EBook - Ideias Estoicas para Lidar Com As Emoções
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Sobre a Autora 35
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Como os estoicos lidam com as emoções?
Por mais que no senso comum a palavra “estoico” possa passar a ideia
de uma pessoa sem emoções, sentimentos ou impulsos, não é o que a
filosofia estoica acredita ou dissemina.
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Os estoicos foram os primeiros teóricos da emoção, com várias
nuances, detalhando a complexidade da vida emocional. Eles
descrevem as “proto-emoções” que sentimos e não podemos
controlar.
“De fato, eles distinguiram entre três tipos de emoção: boa, ruim e
indiferente” – Donald Robertson.
“Aprenda a sentir alegria”, afirma Sêneca, mas, mais uma vez, não
uma alegria que depende dos dons da fortuna, de esperanças futuras,
de prazeres efêmeros ou de situações inconstantes.
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“A própria alma deve ser feliz e
confiante, elevada acima de todas as
circunstâncias” - Sêneca
Está dentro de nós, por mais simples que pareça. Está em aceitar as
coisas como elas acontecem, manter a tranquilidade e ao mesmo
tempo transformá-las da melhor forma possível a nosso favor. É
seguir esse caminho, sem muito zigue-zague.
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As emoções não saudáveis eram chamadas pelos estoicos de paixões,
que englobavam desejos e emoções. Ser Estoico não é não ter emoções,
não é suprimi-las ou muito menos ignorá-las. É identificá-las em seu
surgimento e, se for o caso de serem prejudiciais (paixões),
transformá-las em emoções saudáveis (eupatheiai) – o que era um
importante passo do treinamento em Estoicismo. É importante pensar
e praticar essa diferença entre substituir uma emoção de tentar
reprimi-la. Reprimir um sentimento não resolve nada.
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É preciso examinar, investigar, indagar por que certo sentimento ruim
ocorre, de onde ele vem e o que ele pode nos ensinar. Assim, com essa
prática ficará mais fácil o caminho da substituição das emoções ruins
pelas boas.
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“Porque quando você ganha este certo tempo, quando reflete
antes de reagir, você irá notar que se torna mais fácil controlar
as próprias emoções” - Epicteto
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“Na Grécia antiga, o termo usado para definir o mais alto grau de
felicidade humana era eudaimonia, que basicamente significa ‘ser
habitado por um bom daimon’, ou seja, ter uma espécie de guia
espiritual criativo divino tomando conta de você” - Elizabeth gilbert,
em A grande Magia
Viver uma vida com eudaimonia é viver uma vida com virtudes, com
excelência, com a busca da Coragem, da Justiça, da Sabedoria e da
Temperança - as virtudes cardeais do Estoicismo. É “viver de acordo
com a natureza” (lema estoico). E a natureza humana é social e
racional.
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Viver uma vida com eudaimonia é incompatível com o desejo pelo que
não temos ou pela vontade de querer controlar ou modificar o que não
está sob a nossa gerência. Assim, a “felicidade estoica” vem de uma
vida livre de desejos, de dor, de tristeza ou medo. É uma vida livre de
paixões doentias (emoções ruins).
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“Lembre-se: a única coisa que você controla é você mesmo. À
medida que você aprende a buscar um bom fluxo de vida, olhe
primeiro para suas próprias escolhas, antes de julgar as ações dos
outros”- Matthew Van Natta, em The beginner’s guide to stoicism
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Apatheia, então, é a quietude advinda do controle ou troca de emoções
ruins por boas. É a paz de não se deixar levar por paixões prejudiciais.
E é, assim, um constitutivo imprescindível para uma vida boa.
Então, não devemos nos sentir menos estoicos por vivenciar emoções
– e muito menos acreditar que ser estoico é simplesmente endurecer
para a vida. Suportar é diferente de endurecer! Quando pensamos em
endurecer nesse contexto, pensamos em se fechar ao mundo, aos
sentimentos e a nós mesmos.
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Ser forte é ter autoconhecimento,
autodomínio e resiliência. É acreditar
que ao nos conhecermos podemos
identificar (e não negar) as paixões em
seus primeiros estados (protoemoções).
Não deixe de sentir, não negue as perdas
e as dores que o destino nos entrega.
Identifique, aceite, transforme cada
paixão em um sentimento saudável!
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2. Como manter a calma
Epicteto, o filósofo que foi servo durante boa parte de sua vida e
depois tornou-se um mestre estoico, tem uma passagem que descreve
bem essa relação entre o que vivenciamos externamente, sem
expectativas irreais, e como devemos responder internamente,
mantendo a nossa mente calma.
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"Quando você está a ponto de realizar uma ação, recorde-se que tipo
de qualidade ela é. Se você vai aos banhos, coloque ante a sua mente
o que acontece no banho – a água se despejando sobre alguns,
outros sendo atirados nela, outros resmungando, outros roubando; e
você então estará atuando de forma mais segura se disser
prontamente para si mesmo: 'Eu desejo me banhar e quero manter a
minha vontade em harmonia com a natureza'. E assim, faça o
mesmo com todas as coisas que você vier a realizar. Desta forma, se
algo vier a prejudicá-lo no decorrer do seu banho, você estará pronto
para dizer: 'Eu não queria apenas me banhar, mas manter a minha
vontade em harmonia com a natureza; e não serei capaz de fazer
isso se perder o meu controle emocional com isto que está
acontecendo” – Epicteto, O manual para a vida
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fatores externos ou de atitudes de pessoas que nos deparamos em
nossos dias.
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Ao trabalharmos com esse processo de previsão, treino e aceitação,
passamos por três conceitos importantes do Estoicismo: 1) Viver de
acordo com a natureza, Premeditatio Malorum e Amor Fati .
Viver de acordo com a natureza é o lema estoico, que nos ensina que
somos seres racionais e sociáveis. Se somos racionais, podemos levar
as nossas impressões à razão e compreender que nada acontece para
nos prejudicar, mas porque simplesmente as coisas ocorreram
daquele jeito. Se somos seres sociais, sendo criados para o bem
comum, não adianta querer se isolar ou não compreender que as
pessoas são como são porque não sabem, como colocou Marco Aurélio
na citação anterior, distinguir o bem do mal.
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"A preparação mental é crucial para
manter a calma e não permitir que
aborrecimentos previsíveis perturbem
nossa serenidade e equilíbrio interior"
– Pigliucci e Lopez, A handbook for
new stoics
O Amor Fati é a aceitação do destino exatamente como ele é. É o
exercício de aprender a não ser simplesmente levado pelos fatos
externos, mas admiti-los como são e, a partir daí, tomar as ações que
cabem a nós - sempre com Justiça, Sabedoria, Coragem e Temperança.
Euthymia
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“O que tu queres, pois, é grande, de máxima importância e próximo
de um deus: não ser abalado. Os gregos chamam este estado estável
da alma de euthymia” – Sêneca, Da tranquilidade da alma
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“Para suportar todas as coisas, somos iguais; ninguém é mais frágil
do que outro, ninguém mais seguro de sua própria vida” – Sêneca,
Carta 91
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3. Do outro lado dos obstáculos:
impedimento em ação
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Para isso, o primeiro passo seria alterar a nossa percepção dos
obstáculos. “Nossa percepção pode ser uma fonte de força ou de
grande fraqueza”. Para enxergar as oportunidades nos obstáculos, o
autor propõe que, diante das dificuldades, tentemos:
1. Ser objetivo;
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Fracassos como lições de vida
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A filosofia não é para as horas vagas. Devemos nos dedicar ao seu
estudo diariamente. Pois é esse o caminho para uma mente sã. Mas,
vale ressaltar, o que buscamos com a Filosofia estoica não é uma
felicidade superficial de prazeres vãos. Os estoicos não negam as dores
presentes na vida, mas acreditam que devemos trabalhar com
dedicação para que percebamos os eventos de forma mais tranquila
possível. E mais: para que sejamos capazes de sair melhores a cada
obstáculo.
Muitas vezes, as situações mais difíceis são as que mais nos ensinam:
sobre a vida e sobre nós mesmos. Fracassos, derrotas... São desses
momentos que podemos tirar os nossos mais profundos
ensinamentos. Não há então porque ficar remoendo o sentimento do
fracasso, é preciso virar a chave o mais rápido possível, é preciso
transformar o obstáculo no caminho.
Pode ser uma promoção de trabalho que não foi alcançada, uma nota
baixa em uma prova, a reprovação no vestibular ou mesmo um
coração partido. Tudo é material para a própria vida! Aprendemos
humildade, descobrimos nossa falta de habilidade em alguma área ou
simplesmente temos que descobrir de uma forma dura a ter empatia
com quem não nos ama mais.
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"Não percam tempo amaldiçoando alguma derrota. O fracasso é um
mestre mais eficaz do que o sucesso. Ouçam, aprendam, insistam" -
Clarissa Pinkola Estés, em Mulheres que correm com os lobos
Pensamos no ego, muitas vezes, apenas como algo que nos coloca em
uma falsa posição de superioridade. É, porém, uma obra do ego
também a autodepreciação. É apegar-se a uma história que já é
passado, é achar que a nossa dor tem mais valor do que a dor do outro.
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No momento exato no qual nos encontramos em um grande dilema ou
no meio de uma dor, tendemos mesmo a ficar míopes. Mas é preciso
dar um passo atrás para visualizar melhor a situação, em um contexto
mais amplo. Sêneca nos apresenta quase uma oração sobre os tempos
difíceis:
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"Reconheça seu poder" (Holiday). Ou como disse Marco Aurélio:
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4. A vida é um banquete: aproveite a sua
porção
Epicteto
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“Epicteto tornou-se o mais aclamado de todos os alunos de Musônio
Rufo e acabou sendo libertado da escravidão” – Sharon Lebell.
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"Pare de aspirar a ser outra coisa além
do melhor de você mesmo. Porque isso
está sob seu controle" - Epicteto
"Sua felicidade depende de três coisas que estão todas sob o seu
poder: sua vontade, suas ideias a respeito do acontecimento em que
está envolvido e o uso que você faz de suas ideias" - Epicteto.
Um banquete
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Epicteto afirma, em um de seus ensinamentos, que devemos encarar a
vida como um banquete:
"Trate o que você não tem como inexistente. Observe o que você tem,
as coisas que você mais valoriza, e pense o quanto você as desejaria
se não as tivesse" - Marco Aurélio
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A citação de Marco Aurélio é um antídoto contra a inveja e um remédio
para alcançar a gratidão. E se não fosse uma opção (porque não é)
desejar o que você não tem? Aqui se fala sobre o fato de desejar o que
está hoje fora do seu controle, fora de sua ingerência. É irracional ficar
sofrendo por "querer" essas coisas. "Trate o que você não tem como
inexistente" e sem dúvida sua vida será mais leve!
Não apenas “não deseje”, mas nem traga à mente o que está
totalmente fora do seu controle. Trate como inexistente! E na mesma
medida, que tal observar com um olhar de contentamento tudo o que
você possui hoje? Voltando à metáfora do banquete, o que tem servido
em sua vida? Agradeça. O que não tem? Aceite. O que ainda pode
chegar? Tenha paciência e foque no processo e não no resultado.
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Ainda sobre a atitude de gratidão, Sêneca nos alerta que a gratidão é
um benefício para nós mesmos. Uma atitude que carrega a sua
recompensa em si, na própria realização.
"Devemos tentar por todos os meios ser o mais grato possível. Pois a
gratidão é uma coisa boa para nós mesmos, num sentido em que a
justiça, que comumente se supõe diz respeito a outras pessoas, não o
é; a gratidão retorna em grande medida a si mesma. Não há um
homem que, quando tenha beneficiado o seu próximo, não se tenha
beneficiado (...) a recompensa por todas as virtudes está nas próprias
virtudes. Pois elas não são praticadas com vista a recompensa; o
salário de uma boa ação é tê-la executado".
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Não é "natural" agradecer por tudo considerado ruim que aconteceu
em nossas vidas. Mas devemos lembrar de tonar “os obstáculos no
caminho”. Para cada dificuldade, fracasso, queda e perda, há a
possibilidade de um novo aprendizado. Dos amigos, vão ficar os mais
alinhados com os nossos valores. Dos projetos, permanecem aqueles
que realmente nos dedicamos. Na nossa vida, enfim, as virtudes que
escolhemos aprimorar!
"nas longas horas que se seguiram, fui assaltado por memórias, boas
e más. A maioria delas continha a sensação de gratidão: pelo que
recebi dos outros, e também por eu ter sido capaz de dar alguma
retribuição".
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"Sou grato por ter vivenciado muitas
coisas - algumas fascinantes, outras
horríveis - e por ter sido capaz de
escrever uma dúzia de livros, de
receber incontáveis cartas de amigos,
colegas e leitores e de desfrutar do que
Nathaniel Hawthorne chamou de 'um
intercurso com o mundo'".
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Sobre a Autora
Lina Távora é uma cearense que mora em Brasília, jornalista fora da redação e
mestre em comunicação/cinema. Escrever é a sua meditação, principalmente
se for sobre filosofia e audiovisual. Seu lugar no mundo é um amanhecer do
sol com café, caderno e lápis.
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