Praticas Conservacionistas
Praticas Conservacionistas
Praticas Conservacionistas
a. Facultad de Ciencias
Universidad Nacional de
Website: http://revistas.unitru.edu.pe/index.php/scientiaagrop Trujillo
REVIEW
Práticas conservacionistas do solo e emissão de
gases do efeito estufa no Brasil
Soil conservation practices and greenhouse gases
emissions in Brazil
Marcos Renan Besen1,*; Ricardo Henrique Ribeiro2; Alessandra Nardina Trícia Rigo
Monteiro3; Guilherme Seiki Iwasaki4; Jonatas Thiago Piva5
1 Universidade Estadual de Maringá, Programa de Pós-Graduação em Agronomia. Maringá, Brasil.
2 Universidade Federal do Paraná, Programa de Pós-Graduação em Ciência do Solo. Curitiba, Brasil
3 Animine. Sillingy, França.
4 Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina. Timbó Grande, Brasil.
5 Universidade Federal de Santa Catarina-Campus Curitibanos, Santa Catarina, Brasil.
Resumo
No Brasil, mais de 84% das emissões de N2O e 74% de CH4 são resultantes da
agropecuária, e aproximadamente 40% do CO2 emitido tem origem do uso e mudança do
uso da terra e florestas. Têm-se percebido uma preocupação em diversas instituições de
pesquisa abordando essa temática, aprimorando o conhecimento da dinâmica e principais
fatores que governam a emissão dos principais gases do efeito estufa (GEE). Nesse
sentido, tecnologias sustentáveis que sigam as premissas da agricultura conservacionista
apresentam potencial de mitigação na emissão de GEE, à poder citar o sistema de plantio
direto (SPD), uso de plantas de cobertura, adoção de sistemas integrados, entre outras
práticas edáficas. Em relação ao SPD, a retenção de CO 2 na matéria orgânica do solo
justifica o balanço positivo em solos manejados sob esse sistema em comparação ao
cultivo convencional. Normalmente solos não perturbados atuam como dreno de CH 4, no
entanto os sistemas de manejo SPD e convencional ainda carecem de mais estudos, a fim
de averiguar seus efeitos na produção de N2O. A forma como o solo é manejado influencia
diretamente na emissão de gases e balanço de carbono, logo práticas conservacionistas
que visam a proteção do mesmo, são fundamentais para mitigação de GEE.
Palabras clave: Plantio direto; metano; manejo; carbono; sistemas integrados
Abstract
In Brazil, more than 84% of N2O emissions and 74% of CH4 are produced by agriculture, and
approximately 40% of the CO2 emitted originates from the use and change of land use and
forest. It has been noticed a concern in several research institutions addressing this issue
in order to improve the knowledge of the dynamics, as well as the main factors which drive
the three main greenhouse gases (GHG) emissions. In this sense, sustainable technologies
that follow the conservation agriculture premises show potential to mitigate the GHG
emissions, as the no-tillage system (NTS), the use of cover crops, the use of integrated
systems and other edaphic practices. Regarding the NTS, the CO 2 retention in soil organic
matter justifies the positive balance in soils managed under this system compared to
conventional tillage. Usually undisturbed soils act as sink of CH 4, however, the
management NTS and conventional tillage still need more studies in order to evaluate its
effects in N2O production. How the soil is managed, strongly affects the gases emission and
the carbon balance, showing that the adoption of soil conservation practices, aiming to soil
protection, are essential to mitigate the GHG.
Keywords: No-tillage; methane; management; carbon; integrated systems.
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Em estudo de Copetti et al. (2015), ava- uma estratégia para que áreas agrícolas
liando doses de nitrato de sódio e atuem como sumidouros desse gás.
quantidades de palha de arroz em vasos As emissões de CH4 do solo são resultado
simulando condições anaeróbicas, foi do balanço entre a produção pelo processo
observado que a presença de palhada em de metanogênese e a oxidação através da
solo alagado imobiliza o nitrato e diminui as metanotrofia (Baggs et al., 2006). O CH4 é
emissões de N2O para a atmosfera. Os produzido no solo pela decomposição
autores ainda concluíram em seu estudo anaeróbica da matéria orgânica e redução
que as emissões de N2O estão diretamente de CO2 em ambientes anaeróbicos (Mosier
relacionadas aos níveis de nitrato no solo, e et al., 2004). É válido ressaltar que as
inversamente relacionadas a quantidade de bactérias metanotróficas são aeróbias
palha. Os autores enfatizam que não é obrigatórias, pois a enzima monoxygenase,
possível estimar a quantidade de emissões responsável pelo início da oxidação de CH4,
de N2O a partir da concentração de nitrato requer oxigênio molecular (Mosier et al.,
na solução, pois outros processos estão 2004). Ou seja, a disponibilidade de O2
relacionados com o consumo de nitrato. regula a atividade metanotrófica. Portanto,
Em estudo recente realizado por Nogueira as condições de anaerobiose resultam na
et al. (2016), foi observado que o sistema produção de CH4 como produto final da
de ILPF, apresentou-se eficaz em mitigar as decomposição de compostos orgânicos
emissões de N2O, em relação ao sistema pelas bactérias metanogênicas (Lai, 2009).
composto apenas por lavoura. Os autores Como esse gás é produzido por bactérias
enfatizam que sistema de integração estritamente anaeróbias, ocorrem dimi-
devem ser considerados como opção nuições nas emissões de CH4 após a
tecnológica para reduzir as emissões drenagem do solo, devido a aeração do
desse gás. Corroborando Piva (2012), que solo inibir a produção realizada pelas
observou maior acumulo de emissão de bactérias metanogênicas (Lima et al.,
N2O em lavoura, quando comparado a 2012).
sistemas integrados, sendo que a ILPF Todavia, essa dinâmica do CH4 é altamente
apresentou maior potencial de mitigação dependente das condições físicas e
desse gás. químicas do solo, pois estas apresentam
Nota-se que não há uma conformidade nos efeito direto na atividade das bactérias que
dados em relação ao fluxo de N2O, de tal controlam as emissões e influxos de CH 4
forma que, segundo Bayer et al. (2015), o através dos processos de produção e
efeito do preparo de solo e do plantio direto oxidação (Ussiri et al., 2009). Nesse
na emissão de GEE, tende a ser variável em sentido, Agostinetto et al. (2002) ressaltam
função das condições edafoclimáticas e que aspectos do ambiente, como
tipos de solos. Outro ponto primordial precipitação, radiação e temperatura,
nesse aspecto, refere-se à qualidade do assim como características do solo, à
plantio direto em estudo. Visto que por se exemplo dos níveis de matéria orgânica,
tratar de um “sistema”, uma série de teor de água, capacidade de redução e pH,
fatores devem ser observados, e podem interferem na produção de CH4, pois
influenciar a dinâmica dos gases. De modificam a liberação de exsudatos da
acordo com Almeida et al. (2015) os planta. Em concordância, Smith et al.
sistemas de manejo, plantio direto e (2003) ressaltam que as condições de
preparo convencional, ainda carecem de umidade, teor de amônio e as operações de
maiores estudos a fim de averiguar seus manejo são os principais fatores que
efeitos para a produção de N2O oriundo influenciam a dinâmica do CH4 em solos
dos solos cultivados. agrícolas.
Vasconcelos et al. (2018) trabalhando com
4. Fluxos de CH4 diferentes níveis de palhada de cana de
O gás CH4 apresenta PAG equivalente a 25 açúcar, observaram que no solo com
moléculas de CO2 (Dong et al., 2006), isso presença da palhada, a absorção do gás
lhe confere grande importância perante o CH4 foi 40% mais elevada em comparação
efeito estufa, em função de suas onde houve a remoção total do resíduo
características moleculares e do tempo de vegetal. Ainda, os autores sugerem que a
permanência na atmosfera, apresentando manutenção de palhada na faixa de 6 Mg
meia vida estimada de 12 anos (IPCC, ha-1, mostra-se uma estratégia adequada
2007). Normalmente solos não perturbados para aumentar a produção de bioenergia e
atuam como dreno de CH4. Dessa maneira preservar a cobertura do solo, além de
é possível inferir que sistemas conser- compensar as perdas nos estoques de C do
vacionistas de solo se apresentam como solo.
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Em estudo realizado por Piva et al. (2012) adotado o plantio direto com o objetivo de
sob Latossolo Bruno foram observadas reduzir o número de operações, possi-
menores emissões de CH4 decorrentes do bilitando ainda a semeadura em período
SPD comparado ao preparo convencional. ideal (Bayer et al., 2014). Apesar dos
Em estudo realizado por Albuquerque et al. inúmeros trabalhos realizados a fim de
(2012) em sistemas de culturas, em avaliar a emissão de GEE oriundas de
Latossolo sob SPD, verificou que esses lavouras de arroz irrigado, ainda são
sistemas atuam como dreno de CH4, sendo poucos os estudos avaliando o efeito do
que entre os sistemas estudados, o sistema de preparo com ênfase no não
composto pela alfafa-milho foi o que revolvimento do solo, na emissão de CH4
apresentou maior ação oxidante desse gás. (Pandey et al., 2012).
Os autores atribuíram isso a maior Na Região Sul do Brasil, Bayer et al. (2014)
macroporosidade do solo. relataram evidências de que o SPD tem
Por sua vez, Bayer et al. (2013) relataram potencial para reduzir as emissões de CH4
que a oxidação de CH4 não teve relação do solo em 21% em comparação com o
com os sistemas de manejo, postulando a sistema convencional. Contudo, não foi
hipótese de que a melhoria em termos de observado diferenças significativas para a
qualidade do solo e consequente oxidação emissão de N2O. Todavia, Silva et al. (2011)
de CH4, ocorram de formas distintas no sugerem aprofundar os estudos em relação
perfil do solo em sistemas conserva- a influência da temperatura e conteúdo de
cionistas de manejo, em que a capacidade frações lábeis de matéria orgânica, devido
do solo em oxidação tende a ser bastante à forte relação com o potencial de emissão
lenta. de CH4 dos diversos solos e condições de
De acordo com Glatzel e Stahr (2001), para clima de cultivo de arroz nessa região.
que ocorra emissão de CH4 via solo não é Outra alternativa que possibilita reduzir as
necessário que o ambiente seja totalmente emissões de CH4 em sistemas de arroz
anaeróbio (como ocorrem nas lavouras de irrigado é o manejo adequado da água de
arroz), porém a existência de pequenos irrigação (Bayer et al., 2011). Nesse
sítios anaeróbios, à exemplo dos espaços sentido Zschornack et al. (2016) reporta-
livres entre os agregados, poderão ram que embora a drenagem tenha
propiciar a emissão desse gás. favorecido as emissões de N2O, houve
Nesse sentido, é fundamental abordar o acentuada redução na emissão de CH4,
tema de emissão de CH4 em sistemas consequentemente diminui-se o PAG
agrícolas, devido a expressiva contribuição (Poder de Aquecimento Global) parcial do
que o cultivo de arroz em sistemas sistema.
alagados ocasiona na emissão desse gás Além das emissões de CH4 do solo, é
(Mendonça, 2006). Contudo se bem importante ressaltar a relevante parcela de
manejados, mitigações nas emissões de contribuição da fermentação entérica e do
GEE são passíveis de se obter. Segundo a manejo dos dejetos animais nas emissões à
Embrapa (1998), somente a Região Sul, em nível nacional (MCTI, 2014). Porém,
1994, contribuiu com 77,3% das emissões segundo Rivera et al. (2010) e Cottle et al.
de CH4, devido principalmente ao manejo (2011), ao fornecer alimentos de qualidade,
adotado de alagamento contínuo. As adicionar suplementos à dieta, melhoria
emissões de CH4 representam mais de 90% nas pastagens e na capacidade produtiva
do potencial de aquecimento global parcial dos animais, além de outras medidas
nesse sistema de cultivo, logo as estra- relacionadas a eficiência produtiva, é
tégias de mitigação devem se concentrar possível reduzir as emissões de CH4
quando a cultura está implantada, pois provenientes da fermentação entérica.
nessa época o potencial de aquecimento Entre os benefícios ecológicos e ambien-
global é 10 vezes maior em relação ao tais de sistemas integrados, como lavoura
período sem arroz (Zschornack et al., pecuária e/ou lavoura pecuária floresta, se
2018). tem a mitigação do efeito estufa, devido a
Solos alagados cobrem apenas cerca de maior capacidade de sequestro de C e uma
8% da área terrestre no mundo, contudo menor emissão de CH4 por kg de carne
esses locais são extremamente importan- produzido (Balbino et al., 2011). Nesse
tes, visto que se apresentam como fonte sentido, há capacidade de aumentar a
expressiva na emissão de CH4 para a produção de carne bovina, mantendo
atmosfera, sendo responsáveis por metade estáveis os níveis atuais de emissão de
da emissão do gás CH4 emitido CH4, evidenciando considerável potencial
globalmente (Sposito, 2008). de expansão da produção de carne bovina
Em algumas lavouras de arroz inundadas no país sem aumento proporcional nas
nos campos do Sul do Brasil, tem sido emissões de GEE (Vilela et al., 2012).
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