Refratários para Panelas de Aço: Uma Visão Holística : Resumo
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Refratários para Panelas de Aço: Uma Visão Holística : Resumo
Anais do Congresso Anual da ABM ISSN 2594-5327 vol. 72, num. 1 (2017)
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Resumo
São apresentados e discutidos os aspectos teóricos e práticos relativos às principais
propriedades físicas, térmicas e mecânicas de três refratários comerciais de
MgO-Al2O3-C e Al2O3-MgO-C para a zona de metal de panelas de aço.
Normalmente, o desgaste do revestimento dessa região é governado pela
propagação de trincas, penetração de aço e sucessivo destacamento das camadas
superficiais deterioradas. A deformação irreversível na direção circunferencial do
revestimento também tem despertado interesse. Os resultados da caracterização
laboratorial mostraram que o projeto microestrutural exerceu influência significativa
nas propriedades desses refratários. Os principais fatores que concorreram para
modificar o desempenho dos tijolos foram a pureza das matérias-primas, a
quantidade de antioxidantes metálicos e o comportamento dimensional dos
refratários. Os tijolos denominados MAC2 (MgO-Al2O3-C) e AMC (Al2O3-MgO-C)
apresentaram melhor compromisso entre a variação linear dimensional, resistência
ao creep e resistência à propagação de trincas, exibindo, assim, maior potencial
para suportar as variáveis de processos e práticas metalúrgicas vigentes na
Usiminas.
Palavras-chave: Panela; Propriedade; Refratário.
1
Engenheiro Mecânico, M.Sc., MBA; Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da Usiminas;
Ipatinga, MG, Brasil.
2
Engenheiro Metalurgista, MBA; Gerência-Geral de Aciaria, Usiminas; Ipatinga, MG, Brasil.
3
Técnica em Química; Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da Usiminas; Ipatinga, MG, Brasil.
4
Bacharel em Física, Dr. rer. nat.; Professor Titular do Departamento de Engenharia de Materiais,
UFSCar; São Carlos, SP, Brasil.
5
Engenheiro de Materiais, Ph.D.; Professor Titular do Departamento de Engenharia de Materiais,
UFSCar; São Carlos, SP,Brasil.
* Contribuição técnica ao 72º Congresso Anual da ABM – Internacional e ao 17º ENEMET - Encontro
Nacional de Estudantes de Engenharia Metalúrgica, de Materiais e de Minas, parte integrante da
ABM Week, realizada de 02 a 06 de outubro de 2017, São Paulo, SP, Brasil.
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1 INTRODUÇÃO
2 MATERIAIS E MÉTODOS
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Figura 1. Representação esquemática do ensaio para avaliar a refratariedade sob carga e creep.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1 Análise microestrutural
A composição mineralógica dos tijolos após a coqueificação das amostras a 400°C,
1200°C e 1400°C por 5 h é apresentada na tabela 1. As principais fases são
periclásio, coríndon, carbono e espinélio. Os resultados de difração de raios-X
mostraram que o tijolo MAC1 contém Al e Si como antioxidantes metálicos.
Entretanto, as linhas de difração de raios-X do Al e Si não foram observadas nos
tijolos MAC2. Já o tijolo AMC possui apenas Al, que se apresentou em maior
intensidade em amostras coqueificadas a 400°C.
A formação de MgAl2O4 foi observada nas amostras dos tijolos MAC1, MAC2 e AMC
coqueificadas a 1200°C e 1400°C. Entretanto, a quantidade formada foi mais
intensa no tijolo MAC1. Foi verificada também a formação de forsterita a partir de
1200°C para o tijolo MAC1 que contém Si metálico. Adicionalmente, a forsterita foi
detectada em amostras dos tijolos MAC2 e AMC coqueificadas a 1400°C. Os
resultados mostraram a formação de Al4C3 para as amostras do tijolo AMC
coqueificadas a 1200°C. Contudo, essa fase não foi mais observada nas amostras
coqueificadas a 1400°C, concordando com as análises de Yamaguchi [5], que
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Figura 2. Fotomicrografia da seção polida da amostra do tijolo AMC, coqueificada a 400°C por 5 h,
mostrando os cristais de periclásio (1), grafita (2), alumínio (3), coríndon (4) e provavelmente B 4C (5).
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Figura 3. Fotomicrografia da seção polida do tijolo MAC1, coqueificado a 400°C por 5 h, obtida em
MEV, mostrando os cristais de periclásio (1), grafita (2), alumínio (3), silício (4), cinzas (5) e
coríndon (6).
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MAC1 MAC2
Figura 4. Fotomicrografias das seções polidas de amostras dos tijolos MAC1 e MAC2, coqueificadas
a 400°C por 5 h, mostrando os cristais de periclásio (1), grafita (2) e alumínio (3).
Figura 5. Fotomicrografia da seção polida do tijolo MAC1, coqueificado a 400°C por 5 h, obtida em
MEV, mostrando um campo na fase intergranular (1) dos cristais de periclásio selecionado para
análise por EDS.
6
Si
Mg
Intensidade (103)
4
Ca
3
2 O
1 Au Ca
Mn
0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Energia (keV)
Figura 6. Resultado de microanálise por EDS do campo (1) na fase intergranular do sínter de
magnésia do tijolo MAC1 (ver figura 5).
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16,0
12,0
8,0
4,0
0,0
200 400 600 800 1000 1200 1400 1600
Temperatura de coqueificação ( C)
Figura 7. Porosidade aparente dos tijolos após a coqueificação a 400°C por 5 h, 1200°C por 24 h e
1400°C por 24 h.
Mecanismo de deterioração estrutural semelhante foi proposto por Kamiide et al. [9]
para tijolos de Al2O3-MgO-C. Os autores [9] ilustraram detalhadamente os estágios
envolvidos nessa forma de spalling estrutural. Acredita-se que os tijolos de
MgO-Al2O3-C estudados devam apresentar comportamento semelhante, face ao
aumento da porosidade com a temperatura de coqueificação. A figura 8 mostra uma
representação do modelo de propagação de trincas sugerido, que é uma adaptação
do mecanismo de deterioração proposto e discutido por Kamiide et al. [9]. Acredita-
se que os efeitos sejam mais severos em baixas temperaturas em virtude da
ausência de deformação plástica.
Certamente, a supressão desse mecanismo de deterioração estrutural requer o
equilíbrio no projeto microestrutural, com o controle da quantidade de espinélio
formado in situ e da distribuição dos agregados de magnésia [9].
Já em escala industrial, parte das microtrincas formadas nesse processo deve ser
atenuada a altas temperaturas face às tensões térmicas de compressão na direção
circunferencial do revestimento.
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1,50
1,45
1,00
0,83 1,28
0,61
0,50 0,24
0,46
0,00
4 8 12 16 20 24 28
Tempo de coqueificação (h)
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MAC1
15,0
MAC1
MAC 2
12,0
MAC 2
9,0
AMC
AMC
6,0
0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0
VLD (%)
Figura 10. Porosidade aparente versus a variação linear dimensional (VLD) dos tijolos MAC1, MAC2
e AMC após a coqueificação a 1200°C e 1400°C por 24 h.
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Figura 11. Resultados do experimento para avaliar a deformação sob tensão (0,2 MPa) até 1650°C,
seguido de creep (fluência) nessa temperatura, também sob 0,2 MPa, por 8 h.
- 7,4 %
AMC MAC1
Figura 12. Aspecto dos corpos de prova dos tijolos AMC e MAC1 após o ensaio para avaliar a
deformação sob tensão (0,2 MPa) até 1650°C e creep nessa temperatura por 8 h.
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Figura 13. Fotografias da seção longitudinal dos corpos de prova após o teste para avaliar a
resistência ao dano por choque térmico por quatro ciclos.
A quantidade de carbono também exerce influência significativa na resistência ao
dano por choque térmico. O acréscimo no teor de carbono provoca aumento na
condutividade térmica, que afeta o nível de desenvolvimento de tensões transientes.
Quanto maior a condutividade, mais homogênea a distribuição de tensões e menor a
tensão máxima desenvolvida no sistema [22]. Com relação às características
químicas, os tijolos MAC1 e AMC foram projetados com cerca de 7% de carbono. Já
o tijolo MAC2 contém 10% de carbono. O aumento na quantidade de grafita também
causa acréscimo na energia total de fratura (wof). Portanto, a alta resistência ao
dano por choque térmico do tijolo MAC2 resulta essencialmente de uma combinação
favorável de propriedades e características, tais como menor resistência à flexão a
1400°C, maior quantidade de carbono e, provavelmente, maior wof.
3.6 Mecanismo de desgaste da zona de metal
Diferentes autores [12-15] têm mostrado que a abertura de juntas verticais em
revestimento para panelas de aço é decorrente, primordialmente, da deformação
irreversível da face quente do revestimento.
Na Usiminas, a deformação plástica irreversível dos tijolos para panelas de aço
também representa um problema potencial para revestimento balanceado
tecnicamente. A principal consequência da deformação irreversível e intensa é a
eventual abertura de juntas verticais no revestimento após o resfriamento ou
variação de temperatura. Por exemplo, a figura 14 mostra a abertura de junta no
revestimento da zona de metal de uma panela de aço da Usina de Cubatão. O
projeto desse revestimento contemplou uma camada de isolante térmico entre a
carcaça e o revestimento de segurança. A zona em contato com o aço foi revestida
com os tijolos MAC1, com exceção do painel na zona de impacto do aço líquido,
correspondentes às fiadas de 1 a 4 a partir da sola, que foi composto por tijolos
AMC. As análises mostraram que houve uma conjugação de fatores que
concorreram para a deformação plástica do revestimento. Em particular, o
isolamento térmico contribuiu para a deformação irreversível face ao aumento da
temperatura média do revestimento de trabalho. O balanceamento técnico do
revestimento também concorreu para a deformação plástica anormal, em virtude da
diferença significativa entre as propriedades dos tijolos AMC utilizados na zona de
impacto da parede e os tijolos MAC1 que compõem a vizinhança na direção
circunferencial e os anéis das fiadas de 5 a 10. Os resultados de ensaios
laboratoriais indicaram o desempenho termomecânico significativamente distinto
desses dois tipos de tijolos, que pode provocar tensões e deformação diferenciais.
Essa análise é reforçada quando se considera o elevado nível de deformação
plástica do tijolo MAC1 (figuras 11 e 12).
A figura 15 mostra uma representação esquemática da abertura de juntas verticais,
adaptada do modelo proposto na literatura [13-15], resultante da deformação
irreversível com a redução de volume na face quente do revestimento.
Na prática, os esforços para o desenvolvimento e seleção de tijolos para panelas de
aço devem contemplar a expansão térmica reversível, a variação linear permanente
e o creep, considerando que as tensões transientes e a deformação diferencial na
direção circunferencial de revestimento balanceado tecnicamente, composto por
tijolos com desempenho termomecânico significativamente distinto, tais como os
tijolos AMC e MAC1, podem provocar efeitos potencialmente graves.
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Figura 14. Fotografia da superfície do revestimento de uma panela de aço, após 92 corridas,
evidenciando a abertura de junta vertical nos tijolos MAC1.
4 CONCLUSÃO
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REFERÊNCIAS
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* Contribuição técnica ao 72º Congresso Anual da ABM – Internacional e ao 17º ENEMET - Encontro
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