Filosofia 1 - Hexag
Filosofia 1 - Hexag
Filosofia 1 - Hexag
vestibular medicina
3ª edição • São Paulo
2019
C H
1
CIÊNCIAS HUMANAS
ENTRE e suas tecnologias
PENSAMENTOS Alexandre Rocha Jabur Maluf
© Hexag Sistema de Ensino, 2018
Direitos desta edição: Hexag Sistema de Ensino, São Paulo, 2019
Todos os direitos reservados.
Autor
Alexandre Rocha Jabur Maluf
Diretor geral
Herlan Fellini
Coordenador geral
Raphael de Souza Motta
Responsabilidade editorial, programação visual, revisão e pesquisa iconográfica
Hexag Sistema de Ensino
Diretor editorial
Pedro Tadeu Batista
Programação visual
Hexag Sistema de Ensino
Editoração eletrônica
Arthur Tahan Miguel Torres
Claudio Guilherme da Silva Souza
Eder Carlos Bastos de Lima
Fernando Cruz Botelho de Souza
Matheus Franco da Silveira
Raphael de Souza Motta
Raphael Campos Silva
Foto da capa
pixabay (http://pixabay.com)
Impressão e acabamento
Meta Solutions
ISBN: 978-85-9542-075-5
Todas as citações de textos contidas neste livro didático estão de acordo com a legislação, tendo por fim único e exclusivo o
ensino. Caso exista algum texto, a respeito do qual seja necessária a inclusão de informação adicional, ficamos à disposição
para o contato pertinente. Do mesmo modo, fizemos todos os esforços para identificar e localizar os titulares dos direitos sobre
as imagens publicadas e estamos à disposição para suprir eventual omissão de crédito em futuras edições.
O material de publicidade e propaganda reproduzido nesta obra é usado apenas para fins didáticos, não representando qual-
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2019
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CARO ALUNO
O Hexag Medicina é referência em preparação pré-vestibular de candidatos à carreira de Medicina. Desde 2010, são centenas de aprovações
nos principais vestibulares de Medicina no Estado de São Paulo, Rio de Janeiro e em todo Brasil. O material didático foi, mais uma vez, aperfeiçoado e seu
conteúdo enriquecido, inclusive com questões recentes dos relevantes vestibulares de 2019.
Esteticamente, houve uma melhora em seu layout, na definição das imagens, criação de novas seções e também na utilização de cores.
No total, são 103 livros, 24 cadernos de Estudo Orientado e 6 cadernos de aula.
O conteúdo dos livros foi organizado por aulas. Cada assunto contém uma rica teoria, que contempla de forma objetiva e clara o que o aluno
realmente necessita assimilar para o seu êxito nos principais vestibulares do Brasil e Enem, dispensando qualquer tipo de material alternativo comple-
mentar. Todo livro é iniciado por um infográfico. Esta seção, de forma simples, resumida e dinâmica, foi desenvolvida para indicação dos assuntos mais
abordados nos principais vestibulares, voltados para o curso de medicina em todo território nacional.
O conteúdo das aulas está dividido da seguinte forma:
TEORIA
Todo o desenvolvimento dos conteúdos teóricos, de cada coleção, tem como principal objetivo apoiar o estudante na resolução de questões
propostas. Os textos dos livros são de fácil compreensão, completos e organizados. Além disso, contam com imagens ilustrativas que complementam
as explicações dadas em sala de aula. Quadros, mapas e organogramas, em cores nítidas, também são usados, e compõem um conjunto abrangente de
informações para o estudante, que vai dedicar-se à rotina intensa de estudos.
TEORIA NA PRÁTICA (EXEMPLOS)
Desenvolvida pensando nas disciplinas que fazem parte das Ciências da Natureza e suas Tecnologias e Matemática e suas Tecnologias. Nesses
compilados nos deparamos com modelos de exercícios resolvidos e comentados, aquilo que parece abstrato e de difícil compreensão torna-se mais aces-
sível e de bom entendimento aos olhos do estudante.
Através dessas resoluções é possível rever a qualquer momento as explicações dadas em sala de aula.
INTERATIVIDADE
Trata-se do complemento às aulas abordadas. É desenvolvida uma seção que oferece uma cuidadosa seleção de conteúdos para complementar
o repertório do estudante. É dividido em boxes para facilitar a compreensão, com indicação de vídeos, sites, filmes, músicas e livros para o aprendizado do
aluno. Tudo isso é encontrado em subcategorias que facilitam o aprofundamento nos temas estudados. Há obras de arte, poemas, imagens, artigos e até
sugestões de aplicativos que facilitam os estudos, sendo conteúdos essenciais para ampliar as habilidades de análise e reflexão crítica. Tudo é selecionado
com finos critérios para apurar ainda mais o conhecimento do nosso estudante.
INTERDISCIPLINARIDADE
Atento às constantes mudanças dos grandes vestibulares, é elaborada, a cada aula, a seção interdisciplinaridade. As questões dos vestibulares
de hoje não exigem mais dos candidatos apenas o puro conhecimento dos conteúdos de cada área, de cada matéria.
Atualmente há muitas perguntas interdisciplinares que abrangem conteúdos de diferentes áreas em uma mesma questão, como biologia e
química, história e geografia, biologia e matemática, entre outros. Neste espaço, o estudante inicia o contato com essa realidade por meio de explicações
que relacionam a aula do dia com aulas de outras disciplinas e conteúdos de outros livros, sempre utilizando temas da atualidade. Assim, o estudante
consegue entender que cada disciplina não existe de forma isolada, mas sim, fazendo parte de uma grande engrenagem no mundo em que ele vive.
APLICAÇÃO NO COTIDIANO
Um dos grandes problemas do conhecimento acadêmico é o seu distanciamento da realidade cotidiana no desenvolver do dia a dia, dificultando
o contato daqueles que tentam apreender determinados conceitos e aprofundamento dos assuntos, para além da superficial memorização ou “decorebas”
de fórmulas ou regras. Para evitar bloqueios de aprendizagem com os conteúdos, foi desenvolvida a seção “Aplicação no Cotidiano”. Como o próprio
nome já aponta, há uma preocupação em levar aos nossos estudantes a clareza das relações entre aquilo que eles aprendem e aquilo que eles têm
contato em seu dia a dia.
CONSTRUÇÃO DE HABILIDADES
Elaborada pensando no Enem, e sabendo que a prova tem o objetivo de avaliar o desempenho ao fim da escolaridade básica, o estudante deve
conhecer as diversas habilidades e competências abordadas nas provas. Os livros da “Coleção vestibulares de Medicina” contêm, a cada aula, algumas
dessas habilidades. No compilado “Construção de Habilidades”, há o modelo de exercício que não é apenas resolvido, mas sim feito uma análise expo-
sitiva, descrevendo passo a passo e analisado à luz das habilidades estudadas no dia. Esse recurso constrói para o estudante um roteiro para ajudá-lo a
apurá-las na sua prática, identificá-las na prova e resolver cada questão com tranquilidade.
ESTRUTURA CONCEITUAL
Cada pessoa tem sua própria forma de aprendizado. Geramos aos estudantes o máximo de recursos para orientá-los em suas trajetórias. Um
deles é a estrutura conceitual, para aqueles que aprendem visualmente a entender os conteúdos e processos por meio de esquemas cognitivos, mapas
mentais e fluxogramas. Além disso, esse compilado é um resumo de todo o conteúdo da aula. Por meio dele, pode-se fazer uma rápida consulta aos
principais conteúdos ensinados no dia, o que facilita sua organização de estudos e até a resolução dos exercícios.
A edição 2019 foi elaborada com muito empenho e dedicação, oferecendo ao aluno um material moderno e completo, um grande aliado para
o seu sucesso nos vestibulares mais concorridos de Medicina.
Herlan Fellini
SUMÁRIO
ENTRE PENSAMENTOS
Aula 1: Introdução à Filosofia Grega 7
Aula 2: Introdução ao pensamento de Sócrates 19
Aula 3: Introdução aos conceitos segundo Platão 29
Aula 4: Aristóteles I 39
Aula 5: Aristóteles II 51
Aula 6: Filosofia Medieval: o início da filosofia patrística 63
Aula 7: Filosofia Medieval: Santo Agostinho e São Tomás de Aquino 73
Aula 8: Nicolau Maquiavel 85
Aula 9: Thomas Hobbes 97
Abordagem de FILOSOFIA nos principais vestibulares.
FUVEST
A abordagem desse vestibular é de âmbito interdisciplinar. O aluno deve associar os principais
autores e escolas de pensamento aos seus respectivos contextos históricos. Ao estudar para essa
prova, foque sobre o período em que cada autor viveu e quais foram as suas conclusões teóricas
sobre o mesmo.
UNICAMP
Tal vestibular impõe grande capacidade de interpretação de texto, além de destreza ao lidar
com conceitos filosóficos. Há uma tradição de questões com enunciados complexos e longos. O
importante é o candidato estar preparado para lidar com os principais pensadores da filosofia
grega (Sócrates, Platão e Aristóteles).
ENEM/UFMG/UFRJ
Cobra-se a capacidade de interpretação de texto do aluno. Este deverá ater-se aos excertos ex-
postos nos enunciados e, juntamente com seu conhecimento, encontrar a resposta nos próprios
textos. Para essa prova, é imprescindível o conhecimento dos autores propostos.
UERJ
A abordagem busca integrar o contexto histórico de cada autor com temas das Ciências Sociais,
tanto de História quanto Geografia. É necessário compreender os conceitos básicos de cada au-
tor para vinculá-los a temas contemporâneos. Há, ainda, a necessidade de se comparar as visões
de dois ou mais autores a partir da interpretação de excertos dados pelos exercícios.
0 2 Introdução ao pensamento
de Sócrates
Competências Habilidades
1, 2, 3, 4 e 5 1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9,
10, 11, 12,13, 15,
16, 18, 20, 22, 23,
24 e 25
C HENTRE
PENSAMENTOS
Competência 1 – Compreender os elementos culturais que constituem as identidades.
H1 Interpretar historicamente e/ou geograficamente fontes documentais acerca de aspectos da cultura.
H2 Analisar a produção da memória pelas sociedades humanas.
H3 Associar as manifestações culturais do presente aos seus processos históricos
H4 Comparar pontos de vista expressos em diferentes fontes sobre determinado aspecto da cultura.
H5 Identificar as manifestações ou representações da diversidade do patrimônio cultural e artístico em diferentes sociedades.
Competência 2 – Compreender as transformações dos espaços geográficos como produto das relações socioeconômicas e culturais de
poder.
H6 Interpretar diferentes representações gráficas e cartográficas dos espaços geográficos.
H7 Identificar os significados histórico-geográficos das relações de poder entre as nações.
Analisar a ação dos estados nacionais no que se refere à dinâmica dos fluxos populacionais e no enfrentamento de problemas de ordem econômico-
H8
-social.
H9 Comparar o significado histórico-geográfico das organizações políticas e socioeconômicas em escala local, regional ou mundial
Reconhecer a dinâmica da organização dos movimentos sociais e a importância da participação da coletividade na transformação da realidade
H10
histórico-geográfica.
Competência 3 – Compreender a produção e o papel histórico das instituições sociais, políticas e econômicas, associando-as aos diferen-
tes grupos, conflitos e movimentos sociais.
H11 Identificar registros de práticas de grupos sociais no tempo e no espaço.
H12 Analisar o papel da justiça como instituição na organização das sociedades.
H13 Analisar a atuação dos movimentos sociais que contribuíram para mudanças ou rupturas em processos de disputa pelo poder.
Comparar diferentes pontos de vista, presentes em textos analíticos e interpretativos, sobre situação ou fatos de natureza histórico-geográfica acerca
H14
das instituições sociais, políticas e econômicas.
H15 Avaliar criticamente conflitos culturais, sociais, políticos, econômicos ou ambientais ao longo da história.
Competência 4 – Entender as transformações técnicas e tecnológicas e seu impacto nos processos de produção, no desenvolvimento do
conhecimento e na vida social.
H16 Identificar registros sobre o papel das técnicas e tecnologias na organização do trabalho e/ou da vida social.
H17 Analisar fatores que explicam o impacto das novas tecnologias no processo de territorialização da produção.
H18 Analisar diferentes processos de produção ou circulação de riquezas e suas implicações sócio-espaciais.
H19 Reconhecer as transformações técnicas e tecnológicas que determinam as várias formas de uso e apropriação dos espaços rural e urbano.
H20 Selecionar argumentos favoráveis ou contrários às modificações impostas pelas novas tecnologias à vida social e ao mundo do trabalho.
Competência 5 – Utilizar os conhecimentos históricos para compreender e valorizar os fundamentos da cidadania e da democracia, favo-
recendo uma atuação consciente do indivíduo na sociedade.
H21 Identificar o papel dos meios de comunicação na construção da vida social.
H22 Analisar as lutas sociais e conquistas obtidas no que se refere às mudanças nas legislações ou nas políticas públicas.
H23 Analisar a importância dos valores éticos na estruturação política das sociedades.
H24 Relacionar cidadania e democracia na organização das sociedades.
H25 Identificar estratégias que promovam formas de inclusão social.
Competência 6 – Compreender a sociedade e a natureza, reconhecendo suas interações no espaço em diferentes contextos históricos e
geográficos.
H26 Identificar em fontes diversas o processo de ocupação dos meios físicos e as relações da vida humana com a paisagem.
H27 Analisar de maneira crítica as interações da sociedade com o meio físico, levando em consideração aspectos históricos e (ou) geográficos.
H28 Relacionar o uso das tecnologias com os impactos sócioambientais em diferentes contextos histórico-geográficos.
H29 Reconhecer a função dos recursos naturais na produção do espaço geográfico, relacionando-os com as mudanças provocadas pelas ações humanas.
H30 Avaliar as relações entre preservação e degradação da vida no planeta nas diferentes escalas.
A Pólis, o Estado e o indivíduo em Atenas
Com o desenvolvimento das cidades, do comércio, do artesanato e das artes militares, Atenas tornou-se
o centro da vida social, política e cultural da Grécia, vivendo seu período de esplendor, conhecido como o Século
de Péricles. É a época de maior florescimento da democracia. A democracia grega possuía, entre tantas outras,
duas características de grande importância para o futuro da Filosofia. Em primeiro lugar, a democracia afirmava a
igualdade de todos os homens adultos perante as leis e o direito de todos de participar diretamente do governo
da cidade, da polis. Em segundo lugar, e como consequência, a democracia, sendo direta e não por eleição de re-
presentantes, garantia a todos a participação no governo, e os que dele participavam tinham o direito de exprimir,
discutir e defender em público suas opiniões sobre as decisões que a cidade deveria tomar. Surgia, assim, a figura
política do cidadão. É preciso salientar, contudo, que estavam excluídos da cidadania o que os gregos chamavam
de dependentes: mulheres, escravos, crianças e velhos, além dos estrangeiros.
Para conseguir que a sua opinião fosse aceita nas assembleias, o cidadão precisava saber falar e ser capaz
de persuadir. Com isso, uma mudança profunda ocorreu na educação grega. Quando não havia democracia, mas
dominavam as famílias aristocráticas, senhoras das terras, o poder lhes pertencia. Essas famílias, valendo-se dos
dois grandes poetas gregos, Homero e Hesíodo, criaram um padrão de educação próprio dos aristocratas. Esse
padrão afirmava que o homem ideal ou perfeito era o guerreiro belo e bom. Belo: seu corpo era formado pela
ginástica, pela dança e pelos jogos de guerra, imitando os heróis da guerra de Troia (Aquiles, Heitor, Ájax, Ulisses).
Bom: seu espírito era formado por meio da educação através da filosofia de Homero e Hesíodo, aprendendo as
virtudes admiradas pelos deuses e praticadas pelos heróis, a principal delas sendo a coragem diante da morte, na
guerra. A virtude era a Arete (excelência e superioridade), própria dos melhores, os aristoi – origem do sufixo da
palavra Aristocracia.
Quando, porém, a democracia se instalara e o poder foi retirado paulatinamente dos aristocratas, esse ideal
educativo ou pedagógico também foi substituído por outro. O ideal da educação do Século de Péricles é a forma-
ção do cidadão. A Arete é a virtude cívica. Ora, qual é o momento em que o cidadão mais aparece e mais exerce
sua cidadania? Quando opina, discute, delibera e vota nas assembleias. Assim, a nova educação estabelece como
padrão ideal a formação do bom orador, isto é, daquele que sabe falar em público e persuadir os outros cidadãos
na política.
21
Diante disso, se Sócrates discordava dos antigos
Sócrates e a defesa a Filosofia poetas, dos antigos filósofos e dos sofistas, o que ele
propunha? Defendia que, antes de querer conhecer a
Para dar aos jovens essa educação, substituindo Natureza e antes de querer persuadir os outros, cada
a educação antiga dos poetas, surgiram, na Grécia, os um deveria, primeiro e antes de tudo, conhecer-se a si
sofistas, que são os primeiros filósofos do período so- mesmo. A expressão “conhece-te a ti mesmo” que es-
crático. Os sofistas mais importantes foram: Protágoras tava gravada no pórtico do templo de Apolo, patrono
de Abdera, Górgias de Leontini e Isócrates de Atenas. grego da sabedoria, tornou-se a máxima de Sócrates.
Que diziam e faziam os sofistas? Diziam que os ensi- Por fazer do autoconhecimento ou do conhecimento
namentos dos filósofos cosmologistas estavam reple- que os homens têm de si a condição de todos os outros
tos de erros e contradições e que não tinham utilidade conhecimentos verdadeiros, é que se diz que o período
para a vida da pólis. Apresentavam-se como mestres socrático é antropológico, isto é, voltado para o conhe-
da oratória ou retórica, afirmando ser possível ensinar cimento do homem, particularmente de seu espírito e
aos jovens tal arte para que fossem bons cidadãos. Que de sua capacidade de conhecer a verdade. O retrato que
arte era esta? A arte da persuasão. Os sofistas ensina- a história da Filosofia possui de Sócrates foi traçado por
vam técnicas de persuasão aos jovens, que aprendiam seu mais importante aluno e discípulo, o filósofo ate-
a defender uma posição ou opinião, depois aprendiam niense Platão.
a defender uma posição contrária, de modo que, numa Platão descreveu seu mentor como um homem
assembleia, soubessem ter argumentos a favor ou con- que andava pelas ruas e praças de Atenas, pelo mer-
tra uma posição para ganhar a discussão. cado e pela assembleia, indagando a cada um: “Você
O filósofo Sócrates, considerado o patrono da Fi- sabe o que é isso que você está dizendo?”, “Você sabe
losofia, rebelou-se contra os sofistas, dizendo que não o que é isso em que você acredita?”, “Você acha que
eram filósofos, pois não tinham amor pela sabedoria está conhecendo realmente aquilo em que acredita,
nem respeito pela verdade, defendendo qualquer ideia aquilo em que está pensando, aquilo que está dizen-
que fosse vantajosa para eles. Corrompiam o espírito do?”, “Você diz”, falava Sócrates, “que a coragem é
dos jovens, pois faziam o erro e a mentira valer tanto importante, mas: o que é a coragem? Você acredita que
quanto a verdade. Como homem de seu tempo, Sócra- a justiça é importante, mas: o que é a justiça? Você diz
tes concordava com os sofistas em um ponto: por um que ama as coisas e as pessoas belas, mas o que é a
lado, a educação antiga do guerreiro belo e bom já não beleza? Você crê que seus amigos são a melhor coisa
atendia às exigências da sociedade ateniense, e, por que você tem, mas: o que é a amizade?” Isto é, Sócrates
outro lado, os filósofos cosmologistas defendiam ideias fazia perguntas sobre as ideias, sobre os valores nos
tão contraditórias que também não eram uma fonte se- quais os gregos acreditavam e que julgavam conhecer.
gura para o conhecimento verdadeiro. Suas perguntas deixavam os interlocutores embaraça-
Historicamente, há dificuldade em conhecer o dos, irritados, curiosos pois quando tentavam responder
pensamento dos grandes sofistas, uma vez que não ao célebre “o que é?”, descobriam, surpresos, que não
possuímos seus textos. Restaram fragmentos, apenas. sabiam responder e que nunca tinham pensado em suas
Por isso, nós os conhecemos pelo que deles disseram crenças, seus valores e suas ideias.
seus adversários – Platão, Xenofonte, Aristóteles – e não O mais intrigante é que as pessoas esperavam
temos como saber se estes foram justos com aqueles. que Sócrates respondesse por elas ou para elas, que
Os historiadores mais recentes consideram os sofistas soubesse as respostas para as perguntas, como os so-
verdadeiros representantes do espírito democrático, isto fistas pareciam saber, mas Sócrates, para desconcerto
é, da pluralidade conflituosa de opiniões e interesses, geral, dizia: “Eu também não sei, por isso estou per-
enquanto seus adversários seriam partidários de uma guntando”. Donde a famosa expressão atribuída a ele:
política aristocrática na qual somente algumas opiniões “Sei que nada sei”. A consciência da própria ignorân-
e interesses teriam o direito para valer para o restante cia é o começo da Filosofia. O que procurava Sócrates?
da sociedade. Procurava a definição verdadeira do que era uma coisa,
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uma ideia, um valor. Procurava a essência verdadeira nas, Sócrates tornara-se um perigo, pois fazia a juven-
da coisa, da ideia, do valor. Procurava o conceito e não tude pensar. Por isso, eles o acusaram de desrespeitar
a mera opinião que temos de nós mesmos, das coisas, os deuses, corromper os jovens e violar as leis. Levado
das ideias e dos valores. Qual a diferença entre uma perante a assembleia, Sócrates não se defendeu e foi
opinião e um conceito? A opinião varia de pessoa para condenado a tomar um veneno – a cicuta – e obrigado
pessoa, de lugar para lugar, de época para época. É ins- a suicidar-se.
tável, mutável, depende de cada um, de seus gostos e Mas por qual motivo Sócrates não se defendeu?
“Porque”, dizia ele, “se eu me defender, estarei aceitan-
preferências. O conceito, ao contrário, é uma verdade
do as acusações, e eu não as aceito. Se eu me defender, o
atemporal, universal e necessária que o pensamento
que os juízes vão exigir de mim? Que eu pare de filosofar.
descobre, mostrando que é a essência universal, atem-
Mas eu prefiro a morte a ter que renunciar à Filosofia”.
poral e necessária de alguma coisa.
O julgamento e a morte de Sócrates são narrados por
Por isso, Sócrates não perguntava se tal ou qual Platão numa obra intitulada Apologia de Sócrates, isto
coisa era bela – pois nossa opinião sobre ela pode va- é, a defesa de Sócrates, feita por seus discípulos, contra
riar e sim: O que é a beleza? Qual é a essência ou o Atenas. Sócrates nunca escreveu. O que sabemos de seus
conceito do belo? Do justo? Do amor? Da amizade? pensamentos encontra-se nas obras de seus vários discí-
Sócrates perguntava: “Que razões rigorosas você possui pulos, e Platão foi o mais importante deles.
para dizer o que diz e para pensar o que pensa?” “Qual Se reunirmos o que esse filósofo escreveu sobre
é o fundamento racional daquilo que você fala e pen- os sofistas e sobre Sócrates, além da exposição de suas
sa?”. Ora, as perguntas de Sócrates se referiam a ideias, próprias ideias, poderemos apresentar como caracterís-
valores, práticas e comportamentos que os atenienses ticas gerais do período socrático:
julgavam certos e verdadeiros em si mesmos e por si §§ Filosofia se volta para as questões humanas no
mesmos. Sócrates acreditava, portanto, no poder da plano da ação, dos comportamentos, das ideias,
maiêutica. Maiêutica é justamente a sua técnica: fazer das crenças, dos valores e, portanto, se preocupa
perguntas às pessoas até que elas descubram verdades com as questões morais e políticas.
§§ O ponto de partida da Filosofia é a confiança no
e conceitos latentes em suas consciências. É a crença no
pensamento ou no homem como um ser racio-
poder da dialética em revelar as essências das coisas.
nal, capaz de conhecer-se a si mesmo e, portan-
to, capaz de reflexão. Reflexão é a volta que o
pensamento faz sobre si mesmo para conhecer-
-se; é a consciência conhecendo-se a si mesma
como capacidade de conhecer as coisas, alcan-
çando o conceito ou a essência delas.
§§ Como se trata de conhecer a capacidade de co-
nhecimento do homem, a preocupação se volta
para o estabelecimento de procedimentos que
nos garantam que encontramos a verdade, isto
é, o pensamento deve oferecer a si mesmo cami-
nhos próprios, critérios próprios e meios próprios
A Morte de Sócrates – Jacques-Louis David para saber o que é o verdadeiro e como alcançá-
-lo em tudo o que investiguemos.
Ao fazer suas perguntas e suscitar dúvidas, Só- §§ A Filosofia está voltada para a definição das vir-
crates os fazia pensar não só sobre si mesmos, mas tam- tudes morais e das virtudes políticas, tendo como
bém sobre a polis. Aquilo que parecia evidente acabava objeto central de suas investigações a moral e a
sendo percebido como duvidoso e incerto. Sabemos que política, isto é, as ideias e práticas que norteiam
os poderosos têm medo do pensamento, pois o poder é os comportamentos dos seres humanos tanto
mais forte se ninguém pensar, se todo mundo aceitar as
como indivíduos quanto como cidadãos.
coisas como elas são, ou melhor, como nos dizem e nos
fazem acreditar que elas são. Para os poderosos de Ate-
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Cabe à Filosofia, portanto, encontrar a definição,
o conceito ou a essência dessas virtudes, para além da
variedade das opiniões, para além da multiplicidade das
opiniões contrárias e diferentes. As perguntas filosóficas
se referem, assim, a valores como a justiça, a coragem,
a amizade, a piedade, o amor, a beleza, a temperança, a
prudência, etc., que constituem os ideais do sábio e do
verdadeiro cidadão.
É feita, pela primeira vez, uma separação radical
entre, de um lado, a opinião e as imagens das coisas,
trazidas pelos nossos órgãos dos sentidos, nossos hábi-
tos, pelas tradições, pelos interesses, e, de outro lado, as
ideias. As ideias se referem à essência íntima, invisível,
verdadeira das coisas, e só podem ser alcançada s pelo
pensamento puro, que afasta os dados sensoriais, os
hábitos recebidos, os preconceitos, as opiniões.
A reflexão e o trabalho do pensamento são to-
mados como uma purificação intelectual, que permite
ao espírito humano conhecer a verdade invisível, imutá-
vel, universal e necessária.
A opinião, as percepções e imagens sensoriais
são consideradas falsas, mentirosas, mutáveis, inconsis-
tentes, contraditórias, devendo ser abandonadas para
que o pensamento siga seu caminho próprio no conhe-
cimento verdadeiro.
A diferença entre os sofistas, de um lado, e a
filosofia socrática e platônica, de outro, é dada pelo fato
de que os sofistas aceitam a validade das opiniões e
das percepções sensoriais e trabalham com elas para
produzir argumentos de persuasão, enquanto Sócrates
e Platão consideram as opiniões e as percepções senso-
riais, ou imagens das coisas, como fonte de erro, menti-
ra e falsidade, formas imperfeitas do conhecimento que
nunca alcançam a verdade plena da realidade.
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INTERATIVI
A DADE
ASSISTIR
resistência.
Com direção do mestre italiano Roberto Rossellini (Roma, Cidade Aberta), esta
superprodução europeia é a cinebiografia de Sócrates, um dos maiores filósofos da
Humanidade. Rossellini mostra o final da vida de Sócrates, em especial seu julga-
mento e sua condenação à morte, com destaque para os célebres diálogos socráti-
cos: “Apologia”, discurso de defesa do filósofo; “Críton”, em que um dos seus
discípulos tenta convencê-lo a fugir da prisão; e “Fédon”, com seus últimos ensina-
mentos antes de tomar a cicuta. Inédito no Brasil, Sócrates é mais uma aula de
cinema de Rossellini e um programa obrigatório para os interessados em Filosofia.
LER
Livros
Apologia de Sócrates – Platão
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Estrutura Conceitual
Sócrates
- Sábios “profissionais”
- Educação para o autoconhecimento - Educação para o triunfo
e reflexão (poder, riqueza, influência)
- Modelo moral: Austeridade, Controle - Modelo moral: Riqueza, satisfação
das paixões e sinceridade dos desejos, astúcia e egoísmo
- Diálogo maiêutico: O diálogo - Retórica: “A linguagem cria a verdade”
nos leva à verdade - Relativismo, convencialismo e
- Universalismo, essencialismo e pragmatismo
racionalismo
26
Aprofunde seus conhecimentos
1. (PUC) Sócrates era cidadão comum de Atenas, d) Heráclito defendeu a idéia de permanência
até o oráculo de Delfos indicar que ele era o substancial e constante do ser, contra a no-
homem mais sábio de seu tempo. A partir daí, ção de devir.
ele tomou como missão a maiêutica, que sig- e) Os naturalistas, ou fisiólogos da Jônia, de-
nifica a arte de trazer a luz, através de longas dicavam-se sobretudo ao estudo do cosmo, e
conversas com interlocutores de todas as clas- muitos deles buscavam o princípio constitu-
ses sociais. O que significa essa arte: tivo do mundo em algum de seus elementos:
a) Sócrates, que também era médico, auxiliava ar, água, terra, ou fogo.
nos partos de Atenas.
b) A luz do pensamento de Sócrates ofuscava o 5. (PUC) Leia os enunciados abaixo a respeito
conhecimento da outras pessoas. do pensamento filosófico de Sócrates.
c) Nenhuma das anteriores alternativas está I. O texto Apologia de Sócrates, cujo autor
correta. é Platão, apresenta a defesa de Sócrates
d) Através do diálogo promovido por Sócrates, diante das acusações dos atenienses, es-
a pessoa podia formular suas ideias e pensa- pecialmente, os sofistas, entre os quais
mentos. está Meleto.
e) A Luz indica que a pessoa não precisava se II. Sócrates dispensa a ironia como método
esforçar para adquirir conhecimento. para refutar as acusações e calúnias so-
2. O surgimento da filosofia entre os gregos fridas no processo de seu julgamento.
está associado à passagem do pensamento III.Entre as acusações que Sócrates recebe
mítico ao pensamento racional. A gran- está a de “corromper a juventude”.
de preocupação nesse momento era com IV. Sócrates é acusado de ensinar as coisas
celestes e terrenas, a não acreditar nos
questões:
a) À história. deuses e a tornar mais forte a razão mais
b) À tristeza humana. débil.
c) Ao cosmo. V. Sócrates nega que seus acusadores são
d) À religião. ambiciosos e resolutos e, em grande nú-
e) À política. mero, falam de forma persuasiva e per-
sistente contra ele.
3. Sócrates inaugura o período clássico da fi- Assinale a alternativa que apresenta apenas
losofia grega, também chamado de período as afirmativas CORRETAS.
antropológico. O problema do conhecimento a) II, IV e V.
passou a ser uma problemática central na fi- b) I, III e IV.
losofia socrática, pois “a briga” de Sócrates c) I, III e V.
com os sofistas tinha por objetivo resgatar d) II, III e V.
o amor pela sabedoria e a valorização pela e) I, II e III.
busca da verdade.
Nesse contexto, Sócrates inaugura seu mé- 6. (Unicamp) Apenas a procriação de filhos
todo que se fundamenta em dois princípios legítimos, embora essencial, não justifica a
básicos, que são: escolha da esposa. As ambições políticas e as
a) A indução e dedução das verdades lógicas; necessidades econômicas que as subenten-
b) A doxa e o lógos convergindo para o concei- dem exercem um papel igualmente podero-
to racional. so. Como demonstraram inúmeros estudos,
c) A ironia e a Maiêutica enquanto caminhos os dirigentes atenienses casam-se entre si,
para conhecer a verdade através do auto- e geralmente com o parente mais próximo
-conhecimento (conhecer-te a ti mesmo). possível, isto é, primos coirmãos. É sintomá-
d) O diálogo e a dúvida dialética. tico que os autores antigos que nos infor-
e) A amizade e a justiça social. mam sobre o casamento de homens políticos
atenienses omitam os nomes das mulheres
4. A filosofia ocidental teve início com os pen-
desposadas, mas nunca o nome do seu pai ou
sadores anteriores a Sócrates, por isso cha-
do seu marido precedente.
mados de pré-socráticos, dos quais a maioria
Alain Corbin et al. História da virilidade.
viveu em colônias gregas distantes de Ate-
v. 1. Petrópolis: Vozes, 2014, p. 62.
nas; destes pensadores pode-se dizer que:
a) Com os pré-socráticos a filosofia se constitui Considerando o texto e a situação da mulher
numa ciência particular e não mais no estu- na Atenas clássica, podemos afirmar que se
do da realidade total.
trata de uma sociedade
b) A mitologia tradicional grega fazia parte das
a) na qual o casamento também tem implica-
suas doutrinas.
c) Pitágoras e os seus discípulos dedicaram-se ao ções políticas e sociais.
estudo da política e recusaram a interferência b) que, por ser democrática, dá uma atenção
da matemática no estudo da cosmologia. especial aos direitos da mulher.
27
c) em que o amor é o critério principal para a ele se diferenciava dos demais por reconhe-
formação de casais da elite. cer a sua própria ignorância.
d) em que o direito da mulher se sobrepõe ao O “sei que nada sei” é um ponto de partida
interesse político e social. para a Filosofia, pois
a) aquele que se reconhece como ignorante
7. (UEA) O sofista é um diálogo de Platão do torna-se mais sábio por querer adquirir co-
qual participam Sócrates, um estrangeiro e nhecimentos.
outros personagens. Logo no início do diálo- b) é um exercício de humildade diante da cul-
go, Sócrates pergunta ao estrangeiro, a que tura dos sábios do passado, uma vez que a
método ele gostaria de recorrer para definir função da Filosofia era reproduzir os ensina-
o que é um sofista. mentos dos filósofos gregos.
Sócrates: – Mas dize-nos [se] preferes de- c) a dúvida é uma condição para o aprendizado
senvolver toda a tese que queres demonstrar, e a Filosofia é o saber que estabelece verdades
numa longa exposição ou empregar o méto- dogmáticas a partir de métodos rigorosos.
do interrogativo? d) é uma forma de declarar ignorância e per-
manecer distante dos problemas concretos,
Estrangeiro: – Com um parceiro assim agra-
preocupando-se apenas com causas abstratas.
dável e dócil, Sócrates, o método mais fácil é
esse mesmo; com um interlocutor. Do contrá-
rio, valeria mais a pena argumentar apenas 10. (UFU) Leia o trecho abaixo, que se encontra
para si mesmo. na Apologia de Sócrates de Platão e traz al-
Platão. O sofista, 1970. Adaptado.
gumas das concepções filosóficas defendidas
pelo seu mestre.
É correto afirmar que o interlocutor de Só- Com efeito, senhores, temer a morte é o mes-
crates escolheu, do ponto de vista metodo- mo que se supor sábio quem não o é, porque
lógico, adotar: é supor que sabe o que não sabe. Ninguém
a) a maiêutica, que pressupõe a contraposição sabe o que é a morte, nem se, porventura,
dos argumentos. será para o homem o maior dos bens; todos
b) a dialética, que une numa síntese final as a temem, como se soubessem ser ela o maior
teses dos contendores. dos males. A ignorância mais condenável
c) o empirismo, que acredita ser possível che- não é essa de supor saber o que não se sabe?
gar ao saber por meio dos sentidos. Platão, A Apologia de Sócrates. In: HADOT, P. O que é a
d) o apriorismo, que funda a eficácia da razão Filosofia Antiga? São Paulo: Ed. Loyola, 1999, p. 61.
humana na prova de existência de Deus.
e) o dualismo, que resulta no ceticismo sobre a Com base no trecho acima e na filosofia de
possibilidade do saber humano. Sócrates, assinale a alternativa INCORRETA.
a) Sócrates prefere a morte a ter que renunciar
8. (UFU) O diálogo socrático de Platão é obra a sua missão, qual seja: buscar, por meio da
baseada em um sucesso histórico: no fato filosofia, a verdade, para além da mera apa-
rência do saber.
de Sócrates ministrar os seus ensinamentos
b) Sócrates leva o seu interlocutor a examinar-
sob a forma de perguntas e respostas. Sócra-
-se, fazendo-o tomar consciência das contra-
tes considerava o diálogo como a forma por dições que traz consigo.
excelência do exercício filosófico e o único
caminho para chegarmos a alguma verdade c) Para Sócrates, pior do que a morte é admitir
legítima. aos outros que nada se sabe. Deve-se evitar a
De acordo com a doutrina socrática: ignorância a todo custo, ainda que defenden-
a) a busca pela essência do bem está vinculada do uma opinião não devidamente examinada.
a uma visão antropocêntrica da filosofia. d) Para Sócrates, o verdadeiro sábio é aquele
b) é a natureza, o cosmos, a base firme da es- que, colocado diante da própria ignorância,
peculação filosófica. admite que nada sabe. Admitir o não-saber,
c) o exame antropológico deriva da impossibi- quando não se sabe, define o sábio, segundo
lidade do autoconhecimento e é, portanto, a concepção socrática.
de natureza sofística.
d) a impossibilidade de responder (aporia) aos
dilemas humanos é sanada pelo homem, me-
dida de todas as coisas.
Gabarito
9. (Unicamp) A sabedoria de Sócrates, filósofo 1. D 2. C 3. C 4. E 5. B
ateniense que viveu no século V a.C., encon-
6. A 7. A 8. A 9. A 10. C
tra o seu ponto de partida na afirmação “sei
que nada sei”, registrada na obra Apologia
de Sócrates. A frase foi uma resposta aos que
afirmavam que ele era o mais sábio dos ho-
mens. Após interrogar artesãos, políticos e
poetas, Sócrates chegou à conclusão de que
28
0 3 Introdução aos conceitos
segundo Platão
Competências Habilidades
1, 2, 3, 4 e 5 1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9,
10, 11, 12,13, 15,
16, 18, 20, 22, 23,
24 e 25
C HENTRE
PENSAMENTOS
Competência 1 – Compreender os elementos culturais que constituem as identidades.
H1 Interpretar historicamente e/ou geograficamente fontes documentais acerca de aspectos da cultura.
H2 Analisar a produção da memória pelas sociedades humanas.
H3 Associar as manifestações culturais do presente aos seus processos históricos
H4 Comparar pontos de vista expressos em diferentes fontes sobre determinado aspecto da cultura.
H5 Identificar as manifestações ou representações da diversidade do patrimônio cultural e artístico em diferentes sociedades.
Competência 2 – Compreender as transformações dos espaços geográficos como produto das relações socioeconômicas e culturais de
poder.
H6 Interpretar diferentes representações gráficas e cartográficas dos espaços geográficos.
H7 Identificar os significados histórico-geográficos das relações de poder entre as nações.
Analisar a ação dos estados nacionais no que se refere à dinâmica dos fluxos populacionais e no enfrentamento de problemas de ordem econômico-
H8
-social.
H9 Comparar o significado histórico-geográfico das organizações políticas e socioeconômicas em escala local, regional ou mundial
Reconhecer a dinâmica da organização dos movimentos sociais e a importância da participação da coletividade na transformação da realidade
H10
histórico-geográfica.
Competência 3 – Compreender a produção e o papel histórico das instituições sociais, políticas e econômicas, associando-as aos diferen-
tes grupos, conflitos e movimentos sociais.
H11 Identificar registros de práticas de grupos sociais no tempo e no espaço.
H12 Analisar o papel da justiça como instituição na organização das sociedades.
H13 Analisar a atuação dos movimentos sociais que contribuíram para mudanças ou rupturas em processos de disputa pelo poder.
Comparar diferentes pontos de vista, presentes em textos analíticos e interpretativos, sobre situação ou fatos de natureza histórico-geográfica acerca
H14
das instituições sociais, políticas e econômicas.
H15 Avaliar criticamente conflitos culturais, sociais, políticos, econômicos ou ambientais ao longo da história.
Competência 4 – Entender as transformações técnicas e tecnológicas e seu impacto nos processos de produção, no desenvolvimento do
conhecimento e na vida social.
H16 Identificar registros sobre o papel das técnicas e tecnologias na organização do trabalho e/ou da vida social.
H17 Analisar fatores que explicam o impacto das novas tecnologias no processo de territorialização da produção.
H18 Analisar diferentes processos de produção ou circulação de riquezas e suas implicações sócio-espaciais.
H19 Reconhecer as transformações técnicas e tecnológicas que determinam as várias formas de uso e apropriação dos espaços rural e urbano.
H20 Selecionar argumentos favoráveis ou contrários às modificações impostas pelas novas tecnologias à vida social e ao mundo do trabalho.
Competência 5 – Utilizar os conhecimentos históricos para compreender e valorizar os fundamentos da cidadania e da democracia, favo-
recendo uma atuação consciente do indivíduo na sociedade.
H21 Identificar o papel dos meios de comunicação na construção da vida social.
H22 Analisar as lutas sociais e conquistas obtidas no que se refere às mudanças nas legislações ou nas políticas públicas.
H23 Analisar a importância dos valores éticos na estruturação política das sociedades.
H24 Relacionar cidadania e democracia na organização das sociedades.
H25 Identificar estratégias que promovam formas de inclusão social.
Competência 6 – Compreender a sociedade e a natureza, reconhecendo suas interações no espaço em diferentes contextos históricos e
geográficos.
H26 Identificar em fontes diversas o processo de ocupação dos meios físicos e as relações da vida humana com a paisagem.
H27 Analisar de maneira crítica as interações da sociedade com o meio físico, levando em consideração aspectos históricos e (ou) geográficos.
H28 Relacionar o uso das tecnologias com os impactos sócioambientais em diferentes contextos histórico-geográficos.
H29 Reconhecer a função dos recursos naturais na produção do espaço geográfico, relacionando-os com as mudanças provocadas pelas ações humanas.
H30 Avaliar as relações entre preservação e degradação da vida no planeta nas diferentes escalas.
Introdução
Nascido em Atenas (428 a.C.), Platão é o primeiro grande filósofo da tradição ocidental a deixar uma obra es-
crita considerável. Tal obra, entretanto, só pode ser plenamente compreendida em função de pensamentos anteriores
(ou mesmo contemporâneos) aos seus. É o caso do pensamento socrático (devemos lembrar que Sócrates foi professor
de Platão, tendo, portanto, exercido enorme influência em sua obra).
Um episódio envolvendo Sócrates, aliás, foi fundamental para a obra de Platão: ao ver o professor condenado
à morte, Platão entende que a democracia ateniense estaria falida e inicia seu projeto de filosofia política.
Como se pode perceber com o mito da caverna, Platão afirma que os moradores da caverna são como nós,
na vida cotidiana. Tomando as sombras como se fossem os próprios objetos, são incapazes de distinguir entre
mera projeção de luz e aquilo que é real. Quando um dos moradores se convence da necessidade da busca pelo
conhecimento e inicia o processo de libertação, chegando finalmente ao exterior da caverna, é ofuscado pelo sol (o
conhecimento). Com o tempo, ele se acostuma à claridade e pode compreender a verdade que esta proporciona.
Quando retorna, porém, é tido como louco e passa a ser odiado – afinal de contas, ele dizia aos demais que tudo
aquilo que conheciam (seus valores, crenças e verdades) não passava de mera reprodução de algo muito superior.
31
A Teoria das Ideias de Platão O filósofo dizia que a ideia de homem, por exem-
plo, é abstrata e perfeita, universal e imutável. Os seres
O mito da caverna de Platão nos ajuda a en- humanos que conhecemos, contudo, são meras cópias
tender sua teoria das Ideias. Para o filósofo, o mundo degeneradas, imperfeitas e efêmeras. Um dia morrerão,
sensível, aquele que percebemos através dos sentidos, deixando de existir – mas a ideia de homem, esta per-
seria apenas uma cópia do mundo ideal. manece.
e imutável.
32
A moral classe legislativa. Cada classe tem interesses e atribui-
ções muito próprias, segundo ele. É quando os interes-
Platão quer que a Ideia do bem seja derrama- ses de uma classe se sobrepõem aos de outra que a
da na natureza humana. A felicidade para ele não está injustiça se origina, afirma Platão. O filósofo defende
identificada com o prazer, pois era isso que os sofistas ainda que a classe legislativa deve, necessariamente, ser
pregavam. Falta ao prazer estabilidade e plenitude, pois composta por homens que tenham alcançado a ciência
novos desejos levam a novos sofrimentos em um movi- política por meio do saber filosófico (sempre a partir
mento que parece não ter fim. Ele identifica a sabedo- da ideia de processo do conhecimento desenvolvida no
ria com a felicidade, mas acredita na desigualdade das mito da caverna). Somente assim a política seria enten-
inclinações dos homens para a prática da virtude; uns dida como uma atividade que visa o bem coletivo, e não
se contentariam com a coragem, outros com a tempe- a busca por poder.
rança; poucos, no entanto, buscariam a virtude perfeita. Em seu pensamento político, Platão defende
Esses possuiriam o germe divino da sabedoria. que a escravidão é um mal. Coloca-se ainda a favor da
igualdade política entre homens e mulheres – um pen-
samento bastante avançado para a época.
A política para Platão
A visão que Platão tem da política de sua época
tem estreita relação com sua posição filosófica.
Por entender que o homem deve buscar a verda-
de ao longo da vida, Platão também afirma que o ho-
mem deve buscar a educação política e da alma e que
o filósofo, por estar próximo da verdade, deve participar
ativamente da vida política da pólis.
Em sua obra, Platão nota que há diferentes for-
mas de regimes políticos, categorizando-as. São elas
a Aristocracia, ou o governo dos melhores; a Monar-
quia, que Platão entende como o governo de um só; e
a Democracia, ou governo cujo poder emana do povo.
Platão afirma que, para cada uma destas formas de go-
verno, há uma forma degenerada. Deve-se lembrar que,
para Platão, tudo aquilo presente no mundo sensível já
é degenerado por si só. Assim sendo, a degeneração dos
sistemas políticos seria igualmente inevitável.
A aristocracia tende à oligarquia, um governo
em que a elite governa de acordo com os próprios inte-
resses. A monarquia se corromperia até se transformar
em uma tirania. A democracia, por sua vez, tenderia à
anarquia. Perceba que em todos os casos, o que define
a forma degenerada é o fato de que aqueles que go-
vernam, o fazem em causa própria – e não em prol da
coletividade, como Platão julga ideal.
Em sua obra, Platão divide o povo em classes
sociais. Para o filósofo, há a classe econômica, forma-
da por agricultores, comerciantes e outros profissionais
liberais; a classe militar, formada pelos guerreiros, e a
33
INTERATIVI
A DADE
ASSISTIR
resistência.
LER
Livros
Fédon – Platão
A República – Platão
Autor de vasta obra filosófica, Platão preocupou-se com o conhecimento
das verdades essenciais que determinam a realidade e, a partir disso,
estabe leceu os princípios éticos que devem nortear o mundo social. A
República é uma das obras-primas de Platão. Nela o filósofo expõe suas
ideias políticas, filosóficas, estéticas e jurídicas. Aqui se encontra a Alego-
ria da Caverna, uma das mais belas passagens de toda obra de Platão. O
filósofo imaginou um estado ideal, sustentado no conceito de justiça.
Leitura obrigatória.
34
Estrutura Conceitual
Concupiscente Artesãos, agricultores
(necessidades básicas) e comerciantes
Defesa da Razão
Busca da verdade contra
a enganação dos sentidos
e do senso comum
35
Aprofunde seus conhecimentos
1. (Uncisal) No contexto da Filosofia Clássica, pelo pensamento. Ele toma como exemplo o
Platão e Aristóteles possuem lugar de des- carpinteiro que, por sua arte, cria uma mesa,
taque. Suas concepções, que se opõem, mas tendo presente a ideia de mesa, como modelo.
não se excluem, são amplamente estudadas Entretanto, o que ele produz é a mesa e não a
e debatidas devido à influência que exerce- sua ideia. O poeta pertence à mesma catego-
ram, e ainda exercem, sobre o pensamento ria: cria um mundo de mera aparência. Com
ocidental. Todavia é necessário salientar que base no texto e nos conhecimentos sobre a te-
o produto dos seus pensamentos se insere oria das ideias de Platão, é correto afirmar:
em uma longa tradição filosófica que remon- a) Deus é o criador último da ideia, e o artífice,
ta a Parmênides e Heráclito e que influen- enquanto co-participante da criação divina,
ciou, direta ou indiretamente, entre outros, alcança a verdadeira causa das coistas a par-
os racionalistas, empiristas, Kant e Hegel. tir do reflexo da ideia ou do simulacro que
Observando o cerne da filosofia de Platão, as- produz.
sinale nas opções abaixo aquela que se iden- b) A participação das coisas às ideias permite
tifica corretamente com suas concepções. admitir as realidades sensíveis como as cau-
a) A dicotomia aristotélica (mundo sensível X sas verdadeiras acessíveis à razão.
mundo inteligível) se opõe radicalmente as c) Os poetas são imitadores de simulacros e
concepções de caráter empírico defendidas por intermédio da imitação não alcançam o
por Platão. conhecimento das ideias como verdadeiras
b) A filosofia platônica é marcada pelo materia- causas de todas as coisas.
lismo e pragmatismo, afastando-se do misti- d) As coisas belas se explicam por seus elemen-
cismo e de conceitos transcendentais. tos físicos, como a cor e a figura, e na ma-
c) Segundo Platão a verdade é obtida a partir terialidade deles encontram sua verdade: a
da observação das coisas, por meio da valo- beleza em si e por si.
rização do conhecimento sensível. e) A alma humana possui a mesma natureza
d) Para Platão, a realidade material e o conhe- das coisas sensíveis, razão pela qual se torna
cimento sensível são ilusórios. capaz de conhecê-las como tais na percep-
e) As concepções platônicas negam veemente- ção de sua aparência.
mente a validade do Inatismo.
4. (UENP) Platão foi um dos filósofos que mais
2. (Unisc) Nos livros II e III, Platão, através de influenciaram a cultura ocidental. Para ele,
Sócrates, discute sobre as artes no contexto a filosofia tem um fim prático e é capaz de
da educação dos guardiães. Já no livro X, ele resolver os grandes problemas da vida. Con-
trata de vários tipos de práticas artísticas, sidera a alma humana prisioneira do corpo,
que devem ser consideradas na cidade como vivendo como se fosse um peregrino em bus-
um todo, não somente nas instituições peda- ca do caminho de casa. Para tanto, deveria
gógicas. Nesse último livro, Sócrates é duro transpor os limites do corpo e contemplar o
ao afirmar que a poesia (imitativa) deve ser inteligível. Assinale a alternativa correta.
inteiramente excluída da cidade (595a). a) A teoria das ideias não pode ser considerada
Em que obra essa recusa de Sócrates está re- uma chave de leitura aplicável a todo pensa-
mento platônico.
gistrada?
b) Como Sócrates, Platão desenvolveu uma éti-
a) No diálogo “Banquete”, de Platão, em que
ca racionalista que desconsiderava a vontade
Sócrates trata dos diversos tipos de arte.
como elemento fundamental entre os motiva-
b) No diálogo “Teeteto”, de Platão, em que Só-
dores da ação. Ele acreditava que o conheci-
crates e esse personagem discutem sobre a
mento do bem era suficiente para motivar a
natureza da arte, especialmente da poesia.
conduta de acordo com essa ideia (agir bem).
c) No diálogo “Timeu”, de Platão, em que Só-
c) Platão propõe um modelo de organização po-
crates discorre sobre o tema da arte, repor-
lítica da sociedade que pode ser considerado
tando-se à natureza da pintura e da poesia.
estamental e antidemocrático. Para ele, o go-
d) No diálogo “Político”, de Platão, em que Só-
verno não deveria se pautar pelo princípio da
crates apresenta a arte da política aos cida-
maioria. As almas têm natureza diversa, de
dãos atenienses.
acordo com sua composição, isso faz com que
e) No diálogo “República”, de Platão, no qual
os homens devam ser distribuídos de acordo
Sócrates afirma que a poesia pode levar à
com essa natureza, divididos em grupos encar-
corrupção do caráter humano.
regados do governo, do controle e do abasteci-
mento da polis.
3. (UEL) Leia o texto a seguir. Para esclarecer d) Platão chamava o conhecimento da verdade de
o que seja a imitação, na relação entre poe- doxa e o contrapõe a outra forma de conheci-
sia e o Ser, no Livro X de A República, Pla- mento (inferior) denominada episteme.
tão parte da hipótese das ideias, as quais e) Para Platão, a essência das coisas é dada a par-
designam a unidade na pluralidade, operada tir da análise de suas causas material e final.
36
5. (UEL) Leia o texto a seguir. Platão, em A Repú- Assinale a alternativa correta.
blica, tem como objetivo principal investigar a) Somente as afirmativas I e IV são corretas.
a natureza da justiça, inerente à alma, que, b) Somente as afirmativas II e III são corretas.
por sua vez, manifesta-se como protótipo do c) Somente as afirmativas III e IV são corretas.
Estado ideal. Os fundamentos do pensamento d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas.
ético-político de Platão decorrem de uma cor- e) Somente as afirmativas I, II e IV são corretas.
relação estrutural com constituição tripartite
da alma humana. Assim, concebe uma orga- 7. (Uepa) Leia o texto para responder à questão.
nização social ideal que permite assegurar a
Platão:
justiça. Com base neste contexto, o foco da
A massa popular é assimilável por natureza
crítica às narrativas poéticas, nos livros II e
a um animal escravo de suas paixões e de
III, recai sobre a cidade e o tema fundamen-
seus interesses passageiros, sensível à lison-
tal da educação dos governantes. No Livro X,
ja, inconstante em seus amores e seus ódios;
na perspectiva da defesa de seu projeto ético-
confiar-lhe o poder é aceitar a tirania de um
-político para a cidade fundamentada em um ser incapaz da menor reflexão e do menor
logos crítico e reflexivo que redimensiona o rigor. Quanto às pretensas discussões na As-
papel da poesia, o foco desta crítica se deslo- sembleia, são apenas disputas contrapondo
ca para o indivíduo ressaltando a relação com opiniões subjetivas, inconsistentes, cujas
a alma, compreendida em três partes separa- contradições e lacunas traduzem bastante
das, segundo Platão: a racional, a apetitiva e bem o seu caráter insuficiente.
a irascível. CHATELET, F. História das Ideias Políticas.
Com base no texto e na crítica de Platão ao Rio de Janeiro: Zahar, 1997, p. 17
caráter mimético das narrativas poéticas e
sua relação com a alma humana, é correto Os argumentos de Platão, filósofo grego da
afirmar: antiguidade, evidenciam uma forte crítica à:
a) A parte racional da alma humana, considera- a) oligarquia
da superior e responsável pela capacidade de b) república
pensar, é elevada pela natureza mimética da c) democracia
poesia à contemplação do Bem. d) monarquia
b) O uso da mímesis nas narrativas poéticas para e) plutocracia
controlar e dominar a parte irascível da alma é
considerado excelente prática propedêutica na 8. (Unesp) O que é terrível na escrita é sua se-
formação ética do cidadão. melhança com a pintura. As produções da
c) A poesia imitativa, reconhecida como fonte de pintura apresentam-se como seres vivos,
racionalidade e sabedoria, deve ser incorpora- mas se lhes perguntarmos algo, mantêm o
da ao Estado ideal que se pretende fundar. mais solene silêncio. O mesmo ocorre com
d) O elemento mimético cultivado pela poesia é os escritos: poderíamos imaginar que falam
justamente aquele que estimula, na alma hu- como se pensassem, mas se os interrogar-
mana, os elementos irracionais: os instintos e mos sobre o que dizem (...) dão a entender
as paixões. somente uma coisa, sempre a mesma (...) E
e) A reflexividade crítica presente nos elementos quando são maltratados e insultados, injus-
miméticos das narrativas poéticas permite ao tamente, têm sempre a necessidade do auxí-
indivíduo alcançar a visão das coisas como re- lio de seu autor porque são incapazes de se
almente são. defenderem, de assistirem a si mesmos.
Platão, Fedro ou Da beleza.
6. O texto é parte do livro VII da República,
obra na qual Platão desenvolve o célebre Nesse fragmento, Platão compara o texto
Mito da Caverna. Sobre o Mito da Caverna, é escrito com a pintura, contrapondo-os à sua
correto afirmar. concepção de filosofia.
I. A caverna iluminada pelo Sol, cuja luz se Assinale a alternativa que permite concluir,
projeta dentro dela, corresponde ao mun- com apoio do fragmento apresentado, uma
do inteligível, o do conhecimento do ver- das principais características do platonismo.
dadeiro ser. a) Platão constrói o conhecimento filosófico
II. Explicita como Platão concebe e estrutura por meio de pequenas sentenças com sen-
tido completo, as quais, no seu entender,
o conhecimento.
esgotam o conhecimento acerca do mundo.
III.Manifesta a forma como Platão pensa a
b) A forma de exposição da filosofia platônica
política, na medida em que, ao voltar à é o diálogo, e o conhecimento funda-se no
caverna, aquele que contemplou o bem rigor interno das argumentações, produzido e
quer libertar da contemplação das som- comprovado pela confrontação dos discursos.
bras os antigos companheiros. c) O platonismo se vale da oratória política,
IV. Apresenta uma concepção de conheci- sem compromisso filosófico com a busca da
mento estruturada unicamente em fato- verdade, mas dirigida ao convencimento dos
res circunstanciais e relativistas. governantes das Cidades.
37
d) A poesia rimada é o veículo de difusão das d) Para Platão, a formação de uma cidade justa
ideias platônicas, sendo a filosofia uma sa- só é possível se cada cidadão executar, da
bedoria alcançada na velhice e ensinada pe- melhor maneira possível, a sua função pró-
los mestres aos discípulos. pria, ou seja, se cada um fizer bem aquilo
e) O discurso platônico tem a mesma natureza que lhe compete, segundo suas aptidões.
do discurso religioso, pois o conhecimento e) Platão acredita que a cidade só é justa se
filosófico modifica-se segundo as habilida- cada membro do organismo social tiver con-
des e a argúcia dos filósofos. dições de perseguir seus ideais, exercendo
funções que promovam sua ascensão econô-
9. (UFPI) A respeito da cultura grega, leia as mica e social.
sínteses filosóficas abaixo.
I. A ciência, a moral e os credos religiosos
eram criações humanas válidas para de-
terminados grupos sociais em um deter-
Gabarito
minado período.
II. Sua principal contribuição filosófica foi 1. D 2. E 3. C 4. C 5. D
a Teoria das Ideias, segundo a qual as
6. B 7. C 8. B 9. D 10. D
ideias são a essência dos conceitos e das
coisas e, portanto, transcendentes ao ho-
mem, que delas tem apenas um pálido
reflexo.
III.Defendia a existência de um conhecimen-
to estável e válido para todos. Sua grande
preocupação era o autoconhecimento que
poderia ser obtido através da ironia e da
maiêutica.
As sínteses que você acabou de ler podem ser
associadas, respectivamente, a:
a) Platão, Aristóteles e Sócrates
b) Platão, Sofistas e Aristóteles
c) Sócrates, Sofistas e Platão
d) Sofistas, Platão e Sócrates
e) Platão, Sofistas e Sócrates
38
0 4 Aristóteles I
Competências Habilidades
1, 2, 3, 4 e 5 1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9,
10, 11, 12, 13, 15,
16, 18, 20, 22, 23,
24 e 25
C HENTRE
PENSAMENTOS
Competência 1 – Compreender os elementos culturais que constituem as identidades.
H1 Interpretar historicamente e/ou geograficamente fontes documentais acerca de aspectos da cultura.
H2 Analisar a produção da memória pelas sociedades humanas.
H3 Associar as manifestações culturais do presente aos seus processos históricos
H4 Comparar pontos de vista expressos em diferentes fontes sobre determinado aspecto da cultura.
H5 Identificar as manifestações ou representações da diversidade do patrimônio cultural e artístico em diferentes sociedades.
Competência 2 – Compreender as transformações dos espaços geográficos como produto das relações socioeconômicas e culturais de
poder.
H6 Interpretar diferentes representações gráficas e cartográficas dos espaços geográficos.
H7 Identificar os significados histórico-geográficos das relações de poder entre as nações.
Analisar a ação dos estados nacionais no que se refere à dinâmica dos fluxos populacionais e no enfrentamento de problemas de ordem econômico-
H8
-social.
H9 Comparar o significado histórico-geográfico das organizações políticas e socioeconômicas em escala local, regional ou mundial
Reconhecer a dinâmica da organização dos movimentos sociais e a importância da participação da coletividade na transformação da realidade
H10
histórico-geográfica.
Competência 3 – Compreender a produção e o papel histórico das instituições sociais, políticas e econômicas, associando-as aos diferen-
tes grupos, conflitos e movimentos sociais.
H11 Identificar registros de práticas de grupos sociais no tempo e no espaço.
H12 Analisar o papel da justiça como instituição na organização das sociedades.
H13 Analisar a atuação dos movimentos sociais que contribuíram para mudanças ou rupturas em processos de disputa pelo poder.
Comparar diferentes pontos de vista, presentes em textos analíticos e interpretativos, sobre situação ou fatos de natureza histórico-geográfica acerca
H14
das instituições sociais, políticas e econômicas.
H15 Avaliar criticamente conflitos culturais, sociais, políticos, econômicos ou ambientais ao longo da história.
Competência 4 – Entender as transformações técnicas e tecnológicas e seu impacto nos processos de produção, no desenvolvimento do
conhecimento e na vida social.
H16 Identificar registros sobre o papel das técnicas e tecnologias na organização do trabalho e/ou da vida social.
H17 Analisar fatores que explicam o impacto das novas tecnologias no processo de territorialização da produção.
H18 Analisar diferentes processos de produção ou circulação de riquezas e suas implicações sócio-espaciais.
H19 Reconhecer as transformações técnicas e tecnológicas que determinam as várias formas de uso e apropriação dos espaços rural e urbano.
H20 Selecionar argumentos favoráveis ou contrários às modificações impostas pelas novas tecnologias à vida social e ao mundo do trabalho.
Competência 5 – Utilizar os conhecimentos históricos para compreender e valorizar os fundamentos da cidadania e da democracia, favo-
recendo uma atuação consciente do indivíduo na sociedade.
H21 Identificar o papel dos meios de comunicação na construção da vida social.
H22 Analisar as lutas sociais e conquistas obtidas no que se refere às mudanças nas legislações ou nas políticas públicas.
H23 Analisar a importância dos valores éticos na estruturação política das sociedades.
H24 Relacionar cidadania e democracia na organização das sociedades.
H25 Identificar estratégias que promovam formas de inclusão social.
Competência 6 – Compreender a sociedade e a natureza, reconhecendo suas interações no espaço em diferentes contextos históricos e
geográficos.
H26 Identificar em fontes diversas o processo de ocupação dos meios físicos e as relações da vida humana com a paisagem.
H27 Analisar de maneira crítica as interações da sociedade com o meio físico, levando em consideração aspectos históricos e (ou) geográficos.
H28 Relacionar o uso das tecnologias com os impactos sócio-ambientais em diferentes contextos histórico-geográficos.
H29 Reconhecer a função dos recursos naturais na produção do espaço geográfico, relacionando-os com as mudanças provocadas pelas ações humanas.
H30 Avaliar as relações entre preservação e degradação da vida no planeta nas diferentes escalas.
Conceitos da Filosofia de Aristóteles
Partindo como Platão do mesmo problema acerca do valor objetivo dos conceitos, mas abandonando a
solução do mestre, Aristóteles constrói um sistema inteiramente original. Os caracteres desta grande síntese são:
1. Observação fiel da natureza – Platão, idealista, rejeitara a experiência como fonte de conhecimento
certo. Aristóteles, mais positivo, toma sempre o fato como ponto de partida de suas teorias, buscando na
realidade um apoio sólido às suas mais elevadas especulações metafísicas.
2. Rigor no método – Depois de estudar as leis do pensamento, o processo dedutivo e indutivo, Aristóteles
os aplica, com rara habilidade, em todas as suas obras, substituindo a linguagem imaginosa e figurada de
Platão, em estilo primoroso e conciso, e criando uma terminologia filosófica de precisão admirável. Pode
considerar-se como o autor da metodologia e tecnologia científicas. Geralmente, no estudo de uma questão,
Aristóteles procede por partes:
a) começa a definir-lhe o objeto;
b) passa a enumerar-lhes as soluções históricas;
c) propõe depois as dúvidas;
d) indica, em seguida, a própria solução; e, refuta, por último, as sentenças contrárias.
3. Unidade do conjunto – Sua vasta obra filosófica constitui um verdadeiro sistema, uma verdadeira síntese.
Todas as partes se compõem, se correspondem, se confirmam.
O pensamento de Aristóteles
“Mestre dos que sabem”, assim Dante se refere a ele na Divina Comédia. Com Platão, Aristóteles criou o
núcleo inspirador de toda a filosofia posterior. Mais realista do que o seu professor, Aristóteles percorre todos os
caminhos do saber: da biologia à metafísica, da psicologia à retórica, da lógica à política, da ética à poesia. Im-
possível resumir a fecundidade do seu pensamento em todas as áreas. A obra aristotélica só se integra na cultura
filosófica europeia da Idade Média, através dos árabes, no século XIII, quando é conhecida a versão (orientalizada)
de Averróis, o seu mais importante comentarista. Depois, São Tomás de Aquino vai incorporar muitos passos das
suas teses no pensamento cristão, a teoria das causas. O conhecimento é o conhecimento das causas:
1. Causa material (aquilo de que uma coisa é feita);
2. Causa formal (aquilo que faz com que uma coisa seja o que é);
3. Causa eficiente (a que transforma a matéria);
4. Causa final (o objetivo com que a coisa é feita).
Todas pressupõem uma causa primeira, uma causa sem causa, o motor imóvel do cosmos, a divindade, que
é a realidade suprema, a substância plena que determina o movimento e a unidade do universo. Mas para Aristó-
teles a divindade não tem a faculdade da criação do mundo, este existe desde sempre. É a filosofia cristã que vai
dar à divindade o poder da Criação. Aristóteles opõe-se, frequentemente, a Platão e a sua Teoria das Ideias. Para o
estagirita, não é possível pensar uma coisa sem lhe atribuir uma substância, uma quantidade, uma qualidade, uma
atividade, uma passividade, uma posição no tempo e no espaço, etc. Há duas espécies de ser: os verdadeiros, que
subsistem por si, e os acidentes. Quando se morre, a matéria fica; a forma, o que caracteriza as qualidades particu-
lares das coisas, desaparece. Os objetos sensíveis são constituídos pelo princípio da perfeição (o ato), são enquanto
são e pelo princípio da imperfeição (a potência), através do qual lhes permite a aquisição de novas perfeições. O
ato explica a unidade do ser, a potência, a multiplicidade e a mudança.
Aristóteles é o criador da biologia. A sua observação da natureza, sem dispor dos mais elementares meios
de investigação (como o microscópio, por exemplo), apesar de ter hoje um valor quase só histórico, não deixa de
ser extraordinária. Apesar disso, Aristóteles cometeu alguns erros e incorreções. Alguns são célebres. Na zoologia,
41
por exemplo, considera que o homem tinha oito pares não sentimos nada. Daí a diferença de estilos: Platão é
de costelas, não reconhece os ossos do crânio humano, poético, Aristóteles é pormenorizado, preferindo, porém,
supõe que as artérias estão cheias de ar (como, aliás, o fragmento ao detalhe.
supunham os médicos gregos), pensa que o homem Apesar de se saber que Aristóteles foi profícuo
tem um só pulmão. Não esqueçamos: Aristóteles classi- autor de várias obras, chegaram até nós 47 textos do
ficou e descreveu cerca de quinhentas espécies animais, fundador do Liceu, provavelmente inacabados por se-
das quais teria dissecado cinquenta – mas nunca dis- rem apontamentos para as lições. Um dos vetores fun-
secou um ser humano. A grandeza genial da sua obra damentais do pensamento de Aristóteles é a Lógica,
não pode ser questionada por tão raros erros, frutos da assim chamada posteriormente (ele preferiu sempre a
época – mais de 2000 anos. designação de Analítica). A Lógica é a arte de orientar
o pensamento nas suas várias direções para impedir o
homem de cair no erro. Sua obra “Organon” ficará para
sempre como um modelo de instrumento científico ao
serviço da reflexão.
O fim último do homem é a felicidade. Esta atin-
ge-se quando o homem realiza, devidamente, as suas
tarefas, o seu trabalho, na polis, a cidade. A vida da ra-
zão é a virtude. Uma pessoa virtuosa é a que possui
a coragem (não a covardia, não a audácia), a compe-
tência (a eficiência), a qualidade mental (a razão) e a
nobreza moral (a ética). O verdadeiro homem virtuoso
é o que dedica largo espaço à meditação. Mas nem o
próprio sábio se pode dedicar, totalmente, à reflexão. O
homem é um ser social. O que vive, isoladamente ou é
um Deus ou uma besta. A razão orienta o ser humano
para que este evite o excesso ou o defeito (a coragem
– não a covardia ou a temeridade). O homem deve en-
contrar o meio-termo, o justo meio; deve viver usando a
Aristóteles, de Francesco Hayez (1811). riqueza com prudência, os prazeres com moderação, e
conhecendo exatamente o que deve temer.
Com isso, o que mais o interessava era a natu-
reza viva. A ele se deve a origem da linguagem técnica
das ciências e o princípio da sua sistematização e or- O mestre, o discípulo
ganização. Tudo se move e existe em círculos concên-
tricos, tendente a um fim. Todas as coisas se separam Havia várias escolas em Atenas. Mas a Acade-
em função do lugar próprio que ocupam, determinado
mia de Platão era a mais acreditada. Aristóteles, apesar
pela natureza. Enquanto Platão age no plano das ideias,
do seu aspecto elegante, requintado, barba raspada e
usando só a razão e mal reparando nas transformações
cabelo cortado, é o provinciano na grande urbe, centro
da natureza, Aristóteles interessa-se por estas e pelos
e farol do Mundo. Tem dificuldades na língua do povo
processos físicos. Não deixando de se apoiar na razão, o
com quem se acotovela nas ruas. Ninguém o conhece.
filho de Nicómaco usa também os sentidos. Para Platão
a realidade é o que pensamos. Para Aristóteles é tam- A cidade é poeirenta, o ar sufocante, úmido, respira-se
bém o que percebemos ou sentimos. O que vemos na mal. Fala-se muito depressa, usam expressões que Aris-
natureza, diz Platão, é o reflexo do que existe no mun- tóteles não decifra. Além do mais ciciava, quase gague-
do das ideias, ou seja, na alma dos homens. Aristóteles java, sua voz era branda, fraca, tímida. Nunca seria um
dirá: o que está na alma do homem é apenas o reflexo orador, mas um leitor. Na Academia descobriram que
dos objetos da natureza, a razão está vazia enquanto era de fora. Da Macedônia, perguntaram? Sim, nasci lá,
42
responde Aristóteles, prudentemente, como se quisesse “completo e perfeito” e para a organização da polis.
que o fato fosse ocasional. Para ele, a prudência é uma Teofrasto vai ser o amigo fiel que o acompanhará toda
virtude que será fundamental na sua ética. Recomenda- a vida e a quem confiará a execução do seu testamen-
rá sempre: prevejam-se as saídas possíveis, imaginem- to e a continuação do Liceu que Aristóteles irá fundar.
-se as consequências, avaliem-se as dificuldades – antes Xenócrates, outro colega, marrão e teimoso, fez parte
da decisão. dos seus amigos acadêmicos, até ao rompimento. Ao
Estava em Atenas. Isso é o que importava. À no- contrário de Platão, que despreza o rumor, o diz que
roeste, fora das portas da cidade, ficava a escola de Pla- me diz que, à opinião, o que se ouve, à doxa, Aristóteles
tão, um velho ginásio sob a proteção do herói Hecadé- deu-lhe sempre atenção, muitas vezes para a avaliar a
mio. Não se entrava na Academia para tirar um curso de contrário ou dela extrair o que é verossímil. Não será
xis anos. Entrava-se, saía-se, ficava-se o tempo que se só quanto à doxa que se manifestará o desacordo com
desejassem. Não havia carreiras, exames, cursos com li- Platão, mais velho do que ele quarenta e três anos. Esse
mites. Frequentava-se para aprender, para ensinar. Uma desacordo, todavia, jamais será conflito ou oposição
palavra elogiosa do mestre, um estímulo, era o bastan- violenta. Até o último dos seus dias, Aristóteles foi pró-
te. Platão dizia que Aristóteles foi o melhor dos seus -platônico, mesmo divergindo.
alunos, a Inteligência, o Cérebro, o Espírito puro. Por Uma frase que se lhe atribui, embora não formu-
isso, o jovem macedônio ficou vinte anos na Academia, lada exatamente desta forma: “amigo de Platão, mas
estudando, encarregando-se de disciplinas, ensinando. mais amigo da verdade”. Diógenes de Laércio, seu bió-
A escola era um minicosmos da cidade, da sociedade. grafo, não muito fiel nem muito admirador, conta inú-
Invejas, vexações, intrigas, conspirações, grupos. Toda meras histórias e frases de Aristóteles. Qual a diferença
Atenas cosmopolita, variegada de gentes, vivia uma entre os sábios e os ignorantes? O que há entre os vivos
vida versátil, animada, faladora, sulcada e fecundada e os mortos. O que envelhece mais depressa? A grati-
pelos boatos, pelo diz que me diz que. dão. Que é a esperança? O sonho de um homem acor-
dado. Que é um amigo? Uma só alma em dois corpos.
Que comportamento devemos ter para com os amigos?
Como gostaríamos que se comportassem conosco. A um
fala barato que pedia desculpa por tê-lo incomodado
respondeu: não tem importância, não estive a ouvi-lo.
Alguém o censurou por dar esmola a um vadio: não dei
ao indivíduo, dei ao homem. Quando Aristóteles com-
pleta trinta e sete anos, Platão morre. Espeusipo, filóso-
fo e professor medíocre que viria a sucumbir de morte
sinistra, devorado pelos piolhos, sobrinho de Platão e
Busto de Aristóteles no Parque Aristóteles, em Estagira,
cidade natal do Filósofo. ateniense dos quatro costados, será, por testamento, o
novo diretor da Academia. É provável que Aristóteles se
Aristóteles frequentava os pontos de encontro,
tenha enfurecido. Não suporta a afronta.
os cafés, as tertúlias, mas também os artesãos, os co-
Na Ásia, em Assos, o seu amigo Hermias (que
merciantes, os soldados, as gentes do porto, a boemia
também passara pela Academia) eunuco e escravo li-
– gostava de vinho, de rir, de ouvir anedotas e historie-
berto, rico, poderoso, amigo da filosofia, é, agora o tira-
tas, de mulheres. Não se lhe conhece, de prova provada,
no. Aristóteles parte para lá, a fim de fundar uma escola.
pendor para a beleza e a graça masculinas que tanto
O segundo exílio. Atenas fica para trás. Uma memória
seduziam os amigos de Platão (ainda assim, alguns au-
viva, uma experiência vivida que Aristóteles sonhara re-
tores dirão que também ele se deixou atrair pelos jo-
petir. E repetiu.
vens, que teve em Atenas momentos de grande luxúria
e devassidão). Partilha, isso sim, a amizade, a filia, essa
afeição da alma, como dirá, necessária para um homem
43
INTERATIVI
A DADE
ASSISTIR
Fonte: Youtube
Fonte: Youtube
44
LER
Livros
Metafísica – Aristóteles
45
Estrutura Conceitual
Formal Formato da substância
Existência
46
Aprofunde seus conhecimentos
1. (UFPA)“A cidade de Atenas promoveu um a) Para Aristóteles, ser-em-ato é o ser em sua
concurso para a escolha da estátua da deu- capacidade de se transformar em algo dife-
sa Atena, a ser instalada no Paternon. Dois rente dele mesmo, como, por exemplo, o
escultores apresentaram suas obras. Uma de- mármore (ser-em-ato) em relação à estátua
las era uma mulher perfeita e foi admirada (ser-em-potência).
por todos. A outra, era uma figura grotesca: b) Segundo Aristóteles, a teoria do ato e potên-
a cabeça enorme, os braços muito longos e cia explica o movimento percebido no mundo
as mãos maiores que os pés. Quando as duas sensível. Tudo o que possui matéria possui
estátuas foram colocadas nos altos pedestais potencialidade (capacidade de assumir ou re-
do Paternon, onde eram vistas de baixo para ceber uma forma diferente de si), que tende a
cima, a estátua perfeita tornara-se ridícula:
se atualizar (assumindo ou recebendo aquela
a cabeça e as mãos de Atena pareceram mi-
forma).
núsculas e desproporcionais para seu corpo;
c) Para Aristóteles, a bem da verdade, existe
em contrapartida, a estátua grotesca torna-
ra-se perfeita, pois a cabeça, os braços e as apenas o ser-em-ato. Isto ocorre porque o
mãos se tornaram proporcionais ao corpo. A movimento verificado no mundo material é
estátua grotesca foi considerada a boa imita- apenas ilusório, e o que existe é sempre imu-
ção e venceu o concurso.” tável e imóvel.
(CHAUÍ, Marilena, Convite à Filosofia, São Paulo,
d) Segundo Aristóteles, o ato é próprio do mun-
Editora Ática, 2003, p. 284, texto adaptado). do sensível (das coisas materiais) e a potên-
cia se encontra tão-somente no mundo inteli-
O exemplo citado no texto acima ilustra como gível, apreendido apenas com o intelecto.
os gregos na Antiguidade concebiam a rela-
ção entre arte e natureza. Tendo por base a 3. (UEL) Leia os textos a seguir.
concepção aristotélica acerca dessa relação, Aristóteles, no Livro IV da Metafísica, defen-
podemos dizer que a estátua grotesca venceu de o sentido epistêmico do princípio de não
o concurso porque o escultor contradição como o princípio primário, in-
a) imitou a deusa Atena considerando que para condicionado e absolutamente verdadeiro da
uma obra ser bela tem de ter, além da propor- “ciência das causas primeiras”, ou melhor, o
ção, certa esquisitice.
princípio que se apresenta como fundamen-
b) não se preocupou em reproduzir uma cópia
to último (ou primeiro) de justificação para
fiel da deusa Atena, pois no mundo sensível
qualquer enunciado declarativo em sua pre-
temos apenas uma imitação da verdadeira rea-
lidade que se encontra no mundo inteligível. tensão de verdade.
c) tomou como parâmetro, ao representar a deu- “É impossível que o mesmo atributo perten-
sa Atena, a ideia de que o belo é relativo ao ça e não pertença ao mesmo tempo ao mes-
gosto de cada pessoa, por isso a deusa poderia mo sujeito, e na mesma relação. [...] Não é
ser percebida diferentemente por cada um, de- possível, com efeito, conceber alguma vez
pendendo do lugar onde fosse colocada. que a mesma coisa seja e não seja, como
d) reproduziu a deusa Atena tendo como padrão alguns acreditam que Heráclito disse [...].
de beleza o imaginário popular da época, que É por esta razão que toda demonstração se
apreciava figuras grotescas. remete a esse princípio como a uma última
e) representou a deusa Atena levando em conta verdade, pois ela é, por natureza, um ponto
que o belo consiste na proporção, na simetria de partida, a mesma para os demais axio-
e na ordem, por isso fez um cálculo matemáti- mas.”
co das proporções entre as partes do corpo, o (ARISTÓTELES. “Metafísica”. Livro IV, 3, 1005b apud FARIA,
local em que seria instalada e como seria vista. Maria do Carmo B. de. Aristóteles: a plenitude como
horizonte do ser. São Paulo: Moderna, 1994. p. 93.)
2. (UFU) Em primeiro lugar, é claro que, com a
expressão “ser segundo a potência e o ato”, Com base nos textos e nos conhecimentos so-
indicam-se dois modos de ser muito diferen- bre Aristóteles, é correto afirmar:
tes e, em certo sentido, opostos. Aristóteles, a) Aqueles que sustentam, com Heráclito, con-
de fato, chama o ser da potência até mesmo de ceber verdadeiramente que propriedades
não-ser, no sentido de que, com relação ao ser- contrárias podem subsistir e não subsistir no
-em-ato, o ser-em-potência é não-ser-em-ato. mesmo sujeito opõem-se ao princípio de não
REALE, Giovanni. História da Filosofia Antiga. contradição.
Trad. de Henrique Cláudio de Lima Vaz e Marcelo b) Pelo princípio de não contradição, sustenta-
Perine. São Paulo: Loyola, 1994, p. 349.
-se a tese heracliteana de que, numa enun-
A partir da leitura do trecho acima e em con- ciação verdadeira, se possa simultaneamente
formidade com a Teoria do Ato e Potência afirmar e negar um mesmo predicado de um
de Aristóteles, assinale a alternativa correta. mesmo sujeito, em um mesmo sentido.
47
c) Nas demonstrações sobre as realidades supras- julgamos conhecer a sua primeira causa);
sensíveis, é possível conceber que proprieda- ora, causa diz-se em quatro sentidos: no pri-
des contrárias subsistam simultaneamente meiro, entendemos por causa a substância
no mesmo sujeito, sem que isso incorra em e a essência (o “porquê” reconduz-se pois à
contradição lógica, ontológica e epistêmica. noção última, e o primeiro “porquê” é causa
d) Para que se possa fundamentar o estatuto e princípio); a segunda causa é a matéria e
axiomático do princípio de não contradição, o sujeito; a terceira é a de onde vem o início
exige-se que sua evidência, enquanto princí- do movimento; a quarta causa, que se opõe
pio primário, seja submetida à demonstração. à precedente, é o “fim para que” e o bem
e) Com o princípio de não contradição, torna-se (porque este é, com efeito, o fim de toda a
possível conceber que, se existem duas coi- geração e movimento).
sas não idênticas, qualquer predicado que se ARISTÓTELES. Metafísica. Trad. De Vincenzo Cocco. São
aplicar a uma delas também poderá ser apli- Paulo: Abril Cultural, 1984. p.16. (Coleção Os Pensadores.)
cado necessariamente à outra.
Com base no texto e nos conhecimentos so-
4. (UnB) Os trabalhos de Aristóteles e Galileu bre o tema, assinale a alternativa que indica,
representam dois momentos marcantes do corretamente, a ordem em que Aristóteles
desenvolvimento das ciências naturais no apresentou as causas primeiras.
a) Causa final, causa eficiente, causa material e
Ocidente. Assinale a opção que sintetiza cor-
causa formal.
retamente as contribuições de cada um deles b) Causa formal, causa material, causa final e
para a história da ciência. causa eficiente.
a) Aristóteles produziu conhecimento acerca do c) Causa formal, causa material, causa eficiente
universo de modo empírico e experimental, e causa final.
ao passo que Galileu defendeu o uso da mate- d) Causa material, causa formal, causa eficiente
mática como ferramenta de descoberta, rele- e causa final.
gando a lógica a uso apenas argumentativo. e) Causa material, causa formal, causa final e
b) O conhecimento de Aristóteles acerca do causa eficiente.
universo era especulativo, embasado na ló-
gica que ele mesmo criara, diferentemente
do conhecimento de Galileu, que defendia 6. (UEL) Para Aristóteles,
o uso da matemática como ferramenta de
descoberta, relegando a lógica a uso apenas Só julgamos que temos conhecimento de
argumentativo. uma coisa quando conhecemos sua causa.
c) A despeito de diferenças quanto à percepção E há quatro tipos de causa: a essência, as
do universo, como heliocêntrico ou geocên- condições determinantes, a causa eficiente
trico, tanto Galileu quanto Aristóteles atri- desencadeadora do processo e a causa final.
buíam à lógica o poder de desvelar relações (ARISTÓTELES. Analíticos Posteriores. Livro
de causalidade entre os fenômenos naturais. II. Bauru: Edipro. 2005. p. 327.)
d) O conhecimento de Aristóteles acerca do
universo era empírico, e o de Galileu, con- Com base no texto e nos conhecimentos so-
templativo, diferindo ambos quanto ao grau bre a metafísica aristotélica, é correto afir-
de manipulação dos fenômenos naturais na mar:
construção dos conceitos científicos. a) A existência de um plano superior constituí-
do das ideias e atingido apenas pelo intelec-
5. (UEL) Aristóteles era pertencente à aristo- to permite a Aristóteles a compreensão ob-
cracia e com isto defendia um sistema de jetiva dos fenômenos que ocorrem no mundo
pensamento que considerava a escravidão físico.
algo natural. Para ele, cada ser, somente b) A realidade, para Aristóteles, sendo consti-
poderia realizar-se em plenitude, seguindo tuída por seres singulares, concretos e mu-
suas aptidões naturais, isto é, seguindo uma táveis, pode ser conhecida indutivamente
natureza que lhes seria própria, assim, Aris- pela observação e pela experimentação.
tóteles realizou a divisão da sociedade em c) Para a compreensão das transformações e da
classes. Nesta sociedade idealizada: a classe mutabilidade dos seres, Aristóteles recorre
dos comerciantes era responsável por prover ao princípio da criação divina.
a cidade daquilo que fosse necessário para d) Na metafísica aristotélica, a compreensão
a sobrevivência; a classe dos guerreiros era do devir de todas as coisas está vinculada à
responsável por proteger a cidade e a classe determinação da causa material e da causa
dos administradores que tinha como função. formal sobre a causa final.
e) Para Aristóteles, todas as coisas tendem na-
Leia o texto a seguir. turalmente para um fim (telos), sendo esta
É pois manifesto que a ciência a adquirir é concepção teleológica da realidade a que ex-
a das causas primeiras (pois dizemos que plica a natureza de todos os seres.
conhecemos cada coisa somente quando
48
7. (Enem) A felicidade é portanto, a melhor, a III.Os princípios da ciência devem ser de-
mais nobre e a mais aprazível coisa do mun- monstrados cientificamente.
do, e esses atributos não devem estar sepa- IV. O conhecimento científico e a opinião
rados como na inscrição existente em Delfos não admitem o falso.
“das coisas, a mais nobre é a mais justa, e a Assinale a alternativa que contém todas as
melhor é a saúde; porém a mais doce é ter afirmativas corretas, mencionadas anterior-
o que amamos”. Todos estes atributos estão mente.
presentes nas mais excelentes atividades, a) I e II.
e entre essas a melhor, nós a identificamos b) I e III.
como felicidade. c) II e IV.
ARISTÓTELES. A Política. São Paulo: Cia. das Letras, 2010. d) I, III e IV.
e) II, III e IV.
Ao reconhecer na felicidade a reunião dos
mais excelentes atributos, Aristóteles a 10. (UFU) “Substância – aquilo a que chamamos
identifica como substância de modo mais próprio, primeiro e
a) busca por bens materiais e títulos de nobreza. principal – é aquilo que nem é dito de algum
b) plenitude espiritual a ascese pessoal. sujeito nem existe em algum sujeito, como,
c) finalidade das ações e condutas humanas. por exemplo, um certo homem ou um cer-
d) conhecimento de verdades imutáveis e per- to cavalo. Chamam-se substâncias segundas
feitas. as espécies a que as coisas primeiramente
e) expressão do sucesso individual e reconheci- chamadas substâncias pertencem e também
mento público. os gêneros dessas espécies. Por exemplo, um
certo homem pertence à espécie homem, e
8. (Unimontes) As ideias de Aristóteles são até animal é o gênero da espécie; por conseguin-
hoje parte importante da cultura ocidental. te, homem e animal são chamados substân-
A obra desse filósofo é vastíssima e compre- cias segundas”.
ende uma centena de volumes. Das obras Aristóteles. Categorias. Trad. Ricardo Santos.
abaixo, assinale a alternativa que indica Porto: Porto Editora, 1995, p. 39.
obras de Aristóteles. Tendo o texto acima como referência, é cor-
a) República, Ética a Eudemo, Organon, De Anima.
reto afirmar que, segundo Aristóteles,
b) Ética a Nicomaco, Ética a Eudemo, Leviatã,
De Anima. a) a substância primeira, assim como o aciden-
c) Ética a Nicomaco, Utopia, Organon, De Anima. te, existe em algum sujeito e é dito dele.
d) Ética a Nicomaco, Ética a Eudemo, Organon, b) as substâncias segundas assemelham-se às
De Anima. Formas de Platão por ambas existirem em si
e por si mesmas.
9. (UEL) Dado que dos hábitos racionais com os c) as substâncias segundas são universais que
quais captamos a verdade, alguns são sem- não existem por si mesmos, mas que podem
pre verdadeiros, enquanto outros admitem o ser conhecidos.
falso, como a opinião e o cálculo, enquanto d) a substância primeira diferencia-se da subs-
o conhecimento científico e a intuição são tância segunda por esta última englobar to-
sempre verdadeiros, e dado que nenhum ou- dos os acidentes a ela pertencentes.
tro gênero de conhecimento é mais exato que
o conhecimento científico, exceto a intuição,
e, por outro lado, os princípios são mais co-
nhecidos que as demonstrações, e dado que
Gabarito
todo conhecimento científico constitui-se de
maneira argumentativa, não pode haver co- 1. E 2. B 3. A 4. B 5. C
nhecimento científico dos princípios, e dado
que não pode haver nada mais verdadeiro que 6. E 7. C 8. D 9. A 10. C
o conhecimento científico, exceto a intuição,
a intuição deve ter por objeto os princípios.
(ARISTÓTELES. Segundos Analíticos, B 19,
100 b 5-17. In: REALE, G. História da Filosofia
Antiga. São Paulo: Loyola, 1994.)
49
0 5 Aristóteles II
Competências Habilidades
1, 2, 3, 4 e 5 1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9,
10, 11, 12, 13, 15,
16, 18, 20, 22, 23,
24 e 25
C HENTRE
PENSAMENTOS
Competência 1 – Compreender os elementos culturais que constituem as identidades.
H1 Interpretar historicamente e/ou geograficamente fontes documentais acerca de aspectos da cultura.
H2 Analisar a produção da memória pelas sociedades humanas.
H3 Associar as manifestações culturais do presente aos seus processos históricos
H4 Comparar pontos de vista expressos em diferentes fontes sobre determinado aspecto da cultura.
H5 Identificar as manifestações ou representações da diversidade do patrimônio cultural e artístico em diferentes sociedades.
Competência 2 – Compreender as transformações dos espaços geográficos como produto das relações socioeconômicas e culturais de
poder.
H6 Interpretar diferentes representações gráficas e cartográficas dos espaços geográficos.
H7 Identificar os significados histórico-geográficos das relações de poder entre as nações.
Analisar a ação dos estados nacionais no que se refere à dinâmica dos fluxos populacionais e no enfrentamento de problemas de ordem econômico-
H8
-social.
H9 Comparar o significado histórico-geográfico das organizações políticas e socioeconômicas em escala local, regional ou mundial
Reconhecer a dinâmica da organização dos movimentos sociais e a importância da participação da coletividade na transformação da realidade
H10
histórico-geográfica.
Competência 3 – Compreender a produção e o papel histórico das instituições sociais, políticas e econômicas, associando-as aos diferen-
tes grupos, conflitos e movimentos sociais.
H11 Identificar registros de práticas de grupos sociais no tempo e no espaço.
H12 Analisar o papel da justiça como instituição na organização das sociedades.
H13 Analisar a atuação dos movimentos sociais que contribuíram para mudanças ou rupturas em processos de disputa pelo poder.
Comparar diferentes pontos de vista, presentes em textos analíticos e interpretativos, sobre situação ou fatos de natureza histórico-geográfica acerca
H14
das instituições sociais, políticas e econômicas.
H15 Avaliar criticamente conflitos culturais, sociais, políticos, econômicos ou ambientais ao longo da história.
Competência 4 – Entender as transformações técnicas e tecnológicas e seu impacto nos processos de produção, no desenvolvimento do
conhecimento e na vida social.
H16 Identificar registros sobre o papel das técnicas e tecnologias na organização do trabalho e/ou da vida social.
H17 Analisar fatores que explicam o impacto das novas tecnologias no processo de territorialização da produção.
H18 Analisar diferentes processos de produção ou circulação de riquezas e suas implicações sócio-espaciais.
H19 Reconhecer as transformações técnicas e tecnológicas que determinam as várias formas de uso e apropriação dos espaços rural e urbano.
H20 Selecionar argumentos favoráveis ou contrários às modificações impostas pelas novas tecnologias à vida social e ao mundo do trabalho.
Competência 5 – Utilizar os conhecimentos históricos para compreender e valorizar os fundamentos da cidadania e da democracia, favo-
recendo uma atuação consciente do indivíduo na sociedade.
H21 Identificar o papel dos meios de comunicação na construção da vida social.
H22 Analisar as lutas sociais e conquistas obtidas no que se refere às mudanças nas legislações ou nas políticas públicas.
H23 Analisar a importância dos valores éticos na estruturação política das sociedades.
H24 Relacionar cidadania e democracia na organização das sociedades.
H25 Identificar estratégias que promovam formas de inclusão social.
Competência 6 – Compreender a sociedade e a natureza, reconhecendo suas interações no espaço em diferentes contextos históricos e
geográficos.
H26 Identificar em fontes diversas o processo de ocupação dos meios físicos e as relações da vida humana com a paisagem.
H27 Analisar de maneira crítica as interações da sociedade com o meio físico, levando em consideração aspectos históricos e (ou) geográficos.
H28 Relacionar o uso das tecnologias com os impactos sócio-ambientais em diferentes contextos histórico-geográficos.
H29 Reconhecer a função dos recursos naturais na produção do espaço geográfico, relacionando-os com as mudanças provocadas pelas ações humanas.
H30 Avaliar as relações entre preservação e degradação da vida no planeta nas diferentes escalas.
A Ética
A realização da felicidade, segundo Aristóteles, é o objetivo final de cada homem. Seu raciocínio é assim:
Todas as atividades humanas são feitas para alcançar algo que é bom. Não fazemos algo porque pensamos que
será ruim para nós. Além disso, a maioria dessas atividades não é o objetivo principal, mas sim um meio para um
fim maior. Consequentemente, a atividade que é um fim em si, escreve o filósofo, é o bem supremo, e que o bem é
a felicidade. Apontamos para a felicidade por seu próprio bem, não porque isso vai conseguir outra coisa. A felici-
dade, portanto, é a nossa maior missão.
Supondo que este seja o nosso objetivo, Aristóteles prossegue em sua Ética de Nicômaco para descobrir a
melhor maneira de alcançar esse objetivo.
Aristóteles começa com a alegação de que a felicidade depende da virtude. Ele descreve a virtude como uma
disposição, e não uma atividade. O indivíduo precisa ser naturalmente uma pessoa “virtuosa”, ao invés de apenas
agir de acordo. Este homem exemplar encontra prazeres fazendo ações.
Mas, então, o que é ser virtuoso?
Neste momento, nosso filósofo científico é inusitadamente vago. A virtude existe em algum lugar do meio
e, portanto, não é subjetiva. O caminho certo está entre excesso e deficiência. O homem não deve ser um covarde
nem totalmente destemido. Ele não deveria ser um ávaro, nem um esbanjador. Ele não deve ser descrito como mo-
desto nem atuar com a vaidade. O padrão é rápido para revelar-se. A virtude reside no justo meio entre os opostos.
O estudante de Platão então esclarece que as ações de alguém só podem ser julgadas como louváveis ou
culpadas se forem voluntárias. Édipo dormindo com a mãe sem saber, portanto, não era pecaminoso. A decisão de agir
deve vir do agente racional e deliberante que executa a ação, e não de terceiros externos. Esta definição fica um pouco
complicada, infelizmente, quando se considera ações cometidas sob coação ou ameaça grave.
De seu modo, ele prossegue a descrever e categorizar todas as virtudes e vícios como ele as vê. É bom ser
paciente, por exemplo, quando enfrenta raiva, mas de vez em quando, é aconselhável exibir uma pequena quantidade
de ira por conta própria. Recomenda-se ter as virtudes sociais de inteligência, amabilidade e sinceridade. A modéstia
é mais adequada entre os jovens, e assim por diante.
53
Agora, abordamos a questão da Justiça, que Aris- Aristóteles então emprega o que agora pensa-
tóteles comenta, e engloba todas as outras virtudes. Isto, mos como o princípio da “máscara de oxigênio”. Quan-
pois precisamos exibir toda a gama de comportamentos do estamos em um avião, precisamos aplicar nossa
adequados para sermos considerados “justos”. Este ter- própria máscara de oxigênio primeiro, antes de ajudar
mo é examinado e dissecado em duas formas primárias os outros. Da mesma forma, temos que nos amar an-
de justiça: distributiva e retificativa. A primeira, que ini- tes de podermos amar outro. Portanto, o amor próprio,
cialmente nos parece socialista, aborda a necessidade de argumenta Aristóteles, é considerado maior do que a
distribuir riqueza e honras entre as pessoas, mas somente amizade. Embora uma pessoa totalmente autossuficien-
de acordo com o mérito. A última justiça está preocupada
te possa tecnicamente e economicamente ser feliz, ela
com as trocas entre duas ou mais pessoas. Ele visa manter
terá uma vida melhor e mais contente se ele tiver uma
um senso de equilíbrio e igualdade entre os envolvidos.
verdadeira amizade.
O filósofo afirma então que é impossível tratar-se
Finalmente, Aristóteles defende uma vida com
injustamente ou sofrer a injustiça voluntariamente. De-
a maior contemplação possível. Isso, pois fazer coisas
pois, ele concede que, embora a lei seja uma orientação
boas fará com que as pessoas boas sejam felizes e o
adequada, de forma alguma engloba todos os aspectos
pensamento racional seja o bem mais alto. As ciências
da vida e relações sociais. Às vezes, os homens devem
discutir a questão e chegar a um acordo. práticas, também, devem ser perseguidas. Elas nos per-
As virtudes morais, infelizmente, não são suficien- mitirão encontrar o caminho certo na vida, bem como
tes. O homem ideal também precisa das virtudes intelec- ajudar com as questões práticas que consomem nosso
tuais. Estas são descritos como um raciocínio calculado, tempo e atenção. Essencialmente, a proposta de Aristó-
como arte ou habilidade técnica e prudência. Existe tam- teles se resume na exaltação da racionalidade e do co-
bém um raciocínio contemplativo, que é separado dos nhecimento como meios para uma boa conduta e para
assuntos humanos. Tudo inclui conhecimento científico, a busca da felicidade.
intuição e sabedoria. Com essas habilidades, podemos
escolher racionalmente o que é o mais virtuoso a ser feito.
E quanto às pessoas que sabem o que é bom, mas
não têm vontade de fazer nada a respeito? Aristóteles
A Política
atribui-lhes a categoria especial de “incontinentes”. A
incontinência não é desejável, mas também não é tão Por contraste, o poder político se distingue do
ruim quanto o vício real. Isso ocorre porque é parcialmen- poder privado, ou doméstico. Este, para Aristóteles, se-
te involuntário. ria o poder do senhor sobre o escravo, do pai sobre o
A investigação de Aristóteles leva então uma filho e a mulher, da família sobre suas propriedades. Se-
enorme volta à arena da amizade. Embora seja uma ria concentrado no âmbito do oikos (casa), na qual se
questão de ética que geralmente não é explorada nos tomariam decisões de âmbito privado e, sobremaneira,
tempos modernos, nosso filósofo grego antigo levou-a econômico. A comunidade política, por sua vez, esta-
muito a sério. Ele começou separando os diferentes tipos ria em grau de relevância superior à privada, uma vez
de amizade: aqueles baseados na utilidade, no prazer e que suas ações e realizações recairiam sobre todos os
na bondade do caráter. Não surpreendentemente, a últi- membros da sociedade. Não seria concebível, portanto,
ma é a mais preferível. A amizade baseada no bem du- para Aristóteles, confundir a esfera pública e privada. O
rará, porque existe entre duas pessoas que se amam por poder político teria um agente e uma finalidade: o Es-
quem são, não pelo que podem ganhar um com o outro. tado e a felicidade pública, respectivamente. Indiferente
A justiça e a amizade estão intimamente ligadas, às formas de governo, o Estado é o sujeito constante da
diz Aristóteles, porque o Estado precisa que seus cida- política, é a única instituição existente que objetiva a
dãos sejam amigos uns com os outros. Em seguida, ele vida feliz e em comunhão.
descreve os três tipos diferentes de instituições políticas Aristóteles estudou centenas de constituições po-
baseadas na amizade, nomeando a monarquia sobre a líticas de seu tempo. Concluiu que havia tantas formas
aristocracia como preferível. de governo quanto tipos de cidadãos. Aquele cidadão da
54
democracia, por exemplo, não é o mesmo da oligarquia.
Após longa reflexão, definiu cidadania como a possibili-
dade de direito de voto nas assembleias e de participação
no exercício do poder público. A extensão da cidadania
estaria circunscrita a cada forma de governo, sendo al-
guns mais abertos à participação do que outros.
Quanto às formas de governo, haveria dois cri-
térios distintivos: número e justiça. O governo pode ser
exercido por uma, poucas ou muitas pessoas; pode go-
vernar para si ou para o bem comum. A tabela abaixo
resume a sistematização das formas de governo feita
Alexandre, o Grande. Discípulo de Aristóteles.
por Aristóteles:
Formas de governo para Aristóteles
BONS REGIMES POLÍTICOS REGIMES POLÍTICO DEGENERADOS
Monarquia Governo de um só, que considera o bem comum Tirania Governo de um que só considera o bem governante
Aristocracia Governo de alguns, que considera o bem comum Oligarquia Governo de alguns, que só considera o bem dos ricos
Politeia Governo de muitos que considera o bem comum Democracia Governo de muitos que só considera o bem dos pobres
(Disponível em: <http://pt.slideshare.net/edivaldopinheironegrao/o-que-poltica-em-aristteles>, Acessado em: 25/01/2017)
Cabe ressaltar a distinção entre Politeia – ou República – e Democracia. O conceito de Democracia, para
Aristóteles, é diferente do conhecido por nós. Seria um governo degenerado, pois concentrado apenas pela maioria
pobre. A camada rica da população – que concentra boa parte dos intelectuais, artistas, etc. – sofreria inúmeras
sanções e opressões dos pobres, gerando revanchismos e instabilidades. As mesmas vicissitudes se repetiriam na
Oligarquia, que nada mais é do que o governo dos ricos que vilipendiam os pobres. Haveria, portanto, uma forma
de governo mista e estável: a Politeia, uma junção entre Democracia e Oligarquia. Quanto mais cidadãos médios
houvesse entre ricos e pobres, mais estável seria a Politeia. Tal estrato médio seria um amortecedor entre a ganân-
cia dos ricos e o ódio e a inveja dos pobres.
Haveria, contudo, para Aristóteles, uma melhor forma de governo? Não. A melhor forma de governo é o
melhor governo possível. Cada sociedade, determinada por sua história, costumes, geografia e valores erigiria uma
forma de governo compatível às suas possibilidades e qualidades.
O papel da arte
A poética tem, para Aristóteles, um papel importantíssimo nisso, à medida que é a arte – em especial a
tragédia – que nos proporciona as grandes noções sobre a vida, por meio de uma experiência emocional. Identifica-
mo-nos com os personagens da tragédia e isso nos proporciona a catarse, uma descarga de desordens emocionais
que nos purifica, seja pela piedade, seja pelo terror que o conflito vivido pelas personagens desperta em nós. Tudo
isso é, evidentemente, um resumo sintético do pensamento aristotélico. Sua obra é gigantesca, apesar de a maior
parte dela ter se perdido ao longo dos tempos. O que chegou até nós corresponde a 1/5 de sua produção. São
notas suas e de seus discípulos que passaram pelas mãos de estudiosos da Antiguidade, da Idade Média (parte dos
quais em países islâmicos), e que foram reorganizadas para a posteridade.
55
INTERATIVI
A DADE
ASSISTIR
Fonte: Youtube
Fonte: Youtube
56
LER
Livros
Introdução a Aristóteles – Giovanni Reale
Política – Aristóteles
57
CONSTRUÇÃO DE HABILIDADES
Habilidade 23 - Analisar a importância dos valores éticos na estruturação política das sociedades.
Modelo
(Enem 2017) Se, pois, para as coisas que fazemos existe um fim que desejamos por ele mesmo
e tudo o mais é desejado no interesse desse fim; evidentemente tal fim será o bem, ou antes, o
sumo bem. Mas não terá o conhecimento, porventura, grande influência sobre essa vida? Se assim
é, esforcemo-nos por determinar, ainda que em linhas gerais apenas, o que seja ele e de qual das
ciências ou faculdades constitui o objeto. Ninguém duvidará de que o seu estudo pertença à arte
mais prestigiosa e que mais verdadeiramente se pode chamar a arte mestra. Ora, a política mostra
ser dessa natureza, pois é ela que determina quais as ciências que devem ser estudadas num Esta-
do, quais são as que cada cidadão deve aprender, e até que ponto; e vemos que até as faculdades
tidas em maior apreço, como a estratégia, a economia e a retórica, estão sujeitas a ela. Ora, como
a política utiliza as demais ciências e, por outro lado, legisla sobre o que devemos e o que não de-
vemos fazer, a finalidade dessa ciência deve abranger as das outras, de modo que essa finalidade
será o bem humano.
ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. In: Pensadores. São Paulo: Nova Gunman, 1991 (adaptado).
Para Aristóteles, a relação entre o sumo bem e a organização da pólis pressupõe que:
a) o bem dos indivíduos consiste em cada um perseguir seus interesses.
b) o sumo bem é dado pela fé de que os deuses são os portadores da verdade.
c) a política é a ciência que precede todas as demais na organização da cidade.
d) a educação visa formar a consciência de cada pessoa para agir corretamente.
e) a democracia protege as atividades políticas necessárias para o bem comum.
58
Análise Expositiva
Habilidade 23
Questão de caráter interpretativo. O texto deixa claro o pensamento aristotélico, segundo o
qual a política abrange as outras ciências – como a Retórica e a Ética – , tendo como finali-
dade o sumo bem humano.
Alternativa C
Estrutura Conceitual
Felicidade Ética Eudemonismo
que é
baseada na
O bem comum Virtude
59
Aprofunde seus conhecimentos
1. (UFPA) Tendemos a concordar que a distri- 3. (Enem) Segundo Aristóteles, “na cidade com
buição isonômica do que cabe a cada um no o melhor conjunto de normas e naquela do-
estado de direito é o que permite, do ponto tada de homens absolutamente justos, os
de vista formal e legal, dar estabilidade às cidadãos não devem viver uma vida de tra-
várias modalidades de organizações institu- balho trivial ou de negócios — esses tipos de
ídas no interior de uma sociedade. Isso leva vida são desprezíveis e incompatíveis com as
Aristóteles a afirmar que a justiça é “uma
qualidades morais —, tampouco devem ser
virtude completa, porém não em absoluto e
sim em relação ao nosso próximo” agricultores os aspirantes à cidadania, pois
o lazer é indispensável ao desenvolvimento
ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. São Paulo:
Abril Cultural, 1973, p. 332. das qualidades morais e à prática das ativi-
dades políticas”.
De acordo com essa caracterização, é correto VAN ACKER, T. Grécia. A vida cotidiana na
dizer que a função própria e universal atri- cidade-Estado. São Paulo: Atual, 1994.
buída à justiça, no estado de direito, é
a) conceber e aplicar, de forma incondicional, O trecho, retirado da obra Política, de Aristó-
ideias racionais com poder normativo positi- teles, permite compreender que a cidadania
vo e irrestrito. a) possui uma dimensão histórica que deve ser
b) instituir um ideal de liberdade moral que criticada, pois é condenável que os políticos
não existiria se não fossem os mecanismos de qualquer época fiquem entregues à ocio-
contidos nos sistemas jurídicos. sidade, enquanto o resto dos cidadãos tem
c) determinar, para as relações sociais, crité- de trabalhar.
rios legais tão universais e independentes b) era entendida como uma dignidade própria
que possam valer por si mesmos. dos grupos sociais superiores, fruto de uma
d) promover, por meio de leis gerais, a recipro- concepção política profundamente hierar-
cidade entre as necessidades do Estado e as quizada da sociedade.
de cada cidadão individualmente. c) estava vinculada, na Grécia Antiga, a uma
e) estabelecer a regência na relação mútua en- percepção política democrática, que levava
tre os homens, na medida em que isso seja todos os habitantes da pólis a participarem
possível por meio de leis. da vida cívica.
d) tinha profundas conexões com a justiça, ra-
2. (Enem (Libras) 2017) zão pela qual o tempo livre dos cidadãos de-
veria ser dedicado às atividades vinculadas
TEXTO I aos tribunais.
e) vivida pelos atenienses era, de fato, restrita
Aquele que não é capaz de pertencer a uma àqueles que se dedicavam à política e que
comunidade ou que dela não tem necessida- tinham tempo para resolver os problemas da
de, porque se basta a si mesmo, não é em cidade.
nada parte da cidade, embora seja quer um
animal, quer um deus. 4. (UEA) A sabedoria do amo consiste no em-
ARISTÓTELES. A política. São Paulo: Martins Fontes, 2002. prego que ele faz dos seus escravos; ele é
senhor, não tanto porque possui escravos,
TEXTO II mas porque deles se serve. Esta sabedoria do
amo nada tem, aliás, de muito grande ou de
Nenhuma vida humana, nem mesmo a vida muito elevado; ela se reduz a saber mandar
de um eremita em meio à natureza selva- o que o escravo deve saber fazer. Também to-
gem, é possível sem um mundo que, direta dos que a ela se podem furtar deixam os seus
ou indiretamente, testemunhe a presença de cuidados a um mordomo, e vão se entregar à
outros seres humanos. política ou à filosofia.
ARENDT, H. A condição humana. ARISTÓTELES. A Política. São Paulo: Cia. das Letras, 2010.
Rio de Janeiro: Forense, 1995.
O filósofo Aristóteles dirigiu, na cidade gre-
Associados a contextos históricos distintos, ga de Atenas, entre 331 e 323 a.C., uma es-
os fragmentos convergem para uma particu- cola de filosofia chamada de Liceu. No ex-
laridade do ser humano, caracterizada por certo, Aristóteles considera que a escravidão
uma condição naturalmente propensa à a) é um empecilho ao florescimento da filoso-
a) atividade contemplativa. fia e da política democrática nas cidades da
b) produção econômica. Grécia.
c) articulação coletiva. b) permite ao cidadão afastar-se de obrigações
d) criação artística. econômicas e dedicar-se às atividades pró-
e) crença religiosa. prias dos homens livres.
60
c) facilita a expansão militar das cidades gre- c) A ordem da natureza, que determina o hábi-
gas à medida que liberta os cidadãos dos tra- to das ações humanas.
balhos domésticos. d) A origem da virtude articulada, segundo a
d) é responsável pela decadência da cultura necessidade da natureza.
grega, pois os senhores preocupavam-se so- e) A razão matemática, que assegura ordem à
mente em dominar os escravos. natureza.
e) promove a união dos cidadãos das diversas
pólis gregas no sentido de garantir o contro- 7. (UEM) A reflexão sobre a ética apresenta,
le dos escravos. na antiguidade clássica, três características
principais: a) a fusão do sujeito moral com o
5. (Unioeste) “A excelência moral, então, é sujeito político, pois só enquanto cidadão ou
uma disposição da alma relacionada com a membro de uma comunidade política pode-
escolha de ações e emoções, disposição esta -se pensar a moralidade; b) a discussão de
consistente num meio-termo (o meio-termo princípios éticos metafísicos, pois a moral
relativo a nós) determinado pela razão (a ra- fundamenta-se a partir de conceitos que des-
zão graças à qual um homem dotado de dis- crevem uma interrogação sobre a essência do
cernimento o determinaria)”. ser (o que é virtude, o que é a felicidade, o
Aristóteles que é a verdade, etc.); c) a separação entre
Sobre o pensamento ético de Aristóteles e o o domínio privado e o domínio público. A
texto acima, seguem as seguintes afirmativas: partir dessa reflexão sobre a ética na anti-
I. A virtude é uma paixão consistente num guidade grega, assinale o que for correto.
meio-termo entre dois extremos. 01) A fundação platônica da cidade ideal, em
II. A ação virtuosa, por estar relacionada A República, dá-se sob o signo de uma
com a escolha, é praticada de modo invo- moralidade subjetiva, isto é, relativa à
luntário e inconsciente. boa vontade dos indivíduos, seja qual for
III.A virtude é uma disposição da alma rela- sua classe social ou política.
cionada com escolha e discernimento. 02) Por ser precursor do pensamento político
IV. A virtude é um meio-termo absoluto, de- democrático, Platão defende os interes-
terminado pela razão. ses dos escravos, dos metecos, das mulhe-
V. A virtude é um extremo determinado res e das crianças.
pela razão e pelas paixões de um homem 04) Na Ética a Nicômaco, Aristóteles defen-
de os princípios de uma ética relativista,
dotado de discernimento.
já que, ao defender o “justo meio”, aca-
Das afirmativas feitas acima
ba por defender a medida individual de
a) somente a afirmação I está correta.
b) somente a afirmação III está correta. cada sujeito.
c) as afirmações II e III estão corretas. 08) A ética, na cidade-Estado grega, acompa-
d) as afirmações III e IV estão corretas. nha seu fundamento político, razão pela
e) as afirmações IV e V estão corretas. qual a violência não é condenada na esfe-
ra privada e é proibida na esfera pública.
16) Para Aristóteles, as amizades de um ho-
6. (UEL) Leia o texto a seguir. mem dependem da pessoa que se é, re-
No ethos (ética), está presente a razão pro- sultando, se ele for um homem justo e
funda da physis (natureza) que se manifes- correto, no coroamento de todos os bens:
ta no finalismo do bem. Por outro lado, ele a felicidade. Por isso, a filosofia moral de
rompe a sucessão do mesmo que caracteriza Aristóteles é uma eudemonia (do grego:
a physis como domínio da necessidade, com “boa vida”, “vida feliz”).
o advento do diferente no espaço da liber-
dade aberto pela práxis. Embora, enquanto 8. (Uem) Na Ética a Nicômaco, Aristóteles afir-
autodeterminação da práxis, o ethos se ele- ma: “Então, quando a amizade é por prazer
ve sobre a physis, ele reinstaura, de alguma ou por interesse mesmo, duas pessoas más
maneira, a necessidade de a natureza fixar- podem ser amigas, ou então uma pessoa boa
-se na constância do hábito. e outra má, ou uma pessoa que não é nem
VAZ, Henrique C. Lima. Escritos de Filosofia II. Ética e boa nem má pode ser amiga de outra qual-
Cultura. 3. ED. São Paulo: Loyola. (Coleção Filosofia.) quer espécie; mas pelo que são em si mesmas
é óbvio que somente pessoas boas podem ser
Com base no texto, é correto afirmar que a amigas. Na verdade, pessoas más não gostam
noção de physis, tal como empregada por uma da outra a não ser que obtenham al-
Aristóteles, compreende: gum proveito recíproco” (ARISTÓTELES, Éti-
a) A disposição da ação humana, que ordena a ca a Nicômaco. In: Filosofia. Vários autores.
natureza. Curitiba: SEED-PR, 2006, p. 123). A partir
b) A finalidade ordenadora, que é inerente à do trecho citado, assinale a(s) alternativa(s)
própria natureza. correta(s).
61
01) A amizade comporta uma esfera de inte- 10. (UEL) “Desde suas origens entre os filósofos
resses particulares. da antiga Grécia, a Ética é um tipo de saber
02) A amizade, em alguns casos, é conse- normativo, isto é, um saber que pretende
quência de condicionantes pessoais dos orientar as ações dos seres humanos”.
amigos. Fonte: CORTINA, A.; MARTÍNEZ, E. Ética. Tradução de Silvana
04) As amizades desinteressadas não exis- Cobucci Leite. São Paulo: Edições Loyola, 2000, p. 9.
tem, visto que alguém sempre tem a ga- Com base no texto e na compreensão da ética
nhar na relação. aristotélica, é correto afirmar que a ética:
08) A amizade interessada entre pessoas más a) Orienta-se pelo procedimento formal de re-
também é amizade. gras universalizáveis, como meio de verificar
16) A amizade é falsa quando não há interes- a correção ética das normas de ação.
se ou prazer na relação. b) Adota a situação ideal de fala como condição
para a fixação de princípios éticos básicos, a
9. (UEL) Leia os textos a seguir: partir da negociação discursiva de regras a
A amizade perfeita é a dos homens que são serem seguidas pelos envolvidos.
bons e afins na virtude, pois esses desejam c) Pauta-se pela teleologia, indicando que o
igualmente bem um ao outro enquanto bons, bem supremo do homem consiste em ativi-
e são bons em si mesmos. Ora, os que dese- dades que lhe sejam peculiares, buscando a
jam bem aos seus amigos por eles mesmos sua realização de maneira excelente.
são os mais verdadeiramente amigos, porque d) Contempla o hedonismo, indicando que o
o fazem em razão da sua própria natureza e bem supremo a ser alcançado pelo homem
não acidentalmente. reside na felicidade e esta consiste na reali-
(ARISTÓTELES, Ética a Nicômaco. Tradução de zação plena dos prazeres.
Leonel Vallandro e Gerd Bornheim da versão e) Baseada no emotivismo, busca justificar a
inglesa de W. D. Ross. São Paulo: Abril Cultural, atitude ou o juízo ético mediante o recur-
1973, p. 381-382. Os Pensadores IV.)
so dos próprios sentimentos dos agentes, de
Os amigos formam uma unidade mais com- forma a influir nas demais pessoas.
pleta e mais perfeita do que os indivíduos
isolados e, pela ajuda recíproca e desinte-
ressada, fazem com que cada um seja mais Gabarito
autônomo e mais independente do que se
estivesse só. 1. E 2. C 3. B 4. B
(CHAUÍ, M. de S. Introdução à história da
filosofia: dos pré-socráticos a Aristóteles. 5. B 6. B 7. 08 + 16 = 24
São Paulo: Brasiliense, 1994. p. 323.)
8. 01 + 02 + 08 = 11
Com base nos textos acima e nos conhecimen-
tos sobre o pensamento ético e político de 9. C 10. C
Aristóteles, considere as afirmativas a seguir.
I. Uma sociedade de amigos é mais perfeita
e durável por considerar a lei como nor-
ma mantenedora da amizade.
II. Os amigos tornam a sociedade política
perfeita ao se isolarem.
III.Os virtuosos e bons são verdadeiramente
amigos por desejarem o bem reciproca-
mente.
IV. A amizade só pode existir entre os vir-
tuosos, que são semelhantes em caráter;
por isso, formam uma sociedade justa.
Assinale a alternativa que contém todas as
afirmativas corretas.
a) I e IV.
b) II e III.
c) III e IV.
d) I, II e III.
e) I, II e IV.
62
0 6 Filosofia medieval:
o início da filosofia patrística
Competências Habilidades
1, 2, 3, 4 e 5 1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9,
10, 11, 12, 13, 15,
16, 18, 20, 22, 23,
24 e 25
C HENTRE
PENSAMENTOS
Competência 1 – Compreender os elementos culturais que constituem as identidades.
H1 Interpretar historicamente e/ou geograficamente fontes documentais acerca de aspectos da cultura.
H2 Analisar a produção da memória pelas sociedades humanas.
H3 Associar as manifestações culturais do presente aos seus processos históricos
H4 Comparar pontos de vista expressos em diferentes fontes sobre determinado aspecto da cultura.
H5 Identificar as manifestações ou representações da diversidade do patrimônio cultural e artístico em diferentes sociedades.
Competência 2 – Compreender as transformações dos espaços geográficos como produto das relações socioeconômicas e culturais de
poder.
H6 Interpretar diferentes representações gráficas e cartográficas dos espaços geográficos.
H7 Identificar os significados histórico-geográficos das relações de poder entre as nações.
Analisar a ação dos estados nacionais no que se refere à dinâmica dos fluxos populacionais e no enfrentamento de problemas de ordem econômico-
H8
-social.
H9 Comparar o significado histórico-geográfico das organizações políticas e socioeconômicas em escala local, regional ou mundial
Reconhecer a dinâmica da organização dos movimentos sociais e a importância da participação da coletividade na transformação da realidade
H10
histórico-geográfica.
Competência 3 – Compreender a produção e o papel histórico das instituições sociais, políticas e econômicas, associando-as aos diferen-
tes grupos, conflitos e movimentos sociais.
H11 Identificar registros de práticas de grupos sociais no tempo e no espaço.
H12 Analisar o papel da justiça como instituição na organização das sociedades.
H13 Analisar a atuação dos movimentos sociais que contribuíram para mudanças ou rupturas em processos de disputa pelo poder.
Comparar diferentes pontos de vista, presentes em textos analíticos e interpretativos, sobre situação ou fatos de natureza histórico-geográfica acerca
H14
das instituições sociais, políticas e econômicas.
H15 Avaliar criticamente conflitos culturais, sociais, políticos, econômicos ou ambientais ao longo da história.
Competência 4 – Entender as transformações técnicas e tecnológicas e seu impacto nos processos de produção, no desenvolvimento do
conhecimento e na vida social.
H16 Identificar registros sobre o papel das técnicas e tecnologias na organização do trabalho e/ou da vida social.
H17 Analisar fatores que explicam o impacto das novas tecnologias no processo de territorialização da produção.
H18 Analisar diferentes processos de produção ou circulação de riquezas e suas implicações sócio-espaciais.
H19 Reconhecer as transformações técnicas e tecnológicas que determinam as várias formas de uso e apropriação dos espaços rural e urbano.
H20 Selecionar argumentos favoráveis ou contrários às modificações impostas pelas novas tecnologias à vida social e ao mundo do trabalho.
Competência 5 – Utilizar os conhecimentos históricos para compreender e valorizar os fundamentos da cidadania e da democracia, favo-
recendo uma atuação consciente do indivíduo na sociedade.
H21 Identificar o papel dos meios de comunicação na construção da vida social.
H22 Analisar as lutas sociais e conquistas obtidas no que se refere às mudanças nas legislações ou nas políticas públicas.
H23 Analisar a importância dos valores éticos na estruturação política das sociedades.
H24 Relacionar cidadania e democracia na organização das sociedades.
H25 Identificar estratégias que promovam formas de inclusão social.
Competência 6 – Compreender a sociedade e a natureza, reconhecendo suas interações no espaço em diferentes contextos históricos e
geográficos.
H26 Identificar em fontes diversas o processo de ocupação dos meios físicos e as relações da vida humana com a paisagem.
H27 Analisar de maneira crítica as interações da sociedade com o meio físico, levando em consideração aspectos históricos e (ou) geográficos.
H28 Relacionar o uso das tecnologias com os impactos sócioambientais em diferentes contextos histórico-geográficos.
H29 Reconhecer a função dos recursos naturais na produção do espaço geográfico, relacionando-os com as mudanças provocadas pelas ações humanas.
H30 Avaliar as relações entre preservação e degradação da vida no planeta nas diferentes escalas.
As características filosóficas do cristianismo
Não há propriamente uma história da filosofia cristã, assim como há uma história da filosofia grega ou
da filosofia moderna, pois, no pensamento cristão, o máximo valor, o interesse central não é a filosofia, e sim a
religião. Entretanto, se o Cristianismo não se apresenta, de fato, como uma filosofia, uma doutrina, mas como uma
religião, uma sabedoria, pressupõe uma específica concepção do mundo e da vida, pressupõe uma precisa solução
do problema filosófico. É o teísmo e o Cristianismo. O Cristianismo fornece ainda uma imprescindível integração à
filosofia, no tocante à solução do problema do mal, mediante os dogmas do pecado original e da redenção pela
cruz. E, enfim, além de uma justificação histórica e doutrinal da revelação judaico-cristã em geral, o Cristianismo
implica uma determinação, elucidação, sistematização racional do próprio conteúdo sobrenatural da Revelação,
mediante uma disciplina específica, que será a teologia dogmática.
Pelo que diz respeito ao teísmo, salientamos que o Cristianismo o deve, historicamente, a Israel. Mas, entre
os hebreus, o teísmo não tem uma justificação, uma demonstração racional, como, em Aristóteles, de sorte que, em
definitivo, o pensamento cristão tomará, na grande tradição especulativa grega, esta justificação e a filosofia em
geral. Isso realizar-se á graças, especialmente, à Escolástica e, sobretudo, a Tomás de Aquino. Pelo que diz respeito à
solução do problema do mal, solução que constitui a integração filosófica proporcionada pelo cristianismo ao pensa-
mento antigo que sentiu profundamente, dramaticamente, esse problema sem o poder solucionar, frisamos que esta
representa a grande originalidade teórica e prática, filosófica e moral, do Cristianismo. Soluciona este o problema do
mal precisamente mediante os dogmas fundamentais do pecado original e da redenção da cruz. Finalmente, a justi-
ficação da Revelação, em geral, e a determinação, dilucidação, sistematização racional do conteúdo da mesma têm
uma importância indireta com respeito à filosofia, porquanto implicam sempre numa intervenção da razão. Foi esta,
especialmente, a obra da Patrística e, sobretudo, de Agostinho. Essa parte, dedicada à história do pensamento cris-
tão, será, portanto, dividida do seguinte modo: o Cristianismo, isto é, o pensamento do Novo Testamento, enquanto
soluciona o problema filosófico do mal; a Patrística, a saber, o pensamento cristão, desde o século II ao VIII, a que
é devida, particularmente, a construção da teologia, da dogmática católica; e a Escolástica, a saber, o pensamento
cristão, desde o, século IX ao XV, criadora da filosofia cristã, verdadeira e própria.
65
Características gerais do nizada. Ela consolidou sua estrutura religiosa e difundiu
o Cristianismo entre os povos bárbaros, preservando
pensamento cristão muitos elementos da cultura pagã greco-romana.
Apoiada em sua crescente influência religiosa, a
"Foi conquistada a cidade que conquistou o Igreja passou a exercer importante papel político na so-
universo". Assim definiu São Jerônimo o momento que ciedade medieval. Desempenhou, por exemplo, a função
marcaria a virada de uma época. Era a invasão de Roma de órgão supranacional, conciliador das elites dominan-
pelos germanos e a consequentemente queda do Impé- tes, contornando os problemas da fragmentação política
rio Romano. A avalancha dos bárbaros arrasou também e das rivalidades internas da nobreza feudal. Conquistou,
grande parte das conquistas culturais do mundo antigo. também, vasta riqueza material: tornou-se dona de, apro-
ximadamente, um terço das áreas cultiváveis da Europa
A Idade Média inicia-se com a desorganização da vida
ocidental, numa época em que a terra era a principal base
política, econômica e social do Ocidente, agora transfor-
de riqueza. Assim, pôde estender seu manto de poder
mado num mosaico de reinos bárbaros. Depois, vieram
"universalista" sobre diferentes regiões europeias.
as guerras, a fome e as grandes epidemias. O cristia-
nismo propaga-se por diversos povos. A diminuição da
atividade cultural transforma o homem comum num ser Conflitos e conciliação
dominado por crenças e superstições.
O período medieval não foi, porém, a "Idade das entre a fé e o saber
Trevas", como se acreditava. A filosofia clássica sobrevi-
veu, confinada nos mosteiros religiosos. O aristotelismo No plano cultural, a Igreja exerceu amplo do-
dissemina-se pelo Oriente bizantino, fazendo florescer mínio, trançando um quadro intelectual em que a fé
os estudos filosóficos e as realizações científicas. No cristã era o pressuposto fundamental de toda sabedoria
Ocidente, fundam-se as primeiras universidades, ocorre humana. Mas em que consistia essa fé? Consistia na
crença irrestrita ou na adesão incondicional às verdades
a fusão de elementos culturais greco-romanos, cristãos e
reveladas por Deus aos homens, verdades expressas nas
germânicos e as obras de Aristóteles são traduzidas para
Sagradas Escrituras (Bíblia) e devidamente interpreta-
o latim. Sob a influência da Igreja, as especulações se
das, segundo a autoridade da Igreja.
concentram em questões filosófico-teológicas, tentando
conciliar a fé e a razão. E é nesse esforço que Santo Agos- "A Bíblia era tão preciosa que
tinho e São Tomás de Aquino trazem à luz reflexões fun- recebia as mais ricas encadernações."
damentais para a história do pensamento cristão.
De acordo com a doutrina católica, a fé repre-
sentava a fonte mais elevada das verdades reveladas
66
Não foram poucos, porém, aqueles que dispensa- fé de argumentos racionais. Esse projeto de conciliação
ram até mesmo essa comprovação racional da fé. Eram entre o Cristianismo e o pensamento pagão teve como
os religiosos que desprezavam a filosofia grega, sobretu- principal expoente o padre Agostinho.
do porque viam nessa forma pagã de pensamento uma
porta aberta para o pecado, a dúvida, o descaminho e "Compreender para crer, crer
a heresia (doutrina contrária ao estabelecido pela Igreja, para compreender."
(Santo Agostinho)
em termos de fé).
Por outro lado, surgiram pensadores cristãos que
Escolástica
defendiam o conhecimento da filosofia grega, na medida
que sentiam a possibilidade de utilizá-la como instrumen- "Os caminhos de inspiração aris-
to a serviço do Cristianismo. Conciliado com a fé cristã, totélica levam até Deus."
o estudo da filosofia grega permitiria à Igreja enfrentar
os descrentes e demolir os hereges com as armas racio- No século VIII, Carlos Magno resolveu organizar o
nais da argumentação lógica. O objetivo era convencer ensino por todo o seu império e fundar escolas ligadas às
os descrentes, tanto quanto possível, pela razão, para, instituições católicas. A cultura greco-romana, guardada
depois, fazê-los aceitar a imensidão dos mistérios divi- nos mosteiros até então, voltou a ser divulgada, passan-
nos, somente acessíveis pela fé. Entre os grandes nomes do a ter uma influência mais marcante nas reflexões da
época. Era a renascença carolíngia.
da filosofia católica medieval, destacam-se Agostinho e
Tendo a educação romana como modelo, come-
Tomás de Aquino, responsáveis pelo resgate cristão das
çaram a ser ensinadas as seguintes matérias: gramática,
filosofias de Platão e de Aristóteles, respectivamente.
retórica e dialética (o trivium);e geometria, aritmética,
"Tomai cuidado para que ninguém astronomia e música (o quadrivium). Todas elas estavam,
vos escravize por vãs e enganadoras es- no entanto, submetidas à teologia.
peculações da 'filosofia', segundo a tra- A fundação dessas escolas e das primeiras univer-
dição dos homens, segundo os elemen- sidades do século XI fez surgir uma produção filosófico-
tos do mundo, e não segundo Cristo." -teológica denominada escolástica (de escola).
(São Paulo) A partir do século XIII, o aristotelismo penetrou de
forma profunda no pensamento escolástico, marcando-
Patrística -o definitivamente. Isso se deveu à descoberta de muitas
obras de Aristóteles, desconhecidas até então, e à tradu-
"A fé é a busca de argumentos ra- ção para o latim de algumas delas, diretamente do grego.
cionais a partir de uma matriz platônica." A busca da harmonização entre a fé cristã e a ra-
zão manteve-se, no entanto, como problema básico de
Desde que surgiu o cristianismo, tornou-se neces- especulação filosófica. Nesse sentido, o período escolás-
sário explicar seus ensinamentos às autoridades romanas tico pode ser dividido em três fases:
e ao povo em geral. Mesmo com o estabelecimento e a §§ Primeira fase (do século IX ao fim do século XII):
consolidação da doutrina cristã, a Igreja Católica sabia caracterizada pela confiança na perfeita harmonia
que esses preceitos não podiam simplesmente ser im- entre fé e razão.
postos pela força. Eles tinham de ser apresentados de §§ Segunda fase (do século XIII ao princípio do sé-
maneira convincente, mediante um trabalho de conquista culo XIV): caracterizada pela elaboração de gran-
espiritual. des sistemas filosóficos, merecendo destaque nas
Foi assim que os primeiros padres da Igreja se obras de Tomás de Aquino. Nesta fase, considera-
empenharam na elaboração de inúmeros textos sobre a -se que a harmonização entre fé e razão pôde ser
fé e a revelação cristãs. O conjunto desses textos ficou parcialmente obtida.
conhecido como patrística, por terem sido escritos, princi- §§ Terceira fase (do século XIV até o século XVI):
palmente, pelos grandes padres da Igreja. decadência da escolástica, caracterizada pela
Uma das principais correntes da filosofia patrísti- afirmação das diferenças fundamentais entre fé
ca, inspirada na filosofia greco-romana, tentou munir a e razão.
67
A questão dos universais: O que há entre as palavras e as coisas
O método escolástico de investigação, segundo o historiador francês Jacques Le Goff, privilegiava o estudo
da linguagem (o trivium) para, depois, passar para o exame das coisas (o quadrivium). Desse modo, surgiu a se-
guinte pergunta: qual a relação entre as palavras e as coisas? Rosa, por exemplo, é o nome de uma flor. Quando
a flor morre, a palavra rosa continua existindo. Nesse caso, a palavra fala de uma coisa inexistente, de uma ideia
geral. Mas como isso acontece? O grande inspirador da questão foi o neoplatônico Porfírio, em sua obra Isagoge:
"Não tentarei enunciar se os gêneros e as espécies existem por si mesmos ou na pura inteligência, nem, no caso
de subsistirem, se são corpóreos ou incorpóreos, nem se existem separados dos objetos sensíveis ou nestes objetos,
formando parte dos mesmos".
Esse problema filosófico gerou muitas disputas. Era a grande discussão sobre a existência ou não das ideias
gerais, isto é, os chamados universais de Aristóteles.
Características gerais
Com o nome de Patrística, entende-se o período do pensamento cristão que se seguiu à época neotestamen-
tária, e chega até o começo da Escolástica, isto é, os séculos II-VIII da era vulgar. Este período da cultura cristã é de-
signado com o nome de Patrística, porquanto representa o pensamento dos padres da Igreja, que são os construtores
da teologia católica, guias, mestres da doutrina cristã. Portanto, se a Patrística interessa sumamente à história do
dogma, interessa assaz menos à história, em que terá importância fundamental a Escolástica.
A Patrística é contemporânea do último período do pensamento grego, o período religioso, com o qual
tem fecundo contato. Entretanto dele, diferenciado-se profundamente, sobretudo como o teísmo se diferencia do
panteísmo. E é também contemporânea do Império Romano, com o qual também polemiza, e que terminará por se
cristianizar depois de Constantino. Dada a culminante grandeza de Agostinho, a Patrística será dividida em três pe-
ríodos: antes de Agostinho, período em que, filosoficamente, interessam, especialmente, os chamados apologistas e
os padres alexandrinos; Agostinho, que merece um desenvolvimento à parte, visto ser o maior dos padres; e depois
de Agostinho, vem o período que, logo após a sistematização, representa a decadência da Patrística.
68
INTERDISCIPLINARIDADE
Talvez a instituição mais poderosa da Europa, a Igreja Católica possuía (e possui até hoje) um gigantesco
patrimônio (grande parte deste patrimônio foi obtido às custas de fiéis em busca da glória divina). Foi ela a res-
ponsável por perpetuar certos costumes greco-romanos, e também foi a responsável pela sobrevivência da Europa
Ocidental atacada por bárbaros Germânicos e a conversão deles ao Cristianismo.
A Igreja Católica era a grande responsável pelo pensamento social e cultural na época, seu poder era tão
grande que influenciava até a própria monarquia. Nesta época, a Igreja pregava para seus súditos oferecerem seus
bens para conquistar a tão sonhada salvação, já que a vida terrena supostamente não valia de absolutamente
nada. Com esse pensamento de desprendimento, o Clero conquistou cerca de um terço das terras cultiváveis da
Europa Ocidental, sendo ele um poderoso agente econômico.
69
Estrutura Conceitual
Apogeu do Cristianismo
Fé e razão
70
Aprofunde seus conhecimentos
1. A Filosofia Medieval foi: 4. Para a Filosofia Cristã Medieval, a relação en-
a) um resgate da filosofia clássica, no que diz tre a fé e a razão era de:
respeito ao questionamento constante do a) subordinação da fé em favor da razão.
que estava relacionado ao mito e à religião. b) subordinação da razão em favor da fé.
b) um instrumento de estudo que visava com- c) conciliação igualitária entre a fé e a razão.
provar que a razão era a única forma ver- d) negação de ambas como meios para se alcan-
dadeira de conhecimento sobre o mundo e çar a verdade sobre as coisas.
sobre as coisas. e) negação da razão, pois fé e razão não estão
c) uma doutrina religiosa que queria extinguir o coligadas para buscar Deus.
pensamento racional da realidade medieval.
d) teve como uma das principais preocupações 5. Para a Filosofia Cristã, a Filosofia se tornou/foi:
fornecer argumentações racionais, espelhadas a) a única representante da fé cristã, por mui-
nas contribuições dos gregos, para justificar as tos séculos.
chamadas verdades reveladas do cristianismo. b) um instrumento para demonstrar racional-
e) apenas no âmbito cultural, influenciando a mente as verdades da fé.
Filosofia e a forma de se perceber o mundo e c) uma área de conhecimento desprezada pe-
sua relação com Deus. los religiosos que não viam a necessidade de
comprovação racional dos preceitos religiosos.
2. Na Idade Média, a Igreja exercia influência d) um canal direto com as verdades que só po-
sobre: deriam ser percebidas pelo Espírito Santo.
a) o campo espiritual apenas, não cabendo a e) Uma estrutura econômica e étnica, em que
ela opinar sobre as regras terrenas. somente a busca do bem era vigorada por
b) o campo espiritual, mas também importan- Deus.
te papel político na sociedade, relacionada
à enorme quantidade de bens materiais e o
6. Para Santo Agostinho, a alma era:
seu interesse em manter os fiéis submissos
a) superior ao corpo (matéria), que foi criada
às suas decisões.
por Deus para reinar sobre ele, dirigindo-o à
c) somente em relação ao quadro intelectual,
prática do bem.
distanciando-se da vida cotidiana e das re-
b) tão importante quanto o corpo, pois do cor-
gras terrenas.
po é possível extrair a razão sobre as coisas
d) apenas no âmbito cultural, influenciando a
e a alma conduz a essa tarefa.
Filosofia e a forma de se perceber o mundo e
c) inferior ao corpo, pois é por meio do corpo
sua relação com Deus.
que o ser humano adquire a vontade de co-
e) uma doutrina religiosa que queria extinguir o
nhecer e procurar o caminho do bem.
pensamento racional da realidade medieval.
d) o canal do conhecimento verdadeiro, que só
era possível quando estava fora do corpo e
3. Em relação à Patrística, é incorreto afirmar que:
no mundo das ideias.
a) foi um período que se caracterizou pelo
e) o canal do conhecimento verdadeiro, que só
resultado dos esforços dos apóstolos e dos
era possível quando estava fora do corpo e
primeiros padres da Igreja, para conciliar a
no mundo sensível.
nova religião com o pensamento filosófico,
resgatando elementos gregos e os romanos.
b) tomou como tarefa a defesa da fé cristã, 7. O deus aristotélico é o ente absolutamente
frente às diversas críticas advindas de valo- suficiente, e, por isso mesmo, é o ente máxi-
res teóricos e morais dos “antigos”. mo. Mas, diferentemente do deus cristão, ele
c) teve como seu mais famoso intelectual Santo não é o criador. O deus de Aristóteles está
Agostinho de Hipona, que tentou resgatar ele- separado e consiste em pura teoria, em pen-
mentos da filosofia platônica para justificar a samento do pensamento ou visão da visão.
existência de Deus e os preceitos cristãos. Qual expressão abaixo define Deus, segundo
d) Santo Agostinho, o seu maior expoente, pro- Aristóteles?
curou seguir rigorosamente os argumentos a) É o puro devir.
de Platão, quanto à imortalidade da alma, b) É um ente inerte.
da superioridade do mundo das ideias e da c) É o primeiro motor imóvel.
validade da teoria da reminiscência. d) É um ente em constante movimento.
e) Santo Agostinho fundamenta todas sua filoso- e) É um ente, cujas possibilidades são todas ir-
fia nas teses fundamentadas por Aristóteles. reais.
71
8. A Patrística é o primeiro momento da filoso- Sobre a patrística, assinale o que for cor-
fia cristã. reto.
Sobre esta tendência filosófica, leia as se- 01) A patrística deixa de ser predominante
guintes afirmativas: como doutrina do cristianismo quando, a
I. A Patrística é um movimento de pensa- partir do séc. IX, surge uma nova corren-
dores cristãos que procura justificar te- te filosófica denominada escolástica, que
órica e filosoficamente a concepção de atinge o apogeu no séc XIII.
vida e de mundo depreendida da Bíblia. 02) Fundador da patrística, o apóstolo São
II. Boécio não é considerado um pensador Paulo escreveu o livro Confissões, razão
da Patrística. pela qual é considerado o primeiro filóso-
III.Plotino é um pensador considerado fo cristão.
como participante da Patrística. 04) Vários pensadores da patrística, entre
IV. A Patrística sempre rejeitou a filosofia eles Santo Agostinho, tomam ideias da fi-
greco-romana em seu todo. losofia clássica grega, particularmente de
V. Santo Agostinho é considerado o maior Platão, que são adaptadas às necessida-
pensador da Patrística latina. des das verdades expressas pela teologia
VI. Um dos temas fundamentais da Patrísti- cristã.
ca é a discussão do sentido da Santíssi- 08) A aliança que a patrística estabelece en-
ma Trindade. tre fé e razão caracteriza-se por um pre-
Assinale a alternativa CORRETA: domínio da fé sobre a razão; em Santo
a) Somente as afirmativas I,II e IV são corretas. Agostinho, a razão é auxiliar da fé e a ela
b) Somente as afirmativas I,II,V e VI são cor- subordinada.
retas. 16) A leitura dos filósofos árabes, entre eles
c) Somente as afirmativas III, V e VI são cor- Averrois, ajudou Santo Agostinho a com-
preender os princípios da filosofia de
retas.
Aristóteles, sem a qual Santo Agostinho
d) Somente as afirmativas I, V e VI são corretas.
não poderia construir seu próprio siste-
e) Somente as afirmativas II, V e VI são corretas.
ma filosófico.
9. (UFU) Na medida em que o Cristianismo
se consolidava, a partir do século II, vá-
rios pensadores, convertidos à nova fé e, Gabarito
aproveitando-se de elementos da filosofia
greco-romana que eles conheciam bem, co- 1. D 2. B 3. D 4. B 5. B
meçaram a elaborar textos sobre a fé e a re-
velação cristãs, tentando uma síntese com 6. A 7. C 8. D 9. D 10. 01 + 04 + 08 = 13
elementos da filosofia grega ou utilizando-
-se de técnicas e conceitos da filosofia gre-
ga para melhor expor as verdades reveladas
do Cristianismo. Esses pensadores ficaram
conhecidos como os Padres da Igreja, dos
quais o mais importante a escrever na lín-
gua latina foi santo Agostinho.
COTRIM, Gilberto. Fundamentos de Filosofia: Ser, Saber
e Fazer. São Paulo: Saraiva, 1996, p. 128. (Adaptado)
72
07
Filosofia medieval:
Santo Agostinho e
São Tomás de Aquino
Competências Habilidades
1, 2, 3, 4 e 5 1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9,
10, 11, 12,13, 15,
16, 18, 20, 22, 23,
24 e 25
C HENTRE
PENSAMENTOS
Competência 1 – Compreender os elementos culturais que constituem as identidades.
H1 Interpretar historicamente e/ou geograficamente fontes documentais acerca de aspectos da cultura.
H2 Analisar a produção da memória pelas sociedades humanas.
H3 Associar as manifestações culturais do presente aos seus processos históricos
H4 Comparar pontos de vista expressos em diferentes fontes sobre determinado aspecto da cultura.
H5 Identificar as manifestações ou representações da diversidade do patrimônio cultural e artístico em diferentes sociedades.
Competência 2 – Compreender as transformações dos espaços geográficos como produto das relações socioeconômicas e culturais de
poder.
H6 Interpretar diferentes representações gráficas e cartográficas dos espaços geográficos.
H7 Identificar os significados histórico-geográficos das relações de poder entre as nações.
Analisar a ação dos estados nacionais no que se refere à dinâmica dos fluxos populacionais e no enfrentamento de problemas de ordem econômico-
H8
-social.
H9 Comparar o significado histórico-geográfico das organizações políticas e socioeconômicas em escala local, regional ou mundial
Reconhecer a dinâmica da organização dos movimentos sociais e a importância da participação da coletividade na transformação da realidade
H10
histórico-geográfica.
Competência 3 – Compreender a produção e o papel histórico das instituições sociais, políticas e econômicas, associando-as aos diferen-
tes grupos, conflitos e movimentos sociais.
H11 Identificar registros de práticas de grupos sociais no tempo e no espaço.
H12 Analisar o papel da justiça como instituição na organização das sociedades.
H13 Analisar a atuação dos movimentos sociais que contribuíram para mudanças ou rupturas em processos de disputa pelo poder.
Comparar diferentes pontos de vista, presentes em textos analíticos e interpretativos, sobre situação ou fatos de natureza histórico-geográfica acerca
H14
das instituições sociais, políticas e econômicas.
H15 Avaliar criticamente conflitos culturais, sociais, políticos, econômicos ou ambientais ao longo da história.
Competência 4 – Entender as transformações técnicas e tecnológicas e seu impacto nos processos de produção, no desenvolvimento do
conhecimento e na vida social.
H16 Identificar registros sobre o papel das técnicas e tecnologias na organização do trabalho e/ou da vida social.
H17 Analisar fatores que explicam o impacto das novas tecnologias no processo de territorialização da produção.
H18 Analisar diferentes processos de produção ou circulação de riquezas e suas implicações sócio-espaciais.
H19 Reconhecer as transformações técnicas e tecnológicas que determinam as várias formas de uso e apropriação dos espaços rural e urbano.
H20 Selecionar argumentos favoráveis ou contrários às modificações impostas pelas novas tecnologias à vida social e ao mundo do trabalho.
Competência 5 – Utilizar os conhecimentos históricos para compreender e valorizar os fundamentos da cidadania e da democracia, favo-
recendo uma atuação consciente do indivíduo na sociedade.
H21 Identificar o papel dos meios de comunicação na construção da vida social.
H22 Analisar as lutas sociais e conquistas obtidas no que se refere às mudanças nas legislações ou nas políticas públicas.
H23 Analisar a importância dos valores éticos na estruturação política das sociedades.
H24 Relacionar cidadania e democracia na organização das sociedades.
H25 Identificar estratégias que promovam formas de inclusão social.
Competência 6 – Compreender a sociedade e a natureza, reconhecendo suas interações no espaço em diferentes contextos históricos e
geográficos.
H26 Identificar em fontes diversas o processo de ocupação dos meios físicos e as relações da vida humana com a paisagem.
H27 Analisar de maneira crítica as interações da sociedade com o meio físico, levando em consideração aspectos históricos e (ou) geográficos.
H28 Relacionar o uso das tecnologias com os impactos sócioambientais em diferentes contextos histórico-geográficos.
H29 Reconhecer a função dos recursos naturais na produção do espaço geográfico, relacionando-os com as mudanças provocadas pelas ações humanas.
H30 Avaliar as relações entre preservação e degradação da vida no planeta nas diferentes escalas.
Filosofia medieval
Na Filosofia Medieval discute-se a relação entre a fé cristã e a filosofia grega, a partir da concepção da
patrística e da escolástica, com ênfase nas propostas de Agostinho de Hipona e de Tomás de Aquin. Assim, é abor-
dado o papel da filosofia grega como instrumento da teologia (fé cristã), apresentando sempre a ideia central da
superioridade da fé sobre a razão.
Santo Agostinho
Patrística é a filosofia dos primeiros padres da Igreja, da qual, Santo Agostinho é um dos principais represen-
tantes. Santo Agostinho é influenciado pela corrente dos chamados “neoplatônicos”, que era uma escola filosófica
que utilizava a doutrina platônica na defesa da religião como forma de revelação da verdade.
Ele foi influenciado por Platão, mas não concordou em todos os pontos com sua filosofia. Agostinho propõe
a conciliação entre fé e razão. Assim, o filósofo considera a filosofia grega um instrumento útil para a fé cristã, pois
a primeira ajuda a compreender melhor as verdades da fé.
Para ter acesso às verdades eternas, é necessário que o indivíduo tenha fé. As verdades eternas encontram-
-se no interior do homem, em sua alma. Deus está na alma de cada um de nós, e o conhecimento está na mente de
Deus, que habita o interior do homem. “Creio em tudo o que entendo, mas nem tudo que creio também entendo”,
ou seja, existem alguns mistérios da fé que não são acessíveis aos homens, mas eles devem acreditar, pois são
verdades de Deus, e, assim, a fé ilumina os caminhos da razão. Para o filósofo, a fé revela verdades ao homem de
forma direta e intuitiva, vem depois a razão esclarecendo aquilo que a fé já antecipou.
Para Agostinho, as verdades eternas e imutáveis têm sua sede em Deus. Assim sendo, as mesmas só podem
ser alcançadas pela iluminação divina: Deus, que é uma realidade exterior, habita o interior do homem, revelando
o conhecimento verdadeiro.
Nenhum conhecimento verdadeiro pode ser introduzido na mente das pessoas vindo de fora, por meio do
ensino. O saber se encontra na alma, porque ela se origina da substância divina. Com isso, Agostinho demonstra
que a verdade não pode ser ensinada pelos homens, mas somente pelo mestre interior (o mestre interior é Deus,
que habita o interior do homem).
Deus cria as coisas a partir de modelos imutáveis e eternos, que são as ideias divinas. Essas ideias ou razões
não existem em um mundo à parte, como afirmava Platão, mas na própria mente ou sabedoria divina, conforme o
testemunho da Bíblia.
Agostinho entende a percepção do inteligível na alma como irradiação divina no presente. Assim como os
objetos exteriores só podem ser vistos quando iluminados pela luz do sol, também as verdades da sabedoria pre-
cisam ser iluminadas pela luz divina, para se tornarem conhecidas pelo intelecto.
75
Deus não substitui o intelecto quando o homem essa graça, mas, somente, alguns eleitos, predestinados
pensa o verdadeiro, a iluminação teria apenas a função à salvação.
de tornar o intelecto capaz de pensar corretamente em Segundo Agostinho, o mal seria a perversão da
virtude de uma ordem natural estabelecida por Deus. vontade desviada da substância suprema. Assim, para o
Assim, tem-se a influência e participação de uma cente- filósofo, “ama e faze o que quiseres” diz respeito a: se o
lha do intelecto divino que se irradia na mente humana. homem ama verdadeiramente, isto é, como Deus ama,
com gratuidade fazendo o bem aos outros, sua vontade
será guiada corretamente; por isso, ser e agir conforme
A teoria agostiniana a própria vontade, iluminada pelo amor de Deus, é a
garantia de que a liberdade de ação será justa, ou seja,
ética.
Desse modo, para Agostinho, a liberdade huma-
na é própria da vontade, e não da razão. E é nisso que
reside a fonte do pecado. O indivíduo peca porque usa
de sua vontade para satisfazer a sua própria vontade,
mesmo sabendo que tal atitude é pecaminosa.
76
Assim, nota-se o caráter abstrativo do conhe- 3. Ser necessário, ser contingente: todo ser
cimento tomista, que consiste em abstrair do objeto a contingente, do mesmo modo que existe, pode
espécie inteligível: abstrair o universal do particular, a deixar de existir (nós, humanos). É preciso admi-
espécie inteligível das imagens singulares. Nota-se a in- tir um ser que sempre existiu e sempre irá existir,
fluência da teoria da abstração aristotélica na doutrina um ser absolutamente necessário, que não tenha
de Tomás de Aquino: a razão tem como ponto de partida fora de si a causa de sua existência, mas ao con-
a realidade sensível, pois cada ente (substância individu-
trário, seja a causa da necessidade de todos os
al) traz a sua forma inteligível, que é a forma da espécie.
seres contingentes. O ser necessário é Deus, que
Desse modo, o conhecimento começa pela
é onisciente, onipotente e onipresente.
experiência sensível até a apreensão de formas
4. Graus de Perfeição: em relação à qualidade
abstratas pelo intelecto.
O conhecimento humano parte sempre dos sen- de todas as coisas existentes, pode-se afirmar
tidos, que revelam objetos concretos e singulares: mas, a existência de graus diversos de perfeição. De-
através da abstração, é capaz de finalmente forjar con- vemos, então, admitir que existe um ser com o
ceitos universais. Exemplo: deste gato concreto e singu- máximo de bondade, de beleza, de poder, de ver-
lar que inicio conhecendo pelos sentidos, sou capaz de dade, sendo, portanto, um ser máximo e pleno.
abstrair e forjar o seu conceito universal: felino. Esse ser é Deus.
Intelecto agente é a faculdade que anima o 5. Finalidade do ser/Pela finalidade, pela or-
conhecimento sensível para captar a essência que está dem e governo do mundo: todas as coisas
no objeto (abstração). brutas, que não possuem inteligência própria,
Intelecto passivo recebe esse conhecimento e existem na natureza cumprindo uma função, um
o apreende pelos conceitos, fixa o conhecimento ativado objetivo, uma finalidade, semelhante à flecha di-
pela intelecção ativa que entende a essência, e o faz pelo
rigida pelo arqueiro. Devemos admitir então que
raciocínio, pelo julgamento, pela elaboração do saber fi-
existe algum ser inteligente que dirige todas as
losófico.
coisas da natureza para que cumpram seu obje-
Tomás de Aquino formula as chamadas “provas”
tivo. Esse ser é Deus.
da existência de Deus, partindo dos dados sensíveis e
procurando ultrapassá-los pelo esforço de abstração, Segundo Aquino, Deus cria e regula a ordem do
culminando na metafísica. mundo. Essa ordem divina é chamada de providência,
e todas as coisas e seres estão sujeitos a ela. Deus, ao
As cinco provas da existência de Deus estabelecer essa ordem, encaminha todas as coisas a si,
o bem supremo.
1. Pelo movimento/Primeiro Motor Imóvel: Assim, em virtude da providência, o homem é
tudo aquilo que se move é movido por outro ser. encaminhado para a beatitude, porém, escolhe seus
Por sua vez, este outro ser necessita também próprios caminhos. A faculdade de escolha é o livre ar-
que seja movido por outro ser, e assim, sucessi- bítrio, e os homens dele se utilizam para as decisões
vamente. Se não houvesse um primeiro ser mo- que tomam em suas vidas. Por isso, o mal para Aquino
vente, cairíamos num processo indefinido. Assim, é a ausência do bem, e o homem que pratica o mal é
é necessário chegar a um primeiro ser movente porque deixou de praticar o bem em sua perfeição.
que não seja movido por nenhum outro. Esse ser Por isso, segundo Aquino, o homem, por ter em
é Deus. sua natureza a providência divina e saber diferenciar o
2. Causa eficiente: todas as coisas existentes no bem de suas imperfeições, deve corrigir a culpa e seus
mundo não possuem em si próprias as causas pecados, nas escolhas que tiver de fazer.
eficientes de sua existência. Assim, é necessá-
rio admitir a existência de uma primeira causa
eficiente, responsável pela sucessão dos efeitos.
Essa causa primeira é Deus.
77
INTERATIVI
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Livros
79
INTERDISCIPLINARIDADE
Os árabe criaram um verdadeiro império comercial. Os produtos transportados por eles iam e viam do Extremo
Oriente, da Ásia Central, da África, da Europa Central e Ocidental. Surgiram assim grandes centros mercantis, como o
de Córdoba. Nessas localidades desenvolveu-se uma produção de artigos refinados: sedas, tapetes, couros, armas etc.
Já no campo das ciências, a contribuição muçulmana é significativa. Os árabes cultivavam a Astronomia, a
matemática, a química e a física. Inventaram o ácido sulfúrico e o álcool. Introduziram os algarismos hindus, depois
denominados arábicos.
Na Literatura, destacaram-se os contos AS MIL E UMA NOITES, o LIVRO DOS REIS e RUBAYAT, de Omar Khayan.
Na filosofia, surgiu uma grande figura: Averroes (1126-1198), médico e filosofo de Córdoba, que traduziu as obras
de Aristóteles para a língua árabe e introduziu-as no Ocidente, desenvolvendo sobremaneira a filosofia ocidental
medieval.
80
Estrutura Conceitual
Patrística
Cristianismo Escoláscica
Medieval
Predestinação
Provas da existência
de Deus
Livre-arbítrio
Ciência = Fé
81
Aprofunde seus conhecimentos
1. Santo Agostinho viveu em dias críticos para o 5. Durante a Idade Média, a questão dos univer-
Império Romano. A estrutura política do mun- sais foi um dos grandes problemas debatidos
do estava se transformando de modo acelera- pelos filósofos da época. Realismo, concei-
do para dar lugar a outra. Os pagãos atribuí- tualismo e nominalismo foram as soluções
am as desventuras que ocorriam ao abandono típicas do problema. Outra preocupação da
dos deuses e ao cristianismo; Santo Agostinho época foi a da possibilidade ou impossibi-
empreendeu uma enorme obra apologética, na lidade de conciliar fé e razão. Santo Agosti-
qual expôs todo o sentido da história. nho, sobre a relação fé e razão, protagonizou
Qual é o nome desta obra? uma tese que se pode resumir na frase: "Cre-
a) De vera religione do ut intelligam" (Creio para entender). A
b) De Trinitate partir dos seus conhecimentos sobre a ques-
c) De ordine tão dos universais e da filosofia medieval,
d) De beata vida identifique as proposições verdadeiras.
e) De civitate Dei I. O apogeu da patrística aconteceu no século
XIII com São Tomás de Aquino (1225-1274),
2. A doutrina de Platão influenciou os primeiros que, retomando o pensamento de Platão, fez
filósofos medievais, Santo Agostinho, bispo a síntese mais bem elaborada da filosofia
de Hipona (354 a 430), e Boécio (480 a 524), com o cristianismo durante a Idade Média.
autores de "Confissões" e "Consolação da Fi- II. O pensamento filosófico medieval, a par-
losofia", respectivamente. Mas a Filosofia que tir do século IX, é chamado de escolástica.
predominou na Idade Média foi a: A filosofia escolástica tinha por problema
a) Sofística. fundamental levar o homem a compre-
b) Epicurista. ender a verdade revelada pelo exercício
c) Patrística. da razão, contudo apoiado na Auctoritas,
d) Existencialista. seja da Bíblia, seja de um padre da Igreja.
e) Fenomenológica. III.Para os nominalistas, o universal é apenas
um conteúdo da nossa mente, expresso por
um nome. O que significa dizer que os uni-
3. Assinale a alternativa que responde CORRE-
versais são apenas palavras, sem nenhuma
TAMENTE à pergunta abaixo:
realidade específica correspondente.
Sabemos das lutas de Santo Agostinho con-
IV. No conceitualismo de Pedro Abelardo, os univer-
tra as heresias, especialmente no que tange sais são conceitos, entidades mentais, que não
às suas interpretações do sentido histórico existem na realidade, nem são meros nomes.
da religião cristã. Uma destas heresias foi o V. De acordo com a teoria da iluminação de San-
Pelagianismo. Segundo Santo Agostinho, em to Agostinho, o ser humano recebe de Deus o
que consiste o erro a que essa heresia conduz? conhecimento das verdades eternas. Tal como
a) Todos os seres humanos são hereges. o sol, Deus ilumina a razão e torna possível o
b) Se não há pecado original, então tampouco pensar correto. Em verdade, Santo Agostinho
pode haver a missão salvadora de Jesus Cristo. não conflita a fé com a razão, sendo esta últi-
c) O ser humano é mau por natureza, não por escolha. ma auxiliar e subordinada da fé.
d) Deus, ao criar o ser humano, também criou o mal. a) I, II e III.
e) Não há como superar o mal. b) I, III e V.
c) II e V.
4. Na triplicidade das faculdades da alma, San- d) I, II e IV.
to Agostinho descobre um vestígio da Trin- e) II, III, IV e V.
dade. A unidade da pessoa, que tem essas
três faculdades intimamente entrelaçadas, 6. Para São Tomás, filosofia e teologia são ciên-
mas não é nenhuma delas, é a do eu, que cias distintas porque:
recorda, entende e ama, como perfeita dis- a) a filosofia se funda no exercício da razão hu-
tinção, mas mantendo a unidade da vida, da mana e a teologia na revelação divina.
mente e da essência. b) a filosofia é uma ciência complementar à teologia.
Quais são as três faculdades da alma para c) a filosofia nos traz a compreensão da verda-
Santo Agostinho? de, que será comprovada pela teologia.
a) Memória, inteligência e vontade. d) a revelação é critério de verdade, por isso
b) Memória, inteligência e imortalidade. não se pode filosofar.
c) Generacionismo, inteligência e vontade. e) a teologia é a mãe de todas as ciências e a
d) Imortalidade, generacionismo e vontade. filosofia serve apenas para explicar pontos
e) Generacionismo, imortalidade e inteligência. de menor importância.
82
7. Para São Tómas de Aquino, um dos princípios
do conhecimento humano era o princípio da Gabarito
causa eficiente. Esse princípio da causa efi-
ciente exigia que o ser contingente: 1. E 2. C 3. B 4. A 5. E
a) não exigisse causa alguma.
b) fosse causado pelo intelecto humano. 6. A 7. C 8. E 9. A
c) fosse causado pelo ser necessário.
d) fosse causado por acidentes.
e) só existe causa formal.
83
0 8 Nicolau Maquiavel
Competências Habilidades
1, 2, 3, 4 e 5 1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9,
10, 11, 12, 13, 15,
16, 18, 20, 22, 23,
24 e 25
C HENTRE
PENSAMENTOS
Competência 1 – Compreender os elementos culturais que constituem as identidades.
H1 Interpretar historicamente e/ou geograficamente fontes documentais acerca de aspectos da cultura.
H2 Analisar a produção da memória pelas sociedades humanas.
H3 Associar as manifestações culturais do presente aos seus processos históricos
H4 Comparar pontos de vista expressos em diferentes fontes sobre determinado aspecto da cultura.
H5 Identificar as manifestações ou representações da diversidade do patrimônio cultural e artístico em diferentes sociedades.
Competência 2 – Compreender as transformações dos espaços geográficos como produto das relações socioeconômicas e culturais de
poder.
H6 Interpretar diferentes representações gráficas e cartográficas dos espaços geográficos.
H7 Identificar os significados histórico-geográficos das relações de poder entre as nações.
Analisar a ação dos estados nacionais no que se refere à dinâmica dos fluxos populacionais e no enfrentamento de problemas de ordem econômico-
H8
-social.
H9 Comparar o significado histórico-geográfico das organizações políticas e socioeconômicas em escala local, regional ou mundial
Reconhecer a dinâmica da organização dos movimentos sociais e a importância da participação da coletividade na transformação da realidade
H10
histórico-geográfica.
Competência 3 – Compreender a produção e o papel histórico das instituições sociais, políticas e econômicas, associando-as aos diferen-
tes grupos, conflitos e movimentos sociais.
H11 Identificar registros de práticas de grupos sociais no tempo e no espaço.
H12 Analisar o papel da justiça como instituição na organização das sociedades.
H13 Analisar a atuação dos movimentos sociais que contribuíram para mudanças ou rupturas em processos de disputa pelo poder.
Comparar diferentes pontos de vista, presentes em textos analíticos e interpretativos, sobre situação ou fatos de natureza histórico-geográfica acerca
H14
das instituições sociais, políticas e econômicas.
H15 Avaliar criticamente conflitos culturais, sociais, políticos, econômicos ou ambientais ao longo da história.
Competência 4 – Entender as transformações técnicas e tecnológicas e seu impacto nos processos de produção, no desenvolvimento do
conhecimento e na vida social.
H16 Identificar registros sobre o papel das técnicas e tecnologias na organização do trabalho e/ou da vida social.
H17 Analisar fatores que explicam o impacto das novas tecnologias no processo de territorialização da produção.
H18 Analisar diferentes processos de produção ou circulação de riquezas e suas implicações sócio-espaciais.
H19 Reconhecer as transformações técnicas e tecnológicas que determinam as várias formas de uso e apropriação dos espaços rural e urbano.
H20 Selecionar argumentos favoráveis ou contrários às modificações impostas pelas novas tecnologias à vida social e ao mundo do trabalho.
Competência 5 – Utilizar os conhecimentos históricos para compreender e valorizar os fundamentos da cidadania e da democracia, favo-
recendo uma atuação consciente do indivíduo na sociedade.
H21 Identificar o papel dos meios de comunicação na construção da vida social.
H22 Analisar as lutas sociais e conquistas obtidas no que se refere às mudanças nas legislações ou nas políticas públicas.
H23 Analisar a importância dos valores éticos na estruturação política das sociedades.
H24 Relacionar cidadania e democracia na organização das sociedades.
H25 Identificar estratégias que promovam formas de inclusão social.
Competência 6 – Compreender a sociedade e a natureza, reconhecendo suas interações no espaço em diferentes contextos históricos e
geográficos.
H26 Identificar em fontes diversas o processo de ocupação dos meios físicos e as relações da vida humana com a paisagem.
H27 Analisar de maneira crítica as interações da sociedade com o meio físico, levando em consideração aspectos históricos e (ou) geográficos.
H28 Relacionar o uso das tecnologias com os impactos sócioambientais em diferentes contextos histórico-geográficos.
H29 Reconhecer a função dos recursos naturais na produção do espaço geográfico, relacionando-os com as mudanças provocadas pelas ações humanas.
H30 Avaliar as relações entre preservação e degradação da vida no planeta nas diferentes escalas.
Nicolau Maquiavel
Maquiavel é um marco na história da filosofia política moderna, por desvincular o Estado dos imperativos da
religião (propõe assim um Estado laico) e também dos imperativos da metafísica. Assim, a filosofia de Maquiavel
é considerada amoral no sentido de que não se vincula à ideia de moral posta pela Igreja, visto que o príncipe não
está vinculado à ideia de bem ou mal. Isso não significa que não possa haver uma moral própria da ação política.
Maquiavel é um teórico da política, sendo sua obra mais importante O Príncipe, de 1513.
O Príncipe, enquanto obra, tinha uma motivação evidente para o florentino: unir a região que hoje conhe-
cemos como Itália e, por meio disso, garantir a paz. Paz esta constantemente arruinada por pequenos principados
e repúblicas, que conflitavam incessantemente em busca de autoafirmação. Maquiavel, funcionário público por
quase toda sua vida e ávido leitor da teoria política greco-romana, viu-se na necessidade de redigir um manual
para com o qual Lourenzo de Médici pudesse executar a unificação política italiana.
Maquiavel não possuíra outros recursos para pensar a política senão sua experiência empírica, além dos
livros de história de teoria política clássica e medieval: Platão, Aristóteles, Ciro, Santo Agostinho e Tomás de Aquino.
A influência destes autores é patente em sua obra e jamais deve ser ignorada. Embebido destas teorias, tinha em
mente que a ciência política é a ciência dos grandes, a ciência que busca compreender a arte de governar. Maquia-
vel expõe claramente que suas prescrições advinham do “... conhecimento das ações das grandes personalidades,
que conheci de longa experiência das coisas modernas e da leitura contínua dos antigos.”
Assim, o filósofo se preocupa em saber como os governantes governam de fato, quais os limites do uso da
força e da violência para conquistar e conservar o poder, como se ter um governo estável. Assim, para Maquiavel,
o que importa para o príncipe é manter-se no governo.
Um aspecto inovador na política de Maquiavel é que ele ressalta o aspecto agonístico (luta, conflito) da
realidade. Para o filósofo, o conflito é inerente à atividade humana. Assim, trata-se do reconhecimento de que a
política se faz com base em interesses divergentes, em contínuo movimento. Daí a necessidade de ordem, única
condição capaz de trazer o bem comum.
87
“Todos sabem que é louvável em
um príncipe manter a palavra empe-
nhada, e viver com integridade e não
com astúcia. Entretanto, a experiência
dos nossos dias mostra que os príncipes
que tiveram pouco respeito pela palavra
dada puderam, com astúcia, confundir
a cabeça dos homens e chegaram a su-
perar os que basearam sua conduta na
lealdade.”
88
Assim o príncipe deve sempre estar atento ao cur- Desse modo, a força e a violência só podem ser
so da história, aguardando a ocasião propícia e aprovei- utilizadas quando necessário para que se mantenha o
tando o acaso ou as circunstâncias. governo; não podem ser utilizadas a qualquer custo
e em todos os casos. Maquiavel não é um teórico do
Absolutismo, o que ele defende em O Príncipe é uma
centralização do poder, ambicionando a paz.
Inclusive, em seu livro Comentários Sobre a Pri-
meira Década de Tito Lívio, Maquiavel se apresenta re-
publicano. Por que, então, defender a instauração de um
principado na Itália? Para o autor, uma determinada for-
ma de governo está diretamente relacionada às paixões
e virtudes de seu povo e de seus governantes. Porém,
como no mundo “não existe senão o vulgo”, o princi-
pado seria inevitável. Cabe ressaltar que sua obra deixa
bem claro que é impossível materializar uma forma de
governo sem considerar as qualidades do povo, sua his-
Maquiavel procurará demonstrar a possibilidade tória e suas relações materiais. Tentar impor quaisquer
da virtù para conquistar a fortuna. O príncipe de virtude formas de governo sem considerar tais características
é aquele que aproveita a ocasião que a fortuna lhe põe causaria mais males do que benesses.
ao alcance, mas que sabe esperar quando a situação lhe Assim, a interpretação que prevalece é que O
é desfavorável, ou ainda converte a situação desfavorá- Príncipe representaria uma primeira etapa da ação po-
vel ao seu favor para manter o seu poder. lítica para se justificar o poder e a conquista da estabi-
Cuidado: a fortuna é chamada de sorte, mas é lidade. Atingido esse fim, surgiria uma segunda etapa,
necessário que o príncipe saiba quando agir, não se dei- em que seria possível se instalar um governo republica-
xando levar pelo mero oportunismo. Assim, a virtù não no. O uso do termo “maquiavélico” passou a designar
deve existir sem a fortuna para aquele príncipe que visa um comportamento “desleal”, “sem moral”, ou ainda
manter-se no poder. Por isso, o mais importante para o “mau” por causa da franqueza que o filósofo trata a
príncipe é que ele saiba se adaptar às condições impos- realidade concreta.
tas pela fortuna. Na verdade, o que deve ser analisado é que o
pensamento desse filósofo inaugura um novo patamar
“Sendo a fortuna inconstante, de reflexão política, o que é o grande mérito de Ma-
e estando os homens obstinados em quiavel: compreender a política como se dá realmente
seus modos, serão felizes quando a e não como pregava a moral tradicional e a religião,
fortuna e os modos estiverem de acor-
constituindo assim uma esfera autônoma de reflexão.
do; e, quando discordarem, serão infe-
lizes. Não obstante, a fortuna é mulher,
e, para mantê-la submissa, será preciso
bater nela e contrariá-la”
89
INTERATIVI
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90
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Livros
Comentários Sobre a Primeira Década de
Tito Lívio - Nicolau Maquiavel
Comentários sobre a Primeira Década de Tito Lívio, é uma obra de
história política e filosofia escrita no início do século XVI pelo escri-
tor florentino Nicolau Maquiavel, mais conhecido como o autor
d'O Príncipe. Foram publicados postumamente, em 1531.
91
INTERDISCIPLINARIDADE
“A guerra é justa para aqueles a quem é necessária; e as armas são sagradas quando nelas reside a última
esperança”.
O pensamento de Maquiavel foi e ainda é muito refletido nas relações internacionais, impactando ações
geopolíticas das principais nações. A título de exemplo, Napoleão Bonaparte era um ávido leitor do autor florentino,
tendo escrito famosos comentários sobre O Príncipe.
92
Estrutura Conceitual
Príncipe
Principe
93
Aprofunde seus conhecimentos
1. (UEL) A República de Veneza e o Ducado de c) o governante deve ser um modelo de virtude,
Milão ao norte, o reino de Nápoles ao sul, os e é precisamente por saber como governar a
Estados papais e a república de Florença no si próprio e não se deixar influenciar pelos
centro formavam ao final do século XV o que maus que ele está qualificado a governar os
se pode chamar de mosaico da Itália sujeita a outros, isto é, a conduzi-los à virtude.
constantes invasões estrangeiras e conflitos d) o Bem supremo é o que norteia as ações do
internos. Nesse cenário, o florentino Maquia- governante, mesmo nas situações em que
vel desenvolveu reflexões sobre como aplacar seus atos pareçam maus.
o caos e instaurar a ordem necessária para a e) a ética e a política são inseparáveis, pois o
unificação e a regeneração da Itália. bem dos indivíduos só é possível no âmbito
(Adaptado de: SADEK, M. T. “Nicolau Maquiavel: o cidadão de uma comunidade política onde o gover-
sem fortuna, o intelectual de virtù”. In: WEFORT, F. C. (Org.).
Clássicos da política. v.2. São Paulo: Ática, 2003. p.11-24.)
nante age conforme a virtude.
Com base no texto e nos conhecimentos so- 3. (Enem) Nasce daqui uma questão: se vale mais
bre a filosofia política de Maquiavel, assinale ser amado que temido ou temido que amado.
a alternativa correta. Responde-se que ambas as coisas seriam de
a) A anarquia e a desordem no Estado são aplaca- desejar; mas porque é difícil juntá-las, é mui-
das com a existência de um Príncipe que age to mais seguro ser temido que amado, quando
segundo a moralidade convencional e cristã.
haja de faltar uma das duas. Porque dos ho-
b) A estabilidade do Estado resulta de ações hu-
mens se pode dizer, duma maneira geral, que
manas concretas que pretendem evitar a bar-
bárie, mesmo que a realidade seja móvel e a são ingratos, volúveis, simuladores, covardes
ordem possa ser desfeita. e ávidos de lucro, e enquanto lhes fazes bem
c) A história é compreendida como retilínea, são inteiramente teus, oferecem-te o sangue,
portanto a ordem é resultado necessário do os bens, a vida e os filhos, quando, como aci-
desenvolvimento e aprimoramento humano, ma disse, o perigo está longe; mas quando ele
sendo impossível que o caos se repita. chega, revoltam-se.
d) A ordem na política é inevitável, uma vez que MAQUIAVEL, N. O príncipe. Rio de Janeiro: Bertrand, 1991.
o âmbito dos assuntos humanos é resultante
da materialização de uma vontade superior e A partir da análise histórica do comportamen-
divina. to humano em suas relações sociais e políticas,
e) Há uma ordem natural e eterna em todas as Maquiavel define o homem como um ser
questões humanas e em todo o fazer políti- a) munido de virtude, com disposição nata a
co, de modo que a estabilidade e a certeza são praticar o bem a si e aos outros.
constantes nessa dimensão. b) possuidor de fortuna, valendo-se de rique-
zas para alcançar êxito na política.
2. (UFPA) Ao pensar como deve comportar-se c) guiado por interesses, de modo que suas
um príncipe com seus súditos, Maquiavel
ações são imprevisíveis e inconstantes.
questiona as concepções vigentes em sua
d) naturalmente racional, vivendo em um estado
época, segundo as quais consideravam o bom
governo depende das boas qualidades morais pré-social e portando seus direitos naturais.
dos homens que dirigem as instituições. Para e) sociável por natureza, mantendo relações
o autor, “um homem que quiser fazer profis- pacíficas com seus pares.
são de bondade é natural que se arruíne en-
tre tantos que são maus. Assim, é necessário 4. (UFU) Em seus estudos sobre o Estado, Ma-
a um príncipe, para se manter, que aprenda quiavel busca decifrar o que diz ser uma
a poder ser mau e que se valha ou deixe de verità effettuale, a “verdade efetiva” das
valer-se disso segundo a necessidade”. coisas que permeiam os movimentos da mul-
Maquiavel, O Príncipe, São Paulo: Abrilcultural, tifacetada história humana/política através
Os Pensadores, 1973, p.69.
dos tempos. Segundo ele, há certos traços
Sobre o pensamento de Maquiavel, a res- humanos comuns e imutáveis no decorrer
peito do comportamento de um príncipe, é daquela história. Afirma, por exemplo, que
correto afirmar que os homens são “ingratos, volúveis, simula-
a) a atitude do governante para com os gover- dores, covardes ante os perigos, ávidos de
nados deve estar pautada em sólidos valores lucro”. (O Príncipe, cap. XVII)
éticos, devendo o príncipe punir aqueles que Para Maquiavel:
não agem eticamente. a) A “verdade efetiva” das coisas encontra-se em
b) o Bem comum e a justiça não são os princí-
pios fundadores da política; esta, em função plano especulativo e, portanto, no “dever-ser”.
da finalidade que lhe é própria e das dificul- b) Fazer política só é possível por meio de um
dades concretas de realizá-la, não está rela- moralismo piedoso, que redime o homem em
cionada com a ética. âmbito estatal.
94
c) Fortuna é poder cego, inabalável, fechado a IV. Partidário da teoria do direito divino,
qualquer influência, que distribui bens de Maquiavel vê o príncipe como um predes-
forma indiscriminada. tinado e a virtù como algo que não de-
d) A Virtù possibilita o domínio sobre a Fortu- pende dos fatores históricos.
na. Esta é atraída pela coragem do homem Assinale a ÚNICA alternativa que contém as
que possui Virtù. assertivas verdadeiras.
a) I, II, e III.
5. O príncipe, portanto, não deve se incomodar b) II e III.
com a reputação de cruel, se seu propósito c) II e IV.
é manter o povo unido e leal. De fato, com d) II, III e IV.
uns poucos exemplos duros poderá ser mais e) I, III.
clemente do que outros que, por muita pie-
dade, permitem aos distúrbios que levem ao 8. Não ignoro a opinião antiga e muito difun-
assassínio e ao roubo dida de que o que acontece no mundo é de-
MAQUIAVEL, N. O Príncipe. São Paulo. Martin Claret, 2009. cidido por Deus e pelo acaso. Essa opinião é
muito aceita em nossos dias, devido às gran-
No século XVI, Maquiavel escreveu O Prínci- des transformações ocorridas, e que ocorrem
pe, reflexão sobre a monarquia e a função do diariamente, os quais escapam à conjectura
governante. A manutenção da ordem social, humana. Não obstante, para não ignorar in-
segundo esse autor, baseava-se na: teiramente o nosso livre arbítrio, creio que
a) inércia do julgamento de crimes polêmicos. se pode aceitar que a sorte decida metade
b) bondade em relação ao comportamento dos dos nossos atos, mas [o livre arbítrio] nos
mercenários. permite o controle sobre a outra metade.
c) compaixão quanto à condenação de trans- MAQUIAVEL, N.
gressões religiosas. O Príncipe. Brasília: EdUnB, 1979 (adaptado).
d) neutralidade diante da condenação dos servos.
Em O Príncipe, Maquiavel refletiu sobre o
e) conveniência entre o poder tirânico e o mo-
exercício do poder em seu tempo. No trecho
ral do príncipe.
citado, o autor demonstra o vínculo entre o
seu pensamento, político e o humanismo re-
6. Sobre o pensamento político de Maquiavel, nascentista, ao:
pode-se afirmar: a) valorizar a interferência divina nos aconteci-
a) Maquiavel reconhece, nem sempre claramen- mentos definidores do seu tempo.
te, os limites do conceito de bem e, por isso, b) rejeitar a intervenção do acaso nos processos
não tenta reduzir o conhecimento político políticos.
ao escopo de uma metafísica. c) afirmar a confiança na razão autônoma como
b) A harmonia ou a vida social sem conflito fundamento da ação humana.
deve ser o fim da política, sob pena de con- d) romper com a tradição que valorizava o pas-
dená-la ao âmbito do improfícuo. sado como fonte de aprendizagem.
c) A virtù designa o elemento central para a ma- e) redefinir a ação política com base na unidade
nutenção da ordem civil, pois ela transcreve a entre fé e razão.
ação arbitrária do Estado contra os indivíduos.
d) Para Maquiavel, o Estado republicano, por ser
9. “Daqui nasce um dilema: é melhor ser ama-
o Estado ideal, poderia prescindir da coação.
do que temido, ou o inverso? Respondo que
e) Para Maquiavel, a legitimidade do príncipe é ir-
seria preferível ser ambas as coisas, mas,
restrita pelo fato do seu poder emanar de Deus.
como é muito difícil conciliá-las, parece-me
muito mais seguro ser temido do que amado,
7. Muito citado, Nicolau Maquiavel é um dos
se só se pode ser uma delas [...]”
maiores expoentes do Renascimento e sua
MAQUIAVEL, N. O príncipe. Ed. Europa-América, 1976. p. 89.
contribuição determinou novos horizontes
para a filosofia política. A respeito do pensamento político de Ma-
A respeito do seu conceito de virtù, analise quiavel, é correto afirmar que:
as assertivas abaixo. a) mantinha uma nítida vinculação entre a po-
I. A virtù é a qualidade dos oportunistas, lítica e os princípios morais do cristianismo.
que agem guiados pelo instinto natural e b) apresentava uma clara defesa da representa-
ção popular e dos ideais democráticos.
irracional do egoísmo e almejam, exclusi-
c) servia de base para a ofensiva da Igreja em
vamente, sua vantagem pessoal. confronto com os poderes civis na Itália.
II. O homem de virtù é antes de tudo um sá- d) sustentava que o objetivo de um governante
bio, é aquele que conhece as circunstân- era a conquista e a manutenção do poder.
cias do momento oferecido pela fortuna e e) censurava qualquer tipo de ação violenta por
age seguro do seu êxito. parte dos governantes contra seus súditos.
III. Mais do que todos os homens, o príncipe tem
de ser um homem de virtù, capaz de conhe-
cer as circunstâncias e utilizá-las a seu favor.
95
10. Os teóricos do absolutismo, geralmente, ou
teciam suas perspectivas com base em ex-
periências e conflitos vividos no interior de
determinadas monarquias ou legitimavam o
poder real por meio de uma análise compa-
rativa entre as diferentes formas de governo
já experimentadas. Nesse sentido, Nicolau
Maquiavel escreveu seu livro mais famoso, O
príncipe, dedicado a:
a) Luís XI, rei da França.
b) Henrique VIII, rei da Inglaterra.
c) Fernando, rei de Espanha.
d) Lorenzo de Médici, estadista florentino.
e) D. João III, rei de Portugal.
Gabarito
1. B 2. B 3. C 4. D 5. E
6. A 7. B 8. C 9. D 10. D
96
0 9 Thomas Hobbes
Competências Habilidades
1, 2, 3, 4 e 5 1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9,
10, 11, 12, 13, 15,
16, 18, 20, 22, 23,
24 e 25
C HENTRE
PENSAMENTOS
Competência 1 – Compreender os elementos culturais que constituem as identidades.
H1 Interpretar historicamente e/ou geograficamente fontes documentais acerca de aspectos da cultura.
H2 Analisar a produção da memória pelas sociedades humanas.
H3 Associar as manifestações culturais do presente aos seus processos históricos
H4 Comparar pontos de vista expressos em diferentes fontes sobre determinado aspecto da cultura.
H5 Identificar as manifestações ou representações da diversidade do patrimônio cultural e artístico em diferentes sociedades.
Competência 2 – Compreender as transformações dos espaços geográficos como produto das relações socioeconômicas e culturais de
poder.
H6 Interpretar diferentes representações gráficas e cartográficas dos espaços geográficos.
H7 Identificar os significados histórico-geográficos das relações de poder entre as nações.
Analisar a ação dos estados nacionais no que se refere à dinâmica dos fluxos populacionais e no enfrentamento de problemas de ordem econômico-
H8
-social.
H9 Comparar o significado histórico-geográfico das organizações políticas e socioeconômicas em escala local, regional ou mundial
Reconhecer a dinâmica da organização dos movimentos sociais e a importância da participação da coletividade na transformação da realidade
H10
histórico-geográfica.
Competência 3 – Compreender a produção e o papel histórico das instituições sociais, políticas e econômicas, associando-as aos diferen-
tes grupos, conflitos e movimentos sociais.
H11 Identificar registros de práticas de grupos sociais no tempo e no espaço.
H12 Analisar o papel da justiça como instituição na organização das sociedades.
H13 Analisar a atuação dos movimentos sociais que contribuíram para mudanças ou rupturas em processos de disputa pelo poder.
Comparar diferentes pontos de vista, presentes em textos analíticos e interpretativos, sobre situação ou fatos de natureza histórico-geográfica acerca
H14
das instituições sociais, políticas e econômicas.
H15 Avaliar criticamente conflitos culturais, sociais, políticos, econômicos ou ambientais ao longo da história.
Competência 4 – Entender as transformações técnicas e tecnológicas e seu impacto nos processos de produção, no desenvolvimento do
conhecimento e na vida social.
H16 Identificar registros sobre o papel das técnicas e tecnologias na organização do trabalho e/ou da vida social.
H17 Analisar fatores que explicam o impacto das novas tecnologias no processo de territorialização da produção.
H18 Analisar diferentes processos de produção ou circulação de riquezas e suas implicações sócio-espaciais.
H19 Reconhecer as transformações técnicas e tecnológicas que determinam as várias formas de uso e apropriação dos espaços rural e urbano.
H20 Selecionar argumentos favoráveis ou contrários às modificações impostas pelas novas tecnologias à vida social e ao mundo do trabalho.
Competência 5 – Utilizar os conhecimentos históricos para compreender e valorizar os fundamentos da cidadania e da democracia, favo-
recendo uma atuação consciente do indivíduo na sociedade.
H21 Identificar o papel dos meios de comunicação na construção da vida social.
H22 Analisar as lutas sociais e conquistas obtidas no que se refere às mudanças nas legislações ou nas políticas públicas.
H23 Analisar a importância dos valores éticos na estruturação política das sociedades.
H24 Relacionar cidadania e democracia na organização das sociedades.
H25 Identificar estratégias que promovam formas de inclusão social.
Competência 6 – Compreender a sociedade e a natureza, reconhecendo suas interações no espaço em diferentes contextos históricos e
geográficos.
H26 Identificar em fontes diversas o processo de ocupação dos meios físicos e as relações da vida humana com a paisagem.
H27 Analisar de maneira crítica as interações da sociedade com o meio físico, levando em consideração aspectos históricos e (ou) geográficos.
H28 Relacionar o uso das tecnologias com os impactos sócioambientais em diferentes contextos histórico-geográficos.
H29 Reconhecer a função dos recursos naturais na produção do espaço geográfico, relacionando-os com as mudanças provocadas pelas ações humanas.
H30 Avaliar as relações entre preservação e degradação da vida no planeta nas diferentes escalas.
Thomas Hobbes (1588-1679)
Nascido em 1588, na Inglaterra da dinastia Tudor, Thomas Hobbes foi influenciado pela reforma anglicana,
que ocorrera cinco décadas antes. A cisão com a Igreja Católica fez com que a Espanha interviesse nos assuntos
ingleses enviando a Invencível Armada, fato que mais tarde seria relatado por Hobbes em sua autobiografia e terá
grandes influências sobre sua obra. O século XVII foi de grande importância para a Inglaterra, pois marca o começo
do expansionismo colonialista ultramarino inglês, com a fundação de Jamestown, a primeira colônia inglesa nas
Américas, em 1607. É também no século XVII que são lançadas as bases do capitalismo industrial na Inglaterra
com a Revolução Gloriosa já na década de 80 do século XVII.
Quando Hobbes tinha 30 anos e já havia visitado a Europa continental pela primeira vez, uma revolta na
Boêmia daria início à Guerra dos Trinta Anos, fato que irá reforçar para Hobbes a sua própria visão pessimista
acerca da natureza humana destrutiva. Apenas 12 anos após o início da guerra no continente europeu, disputas
políticas entre o Parlamento e o Rei inglês dão início a uma guerra civil na Inglaterra que perduraria 10 anos. Não
é possível, pois, dissociar do pensamento do autor esse período tenebroso em que ele viveu.
Thomas Hobbes
Thomas Hobbes era um pensador jusnaturalista, ou seja, comungava com outros pensadores a hipótese de que
a sociabilidade é artificial, uma criação humana por meio de um contrato. Para ele, anteriormente à constituição das
comunidades políticas, existiria uma vida sem Estado e sem leis. Em tal Estado de Natureza, os seres humanos seriam
naturalmente iguais em suas faculdades corporais e mentais (mais nas mentais do que nas corporais). A partir de seus
predicados, herdados da Natureza, os indivíduos são capazes de emitir juízo sobre suas realidades, além de se relacio-
narem apaixonadamente com quaisquer fins que lhes aprouverem. Daí emerge um traço empirista em seu pensamento,
ancorado no fato de que as concepções morais – sobre o que é o bem ou o mal, certo ou errado – estão circunscritas à
subjetividade. Portanto, valores e ações humanas não teriam um sentido comum, compartilhado por todos.
Nesse cenário, o homem é opaco aos olhos de seu semelhante – ele não sabe o que o outro deseja, e por
isso tem que fazer uma suposição de qual será a sua atitude mais prudente, mais razoável. Como o outro também
não sabe o que ele quer, também é forçado a supor o que fará. Dessa suposição recíproca, o mais razoável para
ambos é atacar o outro, o quanto antes, para vencê-lo. Significar dizer que, se não há um Estado controlando ou
reprimindo, a atitude mais racional a se adotar é fazer a guerra: instaura-se uma “guerra de todos contra todos”.
99
Assim, de modo geral, haveria três causas princi- da. A fórmula da pacificação, para Hobbes, consiste na
pais de discórdia na natureza dos homens: a competição, abdicação da liberdade natural de cada um para um ou
a desconfiança e a glória. Nas palavras de Hobbes, poucos homens que definirão as leis e a aplicação de
pena de morte aos cidadãos. Como bem aponta o filó-
“A primeira leva os homens a ata-
sofo Althusser: “A morte é a verdade-limite de todo te-
car os outros tendo em vista o lucro; a
segunda, a segurança; a terceira, a re- mor: o temor da morte funda o contrato social”.
putação. Os primeiros usam a violência Portanto, a lex naturalis (Lei Natural) de preservação da
para se tornarem senhores das pesso- vida e busca da paz deve ser racionalmente contratada
as, mulheres, filhos e rebanhos de ou-
tros homens; os segundos, para defen- pelos agentes, que deverão aliená-la ao Soberano.
dê-los; e o terceiro por ninharias, como
uma palavra, um sorriso, uma diferen-
ça de opinião, e qualquer outro sinal de
desprezo, quer seja diretamente dirigi-
do a suas pessoas, quer indiretamen-
te a seus parentes, seus amigos, sua
nação sua profissão ou seu nome.
100
imposição de um projeto político. O plano de Hobbes (para neles impedir o desejo de mudar
ambicionava afirmar o Estado Absolutista – visto por de governo) que eram homens livres, e
ele como a única forma de governo capaz de gerir con- que todos os que viviam em monarquia
flitos e garantir a paz dentro contexto belicoso no qual eram escravos, Aristóteles escreveu em
o império inglês se inseria. sua Política (livro 6, cap.2): Na democra-
cia deve supor-se a liberdade; porque é
geralmente reconhecido que ninguém é
livre em qualquer outra forma de gover-
no. Tal como Aristóteles, também Cícero
e outros autores baseavam sua doutri-
na civil nas opiniões dos romanos, que
eram ensinados a odiar a monarquia,
primeiro por aqueles que depuseram o
soberano e passaram a partilhar entre si
a soberania de Roma, e depois por seus
sucessores. Através da leitura desses au-
Rei Luís XIV, exemplo clássico de monarca absoluto tores gregos e latinos, os homens passa-
ram desde a infância a adquirir o hábito
(sob uma falsa aparência de liberdade)
Hobbes e a Liberdade: ruptura
de fomentar tumultos e de exercer um
com a tradição greco-romana licencioso controle sobre os atos de seus
soberanos. E por sua vez o de controlar
[...] é coisa fácil os homens se dei- esses controladores, com uma imensa
xarem iludir pelo especioso nome de
efusão de sangue. E creio que em ver-
liberdade e, por falta de capacidade de
dade posso afirmar que jamais uma coi-
distinguir, tomarem por herança pesso-
sa foi paga tão caro como estas partes
al e direito inato seu aquilo que é ape-
nas direito do Estado. E quando o mes- ocidentais pagaram o aprendizado das
mo erro é confirmado pela autoridade línguas grega e latina.”
de autores reputados por seus escritos Hobbes, O Leviatã
101
INTERATIVI
A DADE
ASSISTIR
102
LER
Livros
103
INTERDISCIPLINARIDADE
Revolução Gloriosa é o nome dado pelo movimento ocorrido na Inglaterra entre 1688 e 1689 no qual o rei
Jaime II foi destituído do trono britânico. Chamada por vezes de "Revolução sem sangue", pela forma deveras pací-
fica com que ocorreu, ela resultou na substituição do rei da dinastia Stuart, católico, pelos protestantes Guilherme,
Príncipe de Orange, da Holanda, em conjunto com sua mulher Maria II (respectivamente genro e filha de Jaime II).
Essa revolução marcou um importante ponto para o direcionamento do poder em direção do parlamento,
afastando a Inglaterra permanentemente do absolutismo. Foi aprovado no parlamento o Bill of Rights (declara-
ção de direitos), em que se proibia que um monarca católico voltasse a governar o país, além de eliminar a censura
política, reafirmando o direito exclusivo do Parlamento em estabelecer impostos e o direito de livre apresentação
de petições. A declaração ainda garantiu ao parlamento a organização e manutenção do exército, tirando qualquer
possível margem de manobra política e institucional possível do monarca.
Assim, a barreira representada pelo absolutismo foi removida da vista da classe burguesa e da aristocracia
rural, trazendo uma consequente prosperidade e florescimento às duas, que viveriam a seguir, com a Revolução
Industrial, o seu auge dentro da sociedade inglesa.
Parlamento Inglês
104
CONSTRUÇÃO DE HABILIDADES
A Habilidade 14 pode soar um tanto quanto genérica, uma vez que pode ser abrangida
por diversos vieses teóricos. No caso da Filosofia – principalmente da Filosofia Política –
tal habilidade é contemplada pela perspectiva dada por cada filósofo sobre questões de
natureza cultural, política, social e institucional.
Tais pensadores focam, entre outros assuntos, em questões como a legitimidade do po-
der político, a constituição do Estado e a sua estruturação institucional dentro de seus
paradigmas históricos. O candidato deve, portanto, versar-se sobre os principais autores e
correntes de pensamento exigidos pelo Enem, além de relacioná-los com seus respectivos
cenários históricos.
Modelo
(Enem) A natureza fez os homens tão iguais, quanto às faculdades do corpo e do espírito, que,
embora por vezes se encontre um homem manifestamente mais forte de corpo, ou de espírito mais
vivo do que outro, mesmo assim, quando se considera tudo isto em conjunto, a diferença entre um
e outro homem não é suficientemente considerável para que um deles possa com base nela recla-
mar algum benefício a que outro não possa igualmente aspirar.
HOBBES, T. Leviatã. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
Para Hobbes, antes da constituição da sociedade civil, quando dois homens desejavam o mesmo
objeto, eles
a) entravam em conflito.
b) recorriam aos clérigos.
c) consultavam os anciãos.
d) apelavam aos governantes.
e) exerciam a solidariedade.
105
Análise Expositiva
Habilidade 14
Segundo Hobbes, os homens, em seu estado de natureza, permanecem em um constante con-
flito. É a constituição da cidade civil que irá por fim a esse estado de guerra de todos contra
todos. Cabe lembrarmos de que Hobbes viveu num contexto repleto de guerras civis, situação
na qual o poder de Estado encontra-se fatalmente abalado. Para o autor, a situação de con-
flito permanente causada por um Estado impotente é a prova de que a organização política,
embora contenha uma perda da liberdade individual, é preferível à sua ausência.
Alternativa A
Estrutura Conceitual
Vil Egoísta Passional
Natureza
Humana
106
Aprofunde seus conhecimentos
1. (Unesp) A China é a segunda maior econo- 3. (Ufsj) Thomas Hobbes afirma que “Lei Ci-
mia do mundo. Quer garantir a hegemonia vil”, para todo súdito, é
no seu quintal, como fizeram os Estados a) “construída por aquelas regras que o Estado
Unidos no Caribe depois da guerra civil. As lhe impõe, oralmente ou por escrito, ou por
Filipinas temem por um atol de rochas desa- outro sinal suficiente de sua vontade, para
bitado que disputam com a China. O Japão usar como critério de distinção entre o bem
está de plantão por umas ilhotas de pedra e e o mal”.
vento, que a China diz que lhe pertencem. b) “a lei que o deixa livre para caminhar para
Mesmo o Vietnã desconfia mais da China do qualquer direção, pois há um conjunto de
que dos Estados Unidos. As autoridades de leis naturais que estabelece os limites para
Hanói gostam de lembrar que o gigante ame- uma vida em sociedade”.
ricano invadiu o México uma vez. O gigante
c) “reguladora e protetora dos direitos huma-
chinês invadiu o Vietnã dezessete.
nos, e faz intervenção na ordem social para
(André Petry. O Século do Pacífico.
legitimar as relações externas da vida do ho-
Veja, 24.04.2013. Adaptado.)
mem em sociedade”.
A persistência histórica dos conflitos geopo- d) “calcada na arbitrariedade individual, em
líticos descritos na reportagem pode ser filo- que as pessoas buscam entrar num Estado
soficamente compreendida pela teoria Civil, em consonância com o direito natural,
a) iluminista, que preconiza a possibilidade de no qual ele – o súdito – tem direito sobre a
um estado de emancipação racional da hu- sua vida, a sua liberdade e os seus bens”.
manidade.
b) maquiavélica, que postula o encontro da vir- 4. (Ufu 2013) Porque as leis de natureza (como
tude com a fortuna como princípios básicos
a justiça, a equidade, a modéstia, a pieda-
da geopolítica.
c) política de Rousseau, para quem a submissão de, ou, em resumo, fazer aos outros o que
à vontade geral é condição para experiências queremos que nos façam) por si mesmas, na
de liberdade. ausência do temor de algum poder capaz de
d) teológica de Santo Agostinho, que considera levá-las a ser respeitadas, são contrárias a
que o processo de iluminação divina afasta nossas paixões naturais, as quais nos fazem
os homens do pecado. tender para a parcialidade, o orgulho, a vin-
e) política de Hobbes, que conceitua a compe- gança e coisas semelhantes.
tição e a desconfiança como condições bási- HOBBES, Thomas. Leviatã. Cap. XVII. Tradução
cas da natureza humana. de João Paulo Monteiro e Maria Beatriz Nizza da
Silva. São Paulo: Nova Cultural, 1988, p. 103.
2. (Uema) Para Thomas Hobbes, os seres huma- Em relação ao papel do Estado, Hobbes con-
nos são livres em seu estado natural, compe- sidera que:
tindo e lutando entre si, por terem relativa- a) O seu poder deve ser parcial. O soberano que
mente a mesma força. Nesse estado, o conflito
nasce com o advento do contrato social deve
se perpetua através de gerações, criando um
assiná-lo, para submeter-se aos compromis-
ambiente de tensão e medo permanente. Para
sos ali firmados.
esse filósofo, a criação de uma sociedade sub-
b) A condição natural do homem é de guerra de
metida à Lei, na qual os seres humanos vivam
em paz e deixem de guerrear entre si, pressu- todos contra todos. Resolver tal condição é
põe que todos renunciem à sua liberdade ori- possível apenas com um poder estatal pleno.
ginal. Nessa sociedade, a liberdade individual c) Os homens são, por natureza, desiguais. Por
é delegada a um só dos homens que detém o isso, a criação do Estado deve servir como
poder inquestionável, o soberano. instrumento de realização da isonomia entre
Fonte: MALMESBURY, Thomas Hobbes de. Leviatã ou tais homens.
matéria, forma e poder de um estado eclesiástico e d) A guerra de todos contra todos surge com o
civil. Trad. João Paulo Monteiro; Maria Beatriz Nizza Estado repressor. O homem não deve se sub-
da Silva. São Paulo: Editora NOVA Cultural, 1997. meter de bom grado à violência estatal.
A teoria política de Thomas Hobbes teve papel
fundamental na construção dos sistemas po- 5. (Ufsm) Sem leis e sem Estado, você poderia
líticos contemporâneos que consolidou a (o) fazer o que quisesse. Os outros também po-
a) Monarquia Paritária. deriam fazer com você o que quisessem. Esse
b) Despotismo Soberano. é o “estado de natureza” descrito por Tho-
c) Monarquia Republicana. mas Hobbes, que, vivendo durante as guer-
d) Monarquia Absolutista. ras civis britânicas (1640-60), aprendeu em
e) Despotismo Esclarecido. primeira mão como esse cenário poderia ser
107
assustador. Sem uma autoridade soberana abdicando de seus direitos naturais em
não pode haver nenhuma segurança, nenhu- favor do soberano, cujo poder é limitado
ma paz. e revogável por causa do direito à resis-
Fonte: LAW, Stephen. Guia Ilustrado Zahar: tência que tem vigência no estado civil
Filosofia. Rio de Janeiro: Zahar, 2008. assim instituído.
IV. Apesar das leis da natureza, por não ha-
Considere as afirmações:
ver um poder comum que mantenha a
I. A argumentação hobbesiana em favor de
todos em respeito, garantindo a paz e
uma autoridade soberana, instituída por
um pacto, representa inequivocamente a a segurança, o estado de natureza é um
defesa de um regime político monarquista. estado de permanente temor e perigo
II. Dois dos grandes teóricos sobre o estado da morte violenta, e “a vida do homem
de natureza”, Hobbes e Rousseau, parti- é solitária, pobre, sórdida, embrutecida e
lham a convicção de que o afeto predomi- curta”.
nante nesse “estado” é o medo. V. O poder soberano instituído mediante o pac-
III.Um traço comum da filosofia política mo- to de submissão é um poder limitado, res-
derna é a idealização de um pacto que trito e revogável, pois no estado civil perma-
estabeleceria a passagem do estado de necem em vigor os direitos naturais à vida,
natureza para o estado de sociedade. à liberdade e à propriedade, bem como o
Está(ão) correta(s) direito à resistência ao poder soberano.
a) apenas I. Das afirmativas feitas acima
b) apenas II. a) somente a afirmação I está correta.
c) apenas III. b) as afirmações I e III estão corretas.
d) apenas I e II.
c) as afirmações II e IV estão incorretas.
e) apenas II e III.
d) as afirmação III e V estão incorretas.
e) as afirmações II, III e IV estão corretas.
6. (Unioeste) “Com isto se torna manifesto
que, durante o tempo em que os homens vi-
vem sem um poder comum capaz de os man- 7. (UFPA) “Desta guerra de todos os homens con-
ter a todos em respeito, eles se encontram tra todos os homens também isto é consequ-
naquela condição que se chama guerra; e ência: que nada pode ser injusto. As noções
uma guerra que é de todos os homens con- de bem e de mal, de justiça e injustiça, não
tra todos os homens. [...] E os pactos sem a podem aí ter lugar. Onde não há poder comum
espada não passam de palavras, sem força não há lei, e onde não há lei não há injustiça.
para dar segurança a ninguém. Portanto, Na guerra, a força e a fraude são as duas virtu-
apesar das leis da natureza (que cada um des cardeais. A justiça e a injustiça não fazem
respeita quando tem vontade de respeitá- parte das faculdades do corpo ou do espírito.
-las e quando pode fazê-lo com segurança),
Se assim fosse, poderiam existir num homem
se não for instituído um poder suficiente-
que estivesse sozinho no mundo, do mesmo
mente grande para nossa segurança, cada
um confiará, e poderá legitimamente con- modo que seus sentidos e paixões.”
fiar apenas em sua própria força e capaci- HOBBES, Leviatã, São Paulo: Abril cultural, 1979, p. 77.
dade, como proteção contra todos”.
Quanto às justificativas de Hobbes sobre a
Hobbes.
justiça e a injustiça como não pertencentes
às faculdades do corpo e do espírito, consi-
Considerando o texto citado e o pensamento po-
lítico de Hobbes, seguem as afirmativas abaixo: dere as afirmativas:
I. A situação dos homens, sem um poder co- I. Justiça e injustiça são qualidades que pertencem
mum que os mantenha em respeito, é de aos homens em sociedade, e não na solidão.
anarquia, geradora de insegurança, an- II. No estado de natureza, o homem é como
gústia e medo, pois os interesses egoísti- um animal: age por instinto, muito embo-
cos são predominantes, e o homem é lobo ra tenha a noção do que é justo e injusto.
para o homem. III.Só podemos falar em justiça e injustiça
II. As consequências desse estado de guerra quando é instituído o poder do Estado.
generalizada são as de que, no estado de IV. O juiz responsável por aplicar a lei não
natureza, não há lugar para a indústria, decide em conformidade com o poder so-
para a agricultura nem navegação, e há berano; ele favorece os mais fortes.
prejuízo para a ciência e para o conforto Estão corretas as afirmativas:
dos homens. a) I e II
III.O medo da morte violenta e o desejo de b) I e III
paz com segurança levam os indivíduos a c) II e IV
estabelecerem entre si um pacto de sub- d) I, III e IV
missão para a instituição do estado civil, e) II, III e IV
108
8. (Uem) No Leviatã, o filósofo Thomas Hobbes d) diferentemente de Locke, que concebe o es-
(1588-1679) afirma: “Este poder soberano tado de natureza como um “estado de relati-
pode ser adquirido de duas maneiras. Uma va paz, concórdia e harmonia”, para Hobbes,
delas é a força natural, como quando um ho- o estado de natureza é um estado de guerra
mem obriga os seus filhos a submeterem-se generalizada, de todos contra todos, de inse-
gurança e violência.
e a submeterem os seus próprios filhos à sua
e) a passagem do estado de natureza para o
autoridade, na medida em que é capaz de os estado civil ocorre mediante uma ou mais
destruir em caso de recusa. Ou como quando convenções, ou seja, mediante “um ou mais
um homem sujeita através da guerra os seus atos voluntários e deliberados dos indivíduos
inimigos à sua vontade, concedendo-lhes a interessados em sair do estado de natureza”,
vida com essa condição. A outra é quando e ingressar no estado civil.
os homens concordam entre si em se sub-
meterem a um homem, ou a uma assembleia 10. (Ufsj) “Algumas criaturas vivas, como as
de homens, voluntariamente, confiando que abelhas e as formigas, que vivem socialmen-
serão protegidos por ele contra os outros. te umas com as outras [...] tendem para o
Esta última pode ser chamada uma república benefício comum”.
política, ou por instituição. À primeira pode Para Thomas Hobbes, essa tendência não
chamar-se uma república por aquisição” ocorre entre os homens porque
(HOBBES, T. Leviatã, cap. XVII. In: MARÇAL, a) esses insetos, dentro da sua irracionalidade
J. (org.). Antologia de Textos Filosóficos. natural, dão lições de conduta aos seres hu-
Curitiba: SEED-PR, 2009, p. 366). A partir manos; seja na tarefa diária, seja na politi-
do trecho citado, assinale a(s) alternativa(s) zação paradoxal do modelo comunista difun-
correta(s). dido por Joseph Stalin e Karl Marx.
01) República por aquisição é o poder sobe- b) as abelhas e as formigas têm a peculiaridade
rano adquirido pela força natural, como o de construir suas sociedades dentro de uma
poder de destruir em caso de desobediên- unidade dinâmica e circular, que poderia ser
cia. bem definida como um contrato social se
02) República política é consequência dos elas fossem humanas. Os seres humanos não
acordos e pactos firmados entre os ho- atingiram tal estágio ainda.
mens voluntariamente. c) estes estão constantemente envolvidos
04) Os vencedores de uma guerra criam uma numa competição pela honra e pela digni-
república por instituição. dade e se julgam uns mais sábios que ou-
08) Os homens livres, ao pactuarem em as- tros para exercer o poder público, reformam
sembleia, adquirem uma república. e inovam, o que muitas vezes leva o país à
desordem e à guerra civil.
9. (Unioeste) Em filosofia política, o contra- d) o motivo maior que guia a vida de tais cria-
tualismo visa à construção de uma “teoria turas é a engrenagem da soberania da von-
racional sobre a origem e o fundamento do tade de criar, da vontade de poder, retomada
Estado e da sociedade política”. O modelo por Nietzsche e pelo existencialismo.
contratualista é “... construído com base
na grande dicotomia ‘estado (ou socieda-
de) de natureza / estado (ou sociedade)
civil’” (cf. BOBBIO), sendo que a passagem
do estado de natureza para o estado civil
Gabarito
ocorre mediante o contrato social.
Considerando o texto acima e as diferentes te- 1. E 2. D 3. A 4. B 5. C
orias contratualistas, é INCORRETO afirmar que 6. D 7. B 8. 01 + 02 + 16 = 19
a) o ponto de partida, no pensamento contratu-
alista, para a análise da origem e fundamento 9. A 10. C
do Estado, é o estado político historicamente
existente, cujo princípio de legitimação de
sua efetividade histórica é o consenso.
b) os elementos constitutivos do estado de
natureza são indivíduos singulares, livres e
iguais uns em relação aos outros, sendo o es-
tado de natureza um estado no qual reinam a
igualdade e a liberdade.
c) para o contratualismo, a sociedade política,
em contraposição a qualquer forma de socie-
dade natural, encontra seu princípio de fun-
damentação e legitimação no consenso dos
indivíduos participantes do contrato social.
109