01 The Braydens - Um Casamento Por Um Deve

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Os Braydens

01 – Um Casamento por Dever


02 – Conde de Westcliff
Quando James, o Conde de
Exmoor concorda em se casar com
Sophie como um favor ao seu irmão
moribundo, ele nunca esperava que
este casamento feito por dever fosse a
cura para o seu coração partido pela
rejeição de um antigo amor e do corpo
cheio de cicatrizes de batalha.
Um romance maravilhoso e sem muito vai e vem, exceto na
cama. Rsrs.
Após James propor a Bella, a filha de um duque e ser rejeitado
pelas cicatrizes, que não eram poucas em seu corpo, ele resolve honrar
com a promessa feita a seu companheiro de guerra em Waterloo e
casar-se com sua irmã, Sophie.
Sophie não tem para onde ir, pois tão logo seu irmão morreu em
campo de batalha, seu tio toma posse de sua casa e a manda embora.
Entretanto, ela não quer ser uma carga na vida do conde. Apaixonada
por ele sem conhecê-lo, somente pelas descrições de seu irmão nas
cartas que lhe enviava, ela não sabe o que fazer para conquistar o
conde.
Mas um será a salvação do outro. Onde ela está caída, ele a
levanta. Onde ele está fraquejando e afundando, ela o eleva.
Um amor lindo.
Pallas Athenas
Londres, Inglaterra
Outubro de 1815

James Brayden, quinto Conde de Exmoor, olhou para a garrafa


de conhaque que seu mordomo havia acabado de carregar em uma
bandeja de prata cintilante e pousou ao lado dele na elegante
escrivaninha de mogno de seu escritório. Esperou que o mordomo
partisse e fechasse a porta atrás de si antes de se virar para os dois
convidados que tinham acabado de chegar e estavam prestes a mudar
sua vida para sempre.
— Quer uma bebida, Major Allworthy?
Ordinariamente, ele teria dado a seu amigo Lawrence Allworthy,
um amável tapinha nas costas, e serviria a ambos um copo cheio com
o líquido âmbar ardente que seu mordomo acabara de trazer.
Normalmente, eles teriam se acomodado nas cadeiras de couro
almofadadas ao lado da lareira com um fogo ardente e passariam a
noite se embebedando enquanto relembrava os homens de seu
regimento e os anos que passara no continente combatendo as forças
de Napoleão. Normalmente, a primeira tarefa deles seria brindar por
seus companheiros caídos.
Mas esta noite não era uma noite comum. Seu olhar fixou-se na
jovem mulher com cabelos escuros avermelhados lustrosos e grandes
olhos castanhos que permanecia quieta ao lado de seu amigo.
— E você, senhorita Wilkinson. Posso te oferecer um chá?
Refresco? A jornada não pode ter sido fácil para você.
— Não, obrigada. — Ela corou enquanto falava e, em seguida,
olhou para os dedos dos pés, obviamente, desejando estar em qualquer
lugar, menos em seu escritório.
James decidiu que o rubor rosa estava se tornando bastante forte
em suas bochechas.
Apoiou-se na bengala para andar devagar pela grande
escrivaninha que dominava o centro da sala e parou ao lado de seus
convidados. De perto, ele podia ver que a jovem estava tremendo,
embora fizesse o possível para esconder o medo enquanto ele se
aproximava. Suas cicatrizes eram tão medonhas? Ele supunha que
eram, pois ainda tinha que se acostumar com elas. E seriam mais
alarmantes para um estranho.
— Por favor, — disse James, apontando para as cadeiras ao lado
da lareira. — Esta será sua casa em breve, senhorita Wilkinson. Você
pode se acostumar com isso.
Ela mordeu os lábios e franziu a testa levemente.
— Não quero ser rude, lorde Exmoor. Mas o que te faz pensar que
desejo aceitar sua proposta?
Ele trocou olhares com Lawrence, que parecia tão surpreso com a
observação dela quanto ele.
— Foi o último pedido do seu irmão que eu me case com você. Eu
prometi a ele que aceitaria e tenho a intenção de honrar esse voto.
Seu rubor rosa se aprofundou.
— Eu não tenho nada a dizer sobre o assunto? — Ela inclinou o
queixo para cima para encontrar seu olhar, e embora fosse pequena e
esbelta, o topo de sua cabeça mal chegava ao seu ombro, ele podia ver
que agia com orgulho e determinação teimosa.
Lawrence pigarreou.
— Senhorita Wilkinson, que escolha tem? Você não quer se casar
com um conde? Não conheço nenhuma jovem em suas circunstâncias
que recusasse...
— Major Allworthy, — disse James, silenciosamente
interrompendo-o. — Acho que é melhor que eu fale em meu nome. —
Ele entendia a relutância da moça, agora que ela dera uma boa olhada
nele, e esperava que agora estivesse silenciosamente engolindo sua
repulsa. Enquanto sua perna esperançosamente se fortaleceria com o
tempo, as cicatrizes irregulares em seu rosto eram permanentes e,
infelizmente, muito proeminentes para se esconder. — Sem dúvida, os
termos do nosso acordo devem preocupá-la. Devemos falar sobre eles
agora, pois você pode ter alguns equívocos sobre o que... ah... eu devo
esperar em seus deveres como minha esposa.
Ele passou a mão pelo cabelo.
— Talvez devêssemos falar sobre esse assunto em particular.
Major Allworthy... Lawrence, você se importaria de nos dar um
momento a sós?
Seu amigo parecia estar tão desconfortável quanto James e mais
do que ansioso para deixar essa discussão embaraçosa para ele.
— Excelente ideia. Eu estarei na sua biblioteca. Tenho certeza de
que há um livro que estou ansioso para ler. — Ele saiu correndo como
se suas mangas estivessem em chamas.
A garota parecia desesperada para segui-lo, mas James colocou
uma mão leve em seu cotovelo para segurá-la.
— Dê-me um momento do seu tempo, senhorita Wilkinson. Ouça-
me antes de sair daqui. — Ele lançou-lhe um sorriso irônico. — Ou se
vá. Eu não te culpo.
Ela cedeu com um breve aceno de cabeça.
— Por favor, vamos nos sentar ao lado do fogo. — Ele a colocou
em uma das cadeiras e sentou na outra. Ela deve ter notado a maneira
desajeitada como ele se sentou no macio couro marrom e esticou a
perna na frente dele, já que ele ainda não podia dobrá-la. Mas ela não
disse nada e, para seu crédito, não demonstrou nenhum desgosto.
— Eu sei que isso não é fácil para você, — disse ele, incerto como
alguém educadamente levantava a questão do quarto para uma jovem
que se conhecia há dois minutos. No entanto, essa questão
particularmente espinhosa tinha que estar em primeiro lugar em sua
mente e James sabia que ele tinha que lidar com isso imediatamente.
— Tenha certeza de que não vou... er... — Humilhação sangrenta! Em
todos os seus dias, ele nunca se imaginou nessa situação embaraçosa.
Antes da guerra, ele havia sido considerado um problema. Lindas
moças se lançavam em seu caminho com uma regularidade tediosa,
todas ansiosas por ganhar seu reconhecimento na esperança de que
pudessem se tornar a próxima condessa Exmoor.
Agora, elas se afastavam na esperança de evitá-lo. Todas, exceto
as mais desesperadas e intimidadas debutantes cujas famílias
precisavam de fundos para manter suas propriedades. Ele correu a
mão pela nuca em consternação.
— Eu prometi ao seu irmão que cuidaria de você. Ele extraiu
minha promessa de casar-se contigo, pois temia que seu primo não
fosse generoso com você uma vez que ele tomasse posse dos bens de
seu irmão. Seus medos obviamente se mostraram corretos. O que você
faria se o Major Allworthy e sua esposa não estivessem à mão para levá-
la a Londres?
Seu rosto começou a enrubescer e ele sabia que não tinha nada a
ver com o calor das chamas queimando na lareira.
— Eu teria conseguido, meu lorde. Eu não sou seu caso de
caridade.
— De fato, você não é.
— Meu lorde, — disse ela mais insistente quando encontrou seu
olhar. — Eu concordei em acompanhar o Major Allworthy na esperança
de que você possa me ajudar a encontrar um emprego adequado.
Ele arqueou uma sobrancelha.
— Você está me pedindo para renegar a minha promessa ao seu
irmão? — Na verdade, ele gostava dessa franqueza dela e do fato de que
ela não vacilava ao olhar para ele. — Não posso fazê-lo, Srta. Wilkinson.
Estou me oferecendo para fazer de você minha esposa. Na verdade,
ficaria honrado se você aceitasse. Eu sei que sou um pobre espécime.
Ela arqueou uma sobrancelha suave no que parecia ser uma
surpresa. Ela não estava vendo o óbvio?
— Certamente não sou o marido que você poderia ter esperado —
continuou ele, — mas estará sempre a salvo aqui e será tratada com
honra. — Ele limpou a garganta. — Você terá seu próprio quarto de
dormir, é claro. E eu não vou me impor.
Senhor! Quanto mais claro ele poderia afirmar que manteria as
mãos longe dela?
Sua única resposta foi um leve aumento de seus grandes olhos
castanho chocolate, então ele continuou a conversa desconfortável.
— Eu não tenho ilusões. A guerra tomou seu preço de todos nós.
Quaisquer que sejam as esperanças ou sonhos que eu possa ter tido...
— Ele apontou para o rosto. — Bem, eu não sou mais a ideia de
perfeição de qualquer mulher.
Seus lábios se voltaram para cima na sugestão de um sorriso.
— Meu lorde, posso ser impertinente?
Ele preferia que ela fosse um rato tímido ao redor dele.
— Claro.
— Você parece pensar que sou uma tola de cérebro simples e que
minha única exigência em um marido é um homem com um rosto
bonito. Asseguro-lhe, não sou tão superficial. — Ela soltou um suspiro
suave e se inclinou para mais perto, de modo que ele sentiu o cheiro
sutil de sabonete de lavanda ao longo de sua esbelta garganta. — Não
vou negar que minha situação é terrível. Mas isso não me dá o direito
de interferir na sua felicidade futura. Como você pode ver, eu tenho
pouco polimento. Eu não sou nenhuma gema da sociedade. — Ela
balançou a cabeça e suspirou novamente. — Como você pode pensar
em me tornar sua condessa? Sou uma estranha sem dinheiro, sem
conexões familiares.
— Eu dei ao seu irmão a minha palavra e pretendo mantê-la. Eu
faria o mesmo se você tivesse a cara de um porco com verruga ou o
cérebro de um ganso. Felizmente, você não tem nenhuma dessas
qualidades. Tudo que eu peço é que você viva sob o meu teto — e
quartos separados, é claro — e atuar como minha anfitriã quando
surgir a necessidade de me entreter em casa. Eu também pediria que
você me acompanhasse aos bailes e outros compromissos sociais para
os quais seremos convidados.
Ela inclinou a cabeça e mordiscou o lábio enquanto o estudava,
seu olhar mais uma vez direto e avaliando.
— Um acordo de negócios.
— Sim. — Ele assentiu. — Você deve ter uma mesada, é claro.
Seus dias serão principalmente seus.
— Eu entendo. — Ela se levantou e teve a cortesia de fingir
estudar as chamas brilhando na lareira enquanto ele lutava para ficar
de pé, a fim de ficar ao lado dela. — Eu suponho que devemos apertar
as mãos para selar o nosso acordo.
Ela estava aceitando os termos dele?
Ela estendeu a pequena mão enluvada para confirmar.
Ele não estava acostumado a apertar a mão de uma mulher, pois
aquelas que conhecia simplesmente balançavam os dedos diante dele
na expectativa de que ele se curvaria sobre eles e murmuraria alguma
inanidade educada. Mas a Srta. Wilkinson, embora bastante singela
em sua aparência e maneiras, não tinha um jeito absurdo sobre ela.
Ele colocou a bengala de lado e engoliu a mão dela na sua.
— Feito.
Ele esperava uma fanfarra de trombeta. Um coro de anjos
cantando. Um tremor no chão, pois a perspectiva de casamento não
era pequena. Mas tudo ficou em silêncio. Até mesmo a Srta. Wilkinson
estava prendendo a respiração, sem dúvida contemplando a barganha
que acabara de fazer.
— Um pequeno pedido, — disse ele, ainda segurando a mão dela
e observando que ela não fez nenhum movimento para escapar do seu
alcance. — Em público, vou chamá-la de Lady Exmoor. Mas eu espero
algo menos formal quando estivermos sozinhos em casa. Qual é o seu
nome?
Ela riu levemente e balançou a cabeça.
— Meu irmão deixou de mencionar isso?
James lançou-lhe um sorriso estremecido.
— Ele mencionou uma vez ou duas, mas frequentemente ele se
referia a você como... Smidge1.
Ela não pôde deixar de rir de novo, mas aquele trinado melódico
foi pontuado por um gemido.
— Oh céus! Esse foi o nome horrível que ele me deu quando
éramos crianças. Espero que você o retire de sua memória
imediatamente! Meu nome é Sophie.
— Sophie, — ele repetiu baixinho. — Prazer em conhecê-la. Eu
sou James.

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Smidge – pequena.
— Que bom conhecê-lo, meu lorde. — Sophie colocou a mão sobre
o coração acelerado que continuava batendo rápido. Lorde Exmoor se
apoderara de sua outra mão para selar sua barganha e ficou surpresa
do quanto seu toque era agradável. Suas palmas eram ásperas e
calejadas, ela poderia dizer até mesmo através do tecido macio de sua
luva. Mas havia uma gentileza no modo como ele segurava a mão dela
que não podia ser negada.
— Oh, isso não serve. — Ele balançou a cabeça e a olhou com
tanta seriedade, que ela pensou que ia repreendê-la. O que ela fez para
superá-lo era um mistério. No momento seguinte, sua expressão se
iluminou. — Meu nome é James, como acabo de dizer. Obviamente,
você deve se dirigir a mim como Exmoor ou meu lorde quando estiver
na presença de outros. — Ela assentiu. — Mas eu espero que você me
chame de James sempre que estivermos sozinhos. Tal como agora.
Inclinou a cabeça para ela e por um instante louco, pensou que
ele poderia beijá-la. Por um momento ainda mais louco e fugaz, ela
pensou que poderia querer beijá-lo de volta.
Não, ela estava simplesmente envolvida no surpreendente acordo
que acabara de fazer. Ela estava prestes a deixar de ser pobre para se
tornar a Condessa de Exmoor. Além do mais, o homem com quem ela
iria se casar em breve parecia ter muitas das qualidades que ela
esperava em um marido. Bondade, honra e ele também era fisicamente
atraente. Ele era grande e musculoso, e se olhasse para além das
cicatrizes no rosto, via-se o fino corte de sua mandíbula e a inteligência
por trás de seus olhos esmeralda escuros. Ele tinha uma cabeça cheia
de cabelos loiros, um loiro dourado escuro como o ouro do sol que se
levantava ao longo dos pântanos ao amanhecer.
— James, — ela disse em um sussurro.
O major Allworthy tossiu uma vez para ganhar sua atenção. Ela
não percebeu que ele havia retornado e estava de pé atrás dela.
— Ah, Lawrence. — Lorde Exmoor olhou por cima do ombro para
seu antigo companheiro de batalha e ao mesmo tempo soltou a mão
dela. — Parece que fizemos um acordo.
O major sorriu quando ele se dirigiu a ela.
— Lorde Exmoor obterá a licença especial amanhã e você se
casará no dia seguinte. Você tem alguma objeção ao acordo, Srta.
Wilkinson?
— Não. Agora que estamos de acordo, não há necessidade de
retardar o inevitável. — Na verdade, ela ficou aliviada e muito grata pelo
resgate. Não tinha ideia de onde mais poderia ir, agora, que seu primo
grosseirão a expulsara da única casa que conhecera. Felizmente, o
major Allworthy e sua esposa, que também moravam em York, a
haviam acolhido imediatamente.
Ela e lady Allworthy haviam se tornado boas amigas ao longo dos
anos e costumavam se encontrar para compartilhar notícias do irmão
de Sophie ou do major, já que os homens estavam no mesmo regimento
e frequentemente tinham notícias para transmitirem. Os dois homens
formaram um forte vínculo de amizade no calor da batalha. Seu terceiro
irmão de armas era Lorde Exmoor. Na verdade, Sophie sentia como se
já conhecesse esse homem que logo se tornaria seu marido, porque o
irmão o mencionara tantas vezes em suas cartas.
Mas foi só depois que Harry morreu, há apenas um mês, que ela
soube da promessa que Lorde Exmoor fizera-lhe. Pelos sombrios
olhares que o major e sua esposa tinham trocado, um com o outro, na
viagem de York a Londres, ela esperava encontrar um ogro.
Lorde Exmoor era tudo menos isso.
Na verdade, ela achava-o musculoso e bonito.
No entanto, ela hesitou em mencioná-lo, já que até ele estava com
a impressão de que era de uma feiura medonha para as mulheres. Se
ela tentasse assegurar-lhe que ele não era, duvidava que acreditasse
nela. Provavelmente, ele a teria colocado diretamente na categoria de
mulheres que sacrificariam seus corpos para obter sua riqueza e título.
Ela não era nada disso.
Se ele mudasse de ideia e quisesse sair da barganha que acabara
de fazer, ela concordaria. Afinal, ele era o único que estava sendo
sobrecarregado com uma esposa que não era de sua escolha. Em troca,
ela poderia impor-lhe que encontrasse emprego numa casa respeitável,
talvez como dama de companhia de uma idosa viúva, mas essa não
seria uma exigência. Mais um pedido, realmente. Ela não tinha
intenção de segurá-lo se ele desejasse voltar atrás no casamento.
Sophie permaneceu em silêncio enquanto ela e o major Allworthy
deixaram a elegante casa de Lorde Exmoor em Belgravia e voltavam de
carruagem para a igualmente elegante residência de Allworthy, em
Chipping Way, em Mayfair. A residência pertencia a seu avô um tanto
excêntrico, o general Allworthy, e Sophie imediatamente gostou do
velho. Embora rude por fora, ele tinha um coração gentil e a fez se
sentir bem-vinda desde o momento em que entrou em sua casa há
apenas dois dias.
Ambas as casas eram muito mais bonitas do que qualquer outra
em que ela tenha residido.
— Minha esposa e eu mantemos nossa própria residência em
Londres, — explicou o major na curta viagem de volta a Chipping Way.
— Mas preferimos ficar com meu avô. Ele resmunga e vocifera, mas
aguarda com expectativa as nossas visitas e é muito triste quando
partimos. Lady Allworthy e eu gostaríamos que ele residisse conosco
em York, mas ele não quer nem ouvir falar disso. Vou me preocupar
com o velho texugo quando voltarmos para o Norte.
Sophie era grata ao major e sua esposa por tudo o que tinham
feito por ela, e estava ansiosa para retribuir sua gentileza de alguma
forma.
— Se Lorde Exmoor permitir, ficarei feliz em visitar seu avô de
tempos em tempos. De fato, parece a solução perfeita, já que morarei
por perto. Eu poderia visitá-lo pelo menos uma vez por semana quando
estiver... oh, Deus querido. Oh céus. Parece estranho pensar em mim
como Lady Exmoor.
O major entendeu mal a preocupação dela e se inclinou para a
frente para acariciar sua mão.
— Seja paciente com Exmoor. Ele pode ter perdido a boa
aparência, mas tem um coração bom e nobre.
Ela apenas assentiu. O que havia de errado com todos? Ela tinha
dois olhos em funcionamento. Sim, ele tinha cicatrizes. Longas e
hediondas com certeza. Mas elas não diminuíram seus belos traços.
O resto do dia passou depressa. Sophie e a esposa do major,
Lydia, passaram a tarde comprando sapatos elegantes e um delicado
tecido de seda de damasco para fazer um novo vestido. Afinal, ela não
podia se casar com um conde em um vestido de lã e botas marrons.
Lydia se recusou a ouvir qualquer protesto sobre o custo.
— Considere isso como nosso presente de casamento para você.
Sophie começou a trabalhar no vestido assim que voltaram para
casa. Ela se retirou para seus aposentos e costurou por várias horas
até a hora do jantar. Naquela noite, ela e os Allworthys foram
convidados por seus vizinhos, os Farthingales, que estavam oferecendo
um jantar. John e Sophie Farthingale — elas compartilharam uma
risada sobre seus nomes serem iguais, — parecia entender seu receio
sobre suas próximas núpcias.
— Haverá fofocas sobre o seu casamento — disse Sophie
Farthingale com um abanão de cabeça, — mas será mansa se
comparada com as desventuras em que minhas filhas conseguiram se
encontrar. — Ela olhou para a mesa em que suas duas filhas mais
novas, gêmeas idênticas, estavam. — Eu estremeço em pensar que caos
elas vão criar quando chegar a vez delas.
Sophie seguiu seu olhar.
— Suas filhas, Lily e Daffodil? Mas elas parecem tão doces. — As
meninas tinham cabelos escuros e grandes olhos azuis, e a única
maneira de diferenciá-las era que Lily usava óculos que continuavam
se deslizando pelo nariz suado.
— As aparências enganam, — disse a mãe com um sorriso
melancólico. — Mas quanto a você, Sophie, continue forte. Eu sei que
Exmoor teve um mau momento, com seus ferimentos. Às cicatrizes são
bem profundas. Mais uma razão para ele precisar de uma boa mulher
para amá-lo. A fofoca vai parar quando você se estabelecer em seu
casamento. Venha sempre que sentir necessidade de conversar.
— Eu virei. Obrigada, Sra. Farthingale. — Ela não se deu ao
trabalho de revelar que o casamento deles era uma farsa, um arranjo
comercial e nada mais. Ela esperava que todos sentados à mesa já
soubessem disso, pois os condes não se apaixonavam à primeira vista
por mulheres jovens comuns ou se ofereciam para casar com elas no
momento seguinte.
Embora o dia agitado a tivesse esgotado, Sophie passou uma noite
agitada e acordou temendo o que esse novo amanhecer traria. Ela
estava certa de que a proposta de Lorde Exmoor era apenas um sonho
e estava prestes a descobrir seu verdadeiro destino. Ela se lavou e se
vestiu, e forçou um sorriso em seu rosto para que sua disposição
parecesse tão brilhante e ensolarada quanto esse dia fresco de outubro.
Ela adorava o leve frio no ar e o incrível azul do céu. Ela adorava
os vermelhos e dourados das folhas em mudança nas árvores nessa
época do ano.
As cores do outono combinavam com sua tez, mas ela escolhera
a seda de damasco para seu vestido de noiva, porque era uma cor suave
de primavera, e a primavera era uma época de novos cordeiros,
bezerros e potros vindo ao mundo, um tempo para novos começos.
Um tempo para a esperança.
Ao meio-dia, ela, Lydia e o major estavam a caminho da casa de
Lorde Exmoor para fazerem os preparativos finais para o casamento.
Lorde Exmoor cumprimentou-os educadamente e os acompanhou até
a sala de jantar para uma refeição leve de presunto frio em uma
cobertura de mel e pato em um purê de castanha que era a coisa mais
saborosa que Sophie comera em séculos.
Sentiu o olhar de Lorde Exmoor nela a maior parte do tempo e se
perguntou se suas maneiras à mesa estavam à altura de seu padrão.
Embora eles mantivessem uma conversa fácil, ela não podia deixar de
pensar que a qualquer momento agora, ele iria implorar pelo fim de seu
acordo.
— Vamos nos retirar para o meu escritório? — Ele sugeriu quando
terminaram a refeição.
Por mais que Sophie tivesse gostado da refeição, ela comera muito
pouco. E falou muito pouco depois que eles entraram no escritório. O
major Allworthy e sua esposa se acomodaram no sofá enquanto ela e
lorde Exmoor se sentavam diante deles. Um fogo aconchegante
queimava na lareira e o mordomo trouxera chá e bolos para degustar
enquanto faziam seus planos de casamento.
Deus do céu!
Amanhã ela estaria casada.
À medida que a discussão sobre o casamento progredia, Sophie
começou a se mexer e remexer desconfortavelmente.
— Eu pensei que fosse uma cerimônia simples, apenas o major e
sua esposa como testemunhas. Temos muitos convidados?
Lorde Exmoor fez uma careta.
— Não, mas tenho família na cidade que devo convidar. Minha
irmã e seu marido e meu irmão mais novo. Minhas tias e alguns primos.
— De repente, ele fez uma pausa e sacudiu a cabeça. — Maldição, mas
eu sou tolo. Perdoe minha falta de consideração. Tem alguém que você
queira convidar?
Ele parecia sinceramente angustiado, por isso ela apressou-se em
assegurar-lhe que, com o irmão que se foi, não havia ninguém em toda
a Inglaterra que se importasse em convidar.
— Estou ansiosa para conhecer sua família. Espero que sejam tão
agradáveis quanto você.
Seus olhos esmeralda escuros se arregalaram de surpresa.
— Você acha que eu sou agradável?
Seu sorriso escorregou enquanto estudava sua expressão
sombria.
— Não é verdade? — O major Allworthy havia falado tão bem dele,
assim como o irmão dela em suas cartas para ela. Ela nunca
considerou que ele não fosse. — Isso é... — Ela agarrou o braço da
cadeira e voltou seu olhar implorando para Lydia Allworthy.
A adorável mulher tinha, talvez, trinta anos, oito anos a mais do
que Sophie, mas tinha muito mais experiência em lidar com homens e
parecia entender suas preocupações.
— Ele e meu marido podem tomar brandy um pouco demais para
o meu gosto, mas raramente deixam que a bebida os deixe fora de
controle. Na verdade, eu nunca vi Lorde Exmoor beber demais. Ou se
comportar de forma irresponsável ou descortês. Sobre qualquer coisa,
ele está no controle. Eu acho que essa é a única falha de Lorde Exmoor.
Em todos os outros aspectos, ele é um homem de inteligência e honra.
Em outras palavras, não. Ele não joga e não vai bater em você quando
estiver bêbado.
— Lydia! — Major Allworthy começou a balbuciar de horror.
Lorde Exmoor franziu a testa.
— Senhorita Wilkinson, posso parecer uma fera repulsiva, mas
nunca levantei a mão para uma mulher e nunca o farei.
— Repulsiva? — Sophie fechou as mãos em punhos e ficou de pé,
agora decididamente estava zangada com ele e com todos os outros que
o faziam sentir-se menor. — Se você se atrever a se chamar assim de
novo, meu lorde, sou eu que devo levar meus punhos para você. E é
melhor você não pensar dessa maneira sobre si mesmo. Meu primo é
repulsivo. Você é nobre e heroico.
Sua sobrancelha subiu e um sorriso irônico cruzou seus lábios.
— Você ouviu isso Lawrence? Eu sou heroico.
Sophie continuou a segurar as mãos em punhos ao seu lado.
— Essas cicatrizes o consomem, mas elas não são nada para mim.
É hora de parar de olhar para elas, pois levei apenas um momento para
olhar além delas e ver o homem que você realmente é. — Ela respirou
fundo, preparada para dizer mais e então percebeu que já tinha falado
demais. — Ela fechou a boca e sentiu o calor de um rubor rastejar em
suas bochechas. — Me desculpe. Eu não tinha o direito de falar com
você desse jeito.
Ela esperava que ele ficasse furioso, mas quando se atreveu a
encontrar o olhar dele, viu que ele ainda estava sorrindo.
— A irmãzinha de Wilkinson sabe detonar a artilharia. É melhor
eu aprender a me desviar das balas de canhão quando ela as deixar
voar.
Agora todos os três sorriam para ela.
Suas bochechas já estavam quentes, mas elas se transformaram
em chamas vermelhas.
— Não... eu nunca iria... — Ela queria sair da sala, mas Lorde
Exmoor se levantou e agora estava parado diante dela bloqueando seu
caminho.
Ele apoiou-se na bengala com uma mão e levou-a gentilmente pelo
cotovelo com a outra.
— Estou meramente te provocando. Na verdade, faz bem ao meu
coração saber que não vai se encolher quando eu chegar perto você.
Encolher?
Ela desejou que ele parasse de usar essas palavras para descrever
a si mesmo. Ela estava se divertindo com sua boa sorte e decididamente
não via este arranjo como um sacrifício necessário para manter um teto
sobre sua cabeça e comida em sua barriga. Sophie sabia de apenas um
jeito de parar esses pensamentos ridículos que ele tinha sobre si
mesmo, mas planejar na mente dela era uma coisa. Beijá-lo era outra
completamente diferente.
De fato, ela queria calar a boca dele com um beijo toda vez que ele
estava prestes a pronunciar aquelas palavras horríveis sobre si mesmo.
Mas ela não ousava. Ele queria um acordo de negócios e ela honraria
seus desejos.
Todos os seus amigos e familiares tinham suas noções? Talvez
eles estivessem com medo de falar e contradizê-lo. Uma vez que fosse
sua esposa, ela faria o seu melhor para mudar a opinião dele sobre si
mesmo. Não seria tarefa fácil. A guerra havia sido difícil para muitos
homens e muitos haviam retornado com o ânimo quebrado, contando
Lorde Exmoor entre eles.
Até mesmo seu irmão havia cedido ao desespero às vezes. A
maioria das cartas que recebera dele enquanto ele estava no
continente, batalhando contra Napoleão, era propositalmente
animadora e tranquilizadora, mas havia momentos em que ele não
conseguia conter sua tristeza e as notícias que ele transmitia a
reduziram às lágrimas.
Depois de ler essas cartas, ela queria desesperadamente fazer
alguma coisa para ajudar. Ah, ela se ofereceu para ajudar os soldados
feridos que voltaram para casa, como muitas das mulheres de York
fizeram. Mas havia pouco mais que ela pudesse fazer. Ela não
conseguira envolver os braços em volta do irmão. Ela não pudera
consolá-lo quando um amigo caiu em batalha. Ela só podia escrever
para ele sobre sua rotina diária e relatar notícias de seus amigos e
vizinhos. Na verdade, ele parecia gostar mais daquelas cartas.
— Sinto muito, meu lorde. Eu falei demais mais uma vez.
Ele respondeu com um grunhido e depois passou o polegar
levemente ao longo de seu cotovelo.
— Nenhum pedido de desculpas é necessário.
Lydia limpou a garganta.
— Exmoor, eu espero que você não se importe, mas devemos nos
despedir agora. O vestido de Sophie ainda não está pronto e tenho
certeza de que você não quer que sua noiva costure a noite toda e
amanhã de manhã.
Sua sobrancelha subiu em surpresa.
— Maldição, — ele murmurou em voz baixa, mas Sophie estava
perto o suficiente para ouvi-lo. — Eu não pensei no seu vestido de
noiva. Eu deveria ter feito arranjos com uma costureira. Eu farei isso
imediatamente. O que mais você precisa, senhorita Wilkinson?
— Nada, meu lorde. O vestido estará pronto em poucas horas.
Lydia falou.
— É uma seda de damasco muito bonita. Sua noiva ficará linda
usando-a, mas não é suficiente. Ela não tem um colar adequado ou...
Sophie ofegou.
— Não, Lydia. Não é necessário. Eu vou fazer alguma coisa com
os restos de seda.
Ela sentiu o aperto de seus dedos em seu cotovelo.
— Você não vai, senhorita Wilkinson. As pérolas Exmoor serão
entregues a você pela manhã. Isto é, a menos que queira levá-las com
você agora.
Seus olhos se arregalaram de surpresa.
— Não, meu lorde. Na verdade, eu não poderia pedir isso a você.
— Você não pediu. Eu estou insistindo. — Ele olhou para seus
amigos antes de voltar sua atenção para ela. — Eu deveria ter pensado
por mim mesmo. Parece que eu tenho sido bastante lento,
negligenciando seu guarda-roupa, negligenciando o essencial, e ainda
esperando que você cause uma boa impressão a minha família, quando
não fiz nada para ajudar.
Ele suspirou quando a soltou para passar a mão pelos cabelos.
Um hábito dele, ela notou, sempre que estava perplexo.
— Uma vez que nos casarmos, nossa primeira tarefa será ter
novos vestidos feitos para você. De fato, todo um novo guarda-roupa.
Vou designar uma das servas para acompanhá-la, se você preferir
escolher da minha equipe ou entrevistar candidatas adequadas para a
vaga, a escolha é sua.
— Tenho certeza que uma das suas servas vai fazer muito bem.
— Meu Deus, ela estava em um sonho? Não, ele estava muito perto e
ela podia sentir o calor do corpo dele. Ela inalou o cheiro inebriante de
almíscar em seu pescoço e gostou bastante desse cheiro sutil, mas
inconfundivelmente masculino.
Ela deveria ter uma expressão estranha no rosto, pois Lorde
Exmoor de repente franziu a testa e pôs a mão no cotovelo dela mais
uma vez, como se fosse para apoiá-la. Ela não ia desmaiar, embora
estivesse fraca e tonta. Na semana passada, ela estivera se
perguntando onde e como conseguiria sua próxima refeição. Esta
semana, seu futuro marido insistia que ela comprasse um novo
guarda-roupa, insistia em lhe fornecer joias caras e estava prestes a
contratar uma serva para cuidar dela.
Sua vida certamente tomou um rumo estranho.
Uma curva estranha, de fato.
Sophie ouviu enquanto o resto dos arranjos eram feitos, mas
quando estava prestes a sair com os Allworthys, Lorde Exmoor a
segurou por um momento.
— Miss Wilkinson, tenho um pedido. Fique tranquila, não vou
pedir a você nada demais.
Ela inclinou a cabeça em confusão.
— Claro. O que é que você precisa de mim?
— A fofoca será desenfreada, inclusive entre a minha família. —
Ele parou por um momento, obviamente não estava ansioso para
explicar mais, mas ela sorriu como se insistisse. — Eu não quero a
pena deles. Eu não os quero acreditando que você está se casando
comigo apenas pela minha riqueza e título. Na verdade, sei que não é e
agradeço mais do que posso dizer. Mas seria muito útil para mim se
você... oh, maldição... se você me permitisse beijá-la quando trocarmos
os votos.
Ela assentiu.
— Ah, você está me pedindo para não recuar quando você abaixar
seus lábios para os meus.
— Eu estava pensando em beijá-la na bochecha. Isso é tudo. Eu
não pediria mais.
— Não.
Ele franziu a testa.
— O quê?
— Não, eu não vou permitir que você me beije na bochecha. —
Honestamente, se ele não parasse de pensar em si mesmo como sendo
feio, ela o chutaria nas canelas. — Mas isso é o que eu vou permitir que
você faça.
Ela descaradamente colocou as mãos na parte de trás de sua
cabeça, e ficou na ponta dos pés enquanto puxava-o para um beijo. Ela
nunca beijou um homem nos lábios antes e não tinha certeza do que
esperar, certamente não o calor agradável que a preenchia no momento
em que seus lábios encontravam os dele.
Certamente não o calor que a encheu quando ele circulou com o
braço em torno de sua cintura e a puxou para mais perto para tomar o
controle de seu beijo. De repente, ela foi pressionada contra seu peito
largo e encontrou-se agarrando seus ombros duros como pedra para
manter o equilíbrio enquanto ele aprofundava o beijo até que sua boca
foi deliciosamente esmagada contra a dele.
Ela manteve os lábios bem apertados e fechou os olhos para
absorver essas novas sensações, mas ela poderia de alguma forma dizer
que seus olhos estavam abertos e ele estava olhando para ela.
Isso não o fez vesgo?
Ele estava rindo dela também.
Ela sentiu o estrondo em seu peito e ombros enquanto ele lutava
para não rir em sua boca.
Ela abriu os olhos, pretendendo se afastar, mas ele não estava
fazendo nada disso. Então, quando seus olhos se cruzaram, porque
estavam muito perto e encaravam os olhos um do outro, ela viu o brilho
distinto de diversão em suas profundezas de esmeralda escuras.
Ela interrompeu o beijo e afastou-se com um sopro.
— Meu lorde, você zomba do meu objetivo completamente. — Ela
se perguntou se seu rosto estava tão vermelho quanto acreditava que
estivesse. Sem dúvida, estava. Não um rosa sutil ou um rosa mais
óbvio. Nem mesmo um vermelho claro. Não, todo o seu rosto deveria
estar em um profundo vermelho cereja, mais profundo que um céu
escarlate e ardente ao pôr do sol.
— E o seu objetivo foi bom?
O beijo foi muito bom.
— Eu não o acho repulsivo. Você é apenas repulsivo em sua
mente.
Céus! Ela estava conversando com um conde. Não, repreendendo
um conde. O que ela acabara de fazer? Ela estava sem dinheiro, sem
lar, e depois de instigar o beijo, Lorde Exmoor acreditava agora que não
tinha moral.
Ele permitiu que ela se afastasse dele, sua expressão ilegível.
Finalmente ele falou.
— Eu não sou mais um homem bonito, senhorita Wilkinson. É
óbvio para todos que me conheciam antes do início da guerra. Mas
obrigada por essa exibição ridiculamente tocante. Se é assim que você
responde sempre que eu te irrito, então acho que nos daremos muito
bem.
Ela limpou a garganta.
— Hum, eu não pretendia que fosse tão… apaixonado. Eu percebo
que não devo beijar você assim durante a nossa cerimônia de
casamento.
Ele soltou um riso rouco de gargalhadas.
— Muito pelo contrário, senhorita Wilkinson. Eu agradeceria
muito se você fizesse. Não consigo pensar em uma maneira melhor de
acalmar as fofocas.
Ela pensou nisso por um momento e depois estendeu a mão da
mesma maneira franca que tinha feito ontem.
— Muito bem. Nós temos uma barganha. Você pode me beijar
sempre que achar necessário em nossa cerimônia de casamento e em
nosso café da manhã de casamento. Você não mencionou o café da
manhã, mas acho que é lógico que todos devessem contar como um.
— Senhorita Wilkinson, deveremos ter um bom casamento se você
tentar resolver nossas diferenças com essa atitude. Um casamento
muito bom. — No entanto, sua diversão pareceu desvanecer-se e ele
agora exibia uma carranca na testa. — Mas haverá momentos em que
você e eu discordaremos sobre um assunto. Haverá momentos em que
você discordará de outras pessoas sobre um assunto. Exijo pouco de
você como minha condessa, mas você será minha condessa — enfatizou
ele — e, como tal, esperarei que você faça questão de usar de mais
discrição do que demonstrou há alguns instantes.
Ela balançou a cabeça em confusão momentânea.
— Você quer dizer meu beijo?
Ele assentiu.
— Eu entendo que você estava apenas fazendo um ponto. Um
objetivo muito agradável. Mas você não deve se habituar a isso.
Sophie esperava que ela e lorde Exmoor pudessem, um dia,
desenvolver um relacionamento fácil, mas agora duvidava que algum
dia fossem tão afortunados. Não depois dessa advertência. Ela não
sentia muito por tê-lo beijado. Ou desculpar-se por ela querer beijá-lo
novamente.
— Eu não tenho o hábito de me jogar nos homens, se é a isso que
você está querendo chegar. Eu não sou esse tipo de garota.
— Eu sei. — Ele agora estava esfregando a parte de trás do seu
pescoço. — É óbvio que você nunca foi beijada antes. Eu queria que
você tivesse me dado o aviso. Eu não teria... inferno, eu não tenho ideia
do que eu teria feito.
Ele olhou para ela, sua expressão revelando sua consternação.
— Meu lorde, eu fiz tudo errado? — Como ele poderia saber que
ela era lamentavelmente inexperiente? O beijo dela foi tão estranho?
Lição aprendida. Ela não o beijaria novamente. Ela só teria que
encontrar outro jeito de lhe mostrar que ele valia a pena. Não era uma
questão do que os outros pensavam. Essa questão de se considerar
pouco atraente vinha de dentro dele.
— Nem tudo estava errado.
— Oh, eu estava esperando por detalhes. — Ela olhou para os
dedos dos pés, de repente muito humilhada para encontrar seu olhar.
— Então eu suponho que você deve ter mudado de ideia e não vai me
beijar amanhã.
Ele estendeu a mão e gentilmente passou o polegar em seu lábio
inferior.
— Você sabe pouco sobre homens. Estou determinado a beijá-la
o mais rápido possível. Mas você não precisa se preocupar, pois tudo o
que preciso é uma palavra sua e eu pararei. Não tenho intenção de
abusar de sua gentileza.
Ela olhou para cima, agora totalmente confusa.
— Bom dia, meu lorde. Eu te vejo amanhã.
— Espero que sim, Sophie.
Ele esperava que sim? Ele acreditava que ela iria cancelar a
cerimônia? Ou ele estava pensando em desistir?
James estava parado na escadaria da Catedral de Saint Paul,
lutando para controlar a batida galopante de seu coração quando
Sophie desceu da carruagem de Allworthy e lançou-lhe um sorriso
tímido, mas reconfortante.
— Bom dia, meu lorde.
— Bom dia, Sophie. — Minha Sophie. Ele não podia acreditar em
sua boa sorte, pois não só ela tinha aparecido para o casamento, mas
na verdade parecia feliz em se casar com ele. Não era por sua riqueza.
Não era pelo seu título. Ele não queria mais nada. Ela o conhecera
através das cartas do irmão e se sentia como se estivesse se casando
com um velho amigo.
— Deus, — disse ela com admiração, olhando para o céu e depois
para a cúpula crescente. — Esta catedral é linda. — Ela também era.
De fato, dizer que ela parecia bonita era um eufemismo. A seda delicada
de seu vestido de alguma forma trazia o enrubescer a suas bochechas.
O sol brilhava nos fios exuberantes de seus cabelos, realçando seus
magníficos reflexos castanho-avermelhados. As pérolas de Exmoor
brilhavam contra sua garganta esguia, e nesse momento, James sabia
que nenhuma outra condessa de Exmoor poderia usá-las melhor.
Ele estendeu o braço para ela.
— Vamos entrar, Sophie?
Ela arqueou uma sobrancelha suave.
— Sim... James.
Ele sorriu quando a mão dela pousou levemente na dobra do
braço dele. A proximidade de seu corpo era tão boa quando subiram os
últimos degraus e entraram lentamente na catedral. Ela estava
sutilmente ajudando-o a se equilibrar, pois ele ainda lutava para subir
em escadas, mesmo quando usava a bengala como apoio.
— Nós vamos ter a cerimônia primeiro e eu vou apresentar a
minha família durante o café da manhã do casamento. Isso satisfaz sua
aprovação?
— Sim, isso soa amável. — Ela tentou parecer jovial, mas se
entregou mordendo o lábio. — Suponho que todos sabem sobre o nosso
acordo. Espero que eles não achem que estou tirando vantagem de
você.
Sua bochecha roçou seu ombro quando ele se aproximou.
— Não importa o que eles pensam agora. Com o tempo, eles
conhecerão seu valor como eu.
Suas palavras pareciam pouco para tranquilizá-la, pois ela agora
olhava para ele incerta.
— Você vai segurar minha mão durante a cerimônia?
Ele olhou para a mão dela ainda equilibrada no antebraço e ficou
tenso.
— Não, se você não quiser.
— Você confunde o meu significado. Eu quero que você segure. —
Ela soltou um suspiro trêmulo. — Você vê, minhas mãos estão
tremendo.
— Ah, entendo. Eu não vou deixar você cair. — Ele não tinha
vontade de soltá-la, o que era um problema que ele abordaria em outro
momento. O problema era dele, afinal de contas. Mas era uma
consideração hoje. Sophie concordou em se comportar como uma
jovem noiva apaixonada durante a cerimônia e no café da manhã de
casamento. Seu coração queria aproveitar, mas sua cabeça advertiu
que era perigoso. Ele sobreviveu à guerra pensando nas coisas com
cuidado intrincado e sobreviveria a esse acordo de casamento da
mesma forma.
De qualquer forma, ele não ousava exagerar. Ninguém jamais
acreditaria que Sophie o amava.
Sophie mais uma vez parecia estar olhando para seus dedos dos
pés que estavam dentro dos sapatos, enquanto caminhavam pelo
corredor central da catedral. Sua família e os Allworthys estavam
sentados nos bancos da frente deixando o resto da vasta catedral vazia.
Talvez a cerimônia devesse ter ocorrido na privacidade do escritório do
bispo ou na reitoria.
Tarde demais agora.
Mas parecia certo ficar na frente do altar sagrado com Sophie.
James não tinha percebido que estava prendendo a respiração
durante a cerimônia até que ele a liberou quando Sophie afirmou seu
voto com calma, mas confiante:
— Eu aceito.
Ele se virou e viu que ela já tinha inclinado a cabeça para cima na
expectativa do beijo dele. O inesperado foi o suave brilho de felicidade
em seus olhos e em seu sorriso. Ele teria que agradecê-la por aquele
gesto prestativo depois.
Ele apoiou-se na bengala com uma das mãos, mas colocou a outra
na bochecha de Sophie, a fim de melhorar o ângulo dos lábios dela para
os dele.
— Bem-vinda à família, Lady Exmoor. — Ele a beijou levemente
nos lábios, contou até três... contou muito lentamente até três, e então
terminou o beijo.
Ela levou um momento para abrir os olhos, mas sorriu quando o
fez.
— Obrigada, meu lorde.
Eles estavam casados agora.
— Venha conhecer minha família. Eles estão ansiosos para saber
mais sobre você. — Embora sua voz fosse igual e de fato era, ele tomou
um rápido momento para agradecer ao irmão de Sophie. Harry por
querer salvar Sophie de um destino sombrio, mas ao fazê-lo, também
pode tê-lo salvo. Era muito cedo para contar, é claro.
Sophie segurou seu braço enquanto ele a apresentava primeiro a
suas tias viúvas, Lady Agatha Westwood e Lady Miranda Grayfell. Lady
Agatha tinha duas filhas casadas que não puderam vir a Londres em
tão pouco tempo, mas Lady Miranda e seus quatro filhos residiam em
Londres e estavam presentes.
James sorriu quando os olhos de Sophie se arregalaram de
surpresa quando seus primos se levantaram e se aproximaram para
cumprimentá-la.
— Oh, meu Deus! Você não me disse que eles eram do tamanho
de gladiadores — ela disse em um sussurro urgente. — Eles são tão
grandes quanto você.
Ele a apresentou ao mais velho primeiro e desceu a linha. Sophie
assentiu e repetiu seus nomes para melhor gravar cada um em sua
memória.
— Visconde Grayfell — disse ela, prestes a se curvar, mas James
a segurou.
— Você superou Tynan. Ele se curvou para você. Assim como o
resto desses canalhas. — Mas qualquer tentativa de formalidade
rapidamente caiu no esquecimento quando seus primos o abraçaram
ferozmente e, por sua vez, beijaram Sophie na bochecha.
As apresentações a seu irmão e irmã foram também informais,
sua irmã Gabrielle, correndo para abraçar Sophie, e seu irmão
pegando-a nos braços e girando-a antes de abaixá-la e dar um beijo
úmido em seu nariz.
— Chega, Rom. Sophie não é um dos seus animais de estimação.
Seu irmão, embora não tivesse dezessete anos, tinha idade
suficiente para entender como se comportar adequadamente.
— Eu sei, mas ela é semelhante a...
James rosnou baixinho.
— Romulus! Você não é grande demais para ter suas orelhas
puxadas. — Com o tempo, ele poderia contar a Sophie sobre Lady Bella
Whitby, filha do duque de Weymouth, a beleza que uma vez reivindicou
seu coração, mas este não era o momento.
Não, hoje era o dia de Sophie e ele estava muito orgulhoso da
maneira como ela tinha se comportado até agora. Sua família poderia
ser intimidante, não só por causa de todos os títulos entre eles, mas
por causa de seu tamanho imponente. Até as mulheres eram altas.
Sophie, apesar de seu tamanho médio, parecia a nanica da
ninhada entre eles. Uma amável nanica, e não foi surpresa que toda a
sua família respondeu calorosamente a ela. Eles nunca teriam ousado
tal familiaridade com Lady Bella, pois aquela beleza orgulhosa os teria
cortado nos joelhos com seu olhar frio.
O fato de ele ter sido apaixonado por aquela jade da sociedade não
expunha um lado muito bom dele, mas parecia que tudo isso tinha
ficado uma vida inteira para trás. Um tempo antes de ele ter ido lutar
contra Napoleão, antes de ter se envolvido em batalhas desesperadas
ou enfrentado uma fome mordaz e tenebrosa e o fedor da morte. Um
tempo antes que ele entendesse a importância da compaixão e da
misericórdia, e a nobreza em proteger os fracos.
No entanto, ele procurara por ela quando retornou de Waterloo.
Ele não tinha certeza do porquê. Talvez porque ele uma vez tenha sido
tão orgulhoso e arrogante quanto Lady Bella e pensou que precisava
voltar a essa vida, mesmo que ele fosse um homem mudado.
O primeiro corte profundo em sua bochecha havia alterado sua
vida para sempre, e ao longo dos anos, ele adquiriu cortes mais
profundos e mais ferimentos, sendo o mais recente seu ferimento na
perna. Ele quase perdeu a perna e ainda não pode se curar.
Ele sacudiu seus pensamentos rebeldes.
— Sophie, — disse ele enquanto cavalgavam sozinhos em sua
carruagem para sua casa para celebrarem o café da manhã de
casamento, — como Lady Exmoor, seu lugar será na extremidade
oposta ao meu na mesa de jantar. Mas não hoje. Você estará sentada
ao meu lado para que possamos compartilhar nossa primeira refeição
juntos como marido e mulher.
Ela assentiu.
Ele notou que as mãos dela estavam entrelaçadas e tensas
descansando em seu colo.
— Espero que minha família não tenha te ofendido. Eles podem
ser um pouco demais às vezes. Meus primos e eu somos como irmãos,
e eles obviamente serão exuberantes em minha nova vida. É óbvio que
eles aprovam você.
Ela balançou a cabeça e riu.
— Eu não estou acostumada a toda essa atenção. O dia ainda é
jovem e você ainda pode se arrepender de sua escolha.
Ele se inclinou para frente e cobriu as mãos dela com as dele.
— Não, meu doce. Estou bem satisfeito com a nossa barganha. É
com você que eu me preocupo.
Ela arqueou uma sobrancelha.
— Por quê?
Ele não precisava dizer isso. Ela só precisava olhar para as feições
desagradáveis dele para saber a resposta. Seu corpo foi igualmente
marcado, mas era provável que ela nunca veria mais do que as
cicatrizes em seu rosto.
Os cachos macios na nuca balançaram quando ela moveu a
cabeça e suspirou.
— Ah, você está sentindo pena de si mesmo de novo, meu lorde.
Ele soltou as mãos dela e franziu a testa.
— Eu só estou pensando em você.
— Com todo o respeito, pare de pensar tão duro. Eu reclamei? Já
te dei alguma razão para pensar que lamento o nosso casamento? Eu
falarei por mim mesma se e quando eu quiser.
Ele não pôde deixar de sorrir.
— Muito bem, considere-me devidamente castigado.
Aqueles grandes olhos castanhos, da mais bela cor das castanhas
de inverno, alargaram-se.
— Eu não queria te repreender. Por favor, não tome minhas
palavras...
— Eu não estou com raiva, Sophie. Na verdade, tenho dificuldade
em conciliar sua suavidade externa com sua força interior. Você parece
um anjo, ainda mais agora que adornada seu cabelo com pouco mais
que uma guirlanda de flores. Cai como uma auréola suave em sua
cabeça.
Ela tocou a mão no cabelo.
— Oh céus. É demais?
— Está perfeito. E estou começando a pensar que você é perfeita
também. Você sabe como se manter firme. Suavidade e força. É uma
boa combinação.
Ela recuou e riu com alegria.
— Espero que você se lembre dessa conversa da próxima vez que
eu te irritar.
Ele sorriu e acenou com a cabeça.
Na verdade, ele sabia que tinha recebido um presente em Sophie.
Foi ela quem pegou o carvão em brasa.
O café da manhã do casamento continuou até tarde da noite, e
Sophie mal conseguia manter os olhos abertos quando o relógio bateu
à meia-noite. Os convidados só agora estavam partindo. Sophie
abraçou os Allworthys e as tias Exmoor, Agatha e Miranda. Ela recebeu
beijos quentes de sua irmã e irmão mais novo que bebeu champanhe
demais e deu risadinhas quando ela lhe deu um beijo na bochecha em
troca.
Seus primos gladiadores foram os últimos a partirem e, por um
momento, ela temia que eles se acomodassem no escritório e
passassem a noite com seu marido. Ele pediu para eles ficarem? Bem,
ela não estava entendendo nada disso.
Obviamente, ela e James não iriam compartilhar uma noite de
núpcias tradicional. Mas sua família não precisava saber disso.
— Meu lorde, — disse ela, de pé no limiar de seu escritório e
olhando para os cinco homens grandes que provavam que seus medos
estavam corretos. Eles estavam realmente prestes a se sentirem
confortáveis e se embebedarem na noite. — Eu acredito que esta é a
nossa noite.
Seus primos pareciam envergonhados, mas James parecia
atordoado.
— Eles sabem, Sophie. Não há necessidade de...
— O quê? Exercer meus direitos de esposa? — Oh, Deus! No início,
todos pareciam magníficos machos especuladores pegos de surpresa
pela luz do fogo da lareira e atordoados demais para se mexerem. No
momento seguinte, pareciam prestes a explodirem em gargalhadas.
Talvez ela não devesse ter dito isso dessa maneira. Ela não tinha
certeza do que significavam esses direitos de esposa porque sua mãe
havia morrido jovem e não havia mulher para explicar-lhe tais coisas.
Lydia teria assumido a tarefa se ela acreditasse que Sophie tivesse a
chance de um casamento de verdade.
Mas esses homens sabiam o que significava, mesmo que ela não
soubesse.
Lorde Grayfell, já não se incomodando em abafar o sorriso,
agarrou os dois irmãos mais novos pela nuca e fez sinal para o terceiro
irmão segui-lo.
— Vamos, senhores. Vocês ouviram Lady Exmoor.
Sophie se afastou quando ele se aproximou arrastando seus
irmãos. Grayfell empurrou os três jovens para fora da porta, mas parou
por um momento para inspecioná-la.
— Obrigado, — ele disse baixinho. — Eu acho que você é o remédio
que meu teimoso primo precisa.
A porta da frente mal bateu atrás dela quando James caminhou
em sua direção com uma carranca tão escura quanto o carvão.
— Eu nunca mais vou interferir e a qualquer um dos seus
convidados novamente, — disse ela com pressa. — Mas esta é a nossa
noite de núpcias e mesmo que toda Londres acredite que nada vai
acontecer, não é da conta deles. Eu acho que é importante para você
que os mantenhamos adivinhando.
Ele ainda parecia zangado.
— Importante para mim?
Ela assentiu.
— Certamente não para mim. Ninguém se importa comigo. Se não
fosse por você, estaria nas ruas pedindo a próxima refeição.
Suas palavras pareciam surpreendê-lo como se ela tivesse lhe
dado um tapa.
— Sophie, — disse ele com uma dor em sua voz amolecida, — você
me tem agora. Você nunca vai passar por nada disso.
— Eu sei, meu lorde. — Ela deu um suspiro de alívio.
— James.
Ela assentiu.
— James. Você já se chuta com força suficiente. Não precisa do
resto de Londres o chutando também. Dou-lhe minha palavra de
honra, nunca mais interferirei em seus compromissos noturnos.
Ela se aliviou de como a raiva parecia drenar fora dele.
— Mas uma outra coisa... James.
Seus olhos de esmeralda começaram a escurecer mais uma vez.
— O quê?
— O fato é... — disse ela, agora torcendo as mãos em
consternação. — O dia foi tão apressado e esta casa é tão grande. Eu
não tive tempo para explorá-la. Então, o fato é... onde fica o meu
quarto? Eu sei que meus pertences foram trazidos mais cedo, mas eu
não tenho ideia de onde seus servos os colocaram ou onde eu deveria
ficar.
James se amaldiçoou por ser um idiota.
— Seus quartos?
— Você quer dizer que eu tenho mais do que um? — Seus lábios
estavam rosados e levemente inchados, e havia uma inclinação sensual
em seus olhos porque ela estava cansada. Ele ansiava por tirar os
grampos do cabelo lustroso e observar a juba de seda cair lentamente
sobre os ombros em ondas. Ela soltou o ar e ele sentiu o cheiro de
champanhe e morangos em sua boca.
Ele se inclinou mais perto, seu grande corpo quase pressionando
contra o dela.
— Você é minha condessa. Você tem uma suíte inteira de quartos
ao lado do meu. — Ele limpou a garganta. — Não há fechadura na porta
ao lado, mas vou ter uma instalada, se você quiser. De qualquer forma,
vou ser fiel à minha palavra. Eu prometi não tocar em você.
Ela passou a língua pelos lábios entreabertos.
— A menos que eu deseje isso?
Ele assentiu, fascinado por sua boca e desesperado para
reivindicar seus lábios em um profundo e urgente beijo. Levou toda a
sua disciplina militar para cumprir sua promessa, pois ele nunca tinha
sofrido tanto para ter uma mulher, nem mesmo por Bella.
O que havia na irmãzinha de Wilkinson que tanto o excitava? Ela
era sua esposa agora. Sua franca e adoravelmente embriagada esposa.
Ele não se arriscaria a encarar sua decepção quando ela acordasse de
manhã. Não, mesmo que ele desejasse tê-la em seus braços, ansiava
por explorar seu corpo delicioso e tomá-la, qualquer intimidade entre
eles teria que esperar até que ela recuperasse totalmente seus sentidos.
Claro, então ela iria recuar em desgosto com a noção de seu
acoplamento.
Ele se afastou.
— Venha, Sophie. Eu vou te mostrar onde eles estão.
Subir as escadas juntos pareceu surpreendentemente íntimo. Na
verdade, ajudou a aliviar sua agonia, pois isso era algo que eles podiam
fazer juntos todas as noites. Além disso, havia algo bastante
reconfortante em sua maneira e em seu toque. Ele não se sentia
desajeitado se esforçando para subir as escadas com sua perna ferida
enquanto ela estava ao lado dele, sutilmente ajudando-o e ainda não
falando nada do assunto.
— Você não precisa se segurar em mim, — ele disse uma vez que
eles subiram as escadas e estavam andando pelo corredor em direção
aos seus quartos.
— Eu sei. — Ela manteve a mão enfiada na dobra do braço dele,
pouco percebendo o efeito perigoso que sua proximidade estava tendo
nele. — Mas isso me conforta. Eu não estou fazendo isso por gratidão
ou piedade, mas por alegria. Ontem, eu era uma ninguém sobrevivendo
da generosidade de amigos. Hoje sou a esposa do conde de Exmoor.
Hoje o mundo está cheio de possibilidades. Acima de tudo, hoje eu
espero — esperançosamente — passar o resto dos meus dias com você.
Estou feliz com isso, mesmo que você não esteja.
Ele estava rapidamente perdendo a paciência com essa jovem
arrivista. Ele não queria ser lisonjeado ou mimado. Ele só queria ficar
“sozinho” para se afundar em sua cama “sozinho” e de alguma forma
conseguir manter a fera rosnando dentro dele e não assustar a garota
inocente com a força de sua necessidade por ela. Quando ele estivesse
sozinho, aliviaria aquela necessidade reprimida da mesma maneira
infeliz que todo garoto com a cara cheia de espinhas e no limite da
masculinidade conseguia alivio.
— Você está feliz, não é? Vamos ver quanto tempo isso dura.
Ela andou na frente dele e franziu o cenho.
— Pode durar para sempre se você deixar. Por que você insiste em
ser abatido e infeliz?
— Quem disse que eu era infeliz? — Na verdade, a menina tinha
uma boca bastante solta, algo que Wilkinson deixou de mencionar
sobre sua irmã.
Ela revirou os olhos.
— Posso falar claramente?
— Você vai fazer de qualquer maneira, então, por favor, continue.
— Ela era uma mercadoria bastante exigente, e apesar de atualmente
ser um espinho em seu lado, ele tinha que admitir que estava gostando
de sua presença. Ela tinha um jeito gentil, mas determinado de chutar
a bunda dele, e se ele acreditasse em tais coisas, pensaria que ela tinha
nascido um general romano em uma vida anterior.
— Eu gosto de você, meu lorde. Na verdade, eu corria o risco de
me apaixonar por você antes de conhecê-lo.
Ele descartou a ideia imediatamente.
— Que absurdo seu irmão colocou em suas cartas?
— Não foi um disparate. Acho que poderia gostar muito de você
se desse ao nosso casamento uma chance de florescer. Eu entendo que
o acordo que tivemos aconteceu... — Ela engoliu em seco e corou. —
Os termos eram para mantermos um relacionamento comercial. — Ela
engoliu em seco novamente e colocou a mão em seu peito. — Mas se
for para o meu benefício, o que eu quero dizer... — Ainda outro forte
engolir. — Eu não sou avessa ao… outro tipo de relacionamento. Isto
é, se você não é avesso a isso também.
Ele entendeu o objetivo de seus pensamentos. Ele ansiava por
deitar com ela, não era óbvio? Mas ela tinha bebido champanhe demais
e era bom saber que era amorosa quando bêbada, mas ele não ia
começar o casamento com arrependimentos. Ele poderia tirar proveito
de seus avanços amorosos em outro momento, mas não esta noite. Eles
não estavam casados por um dia inteiro ainda.
Quanto aos sentimentos que supostamente tinha por ele depois
de ler as cartas de seu irmão, a dura realidade do que ele era, logo
afundaria e levaria toda a esperança de um casamento amoroso.
Ele pegou a mão dela e levou-a para seu elegante quarto de
dormir, satisfeito quando ela emitiu um suave suspiro de prazer.
— Este é seu, Sophie. A porta à esquerda leva ao seu camarim. A
porta à sua direita leva aos meus aposentos. — Ele a beijou
educadamente na testa. — Talvez outra hora, mas não esta noite. Há
um sino ao lado da sua cama. Puxe-o se precisar de alguma coisa e sua
serva cuidará de ajudá-la.
— Eu entendo. — Ela olhou para os dedos dos pés enquanto
assentia. — Não precisa se preocupar. Não vou incomodar você, meu
lorde. Não, de fato. Estará a salvo de mim.
Ele suspirou. Ele estava cometendo um erro? Pela manhã ela
perceberia que o que sentia era gratidão e nada mais. Ela ficaria
aliviada de não acordar em seus braços, não ter que olhar para o rosto
marcado ou para o resto do seu corpo cicatrizado.
— Boa noite, Sophie. Eu costumo tomar meu café da manhã às
oito horas. Você é muito bem-vinda para se juntar a mim, mas não é
obrigatório. Durma, se você quiser.
Ela balançou a cabeça.
— Eu não sou de descansar na cama. Vou me juntar a você no
café da manhã. Isto é, se você não se importar.
Ele enfiou um dedo sob o queixo dela para levantar seu olhar para
o dele.
— Eu não me importo de jeito nenhum. Esta é a sua casa agora.
Você pode ir e vir como quiser. Eu apreciaria sua companhia pela
manhã.
— Só não esta noite. Eu entendo. — Ela se afastou para pegar a
camisola noturna e a bata branca e transparente sobre a colcha de
seda rosa. — Bons sonhos, meu lorde. — Ela parecia pronta para dizer
mais, mas começou a soluçar.
Olhando para ela, James ficou impressionado com a vontade de
jogar a cautela ao vento e levá-la para a cama, mas ele rapidamente
adotou a noção rebelde. Primeiro, ela era totalmente inexperiente e se
houvesse uma primeira vez, ele teria que ser gentil e cauteloso para
não machucá-la. Em segundo lugar, ele de alguma forma teria que
manter sua perna mutilada escondida ou ela estaria vomitando no
penico ao vê-lo, em vez de se juntar a ele ansiosamente.
Inferno e danação, aquelas visões de Sophie se estendiam diante
dele, seu cabelo um mar de ondas escuras caindo em cascata pelas
costas e espalhando-se sobre os lençóis brancos, teria que permanecer
exatamente isso. Visões. Fantasias imprudentes que nunca
aconteceriam.
Sua série de soluços o trouxe de volta ao presente e lembrou-lhe
que Sophie havia bebido champanhe demais.
— Você precisa de ajuda com o seu vestido?
— Não. Eu vou tirá-lo como eu tive que fazer toda a minha vida.
— A réplica era mais melancólica do que maliciosa. — Eu vou te ver de
manhã. — Ela marchou para a porta e abriu-a para ele, não fazendo
nenhuma tentativa de esconder seus pensamentos. Se ele não tinha
vontade de ficar, então ela estava ansiosa para mandá-lo embora.
Ela soluçou novamente.
Ahh! O que havia de errado com ele? Sophie Wilkinson era a coisa
mais bonita deste lado do Oceano Atlântico.
A mulher mais bonita de cada lado de qualquer oceano.
Esse era o problema.
Ele se importava com o que ela pensava dele.
Ele se importava e era muito covarde para encarar sua decepção.
Sophie inclinou-se contra a porta que separava seus aposentos
dos de seu marido e emitiu um suspiro entrecortado. Então uma
fungada. Então ela permitiu que as lágrimas descessem suavemente
por suas bochechas. Ela fez uma tola completa de si mesma, oferecendo
a James acesso irrestrito ao seu coração e corpo, e ele recusou.
Maldita inexperiência!
Ela deveria saber e não confundir a terna consideração por algo
mais.
Ele esteve ao seu lado o dia todo, cuidando dela e fazendo-a se
sentir muito especial. Ela até o pegou uma vez ou duas olhando para
ela com desejo marcado. Obviamente, ela havia entendido mal. Ele a
respeitava, mas não a queria da maneira que um marido apaixonado
gostaria de ter a sua esposa.
— Oh, Sophie. Em que você se meteu?
Ela encostou as costas na porta fechada e examinou ociosamente
seu quarto. Dizer que era grande e esplêndido, não fazia justiça. Tudo,
desde o tapete de seda com estampas orientais até a cama com dossel
envolta em seda rosa, os candelabros de ouro e a elegante passagem de
cortinas penduradas nas janelas altas, falavam de riqueza e poder. Ela
nunca conhecera tal luxo e trocaria alegremente por um marido que a
amasse e queria dormir com ela embrulhada em seus braços.
— Pare de sonhar, Sophie. Fique contente com o que recebeu.
Ela tirou o vestido de casamento e colocou-o cuidadosamente em
seu enorme armário, que era vasto e vazio, já que ela não tinha as
roupas para preenchê-lo. Suspirando, ela vestiu a camisola noturna e
pulou na cama, feliz por sua criada ter pensado em colocar uma pedra
quente entre os lençóis para aquecê-los. Claro, ela adoraria ser
aquecida pelo calor do corpo do marido.
Não.
Ela tinha que parar de pensar em James desse jeito.
Então ela tentou bani-lo de seus pensamentos enquanto colocava
a cabeça no travesseiro, mas isso não funcionou, então ela puxou um
dos muitos travesseiros macios espalhados pela cabeceira da cama
contra si mesma e fingiu que ele estava ao lado dela e ela estava
aninhada contra seu peito largo. Muito melhor. Ela imediatamente caiu
em um sono profundo e exausto.
Em algum momento no meio da noite, seu sono foi perturbado
pelo som de gritos agudos que soaram como se alguém estivesse com
dor. Imediatamente pensando em James, ela chutou as cobertas e se
levantou para investigar. Os sons continuaram quando ela chegou à
porta que separava os quartos, então respirou fundo, abriu e entrou.
O fogo em sua lareira lançava luz suficiente para que ela pudesse
ver a sombra de James deitado em sua cama enorme. Ele estava se
debatendo durante o sono, as cobertas parecendo estar presas em
torno de sua perna machucada. Ela se aproximou e sufocou um
suspiro quando percebeu que ele estava despido. Então sufocou outro
suspiro enquanto estudava seu peito duro, musculoso e os contornos
magníficos de seu corpo delineados na luz fraca.
O que ele faria se a pegasse boquiaberta?
Ela se forçou a parar de olhar para ele e desejando coisas que
nunca seriam. Em vez disso, ela começou a trabalhar, desenrolando
cuidadosamente o rolo de roupa de cama em torno de sua perna e
colocando as cobertas sobre ele, pois sua pele estava fria ao toque e a
exposição ao ar frio da noite não podia ser boa para sua lesão.
Ela voltou para seu quarto e fechou a porta silenciosamente entre
eles. Ela estremeceu também, pois o fogo em sua grade tinha
desaparecido e ela estava com os pés descalços. Não ouvindo mais
nada, e esperando que James tivesse caído em um sono mais suave,
ela voltou para a cama.
— Foi apenas um sonho ruim, — ela murmurou, ainda se
preocupando sobre como James tinha se debatido e gritado como se
estivesse lutando contra algo terrível. Sabendo que não havia nada que
pudesse fazer por ele esta noite, ela caiu em um sono agitado.
Acordou pouco depois do amanhecer ao som de passos suaves
atravessando seu quarto. Ela abriu os olhos e viu uma mulher jovem e
bonita com cachos brilhantes de cobre saindo de baixo da touca de
serva, se movendo pelo quarto. Primeiro, a jovem puxou as cortinas
para permitir a entrada da luz do sol e acendeu um fogo na lareira. Ah,
sua nova serva.
Sophie se sentou e sorriu para ela.
— Bom Dia.
A jovem virou-se para ela com um sobressalto. — Bom dia, minha
lady. Eu não queria te acordar.
Sophie afastou as cobertas e caminhou em direção ao fogo quente.
— Você não o fez. Eu raramente durmo muito. Qual é o seu nome?
— Eu sou Bessie, milady. — Ela fez uma rápida reverência.
— Prazer em conhecê-la, Bessie. Sabe se a Sua Senhoria está
acordado?
A garota lançou um sorriso conhecedor. Obviamente, ela pensava
que James tinha realizado seus deveres de marido na noite passada, o
que ele não fez e nunca iria fazer, mas não era da conta de ninguém o
que acontecia entre eles. Ou melhor, o que faltou em acontecer entre
eles.
— Sim, minha senhora. Ele está lá embaixo tomando o café da
manhã. — O sorriso de Bessie se alargou. — Ele disse para não acordá-
la porque você provavelmente estava exausta.
— Não, estou bem refrescada esta manhã.
Bessie levou a mão à boca e deu uma risadinha.
— Estou feliz em ouvir isso, minha senhora. Um marido deve
cuidar de seus deveres, é o que eu digo.
Sophie gemeu internamente. O que ela disse ou fez para dar à
garota a impressão de que ela e James passaram a noite juntos? Bem,
isso não importava. Os servos logo descobririam que não haveria
visitas, discretas ou não, a seus aposentos pelo homem que prometera
honrá-la como esposa.
Bessie ajudou-a a lavar e se vestir — até mesmo seu melhor
vestido, uma lã merino verde escuro — empalideceu ao lado da
grandeza de seu quarto de dormir. Ela colocou o vestido e depois se
sentou em sua cama para colocar suas botas confortáveis e amarrá-
las. Não havia nenhuma ajuda para isso, ela teria que usar o que tinha
até adquirir um novo guarda-roupa e acessórios elegantes para sua
posição elevada na vida. Deus! Ela era agora uma condessa.
Ela ainda se sentia como Sophie Wilkinson de York.
— Eu poderia polir um pouco para cobrir os arranhões, — Bessie
ofereceu, apontando para as botas.
— Obrigada, Bessie. — Ela os entregou. — Faça o que puder. Vou
usar estes nesse meio tempo. — Ela enfiou os pés em seus finos sapatos
de casamento, sua cor suave de damasco era um choque hediondo
contra o verde escuro de seu vestido, mas não havia convidados para
se importar.
Ela deu um tapinha no coque macio que Bessie tinha-lhe feito, e
então olhou para o espelho e beliscou levemente suas bochechas. Ela
correu para baixo, esperando que não fosse tarde demais para se juntar
a James... talvez ela devesse pensar nele como Exmoor agora. Sim,
Exmoor era mais formal e distante. Exmoor a abandonou na noite
passada.
James nunca teria feito isso.
Ela parou por um momento ao pé da escada para respirar fundo,
confiante, e então caminhou até a sala do café da manhã com a cabeça
erguida e sua disposição sem afetação casual.
James... não, ele estava distante e indiferente. Exmoor estava
presente agora... e ergueu os olhos do jornal.
— Sophie, — disse ele com um sorriso genuíno, deixando de lado
o jornal. Ele levantou-se com uma graça masculina, lembrando-lhe o
quão bonito ele realmente era. — Como você dormiu na noite passada?
— Tranquilamente. E você, meu lorde? — Na verdade, ele parecia
de olhos claros e bem descansado. Ela tinha imaginado ouvir gritos de
dor vindo de seu quarto no meio da noite? Ela tinha imaginado rastejar
em seu quarto para arrumar suas cobertas? Parecia um sonho distante
agora.
— Como sempre. Você está com fome? — Ele apontou para o
elegante bufê que atravessava o comprimento de uma parede e a para
as bandejas prateadas. — Ovos, peixe fumado, tomates cozidos,
biscoitos, presunto
— Tudo isso só para nós dois? — Ela balançou a cabeça e riu. —
Eu ficarei gorda rapidamente, tão grande quanto esta casa se eu comer
metade do que foi feito.
Ele sorriu enquanto segurava o assento ao lado dele.
— Sinta-se à vontade para instruir nossa cozinheira. Mas ela é
uma morcega insolente e carrega um rolo grande, então eu não diria
nada a não ser que você queira atirar sua vida em suas mãos.
Sophie soltou uma risada alegre.
— Obrigada pelo aviso. Acho que minha primeira decisão como
Lady Exmoor será permitir que a cozinheira faça o que quiser. Que acha
disso?
— Uma excelente escolha. — Embora ele obviamente tenha
terminado o café da manhã, fez sinal para um dos lacaios lhe servir
outra xícara de café. Ele recuou em sua cadeira e a observou enquanto
ela comia seus ovos e peixe fumado. — Qual é o seu plano para hoje,
Sophie?
Ela largou o garfo e se virou para ele.
— Eu não tinha pensado muito nisso. O que as condessas
costumam fazer?
— Não tenho certeza. Elas reclamam muito, mas você não é do
tipo exigente. Elas organizam visitas à tarde e pertencem a
organizações de caridade, mas acho que a sua primeira ordem de
negócios deveria estar adquirindo seu novo guarda-roupa. Pedi a
minha irmã recomendações e ela disse que Madame de Bressard é a
modista usada por todas as melhores senhoras, então eu acho que
devemos enviar uma palavra a ela e pedir-lhe uma hora o mais cedo
possível. De preferência hoje.
Sophie sacudiu a cabeça e riu.
— As minhas roupas são horríveis? Oh, não responda a isso. Eu
sei que elas são. Você virá comigo para me ajudar a escolher tecidos e
rendas?
Ele estremeceu.
— Eu devo?
Ela reprimiu sua decepção.
— Não, claro que não. Eu não sonharia em impor-lhe isso. — Ela
cortou um salmão colocou em sua boca.
— Não é tanto uma imposição como uma sensação de que eu seria
inútil em tais assuntos. Um vestido é o mesmo que outro para mim, e
a única razão pela qual estou ansioso para lhe fornecer um novo
guarda-roupa é que os outros irão julgá-la pelas roupas que você veste.
É sobre eles, não eu.
Ela limpou a boca com o guardanapo.
— Ah, então você não se importa com o que eu uso... ou se eu não
uso nada.
Ele suspirou e se aproximou.
— Você ainda está zangada com os nossos... arranjos de dormir
na noite passada, não é?
E daí se ela estivesse?
Ela inclinou o queixo para cima em admissão.
— Eu não sei do que você está falando.
Ele lançou-lhe o sorriso mais suave.
— Sim, você sabe. Eu a queria, Sophie. Mas nunca me aproveitei
de uma mulher quando ela está bêbada.
Ela ofegou.
— Eu não estava... bem, não de tudo... você estava contando
minhas bebidas?
— Não, não intencionalmente. Mas eu sei que você tinha tomado
pelo menos seis taças de champanhe. Todos nós fizemos.
Seus olhos se arregalaram.
— Não.
— Poderia ter sido mais. — Ele ainda estava se inclinando para
que ela pudesse sentir o calor de seu corpo e inalar o cheiro sutil de
almíscar nele. Havia algo nesse perfume que fazia uma mulher querer
arranhar o corpo de um homem e arrancar as roupas dele, porque ela
estava sentindo aquela urgência quente neste exato momento?
— Então você está sugerindo que se eu estivesse sóbria e pedisse
para você... você sabe... aceitaria? — Ela pousou o garfo e parou de
comer, pois seu coração estava começando a bater animadamente e ela
não estava mais com fome de comida, mas por ele.
Ele não disse nada por um longo momento e Sophie achou que
ele não responderia à pergunta dela. Ela estava prestes a se afastar
quando de repente ele suspirou de novo e disse:
— Sim. Mas eu gostaria que você me desse essa atenção. Nunca
foi minha intenção me impor a você.
— Eu nunca pretendi isso também, mas algo sobre nós parece
inevitavelmente certo. Eu não entendo ainda, mas sei que esse
sentimento não é sobre pena ou gratidão. Eu o sinto quando estou
perto de você. Apenas algo profundo e sincero evocaria essa resposta
em mim. Você acha que meu irmão foi propositalmente casamenteiro?
Você acha que ele sentiu que éramos um bom ajuste?
James soprou.
— Bobagem, ele me viu no meu pior. Sofremos frio, fome e as
condições mais depravadas. Nós raramente tomávamos banho,
raramente comíamos comida quente e pronta para ser consumida, e
nunca sabíamos se sobreviveríamos além dos próximos minutos. Eu
dificilmente acho que o mercado de casamentos estivesse em sua
mente.
Ela não estava muito convencida, pois ela e seu irmão sempre
cuidaram um do outro. Ela sentiu um choque em seu coração,
percebendo que seu irmão estava pensando em seu futuro, mesmo
enquanto dava suas últimas respirações ofegantes.
— Bem, suponho que nunca saberemos agora.
James colocou a mão sobre a dela, seu toque quente e consolador.
— Não importa. Estamos juntos agora. Deste dia em diante, você
não terá falta de nada.
— Viu, é isso que eu quero dizer. Você diz as coisas mais nobres
e sinceramente significava muito. Meu irmão certamente escolheu
sabiamente para mim, mas acho que ele queria que compartilhássemos
mais do que um acordo comercial.
— Talvez tenha sido assim antes de meus ferimentos, mas não
depois.
Ela viu aquela irritante sensação de resignação passar por cima
dele e soltou um suspiro de exasperação.
— Lá vai você, se odiando de novo. Por favor, pare de esperar que
eu me sinta repelida por você, porque eu nunca vou estar. James, meu
quarto é muito grande, grande demais para apenas uma pessoa se
acomodar. Não preciso de uma câmara grande e vazia, nem quero
deitar em uma grande cama vazia a cada noite. Mas eu ficaria contente
em compartilhar com você.
— Sophie...
— Estou sóbria agora e não mudei minha opinião. Eu entendo o
que estou pedindo de você. Eu sei que isso exigiria uma emenda ao
nosso acordo. Eu também sei que isso é algo que temos de acordar
mutuamente. Eu não vou te pressionar no assunto. Eu só quero ser
clara sobre minhas esperanças para este casamento.
— Esperanças? — Ele riu ironicamente e se afastou. — Você é
uma garota incomum.
— Pelo contrário, sou bastante tradicional. — Ela se contorceu em
seu assento por um momento, sem saber se devia continuar a
pressioná-lo sobre o casamento deles. Não era justo, realmente. Ele
estava se assegurando sobre este acordo de negócios e ela já estava
renegando sua parte no negócio. Ainda assim, parecia a coisa certa a
fazer. Seu irmão estava preocupado com o futuro dela, mas ele também
estava preocupado com James. De fato, Harry deve ter propositalmente
jogado os dois juntos para beneficiar os dois.
— Você vai mudar de ideia e me acompanhar até a loja de Madame
de Bressard hoje? Supondo que ela me receberá hoje.
— Eu não posso. Verdadeiramente, Sophie. Eu tenho um
compromisso anterior que não pode ser remarcado.
— Oh, eu entendo. — Ela encolheu os ombros, fingindo que não
se importava, embora se importasse profundamente. Havia algo
maravilhoso em estar com James. Ela não podia explicar, ela só gostava
de estar na companhia dele. — Vai demorar muito tempo?
— Não, não muito tempo.
Ela esperou que ele dissesse mais, esperando que pudesse sentir
o mesmo por tê-la por perto e convidá-la a se juntar a ele. Mas ele não
disse nada. De fato, quando ela insinuou mais, a ignorou ao ponto de
que estava sendo bastante misterioso sobre este compromisso.
— O que devo fazer se Madame de Bressard não estiver
disponível? Você se importaria se eu visitasse os Allworthys enquanto
você estiver fora?
— De modo nenhum. Essa é uma boa ideia.
— Você me deixaria lá no seu caminho para onde quer que você
estiver indo e depois me traria em seu retorno para casa?
Ele assentiu.
— Sim, está a caminho.
— Obrigada, James. — Este foi o primeiro dia de sua lua de mel e
ela queria aproveitar e passar todo o tempo que ele permitisse. De que
outra forma eles poderiam se conhecer? Ela lançou-lhe um sorriso
radiante. — Será a nossa primeira excursão como marido e mulher.
Ele lançou-lhe um olhar indulgente e ligeiramente impaciente.
— Sophie, é apenas um passeio de carruagem de cinco minutos
através do parque.
Ela entendeu que estava pressionando muito, mas de que outra
forma ela o convenceria de que eles deveriam ter mais do que um
casamento de conveniência?
— Não importa. Nós estaremos juntos nesses cinco minutos.
Ele balançou a cabeça e riu baixinho.
— Você é uma coisinha estranha.
— Não, acho que sou bastante sensível. Mas vou admitir que
tenho opiniões e, infelizmente, uma incapacidade de segurá-las quando
penso que são importantes. Você sabia que eu ajudei a cuidar dos
soldados feridos no Royal Hospital de York?
Ele arqueou uma sobrancelha.
— Isso é uma questão, não uma opinião.
Ela assentiu.
— Mas é para você saber que eu acho, que o seu desejo de
esconder suas cicatrizes e lesões na perna é equivocado. Eu entendo
que suas feridas podem ser hediondas, mas que dizem respeito a um
pedaço de pele ou a uma parte do corpo, não ao seu coração valente e
nobre. Esse é o ponto que desejo deixar claro. Se eu estremeço ou olho
para longe, é por causa da minha repulsa à pele inflamada em torno de
sua lesão. Mas não de você.
Suas feições permaneceram inexpressivas.
— Devidamente anotado. E não, você não pode ir comigo para a
minha consulta.
Ela franziu a testa para ele, não se incomodando em mascarar
sua indignação.
— Eu não pedi para ir com você.
Ele apertou a mão dela gentilmente.
— Sim, você o fez. Sophie, você é terrível em esconder seus
pensamentos.
— Talvez, mas então você deveria ver que sinceramente quis dizer
o que acabei de dizer.
Ele assentiu.
— Mesmo assim, suas boas intenções não são menos
equivocadas, simplesmente porque são boas. Você a repelirá. Minha
perna não é apenas uma parte do corpo. É uma parte de mim. Parte do
que me define. Vamos acabar com essa discussão. Não ouvirei mais
nada disso. Eu quis dizer exatamente isso, Sophie. Não faça isso de
novo.
Na verdade, embora seu tom fosse gentil, havia uma corrente de
determinação e raiva que ela não se atrevia a despertar mais do que já
possuía.
— Muito bem, meu lorde.
— Bom. — Ele se levantou e saiu da mesa, deixando-a terminar
seu café da manhã sozinha. Seu mancar pareceu pronunciado esta
manhã e ela não sabia se sua perna estava excepcionalmente dolorida
ou se ele estava simplesmente fazendo isso para efeito do que disse.
Ela demorou-se na mesa e ignorou o resto do café da manhã, pois
tinha perdido o apetite. Incerta para onde James tinha desaparecido, e
sem vontade de perturbá-lo, ela chamou a governanta de Exmoor para
que ela mostrasse à casa já que James havia deixado de fazê-lo.
— Obrigada, Sra. Summerville, — disse ela para uma mulher mais
velha, que se movia pela casa com a eficiência de um esquilo colhendo
nozes para o inverno. O passeio demorou um pouco mais de uma hora
e foi bastante útil. — Eu posso ver que a casa é mantida em excelente
ordem.
A Sra. Summerville sorriu, obviamente muito orgulhosa de seu
trabalho e satisfeita por Sophie ter gostado.
— Devo reportar-me a você todas as manhãs após o café da
manhã, minha senhora?
Sophie assentiu.
— Isso seria adorável.
Depois de dispensar a mulher mais velha, ela se retirou para a
biblioteca e encontrou um livro para ler pelas horas restantes até o
meio-dia. Acontece que Madame de Bressard estava disponível e
concordou em marcar uma hora pela tarde. Sophie suspeitava que
James tinha subornado a costureira, pois da elite da sociedade que
queriam seus serviços poucos tiveram a sorte de vê-la em menos de
duas semanas.
Como James tinha seu próprio compromisso anterior e não podia
ficar com ela, ela convidou Lydia Allworthy e Sophie Farthingale para
encontrá-la na loja na hora marcada. Ela e James estavam lá em sua
carruagem elegante, mas James disse pouco e parecia distraído. Ela se
culpou por pressioná-lo muito sobre o assunto do casamento deles.
Na verdade, ela ficou horrorizada com sua audácia. Casou-se
apenas um dia e já exigia do marido que ela mal conhecia. Mas em sua
própria defesa, ela sentiu como se seus corações se conhecessem pela
eternidade.
— Você nunca mencionou onde estava indo, — disse ela, na
esperança de envolvê-lo em uma conversa.
Ele estava olhando pela janela, obviamente perdido em
pensamentos, mas se virou para ela com um arco casual de
sobrancelha.
— Isso não é importante. Apenas um compromisso de longa data.
Pare de me perguntar sobre isso, Sophie. Não é da sua conta.
Por que ele não falaria disso? De repente, ela ficou impressionada
com o motivo. Claro! Oh, ela era tão estúpida. Ele estava saindo para
ver outra mulher. Ele tinha uma amante? Isso explicaria por que ele
estava sendo tão misterioso sobre seu suposto envolvimento de longa
data. Seu coração se apertou, porque ela nunca considerou que ele já
tinha uma mulher em sua vida.
No entanto, ele não parecia ser do tipo de manter uma ligação
com... oh, Deus. E se ele tivesse? E se essa fosse a mulher que ele
amava? Sophie reprimiu a vontade de chorar, pois James estava
obviamente irritado com ela, e se transformando em um regador só iria
piorar as coisas. Quão ridículo ela deve ter soado para ele, praticamente
implorando para que se juntasse a ela em sua cama quando ele já tinha
alguém de sua própria escolha para preencher essa necessidade.
Ela respirou fundo para se acalmar, mas como poderia fingir que
não doeu?
— Devo esperar na loja por você ou voltar com Lydia? — Ele
poderia ouvir a dor em sua voz? No entanto, ela não tinha o direito de
sentir qualquer coisa, pois ele tinha deixado claro que o casamento
deles seria um acordo comercial.
Quanto tempo ele desejava permanecer na companhia dessa
outra mulher? Uma hora? Duas? O restante do dia?
— Eu virei buscá-la na loja. Como mencionei anteriormente, este
compromisso não vai demorar muito. — James desceu da carruagem
com ela e entrou na loja de Madame de Bressard para conversar com a
modista. — Eu quero o melhor para minha esposa, — disse ele, jogando
a Sophie um sorriso que estava faltando em suas características desde
o café da manhã. — Lady Exmoor precisa de vestidos para todas as
ocasiões.
Sophie corou, não só por causa de sua generosidade ultrajante,
mas ele a chamou de esposa. Ela era, mas soava tão natural e amoroso
em seus lábios. Ela estava errada sobre o motivo de seu compromisso
urgente? Se não fosse outra mulher, então por que o sigilo?
Ele se inclinou e beijou sua bochecha.
— Divirta-se, Sophie. Não quero nada da economia de Yorkshire.
Apesar de suas preocupações, ela riu.
— Eu farei o meu melhor para gastar e deixá-lo precisando de um
albergue.
Ela começou a sentir sua falta antes mesmo que a porta se
fechasse atrás dele. Lydia Allworthy e Sophie Farthingale chegaram
logo depois, e era óbvio que estavam bem familiarizadas com Madame
de Bressard, a linda mulher francesa que parecia ter trinta e poucos
anos. Ela tinha uma elegância tranquila sobre ela e Sophie esperava
que ela pudesse um dia ser considerada tão elegante quanto.
Convidar suas duas amigas para ajudá-la a escolher vestidos
adequados acabou sendo uma excelente ideia. Sophie Farthingale
havia lançado três filhas na sociedade e tinha excelentes conselhos
para dar. Lydia estava lá principalmente por amizade e Sophie foi
aquecida por seu genuíno afeto. Não havia rigidez ou formalidade entre
elas agora que ela era condessa de Exmoor e ela esperava que nunca
houvesse.
O senso de moda de Madame de Bressard era impecável e Sophie
deixou sua loja entusiasmada com o novo guarda-roupa e ansiosa para
que James a visse nesses belos novos vestidos. A carruagem de Exmoor
estacionou em frente à loja no momento em que ela terminou com o
último de seus acessórios e estava mais uma vez vestida. Suas duas
amigas se despediram e correram para fazerem mais compras.
Sophie gostava da companhia delas. No entanto, ela estava
ansiosa para subir na carruagem e ficar sozinha com James.
— Eu me diverti tanto, — ela começou a dizer, mas para sua
surpresa, a carruagem estava vazia.
Ela se virou para o cocheiro.
— Sr. Larkin, onde está Sua Senhoria? — Seu coração afundou
com o pensamento de James passar o dia inteiro com seu misterioso
compromisso e esquecendo tudo sobre sua nova esposa.
— Eu o deixei em casa primeiro, milady.
Ela franziu os lábios e a testa.
— Obrigada. Por favor, leve-me para casa imediatamente. — Ela
ficou aliviada por ele estar esperando por ela lá, mas por que
simplesmente não parou no caminho para buscá-la?
Sophie perguntou por ele no momento em que entrou no hall de
entrada e entregou seu manto e luvas para Damson, o mordomo de
Exmoor.
— Ele está em seu escritório, milady. Ele não deseja ser
incomodado.
Ela ignorou a observação e entrou direto no escritório, fechando
a porta silenciosamente para que os criados não ouvissem.
— Eu tive um tempo maravilhoso na loja, — ela disse suavemente,
sua voz quase um sussurro.
James olhou para cima, mas não disse nada.
Ela ficou chocada com o olhar sombrio e as sombras em seus
olhos e notou o copo cheio de uísque em sua mão e a garrafa meio vazia
na outra.
— O que aconteceu? Achei que você fosse me buscar na loja de
Madame de Bressard. — Foi preciso pouco para perceber que ele estava
zangado, desapontado… com o coração partido, realmente. Ele tinha a
aparência de um homem em uma torrente de dor.
Ela sentou-se ao lado dele e pegou a garrafa da mão dele.
— Por favor fale comigo.
Ele franziu a testa para ela.
— Eu pedi para não ser incomodado. — Como se quisesse dizer
exatamente aquilo, ele bebeu o último gole de seu uísque, drenando o
copo até a última gota e depois jogando-o na lareira. O cristal delicado
quebrou-se contra os tijolos fuliginosos e fundiu-se no fogo ardente.
Ela já estava certa de que ele não era o tipo de homem que usaria
seus punhos contra uma mulher, mas não o conhecia bem o suficiente
para medir a extensão do controle dele. Ele estava em um estado
terrível, não apenas zangado, mas obviamente frustrado e cheio de
desespero.
— James, você deve me dizer o que está acontecendo.
Seus olhos eram de um verde esmeralda escuro e zangado, um
verde perigosamente turbulento.
— Eu devo? Que direito você tem para me dizer o que fazer?
— Nenhum mesmo. — Ela endureceu sua espinha. — Eu sou
apenas sua esposa. A mulher com quem você trocou votos há apenas
um dia.
— Certo, e isso não lhe dá o direito de se intrometer em minha
vida. — Um grunhido saltou de baixo em sua garganta. — Eu vou
lamentar minhas perdas como achar melhor, então saia e me deixe em
paz.
— Suas perdas? — Ela balançou a cabeça em confusão. Sua
amante o expulsara porque ele agora era casado? Ela sabia pouco sobre
o demi-monde, mas esse submundo não fazia sentido para ela.
Certamente, a mulher tinha que saber que ele se casaria algum dia. —
Você está apaixonada por ela?
Ele estreitou os olhos quando fez uma careta para ela.
— Apaixonado? Por quem?
— A mulher cuja perda você parece estar de luto. Não sinto muito
que sua amante tenha terminado com você, pois estou ansiosa para
que o nosso casamento dê certo.
— Você acha que isso é sobre perder uma parceira de cama? —
Ele jogou a cabeça para trás e rugiu de riso. — Eu só queria que fosse
assim. Não, Sophie. Não há mais ninguém além de você. Logo, eu não
vou ter você também.
Ela agarrou a borda de seu assento.
— O que você quer dizer? James, eu não sou uma flor que logo
murcha. Por favor, me diga o que está acontecendo.
— Muito bem, eu vou dizer. — Mas o tom de sua voz avisava que
ela não ia gostar do que ele estava prestes a dizer. — Eles querem
amputar minha perna. O que você diz sobre isso, Santa Sophie?
Ela ofegou.
— O quê? Quem te disse isso? Isso é certo?
— Pare de fazer perguntas. Apenas saia. — Ele se virou para pegar
a garrafa que ela tirou de suas mãos alguns momentos atrás, mas ela
a colocou mais longe, de modo que estava fora de seu alcance.
— Pare de afogar suas mágoas por tempo suficiente para falar
comigo. — A nitidez de sua voz o deixou em alerta. Ele parou de pegar
a garrafa e lançou-lhe um olhar de surpresa descontente, revelando o
quanto estava ansioso para bani-la de sua vista para sempre. Se ele
pensasse que uma mera carranca iria dissuadi-la, ele estava
tristemente enganado. — O cunhado de Sophie Farthingale é um
médico brilhante. O melhor de toda a Inglaterra, ela afirma. Lydia
Allworthy concorda. Então, vamos pedir sua opinião. Talvez haja algo
que ele possa fazer para...
— Pare, Sophie! — Ele passou a mão com dificuldade pelos
cabelos. — Eu não preciso de outro médico para me dizer o óbvio. A
pele da minha perna está morrendo. Está começando a ficar preto. Você
entende o que isso significa?
Ela estremeceu.
— Oh, James! Sim, entendo o que isso significa. Mais uma razão
para ver George Farthingale o mais rápido possível. Mandarei uma nota
para a residência Farthingale imediatamente e insistirei que ele venha
hoje. — Ela tentou permanecer forte por ele, mas até ela tremia e se
desesperava com a notícia. — E se sua perna não puder ser salva, então
ainda teremos o melhor médico disponível para fazer o que for
necessário.
— Nós? Que noção estranha? Mas isso me preocupa. O que deve
ser feito é que minha perna será arrancada.
Ela assentiu.
— Possivelmente.
— Pare com isso, Sophie. Sua atitude de sol e rosas está irritando
meus nervos.
— Seu chafurdar na pena de si mesmo está irritando o meu, —
ela disparou de volta.
Seus olhos se arregalaram de surpresa, e Sophie não tinha certeza
se agora a atacaria ou riria alto. Ela não ia esperar para descobrir,
então continuou.
— Sei que será doloroso para você e desejo de todo coração poder
absorver um pouco dessa dor. Verdadeiramente, James. Eu faria isso
sem hesitação. — Seus lábios tremeram enquanto ela falava e temia
que ela logo começaria a chorar. — Eu prometo a você, eu vou ajudar
de qualquer maneira e como puder.
Sua expressão se suavizou.
— Que ajuda você poderá dar?
— Se essa coisa terrível acontecer, suas ataduras precisarão
serem mudadas. Você ficará confinado à sua cama por um tempo,
suponho. Pode precisar de ajuda com o seu banho, alimentação,
alguém para ficar ao seu lado se ficar com febre.
— Eu tenho servos para isso. Você acha que eu exigiria que minha
condessa realizasse essas tarefas domésticas?
Seus dedos ainda estavam segurando a borda da sua cadeira com
tanta força, os nós dos dedos estavam ficando brancos.
— Eles são subalternos. Eles são importantes eu sei, mas se você
acha que eu permitiria que alguém assumisse essas responsabilidades,
está, infelizmente, enganado. Eu estarei ao seu lado pelo tempo que
precisar de mim... pelo tempo que você me quiser.
Ele grunhiu suavemente, mas sua expressão endureceu mais
uma vez.
— Deixe-me ser claro sobre isso. Eu não quero você.
Ela assentiu.
— Você deixou bem claro. Mas por que você não me quer? Porque
não quer que eu te veja de um jeito ruim? Porque você não quer que eu
seja sobrecarregada pela operação confusa ou o fato de que agora vai
sentir falta de uma perna? — Ela respirou fundo e continuou. — Porque
se você está pensando em me proteger, eu não vou concordar com isso.
Mas se você não me quer perto de você porque não gosta de mim, então
isso é outra questão.
Uma lágrima caiu em sua bochecha. Oh céus. Ela ia chorar, afinal
de contas.
— Apenas me diga quem você prefere ter ao seu lado e eu vou
buscá-la. Se for para você enfrentar esta provação, então deve ter
aqueles que mais ama ao seu lado. Isso é o mais importante.
Ele olhou para ela por um longo momento, então gemeu e
estendeu a mão para limpar as lágrimas escorrendo por suas
bochechas. Seu toque era surpreendentemente gentil.
— Sophie, seu nobre sacrifício é desnecessário.
— Não é nobre. Nem é um sacrifício. A vida vem com fardos, então
por que não podemos enfrentá-los juntos? Mesmo que tenhamos
apenas um arranjo comercial, pense em nós como companheiros. Os
parceiros não precisam se ajudar mutuamente se quiserem
administrar uma empresa de sucesso? — Ela fungou. — Como eu disse,
se há alguém que você prefere ao seu lado, então me diga e eu vou
buscá-la para...
— Buscá-la? Não há ninguém que eu prefira ter ao meu lado do
que você. Mas isso não é sobre nenhum e nem outro. Eu não quero
você ao meu lado também neste momento. Eu não quero que você me
veja depois da operação. Eu não suportaria ver a repulsa em seu rosto.
Ela queria agarrá-lo pelas lapelas elegantes e sacudi-lo
profundamente. O que ela tinha que fazer para provar que ela deveria
estar ao lado dele?
— Você nunca vai ver isso. Eu prometo.
Embora ela ainda desejasse sacudir o senso dele, estendeu a mão
para colocar a mão em sua bochecha. Ele a pegou pelo pulso.
— Eu não vou te segurar nessa promessa. Esta não é uma simples
questão de fervor.
— Realmente? — Ela arqueou a sobrancelha. — Eu pensei que
era exatamente a mesma coisa.
Ele suspirou.
— Eu não tinha ideia de que minha esposa era mandona e
sarcástica.
— E intencional. Teimosa. Implacavelmente determinada. Estou
enviando a nota para o Dr. Farthingale. Se ele disser que deve operar,
então vamos lidar com o próximo passo juntos. — Ela se levantou para
pegar uma pluma, tinta e papel de carta. — Não adianta protestar.
Estou enviando esta nota para ele.
Ele emitiu outro grunhido suave, mas ela viu que sua raiva estava
desaparecendo. Ele não estava satisfeito com a sua intromissão, mas
parecia resignado com isso agora.
— Para minha sorte, você foi um general romano em outra vida.
— Alguém que deve ter amado você, — ela murmurou.
Ele se sentou em sua cadeira e se virou para ela.
— O quê?
Seu coração disparou em sua garganta.
— Nada.
— Você acabou de dizer que me ama? — Ela viu uma mistura de
diversão, descrença, horror e confusão em seu olhar.
Pena que seus ouvidos não estavam tão machucados quanto a
perna dele.
Ela pegou a nota escrita às pressas e saiu do escritório com ela.
James prendeu a respiração enquanto George Farthingale
examinava as manchas escuras na perna. Ele tentou não estremecer a
cada vez que o médico sondava os ossos machucados, mas cada toque
provocava uma pontada de dor em seu corpo, e a provação o deixava
abalado e suado. Essa invasão indesejada estava ocorrendo na
privacidade de seu quarto de dormir, mas o ambiente familiar lhe dava
pouco conforto.
— Bem, Dr. Farthingale? Quais são seus pensamentos?
George parecia ter trinta e poucos anos e não havia dúvidas sobre
a inteligência em seus penetrantes olhos azuis que obviamente não
faziam muita diferença.
— Sua perna está gravemente infectada, mas acho que posso
salvá-la.
— Graças a Deus, — Sophie gritou baixinho. Ela tinha entrado
quando o exame estava prestes a começar e insistira em permanecer
ao seu lado, mesmo quando ele largou as calças, se acomodou em uma
das cadeiras almofadadas ao lado da janela, e sofreu com as cutucadas
e apertões que o bom médico achou necessário para determinar a força
de sua perna. — Como você pode salvá-lo?
Ela continuou a olhar para a perna exposta.
Se a visão de sua carne infectada e moribunda não a assustasse
e causasse um pequeno incômodo, então James supunha que nada
faria.
— Eu tenho alguns pós que são bastante eficazes, Lady Exmoor.
Eles funcionaram bem nos homens feridos no campo de batalha. Mas
não há garantias. Se meu tratamento funcionar, a perna de Lorde
Exmoor pode ser curada. No entanto, não posso fazer promessas. O
corpo humano é um sistema complexo. O que sucede com uma pessoa
pode não ter efeito algum em outra.
— Você é militar? — James perguntou, embora ele não devesse
ter ficado surpreso. O Dr. Farthingale estava em boas condições e se
comportava como um homem que tinha passado pela disciplina
exclusiva do treinamento militar.
O Dr. Farthingale assentiu.
— E tive que amputar com demasiada frequência para o meu
gosto. Então vamos fazer o nosso melhor para salvar essa sua perna.
Eu volto amanhã de manhã com esses pós. Lady Exmoor, você fará que
ele tome as doses que eu prescrever estritamente de acordo com
minhas instruções, não vai?
James riu.
— Minha esposa pode parecer suave e bonita, mas ela tem uma
vontade de ferro. Tenha certeza, ela vai chutar a minha bunda se eu
ousar protestar.
Os olhos de Sophie se arregalaram de desânimo.
— Eu não faria tal coisa. Eu não sou uma ogra.
O Dr. Farthingale sorriu para ela.
— É óbvio, minha senhora. Eu acho que seu marido só estava
brincando com você. — Ele fechou sua maleta médica e se despediu de
ambos. — Eu vou fazer meu próprio caminho. Acho que vocês dois
devem ter muito a discutir.
Quando a porta se fechou atrás deles, James se perguntou o que
Sophie faria em seguida. Ela se colocara de forma corajosa na frente do
médico. Ela manteria a mesma pretensão agora que eles estavam
sozinhos? Ele a observou, sem dizer nada. Afinal, o que poderia dizer?
Ele não queria a ajuda dela, mas também não podia dispensá-la
friamente... não enquanto se sentava com as calças sobre os tornozelos
e parecia uma bagunça patética e suada.
Sophie suspirou. Foi um suspiro suave e ofegante que de alguma
forma tocou seu coração. Foi a mistura perfeita de carinho e força.
— James, — ela disse, sua voz dolorosamente suave e, ao mesmo
tempo, resoluta, — eu posso ajudá-lo a colocar suas calças?
Ele riu, pois, esta era Sophie. Sempre prática em face do desastre
iminente. Na verdade, ele gostava daquela qualidade indefinível sobre
ela, aquela capacidade de fazê-lo se sentir confortável sob as
circunstâncias mais humilhantes. Ela já havia admitido que o amava.
Ela quis dizer isso?
Ela não podia possivelmente.
— Não, Sophie. Eu mesmo administrarei essa tarefa. — Ele se
levantou, agradecido por ela não ter feito nada para ajudá-lo. Em vez
disso, ela se virou e foi até o jarro cheio de água que estava em sua
cômoda e mergulhou o lenço nele. No momento em que ela tinha
espremido o excesso de umidade e voltou, ele tinha acabado de colocar
sua camisa e abotoado as calças.
Ela estendeu o pano úmido e ele pegou com um aceno de cabeça,
enxugando o suor da testa e do pescoço.
— Obrigado.
Ela olhou para o lenço molhado e torcido em sua mão.
— É o mínimo que eu poderia fazer. Eu sei o quão irritante eu
posso ser às vezes. Sou eu quem deveria agradecer-lhe por me agradar.
Deixando de lado o lenço ele segurou as mãos dela.
— Eu acho que é o contrário. Eu estava me comportando como
uma criança petulante e você era a adulta responsável que me trouxe
de volta os meus sentidos. — Ele franziu a testa. — Eu preciso saber a
verdade, Sophie. O que você disse antes... você quis dizer aquilo? Você
me ama? — Ele sabia que não era possível, mas estava se sentindo
bastante baixo no momento e precisava ouvir isso de seus lábios,
mesmo que fosse uma mentira. O que ela poderia amar nele? Seu suor
e o cheiro rançoso de uísque em sua respiração? Sua perna decadente
e cicatrizes proeminentes? Sua desconsideração de todas as pequenas
coisas que tornariam sua vida confortável?
Ele não tinha feito muito além de comprar roupas novas para ela.
Ele não tinha sido nada além de grosseiro e rude no pouco tempo
que passara com ela hoje. Maldição, ele nem tinha lhe mostrado esta
casa. Ontem à noite, ela teve que pedir-lhe indicações para seu quarto
de dormir.
— Não importa, você não precisa responder à pergunta. Eu não
tinha o direito de perguntar isso.
— Você está com medo que eu possa mentir por pena?
Ele riu sem alegria.
— Não, você é muito honesta para isso.
Ela sorriu de volta, mas o dela era um sorriso sincero que brilhou
diretamente em seu coração.
— Você quer dizer, eu sou muito direta para isso. Tenho medo de
nunca ter sucesso como diplomata. — Ela engoliu em seco e olhou em
seu peito, não se atrevendo a erguer o olhar para ele. — Eu amo você.
Se me agradar por um momento, vou lhe dizer por quê.
Ele não disse nada a princípio, pois estava realmente curioso.
Atordoado, francamente.
— Você me conhece a menos de uma semana. Na maior parte do
tempo, tenho sido desdenhoso e brusco.
— Eu conheço você há anos, James. Você lutou ao lado do meu
irmão por muito tempo e suas cartas estavam cheias de notícias suas.
— Ela colocou a mão levemente no peito dele, mas ainda se recusou a
encontrar o olhar dele. — Eu sei que não foi justo do meu irmão forçá-
lo a prometer casar comigo. Eu tinha toda a intenção de liberá-lo
daquele juramento infeliz. — Ela suspirou. — E então você tocou minha
mão e meu corpo começou a formigar. Se você quer saber, ele vibra
sempre que nos tocamos. Está fazendo isso agora.
Ele sorriu, silenciosamente agradecendo as forças que haviam
conspirado para trazer Sophie para sua vida. Ele queria enfiar um dedo
sob o queixo dela e inclinar seu rosto para cima, para que ela
encontrasse o olhar dele, mas podia ver pela cor rosada em suas
bochechas que essa confissão era embaraçosa para ela, então ficou
quieto enquanto ela continuava. — Eu sabia desde o primeiro momento
que nenhum outro homem faria isso por mim. Eu estava pensando
apenas em mim mesma quando aceitei esse arranjo mal concebido.
Ele agora inclinou seu queixo para cima para que ela encontrasse
seu olhar.
— Não é assim, você ofereceu a oportunidade para me deixar sair
disso.
Ela balançou a cabeça e deu uma risada gemente.
— Você deveria me conhecer melhor do que isso agora. Se eu
realmente quisesse libertar você da sua promessa, não estaríamos
casados agora.
Ele olhou para a mão dela que ainda estava descansando em seu
peito.
— Você ainda está formigando?
— Sim.
— Você se importaria se eu te beijasse?
— De modo nenhum. Espero por isso desde que o médico nos
deixou.
Era realmente possível que ela o amasse, que ela queria que ele a
beijasse? Ela estava com os olhos brilhantes e sóbria. Ele não estava,
mas e daí? Era apenas um beijo. Ele não tentaria mais nada, pois um
homem com uns copos a mais poderia pensar que era um amante
brilhante, mas, na verdade, seria um babão e incompetente.
Sua boca se fechou sobre a dela com todas as boas intenções de
manter seu beijo leve e gentil, mas a parte bêbada dele assumiu a parte
faminta e dolorida dele que precisava de Sophie desesperadamente e
queria saber tudo dela.
Ele pressionou sua boca com pouco controle e muito abandono,
provocando seus lábios franzidos. Ele adorava que ela fosse muito
inexperiente para perceber que uma pessoa beijava a avó na bochecha
com os lábios franzidos, mas beijos apaixonados exigiam algo
completamente diferente.
Ele aprofundou o beijo enquanto passava os braços ao redor dela
e a pregava contra ele para que pudesse sentir a exuberância de seu
corpo contra seu peito e inalar a doçura de lavanda de sua pele. Todo
o tempo, ele sondou ao longo da costura de seus lábios, suavemente
forçando-os e separando-os com a língua e mergulhando em seu calor
aveludado quando ela abriu a boca ao ofegar de surpresa.
Provavelmente um dos piores beijos e o mais desleixado que ele já
dera a uma garota, mas Sophie não parecia se importar. Não, ela não
parecia se importar, e estava segurando seus ombros e enrolando os
dedos em seus cabelos com o mesmo abandono que ele estava usando
para explorar sua boca delicada.
— Oh, meu Deus! — Suas palavras saíram em um gemido
ofegante. No momento seguinte, ela pressionou a boca na dele com a
mesma urgência desesperada e quente que ele agora sentia. — Isso é
delicioso, — ela murmurou em sua boca. — Por que você não...
— Sophie, pare de falar.
Ele ainda estava um pouco bêbado. E mancando. E suando mais
uma vez enquanto ele a levava para a cama e se acomodava em cima
dela, sabendo que era a pior coisa que poderia fazer, mas iria explodir
se não a tivesse em breve. Um calor vulcânico estava se formando
dentro dele que precisava ser liberado. Ele não perdeu tempo em passar
as mãos sobre o corpo quente de Sophie. Santos abençoados, sua pele
era macia como creme doce.
Ele se ergueu nos cotovelos, pois seu corpo era grande e ele não
tinha vontade de esmagá-la.
— Eu quero você, Sophie. — Ele não esperou por uma resposta
antes de abaixar a boca para o pulso na base de seu pescoço e
provocando um gemido dela.
Ele rolou para o lado, desesperado para despi-la, mas ela estava
bem abotoada e ele estava superaquecido para desabotoar esses botões
nefastos.
Seu coração estava batendo em seus ouvidos.
Sophie estava retribuindo com suas próprias explorações.
Alguém bateu urgentemente em sua porta.
Que diabo era isso?
A batida urgente persistiu.
— James, acabei de ouvir! Abra!
Seu primo, Tynan.
James saiu de cima de Sophie com um gemido que brotou das
profundezas de sua alma.
— Tempo ruim e sangrento.
O cabelo de Sophie era uma bagunça deliciosa e seu vestido
subira até as coxas revelando aquelas longas e bem torneadas pernas
que ele estava acariciando um momento atrás. Ela saiu da cama e
rapidamente ajeitou o vestido.
— Meu cabelo está desfeito. — Ela colocou a mão na bochecha
rosada. — Meu rosto está vermelho?
Ele sorriu.
— Vermelho como uma beterraba e seu cabelo caindo sobre seus
ombros.
— Oh, querido Deus! — Ela deu-lhe um beijo rápido nos lábios
que significava mais para ele do que poderia expressar, pois foi um
gesto impulsivo que veio diretamente de seu coração. Ela murmurou
outro — oh, querido Deus — e fugiu para seus aposentos através da
porta privada que separava seus quartos.
Tynan bateu mais uma vez na porta com irritante persistência.
— Responda-me ou vou arrombar isso!
James vestiu o paletó, esperando que isso cobrisse o efeito
excitante que Sophie tinha sobre ele, e mancou em seu quarto para
permitir que seu primo entrasse.
— O que diabos há de errado com você? É melhor que Londres
esteja em chamas ou eu...
— Eu ouvi a notícia. É verdade? O Dr. Foster quer amputá-lo? —
Tynan agarrou-o num abraço de urso. — Diga-me qualquer coisa. Farei
tudo o que puder para ajudar.
James revirou os olhos no momento em que Tynan o soltou.
— Estou bem, Ty. Eu prometo.
Seu primo franziu a testa.
— Você está? — Ele o estudou por um longo momento. — Bem,
eu vou ser amaldiçoado. Você realmente está. Eu estava preocupado
com você. Desnecessariamente, parece.
— Bem, você está aqui agora. Podemos também conversar. —
James pegou sua bengala e fez sinal para Tynan segui-lo para o
escritório. Tynan começou a farejar o ar no momento em que ele entrou.
— Cheiro de uísque. O que aconteceu?
James afundou na enorme cadeira de couro que ele ocupara antes
que Sophie marchasse e chutasse o traseiro dele.
— Sophie foi o que aconteceu. — Ele sorriu ironicamente e
ofereceu a seu primo um assento. — Ela me viu chafurdar em pena e
lamentar meu destino sombrio. Ela deixou claro para mim que não
tinha nada disso, então pegou a garrafa da minha mão e segurou-a fora
do meu alcance. Eu fiquei com raiva e joguei meu copo no fogo.
Tynan franziu a testa.
— Droga, James. Você deve tê-la assustado.
— Ahh! Se você quiser saber, ela me assustou. Eu estava
determinado a me entregar ao esquecimento e estava no caminho de
fazê-lo quando ela me interrompeu. Outro homem poderia ter batido
nela quando ela pegou a garrafa. Eu não teria, é claro. Mas ela não
sabia disso.
Tynan assentiu.
— Isso foi corajoso dela.
— Na verdade, se eu ousasse levantar-lhe a mão, ela teria me
espancado com o objeto mais pesado que estivesse por perto. Ela me
repreendeu por aceitar meu destino e me forçou a procurar outro
médico. Você conhece George Farthingale?
Os olhos de Tynan se arregalaram.
— Nunca tive o prazer de conhecê-lo. Mas sim, ouvi dizer que ele
é o melhor de todos.
— Foi o que Sophie disse e insistiu em convocá-lo. Ele saiu daqui
há menos de uma hora atrás. Não estava com esperanças, mas ele vai
tentar salvar minha perna.
— Bem, eu vou ser amaldiçoado. Isso é uma excelente notícia. —
Tynan recuou em sua cadeira e soltou um longo suspiro. — Parece que
não precisei me preocupar com você, afinal de contas.
— Não há garantia de que o tratamento dele funcionará. Eu ainda
posso perder minha perna.
Tynan se inclinou para frente.
— Prometa me avisar se isso acontecer. Eu sei o que você passou
na guerra e o quão difícil esta batalha contínua para você. Deixe-me
ajudar da maneira que puder. Não se afunde no mesmo abismo que
parece ter reivindicado tantos bons homens que retornaram do
continente.
James balançou a cabeça em reconhecimento.
— Sophie não me deixa mergulhar um dedo no abismo. Ela é uma
coisa e tanto, Ty. Eu estava afundando rápido algumas horas atrás,
mas ela me puxou para fora. Pelo menos por enquanto.
— Estou satisfeito em ouvir isso. — Ele se inclinou para frente e
olhou ao redor. — Onde ela está agora?
— Descansando em seus aposentos. — Ele limpou a garganta, de
repente sentindo o desejo de rir, pois Tynan ficaria horrorizado ao saber
que ele os interrompeu no meio de um prazer com sua preocupação
bem-intencionada. — Ela passou o dia fazendo compras com amigas.
Como minha condessa, ela precisará viver o papel. Não que eu me
importe. Ela parece esplêndida para mim. Mas todo mundo acha que
estou cumprindo uma dívida de honra, que me casei com um ratinho
triste. Eu não vou tê-los olhando com o nariz empinado para Sophie.
Ela tem mais valor do que todos nós.
Tynan engasgou com uma risada.
— Eu vou ser amaldiçoado.
— Pare de dizer isso.
— Não posso ajudar. Não demorou muito para se apaixonar por
ela.
James franziu a testa.
— Quem disse que eu estou apaixonado por ela?
— Você acabou de dizer.
— Eu a respeito. Não é de forma alguma a mesma coisa. — Que
ele cobiçava o corpo dela, que ele ansiava por seu corpo disposto e
receptivo com uma dor beirando a loucura, era irrelevante.
Tynan encolheu os ombros.
— Tudo bem, continue se iludindo. Mas se ela tiver uma prima
que seja como ela, mande-a para mim. Estou farto dessas frívolas da
Sociedade que riem de tudo que digo e acham que sou brilhante porque
sou um visconde rico. Claro, eu sou espirituoso, brilhante e rico, mas
isso é irrelevante.
Eles falaram mais um pouco, e embora James ainda tivesse
Sophie em mente, também estava grato pela amizade de Tynan. Ele se
levantou para escoltar seu primo até a porta da frente quando Sophie
desceu as escadas. Ela olhou para James e corou profusamente.
Senhor, os marrecos poderiam muito bem ter gritado o que eles
estavam fazendo quando Tynan os interrompeu. Os olhos de Ty se
arregalaram com uma surpresa óbvia e ele lançou um sorriso sábio
para James.
— Lady Exmoor, é um prazer te ver. Perdoe minha visita
inesperada, mas eu tinha ouvido a angustiante notícia que correu sobre
a certeza de que meu primo estava... bem, eu sei agora que ele está em
melhores mãos. Vejo vocês na festa da minha mãe amanhã à noite.
James se virou para Sophie no momento em que seu primo fechou
a porta da frente atrás dele.
— Podemos continuar de onde paramos quando Ty tão rudemente
nos interrompeu?
Seu rosto ficou brilhante como uma cereja.
— Sophie, estou brincando com você, — disse ele, acariciando sua
bochecha quente. — Mas vou visitá-la hoje à noite, com a sua
permissão.
Ela soltou o ar que deveria estar segurando.
— Oh, graças a Deus. Sim, você tem minha permissão. — Seu
sorriso era tímido, mas ainda assim encantador.
Ele assentiu. Talvez ele a amasse, afinal.
Mesmo que ela fosse um bocado mandona.
Sim, é bem possível que ele estivesse se apaixonando por ela.
O coração de Sophie estava batendo rápido e borboletas
flutuavam em seu estômago. Depois de compartilhar um jantar
tranquilo com James, ela subiu e, com a ajuda de Bessie, se preparou
para dormir. Usava uma camisola rosa rendada, algo que comprara
hoje na loja de Madame de Bressard, por insistência de suas duas
amigas, que afirmavam que uma cor rosada era parte de suas
bochechas agora e combinavam com o pálido rubor em sua pele.
Sua pele estava vermelha agora, porque a confecção de renda era
bastante fina. Nada como suas práticas roupas de cama. Ela insistiu
em trançar seus cabelos sobre os protestos de sua serva, como se ter o
cabelo preso emprestaria decoro ao que esta noite traria.
— Por que se incomodar, minha senhora? Sua Senhoria só vai
desfazê-lo no momento em que estiverem sozinhos.
Assumindo que ele se juntaria a ela mais tarde.
Ela esperava que ele o fizesse, mas ele tinha muito a considerar
em relação à sua situação médica. Sua perna tinha sido dolorosamente
tocada esta tarde, então ela não tinha certeza do que ele faria.
Ela dispensou Bessie, e depois que alguns minutos se passaram
sem nenhuma indicação de que James estava no andar de cima e se
preparando para a designação, ela estava prestes a desistir de esperar
e deitar na cama quando ouviu a porta dos seus aposentos adjacentes
se abrir.
— Sophie?
— Eu estou acordada, James. — Ela estava sentada em uma
cadeira ao lado do fogo quente da lareira, mas levantou-se para
caminhar para o lado dele. Ele usava um roupão preto que caía aos
joelhos e parecia não estar usando nada por baixo. Apoiava-se na
bengala em busca de equilíbrio e, embora o olhar dela estivesse
principalmente em seu belo rosto e ombros, ela também notou a
extensão muscular de seu peito e a pitada de finos pelos dourados
sobre ele enquanto se esforçava para manter o equilíbrio.
Ela olhou para baixo, incapaz de ignorar os longos e profundos
cortes que subiam pela lateral da perna machucada, descolorindo a
pele do tornozelo ao joelho. Essas feridas não terminavam ali, mas o
roupão cobria a parte superior da perna, de modo que as marcas
desagradáveis que existiam sob o tecido estavam escondidas da vista.
— Você está linda, — ele disse com uma sensação de admiração
que imediatamente aliviou seus medos.
Seu sorriso se alargou.
— Você também.
Ele riu.
— Dificilmente, mas obrigado mesmo assim.
Ele não disse mais nada e cedeu ao que sentia pegando-a nos
braços e beijando-a suavemente nos lábios. Ele acariciou sua bochecha
e depois correu os dedos pelo cabelo dela para soltar a trança, de modo
que a juba escura e rebelde desceu pelas suas costas e se enrolou em
seus quadris.
Bessie estava certa.
Ela deveria ter escutado com mais cuidado o conselho da garota.
Em sua própria defesa, ela estava muito distraída para falar uma
única palavra.
James a beijou novamente, ao mesmo tempo desatando a frente
de sua camisola. Seu coração disparou em sua garganta, pois ela
nunca experimentou tal intimidade antes e não sabia o que fazer em
resposta, ou se deveria fazer qualquer coisa. Antes que ela pudesse
perguntar, James começou a beijar seu pescoço. Ela ofegou quando
seu corpo se transformou em um inferno de fogo, seu toque enviando
ondas intensamente quentes percorrendo seu corpo.
Ela agarrou seus ombros e se agarrou a ele como uma craca, com
medo de deixá-lo fugir. Suas pernas se transformaram em água e não
podiam mais segurá-la.
Ela gemeu e ofegou e gemeu suavemente enquanto as sensações
agradáveis a dominavam. Finalmente, ela fechou os olhos e
simplesmente se permitiu ceder ao calor de seus lábios em sua pele e
a excitação de suas mãos acariciando seu corpo. Suas mãos não eram
as de um cavalheiro, macias e brancas, mas não eram pesadas como
as de um trabalhador. A aspereza de suas palmas, junto com a
gentileza de seu toque, intensificou sua resposta, agitou sua paixão
além de qualquer coisa que já tivesse experimentado antes.
Na verdade, esta era a sua primeira experiência com paixão e ela
agora entendia o que era todo o alarido sobre isso.
— Sophie, deixe-me olhar para você, — disse ele em um sussurro
gemendo.
Ela abriu os olhos apenas para perceber que ele tinha tirado a
camisola do corpo dela. Ela sentiu o ar frio contra sua pele úmida
quando ele se afastou, e deveria ter ficado envergonhada diante dele
sem um ponto de roupa. Mas ele estava olhando para ela maravilhado,
seu olhar ardente a encantando. Este era o marido dela, o homem com
quem compartilharia o resto de sua vida, e ela estava satisfeita por ele
querer conhecê-la dessa maneira íntima.
Ela gostou bastante do brilho escuro e ardente em seus olhos.
Ela sorriu para ele.
— Está bem para arranjos de negócios?
Ele riu e levou-a para a cama, mas ela sentiu sua decepção em
não ser capaz de levantá-la e levá-la até lá. Qualquer arrependimento
foi logo esquecido quando ela se deslizou entre os lençóis. James
gentilmente colocou-a deitada de costas e caiu sobre ela, sem dúvida,
determinado a levar até onde tinham parado aquele dia.
Um arrepio quente percorreu-a enquanto a seda do seu roupão
roçava sua pele sensível. Ela podia sentir o calor do corpo dele através
do tecido, mas ela queria mais. Ela não queria nada entre eles.
Ela ficou ousada e tentou soltar seu cinto, o que não era fácil de
ser realizado enquanto suas mãos tremiam e ficou presa entre o
colchão e seu corpo grande e quente. Ela amava a leve paixão de seu
peso sobre si.
Seu coração estava batendo tão alto que ela tinha certeza de que
ele podia sentir o tic tac contra o peito dele.
Ele apoiou-se nos cotovelos e lançou-lhe um sorriso atraente e
perverso enquanto ela continuava a mexer com o cinto.
— O que você está fazendo?
— Tentando tirá-lo de suas roupas. — Ela suspirou. — Vou
precisar de mais prática.
— De fato, você é deliciosamente inepta nisso. — Mas ele não a
ajudou. Em vez disso, ele pegou as mãos dela em uma das suas e
segurou-as sobre a cabeça enquanto abaixava a cabeça e colocava
beijos sobre ela.
Fagulhas flamejantes percorreram seu corpo com um prazer
explosivo.
— Deus, James!
Ele não lhe mostrou misericórdia, beijando seu corpo e deixando
um rastro de fogo em seu rastro.
— Pare! — Ela riu gemendo, doendo para fazer o mesmo com ele.
— Tenho certeza que é a minha vez, seu homem desgraçado. — James
soltou suas mãos e riu baixinho enquanto a observava puxar seu cinto
com determinação renovada. — Não é engraçado. Você firmou essa
coisa com um nó górdio2. Como vou tirar você da sua roupa?
Seu humor rapidamente desapareceu e sua expressão ficou séria.
— Não é uma visão bonita, Sophie.
Ele estava com vergonha do jeito que seu corpo parecia? Ela não
tinha considerado isso, pois ele tinha um corpo forte e esbelto e um
rosto bonito, apesar das profundas cicatrizes esculpidas em sua
bochecha e mandíbula.
— James, — ela disse em um sussurro cheio de desejo, — é parte
de você. Não o esconda de mim. Eu quero conhecê-lo todo.
Ele não ficou satisfeito, mas depois de um momento, ele assentiu
e saiu de cima dela para remover o roupão.
— Puxe isto desta maneira e se desliza imediatamente.
Muito bem, ele fez parecer fácil.
— Eu vou lembrar da próxima vez, — ela resmungou, e então todo
o pensamento fugiu enquanto ela o estudava em todo o seu esplendor.
Não, ele não era simplesmente esplêndido. Ele era magnífico. Glorioso.
As chamas que brilhavam na lareira projetavam um belo brilho
dourado em seus contornos firmes. Ela era capaz de ver o cruzamento
de cicatrizes ao longo de suas costas e várias linhas finas e vermelhas
aparentemente entrelaçadas nos músculos de seus braços. Quando ele
se virou para ela, ela viu mais cicatrizes ao longo de seu peito largo.
Seu olhar encontrou o dele. Ele a queria tanto quanto ela o queria.
Ela olhou para baixo e viu o quão mal sua perna estava. Uma sacudida
atravessou seu coração, percebendo naquele momento quanta dor ele
estava suportando silenciosamente. Seu silêncio estoico só aumentava
a nobreza de seu caráter. Se ela ainda não estivesse apaixonada por ele,

2
O nó górdio é uma lenda que envolve o rei da Frígia e Alexandre, o Grande. É comumente usada como
metáfora de um problema insolúvel resolvido facilmente por ardil astuto ou por "pensar fora da caixa".
certamente se renderia agora. Ela estendeu os braços para convidá-lo
vir de volta para ela, pois tinha uma fome insaciável por esse homem.
Ele era o mais bonito que já conhecera, vestido ou despido, e
embora nunca tivesse visto nenhum outro despido antes, vira pinturas
de deuses gregos e romanos e sabia como a forma muscular de um
homem podia ser bela. James era isso e muito mais.
Ela correu as mãos ao longo de seus músculos tensos e suspirou.
Ele era seu marido e, embora não estivesse apaixonado por ela, naquele
momento, certamente, a fazia se sentir amada.
Ele a beijou nos lábios e mais uma vez percorreu seu corpo,
provocando-a e gentilmente a tocando em todos os lugares, de alguma
forma conhecendo todos os seus pontos sensíveis. Essas sensações
eram como nada que ela já sentiu antes. Quente, emocionante.
Poderosamente mexendo em seu coração.
Cada parte dela doía por seu toque.
Ela começou a ferver em meio às chamas.
— Sophie, não se segure, — disse ele em um murmúrio rouco.
Deus, ela estava sem mente e sem fôlego e não conseguia segurar
nada, pois o toque dele era mágico. Uma magia intensa e quente. Toda
ela estava em chamas, e se sentia como uma brasa brilhante flutuando
para o céu. Superior. Cada vez maior. Então ela flutuou,
repentinamente, tomada por ondas vulcânicas de prazer que
estremeciam e corriam, quentes e grossas como lava derretida, através
de seu sangue.
— Eu te amo, James.
Ele beijou-a profundamente nos lábios e uniu-se a ela, a princípio
com um cuidado lento e gentil, mas logo ele era uma parte dela, os dois
se movendo como um só, como marido e mulher. Ela ainda era aquela
brasa flutuante voando para o céu, só que agora o prazer era ainda
mais requintado porque eles estavam juntos.
— James, — ela gemeu baixinho, agarrando seus ombros.
— Estou aqui meu amor.
Ela passou as mãos para cima e para baixo em seu corpo quente
e úmido, memorizando cada curva tensa, cada músculo duro. Cada
cicatriz irregular.
— Eu nunca soube que poderia ser assim.
Ela amava a tensão de seu corpo e estava fascinada por seus
movimentos. Ele parecia se mover com a graça poderosa de um golfinho
cortando a água. Cada deslize trouxe-a junto com ele, em uma lenta
construção de pressão, uma subida a alturas mais altas.
Feliz.
Sem fim.
Eterno.
Ela sentiu o rugido silencioso de sua paixão, e se agarrou a seu
corpo duro e musculoso como se ele fosse sua sólida âncora em um
mar desconhecido. Ela amava esse homem tão profundamente. Como
era possível quando eles se conheceram apenas alguns dias atrás?
Parecia que o coração dela o conhecera sempre.
Eles não disseram nada por muito tempo, não parecia haver
palavras necessárias.
Suas carícias falavam sem som, e com cada toque suave, cada
golpe leve, Sophie entendia o que ele queria transmitir. Ele não disse
que a amava, mas esse não era o momento. As palavras chegariam a
tempo.
Ele era um homem cauteloso e não estava prestes a entregar seu
coração para ela... ainda não. Talvez ela prontamente admitiu seus
sentimentos por ele porque tinha lido e relido todas as letras dezenas
de vezes de Harry, cartas que eram cheias de menções de James e sua
coragem.
James havia lido as cartas que ela escreveu para Harry? Ela
duvidava disso.
James a beijou na testa para recuperar sua atenção, um beijo
rápido, mas delicadamente terno.
— Sophie, como você se sente?
Ela sorriu para ele e se aninhou mais perto de seu corpo grande
e quente. Ele ainda a segurava embrulhada em seus braços.
— Esplêndida. E você?
— Humilhado, — disse ele depois de um longo momento. — Eu
nunca pensei que teria isso. Estou começando a achar que minhas
lesões foram uma bênção disfarçada.
Ela se virou em seus braços de modo que agora estava de frente
para ele, mas não disse nada.
Ele correu os dedos pelo cabelo dela, parecendo gostar do jeito
que ele se derramava sobre os dois em ondas não conectadas.
— Se eu não tivesse me machucado — continuou ele, pensativo e
franzindo a sobrancelha, — teria voltado para casa tão frio e arrogante
quanto saí. Eu teria encontrado uma desculpa para não me casar com
a irmã mais nova de Wilkinson, e provavelmente encontraria uma
pequena casa no campo e lhe pagaria uma boa soma, depois nunca lhe
daria qualquer outro pensamento.
— Oh.
Ele acariciou sua bochecha, roçando seus dedos ao longo de sua
pele.
— Você não era nada além de Smidge para mim, apenas uma
garota que recebera um bobo apelido de “Pequena” de seu irmão. Não
esta linda Sophie que agora descansa em meus braços.
Ele a beijou nos lábios antes de compartilhar o resto de seus
pensamentos.
— Eu teria continuado com a habitual rodada de festas elegantes,
decidido pelo “tipo certo de garota”, um diamante frio da Sociedade e
orgulhosa da sua família rica e nobre. Uma dama que sabia qual colher
usar para divertir-se, e qual vestido usar para o chá da tarde... e quais
pessoas esnobar.
Ela olhou para ele desanimada, percebendo que ela teria sido uma
daquelas moças que seriam desprezadas.
— Deus, estou feliz por não te conhecer naquela época. Você deve
ter sido um coágulo insuportável.
Ele riu enquanto acariciava sua bochecha novamente.
— O mais insuportável de toda Londres. Tudo mudou para mim
depois da guerra. Eu estava com raiva e sentindo muita pena de mim
mesmo. Eu escolhi honrar minha promessa ao seu irmão pelas razões
erradas. Mas estar com você, bem... você é o melhor para mim. Você
abriu meus olhos para o que realmente importa. O que é
verdadeiramente possível? Eu não quero mais ninguém ao meu lado.
Não mais?
— Havia alguém importante para você antes de me conhecer? —
Alguém que ele teria se casado antes da guerra, antes de seus
ferimentos. Sophie fechou os olhos e tentou imaginar a jovem que tinha
capturado seu coração.
— Não vou mentir para você, Sophie. Houve. Você vai encontrá-la
no jantar da minha tia.
Sophie passou as horas antes da festa de Lady Miranda Grayfell
tentando se livrar da sensação iminente de destruição. Seus vestidos
ainda não estavam prontos e ela não tinha nada adequado para vestir.
Ela não podia pedir emprestado um vestido de Lydia, porque Lydia era
muito pequena, então suas roupas nunca caberiam. A irmã de James
era muito grande, e como poderia pedir a ela quando elas se
conheceram há apenas três dias?
Não, ela não tinha escolha a não ser usar o vestido que usara no
casamento. Era o único que ela possuía que poderia passar por
elegante. Os projetos de Madame de Bressard eram muito mais bonitos,
mas o primeiro deles não estaria pronto até amanhã, no mínimo.
Todos que estiveram presentes no casamento notariam que ela
estava usando o mesmo vestido, mas não poderia ser ajudada quanto
a isso. Será que Miranda, Agatha ou Gabrielle fariam uma observação?
Todas pareciam gentis, mas ela mal as conhecia. E quanto a Rom ou
os primos? Supondo que algum daqueles homens notasse. Ainda
assim, seria preciso apenas um deslize inocente da língua e toda
Londres saberia que ela era uma fraude.
James colocou a mão levemente no ombro dela.
— Sophie, você está tão distraída.
Ela se virou para ele.
— O quê?
Ele e o Dr. Farthingale estavam agora olhando para ela. Os três
estavam mais uma vez reunidos no quarto de James, o Dr. Farthingale
trouxe os pós prometidos. Ele tinha acabado de examinar James para
ter certeza de que não havia nenhum novo dano em sua perna desde
ontem.
— Lady Exmoor, talvez seja melhor anotar essas instruções.
Os olhos de Sophie se arregalaram de horror. Ele deve ter lhe dado
uma explicação da dosagem para administrar e ela não conseguiu ouvir
uma palavra disso. Seu rosto estava cheio de cor, suas bochechas
queimando em humilhação.
— Eu sinto muito. Eu estava momentaneamente... distraída.
James a olhou com preocupação, mas não disse nada.
Sophie começou a torcer as mãos.
— Por favor, repita suas instruções, doutor. Você tem toda a
minha atenção agora.
— Muito bem. — Para seu alívio, o Dr. Farthingale não parecia de
todo ofendido. Os pós acabaram sendo mais um cataplasma que Sophie
precisava preparar três vezes ao dia e cuidadosamente espalhar onde
ela notasse descoloração na perna de James.
— O que esses pós contêm? — Ela perguntou, observando
atentamente enquanto o Dr. Farthingale preparava e depois
administrava o cataplasma para mostrar-lhe como era feito. Ele então
fez com que ela fizesse o mesmo sob seu olhar atento.
— Eu li um pouco sobre as antigas tradições herbáceas celtas, —
disse ela enquanto esfregava a mistura malcheirosa na perna do
marido. — Nos tempos antigos, os curandeiros costumavam esfregar
fungos em forma de cogumelo em uma ferida aberta para evitar a
infecção. Esses fungos foram observados e encontrados na casca de
árvores em decomposição.
O médico pareceu estar impressionado.
— Este cataplasma é semelhante, Lady Exmoor. Durante a
guerra, eu não podia simplesmente vagar pelas florestas em busca de
fungos de árvores, pois havia muitos soldados de Napoleão à espreita.
Então tentei usar um extrato de pão mofado. — Ele deu uma risada
curta e irônica. — Havia muito pão ruim por perto. Pão velho,
apodrecendo e umedecido pela chuva constante. Acontece que
funcionou notavelmente bem nos homens feridos no campo de batalha.
— Brilhante, — disse ela com um sorriso, de repente percebendo
o quão tola e insignificante suas preocupações sobre um vestido
adequado eram. — Não é de admirar que você seja tão respeitado.
Ele suspirou e balançou a cabeça.
— Você me lisonjeia, Lady Exmoor. Eu gostaria de poder fazer
milagres e salvar todos sob meus cuidados, mas isso simplesmente não
é possível. Felizmente, seu marido é jovem e forte. Ele provavelmente
responderá bem a esse tratamento.
Ela queria pedir-lhe para, por favor, chamá-la de Sophie, mas
ainda não sabia o suficiente sobre a etiqueta apropriada para
mencioná-la. Ela perguntaria a James mais tarde. Ela também queria
convidar os Farthingales para o chá, mas isso também teria que
esperar até que ela e James estivessem sozinhos para discutir o
assunto.
O Dr. Farthingale saiu logo depois, mas ela permaneceu no quarto
com James. Ele puxou as calças e abotoou-as enquanto ela se ocupava
em tirar o cataplasma das mãos.
— Oh céus. Eu ainda cheiro como mofo velho. Vou ter que
mergulhar minhas mãos no limão mais tarde para remover o odor. —
Ela se virou para James e revirou os olhos. — Sua perna está suja com
isso, e ainda assim você ainda tem um cheiro divino. Não é justo.
Ele sorriu.
— Tenho certeza de que estou fedendo. Minha tia não ficará
satisfeita com o odor desagradável que me seguirá em seu elegante
salão. Isso vai estragar o apetite de todos. Bem, quase todo mundo.
Meus primos podem devorar um javali inteiro de uma só vez. Isso é só
para começar. Duvido que algo interfira em seus apetites.
Ele a pegou em seus braços.
— Falando em comida, você é um bocado muito tentador. Eu
poderia te devorar agora, Sophie. — Ele a beijou com uma profundidade
de sentimento que a surpreendeu.
Seu coração estava saltando e batendo, e suas pernas estavam
balançando de forma que ela mal podia ficar em pé sozinha no
momento em que ele terminou o beijo.
— Meu Deus, isso foi bom.
— Dr. Farthingale pode ser brilhante — disse ele, com a voz rouca
e cheia de carinho, — mas você é quem merece todo o crédito se essa
perna for salva.
Ele a beijou novamente, mas quando a soltou e recuou, não
pareceu tão alegre quanto um momento antes.
— Este cataplasma deve ser aplicado na minha perna na hora de
dormir. Eu posso muito bem não... nenhum de nós dois pode ficar
segurando os narizes durante a noite. Você não vai conseguir dormir
com...
Seus olhos se arregalaram em alarme.
— Você está dizendo que não deseja compartilhar minha cama?
— Ela engoliu em seco, lutando para conter sua aflição. — Você não
gostou da noite passada?
— Santos, sim! Como você pode pensar que eu não gostei? Uma
vez que esta perna esteja curada, você não será capaz de me tirar da
sua cama. — Ele esfregou a mão na parte de trás do seu pescoço. — Só
estou pensando em seu conforto.
Ou estava pensando na mulher com quem ele realmente queria se
casar. O que aconteceria quando ele encontrasse seu primeiro amor no
jantar de lady Miranda?
— É isso? Nenhuma outra razão além do meu conforto? Você está
certo disso?
Ele estudou sua expressão e suspirou.
— O que há de errado, Sophie? Você está distraída o dia todo. Será
que você não gostou da noite passada?
— Você sabe que eu gostei. Acho que eu fui bem sonora sobre
isso. — Ela corou. — Mas James, eu quero causar uma boa impressão
em seus amigos e familiares, apenas... nenhum dos meus novos
vestidos está pronto ainda. Tudo o que tenho é o vestido que fiz para o
nosso casamento.
— Maldição, — ele disse suavemente. — Eu fiz de novo. Estive
descuidado, não foi? Mas você é uma mulher linda, Sophie. Ficará
perfeita em qualquer vestido que usar.
— Todo mundo vai saber que é o mesmo.
— As mulheres talvez. Os homens vão simplesmente observar a
maneira espetacular de como vai preenchê-lo. Vou ter que esmagar
alguns narizes para manter os pescadores alinhados, é claro. — Ele
estudou-a por mais um momento. — Você ainda está irritada.
Ela assentiu.
— Eu não quero que eles pensem menos de mim.
— Minhas tias e irmã nunca farão isso. Elas disseram alguma
coisa que a fizesse pensar de outra forma?
— Não. Elas são a alma da bondade. — Ela saiu de seus braços.
— Eu nunca fui a um jantar elegante antes. Mesmo se o vestido passar,
o que dizer de tudo o mais? O que eu digo ou faço? Eu não quero te
envergonhar. Especialmente na frente da mulher que você amou uma
vez.
Gemendo, ele arqueou uma sobrancelha malvada.
— Você está com ciúmes. Bem, isso é o topo do bolo. Você acha
que eu vou dar uma olhada em Bella e perceber o meu erro em me
casar com você. — Ele riu com vontade.
Bella? Até o nome dela significava bonita.
Sophie não estava com ciúmes, tanto quanto assustada.
Agora que ela se apaixonou por James, não estava interessada em
perdê-lo.
Ele inclinou seu queixo para cima e forçou o olhar dela para o
dele.
— O nome dela é Lady Bella Whitby e seu pai é o duque de
Weymouth. Ela é tão arrogante e orgulhosa quanto linda, e o maior
favor que ela já me fez foi me recusar.
— Você propôs a ela? — O coração de Sophie afundou em seus
dedos do pé. Ela não tinha percebido a extensão de sua afeição por essa
modelo da Sociedade.
— Eu propus. No momento em que voltei de Waterloo.
— Mas isso foi apenas alguns meses atrás. — Poderia seu coração
afundar mais baixo? Ela não achou que fosse possível.
— Dois meses atrás, para ser preciso, — disse ele, e seu coração
se aprofundou mais no chão.
James olhou para a mesa de jantar e para Sophie, desejando que
Miranda permitisse que eles estivessem sentados juntos, mas isso
nunca era feito dessa forma nesses jantares extravagantes. Maridos e
esposas sempre foram separados. Sophie, de acordo com sua posição,
sentou-se ao lado de seu primo, Tynan. Ele sabia que Ty iria zelar por
ela e sutilmente ajudá-la com as complexidades da etiqueta de prataria
e qualquer outra frivolidade que ela ainda tinha que dominar.
Ele deu a Sophie as pérolas Exmoor para usar e elas pareciam
perfeitas descansando contra sua esbelta garganta. Seu brilho
empalideceu em comparação com ao brilho de seus sorrisos suaves, os
sorrisos que ela lançou em sua direção sempre que ela o pegava
olhando para ela.
Ele fez isso com bastante frequência.
— Grayfell parece estar gostando da companhia de sua esposa, —
Bella disse, porque ela estava sentada ao lado dele. Sua tia avisou-o
sobre os arranjos de assentos difíceis e pediu desculpas profusamente.
No começo, ele pensou que era uma farsa. Mas não era, e ele ainda
estava quietamente fervendo sobre a torção sórdida do destino que o
colocou ao lado de Bella.
Miranda deveria ter ignorado o protocolo desta vez e colocá-lo o
mais longe possível de Bella.
Ele se voltou para a beleza arrogante que uma vez reivindicou seu
coração, não se sentindo menos por causa de suas cicatrizes ou pelo
fato de que ela rejeitou sua oferta de casamento.
— Por que Greyfell não deveria gostar dela? Ela é charmosa e
envolvente. Todo mundo gosta da companhia dela.
— Mas você gosta? — Bella obviamente acreditava que ele estava
sobrecarregado com uma esposa indesejada, e achava sua situação
mais divertida. — Realmente, Exmoor. Eu sei que você está fazendo o
melhor com uma situação ruim, mas não precisa manter essa
pretensão comigo.
Ele não tinha visto Bella desde o dia em que propôs e ela
imediatamente o rejeitou. O olhar de horror enquanto ela olhava para
o rosto marcado não era algo que ele esqueceria. Ela quase vomitou os
salgadinhos e os ovos da manhã.
— Não é uma pretensão. — Ele propôs a Bella no momento em
que seu regimento, ou o que restou dele, tinha pousado na Inglaterra.
Depois de receber sua rejeição contundente, ele mancou para casa,
determinado a se esconder e lamber suas feridas. Ele não achava que
seu coração pudesse doer ainda mais. — Eu consegui a melhor parte
do negócio.
Ele nunca imaginou deixar de amar Bella.
Mas... ele a amou alguma vez? Ele já não achava mais isso, mas
tinha sido pego em tudo o que ela representava; a admiração da elite
da alta sociedade, o orgulho de cortejar uma Incomparável e, após seu
retorno da guerra, a necessidade desesperada de recuperar seu antigo
status e fingir que ele não voltara para casa danificado.
E ele nunca esperou a força da natureza que era Sophie invadir
sua vida. Ele estava contando com suas bênçãos, pois ela aliviou sua
alma. Ela lutava para salvar sua perna.
Bella não teria feito nada do tipo.
Ele olhou para Sophie novamente.
— De fato, estou bastante contente com a minha barganha. — Ele
não podia começar a explicar o impacto que Sophie causara em sua
vida ou a alegria que agora sentia quando estava por perto. Seus
pensamentos foram para a noite passada e sua resposta apaixonada
quando eles se juntaram em um só.
Ele não podia esperar para tê-la em seus braços novamente.
Ela o fez se sentir inteiro.
— Oh, que doce. — Bella franziu os lábios com desdém. — Mas
quem mais você acha que vai aceitá-la? Ela é uma mulher sem
conexões. Sem família. Nenhuma roupa decente. Nenhum treinamento
para ser uma condessa. Siga o meu conselho e esconda-a no campo.
Se mantê-la em Londres, ela vai fazer de você uma piada.
A colherada de sopa de alho-porro que ele acabara de engolir
queimava sua garganta.
— Eu sou muito grato pela sua preocupação.
Ela confundiu seu sarcasmo por apreciação e lançou-lhe um
aceno de cabeça condescendente.
— Só estou pensando no que é melhor para você, Exmoor.
E isso era outra coisa que ele não suportava. Chamando um ao
outro por seus títulos, algo que Bella sempre fizera, mesmo durante
seus momentos mais íntimos. Aqueles que ocorreram antes dele ir para
a batalha, antes de suas cicatrizes e a perna machucada. De fato, eles
compartilharam intimidades por que Bella permitiu que ele tomasse
liberdades. Mas gemer — Exmoor, Exmoor — não tinha o mesmo toque
sensual que os sussurros deliciosos de Sophie sobre o nome dele
enquanto estava no meio do êxtase. James. Eu amo você, James.
Ele não podia esperar para persuadir aqueles gemidos ofegantes
e suspiros apaixonados de seus doces lábios novamente esta noite.
— Você não precisa se preocupar comigo, Lady Bella. Eu estou
mais do que bem.
— Bem, porque eu sei o quanto machuquei você. — Ela
discretamente por debaixo da mesa colocou a mão em sua coxa boa.
Ele estaria ganindo e pulando da cadeira se ela tocasse a outra. —
Decidi aceitar a oferta de casamento do duque de Bradshaw. Talvez
você vá ao casamento agora que somos amigos mais uma vez.
Seus dedos se elevaram.
— O que você está fazendo? — Ele agarrou a mão dela e
empurrou-a para longe.
— Eu o repeli. Ou você esqueceu? — Seus lábios se franziram em
um beicinho. — Há uma qualidade brutal sobre você com essas
cicatrizes. Admito que fiquei bastante surpresa no começo. Talvez eu
tenha sido um pouco precipitada.
— Não, você estava certa.
Ela arqueou a cabeça em confusão.
— Oh, você quer dizer por causa da sua perna? Pelo que entendi
o Dr. Farthingale vai salvá-la.
— Ele vai tentar. Ainda pode ser que ampute.
Ela não fez nenhuma tentativa de esconder seu desgosto.
— Entendo. Isso seria um problema.
Ele arqueou uma sobrancelha.
— Um problema para mim, mas você não tem nada a ver com a
minha vida agora. Você não precisa se preocupar com quantas partes
do meu corpo terão que ser cortadas.
O olhar de repulsa nunca saiu de seus olhos.
— Você quer dizer que pode perder mais do que a sua perna?
— Sim. Definitivamente. — Ele estava falando sobre seu coração.
O coração que ele estava perdendo rapidamente para Sophie.
Ele tinha sido um tolo em olhar para trás. O que ele esperava?
Um tórrido romance com Bella? Uma anulação calma e silenciosa —
inferno, tarde demais para isso — do casamento dele com Sophie? Um
maldito arranjo comercial que o deixaria livre para procurar ligações
discretas com qualquer mulher que se interessasse por ele?
Sophie estava em sua vida há apenas alguns dias.
Ele não podia imaginar sua vida sem ela.
— Lady Exmoor, — Tynan disse, seguindo o olhar de Sophie
enquanto observava ainda outra troca de palavras entre James e Bella,
que era, obviamente, privado e íntimo, para que os seus corpos
estivessem voltados um para o outro e para que os convidados do jantar
sentados do outro lado de cada um deles fossem excluídos. — Você não
precisa se preocupar.
Mas a pena em seus olhos revelou que ela deveria ter.
— Eu não estou, — ela tentou assegurar-lhe, no entanto, a água
se reunindo em seus olhos e ameaçando derramar sobre suas
bochechas, obviamente, não conseguiu convencê-lo. Ela largou o garfo,
a truta flutuando em um molho de creme já sem gosto. — É só que...
eu não percebi... que ela é muito bonita.
Ele encolheu os ombros.
— Ela certamente pensa que é.
Sophie riu apesar de seu desânimo.
— Você também não acha? Obviamente, ela é.
— Sim, ela é espetacular. — Ele deu de ombros novamente. —
Mas duvido que haja um homem sentado a esta mesa que a escolheria
por cima de você.
Agora ela riu com genuína alegria.
— Obrigada, lorde Grayfell. Você é um mentiroso atroz, mas é
muito apreciado.
Ele olhou para a mesa mais uma vez e depois se virou para ela.
— As damas vão se retirar para a sala da minha mãe enquanto
nós, homens, tomamos nossas bebidas no escritório. Bella vai usar a
oportunidade para afundar suas garras em você. — Ele parou por um
momento como se para enfatizar seu ponto. — Ela certamente tentará
insultar você, marque minhas palavras. Você não tem experiência
suficiente para lidar com ela. Se ela tentar alguma coisa, não responda.
Procure minha mãe.
— Você está sugerindo que eu me esconda atrás das anáguas de
sua mãe? — Ela franziu a testa. — Devo deixar que os outros lutem
minhas batalhas?
Seus olhos se arregalaram de surpresa.
— Meu primo disse que você era um general romano em uma vida
anterior. — Ele balançou a cabeça e riu. — Ele parece estar certo. No
entanto, eu ainda devo adverti-la. Lady Bella luta sujo. Ela dominou a
arte de desfiar alguém educadamente e não vai ser fácil para você.
Tenha cuidado. James já foi dela e ela não está pronta para desistir
dele por outra.
— Eu sei que ele a amava. — Talvez ainda amasse. — Mas ela
recusou sua proposta.
— Ela não o quer, lembre-se disso. Mas também não quer que
você o tenha. Prometa-me que você deixará minha mãe lidar com ela.
— E se Lady Bella a insultar?
— Ela não ousará, porque minha mãe é muito poderosa. Mas você
é vista como uma presa fraca. Você já viu um lobo rasgar um cordeiro
inocente? Não é bonito.
O coração de Sophie estava firmemente preso em sua garganta
quando as damas entraram no salão de Lady Miranda. Para seu alívio,
Gabrielle e Lydia rapidamente ficaram ao seu lado, então as três
sentaram juntas. Ainda assim, não foi o suficiente para dissuadir Lady
Bella. Ela ficou ao lado da janela com suas próprias amigas, falando
alto o suficiente para ser ouvida por todos na sala.
— Exmoor não pode esperar para se livrar dela. Coisa triste, ele
me disse que pretende mandá-la embora quando sua perna sarar.
Sophie soltou um suspiro de alívio. Isso era o pior que Bella
poderia fazer?
Gabrielle deu um tapinha no braço dela.
— Ignore essa bruxa. Eu nunca gostei dela. Estou feliz que James
esteja livre dela. Ela é a pessoa que ele deveria ter dispensado anos
atrás. — Ela segurou o braço de Sophie. — James me disse o que você
fez para ele em relação a sua perna.
Sophie corou.
— Eu não fiz nada além de recomendar o Dr. Farthingale.
Estamos esperançosos, mas não há garantias.
Lydia assentiu.
— Sim, é o que você trouxe para ele. Esperança. Esse presente é
inestimável.
Gabrielle concordou com entusiasmo.
Bella deve ter ouvido elas falando, pois havia uma corrente de
ameaça em sua risada. Ela foi em direção a elas, suas asseclas
seguindo em seus calcanhares, pois Sophie não sabia do que chamar
aquelas damas elegantes que seguiam atrás dela como ovelhas.
— Exmoor obviamente não se incomodou em lhe contar o resto.
Pobre homem, ele me confidenciou que sua perna não será a única
parte dele em risco de se perder.
Sophie sacudiu a cabeça, momentaneamente confusa. Ela estava
em seu quarto durante o exame médico e saberia se alguma coisa
estava acontecendo.
— Oh, você não sabe? Bem, suponho que não há razão para ele
confiar em você. É óbvio que você não significa nada para ele. O que é
muito embaraçoso para você. — Ela se virou para suas amigas, não
prestando mais atenção em Sophie. — Ele me implorou para aceitá-lo
de volta. Eu tive que colocá-lo em seu lugar. Afinal, eu segui em frente
e logo vou me casar.
Sophie fechou as mãos em punhos. Que podridão total! Talvez
James se importasse com a beleza e a desejasse de volta, mas ele não
era do tipo que implorava. Ele tinha orgulho demais. O que a
incomodava era a possibilidade de ele estar mais gravemente ferido do
que o permitido. Mas por que poupá-la das más notícias? E por que
dizer a Bella? Isso não fazia sentido algum.
O que ela ignorou sobre sua saúde? Seus braços estavam
marcados, mas essas cicatrizes haviam cicatrizado. Não tinham?
Ela se levantou quando os cavalheiros se juntaram a eles e os
servos começaram a colocar mesas para os convidados de Lady
Miranda jogarem cartas. Ela não sabia jogar. Suas noites em York eram
geralmente gastas escrevendo cartas ou lendo em voz baixa. Ela não
participara de nenhum baile desde que seu irmão tinha ido para a
guerra, então também não conhecia as últimas danças.
Ela notou que James entrava, mancando mais do que o normal.
Ela tentou mascarar sua preocupação, mas não era muito boa em
esconder seus sentimentos. James imediatamente percebeu que algo
estava errado.
— Bella disse alguma coisa para você?
Ele franziu a testa e olhou por cima do ombro para onde Bella
estava.
Sophie assentiu e começou a torcer as mãos.
— Ela disse que sua perna não era a única parte do seu corpo que
você estava em perigo de perder. Há mais alguma coisa que você não
me contou? Não que eu queira bisbilhotar, mas... oh, querido Deus. Eu
não posso deixar de me irritar. Seja o que for, James, eu vou te ajudar.
Eu gostaria que você me dissesse o que é.
Sua expressão se iluminou e ele riu suavemente.
— Não se preocupe comigo, Sophie. Há algo, mas não posso te
contar aqui.
Ela mordiscou o lábio.
— Oh céus. Então é realmente algo sério. Mas por que você está
sorrindo?
Sua resposta foi interrompida quando Bella o chamou de sua
cadeira em uma das mesas de cartas.
— Exmoor, venha fazer o nosso quarto jogador para whist. Você
deve ser meu parceiro ou então Lady Miranda e Lorde Grayfell não terão
concorrência. Venha, deixe sua esposa e se junte a mim.
— Deixar minha esposa, — ele murmurou baixinho, de modo que
só Sophie ouviu. — Agora esse é um comentário carregado demais, se
eu já ouvi um outro assim. O que você acha, Sophie? Devo te deixar?
— Ele lhe deu um pequeno aperto no cotovelo. — Eu acho que não, —
ele disse baixinho, arqueando uma sobrancelha para transmitir sua
diversão. — Preferiria mais nos despedir para que você possa encher
minha perna com o cataplasma e depois permitir que lhe faça amor
louca e apaixonadamente.
Ela balançou a cabeça e sorriu para ele.
— Como posso resistir a essa oferta tentadora? Mas se quisermos
fazer amor, devemos fazê-lo com pregadores de roupa nos nossos
narizes.
Ele riu.
— Exmoor! — Bella empurrou a cadeira para trás, fazendo um
som de raspagem contra o chão de madeira polida enquanto se
levantava com um aborrecimento acentuado. Ela parecia bastante
determinada, tamborilando os dedos na mesa de jogo e olhando furiosa
para ele. — Você está atrasando o jogo. Deixe sua esposa e junte-se a
mim.
Ele levou Sophie para onde Bella estava com o queixo
orgulhosamente inclinado para cima. Tynan já estava de pé quando se
aproximaram. Seu olhar varreu de James para Bella e finalmente
descansou em Sophie.
Ele parecia pronto para a batalha.
Deus, ela não precisava de Grayfell, bem como suas intenções, de
interceder por ela. Quanto menos partes envolvidas, melhor, pois ela
não desejava que o jantar terminasse em briga.
Para surpresa de todos, James ignorou Bella e se virou para sua
tia.
— Miranda, me perdoe. Lady Exmoor e eu devemos nos despedir.
Foi um longo dia para nós dois.
Bella não estava aceitando nada disso.
— Que nobre, Exmoor. Mas você não precisa manter o fingimento
entre amigos. Nós todos sabemos porque você se casou com ela. Nós
todos sabemos que ela veio até você sem nada. Nenhuma roupa, nem
um xelim no nome dela. Nenhuma família.
Sua expressão se escureceu.
— Chega, Bella. Você está fazendo papel de boba.
— Eu? — Ela jogou para trás seus cachos dourados perfeitos e
zombou. — Você é o tolo, acreditando que eu queria você. — Ela se
virou para Sophie. — Ele só se casou com você porque eu o recusei.
Sophie assentiu.
— Estou bem ciente e sou muito grata pelo seu mau julgamento.
Bella ofegou.
— Exmoor, você vai permitir que sua esposa fale comigo desse
jeito?
— A questão mais pertinente é: permitir-te-ei zombar da minha
esposa ou tratá-la com o menor do respeito? A resposta para isso é não.
Ele não fez nenhuma tentativa de mascarar sua raiva, e Sophie
não tinha certeza se deveria estar torcendo ou tentando pará-lo antes
que ele perdesse todos os seus amigos.
Uma coisa era ela ser esnobada, mas não queria ser a causa de
seu banimento da sociedade. Ele ignorou os suspiros e olhares que
estava recebendo dos lacaios de Bella e continuou.
— Quanto àquele lixo sobre o transporte da Sophie para fora de
Londres, fique tranquila, isso é um absurdo total e nunca vai acontecer.
— Ele se virou para Sophie, sua expressão descaradamente terna e
amorosa. — Estou honrado por tê-la como minha esposa e não há nada
melhor do que mantê-la ao meu lado para sempre.
Sophie colocou a mão levemente no antebraço dele.
— Eu serei. Sempre. — Ela esperou que seu sorriso em resposta
transmitisse a profundidade de seu amor por ele.
Bella emitiu um som de seus lábios que soou como um chiado.
— Vamos ver quanto tempo ela ficará por perto quando seu
próximo membro for cortado. Haverá pouco de você para amar.
Se ela tivesse um machado de batalha, Sophie teria quebrado a
mulher miserável ao meio. Mas ela estava mais angustiada com os
outros ferimentos de James. Como ela poderia ter se esquecido deles?
Ela apertou seu braço para assegurar-lhe que manteria sua palavra.
— Você sabe que não é assim. Eu vou te amar, não importa o que
aconteça. Um membro não define o que é você. É só o coração que
importa. Você tem meu coração e sempre o terá.
Ele cobriu a mão dela com a dele.
— Eu sei meu amor.
Seus olhos se arregalaram de surpresa e ela ficou de boquiaberta
para ele. Meu amor? Claro, ele deve ter dito isso para mostrar a todos
alguma coisa. Ele não poderia querer dizer... Deus, ele estava olhando
para ela como se quisesse dizer exatamente aquelas palavras.
— Lady Exmoor, — disse ele com um sorriso diabólico. — Minha
esposa. Meu amor. Desde que Lady Bella levantou tão cuidadosamente
a questão da parte do corpo que eu estou em perigo de perder, posso
muito bem te dizer o que é. — Ele se virou para encarar os outros
convidados, todos que estavam zumbindo ao redor deles, mas que
imediatamente se acalmaram e ficaram em silêncio na expectativa de
suas próximas palavras. — Eu também posso dizer a todos, porque não
serei capaz de manter isso em segredo por muito mais tempo.
Sophie se sentiu desolada. Lágrimas brotaram nos olhos dela. Ele
estava morrendo e queria manter as notícias escondidas até dela?
Ele enfiou um dedo sob seu queixo e inclinou seu rosto para cima
para beijá-la levemente nos lábios. Beijar a esposa em uma festa da
moda? Isso já foi feito antes? Ela pretendia falar, mas sua expressão
paralisou suas palavras.
— É o meu coração, Sophie.
— Seu coração está falhando? — Ela não podia suportar. — O que
o Dr. Farthingale lhe contou? Quanto tempo você tem de vida?
Ele riu baixinho.
— Não, você entendeu mal. Não está falhando. Vou viver mais
cinquenta anos, espero. É meu coração que estou perdendo... para
você. Esse órgão frágil foi esmagado pelo tempo e pelas circunstâncias
até que você veio e o reviveu. — Ele a beijou novamente, desta vez com
uma profunda e permanente reverência. — Eu te amo.
Como uma condessa deveria se comportar quando o homem que
ela amava com as profundezas de sua alma e que aparentemente a
amava de volta? Ela agarrou-o pelas lapelas e se levantou na ponta dos
pés para beijá-lo de uma forma fervorosa e completamente inadequada.
— Você está chorando, — disse ele, notando as lágrimas em suas
bochechas que eram impossíveis de ignorar.
— Lagrimas de felicidade.
— Eu amo você, Sophie. — Ele não perdeu tempo em levá-la para
casa e demonstrar a ela o quanto.
Ele mostrou a ela logo mais durante a noite.
Mostrou antes de esfregar o cataplasma na perna e depois.
— James, — ela disse, acordando ao amanhecer e se encontrou
sozinha em sua cama grande, o lençol amassado e o calor persistente
sendo o único traço de que James tinha estado ao lado dela. Ela
sentou-se e olhou ao redor, surpresa ao encontrá-lo de pé junto à
janela, olhando para o jardim.
Ele puxou as cortinas para que os raios de sol entrassem no seu
quarto e o iluminassem. Ele ficou ali em sua beleza dada por Deus,
envolto em sol dourado, enquanto ela caminhava para o lado dele.
— Eu não pretendia te acordar. — Ele puxou-a contra o seu corpo
quente para que suas costas ficassem aninhadas contra seu peito. —
Eu costumava ver o sol nascer todas as manhãs enquanto estava no
continente. O nascer do sol era significativo, pois significava que eu
sobrevivera a outro dia de batalha. Eu inclinava minha cabeça para
absorver seu calor. Eu apertava os olhos para olhar a bola dourada de
fogo que espreitava sobre as montanhas e lançava luz nos tempos
sombrios.
Ela assentiu.
— É lindo.
Ele se curvou e a beijou gentilmente no ombro nu dela.
— Me desculpe por ontem. Eu deveria ter recusado o convite.
— Não. Sua tia planejou por meses antes que eu conhecesse você.
Estou feliz que fomos. Eu acho que você precisava limpar sua mente
de Bella. Declarar que você me amava foi um pouco drástico, mas eu
gostei bastante. Eu sei que vai levar tempo para você se sentir
realmente assim.
— Você está errada, Sophie. Eu quis dizer isso. Mas simplesmente
dizer essas três palavras “eu te amo” não transmite exatamente como
me sinto. Isso é o que eu estava fazendo agora, pensando em você e no
que dizer para fazer com que acredite em mim.
Ela esfregou a bochecha contra o peito dele.
— Não importa, James. Estou feliz. Realmente, eu estou. —
Contente como uma gatinha lambendo o creme, ela fechou os olhos e
escutou a batida forte e constante de seu coração.
Eles ficaram juntos em silêncio por um longo momento até que
James começou a falar, sua voz rouca e carregada de emoção.
— Espero ter encontrado as palavras certas agora.
Sophie prendeu a respiração quando se virou para ele, pois não
sabia o que esperar, só que seria algo especial e mais maravilhoso do
que qualquer coisa que imaginasse ser possível.
Ele esfregou as mãos ao longo de sua pele fria quando ela
estremeceu contra o ar frio que vinha da janela, e então gentilmente
correu os dedos pelos seus cabelos soltos.
— Seu cabelo é como seda, bastante condizente com uma deusa
da aurora.
Ela riu.
— Você está enganado, meu lorde. Eu não sou deusa, apenas uma
fornecedora de cataplasmas.
— Você é uma curandeira de corações danificados. — Ele lançou-
lhe um sorriso de tirar o fôlego. — Eu sabia que era especial no
momento em que pus os olhos em você, mas não ousava acreditar.
Estamos casados há menos de uma semana. Seus novos vestidos ainda
não estão prontos. — Ele a beijou onde estavam, banhados pela luz do
sol. — Mas eu me apaixonei por você. Não apenas no amor. Mas tudo
em você. Estou em felicidade. Estou com esperança. Estou na luxúria
com você. Acima de tudo, acordei ao seu lado e me senti em paz pela
primeira vez em anos.
— Oh, James. — Sua voz tremeu quando ela falou. — Isso é uma
coisa linda de se dizer.
— Ainda não é suficiente. Você é tudo que é importante para mim.
Você é meu amanhecer, Sophie. Você é minha luz matinal. Então é
disso que vou te chamar a partir de agora. Sophie, deusa da luz da
manhã. Isso é o que você é. Minha Sophie! Minha salvação.

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