CONTRA RAZÕES DE RECURSO TYSON X MERCEARIA - Assinado

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 7

EXMA.

SENHORA DOUTORA JUÍZA DE DIREITO DO JUIZADO ESPECIAL


CÍVEL DA COMARCA DE NOVA FRIBURGO – RJ

Proc. Nº: 0002282-36.2016.8.19.0037

MERCEARIA J.M. DE CONQUISTA LTDA, já


devidamente qualificado nos autos da AÇÃO DE REPARAÇÃO DE DANOS
MORAIS que move em face de TYSON DO BRASIL ALIMENTOS LTDA vem,
por seu advogado, que esta subscreve, tempestivamente apresentar, perante
V. Exa., suas

CONTRARRAZÕES DE RECURSO

requerendo seja apensado aos autos para que produza os devidos efeitos e a
consequente remessa à Turma Recursal.

Termos em que,

Pede deferimento.

Nova Friburgo, 19 de setembro de 2017.

Evandro Pereira Ribeiro

OAB/RJ 50.175
CONTRARRAZÕES DE RECURSO

Recorrente: TYSON DO BRASIL ALIMENTOS LTDA

Recorrido: MERCEARIA J.M. DE CONQUISTA LTDA

Origem: Juizado Especial Cível da Comarca de Nova Friburgo – RJ

Processo nº: 0002282-36.2016.8.19.0037

Colenda Turma,

a respeitável sentença prolatada pela MM. Dra. Juíza de Direito do Juizado


Especial Cível de Nova Friburgo que julgou PARCIALMENTE PROCEDENTE a
ação titulada, formulada por MERCEARIA J.M. DE CONQUISTA LTDA, contra
TYSON DO BRASIL ALIMENTOS LTDA, deve prevalecer pelo seus próprios
fundamentos, por estar plenamente amparada tanto nos princípios da razão e
do direito, como nos dispositivos legais que regulam a espécie.

Por esta razão o recurso ora interposto é peça


indigente que não enfrenta nem se contrapõe aos fundamentos da decisão,
não merecendo prosperar suas pretensões.

I) BREVE RELATO DOS FATOS

A ação proposta trata de Reparação por Danos


Morais, em face do recorrente, por motivo de inclusão e manutenção
indevida de negativação junto aos órgãos de proteção ao crédito.

Como fartamente abordado e comprovado na


exordial, o recorrido jamais adquiriu mercadorias e deixou de honrar com
seu compromisso, sendo a negativação totalmente indevida.

Vale destacar que a empresa recorrida atua no ramo


de venda de produtos alimentícios desde o ano de 2009, em uma localidade
rural na cidade de Nova Friburgo, sempre zelando pelo bom nome e gozando
de crédito com os fornecedores, crédito este que foi construído com o decorrer
do tempo, justamente pela honestidade e compromisso da recorrida.

Pela inclusão indevida do nome da recorrida no


SPC, esta enfrentou, durante 10 meses, diversas dificuldades para abrir novos
fornecedores, como a AMBEV, bem como adquirir crédito para compras a
prazo, tendo que arcar com alguns pedidos à vista, para que estes fossem
faturados, sem falar que muitos representantes sequer chegavam a visita-los.

Para o caso vertente, vale frisar que o dano


cometido não se limitou apenas a uma mácula do bom nome comercial mas de
toda a dificuldade e prejuízo que enfrentaram por não poder comprar
determinadas mercadorias que não podem faltar num comércio, como por
exemplo Coca-Cola que somente se consegue adquirir através da própria
empresa.

O prejuízo causado não poderia ser maior


considerando se tratar de comércio desenvolvido na zona rural do município,
onde, por sua singularidade, fica exposto ao vexame de estar inadimplente com
uma empresa fornecedora.

No mais, não há como deixar de se admitir que a


simples negativação de um nome comercial, de empresa que somente compra
a crédito, causa enorme transtorno pela restrição à aquisição de mercadoria,
sendo desnecessária a produção de prova neste sentido, como amplo
entendimento jurisprudencial.

A ciência da negativação da recorrida aconteceu no


início de fevereiro de 2016, justamente através de um representante de ovos
de páscoa que, de maneira informal, explicou o motivo da não aprovação do
crédito.

Tendo ciência do problema, a empresa recorrida


entrou em contato com o recorrente, via telefone, para saber o que estava em
aberto, e consequentemente fazer a quitação, mas estes não souberam
informar a pendência, retirando a negativação duas semanas após o
contato, sem nenhuma contraprestação da recorrida.

Assim, ficou evidenciado o erro cometido pelo


recorrente, que insiste em dizer que a negativação foi devida, mas não
apresentou, até o presente momento, Nota Fiscal, boleto ou mesmo
comprovante de entrega da mercadoria cobrada.

Desta forma, a sentença prolatada deve prevalecer,


pois expressa de forma, nítida e proporcional, a reparação que merece o
recorrido.

II) DOS FUNDAMENTOS DAS CONTRARRAZÕES

É lamentável que profissionais do direito ainda se


utilizem de procedimentos processuais para lançar, de forma leviana e
irresponsável, argumentos sem o mínimo de fundamentação, em nítida
intenção de levar esta Colenda Turma Recursal a erro, em total desrespeito a
todos os operadores do direito, à Lei e a própria Justiça, confrontando
diretamente a nova orientação em vigor estabelecida pelo novo Código de
Processo Civil que pune àqueles que se utilizam do processo com manifesta
má-fé.

Hodiernamente não há mais espaço para utilizar o


Judiciário e se lançar em aventuras jurídicas, imaginando que qualquer
argumento colocado isoladamente pode ser levado em conta sem a devida
análise dos fatos e das provas existentes, que devem estar disponíveis para
sua constatação.

O recurso impetrado tem como principal tese a


regularidade da inclusão do nome do recorrido no Sistema de Proteção ao
Crédito (SPC) trazendo, de forma inconteste, argumentos lançados sem a
devida comprovação, com a real intenção em levar o Julgador a erro.

Não há nenhuma prova nos autos que comprove a


existência de qualquer negócio jurídico entre as partes, quanto mais alguma
Nota Fiscal ou duplicata em aberto que motivasse a negativação realizada.

Além disso, o recorrente, no próprio corpo do


recurso, transcreve o documento de negativação, demonstrando que a baixa
do título se deu apenas 10 (dez) meses depois da sua inclusão, sem que
houvesse qualquer pagamento por parte do recorrido, corroborando com as
alegações do autor e comprovando o erro cometido pelo recorrente.

Vale destacar que, quando teve ciência da


negativação, o recorrido entrou em contato com a empresa recorrente, via
telefone, solicitando que lhe fosse enviado o título em aberto através de e-mail,
mas este nunca chegou.

Por esta razão, e por não possuir nenhum negócio


com a empresa recorrente, não possuiu o recorrido outros meios para
comprovar os fatos, sendo um absurdo ser tal argumento levantado pelo
recorrente como meio de defesa.

A recorrente insiste em dizer que houve


inadimplemento pelo recorrido, e que a negativação teria sido devida, mas não
faz prova de nada do que alega, tendo inclusive retirado a restrição duas
semanas após a reivindicação da empresa negativada.

Por fim, já em total desespero e em continuidade a


falta de consistência de seu recurso, o recorrente vem sugerir que o recorrido
não sofreu qualquer dano moral, sendo indevida a condenação por falta de
comprovação do constrangimento, requerendo, alternativamente, redução do
valor fixado.
Não resta qualquer dúvida que o autor sofreu o dano
moral e que a condenação imposto se faz justa, não só pela negativação
durante 10 meses, que por si só já caracterizaria uma ofensa à honra objetiva,
mas também pela dificuldade que encontrou em conseguir crédito junto aos
fornecedores, que certamente consultavam a situação do recorrido junto aos
órgãos de proteção ao crédito, além da falta de algumas mercadorias
fundamentais ao seu comércio.

Tem-se que a comprovação do constrangimento


sofrido pela pessoa jurídica é muito difícil, ainda mais se tratando da honra
objetiva de uma empresa que sequer sabia que estava negativada.

A falta de relação jurídica entre as partes, bem como


a não notificação da empresa recorrida quanto a sua negativação, impediram a
produção de provas escritas, bem como a obtenção de declaração dos
fornecedores à época das tentativas de concessão de crédito.

A equação que estabelece o quantum indenizatório


a ser fixado, caso esteja comprovado o dano moral sofrido, está totalmente em
harmonia com os parâmetros estabelecidos pela doutrina e jurisprudência, pois
trata-se de pessoa jurídica que provocou prejuízos irreparáveis ao autor, que à
época, teve que desembolsar dinheiro para realizar as compras à vista,
enquanto poderia usufruir livremente de crédito.

O valor arbitrado pela r. sentença está em


conformidade com o que vem sido aplicado por este Tribunal, conforme se
verifica da análise do julgamento abaixo:

“TJ-RJ - APELACAO APL 01762705120128190001


RJ 0176270-51.2012.8.19.0001 (TJ-RJ)

Data de publicação: 13/03/2014

Ementa: Apelação cível. Ação indenizatória.


Negativação indevida do nome da pessoa jurídica.
Violação à honra objetiva. Dano moral configurado.
1. In casu, verifica-se que, malgrado a extinção do
contrato, a ré insistiu na cobrança de débito indevido
(assim considerado através de decisão judicial) e
promoveu a negativação do nome da sociedade
autora. 2. Deste modo, observa-se que a
negativação indevida causou inegável dano moral à
honra objetiva da pessoa jurídica, pois tornou
pública uma situação de inadimplência, que sequer
era verdadeira. Nesta parte, diante das
circunstâncias do caso concreto, especialmente
considerando que a parte autora ficou impedida de
obter empréstimos perante instituições financeiras
diversas, entendo que o valor de R$ 15.000,00
revela-se justo e adequado. 3. Provimento ao apelo.”

E também pelas Turmas Recursais

“TJ-RJ - RECURSO INOMINADO RI


00461576920138190002 RJ 0046157-
69.2013.8.19.0002 (TJ-RJ)
Data de publicação: 22/07/2014

Ementa: SEGUNDA TURMA RECURSAL Recurso:


0046157-69.2013.8.19.0002 RECORRENTE: JUAN
J IGLESIAS CARBALLO REP. LTDA. M.E.
RECORRIDO: NEXTEL VOTO Relação de consumo.
Aplicação das regras do Código de Defesa do
Consumidor. Negativação indevida. A sentença
merece parcial reforma. Dano moral configurado in
re ipsa, uma vez que se encontra ínsito na própria
conduta perpetrada pela parte ré, que por óbvio
gerou restrição ao crédito da pessoa jurídica, ora
recorrente. Quantum indenizatório que deve ser
arbitrado com moderação, atentando-se para a
repercussão e a natureza do dano, observando-se
ainda o princípio da razoabilidade. Provimento do
recurso. Diante do exposto, conheço do recurso e
VOTO por seu PROVIMENTO, para CONDENAR a
parte ré a pagar à parte autora a quantia de R$
8.000,00 (oito mil reais), a título de danos morais,
acrescida dos juros moratórios legais desde a
citação e de correção monetária a partir da
publicação do acórdão. No mais, a sentença deve
ser mantida por seus próprios fundamentos. Sem
ônus sucumbenciais, por se tratar de recurso com
êxito. Rio de Janeiro, 17 de março de 2014 MABEL
CHRISTINA CASTRIOTO MEIRA DE
VASCONCELLOS JUÍZA RELATORA PODER
JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO
DO RIO DE JANEIRO CONSELHO RECURSAL.”

Assim, se levarmos em conta que a empresa


recorrida permaneceu durante dez meses negativada, a fixação do valor de R$
9.000,00 (nove mil reais) corresponde a R$ 900,00 (novecentos reais) por mês
de negativação indevida, quantia esta, totalmente dentro dos parâmetros da
razoabilidade e proporcionalidade, traduzindo-se em uma indenização justa, a
altura do dano causado e se comparado com o prejuízo que esta suportou.
Desta forma, uma vez apresentados os fatos e
argumentos que embasaram a r. sentença e o descabimento do recurso
interposto, requer seja este conhecido, negando provimento em todos os seus
termos, confirmado a decisão prolatada pelo Juízo de primeiro grau e também
honorários advocatícios no percentual de 20%.

Nova Friburgo, 19 de setembro 2017.

Evandro Pereira Ribeiro

OAB/RJ 50.175

Você também pode gostar