Interpretacao Da Lei - 122521
Interpretacao Da Lei - 122521
Interpretacao Da Lei - 122521
Licenciatura em Direito
Tema
Interpretação das Leis e Integração da Lei
Universidade Rovuma
Faculdade de Direito
Nampula, Dezembro, 2021
Aquilino Marcelino Inácio
Tema
Universidade Rovuma
Faculdade de Direito
2. Interpretação da lei...................................................................................................................5
3.2. A letra.................................................................................................................................13
4. Integração da lei.....................................................................................................................17
4.2. Analogia..............................................................................................................................18
Conclusão.....................................................................................................................................24
Referências bibliográficas.............................................................................................................25
Anexos...........................................................................................................................................26
1. Introdução
Por vezes, diz-se que a lei clara não necessita de interpretação. É um erro. Para aplicar a lei e
sempre preciso entende-la ou compreende-la, isso é a interpretação. A técnica de interpretação
chama-se hermenêutica. A interpretação das leis é muita das vezes percebida e interpretada de
forma desviante, isso pelo simples facto de não se observar os métodos de aplicabilidade e em
que condições aplica-las. A interpretação é definida por vários cultores do Direito como sendo, o
processo de análise as normas jurídicas com o fim de se buscar o seu real alcance.
Determina o modo que a lei deve ser interpretada, impedindo que o juiz a interprete seu prazer.
A interpretação não se confunde com a integração da lei. Enquanto a integração é mecanismo
supletivo da lei, por ela ser omissa, na interpretação existe a lei a ser aplicada no concreto, sendo
ela o procedimento de revelações do significado e do verdadeiro sentido da norma. Assim a
interpretação tem por finalidade: revelar o sentido da norma e revelar o seu alcance.
O trabalho está dividido em cinco (5) partes onde integram o mesmo número de capítulos.
A primeira parte é maioritariamente introdutória, servindo-se esse espaço para a presentação dos
objectivos pretendidos, não deixando de fora os métodos e as técnicas usadas no desenrolar da
pesquisa.
A segunda parte, corresponde ao estudo do segundo capítulo, de salientar que é nessa mesma
parte que introduziremos o tema do trabalho, que é identificação e análise dos vários conceitos
usados para a definição da interpretação das leis.
A terceira parte, que corresponde ao terceiro capítulo, que é a exposição dos elementos e
métodos usados na interpretação das leis apresentados por vários e renomados doutrinadores do
Direito.
A quarta parte, que corresponde ao quarto capítulo, versa sobre a integração das leis e como
devem ser integradas as lacunas, procedendo-se a uma análise minuciosa das lacunas da lei.
A quinta e última parte, é integrada pelo quinto capítulo, este é referente integração das lacunas a
luz da legislação moçambicana, remetidos ao estudo do Código civil.
1.2. Objectivos do trabalho
A compressão lucida da interpretação e integração das leis, a diferença entre estes dois
termos concretamente; a importância da interpretação das leis na esfera jurídica bem
como definir as directrizes de integração as lacunas na pratica.
A presente pesquisa é do tipo qualitativo e para a sua materialização contou-se com os métodos
de estudo de caso; revisão bibliográfica, método comparativo, tendo a analise documental
complementado o estudo.
2. Interpretação da lei
Por vezes, diz-se que a lei clara não necessita de interpretação ˗ in claris non fit interpretatio. É
um erro. Para aplicar a lei e sempre preciso entende-la ou compreende-la, isso e a interpretação.
Esta pode ser mais ou menos fácil, mas e sempre necessária. A técnica de interpretação chama-se
hermenêutica.(MENDES, João, 1994, p.215).
1. A interpretação não deve cingir-se à letra da lei, mas reconstituir a partir dos textos o
pensamento legislativo, tendo sobretudo em conta a unidade do sistema jurídico, as
circunstâncias em que a lei foi elaborada e as condições específicas do tempo em que é
aplicada.
2. Não pode, porém, ser considerado pelo intérprete o pensamento legislativo que não tenha
na letra da lei, um mínimo de correspondência verbal, ainda que imperfeitamente
expresso.
3. Na fixação do sentido e alcance da lei, o intérprete presumirá que o legislador consagrou
as soluções mais acertadas e soube exprimir o seu pensamento em termos adequados.
Se toda a fonte consiste numa matéria em procura transmitir um sentido ou conteúdo intelectual,
a que chamaremos o seu espírito, tem sempre de haver uma tarefa intelectual, por mais simples
que seja, como condição para extrair da matéria o espírito que a matéria esconde.
Devemos acrescentar que a ignorância deste processo lava a supor que são raros os problemas
trazidos pela interpretação. Parece Nomeadamente no que às leis respeita, que a solidez e a
segurança do texto afastam dificuldades. Por isso o leigo reage mal quando o jurista lhe afirma
que se discute qual a solução de dado caso: «então isso não esta na lei?». Mas esta insegurança
relativa é fatal, pois não há praticamente formula perfeita; a linguagem deforma sempre a
mensagem que deveria ser transmitida. (ASCENSÃO, José, 1993, p.373).
Segundo, (SOUSA; Marcelo Rebelo de; GALVÃO, Sofia, 1993, p.55), A interpretação é uma
tarefa fundamental que, nos mais variados aspectos, o dia-a-dia nos impõe. Por isso, numa vida
de relação, os homens interpretam a Natureza e por isso os homens se interpretam mutuamente.
. A interpretação não é uma tarefa indiferenciada ou uniforme. Captar o sentido de algo supõe,
antes de mais, que se atente nesse algo. Não é a mesma coisa interpretar uma conversa entre dois
amigos no café ou interpretar um soneto de Camões. Apreender um determinado conteúdo
pressupõe a ponderação daquilo que o encerra. A interpretação passa, pois, por uma prévia
identificação e demarcação dos vários tipos de mensagens. Fundamental será, desde logo, a
distinção entre as mensagens que se corporizam com durabilidade e aquelas outras que revestem
formas não duradouras. Porque o modelo de interpretação das primeiras necessariamente difere
do modelo de interpretação das segundas.
A interpretação da obra de arte em um exemplo perfeito do que pode ser a interpretação de uma
mensagem corporizada com durabilidade. Quatro (4) referências serão decisivas: O sujeito, o
momento, o fim e o objecto da interpretação.
Em primeiro lugar, o autor ou autores da obra de arte. E a chamada auto interpretação. Mas
também outras pessoas, sejam leigos ou especialistas. É a hetera interpretação. E qual o
momento ou momentos da interpretação? Quando se pode interpretar?
A obra de arte pode ser interpretada no momento da sua criação, ou pode sê-lo posteriormente.
No primeiro caso, a interpretação dir-se-á originária ou contemporânea. No segundo caso, der se
a superveniente.
Qual o fim da interpretação? O que que verdadeiramente se procura na interpretação de uma obra
de arte?
˗ Uma posição subjectivista genética ou do autor, em que se quer alcançar o sentido que o autor
quis projectar na obra.
˗ Uma posição subjectivista do destinatário, em que se pretende exprimir um sentido que o
intérprete, tantas vezes com base em dados não racionais, atribui a obra.
˗ E uma posição objectivista, em que se busca atingir um sentido se possível mais objectivo, que
permita aproximar as «leituras» da obra de arte dos vários destinatários, mas destacando o do
sentido que o autor, lhe terá querido imprimir. Numa outra perspectiva, o fim da interpretação
pode variar em função de uma referência temporal.
Para captar o sentido que a obra de arte encerra, a que saber jogar com variadíssimos elementos.
E os elementos extra- literais. Destes, ressaltam três. O elemento histórico, na sua tripla vertente
das influências experimentadas pelo autor, da integração da obra na produção global daquele
autor e da génese ou processo de criação. O elemento sistemático, como a inserção da obra no
contexto muito amplo da evolução artística até à actualidade. O elemento teleológico,
exprimindo a razão de ser da relevância daquela obra de arte, não só na actualidade como através
dos tempos.
A importância relativa destes elementos extra- literais depende da posição assumida a propósito
da questão do fim da interpretação. Tal como os elementos históricos são essenciais para uma
posição subjectivista genética historicista, os elementos sistemático e teleológico revelam-se
decisivos para as posições objectivistas e subjectivista do destinatário actualista.
Uma sociedade pluralista permite que esta, embora possa entender-se que é sempre de algum
modo comprometida com certas estruturas ou valores enquadrantes do intérprete, se revele
totalmente livre e facultativa. O intérprete da obra de arte não se encontra obrigado a nenhuma
conduta relacionada com essa interpretação ou com a realidade interpretada.
Já a interpretação do conteúdo de um acto do poder, nomeadamente do poder político, é
completamente diferente. O objecto da interpretação é agora um acto que se destina a regular
coercivamente relações da vida social e que, por isso e naturalmente, não se pode compadecer
com a facultatividade e o subjectivismo na sua interpretação.
A lei é um acto do poder político do Estado. Cria Direito, estabelece regras, impõe condutas. Não
pode, por isso, comportar uma qualquer interpretação. Em causa está a própria sobrevivência do
projecto colectivo.
Tal como a obra de arte, a lei pode ser interpretada no momento em que é criada ou pode sê-lo
posteriormente. No primeiro caso, a interpretação diz-se originária, no segundo, superveniente.
Diga-se, numa palavra prévia, que a questão respeita apenas, em princípio, à interpretação
superveniente. A interpretação originária e, em regra, efectuada pelo próprio legislador. Ora, a lei
pode ser interpretada pelo mesmo órgão que elaborou a lei interpretada - é a chamada auto-
interpretação.
Ou pode ser interpretada por órgão ou entidade diversa do órgão que elaborou a lei interpretada -
é a hetero- interpretação.
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Continuando (VARELA, Bartolomeu, 2011, p.70), entende que, antes de se aplicar a lei (ou
qualquer norma jurídica), há que interpretá-la, para se ter uma clara percepção do sentido e
alcance do que nela se contém, ou seja, do pensamento do legislador.
A interpretação da norma jurídica integra duas fases: interpretação literal, em que se vai
apreender o sentido gramatical, textual ou literal da norma legal; interpretação lógica, em que, a
partir do texto da norma e com base em elementos extra- literais, se procura extrair o pensamento
do legislador. A interpretação das leis é objecto de estudo no âmbito da Hermenêutica Jurídica.
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A finalidade da interpretação jurídica e constatar a vontade do autor da norma, tal esta foi fixada
em dispositivos jurídicos. Como dizia Savigny «a interpretação e reconstrução do pensamento
estampado na lei» (1949, p.82). Mas concretamente, o intérprete tenta entender aquilo que o
autor da norma queria que acontece em determinada situação.
Ainda na visão do doutrinador, existem controversas na interpretação das que segundo o mesmo,
resulta de duas razões:
1. Vagueza da linguagem: a linguagem humana apresenta carácter vago, as palavras podem ser
interpretadas de varias maneira e quase sempre há dúvidas, incertezas e controvérsias.
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ASCENSÃO, apresente primeiro uma grande distinção que devemos ter presente.
Vai nos permitir num primeiro momento deixar de fora a interpretação autêntica, que obedece a
princípios muito especiais. O critério reside antes de mais na forca normativa da interpretação.
Interpretação Doutrinal: e a que não tem qualquer repercussão sobre as fontes em causa, isto e, a
interpretação realizada por qualquer pessoa. A “interpretação doutrinal» não deve pois ser
tomada como a interpretação a cargo da doutrina˗ qualquer pessoa ou o técnico de direito, ou o
executor de uma acto administrativo, ou o juiz, todos fazem interpretação doutrinal.
Interpretação autêntica: e a que e realizada por uma fonte que não e hierarquicamente inferior as
fontes interpretadas.
A fórmula esta em parte dependente do que diremos sobre a hierarquia das fontes de direito, mas
supomos que pode ser compreendida por si. A lei interpretativa e a que realiza interpretação
autêntica, e a interpretação autêntica quando a nova lei se integra na lei interpretada.
Neste sentido a fonte que procede a interpretação autêntica esta subordinada ao conjunto das
fontes vigentes.
A interpretação parte de um elemento determinado de uma fonte, e procura exprimir a regra que
daquela e conteúdo. Mas isto não nos pode fazer esquecer que a interpretação e necessariamente
uma tarefa de conjuntos: Pano de fundo da interpretação e sempre o ordenamento em globo. O
sentido de cada fonte esta em necessária conexão com o de todas as outras, pelo que será
adulterado se o pretendermos tomar isoladamente.
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De facto a interpretação e sempre revelação de um trecho da ordem global pelo que esta e
condição da relevância de cada elemento e determina o seu significado. A interpretação seria
aquilo que e independentemente da posição que porventura tome o legislador; far-se-ia
necessariamente seguindo as regras lógicas, os cânones gerais do pensamento jurídico.
3.2. A letra
É aquela em que cada palavra tem o seu significado ou os seus significados. Como a sua
conjugação não e arbitrária do conjunto de palavras do texto, logo resultara um ou vários
sentidos possíveis. Se tomarmos um texto numa língua desconhecida, o conjunto das palavras
nada nos diz; mas de um texto em língua portuguesa desprendem-se imediatamente sentidos. Só
em caso s extremos não acontecera assim, e o interprete terá de se resignar a concluir que o texto
não e veiculo adequado de qualquer conteúdo. Assim acontecera se por salto tipográfico ou
gralha o texto apresentar uma obscuridade inamável. (ASCENSAO, 1993, P.376˗377).
Interpretação autêntica é a que é feita por lei de valor igual ou superior (hierarquia das leis) à
forma interpretada. A esta lei chama-se lei interpretativa. Característica da interpretação é que é
vinculativa ainda que esteja errada. Na verdade, se a interpretação aduzida pela lei interpretativa
é correta, verifica se uma verdadeira interpretação; se a pretensa interpretação na realidade altera
o sentido da norma anterior, revoga-a, mas continua a ter, a lei interpretativa, perfeita e exclusiva
vigência. Interpretação autêntica é a que é feita igualmente pelos assentos, uma vez que são
vinculativos, sem que possa opor a esta eficácia a desconformidade com a disposição que lhes
serve de base.
Interpretação oficial é a que é feita em lei (em sentido lato) de valor inferior ao da norma
interpretada. Esta interpretação pode vincular em termos de obediência hierárquica (a
interpretação que o ministro der por despacho a certa norma pode ser vinculativa para o seu
ministério, por obediência hierárquica); Não vincula para além disso, e designadamente não
vincula os tribunais.
Interpretação judicial: A interpretação feita pelos tribunais num processo (salvo o caso
particular dos assentos) só em valor vinculativo no processo em si. Fora disso pode persuadir
pela forca e exactidão dos argumentos, não mais.
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- Elemento literal – atende-se à letra da lei, ao sentido das palavras que a compõem;
- Elemento lógico. – Vai-se explorar todas as possibilidades de análise do texto legal, para se
determinar a razão de ser das normas, o espírito da lei;
Elemento sistemático – Tem se em conta a norma não numa perspectiva isolada mas sim no
âmbito do sistema em que a norma está inserida;
- Elemento histórico – Para se interpretar bem a norma, deve-se considerar o contexto histórico
em que a mesma foi adoptada, sendo para isso importante a consulta dos documentos que fazem
parte dos trabalhos preparatórios do diploma.
Existem vários métodos de interpretação das normas jurídicas, cuja classificação varia consoante
os critérios: sua fonte ou origem, sua finalidade e seu resultado. Atendendo ao critério da fonte
ou origem da interpretação, esta pode ser autêntica ou doutrinária:
a) Interpretação autêntica - É uma interpretação que é feita pelo próprio órgão que criou a
norma (não pode ser feita por um órgão de hierarquia inferior) e deve assumir a mesma forma de
acto que a utilizada na produção da norma que ora se interpreta.
______________
DIMOULIS, 2011, p.155˗156, aponta ainda a existência de mais dois métodos de interpretação
das leis; A analogia e Restrição de sentido:
a) Analogia: no caso da analogia, o intérprete excede o limite do possível significado dos termos
legais (Atienza, 1986; ROMEU, 1990). A analogia começa onde termina a possibilidade de
interpretação extensiva. Temos uma interpretação analógica quando se considera que uma norma
rege determinadas situações, apesar da impossibilidade de subsumir essas situações aos termos
da norma. A analogia se justifica pela constatação de que os casos contemplados pela norma
apresentam grandes semelhanças com os não comtemplados. A aplicação da lei deve ser
estendida porque ocorre identidade da razão jurídica: ubi eadem ratio, ibi idem jus (quando a
razão for a mesma, a lei deve ser a mesma).
Generalidades
Pode haver casos que devam ser regulados juridicamente, mas para os quais a lei não de resposta
imediata. Estes casos chamam-se lacunas da lei.
A actividade destinada a encontrar solução jurídica para esses casos, norma que lhe seja
aplicável, diz-se integração da lei. Vide no artigo 10 do código civil:
1. Os casos que a lei não preveja são regulados segundo a norma aplicável aos casos análogos.
3. Na falta de caso análogo, a situação é, resolvida segundo a norma que o próprio intérprete
criaria, se houvesse de legislar dentro do espírito do sistema.
_ A analogia;
4.2. Analogia
De há muito se estabelece que, não se encontrando na lei solução jurídica para um caso, se busca
uma norma que regule um caso análogo.
I. Quando se verifica a analogia? O n.⁰2 Do artigo 10⁰ do· C6digo Civil responde: Há analogia
sempre que no caso omisso proceda as razões justificativas da regulamentação do caso previsto
na lei.
______________
.E muitas vezes difícil traçar a fronteira entre a analogia e interpretação extensiva. Na primeira
hipótese, entende-se que o legislador não pensou ou quis alargar a solução legal ao caso omisso,
mas este apresenta as mesmas características essenciais que justificaram a solução quanto ao
caso previsto. Na segunda hipótese, chega-se a conclusão de que o legislador quis a solução
alargada, mas a sua maneira de dizer ou de se exprimir traiu-o - minus dixit quam_ voluit.
«As normas excepcionais não comportam interpretação anal6gica, mas admitem interpretação
extensiva».
Verificando-se uma lacuna da lei e não havendo norma aplicável por analogia, as chamadas
lacunas rebeldes a analogia, o artigo 10⁰, n.⁰ 3, do Código Civil manda que a situação seja
decidida «segundo a norma que o pr6prio interprete criaria, se houvesse de legislar dentro do
espírito do sistema».
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Não basta dizer que lacuna é o caso não previsto pelo direito, ou não regulado
normativamente. Porque a maior parte das situações da vida não são previstas nem
reguladas pelo direito. Debalde procuraremos nas leis regras sobre passos de dança, ou
lançamento de satélites espaciais, ou preparação para o casamento. Nern o direito
adianta nada se alguém se queixa de que o vizinho não o cumprimenta quando se cruza
com ele na rua. E apesar disso, não dizemos então que há uma lacuna. Se fosse
solicitado para resolver casos dessa ordem o juiz limitar-se-ia a declarar que a hipótese
está extramuros da ordem jurídica. Se quisermos, considerando que toda a actuação que
não tern relevância jurídica especifica e genericamente tomada como Ilícita, diremos
que defrontamos aqui actuações que não são impostas nem relevantes, são meramente
lícitas.
A lei, ao impor ao juiz o dever de julgar mesmo quando houver lacuna, tern
evidentemente em vista a verdadeira lacuna, e não a situação extrajurídica. Em ambas as
hipóteses há falta de regra específica, mas só o caso lacunoso deve ser juridicamente
regulado. É explícito o art. 3/2 do Estatuto dos Magistrados Judiciais Moçambicano (Lei
n.⁰ 7/2009, de 11 de Março), que dispõe que o juiz não pode abster-se de julgar, com
fundamento na falta, obscuridade ou ambiguidade da lei ou em dúvida insanável sobre o
caso em litígio, desde que este deva ser juridicamente regulado. Está distinção
corresponde ao sentir comum. O sentimento jurídico corrente basta para que não
aconteça ajuizarem-se acções referentes a matérias extrajurídicas.
______________
A distinção das lacunas e das situações extrajurídicas, dos casos que devem ou não ser
juridicamente resolvidos, e extremamente difícil. Não há nenhuma receita de efeito
assegurado que permita a demarcação dos dois campos.
Se se concluir que o caso pertence a outra ordem normativa, deve ser afastado e isto
ainda que doutros lugares da lei resultasse que hipóteses análogas teriam recebido
disciplina jurídica.
Se pelo contrário se concluir que o caso cabe dentro da descrição fundamental da ordem
jurídica, ainda e necessário determinar se ele deve ser juridicamente regulado. Tern de se
encontrar algum, indício normativo que permita concluir que o sistema jurídico requer a
consideração e solução daquele caso.
Lacunas ocultas
Temos de concluir que aquele caso não está abrangido pela regra. Ao menos na
generalidade das hipóteses, isto significara que o caso é lacunoso.·
______________
Há ainda lacuna oculta quando a matéria é prevista, mas por interpretação ab-rogante não
se conclui pela liquidação dos preceitos em contraste, ou do preceito para o qual se não
encontra um sentido. Mas por outro lado a integração não se confunde com a
interpretação, em sentido restrito. Esta em causa sobretudo a interpretação extensiva. Em
qualquer caso a ordem jurídica tern de nos apontar o processo a que podemos recorrer
para ultrapassar a paragem provocada pela lacuna.
Dessa forma, NADER; Paulo, 2014, Conclui que, lacuna se caracteriza não só quando a
lei é completamente omissa em relação ao caso, mas igualmente quando o legislador
deixa o assunto a critério do julgador. É possível de se manifestar ainda quando a lei,
anomalamente, apresente duas disposições contraditórias, uma anulando a outra. De
ocorrência mais difícil, está espécie de lacuna decorre de defeito da lei e não por
imprevisão do legislador. Antes de concluir pela existência de antinomia entre duas
normas e abandoná-las, o intérprete deve submetê-las a um rigoroso estudo, com base nos
subsídios que a hermenêutica jurídica oferece, pois muitas vezes o conflito é mais
aparente do que real. Para:
Além de não caracterizar uma lacuna, pois a lei oferece a disposição, esta hipótese de
não aplicação da regra é problemática, pois a correcção do defeito pode ser alcançada,
conforme o caso, com a diminuição do campo de incidência da lei, de acordo com os
______________
AMARAL; Diogo Freitas do, entende que o costume praeter legem servem como
método de integração das lacunas, pois originam normas que dispõe de matéria não
reguladas por lei, isto é, manifesta-se nas áreas onde faltem leis. Ele e muito importante
na Direito Internacional e Direito Comercial. Assim:
E, ainda que se não equiparasse à lei e só se lhe reconhece valor obrigatório na falta
dela, é, na ausência da lei que preveja a espécie vertente, mais consentânea com a
necessidade de certeza e com a justiça relativa, mandar observar a analogia.
______________
Neste trabalho foi feita uma análise profunda e exausta sobre até que ponto a
interpretação das leis e a integração das lacunas, podem de alguma forma condicionar a
percepção e alcance das normas jurídicas, destacando e comparando incidência de cada
tema em relação ao direito.
No que concerne aos objectivos por nos traçados, e relevante relatar que todos foram
cumpridos na integra, tendo em primeiro lugar contextualizando a interpretação das leis,
na perspectiva de vários doutrinadores, e de seguida prosseguindo com a analise dos
conceitos da interpretação das leis de forma clara, com recurso a diversas afirmações e
observações dos mais dos mais conceituados cultores do Direito, iniciando um estudo
comparativo em relação a interpretação e integração das leis com o elencar da
motivações por trás da preferência pela designação da introdução ao estudo do direito.
O presente trabalho foi de extrema importância para uma mais profunda compressão das
expressões “ interpretação das leis e integração das lacunas”, que de formas previa foi
nos, apresentada pelos renomados professores Bartolomeu Varela; Diogo Freitas do
Amaral; Dimitri Dimoulis; João de Castro Mendes; José oliveira de Ascensão; João
Baptista Machado; Marcelo Rebelo de Sousa e Sofia Galvão; e Paulo Nader, de como
deve ser feita a interpretação das leis seguindo os métodos e elementos estabelecido e de
que forma as lacunas devem ser integradas de modo a não entrar em colisão com as leis.
Com essa elucidação conseguimos ter, ao longo da elaboração do trabalho, uma visão
critica sobre até que ponto a interpretação e integração das leis podiam suprir as lacunas
encontradas no da aplicação das leis.
Nas várias constatações a que tivemos chegado nas diferentes etapas do trabalho, pode
concluir-se que a interpretação não deve cingir-se à letra da lei, mas reconstituir a partir dos
textos o pensamento legislativo, tendo sobretudo em conta a unidade do sistema jurídico, as
circunstâncias em que a lei foi elaborada e as condições específicas do tempo em que é aplicada.
Tanto a integração das lacunas deve ser feita tendo como o primeiro recurso a analogia, não
dispor de forma contrária a lei fundamental e outras soluções expressamente previstas na lei.
Referências bibliográficas
I. OBRAS:
1. AMARAL; Diogo Freitas do, Manual de introdução ao direito, Vol. I, Almedina Editora,
Lisboa, 1997.
3. DIMOULIS; Dimitri, Manual de introdução ao direito, 4.ͣ Edição, editora Revista dos
tribunais, São Paulo, 2011.
4. MACHADO; João Baptista, Introdução ao Direito e ao Discurso Legitimador,
reimpressão, Almedina, Porto, 1982.
6. NADER; Paulo, Introdução ao estudo do Direito, 36. ͣ Edição, editora forense Lda, Rio de
Janeiro, 2014.
7. SOUSA; Marcelo Rebelo de, e Galvão, Sofia, Introdução ao estudo do direito, 5 ͣ Edição,
Lex, Lisboa, 2000.
II. LEGISLAÇÃO