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Cadeias Produtivas
em Medicina Veterinária
Sumário
Capítulo 1 – Cadeias Produtivas em Medicina Veterinária.................................................... 06
1.8 Cadeias de menor expressão: produtos da ovino e caprinocultura, pescado e mel .... 23
04
Capítulo1CADEIAS PRODUTIVAS EM
MEDICINA VETERINÁRIA
Introdução
Apostamos que, neste momento, você tem algumas perguntas: o que são essas cadeias
produtivas? E por que elas são discutidas no curso de medicina veterinária? Esperamos que,
ao final desta unidade curricular, você tenha boas respostas para essas questões! De fato, as
cadeias produtivas são um tema bastante interessante e importante para o veterinário e seu
estudo implica em uma visão muito mais sistêmica da sua formação e de seu futuro trabalho,
pois coloca em contexto tópicos como a criação e a produção animal; a saúde pública; a gestão
de propriedades rurais e o mercado de alimentos.
Se pensarmos que a população mundial está crescendo a uma taxa acelerada e que a
expectativa de vida das pessoas também está aumentando, somos obrigados a encarar a
alarmante previsão da FAO (Figura 1) de que atingiremos uma população de 11.2 bilhões de
pessoas em 2100!
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Cadeias Produtivas em Medicina Veterinária
World Population
Projected world population until 2100
O site do Fórum Mundial Econômico mostra gráficos animados sobre o crescimento populacio-
nal de diversos países, inclusive do Brasil, até 2060. Visite https://www.weforum.org/agen-
da/2016/09/the-countries-with-the-biggest-populations-from-1950-to-2060/.
Essa dúvida existe há mais de 200 anos. Em 1798, Thomas Robert Malthus afirmou que nosso
crescimento como população humana estava condenado, pois a população cresceria em
progressão geométrica e a produção de alimentos, em progressão aritmética (SACHS, 2008),
como você deve ter aprendido nas aulas de história ou de matemática no ensino médio.
Acontece que, se você olhar à sua volta, vai ver que a previsão malthusiana parece não ter
se concretizado, não é? Segundo a FAO, órgão da Organização das Nações Unidas para a
Alimentação e Agricultura:
Mas esse progresso não pode ser olhado de forma ingênua, por no mínimo três aspectos.
Em primeiro lugar, o progresso tem impactos ambientais muito sérios. Segundo Nesheim et al.
(2015),
A intensificação contínua da produção agrícola tem tido efeitos particularmente notáveis sobre o
ambiente [...]. A produção agrícola intensiva se tornou altamente eficiente, o que reduz os custos
por unidade de produto (e, possivelmente, também reduz os custos para o consumidor), além de
alterar o impacto ambiental por unidade de produção [...]. Por outro lado, altas concentrações
de animais [...] podem levar a questões regionais relativas à qualidade do ar e água se os
resíduos animais não forem adequadamente geridos.
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Cadeias Produtivas em Medicina Veterinária
Essa definição é um pouco redundante, não é? A segurança alimentar é, entre outras coisas,
garantir alimentos seguros... Como isso funciona? Na verdade, existem duas definições
importantes e relacionadas, uma dentro da outra. A segurança alimentar (food security)
pode ser definida como segurança quantitativa, ou seja, o acesso a alimentos em quantidade
suficiente. Mas esses alimentos também têm que ser seguros da perspectiva da qualidade – não
podem causar doença nem estar deteriorados. Daí, temos a segunda definição, food safety, a
segurança qualitativa dos alimentos.
Entretanto, precisamos ter em mente que não só as cadeias produtivas altamente estruturadas
garantem a resposta ao suprimento necessário de alimentos para o Brasil e para o mundo.
Como veterinários, também temos que ter em mente a importância da agricultura familiar e
trabalhar para aplicar os conceitos de eficiência e produtividade das cadeias produtivas a
esse setor.
A agricultura familiar responde por boa parte da produção de alimentos do país, destinando
quase a totalidade de sua produção ao mercado interno, contribuindo fortemente para garantir
a segurança alimentar e nutricional dos brasileiros [...]. O fortalecimento da agricultura familiar
e do agroextrativismo é estratégico para a soberania e segurança alimentar e nutricional da
população (CONSEA, 2010, p. 10).
AGUIAR, D.; TURA, L. Cadeia industrial da carne: Compartilhando ideias e estratégias sobre o
enfrentamento do complexo industrial global de alimentos. Rio de Janeiro: FASE – Federação
de Órgãos para Assistência Social e Educacional, 2016, p. 29-31. Disponível em: <https://
fase.org.br/pt/acervo/biblioteca/cadeia-industrial-da-carne/>. Acesso em: 20 abr. 2018.
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Cadeias Produtivas em Medicina Veterinária
Mas qual é esse trabalho que o veterinário executa na interface com as cadeias produtivas
e o agronegócio? Como veterinários, nós nos reconhecemos mais claramente no contato direto
com os animais e, quando pensamos na produção de alimentos, nos vemos dentro das fazendas
cuidando para que os processos de criação e produção de animais sejam adequados. Mas não
podemos nos limitar a isso! Em um trabalho de 1995, no auge do desenvolvimento do conceito
de agronegócio no Brasil, Batalha afirmava:
Contar somente com uma agropecuária forte como forma de garantir o abastecimento interno e
gerar divisas é um erro estratégico que o Brasil não pode cometer. O alimento deve ser produzido,
industrializado e, finalmente, encaminhado até as mãos do consumidor. Qualquer disfunção em
uma dessas etapas básicas compromete todo o esquema de abastecimento alimentar e de
competitividade para o setor. Cabe acrescentar que esse alimento deve ainda ser produzido em
padrões competitivos, que assegurem sua qualidade organoléptica, nutricional, bem como sua
capacidade de atender às necessidades e peculiaridades do consumidor brasileiro (BATALHA,
1995a, p. 322).
VOCÊ SABIA...
O que faz um médico veterinário no agronegócio?
Se você quiser saber mais sobre o trabalho do veterinário no agronegócio, leia a entrevista
com o veterinário Guilherme Vieira no site do Instituto Qualittas: http://www.qualittas.com.br/
blog/index.php/entrevista-o-papel-do-veterinario-no-agronegocio/.
Então, deve ter ficado claro para você que, para poder participar ativamente desse mercado
complexo, importante e mutável, o veterinário tem que se dedicar a entender outros conceitos
além da saúde imediata dos animais. Vamos a esses conceitos!
O veterinário que trabalha com agronegócio e cadeias produtivas lida basicamente com
commodities e com o mercado futuro. “Commodities são ativos negociados sob forma de
mercadorias em bolsa de valores, como, por exemplo, café, soja, açúcar e boi” (SILVA, 2007,
p. 2); elas são matérias-primas agropecuárias (e também matérias-primas minerais ou produtos
financeiros) compradas e vendidas em uma bolsa de valores especial, a Bolsa de Mercadorias
e Futuros (BM&F) (Figura 3).
Assim, você, aluno de veterinária, deve entender que as commodities que são produzidas
nas fazendas não são vendidas diretamente para o consumidor final, principalmente quando
pensamos no agronegócio e na negociação de grandes volumes de produto, que é uma das
realidades do seu futuro trabalho. Por outro lado, em condições de venda local da agricultura
familiar, os produtos das cadeias produtivas podem ser adquiridos pelo consumidor final
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Cadeias Produtivas em Medicina Veterinária
diretamente do produtor, e esse é outro cenário de trabalho do veterinário. Vamos, a seguir,
pensar um pouco em como unificar os conceitos das cadeias produtivas para que você possa
utilizá-los no futuro em qualquer que seja o seu trabalho.
De qualquer forma, deve ficar claro que para que os produtos de origem animal cheguem
ao consumidor final, eles devem passar por vários elos das diferentes cadeias produtivas,
por várias etapas de agregação de valor, para, finalmente, serem vendidos no formato que
interessa ao consumidor.
VOCÊ SABIA...
Qual é a importância do seu perfil profissional?
Veja o vídeo em que Mario Otávio Batalha mostra a importância do perfil profissional para
quem trabalha no campo e no agronegócio: https://www.youtube.com/watch?v=6RDPY_WM-
vhA.
Agricultores
Processadores Comerciantes Comerciantes
Fornecedores Sistemas Mercado
de insumos Produtivos Agroindustrias Atacadistas Varejistas Consumidor
1,2,3... n
Ambiente Organizacional: Órgãos de Governo, Instituições de Crédito, Empresas de Pesquisa, Agências Credenciadas, ...
O que vemos na Figura 4? Vemos que a cadeia produtiva pode ser dividida em três partes:
(a) produção de matérias-primas (a agropecuária propriamente dita); (b) industrialização e
processamento; e (c) a comercialização (distribuição) (BATALHA, 1995a e 1995b), isto é, os três
setores de uma cadeia produtiva: os setores primário, secundário e terciário (Figura 5).
Transporte
Nutrição
Rastreabilidade
Comercialização Consumo
Abate
Criação
Sanidade
animal
PROPRIEDADE RURAL
AGROINDÚSTRIA
CONSUMIDOR
Pastagem
Processamento
Melhoramento Bem-estar
genético Distribuição
Figura 5 – Apresentação da cadeia produtiva da carne dividida nos três grandes setores.
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Cadeias Produtivas em Medicina Veterinária
A visão do agronegócio, por meio de cadeias produtivas, leva a uma análise do sistema como
um todo e faz com que os profissionais envolvidos nesse trabalho tenham foco na busca por
maior eficiência; na avaliação das práticas para redução de custos e prazos de entrega; na
eliminação de atividades supérfluas e na qualidade, produtividade e na eficiência do negócio
(SILVA, 2007). Deve ficar claro que essa busca é válida tanto quando se pensa no agronegócio
quanto quando se considera a agricultura familiar.
E é por isso que, nesta unidade curricular, queremos dar a você, aluno, uma visão clara do
trabalho nos diversos setores das cadeias produtivas. Primeiro, vamos compreender como o
trabalho se dá nos diferentes setores das cadeias: primário, secundário e terciário e depois
vamos apresentar uma visão sistematizada das principais cadeias produtivas com as quais o
veterinário pode trabalhar.
As questões relativas ao setor primário das cadeias produtivas serão abordadas em detalhes
em várias outras unidades curriculares, como Criação e produção animal I e II; Nutrição animal;
Biotecnologia e reprodução animal; e Clínica de aves e suínos, no nosso currículo.
Figura 7 – Cortes comerciais de carne bovina que podem ser encontrados pelo consumidor em
açougues e supermercados.
Fonte: https://bonsmara.org.br/blog/2016/01/22/confira-os-tipos-mais-comuns-de-cortes-
de-carne-bovina-onde-sao-retirados-do-boi-e-opcoes-de-prato/.
Nesse setor, também se transforma o leite cru em leite pasteurizado e produtos lácteos dos mais
variados tipos, e o pescado é limpo e transformado em filés, postas e nuggets. As variações
são muitas, sempre em busca da garantia da preservação e da qualidade dos alimentos.
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Cadeias Produtivas em Medicina Veterinária
O trabalho do veterinário no setor secundário pode acontecer em duas frentes: no órgão
oficial de fiscalização, o Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA), dentro de
abatedouros, frigoríficos, laticínios e entrepostos, e nas indústrias processadoras de carne, leite,
ovos e mel, cuidando dos processos ou do controle de qualidade.
As questões relativas ao setor secundário das cadeias produtivas serão abordadas em detalhes
em outras unidades do nosso currículo, Tecnologia de produtos de origem animal e higiene; e
Inspeção de produtos de origem animal.
O setor terciário faz a interface com o consumidor final. Nesse setor, os produtos processados
são adquiridos diretamente pelo consumidor ou por supermercados e restaurantes que, por sua
vez, vendem ao consumidor. Os produtos podem ser comprados por comerciantes atacadistas
ou varejistas e o consumidor final pode ser local, nacional ou internacional. O trabalho do
veterinário aqui também está na inspeção nos vários locais de venda e consumo de alimentos;
nesse caso, feito pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária, e como responsável técnico em
supermercados e restaurantes.
As questões relativas ao setor terciário das cadeias produtivas serão abordadas em detalhes
em outras unidades curriculares, como Programa de integração saúde comunidade, Higiene
e inspeção de produtos de origem animal, Zoonoses, Sanidade animal e Saúde coletiva em
medicina veterinária.
Além das oportunidades individuais de trabalho que o conhecimento das cadeias produtivas
pode gerar, por que mais seria importante analisar em detalhes as cadeias produtivas? Esta é
uma questão importante que já foi discutida por Batalha, em 1995. No trecho citado acima, o
autor fala que não podemos pensar a agropecuária e suas atividades apenas como uma forma
de aumentar o produto interno bruto (PIB) do Brasil.
O que regula a relação entre os três setores é uma ligação entre oferta e demanda. Quanto
comemos daquele produto no Brasil e no mundo? Ou, em outras palavras, qual é a demanda
O nosso setor primário, nas diferentes áreas, tem inúmeras variáveis históricas. Vejamos dois
exemplos:
•• O primeiro exemplo tem a ver com a relação histórica entre os brasileiros e a carne. O
consumo de carne sempre foi considerado algo significativo em termos de status no Brasil.
Dessa forma, o mercado de carne sempre foi importante desde a nossa colonização, e a
atividade de criação de bovinos de corte seguiu o mesmo padrão, sempre importante,
crescendo até atingir o tamanho que tem hoje.
Então o setor primário tem uma forte influência histórica na sua composição. E os outros
setores?
Vamos dar uma olhada nessas várias cadeias para entender qual é a diferença entre elas e
como podemos melhorar o fluxo de produtos e capital da fazenda para o consumidor e vice-
versa?
A cadeia da carne bovina é efetivamente a mais importante que temos no Brasil. Em números
de 2016, ela envolve 192 milhões de cabeças de gado, com 80% da produção atendendo a
demanda interna e 20% indo para a exportação (ANUALPEC, 2017).
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Cadeias Produtivas em Medicina Veterinária
O tipo de produtor no setor primário é variável e, por isso, não existe um padrão de qualidade
oficial para a carne bovina. Você sabe disso porque como consumidor já comprou picanhas
extremamente macias e suculentas, vindas de novilhos precoces de raças europeias altamente
selecionadas e também picanhas duras, com grande capa de gordura, vindas de animais velhos,
gado de leite ou de animais de raças indianas, sem grande seleção. Apesar da variedade em
qualidade, o número de animais atende a nossa demanda, tanto interna quanto externa.
Setor primário:
Produtores com
qualidade variada
Setor secundário:
Organizado para
responder à
grande demanda
interna e externa
Setor terciário:
Grande demanda,
80% interna e
20% externa
A diferença entre essas duas cadeias é o tamanho da demanda do consumidor final. Enquanto
o consumo por habitante da carne de frango é de 42,6kg por ano, para a carne suína é de
14,6 kg, sendo bastante sazonal (maior consumo nas festas de final de ano).
Dessa forma, podemos representar a cadeia de carne suína da seguinte forma (Figura 9).
Setor primário:
Produção é pulverizada em produtores
pequenos e médios, sendo entregue à
empresa integradora. Há produtores
independentes, que não têm interesse
na integração.
Setor secundário:
INTEGRADORA
Organizado para responder
principalmente a variações na
demanda externa, afetando a entrega
dos produtores independentes, que só
atendem a este mercado.
Setor terciário:
Demanda variável e sazonal, é
modificada em função do mercado
externo; 80% da produção atende ao
mercado interno e 20% é exportada.
Figura 9 – Representação esquemática da cadeia produtiva de carne suína, criada pela au-
tora.
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Cadeias Produtivas em Medicina Veterinária
A cadeia de carne de frango, por sua vez, poderia ser representada desta forma (Figura 10).
Setor primário:
Produção é pulverizada em produtores
de médio porte, sendo entregue à
empresa integradora.
Setor terciário:
Demanda constante e forte, 70% interna
e 30% externa.
Podemos considerar a cadeia produtiva de frango de corte como um modelo a ser seguido.
Nela, a integração permitiu que os produtores evoluíssem fortemente em termos técnicos e
conseguissem uniformizar a qualidade do produto, tanto para atender ao mercado interno
quando ao mercado externo. Os padrões de qualidade são bem-definidos pelas integradoras
e pelo setor secundário como um todo e têm, como base, as preferências dos consumidores. A
cadeia produtiva da avicultura de corte, portanto, deve ser olhada por você, futuro veterinário,
como um exemplo de que as mudanças do setor primário são possíveis e viáveis.
A cadeia produtiva da avicultura de postura tem como maior impeditivo ao crescimento a falta
do hábito de consumo de ovos. Ao longo do tempo, essa realidade vem se transformando,
com efeitos diretos sobre o setor primário. Essa cadeia se dedica basicamente ao atendimento
do mercado interno: 98% da produção é para a nossa própria demanda. O consumo por
Se fossemos organizar a cadeia produtiva de ovos em um esquema visual, ela poderia ser
representada como na Figura 11.
Setor primário:
Produção é pulverizada em produtores
pequenos e médios.
Setor secundário:
Atento às demandas do consumidor final.
Setor terciário:
Demanda constante durante o ano.
Quase 100% do produto atende o
mercado interno.
A cadeia produtiva de lácteos é um caso bem específico e diferente das outras cadeias. A
partir dos anos 1990, esse setor produtivo começou a se desmantelar em função dos custos da
produção e entrada de produtos importados. O consumidor se acostumou com a variedade e a
qualidade dos produtos lácteos que passou a encontrar nessa época, mas a baixa produtividade
e a sazonalidade da produção leiteira no setor primário fazem com que os três setores dessa
cadeia produtiva sejam bastante diferentes, e a relação entre eles, muito complicada. De
forma esquemática, temos esse setor na Figura 12.
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Cadeias Produtivas em Medicina Veterinária
Setor primário:
Produção é pulverizada em produtores
pequenos e médios que podem ou não
se unir em cooperativas e têm
diferentes graus de tecnificação.
Setor secundário:
Organizado para atender às demandas
de um mercado interno exigente,
principalmente nos grandes centros.
Apoia-se na importação de leite e
lácteos para atender a esta demanda.
Setor terciário:
Consumo constante, mas apresenta altos
e baixos dependendo da renda dos
consumidores. Os produtos lácteos são
caros e, em tempos de crise, se tornam
supérfluos, afetando o setor secundário,
que repassa seus prejuízos ao setor
primário, achatando-o ainda mais.
As carnes são os produtos de maior expressão das cadeias da ovino e caprinocultura, quando
essa produção é olhada como um todo, pois em algumas regiões, até mesmo no nordeste, o
mercado da carne é quase que inexistente (GOULART; FAVERO, 2011). Para as duas espécies,
temos rebanhos pequenos, bastante regionalizados (17,6 milhões de cabeças de ovinos, com
10,1 milhões na região nordeste e 5,1 milhões na região sul; e 8,85 milhões de caprinos,
basicamente na região nordeste do país) e pouca preferência por essas carnes no país como
um todo (MARTINS et al., 2016). Assim como no caso dos lácteos, o consumo de carne ovina
tem aumentado, principalmente nos grandes centros, por preferências ligadas à crescente
popularização da tendência gourmet. Entretanto, o consumo é ainda muito pequeno para
conseguir dar impulso ao desenvolvimento dos setores primário e secundário. O consumo por
Em uma representação esquemática, a Figura 13 mostra a cadeia produtiva das carnes ovina
e caprina.
Setor primário:
Produção é pulverizada em produtores
pequenos, concentrados no nordeste
(caprinos) e nordeste e sul (ovinos), com
baixo grau de tecnificação.
Setor secundário:
Também pulverizado em pequenas
indústrias que fazem produtos para
distribuição regional. A carne ovina que
atende as necessidades gourmet dos
grandes centros é, na maioria das vezes,
importada, como do Uruguai.
Consumo
regional
Setor terciário: Grandes Nordeste.
Consumo regionalizado com centros;
oportunidades nos grandes centros, mas carne ovina
não são carnes que se tem o hábito gourmet.
diário de consumo. Consumo
regional Sul.
https://www.unicamp.br/unicamp/ju/noticias/2017/04/27/gourmetizacao-na-indu-
stria-de-alimentos-e-simbolica-das-diferencas-sociais.
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Cadeias Produtivas em Medicina Veterinária
A cadeia produtiva do leite caprino é bastante pequena, mas tem possibilidade de crescimento
com base em duas ideias principais: a exploração do leite de cabra como leite saudável e
de maior digestibilidade e o desenvolvimento de derivados lácteos gourmet (tanto para o de
cabra quanto para o leite de ovelha) para grandes centros. Os maiores problemas são o custo
dos produtos e a sazonalidade da produção. Dados de 2002 apresentam o país produzindo
141 mil toneladas de leite por ano, com 26 mil toneladas sendo processadas na indústria
(CORDEIRO e CORDEIRO, 2009). O consumo per capita de queijo de cabra foi de 3,4kg em
2010 (ROHENKOHL et al., 2011). Os poucos dados revelam a incipiência dessa cadeia. A
cadeia produtiva de lácteos da ovinocaprinocultura está representada na Figura 14.
Setor primário:
Produção é pulverizada em produtores
pequenos, com baixo grau de tecnificação,
submetidos à alta sazonalidade da
produção e sem diretrizes de qualidade.
Setor secundário:
Pulverizado em pequenas indústrias e
cooperativas. Produto de qualidade muito
variável. A concorrência dos produtos
importados oferecidos em supermercados
afeta o crescimento do setor.
Setor terciário:
Produtos Consumo
Consumo regionalizado com oportunidades
gourmet. regional.
nos grandes centros, mas preço é
impeditivo ao aumento do consumo.
Setor primário:
Produção é pulverizada em produtores
pequenos pescadores e pequenos e
médios agricultores, espalhados em
atividades e regiões diferentes.
Setor secundário:
Cooperativas e associações e algumas
empresas maiores fazem o processamento
de matéria prima de tamnaho, forma e
qualidade variável, que deteriora muito
rapidamente. O investimento na cadeia
de frio é uma necessidade crucial para o
desenvolvimento. Importação é necessária
para atender à demanda sazonal.
Setor terciário:
Consumo regionalizado; pouco hábito de
consumo em regiões que não são
litorâneas ou ribeirinhas. Somos um país
que come carne bovina a não ser em
ocasiões sazonais.
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Cadeias Produtivas em Medicina Veterinária
BATALHA, 2007). Em 2013, foram produzidas cerca de 35 mil toneladas de mel, das quais
apenas 10 mil foram usadas no consumo interno. Atender à demanda do mercado externo
exige que o setor primário se profissionalize e se mecanize (REDHEL, 2015). A Figura 16 mostra
o esquema que representa a cadeia produtiva do mel.
Setor primário:
Produção é pulverizada em produtores
pequenos, médios e grandes, mas com
baixa produtividade e competitividade,
apesar de ter a qualidade reconhecida
mundialmente. A sazonalidade tem grande
impacto na produção.
Setor secundário:
Cooperativas e associações que têm que
se profissionalizar.
Setor terciário:
Há potencial de crescimento do mercado
externo e das exportações, mas produtor
tem que garantir produção orgânica. O
crescimento do pequeno mercado interno
envolve a alteração de hábitos arraigados
de consumo e do preço do produto.
Chegamos ao fim desta unidade, onde aprendemos uma série de conceitos: diferenciamos food
safety de food security e a necessidade de processos claros e bem delineados na produção
de alimentos; entendemos porque os produtos agrícolas são considerados commodities e como
podem ser comercializados; exploramos o conceito de cadeias produtivas com foco na eficiência
e produtividade e sistematizamos as principais cadeias produtivas agropecuárias de interesse
para o médico veterinário em termos dos seus três setores.
Os grifos no texto são meus, porque exprimem as vantagens e dificuldades que temos que
ter em mente no trabalho com as cadeias produtivas: o possível crescimento gerado pelo
aumento de renda da população, que se torna mais aberta ao consumo de novos produtos; a
possibilidade de uso dos hábitos alimentares regionais ou a criação de linhas gourmet para
atrair novos consumidores; a necessidade da organização da cadeia, quando ela não está
estruturada ou está mal estruturada; a necessidade de maior comunicação (assim como de
contratos) entre os setores e dentro dos próprios setores de forma a fazer a cadeia atraente
para novos investidores e valiosa para seus participantes; a necessidade de que o produtor
entenda o mercado consumidor final e modifique suas práticas para atender a esta demanda
sob a orientação e parceria com um setor secundário estruturado com vistas à qualidade e
quantidade adequada do produto final.
Antes de terminarmos, é importante considerar que essas cadeias não existem no vácuo,
soltas, dando apoio a si mesmas. Existem indústrias e cadeias de insumos e suprimentos que
sustentam o trabalho de cada uma das cadeias produtivas da pecuária e que também são
locais que têm importantes oportunidades de trabalho para os veterinários. Entre as principais
atividades que sustentam as cadeias produtivas da pecuária, estão a produção de alimentos
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Cadeias Produtivas em Medicina Veterinária
(volumosos, concentrados e suplementos, sementes de pastagens e fertilizantes); a produção
de medicamentos, vacinas, inseticidas, herbicidas e fungicidas; as atividades de reprodução
e melhoramento genético, assim como todas as empresas que produzem o que é usado nas
fazendas (cercas, cochos, bebedouros, roupas para apicultores, equipamentos de ordenha,
redes para tanques de aquicultura...).
Tudo isso vai muito além do conhecimento médico dos veterinários, mas não o exclui. Ao pensarmos
nas cadeias produtivas, nosso trabalho como veterinários é ampliado para ter efeito não em
animais individuais, mas em populações humanas, às vezes espalhadas em todo o planeta.
Até a próxima!
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