EBook - Ideias Estoicas para Lidar Com As Emoções

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Sumário

Como lidar com as emoções 1


Como os estoicos lidam com as emoções? 2
Quando sentimos emoções ruins 6
Para viver uma vida boa 7

Como manter a calma 13


Euthymia 17
Vamos nos entregar? 18

Do outro lado dos obstáculos: práticas estoicas para transformar o


impedimento em ação 20
Fracassos como lições de vida 22

A vida é um banquete: aproveite a sua porção 27


Epicteto 27
Um banquete 29

Sobre a Autora 35

Sobre a Nova Stoa 36


1. Como lidar com as emoções

É natural termos emoções! E faz parte


da vida nos presentear com
desilusões, perdas, dor, amor,
felicidade.

“Uma vida longa inclui todos esses


problemas, assim como uma longa
jornada inclui poeira e lama e chuva” –
Sêneca

O que nos coloca em sofrimento é nos


deixar levar por sentimentos ruins,
como ciúmes, inveja, ganância ou
tristeza. Sentimentos e emoções,
porém, fazem parte da nossa
humanidade e podem ser usados para
o bem - nosso e em prol das outras
pessoas. Alegria, tranquilidade,
empatia, por exemplo, são todas boas
emoções.

1
Como os estoicos lidam com as emoções?

Por mais que no senso comum a palavra “estoico” possa passar a ideia
de uma pessoa sem emoções, sentimentos ou impulsos, não é o que a
filosofia estoica acredita ou dissemina.

“Os estoicos são estudantes do que significa ser humano. O lema


estoico, viver de acordo com a natureza, nos desafia a aprender como
nos encaixamos neste universo em constante expansão. Isso inclui
todas as interações estranhas e confusas da vida. É verdade que
concentramos a maior parte de nossa atenção na ferramenta incrível
que é a mente humana, mas entendemos que as emoções fazem
parte dessa paisagem mental. Os estoicos dão às emoções o que
merecem. Nós simplesmente não acreditamos que devemos muito a
eles” - Matthew Van Natta, em Stoic Emotions...All Three of Them

Para Nancy Sherman, professora da Georgetown University e autora


do livro “Stoic Wisdom: Ancient Lessons for Modern Resilience”, a
ideia de que os estoicos não colocam emoção no jogo é uma leitura
errada do Estoicismo Antigo.

2
Os estoicos foram os primeiros teóricos da emoção, com várias
nuances, detalhando a complexidade da vida emocional. Eles
descrevem as “proto-emoções” que sentimos e não podemos
controlar.

De fato, eles acreditam que algumas emoções mais violentas, como


raiva e medo, nos fazem mal e devem ser administradas. Mesmo
assim, eles nos incentivam a cultivar muitas de nossas emoções,
transformando-as em “boas emoções” (cuidado, gratidão, respeito,
alegria etc.).

“De fato, eles distinguiram entre três tipos de emoção: boa, ruim e
indiferente” – Donald Robertson.

A Carta 23 de Sêneca ao seu amigo Lucílio traz uma versão sobre a


alegria na filosofia estoica. Claro, não devemos nos enganar, o filósofo
não está falando de uma alegria superficial ou de risadas sem motivos,
mas de uma alegria da alma. Poderíamos compreender essa alegria
como quietude ou equanimidade, como o poder de focar nas coisas que
estão sob o nosso controle ou mesmo como a determinação de não
colocar nossa alegria em coisas inúteis.

“Você pergunta qual é o fundamento de uma mente sã? É não


encontrar alegria em coisas inúteis. Eu disse que era o fundamento; é
realmente o pináculo” - Sêneca

“Aprenda a sentir alegria”, afirma Sêneca, mas, mais uma vez, não
uma alegria que depende dos dons da fortuna, de esperanças futuras,
de prazeres efêmeros ou de situações inconstantes.

3
“A própria alma deve ser feliz e
confiante, elevada acima de todas as
circunstâncias” - Sêneca

A verdadeira alegria não vem fácil, é seguida de questionamentos e


provém de ações corretas. Nossas ações! A verdadeira alegria vem do
nosso próprio “depósito”, como coloca Sêneca.

Está dentro de nós, por mais simples que pareça. Está em aceitar as
coisas como elas acontecem, manter a tranquilidade e ao mesmo
tempo transformá-las da melhor forma possível a nosso favor. É
seguir esse caminho, sem muito zigue-zague.

“Você me pergunta o que é esse bem real e de onde vem? Eu vou te


dizer: vem de uma boa consciência, de honrosos propósitos, de ações
corretas, de desprezo aos presentes do acaso, de um modo de vida
sereno e tranquilo, que só segue um caminho” - Sêneca

Dessa forma, o que queremos da prática do Estoicismo é nos tornar


menos suscetíveis às emoções doentias, mais propensos aos
sentimentos saudáveis, mais conscientes do presente e mais
resiliente.

4
As emoções não saudáveis eram chamadas pelos estoicos de paixões,
que englobavam desejos e emoções. Ser Estoico não é não ter emoções,
não é suprimi-las ou muito menos ignorá-las. É identificá-las em seu
surgimento e, se for o caso de serem prejudiciais (paixões),
transformá-las em emoções saudáveis (eupatheiai) – o que era um
importante passo do treinamento em Estoicismo. É importante pensar
e praticar essa diferença entre substituir uma emoção de tentar
reprimi-la. Reprimir um sentimento não resolve nada.

“Não se pode superar o


sofrimento o diminuindo,
ele me lembrou.
Supera-se o sofrimento
aceitando e descobrindo o
que fazer com ele. Não se
pode mudar o que é
negado ou minimizado.
E, logicamente, muitas
vezes, preocupações que
parecem ser triviais são
manifestações de
preocupações mais
profundas” - Lori
Gottlieb, Talvez você deva
conversar com alguém

5
É preciso examinar, investigar, indagar por que certo sentimento ruim
ocorre, de onde ele vem e o que ele pode nos ensinar. Assim, com essa
prática ficará mais fácil o caminho da substituição das emoções ruins
pelas boas.

Quando sentimos emoções ruins

Quase sempre, o primeiro impulso de resposta a uma situação não nos


guiará para a direção correta. Antes de reagir aos acontecimentos, com
muito ímpeto e pouca razão, atrase a resposta. Quando a situação
aflorar paixões ruins, como raiva, inveja ou ciúmes, é ainda mais
importante que a reação seja precedida de um momento de avaliação
da questão, assim, atrase a resposta. Quando é raiva ou ira que o outro
ou uma circunstância provoca em você, avalie seus sentimentos e
atrase a resposta.

“O maior remédio para a ira é o


adiamento” - Sêneca

Com esse tempo, devemos deixar a razão agir, devemos ponderar as


variáveis da situação, devemos nos perguntar o que está sob o nosso
controle e como podemos agir de forma virtuosa. É preciso dar tempo
à mente e acreditar na capacidade de retomarmos à razão.

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“Porque quando você ganha este certo tempo, quando reflete
antes de reagir, você irá notar que se torna mais fácil controlar
as próprias emoções” - Epicteto

Como podemos "atrasar a resposta" quando estamos com


sentimentos ruins nos perturbando, Pigliucci e Lopez dão algumas
dicas práticas e simples:

“Conte até vinte, repasse mentalmente o alfabeto, respire fundo


pelo diafragma, peça licença para ir ao banheiro ou saia para dar
uma volta no quarteirão – o que quer que funcione para colocar
alguma distância cognitiva entre sua ‘paixão’ (de novo, no sentido
estoico de uma emoção não saudável) e o que você fará a seguir.
Você não se arrependerá”.

Para viver uma vida boa

Não é possível evitar os obstáculos no caminho. A vida é cheia deles. É


parte da vida humana em sociedade a dor, as perdas, enfim, os
contratempos. Mas, mesmo assim, é possível viver uma vida feliz,
uma vida tranquila, uma vida com Eudaimonia.

Um dos princípios de vida estoico é a eudaimonia (εὐδαιμονία). A


eudaimonia, que muitas vezes é traduzida simplesmente como
felicidade (e que assim pode causar uma confusão com esse
sentimento passageiro de prazer em relação a eventos agradáveis), vai
além!

7
“Na Grécia antiga, o termo usado para definir o mais alto grau de
felicidade humana era eudaimonia, que basicamente significa ‘ser
habitado por um bom daimon’, ou seja, ter uma espécie de guia
espiritual criativo divino tomando conta de você” - Elizabeth gilbert,
em A grande Magia

A eudaimonia é viver uma vida próspera, uma vida que floresce, é


priorizar e vivenciar um sentido de satisfação e de autêntica felicidade.
O filósofo Massimo Pigliucci acredita, na verdade, que a melhor
tradução para a palavra seria algo como “viver uma vida que vale a
pena ser vivida”.

Viver uma vida com eudaimonia é viver uma vida com virtudes, com
excelência, com a busca da Coragem, da Justiça, da Sabedoria e da
Temperança - as virtudes cardeais do Estoicismo. É “viver de acordo
com a natureza” (lema estoico). E a natureza humana é social e
racional.

8
Viver uma vida com eudaimonia é incompatível com o desejo pelo que
não temos ou pela vontade de querer controlar ou modificar o que não
está sob a nossa gerência. Assim, a “felicidade estoica” vem de uma
vida livre de desejos, de dor, de tristeza ou medo. É uma vida livre de
paixões doentias (emoções ruins).

“Um entendimento livre de paixões é


uma cidadela. Não há refúgio mais
seguro e inexpugnável. Quem não
compreende isso é ignorante. Quem
compreende porém não se refugia é
infeliz” – Marco Aurélio

Viver com eudaimonia é viver uma vida sabendo diferenciar o que é


bom, o que é ruim e o que é simplesmente “indiferente”. É viver em
um fluxo de vida sem interrupções (não importa o que aconteça no
mundo externo), afinal, se você segue a virtude, a Natureza e a
excelência, sua mente estará tranquila, logo, com eudaimonia.

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“Lembre-se: a única coisa que você controla é você mesmo. À
medida que você aprende a buscar um bom fluxo de vida, olhe
primeiro para suas próprias escolhas, antes de julgar as ações dos
outros”- Matthew Van Natta, em The beginner’s guide to stoicism

Para se alcançar a eudaimonia, mesmo com as adversidades


características da vida, os estoicos nos ensinam que é preciso praticar
a Apatheia. Hoje em dia, no senso comum, podemos entender a
“apatia” como uma característica ruim de passividade, de ausência
total de paixões – o que não é exatamente a ideia difundida pelos
estoicos.

Mais uma vez ressaltamos que os estoicos não pregavam a ausência de


emoções ou sentimentos. Eles, na verdade, sabiam que o que devíamos
evitar eram as paixões ruins, insalubres ou não-saudáveis. Assim, de
forma mais prática e direta, para os estoicos, o que devíamos fazer é
entender que podemos ter um primeiro impulso para algumas paixões
ruins (como o medo, por exemplo), pois são naturais dos seres
humanos. Podemos e devemos, porém, identificar, controlar e trocar
esses sentimentos ruins de forma racional por “emoções” boas (como
a cautela, no caso do medo).

Donald Robertson, em seu livro “Pense como um imperador”, afirma


que Marco Aurélio descobriu no Estoicismo um “therapeia” – uma
terapia moral e psicológica “para mentes perturbadas pela raiva,
medo, tristeza e desejos doentios. Eles chamaram o objetivo dessa
terapia de apatheia, que não significa apatia, mas liberdade em relação
aos desejos e emoções prejudiciais (paixões)".

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Apatheia, então, é a quietude advinda do controle ou troca de emoções
ruins por boas. É a paz de não se deixar levar por paixões prejudiciais.
E é, assim, um constitutivo imprescindível para uma vida boa.

“Pois, na medida em que essas qualidades são mais humanas,


também são mais viris. É o homem que possui tais virtudes que tem
força, nervo e coragem, e não aquele que está mal-humorado e
descontente. Na verdade, quanto mais perto um homem chega em
sua mente da liberdade das paixões prejudiciais [apatheia], mais
perto ele chega da força. Assim como a tristeza é uma marca de
fraqueza, o mesmo ocorre com a raiva, pois aqueles que se rendem a
qualquer uma delas foram feridos e se renderam ao inimigo” -
Marco Aurélio

Os estoicos importam-se e têm sentimentos, mas não deixam que


essas questões os dominem! Afinal, sabem que devem amar o destino
(Amor Fati) e que devem preparar-se para o que possa acontecer. E
mais: independente do que aconteça, os estoicos sabem também que
devem agir de forma correta e fazer o que é certo. Esse é o caminho.

Então, não devemos nos sentir menos estoicos por vivenciar emoções
– e muito menos acreditar que ser estoico é simplesmente endurecer
para a vida. Suportar é diferente de endurecer! Quando pensamos em
endurecer nesse contexto, pensamos em se fechar ao mundo, aos
sentimentos e a nós mesmos.

Porém, como ser justo e empático se não há espaço para os


sentimentos?

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Ser forte é ter autoconhecimento,
autodomínio e resiliência. É acreditar
que ao nos conhecermos podemos
identificar (e não negar) as paixões em
seus primeiros estados (protoemoções).
Não deixe de sentir, não negue as perdas
e as dores que o destino nos entrega.
Identifique, aceite, transforme cada
paixão em um sentimento saudável!

“‘Menos influência.’ Sim, e menos inveja.


Olhe ao seu redor e observe as coisas que
nos deixam loucos, que perdemos com um
dilúvio de lágrimas; perceberá que não é a
perda que nos incomoda com referência a
essas coisas, mas o conceito de perda.
Ninguém sente que elas foram perdidas,
mas sua mente lhe diz que foi assim.
Aquele que se possui não perde nada. Mas
quão poucos homens são abençoados com
a propriedade de si mesmo!” - Sêneca

​O Estoicismo nos chama para “viver bem” nas turbulências e dores e


também quando o destino parece nos presentear. Sempre tranquilos,
sempre florescendo, sempre em estado de equilíbrio, evitando os
momentos de depressão, assim como os de euforia.

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2. Como manter a calma

Sim, temos emoções e a vida é cheia de contratempos, mas como


manter a tranquilidade mesmo em momentos de turbulência?

O primeiro passo é não criar expectativas sobre fatos e pessoas. Como


o Estoicismo nos adverte, devemos manter a nossa harmonia com a
natureza, não esperando que o que acontece externamente a nós seja
de qualquer outra forma do que do jeito que é. É preciso ter calma e
bondade para respeitar e administrar os nossos sentimentos e, assim,
agir de forma estratégica.

Epicteto, o filósofo que foi servo durante boa parte de sua vida e
depois tornou-se um mestre estoico, tem uma passagem que descreve
bem essa relação entre o que vivenciamos externamente, sem
expectativas irreais, e como devemos responder internamente,
mantendo a nossa mente calma.

13
"Quando você está a ponto de realizar uma ação, recorde-se que tipo
de qualidade ela é. Se você vai aos banhos, coloque ante a sua mente
o que acontece no banho – a água se despejando sobre alguns,
outros sendo atirados nela, outros resmungando, outros roubando; e
você então estará atuando de forma mais segura se disser
prontamente para si mesmo: 'Eu desejo me banhar e quero manter a
minha vontade em harmonia com a natureza'. E assim, faça o
mesmo com todas as coisas que você vier a realizar. Desta forma, se
algo vier a prejudicá-lo no decorrer do seu banho, você estará pronto
para dizer: 'Eu não queria apenas me banhar, mas manter a minha
vontade em harmonia com a natureza; e não serei capaz de fazer
isso se perder o meu controle emocional com isto que está
acontecendo” – Epicteto, O manual para a vida

O que Epicteto faz é prever o que irá acontecer, colocando de forma


consciente em sua mente a natureza do local ao qual ele se desloca.
Assim, com essa prática e aceitação prévia, ele não mais perderá a sua
calma interior quando qualquer uma dessas coisas - que são bem
prováveis - aconteça. Nossa vida contemporânea está repleta de
exemplos como esse: enfrentaremos congestionamento nas horas de
maior movimento; voos serão atrasados ou cancelados, crianças vão
reclamar na hora de sair do parquinho ou o seu pedido irá faltar na
lanchonete exatamente na sua vez.

Mesmo assim, poderemos manter a tranquilidade em nossa alma. Não


somos seres isolados, pelo contrário, somos membros de uma grande
comunidade irmandade. Assim, o Estoicismo não espera que fiquemos
calmos apenas nas condições ideias, em nossa casa ou sozinhos, mas
principalmente quando enfrentamos turbulências - seja advindas de

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fatores externos ou de atitudes de pessoas que nos deparamos em
nossos dias.

Tão potente quanto essa lição do mestre Epicteto, temos também à


nossa disposição um ensinamento de Marco Aurélio na mesma linha,
mas que foca especificamente nas relações pessoais.

"Inicie a manhã dizendo para si


mesmo: hoje devo cruzar meu
caminho com os intrometidos, os
ingratos, os arrogantes, os traiçoeiros,
os invejosos e os mal-humorados.
Tudo isso lhes afeta pelo fato de serem
ignorantes do bem e do mal" – Marco
Aurélio, Meditações, II, 1

Se meditarmos sobre essas duas citações, eliminaremos grande parte


das nossas inquietações internas, pois estaremos preparados para o
que possa acontecer em relação a fatos e a pessoas durante os nossos
dias.

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Ao trabalharmos com esse processo de previsão, treino e aceitação,
passamos por três conceitos importantes do Estoicismo: 1) Viver de
acordo com a natureza, Premeditatio Malorum e Amor Fati .

Viver de acordo com a natureza é o lema estoico, que nos ensina que
somos seres racionais e sociáveis. Se somos racionais, podemos levar
as nossas impressões à razão e compreender que nada acontece para
nos prejudicar, mas porque simplesmente as coisas ocorreram
daquele jeito. Se somos seres sociais, sendo criados para o bem
comum, não adianta querer se isolar ou não compreender que as
pessoas são como são porque não sabem, como colocou Marco Aurélio
na citação anterior, distinguir o bem do mal.

“Aprenda sobre a vontade da natureza. Estude-a, preste atenção


nela e, então, torne-a sua” – Epicteto

O Premeditatio Malorum é a previsão dos males. É a prática de


antecipação do pior que pode acontecer. Ao treinarmos isso em nossas
mentes, conseguimos vivenciar os sentimentos de forma moderada e
racional, e quando eles acontecerem no "mundo real", vamos saber
como responder com equilíbrio.

16
"A preparação mental é crucial para
manter a calma e não permitir que
aborrecimentos previsíveis perturbem
nossa serenidade e equilíbrio interior"
– Pigliucci e Lopez, A handbook for
new stoics
O Amor Fati é a aceitação do destino exatamente como ele é. É o
exercício de aprender a não ser simplesmente levado pelos fatos
externos, mas admiti-los como são e, a partir daí, tomar as ações que
cabem a nós - sempre com Justiça, Sabedoria, Coragem e Temperança.

“Pode parecer paradoxal, mas a aceitação estoica realmente lhe dá


força para superar os desafios. A passividade surge mais
frequentemente do medo do que da aceitação” – Matthew Van
Natta, The beginner’s guide to stoicism

Euthymia

Para alcançar a calma estoica, é preciso praticar esses conceitos


constantemente. A euthymia (tranquilidade da alma) pode vir mais
fácil para algumas pessoas, mas deve ser buscada por todos nós. Não
devemos nos sentir podados ou menos capazes de alcançá-la.

17
“O que tu queres, pois, é grande, de máxima importância e próximo
de um deus: não ser abalado. Os gregos chamam este estado estável
da alma de euthymia” – Sêneca, Da tranquilidade da alma

O destino, ou a fortuna como chamam os estoicos, está aqui para nos


surpreender das mais diversas formas. Não negamos privilégios ou
que a dor e a perda possa chegar mais perto de algumas pessoas do que
de outras, mas se estamos nesta vida, estamos propensos a sofrer
ainda muitas vezes; a perder amigos, amores e familiares; a ficarmos
doentes e velhos; a afastar-nos de trabalhos que ajudamos a construir.

“Nenhuma época está isenta; no meio de nossos próprios prazeres,


brotam as causas do sofrimento” – Sêneca, Carta 91

Vamos nos entregar?

Não, vamos suportar, porque é suportável; e vamos aceitar, nos


reerguer e transformar cada obstáculo no caminho (mesmo que à
primeira vista seja quase impossível acreditar nessa premissa).

Assim, a força do nosso caráter será testada a cada reviravolta do


acaso e, se assim conduzir, nossa alma buscará a quietude mesmo com
os golpes do destino. Golpes estes que podem ser recebidos com
equanimidade.

O recado principal que queremos passar é de que há sempre espaço


para sentir-se pronto e forte para enfrentar os caminhos da Fortuna.
Somos iguais nas nossas falhas, mas também na possibilidade de
sermos fortes.

18
“Para suportar todas as coisas, somos iguais; ninguém é mais frágil
do que outro, ninguém mais seguro de sua própria vida” – Sêneca,
Carta 91

Seguir o caminho estoico da tranquilidade da alma está disponível


para todos – mesmo que venha mais natural para uns do que para
outros. Com aceitação e preparação, podemos ser como os bambus ao
vento, que balançamos, mas não quebramos e nem caímos por mais
fortes que sejam os ventos do destino.

“Levantemo-nos, portanto, para enfrentar as operações da Fortuna,


e o que quer que aconteça, tenha a certeza de que não é tão grande
como o rumor anuncia que seja” – Sêneca, Carta 91

19
3. Do outro lado dos obstáculos:

práticas estoicas para transformar o

impedimento em ação

Em que momento conseguimos transformar os obstáculos no


caminho e aproveitar as dificuldades como um chamado para seguir
os passos em busca da sabedoria? A filosofia estoica pode ser esse guia
para encarar e transpor os obstáculos da vida, entendendo-os como
parte intrínseca do nosso cotidiano.

“O impedimento à ação avança a ação. O que está no caminho,


torna-se o caminho” - Marco Aurélio.

A partir dessa importante premissa do imperador estoico Marco


Aurélio, o escritor contemporâneo Ryan Holiday escreveu o seu livro
“O obstáculo é o caminho”. A ideia é virar os obstáculos de cabeça para
baixo, com o foco de que não podemos controlar o que acontece
conosco, mas somos capazes de controlar como respondemos aos
acontecimentos. Assim, o que aparece no nosso caminho, torna-se o
caminho.

“Seja o que for que enfrentemos, temos uma escolha: seremos


bloqueados pelos obstáculos ou avançaremos através e por cima
deles?”, afirma Holiday.

20
Para isso, o primeiro passo seria alterar a nossa percepção dos
obstáculos. “Nossa percepção pode ser uma fonte de força ou de
grande fraqueza”. Para enxergar as oportunidades nos obstáculos, o
autor propõe que, diante das dificuldades, tentemos:

1. Ser objetivo;

2. Controlar as emoções e manter o


equilíbrio;

3. Escolher ver o lado bom da situação;

4. Manter nossos nervos firmes;

5. Ignorar o que perturba ou limita os


outros;

6. Colocar as coisas em perspectiva;

7. Regressar ao momento presente; e

8. Focar em o que podemos controlar.

21
Fracassos como lições de vida

"Sempre haverá obstáculos na vida, mas se você deseja alcançar uma


meta, deve continuar" - Malala Yousafzai

Mesmo diante de obstáculos e dificuldades, ainda podemos alcançar


nossos objetivos com força e perseverança.

"É hora de reconhecer que algumas adversidades podem ser


impossíveis de vencer - não importa o quanto você tente. Em vez
disso, você deve encontrar uma maneira de usar a adversidade, sua
energia, para ajudar a si mesmo" - Ryan Holiday, em O obstáculo é
o caminho.

Estudamos Filosofia para nos tornarmos pessoas melhores, para viver


uma vida rica em virtude e em propósito. Se, contudo, as nossas
percepções estão constantemente negativas, a vida não flui.

“A felicidade é um bom fluxo de


vida” - Zenão

22
A filosofia não é para as horas vagas. Devemos nos dedicar ao seu
estudo diariamente. Pois é esse o caminho para uma mente sã. Mas,
vale ressaltar, o que buscamos com a Filosofia estoica não é uma
felicidade superficial de prazeres vãos. Os estoicos não negam as dores
presentes na vida, mas acreditam que devemos trabalhar com
dedicação para que percebamos os eventos de forma mais tranquila
possível. E mais: para que sejamos capazes de sair melhores a cada
obstáculo.

"Permanecer focado nas coisas certas permite espaço para


positividade e resiliência em face dos altos e baixos da vida" -
Matthew Van Natta, The Beginner's Guide to Stoicism

Muitas vezes, as situações mais difíceis são as que mais nos ensinam:
sobre a vida e sobre nós mesmos. Fracassos, derrotas... São desses
momentos que podemos tirar os nossos mais profundos
ensinamentos. Não há então porque ficar remoendo o sentimento do
fracasso, é preciso virar a chave o mais rápido possível, é preciso
transformar o obstáculo no caminho.

Pode ser uma promoção de trabalho que não foi alcançada, uma nota
baixa em uma prova, a reprovação no vestibular ou mesmo um
coração partido. Tudo é material para a própria vida! Aprendemos
humildade, descobrimos nossa falta de habilidade em alguma área ou
simplesmente temos que descobrir de uma forma dura a ter empatia
com quem não nos ama mais.

23
"Não percam tempo amaldiçoando alguma derrota. O fracasso é um
mestre mais eficaz do que o sucesso. Ouçam, aprendam, insistam" -
Clarissa Pinkola Estés, em Mulheres que correm com os lobos

Como exercer o bem comum - um dos grandes direcionamentos


estoicos, se não conseguimos cuidar de nós mesmos? Se estamos
doentes, vamos ao médico, investigamos o assunto, mudamos a
alimentação etc. Por que, então, quando o assunto é ter uma mente sã,
conseguimos ser tão negligentes?

Pensamos no ego, muitas vezes, apenas como algo que nos coloca em
uma falsa posição de superioridade. É, porém, uma obra do ego
também a autodepreciação. É apegar-se a uma história que já é
passado, é achar que a nossa dor tem mais valor do que a dor do outro.

Façamos, então, como Sêneca e nos tornemos amigos de nós mesmo


nesse processo todo de desenvolvimento pessoal que é a vida, aceite as
adversidades intransponíveis e não perca tempo amaldiçoando as suas
derrotas. Viremos a chave, com empatia com nós mesmos e com os
outros.

"Que progresso, você pergunta, eu fiz?


Eu comecei a ser um amigo de mim
mesmo" - Sêneca

24
No momento exato no qual nos encontramos em um grande dilema ou
no meio de uma dor, tendemos mesmo a ficar míopes. Mas é preciso
dar um passo atrás para visualizar melhor a situação, em um contexto
mais amplo. Sêneca nos apresenta quase uma oração sobre os tempos
difíceis:

"Dê-me coragem para enfrentar dificuldades; me acalme em face do


inevitável. Amplie os estreitos limites de tempo que me é atribuído.
Mostre-me que o bem na vida não depende do comprimento da
vida, mas do uso que fazemos dela".

Ryan Holiday, em seu livro The obstacle is the way, afirma:

"Sempre há um movimento contrário, sempre há uma fuga ou uma


saída, então não há razão para se preocupar. Ninguém disse que
seria fácil e, claro, as apostas são altas, mas o caminho está aí para
quem está pronto para percorrê-lo"- Ryan Holiday.

O nosso estudo e prática da filosofia estoica deve ser constante, mais


ainda nos momentos nos quais nos sentimos fragilizados. É aí que
devemos voltar - num eterno retorno - aos seus princípios, como
estes: o obstáculo é o caminho e a nossa percepção dos
acontecimentos é o que de fato é válido (não a situação em si). Marco
Aurélio traz esses ensinamentos em diversos momentos, de diversas
formas, como no trecho a seguir.

"Escolha não ser ofendido - e você não se sentirá ofendido. Não se


sinta ofendido - e você não terá sido" - Meditações, 4.7

Esse é o nosso poder. Esse é o caminho para nos tirar do sentimento de


impotência: a nossa percepção e a nossa decisão consciente de não ser
prejudicado, ferido ou ofendido por uma situação.

25
"Reconheça seu poder" (Holiday). Ou como disse Marco Aurélio:

"Seja como a rocha sobre a qual as ondas quebram. Ela permanece


imóvel, e em torno dela adormece a fúria do mar".

Não vamos nos entregar. Vamos suportar, porque é suportável; e


vamos aceitar, nos reerguer e transformar cada obstáculo no caminho
(mesmo que à primeira vista seja quase impossível acreditar nessa
premissa). Assim, a força do nosso caráter será testada a cada
reviravolta do acaso e, se assim conduzir, sua alma buscará a quietude
mesmo com os golpes do destino. Golpes estes que podem ser
recebidos com equanimidade, caso, como os sábios estoicos, estão
sempre "prevendo os males" (Premeditatio Malorum) com o objetivo
de exatamente de - aceitar e se preparar para as reviravoltas do acaso,
que não são mais nada do que naturais.

"Cada dificuldade na vida nos oferece uma oportunidade para nos


voltarmos para dentro de nós e recorrermos aos nossos recursos
interiores escondidos ou mesmo desconhecidos. As provações que
suportamos podem e devem nos revelar quais são as nossas forças" -
Epicteto.

Pratique a excelência da sua mente diariamente, fortalecendo-a a cada


obstáculo, dor, encruzilhada.

26
4. A vida é um banquete: aproveite a sua

porção

Se a vida é um banquete, qual é a nossa porção - e como viver bem


com ela? Epicteto nos presenteia com uma metáfora sobre um
banquete para falar sobre moderação, aceitação e gratidão.

Epicteto

O filósofo e mestre estoico


Epicteto nasceu escravo por
volta de 55 d.C., em
Hierápolis (atual Turquia), e
faleceu possivelmente em
135 d.C em Nicópolis. Ainda
jovem foi para Roma e ficou
a serviço de Epafrodito, que,
percebendo o seu potencial,
o encaminhou para aprender
com Caio Musônio Rufo.

27
“Epicteto tornou-se o mais aclamado de todos os alunos de Musônio
Rufo e acabou sendo libertado da escravidão” – Sharon Lebell.

Epicteto ensinou em Roma até 94 d.C., quando os filósofos foram


banidos por Domiciano. Ideia que parece ultrapassada e absurda, se o
conhecimento – de uma forma ou de outra – não continuasse a ser
perseguido até hoje. O filósofo, então, fundou sua escola em Nicópolis,
e inspirou Marco Aurélio – o futuro imperador e autor de Meditações.
São ciclos de ensinamentos e aprendizagem que percorrem a filosofia
estoica.

Epicteto – que de forma tão brilhante descreve a dicotomia do


controle, entre outros ensinamentos – não deixou escritos seus. A sua
filosofia permanece pelas obras: “Encheirídion de Epicteto” (“Manual
de Epicteto”) e as Diatribes (ou Discursos), ambas editadas por Lúcio
Flávio Arriano.

"Lembre-se: a verdadeira essência do bem só pode ser encontrada


nas coisas que estão sob seu controle. Se você tiver sempre isso em
mente, ficará muito menos vulnerável à falsa inveja ou à sensação
de abandono comparando-se desprezivelmente aos outros e às suas
realizações" - Epicteto.

Ou como descrito na famosa citação de Theodore Roosevelt: "a


comparação é a ladra da alegria". Segundo Epicteto, em outro trecho
em seu Manual, não está sob seu controle: "o corpo, as posses, a
reputação, os cargos públicos ― em suma: tudo quanto não seja ação
nossa". Como então invejar o que é do outro - e mais ainda - o "ser"
do outro?

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"Pare de aspirar a ser outra coisa além
do melhor de você mesmo. Porque isso
está sob seu controle" - Epicteto

É, no mínimo, sem razão. Com o que você tem - corpo, posses,


reputação - aja no que você pode agir.

"Sua felicidade depende de três coisas que estão todas sob o seu
poder: sua vontade, suas ideias a respeito do acontecimento em que
está envolvido e o uso que você faz de suas ideias" - Epicteto.

Um banquete

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Epicteto afirma, em um de seus ensinamentos, que devemos encarar a
vida como um banquete:

“quando lhe passarem as travessas, pegue-as e sirva-se de


quantidades moderadas. Se uma travessa não lhe for passada,
saboreie o que já está no seu prato. Ou, se a travessa não chegou a
suas mãos, espere pacientemente a sua vez”.

A partir de uma metáfora simples, o filósofo estoico centra o seu


ensinamento na moderação, na aceitação e na gratidão.

A Moderação ou Temperança é uma das quatro virtudes cardeais


(principais) do Estoicismo, juntamente com a Sabedoria, a Coragem e
a Justiça. Ter Temperança é aplicar a moderação quanto aos desejos. É
a harmonia e a boa disciplina em relação aos prazeres e dores. É um
acordo para ser racional e cauteloso. Assim, a moderação é a virtude
aplicada às nossas escolhas. A Moderação nos mostra que precisamos
fazer as escolhas certas em nossa vida, selecionando apenas a justa
medida - nem mais, nem menos.

Epicteto - no trecho acima - fala que o que formos comer, devemos


saborear, porém, se ainda não chegou a nossa vez de ser servidos,
devemos ter paciência. Assim, o filósofo nos ensina sobre a gratidão e
sobre a aceitação.

Em outra citação estoica, agora do imperador-filósofo Marco Aurélio,


também nos leva ao sentido de gratidão:

"Trate o que você não tem como inexistente. Observe o que você tem,
as coisas que você mais valoriza, e pense o quanto você as desejaria
se não as tivesse" - Marco Aurélio

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A citação de Marco Aurélio é um antídoto contra a inveja e um remédio
para alcançar a gratidão. E se não fosse uma opção (porque não é)
desejar o que você não tem? Aqui se fala sobre o fato de desejar o que
está hoje fora do seu controle, fora de sua ingerência. É irracional ficar
sofrendo por "querer" essas coisas. "Trate o que você não tem como
inexistente" e sem dúvida sua vida será mais leve!

E mais: será que na verdade você já não tem o suficiente do que


realmente importa? "Observe o que você tem, as coisas que você mais
valoriza". Observe o seu caráter, observe o amor e a gentileza que você
pode oferecer, observe os mestres que passaram por sua vida e o que
ensinaram a você, observe os amigos que estenderam a mão de
variadas formas, observe um olhar carinhoso de alguém de sua
família. E se você não tivesse mais nenhuma dessas coisas? "Pense o
quanto você as desejaria se não as tivesse".

Não apenas “não deseje”, mas nem traga à mente o que está
totalmente fora do seu controle. Trate como inexistente! E na mesma
medida, que tal observar com um olhar de contentamento tudo o que
você possui hoje? Voltando à metáfora do banquete, o que tem servido
em sua vida? Agradeça. O que não tem? Aceite. O que ainda pode
chegar? Tenha paciência e foque no processo e não no resultado.

“Mantenha a mesma atitude de contenção e gratidão delicadas no


trato com seus filhos, cônjuge, carreira e finanças. Não há
necessidade de ansiar por alguma coisa, invejar ou apoderar-se seja
do que for. Você receberá sua devida porção quando chegar a sua
vez”.

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Ainda sobre a atitude de gratidão, Sêneca nos alerta que a gratidão é
um benefício para nós mesmos. Uma atitude que carrega a sua
recompensa em si, na própria realização.

"Devemos tentar por todos os meios ser o mais grato possível. Pois a
gratidão é uma coisa boa para nós mesmos, num sentido em que a
justiça, que comumente se supõe diz respeito a outras pessoas, não o
é; a gratidão retorna em grande medida a si mesma. Não há um
homem que, quando tenha beneficiado o seu próximo, não se tenha
beneficiado (...) a recompensa por todas as virtudes está nas próprias
virtudes. Pois elas não são praticadas com vista a recompensa; o
salário de uma boa ação é tê-la executado".

Gratidão é uma palavra que, de tão batida, parece muitas vezes


esvaziada de sentido. Precisamos, então, recuperar o sentido de
gratidão dos estoicos.

"Mas o que é gratidão? Algumas pessoas pensam que é agradecer


por tudo de bom que você tem na sua vida. Outros encaram a
gratidão como o ato de reconhecimento do que as pessoas fazem por
você ou o que você admira nos outros. Enquanto os estoicos teriam
concordado que tudo isso é importante, eles praticavam uma forma
um pouco diferente de gratidão. Uma forma mais inclusiva e
contraintuitiva. Não é apenas sobre agradecer o que é bom, mas por
tudo em sua vida"- Ryan Holiday

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Não é "natural" agradecer por tudo considerado ruim que aconteceu
em nossas vidas. Mas devemos lembrar de tonar “os obstáculos no
caminho”. Para cada dificuldade, fracasso, queda e perda, há a
possibilidade de um novo aprendizado. Dos amigos, vão ficar os mais
alinhados com os nossos valores. Dos projetos, permanecem aqueles
que realmente nos dedicamos. Na nossa vida, enfim, as virtudes que
escolhemos aprimorar!

Ao observar sua vida após um acidente que ele acreditava ser


incapacitante, o médico Oliver Sacks afirma:

"nas longas horas que se seguiram, fui assaltado por memórias, boas
e más. A maioria delas continha a sensação de gratidão: pelo que
recebi dos outros, e também por eu ter sido capaz de dar alguma
retribuição".

Quarenta anos após o acidente, Sacks continuava a agradecer: "estou


feliz por não estar morto!". Este é o nosso "fio de prata" em um céu
cheio de nuvens, como a expressão em inglês indica (silver lining).
Estamos vivos! É daí que começamos a agradecer.

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"Sou grato por ter vivenciado muitas
coisas - algumas fascinantes, outras
horríveis - e por ter sido capaz de
escrever uma dúzia de livros, de
receber incontáveis cartas de amigos,
colegas e leitores e de desfrutar do que
Nathaniel Hawthorne chamou de 'um
intercurso com o mundo'".

Não podemos desejar o "banquete" de outra pessoa. Acredite: nessa


ceia, por maior e mais variada que pareça, também apresentará faltas,
atrasos e “alergias alimentares”. Nada é perfeito e ninguém tem tudo,
o que pode mudar é a nossa atitude em relação ao que possuímos e ao
que não possuímos. O “truque” da moderação, da gratidão e da
aceitação faz com que amemos a nossa vida como ela é, assim como
nos aceitemos também assim como somos.

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Sobre a Autora

Lina Távora é uma cearense que mora em Brasília, jornalista fora da redação e
mestre em comunicação/cinema. Escrever é a sua meditação, principalmente
se for sobre filosofia e audiovisual. Seu lugar no mundo é um amanhecer do
sol com café, caderno e lápis.

É formada pela Universidade Federal do Ceará (UFC), mestre em cinema pela


Universidade de Brasília (UnB), fundadora e editora do Coletivo Arte Aberta,
que estuda e dissemina conteúdos sobre gênero e audiovisual, e é criadora e
editora dos Irmãos Estoicos. Desde agosto de 2021, é membro na Nova Stoa.

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Sobre a Nova Stoa

A Nova Stoa é uma fundação sem fins lucrativos, na qual as pessoas se


conectam, praticam e compartilham conhecimento sobre o Estoicismo. O
tema da Nova Stoa de 2022 é Como construir uma vida virtuosa. Para fazer
parte, inscreva-se no link:

https://estoicismopratico.com/nova-stoa-comunidade-de-estoicismo

A Nova Stoa tem em suas estrutura os Núcleos de Práticas Estoicas (NPEs),


as Ágoras e a Rede Social; além da produção de conteúdos de vários formatos
para a difusão do Estoicismo com o intuito de impactar 1 milhão de pessoas
para viverem uma vida mais plena e feliz.

Os Núcleos de Práticas Estoicas (NPEs) são o coração da Nova Stoa. Nos


NPEs não têm aulas, palestras ou outras modalidades de compartilhamento
puramente teórico ou unidirecional, mas sim uma relação de troca na qual
todos ensinam e aprendem ao mesmo tempo. Os núcleos proporcionam um
ambiente seguro, dinâmico e próspero para aprendizado e conexão entre as
pessoas, respeitando a fala dos parceiros, considerando o momento e a
caminhada de cada um. Os encontros dos núcleos acontecem uma vez por
semana, com duração de 1h3o.

A Ágora é um evento periódico voltado aos membros da Nova Stoa. Na Ágora


todos os Núcleos de Práticas Estoicas se encontram para compartilhar os
aprendizados do Estoicismo.

A Rede Social da Nova Stoa é exclusiva sobre filosofia estoica. Faça sua
inscrição e comece a interagir com centenas de interessados por Estoicismo
de todo o Brasil. A entrada é gratuita! Acesse pelo link:
https://novastoa.tribe.so/

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