01 - o Projeto Da Fábrica Com Futuro
01 - o Projeto Da Fábrica Com Futuro
01 - o Projeto Da Fábrica Com Futuro
PREFÁCIO
O uso de Sistemas Produtivos de Manufatura Integrada (SPMI) é uma estratégia para a Fábrica Com Futuro
(FCF). Esta estratégia é baseada num Sistema de Manufatura de Células Interligadas (SMCI). O SMCI foi
inventado na Toyota Motor Company pelo vice-presidente de produção, Taiichi Ohno, mas ele nunca lhe
deu algum nome. Ele simplesmente referia-se ao Sistema Toyota de Produção (STP). Ohno foi o inventor de
um novo sistema produtivo, que era muito simples e flexível. A estratégia foi trazida pela Toyota para
muitas outras empresas dos Estados Unidos, e tem sido implementada de diversas formas em várias
indústrias norte-americanas.
Outros nomes para os SPMI são:
• JIT/TQC (Just-In-Time/Controle de Qualidade Total) - muitas empresas
• SPEZ (Sistema de Produção com Estoque Zero) - indústrias Omark
• MAN (Material de Acordo com o Necessário) - Harley Davidson
• SPIM (Sistema de Produção com Inventário Minimizado) - Westinghouse
• Sistema Ohno (após Taiichi Ohno) - muitas empresas no Japão
• Produção com inventário zero - Hewllet-Packard
• Kanban - muitas empresas nos EUA e no Japão
Tenho examinado as experiências de implantação de muitas empresas, tanto exitosas quanto fracassadas. A
estratégia SPMI está em contraste marcante com a conhecida Manufatura Integrada por Computador (CIM).
A estratégia CIM procura fazer com que os elementos automatizados (às vezes chamados de ilhas de
automação) dos sistemas produtivos tradicionais comuniquem-se entre si por computador.
Grandes esforços em automação de processos e manuseio de materiais, incluindo a robotização para
substituir os trabalhadores no chão-de-fábrica, têm tomado corpo em diversas empresas. Várias
informações têm sido geradas em sistemas de manufatura flexível (FMS) e robótica.
Contudo, a revolução da Toyota foi realizada sem computadores, veículos guiados automaticamente
(AGVs), robôs, e dispositivos similares.
O presente livro contém as experiências de empresas que tiveram sucesso na implantação de alguma versão
do sistema de Ohno, e apresenta estas experiências de forma lógica, num sistema passo-a-passo.
Os dez passos para uma fábrica re-projetada são delineados no Capítulo 1 e detalhados nos capítulos
subseqüentes. A estratégia envolve a produção Just-In-Time (JIT), redução de setup e o método de controle
de produção "puxada" (sistema kanban). Controle de qualidade, controle de produção, controle de
estoques e manutenção de máquinas-ferramentas estão integrados ao sistema de manufatura de células
interligadas. Um SPMI produz qualidade superior a um custo menor com menor tempo de atravessamento
(mínimo tempo com estoque em processo) e proporciona a correta estrutura para a automação -
automação para resolver problemas de qualidade ou de capacidade. Automação e robotização podem ser
utilizados para remover variabilidades do processo ou dos operadores, ou para liberar as pessoas de
atividades perigosas ou monótonas. A informatização do sistema integrado completa a estratégia.
Acredito que os SMCI são os sistemas produtivos do futuro. Uma prática comum no futuro será a
interligação de células de manufatura e de montagem. Na década de 1990, veremos muitas empresas
implementarem células manuais utilizando operadores multifuncionais que caminham de máquina em
máquina. Células são projetadas para serem flexíveis, para que possam se adaptar rapidamente a mudanças
no projeto de produto e na demanda. Células podem ser integradas com as funções críticas de controle.
Células que fabricam famílias de peças usando um grupo de processos produtivos substituem a estrutura
de layout funcional (job shop).
Da última vez que uma revolução em sistemas produtivos ocorreu, o mundo veio a Detroit para ver as linhas
de montagem de Henry Ford, em 1913. O sistema SMCI que Taiichi Ohno inventou é uma extensão lógica
do Sistema de Ford. Ohno estudou e entendeu como o sistema atual de produção em massa funciona.
Contudo, ele percebeu que o sistema Fordista era adaptado para grandes volumes das mesmas peças sem
variedades. O sistema de Ohno foi concebido para lidar com grandes ou baixos volumes de uma variedade
de peças usando as mesmas economias de volume do Sistema Fordista. Muitas pessoas estão dizendo agora
que Ford inventou o JIT. Isto não é verdade; o inventor do sistema produtivo JIT foi Taiichi Ohno, e assim
deve ser reconhecido.
*Petróleo
Áreas de produtos em que a estratégia SPMI foi implementada efetivamente.
Aço*
Figura P-1. Tipo de produto versus sistema de manufatura.
Produtos Florestais
Ohno teve a idéia do sistema kanban após visitar um supermercado americano, onde ele observou as
pessoas "puxando" os materiais das estantes para seus carrinhos, de acordo com suas necessidades. O
espaço vazio na estante era o sinal para repor o estoque. Áreas de estocagem vazias no fundo do
supermercado eram o sinal para o encarregado de compras ordenar a compra dos produtos que faltavam.
Na verdade, os consumidores compunham um pedido de uma forma totalmente flexível.
Aplicando sua idéia à manufatura, Ohno desenvolveu um sistema em que o nível de demanda das peças dita
o nível de produção. Os materiais são puxados pela fábrica pela demanda no final da montagem. Ohno logo
percebeu que teria maior eficiência se aproximasse os equipamentos de tal forma que os operadores
pudessem "fazer uma peça, verificar uma peça e passá-la adiante" para a próxima máquina. Estas células
geraram, por toda fábrica, o desejo de eliminação de perdas. Não há registros de que a Toyota tenha
utilizado Tecnologia de Grupo, uma técnica bastante conhecida, para encontrar peças ou famílias que
pudessem ser agrupadas para formarem suas células.
E visível que nenhuma indústria é imune a esta estratégia. A Figura P- l mostra uma matriz do tipo de
produto versus tipo de sistema manufatura. As indústrias representam um amplo espectro de produtos e
sistemas produtivos. Ao menos uma empresa em cada uma destas indústrias já completou a conversão para
o SMCI, de modo que praticamente todo espectro foi afetado por alguma versão do SPMI e da formação de
células. Devido ao início da revolução ter se dado no Japão, muitas das empresas líderes em SPMI são
japonesas. Uma boa notícia é que esta revolução não tem base cultural . Uma má notícia é que a chave
para esta revolução está em re-projetar o sistema de manufatura existente.
Muitos tomadores de decisão resistirão a esta transformação porque ela não é de base tecnológica (high-
tech) e porque afeta fortemente a estrutura social de toda empresa - a média gerência será mais afetada e
será a mais ameaçada com a mudança.
Existem muitas razões para uma empresa assumir tal responsabilidade e muitas desculpas para não fazê-lo.
Contudo, estas são claras: empresas que tiverem coragem de assumir este desafio serão sobreviventes - as
Fábricas Com Futuro (FCF). Aquelas que se opuserem se tornarão história.
CAPITULO 1
INTRODUÇÃO
Estamos agora entrando numa nova era no mundo industrial. Eu creio que ela pode ser chamada de uma
revolução, nossa terceira revolução industrial.
A primeira revolução industrial iniciou com o advento das máquinas-ferramentas, a criação de fábricas e um
movimento (a megatendência da primeira revolução industrial) das pessoas migrarem do campo para as
indústrias na cidade. Agora, apenas dois ou três por cento das pessoas trabalham diretamente no campo,
mas sua produtividade continua aumentando (veja Figura 1-1). As medidas da produtividade rural são
muitas, desde aumento de produção por acre até o aumento do número de pessoas alimentadas por
produtor. Como mostra a Figura 1-2, o número de produtores (mão-de-obra direta no campo) atingiu a
maior baixa de todos os tempos. O número de trabalhadores diretos em indústrias está diminuindo com a
mesma tendência. Isto não significa que menos pessoas trabalhem em toda agricultura ou indústria de
produção alimentícia; significa que o número de trabalhadores diretos reduziu significativamente devido a
grandes e normalmente automatizados, equipamentos agrícolas especializados.
A segunda revolução industrial começou no início de 1900 com o advento das linhas de montagem e o
conceito de produção em massa de Ford. Grandes e caros sistemas de manufatura, chamados de linhas
transfer, faziam parte desta tendência. Estes sistemas, totalmente desenvolvidos nos anos 40, tinham
enormes mecanismos automáticos de movimentação de materiais, dos quais surgiu o termo automação. O
objetivo era desenvolver "ilhas de automação
Figura 1-1. A produtividade nas fazendas continuou crescendo, com menos pessoas produzindo mais
alimento. Fonte: Departamento de Agricultura dos EUA.
(rígida)". Este tipo de automação é hoje chamado de fixa em contraste à automação flexível, que envolve
equipamentos programáveis.
Nos últimos anos, a terceira revolução industrial desenvolveu-se tão dramaticamente quanto suas
antecedentes. Esta revolução envolve computadores para controle de processos e do sistema como um
todo, incluindo o sistema de informações. A mesma tendência do campo está ocorrendo na indústria. Um
menor número de pessoas estarão trabalhando no chão-de-fábrica, mas u m maior número de pessoas
estará trabalhando com a fabricação de produtos. Lembre que a agregação de valor e riqueza são gerados
apenas pela transformação de materiais pela manufatura (ou agricultura).
Ainda estamos gerando mai s empregos por ano do que estamos eliminando através do uso da automação.
O empregado industrial de hoje equivale ao produto r da virada do século. O trabalho em fazendas é duro,
e envolve muitas horas. A modernização rural liberou pessoas para trabalharem em qualquer outro lugar
(indústrias). Agora a tendência é das pessoas não quererem o trabalho duro, sujo, normalmente monótono,
até perigoso, das fábricas. Assim, a tendência é o afastamento de uma sociedade baseada na indústria. Isto
não significa que abandonaremos as fábricas, uma vez que abandonar a manufatura nos retiraria da posição
de potência mundial.
A fábrica do amanhã exigirá maior qualificação, conhecimento e meios mais efetivos de transferência de
informações sobre a qualidade e a quantidade de produtos fabricados. O nível básico de conhecimento da
mão-de-obra industrial deve ser elevado para aumentar sua produtividade e, em conseqüência, aumentar a
produtividade da empresa. O conhecimento tem um valor de mercado, especialmente o conhecimento
técnico, mas nós nos EUA tendemos a deixá-lo de lado ou vendê-lo pela menor oferta. O Japão comprou a
maior parte do conhecimento técnico necessário para fabricação de automóveis, produtos eletrônicos,
máquinas-ferramentas e até microscópios eletrônicos. Os mais recentes microscópios de transmissão
eletrônica japoneses são, em essência, cópias dos instrumentos de precisão da Siemens. Uma linha comum
a todas as áreas produtivas japonesas é a alta tecnologia e a sofisticação. Por exemplo, a fabricação de
lentes magnéticas de precisão e a produção de produtos eletrônicos de alta voltagem foram fatores chave
para a construção de microscópios eletrônicos de alta qualidade.
Informação (conhecimento de alta tecnologia) tem alto valor porque as pessoas estão querendo pagar por
ela. Informação também tem custo porque custa alguma coisa para ser produzida. Isto é verdade
especialmente para informações tecnológicas. A fábrica do futuro necessitará de melhores sistemas de
informação e de muitas pessoas que possam analisar, programar e lidar com estas informações que vêm e
vão para o chão-de-fábrica. Uma característica única do conhecimento e da informação é que eles não
seguem as leis de conservação de energia. Conhecimento e informação são sinérgicos, cada um
promovendo o desenvolvimento do outro. Assim, à medida que os trabalhadores das fábricas são melhor
educados e informados acerca de como o sistema funciona, este sistema funcionará melhor .
Processos e sistemas produtivos têm de se tornar mai s simples à medida que são automatizados.
Normalmente, produtos são re-projetados para que possam ser processados ou montados
automaticamente. No próximo século veremos u m menor número de trabalhadores no chão-de-fábrica.
Estes trabalhadores estarão melhor educados e envolvidos na solução de problemas de produção do dia-a-
dia, trabalhando para melhorar todo sistema e tomando decisões sobre como desenvolver seu trabalho e o
sistema produtivo .
O que estimulou esta revolução foi a competição gerada pelos japoneses nos vários produto s e mercados.
Seus preços são competitivos e de qualidade superior. Eles conseguiram financiar esta memorável
transformação através de empréstimos governamentais e privados com baixas taxas de juros. O mais
importante é que eles desenvolveram técnicas para reduzi r níveis de inventários, as quais resultam em u m
melhor fluxo de caixa devido à maior freqüência de giro de estoques. Muitas pessoas nos EUA acreditam
que o sucesso japonês se deve a produtos excedentes no Japão vendidos abaixo do custo nos EUA
(dumping), ao apoio governamental fornecido a indústrias específicas, ou à diferenças culturais . Os
japoneses trabalham duro e são muito trabalhadores, mas os americanos também o são. A idéia de que este
sucesso é apenas resultado de uma longa jornada de trabalho não se sustenta quando produtos complexos
e de qualidade são produzidos . A verdade é que os japoneses desenvolveram um novo sistema produtivo
que é funcional e operacionalmente diferente dos outros. A princípio, devemos compreender os principais
elementos deste novo sistema para que possamos determinar quais deles serão implementados em nossos
sistemas. Considere o seguinte acontecimento. Em 1977 uma empresa Japonesa chamada Matsushita
comprou a fábrica de televisores Quasar da Motorola em Chicago. A fábrica estava constantemente
deficitária. No contrato de compra e venda, a Matsushita concordou que todo pessoal assalariado seria
mantido . As primeiras mudanças que os novos proprietários realizaram foi limpar a fábrica e pintar o piso.
Eles também promoveram o gerente de qualidade a gerente industrial, tomando o primeiro passo para
integrar a função de controle de qualidade ao sistema produtivo. Dois anos mai s tarde eles ainda tinham
praticamente os mesmos 1.000 empregados, mas reduziram a mão-de-obra indireta em 50%. Durant e este
período, a produção diária duplicou. A qualidade, medida pelo número de retrabalhos realizados
internamente, melhorou mais que vinte vezes. Indicadores externos de qualidade também melhoraram.
Enquanto a Motorola gastava em média US$ 16 milhões ao ano em custos de garantia, os gastos da
Matsushita eram de US$ 2 milhões. (Como a produção foi duplicada a relação é, na realidade, de 16 para 1).
Estas são diferenças enormes, obtidas dentro dos EUA, com trabalhadores americanos.
Os japoneses tiveram uma meta econômica fundamental desde a segunda guerra mundial: pleno emprego
através da industrialização. Eles procuraram obter domínio de mercado em áreas específicas e selecionadas.
A característica comum na escolha destas áreas foi a tecnologia.
As táticas japonesas foram as seguintes:
1. Eles se concentraram em produtos que necessitavam de alta tecnologia para atingir qualidade.
2. Eles importaram a tecnologia de todo o mundo, ao invés de desenvolverem-na eles mesmos. Por
exemplo, toda a indústria de semicondutores japonesa foi montada a partir da compra dos direitos
do processo básico de produção de semicondutores da Texas Instruments por US$ 25.000,00. São
inúmeros os exemplos deste tipo.
3. Eles desenvolveram um novo e diferente sistema produtivo, que era flexível e que entregava os
pedidos nos prazos, ao menor custo possível, e de forma contínua. Educaram suas forças de
trabalho e colocaram seus maiores talentos em engenharia no chão-de-fábrica, não em salas de
projeto. Aqueles que dizem que os japoneses não são criativos e engenhosos estão simplesmente
enganados. Ao invés de desenvolver uma nova ratoeira, eles desenvolveram uma nova forma de
produzir ratoeiras de qualidade superior e de custo inferior.
4. Eles desenvolveram um sistema que produz produtos de qualilidade superior. Acreditam no
Controle de Qualidade Total e ensinam isto a qualquer um, do presidente da companhia até cada
operador. Eles se transformaram de um país que produzia artigos de má qualidade para uma nação
que fornece aos clientes produtos de alta confiabilidade.
A implantação destas táticas foi governada por dois conceitos fundamentais. Muitos fabricantes concordam
com estas táticas a princípio, mas a diferença está na profundidade com que os japoneses as praticam:
(1) Os japoneses acreditam firmemente que a indústria precisa eliminar perdas, e (2) eles têm um grande
respeito pelas pessoas.
CONCEITOS FUNDAMENTAIS DO SPMI
Eliminação das Perdas (Elementos que Não Agregam Valor)
Fábricas focalizadas ou fábricas dentro de uma fábrica
Produção em fluxo contínuo (os SMCI)
Redução/eliminação do tempo de setup (troca de ferramentas)
Controle de qualidade integrado (eliminação de defeitos)
Controle de estoques integrado (kanban)
Produção Just-in-time
Produção e montagem de vários modelos
INTRODUÇÃO AO SPMI
A implantação do SPMI requer a mudança sistemática em vários níveis para a fábrica - uma mudança que
afetará cada segmento da empresa, da contabilidade à expedição. Dez passos compõem a metodologia
SPMI (veja Figura 1-3). Antes de uma empresa trabalhar estes dez passos, todos os níveis - desde os
operadores até a alta gerência - devem ser educados nas filosofias e conceitos do SPMI. A alta gerência
deve estar totalmente comprometida com esta aventura. Cada empregado deve estar envolvido, motivado
e totalmente comprometido com a mudança.
A conversão para células interligadas é uma mudança passo-a-passo que afeta o ambiente fabril e os seus
relacionamentos funcionais. E uma estratégia de longo prazo. Mudar o sistema produtivo é equivalente a
uma cirurgia de transplante de coração. É uma cirurgia fundamental e normalmente não elitista.
Modificar o sistema produtivo é extremamente difícil. É este sistema que produz os artigos que os clientes
querem comprar. Há dois grupos de pessoas que o sistema produtivo deve satisfazer: as pessoas que usam
seus produtos e as pessoas que usam o sistema para produzir estes produtos. O segundo grupo, formado
pelos clientes internos normalmente é o menor deles. Os consumidores externos ao sistema produtivo
compram ou usam os produtos fabricados pelos clientes internos. O sistema produtivo deve ser modificado
para o benefício do consumidor interno, os usuários do sistema produtivo. Satisfação no trabalho para os
trabalhadores internos incluem retornos financeiros e um bom ambiente de trabalho. Os clientes externos
ao sistema produtivo também têm de ser satisfeitos. O consumidor externo, aquele que compra os
produtos, determina o preço. Cada um na fábrica deve compreender que é o custo, não o preço, que
determina o lucro. O consumidor externo quer baixo custo, qualidade superior e entregas dentro dos
prazos. "Reduza custos eliminando perdas" é o motor operacional do SPMI. Perdas são vistas como
qualquer coisa que não agrega valor e qualidade ao produto.
A próxima geração de fábricas nos EUA será projetada com um novo Sistema de Manufatura chamado
Celular ou SMC interligado. Este novo sistema produtivo é parte integral de uma estratégia de dez passos,
desenvolvida pelo autor, para converter a fábrica existente em uma fábrica com futuro.
Após os oito passos iniciais, o sistema produtivo terá sido re-projetado e integrado com as funções críticas
da produção, que são o controle de qualidade, o controle de estoques, o controle de produção e a
manutenção dos equipamentos. Automação e informatização são os dois últimos passos.
Padronizar
as alturas
Filmar o Organizar Utilizar
sistema armazenagem Utilizar fixadores
em video- e transporte ferramentas rápidos
cassete de ferramentas de fixação
suplementar
Técnicas
Práticas
Correspondentes
aos Estágios
Conceituais
Reduzir
Estudar as Eliminar
setup
operações ajustes
interno
internas
Utilizar
fixadores
mais rápidos
Setup externo: operações que podem ser realizadas com a máquina produzindo.
Setup interno: operações que só podem ser realizadas com a máquina parada.
Figura 1-4. Estágio conceituais e técnicas práticas do sistema SMED (Desenvolvido por S. Shingo, 1985)
Passo 3: Integrar o Controle de Qualidade
O projeto de células desenvolve u m ambiente propício ao controle de qualidade. As peças defeituosas não
podem sair da célula. O sistema peça-a-peça dentro da célula significa fazer uma peça, verificá-la e passá-la
adiante. Assim, além de serem operadores que trabalham em vários processos, eles realizam várias funções,
tornando-se multifuncionais. Eles sabem como reduzi r setup e organizar o posto de trabalho. Eles também
realizam outras funções, como controle de qualidade e melhoria de processo. Cada operador tem
autoridade e responsabilidade de fazer a peça certa da primeira vez e todas às vezes. Fornecendo aos
operadores as ferramentas corretas de controle de qualidade e integrando este controle ao sistema
produtivo, resultará numa grande redução de defeitos.
SPMI EM RESUMO
Todo sistema de manufatura tem certas funções de controle que devem ser realizadas. A Tabela 1-1 resume
oito funções e lista as ferramentas que os sistemas SPMI e de layout funcional (Job Shop) utilizam como
auxílio a estas funções. Independentemente do tipo de sistema de manufatura, as mesmas funções de
controle devem ser realizadas por cada um deles. Contudo, as ferramentas utilizadas pelo SPMI são muito
diferentes das utilizadas pelo layout funcional. No SPMI, muitas ferramentas são manuais - cartões kanban,
luzes andou, sistemas Poka-Yoke e ordens verbais. No MRP, a ferramenta mais importante é o computador.
Se o sistema a ser informatizado é bom, existe chance de sucesso nesta informatização.
Tabela 1-1. Como as oito funções de manufatura são controladas
O arranjo destas máquinas (normalmente chamado de layout fabril define o projeto básico do sistema fabril
dentro da empresa. No futebol, este arranjo é denominado alinhamento ofensivo ou formação defensiva.
O job shop, ou layout funcional (com alguns elementos do flow shop quando o volume é suficiente para
justificar a dedicação exclusiva de equipamentos), é prática comum nos EUA. O job shop é u m sistema de
manufatura projetado funcionalmente , em que processos similares são agrupados . A mesma organização
ocorre no futebol , com todos os homens de linha segregados dos beques. Os auxiliares técnicos são
equivalentes aos chefes de seção e o treinador é o supervisor.
Na analogia com o futebol , o sistema produtivo seria o departamento esportivo que vende as entradas,
mantém a sala de treinamento (manutenção e reparos de equipamentos) , aumentam o capital operacional,
organizam o manuseio de materiais (viagens) e faz o que for necessário para ajudar a manter o sistema
fabril operando. O sistema produtivo não fabrica nada. Ninguém no departamento esportivo joga a partida
de futebol. Todos são empregados indiretos, gerenciais e de apoio. Na fábrica, o sistema produtivo auxilia o
sistema de manufatura. Esta divisão é chamada de staff, enquanto as pessoas que trabalham na manufatura
são chamadas de linha.
Assim, o sistema produtivo inclui o sistema fabril e todas as outras áreas funcionais da fábrica, que
fornecem informações, projetos, análise e controle. Quando o sistema de manufatura é um job shop, o
sistema produtivo também é projetado funcionalmente.
Estes subsistemas são conectados entre si de alguma forma, para produzir bens, serviços ou ambos. Bens se
referem a itens materiais. Serviços não são materiais. Nós compramos serviços para satisfazer nossas
necessidades e desejos. Sistemas produtivos de serviços incluem transporte, operações bancárias, finanças,
seguros, serviços públicos, cuidados de saúde, educação, comunicação, entretenimento, eventos esportivos
e assim por diante. São esforços úteis que não produzem diretamente um produto ou criam riqueza.
Termos de produção têm um ranking de importância bem definido, algo como as graduações do exército.
Confundir sistema com seção é similar a trocar o coronel pelo cabo. Em cada caso, é necessário conhecer o
ranking (ver Tabela 1-2). Os termos tendem a se misturar devido às inconsistências do uso popular.
SISTEMAS PRODUTIVOS
O termo mais elevado na hierarquia é o sistema produtivo. Um sistema produtivo inclui pessoas, dinheiro,
equipamento, materiais e suprimentos, mercados, administração e o sistema de manufatura. De fato, todos
os aspectos comerciais (fabricação, vendas, propagandas, lucro e distribuição) são envolvidos.
Muitas das informações dadas por sistemas produtivos fabris são relevantes para o sistema produtivo de
serviços, que, por projeto, é normalmente um job shop. A maioria dos sistemas de manufatura requer um
sistema produtivo de serviços para a venda correta de produtos. Isto é especialmente verdadeiro para
indústrias como a alimentícia (restaurantes), onde o serviço ao cliente é tão importante quanto à qualidade
e a entrega no prazo.
Tabela 1-2. Termos produtivos para sistemas produtivos de manufatura
Termo Significado Exemplos
Sistema produtivo A empresa inteira; todos os aspectos de Empresa que fabrica motores ,
(toda a empresa) pessoal, máquinas, materiais e planta de montagem, indústria de
informações, considerados vidros , fundição.
coletivamente .
Sistema fabril/de manufatura Uma série de processos de fabricação Séries de operações ou processos
(conjunto de processos) resultando em produtos finais Conectados; um sistema de layout
específicos; o arranjo ou layout para funciona l (Job shop), em linha flow
todos os processos, equipamentos e shop), de posição fixa (project shop),
pessoas. de processo contínuo, ou de células
interligadas .
Processo de manufatura/ fabricação Um equipamento específico projetado Solda-ponto, fresadora, torno,
(máquina ou máquina-ferramenta) para realizar processos específicos; furadeira de coluna, fundição em moldes,
muitas vezes chamado de máquina- forjamento. Estes são todos processos de
ferramenta; máquinas-ferramentas são manufatura .
agrupadas para formarem um sistema de
manufatura .
Tarefa Um conjunto ou seqüência de operações Operar a máquina, inspecionar peças,
(job - algumas vezes chamado de posto) realizadas em máquinas, ou um conjunto montar A em B. O operador da máquina-
de tarefas realizadas por um trabalhador ferramenta tem a tarefa de operar a
em uma posição numa linha de máquina.
montagem.
Operação Uma ação ou tratamento específico, o Furar, dobrar, soldar, tornear, facear,
(algumas vezes chamado de processo) conjunto do qual é composta a tarefa de fresar, extrudar . Coisas feitas por ou
um trabalhador. numa máquina .
Ferramentas ou ferramental Os implementos utilizados para fixar, Brocas, punções, matrizes, moldes,
(ferramentas de corte, cortar, moldar ou conformar os materiais grampos de fixação, pinças, morsas,
porta-ferramentas) de trabalho; chamadas de ferramentas eixos, etc.
de corte no que se refere à usinagem;
podem referir-se a acessórios e
instalações utilizadas para fixação das
peças e punções e matrizes na
conformação de metais .
Tempo na Máquina
Movimentação e espera
5% 95%
Como os 5% são gastos:
14% Tempo de setup necessário para trocar o ferramental para peças diferentes
17% Posicionamento e descarga de peças
17% Troca de ferramentas para diferentes operações
16% Inspeção e desbastamento
36% Usinagem mesmo (adição de valor)
Figura 1-11. Utilização típica do tempo produtivo em operações de usinagem com manuseio de ferramentas
convencionais, carregamento de peças, setups e inspeções.
Existem muitas formas híbridas destes sistemas fabris, mas o sistema job shop, o u layout funcional , é o
mais comum.
Devido ao seu projeto, o job shop tem provado ser o menos eficiente, em termos de custos, dos sistemas.
Peças componentes em u m job shop típico gastam somente 5% do tempo em máquinas e o resto do tempo
esperando ou sendo movidas de uma área funcional para outra. Uma vez que a peça está em uma máquina,
ela está sendo processada (isto é, agregando valor pela alteração de forma) apenas 30 ou 40 por cento do
tempo (veja Figura 1-11). O resto do tempo a peça está sendo carregada na máquina, descarregada,
inspecionada, etc. O advento de máquinas de controle numérico aumentou o percentual de tempo em que
a máquina faz peças, porque o movimento de ferramentas é programado e as máquinas podem trocar de
ferramentas o u carregar e descarregar peças automaticamente. Mas o fato de estas máquinas ainda serem
usadas em u m ambiente job shop significa que ainda há alta percentagem de esperas e demoras.
O pont o essencial a ser observado nestes números é o seguinte. A percentagem de tempo fabricando peças
(40%) multiplicada pela percentagem de tempo na máquina (5%) resulta em 2% de tempo produtivo para
um turno de oito horas. Suponha que seja recomendável que o processo seja melhorado, elevando o
percentual de fabricação de peças para 50%, (usando uma máquina mai s rápida) o u até 60%. Tal melhoria
de processo pode custar em torno de US$ 300.000,00. Mas se não ocorrer nehuma mudança no sistema de
manufatura , o efeito na linha infrior será pequeno, em torno de 1%. Contudo , se o sistema fabril for
reestruturado para aumentar o tempo de máquina para 50% do tempo em que o produto está na fábrica, a
melhoria de processo resultará em melhorias significativas na produtividade global .
O eixo horizontal é o tempo, normalmente em anos. Antes da partida temos as etapas iniciais de projeto e o
desenvolvimento de protótipos, que podem levar mais anos.
A maturação de um produto no mercado geralmente leva a menos concorrentes, com a competição
baseada mais no preço e no prazo de entrega do que nas características do produto. Como o foco
competitivo muda ao longo dos diferentes estágios do ciclo de vida do produto, as necessidades da
manufatura - custo, qualidade, flexibilidade e dependência de entrega tambem mudam.
Figura 1-12. Relações tradicionais entre o ciclo de vida do produto e o desenvolvimento/evolução do
sistema fabril.
O estágio do ciclo de vida do produto afeta estabilidade do projeto do produto, o comprimento do ciclo de
desnvolvimento do produto, a frequência das mudanças de projeto e a onização de componentes - todos
tendo implicações sobre os processos sistema de manufatura. A primeira linha da Figura 1-12 mostra que o
sistema fabril muda durante o ciclo de vida do produto.
O conceito de ciclo de vida de produto fornece uma estrutura de tento sobre a evolução do produto no
tempo e os tipos de segmentos mercado que podem se desenvolver em diferentes momentos. Os
diferentes etos de sistemas fabris refletem a capacidade da empresa em fabricar a diferentes volumes,
enquanto reduz o custo unitário ao longo do tempo.
A abordagem de células interligadas tem alterado este conceito clássico, visto que células interligadas
permitem que uma empresa reduza ficativamente custos unitários, mantendo a flexibilidade e que faça
transições suaves entre uma fabricação de baixo e alto volume. Isto é, o mesmo sistema flexível pode
trabalhar com grandes mudanças no volume sem terque realizar grandes modificações no projeto do
sistema de manufatura.
Em termos de colocar novos projetos em produção, a Toyota e a Honda são exemplos de companhias que
estão há anos desenvolvendo o SPMI. Eles conseguem introduzir um novo modelo (novos projetos, estilos)
a cada três anos, e acreditam que uma mudança de estilo a cada dois anos já é viável. Detroit está tentando
reduzir o atual ciclo de vida do produto de 4 a 6 anos para 3 anos.