Tese - Gabriel Benguela
Tese - Gabriel Benguela
Tese - Gabriel Benguela
Representação
Mediáticas do Discurso e
das Ações Políticas do
Governo Angolano, em
Portugal e Angola (2017-
2020)
Gabriel Luciano Maria Benguela
Lisboa
2023
Cobertura e Representação Mediáticas do
Discurso e das Ações Políticas do Governo
Angolano, em Portugal e Angola (2017-2020)
Júri:
Presidente:
Vogais:
- Doutor Heitor Alberto Coelho Barras Romana, Professor Catedrático do Instituto Superior de
Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa;
- Doutora Felisbela Maria Carvalho Lopes, Professora Associada com Agregação do Instituto de
Ciências Sociais da Universidade do Minho;
- Doutora Paula Maria Ferreira do Espírito Santo, Professora Associada com Agregação do
Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa, na qualidade de
orientadora;
- Doutora Catarina do Amaral Dias Duff Burnay, Professora Associada da Faculdade de Ciências
Humanas da Universidade Católica Portuguesa;
- Doutor Samuel André Alves Mateus, Professor Auxiliar da Faculdade de Artes e Humanidades
da Universidade da Madeira;
- Doutor Paulo Jorge dos Santos Martins, Professor Auxiliar do Instituto Superior de Ciências
Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa.
Lisboa
2023
Agradecimentos
Como qualquer grande empreendimento, esta tese tem na sua base um trabalho
que assenta numa equipa, onde o autor principal é exposto a várias aprendizagens que
recbeu dos seus estimados Professores assim como do suporte da família, em especial do
Professor Doutor André Sango, meu sogro e amigo e sua mulher Maria da Conceição de
Almeida Sango.
À minha mulher Carla Marina de Almeida Benguela e aos meus filhos Ariclene,
Andrea, Gabriel e Stenio Benguela um “valeu”, à moda angolana.
Agradeço, em especial, à minha orientadora Professora Doutora Paula do Espirito
Santo pela dedicação, carinho e amizade que recebi e construímos ao longo da nossa
interação académico-cientifica. À Professora Doutora Sónia Sebastião, Coordenadora da
Unidade de Ciências da Comunicação do ISCSP, pela atenção permanente que só se pode
comparar à de um “plantão militar” o meu muito obrigado. Dentre os Professores é de
mencionar as contribuições dos Professores Doutores Jaime Fonseca e Paulo Martins, das
Professoras Doutoras Carla Cruz, Maria João, Célia Belim e Paula Cordeiro que foram
imprescindíveis para a compreensão da dimensão e complexidade de um doutoramento.
Aos meus colegas de grupo, à Priscila minha irmã, amiga e companheira de luta
o meu muito obrigado especial. À Ana Rita, à Cristine, ao Rodrigo e ao Raphael a minha
consideração eterna, pois foram sempre parte importante em todos os meus trabalhos
enquanto estudante de doutoramento, na área presente das Ciencias da Comunicação.
Os meus agradecimentos estendem-se à Academia de Ciências Socias e
Tecnologias (ACITE), nas pessoas do Professor Doutor Pedro Daniel (então Reitor),
Doutor Pedro Bengue (atual Reitor), ao Professor Doutor Lopes Ferreira Baptista, Vice-
Reitor para os Assuntos Acádemicos e ao Doutor André Caputo, Vice-Reitor para
investigação cientifica. Os meus agradecimentos, igualmente, às funcionarias da ACITE
Indira Cordeiro, Wta Ilda, Tatina Salvador, Eugenia da Silva, Adelaide Castro Lopes,
Albertina Lopes e Conceição Bengue Adão pelo apoio técnico permante e incansavel.
Agradeço ainda ao Professor Doutor Laurindo Viera e ao coletivo de Professores
da Faculdade de Serviço Social da Universidade de Luanda, em especial as Dras. Teresa
Silva, Teresa Costa e Isabel Afonso (em memoria) pelo apoio prestado.
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Aos colegas da Casa de Segurança do Presidente da República de Angola, em
particular a Dra. Judith Boa, Dr. Pedro Lussaty, Eng. Joarez Pedro e aos Srs. Francisco
Tchatila e Edmundo Tchitangofina, agradeço pelo apoio e compreensão durante as
ausências por motivo de estudo.
Aos meus cunhados Laurinda e Jorge Silva, Alexandre e Veronica de Almeida
muito obrigado.
Por fim, em termos institucionais, o meu agradecimento ao ISCSP, à sua
Presidência, aos seus Professores, aos Serviços Académicos e Biblioteca, assim como à
Universidade de Lisboa.
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Resumo
As promessas e as intenções discursivas fazem parte das mensagens presidenciais
produzidas em contextos pré e pós-eleitoral. A presente tese, sobre a cobertura e
representação mediáticas do discurso e das ações políticas do Governo angolano, em
Portugal e Angola (2017-2020), desenvolveu-se com o propósito de examinar, em que
medida, as promessas discursivas de João Lourenço e as ações políticas mediatizadas do
Governo angolano, representadas pelas imprensas portuguesa e angolana, foram tratadas,
do ponto de vista da representação mediática. Neste estudo, comparam-se as promessas
discursivas de João Lourenço, Presidente da República de Angola, e a representação das
ações políticas mediatizadas do Governo angolano. A partir dos discursos e das notícias
selecionadas, no período em estudo, foi possível analisar e discutir sobre os moldes em
que se processam a cobertura e a representação mediáticas quer dos discursos quer das
ações políticas, em contexto angolano. A sistematização efetuada releva o quadro de
intenções e promessas com as suas representações mediáticas.
Em termos metodológicos recorreu-se à análise de conteúdo para a sistematização
dos resultados obtidos da revisão dos discursos políticos, das peças noticiosas e das
entrevistas. Em relação aos discursos políticos foram estudados 37 textos do Presidente
da República de Angola pronunciados, no período de 3 de outubro de 2017 a 31 de janeiro
de 2020. Foram igualmente analisadas 170 peças noticiosas publicadas pelos media. Os
textos noticiosos foram publicados nos seguintes jornais angolanos: O País, Jornal de
Angola, Expansão e Folha 8 e jornais portugueses: Público, Expresso, Jornal Económico
e Correio da Manhã. Os resultados apurados foram aprofundados com entrevistas feitas
a líderes de partidos políticos com representação parlamentar, em Angola, e jornalistas
responsáveis de organizações socioprofissionais da classe, também angolanos e
sistematizadas com recurso à análise de conteúdo.
Os resultados apontam no sentido do distanciamento entre a informação
mediatizada, através das peças noticiosas da imprensa angolana e portuguesa, e a
efetivação das promessas discursivas do Presidente da República de Angola, João
Lourenço, à luz do estudo da cobertura e representação mediáticas desenvolvidas no
período em análise.
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Abstract
Promises and discursive intentions are part of presidential messages produced in
pre- and post-election contexts. This thesis, on the media coverage and representation of
the Angolan government's discourse and political actions in Portugal and Angola (2017-
2020), was developed with the purpose of examining, to what extent, the discursive
promises of João Lourenço and the mediated political actions of the Angolan
Government, represented by the portuguese and angolan press, were treated from the
point of view of media representation. This study compared the discursive promises of
João Lourenço, President of the Republic of Angola, and the representation of the
Angolan government's mediated political actions. From the discourses and the selected
news, in the period under study, it was possible to analyze and discuss the way in which
media coverage and representation are processed, both of the discourses and of political
actions, in an Angolan context. The systematization carried out brings the picture of
intentions and promises with their media representations.
In methodological terms, content analysis was used to systematize the results
obtained from the review of political discourses, news pieces and interviews. In relation
to the political discourses, 37 texts of the President of the Republic of Angola were
studied, from October 3, 2017 to January 31, 2020. A total of 170 news pieces published
by the media were also analyzed. The news texts were published in the following Angolan
newspapers: O País, Jornal de Angola, Expansão e Folha 8 and portuguese newspapers:
Público, Expresso, Jornal Económico e Correio da Manhã. The results were deepened
with interviews with leaders of political parties with parliamentary representation in
Angola, and responsible journalists for socio-professional organizations of the class, also
Angolan and systematized with the use of content analysis.
The results point to the distance between mediated information, through the news
pieces of the Angolan and portuguese press, and the effectiveness of the discursive
promises of the President of the Republic of Angola, João Lourenço, in the light of the
study of media coverage and representation developed during the period under analysis.
Keywords: Media Coverage, Speech, Political Action, News, Promises and Political
Intentions.
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Índice
Índice de Gráficos .........................................................................................................10
Índice de Quadros .........................................................................................................12
Siglas e Abreviaturas .....................................................................................................15
Introdução .....................................................................................................................17
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3.2. Os Media e as Tecnologias de Informação e Comunicação no Período Pós-
colonial........................................................................................................................93
3.3. Quadro Jurídico Constitucional da Comunicação Social em Angola ...............97
3.4. Imprensa Portuguesa: Características e Evolução em Período Democrático .100
3.5. O Papel dos Media na Representação das Ações Políticas Mediatizadas ......105
3.6. O Exercício do Jornalismo em Angola ...........................................................108
4. A Ascensão de João Manuel Gonçalves Lourenço à Presidência da República de
Angola: Tendências e Conceitos .................................................................................114
4.1. A Ascensão de João Lourenço ........................................................................114
4.2. Principais Medidas Económicas Mediatizadas de João Lourenço .................116
4.3. Ações Políticas Mediatizadas sobre o Combate a Corrupção .........................121
4.4. A Impunidade no Quadro das Intenções Mediatizadas ..................................125
4.5. A Função Pública e as Intensões Mediatizadas Contra o Nepotismo .............128
4.6. Intenções Mediatizadas Tendentes a Autarcização do País ............................130
4.7. A Política Mediatizada de Crescimento e Desenvolvimento ..........................133
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Índice de Gráficos
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Gráfico nº 31 Assunto das notícias revisadas ...........................................................223
Gráfico nº 32 Géneros jornalísticos usados para tratar os textos ..............................224
Gráfico nº 33 Existencia nos textos de foto ou ilustração ........................................225
Gráfico nº 34 Referência as acções políticas mediatizadas nas notícias ..................225
Gráfico nº 35 Contexto geografico em que materailizaram-se as acções políticas
mediatizadas do governo ..........................................................................................226
Gráfico nº 36 Local do acontecimento......................................................................227
Gráfico nº 37 Vinculo das noticícias com os partidos políticos ...............................228
Gráfico nº 38 Vinculo das peças com a sociedade civil ...........................................228
Gráfico nº 39 Vinculo das peças com os cidadãos ...................................................229
Gráfico nº 40 Destaque das ações políticas nas peças dos jornais ............................230
Gráfico nº 41 Fatos nas peças noticiosas com sequencias isoladas ou conhecidas ..230
Gráfico nº 42 Fonte da informação divulgada ..........................................................231
Gráfico nº 43 Citação do pr como protagonista ........................................................232
Gráfico nº 44 Direção ou enfoque ............................................................................233
Gráfico nº 45 Data da publicação – local do historia................................................235
Gráfico nº 46 Data da publicação da noticía – direcção ou enfoque ........................236
Gráfico nº 47 Órgão de imprensa – géneros jornalisticos.........................................238
Gráfico nº 48 Órgão de imprensa – foto ou ilustração..............................................239
Gráfico nº 49 Órgão de imprensa – referência ao público ........................................240
Gráfico nº 50 Órgão de imprensa – partidos políticos ..............................................242
Gráfico nº 51 Ógão de imprensa – sociedade civil ...................................................243
Gráfico nº 52 Órgão de imprensa – citação do protagonista ....................................244
Gráfico nº 53 Órgão de imprensa – direcção ou enfoque .........................................245
Gráfico nº 54 Género da noticía – direcçao ou enfoque ...........................................246
Gráfico nº 55 Género da notícia – foto ou ilustração................................................248
Gráfico nº 56 Fonte da informação – genero da notícia ...........................................249
Gráfico nº 57 Fonte da informação – espaço geografico ..........................................250
Gráfico nº 58 Fonte da informção – direcção ou enfoque ........................................252
Gráfico nº 59 Fonte da informação – citação do protagonista ..................................253
Gráfico nº 60 Fonte da informação – referência ao público .....................................254
Gráfico nº 61 Assunto da noticía – referencia ao público ........................................255
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Índice de Quadros
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Quadro nº 21 Testes qui-quadrado tom do discurso positivo – tema dominante no
discurso…..………………………………………………………….…………...…..176
Quadro nº 22 Testes qui-quadrado tom do discurso neutro – tema dominante no discurso
neutro…………………………………………………………………………...……177
Quadro nº 23 Testes qui-quadrado cooperação internacional – corrupção………....….178
Quadro nº 24 Testes qui-quadrado cooperação internacional – impunidade…….…….179
Quadro nº 25 Testes qui-quadrado cooperação internacional – nepotismo………..…...180
Quadro nº 26 Testes qui-quadrado cooperação internacional – fome e pobreza…….…181
Quadro nº 27 Testes qui-quadrado datas agrupadas corrupção……………….…….….182
Quadro nº 28 Testes qui-quadrado datas agrupadas– impunidade…………….….….183
Quadro nº 29 Testes qui-quadrado datas agrupadas – nepotismo…….……………....221
Quadro nº 30 Testes qui-quadrado data da publicação da notícia e o órgão de
imprensa………………………………………………………………………….…...223
Quadro nº 31 Testes qui-quadrado data da publicação – local do fato……….………224
Quadro nº 32 Testes qui-quadrado data da publicação da notícia – direção ou enfoque
……………………………………………………………………………….……......225
Quadro nº 33 Testes qui-quadrado órgão de imprensa – géneros jornalísticos……..….226
Quadro nº 34 Testes qui-quadrado órgão de imprensa – foto ou ilustração…………....227
Quadro nº 35 Testes qui-quadrado órgão de imprensa – referência ao público……..…228
Quadro nº 36 Testes qui-quadrado órgão de imprensa – partidos políticos……….…...229
Quadro nº 37 Testes qui-quadrado órgão de imprensa – sociedade civil…………….…230
Quadro nº 38 Testes qui-quadrado órgão de imprensa – sociedade civil……………..231
Quadro nº 39 Testes qui-quadrado órgão de imprensa – direção ou enfoque……….….233
Quadro nº 40 Testes qui-quadrado género da notícia – direção ou enfoque………..…..234
Quadro nº 41 Testes qui-quadrado género da notícia – foto ou ilustração……….…..…236
Quadro nº 42 Testes qui-quadrado fonte da informação – género da notícia…….…...237
Quadro nº 43 Testes qui-quadrado fonte da informação – espaço……………..…..….238
Quadro nº 44 Testes qui-quadrado fonte da informação – direção ou enfoque…….....240
Quadro nº 45 Organizações políticas e sindicais………………………...…………...241
Quadro nº 46 O que pensa sobre as promessas do Presidente da República em relação a
corrupção, a impunidade e ao nepotismo?......................................................................242
Quadro nº 47 Do que tem observado qual é a sua opinião sobre a promessa do Presidente
da República relacionada com a consolidação da democracia?......................................243
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Quadro nº 48 Qual é a sua posição em relação a possibilidade de existirem autarquias
locais em Angola?..........................................................................................................244
Quadro nº 49 O que pensa sobre a liberdade de expressão, manifestação e reunião?......245
Quadro nº 50 Qual é a sua opinião em relação aos direitos humanos em Angola?..........246
Quadro nº 51 O que pensa sobre o trabalho dos tribunais e da procuradoria-geral da
República na era João Lourenço?...................................................................................247
Quadro nº 52 Que opinião é que tem em relação aos órgãos de defesa, Segurança e
Veteranos da Pátria?.......................................................................................................248
Quadro nº 53 Como avalia a mobilidade de cidadãos na CPLP e a imigração ilegal,
enquanto preocupação do Presidente da República……………………………………249
Quadro nº 54 Que análise se pode fazer em relação ao crescimento económico do
país?...............................................................................................................................250
Quadro nº 55 Que avaliação faz as finanças públicas nos últimos dois anos?.................251
Quadro nº 56 Qual pensa ser o desfecho da política de repatriamento de capitais e
recuperação de ativos?...................................................................................................252
Quadro nº 57 Relativamente a Banca que avaliação faz ao crédito as empresas?...........253
Quadro nº 58 Como vê o empreendedorismo e o investimento nos últimos dois anos?.254
Quadro nº 59 Que tipo de avaliação faz a questão do emprego e do desemprego em
Angola?..........................................................................................................................255
Quadro nº 60 Da observação que faz a situação da fome e da pobreza, qual será a evolução
nos próximos seis meses? Tem alguma ideia de como se pode ultrapassar este mal?.....256
Quadro nº 61 O que pensa sobre as ações que têm sido implementadas nos setores da
agricultura, pescas e indústria?.......................................................................................257
Quadro nº 62 Como avalia os transportes públicos e as redes viárias e ferroviárias?......258
Quadro nº 63 Que comentários pode fazer em relação as questões de género?...............259
Quadro nº 64 O que pensa sobre a justiça distributiva e social em Angola?....................260
Quadro nº 65 Como avalia a liberdade de culto e religião?.............................................261
Quadro nº 66 Na sua opinião que alterações se verificaram nos últimos dois anos na
educação e saúde?..........................................................................................................262
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Siglas e Abreviaturas
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PAPE - Plano de Ação para a Promoção da Empregabilidade
PDA- Programa de Desenvolvimento Agrícola
PDN- Programa de Desenvolvimento Nacional
PIB – Produto Interno Bruto
PIIM - Plano Integrado de Intervenção nos Municípios;
PNUD - Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
PPP - Poder de Paridade de Compra
PR- Presidente da República
PRODESI- Programa de Estabilização Económica
PROPRIV- Programa de Privatizações
PRS- Partido de Renovação Social
RNA- Rádio Nacional de Angola
SADC- Comunidade dos Países da Africa Austral
SPSS- Statistical Package for the Social Sciences
TIC- Tecnologia de Informação e Comunicação
TPA- Televisão Pública de Angola
UNITA- União Nacional Para a Independência Total de Angola
URSS- União das Repúblicas Socialistas Soviéticas
VORGAN- Voz da Resistência do Galo Negro
VPR- Vice-Presidente da República
WEF- Fórum Económico Mundial
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Introdução
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(2017, p. 361-362) defendem que devem existir pontos convergentes e divergentes que
considerem as promessas eleitorais, na medida em que, os indivíduos, para além de
apoiarem o regime democrático, mostram-se igualmente bem informados, atentos e
conhecedores da realidade política do seu país, usando essa informação e mobilização
para avaliar o modo como as principais instituições e os atores políticos atuam nas mais
diversas circunstâncias. Embora o pensamento de Belchior, Sanches e José (2016, p. 13),
anteceda o presente estudo, no caso de Angola, parece existir pouca perceção da
congruência entre as promessas discursivas e as ações políticas, que no nosso entender,
deve-se a dificuldade que os eleitores possuem em distinguir as estratégias das
plataformas partidárias. Outro fator que parece não possibilitar a averiguação da
congruência é a ausência de instituições democráticas fortes e de eleições locais. Assim
sendo, não se espera que a congruência expresse um senso de representatividade, visto
que, os direitos políticos plenos estão ausentes. Portanto, a congruência política para
Angola, pode ser vista apenas como um mecanismo suplementar para que o regime
alcance o apoio popular, mesmo que seja mínimo e setorial.
Foi nosso propósito, e manifestou-se pertinente, analisar a cobertura das ações
políticas mediatizadas do Governo angolano, igualmente a partir de Portugal, devido às
possíveis repercussões que estas vinham tendo nas atividades de cidadãos portugueses e
angolanos com interesse nos dois Estados.
Segundo o Jornal de Angola, no seu editorial do dia 18 de agosto de 2019, depois
de um passado recente com alguma incompreensão entre os atores políticos de Luanda e
de Lisboa, que serviu para evidenciar mais desvantagens que vantagens, Angola e
Portugal ganharam tempo e apostaram na renovação de compromissos ao mais alto nível.
No domínio militar, por exemplo, as trocas de experiência e os exercícios conjuntos
continuaram intensos e a grande aposta por parte de Angola tem sido no domínio da
formação de quadros. Existe, igualmente, a possibilidade de que as ações políticas do
Governo angolano despertem interesse na esfera política portuguesa. Foi por isso que a
análise à representação mediática dos discursos políticos de João Lourenço e das ações
políticas do Governo angolano, na imprensa portuguesa, despertou igualmente o nosso
interesse. Os dados da Câmara de Comércio e Indústria Portugal-Angola (CCIPA, 2018)
indicam também existir uma troca intensa de mercadorias entre os dois Estados, bem
como descrevem os tipos de negócios praticados a nível comercial entre os cidadãos dos
dois países. Nota-se que, apesar de algumas dificuldades verificadas a nível político,
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existe uma reciprocidade e igualdade nas relações comerciais entre os dois Estados.
Segundo o diretório das empresas associadas da CCIPA (2018), devido à conjuntura da
crise económica e financeira que Portugal viveu no período compreendido entre 2010 e
2014, várias empresas que perderam mercado em Portugal encontraram alternativas
comerciais em Angola. O mesmo aconteceu com muitos portugueses que tendo perdido
os seus empregos em Portugal, encontraram soluções em Angola.
Dados da Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP,
2017) estimam que, pelo menos, cento e cinquenta mil portugueses trabalham em Angola
e cerca de oito mil empresas operam e exportam produtos para o mercado angolano. Para
a CCIPA, isto justifica o fato de as trocas comerciais entre os dois países nunca terem
deixado de ser fortes. Ainda, no que toca as trocas comerciais, dados estatísticos sobre o
investimento privado da Agência de Investimento Privado e Promoção das Exportações
de Angola (AIPEX, 2019) indicam que as exportações de Angola para Portugal
aumentaram no período que vai de 2014 a 2017.
A AIPEX considera estes dados como sendo um elemento importante nas relações
comerciais entre os dois países. Outro elemento relevante que se pode destacar nas
relações económicas entre Portugal e Angola é a presença crescente de empresas e
investidores angolanos no mercado português. Segundo o Anuário de Estatística do
Comércio Externo do Instituto Nacional de Estatística de Angola (INE, 2019), Portugal
foi o principal parceiro das importações para Angola, durante os anos de 2017 e
2018, com cerca de 16,50% do total das importações.
Para além da situação económica, no domínio das relações políticas, como
denotam Seabra e Gorjão (2011, pp. 5-6), registou-se, por um longo período, um ligeiro
afastamento de Portugal em relação a Angola, devido à política externa de Portugal que
raramente se desviava do seu paradigma central que consistia na sua integração à União
Europeia e nas relações transatlânticas com os Estados Unidos da América. Portugal tinha
feito um corte nos laços histórico-culturais com os países de língua portuguesa, uma
posição que veio a ser revista com o fim da guerra civil em Angola, em 2002 e o crescente
evoluir dos preços internacionais das matérias-primas. Registou-se, no entanto, a partir
deste marco uma nova focagem de Portugal e por outro lado, os países africanos de língua
oficial portuguesa estiveram na vanguarda do renovado interesse português pela África.
Entre estes destinos preferenciais, Angola destacou-se, desde o início, como primus
interpares.
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Em relação à revisão da literatura, no que se refere às análises dos discursos
políticos em Angola, gostaríamos de destacar a sua escassez, ou pelo menos, o nosso
desconhecimento quanto a um investimento académico significativo neste campo. Este
estudo tem por foco analisar como as promessas dos discursos políticos do PR de Angola,
João Lourenço, se concretizam nas ações políticas mediatizadas do Governo angolano.
As peças noticiosas analisadas em Angola e Portugal, no período entre 3 de
outubro de 2017 a 31 de janeiro de 2020, são constituídas pelos elementos publicados
pelos jornais identificados no corpus de análise da imprensa. Recorreu-se ao material da
imprensa para examinar o conteúdo dos discursos, constituindo estes, a nosso ver, uma
espécie de fotografia das ações políticas mediatizadas decorrentes das promessas
discursivas com repercussão social.
A análise foi efetuada até 31 de janeiro de 2020 por se terem registado, neste
período, medidas e ações que justificavam a compreensão das promessas e intenções
políticas traduzidas nos discursos de João Lourenço, que foram mediaticamente
publicitadas em Portugal e Angola. Esta pareceu-nos ter sido uma temática que ocupou
os escaparates da imprensa aliada às mudanças operadas na liderança política de Angola,
fruto das eleições gerais de 2017.
O nosso argumento centra-se no distanciamento entre a leitura e a observação da
realidade política e comunicacional angolana e a informação divulgada pelos media.
Nesta sequência, o presente estudo centra-se na análise das peças noticiosas e na
exposição das promessas políticas. Pretendeu-se estudar a relação entre as tendências
discursivas do Presidente da República e as ações políticas mediatizadas do Governo
Angolano. Esta enunciação parte do pressuposto que a mediatização das promessas
discursivas do PR de Angola, João Lourenço, não representa as suas intenções, tal como
são expressas nos seus discursos políticos, ou seja, as ações mediatizadas do Governo
angolano não indicam existir uma efetiva concretização dos propósitos enunciados pelo
líder da Nação angolana. A partir da construção noticiosa sobre a política governamental,
identificada por intermédio do foco temático e contextual, dos discursos políticos
selecionados de João Lourenço, e das peças noticiosas divulgadas, no período que vai de
3 de outubro de 2017 a 31 de janeiro de 2020, verifica-se um distanciamento entre as
ações e as promessas feitas.
No plano empírico deste estudo pretendeu-se analisar a cobertura e a
representação mediáticas do discurso e das ações políticas do Governo angolano, em
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Portugal e Angola com recurso a abordagem interpretativista. Segundo Brauner, Cigales
e Júnior (2014, p. 38), o Interpretativismo é uma perspetiva teórica que se contrapõe ao
positivismo, na medida em que, permite o desenvolvimento e a interpretação da vida
social e do mundo, numa perspetiva cultural e histórica. O Interpretativismo surgiu em
reação à tentativa de se desenvolver uma ciência natural dos fenómenos sociais. Para
Bryman (2012, p. 30), o Interpretativismo permite denotar uma alternativa à ortodoxia
positivista. Nessa conformidade, a sua aplicação ao estudo das relações entre as ações
políticas mediatizadas de um Governo e as promessas governativas, permite construir
uma abordagem que ajuda a aprofundar o significado das representações políticas, sociais
e comunicacionais dos discursos. Como defende (Bryman, 2012, p. 33), pretende-se que
a corrente interpretativista seja complementada pelo construtivismo social. Este
argumento epistemológico permitiu que os significados construídos a partir dos discursos
políticos e das ações mediatizadas do Governo angolano, fossem analisados
continuamente. Esta abordagem evidenciou a relação existente entre os dois atos e
momentos, intermediados pelos órgãos de difusão massiva (imprensa) em Angola e
Portugal, tornando possível compreender a conformidade entre as promessas políticas e
os atos mediatizados do Governo angolano.
Optamos igualmente pela abordagem construtivista social, porquanto se apoia no
Interpretativismo e vice-versa, estando as correntes em complementaridade. Como
defende Matthews (2000), o construtivismo social não é só uma teoria sobre
aprendizagem, ensino e filosofia, mas também, uma teoria da ciência que
epistemologicamente facilita o diálogo entre o fenómeno e a natureza da ciência. Para
Bryman (2012, p. 9), o construtivismo social fornece-nos uma compreensão explícita
sobre a conformidade ou não dos fenómenos comunicacionais. No que se refere ao estudo
das ações políticas mediatizadas do Governo angolano, o recurso a esta abordagem, torna
claro e suporta a inferência e a análise do fenómeno num plano socialmente ancorado,
com a possibilidade de deduções no plano sociopolítico e comunicacional. Na mesma
linha de pensamento, Berger e Luckmann (2005) consideram que a realidade é
socialmente construída, pois, a partir da sociologia do conhecimento é possível perceber
o estudo do processo construtivo da comunicação.
Relativamente ao desenho da pesquisa, traçou-se um estudo de tipo comparativo.
Espírito Santo (2015, p. 49) defende que a comparação é natural e intuitiva à análise
humana. Este aspeto constitui a primeira premissa inerente a qualquer área científica que
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use o método comparativo. O método comparativo baseia-se também no cânone
“milliano”, no método das semelhanças e das diferenças ou na observação de variações
concomitantes (Franco, 2000). Segundo Bryman (2012, p.72-73), neste tipo de desenho,
o estudo envolve a análise de dois casos contrastantes, usando métodos mais ou menos
idênticos. A pesquisa incorpora a lógica da comparação, na medida em que, implica que,
obtém-se uma melhor compreensão dos fenómenos sociais, quando estes são comparados
à dois ou mais casos ou situações contrastantes. O desenho comparativo pode ser
realizado em contextos de pesquisa quantitativa ou qualitativa. Isto implica que existam,
pelo menos, dois casos (que podem ser organizações, nações, comunidades, políticos,
polícias, etc.) em que os dados são recolhidos de cada uma das partes, normalmente, num
formato de desenho transversal. Neste estudo, o desenho comparativo permitiu
compreender de que forma, os discursos, as intenções e as promessas políticas do
Presidente da República de Angola, João Lourenço, se traduziram em ações políticas
mediatizadas do seu Governo.
Segundo Silva (2016, p. 221), o reaparecimento dos estudos comparados, no meio
académico e nas pesquisas em ciências da comunicação, com diferentes propósitos e
alinhamentos teórico-metodológicos, tem levado a interrogações desde a produção de
generalizações e singularidades, na perspetiva da melhoria dos sistemas comunicacionais
ao privilegiar os dados estruturais, como esforço para o encontro do raciocínio lógico. O
estudo comparado não é um simples método, mas sim uma ciência, cujo objeto consiste
em descobrir as semelhanças e diferenças dos sistemas comunicacionais.
Em conformidade com os argumentos anteriores, esta análise de tipo comparativa,
segue as linhas de investigação de Bryman (2012); Espírito Santo (2008); Bastos e Duquia
(2013). Seguindo a linha de pensamento de Bastos e Duquia (2013), concebeu-se este
estudo sobre a cobertura e a representação mediáticas do discurso e das ações políticas
do Governo angolano, em Portugal e Angola, numa linha comparada, afim de
compreender como foram tratadas as promessas discursivas de João Lourenço e a
frequência noticiosa sobre as ações políticas mediatizadas do seu Governo. Tal
comparação, possibilitou a confrontação dos estímulos com as consequências,
comparando a ligação existente entre ambos. Para Silva (2016, p. 213), compreender os
discursos e ações políticas de forma comparativa, ajuda a aclarar o processo de construção
de configurações que esclarecem a perspetiva do cruzamento entre as teorias do conflito
e as do consenso, as abordagens descritivas e as conceituais. Contudo, o que parece mais
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significativo nesse processo é a capacidade de o estudo comparado instituir-se numa
pluralidade de perspetivas, abordagens e metodologias ao mesmo tempo que indica os
limites para a compreensão dos fatos ou fenómenos comunicacionais, apresentando-os
como um só.
O propósito deste estudo foi analisar as promessas discursivas de João Lourenço,
PR de Angola, a sua representação mediática e compará-las com as ações políticas
mediatizadas do Governo Angolano. Tal comparação foi efetuada através das opções
noticiosas das imprensas angolana e portuguesa, com o fim de contribuir para a
sistematização e aprofundamento da discussão sobre os moldes em que se processam a
cobertura e a representação mediáticas do discurso e das ações políticas, em contexto
angolano. Este processo, levou-nos a optar por uma investigação dedutiva, sustentada
pela teoria existente que nos permitiu partir dela para alcançar novos resultados (Bryman,
2012, pp. 24-26).
A questão de partida que serviu de base para a condução deste estudo é a seguinte:
como é que os discursos políticos de João Lourenço, Presidente da República de Angola,
se traduzem em ações políticas mediatizadas do Governo angolano?
Pretendeu-se obter uma resposta à indagação anteriormente feita recorrendo ao
estudo da cobertura e representações mediáticas do discurso e das ações políticas do
Governo angolano em Angola e Portugal no período de 2017 a 2020. Como sugerem os
estudos de Cardina (2016); Fonseca e Ferreira (2016), por intermédio dos media podem-
se fazer representações seletivas das mensagens contidas nos discursos políticos, para
perceber o contexto e as dinâmicas de governação. Neste sentido, o conteúdo dos
discursos políticos mediatizados do PR de Angola, João Lourenço, constitui-se nessas
mensagens, servindo de base para o presente estudo. Na medida em que, os discursos
políticos, ao serem representados pelos media, tornam-se o veículo de comunicação pelo
qual ocorrem as compreensões e a partilha das mensagens. Os conteúdos dessas
mensagens, bem como o modo como elas são transmitidas, podem influenciar o
comportamento dos cidadãos envolvidos nesta comunicação, estimulando o nosso
interesse em verificar como foram tratadas as promessas discursivas de João Lourenço,
PR de Angola, e a representação das ações políticas mediatizadas do Governo angolano.
Como já fizemos referência, as ações executadas no período que vai de 2017 a 2020, que
se afigurou ser um processo de influência e partilha de intenções, foram verificadas por
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intermédio da representação mediática das opções noticiosas das imprensas angolana e
portuguesa.
Ao estudar as ações políticas do Governo angolano, a partir do tratamento que as
imprensas angolanas e portuguesas deram aos conteúdos noticiosos, pretendeu-se
averiguar em que medida as representações mediáticas dos discursos políticos difundem
as intenções discursivas do PR Angola. Esta comparação baseou-se nas representações a
partir das quais se produziu a informação seletiva para os media (McGregor, 2019).
Os discursos representam um dos elos que o poder político estabelece com a
opinião pública. Esta visão permite que se construa um entendimento a partir dos pontos
convergentes e divergentes dos conhecimentos sobre a relação existente entre as
promessas discursivas do PR João Lourenço e as ações políticas do Governo angolano no
seu todo, o que possibilitou obter a verificação do contexto da produção noticiosa. Com
a aplicação da técnica de entrevista, pretendeu-se enriquecer a análise e a discussão sobre
as ações políticas mediatizadas do Governo angolano. O estudo propôs-se a descrever a
compreensão sobre a conformidade do fenómeno em análise, que os líderes dos partidos
políticos com assento parlamentar e os responsáveis de organizações sindicais e
socioprofissionais de jornalistas possuem, sobre as promessas discursivas de João
Lourenço e as ações políticas do seu Governo, tendo em consideração a discussão teórica
acerca da intencionalidade dos mesmos.
São objetivos gerais desta pesquisa os seguintes:
- Examinar as promessas discursivas de João Lourenço, Presidente da República
de Angola, para verificar a sua conformidade com as ações políticas mediatizadas do seu
Governo, através das opções noticiosas das imprensas angolana e portuguesa, em
perspetiva comparada;
- Contribuir para a sistematização e aprofundamento da discussão sobre os moldes
em que se processam a cobertura e a representação mediáticas do discurso e ações
políticas, em contexto angolano, relevando e comparando o quadro de intenções e
promessas com as representações mediáticas das ações políticas do Governo angolano
daí resultantes.
Os objetivos específicos são, nesta sequência, os seguintes:
- Examinar as promessas, representações políticas, ideológicas e valorativas
contidas nos discursos políticos de João Lourenço para a partir delas identificar as
principais temáticas e abordagens;
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- Examinar as principais temáticas das ações políticas mediatizadas do Governo
angolano, a partir das imprensas portuguesa e angolana no período entre 03 de outubro
de 2017 e 31 de dezembro de 2020;
- Identificar, numa perspetiva comparada, como as promessas discursivas de João
Lourenço, Presidente da República de Angola, se traduzem em ações políticas
mediatizadas do Governo angolano, segundo as imprensas portuguesa e angolana.
Em função dos propósitos do estudo e da natureza da pesquisa, os objetivos acima
delineados e as opções metodológicas são respetivamente o fio condutor e a base de
validação da presente análise. O estudo das peças noticiosas permitiu compreender de que
maneira foi feita a cobertura e a representação mediáticas do discurso e das ações políticas
mediatizadas do Governo angolano em Portugal e Angola.
Da concretização dos objetivos expostos pode-se, igualmente, perceber até que ponto
as intenções discursivas do PR de Angola foram materializadas nas ações políticas
mediatizadas do seu Governo. Pretendeu-se com esta análise, perceber como é que foram
mediatizados os discursos e as ações políticas do Governo angolano, numa lógica de
comparação da correspondência entre as promessas e a sua materialização, tendo como
base a representação mediática.
Desenho de pesquisa desta investigação (ver figura 1).
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Figura nº 1 Desenho da pesquisa
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um enquadramento teórico sobre a cobertura, representação mediática e discute a
comunicação e o discurso político, como tendências e intenções pós-eleitorais. Na
segunda parte, o capítulo 1 faz uma apresentação de Angola no contexto geográfico,
descrevendo a sua organização política, social, económica e administrativa. O capítulo 2
foca-se no sistema mediático, observando a sua evolução no período colonial e pós-
colonial, abordando comparativamente o exercício do jornalismo em Portugal em período
democrático e retratando o estado atual do jornalismo em Angola, salientando os
múltiplos papéis que os media podem assumir nos contextos de governação. Por fim, o
capítulo 3 da segunda parte analisa os meandros da ascensão de João Manuel Gonçalves
Lourenço à Presidência da República de Angola e revê os conceitos teóricos e as
principais promessas e intenções discursivas.
Com base no trabalho teórico levado a cabo nos capítulos anteriores, o capítulo
1 da parte 3 estabelece o desenho de investigação e elege o método e as técnicas em
componentes que podem dar suporte à abordagem empírica da pesquisa. Neste
seguimento, o capítulo 1 detalha as opções metodológicas que permitiram lançar sobre o
objeto de estudo um olhar que teve em vista a resposta à questão de partida e os objetivos
da tese. O capítulo 2 expõe os resultados da análise de conteúdo dos discursos políticos
de João Lourenço, PR de Angola, apresenta as principais tendências, os aspetos críticos
e os temas centrais. No capítulo 3, apresentam-se as ações políticas mediatizadas do
Governo angolano, analisadas a partir da imprensa portuguesa e angolana numa
perspetiva comparada, bem como a sua cobertura noticiosa, as principais tendências e os
temas centrais, olhando para as promessas discursivas, assim como, para os resultados
das entrevistas. O capítulo 4, procura analisar e discutir os discursos políticos de João
Lourenço, com base nos resultados da análise de conteúdo. E finalmente o capítulo 5,
examina e confronta os resultados das ações políticas mediatizadas do Governo angolano
saídas da análise de conteúdo das peças noticiosas e das entrevistas com as teorias
construídas.
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Parte I. Quadro Teórico Introdutório. Teorias da Comunicação e Representação
Política Mediatizada
1. Seleção, Construção e Efeitos dos Media
No contexto da cobertura e representação mediática dos discursos e das ações
políticas mediatizadas, exploram-se nesta secção as teorias da produção, representação e
compreensão dos efeitos das notícias, nomeadamente o Gatekeeping e Newsmaking, o
Agenda-Setting, a Teoria dos Efeitos Limitados dos Media, a da Representação Social, a
da Espiral do Silêncio e a da Ação Política
Estas teorias procuram dar respaldo ao fenómeno da comunicação de massa e
estão envoltas e imersas no contexto social, histórico e económico vigentes na sua época
e possuem uma profunda relação com os atos sociopolíticos. Desta forma, cada modelo
teórico-metodológico procura compreender e explicar os efeitos decorrentes da exposição
aos veículos de comunicação de massa à luz da realidade social. Por conseguinte, a
sociedade evolui através de um processo dinâmico e complexo e em função disso, as
premissas de cada modelo vão ganhando contornos delimitados por paradigmas
psicológicos, sociológicos e antropológicos.
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A teoria do gatekeeping de Galtung e Ruge (1965, p.64-65) aborda a cadeia de
tratamento dos acontecimentos, ou seja, a imagem da notícia. O Gatekeeping interessa-se
em como fazer um evento tornar-se notícia e aborda uma cadeia de tratamento da
informação, que vai desde o jornalista até ao editor de notícias do jornal recetor. O
modelo de Galtung e Ruge (1965) complementa o de White (1950), pois, introduz
critérios que levam à seleção das notícias, já que o gatekeeper seleciona as notícias de
acordo com determinados critérios, avalia o grau de noticiabilidade de um evento, o
valores-notícia. Estes critérios introduzem racionalidade no processo de newsmaking,
diminuindo o papel e a influência da subjetividade do gatekeeper. Ainda assim, Galtung
e Ruge (1965) consideram que a corrente de tratamento da notícia pode ser encurtada, se
o jornal tiver um correspondente que pode ser reduzido a editor-correspondente do evento
de comunicação, o que envolve apenas duas etapas. Fazendo uma análise a esta teoria,
Sebastião (2016, p. 314) considera que o gatekeeping evidencia a forma como os
jornalistas tendem a criar notícias, muitas vezes motivados por fatores políticos, sociais,
económicos e editoriais. gatekeeping na sua forma clássica é um sistema de produção,
distribuição e consumo das notícias que resultou da época do apogeu dos meios de
comunicação de massas.
As práticas de gatekeeping, segundo Bruns (2011, p. 121), eram uma necessidade
do jornalismo; os jornais e os noticiários das rádios e das televisões não ofereciam mais
do que uma seleção redigida dos seus conteúdos e tinham muitas dificuldades em definir
a pauta noticiosa do dia; em função disso, as avaliações das matérias mais importantes
para o conhecimento das audiências (isto é, quais eram as matérias que poderiam ser
comprimidas para caber no espaço total disponível para o conteúdo noticioso na
publicação ou na transmissão pela rádio ou pela Televisão) tinham que ser feitas com
muito trabalho e cautela. Nesta perspetiva, Cook (1996, p. 469) sugere que o nosso
conhecimento sobre os padrões de elaboração do conteúdo das notícias, apesar de ser
consistente entre as organizações, não foi sempre o mesmo ao longo do tempo; apenas
recentemente se verificou uma maior consciência da forma como os jornalistas devem
criar e organizar o conteúdo das notícias. Para Cook, ainda que os estudos anteriores
tenham concluído que as notícias são “indexadas” à opinião da elite, elas também exibem
uma discrição individual dos jornalistas; por isso, as normas de produção das notícias não
estão intimamente ligadas ao conteúdo e, as rotinas não podem explicar as imagens
apresentadas nas notícias. Nessa conformidade, o trabalho do jornalista pode ser melhor
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compreendido, não como quem segue única e exclusivamente o “rasto do poder”, mas
como quem procura maneiras de criar uma direção contínua e convincente do seu produto.
Bruns (2011, p. 123), considera que o gatekeeping é uma prática que resultou
fundamentalmente de um ambiente de escassez de canais de notícias, e da falta de espaço
para a divulgação de notícias dentro desses canais, nesta conformidade, pode-se
considerar que qualquer crescimento no espaço global para dar lugar a mais divulgação
de notícias tem que, necessariamente desafiar o papel da prática do gatekeeping.
Segundo Fotios (2016, p. 1), a maneira como a notícia era produzida e consumida,
a partir da segunda metade da década de 1990, foi alterada com o aparecimento das redes
e das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC`s), dando lugar a variadas
alterações, principalmente, a nível da informação produzida. As novidades introduzidas
com o advento da internet alteraram, definitivamente, a rotina tradicional e o processo de
produção da notícia, desde a sua recolha, tratamento e divulgação, formando um conjunto
de sistemas e subsistemas complexos no que diz respeito a gestão dos conteúdos.
O percurso da informação, segundo Canavilhas (2010, p. 391), passa a ter dois
níveis de gatekeeping. No primeiro nível, os jornalistas selecionam os acontecimentos
que reúnem condições para se transformarem em notícia. No decorrer deste processo
subordinado à aplicação de critérios profissionais e organizativos, são combinados os
diferentes valores-notícia relacionados com as características do próprio acontecimento.
Com o processo produtivo de cada meio de comunicação e com as características do
público ao qual se destina a informação, assim como com a concorrência do meio em
questão, o jornalista recorre à diversas técnicas para reduzir a sua informação ao espaço
que o editor lhe atribui. Ao reconhecer segundo Fotios (2016, p. 4), que o público tem um
canal próprio e, consequentemente, detém uma via de acesso às informações, pode-se
supor que a audiência é influenciada por critérios individuais e pessoais de relevância e
de valor-notícia para decidir como produzir um conteúdo ou enviar uma mensagem ou
uma notícia.
As práticas do gatekeeping, para Bruns (2011, p. 121), consubstanciam-se em três
etapas distintas do processo jornalístico:
1- Etapa da entrada da matéria, a produção da notícia e a resposta dos públicos. Na
etapa da entrada, os próprios jornalistas pré-selecionam as matérias noticiosas que crêem
merecer a investigação e a cobertura, isto é, aquelas matérias que os jornalistas presumem
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que terão uma possibilidade razoável de serem selecionadas para a publicação quando os
artigos forem escritos ou as reportagens forem produzidas;
2- Na etapa da produção, os editores selecionam, do total de matérias geradas pelos
jornalistas e pelos repórteres, apenas aquelas que considerarem ter maior importância para
as suas audiências e que cabem no espaço disponível;
3- Na etapa da resposta, por fim uma pequena seleção das respostas da audiência é
escolhida para inclusão no jornal do dia seguinte ou para transmissão em direto, caso seja
fornecido um espaço para as respostas da audiência.
Paralelamente à revolução tecnológica que surgiu com o advento da Internet
nasceu o conceito do gatewatching, que é um conceito utilizado no processo de edição do
conteúdo jornalístico. O termo foi empregue, em 2005, pelo pesquisador australiano
Bruns (2011), para descrever um novo modelo de seleção noticiosa, onde as audiências
desempenham um papel ativo na escolha e construção das notícias por meio da atividade
de seleção e avaliação das informações fornecidas.
Nesta linha de ideias, Canavilhas (2010, p. 391), esclarece que o gatewacher
emerge como um elemento central num ecossistema mediático onde a fragmentação
motivada pela multiplicação de fontes e o excesso de informação obrigam os media a
disputarem a atenção dos leitores. Nesta economia de atenção, o gatewatcher funciona
como um analista de mercados financeiros que aconselha os seus seguidores e ou os seus
amigos a investirem a sua atenção neste ou naquele tema em função do seu interesse.
Mota e Batista (2013) despertam-nos para o cuidado que é preciso ter ao adotar
uma notícia como sendo verdade absoluta. Por isso, advertem que o processo de filtro do
gatekeeper muitas vezes é influenciado por razões políticas, sociais, econômicas, etc. que
decorrem do meio circundante aonde a notícia é divulgada. Porém, as autoras são de
opinião que, não obstante o fato de, por exemplo, a internet ter ampliado os canais de
comunicação, o gatekeeper não perdeu a sua importância; porquanto tanto as redes que
se encontram no meio impresso, como as que se encontram online, publicarão notícias de
interesse da empresa.
A tarefa relacionada com a escolha do que deve ser divulgado pelos media, é
segundo Fotios (2016, p. 1), uma rotina profissional que vem sofrendo grande influência
por parte da produção participativa do público. Direta ou indiretamente, o público exerce
uma influência sobre a seleção da notícia no sistema de produção do jornalismo, afetando
deste modo a recolha, a produção e divulgação dos conteúdos. Ainda assim, excluir do
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processo de tratamento jornalístico o gatekeeping, para Mota e Batista (2013), significa
que toda e qualquer notícia deve ter espaço para publicação, o que não pode ocorrer e
dificilmente ocorrerá algum dia, especialmente nos media tradicionais. Sem um filtro do
gatekeeper as notícias correm o risco de não serem verídicas ou afetarem outros grupos
de interesse e, com isso, abalar a integridade e/ou as boas relações no exercício do
jornalismo profissional.
Finalmente, observa Fotios (2016, p. 4), que a teoria do gatekeeping aplicada ao
jornalismo contemporâneo permite considerar a audiência como um terceiro canal no
processo de seleção das informações até sua divulgação. Este novo canal pode levar o
conteúdo diretamente à outras audiências, através de redes de afinidade e pode influenciar
o processo de seleção e construção da notícia. O procedimento de seleção de notícias é,
por isso, resultante da interação entre as fontes, o jornalista e os públicos.
De acordo com a teoria do newsmaking de Wolf (1994), a notícia dever ser vista
como uma construção, contrariamente, aquilo que apregoa a teoria do espelho, que
considera a notícia como um reflexo fiel da realidade. Para este autor a teoria do
newsmaking indica a inexistência de uma linguagem neutra. As perspetivas do paradigma
da Construção Social da Realidade abandonam as pesquisas que investigam os efeitos de
curto prazo, típicos das pesquisas administrativas, para analisar os efeitos de longo prazo
que são geralmente cumulativos e cognitivos. Na opinião de Sebastião (2016, p. 314), os
efeitos comunicativos em termos políticos nas atitudes e nos comportamentos dos
indivíduos permanecem incertos, uma vez que os media não atuam de forma
descontextualizada e a influência entre eles e a sociedade é mútua. Por isso, o processo
comunicativo torna-se fundamental para a manutenção da ordem política e consciência
social que suportam os valores estabelecidos pela sociedade e os respetivos movimentos
para a mudança.
Baseando-se na teoria do newsmaking, Traquina (1999), argumenta que os
jornalistas trabalham sob a tirania do fator tempo. Diante da imprevisibilidade dos
acontecimentos noticiáveis, que podem surgir em qualquer parte e a qualquer momento,
os jornais organizam-se de forma a impor ordem no tempo e no espaço e esforçam-se em
ordenar e distribuir o tempo da rede noticiosa da seguinte forma: a) por área geográfica;
b) por especialização institucional; c) e por especialização temática. Nesta conformidade,
Correia (2005, p. 48) considera que no plano dos media há um espaço para refletir sobre
múltiplas realidades, porquanto, o jornalismo elege como objetivo principal a capacidade
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de se relacionar com a perceção do público recetor da informação em relação ao que é
visto como sendo mais relevante. O ato de transmissão da notícia pela imprensa consiste,
fundamentalmente, em escolher temas da realidade atual que sejam atraentes para a
comunidade.
1.2. Agenda-Setting
Os pesquisadores, segundo DeFleur e Ball-Rokeach (1993, p. 277), que estudam
o processo e os efeitos da comunicação de massas criaram diversas formulações baseadas
no princípio de que o significado e interpretações da realidade são construídos
socialmente. Os media atualmente, expandem ao invés de reduzirem, o que chega aos
nossos olhos e ouvidos dos consumidores. Todavia, o que se recebe, segundo tais autoras,
são apenas representações da realidade e não a realidade como tal, e esse facto certamente
tende a causar algum impacto nos públicos.
Nessa ordem de pensamento, a formulação original da hipótese da definição da
agenda-setting foi feita por Cohen (1963). Mais tarde McCombs & Shaw (1972) deram
prossecução ao trabalho inicial considerando-a como uma ideia ainda especulativa ou
heurística, e não como uma teoria no seu sentido convencional, o priming. O priming foi
considerado, naquela altura, como uma extensão natural do estabelecimento da agenda.
É plausível que o agenda-setting, com atual formulação, possa ter sido desenvolvida
apenas a partir de 1970, formulou-se esta afirmação, porque os estudos anteriores como
pode ser atestado em McCombs (1996), dão-lhe fundamento. McCombs (1996) atesta que
desde 1920 que Lippman havia preconizado o papel da imprensa na orientação da atenção
dos leitores para os temas de maior interesse coletivo. Para a perceção do agenda-setting,
segundo DeFleur e Ball-Rokeach (1993, p. 284), a hipótese fundamental foi formulada
em forma suscetível de pesquisa. O agenda-setting se tornou, nessa época, a formulação
central de um estudo que foi feito numa escala reduzida acerca dos noticiários que eram
emitidos sobre a campanha presidencial de 1968, mais também sobre a forma como as
pessoas percebiam a importância das promessas que eram feitas pelos candidatos. Num
estudo de análise de conteúdo foi desenvolvida uma pesquisa sobre a forma como os
media apresentavam o noticiário político, que ocupava um espaço de tempo extenso nas
grelhas de programação, e foi feito um levantamento para avaliar as convicções dos
respondentes acerca da importância de tais conteúdos políticos nos debates que eram
cobertos pelos media.
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O agenda-setting, na formulação de Silvestre (2011, p. 124), representa a
influência dos media ligada a capacidade de transmitir os assuntos mais importantes.
McCombs (1996), depois do estudo de várias campanhas presidenciais, concluiu que “a
audiência não se inteira unicamente dos efeitos por meio da sua exposição aos media,
como também conhece a importância dos temas tratados nas notícias segundo a ênfase
dada pelos meios de informação”. Foi constatado, no estudo de DeFleur e Ball-Rokeach
(1993, p. 284), ter havido um alto grau de correspondência entre a dose de atenção
prestada a determinadas questões pela imprensa e o nível de impotência a elas atribuído
por pessoas da comunidade que estiveram expostas aos media. Isso não significa que a
imprensa tivesse sido bem-sucedida levando as suas audiências a adotar qualquer ponto
de vista, mas sim, foi bem-sucedida em fazer as pessoas olharem para alguns problemas
como mais relevantes em relação aos outros. E dessa maneira, a agenda da imprensa
transformou-se na agenda do público.
Em relação ao efeito distorcido que produz sobre as pessoas, uma preocupação
permanente das chamadas Teorias dos Efeitos a Prazo, é também examinada na perspetiva
do agenda-seting de McCombs e Shaw (1972). Segundo McCombs e Shaw (1999, p.
177), os meios de comunicação de massa chamam a atenção para as questões políticas,
sociais e económicas de uma certa comunidade. Os media constroem imagens públicas
de figuras políticas e estão constantemente a apresentar objetos que sugerem o que os
indivíduos deveriam pensar, saber ou ter como sentimento. O agenda-seting de McCombs
e Shaw (1972), considera que, mesmo que os media tenham pouca influência na direção
ou intensidade das atitudes dos indivíduos, eles definem a pauta de cada campanha
política, influenciando a saliência de atitudes frente às questões políticas.
Entretanto, Ferreira (2017, p. 83) considera que o conceito do agenda-setting é
uma “conceção contestada”, e define o agenda-setting como sendo uma competição
permanente entre os proponentes da agenda pela atenção dos media, do público e das
elites políticas. Na ótica de Sebastião (2016, p. 316), para os teóricos do agenda-setting,
o agendamento representa a introdução de temas que os media consideram serem
importantes para debater. Assim sendo, os órgãos de comunicação social não impõem
uma forma de pensar às pessoas, mas estabelecem as questões da atualidade sobre as quais
convém ter uma opinião. Uscinski (2009, p. 796) defende que a literatura sobre a
definição da agenda tem indicado a capacidade dos media em definir a agenda das
questões para o público. Para este autor os pesquisadores produziram algumas evidências
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sugerindo que o público, ocasionalmente, define a pauta editorial dos media. a hipótese
do agenda-setting não é apenas para Monteiro, Lourenço e Marques (2012, p. 180), o
agendamento ou o estudo dos efeitos a longo prazo é um corpo teórico estruturado.
Contudo, para estas autoras, o Agenda-Setting na comunicação de massas não intervém
diretamente no comportamento dos cidadãos, mas influencia o modo como o destinatário
das mensagens mediáticas organiza o seu conhecimento sobre o mundo.
Para DeFleur e Ball-Rokeach (1993, p. 277), a função da imprensa de
estabelecimento da agenda, que foi criada por Donald L. Shaw e Maxwell McCombs, é
utilizada como um mecanismo para compreender como o público classifica a importância
dos temas políticos cobertos pelos media. Uma tentativa suplementar para entender as
implicações da realidade veiculada está agregada à hipótese da função de estabelecimento
da agenda própria da imprensa. A ideia básica é de que existe uma relação estreita entre
a maneira como os media apresentam os problemas, com foco na campanha política e na
ordem de importância atribuída a esses problemas que são expostos pelo noticiário.
Segundo Wolf (1999), McCombs e Shaw avançaram que os media exercem uma
influência significativa no que os eleitores consideravam ser os principais assuntos da
campanha, reconsiderando o papel dos mesmos junto das audiências e a própria conceção
de efeitos. O efeito mais importante dos media é visto como sendo a sua capacidade de
estruturar e organizar o nosso mundo, os conhecimentos da audiência e de saber mudá-
los, uma função da comunicação de massas que estabelece o agenda setting. Esta teoria
de interpretação, como descrevem DeFleur e Ball-Rokeach (1993, p. 284), focaliza
especialmente as notícias políticas em contraste com o espectro amplo do conteúdo dos
media em geral. Além disso, ela focaliza um tipo de significado interno ou um conjunto
de crenças resultantes da descrição dos media, a ordem hierárquica da importância
atribuída a um conjunto de questões políticas que são discutidas na imprensa. Contudo,
esta teoria é coerente com o paradigma de significado mais amplo, e é uma construção
social relatando a realidade mediática, a criação do significado objetivo e a sua influência
no comportamento.
Uscinski (2009, p. 797) considera existirem vários modelos proeminentes que
procuraram explicar o conteúdo das notícias. Essas explicações raramente são testadas de
forma sistemática. A Teoria do Espelho atribui a cobertura das notícias, por exemplo, um
reflexo dos eventos reais e argumenta que as notícias refletem a realidade social, onde os
jornalistas agem de forma neutra; nesta conformidade, McCombs e Valenzuela (2007, p.
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46) consideram que as repetições de mensagens sobre as questões públicas nas notícias,
juntamente com a difusão dos meios de comunicação de massa nas nossas vidas,
constituem uma importante fonte de influência do jornalismo sobre o público. A natureza
acidental desse aprendizado, por sua vez, ajuda na transferência de questões da agenda
dos media para a agenda pública. O ponto de referência para o aparecimento de efeitos
de definição da agenda vai de um a dois meses, contudo, podem existir variações entre os
indivíduos e os problemas. Por conseguinte, Campus (2010, pp. 219-220) considera que
nas democracias contemporâneas, a ascensão de líderes políticos não pode ser esclarecida
sem fazer referência ao seu estilo de comunicação e as suas estratégias com os media. Um
dos aspetos-chave da mediatização da política é que os atores políticos se tornaram
“capazes de adaptar o seu comportamento às exigências dos media” (Campus, 2010, p.
220). A definição da agenda não anula o pressuposto básico da democracia de que o povo
tem soberania para determinar o curso da sua Nação, do seu Estado e das suas
comunidades locais. Contudo, os atores políticos, na visão de McCombs e Valenzuela
(2007, p. 46), podem moldar um evento a fim de adequarem-se às necessidades dos media
no que diz respeito ao momento, a localização e o enquadramento da mensagem e dos
mentores políticos à luz dos seus interesses. O processo de adaptação da política às regras
dos media também envolve a visão da comunicação política, dos atores e do conteúdo do
discurso político (Campus, 2010, pp. 219-220).
Gonçalves, Pereira e Silva (2017, p.207) consideram que, desde a génese do
agenda-seting, centenas de estudos procuraram replicar ou desenvolver as suas ideias
iniciais. Estes estudos debruçam-se sobre os efeitos básicos do agenda-setting associados
ao priming e aos efeitos psicológicos das fontes da agenda mediática e sobre as
consequências dos seus efeitos. Scheufele (2000, pp. 297-298) entende que o priming é o
impacto que a definição da agenda pode ter na maneira como os indivíduos avaliam os
funcionários públicos, influenciando as áreas temáticas ou as questões que os indivíduos
usam para formular essas avaliações. Ainda Scheufele (2000, pp. 299), clarifica que o
enquadramento do priming pode ser considerado uma extensão da definição da agenda,
por tratar da seleção de um número restrito de atributos temáticos relacionados com a
inclusão na agenda dos media de um determinado assunto a ser discutido. Por outras
palavras, o agenda-setting refere-se à definição da agenda relacionada com a relevância
das questões predefinidas, como a definição do quadro noticioso ou a definição da agenda
de segundo nível.
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Segundando a ideia anterior, Silvestre (2011, p. 124), afirma que a formulação
mais clara do agenda-setting diz, de uma forma muito simplificada, que as pessoas
tendem a incluir ou excluir dos seus conhecimentos o que os media incluem ou excluem
do seu conteúdo; em consequência da ação dos jornais, da televisão e de outros meios de
comunicação, o público sabe ou ignora, presta atenção ou descura, realça ou negligência
elementos específicos dos cenários públicos.
Atendo-se às considerações de Jiang (2014, p. 170), é possível perceber que o
efeito da definição da agenda dos media sobre o público é uma consequência mais
verificada na pesquisa da comunicação entre os media e a opinião pública; visto que,
explica a correlação entre os media e o público, e a partir daí percebe-se a atitude dos
recetores como sendo uma aceitação passiva das mensagens. Para a teoria da definição
da agenda dos meios de comunicação de massa, os media influenciam a direção e/ou a
intensidade da atitude dos destinatários, por isso têm um impacto significativo na
definição de uma agenda para as campanhas políticas e na conscientização do público
sobre a importância das promessas e ações políticas. Scheufele (2000, p. 302) defende
que a definição da agenda e a sua preparação precisam de ser conceituadas em dois níveis
distintos, ou seja, a nível macroscópico, que é o estabelecimento da agenda que deve ser
examinado com base nos media, e a nível microscópico com base no priming que é o
resultado psicológico individual do estabelecimento da agenda. A definição da agenda
deve ser examinada com base no público ou na relevância ou acessibilidade da memória
de uma determinada pessoa.
A propósito dos efeitos cognitivos dos media, Silvestre (2011), propõe uma
tipologia em que, pelos efeitos resultantes da capacidade simbólica para estruturar a
opinião pública, se incluem as consequências dos media em termos de orientação da
atenção pública, da agenda de temas e da sua hierarquização, ou seja, a denominada
agenda-setting.
Segundo o apontado por Saperas (1993), agenda-setting tem em conta três grandes
objetivos:
a) A agenda dos media, em termos de composição e de formação;
b) O reconhecimento das agendas, estudando sobretudo a agenda dos media e agenda
pública; e
c) O denominado time-frame, no sentido da consideração dos efeitos cumulativos e
do processo de estabelecimento da agenda temática.
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Para Van Aelst e Outros (2014, p. 4), tanto na comunicação quanto na ciência
política, o estabelecimento de agendas tornou-se um dos paradigmas dominantes. Nas
ciências da comunicação, a concretização da agenda é, em grande parte, baseada sobre os
efeitos dos media nos cidadãos; pode ser também a cobertura das questões pelas quais os
media vão influenciar as prioridades do público e, indiretamente, as suas preferências de
voto. Na ciência política, a agenda política lida principalmente com a atenção limitada
dos atores políticos para uma ampla gama de questões políticas. Nessa relação, os media
são vistos como um dos possíveis fatores que influenciam a agenda dos formuladores de
políticas públicas, embora não sejam os elementos mais importantes. Como declaram
Gonçalves, Pereira e Silva (2017, p.207), apesar da diversidade de abordagens, as
investigações desenvolvidas no âmbito do agenda-setting recorrem com frequência à
análise de conteúdo com o objetivo de avaliar a agenda pública do Estado. Neste contexto,
como defende Scheufele (2000, p. 299), a nossa opção por esta teoria deve-se ao facto de
ela estar sustentada na agenda pública que é desenhada por influência dos media,
permitindo que se faça o enquadramento do conteúdo político, económico e social do
Estado num único modelo. Esta teoria serve de suporte à fundamentação do presente
estudo, porque sustenta os moldes em que se processam os estudos de comunicação
política.
Finalmente é importante ressaltar que o estudo da organização da agenda tornou-
se uma tradição nas pesquisas científicas de ciências da comunicação. Nestas pesquisas
seguem-se as tradições do papel da imprensa em processos eleitorais e explora-se o
“poder da imprensa” em moldar o pensamento público a respeito do processo político e
dos problemas sociais para os quais estão voltados.
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step flow theory” ou a Teoria dos efeitos limitados, chama a atenção para o papel dos
mediadores de informação, que contrariam os efeitos diretos dos mass media, sendo por
isso, considerada uma visão sociológica do fenómeno infocomunicacional.
A abordagem sobre a Teoria dos Efeitos Limitados dos Media, segundo Ferreira
(2014, p. 256), defende que os conceitos dos efeitos limitados surgem com o
estabelecimento da indústria noticiosa como o Penny Press. Uma formulação que é
realçada a partir dos estudos que se interessariam pela popularidade dos veículos de
comunicação que despontaram, como a rádio, o cinema e, principalmente, a televisão.
Segundo Amorim (2013, p.211), novos estudos realizados na década de 30 conduziram a
conclusões significativas sobre a influência que os atributos pessoais e sociais exerciam
sobre a perceção da mensagem, o que resultou em explicações do fenómeno por meio da
influência seletiva. Essa abordagem defendia que, nem todas as pessoas recebiam a
mensagem uniformemente, pois, variados fatores podiam definir essa influência, que se
consubstanciavam nas diferenças individuais, sociais ou nos relacionamentos sociais das
pessoas atingidas pelo conteúdo da mensagem.
Para Wolf (2005, p.37), a Teoria dos Efeitos Limitados desloca o acento de um
nexo causal direto entre propaganda de massa e manipulação da audiência para um
processo mediato de influência, em que as dinâmicas sociais cruzam-se com os processos
de comunicação. É preciso notar que os fatores culturais parecem levar ao declínio do
conformismo social que anteriormente definia os indivíduos como recetores de
mensagens dos media que funcionavam como pistas para a sua orientação política e
social. Sangirardi (2013) considera que na era das audiências personalizadas, o fluxo de
informação que passa pelos múltiplos canais, é modelado de forma interativa e precisa de
levar o público em consideração para despertar o seu interesse. No entanto, para Amorim
(2013, p.212), o foco da análise concentrou-se no entendimento de como se dava a relação
entre o conteúdo dos media e as respostas dadas pelas pessoas no instante. A compreensão
de como o indivíduo assiste, interpreta, recorda e age conforme as mensagens que recebe
constitui o alvo da Teoria dos Efeitos Limitados dos Media.
Ferreira (2014, p. 256) defende que segundo as formulações desta abordagem
inicial, a audiência subjugada aos media era imaginada como átomos de indivíduos
aglomerados numa massa uniforme e, quando exposta aos bens culturais, reagia de igual
forma a eles, como numa relação causal entre exposição e ação. O estudo de Sebastião e
Lourenço (2016, p. 125) considera que a perspetiva normativa dos estudos de
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comunicação e ciência política advoga, desde as suas origens, a importância da
informação credível sobre os assuntos e a atividade política, na medida em que, permitem
ao cidadão tomar decisões sustentadas e racionais.
Para Sangirardi (2013), a passagem da comunicação dos meios massivos para os
processos interativos das redes de comunicação valoriza o sistema de recomendações para
produtos e serviços e até para candidatos à cargos eletivos. Nesta conformidade, as
estratégias interativas de mobilização podem influenciar mais do que as mensagens pré-
arranjadas sobre um frame generalista. Por outro lado, relacionando o efeito das notícias
a partir desta teoria percebe-se, segundo Monteiro, Lourenço e Marques (2012), que os
efeitos das notícias estão voltados para os fatores de mediação entre o Governo, os media
e os cidadãos. No entanto, Sangirardi (2013) considera que o processo de formação da
opinião pública é mais aparente no período eleitoral, momento em que se experimenta
um maior contato com a informação política, por meio das relações interpessoais ou da
exposição aos media. A partir de conversas com outras pessoas e do consumo de notícias
e comentários, basicamente dos media, constroem-se os discursos e selecionam-se os fios
com que se tecem as interpretações sobre o mundo da política.
Contrariamente a opinião de Sangirardi (2013), Wolf (1999, p.51), alega que a
Teoria dos Efeitos Limitados dos Media deixa de salientar a relação causal direta entre a
propaganda de massas e a manipulação da audiência e insiste num processo indireto de
influência em que as dinâmicas sociais se intersetam com os processos comunicativos.
Sangirardi (2013), por sua vez, diz que o impacto desta relação na investigação e no
processamento de informação política, a partir da exposição aos estímulos dos media, é
evidente, já que, parte substancial do aprendizado político das audiências contemporâneas
é indireta, ou seja, é subproduto de atividades frequentemente não políticas. Na opinião
de Ferreira (2014, p. 256), as reações comportamentais da audiência de massa são também
reflexos diretos da sua exposição aos media. Segundo tal fundamento, os meios de
comunicação possuem intenções claras de mobilizar as atitudes, os comportamentos e a
audiência, passiva e desprotegida.
Sangirardi (2013) entende que a exposição não proposital dos discursos, é
identificada com a passividade na receção, num contexto de opções limitadas de consumo
de informação, ao passo que a eficiência em encontrar o que se procura é potencializada
pelos media, que promovem a motivação como variável chave para o envolvimento
político no ambiente dos cidadãos. Contudo, Monteiro, Lourenço e Marques (2012, p.
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192) consideram que não é fácil generalizar os modos como as mensagens comunicadas
pelos media afetam as pessoas, as tentativas têm levado à conclusão de que não existem
efeitos diretos. As autoras chegam a está conclusão, porque as mensagens reforçam,
principalmente, as atitudes e o comportamento dos cidadãos.
Da exposição foi possível perceber que os estudos sobre os efeitos limitados dos
media tornam-se importantes, na medida em que, os meios de comunicação de massa
ainda jogam um papel fundamental na disseminação das informações no mundo
contemporâneo. Desta forma, mesmo que a comunicação interpessoal tenha o seu papel,
continua a ser difícil fazer com que um grande número de pessoas se aperceba de um
acontecimento somente por intermédio das conversas com os seus familiares, amigos ou
colegas de trabalho.
Assume-se que a Teoria dos Efeitos Limitados dos Media permite utilizar a
imprensa para moldar significados compartilhados pelas pessoas, e constitui uma
estratégia bastante eficaz para conseguir e manter o controlo social, político ou económico
dos cidadãos. Ainda que o objeto de estudo desta teoria não seja propriamente os media,
ou seja, o seu interesse específico não seja a influência gerada na formação da opinião
dos cidadãos, ela ajuda a compreender o efeito dos discursos mediatizados de João
Lourenço nas relações com os cidadãos eleitores.
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2. Ação Política, Espiral do Silêncio e Representação Social
2.1.Teorias da Ação Política
Os princípios que marcam a Teoria Organizacional surgiram na década de 1950,
quando Warren Breed um dos seus percussores apresentou-os no seu estudo intitulado
Controlo Social da Redação, uma análise funcional. Neste estudo, Breed inseriu o
jornalista no seu contexto imediato ao considerar a organização para a qual trabalha. A
concepção de Breed (1993), defende que a produção da informação jornalística deve ser
determinada pela configuração das instituições para as quais os profissionais trabalham.
A Teoria Organizacional invoca a importância da instituição, pelo poder que detém em
submeter o jornalista às suas orientações. Nessa vertente, o jornalista faz o esforço de se
adaptar às regras e às normas editoriais da instituição. Traquina (2005, p. 153) afirma que,
na abordagem da Teoria Organizacional, a ênfase é feita no processo de socialização
organizacional em que é sublinhada a importância duma cultura organizacional e não uma
cultura profissional. Essa teoria torna explícita, parte das várias dimensões da atividade
jornalística ao distinguir a cultura da instituição, da cultura da profissão e da cultura do
próprio jornalista.
Nos anos 60, em diversos países, ondas de protesto invadiram o espaço das
universidades e colocaram os seus membros perante dúvidas emergentes e a necessidade
de novas perguntas. Neste contexto, Traquina (2007, pp. 87-88), esclarece que a nova
fase de investigação foi marcada pelo crescente interesse pela ideologia, estimulada pela
influência de certos autores marxistas como o italiano António Gramsci, bem como pela
redescoberta da natureza problemática da linguagem, de que é exemplo a escola semiótica
francesa e a culturalista britânica. Por conseguinte, Brotto (2012), defende que a Teoria
Organizacional mostra as possíveis tensões entre as ideais jornalísticas e a linha editorial
que são atenuadas dentro da própria organização por meio dos ideais, mormente as
normas éticas, fazer notícia e as normas técnicas.
As ações políticas mediatizadas, como defende Cane (2015) passam a ser atos
tendentes a produzir uma nova atitude e a mudar os contextos sociais, dando nascimento
a uma nova postura. Esta postura tem sido alvo de estudos no domínio da gestão política,
pois, permite a adesão dos gestores políticos e dos cidadãos a uma nova atitude
governativa e com regras. Para Brotto (2012), as edições e escolhas do conteúdo noticioso
passaram a ser considerados instrumentos importantes para a consolidação da política
editorial e para o próprio editor. As opções noticiosas são uma forma de colorir a política
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que não pode ser revelada, ao defender que esta pode ser definida como a orientação
consistente evidenciada por um jornal, não só no seu editorial como também nas suas
crónicas e manchetes, relativas a questões e acontecimentos previamente selecionados.
Traquina (2007, pp. 89-90) considera que a Teoria da Ação Política utiliza os
media noticiosos de forma instrumentalista, isto é, com certos interesses políticos. Esta
teoria defende a posição de que as notícias são distorções sistemáticas ao serviço dos
interesses políticos de certos agentes sociais específicos, que as utilizam na projeção da
sua visão do mundo e da sociedade, influenciando, desta maneira, a postura e a perceção
de quem consome estas notícias. Cane (2015); Connelly (2005) defendem que é possível
extrair dos discursos políticos ações concretas que podem converter-se em feitos
tangíveis, que permitam a prossecução do interesse público, a partir de um programa de
governo.
Para Traquina (2007, p. 88), a riqueza da explosão dos estudos sobre o jornalismo,
a partir da década de 1970, não se mede só pela quantidade de trabalhos publicados, mas
também pelas novas preocupações e perspetivas. A nova fase dos estudos noticiosos
alargou o âmbito das suas preocupações do nível do indivíduo para o nível da
organização, relativamente a comunidade profissional. Segundo Cobb e Elder (1971,
p.893), as pesquisas sistemáticas, nas últimas duas décadas, têm revelado que nas Teorias
da Ação Política consistentemente verificam-se altos padrões e requisitos historicamente
percebidos para a governação democrática, que não está a ser atendida, nem abordada
pelos media. Traquina (2007, p. 88) esclarece que na nova fase de relação entre o
jornalismo e a sociedade conquistou-se uma nova dimensão central, com as implicações
políticas e sociais da atividade jornalística, na medida em que, o papel social das notícias
e a capacidade do “Quarto Poder” de corresponder as enormes espectativas em si
depositadas pela própria teoria democrática são cada vez mais visíveis.
Para Cane (2015), a ação política é central para a afirmação de um novo começo,
já que, principia novas atitudes, rompe expetativas e convicções e faz uma rotura com o
que é comumente aceite. Na mesma senda, Connelly (2005) considera a ação política
como sendo o nascimento de uma nova atitude. Nesta conformidade, Salamon (2011, pp.
1611-1612) defende que as ações políticas são todas as reformulações do setor público
ou privado, que visam a melhoria da eficácia da governação e dos seus programas, para
possibilitar que se levem a cabo reformas que permitam reinventar, reduzir, privatizar,
devolver, descentralizar e desregulamentar setores da vida pública e privada de um país.
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Cobb e Elder (1971, p.893) são de opinião que qualquer confiança remanescente pode ser
abalada, se não for destruída pelo desenvolvimento de pesquisas sobre a opinião pública
e a participação popular nos sistemas políticos, que há muito serviam como modelo de
democracia estável. A Teoria da Ação Política exige que o eleitorado possua uma
estrutura de personalidade adequada, que se interesse e participe dos negócios públicos,
para que seja informado, íntegro, que perceba corretamente as realidades políticas, que se
engaje na discussão, que julgue racionalmente e que considere os interesses da
comunidade.
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ambientes sociais, então o indivíduo não se isola, e é mais ativo no seu próprio
julgamento, porquanto, esta parece ser uma condição de vida em sociedade, se fosse de
outra forma, a integração plena não poderia ser alcançada. Para Sousa (2006, p. 523),
dentre os efeitos a longo prazo destaca-se o seu efeito socializador. Para este autor, esta
teoria indica que, através do seu papel socializador, os media competem com a família, a
escola, as relações informais, os partidos políticos e o Governo, o que quer dizer que os
media promovem a aprendizagem de normas, valores e expetativas de comportamento,
em função do contexto das situações e do papel desempenhado pelas pessoas em
sociedade. Sousa (2006, p. 523), vai mais adiante ao esclarecer que para esta teoria, os
media, ao participarem na configuração do conhecimento sobre a política, modelam uma
determinada escala de valores e atuam como agentes de socialização política. Na mesma
linha de pensamento, Noelle-Neumann (1974, p. 43) considera que o medo de se isolar
(não apenas medo da separação, mas também dúvida sobre a própria capacidade de
julgamento) é parte integrante de todos os processos de opinião pública. Este é o ponto
em que o indivíduo fica vulnerável e, é aí que os grupos sociais podem puni-lo por não
seguir os limites. Portanto, nessa aceção os conceitos de opinião pública, sanção e punição
estão intimamente ligados entre si, pois, como considera Córdoba (2014, p.62), a
diferenciação entre visibilidade mediática e visibilidade pública visa distinguir, não só as
orientações hegemónicas que se podem apontar na construção do público e dos problemas
públicos, mas também as orientações produtivas dos atores sociais que nunca acabam por
se adaptarem e/ou submeterem-se, completamente às formas mediáticas da sua
constituição.
Segundo Midões (2008, p.5), a Teoria da Espiral do Silêncio constitui uma “luz”
na condução de toda a investigação que venha a ocorrer a acerca da Natureza Social do
Homem. No entanto, existem conceitos como “pressão para o conformismo” e “medo do
isolamento”, que são fulcrais para a perceção desta área do saber. Entre outras coisas, os
homens têm uma natureza social que lhes causa medo de isolamento, o que influencia
substancialmente o seu comportamento. Noelle-Neumann (1974, p. 45) chama a atenção
pelo facto de que, o dar voz à opinião contrária ou agir de acordo com o interesse público
acarreta o perigo de isolamento. Em outras palavras, a opinião pública pode ser descrita
como a opinião dominante que obriga a obediência de atitude e comportamento, na
medida em que, ameaça o indivíduo dissidente com o isolamento e o político com a perda
de apoio popular. Numa das suas entrevistas, ao investigar a propensão de um individuo
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quanto ao comportamento público, Noelle-Neumann (1993), notou que as pessoas tiram
as suas conclusões sobre a força ou a fraqueza de opiniões, não apenas em conversas
familiares, mas também em conversas com pessoas solitárias (com poucos conhecidos) e
conseguem perceber os sinais da influência pública. Noelle-Neumann (1974) considera
que quando ocorre uma mudança no clima político a favor ou contra uma determinada
parte, pessoa ou ideia, os cidadãos, bem como todos os grupos populacionais apercebem-
se da mudança, simultaneamente, em quase todos os lugares, quando os sinais são
totalmente abertos e públicos.
Midões (2008, p.5) considera que a Teoria da Espiral do Silêncio não se baseia
num pensamento teórico, por se tratar de mecanismos de ideias que se cruzam e se
completam, e ao qual pode sempre ser acrescido mais um elemento fatual. A Teoria da
Espiral do Silêncio é um mecanismo de ideias que está, muitas vezes, interligado com as
campanhas eleitorais, que já foram alvo de estudo da própria NoelleNeumann. Desta
forma Noelle-Neumann (1993) afirma que o comportamento dos cidadãos na família
(círculo primário) pode ser igual ou diferente nos lugares públicos. Contudo, para a Teoria
da Espiral do Silêncio, isto não constitui uma preocupação fundamental, ainda que sirva
para averiguar o comportamento natural das pessoas em situações públicas, que se dão
em lugares como na rua, numa empresa ou quando age-se como meros espetadores de um
ato público. A Teoria da Espiral do Silêncio também considera os comportamentos
particulares e as atitudes no seio dos outros membros da família, porquanto nestas
circunstâncias, as pessoas expressam as suas verdadeiras emoções. Noelle-Neumann
(1974, p. 45) esclarece que no fatalismo da multidão não existe compulsão legal nem
moral; existe apenas uma perda de resistência ao poder, um menor senso de
responsabilidade pessoal e do dever de lutar pela própria opinião.
Com base nos argumentos de Noelle-Neumann, optou-se pela abordagem desta teoria,
pelo fato de procurar esclarecer o comportamento dos indivíduos em relação a uma ação
mediática individual, coletiva ou pública, o que facilita a perceção da reação pública dos
cidadãos as intenções e as ações políticas do Governo angolano, pois segundo a mesma,
as pessoas tiram as suas conclusões sobre a força ou a fraqueza de opiniões e desta forma,
conseguem perceber os sinais da influência pública.
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2.3.Teoria da Representação Social
O conceito de representação social atravessa as ciências humanas e não é
património de uma área em particular. A representação social tem profundas raízes na
sociologia e uma presença marcante na antropologia e na história das mentalidades.
Moscovici (1961, p.1-3) utilizou, pela primeira vez, a expressão “representação social”
na sua tese de doutoramento, publicada em 1961 e intitulada La psychanalyse, son image
et son public. A tese foi reformulada no estilo e, sem muitas indicações técnicas, foi objeto
de uma 2.ª edição em 1976, com o mesmo título. É nesta obra que se encontra a génese
quer do conceito, quer da teoria, ambos formulados para responder ao objetivo aplicado
de Moscovici que consistia em indicar as representações sociais na psicanálise, em
França, na passagem dos anos 50 para a década de 60. Trata-se de uma teoria que
pressupõe um meta-sistema de regulações sociais que intervêm no sistema de
funcionamento cognitivo e regula normativamente as representações sociais. A Teoria
das Representações Sociais de Serge Moscovici para Marková (2017, p. 359) serve de
modelo científico-social que mostra a originalidade e criatividade do seu pensamento.
De acordo com Carvalho e Arruda (2008, p. 446), o diálogo da representação
social com a comunicação está presente de forma sistemática na obra de Moscovici, e
embora as suas influências sejam mais explícitas em relação à sociologia, Carvalho e
Arruda servem-se da mesma para incorporar a dimensão comunicativa nas representações
sociais. A Teoria das Representações Sociais tem o seu foco nos recursos intelectuais que
estavam disponíveis para Moscovici durante o tempo em que a desenvolveu; esses
recursos moldaram e distinguiram firmemente a Teoria da Representação Social de outras
abordagens psicossociais. Segundo Arruda (2002, p. 127), esta teoria foi desenvolvida a
partir dos anos 60 com o aumento do interesse pelos fenómenos no domínio do simbólico,
as quais recorrem às noções de consciência e de imaginário, onde as noções de
representação e memória social também se encontram incluídas. Esta teoria foi alvo de
maior desenvolvimento a partir dos anos 80. Embora oriunda da sociologia de Durkheim,
é na psicologia social que a representação social ganha uma maior evidência (Arruda,
2002, pp.128-129). Formulada e desenvolvida por Serge Moscovici em 1961 na obra
intitulada La Psychanalyse, son image, son public, que contém a matriz da teoria, causou
uma certa empatia nos meios intelectuais pela novidade da proposta. Entretanto, foi um
rápido momento de impacto que não produziu desdobramentos visíveis e foi aprofundada
por Denise Jodelet. Esta base teórica passou a servir de instrumento para outros campos
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de conhecimento como a saúde, a educação, a didática, o meio ambiente e os media. É
preciso observar que, segundo Feezell (2017, p. 2), há uma fragmentação da audiência,
ao longo das linhas de interesse político, que dá lugar a preocupações sobre a distribuição
de informações políticas na sociedade.
Segundo Araújo (2008, p. 100), as representações sociais podem ser definidas
como “imagens construídas sobre o real”, elas são elaboradas na relação dos indivíduos
no seu grupo social, na ação, no espaço coletivo comum a todos, tornando-se diferente da
ação individual. O espaço público é o lugar onde o grupo social pode desenvolver e
sustentar saberes sobre si próprio, saberes consensuais, isto é, representações sociais. Para
Arruda (2022, p. 128), a partir dos anos 60 com o aumento do interesse pelos fenómenos
no domínio do simbólico, viu-se florescer a preocupação com explicações para eles,
recorrendo às noções de consciência e de imaginário. As noções de representação e
memória social também fazem parte dessas tentativas de explicação e mereceram maior
atenção a partir dos anos 80 em que se destacou o trabalho de Araújo.
De acordo com Araújo (2008, p. 100), as representações sociais, têm um caráter
dinâmico e relacional à trajetória do grupo que a elaborou. Elas são fruto de um processo
sempre atuante, desencadeado pelas ações coletivas dos indivíduos e têm um reflexo nas
relações estabelecidas dentro e fora do grupo, no encontro com outros indivíduos ou
outros grupos sociais. Como resultado temos a ação dos indivíduos que é caracterizada
pelas representações sociais elaboradas pelo grupo. Para Marková (2017, p. 359), a Teoria
das Representações Sociais é construída sobre um conjunto de pressupostos, a menos que
se compreenda a natureza dos recursos intelectuais que fundamentam essas
pressuposições, torna-se difícil responder a perguntas sobre semelhanças e diferenças
entre esta teoria com as outras, como por exemplo, “cognição social” ou “análise do
discurso” e assim por diante. Pelo fato de a Teoria das Representações Sociais tratar de
questões interdisciplinares de alta complexidade, justifica-se o reconhecimento das suas
pressuposições de representações sociais na aplicação das práticas profissionais como na
educação, comunicação, política e saúde. Araújo (2008, p.100) afirma que os grupos
sociais possuem regras, ideias e elaboram informações próprias ao longo da sua história
e sob o reflexo das diferentes relações que estabelecem nesse processo, em que a sua
identidade se constrói, dando-lhe especificidade; entretanto, quando os elementos da
identidade coletiva são questionados ou subestimados, um novo processo tem início com
o surgimento das representações sociais, que são uma resposta do grupo às intervenções
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externas que põem em perigo a sua identidade coletiva, ou seja, o modo como o grupo se
vê e quer ser visto pelos outros.
Segundo Arruda (2009, p. 749), Moscovici ao mostrar a relação da Sociologia
com a modernidade e a razão, advogou a impossibilidade de separar as coisas que,
dificilmente, enquanto fatos sociais eram analisados sem recorrer a noções psicológicas.
As teorias sociais recorrem a essas relações o tempo todo, mesmo sem reconhecer isso.
Partindo do mesmo pressuposto da relação intrínseca entre individual e social, Moscovici
ressalta a dimensão psicológica dos fatos sociais e das teorias que tratam de explicá-los.
Para Carvalho e Arruda (2008, p. 446), as reflexões feitas constituem os esforços no
sentido de promover um diálogo entre a teoria das representações sociais e a
comunicação. Estudos em representações sociais podem ser enriquecidos com a dimensão
comunicativa, não apenas porque a representação refere-se a um tempo-espaço, mas
porque a própria comunicação está na base da transformação social, objeto por excelência
dos trabalhos realizados pela corrente inaugurada por Moscovici e que tem recebido
significativos acréscimos, abarcando novas temáticas das ciências humanas ao longo dos
anos.
Para a análise da interação entre as promessas discursivas do PR de Angola e os
media, mormente, a cobertura e a representação mediática dos discursos e das ações
políticas do Governo angolano foi necessário elaborar um quadro teórico multidisciplinar,
na medida em que, no campo da sua interseção entre estes dois elementos, estão
envolvidos conhecimentos de índole política e questões respeitantes às dinâmicas e aos
efeitos dos media. Assim, optou-se por uma abordagem sustentada pelo gatekeeping e
newsmaking para facilitar o seu enquadramento e compreensão a partir dos jornais
analisados.
Esta simbiose facilitou o tratamento das principais temáticas sobre as ações políticas
mediatizadas do Governo angolano a partir das imprensas portuguesa e angolana. Da
mesma forma, o Agenda-Setting facilitou a compreensão da agenda presidencial, bem
como, a sistematização das principais promessas, representações políticas, ideológicas e
valorativas contidas nos discursos políticos de João Lourenço, culminando com a
identificação das principais temáticas e abordagens dos textos.
A Teoria da Ação Política, por sua vez, forneceu inputs que permitiram reunir
conhecimentos sobre os efeitos limitados da divulgação das notícias pelos media, cujo
complemento é igualmente defendido pela Teoria dos Efeitos Limitados dos media. Esta
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abordagem serviu de base para a validação e compreensão da cobertura e da representação
mediáticas do discurso e das ações políticas mediatizadas do Governo angolano. E por
fim, mas não menos importante, as Teorias da Espiral do silêncio, da socialização pelos
media e da representação social que permitiram compreender o comportamento dos
cidadãos perante compromissos políticos, especialmente em contexto angolano, em que
a abertura política configura-se pouco regular, na medida em que, os cidadãos quase que
não são partícipes das iniciativas governativas.
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3. Cobertura, Representação Mediática e Contexto Político
3.1.Cobertura e Representação de Ações Políticas Mediatizadas
O termo representação, segundo Soares (2007, p. 2), vem do vocábulo latino
repraesentationis, que traduz o significado de “imagem ou reprodução de alguma coisa”.
Trata-se de um termo medieval, introduzido na filosofia escolástica para indicar uma
imagem, ideia ou ambas coisas, sugerindo uma “semelhança” com o objeto ou com a
coisa representada. Para Filho (2005, p. 18), a ideia anterior possuía originariamente um
significado restrito. Com o tempo, esta ideia passou a ser usada em latim, como sinônimo
de “substituição”, ou seja, “fazer a vez de”. Na conceção moderna, o termo designa
também o uso dos variados sistemas significantes disponíveis (textos, imagens, sons) para
“falar por” ou “falar sobre” categorias ou grupos sociais, no campo da batalha simbólica
da vida política e social de um Estado. Nascimenlo-Schulze e Camargo (2000, p. 288)
definem as representações mediáticas como sendo uma forma de exposição simbólica de
acontecimentos, que visam diagnosticar fatos brutos da realidade com o objetivo de
dominar o desconhecido ou o não familiar, e podem ser vistas também como o ato de
construir fatos sociais através da interação. Para eles, a ação e a fala são parte integral da
representação.
Deacon e Stanyer (2014, pp. 1032), postulam que a mediatização emergiu como
um novo conceito influente nos estudos dos media e da comunicação. O conceito já
demonstrou uma notável portabilidade, com discussões sobre a mediatização nas
seguintes áreas: política, guerra, religião, medicina, ciência, música, construção de
identidade, saúde, infância, teatro, turismo, memória, mudança climática, formulação de
políticas, desempenho, consumo, demência, morte, relações íntimas, geografia humana e
educação. Neste sentido, entende-se que os meios de comunicação de massa têm um papel
central na construção da realidade, algo que se relaciona com as perceções cognitivas dos
sujeitos e permitem a construção de parâmetros que instigam o pensamento sobre como
as publicações mediáticas se refletem no pensamento social.
O uso original da Teoria das Representações Sociais de Serge Moscovici
descreveu processos que permitiram o não empoderamento e o aumento do poder criado
pela crescente difusão e autonomia das instituições dos media, valores e tecnologias
(Deacon e Stanyer, 2014, p.1033). Nessa perspectiva, Hepp, Hjarvard e Lundby (2015, p.
315), como resultado do processo anterior, apresentam definições mais elaboradas e
refinadas para construir vários campos empíricos que nos permitem reconsiderar a
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interação particular entre os media, a comunicação, a cultura e a sociedade em diferentes
setores da vida política e social. No entanto, ainda estamos nos estágios iniciais desse
esforço teórico e os trabalhos empíricos enraizados no conceito de mediatização ainda
são relativamente escassos.
De acordo com Belchior e Freire (2015, p. 193), apesar do debate sobre o que a
representação deve significar e como ela deve ser posta em prática, é ampla e
normativamente assumido que os media devem servir os interesses daqueles que
representam. Nesta secção, o estudo do ponto de vista da representação mediática, é feito
com o propósito de verificar como foram tratadas as notícias sobre as promessas
discursivas de João Lourenço, Presidente da República de Angola e a representação das
ações políticas mediatizadas do Governo angolano. Para Soares (2009, p.18), com a
disseminação dos meios audiovisuais, na segunda metade do século XX, a questão das
representações deixaria paulatinamente o domínio ligado a ideias e doutrinas e começaria
a envolver cada vez mais as representações visuais e encenações mediáticas. Estas
representações e encenações estavam implícitas em imagens visuais e estruturas
narrativas mediáticas ao qual se adicionaram o movimento, os sons, as cores e a difusão
eletrônica.
O processo de representação sucede, tal como defende Soares (2007, p. 1), pelo fato
de que a vida em sociedade pode ser vista em duas situações distintas, sendo a primeira a
real, a concreta, a do cotidiano; a segunda, a imaginária, que se abre a partir da cultura de
massas. A segunda situação distinta transporta as pessoas para além do horizonte
cotidiano, através dos media, produzindo experiências substitutas de fatos não
vivenciados diretamente e construindo representações tanto sobre a sua experiência direta
como sobre os temas distantes do dia-a-dia dos membros da audiência. Para Simoneau e
Oliveira (2014, p.281), a importância dos meios de comunicação para a constituição de
representações sociais divide-se em três aspetos:
1) a comunicação é o vetor de transmissão da linguagem, e ao mesmo tempo, a
portadora de representações;
2) a comunicação repercute sobre processos estruturais e formais do pensamento
social, na medida em que, engaja processos de interação social, assim como de influência,
consenso/dissenso e polêmica e;
3) contribui na fabricação de representações que apoiadas na dinâmica social, são
pertinentes para a vida de grupos sociais. As representações constituem os três grandes
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gêneros da cultura mediática: informação (jornalismo), entretenimento (em especial, a
ficção) e persuasão (publicidade comercial, propaganda política).
Relativamente à cobertura mediática, com a difusão dos meios de comunicação de
massas, a crescente mobilização cognitiva dos cidadãos e a profissionalização dos
jornalistas, deu lugar a interdependência entre meios de comunicação e os políticos. Nas
campanhas políticas, os partidos e os seus candidatos pretendem alcançar exposição
mediática enquanto os profissionais da informação procuram a construção noticiosa com
interesse para o seu público. Ghilardi-Lucena (2012, p 89), defende que os media atuam
na construção do imaginário coletivo ao produzir imagens simbólicas e intermediar a
relação entre os leitores e a realidade. Os indivíduos, por meio da leitura dos textos
mediáticos a que estão expostos o tempo todo, vão tecendo os fios da construção da sua
identidade, incorporando sentidos e representações presentes no seu cotidiano. Antunes e
Lisi (2015, p.7) consideram que, em relação ao argumento anterior, existe uma
convergência de interesses entre os atores políticos e os meios de comunicação, visto que,
se por um lado, os protagonistas procuram adaptar as suas atividades para conseguirem
mais notoriedade, por outro os jornalistas estruturam a informação de um modo apelativo.
Antunes e Lisi (2015, p.7), consideram que os media através dos aspetos internos e
individuais, institucionais e políticos, incidem na emergência e determinação das
representações, assim como no pensamento e na construção social da realidade. Neste
contexto, a análise à cobertura e representação mediáticas do discurso e das ações
políticas mediatizadas do Governo angolano, em Portugal e Angola, serve-se do estudo
de Figueiredo e Bonini (2017, pp. 764-765), que dada a pluralidade discursiva das
sociedades contemporâneas, defendem que uma mesma prática social pode ser
representada de diversas formas. Os autores consideram ainda que todas as representações
do mundo e do que nele ocorre, sejam elas mais ou menos abstratas, devem ser
interpretadas como representações (ou recontextualizações) de práticas sociais.
Ainda na senda da cobertura mediática, é notório o argumento de Antunes e Lisi
(2015, p. 7), que demandam que o processo de mediatização da mensagem política atribui
aos meios de comunicação um papel crucial nas campanhas eleitorais. Para eles, é através
da imprensa que a maioria dos eleitores adquire informações sobre os candidatos e os
partidos, e é na arena mediática que se definem os principais conteúdos das campanhas.
A informação inicial elaborada e transmitida pelos atores políticos passa por um processo
de edição rígida, funcionando como um controlo de qualidade à mensagem política.
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Ao nível conceptual, Espírito Santo (2006, p. 88) entende que as representações
discursivas são todos os elementos do discurso que contenham expressões significativas
do ponto de vista da ação política, visando provocar a adesão dos cidadãos ao ideário
político-ideológico e, concretamente, ao projeto personificado pelo PR. Filho (2005, p.
19) considera que o foco nas representações mediáticas permite-nos avaliar, entre outros
tópicos relevantes, de que maneira os gêneros e artefactos políticos funcionam tanto para
forjar a aceitação do status quo e a dominação social, como para habilitar e encorajar os
estratos subordinados a resistir à opressão e a contestar ideologias e estruturas de poder
conservadoras. Para Soares (2007, p. 4), as representações estão no centro de qualquer
ação especificamente humana, uma vez que o próprio pensamento é uma atividade
representacional. Mesmo as ciências baseadas na observação do mundo empírico
compõem-se de conceitos, modelos, diagramas, esquemas, teorias, sistemas, hipóteses,
leis, explicações, interpretações, ou seja, de representações simbólicas construídas a partir
do mundo. Muitas dessas representações, além do seu conteúdo conceitual, apresentam
implicitamente ou suscitam uma analogia que nos parece peculiar ao conceito relacionado
ao mundo empírico.
Segundo Soares (2009, p.19), a força da comunicação contemporânea tem sido
atribuída às capacidades de expressão dos meios de comunicação que, por meio das
imagens e da palavra, conferem realismo, drama e intensidade afetiva às representações
mediáticas. Os meios de comunicação modernos são a concretização tecnológica máxima
da “representação” no sentido de uma reapresentação, a partir da semelhança figurativa
da imagem e da simulação. Cunha e Pinto (2017, p.134) afirmam que um dos objetivos
dos média consiste em fornecer relatos de acontecimentos que eles mesmos consideram
significativos e interessantes. Tendo em conta a influência que os media têm nas
audiências é possível inferir que, quando os seus conteúdos incluem notícias de
acontecimentos positivos, eles têm a capacidade de influenciar positivamente a opinião
pública, na medida em que, a imprensa participa no processo de construção e de
solidificação da imagem social. Apesar de os processos serem diferentes, para Antunes e
Lisi (2015, p. 7), quer os media, quer os políticos procuram o mesmo, isto é, alcançar o
maior número de pessoas. É assim que os discursos produzem efeitos de sentido que
influenciam muitos aspetos da vida diária dos cidadãos.
Cunha e Pinto (2017, p.134) analisam a representação mediática como um
produto simbólico da informação consumível, maleável e seletiva dos media, na relação
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que estabelece com a opinião pública, necessária para os fundamentos da democracia. A
representação mediática é socialmente construída a partir do público e é forjada por
métodos e dados políticos a partir dos quais ela é derivada e entendida por aqueles que
são encarregados de avaliá-la e utilizá-la. No entanto, como defendem Wanta, Golan e
Lee (2004), na teoria da Agenda Setting, a representação mediática das ações políticas é
uma função dos media centrada na reprodução dos atos sociais. Esta teoria defende que a
imprensa pode não ser bem-sucedida em nos dizer o que pensar, mas tem mais vantagens
quando nos diz o que e como pensar. Sob certas circunstâncias a imprensa diz às pessoas
o que pensar fornecendo uma agenda de atributos e uma lista de características sobre
importantes assuntos publicados e os indivíduos vinculam mentalmente esses atributos
aliados aos dos formadores de opinião, influenciando, desta maneira, o posicionamento
social do cidadão.
Em conformidade com o exposto no parágrafo anterior, Filho (2005, p. 19)
considera que na área específica dos estudos mediáticos, testemunhamos um crescente
interesse pelo complexo processo de produção, circulação, consumo e contestação de
representações de ações políticas mediatizadas. Assim sendo, Arias-Herrera (2018, p.
414) defende que a representação mediática da ação política mediatizada significa dar
voz às ideias da governação, o que já não parece, no contexto global, ser uma iniciativa
isolada, mas sim um movimento institucional que abarca várias esferas sociais e culturais,
a começar, pelos media. Para Ferreira e outros (2018, p. 398), os media inserem-se nesse
contexto como um dos principais mecanismos intercessores das relações de disputa na
política e têm significativa influência nas representações sociais construídas sobre as
práticas desse campo e a sua legitimação. Ferreira e outros (2018) consideram ainda que
as práticas políticas mediatizadas têm maior legitimidade do que aquelas que não passam
por essa via.
Para Fairclough (2003), os discursos políticos mediatizados são a representação
das práticas sociais, por serem a reprodução do mundo material e de outras práticas
humanas passíveis de serem reveladas e influenciarem a opinião pública. Nesse diapasão,
Robinson (2001) considera que apesar de muita teoria dos media continuar a subestimar
ou a negar a possibilidade de os media moldarem ou influenciarem a formulação de
políticas governamentais, comportamentos e atitudes, os meios de comunicação de massa
servem principalmente, para mobilizar apoio às preferências políticas, económicas e
sociais das elites dominantes, ou seja, ainda mantêm alguma influência independente nos
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debates políticos, económicos e sociais da elite sobre as ações políticas. No entanto, o
jornalismo é a única atividade que tem um compromisso profissional, ético e político,
com fidelidade ou precisão das informações. Dessa forma, o conceito de enquadramento
(framing) vem sendo empregue para analisar como as informações pontualmente corretas
e verificáveis podem ser selecionadas, valorizadas, destacadas, omitidas, atenuadas ou
relacionadas a outras, em reportagens complexas, de modo a produzirem representações
diferentes de uma mesma situação, dentro do limiar de verossimilhança (Soares, 2007).
É notório, tal como defendem Aalberg, Vreese e Strömbäck (2017, p.33), que a
literatura sobre o enquadramento da política pelos media como um jogo estratégico
normalmente compartilha uma orientação comum visando publicitar os feitos políticos
dos governos. Tais autores argumentam ainda, que a cobertura descritiva e orientada de
eventos foi substituída por uma abordagem orientada para os jogos políticos. A ascensão
estratégica da estrutura do jogo hábil pode estar ligada a mudanças no sistema político e
no mercado da informação. É assim que Porto (2009, p. 211) considera que os media
constituem, nas democracias modernas, um dos principais produtores de representações
sociais, aos quais, para além do seu conteúdo ser considerado falso ou verdadeiro, têm a
função pragmática de orientar as condutas dos atores sociais. Nesta conformidade, faz
sentido argumentar a favor da relevância da representação mediática das ações políticas
mediatizadas do Governo de Angola, enquanto subsídio para o controlo da sua efetivação,
não por serem as representações sinônimo de verdade, mas por se constituírem em
veículos privilegiados de crenças, valores e anseios dos distintos setores da sociedade.
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têm sido confusas; alguns estudos sugerem que os media desempenham um papel
mobilizador geral, enquanto outros relatam um padrão misto que os distingue. Salgado
(2012, p. 229) considera que alguma literatura mais recente tem sugerido que os media
estão a tomar uma parte ativa na representação pública da política, modelando a agenda
do discurso político e influenciando com as suas próprias preferências as controvérsias e
os debates políticos.
Para esta análise, assinalam-se os estudos de Norris (2004); Mazzoleni (2010);
Mutsvairo e Karam (2018), que conceituam a comunicação política como sendo um
processo interativo relativo à transmissão de informações entre os políticos, os meios de
comunicação e o público. O estudo de Mazzoleni (2010) considera que, dentre um
conjunto de definições possíveis sobre comunicação política, caracteriza-se como sendo
o intercâmbio e a confrontação dos conteúdos de interesse público-político que produz o
sistema político, o dos meios de comunicação e o cidadão. Mutsvairo e Karam (2018, p.
3) afirmam que a comunicação política não está apenas centrada na relação entre os
políticos, os media e os cidadãos, mas em todas as formas de comunicação realizadas por
políticos e outros atores afins, sendo o discurso político uma dessas formas. Despertou
igualmente a atenção deste estudo, a perspetiva de Salgado (2012, p. 229), segundo a
qual, os estudiosos têm-se manifestado em relação ao papel dos media no processo
político e consideram que este papel tem sofrido alterações nas últimas décadas, pois, é
possível identificar posições em que os media são vistos como um veículo mais ou menos
passivo de mensagens, cuja ação pode ter implicações em diversos momentos, tais como
na governação diária ou nas campanhas eleitorais.
Reyes-Rodríguez (2008); Cardina (2016) denotam que o discurso político apresenta
caraterísticas específicas em relação a outras formas de comunicação, pois, necessitam
que se façam escolhas lexicais tais como: vocabulário, sintaxe explícita, características
morfológicas, construções sintáticas complexas, variáveis pragmáticas, formulários de
endereço, metáforas, modalidade e marcadores avaliativos, valores ideológicos entre
outras estratégias. Segundo Cardina (2016, p. 31), a comunicação política, no geral,
permite contribuir para a reflexão sobre o papel do discurso e da autoridade política, uma
vez que o discurso político, segundo Reyes-Rodríguez (2008, p.226) é conceitualizado
como sendo uma comunicação relativamente autónoma produzida oralmente por um
político a frente de uma audiência com o propósito de persuadir, transmitir informação
ou entreter, numa perspetiva de registo. Alves (2016, p. 218) considera o discurso uma
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instância textual que visa não somente a sua capacidade referencial, mas as escolhas
efetuadas pelo autor do discurso, localizando nessas escolhas as forças que operam na
representação do mundo e da sociedade.
À luz da conceptualização de discurso político, defende-se que os discursos políticos
do PR são todas as comunicações autónomas, que vêm sendo apresentadas através dos
media, cujo objetivo consiste na materialização das suas ideias. Depreende-se que, com
os discursos políticos, o PR de Angola, em foco, João Lourenço, pretende alcançar um
estágio de melhoria política, social e económica, e assim promover a liberdade dos
cidadãos e o normal funcionamento e desenvolvimento das instituições do Estado.
García-Orosa (2018, p.114) considera que o discurso político não é apenas um lugar de
construção da mensagem, mas também um espaço em que o emissor e o recetor são
inicialmente produzidos, ou seja, o público é entendido como um dos atores projetados
pelos media por meio dos seus textos ou peças noticiosas. Nesta relação, o público não é
um conjunto de pessoas externas ao meio, pois está implícito no conteúdo proposto pelos
media. Os estudos do discurso, para Resende (2018, p. 618), são capazes de sustentar a
explanação dos problemas sociais particulares com base no uso da linguagem, visto que,
esta mantém um tipo especial de relação com outros elementos sociais. Sendo a
linguagem parte de toda estrutura, na forma de simbiose de toda prática social, na forma
de ordem do discurso e de todo evento social, na forma de texto.
Num plano linguístico, que não será central no estudo presente, citam-se as
contribuições de Charaudeau (2002); Saussure (2000), que têm um particular significado
para a compreensão e interpretação dos discursos. Por um lado, Saussure (2000) observa
o discurso como sendo um processo de interpretação e avaliação que aborda brevemente
a sua influência como categoria pragmática para a persuasão. Por outro lado, Charaudeau
(2002) considera existir no discurso político restrições comunicativas e o uso destas
restrições nas estratégias discursivas obriga que se faça o estudo do discurso político com
base em duas importantes áreas: a comunicacional e a representacional; essas áreas são
inerentes a várias disciplinas. Nas áreas comunicacional e representacional, os atos de
fala são dotados de força ilocucionária, perlocutória, social e etnográfica, condições
externas de produção da linguagem e da ação psicológica em que todo o ato de fala é
eivado, numa perspetiva de influência.
De acordo com Cull (2009, p. 3), os discursos políticos são construídos com base
nos conhecimentos consubstanciados na ideia tradicional do saber, aos quais são
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associados a crença verdadeira que requer esclarecimento e qualificação. Para Bailey,
Sigelman e Wilcox (2003, p.56), a aprovação de uma ação política é um recurso no qual
um Presidente pode “investir” e construir apoio para as suas políticas. Segundo
Strömbäck (2008, p. 229), ao discutir a mediação e a mediatização da política, muitos
observadores tendem a ser críticos. Uns consideram que na situação atual, quando a
política é mediada e mediatizada, é implícita ou explicitamente comparada a algum tipo
de idade de ouro, cujo momento exato está visivelmente ausente na maioria dos relatos.
Quando a política era mais fiel aos seus ideais, quando as pessoas eram mais cívicas ou
quando os media facilitaram, ao invés de minar, a forma como a comunicação política e
a democracia se complementavam.
O principal papel democrático dos media, segundo Curran (2003, p. 217), é
caracterizado pela teoria liberal tradicional, que é de atuar como um travão para o Estado,
isto explica a razão pela qual os órgãos de comunicação de massa monitoraram toda a
gama de atividades do Estado e expõem inclusive com imagens sem medo dos abusos da
autoridade oficial. Este papel é considerado, na teoria liberal tradicional, como substituto
de todas as outras funções dos media. Considera-se haver nos estilos modernos de
comunicação, estratégias cada vez mais sofisticadas para gerir as plataformas políticas e
as imagens partidárias. A medida que a comunicação política estratégica se vai tornando
mais profissionalizada, muitos jornalistas têm como trabalho a descoberta e a
interpretação das estratégias por detrás das palavras e ações dos atores políticos. Esta
linha de ação é um mecanismo de defesa contra a continua “manipulação” dos partidos,
candidatos ou Governos, uma vez que a maioria dos jornalistas deseja proteger a sua
autonomia e evitar ser acusado de tomar politicamente partido dessa linha de ação. Ao
focar nos aspetos estratégicos do jogo político, repórteres políticos mantêm uma posição
aparente de independência e objetividade (Aalberg, Vreese, & Strömbäck, 2017, pp.33-
34).
Para Lopes e Espírito Santo (2016), os media assumem-se como guias de
referência à opinião pública que é estruturada em grande parte por influência daquilo que
os jornalistas escrevem para publicitar as ações políticas estimulando a sua aceitação e
aprovação pela opinião pública. Mendoza e Cabrera (2017, p. 174) olham para os media
como um dos meios que facilita a maior penetração política dos Governos devido ao
imediatismo, somado às fortes raízes locais. Na mesma linha de pensamento, Lopes e
Espírito Santo (2016) consideram que a imagem pública construída através dos media e
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da imprensa, em especial, constitui um reflexo de prioridades políticas, de foco, de
atenção, de dinâmicas e de poder de interesses programáticos dos Governos. Para
Mendoza e Cabrera (2017, p.174), o fato de os media não necessitarem de um nível de
escolaridade avançado para o seu consumo, constitui-se num elemento primordial de
publicitação das ações políticas do Governo. Nesta conformidade, Cunha e Pinto (2017,
p. 134) consideram que os meios de comunicação assumem um papel importante na
divulgação de novas conceções, por contribuírem para a formação de mentalidades e
comportamentos sociais.
Quanto à relação media e política somos a referir os trabalhos de Kaya e Çakmur
(2010); Kuo (2007), que examinam as ligações entre os media e a política e concluem
que esta união está marcada por um alto grau de paralelismo e complementaridade. Nesta
relação, os Governos atuam como reguladores e financiadores que exercem um grande
controlo sobre os media e isto favorece a representação fiel e pontual das ações políticas.
Ainda na vertente da mediatização dos discursos políticos, Orgeret (2008) examinou a
cobertura noticiosa da televisão sul-africana SABC aos discursos de tomada de posse dos
Presidentes Mandela (1994) e Mbeki (1999 e 2004) e concluiu que SABC emitiu os
discursos enfatizando as fortes tonalidades para construção da nação sul-africana, ao
trazer mudanças que contribuíram para o estabelecimento da democracia e para a
construção da nação. Prosseguindo na ligação entre os media e a política, Okoro (2013)
examinou o papel estratégico dos media na busca pela sustentabilidade e concluiu que as
contribuições dos media influenciam a visão dos cidadãos sobre uma determinada ação
política.
Por sua vez, Okoro (2013) sugeriu com base nas tendências atuais que os esforços
de desenvolvimento político de África indicam que para alcançar e sustentar a
transformação democrática em todo o continente, o papel dos meios de comunicação de
massa deve ser crítico, quer na produção quer na difusão de notícias sobre as ações
políticas. Valorizando esta relação Kondowe (2014) afirma estar-se a testemunhar um
crescente interesse pelos discursos políticos presidenciais em África, discursos que são
muitas vezes ideologicamente carregados, e que só com uma análise profunda é que se
pode ter uma visão sobre as intenções e bases políticas ocultas que eles carregam.
Os efeitos produzidos pela cobertura da imprensa sobre as ações políticas do
Governo angolano são a proposição da estratégia de comunicação do Governo tendentes
a provocar um impacto nas expectativas e na vida dos cidadãos. Kim e Krishna (2018, p.
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18), consideram importante que a estratégia de comunicação seja relevante para a teoria
e para a prática da interação governamental. Explorando a contribuição dos estudos de
Cardina (2016); Fonseca e Ferreira (2016, p. 890) nota-se que os media permitem que se
façam representações seletivas do discurso político no geral e ajudam a perceber o
contexto e as dinâmicas de governação. Fonseca e Ferreira (2016) afirmam que os
contextos de crise constituem momentos fundamentais em que as representações
mediáticas sociais das comunidades políticas são particularmente relevantes, pois, em
certa medida, as crises sociais são também “construídas enquanto crises” pelas elites
políticas que as identificam, definem e constituem.
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do mandato do partido. O mesmo estudo estima igualmente a posição das políticas de um
Governo durante um mandato político, umas das tarefas mais complicadas. Os autores
concretizaram a sua pesquisa utilizando a análise de conteúdo do discurso do Presidente
do parlamento espanhol proferidos depois das eleições seguintes para aferir a
conformidade.
Santos (2006, p. 36) considera que durante os pronunciamentos políticos
emergem dos discursos, para além da organização político-administrativa que se pretende
fazer ao Estado, as perspetivas sobre os novos colaboradores por nomear e sobre os
opositores à liderança. A disputa eleitoral apresenta uma dupla situação, a de bastidores
e a pública ou mediática. As promessas discursivas adaptam-se a cada um destes
posicionamentos. O líder faz uso dos media (imprensa, rádio, televisão e internet), aceita
ser entrevistado ou procura os media para veicular os seus pontos de vista. Normalmente
o líder procura os media de referência ou de serviço público, mas também está atento às
informações veiculadas e procura fornecer subsídios, dando informações sobre as suas
propostas, projetos, alianças e ações concretas.
Mari (1998, p. 227) defende que a atividade política costuma ser avaliada em razão
de um conjunto de procedimentos que são utilizados numa atividade discursiva. Usa-se a
linguagem na atividade política para a apreciação das promessas que costumam compor
o elenco das intenções e a estratégia de identificação ideológico-partidária. Para Calazans
(2021, p.74), as promessas discursivas oferecem artifícios vantajosos no sentido de
agradar ao público, seduzindo-o com as suas projeções e mensagens, com as quais os
indivíduos são convidados a se identificar. Hakansson e Naurin (2014, p. 1) consideram
que os partidos "competem por cargos públicos", enquanto que os eleitores acorrem por
políticas públicas que satisfaçam os seus anseios. As promessas sobre ações futuras
formam o ponto de partida na cadeia da representação política na qual as preferências dos
eleitores são eventualmente transformadas em políticas públicas. Calazans (2021, p.75)
entende que as promessas discursivas são produções portadoras de outros discursos que
podem ser interpelados e vistos como fonte de investigação capaz de contextualizar,
interpretar e analisar adequadamente os produtos políticos, económicos, sociais e
culturais.
As promessas discursivas são normalmente retiradas dos programas eleitorais ou
de manifestos dos partidos políticos. As variantes discursivas podem ser encontradas no
trabalho do pós-segunda guerra mundial sobre a democracia liberal, também conhecido
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como "o modelo de partido responsável". Apesar da natureza mutante do comportamento
eleitoral e da organização do partido, a teoria do mandato é de relevância duradoura para
as discussões sobre as promessas eleitorais nas democracias (Lucy & Thomson,2007, p.
311).
Para Hakansson e Naurin (2014, p. 1), o esforço dos partidos e dos seus líderes
nas promessas discursivas é visto como intemporal, na medida em que vem sendo
realizado nas democracias representativas, independentemente, das circunstâncias
sociais. Alguns estudiosos sugerem que os partidos políticos e os seus líderes hoje estão
menos preocupados com a política como arena de competição pelo poder, mas sim com
as promessas políticas que, segundo os mesmos, deveriam ter menos importância nas
campanhas. Nesta conformidade, Calazans (2021, p.75) argumenta que as promessas
políticas são sínteses enunciativas dos produtos culturais que, de forma clara e concisa,
devido à brevidade do espaço e tempo destinados a essas mensagens, são exibidas ao
público convidando-o a consumir opiniões, sentimentos, modos de ser, representações e
modelos ideológicos dominantes. Costa (2018, p.72) particulariza a questão da identidade
social pela necessidade de ser reconhecida pelos outros. Para si, trata-se daquilo que
confere ao sujeito o direito à palavra, o que sustenta a sua legitimidade, que depende da
atuação do sujeito nos domínios do saber (fundado nas opiniões, nos saberes
compartilhados e no seu manuseio, com vistas à sedução e persuasão do interlocutor) e
do poder.
Hakansson e Naurin (2014, p. 2) pensam ser razoável supor que candidatos
presidenciais utilizem as promessas políticas como dispositivos estratégicos para atingir
objetivos nas diferentes arenas: a arena interna, a arena parlamentar, a arena do eleitor
e a arena dos media. A arena interna do partido suporta a sua candidatura, onde as
promessas se mantêm parte do partido unido e especificam a ideologia geral; na arena
parlamentar as promessas servem como base para as políticas futuras, bem como, para a
negociação na construção de coligações; a arena do eleitor aonde se mantem um contacto
direto com o cidadãos e a arena dos media que engloba o processo geral de representação
do discurso.
Para Lucy e Thomson (2007, p. 313), existem quatro maneiras de avaliar as
promessas na competição partidária, pelo número de promessas feitas, pela substância
das promessas, pela sua distribuição em áreas e temas políticos e pelas relações entre elas.
A evidência implica que as promessas eleitorais desempenhem um papel de importância
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substancial na competição partidária. A maioria dos programas eleitorais contém números
substanciais de compromissos políticos específicos.
Seguindo os fundamentos da Teoria da Ação Racional de Vaske e Donnelly (1999,
p. 527), é possível notar que a maioria dos comportamentos humanos socialmente
relevantes encontram-se sob o controlo evolutivo de um determinado indivíduo e como
resultado desse controlo o objetivo mais direto dos cidadãos é a intenção de se envolver
no comportamento que melhor lhe satisfaz, quando não se identificam com as intenções
do político e com as atitudes do seu interesse. A intenção comportamental do líder político
é vista como a intenção de resolver os problemas que afligem os cidadãos propondo a
correção de atitudes e comportamentos pouco dignos. O poder e a interdependência entre
cidadãos e Estados são importantes, mas o impacto dessa interdependência deve ser
mediado por meio das doutrinas que os líderes usam para justificar a ação política e
estabelecer autoridade (Legro, 2007, p. 515).
Segundo Kassarjian (1963), no campo do comportamento e intenções políticas, os
cidadãos tendem a perceber o seu candidato de forma favorável e as declarações e
posições do candidato assumidas em questões como favoráveis ao seu próprio ponto de
vista, enquanto que a oposição é percebida de forma desfavorável. Para Jolley e Douglas
(2014, p. 37), as intenções políticas convertem-se em ações que estimulam os cidadãos
ao voto, e a conversar com as outras pessoas sobre os assuntos do país para persuadi-las
a agir em benefício de um determinado líder, doando dinheiro para os candidatos ou
grupos políticos e usando a propaganda de campanha.
Bratton, Bhavnani e Chen (2012) consideram que no contexto africano, as
intenções políticas indicam que os cidadãos participam da vida política de forma étnica e
económica, porquanto os eleitores pertencem a um grupo étnico que pretendem ver como
Governo ou o apoiam para levá-lo ao poder. Ainda que Jolley e Douglas (2014, p. 37)
considerem que tal comportamento relacionado com o voto étnico vai diminuindo em
quase todo o mundo, na última década, as pessoas votam menos, participam em menos
reuniões políticas e deixaram de usar propaganda de campanha política. Para Freitas e
Esquerda (2019, p.521), quanto mais as representações mediáticas dos discursos políticos
forem abrangentes, isto é, fora de um domínio específico, mais os cidadãos cooperaram
e ajustam-se aos resultados previstos nos programas eleitorais. Pois, os eleitores procuram
entender a intenção do discurso em questão, refletindo sobre o que ouvem, resolvendo e
esclarecendo determinadas ambiguidades
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Os cidadãos indicam um abrandamento no interesse pela política ou pelos
processos eleitorais, a pouca participação política devido a restrições de tempo ou até
mesmo pelo fato de as pessoas considerarem que o seu voto não faz nenhuma diferença
(Jolley & Douglas, 2014, p. 37). Para Bratton, Bhavnani e Chen (2012), por exemplo em
Africa, os eleitores ou cidadãos olham para as intenções políticas como políticas públicas,
especialmente preparadas pelo Governo para lidar com os problemas do desemprego,
inflação e distribuição de renda. Para estes autores, esta é uma forma de resolução dos
seus intentos pessoais, por isso, votam nos partidos governantes porque esperam que os
seus titulares vençam as eleições para continuarem a manter o seu bem-estar.
É necessário perceber que a intenção sobressai na “situação de comunicação” que
segundo Charaudeau (2010, p.79), é a “finalidade” do ato do discurso, a “identidade” dos
parceiros e do lugar que eles ocupam na troca, às “circunstâncias materiais” nas quais a
troca se processa (por intermedio dos media). Destes componentes, detivemo-nos na
finalidade do ato discurso, que deve ser considerado do ponto de vista da instância de
produção que tem em perspetiva um sujeito destinatário, os cidadãos, mas evidentemente
ela deve ser reconhecida como intenção pela instância de receção; é necessário que o
emissor e o recetor possam recorrer a ela. A finalidade corresponde, assim, a uma atitude
enunciativa de base que encontraríamos num grande corpus de mensagens comunicativas
reagrupadas em nome da sua orientação pragmática, mas além da sua ancoragem
situacional (Charaudeau, 2010, pp. 81-82).
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sociedades ocidentais, a política é principalmente uma política dos media. O
funcionamento do sistema político é encenado para os media de forma a obter o apoio,
ou pelo menos, a menor hostilidade dos cidadãos que se tornam consumidores no mercado
político. Para Blumler e Esser (2018, p. 3), a perspetiva mais popular, atualmente, discute
essa relação no quadro da mediatização da política. Strömbäck e Esser (2014, p. 6)
definem a mediatização da política como sendo um processo por meio do qual a
importância dos media e dos seus efeitos psicossociais sobre os atores políticos e seus
comportamentos tem aumentado. Ao aplicar a comunicação de campanha, coloca-se a
questão sobre, em que medida, o discurso eleitoral pode ser moldado pelos atores políticos
e até que ponto pode ser enquadrado pelos media.
A fundamentação da comunicação política, nesta pesquisa, segue a linha dos estudos
de Espírito Santo (2008); Mutsvairo e Karam (2018) que examinam os discursos e outras
comunicações presidenciais sistematizadas com base na análise de conteúdo em contexto
de campanha e pós-campanha eleitoral e durante as eleições presidenciais. Nos seus
estudos, Espírito Santo examina as principais tendências de comunicação, do ponto de
vista sociopolítico contidas nos discursos de tomada de posse dos Presidentes da
República portuguesa e francesa. Na sua obra intitulada “Comunicação e política nos
discursos presidenciais de tomada de posse: 1976-2006”, a autora oferece uma abordagem
pormenorizada acerca da mensagem política dos candidatos a PR Portugueses e da
mensagem dos candidatos às eleições presidenciais francesas de 2007.
Os investigadores Mutsvairo e Karam (2018, p. 3) analisam a comunicação política
no contexto africano e entendem-na, como sendo, um processo interativo relativo à
transmissão de informações entre os políticos, os meios de comunicação e o público, cuja
base assenta no discurso político. No entender de Reyes-Rodríguez (2008), discurso
político é a comunicação relativamente autónoma produzida oralmente por um político à
frente de uma audiência com o propósito de persuadir, transmitir informação ou entreter
os cidadãos.
Com foco na relação entre os media e a política, as bases do estudo de Kaya e
Çakmur (2010) ajudam a compreender e fundamentar a ligação entre a política e os meios
de comunicação de massa. O estudo considera que esta relação está enraizada nos
meandros do poder político. Nesta perspetiva, Correia (2005, p. 45) considera que a
problemática dos media, em especial do campo do jornalismo, continua a ser central para
as condições da existência da democracia deliberativa, pois implica a existência de uma
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esfera pública, entendida como uma rede de comunicação, informação e troca de pontos
de vistas, cuja influência reflete no sistema político. Fonseca e Ferreira (2016) defendem
que se façam representações seletivas do discurso político para perceber o contexto e as
dinâmicas na relação entre os media e a política. Para Salgado (2005, p. 86), tanto as
imagens como os discursos podem ser fabricados por ocasião de acontecimentos ou
circunstâncias que não têm necessariamente um caráter excecional e adquirem, graças aos
meios audiovisuais, uma força e uma visibilidade que não tinham. As manifestações da
política tornam-se diárias o que sujeita os políticos, por um lado, e os jornalistas, por
outro, a uma constante reinvenção e criação de aparências de novidade nas suas relações.
Os estudos de Repnikova (2017); Sparks (2008) fazem uma análise estrutural
sobre o discurso político os media em contextos de transição política. A pesquisa de
Repnikova (2017) aborda a intenção das mensagens nos discursos feitos em países em
fase de transição e conclui que a liberalização política parcial representa uma “faca de
dois gumes” para regimes autoritários, pois pode aumentar o risco de descarrilamento na
democratização de um país ou pode facilitar a adaptabilidade do regime. Sparks (2008)
discute a transformação do sistema dos media em três países que se afastaram do modelo
clássico "comunista" a Polónia, a Rússia e a China e oferece um contexto sociolinguístico
de perceção da transição política feita nestes países que servem de modelo para Angola.
No caso do sistema político português, as reflexões de Cardina (2016); Espírito
Santo (2016); Lopes e Espírito Santo (2016) expõem informações envolventes que
compõem os discursos políticos. Cardina (2016) faz uma reflexão sobre a natureza da
memória social e sobre os seus usos políticos e enfatiza o fato de os estudos sobre análise
do discurso político ganharem nas últimas décadas um lugar crescente nos centros de
produção intelectual. O trabalho de Espírito Santo (2011) analisa o modo de comunicar
na política, com base na transversalidade do discurso político. A pesquisadora reflete
sobre os objetivos, valores, símbolos e padrões de comunicação subjacentes no discurso
político do PR.
Lopes e Espírito Santo (2016) retratam o modo como a mensagem é construída
através dos media e marcam os traços fundamentais que resultam da relação de construção
e do reflexo que a imprensa permeabiliza entre os seus públicos e os atores políticos ao
analisarem a forma como a imprensa portuguesa mediatizou os primeiros 110 dias do
XXI Governo Constitucional de Portugal. Neste estudo, Lopes e Espírito Santo concluem
que apesar do esforço do Governo em proclamar um novo ciclo político afastado do
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tópico da austeridade, que dominou o discurso político dos anos precedentes, os
jornalistas privilegiaram a tematização financeira nos seus textos, fazendo jus a teoria da
Agenda Setting, ao impor aos leitores o que pensar, apesar do ânimo do Governo
português em direcionar o debate para outras temáticas. Segundo Baym (2008, p. 1), nos
primeiros anos do século XXI foi notório um crescente surgimento de programas que
combinavam de forma mais completa o conteúdo e a forma de vários géneros de relações
públicas e entretenimento. Isso criou um espectro complexo de programação híbrida com
uma gama, potencialmente, ampla de implicações para as informações públicas, a
comunicação política e discurso democrático.
Ainda na linha da abordagem da imprensa, Soroka (2003) considera que algumas
pesquisas sugerem que a abordagem mediática sobre a opinião pública e as ações políticas
leva os cidadãos a tomarem posições antagónicas às suas. Estudos recentes indicam que
a opinião pública é construída a partir de abordagens mediáticas e tem, geralmente, um
impacto mensurável na política de um Estado. Na generalidade, como observam Cárdenas
e Pérez (2017, p. 1069), os meios de comunicação de massa têm potencial para
materializarem-se e colocarem em contato várias cognições sociais, instalando e
modificando os temas, que adquirem mais importância ou valor social. Os media
desempenham um papel crucial na reprodução da hegemonia e controlo sobre as mentes,
interações e comportamentos do público. Nesta conformidade, Soroka (2003) entende
que o comportamento público é frequentemente estável, estruturado e racional, pois
responde por uma quantidade considerável de variações transversais nas atitudes dos
cidadãos e esclarecem como, e por que é que essas atitudes podem mudar ao longo do
tempo.
Sebastião, Valença e Vieira Dias (2016, p. 33) consideram que os media
produzem, processam e distribuem informação que dão visibilidade aos assuntos que
podem interessar aos públicos. Dada a complexidade das sociedades e da informação e
considerando a quantidade de dados disponíveis, os indivíduos entregam a função de
seleção do que é importante a outras entidades, nomeadamente, aos media, o que aumenta
a sua influência social. Esta influência fundamenta-se pelos estudos da persuasão e é
sustentada por aspetos psicológicos que defendem que a mensagem enviada pelos media
não é assimilada imediatamente pelo indivíduo, pois depende de várias perspetivas
individuais. É assim que Nelson e Garst (2005, p. 489) afirmam que fazem parte das
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estratégias de governação e liderança persuadir regularmente os cidadãos com o poder da
linguagem baseada em valores e por intermédio dos media.
Os fundamentos de comunicação democrática examinados por Norris (2004)
oferecem uma outra perspetiva da comunicação política, porquanto olha, essencialmente,
para o crescimento das democracias eleitorais emergentes e considera que nestas
democracias emergentes, muitas das inúmeras oportunidades para o desenvolvimento
humano foram fruto da expansão dos direitos políticos e das liberdades civis em todo o
mundo. Segundo Norris (2004), países tão diversos como a República Checa, o México,
África do Sul ou Angola sofreram a mesma transformação radical nos seus sistemas
políticos por meio do estabelecimento de uma competição partidária mais eficaz, com
eleições livres e justas e uma imprensa mais independente e pluralista e isto alterou
completamente o contexto comunicacional. A relação de interação entre os media e os
atores políticos pode ser examinada de várias perspetivas.
Como foi referido anteriormente, nota-se que existe uma escassez de pesquisas
que abordem discursos políticos e ações políticas no continente africano. Dentro das
contribuições existentes destaca-se o estudo de Macqueen (1985), cuja exposição nos faz
perceber que, depois da Revolução de Abril de 1974, as tensões em Portugal tornaram-se
incontroláveis, abrindo caminho para a descolonização de Angola. Apesar de ao longo do
tempo a tendência ter sido de aceleração da aproximação houve dificuldades particulares
enfrentadas pelas ex-colónias consideradas maiores, tais como, Angola e Moçambique.
Brown e Ainley (2005) defendem que a interação relacionada com as transações
transnacionais das informações com caracter político, económico e social interessa a
imprensa nos dois países. Segundo Ferreira (2017), os media são uma força de pressão
organizada, numa sociedade transnacional que pode ser vista como uma “arena contestada
e competitiva constituída por sujeitos não-governamentais, autónomos e organizados a
nível transnacional” cujo objetivo é influenciar a vida política através do
desenvolvimento de práticas discursivas e não discursivas, de modos que, as ações
políticas do Governo angolano mediaticamente difundidas acabam por se fazer sentir
também em Portugal.
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Parte II. Contextos do Regime Angolano, Imprensa e Ascensão do Presidente João
Lourenço
2. Angola nos Planos Geopolítico, Social e Económico
2.1.Contexto Geopolítico
Geograficamente, a República de Angola (doravante Angola) está localizada na
Costa Oeste da África Subsaariana, a Norte da República da Namíbia e a Sul da República
do Congo e da República Democrática do Congo (Barros, 2014). O Portal do Governo de
Angola apresenta, geograficamente, o país como tendo cinco tipos de zonas naturais:
florestas húmidas e densas (como a do Mayombe), savanas normalmente associadas às
matas (como é o caso das Lundas) e secas com árvores ou arbustos. Em Angola existem
ainda zonas de estepe, ao longo de uma faixa que tem o início no sul do Sumbe, província
do Kwanza Sul e, por fim, o deserto que ocupa uma estreita faixa costeira no extremo sul
do país.
Neto (2016, pp. 306-307) descreve o território como sendo um espaço que possui
uma natureza inóspita onde vários animais aparecem com muita frequência, muitos dos
quais se encontram em vias de extinção. Para além da riqueza a nível natural, em termos
de fauna e flora, existem elementos importantes que estimulam o desenvolvimento
económico tais como: áreas protegidas, como parques nacionais e reservas públicas de
caça. O Portal do Governo de Angola descreve inúmeras espécies de animais e plantas
espalhadas por várias regiões. Na fauna marítima e fluvial existe, igualmente, uma
enorme variedade de peixes e mariscos. Os fatores enunciados foram propícios para o
desenvolvimento do Turismo, que segundo Fernandes (2016, p.143), em 2011 atingiu um
número de 481.168 turistas provenientes da Europa, África e Ásia, que viajaram para o
país por motivos de lazer, negócios e serviços. O elevado numero de turistas deveu-se em
grande parte às facilidades impostas pelo Decreto Presidencial 56/18, de 20 de fevereiro,
sobre o regime de isenção nos procedimentos de simplificação dos atos administrativos
para a concessão de visto de Turismo, que entrou em vigor a 30 de março de 2018, esse
mesmo Decreto previa a isenção de vistos de turismo à cerca de 61 países do mundo,
incluindo Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Brasil e Timor-Leste.
Angola é considerada um país líder em termos de produção de recursos naturais.
O Portal do Governo de Angola (2020) estima que o subsolo angolano alberga 35 dos 45
minerais estratégicos no comércio mundial entre os quais o petróleo, o gás natural, os
diamantes, o fosfato, substâncias betuminosas, ferro, cobre, magnésio, ouro, rochas
ornamentais e outros. Em contraste com estas potencialidades mineiras, o país tem uma
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população que vive maioritariamente em situação de pobreza, devido ao reflexo das
fragilidades de um Estado possuidor de recursos naturais, mas com práticas preocupantes
de corrupção. De acordo com o Corruption Perceptions Index 2019, Angola ocupa o 146º
lugar, num total de 180 países. Debate-se igualmente, segundo Santos (2015), com o fato
de possuir vastas zonas do território isoladas e de difícil acesso. As fronteiras terrestres
são permeáveis e ineficientemente controladas, devido à dificuldade em patrulhar essas
regiões. A imigração ilegal é neste momento um foco de preocupação, pois afeta a ordem
socioeconómica e gera um terreno fértil para atividades de natureza criminal.
Albino, Tavares e Pacheco (2016, p.5) consideram que, politicamente, Angola é
um Estado unitário com um regime presidencialista multipartidário, dividido
administrativamente em 18 províncias e 165 municípios. A Constituição da República de
Angola (CRA, 2010), no seu artigo 1º., apresenta Angola como sendo uma “República
soberana e independente, baseada na dignidade da pessoa humana e na vontade do povo,
que tem como objetivo fundamental a construção de uma sociedade livre, justa,
democrática, solidária, de paz, igualdade e progresso social”. Sob o ponto de vista jurídico
Angola é um Estado Democrático de Direito que tem como fundamentos a soberania
popular, o primado da Constituição e da Lei, a separação de poderes e interdependência
de funções, a unidade nacional, o pluralismo de expressão e de organização política e a
democracia representativa e participativa (artigo 2.ºCRA). Administrativamente, Angola
é um Estado unitário que respeita na sua organização os princípios da autonomia dos
órgãos do poder local e da desconcentração e descentralização administrativas, nos
termos da Constituição e da Lei (artigo 8, CRA). São órgãos de soberania, em Angola, o
PR, a Assembleia Nacional e os Tribunais.
Quanto à organização dos poderes, o PR é o Chefe de Estado, o titular do Poder
Executivo e o Comandante-em-Chefe das Forças Armadas Angolanas (FAA). Ele exerce
o poder executivo auxiliado por um Vice-Presidente, Ministros de Estado e Ministros
(artigo 108, CRA). Tal como referem Belchior, Sanches e Matias (2016, p. 4), o sistema
representativo, em Angola, começou com a primeira vaga de formação de partidos
políticos no final do período colonial entre as décadas de 1950 e 1960. Atualmente o
sistema é formado por três movimentos principais que se constituíram como formações
anticoloniais, que combinam no seu seio diferentes constituintes etno-regionais.
Angola tornou-se, oficialmente, uma República multipartidária depois da
aprovação da Lei Constitucional de 1992 (Cunha & Araújo, 2018, p. 95). Nesse mesmo
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ano realizaram-se as primeiras eleições, com o objetivo de escolher o Presidente e uma
Assembleia Legislativa. Em 2010 a Constituição foi alterada mantendo as regras para as
eleições parlamentares, mas dando ao partido mais votado o poder de indicar o PR, sendo
este o cabeça de lista do partido político mais votado (Cunha & Araújo, 2018, p. 95). A
nova Constituição de 2010 define a Assembleia Nacional como sendo o Parlamento da
República de Angola, e é um órgão unicamaral, representativo de todos os angolanos, que
exprime a vontade soberana do povo e exerce o poder legislativo do Estado (nº 1 e 2 do
artigo 141º. CRA). Quanto à organização judiciária, a CRA no nº 1 e 2 do artigo 174º
assume que os tribunais são os órgãos de soberania com competência para administrar a
Justiça em nome do povo. No exercício da função jurisdicional, compete aos tribunais
dirimir conflitos de interesse público, ou privado, assegurar a defesa dos direitos e
interesses legalmente protegidos, bem como os princípios do acusatório e do contraditório
e reprimir as violações da legalidade democrática.
Para Ntoni-Nzinga (2005, p. 11), na primeira fase da sua organização política, que
compreende o período entre 1977 e 1991, Angola primou por construir uma democracia
parlamentar, apesar de não haver um entendimento compartilhado entre os partidos
políticos da altura. Ruigrok (2010, p. 638) considera que a trajetória política de Angola
registou um problema que são as reformas que sempre se pretenderam fazer ao Estado, e
que se tornaram num contrapeso ao sistema administrativo. No entanto, foi durante a
segunda fase, que começou em 1991, que a democracia foi definida por um grupo de
partidos políticos como sendo o sistema político a seguir (Ntoni-Nzinga, 2005, p. 11). O
primeiro Acordo de Paz assinado em Bicesse levou à criação de mecanismos funcionais
e à adoção de estratégias que permitiram que o país passasse de um Estado de partido
único para um Estado multipartidário. Ruigrok (2010, p. 639) considera que foi em 1991,
durante o processo de paz de Bicesse, que se deu a transição para a democracia. Nessa
altura, a Constituição foi revista, ainda que parcialmente, e foi finalmente aprovada na
Assembleia Nacional multipartidária formada depois das eleições de setembro de 1992.
Belchior, Sanches e Matias (2016, pp. 4-5) consideram que o Governo angolano
sempre demonstrou que os seus propósitos políticos eram conseguir algum nível de
eficácia decisória na execução das ações políticas, que tiveram à frente o objetivo de
responder às demandas e aos desafios do país. Tais autores consideram que sempre foi
um meio para perdurar no poder. Nesta circunstância, Ruigrok (2010, p. 639) considera
que a descentralização do poder local, nunca foi uma preocupação do Governo angolano,
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por ser um processo que permite a redução do Estado em pequenos entes, que funcionam
com mais eficácia administrativa e permitem a partilha do poder. Para Belchior, Sanches
e Matias (2016, pp. 4-5), este processo permite igualmente a partilha do poder pelas
unidades locais e sub-regionais, o que contrasta com a situação que Angola vive
atualmente, pois o poder parece estar concentrado nas mãos de uma minoria privilegiada
em Luanda. É facto também que com a descentralização passa-se a prestar mais atenção
à comunicação entre o Governo, a sociedade civil e os cidadãos, principalmente, para a
conceção e planeamento de políticas públicas (Pain, 2007, p. 261). Ruigrok (2010, p. 638)
afirma que para os funcionários locais do Estado, a autarcização e consequentemente a
descentralização do país funcionará como um instrumento para legitimar o sistema
político-administrativo e o processo de reforma que se pretende levar a cabo. Assim,
Sousa (2002) entende que a descentralização é necessária para Angola e deve ser feita
com consultas sobre as questões de âmbito nacional, relativas aos processos
administrativos locais, a nível da conceção dos conteúdos e dos temas de abrangência
nacional, deslocalizando os entes locais de Luanda. Até ao momento, o Governo angolano
tem caminhado na direção oposta, usando as fontes não materiais de apoio político, as
ideologias e as crenças políticas forjadas nos cidadãos durante as guerras, como recursos
para evitar a descentralização do país (Belchior, Sanches & Matias, 2016, pp. 4-5). Com
o fim da guerra, segundo Nascimento (2002) abriram-se enormes e concretas
possibilidades não só para o processo de reconstrução e desenvolvimento de Angola, mas
também para o reforço do processo de democratização e modernização social, cultural e
política do país.
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Presidente José Eduardo dos Santos, pois o seu nepotismo e a sua afeição pelo património
vieram a comprometer a sobrevivência do Estado em face ao colapso económico do país,
com consequências também para Portugal.
Espírito Santo (2010), no seu estudo sobre as eleições parlamentares realizadas
em Angola, no ano de 2008, examinou o sistema político angolano e fez uma retrospetiva
sobre a chegada ao poder em 1979 do Presidente José Eduardo dos Santos e numa das
suas considerações afirma que o ex-Presidente José Eduardo Dos Santos se tornara num
dos líderes com maior tempo em serviço no mundo (excluindo monarcas). Durante a
governação de José Eduardo dos Santos para Seabra e Gorjão (2011), os nacionais
portugueses ou descendentes de portugueses aumentaram a sua presença em Angola
passando de 21.000 cidadãos em 2003 para 91.900 residentes em 2010. Os atrasos no
processamento de vistos obstruíam os fluxos migratórios e, mais importante ainda, a
busca do comércio bilateral e dos negócios transnacionais. A visita do ex-Presidente José
Eduardo dos Santos a Portugal em março de 2009 foi interpretada como um sinal do
interesse recíproco de Angola, já que o ex-presidente procurou, principalmente, promover
mais fluxos económicos e comerciais equitativos e equilibrados devido aos interesses dos
seus familiares e das pessoas próximas com quem governava.
Para Barros (2014, p. 6) e Manuel (2002), depois da independência em 1975,
Angola teve uma grande derrapagem na sua organização, com a instituição do regime
marxista-leninista procurando ab initio uniformizar e homogeneizar a componente
política, económica, social e cultural a partir de uma marca de radicalização ideológica.
Angola ascendeu à independência num contexto extremamente difícil, apesar dos
dirigentes, segundo Carneiro (2002), terem cultivado nos cidadãos o sonho de uma
independência efetiva, a implantação do regime político não assegurou uma efetiva
solidariedade social.
Com o fim da guerra, em 2002, o país tinha condições para fazer a sua
reconstrução social (Rodrigues, 2013, pp. 116-117). Depois de mais de 25 anos de lutas
fratricidas, os angolanos estavam efetivamente dentro do mesmo território, íntegro e uno,
debaixo dos mesmos símbolos e sob a mesma autoridade estatal. O enfoque voltou-se
para as possibilidades de a paz gerar prosperidade e evolução de um contexto de
emergência para um contexto de desenvolvimento. No entanto, segundo Pereira (2002),
era um país, parcialmente, destruído e com um cenário sem fim de desgraças e miséria.
Uma Angola como descreve Chocolate (2016, p. 70), em que muitos pereceram e
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aproximadamente quatro milhões de pessoas estavam deslocadas. As enormes
potencialidades económicas que o país possui, não estavam a ser bem utilizadas (Ferreira,
2002). O que justificava, para Barros (2014, p.6), a existência de um alto índice de
pobreza entre as populações das zonas rurais, periféricas e urbanas.
Ferreira (2002) considera que o fim da discórdia permitiu que se colocassem
novos reptos a Angola, desafios a nível da transparência e da boa governação, da
participação efetiva dos diferentes partidos e da sociedade civil. Era chegada a altura de
se delinear uma estratégia de desenvolvimento social, criando programas de luta contra a
pobreza e a exclusão. A somar a todos esses problemas sociais, para Gaio (2018, p. 18),
Angola ainda se debatia com a situação da reconstrução nacional. Relativamente às
crianças e jovens era necessário recuperar o tempo perdido com os anos de guerra
(Ferreira, 2002). Aos problemas sociais circunscreviam-se também as denúncias de
corrupção, nepotismo e impunidade, que segundo Barros (2014, p. 7), persistem até aos
nossos dias e se tornaram nos temas de bandeira da governação do Presidente João
Lourenço. Outra grande preocupação era a incapacidade de desenvolver os setores
agrícola e industrial.
Segundo Gaio (2018, p. 19), Angola consegue, através da parceria com o Brasil e
a China, financiar a agenda de reconstrução, sem a necessidade de se submeter aos
requisitos governativos neoliberais atribuídos pela Ajuda Oficial ao Desenvolvimento
(AOD). Para Rodrigues (2013, p. 117), este financiamento tinha como prioridade o
crescimento e a diversificação social e económica do país, combatendo a fome e a miséria
e diminuindo a pobreza extrema. Nesta ação, como descreve Gaio (2018, p. 19), o setor
privado, especialmente as corporações transnacionais, desempenharam um papel
importante. As empresas estrangeiras estabeleceram parceria com sócios locais, uma
condição obrigatória para que o investidor estrangeiro obtivesse aprovação do Governo
para o seu projeto. Rodrigues (2013, p. 117) considera que apesar deste esforço, as
consequências sociais da guerra eram ainda muito presentes. As décadas de conflito
militar provocaram não apenas perdas substanciais ao nível do capital físico e humano,
mas também determinaram efeitos que concorreram para a redução do bem-estar dos
angolanos. Por isso Ntoni-Nzinga (2003, p. 12) considera que a paz não foi simplesmente
o silenciar das armas, mas um passo importante para o processo de evolução social do
país.
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Segundo Chocolate (2016, p. 70), a pobreza, as perturbações políticas,
instabilidades económicas, ruturas sociais e culturais, contribuíram para um aumento
crescente da exclusão da população do sistema de educação formal, de que se destacam
as crianças e os jovens adolescentes, com consequências pesadas para as suas vidas. No
entanto, com a paz, Ntoni-Nzinga (2003, p. 12) considera que todas as partes envolvidas
no conflito fizeram um compromisso para a reconstrução das relações sociais e para a
formação de uma nova visão para a nação, que se resumia na personificação das
aspirações e dos sonhos de todos. Uma visão, que na ótica de Rodrigues (2013) era
abrangente, e incluía o direcionamento dos recursos nacionais para sustentar o
desenvolvimento social, na perspetiva de acabar, tal como faz menção Chocolate (2016,
p.70), com o crescimento rápido e desordenado das cidades e com o nascimento de
grandes musseques na periferia dos centros urbanos. Na ótica de Sousa (2002), nos
Estados modernos pós-burocráticos ou de burocracia avançada, os problemas da pobreza
e da exclusão social são encarados como problemas de toda a sociedade, pois a pobreza
é um fenómeno multifacetado e multissectorial com uma forte dimensão política a que
nenhum governo de per si poderá responder adequadamente.
Segundo Affolter e Cabula (2010, p. 272), as Organizações Não-Governamentais
(ONG) refletiam as estruturas locais de organização nativa, funcionavam como saídas
para interesses e aspirações da comunidade local e, em muitos casos, substituíam os
“Órgãos Locais do Estado”. A título de exemplo, recorre-se às considerações de Cole e
Chipaca (2014, p. 64), segundo as quais as perturbações da guerra criaram uma geração
de crianças descontentes, com baixo nível de escolaridade e a viver em bairros urbanos
infestados pelo crime, onde a violência parecia ter-se tornado regra. Em concordância,
Ntoni-Nzinga (2003, p. 12), narra que nos bairros urbanos e suburbanos, as crianças
desenvolviam relacionamentos delinquentes e ganhavam experiências de violência
graves. A maioria das crianças atribuía a sua condição aos problemas económicos e
sociais criados pela guerra.
Na visão de Cole e Chipaca (2014, pp. 64-65), outra consequência significativa
da guerra foi a migração de um grande número de jovens rurais para áreas urbanas, em
busca de emprego. Isto criou uma considerável pressão sobre as infraestruturas sociais,
especialmente, as escolas e habitações e levou à proliferação de musseques urbanos.
Muitas das famílias migrantes depararam-se com situações de extrema pobreza. Para
Oliveira (2012. pp. 126-127) notava-se uma intensa mobilidade, característica dos
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operários e empregados com alguma escolaridade e rendimento fixo, na sua maioria
integrados na função pública. Estes constituíam uma categoria que tinha mais
possibilidade de sair da pobreza, dado o investimento que realizavam na mobilidade
ascendente, oferecendo aos filhos uma escolarização. Ainda assim, muitos jovens
angolanos tiveram que adiar a educação e assumir maiores responsabilidades dentro das
suas famílias. Lopes (2002) considera que as poucas aplicações na educação e saúde
mostravam que o investimento no capital humano era exíguo em Angola. Grande parte
das crianças em idade escolar estava fora do sistema de ensino e havia uma grande taxa
de analfabetismo, porque o Estado não construía suficientes escolas para absorver as
crianças em idade escolar. Entretanto, para Sousa (2002) há atualmente um bom
indicador, por causa da apropriação nacional desse debate, ao ter-se criado um programa
nacional de combate à fome e à pobreza assumido pelas elites políticas, pelo setor
privado, pelos atores da sociedade civil e parceiros da ajuda internacional para o
desenvolvimento. Outro indicador de uma maior apropriação social do debate é o grau de
envolvimento e participação dos diferentes atores sociais.
O setor habitacional é uma das áreas sociais mais importantes que, segundo
Oliveira (2012, P. 126-127), era muito incipiente em Angola devido aos preços elevados
das habitações que se iam construindo. O envolvimento do Governo em políticas
habitacionais remonta desde os primeiros anos de construção do Estado socialista
(Croese, 2016, p. 92-93). De acordo com Oliveira (2012, pp. 126-127), durante o domínio
colonial, o crescimento formal das moradias era resultado de investimentos privados e,
portanto, atendia principalmente às necessidades da minoria dos colonos brancos que
vivia nos centros das cidades. O Governo angolano, sob o regime socialista construíra
cerca de 3.000 apartamentos de cinco andares com ajuda dos cubanos. Com a transição
para uma economia de mercado no início dos anos 90, era necessário privatizar o estoque
habitacional nacional, de maneira a que, aqueles que ocupavam as moradias deixadas
pelos colonizadores portugueses as comprassem a preços baixos. No período que
antecedeu as primeiras eleições pós-guerra de 2008, o papel do Governo, no
desenvolvimento habitacional, ganhou um impulso real quando o Presidente José
Eduardo dos Santos anunciou a construção de um milhão de casas em todo o país até 2012
(Croese, 2016 p. 93-94). Um plano que foi formalmente adotado em 2009 e denominado
Programa Nacional de Urbanismo e Habitação. Com este Programa, segundo Oliveira
(2012), os projetos habitacionais foram ampliados com a introdução de novas cidades.
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Em Luanda por exemplo, o programa resultou na construção de mais de 50.000 habitações
na cidade do Kilamba. Croese (2016 p. 93-94) afirma que foram, igualmente, construídos
outros assentamentos na área metropolitana de Luanda tais como o Sequele, o
Condomínio Vida Pacífica no Zango, o Musseque Capari e o Km 44. Fora da capital,
foram construídas centralidades nas províncias de Cabinda, Lunda Norte, Bié, Huambo,
Moxico, Namibe, Huila, Kwanza Sul, Uíge entre outras. Com estas medidas, como
observam Sidaway e Simon (1993, p. 9-11), foi realizada uma reorganização territorial e
espacial das cidades angolanas. Alguns dos desenvolvimentos nesse sentido que têm
contribuído para a resolução das necessidades sociais de habitação dos cidadãos, ainda
que desiguais, indicam a necessidade de insistir em mais políticas de organização
territorial.
Segundo Pereira (2002), nota-se a existência de uma confiança entre os angolanos,
que poderá levar a um clima de abertura e transparência nas relações sociais e na
consolidação das liberdades civis, liberdade de expressão e autorrealização, fundamentais
para a construção de um Estado Democrático e de Direito.
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petróleo. O mau aproveitamento dos recursos provenientes do petróleo restringiu a
diversificação económica e evitou a criação de empregos necessários ao
desenvolvimento.
Com uma população a rondar os 32.097.671 milhões de habitantes em 2021, o
Instituto Nacional de Estatística de Angola (INE, 2014), estima que a população cresça a
uma taxa superior a 3% ao ano nas próximas décadas. Segundo aquele órgão, Angola é a
segunda maior economia da África Subsaariana. Uma economia em que cerca de 40.6 %
da população vive abaixo da linha da pobreza monetária e o desemprego atingiu no
primeiro trimestre de 2021 um valor acima dos 30.5 %. O Governo tem tomado medidas
para melhorar as condições de vida e a maior parte do investimento público é direcionado
à expansão do acesso à água, eletricidade e transportes. Embora as políticas estruturais
sejam positivas, Angola necessita de acelerar a diversificação económica e reduzir a
dependência do petróleo, que corresponde a cerca de 46% do PIB, 80% das receitas do
Governo e 95% das exportações de Angola. Isto por sua vez, sobrecarrega os lucros da
produção petrolífera, acrescido ao fato de que os principais imputs para a indústria do
petróleo são importados.
O Relatório de Desenvolvimento Humano de 2019 do Programa das Nações
Unidas para o Desenvolvimento (PNUD, 2019) mostra que Angola progrediu no
desenvolvimento humano melhorando sobretudo em termos de educação primária e
educação em geral. Contudo aponta uma nova geração de desigualdades que está a
emergir e pode ameaçar os progressos obtidos e futuros, em particular do
desenvolvimento humano dos grupos mais vulneráveis da sociedade. O Relatório
descreve que o Índice de Desenvolvimento Humano de Angola é de 0,574, o que coloca
o país na categoria de desenvolvimento humano médio posicionando-o no 149º lugar de
um total de 189 países e territórios. Desde 1990, a esperança de vida em Angola aumentou
15,5 anos, ao atingir 60,8 anos, em média no ano de 2019. O rendimento nacional bruto
(RNB) per capita foi estimado em USD 5555 em paridade de poder de compra (PNUD
2019). Segundo o Inquérito sobre o Bem-Estar da População (IBEP 2008/09), as
principais atividades produtivas são a agricultura e a pesca (sectores primários de
atividades). A par destas atividades seculares, Jauhari (2018) afirma que, no início do
século XXI, muitos países de África abriram caminho para o crescimento económico. O
Fundo Monetário Internacional (FMI) identificou nesta situação o Ruanda, Moçambique,
a Nigéria, o Chade, a Etiópia e Angola.
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Segundo Barros, Gil-Alana e Faria (2015, p. 2785), Angola começou, no fim de
1994, um novo relacionamento com o FMI, que enfatizou a necessidade de aumentar a
transparência orçamentária, diminuir as intervenções e o controlo cambial, interromper
os subsídios aos combustíveis, água e eletricidade para controlar a inflação. Como
postulam Pearce, Péclard e Oliveira (2018, p. 1), só depois da vitória do Governo do
Presidente José Eduardo dos Santos em 2002, contra os rebeldes da UNITA, é que Angola
aumentou a sua produção de petróleo, passando de cerca de um milhão de barris por dia
para cerca de dois milhões entre 2002 e 2008. Para Affolter e Cabula (2010, p. 272), as
medidas do FMI permitiram que, a partir de 2002, se registasse um forte aumento das
receitas do petróleo e dos diamantes.
As reservas de petróleo em Angola segundo Burgos e Ear (2012, p. 355) estão
estimadas entre 12 e 14 bilhões de barris e com uma média de produção diária de
aproximadamente 2 milhões de barris, levou a um incremento na produção de gás natural,
que começou igualmente a ser exportado. O setor da mineração que se constituía em cerca
de 12% do PIB de Angola, sendo o oitavo maior produtor mundial de diamantes em bruto
e com um potencial significativo para a extração de cobre, minério de ferro, ouro, fosfatos
e urânio, também se transformou num grande catalisador económico. Barros (2014, p. 2)
entende que apesar de Angola ser um grande exportador de petróleo, importa quase tudo
o que precisa para consumir e essa dependência externa restringe a política monetária e
toda a economia. Nessa perspetiva, as principais recomendações têm sido feitas segundo
Burgos e Ear (2012, p 356), no sentido de diversificar as fontes de obtenção de receitas,
apostando, por exemplo, na agricultura, cujo potencial corresponde a 10% do PIB, sendo
que as principais culturas são o café, a cana-de-açúcar e o milho.
Para Corkin (2011, pp. 169), com a chegada do novo século, começou uma nova
fase de interação bilateral, com foco em relações pragmáticas e cada vez mais
económicas, particularmente no que diz respeito aos planos de Angola para a reconstrução
pós-guerra. Nessa perspetiva, Burgos e Ear (2012, 356) consideram que devido ao
crescimento contínuo das necessidades de energia americanas e europeias, juntamente
com a notável ascensão do Brasil, Rússia, China, Índia e outras economias emergentes,
os principais atores económicos começaram a moldar os mercados internacionais de
energia, principalmente voltados para a produção de gás e de petróleo.
Segundo Corkin (2011, p. 170), Angola alcançou a sua independência em 1975,
mas só estabeleceu laços diplomáticos oficiais com a China em 1983. O contacto bilateral
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oficial de Angola com a China não possui uma história tão longa como a de outros Estados
africanos. A China só tem sido um ator ativo em Angola desde 2004, fato que se deveu
aos desafios chineses contemporâneos, tais como: o rápido crescimento económico; a
recessão global; o aumento da capacidade de compra de produtos nacionais e o aumento
da qualidade dos seus produtos, que levaram à procura de alternativas noutras economias.
Devido à sua necessidade de reconstrução pós-guerra, segundo Tang (2010, p. 352),
Angola assinou o seu primeiro acordo-quadro de USD 2 mil milhões com a China em
2004 e o segundo acordo de outros USD 2 mil milhões em 2007. Nesses acordos, a China
ofereceu empréstimos com juros baixos para a construção de infraestruturas, como
aeroportos, linhas ferroviárias, escolas, hospitais, telecomunicações e sistemas de
abastecimento de água.
Corkin (2011, p. 173) considera que a cooperação sino-angolana ganhou um
significado especial em 2004, quando foram firmados acordos entre o Governo angolano
e o Banco de Crédito Chinês Eximbank, que concedeu a Angola uma linha de crédito no
valor de 2 mil milhões de dólares com vista à reconstrução de infraestruturas, incluindo
caminho-de-ferro, edifícios administrativos e rede elétrica. Em troca, a China recebe 10
mil barris de petróleo por dia. Nesta conformidade, Tang (2010, p. 352) afirma que o
rápido crescimento de Angola atraiu, igualmente, empresas privadas chinesas, que
atuavam principalmente na subcontratação de obras e na importação de bens de consumo.
Como resultado desse processo, a população chinesa em Angola cresceu de 2500 pessoas
em 2004 para mais de 40.000 em 2007.
Em relação ao sistema económico, Ferreira e Oliveira (2018, p. 9) consideram que
os setores das finanças e bancário cresceram muito em menos de uma década, situando-
se como um dos maiores em África, impulsionados pelo aumento do preço do petróleo.
No período pós-guerra civil, como advoga Gaio (2017, p. 20), o capital transnacional
tornou-se cada vez mais relevante na agenda da reconstrução nacional e isto acentuou a
autonomia governativa do Presidente dos Santos e assim Angola conseguiu, enfim,
financiar a agenda da reconstrução sem a necessidade de submeter-se aos requisitos
governativos neoliberais atribuídos à Ajuda Oficial ao Desenvolvimento (AOD). Para
Neto (2016, pp. 1-2), atraídos pela economia em expansão de Angola, pessoas de todos
os cantos do mundo estavam dispostas a tentar a sorte no país. Nem a dureza do controlo
político, nem os constantes pontos de controlo da polícia nas fronteiras impediam as
tentativas ilegais de entrada em Angola (Gonçalves e Smith. 2017, p. 204). De acordo
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com o Relatório do Fórum Económico Mundial (WEF, 2013), Angola tinha um PIB de
cerca de USD 122 bilhões até final de 2013. A economia do país representava 0,15% do
PIB mundial em termos de poder de paridade de compra (PPP) e cresceu substancialmente
desde 1994 até 2008, tendo diminuído ligeiramente, mas continuando a crescer até 2013.
Desde 2012, que se tem registado como descrevem Gonçalves e Smith (2017, pp.
207-208), um ajuste da economia angolana, com a redução significativa nas receitas de
exportação de petróleo devido à queda acentuada dos preços praticados. Angola possui
hoje várias empresas notáveis que se internacionalizaram com sucesso, tais como a
Endiama, uma empresa nacional de exploração de diamantes com presença em Israel,
Bélgica e Hong Kong; a Cuca, cervejeira líder, com presença em Portugal, Cabo Verde,
Moçambique e Guiné-Bissau; a Angonabeiro, uma das principais produtoras e
exportadoras de café; o Banco BAI, com presença estabelecida em Portugal e outros
países africanos; e a Gesteflora, uma empresa madeireira com presença igualmente no
exterior há alguns anos, mas que se ressentem dos efeitos negativos da crise financeira
nas suas contabilidades.
Segundo o relatório do Banco Africano de Desenvolvimento (BAD, 2019),
atualmente, a economia angolana depende fortemente do petróleo, representando quase
80% da receita do Governo, 90% das exportações e 47% do PIB do país: isso torna a
economia vulnerável a choques externos, principalmente, no que diz respeito ao preço do
petróleo. O país continua sem gerar novas oportunidades de emprego, não consegue
reduzir a pobreza e os esforços para a diversificação da economia têm sido nulos. Carneiro
(2002) afirma que o contexto geopolítico em que Angola se insere desde há décadas
constituiu um sério constrangimento à afirmação de uma vida e de um desenvolvimento
reais. Para Ferreira e Oliveira (2018), esta situação foi também fruto da “guerra fria” que
constituiu um fator conducente a uma verdadeira destruição do país e dificultou a sua
inserção no sistema global de aproveitamento de recursos minerais e, em particular, do
petróleo. Mas também foi ignorada uma série de fatores que tornariam o país propício ao
investimento privado tais como: a proteção da propriedade e direitos dos investidores; a
boa governação; a regulação e harmonização do investimento público; a transparência; o
combate à corrupção; a tributação; o acesso a investimentos viáveis; a melhoria dos
padrões contábeis; e a mínima intervenção governamental na vida privada (BAD, 2019).
O relatório do FMI de 2019 sobre a África Subsaariana previu o crescimento da
economia angolana para 2020 em baixa. Não obstante tudo isso, ainda assim, têm-se
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notado alguns êxitos na resposta aos desequilíbrios orçamentais com que o país se
deparou no período 2017-2019, com as reformas que o Presidente João Lourenço tem
vindo a empreender. Para o mesmo, ano o relatório do CEIC (2019), da Universidade
Católica de Angola, considerou haver riscos à retoma do crescimento económico,
acrescidos do aumento da pobreza e à continuação do modelo de redistribuição do
rendimento. O relatório considerou que o crescimento económico não gerou rendimento
suficiente para distribuir e melhorar as condições de vida da população.
Segundo o FMI, o país encontrava-se num ponto de inflexão, num ambiente com
crescimento negativo. Tendo o crescimento em 2018 se situado nos -1,7%, em 2019 foi
de 0,4%, seguido de uma ligeira subida para 2,9% em 2020. O CEIC revelou que o FMI
colocou ao serviço da dívida pública angolana para 2019, USD 15,7 mil milhões (16 por
cento do PIB). Ainda de acordo com o FMI, a dívida de Angola em 2018 situou-se em
88,1% do Produto Interno Bruto (PIB), que subiu para 90,5% em 2019 e deveria descer
para 82,8% em 2020.
Segundo o Economic Outlook (2020), do African Development Bank’s Group,
verifica-se que as metas para o desenvolvimento económico e social, introduzidas no final
de 2017, estão a começar a estabilizar a inflação em Angola, que caiu de 29,8% em 2017
para 17,5% em 2019. Os défices fiscais estão a ser financiados pela dívida externa e pelo
apoio orçamental de organizações multilaterais, tais como o FMI, o Banco Mundial (BM)
e o Banco Africano de Desenvolvimento. As recomendações do FMI cingem-se à
introdução de programas para a proteção social, reformas para melhorar a
competitividade da economia nos mercados internacionais, assim como o reforço do
quadro das despesas a médio prazo e a aplicação de controlos internos para evitar uma
má repartição das despesas e facilitar a gestão dos atrasos no desenvolvimento.
O ambiente de negócios melhorou o crescimento e a competitividade do setor
privado. Angola ocupava a posição 177 do ranking mundial do Doing Business do Banco
Mundial (BM) de 2020, lugar para o qual caiu no ano de 2019 quando se encontrava na
173ª posição de uma lista de 190 países. Para a regulação de todo o processo de reforma,
o Governo criou a Autoridade Reguladora da Concorrência em 2019, que supervisiona a
concorrência privada. Na mesma perspetiva, o relatório do CEIC (2019) recomenda a
diversificação da economia, o incremento das exportações e o reforço dos programas do
Governo como: o Programa de Desenvolvimento Nacional (PDN); o Programa de
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Estabilização Económica (PRODESI); o Programa de Desenvolvimento Agrícola (PDA)
e outros.
Exposta a conjuntura económica de Angola, a secção que se segues descreve o
regime político e a evolução do país em contexto democrático.
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Em Angola, o processo democrático começou com a Segunda República (1991-
2010), com a aprovação de uma nova Lei Constitucional em 1991, Lei nº. 12/91, que
assegurava que Angola era um Estado Democrático de Direito e consagrou a democracia
multipartidária, as garantias dos direitos e liberdades fundamentais dos cidadãos e o
sistema económico de mercado, definiu que o poder emanava do povo, assim como previa
a escolha dos representantes por intermédio de eleições por sufrágio universal. Este
pressuposto aparece reforçado na Lei Nº 23/92 de 16 de setembro, onde o art.º 2º define
a República de Angola como sendo um Estado Democrático de Direito que tem como
fundamentos a unidade nacional, a dignidade da pessoa humana, o pluralismo de
expressão e de organização política e o respeito e garantia dos direitos e liberdades
fundamentais do homem, quer como indivíduo, quer como membro de grupos sociais
organizados. Uma ideia que foi literalmente transferida para a Constituição de 2010.
Com base na Lei Nº 23/92, de 16 de setembro, tiveram lugar em 1992 as primeiras
eleições gerais em Angola, nas quais pela primeira vez na história de Angola o povo
exerceu o direito de voto, elegendo o PR e a Assembleia Nacional. Por outro lado,
segundo Schubert (2013, p. 2), o sistema político marxista, que o país herdou controlava
ativamente todos os órgãos do país. Os funcionários do Estado eram administrativa e
burocraticamente vigiados, ou seja, toda a ação política era censurada, o que resultou no
desenvolvimento de uma “cultura do medo”, que impedia as expressões públicas de
discórdia. Fora da capital do país, os atos de violência política eram frequentes. Os
membros da oposição eram frequentemente perseguidos ou presos. A título de exemplo,
Morais (2012, pp. 60-61) descreve o desfecho de um conjunto de manifestações lideradas
por jovens, organizados em protesto a pedir a renúncia do então PR, que resultou em
detenções, agressões, ameaças e condenações criminais alegadamente por conduta
desordeira. Apesar de em resposta o MPLA realizar contramanifestações para indicar o
seu apoio público ao ex-Presidente, ficou registado como um dos episódios que indicava
o défice de democracia em Angola.
Em 2008, foi eleita uma nova Assembleia Nacional, em Angola, cuja principal
tarefa foi a aprovação de uma nova Constituição, uma ação que ficou concluída em 2010,
com a promulgação pelo PR, a 4 de fevereiro. A Constituição de 2010 definiu no seu
artigo 27º os partidos políticos, como sendo entes que concorrem em torno de um projeto
de sociedade e de um programa político, para a organização e para a expressão da vontade
dos cidadãos, participando na vida política e na expressão do sufrágio universal, por
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meios democráticos e pacíficos, com respeito pelos princípios da independência nacional,
da unidade nacional e da democracia política.
Como já se fez referência, na secção de caraterização geopolítica, a CRA, no seu
artigo 2º, descreve a República de Angola como sendo um Estado Democrático de Direito
que tem como fundamentos a democracia representativa e participativa, aqui percebe-se,
como fazem referência Diogo e Triches (2015, pp.16-17), que a democracia
representativa como o tipo característico de democracia moderna em que o povo angolano
elege os seus representantes de forma direta e esles defendem os interesses do povo, ou
seja, o titular do poder, o povo, outorga esse poder para que aquele que é eleito responda
em seu nome. Para Barros e Santos (2017, pp. 364-365), a democracia representativa nos
seus três elementos essenciais, baseia-se na responsabilidade informacional
(accountability informativa), nas formas de accounts (narrativas) políticas que se
enquadram na categoria de prestação de contas à sociedade, seja por meio de notícias,
declarações, documentos, relatórios, pronunciamentos e discursos e no elemento de
conexão com os públicos eleitorais, os grupos de interesse e quaisquer cidadãos
interessados na agenda política e nos modos de prospeção da opinião pública (inquiry),
numa tentativa de sondar os climas de opinião política.
À luz da Constituição da República de Angola (CRA), o sistema de governo
angolano é presidencialista. Diogo e Triches (2015, pp.16-17) consideram que o
presidencialismo possui particularidades como a eleição do presidente, que é feita via de
regra mediante o voto do povo, um mecanismo que permite a participação direta do
cidadão. Segundo o artigo 108.º da CRA, o PR em Angola exerce o poder executivo,
auxiliado por um Vice-Presidente, Ministros de Estado e Ministros. Por sua vez, os
Ministros de Estado e os Ministros são auxiliados por Secretários de Estado e ou Vice-
Ministros, se houver. Nesta perspetiva, Dallari (2009) considera que no presidencialismo,
o Presidente deve ser eleito periodicamente, limitando-se ao tempo de mandato, ao
número de mandatos e de reeleição. A CRA no seu artigo 113.º regula a forma de eleição
do PR e considera que deve ser feita por sufrágio universal para um período de cinco
anos, podendo exercer no máximo dois mandatos. A nível local, a CRA no seu artigo
201.º, estabelece que a Administração do Estado é exercida por órgãos desconcentrados
da Administração Central e visa assegurar, a realização das atribuições e dos interesses
específicos da administração do Estado na respetiva circunscrição administrativa, sem
prejuízo da autonomia do poder local. O Governador Provincial é o representante da
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Administração Central na respetiva Província a quem se incumbe, em geral, conduzir a
governação da Província e assegurar o normal funcionamento da Administração Local do
Estado.
Para Rai (2014, pp. 21-23), o Parlamento é um organismo dinâmico que busca
sempre reivindicar a representatividade não apenas através da forma institucional, mas
também através dos processos a que é chamado a decidir de forma negociada. A
Constituição da República de Angola (CRA, 2010) considera a Assembleia Nacional
como sendo o Parlamento da República de Angola. A Assembleia Nacional de Angola é
um órgão unicamaral, representativo de todos os angolanos que exprime a vontade
soberana do povo e exerce o poder legislativo do Estado. Rai (2014, pp. 21-23) considera
que o Parlamento é um espaço político e físico que cria regras específicas para as
instituições do Estado, socializa e democratiza os seus membros, levando-os a participar
dos exames ao desempenho das instituições políticas e públicas. Os parlamentares criam
e mantêm os poderosos símbolos da democracia e do poder. A mediação entre o
Parlamento e os públicos, como defendem Cardoso, Cunha e Nascimento (2016, p. 455)
tem sido feita através da utilização das Tecnologias de Informação e Comunicação
(TIC´s), porquanto o parlamento está integrado no sistema político e de Governo
angolano que inclui os Deputados da Assembleia Nacional (AN), enquanto representantes
dos cidadãos, desempenhando um papel de mediação entre os públicos e o Governo.
Deste modo, do ponto de vista político-constitucional, a instituição parlamentar angolana
desempenha uma função representativa de vínculo privilegiado com todos os cidadãos,
uma vez que os Deputados representam toda a nação e não os círculos a partir dos quais
são eleitos.
Politicamente, como considera Salih (2007, p. 678-679), apesar de todos os
cidadãos serem constitucionalmente elegíveis para cargos públicos, o ex-Presidente José
Eduardo dos Santos assumiu o país quatros anos após a independência e permaneceu
difícil, senão impossível, de retira-lo do Poder. Para Roque (2009, p. 137),
independentemente das vantagens do partido no poder, a oposição ainda não consegue
convencer os eleitores de que pode ser uma alternativa credível ao MPLA. As divisões
internas, as alegações de aceitação de subornos do Governo e a falta de recursos tornam
o desafio de concorrer contra o MPLA praticamente insuperável. A falta de coesão, a
incapacidade em criar uma liderança capaz, proporciona ao MPLA uma vitória
antecipada. Outro fator que sempre esteve a favor do MPLA, segundo Ferreira (2009, p.
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30), nos últimos anos e que ajudou a elevar o número de membros particularmente nas
terras altas centrais e sul do país, inclusive nos antigos bastiões da UNITA, foi a persuasão
com incentivos financeiros e outros bens materiais. Para McMillan (2005, p. 155-156), o
pensamento recente sobre subdesenvolvimento nos leva a pensar na capacidade de
funcionamento das instituições. Por isso considera que as instituições ainda persistem
fracas com poucos fatores de controlo, impedimento e contrapeso político que sustentam
a democracia e sem as leis e os mecanismos reguladores, o que dá uma sensação de pouca
esperança de progresso político. Num país com instituições fracas, os direitos civis são
reduzidos e o padrão de vida é baixo. O mecanismo que Roque (2009, p. 138) considera
ter dado alguns passos é a sociedade civil, apesar de continuar a ser uma força pública
fraca. Houve, no entanto, uma abertura significativa no espaço público que permitiu o
surgimento de novos grupos na sociedade civil.
Os nossos argumentos anteriores, submetem-se as afirmações de Levitsky e
Ziblatt (2018, p. 32), que consideram que a abdicação de responsabilidades políticas da
parte dos líderes marca o primeiro passo para uma nação seguir o autoritarismo. Apesar
de nem todas as democracias terem caído nesta armadilha, algumas delas enfrentaram a
ameaça de demagogos, mas conseguiram mante-las fora do poder. A sobrevivência da
democracia para Levitsky e Ziblatt (2018, p. 32), está enraizada na sensatez coletiva dos
eleitores. Porquanto, acredita-se que o destino de um Governo está nas mãos dos seus
cidadãos. Se o povo abraça valores democráticos, a democracia mantem-se salva.
O caso angolano demanda atenção pelo défice democrático que vive, uma situação
que é comum em países periféricos, assim como em alguns países industrializados, onde
as elites nacionais corrompem e abalam a legitimidade de todo o sistema político.
Segundo o The Economist Intelligence Unit, o Índice de Democracia 2020 no mundo,
coloca Angola no grupo dos países com regimes autoritários na posição 117 de um total
de 167 países. No The Ibrahim Index of African Governance (2020), Angola registou em
2019 um declínio pela primeira vez desde 2010, a pontuação média geral diminuiu 0,2
pontos em 2019 para 48,8 em relação aos 49 pontos de 2018, o que representa a primeira
queda anual numa década. O relatório indica que Angola ficou classificada no 43.º lugar
mostrando sinais de progresso crescente. O país somou 40 pontos em 2019, mais 5,4 do
que em 2010, e é o terceiro país africano que mais melhorou nos últimos cinco anos. Na
mesma perspetiva, o relatório da Freedom House (2020) considera Angola um país que é
governado pelo mesmo partido desde a sua independência e as autoridades continuam a
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reprimir sistematicamente a dissidência política. A Corrupção, as violações e os abusos
as liberdades dos cidadãos são frequentes, normalmente cometidas pelas forças de
segurança que continuam com o mesmo comportamento. A Freedom House considera
ainda que desde a eleição do Presidente João Lourenço em 2017, o Governo amenizou
algumas restrições à imprensa e à sociedade civil, mas os desafios persistem.
A despeito do anteriormente exposto, as normas, as regras, as instituições que
governam os fluxos financeiros e o meio ambiente são geridas em torno dos interesses
dessas elites, um sério perigo para o regime democrático (Sogge, 2009, p. 9). Segundo
Santos (2001, p. 113), o défice democrático deveu-se ao fato de nenhuma potência
colonial e neocolonial se ter preocupado com a sorte da democracia em África até aos
anos 80. Pelo contrário, elas mostravam-se ansiosas por preservar os laços com os
ditadores de qualquer índole. Apesar da definição do país como sendo um Estado
multipartidário, uma nota do Chr. Michelsen Institute e do Centro de Estudos e
Investigação Científica (CEIC-CMI, 2011) indica existir um défice na atividade dos
outros partidos políticos no exercício democrático. A limitação ao exercício político era
normalmente defendida fazendo referência à incapacidade de organizarem-se eleições
devido à longa guerra civil. A dominação do partido no poder e os resultados das eleições
eram vistos como consequência da guerra. Contrariamente ao que defende Roque (2009,
p. 139), depois das eleições de 2017, constatou-se que Angola se tornou um país diferente
e o partido no poder cedeu algum terreno à oposição. O MPLA diminuiu os seus esforços
para reprimir os media independente e a sociedade civil; autorizou, por exemplo, a
extensão do sinal da Rádio Ecclésia para além de Luanda, trabalha para um aligeiramento
das leis políticas e já aceita críticas ao Presidente e ao seu Executivo.
Feita a caracterização de Angola nos planos geopolítico, económico e social,
dando prosseguimento a análise, segue-se a caracterização do sistema mediático em
Angola.
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3. O Sistema Mediático em Angola: Evolução dos Media e do Jornalismo
3.1. A Imprensa no Período Colonial
A imprensa em Angola, no período colonial, segundo Hohlfeldt e Carvalho (2012,
p. 85), surgiu no século XIX como consequência de uma decisão do Governo colonial
que, até então, sempre interditara tal iniciativa. A imprensa em Angola, foi iniciada a
partir de um boletim oficial que logo abriu caminho para publicações autodenominadas
independentes. Hohlfeldt (2009, p. 140) refere que em Angola, a primeira máquina de
imprensa chegou pelas mãos de Joaquim António de Carvalho Menezes, um angolano
que em 1842 foi enviado para Luanda de navio. Em 1845, o Governador Geral, Pedro
Alexandrino da Cunha, importou outra prensa e a partir de 13 de setembro começou-se a
publicar a primeira edição do Boletim Oficial.
De acordo com Jacob (2010, p, 98), o primeiro periódico publicado em Angola
foi o Boletim do Governo Geral da Província de Angola, a 13 de setembro de 1845, um
ano após a chegada da prensa ao país. Na mesma perspetiva, Hohlfeldt e Carvalho (2012,
p. 92), consideram que, com a primeira edição do Boletim do Governo-Geral da Província
de Angola, dava-se cumprimento ao disposto no Decreto de 7 de setembro de 1836, que
ordenava publicar, em todas as províncias, boletins oficiais, sob a inspeção de cada
Governo local. Jacob (2010, p, 98) afirma que décadas depois da publicação dos poemas
“Espontaneidades”, verificou-se a explosão da imprensa livre angolana que estava
“recheada de inúmeros vaticínios, que apontavam serenamente para uma mudança radical
que, à distância de uma centena de anos, viria, enfim, a concretizar-se”. Um dos aspetos
desse novo tipo de jornalismo é a inserção de frases, mensagens e expressões em kikongo,
umbundo e principalmente em quimbundu, línguas da grande família linguística bantu.
Para Hohlfeldt e Carvalho (2012, p. 93), com o aparecimento da primeira edição do
periódico de Luanda, A Civilização da África Portuguesa, em 1866, iniciou-se
efetivamente o segundo período do Jornalismo angolano. Por mais que se tenha
continuado a publicar, durante mais alguns anos, anúncios, comunicados particulares e
artigos no jornal oficial, este periódico deixou de estar sozinho no território angolano.
Jacob (2010, p, 100) realça o grande nome de Alfredo Troni na inauguração de
uma prática jornalística de fato contestatória, um português com bacharelato em Direito
pela Universidade de Coimbra, que exerceu a sua carreira em África e faleceu em Luanda
no ano de 1904. Troni foi o responsável pela criação do Jornal de Loanda, em 1878 e de
mais dois periódicos: Mukuarimi (1888) e Conselhos do Leste (1891). No entanto, a
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imprensa angolana dessa época era centralizada quase que exclusivamente em dois
centros urbanos, Luanda e Benguela. Os jornais sempre dedicaram espaço às
colaborações literárias e, por isso mesmo, a figura do intelectual ganha um relevo
inquestionável, sendo o jornalista e o literato, muitas vezes, a mesma pessoa (Macedo &
Chaves, 2007).
Para Jacob (2010, p, 98), O Jornal de Loanda é considerado o marco da transição
de um jornalismo colonial para um jornalismo cada vez mais apegado ao povo e ao país,
servindo como instrumento de denúncia. Depois deste periódico, a imprensa livre passou
para a acusação frontal dos colonizadores com o surgimento de veículos de imprensa
controlados pelos “filhos do país”. Desse grupo, destacam-se três jornais: O Echo de
Angola (1881), O Futuro de Angola (1882) e O Pharol do Povo (1883). O primeiro
marcou o início da intervenção dos africanos no jornalismo local com órgão de imprensa
exclusivamente nativo e dirigido por angolanos. Para Hohlfeldt e Carvalho (2012, p. 93),
a evolução jornalística de Angola dependeu, dentre outros fatores, do incremento da
colonização europeia, do desenvolvimento do comércio interno e do comércio de
exportação. Na medida em que, o território foi progredindo com o intercâmbio entre a
Europa e África e com o aumento das exportações de produtos agrícolas e minerais, a
medida que foram igualmente se estabelecendo as tipografias e os periódicos em Angola,
a urbanização foi dando lugar ao desenvolvimento do Jornalismo atual.
Hohlfeldt (2009, p. 141) considera que o semanário a civilização da África
portuguesa de 6 de dezembro de 1866, publicado em Luanda, abriu um novo período. O
jornal era editado por Urbano de Castro e Alfredo Mântua, contando já com uma
tipografia própria. Tratava-se de um semanário dedicado ao tratamento dos interesses
administrativos, econômicos, mercantis, agrícolas e industriais da África portuguesa.
Hohlfeldt (2015, pp. 8-10) considera que o jornal mais antigo, do século XX não é de
Luanda, mas de Novo Redondo, atual Kwanza Sul. Tratava-se do Echos do N`Gunza, um
“órgão com interesses locais e gerais de Angola e da nova mentalidade luso-africana”. A
publicação deste periódico começou a 25 de dezembro de 1904, com apenas 6 páginas. O
jornal não trazia qualquer indicação dos seus responsáveis. Assim, foram surgindo outras
publicações a 26 de junho de 1913, surgiu um jornal relativamente moderno, O
Progresso, com sede em Luanda, um “semanário colonial”, editado por Augusto Archer
da Silva Wilson, propriedade da empresa O Progresso. Seguiu-se o semanário a Pátria
Portuguesa, que começou a circular no dia 28 de fevereiro de 1919. Este semanário
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nasceu sob a mordaça da censura, no sentido de que reclamasse do Governo a nulidade
da Portaria 291 com a qual o Governo Geral de Angola, sobre o argumento de que
algumas publicações vinham influenciando-se com uma” linguagem despojada e
provocadora”. Na verdade, o Pátria Portuguesa surgiu em substituição ao Jornal de
Angola, quanto proibido de cortar o artigo que fosse censurado, o qual deveria aparecer
devidamente rasurado, com a indicação de “censura”. Impresso na mesma Tipografia que
o anterior semanário Minerva, em Loanda, o imparcial foi outro jornal que se definiu
como “semanário republicano independente”, o que na prática significava fazer oposição
à administração provincial.
O jornalismo angolano impresso, com especial ênfase para o jornalismo colonial,
sempre esteve de mãos dadas com a história da evolução da literatura. Para se estudar as
literaturas produzidas nas colônias, tem de se ter em consideração a evolução do
jornalismo. O jornalismo angolano era feito por escritores profissionais da literatura que
se congregavam num só. Foi, igualmente, possível acompanhar um movimento de
nacionalização da imprensa, muito mais evidente no século XIX, quando nas décadas de
1880 e 1890, começaram a surgir jornalistas mestiços ou mesmo negros a assinarem
textos ou a editarem jornais. No século XX, à medida que a imprensa se industrializava e
se transformava em empresas, tornava-se acentuado o domínio da imprensa pela raça
branca ou europeia, ao ser fortemente retomado, pese embora muitos destes europeus se
identificassem com o território colonial e com as suas causas.
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telecomunicações em Angola está fortemente ligada à UNITEL, que começou a sua
atividade como uma sociedade anónima.
Segundo dados do Instituto Angolano das Comunicações (INACOM, 2019), o
preço médio de um gigabyte de telecomunicações em Angola está fixado em 7,95 dólares
(cerca de 2 547 kwanzas). Angola detém 13 milhões de utilizadores de telefonia móvel
(para uma população de cerca de 30 milhões de habitantes em 2019) e tem ainda mais de
170 mil utilizadores da rede fixa de telefonia. Quase seis milhões de clientes utilizam os
serviços de Internet e 1.928.000 são subscritores de canais de televisão por assinatura.
Com as condições técnicas e tecnológicas descritas no paragrafo anterior, tal como
defendem Cunha e Araújo (2018, p. 93), podia-se avançar para a conceção de um setor
público de comunicação de massa, que veio mais tarde a ser dominado pelo partido no
poder que, através do Jornal de Angola, da Televisão Pública de Angola (TPA), (que
dispõe de dois canais nacionais e um internacional, e se encontra sob a dependência direta
do ministério de tutela) e da Rádio Nacional de Angola (RNA) e suas afiliadas, passaram
a constituir-se na voz oficial da Presidência da República. Para Martins (2016), a presença
da RNA em todo o território nacional passou a ser assegurada por diversos canais
regionais, postos fixos e rádios municipais, dispondo de um serviço internacional em
português, inglês, francês e lingala. Às estações privadas, não era permitido o uso de
retransmissores fora da sua região de origem. A imprensa angolana estava, quase
totalmente, concentrada em Luanda. À exceção do Jornal Privado Chela Press, que se
afirma como Jornal do Centro Sul e do Jornal Planalto, editado no Huambo, fora da
capital, a maioria dos cidadãos praticamente só tem acesso aos media públicos.
Com a evolução democrática, registaram-se as primeiras publicações
independentes nomeadamente dos jornais o Correio da Semana (1992), Imparcial FAX,
Comércio e Atualidade (1994), Folha 8 (1995), Agora, Angolense (1997) e o
Independente (1999), órgãos que travaram uma luta constante para manterem as suas
tiragens e diversificar as informações e o surgimento de novas emissoras de rádio. Martins
(2016) regista o aparecimento da Rádio Despertar conotada à UNITA, Rádio Morena
Comercial, de Benguela, a Rádio 2000, do Lubango, a Rádio Mais, das poucas rádios
privadas instaladas no interior do país; em Luanda apareceram a Rádio Kairós, Rádio
UNIA, N`gola Rádio, Rádio Essencial, Luanda Antena Comercial, Rádio Romântica e a
Rádio Tocoista ligada à Igreja de Simão Toco. O setor privado foi, no entanto, controlado
pela alta nomenclatura angolana (generais e próximos do ex-presidente), como por
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exemplo, a TV Zimbo e a Semba Produções, operadoras de Televisão por satélite, a ZAP,
a Multichoice, a TV Cabo e grupos como a RTP, a Impressa Africana, a portuguesa TVI
e outros grupos brasileiros como a Globo e a Record, com interesses e produtos
direcionados ao mercado dos media angolanos. Também enfatizamos a presença da Igreja
Católica na emissão radiofónica, com base na Rádio Ecclésia.
Ao analisar o processo que Ribeiro e Resende (2017, p.140) designam como “fase
de adaptação dos jornais ao ambiente digital e aos desafios por este colocado”, parece-
nos que estes reptos não trouxeram grandes alterações para Angola. O ambiente digital
não conduziu os media a novos hábitos, quer em relação ao consumo, quer nos modelos
de negócio, mantendo praticamente intatas a cultura das redações, ficando aquém das
práticas de convergência. Porquanto, parece não existir nos media angolanos uma
integração de ferramentas, espaços, métodos de trabalho e linguagens, de modo a produzir
conteúdos que sejam distribuídos através de múltiplas plataformas. A afirmação anterior
é vista por Joffe (2014, p. 3), como sendo uma posição do Governo angolano, que se
ajustou a um novo relacionamento com os media e tornou as suas relações com jornalistas
protegidas a ponto de trabalharem para promover ativamente as suas ações (Mutsvairo &
Karam, 2018, p. 5).
Lázaro (2012, p. 39), considera que as clivagens internas entre as forças políticas
angolanas minaram profundamente a comunicação social, a guerra que fraturou
decisivamente o tecido social expunha o engajamento político dos órgãos públicos
(televisão, rádio, jornal e agência de notícias) por um lado, e por outro, como modo de
“sobrevivência informativa”, a rebelião armada, protagonizada pela UNITA, também
criou a sua própria Rádio VORGAN (Voz da Resistência do Galo Negro), posteriormente
Rádio Despertar, já no contexto urbano. Caracterizando o cenário angolano, Martins
(2016, p.266), descreve o país como sendo um espaço onde se vivia um ambiente restrito
de funcionamento dos media, que envolvia a intimidação e prisão de jornalistas,
decorrentes da cobertura de assuntos sensíveis, tais como os protestos contra o Governo
do anterior Presidente, José Eduardo dos Santos, ou a corrupção entre funcionários do
Governo. Neste contexto Lázaro (2012, p. 39), considera aquele um período como um
momento em que a liberdade de imprensa e a segurança profissional dos jornalistas foi
muitas vezes posta em causa, com casos de prisões que envolveram processos judiciais
por causa das matérias veiculadas. Também foram levantados casos de intimidações e
processos judiciários movidos por individualidades governamentais, acusando-os de
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difamação, calúnia e atentado à privacidade. Para Cunha e Araújo (2018, p. 106), esta
situação era resultado do sistema político autoritário que imperou no país durante anos,
por isso, não se podia ter uma imprensa suficientemente independente que pudesse
investigar e divulgar os fenómenos com intensidade.
Lázaro (2012, p. 39) considera que Angola possui uma diversidade de jornais
independentes no mercado, no entanto, existem dificuldades relacionadas com a liberdade
de imprensa, por isso, continua marcada por vários constrangimentos. Estes
constrangimentos circunscrevem-se a conformidade da lei de imprensa à nova
Constituição aprovada em 2010, a denúncias de violação dos direitos dos cidadãos, a
perseguições e pressão política, cujo alvo são os jornalistas. O relatório da Freedom
House de 2017, que analisou a Liberdade de Imprensa em Angola, atribui Press Freedom
Status: Not Free na posição 73 dos 100 estados analisados, considerando igualmente a
conjuntura do ambiente político, económico e legal. O país recebeu pontuações, mas
nenhum relatório narrativo em relação à situação da imprensa. A organização Repórteres
Sem Fronteiras considera na sua classificação mundial de 2022, que Angola ocupa a
posição 99 de 180 países, com a pontuação 57.17, uma evolução de sete posições a contar
da data do início do estudo em 2017. Esta pontuação deve-se ao facto de os media
tradicionais ainda continuarem sob controlo do Governo, visto que os quatro canais de
televisão, as dezassete rádios e os títulos da imprensa escrita permanecem em grande parte
sob controlo ou sob a influência do Governo e do partido no poder. Apenas a Rádio
Eclésia e um conjunto muito restrito de sítios particulares na internet conseguem produzir
informações críticas e independentes. Os custos exorbitantes das licenças de rádio e de
televisão constituem um obstáculo ao pluralismo.
Conforme faz menção Faria (2013, p. 294), o público em Angola estava
estruturado pela memória do passado e pelas necessidades materiais de sobrevivência, e
isto foi usado pelo regime para ajudar a perpetuar e expandir a sua rede de influência;
como resultado desta ação a vida pública passou a girar em torno de dicotomias
predominantes. Na opinião de Lázaro (2012, p. 40), a guerra civil, que vigorou durante
toda a década de 90, dominou parte das abordagens dos jornais angolanos. O diário
público, Jornal de Angola, privilegiava a salvaguarda das instituições do Estado, ao passo
que os jornais independentes, como o Folha8 (1995) e o Angolense (1997) procuravam
denunciar as violações durante o conflito. Já a segunda metade dos anos 1990 foi
determinante para a afirmação da liberdade de imprensa, pois o vigor dos jornalistas que
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provinham de uma cultura autoritária tornou-se notável quando passaram a exercer um
tipo de jornalismo de pressão política e social.
Moreira, Amorim e Baltazar (2019, p. 140) descrevem o cenário de censura e
perseguição de que eram alvo os jornalistas. Moreira, Amorim e Baltazar descrevem o
caso de Rafael Marques, que foi preso por causa de uma investigação denominada
“Diamantes de Sangue”, um trabalho em que o jornalista expõe os esquemas de corrupção
do poder político, das forças policiais e de empresas e entidades estrangeiras com quem
o Governo negociava. O jornalismo de investigação não era bem-vindo, tal como
confirma um seminário intitulado "Jornalismo Investigativo na era da Reconstrução
Nacional em Angola", realizado em Luanda em 2010, organizado pelo Ministério da
Comunicação Social de Angola que concluiu na altura que não havia jornalismo
investigativo em Angola (ANGOP, 2010). Para Faria (2013, p. 295), o uso político dos
media permitiu ao regime separar e isolar vozes opostas. Hohlfeldt e Carvalho (2012, p.
98) ressaltam que com a ajuda do Brasil e da China, Angola implantou a televisão digital
e desenvolveu as mais modernas tecnologias para os seus processos comunicacionais, no
entanto, continuou a enfrentar problemas políticos que se refletiram, justamente, num dos
aspetos mais sensíveis da realidade nacional que é, claramente, o exercício do Jornalismo.
Para Hohlfeldt e Carvalho (2012, p.98), Angola continuava a sofrer com a falta de
liberdade e censura, mesmo quando os jornalistas tentavam desempenhar um papel
decisivo na configuração da realidade por parte do público pela seleção noticiosa que
fizeram e pela forma como contaram as histórias (Barros, 2019, p. 192).
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A ideia constitucional da salvaguarda do direito à informação e à comunicação é
reforçada no n.º 2 do mesmo artigo, que esclarece que o exercício dos direitos e
liberdades, constantes do número anterior, não podem ser impedidos nem limitados por
qualquer tipo ou forma de censura, tendo por isso, a liberdade de expressão e a liberdade
de informação como limites os direitos de todos ao bom nome, à honra e à reputação, à
imagem e à reserva da intimidade da vida privada e familiar, à proteção da infância e da
juventude, ao segredo de Estado, de justiça, profissional e demais garantias, nos termos
regulados pela lei.
Em 1991, com a assinatura dos acordos de paz, a então Assembleia do Povo,
antecessora da atual Assembleia Nacional autorizou o Presidente da República a conferir
poder jurídico à uma série de instrumentos. Dentre estes instrumentos constavam várias
leis, tais como: a Lei sobre o Conselho Nacional de Comunicação Social (Lei n.º 7/92 de
16 de Abril), a Lei do Direito de Antena e do Direito de Resposta e Réplica Política dos
Partidos Políticos (Lei n.º 8/92 de 16 de Abril) e a Lei reguladora do Exercício da
Atividade de Radiodifusão (Lei n.º 9/92 de 16 de Abril); infelizmente este exercício não
estabeleceu no país um ambiente aceitável em termos de exercício da atividade
jornalística. Com esta revisão atingiu-se o ponto mais alto das inovações, até então
registadas na legislação angolana, com a introdução, igualmente na Lei Constitucional de
1992 com a consagração da liberdade de imprensa, que veio garantir a existência de uma
imprensa livre de qualquer censura (artigo 35.º da LC), a introdução, igualmente, da
liberdade de expressão, que estabeleceu também a liberdade de informação, de reunião,
de manifestação, de associação e de todas as formas de expressão (no artigo 32.º da LC).
Com o fim da guerra civil em Angola, em 2002, ficou marcada a abordagem da
imprensa, sendo impostas maiores exigências no que respeita à liberdade de expressão e
ao direito à informação. Segundo Martins (2016), em 2006, foi aprovada uma Lei de
Imprensa que inscreve um conjunto de salvaguardas características de regimes
democráticos, incluindo a recusa expressa de censura prévia. Todavia, o diploma, que
abriu aos privados o exercício de atividades de radio e televisão, contemplando
dispositivos destinados a limitar a concentração empresarial, ainda aguardava pela sua
regulamentação.
As sequelas das longas guerras, segundo Martins (2016), repercutiram-se no
quadro legal, no grau de abertura e na intromissão política do Governo na esfera
mediática. Segundo Lázaro (2012, p. 39), a partir do ano 2000 passou-se a dar maior
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atenção às transformações políticas e socioeconómicas, no que respeita à Legislação em
geral e aos Direitos Humanos em particular. Ainda assim, para Martins (2019), a
construção do edifício legislativo seguiu de perto o modelo português e percorreu um
longo caminho. A nova Constituição, aprovada em 2010 consagrou princípios
democráticos, com impacto na Comunicação Social e nas Telecomunicações. Para
Moreira, Amorim e Baltazar (2019, p. 140), atualmente, Angola possui um Centro de
Formação de Jornalistas (CEFOJOR), um Sindicato de Jornalistas, uma Lei de Imprensa
e um Estatuto do Jornalista, assim como um Código e Ética do Jornalísta que só foi
aprovado em 2004.
Os direitos, anteriormente evocados, são decorrentes da anterior Lei
Constitucional de 1992, que segundo Lázaro (2012, p. 39) consagrou amplas liberdades
aos cidadãos, designadamente a liberdade de criação de partidos políticos, a liberdade de
manifestação, a liberdade de expressão e de imprensa, incluindo a criação de novos
títulos.
Em função da realidade anteriormente descrita, foi aprovado em 2017, um novo
pacote legislativo da Comunicação Social angolana. O novo pacote introduziu a Lei n.º
1/17, nova Lei de Imprensa, que estabelece os princípios gerais orientadores da
comunicação social e veio regular as formas de exercício da liberdade de imprensa. A Lei
n.º 2/17, Lei Orgânica da Entidade Reguladora da Comunicação Social Angolana, que
estabeleceu as atribuições, as competências, a composição, a organização e o
funcionamento da Entidade Reguladora da Comunicação Social Angolana, uma
organização que tem a natureza de entidade administrativa independente, que exerce
atividades de regulação e de supervisão da comunicação social.
Com a aprovação do novo pacote legislativo, foi igualmente revista a Lei sobre o
Exercício da Atividade de Televisão, que veio regular o acesso e o exercício da atividade
de televisão, a gestão e exploração de redes de transporte e difusão do sinal televisivo e
da prestação de serviços de comunicação social audiovisual. A Lei n.º 4/17, Lei sobre o
Exercício da Atividade de Radiodifusão, que considera que a radiodifusão continua a ser
um dos principais veículos de comunicação existente, e por fazer parte da vida quotidiana
de centenas de milhares de pessoas em todo o mundo, levando informação e
entretenimento, foi finalmente aprovada a Lei n.º 5/17, Lei sobre o Estatuto do Jornalista,
que veio clarificar e definir, quem é que, pode exercer a atividade jornalística na
República de Angola. Esta lei estabelece que jornalista é qualquer cidadão que desenvolve
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a profissão como ocupação permanente e remunerada, que exerce funções de pesquisa,
recolha, seleção e tratamento de fatos, notícias ou opiniões, através de textos, imagens ou
som, destinados à divulgação informativa pela Imprensa, agência noticiosa, pela rádio,
pela televisão ou por outra forma de difusão eletrónica.
O novo pacote legislativo introduziu a liberdade de imprensa que viria a traduzir-
se no direito de informar, de se informar e ser informado através do livre exercício da
atividade de imprensa, sem impedimentos nem discriminações. A liberdade de imprensa
passou a não estar sujeita a qualquer censura prévia, nomeadamente, de natureza política,
ideológica ou artística.
O quadro legal da Comunicação Social em Angola procura estabelecer um
compromisso com uma sociedade plural e democrática, porquanto, os princípios da
liberdade de imprensa e do tratamento imparcial estão consagrados.
3 de 1 de 1 de 1 de 1 de 1 de 1 de 1 de 1 de 1 a 31 Total
outubr janeiro abril a julho a outubr janeiro abril a julho a outubr de
o a 31 a 31 de 30 30 de o 31 a 31 de 30 de 30 de o de janeiro
dezem março junho setem de março junho setem 31 a de
bro de de de bro de dezem de de bro de dezem 2020
2017 2018 2018 2018 bro de 2019 2019 2019 bro de
2018 2019
Frequência 3 6 4 6 5 3 5 2 2 1 37
Percentagem 8 16 11 16 14 8 14 5 5 3 100
Frequência Percentagem
100
37
27 30
10 11 5 3 3 3 3 3 5 3 8
2 1 2 1 2 1 2 1 3 1 3
Frequência Percentagem
Recursos Minerais, Petroleo e Gás
Obras Públicas e Ordenamento do Território
Ensino, Ciência, Tecnologia e Inovação
Cultura, Turismo e Ambiente
Migrações
Organizações Empresariais e Profissionais
Diplomacia e Relações Internacionais
Cooperação e Solidariedade Internacional
Justiça
Festividades e Solenidades
Todos os Setores de Actividades
Total
Telecomunicações, Tecnologias de Informação e Comunicação Social
Frequência Percentagem
Nacional 13 35
Internacional 24 65
Total 37 100
49
37
18
2 1 2 1 1 1 1 2 1 2 1 2 1 1 5 3 5 3 3 3 3 5 3 5 3 5 3 3
Frequência Porcentagem
Luanda Benguela
Cuando Cubango (Cuito Cuanavale) Africa do Sul
Etiópia Namíbia (Windhoek)
Cabo Verde China (Pequim)
EUA (Nova Iorque) Portugal (Lisboa)
Portugal (Porto) Cuba (Havana)
Rússia (Moscovo) França (Estrasburgo)
Total Namibe
100
37
27
14 19 16
5 7 1 1 2 1 6 10 1 3 3 3 5 3 3 8
Frequência Percentagem
Representantes de Cidadão e Públicos Comunidade Internacional
Oposição Política Prestadores de Serviços de Educação
Empreendedores e Empresários Estrangeiros Empresários Nacionais
Organizações Regionais e Internacionais Conjunto de Públicos Nacionais e Internacionais
Total Famílias
Governos Locais
Frequência Porcentagem
País 5 14
Líder de Um Partido Político 1 3
Membros da Sociedade 7 19
Países e Organizações Internacionais 18 49
Orgãos de Justiça 1 3
Total 37 100
Protagonista Económico 5 14
Frequência Percentagem
UNITA 1 3
Todos 4 11
Total 37 100
Indiferenciado 32 87
16
11
8 8
percentagem
3 3 3
1
100
37 46
22
1 2 2 1 3 2 8 17 1 3 5 5 3 8 5 3
Frequência Percentagem
Frequência Percentagem
Positivo 23 62
Neutro 10 27
Total 37 100
Negativo 4 11
2.2.Principais Tendências
Na secção presente, estão representados os resultados das principais tendências
observadas nos discursos políticos de João Lourenço. Os quadros abaixo expõem os
principais aspetos selecionados e considerados, como sendo elementos críticos, nos
discursos políticos do PR e que consequentemente se propõe a corrigir.
Quadro nº 5 Aspetos críticos identificadas nos discursos políticos do PR do
período 2017-2020
Respostas Percentagem
N Percentagem de
casos
Aspetos Corrupção 16 26,2% 80,0%
críticos Impunidade 16 26,2% 80,0%
Nepotismo 13 21,3% 65,0%
Fome e Pobreza 16 26,2% 80,0%
Total 61 100,0% 305,0%
Fonte: elaboração própria
Respostas Percentagem
Percentagem
N de casos
Aspetos Consolidação da Democracia 5 20,5% 78,1%
democráticos Autarquias e Poder local 0 8,2% 31,3%
Liberdades de Manifestação e 8 6,6% 25,0
Reunião %
Liberdade de Expressão 7 13,9% 53,1%
Sociedade Civil, 3 10,7% 40,6%
Organizações e
Personalidades
Direitos Humanos 4 19,7% 75,0%
Governação Inclusiva 5 20,5% 78,1%
Total 22 100,0% 381,3%
Fonte: elaboração própria
No ponto sobre as expressões democráticas do discurso, são mais citadas, pelo
PR, as categorias autarquias e o poder local, no quadro nº 6, acima. Com o intuito de repor
a capacidade de compra dos cidadãos enfraquecida devido as sucessivas crises financeiras
que o país vinha enfrentando, o repatriamento do capital ilicitamente retirado do país para
equilibrar as finanças públicas e a balança de pagamentos, os aspetos financeiros também
se transformaram numa constante nos discursos político do PR.
27
9 8 10
2 2 3 2 1 3
0 0 1 0 0 1 1 0 0 1 0 1 1 1 0 0
24
13
11
8
1 1 1 2 0 2 1 2 0 1 0 2 1 0 0 0 1 0 0 1 1 1
66
5 55
4
3 3 3
2 2 2 2 2 2 22
1 1 1 1 1 1 111 1 1 1 1 11 1 1 1
000 000000 0 000000 0 000 0 0000 00000 0000 0 000000 000 0 00 00 000 000 0000 00000 0 0 00 000 00 00
6 6
4
3 3 3 3
2 2 2 2 2 2
1 1 1 11 1 1 1 1 1 1
0 000 0 00 00 00 0 000 000 0000 000 000000000 00 0000000 0 0 000 00 000
N de Casos Válidos 37
25
13 12
8
2 1 1 1 1 2 1 2 1 4
0 0 0 0 0 0
SIM Não
24
13 13
7
3 4
1 1 2 1 1 1 1 1 1
0 0 0 0 0
Sim Não
5 5
4 4
3
2 22
1 1 1 1 1 111 11 1 1 1
0 000 00000 0 0 00 0000000 0 000 00 00
7
66
4
33 3 3 3
2 22 2 2 2 2
1 1 1 1 1 11 1 1 11 1 1
00000 0 00000 00 0000 000 000 000000 0 0000 00 0000 000 0 0000 00 00000 0 00000
2
001100000001 000000000100 000100001000 00001 0 10
2 1000000 010 110000100000
União União América SADC e SADC CPLP Europa China- Assuntos Resto do
Europeia Africana do Norte Países Oriental Africa Internos Mundo
Parceiro
s
Sim 1 2 1 0 0 0 3 0 8 1
Não 0 1 2 1 4 6 0 1 3 3
União União América SADC e SADC CPLP Europa China- Assunto Resto
Europei Africana do Países Oriental Africa s do
a Norte Parceiro Internos Mundo
s
Sim 1 2 1 0 0 0 3 0 8 1
Não 0 1 2 1 4 6 0 1 3 3
19 células (95,0%) esperavam uma contagem menor que 5. A contagem mínima esperada é ,43.
Na mesma sequência a variável, cooperação internacional cruzada com a
impunidade, indica existir uma maior preocupação e apelo do PR à luta contra a
impunidade, quase na mesma proporção com as variáveis anteriores, só que, quando se
tratou dos assuntos internos registaram-se apenas 6% das ocorrências do total da análise,
seguida, igualmente, dos discursos feitos na Europa Oriental, com 3% das ocorrências.
Gráfico nº 23 cooperação internacional - nepotismo
União União América SADC e SADC CPLP Europa China- Assunto Resto do
Europeia Africana do Países Oriental Africa s Mundo
Norte Parceiro Internos
s
Sim 1 2 0 0 0 0 3 0 6 1
Não 0 1 3 1 4 6 0 1 5 3
Olhando para a análise, a variável, tom do discurso negativo cruzada com o tema
dominante no discurso, têm-se estatisticamente uma relação, pelo que, se rejeita a
hipótese nula. A relação existente entre as variáveis funda-se no valor da sig. que é igual
a ,027.
Quadro nº 24 Testes qui-quadrado cooperação internacional - nepotismo
União União Améric SADC e SADC CPLP Europa China- Assunto Resto
Europei African a do Países Oriental Africa s do
a a Norte Parceir Interno Mundo
os s
Sim 1 1 2 0 0 0 3 1 7 1
Não 0 2 1 1 4 6 0 0 4 3
3.4.Síntese de Resultados
Do estudo realizado, a partir dos elementos constantes dos textos das intervenções
políticas, pode-se verificar como é que o PR mais expôs as suas pretensões. Em relação
aos temas mais abordados, neste período, destacam-se a diplomacia e as relações
internacionais, assim como, a cooperação internacional. A seguir posicionam-se as datas
que simbolizam o momento e o local identificados como ideal para tais enunciações. As
ações políticas identificadas, a partir dos discursos, são centrais para a afirmação de um
novo começo, pois principiam novas atitudes. Os discursos políticos indicam que João
Lourenço propõe-se atingir o desiderato expresso nos textos.
É possível perceber, em síntese, que as preocupações levantadas nos discursos
políticos já foram alvo de estudo, na medida em que, existem argumentos que permitem
a perceção da adesão dos cidadãos a novas configurações de poder e a novas atitudes
governativas com regras (Cane, 2015; Connelly, 2005; Sebastião e Lourenço, 2016;
Mutsvairo & Karam, 2018; Reyes-Rodríguez, 2008; Salamon, 2011; Rosas, 2010).
Dentre os diversos contextos, os temas variam em função do fim que João Lourenço
propõe-se em alcançar, quer no contexto interno, quer no contexto externo. Da análise
das categorias “proeminência e organizações internacionais” percebe-se que a
170
100 100
25 25
11 9 18 9 1111 9 16 13 7 15 5 11 5 7 7 5 9 8 15 14,7
6,5 10,6
5,3 14,7
5,36,56,55,39,4 7,6
Frequência Percentagem
19
15 15
14 14
12
11 11
10
9 9
8 8 8
7 7
6
5
4 444
3 3 33 3
2 2 2 2 2 2 2 2 222 2 2 22
1 11 11 1 1 1 1 1 111111 111 11 11 1
Frequência Percentagem
Frequência Percentagem
Reportagem 65 38
Artigo 61 36
Opinião (Comentario/Análise) 3 2
Editorial 1 1
Notícia de Agências Nacionais (Lusa
8 5
e Angop)
Entrevista 15 9
Coluna/Breve 17 10
170
163
96 100
5 3 2 1
Frequência Percentagem
Nacional 88 52
Internacional 82 48
Total 170 100
114
67
19
12 10 11
3 2 1 1 1 2 7 6
2 1 1 1 2 1 1 1 1 1 1 1 1 1
Frequência Percentagem
Frequência Percentagem
UNITA 11 7
CASA-CE 1 1
FNLA 1 1
Indiferenciado 154 91
Outros sem Assento Parlamentar 3 2
Frequência Percentagem
ONG´s 3 2
Particulares 8 5
Indiferenciado 159 94
Total 170 100
Frequência Percentagem
Mulheres (25-60) Anos 3 2
Jovens (18-24) Anos 2 1
Idosos (mais de 60) Anos 6 4
Indiferenciado 159 94
Frequência Percentagem
Primeiro Plano 130 77
Segundo Plano 40 24
Total 170 100
56
23 33
2 1 8122 9 3 8 710113102 1 1 1 5 7 1 5 2 5144 6 1 8 6 1 1
Frequência Percentagem
Presidente da República
Grupo/Representante dos Públicos
Famílias
Partidos Políticos
Governos Internacionais
Governos Provinciais
Parlamento
Grupos Empresarias
170
100
52
31
6 7 9 9 4 4 5 5
2 1
Frequência Percentagem
Sem Citação do/a Protagonista 52 31
Protagonista 85 50
Família/Amigos 2 1
Públicos em Geral 6 4
Grupos/Associações 7 4
Outros 9 5
Total 170 100
Políticos 9 5
Direcção ou Enfoque
Frequência Percentagem
Positivo 120 71
Negativo 39 23
Neutro 11 7
Total 170 100
7
6 6 6 6
5
4
3 3
2 2 2 22 2 2 2
1 11 1 1 1
00 0000 00 0 0 00 00 00 0000 0000
Reportagem Artigo
Entrevista
12 13
4
0 1 0 0 0 0 1 1 0 0 0 0 0 0 0
O País
Público
Folha 8
Expresso
Jornal de Angola
Jornal Económico
Correio da Manhã
Expansão
16 células (66,7%) esperavam uma contagem menor que 5. A contagem mínima esperada
é ,14.
26
23
20
17 17
14
12
4
2 2 2
1
0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
17
13
12
11 11
10
9 9
8 8
7
6 6
5
4 4
3 3 3
2 2 2 2 2
11 11 1 11 1 1 1 1
0 0 00000 00 00 0 0 0 00 0 00 00
28
23
16
15
11 11 11
10
9
7
6 6
4
3
2 2
1 1 1 1 1 1
0 0
Significância
Valor gl Assintótica (Bilateral)
Qui-quadrado de Pearson 41,839a 14 ,000
Razão de verossimilhança 46,505 14 ,000
Associação Linear por Linear 6,921 1 ,009
N de Casos Válidos 170
Fonte: elaboração própria
12 células (50,0%) esperavam uma contagem menor que 5. A contagem mínima esperada é ,78.
É com o género que se dá uma direção ou um enfoque à informação, e, portanto,
ao cruzar estas duas variáveis, pretendeu-se perceber a relação que existe entre ambas
nas peças analisadas. E nota-se que há maioritariamente um enfoque positivo. Aqui, há
48
46
17
12
9 9
6
4 3 2 4
2 2 2 2
0 1 1 0 0 0
Significância
Valor gl Assintótica (Bilateral)
Qui-quadrado de Pearson 22,945a 12 ,028
Razão de verossimilhança 20,105 12 ,065
Associação Linear por Linear 3,976 1 ,046
N de Casos Válidos 170
Fonte: produção própria
14 células (66,7%) esperavam uma contagem menor que 5. A contagem mínima esperada é ,06
163
64 56
17 15
1 0 4 1 3 0 0 0 0 0 0 1 8 0 0 0 0 5 2
24
14
11
8
7
66 6
5 5 5 5
44 4
3 3 3 3 3 3
2 2 2 22 2 2
1 11 1 1 1 1 1 1 1 111 1 11 1 1 11 11 1 1
0 00000 000000 000000 000 00 00000 0000 0000 00000 000 00000 000 000000 0000 00 00000 00000
Reportagem Artigo
Opinião (Comentário/Análise) Coluna/Breve
Editorial Notícia de Agências Nacionais (Lusa e Angop)
Entrevista
88 82
29 27
14 10 11 9 8 8
2 1 6 1 1 5 2 7 1 2 1 2 2 1 1 0 0 2 1 4 1 1 6 0 3 0 1 0
Nacional Internacional
17
1213 13 13
11
9
6 7
5
2 33 3 3 223212111
12 0 211110 102 20 2 121
0
2 2
0000101 110 01101101 110
Total 5
Quadro nº 5 Proeminência
Percentagem Percentagem
Frequência Percentagem válida acumulativa
País 5 13,5 13,5 13,5
Líder de Um Partido Político 1 2,7 2,7 16,2
Protagonista Económico 5 13,5 13,5 29,7
Membros da Sociedade 7 18,9 18,9 48,6
Países e Organizações Internacionais 18 48,6 48,6 97,3
Orgãos de Justiça 1 2,7 2,7 100,0
Total 37 100,0 100,0
Quadro nº 26 Cidadãos
Frequência Percentagem Percentagem válida
Mulheres (25-60) Anos 3 1,8 1,8
Jovens (18-24) Anos 2 1,2 1,2
Idosos (mais de 60) Anos 6 3,5 3,5
Indiferenciado 159 93,5 93,5
Total 170 100,0 100,0
Quadro nº 27 Protagonismo
Frequência Percentagem Percentagem válida
Primeiro Plano 130 76,5 76,5
Segundo Plano 40 23,5 23,5
Total 170 100,0 100,0
Quadro nº 31 Órgão de Imprensa (Meio de Comunicação) * Secção (Lugar no Jornal Aonde Aparece a
Notícia)
Contagem
Seção (Lugar no Jornal Aonde Aparece a Notícia)
Política Economia Sociedade Internacional
Público 2 2 0 7
Foto ou Ilustração
Sim. Imagem Sim. Imagem não
Explícita explícita Não
Órgão de Imprensa (Meio de Público 21 0 1
Comunicação) Jornal Económico 12 0 0
Correio da Manhã 18 0 0
Expresso 23 1 1
Jornal de Angola 26 0 0
O País 30 0 0
Folha 8 13 4 0
Expansão 20 0 0
Total 163 5 2
Órgão de Imprensa (Meio de Comunicação) Público 22
Jornal Económico 12
Correio da Manhã 18
Expresso 25
Jornal de Angola 26
O País 30
Folha 8 17
Expansão 20
Total 170
Foto ou Ilustração
Sim. Imagem Sim. Imagem
Explícita não explícita Não
Género da Notícia Reportagem 64 1 0
Artigo 56 4 1
Opinião 3 0 0
(Comentário/Análise)
Coluna/Breve 17 0 0
Editorial 0 0 1
Página 360 de 422
Notícia de Agências 8 0 0
Nacionais (Lusa e Angop)
Entrevista 15 0 0
Total 163 5 2
Género da Notícia Reportagem 65
Artigo 61
Opinião (Comentário/Análise) 3
Coluna/Breve 17
Editorial 1
Notícia de Agências Nacionais (Lusa e Angop) 8
Entrevista 15
Total 170
Quadro nº 48 Título das Notícias dos Jornais Portugueses e Angolanos Analisadas (3 de outubro de 2017- 31 de
janeiro de 2020)
Não se vai negociar” com Isabel dos Santos, diz
A Perestroika de João Lourenço
“Em Angola, o próprio chefe de Governo incentiva a corrupção”
Abel Chivukuvuku anuncia novas manifestações pela legalização do seu projecto político
Banca, segurança, economia as reformas que João Lourenço tem que fazer
EUA dispostos a apoiar Angola no repatriamento de capitais
João Lourenço admite que foram desviados bem mais que 24 mil milhões de dólares dos cofres do Estado
João Lourenço afasta Isabel dos Santos da Sonangol
João Lourenço afasta presidente da Sonangol
João Lourenço alerta para “inúmeros obstáculos no caminho” da governação
João Lourenço chamou Samakuva para discutir o caso Savimbi
João Lourenço diz que luta contra corrupção vai continuar apesar da “resistência organizada”
João Lourenço exonera comandante da polícia e chefe da secreta militar
João Lourenço muda chefias militares com 19 exonerações e 54 nomeações
João Lourenço pede ajuda à Europa para África ser capaz de reter a sua população
João Lourenço promete combater a corrupção que “grassa no Estado”.
João Lourenço propõe realização das primeiras eleições autárquicas em 2020
João Lourenço recebeu sociedade civil
João Lourenço recebido com honras no Parlamento com a concordância do BE
João Lourenço revoga contrato de 30 milhões atribuído por José Eduardo dos Santos
Marcelo elogia "projecto de paz, democracia e combate à corrupção" de João Lourenço
Primeiras autárquicas em Angola adiadas
ainda não é tempo para eleições autárquicas em Angola
Antigo ministro da Comunicação Social começa a ser julgado
José Eduardo dos Santos nega qualquer transferência de dinheiro do Estado para si ou entidades públicas
Executivo angolano vai adquirir 500 viaturas para transportadores de produtos do campo para a cidade
Estado angolano foi lesado em muito mais do que 24 mil milhões
João Lourenço participa em nova cimeira quadripartida no Ruanda
Marcelo Rebelo de Sousa e João Lourenço juntos em Roma
Presidente do Tribunal Supremo de Angola apresentou demissão e João Lourenço aceitou
Página 365 de 422
Príncipe Harry já em Luanda para encontro com João Lourenço
Presidente angolano João Lourenço condecora jornalista Rafael Marques
Não se vai negociar com Isabel dos Santos":
João Lourenço garante Sonangol no BCP
Presidente angolano quer investidores portugueses a viajarem "em força" para Luanda
João Lourenço viaja para Nova Iorque e discursa na 74ª sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas
Presidente angolano inicia visita com normalização das relações e dívidas em pano de fundo
Isabel dos Santos perde controlo de participação acionista na Unitel e direito a dividendos
Governo de Angola aprova criação de Prémio Nacional dos Direitos Humanos
Governo diz que Angola já pagou metade de dívida certificada
Angola sobe 19 lugares no índice da Transparência Internacional
“As autoridades angolanas embarcaram numa caça às bruxas”:
João Lourenço acaba com monopólio da Sonangol
Tribunal afasta Isabel dos Santos da UNITEL
Manuel Vicente implica Eduardo dos Santos na corrupção da Sonangol
João Lourenço expõe Manuel Vicente em negócio milionário no Hotel Miramar
Gemcorp socorre João Lourenço com a criação de milhares de empregos
Presidente de Angola avalia em 20,2 mil milhões de euros prejuízos do Estado por políticas anteriores
Generais Dino e Kopelipa devolvem ativos de mil milhões de dólares ao Estado angolano
Terminais portuários entregues a multinacionais
João Lourenço nega hipótese de negociações com Isabel dos Santos
Réu Zenu abre nova era na justiça
Angola tenta resolver o sufoco
Estamos seriamente empenhados em combater a corrupção
Estado angolano lista 195 empresas para privatizar até 2022
PR angolano diz que é preciso empenho para concretizar mobilidade na CPLP
Angola já integra rede global de estudos de opinião
Família de Savimbi “finalmente em paz” após receber restos mortais do político
Angola admite deixar de pagar dívida com petróleo
João Lourenço pede ajuda a Portugal para eleições autárquicas em Angola
João Lourenço: A dívida às empresas portuguesas “é para ser paga”
Lagarde leva boia de salvação a Lourenço
Angola acolhe mini-cimeira para reforçar “soluções africanas para problemas africanos”
Angola diz que já recuperou 500 milhões de dólares transferidos para Londres ilicitamente
Presidente angolano muda chefias militares com 19 exonerações e 54 nomeações
João Lourenço aumenta transparência da exploração dos recursos minerais e do petróleo em Angola
Presidente da RDC apoia João Lourenço na recuperação de capital colocado “ilicitamente” fora de Angola
João Lourenço anula concurso internacional para quarta telecom de Angola após vitória da Telstar
“Nova era no petróleo resulta de uma gestão transparente nos concursos públicos”
Lourenço considera que ainda não é tempo para eleições autárquicas em Angola
Angola: João Lourenço exonera filho de José Eduardo dos Santos
João Lourenço quer “renovada dinâmica” nas relações entre Portugal e Angola
Angola. João Lourenço exonera administração de todas as empresas públicas de comunicação social
João Lourenço revoga contrato de 30 milhões de euros atribuído por José Eduardo dos Santos
João Lourenço garante que dívidas a empresas portuguesas são para pagar
“Corrupção? Não temos medo do fogo, vamos continuar a brincar com ele”,
Da esquerda à direita, partidos realçam a importância da visita de João Lourenço
Combate efectivo a corrupção resultará em mais investimento norte americano
A imagem do paísmelhora mais a economia não avança
Activos recuperados sao "toxiscos" para os cofres públicos
Alemanha lança milhões e apoia "economia de mercado"
Ambiente de negocios em Angola trava competitividade da indústria turistica
Angola e Portugal vivem o melhor momento de proximidade economica
Angola junta-se ao forum de paises exportadores de gás
3. América do Norte
4. SADC/Países Parceiros
5. SADC
6. CPLP
7. PALOP
8. Europa Oriental
9. China-Africa
3. Correio da Manhã
4. Expresso
5. Jornal de Angola
6. O País
7. Folha 8
8. Expansão
AJA
FNLA
PRS
- Muito obrigado. Nessa qualidade eu gostaria de saber qual é a sua opinião em relação as promessas
feitas pelo Presidente João Lourenço relativamente ao combate a corrupção, a impunidade e ao
nepotismo.
- Bom, a minha opinião é que, sim senhora o Presidente João Lourenço manifestou esta vontade de combater
a corrupção, mas o combate a corrupção não se faz por mera vontade do Presidente da República, o que
nós entendemos, é que não era possível fazer a reforma, ou o combate a corrupção sem que se fizesse uma
reforma estruturante do Estado, isso passava necessariamente por uma revisão constitucional no qual se
pudesse conferir poderes aos juízes, ao sistema judicial, nós por exemplo, somos de opinião que o
Procurador-geral porque é aquele que na verdade inicia o processo, é aquele que tem a responsabilidade
de investigar, este devia também de facto estar afastado do titular do poder executivo, por quê? Porque o
titular do poder executivo é o responsável máximo do Governo e ele é sujeito da ação da PGR, ora,
entendíamos que devíamos estar afastado exatamente do Presidente da República, aí sim, com esses dois
mecanismos, por um lado o sistema judicial liberto das interferências, por outro lado o procurador também
liberto da interferência política e uma impressa pública, porque é aquela que tem mais expressão, é aquela
que tem mais alcance, é aquela que tem mais condições, é aquela que pode de fato gerar mudanças, também
livre da interferência do poder político, aí sim teríamos condições então de começar a caminhar, estes eram
na minha opinião, são as premissas que poderiam permitir ao Presidente João Lourenço encetar este
combate a corrupção.
- Relativamente, isto está interligado, aqueles comentários que acabou de fazer estão interligados a
democracia no fundo. Prometeu também que iria consolidar este instituto no nosso país, que
cometário se oferece fazer?
- Bom, eu sou da opinião que, sim senhora os Presidentes podem ter vontade mas, temos de olhar o sistema
no todo, a vontade de única pessoa na basta por um lado, eu também sou discípulo daqueles que defendem
que tem que se reforçar as instituições e não as pessoas, porque as pessoas elas são, vamos lá dizer em
função dos valores que lhes são intrínsecos podem ser mais promotores ou menos promotor do
desenvolvimento e esse desenvolvimento quer a nível político, quer a nível social e por conta disso tínhamos
de depender ou na verdade esta vontade tem de estar ancorada nas instituições, as instituições deviam elas
mesmas querer a liberdade. Pois, dizia eu então que sim, aí teríamos condições do Presidente João Lourenço
poder encetar essas. Pois, dizia eu então que, sim senhora a vontade do Sr. Presidente é determinante para
dar o impulso processual ou para dar o arranque se quisermos mas, era necessário que esta vontade fosse
ancorada nas instituições, ou que as instituições tivessem essa capacidade e tivessem esse reforço para de
fato continuar, porque como sabem nos termos da constituição atual o presidente tem 10 anos e o combate
a corrupção não se faz em 10 anos, o combate a corrupção é um processo contínuo, o combate a corrupção
ou a impunidade se quisermos de certo modo sermos mais concretos, combate a impunidade pressupõe
exatamente um exercício permanente, exercício que devem ser feitos das instituições independentemente
de quem esteja a ocupar o cargo do Presidente da República ou não, na verdade o Presidente João Lourenço
prometeu dar este arranque, e sim deu este arranque, com todos os questionamentos, com todas as dúvidas,
com todas as reticencias que o processo tem, e as críticas estão aí, nos as conhecemos, em relação a esse
- A minha opinião é que, não há nenhum país desenvolvido no mundo em que este desenvolvimento tenha
resultado num governo centralizado, porque entendemos que as autarquias são aquelas que acodem aqueles
problemas imediatos, emergentes e urgentes das comunidades, e tenho estado a dizer por exemplo, que caso
caia um posto de eletricidade não será o governador que vai resolver, tem de ser o autarca, tem de ser a
equipa do autarca que vai acudir a luz imediatamente daquele bairro.
- Mas aventa-se um horizonte que o Presidente fez uma promessa, que iria implementa-la?
- Em 2020, eu, minha opinião, minha elação, eu assumo essa ideia é que o MPLA não está confortável e
não está por todas as razões, primeiro por conta desta questão da má gestão do Estado, dos últimos anos,
dos últimos 20 anos da gestão do Presidente José Eduardo dos Santos ,exatamente, permitiu que o país
fosse mau gerido, os recursos que deviam permitir o desenvolvimento socioeconómico do país acabaram
por sere grande parte deles, vamos lá dizer desviados, foram exatamente para os cofres ou bolsos dos
titulares dos cargos públicos e isso prejudicou o desenvolvimento local, prejudica o desenvolvimento local
depois há aqui uma cadeia, não havendo desenvolvimento local, não há de fato desenvolvimento a nível
nacional e entendo que as autarquias são urgentes, para mim são a resposta dos problemas que o país
enfrenta porque um autarca não iria permitir que por exemplo, um autarca nos gambos, não iria permitir
por exemplo, que populares morressem a fome, e nem podemos esperar que o Presidente da República saia
aqui de Luanda para ir acudir um processo dos gambos, nem podemos esperar que por exemplo, que o
Ministério da Ação Social que está sedeado em Luanda seja capaz de dar resposta aos problemas do gambo,
por exemplo, uma situação emergente, uma decisão urgente, que podia ocorrer era, vamos montar cozinha
comunitária enquanto esperamos um programa estruturante para depois acudir as pessoas, isso teria
obviamente resolvido.
- E nesta perspetiva, qual é então a junção que nos podemos fazer ainda na senda das promessas com
relação a liberdade de expressão, manifestação e reunião, que isso é uma situação que está fortemente
ligada a alterações nesse quesito?
- Os países africanos e as lideranças africanas acreditam piamente que, têm capacidade de governar quando
dominam imprensa, quando dominam o Exército e quando vamos lá dizer dominam o sistema judicial,
dominando, controlando essas três perspetivas, essas três vertentes, esses três instrumentos são capazes de
consolidar poderes, são capazes de governar tranquilamente, eu entendo que é uma ingenuidade acreditar
nisso porque, dizia um líder que não é famoso porque nunca promoveu liberdades, mas cujos os discursos
são estudados o Fidel de Castro de que quem fecha os caminhos de uma revolução pacífica, abra ao mesmo
tempo o caminho de revolução violenta, e é isso que o Continente Africano tem estado a nos mostrar, são
expressões do Fidel de Castro, é exatamente esse resultado que o Continente Africano tem estado a nos
mostrar, parece que nós também importamos este modelo, eu entendo que o MPLA tenha em mãos uma
oportunidade de ouro, uma oportunidade de ouro para ser recordado como sendo aquele partido que
governou, estruturou a democracia, estruturou o desenvolvimento, mas o MPLA a postergar essas reformas
estruturantes com o medo de que vá perder protagonismo, vá repartir este poder quase absoluto que tem as
outras forças políticas, suspeito que um dia poderá eventualmente acordar e não estar mais no poder, como
poderá acontecer isso, não tenho uma ideia, mas posso vaticinar prognósticos, aquilo que a historia nos
ensina é de que os partidos que ficam durante muito tempo no poder, nunca normalmente saem por via
eleitoral, normalmente é por vias de convulsões, tanto internas às vezes, ou externas, então, adivinho que
se o MPLA não se antecipar, se o MPLA não perceber os sinais dos tempos, corre o risco de exatamente
termos o que nós conhecemos no Congo Democrático Mabutu sesseko o que nós assistimos na Líbia com
Kadaf, o que nós assistimos com Benali na Tunísia abdelazizi Buteflica na Argélia creio, o que nós
assistimos com Osnini Mubarak no Egipto, portanto aqui…
- Não! Não, e um exemplo é questão do assassinato em kafunfo daqueles cidadãos que iam se manifestar,
quer dizer isto é um exemplo claro que não existe liberdade, quer dizer nós não estamos a falar de um
cidadão que foi agredido, estamos a falar de um conjunto de cidadãos que perderam a vida e foram expostos
como se fossem na realidade peças de exposição, como se fossem quadros artesanais, não, não, isso…
- E nessa senda acha que os tribunais, já falou, já tentou mostrar a sua posição, mas acha que os
Tribunais e a Procuradoria Geral da República nesses processos todos, no tempo, e na era do
Presidente João Lourenço têm sido coerentes, têm feito o seu papel?
- Não! Não, para lhe ser concreto sem filosofar, não, e não porque não acredito piamente que eles tenham
independência para agir, e um dos sinais que me permite aferir exatamente a ausência da independência, é
o facto de se estar a afetar bens como apartamentos que estão a ser recuperados aí no Eixo Viário por
exemplo, aquele Edifício que o Estado recuperou, aqueles apartamentos estão a ser repartidos entre a
Magistratura Judicial e a Magistratura do Ministério Público , entre a PGR e os Juízes, o fato de muito
deles terem que beneficiar de casas , com financiamentos e que não estão previstos no orçamento dos
tribunais, quer dizer os bens poderiam, eles poderiam beneficiar desses bens desde que tivessem escritos
no Orçamento Geral do Estado, desde que este dinheiro, estas despesas fossem escritas no âmbito das
despesas dos tribunais e não serem afetados por um órgão que era suposto respeitar o Princípio da Separação
de Poderes, quer dizer estamos aqui a dizer, primeiro: para mim a separação de poderes fica logo beliscada
a partir do momento que Presidente da República designa os Presidentes dos Tribunais Superiores, fica
logo beliscada, segundo: esta relação para mim promiscua entre o Executivo e o Sistema Judicial, não
permite que nós possamos ter uma elação mais positiva disso. Dir-me-á você há mais nos outros Sistemas
Políticos também os Presidentes designam os Presidentes dos Tribunais? Não, com duas diferenças,
e o nosso sistema pode ser comparado ao Sistema Americano em que o Presidente Americano designa por
exemplo os juízes do tribunal supremo, com alguma diferença, qual é a diferença? Primeiro: os presidentes,
os juízes são ratificados pelo Cenado, o Cenado ratifica ou não, tem a última palavra, e segundo juízes são
amovíveis, são vitalícios, ou seja, uma vez no cargo eles não podem ser, não há, não podem ser jubilados,
se não pelo idade, pelo tempo ou pela morte, portanto, estamos aqui a dizer que nos outros sistemas os
juízes têm garantias para fazer o seu trabalho, e o exemplo claro é o de por exemplo juízes designados pelo
Donald Trump depois terem decidido contra a pretensão do Donald Trump rever por exemplo os resultados
das últimas eleições.
- Voltando cá para Angola, nos ainda temos uma preocupação que é com os Órgãos de Defesa e
Segurança e Veteranos da Pátria, o que é que acha que se fez nesse campo?
-Bom, este é outro problema, dizem que os militares são apartidários, mas se vir bem, depois, a Casa de
Segurança é que tem na realidade vamos lá dizer o controlo do exército, e quando às vezes é necessário
chama-lo para acudir por exemplo o partido que governa, são chamados, então há que entoar, os militares
não apartidários efetivamente, não são, os militares são, seguem, seguem exatamente a orientação dos
Generais que são partidários, porque têm filiação partidária, por isso é que chegam às vezes a cargo de
Ministro, então, portanto, estamos aqui a dizer que o nosso Sistema, é um Sistema Emergente, estou a falar
Sistema Político, Emergente no sentido de que as instituições não estão reforçadas, não há separação clara
de poderes, a interferência do Executivo é omnipresente, digo omnipresente na medida em que tem
expressão no Exército, tem expressão no Sistema Judicial, tem expressão no Parlamento, tem expressão na
Imprensa, portanto, estamos aqui a dizer que o Executivo é omnipresente.
- E em relação aos veteranos, aqueles que são dispensados qual é o tratamento que têm?
- Não, não são preparados, como não são preparados para poder viver fora do Exército, dos privilégios, o
que nós vamos vendo é que esse veteranos depois vão reivindicando e cada vez que há reivindicação desses
veteranos, o que se acontece é que se dão alguns benesses ou chamado para ocupar este ou aquele cargo,
o normal nos outros países é quem chega a General, quem chega a esse cargo, tem um conjunto de
privilégios que permitem viver com algum desafogo, mas não é possível porque, se por um lado temos um
conjunto de Generais que conquistaram de fato o generalato, passe expressão por causo do mérito, mas
depois vimos, vamos as atribuições administrativas, não é, parece que Angola é dos países com mais
Generais, não é possível, não é possível confortar todos esses com privilégio que nos conhecemos nas outras
partes do mundo, não é possível.
- Não, eu sou muito séptico com relação CPLP, porque a CPLP foi uma iniciativa para mim de Portugal,
queria imitar commonwealth, queria imitar a francofonia é na realidade uma comunidade que Portugal
queria não só para promover e fomentar a própria língua, mas também para poder ter uma palavra e poder
ter mais controlo, só que Portugal não é capaz de fazer está, não é capaz de assumir isso bem, porque tem
o Brasil, Brasil não liga nenhuma para Portugal, então, tem alguma expressão no continente Africano, nos
país PALOP, não tem expressão no Brasil, não tem grande expressão no Brasil, agora a mobilidade depende
muito do interesse, Portugal esta amarrado com as regras da União Europeia, quer dizer, é verdade que
continua a manter sua soberania, mas a sua soberania é limitada, a soberania respeita as regras da União
Europeia, um cidadão lusófono que chega a Portugal tem em primeira instancia que respeitar as regras da
União Europeia só depois é que tem que respeitar as regras de Portugal.
- Tenho muitas dúvidas, podem eventualmente se assistir essa mobilidade a nível de um conjunto de
cidadãos Políticos, aqueles que ocupam exatamente cargo públicos e outros, mas muito raramente isso vai
ocorrer a nível de cidadãos comuns.
- Voltando a Angola, que analise é que faz com relação ao crescimento económico?
estamos a sair de uma situação em que o Presidente João Lourenço, o Presidente José Eduardo dos Santos
deixa o país quase que em banca rota, o próprio Presidente João Lourenço afirmou isso, e se propôs em
recuperar economicamente o país, melhorar as finanças.
- Bom, aí tenho de ser honesto comigo mesmo, eu não acredito qualquer Presidente pudesse recuperar a
economia em 5 anos, a nossa economia não se recupera em 5 anos porque tem problemas estruturantes, tem
problemas estruturantes porque se tu não tens produção local isso resulta de facto de não se ter feito um
investimento nas infraestruturas estruturantes, chamo infra- estruturas estruturantes como devia, como se
previa, por exemplo há um estudo colonial que previa sete barragens a nível do Rio Cuanza, ao longo do
Rio Cuanza e isso permitiria não só a eletrificação, mas também permitiria o florescer da industria, olha
nos temos a volta do rio Cuanza apenas três barragens, estamos a falar de Capando, estamos a falar de
Laúca, estamos a falar do Cambambe, portanto faltam quatro barragens que permitiriam eventualmente
comportar o crescimento que nos temos… (foi cortado)
- Diagnóstico doutro hora que o país já cresceu.
- Diagnóstico, exatamente doutro hora, que hoje eventualmente significaria umas sete. Queria, estava eu a
fazer uma analise em relação a possibilidade de haver um crescimento económico, não, para mim o
crescimento económico não são números bonitos mas estatísticas, para mim o crescimentos económico
temos de senti-lo, nós não temos nem estradas, nós não temos barragens suficientes para alimentar uma
economia, nós não temos vamos lá dizer nas outras províncias não temos consumidores, uma economia
depende na minha opinião disso, de consumo e o consumo está quase que restrito, está sediado em Luanda
e aqui em Luanda onde encontramos consumo, mas nas outras províncias na há consumo, porque a
capacidade de compras do cidadão é quase reduzida, aqueles que têm ainda uma capacidade de compras
encontram-se fundamentalmente em Luanda, por outro lado não temos estrada, significa que a produção é
muita cara, os custos operacionais são altíssimos o que faz com quem concorre, ou quem se atreve em
investir em Angola tenha dificuldade exatamente porque depois tem que competir com outros que tem
menos custos porque importa um preço competitivo apesar de todas as taxas alfandegarias consegue sempre
ter o produto ainda a um preço mais competitivo do que quem produz, então, porque quem produz tem que
ter gerador, quem produz tem que ter água, quem produz depois tem que ter dificuldades de escoar o
produto para zona onde há consumo e isso não permite, então a minha expectativa é que talvez dentro de
10 anos, mas com reformas muitos sérias e com investimento muito sério nesse campo que acabei de elencar
é que podemos começar a falar do desenvolvimento da economia.
A outra questão que contraria exatamente a questão das Finanças Públicas tem muito que ver com a dívida
pública, quer a dívida interna, quer a dívida externa, aí faz todo sento por exemplo e eu apoio aqueles que
devemos ter uma auditoria para conhecer realmente a dívida pública porque já sabemos que grande parte
da gordura que a dívida pública apresenta terá sido injetado exatamente por gestores públicos que não
prestaram serviços, porque esse têm de fazer prova do serviço que prestaram para que Estado tenha na
realidade a obrigação de ter que pagar a dívida pública interna. A dívida pública externa estou feliz porque
foi restruturada fundamentalmente os meios de pagamento, acho que nunca devíamos ter feito contrato com
- O que é que lhe oferece dizer em relação ao repatriamento de capitais e a recuperação da dívida?
- Bem, no fundo no fundo o Senhor Presidente da República saberia que não conseguiria repatriar os fundos,
na medida em que estão no sistema económicos dos vários país, os vários países iriam ressentir isso, aliás
foi essa resposta que Primeiro Ministro Português deu quando o Presidente da República pediu apoio na
visita a Portugal, pediu apoio para que o Governo Português permitisse e ajudasse o Estado Angolano a
recuperar esses ativos, e a resposta é, sim senhora vamos faze-lo desde que isso não tenha repercussões na
economia portuguesa e é obvio que as economias europeias fundamentalmente no qual estão esses capitais
não iriam permitir por exemplo a saída de 100.000.000 (cem milhões USD)de dólares, saírem 100.000.000
(cem milhões USD) de dólares do sistema económico tem repercussão grande, nesse sentido quer dizer há
desempregos, há outras repercussões eles não iriam permitir exatamente isso, portanto, houve uma boa
vontade sim senhora o que Estado pode fazer é acordos judiciais com esses países e passar a ser então
detentor do património que aqueles que não foram capaz de provar como conseguiram constituir esse
património, ou seja o Estado seria o futuro proprietário deste património, mas agora repatriar esses capitais
é uma situação muito pouco crível.
- Bom, o crédito das empresas é o que na realidade nós falamos, primeiro o Estado está quase que numa
situação de incapacidade, não é capaz, porque parece-me que o Estado, é um Estado Gestão, quer dizer
trabalha para comer, o nosso Estado Hoje trabalha para comer a primeira e principal prioridade do Estado
é trabalha para comer, das poucas obras que vamos assistindo ainda, está no âmbito da dívida pública, do
endividamento do Estado, aliás não é segredo para ninguém o endividamento que Estado fez ao Fundo
Monetário Internacional exatamente para puder acudir despesas correntes e não é para despesas de capital,
então tenho muitas dúvidas que o Estado seja capaz e isso tem outro reflexo na própria economia, não há
crescimento da economia, se o Estado não potencia as empresas, as empresas não conseguem pagar salários,
não pagando salários não há consumos, não havendo consumo não há desenvolvimento, então, eu entendo
que o Estado devia fazer um esforço sim senhora de pagar a dívida porque depois iria buscar através dos
impostos, iria buscar de facto, e o consumo gera receitas para o Estado, então devíamos pensar em potenciar
as famílias, porque são as famílias que geram o consumo e é o consumo que vai gerar receitas fiscais para
o Estado, então, estamos aqui a dizer que é uma cadeia, mas reconheço, nesta altura eu não tenho
autorização para falar em nome do Governo, estou apenas a fazer uma análise de quem acompanha os
fenómenos, reconheço a incapacidade do Estado para puder fazer, pagar de forma célere e como devia ser
por exemplo a dívida com os créditos com as empresas.
- Bom, eu gosto muito de história e a nossa história diz que nos começamos com tal empreendedorismo em
91 a partir da altura em que se proclamou a economia de mercado, mas esse empreendedorismo é venda
retalho, compro o fardo, vou revender e o empreendedorismo não se faz por vontade administrativa, o
empreendedorismo faz-se havendo uma cultura para tal, empreendedorismo faz-se havendo uma formação
direcionada para isso, as nossas escolas formam funcionários públicos, formam pessoas para trabalhar por
conta de outrem e não formam pessoas para empreender, só olharmos para às curricula das escolas médias,
os técnicos médios, eu gosto muito do exemplo da Alemanha porque a Alemanha privilegia exatamente
técnicos médios, cursos técnicos e nós tínhamos inclusive esta referencia como sabe na década de 80
fundamentalmente nos primeiros anos da independência, nós tínhamos uma cooperação muito forte com o
Bloco Socialista e com RDA, nós tínhamos RDA que era um grande parceiro do Estado, muitos técnicos
foram para RDA aprenderam cursos técnicos, e foram esses que depois foram os primeiros eletricistas,
foram esses que depois foram os primeiros pedreiros, mas depois destruímos, destruímos esse sistema todo
- Exatamente há uma relação direta. Eu estava a dizer a questão cultural, se olharem por exemplo para os
fenícios que vão gerar os árabes a maior parte dos árabes, os árabes crescem com a cultura de que qualquer
um deles tem de ser empreendedor tem de criar negócio próprio, os portugueses também por conta da
relação histórica que tiveram, aliás, parte da população portuguesa é constituída pelos fenícios e os árabes
que vão invadir a Península Ibérica, estes também têm esta parte, ele cresce com essa cultura de montar um
negócio próprio, por isso é que nós vemos são os principais revendedores de tintas, com negocio de retalho,
eles crescem exatamente com essa cultura, nós não crescemos com essa cultura, nós foi-nos ensinado que
o Estado era capaz de prover desde a água a roupa, nós crescemos a comprar roupa na loja do povo, e então,
essa não é uma cultura que se acaba com 30 anos de um sistema muito confuso, não se sabe ao certo se é
um sistema Estado Providencia, ou é uma Economia de Mercado então não se acaba com isso, é importante
na minha opinião que voltemos aos exemplos que o país conheceu nos princípios da década de 80, em que
formava técnicos e depois libertá-los, libertá-los não apenas mete-los num mercado mas também com
políticas de créditos, se os bancos não concedem créditos, não é possível que haja empreendedorismo, eu
posso ter um terreno, mas o meu terreno em si não é capital, não é capaz de gerar empreendedor salvo se
alguém que esteja interessada em fazer uma sociedade, mas muito pouca gente, então, tenho de puder ter
acesso ao credito para poder eventualmente rentabilizar o meu próprio espaço, portanto, estamos aqui a
dizer duas questões que podem ter influencia decisiva na minha opinião no empreendedorismo tem que ver
primeiro com a formação temos que restruturar a formação, a formação como se formam pessoas e depois
créditos, políticas de créditos que permitam fomentar a economia, eu acho que isso vai acabar por retirar
jovens do desemprego, o Estado não é capaz em nenhuma parte do mundo de acolher todos os funcionários,
não é capaz, porque depois o Estado faz o que, quando o Estado absorve grande parte da força do trabalho,
paga mal, pagando mal os serviços são ineficazes, serviços ineficazes têm na realidade despesas enormes e
não há reflexos nas economia do país, portanto, há um relação muito direta.
- E se caíssemos para questão da pobreza são um dos problemas que João Lourenço defende?
- Bom a pobreza tem muito a ver com exido rural, que houve durante a guerra um exido, as pessoas
abandonaram as suas zonas de conforto, as pessoas abandonaram as suas culturas de cultivo por exemplo,
as pessoas viram inclusive expropriadas terras nos quais eram proprietários e eram na realidade as fontes
do seu rendimento, nós nunca apesar de tudo nunca vimos falar da fome com a intensidade, com a pobreza
que nós conhecemos hoje é uma explicação sociológica de que normalmente as pessoas procuram imigrar
o espaço para o lugar onde se sentem eventualmente mais valorizados, onde têm a expectativa que
conseguem realizar-se mais é de facto, mas nós podíamos resolver isso se tivéssemos uma política de facto
reassentamento, de manutenção dessas populações, porque eu não posso permite que o mucubal venha para
Luanda viver, quando ele nunca aprendeu, não estudou, não formou-se, não tem possibilidade dele
sobreviver em Luanda se não for por assistência social, ou se não for assistido essa pessoa não é capaz de
viver em Luanda porque ela não está preparada para enfrentar a realidade de Luanda, então, isso resulta um
pouquinho da questão do conflito, resulta um pouquinho das preocupações imensas que Estado tem que
não o permitiu reassentar mais uma vez a questão das autarquias teriam espaço aqui, então eu acho que tem
uma relação muito direta.
- E as ações no ramo da agricultura, da pesca já tivemos algumas referências nesse domínio, hoje
como é que o país esta?
- Bom, tivemos referencia na época colonial, tivemos referencia na década de 70 em que Angola era
exatamente uma das principais produtores de café, de algodão, de todos outros bens, mas foi resultado de
um produto, foi resultado de um emprego de força obrigatório, não foi uma questão estruturada como por
exemplo acontece com as outras realidades sul africanas em que os boers e outros dominam a agricultura e
continuam a fazer exatamente isso, o nosso caso a agricultura que nos conhecemos foi a agricultura
subsistência, os povos recolhiam, iam a pesca pescar o mínimo, o essencial para poderem, que não era…
- E a justiça distributiva?
- Bom, a justiça distributiva na minha opinião depende um pouco da estruturação do próprio Estado, quando
o Estado quer dar tudo, quando Estado quer ser aquele que constrói cantina e depois aquele vai regular o
mercado não é possível falarmos de justiça distributiva, não é, para mim a justiça distributiva ocorre
fundamentalmente numa economia de mercado, mas também ocorre naqueles países que estão
comprometidos com welfare state como nós chamamos bem-estar social, hoje para lhe dizer a tal justiça
distributiva que era suposto ser uma bandeira dos partidos socialistas fundamentalmente dos Estados
Socialistas, nós não sabemos ao certo a nossa ideologia, qual é a ideologia do nosso país? Ou seja, o partido
que governa qual é a ideologia que governa? Olhemos para a Lei Geral de Trabalho por exemplo temos
uma Lei Geral do Trabalho mais drástica da lusofonia, quer dizer a nossa Lei é tão arrasadora como
nenhuma outra temos, Portugal economicamente é mais desenvolvido tem 45 anos de Democracia por
exemplo não tem uma Lei Geral de Trabalho como essa, Brasil que é um país que nós conhecemos com
aquele desenvolvimento não tem uma Lei Geral de Trabalho como essa, Moçambique não tem, quer dizer,
os partidos não bastam apregoar formalmente que eu sou de esquerda, ou do centro esquerda, um social-
democrática ou que seja é preciso que seus atos na realidade digam qual é a ideologia que professam, nos
últimos anos assistimos quase que um partido a enveredar para um Estado de Direita basicamente um
Estado de Direita mais do que um Estado Social, curioso, quer dizer, se me perguntarem qual é a ideologia
dos nossos partidos, confesso que não sei o lhe dizer qual é a ideologia, não consigo divisar.
- E portanto, se caíssemos para a questão do género, como jornalista se calhar tem acompanhado um
bocado as preocupações, as alterações que o mundo vai sofrendo, a paridade e essa coisa toda, o que
se oferece dizer em relação a isso?
- Mais uma vez voltamos a história, a história explica o nosso contexto o contexto africano e
fundamentalmente do povos bantos era de que na divisão de tarefas, a mulher competia-lhe as tarefas
domesticas por um lado, por outro lado temos de recordar que tivemos uma colonização que não permitia
- O culto, a religião também é uma questão que está intrinsecamente ligada ao nosso modus vivendis
que comentários se oferece fazer?
- É uma cultura que nos assimilamos e não nunca fomos capazes de refletir, sou católico apostólico romano
batizado, crismado, casado, toda a minha família é católica, mas hoje pensando como cidadão e fazendo
uma apreciação crítica eu sou temente a Deus de fato acredito piamente que o universo não pode ter surgido
do nada, apesar dos filósofos terem tentando, ensaiar, explicar a origem do mundo, mas nenhum deles me
convenceu até hoje nem o Jonhs Fernandes, nem tão pouco os outros, continuo a acreditar que terá havido
alguém uma mão terá criado o mundo e por isso eu sou temente a Deus, mas não significa ser temente a
Igreja Católica, a Igreja Católica é produto dos Romanos, é um produto do ocidente que na realidade nós
acolhemos ainda que hoje já não seja essencialmente já não seja integralmente aquela cultura que nós
assimilamos, mas assimilamos porque não foi uma cultura, a nossa cultura é do misticismo e o resto mas
aceito exatamente.
- Mas e depois se formos a olhar na perspetiva da daquele papel que o Estado tem atribuído hoje às
Confeções Religiosas não digo as Igrejas, mas Convenções Religiosas que é um pouco de
sensibilização política, sensibilização das massas vamos usar esse termo, para tentar encobrir
algumas ações, ou algumas revoltas, ou manifestações?
- Bom, primeiro o que eu entendo por um lado não faz mal, é verdade que o nosso Estado é laico mas
reconhece na constituição a existência das convenções religiosas por um lado, por outro lado entendo que
a religião também é uma instituição de socialização, sendo uma instituição de socialização acredito que
sim, tem este papel a desempenhar ainda que o Estado não o convoque de modo próprio, voluntariamente
a igreja tem de desempenhar este papel, agora uma coisa é a igreja conscientemente, as convenções
religiosas conscientemente desempenhar esse papel, outra coisa é serem instrumento do poder político e
que nós temos estado a assistir nos últimos anos foi a instrumentalização das convenções religiosas porque
elas dominam, porque há quase que um dogma dentro das convenções religiosas, os cristãos por mais
esclarecidos que sejam temem na realidade aos líderes, os líderes aproveitam-se dentro do âmbito da sua
promiscuidade para instrumentalizar.
- Deixei este para o fim, mas também é deveras importante é a questão da educação e saúde pelo
menos nos últimos 2 anos, como é que nós estamos neste capítulo?
-Bom, eu não gosto de falar em função dos edifícios que foram construídos, gosto de falar em função da
taxas de mortalidade, gosto de falar em função da qualidade da assistência que o cidadão são sujeitos, gosto
de falar fundamentalmente da saúde preventiva, agora não há nenhum sistema de saúde que ature o número
de angolanos que acorrem aos hospitais diariamente, não há médicos capazes de dar resposta ao número de
pacientes que assistem diariamente o que nós aprendemos nas outras realidades, nas realidades mais
evoluídas é que o maior aliado da saúde, do sistema de saúde é a prevenção, com a condição dos nossos
bairros, com a condição de residência da maior parte dos cidadãos, com os problemas de saneamento básico
que nós assistimos, não é possível pensarmos que o sistema de saúde tenha melhorado, construíram-se mais
hospitais? Talvez, não tenho o número. Terão aumentado o número de médicos sim? Sim, houve muitos
concursos públicos. Isso significa melhoria e eficácia do sistema de saúde? Não. Por quê? Porque o número
continua a ser maior, por quê? Porque cada vez mais as condições de salubridade são degradantes, cada vez
- Absolutamente, absolutamente. Bom, como digo a nossa educação, eu tenho aqui que fazer uma análise
seguinte, a nossa educação que inicialmente era controlada, era dominada, era monopolizada por duas
grandes instituições, as famílias e o ensino, hoje interfere por exemplo a media e não só a media
convencional e por conta da incapacidade de nós termos órgãos de comunicação social capazes na realidade
de orientar o nosso cidadão nós assimilamos a cultura de toda gente, hoje toda a gente tem acesso a media,
hoje toda a gente tem acesso as televisões e tudo resto e assimilam a cultura em função da capacidade crítica
que cada uma das famílias tem, olha é só olharmos e fazermos aqui um estudo relâmpago empírico, vamos
para a casa das várias famílias nas periferias às 18 horas toda a gente está a ver novelas, novelas mexicanas,
novelas turcas, novelas, essas novelas são veículos de exportação de cultura e depois qual é o
comportamento que os nossos têm, eventualmente um comportamento que não é condizente com a nossa
realidade que não é a nossa cultura, então temos dificuldades hoje de combater, de enfrentar este touro que
nos surgiu que é a media convencional isso resulta exatamente também da descredibilização da nossa media
por um lado, por outro lado resulta de facto de nós não termos condições de projetarmos uma a media a
altura de competir por exemplo com as outras realidades, se nós tivéssemos investimento na media pública
capaz de produzir novelas, produzir series, produzir entretenimento que disputa audiência com a globo,
com as outras, hoje estaríamos em condições de controlar, de aferir e orientar a educação dos nossos filhos
e do modo geral estou aqui a perceber que a tua pergunta seja educação de um modo geral e não apenas
educação no sentido restrito do termo.
- E a base esta aí.
- Exatamente, estou aqui analisar exatamente nessa perspetiva, então hoje temos essa dificuldade, portanto,
há aqui uma cadeia, uma relação muito direta entre um posicionamento do Estado aqui e uma consequência
aí, portanto educação hoje é reflexo da destruturação das famílias também que teve um grande papel porque
as famílias ficaram destruturadas com exido, com a guerra, as famílias hoje ficaram destruturadas, por
outro lado, mantivemos uma cultura da poligamia que não ajuda por quê, se a poligamia tinha uma
expressão muito pouco negativa numa zona rural porque o pai podia ter uma lavra e tendo filhos podiam
eventualmente ampliar a lavra e daí saírem bens para puder subsistirem, o pai que emigra para a cidade,
para a zona urbana é funcionário dos caminhos de ferro ganha 30 mil Kwanzas, quer continuar a ter 2, 3
mulheres isso vai ter repercussão na educação dos filhos não consegue dar o mínimo para os filhos, então,
transportamos as vezes uma cultura que podia se adaptar no espaço físico, no espaço cultural para outro
espaço, nós hoje assimilamos as zonas urbanas como uma cultura ocidental e não uma cultura africana
como tal, mas transportamos essa cultura e o que é que isso resulta? Resulta na destruturação das famílias
hoje muitas mulheres não têm maridos, hoje muitos filhos não conhecem os pais ou os conhecem as vezes
a distância e isso obviamente tem reflexo na educação.
Muito obrigado.
2. Do que tem observado qual a sua opinião sobre a promessa do Presidente da República
relacionada com a consolidação da Democracia?
Tem havido algum avanço. Acreditamos que os sinais são bastante animadores visto que a consolidação da
Democracia é sempre uma questão complexa e de interpretação na sua execução, ou seja, os partidos
políticos dificilmente ficam satisfeitos com as ações desencadeadas por um partido no poder, na medida
em que pretendem conquistar todos os espaços mediáticos.
Contudo, o Presidente da República tem sido magnânimo em questões de abertura da Democracia, já que
tem respondido satisfatoriamente às querelas existentes no “metier” político, dando espaço para que os
líderes de partidos opinem ou aconselhem-no no quadro da reunião do Conselho da República. Verifica-se,
no entanto, uma certa abertura tangível que na realidade passada.
As autarquias reforçam sempre a Democracia às quais os cidadãos elegem os dirigentes que vão administrar
uma determinada zona regional ou local. Porém, as condições estão a ser criadas para que sejam efetivadas
as eleições autárquicas no país.
A Assembleia Nacional deu um passo importante no capítulo da legislação, um alicerce importante para
acautelar possíveis percalços inerentes ao futuro pleito em Angola.
Porém, ainda persistem algumas discussões sobre a possibilidade de se realizar no próximo ano, período
aprazado para as próximas eleições legislativas, estando por aprovar também peças do pacote legislativo,
entre as quais a lei polémica, a da institucionalização das autarquias face às posições antagónicas entre os
que defendem o gradualismo e os que pretendem eleições em simultânea.
Há uma crescente evolução sobre a matéria tendo registado poucas violações aos direitos fundamentais do
homem. O contínuo respeito às normas previamente definidas por organizações internacionais tem sido o
apanágio da governação angolana.
6. O que pensa sobre o trabalho dos Tribunais e da Procuradoria-Geral da República fazem-
no melhor na era João Lourenço?
Sim. Tem havido um trabalho titânico que permite aos cidadãos terem maior crença no chamado terceiro
poder, cuja separação de outros poderes tem sido evidente. Os Tribunais exercem o seu poder na
equidistância jurídica preservando sempre o interesse dos cidadãos e não de quem detém mais poderes.
Quanto à PGR tem tido um trabalho mais visível em comparação com a de anos passados antes do
Presidente João Lourenço assumir a hierarquia suprema do Estado.
7. Que opinião é que tem em relação aos órgãos de Defesa, Segurança e Veteranos da Pátria?
São órgãos que têm desempenhado o seu papel positivo sempre na perspetiva de preservar os interesses do
Estado.
8. Como avalia a mobilidade de cidadãos na CPLP e a imigração ilegal, enquanto preocupação
do Presidente João Lourenço?
Não é só preocupação do Presidente João Lourenço, mas de todos os Estados da CPLP, sobretudo os de
Portugal e Brasil, zonas preferenciais dos cidadãos da comunidade.
A mobilidade de cidadãos nos países da comunidade lusófona tem sido bastante notória nos últimos anos.
Há uma iminente imigração ilegal, sobretudo dos cidadãos dos PALOP aos países mais avançados da
comunidade no caso de Portugal e Brasil, mas este assunto costuma merecer sempre discussões acesas nas
reuniões de cúpula da CPLP.
Alguns países vêm a importância da mobilidade e da circulação no espaço da CPLP como aproximação dos
povos da comunidade, no estreitamento dos laços de amizade e cooperação e na promoção de uma
verdadeira cidadania da CPLP, pelo que têm instado os Estados-Membros a criar condições para a
implementação do acordo para o estabelecimento de balcões específicos nos postos de fronteira, para o
atendimento de cidadãos da CPLP, assim como capacitar as forças e serviços de segurança dos Estados-
Membros da CPLP no domínio da detenção de riscos nos aeroportos internacionais, designadamente,
através da criação de equipas conjuntas. Numa Declaração tornada pública após a V Reunião dos Ministros
do Interior e Administração Interna da CPLP realizada na Praia, capital de Cabo Verde, a 24 de Abril de
2019, os Ministros fizeram uma proposta de nota interpretativa sobre o art.º 2º do Acordo de Concessão de
Vistos de Múltiplas Entradas para Determinadas Categorias de Pessoas e uma proposta de estratégia
comum de segurança documental na CPLP.
Os Estados defendem maior reforço da concertação e cooperação entre os Estados-Membros, centrada no
respeito pelos princípios fundadores da Organização, particularmente, a igualdade soberana dos Estados, a
integridade nacional, o primado da democracia, o Estado de Direito e o respeito pelos direitos humanos e
pela justiça social.
Grupo II Aspetos Económicos
Angola está a viver um período de recessão económica e os esforços estão a ser feitos tendentes a reversão
da situação. As previsões das organizações internacionais avançam que a economia angolana vai contrair
este ano 1,4 por cento, depois de ter registado uma recessão de 1,5 por cento em 2019, mas regressa ao
crescimento em 2021, com uma taxa prevista de 2,6 por cento do Produto Interno Bruto (PIB).
De acordo com as Perspetivas Económicas Regionais da África Subsaariana, um documento que este ano
é exclusivamente dedicado aos impactos da pandemia de Covid-19, prevê também uma subida da dívida
pública, de 109,8 por cento do PIB no ano passado, para 132,2 este ano e 124,3 em 2021, devido às
necessidades de financiamento para suplantar a descida dos preços do petróleo e a despesa necessária para
controlar a pandemia da Covid-19.
O relatório aponta que o crescimento nos países exportadores de petróleo deve cair de 1,8 por cento em
2019 para -2,8 este ano, uma revisão de 5,3 pontos percentuais face às previsões de Outubro, sendo a
Nigéria, o maior exportador da região, deve contrair-se 3,4 por cento.
12. Qual pensa ser o desfecho da política de repatriamento de capitais e recuperação de ativos?
Acreditamos que vai atingir acima de 50 por cento da meta definida que, matematicamente, isso já é
positivo. Como já nos referirmos, mais de 5 mil milhões de dólares foram recuperados em bens e dinheiro,
pelo que este número poderá sofrer algum incremento antes do balanço de governação do Presidente João
Lourenço.
Os últimos dados do Ministério da Economia e Planeamento (MEP) apontam para uma subida vertiginosa
do programa de concessão do crédito, apesar de ainda empresários clamarem por um grito de socorro.
No quadro do Programa de Apoio à Produção, Diversificação das Exportações e Substituição das
Importações (PRODESI), foram aprovados, desde 2019, 757 projetos cujos montantes ascenderam a 510,
1 mil milhões de Kwanzas.
O Programa de Apoio ao Crédito (PAC) veio dar corpo às linhas mestras do PRODESI, sendo que se aplica
aos projetos de investimento que contribuam direta ou indiretamente para a produção interna de bens
essenciais.
O programa visa viabilizar o acesso ao financiamento para os investimentos. Nesta fase, o Governo está
concentrado essencialmente para os programas de alívio económico.
A questão do emprego e do desemprego tem sido uma preocupação premente do Governo. O Instituto
Nacional de Estatística (INE) está a levar a cabo um inquérito, para determinar o índice de emprego e
desemprego em Angola.
O estudo denominado “Inquérito ao Emprego em Angola” (IEA), vai decorrer até 2021 e conta com o
financiamento do Banco Mundial.
Os resultados produzidos por este inquérito vão permitir ao Executivo avaliar o cumprimento das políticas
públicas e as metas do Plano de Desenvolvimento Nacional (PDN) 2018-2022.
O levantamento mais recente sobre a taxa de desemprego no país feito pelo INE mostra que a população
desempregada em Angola está estimada em 3.675.819, sendo 1.625.529 homens e 2.050.290 mulheres.
A taxa de desemprego anda à volta dos 36,5 por cento contra os 16,2 da zona rural.
16. Da observação que faz a situação da fome e da pobreza, qual será a evolução nos próximos
6 meses? Tem alguma ideia de como se pode ultrapassar este mal?
A fome e a pobreza continuam a ser ainda preocupações das autoridades angolanas, pelo que o Governo
deve continuar a apostar nos grandes programas definidos como o Kwenda.
Deve alargar a base de apoios, criando cartões de abastecimentos, por via de um “fundo para a pobreza”.
Pensamos que a única maneira para minimizar a fome e a pobreza é reforçar com as verbas para o contínuo
apoio às camadas mais desfavorecidas.
Sugerimos o contínuo apoio financeiro do Governo que potencie a criação de pequenos negócios.
17. O que pensa sobre as ações que têm sido implementadas nos sectores da Agricultura, Pescas
e Indústria?
Observando as linhas de financiamento do PRODESI, desde 2019 até junho de 2021, a Agricultura,
Comércio e Distribuição, assim como a Indústria Transformadora são os que mais se beneficiaram de apoio.
Naturalmente deve haver maior fiscalização na implementação dos projetos destes sectores.
Com intuito de reanimar o sector privado e impulsionar a diversificação económica, além do PDN 2018-
2022 e, no âmbito do PRODESI, o Executivo desenhou um conjunto de programas e medidas para melhorar
o ambiente de negócios, em que se destacam: PAC - Programa de Apoio ao Crédito; PROPRIV - Programa
de Privatizações; PIIM - Plano Integrado de Intervenção nos Municípios; PAPE - Plano de Acão para a
Promoção da Empregabilidade (PAPE) e o reforço do Processo de Regularização de Atrasados.
Juntam-se a essas iniciativas do Executivo, os estímulos do Banco Central (BNA) para o financiamento da
economia.
Nos últimos anos, houve um investimento maior nos transportes públicos, com a chegada de novos
autocarros, quer para a transportadora nacional, a TCUL, como às outras operadoras privadas que fazem
rotas interprovinciais.
O mesmo sucedeu-se igualmente às redes viárias e ferroviárias com o alargamento investimentos, quer a
nível de Luanda, quer a nível das províncias.
19. Que comentário pode fazer em relação às questões de género?
Tem sido uma luta das autoridades. O equilíbrio do género no Aparelho do Estado tem sido notório, mas a
meta dos 30 por cento ainda está a quem das expectativas.
Deve-se trabalhar afincadamente, apesar de haver alguma melhoria nos últimos anos.
Um dos maiores handicaps é a crise económica e financeira e agora da pandemia da Covid-19 que
influenciaram negativamente na justiça distributiva e social em Angola.
Há muitas ceitas que ainda exercem ilegalmente as atividades de culto e religião. O Ministério da Cultura,
Hotelaria e Turismo está a trabalhar para a legalização das igrejas, cujo processo iniciou há um ano.
O Governo defendeu a revisão aos critérios para o credenciamento de novas confissões religiosas.
Há uma proposta de nova de legislação para a abertura de igrejas e os que exercem as atividades religiosas
que devem ter mais de 500 mil assinaturas. Pensamos que as regras definidas vão ajudar na delimitação da
liberdade de culto e religião em Angola.
22. Na sua opinião, que alterações se verificaram nos últimos 2 anos na Educação e Saúde?
A mudança de paradigma no modelo de ensino e aprendizagem que foi substancial tendo culminado com o
fim do programa da reforma educativa que era vigente até 2020.
Quanto à Saúde, deve-se fazer mais investimentos em infraestruturas hospitalares e reforço na assistência
médica e medicamentosa, assim como na melhoria da qualidade do Ensino Primário que constam dos cinco
maiores programas prioritários do Governo para 2021.
Sr. Presidente, voltando já aqui as questões dos nossos dias, que opiniões é que tem em relação as
promessas que o Presidente fez para combater a impunidade a corrupção e o nepotismo?
- Bom em primeiro lugar quer dizer nos temos que ter um sector justo e porque também estamos a construir
uma sociedade que não tinha experiencia de governação é 100 anos antes e 150 anos antes nos nós
libertamos do colonialismo português muito recentemente, uma nação não se constrói em pouco tempo, é
o sistema político que foi instaurado em angola em principio favoreceu todas as condições que deram as
consequências que estamos a seguir e a sofrer hoje instaurou-se um estado do proletariado em que a
propriedade privada era proibida, o Estado controlava praticamente tudo não reconhecia portanto a
propriedade privada, com a queda do sistema da União Soviética isso provocou portanto a queda de toda a
cadeia portanto de países que tinham as democracias populares como modelo, caiu angola também não
seguiu o exemplo com a queda do muro de Berlim então faz se a entrada da democracia ai é que é o
problema da corrupção e na democracia total que nos é que é os antigos dirigentes fizeram, já que vamos
transitar para a democracia a democracia é um estado democrático de direito é a economia de mercado,
quem deve ocupar o mercado? Nós mesmos.
Quem deve constituir a elite?
Nós mesmos.
Quem deve controlar tudo?
Nós mesmos.
Eles mesmos quem os membros do comité central, os membros do bureau político , os membros do governo,
os membros em suma do partido MPLA os membros e tanto mas que essa historia da corrupção é uma
historia do MPLA pode haver ali um ou outro e tudo que não seja do MPLA não vai faltar não há regra sem
exceção mais o foco, o foco é mesmo o MPLA e porquê , porque quando se entra para o sistema de
redimensionamento empresarial e distribuir as empresas portanto a certas individualidades, as
individualidades que eles encontraram são eles próprios foram se distribuindo as empresas quer dizer tudo
que desse para se criar riqueza numa economia de mercado tinha que cair nas mãos do próprio MPLA.
- E o Sr. Presidente acha que esse imbróglio todo que se criou o Presidente pode falar em combater
esse mal?
- Eu vou chegar la, eu vou chegar la, criou-se isto é portanto empresas aqui quintas acolá fazendas e num
sei quantos, eu lembro uma vez eu estive na Huila não quero dizer o nome de um alto dirigente do MPLA
que eu encontrei porque eu ensinava na Huila dava aulas na Huila no Huambo em Benguela só fui dar aulas
uma única vez mais Huila e Huambo e onde eu ia e Cabinda onde íamos dar aulas, Huila, Huambo e Cabinda
e encontrei um alto dirigente nós encontramos no grande hotel lá da Huila e eu perguntei o que estava lá a
fazer e ele não eu estamos agora no domínio de transformação por tanto da economia do mercado e agora
trago aqui o resto da malta e tudo se não um dia tudo isso vai ser tomado pelos estrangeiros e nos ficamos
de mãos fazias, não é muito sacrifício para ficarmos de mãos vazias.
Quer dizer o principio de meter a economia nas mãos dos angolanos não esta errado, não esta errado era
por aí que se devia passar, agora o que que esta errado a forma como esta economia devia ficar nas mãos
dos angolanos, quer dizer que a forma, quer dizer a distribuição é injusta a distribuição é injusta da riqueza
- E Sr. Presidente, associado a isso o Presidente também prometeu consolidar a democracia esse nosso
jovem problema, acha que esta também a trabalhar nesse especto?
- Bom consolidação da democracia eu vejo que do meu ponto de vista nos tínhamos mas liberdade de ação
no tempo de José Eduardo Dos Santos sobre tudo, naquela fase de implementação mesmo da democracia a
UNITA estava nas matas e no sei quantos a lutar e tudo mas aqui a democracia era plena, eu lembro e íamos
enes debates havia conferencias havia os jornais multiplicaram se hoje esses jornais todos desapareceram
o jornal escrito multiplicou-se criou se os jornais de todo os tipos onde toda gente podia dizer o próprio
Eduardo dos Santos era acusado disto e de aquilo e tudo e a pessoa não acordava na prisão acordava em
sua casa mas escreveu aquilo, aquilo era democracia de facto mais José Eduardo não era isso que lhe
preocupava o que lhe preocupava ele porque sabia que tinha os mecanismos todos sobre controlo os cães
ladram e a caravana passa este é o Zé Eduardo.
-Isto está um pouco interligado com aquilo que eu ia perguntar a seguir, é mesmo com a liberdade de
expressão manifestação e reunião, será que esta a acontecer isto?
- Entretanto, entretanto mesmo José Eduardo dos Santos havia as fragilidades quando se tocasse no
problemas de destabilização do sistema então ai saia polícia saiam os cães saia tudo porque tudo menos
isso o Zé Eduardo também neste aspeto manifestação eram interditas agora também a mesma coisa, agora
neste sistema do Presidente João Lourenço ele falou muito das liberdades e de que não existir e
exclusivamente ele próprio abriu quer dizer conversou com a imprensa depois de tomar posse e tudo,
conversou com a imprensa eu pensei que as coisas mudassem mas não veja bem que hoje mesmo nos como
partido político temos muito menos tempo de antena que antes e quando nos são cedidos os tempos de
antenas que nos que, se o nosso discurso é um discurso que fizemos como partido da oposição aquilo que
eu vejo nos países ocidentais onde há democracia, o discurso de um partido da oposição é um discurso
importante tem que se seguir um discurso de um sindicalista vem na primeira pagina, o discurso de um
homem do partido da oposição vem na primeira pagina, porque é importante porque são eles os grandes
protagonistas do funcionamento do aparelho da democracia e da ação social não é que se passa connosco.
A pessoa fala 20min e o que eles vão tirar é aquilo que lhes interessa a opinião fazem cortes e tudo, isto
não é liberdade de expressão, isso é censura e é censura feita de uma forma velada e não declarada mas é
censura quer dizer procuram os aspetos mas negativos da posição que nos tomamos ou procuram os aspetos
mas negativos em relação a nos mesmos e daqueles aspetos identificam com as suas politicas é que passam.
- Isso toca também os direitos humanos, não é?
- Diga?
- Toca também os direitos humanos
- Toca também os direitos humanos naturalmente.
- Em parte sim, em parte sim basta escrever, não é só as razões económicas que fizeram desaparecer os
jornais, as razões económicas também estão na base disso porque os jornais para funcionar precisam de
grandes grupos nos ainda não temos capacidade de formar esses grandes grupos económicos e sustentar os
jornais, todos os dias mandar e enviar correspondentes todos os dias, não temos capacidades para isso essa
é uma razão, mais por outro lado também é quando publiquei o meu livro pedi alguém que quis ser portanto
o apresentador que devia apresentar o livro, que devia apresentar ao Presidente da República discuti mesmo
com ele estava sentado a onde esta, discutimos e tal mas depois em termos de publicidade disse que epá eu
tenho alguém ai no jornal de angola e tudo ele e ele que tinha alguém no jornal de angola é muito amigo e
tal antes de do dia por tanto da apresentação vamos publicitar o livro ele telefonou aqui na minha presença
que tinha portanto esse projeto de apresentar e tudo num sei que o livro pra ser publicitado disse mais já
leu bem o livro se é um livro que fala mal do MPLA não vale a pena, não vale a pena, nós aqui já lemos o
livro olha lé só a pagina tal, lé a pagina tal, lé a pagina tal, não nem tão pouco isto não isto esta fora de
questão aqui na minha presença ele pós o telefone em alta voz e eu estava a ouvir se nós formos a ver aquilo
que eu escrevi no livro não é nada estranho, é historia de angola, é historia dos partidos políticos, é historia
da confusão, é historia da guerra civil, quer dizer quais são os fundamentos como é que parte quem fica
com que foi o que eu escrevo e essas são as questões o que que tinha para intimidar, mais não há questões
que são polemicas as datas históricas do MPLA, num sei quanto mais a existência do próprio MPLA a
cumplicidade do MPLA com os portugueses ninguém pode falar ta ver a cumplicidade do próprio MPLA
com o propósito que os portugueses entreguem a dependência ao MPLA porque é o partido que eles
escolheram por razões raciais e tudo isso e culturais e tudo eu falo disto, portanto isso não lhe convém.
-Bom as autarquias o presidente José Eduardo dos Santos tinha nos prometido que deviam ter lugar em
2014, logico que em 2014 não tiveram lugar, nos da oposição fomos fazendo barulho no decurso do
mandato passado e esse mandato passado portando em que o João Lourenço ainda não era Presidente ele
seguiu portanto as nossas intervenções, e depois de ele ter sido eleito ele foi nos recebendo um por um, e
no primeiro conselho da republica esta a questão das autarquias foi uma das questões que foi muito
profundamente discutida no conselho da republica, depois de sairmos do conselho da republica ele fez tudo
e portanto remeteu o pacote legislativo das eleições autárquicas, este pacote é que tem sido discutido ate
hoje ainda falta a lei principal de institucionalização das autárquicas, essa lei ainda não foi portanto
apresentada ao partido, agora o Presidente da Republica viu que as eleições gerais estão ai próximas como
realizar as autarquias com as eleições gerais, e o modelo das autarquias que é aquele que o Presidente da
Republica quis implementar que é o gradualismos territorial dizer que Luanda é autarquia, Benguela
autarquia o outros não, esse aqui autarquia o outro não, nos na oposição dissemos que não, como nenhum
município esta preparado, nenhuma província esta preparada, e a preparação tem que ser conjunta com a
ajuda do próprio Estado vamos implementar as autarquias em todo território nacional que ele não estava de
acordo, quer dizer que o governo não estava de acordo houve discussões muito acesas no parlamento nunca
- Acha que os Tribunais e a Procuradoria-geral trabalham melhor agora na era do João Lourenço?
- não há nenhum inquérito neste momento que eu saiba posso por minha ignorância ou falta de atenção mas
não me lembro um inquérito que tenha sido feito pela a Procuradoria-geral da República mostra o inquérito
olha começamos assim, olha o que se passou é isto, isto, isto, e remetemos o problema aos juízes, é
assassinatos é tudo nunca sai nada, nunca sai nada, que procuradoria é esta, que justiça é essa de nos FNLA
muitas vezes nos pensamos que a policia judiciaria que esta nas mãos do ministério do interior devia estar
nas mãos do ministério da justiça como se passa nos outros países ao invés de ficar nas mãos do ministério
do interior devia ficar nas mãos do ministério da justiça, porque as questões julgamentos que são como se
diz isso em termos jurídicos aqueles julgamento a presa o povo esta a sendo julgado, nos escapes interno,
julgamentos sumários que são feitos não tem quer dizer respaldo em termo mesmo de ordenamento jurídico
nacional ta ver esses julgamentos deixa muitas vezes rancores aos cidadãos e nos o que que assistimos
assassinatos aqui violência , a violência resulta preciso momento quando a justiça não é feita a violência
tem sua origem quando o cidadão tem ene razões e o Estado nunca comtempla por tanto estas razões para
fazer a justiça, isto redunda em delinquência em violência de todo tipo e é a situação atual do nosso pais
nesse momento a justiça não funciona olha para ilustrar o que eu estou a dizer aqui um dia destes o Dr.
Raul Araújo é uma das pessoas que esta na base de feitura de quase de toda a legislação de angola
independente desde o principio, toda a legislação quer legislação constitucional, legislação privada tudo
tem a mão do Dr. Raul Araújo e um dia destes ele disse publicamente que a justiça em Angola esta mal
porque os julgamentos são feitos por encomendas, agora imagina a gravidade desta afirmação e ele era o
Juiz de um tribunal, era juiz de um tribunal e terminou creio a sua carreira não sei se já passou a jubilado,
sim já foi jubilado no Tribunal Constitucional, mas ele fez essas afirmações o que quer dizer o que melhor
que mim que quem fala assim como se diz na gíria não é gago, quem fala assim não é gago é uma pessoa
que estava na base, não, os julgamentos no nosso sistema são feitos por encomenda.
- E quanto a outra questão também e que até a FNLA tem responsabilidade social muito grande, a
questão dos órgãos de Defesa, Segurança e Veteranos da Pátria?
- Esta, esta questão por exemplo a nossa luta começou ainda o velho Holden estava em vida eu acompanhei
o velho Holden junto do Presidente José Eduardo dos Santos varias vezes, varias vezes para conseguirmos
situar os estatutos portanto dos antigos combatentes, quando o presidente José Eduardo dos Santos decide
substituir o fundo de pensão, fundo de pensão em destituir pós a categoria de antigos combatente mas o
hoje por exemplo imagine alguém que passou toda a sua juventude filhos por educar e quer dizer não
conseguiu educar nenhum porque estava nas tarefas da pátria e hoje esta a ganhar 23 mil kz por mês, o que
que ele pode fazer com esse dinheiro, vai educar o filho vai comer vai comprar casa vai fazer o que, eu
varias vezes nas minhas intervenções eu disse as pessoas eu sempre lhe disse que a experiencia que vivi
vinte e poucos anos la fora sobre tudo em Franca que eu tenho dos antigos combatentes não e só questão
do dinheiro mas tentar criar uma situação em que um veterano de guerra um antigo combatente que perdeu
toda sua vida a libertar a pátria, uma casa que lhe e atribuída não e grande coisa, construir bairros, mas que
sejam bairros dos antigos combatentes, esta bem José Eduardo dos Santos começou a fazer isto o primeiro
bairro que esta ali a entrada do nova vida, no projeto Nova vida todo aquele quarteirão da entrada que fica
ali na entrada central que fica atras da bomba de combustível aquele quarteirão foi construído para os
antigos combatentes, mais depois a partir dele próprio Presidente José Eduardo dos Santos ocupou uma
parte la no fim do quarteirão porque depois daquele quarteirão esta uma espécie de um campo de futebol
aquelas casas todas ficaram para as sobrinhas, pra num sei que pra primos e o seu irmão Avelino creio que
vivia ali e outros mais tudo aquilo e o resto outros dirigentes ocuparam.
- Outro nepotismo.
- E outra questão que ele também levanta com muita frequência nos fóruns internacionais, e a
questão da mobilidade dentro da CPLP acha que Angola tem feito alguns passos neste sentido?
- Bom, a CPLP quer dizer e uma imitação do grupo dos francófonos que agora também Angola quer entrar
na francofonia, bom a CPLP do ponto de vista eu ataquei a CPLP quando foi criada , quando eu escrevia
nos jornais de angola, no folha 8 e tudo ataquei, ataquei porque, porque a logica que estava na base da
criação da CPLP não me parecia ser naquela altura coerente, não me parecia ser coerente porque, porque
nos tínhamos um pais novo para construir e Angola no quadro da CPLP passou a ser aquilo que se diz na
gíria a vaca leiteira ta ve para esses países todos Angola por ser um pais rico e num sei quantos e tudo então
era a vaca leiteira, negócios para o Brasil, quer dizer negócios leoninos como se diz na linguagem comercial
as vantagens para uns e para outros não e Angola entrou naquele ritmo tudo em nome da CPLP eu lembro
me na altura ouve para a criação da CPLP fomos convidados num coloquio com o falecido Joaquim Pinto
de Andrade, ele é quem me convidou ele foi convidado foi me ver no partido funcionava ali nas ingombotas
e epá Lucas vamos, esse é um assunto importante não podes faltar então fomos juntos em Portugal e foi
apresentado portanto a CPLP quer dizer o interesse fundamental disso naquela altura era a preservação da
língua portuguesa portanto da língua portuguesa nos, nos tornamos independentes para alguma coisa, a
independência pressupões independência cultural, independência económica, independência social, e a
independência cultural engloba línguas e tudo isto, onde e que ficam as línguas destes países que englobam
na CPLP?
Bom todos nos falamos português e as línguas maternas foram postas, portanto de lado, mas a francofonia
da um outro tipo de exemplo, as línguas da francofonia são estudadas na soborn tem cadeira de olofe tem
cadeiras de iuruba cadeiras de num sei quantos e as pessoas fazem doutoramento disto, fazem na linguística,
fazem doutoramento disto, em Portugal isto esta ausente, então onde fica portanto esta relação, onde é que
fica esta relação entre nos e a CPLP, esta era portanto a nossa opinião, quer dizer a CPLP hoje, bom tivemos
la um angolano como Secretário-geral que e o Marcolino Moco, mas eu penso que o seu papel ainda esta a
quem para daquilo que se esperava da CPLP e esperávamos ver uma universidade portanto da CPLP um
exemplo ainda não temos, instituições da CPLP que englobasse todas as preocupações dos países membros,
mais nos ainda não temos isso.
- E como é que acha que esta o crescimento económico na época de João Lourenço, pode se falar em
crescimento?
- Bom um especto positivo que ainda esta no principio é o facto da aposta dele para a diversificação da
economia, ao invés de concentrarmos toda a nossa economia nas petrolíferas, Angola é um pais que tinha
ou que tem recursos e já eram explorados pelos portugueses os portugueses enriqueceram exploraram o
fosfato, exploraram o manganésio, exploraram o cobalto, exploraram o ferro, exploraram o cobre,
exploraram o diamante ta ver esses minerais todos depois ficaram por ai e como naquela altura os
portugueses exploravam ainda em pequenas quantidades porque angola e nossa angola vamos preservar
esses recursos para mas tarde e num sei quantos e só exploraram um pouco nos temos as companhias que
eles pegaram no processo de redimensionamento empresarial não sei onde e que pararam mas existia
companhia, companha geral de asfalto de angola por exemplo existia já a comfabril, não só se ocupava da
agricultura mas ocupava se também da exploração mineira e tudo em fim, isto devia voltar mas não, a
primeira republica não sei se vou dizer se e a primeira ou a segunda republica, e a primeira republica do
Neto e a segunda República do dos Santos porque ouve mudança das constituições Neto ouve uma
constituição e com José Eduardo dos Santos ouve mas outra constituição, portanto a segunda republica de
- Bom as finanças publicas diria ai é que estão quer dizer o problema que finanças publicas que João
Lourenço encontra que nos saibamos como deputados da Assembleia Nacional nunca se fez um relatório
coerente, e conciso sobre a divida pública do pais, quando o mistério das finanças tentou pronunciar-se
sobre isto saíram muitos erros , erros de estimação do volume da divida pública que Eduardo dos Santos
tinha deixado, erros da apreciação, erros de localização onde e que estava esta divida pública com que num
sei quantos devia publica e divida internacional e isto também ficou assim a própria assembleia hoje, quer
dizer temos que adivinhar qual á a divida pública do pais, eu lembro me quando o fundo monetário
internacional estava a negociar connosco convocou uma reunião com os deputados e eu participei ai num
hotel ai nos combatentes e uma das primeiras questões que levantou era questão da divida publica que era
enorme que Angola já não podia suportar, mas como e que isto ia acontecer se quando portanto abre a
economia do mercado Angola não tinha divida, era o único pais africano que não devia o fundo monetário
internacional nem clube de Paris, nem a FMI, não Angola não tinha divida e verdade eu era exilado la fora
não podia por os pés em Angola nê, mas isso dava-me um certo orgulho e as pessoas epá o vosso país, um
pais africano sem divida porque todos os países africanos tinham dividas com o ocidente com as antigas
metrópoles angola não tinha mais depois da abertura do mercado voltando da ideia da tal criação da
burguesia que devia ter dinheiro esses dinheiros todos foram a vida, foram pros bancos, foram para as
Bahamas foram num sei quantos mas e o presidente João Lourenço vai ter muitas dificuldades em reaver
esses dinheiros.
- Pois é a outra questão
- Eu já estive a conversar com a bem pouco tempo com um economista que me disse, não dizia-me ele la
no ocidente onde o dinheiro foi parar e todo este mundo desenvolvido não trabalhão com dinheiro como
nos trabalhamos o dinheiro fica ai não eles esses dinheiro todo já esta investido, você pensa que eles vão
parar com todo os seus investimentos para trazer o dinheiro ca.
- Então ele não vai conseguir repatriar os capitais.
- Sim, isso não vai acontecer, vai apanhar isto e os outras coisas o governo Angolano vai ter que negociar,
os hotéis que estão a funcionar, as grandes fabricas que estão a funcionar com o dinheiro de Angola, e num
sei quantos mais, isso é um processo a longo tempo não é agora não se pode esperar aquele dinheiro que
esta espalhado la fora para se fazer qualquer coisa em angola, angola tem que criar outros mecanismos
financeiros e tudo isso e eu dei-lhe razão.
- As empresas estão a fechar se bem que a política agora a política monetária que eu vi a última intervenção
do Sr. Governador do Banco é para encorajar, portanto o empresariado nacional a aguentar, mas também
encorajar sim é bom e os impostos, todo o ano de 2017, 2018 e 2019 não fizemos outra coisa se não cobrar
impostos, o que quer dizer que hoje as empresas estão submersas no sistema tributário insuportável.
- O cidadão em si.
- O cidadão em si é insuportável então a onde e que a economia vai, os outros países o que que acontece na
situação de uma economia, que esta num nível como o nosso o incentivo era suprimir os impostos dizer pra
tal, tal tipo de produtos não se paga impostos para tal tipo de importação o Estado encoraja isto, isto e num
sei quantos mais sobre tudo a importação de mátrias primas que devem criar as condições de produção do
país isentos portanto de impostos, não temos essas políticas, o que quer dizer que a pessoa abre uma empresa
logo nos primeiros rendimentos que tem só vão todos pagamentos dos impostos e a economia dificilmente
pode arrancar com isto quer dizer que, todas essas politicas tem que ser revistas se o presidente João
Lourenço quer ter sucesso realmente, agora ele esta preocupar entre a situação económica que e difícil e
- o apelo ao investimento há alguma coisa no pais mas, o investimento la fora essas pessoas trabalham com
direito, trabalhão com a justiça imagina que eu seja um investidor europeu quer investir em angola e nas
informações no dia seguinte estão a me mostrar as malas do Lussaty um exemplo como e que o dinheiro
vai parar espalhado numa casa, com milhares de coisas mas esse pais onde o dinheiro não tem segurança e
onde eu vou investir ele recolhe, aqui dentro fizeram aquilo como uma forma de propaganda para dizer que
o João Lourenço esta a lutar contra a corrupção, mas o resultado la fora é muito negativo essas são péssimas
imagens não ajudam o pais, podiam apresentar isso de uma outra forma talvez com as prisões e falar dos
números e tudo mas apresentar o dinheiro de uma maneira escandalosa como apresentaram só pode
acontecer no nosso pais.
- E verdade só podia acontecer num pais de negros e estes quando vêm isto, mais ai o dinheiro não tem
segurança nenhuma como e que se pode investir, esta propaganda que eles fizeram, fizeram ver que o João
Lourenço esta a lutar mesmo contra a corrupção tem efeitos contrários, ham, pode ter efeitos contrários la
fora porque o que eles querem é a segurança do dinheiros deles e isto a segurança se garante portanto com
o sistema bancário com a justiça, e a justiça falamos disto a pouco deixa desejar, ya deixa a desejar, deixa
a desejar porque o próprio juiz disse um dia que os julgamentos são feitos por encomendas então se o
julgamento é encomendado aquele senhor e que lhe de essa tenda porque me deve isso num sei quantos
mais porque o outro investiu o dinheiro dele e esta a ser condenado porque o angolano tem o amigo dele la
no tribunal.
- E complicado.
- E complicado muito ele que veio investir o seu dinheiro, eu não sei quem e que o Presidente da Republica
tem ao seu lado como conselheiros, mas precisa de ter uma pessoas quem tem uma experiência politica,
experiência de Estado, e preciso ele ter gente que tem experiência de Estado com cabeça firme que possa
de facto dizer que não faça isso, não faça aquilo e assim que os Estados funcionam.
- Isso vai ter uma grande influencia também no problema do emprego e desemprego?
- No emprego e no desemprego também tem uma grande influência, tem grande influência em termo
portanto de viabilidade ele já quis fazer avançar muita coisa mais cria-se uma fabrica que passado um tempo
estão a vir nos reportar que a fabrica esta parada a cinco meses como e que e se foi criado para empregar
gente agora cinco meses esta coiso e porque, porque o pais vive de importações e não tem dinheiro para
importar os, os investidores aqueles que criaram empreendimentos em Angola só são aqueles que tem já,
quer dizer as suas condições preparadas la fora mandam mercadorias, mas aqui o nosso sistema para dar a
mercadoria de Angola para fora e trazermos aqui a mercadoria fica um bocado complicado, mesmo nos
quando viajamos hoje para ter alguns tostões para puder andar ali assim é problema as divisa não saem num
lado e controlo portanto que se faz mas do outro lado também criam problemas para os investidores, para
aqueles que já investiram e precisam de pagar a divida la fora, investiu uma série de coisas aqui mas os
produtos aqui não rendem e num dam o rendimento suficiente para puder pagar a divida das importações e
isso então cria problema, e são os problemas que o pais tem nesse momento.
- E quanto a fome e a pobreza ele também se predispôs em combater fome e a pobreza, há algum
avanço nesses últimos seis meses?
- Bom avanço não pode haver porque, porque onde nos estamos a falar do desemprego galopante e o
desemprego esta aonde? Nas famílias, se as famílias e que estão desempregadas quer dizer que as famílias
é que estão pobres, não tem trabalho e consequentemente não tem recursos e prontos portanto a pobreza
mina as famílias, agora criaram um modelo que o nome creio, Kuenda, kuenda quer dizer andar em kikongo,
este modelo que consiste a subsidiar as famílias, fazem recenseamento de algumas famílias nas aldeias e
dá-se 15 mil kz, 10 mil, 7 mil kz e num sei que distribuição de dinheiro, isto ajuda numa primeira fase ajuda
a família talvez comprar isto, comprar aquilo mas onde há pobreza aquilo não e investimento pra produção
e eu as vezes sigo estes programas de televisão nestas pessoas porque hoje são os programas que passam
mais e quando dam o dinheiro, que é que os camponeses dizem, e obrigado Governo deu me 15 mil epá eu
- Temos também a situação dos transportes públicos das redes viária ferroviárias que se fez nesse
domínio?
- Bom eu penso que as primeiras politicas depois da proclamação portanto do fim da guerra do pais foram
num bom sentido, foram num bom sentido porque em 8 anos o país recuperou quase todas as estradas eu
estou a falar com conhecimento de causa quer na campanha eleitoral de 2012 como 2017 girei o pais todo,
o pais todo fiquei encantado as estradas enfim quer dizer tinham aberto os comboios começaram a andar
mas o problema e a qualidade das infraestruturas e uma vez destas eu conversando com o embaixador da
china sobre a qualidade dos produtos. Depois ele me disse, Sr. deputado olha a china constrói segundo o
dinheiro que vocês pagam a china faz tudo se você lhe der dinheiro para eu fazer caixa de fósforos vou
fazer mesmo caixa de fósforos , se me der dinheiro para fazer uma caixa de ouro, só ouro mesmo eu faco
vocês reclamam as estradas mas o dinheiro que nos recebemos não dava para mais, a china pode construir
uma estrada que dura mil anos isso e possível mas depende do dinheiro que a gente recebe agora imagina,
não mandamos construir estradas de boa qualidade que hoje o asfalto já desapareceu em todo o lado não
sei se tem seguido a coisa os asfaltos já desapareceram e onde e que foi esse dinheiro que devíamos construir
as estradas aos chineses para fazer boas estradas estão nesta questão de corrupção que nos vimos foi
distribuídos as contas disto as contas daquilo e num sei quantos mais e eu lembro me aquilo que deu lugar
a tempestade num copo de água, a tempestade Paciana que levou o Miala na prisão e outros mais foi o que?
Foi a questão dos negócios, o negócio da china fez estremecer o futungo ou o palácio do Governo naquela
altura, e porque uns queriam ganhar, mais segundo aquilo que nos ouvimos depois os chineses disseram
epá, se vocês como ministros querem que a gente constrói temos que construir uma casa mas isso na China
isso e proibido nos na china não há nada disso dai resultou que o presidente da republica José Eduardo dos
Santos nessa altura ele próprio constituísse a volta de si um Gabinete de Reconstrução Nacional para
acompanhar portanto o processo de recuperação do território em todo o pais, os chineses fizeram o seu
trabalho, mas depois a manutenção o acompanhamento, quer nos caminhos de ferros, quer nas estradas,
quer nos hospitais tudo isto não se criou as condições e hoje os mesmos hospitais estão a ser recuperados
as mesmas estradas estão fechadas hoje, já não se pode passar ainda ontem eu estive a ver creio que nesta
região do Uíge ai kimbele para já a vias que estão cortadas mesmo já porque os caminhos já não se pode
passar, quer dizer este esforço todo tem que ter acompanhamento e depois o colono construía estradas
pensando no tempo da sua duração, nos estamos a construir estradas pensando nos dinheiros que vamos
encaixar e aquilo que nos vamos, para o inglês ver como se dizia no se seculo XIX (19), isso e para o inglês
ver e é a coisa, isto é assim, o Presidente João Lourenço pode fazer toda a coisa mas o aparelho do Estado
tem que ser restruturado na forma e tem que ter patriotas com uma outra mentalidade.
- Bom as questões do género em angola eu penso que angola não esta muito mal em termos de porque, nos
mesmo desde que o tempo colonial os outros países, esta e uma questão sociológica de divisão social do
trabalho os países africanos por onde eu já andei as mulheres são extremamente descriminadas, pelo menos
mesmo aqui na Republica Democrática do Congo a mulher é mesmo uma boneca para enfeitar para vestir
- Esta bem, uma questão que eu deixei para o fim e a última mesmo já e de propósito pese embora já
falamos um bocado sobre a questão da saúde, que alterações e que se verificaram nos últimos dois
anos na educação e na saúde?
- Bom, na saúde construiu se mais hospitais foram muitos hospitais entraram mais médicos também no
sistema fez-se um esforço não suficiente, mas fez se um esforço no domínio da saúde, no domínio da
educação nos a um tempo atras tínhamos fora do sistemas de ensino nas ultimas estatísticas eu ainda era
subdecano ou o diretor da faculdade de economia as estatísticas iam para 30%de crianças que não tinham
acesso ao sistema de ensino, hoje esse numero diminuiu quer dizer que ouve um esforço enorme para coiso
esta questão da recuperação da infra estruturas e tudo ajudaram a diminuição portanto disso, e depois
estendeu se muitas instituições de ensino, as universidades encontraram uma abertura muito grande, mas
qual é o aspeto negativo e eu sempre combati isto como deputado, o aspeto negativo da universidade privada
A minha opinião resume-se no facto de o país ser obrigado a caminhar para o sentido de implementação
das autarquias locais já que acaba sendo uma forma de consolidar a democracia, se olharmos na lógica da
descentralização política e administrativa.
Numa perspetiva comparada com os anos anteriores (entre 2010 a 2016) por exemplo, reconheço que houve
avanços significativos, não obstante uma ou outra situação pontual ainda assim, quero acreditar que se pode
fazer mais.
Do meu ponto de vista, falar da ação dos Tribunais e da Procuradoria Geral da República, diria que acabam
sendo vítimas do próprio sistema que vigorou durante muitos anos. Atualmente (era João Lourenço), tem-
se feito um esforço em adotar outro rumo o que, no meu entender continua a esbarrar nas dificuldades
trazidas dos anos anteriores.
7. Que opinião é que tem em relação aos órgãos de Defesa, Segurança e Veteranos da Pátria?
Relativamente aos órgãos de Defesa, Segurança e Veteranos da Pátria devo dizer que quanto aos dois
primeiros (Defesa e Segurança), continuam a ter a devida relevância e têm trabalhado conforme o contexto.
No que toca aos Veteranos da Pátria, penso que deviam ser melhor dignificados.
A estrutura das finanças públicas mantem-se do ponto de vista da sua alocação: pouca despesa para os
sectores da saúde e da educação, da agricultura e do apoio à atividade económica, preponderância para o
sector da Defesa e Segurança; concentração de receitas na presidência da república, bem como da gestão
orçamental; concentração da execução orçamental no poder central (85% do OGE) contra o poder local.
Desconcentração paliativa de verbas do PIIM (Programa de Investimento Integrado dos Municípios) e de
outros programas de luta contra a pobreza, como o Kwenda, e demagogias no que concerne ao orçamento
participativo (25 milhões de kwanzas).
12. Qual pensa ser o desfecho da política de repatriamento de capitais e recuperação de Ativos?
A grande maioria do capital ficará fora do país devido a sua origem duvidosa. Estes países que receberam
de bom grado o dinheiro vão agora aplicar as regras de compliance para o reter. Isto porque os visados não
querem dar o braço a torcer (não querem ser conhecidos) acham o roubo legitimo e o poder não quer mostrar
nem a magnitude nem as ligações do saque. Os procedimentos adotados pelo governo angolano acabarão
por denunciar a natureza ilegítima do capital que será por essa via apropriado pelo estado detentor. Uma
vez que a massa monetária é grande, tudo será feito para os capitais ficarem retidos, sobretudo em países
como em Portugal, onde o dinheiro roubado jogará grande papel no equilíbrio das finanças do próprio país.
A Banca é um meio de fuga de capitais e de uso impróprio dos depósitos que saem para financiar a
acumulação primitiva do capital. A economia não logrou um nível de sustentabilidade, de negócios
regulares, de regras com mitigação de riscos dada a natureza da sua origem. A Banca é um provedor,
alimentada pelos recursos estatuais e da empresa petrolífera. Com maior controlo internacional a Banca
agora, depois de ter permitido o crédito malparado, investe na fonte segura de retorno, isto é, em títulos de
tesouro, ou seja, em capital especulativo, ao invés de o fazer na economia, dado que a grande força
financeira é do estado. Por isto, não corre o risco de conceder créditos, a empresários sem instinto produtivo
e atreitos a despesas pessoais de luxo e sem projetos com critérios económicos de avaliação. A própria
Banca foi habituada a conceder créditos em função “das ordens superiores” e não na base do critério
económico. O sistema revolta-se contra si próprio e provoca a paralisação da economia. Sem crédito o
investimento resultante do autofinanciamento é diminuto, num contexto em que as grandes fortunas se
mantêm no exterior do país. Há inda um fator económico que inibe o crédito (nos dois sentidos quer da
Banca, quer dos próprios empresários) que são as elevadas taxas de juro. Isto só muda se a política
económica for suficientemente corajosa para baixa-la aos níveis inferiores à própria inflação.
A estrutura de partido estado limita a capacidade empreendedora dos cidadãos. A política do Governo não
foi para permitir o financiamento do empreendedorismo, mas financiar aqueles que podem ser fonte do seu
próprio financiamento partidário. Alimentou o dinheiro macho que dificultou a justa aplicação dos mesmos
para a criação de riqueza e para cumprimento da sua função social. Os fundos para a o incremento das
condições ambientais para o desenvolvimento económico e os capitais estão concentrados na atividade
petrolífera e diamantífera (economia de capital intensivo). Não há uma perspetiva coerente de crescimento
organizado e sustentável das pequenas e médias empresas, nem do sector agrícola onde o estado de forma
Grupo III
aspetos sociais
No período em que vivemos da Covid 19, são duas situações bastantes complexas já que o binómio emprego
vs. desemprego, têm tirado o sono de muitos governos. Para Angola em particular, apesar de o esforço que
o executivo angolano parece estar a fazer, penso que os sinais de redução do desemprego serão a médio
prazo pois, existem determinadas variáveis que não dependem do governo como é o caso dos investimentos
estrangeiros que seria um up grade no que se refere ao emprego.
16. Da observação que faz a situação da fome e da pobreza, qual será a evolução nos próximos
6 meses? Tem alguma ideia de como se pode ultrapassar esta mal?
O que posso dizer em relação a situação da fome e da pobreza é que, com o aproximar da realização das
eleições em 2022, o governo vai concentrar maiores recursos para acudir a situação aliás, as experiências
anteriores empurram-nos para este cenário. Penso que este mal pode ser ultrapassado com a conceção de
políticas públicas mais realistas e não com medidas paliativas.
17. O que pensa sobre as ações que têm sido implementadas nos setores da agricultura, pescas e
indústria?
Penso que vêm tarde. Ainda assim, é necessário que a atenção que se está a dar nesses sectores sejam
contínuos já que continuam a ser sectores extremamente estratégicos para o país e que em grande medida
contribuiriam para a redução do desemprego.
Avaliação que faço é negativa pois continuam com as mesmas dificuldades de anos anteriores, precisa-se
de um investimento mais responsável e realista.
É um assunto que cada vez mais vai ganhando relevância na sociedade angolana, principalmente para as
gerações mais jovens e instruídas.
Relativamente a justiça distributiva e social em Angola, creio que precisamos aprender mais para pô-la em
prática, principalmente os gestores públicos.
Pelo facto de Angola assumir-se como um Estado laico, a liberdade de culto e religião tem-se feito sentir o
que nalguns casos obriga a intervenção do próprio Estado devido alguns excessos por parte de determinados
grupos religiosos.
22. Na sua opinião, que alterações se verificaram nos últimos 2 anos na educação e saúde?
Em função da situação pandémica que assolou o mundo e em particular Angola, penso que não houve
alterações de relevo pois, as situações vivenciadas nesta fase, têm indicado que continuamos com um
caminho longo por percorrer.
Muito. Obrigada por me ter recebido, mais uma vez agradeço gostaria que se identificasse por favor.
Eu sou Benedito Daniel Presidente do Partido de Renovação Social PRS.
Muito obrigado Sr. Presidente nos gostaríamos de saber qual e a opinião que o PRS tem em relação
as promessas do presidente João Lourenço sobre a impunidade a corrupção e o nepotismo.
Bom o Presidente João Lourenço na verdade tem tentado combater a impunidade o nepotismo e a corrupção,
mas acontece que ele já encontrou um sistema minado. significa dizer que o sistema e todo corrupto, sistema
e todo aquele que este caracterizado pela impunidade, que este caracterizado pelo nepotismo, e ate mesmo
indivíduos que circundam o próprio presidente estão enfermos dessas situações. Tem se feito alguma
educação ou alguma correção nestes indivíduos, mas que há nosso ver não surte assim bons efeitos e nos
temos até certo ponto algum sentimento de vermos que o presidente esta combater por tanto estes
fenómenos sozinho , mas de qualquer das formas e um processo que esperamos que as pessoas vão
engrenando nele paulatinamente a impunidade em si esta tem sido combatida porque como existem algumas
formas de ser combatida achamos que esta a diminuir mas o nepotismo nem tanto, o nepotismo apenas esta
a mudar de forma tempos atrás o nepotismo era de praticado de uma forma aberta mas agora parece nos
que e praticado já de forma fechada mas não podemos aferir aqui que desapareceu ainda não desapareceu
em muitos ser comuns dos órgãos de administração do estado ainda se continuam a praticar o nepotismo
mas como não e de forma aberta entretanto as pessoas não vêm a corrupção tem sido combatida mas
também de uma forma que nos não achamos justa porque a corrupção precisa de ser combatida agregando
a ela outras formas de corrupção outras formas que podem ajudar deixar se que a corrupção seja combatida
apenas nos meios judiciários não e um bom método . não e um bom método porque este metendo torna se
mas elitista mas a corrupção não é problema das elites apenas a corrupção começa mesmo aqui em baixo
nas classes sociais mas baixas e enquanto não se combate a corrupção nas classes sociais mas baixas apenas
se combate ao nível das elites estamos combater a corrupção a nível das elites mas ela esta florescer no
nível mais baixo .
SR. Presidente em relação a consolidação da democracia também é uma promessa que ele fez disse
que ia consolidar e estabilizar acha que há avanços neste período da sua governação.
Não creio. não creio porque há consolidação da democracia tem que passar por alguns parâmetros por tanto
uns dos parâmetros mais importante e a livre expressão das pessoas eu não posso acreditar que os angolanos
tenham uma livre expressão porque existem várias dificuldades essencialmente com a nossa imprensa
mesmo certos órgãos as pessoas não podem expressar livremente. aquilo que eles desejam ate certo ponto
a expressão de ideias contrárias aquilo que o poder professa torna se crime aqui em angola nos os políticos
por exemplo que as vezes pensamos o contrário mesmo que ainda não pensamos o contrário temos imensas
dificuldades de passarmos as nossas palavras os nossos pensamentos nos órgãos de comunicação social
públicos e muito difícil nos aparecermos ao menos portanto que essa ideia seja dos próprios órgãos mas
senão e extremamente difícil as atividades dos partidos políticos da oposição exceto algumas nos por
exemplo na qualidade de partido de renovação social sentimos muitas dificuldades de passarmos as nossas
atividades nesses órgãos públicos e o que acontece e que as vezes em todos os acontecimentos ou todas as
realizações ou eventos que nos realizamos convidamos a televisão publica de angola, convidamos a tv
zimbo eles aparecem gravam tudo e nunca passam nada portanto estas gravações simplesmente vão para
serem analisados vão para serem estudados para depois contra por e entretanto não passar nada para o
angolano ver para os militantes do PRS verem que existe um outro partido com outros pensamentos .
Não existe isto, ainda esta por se concretizar eu acho que o presidente prometeu houve um período se calhar
de 3 ou 6 meses que nos ate esvamos a pensar que o paradigma mudou que nos haveríamos de viver uma
liberdade de imprensa de expressão e de opinião muito mas boa mas depois fecharam o circuito esta fechado
eu não posso aqui aferir doutor que existe liberdade de opinião ou a liberdade de expressão politicamente
e ventilado mas materialmente ou praticamente não existe.
E em relação aos direitos humanos em Angola acha que no mandato do Presidente João Lourenço
houve uma evolução, a respeito ou nem por isso?
Agora mata se mais gente do que antes eu posso dar o exemplo do que aconteceu em cafunfo por tanto em
cafunfo pessoas foram mortas simplesmente porque estavam a manifestar e a exigência era Água, Luz,
emprego, saúde e estrada. mas, entretanto, foram mal interpretados foram considerados de independentistas
divisionistas, portanto todos os nomes possíveis lhes foram dados e ai foi uma chacina que se perpetuou
tanto e que o próprio governo nunca assumiu e nunca pelo menos trouxe ao público o verdadeiro números
das pessoas que ai tinham sido chacinadas falou se apenas em 6 cidadãos enquanto o numero e a para muito
alem de 70 indivíduos e não se pediu pelo menos alguma desculpa aquela população ou se justificar que
tinha sido por erro e não só nesta parcela das lundas que onde mais se viola os direitos humanos creio que
e nas lundas e em cabinda nunca passou um dia sem morrer alguém e os indivíduos que matam que são das
tropas de interversão rápida das forças armadas irregulares da policia nacional nunca são responsabilizados
portanto matam e ninguém diz nada não há procuradoria não há tribunal na há nada e se haver procuradoria
e do povo nunca vai haver procuradoria da aquele que esta ao serviço do estado daquele que defende o
estado por tanto para nos achamos que não há apesar de luanda mesmo em luanda nas suas manifestações
também viu a ser reprimida com força muito desproporcional na então não podemos dizer que evolui
alguma coisa.
E em relação a procuradoria-geral e os tribunais já que tocou neste assunto acha que na era de João
Lourenço trabalham melhor.
Ai sim os tribunais estão a melhorar em termos de sentença, mas ainda pecam em termos de atraso de
processo mais isto e justificado segundo eles pelo número de magistrados e de juízes que tem se formos
haver os tribunais anteriores as sentenças eram políticas eram encomendadas algumas pessoas eram ate
sentenciadas com penas que nem sequer existiam no nosso código penal posso ate aferir aqui um exemplo
claro de José Calupeteca que foi um discedente da igreja adventista que estava em montanha a fazer as suas
orações por qualquer circunstancia colidiu com as forças de ordem e a ele foi lhe imputado crime por tanto
de morte de alguns elementos da policia nacional foi condenado a 35 anos a de prisão maior e ate ai esta
pena de prisão maior não existia no ordenamento penal do nosso pais portanto o código penal apenas previa
uma pena máxima de 24 anos e nos nunca soubemos onde e que o juiz tirou a pena de 35 anos portanto em
que artigo se baseou e compreendemos facilmente que foi uma encomenda politica mas agora não e tanto
agora não acontece porque realmente os juízes já baseiam se mas no direito e nos factos pelo menos já
condenam os réus segundo a prescrição do código penal já não a tanta interferência dos políticos ali
achamos que os tribunais estão a melhorar acho que há também uma certa fiscalização da procuradoria,
a procuradoria nos últimos anos tem fiscalizado muito os tribunais ali há situação esta a mudar embora que
haja muita coisa que devem ser mudada porque os tribunais não têm condições de trabalho principalmente
nas províncias o números de juízes e muito reduzido este sector ficou muito fechado durante muito tempo
eles elitizaram o sector não porque não haja juízes muitos no desemprego o sector foi muito elitista assim
como procuradores também estão no desemprego porque o sector era elitista portanto tinha que passar por
processo políticos para se chegar ate la e isso fez com que o sector apresentasse as insuficiências que tem
agora mas que esta a melhorar este sim esta a melhorar.
Muito bem, e as autarquias locas também o é um processo que prometeu efetivar como é que estamos
quanto a isto?
As autarquias estão engavetadas. vai ficando difícil falar sobre as autarquias porque agora ninguém mas
fala delas era desejo do povo angolano e dos partidos políticos para que as autarquias fossem realizadas
Angola tem um numero muito elevado dos veteranos da pátria tudo porque a guerra em angola durou muitos
anos e como muitas etapas nos tivemos uma guerra de libertação do colonialismo com aproximadamente 3
exércitos e nos tivemos outra guerra que se enquadrou na chamada guerra civil que durou tantos anos com
aproximadamente 2 exércitos e não houve controlo desses exércitos ou das pessoas que combateram e que
depois saiam das forças armadas a maioria destes elementos estão abandonados muitos deles ate foram
bons oficiais nas forças armadas adstritas mesmo ao MPLA que são as FPLAS outros foram bons nas
FALA outros foram bons na ELNA mas estão abandonados todos os esforços que foram feitos nestes
sentidos para que estas pessoas fossem recuperadas caíram na corrupção o que aconteceu e que tanto a
caixa social como o ministério o antigo ministério dos veteranos de guerra antes ser a cupulado ao ministério
da defesa uns metiam familiares que nunca combateram familiares que não tinham idade não havia
averiguação possível foram enchendo a caixa de segurança do exercito foram enchendo o antigo ministério
dos antigos combatentes e aquelas pessoas que realmente deveriam estar na aquela caixa portanto nunca
estiveram e um serviço teórico não podemos não podemos dizer que e pratico porque ainda não vimos
resultados deste trabalho tem sido feito pelo ministério da defesa de um recadastramento. têm recadastrado
as pessoas no sentido de expurgar esses fantasmas que encheram a caixa social para que possam realmente
entrar na caixa social a queles que têm o direito de ai estar mas este trabalho tem se revelado muito difícil
porque em cada estancia os contornos são muito difícil e ate agora ainda não se conseguiu avançar com
este processo as coisas continuam na mesma para além disto eu próprio não sei como e que podemos chamar
aquilo se e subsidio ou vencimento que se da ao antigo combatente, nos queremos copiar o que se faz na
américa um capitalismo muito rápido mas o antigo combatente americano vive bem isto nos não queremos
copiar pagamos 20.000 00 há um antigo combatente há um veterano da pátria que pode ter por ai 8 filhos
9, 10 ainda que tenha 5 não consegue meter o filho na escola, não consegue comprar caderno para o filho
portanto estas pessoas vivem sem dignidade muito difícil acreditar-se que estas pessoas deram toda sua
mocidade fizeram tudo para um pais que hoje se diz independente democrático.
Muito bem de facto. outra questão que também prometeu e que ia trabalhar muito para que a
mobilidade na CPLP fosse um facto, acha que o presidente tem estado a se empenhar neste aspeto?
Há nível internacional sim a nível internacional acho que o presidente tem se empenhado porque angola e
um pais que estava esquecido no concerto das nações angola durante muitos anos não tinha ninguém na
união africana e se tivesse só era um tradutor se calhar um secretario que estaria em níveis muito baixo na
própria CPLP não tinha nada na própria SADC também não tinha e um dos problemas que pairava sobre
angola era o problema de línguas porque os angolanos confinaram se muito em português apenas era difícil
encontrar quadros angolanos de gabaritos que pudessem ser de langues pelo menos que dominassem o
inglês ou dominassem o francês portanto eram situações muitos difíceis foram marginalizados por causa
disto mas depois que começaram a superar estava sendo difícil eles puderem realmente chegarem a lugares
sinérgicos mas agora em pouco tempo acho que ele conseguiu superar isto porque já temos mesmo quadro
ao nível da SADC e quadros mesmo com boas posições temos também ao nível da CPLP temos ao nível
da UNIÃO AFRICANA pelo menos já estamos a contar ai com 2 pelo menos da Josefa saco mais um outro
temos agora o antigo ministro das Relações Exterior que agora esta na africa caraíbas e pacifico ex.
secretario geral ali esta a se dar passos esta a se dar passos porque em menos de 3 anos conseguiu se colocar
os angolanos também nestas organizações internacionais não só na SADC mas também em outras
Muito bem vamos fugir um bocado para as questões económicas, também disse que ia impulsionar o
crescimento económico do país há resultados?
O fracasso e total o critério que se tem adotado e um critério que vai impulsionar se calhar mas também
não soubemos quando vai impulsionar a economia do pais mas iremos voltar nos critérios do passado em
que esta economia vai ser impulsionada mas que nunca ira se refletir na vida das populações ai o presidente
começou já a navegar contra a mare quando ele herdou o pais , o pais praticamente foi saqueado segundo
ele tanto não encontrou dinheiros aqueles que estavam a investir foram todos porque o pais era corrupto os
ricos angolanos nunca investiram no pais a maioria das industrias eram estatais foram completamente
abandonadas os parques industrias que estavam a ser em angola paralisaram totalmente que não eram muito
portanto e só em luanda e bengo, Huambo mais ou menos Huíla o resto do pais não tem absolutamente
nada mas na tentativa de se poder trazer investidores para angola este processo não foi rápido não foi rápido
porque a COVID impediu e tinha que passar por alguns processos os primeiros tinham que retificar as leis
para fazerem leis favoráveis aquelas leis que fossem atraentes para trazerem os investidores em segundo
lugar tinha que se vender as fabricas as industrias e o processo de vendas ainda continuam também nunca
esclareceram quem esta a comprar essas fabricas e quando poderão funcionar e tudo ainda esta parado pensa
se em reativar a macro economia mas a macro economia não vai trazer o bem estar para as populações
como nunca trouxe em nenhum pais nos podemos pensar industrializar o pais mais industrializar o pais não
e fator do bem estar social ai nos criticamos porque estamos a ver pogramas que estão a começar nos ramos
ou nas folhas para depois descer enquanto deviam começar no tronco as micro pequenas e medias empresas
desapareceram tanto por conta da COVID ou mesmo por conta das dificuldades financeira porque o poder
de compra das pessoas caiu drasticamente ninguém tem mais dinheiro para sustentar estas pequenas
empresas e a situação esta muito drástica para a população mas eles começam a pensar em grandes
industrias o que vai a acontecer e justamente que essas industrias vão existir vão produzir um telefone este
telefone vai ser caro e o angolano não vai ter dinheiro para comprar aquele telefone embora que ele vai ser
produzido aqui vão trazer uma industria de trator a industria de trator vai fornecer trator e o angolano não
vai ter dinheiro para comprar porque e o angolano que não tem dinheiro e o resultado ou o investidor vai
exporta esses materiais que fabricam para o seu pais ou vai arranjar um país qualquer onde vai vender e
não vai ser em Angola por tanto, é aí onde é reside o problema mas não se avançou em nada agora embora
que os angolanos já venham a viver mal a situação piorou ene vezes porque é muito difícil ver pessoas que
podemos considerar sã a viver do lixo hoje muita mamãe muitos papas mães com crianças vivem do lixo
eles fazem acampamentos nos contentores de lixo esperando as pessoas que vêm botar(deitar) o lixo para
daí aproveitarem qualquer coisa para comer mesmo as pessoas que trabalham hoje têm uma refeição por
dia e as vezes essa refeição é apenas pão, por tanto, o tecido industrial não existe, está todo ele degradado,
as pequenas e microempresas não existem por conta do Covid foram despejados ene ou centena de pessoas
ou milhares de pessoas para o desemprego. O desemprego aumentou muito mais para além daqueles que
eles próprio vieram a criar porque o sistema criou desemprego. Nós, há muito vínhamos alertando que
estava a se criar desemprego de forma desnecessária, mas ninguém se preocupou em oferecer o emprego
as pessoas, agora toda a atenção está em revitalizar a macroeconomia muito bem. mas o governo pensa que
tem que haver a macro- economia para haver muitos impostos para poder distribuir bem a renda nacional
porque o governo não pode distribuir aquilo que não tem, mas as pessoas não vão viver apenas dos impostos
o que o estado vai cobrar.
Já que tocou nisso acredita que a fome e a pobreza que se nota como…nos últimos 6 meses não
fizeram nenhuma evolução produtiva
R: não está a se multiplicar porque combater a fome e a pobreza temos que ter foco, temos que ter
comunidades bem identificadas aí é onde nós vamos saber que há fome é aí onde nós vamos combater mas
se tivermos que ter todo a população faminta não podemos dizer que estamos a evoluir o problema é que,
eles podem preocupar-se . com o Cazombo onde tem focos de pessoas bem identificadas que estão a passar
fome mais aqui em luanda também tem endividou aqui em Luanda a passar fome que ninguém conhece
que não foram identificados ou se calhar ninguém está preocupado com eles é o que está a acontecer,
podemos levar o kwenda no Uíge, num município que podemos identificar que há fome Mas aqui no Cuanza
Enquanto já falou aqui que o presidente encontrou os cofres vazios como é que acha que estamos nos
últimos 2 anos as finanças públicas no país?
R: finanças públicas do país não melhoraram! Porque se tivessem melhorado haveria algum aumento dos
vencimentos da função pública algumas técnicas resultaram uma da técnicas que resultou é que os
vencimentos da função públicas eram sustentados com os dinheiros do petróleo por tanto era o petróleo que
costeava as despesas públicas do estado a partir dos vencimentos até a outras despesas mas felizmente agora
já não é o caso, por tanto agora já se consegue ter o dinheiro dos impostos e só o dinheiro dos impostos e
só o dinheiro dos impostos já sustenta os vencimentos da função pública, nesta altura o petróleo subiu, o
barril de petróleo subiu, seria um momento em que Angola poderia voltar se calhar aquela altura de vacas
gordas por tanto por conta da subida do barril de petróleo, mais o que aconteceu é que por causa do corana
vírus a produção também baixou, Angola já não produz as mesma quantidades de petróleo dos anos
anteriores, isso está criar um transtorno e equilíbrio, não podemos falar de equilíbrio porque a dívida ainda
é enorme de Angola tanto a Dívida interna e externa ainda persiste o que existe é que tem sido amortizada,
mas ainda não chegou nos níveis que podemos considerar que são mas ou menos aceitáveis, nesta área tem
havido alguns esforço mas ainda não existe equilíbrio, não podemos falar de equilíbrio o esforço sim
podemos reconhecer os exercícios que tem vindo a ser feito, mas equilíbrio como tal não existe porque as
pessoas estão apertadas não ganham nada e o estado não sabe como poder compensar o esfoço dos
trabalhadores porque não tem dinheiro
E o repatriamento de capitais e os demais e a recuperação de activos que prometeu, como é que está?
R: Essa situação nos deixa alguma dúvida, de um tempo a esta parte a procuradoria tem anunciado os
dinheiros que tem sido recuperados ao nível do exterior mas o presidente da república dizia que é gota de
água no oceano, em relação o dinheiro e os meios que essas pessoas tem, por tanto tudo o que está a voltar
para o país é uma gota de água no oceano porquê! porque é a maioria dos angolanos quando empreenderam
nesses países encontraram países com leis diferentes, e nós já prevíamos isso, alguns associaram-se aos
nacionais daqueles países, de formas que o estado angolano não teve o cuidado levou o processo muito
apressado, não teve o cuidado de estudar memorizadamente a situação de cade país, em muitos países
quando se tentou esse repatriamento, o capital e os meios reverteram-se ao sócio nacional desse país e por
tanto é que rápidos ao sócio nacional daquele país e por tanto o que aconteceu é que, é Angola que ficou a
perder, e é o angolano que ficou a perder existiram mesmo casos em que é o estado daquele país é o caso
de Portugal que ficou com as empresas do angolano, por tanto um julgamento alhas, um decreto da justiça
sem nenhum julgamento você produziu essas riquezas no nosso país e por tanto a riqueza foi adquirida de
forma desonesta então reverte-se ao estado Português ou Argentino, coisas dessa natureza tudo que tem
voltado para Angola são partes exíguos que deviriam ser dinheiros que estavam em alguns bancos ou meios
que eram propriedade dos angolanos isso sim, mais são dinheiro insignificantes. hoje por exemplo a
procuradoria dizia que o dinheiro dos angolanos com processos na procuradoria ronda por aí em cerca de
mil milhões de dólares mais é uma gota no oceano porque mil milhões de dólares era só dinheiro de
angolano, e por tanto é esse dinheiro que vai voltar para o país para cobrir os processos de ene angolanos e
angolanos não está a ganhar muito com isso, a única coisa que provavelmente vai ganhar é só distinguir a
corrupção mas pensarmos que esses capitais vão servir o país não, não são significativos.
Estamos ainda em promessas, aí sim, porque vai haver mais empresas porque o parque industrial de Luanda
está completamente vendido, uma ou outra empresa que falta por ser vendido e ainda têm vindo empresários
que querem construir as suas infraestruturas em Angola, acho que o corona vírus como é uma situação
internacional é um fator de impedimento nessa perspetivas se não houvesse o corona vírus aí sim porque
as leis mudaram substancialmente e elas mesmo são favoráveis aos estrangeiros aí também não
concordamos completamente porque nós achamos que atracão de investimento também devia contribuir
E as questões dos transportes públicos, as redes viárias e ferroviárias como é que estão?
R: Bom… Também estão nas mãos dos estrangeiros partindo mesmo da capital. Os transportes públicos
pertencentes a angolanos seria a TECUL que é estatal, a MACON que é privada, a TURA que já está a
suspirar, por tanto está na fase do seu desaparecimento e são essas grandes empresas. Nas províncias
existem autocarros de pessoas, não existem redes, por tanto rodoviárias não existem e há alguns estrangeiros
por tanto que tentaram desenvolver esse ramo de atividade, como: ANGORREAL mas que agora está na
beira da falência por causa do Corona vírus já despediu metade dos trabalhadores agora está em via de
despedir outra metade, não pode fazer porque não tem como indemnizar esses trabalhadores por tanto o
corona vírus já está….ja não tínhamos uma rede rodoviária sustentado e contestada mas com o corona vírus
os problemas aumentaram e porquê! isso tudo se deveu a centralização e porque as redes rodoviária estão
mais centralizadas aqui na capital tudo que existe nas províncias é alguma extensão da mesma MACON
que está do mesmo ANGOREAL que está aí na beira da falência já despediu metade dos trabalhadores
agora está em via de despedir outra metade não pode fazer porque não tem como indemnizar esses
trabalhadores e por tanto o Corona vírus também já está a,,, já não tínhamos uma rede rodoviária
sustentável , …. Mas o Corona vírus os problemas aumentaram e porquê! Isto se deveu a descentralização
e porque as redes estavam, mas centralizadas aqui na capital. Tudo que existe nas províncias é alguma
atenção apenas da mesma MACON que está aqui mesmo a ANGORREAL que está aí nós podemos
encontrar uma rosalina que está aí tem um ou 2 autocarros como por exemplo a MORVIC EXPRESSES
não podemos falar da rede rodoviária por tanto um número de autocarros para transportar pessoas. Agora a
rede ferroviária é a mesma coisa. Nós ouvimos de comboio que chegaram a Benguela porque se tivéssemos
que ter uma rede ferroviária mais desenvolvida é mesmo é o caminho de ferro de Benguela que tem mais
R: Bom aí tem havido evolução porque acho que é uma preocupação do executivo tendo em conta que
mesmo nos partidos políticos, os partidos políticos têm lutado para observar essa situação não se tem 50%
de senhoras mas pode -se chegar a 20, 30%, aquí mesmo na Assembleia também tem sofrido uma luta para
ver se observado muita luta para ver se algum dia se possa chegar 50% de senhoras e 50% de homem mais
a percentagem tem aumentado até mais ou menos 30% por aí. No Governo o esfoço também tem sido feito
para se colocar algumas governadoras provinciais, algumas Ministras. Aí tem-se feito algum esforço estou
a increr que o partido que governa como o próprio presidente assumiu compromisso que vai fazer validade
no próximo congresso para haver 50% de homens e 50% de mulheres daí poderão vir mulheres que poderão
preencher outras vagas ao nível de outros órgãos de administração do estado para compensar, aí está a se
fazer passos.
E a justiça distributiva social, acha que a riqueza nacional tem sido bem repartida nos últimos
tempos?
R: aí não, as assimetrias e eu já disso isso várias vezes mesmo na Assembleia Nacional começam na própria
distribuição do orçamento geral do estado. Mesmo nós como deputados e eu já fiz também essa pergunta
várias vezes, não sabemos quais são os critérios em que se baseiam para a elaboração do Orçamento geral
do Estado, não sabemos se o critério é a população se o critério é o nível de desenvolvimento que uma
província tem, se o critério é o grau das necessidades que uma província tem! Não conseguimos entender
isso, o que podemos aqui afirmar é que as províncias quase têm um orçamento de instante, os que recebem
mais recebem sempre mais dão aqueles valores mesmo ainda que subir um bocadinho é um valor
aproximado, os que recebem menos sempre recebem menos se aumentar um bocadinho é uma percentagem
mínima os que fazem maiores realizações são as mesmas províncias com maiores realizações. As províncias
com menos realizações são as mesmas e ali vem um problema, por tanto quando as receitas não chegam
não se tem receitas para se fazer muitas despesas e esse é o resultado das assimetrias e o mas doloroso é
que existem províncias que produzem riquezas posso falar, a províncias do Zaíre, que produz petróleo mais
que não tem nada tirando a energia agora que é resultante das centrais térmicas do resto não tem nada as
Lundas com os Diamantes são matas se aí nós queremos mostrar algo emblemático que seja de África, é lá
onde podermos tirar uma foto e mostrar a um Europeu essas pessoas ainda vivem a vida do século 12(XII)
ou no século não sei quê não conhece uma televisão qualquer. Na aldeia não podemos falar de luz, a água
potável, não podemos falar em nada e as vezes a mina de diamantes vem para derrubar a casa dele e dizer
que ele tem que sair para dar mais 10 metros para construir a sua casa a 10 metros e nem se quer sabe como
vai construir a sua própria casa porque vai ter que tirar aquelas chapas que já furaram para colocar
novamente naquela casa e aquele que lhe disse que você tem que deixar aquele lugar colocar porque
é……para você …. Nem se quer se digna em dar-lhe as chapas por tanto não podemos falar de boa
distribuição de renda nacional, isso não existe.
R: Liberdade de culto e religião sim, esta situação por mais mecanismos que eles procuraram encontrar não
se conseguiu travar porque queriam regular é as igrejas ou as denominações religiosas, mas a verdade é que
a maioria funciona. Eles também encontraram um mecanismo de funcionar, aí não se conseguiu travar
ninguém e tem graça que mesmo as denominações que não são reconhecidas pelo Estado funcionam na
mesma aí a lei não é rígida ninguém fiscaliza para dizerem que não podem funcionar, podemos falar da
igreja Islâmica que não é reconhecida mais todas as mesquitas ao nível do pais funcionam há outras
denominações. A denominação que mais prolifera é a pentecostal e bom Deus, que tem igrejas por todos
os lados mais funcionam, comentário Dr. Benguela: E as vezes o estado até, não digo o estado, os partidos
políticos servem-se dessas denominações para fazer passar a sua mensagem.
Servem-se e incentivam, aí não podemos dizer que há problemas, aí acho que é uma situação sensível. Está
bem, uma questão que eu deixei por fim, é a última.
R: A saúde sim, a educação está em destaque, na saúde podemos dizer que há alterações, não há alterações
de nos termos uma saúde humanizada, por tanto aquela saúde com bom atendimento, aquela saúde possa
ser aceitável onde o paciente vai encontrar medicamentos nos hospitais , não existe, mas as melhorias
residem apenas nas infraestruturas em pouco tempo construiu-se várias infraestruturas de saúde e de
qualidade portanto, há algumas especialidades que eram muito cadente em angola por exemplo como
especialidades de hemodiálise eram muito difícil em angola, as pessoas iam para os estrangeiros para fazer
a hemodiálise e se não estou em erro, ao nível de angola havia dois centros apenas e com insuficiência
havia um centro aqui em angola que era por tanto no Maria Pia e havia um em Benguela, por tanto todos
doentes do sul, tinham que vir para Benguela para fazerem a hemodiálise e as vezes não chegava as pessoas
eram obrigado as a ficarem três quatro meses a viver em Benguela por exemplo do Cunene do Lubango ,
Bié, era uma situação muito triste, mas acho que essa especialidade foi compensada , construiu-se alguns
centros de hemodiálise a nível do país, no Sul , no Leste, acho que ainda não se construiu no Norte alguns
hospitais também foram construídos no Bié, na Lunda Sul , um hospital que já durava muito tempo que
ninguém construía , isso foi feito, mas não é suficiente agora precisa-se construir mas hospitais , precisa-se
de se humanizar a própria saúde porque só a estrutura não dá saúde e já vimos casos no Cunene no LAU
em que o hospital do LAU é um hospital moderno bonito mas está sempre vazio ninguém vai lá ,as pessoas
vão para o Congo Democrático onde temos hospital do século 17 ou quê e se chega lá todos internados são
angolanos porquê, porque aqueles hospital apesar de ser moderno não dão saúde a ninguém não tem
medicamento, não tem médicos especializados preferem ir lá onde a estrutura é velha mas que saem de lá
com saúde. Em termos estruturais melhorou-se, hoje está a se melhorar mais em termos da humanização da
saúde, de assistência médica medicamentosa, continuamos na mesma as mortes são assustadoras, agora, na
educação ainda não se dei nenhum passo.
Está bem Sr. Presidente muito obrigado foi uma entrevista longa e prazerosa.