Afetos Políticos - Um Estudo Sobre o Debate NM
Afetos Políticos - Um Estudo Sobre o Debate NM
Afetos Políticos - Um Estudo Sobre o Debate NM
CURSO DE PSICOLOGIA
AFETOS POLÍTICOS:
UM ESTUDO SOBRE O DEBATE POLÍTICO DA NÃO-MONOGAMIA NO BRASIL
São Paulo
2022
Marcelo Bechara Tebexreni
AFETOS POLÍTICOS:
UM ESTUDO SOBRE O DEBATE POLÍTICO DA NÃO-MONOGAMIA NO BRASIL
São Paulo
2022
3
AGRADECIMENTOS
4
RESUMO
5
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 7
1.1 O mito do amor romântico ............................................................................................ 9
1.2 O sistema monogâmico............................................................................................... 15
1.3 O debate político da não-monogamia no Brasil ........................................................ 20
2. MÉTODO ...................................................................................................................... 29
3. RESULTADOS ............................................................................................................. 31
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................... 43
5. REFERÊNCIAS ............................................................................................................ 45
Anexo 1 - ROTEIRO DE ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA .......................................... 51
Anexo 2 - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO................................ 52
6
1. INTRODUÇÃO
7
dois motivos: o primeiro foi a constatação de que o grupo a ser pesquisado é muito
amplo e heterogêneo. Não seria possível falar em “pessoas não-monogâmicas” de
maneira homogênea, ainda que muitas pessoas se declarem “não-mono”;
metodologicamente, seria um equívoco reunir experiências tão distintas no mesmo
campo de análise. O segundo motivo foi o interesse em uma investigação das não-
monogamias em defrontação com o debate político, que compreendesse o acúmulo
teórico dos anos de discussões sobre possibilidades não-monogâmicas de se
relacionar. A escolha por entrevistar ativistas se justifica pela relevância de uma
análise que considerasse este debate.
Em um primeiro momento, o trabalho se ocupará de traçar uma visão histórica
sobre o amor romântico no ocidente, compreendido enquanto dispositivo ideológico
do sistema monogâmico. Depois, a análise se centrará na edificação deste sistema e
suas características, a partir das contribuições de Lessa (2012) e Vasallo (2022). Por
fim, será apresentado um panorama da insurgência de diferentes tipos de grupos
voltados à discussão das não-monogamias no Brasil do século XX.
Acredito que essa pesquisa poderá contribuir para a reflexão acerca da
organização da vivência dos afetos no ocidente, a partir de uma visão crítica sobre
alguns de seus dispositivos – tais como a monogamia compulsória e o amor
romântico. A experiência das não-monogamias – ao menos daquelas que contestam
frontalmente a monogamia – indica caminhos para a construção e vivência de
relacionamentos orientadas por novos horizontes éticos. Novas formas de se pensar
o cuidado e a autonomia nas relações que culminam, em última instância, em novos
projetos de sociedade.
8
1.1 O mito do amor romântico
1
Lima Vaz (2011) propõe que toda a tradição filosófica ocidental tem por base, seja em termos de
acolhimento ou de contestação, o pensamento de Platão.
2
Barrenechea (2015, p. 130) rememora que Platão apresenta uma concepção da bipartição da
realidade em mundo inteligível e mundo sensível: “Por um lado, temos a enganosa existência do mundo
sensível, mera aparência ou sombra da genuína realidade. Por outro, existe o mundo inteligível que
permanece eterno, imutável, além dos sentidos, num topos ideal, num além-mundo”.
3
Moraes (2019, p. 93 e 94) afirma que “[...] a adequada interpretação da impossibilidade da plena
realização do ‘amor platônico’ seria a de que, sendo marcado por uma falta, o amante, por sua própria
natureza, nunca pode ser aquele que possui o amado por completo.”
9
idealizado como fim em si mesmo e torna-se possível, apenas, em sua pureza, ao
próprio Deus. Pretto et al. (2009) destacam que o amor cristão se faz incondicional
por assegurar a salvação e o paraíso aos sujeitos, significando sacrifício, abdicação e
dedicação:
4
Barros (2011, p. 197-198) exemplifica tal idealização a partir da vida do trovador Jaufre Rudel,
conhecido por cantar o amor distante: “A Dama, aqui, é conduzida ao máximo da idealização. O poeta
a ama sem nunca tê-la contemplado. Apaixona-se apenas pelo que dela ouvira dizer, e é esta paixão
que o conduz à aventura da Cruzada e da Morte.”
5
Del Priore (2007, p. 126) aponta, como exemplos da interferência do Estado na vida privada, “[...] a
perseguição aos celibatários; o reforço à autoridade dos maridos que passaram a exercer uma espécie
de monarquia doméstica; a incapacidade jurídica das esposas a quem não era consentido realizar
nenhum ato sem autorização de seus maridos.”
10
à loucura e ao adoecimento. Para Lins (2012), o advento do Iluminismo conferiu ao
amor uma associação ao ridículo. Na Idade da Razão, o amor idealizado, ainda
vinculado ao sofrimento, foi deixado de lado.
Com o Romantismo, o amor retornou à idealização. O amor romântico emerge
da literatura como possibilidade de libertação da racionalização excessiva iluminista.
O acontecimento da Revolução Francesa produziu na Europa inteira, bem como no
continente americano, “[...] uma profunda emoção, exprimindo-se em uma literatura
de tipo emocional, que se deu a si mesma o nome de ‘romantismo.’” (CARPEAUX,
2008, p. 1365). O Romantismo, enquanto movimento artístico e cultural, defendeu-se
do objetivismo racionalista da burguesia, pregando como única fonte de inspiração o
subjetivismo emocional. Nesse sentido, criou-se uma literatura que se situa
conscientemente fora da realidade social: ou evadindo-se dela, ou atacando-a
(CARPEAUX, 2008; PEREZ E PALMA, 2018).
Perez e Palma (2018) sugerem uma mudança na concepção de amor, que no
século XIX transforma-se em uma finalidade nobre da vida: “Os romances literários
propõem novos sentimentos, em que a escolha conjugal é condição para a felicidade”
(p. 2). É nesse momento que o ideal amoroso se constitui enquanto possibilidade nos
casamentos, anteriormente orientados por interesses econômicos e políticos. O amor
é associado, então, à liberdade:
O amor romântico reúne vários elementos dos tipos de amor descritos até aqui.
Pretto et al. (2009) enfatizam que este amor justifica a existência do sujeito, sendo
vivido como sofrimento que recompensa a vida. Sua função seria libertá-lo “[...] da
moral e das convenções sociais, uma vez que salienta a cisão entre o indivíduo e a
cultura quando pretende a absorção de um parceiro no outro, exigindo exclusividade
e, com isso, priorizando a esfera do casal” (PRETTO ET AL., 2009, p. 396).
11
É necessário ressaltar que, no século XIX, a sexualidade instituiu-se como um
dispositivo de saber e poder (FOUCAULT, 1988). Cassal, Gonzalez e Bicalho (2012)
discutem que a difusão de regimes de verdade e olhares para o sujeito tornaram a
sexualidade um dispositivo de controle de corpos, modos de existência e de
populações. Michel Foucault nomeou de dispositivo da sexualidade o conjunto de
“práticas discursivas e não discursivas, saberes e poderes que visam normatizar,
controlar e estabelecer verdades a respeito do corpo e seus prazeres” (MADLENER
E DINIS, 2007, p. 50). Em outras palavras, houve uma proliferação de discursos,
prescrições e outras formas de controle sobre o corpo que produziram uma verdade
sobre a sexualidade.
Araújo (2002) discorre que, ainda no século XIX, instituiu-se um discurso
disciplinador para suprimir as formas de sexualidade não relacionadas com a
reprodução e com o casamento como lugar legítimo para as práticas sexuais. Com o
desenvolvimento das ciências médicas, aumentaram as instâncias de controle e
vigilância do corpo e das práticas sexuais. Houve a imposição da ideia de uma
sexualidade natural, heterossexual e para procriação. Nesse sentido, o amor
romântico – patriarcal, heteronormativo e de monogamia compulsória – foi postulado
como destino anatômico e biológico, ganhando explicação científica.
Como destacam Perez e Palma (2018), a libertação romântica é insatisfatória,
uma vez que é calcada na idealização e oferece ao sujeito um modelo de conduta
amorosa. Pretto et al. (2009) assinalam que o amor romântico só frutificou onde a
cultura burguesa impôs as regras da satisfação emocional individualista. É um amor
moldado no ideal da família burguesa6 e que reitera os papéis de gênero, conferindo
às mulheres novas normas de vigilância moral. Enquanto os homens passam a ter o
direito de escolher sua noiva, a virgindade da mulher se torna um objeto de valor
político e econômico. É imposta à mulher a monogamia compulsória e, assim, a família
monogâmica garante a transmissão da herança gerada pela acumulação de bens do
sistema capitalista (PEREZ E PALMA, 2018).
No século XX, o amor toma grande importância. Em suas primeiras décadas,
toda ameaça ao casamento era alvo de críticas. O tema do divórcio era considerado
6
Rodrigues e Abeche (2010, p. 378) assinalam que “esta estrutura familiar é definida como uma
unidade conjugal limitada a poucos filhos, não se pautando na manutenção das tradições e na
continuação da linhagem, mas sim, na acumulação de capital e no valor da escolha individual, no amor
romântico”.
12
“imoral”, sendo restrito a casos excepcionais, e a família nuclear monogâmica é
reputada como símbolo da felicidade amorosa. Estima-se que, a partir da década de
40, a maioria das pessoas já se casava por amor. Concebendo-se como fenômeno de
massa com os filmes de Hollywood, o amor se estabelece como ideal a ser alcançado
- uma busca eterna pelo “felizes para sempre”. (DEL PRIORE, 2006; LINS, 2017;
PEREZ E PALMA, 2018).
A chamada “revolução sexual” dos anos 1960 e 1970 questionou os padrões
de liberdade sexual vigentes e algumas normas do amor. O feminismo e os
movimentos de liberação sexual colaboraram para uma desarticulação das ideias de
casamento e experiência sexual e amorosa. O advento da pílula anticoncepcional, a
institucionalização do divórcio e a inserção das mulheres no mercado de trabalho são
exemplos de transformações sociais ocorridas neste período, e que teriam contribuído
para uma maior equidade nas relações entre homens e mulheres (PEREZ E PALMA,
2018; PILÃO, 2019).
Além disso, o surgimento de um movimento homossexual no Brasil dos anos
70 também questionou a norma do casamento indissolúvel e heterossexual. Conde
(2004) reconhece que o movimento homossexual questiona os mecanismos
repressivos utilizados pela ótica dominante heteronormativa e fragiliza a legitimidade
desses argumentos, não admtindo que “o desrespeito ao direito humano fundamental
de exercer livremente a orientação sexual seja tratado pelo Estado como assunto
limitado à esfera privada” (p. 183).
Apesar de ainda almejado, ao final do século XX, o amor romântico mostrou
sua face fugaz, podendo ser vivido de maneira provisória. A tecnologia e a
globalização aumentaram, ainda mais, a velocidade das mudanças sociais no século
XXI (PEREZ E PALMA, 2018). Lins (2012) propõe que a busca pela individualidade
caracteriza a época em que vivemos. Na era do individualismo radical da
contemporaneidade, o amor romântico começou a sair de cena, levando consigo a
ideia de exclusividade e possibilitando a expressão de novos arranjos afetivo-sexuais.
Ainda assim, o amor romântico resiste. Lins (2017, p. 26) refere-se a ele como “a
propaganda mais difundida, poderosa e eficaz do mundo ocidental”:
13
único e insubstituível, pois para o sujeito do amor romântico seu objeto é
permanente e exclusivo, fazendo com que ele não tenha de sentir desejo por
outro objeto, o que o torna fiel sem necessidade de imposições externas. É
mantendo-se como o único que poderá verdadeiramente produzir uma
satisfação sexual plena. A fidelidade faz parte dessa idealização amorosa e
é causa recorrente das dores de amor (CROMBERG, 2018, p. 234).
14
- Mito da paixão eterna: crença de que o amor romântico e apaixonado dos
primeiros meses de um relacionamento pode e deve durar depois de anos de
convivência;
- Mito da onipotência: crença de que "o amor tudo pode" e, portanto, se existe
amor verdadeiro, quaisquer obstáculos que surjam não devem influenciar o
casal, uma vez que o amor é suficiente para resolver todos os problemas e
justificar qualquer comportamento;
- Mito do livre arbítrio: crença de que o amor é um sentimento absolutamente
íntimo, individual e não influenciado por fatores sociais, biológicos e culturais
alheios à nossa vontade e consciência.
Nesse sentido, é possível definir por “mito do amor romântico” uma construção
social e histórica normativa, fundamentada sobre uma série de diferentes concepções
idealistas e socialmente concebidas a respeito do amor. O amor romântico pode ser
apreendido, então, como uma imposição ideológica heteronormativa, patriarcal7 e que
compreende a monogamia compulsória (PEREZ E PALMA, 2018). A ideia do amor
romântico vincula-se ao ideal de felicidade, só sendo feliz quem o atinge. Não
obstante, “as exigências do ideal romântico são tão duras quanto a maioria dos ideais
de autoperfeição que o Ocidente inventou” (COSTA, 1998, p. 74).
Contrariando as normativas do amor romântico e da monogamia, outras formas
de arranjos afetivo-sexuais surgem procurando despir o amor e os afetos das regras
que o imobilizam, atribuindo-lhes novos significados. Nessa direção, Vasallo (2022)
sugere que “arrancar o amor das garras do amor romântico não é tirar a emoção das
coisas. É nos salvar definitivamente das violências criadas em nome do amor” (p. 171).
[...] a monogamia é muito mais do que mero preceito moral da vida cotidiana
– ela é, na verdade, um aspecto decisivo da organização da sociedade de
classes. (LESSA, 2012, p. 10)
7
Os estudos de Coronado (2019) e Ferriani et al. (2019) são algumas das pesquisas que associam o
mito do amor romântico à violência de gênero. Silva (2017) apresenta algumas críticas feministas ao
amor romântico.
15
No intuito de conceituar o sistema monogâmico e as críticas à monogamia, faz-
se necessário compreender sua origem histórica. Para tanto, recorreremos ao livro
“Abaixo a família monogâmica!”, do cientista social Sergio Lessa, que se propõe a
recuperar as teses de Friedrich Engels e Karl Marx sobre a origem da família e da
propriedade privada.
Lessa (2012) situa a origem da família monogâmica na transição para a
sociedade de classes. O autor argumenta que a destruição dos laços primitivos
comunitários - que faziam da sobrevivência de cada indivíduo a condição necessária
para a sobrevivência de toda a comunidade -, seguida pelo desenvolvimento da
concorrência inerente à propriedade privada, teriam resultado no destaque da família
em relação à sociedade. As atividades comuns foram convertidas em atividades
privadas, realizadas para cada proprietário. Assim, a família se desassociou do
coletivo e se constituiu em núcleo privado.
A família monogâmica ou nuclear é, essencialmente, patriarcal. Enquanto os
homens das classes dominantes cuidavam da propriedade privada, foram impostas
às mulheres as tarefas que não geram riqueza, imprescindíveis para a reprodução
biológica. O horizonte feminino deixa de ser a totalidade da vida social para se reduzir
ao âmbito privado, cabendo aos homens “prover” suas mulheres (LESSA, 2012).
8
Lessa (2012, p. 75), pontua: “[...] é verdade que, entre as classes trabalhadoras, era uma situação
normal as mulheres trabalharem fora de casa, coisa que não acontecia entre as famílias burguesas.
16
ocorrer entre maridos e esposas ou entre senhores e prostitutas 9: “no primeiro caso,
a finalidade é um herdeiro que possa perpetuar a acumulação de riqueza da família.
Esta, por sua vez, tem seu status na sociedade a partir da propriedade que possui”
(LESSA, 2012, p. 31). Nesse sentido, a virgindade da esposa torna-se a garantia do
destino da herança: o filho primogênito.
Tal modelo é transmitido às crianças, que desde muito cedo são educadas para
o papel feminino e o papel masculino - “[...] para o papel de membros da classe
dominante ou dos trabalhadores” (LESSA, 2012, p. 34). Dessa forma, a família
monogâmica se constitui por um homem e uma ou várias mulheres em uma relação
de opressão.
Nesse sentido, apreende-se que a regra monogâmica foi historicamente
aplicada, apenas, às mulheres. Amorim e Reis (2020) relembram que, de acordo com
Engels, o primeiro tipo de opressão na história ocidental seria a opressão das
mulheres pelos homens, a fim de garantir o acúmulo de bens dentro de uma linhagem
patrilinear. A monogamia teria surgido como um dispositivo associado à gestão da
propriedade privada10.
Costa e Belmino (2015) reconhecem que a indissolubilidade da união conjugal
se inseriu no cenário das sociedades ocidentais apenas a partir do século XIII. Nesse
contexto, se a mulher não procriasse, poderia ser devolvida à família ou colocada em
um convento. O casamento, de uma instituição com vistas à estabilidade de uma
sociedade e que desempenhava apenas uma função reprodutiva e de união de
riquezas, foi convertido em sacramento. Moreira (2018) admite que o Concílio de
Trento do século XVI reforçou os princípios da monogamia e da indissolubilidade do
matrimônio sacramentado.
Ainda assim, esse fato, por si só, não significa que as tarefas domésticas e de criação dos filhos
deixaram de ser serviço privado a ser prestado pelas mulheres aos seus maridos: a dupla jornada de
trabalho”.
9
A prostituição é descrita por Lessa (2012) como consequência necessária do casamento
monogâmico: “Apenas assinalaremos que a prostituição é uma decorrência tão necessária do
casamento monogâmico quanto a esposa: são apenas mediações diferentes para a afirmação do
mesmo poder patriarcal que brota da propriedade privada” (p. 39).
10
Lessa (2012) compreende que tanto a monogamia como a poligamia expressam o mesmo
patriarcalismo: “Se, no harém e entre os mórmons, a monogamia é expressamente apenas feminina,
ao homem sendo legítimo várias esposas, na família tradicional cristã, ocidental, o casamento é
complementado pela prostituição. A regra monogâmica aplica-se apenas às mulheres: a monogamia é
a expressão, por todos os lugares, do patriarcalismo” (p. 42).
17
A indissolubilidade do matrimônio é consequência, em parte, das condições
econômicas que engendraram a monogamia e, em parte, uma tradição da
época em que, mal compreendida ainda, a vinculação dessas condições
econômicas com a monogamia foi exagerada pela religião (ENGELS, 2010,
p. 107).
18
uma está certificada como correta, apropriada. A exclusividade sexual é um
compromisso simbólico, é o pagamento que se faz para adquirir essa
legitimidade: não vou dormir com mais ninguém, mas, em troca, nosso
relacionamento será superior aos demais. Você e eu teremos um
relacionamento favorecido, com privilégios que se estendem a uma infinidade
de níveis e com ampla tolerância, também social, às violências associadas a
esses privilégios (VASALLO, 2022, p. 36).
11
De acordo com Vasallo (2022), o vínculo monogâmico possui um caráter identitário: não se fala
“estamos em um par”, mas “somos um par”. A autora destaca que o sistema monogâmico não organiza
uma forma de sobrevivência coletiva, mas objetiva uma reprodução identitária e exclusiva, com nomes
e sobrenomes, com linhagem: “as crianças paridas pelo sistema monogâmico não são filhas de uma
comunidade, são filhas de um pai com nome e sobrenome e de uma mãe com nome e sobrenome. E
não ter sobrenomes é tão grave quanto tê-los e não querer transmiti-los (VASALLO, 2022, p. 40).
12
A competitividade é descrita por Vasallo (2022) como o mecanismo básico de todos os processos e
estruturas que existem no mundo capitalista. Neste caso, refere-se à competição para alcançar o núcleo
hierárquico, o casal.
13
A confronto, segundo Vasallo (2022), seria necessário para alcançar o núcleo hierárquico e mantê-
lo.
19
Porto (2018) estudou a interferência da mononormatividade14, enquanto
modelo impositivo e normativo de monogamia, na liberdade de construção dos
relacionamentos íntimos e no exercício amplo dos direitos decorrentes dessas
escolhas na esfera pública. Concluiu-se que, na medida em que a mononormatividade
permanecer em nosso ordenamento sociojurídico, o espaço para o exercício pleno da
cidadania sexual na esfera pública pelos indivíduos que não se enquadram no padrão
monogâmico será limitado. Sendo assim, a monogamia também pode ser
compreendida enquanto imposição jurídica no Brasil15.
Por fim, é pertinente ressaltar que o construto da monogamia passou por
modificações ao longo da história. A partir da institucionalização do divórcio e de
outras transformações sociais ocorridas no século XX, a monogamia indissolúvel
transforma-se em monogamia em série, que implica na possibilidade - legítima - de
amar a mais de uma pessoa ao longo da vida. Existindo a possibilidade de separação,
ainda assim, conserva-se a estrutura monogâmica: não se trata mais de “uma pessoa
para o resto da vida”, mas de “uma pessoa por vez”. O amor romântico funciona como
base ideológica para sustentação deste modelo, hoje hegemônico no Ocidente
(PILÃO, 2017).
14
O conceito de mononormatividade traduz o paradigma da monogamia enquanto imposição normativa
compulsória.
15
“Na hipótese do Código Penal, dentre os crimes contra a família e o casamento e que têm pertinência
direta com a (violação da) monogamia, podem ser citados o adultério e a bigamia. Até 2005, o adultério
ainda era criminalizado nos termos do artigo 240 com a cominação de pena de detenção de 15 dias a
seis meses para o cônjuge adúltero; por sua vez, a bigamia permanece tipificada como crime pelo artigo
235, que prevê a pena de reclusão entre dois a seis anos para a pessoa casada que contrair novo
matrimônio, penalidade aplicada inclusive a quem, não sendo casado (a), casar com pessoa casada
tendo conhecimento dessa circunstância” (PORTO, 2018, p. 663).
16 A ideia de “modelo relacional” não é um consenso nos debates não-mono. É comum a referência à
A anarquia relacional, por sua vez, pode ser vista como um modelo dissidente
do poliamor por considerar que sua versão predominante é uma espécie de
“monogamia expandida” que ainda sustenta vários valores conservadores e
hierárquicos acerca de gênero, sexualidade, amor e poder, com a diferença
apenas de ter um número maior de relações. As relações livres (RLis) de um
modo geral também fazem críticas semelhantes ao poliamor e procuram resgatar
a ênfase na liberdade presente na noção de amor livre, sem no entanto focar
somente nesse sentimento, mas na qualificação das próprias relações
(SILVÉRIO, 2018, p. 2).
voltadas à discussão das não-monogamias que utilizam a expressão “não-monogamia política” em suas
publicações. O grupo “Problemas de Não-Mono”, o maior do Facebook dedicado a esse debate no
Brasil, possui mais de 6 mil membros até o momento desta pesquisa. Em sua descrição, a não-
monogamia política aparece como “eixo norteador e inegociável” do espaço virtual.
26
“identidade política”20, formulado pelo psicólogo e pesquisador Antônio da Costa
Ciampa, que sinaliza a importância da consciência de projetos de vida para
emancipação dos sujeitos. Nesse sentido, o exercício da identidade política
desembocaria em um rompimento com as homogeneizações sociais (DANTAS,
2017). A não-monogamia política se apresenta como um orientador de vida ou, ainda,
como um direcionamento ético e político para a construção das relações (LIMA
JÚNIOR E MIRANDA, 2022).
A página “Reflexões e Conexões Não-Mono” foi fundada em 2018, inicialmente
no Facebook, e idealizada por duas psicólogas e terapeutas de casais. O objetivo era
criar uma comunidade de pessoas não-monogâmicas a partir de um espaço de troca,
visibilidade e acolhimento. O projeto publica textos autorais no Instagram, além de
organizar cursos, palestras, workshops, grupos de apoio e diversos eventos. A página
possui um manifesto em seu site oficial, o qual discorre sobre a proposta do projeto e
estabelece valores para uma “não-monogamia ética”, termo amplamente utilizado em
seus posts.
Conforme o manifesto da página, a “não-monogamia ética” diz respeito ao
desenvolvimento e cultivo da autonomia afetiva, pautada pela ideia de
interdependência e não pelo individualismo. O cuidado aparece como uma noção
central dessa proposta, assim como a necessidade de se estabelecer acordos
consensuais e não restritivos entre as pessoas envolvidas numa relação. Além disso,
a definição de limites pessoais no processo de construção dos relacionamentos é
apresentada como fundamental para se viver relações saudáveis.
A página “Afetos Insurgentes” foi criada pela professora e ativista Anita Bertelli
em 2020, com o objetivo de discutir a não-monogamia sob a ótica da anarquia
relacional. Atualmente, o projeto conta com a participação de outros colaboradores e,
além do perfil no Instagram, possui uma revista na plataforma Medium, onde são
publicados artigos autorais e traduções de textos estrangeiros. Autodefinida como um
espaço para a reflexão sobre o papel social e político das relações interpessoais de
afeto e as estruturas de poder e normatividade que operam nessas relações, a “Afetos
20Dantas (2017) sintetiza o conceito de “identidade política” como “[...] aquela que conjuga a igualdade
e a diferença. Requer que o indivíduo em seu processo de socialização busque associação a grupos,
ideias, causas que lhe deem sustentação, que o ajudem a desenvolver alguma forma de identificação
política, sem aprisioná-lo a eventuais políticas de identidade impostas ao/pelo grupo. Dessa forma, o
indivíduo encontra espaço para o exercício de sua autonomia, por meio do seu processo de
individuação” (p. 6).
27
Insurgentes” se caracteriza pelo pensamento anarquista e anticapitalista. Os textos
abordam criticamente temas como o amor romântico, as hierarquias relacionais,
relações de poder e amizade.
Atualmente, são diversos os agentes que constroem o debate político da não-
monogamia no Brasil, a partir de diferentes perspectivas. Ao mesmo tempo, são
observados esforços comuns a alguns deles, no sentido de aumentar a visibilidade de
tais práticas e formas de se relacionar e, também, de politizar as discussões sobre o
tema. Desta maneira, o presente estudo se faz relevante para ampliar os
conhecimentos acerca de outras possibilidades para a vivência dos afetos. Os
ativismos não-mono indicam a possibilidade de reinventar as maneiras de se
relacionar, destituindo antigos dispositivos normativos. Sendo assim, o presente
estudo buscou investigar o debate político da não-monogamia no Brasil e analisar os
sentidos atribuídos à não-monogamia por ativistas que vivenciam relacionamentos
não-monogâmicos e produzem sobre o tema.
28
2. MÉTODO
29
A pesquisa apresentou riscos mínimos e não foi necessário interromper as
entrevistas. Os dados de identificação dos participantes foram preservados, conforme
o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Anexo 2). O projeto de pesquisa foi
aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da PUC-SP sob o número
CAAE: 54087821.9.0000.5482. Foram utilizados nomes fictícios para referir-se aos
participantes.
30
3. RESULTADOS
Nesta pesquisa, foi possível identificar o caráter plural do debate político sobre
a não-monogamia no Brasil. Atualmente, são diversos os agentes que constroem
discussões nas redes sociais, a partir de diferentes epistemes e perspectivas teóricas.
A análise buscou evidenciar, nos discursos dos entrevistados, aproximações e
distanciamentos a partir de trechos que tratam de temas semelhantes.
No intuito de situar o leitor, será feita uma breve apresentação dos
participantes: Letícia é uma mulher cis, possui 34 anos, é branca, trabalha como
professora de línguas e mora no estado de São Paulo; Pedro é um homem cis, possui
27 anos, é negro, cearense e professor; Sofia é uma mulher cis, possui 41 anos, é
branca, também é professora e mora no estado de São Paulo. Todos são ativistas e
produzem sobre a temática da não-monogamia nas redes sociais.
A monogamia
31
no sentido da divisão sexual do trabalho (trabalho doméstico e trabalho
reprodutivo), na transformação da dimensão do cuidado num trabalho
naturalizado feminino, que sobrecarrega determinados indivíduos em prol
de outros, e que serve à manutenção do capital. Entendo como parte do
processo contínuo da colonização nesse território, [...] trazida como única
forma possível de se relacionar e sendo centrada não na quantidade de
relações afetivas ou sexuais, mas numa série de acordos, hierarquias e
organizações que, no fim, servem para servir nos isolando para
potencializar nossa exploração. (Pedro)
21A análise foi produzida a partir dos microdados dos registros policiais e das Secretarias estaduais de
Segurança Pública e/ou Defesa Social.
32
A ausência de referências
33
relacionais específicas para que sejam consideradas melhores em termos absolutos.
Nesse sentido, a frustração surge como efeito da contestação da norma: “É uma
percepção real de que, se as pessoas não tiverem num casal monogâmico, elas não
têm garantia de cuidado e de afeto. [...] E eu entendo, porque quando você olha para
o lado, é difícil ver alternativas. Se você escolhe não estar em um casal e você vê todo
mundo em casal e em família, você se vê sozinha. É uma percepção real, esse é o
sistema.” (Letícia)
Passei a não querer mais formar casal. Passei a dar muito mais ênfase à
rede de afetos, a ponto de eu não querer e ativamente tentar não ter
namoros. E estar sempre pensando na perspectiva da rede, da minha
autonomia e do meu autocuidado. Não colocar pessoas nesse lugar para
não gerar dependência, mas tentar estar sempre com a rede. Desde
então, tem sido assim. Tem sido bem interessante, não que muitas
pessoas achem legal... Acho que algumas começam a se relacionar
comigo, veem que não vai rolar o casalzinho e depois dão um passo para
trás. E tudo bem, direito delas. Outras vezes, eu que entro numa pira
romântica de ficar apaixonadinha pela pessoa e não entender que eu
mesma estou buscando aquilo que não queria. É constante: ‘ok, vamos
34
focar em construir redes sem desvalorizar as pessoas e sem abrir mão
do que eu quero’. Tem sido esse jogo.” (Letícia)
As hierarquias relacionais
35
relacionais; a restrição da liberdade e autonomia; a falta de igualdade e
espontaneidade.
Nessa direção, a fala de Letícia sintetiza sua visão sobre as hierarquias
relacionais: “Eu acho que a gente precisa construir algo horizontal, mesmo. Sem
hierarquia. [...] A anarquia relacional é o anarquismo aplicado às relações
interpessoais. Vão ser os mesmos princípios que serão aplicados: princípio da
autogestão, da horizontalidade, de você não ter papéis fixos... [...] se eu passo mais
tempo com uma pessoa, significa que estou passando menos tempo com outras. Se
isso se sustentar, constantemente, por muito tempo, a gente vai criar uma hierarquia.
Se eu dou muito cuidado para uma pessoa e ela me dá muito cuidado – e isso é um
recurso limitado – significa que não estou podendo dar para outras pessoas. Mas isso
não pode significar que a gente não está dando cuidado para ninguém” (Letícia). A
ênfase, aqui, está na rede de afetos e no manejo coletivo dos cuidados.
A crítica às hierarquias relacionais, entretanto, não é um consenso entre os
entrevistados. Em seu ativismo, Sofia discute as interfaces da maternidade com a não-
monogamia e demonstra discordar desta perspectiva: “Eu acho que toda relação é
uma relação de poder. Qualquer relação... [...] não tem como não ter hierarquia se
você mora com um ou com outro. Por mais que possam ser coisas ruins de rotina que
estou resolvendo, vou ficar muito mais tempo aqui, resolvendo coisas de casa, de
filho... Vai hierarquizar, aqui vai ser minha relação principal, de algum jeito. [...] Eu não
sei se é possível quebrar tudo que a gente chama de hierarquia. [...] A forma do vínculo
é diferente com algumas pessoas do que com outras. [...] Tem pessoas que a gente
tem mais afinidade, tem pessoas que a gente tem menos... Tem pessoas com quem
eu consigo passar mais tempo, que dá certo morar junto, e com outras pessoas não”
(Sofia).
A “liberalização” da não-monogamia
40
relacionais e afetivas, e não cair na espiral – que sobretudo pessoas dissidentes caem
– da solidão” (Pedro).
A rede de relações interpessoais surge como uma possibilidade de contornar a
solidão. Uma solidão, neste caso, relativa ao preterimento afetivo-sexual vivenciado
por corpos dissidentes da norma, tanto na monogamia quanto na não-monogamia.
Esse conceito foi abordado por algumas pesquisas: a dissertação de mestrado de
Souza (2008) aborda o preterimento da mulher negra pelo homem negro na cidade
de São Paulo; Ferreira e Caminha (2017) discutem o preterimento na experiência das
homossexualidades negras; Cordeiro, Sierra e Dias (2021) constatam que a vida
afetiva das bixas-pretas se configura em um processo de preterimento.
A experiência do preterimento afetivo-sexual revela que muitos corpos têm
pouco ou nenhum acesso à vivência do amor romântico. Este amor é fundado em
moldes eurocêntricos e, sendo assim, é branco e cisheterossexual. Corpos
dissidentes, fora dos ideais dos contos de fadas, são secundarizados no mercado
afetivo. Nesse sentido, os atravessamentos sociais possuem relação com o
preterimento afetivo-sexual.
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4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
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5. REFERÊNCIAS
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ANEXOS
Informações preliminares
- Nome; Idade; Ocupação; Formação; Onde e com quem mora; Raça; Gênero;
Orientação sexual; posição política.
I) Trajetória
1. Fale sobre como conheceu formas de se relacionar não-monogâmicas.
2. Fale sobre relações não-monogâmicas vividas, desafios e estigma.
3. Fale sobre o que sente/pensa a respeito da monogamia.
4. Fale sobre desejo, amor, ciúme e acordos nas relações não-monogâmicas.
II) Política/ativismo
1. Fale sobre o momento da decisão pelo ativismo (motivações, trajetória, como
foi o início, atuações/práticas).
2. Fale sobre as pautas e/ou discussões em torno das quais o seu ativismo se
organiza.
3. Fale sobre perspectivas em relação aos ativismos não-mono no Brasil. Quais
os principais desafios?
4. Fale sobre tensões e aproximações com outros ativismos, disputas conceituais,
divergências políticas/teóricas.
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Anexo 2 - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Prezada(o) participante,
Este estudo tem por objetivo geral compreender os sentidos atribuídos à não-
monogamia por pessoas que vivenciam relacionamentos não-monogâmicos e produzem
pensamento sobre o tema. Sua contribuição consistirá na realização de uma entrevista, com
cerca de 1 hora de duração, sobre suas próprias vivências. Por se tratar de impressões
íntimas que abarcam experiências singulares, não há uma resposta certa. A conversa será
gravada para que as falas possam ser analisadas com mais atenção, mantendo assim a
fidedignidade das mesmas.
Você não terá nenhuma despesa e não receberá nenhuma remuneração. Mesmo a
princípio não tendo benefícios diretos em participar, indiretamente você estará contribuindo
imensamente para a compreensão do fenômeno estudado e para a produção de
conhecimento científico.
Assinatura do pesquisador:
Assinatura do participante:
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