Artigo Jurídico

Fazer download em docx, pdf ou txt
Fazer download em docx, pdf ou txt
Você está na página 1de 7

PSICOPATIA E DIREITO PENAL: como enfrentar a psicopatia com o atual

sistema prisional brasileiro

PSYCHOPATHY AND CRIMINAL LAW: how to face psychopathy with the


current Brazilian prison system

Karla Tairyny Maia Leite de Oliveira

RESUMO

A psicopatia, também conhecida como transtorno de personalidade


antissocial, proporciona ao portador um elevado grau de crueldade devido a sua
deficiência cerebral, que não pode ser considerada doença da mente, pois, sabe
assimilar o certo do errado, porém tem esse defeito no caráter que o torna
criminoso, podendo ser percebido pelos seus atos criminosos, analisando cada
etapa do crime cometido pelo agente. E a falta de uma legislação específica no
Brasil para os psicopatas mostra que a justiça no país não sabe lidar com os
portadores do transtorno, deixando a cargo dos juízes decidirem se eles são
imputáveis ou semi-imputáveis. E essa abertura no ordenamento jurídico só
dificultando a ressocialização do preso comum, como também os tornam vitimas
fáceis, para assim serem manipulados dentro do estabelecimento prisional para
fazerem o que o psicopata quer, isso pode trazer serias consequências. O psicopata
não se arrepende dos crimes cometido, fazendo com que a pena não tenha efeito
sobre ele.

Palavras-chaves: Psicopatia, estabelecimento prisional, imputabilidade,


culpabilidade.
ABSTRACT

Psychopathy, also known as antisocial personality disorder, provides the


patient with a high degree of cruelty due to his brain deficiency, which cannot be
considered a disease of the mind, because he knows how to assimilate right from
wrong, but he has this defect in the character that makes him criminal, being able to
be perceived by his criminal acts, analyzing each stage of the crime committed by
the agent. And the lack of specific legislation in Brazil for psychopaths shows that
justice in the country does not know how to deal with people with the disorder,
leaving it up to the judges to decide whether they are imputable or semi-imputable.
And this openness in the legal system only hinders the rehabilitation of the common
prisoner, but also makes them easy victims, so that they can be manipulated within
the prison to do what the psychopath wants, this can have serious consequences.
The psychopath does not regret the crimes committed, making the penalty have no
effect on him.

Keywords: Psychopathy, prison establishment, imputability, culpability.

1 INTRODUÇÃO

Vemos Atualmente no Brasil um crescente número de crimes bárbaros


cometidos com um elevado grau de crueldade, que chocam cada vez mais a
sociedade, tais crimes são cometidos por pessoas que aparentemente não
demonstram nenhum nível de arrependimento ou remorso.
A maioria desses criminosos são portadores de algum tipo de transtorno
como a psicopatia, também conhecida como transtorno de personalidade antissocial,
onde o portador reconhece o bem e o mal, porém não consegue ter empatia ou
algum tipo de sentimento com as dores ou sofrimento da sua vitima. Veremos ao
longo do artigo a personalidade fria dessas pessoas.
Esse artigo vem justamente mostrar o discernimento do psicopata, sua falta
de sentimentos e frieza extrema, apresentar também depois de algumas pesquisas
exploratórias um instrumento que avalia o grau de risco deste agente e seu índice de
reincidência criminal.
Avaliar como é feito o diagnostico do transtorno e sua importância, para assim
definir o nível de psicopatia, ver que existem vários graus, mas que todos os
indivíduos independente do grau, tem grande poder de persuasão, inclusive sobre
outros criminosos não portadores desse défice de caráter.
Discorrer também sobre a omissão do Estado e de todo o ordenamento
jurídico brasileiro em fase da responsabilidade penal do criminoso e de seu lugar no
estabelecimento prisional, tal como sua imputabilidade ou semi-imputabilidade, que
é deixada a cargo da interpretação do juiz sob o caso concreto, que na maioria das
vezes não são eficazes.
O objetivo principal desse artigo é trazer alguns aspectos que mostram o risco
do psicopata conviver em um ambiente carcerário junto com os presos comuns,
podendo assim usar da sua malicia e falta de caráter para persuadir outros presos
assim dificultando a ressocialização do preso não portador do transtorno, como
também apontar que tais indivíduos sempre reincidem, pois não demonstram e nem
possuem nenhum remorso, compunção ou arrependimento.
Expor a ideia de que deve-se identificar tais criminosos com o instrumento
que avalia seu grau de risco, chamado de escala Hare, para assim serem separados
no ambiente prisional, criar-se uma nova legislação juntamente com um novo
sistema prisional, para julgar e deter separadamente os criminosos com esse defeito
de caráter de forma perpetua, tendo em vista sua facilidade de burlar todo o sistema
de exames criminológicos para terem benefícios e progressões de pena, e visando
também a impossibilidade de ressocialização de tal individuo, pela sua total falta de
sentimentos, eles sempre reincidem.
A teoria unitária da pena adotada pelo direito penal brasileiro tem a finalidade
de prevenção, ou seja, a pena serve para prevenir ou evitar que o crime seja
cometido novamente, o que não funciona para o psicopata, pois ele sempre reincide.
Essa teoria eclética adotada no Brasil também tem finalidade de retribuição
jurídica da pena, ou seja, a pena é uma forma de punição e retribuição ao criminoso
pelos seus atos ilícitos. O único objeto da pena é tão somente punir o agente pelo
seu crime, e assim devem ser as penas para os psicopatas, já que eles tem esse
défice de caráter e não se permitem sentir qualquer tipo de emoção ou outros
sentimentos a qualquer seres humanos e por isso são capazes de cometer crimes
tão aterrorizantes, eles nascem com essa deficiência e irão morrer com ela, eles são
maus por natureza própria, é um transtorno que não há cura e nenhum tratamento
capaz de amenizar essa falta de sentimentos.

2 ASPECTOS DA PSICOPATIA
Em meados dos anos 1600 Pablo Zacchia foi o primeiro a tratar da psicopatia
e já daria algumas significações para os transtornos, de lá pra cá muitos
historiadores e psiquiatras vem estudando essa patologia, mas só em 1961 que o
conceito de psicopatia se aproximou da realidade quando Kaparman disse que
dentro dos psicopatas há dois grandes grupos: os depredadores e os parasitas. Os
depredadores seriam aqueles que conseguem o que quer pela força e os parasitas
conseguem através de astucia e engodo.
A palavra psicopata tem origem grega onde Psiké significa mente e Pathos
significa doença, onde em tese seria uma doença da mente, o que poderia ser
qualquer perturbação mental, instabilidade emocional ou incapacidade de controlar
certos impulsos, e isso da margem a muitas interpretações erradas, pois dentro da
psiquiatria, a psicopatia se define como um transtorno de personalidade, que pode
ser uma lesão cerebral, ou outra afecção que tem como consequência uma
disfunção no cérebro.
No cérebro do psicopata há um desprovimento de funcionamento do sistema
límbico que desempenha o papel principal em relação as emoções e sentimentos,
por esse motivo muitos se referem a ele como o painel de controle emocional do
cérebro. E a fata de atividade dessa parte do cérebro é o que faz do psicopata não
sofra de outros transtornos como de ansiedade ou depressão, pois está tudo ligado
ao que sentimos e o ele não sente nada, é uma pessoa fria e na maioria das vezes
cruel. A psiquiatra Silva (2010), afirma assevera que:

Eles vivem entre nós, parecem fisicamente conosco, mas são desprovidos
deste sentido tão especial: a consciência.
Muitos seres humanos são destituídos desse senso de responsabilidade
ética, que deveria ser a base essencial de nossas relações emocionais com
os outros. Sei que é difícil acreditar, mas algumas pessoas nunca
experimentarão a inquietude mental, ou o menor sentimento de culpa pu
remorso por desapontar, magoar, enganar oe ate mesmo tirara vida de
alguém. (Silva,2010, p. 27)

A psicopatia pode estar entre os transtornos mais difíceis de se identificar,


pois o portador muitas vezes pode parecer normal, encantador e até constituir uma
família, mas tudo não ira passar de uma encenação, pois tudo o que eles fazem e
todos as pessoas com que se relacionam é para obter poder, status e diversão.

2.1 Diagnostico

A psicopatia é caracterizada pelo alto padrão de desrespeito que o psicopata


tem pelo outro que se inicia logo na infância ou adolescência, que eu é um
transtorno genético e a criança nasce com ele. Segundo o Diagnostc and Statistical
Manual of Mental Sisorders (DSM IV) (2014, p. 662)

O diagnostico de transtorno de personalidade antissocial não é dado ai


individuo com menos de 18 anos e somente atribuído quando há historia de
alguns sintomas de transtorno da conduta antes dos 15 anos de idade. Para
indivíduos com mais de 18 anos, um diagnostico de transtorno da conduta
somente é dado quando são atendidos critérios para transtorno da
personalidade antissocial.

O primeiro passo para diagnosticar um psicopata é se atentar as sua


expressões corporais, pessoas normais quando mentem, geralmente apresentam
tiques no rosto, como piscar muito ou contorcer, já o psicopata mantem a fisionomia
calma e só usa expressões para controlar ou dominar a conversa. Pessoas normais
sob um momento de tensão ou estresse elevam o tom de voz e costumam discutir
de forma mais agressiva como também suamos e demonstramos descontrole, ao
contrario do psicopata que não demonstra irritação e mantem o tom de voz natural.
Para pessoas normais coceiras fora de hora, tique na perna ou nas mãos são
normais como sinal de ansiedade, mas para o psicopata não, eles sempre vão
permanecer relaxados.
É importante também lembrar que detectores de mentira ou outros aparelhos
que tem por base nossa frequência cardíaca ou terminações nervosas do cérebro
não iram funcionar para diagnosticar um psicopata, pois a mentira pra ele é comum,
então isso não ira alterar a sua pressão arterial, nem muito menos seus batimentos
cardíacos, pois ele não reconhece as ligações emocionais já que as áreas pré-
frontais do cérebro, onde rolam os julgamentos morais de maneira fria tem bastante
atividade, e a área responsável pelos sentimentos, culpa, remorso, etc, que é o
córtex frontopolar, é nula na mente de um psicopata.

2.2 Escala Hare

Psychopathy checklist (PCL-R) é um método criado pelo psicólogo canadense


Robert Hare utilizado para identificação de psicopatas, principalmente dentro de
estabelecimentos prisionais, nesse instrumento é utilizado um questionário com 20
itens e sua pontuação geral varia de 0 a 40 pontos, onde cada pergunta é pontuada
por uma escala numérico de 0 a 2 pontos, onde 0 significa não, 1 significa talvez e 2
significa sim. Esse instrumento não pode ser usado como diagnostico para a
psicopatia, apenas para medir traços de personalidade e de comportamento, que
permite a identificação de pessoas com características particulares de um psicopata
e identificando assim sujeitos com maior índice de reincidência.
A nota de corte desse método segundo o psicólogo Canadense é em media
de 25 pontos, mas que pode variar de acordo com as características culturais de
cada país, porém, independente dos pontos de corte, se o individuo atingir uma
pontuação elevada, então ele tem sim uma alta probabilidade de reincidência, e
traços de psicopatia.
A escala Hare serviu de tese para o doutorado da medica psiquiatra Hilda
Morana, que traduziu o método para português e o avaliou detentos no Instituto de
Medicina Social e de Criminologia do Estado de São Paulo. Sua intenção era
identificar um ponto de corte, que ela ao final do experimento definiu que no Brasil
seria acima de 23 pontos, definindo os indivíduos que atingiram essa pontuação
como tendo um transtorno global de personalidade. Mas infelizmente o sistema
judiciário brasileiro ainda não está preparado estrutura e financeiramente para dar
continuidade a este e outros tipos de testes neurocientíficos, por esta super lotado
com vários processos sendo quase impossível da atenção a casos isolados.

3 RESPONSABILIDADE PENAL

Vimos que os psicopatas não são considerados doentes mentais nem muito
menos loucos, são seres completamente capazes de compreender suas ações e
incapazes de apresentar qualquer tipo de sofrimento, o que leva a maioria dos
agentes portadores desse transtorno a cometer atos criminosos que são
consequência de seu raciocínio frio e interesseiro.
Diante esses fatos Trindade (2009) afirma que:
Do ponto de vista cientifico e psicológico a tendência é considera-los
plenamente capazes, uma vez que mantem intacta a sua percepção que em
regra, permanecem preservadas [...] Por isso entendemos que além da sua
capacidade cognitiva, sua capacidade volitiva, em principio, também se
encontra preservada. (Trindade, 2009, p. 133)

Com a capacidade de diferir o certo do errado, o psicopata se torna ainda


mais perigoso, pelo fato de agir com tamanha frieza, crueldade e planejar seus
crimes pelos mínimos detalhes, na maioria das vezes querendo ver a vitima sofrer
ainda mais, e infelizmente com o passar do tempo o judiciário brasileiro não avançou
de nenhuma forma para uma punição especifica ou mais grave para esses
indivíduos que agem de forma perversa por mero prazer e para suprir suas
vontades.
O sistema jurídico-penal brasileiro ainda é muito omisso em relação a
responsabilidade jurídica do criminoso com transtorno de personalidade antissocial e
esse espaço vazio do legislativo tem levado a um impasse dos juízes, que por vezes
o condenam com imputáveis, fazendo assim eles pagarem suas penas em
cumprimento rigoroso com as normas secundarias previstas para o crime cometido.
E por vezes condenam como semi-imputaveis o que reduz de um a dois terços da
pena conforme determina o artigo 26 do código penal.

3.1 A Culpabilidade do Agente Psicopata

Para entender a culpabilidade do agente com transtorno de


personalidade antissocial, devemos entender quando se é considerado crime, para
assim entendermos o que é culpabilidade e quando um sujeito pode ser considerado
culpável.
O crime é caracterizado como uma conduta de ação ou omissão que lesiona
e coloca em perigo bens juridicamente relevantes, e penalmente protegidos, ou seja
só é considerado crime se a ação cometida contra o bem tiver relevância jurídica.
Já o conceito analítico do crime é formado por três elementos que são a
tipicidade, a antijuricidade e a culpabilidade:
a) O fato típico é o primeiro elemento de um crime, que nada mais é do que a
conduta que produz o resultado, ou seja, uma atitude voluntária do ser
humano se enquadra no tipo penal;
b) O fato ilícito ou antijuricidade são atos contrários as normas penais, os
atos ilícitos podem ser praticados com culpa ou dolo.
c) Para a culpabilidade o código penal brasileiro não nos traz um conceito,
então para defini-la temos que saber que ela é composta por três
elementos, que são a imputabilidade, onde é possível atribuir o fato típico
e ilícito ao agente, a potencial consciência que é a capacidade de
compreender que a conduta é ilícita, e a exigibilidade de conduta diversa
que se caracteriza pela possibilidade de agir conforme o direito. Sobre
este assunto Bitencourt (2003, p 14) afirma que:

A culpabilidade como fundamento da pena, refere-se ao fato de ser possível


ou não a aplicação de uma pena ao autor de um fato típico e antijurídico,
isto é, proibido pela lei penal. Para isto exige-se uma serie de requisitos
capacidade de culpabilidade, consciência de ilicitude, e exigibilidade da
conduta que constituem os elementos positivos específicos do conceito
dogmático de culpabilidade. A ausência de qualquer desses elementos é
suficiente para impedir a aplicação de uma sanção penal. (Bitencourt, 2003,
p. 14).

Assim vemos que o portador do transtorno de personalidade antissocial


quando comete um crime, se encaixa em todos os elementos que se exige para a
culpabilidade.

4 LUGAR DO PSICOPATA NO ESTABELECIMENTO PRISIONAL

Para nos aprofundarmos nesse assunto,

Você também pode gostar