Brasil 82 - O Time Que Perdeu A Copa e Conquistou o Mundo - Paulo Roberto Falcão
Brasil 82 - O Time Que Perdeu A Copa e Conquistou o Mundo - Paulo Roberto Falcão
Brasil 82 - O Time Que Perdeu A Copa e Conquistou o Mundo - Paulo Roberto Falcão
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© Paulo Roberto Falcão, 2012
Capa:
Gonza Rodrigues
Ilustrações:
Gonza Rodrigues
Diagramação:
Nathalia Real
Supervisão editorial:
Editoração eletrônica:
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Rua Valparaíso, 285 – Bairro Jardim Botânico
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PARECIAM MARCIANOS
SEMBRAVANO MARZIANI
Paolo Rossi
Jamais teria imaginado que Itália x Brasil 82 entraria para a história
indelével. Naquele dia eu me sentia forte como um leão e leve como uma
gazela; três gols, uma prova soberba. O meu primeiro gol foi o mais
personalidade.
SAÍDA DE JOGO
Se você não liga muito para este jogo em que 22 marmanjos passam
uma hora e meia correndo atrás de uma bola, brigam por ela e depois
saem de campo sem levá-la, talvez seja bom ler este livro para entender
mundo sem perder o encanto e sem deixar de ser amado por milhões de
pessoas.
popular do planeta.
Este livro tem muitos porquês. Um deles é: por que resolvi escrever
Ela olhou para mim e para o amigo que fez a revisão daquele primeiro
trabalho e disse:
– Já que vocês escreveram sobre o time que nunca perdeu, por que
várias reportagens sobre a nossa seleção. Então, concluí que era chegada
a hora. E que esse registro tinha que ser feito por alguém que viveu
de ouvir cada um dos que entraram em campo comigo para o jogo final
que não calou durante um só dia desse período: por que perdemos?
RECUO
jogamos.
Xavi e Iniesta, disse que sua equipe tinha semelhança com a Seleção
Brasileira de 82. Chego a pensar que nosso time era mais objetivo do
que o Barcelona, pois não demorávamos tanto tempo para buscar o gol.
Eram dois toques, no máximo, por cada jogador, e logo vinha uma
coletivamente. Isso foi alcançado nos treinos, nos jogos e com a visão de
italianos.
Telê insistia muito nisso. E fazia coletivo todo dia. Os jornais davam
amistoso na Itália (do qual vou falar mais adiante), consegui repetir com
esquece mais.
FAVORITISMO
para a Itália? Não vou responder esta pergunta agora. Nem vou
Por ora, quero lembrar alguns antecedentes daquele jogo que podem
parar de dar entrevistas. Por tudo isso, e pelos retrospectos, o Brasil era
considerado favoritíssimo.
Eu falei. E ousei dar até mesmo uma sugestão de ordem tática, que
não foi levada em conta. Talvez até pudesse ter feito a diferença para
nós, mas agora não adianta ficar fazendo suposições desse tipo. É mais
que Zico levasse o marcador para cima do Cabrini, que era um lateral
Mas a orientação inicial, de que Zico ficasse mais próximo do Scirea, foi
mantida.
Nunca se sabe.
Com Zico foi diferente. Eu pedi que ele saísse para receber, que a
gente tocava, mesmo com Gentile colado nele. Ele fez isso e recebeu a
bola várias vezes. Inclusive fez a tabela que deixou Sócrates na cara do
gol. E teve sua camisa rasgada, num pênalti que o árbitro não marcou.
Maradona.
O JOGO
Eu respondia:
Acho que éramos melhores, mas a Itália tinha um grande time. Cinco
para Sócrates chutar rasteiro e empatar pela primeira vez. Vinte e cinco
chego, mas ele chuta rápido; Waldir Peres toca na bola, mas não
da área pelo lado direito, Cerezo passa e leva os marcadores com ele,
nós, Oscar tira da área, Tardelli pega o rebote num chute fraco, mas
Fim do sonho.
FICHA TÉCNICA
44 mil pessoas
PÓS-JOGO
mim, mas também não podiam deixar de torcer pela seleção do país
pescoço que fiz depois de marcar o gol do segundo empate tinha sido um
não gostava de fazer aquele tipo de trabalho. Então, ele observou que
ganhamos de vocês.
com 24 países, que se classificaram após uma fase eliminatória com 105
participantes.
Primeira fase
Grupo A
Jogos:
Itália 0 x 0 Polônia
Peru 0 x 0 Camarões
Itália 1 x 1 Peru
Polônia 0 x 0 Camarões
Polônia 5 x 1 Peru
Itália 1 x 1 Camarões
Grupo B
Jogos:
Chile 0 x 1 Áustria
Alemanha Ocidental 4 x 1 Chile
Argélia 0 x 2 Áustria
Argélia 3 x 2 Chile
Grupo C
Jogos:
Argentina 0 x 1 Bélgica
Hungria 10 x 1 El Salvador
Argentina 4 x 1 Hungria
Bélgica 2 x 0 El Salvador
Bélgica 1 x 1 Hungria
Argentina 2 x 0 El Salvador
Grupo D
Jogos:
Inglaterra 3 x 1 França
Tchecoslováquia 1 x 1 Kuwait
Inglaterra 2 x 0 Tchecoslováquia
França 4 x 1 Kuwait
França 1 x 1 Tchecoslováquia
Inglaterra 1 x 0 Kuwait
Grupo E
Jogos:
Espanha 1 x 1 Honduras
Espanha 2 x 1 Iugoslávia
Honduras 0 x 1 Iugoslávia
Espanha 0 x 1 Irlanda
Grupo F
Jogos:
Brasil 4 x 1 Escócia
Segunda fase
Grupo 1
Jogos:
Polônia 3 x 0 Bélgica
Grupo 2
Jogos:
Espanha 0 x 0 Inglaterra
Grupo 3
Jogos:
Itália 2 x 1 Argentina
Argentina 1 x 3 Brasil
Itália 3 x 2 Brasil
Grupo 4
Jogos:
Áustria 0 x 1 França
Semifinais
CLASSIFICAÇÃO
1) Itália
2) Alemanha Ocidental
3) Polônia
4) França
5) Brasil
6) Inglaterra
7) URSS
8) Áustria
9) Irlanda do Norte
10) Bélgica
11) Argentina
12) Espanha
13) Argélia
14) Hungria
15) Escócia
16) Iugoslávia
17) Camarões
18) Honduras
19) Tchecoslováquia
20) Peru
21) Kuwait
22) Chile
24) El Salvador
ARTILHEIROS
REGULAMENTO
vagas.
semifinal.
registro que ele deixou no diário que escreveu à época para a Revista
Placar.
A seguir, pela ordem de escalação, as respostas dos demais
companheiros:
WALDIR PERES
“Eu acho que a Itália soube jogar contra o Brasil. Teve talvez a
normal. Nosso time era muito técnico, muito ofensivo, tinha o apoio de
frente, que jogava ofensivamente? Esse time não foi feito nos cinco jogos
gol do Éder contra a Escócia, a bola saiu da minha mão, teve 11 toques,
nenhum escocês tocou na bola e o Éder fez o gol por cima do goleiro.
Isso lembra uma Seleção que jogava muito futebol, caso do Barcelona,
time, por ser ofensiva, pelo toque de bola. Será sempre lembrada. Vimos
Espanha.
nós, mas a gente sempre sofria um gol. Se o Oscar faz aquele gol de
terceiro gol, a bola vem de escanteio, a gente tira, o cara bate para dentro
do gol, sobra para o Rossi. Numa jogada dessas, normalmente sai todo
perdidas. Agora, dói muito ver uma Seleção como aquela não ser
título.”
LEANDRO
gente fala em falha coletiva, não cita nomes por ética. Mas, num jogo, às
erros. Não tem outra explicação. Foi um partidaço, jogamos bem, eles
jogaram muito bem também. Foi isso. Não adianta dizer que poderíamos
para trás, com dois laterais como eu e o Júnior, com Cerezo, Falcão,
Zico, Sócrates e Éder? Como mandar esses caras jogarem para trás? Não
era bonito mas não ganhava. Hoje a Espanha está fazendo o que
Naquele momento, cada seleção tinha dois, três craques. Depois, a parte
Eu ainda olho o teipe daquele jogo. Vi muitas vezes e não perdi mais.
ter feito para virar aquele jogo. Ainda lembro do Juninho, zagueiro, no
outro dia, quando a turma estava acordando. Ele deu um grito: ‘Me
Mas o que a gente vai fazer? Nem sempre o melhor ganha. Porém, a
empate era do Brasil; foi um erro de cálculo. Claro que estou falando
isso 30 anos depois. Na cabeça dos brasileiros, empatar com a Itália não
esquecemos o regulamento.
Lembro até que você, Falcão, comentou com o Telê que o Conti
dissera que eles já estavam com as malas prontas para voltar. Mas se
gol, partiu para cima. Mas ficamos à mercê do relógio. Tinha pouco
tempo para a reação. Até tentamos, fizemos alguma coisa, mas começou
a tática.
Não vi nada de absurdo nos comentários depois do jogo. Tudo o que
somente jogar bonito não adianta. Tem que jogar feio e ganhar. Este mal
proporções, comparou seu time com a nossa Seleção. Acho que somos
lembrada.
Nunca mais vi o vídeo daquele jogo. Não gosto de ver. Tenho no meu
contra-ataque.
todo lugar que a gente vai, até fora do Brasil, as pessoas lembram aquela
Seleção. Mas isso já passou, já acabou. Não tem volta. Por isso, não me
que hoje está difícil. Foi uma era de grandes jogadores no Brasil. Não
“Na verdade não existe uma resposta. Nós nos preparamos para valer,
lembrar que aquela equipe colocou cinco jogadores na seleção dos 100
imitado.
Mas eu acho que não existe uma resposta. Todo mundo procura
que por outra coisa. Erros que não tínhamos cometido até aquele
jogo que a gente tinha que ganhar, não ganhou. O jogo de Pescara foi
uma festa, para a qual a gente ia trazer uma seleção europeia. Mas,
tinha uma relação forte com jogadores do Torino, com o Bruno, que
jogava na Roma, todos éramos amigos. O placar do jogo foi o que menos
festa com o estádio completamente lotado. Quem poderia achar que era
foram ali por minha causa. Não estavam pensando em Brasil x Itália. Se
Não ganhamos quando tínhamos que ganhar, mas nem por isso
deixamos de ser valorizados. Só fui para a Itália porque fiz uma Copa do
tem, que fique com ela. Não posso ter mágoa, rancor. Contam muito
mais as voltas olímpicas que dei com o Flamengo e todos os jogos que
teria ganho tantas coisas que ganhei até terminar minha carreira com 38
anos.”
CEREZO
tantos anos, a minha conclusão é uma só: quando a bola rola, você não
Nosso time tinha uma característica, que era jogar em função do gol
resultado foi uma grande tristeza, pelo futebol que o Brasil jogava,
futebol bonito, sem trombada, sem dividida, de toque de bola. Acho que
foi um pecado realmente, mas, como vivi anos e anos dentro do futebol,
bola.
conhecido devido àquela seleção. Foi mesmo uma seleção especial. Você
tinha dois laterais que pareciam dois pontas, Leandro e Júnior. Você
tinha Luisinho com uma técnica que poderia jogar de atacante. Tinha
Oscar, que era um zagueiro completo. Tinha eu, Falcão, Zico, Sócrates.
Jogadores que, não só naquele jogo, mas durante toda a nossa vida,
brasileiro. Éder, que botava a bola onde queria, driblava bem. E ainda
passagem. Mas, sem dúvida, foi uma safra boa. Tanto que o que tem de
comparações, pois a gente tem que analisar setores. O que eu posso dizer
Agora já consigo ver o teipe daquele jogo. Mas durante muito tempo
não olhei. Só depois de uns cinco anos é que fui olhar. O Brasil jogou
muita bola, não deixou de jogar, não recuou em nenhum momento. Olho
e vejo isso. Muitas vezes nós, que vivemos o dia a dia da bola, jogamos
quarta e domingo, aí a gente para, olha para trás, e vê tudo o que fez, vê
que a derrota faz parte. Por isso, olho com felicidade e satisfação, pois a
Seleção era tudo de bom. Naquela época já tínhamos um futebol
“Eu acho que perdemos porque a Itália foi melhor, soube aproveitar
bem nossos erros. Talvez tenha sido o dia em que erramos mais
que o normal. Foi o que acabou acontecendo. Três anos jogando naquela
Acho também que, na Seleção Italiana, deve ter sido a primeira vez
que o Paolo Rossi fez três gols. Até aquele momento, não tinha feito
Itália soube aproveitar bem isso. Nosso time procurava sempre o gol;
dizer que tinha que botar o Batista para poder segurar o jogo. Ele não
questão de que o Brasil tinha que jogar defensivamente cai por terra,
acontecer. Telê até fez uma substituição, colocando o Paulo Isidoro para
vinha jogando um futebol feio até aquele momento, tanto que passou da
primeira fase sem ganhar de ninguém. Então ficou aquela coisa, de não
deixar jogar, de parar jogada, de fazer falta, pois isso era o futebol
vencedor.
seleção com muito carinho. Mas o que marca é o título; isso é o que fica
ranço, de que jogou bonito mas perdeu, que o melhor é jogar feio e
prova agora, 30 anos depois, começou a ser dada pelo Barcelona, pela
ganhando.
Fico até constrangido de falar, mas quem falou isso foi o treinador do
Jogamos bem, mas podíamos ter rendido ainda mais. A gente não
gente nunca tinha jogado junto. Se tivéssemos jogado juntos mais tempo,
a parte coletiva ganharia mais. Analisando hoje até como técnico, tenho
para este resgate daquela aventura que vivemos juntos três décadas atrás.
assim é o futebol.
profundamente triste, sem forças para explicar nada, para escrever. Saí
meu diário da Copa, deixo apenas dois momentos que vivo: a frustração
intensa, talvez a maior da minha vida, por não conquistar o título que eu,
companheiro inesquecível.
nosso. Pelo time que a gente tinha, faltou jogar um pouquinho mais feio
mas jogavam muito. Futebol é um jogo de erros, mas errar do jeito que
isso.
Nosso time podia ter sido mais defensivo, um pouco mais inteligente.
Onde a gente vai, ainda hoje, todos falam: como é que perderam?
características dos outros. Não que eu não fosse bom jogador; era bom
Copa de 70.
Foi uma pena, mas o futebol é empolgante porque tem esse tipo de
Brasil jogar mais dez vezes contra a Itália, vai ganhar. Mentira. Aquele
era o dia da Itália. E o time da Itália era bom, tanto que foi adiante.
Não que a gente tenha jogado mal contra a Itália, só que nós não
chances que teve, fez os gols. Quando tomamos o terceiro, não tinha
mais como reagir. Não faltou humildade. Querer que a gente jogasse
Atlético, acho que três do São Paulo também, todos jogavam juntos.
É
Acho que a gente jogava melhor por causa desse entrosamento. Éramos
futebol teria ficado mais bonito. Não seria o futebol rude que se vê
ou dois toques na bola. Telê era um treinador que não gostava de jogar
atrás; queria toque de bola, jogo bonito. Ele não apenas pedia para a
gente fazer as coisas; demonstrava como a gente tinha que fazer. Não é
como hoje; muitos treinadores exigem dos jogadores, mas não sabem
como eles devem fazer. Nós éramos um conjunto. Havia muitas estrelas
naquele conjunto, mas elas jogavam em função do todo. Foi uma pena.
Nunca tive a curiosidade de parar para ver o vídeo daquele jogo. Vi uma
jogamos muito naquele jogo também. A gente fica triste por não ter
brasileiro.”
PAULO ISIDORO
mudado o esquema para garantir o resultado, mas nossa equipe era tão
mais nove vezes, íamos ganhar as nove. Num jogo de Copa um jogador
fazer três gols seguidos, como Rossi fez, é uma raridade. As coisas que
dava mais liberdade para Zico, para você, Falcão, e para o Sócrates.
arte, o futebol bonito, jogado com elegância, não ganhava título. Que o
futebol bonito não era objetivo. Que tinha que ser mais na base da força.
Isso repercutiu negativamente. Hoje ainda estamos lembrando os 30
anos daquela derrota, que ninguém aceitou até hoje. Vamos demorar uns
aquela foi uma das melhores safras. Não se vai achar igual àquela por
estar ali, pois estava dentro da maior Seleção. Só saí do time para a volta
perdido daquela maneira. Prefiro não olhar mais. O jogo contra a Itália
também foi maravilhoso. Mas, pelo resultado, não dá para assistir. Não
em Garça (SP). Clubes: Garça, Ponte Preta e São Paulo. Copas: 1974,
1978 e 1982.
Monte Sião (MG). Clubes: Ponte Preta, New York Cosmos, São Paulo e
(I), Sampdoria (I), São Paulo, Cruzeiro e Lousano Paulista. Copas: 1978
e 1982.
Copa: 1982.
Porteño (P), Fenerbahçe (T), União São João, Cruzeiro, Gama e Montes
Porto (P), Botafogo SP, Náutico, Vila Nova, América, Pouso Alegre,
Sport Recife, Boa Vista RJ, Joinville e Americana. Copas: 1978, 1982 e
1986.
1982.
Ã
18) JOÃO BATISTA DA SILVA nasceu em Porto Alegre em 8 de março
MG, Yokohama (J), Kashiwa Reysol (J), Ponte Preta e Taubaté. Copa:
1982.
Verona (I), Ascoli (I), Napoli (I), Como (I), Avellino (I), Maiami Sharks
1986.
DEMAIS INTEGRANTES DA
DELEGAÇÃO
Chefe
Giulite Coutinho
Diretor de futebol
Medrado Dias
Assessor
Tarso Herédia
Administrador
Ferreira Duro
Técnico
Telê Santana
Auxiliares
Vavá
Preparadores físicos
Gilberto Tim
Moracy Santana
Preparador de goleiros
Valdir de Moraes
Médicos
Ricardo Vivácqua
Neilor Lasmar
Massagista
Abílio José da Silva (Nocaute Jack)
Roupeiros
Nílton de Almeida
Cozinheiro
Mário Rocha
Assessoria de imprensa
Solange Bibas
Robério Vieira
UM BRASILEIRO VITORIOSO
Arnaldo Cezar Coelho ganhou a Copa que o Brasil
perdeu.
Sua vitória foi ter sido escolhido para apitar a final,
entre Itália e Alemanha, no Estádio Santiago Bernabeu,
em Madri.
A escolha de Arnaldo foi cercada de curiosidades.
Deixo que ele mesmo conte:
“Nós, os árbitros selecionados pela Fifa, nos reuníamos
todos os dias no Centro de Treinamentos do Real Madrid,
para exercícios e palestras. Alguns juízes mais chegados,
como Antônio Garrido, de Portugal; Abraham Klein, de
Israel; e Károly Palotay, da Hungria, viviam me bajulando
e falando bem da Seleção Brasileira. Talvez pensassem
que eu poderia, de alguma maneira, influenciar junto à
CBF e a João Havelange para que um deles apitasse a
final. Como o Brasil vinha ganhando todas, ninguém
sequer cogitava de um árbitro brasileiro na decisão.
Nem eu. Tanto que na semana anterior pedi permissão
a Havelange para convidar minha mulher, que estava no
Brasil, a fim de que assistíssemos juntos à final da Copa,
onde certamente estaria a Seleção Brasileira.
Cheguei mesmo a comprar dois ingressos e duas
bandeiras. No dia do jogo entre Brasil e Itália, ela estava
se preparando para viajar. Vi o jogo sozinho, pela
televisão, no quarto 502 do Hotel San Martín, onde os
árbitros estavam hospedados. Fiquei desesperado com a
derrota. Minha primeira providência foi ligar para
cancelar a viagem dela. Como já estava ficando fora da
escala nas quartas de final, tinha parado de treinar. No
dia seguinte à derrota, voltei a fazer exercícios com os
demais árbitros. O Garrido foi o primeiro a me gozar: “Ué,
voltou?”. Na quinta-feira, às 10 horas da manhã, recebi
um telefonema do Secretário do Comitê de Arbitragem
da Fifa, dizendo que eu fora escolhido para apitar a final.
Fiquei enlouquecido. Ainda eufórico, liguei para o
jornalista Sérgio Noronha, que era meu amigo de janta e
praia.
Nem percebi que quem atendeu foi o Galvão Bueno,
que dividia o quarto com ele. Gritei: “Sou eu! Sou eu!”. O
Galvão não entendeu nada.
Só depois é que liguei para o meu irmão, em São
Paulo, convidando-o para ir a Madrid com o Armando
Marques, que era meu ídolo, para os dois assistirem à
final. Armando não quis: disse que eu ficaria nervoso se
ele estivesse presente. Meu irmão Ronaldo Cezar Coelho
pegou o avião e viu a final, com a bandeira brasileira e
uma cadeira vazia ao lado. Repetiu o que já fizera na
minha estreia como árbitro, em 1968, no Parque
Antártica, num Palmeiras x São Bento.
Foi um apoio afetivo importante para o jogo da minha
vida.
O curioso é que depois da minha escolha o israelense
Abraham Klein veio brincar comigo, dizendo que, se
desse empate, haveria um segundo jogo e outro árbitro
seria escalado para a finalíssima. Respondi de pronto:
– Não vou deixar dar empate, não!
Realmente não deu, mas o mérito foi da Itália.”
IV – COMANDANTES
MESTRE TELÊ
preparador físico do Inter. Mas ele passou por cima disso e optou pela
competência.
Depois, como passei muito tempo fora, essa distinção ficou com o
caráter.”
Visão de jogo:
“No dia em que nós quisermos entrar em campo para dar pontapé,
para jogar com violência, nós vamos perder tudo, porque o futebol
brasileiro é de outra origem; nós sabemos jogar e muito bem. Nós temos
habilidade e técnica.”
amigo de todos. Nos clubes por que passou, foi padrinho de casamento
Sintonia fina:
“Eu trabalho forte. Exijo muito. Mas tenho a compreensão do
sabem que é importante correr mais, ganhar mais jogos, mais títulos e
mais dinheiro.”
de Júnior do Pescara, onde ele atuou por dois anos, depois de jogar
outros três pelo Torino. Não teve a visibilidade de um jogo de Copa, mas
foi um evento para Pescara. Júnior era muito querido lá, e o estádio lotou
naquela Copa.
também nesse dia festivo a Itália saiu na frente, com um gol de Bruno
Conti, logo aos seis minutos, um minuto depois do tempo que Rossi
Claro que não valia nada, mas a gente tinha o direito de dar um troco,
não tinha?
O AMISTOSO
disso, Paolo Rossi saiu aos 15 minutos, com uma lesão na coxa. O Brasil
não contou com Oscar, Paulo Isidoro, Éder e Cerezo, que até esteve lá
Bearzot.
FÓRMULA RARA
cada um desses valores pela escalação, fica fácil de entender por que o
rendimento do conjunto.
para fazer embaixadas, para driblar, para tentar a firula que bem
conclusão.
PASSES CERTOS
Alguém já disse que a Seleção de 70 foi o time dos números 10: Pelé,
Dos zagueiros, apenas Oscar não tinha tanta facilidade para sair
ora era ocupado pelo lateral, ora por um dos jogadores de meio-campo.
Na época, Telê foi criticado por não usar um ponta do lado direito. Jô
Mesmo assim, o time tinha sempre três atacantes, pois Zico podia ser
que eu, Sócrates, Cerezo e até Júnior aparecemos na área várias vezes
para concluir.
equipes erram demais este fundamento. Telê insistia muito conosco: “Só
pode jogar bola quem sabe dominar e passar. Passe bem para receber
bem.”
ultrapassagem.
Por fim, aquele era também um time de líderes. Oscar era capitão no
quanto pelo respeito mútuo entre jogadores que eram ídolos nos seus
clubes.
Permanecia quase sempre quieto, até que alguém fazia uma brincadeira
e ele soltava aquela gargalhada aguda, que era sua marca pessoal. Como
atleta, treinava muito, era ágil, tinha força de abdome e costas. Batia
Muita gente só lembra aquele gol que ele levou contra a União Soviética,
na nossa estreia. Todo bom goleiro toma um gol daqueles. E ele teve
Júnior olhou para ele e disse: “Levanta a cabeça, meu. Tu tens muito gol
para tomar nessa Copa ainda.” Waldir deu a volta por cima.
bola sem deixar cair, ele fazia fácil naquela época. Era lateral, mas podia
roubar a bola, o tempo certo para dar o bote. Dificilmente era driblado.
vozeirão.
mais sério do que Waldir Peres. Tinha liderança. Não ria muito, mas era
junto, mas era leal: tirava o pé quando sentia que podia machucar
alguém. Bom cabeceador, mesmo sem ser altão, empurrava o time para a
frente sem falar muito. Era capitão no São Paulo, mas na Copa esse
líderes do grupo.
também esbanjava técnica. Não errava passe. Era outro que podia ser
bater falta, driblava, era inteligente para jogar. Esse, sim, chegou a jogar
muito benquisto pelo grupo; dava-se bem com todos. Em campo, era um
cravos de borracha, para ficar mais leve. Corria tanto que estava sempre
opiniões. Mas era muito querido pelo grupo; a gente podia conversar
com ele sobre qualquer assunto. Era um líder, sabia falar e se posicionar.
de 86, ao me perceber chateado por não estar no time, ele veio na minha
calcanhar, sua marca registrada, não era firula. Pode parecer engraçado,
Zico também não fazia firula. Era o cara da jogada inesperada, batia
bem na bola, cabeceava bem demais, embora não fosse alto. Tinha
ganhar aquela Copa, como eu. Todos queriam, mas nós dois tínhamos
alguns motivos a mais. Zico foi em 78, e voltou sem ser o Zico que todos
dos companheiros de quem mais fiquei próximo. Quando ele foi para a
demais naquela Copa. Passou um período sem fazer gol e isso é muito
disseram que ele não podia usar os braços, como costumava fazer, pois
seria expulso devido ao rigor dos árbitros num Mundial. Então, ele
tentou mudar sua característica. Sempre foi um jogador de usar muito o
O mais quieto do grupo era Éder. Com seu jeito mineiro, costumava
precisava falar: botava a bola onde queria com a perna esquerda. Batia
forte, batia colocado, batia com efeito e batia bem também com a bola
compensava.
Itália.
ria. Às vezes, errava na dose. Como jogador, chegava junto, era bom
a ser sempre titular. Não aceitava muito a reserva. Mas teve que se
conformar.
personagem dos Flinstones. Mas ele era bom de grupo também: jamais
depois, é que fiquei sabendo que ele estava triste por não jogar. Lá, em
nenhum momento passava isso. Pelo contrário, fazia a gente rir o tempo
Renato era um meia-direita clássico; nunca fiquei sabendo por que era
O único que superava Isidoro no fôlego era Dirceu. Esse era o melhor
substituiu Careca. Chegou fora da sua melhor condição física, pois não
suas opiniões.
futebol, mas foi importante na derrota, pois teve uma conversa madura
como é que se deveria fazer. Moracy Santana era muito leal a Tim; era
um preparador competente, que cuidou muito bem de Zico em 86. Outro
que mostrava como se devia chutar era Valdir de Moraes. Poucos sabiam
bater na bola como ele. A gente brincava que ele não podia ter sido bom
incorporada ao símbolo.
Drible na Fifa: a CBF colocou raminho de café do patrocinador IBC (Instituto Brasileiro do
inutilmente as lágrimas que viriam. Não havia título, nem qualquer texto
julho de 1982.
Marinho. Ele lembra que tinha o desafio de fazer uma capa diferente
para o Caderno de Esportes, pois falar na eliminação trágica do Brasil
Manente, não teve mais dúvidas: aquele choro infantil era a melhor
Unidos, novamente uma final entre Brasil e Itália. O pai dele, que
Se você leu com atenção este livro, percebeu que ainda não respondi,
Deixei minha resposta para o final, porque nesses 30 anos minha visão
foi se modificando.
abrir mais do que o normal; Leandro acha que perdemos por causa dos
reconhece que faltou humildade; e Júnior garante que não há uma única
Cerezo prefere dizer que, quando a bola rola, ninguém sabe o que
pode acontecer; Zico garante que a Itália foi melhor e soube aproveitar
os erros individuais e coletivos do Brasil; Sócrates escreveu no seu
diário que a Itália foi mais determinada; Serginho acredita que faltou
melhor; e Paulo Isidoro, que entrou no final, garante que foi um jogo
atípico.
Ganhamos.
de que o futebol deve ser jogado para frente, com alegria, com talento e
com prazer.
país.