMP no qual foi ordenada a
suspensão do embargo. Assim sendo, tal despacho deve ser entendido
como acto revogatório desse embargo decretado em Julho de 2003. Tanto
é assim que após esse despacho foram retomadas as obras de construção
do muro de vedação.
Depois de retomadas as obras sobreveio o embargo de 26 de Setembro.
Esse embargo (de Setembro) possui executoriedade própria já que
determinou a paralisação das obras que estavam, de novo, em curso. Esse
embrago não é confirmativo do anterior por conter lesividade própria
para a esfera jurídica da recorrente. O embargo de Julho havia sido
revogado pelo já mencionado despacho do Presidente da CM.
A conclusão que se afigura correcta é a de que esse embargo de Setembro
não constitui um acto confirmativo do embargo de Julho pelo facto de
lesar por si próprio direitos da recorrente daí que seja contenciosamente
impugnável nos termos gerais.
O embargo administrativo definiu a posição jurídica última da entidade
pública e não está a sua duração ou execução dependente de qualquer
acto ou processo posterior produzindo por si efeitos que se projectam na
esfera jurídica de terceira pessoa, “in casu” da ora recorrente, sendo por
tal razão contenciosamente impugnável.
A ocorrência de acto administrativo posterior visará a resolução da
situação jurídica pendente em função dos novos factos que vierem a
ocorrer.
No que respeita à alegação de não se tratar de um acto definitivo, há que
ter em atenção que o artº 5º do DL 14-A/83 elegera o critério da
definitividade e executoriedade do acto administrativo como requisito
para a sua impugnação contenciosa.
A Constituição da República de 1992 veio diferentemente dispor no seu
artº 245º, alínea e), que os cidadãos podem impugnar contenciosamente
os actos da AP que lhes sejam lesivos. A recorribilidade ou
irrecorribilidade contenciosa dos actos administrativos prende-se agora,
face ao disposto no mencionado artigo 245°, alª e) (em conjugação com o
artº 22º, nº 1) da CRCV, não pelo facto de serem (ou não) definitivos e
executórios, mas sim por ofenderem[i] ou lesarem (ou não) direitos ou
interesses legalmente protegidos.
Nos termos dos arts. 245º, alª e) e 22º, nº 1, da CRCV, é garantido a todo o
cidadão o direito de acesso aos tribunais para obter a tutela jurisdicional
efectiva dos seus direitos sempre que estes tenham sido lesados.
Assim sendo, razoável é admitir que a precedência obrigatória de
impugnação administrativa deve ser mantida nos casos especialmente
previstos na lei[ii], a não ser que daí (desse recurso hierárquico necessário
ou obrigatório) resulte uma restrição intolerável ou a supressão do
exercício do direito de acesso ao contencioso administrativo.
O embargo decretado introduziu ou comportou efeitos pessoais para a
recorrente ou para a sua actividade que foram claramente afectados pela
emissão do referido acto e cuja tutela jurisdicional terá de ser efectuada
no âmbito do recurso contencioso.
Desde que se trate de um acto da AP (seja Central ou Local) que lesa
algum direito ou interesse legalmente protegido de determinado
particular, é-lhe facultada a via contenciosa para impugnar tal acto. “In
casu” o embargo de Set. 2003 causou prejuízos à recorrente (que
entretanto não quantificou) ou foi potencialmente idóneo a causar tais
prejuízos, dada a paralisação das obras dele decorrente.
Sendo tal acto directamente lesivo ou com potencialidade lesiva dos
direitos da recorrente, afectando negativamente a sua esfera jurídica
atendendo a que a obra havia sido autorizada pela própria e.r., mediante
licença de construção, que assume a natureza de acto constitutivo de
direito, tal embargo é directamente impugnável pela via contenciosa.
Relativamente à questão da tempestividade do recurso, importa ter
presente que a p.i. deu entrada na Secretaria desta Suprema Instância a
07.11.2003; sendo o embargo datado de 26.09. e o prazo para o recurso
de 45 dias (previsto no artº 16º, nº 1, do DL 14-A/83), conclui-se que o
recurso é tempestivo.
*
A recorrente pede a anulação do embargo administrativo ao qual imputa
os vícios de violação de lei, vício de forma e incompetência. Pede ainda a
condenação da e.r. a pagar-lhe uma indemnização no valor de um milhão
de escudos por danos decorrentes da ilegal paralisação das obras em
referência.
No que respeita à indemnização, embora cumulável nos termos do artº
21º, nº 5, do DL 14-A/83, todavia, tal pedido é de se rejeitar na medida em
que nem sequer a recorrente invocou os requisitos da responsabilidade
civil, em particular não alegou quais os danos que terá sofrido, nem muito
menos forneceu quaisquer elementos de prova que pudessem comprovar
a verificação de tais requisitos.
As fotografias de fs. 24 e 25, os únicos elementos de prova que a
recorrente apresenta, concernem às obras em curso ou já paralisadas e
não aos eventuais danos decorrentes de tal paralisação.
Cabe aferir da sorte do presente contencioso no que respeita a um
embargo de uma obra licenciada pela própria Câmara Municipal.
Alega a recorrente que o embargo foi decretado pela Vereadora da área
do Urbanismo pelo que esse acto está ferido do vício de incompetência.
Nos termos do 98º, nº 1, alª e), do Estatuto dos Municípios[iii] compete ao
PCM “Ordenar a demolição de quaisquer obras, construções e edificações
realizadas sem licença ou com inobservância das condições desta, dos
regulamentos e posturas e dos planos urbanísticos em vigor”, estando
implicitamente compreendida a competência para embargar obras.
Por outro lado, não foi sequer alegado que tivesse havido qualquer
delegação de poderes. Esta não se presume, antes decorre da verificação
de certos requisitos (vd. artº 103º do Estatuto dos Municípios) quais sejam
a existência de lei permissiva, acto delegatório e publicitação do acto
delegatório, requisitos que não se mostram preenchidos para além de não
terem sido alegados.
Defende a recorrente que o acto impugnado padece de vício de forma
uma vez que existe o vício de insuficiência de fundamentação.
Do auto de embrago consta o seguinte: “1. Suspensão de todas as obras
que contrariam os regulamentos existentes (o muro está interrompendo
uma via”. 2. Encetar negociações com a Direcção de Uranismo e vizinhos
que se sentem lesados; 3. Por conseguinte a Cooperativa deverá:
imediatamente suspender todos os trabalhos de construção que já deu
início em Cova de Minhoto e dirigir-se à direcção dos Serviços de
Urbanismo deste Município da Praia para legalizar a situação sob pena de
…”
Tem-se entendido que a falta de fundamentação traduz um vício de forma
na medida em que a AP não exprimiu correctamente como devia a sua
vontade normativa, razão por que esse vício afecta a forma de expressão
dessa vontade.
Daí que não procede a falta ou insuficiência de fundamentação do acto,
enquanto vício de natureza formal, se for possível conhecer, ainda que de
forma sucinta e abreviada, quer a fundamentação de facto, quer a
fundamentação de direito. Ora “in casu” é possível saber qual o
fundamento de facto que é o seguinte facto: “o muro está interrompendo
uma via”. E também a fundamentação de direito: as “obras que
contrariam os regulamentos existentes”.
“In casu”, porém, houve explicitação das razões que levaram a Vereadora
da CM a ordenar o embargo, fundamentação que foi compreendida pela
destinatária do acto, a ora recorrente, que assim se dispôs a impugnar tal
acto contenciosamente, esgrimindo as suas razões em sede do presente
recurso. Daí que não se verifica o alegado vício de forma.
*
Algo diferente consiste em saber se a fundamentação apontada pela e.r.
está em conformidade com a lei, pelo que cabe aferir se se verifica o vício
de violação de lei.
Tratando-se o embargo de um acto sobre acto e que visa a tutela da
legalidade urbanística – o interesse público específico a prosseguir pela AP
- cabe indagar sobre quem recai o ónus da prova da infracção urbanística.
“In casu” o facto alegado e imputado à recorrente é o de que o muro em
construção vai ou está a interromper uma via pública; lê-se no auto de
embargo (fs. 9) que “… o muro está interrompendo uma via”; porém, não
foram apontados os elementos probatórios com base nos quais chegou a
e.r. a tal conclusão.
No ponto 34. da sua resposta afirma a recorrida que “a recorrente, em vez
de aceder ao convite que lhe foi dirigido pela vereadora no sentido de se
dirigir à Direcção do Uranismo da Câmara para a reapreciação da questão
à luz das queixas apresentadas por vizinhos … ignorou o convite…” . E, no
ponto 38. da sua resposta, acrescenta que “Quanto ao processo
administrativo referente ao assunto objecto do recurso, a Câmara não
dispõe de mais documentação a ele respeitante, para além da que foi
junta pela recorrente”.
A verdade é que a e.r. não juntou efectivamente qualquer documento ou
outro elemento de prova, nomeadamente qualquer averiguação ou
inspecção que tivesse mandado efectuar ou eventual prova pericial.
Ora no caso dos autos estamos perante uma obra que fora previamente
licenciada pela CMP, isto é, fora observado o disposto no artº 50º nº 3 da
Lei nº 85/IV/93 (sujeição do direito de edificar à prévia aprovação
municipal).
Em tal caso o ónus da prova de que a construção licenciada não estava a
respeitar ou obedecer as normas urbanísticas vigentes ou o próprio alvará
que havia sido outorgado recai sobre a e.r., o que se traduz em infracção
urbanística imputada à ora recorrente. Tal ónus recai sobre a AP a quem
cabe fazer a prova dos elementos constitutivos da infracção urbanística.
Como já se referiu a e.r. não juntou qualquer elemento de prova que
demonstrasse a veracidade ou a efectiva verificação do facto alegado, isto
é, que “… o muro está interrompendo uma via”, antes referindo que terá
havido “… queixas apresentadas por vizinhos…” e que a Câmara “não
dispõe de mais documentação a ele respeitante, para além da que foi
junta pela recorrente”. Cabe efectivamente interrogar sobre se a e.r. se
terá unicamente estribado em “queixas apresentadas por vizinhos” ao
decretar tal embargo.
Da documentação junta pela recorrente, logo com a sua p.i., consta o
documento de fs. 23, subscrito por “Arquitecto e Mestre em Planeamento
Urbano”, do qual consta explicitamente que “a construção do muro de
protecção do condomínio X está de acordo com o solicitado a CMP e não
infringe quaisquer normas construtivas em vigor”.
Ora nem sequer tal documento, a que cabe ao tribunal livremente
apreciar a sua força probatória, foi de algum modo controvertido pela e.r.
O embargo configura uma medida de tutela cautelar da legalidade
urbanística traduzida na suspensão imediata dos trabalhos em curso e
consequente paralização ou suspensão da licença, quando esta tenha sido
previamente concedida. Por estarmos perante uma obra licenciada, o
embargo traduz-se num acto sobre acto (ou acto de 2º grau) na medida
em que os seus efeitos vão repercutir-se sobre acto anterior que é o acto
de licenciamento da obra, cujos efeitos são suspensos.
Não conseguindo a e.r. comprovar o já mencionado elemento fáctico da
infracção urbanística, tal significa que o embargo decretado padece do
vício de violação de lei, de natureza residual, já que não está demonstrado
que o interesse público, de natureza urbanística na alegada passagem de
uma via pública, foi desrespeitado pela ora recorrente.
Nestes termos deve proceder o presente recurso com a consequente
anulação do embargo impugnado.
III. Pelo exposto, julga-se parcialmente procedente o recurso interposto:

a) rejeitando-se, por improcedente, o pedido indemnizatório formulado;

b) anulando-se o embargo administrativo decretado.

Custas pela recorrente no que respeita ao pedido indemnizatório


formulado, com taxa de justiça que se fixa em 20.000$00.

Sem custas por delas estar isenta a e.r.

Registe e notifique.
Praia, 18/02/2013,

___________________________________
(Texto revisto e confirmado pelo Juiz Relator)

[i] A redacção inicial do artº 267º, nº 1, alª d), da CRCV de 1992 referia-se a actos “que
ofendam os seus direitos ou interesses legítimos”; a ideia de lesividade aparece na alª e) do
artº 241º da CRCV, após a revisão constitucional de 1999.

[ii] É nomeadamente o caso dos actos praticados por um vereador no uso de poderes que lhe
foram delegados pelo Presidente da Câmara, atendendo ao disposto no artº 104º, nº 2, do
Estatuto dos Municípios (“Dos actos … dos vereadores, no uso de competência delegada ou
subdelegada, cabe recurso necessário para a entidade delegante, com efeito suspensivo”).

[iii] Aprovado pela Lei nº 134/IV/95, de 03.07.


Descritores:

Recurso contencioso; Acto administrativo; Embargo Administrativo; Recorribilidade do


acto; Tempestividade do recurso;
JURIS:CV:STJ:2013:91

Relator: Raúl Querido Varela

Descritores: Extinção da instância; Inutilidade superveniente da lide;

Processo: 36.10

Nº Convencional: 125/2013

Data do Acordão: 31/07/2013

Meio Processual: Recurso de Agravo

Área Temática: Direito Civil|Direito Processual Civil

Legislação Nacional: Código de Processo Civil anterior

SUMÁRIO

O recurso de agravo do despacho que indefere a chamada a autoria perde objeto


e torna-se supervinietemente inútil a lide com o trânsito do recurso da acção.

DECISÃO TEXTO PARCIAL

Não disponível.

DECISÃO TEXTO INTEGRAL

EXPOSIÇÃO

Na acção com processo ordinário que M intentou contra a T., SA,


pedindo a sua condenação a pagar-lhe determinada importância
acrescido de juros por violação de contrato promessa, a Ré
chamou a autoria da Caixa económica de C. Verde o que foi
indeferido.

Do despacho de indeferimento agravou para este STJ e o recurso


foi admitido para subir imediatamente em separado com efeito
meramente devolutivo.
Entretanto a acção segiu os seus trâmites e precedendo a
audiência preparatória, proferiu-se saneador-sentença que
julgou a acção procedente por provada e condenou a Ré no
pedido.

Esta recorreu da decisão para este STJ que por acórdão de 15 de


Março de 2013, decidiu prover o recurso e revogar a decisão
impugnada e absolveu a Ré do pedido.

O acórdão transitou em julgado, deste modo o recurso perdeu o


objecto e a lide tornou-se supervenientemente inútil.

Nestes termos que são os dos dispostos no artº287 do CPC


anterior que é o aplicável é meu parecer que deve ser declarada
extinta a instância do recurso.

Praia, 29 de Julho de 2013

Dr. Raul Querido Varela (relator)

ACÓRDÃO Nº125/2013
Acordam, em conferência, na 3ª Secção do Supremo Tribunal de Justiça
em conformidade com a exposição que antecede e se dá aqui como
integralmente reproduzida em julgar extinta a instância por inutilidade
superveniente da lide, (artº287º do CPC anterior).
Custas pelo recorrente
Praia, 31 de Julho de 2013
Dr: Raul Querido Varela- relator,
Manuel Alfredo M. Semedo e
Anildo Martins

Descritores:

Extinção da instância; Inutilidade superveniente da lide;

18,

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