Aula 01
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Wagner Santos
Interpretação de Texto e
conceitos Básicos 2022
7 Questões
Aqui você encontra questões sobre todo o conteúdo teórico apresentado até
então! Você vai perceber que há questões de diversas instituições além daquela em
que seu material é focado. Nesse momento, nosso interesse é que você apreenda bem
o conteúdo, além de praticar a tipologia de questões de sua instituição.
Vamos lá?
01. (Mackenzie/2019)
É importante notar que o esforço para a produção dos sentidos ocorre em virtude
de os homens desejarem estabelecer cadeias comunicativas, seja para informar,
convencer, emocionar, seja para explicar, determinar, aconselhar. Mas, para que isto
acontecesse, foi necessária aos diversos grupos humanos a criação de códigos
linguísticos próprios, acordos que conhecemos pelo nome de línguas e que
expressam maneiras particulares de conceber os significados, as formas de uso, os
mecanismos de elaboração do universo das palavras. Sem isto, as expressões
linguísticas cairiam no vazio e as sentenças resultariam incompreensíveis. Imaginem
como ficaria um alemão que não sabe português diante da frase “A lição está difícil”.
Em nosso caso, o código comum é a língua portuguesa: graças a ela produzimos,
verbalmente, os efeitos de sentido. No entanto, não se deve considerar o código
comum como uma referência padrão que se mantém inalterada. Ao contrário, a língua
possui variabilidades, usos diferenciados conforme a situação cultural, econômica,
etária, regional do usuário.
Adilson Citelli, O texto argumentativo.
O Bicho
Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem.
(Manuel Bandeira. Disponível em:
https://literaturaemcontagotas.wordpress.com/2008/11/25/o-
bicho-de-manuel-bandeira/)
03. (UNESP/2019)
Leia o trecho do romance S. Bernardo, de Graciliano Ramos, para responder à(s)
questão(ões) a seguir.
05. (UECE/2019)
Comida
Titãs
84
Bebida é água
85
Comida é pasto
86
Você tem sede de quê?
87
Você tem fome de quê?
88
A gente não quer só comida
89
A gente quer comida, diversão e arte
90
A gente não quer só comida
91
A gente quer saída para qualquer parte
92
A gente não quer só comida
93
A gente quer bebida, diversão, balé
94
A gente não quer só comida
95
A gente quer a vida como a vida quer
96
Bebida é água
97
Comida é pasto
98
Você tem sede de quê?
99
Você tem fome de quê?
100
A gente não quer só comer
101
A gente quer comer e quer fazer amor
102
A gente não quer só comer
103
A gente quer prazer pra aliviar a dor
104
A gente não quer só dinheiro
105
A gente quer dinheiro e felicidade
106
A gente não quer só dinheiro
107
A gente quer inteiro e não pela metade
108
Diversão e arte
109
para qualquer parte
110
diversão, balé
111
como a vida quer...
112
Desejo, necessidade, vontade
113
necessidade, desejo
114
necessidade, vontade
115
necessidade!
ANTUNES, Arnaldo; FROMER, Marcelo; BRITO, Sergio. Comida. Intérprete: Titãs. In:
Titãs. Jesus não tem dentes no país dos banguelas. Rio de Janeiro: WEA. 1 disco sonoro (LP). Lado A,
faixa 2. 1987.
c) A função poética não tem destaque na canção, porque o enunciador investe pouco
na construção estética da mensagem a ser veiculada.
d) A função fática está presente no texto em enunciados como “Você tem sede de
quê? Você tem fome de quê? (Refs. 86-87; 98-99), em que o enunciador procura
simular uma conversa com o leitor.
06. (IFBA/2019)
MARIA
Maria estava parada há mais de meia hora no ponto de ônibus. Estava cansada de
esperar. Se a distância fosse menor, teria ido a pé. Era preciso mesmo ir se
acostumando com a caminhada. Os ônibus estavam aumentando tanto! Além do
cansaço, a sacola estava pesada. No dia anterior, no domingo, havia tido festa na casa
da patroa. Ela levava para casa os restos. O osso do pernil e as frutas que tinham
enfeitado a mesa. Ganhara as frutas e uma gorjeta. O osso a patroa ia jogar fora.
Estava feliz, apesar do cansaço. A gorjeta chegara numa hora boa. Os dois filhos
menores estavam muito gripados. Precisava comprar xarope e aquele remedinho de
desentupir o nariz. Daria para comprar também uma lata de Toddy. As frutas estavam
ótimas e havia melão. As crianças nunca tinham comido melão. Será que os meninos
gostavam de melão?
A palma de umas de suas mãos doía. Tinha sofrido um corte, bem no meio,
enquanto cortava o pernil para a patroa. Que coisa! Faca-laser corta até a vida!
Quando o ônibus apontou lá na esquina, Maria abaixou o corpo, pegando a sacola
que estava no chão entre as suas pernas. O ônibus não estava cheio, havia lugares.
Ela poderia descansar um pouco, cochilar até a hora da descida. Ao entrar, um homem
levantou lá de trás, do último banco, fazendo um sinal para o trocador. Passou em
silêncio, pagando a passagem dele e de Maria. Ela reconheceu o homem. Quanto
tempo, que saudades! Como era difícil continuar a vida sem ele. Maria sentou-se na
frente. O homem assentou-se ao lado dela. Ela se lembrou do passado. Do homem
deitado com ela. Da vida dos dois no barraco. Dos primeiros enjoos. Da barriga
enorme que todos diziam gêmeos, e da alegria dele. Que bom! Nasceu! Era um
menino! E haveria de se tornar um homem. Maria viu, sem olhar, que era o pai do seu
filho. Ele continuava o mesmo. Bonito, grande, o olhar assustado não se fixando em
nada e em ninguém. Sentiu uma mágoa imensa. Por que não podia ser de outra
forma? Por que não podiam ser felizes? E o menino, Maria? Como vai o menino?
cochichou o homem. Sabe que sinto falta de vocês? Tenho um buraco no peito,
tamanha a saudade! Tou sozinho! Não arrumei, não quis mais ninguém. Você já teve
outros... outros filhos? A mulher baixou os olhos como que pedindo perdão. É. Ela
teve mais dois filhos, mas não tinha ninguém também! Homens também? Eles
haveriam de ter outra vida. Com eles tudo haveria de ser diferente. Maria, não te
esqueci! Tá tudo aqui no buraco do peito...
O homem falava, mas continuava estático, preso, fixo no banco. Cochichava com
Maria as palavras, sem entretanto virar para o lado dela. Ela sabia o que o homem
dizia. Ele estava dizendo de dor, de prazer, de alegria, de filho, de vida, de morte, de
despedida. Do buraco-saudade no peito dele... Desta vez ele cochichou um
pouquinho mais alto. Ela, ainda sem ouvir direito, adivinhou a fala dele: um abraço,
um beijo, um carinho no filho. E logo após, levantou rápido sacando a arma. Outro lá
atrás gritou que era um assalto. Maria estava com muito medo. Não dos assaltantes.
Não da morte. Sim da vida. Tinha três filhos. O mais velho, com onze anos, era filho
daquele homem que estava ali na frente com uma arma na mão. O de lá de trás vinha
recolhendo tudo. O motorista seguia a viagem. Havia o silêncio de todos no ônibus.
Apenas a voz do outro se ouvia pedindo aos passageiros que entregassem tudo
rapidamente. O medo da vida em Maria ia aumentando. Meu Deus, como seria a vida
dos seus filhos? Era a primeira vez que ela via um assalto no ônibus. Imaginava o
terror das pessoas. O comparsa de seu ex-homem passou por ela e não pediu nada.
Se fossem outros os assaltantes? Ela teria para dar uma sacola de frutas, um osso de
pernil e uma gorjeta de mil cruzeiros. Não tinha relógio algum no braço. Nas mãos
nenhum anel ou aliança. Aliás, nas mãos tinha sim! Tinha um profundo corte feito com
faca-laser que parecia cortar até a vida. Os assaltantes desceram rápido. Maria olhou
saudosa e desesperada para o primeiro.
Foi quando uma voz acordou a coragem dos demais. Alguém gritou que aquela
puta safada conhecia os assaltantes. Maria assustou-se. Ela não conhecia assaltante
algum. Conhecia o pai do seu primeiro filho. Conhecia o homem que tinha sido dela e
que ela ainda amava tanto. Ouviu uma voz: Negra safada, vai ver que estava de coleio
com os dois. Outra voz ainda lá do fundo do ônibus acrescentou: Calma, gente! Se ela
estivesse junto com eles, teria descido também. Alguém argumentou que ela não
tinha descido só para disfarçar. Estava mesmo com os ladrões. Foi a única a não ser
assaltada. Mentira, eu não fui e não sei porquê. Maria olhou na direção de onde vinha
a voz e viu um rapazinho negro e magro, com feições de menino e que relembrava
vagamente o seu filho. A primeira voz, a que acordou a coragem de todos, tornou-se
um grito: Aquela puta, aquela negra safada estava com os ladrões! O dono da voz
levantou e se encaminhou em direção à Maria. A mulher teve medo e raiva. Que
merda! Não conhecia assaltante algum. Não devia satisfação a ninguém. Olha só, a
negra ainda é atrevida, disse o homem, lascando um tapa no rosto da mulher. Alguém
gritou: Lincha! Lincha! Lincha!... Uns passageiros desceram e outros voaram em
direção à Maria. O motorista tinha parado o ônibus para defender a passageira:
Calma, pessoal! Que loucura é esta? Eu conheço esta mulher de vista. Todos os dias,
mais ou menos neste horário, ela toma o ônibus comigo. Está vindo do trabalho, da
luta para sustentar os filhos...
Lincha! Lincha! Lincha! Maria punha sangue pela boca, pelo nariz e pelos ouvidos.
A sacola havia arrebentado e as frutas rolavam pelo chão. Será que os meninos
gostam de melão? Tudo foi tão rápido, tão breve. Maria tinha saudades do seu ex-
homem. Por que estavam fazendo isto com ela? O homem havia segredado um
abraço, um beijo, um carinho no filho. Ela precisava chegar em casa para transmitir o
recado. Estavam todos armados com facas-laser que cortam até a vida. Quando o
ônibus esvaziou, quando chegou a polícia, o corpo da mulher já estava todo
dilacerado, todo pisoteado. Maria queria tanto dizer ao filho que o pai havia mandado
um abraço, um beijo, um carinho.
EVARISTO, Conceição. Olhos
d’ água. Rio de Janeiro: Ed.
Pallas,2014, p.39-42.
07. (UFGD/2019)
Um diário digital é uma ferramenta que permite participação em uma situação
comunicativa perfazendo-se de uma interação demarcada entre o eu e a sua
subjetividade. Por meio dessa ferramenta, podem ser registradas as impressões
acerca do mundo, as ideias, os sentimentos e os desabafos. A partir do uso contínuo
de um diário digital, podem ser extraídos alguns benefícios muito úteis pelos seus
usuários, como, por exemplo, a obtenção de clareza nos pensamentos e nas ideias; a
definição de metas e a manutenção do foco em atingi-las; auxílio no processo de
abstração, sonhar e ser criativo, uma vez que se está escrevendo para si mesmo. De
acordo com isso, a respeito de um diário digital, afirma-se corretamente que
a) a linguagem, nesse gênero, costuma seguir um padrão rígido, podendo ser
expressa apenas por meio da formalidade.
b) possui uma estrutura bem definida em que o emprego dos tempos verbais deve
permanecer no presente.
c) a estrutura textual possui pronomes pessoais expressos em primeira e terceira
pessoas do singular e do plural.
d) pode ser interpretado como um importante e valoroso documento histórico,
podendo conter o registro de fatos marcantes.
e) representa um documento que pode ser compartilhado tanto pelo dono quanto
por outros usuários, que fazem parte do círculo de amizades, permitindo dessa forma
uma edição coletiva.
08. (FUVEST/2018)
O rumor crescia, condensando-se; o zunzum de todos os dias acentuava-se; já se
não destacavam vozes dispersas, mas um só ruído compacto que enchia todo o
cortiço. Começavam a fazer compras na venda; ensarilhavam-se discussões e
rezingas; ouviam-se gargalhadas e pragas; já se não falava, gritava-se. Sentia-se
naquela fermentação sanguínea, naquela gula viçosa de plantas rasteiras que
mergulham os pés vigorosos na lama preta e nutriente da vida, o prazer animal de
existir, a triunfante satisfação de respirar sobre a terra.
Da porta da venda que dava para o cortiço iam e vinham como formigas; fazendo
compras.
09. (ENEM/2018)
Reclame
se o mundo não vai bem
a seus olhos, use lentes
... ou transforme o mundo.
ótica olho vivo
agradece a preferência.
(CHACAL. Disponível em: www.escritas.org. Acesso em: 14 ago. 2014)
10. (INSPER/2018)
Analise a tirinha abaixo:
a) Dizia meu pai que tinha sorte de viver no Brasil depois da guerra.
b) Dizia meu pai que tínhamos sorte de viver no Brasil depois da guerra.
c) Dizia meu pai para mim que tivéramos sorte de viver no Brasil depois da guerra.
d) Dizia meu pai: temos sorte de viver no Brasil depois da guerra.
e) Disse meu pai que tivemos sorte de viver no Brasil depois da guerra.
12. (ENEM/2018)
Qualquer que tivesse sido o seu trabalho anterior, ele o abandonara, mudara de
profissão e passara pesadamente a ensinar no curso primário: era tudo o que
sabíamos dele.
O professor era gordo, grande e silencioso, de ombros contraídos. Em vez de nó
na garganta, tinha ombros contraídos. Usava paletó curto demais, óculos sem aro,
com um fio de ouro encimando o nariz grosso e romano. E eu era atraída por ele. Não
amor, mas atraída pelo seu silêncio e pela controlada impaciência que ele tinha em
nos ensinar e que, ofendida, eu adivinhara. Passei a me comportar mal na sala. Falava
muito alto, mexia com os colegas, interrompia a lição com piadinhas, até que ele dizia,
vermelho:
— Cale-se ou expulso a senhora da sala.
Ferida, triunfante, eu respondia em desafio: pode me mandar! Ele não mandava,
senão estaria me obedecendo. Mas eu o exasperava tanto que se tornara doloroso
para mim ser objeto do ódio daquele homem que de certo modo eu amava. Não o
amava como a mulher que eu seria um dia, amava-o como uma criança que tenta
desastradamente proteger um adulto, com a cólera de quem ainda não foi covarde e
vê um homem forte de ombros tão curvos.
(LISPECTOR, C. Os desastres de Sofia. In: A legião estrangeira. São Paulo: Ática, 1997)
13. (UFPR/2017)
Considere o trecho que vem na sequência da fala de Castanhari.
E outra coisa que você podia fazer é não apoiar pessoas de políticas do mal ou
contra os refugiados da Síria. Porque no meio disso tudo tem pessoas ignorantes que
dizem que os refugiados da Síria são todos terroristas. Porque no meio disso tudo, o
que as pessoas precisam é de países dispostos a estender a mão para elas. Porque no
meio de todo esse sofrimento, dessa guerra, de toda essa morte, a única esperança
que um refugiado tem de ter uma vida normal está nas mãos de um país vizinho
disposto a estender a mão pra essa pessoa. [...]
14. (INSPER/2017)
Às 15h de uma segunda-feira, o campinho de futebol sob o viaduto de Vila
Esperança está lotado de jovens descalços disputando o clássico Dois Poste contra
Santa Cruz.
Ninguém tem emprego. Xambito é um deles.
Xambito precisa pagar pensão para seu filho de três anos, mas não quer voltar para
a “vida errada”, como diz.
“Essa vida errada aí, biqueira [ponto de vendas de drogas], tráfico, só tem dois
caminhos: cadeia ou morte; não quero nenhum desses dois, quero ver meu filho
crescer, botar ele pra jogar bola, pra estudar”, diz Xambito, que anda pela favela com
uma caixinha de som tocando o sertanejo Felipe Araújo.
Ele está correndo atrás de um “serviço fichado” (registrado). Já foi várias vezes aos
pátios das fábricas em Cubatão, mas diz que aparecem dez vagas para 500 pessoas.
“Só com ajuda de Deus para ser chamado, é muita gente desempregada.”
(http://arte.folha.uol.com.br/mundo/2017/um-mundo-de-muros/brasil/ excluidos/)
15. (UNICAMP/2017)
(Disponível em https://www.facebook.com/SignosNordestinos/?fref=ts.
Acessado em 26/07/2016.)
GERALDI, João Wanderley. Linguagem e ensino: exercícios de militância e divulgação. Campinas, SP:
Mercado das Letras; Associação de Leitura do Brasil, 1996.
MATTOSO CÂMARA JR., Joaquim. História da Linguística. Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 1975.
18. (UNIFESP/2017)
Leia a crônica “Premonitório”, de Carlos Drummond de Andrade (1902-1987).
Do fundo de Pernambuco, o pai mandou-lhe um telegrama:
“Não saia casa 3 outubro abraços”.
O rapaz releu, sob emoção grave. Ainda bem que o velho avisara: em cima da hora,
mas avisara. Olhou a data: 28 de setembro. Puxa vida, telegrama com a nota de
urgente, levar cinco dias de Garanhuns a Belo Horizonte! Só mesmo com uma
revolução esse telégrafo endireita. E passado às sete da manhã, veja só; o pai nem
tomara o mingau com broa, precipitara-se na agência para expedir a mensagem.
Não havia tempo a perder. Marcara encontros para o dia seguinte, e precisava
cancelar tudo, sem alarde, como se deve agir em tais ocasiões. Pegou o telefone,
pediu linha, mas a voz de d. Anita não respondeu. Havia tempo que morava naquele
hotel e jamais deixara de ouvir o “pois não” melodioso de d. Anita, durante o dia. A
voz grossa, que resmungara qualquer coisa, não era de empregado da casa; insistira:
“como é?”, e a ligação foi dificultosa, havia besouros na linha. Falou rapidamente a
diversas pessoas, aludiu a uma ponte que talvez resistisse ainda uns dias, teve
oportunidade de escandir as sílabas de arma virum que cano*, disse que achava pouco
cem mil unidades, em tal emergência, e arrematou: “Dia 4 nós conversamos.” Vestiu-
se, desceu. Na portaria, um sujeito de panamá bege, chapéu de aba larga e sapato de
duas cores levantou-se e seguiu-o. Tomou um carro, o outro fez o mesmo. Desceu na
praça da Liberdade e pôs-se a contemplar um ponto qualquer. Tirou do bolso um
caderninho e anotou qualquer coisa. Aí, já havia dois sujeitos de panamá, aba larga e
sapato bicolor, confabulando a pequena distância. Foi saindo de mansinho, mas os
dois lhe seguiram na cola. Estava calmo, com o telegrama do pai dobrado na carteira,
placidez satisfeita na alma. O pai avisara a tempo, tudo correria bem. Ia tomar a
calçada quando a baioneta em riste advertiu: “Passe de largo”; a Delegacia Fiscal
estava cercada de praças, havia armas cruzadas nos antos. Nos Correios, a mesma
coisa, também na Telefônica. Bondes passavam escoltados. Caminhões conduziam
tropa, jipes chispavam. As manchetes dos jornais eram sombrias; pouca gente na rua.
Céu escuro, abafado, chuva próxima.
Pensando bem, o melhor era recolher-se ao hotel; não havia nada a fazer. Trancou-
se no quarto, procurou ler, de vez em quando o telefone chamava: “Desculpe, é
engano”, ou ficava mudo, sem desligar. Dizendo-se incomodado, jantou no quarto, e
estranhou a camareira, que olhava para os móveis como se fossem bichos. Deliberou
deitar-se, embora a noite apenas começasse. Releu o telegrama, apagou a luz.
Acordou assustado, com golpes na porta. Cinco da manhã. Alguém o convidava a
ir à Delegacia de Ordem Política e Social. “Deve ser engano.” “Não é não, o chefe está
à espera.” “Tão cedinho? Precisa ser hoje mesmo? Amanhã eu vou.” “É hoje e é já.”
“Impossível.” Pegaram-lhe dos braços e levaram-no sem polêmica. A cidade era uma
praça de guerra, toda a polícia a postos. “O senhor vai dizer a verdade bonitinho e
logo” – disse-lhe o chefe. – “Que sabe a respeito do troço?” “Não se faça de bobo, o
troço que vai estourar hoje.” “Vai estourar?” “Não sabia? E aquela ponte que o senhor
ia dinamitar mas era difícil?” “Doutor, eu falei a meu dentista, é um trabalho de
prótese que anda abalado. Quer ver? Eu tiro.” “Não, mas e aquela frase em código
muito vagabundo, com palavras que todo mundo manja logo, como arma e cano?”
“Sou professor de latim, e corrigi a epígrafe de um trabalho.” “Latim, hem? E a
conversa sobre os cem mil homens que davam para vencer?” “São unidades de
penicilina que um colega tomou para uma infecção no ouvido.” “E os cálculos que o
senhor fazia diante do palácio?” Emudeceu. “Diga, vamos!” “Desculpe, eram uns
versinhos, estão aqui no bolso.” “O senhor é esperto, mas saia desta. Vê este
telegrama? É cópia do que o senhor recebeu de Pernambuco. Ainda tem coragem de
negar que está alheio ao golpe?” “Ah, então é por isso que o telegrama custou tanto
a chegar?” “Mais custou ao país, gritou o chefe. Sabe que por causa dele as Forças
Armadas ficaram de prontidão, e que isso custa cinco mil contos? Diga depressa.”
“Mas, doutor…” Foi levado para outra sala, onde ficou horas. O que aconteceu, Deus
sabe. Afinal, exausto, confessou: “O senhor entende conversa de pai pra filho? Papai
costuma ter sonhos premonitórios, e toda a família acredita neles. Sonhou que me
aconteceria uma coisa no dia 3, se eu saísse de casa, e telegrafou prevenindo. Juro!”
Dia 4, sem golpe nenhum, foi mandado em paz. O sonho se confirmara: realmente,
não devia ter saído de casa.
(70 historinhas, 2016.)
*arma virumque cano: “canto as armas e o varão” (palavras iniciais da epopeia Eneida, do escritor
Vergílio, referentes ao herói Eneias).
a) “Havia tempo que morava naquele hotel e jamais deixara de ouvir o ‘pois não’
melodioso de d. Anita, durante o dia.” (3o parágrafo)
b) “E passado às sete da manhã, veja só; o pai nem tomara o mingau com broa,
precipitara-se na agência para expedir a mensagem.” (2o parágrafo)
c) “Aí, já havia dois sujeitos de panamá, aba larga e sapato bicolor, confabulando a
pequena distância.” (3o parágrafo)
d) “Trancou-se no quarto, procurou ler, de vez em quando o telefone chamava:
‘Desculpe, é engano’, ou ficava mudo, sem desligar.” (4o parágrafo)
e) “‘O senhor é esperto, mas saia desta. Vê este telegrama? É cópia do que o senhor
recebeu de Pernambuco. Ainda tem coragem de negar que está alheio ao golpe?’”
(5o parágrafo)
19. (ENEM/2016)
PINHÃO sai ao mesmo tempo que BENONA entra.
BENONA: Eurico, Eudoro Vicente está lá fora e quer falar com você.
EURICÃO: Benona, minha irmã, eu sei que ele está lá fora, mas não quero falar com
ele.
BENONA: Mas Eurico, nós lhe devemos certas atenções.
EURICÃO: Você, que foi noiva dele. Eu, não!
BENONA: Isso são coisas passadas.
EURICÃO: Passadas para você, mas o prejuízo foi meu. Esperava que Eudoro, com
todo aquele dinheiro, se tornasse meu cunhado. Era uma boca a menos e um
patrimônio a mais. E o peste me traiu. Agora, parece que ouviu dizer que eu tenho um
tesouro. E vem louco atrás dele, sedento, atacado de verdadeira hidrofobia. Vive
farejando ouro, como um cachorro da molest’a, como um urubu, atrás do sangue dos
outros. Mas ele está enganado. Santo Antônio há de proteger minha pobreza e minha
devoção.
(SUASSUNA, A. O santo e a porca. Rio de Janeiro: José Olympio, 2013 (fragmento).)
20. (UNESP/2016)
Leia a fábula “O morcego e as doninhas” do escritor grego Esopo (620 a.C.?-564
a.C.?) para responder à questão.
Um morcego caiu no chão e foi capturado por uma doninha*. Como seria morto,
rogou à doninha que poupasse sua vida.
– Não posso soltá-lo – respondeu a doninha –, pois sou, por natureza, inimiga de
todos os pássaros.
– Não sou um pássaro – alegou o morcego. – Sou um rato.
E assim ele conseguiu escapar.
Mais tarde, ao cair de novo e ser capturado por outra doninha, ele suplicou a esta
que não o devorasse. Como a doninha lhe disse que odiava todos os ratos, ele afirmou
que não era um rato, mas um morcego. E de novo conseguiu escapar. Foi assim que,
por duas vezes, lhe bastou mudar de nome para ter a vida salva.
(Fábulas, 2013.)
*doninha: pequeno mamífero carnívoro, de corpo longo e esguio e de patas curtas (também conhecido
como furão).
Ao se transpor este trecho para o discurso indireto, o verbo “sou” assume a seguinte
forma:
a) era.
b) fui.
c) fora.
d) fosse.
e) seria.
21. (UNESP/2016)
Leia o excerto do livro Violência urbana, de Paulo Sérgio Pinheiro e Guilherme Assis
de Almeida, para responder à questão.
De dia, ande na rua com cuidado, olhos bem abertos. Evite falar com estranhos. À
noite, não saia para caminhar, principalmente se estiver sozinho e seu bairro for
deserto. Quando estacionar, tranque bem as portas do carro [...]. De madrugada, não
pare em sinal vermelho. Se for assaltado, não reaja – entregue tudo.
É provável que você já esteja exausto de ler e ouvir várias dessas recomendações.
Faz tempo que a ideia de integrar uma comunidade e sentir-se confiante e seguro por
ser parte de um coletivo deixou de ser um sentimento comum aos habitantes das
grandes cidades brasileiras. As noções de segurança e de vida comunitária foram
substituídas pelo sentimento de insegurança e pelo isolamento que o medo impõe.
O outro deixa de ser visto como parceiro ou parceira em potencial; o desconhecido é
encarado como ameaça. O sentimento de insegurança transforma e desfigura a vida
em nossas cidades. De lugares de encontro, troca, comunidade, participação coletiva,
as moradias e os espaços públicos transformam-se em palco do horror, do pânico e
do medo.
A violência urbana subverte e desvirtua a função das cidades, drena recursos
públicos já escassos, ceifa vidas – especialmente as dos jovens e dos mais pobres –,
dilacera famílias, modificando nossas existências dramaticamente para pior. De
potenciais cidadãos, passamos a ser consumidores do medo. O que fazer diante desse
quadro de insegurança e pânico, denunciado diariamente pelos jornais e alardeado
pela mídia eletrônica? Qual tarefa impõe-se aos cidadãos, na democracia e no Estado
de direito?
(Violência urbana, 2003.)
22. (UERJ/2015)
A EDUCAÇÃO PELA SEDA
Vestidos muito justos são vulgares. Revelar formas é vulgar. Toda revelação é de
uma vulgaridade abominável.
Os conceitos a vestiram como uma segunda pele, e pode-se adivinhar a norma que
lhe rege a vida ao primeiro olhar.
(Rosa Amanda Strausz, Mínimo múltiplo comum: contos. Rio de Janeiro: José Olympio, 1990).
23. (FGV/2015)
À margem de Memórias de um sargento de milícias
É difícil associar à impressão deixada por essa obra divertida e leve a ideia de um
destino trágico. Foi, entretanto, o que coube a Manuel Antônio de Almeida, nascido
em 1831 e morto em 1861. A simples justaposição dessas duas datas é bastante
reveladora: mais alguns dados, os poucos de que dispomos, apenas servem para
carregar nas cores, para tornar a atmosfera do quadro mais deprimente. Que é que
cabe num prazo tão curto?
Uma vida toda em movimento, uma série tumultuosa de lutas, malogros e
reerguimentos, as reações de uma vontade forte contra os golpes da fatalidade, os
heroicos esforços de ascensão de um self-made man esmagado pelas circunstâncias.
Ignoramos quase totalmente seus começos de menino pobre, mas talvez seja possível
reconstruí-los em parte pelas cenas tão vivas em que apresenta o garoto Leonardo
lançado de chofre nas ruas pitorescas da indolente cidadezinha que era o Rio daquela
época. Basta enumerar todas as profissões que o escritor exerceu em seguida para
adivinhar o ambiente. Estudante na Escola de Belas-Artes e na Faculdade de
Medicina, jornalista e tradutor, membro fundador da Sociedade das Belas-Artes,
administrador da Tipografia Nacional, diretor da Academia Imperial da Ópera
Nacional, Manuel Antônio provavelmente não se teria candidatado ainda a uma
cadeira da Assembleia Provincial se suas ocupações sucessivas lhe garantissem uma
renda proporcional ao brilho de seus títulos. Achava-se justamente a caminho da
“sua” circunscrição, quando, depois de tantos naufrágios no sentido figurado,
pereceu num naufrágio concreto, deixando saudades a um reduzido círculo de
amigos, um medíocre libreto de ópera e algumas traduções, do francês, de romances
de cordel, aos pesquisadores de curiosidade, e as Memórias de um sargento de
milícias ao seu país.
(Paulo Rónai, Encontros com o Brasil. Rio de Janeiro: Edições de Janeiro, 2014)
24. (FUVEST/2015)
Como sabemos, o efeito de um livro sobre nós, mesmo no que se refere à simples
informação, depende de muita coisa além do valor que ele possa ter. Depende do
momento da vida em que o lemos, do grau do nosso conhecimento, da finalidade que
temos pela frente. Para quem pouco leu e pouco sabe, um compêndio de ginásio
pode ser a fonte reveladora. Para quem sabe muito, um livro importante não passa
de chuva no molhado. Além disso, há as afinidades profundas, que nos fazem afinar
com certo autor (e portanto aproveitá-lo ao máximo) e não com outro, independente
da valia de ambos.
Antonio Candido, “Dez livros para entender o Brasil”. Teoria e debate. Ed. 45, 01/07/2000.
25. (ENEM/2015)
Assum preto
(Baião de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira)
26. (INSPER/2015)
A cena cotidiana, que a maioria já vivenciou, sempre serviu como exemplo de
conversa superficial. "Está quente hoje", comenta um. "Será que vai chover?", indaga
o interlocutor desinteressado. Para uma fatia dos moradores da região metropolitana
de São Paulo, contudo, a pergunta não é mais retórica. Revela, ao contrário,
preocupação genuína com a situação do sistema Cantareira, responsável pelo
abastecimento hídrico de 8,8 milhões de pessoas. Por causa da estiagem incomum,
tornaram-se frequentes, e não só nos elevadores, os diálogos sobre um possível
racionamento em parte da capital e em municípios próximos. A Sabesp (companhia
paulista de saneamento básico), por ora, descarta essa hipótese e assegura o
suprimento até março de 2015.
(Folha de S. Paulo, 24 jul. 2014.)
27. (INSPER/2015)
Geopolítica do coração
Existem duas Copas paralelas: aquela em que o Brasil joga – e você sofre, grita,
esperneia – e aquela em que as outras seleções jogam – e você pode se dar ao luxo de
assistir tranquilamente do seu sofá, encantado com as belezas e surpresas do esporte
No terceiro parágrafo do texto, o modo como as reflexões são feitas pelo articulista –
usando interrogações, exclamações e diversas marcas de oralidade – indica que, em
relação às funções da linguagem, o texto
a) recorre apenas à função fática, para que o leitor acompanhe o paradoxal raciocínio
do autor do texto.
b) faz perguntas retóricas, sobretudo para mostrar que o receptor da mensagem está
sendo desconsiderado.
c) valoriza a função referencial, uma vez que narra como foi o primeiro gol da Austrália
contra a Holanda.
d) utiliza a metalinguagem, na medida em que mostra a preocupação de explicar que
Van Gogh é um pintor holandês.
e) mistura as funções emotiva e conativa, chegando a se referir aos australianos como
receptores da mensagem.
28. (ENEM/2015)
Anfíbio com formato de cobra é descoberto no Rio Madeira (RO)
Animal raro foi encontrado por biólogos em canteiro de obras de usina. Exemplares
estão no Museu Emilio Goeldi, no Pará
O trabalho de um grupo de biólogos no canteiro de obras da Usina Hidrelétrica
Santo Antônio, no Rio Madeira, em Porto Velho, resultou na descoberta de um anfíbio
29. (FGV/2014)
Pela tarde apareceu o Capitão Vitorino. Vinha numa burra velha, de chapéu de
palha muito alvo, com a fita verde-amarela na lapela do paletó. O mestre José Amaro
estava sentado na tenda, sem trabalhar. E quando viu o compadre alegrou-se. Agora
as visitas de Vitorino faziam-lhe bem. Desde aquele dia em que vira o compadre sair
com a filha para o Recife, fazendo tudo com tão boa vontade, que Vitorino não lhe era
mais o homem infeliz, o pobre bobo, o sem-vergonha, o vagabundo que tanto lhe
desagradava. Vitorino apeou-se para falar do ataque ao Pilar. Não era amigo de
Quinca Napoleão, achava que aquele bicho vivia de roubar o povo, mas não aprovava
o que o capitão fizera com a D. Inês.
– Meu compadre, uma mulher como a D. Inês é para ser respeitada.
– E o capitão desrespeitou a velha, compadre?
– Eu não estava lá. Mas me disseram que botou o rifle em cima dela, para fazer
medo, para ver se D. Inês lhe dava a chave do cofre. Ela não deu. José Medeiros, que
é homem, borrou-se todo quando lhe entrou um cangaceiro no estabelecimento. Me
disseram que o safado chorava como bezerro desmamado. Este cachorro anda agora
com o fogo da força da polícia fazendo o diabo com o povo.
(José Lins do Rego, Fogo Morto)
A passagem do quarto parágrafo – Eu não estava lá. Mas me disseram que botou o
rifle em cima dela, para fazer medo, para ver se D. Inês lhe dava a chave do cofre. – é
caracterizada por discurso
a) direto, por meio do qual o narrador expressa a indignação do Capitão Vitorino e do
Mestre José Amaro ao ataque à cidade do Pilar.
Este período está escrito em discurso indireto livre. Assinale a alternativa em que a
reformulação do período incorporou a segunda oração ao conjunto como discurso
indireto.
31. (ENEM/2014)
Óia eu aqui de novo
Óia eu aqui de novo xaxando
Óia eu aqui de novo para xaxar
Vou mostrar pr’esses cabras
Que eu ainda dou no couro
Isso é um desaforo
Que eu não posso levar
Que eu aqui de novo cantando
Que eu aqui de novo xaxando
Óia eu aqui de novo mostrando
Como se deve xaxar
Vem cá morena linda
Vestida de chita
Você é a mais bonita
Desse meu lugar
Vai, chama Maria, chama Luzia
Vai, chama Zabé, chama Raquel
Diz que eu tou aqui com alegria
(BARROS, A. Óia eu aqui de novo. Disponível em: www. luizluagonzaga.mus.br. Acesso em: 5 maio
2013 (fragmento).)
32. (INSPER/2014)
TEXTO I
Barreira da língua
Cenário: um posto de saúde no interior do Maranhão.
– Buenos dias, señor, o que siente? – pergunta o médico.
– Tô com dor no bucho, comi uma tapioca reimosa, me deu um empachamento
danado. Minha cabeça ficou pinicando, deu até um farnizim no juízo.
– Butcho? Tapiôka? Empatchamiento? Pinicón? Farnew zeen???
O trecho acima é de uma piada que circula no Hospital das Clínicas de São Paulo
sobre as dificuldades de comunicação que os médicos estrangeiros deverão enfrentar
nos rincões do Brasil. (...)
(Claúdia Colucci, Folha de S. Paulo, 03 jul.2013.)
TEXTO II
No texto “Barreira da língua”, a jornalista Cláudia Collucci reproduz uma piada
ouvida no Hospital das Clínicas, em São Paulo, para criticar a iniciativa do governo de
33. (ENEM/2014)
Em bom português
No Brasil, as palavras envelhecem e caem como folhas secas. Não é somente pela
gíria que a gente é apanhada (aliás, já não se usa mais a primeira pessoa, tanto do
singular como do plural: tudo é “a gente”). A própria linguagem corrente vai-se
renovando e a cada dia uma parte do léxico cai em desuso. Minha amiga Lila, que vive
descobrindo essas coisas, chamou minha atenção para os que falam assim:
– Assisti a uma fita de cinema com um artista que representa muito bem.
Os que acharam natural essa frase, cuidado! Não saberão dizer que viram um filme
com um ator que trabalha bem. E irão ao banho de mar em vez de ir à praia, vestido
de roupa de banho em vez de biquíni, carregando guarda-sol em vez de barraca.
Comprarão um automóvel em vez de comprar um carro, pegarão um defluxo em vez
de um resfriado, vão andar no passeio em vez de passear na calçada. Viajarão de trem
de ferro e apresentarão sua esposa ou sua senhora em vez de apresentar sua mulher.
(SABINO, Fernando. Folha de S. Paulo, 13 abr. 1984 (adaptado).)
que ranking de público é coisa legal. Mas posso dizer outra coisa?
Não tenho tempo de ficar entrando em sites e preenchendo questionários de
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avaliação de cada refeição, produto e serviço que usufruo na vida! Simples assim!
Sem falar que é chato! Ainda mais agora que os crescentes intermediários eletrônicos
se metem no jogo entre o cliente e o fornecedor.
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Quando o garçom ou o “maitre” perguntam se a comida está boa, você fica
contente em responder, até porque eles podem substituir o prato se você não estiver
gostando. Mas quando um terceiro se mete nessa relação sem ser chamado, pode ser
excessivo e desagradável. Parece que todas as empresas do mundo decidiram que,
além de exigir informações cadastrais, logins e senhas, e empurrar goela abaixo seus
sistemas automáticos de atendimento, tenho agora de preencher fichas pós-venda
eletronicamente, de modo que as estatísticas saiam prontas e baratinhas para eles do
outro lado da tela, à custa do meu precioso tempo!
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Por que o OpenTable tem de perguntar de novo o que achei da comida? Eu sei.
Porque para o OpenTable essa informação tem um valor diferente. Não contente em
fazer reservas, quis invadir a praia do Yelp, o grande guia local que lista e traz
avaliações dos clientes para tudo quanto é tipo de serviço, a começar pelos
restaurantes.
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O Yelp, por sua vez, invadiu a praia do Zagat (recém-comprado pelo Google),
tradicionalíssimo guia (em papel) de restaurantes, que, por décadas, foi alimentado
pelas avaliações dos leitores, via correio.
As relações cliente-fornecedor estão mudando. Não faltarão “redutores” de
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35. (FUVEST/2012)
"Todas as variedades linguísticas são estruturadas e correspondem a sistemas e
subsistemas adequados às necessidades de seus usuários. Mas o fato de estar a língua
36. (FUVEST/2012)
De acordo com o texto, em relação às demais variedades do idioma, a língua padrão
se comporta de modo
a) inovador.
b) restritivo.
c) transigente.
d) neutro.
e) aleatório.
39. (ENEM/2012)
Entrevista
Almir Suruí
Não temos o direito de ficar isolados
Soa contraditório, mas a mesma modernidade que quase dizimou os suruís nos
tempos do primeiro contato promete salvar a cultura e preservar o território desse
povo. Em 2007, o líder Almir Suruí, de 37 anos, fechou uma parceria inédita com o
Google e levou a tecnologia às tribos. Os índios passaram a valorizar a história dos
anciãos. E a resguardar, em vídeos e fotos on-line, as tradições da aldeia. Ainda se
valeram de smartphones e GPS para delimitar suas terras e identificar os
desmatamentos ilegais. Em 2011, Almir Suruí foi eleito pela revista americana Fast
Company um dos 100 líderes mais criativos do mundo dos negócios.
ÉPOCA – Quando o senhor percebeu que a internet poderia ser uma aliada do povo
suruí?
Almir Suruí – Meu povo acredita no diálogo. Para nós, é uma ferramenta muito
importante. Sem a tecnologia, não teríamos como dialogar suficientemente para
propor e discutir os direitos e territórios de nosso povo. Nós, povos indígenas, não
temos mais o direito de ficar isolados. Ao usar a tecnologia, valorizamos a floresta e
criamos um novo modelo de desenvolvimento. Se a gente usasse a tecnologia de
qualquer jeito, seria um risco. Mas hoje temos a pretensão de usar a ferramenta para
valorizar nosso povo, buscar nossa autonomia e ajudar na implementação das
políticas públicas a favor do meio ambiente e das pessoas.
RIBEIRO, A. Época, 20 fev. 2012 (fragmento).
40. (FUVEST/2011)
Já na segurança da calçada, e passando por um trecho em obras que atravanca
nossos passos, lanço à queima-roupa:
41. (FUVEST/2011)
Ao reproduzir um diálogo, o texto incorpora marcas de oralidade, tanto de ordem
léxica, caso da palavra “garra”, quanto de ordem gramatical, como, por exemplo,
a) “lanço à queima-roupa”
b) “Agora você me pegou”.
c) “deixa eu ver”
d) “Bogotá é muito feiosa”
e) “é algo que me toca”.
42. (ENEM/2010)
O reconhecimento dos diferentes gêneros textuais, seu contexto de uso, sua função
específica, seu objetivo comunicativo e seu formato mais comum relacionam-se aos
conhecimentos construídos sócio culturalmente. A análise dos elementos
constitutivos desse texto demonstra que sua função é
a) Vender um produto anunciado.
b) Informar sobre astronomia.
c) Ensinar os cuidados com a saúde.
d) Expor a opinião de leitores em um jornal.
e) Aconselhar sobre amor, família, saúde, trabalho.
44. (UNIFESP/2007)
Entrevista de Adélia Prado, em O coração disparado
Um homem do mundo me perguntou:
O que você pensa de sexo?
Uma das maravilhas da criação, eu respondi.
Ele ficou atrapalhado, porque confunde as coisas
45. (UNIFESP/2005)
Senhor feudal
Se Pedro Segundo
Vier aqui
Com história
Eu boto ele na cadeia.
(Oswald de Andrade)
46. (ENEM/2005)
O termo (ou expressão) destacado que está empregado em seu sentido próprio,
denotativo ocorre em
a) “(....) É de laço e de nó De gibeira o jiló Dessa vida, cumprida a sol (....)” (Renato
Teixeira. Romaria. Kuarup Discos. setembro de 1992.)
b) “Protegendo os inocentes é que Deus, sábio demais, põe cenários diferentes nas
impressões digitais.” (Maria N. S. Carvalho. Evangelho da Trova. /s.n.b.)
c) “O dicionário-padrão da língua e os dicionários unilíngues são os tipos mais comuns
de dicionários. Em nossos dias, eles se tornaram um objeto de consumo obrigatório
para as nações civilizadas e desenvolvidas.” (Maria T. Camargo Biderman. O
dicionário-padrão da língua. Alfa (28), 2743, 1974 Supl.)
d)
e) “Humorismo é a arte de fazer cócegas no raciocínio dos outros. Há duas espécies
de humorismo: o trágico e o cômico. O trágico é o que não consegue fazer rir; o
cômico é o que é verdadeiramente trágico para se fazer.” (Leon Eliachar.
www.mercadolivre.com.br. acessado em julho de 2005.)
47. (UFV/2005)
Leia as passagens abaixo, extraídas de São Bernardo, de Graciliano Ramos:
48. (UNIFESP/2005)
Leia os versos de Almeida Garrett para responder às questões
49. (FGV/2003)
Assinale a alternativa em que ocorra discurso indireto.
a) Perguntou o que fazer com tanto livro velho.
b) Já era tarde. O ruído dos grilos não era suficiente para abafar os passos de Delfino.
Estaria ele armado? Certamente estaria. Era necessário ter cautela.
c) Quem seria capaz de cometer uma imprudência daquelas?
d) A tinta da roupa tinha já desbotado quando o produtor decidiu colocá-la na
secadora.
e) Era então dia primeiro? Não podia crer nisso.
50. (FUVEST/2000)
Sinhá Vitória falou assim, mas Fabiano resmungou, franziu a testa, achando a frase
extravagante. Aves matarem bois e cabras, que lembrança! Olhou a mulher,
desconfiado, julgou que ela estivesse tresvariando.
(Graciliano Ramos, Vidas secas)
Uma das características do estilo de Vidas secas é o uso do discurso indireto livre, que
ocorre no trecho
a) “Sinhá Vitória falou assim”.
b) “Fabiano resmungou”.
c) “franziu a testa”.
d) “que lembrança”.
e) “olhou a mulher”
8 Gabarito
1. D 18. B 35. A
2. B 19. B 36. B
3. A 20. A 37. B
4. A 21. A 38. D
5. D 22. D 39. D
6. B 23. B 40. E
7. D 24. C 41. C
8. E 25. B 42. A
9. B 26. E 43. E
10. C 27. E 44. E
11. B 28. B 45. B
12. E 29. D 46. C
13. C 30. A 47. A
14. B 31. C 48. D
15. B 32. A 49. A
16. C 33. B D
17. D 34. A